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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA


PLANO NACIONAL DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES
LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

IRACI SANTANA DOS SANTOS


NELSON PINHEIRO NETO

EVASÃO ESCOLAR: estudo acerca do processo de evasão escolar dos alunos


do ensino fundamental menor na zona rural de uma escola da Rede Municipal
de Ensino em São Domingos do Capim/PA.

BELÉM – PA
2017
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA
PLANO NACIONAL DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES
LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

IRACI SANTANA DOS SANTOS


NELSON PINHEIRO NETO

EVASÃO ESCOLAR: estudo acerca do processo de evasão escolar dos alunos


do ensino fundamental menor na zona rural de uma escola da Rede Municipal
de Ensino em São Domingos do Capim/PA

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)


apresentado ao Curso de Licenciatura em
Pedagogia/ PARFOR, da Universidade Federal
Rural da Amazônia, Campus Belém, como
requisito avaliativo da disciplina TCC lI,
orientado pelos professores Telma de Nazaré
Souza Pereira, Almir Pantoja Rodrigues e
Heloísa Helena Meireles Bahia.

BELÉM – PA
2017
IRACI SANTANA DOS SANTOS
NELSON PINHEIRO NETO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Licenciatura em


Pedagogia da Universidade Federal Rural da Amazônia como requisito para a
obtenção de grau de Licenciado Pleno em Pedagogia.

Data da aprovação: __ / __ / 2017.


Conceito: ___________________

Banca Examinadora:

_______________________________________
Prof. Msc. xxxxxxxxxxxxxxxxxx (Orientador)
UFRA

_______________________________________
Prof. Msc. xxxxxxxxxxxxxxxxxx - Membro 2
UFPA

_______________________________________
Prof. Msc. xxxxxxxxxxxxxxxxxx - Membro 3
UFRA
Aos nossos familiares que
compreenderam a nossa ausência para a
conquista deste curso.
DEDICATÓRIA

Agradecemos a Deus pela sabedoria que nos foi concedida durante este curso.
Às nossas famílias pelo apoio e incentivo que recebemos durante este curso.
À Universidade Federal da Amazônia que através do PARFOR ofereceu-nos a
oportunidade de realizar este curso.
A Coordenação local do PARFOR, em Belém, pelo apoio e serviços prestados ao
curso.
A todos os professores do curso que contribuíram para a nossa formação
acadêmica.
Aos nossos orientadores Professores: Msc. Almir Pantoja Rodrigues e Telma de
Nazaré Souza Pereira, pelas orientações concedidas para a elaboração deste
trabalho.
E a todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste curso.
“Os Estados-partes reconhecem o direito da criança
à educação e, a fim de que ela possa exercer
progressivamente e em igualdade de condições
esse direito, deverão especialmente adotar medidas
para estimular a frequência regular às escolas e a
redução do índice de evasão escolar.”

(Convenção sobre os Direitos da Criança, 1990,


Art. 28).
RESUMO
O presente TCC teve como principal foco investigar através das ações do projeto de
pesquisa, quais são os motivos que levam os alunos do ensino fundamental a
evadirem da escola. Este projeto buscou compreender as causas e efeitos da
evasão escolar na tentativa de minimizar ou sanar partes dos problemas que geram
não só a evasão, mas, principalmente problemas que impossibilitam o processo de
ensino e aprendizagem no contexto da Escola Municipal de Ensino Fundamental
“João da Silva Lobo”. Para tal, foi utilizada a pesquisa bibliográfica e de campo como
forma de esclarecer para intervir sobre a problemática na unidade escolar. Conclui-
se que, este projeto me possibilitou aprender conceitos e metodologias de se
combater a evasão escolar, o compromisso com as crianças de ensinar e também
de aprender com elas. A Evasão Escolar no ensino fundamental ainda é um eixo
muito vasto dentro dos numerosos obstáculos que a estrutura pedagógica tem que
confrontar.

Palavras - chave: Evasão escolar, educação, ensino fundamental e aprendizagem.


ABSTRACT

Key - words:
LISTA DE FIGURAS
Imagem 1 – E.M.E.F. “João da Silva Lobo” ............................................................. 29

Imagem 2 – Salas cedidas pela comunidade para E.M.E.F. “João da Silva Lobo”.. 30
LISTA DE ABREVIATURAS
Ceale – Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita
ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente
EMEF – Escola Municipal de Ensino Fundamental
LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira
PARFOR – Plano Nacional de Formação de Professores
PPP – Projeto Político Pedagógico
SEMED – Secretaria Municipal de Educação
TCC – Trabalho de Conclusão de Curso
UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais
UFRA – Universidade Federal Rural da Amazônia
UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Sobre as aulas ...................................................................................... 31
Tabela 2 – Maior frequência da evasão ................................................................... 31
Tabela 3 – Mudança de comportamento ................................................................. 32
Tabela 4 – Respostas aos anseios e dúvidas ......................................................... 32
Tabela 5 – A escola e o interesse dos alunos ......................................................... 33
Tabela 6 – Infraestrutura da escola ......................................................................... 33
Tabela 7 – A escola no combate à evasão .............................................................. 34
Tabela 8 – Elementos essenciais para a permanência do aluno na escola ........... 34
Tabela 9 – Bullying .................................................................................................. 35
Tabela 10 – Cultura da evasão ............................................................................... 35
Tabela 11 – Porque os alunos evadem ................................................................... 36
Tabela 12 – Que fator se associa diretamente com a causa da evasão ................. 37
SUMÁRIO
1- INTRODUÇÃO...................................................................................................... 10
2- A EDUCAÇÃO: CONCEITO E HISTÓRICO ....................................................... 12
2.1- A história da educação brasileira ................................................................. 12
2.2- Conceitos de educação................................................................................... 14
3- A EVASÃO ESCOLAR NO BRASIL ................................................................... 16
3.1- Diretrizes para a educação brasileira e a evasão escolar ........................... 17
3.2- O fracasso escolar em alfabetização ............................................................ 21
3.3- As desigualdades econômicas, sociais e educacionais, também geram
à evasão escolar .............................................................................................. 23
3.4- A educação do homem do campo e a evasão escolar ................................ 26
4- A PESQUISA: RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................. 28
4.1- Tipo de pesquisa ............................................................................................ 28
4.2- Caracterização do campo pesquisado ......................................................... 28
4.3- A coleta de dados ........................................................................................... 30
4.4- A análise dos dados ....................................................................................... 30
5- CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 38
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 39
APÊNDICES ............................................................................................................ 41
10

1- INTRODUÇÃO

Atualmente um dos problemas mais persistente da educação brasileira é a


evasão escolar, esse tema trata-se de um problema que se estende desde o início
da história da educação brasileira e permanece insistentemente dentro do foco das
discursões educacionais, principalmente dentro das escolas públicas.
A evasão escolar ocorre quando o aluno abandona a escola por qualquer
motivo e não mais volta. As informações sobre a evasão são muito difíceis de
conseguir, pois são muitos os obstáculos para acompanhar o destino de um aluno
evadido.
Este contexto nos sensibilizou para a escolha da referida temática que intenta
investigar a respeito dos fatores que levam as crianças matriculadas na rede
municipal de ensino a desistirem do processo ensino aprendizagem.
Esta pesquisa torna-se relevante por três razões: a acadêmica pelo
cumprimento da etapa curricular do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC); sócio
educacional, pois poderá contribuir para alicerçar uma proposta de permanência na
escola; cientificamente, porque o pesquisador aliará ao seu trabalho docente o
ensino e a pesquisa.
No desenvolver desta pesquisa, procuramos descobrir as causas e
consequências do processo de evasão escolar dos alunos do ensino fundamental
menor na zona rural de uma escola da Rede Municipal de Ensino em São Domingos
do Capim/PA.
Os objetivos desta pesquisa é analisar as causas da evasão de alunos do
ensino fundamental menor na escola investigada, destacando as seguintes
inquietações: Quais as causas da evasão escolar? Qual a relação entre o processo
escolar e a evasão escolar?
Para desenvolver nosso trabalho, iremos utilizar a pesquisa bibliográfica por
oferecer suportes teóricos a respeito do tema escolhido e a pesquisa de campo
porque irá envolver sujeitos diretamente envolvidos no processo além de responder
as nossas indagações e fornecer veracidade a esta pesquisa.
Na primeira parte, este trabalho enfatiza em síntese, o histórico da educação
brasileira com abrangência desde o período colonial até a contemporaneidade e o
conceito sobre educação mostrando o que almeja uma educação de qualidade.
11

Na segunda parte, este trabalho busca analisar em âmbito geral como ocorre
o processo de evasão escolar no Brasil, no campo e nas redes públicas municipais,
envolvendo o relato de alguns autores especialistas neste tema.
Na terceira parte, buscamos conhecer os problemas de evasão dentro de
uma escola da rede municipal de ensino em São Domingos do Capim sob a visão de
alguns professores atuantes da própria escola.
Por fim, nós apresentaremos os resultados com possibilidades dependendo
do problema esclarecido, sugestão de superação à evasão escolar.
12

2- A EDUCAÇÃO: HISTÓRICO E CONCEITO

2.1- A história da educação brasileira

A história da educação no Brasil teve início logo após o seu descobrimento.


