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REVISTA DE HISTÓRIA
N° 34 - Jan./Jun. 2016
ISSN 0104-8929
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
Reitora: Margareth de Fátima Formiga Melo Diniz
Vice-Reitor: Eduardo Ramalho Rabenhorst
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Chefe: Monique Guimarães Cittadino
Sub-Chefe: Mozart Vergetti de Menezes
Departamento de História
Programa de Pós-Graduação em História
Universidade Federal da Paraíba
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
Campus Universitário - Conjunto Humanístico - Bloco V
Castelo Branco - João Pessoa - Paraíba - CEP 58.051-970 - Brasil
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ISSN 0104-8929
e-ISSN 2317-6725
CONSELHO EDITORIAL
Alberto da Silva (Univ. Sorbonne - Paris IV) José Miguel Arias Neto (UEL)
Alômia Abrantes Silva (UEPB) Lina Maria Brandão de Aras (UFBA)
André Cabral Honor (UnB) Luiz Geraldo Silva (UFPR)
Antonio Clarindo Barbosa de Souza (UFCG) Maria de Deus Beites Manso (Univ. Évora)
Antônio Paulo Resende (UFPE) Pedro Paulo Funari (UNICAMP)
Carlos Fico (UFRJ) Peter Mainka (Univ. de Wüzburg)
Durval Muniz de Albuquerque Jr. (UFRN) Ricardo Pinto de Medeiros (UFPE)
Gabriel Aladrén (USP) Sílvia Regina Ferraz Petersen (UFRGS)
Gisafran Mota Jucá (UECE) Tania Bessone (UERJ)
Itacir Marques da Luz (SEC-PE) Thereza Baumann (MN-UFRJ)
Itamar Freitas (UnB) Valdemir Zamparoni (UFBA)
Jorge Ferreira (UFF)
MISSÃO DA REVISTA
Sæculum - Revista de História é publicada pelo Departamento de História da UFPB desde 1995 e,
a partir de 2004, passou a ser também o periódico do Programa de Pós-Graduação em História da
mesma universidade. Sua frequência é semestral, e se trata de uma revista voltada à divulgação e
debate de pesquisas no campo da História e da Cultura Histórica e suas diversas interfaces, abrindo
espaço para pesquisadores do Brasil e do exterior.
ISSN 0104-8929
Semestral
272 p.
Sumário
Editorial .......................................................................................................... 7
ARTIGOS
Jean Gerson e a vida contemplativa para as mulheres laicas (século XV) .... 11
Letícia Gonçalves Alfeu de Almeida (UNESP – Franca)
RESENHAS
Apresentamos ao leitor mais uma edição da Sæculum, desta feita com artigos
livres, dentro da nova proposta iniciada quando de seu aniversário de 20 anos
em 2015. Nesse sentido, este novo formato, alternando números temáticos e de
artigos livres, demonstra a pluralidade de pesquisas desenvolvidas atualmente
no campo da História, tanto no Brasil como no exterior. É possível afirmar isto a
partir, justamente, do montante de submissões recebidas para a presente edição,
que aproximou-se de quarenta artigos, dentre os quais, a partir do processo de
avaliação cega por pares, foram selecionados os treze artigos e duas resenhas que
compõem este número.
Para abrir o n. 34 contamos com o artigo de Letícia Gonçalves Alfeu de Almeida,
doutoranda da UNESP – Franca, tratando da visão de Jean Gerson, chanceler
da Universidade de Paris no século XV, sobre a vida contemplativa feminina. Em
seguida, um interessante artigo do prof. Joseph Abraham Levi, da The George
Washington University, sobre os muçulmanos mapilas nas fronteiras do Império
português, no Malabar, entre fins do século XV e meados do século XVII. Thiago
Alves Dias, doutorando da USP, analisa as especificidades da formação da Câmara
Municipal de Natal, Capitania do Rio Grande do Norte, e da atuação de seus
oficiais, entre os séculos XVI e XVIII.
Ainda abordando o período colonial na América Portuguesa, Rafael Ricarte da
Silva, doutorando da UFC, apresenta os conflitos entre conquistadores, agentes da
governança e populações locais na Capitania do Ceará durante a primeira metade
do século XVIII. A profa Maria Cláudia Almeida Orlando Magnani, da UFVJM,
mostra as implicações simbólicas das representações de sibilas existentes em uma
das capelas de Diamantina (MG), datadas da segunda metade do século XVIII.
Já o prof. Eduardo José Santos Borges, da UNEB – Conceição do Coité, trata de
uma elite econômica que também foi política e letrada na Bahia do século XVIII,
por meio do estudo das academias literárias locais e a produção do conhecimento
autônomo na colônia.
Luana Teixeira, recém-doutora pela UFPE, aborda o tráfico interprovincial
de escravos originado na localidade de Penedo durante a década de 1850. O
prof. Arthur Valle, da UFFRJ, por sua vez, traz uma interessante análise acerca
das imagens sobre o advento da República no Brasil, publicadas em periódicos
estrangeiros em 1889 e 1890. A profa Marina Haizenreder Ertzogue, da UFT,
apresenta uma sensível análise sobre um personagem comum de fins do século
XIX, o escrivão mineiro José Joaquim de Carmo Gama, e suas impressões de
viagem na estação de cura de Poços de Caldas em 1894.
O prof. Ipojucan Dias Campos, da UFPA, aborda as celeumas em torno do
Código Civil, entre 1916 e 1940, ocorridas entre a Igreja e o Estado na cidade de
Belém. Luiz Gustavo de Oliveira, doutorando na UEM, apresenta a trajetória do
integralista paranaense Pedro Rodrigues Martins por meio do periódico A Razão,
editado em Curitiba.
SÆCULUM - REVISTA DE HISTÓRIA [34]; João Pessoa, jan./jun. 2016. 7
Tratando de temas mais recentes, Moisés Wagner Franciscon, doutorando na
UFPR, apresenta a trajetória política e intelectual de Gorbachev e as relações
internacionais da URSS a partir da abertura da Perestroika em finais da década
de 1980. Por sua vez, Dmitri Felix Nascimento, doutorando na Universidade de
Lisboa, analisa o legado autoritário do golpe civil-militar de 1964 que os trabalhos
da Comissão Nacional da Verdade, entre 2012 e 2014, trouxeram à tona por meio
do acesso não só a documentos mas também dos depoimentos daqueles atingidos
pela perseguição política nos anos da ditadura.
Fechando esta edição temos duas resenhas: uma da autoria de Horacio Miguel
Hernán Zapata, doutorando da Universidad Nacional de Rosario, sobre uma obra
do conhecido pesquisador argentino Raúl Mandrini, especialista em América pré-
colombiana, falecido ao final de 2015; e outra, escrita pelo prof. Wilton Carlos
Lima da Silva, da UNESP – Assis, tratando do manual Comprender el pasado: una
historia de la escritura y el pensamiento histórico, publicado na Espanha em 2013
e que tem entre seus autores Peter Burke.
Vê-se, assim, que esta edição da Sæculum só reafirma a diversidade característica
do universo de Clio, cada vez mais plural, instigante e crítico.
Boa leitura!
A Comissão Editorial.
1
Doutoranda em História pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Campus de
Franca. Bolsista CNPq. E-Mail: <lgaalmeida@yahoo.com.br>.
2
GERSON, Jean. “La Montaigne de Contemplation”. In: __________. Initiation à la vie mystique.
Prefácio e apresentação por Pierre Pascal. Paris: Gallimard, 1943. Todos os trechos da bibliografia
primária foram, por mim, traduzidos livremente do francês.
3
BAIER, Karl. “Meditation and contemplation in High to Late Medieval Europe”. In: FRANCO, Eli &
EIGNER, Dagmar (orgs.). Yogic perception, meditation and altered states of consciousness. Viena:
Austrian Academy of Sciences Press, 2009, p. 327. HUGO de São Victor. Didascálicon da arte de
ler. Introdução e tradução de Antonio Marchtonni. Petrópolis: Vozes, 2001. CARRUTHERS, Mary.
Le livre de la mémoire: la mémoire dans la culture médiévale. Paris: Macula, 2002, p. 70-71.
4
FANNING, Steven. Mystics of the Christian tradition. Londres & Nova York: Routledge, 2001, p.
107-108.
5
GERSON, “La Montaigne…”, p. 52.
6
MASUR-MATUSEVITCH, Yelena. Le siècle d’or de la mystique française: de Jean Gerson à Jacques
Lefèvre d’Étaples. Paris: Arché-Edidit, 2004, p. 14.
7
GERSON, Jean. Sur la théologie mystique: textes introduits, traduits et annotés par Marc Vial.
Paris: Vrin, 2008, p. 07-08.
8
BROWN, Dorothy Catherine. Pastor and laity in the theology of Jean Gerson. Cambridge & Nova
York: Cambridge University Press, 1987, p. 171.
9
BHATTACHARJI, Santha. “Medieval contemplation and mystical experience”. In: DYAS, Dee;
EDDEN, Valerie & ELLIS, Roger (orgs.). Approaching medieval English anchoritic and mystical
texts. Woodbridge: D. S. Brewer, 2005.
10
GERSON, “La Montaigne…”, p. 46.
11
GERSON, Sur la théologie..., p. 10-11.
12
GERSON, “La Montaigne…”, p. 46.
13
GERSON, “La Montaigne…”, p. 43.
14
HOBBINS, Daniel. “Gerson on lay devotion”. In: McGUIRE, Brian Patrick (org.). A companion to
Jean Gerson. Leiden & Boston: Brill, 2006, p. 53.
15
GERSON, “La Montaigne…”, p. 45.
16
GERSON, “La Montaigne…”, p. 41.
17
HOBBINS, “Gerson on lay...” p. 53.
18
GARÍ, Blanca. “Introducción”. In: PORETE, Margarita. El espejo de las almas simples. Madri:
Siruela, 2005, p. 10.
19
GERSON, J. “Dialogue spirituel”. In: __________. Oeuvres complètes, vol. 7. Introdução, texto e
notas por Mgr. Glorieux. Paris: Desclée, 1966, p. 158.
20
HOBBINS, “Gerson on lay...”, p. 53.
21
GERSON, “Dialogue...”, p. 188.
22
GERSON, “La montaigne...”, p. 41.
23
GERSON, Jean. “Sur l’excelence de virginité”. In: GERSON, Oeuvres ..., p. 418.
24
GERSON, “Sur l’excelence de virginité”, p. 418.
25
DALARUN, Jacques. “Olhares de clérigos”. In: DUBY, Georges & PERROT, Michelle (orgs.).
História das mulheres no Ocidente – Vol. 2: A Idade Média. Tradução de Maria Helena C. Coelho
e Alberto Couto. Porto: Afrontamento, 1990, p. 58.
26
VAUCHEZ, André. Les laïcs au Moyen Age. Paris: Cerf, 1987, p. 246.
27
HOBBINS, “Gerson on lay...”, p. 67, 75; CHIFFOLEAU, Jacques. “La religion flamboyante (1320-
1520)”. In: LE GOFF, Jacques & RÉMOND, René (orgs.). Histoire de la France religieuse (XIVe –
XVIIIe siècle). Tomo 2. Paris: Seuil, 1988, p. 86, p. 88; VAUCHEZ, Les laïcs..., p. 289, 290.
28
HOBBINS, “Gerson on lay...”, p. 55.
29
VAUCHEZ, Les laïcs..., p. 10.
30
DUBY, Georges & ARIÈS, Philippe (orgs.). História da vida privada: da Europa feudal à
Renascença. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 547-549; BAIER, “Meditation...”, p. 335,
336; CHIFFOLEAU, “La religion...”, p. 109.
31
VAUCHEZ, Les laïcs..., p. 277-286.
32
VAUCHEZ, Les laics..., p. 239-241, p. 257,p. 278. RAPP, Francis. L’Église et la vie religieuse en
occident a la fin du Moyen Age. Paris: PUF, 1971, p. 78.
33
ELLIOT, Dyan. “Seeing double: John Gerson, the discernment of Spirits, and Joan of Arc”.
American Historical Review, vol. 107, n. 1, fev. 2002, p. 26.
34
FANNING, Mystics of the Christian…, p. 102.
35
ANGELA de Foligno, “Memorial”, apud DICKENS, Andrea Janelle. The female mystic: great
women thinkers of the Middle Ages. Londres & Nova York: I. B. Tauris, 2009, p. 113.
36
VAUCHEZ, Les laïcs..., p. 273; HOBBINS, “Gerson on lay...”, p. 64-65.
37
ELLIOT, “Seeing double...”, p. 27.
38
ELLIOT, “Seeing double...”, p. 37-38.
39
GERSON, Jean. “On distinguishing true from false revelations.” In: __________. Early works. Nova
York: Paulist Press, 1998, p. 363.
40
GERSON, “On distinguishing...”, p. 343.
41
GERSON, “On distinguishing...”, p. 356.
42
GERSON, “On distinguishing...”, p. 356.
43
GERSON, “On distinguishing...”, p. 354.
44
Sobre os afetos, ver: CASAGRANDE, Carla & VECCHIO, Silvana. “Les passions, la mystique, la
prière: affectivité et dévotion dans la pensée de Jean Gerson”. Revue Mabillon, nouvelle série, n.
24, 2013, p. 99-129.
Convém notar que essas ações de Agnes limitavam-se ao plano da oração, dos
pensamentos piedosos, como ilustra a ideia da procissão imaginária. A devoção
exemplar é, portanto, interiorizada. Sendo assim, a ênfase de Gerson na humildade,
que implicava na discrição, na moderação, na paciência, pode ser compreendida
como uma defesa da interioridade; assim como o ataque ao pecado do orgulho tem
como traço principal a reprovação da exterioridade. Por isso os exercícios e técnicas
de memorização, meditação e imaginação49 tinham um lugar tão relevante nesses
textos: a solidão e o silêncio necessários à contemplação, por exemplo, podiam
ser alcançados apenas interiormente, sem deslocamentos materiais para lugares
remotos, com ajuda de exercícios em que a pessoa estimularia os afetos em direção
a Deus, pela lembrança dos eventos da vida de Cristo e dos santos. A Montaigne
45
GERSON, Jean. “La mendicité spirituelle”. In: GERSON, Initiation..., p. 206.
46
ANDERSON, Wendy Love. “Gerson’s instance on women”. In: McGUIRE, A companion..., p. 299-
301.
47
ELLIOT, “Seeing double...”, p. 32.
48
GERSON, “Dialogue...”, p. 172.
49
Sobre a imaginação e a memória, ver: KARNES, Michelle. Imagination, meditation and cognition in
the Middle Ages. Londres & Chicago: University of Chicago Press, 2011. YATES, Frances A. A arte
da memória. Tradução de Flavia Bancher. Campinas: Editora da UNICAMP, 2007. CARRUTHERS,
Mary. A técnica do pensamento: meditação, retórica e a construção de imagens (400-1200).
Tradução de José Emílio Maiorino. Campinas: Editora da UNICAMP, 2011.
50
GERSON, “La montaigne…”, p. 104.
51
Sobre a interioridade e a introspecção no cristianismo, ver: GUITTON, Jean. Le temps et l’eternité
chez Plotin et Saint Augustin. Paris: Librairie Philosophique J. Vrin, 1959. VON MOOS, Peter.
“Occulta cordis: contrôle de soi et confession au Moyen Âge, I. Formes de silence”. Médiévales, n.
29, 1995, p. 131-140.
52
GERSON, “La montaigne... ”, p. 69.
53
GERSON, “La montaigne... ”, p. 71.
54
GERSON, “La mendicité... ”, p. 129.
Esse tipo de exercício visava sustentar uma atividade devota que privilegiava o
diálogo interior, a observação de si, o exame das próprias faltas e a introspecção,
tendo em vista a prática das virtudes e o aperfeiçoamento moral e espiritual. Com
essa defesa da interioridade, Gerson afirmava a oração como a forma mais perfeita
da atividade espiritual, enfatizando a ideia de uma relação com Deus mais pessoal
e afetiva. Além disso, ao falar da contemplação para as mulheres laicas, Gerson
buscou formular um modelo de vida baseado na introspecção religiosa em que
não fosse necessário se deslocar para os monastérios, mas em que o cotidiano
terreno conciliar-se-ia com a atenção aos assuntos superiores, por meio da oração
e da meditação. Dessa forma, o recolhimento contemplativo seria possível sem a
necessidade de deslocamentos físicos, não precisava mais ser buscado no claustro,
mas apenas dentro de si mesmo, em acordo com a devoção laica urbana francesa,
para quem a busca por formas mais interiores e diretas de diálogo com o sagrado
seria finalmente assegurada, sem que fosse preciso abandonar a condição laica e
a vida social56.
Gerson apresentava, a partir dessa linha, o caminho da interioridade como
solução e como resposta aos desvios dos laicos, especialmente às experiências
de caráter extraordinário, como as visões e êxtases relatados pelas mulheres. Em
oposição ao modo irrefletido dos arrebatamentos visionários, a vida contemplativa
formulada pelo chanceler da Universidade de Paris enfatizava o esforço moral
pessoal, deliberado e cotidiano, fundado na disciplina, no controle dos afetos e
pensamentos, na resistência diária contra as tentações e tribulações terrenas,
na memorização e meditação sobre os principais tópicos da fé. Esse trabalho
moral e espiritual deveria ocorrer sobretudo no que se refere aos pensamentos e
emoções, mais do que nas ações exteriores, ou seja, baseava-se no controle de si.
Para Gerson, o amor direcionado para Deus e a atenção constante às verdades
superiores deveriam ser estimulados pelo conhecimento das histórias sagradas, da
vida dos santos e de Cristo, por meio da audição de sermões e da leitura de textos
devotos, e também com a visualização das imagens sagradas, especialmente a
Cruz. Assim, ele apregoava uma forma de vida devota em que os ensinamentos
providos pelos padres não eram de modo algum dispensáveis, mas decisivos
para a contemplação. E, dessa forma, recomendava a suas irmãs que rezassem as
horas e outras orações segundo os momentos do dia; que ouvissem as missas com
regularidade; que observassem seus modos diante da sociedade; que evitassem
pompas e excesso das vestimentas, mas se portassem com modéstia e humildade;
que tivessem sobriedade à mesa e que se confessassem regularmente57.
55
GERSON, “La mendicité...”, p. 118.
56
Ver: CHIFFOLEAU, “La religion...”, p. 92.
57
GERSON, “Dialogue...”, p. 420.
58
VAUCHEZ, Les laïcs..., p. 255.
1
Doutor em Filologia e Linguística Românica pela University of Wisconsin-Madison. Professor e
pesquisador do Language Center, Columbian College of Arts and Sciences, The George Washington
University, EUA. E-Mails: <josephlevi21@yahoo.com> e <jalevi21@gwu.edu>.
2
O texto original: “For many Europeans, India was more than synonymous with Malabar than Delhi,
and often, Europeans’ primary associations were with India’s religious minorities – Muslims, Jews,
and Christians – who functioned as intermediaries for those Hindus not easily accessible on account
of class or caste restrictions”. MALIECKAL, Bindu. “Muslims, matriliny, and A Midsummer Night’s
Dream: European encounters with the Mappilas of Malabar, India”, Muslim World, vol. 95, n. 2,
abr. 2005, p. 298.
3
Māppila: título honorífico malaiala (malayalam), língua principal do Malabar, com o significado de
“grande filho imigrante do Malabar”. A etimologia deriva da fusão entre maha, grande, e pilla, ou
seja, filho/ genro, sendo este um título honorífico referido a qualquer pessoa vinda do estrangeiro,
incluindo até o significado de “esposo” ou “genro”. Ver: MILLER, Roland E. Mappila muslims
of Kerala: a study in Islamic trends. Madrasta: Orient Longman, 1992, p. 31 MILLER, Roland
E. “Mappila” [verbete]. In: BOSWORTH, C. E.; DONZEL, E. van, & PELLAT, C. (orgs.). The
Encyclopedia of Islam – Vol. 6. Leiden: E.J. Brill, 2007, p. 458.
4
Sabe-se com certeza absoluta que o neologismo foi criado pelo geógrafo árabe Yaqut (1179-
1229), com a crase entre Mali, de Malaiala (Malayalam), e Bār, étimo persa que designa “terra/
país”, portanto, “terra dos Malayalam/ aqueles que falam a língua malaiala”. Ver: MILLER, Mappila
muslims…, p. 43.
5
MILLER, “Mappila”, p. 458.
Além disso, também há um relato de Zayn al-Dīn ʻAbd al-ʻAzīz al-Malībārī (1498-
1581) onde se menciona que o Islã chegou às costas do Malabar dois séculos
após a morte do Profeta Maomé, trazido por fiéis muçulmanos em peregrinação ao
Ceilão10, atual Sri Lanka, onde, segundo a tradição, se encontra a famosa pegada
de Adão11. A comunidade muçulmana vivendo ao longo da costa do Malabar,
segundo o viajante árabe al-Mas’udī (896-956), girava em torno de dez mil fiéis12.
6
O texto original: “[…] because of its particular historical experience, the Mappila community
represents a significant segment of Indian Islam”. MILLER, “Mappila”, p. 458.
7
Ver: AHMAD, Fazl. Muhammad Bin Qasim. Nova Dheli: Taj, 1983.
8
MILLER, Mappila muslims…, p. 458.
9
Texto original: “The inscription is a copper plate grant to a Syrian Christian church dated to the
middle to late ninth century, and there is a list of witnesses inscribed on it which includes both
Muslim and Jewish names”. BROWN, L. W. The Indian christians of St. Thomas. Cambridge:
Cambridge University Press, 1956, p. 89.
10
AL-DIN ʻAbd al-ʻAzīz al-Malībārī Zayn & ROWLANDSON, Michael John. Tohfut-Ul-Mujahideen:
an instorical work in the Arabic language. Londres: Oriental Translation Fund of Great Britain and
Ireland, 1833, p. 48.
11
AL-DIN & ROWLANDSON, Tohfut-Ul-Mujahideen, p. 55. Segundo a tradição muçulmana, Adão,
depois de ter saído do Jardim Celestial, optou por ficar no Ceilão devido à sua semelhança com o
Paraíso, daí o fato de ele ter deixado um rasto no famoso Pico de Adão, uma montanha cônica de
2.243 metros de altitude.
12
KHALIDI,Tarif. Islamic historiography: the histories of Masʻūdī. Albany: State University of New
York Press, 1975. SAARI, Peggy; BAKER, Daniel B. & PEAR, Nancy. Explorers & discoverers: from
Alexander the Great to Sally Ride. Nova York: UXL, 1995.
II
Interessante reparar que, para evitar confusões onomásticas com os judeus (Jūta
Māppilas) e os cristãos (Nasrani Mapilas) residentes da região, os muçulmanos
começaram a ser denominados de Jonaka Māppilas. Com o passar do tempo porém,
devido ao fato de os Jūta Māppilas e os Nasrani Māppilas terem assimilado outros
grupos étnicos, a terminologia Māppila passou assim a designar só os muçulmanos
da costa do Malabar, os mapilas16, incluindo os das Ilhas Laquédivas. Contudo,
entre eles os mapilas definiam-se a si próprios simplesmente como muçulmanos:
13
Cheraman Perumal Bhaskara Ravi Varma, Rajá da Dinastia Cēra, o qual reinou durante o fim
do século VIII da Era Vulgar. Ver: LOGAN, William. Malabar manual. 3. ed. Nova Dheli: Asian
Educational Services, 2000. LOPES, David (org.). História dos portugueses no Malabar por Zinadim.
Lisboa: Imprensa Nacional, 1898. WITTEK, Paul The rise of the Ottoman Empire, Londres: Royal
Asiatic Society, 1938.
14
Ver: KOYA, S. M. Mohamed. Mappilas of Malabar: studies in social and cultural History. Calicut:
Sandhya, 1983. AL-DIN & ROWLANDSON, Tohfut-Ul-Mujahideen, p. 53-54; MILLER, Mappila
muslims..., p. 459.
15
Texto original: “Mappila culture is the Malayalam culture of Kerala with an Arabian blend, a fact
that points to the ancient intercourse between Kerala and southern Arabia, founded on the great
spice trade. […] [The] Mappila […] may be regarded as the first settled Muslim community of South
Asia”. MILLER, “Mappila”, p. 458.
16
MILLER, Mappila muslims…, p. 30; Stephen Frederic Dale, Islamic Society on the South Asian
Frontier: The Māppilas of Malabar, 1498-1922, Oxford: Clarendon Press, 1980, p. 236, nota 1.
17
O texto original: “[…] [Mapilas] are called Moplaymar in Malayala and Lubbaymar at Madras; but
among themselves they acknowledge no other name than that of Mussalmans”. Grifos do autor.
BUCHANAN,Francis Hamilton. A journey from Madras through the countries of Mysore, Canara,
and Malabar. 1800-1801. Vol. 2. Londres: T. Cadell & W. Davies, 1807, p. 21.
18
Ver: MILLER, J. Innes. The spice trade of the Roman Empire, 29 B.C. to A.D. 642, Oxford: Oxford
University Press, 1969. HOURANI, George F. Arab seafaring in the Indian Ocean. Princeton:
Princeton University Press, 1951. TIBBETTS, G. R. “Pre-Islamic Arabia and South-East Asia”.
Journal of the Malayan British Royal Asiatic Society, vol. 29, n. 3, 1956, p. 182-208. TIBBETTS, G.
R. “Early muslim traders in South-East Asia”. Journal of the Malayan British Royal Asiatic Society,
vol. 30, n. 1, 1957, p. 01-45.
19
O texto original: “[…] in ships sent there with cargoes from Arabia and by the Greeks”. SCHOFF,
Wilfred H. (org.). The periplus of the Erythraean Sea. Nova York: Longmans, 1912, p. 44.
HUNTINGFORD, George Wynn Brereton & CHIDES, Agatha R. “The periplus of the Erythraean
Sea”. Londres: Hakluyt Society, 1980, p. 20.
20
HUNTINGFORD, George Wynn Brereton & CHIDES, Agatha R. “The periplus of the Erythraean
Sea”. Londres: Hakluyt Society, 1980, p. 20.
21
Ver: MILLER, Mappila muslims…, p. 41. KOYA, Mappilas of Malabar…, p. 05; DALE, Stephen
Frederic. Islamic society on the South Asian frontier: the Māppilas of Malabar, 1498-1922, Oxford:
Clarendon, 1980, p. 13-14.
22
KHURDADHBIH, Ibn. Mukhtār min kitāb al-lahw wa al-malāhī, Nuşūş wa durūs – vol. 17. Beirute:
Dār al-Mashriq, 1986. KHURDADHBIH, Ibn; GOEJE, M. J. de & QUDAMAH, Ibn Jaʻfar. Kitāb
al-masālik wa-al-mamālik – vol. 6. Leiden: E.J. Bril, 1967. KHURDADHBIH, Abu al-Qasim Ubaya
Allah Ibn. Al-Masalik wa al-Mamalik. Leiden: Brill, 1889. Ver também: AHMAD, S. Maqbul (org.).
Arabic classical accounts of India and China. Shimla: Indian Institute of Advanced Study, 1989, p.
xi.; MILLER, “Mappila”, p. 458.
23
SAUVAGET, Jean. Aḵbár al-Şín wa-al-Hind: relation de la Chine et de l’Inde rédigée en 851. Paris:
Belles Lettres, 1948.
24
AL-DIN & ROWLANDSON, Tohfut-Ul-Mujahideen, p. 59. MILLER, “Mappila”, p. 459.
25
O texto original: “[the muslim men] […] marry as many wives as they can support and keep as
well as many heathen concubines of low caste. If they have sons or daughters by these they make
them Moors, and ofttimes the mother as well, and thus this evil generation continues to increase in
Malabar”. LONGWORTH, Mansel Dames (org.). The book of Duarte Barbosa – vol. 2. Londres:
Hakluyt Society, 1921, p. 74-75.
26
Texto original: “These groups lived side-by-side, since Malabar possessed no contiguous settlements
and no ethnic or religious neighborhoods”. MALIECKAL, “Muslims, matriliny…”, p. 300. Ver
também: AL-DIN & ROWLANDSON, Tohfut-Ul-Mujahideen, p. 68-69. MILLER, “Mappila”, p.
459. MILLER, Mappila muslims..., p. 21.
27
Ver, entre outros: IBN-BATTUTA, Muhammad Ibn ʻAbdallāh; DEFREMERY, C.; SANGUINETTI,
B. R.; GIBB, H. A. R.; BECKINGHAM, C. F. & BIYAR, A. D. H. The travels of Ibn Battūta: A.D.
1325-1354. Londres: Hakluyt Society, 1958. IBN-BATTUTA, Muhammad Ibn ʻAbdallāh & APETZ,
Heinrich. Descriptio terrae Malabar. Jena: Croecker, 1819. RUMFORD, James. Traveling man: the
journey of Ibn Battuta, 1325-1354. Boston: Houghton Mifflin, 2001. HARVEY, L. P., Ibn Battuta:
makers of Islamic civilization. Londres: I.B. Tauris; Oxford Centre for Islamic Studies, 2007. DUNN,
Ross E. The adventures of Ibn Battuta, a muslim traveler of the Fourteenth Century, Berkeley:
University of California Press, 1986.
28
IBN-BATTUTA, Muhammad Ibn ʻAbdallāh. Rihlat Ibn Battutah, Beirute: Dār Şādir, 1960.
IV
A Costa Suaíli, antes como agora, se bem que em medida menor, era:
29
O texto original: “[…] in [Kerala] […] the port cities functioned as entrepôts for the passage of
merchandise between West and East Asia in addition to serving as markets for local produce. […]
trade played a critical role in local politics and its importance determined the Muslims’ position in
late fifteenth-century Malayāli society”. DALE, Stephen Frederic. Islamic society on the South Asian
frontier: the Māppilas of Malabar – 1498-1922. Oxford: Clarendon Press, 1980, p. 12.
30
A Costa Suaíli cobria uma vasta área abrangendo as seguintes nações e áreas da África Oriental:
centro-norte de Moçambique, Tanzânia e Quênia, assim como as costas meridionais da Somália
até à capital. Ver: LEVI, Joseph Abraham. “Missionação em terras africanas, de Cabo Verde a
Moçambique: o legado sócio-religioso de S. Francisco Xavier”. Brotéria – Cristianismo e Cultura,
Braga, vol. 163, n. 5/6, nov./dez. 2006, p. 525-545.
