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Poderes e Sociabilidades
na História.
UFPE – Recife, 03 a 07 de novembro de 2008
Resumo:
Este artigo se propõe a fazer uma análise a respeito da romaria a São Severino dos Ramos, a
partir da História Cultural, sendo de fundamental importância para este estudo uma leitura das
visões dos autores Carlos Steil e Berger. A romaria feita ao Santuário tem como principal
finalidade, inicialmente, o agradecimento pela graça alcançada por parte dos fiéis ou apenas a
confirmação da devoção dos mesmos ao santo. A romaria ao local sagrado constitui uma
tradição, alimentada desde a tenra infância do devoto. Observaremos o Santuário através da
devoção do romeiro, do turismo religioso e a crença do poder da imagem. A experiência da
romaria está centrada na participação e no compromisso religioso e é uma característica cultural
de um povo, o qual mantém uma “velha” tradição de procura do sagrado. Quando o homem elege
uma imagem como santa, lhe dá um valor de cura e realização de milagres.
Palavras Chaves:
Romaria, Turismo Religioso, Santuário, São Severino do Ramos
Abstract:
This article intends to analyze the religious travels to São Severino dos Ramos, from a Cultural
History point of view, being important to this study the reading of the authors Carlos Steil e
Berger. The religious trip to the sanctuary has, as its principal function, the showing of the
gratitude of the believers, or only the confirmation of the devotion to that saint. The religious trip
to that sacred place is a tradition that exists since the early childhood of the believer. We will
look to this sanctuary through the believer’s devotion, the religious tourism and through the belief
*
Graduanda do 4º período de História da Universidade Federal de Pernambuco. E-mail: acparamos@hotmail .com
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in the power of the image. The experience of the religious trip is centered in the participation and
in the religious commitment and is a cultural feature of one nation, that tries to keep an “old”
tradition of the search for the sacred. When the man elects an image as a saint, he gives it a value
of healing and miraculous acts.
Key-words:
Religious Journey, Religious Turism, Sanctuary, São Severino do Ramos
INTRODUÇÃO
A fé é a busca do homem para dar sentido a sua existência pressupondo-se que se originou
de um ser divino. Coexistindo uma ligação com o sobrenatural, o homem procura colocar valores
de poder a imagens e objetos. Esse, por sua vez, o ajudará na realização de seus desejos e
expectativas.
De acordo com Azzi, a romaria: é a visitação que o povo faz ao Santuário ou centro de
devoção, seja como expressão de veneração ao santo, seja como cumprimento de promessas pelas
já recebidas (AZZI, 1977 APUD MARINHO, 2008. 33-34). A ida ao Santuário trata-se de uma
busca do sagrado. A jornada geralmente é vivida como um ritual de purificação e aproximação
(STEIL, 1996:104)
Através das romarias é possível compreender transformações que estão ocorrendo no
contexto social e religioso na atualidade. Estas oferecem um vasto conjunto de signos, símbolos e
ritos que os romeiros utilizam para lidar com as novas situações colocadas pela modernização.
(STEIL, 1996:59)
Na perspectiva de Alba Marinho, a experiência da romaria está centrada na participação, no
compromisso religioso e é uma característica cultural de um povo, o qual mantém uma velha
tradição, passada de pai para filho (MARINHO, 2008:34). Berger, teorizando sobre essa
característica social, observou, que: toda atividade humana está sujeita ao hábito. Essa ação é
freqüentemente repetida pelo grupo que o faz. Esse grupo, ao criar o hábito, o passa entre os
membros caracterizando esse processo; desta forma institucionalizam o hábito dentro do grupo e
as ações habituais são partilhadas pelos participantes (BERGER, 2000: 77-79).
A romaria ao local sagrado é uma tradição alimentada desde a infância do devoto. Cria-se
o costume de procurar, nos momentos de angustia, o Santo do qual se é devoto. O homem se vê
limitado diante dos seus problemas e condicionado a procurar o santo nas horas de aflição. Logo,
ele o procurará e pedirá sua ajuda, tendo por pretensão conseguir sua intervenção junto a Deus.
Na visão de Steil, “a romaria conecta o conteúdo universal do catolicismo ao local e situa o
seu significados num espaço concreto que se torna portador de mitos que tecem as narrativas que
circulam em torno do Santuário” (STEIL, 1996:23).
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Existe uma fidelidade entre o santo e o devoto, entretanto, esta tem como alicerce a
realização dos milagres. O devoto quando recebe sua graça cria um vinculo e enquanto
estiver acontecendo isso ele continuará acreditando . Se uma das partes falha, esse
vínculo se rompe, se perdendo a credibilidade. A sala dos milagres funciona como um
"termômetro"; se o espaço está repleto de ex-votos2 e continua recebendo novas peças,
é sinal que o santo continua fazendo milagres e merece a crença do devoto. Se ocorrer
o contrário, é indício de que está ocorrendo uma crise na crença e o santo corre o risco
de perder espaço na devoção. (PEREIRA, op. cit.)