Com a chegada dos primeiros padres jesuítas da Companhia de Jesus no período
colonial chefiados pelo padre Manoel da Nobrega em 1549, marca exatamente o
começo da educação brasileira.
A educação daquele contexto era uma educação totalmente humanística
voltada prioritariamente para os aspectos espirituais com objetivos apenas em
recrutar servidores e fiéis. Os catequistas tinham como missão converter a
população nativa à fé católica e a sua passividade aos senhores brancos.
Para garantir que a colônia atendesse as obrigações régias, D. João III,
formula um regimento referente à conversão dos indígenas à fé católica pela
catequese e pela instrução, que segundo Luiz A. de Mattos, diz o seguinte:
(...) dele dependeria (...) o êxito da arrojada empresa colonizadora;
pois que, somente pela aculturação sistemática e intensiva do
elemento indígena aos valores espirituais e morais da civilização
ocidental e cristã é que a colonização portuguesa poderia lançar
raízes definitivas (...) (1958, p. 31).

Percebe-se, que a organização escolar no Brasil colônia está completamente


ligada aos interesses da política colonizadora portuguesa. Além disso, em
decorrência ao acentuado estado “primitivo” em que se encontrava a educação
indígena, a educação não chegara a se escolarizar.
Os padres jesuítas, assim chamados, movidos por um grande sentimento
religioso, estabeleceram as diretrizes da educação brasileira por mais de duzentos
anos. O compromisso dos jesuítas era basicamente catequizar os nativos
adaptando-os à mão de obra e ao mesmo tempo torná-los dóceis e subversivos à
coroa portuguesa.
Para a pedagoga Maria Luísa Santos Ribeiro:
Num contexto social com tais características, a instrução, a educação
escolarizada só podia ser conveniente e interessar a esta camada
dirigente (pequena nobreza e seus descendentes) que, segundo o
modelo de colonização adotado, deveria servir de articulação entre
os interesses metropolitanos e as atividades coloniais. (2007, p. 20).
13

Nota-se que para Ribeiro, em uma sociedade aristocrática e escravocrata


alicerçada por uma economia agrícola rudimentar, não havia necessidade de
pessoas letradas e assim o povo estava excluído do sistema educacional vigente.
Os jesuítas permaneceram com a missão de catequizar os necessitados, mas
com o intuito de obter mais lucros, a Companhia Jesus afastou-se dos seus
objetivos e voltou-se para a educação das elites. Este modelo de educação
sobreviveu todo o período colonial e imperial.
Na primeira metade do século XVIII, aconteceu uma série de mudanças no
sistema educacional do Brasil, Marques de Pombal expulsou os jesuítas, tirou o
poder educacional das mãos da igreja e transferiu para o Estado criando assim um
sistema de ensino pelo e para o Estado. Quanto à situação da educação, introduziu-
se uma solução paliativa através das chamadas Aulas Régias. As especialistas em
historia da educação Seco e Amaral, afirmam que:
Com a implantação do subsídio literário, imposto colonial para
custear o ensino, houve um aumento do número de aulas régias,
porem ainda muito precário devido à escassez de recursos, de
docentes preparados e de falta de currículo regular. Ademais, vemos
uma continuidade na escolarização baseadas na formação clássica,
ornamental e europeizante dos jesuítas, isto porque a base
pedagogia jesuítica permaneceu a mesma (...) para Portugal as
reformas no campo da educação, que levaram a laicização do ensino
representou um avanço, para o Brasil tais reformas significaram um
retrocesso (...) com o desmantelamento completo da educação
brasileira (...). (2010, p. 7)

Mesmo com a expulsão dos jesuítas e a instauração das Aulas Régias, a


situação educacional do Brasil não avançou, os professores eram nomeados por
indicação, tornavam-se detentores vitalícios de suas aulas régias, geralmente não,
tinham preparação para a função, eram leigos e mal pagos. Como demostravam-se
autoritários abafaram a criatividade individual e desenvolveu a submissão as
autoridades.
Com a expectativa da vinda da família real para o Brasil na primeira década
de 1800, o panorama educacional vigente mudou e começou a se expandir. A
expansão educacional aconteceu não com o intuito reestruturar a educação para a
melhoria do povo brasileiro, mas sim para receber a família real e a elites
aristocráticas que acompanharam a coroa portuguesa.
Em 07 de setembro de 1822, D. Pedro declara o Brasil independente e em
1824 surge à primeira Constituição Brasileira que “assegura” em seu artigo 179 que:
14

“instrução primária é gratuita para todos os cidadãos”. Mas até a proclamação da


República em 1889, praticamente nada foi feito pela educação brasileira.
Com a influência positivista de Comte, o período Republicano foi marcado
pelas diversas reformas educacionais e por movimentos que mudou a atual
conjuntura do processo político brasileiro. Dentre elas destaca-se a semana da arte
moderna em 1922.
Ao longo dos séculos, a educação brasileira atravessou vários períodos, mas
só passou a receber uma atenção especial em 1988 com a nova constituição que
defende a educação como um direito de todos e dever do Estado e da família, mas
ela ainda está permeada de desafios principalmente em um combate severo à
evasão escolar dentro da nossa conjuntura atual.
Para Saviani:
Se os problemas não se resolvem, não é por falta de conhecimento
das soluções, nem por insuficiência de recursos. O legado negativo
(...) persistirá enquanto forças dominantes se negarem a pôr em
prática as medidas que a experiência já chancelou como sendo
apropriadas para as questões que estamos enfrentando. (, 2004, p.
54)

No entender de Saviani, ainda vivemos em uma sociedade fragmentada, e


que a hegemonia dominante ignora direitos básicos através de modelos
desorganizados que perpetuam os mesmos erros. Contudo, faz necessário
promover a ética na educação que é o seu principal componente para a qualidade
total.
Apesar de ter uma legislação avançada em matéria de educação, apesar de
que, o pensamento pedagógico brasileiro ser em geral voltado à concepção
progressista, o Brasil é um dos países que tem o menor desempenho no setor.
Diante desse quadro pavoroso, nos últimos anos foram tomadas algumas medidas
que resultaram num avanço considerável. Mas com a deterioração atual da crise
econômica, porém, deverá ter sérias consequências para essas crianças.

