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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ANÁPOLIS - UniEVANGÉLICA


PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA INTERCULTURAL

PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE RELIGIOSA DOS


DEVOTOS DE PADRE CÍCERO ROMÃO BATISTA (1844-1934) EM
JUAZEIRO DO NORTE - CE

GALAOR LINHARES TUPAN JUNIOR


SAULO PINHEIRO DE NOVAES DA SILVA
ULISSES ANTÔNIO MOREIRA GUEDES

ANÁPOLIS - GO
2018
1

GALAOR LINHARES TUPAN JUNIOR


SAULO PINHEIRO DE NOVAES DA SILVA
ULISSES ANTÔNIO MOREIRA GUEDES

PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE RELIGIOSA DOS


DEVOTOS DE PADRE CÍCERO ROMÃO BATISTA (1844-1934) EM
JUAZEIRO DO NORTE - CE

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Centro Universitário de
Anápolis-UniEVANGÉLICA como requisito
final para a obtenção do Título de
Especialista em Antropologia Intercultural.
Sob orientação do Prof° Me. Mário Igor
Shimura.

ANÁPOLIS - GO
2018
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GALAOR LINHARES TUPAN JUNIOR


SAULO PINHEIRO DE NOVAES DA SILVA
ULISSES ANTÔNIO MOREIRA GUEDES

PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE RELIGIOSA DOS


DEVOTOS DE PADRE CÍCERO ROMÃO BATISTA (1844-1934) EM
JUAZEIRO DO NORTE - CE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro Universitário de Anápolis -


UniEVANGÉLICA como requisito final para a obtenção do Título de Especialista em
Antropologia Intercultural

Anápolis, 30 de outubro de 2018.

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________
Professor, Me. Mário Igor Shimura
Orientador

________________________________________________
Professor, Me. Marcos Flávio Portela Veras
Convidado

________________________________________________
Professor, Me. Ricardo Lopes Dias
Convidado
4
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PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE RELIGIOSA DOS


DEVOTOS DE PADRE CÍCERO ROMÃO BATISTA (1844-1934) EM
JUAZEIRO DO NORTE - CE

Galaor Linhares Tupan Junior1


Saulo Pinheiro De Novaes Da Silva2
Ulisses Antônio Moreira Guedes3
Orientador: Igor Shimura4

Resumo: A religião desempenha papel fundamental na sociedade e age influenciando o


comportamento dos indivíduos. Nesse sentido, buscamos identificar e compreender em nosso
trabalho quais são os elementos presentes na construção da identidade religiosa dos devotos de
padre Cícero Romão Batista, em Juazeiro do Norte. Observamos que toda a construção social dessa
cidade foi desenvolvida em torno da figura principal de Cícero Romão Batista. A partir do milagre da
Beata Maria de Araújo, em que a hóstia ministrada a ela se transformava em sangue em sua boca,
padre Cícero passou a receber fortes sanções da igreja Católica. Sua história de rejeição e
excomunhão da igreja Católica, foi combustível para torná-lo figura de forte influência e poder
espiritual, passando a congregar em torno de si muitos devotos. Através de revisão bibliográfica e
observação participante concluímos que o processo de construção de identidade religiosa é
influenciado pela tradição familiar, pela intensa presença dos símbolos religiosos na cidade de
Juazeiro do Norte e pela forte identificação que os devotos encontram na pessoa de padre Cícero.

Palavras-Chave: identidade, Devoto, Milagre, padre Cícero, Juazeiro do Norte, Tradição e


Identificação.

Abstract: The religion develops a basal function in society and acts influencing individuals behavior.
In this sense, we seek to identify and understand in our work the elements that are in the construction
of the religious organization of the devotees of priest Cícero Romão Batista, in Juazeiro do Norte. We
observe that all the social construction of this city was developed around the main figure of Cícero
Romão Batista. From the miracle of the Beata Maria de Araújo, in which a communion wafer
ministered to her is transformed into blood, priest Cicero began to receive strong sanctions from
Catholic church. His history of rejection and excommunion of the Catholic church was used to make
him an icon of strong impact and spiritual power, massing many followers. Through the bibliographical
review and participant observation, we conclude that the process of construction of religious identity is
influenced by familiar tradition, by the vivid presence of symbols in the city of Juazeiro do Norte and by
the strong identification that the devotees find in the person of priest Cicero.

Key Words: identity, Devotee, Miracle, priest Cicero, Juazeiro do Norte, Tradition and Identification.

1
Graduado em agronomia pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Graduado em Teologia
pela Unicesumar – Centro Universitário de Maringá. Expecialização em Gestão de Negócios pela
Fundação Getúlio Vargas (MBA). Doutorando em Ministério pelo Centro Presbiteriano de Pós-
graduação AdrewJumper. galaorlinhares@gmail.com.
2
Graduado em Teologia pela Unicesumar – Centro Universitário de Maringá e pelo Instituto
Missionário Palavra da Vida – Norte (IMPV). saulopnsilva@gmail.com.
3
Graduado em Engenharia Elétrica pelo Centro Universitário (CESMAC). Especialização em
Segurança Ambiental pelo Faculdade Estácio de Alagoas. ulissesguedes@yahoo.com.br.
4
Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Pós-graduado em nível
de especialização em Antropologia Cultural pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná
(PUCPR). Pós-graduado em nível de especialização em Missão Urbana pela faculdade teológica Sul
Americana (FTSA). Graduado em Teologia pela Faculdade Teológica Sul Americana (FTSA).
Pesquisador pela Associação Social de Apoio Integral aos Ciganos (ASAIC).
amigosdosciganos@gmail.com.
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INTRODUÇÃO

Milhares de devotos de Padre Cícero Romão Batista são vistos em


caminhada pela ladeira do Horto até a estátua do padre. Na subida desse trajeto é
revelada a força da fé popular que se manifesta em todo o seu vigor. Alguns fiéis
percorrem o trajeto de joelhos como forma de penitência ou pagamento de
promessas. Muitos afirmam que a jornada representa a Via Crucis ou Via Sacra,
sendo os últimos passos de Jesus Cristo a caminho da crucificação.
Inúmeros símbolos religiosos que podem ser observados, como imagens,
crucifixos, medalhas e estatuas sacras, fazem de Juazeiro do Norte um lugar
sagrado e com forte sentido religioso. Essa sacralidade que a cidade adquire é
pautada nas crenças e na fé que os romeiros têm ao Padre Cícero e a Nossa
Senhora das Dores, padroeira da cidade.
Sendo o Brasil o país mais católico do mundo 5, com cerca de 172,2 milhões
de fiéis, existem alguns segmentos do catolicismo que se popularizam em
determinadas regiões, alterando a cultura local e a cosmovisão de um povo. Como
bem disse Jean-Paul Sartre (1905-1980): “nenhum ser humano nasce pronto, mas o
homem é, em sua essência, produto do meio em que vive, construído a partir de
suas relações sociais”. Diante dessa premissa, entendemos que a religião exerce
profunda influência na construção identitária do homem.
O intento desse artigo é verificar em que medida a identidade religiosa dos
devotos de Padre Cícero Romão Batista está interseccionada com a cultura local.
Analisaremos algumas hipóteses como: os adeptos recebem influência de seus
familiares na fase de infância; a presença dos símbolos religiosos influencia na
construção da identidade religiosa; a participação na romaria é um meio de
identificação com o objeto de culto.
Não observaremos ou opinaremos se hoje há mais ou menos participação
religiosa, nem quais religiões estão crescendo ou diminuindo em número de fiéis,
mas verificaremos quais são os aspectos que permanecem válidos para a
construção de identidade religiosa em nossa sociedade atual, tomando por base
essa amostra, e analisando também quais as mudanças que vem ocorrendo na
relação do indivíduo com a religião em nosso tempo.

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https://www.acidigital.com/noticias/estes-sao-os-10-paises-com-mais-catolicos-no-mundo-38163
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A metodologia utilizada para essa análise baseou-se em leitura bibliográfica


interdisciplinar para fundamentar o caminho teórico da investigação. Também foram
realizadas visitas de campo à cidade de Juazeiro do Norte, onde desenvolveu-se
observação participante, além de conversas informais e entrevistas junto a
historiadores e romeiros da região, com posterior análise e interpretação dos dados.
Primeiramente, será realizada uma fundamentação teórica sobre o processo
de construção de identidade, bem como um exame de alguns aspectos da religião,
para em seguida contextualizar o ambiente histórico e geográfico em que o processo
de construção de identidade religiosa se desenvolve. Essa seção tem como intuito
identificar elementos históricos que tiveram grande influência na sacralização do
Vale do Cariri e na construção da figura mítica de Padre Cícero Romão Batista, bem
como analisar como ocorreu a formação de Juazeiro do Norte como espaço sagrado
para muitos devotos do Nordeste, do Brasil e do mundo. Por último, realizaremos
uma análise de todas as informações coletadas, buscando elucidação das hipóteses
levantadas.

