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Revisão de Literatura, Referencial


Teórico, Fundamentação Teórica e
Framework Conceitual em Pesquisa –
diferença...
Debora Azevedo

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O pensament o reflexivo na busca e no uso da informação na comunicação cient ífica. 2008


Kelley Crist ine Gasque

O pensament o reflexivo na busca e no uso da informação


Kelley Crist ine Gasque

RELAÇÕES DE T RABALHO: UMA REVISÃO DA LIT ERAT URA NO PERÍODO DE 2005 A 2016
Camila Müller, Silvio F . BARBOZA
Revisão de Literatura, Referencial Teórico, Fundamentação Teórica e
Framework Conceitual em Pesquisa – diferenças e propósitos

Debora Azevedo

Como citar esse artigo:


AZEVEDO, D. Revisão de Literatura, Referencial Teórico, Fundamentação Teórica e
Framework Conceitual em Pesquisa – diferenças e propósitos. Working paper, 2016.
Disponível em: < https://unisinos.academia.edu/DeboraAzevedo/Papers> Acesso em
XXXXX.

Resumo
O objetivo deste artigo é esclarecer as diferenças entre alguns tipos de inclusão de
literatura que ocorrem em artigos e monografias na área de Ciências Sociais
Aplicadas. Com isso, busca-se auxiliar alunos de graduação e pós-graduação na
consecução de seus projetos de pesquisa e na escrita destes. Ao longo das seções
apontam-se os principais usos de cada um dos termos apresentados.

1. Introdução
Um dos desafios que alunos de graduação e pós-graduação enfrentam durante a
realização e escrita de seus projetos pesquisas é selecionar adequadamente a literatura
existente sobre o tema estudado e incorporá-la ao projeto. Essa dificuldade se dá,
muitas vezes, em virtude de confusões tanto sobre o que ler quanto sobre o que incluir
na escrita e como fazê-lo.

Em decorrência dessa dificuldade, encontram-se muitas vezes confusões de:

- nomenclatura – por exemplo, chamar de Revisão de Literatura o Referencial


Teórico de um trabalho;
- metodologia – considerar como uma etapa da metodologia (Pesquisa
Bibliográfica) a construção do Referencial Teórico;
- construção – por desconhecer a estrutura de um Referencial Teórico e de uma
Revisão de Literatura, o aluno constrói um texto que não atende a qualquer
dos dois propósitos, o que acaba por prejudicar o próprio aluno, pois não
fornece subsídios suficientes para uma análise dos dados coletados.

Ao longo deste artigo, apresentam-se as principais características de cada uma dessas


formas de trabalhar com a literatura existente, busca-se esclarecer o porquê das
confusões e como evitá-las e, adicionalmente, comenta-se sobre pesquisa
bibliográfica e suas especificidades.
2. Revisão de Literatura
A Revisão de Literatura tem como objetivo fornecer uma visão geral das fontes sobre
um determinado tópico e tem características de investigação científica, ou seja, ela
deve ser sistemática e abrangente. Seu propósito é reunir e sistematizar estudos
anteriores. Os métodos utilizados para sua construção devem ser explícitos – deve-se
indicar detalhadamente os passos para recuperar, selecionar e avaliar os estudos
relevantes já publicados sobre um determinado tema ou tópico.

Dadas essas características, observa-se que Revisões de Literatura são encontradas


mais frequentemente como artigos publicados ou em teses de doutorado (mais
raramente dissertações de mestrado também incluem revisões de literatura). Como sua
construção é muitas vezes trabalhosa e demanda tempo considerável, dificilmente será
realizada por um aluno de graduação que muitas vezes escreve seu projeto em um
período de 3 ou 4 meses.

A seleção dos materiais que farão parte da Revisão de Literatura deve obedecer
critérios claros (os quais são apresentados explicitamente antes dos resultados da
Revisão). Usualmente os critérios para uma Revisão de Literatura vão incluir:

- Fontes (bases a serem pesquisadas);


- Relevância (número de citações, JCR);
- Tempo (entre determinados anos, a partir de YY, até YY);
- Temas (palavras-chave1 individuais ou combinadas, busca booleana, palavras-
chave excluídas). Perceba que ao definir as palavras-chave você também está
definindo a língua em que será feita a busca;
- Local de busca (título, resumo, palavras-chave, todo o texto);
- Acessibilidade (muitos materiais não estão disponíveis on line e muitas vezes
não há como ter acesso a eles).