2.2 - Conceito de educação

O processo educacional é um fator imprescindível para a formação do ser


humano, tanto sob a aquisição de conhecimentos didáticos pedagógicos quanto aos
valores morais a ele interligados. A educação no sentido mais restrito delineará os
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avanços e a garantia de um futuro melhor para todos os grupos sociais ao qual o


indivíduo esta inseridos.
A educação sob a visão pedagógica contemporânea é muito mais que um
conhecimento repassado nas escolas, ela corresponde a um conjunto de
conhecimentos e valores intrínsecos que serão refletidos pelo caráter do indivíduo
em seu convívio social.
Os gregos foram os pioneiros da filosofia, no intuito de descobrir que o
pensamento racional pode investigar a razão de ser das coisas. De fato, foi com eles
que brotou a filosofia, ao empregar a razão para descobrir o fim último das coisas e
resolver todos os problemas existentes naquela época.
Os sofistas instruíam aos jovens gregos, a arte da retórica, da fala do
convencimento como mecanismo de poder, com a finalidade de fazer preponderar
seus interesses de classe. Reconheciam que cada homem via o mundo a seu modo
e que não era possível uma ciência autêntica, de caráter objetivo e universalmente
válido. Para os sofistas, portanto, não havia verdades absolutas. Eles propagavam
um sistema educacional que pudesse trazer felicidade e triunfo ao indivíduo. A
educação não era conhecida como um direito do cidadão grego, mas era por meio
dela, que os homens tornavam-se melhores e felizes.
Sócrates, Platão e Aristóteles, conceberam uma nova visão do homem e do
universo. Os filósofos gregos afirmavam que a busca do conhecimento só podia ser
alcançada por meio da razão e da educação. A verdade para Sócrates era uma
busca, e o conhecimento verdadeiro não pode ser relativo a cada sujeito
cognoscente. A verdade deve conter autonomia, deve existir e ser válida para todos.
Neste sentido, a ciência deve ter caráter universalista, sendo válida para
todos, em todos os tempos. Segundo Danner:
A sociedade política e suas instituições, para Sócrates, Platão e
Aristóteles, têm uma função formativo-educativa, no sentido de que
determinam a justiça ou a injustiça na sociedade e, principalmente,
no sentido de que os valores aí dominantes serão os valores
hegemônicos em termos de sociabilidade. A justiça ou a injustiça da
política e das instituições. (2010, p. 46)

A preocupação dos gregos era a de construir o homem para uma sociedade


ideal. Educação é liberdade, um processo capaz de nos abduzir de uma condição de
ignorância. Mas não pode ser pela força. Nesse sentido, eles afirmam que a
16

educação deve direcionar o homem a alcançar a absoluta realização, mas isso só se


torna possível se ele expandir suas faculdades físicas, morais e intelectuais.
Assim sendo pode-se afirmar em que a educação é a questão-chave para a
sociedade política, no sentido de que deveria ser a política pública a base dessa
mesma sociedade política e de suas instituições, e também para a teoria política, na
exata medida em que o ideal de uma sociedade justa e de uma formação humana
bem sucedida somente seria possível por meio dela.
Uma sociedade política que quiser desenvolver justiça social e auxiliar na
realização da melhor formação humana, portanto, deve necessariamente ter a
educação como sua instância central, tem de investir de todos os modos na
educação.
Portanto podemos hoje argumentar sobre em que consistiria essa educação
(como aqueles filósofos também discutiram para o seu momento histórico), mas
seguramente não podemos contestar que a educação é efetivamente esse núcleo
central para realizarmos a construção da justiça na sociedade e a realização da
melhor composição humana.
Desta forma, para alcançar caminhos sólidos e efetivos, capazes de modificar
o homem, é fundamental que Estado, família e sociedade estejam empenhados na
melhoria básica da educação. Nessas condições, considerando-se que o perfeito
equilíbrio social necessita de uma educação de qualidade, é essencial que ela seja
percebida, não apenas como o acesso ao conhecimento, mas, sobretudo, como
instrumento crucial na transformação e no desenvolvimento do homem, propiciando-
lhe uma formação cidadã e humana.

3- A EVASÃO ESCOLAR NO BRASIL

A evasão escolar é um desafio tão estarrecedor que nenhum local pode-se


considerar imune a este problema, a luta deve ser constante, a sociedade a família e
o estado, devem sempre unir esforços para que somente assim, posam juntos
vencer o principal inimigo da educação que ainda continua vivo e tirando o sono de
muitos profissionais que atuam na área da educação. Para ter compreensão sobre a
gravidade do problema o melhor é apresentar o seu conceito.
É o abandono da escola antes do término de um curso. Vários
fatores contribuem para isso, avultando entre outros, o pauperismo,
como o mais ponderável. No ensino de 1º grau, a evasão escolar é
17

mais acentuada a partir da 3ª série, pois que as crianças do meio


econômico precário, tendo atingido uma idade em que os pais as
consideram capazes de os ajudar , passam a prestar pequenos
serviços no lar ou fora do lar, contribuindo muitas vezes
financeiramente para o sustento da família
(ÁVILA, 1992, p. 273).

Inúmeros foram os estudos e as buscas de soluções, mas o fenômeno


continua vivo, as estatísticas são as provas cabais da instalação desta gangrena
dentro das escolas. Estudos revelam este enraizamento quase sem solução às
sucessivas tentativas de revertê-lo, seja através das constantes pesquisas sobre as
causas, seja pelas reformas educacionais ou pelas medidas tomadas pelos gestores
administrativos responsáveis pelos órgãos competentes.

3.1- Diretrizes para a educação brasileira e a evasão escolar

A Constituição Brasileira (1988) estabelece em seus artigos (205 a 227), que


a educação é um direito público subjetivo que deve ser assegurado a todos os
cidadãos, através de parcerias entre: o Estado, a família, a sociedade, e o poder
público.
Após a aprovação da Constituição Brasileira, inspirado no seu artigo 227 na
justificativa do projeto de lei do Senado 193, apresentado pelo então senador Ronan
Tito em 30 de junho de 1990, origina-se o ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA), que vem ser sancionado sob a Lei 8.069 em 13 de julho de
1990, sustentado sobre dois pilares básicos – a concepção da criança e do
adolescente como SUJEITOS DE DIREITOS e a afirmação de CONDIÇÃO
PECULIAR DE PESSSOA EM DESENVOLVIMENTO - ao qual assegura-se no seu
Capítulo IV Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer que:
Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando
ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício
da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:
I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II – direito de ser respeitado por seus educadores;
54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente:
I – ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a
ele não tiveram acesso na idade própria;
VII – atendimento no ensino fundamental, através de programas
suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e
assistência à saúde.
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público
subjetivo.
18

Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de matricular seus


filhos ou pupilos na rede regular de ensino. (ECA, 1990).

Após seis anos, também em consonância com a Constituição Brasileira, surge


uma nova lei para regulamentar definitivamente a educação: a lei Darcy Ribeiro (LEI
DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA –LDBEN– de 20 de
dezembro de 1996), que reafirma no Título II que trata dos princípios e fins da
educação nacional em seu artigo 2º enfoca que:
A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios
de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por
finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualidade para o trabalho. (LDBEN,
1996).

Assim, percebe-se que a educação não é apenas um direito cuja


responsabilidade está imposta apenas a um órgão ou instituição, mas sim um direito
que tem sua fundamentação assegurada pelo Estado, e que é compartilhado acima
de tudo por todos.
Contanto, quaisquer que sejam os motivos, a evasão escolar é uma causa
que incomoda todos os órgãos e a nação brasileira, pois o desenvolvimento de um
país se mede pelo seu nível educacional.
Partindo por esse pressuposto, a evasão é a pior forma de exclusão através
do ponto de vista dos estudiosos da educação, pois alunos e alunas que evadem,
perdem a oportunidade de aprender trocar informações com outras pessoas num
ambiente letrado, deixando de construir e interagir o conhecimento, de adquirirem
habilidades na leitura e na escrita, permanecendo margeados sob a opressão e a
ignorância.
Na perspectiva de Freire:
Oprimidos que intrometam [sic] a „sombra‟ dos opressores e seguem
suas pautas, temem a liberdade, na medida em que esta, implicando
a expulsão desta sombra, exigiria delas que „preenchessem‟ o „vazio‟
deixado pela expulsão com outro „conteúdo‟ – o de sua autonomia. O
de sua responsabilidade, sem o que não seriam livres. A liberdade,
que é uma conquista, e não uma doação, exige uma permanente
busca. Busca permanente que só existe no ato responsável de quem
a faz. Ninguém tem liberdade para ser livre: pelo contrário, luta por
ela precisamente porque não a tem. Não é também a liberdade um
ponto ideal, fora dos homens, ao qual inclusive eles se alienam. Não
é ideia que se faça mito. É condição indispensável ao movimento de
busca em que estão inscritos os homens como seres inconclusos.
(1987, p. 18).
19

Sob este olhar, Freire aborda que estudar é um ato social e próprio do ser
humano e que, portanto, há sempre a necessidade de estar em um ambiente escolar
interagindo com outras pessoas, porém esses seres inconclusos não se deve
estender aos níveis da absoluta incapacidade de leitura e escrita, situação essa que
é favorecida pela evasão escolar determinada pela sua causa e consequência.
No artigo Alfabetização e letramento: definição de conceitos, apresentação de
alguns dados sobre o fracasso escolar e discussão do papel social da escola:
A aquisição de conhecimento é essencial para o desenvolvimento
histórico, econômico e social das classes menos favorecidas e uma
condição para que essas classes reivindiquem, se assim o quiserem,
uma distribuição mais justa de bens e serviços produzidos por nossa
sociedade. (ANA MARIA FERNANDES, 2010 p.8).

