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A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
PEDAGÓGICO EM UMA ESCOLA PÚBLICA
COM ALTO IDESP
CAMPINAS
2013
Dedico esta Dissertação à Mariana e ao Sérgio, pela ausência
que a mesma me fez prescindir
da companhia de ambos.
vii
AGRADECIMENTOS
À instituição escolar estudada e aos profissionais que fizeram parte desta pesquisa, pela
possibilidade de compreender o trabalho pedagógico de uma escola pública com alto
IDESP.
Á orientadora Profª Drª Maria Márcia Sigrist Malavasi pelas grandes contribuições e
acolhimento em meio às necessidades e dificuldades enfrentadas.
Ás professoras Débora Jeffrey e Laura Noemi Chaluh, pelas valiosas contribuições durante
a banca de qualificação.
Ao meu marido Sérgio, pelo seu amor, carinho e tolerância, me fazendo acreditar na dura
caminhada, na conquista dos objetivos e na conclusão deste trabalho.
À minha querida filha Mariana que em muitos momentos compreendeu minhas ausências, e
que mesmo assim me apoiou, incentivou e vibrou com minhas conquistas.
À minha sogra Ilza, pela paciência nas horas mais difíceis e pela grande ajuda na digitação
dos dados da pesquisa.
À minha família, especialmente minha mãe, meu pai e minhas irmãs pela preocupação, pela
torcida e pelo carinho.
Aos colegas do LOED, principalmente Luana e Geraldo, os quais estavam sempre dispostos
a colaborar nas dúvidas e discussões teóricas.
ix
x
LISTA DE SIGLAS
ID - Indicador de Desempenho
IF - Indicador de Fluxo
xi
PQE - Programa de Qualidade da Escola
UE - Unidade Escolar
xiii
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 4: Língua Portuguesa - percentual dos alunos nos níveis de proficiência da escola
pesquisada ............................................................................................................................70
xv
LISTA DE IMAGENS
Imagem 12: Caixas organizadoras com materiais de leitura – sala de aula do 5º ano.......188
xvii
LISTA DE QUADROS
xix
LISTA DE TABELAS
.
Tabela 1: IDESP dos 5º anos de 2008, 2009, 2010 e 2011: REDE ESTADUAL...............71
Tabela 12: Nível de escolaridade das MÃES dos alunos dos 5º anos (responsável
feminina).............................................................................................................................112
Tabela 13: Nível de escolaridade dos PAIS dos alunos dos 5º anos (responsável
masculino)...........................................................................................................................113
Tabela 16: Respostas dos pais (questão 2) no questionário de contexto – SARESP 2011
(Leia as frases abaixo e responda se concorda ou não com as afirmações. Se você não
souber avaliar algum item, por favor, anote não sei)..........................................................125
Tabela 17: Respostas dos pais (questão 3) no questionário de contexto – Saresp 2011 (Faça
uma avaliação da escola de seu filho e dê uma nota de 0 a 10 para cada item, sendo a nota 0
uma avaliação muito negativa, e a nota 10 uma avaliação muito
positiva)...............................................................................................................................126
xxi
Tabela 18: Respostas dos pais na questão (questionário) “Indique o grau de importância
dos motivos abaixo para a escolha dessa escola”................................................................130
Tabela 19: Respostas dos pais na questão (questionário) “Porque a escola é importante
para você? Indique o grau de importância dos itens abaixo”..............................................130
Tabela 20: Respostas dos Alunos à questão: Na sua classe você participa de: a) Prova com
data marcada........................................................................................................................149
Tabela 21: Respostas dos Alunos à questão: Na sua classe você participa de: b) Trabalhos
ou pesquisas em grupo........................................................................................................149
Tabela 22: Respostas dos Alunos à questão: Na sua classe você participa de: c) Prova
surpresa................................................................................................................................150
Tabela 23: Respostas dos Alunos à questão: Na sua classe você participa de: d) Chamada
oral.......................................................................................................................................150
Tabela 24: Respostas dos Alunos à questão: Na sua classe você participa de: e) Trabalhos
ou pesquisas individuais......................................................................................................150
Tabela 25: Respostas dos Alunos à questão: sobre os materiais utilizados em sala de aula:
a) Você utiliza o “livro texto” do Ler e Escrever?..............................................................190
Tabela 26: Respostas dos Alunos à questão: sobre os materiais utilizados em sala de aula:
b) Sua professora passa atividades do livro Ler e Escrever?..............................................190
Tabela 27: Respostas dos Alunos à questão: sobre os materiais utilizados em sala de aula:
c) Você lê Gibis e Revistas Recreio em sala de aula?........................................................190
Tabela 28: Respostas dos Alunos à questão: sobre os materiais utilizados em sala de aula:
e) Você faz atividades xerocadas?......................................................................................191
xxiii
RESUMO
xxv
ABSTRACT
The study and analysis regarding the organization of the pedagogic work from schools with
a high IDESP (State of São Paulo’s Index of Education Development) appears to be an
important way to comprehend which qualities of the education are inserted into these
schools and how they are able to reach such high index values on the external evaluation.
In this contest, the current research was created due to the desire of exploring the
pedagogical work of an institution with results above average in the education indexes. The
objective of the study is to analyze the organization of the pedagogic work in a school that
belongs to the Estate of São Paulo and presented a high IDESP, identifying elements that
may lead the students to perform better. Furthermore, as a secondary objective, intra and
extra school factors were investigated and analyzed, which could be modifying the results.
The criteria to select the school unit was the fact that it had to be ranked amongst the best
Estadual schools, considering the IDESP, reaching since 2008 grades above the targets set
by the index. The methodological choice was the qualitative approach, and as the studied
phenomenon has been shown a complex nature, the case study was the option chosen. The
data collected by surveys and documental study, application of questionnaires containing
open and closed questions, semi structured interviews and observation were processed by
the content analysis, and encompassed analytical dimensions: educational evaluation,
school management, school contents and social and familiar factors. The extra and intra
school factors found at the chosen school that could be influencing the grades of the
external evaluation are: high socioeconomic levels of the school clientele; strict rules and
discipline regarding the management of the school; practice for the tests; traditional
evaluation methods, and so on.
xxvii
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..........................................................................................................................1
CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................205
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................215
ANEXOS.......................................................................................................................225
xxix
Daniela C. de Menezes Cosso |1
INTRODUÇÃO
Por outro lado, outros autores acreditam que a qualidade educacional está
diretamente ligada aos resultados de exames padronizados (FERNANDES e GREMAUD,
2009).
Nesse mesmo sentido, Freitas em seu blog1, traz uma discussão sobre esta temática
enfatizando que na concepção de educação para os reformadores empresariais a escola é
boa (de qualidade) quando ensina português e matemática. “Esta concepção de educação
centra a ação da escola no desenvolvimento de um aspecto do ser humano – a cognição. (...)
A maior parte dos países desenvolvidos está nesta corrida para verificar quem é melhor em
português, matemática e ciências” (24/05/2011).
Freitas continua destacando que “tais habilidades cognitivas não são desprezíveis,
mas são amplamente insuficientes”. Para um bom desenvolvimento do ser humano
devemos considerar, além das qualidades cognitivas, o desenvolvimento da criatividade, da
capacidade afetiva, emocional e artística das crianças, desenvolvendo-se em múltiplas
direções.
1
http://avaliacaoeducacional.zip.net/ , acesso em 24/05/2011. Site atualizado em dezembro/2012:
http://avaliacaoeducacional.com/
Daniela C. de Menezes Cosso |4
Bondioli (2004) discute em seus estudos, que a noção de qualidade estaria associada
a um processo negociado, em que os indicadores dessa qualidade não seriam únicos dentro
das diferentes unidades de ensino, dependendo da associação de objetivos gerais e
especificidades de cada escola. Nas palavras da autora: (...) “qualidade é uma construção de
significados em torno da instituição e do serviço, uma reflexão compartilhada que
enriquece os participantes, uma troca e uma transmissão de saberes” (p.24). Esta
Daniela C. de Menezes Cosso |5
concepção revela que os padrões de qualidade são definidos de forma coletiva, envolvendo
os diversos atores e, acima de tudo, a própria prática educativa.
Além de todos esses fatores, não podemos desconsiderar o fato de que se trata de
uma escola pública, nesse sentido a abordagem do papel do Estado e das Políticas Públicas
2
Nesta pesquisa, procurou-se não evidenciar o nome da escola estudada, por isso chamaremos a escola
estudada pela sigla UEE (Unidade Escolar Estudada).
Daniela C. de Menezes Cosso |6
que interferem nas práticas dos professores e na dinâmica interna desta instituição é
essencial para este estudo.
Assim, partimos do princípio que o resultado do aluno nas avaliações externas não é
fruto apenas de uma característica, é algo muito mais complexo e dinâmico. E para
compreendermos essa complexidade, não podemos cair na armadilha do sistema ou ter a
falsa ilusão que aumentar a proficiência dos estudantes nos exames como o SARESP e
Prova Brasil é o mesmo que elevar a qualidade da instituição. A avaliação vista como
sinônimo de medida ou prova tem como função apenas a classificação de nossos estudantes
e por consequência o ranqueamento das instituições. Ainda não se construiu na sociedade a
ideia da avaliação como elemento integrante dos processos de ensino e aprendizagem e
tendo como função a formação integral do ser humano.
Os resultados a que chegam essas avaliações externas também devem ser levados
em conta, significando para a escola um processo de avaliação que os associe aos
conhecimentos internos sobre a instituição, suas características e necessidades próprias,
com intuito de afetar na melhoria da qualidade de ensino.
Nesse propósito, os dados externos não são vistos como um fim em si mesmos com
objetivo de punição ou premiação, mas como ponto de partida buscando alimentar no
interior das escolas o processo de reflexão coletiva. Esse processo inclui pensar sobre
problemas e interesses, traçar metas de melhoria, elaborar demandas ao poder público e
comprometer-se a cumprir o acordo coletivo pelo alcance da qualidade negociada
(FREITAS, 2005). Nesse sentido, Freitas destaca:
É importante ressaltar que a opção em trabalhar com turmas de 5ºs anos se deu por
conta das mesmas participarem das avaliações externas como o SARESP e Prova Brasil.
Daniela C. de Menezes Cosso |8
Capítulo 1
No caso do Estado de São Paulo, muitas foram as ações no campo educacional nas
últimas três décadas. Fazendo um breve retrospecto, nos anos 1980, logo após as eleições
diretas para governo do estado que culminaram com a eleição de André Franco Montoro
(1983-1987) tem início um amplo processo de discussão com todos os interessados e
envolvidos com a questão educacional com a realização de vários Fóruns de Educação,
coordenados à época pelo educador e professor universitário Moacir Gadotti (BORGES,
2002). Foi nesse governo, mesmo antes da edição do novo texto constitucional, que o
Governo Estadual põe início - por meio da Secretaria da Educação - à reorganização do
ensino fundamental e médio, à época denominados 1º e 2º graus, respectivamente3.
3
Para uma análise minuciosa da política educacional durante os governos do PMDB no Estado de São Paulo
consultar: BORGES, Zacaria Pereira. Política e Educação: análise de uma perspectiva partidária, 2002. E,
RUZ PERES, José Roberto. Avaliação, Impasses e Desafios da Educação Básica, 2000.
Daniela C. de Menezes Cosso | 11
A partir de 1º de janeiro de 1995 o Estado de São Paulo passa a ser dirigido pelo
PSDB (Partido Social Democrata), que permanece governando nosso Estado até a presente
data4. Na gestão de Mário Covas (1995-1998), foi consolidado uma nova agenda na
implementação das políticas públicas com propostas gerais de reforma de Estado,
rompendo com o modelo de gestão ligado a mecanismos centralizadores. As propostas
gerais de reforma de Estado, centradas em novos paradigmas de gestão foram: a
necessidade de privatização das empresas estatais ou a ampliação das parcerias com setores
privados lucrativos ou não lucrativos na prestação de serviços, a diminuição dos quadros
burocráticos estaduais e a implementação de reformas nos sistemas de saúde e educação
(MARTINS, 2003, p. 537).
4
De 1995 até o momento foram cinco os governadores: Mario Covas, reeleito em 1998; Geraldo Alckimin,
que termina o mandato de Mario Covas, em razão de seu falecimento e é reeleito para um segundo mandato;
Claudio Lembo, que assume em abril de 2006, em razão da saída de Geraldo Alckimin para concorrer ao
cargo de Presidente da República; José Serra para o quadriênio 2007-2010 ( nesse período ocuparam a pasta
da educação: Rose Neubauer da Silva; Gabriel Chalita; Maria Lucia M. Carvalho Vasconcelos; Maria Helena
Guimarães Castro e Paulo Renato Souza) e, finalmente o período 2011-2014 novamente Geraldo Alckimin.
Daniela C. de Menezes Cosso | 12
Importante salientar, muito bem colocado por Sanfelice (2010), que os últimos
governantes do executivo paulista tiveram (e continuam tendo) uma inspiração ideológica
razoavelmente comum, todos eles perseguem políticas públicas alimentadas pela visão
neoliberal (p. 147).
Por visão neoliberal estou entendendo, grosso modo, que ela expressa um
ponto de vista político-ideológico que acompanha a transformação
histórica do capitalismo moderno e que, na prática política sugere receitas
econômicas e programas políticos. Conceituação tão ampla se justifica
para afirmar que os governantes paulistas (...) partilham de um mesmo
ponto de vista quanto à essência da sociedade atual (...). Os governantes
paulistas oriundos do PSDB olham o mundo de um mesmo e único
pedestal que nada mais é senão o estado burguês capitalista. Lá em cima,
sempre com os mesmos óculos, detectam as mazelas, consideradas
conjunturais e não estruturais, e tentam consertá-las. O pressuposto é que
o capitalismo é consertável e, portanto, as elites devem se empenhar nas
tarefas que o levarão a eternizar-se As demais classes sociais precisam se
sensibilizar para se constituírem em parceiras do mesmo projeto
(SANFELICE, 2010, p. 147).
O governo José Serra (2007- 2010) estabeleceu metas e ações para a educação de
São Paulo a serem atingidas até o final do mandato. Serra e a secretária estadual da
educação da época, Maria Helena Guimarães de Castro, lançaram um amplo plano para a
educação paulista com 10 metas para serem atingidas até 2010.
·Universitários bolsistas atuando como professor auxiliar nas séries iniciais de alfabetização
para apoiar o professor regente e aprimorar sua formação profissional no ambiente de
trabalho.
·Formação continuada dos professores dentro da própria escola com uso da tecnologia da
informação.
·Implantação do Boletim Eletrônico dos alunos, que poderá ser acessado pelos pais através
da Internet, em setembro de 2007.
5
Mais informações sobre o plano de ações lançado por José Serra:
http://www.saopaulo.sp.gov.br/spnoticias/lenoticia.php?id=87011, acesso em 29 abr. 2013.
6
Fonte: http://www.saopaulo.sp.gov.br/acoes/educacao/metas/acoes.htm, acesso em 29 out. 2012.
Daniela C. de Menezes Cosso | 16
Recuperação da aprendizagem:
Sistemas de Avaliação:
·A avaliação externa das escolas estaduais (obrigatória) e municipais (por adesão) permitirá
a comparação dos resultados do SARESP com as avaliações nacionais (SAEB e a Prova
Brasil), e servirá como critério de acompanhamento das metas a serem atingidas pelas
escolas.
·Cada escola terá metas definidas a partir da sua realidade, e terá que melhorar em relação a
ela mesma.
·As escolas com desempenho insuficiente terão apoio pedagógico intensivo e receberão
incentivos especiais para melhorarem seu resultado.
Observado o conjunto de ações adotas pelo governo Serra como o “currículo único e
fechado”; “utilização de material instrucional padronizado”; “acompanhamento dos
resultados por supervisão através da avaliação”; e, “uso dos resultados da avaliação como
critério para concessão de vantagens salariais (bônus)”, nos revela o uso de uma
racionalidade técnica e autoritária que não encontra fundamento para o processo
democrático de formação humana, para a autonomia da escola na construção do seu projeto
político pedagógico e para o desenvolvimento pessoal e profissional dos professores.
Esse novo modelo de Estado deu sustentação política e ideológica para que os
princípios da concepção gerencial de administração pública fossem proliferados. Na área da
educação se permitiu gradativamente a consolidação de processos de implementação de
mecanismos de controle articulados a processos de avaliação tanto do rendimento dos
alunos quanto do trabalho do professor.