31
Depois acrescentadas por contingentes étnico-linguísticos do subcontinente indiano os quais
contribuíram à formação da língua e cultura suaílis.
32
As principais cidades-estados suaílis ao sul de Mogadíscio eram: Quíloa, Quelimane, Lamu, Pate,
Luziwa, Melinde, Mombaça, Sofala e Zanzibar.
33
HORTON, Mark. “O encontro dos Portugueses com as cidades swahili da costa oriental de África”.
In: Culturas do Índico. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos
Portugueses, 1998, p. 374. Ver também: HORTON, Mark. Shanga: the Archaeology of a muslim
trading community on the Coast of East Africa. Londres: British Institute in Eastern Africa, 1996, p.
414-418; LEVI, “Missionação em terras...”, p. 525-545.
34
Para ulteriores informações, ver, entre outros: CHITTICK, H. H. Kilwa: an islamic trading city on
the East African Coast. 2 vols. Nairobi: British Institute in Eastern Africa, 1974.
35
HORTON, “O encontro dos portugueses...”, p. 373.
36
VELHO, Álvaro. Roteiro da primeira viagem de Vasco da Gama à Índia (1497-1498). Organizado
por Mem Martins Neves Águas. Lisboa: Publicações Europa-América, s.d. VELHO, Álvaro. A
journal of the first voyage of Vasco da Gama, 1497-1499. Tradução de Ernest George Ravenstein
(1898). Londres: Hakluyt Society, 1963, p. xx. Sobre o mesmo assunto, ver: ALLEN, J. de V. “The
Swahili house: cultural and ritual concepts underlying its plan and structure”. Art and Archeology
Research Papers, 1979, p. 1-32; DAMES, M. (org. & trad.). The book of Duarte Barbosa, vol. 1.
Londres: Hakluyt Society, 1918. FREEMAN-GREENVILLE, G. S. P. The East African coast: select
documents from the First to the Earlier Nineteenth Century. Londres: Rex Collings, 1974.
37
Contudo, a poligamia e a concubinagem devem obedecer a certas regras previstas pela Lei Islâmica.
Na verdade, o simples fato de a poligamia e concubinagem serem atos lícitos ou permissíveis não
implica que a maioria dos muçulmanos subscreva tais práticas, usualmente deixadas para homens
com recursos financeiros adequados, e sempre dependentes da autorização de suas outras esposas.
38
O texto original: “Thus they [Mapilas] continued to thrive until the Portuguese came to India”.
DAMES, The book of Duarte Barbosa, p. 78.
39
Ver, entre outros: DAS GUPTA, Ashin. Malabar in Asian trade: 1740-1800. Cambridge: Cambridge
University Press, 1967. DAS GUPTA, Ashin. India and the Indian Ocean World: trade and politics.
Nova Dheli: Oxford University Press, 2004.
40
LEVI, Joseph Abraham. “Os Bene Israel e as comunidades judaicas de Cochim e de Bagdade:
avaliação de uma antiga presença judaica em solo indiano”. Revista Portuguesa de Ciência das
Religiões, vol. 2, n. 3-4, 2003, p. 174. Ver também: BANERJI, Chitrita. Eating India: an odyssey
into the food and culture of the land of spices. Nova York: Bloomsbury; 2007.
41
O texto original: “Right from the beginning of the sixteenth century the Portuguese tried to get rid of
the Muslim merchants and the middlemen and to have direct contact with the producers of pepper
and other spices. But on account of the lack of money and necessary materials for the exchange, the
Portuguese had to depend on the local rulers and chiefly the merchants. Despite conscious efforts to
bring in local non-Muslim merchants to oust the Muslim merchants, the Portuguese had to reconcile
with the situation and had to take some influential Muslim merchants into confidence”. MATTHEW,
K. S. “Indo-portuguese historiography: Malabar coast, a critique”. In: GRACIAS, Fátima da Silva;
PINTO, Celsa & BORGES, Charles (orgs.). Indo-portuguese history: global trends – Proceedings of
the XI International Seminar on Indo-Portuguese History. Panjim: Maureen & Camvet, 2005, p. 69.
VI
42
O texto original: “Greed, jealousy, and religious intolerance combined to form a deadly concoction
that defined Portuguese-Mappila relations”. MALIECKAL, “Muslims, matriliny...”, p. 301.
43
DALE, Islamic society..., p. 34.
44
O texto original: “[…] while there was a large contingent of Muslim traders in Cochin, their activities
were overshadowed by others in the great emporium at Calicut, and the Portuguese represented a
new market and the possibilities of enlarged revenues”. DALE, Islamic society..., p. 39.
45
O texto original: “In India the Portuguese assault was initially concentrated at the focal point of the
Indian spice trade at Calicut, which initiated a bitter struggle with the Muslims who lived and traded
in that city and the adjacent coastal towns”. DALE, Islamic society..., p. 33.
46
ْ مَال, o território onde reina o Islã, Dār al-Harb, بْرَحْلا راَد, território onde a
Dār al-Islām, سِإلا راَد
maioria dos habitantes é constituída por não muçulmanos.
47
The British Library, Londres, Mss Eur K194 1800.
48
WYE, John William (trad.). History of the Portuguese Landing in India, Mss Eur K194 1800.
Londres: British Library, 1800.
49
Fo-lang-chi é a adaptação chinesa do persa Farangi, Firingi – Farsi contemporâneo ويسنرف
Feransavi – o qual, por sua vez, vem do Árabe سْنرف ّ ِ ةFaransiyyah e/ ou سنرف َ ي
ّ ةFaransawiyyah.
Como a palavra sugere, o étimo refere-se aos franceses. A mudança da fricativa alveolar s /s/ para
a fricativa pós-talveolar j /dg/, e, consequentemente, para a plosiva velar g /g/ é um fenômeno
muito comum em muitas línguas. Através dos séculos os muçulmanos entraram em contacto com
outros europeus, não só os franceses/as tropas francesas das Cruzadas, mas também com outras
nacionalidades e etnias europeias. Isto fez com que a palavra passasse a denotar o “outro”, ou seja,
o “bárbaro”, neste caso, o infiel europeu. A palavra موُرRūm, por exemplo, é também um exemplo
deste tipo de generalização linguístico-étnica. Originalmente aplicada aos romanos e ao Império
Romano do Oriente, a palavra também abrangia noções como a de Bizantino, a Igreja Ortodoxa,
os turcos e todas as populações túrquicas da Ásia Central que eventualmente se fixaram na atual
Turquia. Graças aos comerciantes muçulmanos árabe-persas a terminologia Farangi, com todas as
suas conotações, entrou na Ásia. Dado que os portugueses foram entre os primeiros – e em muitos
casos foram os primeiros – europeus da Época Moderna (1453-1789) que tiveram contatos com
algumas partes da Ásia, é normal que a palavra Firinghee/Farangi/Firingi fosse primariamente usada
para identifica-los. Henry Yule e A. C. Burnell são da opinião que a palavra para representar todos
os europeus, particularmente os portugueses e os seus descendentes, é usada na Ásia nesta acepção
há muito tempo. Contudo, na maioria das vezes, a palavra tem uma conotação pejorativa, como
esclarecem: “[…] when now employed by natives in India is either applied (especially in the South)
specifically to the Indian-born Portuguese, or, when used more generally, for ‘European’, implies
something of hostility or disparagement. […] In South India the Tamil P’arangi, the Singhalese
Parangi, mean only ‘Portuguese’, [or natives converted by the Portuguese, or by Mahommedans,
any European […]. In a Chinese notice of the same age [end of the 13th, beginning of the 14th
century] the horses carried by Marignolli as a present from the Pope [Pope Nicholas V, (1288-
1292)] to the Great [Khubilai] Khan [1260-1294] are called ‘horses of the kingdom of Fulang’, i.e.,
of Farang or Europe”. YULE, Henry & BURNELL, A. C. Hobson-Jobson: a glossary of colloquial
Anglo-Indian words and phrases, and of kindred terms, etymological, historical, geographical and
discursive (1886). Organizado por William Crooke. Londres: John Murray, 1903, p. 352-353. Ver
também: KELLY, John Norman D. The Oxford dictionary of popes. Oxford: Oxford University
Press, 1988, p. 205-206. LAMBTON, Ann K.S. Persian vocabular. Cambridge: Cambridge
University Press, 1975, p. 114. LEVI, Joseph Abraham O dicionário português-chinês de Padre
Matteo Ricci, S.J. (1552-1610): uma abordagem histórico-linguística. Nova Orleans: University
Press of the South, 1998, p. 54-55, nota 39. PORTER, Jonathan. “The troublesome Feringhi:
late Ming Chinese perceptions of the Portuguese and Macau”, Portuguese Studies Review, vol.
7, n. 2, 1999, p. 29, nota 16. TRAINI, Renato (org.). Vocabolario arabo-italiano – Vol. 1. Roma:
Istituto Per l’Oriente, 1993, p. 500; TRAINI, Renato (org.). Vocabolario arabo-italiano – Vol. 2.
Roma: Istituto Per l’Oriente, 1993, p. 1084. Todavia, nem sempre o étimo retratava os maus hábitos
dos Portugueses. Aquando da pirataria chinesa e do contrabando chinês – sobretudo durante os
reinados de Chêng-tê, (1506-1521), e Chia Ching, (1521-1566/67) – os Fo-lang-chi foram, de fato,
os aliados do Império Celeste, muitas das vezes até ajudando as forças chinesas nas suas lutas
contra os transgressores chineses: “The Fo-lang-chi have never invaded our land nor slaughtered
our people nor plundered our treasures. Furthermore, when they first came to China, they chased
away the bandits on our behalf because they were afraid that they might be involved. […] The Fo-
lang-chi […] eradicated the pirates that had been rampaging for about twenty years”. LIN,Hsi-yüan
Chin Shih. Lin T’zu-yai hsien-sheng wen-chi, 18 Chuan. 8 vols. Organizado por Ming Wan-li chi en
k’o pen. In: SO, Kwan-wai. Japanese piracy in Ming China during the 16th Century. East Lansing:
Michigan State Uuniversity Press, 1975, p. 69-70. Ver também: Lung-ch’ing, Ch’ao-yang hsien-chih
Ming lung-ch’ing. 6 nien. 1572. 15 vols. China National Microforms Import and Export. Quanto
à palavra Fo-lang-chi, uma abordagem completamente diferente foi tomada por Joseph Edkins e
Friedrich Hirth. Ambos consideraram as origens de Fo-lang-chi, com a sua variante Fu-lin, persas,
Farang, e não árabes, Afrangi, e, mormente, que era “the Persian Farang applied after the early
Mohammedan [sic] conquests to western nations generally”. EDKINS, Joseph. “More about Fu-lin”.
Journal of the China Branch of the Royal Asiatic Society, n. 20, 1885, p. 283. Quanto às mudanças
de Farang para Fo-lang-chi or Fu-lin, Edkins postula: “The Chinese on their part in writing the
Semitic ng in Farangi used m as the final […]. The Chinese ng is the same as the English. The Arab
and Persian ng may be something very different so that they are not used convertibly”. EDKINS,
“More about Fu-lin”, p. 284. Baseando-se nas teorias de Richardson, encontradas no seu Persian
Dictionary, Edkins frisa que em árabe Afranj aplica-se a todos os europeus, Afrang aos turcos, e
Afrangi aos persas e aos tártaros. O a prostético é, portanto, ligado ao empréstimo lexical persa
Farang, após a epéntese do primeiro: “We may regard the Arabic term with initial a as a borrowed
word and the Persian as native. […] It is better to regard the word as Persian and of native origin.
[…] The Arabs learned it and carried it westward prefixed an a, and confounded if [it] subsequently
with the European word Francoi, when the conquest of Charlemagne made the Franks the chief
power in Europe. […] Probably then in the times of the Caliphate of Bagdad the Persian name for
Europeans prevailed and was communicated to India and China by the Arabs and Nestorians as
early as the Sui dynasty. […] The atual word in use among missionaries in China at that time and
among Arab traders at Canton would naturally be the Persian Farang or Fo-lin”. EDKINS, Joseph.
“Fu-lin, a Persian Word”. Journal of the China Branch of the Royal Asiatic Society, n. 21, 1886,
p. 109. Ver também: EDKINS, Joseph. “Who Were the Fu Lin People?”. Chinese Recorder, n. 16,
1885, p. 304; p. 366. Joseph EDKINS, “Some geographical terms in the Tibetan language: a note”,
Chinese Recorder 16 (1885): 454; Friedrich HIRTH, “More about Fu-lin”, Journal of the China
Branch of the Royal Asiatic Society 20 (1885): 283-284.
50
Texto original: “trespass on the property of the Mahomedans [sic], and to oppress their commerce”.
AL-DIN & ROWLANDSON, Tohfut-Ul-Mujahideen, p. 79.
51
O texto original: “They succeeded in cutting off the Arab trade, and Mappilas who had been
prevented from becoming landowners by the hereditary system of land tenure and who depended
on commerce, were cast into reduced economic straits which eventually became a pattern of
poverty”. MILLER, “Mappila”, p. 459.
52
VELHO, Álvaro; GAMA, A. Fontoura da & SANGWA, Mulembo wa. Roteiro da primeira viagem de
Vasco da Gama (1497-1499): [voyage d’aller], Lubumbashi: Université Nationale du Zaïre; CELTA,
1976, p. 198.
53
O texto original: “all Christian princes were obliged to fights against Muslims, who should be
expelled from Calicut”. DALE, Islamic society..., p. 38.
54
O texto original: “[…] the ships of Meccha […] carry the spices which come to our country, and
we spoiled the woods, so that the King of Portugal alone should get spices from there. But it was
impossible for us to accomplish our design. Nevertheless at the same time we took a Meccha ship,
on board of which there were 380 men and women and children, and we took from it at least 12,000
ducats and at least 10,000 worth of goods, and we burnt the ship and all the people on board with
gun powder”. PANIKKAR, K. M. Malabar and the portuguese: being a History of the Portuguese
with Malabar from 1500 to 1663. Bombaim: D.B. Traporevala Sons, 1929, p. 50. Ver também:
ANÔNIMO. Calcoen. Antuérpia, 1504 Tradução de J. Ph. Berjeau. Calcoen: a Dutch narrative
of the second Voyage of Vasco da Gama to Calicut printed in Antwerp circa 1504. Londres: Basil
Montagu Pickering, 1874.
55
O texto original: “[…] We took a great number of people, and we hanged them to the yards of the
ships, and taking them down we cut off their hands, feet, and heads, and we took one of their ships
and threw into it hands, feet, and heads, and we wrote a letter, which we put on a stick, and we left
that ship to go ad-drift towards the land. We took there a ship which we put on fire, and burnt many
subjects of the king”. PANIKKAR, Malabar and the portuguese..., p. 50-51.
56
Ver: MATTHEW, K. S. “Freibriefe für den Handel an Indiens Küste”. In: KNABE, Wolfang. Auf
Spuren der ersten deutschen Kaufleute in Indien. Anhausen: Verlag Moderne Medien, 1993, p.
107.
57
Texto original: “[…] issued to merchant vessels operating out of Cochin and Cannanore, and were
later extended to north India and optimistically to large parts of Asia as Portuguese bases were
established in Goa in 1510, Malacca in 1511, and Hormuz in 1515”. DALE, Islamic society..., p. 41.
58
AL-DIN & ROWLANDSON, Tohfut-Ul-Mujahideen, p. 60.
59
O texto original: “[…] They would not permit the pepper and ginger to be carried to Mecca, but
prevented every other power from trading in these or any other articles but themselves; and they
O já citado Al-Malībārī Zayn al-Dīn ʻAbd al-ʻAzīz, em sua obra Tuhfut al-Mujāhidīn
fī ba’d ahwāl al-Burtuqāliyyīn, é muito cáustico a respeito da atitude portuguesa
perante os muçulmanos, particularmente os mapilas da região. Frequentes eram os
insultos aos muçulmanos nas ruas (incluindo as injúrias contra o Profeta Maomé),
as destruições das mesquitas ou até das casas dos muçulmanos, o confisco dos
bens, particularmente os livros sagrados, e os meios mais impensáveis para fazer de
maneira que os muçulmanos não conseguissem cumprir os seus deveres religiosos
declared that if they saw a root of ginger or a grain of pepper embarked on any other person’s
vessel, they would seize and detain such vessel with all its cargo”. PANIKKAR, Malabar and the
portuguese..., p. 51.
60
O texto original: “[…] there were more instances of violation than compliance. The Muslim
merchants who had their age-old contacts with the West Asian regions remonstrated against the
highhandedness of the Portuguese. They concurred with their counterparts in areas outside the
Malabar Coast and looked for a common front against the Portuguese. But the Portuguese stuck to
their guns and warded off the others from entering into trade with the Malabar Coast though there
were cracks in the fabric”. MATTHEW, “Indo-portuguese historiography...”, p. 67-68.
61
O texto original: “They were successful in keeping the king of Cochin as their closest vassal by
enabling him to be a crowned king, making him take oath of fealty to the king of Portugal”.
MATTHEW, “Indo-portuguese historiography...”, p. 68.
62
AL-DIN & ROWLANDSON, Tohfut-Ul-Mujahideen, p. 103-105.
63
O texto original: “For, how many women of noble birth, thus made captive, did they not incarcerate,
afterwards violating their persons, for the production of Christian children, who were brought up
enemies to the religion of God, and taught to oppress its oppressors!”. AL-DIN & ROWLANDSON,
Tohfut-Ul-Mujahideen, p. 107.
64
Em 1665, como consequência do casamento de Catarina de Bragança (1638-1708) com D. Carlos
II (1630-1685), Rei de Inglaterra, Escócia e Irlanda (1660-1685), Bombaim, Salcete, Basseim e
Chaul foram cedidos ao Reino Unido.
65
O domínio francês era confinado em Mahé e no território de Pondichéry, no Golfo de Bengala.
Para mais informações, ver, por exemplo: GIBERT,Eugène. L’Inde française en 1880. Paris: [n.d.],
1881. MARRE, A. Annales de l’Extrême Orient, vol. 36, 1881. SICÉ, Pierre-Constant. Annuaire
statistique des établissements français dans l’Inde, Pondichéry: Imprimerie du Gouvernement, 1900-
1903. SICÉ, François-Eugène. Annuaire des établissements français de l’Inde pour l’année 1850
[-1852], 3 vols. Pondichéry: Imprimerie du Gouvernement, 1850-1852. SICÉ, Pierre-Constant.
Annuaire des établissements français dans l’Inde pour l’année 1880. Pondichéry: Imprimerie du
Gouvernement, 1880.
66
Com a capitulação de Malaca (1641), a perda de Onor, Barcelor e Mangalor (1652-1664), a
de Ceilão (1656) e a queda de Malabar, Coulão (1658), Cranganor (1662), Cananor e Cochim
(1663), os holandeses passaram a ser os donos do Sudeste Asiático.
67
O texto original: “All their time is taken up with soldiering and they all know the use of arms, as well
as merchants and pirates and the rest; for after going through this training they become merchants
or corsairs, esteeming the one profession as good as the other”. PYRARD, François & GRAY, Albert.
The voyage of François Pyrard of Laval to the East Indies, the Maldives, the Moluccas and Brazil:
in two volumes. Londres: Hakluyt Society, 1887, vol. 2, p. 385. Ver também: PYRARD, François;
BERGERON, Pierre de & BIGNON, Jérôme. The voyage of François Pyrard of Laval, to the East
Indies, the Maldives, the Moluccas and Brazil. 2 vols. Nova York: B. Franklin, 1964.
aniquilar sua própria existência, inalienável perante Deus.
RESUMO ABSTRACT
Este estudo pretende analisar a presença, In this study I analyze the presence, the encounter,
o encontro e, consequentemente, a (quase and the almost always difficult or impossible
sempre) muito difícil e até impossível convivência coexistence between a religious group, in
entre uma confissão religiosa, como o caso this case Mapila Muslims, from one side, and
dos muçulmanos mapilas, de um lado, e o Catholicism, as lived by the Portuguese, from
catolicismo de cunho português, do outro, no the other, in the Malabar as well as in the State
Malabar assim como no resto do Estado da Índia of India (1505-1691), during 158 years (1498-
(1505-1691), durante 158 anos, entre 1498- 1656), or rather, until the Dutch took over the
1656, quando os holandeses tomaram posse area, the latter eventually being overthrown
da área, por sua vez derrotados pelos ingleses by the British (1662) who – after 67 years of
(1662), os quais – depois de um interregno de French interregnum (1725-1792) – dominated
67 anos de hegemonia francesa (1725-1792) the Indian subcontinent until its Independence
– dominaram o subcontinente indiano até sua in 1947.
independência em 1947. Keywords: Catholicism; Mapilas; Muslims;
Palavras Chave: Catolicismo; Mapilas; Portuguese Empire; 15th to 17th Century.
Muçulmanos; Império Português; Séculos XV a
XVII.
68
O texto original: “[…] I compiled this account to inspire the faithful to undertake a jihād against
the worshippers of the cross […] I have related in it some of the evils which the Portuguese inflicted
upon the Muslims of Malabar as well as a brief account of the laws and religious merit of the jihād”.
AL-DIN & ROWLANDSON, Tohfut-Ul-Mujahideen, p. 05.
1
Esse texto é, originalmente, parte da dissertação de mestrado defendida em 2011 na Universidade
Federal do Rio Grande do Norte. Todavia, a partir de críticas, sugestões e aprofundamentos que
foram se adensando durante os últimos anos, o texto original ganhou outros contornos e, com o
passar do tempo e das leituras, abandonou de vez sua feição original. Agradeço aos professores
integrantes do Simpósio Temático “Império e Colonização” pelas contribuições para melhoramento
do texto, quando de nossa apresentação no Simpósio Nacional de História ocorrido em São Paulo,
em 2011. Ao nosso pequeno e já findo, porém valioso grupo de pesquisa sobre História do Poder
Local da USP, formado por Fernando Ribeiro e Luiz Rezende, notadamente quando da realização
do nosso curso sobre câmaras municipais no Brasil colonial em 2013. Agradeço à Profa. Dra.
Fátima Lopes (UFRN) pela orientação nos momentos inicias dessa pesquisa e de suas primeiras
formulações.
2
Doutorando em História Econômica pela Universidade de São Paulo. E-Mail: <dias.thiagoa@
gmail.com>.
3
MATOS, Gregório de. “Ao braço do mesmo Menino Jesus quando apareceu”. In: _____. Obra
poética. Organização de James Amado. Preparação e notas de Emanuel Araújo. Apresentação de
Jorge Amado. 3. ed. Rio de Janeiro: Record, 1992, p. 24-25.
4
Alguns exemplos: FEIJÓ, Diogo António. Guia das Câmaras Municipais do Brazil no desempenho
dos seus deveres. Por um deputado amigo da instituição. Rio de Janeiro: Typ. D’Asthe’a, 1830.
MAIA, João de Azevedo Carneiro. O munícipio: estudos sobre administração local. Rio de Janeiro:
Typ. de G. Leuzinger & Filhos, 1883. LOPES, Levindo Ferreira. Câmaras Municipais. Rio de
Janeiro: Livraria Popular, 1884. LAXE, João Batista Cortines. Regimento das Câmaras Municipais.
2 ed. Rio de Janeiro: B. L. Garnier, 1885. JAGUARIBE, Domingos. O município e a República. São
Paulo: J. B. Endrizzi & Cia, 1897.
5
GUIMARÃES, Manoel Luís Salgado. “Nação e civilização nos Trópicos: o Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro e o Projeto de uma História Nacional”. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, n.
1, 1988, p. 23-24.
6
“Dar relevo ao caráter administrativo e técnico do executivo municipal no Brasil, por mais nobres
que sejam as intenções de quem assim proceda, contrasta violentamente com a cotidiana evidência
dos fatos. Muitos menos que administrador, o prefeito tem sido, entre nós, acima de tudo, chefe
político”. “A prefeitura é, tradicionalmente, ao lado da vereança e da promotoria pública, um dos
primeiros degraus da carreira política em nossa terra”. “O município é, no Brasil, a peça básica das
campanhas eleitorais”; “o ‘coronelismo’ atua no reduzido cenário do governo local. Seu habitat
são os munícipios”. LEAL, Victor Nunes. Coronelismo, enxada e voto: o município e o regime
representativo no Brasil. 4 ed. São Paulo: Alfa-Omega, 1978, p. 129; p. 132 e p. 251. Ver também:
QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. O mandonismo local na vida política brasileira e outros ensaios.
São Paulo: Alfa-Omega, 1976.
7
Ver: PINTO, Luciano Rocha (org.). Arte de governar: o poder local no Brasil, séculos XVIII-XIX. Rio
de Janeiro: Multifoco, 2014.
8
José Capela apresenta uma série de temas recorrentes ao estudo da história municipal, muito
em voga na historiografia portuguesa e europeia contemporânea, além de pertinentes discussões
teóricas e metodológicas acerca da história da administração municipal. Cf.: CAPELA, José Viriato.
“Administração local e municipal portuguesa do século XVIII as reformas liberais (Alguns tópicos
da sua Historiografia e nova História)”. In: CUNHA, Mafalda Soares da; FONSECA, Teresa (org.).
Os municípios no Portugal Moderno: dos forais manuelinos às reformas liberais. Lisboa: Edições
Colibri, 2005, p. 39-58.
9
AMADO, Janaína. “História e região: reconhecendo e construindo espaços”. In: SILVA, Marcos A.
(org.). República em migalhas: história regional e local. São Paulo: Marco Zero, 1990, p. 12-13.
10
BARROS, José D’Assunção. “O campo histórico: considerações sobre as especialidades na
historiografia contemporânea”. História Unisinos, vol. 09, n. 03, set./dez. 2005, p. 236.
11
Para o autor, “complexidade e interação, são inerentes às relações entre centro e as localidades,
tal como o são também os conflitos e divergências dentro das mesmas”. PUJOL, Xavier Gil.
“Centralismo e localismo? Sobre as relações políticas e culturais entre capital e territórios nas
monarquias europeias dos séculos XVI e XVII”. Penélope: fazer e desfazer a história, n. 6, set. 1991,
p. 136.
12
QUENTAL, Antero de. “Causas da decadência dos povos peninsulares nos últimos três séculos.
Discurso pronunciado na noite de 27 de maio de 1871, na Sala do Cassino Lisbonense”. In:
__________. Prosas. Vol. II. Coimbra: Imprensa Universitária, 1926, p. 95-102.
13
ZENHA, Edmundo. O município no Brasil: 1532-1700. São Paulo: Instituto Progresso Editorial,
1948, p. 25, p. 104 e p. 114.
14
MARANHÃO, Gil de Methodio. “O município no Brasil, bibliografia”. Cultura - Revista do
Ministério da Educação e Cultura do Brasil, ano IV, n. 6, dez. 1964, p. 218.
15
RIBEIRO, Fernando. “Influência de ‘Causas da decadência dos povos peninsulares’ de Antero
de Quental na historiografia sobre poderes locais em Portugal e no Brasil no século XX”. Revista
Eletrônica Cadernos de História, ano 8, n. 1, jul. 2013, p. 85.
16
RUSSEL WOOD, Anthony John R. Fidalgos and philanthropists: the Santa Casa da Misericordia
of Bahia, 1550–1755. Berkeley: University of California Press, 1968 (publicado no Brasil como
Fidalgos e Filantropos: a Santa Casa da Misericórdia da Bahia, 1550-1755. Brasília: Editora da
UnB, 1981). BICALHO, Maria Fernanda. “As Câmaras Municipais no Império Português: o exemplo
do Rio de Janeiro”. Revista Brasileira de História, vol. 18, n. 36, 1998, p. 251-280. SOUZA, George
F. C. de. Os homens e os modos da governança: a Câmara Municipal do Recife do século XVIII
num fragmento de história das instituições municipais do Império Colonial Português. Dissertação
(Mestrado em História). Universidade Federal de Pernambuco. Recife, 2002. Para uma análise mais
acurada da influência da obra de Boxer na historiografia brasileira, ver os vários capítulos contidos
em: SCHWARTZ, Stuart & MYRUP, Erik Lars (orgs.). O Brasil no Império Marítimo Português.
Bauru: EDUSC, 2009.
17
BOXER, Charles Ralph. The Golden Age of Brazil, 1695-1750: growing pains of a colonial society.
Berkeley & Los Angeles: University of California Press; Rio de Janeiro: Sociedade de Estudos
Históricos Dom Pedro II; Londres: Cambridge University Press, 1962. Na sequência de publicações
do mesmo autor aqui citadas: BOXER, Charles Ralph. A idade de ouro do Brasil: dores de
crescimento de uma sociedade colonial. Rio de Janeiro: Sociedade de Estudos Históricos Dom
Pedro II, 1963. BOXER, Charles Ralph. Portuguese society in the tropics: the municipal councils of
Goa, Macao, Bahia, and Luanda, 1510-1800. Madison: The University of Wisconsin Press, 1965.
BOXER, Charles Ralph. The Portuguese Seaborne Empire (1415–1825). Londres: Hutchison,
1969. BOXER, Charles Ralph. A idade de ouro do Brasil: dores de crescimento de uma sociedade
colonial. Tradução de Nair de Lacerda. 3 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000. BOXER,
Charles Ralph. O império colonial português (1415-1825). Tradução de Inês Silva Duarte. Lisboa:
Edições 70, 1977. BOXER, Charles Ralph. O império marítimo português (1415-1825). Tradução
de Anna Olga de Barros Barreto. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
18
Relacionar Câmaras e Misericórdias atendando para a circulação das elites locais em ambas
as instituições, influenciaram toda uma gama de historiadores portugueses e, posteriormente,
brasileiros acerca da temática. Cf.: BETHENCOURT, Francisco. “As Câmaras e as misericórdias’.
In: __________ & CHAUDHURI, Kirti. História da expansão portuguesa. Vol. 1. Navarra: Temas e
Debates, 1998, p. 360-368.
19
PARDAL, Rute. “As relações entre as Câmaras e as Misericórdias: exemplo de comunicação política
e institucional”. In: CUNHA, Mafalda Soares da; FONSECA, Teresa. (org.). Os municípios no
Portugal Moderno: dos forais manuelinos às reformas liberais. Lisboa: Edições Colibri, 2005, p.
139-148.