Nesse artigo, a autora fortalece o que Freire alerta e deixa claro que a luta
pela liberdade advém principalmente da educação, pessoas afastadas da escola
tendem permanecer as margens da sociedade e perpetuar a incapacidade de
envolver-se no mundo letrado, e até mesmo de reconhecer e cobrar seus direitos.
Embora leis sejam elaboradas para trazer essas pessoas para dentro da
escola, ainda há outros fatores que contribuem para esse afastamento: fator
econômico e social.
Atualmente alunos queixam-se do abandono e da mesmice dentro das
escolas brasileira, pensando por este lado, somamos esta inércia educacional à falta
de incentivo das famílias e a as baixas remunerações dos profissionais que atuam
diretamente no processo ensino aprendizagem se sentindo abandonados, teremos
mais alguns agravantes atuando diretamente para o fracasso escolar.
Combater a repetência escolar é um passo muito importante para garantir o
aluno em sala de aula e diminuir a evasão escolar, a boa escola normalmente vem
de um bom professor e para se ter um bom professor e necessário que ele seja bem
remunerado, mas para tanto, políticas públicas de ação devem ser implantadas
urgentemente para que realmente possa acontecer redução drástica desse quadro
caótico que se apresenta insistentemente em nossas escolas. A Constituição
Brasileira deixa claro que nós devemos ter uma educação de qualidade e não uma
educação de fachada que é o nosso modelo atual.
Além das políticas públicas adequadas dentro da escola, deve haver mais
investimento em segurança pública e também combater a ignorância cultural em que
sem estudos o indivíduo pode se “virar” igual a alguém da família ou conhecido que
20

não tem estudos, mas possui condições financeiras estáveis, ou seja, a escassez de
oportunidades.
Assim sendo, entender e interferir positivamente para esclarecer que a
evasão é uma causa que pertence a todos e que muito há que se fazer para no
mínimo amenizar esse processo que permanece instalado em nosso meio, e que
medidas enérgicas devem ser tomadas por parte dos nossos gestores e
governantes para que somente assim pudéssemos sanar essa situação tão
desagradável que tira o futuro de nossas crianças quando elas mais precisam de
ajuda que é a fase da educação.
A evasão escolar por ser um problema que deve ser compreendido e
compartilhado por todos os agentes responsáveis diretos pela educação no que diz
o artigo 205 da Constituição Brasileira: “A educação, direito de todos e dever do
Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade
(...)”, e do artigo 56, e o inciso II do ECA:
Os dirigentes de estabelecimentos de ensino fundamental
comunicarão ao Conselho Tutelar os casos de: (...), II – reiteração de
faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados os recursos
escolares. (Estatuto da Criança e do Adolescente, 1990).

Determina claramente que se torna necessário estabelecer um procedimento


uniforme para uma atuação eficiente de uma rede envolvendo todos os atores
responsáveis diretos pela educação.
Durante a implantação do Estatuto da Criança e do Adolescente, também
surge o Conselho Tutelar conforme determina o ECA em seus artigos (131 a 140),
ele é um órgão municipal destinado a zelar pelo cumprimento deste Estatuto e é
apontado como principal parceiro dos municípios no enfrentamento a exclusão
escolar
Com base nesses fatos, é de suma importância o papel do professor como
principal agente de resgate, frente ao seu contato diário com o aluno, acionar a rede
de combate à evasão, enunciando os fatos para que a direção procure a família ou o
órgão competente (Conselho Tutelar), e este tenha ciência e inicie o planejamento
sobre as medidas cabíveis a serem tomadas.
Nesse sentido, compete aos órgãos envolvidos estabelecer a melhor forma de
como intervir, as medidas a serem tomadas devem ser detalhadas até a final
intervenção do Poder Judiciário e é necessário que ambos tenham ciência das
ações já notificadas para se evitar a reincidência. Quanto aos pais ou responsáveis
21

às medidas também poderão ser aplicadas conforme previstas no artigo 129, incisos
I a IV do Estatuto da Criança e do Adolescente.

3.2- O fracasso escolar em alfabetização.

Estudos apontam que a perda da especificidade na alfabetização parece vir


se acentuando cada vez mais dentro das escolas brasileiras, as últimas décadas
mostram que essa regressão se fez por conta do embaraço em que muitos autores
fizeram erroneamente sobre o fator alfabetização e letramento.
Para explicar esse fato, a Professora titular emérita da Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG). Pesquisadora do Centro de Alfabetização, Leitura e
Escrita (Ceale) da UFMG Magda Soares, usa um neologismo chamado de
“desinvenção” da alfabetização ao qual ela aponta algumas causas que vem se
acentuando insistentemente dentro das escolas brasileiras há muitas décadas, mas
que hoje, vem ocorrendo de forma mais inusitada.

Anteriormente ele se revelava em avaliações internas à escola


sempre concentrado na etapa inicial do ensino fundamental,
traduzindo em altos índices de reprovação, repetência e evasão; hoje
o fracasso revela-se em avaliações externas à escola – avaliações
nacionais (como o SAEB, o ENEM) e até internacionais (como o
PISA) - espraia-se ao longo de todo ensino fundamental, chegando
mesmo ao ensino médio, e se traduz em altos índices de precário ou
nulo desempenho em provas de leitura, denunciando grandes
contingentes de alunos não alfabetizados ou semi-alfabetizados
depois de quatro, seis, oito anos de escolarização. (SOARES, 2004,
p. 9).

Com base em Soares, a perda da especificidade em alfabetização é um entre


os vários fatores que está intrinsicamente ligados ao fracasso escolar em
alfabetização, e que isso também contribui para a evasão em massa nas escolas
brasileiras. Quando alunos não aprendem eles são reprovados ou desistem e este
resultado traz consequência tanto para a escola quanto para a família que acaba
aceitando a desculpa de que o aluno vai desistir de estudar.
As três últimas décadas houve um aumento significativo no número de alunos
matriculados nas redes públicas do país, mas também um número expressivo de
alunos fora da escola. Mediante o surgimento da globalização muitos foram os
22

professores que permaneceram atados à suas metodologias ultrapassadas somadas


a falta de esclarecimento sobre a alfabetização e o letramento.
Para a pesquisadora e educadora Magda Soares, alfabetização e letramento
são processos diferentes, indissociáveis que devem estar interligados durante o
processo ensino aprendizagem para que haja assim a aprendizagem.
Com o advento da LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO
NACIONAL (LDBEN) em 1996, ela trouxe a proposta para que após dez anos a
contar a partir de sua elaboração, todos os professores que forem atuar na área da
educação, teriam que possuir no mínimo o curso superior.
Art. 87. É instituída a Década de Educação, a iniciar-se um ano a
partir da publicação desta lei.
§ 4º Até o fim da Década da Educação somente serão admitidos
professores habilitados em nível superior ou formados por
treinamento em serviço.(LEI DE DIRETRIZES E BASES DA
EDUCAÇÃO BRASILEIRA, 1988).