1 CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE

Antes de tratar o processo de formação da identidade religiosa dos devotos


de Padre Cícero Romão em Juazeiro do Norte - CE, é de suma importância
compreender o conceito de construção da identidade. Como funciona essa formação
identitária? Quem está por detrás da ação construtora? A identidade pode mudar ou
ela é fixa? O que é a “identidade”?
Falar sobre construção de identidade é uma questão complexa. Pode ser dito
que é a partir do conhecimento da identidade de um indivíduo que adquirimos a
compressão básica de um todo (sociedade). Mas ao mesmo tempo não tem como
generalizar nosso conhecimento de uma sociedade a partir de um indivíduo.
Zygmunt Bauman afirma no seu livro Identidade que ela "é um monte de problema, e
não uma campanha de tema único" (BAUMAN, 2005, p.18). Todos os indivíduos
são, de alguma forma, diferentes embora convivendo em uma mesma comunidade
onde compartilham da mesma cultura, por isso, trataremos a seguir de alguns
aspectos que colaboram para a construção da identidade.
1.1 Identidade e Memória
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Joël Candau (2011) aborda um tema relevante quando se trata da identidade.


Por saber que cada um possui sua experiência pessoal e, portanto, uma
singularidade quanto a sua própria identidade, a memória é um mecanismo de suma
importância no processo de construção identitária. Ele afirma que:

A memória, ao mesmo tempo em que nos modela, é também por nós


modelada. Isso resume perfeitamente a dialética da memória e da
identidade que se conjugam, se nutrem naturalmente, se apoiam uma na
outra para produzir uma trajetória de vida, uma história, um mito, uma
narrativa. Ao final, resta apenas o esquecimento. (CANDAU, 2011, p.16)

Sabendo que a memória é "geradora" de identidade, por outro lado, ela


moldará as decisões do indivíduo no presente baseando-se em fatos ocorridos no
passado. Em outras palavras, são “predisposições que vão levar os indivíduos a
‘incorporar’ certos aspectos particulares do passado, a fazer escolhas memoriais”
(CANDAU, 2011, p.19). Em resumo, para compreender a diferença entre memória e
identidade, Jöel Candau afirma que ambos são fenômenos distintos, a memória é
necessariamente anterior em relação à identidade, "essa última não é mais do que
uma representação ou um estado adquirido, enquanto que a memória é uma
faculdade presente desde o nascimento e a aparição da espécie humana"
(CANDAU, 2011, p.19).
Sabendo que a memória é um mecanismo de estrema importância para a
formação de identidade de um indivíduo, principalmente quando se sabe que sem
memória o indivíduo perde completamente a sua identidade, a influência da
sociedade é um forte instrumento de construção da identidade.

1.2 Identidade e a Sociedade


Roberto DaMatta, no seu livro Relativizando, trata o tema sociedade e cultura
como “categorias que revelam uma parcela semelhante da condição humana”
(DAMATTA, 2010, p.52). Embora exista uma série de especialistas que possuem
visões e opiniões diferentes, DaMatta discorre sobre o assunto descartando visões
ecléticas para afirmar que cultura e sociedade são parte de uma mesma coisa. Um
exemplo básico que ele apresenta para tratar esse conceito é o exemplo da
sociedade das formigas. As formigas formam uma sociedade que funciona por haver
divisões de responsabilidades e o mesmo objetivo, porém, elas não falam e nem
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produzem obras de artes que as diferenciem de uma para a outra. Elas até podem
mudar o cenário de um ambiente, porém vão fazer utilizando o mesmo método em
outros ambientes.
O autor, portanto, conclui que “entre as formigas (e outros animais sociais)
existe sociedade, mas não existe cultura” (DAMATTA, 2010, p.53). As formigas não
possuem cultura porque no meio delas “não existe uma tradição viva,
conscientemente elaborada que passe de geração em geração, que permita
individualizar ou tornar singular e única uma dada comunidade relativamente às
outras” (DAMATTA, 2010, p.53). No caso do ser humano, é impossível separar
sociedade de cultura porque ambos dependem um do outro seja para constituir uma
sociedade, seja para estabelecer uma cultura.
Sobre a tradição como um fator importante para a constituição de uma
cultura, ele afirma que:

Sem uma tradição, uma coletividade pode viver ordenadamente, mas não
tem consciência do seu estilo de vida. E ter consciência é poder ser
socializado, isto é, é se situar diante de uma lógica de inclusões necessárias
e exclusões fundamentais, num exaustivo e muitas vezes dramático diálogo
entre o que nós somos (ou queremos ser) e aquilo que os outros são e,
logicamente, nós não devemos ser. (DAMATTA, 2010, p.53)

Portanto, a tradição tem um papel importante na sociedade, como DaMatta


(2010, p.55) afirma: “Sociedades sem tradição são sistemas coletivos sem cultura”.
A tradição, ou a herança cultural, que é desenvolvida e construída por inúmeras
gerações, colabora para a construção da identidade do indivíduo e faz com que ele
sacie a necessidade que ele possui de pertencer a uma comunidade.
Ao mesmo tempo que uma tradição oferece o prazer do pertencimento ao
indivíduo, também faz com uma sociedade reaja de forma depreciativa em relação
ao “outro” que possui um pensamento ou comportamento diferente.

Até recentemente, por exemplo, o homossexual corria o risco de agressões


físicas quando era identificado numa via pública e ainda é objeto de termos
depreciativos. Tal fato representa um tipo de comportamento padronizado
por um sistema cultural. Esta atitude varia em outras culturas. Entre
algumas tribos das planícies norte-americanas, o homossexual era visto
como um ser dotado de propriedades mágicas, capaz de ser o mediador
entre o mundo social e o sobrenatural e, portanto, respeitado. (GEERTZ,
1989, p.67-68)
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A intenção de reportar esses aspectos divergentes da cultura é revelar a


grande diversidade de cosmovisões, comportamentos e estruturas sociais que
existem no mundo. A sociedade contribui para a formação da identidade de um
indivíduo e ela se torna “porto seguro” para tal. O ambiente se torna acolhedor,
confortável, aceitável. Por causa da identidade é que uma sociedade aceita o outro e
consequentemente contribui para que o indivíduo se sinta aceito por todos. Como
afirma Zygmund Bauman (2003, p.8) no seu livro Comunidade:

As palavras têm significado: algumas delas, porém, guardam sensações.


A palavra “comunidade” é uma dessas. Ela sugere uma coisa boa: o que
quer que “comunidade” signifique, é bom “ter uma comunidade,” “estar
numa comunidade”. Se alguém se afasta do caminho certo,
frequentemente explicamos sua conduta reprovável dizendo que “anda em
má companhia”. Se alguém se sente miserável, sofre muito e se
vê persistentemente privado de uma vida digna, logo acusamos a
sociedade — o modo como está organizada e como funciona. As
companhias ou a sociedade podem ser más; mas não a comunidade.
Comunidade, sentimos, é sempre uma coisa boa.

Por conta da “identificação”, seja na maneira de pensar dos integrantes


daquela sociedade, seja na comunicação, ou nos costumes que ela possui, a
comunidade oferece esse ambiente de conforto. A construção da identidade vem por
conta da influência da sociedade que possui características próprias, a fim de que o
indivíduo se sinta inserido em um grupo em que ele possa compartilhar dos mesmos
códigos culturais. Portanto, a comunidade é um ambiente preparado para recepção
de uma pessoa que ainda está em fase de construção de identidade ou que possua
os mesmos códigos, e ao mesmo tempo é um ambiente cheio de barreiras e
obstáculos para aqueles que possuem aspectos identitários completamente
divergentes daquela comunidade.

1.3 Identidade e a Diferença


Tadeu Silva (2014, p.76) afirma que "a identidade e a diferença são criações
sociais e culturais". No seu livro Identidade e diferença, o autor diz que para alguém
afirmar que possui uma identidade, ele, na verdade, está negando o que ele de fato
não é. Inicialmente parece ser muito fácil definir sua própria identidade.
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A identidade é simplesmente aquilo que se é: "sou brasileiro", "sou negro",


“sou heterossexual”, “sou jovem", "sou homem". A identidade assim
concebida parece ser uma positividade ("aquilo que sou"), uma
característica independente, um "fato" autónomo. Nessa perspectiva, a
identidade só tem como referência a si própria: ela é autocontida e
autossuficiente. (T. SILVA, 2014, p.74)

Assim como não dá para definir apenas a identidade olhando para si mesmo
como referência própria, só sabemos que somos aquilo porque nos deparamos com
o diferente. Portanto:

Em um mundo imaginário totalmente homogêneo, no qual todas as pessoas


partilhassem a mesma identidade, as afirmações de identidade não fariam
sentido. De certa forma, é exatamente isto que ocorre com nossa identidade
de "humanos". E apenas em circunstâncias muito raras e especiais que
precisamos afirmar que "somos humanos". (T. SILVA, 2014, p.74-75)