Afonso (2009) identifica que o novo modelo de Estado reforçou o seu poder de
regulação (na elaboração e avaliação de políticas educacionais) acionando a avaliação
como um suporte no processo de responsabilização relacionado aos resultados
educacionais, passando estes a serem mais importantes que os próprios processos
pedagógicos.
Nesse sentido, com vistas a entender às exigências do setor produtivo, é criada, nas
unidades escolares, uma cultura empresarial competitiva, onde os desempenhos dos sujeitos
servem de parâmetros de produtividade ou de resultado, ou servem ainda como
demonstrações de qualidade ou de promoção, como exemplo, a prova de mérito dos
docentes, Decreto Nº 55.217, de 21 de dezembro de 200910 – Sistema de Promoção para os
10
Fonte:
http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/decreto/2009/decreto%20n.55.217,%20de%2021.12.2009.htm,
acesso em 30 abr. 2013.
Daniela C. de Menezes Cosso | 21
11
Fonte:
http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei%20complementar/2011/lei%20complementar%20n.1.143,
%20de%2011.07.2011.htm , acesso em 30 abr. 2013.
Daniela C. de Menezes Cosso | 22
Após a Lei de Bonificação por Resultado ser instituída, várias resoluções da SEE/SP
sobre esse assunto foram estabelecidas a fim de organizar as normas para o recebimento do
bônus:
Resolução SE - 26, de Dispõe sobre a fixação das metas para os indicadores específicos
27-3-2009. das unidades escolares da Secretaria da Educação, para fins de
pagamento da Bonificação por Resultados - BR, instituída pela
Lei Complementar nº 1078, de 17 de dezembro de 2008, para o
exercício de 2009.
Resolução SE - 25, 27- Dispõe sobre o valor de índice de cumprimento de metas.
3-2009.
Resolução SE nº 31, Dispõe sobre a definição dos indicadores específicos da Secretaria
de 22-3-2010. da Educação, para fins de pagamento da Bonificação por
Resultados - BR, instituída pela Lei Complementar nº 1.078, de
17 de dezembro de 2008, seus critérios de apuração e avaliação.
Resolução SE nº 32, Dispõe sobre o valor do índice de cumprimento de metas das
de 22-3-2010. unidades escolares e administrativas da Secretaria da Educação,
para fins de pagamento de Bonificação por Resultados – BR,
referente ao exercício de 2009.
Resolução SE nº 34, Dispõe sobre a fixação de metas para os indicadores específicos
de 23-3-2010. das unidades escolares da Secretaria da Educação, para fins de
pagamento da Bonificação por Resultados - BR, instituída pela
Lei Complementar nº 1.078, de 17 de dezembro de 2008, para o
exercício de 2010.
Resolução SE nº 43, Dispõe sobre pagamento de bonificação por resultados.
de 17-5-2010.
Resolução SE nº 45, Dispõe sobre o valor do Índice de Cumprimento de Metas e de
de 25-5-2010. seu Adicional de Qualidade, referentes ao exercício de 2009, e
sobre a fixação de metas para os indicadores específicos para o
exercício de 2010, das unidades escolares que especifica, para
fins de pagamento da Bonificação por Resultados-BR, instituída
pela Lei Complementar nº 1078, de dezembro de 2008.
Resolução SE nº 63, Dispõe sobre o valor do Índice de Cumprimento de Metas e de
de 23-9-2010. seu Adicional de Qualidade, referentes ao exercício de 2009, e
sobre a fixação de metas para os indicadores específicos para o
exercício de 2010, das unidades escolares que especifica, para
fins de pagamento da Bonificação por Resultados-BR, instituída
pela Lei Complementar nº 1078, de dezembro de 2008.
Daniela C. de Menezes Cosso | 24
1.2 – As ações atuais da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo para o Ensino
Fundamental (2011 – 2013) e suas implicações na organização do trabalho
pedagógico
Enumeramos a seguir (quadro 2), para uma melhor visualização e entendimento dos
programas, as ações da Secretaria da Educação que alcançam o Ensino Fundamental,
organizados de acordo com a data de início, contemplando seus objetivos, lembrando que
todos estão em vigor até hoje:
mundo até 2030. Com base nos dados mais recentes divulgados pelo PISA 12 (Programa
Internacional de Avaliação de Alunos), exame que considera a média dos estudantes em
língua portuguesa, matemática e ciências, o Brasil ficou na 55ª posição (de um total de 65
no ranking)13, o governo deseja melhorar essa posição.
Algumas medidas estão sendo tomadas para a realização deste programa “Educação
– Compromisso de São Paulo” como: a implementação de um novo currículo (proposta de
2007), com os programas “Ler e Escrever” e “São Paulo Faz Escola”; o desenvolvimento
de materiais de apoio a professores e alunos; o Sistema de Avaliação de Rendimento
Escolar do Estado de São Paulo (SARESP), através do PQE - IDESP, a implantação da
progressão por mérito e do bônus por desempenho (discutidos no item anterior); e, a
criação da Escola de Formação e Aperfeiçoamento de Professores. Importante destacar que
os programas “Ler e Escrever” e “São Paulo Faz Escola” apesar de terem sido lançados em
2007 como proposta de governo para melhorar a qualidade educacional das escolas
públicas, continuam sendo as ações integrantes desse último programa anunciado em 2011.
Mudam-se os nomes dos programas, mas as características são as mesmas das lançadas em
2007. Assim, podemos concluir que no interior desse programa denominado “Educação –
Compromisso de São Paulo” que tem como objetivo elevar o ensino paulista a um dos
melhores do mundo, segundo a SEE/SP, há uma série de ações do governo que estão sendo
propostas e discutidas desde 2007.
12
O Programme for International Student Assessment (Pisa) - Programa Internacional de Avaliação de
Estudantes - é uma iniciativa internacional de avaliação comparada, aplicada a estudantes na faixa dos 15
anos, idade em que se pressupõe o término da escolaridade básica obrigatória na maioria dos países. O
programa é desenvolvido e coordenado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE). Em cada país participante há uma coordenação nacional. No Brasil, o Pisa é coordenado pelo
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). O objetivo do Pisa é produzir
indicadores que contribuam para a discussão da qualidade da educação nos países participantes, de modo a
subsidiar políticas de melhoria do ensino básico.
13
Dados referentes ao exame de 2009. Consultar: http://portal.inep.gov.br/pisa-programa-internacional-de-
avaliacao-de-alunos
14
Escrevo em nível estadual, pois o SARESP é uma avaliação somente para as escolas do Estado de São
Paulo, já a nível nacional, a avaliação externa adotada é a Prova Brasil.
Daniela C. de Menezes Cosso | 28
Os Programas “Ler e Escrever” e “São Paulo faz escola” também fazem parte das
ações voltadas para melhorar o ensino paulista e têm como foco a implantação de um
currículo único para todas as escolas da rede pública estadual. Os dois programas, sendo o
“Ler e Escrever” específico para os alunos do Ensino Fundamental do Ciclo I e o “São
Paulo faz escola” para o Ciclo II e Ensino Médio, possuem as mesmas propostas mas cada
um com suas especificidades voltadas para cada nível de ensino, um para os anos iniciais e
o outro voltado para os anos finais e Ensino Médio. Segundo a SEE/SP, estes dois
programas buscam promover a melhoria do ensino em toda a rede estadual, os quais fazem
parte do programa “Educação – Compromisso de São Paulo”.
15
http://idesp.edunet.sp.gov.br/Arquivos/Nota_tecnica_2012.pdf , acesso em 29/11/2012.
Daniela C. de Menezes Cosso | 29
Nesse sentido, o programa “São Paulo faz escola” tem como foco a implantação de
um currículo pedagógico único para todas as mais de 5 mil escolas da rede pública estadual
(voltado para o Ensino Médio e ciclo II do Ensino Fundamental). Com o programa, todos
os alunos da rede estadual recebem o mesmo material didático e seguem o mesmo plano de
aula. Segundo a SEE/SP, o fato de todas as unidades escolares contarem com o mesmo
currículo pedagógico auxilia na melhora da qualidade de ensino da rede pública, uma vez
que coloca todos os alunos da rede estadual no mesmo nível de aprendizado.
Este programa contempla dois itens para serem cumpridos na escola: o currículo e o
sistema de avaliação. O Currículo engloba propostas focadas na aprendizagem do 6º ao 9º
ano (da 5ª a 8ª séries – antiga) do Ensino Fundamental e o Ensino Médio, a capacitação dos
professores pela Rede do Saber, a implantação das orientações curriculares no
planejamento pedagógico. Quanto ao sistema de avaliação, este capacita a rede para o
SARESP, Prova Brasil e o SAEB, e capacita também os professores para o “uso” do
resultado do SARESP, no planejamento pedagógico.
Todas essas ações propostas pela SEE/SP para as escolas públicas do Estado de São
Paulo incidem diretamente no trabalho pedagógico dentro das salas de aula, e por isso
refletem na aprendizagem dos alunos e consequentemente na nota da avalição do SARESP.
Daniela C. de Menezes Cosso | 31
impacto/efeitos nos desempenhos das escolas, sob o olhar das políticas educacionais do
Estado de São Paulo.
(...) na sua forma atual, o SAEB não parece possuir o poder de influenciar
o estilo cognitivo dos alunos e professores em cada disciplina escolar. O
Saeb ainda não pode ser considerado como uma avaliação reguladora da
aprendizagem, nem como uma avaliação formativa, baseada na constante
explicitação dos elementos a considerar, das estratégias a adotar, dos
problemas a resolver. (...) Para equacionar mais adequadamente o alcance
e o impacto que o Saeb pode vir a ter sobre os aspectos mencionados,
certamente será necessário acompanhar a forma como os estados estão
entendendo e implementando a denominada cultura de avaliação. É
sempre possível, e já há alguns sinais concretos a respeito, que ao
reverberar nos estados e municípios o modelo sofra uma reconversão,
passando a tornar-se censitário. Nesses casos, ele se tornaria mais
propenso a aderir as teses sobre a regulação pedagógica e financeira da
vida escolar que, até o momento o desenho do Saeb parece não endossar
(2002, p.181-182).
A busca pela compreensão das avaliações externas nesta pesquisa pauta-se nos
estudos de Sousa (2003), Afonso (2001 e 2009), Sordi (2002, 2004 e 2012), Gatti (2012),
Paro (2011), Dirce Ney Freitas (2007 e 2012), e Luiz Carlos de Freitas (2002, 2003, 2005 e
2011), entre outros. Freitas (2002, p. 89) aponta que as avaliações externas das escolas
“devem ser entendidas como de utilidade definida e para a obtenção de elementos para
Daniela C. de Menezes Cosso | 33
definição de políticas e jamais para a utilização como decisão que afete as próprias
categorias intrinsecamente ligadas aos processos educativos (...)”
Sordi (2002, p. 67) nos alerta dizendo que: “essa intencionalidade encontrou na
lógica e na cultura de avaliação tradicionalmente praticada pela escola capitalista suas
grande aliadas. Assim, faz sentido a afirmação de que no projeto neoliberal, o Estado
mínimo é o máximo na avaliação”.
Por essa lógica, a avaliação externa tende a ser o instrumento de controle do Estado
sobre a educação, cujos resultados têm provocado tensões e competitividade por melhores
resultados entre os sistemas de ensino (avaliações a nível nacional) e entre as escolas (a
nível estadual). Conforme tem apontado os estudos de Afonso (2001), o papel regulador do
Estado tem por base os exames nacionais, por permitirem que se tenha maior “vigilância”
sobre a educação oferecida pelos sistemas de ensino e, principalmente, sobre o controle da
autonomia das escolas em construir e ou implementar seu projeto político-pedagógico.
o 5º ano do Ensino Fundamental; nota 6 para o 9º ano; e, nota 5 para o 3º ano do Ensino
Médio.
Fonte: http://idesp.edunet.sp.gov.br/Arquivos/Nota_tecnica_2012.pdf
Para a escola A (com menor IDESP), alcançar a nota 7 o caminho a ser percorrido é
muito maior e mais difícil do que o caminho que a escola C precisa fazer. Também não
podemos deixar de levar em consideração os fatores extraescolares e a característica impar
que cada escola possui para atingir essa nota, podendo até mesmo se esquecerem da
formação humana de cada cidadão, colocando como principal e única aprendizagem
apenas o conteúdo de língua portuguesa e matemática, o que se medem nos testes.
Nesse sentido, as escolas são induzidas a trabalhar para a elevação dos índices
tradutores de uma qualidade regida pelo viés mercadológico e tendem a implementar um
conjunto de ações para melhor se colocarem no ranking: a adequação da base curricular ao
que os testes valorizam; a padronização das práticas pedagógicas; e, o apostilamento dos
materiais didáticos (SORDI, 2012). A meta das escolas acaba sendo melhorar os índices o
que necessariamente não implica melhorias nas aprendizagens dos estudantes.
que a avaliação seja feita de forma objetiva foi criado um indicador de desempenho,
denominado IDESP – Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo. O
IDESP pode ser considerado semelhante ao Índice de Desenvolvimento da Educação
Básica (IDEB) do Governo Federal, o qual através da avaliação externa “Prova Brasil”,
mede o desempenho dos alunos das escolas públicas a nível nacional.
Segundo o documento da SEE/SP, Nota Técnica (2009 e 2012) para realizar esta
tarefa, o Programa de Qualidade da Escola (PQE) avalia anualmente cada escola estadual
paulista de maneira objetiva, a fim de acompanhar a qualidade do serviço educacional
prestado, e propõe metas para o aprimoramento da qualidade do ensino que oferecem, a
partir do IDESP. Assim, o programa cumpre o papel de apoiar o trabalho das equipes
escolares no esforço da melhoria da educação e de permitir que os pais de alunos e a
comunidade possam acompanhar a evolução da escola pública paulista (2009, p.1).
Ainda, segundo esse documento, na avaliação das escolas feita pelo IDESP,
consideram-se dois critérios complementares: o desempenho dos alunos nos exames de
proficiência do SARESP, o qual avalia o quanto o aluno aprendeu e, o fluxo escolar (em
quanto tempo aprenderam). O IDESP tem o papel de dialogar com a escola, fornecendo um
diagnóstico de sua qualidade, apontando os pontos em que precisa melhorar e sinalizando
sua evolução ano a ano (2009, p.1 e 2).
Para medir o desempenho dos alunos são usados os resultados dos exames de
Língua Portuguesa e Matemática do SARESP, nos 5º e 9º anos do Ensino Fundamental e na
3ª série do Ensino Médio. De acordo com as notas obtidas pelos alunos, é possível agrupá-
los em quatro níveis de desempenho, definidos a partir das expectativas de aprendizagem
da Proposta Pedagógica do Estado de São Paulo (Orientações Curriculares do Estado de
São Paulo - ciclo I - 2008), estes níveis de desempenho estão descritos no quadro a seguir:
Nessa descrição de níveis os alunos que estão abaixo do básico são classificados
como insuficientes; os que estão no básico e no adequado, são classificados como
suficientes; e, os demais, são classificados como avançados.
Fonte: SEE/SP
Daniela C. de Menezes Cosso | 39
Fonte: SEE/SP
16
Para detalhes sobre o calculo do Indicador de Desempenho do IDESP:
http://idesp.edunet.sp.gov.br/Arquivos/Nota_tecnica_2012.pdf , acesso em 02/01/2013.
Daniela C. de Menezes Cosso | 40
Capítulo II
Enguita (1989), em seu estudo sobre educação e trabalho no capitalismo nos aponta
essa relação da escola com o sistema capitalista, segundo o autor:
Para Marafon (2001, p. 116) “o trabalho como princípio educativo não deve ser
fator limitante para o trabalho pedagógico e a produção de conhecimento, mas sim, fator
provocador da articulação do mundo do trabalho (e as realidades sociais por ele produzidas)
com as realidades cultural e política”.
Para a escola que temos hoje considera-se que o trabalho pedagógico precisa
incorporar e trabalhar as diversas práticas e atividades tanto da vida do educando como da
vida do educador, partindo do princípio de que “trabalho pedagógico é aquele realizado em
parceria (VILLAS BOAS, 2004, p. 183). Nesta afirmação, o trabalho do professor, na
Daniela C. de Menezes Cosso | 44
relação com seus pares, com a gestão e com o aluno, desenvolve e responsabiliza-se pelo
trabalho na escola. Assim, podemos afirmar que, embora realizem trabalhos diferentes na
escola, alunos, gestão e professores, através da corresponsabilização, organizam o trabalho
na escola.
