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AS COMUNAS
COLETÂNEA DE TEXTOS
FRANÇOIS GUIZOT
AUGUSTIN THIERRY
PROSPER DE BARANTE
Editora da Universidade Estadual de Maringá
CONSELHO EDITORIAL
Prof. Dr. Antonio Belincanta, Prof. Dr. Benedito Prado Dias Filho, Prof. Dr. Carlos Alberto Scapim,
Prof. Dr. Edson Carlos Romualdo, Prof. Dr. Eduardo Augusto Tomanik, Prof. Dr. Edvard Elias de Souza
Filho, Profa. Dra. Hilka Pelizza Vier Machado, Prof. Dr. José Carlos de Sousa, Prof. Dr. Luiz Antonio de
Souza, Prof. Dr. Lupércio Antonio Pereira, Prof. Dr. Neio Lucio Peres Gualda. Secretária: Maria José
de Melo Vandresen.
TEREZINHA OLIVEIRA
CLAUDINEI MAGNO MAGRE MENDES
(ORGANIZADORES)
COLETÂNEA DE TEXTOS
FRANÇOIS GUIZOT
AUGUSTIN THIERRY
PROSPER DE BARANTE
Maringá
2005
Divisão de Editoração Marcos Kazuyoshi Sassaka
Marcos Cipriano da Silva
Paulo Bento da Silva
Cristina Akemi Kamikoga
Luciano Wilian da Silva
Solange Marly Oshima
Revisão de Língua Portuguesa Manoel Messias Alves da Silva
Capa – arte final Luciano Wilian da Silva
Marcos Kazuyoshi Sassaka
Projeto gráfico e Editoração Marcos Cipriano da Silva
Normalização Biblioteca Central - UEM
Fonte Goudy Old Style
Tiragem 500 exemplares
COLETÂNEA
ANEXOS
ANEXO I
TEXTO FEIRA, DE TURGOT ................................................................... 109
ANEXO II
DOCUMENTOS ................................................................................... 117
ANEXO III
GLOSSÁRIO........................................................................................ 125
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Pouthas observa:
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Também no Prefácio da nona edição dos Essais sur l’histoire de France, de 1857,
Guizot refere-se às condições políticas vigentes no início da década de 20 e que
deram origem aos seus primeiros escritos históricos: “Quando, em 1823, publi-
quei esses Essais sur l’histoire de France, eu estudava e começava a escrever, ao
mesmo tempo, a Histoire de la Révolution d’Angleterre; e nos anos imediatamente
precedentes, de 1820 a 1822, associei-me, através de vários escritos, à luta políti-
ca travada, nessa época, entre os dois grandes partidos que representavam, um, a
antiga França, o outro, a nova França, como 1789 a fizera” (GUIZOT, 1857, p.
1- 2).
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Artes, aqui, no sentido mais amplo e arcaico, ligado ao artesanato (Nota dos
tradutores).
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nossos senhores; não faz trinta anos que nós descobrimos que
nossos antepassados eram a nação. Nós temos admirado tudo,
aprendido tudo, menos o que eles foram e o que fizeram. Nós
somos patriotas e deixamos no esquecimento aqueles que,
durante quatorze séculos, cultivaram o solo da pátria,
freqüentemente devastado por outras mãos: os gauleses eram
antes a França 3 (THIERRY, 1856, p. 3-5).
3
Censeur Européen, t. 7, p. 250.
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Essa carta é por demais sugestiva. O trecho completo dela é o seguinte: “Enfim,
se eu fosse você, eu observaria aos senhores democratas em geral que eles fariam
melhor se primeiro se familiarizassem com a literatura burguesa antes de se
permitir ladrar contra aquilo que é seu oposto. Estes senhores deveriam estudar,
por exemplo, as obras de Thierry, Guizot, John Wade, etc., e adquirir algumas
luzes sobre a “história das classes” no passado. Eles deveriam se familiarizar com
os rudimentos da economia política, antes de pretender se entregar à crítica da
economia política. [...].
Agora, no que concerne a mim, não me cabe nem o mérito de ter desco-
berto a existência das classes na sociedade moderna, nem a luta que elas
nela travam. Historiadores burgueses expuseram bem antes de mim a evo-
lução histórica desta luta de classes e economistas burgueses tinham des-
crito a anatomia econômica delas. O que eu trouxe de novo, foi: primei-
ro, demonstrar que a existência das classes está ligada apenas às fases
históricas determinadas do desenvolvimento da produção; segundo, que a luta
de classes conduz necessariamente à ditadura do proletariado; terceiro, que
esta ditadura não representa senão uma transição para a abolição de todas
as classes e para uma sociedade sem classes” (MARX; ENGELS, 1964, p.58-
59).
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Aqui burguês significa apenas o habitante do burgo e não uma classe social.
