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Why did some countries catch-up, while others

got stuck in the middle? Stages of productive


sophistication and smart industrial policies

Hartmann et al. (2020)


Antecedentes – Hausmann e Hidalgo (2011)

• Hidalgo, Hausmann, Rodrik e outros (2006-...), passaram a utilizar a ciência das


redes para contornar limitações dos modelos agregativos de crescimento
econômico (homogeneidade) e do comércio internacional (especialização).
• Cada produto requer um conjunto variado e potencialmente grande de diferentes
insumos complementares não comercializáveis, denominadas capacidades. Os
países diferem nas capacidades presentes em seu território, enquanto os produtos
diferem nas capacidades de que necessitam. Como consequência, os países com
mais capacidades serão mais diversificados e os produtos que exigirem mais
capacidades estarão acessíveis a menos países e, portanto, serão menos ubíquos.
• A teoria prevê armadilhas no processo de diversificação econômica. Países com
poucas capacidades poderão produzir poucos produtos e terão poucos benefícios
em acumular qualquer capacidade adicional individual (retornos crescentes de
escala em capacidades).
Antecedentes – Hausmann e Hidalgo (2011)

• Os padrões de vantagem comparativa dos países evoluem passando de bens


existentes para bens “próximos” ou relacionados no espaço do produto. Isso
sugere que a proximidade está relacionada à semelhança do vetor necessário de
insumos e que a produção evolui minimizando o problema de coordenação.
• No entanto, a capacidade de adicionar um produto ao conjunto de produção de um
país depende não apenas da proximidade de um determinado produto a um já
existente, mas também de quantas outras capacidades estão presentes no país e
usadas em outros produtos, potencialmente mais distantes.
1. Introdução

• Muitos estudos têm destacado o papel da transformação produtiva em histórias de


catching-up e leapfrogging.
• Mas como as restrições da estrutura produtiva e as oportunidades de um país
podem ser medidas? E por que alguns países, como Coreia do Sul, Israel ou
Irlanda conseguiram sofisticar sua estrutura produtiva, enquanto outros países,
como Brasil ou África do Sul, permanecem presos na produção de produtos
relativamente simples?
• Quais políticas industriais são necessárias para superar a armadilha da renda
média, e quando é o momento certo para avançar para as indústrias certas? Como
a armadilha de renda média se apresenta do ponto de vista da complexidade
econômica?
1. Introdução