20
MacDONALD, N. P. “Reviewed works: the Golden Age of Brazil 1695-1750 – growing pains of
a Colonial Society by C. R. Boxer”. International Affairs, vol. 39, n. 2, abr. 1963, p. 323-325. A
caráter de exemplo, cf.: BICALHO, Maria Fernanda; FRAGOSO, João & GOUVÊA, Maria de
Fátima (orgs.). O Antigo Regime nos trópicos: a dinâmica imperial portuguesa (séculos XVI-XVIII).
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.
21
VIANA, Oliveira. Populações meridionais do Brasil. Brasília: Senado Federal, Concelho Editorial,
2010 [1920].
22
PRADO JR., Caio. Formação do Brasil contemporâneo: colônia. São Paulo: Brasiliense, 1997
[1942].
23
GARCIA, Rodolfo. Ensaio sobre a História Política e Administrativa do Brasil (1500-1810). Rio de
Janeiro: José Olympio, 1956.
24
FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro - vol. 1. 6. ed.
Rio de Janeiro: Globo, 1984 [1958].
25
BOXER, A Idade do Ouro…, p. 171.
26
BOXER, A Idade do Ouro…, p. 171.
27
CURTO, Diogo Ramada. “Uma história conservadora do Império marítimo português?
(Introdução)”. In: BOXER, Charles Ralph. O Império marítimo português, 1415-1825. Tradução
de Inês Silva Duarte. Lisboa: Edições 70, 2012, p. XV.
28
RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das
Letras, 1995, p. 447.
Diante do quadro exposto sobre os rumos para análise dos poderes locais e
das municipalidades, realizamos um recorte temático, espacial e cronológico a ser
estudado: a câmara de Natal na capitania do Rio Grande do Norte, ou melhor,
a câmara municipal de Natal, enquanto instituição e expressão da colonização
portuguesa na capitania do Rio Grande do Norte entre, aproximadamente, 1611
e cerca de 1720.
Para tanto, partimos das seguintes premissas: durante e após o processo de
colonização (ocupação, povoamento e valorização das novas áreas) dos povos e
territórios do Novo Mundo, um dos objetivos da Coroa portuguesa era estender
suas instituições sociais de controle e coerção para a formação e manutenção de
seu império, sendo as câmaras municipais assentadas nas vilas e cidades, uma de
suas mais relevantes instituições a nível local. Tencionamos concluir, portanto, que a
formação dos espaços institucionais locais, a partir das câmaras, nas vilas e cidades,
buscavam controlar os mais variados aspectos do viver em colônia e tornaram
os colonos – institucionalizados com a lógica de aceitação e participação fixada
pelos ditames camarários – em colonizadores, ao mesmo tempo que gestavam seus
ganhos pessoais no campo econômico e político.
Seguimos uma proposta de análise também defendida por Fernanda Luciani
quando de sua investigação do poder local no Brasil holandês. Para a autora,
além de todas as prerrogativas inerentes as câmaras, no ultramar elas ganham
outras atribuições, pois funcionam como “organismos de colonização”, sendo uma
“instituição que integra as distantes partes do Império e por meio do qual o poder
real se faz sentir. É essencial, portanto, analisa-las considerando suas diferenças
em relação às instituições locais do Reino por conta das particularidades que a
realidade socioeconômica colonial impunha”30.
O recorte espacial foi definido pelo acesso aos Livros de Termos de Vereação do
Senado da Câmara de Natal existente no acervo do Instituto Histórico e Geográfico
29
BLOCH, Marc. A terra e seus homens: agricultura e vida rural nos séculos XVII e XVIII. Bauru:
EDUSC, 2001, p. 196-260. Já Pierre Goubert esclarece e pontua: “mesmo quando a monografia é
boa, a descrição isolada de uma aldeia levanta mais problemas do que traz soluções: a informação
fornecida terá significado local, provincial ou geral? Para decidir essas questões, outras monografias,
de paróquias vizinhas, seriam necessárias, tornando as demandas e as questões infinitas”.
GOUBERT, Pierre. “História local”. Revista Arrabaldes, ano 01, n. 1, mai./ ago. 1988, p. 69-83.
30
LUCIANI, Fernanda Trindade. Munícipes e escabinos: poder local e guerra de restauração no Brasil
Holandês (1630-1654). São Paulo: Alameda, 2012, p. 63-64.
O Modo de Governança
31
MORENO, Diogo de Campos. Livro que dá razão do Estado do Brasil (1612). Rio de Janeiro:
Instituto Nacional do Livro, 1968, p. 51.
32
CARTA do Governador do Brasil para Sua Majestade de primeiro de março de 1612. Anais da
Biblioteca Nacional, vol. LVII, 1935. Rio de Janeiro: Serviço Gráfico do Ministério da Educação,
1939, p. 78-81.
33
MIRANDA, Susana Münch & SALVADOR, João Paulo (orgs.). Cartas para Álvaro de Sousa e
Gaspar de Sousa (1540-1627). Lisboa: CNCDP, 2001, p. 107.
34
MAGALHÃES, Joaquim Romero. “Os concelhos”. In: MATOSO, José (org.). História de Portugal:
no alvorecer da modernidade. Lisboa: Editorial Estampa, 1992, p. 179.
35
RUSSELL-WOOD, Anthony John R. “O governo local na América portuguesa: um estudo de
divergência cultural”. Revista de História, vol. LV, n. 109, ano XXVIII, 1977, p. 38.
36
TERMO de Vereação do Senado da Câmara de Natal, 12 jul. 1672. Instituto Histórico e Geográfico
do Rio Grande do Norte – IHGRN, Livro de Termos e Vereação do Senado da Câmara de Natal –
LTVSCN , cx. 01, lv. 1672-1673, fl. 4v. TERMO de Vereação do Senado da Câmara de Natal, 09
set. 1672, IHGRN, LTVSCN, cx. 01, lv. 1672-1673, fl. 5v e 5v. TERMO de Vereação do Senado da
Câmara de Natal, 03 mar. 1672. IHGRN, LTVSCN, cx. 01, lv. 1672-1673, fl. 6v.
37
TERMO de Vereação do Senado da Câmara de Natal, 20 mar. 1673. IHGRN, LTVSCN, cx. 01, lv.
1672-1673, fl. 6v e 7v.
38
TERMO de Vereação do Senado da Câmara de Natal, 29 dez. 1672. IHGRN, LTVSCN, cx. 01, lv.
1672-1673, fl. 09v. A criação de impostos e taxas municipais garantia rendimentos para a Câmara,
como bem apontou Avanete Sousa no seu estudo sobre as questões tributárias e as rendas da
Câmara de Salvador. Cf.: SOUSA, Avanete Pereira. “Impostos e taxas municipais no Antigo
Regime: a Câmara de Salvador e o controle da economia local”. In: FERLINI, Vera Lúcia Amaral
& MOURA, Esmeralda Blanco Bolsonaro de (orgs.). História econômica: agricultura, indústria e
população. São Paulo: Alameda, 2006, p. 353-359.
39
TERMO de Vereação do Senado da Câmara de Natal, 22 dez. 1672. IHGRN, LTVSCN, cx. 01,
lv. 1672-1673, fl. 09 e 09v. TERMO de Vereação do Senado da Câmara de Natal, 13 fev. 1673.
IHGRN, LTVSCN, cx. 01, lv. 1672-1673, fl.13. TERMO de Vereação do Senado da Câmara de
Natal, 15 mai. 1674. IHGRN, LTVSCN, cx. 01, lv. 1674-1698, fl. 2. Nesse processo de formação
patrimonial e de receitas de câmaras recém-fundadas, relevante é o caso da Câmara de Recife, na
Capitania de Pernambuco. Fundada em 1711 a poucas léguas de distância da Câmara de Olinda,
as duas câmaras enfrentaram embates contra a formação e expansão da nova câmara, que acabou
diminuindo os rendimentos e patrimônio da tão antiga e próxima Câmara de Olinda. Cf.: SOUZA,
George Félix Cabral de. “Patrimônio, jurisdição e conflito na América portuguesa: Pernambuco,
século XVIII”. In: OLIVEIRA, Carla Mary; MENEZES, Mozart Vergetti & GONÇALVES, Regina
Célia (orgs.). Ensaios sobre a América Portuguesa. João Pessoa: Ed. Universitária/ UFPB, 2009, p.
81-96.
40
CARTA dos oficiais da Câmara de Natal ao rei [D. Afonso VI] sobre o estado de ruína da Fortaleza
dos Reis Magos e a falta de soldados, armas e munições. Anexo: carta (treslado). Arquivo Histórico
Ultramarino (AHU), Arquivo Central (ACL), Conselho Ultramarino (CU), Rio Grande do Norte.
AHU_ACL_CU_18, Cx. 01, D. 07.
41
Essa perspectiva de análise pode ser encontrada nos mais recentes trabalhos da historiografia
brasileira, sobretudo, para a região das Minas. Cf.: CAMPOS, Maria Verônica. Governo de
Mineiros: “de como meter as minas numa moenda e beber-lhe o caldo dourado” (1693-1737).
Tese (Doutorado em História Social) Universidade de São Paulo. São Paulo, 2002. CHAVES,
Cláudia Maria das Graças; PIRES, Maria do Carmo & MAGALHÃES, Sônia Maria de (orgs.). Casa
de Vereança de Mariana: 300 anos de História da Câmara Municipal. Ouro Preto: UFOP, 2008.
FONSECA, Cláudia Damasceno. Arraiais e Vilas D’El Rei. Espaço e poder nas minas setecentistas.
Belo Horizonte: EdUFMG, 2011.
42
TERMO de Vereação do Senado da Câmara de Natal, 14 jul. 1674. IHGRN, LTVSCN, cx. 01, lv.
1674-1698, fl. 02 e 02v. O envolvimento dos Corregedores nas câmaras, sua relevância e atuação,
foi minimizado por Manuel Hespanha para Portugal continental nos séculos XV a XVIII, ao afirmar
que “a eficácia dos corregedores como instrumentos de subordinação politico-administrativo
do reino era relativamente modesto”, o que não pode ser constatado para o Brasil colonial.
HESPANHA, António Manuel. As vésperas do Leviathan. Coimbra: Almedina, 1994, p. 203. Na
perspectiva de Arno e Maria José Wehling, é possível afirmar que tanto poder nas mãos das elites
locais e o rei tão distante, não é de admirar que, de vez em quando, os potentados provincianos
sonhassem com a ruptura dos laços com Lisboa. Por isso, depois da uma fase de descentralização
forçada por motivos políticos à época da Restauração portuguesa no século XVII, a tendência da
monarquia sempre foi a de aumentar paulatinamente a presença do Estado nas conquistas, o que
se deu com maior ênfase a partir da presença dominadora de Sebastião José de Carvalho e Melo,
o Marquês de Pombal, à frente do governo (1750-1777). Ver: WEHLING, Arno. Direito e justiça
no Brasil colonial: o Tribunal da Relação do Rio de Janeiro, 1751-1808. Rio de Janeiro: Renovar,
2004.
43
TERMO de Vereação do Senado da Câmara de Natal, 24 set. 1674. IHGRN, LTVSCN, cx. 01, lv.
1674-1698, fl. 03-03v.
44
TERMO de Vereação do Senado da Câmara de Natal, 16 mai. 1677. IHGRN, LTVSCN, cx. 01,
lv. 1674-1698, fl. 15v a 16. TERMO de Vereação do Senado da Câmara de Natal, 27 dez. 1682.
IHGRN, LTVSCN, cx. 01, lv. 1674-1698, fl. 48 e 48v.
45
TERMO de Vereação do Senado da Câmara de Natal, 29 dez. 1682. IHGRN, LTVSCN, cx. 03, lv.
1674-1698, fl. 49.
46
CHAVES, PIRES & MAGALHÃES, A casa de vereança..., p. 13.
Os Ordenamentos Territoriais
47
TERMO de Vereação do Senado da Câmara de Natal, 21 jan. 1683. IHGRN, LTVSCN, cx. 03, lv.
1674-1689, fl. 50.
48
RICUPERO, Rodrigo. A formação da elite colonial: Brasil c. 1530 – c. 1630. São Paulo: Alameda,
2009, p. 313-315.
49
FERLINI, Vera Lúcia Amaral. Açúcar e colonização. São Paulo: Alameda, 2011, p. 75.
50
TERMO de Vereação do Senado da Câmara de Natal, 09 abr. 1678. IHGRN, LTVSCN, cx. 01, lv.
1674-1698, fl. 20v.
51
As terras pertencentes às Câmaras, em uma área de jurisdição denominada termo do município,
possuem características distintas das áreas rurais, as sesmarias, como o fato das sesmarias serem
doadas em léguas e as urbanas em braças, por exemplo. Sobre esse assunto, cf.: RIBEIRO, Fernando.
“A terra urbana colonial: reflexões sobre o instituto na América Portuguesa”. Anais... Encontro da
Associação Portuguesa de História Económica e Social, Lisboa, 2012.
52
TERMO de Vereação do Senado da Câmara de Natal, 05 mai. 1689. IHGRN, LTVSCN, cx. 01, lv.
1674-1698, fl. 85v.
53
TERMO de Vereação do Senado da Câmara de Natal, 02 nov. 1689. IHGRN, LTVSCN, cx. 01, lv.
1674-1698, fl. 88v e 89.
54
ALVEAL, Carmen Margarida Oliveira. “Os desafios da governança e as relações de poder na
Capitania do Rio Grande na segunda metade do século XVII”. In: MACEDO, Helder Alexandre
Medeiros de & SANTOS, Rosenilson da Silva (orgs.). Capitania do Rio Grande: histórias e
colonização na América portuguesa. João Pessoa: Ideia; Natal: EdUFRN, 2013, p. 39-43.
55
BICALHO, Maria Fernanda; FRAGOSO, João & GOUVÊA, Maria de Fátima. “Uma leitura do
Brasil colonial: bases da materialidade e da governabilidade no Império”. Penélope - Revista de
História e Ciências Sociais, n. 23, 2000, p. 76.
56
TERMO de Vereação do Senado da Câmara de Natal, 20 jan. 1680. IHGRN, LTVSCN, cx. 01,
lv. 1674-1698, fl. 31v e 32. TERMO de Vereação do Senado da Câmara de Natal, 01 set. 1697.
IHGRN, LTVSCN, cx. 01, lv. 1674-1698, fl. 140 e 140v.
57
ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O trato dos viventes. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 11.
58
MATTOS, Ilmar Rohloff. O Tempo Saquarema. São Paulo: Hucitec, 1987, p. 21-27. Algumas
formulações de Alfredo Bossi parecem-nos pertinentes à discussão. A ação colonizadora, de acordo
com o autor, reinstaura e dialetiza três ordens: do cultivo, do culto e da cultura, sendo a ordem do
cultivo, em primeira instância, seguida das migrações e do povoamento que reforçam o domínio
sobre a natureza e o território. Como um processo invariante para essa leitura materialista da
realidade, novas terras e novos bens dotam o sentido da cobiça aos colonizadores: “reaviva-se
o ímpeto predatório e mercantil que leva à aceleração econômica da matriz em termos de uma
acumulação de riquezas em geral rápida e grávida de consequências para o sistema de trocas”.
BOSI, Alfredo. Dialética da colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1992, p. 19-20.
59
MATTOS, O Tempo Saquarema, p. 21-27. Paul Bairoch afirma que os principais elementos da
colonização europeia podem ser agrupados também em três variantes que se interconectam: a
imposição aos colonizados dos pressupostos civilizacionais metropolitanos como cultura, língua,
organização social, moralidade, etc., ou seja, o campo da cultura; a imposição de um conjunto
de regras no campo econômico com claro favorecimento aos colonizadores, ou seja, o campo do
cultivo e, por fim, a discriminação fundada nas concepções de raça, origem ou religião, sendo os
colonizadores o exemplo da fuga da barbárie ou do progresso civilizacional sobre os colonizados,
ou seja, o campo do culto. BAIROCH, Paul. “Colónias”. In: ROMANO, Ruggiero (org.) Enciclopédia
Einaudi – vol. 4. Porto: IN/CM, 1984, p. 304.
60
FERLINI, Açúcar e colonização, p. 97.
61
FERLINI, Vera Lúcia Amaral. “O município no Brasil colonial e a configuração do poder econômico”.
In: SOUZA, Laura de Mello e; FURTADO, Júnia Ferreira & BICALHO, Maria Fernanda (org.). O
governo dos povos. São Paulo: Alameda, 2009, p. 391.
62
MONTEIRO, Nuno Gonçalo. “Sociologia das elites locais (séculos XVII-XVIII): uma breve reflexão
historiográfica”. In: CUNHA, Mafalda Soares da & FONSECA, Teresa (orgs.). Os municípios no
Portugal Moderno: dos forais manuelinos às reformas liberais. Lisboa: Edições Colibri, 2005, p. 66.
63
QUEIROZ, O mandonismo na..., p. 40. Trabalhos recentes, como de João Fragoso, trazem novas
perspectivas para essa questão, no entanto, as pesquisas estão focadas na última década do séc.
XVIII e início do XIX, não sendo aplicáveis ao período histórico em discussão. Cf.: FRAGOSO, João
L. R. Homens de grossa aventura: acumulação e hierarquia na praça mercantil do Rio de Janeiro
(1790-1830). Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1993.
64
MONTEIRO, Nuno Gonçalo. “Os concelhos e as comunidades”. In: MATOSO, José (org.). História
de Portugal: Antigo Regime. Coordenação de António Manuel Hespanha. Lisboa: Editorial
Estampa, 1992, p. 324.
65 FIGUEIREDO, Luciano R. de A. “O Império em apuros: notas para o estudo das alterações
ultramarinas e das práticas políticas no Império Colonial Português, séc. XVII a XVIII”. In:
FURTADO, Júnia Ferreira (org.). Diálogos oceânicos: Minas Gerais e as novas abordagens para
uma História do Império Ultramarino Português. Belo Horizonte: EdUFMG, 2001, p. 241. Caso
emblemático dessa relação “tarefas da colonização x homens da governança local”, ocorreu na
luta contra o quilombo dos Palmares, no final do século XVII, em que não foram medidos esforços
por parte do governador de Pernambuco Caetano de Melo e Castro, a mando da Coroa, para a
“guerra e destruição dos negros levantados de Palmares”. O governador foi instruído a gastar todos
os recursos necessários da Câmara de Olinda, além de ter arregimentando homens das capitanias
vizinhas e mantimentos necessário a expedição. Sobre o assunto, cf.: FREITAS, Décio. Palmares: a
guerra dos escravos. 5. ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1984, p. 154 e seguintes.
66
Os elementos sociais presentes nesse conflito (sesmeiro, missionários, paulistas, foreiros, rendeiros,
vaqueiros, moradores) contribuíram cada um ao seu modo, para os desígnios e interesses da
Coroa, atentando para o fato que estes também possuíam seus próprios interesses. Mais do que
um jogo pela posse de cargos de mando, os conflitos que surgiram ao longo de quase 30 anos entre
colonos, paulistas e missionários refletiam a competição pela posse da terra e usufruto da mão-
de-obra indígena. Para Maria Idalina Pires, “no plano conjuntural da “Guerra dos Bárbaros”, ao
mesmo tempo que verificamos uma unidade dos grupos sociais no combate aos Tapuyas rebelados,
identificamos uma disputa permanente entre eles pela posse da terra e a utilização da mão-de-obra
indígena”. PIRES, Maria Idalina da Cruz. Guerra dos Bárbaros: resistência indígena e conflitos no
Nordeste colonial. Recife: FUNDARPE, 1990, p. 114.
67
Como apontou Pedro Puntoni, “as vilas, as fazendas e os currais entregavam gados e farinhas aos
seus protetores, acreditando que estes custos seriam menores do que as perdas no caso de um
ataque dos índios”. PUNTONI, Pedro. A Guerra dos Bárbaros: povos indígenas e a colonização do
sertão Nordeste do Brasil, 1650-1720. São Paulo: Hucitec; EDUSP; Fapesp, 2002, p. 212.
68
TERMO de Vereação do Senado da Câmara de Natal, 01 jan. 1690, IHGRN, LTVSCN, cx. 01, lv.
1674-1698, fl. 93v. TERMO de Vereação do Senado da Câmara de Natal, 27 dez. 1690, IHGRN,
LTVSCN, cx. 01, lv. 1674-1698, fl. 95-95v. TERMO de Vereação do Senado da Câmara de Natal,
13 fev. 1713, IHGRN, LTVSCN, cx. 01, lv. 1709-1721; fl. 73-74. TERMO de Vereação do Senado
da Câmara de Natal, 03 mai. 1714, IHGRN, LTVSCN, cx. 01, lv. 1709-1721, fl. 93.
69
Maria Coelho, ao analisar a historiografia portuguesa acerca das elites dirigentes no fim da Idade
Média, chega à conclusão que se conheceram “homens, famílias e linhagens detentoras de várias
poderes locais e evidenciaram-se os mecanismos de ascensão e permanência nessa liderança.
Tornou-se evidente que as elites das sociedades urbanas, de interesses e feição aristocráticos, se
sintonizavam com a política mais controladora e centralista dos monarcas nos séculos finimedievais,
colaborando na arrecadação dos impostos e recrutamento de homens, elementos que suportavam
um Estado de Finanças e de Guerra como era o de Quatrocentos”. COELHO, Maria Helena da
Cruz. “O Poder Concelhio em tempos medievais – o ‘deve’ e ‘haver’ historiográfico”. Revista da
Faculdade de Letras História, Porto, III série, vol. 7, 2006, p. 25. Porém, cabe perguntar em que
medida essa afirmativa serve para explicar a relação das elites locais e o poder central na América
portuguesa na época moderna, já que Joaquim Romero nos apresenta a seguinte formulação: “a
normalidade é serem as câmaras de Portugal governadas por um conventículo oligárquico auto-
perpetuado, na feliz caracterização de Boxer. Isso tanto vale para o Oriente como para o Brasil,
as Ilhas do Atlântico ou território europeu. Trata-se de uma estrutura sócio-política que foi sendo
montada e instalada ao longo de séculos, e que correspondia às necessidades reais da sociedade
e de que o rei soube ir se servindo [...]. As relações sociais no Antigo Regime têm, naturalmente,
as sua conflitualidade, em que há uma tensão normal entre os grupos. O rei, conscientes dessas
RESUMO ABSTRACT
As Câmaras Municipais tornaram-se uma The Municipal Councils became one of the most
das mais relevantes instituições colonizadoras relevant institutions of the colonizing process in
implementadas em todas as possessões all the Portuguese possessions in the New World.
portuguesas no Novo Mundo. Ao iniciarmos Beginning our path with a brief historiographical
nosso percurso com uma breve discussão discussion about the topic and focusing on
historiográfica acerca do tema, enfocando some theoretical and methodological definitions
algumas definições teórico-metodológicas – – the ones used to analyses that institution –,
utilizadas para analisar essas instituições –; we investigate the first registers of the Natal’s
investigamos os primeiros registros de formação Council’s formation, in the Captaincy of Rio
da Câmara de Natal, na Capitania do Rio Grande Grande, as well as the performance of its officials
e a atuação dos oficiais da mesma, no século in the seventeenth century and in the first two
XVI e nas duas primeiras décadas do século decades of the eighteenth. We aim, therefore, to
XVIII. Nosso objetivo, portanto, é demonstrar demonstrate that the formation of institutional
que a formação dos espaços institucionais no spaces within the municipal level turned the
âmbito municipal, nesse período, tornaram os Councils’ officials, despite remaining with the
colonos oficiais camarários, antes de tudo, em status of colonized people, into colonizers
colonizadores. themselves.
Palavras Chave: Colonização; Câmaras Keywords: Colonization; Municipal Councils;
Municipais; Capitania do Rio Grande. Captaincy of Rio Grande.
tenções, utiliza-as na busca de um equilíbrio em cada um ocupe, como deve, o seu lugar e a área
de poder e de actuação em que se coloca. No Reino como no Império”. e MAGALHÃES, Joaquim
Romero. Conselhos e organização municipal na Época moderna. Vol. 1: Miunças. Coimbra:
Imprensa da Universidade de Coimbra, 2011, p. 73.
70
COUTO, D. Domingos Loreto. Desaggravos do Brasil e Glorias de Pernambuco (1756-57). Rio de
Janeiro: Officina Typographica da Biliotheca Nacional, 1904, p. 255.
1
Doutorando em História Social pela Universidade Federal do Ceará. Bolsista Capes. E-Mail: <rafa-
ricarte@hotmail.com>.
2
PRADO JR., Caio. Formação do Brasil contemporâneo. 23. ed. São Paulo: Brasiliense, 1999.
3
FAORO, Raymundo. Os Donos do Poder: formação do patronato político brasileiro. 4. ed. rev. e
acrescida. São Paulo: Globo, 2008.
4
Sobre estas interpretações ver: FRAGOSO, João; BICALHO, Maria Fernanda & GOUVÊA, Maria
de Fátima (orgs.). O Antigo Regime nos trópicos: a dinâmica imperial portuguesa – séculos XVI/
XVIII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. FRAGOSO, João; GOUVÊA, Maria de Fátima
Silva & BICALHO, Maria Fernanda Baptista. “Uma leitura do Brasil colonial: bases da materialidade
e da governabilidade no Império”. Penélope – Revista de História e Ciências Sociais, n. 23, 2000,
p. 67-88. BOXER, Charles R. O Império Marítimo Português. São Paulo: Companhia das Letras,
2002. FRAGOSO, João & FLORENTINO, Manolo. O arcaísmo como projeto: mercado atlântico,
sociedade agrária e elite mercantil em uma economia colonial tardia – Rio de Janeiro 1790/1840.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. GREENE, Jack P. “Tradições de governança consensual
na construção da jurisdição do Estado nos impérios europeus da Época Moderna na América”. In:
FRAGOSO, João & GOUVÊA, Maria de Fátima (orgs.). Na trama das redes: política e negócios
no Império português, séculos XVI-XVIII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010, p. 95-114.
SOUZA, Laura de Mello e. O Sol e a sombra: política e administração na América portuguesa do
século XVIII. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
5
RUSSELL-WOOD, Anthony John R. “Centros e periferias no mundo luso-brasileiro, 1500-1808”.
Tradução de Maria de Fátima Silva Gouvêa. Revista Brasileira de História, vol. 18, n. 36, 1998,
p.187-250.
6
RUSSELL-WOOD, “Centros e periferias...”.
7
RUSSELL-WOOD, “Centros e periferias...”.
8
LEMENHE, Maria Auxiliadora. As razões de uma cidade: conflito de hegemonias. Fortaleza: Stylus
Comunicações, 1991, p. 18.
9
ARQUIVO Público do Estado do Ceará (org.). Datas de sesmarias do Ceará e índices das datas
de sesmarias: digitalização dos volumes editados nos anos de 1920 a 1928. Fortaleza: Expressão
Gráfica/Wave Media, 2006. CD-ROM.
10
NOGUEIRA, Gabriel Parente. Fazer-se nobre nas fímbrias do Império: práticas de nobilitação e
hierarquia social da elite camarária de Santa Cruz do Aracati (1748-1804). Dissertação (Mestrado
em História Social). Universidade Federal do Ceará. Fortaleza, 2010, p. 43.
As vilas criadas no Siará Grande até a primeira metade do século XVIII estavam
localizadas em importantes locais para a efetivação da conquista e institucionalização
do poder metropolitano na capitania. A partir da segunda metade do século XVIII
a criação das vilas seguiu a política de transformação dos aldeamentos em vilas ou
a implantação de vilas objetivando controlar a população “vadia” que transitava
entre os sertões, controle este que não foi efetivado pelos potentados locais.
O acesso aos postos da câmara era considerado como elemento de distinção
social e se constituía como destaque para as elites locais. Segundo Maria Fernanda
Bicalho, as câmaras, assim como outros institutos e instituições lusas, sofreram
adaptações quando da implantação nas colônias, exemplo do Instituto das Sesmarias
que, ao longo do período de aplicação, teve uma série de leis complementares
(alvarás, editos régios, etc.) “aperfeiçoando” o sistema para o caso colonial.
11
NOGUEIRA, Fazer-se nobre..., p. 40-41.
12
Grifos meus. BICALHO, Maria Fernanda. A cidade e o Império: o Rio de Janeiro no século XVIII.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003, p. 367.
Em 1696 o padre João Leite de Aguiar enviou carta ao rei, D. Pedro II,
informando as desavenças e insolências que o Capitão-mor do Siará Grande, João
de Freitas da Cunha, estava cometendo: “os capitães de todas aquelas capitanias
especialmente o do Ceará se opõem em tudo aos missionários maltratando aos
miseráveis índios sem lhes pagar o jornal de seu trabalho, e obrando outras
insolências”13. Para coibir este e outros abusos promovidos pelo Capitão-mor, o
religioso recomendou a criação de uma Câmara.
A autorização para a instalação de uma Vila no Siará Grande foi passada três
anos após a solicitação do missionário. A ordem régia de 13 de fevereiro de 1699
destacou que deveriam ser eleitos os oficiais da Câmara, juízes ordinários para “se
atalharem parte das insolências, que costumam cometer os capitães-mores, e se
administrar melhor a justiça [e] para por este meio se evitarem muitos prejuízos que
até agora se experimentavam por falta de terem em seu governo aqueles moradores
do Ceará modo de justiça”14.
O reconhecimento da necessidade expressa pelo rei com a instalação da Câmara
aponta para uma relativização da autonomia local. Apesar da parca presença
burocrática e institucional do poder metropolitano na Capitania do Siará Grande e
da distância espacial entre estas partes constitutivas do Império português, existia
o reconhecimento por parte dos agentes locais do poder real e sua gerência nas
questões locais. Ademais, o “modo de justiça” citado pelo padre denota uma forma
da presença da autoridade real na capitania.
Segundo Clovis Ramiro Jucá Neto, a criação das vilas e da Ouvidoria na
capitania dividiu a estrutura administrativa do Siará Grande. Na segunda década
do século XVIII são criadas a Ouvidoria Real em 1723 e a Real Provedoria em
1725. Com a institucionalização destes espaços regulatórios a Coroa portuguesa
buscou efetuar maior controle sobre as “autarquias sertanejas”15, detentoras de
uma margem de autonomia sobre os sertões, mas que, ainda assim, almejavam
“proteção” da Coroa em suas parcialidades e pedidos.