Não faz sentido, de acordo com Silva, identificar a identidade em uma


sociedade que compartilha das mesmas características, por isso que identidade e
diferença andam em total dependência. Dessa forma, entende-se que a identidade
se apoia em alguma comunidade (núcleo) que se diferenciará de muitos outros
núcleos. Porém, existe dois movimentos produzidos pela sociedade (ou pelos
núcleos) que fazem a construção de identidade oscilar: “de um lado, estão aqueles
processos que tendem a fixar e a estabilizar a identidade; de outro, os processos
que tendem a subvertê-la e a desestabilizá-la” (T. SILVA, 2014, p.84).
A tendência da sociedade pós-moderna é não ter um núcleo que irá produzir
identidades, isso acontece porque o próprio indivíduo se depara com uma
pluralidade de centros. Por outro lado, Laclau argumenta que este caso possui
implicações positivas “porque esse deslocamento indica que há muitos e diferentes
lugares a partir dos quais novas identidades podem emergir e a partir dos quais
novos sujeitos podem se expressar” (LACLAU apud T. SILVA, 2014, p.21).
Em muitos casos pode ser visto muitos fatores positivos surgidos por conta da
pós-modernidade, porém, não se deve ignorar também os fatores que podem causar
(e que em muitos casos, causam) uma desestrutura e instabilizarão social e crise de
identidade.
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1.4 Construção de Identidade Religiosa


No conceito Sociológico, a religião é um fenômeno social que corrobora com
a construção de uma sociedade e apresenta uma estrutura de identificação do grupo
por oferecer sistemas regulares ou comuns. Já na perspectiva do próprio religioso,
uma religião é definida a partir dos valores comuns que estruturam o grupo, isto é,
sua definição toma como base a própria essência do grupo.
O que a religião significa para o religioso não é importante para o pesquisador
sociólogo, pois o seu objetivo está em saber quais repercussões ela produz em uma
sociedade. Por isso, olhando pelo prisma da sociologia da religião, o fator religioso é
aquilo que une as pessoas em torno de algo em comum, profundamente relacionado
à crença e às práticas, e oferece ao indivíduo o sentimento de pertencimento ao seu
grupo. Durkheim afirma que:

Uma religião é um sistema solidário de crenças e de práticas relativas a


entidades sagradas, ou seja, separadas, interditas; crenças e práticas que
unem em uma mesma comunidade moral, chamada Igreja, todos os
aderentes. (DURKHEIM, 1996, p.59)

O autor não só revela esse poder que a religião tem de estruturação e


influência na sociedade, como também nos mostra que ela estabelece uma visão da
dualidade entre o que é sagrado e profano. Para ele, esse aspecto se encontra em
todas as religiões como ele mesmo afirma:

Todas as crenças religiosas conhecidas, sejam simples ou complexas,


apresentam um mesmo caráter comum: supõem uma classificação das
coisas, reais ou ideais, que os homens concebem, em duas classes, em
dois gêneros opostos, designados geralmente por dois termos distintos que
as palavras profano e sagrado traduzem bastante bem. (DURKHEIM, 1996,
p.19)

Ou seja, a religião introduz na vida das pessoas um “sistema de crenças e de


práticas”. Segundo Durkheim, a religião é um fenômeno coletivo, mas não pode
haver crenças moralmente impostas se não tiver um caráter sagrado para esses
seguidores, os fazendo distinguir suas atitudes, dentro dos rituais coletivos.
Qualquer coisa praticada, individualmente, que a religião seguida não aprova é
compreendido como profano.
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Uma característica importante sobre esse fenômeno religioso que contribui


para a formação da identidade é o que é apresentada por Berger (2003), sobre a
função que a religião tem na sociedade e, em resumo, ela possui uma influência
ativa. Ele afirma que elas tanto orientam a percepção da construção das coisas no
mundo, como também a sua manutenção.

Pode-se dizer, portanto, que a religião aparece na história quer como força
que sustenta, quer como força que abala o mundo. Nestas duas
manifestações, ela tem sido tanto alienante quanto desalienante. É mais
comum verificar-se o primeiro caso, devido a características intrínsecas da
religião como tal, mas há exemplos importantes do segundo. (BERGER,
2003, p.112)

Lembrando sobre a questão da alteridade, a religião não somente constrói,


mas destrói com outros pensamentos que são tidos como “diferentes” e que
ameaçam as suas próprias crenças. Não que o indivíduo dependa do “outro” para
afirmar a sua identidade, mas que, de certa forma, é gerado esse conflito por conta
da mentalidade do “outro” que se apresenta como uma verdade única, porém
conflitante com as afirmações dogmáticas.
Conclui-se que as religiões se estruturam baseadas nos rituais, nas crenças e
na conexão estabelecida com o espiritual e o indivíduo que se submete a essas
práticas e participa desses eventos religiosos, promove o processo de construção
identitária.

2 ASPECTOS DA RELIGIÃO

No século XIX, houve afirmações que na Terra do Fogo, os Fueguinos não


tinham religião. No entanto Ullmann (1991, p.161) destaca que não houve tempo de
permanência suficiente, nem a língua era conhecida. Logo não seria possível atestar
tal afirmação, sendo esses últimos “primordiais” para o entendimento de uma cultura
e sua religião. Embora o termo religião seja usado com ampla frequência, é fato que,
entre os Fueguinos não existe um termo claro que o identifique como tal. Eles
simplesmente as realizavam. Tais práticas os conduziam a relacionar-se com algo
superior. A ideia da Religião está atrelada ao sentido da etimologia da palavra.
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Religião é uma palavra derivada originalmente do Latim vinda de religio, que


significa “respeito pelo sagrado”. Religare ou Religari, que significa atar ou ligar com
firmeza. Essa ideia parece sustentada apenas na intenção de uma tentativa de ser
religado, como um elo que passou por ruptura. Ainda segundo Ullmann:

A religião pode ser definida como relação do ser humano ao fundamento de


sua própria natureza, existência e sentido. Subjaz, evidentemente, a essa
definição um pressuposto filosófico de que não carecem os primitivos.
Constitui, a religião, um elo existencial com um ser “estranho” ao mundo, um
ser “santo”, um ser não apenas diferente mas, na maioria dos casos, “outro”.
Dizemos não ser apenas diferente porque, de fato, casos há em que seres
humanos ou algo essencialmente humano são elevados à categoria de
divindade. (ULLMANN, 1991, p.162)

Além da etimologia da palavra, Piazza (1976, p.17), descreve visões distintas


da religião, considerando vários outros campos científicos: (1) Filosoficamente: a
religião recebe as mais diversas definições, comprometidas com as posições
epistemológicas de cada corrente filosófica, a ponto de ser tachada de “alienação”
no materialismo ateu; (2) Psicologicamente: a religião em frente da contingência e
da relatividade do mundo, que o leva a refugiar-se em um Absoluto de tipo sacral.
(3) Sociologicamente: a religião identifica-se com as estruturas criadas pela
sociedade (sacerdócio hierarquizado, cultos formalizados, doutrinas dogmatizadas);
(4) Teologicamente: a religião pode ser identificada com a própria fé ou pode ser
contraposta à fé, segundo nela se veja uma atitude de reverência autêntica para
com Deus, ou uma atitude exterior formalizada que oculta a face de Deus; (5)
Fenomenologicamente: a religião identifica-se com o culto prestado ao Sagrado,
quer este seja concebido como um Ser transcendente, um Deus antropomórfico ou
como um Absoluto impessoal.
Segundo Piazza (1976, p.17) deve-se levar em consideração os principais
elementos acima descritos. Podemos definir a religião como uma atitude de
submissão ao ser divino ou força dominante, que se manifesta nas crenças e ritos
determinados. O autor acima citado apresenta uma observação muito pertinente:

Não há religião sem experiência religiosa, isto é, sem que o homem tenha
experimentado pessoalmente, com maior ou menor intensidade, a realidade
de um poder superior ou de forças superiores que fundam e mantém a
existência do mundo e do próprio homem. (PIAZZA, 1976, p.11)
15

Além de todo embasamento teórico e suas principais descrições, o homem


precisa experenciar a religião. Essa experiência provoca no homem uma sensação
de encontrar-se em profundidade com os mistérios e isso além de provocar um certo
medo, é algo que exerce um grande fascínio. Mistério, porque é algo que vai além
da realidade. Temível, porque é superior até mesmo ao homem e foge do seu
controle. Fascinante, porque apresenta-se como a última razão de ser de todas as
coisas (PIAZZA, 1976, p.11).
Essa reação de atração ocorre por conta do aspecto misterioso que a crença
apresenta, como explica Durkheim:

Uma noção tida geralmente como característica de tudo o que é religião é a


de sobrenatural. Entende-se por isso toda ordem de coisas que ultrapassa o
alcance de nosso entendimento; o sobrenatural é o mundo do mistério, do
incognoscível, do incompreensível. A religião seria, portanto, uma espécie
de especulação sobre tudo o que escapa à ciência e, de maneira mais
geral, ao pensamento claro. (DURKHEIM, 1996, p.5)

Tanto Ullmann quanto Durkheim, concordam sobre o fascínio que o ambiente


místico exerce sobre os homens. O desconhecido é capaz de instigar o homem a
uma busca não apenas superficial, mas com profundidade. Isto pode conduzi-lo a se
submeter aos ritos de iniciação que a maioria das religiões exigem. Ele também faz
com que o indivíduo adquira uma habilidade de discernimento entre o que é sagrado
e profano. Durkheim (1996, p.19) afirma que todas as crenças conhecidas
apresentam essa característica de classificar as coisas reais das ideais, e os termos
profano e sagrado definem bem tudo isso.
Embora Durkheim trate desse aspecto como uma característica fundamental
da religião, Eliade (1992, p.13) vai mais afundo afirmando que o profano faz parte do
dia-a-dia do homem, ou seja, é parte integrante do cotidiano. Ele encontra-se
inserido num contexto de profanação, enquanto o sagrado é algo que se manifesta.
De acordo com Eliade (1992, p.13), o homem toma conhecimento do sagrado
porque este se manifesta, se mostra como algo absolutamente diferente do profano.
O autor sustenta que só há uma possibilidade de se tratar do Sagrado, que é a se
opondo diretamente ao Profano. A postura do homem moderno em relação ao
sagrado e o profano mostra o quanto esse tenta se desvencilhar dos seus
antepassados no tocante a postura religiosa.
16

O homem profano queira ou não, conserva ainda vestígios do


comportamento do homem religioso, mas esvaziado dos significados
religiosos. Faça o que fizer, é um herdeiro. Não pode abolir definitivamente
seu passado, porque ele próprio é produto desse passado. (ELIADE, 1992,
p.98)

Mesmo que o homem entre em negação, suas origens permanecerão


latentes, ou seja, ele não conseguirá se desligar completamente do seu histórico
religioso, embora sua ideia primaria seja andar em oposição as antigas crenças e se
manter em uma postura contrária e de descredito.

