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RELAÇÕES DE T RABALHO: UMA REVISÃO DA LIT ERAT URA NO PERÍODO DE 2005 A 2016
Camila Müller, Silvio F . BARBOZA
Revisão de Literatura, Referencial Teórico, Fundamentação Teórica e
Framework Conceitual em Pesquisa – diferenças e propósitos
Debora Azevedo
Resumo
O objetivo deste artigo é esclarecer as diferenças entre alguns tipos de inclusão de
literatura que ocorrem em artigos e monografias na área de Ciências Sociais
Aplicadas. Com isso, busca-se auxiliar alunos de graduação e pós-graduação na
consecução de seus projetos de pesquisa e na escrita destes. Ao longo das seções
apontam-se os principais usos de cada um dos termos apresentados.
1. Introdução
Um dos desafios que alunos de graduação e pós-graduação enfrentam durante a
realização e escrita de seus projetos pesquisas é selecionar adequadamente a literatura
existente sobre o tema estudado e incorporá-la ao projeto. Essa dificuldade se dá,
muitas vezes, em virtude de confusões tanto sobre o que ler quanto sobre o que incluir
na escrita e como fazê-lo.
A seleção dos materiais que farão parte da Revisão de Literatura deve obedecer
critérios claros (os quais são apresentados explicitamente antes dos resultados da
Revisão). Usualmente os critérios para uma Revisão de Literatura vão incluir:
1
É preciso usar variações de uma mesma palavra: gênero, número, classes
gramaticais, variações de grafia etc.
Quanto aos temas a serem pesquisados, observe que buscas muito gerais podem levar
a uma miríade (ou várias, literalmente) de resultados. Por exemplo, as palavras
Marketing e Consumidor em uma determinada base de conteúdo acadêmico resultam
em 106.000 resultados, já Marketing e Comportamento do Consumidor geram 20.500
resultados, enquanto que Marketing + Comportamento do Consumidor + Hedonismo
leva a 1.070 resultados. A mesma busca considerando acessibilidade (apenas
resultados com pdf disponível foram considerados) resulta em 520 publicações e, se
considerados apenas os últimos três anos, obtém-se um total de 256 resultados. Assim,
a escolha de critérios para a Revisão de Literatura (em especial a escolha de palavras-
chave) tem um efeito muito grande nos resultados que serão apurados.
Cabe destacar que a Revisão de Literatura pode receber outros nomes, como: Revisão
Bibliográfica (nome adequado quando se utilizam apenas livros como fontes de
consulta), ou Revisão Sistemática.
Em uma Revisão de Literatura Teórica muitas vezes são utilizadas como fontes
revisões anteriores para evitar o número excessivo de materiais a analisar. Assim, ao
invés de pesquisar todas as publicações existentes desde o início do campo, utilizam-
se sistematizações anteriores e acrescentam-se as publicações recentes (desde a última
sistematização).
Estudos empíricos devem ser usados com parcimônia como fontes na construção de
uma Revisão de Literatura Teórica, pois muitas vezes esses estudos não apresentam
um avanço em termos teóricos. Especialmente, deve-se evitar usar a seção de
Referencial Teórico de um artigo na construção de uma Revisão de Literatura Teórica.
É possível, entretanto usar algum resultado apresentado nas análises ou considerações
finais de um estudo empírico, desde que esse resultado se constitua como avanço no
campo teórico – por exemplo, os autores propõem um novo conceito, ou um novo
construto, ou ainda realizam avanços em relação a uma abordagem específica.