Na definição de fontes, é primordial que as fontes escolhidas sejam de caráter


acadêmico. Ou seja, fontes como: Wikipedia, sites de consultorias, blogs etc nào farão
parte da construção de uma Revisão de Literatura. Partindo-se de fontes acadêmicas, é
importante observar que nem todas têm a mesma relevância. Para distingui-la, é usual
a consideração do fator de impacto de um periódico, o número de citações ou critérios
como o Qualis da CAPES. Também é importante observar que artigos publicados em
periódicos geralmente tem mais relevância do que artigos publicados em anais de
eventos.

1
É preciso usar variações de uma mesma palavra: gênero, número, classes
gramaticais, variações de grafia etc.
Quanto aos temas a serem pesquisados, observe que buscas muito gerais podem levar
a uma miríade (ou várias, literalmente) de resultados. Por exemplo, as palavras
Marketing e Consumidor em uma determinada base de conteúdo acadêmico resultam
em 106.000 resultados, já Marketing e Comportamento do Consumidor geram 20.500
resultados, enquanto que Marketing + Comportamento do Consumidor + Hedonismo
leva a 1.070 resultados. A mesma busca considerando acessibilidade (apenas
resultados com pdf disponível foram considerados) resulta em 520 publicações e, se
considerados apenas os últimos três anos, obtém-se um total de 256 resultados. Assim,
a escolha de critérios para a Revisão de Literatura (em especial a escolha de palavras-
chave) tem um efeito muito grande nos resultados que serão apurados.

Cabe destacar que a Revisão de Literatura pode receber outros nomes, como: Revisão
Bibliográfica (nome adequado quando se utilizam apenas livros como fontes de
consulta), ou Revisão Sistemática.

Há três tipos básicos de Revisão de Literatura: teórica, empírica e metodológica. Cada


uma delas é apresentada na sequência.

A Revisão de Literatura Teórica examina o corpus de teoria acumulado em relação


a uma temática, uma questão, um conceito, ou um fenômeno. A revisão da literatura
teórica ajuda a: estabelecer quais as teorias já existentes sobre algo, elencar diferentes
abordagens de uma teoria e a relação entre elas, discutir até que ponto as teorias
existentes foram investigadas, evidenciar lacunas teóricas a serem exploradas e, por
isso, pode ajudar a desenvolver hipóteses a serem testadas. Muitas vezes, esta forma é
usada para ajudar a estabelecer a falta de teorias apropriadas ou revelar que as teorias
atuais são insuficientes para explicar problemas de investigação novos ou emergentes.

Em uma Revisão de Literatura Teórica muitas vezes são utilizadas como fontes
revisões anteriores para evitar o número excessivo de materiais a analisar. Assim, ao
invés de pesquisar todas as publicações existentes desde o início do campo, utilizam-
se sistematizações anteriores e acrescentam-se as publicações recentes (desde a última
sistematização).

Estudos empíricos devem ser usados com parcimônia como fontes na construção de
uma Revisão de Literatura Teórica, pois muitas vezes esses estudos não apresentam
um avanço em termos teóricos. Especialmente, deve-se evitar usar a seção de
Referencial Teórico de um artigo na construção de uma Revisão de Literatura Teórica.
É possível, entretanto usar algum resultado apresentado nas análises ou considerações
finais de um estudo empírico, desde que esse resultado se constitua como avanço no
campo teórico – por exemplo, os autores propõem um novo conceito, ou um novo
construto, ou ainda realizam avanços em relação a uma abordagem específica.
A Revisão de Literatura Empírica examina os estudos empíricos realizados em um
determinado campo ou temática. Ela é uma visão geral das evidências existentes, a
partir de critérios pré-especificados e padronizadas para a identificação e avaliação
crítica de pesquisas relevantes. Os critérios para seleção de publicações podem incluir
aspectos como: área de aplicação, data da publicação, método de pesquisa etc. Por
meio dela podem-se coletar, descrever e analisar dados dos estudos selecionados para
revisão. Ela pode servir para evidenciar questões específicas, como “relações
estabelecidas entre X e Y”, “resultados obtidos ao aplicar X a Y”, “níveis de X
identificados em situações do tipo Y”, “principais ferramentas de X usadas em
estudos no campo Y”, mas também pode servir para evidenciar as teorias que
suportam mais frequentemente os estudos empíricos em uma área ou os resultados
mais recentes em um campo (veja o item Estado-da-Arte mais adiante).