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REFERÊNCIAS
CAIRE-JABINET, M.-P. Introdução à historiografia. Bauru, SP: Edusc, 2003.
CALMETTE, J. Textes et documents d’Histoire. Neuvième édition. Paris:
Presses Universitaires de France, 1953. v. 2. Moyen Âge.
GUIZOT, F. Essais sur l’histoire de France. Neuvième édition. Paris: Didier,
1857.
JARDIN, A. Alexis de Tocqueville: 1805-1859. Paris: Hachette, 1984.
MARX, K.; ENGELS, F. Correspondence Marx-Engels. Lettres sur “Le Capi-
tal”. Paris: Éditions Sociales, 1964.
________.Obras escolhidas. São Paulo: Alfa-Omega, 1976. 3 v.
POUTHAS, Charles H. Guizot pendant la Réstauration. Préparation de
l’homme d’État (1814-1830). Paris: Plon, 1923.
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Coletânea
FRANÇOIS GUIZOT
(1787-1874)
1
Esta obra é resultado de cursos ministrados por Guizot na Sorbone. Seu curso,
suspenso em 1822, por motivos políticos, foi retomado em abril de 1828, quando
Guizot expõe a História da civilização na Europa, uma longa introdução à sua Histó-
ria da civilização na França, que foi o tema do seu curso, entre dezembro de 1828 e
maio de 1830. O curso sobre a civilização na Europa foi publicado, pela primeira
vez, em forma de brochura, em 1828. Segundo Réizov, os cursos de Guizot eram
editados, em forma de pequenas brochuras, alguns dias após as lições terem sido
lidas. (RÉIZOV, [19--], p. 279-281) Ver também, JARDIN (1984, p. 81).
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Senhores,
Acompanhamos, até o século XII, as histórias dos dois primeiros
grandes elementos da civilização moderna, o regime feudal e a Igreja.
É do terceiro destes elementos fundamentais, refiro-me às comunas,
que vamos nos ocupar hoje, igualmente até o século XII, restringin-
do-nos aos mesmos limites em que nos mantivemos nos outros dois.
A respeito das comunas encontramo-nos em uma situação dis-
tinta daquela em que estávamos diante da Igreja ou do regime
feudal. Do século V ao XII, o regime feudal e a Igreja, ainda que
tenham tomado mais tarde novos desenvolvimentos, mostram-se a
nós quase completos, em um estado definitivo; vimo-los nascer,
crescer, atingir a maturidade. Não ocorre o mesmo com as comunas.
É somente no fim da época que estamos tratando, nos séculos XI e
XII, que elas ocupam um lugar na história. Não que antes não
tivessem uma história que mereça ser estudada; não que não haja,
bem antes desta época, traços de sua existência; mas é somente no
século XI que elas aparecem claramente no grande palco do mundo
e como um elemento importante da civilização moderna. Deste
modo, no que diz respeito ao regime feudal e à Igreja, do século V
ao XII, vimos as conseqüências se desenvolverem, nascerem as
causas: todas as vezes que, pela indução, deduzimos dos princípios
determinados resultados, eles puderam ser comprovados pelo exame
dos próprios fatos. Para as comunas esta facilidade nos falta; assisti-
mos ao seu nascimento; hoje somente posso falar a vocês das causas,
das origens. Tudo o que disser sobre as conseqüências da existência
das comunas, sobre a sua influência no curso da civilização européia,
eu o direi de alguma maneira pela via da predição. Não poderia
invocar o testemunho de fatos contemporâneos e conhecidos.
Somente mais tarde, do século XII ao XV, é que veremos as comu-
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Presidente das câmaras municipais, exceto em Paris.
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A insurreição foi geral. Quando digo geral isto não quer dizer
que houvesse um pacto, uma coalizão entre todos os burgueses de
um país; não houve nada disso. A situação das comunas era, por
toda parte, praticamente a mesma; encontravam-se quase todas
expostas ao mesmo perigo, atingidas pelo mesmo mal. Tendo adqui-
rido basicamente os mesmos meios de resistência e de defesa, elas
empregaram-nos praticamente na mesma época. Pode ser também
que o exemplo tivesse desempenhado neste caso algum papel, que o
sucesso de uma ou duas comunas tivesse sido contagioso. As cartas
parecem algumas vezes copiadas do mesmo modelo; a de Noyon, por
exemplo, serviu de modelo às de Beauvais, de Saint-Quentin etc.
Duvido, entretanto, que o exemplo tivesse funcionado tanto quanto
comumente se supõe. As comunicações eram difíceis, raras, os
boatos vagos e passageiros. Podemos, com razão, acreditar que a
insurreição foi antes o resultado de uma situação idêntica e de um
movimento espontâneo, geral. Quando digo geral quero dizer que
teve lugar em quase toda parte, pois este não foi de nenhum modo,
repito, um movimento unânime e concertado; tudo era particular,
local: cada comuna insurgia-se por sua conta contra seu senhor; tudo
se passava nas localidades.