A Revisão de Literatura Empírica examina os estudos empíricos realizados em um
determinado campo ou temática. Ela é uma visão geral das evidências existentes, a
partir de critérios pré-especificados e padronizadas para a identificação e avaliação
crítica de pesquisas relevantes. Os critérios para seleção de publicações podem incluir
aspectos como: área de aplicação, data da publicação, método de pesquisa etc. Por
meio dela podem-se coletar, descrever e analisar dados dos estudos selecionados para
revisão. Ela pode servir para evidenciar questões específicas, como “relações
estabelecidas entre X e Y”, “resultados obtidos ao aplicar X a Y”, “níveis de X
identificados em situações do tipo Y”, “principais ferramentas de X usadas em
estudos no campo Y”, mas também pode servir para evidenciar as teorias que
suportam mais frequentemente os estudos empíricos em uma área ou os resultados
mais recentes em um campo (veja o item Estado-da-Arte mais adiante).
Além desses três tipos de Revisão de Literatura, tem-se tornado cada vez mais
popular a Revisão do Estado-da-Arte (ou simplesmente Estado-da-Arte). Em geral,
esse tipo de revisão tem o tempo como principal critério – escolhem-se as publicações
dos últimos 3 ou 5 anos. Um cuidado a ser tomado é que, inadvertidamente, o
pesquisador pode mesclar a Revisão Teórica com a Empírica, o que não é adequado.
Assim, ao realizar uma Revisão do Estado-da-Arte, recomenda-se separar as
publicações encontradas em dois grupos: avanços teóricos e avanços empíricos.
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Os termos Referencial Teórico e Fundamentação Teórica são considerados
aqui como sinônimos.
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Alguns autores chamam o Referencial Teórico de Revisão Narrativa para
destacar que não é algo sistemático e sim uma construção com propósito narrativo.
Considerando-se uma monografia de conclusão de graduação, uma dissertação ou tese,
o Referencial Teórico é mais abrangente do que aquele presente em um artigo
científico. E ele vai variar muito em quantidade de tópicos, extensão e profundidade,
dependendo do tema abordado e dos objetivos definidos. De modo geral, ele é uma
síntese escrita da literatura sobre o(s) tema(s), organizada de acordo com a
perspectiva crítica do autor. Assim, o texto de um Referencial Teórico não se limita a
apresentar ideias de diferentes autores, mas dialoga com elas: analisa, compara
autores, evidencia semelhanças e diferenças, critica e, acima de tudo, reflete o
posicionamento do pesquisador sobre o tema. Assim, o Referencial Teórico
[...] é onde são feitas conexões entre os textos originais nos quais
você se baseia, e onde você posiciona a sua pesquisa em relação a
outras fontes. É a oportunidade de estabelecer um diálogo escrito
com pesquisadores na sua área e, ao mesmo tempo, mostrar que
você se envolveu com o corpo de conhecimento subjacente à sua
pesquisa, o compreendeu e respondeu a ele. [...] é onde você
identifica as teorias e pesquisas anteriores que influenciaram sua
escolha de tema de pesquisa e a metodologia você está escolhendo a
adotar. Você pode usar a literatura para apoiar a identificação do
problema de pesquisa ou para ilustrar que existe uma lacuna nas
pesquisas anteriores que precisa ser preenchida. (RIDLEY, 2008,
p.2)
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Assegure-se de que todos os aspectos teóricos presentes nos objetivos
tenham sido abordados no referencial e estejam contemplados no Quadro Conceitual.
Quadro ou Figura para auxiliá-lo, mas isso não o exime de apresentar no formato de
texto as suas escolhas conceituais.
Considerando que toda a análise de dados se dará com base no Referencial Teórico,
este deverá ser construído de modo a dar condições a ela. É de pouca valia o
levantamento de 20 ou 30 conceitos diferentes para um mesmo construto se você não
apresentar formas de investigar e analisar esse construto. Um Referencial Teórico
frágil dá pouco espaço para compreender ou explicar um fenômeno que se investiga.
Finalmente, perceba que ainda que muitas vezes você encontre em monografias (ou
dissertações) um capítulo ou seção com o título de Revisão Literária ou Revisão de
Literatura, ele na maioria das vezes se trata de um Referencial Teórico.
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Inaugurais, iniciais, primeiras
quer fazer6, diferentes formas de abordar a problemática em questão. Além disso,
você vai se familiarizar com a nomenclatura e os conceitos fundamentais da teoria em
questão.