A Revisão de Literatura Metodológica descreve e analisa os principais métodos


utilizados na investigação de determinado tipo de fenômeno. Não necessariamente o
método mais frequente é o mais adequado, e uma revisão deste tipo pode ajudar a
apontar tendências, novas abordagens, estudos de outras áreas que enfocam
fenômenos semelhantes etc. Ela é útil como sustentação para escolhas metodológicas
e, por isso, encontra-se com mais frequência em teses, geralmente no capítulo que
aborda os métodos da pesquisa.

Além desses três tipos de Revisão de Literatura, tem-se tornado cada vez mais
popular a Revisão do Estado-da-Arte (ou simplesmente Estado-da-Arte). Em geral,
esse tipo de revisão tem o tempo como principal critério – escolhem-se as publicações
dos últimos 3 ou 5 anos. Um cuidado a ser tomado é que, inadvertidamente, o
pesquisador pode mesclar a Revisão Teórica com a Empírica, o que não é adequado.
Assim, ao realizar uma Revisão do Estado-da-Arte, recomenda-se separar as
publicações encontradas em dois grupos: avanços teóricos e avanços empíricos.

Um dos usos mais frequentes de uma Revisão do Estado-da-Arte é para a justificativa


de uma pesquisa, especialmente de teses, pois esta é uma boa forma de identificar
lacunas na teoria existente. Ao revisar o Estado-da-Arte podem-se encontrar indícios
da originalidade daquilo que o doutorando se propõe a fazer (pois não se encontraram
indícios de que alguém já o tenha feito anteriormente) e isso ajuda a justificar a
pesquisa.

Em trabalhos de conclusão de graduação ou especialização, pode ser interessante o


estudante fazer uma Revisão do Estado-da-Arte em publicações nacionais, limitando-
se, por exemplo, aos últimos três anos. Isso enriquece o trabalho e dá ao pesquisador
uma compreensão mais abrangente da temática que está sendo pesquisada.

Como em qualquer Revisão de Literatura, a Revisão do Estado-da-Arte requer que o


pesquisador apresente os critérios de busca e seleção utilizados.
Finalmente, cabe destacar o Levantamento Bibliográfico (ou Levantamento de
Literatura), que se caracteriza por enfocar aspectos descritivos e quantitativos
(quantas publicações, suas fontes, quantos autores, quais métodos utilizados etc.), sem
buscar uma análise do conteúdo (conceitos, abordagens) ou dos avanços dessas
publicações. Para a realização do Levantamento estabelecem-se as fontes de busca
(portais, bases de dados etc.) e os critérios de busca (período, palavras-chave etc);
com base nestes critérios, todos os materiais encontrados são considerados. Não existe
no Levantamento um critério para o filtro das fontes após o estabelecimento do
critério de seleção inicial (por exemplo, não se usa critério de relevância). Além disso,
em levantamentos algumas vezes são utilizadas fontes não acadêmicas, por exemplo
para evidenciar o crescimento de uma área ou a popularização de uma temática. As
referências utilizadas podem ser: livros, artigos, sites, revistas, vídeos.

É fundamental que o pesquisador explicite os critérios utilizados para a realização do


levantamento antes de apresentar seus resultados. Levantamentos podem ser
utilizados para evidenciar: a emergência de um campo de estudo, a concentração
(geográfica, temporal) dos estudos sobre determinada temática, lacunas existentes em
estudos atuais etc. Levantamentos também podem servir de subsídios para o
mapeamento de redes.

3. Referencial Teórico ou Fundamentação Teórica


O Referencial Teórico2 geralmente constitui um ou mais capítulos de uma monografia
e uma ou mais seções de um artigo teórico-empírico. Com ele o(s) autor(es) busca(m)
demonstrar aos leitores como aquela pesquisa se encaixa no campo de estudo e quais
escolhas teóricas foram feitas para subsidiá-la. O Referencial Teórico representa a
base teórica a partir da qual será feita a análise de dados da pesquisa e sua construção
evidencia o domínio que o pesquisador tem sobre o tema. Geralmente, cada teoria ou
construto geral a ser utilizado ao longo do trabalho será abordado em uma seção ou
capítulo específico do Referencial Teórico.