As vicissitudes da luta foram grandes. Não só os seus resultados
se alternaram como, mesmo depois que a paz parecia já ter sido
acertada, mesmo depois que a carta já tinha sido jurada por uma e
outra parte, ela era violada e desrespeitada de todas as maneiras. Os
reis desempenharam um grande papel nas alternâncias desta luta.
Falarei disso com detalhes quando tratar da própria realeza. Ora a
influência da realeza no movimento de emancipação comunal é
excessivamente exaltada, ora é contestada, a meu ver, também de
forma exagerada. Limitar-me-ei hoje a afirmar que ela interveio
freqüentemente invocada ora pelas comunas, ora pelos senhores, e
que, muito freqüentemente, ela desempenhou papéis contrários;
que agiu ora segundo um princípio, ora segundo outro; que ela
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Senhores,
Todos vocês sabem que, nos tempos da república e nos primei-
ros tempos do império, a indústria era uma atividade doméstica
exercida por escravos em proveito do seu senhor. Todo proprietário
de escravos fabricava em sua casa tudo aquilo que tinha necessidade;
ele possuía escravos que eram forjadores, serralheiros, marceneiro,
sapateiro, etc. E não somente os fazia trabalhar para si como vendia
os produtos de sua indústria aos homens livres, seus clientes ou
outros que não possuíam escravos.
Por uma dessas evoluções lentas e imperceptíveis que se encon-
tra concluída em uma dada época, mas que não se consegue acom-
panhar o curso e cuja origem nunca se consegue remontar ocorreu
que a indústria saiu da domesticidade e, em lugar de artesãos escra-
vos, formaram-se artesãos livres que trabalhavam não para um
mestre, mas para o público e em proveito próprio. Essa foi uma
imensa mudança na situação da sociedade, sobretudo para o seu
futuro. Quando e como se processou no seio do mundo romano eu
3
Esta obra é resultado de um curso ministrado por Guizot entre dezembro de
1828 e maio de 1830 e publicado, em forma de brochura, pela primeira vez, ao
longo do curso, nos anos de 1829 e 1830.
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AUGUSTIN THIERRY
(1795-1856)
Carta XIII
Sobre a libertação das comunas
1
Parte das Cartas (dez, ao todo) foi publicada, pela primeira vez, separadamente,
no Courrier Français, nos últimos meses de 1820. Thierry publicou essas cartas
com outras quinze, em um único volume, em 1827.
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2
A justiça ordena-me excetuar dessa censura, como a de muitas outras, a obra do
Sr. de Sismondi. Este autor penetrou, na minha opinião, nas verdadeiras vias da
história, mas, infelizmente, são as opiniões defendidas por Mézeray, Velly, An-
quetif e seus discípulos que prevalecem ainda no público e é a elas que eu me
refiro.
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3
Annales de l’eglise de Noyon, por Jacques Le Vasseur. (Paris, 1633).
4
Vejam o prefácio do sexto volume do Recueil des ordonnances des rois de France, p.
XXXVII e XXXVIII, e o desenho feito pelo editor Sr. Secousse, na página 44, do
quarto volume.
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5
“Nós consideramos que, ainda que toda a autoridade residisse, na França, na
pessoa do rei, nossos predecessores não teriam absolutamente hesitado em mo-
dificar a prática, seguindo a diversidade do tempo; assim é que as comunas de-
veram sua libertação a Luís, o Gordo, a confirmação e a extensão de seus direi-
tos a São Luís e a Felipe, o Belo” (Preâmbulo da carta constitucional de 1814) –
Essa passagem foi escrita em 1827.
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A palavra república é, algumas vezes, empregada pelos historiadores da Idade
Média para designar uma comuna.
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7
Statum est itaque e sub religione confirmatum quod unnusquisque jurato suo
fidem, vim, auxiliumque praebebit. (Chartes de commune, em Recueil des or-
donnonces des rois de France, passim)
8
Skepen, na língua dos francos, significa juiz. É a palavra latinizada nas capitulares
scabini, que foi mal traduzida de propósito pelo termo bárbaro scabin.
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Regius ... appetitus ad potiora promissa deflectitur ... omnia sacramenta sua sine ulla
honestatis respectione cassantur. (Guibert, de Novigent, de Vita sua, apud script. rer.
Gallic. et francic., t. 12, p. 252).
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Vejam abaixo os detalhes relativos às comunas de Sens e Vezelay.
11
Hist. episcop., autissiodor., apud script. reg. Gallie. et francic., t. 12, p. 304.