2.1 Fenomenologia da Religião: Símbolos, Ritos e Mitos


O termo fenômeno vem do grego fainomenon que significa: aquilo que
aparece, que se mostra, também do latim phaenomenom cujo significado é
semelhante. Piazza afirma diz que fenomenologia religiosa é: “o estudo do fato
religioso nas suas manifestações e expressões sensíveis, com a finalidade de
apreender o seu significado último” (PIAZZA, 1976, p.15).
Segundo Cássio Silva (2014, p.31) a conceituação do termo fenomenologia
da religião é uma tentativa de entender o significado dos aspectos da religião,
porém, seu significado se apresenta mais amplo do que de fato é, ou seja:

A Fenomenologia é uma tentativa de compreensão da essência da


experiência humana, seja ela psicológica, social, cultural ou religiosa, a
partir da análise das suas manifestações, que são chamadas de fenômenos.
(C. SILVA, 2014, p.31)

A fenomenologia da religião procura compreender a experiência religiosa a


partir da análise das suas manifestações, as quais se dão no cotidiano e atinge
todas as áreas da vida. Ele ainda fornece exemplos simples de como isso se dá na
prática, por exemplo, da forma de entrar e sair de uma casa, um gesto no momento
de caça ou de pesca expressam aspectos de religiosidade local (C. SILVA, 2014).
Esse mesmo autor também afirma que a experiência da religião iletrada é
quase que exclusivamente expressa por meio de símbolos, mitos e ritos que essas
três linguagens básicas anunciam uma experiência religiosa. A compreensão de
cada um deles ajuda-nos a perceber as demais manifestações. E para entender o
homem religioso de forma consistente, é necessário investigar o seu sistema
simbólico.
17

Os símbolos sugestionam uma substituição que o identifiquem apenas com


um emblema, sem que necessariamente esteja descrito de forma clara e explicativa.
O símbolo por si só nos remete a coisas, entidades, corporações, países, famílias
etc. De acordo com Marconi (2013, p.30), símbolos são realidades físicas ou
sensoriais às quais os indivíduos que os utilizam lhe atribuem valores ou significados
específicos. Comumente representam ou implicam coisas concretas ou abstratas.
“Os símbolos são na verdade, mais do que um tipo de linguagem. Além de
caracterizar-se como um meio de comunicação da experiência religiosa” (MARCONI,
2013, p.30).
Os símbolos comunicam tal experiência e a torna compreensível aos que se
expõem a ela como bem falou Cássio Silva: “fornece todo o pano de fundo para o
mito e o rito, estando necessariamente presente neles. Por isso sem simbolismo não
há comunicação religiosa” (C. SILVA, 2014, p.87). Portanto os símbolos ocupam um
papel relevante e é através dele que a experiência religiosa deixa de ser restrita a
um grupo e comunica a outrem. Cássio ainda afirma que a função do símbolo é levar
o indivíduo a uma realidade, e não a outro símbolo. “Há, portanto, uma
transignificação dos objetos quando estes adquirem qualidade simbólica – não
apenas dos objetos, mas também dos gestos, dos atos e da fala” (C. SILVA, 2014,
p.88).
De acordo com Marconi, a simbolização é um veículo eficaz da propagação
do conhecimento de geração a geração. É uma forma também de não sofrerem
perda cultural. Os símbolos promovem significados as coisas básicas fornecidas
pelos sentidos, como forma de registros.

Eles resguardam os valores considerados básicos para a perpetuação da


cultura e da sociedade. A criação deles consiste, basicamente, na
associação de significados aquilo que se pode perceber pelos sentidos, ou
seja, ver, ouvir, tocar, cheirar. (MARCONI, 2007, p.31)

Ainda nas palavras de Cássio Silva (2014, p.86), é o simbolismo que traz
sentido ao universo e facilita a comunicação da expressão religiosa. Os principais
fundamentos da religiosidade estão expressos nos mitos, pois são eles que
fornecem modelos para a prática religiosa.
18

Os símbolos são criados a partir da crença em um mito. E para definir esse


aspecto da religião, Piazza, faz uma lista citando vários autores com seus
respectivos conceitos e pensamentos, porém, em cada vertente que é tratada, seja
no prisma da filosofia, da psicologia e de outros que buscam responder essa
questão, Piazza (1976, p.133) sugere que, mesmo sendo afirmações importantes,
prejudicaram uma correta compreensão a respeito do mito. É bem verdade que
muitos autores carregaram suas definições de possibilidades e interpretações,
conforme Eliade nos aponta:

O mito conta uma história sagrada, quer dizer, um acontecimento primordial


que teve lugar no começo do Tempo, ab initio? Mas contar uma história
sagrada equivale a revelar um mistério, pois os personagens do mito não
são seres humanos: são deuses ou Heróis civilizadores. [...] O mito
proclama a aparição de uma nova “situação” cósmica ou de um
acontecimento primordial. Portanto é sempre a narração de uma “criação”.
(ELIADE, 1992, p.50)

Por consequência da crença em um mito, o indivíduo se submete a práticas


ritualísticas. De acordo com Cássio Silva (2014, p.124), o homem religioso vai além
da narrativa do mito e passa a gesticulá-lo, ou seja, o rito é a prática, é a repetição
dos gestos, o rito é o mais visível, o que aparece. Logo é possível compreender que
há uma dependência do rito em relação ao símbolo, já que é gestual.
Essa transitoriedade, que é a vida, apoia-se nessa visão, o homem precisa de
significado para sua existência e os ritos marcam esse tempo, trazendo sentido às
etapas da vida, afirmando o indivíduo e o colocando em uma condição existencial
mais definida.

De modo geral, os ritos de passagem denotam a sensibilidade das pessoas


com relação ao dinamismo da própria existência humana. O peregrinar do
homem através de sua existência envolve uma gama enorme de situações,
de transformação, de passagem, de metamorfose. No plano biológico o
indivíduo nasce, cresce, se reproduz, envelhece e morre. No plano social
acontece algo semelhante. A ocupação das várias posições sociais implica
em modificações substanciais na vida das pessoas. De resto, o dinamismo
e o movimento – a vida – atinge todo o cenário em que tem lugar a vida
social dos povos. Por isso adquire significado a própria transformação
cíclica do ambiente: o movimento da lua e do sol, a mudança das estações
climáticas (primavera, verão, outono e inverno). (MELLO, 1982, p.409)
19

As fases cíclicas e a problemática existencial é contemplada pelo rito por


causa dessas mudanças naturais que ocorre na trajetória humana, bem como
acompanha diretamente essas etapas.
Os ritos eternizam momentos emocionais relevantes na vida dos que o
realizam, marcando mudanças, bem como registrando fases boas e ruins, tais como
os eventos comemorativos ou de luto. O que parece comum aos autores é que
existem vários ritos que endossam esses momentos de forma organizada e
sequenciada. Cada rito em seu tempo marcam a passagem de algo significativo.
Para Cássio Silva (2014, p.127), descobrir o significado do Rito não é uma
tarefa fácil, pois, às vezes, nem o próprio homem religioso tem uma noção clara
dele. O rito é dependente do símbolo, pois, sem o pano de fundo simbólico, os
gestos perdem o sentido.
Nesse momento será iniciado duas avaliações importantes para análise do
processo de construção de identidade religiosa dos devotos de Padre Cícero Romão
Batista, sobre a história e o espaço geográfico no qual se organizou a cidade,
nitidamente marcado por uma estrutura de crenças, de símbolos, de imagens e
significações que se desenvolveram, principalmente em torno da figura de Padre
Cícero, fazendo de Juazeiro do Norte um espaço sagrado para muitos devotos de
todos os lugares do Nordeste, do Brasil e do mundo.
Considerando as abordagens apresentadas por Durkheim, a conceituação de
Woodword (2014, p.9) nos auxilia quando o autor relata que os elementos que
configuram a identidade sempre são estabelecidos em contraste com a diferença e
com o outro, consolidando-se num processo de construção. Como a identidade
adquire sentido pela linguagem e pelos sistemas simbólicos, esses elementos pelos
quais cada religião é representada, verificados em uma sociedade, encontram papel
relevante e fundamental na consolidação da identidade.
À luz desses elementos presentes na sociedade pontuados por Woodword
(2017, p.11), consideramos que o passado foi um ponto de partida muito importante
para construção da identidade religiosa dos devotos de Padre Cícero, uma vez que
os argumento sobre o passado e aquilo que é tratado como verdade histórica a todo
momento reafirmam a crença professada no presente pelos devotos.
20