• Armadilha da renda média pode ser vista como uma “armadilha do


desenvolvimento intermediário” ou “armadilha da sofisticação intermediária”,
pois o problema parece ser mais uma questão do tipo e estágio de sofisticação
econômica do que uma questão de produção quantitativa agregada (PIB).
• Objetivo é contribuir para a literatura sobre a catching-up e a armadilha do
desenvolvimento intermediário analisando o quão próximos ou distantes dos
produtos complexos estão países em diferentes estágios de desenvolvimento.
• Além disso, identificar quais países foram capazes de superar essa armadilha, e
que tipos de políticas industriais diferenciam economias bem-sucedidas, como a
Coreia do Sul ou a Irlanda, de países menos bem-sucedidos, como o Brasil ou a
África do Sul.
2. O papel das estruturas produtivas para o
catching-up
• Catching-up da Europa continental e, posteriormente, dos EUA, entre o século
XIX e início do século XX à líder industrial Inglaterra (Veblen, 1915;
Gerschenkron, 1962).
• Mais tarde, o rápido crescimento econômico de alguns países asiáticos pós-2ª GM
promoveu uma nova onda de interesse nos processos de catch-up. Abramovitz
(1986) argumentou que as capacidades sociais são um fator-chave para a
capacidade de um país de catch-up e leapfrog.
• Outros autores analisaram casos de países, como o Japão (Johnson, 1982;
Freeman, 1987), Coreia do Sul (Amsden, 1989; Chang, 1993), e Taiwan (Wade,
1990).
2. O papel das estruturas produtivas para o
catching-up
• Posteriormente, vários autores resumiram as semelhanças entre casos bem-sucedidos e as
diferenças dos malsucedidos (Chang, 2002; Reinert, 2007; Kohli, 2012; Zagato, 2019).
Principais lições foram que os países bem-sucedidos utilizaram uma combinação
inteligente de políticas industriais e sociais, juntamente com estratégias de
desenvolvimento orientadas para dentro e para fora.
• Outros destacaram a importância de construir capacidades tecnológicas, promover
sociedades de aprendizagem e passar para indústrias mais sofisticadas (Cimoli et al.,
2009; Lundvall et al., 2011; Stiglitz & Greenwald, 2014).
• Economistas do desenvolvimento (Rosenstein-Rodan, 1943; Nurkse, 1953; Lewis, 1954;
Myrdal, 1957; Hirschman, 1958; Prebisch, 1949; Furtado, 1961) argumentaram que o
desenvolvimento envolvia uma realocação da mão de obra de setores de baixa à alta
produtividade, i.e., da agricultura à manufatura e, em seguida, a serviços mais
sofisticados. O crescimento econômico de longo prazo é um processo setor-específico.
Enfatizaram a identificação de gargalos e rigidezes que bloqueiam a mudança estrutural
nas economias subdesenvolvidas e o papel do Estado na superação dessas falhas.
2. O papel das estruturas produtivas para o
catching-up
• No entanto, embora essas abordagens tenham fornecido insights importantes sobre
processos de desenvolvimento e potenciais medidas políticas, elas não têm sido
muito bem-sucedidas em quantificar as restrições e oportunidades produtivas
específicas de cada país.
• Nesse sentido, pesquisas recentes sobre a complexidade econômica e a relação
entre diferentes indústrias realizaram avanços metodológicos e empíricos
significativos (Hidalgo et al., 2007; Neffke et al., 2011; Hausmann et al., 2014;
Pinheiro et al., 2018; Balland et al., 2019; Hartmann et al., 2019).
• Esses métodos capturam o quão próximos ou distantes estão empresas, regiões ou
países de potenciais novos produtos em termos de capacidades produtivas. Eles
ajudam a identificar as restrições estruturais únicas e oportunidades dos países em
diferentes estágios de diversificação produtiva e o momento certo para “saltar”
para produtos complexos.
2. O papel das estruturas produtivas para o
catching-up
• Países em níveis intermediários de diversificação produtiva tendem a ter uma
probabilidade significativamente maior de saltar para atividades mais distantes,
complexas e não relacionadas. No entanto, as economias em desenvolvimento e
emergentes também podem ser restringidas por uma atração gravitacional em
relação a produtos simples e baseados em recursos naturais.
• A gravitação em direção a “baixos frutos pendurados”, como produtos agrícolas,
petróleo bruto e mineração, pode perpetuar instituições exploratórias, altos níveis
de desigualdade e baixa ênfase em inovação e sofisticação econômica.
• Superar a armadilha do desenvolvimento intermediário não se trata apenas de
diversificar-se em novas indústrias, mas também de entender quais produtos foram
“descartados” e como as instituições e as políticas industriais mudaram durante o
processo de transformação estrutural.
3. Dados e métodos
• Para estimar os estágios de sofisticação produtiva dos países, são utilizados dados
sobre comércio internacional, complexidade econômica e complexidade de
produtos do Observatório de Complexidade Econômica do MIT. O conjunto de
dados comerciais combina dados de exportações de 1962 a 2000, compilados por
Feenstra et al. (2005) e U.N. Comtrade, para o período entre 2001 e 2010.
• O Índice de Complexidade Econômica (ECI) mede a intensidade do conhecimento
de um país, considerando tanto a diversidade quanto a ubiquidade dos produtos
que exporta (Hidalgo & Hausmann, 2009; Hausmann et al., 2014).
• Assim, o ECI considera não apenas o nível agregado de produção, como o PIB per
capita, mas também quantos e quais tipos de produtos os países são capazes de
produzir e exportar. Da mesma forma, o Índice de Complexidade do Produto (PCI)
descreve o quão únicos e complexos são os produtos (Hidalgo & Hausmann,
2009).
3. Dados e métodos
• Há uma gravitação via learning by doing, conscientização pública e privada, e
ênfase política em atividades econômicas que estão presentes em um país e/ou que
estão próximas de um portfólio produtivo atual do país (Hartmann et al., 2019).
• Para estimar até que ponto o portfólio produtivo de um país está próximo ou
distante de produtos complexos, utilizam métodos a partir de pesquisas sobre o
espaço do produto (Hidalgo et al., 2007; Hausmann et al., 2014; Pinheiro et al.
2018).
• O espaço do produto estima os níveis de capacidade produtiva compartilhada entre
dois produtos, com base na probabilidade condicional de que os países exportem
ambos os produtos com uma vantagem comparativa revelada (Hidalgo et al.,
2007).
Exemplo:
A Coreia do Sul esteve perto de
produtos simples em indústrias
têxtil e alimentícia, bem como
perto de produtos mais
complexos, como eletrônicos e
máquinas; assim, estava em um
estágio crítico de transformação
produtiva.