Esta meta foi uma grande conquista para a educação brasileira, e para suprir
a carência dos profissionais atuantes surgiu uma nova proposta denominada PLANO
NACIONAL DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES (PARFOR), que é muito bem
recebido por aqueles que já atuavam, mas necessitavam da formação adequada
para atuar nessa área.
Apesar de todo investimento e do crescente número de professores com
ensino superior nas séries iniciais do ensino fundamental, ainda é irrelevante o
percentual de alunos alfabetizados na idade certa, e esta falta de aprendizado acaba
contribuindo para o aumento da evasão escolar.
Observando por este ponto de vista, compreendemos outra forma que
também causa a evasão escolar: dificuldades dos alunos no processo de leitura e
escrita e a defasagem em idade série. Quando há avanços, o desempenho é
insatisfatório, o aluno tem dificuldades de leitura, e em matemática não conseguem
resolver problemas simples e frente a essas circunstâncias críticas, o aluno passa a
ausentar das aulas por não estarem aptos a acompanhar o raciocínio dos demais.
Diante desse aumento da evasão escolar, é preciso que os novos
profissionais da educação contemplem as necessidades de uma escola que esteja
realmente voltada cada vez mais à realidade do aluno, pois a evasão não possui
uma única causa, em cada local ela apresenta uma faceta diferente que varia entre
fatores externos assim como também podem ser internos.
23

Dentre os fatores externos, podemos citar a família desestruturada e


desinteressada que transforma o processo educacional em um jogo de empurra em
que o maior perdedor é sempre o aluno que não encontra o incentivo em casa para
estudar e ao contrário, ainda transfere seus conflitos para a escola que mostra-se
impotente diante desses novos desafios.
Uma criança desmotivada não com certeza estará propensa ao fracasso, pois
a aprendizagem depende muito da autoestima e principalmente da atuação da
família. A motivação é inerente do ser humano e é algo essencial para o processo
de formação da vida, sendo indispensável para um desenvolvimento normal e
saudável.
Outro aspecto importante que agrava a situação do abandono escolar, é a
falta interesse do próprio aluno que percebendo a escola em decadência sem algo
novo para lhe oferecer, passa a colocar os estudos em um plano secundário e
concentra a sua atenção no que o mundo tem a oferecer, ou seja, a marginalização
e o dinheiro de modo fácil.
Quanto aos fatores internos, dentre os mais frequentes são a falta de
infraestrutura bastante acentuada dentro das escolas brasileiras, falta de
investimento nos espaços físicos das escolas para torna-las atrativas, investimentos
em bibliotecas e laboratórios escolares, políticas educacionais voltadas para a
educação, professores trabalhando nas piores condições sem ao menos um plano
de carreira decente, planos de aula nada chamativos e a escola continua assim
como os professores, presa ao passado sem a devida competência para
acompanhar as inovações que surgem a cada instante.

3.3- As desigualdades econômicas, sociais e educacionais, também geram a


evasão escolar.

Pesquisas revelam que mais de 3,8 milhões de crianças e adolescentes


estavam fora da escola no Brasil em 2010, segundo o Censo Demográfico de 2010.
Estes dados são assustadores para qualquer país principalmente para o Brasil que é
um dos mais ricos da América do Sul.
Através destes dados alarmantes, percebe-se que a sociedade brasileira
ainda deverá investir muito em educação e que também apresenta profundas
desigualdades sociais, fatos resultantes de um país ainda em desenvolvimento. A
24

população menos favorecida vivencia um processo histórico de disputa de vários


interesses sociais, quase sempre antagônicos e que os pesquisadores procuram
soluções incessantes para resolver e reconstruir a história dessa sociedade.
As desigualdades sociais, herança histórica desde a colonização presente
nas famílias brasileiras, também é um fator que contribui muito para o aumento da
evasão escolar dentro do nosso país. Partindo por este pressuposto de que
vivemos em uma sociedade dividida em classes sociais, estudos realizados pelo
Fundo das Nações Unidas para a Infância UNITED NATIONS CHILDREN‟S FUND
(UNICEF) apontam que:
Em relação às barreiras econômicas, a pobreza é o maior desafio a
ser vencido pelas crianças e pelos adolescentes brasileiros para ter
acesso a uma educação de qualidade. Da mesma forma como
acontece com a questão raça, todos os indicadores revelam que os
grupos mais pobres da população são os que apresentam as
menores taxas de frequência à escola e os maiores índices de
repetência e abandono. Por causa das dificuldades econômicas,
muitos estudantes acabam tendo que trabalhar para ajudar na renda
familiar, o que compromete seu desempenho escolar e os leva a
deixar seus estudos. (2012, p. 67).

Percebe-se que a UNICEF enfatiza a pobreza como o maior desafio


encontrado pelas famílias brasileiras para que seus filhos tenham acesso ao ensino
de qualidade assegurado pela Constituição Brasileira, mas para o promotor de
justiça Murillo José Digiacomo, a evasão não é um problema que tem sua relevância
acentuada somente na pobreza. “(...) conclui-se que é a falta de educação, no
sentido mais amplo da palavra, e de uma educação de qualidade, que seja atraente
e não excludente, e não a pobreza em si considerada, a verdadeira causa”.

A evasão escolar é um problema crônico em todo o Brasil, sendo


muitas vezes passivamente assimilada e tolerada por escolas e
sistemas de ensino, que chegam ao cúmulo de admitirem a matrícula
de um número mais elevado de alunos por turma do que o adequado
já contando com a "desistência" de muitos ao longo do ano letivo.
Como resultado, em que pese a propaganda oficial sempre alardear
um número expressivo de matrículas a cada início de ano letivo, em
alguns casos chegando próximo aos 100% (cem por cento) do total
de crianças e adolescentes em idade escolar, de antemão já se sabe
que destes, uma significativa parcela não irá concluir seus estudos
naquele período, em prejuízo direto à sua formação e, é claro, à sua
vida, na medida em que os coloca em posição de desvantagem face
os demais que não apresentam defasagem idade-série
(DIGIÁCOMO, 2005).
25

Embora contrapondo e às vezes concordando com a UNICEF, eles confirmam


um ponto em comum que frequentemente o que ocorre dentro das escolas é o total
abandono e escolas funcionando sem condições de oferecer o ensino que está
assegurado pela lei.
Outro fator apontado pela UNICEF (2012), na educação brasileira e a questão
da raça: “As maiores desigualdades se verificam quando leva em consideração a
raça (...) enquanto 8.99% das crianças brancas (1.084.260) tem idade superior a
recomendada no Ensino Fundamental, entre as negras é de 16,46% (2.667.832)”.
Percebe-se que a exclusão das crianças negras dentro da escola acontece
com maior intensidade, isto traz dificuldades no processo de escolarização e é
comum encontrar crianças negras que abandonou a escola porque sofreu bullying
durante sua pequena passagem pela escola e isso o fez abandoná-la. Esse fato
torna-se mais grave conforme a criança muda de idade ou sobe de série.
Pesquisas recentes realizadas pela UNICEF apontam que menos de 1% dos
municípios brasileiros tem infraestrutura próxima da ideal, com biblioteca,
laboratórios e quadras poliesportivas para oferecer um ensino de qualidade aos seus
alunos.
Diante de tamanha dificuldade enraizada na família com dependência
financeira, constatam-se não raras vezes crianças que abandonam a escola não por
livre e espontânea vontade, mas sim na maioria das vezes por necessidades. Essas
crianças vivem em um mundo de miséria e muitas são forçadas pelos pais a
ajudarem no trabalho, pois o que eles ganham mal dá para sustentar um indivíduo.
Quando uma família possui uma prole considerável, é muito comum encontrar
mais de uma criança que não estão na escola, mas sim em casa cuidando dos
afazeres domésticos ou de alguns irmãos menores, assim fatalmente elas evadem
por necessidades impostas por uma sociedade que ao invés de acolhê-la e respeitá-
la, empurra-a para um abismo cada vez mais profundo.
No livro O enfrentamento da exclusão escolar no Brasil, produzido através de
uma pesquisa realizada pela UNICEF. Diz que:

Como ao trabalhar na infância, o indivíduo prejudica sua educação,


seus salários tendem a ser menores do que aqueles que estudaram.
Assim, seus filhos passam a apresentar maior necessidade de
completar a renda familiar ainda na infância, gerando um círculo
vicioso de pobreza e exclusão. (UNICEF, 2014, p. 101).
26