3 A HISTÓRIA DA DEVOÇÃO A PADRE CÍCERO EM JUAZEIRO DO


NORTE-CE

Em caminhada pela Ladeira do Horto, como é chamada a estrada que conduz


os romeiros até a estátua de Padre Cícero Romão Batista, na Serra do Catolé, pode-
se ler a frase pintada em um muro: “No Juazeiro, só o PADRE CÍCERO foi e será
GRANDE. Os outros ... passam. Só Ele fica”. Considerado por muitos um santo
milagreiro, um herói histórico, ou um grande líder político, padre Cícero ainda
mobiliza e influencia milhares de nordestinos. Mas afinal de contas, quem foi e como
se construiu a devoção a padre Cícero Romão Batista?
Para o povo de Juazeiro do Norte, padre Cícero representa um sacerdote
santo, com virtudes únicas, representa um mártir da fé, um grande líder político que
soube compreender e tratar a questão social do Nordeste. Um homem que olhou
para os pobres, um padre que se tornou santo no coração de seus devotos, ainda
que não beatificado, nem canonizado pela igreja católica.
Para os devotos, Padre Cícero não foi somente um homem que teve uma
existência tangível, mas transformou-se num mito numa representação da divindade,
numa comunicação com o sagrado e na interferência do divino no plano terreno,
tendo tudo começado com o suposto milagre da hóstia que se transformava em
sangue na boca da beata 6 Maria de Araújo. De acordo com a teoria de Lidório (2014,
p.90) padre Cícero pode ser classificado como um mito messiânico por ser um
personagem que trouxe salvação para o povo.
Segundo Neto (2009, p.24) Cícero Romão Batista nasceu na cidade do Crato
em 24 de março de 1844, era filho de Joaquim Romão Batista e Joaquina Vicência
Romana, a dona Quinô. Um fato importante que marcou a sua infância foi o voto de
castidade feito aos 12 anos de idade, influenciado pela leitura da vida de São
Francisco de Sales. Cícero tinha 18 anos quando o pai morreu de cólera e isso
trouxe sérios problemas financeiros à família, tanto que o seu ingresso no Seminário
da Prainha, em Fortaleza, em 1865, só foi possível com a ajuda do seu padrinho o
coronel Luiz Antônio Alves Pequeno. Foi na Prainha que aconteceu, no dia 30 de
novembro de 1870, sua ordenação.

6
Segundo Cava (2014, p.69, 154), o termo “beata” era um título inaugurado e concedido, na década de 1860, por
Padre José Maria Ibiapina às mulheres piedosas que faziam parte de uma organização religiosa de freiras. Os
beatos eram a versão masculina das beatas, que viviam rezando, visitando enfermos, enterrando mortos e dando
recados em nome de Padre Cícero.
21

No século XIX, três imensas figuras se preocuparam com o povo nordestino:


o padre Ibiapina (matriz de todo o movimento do catolicismo sertanejo popular), o
padre Cícero Romão Batista e Antônio Conselheiro, os quais instituíram uma grande
escuta das aflições do povo, entretanto, Neto (2014, p.33) informa que:

Antigas crenças indígenas, uma vez mescladas à tradição lusitana do culto


aos santos protetores, geravam uma devoção permeada de livres
reinterpretações da fé católica, baseadas em elementos mágicos e
sobrenaturais. As penitências e o sentimento de expiação dialogavam, sem
cerimônias, com as celebrações coloridas e dançantes nas festas anuais
dos padroeiros.

Assim era a religião do sertão nordestino, mística e sincrética, permeada pela


influência do catolicismo colonial, coexistindo com crenças e práticas que lhe eram
estranhas, como o candomblé, as pajelanças, a presença de rezadores
especializados, os benzedores e curandeiros. Enfim, aspectos tidos como profanos
dentro da ortodoxia católica romana, como nos aponta Negrão (2008, p.266).
Nesse sentido, padre José Maria Ibiapina era um dos expoentes do
catolicismo colonial, “cruzou o sertão nordestino a pé, erigindo capelas, erguendo
escolas, construindo açudes, abrindo hospitais para os pobres, sempre em regime
de mutirão” (NETO, 2009, p.28). Sem autorização de Roma, nem do bispado
brasileiro, fundou as casas de caridade que acolhiam mulheres e viúvas para
trabalhar e orar, as beatas.
Padre Ibiapina exigia que as beatas usassem hábito e fizessem profissão de
votos, trabalhassem fisicamente e desenvolvessem práticas de devoção religiosa.
Esse padre foi um modelo em quem padre Cícero se espelhou para seguir seu plano
de evangelização, procurando perceber as necessidades concretas que o povo
vivenciava em seu cotidiano.
Segundo Neto (2009, p.45), em dezembro de 1871 padre Cícero celebra a
missa de natal no pequeno povoado de Juazeiro, na capela de Nossa Senhora das
Dores. Em 1872 padre Cícero fixa residência em Juazeiro, um aglomerado de
poucas casas de taipa e a pequena Capela de Nossa Senhora das Dores, mas
também um núcleo de arruaça, com prostituição, jogatina, samba e muita bebedeira.
Conforme cita Cava sua presença marcante muda definitivamente a história do
povoado:
22

Padre Cícero não era contrário à punição pública de pecadores. Proibiu as


danças, fez com que os homens parassem de beber e obrigou as prostitutas
a confessar seus pecados, cumprindo penitências públicas e emendando
suas vidas. (CAVA, 2014, p.79,80)

Os historiadores relatam que padre Cícero resolveu trabalhar em Juazeiro


porque teve uma revelação através de um sonho. Neto (2009, p.44) e Cava (2014,
p.56-57) descrevem que sonhou que estava dormindo em uma rede no quartinho da
escola e acordou com o movimento na sala ao lado. Levantou-se e foi até a porta e
escondido presenciou a cena, tudo em sonho. Jesus, seguido dos 12 apóstolos,
entrou na sala e os fez sentar à mesa, igual ao quadro da ceia de Leonardo da Vinci,
a diferença é que Cristo, ao contrário do simples manto azul sobre a túnica vermelha
com que aparecia na célebre tela do pintor renascentista, trazia o peito em chamas,
a exemplo das gravuras populares do Sagrado Coração 7 .
Quando Jesus começou a falar aos discípulos, uma multidão de famintos
invadiu a sala, homens e mulheres carregavam trouxas miseráveis nos ombros e,
sobre o corpo esquelético, trajavam apenas farrapos, as crianças que traziam pela
mão estavam sujas e completamente nuas. Jesus Cristo dirigiu-lhes a palavra e
prometeu que faria um último esforço para libertar o mundo de tanta iniquidade e
sofrimento. Mas era preciso que, para isso, a humanidade mostrasse sincero
arrependimento, caso contrário, enviaria castigo dos céus. Jesus, inesperadamente,
virando-se para padre Cícero, apontou os flagelados e disse: “E você, padre Cícero,
tome conta deles”, apontando para a caravana de famintos.
Segundo Neto (2009, p.57), depois de instalar-se em Juazeiro, entre os anos
de 1875 a 1884, padre Cícero reformou a capelinha de Nossa Senhora das Dores
em regime de mutirão e desenvolveu intenso trabalho, tal como Padre Ibiapina,
sempre contando com o serviço e as orações das jovens e das viúvas piedosa, as
beatas. Dentre as que trabalhavam com Padre Cícero, estava a beata Maria de
Araújo, protagonista do milagre em Juazeiro. Conforme relata Neto (2009, p.65) foi
no dia 1º de março de 1889 que aconteceu um fato que transformou para sempre a
rotina do lugarejo e a vida de padre Cícero.

7
Em quase todos os lares piedosos da época havia um retrato litúrgico popular trazendo o coração do Nazareno
visivelmente exposto, representando de maneira simbólica como se estivesse incendiado de amor pelos homens
e, ao mesmo tempo, despedaçado e sangrando por causa das feridas infligidas pelos pecados da humanidade e
pela indiferença a fé cristã. Esse quadro era conhecido pelo nome de Sagrado Coração de Jesus. Objeto de
grande devoção religiosa. (CAVA, 2014, p.56-57)
23

Naquele dia, o padre ministrava a comunhão geral na capela de Nossa


Senhora das Dores, quando a beata Maria de Araújo, ao receber a hóstia, contou
que ela se transformou em sangue, mudando de forma e de cor. “Com ar aflito, a
beata mirava e mostrava ao padre uma toalhinha branca dobrada nas mãos, tingida
pelas manchas rubras que haviam transbordado da boca e que ela depois procurava
enxugar” (NETO, 2009, p.66). Esse fato foi testemunhado por várias pessoas
presentes e repetiu-se outras vezes e as pessoas passaram a considerar que se
tratava de um autêntico milagre.
A notícia se espalhou, muitos queriam venerar as toalhas manchadas de
sangue usadas por Maria de Araújo e o povoado passou a ser alvo de
peregrinações. A partir desse evento, padre Cícero começa a transformar-se num
dos grandes fenômenos religiosos do Nordeste brasileiro, iniciando assim uma
movimentação de pessoas em romaria que iam para Juazeiro para conhecer padre
Cícero e para rezar na igreja de Nossa Senhora das Dores, onde se manifestava o
suposto milagre.