Em contraste, a estrutura
produtiva da África do Sul era
próxima de produtos agrícolas
simples na periferia do espaço
do produto e estava longe de
produtos mais complexos no
centro do espaço do produto.
4. A curva S da sofisticação produtiva
• A combinação do índice de complexidade econômica (ECI) e a proximidade do
portfólio de um país com produtos simples ou complexos nos permite desenhar a
curva S de sofisticação produtiva.
• A curva ilustra como os países se aproximaram da produção de bens complexos
durante o processo de desenvolvimento econômico. No eixo X, observamos o
nível de complexidade econômica dos países, i.e., a diversidade e sofisticação da
sua pauta de exportações. No eixo Y, temos uma estimativa da distância entre o
sistema produtivo de um país e produtos complexos.
• A forma em S da curva indica que o desenvolvimento não é linear, mas que
existem diferentes estágios de sofisticação produtiva. Parece que durante a maior
parte do processo de desenvolvimento econômico, os países se diversificam em
produtos bastante simples. À medida que avançam para estágios intermediários de
desenvolvimento, eles começam a se diversificar para produtos mais sofisticados.
Nos níveis intermediários de desenvolvimento, os países tendem a estar próximos
de produtos simples e complexos e têm maior probabilidade de saltar para
atividades não relacionadas e mais sofisticadas.
Figura 2. A. A curva S de sofisticação produtiva, ilustrando o nível de complexidade econômica e proximidade com
produtos complexos de 116 países. Cada nó representa o valor de um país em 1970, 1980, 1990, 2000 e 2010; os valores
em 2010 são destacados e coloridos de acordo com o grupo dos países. B. Mudanças na proximidade dos países com
produtos complexos entre 1970 e 2010.
Grupos da curva S (Fig. 2)
4. A curva S da sofisticação produtiva
• O grupo que mais interessa ao artigo são países que estão (ou estavam) enfrentando o
difícil estágio de desenvolvimento da parte inferior da escada da sofisticação produtiva.
Isso inclui Brasil e África do Sul hoje, ou Coreia do Sul, Israel e Irlanda nas décadas de
1960 e 1970. Entre 1970 e 2010, apenas Israel, Irlanda, Hungria, Coreia do Sul e
Singapura conseguiram subir de baixo para o topo da escada de sofisticação.
• Grande parte da estrutura produtiva dos países na fase intermediária de desenvolvimento
consiste em produtos de baixa complexidade; assim, esses países enfrentam forças
gravitacionais para a produção desses produtos devido às suas fortes vantagens
comparativas em produtos relativamente simples e de baixo custo de trabalho.
• Nessa fase, grandes mudanças institucionais e esforços conjuntos de uma ampla gama de
segmentos da sociedade (empresas, trabalhadores, política, ciência e sociedade civil) são
necessários. Devido à dificuldade desta tarefa de coordenação, apenas um número
limitado de países (países de pequeno ou médio porte) foram capazes de sofisticar
totalmente suas economias e subir de nível nas últimas décadas.
5. Casos de sucesso
• Estudos anteriores indicam que Coreia do Sul, Singapura, Israel e Irlanda, em
maior ou menor grau:
• i) combinaram forças estatais e de mercado;
• ii) implementaram políticas industriais e sociais (Chang, 2002; Rodrik, 2008a;
Cherif & Hasanov, 2019),
• iii) mantiveram políticas e preços macroeconômicos sólidos (Rodrik, 2008b;
Bresser-Pereira, 2019; Guzman, Ocampo & Stiglitz, 2018) e,
• iv) promoveram tanto a inovação endógena quanto o acesso a fontes internacionais
de conhecimento (Fu, Pietrobelli & Soete, 2011).
5. Casos de sucesso – Coreia do Sul
• Sob o governo do General Park (1963-79), o país se baseou em uma estratégia de
desenvolvimento de planejamento e aplicação de diretrizes para atualização