Os ex-votos são testemunhas das graças alcançadas e conseqüentemente, dos pedidos feitos.
Portanto, eles terminam por fazer parte da demonstração da fé. Ao analisar transformações nos
ex-votos deixados nos Santuários, percebe-se uma mudança de desejos e expectativas do devoto.
Por conseguinte, notam-se transformações sócio-culturais que estão acontecendo na atualidade,
dentro de nosso contexto social. Isso faz com que a análise de tais ex-votos seja relevante para os
que buscam uma melhor compreensão dessas modificações sociais e culturais.
O romeiro se vê como alguém que está em busca de Deus, acreditando que através das
romarias poderá encontrar as respostas e o socorro para as suas necessidades. Desde o perdão
1
Para mais informações acessar o site: http://www.pucsp.br/rever/rv3_2003/t_pereira.htm
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Ex-votos são tipos variados de representações materiais que indicam que a graça foi alcançada pelo
devoto Esses materiais são deixados nos santuários como forma de agradecimento pela graça recebida.
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para seus pecados até a conquista de bens materiais o romeiro procuraria o santo por interesse,
como forma de conseguir seus desejos.
Confiante no poder divino e ciente de suas limitações, enquanto ser humano, o romeiro
segue um conjunto de práticas e ritos religiosos, que fazem parte, entre outras coisas,
as orações, as cantorias, as novenas, o rosário, os benditos e a doação dos ex-votos. A
multiplicidade dessas práticas religiosas, demonstra que, a religiosidade popular
continua proporcionando ao romeiro formas de catarse, maneiras de lidar com as
adversidades da vida (CARVALHO; NASCIMENTO; ROAZZI, 2005:2)
O romeiro acredita que para ser merecedor da graça do santo ele deverá se sacrificar. A ida
ao Santuário deve ser penosa, dolorosa, sacrificante, pois só dessa forma demonstrará sua fé e
devoção. O romeiro deve demonstrar sua fé através do sacrifício, demonstrando um real
compromisso com o santo.
A experiência da romaria está centrada na participação, no compromisso religioso e é uma
característica cultural de um povo, mantendo uma velha tradição como procura do sagrado.
Vale-me meu São Severino, proteja os seus Romeiros que vêm de longe
buscar os milagres verdadeiros, afastai do nosso lar olhos grandes e
macumbeiros. Quem tem fé neste Santo que possui esta Oração, não sofrerá
acidente nem também contradição. Tem as bênçãos Jesus e da Virgem da
Conceição. São Severino do Ramos livrai dos 3 dias de escuro e de vinda da
Besta Fera me botai num lugar seguro, defendei-me do inimigo e protegei o
meu futuro.
significados num espaço concreto que se torna portador de mitos que tecem as narrativas que
circulam em torno do Santuário” (STEIL, 1996:23).
O fluxo de romeiros que visitam o Santuário é contínuo, no entanto a maior quantidade de
romeiros que o freqüentam é aos domingos. O maior contingente de pessoas é no período do mês
de setembro até a chegada do Domingo de Ramos. Já que não se sabe com certeza a identidade
do santo, a população escolheu como dia de comemoração maior o Domingo de Ramos, domingo
anterior à data de crucificação de Jesus, provavelmente pelo santo ser encontrado no engenho
Ramos (MARINHO, 2008:101).
Observa-se que o maior fluxo de romeiros ocorre no verão, possivelmente esse costume foi
criado pela péssima estrutura que se tinha para se chegar ao engenho. Em período chuvoso era
intransitável a via de acesso ao engenho e ainda ocorria da antiga ponte ficar ilhada. Dessa
forma não existia a possibilidade da visitação ao Santuário.
A proliferação de devoção ao santo ocorreu a partir do “início do século XX, período em
que a capela do engenho foi ampliada, quando São Severino passou a ter um altar próprio,
acontecimento indicador de plena estabilização das romarias” (MARINHO, 2008: 49).
O primeiro relato encontrado sobre um milagre conferido a São Severino em terras
pernambucanas vem do ano de 1854. Provavelmente este não foi o primeiro e, seguramente, a
vinda da imagem do Santo precede esta data. O primeiro trecho da ferrovia que ligava Recife a
Pau d`Alho tinha sua estação de parada localizada no Engenho Ramos, bem ao lado da sua
capela. É possível que a partir daí tenha propagado a devoção. Provavelmente esta difusão tenha
uma estreita ligação com a construção da linha férrea, o que justificaria a necessidade da
ampliação da capela alguns anos depois, em 1906 (MARINHO, 2008:49).
No entanto, essa construção da estação perto da Igreja pode demonstrar algo diferente do
indicado por Alba. Segundo ela, já existia um fluxo de romaria ao santuário e pelo fato da estação
ter sido construida próximo à capela, foi aumentado o fluxo da romaria. Porém já deveria existir
uma crença nos poderes da Imagem que se encontrava na Igreja e conseqüentemente a procura do
Santo.