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dar algum presente que não fosse vinho em pote. 12 Sua conduta
como mediador nas querelas entre senhores e burgueses, ainda que
sempre moderada, prova, em geral, pouco respeito pelos direitos
da burguesia. 13
Se as intenções dos reis da França tivessem sido tão plena-
mente favoráveis ao estabelecimento de comunas, como se acredi-
ta, seria nas cidades da coroa que se as veria manifestarem-se de
maneira mais brilhante. Pois bem! Nenhuma dessas cidades, que
eram as mais florescentes do reino, obteve libertação tão comple-
ta como as cidades senhoriais, uma vez que todo projeto de
insurreição nelas era frustrado por um poder muito superior ao
dos maiores senhores. Paris nunca teve comuna, somente corpo-
rações de ofício e uma justiça burguesa sem atribuição política.
Orléans tentou, no reinado de Luís, o Jovem, erigir-se em comu-
na; mas uma execução militar e suplícios castigaram, dizem as
crônicas de Saint-Denis, a loucura desses bobocas que, por moti-
vo da comuna, mostravam vontade de se rebelar e de se insurgir
contra a coroa. 14
Recusando a nossos reis a iniciativa na revolução comunal, uma
justiça que se lhes deve prestar é confessar que eles, de maneira
alguma, destruíram as comunas nas cidades senhoriais que eles
anexaram aos poucos ao seu domínio, sobretudo antes do século
XIV. Eles perceberam que era mais difícil aniquilar uma liberdade
adquirida desde longa data do que sufocá-la em seu berço. O reco-
nhecimento do governo republicano das cidades do Languedoc nas
primeiras épocas que se seguiram à conquista desta região era indis-
pensável à manutenção desta conquista. Ocorreu o mesmo nas
grandes comunas da Normandia, do Anjou, da Bretanha, da Guiana
e da Provença. A razão de estado fez respeitar nelas privilégios que
12
Recueil des ordonnances des rois de France.
13
Vejam abaixo, carta XX, a história da comuna de Reims.
14
Chroniques de Saint-Denis; Recueil des Hist. de la France, t. 12, p. 196.
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Eu, henri, conde de Troais, faço saber a todos os presentes e aos que
virão que estabeleci os costumes aqui abaixo anunciados para os
habitantes da minha cidade nova (perto de Pont-sur-Seine), entre os
aterros das pontes de Pugny: Todo homem domiciliando na dita
15
Quasdam... villas novas aedificavit, per que plures eclesias et milites, de propriis suis
hominibus ad eas confugientibus, exhacredasse non est dubium. (Fragm. Vitam Lu-
dovici VII summatim complectens, apud script. rer. gallic. et francic., t. 12, p.
286).
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cidade pagará, cada ano, doze dinheiros e uma mina (mine) de aveia
pelo preço do seu domicílio; e, se quiser ter uma porção de terra ou
de pasto, ele dará por arpente quatro dinheiros de renda. As casas,
vinhas e pastos poderão ser vendidos ou alienados à vontade do
adquirente. Os homens residentes na dita cidade não irão nem ao
exército (ost), nem a nenhuma campanha de guerra (chevauchée), se eu
próprio não estiver no comando. 16 Quero conceder, além disso,
direito de ter seis échevins que administrarão os negócios comuns da
cidade, e assistirão meu preboste em seus tribunais. Eu determinei
que nenhum senhor, cavaleiro ou outro, poderia tirar fora da cidade
nenhum novo habitante, por qualquer razão que fosse, a não ser que
esse último fosse homem de sua corporação ou tivesse uma dívida
atrasada de talha para lhe pagar. Feito em Provins, o ano da
Encarnação 1175. 17
16
As palavras ost e chevauchée são sinônimas de exército e de campanha de guerra
(Nota dos tradutores).
17
Recueil des Ordonnances des rois de France, t. 6, p. 319 - 320.
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18
Os textos que compõem essa obra foram publicados separadamente entre 1817
e 1827.
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Aquele que, dizia a carta, quiser entrar nesta comuna não poderá ser
recebido como membro por um único indivíduo, mas na presença
dos jurados. A quantia de dinheiro que ele então der será empregada
para utilidade da cidade e não em proveito particular de quem quer
que seja.
Se a comuna for convocada em armas, todos aqueles que a terão
jurado deverão ir em sua defesa, e ninguém poderá ficar em sua casa,
a menos que esteja enfermo, doente ou de tal forma pobre que tenha
necessidade ele próprio de cuidar de sua mulher e de seus filhos
doentes.
Se alguém feriu ou matou qualquer um no território da comuna, os
19
jurados farão justiça.
19
Esses três artigos foram extraídos de uma carta de Felipe Augusto que reproduz,
confirmando as leis ou como se dizia, então, os costumes (coutumes) da comuna
de Noyon. Vejam o tomo 11, do Recueil des ordonnances des rois de France, p. 224.
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Annales de l’église de Noyon, t. 2, p. 805.
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Carta de Beauvais
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Turbulenta conjuratio factae communionis. (Epist. Ivonis carnotensis apud
script. rer. gallic. et francic.), t. 15, p. 105.
