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Resenha Crítica

André Luiz de Paiva

Sessão 1 – Meta-análise/Revisão sistemática de literatura

Nos diferentes campos que constituem o conhecimento científico, é fundamental


a compreensão dos direcionamentos e perspectivas assumidas pelos pesquisadores em
direção ao desenvolvimento das diferentes temáticas. Uma das principais formas de se
produzir conhecimento e possibilitar a compreensão dos movimentos científicos é por
meio da realização de revisões de literatura, procedimento que cada vez mais tem sido
explorado a partir de diferentes métodos, notadamente a meta-análise e a revisão
sistemática de literatura (BOTELHO; CUNHA, MACEDO, 2011, HOON, 2013,
FINFGELD-CONNETT, 2014, FAKIS et al. 2014). No campo da Administração, tais
enfoques são de fundamental importância e serão melhor explorados nesta resenha.
Botelho, Cunha e Macedo (2011) afirmam que estudos de revisão de literatura
têm sido realizados frequentemente no campo da Administração. Esses estudos
empregam desde métodos tradicionais, como a revisão narrativa, até mecanismos mais
sofisticados, oriundos de outras áreas do conhecimento como as ciências exatas e da
saúde, tais como a revisão sistemática de literatura. Além disso, essa temática está
alinhada às perspectivas da Prática Baseada em Evidências e do Gerenciamento
Baseado em Evidências.
Nas palavras dos autores, “a revisão da literatura é um primeiro passo para a
construção do conhecimento científico, pois é através desse processo que novas teorias
surgem, bem como são reconhecidas lacunas e oportunidades para o surgimento de
pesquisas num assunto específico” (BOTELHO; CUNHA; MACEDO, 2011, p. 123).
Nesse contexto, os autores estão interessados em apresentar e discutir diferentes
meios de se realizar revisões sistemáticas no campo dos Estudos Organizacionais.
Botelho, Cunha e Macedo (2011) apresentam quatro tipos de revisões sistemáticas:
meta-análise, revisão sistemática, revisão qualitativa e revisão integrativa. Todavia,
nesse artigo atribuem maior interesse na descrição desse último tipo.
Segundo Botelho, Cunha e Macedo (2011), a revisão integrativa permite que os
pesquisadores se aproximem de problemáticas ou temas que têm interesse em estudar,
explorando o panorama da produção científica nesse contexto. Dessas informações, é
possível visualizar o desenvolvimento de um dado campo e identificar lacunas de
pesquisa.
Ao final do artigo, os autores apresentam um protocolo para a realização de
revisões integrativas. Esse protocolo é composto por seis etapas, a saber: identificação
do tema e seleção da questão de pesquisa; estabelecimento de critérios de inclusão e
exclusão; identificação dos estudos pré-selecionados e selecionados; categorização dos
estudos selecionados; análise e interpretação dos resultados e; apresentação da síntese
do conhecimento.
Considerando outras possibilidades para a realização de revisões de literatura,
Hoon (2013) teve como objetivo apresentar um desenho de pesquisas para a elaboração
de meta-sínteses de estudos de casos qualitativos. Esse interesse advém da importância
dos estudos de casos para a produção de conhecimento no contexto dos estudos em
Administração e, da mesma forma, da lacuna existente de estudos que exploram esta
relação.
A meta-síntese é um tipo de desenho de pesquisa exploratório e indutivo que
sintetiza resultados de pesquisas em certos campos, de modo a produzir contribuições
que vão além do interesse desses estudos. Esse método permite que pesquisadores
construam teorias a partir de dados primários de estudos de casos qualitativos que não
foram planejados como parte de efeitos multi espaços ou, de certa forma,
generalizáveis. Ou seja, por meio desse método, é possível refinar ou ampliar
abordagens teóricas. Diferentemente de outros tipos de revisões de literatura, a meta-
síntese sintetiza variáveis chave e relações subjacentes entre um conjunto de estudos de
caso qualitativos em novas teorias.
A autora chama atenção para a necessidade de se considerar as sinteses de
literatura conforme posições paradigmáticas (sínteses como agregações, interpretações e
traduções). Nesse sentido, a proposta de meta-síntese apresentada pela autora se apoia
na noção de que a síntese de pesquisas é um tipo de reinterpretação de evidências
qualitativas fundamentada em uma perspectiva pós-positivista. Por isso, Hoon (2013)
propõe oito etapas para a realização de uma meta síntese de estudos de casos
qualitativos. Essas etapas são: Estruturação da questão de pesquisa; localização de
pesquisas relevantes; Definição de critérios de inclusão/exclusão; Extração e
codificação de dados; Realização de análises específicas ao nível dos casos; Síntese de
estudos no nível multi-casos; Construção de teorias a partir da meta-síntese; e Discussão
dos resultados. Para explorar estas etapas, a autora apresenta uma ilustração da
aplicação deste método direcionada ao campo de estudos sobre capacidades dinâmicas.
Ao final, são enumeradas as opções disponíveis para pesquisadores interessados em
produzir meta-sínteses, destacando desafios potenciais bem como uma agenda de
pesquisas endereçada ao uso deste método nos estudos organizacionais.
Adiante, Finfgeld-Connett (2014) também defende que revisões sistemáticas
podem contribuir para a construção de teorias, o que, por sua vez, auxiliam na
formulação de políticas e no entendimento de diferentes disciplinas. Todavia, conforme