Em 7 de julho de 1889, dia da festa litúrgica do Precioso Sangue,


monsenhor Monteiro, reitor do Seminário do Crato, comandou uma romaria
de 3 mil pessoas até o povoado de Joaseiro, muitas dessas pessoas eram
oriundas de famílias importantes do Crato. Diante de uma assembleia
transbordante, monsenhor Monteiro subiu ao púlpito e fez um sermão sobre
o mistério da Paixão e Morte de Cristo que, segundo os relatos, levou
lágrimas aos olhos de seus ouvintes; então, agitou no ar um punhado de
panos do altar que estavam visivelmente manchados de sangue; tal sangue,
declarou, saíra da hóstia que fora recebida por Maria de Araújo e era,
segundo o reitor, o próprio sangue de Jesus Cristo. (CAVA, 2014, p.84)

No relato apresentado acima, observamos o ponto principal da construção do


mito que se tornou uma força cultural, de profundas implicações sociais, inicialmente
na cidade de Juazeiro. Na sequência da ocorrência mítica, surge uma atividade
ritualística que foram as romarias, onde os participantes acreditavam que poderiam
receber graças naquele ambiente espiritual. Imediatamente os panos passaram a
ser venerados como um símbolo mágico do acontecimento.
Os ensinamentos e as ações de padre Cícero eram alvo de muito respeito por
parte das autoridades religiosas da região do Cariri, mas depois da repercussão da
história da beata Maria de Araújo o bispo de Fortaleza 8, Dom Joaquim, passou a ter
8
Desde 1854 havia sido criada por Roma a diocese do Ceará, cujos objetivos principais eram restaurar o
prestígio da Igreja e a ortodoxia da sua fé e remodelar o clero, de modo que as práticas e crenças religiosas do
Brasil pudessem ficar de acordo com a fé católica, apostólica, romana. O catolicismo colonial sincrético deveria
24

sérias restrições ao padre, tendo tomado conhecimento do acontecimento por parte


da imprensa. A reação de Dom Joaquim, como a de muitas pessoas, inclusive a do
próprio padre Cícero, foi de espanto diante do fenômeno relatado: a hóstia
começava a sangrar na boca de uma fiel na hora da comunhão.
Don Joaquim questionava: por que padre Cícero não avisou sobre o
fenômeno assim que aconteceu? E isso, com o passar do tempo, levou Dom
Joaquim e outras autoridades eclesiásticas no Brasil, a quem ele consultou, a
perguntar se, na verdade, não seria um embuste, um jogo, ou alguma coisa não
muito séria que estaria acontecendo em Juazeiro, por conta do silêncio de Padre
Cícero. Em cartas de 4 e 5 de novembro de 1889 padre Cícero foi proibido de pregar
em público sobre milagres ainda não comprovados pela Igreja, conforme Cava
(2014, p.87).
Em setembro de 1891, conforme descreve Neto (2009, p.94) o bispo Dom
Joaquim enviou à Juazeiro uma comissão de inquérito formada por padre Clycério
da Costa Lobo e padre Francisco Ferreira Antero para que eles fizessem uma
investigação do caso da beata Maria de Araújo. A conclusão do relatório foi
surpreendente, os membros da comissão consideraram os milagres de Juazeiro de
origem divina. Esse fato contribuiu para fortalecer no povo, no padre Cícero e em
outros sacerdotes, a crença no milagre.
O professor e jornalista José Teles Marrocos, amigo íntimo de padre Cícero e,
desde o início, um defensor do milagre, tratou de divulgar o acontecimento pela
imprensa. José Marrocos, como jornalista, foi um grande apologista do milagre do
Juazeiro e foi através de um trabalho seu, publicado em jornal, que o bispo de
Fortaleza tomou conhecimento das ocorrências na cidade e não gostou. A
reportagem expressa pelos jornais dava uma certa empolgação ao milagre e isso
irritou bastante o bispo Don Joaquim José Vieira.
José Marrocos conseguiu mostrar essa questão do milagre do Juazeiro não
só no Brasil, mas também no exterior. Jornais de Portugal 9 chegaram a circular
dando notícia do que estava acontecendo no lugarejo cearense, no Brasil.
Insatisfeito com os primeiros resultados do primeiro inquérito Dom Joaquim exigiu de
Monsenhor Alexandrino fazer um segundo inquérito, para dessa vez provar que a

ser substituído pelo catolicismo universalista de Roma, de acordo com Cava (2014, p.69-70).
9
A exemplo do Novo Mensageiro do Coração de Jesus, editado pelos jesuítas na cidade do Porto. (NETO, 2009,
p.125).
25

beata era realmente uma embusteira, que o “milagre”, era um truque, um embuste.
Então, Monsenhor Alexandrino fez três experiências em três dias, obrigou a
beata a ficar de boca aberta enquanto ele dava a comunhão e ela ficava de meia
hora a 40 minutos e não aconteceu nenhum sangramento nessas condições. Assim,
monsenhor Alexandrino concluiu, no segundo inquérito, que o milagre era um
embuste. Em 5 de agosto de 1892 Dom Joaquim determinou que Padre Cícero não
mais poderia pregar, confessar e orientar os fiéis.
Entretanto, as pessoas continuaram fazendo peregrinações a Juazeiro, isso
fez com que Dom Joaquim suspendesse definitivamente padre Cícero de todas as
suas ordens. Depois que o bispo o proibiu de pregar na igreja, Cícero passou a falar
aos devotos da própria janela de casa. Nesse ponto, inicia-se um processo de
comercialização de símbolos religiosos no vale do Cariri.
Esses símbolos (crucifixos, imagens trazidas por peregrinos, medalhinhas de
bronze com a efígie de Cícero) passaram a representar o milagre de Juazeiro,
tornando-se também objetos de culto. Tais acontecimentos trouxeram ao povo o
reconhecimento de que padre Cícero possuía poderes mágicos e espirituais, o que
provocou ainda maior revolta no bispo Dom Joaquim, por perceber que se
intensificava o catolicismo popular em sua jurisdição.
Conforme Neto (2009, p.192), o veredito da inquisição romana é datado em 4
de abril de 1894, reprovando os pretensos milagres e suspendendo as ordens de
padre Cícero e dos outros sacerdotes envolvidos no inquérito. A suspensão de
ordens de padre Cícero e dos outros padres soou mais do que simplesmente como
um castigo, para o povo foi como uma aprovação da verdade. As orientações
indicavam que eles deveriam negar tudo o que estavam dizendo, embora quem
espalhou que tinha acontecido um milagre em Juazeiro, que Jesus havia derramado
novamente o sangue pela salvação da humanidade, não foi padre Cícero, foram os
padres do Crato, inclusive foram eles os primeiros a organizar romarias para
Juazeiro.
Cava (2014, p.148) informa que, de março a outubro de 1898, padre Cícero
esteve em Roma para tentar revogar a pena que lhe foi imposta por Dom Joaquim.
Ele foi recebido várias vezes pela sagrada congregação e pode colocar toda a
questão que ele vinha vivendo e sofrendo. Depois de várias entrevistas, ele recebeu
a absolvição das penas que lhe tinham sido impostas e poderia voltar ao Juazeiro e
continuar a sua missão. Entretanto, quando voltou, Dom Joaquim pôs em dúvida a
26

absolvição de Roma e, a partir de então, houve problemas muito mais sérios para
ele diante da não aceitação de Dom Joaquim da absolvição dada por Roma.
Tanto Neto (2009, p.275), como Cava (2014, p.153) apontam que no início do
século XX Juazeiro era para muitos observadores um centro de fanatismo religioso
e, para outros, o lugar onde morava um grande líder espiritual. A localidade crescia e
se tornava uma grande força econômica e política do vale do Cariri.
A corrente migratória para Juazeiro fez com que a cidade começasse a
ganhar um contingente populacional muito grande, esse foi o primeiro sinal da
explosão, tanto do aglomerado urbano, como das atividades inicialmente ligadas à
agricultura, ao artesanato e aos pequenos negócios de comércio. Muitas pessoas do
Nordeste fizeram a opção de residir em Juazeiro, que passou a crescer numa
atmosfera de profunda ebulição religiosa, um espaço sagrado de prática religiosa
popular. Padre Cícero ia se firmando cada vez mais como um líder daquela gente,
de modo a garantir, inclusive, que a sua vida política estava começando a partir
desse ponto, fato que floresceria quando da luta pela emancipação política da
cidade.
Os romeiros, que alimentavam crenças sobre o poder espiritual de padre
Cícero, dirigiam-se a Juazeiro, que se transformou em um espaço sagrado. O padre
não ficava passivo diante dos pedidos daquele povo sofrido, além de responder a
inúmeras cartas, costumava atender muitas pessoas em sua própria residência.
Nessa época ele já era chamado de “Padim Ciço” ou “Seu Padre” e todos se
consideravam seus afilhados. Padre Cícero inaugurou um movimento religioso
popular marcado pela construção de uma utopia de igualdade e de justiça social e
Juazeiro se transformou num território mítico e de busca de transformação espiritual.
A prosperidade econômica de Juazeiro foi responsável pela campanha da
autonomia municipal. Em 22 de julho de 1911 a Assembleia Estadual do Ceará
votou a lei 1.028 que dava autonomia municipal a Juazeiro e Cícero Romão Batista
foi seu primeiro prefeito, conforme nos relata Neto (2009, p.331). Juazeiro, que era
um pequeno povoado, dependente da cidade do Crato, transformou-se num dos
mais prósperos e populosos municípios do estado. Ficou patente o prestígio de
padre Cícero nessa sua nova fase de atuação pelos interesses do brasileiro e, nos
anos seguintes, padre Cícero transforma-se em um dos chefes políticos mais
importantes da história do Nordeste brasileiro.
Em toda a população da região do Cariri criava-se um sentimento de
27

