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Análise epistemológica de políticas


educacionais: explorando as contribuições e as
possibilidades da meta-análise

Conference Paper · June 2013

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1 author:

Jefferson Mainardes
State University of Ponta Grossa
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VII Simpósio Internacional O Estado e as Políticas Educacionais no Tempo Presente.


Universidade Federal de Uberlândia
Mesa: Epistemologias das Políticas Educacionais.
Cesar Tello (Universidad Nacional de Tres de Febrero - Argentina)
Jefferson Mainardes (UEPG)
Data: 20/06/2013

Título: Análise epistemológica de políticas educacionais: explorando as contribuições e


as possibilidades da meta-análise

Expositor: Jefferson Mainardes


Financiamento: CNPq

Resumo da exposição:
O objetivo da exposição é apresentar as principais contribuições da meta-análise ou meta-
pesquisa para a análise epistemológica de políticas educacionais. O esquema inicial da
meta-análise foi desenvolvido com a intenção de sistematizar o estudo de publicações e
relatórios de pesquisa do campo da política educacional e constitui-se em um esquema
flexível que pretende promover a reflexividade sobre os processos de investigação nesse
campo. O ponto de partida da meta-análise é a seleção de um conjunto de relatórios de
pesquisa, artigos ou outras publicações do campo da política educacional, utilizando o
recorte temporal ou temático. Após a definição do corpus, sugere-se o registro dos artigos
em planilha Excel (referência, resumo, palavras-chave, etc). O passo seguinte é a leitura
sistemática dos artigos selecionados na primeira etapa da pesquisa, empregando o
esquema analítico desenvolvido a partir da fundamentação dos estudos epistemológicos
da política educacional (TELLO, 2012). O esquema analítico inicial inclui a análise dos
seguintes aspectos:

a) Temática abordada na pesquisa;


b) Tipo de investigação (base empírica, documental, bibliográfica, pesquisa de campo,
outra);
c) Abrangência do estudo: local, regional, internacional;
d) Marco teórico: conceitos-chave, fundamentos da pesquisa;
e) Tipo de abordagem: descritiva, analítica, argumentativa;
f) Procedimentos metodológicos;
g) Aspectos relacionados ao Enfoque Epistemológico da Política Educacional
(perspectiva epistemológica, posicionamento epistemológico e enfoque
epistemetodológico):
- O título pressupõe alguma determinada perspectiva epistemológica?
- Quais são os termos-chave (ideias-chave) em termos de perspectiva epistemológica?
- Quais são os autores citados na fundamentação teórica do artigo?
- Há um argumento explícito? O que pesquisador argumenta? Com base em que autores
realiza essa argumentação? Existem sub-argumentos?
- Quais são os termos-chave do texto, em termos de perspectiva epistemológica?
- Há uma perspectiva epistemológica e um posicionamento epistemológicos explícitos?
- Como a perspectiva epistemológica e o posicionamento epistemológico poderiam ser
designados?
- Como o pesquisador opera com o entrecruzamento entre fundamentos teóricos,
metodologia e análise? (epistemetodologia)
2

Todos esses aspectos são registrados na planilha, de forma a facilitar a análise e síntese.
O passo seguinte é análise desses registros, de forma a explorar os tópicos mais
relevantes, especialmente a identificação da perspectiva epistemológica, posicionamento
epistemológico e enfoque epistemetodológico dos textos analisados. A análise
epistemológica de pesquisas sobre políticas educacionais pode contribuir para a
ampliação dos estudos de natureza teórica desse campo de pesquisa, bem como para
ampliar a vigilância epistemológica e a reflexividade sobre os fundamentos das análises,
pois o que é tomado como objeto de reflexão e análise são estudos de políticas
educacionais. Tais contribuições são relevantes uma vez que a política educacional é
ainda um campo em construção e em processo de institucionalização. Desse modo, os
estudos de natureza teórica podem contribuir para o referido processo de
institucionalização e de constituição da política educacional como campo de estudo.