a autora, esse potencial é pouco explorado haja visto que poucos métodos de pesquisa
têm sido empregados com consistência e rigor necessários para este fim. Por isso, seu
objetivo foi discutir aspectos da análise de conteúdo para conduzir revisões sistemáticas
que visam produzir teorias. Por isso, a autora apresenta um modelo de revisão
sistemática de trabalhos qualitativos a partir do método da análise de conteúdo.
Entretanto, para que esse método seja empregado de forma rigorosa é necessário
considerar o contexto dos dados analisados.
Nessa direção, os trabalhos de revisão estão alinhados às demandas para estudos
próximos à “prática baseada em evidências”. Considerando as características próprias
da pesquisa qualitativa, Finfgeld-Connett (2014) mostram que estudos de revisões
sistemáticas têm sido cada vez mais empregados. Desta feita, é necessário que mais
reflexões sejam desenvolvidas em direção à natureza do processo de análise de dados
nesse tipo de pesquisa. A análise de conteúdo qualitativa é um método de análise de
dados flexível que permite tanto interpretações impressionistas à análises altamente
sistemáticas de textos. De modo geral, permite integrar, interpretar e sintetizar
resultados qualitativos de múltiplos métodos de coleta de dados qualitativos.
Em seu texto, Finfgeld-Connett (2014) apresenta conceitos e aspectos
caracterísiticos da análise de conteúdo. Nisso, explora o processo de análise de conteúdo
a partir de algumas etapas, a saber: identificação de segmentos de dados, definição de
matrizes de dados e codificação, produção de memorandos, diagramações e reflexões.
Para a realização da análise de conteúdo é importante, ainda, a consideração da
saturação e ajuste dos dados. Esse processo também perpassa a discussão em torno dos
aspectos epistemológicos da construção de conhecimento em torno de revisões
sistemáticas.
Finalmente, Fakis et al. (2014), realizam uma revisão sistemática do tipo
“revisão de escopo” direcionada ao uso de múltiplos métodos de pesquisa. Apesar do
distanciamento clássico, essa abordagem tem sido empregada em diferentes campos da
ciência e refere-se ao desenho de pesquisa que combina métodos, técnicas, conceitos ou
linguagem quantitativos e qualitativos em um único estudo ou conjunto de trabalhos. De
modo específico, os autores analisaram como dados qualitativos, coletados a partir de
entrevistas, têm sido analisados utilizando métodos quantitativos em diferentes áreas do
conhecimento científico.
Para tanto, empregaram um protocolo de revisão sistemática que considerava
diferentes campos do conhecimento. Os artigos que compuseram a amostra foram
coletados em 11 bases de periódicos e selecionados a partir de critérios de inclusão e
exclusão, primeiramente coletados por meio de palavras-chave que representavam os
interesses dos pesquisadores. Após a aplicação dos critérios, a amostra final foi
composta por 1710 artigos. Para a análise destes, empregaram um instrumento de
extração de dados baseado no cadastro de referências da amostra no software EndNote.
Esse procedimento permitiu que fossem identificados temas comuns entre os artigos
analisados.
Fakis et al. (2014) destacam, ainda, a necessidade do uso de métodos múltiplos
de coleta e análise de dados, especialmente considerando a junção de pesquisas de
natureza qualitativa e quantitativa. Dessa relação, é possível que estudos em diversos
campos, tal como na Administração e Estudos Organizacionais, contribuam de forma
ampla para a compreensão de fenômenos sociais, notadamente complexos. Como os
autores abordam, a triangulação de métodos permite que estudos de natureza quali-
quanti sejam realizados sem que ocorram necessariamente incongruências teóricas. É
interessante ressaltar que a síntese dos artigos foi estabelecida por meio de técnicas de
revisão de escopo, já que Fakis et al. (2014) objetivaram identificar lacunas na literatura
e propor uma agenda.
Portanto, os quatro textos analisados nesta resenha evidenciam a multiplicidade
de formas e métodos existentes para a realização de pesquisas do tipo revisões
sistemáticas de literatura. Este esforço é fundamental para que futuros estudos desta
natureza sejam desenvolvidos, considerando diferentes abordagens, métodos e propostas
que englobam desde a sistematização da produção científica de um campo até a
produção de conhecimento a partir deste estudo, especialmente considerando os
métodos da meta-análise e da revisão de escopo. Aliás, o caráter propositivo e a
possibilidade de se construir conhecimento por meio de revisões é o principal aspecto e
inovação que estes estudos podem trazer para o campo da Administração.

Referências Bibliográficas

BOTELHO, Louise Lira Roedel; CUNHA, Cristiano Castro de Almeida; MACEDO,


Marcelo. O método da revisão integrativa nos estudos organizacionais. Gestão e
sociedade, v. 5, n. 11, p. 121-136, 2011.
HOON, Christina. Meta-synthesis of qualitative case studies: An approach to theory
building. Organizational Research Methods, v. 16, n. 4, p. 522-556, 2013.
FAKIS, Apostolos et al. Quantitative analysis of qualitative information from
interviews: A systematic literature review. Journal of Mixed Methods Research, v. 8,
n. 2, p. 139-161, 2014.
FINFGELD-CONNETT, Deborah. Use of content analysis to conduct knowledge-
building and theory-generating qualitative systematic reviews. Qualitative Research, v.
14, n. 3, p. 341-352, 2014.

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