Nesse cenário, num sentido amplo, a avaliação ultrapassa a esfera da sala de aula
sob regência do professor e realiza-se no âmbito da escola. A avaliação articula tanto a
forma de se conduzir o trabalho pedagógico quanto aos componentes da atividade em sala
de aula. Nesta perspectiva, torna-se impossível tratar a avaliação de forma independente do
trabalho pedagógico. Segundo Freitas (2001, p. 94) “os objetivos sociais medeiam e
produzem limites para o desenvolvimento do trabalho pedagógico na sala de aula”, e os
procedimentos da avaliação garantem o controle e incorporam os objetivos que traduzem a
função seletiva da escola capitalista. Neste contexto, a avaliação é vista como instrumento
utilizado para a distribuição desigual do sucesso e fracasso dos alunos, visando à
valorização de ações assertivas de um aluno em detrimento de ações não tão assertivas de
outro.
distinção entre a avaliação formal e avaliação informal, segundo Villas Boas (2004) podem
ser definidas como: a avaliação formal “feita por meio de provas, exercícios e atividades
quase sempre escritas, como produção de textos, relatórios, pesquisas, resolução de
questões matemáticas, questionários, etc (...)”, a avaliação informal “é aquela que se dá
pela interação de alunos com o professor, com os demais profissionais que atuam na escola
e até mesmo com os próprios alunos, em todos os momentos e espações do trabalho
escolar” (VILLAS BOAS, 2004, p. 22). A avaliação ocorre em todos os momentos do
trabalho pedagógico, formal ou informalmente.
Avaliar. Este termo tem sido usado como sinônimo de atribuir notas, fazer prova ou
exame, repetir ou passar de ano. Nestes sinônimos, a educação é vista como simples
transmissão e memorização de conteúdos e informações prontas. As práticas avaliativas,
por serem feitas para controle qualitativo acabam não atendendo à função educativa.
Segundo LIBÂNEO (1991) têm-se verificado alguns equívocos, e o equivoco mais comum
é o professor usar uma avaliação somente para dar notas, classificando o aluno em
“melhor” ou “pior”, dependendo do que memorizou e, por sorte, ser o teor das provas.
Outro equívoco é fazer uso da avaliação para recompensar ou punir o aluno pelas suas
atitudes. A nota é dada e tirada conforme seu comportamento.
Não há outra instituição mais habituada à avaliação do que a escola, a avaliação faz
parte do cotidiano escolar e é presença constante nas salas de aula. Alguns autores tem se
debruçado nas questões referentes à avaliação educacional tais como Freitas (2001, 2005),
Malavasi (2002), Hoffmann (2004), Bondioli (2004), entre outros. Esses autores discutem
Daniela C. de Menezes Cosso | 46
em seus estudos o lugar que a avaliação tem ocupado na atividade pedagógica, marcada
pelas relações que estão presentes dentro e fora da escola. Acreditam que a avaliação é um
processo contínuo, repleto de trocas entre momentos formais e informais de avaliação.
Nesse sentido, a avaliação que o professor faz em sala de aula não se revela somente em
momentos formais como uma prova, mas também de maneira informal como em
considerações verbais ou juízos de valor que o professor gera sobre seus alunos.
(...) por avaliação formal são aquelas práticas que envolvem o uso de
instrumentos explícitos de avaliação, cujos resultados podem ser
examinados objetivamente pelo aluno, à luz de um procedimento claro.
Por contraposição, estaremos entendendo a avaliação informal como a
construção, por parte do professor, de juízos gerais sobre o aluno, cujo
processo de constituição está encoberto e é aparentemente assistemático
(FREITAS, 2001, p. 145).
Os ciclos são uma forma de organização escolar prevista pelo artigo 23 da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação (LDB nº 9394/96), na qual a organização dos alunos em
turmas se dá referenciando a idade, a fim de contribuir efetivamente com o
desenvolvimento integral do aluno, o artigo considera que:
18
Fonte: http://portal.inep.gov.br/rss_censo-escolar/-/asset_publisher/oV0H/content/id/14571, acesso em 10
jan. 2013.
Daniela C. de Menezes Cosso | 52
organizadas em dois ciclos: ciclo I, para as séries iniciais, e ciclo II de 5ª a 8ª séries pela
denominação antiga (6º ao 9º ano).19
O padrão de qualidade definido pelo Estado para caracterizar o que deva ser uma
escola pública de qualidade se concretiza através dos testes em larga escala, ou avaliações
externas. Os resultados são demonstrados através dos índices gerados sobre o desempenho
dos estudantes. Esse movimento que se inicia nos anos 1990 vem se aperfeiçoando e se
atualizando, como já discutido no capítulo I deste trabalho. Ele se origina através de uma
19
A título de esclarecimento, as questões sobre ciclos e progressão continuada aqui apresentadas são apenas
para alguns entendimentos referentes às propostas da SEE/SP, para maiores aprofundamentos ver: Debora
Cristina Jeffrey, O regime de progressão continuada: o caso paulista (1998-2004).
Daniela C. de Menezes Cosso | 53
consulta nacional sobre os conteúdos praticados pelas escolas (anos 1990) até chegar às
matrizes de referências com base nos Parâmetros Curriculares Nacionais e nos currículos
praticados por alguns estados. Essas matrizes de referencias servem de base para a
resolução de todos os testes em larga escala, como a Prova Brasil e o SARESP. Segundo
Dalben (2008), a avaliação ainda vem sendo confundida com medição, tem sido
comumente usada como teste de verificação de aprendizagem em larga escala. (DALBEN,
p.23).
Outro ponto que me chamava atenção nas escolas era como a avaliação
(principalmente a avaliação de sistemas – Prova Brasil e SARESP) era
entendida pela grande maioria dos educadores: embora pensassem utilizar
a avaliação em prol da aprendizagem dos alunos, utilizando seus
resultados para diagnosticar os avanços ou as dificuldades dos mesmos,
inconscientemente utilizavam a avaliação como instrumento de
classificação, uma vez que atribuíam notas individuais a cada aluno
definindo o destino de cada um. Além de decidir a vida do aluno, a
avaliação também decidia (e ainda decide!) a vida da escola e dos
professores através do SARESP que tende a responsabilizar (e a punir)
grande e unicamente a escola, os alunos e principalmente os professores
pelos resultados obtidos, sejam eles bons ou ruins (COSSO, 2013, p. 12).
As novas demandas sociais e educativas colocadas para a escola parecem fazer parte
de um sistema educacional que funciona de forma contraditória. Se, de um lado, a escola
procura fornecer subsídios para a importância da avaliação contínua e diagnóstica, da
avaliação de acompanhamento que se reflete sobre o processo de aprendizagem e o auxilio
desse tipo de avaliação no trabalho pedagógico em sala de aula, na escola e no próprio
sistema, para um melhor atendimento ao aluno, por outro lado há modelos de avaliação que
partem de pressupostos diferentes. As avaliações externas, por exemplo, cujas normas são
definidas pela Secretaria Estadual de Educação e que não são discutidas com a grande
maioria dos profissionais envolvidos nas escolas. Quando foi introduzido na rede estadual,
o SARESP (Sistema de Avaliação do Rendimento escolar do Estado de São Paulo) parecia
ter uma finalidade diagnóstica, parecia estar voltado a apoiar as escolas em suas
dificuldades, e o discurso da Secretaria da Educação acenava nesse sentido. Mas, a partir do
momento que passou a ser utilizado para classificar as escolas, fica claro que essa visão
pode ser vista como uma ilusão. O modelo de avaliação externa que o SARESP representa
revelou-se em mais uma função reguladora do aparato governamental.
É através deste indicador que as escolas da rede estadual recebem o bônus, política
de bonificação por resultado que o governo vem aplicando desde 2008. A proposta de
bonificação por resultados no estado de São Paulo surgiu neste período, durante a transição
20
O fluxo escolar é medido pela taxa média de aprovação em cada etapa da escolarização (séries iniciais e
séries finais do EF e EM), coletadas pelo Censo Escolar. O indicador de fluxo (IF) é uma medida sintética da
promoção dos alunos e varia entre zero e um. Fonte:
http://idesp.edunet.sp.gov.br/Arquivos/NotaTecnicaPQE2008.pdf
Daniela C. de Menezes Cosso | 55
do governo Geraldo Alckmin para o governo José Serra. Durante o governo de transição a
remuneração pelo desempenho foi definida como uma diretriz geral para o governo Serra.
Ele é baseado na visão de que uma escola deve ser eficaz e inclusiva.
Caso a escola cumpra a meta, todos os trabalhadores ali lotados (docentes e não
docentes) ganham um bônus de 2,4 salários21. Ele é calculado de forma proporcional ao
cumprimento da meta. Se a escola cumpre 50% da meta, os funcionários da escola ganham
1,2 salários. Se eles cumprem 110% da meta, ganham 2,64 salários. O máximo que se pode
ganhar é 120% da meta, cerca de 2,9 salários. Caso a escola não cumpra a meta, nenhum
servidor ganha bônus.
21
Por exemplo, para um professor ingressante na rede paulista com carga horária de 40 horas, seu salário base
é de R$1.665,05, se sua escola atingir a meta seu bônus pode chegar a R$ 3.996,12 (se o docente não tiver
faltas durante o ano letivo trabalhado). E se sua escola ultrapassou a meta estipulada, seu bônus pode chegar a
R$ 4.828,64, dados referente ao ano de 2012. Fonte: http://www.educacao.sp.gov.br/
Daniela C. de Menezes Cosso | 56
Quanto aos fatores intraescolares, para Leite (p. 24) implica dar atenção à questão
do professor (formação e treinamento), à questão dos programas de ensino e práticas
escolares, pois acredita que tais fatores estão relacionados ao fracasso escolar.
Capítulo III
Descrevo, neste capítulo, o caminho percorrido para a elaboração deste estudo. Por
se tratar de um estudo de caso de natureza qualitativa, partimos do princípio de que há uma
relação dinâmica entre o mundo real e o objeto pesquisado, possibilitando uma
interdependência entre o pesquisador e o objeto de pesquisa.
humanos os quais interpretam ações dentro e a partir da realidade vivida e partilhada com
seus semelhantes.
Estas cinco características, parecem estar em consonância com este estudo. Pois, é
importante para o pesquisador qualitativo ter uma visão ampla do fenômeno social estudado
e, descrever os acontecimentos do fenômeno estudado possibilitando relações e avançando
no conhecimento.
Com base nos critérios acima, e no entendimento sobre estudo de caso, Lüdke
(1986) acrescenta que:
Importante evidenciar que nesse tipo de estudo o pesquisador deve recorrer a uma
variedade de fontes de informações, uma variedade de dados coletados em diferentes
momentos, em situações variadas. Assim, se o estudo é feito numa escola, o pesquisador
procurará fazer observações em situações de aula, de reuniões, de merenda, de entrada e
saída das crianças; ouvir professores, pais, direção, etc (Lüdke, p. 19).
A decisão por investigar uma escola dos anos iniciais do Ensino Fundamental com
alto IDESP justifica-se, à intenção de dar continuidade aos estudos que vem sendo
realizados, no campo da avaliação, nesta instituição de ensino - UNICAMP, aprofundando
a compreensão sobre as relações presentes dentro da escola.
3.2 – A escolha da escola como objeto de estudo e seu desempenho no IDESP e IDEB
A escolha desta unidade escolar como fonte de pesquisa se deu por sua atuação
acima da média nas avaliações externas durante alguns anos consecutivos, obtendo índices
considerados altos se comparados a outras instituições escolares, e até mesmo comparados
a outros níveis como diretoria de ensino, cidade e estado, tanto no IDESP como no IDEB.
A escolha também se deu pela necessidade da pesquisadora, por ser professora atuante na
rede estadual, em investigar o trabalho pedagógico de uma escola com boas aprendizagens
medidas pelo SARESP. É importante esclarecer que a intenção do estudo não é evidenciar
que notas altas no SARESP indicam ou desenvolvem boas aprendizagens, ou que estas
notas traduzam boa qualidade no ensino, mas entender e investigar o que existe nesta escola
para alcançar altas notas nas avaliações externas.
A escola pesquisada vem alcançando, desde 2008, notas acima das metas
estipuladas pelo Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo (IDESP).
Este índice faz parte das mobilizações organizadas pelo Governo do Estado de São Paulo
para garantir a melhoria da qualidade da educação, como é o caso do Programa de
Qualidade das Escolas - PQE - (já discutido no capítulo 1) do Governo do Estado de São
Paulo e o movimento da sociedade civil “Compromisso Todos Pela Educação” 22 (TPE),
22
Compromisso Todos Pela Educação (TPE) é um plano de metas estabelecido pela União Federal em regime
de colaboração com Municípios, Distrito Federal e Estados, e a participação das famílias e da comunidade,
mediante programas e ações de assistência técnica e financeira, visando a mobilização social pela melhoria da
qualidade da educação básica, instituído pelo Decreto nº 6.094/2007 de 24 abr. 2007. Segundo o art. 2º deste
decreto a participação da União, Estados e Municípios no TPE será pautada pela realização de 28 diretrizes,
para ver as diretrizes acessar http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/diretrizes_compromisso.pdf.
Daniela C. de Menezes Cosso | 66
vezes a população perceba isso como um avanço para a educação, este estudo não pretende
estimular esse tipo de mobilização. Também não observa nessas metas como algo
significativo de aprendizagens, pois acredita que as escolas não possuam as mesmas
condições (sejam elas sociais, familiares ou mesmo estruturais) para cumprir as metas que
foram estabelecidas.
obtidos pelos alunos paulistas nos dois exames ao longo dos anos tornaram-se passíveis de
comparação.
FONTE: http://idesp.edunet.sp.gov.br/
Podemos notar, através do gráfico 1, que a partir do ano de 2009 a UEE alcançou a
meta 7 estipulada, sendo que em 2008 teve IDESP igual a 6,2; em 2009 obteve a nota 7,06;
em 2010, 7,13; em 2011 alcançou IDESP 7,57; e, em 2012 ficou com a nota 7,56.
Daniela C. de Menezes Cosso | 69
Importante ressaltar que a UEE, durante 4 anos – de 2009 a 2012, conseguiu ultrapassar a
meta, mantendo uma certa evolução no que diz respeito à nota do SARESP.
9
8
7
Língua
6 Portuguesa
5
4
Matemática
3
2
1
0
2008 2009 2010 2011 2012
FONTE: http://idesp.edunet.sp.gov.br/
50
40
Abaixo do Básico
30 Básico
Adequado
20 Avançado
10
0
2008 2009 2010 2011
FONTE: http://idesp.edunet.sp.gov.br/
50
40
Abaixo do Básico
30
Básico
20 Adequado
Avançado
10
0
2008 2009 2010 2011
FONTE: http://idesp.edunet.sp.gov.br/
compreender, por meio de dados oficiais, a ideia de que a escola pesquisada pode ser
considerada com alto desempenho nestas avaliações.
Tabela 1: IDESP dos 5º anos de 2008, 2009, 2010 e 2011: REDE ESTADUAL.
INSTÂNCIAS 2008 2009 2010 2011
Escola 6,20 7,06 7,13 7,57
pesquisada
Coordenadoria 3,49 4,34 4,48 4,77
Diretoria 3,77 4,69 4,31 4,81
Município 3,48 4,08 4,09 4,46
Estado 3,25 3,86 3,96 4,24
Fonte: http://idesp.edunet.sp.gov.br/
Ele agrega ao enfoque pedagógico dos resultados das avaliações em larga escala do
Inep (Prova Brasil e SAEB- Sistema de Avaliação da Educação Básica) a possibilidade de
resultados sintéticos e que permitem traçar metas de qualidade educacional para os
sistemas. O indicador é calculado a partir dos dados sobre aprovação escolar, obtidos no
Censo Escolar, e médias de desempenho nas seguintes avaliações: o Saeb – para as
unidades da federação e para o país, e a Prova Brasil – para os municípios. A base
metodológica das duas provas é a mesma, a diferença está na população de estudantes aos
23
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira/Ministério da Educação.
Daniela C. de Menezes Cosso | 72
quais são aplicadas e, consequentemente, aos resultados que cada uma oferece. Ambas
avaliam as mesmas disciplinas, Língua Portuguesa e Matemática.
A realização de uma avaliação de sistema com amplitude nacional, para ser efetiva,
exige a construção de uma matriz de referência que dê legitimidade ao processo de
avaliação, informando aos interessados o que será avaliado. A Matriz de Referência é o
referencial curricular do que será avaliado em cada disciplina e série, informando as
competências e habilidades esperadas dos alunos. Segundo Nery (2000), toda Matriz
Daniela C. de Menezes Cosso | 73
Curricular representa uma operacionalização das propostas ou guias curriculares, que não
pode deixar de ser considerada, mesmo que não a confundamos com procedimentos,
estratégias de ensino ou orientações metodológicas e nem com conteúdo para o
desenvolvimento do trabalho do professor em sala de aula.