Roteiro

Pesquisas  Relepe
Pesquisas de natureza teórica:
- Abordagens para a análise de políticas
- Objeto (s) da política educacional
- Constituição do campo da política educacional
- outros

A partir da definição dos “componentes analíticos” do Enfoque das epistemologias da


Política Educacional – EEPE (TELLO, 2012)
- Perspectiva epistemológica
- Posicionamento epistemológico
- Enfoque epistemetodológico

 Iniciamos a realização de algumas análises de artigos, capítulos e livros de


política educacional.
 Ao longo das pesquisas, desenvolvemos um esquema de análise que será o
objeto central dessa exposição.
 Esquema analítico  constitui o que podemos denominar de meta-análise, meta-
pesquisa

Meta-análise/meta-pesquisa

 O termo meta-análise foi cunhado por Gene V. Glass (1976), que foi um primeiro
estatístico a usar o termo meta-análise, embora a metodologia subjacente à meta-análise
por meio de estatística já fosse utilizada décadas antes (desde a década de 1930).
 Na atualidade, o termo vem sendo utilizado por pesquisadores interessados em
realizar a SÍNTESE de evidências sobre um determinada questão, por meio da análise
estatística e da comparação
 Relepe: o termo meta-análise está relacionado ao que pode ser considerado
análises de análises ou pesquisas sobre outras pesquisas.
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Dimensões da meta-análise

a) Dimensão reflexiva: na meta-análise, a produção científica do campo é tomada


como objeto de reflexão e análise. Constitui-se em uma ação de refletir o que é
pesquisado, como a pesquisa é realizada e com quais fundamentos.

b) Dimensão teórico-analítica: as conclusões e “descobertas” da meta-análise podem


ser “reinvestidas no trabalho científico” (BOURDIEU, 2011, p. 38)1, bem como
podem contribuir para aumentar as possibilidades de cientificidade da
comunidade científica no seu conjunto, bem como “as possibilidades que cada
cientista tem de se beneficiar de tais possibilidades em função da posição que
ocupa no interior de tal comunidade” (BOURDIEU, CHAMBOREDON E
PASSERON, 2007, p. 95).

Contribuições:

a) Permite a ampliação sobre o conhecimento produzido no campo.


b) Subsidia a reflexão sobre as possibilidades de aumento da cientificidade e da
vigilância epistemológica.
c) Contribui para intensificar a troca de informações e críticas sobre a produção do
conhecimento do campo que, gradativamente, pode levar a saltos qualitativos na
pesquisa desse campo. Bourdieu, Chamboredon e Passeron (2007), ao destacarem o
papel do “sistema de controles cruzados”, explicam que “Ao confrontar,
continuamente, cada cientista com uma explicitação crítica de suas operações
científicas e dos pressupostos que implicam, e ao obrigá-lo, por esse motivo, a fazer
dessa explicitação o acompanhamento obrigatório de sua prática e da comunicação de
suas descobertas, esse “sistema de controles cruzados” tende a constituir e reforçar,
incessantemente, em cada um a aptidão para a vigilância epistemológica” (p. 96).
Ainda para Bourdieu, Chamboredon e Passeron (2007), no sistema de controle
cruzados, a eficácia da crítica “depende da forma e estrutura das trocas pelas quais ela
se realiza: tudo leva a considerar que a troca generalizada de críticas (...) constitui um
modelo mais favorável a uma integração orgânica do meio científico do que, por
exemplo, o clube de admiração mútua como troca restrita de serviços ou, o que não é

1
Segundo Bourdieu, “Quando a pesquisa tem por objeto o próprio universo no qual ela se realiza, as
aquisições que ela assegura podem ser imediatamente reinvestidas no trabalho científico a título de
instrumentos do conhecimento reflexivo das condições e dos limites sociais desse trabalho que é uma das
principais armas da vigilância epistemológica. Talvez não se possa fazer de fato avançar o conhecimento
do campo científico a não ser servindo-se da ciência que ainda se tem pela frente para descobrir e superar
os obstáculos à ciência que estão implicados no fato de aí se ocupar uma posição, e uma posição
determinada” (Bourdieu, 2011, p. 38).
4

de modo algum mais válido, a troca de polêmicas rituais pelas quais os adversários
cumplices consolidam mutuamente os respectivos estatutos” (p. 95)

Esquema analítico inicial  para debate e avaliação

1º - O ponto de partida é a seleção de um conjunto de relatórios de pesquisa (artigos ou


outras publicações do campo da política educacional), utilizando o recorte temporal ou
temático.
Após a definição do corpus, realiza-se o registro dos artigos em uma planilha (referência,
resumo, palavras-chave, etc).