pertencimento, influenciado pelo fenômeno religioso e social que estava se


desenvolvendo naquele momento, o que trouxe um grande movimento migratório de
pessoas que se identificavam com a sociedade em construção. Padre Cícero
durante toda a sua vida recebeu muitas doações de terrenos, casas, patrimônio que
em grande parte foi doado para a Fundação Educacional Salesiana, conforme Neto
(2009, p.446). Em troca, os padres teriam que construir um colégio para jovens da
região do Cariri.
Conforme relata Neto (2009, p.510), na manhã de 20 de julho de 1934 morre
Padre Cícero Romão Batista, sem conseguir a sonhada reconciliação com a igreja
Católica. Momentos antes de sua morte ele levantou o braço e fez três sinais da cruz
e faleceu logo em seguida. Quarenta mil pessoas ficaram diante da sua casa para
ver o seu corpo exposto na janela.
Padre Cícero é considerado o maior benfeitor de Juazeiro do Norte e a figura
mais importante de sua história. Ele conseguiu transformar a cidade no celeiro do
Nordeste, porque ali ninguém passava fome. Ele dava abrigo, dava trabalho, passou
a ser o pacificador, conselheiro, o médico dessas pessoas pobres, padrinho e
sobretudo amigo do nordestino. Por isso, a devoção que o povo tem a Padre Cícero
Romão Batista.

4 A PRÁTICA DA DEVOÇÃO À PADRE CÍCERO ROMÃO BATISTA

Em viagens realizadas à cidade de Juazeiro do Norte, pudemos observar que


na casa dos milagres na colina do Horto, há bilhetes e objetos que representam o
universo da fé em padre Cícero, vitrines guardam relíquias, fotos que documentam
sua vida. Padre Cícero descansava e fazia suas orações no casarão da Colina do
Horto e abriga hoje o “museu vivo” com réplicas em tamanho natural do médico
Floro Bartolomeu, da beata Maria de Araújo, da beata Mocinha e do próprio padre.
Aqueles que recebem “graças” compram peças esculpidas em madeira que
representam a parte de seu corpo (cabeças, pernas, braços) que recebeu alguma
cura e as levam para o casarão da Colina do Horto, onde elas ficam expostas
criando um ambiente místico e de forte impacto religioso.

Na cidade, a presença marcante de padre Cícero está perpetuada em


esculturas, pinturas e na literatura oral. Poetas de vários estados do Brasil cantam
28

Padre Cícero, tanto nos folhetos de cordel, como em benditos (rezas cantadas pelos
devotos).
Ruas, praças e igrejas, prédios públicos e estabelecimentos comerciais, tudo
em Juazeiro homenageia Padre Cícero. Estão espalhadas estátuas, em diferentes
tamanhos, por toda a cidade, sendo a principal a estátua na colina do horto, que é
vista em toda a cidade. Para muitos, Juazeiro é considerada uma cidade sagrada,
devido a sua história que se confunde com a história de padre Cícero, como pode
ser observado na fala de um devoto: “quem mora em Juazeiro e não é devoto, não
merece morar aqui não” (José Francisco, 17 maio 2018).
Rosendahl (1999, p.233) considera que um espaço sagrado “é um campo de
forças e de valores que eleva o homem religioso acima de si mesmo, que o
transporta para um meio distinto daquele no qual transcorre sua existência”. Nesse
sentido, o espaço sagrado de Juazeiro está permeado de uma linguagem cultural
ditada por uma riquíssima simbologia, que influencia e fortalece a crença em padre
Cícero. A definição de religião de Geertz (1989, p.67) enfatiza a importância do
sistema simbólico como o lado visível da religião:

“Um sistema de símbolos que atua para estabelecer poderosas,


penetrantes, e duradouras disposições e motivações nos homens, através
da formulação de conceitos de uma ordem de existência geral e vestindo
essas concepções com tal aura de fatualidade que as disposições e
motivações parecem singularmente realistas. (GEERTZ, 1989, p.67)

Sendo assim, observa-se na definição de religião estabelecida por Geertz


(1989), um aspecto mais material da relação religião-símbolo, observando-se em
Juazeiro do Norte um conjunto de vários símbolos que representam o santo popular.
Outro aspecto observado nas entrevistas realizadas, diz respeito àqueles que
se nominavam devotos de padre Cícero, que sempre evocavam registros familiares,
falando das histórias que ouviram de seus pais e avós sobre o padre, como em um
caso específico em que ocorreu a seguinte citação:

Desde criancinha ouvi de meus pais a história de padre Cícero. Um dia,


meu avô foi até ele, quando ele ainda estava vivo, e pediu um remédio. Ele
contou uma historinha bem bonitinha e passou o remédio para meu avô, e
deu certo. (Antônio, 17 maio 2018)
29

Outros devotos simplesmente dizem que desde criança seguiram o caminho


de seus pais e enfaticamente descrevem o quanto padre Cícero foi importante para
o desenvolvimento da cidade, que, inicialmente, antes da chegada do padre, era
apenas um simples um vilarejo. Na fala de alguns devotos, observa-se que a
experiência de tradição familiar, transforma-se, em algum momento, em uma
realidade pessoal. Nesses casos, inicialmente, a devoção ocorre por influência das
práticas desenvolvidas no ambiente familiar, mas em algum momento da história de
vida do devoto, o mesmo entende ter recebido um sinal, o atendimento de um
pedido, algo que é considerado uma graça alcançada, ou mesmo uma progressiva
descoberta através de literaturas ou contos sobre a vida de padre Cícero.
A partir desse ponto, concretiza-se uma experiência espiritual, passando a
devoção da dimensão familiar para uma convicção pessoal, como relata uma
devota:

Quando fui fazer a faculdade de serviço social, um professor do curso, ele


era teólogo, nos disse que ao voltar para nossa cidade deveríamos observar
que manifestação cultural existia nela. Quando voltei para Juazeiro fui
participar de uma romaria, mas agora com um outro olhar. Antes, tudo era
muito comum para mim, e eu não conseguia de fato perceber, até que
alguém me despertou para olhar aquele ambiente com olhos diferentes. A
partir daquele momento, me declarei devota de padre Cícero, com firmeza.
De lá para cá tenho sido fiel, fotografando as romarias e as missas do dia
20, e divulgando esses eventos para aqueles que ainda não o conhecem.
Essa é a minha forma de demonstrar minha devoção ao padre Cícero.
(PAUTILHIA, 17 maio 2018).

Corroborando com a influência que a educação e catequese familiar exercem


na construção da identidade religiosa dos devotos, em 2015 foi publicada uma carta
pelo Vaticano, assinada pelo cardeal Pietro Parolin, a qual emite um parecer de
reconciliação com a memória espiritual de padre Cícero, com o seguinte teor em um
de seus itens:

“É também uma característica do nordeste brasileiro a grande quantidade


de pessoas que recebem, no batismo o nome de “Cícero” ou de Cícera,
empreito de homenagem e de gratidão a este sacerdote. O espírito das
romarias transmite-se, assim, de pais para filhos e se perpetua por
gerações”.10

Entretanto, segundo Neto (2009, p.289), no passado, houve um tempo em


que dom Luís de Brito, o bispo de Olinda fez circular em todo o Nordeste uma
10
http://www.cnbb.org.br/vaticano-reconhece-virtudes-de-padre-cicero/
30