IDEB: UEE
7,7
7,6
7,5
7,4
7,3 IDEB: UEE
7,2
7,1
7
2007 2009 2011
Fonte: http://www.portalideb.com.br/
Daniela C. de Menezes Cosso | 74
Nota-se que em 2007 a UEE ficou com IDEB 7,2, em 2009 com 7,3 e em 2011
avançou para 7,6. Com o seu desempenho no IDEB nos anos 2007, 2009 e 2011, a UEE
tem sido vista como referência de boa qualidade de ensino no município e no estado,
superando a nota 6,0 – meta projetada para o País até o ano de 2021. Comparando seu
desempenho, o IDEB alcançado pela UEE se mostrou bem superior ao da rede nacional
(em 2007: 4,3; 2009: 4,9; e, 2011: 5,1) e da região de Campinas (2007: 4,8; 2009: 5,4; e,
2011: 5,3), considerando apenas as escolas dos anos iniciais do Ensino Fundamental, como
mostra o gráfico a seguir:
Fonte: http://www.portalideb.com.br/
Segundo o site do IDEB24 a escola foi considerada com excelente trabalho, pois essa
escola atingiu a meta prevista para 2011 e teve crescimento no IDEB em relação a 2009.
Além disso, o IDEB é superior à meta estipulada para o ano de 2022 (nota 6). A situação da
escola pode ser considerada boa e também pode ser vista como uma referência, porém sem
esquecer o desafio de manter os indicadores. Nos anos em que a escola participou do IDEB
(2007, 2009 e 2011) o fluxo escolar para o cálculo do IDEB foi considerado 1,0 , pois todos
os alunos foram aprovados.
24
http://www.portalideb.com.br/, acesso em 12 mai. 2013.
Daniela C. de Menezes Cosso | 75
A opção pelo uso destes instrumentos se deu pelos motivos que Triviños (1987, p.
138) evidencia em seu estudo:
Neste sentido, os recursos escolhidos como metodologia para este estudo se tornam
importantes veículos para atingir o objetivo proposto.
As fichas cadastrais e históricos escolares são dois documentos em uma única folha
( do tamanho A4 e de gramatura grossa – tipo cartolina), contém o cadastro de cada aluno
com nome completo, documento, nome dos pais, endereço, telefone, a foto da criança e
assinatura dos pais para a realização da matrícula ( na frente). Já no verso do documento
estão as notas de cada aluno (histórico escolar). Estas fichas estão organizadas em um
arquivo com pastas de todos os alunos regularmente matriculados, as pastas são
organizadas por ano escolar e dentro de cada ano é organizado por salas (por exemplo, 1º
ano, A, B, C e D).
25
O Projeto GERES (Geração Escolar) é um estudo sobre a qualidade e equidade no Ensino Fundamental
brasileiro - é uma pesquisa longitudinal de painel na qual uma amostra de alunos e escolas públicas e privadas
de cinco importantes cidades brasileiras (Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Salvador, Campo Grande e
Campinas) foi observada ao longo de quatro anos. Essa observação foi feita através da aplicação de cinco
exames, sendo que o primeiro foi aplicado no início do ano letivo de 2005, para se medir a proficiência com
que os alunos chegam à escola, e outros quatro exames, aplicados no final de cada ano letivo (2005, 2006,
2007 e 2008), para que se possa medir a proficiência ao final de cada ano letivo e assim permitir o cálculo do
valor agregado em cada um desses anos.
26
O Prêmio Gestão Escolar tem como objetivo estimular escolas públicas a mostrarem o desenvolvimento de
suas gestões, além de incentivar o processo de melhoria contínua na escola, pela elaboração de planos de
ações, tendo como base uma autoavaliação. Fonte: http://www.consed.org.br/index.php/premio-gestao-escolar
, acesso em 16, abr. 2013.
Daniela C. de Menezes Cosso | 77
questionários a escola envia-os para a Diretoria de Ensino e esta envia para a VUNESP
(empresa que tabula todos os dados).
Procurando por esses dados tabulados (através da VUNESP, via contato telefônico e
por e-mail) não obtivemos acesso a esses dados, a empresa não retornou. É importante
ressaltar isso na pesquisa, pois esses dados são de interesse público e a população deveria
ter acesso livremente. Mas os dados do questionário de contexto do SARESP são ocultados
e de impossível acesso.
Sobre o Prêmio Gestão Escolar, realizado desde 1998 pelo Conselho Nacional de
Secretários de Educação (CONSED), o qual visa estimular a melhoria da gestão das escolas
públicas em busca de uma educação de qualidade, foi a primeira vez em que a UEE
participou deste prêmio. A partir de 2014, segundo a SEE/SP, será obrigatória a
participação de todas as escolas públicas neste Prêmio. Em 2012, o número de inscrições
para concorrer ao prêmio foi de 9.600 escolas públicas, em âmbito nacional.
A participação neste Prêmio possibilitou que a escola participasse pela primeira vez
de um processo coletivo de autoavaliação. Por ser um movimento novo na rede pública
estadual, poucos pais participaram das reuniões feitas para esse fim (foram convocados os
pais do Conselho de Escola e APM), e por esse motivo a direção teve dificuldade em
realizar o plano de ações. Os pontos fortes da escola que foram destacados pelos pais nas
reuniões foram: a direção sempre presente na escola e qualidade dos professores. Quanto às
fragilidades, as falas dos pais se resumiam em: “essa escola é muito boa, não precisa mudar
nada”; “gosto muito daqui, acho que não tem nada ruim; “o que precisa melhorar aqui, é
Daniela C. de Menezes Cosso | 79
que a escola precisa ampliar o número de salas para ir até a 8ª série” (falas do pais
participantes das reuniões do Prêmio Gestão).
Sobre as normas regimentais da escola, estas são lidas (todos os anos) durante a
reunião de planejamento juntamente com a direção escolar e os professores. Todos dão sua
opinião referente a cada item, fazem sugestões e alterações. Após essa discussão, as normas
são lidas e aprovadas pela APM (Associação de Pais e Mestres) e Conselho de Escola.
Durante a primeira reunião escolar os pais recebem uma cópia das normas e assinam um
termo de ciência, concordando com as respectivas normas regimentais estabelecidas.
Importante ressaltar que essas normas são lembradas e faladas para os alunos durante todo
o ano letivo, pelos professores, coordenadora, diretora, inclusive pela merendeira e também
pela inspetora de aluno.
A leitura e análise das normas regimentais nos trazem importantes evidências para
compreendermos como se dá a organização da escola em estudo e o trabalho pedagógico na
sala de aula. É através dessa organização interna da escola em que o trabalho pedagógico da
sala de aula se inicia, por isso todo o corpo docente e a direção abraçam fortemente as
regras estabelecidas. Aspectos relacionados à higiene e ao comportamento dos alunos nos
dão pistas para compreendermos o modo como a gestão lida com as atitudes e valores das
crianças (Anexo 10).
Item E - 13 – Ordem e silêncio nos corredores, pátios e salas de aula são condições
indispensáveis para garantir a todos os alunos um bom nível de aprendizagem.
Quanto ao mapa de abrangência para matrícula escolar este foi disponibilizado pela
direção escolar quando perguntado como era feito o processo de matrícula. Este mapa é
utilizado pela direção para sanar possíveis dúvidas quanto aos bairros pertencentes à escola
em estudo. Este mapa está dividido em cores, a cor verde significa todas as ruas e avenidas
Daniela C. de Menezes Cosso | 81
que estão dentro da abrangência desta escola. Se a criança morar em alguma dessas ruas
assinalada pela cor verde (ver anexo 1) poderá ser matriculada na escola em questão.
período da manhã por motivo de trabalho em outra escola estadual, assim optou-se pelo uso
do questionário em todas as turmas dos quintos anos, garantindo o acesso a um maior
número de sujeitos pesquisados, abrangendo todos os alunos dos quintos anos (dos períodos
da manhã e da tarde).
Nesse sentido, Goldenberg (2007) traz sua contribuição sobre a escolha das questões
escritas nos questionários:
Foram preparados roteiros específicos para cada um dos grupos para a realização
das entrevistas, no sentido de atender especificamente o objetivo deste estudo. Em todos os
roteiros, a pesquisadora tomou o cuidado de abordar as quatro dimensões dos objetivos
específicos do estudo: práticas avaliativas, currículo, gestão escolar, e fatores sócio-
familiares.
Durante a coleta de dados, na entrevista com uma das professoras dos 5º anos, seu
depoimento sobre o bairro quando perguntado por que famílias que moram em bairros
afastados procuram essa escola, chamou a atenção:
Tem muitos alunos aqui que são filhos de ex-alunos, ou o pai estudou, a
mãe estudou, ou tio estudou, ou o primo estudou e aí recomenda. Por ser
um bairro antigo, as famílias envelheceram, então é um bairro que tem
mais idosos, e aí o que tem são os netos, e como é um bairro de classe
média então os netos estudam em escolas particulares, então em torno da
escola não tem demanda pra ter aluno aqui na escola, então eles vem de
longe (...) (entrevista com a Professora Z – grifos meus).
Através da analise documental dos históricos dos alunos e dos questionários das
famílias (pergunta 3 - Você mora próximo da escola?) podemos considerar que muitas
famílias moram em bairros mais afastados e não no entorno da escola. Os pais que
responderam não morar próximo à escola do filho (47,5%), disseram morar em bairros
como Amarais, Costa e Silva, Parque Via Norte, Santa Mônica, Parque Industrial, Jardim
Eulina, Barão Geraldo, Parque Itália, Proust Souza, entre outros. Observa-se, assim, que
Daniela C. de Menezes Cosso | 86
praticamente a metade das famílias dos alunos dos 5º anos desta escola não moram no
entorno da escola. Nesse sentido, o depoimento da Professora Z nos ajuda a compreender o
fato, estando em consonância com a coleta de dados.
terminam a tarefa antes da hora, manuseá-los. São livros de autores infantis, como Ana
Maria Machado, Monteiro Lobato e Ruth Rocha. Também existem caixas de plástico
grandes nas quais, divididas por gêneros literários – revistas Ciência Hoje das crianças e
Recreio; gibis; e, literatura infantil, compõem o espaço da sala de aula.
Fonte: UEE
27
Normalmente, em um estudo de caso qualitativo não interessaria mostrar imagens de uma escola, mas a
escolha em inserir imagens da escola pesquisada se deu no sentido de dar uma maior caracterização dos
relatos da pesquisadora quanto aos aspectos físicos analisados.
Daniela C. de Menezes Cosso | 88
Fonte: UEE
Fonte: UEE
criança leve um lanche para a escola, mas todos devem seguir as normas internas de
conduta (Normas regimentais – ver anexo 10) apresentadas aos pais no início do ano letivo.
Essas normas são atualizadas e aprovadas todos os anos pela comunidade escolar, em
reunião de conselho. Nessa questão do lanche, a regra “15” das Normas de Regimentais
deixa claro a opção da escola:
Outra mãe entrevistada também deu seu depoimento referente às normas da escola,
quando perguntado se ela estava satisfeita com a escola:
Daniela C. de Menezes Cosso | 90
Sim, eu gosto daqui. Eu não tenho do que reclamar, de todos esses anos
que eu venho eu não tenho o que reclamar. Eu fico assim muito a desejar,
na parte do lanche, né! Na parte da merenda... A questão não é nem a
cantina, porque eu até acho melhor não ter a cantina que vende aquelas
porcariadas, né! Só que eu acho assim, eles não pode trazer as coisas de
casa, não podem trazer um suco, um danone... Como esse calor que está
fazendo agora, eles não oferecem e também não pode trazer. Não pode
trazer água de casa, nem uma garrafinha eles podem trazer para a classe.
Porque eu tive um probleminha o ano passado, que ela tem refluxo de
urina e ela não pode ficar sem água, né! Então, só que não pode trazer a
garrafinha na classe. Eles só deixaram sair da classe toda hora para ela
poder beber água, mas eu acho que isso não é bom, atrapalha um pouco
porque sai bem na hora que a professora está explicando... Mas nessa
parte de alimentação, 9 horas da manhã dão comida para a criança. Eu
acho que o ruim da escola é que a escola deveria liberar um danone, um
suco... Não pode trazer suquinho, não pode trazer um bolo recheado, um
bolo com cobertura, mas eu vou trazer o quê pra ela? Só bolacha salgada?
É ruim! Bom, é mais nessa parte aí, mas na parte do ensino é ótimo.
(Entrevista – mãe 2)
Fonte: UEE
Daniela C. de Menezes Cosso | 92
Quanto aos banheiros, dois para os professores e funcionários e dois para os alunos,
estão sempre muito bem limpos, com toalhas limpas (são trocadas sempre que estão
molhadas, duas, três ou até quatro vezes ao dia), sabonete para lavar as mãos e papel
higiênico. A realidade em relação ao uso dos sanitários na maioria das escolas públicas
estaduais é que não existe papel higiênico nos banheiros dos alunos e muito menos toalha e
sabonete para lavar e enxugar as mãos, geralmente o papel fica com as inspetoras de alunos
(agentes de organização escolar) ou com a própria professora da sala de aula e quando o
aluno precisa usar o sanitário o mesmo sai em busca de um pedaço de papel. Por esse
motivo é importante salientar o cuidado em que esta escola tem quanto à higiene dos
alunos, essa foi uma das observações que mais chamaram a atenção da pesquisadora, pois
pelo seu contato profissional em outras escolas públicas estaduais, esse foi um dos
diferenciais que chamou a atenção.
Fonte: UEE
Daniela C. de Menezes Cosso | 93
Fonte: UEE
A sala dos professores é composta por uma grande mesa com cerca de 16 cadeiras
em volta; uma mesa com computador, impressora, scanner (todos em funcionamento); uma
armário com uma televisão de vinte e nove polegadas (as professoras e a gestão geralmente
assistem à videoconferências); várias estantes com muitos livros didáticos; armários
etiquetados com os nomes de cada professora da escola; e, um bebedouro e pequeno
armário para guardar copos e pratos descartáveis e guardanapos.
Daniela C. de Menezes Cosso | 94
Fonte: UEE
Fonte: UEE
diferenciadas: menores e apropriadas para a faixa etária, já nas outras salas as carteiras são
um pouco maiores; globos terrestres; várias caixas com livros apropriados para as idades;
vários armários; mapas e nas duas últimas salas (dos quintos anos) possuem dois quadros
brancos para as professores escreverem com pincel atômico. Todas as crianças usam uma
toalhinha em cima da mesa para protegê-la (essa toalha é individual, cada aluno tem a sua e
carrega dentro da mochila), assim as carteiras ficam sempre protegidas.
Fica evidente que a ordem e as normas estabelecidas pela direção e aprovadas pelo
Conselho são aceitas e cumpridas pelas crianças, com o consentimento dos pais. Apesar de
Daniela C. de Menezes Cosso | 96
alguns pais não gostarem de algumas normas (como a norma nº 15 sobre o lanche levado
pelas crianças), eles acabam aceitando e fazendo com que as crianças cumpram.
Para a realização dos questionários, a amostra foi composta por todas as salas dos 5º
anos do Ensino Fundamental da unidade escolar pesquisada, totalizando 4 turmas: duas
salas do período da manhã e duas salas do período da tarde. Dos questionários de aluno,
foram respondidos 102 ao todo, sendo que 26 do 5ºano W (renomeei e desordenei as turmas
para não serem identificadas), 28 do 5ºano X, 24 do 5º ano Y e 24 do 5ºano Z. A
justificativa em escolher as salas dos 5º anos para a coleta de dados se deu por conta de
serem turmas participantes das avaliações externas em 2012, como o SARESP. A
realização do questionário para os alunos se deu em um dia típico de aula, durante o mês de
maio de 2012. A pesquisadora explicou para as crianças sobre o propósito do questionário
e pediu que todos respondessem com o máximo de atenção, foi lida questão por questão
sem que houvesse a intervenção da professora da classe. O tempo usado para cada turma foi
em média 50 minutos. Ao final das perguntas alguns alunos fizeram alguns comentários
como: “Nossa, que fácil!”; “Já acabou!”; “Você vai fazer mais dessa prova, achei muito
fácil”; “Gostei, não achei difícil!”.