tecnológica e diversificação setorial.
• Aplicação de métricas de desempenho, abordagem de “cenouras e chicotes” e
reavaliação dos setores auxiliados a cada etapa de desenvolvimento.
• 1960: priorizados os setores de perucas, brinquedos, madeira compensada,
cimento, fertilizantes e fibras sintéticas.
• 1970: priorizadas indústrias pesadas, como indústrias químicas, siderúrgicas e de
máquinas. No final da década, a Coreia já possuía uma sofisticada indústria naval
e siderúrgica. Houve, então, uma nova onda de políticas de substituição de
importação que tornou possível a produção de automóveis e, posteriormente, de
eletrônicos.
• Em meados da década de 1980, a Coreia já possuía uma indústria autônoma
intensiva em tecnologia que produzia peças de automóveis e bens de alta
tecnologia, como computadores, chips de memória, eletrônicos e semicondutores
para exportação.
5. Casos de sucesso – Coreia do Sul
• Um dos pontos fortes mais importantes do Estado desenvolvimentista coreano foi sua
capacidade não apenas de escolher vencedores, mas também de eliminar perdedores (e.g.
Hyundai).
• Fez isso através da adoção de uma prática bem-sucedida que incluía a aplicação de
condicionalidades às empresas que deveriam ser ajudadas e o estabelecimento de uma
estreita relação entre as elites burocrática e privada.
• As empresas coreanas experimentaram um longo período de aprendizado assimilando e
adaptando tecnologias estrangeiras nas décadas de 1960 e 1970 antes de começar a
realizar P&D internamente em meados da década de 1980. Inicialmente, como qualquer
outro país em desenvolvimento, a Coreia do Sul se especializou em setores de ciclo longo
baseados em tecnologia e manufaturas de baixo valor agregado, como têxteis e perucas.
• Para isso, fiou-se principalmente em fabricantes originais de equipamento do tipo
montadora, e adotou tarifas e sucessivas desvalorizações cambiais. Gradualmente, fez a
transição para setores de tecnologia de ciclo mais breve, produzindo produtos de ponta e
alto valor agregado.
• A partir de um determinado ponto desse processo, empresas locais passaram a adotar
uma estratégia de “pular etapas” realizadas por empresas de outros países, o que
significou produzir produtos de design próprio efetivamente inovadores, que renderam
direitos de propriedade intelectual, de modo a evitar a importação de produtos caros (e.g.
LG).
5. Casos de sucesso – Singapura
• A história de sucesso de Singapura tem sido apresentada por muitos autores como um
caso de sucesso impulsionado pelo mercado: distorções mínimas de preços, abertura ao
comércio internacional, fluxos de investimento e tecnologia, prudência fiscal e monetária,
e alta poupança e investimento. No entanto, como muitos outros autores argumentam,
Singapura também é um bom exemplo de como o planejamento estatal e a intervenção
governamental na economia podem criar vantagens competitivas nacionais através de
políticas industriais inteligentes (seletivas).
• A primeira fase da industrialização baseou-se no uso da mão-de-obra barata como meio
pragmático de resolver os graves problemas de desemprego (1960-70). Isso foi seguido
pela adoção da estratégia comum aos países asiáticos na época: um modelo de
industrialização orientado à exportação (1970-80). Para atrair mais empresas
multinacionais, contou com sua localização estratégica de comércio, investiu em
infraestrutura física e uma crescente mão-de-obra qualificada.
• Na década de 1980 foi estabelecida a industrialização em setores avançados, como
fabricação de peças eletrônicas, engenharia de construção civil, logística e finanças. No
entanto, devido ao seu modelo orientado pelo IED, não criou empresas domésticas
competitivas nos estágios iniciais de industrialização.
5. Casos de sucesso – Singapura