5. Contexto Teórico
6
Assim, evitam-se duplicações e esforços desnecessários (LAKATOS;
MARCONI, 2010).
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Os termos Framework Conceitual e Quadro Conceitual são tratados aqui
como sinônimos.
O contexto teórico 8 do trabalho é uma apresentação inicial da(s) teoria(s) que
embasam a pesquisa, ele é o quadro geral de referência para a pesquisa. Ele faz parte
do Capítulo Introdutório de uma monografia, dissertação ou tese e pode estar no
tópico Introdução, ou na Definição do Problema, ou em ambos (perceba que ele não é
um título ou subtítulo). Em um artigo científico, o contexto teórico é apresentado na
introdução.
O contexto teórico deve apresentar o que for relevante e necessário para enquadrar o
problema de pesquisa teoricamente e dar sentido à questão de pesquisa e aos objetivos
do trabalho. Assim, ele também delimita o que está sendo realizado na pesquisa,
podendo apresentar de forma breve as principais variáveis ou construtos sendo
estudados. É fundamental que você utilize variados autores na apresentação do
contexto teórico, indicando ao leitor com quais vertentes daquela teoria você se alinha.
De modo geral, o contexto teórico vai do mais geral ao mais particular, iniciando por
uma breve apresentação da macroteoria e avançando para a teoria específica que
embasará o trabalho. Quanto mais recente ou desconhecida a teoria que você estiver
utilizando na pesquisa, mais trabalho deverá ser feito no Contexto Teórico: é preciso
aproximar o leitor da teoria que ele talvez ainda não conheça a partir de algum ponto
que seja de maior domínio. Por exemplo, para tratar de Open Innovation, o contexto
teórico poderia começar na temática Inovação.
Além disso, o contexto teórico também situa a teoria utilizada no tempo. O que está
sendo utilizado é uma nova abordagem ou já está bem estabelecida? Quando ela
surgiu? Por que ela é interessante ou relevante para tratar o fenômeno em questão?
Quando a abordagem escolhida começou a ser utilizada? Esses são exemplos de
questões que podem ajudar na construção do contexto teórico.
De modo geral, é mais fácil escrever o contexto teórico após ter escrito o(s)
capítulo(s) de Referencial Teórico, pois você terá maior domínio sobre o tema e
saberá como apresentá-lo.
6. Pesquisa Bibliográfica
A Pesquisa Bibliográfica é uma técnica de coleta de dados que pode ser usada tanto
em pesquisas quantitativas quanto nas qualitativas e que utiliza como fonte de dados
livros e artigos científicos. Para realizar uma pesquisa bibliográficas, é importante que
o pesquisador tenha definido sua questão de pesquisa, seus objetivos etc, ou seja,
tenha delineado sua pesquisa e escolhido o método e as técnicas de coleta e análise de
dados. Por exemplo, para um objetivo como “identificar como o papel do gestor é
apresentado em livros de administração publicados no Brasil na década de 80”, a
técnica de coleta pesquisa bibliográfica é adequada. As especificidades do método de
8
Alguns autores se referem a ele como Theoretical Framework.
trabalho devem ser definidas (como os dados serão coletados, critérios de busca e
escolha, como serão interpretados etc.). Os dados coletados em uma Pesquisa
Bibliográfica serão não apenas apresentados, mas analisados à luz de alguma teoria.
7. Considerações Finais
Este artigo (ainda em construção) visa auxiliar alunos de graduação e pós-graduação
na elaboração e denominação de suas pesquisas. A expectativa da autora é aprimorá-
lo a partir dos comentários e dúvidas que receber.
REFERÊNCIAS
RIDLEY, D. The Literature Review: A Step-by-step Guide for Students. London:
Sage, 2008.
TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva. Introdução à Pesquisa em Ciências Sociais: a
pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.
VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e Relatórios de Pesquisa em Administração.
9. ed. São Paulo: Atlas, 2007.