Nº de questionários 26 28 24 24
respondidos (alunos)
Nº de questionários 25 24 28 21
respondidos (PAIS)
Para a realização das entrevistas, a amostra foi composta por quatro professoras das
turmas dos 5º anos, a Diretora, a Vice-diretora, a Coordenadora Pedagógica, e algumas
famílias escolhidas aleatoriamente dos 5º anos. Especialmente em relação ao grupo de
professoras, buscou-se renomeá-las com letras (W, X, Y e Z) com o intuito de preservar-
lhes a identidade e suas respectivas turmas também foram nomeadas com essas letras.
carro ou a pé para a mesma. Todas as crianças desta turma frequentam alguma outra
instituição como igrejas ou clubes.
está há 5 anos neste cargo e também é professora PEB-I, possui curso de atualização na
área.
Capítulo IV
A organização do trabalho pedagógico de uma escola com alto IDESP pode ser
entendida pelo viés da avaliação, pois a avaliação ocupa um papel central na organização
do trabalho escolar observada tanto dentro da sala de aula (avaliação da aprendizagem)
como no interior de um sistema (as avaliações externas a nível nacional e estadual) tendo
em vista sua importância nas políticas educacionais, discutidas nos capítulos I e II deste
estudo. Práticas avaliativas, gestão escolar, conteúdos escolares e fatores sociofamiliares
são importantes aspectos do interior da escola estudada que se inter-relacionam por um
mesmo fio condutor, a avaliação. Sendo assim, a organização do trabalho pedagógico está
voltada ao objetivo principal (de acordo com as políticas educacionais vigentes) que é
alcançar notas elevadas nas avaliações. O organograma a seguir demonstra essas relações
no interior da escola estudada:
Daniela C. de Menezes Cosso | 102
ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
PEDAGÓGICO
AVALIAÇÃO
Cada vez mais, a análise de conteúdo passou a ser utilizada para produzir
inferências acerca de dados obtidos a partir de perguntas e observações de interesse do
pesquisador qualitativo. Assim, segundo Franco (2005) o ponto de partida da análise de
conteúdo é a mensagem, seja ela verbal, gestual ou documental. Ela expressa um
significado que não pode ser considerado um ato isolado.
Nesse tipo de análise, segundo Bardin (2008) os dados devem passar por três etapas,
ou pólos cronológicos: a pré-análise; a exploração do material; e, o tratamento dos
resultados com a inferência e interpretação. A pré-análise trata da organização
propriamente dita e corresponde a:
Daniela C. de Menezes Cosso | 104
Sobre o perfil da clientela escolar atendida nesta escola, o estudo se baseou nos
seguintes dados: as fichas cadastrais de todos os alunos regularmente matriculados nesta
instituição escolar, plano gestão e respostas dos questionários aplicados em todas as
famílias e alunos das salas dos 5ºs anos, lembrando que a amostra do estudo contou com
102 questionários respondidos pelos alunos e 98 questionários respondidos pelos pais. A
busca pelas fichas cadastrais se deu para compreender onde as crianças matriculadas nesta
UEE moram, se moram próximas à escola (no entorno) ou fora da abrangência territorial
desta unidade escolar.
Sobre a clientela escolar, o Plano Gestão da UEE nos evidencia uma clientela com
um bom nível socioeconômico, segundo esse documento escolar:
Ainda no Plano Gestão da UEE, no item Comunidade Escolar (p. 3), a ideia de uma
clientela com bom nível socioeconômico se confirma. Segundo o documento há uma
grande interação entre a escola e a comunidade, também ressalta que a comunidade é
participativa, o texto traz:
O estudo documental nas fichas cadastrais dos alunos evidenciou que, a partir dos 3º
anos, ocorreram várias alterações nos endereços cadastrados (crianças que estavam
cadastradas em bairros pertencentes à área da UEE no ano de ingresso, já não moravam
mais nestes bairros, pois fizeram alterações de endereços na ficha cadastral durante os
outros anos de estudo). Nota-se ainda que a proporção de crianças que mudou de endereço
aumentou de acordo com a mudança de série (ano escolar). Assim, podemos inferir que
quando se eleva a série/ano escolar pesquisado, aumenta-se o número de alunos que moram
em outros bairros fora da área de abrangência.
Os dados da tabela 7 nos mostram que dos 100 alunos ingressantes (crianças
matriculadas nos 1º anos), 80 moram nos bairros atendidos pela escola (80%) e 20 em
outros bairros não atendidos pela área de abrangência (20%).
Daniela C. de Menezes Cosso | 107
Os dados da tabela 8 são das fichas cadastrais dos alunos matriculados no 2º ano,
dos 64 alunos das duas salas de 2º ano, 54 moram nos bairros atendidos pela escola
(84,3%) e apenas 10 moram em outros bairros (15,7%).
Já na tabela 9, dos alunos matriculados nas turmas dos 3º anos, começamos a notar
um leve aumento na porcentagem de alunos que moram em bairros fora da abrangência da
UEE. Observamos que dos 57 alunos das duas salas de 3º ano, 39 moram nos bairros
atendidos pela escola (68,4%) e 18 moram em outros bairros fora da área de abrangência
(31,6%).
A partir da tabela 10, onde mostra os dados dos alunos matriculados nos 4ºs anos,
observamos que a porcentagem de alunos que mora fora da área de abrangência da UEE
aumentou consideravelmente. Dos 117 alunos das quatro salas de 4º ano, 72 crianças
moram nos bairros atendidos pela escola (61,5%) e 45 moram em outros bairros (38,5%)
fora da área de abrangência. Notamos ainda que 16 alunos que estavam inicialmente
matriculados em seu ano de ingresso em um bairro dentro da abrangência da escola,
alteraram seus endereços na ficha cadastral para um bairro fora da abrangência (estes 16
alunos no ano de ingresso - 1º ano - foram matriculados com um endereço pertencente à
área de abrangência da escola e agora no 4º ano, moram em bairros não atendido pela
UEE).
28
PRODESP, é uma empresa vinculada à Secretaria de Gestão Pública do Governo do Estado de São Paulo
de economia mista (Sociedade Anônima Fechada). Seus principais acionistas são a Secretaria da Fazenda do
Estado de São Paulo e o Instituto de Previdência do Estado de São Paulo (IPESP). Tem como missão
contribuir para a eficiência do setor público e para a simplificação da vida do cidadão por meio de soluções
tecnológicas inovadoras. http://www.prodesp.sp.gov.br/index.asp, acesso em 06/11/2012.
Daniela C. de Menezes Cosso | 110
Observando as respostas referentes aos questionários das famílias dos 5ºs anos, nas
perguntas “Você mora próximo da escola?” e “Em qual bairro você mora?”, notamos que
os dados encontrados nas fichas cadastrais são muito parecidos com os do questionário
aplicado. 52% das famílias responderam morar próximas das escolas e 48% moram em
bairros mais afastados da escola estudada, ou seja, das 98 famílias questionadas, 51 (52%)
moram em bairros que fazem parte da abrangência da escola e 47 famílias (48%) moram
em bairros mais afastados, os quais não fazem parte dos bairros pertencentes ao
atendimento da escola.
Boas referências que tem, sabe que é uma escola boa. São pais
preocupados (Entrevista, Profª W).
Em busca de uma boa escola, de uma boa formação para o seu filho sem
ter que gastar com isso, a escola pública (Entrevista, Profª X).
Eu vejo da seguinte maneira: é um bairro antigo, e por ser antigo, o
pessoal jovem (os recém casados), não moram mais aqui porque é um
bairro de valor de aluguel alto, o valor das casas são altos. Então quem
casa não tem lugar para morar por aqui, a não ser que o pai pague ou dê a
casa para eles morarem. Aqui é um bairro de terceira idade, aí vira tudo
comércio, vira um bairro independente, é cíclico. Começa a
verticalização. No momento eu acho que aqui é um bairro de terceira
idade e não tem muita criança para ser matriculada na escola, ou os avós
ficam com as crianças para os pais trabalharem. Muitas famílias que
moravam aqui e conhecem a escola, vão morar longe mas fazem questão
de matricular seus filhos aqui, por já conhecerem a escola. E outras
famílias que não moram por aqui mas conhecem a fama da escola em
jornais e então procuram para fazer a matrícula (Entrevista, Profª W).
Por saber que é uma ótima escola. Tem muitos alunos aqui que são filhos
de ex-alunos, ou o pai estudou, a mãe estudou, ou tio estudou, ou o primo
estudou e aí recomenda. Por ser um bairro antigo, as famílias
envelheceram, então é um bairro que tem mais idosos, e aí o que tem são
os netos, e como é um bairro de classe média então os netos estudam em
escolas particulares, então em torno da escola não tem demanda pra ter
aluno aqui na escola, então eles vem de longe. Tem alunos que vem de
muito longe, eu tenho um aluno que vem de Monte Mor, a mãe vem trazer
a 1 hora, fica zanzando de carro por aqui, porque se ela chegar lá em
Daniela C. de Menezes Cosso | 111
Monte Mor já tem que voltar e fica esperando até o horário da saída, as 5
e meia. É um sacrifício que ela faz pra tentar dar uma educação melhor,
ela tem um tempo que eu não tive com meus filhos, porque os meus filhos
não tiveram o privilégio de ter uma escola como essa (Entrevista, Profª Z).
Importante ressaltar que, na opinião das Professoras, a escolha desta escola pelas
famílias mesmo morando em bairros afastados se dá por alguns motivos além da escola ter
boa qualidade. Elas acreditam que em torno da escola tem pouca demanda de alunos para
preencher as vagas da UEE e que o bairro desta instituição (por ser um bairro antigo) se
tornou de terceira idade. Como muitas famílias já moraram próximo à escola e conhecem a
boa qualidade da mesma acabam matriculando seus filhos.
Nesse sentido, podemos inferir que as famílias, mesmo morando em bairros mais
afastados da escola (fora da área de abrangência da UEE), escolhem esta escola para
matricularem seus filhos por saberem que esta instituição tem uma boa qualidade no ensino,
e se for preciso “burlam” o sistema para conseguirem uma vaga para a criança. Como os
pais dão muito valor para a escolha desta escola, acabam cobrando de seus filhos que
estudem bastante, pois outra escola como esta será difícil de conseguir, segundo o
depoimento de uma mãe em uma reunião de Conselho de Escola e APM:
Os pais aqui da escola cobram muito dos filhos, eles sabem o quanto foi
difícil conseguir uma vaga aqui e por isso fazem questão que o filho tire
uma boa nota, outra escola como esta será difícil de conseguir. Acho que
aqueles pais que já sabem que o filho não é muito de estudar já nem
coloca aqui, já sabe que o filho não vai acompanhar (Depoimento de mãe
- Reunião de Conselho/APM).
Daniela C. de Menezes Cosso | 112
Quanto ao nível de instrução das famílias dos alunos atendidos na UEE, a amostra
de pais participantes no questionário demonstrou que a grande maioria possui Ensino
Médio Completo ou Ensino Superior.
Tabela 12: Nível de escolaridade das MÃES dos alunos dos 5º anos (responsável feminina)
Mães (responsável feminina) 5º W: 25 5ºX: 24 5ºY: 28 5ºZ: 21 TOTAL
Nível de escolaridade 98
Analfabeto/ até 3ª série do E. F. - - 2 - 2
4ª série E. F. - 1 - - 1
Fundamental completo (até 8ª série) 2 2 1 5 10
Ensino Médio Completo 14 9 15 11 49
Superior Completo (Faculdade) 9 12 10 5 36
Não sei - - - - -
Fonte: Questionário elaborado para este trabalho, aplicado em maio de 2012.
Tabela 13: Nível de escolaridade dos PAIS dos alunos dos 5º anos (responsável masculino)
Pais (responsável masculino) 5º W: 25 5ºX: 24 5ºY: 28 5ºZ: 21 TOTAL
Nível de escolaridade 98
Analfabeto/ até 3ª série do E. F. - - 1 - 1
4ª série E. F. 1 1 2 1 5
Fundamental completo (até 8ª série) 2 2 4 2 10
Ensino Médio Completo 12 11 8 13 44
Superior Completo (Faculdade) 10 10 10 5 35
Não sei - - - - -
Fonte: Questionário elaborado para este trabalho, aplicado em maio de 2012.
questionário de contexto do SARESP 2011, aplicado nas famílias dos alunos participantes
da avaliação. Foi observado que as famílias possuem uma renda familiar considerada alta,
pois de acordo com as respostas contidas neste questionário, mais da metade das famílias
assinalou possuir renda nas faixas “D” e “E”. Importante salientar que esses valores foram
do ano de 2011, quando o salário mínimo era de R$545,00, segundo a lei Nº 12.382 de
25.02.2011, que dispõe sobre o valor do salário mínimo em 2011. Os dados podem ser
observados na tabela a seguir:
estudo do Projeto Geres29, dentre as 311 escolas estudadas da região de Campinas (escolas
municipais, estaduais e particulares), a escola estudada está entre as que possuem alto
NSE.
29
Para aprofundamento ou maiores informações sobre o Projeto Geres procurar o LOED/UNICAMP –
Laboratório de Observação e Estudos Descritivos da Faculdade de Educação da Unicamp.
Daniela C. de Menezes Cosso | 116
Ainda sobre essa discussão sobre o nível socioeconômico, quando perguntado aos
pais na entrevista “Você acha que o um bom nível sócio econômico das famílias prejudica
ou ajuda a criança no seu desempenho escolar?”, responderam acreditar que aqueles pais
com melhores condições socioeconômicas podem ajudar mais no aprendizado dos seus
filhos, e que o um melhor nível socioeconômico influencia na aprendizagem. Uma mãe até
deixou uma sugestão para acabar com o problema das diferenças sociais entre os alunos:
que a sociedade se mobilize para padronizar todas as escolas, a sociedade deveria cobrar do
governo todo o material e o uniforme de boa qualidade. Mas também houve uma mãe que
acredita que não é o dinheiro que ajuda no aprendizado, mas sim o afeto. Observe:
Ainda na opinião dos pais, dois depoimentos no questionário das famílias chamaram
a atenção quando se perguntou quais seriam os fatores que fazem a escola de seu filho
alcançar elevadas notas nas avaliações externas todos os anos, a família nº 26 do 5º ano Y
respondeu que, por não haver pais analfabetos (região onde não há miséria), estes ajudam
os filhos nos estudos, entendendo que um bom nível socioeconômico das famílias pode
interferir positivamente no desempenho dos filhos na escola. Já a família nº 20 do 5º ano W
colocou que nesta escola existem mais famílias de “poder econômico mais alto” do que na
periferia, podendo esse ser um dos fatores para as elevadas notas:
A escola está situada em uma região onde não há miséria. Acredito não
haver pais analfabetos aqui, o que acaba por termos o auxílio destes no
estudos extra classe. O espaço físico e, apesar de pequeno e ainda
deficiente, organizado e suficiente para o básico a que se destina
(Questionário, família nº 26, 5º ano Y).
Deve ser o conteúdo do ensino. Porque tem mais alunos de famílias de
poder econômico (socioeconômico) mais alto do que das escolas na
periferia (Questionário, família nº 20, 5º ano W).
De uma forma geral, os pais que se preocupam mais com uma compra de
livro, em levar a criança a uma atividade cultural, eu acho que facilita o
aprendizado. Porém, pode haver uma criança mais humilde, com uma
condição socioeconômica mais baixa e ser um aluno que possa
desenvolver um trabalho muito bom. Agora, de uma forma geral, eu acho
que as condições socioeconômicas mais altas contribuem para o
desempenho (Entrevista, Diretora).
Ajuda bastante, mas eu acho na verdade que mais interfere mesmo é o
trabalho da equipe, dos professores. Uma criança com nível
socioeconômico mais elevado, ela tem outros meios para aprender, outras
possibilidades do que outra criança com menos condições, tem outros
recursos, TV a cabo, passeios. Não é tudo, mas ajuda. As famílias tem
mais recursos, e tem outra visão em relação aos estudos (Entrevista, Vice-
Diretora).
Não. Inclusive nessa situação do GERES que nós tivemos 4 ou 5 ondas
avaliativas, foi demonstrado lá na UNICAMP, as crianças com poder
socioeconômico muito baixo ela tem condições de aprender, ela consegue
aprender, então não é o nível socioeconômico que favorece ou
desfavorece a criança, então não acredito nisso. A escola, por estar num
bairro bem localizado provavelmente as pessoas que moram aqui, sim
pelo bairro, é um bairro bem localizado. E a escola supre, oferece as
crianças menos desfavorecidas todo um acervo com gibis, revistas recreio
e isso faz parte do Programa Ler e Escrever (Entrevista, Coordenadora).