22
Esta concessão não tem data precisa, mas remonta autenticamente aos primeiros
anos do século XII. Ela foi bastante anterior à época de Raoul I, que se tornou
conde de Vermandois em 1117. Alguns historiadores a fixam no ano de 1102.
A carta comunal de Saint-Quentin traz em seu preâmbulo: Usus et consuetudi-
nes quas tempore Radulfi comitis et antecessorum suorum burgenses sancti
Quintini tenuevant (Vejam o Recueil des ordonnances des rois de France, t. 11, p.
270).
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Carta de Saint-Quentin
23
Esses artigos foram extraídos de uma carta de confirmação que, segundo o
costume, reproduz exatamente o teor da carta primitiva. Intervi na seqüência, a
fim de colocá-la em ordem (Nota do autor).
24
Vide Glossário.
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25
Recueil des ordonnances des rois de France, t. 11, p. 270.
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Pode-se ver pelo estilo das duas cartas que, no século XII, havia
alguma diferença entre uma comuna obtida pela força e uma comu-
na concedida. Na primeira, um certo acento de energia tem a apa-
rência da expressão franca dos desejos e das vontades populares. A
outra não tem absolutamente essa cor: sua redação é um pouco
contida, como o comportamento do poder em retirada, diante da
força das coisas. Todavia, as garantias concedidas pelo conde Raoul
aos burgueses de Saint-Quentin não eram sem importância. O
direito que a comuna possuía de derrubar os castelos dos senhores
que lhe fizessem alguma injustiça e a obrigação que o conde se
impunha de prestar auxílio aos burgueses para reduzir um inimigo
muito poderoso investiam a corporação da burguesia da porção mais
essencial dos privilégios de soberania. As cidades vizinhas, entre elas
a de Laon, a mais considerável, não tardaram, elas próprias, a desejar
um destino semelhante.
Colocados quase à igual distância de Saint-Quentin e de Noyon,
os burgueses de Laon não podiam deixar de volver os olhos para
essas duas cidades. Talvez a comuna de Beauvais lhes agradasse
menos do que as outras duas por causa da repugnância que experi-
mentavam as massas de se engajarem a sangue-frio em uma revolu-
ção violenta. Mas uma espécie de fatalidade os conduziu a outras
vias. Eles começaram por demandas de reformas, dirigidas com
calma, e acabaram com uma sublevação acompanhada do que as
guerras civis podem oferecer de mais atroz. O que há de notável na
comuna de Laon é ela reproduzir, de maneira mais exata, o tipo de
revoluções modernas. No momento em que a ação revolucionária
chegou ao último grau de violência, a reação aconteceu, seguida de
uma nova série de desordens e de excesso cometidos em sentido
oposto. Enfim, quando os partidos opostos estavam cansados de se
destruírem, veio o grande ato de pacificação, recebido com alegria
pelos dois lados, mas que, no fundo, era apenas uma trégua, porque
os interesses opostos mantinham-se e não podiam se conciliar.
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Courrier Français de 13 de outubro de 1820. Esse trecho é o primeiro esboço do
grande trabalho sobre a história das comunas, que forma a segunda metade de
minhas Cartas sobre a História da França.
27
Os textos que compõem essa obra foram publicados separadamente entre 1817
e 1827.
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Vejam a fórmula dos direitos de comuna: Scabinatus, collegium, majoratus, sigillum,
campana, berfredus e jurisdictio (Ducange, Gloss. ad Script. Med. Et infimoe lati-
nit. , sub his verbis.).
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Libertas, amicitia, pax. (Ver Ducange, Gloss. ad Script. med. Et infimae latinit., sub
his verbis.).
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“Communio civium quae et conjuratio dicta” (Annal. Trev.).
31
Conjurati, jurati (Veja Ducange, Gloss. ad script. med. et infim. lat., sub his verbis).
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tem nome particular, pode ser chamado por meio de um nome geral
de Estado do povo. 32
32
Relações dos embaixadores venezianos sobre os negócios da França, publicadas
pelo Sr. Tommaseo.
33
Regulamento do Rei para a convocação dos Estados gerais, datado de 24 de
janeiro de 1789. In: Histoire parlamentaire de la révolution française, pelo Sr.
Buchez, t. 1.
34
SIEYÈS, Qu’est-ce que le Tiers État?
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35
Thierry define, em outra obra, a roture como a massa de homens de condições e
de profissões diversas. Segundo esse autor, era essa massa que a linguagem social
dos tempos feudais batizou com o nome de roture.
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Não quero dizer que a sociedade civil, na França, não recebeu das duas outras
ordens nenhum elemento de progresso. Somente pretendo afirmar que a série
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Segundo o direito romano, a soberania dos imperadores derivava do povo por
delegação perpétua; segundo o cristianismo, ela vinha de Deus. É este último
princípio que, desde o reinado de Constantino, fez prevalecer a hereditariedade
na sucessão imperial. Vejam a Memória [Mémoire] do meu irmão Amédée Thi-
erry sobre a Administration centrale dans l’empire romain [Administração cen-
tral no Império Romano], Revue de législation e de jurisprudence; setembro 1843.