Dentro de muitas famílias esse processo se dá sem nenhuma preocupação


com o futuro da criança que acaba condenada a perpetuar o passado que já vem de
longos séculos passando de geração e geração que sempre tira uma vida digna do
futuro dessa criança.
O trabalho infantil sempre foi um vilão para a permanência do aluno na
escola, o fato de constituir uma camada social menos favorecida, obriga-o a
trabalhar para sua própria manutenção e até mesmo dos seus familiares. É muito
comum em regiões pobres as crianças abandonarem a escola para buscar trabalho
e deixar para traz o sonho de estudar para se tornar alguém melhor

3.4- A educação do homem do campo

O campo ainda é inferiorizado em relação aos aglomerados urbanos, a falta


de interesse em desenvolver uma agricultura familiar mecanizada em que beneficie
os pequenos produtores e que traz harmonia ao meio ambiente e a falta de projetos
específicos voltados às escolas do campo aos quais possam inibir o êxodo das
crianças e jovens que afastam para estudar na cidade onde o contexto não é o
deles, não faz parte da agenda dos gestores.
A evasão escolar no campo é mais intensa que a evasão da zona urbana. Há
duas facetas bem definidas quando se trata de educação nas comunidades
campesinas. A primeira é o modelo de educação implantado nessas regiões, a
segunda trata-se de como as comunidades campesinas gostariam que fosse a
educação no campo.
A política atual vê o homem do campo não como um homem moderno, mas
sim como um homem atrasado e dependente dos centros urbanos. Segundo o
pesquisador Fernandes, no texto “Por uma educação básica no campo”, ele diz o
seguinte:
A combinação do trabalho agrícola e industrial é a expressão mais
concreta que nega a concepção de que a cidade e o campo são
mundos à parte. Na realidade se relacionam, se interagem em
dependências recíprocas. A subordinação do camponês ao urbano é
de fato constituída pelas relações políticas, construídas pela
concepção analisada. Essa subjugação é denominada
descaradamente como integração, em que os camponeses são
dependentes nas formas política, econômica e tecnológica.
(FERNANDES 1999, p. 47).
27

Observa-se que a “integração” proposta não é verdadeira, pois percebe-se


que são os movimentos sociais do campo que luta por viabilizar tecnologias
adequadas e que as tecnologias utilizadas no campo estão somente a serviço das
empresas rurais e da agricultura patronal. Não há interesse por uma tecnologia
voltada para agricultura familiar.
Os movimentos sociais camponeses, luta pela reforma agrária e por uma
educação digna para as pessoas do campo. Acredita-se que primeiro é preciso
organizar e educar as pessoas do campo que estão dispostos a reagir e lutar contra
a hegemonia. Talvez esta seja a marca mais incomoda da educação do campo e
sua novidade histórica: os sujeitos que põe em cena como construtores de uma
política de educação e de uma reflexão pedagógica. Talvez seja este protagonismo
que o percurso da educação do campo, feito desde as condições objetivas do
desenvolvimento histórico concreto questiona, mas que necessita ser construído
pelo processo de formação dos sujeitos coletivos, sujeitos que lutam para tomar
parte da dinâmica social, para se constituir como sujeitos políticos, capazes de influir
na agenda política da sociedade.
Abordando os desafios de construir escolas no campo, Fernandes, afirma que
não há investimentos no campo com o interesse de atender os pequenos
agricultores e nem um projeto de educação voltada para a realidade do homem do
campo.

Uma escola do campo é a que defende os interesses, a política, a


cultura e a economia da agricultura camponesa, que construa
conhecimentos e tecnologias na direção do desenvolvimento social e
econômico dessa população. A sua localização é secundária, o que
importa são suas proximidades política e espacial com a realidade
camponesa. (FERNANDES 1999, p. 51).

Percebe-se que o autor aponta a necessidade de um olhar atento e especifico


para as escolas do campo. Não uma escola no campo ou para o campo, mas sim
uma escola social do campo em que leve em considerações a luta do campo com
sua cultura e seus valores.
A própria expressão Educação “do” Campo, em contraponto à
Educação Rural ou Educação “no” Campo, traz em sua concepção o
direito à Educação planejada e praticada nos espaços ocupados
pelos atores do campo. Se a Educação “no” Campo foi gestada como
uma espécie de continuação da educação escolarizada urbana,
apenas transferida para o espaço não urbano, a Educação do
Campo valoriza os saberes da cultura (e da agricultura como
28

produção de cultura) significativo, entende que a construção de um


projeto político-pedagógico específico para o campo parte da
realidade e é capaz de promover educação emancipatória com
referências culturais e políticas para a intervenção das pessoas e dos
sujeitos sociais na realidade em que vivem. (MELO; SILVA 2015, p.
11).

Atualmente os movimentos lutam por uma educação emancipatória


reformulando novas investigações. Que aponte alternativas para o desenvolvimento
social da população camponesa, uma educação escolar vinculada às questões
sociais inerentes à cultura e à luta do campo. Ele ainda demonstra que há um
equívoco entre a relação e interação cidade-campo. Que haja uma mudança na
própria concepção da educação básica do campo.

4- A PESQUISA: RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Tipo de pesquisa

Para desenvolver nosso trabalho, iremos utilizar a pesquisa bibliográfica por


oferecer suportes teóricos a respeito do tema escolhido e a pesquisa de campo
porque irá envolver sujeitos diretamente envolvidos no processo ensino
aprendizagem além de responder as nossas indagações. A pesquisa de campo por
ser um trabalho de ação, tem como objetivo esclarecer dúvidas sobre a problemática
da unidade de ensino.

4.2 Caracterização do campo pesquisado

A Escola Municipal de Ensino Fundamental “João da Silva Lobo”, (CNPJ


075844720001-88) é uma pessoa jurídica de direito público, autorizada a funcionar
sob o código do INEP nº 15094995 anexa à Escola Municipal de Ensino
Fundamental “Manoel Bernardes da Luz” para o Ensino Fundamental, com prédio
situado na comunidade de “Independência”, sendo sua entidade mantenedora
(TÍTULO I DA IDENTIFICAÇÃO, CAPÍTULO I, DA ENTIDADE MANTENEDORA Art.
1º DO REGIMENTO UNIFICADO DAS ESCOLAS MUNICIPAIS DE SÃO
DOMINGOS DO CAPIM) à Secretaria Municipal de Educação (SEMED).
29

Imagem 1 - E.M.E.F. “João da Silva Lobo”

Fonte: Arquivo pessoal, ano 2016.

Enquanto instituição de ensino, a escola integra o sistema municipal de


ensino e, portanto, está submetida às diretrizes e normas previstas na legislação
específica, mais precisamente a Lei Federal 9394/96 LDB (Lei de Diretrizes e
Bases), que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.
Ela está situada às margens esquerda do Rio Capim, em uma comunidade rural com
cerca de 70 famílias. A comunidade varia de classe baixa à miserável, com a
estrutura familiar pouco variada, tendo como principal fonte de renda o cultivo da
mandioca e a extração de açaí e possui 154 alunos devidamente matriculados no
primeiro semestre do ano de 2016. Nessa escola, a idades dos discentes é bem
heterogênea, pois varia entre 05 a 17 anos. Ela atende a demanda de turmas do Pré
I à 8ª série. O horário de funcionamento é das 07h00 às 17h00.
Atualmente a escola possui em seu prédio próprio, duas salas de aula, uma
copa e dois banheiros sendo um masculino e o outro feminino e uma área de
recreação (ver imagem 1). Além disso, funcionam mais quatro salas cedidas pela
comunidade em regime de aluguel (ver imagem 2). A estrutura organizacional da
escola tem a seguinte composição: Responsável pela escola (Direção),
30

Coordenação Pedagógica, corpo docente, corpo discente, secretaria, sala de leitura,


grupo de apoio e Conselho Escolar.

Imagem 2 - Salas cedidas pela comunidade para E.M.E.F. “João da Silva Lobo”

Fonte: Arquivo pessoal, ano 2016.

4.3- A coleta de dados

Para a coleta de dados, preparamos um questionário contendo 12 questões,


sendo quatro questões objetivas e 8 subjetivas (ver apêndice), e distribuídos a um
grupo de oito professores, todos eles concursados para exercer a função do
magistério na rede pública municipal de São Domingos do Capim – PA, estando eles
atuando na Escola Municipal de Ensino Fundamenta “João da Silva Lobo”,
comunidade Independência às margens esquerda do Rio Capim.