2º - O passo seguinte é a leitura sistemática dos artigos selecionados na primeira etapa da


pesquisa, empregando o esquema analítico desenvolvido a partir da fundamentação dos
estudos epistemológicos da política educacional (TELLO, 2012). O esquema analítico
inicial inclui a análise dos seguintes aspectos:
a) Temática abordada na pesquisa
b) Tipo de investigação (base empírica, documental, bibliográfica, pesquisa de campo,
outra),
c) Abrangência do estudo: local, regional, internacional
d) Marco teórico: conceitos-chave, fundamentos da pesquisa
e) Procedimentos metodológicos
f) Tipo de abordagem: descritiva, analítica, argumentativa
Níveis de abstração: descrição, generalização empírica, criação de categorias/conceitos,
teoria (Dale, 2012)
g) Aspectos relacionados ao Enfoque Epistemológico da Política Educacional
(perspectiva epistemológica, posicionamento epistemológico e enfoque
epistemetodológico):
- O título pressupõe alguma determinada perspectiva epistemológica?
- Quais são os termos-chave (ideias-chave) em termos de perspectiva epistemológica?
- Quais são os autores citados na fundamentação teórica do artigo?
- Há um argumento explícito? O que pesquisador argumenta? Com base em que autores
realiza essa argumentação? Existem sub-argumentos?
- Quais são os termos-chave do texto, em termos de perspectiva epistemológica?
- Há uma perspectiva epistemológica e um posicionamento epistemológicos explícitos?
- Como a perspectiva epistemológica e o posicionamento epistemológico poderiam ser
designados?
- Como o pesquisador opera com o entrecruzamento entre fundamentos teóricos,
metodologia e análise? (epistemetodologia)

Todos esses aspectos são registrados na planilha, de forma a facilitar a análise e


síntese.
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3º - O passo seguinte é análise desses registros, de forma a explorar os tópicos mais


relevantes, especialmente a identificação da perspectiva epistemológica, posicionamento
epistemológico e enfoque epistemetodológico dos textos analisados.

Desafios
a) O pesquisador interessado em realizar uma pesquisa meta-analítica necessita ter
uma visão de totalidade das perspectivas epistemológicas empregadas no campo:
marxismo, neo-marxismo, estruturalismo, pós-estruturalismo, etc, bem como de
outras classificações que são adotas no campo das Ciências Sociais e da Ciência
Política2
b) É fundamental que o pesquisador meta-analítico compreenda que toda
classificação é arbitrária e está relacionada a um propósito3. Nesse caso, o
pesquisador pode dedicar-se a identificar tendências epistemológicas mais gerais,
empregando caracterizações mais amplas.
c) A finalidade da pesquisa meta-analítica não é julgar um ou outro trabalho
individual, mas buscar compreender como o conhecimento vem sendo produzido
no campo da política educacional, pelo conjunto (ainda que parcial) dos
pesquisadores.
d) A produção do conhecimento no campo da política educacional precisa ser
compreendida em sua historicidade. Trata-se de um campo cuja
institucionalização, enquanto um campo específico, iniciou-se a partir do final da
década de 1970 e que se expandiu de forma significativa nos últimos anos. No
contexto da vasta produção, constata-se que há um número elevado de pesquisas
e publicações e, nesse conjunto, poucas produções que apresentem uma reflexão
a respeito do que vem sendo produzido, como e em com base em quais
fundamentos.
e) A coerência e a consistência das pesquisas e publicações precisam ser analisadas
dentro da perspectiva epistemológica empregada pelo autor da pesquisa. Isso

2
Nesse aspecto, a classificação apresentada por Losada e Casas Casas (2010) apresentam contribuições
relevantes. Segundo os autores, um enfoque (ou perspectiva teórica) “é um poderoso refletor que nos faz
ver certos aspectos da realidade, mas deixa outros na penumbra ou ainda em total escuridão” (p. 15). A
classificação proposta por eles inclui os seguintes enfoques:
a) Enfoques que privilegiam o Interior do ser humano
b) Enfoques que privilegiam o entorno social
c) Enfoques que privilegiam as instituições
d) Enfoques que privilegiam o entorno cultural (construtivista, culturalista, feminista)
d) Enfoques que privilegiam o entorno total (estruturalista, sistêmico, estrutural-funcionalista, enfoque
biopolítico)
e) Macromodelo crítico: enfoque marxista e os enfoques críticos contemporâneos
f) Macromodelo pós-moderno.
3
Bourdieu e Wacquant (1992, p. 184) entendem que toda tipologia cristaliza uma situação e tende a ser
arbitrária, na medida em que descarta os tipos que não se enquadram e os casos que se encontram na
fronteira, os casos que não se distinguem claramente.
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demanda um esforço do pesquisador da meta-análise em evitar utilizar o seu