O Referencial Teórico tem um propósito diferente da Revisão de Literatura. A


questão aqui não é a busca sistemática de publicações sobre o tema, mas as escolhas
que são feitas3 . O Referencial Teórico é construído tendo em mente os objetivos da
pesquisa, ou seja, aspectos a serem analisados mais tarde serão privilegiados no
referencial teórico.

2
Os termos Referencial Teórico e Fundamentação Teórica são considerados
aqui como sinônimos.
3
Alguns autores chamam o Referencial Teórico de Revisão Narrativa para
destacar que não é algo sistemático e sim uma construção com propósito narrativo.
Considerando-se uma monografia de conclusão de graduação, uma dissertação ou tese,
o Referencial Teórico é mais abrangente do que aquele presente em um artigo
científico. E ele vai variar muito em quantidade de tópicos, extensão e profundidade,
dependendo do tema abordado e dos objetivos definidos. De modo geral, ele é uma
síntese escrita da literatura sobre o(s) tema(s), organizada de acordo com a
perspectiva crítica do autor. Assim, o texto de um Referencial Teórico não se limita a
apresentar ideias de diferentes autores, mas dialoga com elas: analisa, compara
autores, evidencia semelhanças e diferenças, critica e, acima de tudo, reflete o
posicionamento do pesquisador sobre o tema. Assim, o Referencial Teórico

[...] é onde são feitas conexões entre os textos originais nos quais
você se baseia, e onde você posiciona a sua pesquisa em relação a
outras fontes. É a oportunidade de estabelecer um diálogo escrito
com pesquisadores na sua área e, ao mesmo tempo, mostrar que
você se envolveu com o corpo de conhecimento subjacente à sua
pesquisa, o compreendeu e respondeu a ele. [...] é onde você
identifica as teorias e pesquisas anteriores que influenciaram sua
escolha de tema de pesquisa e a metodologia você está escolhendo a
adotar. Você pode usar a literatura para apoiar a identificação do
problema de pesquisa ou para ilustrar que existe uma lacuna nas
pesquisas anteriores que precisa ser preenchida. (RIDLEY, 2008,
p.2)

Pode-se considerar que, para cada teoria ou construto abordado no Referencial


Teórico, os itens mais frequentes são:

- Origens, breve histórico e conceitos/aspectos fundantes;


- Principais abordagens (diferentes conceitos adotados por diferentes autores,
diferentes enfoques, diferentes fases pelas quais os estudos desta
teoria/construto passaram);
- Principais componentes ou aspectos que evidenciam os fenômenos estudados
e que você quer, oportunamente, identificar ou analisar;
- Diferentes modelos que explicam o fenômeno (caso existam), dificultadores e
facilitadores (caso existam), vantagens e desvantagens (caso existam);
- Principais aplicações ou usos;
- Resultados de estudos recentes ou avanços na área.

Ao final de um Referencial Teórico é recomendado que se apresente o Quadro


Conceitual ou Framework Conceitual (Conceptual Framework) a ser adotado – nele o
autor da pesquisa escolhe objetivamente quais abordagens, conceitos, modelos etc.
adotará como referência para a sua pesquisa. Aqui é importante que o pesquisador se
posicione levando em consideração os objetivos da pesquisa4. Você pode usar um

4
Assegure-se de que todos os aspectos teóricos presentes nos objetivos
tenham sido abordados no referencial e estejam contemplados no Quadro Conceitual.
Quadro ou Figura para auxiliá-lo, mas isso não o exime de apresentar no formato de
texto as suas escolhas conceituais.

Considerando que toda a análise de dados se dará com base no Referencial Teórico,
este deverá ser construído de modo a dar condições a ela. É de pouca valia o
levantamento de 20 ou 30 conceitos diferentes para um mesmo construto se você não
apresentar formas de investigar e analisar esse construto. Um Referencial Teórico
frágil dá pouco espaço para compreender ou explicar um fenômeno que se investiga.

Finalmente, perceba que ainda que muitas vezes você encontre em monografias (ou
dissertações) um capítulo ou seção com o título de Revisão Literária ou Revisão de
Literatura, ele na maioria das vezes se trata de um Referencial Teórico.