4.4- Análise de dados

Os resultados coletados por esta pesquisa se deram através da aplicação de


um questionário com perguntas abertas e fechadas, dirigido aos professores da
referida escola todos com curso superior e com mais de dez anos de atuação em
31

sala de aula, que expuseram estas informações significativas para a apresentação


deste trabalho.
Foram esses os resultados após a aplicação dos questionários:
Perguntado ao professor se ele considera que “suas aulas são atrativas para
os alunos?”, propomos três alternativas que variavam em: Sim; Não; Não sabe
opinar. Obteve-se os seguintes resultados:

Tabela 1 – Sobre as aulas


Considera que suas aulas são atrativas %
Sim 62,5%
Não 37,5%
Não soube opinar 0%
Total 100%
Fonte: Nelson Pinheiro e Iraci Santana, 2017.

Na segunda pergunta foi solicitado ao professor que respondesse se já havia


percebido “em qual semestre é mais frequente o processo de evasão escolar pelos
alunos?”. Propomos como alternativas para respostas: Primeiro; Segundo; Em
ambos. O resultado foi o seguinte:

Tabela 2 – Maior frequência da evasão


Em que semestre é mais frequente o processo de evasão %
Primeiro semestre 0%
Segundo semestre 100%
Em ambos 0%
Total 100%
Fonte: Nelson Pinheiro e Iraci Santana, 2017.

Continuando com o questionário de perguntas, solicitamos que o professor


respondesse-nos “se ele já havia percebido alguma mudança de comportamento do
aluno antes dele evadir da escola”. Propomos três alternativas que variavam em:
Sim; Não; Não sabe opinar. O resultado foi o seguinte:
32

Tabela 3 – Mudança de comportamento


Percebe mudança de comportamento do aluno antes de evadir %
Sim 50%
Não 37,5%
Não soube opinar 12,5%
Total 100%
Fonte: Nelson Pinheiro e Iraci Santana, 2017.

Para a quarta pergunta, inquietamos a procura de um esclarecimento pelo


professor, se ele “oferece respostas às ansiedades e dúvidas dos seus alunos”, a
pergunta foi aberta deixando a critério pessoal de cada um ao qual a resposta foi a
seguinte:

Tabela 4 – Respostas aos anseios e dúvidas


O professor oferece respostas aos anseios e dúvidas dos alunos? %
Sim 37,5%
Não 62,5%
Total 100%
Fonte: Nelson Pinheiro e Iraci Santana, 2017.

62,5% dos professores responderam “sim”, que estavam preparados para


resolver problemas relacionados à dúvidas e ansiedades apresentados pelos alunos
matriculados para sua sala de aula, pois através do Projeto Político Pedagógico
(PPP), amparavam a participação dos interesses da comunidade, mas 37,5%
responderam que “não”, pois muitos alunos iniciam o ano letivo na ansiedade de
avançar para a turma seguinte e que muitas vezes sua ansiedade acaba em
frustrações, pois a própria escola também não corresponde com as expectativas dos
seus profissionais.

Foi questionado na quinta pergunta se “a escola desperta o interesse dos


alunos no processo ensino/aprendizagem”, a pergunta também ficou aberta para
que o professor esclarecesse sua resposta, o resultado foi o seguinte:
33

Tabela 5 – A escola e o interesse dos alunos


A escola desperta o interesse dos alunos? %
Sim 25%
Não 75%
Total 100%
Fonte: Nelson Pinheiro e Iraci Santana, 2017.

Dos professores entrevistados, 25% acreditam que “sim” a escola esta dentro
das possibilidades do aluno e que desperta o interesse dos discentes, mas 75%
disseram “não”. Eles afirmam que, para a escola despertar o interesse dos alunos, é
preciso trabalhar acompanhando as inovações tecnológicas e que só com o quadro
e o giz, fica difícil despertar o interesse dos alunos.
A sexta questão foi direcionada ao professor no sentido se ele considera que
“a infraestrutura da escola está coerente com a realidade dos alunos”. A questão foi
para respostas abertas e foram estas as respostas:

Tabela 6 – Infraestrutura da escola


A infraestrutura das escolas está coerente com a realidade dos alunos? %
Não 100%
Total 100%
Fonte: Nelson Pinheiro e Iraci Santana, 2017.

Houve unanimidade na resposta desta questão, 100% dos professores


questionados disseram “não”. Um professor afirmou que:
“A escola está ultrapassada, ela não acompanhou a evolução do
homem, parece que ficamos encalhados a quatro séculos passados,
e pra piorar, a maior parte das escolas do munícipio estão
sucateadas sem a mínima condição de funcionamento, portanto,
para que a escola desperte o interesse de nosso alunado, é preciso
muito investimento, principalmente na infraestrutura e na capacitação
de profissionais adaptados com escolas do século XV”.
(PROFESSOR “A”).

Os outros professores também criticaram bastante a qualidade de nossas


escolas, “e que escolas abandonadas de fora para dentro, também geram o
abandono de dentro para fora”. Tudo se reflete que as escolas não estão prontas
para despertar o interesse de nossos educandos.
34

A sétima pergunta teve como intenção descobrir se a escola já se mobilizou


no sentido de combater a evasão, e como ocorreu.

Tabela 7 – A escola no combate à evasão


A escola já se mobilizou no sentido de combate à evasão? %
Sim 62,5%
Não 37,5%
Total 100%
Fonte: Nelson Pinheiro e Iraci Santana, 2017.

Dos professores questionados, 62,5% disseram que “sim”, que em conversas


com direção e coordenação, optaram por fazer visitas às famílias de alunos em risco
de evasão, e que o resultado acabou sendo positivo. Outro disse que: “é comum
dialogar com o aluno, apontando as perspectivas de futuro para que ele continue a
estudar”.
Mas, 37,5 dos professores questionados, disseram “não”, a justificativa mais
comum entre eles foi à falta de tempo, devido morarem na cidade e se sentirem
impossibilitados de permanecerem mais tempo longe de suas famílias. Eles
colocaram justificando que acordavam às 05h00 e que ainda faziam travessias de
barco no percurso por duas vezes. Assim, só retornariam para casa às 17h00,
ficando impossibilitados de disporem mais tempo com os alunos, já que
permaneciam na escola por até doze horas por dia.
A pergunta de numero oito foi uma pergunta aberta com a intenção de saber
quais são os elementos essenciais para que o aluno permaneça na escola.

Tabela 8 – Elementos essenciais para a permanência do aluno na escola


Elementos essenciais para que o aluno permaneça na escola. %
Merenda escolar 37,5%
Estrutura e Atratividade 37,5%
Presença da tecnologia 12,5%
Acolhimento, respeito e carinho 12,5%
Total 100%
Fonte: Nelson Pinheiro e Iraci Santana, 2017.
35

Houve uma crítica de um professor sobre a ausência de instrumentos


tecnológicos dentro da escola, ele acredita que em uma escola informatizada, o
aluno tem mais chance de permanecer na escola.
Na nona pergunta, procuramos saber se o professor já havia percebido algum
tipo de bullying sofrido por alunos que se afastaram da escola e a resposta foi a
seguinte:

Tabela 9 – Bullying
O professor já percebeu bullying sofrido por alunos evadidos %
Sim 62,5%
Não 37,5%
Total 100%
Fonte: Nelson Pinheiro e Iraci Santana, 2017.

A décima pergunta foi elaborada com o intuído de descobrir se o professor


acredita que o processo de evasão escolar é cultural, obtemos a seguinte resposta:

Tabela 10 – Cultura da evasão


O professor acredita que o processo de evasão é cultural %
Sim 62,5%
Não 37,5%
Não soube opinar 0%
Total 100%
Fonte: Nelson Pinheiro e Iraci Santana, 2017.