orientação por várias paróquias, recomendando que não fosse aceito o nome de
Cícero para o batismo de crianças, dizendo que o nome estava arraigado a forte
fanatismo religioso. É certo, que em nome de padre Cícero surgiram muitos
extremismos, ao ponto de um beato de padre Cícero ter sido preso sob a acusação
de promover um boi a santo milagreiro. “Havia gente no sertão dizendo até que a
urina e as fezes do bicho, quando ingeridas ou esfregadas pelo corpo, curavam
todas as doenças” (NETO, 2009, p.436).
Ainda hoje, Juazeiro do Norte recebe por ano mais de dois milhões de
romeiros que vão em busca de graça. Diariamente, milhares de devotos se ajoelham
e rezam diante da imagem de padre Cícero, com fé na sua intercessão junto ao
Altíssimo, por isso, suplicam por graças, na esperança de serem socorridos por seu
padrinho. Os devotos costumam atribuir acontecimentos do dia-a-dia à proteção
mística que padre Cícero oferece, como é citado em uma entrevista, onde a devota
Denízia (17 maio 2018) diz que estava em Caruaru, sofrendo um afogamento e
pediu a padre Cícero que não deixasse que ela morresse e a trouxesse de volta a
cidade do padrinho. Uma criança pediu socorro e ela foi salva por uma pessoa que
apareceu no local.
Como retribuição às graças recebidas os devotos consideram que devem ter
algumas atividades destinadas a produzir esse efeito de proteção, como por
exemplo, todo dia vinte (20) de cada mês, que é o dia da morte de padre Cícero, os
devotos se vestem de preto e assistem a missa em sufrágio 11 à alma de padre
Cícero. O costume é adotado por pessoas de todas as idades, independentemente
de sexo e classe social. A missa é rezada às 06 horas da manhã na Capela do
Socorro, onde o padre foi sepultado, à qual comparece sempre uma imensa
multidão.
No processo de construção de identidade religiosa de padre Cícero, o
indivíduo percebe que ser devoto é ser valorizado por fazer parte de um grupo
social, o qual os devotos designam como “nação romeira”, cuja raiz é padre Cícero,
considerado um grande sábio, um orientador, um homem prudente. A devoção ao
padre traz ao devoto sua afirmação de identidade. O devoto compreende quem ele
é, afilhado de padre Cícero, e isso, intimamente, faz parte de sua identidade.
Em conversa com uma freira de uma ordem religiosa de Juazeiro, ela relata
que o governo do estado do Ceará observa o fenômeno padre Cícero como uma
11
Uma oração que se faz a um morto. https://www.dicio.com.br/sufragio/
31

oportunidade de intensificar o turismo religioso na cidade. Um bom exemplo disso, é


uma proposta do governo que tem por objetivo a construção de um teleférico em
Juazeiro do Norte para a subida do horto até a estátua do padre.
Para a entrevistada isso é um absurdo, pois o horto é considerado pelos
romeiros um lugar sagrado. Segundo ela, desde os tempos em que os índios cariris
moravam nessa região, essa montanha era utilizada como um lugar de revitalização
espiritual. Para ela, transformar Juazeiro em um lugar de turismo religioso é passar
um trator em cima da verdadeira história de devoção à padre Cícero. O romeiro não
quer isso, ele quer a simplicidade que o identifica com a própria história de
sofrimento vivenciada por padre Cícero. “Valorizando o turismo religioso no lugar
sagrado, mata o lugar sagrado. O Santo Horto é o Horto das Oliveiras” (Irmã
Conceição, 17 maio 2018).
Segundo a religiosa, para os devotos, o ritual da subida da ladeira do horto e
as romarias, trazem o real sentido da devoção a padre Cícero. À medida que os fiéis
sobem a ladeira do horto, seja para pagar ou fazer uma promessa, seja para a
penitência pelos pecados, o suor, o sacrifício, traz aos fiéis profunda identificação
com seu padrinho.
Nesse sentido, padre Cícero é um objeto de identificação, um símbolo, no
qual ocorre uma projeção, onde o devoto encontra nele o que gostaria de ter
encontrado em um pai, ou um padrinho. Os devotos dizem que padre Cícero sabia o
que era calor, comia a mesma comida dos devotos, o mesmo arroz e feijão, sofreu
como sofrem os devotos e foi injustiçado como os devotos são injustiçados.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Embora nossos estudos tenham tido por objetivo uma maior compreensão
dos elementos presentes na construção da identidade religiosa, temos consciência
da complexidade dos temas identidade e religião. Portanto, observamos a
possibilidade apenas de algumas aproximações interpretativas, mas distantes de
serem conclusivas.
Inicialmente, verificamos a forte contribuição que a estrutura familiar exerce
na formação da identidade religiosa dos devotos de padre Cícero Romão Batista.
Existe uma certa catequese que é iniciada desde a infância, onde os pais
comunicam aos filhos um sistema de regras, valores e costumes centrados no
32

catolicismo e na figura de padre Cícero. As crianças são ensinadas a participar das


missas e das romarias, dirigir rezas ao padre, criando um ambiente em que se
estabelece o pensamento de que a devoção a padre Cícero tem um poder místico
de governo e controle da vida.
Observamos nas entrevistas, que alguns fiéis permanecem, ao longo de suas
vidas, apenas com a devoção originada na tradição familiar. Porém, existem os
devotos que confessam que, em algum momento de sua história, tiveram alguma
experiência mística que consolidou sua devoção à padre Cícero. É como se o
devoto tivesse encontrado uma conexão intelectual e emocional que trouxe profundo
significado e sentido à sua vida. Caso essa experiência mais profunda não se
realize, a devoção pode consolidar-se de forma mais provisória e subjetiva, gerando
incertezas e inseguranças quanto a crença, como é o caso de uma devota que ao
final da entrevista perguntou: “Será que tudo isso em que eu acredito é verdade
mesmo?” (Maria do Socorro, 17 maio 2018).
Na continuidade da análise, encontramos os símbolos religiosos como um
sistema de interpretações que mantem sua grande influência sobre os habitantes de
Juazeiro do Norte. Desde a própria área geográfica da cidade, que é considerada
espaço sagrado, até as imagens de padre Cícero, que são encontradas em agências
bancárias, prédios públicos e na maioria das casas de Juazeiro. A presença de
inúmeras igrejas católicas expressa uma profunda identidade religiosa da cidade.
Sua estátua na Colina do Horto, representa um marco de fé e poder religioso que
atrai milhares de romeiros. Permanece até os dias de hoje o uso do rosário da Mãe
de Deus no pescoço. Tudo na cidade se transforma em símbolo religioso que retrata
o contexto histórico em que a cidade foi fundada, tendo Padre Cícero como figura
central.
Os ritos desenvolvidos ao redor da figura de padre Cícero têm sofrido
alterações com o passar dos anos. No início do século XX, por exemplo, os devotos
utilizavam-se de caminhões pau-de-arara para chegar à Juazeiro do Norte, hoje
muitos devotos chegam em ônibus de excursão, ou veículos próprios. Os chapéus
de palha que eram usados, por tradição, têm sido substituídos por bonés, os jovens
que vão às missas do dia 20, nem sempre usam roupas pretas, ou seja, os ritos têm
sido reinventados pelos próprios devotos, o que já denota uma influência da pós-
modernidade nessa sociedade.
33

Quanto à influência do turismo religioso, fomos surpreendidos pelo


entendimento de alguns devotos entrevistados. Eles não aprovam que o objeto
sagrado de culto seja tratado apenas como um elemento histórico, ou cultural a ser
conhecido e visitado. Ou seja, para ser um verdadeiro devoto de padre Cícero não
basta realizar uma visita turística, é necessário participar das romarias, ir às missas,
pelo menos todo o dia 20 de cada mês, aprofundar-se em sua história, acender
velas, fazer e pagar promessas, confiando na intercessão de padre Cícero junto ao
Altíssimo e não apenas ser devoto por interesses pessoais.
Nesse sentido, verificamos que em meio aos devotos de padre Cícero há
quatro categorias diferentes de vínculo religioso: a) aqueles que possuem profunda
convicção de sua fé em padre Cícero e são fiéis na prática dos ritos religiosos que
envolvem sua crença; b) aqueles que são devotos unicamente por causa de uma
influência familiar, entretanto de forma mais provisória e subjetiva; c) aqueles que
são devotos e promovem essa devoção, apenas porque estão envolvidos
economicamente na movimentação do turismo religioso e produção de bens
manufaturados que envolvem o imaginário de padre Cícero; d) e, por último, aqueles
devotos que estão sendo influenciados por novas religiões que se estabeleceram em
Juazeiro do Norte nos últimos anos, principalmente a igreja evangélica, como nos
relata Neto (2009, p.13).
Observamos que o maior elemento de construção da identidade religiosa dos
devotos se dá em função da identificação pessoal com o mito religioso, a pessoa de
padre Cícero. Os devotos consideram que padre Cícero sabia o que era calor, comia
a mesma comida dos devotos, o mesmo arroz e feijão, sofreu como sofrem os
devotos e foi injustiçado como os devotos são. Parece que a dor interior, agravada
por uma crise de estruturas socioeconômicas e políticas, abriu um espaço para que
o devoto construísse uma identidade religiosa, na qual padre Cícero ocupou e ocupa
o lugar de um verdadeiro messias, um salvador que traz ao povo libertação de sua
dor e sofrimento.
Finalmente, por um lado, podemos considerar que encontramos, em Juazeiro
do Norte, retratos caricatos do papel central que a religião possui na construção da
identidade religiosa, nos levando a um entendimento mais fiel da ocorrência do
fenômeno religioso. Por outro lado, encontramos as profundas transformações
ocorridas nos últimos anos, com um maior enfoque na individualização da religião,
influenciada pelo emprego de uma lógica consumista que permeia a sociedade pós-
34

moderna, traços que também já podem ser observados mesmo em uma sociedade
como a de Juazeiro do Norte.
Em última análise, cabe a nós refletir se a atual religião contemporânea,
contextualizada por uma intensa oferta de bens de consumo, curas instantâneas,
milagres imediatos, uma religião que relativiza valores e padrões morais em troca da
barganha financeira, não seria novamente o retrato de uma sociedade em profunda
crise existencial, como foi observado na constituição histórica de Juazeiro do Norte.
Entretanto, essas sejam talvez ponderações para um próximo estudo.
35

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