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39
A lei dos Francos sálios ou lei sálica e a lei dos Francos ripuários ou lei dos
ripuários.
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40
Histoire de la civilisation en France, pelo Sr. Guizot.
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41
Vejam a Exposição [Rapport] do Sr. Michelet no concurso de História que tem
por tema esta questão: Causes qui ont amené l’abolition de l’esclavage [Causas
que conduziram à abolição da escravidão] (Mémoires de l’Académie des sciences
morales et politiques, t. 3, p. 655). Vejam, também, as Dissertações [Dissertations]
reunidas pelo Sr. Pardessus em sua Recueil des textes de la loi salique [Compila-
ção de textos da lei sálica], dissertações 4 e 7.
42
Vejam a nova edição do Glossário [Glossaire] de Du Cange, pelo Sr. Henschel,
t. 2, p. 214, na palavra Casati.
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43
Vejam a Memória [Mémoire] do Sr. Mignet sobre esta questão: Comment
l’ancienne Germain est entrée dans la société civilisée de l’Europe occidentale
[Como a antiga Germania entrou na sociedade civilizada da Europa ocidental].
Mémoires de l’Académie des sciences morales et politiques, t. 3, p. 673.
44
Vejam as três dissertações do Sr. Conde de Beugnot sobre as municipalités
rurales en France [Municipalidades rurais na França]. Revue Française, agosto,
setembro e outubro de 1838.
89
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45
Vejam a Memória [Mémoire] dos Srs. Wallon e Yanoski sobre as causas que
conduziram à abolição da escravidão, trabalho premiado em 1839 pela Acadé-
mie des sciences morales et politiques.
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reu isso com as honras e com os ofícios, assim como com as posses
de todo gênero; e o que sucedeu com a tenure nobre ocorreu, ao
mesmo tempo, com a tenure servil. Segundo a observação recente e
bastante judiciosa de um hábil crítico dos antigos documentos da
nossa história, “o servo sustentava contra o seu senhor a luta susten-
tada pelo vassalo contra seu senhor e pelos senhores contra o rei”. 46
Por maior que fosse a diferença de condições e de forças, houve,
desses diversos lados, uma mesma experiência, seguida de sucessos
análogos.
No século VIII, os servos da gleba podiam ser distribuídos arbi-
trariamente no domínio, transferidos de uma parte da terra à outra,
reunidos em uma cabana ou separados um do outro, segundo a
conveniência do senhor, sem respeito aos laços de parentesco, se
houvesse entre eles. Dois séculos mais tarde, encontramos todos
instalados em famílias; sua cabana e a terra que a circunda tornaram-
se, para eles, uma herança. Esta herança, gravada de foros e serviços,
não podia ser legada nem vendida, e a família serva tinha, por lei,
que se ligar, através do casamento, apenas às famílias de mesma
condição vinculadas ao mesmo domínio. Os direitos de mão-morta e
de formariage permaneceram com o senhor como garantia contra o
direito de propriedade deixado ao servo. Por mais odiosos que estes
direitos nos pareçam, tiveram não apenas sua razão legal, mas ainda
sua utilidade para o futuro progresso. Foi sob seu império que o
isolamento da servidão cessou no campo, substituído pelo espírito
de família e de associação, e à sombra do solar senhorial formaram-
se tribos agrícolas destinadas a se tornarem a base de grandes comu-
nidades civis.
46
Sr. Guérard, Prolegômenos [Prolégomènes] do cartulário da abadia de Saint-
Père de Chartres. Collection des cartulaires de France [Coleção dos cartulários
da França], t. 1, p. XI. – Vejam o grande trabalho do mesmo autor sobre a con-
dição das pessoas e das terras, desde as invasões dos Bárbaros até a instituição
das comunas, obra colocada em primeiro lugar da edição do Polyptique
d’Irminon, abade de Saint-Germain-des-Prés.
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No século X, empregava-se a palavra liberdade apenas na linguagem do direito
eclesiástico, na qual as palavras Libertas romana significavam a imunidade por
meio da qual uma abadia, com seus domínios, estava subtraída da jurisdição
ordinária, e dependia somente da Igreja de Roma.
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48
A qualificação de senhor, Dominus, Domnus, foi dada aos bispos nas suas
cidades bem antes dos tempos feudais. Um ato passado em 804 diante da cúria
de Angers, apresenta como sinônimos os títulos de Defensor e de Vice-Domus;
lê-se de início: Adstante vir laudabile Wifredo defensore, vel cuncta curia...e no
final Signum Wifredo vice-domo. Veja Martène, Amplissima collectio, p. 58 -
59.