Alguns, não todos. Eu noto que falta (nos pais socioeconômicos mais
inferiores) falta a presença do pai ou da mãe, as vezes são pais separados,
pais que quando estão em casa não sabem ajudar, não dão atenção, a
criança não vê aquele pai ou aquela mãe que não lê nada, então a criança
não se sente estimulada para ler. Mas também existem aqueles pais com
uma situação socioeconômica bem inferior e que os filhos são ótimos,
porque? Porque eles tem uma postura diferente, eles incentivam, eles
cobram, eles querem que que os filhos sejam melhores do que eles. Agora
tem os acomodados, meu filho já está tendo mais estudo do que eu, acho
que depende muito do estímulo do pai, da postura do pai. Acredito que
depende muito da postura do pai e não do nível socioeconômico
(Entrevista, Profª W).
Eu acho que... pode influenciar em qualquer nível, se o aluno não tiver
interesse tanto faz se ele tem condições financeiras ou não, ele não vai
produzir o resultado que a gente gostaria. E na classe financeira mais
baixa, se o aluno tiver muito interesse e se esforçar as vezes consegue
resultado melhor. Depende muito de cada criança. Em parte não interfere,
mas no sentido do aluno não ter acesso a mais informação, isso sim
interfere, que nem internet, para fazer pesquisa, ou mesmo livros, isso sim
faz diferença (Entrevista, Profª X).
Sim influencia, mas também tem assim... os que não puderam estudar,
apesar do poder aquisitivo ser baixo, eles tem interesse que o filho estude,
em aprender, aí correm atrás. Agora, tem aqueles que tem poder aquisitivo
maior e não estudam, e também não correm atrás, são os acomodados na
vida. Também tem aquelas famílias com um maior poder aquisitivo, que
cobram muito do filho, elas querem “10”, e muitas vezes as crianças não
tiram “10”, eu percebi o fator emocional por causa dessa cobrança. Eles
também estão com a idade menor, eles entraram com 5 anos no primeiro
ano, então emocionalmente eles são imaturos, e a cobrança é para tirar 10.
Eu tenho mães esse ano, que se o filho não tirasse 10 ela ia por de castigo.
Ela disse isso pra mim em reunião, e essa família tem o nível econômico
mais alto em relação aos outros da turma. Aí a criança chora, tem dor de
estômago, e a culpa é da escola... (Entrevista, Profª Y).
Aqui nessa escola nem tanto, mas em outras escolas que eu trabalhei sim,
aqui é mais ou menos nivelado, tem um ou outro caso, mas em outras
lugares que eu já trabalhei que essas diferenças eram gritantes mesmo,
quanto menos favorecido economicamente mais dificuldades ela tinha na
escola. Tinham as exceções porque também tem aquele que vem de uma
família super humilde, cheia de problemas e ele se supera mesmo tendo
uma realidade ruim, e ele consegue se superar, mas é exceção, mas a
maioria não. Vir para a escola de barriga vazia, com tênis rasgado, sujo,
sem tomar banho, por mais que você faça, dificilmente você vai suprir
esse lado (Entrevista, Profª Z).
Daniela C. de Menezes Cosso | 120
Sobre a questão “eu estudo porque é importante para mim”, apenas dois alunos
assinalaram a opção “às vezes”, menos de 2% dos alunos. Já a grande maioria, com 98,1%
disseram sim, 100 alunos estudam por considerar ser importante para eles o estudo.
Sobre a satisfação dos pais pela escola estudada, obtivemos na entrevista que todos
os pais estavam satisfeitos com a escola, pois responderam positivamente a essa pergunta,
apenas uma mãe fez referências quanto às regras impostas na questão do lanche, não
estando tão satisfeita assim:
Sim, eu gosto daqui. Eu não tenho do que reclamar, de todos esses anos
que eu venho eu não tenho o que reclamar. Eu fico assim muito a desejar,
na parte do lanche, né! Na parte da merenda... A questão não é nem a
cantina, porque eu até acho melhor não ter a cantina que vende aquelas
porcariadas, né! Só que eu acho assim, eles não pode trazer as coisas de
casa, não pode trazer um suco, um danone... Que nem esses calor que tá
fazendo agora, eles não oferecem e também não pode trazer. Não pode
trazer água de casa, uma garrafinha, eles não podem trazer para a classe.
Porque eu tive um probleminha o ano passado, que ela tem refluxo de
urina e ela não pode ficar sem água, né! Então, só que não pode trazer a
garrafinha na classe. Eles só deixaram sair da classe toda hora para ela
poder beber água, mas eu acho que isso não é bom, atrapalha um pouco
porque sai bem na hora que a professora tá explicando... Mas nessa parte
de alimentação, 9 horas da manhã dão comida para a criança. Eu acho que
o ruim da escola é que a escola deveria liberar é nessa parte assim, um
danone, um suco... Ai não pode trazer suquinho, não pode trazer um bolo
recheado, um bolo com cobertura, mas eu vou trazer o quê pra ela? Só
bolacha salgada? É ruim! Bom, é mais nessa parte aí, mas na parte do
ensino é ótimo (Entrevista, mãe nº 2).
Já outra mãe de aluno deu seu depoimento pedindo que a escola fosse ampliada até
a 8ª série (atualmente 9º ano), pois estava tão satisfeita que gostaria que seu filho estudasse
nesta escola até essa etapa da escolarização:
Sim bastante. Muito satisfeita, inclusive eu queria que ele ficasse aqui,
podia ampliar essa escola até a 8ª série... Aqui é tão grande, podia fazer a
reforma e ter de primeira até a oitava (Entrevista, mãe nº4).
Para identificar a satisfação dos pais, também foi perguntado se eles gostariam de
matricular seus filhos em outra escola pública, assim poderíamos perceber se a satisfação
era realmente incorporada. Todas as famílias entrevistadas disseram estar muito satisfeitas e
Daniela C. de Menezes Cosso | 122
que não gostariam de matricular seus filhos em outra escola pública. Importante evidenciar
o quanto estão satisfeitos, pois possuem grande preocupação em relação ao ano seguinte (6º
ano), não sabem se vão conseguir uma escola com a mesma qualidade, as famílias
entrevistadas têm a preocupação em investir em uma escola particular. Também
evidenciam a postura da diretora:
Não. Porque aqui em Campinas não tem uma escola melhor do que esta,
estadual. Entendeu? Se esta diretora for embora será que esta escola
continua assim? (Entrevista, mãe nº1).
Não, somente esta. Tanto é que agora a gente vai ter que investir em uma
escola particular. Pena que não vai até a 8ª série (Entrevista, mãe nº3).
Não. Porque aqui é muito bom, tem uma qualidade ótima (Entrevista, mãe
nº4).
Não, e acho que deveria ter uma ampliação até o 9º ano. Já to com a
minha cabeça fervendo só de pensar pra onde elas vão o ano que vem
(Entrevista, mãe nº6).
Gostaria de ficar aqui mesmo. Pena que ele vai ter que sair daqui o ano
que vem (Entrevista, mãe nº7).
Notou-se uma grande satisfação dos pais pela escola, pois quando perguntado se
gostariam de matricular seus filhos em uma escola particular, todos responderam que no
momento, ou seja, no 5º ano, não gostariam de colocar em uma escola particular, mas que
talvez no ano seguinte matriculassem em uma escola particular para garantir a qualidade de
ensino:
O ano que vem ele vai para uma escola particular. Mas no momento não
(Entrevista, mãe nº1).
Não. Ah, porque o padrão daqui já é muito bom (Entrevista, mãe nº5).
Não, mas o ano que vem talvez coloque em uma particular... (Entrevista,
mãe nº7).
Quando pedido para os pais descreverem algo negativo e algo positivo da escola,
entendemos que a satisfação da família está relacionada aos fatores positivos. Foram
destacados como fatores positivos os seguintes aspectos: organização, direção rígida,
Daniela C. de Menezes Cosso | 123
Tabela 16: Respostas dos pais (questão2) no questionário de contexto – SARESP 2011 (Leia as
frases abaixo e responda se concorda ou não com as afirmações. Se você não souber avaliar algum
item, por favor, anote não sei):
FRASES: CONCORDO CONCORDO DISCORDO NÃO SEI TOTAL
PLENAMENTE EM PARTE
2.1 Eu recebo informações da escola 43 7 50
sobre o progresso do meu filho.
2.3 Meu filho está seguro na escola. 39 10 1 50
2.4 Os professores da escola tem 41 9 50
respeito pelos alunos.
2.5 A escola é um ótimo ambiente de 42 8 50
estudo para os alunos.
2.6 A escola do meu filho sabe 36 14 50
preparar as crianças para o futuro.
2.7 A escola me dá informações claras 37 10 3 50
sobre o que ensina meu filho
2.9 A escola é valorizada pela 41 6 1 50
comunidade.
2.10 Eu ajudo meu filho a estudar em 46 4 50
casa
2.11 A escola sempre faz reuniões com 42 8 50
os pais para informar sobre os filhos
2.12 Eu considero que os professores 37 12 1 50
são muito capazes
2.15 Eu gostaria que meu filho 5 9 35 1 50
estudasse em outra escola
2.17 Quando há algum problema, sou 46 3 1 50
rapidamente chamado à escola.
2.18 Eu sou informado sobre o 29 18 3 50
planejamento da escola.
2.19 A escola dá importância para a 30 14 2 4 50
opinião dos pais.
2.20 A escola não se importa quando 4 8 34 4 50
meu filho falta
2.24 Se eu pudesse pagar, meu filho 13 11 25 1 50
iria para uma escola particular.
FONTE: Questionário de Contexto SARESP 2011
A satisfação dos pais referente à escola também foi observada na avaliação feita por
eles nesse mesmo questionário (questão 3 do questionário de contexto do SARESP 2011).
Foi pedido para que os pais dessem uma nota de 0 a 10 para vários temas como:
Capacidade dos Professores; Capacidade do Diretor ou Diretora; Disciplina dos alunos;
Interesse do seu filho pelos estudos; Conhecimento que a escola tem dos problemas de
Daniela C. de Menezes Cosso | 126
ensino; Qualidade dos Profissionais que atendem aos alunos; Localização da escola;
Instalações físicas da escola (prédio, quadras, etc); e, Segurança da escola. A maioria dos
pais avaliou a escola com nota 10 em todos os itens, dando destaque aos itens “localização
da escola”, “instalações físicas da escola”, “capacidade da Diretora”, e “capacidade dos
professores”, pois receberam maior número de notas 10. O quadro abaixo (tabela 17) nos
mostra as notas dadas pelos pais:
Tabela 17: Respostas dos pais (questão 3) no questionário de contexto – Saresp 2011 (Faça uma
avaliação da escola de seu filho e dê uma nota de 0 a 10 para cada item, sendo a nota 0 uma
avaliação muito negativa, e a nota 10 uma avaliação muito positiva):
ITENS NOTA NOTA NOTA NOTA NOTA NOTA NOTA NOTA NOTA NOTA NOTA TOTAL
AVALIADOS 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Capacidade
dos 1 12 8 29 50
Professores
Capacidade
do Diretor ou 1 2 1 7 9 30 50
Diretora
Disciplina dos 1 1 3 20 11 14 50
alunos
Interesse do
seu filho pelos 1 4 13 13 19 50
estudos
Conhecimento
que a escola 1 1 3 14 13 18 50
tem dos
problemas de
ensino
Qualidade dos
Profissionais 1 1 2 9 8 29 50
que atendem
aos alunos
Localização 1 1 4 42 50
da escola
Instalações
físicas da 1 2 10 4 33 50
escola
(prédio,
quadras, etc)
Segurança da 1 2 1 5 4 14 23 50
escola
FONTE: Questionário de Contexto SARESP 2011
No gráfico a seguir, projetamos as notas dadas pelos pais para uma melhor
visualização e análise. Percebemos que a grande maioria das famílias avalia positivamente
os itens elencados no questionário, sendo que os itens mais bem avaliados (com nota 10)
foram: a localização da escola, as instalações físicas do prédio escolar e a capacidade da
Daniela C. de Menezes Cosso | 127
Diretora. Observou-se que todas as notas “zero” (0) que a escola recebeu no questionário
foram dadas pela mesma família.
Segurança da escola
0 10 20 30 40 50
Ainda sobre o tema satisfação das famílias em relação à escola, no Plano Gestão da
UEE, encontramos em um subtítulo do plano “Expectativa dos pais em relação ao futuro
dos filhos” as seguintes palavras sobre esse tema, lembrando que quem escreveu esse
documento foi a gestão da unidade escolar pesquisada, assim podemos perceber que a
opinião sobre a expectativa dos pais foi dada pela direção escolar e não pelos pais:
Daniela C. de Menezes Cosso | 128
Sobre o motivo em matricular o filho nesta escola, a maioria dos pais mencionou a
qualidade do ensino, apenas uma mãe (nº6) se colocou dizendo que a matrícula foi
automática através do sistema, não se posicionando quanto a sua intenção para a escolha
desta escola. A mãe nº1 fez uma comparação com outra escola onde quase não havia aula,
pois havia muita falta de professor. A mãe nº 2 em seu depoimento disse que o motivo da
matricula foi por considerar a escola como referência, foi indicada pela família, pois os tios
já haviam estudado nesta escola. A mãe nº 5 mencionou as notas altas tiradas pela escola,
disse que está sempre em primeiro lugar nos noticiários, pois acompanha os jornais e que
infelizmente as outras escolas não conseguem atingir o padrão desta. Esta mãe constatou
essa qualidade de ensino através do seu próprio filho o qual conseguiu uma bolsa de estudo
em uma escola particular por ter tirado nota máxima na prova de seleção de bolsas.
Constatamos assim uma satisfação positiva dos pais em relação à escola, as respostas
foram:
Pelo ensino, porque na escola onde ele estava quase não tinha aula, faltava
muito professor, porque lá era direto qualquer coisinha faltava luz, faltava
água, não tinha professor, era do lado de casa, uma escola do estado,
como esta. Achei melhor tirar da escola pertinho de casa e colocar ele
aqui, consegui uma vaga no 4º ano, no ano passado. E o ensino aqui é bem
melhor, não tem comparação (Entrevista, mãe nº1).
Daniela C. de Menezes Cosso | 129
Pela qualidade, né! É uma escola pequena, uma boa escola de referência,
poucos alunos... A coordenadora conhece todo mundo. Pelo ambiente,
pelo lugar. Os primos do meu marido estudaram aqui, meus tios
estudaram aqui também. Foi por indicação mesmo. Essa escola vinha lá
do quartel, por isso que é muito rígida (Entrevista, mãe nº2).
A diretora, a direção. A gente sempre ouvia falar muito bem, e agora a
gente pode ver a diferença que faz a direção. Queria até a 8ª série...
(Entrevista, mãe nº3).
Ah... a qualidade, e também porque é perto de casa (Entrevista, mãe nº4).
O motivo é que conhecendo Campinas e conhecendo as informações das
escolas, por ser uma escola estadual é a única que tem uma nota boa,
sempre tem uma referencia boa em relação aos outros colégios, ela
sempre está em primeiro lugar e a gente quer o melhor pro filho. Eu
acompanho os jornais e infelizmente as outras escolas não conseguem
seguir o mesmo padrão desta. Eu acho que deveriam seguir. E o que você
acha que a escola faz para seguir esse padrão? (Essa questão não estava
no roteiro de entrevista): É um conglomerado de coisas, profissionais
preparados que sabem o que vão passar para as crianças, o próprio
material didático da escola, o cuidado da diretora, essas reuniões e
principalmente o sentido de educação moral, isso é o principal, eles levam
a sério que tem que preparar o indivíduo para o amanhã. Tanto é que meu
filho conseguiu desconto máximo no Objetivo, passou e consegui nota
máxima, aqui estudando nessa escola, fez uma provinha tirou nota
máxima e ganhou a bolsa. Saindo de uma escola pública, que todo mundo
diz que escola pública é um problema, há exceção, essa escola é uma
escola de referência, e do Estado, então dá pra copiar este modelo, se
todas as escolas fossem assim a gente não precisava gastar dinheiro. E dá
pra copiar esse modelo, inclusive as escolas de 5ª a 8ª e ensino médio. É o
padrão, essa escola tem que ser copiada, pelo que a escola passa e pelo
que eu vejo e digo mais, aqui toda sexta feira eles cantam o hino nacional,
essa parte cívica, de reconhecimento de pátria, é conjunto de coisas que
faz a escola ser assim. O reconhecimento moral é através dos professores
e das regras que a escola tem. O material didático é bom, a prova disso é
que ele conseguiu a bolsa de estudo, ele também fez no Etapa, passou,
mas mesmo com a bolsa fica muito caro lá, então ele vai para o Objetivo.