próprio posicionamento como referência na análise.
f) É importante que o pesquisador meta-analítico expresse também os marcos
teóricos e os princípios éticos que orientam a sua própria análise. Por exemplo:
conceitos como vigilância epistemológica, sistema de controles cruzados, rigor
científico podem constituir-se como marcos teóricos para a pesquisa meta-
analítica. Aspectos como a importância da análise crítica de políticas, da análise
das consequências das políticas para a classes sociais distintas, das relações entre
políticas e reprodução social, são exemplos de princípios éticos que podem
orientar o trabalho do pesquisador meta-analítico
g) A identificação do posicionamento epistemológico do pesquisador é uma tarefa
altamente complexa e coloca inúmeros problemas ao pesquisador meta-analítico.
O posicionamento epistemológico (dos autores dos trabalhos pesquisados) precisa
ser compreendido no contexto no contexto econômico, histórico, político e social
no qual a pesquisa se refere e no qual o pesquisador está inserido. Um exemplo
disso é o caso do pesquisador que apresenta um posicionamento aparentemente
neutro ou legitimador em relação a uma política ou programa considerando que,
naquele contexto é uma possibilidade mais adequada, ainda que não ideal, na sua
perspectiva epistemológica.

Referências

BALL, S. J.; MAINARDES, J. Políticas educacionais: questões e dilemas. São Paulo,


2011.

BOURDIEU, P. Os usos sociais da ciência: por uma sociologia clínica do campo


científico. São Paulo: Editora Unesp, 2004.

BOURDIEU, P. avec WACQUANT, L. J. D. Réponses: pour une anthropologie


réflexive. Paris: Le Seuil, 1992.

BOURDIEU, P. Homo academicus. Florianópolis: Ed. Da UFSC, 2011.

BOURDIEU, P.; CHAMBOREDON, J.C; PASSERON, J.C. Ofício de sociólogo:


metodologia da pesquisa na sociologia. Petrópolis: Vozes, 2007.

DALE, R. Entrevista realizada em 10/12/2012, na Universidade Estadual de Ponta Grosa,


Paraná, Brasil. 2012.

GLASS, G. V. Primary, secondary, and meta-analysis of research. Educational


Researcher, v. 10, n. 5, p. 3-8, 1976.
7

LOSADA, R. L.; CASAS CASAS, A. Enfoques para el análisis político: historia,


epistemologia y perspectivas de la ciência política. Bogotá: Editorial Pontificia
Universidad Javeriana, 2010.

MAINARDES, J. Análise de políticas educacionais: breves considerações teórico-


metodológicas. Contrapontos, Itajaí, v. 9, n.1, p. 4-16, 2009.

MAINARDES, J. Las epistemologías de la política educativa e sus contribuciones para


el campo. In: TELLO, C. Epistemologías de la política educativa: posicionamientos,
perspectivas y enfoques. Campinas: Mercado de Letras, 2013, p. 517-526. Disponível em:
www.researchgate.net

MAINARDES, J.; FERREIRA, M. S.; TELLO, C. Análise de políticas: fundamentos e


principais debates teórico-metodológicos. In: BALL, S. J.; MAINARDES, J. Políticas
educacionais: questões e dilemas. São Paulo, 2011. p. 143- 172. Disponível em:
www.researchgate.net

STREMEL; S.; MAINARDES, J. A constituição do campo da política educacional no


Brasil: Notas sobre a periodização. VII Simpósio Internacional O Estado e as Políticas
Educacionais no Tempo Presente. Anais... Uberlândia, 2013. Disponível em:
www.researchgate.net

STREMEL; S.; MAINARDES, J. A constituição do campo da política educacional no


Brasil: análise de contribuições da RBEP. Seminário da ANPAE da Região Sul. Anais.
Pelotas, 2012. Disponível em: www.researchgate.net

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epistemológico del investigador en política educativa. Práxis Educativa, Ponta Grossa,
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