A instalação de uma vila e sua câmara acirrou as disputas políticas entre
fazendeiros/ sesmeiros, que se constituíram como camaristas, e os capitães-mores
do Siará Grande. Após a implantação da Câmara, seus representantes escreveram
carta ao rei D. João V reconhecendo e informando as mudanças efetuadas com a
liberdade frente aos desmandos que sofriam com a atuação opressiva dos capitães-
mores. O discurso dos camaristas objetivava legitimar a recém-instalação deste
13
CONSULTA do Conselho Ultramarino ao rei [D. Pedro II], sobre o que escreveu o padre João Leite
acerca do seu trabalho nas missões do Ceará. Lisboa, 04 set. 1696. Arquivo Histórico Ultramarino
(AHU), Arquivo Central (ACL), Conselho Ultramarino (CU), Documentos Manuscritos Avulsos da
Capitania do Ceará (006). AHU_ACL_CU_006, Cx. 1, D. 46.
14
ORDEM Régia de 13 de fevereiro de 1699 para a instalação da primeira Câmara na Capitania do
Ceará. Apud STUDART, Guilherme (Barão de Studart). Datas e factos para a História do Ceará –
Tomo I. Ed. fac-similar. Fortaleza: Fundação Waldemar de Alcântara, 2001, p. 114.
15
JUCÁ NETO, Clovis Ramiro. A urbanização do Ceará setecentista: as vilas de Nossa Senhora da
Expectração do Icó e de Santa Cruz do Aracati. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo).
Universidade Federal da Bahia. Salvador, 2007, p. 211-215.
16
CARTA dos Oficiais da Câmara de São José de Ribamar a Sua Majestade em 30 de maio de 1716.
Apud BEZERRA, Antonio. Algumas origens do Ceará: defesa ao Desembargador Suares Reimão
à vista dos documentos do seu tempo. Ed. fac-similar. Fortaleza: Fundação Waldemar Alcântara,
2009, p. 260.
17
CARTAS dos Oficiais da Câmara de São José de Ribamar a Sua Majestade em 30 de dezembro de
1717. Apud BEZERRA, Algumas origens..., p. 264.
18
CARTA do Capitão-mor do Ceará, Manuel Francês, ao rei [D. João V, a informar sobre o estado
da capitania no início do seu governo, Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, 16 abr. 1722.
AHU_ACL_CU_006, Cx. 1, D. 98.
19
Sobre a construção desta tensa unidade entre os conquistadores e a governança local na Guerra
dos Bárbaros ver os seguintes trabalhos: PIRES, Maria Idalina da Cruz. A Guerra dos Bárbaros:
resistência e conflitos no Nordeste colonial. Recife: Editora Universitária da UFPE, 2002. JESUS,
Mirian Silva de. Abrindo espaços: os “paulistas” na formação da capitania do Rio Grande.
Dissertação (Mestrado em História). Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, 2007.
PUNTONI, Pedro. A guerra dos bárbaros: povos indígenas e colonização do sertão Nordeste do
Brasil (1650-1720). São Paulo: Edusp; Hucitec, 2002. ARAÚJO, Soraya Geronazzo. O muro do
demônio: economia e cultura na Guerra dos Bárbaros no Nordeste colonial do Brasil – séculos
XVII e XVIII. Dissertação (Mestrado em História Social). Universidade Federal do Ceará. Fortaleza,
2007.
20
REQUERIMENTO do povo ao Capitão-mor Manuel Francês. Apud BEZERRA, Algumas origens...,
p. 213.
21
REQUERIMENTO do povo ao Capitão-mor Manuel Francês. Apud BEZERRA, Algumas origens...,
p. 213.
22
Cristóvão Soares Reimão nasceu em Portugal no ano de 1659. Formou-se em Direito Canônico
pela Universidade de Coimbra e atuou como Juiz de Fora e dos Órfãos antes de chegar a América
portuguesa. Foi nomeado Ouvidor Geral da Capitania da Paraíba e suas anexas e Desembargador
do Tribunal da Relação da Bahia em 1695.
23
Grifos meus. PROVISÃO ao Governador de Pernambuco e mais autoridades sobre a medição das
terras do Ceará pelo Desembargador Cristóvão Soares Reimão. Coleção de Documentos doados
ao Arquivo Público do Estado do Ceará – APEC pelo Professor Limério Moreira da Rocha, p. 170.
24
Segundo consta na Plataforma Sesmarias do Império Luso-Brasileiro – SILB, Alberto Pimentel foi
vereador da Câmara de Natal no ano de 1696 e recebeu quatro concessões de sesmarias, sendo
uma na Paraíba, uma no Rio Grande e duas no Siará Grande. As terras foram recebidas entre os
anos de 1707 e 1732. Disponível em: <http://www.silb.cchla.ufrn.br/>.
25
Infelizmente não foi possível, devido não constar nas documentações, identificar os outros oficiais
que participaram destas diligências. Estes aparecem apenas como “os oficiais”, sem nomear o
piloto, seu(s) ajudante(s) e/ou escravos relacionados por Soares Reimão.
26
PATENTE por que foi provido João de Barros Braga no Posto de Capitão-Mor da Capitania do
Rio Grande do Norte. Coleção de documentos doados ao APEC pelo Professor Limério Moreira da
Rocha, p. 250.
27
CARTA do rei D. Pedro II em 19 de agosto de 1696 para o Ouvidor Geral da Paraíba Cristóvão
Soares Reimão. Apud BEZERRA, Algumas origens..., p. 248.
28
CONSULTA do Conselho Ultramarino ao rei [D. João V] sobre a carta do padre Domingos Ferreira
Chaves, missionário-geral e visitador-geral das missões do sertão da parte do norte no Ceará, e
exposição do padre António de Sousa Leal, missionário e clérigo do hábito de São Pedro, sobre as
violências e injustas guerras com que são perseguidos e tiranizados os índios do Piauí, Ceará e Rio
Grande. Lisboa, 29 out. 1720. AHU_ACL_CU_006, Cx. 1, D. 93.
29
BLUTEAU, Raphael. Vocabulario Portuguez e Latino, Aulico, Anatomico, Architectonico, Bellico,
Botanico, Brasilico, Comico, Critico, Dogmatico, etc. [Autorizado com exemplos dos melhores
escriptores portuguezes e latinos, e oferecido a el-rey de Portugal D. João V] – vol. 02. Em Coimbra:
Universidade de Coimbra, 1728, p. 345.
30
Grifos meus. CARTA do Desembargador Cristóvão Soares Reimão ao rei [D. João V], sobre a
necessidade de se fazer correição na capitania do Ceará pelo menos de três em três anos em
razão da grande falta de administração da justiça. Ribeira de Jaguaribe, 13 fev. 1708. AHU_ACL_
CU_006, Cx. 1, D. 69.
31
Assinaram o documento o Juiz José de Lemos, João Ferreira Chaves, Reverendo Manoel Gomes
de Oliveira e o Procurador Délio Fernandes Guerra.
32
AHU_ACL_CU_006, Cx. 1, D. 69.
33
Ressalta-se que na organização jurídico-administrativa do Império português as câmaras estavam
subordinadas a ouvidoria. Talvez esta dependência, aliada com os constantes atritos entre os
camaristas e o poder “opressivo” dos capitães-mores, fizessem com que os oficiais se aproximassem
do desembargador almejando proteção contra o que chamavam de intromissão jurisdicional do
Forte no que cabia a estes.
34
Grifos meus. CARTA do [Desembargador da Capitania de Pernambuco], Cristóvão Soares Reimão,
ao rei [D. João V], sobre o tombamento das terras da Ribeira do Jaguaribe, da Capitania do Ceará,
e de como foi impedido por João Fonseca e seu sobrinho Luís de Seixas e os demais que constam
no auto de devassa que tirou. Recife, 05 jun. 1709. Documentos Manuscritos Avulsos da Capitania
de Pernambuco. AHU_ACL_CU_015, Cx. 23, D. 2106.
35
AHU_ACL_CU_015, Cx. 23, D. 2106.
36
ARQUIVO, Datas de sesmarias do Ceará...
Evidencia-se nesta carta do juiz das sesmarias o quanto era conflituosa a relação
entre Soares Reimão e Gabriel da Silva Lago. A acusação do magistrado demonstra
como a atuação dos capitães-mores no processo de concessão de sesmarias foi
nebulosa e resultou em diversos conflitos pela posse de terras e limites de cada
sesmaria, resultando na posterior suspensão da autorização para os capitães-mores
efetuarem doações.
As sesmarias em questão haviam sido concedidas por dois capitães-mores:
Bento de Macedo e Faria e Jorge de Barros Leite. A primeira estava localizada
no riacho Banabuiú e havia sido doada em 1683. As demais eram na mesma
ribeira do Jaguaribe, mas em riachos diferentes: Porô e Rinaré. Todas desaguavam
no rio Jaguaribe por intermédio do rio Banabuiú. O que teria levado Gabriel da
Silva Lago a negar a solicitação já que estas terras não haviam sido doadas por
ele? Conjectura-se que o Capitão-mor buscasse esconder alguma irregularidade
cometida por ele em outras concessões registradas no mesmo livro ou mesmo
nestas de seus antecessores, protegendo-os. Outra hipótese aventada é a existência
de uma aliança entre os sujeitos beneficiados por tais concessões e Gabriel da
Silva Lago. Seriam sesmeiros pertencentes ao grupo que sitiou a casa que abrigava
o Desembargador? Infelizmente o magistrado não identificou, nos documentos,
quais eram as sesmarias em disputas, os sesmeiros e os demais sujeitos envolvidos
no litígio.
37
CARTA do [Desembargador da Capitania de Pernambuco], Cristóvão Soares Reimão, ao rei [D.
João V], sobre o pedido feito ao Capitão-mor da Capitania do Ceará, Gabriel da Silva, para lhe
remeter o livro dos registros de sesmarias, informando que ele fez um outro livro colocando datas
incertas. Recife, 05 jun. 1709. AHU_ACL_CU_015, Cx. 23, D. 2107. Faz parte do conjunto de
documentos desta reclamação do Desembargador, uma carta de Inácio Ferreira de Albuquerque,
meirinho das medições e demarcações das terras no Siará Grande e Rio Grande, reafirmando as
palavras de Soares Reimão e informando que Gabriel da Silva Lago havia passado mais de um
mês para dar alguma resposta.
38
Assinam a representação: João Lopes de Oliveira, João Vieira Passos, Manuel de Santiago,
Francisco Dias das Chagas, Manuel Teixeira Correia, Lourenço de Andrade Passos, Antônio Alves
Coelho, João Félix de Carvalho, Gervásio Pereira Álvares, Domingos Álvares Ribeiro, Pedro de
Miranda, Custódio da Costa Oliveira, Antônio Ribeiro Pereira, Damião Gomes da Silveira, Manuel
da Cunha Fernandes, André Duarte, Domingos Ferreira Passos, Nicolau Gomes de Brito, Manuel
Rodrigues dos Reis, Ambrosio da Costa, Bento Pereira Lemos, Lázaro Luís Friesco, Manuel da
Costa Silva, Pedro Ferreira de Medeiros e Rodrigo da Costa de Araújo. REPRESENTAÇÃO dos
moradores da freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Acaraú ao rei [D. João V], em que
pedem que Sebastião de Sá seja expulso daquela freguesia por ser homem revoltoso, blasfemo e
perturbador do sossego público, sendo, inclusive, acusado de matar uma filha e de dar quatrocentos
mil réis ao visitador da Paraíba, Manuel Fonseca Silva, para o livrar da culpa. Anterior a 06 mar.
1725. AHU_ACL_CU_006, Cx. 2, doc. 9.
39
CARTA do Juiz de Jaguaribe Clemente de Azevedo, em 24 de maio de 1724, ao Senado da
Câmara de São José de Ribamar. Apud BEZERRA, Algumas origens..., p. 226-227.
40
CARTA que escreveu o Capitão-mór Manuel Francês a Antonio Mendes Lobato Lira e a Manuel de
Souza Barbalho em 23 de fevereiro de 1725. Apud BEZERRA, Algumas origens..., p. 222.
41
BANDO do Governador de Pernambuco em 10 de abril de 1725. Apud BEZERRA, Algumas
origens..., p. 223.
42
BANDO do Governador de Pernambuco em 10 de abril de 1725. Apud BEZERRA, Algumas
oorigens..., p. 223.
43
Sobre esta toponímia da violência na Capitania do Siará Grande ver: VIEIRA JR., Antonio
Otaviano. “Toponímia da violência”. In: __________. A Família na Seara dos sentidos: domicílio e
violência no Ceará (1780-1850). Tese (Doutorado em História Social). Universidade de São Paulo.
São Paulo, 2002, p. 142-146. GOMES, José Eudes Arrais Barroso. “Os nomes”. In: __________.
“Um escandaloso theatro de horrores”: a Capitania do Ceará sob o espectro da violência (século
XVIII). Monografia (Graduação em História), Universidade Federal do Ceará. Fortaleza, 2006, p.
13-17.
44
REQUERIMENTO da Câmara da vila de Aquiraz ao rei [D. João V] a pedir um ministro tombador
para demarcar as terras, evitando-se assim os pleitos que frequentemente se movem. Aquiraz, 12
mai. 1731. AHU_ACL_CU_006, Cx. 2, D. 49.
45
Ocorrida entre os anos de 1702 e 1714, tinha como motivação a sucessão do trono espanhol após
a morte do rei Carlos II da Espanha e a aliança reinol entre França e Espanha. Esta aliança não foi
aceita pelos demais reinos envolvidos na guerra (Portugal, Inglaterra e Holanda).
46
Segundo Luiz de Aguiar Costa Pinto, os Montes eram provenientes de Penedo (Alagoas) e que
teriam como líder familiar o capitão-mor Geraldo de Monte Silva. Entretanto, não consta nenhuma
menção ao capitão-mor na documentação analisada, tendo sido recorrente a menção a Antonio
Mendes Lobato como um dos “lideres” da família Montes. Já os Feitosas, eram comandados pelo
comissário-geral Lourenço Alves Feitosa. Cabe destacar que a vinda dos Feitosas para a Capitania
do Siará Grande, segundo Luiz de Aguiar Costa Pinto, teve como motivação o envolvimento da
família na Guerra dos Mascates, ocorrida em Pernambuco. PINTO, Luiz de Aguiar Costa. Lutas de
famílias no Brasil: introdução ao seu estudo. 2ª ed. São Paulo: Ed. Nacional; Brasília: INL, 1980,
p. 98-99. Nertan Macedo afirma que os Montes eram provenientes de Pernambuco e tinham uma
extensa parentela no Recife. MACEDO, Nertan. O Clã dos Inhamuns: uma família de guerreiros e
pastores das cabeceiras do Jaguaribe. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora Renes, 1980.
47
CONSULTA do Conselho Ultramarino ao rei [D. João V] sobre as ordens para que o Desembargador
Pedro de Freitas Tavares Pinto a ir ao Ceará executar as diligências referentes às devassas das
sublevações e mortes ali acontecidas. Lisboa, 30 ago. 1730. AHU_ACL_CU_006, Cx. 2, D. 46.
48
CONSULTA do Conselho Ultramarino ao rei [D. João V] sobre as ordens para que o Desembargador
Pedro de Freitas Tavares Pinto a ir ao Ceará executar as diligências referentes às devassas das
sublevações e mortes ali acontecidas. Lisboa, 30 ago. 1730. AHU_ACL_CU_006, Cx. 2, D. 47.
Considerações Finais
49
Segundo Billy Chandler, a nomeação de Francisco Alves Feitosa para o posto de coronel da cavalaria
dos Inhamuns marcou início da autoridade portuguesa neste espaço. CHANDLER, Billy Jaynes.
Os Feitosas e o sertão dos Inhamuns: a história de uma família e uma comunidade no Nordeste do
Brasil (1700-1830). Tradução de Alexander F. Caskey & Ignácio Montenegro. Fortaleza: Editora da
UFC; Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1981, p. 28.
50
FREITAS, Gomes de. “Em Campo Raso as tropas dos Inhamuns”. Revista do Instituto Histórico,
Geográfico e Antropológico do Ceará, ano LXXVIII, 1964, p. 105-112.
51
Exemplo destes negócios envolvendo as sesmarias que haviam sido concedidas aos conquistadores
foi o caso da venda da fazenda de propriedade de Antonia de Oliveira Leite, esposa do comissário-
geral Lourenço Alves Feitosa. Na procuração passada em 1719, Antonia de Oliveira Leite estabelecia
como procuradores “no Recife a seu marido o Comissário Lourenço Alves Feitosa, e a seu irmão
o propáraco do Recife José Ferreira Gondim, e a seu pai o Sargento-Mor Domingos Vaz Gondim,
ao Capitão Antônio Velho Gondim, e ao padre Domingos Velho Gondim; no Ceará ao Reverendo
Vigário Dr. João da Mata Serra; no Icó ao Reverendo Vigário cura da matriz de N. Senhora da
Expectação da dita freguesia do Icó, o padre Domingos Dias da Silveira, ao Capitão José de Araújo
Chaves, ao Alferes Francisco Alves Feitosa e a Pedro Alves Feitosa; na vila de Penedo do rio de S.
Francisco aos capitães Manuel Ferreira Ferro e João Ferreira Ferro; sendo todas pessoas ligadas por
laços de consangüinidade ou de afinidade com os Feitosas”. MACEDO, O Clã dos Inhamuns..., p.
54-55.
RESUMO ABSTRACT
O presente artigo busca analisar os conflitos This article aims to analyse the conflicts and
e os arranjos de poder estabelecidos entre arrangements of power established among
conquistadores, agentes da governança local e conquerors, agents of the local governance
populações locais na capitania do Siará Grande and local populations in the captaincy of Siará
como forma das elites locais obterem o poder Grande as a way that the local elites used to
local na capitania e seu reconhecimento por achieve the local power in the captaincy and
parte da Coroa portuguesa durante a primeira reach its recognition by the Portuguese Crown
metade do século XVIII. Ao longo da discussão, during the first half of the eighteenth century.
buscaremos detalhar as disputas relativas ao Along the discussion, it seeks to detail the disputes
local de estabelecimento da sede da primeira Vila concerning the place to locate the seat of the
da capitania e das concessões e demarcações first village in the captaincy and the concessions
de sesmarias. Ressalta-se que as interações e and demarcations of sesmarias. It is emphasized
as disputas pelo poder envolvendo diferentes that the interactions and disputes for the power
grupos – tais como proprietários de terra, agentes involving different groups – such as landowners,
do governo, dos povos indígenas e a população agents of the governance, indigenous and poor
pobre – não implicava, necessariamente, na peoples – did not necessarily imply the search for
busca por mais autonomia para a elite local. more autonomy to the local elite.
Palavras Chave: Sesmarias; Conflito; Keywords: Sesmarias; Conflict; Local
Governança Local. Governance.
1
Doutora em História pela Universidade Federal de Minas Gerais. Professora Adjunta da Faculdade
de Ciências Humanas da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Campus JK,
Diamantina – MG. Vice-líder do Grupo de Pesquisa Interinstitucional Arte, Cultura e Sociedade no
Mundo Ibérico (séculos XVI a XIX) (PPGH-UFPB/ Diretório CNPq). E-Mail: <magnani@redecitel.
com.br>.
2
MAGNANI, Maria Cláudia Almeida Orlando. “Entre o Minho e Minas: as veredas artísticas de José
Soares de Araújo”. Forum, Braga, Universidade do Minho, n. 47/48, 2012/2013, p. 139-160.
3
PERETTI, Aurelio. La Sibilla Babilonese nella propaganda ellenistica. Firenze: La Nuova Italia
Editrice Firenze, 1943.
4
STONEMAN, Richard. The ancient oracles making the Gods speak. New Haven & Londres: Yale
University Press, 2011.
5
PARKE, Herbert William. Sibille. Genova: Edizioni Culturali Internazionali Genova, 1992, p. 11.
6
FERRI, Silvio. La Sibilla e altri studi sulla religione degli antichi. Pisa: Edizone ET, 2007.
7
ALVES, Célio Macedo. “O ciclo pictural das Sibilas de Diamantina”. Imagem Brasileira, Belo
Horizonte, Centro de Estudos da Imaginária Brasileira, n. 3, 2006, p. 155-163.
8
PERETTI, La Sibilla Babilonese..., p.11-12.
9
Varrão, ou Marcus Terentius Varro, teria vivido de 116 a 27 a.C. Suas obras desapareceram quase
totalmente e são conhecidas por meio de citações de Cícero e Santo Agostinho.
10
PARKE, Sibille, p. 37-45.
11
PERETTI, La Sibilla Babilonese..., p. 12.
12
PARKE, Sibille, p. 37-66.
13
Enquanto, como citamos, Herbert William Parke afirma que Lactâncio escrevera 200 anos antes
das Oracula Sibyllina, A. Diez Macho afirma que Lactâncio retira a maioria de suas passagens do
livro oitavo desta coletânea.
arte cristã tenha representado as sibilas ao lado dos profetas antes do século XI.
A figuração da Sibila Pérsica, juntamente com os profetas, aparece pela primeira
vez na Igreja de Santo Ângelo in Formis em Cápua, na Itália, igreja fundada em
1058. Seguida do Mosaico de Santa Maria in Aracoeli (1130-1138), das portas de
Ghiberti e dos afrescos de Rafael14.
Em 1465 houve na Itália a impressão do livro de Lactâncio, Instituições
Divinas. Seguida de uma espantosa quantidade de seis edições no mesmo século.
Isso mostra o quão esse tema foi popular e amplamente utilizado nas artes
figurativas, especialmente nos círculos humanistas. As profecias cristianizadas de
Lactâncio foram tomadas como base para pinturas e esculturas. Notadamente, na
Catedral de Ulm, são esculpidas nove sibilas entre 1469 e 1474, cujas inscrições
foram em sua maior parte retiradas das Instituições Divinas. O Renascimento foi
especialmente pródigo em figurações onde se observavam as aquiescências entre
temáticas profanas e mitológicas e a História Sagrada. Um dos temas prediletos
do humanismo foi a existência das sibilas na antiguidade clássica, prenunciando o
nascimento, a paixão e morte e a ressurreição de Jesus. Assim, se produziu sobre
este tema uma literatura moralizante, parangonas e artes plásticas15.
Também na Itália, em 1481, surgiu outro livro que suplantou o de Lactâncio
e introduziu novos elementos na temática sibilina: Dicordantiae nonnulae inter
sanctum Hieronymum et Augustinum do dominicano Felippo Barbieri. Entre as
dissertações sobre os santos padres Agostinho e Jerônimo, há tratados de outros
temas, onde se encontra um consagrado às sibilas e aos profetas que concordam
em anunciar a vida de Jesus Cristo. Este tratado teve imensa importância e exerceu
grande influência na arte europeia, principalmente no que concerne às figurações
dos doze profetas do Antigo Testamento e das sibilas. Isso porque Barbieri aumenta
para doze o número das sibilas incluindo Agripa e Europa às dez profetisas da
lista de Varrão e Lactâncio. Ainda mais importante do que a modificação do
número de sibilas foi o estabelecimento de um modelo concreto para escultores
e pintores. Barbieri instituiu atributos específicos, como idade, aspecto, costumes
determinados. Esta foi a fonte iconográfica para muitos pintores do Renascimento
que representaram as sibilas na Itália.
Uma exceção notável, no entanto, teria sido a partir de um tratado de
Savonarola, o Dialogo della Verità Profetica, que Michelangelo realizara sua obra16.
Ressalta-se ainda que no livro de Barbieri as profecias atribuídas a cada uma das
sibilas divergem daquelas encontradas no livro de Lactâncio. Fato sugestivo de
que o dominicano tenha bebido em outra fonte que não os Oracula Sibyllina.
Smoller sugere que o que Barbieri nos apresenta é de fato um texto astrológico
disfarçado de profecias sibilísticas. Esta autora aponta a obra do astrólogo, filósofo
e matemático persa do século oitavo depois de Cristo Albumasar (que teria com sua
obra influenciado amplamente a teologia muçulmana) como a verdadeira fonte de
Barbieri, ainda que o caminho pelo qual as palavras do astrólogo se transformaram
14
FERRI, La Sibilla e altri studi..., p. 56.
15
SERRÃO, Vítor & GOULART, Artur. “O ciclo de frescos com sibilas e profetas da Igreja de Nossa
Senhora de Machede (c. 1604-1625) e o seu programa iconológico”. Artis - Revista do Instituto de
História da Arte da Faculdade de Letras de Lisboa, n. 3, 2004, p. 211-238.
16
WIND, Edgar. Michelangelo’s prophets and sibyls. Londres: Oxford University Press, 1960.
17
SMOLLER, Laura Ackerman. “Teste Albumasare cum Sibylla: astrology and the Sibyls in medieval
Europe”. Studies in History and Philosophy of Biological and Biomedical Sciences, n. 41, 2010, p.
76-89.
18
EHRLE S. J., Francesco. Gli Affreschi del Pinturicchio nell’Appartamento Borgia del Palazzo
Apostolico Vaticano. Roma: Danesi Editora, 1897.
19
ALVES, “O ciclo pictural...”, pp.155-163.
20
SERRÃO & GOULART, “O ciclo de frescos...”, p. 211-238.
21
A este respeito, ver: FRANÇA, Eduardo D’Oliveira. Portugal na época da Restauração. São Paulo:
Hucitec, 1997.
22
BAUZÁ, Francisco Hugo. “Il mito della Sibilla e le Sibille di San Telmo”. Critica d’Arte Rivista
Trimestrale dell’uNiversità Internazionale dell’Arte di Firenze, n. 8, 2004, p. 83-91.
23
SERRÃO & GOULART, “O ciclo de frescos...”, p. 211.
24
SERRÃO & GOULART, “O ciclo de frescos...”, p. 213.
25
Francisco de Holanda (1517-1585) é considerado como uma das figuras mais importantes do
Renascimento português: foi pintor, ensaísta, arquiteto e historiador.
Fig. 2 – Sibila Délfica, Silvestre de Almeida Lopes (atrib.), madeira policromada, século XVIII,
Capela de Nosso Senhor do Bonfim, Diamantina – MG.
Foto: Bernardo Magalhães, 2016.
26
A identificação da base iconográfica foi feita com o apoio do graduando do Curso de História da
UFVJM, Ânderson Gomes Ribeiro.
profetisas.
RESUMO ABSTRACT
No Arraial do Tijuco, atual cidade de Diamantina, In Arraial do Tijuco, present city of Diamantina,
em Minas Gerais, existe uma requintada pintura in Minas Gerais, there is a fine quadrature
de quadratura trazida pelo pintor bracarense José painting brought by Braga painter José Soares
Soares de Araújo no século XVIII. No Arraial, de Araújo in the 18th century. In Arraial, this
este pintor exerceu múltiplas funções, dentre painter played multiple roles, including being a
elas a de professor de pintura. Dentre as pinturas painting teacher. Among the paintings attributed
atribuídas a seus discípulos, encontram-se as to his disciples, are the figurations of sibyls in a
figurações das sibilas em um afresco na Capela de fresco in the Our Lord of Good End’s Chapel
Nosso Senhor do Bonfim e em panos sibilísticos and Sybil’s’ curtains used to cover the side
usados para cobrir os altares colaterais dos altars of the temples in the Passion Week. The
templos na semana da paixão. A figuração das figuration of the sibyls of Tijuco, the only one
sibilas do Tijuco, única deste gênero conhecida of its kind known in the Portuguese colony in
na colônia portuguesa da América, está sempre America, is always among false architectural
entre estruturas de falsa arquitetura, seja nos structures, whether in the frescoes, whether in
afrescos, seja nos panos sibilísticos. A sua fonte Sibyls’ curtains. Its iconographic source was
iconográfica foi recentemente identificada em recently identified in Netherlands engravings of
gravuras holandesas do século XVII. Quadratura the seventeenth century. Quadrature and Sibyls
e sibilas fazem na Capela de Nosso Senhor make the Our Lord of Good End’s Chapel a
do Bonfim um quadro persuasivo singular ao unique persuasive picture when linking two
vincularem duas linguagens supostamente kinds of speeches supposedly anachronistic
anacrônicas entre si com o objetivo essencial de among themselves with the essential objective
suadir o observador: a ampliação dos espaços of persuading the observer: the amplifying of the
na falsa arquitetura se eterniza no sibilar dos space with the false architecture becomes eternal
oráculos das profetisas. in the Sibyl’s oracles.
Palavras Chave: Sibilas; Quadratura; Persuasão. Keywords: Sibyls; Quadrature; Persuasion.
1
Doutor em História Social pela Universidade Federal da Bahia. Professor Assistente do
Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia, Campus Conceição do Coité.
E-Mail: <eduardohistoria@hotmail.com>.
2
SILVEIRA, Pedro Telles da. O cego e o coxo: crítica e retórica nas dissertações históricas da Academia
Brasílica dos Esquecidos (1724-1725). Dissertação (Mestrado em História). Universidade Federal
de Ouro Preto. Mariana, 2012, p. 50.
3
KANTOR, Iris. Esquecidos e renascidos: historiografia acadêmica luso-americana (1724-1759).
São Paulo: Hucitec; Salvador: Centro de Estudos Baianos/ UFBA, 2004, p. 30.
4
KANTOR, Esquecidos e renascidos..., p. 30.
5
MOTA, Isabel Ferreira da. A Academia Real da História: os intelectuais, o poder cultural e o poder
monárquico no século XVIII. Coimbra: Minerva, 2003, p. 129.
6
KANTOR, Esquecidos e renascidos..., p. 55.
7
PESSOTI, Bruno Casseb. Ajuntar manuscritos, e convocar escritores: o discurso histórico
institucional no Setecentos luso-brasileiro. Dissertação (Mestrado em História). Universidade
Federal da Bahia. Salvador, 2009, p. 32.
Nessa mesma data foram enviadas, também, cartas para Aires de Saldanha
de Albuquerque, Governador do Rio de Janeiro, Rodrigo Cesar de Menezes,
Governador da Capitania de São Paulo e D. Manuel Rolim de Moura, Governador
da Capitania de Pernambuco. A todos a missiva levava o seguinte teor:
8
KANTOR, Esquecidos e renascidos..., p. 58.
9
BAHIA. 24 nov. 1722. Documentos históricos. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, vol. LXXI, p.
194-195.
10
BAHIA. 24 nov. 1722. Documentos históricos. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, vol. LXXI, p.
196.
11
BAHIA. 14 nov. 1722. Documentos históricos. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, vol. XLV, p. 04.
12
SANTOS, Domingos Mauricio dos. “O Brasil em Alcobaça (esquecidas memórias da Academia
Brasílica dos Esquecidos, da Baía, entre os Códices alcobacenses)”. V Colóquio Internacional de
Estudos Luso-Brasileiros. Actas. Coimbra: 1965, p. 06.