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49
Vejam as Considérations sur l’Histoire de France [Considerações sobre a
História da França], no início das Récits des temps mérovingiens [Narrativas dos
tempos merovíngeos]. Cap. 6.
97
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50
Vejam as Considérations sur l’Histoire de France, p. 164 e seguintes, 1852.
Cap. 6.
51
Esta palavra não tinha, absolutamente, na Idade Média, a generalidade de
sentido que lhe damos nos nossos dias; ela designava, de uma maneira especial,
a municipalidade constituída por associação e para segurança mútua sob a fé de
um juramento. Vejam as Considérations sur l’Histoire de France, p. 174 e se-
guintes. Cap. 6.
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52
Os dez notáveis [prud’hommes] de Orléans e de Chartres parecem uma reminis-
cência do papel que desempenhavam os dez primeiros senadores, Decemprimi,
Decaproti, na municipalidade romana. O governo de quatro notáveis, que foi o
de Bourges e de Tours, exerceu uma grande proteção em uma região de territó-
rio que ia do leste ao oeste na Touraine, no Berry, no Nivernais, na Bourgogne
e no Frenche-Comté.
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53
Podemos citar, para o primeiro caso, Périgueux e o Puy-Saint-Front; para o
segundo, Tours e Châteauneuf.
54
Vejam as Lettres sur l’Histoire de France [Cartas sobre a História da França],
carta XIV.
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55
Vejam a Histoire de la commune de Vézelay, Lettres sur l’Histoire de France,
cartas XXII, XXIII e XXIV.
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56
Vejam as Cartas de Felipe Augusto, dadas sob as datas de 1184, 1185, 1186,
1196, 1205, 1216 e 1221. (Recueil des Ordonn. des rois de France, t. 11, p.
231, 237, 245, 277, 291, 308 e 315).
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PROSPER DE BARANTE
(1782-1866)
membros desta federação feudal, da qual o rei era o chefe; ela era,
por assim dizer, enfeudada nela mesma. Era necessário, então, não
ser menos do que soberana para ser livre.
Era, pois, nas instituições locais que os cidadãos iam procurar
todos os benefícios que, nas idéias atuais, consideram-se como o
dever, o objetivo especial do governo das nações. À medida que o
poder do monarca adquiriu uma força maior, sua intervenção direta
tornou-se mais eficaz para conceder a boa ordem aos povos. Ela
podia, cada vez melhor, defender as comunas contra os senhores.
Elas não tinham mais necessidade de recorrer às suas próprias
forças, como o primitivo título da sua instituição as autorizava. Por
outro lado, as cidades da França não tinham absolutamente partici-
pado deste grande movimento de comércio que enriquecera e
tornara poderosas as comunas de Flandres. Elas nunca adquiriram a
energia vigorosa das repúblicas italianas. Isoladas uma das outras,
pobres e fracas, não souberam, sobretudo nas províncias do norte,
constituir-se com solidez. Elas não eram temidas exteriormente; não
sabiam dar-se à boa ordem interiormente. De tal sorte que a autori-
dade real, após ter lutado durante os séculos XII e XIII contra os
senhores, começou, a partir do XIV, a se encontrar em conflito com
as comunas, este outro membro da hierarquia feudal. Elas pouco
fizeram para se defender e, em quase toda parte, a porção rica da
burguesia, os bons e sábios burgueses, foi levada a aceitar a proteção
da autoridade real, que a preservava das violências dos senhores e da
turbulência da populaça. Essas relações da Coroa com esta classe da
nação, que se poderia chamar a classe municipal, formaram o traço
característico da história da França. Nota-se aí uma espécie de confi-
ança que não se pode taxar de imprudência, pois era necessária; nem
de servilidade, pois com ela subsistiam sempre um livre julgamento e
uma linguagem franca. A verdade é que as liberdades comunais
desapareceram na França, tanto nas cidades como nas províncias.
106
Anexos
ANEXO I
TEXTO FEIRA, DE TURGOT
Feiras e mercados
1
O artigo Feira é um verbete da Encyclopédie, escrito provavelmente em 1757.
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assim dizer, mais radical entre essas duas coisas. Nós iremos desen-
volvê-la.