• À medida que Singapura se tornou economicamente mais desenvolvida, sua


vantagem custo-competitiva diminuiu comparativamente, e países como China,
Indonésia e Tailândia começaram a oferecer melhores custos operacionais.
• Na década de 1990, o país mudou mais uma vez sua estratégia de
desenvolvimento, desta vez focando nas empresas locais.
• O governo investiu em pesquisa pública e incentivou empresas privadas a serem
mais empreendedoras, a fim de obter vantagens competitivas de nicho na
economia global, dominada por players grandes e oligopolistas.
• Vários planos nacionais foram lançados (SME Master Plan, 1998;
Technopreneurship 21, 1999). Essa tentativa de promover P&D nativos ainda está
em vigor e é crucial para entender o recente sucesso econômico do país.
5. Casos de sucesso – Irlanda
• Logo que ingressou na Comunidade Europeia, em 1973, o país foi auxiliado pelos
Fundos Estruturais Europeus, que visavam promover o desenvolvimento da
infraestrutura física e social dos países membros. Essa implementação de políticas
industriais promoveu a diversificação da economia por meio das exportações.
• O governo irlandês decidiu desenvolver e implementar uma política focada na
indústria, destinada a atrair investidores estrangeiros dos setores mais dinâmicos
da economia mundial na época: computação, química e petroquímica. A
implementação dessa estratégia foi realizada pela Autoridade de Desenvolvimento
Industrial (IDA), que fez sucesso na atração de empresas Intel, IBM, Motorola e
Microsoft.
• Como resultado, passou de predominantemente agrícola e manufaturas
tradicionais para uma economia baseada em alta tecnologia e serviços
internacionais em algumas décadas, sendo atualmente um dos principais
exportadores de software e altamente competitiva em setores de produtos
químicos e de TIC.
5. Casos de sucesso – Irlanda