13
KANTOR, Esquecidos e renascidos..., p. 122.
14
Principalmente a Academia dos Renascidos, criada em 1759.
15
Apud PINHEIRO, Côn. J. C. Fernandes. “A Academia Brasilica dos esquecidos: estudo historico
e litterario, lido no Instituto Historico e Geographico Brasileiro pelo sócio effectivo Conego Dr.
J. C. Fernandes Pinheiro (em sessão de 31 de maio de 1867)”. Revista do Instituto Historico e
Geographico Brasileiro, Tomo XXXI - Parte Segunda, 1868, p. 18.
16
Apud PINHEIRO, “A Academia Brasilica dos Esquecidos...”, p. 18.
17
Foram eles: Gonçalo Soares da Franca e Sebastião da Rocha Pitta, aceitos em 1722 como sócios
supranumerários da Academia Real de História Portuguesa.
18
SANTOS, O Brasil em Alcobaça..., p. 07.
19
FONSECA, Fernando Taveira. A Universidade de Coimbra (1700-1771): estudo social e econômico.
Coimbra: Universidade de Coimbra, 1995, p. 170.
20
ROCHA, José Monteiro. Sistema físico-matemático dos cometas. Rio de Janeiro: MAST, 2000, p. 24.
21
CASTELLO, José Aderaldo. O movimento academicista no Brasil, 1641/1820-1822 – Vol. 1 –
Tomo 1. São Paulo: Conselho Estadual de Cultura, 1969, p. 3.
22
KANTOR, Esquecidos e renascidos..., p. 44.
23
KANTOR, Esquecidos e renascidos..., p. 44.
24
Esse ethos consistia na valorização, por parte dos indivíduos, em prestar ao rei serviços remunerados.
25
SILVA, Taise Tatiana Quadros da. “Poder e episteme na erudição histórica do Portugal Setecentista:
Os Renascidos Baianos
Assim como a Academia dos Esquecidos, que teve no Vice-rei seu principal
mecenas, no caso dos Renascidos sua fundação está diretamente ligada ao nome
de José Mascarenhas Pacheco Coelho Pereira de Melo. Personagem dos mais
instigantes da segunda metade do século XVIII, José Mascarenhas chegou ao
Brasil depois de ser nomeado, em 1758, por Sebastião José de Carvalho e Melo,
o Marquês de Pombal, para a função de conselheiro do ultramar na Bahia. Um
ano antes de sua nomeação, ganhou notoriedade ao participar ao lado do pai,
o desembargador João Pacheco Pereira de Vasconcelos, da repressão sobre um
protesto ao monopólio dos vinhos do Alto Douro, na cidade do Porto.
José Mascarenhas chegou à Bahia juntamente com outros dois comissários,
Antônio de Azevedo Coutinho e Manuel Estevão de Almeida Vasconcelos
28
SANTOS, O Brasil em Alcobaça..., p. 26.
29
PINHEIRO, “A Academia Brasilica dos Esquecidos...”, p. 32.
30
Publicado em Lisboa em 1730, o livro História da América Portuguesa foi bastante elogiado pelos
membros da Academia Real de História.
Não questiono as conclusões da autora, mas entendo ter sido, também, a criação
dos Renascidos, resultado da permanência de uma memória intelectual e erudita,
entre as elites baianas, que remontava aos tempos dos Esquecidos. O ideal de
construção de uma identidade historiográfica colonial, presente nos Esquecidos, é
retomado entre os Renascidos cujo principal objetivo foi o de identificar e legitimar,
em dimensão imperial, reivindicações que representassem os interesses locais.
Do ponto de vista da Coroa, uma academia erudita na Colônia, de certa forma
colocava-se em sintonia com a nova lógica pombalina de produzir o conhecimento
e de formação de novas elites distanciadas da pedagogia inaciana.
Apesar de ter vindo de Lisboa, José Mascarenhas era um baiano por ascendência.
Seu pai, o citado desembargador João Pacheco Pereira, nasceu em Salvador e
chegou a ser chanceler da Relação do Rio de Janeiro em 1751. João Pacheco foi
filho do fidalgo cavalheiro e Familiar do Santo Ofício, Manuel Pacheco Pereira. De
acordo com informação retirada de sua leitura de bacharel, João Pacheco teve
um irmão religioso da Companhia de Jesus33, e chega a ser irônico o fato do dito
religioso ter em seu sobrinho um dos escolhidos da incumbência de expulsão dos
31
KANTOR, Esquecidos e renascidos..., p. 117.
32
KANTOR, Esquecidos e renascidos..., p. 119.
33
Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Leitura de Bacharéis, Mç. 31, D. 16.
34
LAMEGO, Alberto. A Academia Brazilica dos Renascidos: sua fundação e trabalhos inéditos. Paris-
Bruxelas: L’Édition d’Art Gaudio, 1923, p. 10.
35
As duas principais obras dos autores citados foram: CALDAS, José Antônio. Notícia geral de
toda esta Capitania da Bahia desde o seu descobrimento até o presente ano de 1759. Edição fac-
similar. Salvador: Tipografia Beneditina, 1951. JABOATÃO, Frei Antônio de Santa Maria. Catálogo
genealógico das principais famílias, de Frei Jaboatão (1762), 2 v. Edição de Pedro Calmon. Salvador:
Empresa Gráfica da Bahia, 1985.
36
LAMEGO, A Academia Brazilica..., p. 14.
37
LAMEGO, A Academia Brazilica..., p. 56.
38
KANTOR, Esquecidos e renascidos..., p. 104.
39
PINHEIRO, Côn. J. C. Fernandes. “A Academia Brasilica dos Renascidos: estudo historico e
litterario, lido no Instituto Historico e Geographico Brasileiro pelo sócio effectivo Conego Dr. J. C.
Fernandes Pinheiro”. Revista do Instituto Historico e Geographico Brasileiro, Tomo XXXII – Parte
Segunda, 1869, p. 56.
40
KANTOR, Iris. “A Academia Brasílica dos Renascidos e o governo político da América Portuguesa
(1759): notas sobre as contradições do cosmopolitismo acadêmico lusoamericano”. Separata da
Revista de História das Ideias, Faculdade de Letras, Coimbra, vol. 24, 2003, p. 64.
41
Um deles foi o poeta mineiro Claudio Manuel da Costa, cuja função seria escrever sobre sua região.
42
“PROGRAMMA Historico”. Revista do Instituto Historico e Geographico Brasileiro, Tomo I, 1839,
p. 69.
43
“PROGRAMMA Historico”, p.70.
44
“PROGRAMMA Historico”, p.70.
A justiça também foi contemplada com estudo específico quando foi solicitada a
construção das “memórias para a história de todos os tribunais, e mais ministros da
justiça e fazenda, que há e tem havido no Brasil, com a notícia do seu estabelecimento,
e da divisão das suas respectivas jurisdições”47. O comércio, recebeu da academia
tratamento que correspondia à sua centralidade, pois foi visivelmente identificado
como base da riqueza colonial e da exploração metropolitana. Saber como o
mesmo funcionava no interior da intricada rede de relações que configurava o
exclusivo metropolitano exigiu dos acadêmicos trabalharem para estabelecer:
45
“PROGRAMMA Historico”, p.70.
46
“PROGRAMMA Historico”, p.70.
47
“PROGRAMMA Historico”, p.70.
48
“PROGRAMMA Historico”, p.70.
49
“PROGRAMMA Historico”, p.71.
50
“PROGRAMMA Historico”, p.71.
51
José da Silva Lisboa (Visconde de Cairu) foi um jurista e economista baiano e grande interprete do
pensamento de Adam Smith. Notabilizou-se como economista ao defender o livre comércio o que
teria influenciado o Príncipe Regente D. João a decidir pela abertura dos portos do Brasil em 1808.
Uma das principais obras de Silva Lisboa foi o livro Observações sobre o comércio franco no Brasil,
publicado pela Impressão Régia em 1808.
52
Aqui me refiro a uma carta escrita pelo Desembargador João Rodrigues de Brito respondendo
a uma solicitação do Governador da Capitania da Bahia, o conde da Ponte, que endereçou ao
Senado da Câmara cinco questões de natureza política e econômica que impediam o crescimento
da Bahia. A resposta de João Rodrigues de Brito, devido a sua riqueza de detalhes, transformou-se
em um rico documento sobre a economia baiana de fins do século XVIII e início do XIX.
53
“PROGRAMMA Historico”, p. 74.
54
“PROGRAMMA Historico”, p. 75.
55
“PROGRAMMA Historico”, p. 72-73.
56
“PROGRAMMA Historico”, p. 73.
Considerações Finais
O ocaso da Academia dos Renascidos viria junto com a prisão de seu fundador
e principal mecenas, José Mascarenhas Pacheco Pereira de Melo. Passados cinco
meses de sua fundação, não sobreviveu a instituição a tamanho impacto. Apesar
de terem sido previstas com antecedência, reuniões até o dia 26 de abril de 1760,
possivelmente o último encontro dos Renascidos não ultrapassou o 10 de novembro
de 1759.
Os motivos da prisão de José Mascarenhas são envoltos em algumas conjecturas.
Fala-se de ter sido acusado de dupla traição, de um lado, pela aproximação com
os franceses aportados na Bahia envolvidos com uma suposta tentativa de invasão
francesa ao Rio de Janeiro, por outro lado, aquela que nos parece mais plausível,
de que tinha José Mascarenhas desistido de levar adiante uma das tarefas a serem
cumpridas em terras da América, a prisão e expulsão dos jesuítas do território
americano.
Em suma, independente de qual tenha sido os reais motivos que levaram ao
fechamento da Academia dos Renascidos, a presença de academias eruditas na
Bahia do século XVIII representou não só um espaço de legitimidade social no
57
“PROGRAMMA Historico”, p. 73.
58
KANTOR, “A Academia Brasílica...”, p. 67.
59
KANTOR, “A Academia Brasílica...”, p. 67.
RESUMO ABSTRACT
A configuração, em território colonial, de The setting, in colonial territory, of typical
representações institucionais e simbólicas típicas institutional and symbolic representations of the
do Antigo Regime português, teve presença Old Portuguese regime, had a strong presence
marcante na Bahia do século XVIII. Nesse século, in Bahia in the 18th century. In this century
se consolidou na Bahia, uma elite econômica was consolidated in Bahia an economic elite
que também foi política e letrada. Bem situadas that was also political and literate. Well placed
financeiramente, as elites baianas buscaram financially, the Bahia elite sought to ascend
ascender socialmente pelas vias dos serviços e socially by way of services and favors that so
das mercês que tão bem caracterizou o ethos characterized the ethos of nobility Portuguese
nobiliárquico português do Antigo Regime. of the Old Regime. This article discusses the
Esse artigo discute a fundação, no setecentos, foundation, at the eighteenth century, two
de duas Academias literárias cuja função, na literary academies whose function in practice,
prática, revelaria o interesse de eruditos baianos reveal the interest of erudite in Bahia establish
em estabelecer uma existência ativa, do ponto an active existence, from an intellectual point
de vista intelectual, no interior do Império of view, within the Portuguese Empire. Bahian
português. Os eruditos baianos que se reuniram erudites who gathered around the Academies of
em torno das Academias dos Esquecidos e Forgotten and Reborn glimpsed the possibility
Renascidos vislumbraram a possibilidade de of producing a history of Portuguese America
produzir uma história da América portuguesa captained by an independent look at its past
capitaneado por um olhar autônomo sobre seu and with enough force to fit it in the History of
passado e com força suficiente para enquadrá-la Universal Christianity.
na História da Cristandade Universal. Keywords: Ancien Régime; Elites;
Palavras Chave: Antigo Regime; Elites; Historiography; Favors; Colonial Bahia.
Historiografia; Mercês; Bahia Colonial.
1
Doutora em História pela Universidade Federal de Pernambuco. E-Mail: <luateixeira1@yahoo.
com.br>.
2
Bernardo Xavier Pinto de Souza, que acompanhou a viagem de D. Pedro II às cachoeiras de
Paulo Afonso, publicando anos depois, sob o pseudônimo P. de S., a obra Memória da viagem de
Suas Majestades Imperiais à província da Bahia. Todas as citações tiveram a ortografia corrigida,
mantendo-se a pontuação original. Ver: S., P. de (Bernardo Xavier Pinto de Souza). Memória da
viagem de Suas Majestades Imperiais à província da Bahia coligidas e publicadas por P. de S. Rio
de Janeiro: Typographia Nacional, 1867, p. 72.
3
Sobre a história do Penedo no século XIX, ver: MORENO, Brandão. História de Alagoas. Penedo:
Arthes Graphicas Typografia e pautação, 1909. CAROATÁ, José Prospero Jeovah da Silva. “Crônica
do Penedo”. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Alagoano, vol. 1, 1872, p. 2-7. CAROATÁ,
José Prospero Jeovah da Silva. “Crônica do Penedo”. Revista do Instituto Histórico e Geográfico
Alagoano, vol. 2, 1873, p. 2-8. CAROATÁ, José Prospero Jeovah da Silva. “Crônica do Penedo”.
Revista do Instituto Histórico e Geográfico Alagoano, vol. 3, 1874, p. 33-42. MÉRO, Ernani Otacílio.
O perfil do Penedo. Maceió: Sergasa, 1994. VALENTE, Aminadab. Penedo: sua história. Maceió:
s.r., 1957. Além da referência em outras obras, Abelardo Duarte e Sávio de Almeida tem trabalhos
em que tratam especificamente do Penedo: ALMEIDA. Luiz Sávio de. Alagoas nos tempos do
cólera. São Paulo: Escrituras, 1996. DUARTE, Abelardo. “Notas sobre a população da Vila do
Penedo (1828)”, Jornal de Alagoas, Suplemento, Maceió, 26 jul. 1953.
4
TEIXEIRA, Luana. O comércio interprovincial de escravos em Alagoas no Segundo Reinado. Tese
(Doutorado em História). Universidade Federal de Pernambuco. Recife, 2016.
5
THOMPSON, Edward Palmer. A miséria da teoria ou um planetário de erros (uma crítica ao
pensamento de Althusser). Tradução de Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar, 1981 [1978].
THOMPSON, Edward Palmer. As peculiaridades dos ingleses e outros artigos. Organização e
tradução de Antonio Luigi Negro e Sergio Silva. Campinas: Editora da UNICAMP, 2012.
6
Cabe notar que, assim como no Brasil, nos Estados Unidos o processo de deslocamento interno
de centenas de milhares de escravos também foi fundamental na história das décadas finais da
escravidão e vem sendo um tema recorrente na historiografia daquele país. Entre outros, ver:
DEYLE, Steven. Carry me back: the domestic slave trade in American life. Nova York: Oxford
University Press, 2005. JOHNSON, Walter (org.). The chattel principle: internal slave trades in
Americas. New Haven: Yale University Press, 2005; JOHNSON, Walter. Soul by soul: life inside the
antebellum slave market. Cambridge & Londres: Harvard University Press, 1999.
7
CONRAD, Robert. Os últimos anos da escravatura no Brasil. Tradução de Fernando de Castro
Ferro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978. COSTA, Emília Viotti. Da senzala à colônia. São
Paulo: Brasiliense, 1989.
8
SLENES, Robert Wayne. The demography and economics of Brazilian slavery: 1850-1888. Tese
(Doutorado em História Moderna). Stanford University. Stanford, EUA, 1976.
9
EISENBERG. Peter. Modernização sem mudança: a indústria açucareira em Pernambuco – 1840-
1910. Tradução de João Maia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977. GORENDER, Jacob. O escravismo
colonial. São Paulo: Ática, 1985. MELLO, Evaldo Cabral de. O norte agrário e o Império, 1871-
1889. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Brasília: INL, 1984.
10
GRAHAM, Richard. “Nos tumbeiros mais uma vez? O comércio interprovincial de escravos no
Brasil”. Afro-Ásia, n. 27, 2002, p. 121-160. KLEIN, Herbert. “The internal slave trade in nineteenth
century Brazil: a study of slave importations into Rio de Janeiro in 1852”. Hispanic American
Historical Review, vol. LI, n. 4, nov. 1971, p. 567-585.
11
FLAUSINO, Camila Carolina. Negócios da escravidão: tráfico interno e escravos em Mariana,
1850-1886. Dissertação (Mestrado em História). Universidade Federal de Juiz de Fora. Juiz de Fora,
2006. NEVES, Erivaldo. “Sampauleiros traficantes: comércio de escravos do Alto Sertão da Bahia
para o oeste cafeeiro paulista”. Afro-Ásia, n. 24, 2000, p. 97-128. SCHEFFER, Rafael da Cunha.
Tráfico interprovincial e comerciantes de escravos em Desterro, 1849-1888. Dissertação (Mestrado
em História). Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2006. SCHEFFER, Rafael
da Cunha. Comércio de escravos do sul para o sudeste, 1850-1888: economias microrregionais,
redes de negociantes e experiência cativa. Tese (Doutorado em História). Universidade Estadual
de Campinas. Campinas, 2012. SILVA, Ricardo Tadeu Caíres. “A participação da Bahia no tráfico
interprovincial de escravos (1851-1881)”. Anais 3º Encontro Escravidão e Liberdade no Brasil
Meridional. Florianópolis: UFSC, 2007, p. 1-21.
12
BARBOSA, Josué Humberto. Um êxodo esquecido: o porto do Recife e o tráfico interprovincial
de escravos no Brasil: 1840-1871. Dissertação (Mestrado em História). Universidade Federal
do Paraná. Curitiba, 1995. MOTTA, José Flávio. Escravos daqui, dali e de mais além: o tráfico
interno de cativos na expansão cafeeira paulista. São Paulo: Alameda, 2012. VARGAS, Jonas
Moreira. “Das charqueadas para os cafezais? O tráfico interprovincial de escravos envolvendo as
charqueadas de Pelotas (RS) entre as décadas de 1850 e 1880”. In: XAVIER, Regina Célia Lima
(org.). Escravidão e liberdade: temas, problemas e perspectivas de análise. São Paulo: Alameda,
2012, p. 275-302. Importante destacar que a obra de Flávio Motta possuiu uma extensa e detalhada
revisão historiográfica sobre o assunto.
13
PIRES, Maria de Fátima Novaes. Fios da vida: tráfico interprovincial e alforrias nos “Sertoins de
Sima” – BA (1860-1920). São Paulo: Annablume, 2009. FERREIRA SOBRINHO, José Hilário.
“Catirina, minha Nêga, tão querendo te vendê...”: escravidão, tráfico e negócios no Ceará do século
XIX (1850-1881). Fortaleza: Governo do Estado de Ceará/ Secretaria de Cultura, 2012.
14
AZEVEDO, Celia Maria Marinho. Onda negra, medo branco: o negro no imaginário das elites,
século XIX. Rio de Janeiro: Annablume, 1987. CHALHOUB, Sidney. Visões da liberdade: uma
história das últimas décadas da escravidão na Corte. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
MACHADO, Maria Helena. O plano e o pânico: os movimentos sociais na década da Abolição. Rio
A epígrafe que abre este artigo foi escrita pelo mordomo do Imperador quando
de sua visita ao Rio São Francisco, em 1859. O olhar sobre a decadência e a
imponência, a pequena cidade e o grande rio, a volúpia e o pitoresco; a impressão
sobre o contraste, sobre o desalinho, sobre um algo fora do lugar, assim foi vista
a cidade do Penedo por muitos daqueles que a visitaram em meados do século
XIX. “Reminiscência da nossa história dos tempos coloniais”16, a cidade, em 1859,
se revelava aos coevos como uma conexão entre o passado – na qual foi ereta e
deu-lhe a forma urbana no traçado das ruas calçadas e na grandeza de algumas de
suas edificações – e o futuro – que se lhe abria com a possibilidade de progresso na
região São-Franciscana. Sua importância para o Baixo São Francisco colocou-a na
rota de D. Pedro II, em viagem realizada no fim dos anos 1850. Em 11 de setembro
de 1859, na Fala do Trono, o Imperador avisou sobre o desejo de melhor conhecer
as províncias do Império ao Norte do Rio de Janeiro, planejando percorrer, por falta
de maior tempo, Espírito Santo, Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Paraíba17.
No dia 1º de outubro partiu da Corte e, tendo atracado em alguns portos da
Bahia, chegou em 13 daquele mês à Barra do São Francisco, a qual adentrou sem
problemas. A Imperatriz, D. Leopoldina, que acompanhava o marido, não realizou
a parte São-Franciscana da viagem. Sabia-se que as condições de hospedagem
e alimentação rio adentro não seriam as mais agradáveis – de fato, o Imperador
sofreu com as pulgas, o calor e a água de má qualidade. Mas escreveu, satisfeito,
que apesar de péssimas acomodações a que teve que se submeter, ao menos tinha
podido dormir sempre em camas, não em redes, como era hábito generalizado por
ali.
Em Penedo, no entanto, as condições foram mais confortáveis. Acomodado
no sobrado em frente ao cais, casa do Comendador José Antônio de Araújo18,
D. Pedro II cumpriu os cerimoniais: recebeu a chave da cidade, foi ao Te Deum
no Convento Franciscano, cavalgou pelas ruas, adentrou as igrejas, conheceu
os estabelecimentos industriais (fábricas de óleo de mamona, de pilar arroz e
alambiques) e visitou as aulas.
16
S. de P., Memórias da viagem..., p. 72.
17
LACOMBE, Lourenço Luiz. “Prefácio e notas”. In: PEDRO II, Imperador do Brasil. Viagens pelo
Brasil: Bahia, Sergipe, Alagoas, 1859/1860. Rio de Janeiro: Letras & Expressões, 2003, p. 25.
18
Em 1869, o sobrado pertencia ao Cel. Moreira Lemos, quando foi mandado comprar, por ordem
do presidente da província José Bento Figueiredo Júnior, para servir de instalação para a Mesa de
Rendas. Hoje funciona como Museu do Paço Imperial, cuja exposição remete à visita do Imperador.
INSTITUTO Histórico e Geográfico Alagoano. Viagens de José Bento da Cunha Figueiredo Júnior à
Província das Alagoas. 2. ed. Maceió: Grafmarques, 2010, p. 90.
19
Fonte: INSTITUTO, Viagens de José Bento..., p. s/n.
20
D. PEDRO II, Viagens pelo Brasil..., p. 107.
21
Fonte: D. PEDRO II, Viagens pelo Brasil..., p. s/n.
22
George Gardner, que ali esteve em 1838, faz uma descrição bastante cuidadosa dessas canoas.
Segundo o botânico: “A canoa em que embarquei era bastante grande, com cerca de quarenta pés
de comprimento por quatro de largura. É raro que uma só árvore tenha dimensão suficiente para
se fazer uma canoa deste tamanho; mas, quando uma não basta, escava-se a maior que se puder
encontrar, serrando-a em duas de popa à proa, e dando-se a largura necessária pelo acréscimo
de uma ou mais pranchas entre as duas metades. A nossa fora feita assim. Uma das extremidades
era coberta, numa largura de dez pés, com folhas de coqueiro, como o teto de uma casa, e assim
tanto servia de abrigo do sol durante o dia, como de cabina de dormir à noite. Havia apenas um
mastro que levava duas grandes velas triangulares, de algodão grosseiro, fabricado no país, e que
se abriam de cada lado por meio de uma vara comprida”. GARDNER, Viagem ao interior..., p. 66.
23
Foram pesquisados os dados sobre o manifesto de cargas do porto do Penedo para nove meses
seguidos, entre outubro de 1853 e junho de 1854. Considerei viagens regulares as embarcações
que no período de nove meses estiveram mais de uma vez no porto fazendo a mesma rota. As
informações sobre as embarcações estão em: Arquivo Público de Alagoas (doravante APA). Caixa
1010, Mesa de rendas Penedo, ofícios expedidos, 1854-1856. Manifestos de embarcações do porto
do Penedo 1º trimestre de 1853, 1º e 2º trimestre de 1854.
24
HALFELD, Henrique Guilherme Fernando. Atlas e relatório concernente a exploração do Rio São
Francisco desde a cachoeira de Pirapora até o Oceano Atlântico levantado por ordem do Governo
de S. M. I. o Senhor Dom Pedro II, pelo Engenheiro Civil Henrique Guilherme Fernando Halfeld
em 1852, 1853 e 1854 mandado lithographar na Lithographia Imperial de Eduardo Rensburg. Rio
de Janeiro, 1860. Edição fac-simile: São Paulo, 1994, p. 53.
25
A Companhia Pernambucana foi fundada em 18 fev. 1854 e a Companhia Santa Cruz em 13 mai.
1853.
26
SUBRINHO, Josué Modesto Passos. História econômica de Sergipe (1850-1930). Aracaju: UFS,
Programa Editorial da UFS, 1987, p. 43; SAMPAIO, Marcos Guedes Vaz. Uma contribuição à
história dos transportes no Brasil: a Companhia Bahiana de Navegação a Vapor (1839-1894). Tese
(Doutorado em História Econômica). Universidade de São Paulo. São Paulo, 2006, p. 126.
27
FALLA dirigida á Assembléa Legislativa da provincia das Alagoas na abertura da 2.a sessão
ordinaria da 9.a Legislatura, pelo exm. vice presidente da mesma provincia, dr. Manoel Sobral
Pinto, em 3 de maio de 1853. Recife: Typ. de Santos e Companhia, 1853, p. 23. Disponível em:
<http://www.crl.edu/>. Acesso em: 12 dez. 2012.
Caso não parasse nos portos de Sergipe, o vapor Santa Cruz poderia ligar
Salvador à Penedo em menos de 17 horas, mas como se detinha até um dia em
cada porto, além dos atrasos frequentes, demorava uma semana, pouco mais ou
menos. A viagem para Maceió levava cerca de seis horas, mas também estava
sujeita aos atrasos. Estes também poderiam ocorrer devido aos procedimentos de
entrada na barra à espera da catraia e às condições ideais da maré30.
Imediatamente após o estabelecimento da rota norte pela Companhia Santa
28
Segundo Sampaio, o navio chegava a 300 toneladas, mas mantivemos a tonelagem registrada
nos manifestos de embarcações. Ainda segundo o autor, a embarcação era novíssima, havia sido
recém encomendada pelo empresário Antônio Pedrozo de Albuquerque a Charles Ironside & Co de
Liverpool, com velocidade de 10 a 12 milhas por hora. Em 1855, o trajeto passou a ser realizado
pelo vapor Cotinguiba. Ver: SAMPAIO, “Uma contribuição à história...”, 2006; APA. Caixa 1010:
Mesa de rendas Penedo, ofícios expedidos, 1854-1856. Manifestos de embarcações do porto do
Penedo 4º trimestre de 1854.
29
Fonte: SAMPAIO, Marcos Guedes Vaz. Uma contribuição à história dos transportes no Brasil:
a Companhia Bahiana de Navegação a Vapor (1839-1894). Tese (Doutorado em História
Econômica). Universidade de São Paulo. São Paulo, 2006, mapa 6, p. 117.
30
SAMPAIO, Uma contribuição..., 2006, p. 107.
A Cidade e os Escravos
Uma cidade Imperial na década de 1850 seria, sem sombra de dúvidas, uma
cidade escrava. De fato, Penedo não fugia à regra. Embora haja dados estatísticos
para a época demonstrando a relevância da população escrava em seu termo e
freguesia, não há na bibliografia notícias sobre os escravos que viviam na cidade34.
No entanto, no Arquivo Público de Alagoas, existem documentos que tratam
especialmente dos cativos residentes na área central do Penedo. São as listas dos
31
RELATÓRIO com que ao Exm. snr. Dr. Graciliano Aristides do Prado Pimentel entregou a
administração da Provincia das Alagoas no dia 22 de Maio de 1868 o Exm. Snr. Dr. Antonio
Moreira de Barros. Maceió: Typographia do Jornal Alagoano, 1868, p. 21. Disponível em: <http://
www.crl.edu/>. Acesso em: 08 ago. 2014.
32
O Marquês de Olinda possivelmente iria realizar a rota Recife-Maceió e sucumbiu em sua viagem
inaugural em 1856. Ver: ALMEIDA, Suely Creusa Cordeiro de. A Companhia Pernambucana de
Navegação. Dissertação (Mestrado em História). Universidade Federal de Pernambuco. Recife,
1989, p. 30.
33
Embora tenha sido promulgada em 1857, a Lei Provincial 347, de 23 de abril, autorizando as
companhias ou empresas a estabelecer a navegação a vapor no interior do rio, a inauguração da
rota de navegação a vapor Penedo-Piranhas apenas ocorreu em 03 de março de 1867. RELATÓRIO
com que o Exm. Srn. Dr. João Francisco Duarte, 1º vice-presidente das Alagoas entregou a
administração da mesma província no dia 9 de setembro de 1867 ao Exm. Snr. presidente Dr.
Antonio Moreira de Barros. Maceió: Typographia do Jornal O Progresso, 1867, p. 01. Disponível
em: <http://www.crl.edu/>. Acesso em: 01 set. 2014.
34
Dentre os dados estatísticos para o período, ver: FALLA dirigida á Assemblea Legislativa da provincia
das Alagoas, na abertura da segunda sessão ordinaria da setima legislatura, pelo excellentissimo
presidente da mesma provincia, o coronel Antonio Nunes de Aguiar, no dia 18 de março de 1849.
Pernambuco: Typ. de Santos & Companhia, 1849, mapa 7, s./n. Disponível em: <http://www.crl.
edu/>. Acesso em: 03 mai. 2014. “Quadro estatístico feito por Thomaz Espíndola”. In: FALLA do
Presidente da Província de Alagoas, Dr. Antônio Coelho de Sá e Albuquerque, 1º de Março de
1857. Pernambuco; Typ. de Manoel Figueirôa de Faria, 1857, p. 05. Disponível em: <http://www.
crl.edu/>. Acesso em: 03 mai. 2014. ESPÍNDOLA, Thomaz. A geografia alagoana ou descrição
físico, política e histórica da província das Alagoas. Maceió: Catavento, 2001. BRAZIL, Império do.
Recenseamento do Império do Brazil, 1872. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/>. Acesso
em: 01 set. 2014.
35
A arrecadação no período Imperial funcionava por anos fiscais, que iniciavam, geralmente, em 01
de julho e terminavam em 30 de junho do ano seguinte. Cabe notar que há outros documentos
semelhantes no acervo do APA, tanto para Penedo na década de 1860, quanto para outras vilas da
província.