É evidente que os mercadores e os compradores não podem se
reunir, em certas épocas e em certos lugares, sem um atrativo, um
interesse que compense ou mesmo ultrapasse os gastos de viagem e
de transporte dos gêneros ou das mercadorias. Sem esse atrativo
cada um permaneceria em sua casa: em compensação, quanto
maior ele for, mais os gêneros suportarão longos transportes, mais
a afluência de mercadores e de compradores será numerosa e
solene, e mais o distrito, que é o centro dessa afluência, pode se
desenvolver. O curso natural do comércio basta para gerar essa
afluência e para aumentá-la até um certo ponto. A concorrência
dos vendedores limita o preço dos gêneros e o preço dos gêneros,
por sua vez, o número de vendedores. Com efeito, dado que todo
comércio tem que sustentar aquele que o empreende é indispensá-
vel que o número de vendas compense o mercador da modicidade
dos lucros que ele realiza sobre cada uma das vendas e que, por
conseguinte, o número de mercadores seja proporcional ao núme-
ro atual de consumidores, de modo que cada mercador correspon-
da a um certo número daqueles. Isso posto, suponhamos que o
preço de um gênero fosse tal que, a fim de manter o comércio,
fosse necessário vendê-lo para o consumo de trezentas famílias. É
evidente que três aldeias, em que cada uma delas não tivesse mais
do que cem famílias, só poderão manter um único mercador desse
gênero. Esse mercador provável se estabelecerá naquela das três
aldeias onde o maior número de compradores poderá se reunir
mais comodamente ou com menos despesas porque essa diminui-
ção de custos fará com que se prefira o mercador estabelecido
nessa aldeia àqueles que pretendessem se estabelecer em uma das
outras duas. Inúmeras espécies de gêneros estariam no mesmo caso
e os mercadores de cada um desses gêneros se reuniriam no mesmo
lugar exatamente pela diminuição dos custos e porque quem tem
necessidade de duas espécies de gêneros preferirá fazer apenas uma
viagem para obtê-las ao invés de duas: de fato, é como se ele pagas-
110
I - T E X T O F E I R A , D E T U R G O T
2
Ocioso, nesse caso, não tem um sentido pejorativo ou crítico. Refere-se à classe
de homens que, por sua riqueza, não precisam desenvolver nenhuma atividade
para ganhar a vida.
111
F O R M A Ç Ã O D O T E R C E I R O E S T A D O
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I - T E X T O F E I R A , D E T U R G O T
3
Polícia (sentido arcaico da palavra): intervenção do Estado.
113
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114
I - T E X T O F E I R A , D E T U R G O T
115
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todas as mercadorias que saem; pois não se pode negar que nossas
feiras não suprem a uma grande parte do nosso consumo. Nesse caso, o
consumo extraordinário que se faz nas épocas de feiras diminuiria
muito; mas é evidente que a moderação dos direitos, em épocas nor-
mais, tornaria o consumo geral bem mais abundante; com a diferença
que, no caso do direito uniforme, mais moderado, o comércio ganha
tudo aquilo que o príncipe quer lhe sacrificar: enquanto que, no caso
do imposto geral mais alto, com isenções locais e momentâneas, o rei
pode sacrificar muito, e o comércio não ganhar quase nada, ou, o que é
a mesma coisa, os gêneros ou as mercadorias podem baixar de preço
muito menos que os direitos diminuem, e isso porque é necessário
subtrair, da vantagem que dá essa diminuição, os gastos do transporte
dos gêneros e das mercadorias ao local designado para a feira, a mudan-
ça de residência, os aluguéis dos locais de feira encarecidos ainda mais
pelo monopólio dos proprietários, enfim, o risco de não vender, num
espaço de tempo bastante curto, e de ter feito uma longa viagem sem
resultado: ora, é necessário sempre que a mercadoria pague todos esses
gastos e esses riscos. Não é, então, verdade que o sacrifício dos direitos
do príncipe seja tão útil ao comércio pelas isenções momentâneas e
locais quanto o seria por uma leve moderação na totalidade dos direi-
tos; como também não é verdade que o consumo extraordinário au-
mente tanto com a isenção particular quanto o consumo diário diminui
pela sobrecarga habitual. Acrescentemos que não há isenção particular
que não dê lugar a fraudes, a novas opressões, ao aumento do número
de fiscais e de inspetores para impedir essas mesmas fraudes, que não dê
lugar às multas para puni-las, além da perda de dinheiro e de homens
pelo Estado.
Concluímos que as grandes feiras nunca são tão úteis quanto é
nociva a opressão que elas supõem, e que, ao invés de constituírem a
prova do estado florescente do comércio, pelo contrário, elas somen-
te podem existir nos Estados nos quais o comércio é oprimido,
sobrecarregado de impostos e, por conseqüência, medíocre.
116
ANEXO II
DOCUMENTOS
118
A N E X O II - D O C U M E N T O S
119
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120
A N E X O II - D O C U M E N T O S
121
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122
A N E X O II - D O C U M E N T O S
DOCUMENTO 4: Foral
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124
ANEXO III
GLOSSÁRIO
126
A N E X O III - G L O S S Á R I O
127
F O R M A Ç Ã O D O T E R C E I R O E S T A D O
1
Os ingênuos (ingenui) eram, por oposição aos libertos, aqueles que tinham
nascido livres e nunca deixaram de sê-lo.
128
A N E X O III - G L O S S Á R I O
129
F O R M A Ç Ã O D O T E R C E I R O E S T A D O
130
REFERÊNCIAS