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Em contraste, a estrutura
produtiva da África do Sul era
próxima de produtos agrícolas
simples na periferia do espaço
do produto e estava longe de
produtos mais complexos no
centro do espaço do produto.
4. A curva S da sofisticação produtiva
• A combinação do índice de complexidade econômica (ECI) e a proximidade do
portfólio de um país com produtos simples ou complexos nos permite desenhar a
curva S de sofisticação produtiva.
• A curva ilustra como os países se aproximaram da produção de bens complexos
durante o processo de desenvolvimento econômico. No eixo X, observamos o
nível de complexidade econômica dos países, i.e., a diversidade e sofisticação da
sua pauta de exportações. No eixo Y, temos uma estimativa da distância entre o
sistema produtivo de um país e produtos complexos.
• A forma em S da curva indica que o desenvolvimento não é linear, mas que
existem diferentes estágios de sofisticação produtiva. Parece que durante a maior
parte do processo de desenvolvimento econômico, os países se diversificam em
produtos bastante simples. À medida que avançam para estágios intermediários de
desenvolvimento, eles começam a se diversificar para produtos mais sofisticados.
Nos níveis intermediários de desenvolvimento, os países tendem a estar próximos
de produtos simples e complexos e têm maior probabilidade de saltar para
atividades não relacionadas e mais sofisticadas.
Figura 2. A. A curva S de sofisticação produtiva, ilustrando o nível de complexidade econômica e proximidade com
produtos complexos de 116 países. Cada nó representa o valor de um país em 1970, 1980, 1990, 2000 e 2010; os valores
em 2010 são destacados e coloridos de acordo com o grupo dos países. B. Mudanças na proximidade dos países com
produtos complexos entre 1970 e 2010.
Grupos da curva S (Fig. 2)
4. A curva S da sofisticação produtiva
• O grupo que mais interessa ao artigo são países que estão (ou estavam) enfrentando o
difícil estágio de desenvolvimento da parte inferior da escada da sofisticação produtiva.
Isso inclui Brasil e África do Sul hoje, ou Coreia do Sul, Israel e Irlanda nas décadas de
1960 e 1970. Entre 1970 e 2010, apenas Israel, Irlanda, Hungria, Coreia do Sul e
Singapura conseguiram subir de baixo para o topo da escada de sofisticação.
• Grande parte da estrutura produtiva dos países na fase intermediária de desenvolvimento
consiste em produtos de baixa complexidade; assim, esses países enfrentam forças
gravitacionais para a produção desses produtos devido às suas fortes vantagens
comparativas em produtos relativamente simples e de baixo custo de trabalho.
• Nessa fase, grandes mudanças institucionais e esforços conjuntos de uma ampla gama de
segmentos da sociedade (empresas, trabalhadores, política, ciência e sociedade civil) são
necessários. Devido à dificuldade desta tarefa de coordenação, apenas um número
limitado de países (países de pequeno ou médio porte) foram capazes de sofisticar
totalmente suas economias e subir de nível nas últimas décadas.
5. Casos de sucesso
• Estudos anteriores indicam que Coreia do Sul, Singapura, Israel e Irlanda, em
maior ou menor grau:
• i) combinaram forças estatais e de mercado;
• ii) implementaram políticas industriais e sociais (Chang, 2002; Rodrik, 2008a;
Cherif & Hasanov, 2019),
• iii) mantiveram políticas e preços macroeconômicos sólidos (Rodrik, 2008b;
Bresser-Pereira, 2019; Guzman, Ocampo & Stiglitz, 2018) e,
• iv) promoveram tanto a inovação endógena quanto o acesso a fontes internacionais
de conhecimento (Fu, Pietrobelli & Soete, 2011).
5. Casos de sucesso – Coreia do Sul
• Sob o governo do General Park (1963-79), o país se baseou em uma estratégia de
desenvolvimento de planejamento e aplicação de diretrizes para atualização
tecnológica e diversificação setorial.
• Aplicação de métricas de desempenho, abordagem de “cenouras e chicotes” e
reavaliação dos setores auxiliados a cada etapa de desenvolvimento.
• 1960: priorizados os setores de perucas, brinquedos, madeira compensada,
cimento, fertilizantes e fibras sintéticas.
• 1970: priorizadas indústrias pesadas, como indústrias químicas, siderúrgicas e de
máquinas. No final da década, a Coreia já possuía uma sofisticada indústria naval
e siderúrgica. Houve, então, uma nova onda de políticas de substituição de
importação que tornou possível a produção de automóveis e, posteriormente, de
eletrônicos.
• Em meados da década de 1980, a Coreia já possuía uma indústria autônoma
intensiva em tecnologia que produzia peças de automóveis e bens de alta
tecnologia, como computadores, chips de memória, eletrônicos e semicondutores
para exportação.
5. Casos de sucesso – Coreia do Sul
• Um dos pontos fortes mais importantes do Estado desenvolvimentista coreano foi sua
capacidade não apenas de escolher vencedores, mas também de eliminar perdedores (e.g.
Hyundai).
• Fez isso através da adoção de uma prática bem-sucedida que incluía a aplicação de
condicionalidades às empresas que deveriam ser ajudadas e o estabelecimento de uma
estreita relação entre as elites burocrática e privada.
• As empresas coreanas experimentaram um longo período de aprendizado assimilando e
adaptando tecnologias estrangeiras nas décadas de 1960 e 1970 antes de começar a
realizar P&D internamente em meados da década de 1980. Inicialmente, como qualquer
outro país em desenvolvimento, a Coreia do Sul se especializou em setores de ciclo longo
baseados em tecnologia e manufaturas de baixo valor agregado, como têxteis e perucas.
• Para isso, fiou-se principalmente em fabricantes originais de equipamento do tipo
montadora, e adotou tarifas e sucessivas desvalorizações cambiais. Gradualmente, fez a
transição para setores de tecnologia de ciclo mais breve, produzindo produtos de ponta e
alto valor agregado.
• A partir de um determinado ponto desse processo, empresas locais passaram a adotar
uma estratégia de “pular etapas” realizadas por empresas de outros países, o que
significou produzir produtos de design próprio efetivamente inovadores, que renderam
direitos de propriedade intelectual, de modo a evitar a importação de produtos caros (e.g.
LG).
5. Casos de sucesso – Singapura
• A história de sucesso de Singapura tem sido apresentada por muitos autores como um
caso de sucesso impulsionado pelo mercado: distorções mínimas de preços, abertura ao
comércio internacional, fluxos de investimento e tecnologia, prudência fiscal e monetária,
e alta poupança e investimento. No entanto, como muitos outros autores argumentam,
Singapura também é um bom exemplo de como o planejamento estatal e a intervenção
governamental na economia podem criar vantagens competitivas nacionais através de
políticas industriais inteligentes (seletivas).
• A primeira fase da industrialização baseou-se no uso da mão-de-obra barata como meio
pragmático de resolver os graves problemas de desemprego (1960-70). Isso foi seguido
pela adoção da estratégia comum aos países asiáticos na época: um modelo de
industrialização orientado à exportação (1970-80). Para atrair mais empresas
multinacionais, contou com sua localização estratégica de comércio, investiu em
infraestrutura física e uma crescente mão-de-obra qualificada.
• Na década de 1980 foi estabelecida a industrialização em setores avançados, como
fabricação de peças eletrônicas, engenharia de construção civil, logística e finanças. No
entanto, devido ao seu modelo orientado pelo IED, não criou empresas domésticas
competitivas nos estágios iniciais de industrialização.
5. Casos de sucesso – Singapura