36
Sobre a incineração dos documentos, ver: SLENES, Robert. “Escravos, cartórios e desburocratização:
o que Rui Barbosa não queimou será destruído agora?”. Revista Brasileira de História, vol. 5, n. 10,
mar./ago. 1985, p. 166-196.
37
SANT’ANA, Moacir Medeiros de. A queima dos documentos da escravidão: mitos da escravidão.
Maceió: Secretaria de Comunicação Social, 1988.
38
BRAZIL, Império do. Lei nº 59, 08 out. 1833. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/>.
Acesso em: 07 set. 2014.
39
BRAZIL, Império do. Decreto nº 151, 09 abr. 1842. Disponível em: <http://www2.camara.leg.
br/>. Acesso em: 07 set. 2014.
40
Sobre as revoltas, ver: REIS, João José. Rebelião escrava no Brasil: a História do levante dos Malês
em 1835. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
41
Artigo 8º, Decreto nº 151, 09 abr. 1842. O Administrador, no entanto, cita o mesmo artigo de um
regulamento de 11 de abril de 1843. Não encontrei este regulamento, pode ter ocorrido equívoco
do funcionário. APA. Caixa 1010: Mesa de rendas Penedo, ofícios expedidos, 1854-1856. Ofício
19, 26 abr. 1854.
Desta vez o Inspetor da Tesouraria teve que pedir auxílio ao Procurador Fiscal,
que deu seu parecer. Este, mencionando os artigos 4º, 5º e 12º do Decreto 151
de 1842, confirmou que os escravos de Bitancourt (Bittencourt) deveriam ter a
taxa paga. Na interpretação do Procurador Fiscal, que tinha em vista a expansão
da arrecadação, não apenas os cativos residentes permanentemente na cidade
estavam sujeitos ao pagamento, como também aqueles ali permanecessem apenas
parte do ano.
A taxa dos escravos deveria ser escriturada em livro próprio, mas não é esta
a documentação disponível. Os documentos encontrados no Arquivo Público de
Alagoas são as tabelas relativas ao pagamento destes impostos que o administrador
remetia para a Tesouraria prestando contas de quanto arrecadou. Este documento
não possui todos os detalhes sobre os escravos previstos na lei (nome, sexo, cor,
42
APA. Caixa 1010: Mesa de rendas Penedo, ofícios expedidos, 1854-1856. Ofício 28, 27 abr. 1854.
Respondido em 05 mai. 1854.
43
APA, Caixa 1010, Mesa de rendas Penedo, ofícios expedidos, 1854-1856. Ofício 45, 05 jun. 1854.
Respondido em 21 jun. 1854.
TABELA 1
PAGAMENTO DA TAXA DOS ESCRAVOS DAS VILAS E CIDADE – PENEDO
ANOS FISCAIS DE 1854-1855 E 1855-185644
VALOR VALOR
ANO ESCRAVOS POR
PROPRIETÁRIOS ESCRAVOS DA TAXA ARRECADADO
FISCAL PROPRIETÁRIO
(RÉIS) (RÉIS)
44
Fonte: APA. Caixa 1010: Mesa de rendas Penedo, ofícios expedidos, 1854-1856.
45
Os dados se aproximam do estimado por Thomás do Bonfim Espíndola em 1855, contabilizando
este 15.419 a população total, sendo 2.182 escravos. Ver: FALLA do Presidente da Província de
Alagoas, Dr. Antônio Coelho de Sá e Albuquerque, 1º de Março de 1857. Pernambuco, Typ. de
Manoel Figueirôa de Faria, 1857.1857, p. 5. Disponível em: <http://www.crl.edu/>. Acesso em:
03.05.2014.
46
As listas de pagadores das taxas não identificam o número da residência para se estabelecer quais
senhores coabitavam. No entanto, a análise interna das fontes traz evidências de que houve a
agregação de escravos por residências, ou seja, ainda que oficialmente a posse/ propriedade fosse
de mais de uma pessoa, os escravos de uma residência foram listados como pertencentes a apenas
um senhor.
47
Quando da viagem do presidente da província em 1869, a cidade foi descrita como tendo 20 ruas,
cinco praças, um largo, cinco travessas e oito becos. Ver: IHGAL, Viagens..., p. 100.
Comércio de Escravos
48
SLENES, Robert. “The Brazilian internal slave trade, 1850-1888: regional economies, slave
experience, and the politics of a peculiar market”. In: JOHNSON, Walter (org.). The chattel
principle: internal slave trades in Americas. New Haven: Yale University Press, 2005, p. 325-370.
49
Sobre quantidade de escravos em Maceió nos anos 1850, ver: ALMEIDA Luiz Sávio de. “Escravidão
e Maceió: distribuição espacial e renda em 1856”. In: MACIEL, Osvaldo Maciel (org.). Pesquisando
na província: economia, trabalho e cultura numa sociedade escravista. (Alagoas, século XIX).
Maceió: QGráfica, 2011, p. 81-101.
50
Sobre escravidão em Maceió, ver: MARQUES, Danilo Luiz. Escravidão: sobreviver e resistir – os
caminhos para a liberdade de africanas livres e escravas em Maceió (1849-1888). Dissertação
(Mestrado em História). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo, 2013.
TABELA 2
ESCRAVOS A BORDO DO PATACHO MINERVA EMBARCADOS EM PENEDO, 185253
Pernambuco 9
Sergipe 3
Bahia 2
Total 27
51
Este documento foi analisado por Herbert Klein e serviu de base para seu artigo de 1971: KLEIN,
“The internal slave trade...”.
52
Notar que no artigo de Klein, Penedo não é citado como porto de embarque de escravos,
provavelmente por que as autoridades que produziram o livro anotaram que Penedo era um porto
de Pernambuco. Embora possa ser apenas um lapso do escrivão, esse dado pode ser visto como
um indicativo do importante papel que Penedo tinha no escoamento de produtos pernambucanos
ao ponto de um escrivão da Corte, desconhecedor da região do Baixo São Francisco, cometer o
equívoco. Ver: Arquivo Nacional. Fundo Polícia, Códice 397. Entrada de escravos no porto do Rio
de Janeiro, jun./set. 1851, p. 37v-39.
53
As localidades não identificadas foram: Muruhy, Bengui e Gariry. Observar que, embora o Gariry
[Cariri] aponte para o Ceará, fronteira com Pernambuco, há também localidades em Alagoas,
Pernambuco e Paraíba assim denominadas. As outras duas localidades provavelmente não são em
Alagoas. Fonte: Arquivo Nacional. Fundo Polícia, Códice 397. Entrada de escravos no porto do Rio
de Janeiro, jun./set. 1851, p. 37v-39.
54
Antes de adotar-se o procedimento de tomar a residência dos senhores como procedência do
escravo foi necessário realizar uma cuidadosa análise interna das fontes. Especialmente no
contexto em questão, as sucessivas transferências de propriedade ou de direito de realizar compras
e vendas (cartas de ordem e procurações) muitas vezes levam ao registro equivocado de um dos
intermediários como senhor. No entanto, nesta fonte a referência diz respeito ao último senhor do
escravo antes de ele entrar no comércio interprovincial.
55
Também ocorria do senhor aproveitar uma viagem à Penedo e levar um ou mais escravos para
vender.
56
Tratava-se da firma Bastos & Teixeira, representada provavelmente pelo sócio Torquato Leite
Teixeira.
57
SLENES, “The demography and economics...”, p. 155-157.
58
Para outras análises dessas fontes, ver: MELO, Hélder Silva. “Dados estatísticos e escravidão em
Alagoas (1850-1872)”. In: MACIEL, Pesquisando na província..., p. 168; SANT’ANA, Moacir de
Medeiros. Contribuição à história do açúcar em Alagoas. Maceió: Imprensa Oficial Graciliano
Ramos; Cepal, 2011, p. 147-158.
59
Fontes: FALLA dirigida á Assemblea Legislativa das Alagoas pelo presidente da provincia, Angelo
Thomaz do Amaral, na abertura da 1.a sessão ordinaria da 12a legislatura em o 1o de março de
1858. Maceió: Typ. Commercial de Moraes & Costa, 1858, p. 26. Disponível em: <http://www.crl.
edu/>. Acesso em: 06 abr. 2015. FALLA dirigida á Assembléa Legislativa da provincia das Alagoas
na abertura da sessão ordinaria do anno de 1859, pelo excellentissimo presidente da provincia,
o doutor Agostinho Luiz da Gama. Maceió: Typ. Commercial de A.J. da Costa, 1859, mapa 20.
Disponível em: <http://www.crl.edu/>. Acesso em: 12 dez. 2012. Há pequenas divergências entre
os dados apresentados por Thomaz Angelo do Amaral em 1858 e Agostinho Luiz da Gama em
1859. Amaral estima 37 escravos a menos que o sucessor nos municípios de Maceió, Penedo e
Santa Luzia do Norte e Gama 75 a menos que o antecessor em Mata Grande. Considerei aqueles
mais altos de cada estimativa.
Considerações Finais
60
O valor do imposto no período variou entre 100 e 150 mil réis.
61
No fim de 1880 e início de 1881 as principais províncias importadoras de escravos, São Paulo,
Rio de Janeiro e Minas Gerais aprovaram impostos que taxavam entre 1 conto e meio e 2 contos
de réis os escravos de fora vendidos na província, tornando inviável o negócio visto que esse
valor era superior àquele da maioria dos escravos. Essa medida foi eficaz e a partir daquele ano
praticamente cessaram as transferências comerciais de escravos de Alagoas para outras províncias.
1
Doutor em artes Visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Realizou estágios pós-
doutoraiso na Universidade Federal Fluminense e na Universidade Nova de Lisboa. Professor
Adjunto do Departamento de Artes da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. E-Mail:
<artus.agv.av@gmail.com>.
2
“A REPUBLICA dos Estados Unidos do Brasil”. A Illustração, Paris, 05 dez. 1889, p. 358. A grafia
dessa e de todas as demais citações de periódicos de época foi atualizada.
3
MAJLUF, Natalia. “De cómo reemplazar a un rey: retrato, visualidad y poder en la crisis de la
independencia (1808-1830)”. Historica, vol. XXXVII, n. 1, 2013, p. 75.
4
CARVALHO, José Murilo de. A formação das almas: o imaginário da República no Brasil. São
Paulo: Companhia das Letras, 1990, p. 38-40.
5
CARVALHO, A formação das almas..., p. 40-48.
6
Nesse sentido, se deve destacar a atuação de Constant na Escola Militar da Praia Vermelha e na
Escola Superior de Guerra.
7
CARVALHO, A formação das almas..., p. 48-54.
8
VALLE, Arthur. “Transnational dialogues in the images of A Ilustração, 1884-1892”. RIHA
Journal, art. 0115, jan./mar. 2015. Disponível em: <http://www.riha-journal.org/articles/2015/2015-
jan-mar/valle-transnational-dialogues>.
9
JOSCHKE, Christian. “À quoi sert l’iconographie politique?”. Perspective: La revue de l’INHA, n.
1, 2012, Paris, p. 188.
10
MATTOS, Hebe. “A vida política”. In: SCHWARCZ, Lilia Moritz (org.). História do Brasil Nação:
1808-2010 – Vol. 3: a abertura para o mundo 1889-1930. Rio de Janeiro: Fundación Mapfre,
2012, p. 89.
Fig. 1 – A Revolução Brasileira, xilogravura publicada em L’Illustration, Paris, 14 dez. 1889, p. 516.
11
“LES ÉVÉNEMENTS du Brésil”. L’Illustration, Paris, 14 dez. 1889, p. 517. Tradução livre.
12
Cf. O Occidente, Lisboa, 12º ano, vol. XII, n. 396, 21 dez. 1889, p. 285. Uma reprodução dessa
gravura se encontra disponível em: <http://www.dezenovevinte.net/criticas/ilustracao_republica_
arquivos/figura14.jpg>. Acesso em: 1º jan. 2016.
13
“A PROCLAMAÇÃO da República”. O Occidente, Lisboa, 21 dez. 1889, p. 283.
14
“LES ÉVÉNEMENTS du Brésil”. L’Illustration, Paris, 21 dez. 1889, p. 548. Tradução livre.
15
CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi. 3. ed.
São Paulo: Companhia das Letras, 1987, p. 09.
16
“A REPÚBLICA brasileira”. A Ilustração, Paris, 5 fev. 1890, p. 42.
17
Cf. O Occidente, Lisboa, 13º ano, vol. XIII, n. 429, 21 nov. 1890, p. 261. Uma reprodução dessa
gravura se encontra disponível em: <http://www.dezenovevinte.net/criticas/ilustracao_republica_
arquivos/figura13.jpg>. Acesso em: 1º jan. 2016.
18
O quadro de Oscar Pereira da Silva ainda hoje se preserva, pertencendo ao acervo do Museu Casa
Benjamin Constant, no Rio de Janeiro. Cfr. LIMA JR., Carlos. “Apressados pinceis”. Revista de
História da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, n. 112, p. 60-65.
19
“A PROCLAMAÇÃO da República no Brasil (Quadro de Oscar da Silva)”. O Occidente. Lisboa, 21
nov. 1890, p. 260.
A princípio, poderíamos julgar que estamos diante de mais uma imagem que
afirma a visão “militar” da proclamação. Uma análise mais detida evidencia, porém,
certas ambiguidades que parecem ter sido intencionalmente configuradas. Em
primeiro lugar, existe a entusiástica aclamação dos civis representados em uma faixa
no primeiro plano da imagem: eles parecem confirmar as palavras do comentário
n’A Illustração, segundo o qual a proclamação se deu “diante do exército e do povo”
- embora cumpra notar que o “povo” se encontra apartado do centro da ação por
fileiras de soldados rigidamente perfilados20. Em segundo lugar, na imagem em
questão, o ato fundador do regime aparece esvaziado de qualquer personalismo:
a imagem é pontuada por pequenas figuras, agrupadas de modo mais ou menos
coerente, reforçando o sentido de ausência de uma hierarquia explícita; ninguém
ocupa o centro geométrico da composição, que é desmaterializado pela fumaça
da “salva de vinte um tiros”; em suma, nenhuma figura específica é enfatizada
e temos dificuldade, inclusive, em dizer onde se encontra o Marechal Deodoro,
explicitamente citado no comentário d’O Occidente.
Essa segunda visão do ato de proclamação parece, portanto, relativizar o papel
preponderante dos militares. Isso fica evidente quando a comparamos com um
conhecido quadro do pintor Benedito Calixto (1853-1927), datado de c. 189321,
20
Essa rigidez é patente em vários elementos da composição, o que nos faz supor que Pereira da Silva
tenha usado como referência para realizar o seu quadro uma fotografia hoje desconhecida.
21
Uma reprodução dessa pintura se encontra disponível em: <http://www.dezenovevinte.net/criticas/
ilustracao_republica_arquivos/figura15.jpg>. Acesso em: 1º jan. 2016.
22
MAJLUF, “De cómo reemplazar a un rey...”, p. 92. Tradução livre.
23
MAJLUF, “De cómo reemplazar a un rey...”, p. 92. Tradução livre.
24
CARVALHO, A formação das almas..., p. 109.
25
“LA PROCLAMATION de la République au Brésil”. Le Monde Illustré, Paris, 18 jan. 1890, p. 38.
Tradução livre.
26
A cruz, a esfera armilar, a coroa, os ramos de café e tabaco.
27
CARVALHO, A formação das almas..., p. 112.
28
AGULHON, Maurice. Marianne au combat: l’imagerie et la symbolique républicaines de 1789 à
1880. Paris: Flammarion, 1979.
29
CARVALHO, A formação das almas..., p. 75-96.
30
FAUSTO, Boris. História do Brasil. 2ª. edição. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo,
1995, p. 249-252.
31
“A REPÚBLICA dos Estados Unidos do Brasil”. A Illustração, Paris, 5 dez. 1889, p. 358-359.
32
A Illustração, Paris, 5 jan. 1890, p. 4 e 6
33
Uma reprodução dessa obra se encontra disponível em: <http://www.dezenovevinte.net/criticas/
ilustracao_republica_arquivos/figura16.jpg>. Acesso em: 01 jan. 2016.
34
CARVALHO, A formação das almas..., p. 36
35
MAJLUF, “De cómo reemplazar a un rey...”, p. 93.
36
BRÉMON, J. F. “Crónica general” La Ilustración Española y Americana, Madrid, 22 nov. 1889, p.
298.
Alegorias e Caricaturas
37
“A Anunciação”. A Comedia Portugueza, Lisboa, 21 nov. 1889, p. 05
38
LEANDRO, Sandra. “19 tragédias, 20 comédias na arte portuguesa do século XIX”. In: VALLE,
Arthur; DAZZI, Camila; PORTELLA, Isabel (Org.). Oitocentos - Tomo III : Intercâmbios culturais
entre Brasil e Portugal. Rio de Janeiro: CEFET/RJ, 2014, p. 478.
Fig. 9 – Maneira de Tiradentes Sem Dor (detalhe), desenho litografado de Raphael Bordallo Pinheiro,
publicado em Pontos nos ii, Lisboa, 05 dez. 1889, p. 300-301.
RESUMO ABSTRACT
Este artigo busca discutir imagens relacionadas This paper discusses some images related
à implantação do regime republicano no Brasil to the establisment of the Brazilian Republic
que foram publicados em revistas ilustradas that were published in European illustrated
europeias entre finais de 1889 e 1890. Serão magazines between late 1889 and 1890. We will
consideradas três revistas editadas em Lisboa consider three magazines published in Lisbon (A
(A Comedia Portugueza, O Occidente e Pontos Comedia Portugueza, O Occidente and Pontos
nos ii), uma em Madri (La Ilustración Española nos ii), one in Madrid (La Ilustración Española y
y Americana) e duas em Paris (Le Monde Americana) and two in Paris (Le Monde Illustré
Illustré e L’Illustration), além de A Illustração, um and L’Illustration), as well as A Illustração, a
periódico luso-brasileiro que também era editado Luso-Brazilian magazine that was also published
em Paris. Mais do que simples ilustrações de in Paris. More than mere illustrations of historical
acontecimentos históricos, estas imagens serão developments, these images will be considered
consideradas aqui como atos que ajudaram a here as acts that helped to shape the meaning
moldar o significado da realidade política da of the political reality of the Brazilian Republic.
República brasileira. Keywords: Brazilian Republic; Political
Palavras Chave: República Brasileira; Iconography; Visual Culture; Late 19th Century.
Iconografia Política; Cultura Visual; Final do
século XIX.
1
Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo. Professora do Curso de História e
do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente da Universidade Federal do Tocantins.
Bolsista produtividade do CNPq - E-Mail: <marina@uft.edu.br>.
2
VIDAL, Laurent. “Alain Corbin: o prazer do historiador”. Revista Brasileira de História, São Paulo,
ANPUH, vol. 25, n. 49, jan. 2005, p. 23.
3
VIDAL, “Alain Corbin...”, p. 23.
4
VIDAL, “Alain Corbin...”, p. 23.
5
SANT’ANNA, Denise Bernuzzi de. “Uma história quase impossível: Alain Corbin”. Projeto História,
São Paulo, PUC-SP, n. 19, nov. 1999, p. 207.
6
CORBIN, Alain. Le monde retrouve de Louis-François Pinagotm, sur les traces d’un inconnu, 1798-
1876. Paris: Flammarion, 1998.
7
SANT’ANNA, “Uma história quase...”, p. 208.
8
Minas Gerais, “órgão oficial dos Poderes do Estado”, Ouro Preto, periódico fundado em 1892.
9
Minas Gerais. Ouro Preto, 16 set. 1894, p. 4.
10
GAMA, José Joaquim do Carmo. “Poços de Caldas: impressões de viagem (I)”. Minas Gerais, Ouro
Preto, 05 dez. 1894, p. 02.
11
LANGUE, Fréderique. “O sussurro do tempo: ensaios sobre uma historia cruzada das sensibilidades:
Brasil-França”. In: ERTZOGUE, Marina & PARENTE, Temis (orgs.). Historia e sensibilidade.
Brasília: Paralelo 15, 2006, p. 25-26.
12
Ver CORBIN, Alain. Les cloches de la terre: paysages sonores et culture sensible dans les campagnes
au XIXe siècle. Paris: Albin Michel, 1994.
13
LANGUE, “O sussurro do tempo...”, p. 26.
14
GAMA, José Joaquim do Carmo. “Poços de Caldas: impressões de viagem (VII)”. Minas Gerais,
Ouro Preto, 07 dez. 1894, p. 03.
15
GAMA, José Joaquim do Carmo. “Poços de Caldas: impressões de viagem (II)”. Minas Gerais,
Ouro Preto, 05 dez. 1894, p. 02.
16
GAMA, José Joaquim do Carmo. “Poços de Caldas: impressões de viagem (II)”. Minas Gerais,
Ouro Preto, 05 dez. 1894, p. 02.
17
GAMA, “Poços de Caldas: impressões de viagem (II)”, p. 02.
18
GAMA, José Joaquim do Carmo. “Poços de Caldas: impressões de viagem (IV)”. Minas Gerais,
Ouro Preto, 05 dez. 1894, p. 02.
19
GAMA, José Joaquim do Carmo. “Poços de Caldas: impressões de viagem (VI)”. Minas Gerais,
Ouro Preto, 05 dez. 1894, p. 02.
20
CANDIDO, Antônio. “Cartas de um mundo perdido”. O Estado de São Paulo, São Paulo, 08 abr.
1989, p. 77.
21
GAMA, José Joaquim do Carmo. “Poços de Caldas: impressões de viagem (XI)”. Minas Gerais,
Ouro Preto, 07 dez. 1894, p. 04.
22
GAMA, “Poços de Caldas: impressões de viagem (XI)”, p. 02.
23
Apud LEMOS, Pedro Sanches de. “As águas termais de Poços de Caldas”. Revista do Arquivo
Mineiro, Belo Horizonte, vol. 8, fasc. 3, jul./dez. 1903, p. 756.
24
Apud LEMOS, “As águas termais...”, p. 756.
25
BILAC, Olavo. “Nas Caldas (1901)”. In: __________. Ironia e Piedade. Rio de Janeiro: Livraria
Francisco Alves, 1916, p. 246.
26
VASCONCELOS, José Leite. Tradições populares de Portugal. Porto: Livraria Portuense de Clavel,
1882, p. 316.
27
Apud LEMOS, “As águas termais...”, p. 756.
28
O Noticiador de Minas, Ouro Preto, 18 set. 1872, p. 02.
29
O País, Rio de Janeiro, 27 out. 1886, p. 02.
30
BARRETO, Luís Ferreira. “Estudos sobre as águas termais de Caldas na Província de Minas
Gerais feitos pelo Doutor Luiz Pereira Barreto por ordem do Presidente Joaquim Floriano Godoy”.
Noticiador de Minas, Ouro Preto, 18 set. 1872, p. 02.
31
BARRETO, “Estudos sobre...”, p. 02.
32
A União, Ouro Preto, 21 set. 1886, p. 03.
33
O País, Rio de Janeiro, 25 ago. 1892, p. 02.
34
GAMA, José Joaquim do Carmo. “Poços de Caldas: impressões de viagem (XII)”. Minas Gerais,
Ouro Preto, 07 dez. 1894, p. 02.
35
GAMA, “Poços de Caldas: impressões de viagem (XII)”, p. 02.
36
GAMA, José Joaquim do Carmo. “Poços de Caldas: impressões de viagem (XVI)”. Minas Gerais,
Ouro Preto, 08 dez. 1894, p. 02.
37
GAMA, “Poços de Caldas: impressões de viagem (XII)”, p. 02.
38
GAMA, “Poços de Caldas: impressões de viagem (XV)”, p. 02.
39
LISBOA, José & MARQUES, Abílio. Almanaque Literário Paulista para 1876. São Paulo: Tipografia
Província de São Paulo, 1875, p. 109.
40
BACHELARD, Gaston. A água e os sonhos: ensaio sobre a imaginação da matéria. Tradução de
Antônio de Pádua Danesi. São Paulo: Martins Fontes, 1998, p. 53.
41
BACHELARD, A água e os sonhos, p. 53.
42
GAMA, “Poços de Caldas: impressões de viagem (XV)”, p. 02.
43
GAMA, “Poços de Caldas: impressões de viagem (XV)”, p. 02.
44
GAMA, “Poços de Caldas: impressões de viagem (XV)”, p. 02.
45
GAMA, “Poços de Caldas: impressões de viagem (XV)”, p. 02.
46
GAMA, José Joaquim do Carmo. “Poços de Caldas: impressões de viagem (VI)”. Minas Gerais,
Ouro Preto, 05 dez. 1894, p. 03.
47
O Estado de São Paulo, São Paulo, 22 mar. 1901, p. 01.
48
LEMOS, “As águas termais...”, p. 798.
49
COELHO NETO, Henrique Maximiano. Água de Juventa. Porto: Livraria Chardon, 1904, p. 15.
50
LEMOS, “As águas termais...”, p. 798.
51
Crônica originalmente publicada na Gazeta de Notícias. BILAC, “Nas Caldas...”, p. 251.
52
GAMA, José Joaquim do Carmo. “Poços de Caldas: impressões de viagem (XVII)”. Minas Gerais,
Ouro Preto, 11 dez. 1894, p. 02.
53
COELHO NETO, Água de Juventa. p. 15.
54
AZEVEDO, Arthur. “A Palestra”. O País, Rio de Janeiro, 9 mai. 1897, p. 01.
55
GAMA, José Joaquim do Carmo. “Poços de Caldas: impressões de viagem (XX)”. Minas Gerais,
Ouro Preto, 11 dez. 1894, p. 02.
56
GAMA, “Poços de Caldas: impressões de viagem (XX)”, p. 02.
57
“CARMO Gama”. O Patriota, Baependi, 04 dez. 1937, p. 02.
Introdução
1
Este estudo obteve apoio financeiro do CNPq entre os anos de 2005 e 2008 e da Capes no ano de
2009.
2
Doutor em História Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Professor Adjunto da
Faculdade de História da Universidade Federal do Pará e docente do Programa de Pós-Graduação
em Ciências da Religião da Universidade do Estado do Pará. E-Mail: <ipojucancampos@gmail.
com>.
3
CAMPOS, Ipojucan Dias. Casamento, divórcio e meretrício em Belém no final do século XIX
(1890-1900). Dissertação (Mestrado em História). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
São Paulo, 2004.
4
DA LIGA da Bôa Imprensa. O divorcio. Belém: Secção de Obras d’A Palavra, 1915.
Linguagens da Ordem
5
ARAÚJO, Rosa Maria Barboza de. A vocação do prazer: a cidade e a família no Rio de Janeiro
republicano. Rio de Janeiro: Rocco, 1993.
6
DA LIGA, O divorcio, p. 05.
7
DA LIGA, O divorcio, p. 05.
8
MUSZKAT, Malvina. “Descasamento: a falência de um Ideal”. In: PORCHAT, Ieda (org.). Amor,
casamento, separação: a falência de um mito. São Paulo: Brasiliense, 1992, p. 85-102.
9
AYMARD, Maurice. “A comunidade, o Estado e a família – trajetórias e tensões: amizade e
convivialidade”. In: ARIÈS, Philippe & CHARTIER, Roger (orgs.). História da vida privada - vol.
III: da Renascença ao Século das Luzes. Tradução de Hildegard Feist. São Paulo: Companhia das
Letras, 1991, p. 455-499.
10
DIAS, Maria Odila Leite da Silva. “Teoria e método dos estudos feministas: perspectiva histórica
e hermenêutica do cotidiano”. In: COSTA, Albertina de Oliveira & BRUSCHINI, Cristina (orgs.).
Uma questão de gênero. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1992, p. 39-53.
11
Auto de processo de crime de lesão corporal promovido por dona Eliana Rodrigues de Freitas
contra Evaristo Bastos de Freitas, 1932.
12
Auto de processo de crime de lesão corporal promovido por dona Eliana Rodrigues de Freitas
contra Evaristo Bastos de Freitas, 1932.
13
Autos de processos civis de prestação de alimentos impetrado por Maria de Nazaré Cantão da Silva
contra João Carlos da Silva, 1940.
14
SCOTT, Joan. “El género: uma categoría útil para el análisis histórico”. In: AMELANG, James
& NASH, Mary (orgs.). Historia y género: las mujeres en la Europa Moderna y Contemporánea.
Madri: Edicions Alfons el Magnànim, 1990, p. 23-56.
15
Código Civil dos Estados Unidos do Brasil. Vol. II. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1917.
16
FOUCAULT, Michel. A verdade e as formas jurídicas. Rio de Janeiro: NAU, 2003.
17
DA LIGA, O divorcio, p. 04-05.
O divorcio
A commissão especial da Camara ds Deputados terminou
a 22 passado a votação dos arts. 218 a 411 do projeto do
18
CAULFIELD, Sueann. Em defesa da honra: moralidade, modernidade e nação no Rio de Janeiro
(1918-1940). São Paulo: Editora da UNICAMP, 2000.
19
SILVA, Maria da Conceição. “Catolicismo e casamento civil na cidade de Goiás: conflitos políticos
e religiosos (1860-1920)”. Revista Brasileira de História, n. 46, 2003, p. 123-146.
Era 1902. Quatorze anos ainda faltavam para que o texto final do Código
Civil Brasileiro obtivesse aprovação. O jurisconsulto Clovis Bevilaqua enfrentava
dificuldades para aprovar determinados artigos e mesmo seções inteiras que
versavam sobre o casamento, a família e a separação conjugal; ao se ler o
documento acima nota-se que as razões que possibilitavam juridicamente a ruptura
entre esposos não estavam totalmente definidas, por exemplo, ainda não se sabia
se o mútuo consentimento seria motivo à separação, o que significava a presença
de extensos problemas, visto que havia, no Congresso, representantes dos dois
lados em disputa. Como especificado, querelas entre Estado e Igreja há muito
ocorriam, tanto que se debatiam as expectativas que giravam em torno do Código
em vias de promulgação, fato que fez retardar a sua conclusão. A este respeito
recorre-se a uma especialista no assunto, Keila Grinberg, que diz que no Congresso
o projeto de lei elaborado por Clovis Bevilaqua demorou dezesseis anos somente
para ser analisado, mas “[...] o processo completo levou 61 anos, se contados
desde o primeiro contato do governo imperial para sistematização da legislação
civil vigente, ou 94, levando em consideração a promessa feita em 1823 [...]”21.