3.1 Preparação para a Construção do Referencial Teórico - Leitura Flutuante ou


Exploratória
Como o Referencial Teórico pressupõe escolhas, há muito trabalho de leitura e
reflexão a ser feito antes da escrita do Referencial Teórico. Caso o pesquisador não
esteja familiarizado com o tema, ele deve começar um processo de leitura buscando:
principais autores, obras seminais5, obras mais citadas, diferentes abordagens. Nesta
etapa de “leitura flutuante” o importante é adquirir familiaridade com o tema,
tomando contato com muitos materiais e percebendo semelhanças e diferenças. Não é
a leitura aprofundada de um livro sobre o tema que vai permitir o seu avanço, mas
uma leitura (ainda que superficial) de vários materiais.

De modo geral, na escrita de uma dissertação ou tese essa etapa de familiarizar-se


com o tema já ocorreu antes da definição dos objetivos da pesquisa. Entretanto, entre
alunos de graduação é frequente a situação de começar o trabalho de conclusão sem
ter leituras prévias sobre a temática. Neste caso, o aluno pode recorrer ao seu
orientador (para sugestões de leituras imprescindíveis), às bases de dados (para a
busca de artigos, mas também de teses e dissertações sobre o tema), às listas de
referências de artigos já lidos (para explorar outras obras no mesmo tema), e às
bibliotecas da Universidade. O importante nesta etapa é familiarizar-se o suficiente
com o tema para ser capaz de fazer as escolhas necessárias para a construção de um
Referencial Teórico.

Somente ao ampliar e aprofundar seu conhecimento sobre um determinado tema você


será capaz de apresentá-lo de modo organizado, coerente e objetivo. Neste processo,
você pode descobrir métodos e procedimentos empregados por outros pesquisadores,
dificuldades encontradas por eles (TRIVIÑOS, 1987), lacunas a serem investigadas,
discussões atuais dentro da temática, se há muitas pesquisas semelhantes ao que você

5
Inaugurais, iniciais, primeiras
quer fazer6, diferentes formas de abordar a problemática em questão. Além disso,
você vai se familiarizar com a nomenclatura e os conceitos fundamentais da teoria em
questão.

Ao fazer a leitura flutuante, você compreenderá melhor seu problema de pesquisa,


pois poderá enquadrá-lo na teoria escolhida. Caso você não tenha feito a leitura
flutuante antes de escrever sua questão de pesquisa e seus objetivos é bem provável
que você precise retornar a eles e reescrevê-los, considerando agora o enquadramento
teórico adequado. Também é nesta etapa que você começa a identificar pressupostos
da sua pesquisa e a formular hipóteses ou suposições (VERGARA, 2007).

A leitura flutuante é um processo de aprendizado, mas não gera diretamente um


produto. Durante a leitura flutuante você pode destacar trechos ou autores que você
considera importantes e que possam ser úteis na construção do seu Referencial
Teórico. Mas não se engane: você lerá bem mais do que aquilo que finalmente
aparecerá no seu referencial – lembre-se: ele representa as suas escolhas depois de se
apropriar do tema. Assim, apenas 15 ou 20% daquilo que você leu aparecerá de fato
no seu Referencial Teórico. Apenas após ter realizado a leitura flutuante de modo
adequado você terá condições de começar a escrever seu Referencial Teórico.

4. Framework Conceitual ou Quadro Conceitual7


Algumas vezes em artigos científicos você vai encontrar uma seção de Framework
Conceitual, ao invés de uma seção de Referencial Teórico. Isso se deve muitas vezes
a questões de espaço – como os artigos tem limitações (em termos de número de
palavras ou número de páginas), os autores limitam sua apresentação da teoria ao
Framework Conceitual (o qual, usualmente, é uma parte do Referencial Teórico).

O Framework Conceitual deve evidenciar os principais conceitos e construtos


adotados na pesquisa e as relações entre eles. Essa construção deve se dar em formato
de texto, mas pode ser auxiliada por um desenho ou por quadro esquemático. O
importante a notar aqui é que o Framework Conceitual indica ao leitor em que
conceitos a pesquisa se baseia, de que modo ela deve ser lida, com quais pesquisas
anteriores ela dialoga e quais aspectos do fenômeno estão sendo analisados. Por
exemplo, se você está pesquisando na temática Gestão do Conhecimento você pode
ou não considerar aspectos da Cultura Organizacional como de interesse na pesquisa.
Essa escolha é sua e deve estar evidenciada no Framework Conceitual.