• O sucesso das políticas de desenvolvimento irlandesas somente foi possível


graças ao estabelecimento de um ambiente macroeconômico favorável, oriundo de
uma externalidade positiva da política de redução do desemprego do país.
• A principal meta econômica do governo irlandês na década de 1980 era estabilizar
os salários nominais, permitindo que os benefícios associados a uma taxa de
câmbio estável e uma produtividade crescente se refletissem em crescimento do
emprego.
• Além disso, deu-se ênfase consistente na melhoria da competitividade
internacional para reduzir o desemprego. Juntamente com a política salarial, o
governo promoveu duas grandes desvalorizações da libra irlandesa no mecanismo
cambial do sistema monetário europeu, em 1985 e 1993, que levaram a ganhos
significativos de competitividade do setor manufatureiro.
5. Casos de sucesso – Israel
• A história bem-sucedida do setor de TI de Israel é, em grande medida, a história
recente de sucesso do próprio país.
• Durante as décadas de 1950 e 1960, o Estado israelense adotou planejamento de
longo prazo e políticas industriais tradicionais, em geral protecionistas, para
fomentar setores e indústrias específicos, como os de têxteis e defesa. Na época, o
desenvolvimento de indústrias de alta tecnologia não era uma meta e as políticas
de C&T decorreram principalmente de esforços de instituições públicas de
pesquisa, enquanto as atividades de P&D do setor privado eram praticamente
inexistentes.
• No entanto, como demandas altamente tecnológicas da defesa aumentaram
progressivamente, o desenvolvimento do setor de TI contou com a externalidade
positiva do incentivo governamental a setores de alta tecnologia. O setor privado
começou a representar um papel importante depois da criação de uma agência
pública, a Office of the Chief Scientist (OCS), lançada em 1968.
5. Casos de sucesso – Israel
• Desde o princípio as políticas industriais promovidas pela OCS focaram quase
exclusivamente no desenvolvimento de capacitação para a criação de novos
produtos baseados em P&D, e passaram a progressivamente considerar as
empresas do setor privado como principais agentes de P&D, tendo o Estado como
fornecedor de capital para essas atividades.
• A partir dessa visão, o papel da agência passou a ser de disseminar know-how de
universidades e do setor de defesa para setores industriais civis, de modo a
promover o desenvolvimento de capacidade tecnológicas no mercado privado.
Além disso, cabia à OCS coordenar negociações entre representantes de P&D
privado e público.
• Com isso, em menos de vinte anos, Israel escalou a curva S de complexidade
econômica e despontou como protagonista na produção mundial de TI, tendo
empresas locais como pioneiras em muitos nichos de hardware e software, como o
de voz sobre protocolo de internet (VoIP), encriptação, inspeção de circuitos,
proteção e antivírus, impressão digital e firewalls.
6. Por que outros países falharam? O caso do
Brasil
• Ao longo do século XX, o Brasil esteve entre os países que mais cresceram no
mundo. Enquanto o Brasil cresceu em média 5% ao ano entre 1900 e 1994, a
Argentina cresceu 3,5%, a Coreia 4,5% e Taiwan 5,2%. Como resultado, o país
conseguiu desenvolver um número considerável de indústrias de baixa e média
tecnologia. No entanto, não conseguiu realizar o catching-up de fato.
• Para começar, períodos de rápida expansão econômica eram geralmente seguidos
por períodos de estagnação ou até mesmo recessão. Além disso, embora algumas
indústrias complexas, como petroquímica e aeronaves, tenham florescido, o Brasil
não conseguiu obter vantagens comparativas em um conjunto mais variado de
produtos complexos. Os bens primários nunca deixaram de ser o núcleo de suas
exportações e continuam a ser um motor substancial de sua economia.
• Vale ressaltar que fases de políticas econômicas mais assertivas corresponderam a
períodos de avanços em termos de mudança estrutural.
6. Por que outros países falharam? O caso do
Brasil
• Nos períodos de governo de Getúlio Vargas (1930-1945; 1951-54), os
investimentos em infraestrutura foram essenciais para a consolidação da
industrialização brasileira e levaram à criação de algumas empresas industriais,
como a CSN.
• Os anos de Juscelino Kubitschek e o Plano de Metas, em 1956, resultaram na
consolidação da indústria básica (siderurgia, materiais não ferrosos, produtos
químicos, petróleo, celulose e papel) e pesada brasileira e houve um
aprofundamento em setores como automotivo, construção naval, máquinas e
equipamentos elétricos pesados.
• O período do regime militar (1964-1985) foi importante em termos de promoção
da transformação estrutural. O PND (1972-74) destinado à produção de bens
duráveis e infraestrutura, enquanto o II PND (1975-79) priorizou as áreas de
energia e bens de capital.
6. Por que outros países falharam? O caso do
Brasil
• Apesar disso, o Brasil não subiu na escada tecnológica por várias razões. Entre