Retorna-se então ao argumento central: para a Igreja Católica, conseguir
sobreviver no seio deste longo diálogo fazia-se necessário estabelecer proximidades
entre teoria e prática, isto é, se por um lado ela elaborava – por meio da sua doutrina
– incursões na vida dos cônjuges, por outro o Estado firmava posição na esfera de
ser imprescindível aprofundar as balizas da secularização frente ao casamento, à
família e ao divórcio. Assim pensando, não era suficiente e tampouco conveniente
que os discursos ficassem apenas no genérico, era imprescindível aproximá-los
do cotidiano. Embora sua pesquisa seja distante cronológica e espacialmente dos
deste artigo, recorre-se a Nicole Arnaud-Duc. A autora vislumbrou que os discursos
concentrados no espaço do direito uniam-se aos morais. Conforme a historiadora,
a razão desta aliança tinha por objetivo a tentativa de delimitar espaços que
se buscava construir na linha do acessível e do proibido aos diferentes agentes
20
O Apologista Christão Brasileiro. Belém, 06 jan. 1902, p. 01.
21
GRINBERG, Keila. Código Civil e cidadania. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001, p. 07-08.
22
ARNAUD-DUC, Nicole. “As contradições do Direito”. In: DUBY, Georges & PERROT, Michelle
(orgs.). História das mulheres no Ocidente – Vol. IV. Tradução de Maria Helena C. Coelho e Alberto
Couto. Porto: Afrontamento, 1991, p. 97-137.
23
A Palavra. Belém, 23 jan. 1921, p. 03.
Por meio destas exposições entra-se um pouco mais sobre o que se pensava a
respeito do casamento e da organização familiar na cidade. Observa-se que estes
domínios eram desejados imperativos, uma vez que as lutas sociais, os campos
de força e de interesse estavam formados. Imprescindia-se estabelecer sistemas
de comunicação que apresentassem caráter incognoscível à sociedade; do mesmo
modo, era indesejado que se constituíssem de forma dessimétrica entre os eixos
praticados na cotidianidade e o que se buscava formar no espaço familiar. Lutava-se
contra quaisquer disjunções que envolvessem campos familiares. Nesta dimensão
de análise, as separações conjugais organizavam-se em domínios que possuíam
caracteres incompreensíveis a determinados sujeitos e instituições da cidade de
Belém, mas para aqueles que se separavam havia sentidos imediatos: o de escapar
de uma convivência que não lhes era favorável.
Fragmenta-se em larga medida a concepção de que as uniões não poderiam
formar-se de modo contingencial, mas sim perene e que fossem capazes de sustentar
a ordem e a moralidade. Porém, o que havia de tão perigoso na separação de
corpos, por exemplo? Ao palmilhar os argumentos acima, apreende-se conjunto
de razões que buscavam delimitar quais deveriam ser os espaços salubrizantes do
casamento e da família. Nesta proporção, a dissolubilidade conjugal aproximava-
se da instabilidade do lar. É forçoso, entretanto, acentuar que no momento em
que se discutiam os artigos e os incisos do Código Civil Brasileiro, a Igreja Católica
quisesse denotar legitimidade aos discursos que produzia. Torna-se oportuno
perceber quais seriam os espaços a serem alcançados por meio das suas teses.
Lançava-se mão de práticas pedagógicas que proporcionassem entrelaçamentos
perfeitos à vida conjugal. Exemplar a este respeito foi o recurso de se tentar educar
as práticas sociais do casal e do futuro casal. Esta estratégia de combate pretendia
trazer para campo específico lutas encetadas no âmbito da sociabilidade privada da
vida dos casados ou dos nubentes.
Todavia, tais problemas não eram particularidades da capital paraense.
Na cidade de Campinas, Cristiane Fernandes Lopes, ao interpretar sentidos e
significados socioculturais do divórcio e desquite entre 1890 e 1934, passou em
revista a legislação da época e percebeu que o local da sua pesquisa esteve imerso
nos debates que giravam em torno da ruptura conjugal e familiar25. Guardadas
as devidas proporções, nada de diferente quando se pensa Belém. Sem dúvida,
preocupações voejavam sobre a Igreja Católica, assim sendo as precauções
deveriam ser tomadas e para isso o ideal de casamento católico era defendido
24
DA LIGA, O divorcio, p. 05.
25
LOPES, Cristiane Fernandes. Quod Deus conjuxit homo non separet: um estudo de gênero, família
e trabalho através das ações de divórcio e desquite no Tribunal de Justiça de Campinas (1890-
1934). Dissertação (Mestrado em História). Universidade de São Paulo. São Paulo, 2002.
26
ÁLVARES, Maria Luzia Miranda. Saias, laços e ligas: construindo imagens e lutas (um estudo sobre
as formas da participação política e partidária das mulheres paraenses 1910-1937). Dissertação
(Mestrado em Desenvolvimento). Universidade Federal do Pará. Belém, 1990.
27
DA LIGA, O divorcio, p. 05.
28
RAGO, Luzia Margareth. “A sexualidade feminina entre o desejo e a norma: moral sexual e cultura
literária feminina no Brasil, 1900-1932”. Revista Brasileira de História, n. 28, 1994, p. 28-44.
29
FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. Tradução de
Salma Tannus Muchail. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
30
AZZI, Riolando. “Família, mulher e sexualidade na Igreja do Brasil (1930-1964)”. In: MARCÍLIO,
Maria Luiza (org.). Família, mulher, sexualidade e Igreja na história do Brasil. São Paulo: Loyola,
1993, p. 101-134.
Considerações Finais
31
RIBEIRO, Ivete. “O amor dos cônjuges: uma análise do discurso católico”. In: D’INCAO, Maria
Ângela (org.). Amor e família no Brasil. São Paulo: Contexto, 1989, p. 129-153.
RESUMO ABSTRACT
O caráter central das reflexões a seguir é The central character of the reflections below is
o de compreender, nas primeiras décadas to understand, in the early nineteenth-century
novecentistas, as estratégias da Igreja Católica decades, the strategies of the Catholic Church
e as do Estado aquando dos diálogos em torno and the State during the dialogues around the
do Código Civil de 1916. Mais especificamente, 1916 Civil Code. More specifically, the study
o estudo procurou interpretar o casamento, a sought to interpret the marriage, family and
família e o divórcio quando se buscava firmá-los divorce when it sought to steady them once more
mais uma vez à lei do Estado. Em conformidade to state law. In accordance with this, about the
com isso, a respeito das temáticas em pauta, issues at hand, it was an eye to understanding
ficou-se atento à compreensão das teses the theories elaborated by instances of power
elaboradas pelas instâncias de poder voltadas aimed at convincing the social subjects who built
ao convencimento dos sujeitos sociais que Belém’s society of the time.
construíam a sociedade belenense da época. Keywords: Church; State; Marriage; Pará; First
Palavras Chave: Igreja; Estado; Casamento; Republic.
Pará; Primeira República.
Introdução
1
Doutorando em História pela Universidade Estadual de Maringá. Pesquisador do Laboratório do
Tempo Presente (PPH-UEM). Bolsista Capes. E-Mail: <guga2008oliveira@hotmail.com>.
2
A Razão, Curitiba, n. 12, 23 jul. 1935, p. 07. Acervo do Espaço Delfos de Documentação e Memória
Cultural (EDMC), Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande de Sul, Porto Alegre – RS.
3
O campo de estudos sobre o integralismo ainda carece de estudos biográficos. Além do enfoque
nas principais lideranças como Plínio Salgado, Gustavo Barroso e Miguel Reale é necessária a
ampliação desta perspectiva para os militantes de base a nível estadual, municipal e até mesmo de
bairros.
4
A AIB, criada em 1932 e chefiada pelo intelectual Plínio Salgado, movimento fascista, possuía
uma estrutura organizacional paramilitar com divisões departamentais, secretarias e uma rígida
hierarquia nacional, estadual, municipal e distrital. Seu discurso e suas práticas pautavam-se pelo
nacionalismo, catolicismo e moralismo extremados, o que atraiu para suas fileiras adeptos de
todas as categorias profissionais e grupos sociais, especialmente as classes médias e locais com
grande concentração de cultura católica. Notamos, porém, certa flexibilidade quando encontramos
integralistas maçons como o chefe do núcleo de Teixeira Soares, Adélio Ramiro de Assis.
5
Devemos aqui considerar a distinção que Ansart realiza entre emoções (“afetos vivos e limitados
no tempo”), sentimentos (“sistemas sócioafetivos menos aparentes e mais duráveis”) e a paixão,
entendida como “a afetividade vivenciada e a intensidade da ação”. ANSART, Pierre. “Em defesa
de uma ciência social das paixões políticas”. História: Questões & Debates, Curitiba, ano 17, n. 33,
jul./dez. 2000, p. 153.
6
LEAL, Victor Nunes. Coronelismo, enxada e voto. 4. ed. São Paulo: Alfa-Ômega, 1978, p. 231.
7
Na visão de Leal, o fenômeno coronelístico estabeleceu uma rede de poder que partia da periferia
para o centro, do micro para o macro na relação de trocas entre o poder municipal, estadual e
nacional na chamada política dos governadores da Primeira República. Assim, o coronel era mais
uma “peça” engendrada em um sistema nacional. O conceito mais próximo para compreender o
poder dos líderes locais em Teixeira Soares seria o de mandonismo. Como destaca José Murilo de
Carvalho, o mandonismo “refere-se à existência local de estruturas oligárquicas e personalizadas
de poder. O mandão, o potentado, o chefe, ou mesmo o coronel como indivíduo, é aquele que,
em função do controle de algum recurso estratégico, em geral a posse da terra, exerce sobre a
população um domínio pessoal e arbitrário que a impede de ter livre acesso ao mercado e à
sociedade política”. Ou seja, mesmo não tendo relações com o governo em nível estadual, o
chefe detinha prestígio econômico e social e influenciava nas relações políticas e sociais locais.
CARVALHO, José Murilo de. “Mandonismo, coronelismo, clientelismo: uma discussão conceitual”.
Dados, Rio de Janeiro, vol. 40, n. 2, 1997, p. 2.
8
Acerca de sua vida pessoal e profissional, pouco se conhece, a não ser que era natural de Ponta
Grossa-PR e foi contratado em 1933 por Líbero Nunes (interventor em Teixeira Soares naquele
ano) para ser engenheiro técnico da prefeitura municipal. As fontes nos indicam que Martins passou
a morar em Teixeira Soares a partir desse ano e que foi um “soldado” a serviço de Plínio Salgado
durante a experiência integralista nessa cidade.
9
ANSART, Pierre. La gestion des passions politiques. Lausanne: Editions L’Âge d’Homme, 1983, p.
109.
10
ATHAIDES, Rafael. As paixões pelo sigma: afetividades políticas e fascismos. Tese (Doutorado em
História). Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2012, p. 292.
11
No Paraná, o jornal de maior destaque foi o hebdomadário A Razão, dirigido por Jorge Lacerda.
Circulou no Estado entre primeiro de maio de 1935 e 8 de novembro de 1935 quando foi
censurado pelo governo paranaense, na época liderado pelo interventor Manoel Ribas. No total,
A Razão publicou 27 números. Em agosto de 1935 já havia triplicado sua tiragem porque circulou
também em Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo. Através de seu jornal, os verdes
paranaenses colocavam em pauta os temas relevantes para o pensamento da AIB como o discurso
anticomunista, a exaltação da família e da religião, a oposição à maçonaria e à política liberal-
democrática do governo Vargas e seus representantes no Paraná, como o interventor estadual
Manoel Ribas, arquirrival da AIB.
12
ANSART, Pierre. “História e memória dos ressentimentos”. In: BRESCIANI, Stella & NAXARA,
Márcia (orgs.). Memória e (res)sentimento: indagações sobre uma questão sensível. Campinas:
Editora da UNICAMP, 2004, p. 15-36.
13
Um gênero biográfico, porém, diferente, reformado e que tem por objetivo, analisar o homem
comum, e não mais os grandes vultos, em sua multiplicidade, incoerente e conflituoso, como forma
de escapar a uma concepção cerceadora das vontades individuais. Como defende Sabina Loriga:
“O indivíduo não tem como missão revelar a essência da humanidade; ao contrário, ele deve
permanecer particular e fragmentado. Só assim, por meio de diferentes movimentos individuais, é
que se pode romper as homogeneidades aparentes (por exemplo, a instituição, a comunidade ou o
grupo social) e revelar os conflitos que presidiram à formação e à edificação das práticas culturais:
penso nas inércias e nas ineficácias normativas, mas também nas incoerências que existem entre as
diferentes normas, e na maneira pela qual os indivíduos, “façam” eles ou não a história, moldam
e modificam as relações de poder”. LORIGA, Sabina. “A biografia como problema”. In: REVEL,
Jacques (org.). Jogos de escalas: a experiência da microanálise. Tradução de Dora Rocha. Rio de
Janeiro: FGV Editora, 1998, p. 249.
14
O Partido Social Democrático era o partido governista estadual. Eram membros desse partido o
interventor estadual Manoel Ferreira Ribas, Albary Guimarães, prefeito de Ponta Grossa e Brasil
Pinheiro Machado, Deputado Estadual e Líbero Nunes, interventor de Teixeira Soares.
15
“Bandeiras”, termo de origem paulista ressignificado pelo Integralismo: eram expedições
‘irradiadoras do sigma’, compostas por segmentos de milícia que almejavam estabelecer núcleos
ou pontos de apoio (coordenações) para futuras fundações. Ao longo da história da AIB inúmeras
“bandeiras” foram organizadas para difundir a doutrina integralista. Após o movimento se tornar
um partido muitas bandeiras tinham a finalidade de fazer propaganda eleitoral. Após a fundação
da AIB destacaram-se duas bandeiras, ambas em agosto de 1933. A primeira, direcionada ao
norte e nordeste, foi liderada por Plínio Salgado com participação de Gustavo Barroso e visitou as
principais capitais das duas regiões. A segunda, destinada ao sul do país, foi comandada por Miguel
Reale. ATHAIDES, As paixões pelo sigma..., p. 66-67.
16
PÉCAULT, Daniel. Os intelectuais e a política no Brasil: entre o povo e a nação. Tradução de Maria
Júlia Goldwasser. São Paulo: Ática, 1990.
17
Com seu ingresso na AIB, Martins passou a se relacionar cotidianamente com membros de famílias
importantes da cidade como Gubert, Macedo, Miranda, Molinari, Nunes, Assis e Pinto. Seu prestígio
decorria de seus capitais políticos e econômicos. Possuíam terras, serrarias, bancos, comércio de
secos e molhados, fábricas de café e ervais, cada qual com sua influência e relação estreita com
a sociedade. Em 1935, ocupavam cargos importantes: João Baptista Gubert – presidente da
Junta de Alistamento Militar, exportador de lenha e madeira, correspondente do Banco Molinari
e Gubert; João Negrão Júnior – exportador de erva-mate e proprietário de armazém de secos
e molhados; Alberico Xavier de Miranda – agricultor, exportador de madeira e erva mate; João
Molinari Sobrinho – juiz distrital, gerente de serraria, exportador de madeira e presidente da
comissão da Igreja Imaculada Conceição; Líbero Nunes – prefeito, pecuarista e proprietário de
fábrica de café (não era integralista); Adélio Ramiro de Assis – suplente de delegado, contador e
exportador de erva mate; Osmar Ramiro de Assis – secretário-procurador da Prefeitura Municipal,
contador e exportador de erva mate. Suas posições e posses permitiam proteger seus interesses
político-econômicos e ampliar seus capitais sociais num ambiente marcado pela troca de favores,
amizades e rivalidades.
18
A Razão, Curitiba, n. 13, 30 jul. 1935, p. 04. EDMC.
19
“O processo de iniciação na militância do movimento desenvolvia-se na organização da juventude
(plinianos), dos quatro até os 15 anos de idade. Contudo, só a partir dos 16 anos poderia o ‘camisa
verde’ ter ingresso definitivo na Milícia”. SIMÕES, Renata Duarte. A educação do corpo no jornal A
Offensiva (1932-1938). Tese (Doutorado em História da Educação e Historiografia). Universidade
de São Paulo. São Paulo, 2009, p. 116.
20
A Razão, Curitiba, n. 13, 30 jul. 1935, p. 04. EDMC.
21
Na definição de Anderson: “o nacionalismo implica em atos de imaginação, que, por sua vez,
engendram o sentimento de pertença à determinada comunidade nacional. Assim, a imaginação
é essencial para a conformação de uma identidade comum, uma vez que os seus membros jamais
estabelecerão laços entre si em sua totalidade, nem em parte significativa dela, mas, ainda assim,
na mente de cada um existe a imagem de sua comunhão”. ANDERSON, Benedict. Comunidades
imaginadas: reflexões sobre a origem e difusão do nacionalismo. Tradução de Catarina Mira.
Lisboa: Edições 70, 1991, p. 25.
22
ANSART, “Em defesa de uma ciência...”, p. 150.
23
Adélio Ramiro de Assis, Chefe Municipal. A Razão, Curitiba, n. 16, 15 ago. 1935, p. 01.
EDMC.
24
A Razão, Curitiba, n. 16, 15 ago. 1935, p. 01. EDMC.
25
Grifo nosso. Livro de memórias de Dona Noêmia Nunes, 1982/ 1983, p. 20-21.
26
BAUMEL, Elenite. Entrevista concedida a Luiz Gustavo de Oliveira, 15 mai. 2014.
27
Grifo nosso. A Razão, Curitiba, n. 12, 23 jul. 1935, p. 07. EDMC.
28
Suprimir o conflito de classes era um mote no discurso integralista. Para atingir este objetivo
era preciso realizar o que Miguel Reale denominava de “socialização humanística”, ou seja, “a
possibilidade de compor o quadro social perfeitamente integrado, mas partindo da base. Essa
possibilidade estaria numa espécie de aglutinação dos interesses pelos sindicatos e respectivas
corporações”. SOUZA, Francisco M. Raízes teóricas do corporativismo brasileiro. Rio de Janeiro:
Tempos Brasileiros, 1999, p. 18. Em A sacralização da política, Alcir Lenharo considerou que a
propaganda política, os órgãos de censura governamentais como o DIP e a projeção da figura
de Getúlio Vargas como chefe-pai do povo brasileiro, foram tentativas de implantar um Estado
corporativo no Brasil. Para Lenharo, o getulismo se aproximava em muito ao fascismo italiano e ao
salazarismo português. Intelectuais da década de 1930 e 1940 pensavam que a sociedade deveria
ser organizada de forma orgânico-corporativa. Acreditavam que a nação deveria ser estruturada
como um corpo orgânico, vivo, biológico, em que os estamentos sociais se assemelhassem aos
órgãos de um grande corpo natural, de maneira que seu bom funcionamento produzisse o
desenvolvimento do todo social. Além disso, esses intelectuais acreditavam que a hierarquia era
um elemento necessário à sociedade corporativista, dividida entre comandantes e comandados.
LENHARO, Alcir. Sacralização da política. 2. ed. Campinas: Papirus, 1986.
29
ANDERSON, Comunidades imaginadas..., p. 32.
30
Grifo nosso. A Razão, Curitiba, n. 12, 23 jul. 1935, p. 07. EDMC.
31
ATHAIDES, As paixões pelo sigma..., p. 141-142.
32
TRINDADE, Helgio. Integralismo: o fascismo brasileiro na década de 30. 2. ed. São Paulo: Difel,
1979, p. 297.
33
Como exemplo, citamos: Partido Pró-Estado Leigo, Partido Concentração Trabalhista, Partido
Consolidação Cívica, Partido Reivindicador Proletário, Partidos dos Universitários Independentes.
34
Em Os estabelecidos e os outsiders, Norbert Elias discorre acerca das normas de socialização e
relações de poder estabelecidas numa pequena comunidade da Inglaterra nos arredores de uma
zona industrial composta de três setores, que, apesar de não diferirem quanto ao aspecto econômico,
Considerações Finais
Em sua militância política, Pedro Rodrigues Martins revelou sua paixão à causa
integralista e à redenção ao bem maior: a nação. Com seus discursos e atitudes
persuasivas mobilizou centenas de pessoas em torno da Ação Integralista Brasileira,
desde a fundação do núcleo da pequena Teixeira Soares até sua extinção com o
Introdução
1
Doutorando em História pela Universidade Federal do Paraná. E-Mail: <mw.franciscon@hotmail.
com>.
2
MEDVEDEV, 2002 apud POCH-DE-FELIU, Rafael. La gran transición. Barcelona: Crítica, 2003, p.
11.
3
O autor, escrevendo tão tarde quanto 1989, duvida que Gorbachev realmente transferisse os
investimentos do setor militar para o de bens de consumo ou mesmo nos investimentos para
dinamizar a economia (p. 474). Prefere se ater às tradições russas, e não à vontade e ao pensamento
que se instalaram no Kremlin e que refletiam setores minoritários da sociedade. Percebe a existência
de uma multiplicidade de opiniões, possibilidades e projetos para o futuro da URSS, mas não a
profundidade de sua discrepância nem o potencial liberal dos reformistas e suas bases de apoio
em grupos sociais. Reconhece seu poderio econômico e militar ao afirmar que “isso [a gama
de dificuldades estratégicas e produtivas soviéticas] não significa que a União Soviética esteja à
beira do colapso [...]. Significa, isso sim, que ela está enfrentando opções difíceis. Como disse um
especialista russo, ‘A política de canhões, manteiga e crescimento – a pedra fundamental política
da era Brejnev – já não é possível’” e as preocupações imperiais eram a prioridade inquestionável.
KENNEDY, Paul. Ascensão e queda das grandes potências. Rio de Janeiro: Campus, 1989, p. 487.
4
Sem a ratificação do Tratado SALT II pelo Congresso dos EUA, que controlaria a produção de
mísseis balísticos, a URSS de Brejnev substituiu armas antigas pelos novos SS-20. O novo presidente
americano, Ronald Reagan, acusou a União Soviética de provocar uma escalada armamentista e
em 1981 firmou acordos com os membros europeus da OTAN para a fixação de mísseis Pershing
II e cruises (Tomahawk) em seus territórios. A população da Europa Ocidental se mobilizou contra
a nuclearização armada, realizando grandes manifestações em 1983. O historiador E. P. Thompson
foi um de seus líderes. Ver: BLACKBURN, Robin (org). Depois da queda. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1993. Alguns autores viram nisso uma “suja campanha soviética” que, ao fracassar, colocou
a diplomacia soviética numa situação delicada. Ver: BIALER, Seweryn; MANDELBAUM & Michael.
The global rivals. Londres: I.B.Tauris, 1989, p. 71.
5
A estação espacial Polyus, Polo, era uma base militar equipada com um sistema de defesa
antissatélite, um lançador espacial de minas nucleares – que poderiam atingir o alvo na Terra em
6 minutos em vez de 30 de um míssil balístico intercontinental ICBM, e camuflagem stealth negra
– ótima para o espaço. O foguete Energia que a levaria ao espaço, em 1987, teria saído de rota.
ERICKSON, Lance. Space flight. Lanham: Government Institutes, 2010, p. 643.
6
Rodrigues afirma que o custo da corrida armamentista era insuportável. Ver: RODRIGUES, Robério
Paulino. O colapso da URSS. Tese (Doutorado em História Econômica). Univrsidade de São Paulo.
São Paulo, 2006, p. 196-193. Segrillo lembra que Israel invertia em defesa uma proporção similar
do PNB e nem por isso entrou em crise. Ver: SEGRILLO, Angelo. O declínio da URSS. Rio de
Janeiro: Record, 2000, p. 125-131. Se o complexo industrial-militar de fato correspondesse ao
calcanhar de Aquiles econômico, com a reconversão de Gorbachev e a privatização de Yeltsin
a economia deveria ter florescido. Ocorreu o contrário. O modelo soviético dependia do setor,
que contribuía com moeda forte provinda das exportações de armas para o Terceiro Mundo,
transacionadas em dólar em algum momento.
7
BROWN, Archie. The rise and fall of Communism. Londres: HarperCollins, 2010, p. 415.
8
BROWN, Archie. The Gorbachev factor. Nova York: Oxford University Press, 1996, p. 84-87.
9
MEDVEDEV, Zhores. Gorbachev. Rio de Janeiro: José Olympio, 1987, p. 16.
10
A cidade é capital do Krai (unidade formada por povos de diferentes nacionalidades. Entre
elas, armênios, gregos, chechenos, tártaros) de Stavropol. GALEOTTI, Mark. Gorbachev and his
revolution. Londres: Macmillan, 1997.
11
Os olhos puxados de Lenin identificam sangue kalmuk e sua mãe era filha de um judeu e de uma
alemã. Stalin era georgiano. Kruschev era filho de russos e ucranianos. Apesar do sobrenome russo
e provir do Leste da Ucrânia, o passaporte interno da família de Brejnev acusava nacionalidade
ucraniana. A mãe de Gorbachev era ucraniana.
12
Em 1953 a média etária dos membros do Politburo era de 55,4 anos. Em 1980, 70,1. SCHMIDT-
HÄUER, Christian. Gorbachev: the path to power. Londres: I. B. Tauris, 1986, p. 70. A pasta da
Agricultura era um posto escolhido por rivais para se destruir a carreira de seus concorrentes.
Apesar do aumento do salário anual dos camponeses de 100 para 140 rublos, a produção agrícola
soviética declinou profundamente durante os sete anos de ministério de Gorbachev.
13
ZEMTSOV, Ilya & FARRAR, John. Gorbachev: the man and the system. Piscatatway: Transaction,
2007, p. 02.
14
LEWIN, Moshe. O fenômeno Gorbachev. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
15
NOVE, Alec. Stalinism and after: the road to Gorbachev. Nova York: Routledge, 1992, p. 180.
16
MEDVEDEV, Gorbachev, p. 249.
17
GORBACHEV, Mikhail. O golpe de agosto: a verdade e as lições. São Paulo: Best Seller, 1991, p.
110.
18
ENGLISH, Robert. Russia and the idea of the West. Nova York: Columbia University Press, 2000,
p. 18. O autor menciona o retorno do messianismo czarista, das preocupações imperiais e do
isolacionismo agressivo.
19
BERTONHA, João Fábio. Rússia: ascensão e queda de um império. Curitiba: Juruá, 2009, p. 100.
20
MAGNOLI, Demétrio. O mundo contemporâneo. São Paulo: Moderna, 1997, p. 123. SLBM: míssil
balístico lançado de submarino, em comparação com ICBM: míssil balístico intercontinental e ABM:
míssil antibalístico.
21
Paul Kennedy discorda das avaliações da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte).
Para ele, ao se somar as forças ocidentais e do Pacto de Varsóvia, ocorria a predominância da
paridade estratégia das forças convencionais (tanques, soldados, aviões, artilharia, etc). KENNEDY,
Ascenção e queda..., p. 481-482.
22
Exemplo de uma guerra fria dentro do campo socialista, opondo soviéticos e vietnamitas (que
implantaram uma “monarquia socialista”) ao defenestrado regime maoísta de Pol Pot e seus
aliados: China, Estados Unidos e Inglaterra. HOBSBAMW, Eric J. Era dos extremos. São Paulo:
Companhia das Letras, 2001, p. 438.
23
BIALER, Seweryn. The Soviet paradox: external expansion, internal decline. Londres: I. B. Tauris,
1986, p. 191.
24
BROWN, The Gorbachev Factor…
25
GORBACHEV, Mikhail. Gorbachev. Nova York: Columbia University Press, 2000, p. 187.
26
GORBACHEV, Mikhail. O poder dos sovietes. Rio de Janeiro: Revan, 1988.
Uma vez que a ideologia oficial, segundo o novo secretário-geral, não passava
de uma ilusão esclerosada, como o relatório do XXVII Congresso de 1986 deixava
entrever e os discursos de 1987 confirmaram, medidas antes inimagináveis não
deveriam ser desconsideradas. Eram até preferíveis como forma de aturdir os
adversários internos e externos, desarmá-los, desmontar suas retóricas, ganhar a
batalha pela opinião pública e consolidar a iniciativa ao lado dos reformadores
soviéticos. Novas relações com os antigos inimigos deveriam ser entabuladas. Uma
ponte de compreensão estabelecida. E só poderia ser solidificada se a imagem do
país no exterior fosse alterada, tanto para os mandatários como para as massas.
O grande plano estratégico de Gorbachev era não ter planos. Tudo o que já
havia sido definido, poderia ser mudado repentinamente. A “vida” estabelecia
novos desafios a cada momento. Situações antes insuspeitadas eclodiam. Não se
deveria ter medo de reviravoltas radicais na condução dos negócios externos –
e nem nos internos, uma vez que o país passaria por “mudanças inéditas e de
envergadura desconhecida”28. A experiência e a vida forneceriam as melhores
respostas, automaticamente. Não deveria se apegar a planos29.
Assim foi com o abandono do plano estratégico da aceleração da perestroika
como descentralização e implante de instrumentos de mercado limitados, da
glasnost confinada ao ambiente de trabalho, com o uso do Partido como motor
das reformas, com a abolição das mais fundamentais instituições econômicas
estatais. Das metas de se proceder primeiramente à reforma econômica para
em seguida se enveredar pela reforma política, e o papel condutor do Partido,
como também com a afirmação de que as superpotências só se sentariam à mesa
depois da Iniciativa de Defesa Estratégica (IDE), ou “Guerra nas Estrelas”, também
abandonadas. Da renúncia do uso do conceito do imperialismo e da confrontação
estrutural entre dois sistemas avessos, da condução dos negócios dos aliados,
da redução dos arsenais para sua abolição, das concessões mútuas pela retirada
unilateral, do reconhecimento do papel dos Estados Unidos no solo da Europa ou
na troca da postura crítica frente ao intervencionismo e militarismo americanos por
27
GORBACHEV, Mikhail. URSS. São Paulo: Revan, 1985, p. 14.
28
GORBACHEV, URSS, p. 79.
29
GORBACHEV, Mikhail. Glasnost. São Paulo: Brasiliense, 1987, p. 86.
30
GORBACHEV, Mikhail. A URSS rumo ao século XXI. Rio de Janeiro: Revan, 1986, p. 31.