5. Contexto Teórico

6
Assim, evitam-se duplicações e esforços desnecessários (LAKATOS;
MARCONI, 2010).
7
Os termos Framework Conceitual e Quadro Conceitual são tratados aqui
como sinônimos.
O contexto teórico 8 do trabalho é uma apresentação inicial da(s) teoria(s) que
embasam a pesquisa, ele é o quadro geral de referência para a pesquisa. Ele faz parte
do Capítulo Introdutório de uma monografia, dissertação ou tese e pode estar no
tópico Introdução, ou na Definição do Problema, ou em ambos (perceba que ele não é
um título ou subtítulo). Em um artigo científico, o contexto teórico é apresentado na
introdução.

O contexto teórico deve apresentar o que for relevante e necessário para enquadrar o
problema de pesquisa teoricamente e dar sentido à questão de pesquisa e aos objetivos
do trabalho. Assim, ele também delimita o que está sendo realizado na pesquisa,
podendo apresentar de forma breve as principais variáveis ou construtos sendo
estudados. É fundamental que você utilize variados autores na apresentação do
contexto teórico, indicando ao leitor com quais vertentes daquela teoria você se alinha.

De modo geral, o contexto teórico vai do mais geral ao mais particular, iniciando por
uma breve apresentação da macroteoria e avançando para a teoria específica que
embasará o trabalho. Quanto mais recente ou desconhecida a teoria que você estiver
utilizando na pesquisa, mais trabalho deverá ser feito no Contexto Teórico: é preciso
aproximar o leitor da teoria que ele talvez ainda não conheça a partir de algum ponto
que seja de maior domínio. Por exemplo, para tratar de Open Innovation, o contexto
teórico poderia começar na temática Inovação.

Além disso, o contexto teórico também situa a teoria utilizada no tempo. O que está
sendo utilizado é uma nova abordagem ou já está bem estabelecida? Quando ela
surgiu? Por que ela é interessante ou relevante para tratar o fenômeno em questão?
Quando a abordagem escolhida começou a ser utilizada? Esses são exemplos de
questões que podem ajudar na construção do contexto teórico.

De modo geral, é mais fácil escrever o contexto teórico após ter escrito o(s)
capítulo(s) de Referencial Teórico, pois você terá maior domínio sobre o tema e
saberá como apresentá-lo.

6. Pesquisa Bibliográfica
A Pesquisa Bibliográfica é uma técnica de coleta de dados que pode ser usada tanto
em pesquisas quantitativas quanto nas qualitativas e que utiliza como fonte de dados
livros e artigos científicos. Para realizar uma pesquisa bibliográficas, é importante que
o pesquisador tenha definido sua questão de pesquisa, seus objetivos etc, ou seja,
tenha delineado sua pesquisa e escolhido o método e as técnicas de coleta e análise de
dados. Por exemplo, para um objetivo como “identificar como o papel do gestor é
apresentado em livros de administração publicados no Brasil na década de 80”, a
técnica de coleta pesquisa bibliográfica é adequada. As especificidades do método de

8
Alguns autores se referem a ele como Theoretical Framework.
trabalho devem ser definidas (como os dados serão coletados, critérios de busca e
escolha, como serão interpretados etc.). Os dados coletados em uma Pesquisa
Bibliográfica serão não apenas apresentados, mas analisados à luz de alguma teoria.

Relacionada e semelhante à Pesquisa bibliográfica é a Pesquisa Documental, que


pode incluir outras fontes de dados como documentos, fotocópias, mapas, imagens,
páginas da internet, publicações em redes sociais, filmes, partituras, manuscritos,
correspondências, documentos produzidos por empresas (normas, instruções de
trabalho, políticas, manuais etc.).

7. Considerações Finais
Este artigo (ainda em construção) visa auxiliar alunos de graduação e pós-graduação
na elaboração e denominação de suas pesquisas. A expectativa da autora é aprimorá-
lo a partir dos comentários e dúvidas que receber.

Apropriar-se adequadamente de uma teoria e embasar-se nela para realizar sua


pesquisa é parte não apenas do processo de construção do conhecimento científico,
mas também de formação de bacharéis, licenciados, mestres e doutores. Este é um
caminho longo e trabalhoso – espera-se aqui contribuir minimamente para iluminar
este caminho e, desse modo, ajudar na caminhada.

REFERÊNCIAS
RIDLEY, D. The Literature Review: A Step-by-step Guide for Students. London:
Sage, 2008.
TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva. Introdução à Pesquisa em Ciências Sociais: a
pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.
VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e Relatórios de Pesquisa em Administração.
9. ed. São Paulo: Atlas, 2007.

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