62,5% dos entrevistados acreditam que famílias com histórico de abandono


aos estudos, são mais negligentes com a responsabilidade de enviar a criança até a
escola, eles acreditam que essa cultura influencia na assiduidade do aluno, mas
37,5% acreditam ao contrário, que famílias com histórico de abandono da sala de
aula são as que mais incentivam as crianças, pois se consideram arrependidos e
não quer que o fato torne a se repetir.
A décima primeira pergunta foi diretamente com a intenção de descobrir dos
professores qual seria a opinião deles sobre a evasão dos alunos da escola, se
havia algum motivo já detectado, e a resposta foi a seguinte:
36

Tabela 11 – Porque os alunos evadem

Em sua opinião, porque os alunos evadem da escola? %


Ajudar a família (trabalho) 50%
Fracasso escolar 25%
Falta de atratividade 25%
Total 100%
Fonte: Nelson Pinheiro e Iraci Santana, 2017.

Quatro professores responderam que geralmente quando um aluno afasta da


escola ele tem como intenção ajudar a família, já que geralmente ela dispõe de
poucos recursos e embora participem de algum programa social, ainda assim e
necessitam da ajuda do filho seja para colheita extrativista como no caso o açaí ou
até mesmo no plantio da mandioca.
“é muito comum os pais levarem os filhos para o açaizal, pois
geralmente eles são leves e colhem açaí até mesmo das arvores
mais altas o que é um risco para a própria criança ou ate mesmo
quando inicia o plantio da mandioca de novembro e dezembro
quando os pais os levam para ajudar na tarefa do plantio e da
capina. Assim o aluno só retorna a escola em fevereiro quando se
inicia o novo ano letivo”. (PROFESSOR “A”).

Dois professores responderam que em sua opinião o fracasso escolar do


aluno em anos anteriores gera incompatibilidade de idades na turma e que isso seria
um fator responsável pela falta de interesse dos estudos do aluno no ano seguinte.
Outros dois professores, queixaram-se que a escola ainda precisa fazer muita
coisa para realmente chamar a atenção do aluno, em sua opinião Professor “B” “(...)
o aluno afasta-se da escola pela falta de atratividade, algo diferente, chamativo que
prenda a atenção do aluno”. Para ele, o modelo de escola que é proporcionado ao
aluno, é basicamente nulo e não corresponde com a realidade apresentada pela
parte externa ao ambiente escolar.

A décima segunda é bem parecida com a pergunta anterior, mas torne muito
relevante nessa pesquisa que é descobrir dos professores “Que fator ele associa
diretamente com a causa da evasão escolar?”.
37

Tabela 12 – Que fator se associa diretamente com a causa da evasão


Que fator se associa diretamente com a causa da evasão escolar? %
Falte de estrutura familiar 37,5%
Pobreza 25%
Desinteresse/rebeldia e preguiça 12,5%
A própria escola 12,5%
Cultura da evasão 12,5%
Total 100%
Fonte: Nelson Pinheiro e Iraci Santana, 2017.

Três professores afirmaram que um problema que está intimamente ligado à


evasão da criança na escola é a falte de estrutura familiar, eles alegam que a família
participa muito pouco no processo de aprendizagem dos alunos e que isso tende a
desmotivar o aluno a frequentar a escola.
Outros dois professores responderam que o grande vilão no processo da
evasão escolar é o nível de pobreza acentuada nessa região ribeirinha e que os
próprios pais dão o pontapé inicial quando começa tirar os filhos da escola para
colheita extrativista do açaí que coincide sua safra logo no início do segundo
semestre.
Um professor citou o “desinteresse” do aluno pelos estudos agravado pela
falta de estrutura familiar que muitas vezes obriga o aluno a ir pra escola não com
intuito da busca pelo conhecimento, mas apenas para se livrar da criança durante
este período das quatro horas na escola, e que no outro dia o aluno retorna com o
material do mesmo jeito que havia levado.
Um professor expos sua opinião sobre o fator ligado diretamente à evasão
escolar, a própria escola. Ele afirma que “a escola deveria ser mais atraente e que
deveria está preparada para receber o aluno como se fosse uma segunda casa, já
que é nela que ele passa boa parte da sua vida”.
Um professor respondeu que o processo de evasão escolar é diretamente
associado à cultura familiar em não mostrar interesse pelos estudos. Ele frisa que
muitas famílias mantem o discurso de que os estudos não servem para nada, ele
também reforça que estas famílias geralmente colocam o filho na escola apenas
para continuar recebendo algum beneficio federal como o Bolsa Família.
38

5- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os conhecimentos obtidos ao longo desta pesquisa permitem argumentar que


existem alguns pontos na educação brasileira, que podem ser chamados de
estorvos, ou seja, um retrocesso do sistema educacional. Quando se analisa os
diagnósticos dos diferentes autores sobre o processo de evasão escolar, constata-
se que a teoria e a prática se complementam.
Aluno pertencente a grupo familiar com menor poder aquisitivo, com
problemas diversos de estruturação familiar, econômicos e psicológicos, são os que
mais evadem da escola. Além dos problemas abordados, que são a necessidade de
trabalhar para contribuir com o orçamento familiar, deparam com dificuldades de
gestores em manter a escola com o mínimo de dignidade possível, que é obrigação
das três esferas de governo.
Além disso, há problemas de baixa estima, que certamente tem que ser
observado, pois o aluno perde a disposição de lutar por dias melhores, quando
confirma as diferenças entre as condições dele e de seus colegas. É preciso ainda
levar em consideração as questões que envolvem os alunos dentro do contexto
escolar, como o relacionamento com os professores, que de alguma forma ajuda ou
prejudica o bom desempenho no processo de aprendizagem.
O que se percebe é que há uma relação de problemas sociais, econômicos e
político-administrativos que necessitam ser repensados, planejado com mecanismos
mais inteligentes, para que a sociedade brasileira não permaneça pagando um
preço tão alto pela ausência de melhor aproveitamento nos investimentos
educacionais.
O enfrentamento social e político no combate à evasão escolar ganhou
fôlego, em consequências, alguns resultados já são visíveis, uma vez que temos leis
que intercedem pela permanência das crianças na escola. Portanto, este projeto me
possibilitou aprender conceitos e metodologias de se combater a evasão escolar, o
compromisso com os alunos de ensinar e também de aprender com eles.
39

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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40

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA – UFRA. Orientações para
elaboração de TCC: Raimunda Maria da Luz Silva: Belém, 2016.
41

APÊNDICES
42

QUESTIONÁRIO PARA PROFESSORES DA E.M.E.F. “JOÃO DA SILVA LOBO”

Professor(a):
O presente questionário objetiva coletar dados para nosso Trabalho de
Conclusão de Curso (TCC), e trata de um estudo acerca do processo de evasão
escolar dos alunos do ensino fundamental menor na zona rural de uma escola da
Rede Municipal de Ensino em São Domingos do Capim/PA. Se constitui em um
trabalho acadêmico do curso de Pedagogia da Universidade Federal Rural da
Amazônia (UFRA), orientados pela Profª. Telma de Nazaré Souza Pereira.
Desde já agradecemos a sua colaboração.
Iraci Santana dos Santos
Nelson Pinheiro Neto

DADOS PESSOAIS:
NOME:_____________________________________________________________
SEXO____FORMAÇÃO______________________TEMPO DE SERVIÇO________

1) Você considera que suas aulas são atrativas para os alunos?


( ) sim ( ) não ( ) não sabe opinar
2) O processo de evasão é mais frequente em que semestre?
( ) primeiro ( ) segundo ( ) em ambos

3) Você percebe alguma mudança de comportamento do aluno antes dele evadir


da escola?
( ) sim ( ) não ( ) não sabe opinar

4) Você oferece respostas às ansiedades e dúvidas dos seus alunos?

5) A escola desperta interesse dos alunos no processo ensino/aprendizagem?

6) Você considera que a infraestrutura da escola está coerente com a realidade


dos alunos?
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7) A Escola já se mobilizou no sentido de combater a evasão de alunos? Como?

8) Que elementos você considera essenciais para que o aluno permaneça na


escola?

9) Você já percebeu algum tipo de preconceito ou bullying sofrido por alunos que
evadiram?

10) Você acredita que o processo de evasão escolar é cultural?


( ) sim ( ) não ( ) não sabe opinar

11) Em sua opinião, porque os alunos evadem da escola?

12) Que fator você associa diretamente com a causa da evasão:

_________________________________________
Assinatura
Data_____/_____/________

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