E a maioria dos alunos dessa escola, os pais que se interessam pelo estudo
dos filhos, conseguem levar os seus filhos pra conseguir uma bolsa boa
(Entrevista, mãe nº5).
Elas estavam na Emei aqui perto e automaticamente indicaram pra cá
(Entrevista, mãe nº6).
Era a escola mais próxima de casa, eu moro aqui perto. E também pela
qualidade de ensino (Entrevista, mãe nº7).
No questionário das famílias (questão 6), lembrando que a pesquisa contou com
uma amostra de 98 famílias das salas de quintos anos, a tabela 18 mostra que, dentre vários
fatores, a maioria dos pais pesquisados (cerca de 95%) escolheu esta escola por causa da
Daniela C. de Menezes Cosso | 130
qualidade do ensino prestado por ela, estes pais acreditam ser muito importante este
motivo. Obtivemos as seguintes opiniões sobre o grau de importância para a escolha desta
escola:
Tabela 18: Respostas dos pais na questão (questionário) “Indique o grau de importância dos
motivos abaixo para a escolha dessa escola”:
Muito Importante Pouco Em TOTAL
importante importante branco
a) Fica perto da minha casa. 30 28 37 3 98
b) Fica próximo ao trabalho dos pais. 12 23 61 2 98
c) Por causa da qualidade do ensino. 93 5 - - 98
d) Outra razão. Qual? 5 - - 93 98
FONTE: Dados levantados para esta pesquisa – Questionário das famílias (maio de 2012)
Os motivos alegados pelos pais que assinalaram a letra D (Outra razão. Qual?)
foram: escola conceituada (dois pais), segurança (um pai), no momento não podemos pagar
uma escola particular (um pai) e questão financeira (um pai).
Já na tabela 19, sobre porque a escola é importante, a grande maioria dos pais
acredita que esta escola é importante porque ensina a ler e também porque tem bons
professores, estes são os motivos com maior grau de importância. Já o fornecimento de
alimentação é importante para 39 pais, pouco importante para 44 pais e apenas 13 acham
muito importante. A segurança também aparece como um item muito importante para 72
pais. Na letra “e”, os pais que indicaram outra razão sobre a importância da escola,
escreveram as seguintes razões: socialização, convivência e relacionamento (três pais); boa
direção (três pais); a importância da formação (um pai); organização (um pai); ensino (um
pai); limpeza (um pai); e, referência em escola pública (um pai).
Tabela 19: Respostas dos pais na questão (questionário) “Porque a escola é importante para você?
Indique o grau de importância dos itens abaixo”:
Muito Importante Pouco Em TOTAL
importante importante branco
a)Ensinar a ler. 90 8 - - 98
b)Porque fornece alimentação. 13 39 44 2 98
c)É um lugar seguro onde meu filho 72 21 3 2 98
pode ficar.
d)Tem bons professores 92 4 2 98
e)Outra razão. Qual? 11 - - 87 98
FONTE: Dados levantados para esta pesquisa – Questionário das famílias (maio de 2012)
Daniela C. de Menezes Cosso | 131
Podemos concluir que, para as famílias da UEE, a grande maioria dos pais se sente
muito satisfeitos com a qualidade educacional desta instituição (tabela 18), pois acredita ser
uma escola de referência no ensino. Também estão satisfeitos com a localização da escola,
com a qualidade dos professores e da direção.
Através dos dados coletados, podemos inferir ainda que, para os pais desta
instituição, qualidade significa ter boas notas e isto eles conseguem observar na mídia,
quando a escola aparece em reportagens sobre o IDESP e IDEB entre as primeiras
colocadas da região.
O tema sobre o envolvimento entre família e escola, ou a interação entre estas duas
instituições, tem despertado o interesse entre os pesquisadores da área de educação,
principalmente no que se refere às implicações para o desenvolvimento social e cognitivo
do aluno e suas relações com o sucesso escolar. A família e a escola emergem como duas
instituições fundamentais para desencadear os processos evolutivos das pessoas, atuando
como propulsores (ou inibidores) do seu crescimento físico, intelectual e social.
Apesar de a família ser apontada como uma das variáveis responsáveis pelo fracasso
escolar do aluno (CARVALHO, 2000), a sua contribuição para o desenvolvimento e
aprendizagem humana é essencial. Enquanto a família contribui principalmente na
socialização da criança enquanto inclusão no mundo cultural, a escola contribui no
desenvolvimento do indivíduo, mais especificamente na aquisição do saber culturalmente
organizado e em suas áreas distintas de conhecimento.
Segundo Ananias (2000), a escola deve resgatar, além das disciplinas científicas, as
noções de ação política e busca da cidadania e da construção de um mundo mais equitativo.
Neste contexto, a escola deve visar não apenas a apreensão de conteúdo, mas buscar a
formação de um cidadão inserido, crítico e agente de transformação, já que é um espaço
privilegiado para o desenvolvimento das ideias, crenças e valores.
projeto pedagógico da escola abre espaço para a participação familiar e reconhece os papéis
diferenciados de ambas no processo de aprendizagem e desenvolvimento dos alunos.
Enquanto a escola estimula e desenvolve uma perspectiva universal do conhecimento
científico, a família transmite valores e crenças e, como consequência, os processos de
aprendizagem e desenvolvimento se estabelecem de uma maneira coordenada.
Neste estudo, alguns aspectos referentes à interação família e escola, podem nos
ajudar a compor o conjunto de fatores extraescolares que podem estar influenciando nas
notas das avaliações. Nesse sentido, quando perguntado aos pais se a participação da
família na escola é importante para o desenvolvimento do trabalho pedagógico, dos 98 pais
participantes da pesquisa, cerca de 89% respondeu concordar com essa afirmação (87 pais),
a minoria deles, apenas 11 pais assinalaram concordar parcialmente e nenhum pai
discordou com essa afirmação.
Quando perguntado à equipe gestora “Você acha importante a família interagir com
a escola? Por quê?”, todas as respostas foram positivas pois acreditam que essa interação
dos pais ajuda na vida escolar dos filhos, fazendo a criança se sentir mais importante:
Ainda sobre a opinião da gestão sobre esse assunto, elas acreditam que a
participação da família no andamento das atividades colabora muito na aprendizagem das
crianças, veja as respostas quando perguntado se a participação das famílias no andamento
das atividades (ver cadernos, ajudar nas lições, cobrança para estudar, etc) colabora ou não
na aprendizagem das crianças:
Daniela C. de Menezes Cosso | 134
Sim, muito, se todos fizessem isso a escola seria muito melhor. Nós temos
mães que acompanham e mais que isso, tem mãe que liga aqui para
confirmar aquilo que está no caderno (Entrevista, Diretora).
Colabora, é fundamental. A família acompanhar ajuda tanto a autoestima
da criança como no aprendizado (Entrevista, Vice-Diretora).
Muito, é o trabalho que nós fazemos, a gente corrige o caderno da criança
e a gente espera que isso tenha em casa, pedimos que essa criança tenha
um horário de estudo e ajuda dos pais. Nas reuniões de pais tudo isso é
conversado. Na reunião de pais tem um fator bem positivo, que a reunião
individual, cada professora conversa com a sua mãe. Isso valoriza a
criança, conversa os avanços e as dificuldades diretamente com a mãe
(Entrevista, Coordenadora).
Já a professora Z acredita ser fundamental a participação dos pais na escola pois diz
que os alunos com maior dificuldade tanto de aprendizagem quanto de socialização e de
comportamento, são frutos de pais que não interagem com a escola e não participam. E
deixa claro que, em sua opinião, os pais acham que participar da escola é apenas trabalhar
em uma “barraquinha de festa junina” vendendo fichinha, os pais não entendem que
participação é muito mais que isso, segundo essa professora:
Muito. Porque uma criança que não tem amparo em casa, alguém
estimulando, alguém mostrando que é importante, ela também vai chegar
aqui meio estimulada. Se ela tiver alguém em casa que ajude é muito
melhor (Entrevista, Profª W).
Com certeza, você percebe a diferença do aluno em que a família
acompanha e aqueles em que a família não acompanha. Não somente da
organização do material que sempre está em dia, não falta nada, não
esquece material em casa, e nas atividades que são solicitadas, o caderno
está sempre em ordem aquele em que a família acompanha. E aqueles que
a família não acompanha sempre esquece caderno, não faz a lição, é
sempre assim (Entrevista, Profª X).
Daniela C. de Menezes Cosso | 136
Quanto à participação dos pais no andamento das atividades escolares, cabe destacar
o depoimento da professora Y, quando perguntado se a participação dos pais no andamento
das atividades colabora ou não na aprendizagem das crianças, se colocou novamente contra
a participação dos pais, mostrando um tom de deboche ou até mesmo pouco caso em
relação aos pais:
Ah, sim... No filho dela sim, isso é cobrado. Agora dentro da escola o
único papel de pai e mãe seria pegar vassoura e rodo e lavar banheiro, já
que governo não coloca funcionário na escola então pai e mãe vai
trabalhar, vassoura e rodo na mão e não tem o direito de dar palpite nas
outras coisas da escola (Entrevista, Profª Y).
medo, tem receio das crianças tirarem sarro...” Aí eu disse: mas mãe, a
gente tem que trabalhar nesse sentido para que ela se supere”. E ela foi a
primeira aluna a fazer a leitura, fez muito bem, perdeu o receio, foi lá na
frente, leu.... Então isso foi importante, a mãe estava preocupada e a
menina superou. Mas a mãe em casa deve ter acompanhado a leitura, teve
ajuda e a resposta veio, a menina foi lá na frente da sala e fez a leitura pra
a classe. Então, é uma maneira de avaliar o aluno? Sim, mas também
estou contribuindo para que esse aluno cresça também, avance
(Entrevista, Profª X).
Totalmente. Tenho vários alunos que você percebe que ela olha o caderno,
não faz a lição pelo filho, mas que acompanha. Tem outros alunos que a
mãe nunca veio a reunião. Tem mãe que é meio perdidinha, vem na
reunião, participa, mas você percebe que a criança é jogada, que não tem
organização em casa, não tem horário pra estudar, não tem um espaço pra
estudar, perde material, não traz material, você percebe que é falta da
família fazendo esse lado, não é a mãe ensinar ou fazer por eles. Meus
alunos, no caso da lição de casa, eles vão com a lição de casa muito bem
explicada, para eles fazerem sozinhos, a não ser que seja uma pesquisa,
uma entrevista com alguém mais velho em casa. Mas a lição que é de
fixação do que foi dado em sala de aula, é mastigada, então é chegar em
casa, abrir o caderno, sentar e fazer. É mais mesmo exigir do aluno
algumas coisas que ajudam em sala de aula (Entrevista, Profª Z).
seu trabalho e assim podendo mudar a sua metodologia através dos resultados obtidos”. A
Vice-Diretora se coloca dizendo que a avaliação “é um processo contínuo, do qual serve de
parâmetro para o professor ver como está o rendimento de sua sala de aula, fazendo as
devidas mudanças quando necessária”. A gestão desta escola parece estar em consonância a
respeito do papel da avaliação, sendo que todas destacaram a importância da autoavaliação
do professor.
A concepção da equipe gestora está de acordo com o Plano Gestão da UEE, neste
documento, no item “Avaliação da aprendizagem” encontramos o que se segue:
Nos questionários das famílias houve um depoimento que chamou a atenção por
evidenciar uma concepção de avaliação mais tradicional, a família escreveu que “avaliação
é a melhor maneira de medir os rendimentos. Mas, ela é mais que isso: também pode
revelar ao professor se o método de ensino, que está utilizando, é eficiente” (Questionário,
família nº 11, 5º ano W).
As práticas avaliativas, num contexto de sala de aula, não existem e não operam por
si mesmas, estão sempre a serviço de um conceito teórico. Estas práticas avaliativas são
determinadas pelas concepções que fundamentam a proposta de ensino e aprendizagem.
Assim, a ideia de que avaliar o processo de ensino e de aprendizagem não é uma atividade
neutra ou destituída de intencionalidade nos faz compreender que há uma base
epistemológica que dá suporte a esse processo de ensinar e de aprender que acontece na
prática pedagógica na qual a avaliação se insere.
Nessa direção, podemos partir do pressuposto de que as práticas avaliativas, não são
atividades meramente técnicas, isto é, não se dão num vazio conceitual, mas são
dimensionadas por um modelo teórico de mundo, de ciência e de educação. Também a
prática de avaliação dos processos de ensino e de aprendizagem ocorre por meio da relação
pedagógica que envolve intencionalidades de ação, objetivadas em condutas, atitudes e
habilidades dos atores envolvidos. Na condição de avaliador desse processo, o professor
interpreta e atribui sentidos e significados à avaliação escolar, produzindo conhecimentos e
representações a respeito da avaliação e acerca de seu papel como avaliador, com base em
suas próprias concepções, vivências e conhecimentos. Nesse sentido, Sordi (2001) afirma:
Daniela C. de Menezes Cosso | 143
Neste estudo, quando perguntado “Como ocorre a avaliação em sua escola?” para as
professoras e para a equipe gestora, notou-se uma grande preocupação na assimilação do
conteúdo, evidenciando uma prática avaliativa na perspectiva tradicional ou classificatória.
Também houve a preocupação dos respondentes quanto à questão das avaliações externas,
tanto a direção como as professoras mencionaram o SARESP e a Prova Brasil em seus
depoimentos. Há também a preocupação entre os educadores da UEE que o conteúdo das
avaliações deve ser o mesmo em todas as salas, pois há um combinado entre as professoras:
Tal depoimento revela “uma ideia ainda parcial e fragmentada sobre o sentido e o
significado da avaliação (...) e restringem-na à evidenciação, pelo aluno, dos conhecimentos
adquiridos para aferição de conceitos determinantes de sua aprovação ou reprovação”
(MORAES, 2008, p.43). Evidenciando ainda a noção tradicional de práticas avaliativas, a
Professora X nos revela que usa até cinco notas em Língua portuguesa para tirar a média do
aluno e em matemática avalia a memorização da tabuada utilizando-se da chamada oral.
Revela ainda, que na tentativa de incentivar o aluno a ter o caderno em ordem em relação
ao conteúdo, atribui uma nota ao caderno:
Quando perguntado como avaliam a sua escola, tanto a equipe gestora como as
professoras disseram ser uma escola de qualidade, ou até mesmo de altíssima qualidade.
Foi evidenciado também o papel da Diretora como “eixo central da escola” por uma das
professoras, e no depoimento da coordenadora a comparou ao “carro chefe da escola”, pois
mesmo quando sai de licença prêmio continua indo todos os dias na escola, enfatizou ainda
Daniela C. de Menezes Cosso | 147
que todo o andamento da escola a diretora traz nas mãos e é isso que faz a qualidade da
escola:
Ainda na opinião das professoras, quando perguntado “como você avalia sua
escola”, as outras três professoras disseram ser a melhor de Campinas:
Quanto aos alunos, nos questionários, foi perguntado se na sua classe você participa
de: a) Prova com data marcada; b) Trabalhos ou pesquisas em grupo; c) Prova surpresa; d)
Daniela C. de Menezes Cosso | 149
Chamada oral; e, e) Trabalhos ou pesquisas individuais. Para uma melhor visualização dos
dados, as respostas foram organizadas em tabelas. Nota-se, na tabela 20, que na sala da
Professora X, aquela que enfatizou a nota da chamada oral, houve um maior número de
respostas positivas quando perguntado se eles participam de chamada oral, confirmando o
depoimento da Professora X, obtivemos 27 respostas positivas (sim) em uma sala com 28
alunos participantes do questionário, assim 96,4% dos alunos da Professora X participam
de chamada oral.
A resposta positiva na participação em provas com datas marcadas foi de 85,3% (87
alunos); nos trabalhos ou pesquisas individuais cerca de 69,6% (71 alunos) respondeu que
participa; e, 62 alunos responderam participar de chamada oral, cerca de 60,78%.
Tabela 20: Respostas dos Alunos à questão: Na sua classe você participa de: a) Prova com data marcada.