As romarias feitas ao Santuário são realizadas das mais variadas formas: grandes ou
pequenas, organizadas ou espontâneas, a pé, a cavalo, de ônibus, bicicletas, motocicletas, em
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paus-de-arara. Quando se procura São Severino, o faz com a intenção de demonstrar a gratidão
pela graça alcançada ou de ratificar sua devoção (CARVALHO, 2000:3)
Os romeiros de São Severino mesmo enfrentando, em alguns momentos, dificuldades
econômicas não deixam de realizar sua romaria, pois esse momento é uma realização pessoal.
Inclusive, como para os romeiros sua ida deve ser um sacrifício para assim demonstrar sua
devoção, ele enfrentará todas as dificuldades e irá ao Santuário (CARVALHO; NASCIMENTO;
ROAZZI, 2005:3)
As romarias são geralmente organizadas de forma espontânea, através do fretamento de
ônibus, sem a intermediação de agências de viagens. Os romeiros realizam sua própria expedição
ao engenho a fim de demonstrarem sua devoção ao santo (MARINHO, 2008:35)
Segundo Carvalho, muitas pessoas que realizam a romaria ao Santuário fazem porque
possuem diversos problemas pessoais de diferentes ordens e anseiam pela intervenção divina na
resolução de tais questões. Realizam assim um tipo de comércio com Deus. O pedido nem
sempre é feito com fé, mas sim por hábito. Esses romeiros insistem no pedido sem demonstrar
muita fé, amor, e a submissão que normalmente acompanha o pedido (CARVALHO, 2000: 21).
Os Romeiros clamam a São Severino para que ele seja seu interlocutor com Deus, na
esperança que o Santo os interceda e dessa forma conseguirem realizar seus pedidos. Os pedidos
feitos podem ser classificados em três categorias:
Referentes às causas naturais – secas, enchentes; as que são originadas pela
sociedade – o desemprego, a pobreza, a fome, a violência, os crimes, a falta de acesso
à saúde e a educação, entre outros; e as que devem, sobretudo, a condição de
fragilidade do próprio homem, frente aos problemas decorrentes do mundo em que vive
– vícios de álcool ou drogas, violência doméstica, dissolução de
famílias.(CARVALHO; NASCIMENTO;ROAZZI, 2005:2)
peregrinação religiosa com a mesma essência e finalidade inicial. Suas práticas ultrapassam os
limites de um simples evento religioso, e através desses momentos, os romeiros podem vivenciar
sua fé, participando de uma celebração coletiva em que todos se renovam (CARVALHO;
NASCIMENTO; ROAZZI, 2005: 1-2)
A área da romaria não se restringe apenas a capela; ao lado dela encontra-se o “museu dos
milagres”3·, onde estão objetos que testemunham os milagres alcançados. Existe um variado
acervo de ex-votos como demonstração da graça alcançada: partes do corpo humano em gesso e
madeira, estatuetas de animais e imagens de bebês de plástico ou gesso. Ainda existe um grande
acervo de fotos que pode ser encontrado dentro de uma caixa na própria igreja ou no “museu dos
milagres”. Dentre essas fotos, curiosamente existe uma grande quantidade de fotos de animais,
em agradecimento pela aquisição do próprio animal pela família ou a cura do mesmo. Podem ser
encontrados ainda santinhos de candidatos. “Os votos colocam os romeiros em movimento e são
o motor permanente de criação, perpetuação e vitalidade das romarias” (STEIL: 1996:104)
Em torno do Santuário podem ser encontrados os mais diversos artigos sendo
comercializados. Esses produtos vão desde gêneros alimentícios até objetos artesanais que
possuem ligação com a imagem do santo.
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Local onde se encontra os ex-votos deixados a São Severino do Ramos.
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de realizarem viagens como forma de diversão, com isso, a sua visita ao santuário é para eles
uma forma de lazer. (CARVALHO; NASCIMENTO; ROAZZI, 2005:2).
Os visitantes não se vêem como turistas, mas sim como romeiros. O termo “turismo
religioso” é utilizado no contexto político-administrativo institucionais, que tem explicito
interesse econômico dentro do espaço econômico e percebe que o Santuário é um espaço no qual
existem possibilidades reais dentro do contexto turístico. (MARINHO, 2008: 152)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Campos, com o interesse de conseguir o apoio dos Paudalhenses, fez como promessa de
campanha, em um discurso na cidade, a desapropriação do Santuário.
REFERÊNCIAS
CARVALHO, Adriany Rosa de Matos. Perfil dos Romeiros de São Severino dos Ramos: um
estudo exploratório. Trabalho apresentado no 5º Congreso Latinoamericano de Ciencias de la
Comunicación –ALAIC, Chile, 2000.
MARINHO, Alba Lúcia da Silva. O sagrado na teia das redes geográficas do turismo em
Pernambuco: Um estudo sobre o Santuário de São Severino Paudalho – Pernambuco. Recife:
UFPE, 2008. 175 p, Tese (Mestrado) – Programa de Pós-graduação em Geografia, Universidade
Federal do Recife, 2008.
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