31
Para alguns, como Brown, a política externa de Gorbachev teve um êxito surpreendente ao
desnuclearizar a Europa e encerrar a Guerra Fria. Para outros, foram concessões unilaterais,
incapazes de provocar os americanos a contrapartidas. O Tratado INF de 1987, que retirou os
mísseis de ambas as superpotências da Europa, significou o fim de um ponto de força soviético,
já que possuía três vezes mais mísseis que os americanos, que preservaram suas ogivas em aviões
e submarinos, aonde eram mais fortes. A diminuição de tropas e armas convencionais no Leste
Europeu em 1988 não foi seguido de qualquer redução do efetivo da OTAN nas fronteiras de
seu bloco. Como também o fim da base soviética no Vietnã, a retirada do Afeganistão e volta dos
assessores militares soviéticos na África. Para outros, desespero diante da falência econômica, ou
ainda, remanejamento de forças em direção a objetivos mais vantajosos – “seletividade geopolítica”.
BRZEZINSKI, Zbigniew. O grande fracasso. Rio de Janeiro: Bibliex, 1990, p. 222-223. Ver também:
BRESLAUER, George. Gorbachev and Yeltsin as leaders. Cambridge: Cambridge University Press,
2002, p. 60.
32
Com a presença da figura menos apresentável à época de Trotsky, o tratado previu a entrega
para a administração das potências centrais da Polônia, Finlândia, Ucrânia, países bálticos,
Bessarábia, Cáucaso e a maior parte da Bielorrússia. Tal concessão possibilitou aos bolcheviques
se concentrarem nos fronts mais imediatos e derrotar os intervencionistas e generais brancos
aspirantes a czares. Com o tempo, boa parte desses territórios foram recuperados.
33
LÉVESQUE, Jacques. The enigma of 1989. Berkeley: University of California Press, 1997, p. 27.
34
GORBACHEV, Mikhail. Perestroika. São Paulo: Best Seller, 1988, p. 147-148.
O caráter ideológico do novo pensamento foi tão forte que teria sido o fator
primordial para a não intervenção e o não uso da violência, mesmo com a
35
GORBACHEV, Perestroika, p. 152.
36
LÉVESQUE, The enigma of 1989..., p. 06; p. 32.
37
LÉVESQUE, The enigma of 1989..., p. 20.
38
Além das ações práticas, o que foi chamado na época de “mudanças cosméticas” não deixou
de chamar a atenção, como a primeira coletiva de imprensa oferecida por um líder soviético, em
novembro de 1985, em Paris. GORBACHEV, Mikhail. Tempo para a paz. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1986.
39
As concessões soviéticas demonstraram a autonomia dos agentes políticos e de suas percepções
individuais frente a razão de Estado. DONNELLY, Jack. Realism and international relations.
Cambridge: Cambridge University Press, 2004, p. 163-164.
40
GORBACHEV, Tempo para a paz..., p. 45.
41
GORBACHEV, Perestroika, p. 244-245.
42
Veja, São Paulo, 20 abr. 1988, n. 1024, p. 40.
43
GORBACHEV, Perestroika, p. 203.
44
GORBACHEV, Perestroika, p. 204.
45
Poderia ser também um misto de propaganda vazia, anunciada para ser descumprida em seguida,
com alguma vantagem diplomática, ou redução dos gastos para uma paridade com a ajuda dos
EUA a seus aliados – enquanto a UNITA recebia US$ 15 milhões deste, o governo angolano
recebia 4 bilhões da URSS. O Vietnã recebeu desde 1978 9 bilhões em ajuda militar e outros 8 em
econômica. Só na Etiópia existiam 1700 assessores militares soviéticos. Os EUA investiriam apenas
1 bilhão por ano com grupos militares antissoviéticos. FLERON, Frederic; HOFFMANN, Erik P. &
LAIRD; Robbin Frederick. (orgs.). Soviet foreign policy. New Brunswick: Transaction Publishers,
1991, p. 372-373.
46
KATZ, Mark. The USSR and Marxist Revolutions in the Third World. Cambridge: Cambridge
University Press, 1990, p. 4. Outra percepção era a da neutralização do Terceiro Mundo. Ao invés de
abandoná-lo, Gorbachev pretendia instrumentalizá-lo. Apoiar os países não-alinhados, incentivar
a se afastarem dos EUA, arregimenta-los em bloco e se pôr a testa do grupo seria uma estratégia
para enfraquecer a diplomacia americana e atacar a militarização do espaço, sem os problemas de
financiamento e das disputas teóricas sectárias ou entre estados socialistas (como China, Somália
e Etiópia). Ver também: ALLISON, Roy. The Soviet Union and the strategy of non-alignment in the
Third World. Cambridge: Cambridge University Press, 1988, p. 248-250.
47
YAKOVLEV, Alexander. O que queremos fazer da União Soviética: o pai da Perestroika se explica.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1991, p. 95.
48
MLYNAR, Zdenek (org.). O projeto Gorbachev. São Paulo: Edições Mandacaru, 1987, p. 146.
49
GORBACHEV, Perestroika, p. 185.
50
MPLA: Movimento Popular de Libertação de Angola, apoiado por URSS, Cuba, Alemanha
Oriental. UNITA: União Nacional para a Independência Total de Angola, apoiada por África do
Sul, EUA, Israel e por breve período, China.
51
Como a manutenção por este do controle da cadeira do país na ONU, apesar da maior parte do
país, inclusive a capital, estarem sob o domínio do novo governo pró soviético.
52
GORBACHEV, Perestroika, p. 219-222.
53
As relações soviético-cubanas começaram a se deteriorar ainda em 1985, quando Gorbachev
obrigou Fidel a comprar açúcar no mercado internacional para cumprir a cota requerida pela URSS,
a preços muito mais altos que os estipulados nos contratos com os soviéticos. O cumprimento
dos contratos pelos cubanos foi cobrado publicamente em 1989, durante sua visita à Cuba.
Para os reformistas, Cuba, com seu protagonismo na América Latina e África, era geradora de
problemas diante da aproximação com os EUA, vista como vital para os reformadores do Kremlin.
GORBACHEV, Mikhail. A proposta. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1990, vol. 4, p. 48.
A Mão de Moscou
54
A base naval de Tartus permaneceu sob controle soviético. A Síria de Hafez al-Assad participou
da coalizão contra Saddam. No entanto, a garantia soviética como fornecedora independente de
armas e alternativa aos EUA foi abalada.
55
O Iraque era o terceiro maior importador mundial de armas soviéticas, perdendo apenas para a
Líbia e a Síria. GOODMAN, Melvin. Gorbachev's retreat. Nova York: Praeger, 1991, p. 78.
56
GOODMAN, Gorbachev's retreat..., p. 182.
57
GORBACHEV, Perestroika, p. 240; p. 163.
58
O abandono dos antigos aliados e o embargo armamentício ao Iraque, levaram as exportações de
armas a um nível crítico em 1989-1990. GOODMAN, Gorbachev's retreat…, p. 173.
59
GOODMAN, Gorbachev's retreat..., p. 22.
60
Para Hobsbawm a instabilidade do Terceiro Mundo possuía outras razões que não a ação
revolucionária da URSS e de seus seguidores nos países pobres – como indefinições de fronteira,
questões coloniais não resolvidas, instituições novas e não consolidadas, exposição às crises
econômicas externas. O jogo das superpotências e o papel americano potencializavam os conflitos.
HOBSBAMW, Era dos extremos..., p. 422.
61
GORBACHEV, Tempo para a paz..., p. 134. A Conferência de Yalta (1945) definiu as zonas de
ocupação e influência na Europa, ampliando o “Tratado das Percentagens” elaborado por Churchill
e Stalin. Em 1985 Gorbachev insinuou a ameaça americana diante do líder tchecoslavo Gustav
Husák.
62
GORBACHEV, A URSS rumo ao século..., p. 91.
63
GORBACHEV, Perestroika, p. 164.
64
GORBACHEV, A proposta, vol. 2, p. 20; p. 42.
65
Sistema que embaralha os sinais de rádio e televisão, impedindo o seu acesso.
66
BROWN, The Gorbachev factor..., p. 75.
67
Veja, São Paulo, 03 jun. 1987, n. 978, p. 46.
68
LÉVESQUE, The enigma of 1989..., p. 03; p. 87.
69
“Desde meu primeiro encontro com Gorbachev, eu expressei o desejo de que [...] todas as tropas
soviéticas deixassem a Hungria. Ele imediatamente concordou, observando que, no entanto, seria
melhor tratar da retirada no âmbito das negociações com a OTAN, para que a URSS pudesse obter
em troca reduções americanas comparáveis na Europa Ocidental. Então, para minha surpresa,
toda vez que eu pedi a ele algo que eu acreditava ser muito difícil e delicado do ponto de vista
dos interesses soviéticos na Hungria, ele sempre disse que sim. Eu finalmente cheguei à conclusão
de que ele e Shevardnadze já tinham em mente um plano para separar completamente a União
Soviética da Europa Oriental”. LÉVESQUE, The enigma of 1989..., p. 86-87. Károly Grósz era
gorbachevista e assumiu o poder na Hungria após a saída do presidente conservador János Kádar.
70
GORBACHEV, URSS, p. 42.
71
GORBACHEV, Mikhail. Outubro e a Perestroika. Rio de Janeiro: Revan, 1987, p. 72-73.
72
GORBACHEV, Perestroika, p. 192-199.
73
Em sua declaração realizada dois anos depois, em 1989, no Parlamento Europeu, propôs “a
criação de uma vasta zona de cooperação econômica que se estenda do Atlântico aos Urais,
mantendo estreita interligação entre as partes oriental e ocidental da Europa”. GORBACHEV,
Mikhail. A proposta, vol. 4, p. 192. A visão de uma futura fusão do COMECON com a CEE, unidos
por trem-bala, fibra ótica, sistemas de energia (reatores nucleares de tecnologia soviética e europeia
ocidental) e de satélites (com recursos do Oeste Europeu, lançados pelos soviéticos) e televisores
digitais era bem diferente das declarações iniciais de aumento do comércio entre os blocos.
74
GORBACHEV, A URSS rumo ao século..., p. 99; GORBACHEV, Perestroika, p. 224-241.
75
VOLKOGONOV, Dmitri. Os sete chefes do Império Soviético. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
2008, p. 401.
76
GORBACHEV, URSS, p. 43-44.
77
GORBACHEV, A URSS rumo ao século..., p. 30.
78
GORBACHEV, Perestroika, p. 244-245.
79
VOLKOGONOV, Os sete chefes do Império..., p. 401. O que não era exatamente uma novidade
entre os líderes soviéticos. Durante a Crise dos Mísseis, Kruschev havia enviado duas versões do
mesmo telegrama: um agressivo e confiante, dirigido aos políticos e generais e à divulgação pública
interna. O outro, conciliador e pacificador, foi enviado à Casa Branca. Porém, ambas as versões
foram captadas e entregues ao grupo de Kennedy.
A intenção fica clara: não abandonar o Leste Europeu para a OTAN ou a CEE,
mas sim integrar mesmo a URSS no bloco ocidental num movimento conjunto do
Leste em direção ao Oeste81.
80
GORBACHEV, A proposta, vol. 4, p. 184-185.
81
Vladimir Putin renovou a proposta quinze anos depois. Tratava-se de uma campanha publicitária,
de embate entre discursos, como forma de minar o projeto de Bush de um escudo de mísseis, em
tese dirigido contra o Irã, mas que na prática ameaçava a Rússia. Putin, ao contrário de Gorbachev,
não possuía nenhuma esperança de que a Rússia fosse aceitada nos círculos fechados existentes
exatamente para isolá-la. O que reforça a tese de que Gorbachev criou sua diplomacia sobre frágeis
pressupostos.
82
BROWN, The Gorbachev Factor..., p. 116.
83
VOLKOGONOV, Os sete chefes do Império..., p. 324.
84
GORBACHEV, URSS, p. 41-51.
85
GORBACHEV, URSS, p. 93.
86
GORBACHEV, Tempo para a paz..., p. 34.
87
GORBACHEV, Tempo para a paz..., p. 98.
88
GORBACHEV, O Golpe de Agosto..., p. 74-75.
89
COLD War. Episódio 24: “Conclusions”. Direção de Jeremy Isaacs. Produção de Pat Mitchell e
Jeremy Isaacs. Série televisiva de documentários. Nova York:Turner; CNN, 1998 (NTSC; colorido;
inglês; legendado em português; Dolby Digital Stereo; 50 min).
90
A noção de que as guerras poderiam ser superadas pelas ligações econômicas entre as nações (e
o interesse bélico disfarçado sob os embargos ao bloco socialista) foram apontados por Gorbachev
ainda em 1984, na primeira das muitas reuniões do futuro secretário-geral com homens de negócios
do mundo capitalista, em busca de “vantagens mútuas”. GORBACHEV, Tempo para a paz..., p.
153.
91
GORBACHEV, A URSS rumo ao século..., p. 91-97.
92
GORBACHEV, Glasnost..., p. 120.
93
Os termos “esquerda” e “direita” assumiram sentidos diferentes do usual na URSS de Gorbachev.
Aqueles que defendiam mudanças radicais no sistema do socialismo real ou seu fim, eram
classificados como esquerda. Aqueles que defendiam sua preservação, de direita. Gorbachev usa
“esquerda” em seu Perestroika na acepção do Ocidente, já que se dirige a este. BROWN, Archie &
SHEVTSOVA, Lilia. Gorbachev, Yeltsin & Putin. Brasília: Editora da UnB, 2004, p. 27.
94
GORBACHEV, Outubro e a Perestroika..., p. 58-59; p. 84.
95
O projeto da União de Estados Soberanos, que substituiu o de União das Repúblicas Soberanas
Soviéticas, previa frouxos laços entre as repúblicas. A nova URSS parecer-se-ia muito com a
sucessora CEI ou a União Europeia, com um presidente com poder nominal. Era a resposta de
Gorbachev para o processo de “derrubamento” do poder central: ao mudar o poder do partido
para o Estado tornando-se presidente da URSS, abriu espaço para as autoridades de cada uma das
quinze repúblicas – inclusive a Rússia de Yeltsin – a fazer o mesmo, reformulando suas leis e esferas
de atribuições, declarando sua autonomia ou independência frente ao poder do Kremlin. Previu-se
até a divisão das forças armadas.
96
GORBACHEV, O Golpe de Agosto..., p. 36.
Considerações Finais
97
GORBACHEV, O Golpe de Agosto..., p. 68; p. 89; p. 92.
98
GORBACHEV, O Golpe de Agosto..., p. 128.
99
GAIDAR, Egor. Collapse of an empire. Washington: Brookings Institution Press, 2007, p. 214-215.
100
LÉVESQUE, The enigma of 1989...
101
YAKOVLEV, O que queremos fazer..., p. 84-106.
1
Doutorando em Política Comparada e Relações Internacionais pela Universidade de Lisboa.
Bolsista Capes. E-Mail: <dmitri_felix@hotmail.com>.
2
PINHEIRO, Milton. Ditadura: o que resta da transição. São Paulo: Boitempo, 2014. TELES, Edson
& SAFATLE, Vladimir Pinheiro. O que resta da ditadura. São Paulo: Boitempo, 2010. REIS, Daniel
Aarão; RIDENTI, Marcelo & MOTTA, Rodrigo Patto Sá (orgs.). O golpe e a ditadura militar 40
anos depois (1964-2004). Bauru: EDUSC, 2004. D’ARAÚJO, Maria Celina; SOARES, Gláucio Ary
Dillon & CASTRO, Celso. Visões do golpe: a memória militar sobre a repressão. Rio de Janeiro:
Relume-Dumará, 1995.
3
PINTO, António Costa. A sombra das ditaduras: a Europa do Sul em comparação. Lisboa: Imprensa
de Ciências Sociais, 2013. SCHMITTER, Philippe. Portugal: do autoritarismo à democracia. Lisboa:
ICS, 1999.
4
PINTO, A sombra das ditaduras..., p.19.
5
PINTO, A sombra das ditaduras..., p. 21.
6
TEITEL, Rugi G. Transicional justice. Nova York: Oxford University Press, 2000, p. 06.
7
PINTO, A sombra das ditaduras..., p. 23.
8
Ressaltamos que houve e há uma continuada resistência da sociedade civil organizada e grupos de
defesa de direitos humanos que denunciam a forma como esta transição foi praticada.
9
CESARINI, Paolo. “Transicional justice”. In: LANDMAN, Todd & ROBINSON, Neil (orgs.). The
Sage handbook of comparative politics. Londres: Sage, 2009, p. 497-521.
10
SCHMITTER, Portugal: do autoritarismo...
11
SCHMITTER, Portugal: do autoritarismo..., p. 406.
12
SCHMITTER, Portugal: do autoritarismo...,p. 296.
13
BRITO, A. B.; GONZALES, E. C.; & AGUILAR, F. P. A política da memória: verdade e justiça na
transição para a democracia. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2004.
14
BRITO, GONZALES & AGUILAR, A política da memória...,p.60
15
Arquivo Nacional, Rio de Janeiro. BR AN, RIO x9.0.TAI.3/12.
16
BARBOSA, Francisco de Assis. Rui Barbosa e a queima dos arquivos. Brasília: Ministério da Justiça;
Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1988.
17
“QUEIMA de arquivos da Base Aérea ainda sem respostas”, A Tarde, 26 dez. 2009.
18
ARNS, D. Paulo Evaristo et al (orgs.). Brasil: nunca mais – um relato para a história. 9. ed. Petrópolis:
Vozes, 1985.
19
Disponível em: <http://www.arquivonacional.gov.br/>.
20
Disponível em: <http://library.brown.edu/openingthearchives/>.
21
COMISSÃO Nacional da Verdade – CNV. Relatório da Comissão Nacional da Verdade. Brasília:
CNV, 2014, p. 975.
22
Disponível em: <http://www.arquivonacional.gov.br/>.
23
COMISSÃO, Relatório da Comissão..., p. 106.
24
IPEA, Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS), 2012.
25
STF, ADPF 153.
26
STF, ADPF 153, p. 12-46.
A revisão da Lei da Anistia foi defendida por 46% dos entrevistados, e, 37%
disseram ser contra, e 17% não souberam opinar. Esta pesquisa também evidenciou
que a maior parte dos entrevistados são a favor (52%) e a favor em parte (22%)
das indenizações aos presos políticos, famílias de desaparecidos e assassinados
durante a ditadura militar.
As posições institucionais se dividem entre a neutralidade da Câmara de
Deputados, e do Senado Federal. Mesmo tendo sido aprovada na Comissão de
Direitos Humanos em 2014 do Senado, foi rejeitada na Comissão de Relações
Exteriores e Defesa Nacional em Junho de 2015, o relator desta comissão, o
senador Anastasia (PSDB-MG) utilizou-se dos argumentos do julgamento do
STF, porém esqueceu-se de citar a passagem que o ministro Eros Grau repassa a
responsabilidade para o legislativo. O Ministério da Justiça é a favor da revisão. E,
a Advocacia Geral da União e Procuradoria Geral da República contra.
As consequências internacionais são diversas sobre a imagem do Brasil nas
entidades que acompanham o desenvolvimento do cumprimento dos direitos
humanos. Com base no preceito que – “O direito internacional dos direitos
humanos entende que não é possível haver anistia a graves violações dos direitos
humanos” –, a Comissão da Organização das Nações Unidas condenou o desfecho
do julgamento da Lei da Anistia no STF, tendo em vista que o Comitê contra a
Tortura da ONU recomendou, em seu relatório de 2008, que o Brasil lidasse com
seu passado e abolisse a lei.
Assim como a sentença da Corte Interamericana, de 14 de dezembro de 2010,
que condenou o Estado brasileiro a investigar os fatos, julgar e, se forem apontados
culpados, punir os responsáveis. O Brasil é hoje o único país da América Latina
27
DATAFOLHA – Instituto de Pesquisa. “Democracia e Ditadura”, PO813734, 19 e 20 fev. 2014.
Disponível em: <http://www.datafolha.com.br/>.
28
COMISSÃO, Relatório da Comissão..., p. 966.
29
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7170.htm>.
30
Série de emendas constitucionais que foram adotadas após o fechamento do Congresso Nacional
em 1977.
31
Disponível em: <http://www.arquivonacional.gov.br/>.
32
COMISSÃO, Relatório da Comissão..., p. 971.
RESUMO ABSTRACT
Após a criação da Comissão Nacional da Verdade After the creation of the National Truth
(CNV) em 2012, a partir da Após a criação da Commission (CNV) in 2012, from the Law nº.
Comissão Nacional da Verdade(CNV) em 2012, 12528/2011, was made official by the Brazilian
a partir da Lei nº 12.528/2011, tornou-se oficial government the realization of an instrument
por parte do Estado brasileiro a concretização de with the aim of raising the crimes of violation
um instrumento com o objetivo de levantar os of human rights between the years 1946-1988.
crimes de violação dos direitos humanos entre os This initiative was an important step towards
anos 1946-1988. Com esta iniciativa foi dado um the elucidation of the past before the actions
importante passo para a elucidação do passado of state officials, civil society and business,
perante a atuação dos agentes do Estado, da especially in the period of the Brazilian civil-
sociedade civil e empresarial, principalmente, military dictatorship of 1964-1985, experiences
no período da ditadura civil-militar brasileira that other states with authoritarian past also the
de 1964-1985, experiências que outros Estados realized (Portugal, Greece, Spain, Argentina,
com passado autoritário também o realizaram Chile, Uruguay, South Africa and others) with
(Portugal, Grécia, Espanha, Argentina, Chile, different impacts on the transition to democracy.
Uruguai, África do Sul e outros) com diferentes In this way we aim to scale issues of transitional
impactos sobre a transição para a democracia. justice in relation to the work done by the
Desta forma objetivamos dimensionar CNV and its recommendations on issues such
questões sobre a justiça transicional com as: opening of the archives, in the process of
relação ao trabalho realizado pela CNV e suas reviewing the Amnesty Law, decrees and laws on
recomendações em questões como: abertura crimes against national security.
dos arquivos, no processo da revisão da Lei Keywords: Brazil; 20th Century; Military
da Anistia, e os decretos de leis sobre os crimes Dictatorship; Democratization; Transitional
contra a segurança nacional. Justice.
Palavras Chave: Brasil; Século XX; Ditadura
Militar; Redemocratização; Justiça Transicional.
33
BRITO, Alexandra Barahona de. “Justiça transicional e memória: exploração de perspectivas”. In:
PINTO, A sombra das ditaduras..., p. 47.
Reseñar un libro nunca es una tarea sencilla, pero siempre resulta apasionante,
puesto que uno siente que realizar una lectura atenta, detenida y profunda de la
obra con el fin de darla a conocer constituye, pues, un indudable privilegio que
sólo puede presentarse en contadas ocasiones. Sí, escribir la reseña de un libro
no es una tarea simple. Y en el caso del libro América aborigen. De los primeros
pobladores a la invasión europea, resulta ser una tarea aún más difícil y compleja,
puesto que nos enfrenta a una obra que fue escrita por un historiador de talla como
Raúl Mandrini, uno de los investigadores más conocidos en el medio académico
argentino y con una amplia proyección en el mundo latinoamericano y europeo.
Habiendo atesorado una prolífica carrera académica docente e investigativa con el
correr de los años2, Raúl Mandrini contribuyó – desde el regreso de la democracia
1
Historiador. Doctorando en Humanidades y Artes por la Universidad Nacional de Rosario. Becario
del Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas - CONICET, Argentina. E-Mail:
<horazapatajotinsky@hotmail.com>.
2
Raúl Mandrini se graduó de Profesor de Historia en la Universidad de Buenos Aires. Se desempeñó
como docente en las Universidades Nacionales de Buenos Aires (UBA), Lomas de Zamora (UNLZ),
Salta (UNSa), del Centro de la Provincia de Buenos Aires (UNCPBA), Rosario (UNR), y Luján
(UNLu). Se inició en la UBA como Ayudante de Trabajos Prácticos en 1965, culminando como
Profesor titular en las tres últimas. Por razones políticas permaneció alejado de la vida académica
entre 1975 y 1983. Entre enero y marzo de 1989 fue profesor invitado en la Universidad Autónoma
de Puebla (México). En la UNCPBA, se desempeñó como Profesor Titular con dedicación exclusiva,
cargo obtenido por concurso público en 1985, por segunda vez en 1991, renovado por el Consejo
Superior en 1996, y renovado nuevamente por Concurso Público en 2004, teniendo a su cargo
las cátedras de Historia General II (Antigua) e Historia de América I (Prehispánica). Renunció
por jubilación en abril de 2009. Dictó además, como profesor invitado o visitante, seminarios y
cursos especiales de grado y postgrado en universidades argentinas y del exterior (México, Uruguay,
Chile, España). Inició su trabajo en investigación como Auxiliar de Investigaciones en el Instituto de
Historia Antigua Oriental de la Facultad de Filosofía y Letras de la UBA entre 1965 y 1972. Durante
1985 fue becario del Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas (CONICET) de
la República Argentina, y adscripto al Instituto de Ciencias Antropológicas de la UBA. Ingresó por
concurso al Sistema de Apoyo para Investigadores Universitarios (SAPIU) de CONICET. Desde su
fundación en 1986, y hasta su jubilación en 2009, fue investigador titular del Instituto de Estudios
Histórico-Sociales de la UNCPBA, institución de la que fue director entre 1992 y 2000. Fue además
investigador visitante en el Instituto de Investigaciones Antropológicas de la Universidad Nacional
Autónoma de México, el Centro Nacional Patagónico dependiente del CONICET, la Ecole des
Hautes Etudes en Sciences Sociales y la Universitat de Girona. Desde 2010 y hasta su fallecimiento
fue Investigador adscripto, con categoría de Profesor Titular interino (ad-honorem), en el Museo
Etnográfico “Juan Bautista Ambrosetti” dependiente de la Facultad de Filosofía y Letras de
la Universidad de Buenos Aires. Participó en congresos y jornadas científicas en Argentina y el
exterior con presentación de ponencias; dictó seminarios, conferencias y cursillos sobre temas de
su especialidad en instituciones públicas y privadas de distintas ciudades de la Argentina (Buenos
Aires, Bahía Blanca, Azul, Tandil, Balcarce, Olavarría, Salta, Jujuy, Río Gallegos, Mar del Plata,
Posadas, Trelew, La Plata, Venado Tuerto, Carmen de Patagones, Santa Rosa, Neuquén, Necochea
y Puerto Madryn) y del exterior (México, Monterrey, Saltillo, Temuco, Montevideo, Madrid,
Barcelona, Gerona, Huelva, Sevilla, Cádiz, Providence, Pittsburgh y Filadelfia).
3
MANDRINI, Raúl. La Argentina aborigen. De los primeros pobladores a 1910. Buenos Aires: Siglo
XXI Editores, 2008.
Resenha recebida em 11 fev. 2016.
Aprovada em 25 mai. 2016.
4
Raúl J. Mandrini publicó Volver al país de los araucanos (en coautoría con Sara Ortelli, Buenos
Aires: Sudamericana, 1992), Las fronteras hispanocriollas del mundo indígena latinoamericano
en los siglos XVIII y XIX. Un estudio comparativo (compilado junto a Carlos Paz, Tandil: IEHS-
UNICEN, 2002), Los indígenas de la Argentina. La visión del “otro” (Buenos Aires: Eudeba, 2004),
Vivir entre dos mundos. Las fronteras del sur de la Argentina. Siglos XVIII-XIX (Buenos Aires:
Taurus, 2006) y Sociedades en movimiento. Los pueblos indígenas de América Latina en el siglo
XIX (compilado junto a Antonio Escobar y Sara Ortelli, Tandil: IEHS-UNICEN, 2007).
AURELL, Jaume; BALMACEDA, Catalina; BURKE, Peter & SOZA, Felipe. Comprender
el pasado: una historia de la escritura y el pensamiento histórico. Madrid: Ediciones
Akal, 2013, 494 p.
1
Este texto é resultado de um estágio de pesquisa realizado na Universidade de Sevilha, Espanha,
entre janeiro e fevereiro de 2016, com bolsa do Programa de Movilidad de Profesores e Investigadores
Brasil-España, da Fundación Carolina.
2
Doutor em História pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Campus de
Assis. Professor Livre-Docente do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em História
da Faculdade de Ciências e Letras da UNESP Assis. Coordenador do MEMENTO – Grupo de
Pesquisa de Memórias, Trajetórias e Biografias (UNESP Assis/ Diretório CNPq). E-Mail: <wilton@
assis.unesp.br>.
3
CARDOSO, Ciro Flamarion & VAINFAS, Ronaldo (orgs.). Domínios da História: ensaios de teoria
e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
4
CARDOSO, Ciro Flamarion & VAINFAS, Ronaldo (orgs.). Novos domínios da História. Rio de
inquiries, from Herodotus and Thucydides to the Twentieth Century”. The Guardian, Londres, 15
dez. 2007. Disponível em: <http://www.theguardian.com/>. Acesso em: 20 out. 2015.
10
DAVIS, Natalie Zemon. O retorno de Martin Guerre. Tradução de Denise Bottmann. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1987.
11
WOOLF, Daniel (org.). A global ecyclopedia of historical writing. Londres: Taylor & Francis; Nova
York: Routledge, 1998.
12
Professor de Antiguidade Clássica na Universidade de Princenton, EUA.
13
Professor da História de Religiões na Universidade da Carolina do Norte, EUA.
14
Professora de História das Religiões na Universidade de Oxford, Reino Unido.
15
Professor da Universidade de Nova York, especializado em História islâmica.
16
Professor da Universidade de Harvard, EUA, especialista em literatura e estudos pós-coloniais.
17
Professor da área de Teoria da História e Historiografia da Universidade Yamanashi, Kyoto, Japão.
18
Professor de História Moderna e de Historiografia da Universidade de Turim, Itália.
19
Professor da Queen’s University, Kingston, Canadá.
20
Professor da Universidade de Melbourne, Austrália.
21
Professor especialista em História da América Latina da Universidade de York, Toronto, Canadá.
22
Professor da Academia Húngara de Ciências, Budapeste, Hungria.
23
Professor da Universidade de Gottingen, Alemanha.
24
AUERBACH, Erich. Mimésis: a representação da realidade na Literatura Ocidental. Tradução de
G. B. Sperber. 6. ed. São Paulo: Perspectiva, 2015.
25
Sobre História e historiografia da/na América Latina, ver também: MAIGUASHCA, Juan. “História
marxista latino-americana: nascimento, queda e ressurreição”. Almanack, São Paulo, UNIFESP, n.
7, mai. 2014, p. 95-116. Disponível em: <http://www.almanack.unifesp.br/>. Acesso em: 21 out.
2015.
Resenha recebida em 18 mai. 2016.
Aprovada em 05 jun. 2016.