elas:
• Muitos setores foram alvo, o que na prática diluiu os efeitos e os incentivos foram
bastante indiscriminados.
• Além disso, o Estado foi ineficiente em evitar o rente seeking, pois seus
mecanismos para “podar os perdedores” eram muito mais fracos do que no caso
da Coreia do Sul, por exemplo.
• Ainda, mesmo antes de sua liberalização comercial e financeira no início da
década de 1990, o Brasil nunca estabeleceu um controle rígido e eficaz sobre o
tipo de IED que entrava no país e como era alocado.
• A crise da dívida e da inflação durante a década de 1980 e início dos anos 1990
resultou na interrupção dos avanços estruturais no país. Após a turbulência
econômica, o Brasil não retomou seu caminho de diversificação econômica e
sofisticação; mas enfrentou um forte processo de desindustrialização precoce.
6. Por que outros países falharam? O caso do
Brasil
• Isso esteve associado às liberalizações comerciais e financeiras, que tiveram
graves consequências adversas, como o fim do controle tácito de sua doença
holandesa.
• Além disso, há evidências de que políticas industriais recentes, como PITCE
(2003-2008), PDP (2008-2011) e PBM (2011-2014) foram ineficazes na promoção
da complexidade econômica, pois auxiliaram desproporcionalmente atividades
econômicas mais simples do que as complexas.
• O resultado final desse processo centenário de avanços e retrocessos foi uma
industrialização incompleta e a falta de recursos tecnológicos avançados em
setores de crescimento recente, como eletrônicos ou tecnologias digitais, nos quais
a maioria dos casos de sucesso se diversificaram.
6. Por que outros países falharam?
• Os casos de sucesso mostram que as forças de mercado sozinhas não podem
explicar o sucesso dos países na curva S de sofisticação produtiva, já que políticas
industriais e apoio estatal também estiveram envolvidos. No entanto, isso não
significa que a existência de políticas industriais em si garanta o sucesso no
upgrading econômico e na sofisticação. Há muitos casos em que as políticas
industriais falharam, levando a ineficiências, má alocações e corrupção.
• Nesse sentido, passar para o tipo errado de produtos no momento errado pode
levar a armadilhas de desenvolvimento se os países se concentrarem
principalmente em produtos simples.
• Portanto, nem toda política industrial será bem-sucedida, mas sim aquelas que
visam as indústrias certas no momento certo e são bem projetadas e
implementadas.
6. Por que outros países falharam?
• Tanto o Brasil quanto a África do Sul perderam em grande parte oportunidades em novos
setores de crescimento, como peças de computador, eletrônica e tecnologias digitais.
• Curiosamente, porém, tanto os casos de sucesso da Coreia do Sul e Singapura quanto os
casos menos bem-sucedidos de Brasil e África do Sul perderam vantagens comparativas
em produtos de baixa complexidade. No entanto, enquanto os primeiros entraram em
novos produtos de alta complexidade, os últimos só conseguiram entrar em novos
produtos com um nível intermediário de complexidade. Em consequência, houve uma
significativa divergência de processos de sofisticação produtiva desses países.
• Brasil e África do Sul também foram afetados negativamente pela liberalização
econômica irrestrita, flutuações dos preços das commodities e pela doença holandesa.
• Outra questão que requer uma análise mais aprofundada nas pesquisas subsequentes são
os efeitos de níveis extremamente elevados de desigualdade e estratificação social na
África do Sul e no Brasil. Níveis extremos de desigualdade podem criar barreiras ao
aprendizado mútuo e cooperação entre diferentes grupos da sociedade, o que dificulta a
capacidade de implementar políticas industriais inteligentes.
7. Conclusões
• A metodologia da curva S de complexidade econômica traz novos achados
empíricos para antigas ideias sobre desenvolvimento econômico.
• No processo de mudança estrutural e sofisticação produtiva, fatores sociais,
políticos e institucionais desempenham um papel essencial, mas são difíceis de
medir e podem exigir estudos de casos aprofundados para efetivamente guiar os
formuladores de políticas.
• Políticas industriais inteligentes (nem todas as políticas industriais) são necessárias
para superar a gravitação em torno de produtos simples e direcionar a economia
para atividades mais complexas e baseadas em conhecimento.
• É difícil imaginar como um país pode mover para indústrias completamente
novas, exigindo novas infraestruturas, instituições e habilidades sem políticas
industriais inteligentes e apoio estatal. Igualmente é difícil imaginar como os
países podem alcançar e sustentar vantagem competitiva em indústrias complexas
sem empresas inovadoras e competitivas. Os países precisam projetar e
implementar políticas industriais para avançar no momento certo para os setores
certos e, assim, subirem a curva S de sofisticação produtiva.

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