Alunos Sim Às vezes Não Total
5º ano W 18 (69,2%) 8 (30,7%) - 26
5º ano X 24 (85,7%) 4 (14,3%) - 28
5º ano Y 23 (95,8%) 1 (4,2%) - 24
5º ano Z 22(91,6%) 1(4,2%) 1(4,2%) 24
Total:102
FONTE: Dados levantados para esta pesquisa – Questionário dos alunos (maio de 2012)
Tabela 21: Respostas dos Alunos à questão: Na sua classe você participa de: b) Trabalhos ou pesquisas em
grupo.
Alunos Sim Às vezes Não Total
5º ano W - - 26 (100%) 26
5º ano X 1 (3,6%) 25 (89,2%) 2 (7,2%) 28
5º ano Y - 22 (91,6%) 2 (8,4%) 24
5º ano Z - 3(12,5%) 21(87,5%) 24
Total:102
FONTE: Dados levantados para esta pesquisa – Questionário dos alunos (maio de 2012)
Daniela C. de Menezes Cosso | 150
Tabela 22: Respostas dos Alunos à questão: Na sua classe você participa de: c) Prova surpresa.
Alunos Sim Às vezes Não Total
5º ano W 2 (7,7%) 24 (92,3%) - 26
5º ano X 5 (17,8%) 21 (75%) 2 (7,2%) 28
5º ano Y 21 (87,5%) 3 (12,5%) - 24
5º ano Z 1(4,2%) 21(87,5%) 2(8,4%) 24
Total:102
FONTE: Dados levantados para esta pesquisa – Questionário dos alunos (maio de 2012)
Tabela 23: Respostas dos Alunos à questão: Na sua classe você participa de: d) Chamada oral.
Alunos Sim Às vezes Não Total
5º ano W 4 (15,4%) 22 (84,6%) - 26
5º ano X 27 (96,4%) 1 (3,6%) - 28
5º ano Y 24 (100%) - - 24
5º ano Z 7 (29,2%) 17 (70,8%) - 24
Total:102
FONTE: Dados levantados para esta pesquisa – Questionário dos alunos (maio de 2012)
Tabela 24: Respostas dos Alunos à questão: Na sua classe você participa de: e) Trabalhos ou pesquisas
individuais.
Alunos Sim Às vezes Não Total
5º ano W 20 (76,9%) 6 (23,1%) - 26
5º ano X 26 (92,8%) 2 (7,2%) - 28
5º ano Y 9 (37,5%) 15(62,5%) - 24
5º ano Z 16 (66,7%) 8 (33,3%) - 24
Total:102
FONTE: Dados levantados para esta pesquisa – Questionário dos alunos (maio de 2012)
texto). As provas de matemática também foram divididas do mesmo modo, uma nos
moldes do SARESP e a outra com o conteúdo do bimestre.
A imagem 10 nos mostra um exemplo de uma prova tipo SARESP realizada por
uma das turmas de quinto ano na UEE em um dia normal de aula, como atividade de classe,
evidenciando o treino para esse tipo de avaliação:
A UEE vem conseguindo atingir notas consideradas elevadas desde o início das
aplicações dos testes externos. Quando perguntado à equipe gestora e à equipe de
professoras se o SARESP influencia na organização do trabalho pedagógico, as respostas
da equipe gestora nas entrevistas voltaram-se para o sentido que não influencia no trabalho
pedagógico, pois o andamento das aulas sempre é o mesmo independentemente do
SARESP, as professoras trabalham dessa maneira o ano inteiro.
Eu acho que modificar não, eu acho que o que ocorre, de uma forma geral,
a gente se reúne pra falar sobre a prova do ano, então é importante que a
gente verifique as dificuldade dos alunos pra que a gente possa avançar e
tem como referência a prova, mas diretamente o andamento das aulas é
normal(Entrevista, Diretora).
A equipe já é muito organizada, lógico tem uma preparação maior, um
envolvimento maior, para que as crianças fiquem tranquilas, para que seja
uma coisa normal. Olha vocês vão fazer prova, e vocês tem que estudar!!!.
Aquela coisa assim. E não é só no mês da prova, as professoras trabalham
Daniela C. de Menezes Cosso | 153
o ano todo, o que tem de xerox para preparação, pra tudo... Quando chega
lá na frente que eles vão fazer SAREsP, já estão tranquilos já faz parte da
estrutura deles, isso tudo ajuda muito, não fica aqueles alunos tensos (ai
meu Deus!!! Amanhã é dia de prova...). Então, já faz parte dos alunos,
toda essa organização ajuda muito (Entrevista, Vice-Diretora).
Quais motivos leva a Professora Z indagar essas questões? Podemos inferir que ela
é uma professora consciente que seu trabalho pedagógico foca somente conteúdos de
Língua Portuguesa e Matemática voltados para os testes externos, e aqueles conteúdos
importantes para o desenvolvimento de uma criança como o entendimento do corpo
humano e o estudo do aparelho reprodutor são deixados no esquecimento.
Daniela C. de Menezes Cosso | 155
O foco na preparação do aluno desta escola para os testes externos é uma constante.
As professoras fazem simulados de “sarespinhos” todos os meses desde o início do ano,
fazem revisões dos conteúdos exigidos nesta prova externa, discutem com os alunos o que
erraram em cada pergunta dos tais “sarespinhos”, e ainda treinam os gabaritos. As práticas
avaliativas se tornam práticas voltadas para o treino do SARESP, e o trabalho pedagógico
volta-se para os conteúdos de Língua Portuguesa e Matemática. Nesse sentido quando
perguntado às professoras se no período da aplicação da prova do SARESP elas
modificavam o trabalho pedagógico em sala de aula, responderam:
Quando questionadas sobre como são usados os resultados das avaliações internas e
externas no desenvolvimento do trabalho pedagógico, as professoras revelaram que as notas
dos anos anteriores acabam sendo um incentivo para as crianças “no mínimo manter essas
nota”, e que os alunos possam demonstrar que possuem condições para fazer melhor do que
os alunos do ano passado, como um desafio. O depoimento da Vice-Diretora também foi
nesse mesmo sentido:
Com relação às crianças, saiu agora essas notas, nós todos divulgamos
pras crianças, falamos as notas, é um incentivo pra no mínimo manter essa
nota, que eles demonstram que eles tem condições de fazer melhor do que
foi feito o ano passado, então a ideia é essa, deles sentirem que eles
Daniela C. de Menezes Cosso | 156
A coordenadora evidenciou em seu depoimento que não concorda com esse tipo de
avaliação externa, como o SARESP e a Prova Brasil, pois acredita que não dão conta de
todo o processo educacional, só avaliam o produto final:
A gente faz uma análise, inclusive é uma análise de vários anos, não é
pontual isso, é lançado aí na mídia a nota do SARESP como do IDESP, é
uma ganho muito grande pra gente, embora com uma nota muito alta
agente está sempre avançando, e você começa a refletir que a escola vem
sendo muito boa a muito tempo atrás, temos uma preocupação em manter
essa qualidade da nossa escola. Agora, essas avaliações externas, eu
preciso meter o pau nessas avaliações externas. Não concordo com essas
avaliações externas, nem com a Prova Brasil e nem com o SARESP.
Porque eles não atendem o limite das crianças, uma Prova Brasil que
descarta a questão regional, o limite da criança, então não concordo com a
Prova Brasil e com o SARESP por isso, eles não analisam o processo, só
veem o produto final. Elas vem para verificar o produto final e não vê o
processo e sim com o produto final. Não concordo com essas provas,
porem essas notas são norteadoras para os pais, o pai procura uma escola
de qualidade para colocar a criança. E ele vê a qualidade através dessas
notas. Essa prova tem dois pesos e duas medidas. Em minha opinião
deveria ter essas avaliações, mas de uma forma diferente. Existiu uma
época o GERES, que ele verificava o grupo de alunos, li muito sobre a
literatura do GERES. Bom..., qual é a melhor prova? Eu não sei, mas essa
que vem verificar o produto final eu não concordo (Entrevista,
Coordenadora).
Pelos depoimentos e observação feita em sala de aula, podemos inferir que o treino
para os testes externos é uma constante nas salas de quintos anos e na escola como um todo,
se tornando uma prática avaliativa comum. Todos os meses as crianças fazem simulados
“tipo SARESP” para treinarem tanto o preenchimento dos gabaritos como o tipo de prova
de múltipla escolha. Em um dos depoimentos das famílias quando responderam quais
Daniela C. de Menezes Cosso | 157
seriam os fatores que fazem a escola atingir notas altas no SARESP, tivemos a seguinte
resposta:
4.2.4 – Autoavaliação
Sim, ajuda, de ano pra ano a gente sente que melhora mais. Tem coisas
que eu faço agora e porque não fiz isso há 20 anos atrás quando estava
começando, questões como de organização. Seria bom tanto pra mim
como para os alunos (Entrevista, Profª W).
Com certeza! O dia que você sai daqui e falando: Puxa, mas hoje a aula
não rendeu! Aí eu começo a avaliar o por quê? E, para no outro dia,
mudar e fazer alguma coisa pra que não seja daquele jeito. Hoje, por
exemplo, eu cheguei e a primeira coisa que fiz foi mexer nas carteiras,
enfim acabei com as duplas que estavam, estão individuais, com espaço
entre um aluno e outro, eles estavam muito distraídos, conversando
demais, e não rendia a aula, então você percebe que tudo tem um limite,
né? A partir do momento que atrapalhou a aprendizagem, atrapalhou o
ambiente de concentração da classe, é hora de mudança (Entrevista, Profª
X).
Sim, lógico. Você sabe quando uma aula, você prepara e não deu certo, ou
que deu certo, ou quando você tem que mudar exatamente no momento da
aula, você tem um “insight”, e tem que mudar, isso acontece também e na
maioria das vezes tem muito bom resultado, e você sabe também quando
tá uma porcaria tua aula, ou porque você está indisposta ou porque está
com raiva do governo... (Entrevista, Profª Y).
O tempo todo. E assim, às vezes eu tenho uma sequencia na minha
cabeça, aí de repente eu vejo que aquilo não tá legal ou tem assunto que
fica velho, tem coisa que fica velha, não dá pra você continuar mesmo que
você programou, mas aquilo não gera mais interesse da classe, você não
consegue motivar tão bem, então pra que eu vou insistir? Só pra cumprir o
projeto... Eu faço um fechamento pra não ficar assim solto no ar, e mudo a
página, e vou embora. Tem coisas que eu começo com muitas intenções
(acho que é uma grande falha...) e ao longo do trabalho você vai
diminuindo, ah, isso eu não vou fazer, isso não vai dar tempo, vão
acontecendo coisas no dia a dia que interrompe. Aí tem coisas que acabam
ficando velhas, então mesmo que você não tenha dado conta de terminar
você dá um jeito de dar uma amarrada, encerra aquilo lá e toca pra frente,
vamos embora (Entrevista, Profª Y).
Daniela C. de Menezes Cosso | 159
Era uma prática que eu tinha e funcionava, a gente fazia uma relação de
todas as atividades dadas e os alunos conferiam. Se eles tinham entendido,
se não tinha, se eles tinham prestado atenção. Eu tinha uma estratégia
muito boa de autoavaliação, e eu sempre fazia. Depois que eu vim pra cá
eu perdi esse hábito, não fiz mais, eu perdi esse hábito, deixei isso pra lá,
é que tem tanta coisa pra fazer que não dá tempo. Era constante a
autoavaliação. Aqui, aproveito pra fazer autoavaliação, no caso das
atividades de SARESPs anteriores, eu falo: porque que você errou? Você
leu? Não leu? Prestou atenção? Confundiu? Dependendo do aluno, eu
pergunto: por quê? Fala pra mim, porque você errou isso que você sabe?
Ah, professora não prestei atenção... Acho que isso é uma autoavaliação
também, pode não estar registrado mas vale também (Entrevista, Profª Z).
Mais no sentido de uma conversa, numa roda de conversa que a gente faz,
falando daquilo do que é certo e do que é errado e como eles tem agido
diante de cada situação. É mais sobre indisciplina, é mais com relação ao
comportamento em si e atenção que acho que é onde ocorrem muitos
erros nas atividades solicitadas, porque o aluno se distrai, está desligado,
ou não dá conta de fazer, você fez a lição que foi solicitada? Não, mas por
quê? Porque não deu tempo, então a lição que é feita em sala, está sendo
cobrada em sala pra que a criança não leve pra casa, é nesse sentido, o
aluno estar se autoavaliando sim, mas dentro de algumas situações, no
sentido das atitudes dos alunos (Entrevista, Profª X).
Assim, podemos inferir que em uma instituição onde o conteúdo se sobrepõe ao ato
da reflexão, momentos de autoavaliação tanto do aluno como do professor não existem. O
que foi evidenciado nesta UEE é o uso de algumas práticas as quais as professoras
acreditam estar usando o mecanismo da autoavaliação com seus alunos como fazer
“listinhas”, discutir questões do SARESP e conversar sobre indisciplina.
30
Importante destacar que o tema “política de bônus” poderia ser colocado como um fator extraescolar, mas
foi mencionado aqui como fator intraescolar por estar relacionado com o trabalho pedagógico dentro da sala
de aula, entendendo que essa política pode interferir na prática docente. Não é o valor do bônus em si que
estamos pesquisando, mas sim o que essa política pode modificar na sala de aula.
Daniela C. de Menezes Cosso | 161
Estimula, mas influenciar não porque eu não vou mudar se eu não receber
o bônus, só vou ficar decepcionada, porque eu acho que ganho muito
pouco (Entrevista, Profª W).
Não! É consequência do nosso trabalho. A gente trabalha do mesmo jeito,
independente do bônus. Eu me preocupo em estar acompanhando, ver o
que precisa trabalhar mais, cobrando isso das crianças (Entrevista, Profª
X).
Não. Para o trabalho pedagógico não. Eu acho que para o professor,
muitas vezes como chefe de família isso ajuda, na vida particular. Mas,
porque se fosse como trabalho pedagógico o bônus deveria ser um valor
muito, mas muito mais alto (Entrevista, Profª Y).
Do meu não, mas assim quando a gente recebe é muito bom, muito bom,
pelo menos naquele mês receber uma graninha a mais, mas assim eu não
fico ao longo do ano fazendo o meu trabalho pensando no bônus, eu nem
me atento a isso. É natural. Só fico preocupada assim que até o ano
passado o SARESP era um critério, um determinante para receber o bônus
ou não, e eu não gostaria de prejudicar nenhum colega de não receber.
Mas..., assim, que é uma responsabilidade em relação aos colegas, é.
Daniela C. de Menezes Cosso | 162
Porque se algum colega for penalizado pelo bônus por sua causa é um
peso muito grande (Entrevista, Profª Z).
4.2.6 - Motivos que levam a escola a atingir notas altas nas avaliações
Importante destacar que em nenhum momento foi colocado pela equipe gestora ou
pela equipe de professoras que o nível socioeconômico das famílias, considerado
relativamente alto, poderia ser um motivo para as altas notas nas avaliações externas.
Também não foi considerada a participação das famílias na escola. Apenas a Professora X
escreveu no questionário, e ainda colocado em último lugar, a “colaboração” da família
como um dos motivos para as notas altas nas avaliações externas:
Outra professora começou a dizer que um dos motivos para as notas elevadas da
escola poderia ser relacionado à família, mas pensou um pouco e depois achou melhor não
colocar porque acredita que são poucas as famílias que ajudam, ficam “muito a desejar” a
ajuda delas e concluiu dizendo que é somente a escola que interfere nas notas elevadas:
Acho que são vários fatores. Em primeiro lugar a direção, segundo lugar a
responsabilidade e o trabalho das professoras desde a primeira série. A
parte de família... algumas, outras muito a desejar. Então é a escola só. É
muito mais o trabalho da escola do que da família e do que desse projeto
da secretaria da educação o Ler e Escrever (Entrevista, Profª Y).
Em relação à opinião dos pais nas entrevistas, estes acreditam que os motivos que
levam esta escola atingir boas notas são: pulso firme da direção, dedicação da diretora (é
essencial), poucas faltas dos professores, participação da diretora e das professoras.
Podemos destacar também que todos os pais entrevistados tiveram seus depoimentos dando
destaque ao trabalho da Diretora em primeiro lugar:
Já nos questionários, quando perguntado a opinião dos pais referente a quais fatores
ou motivos fazem essa escola alcançar elevadas notas nas avaliações externas, notou-se
muitas respostas dizendo que os motivos são voltados à questão da disciplina, imposição de
regras e organização da escola (ver discussão no item 4.3.3). Também, foi observado nas
repostas, o reconhecimento dos pais em relação ao trabalho das professoras, pois na maioria
das opiniões, cerca de 70% das famílias, foi colocado de alguma forma o bom empenho das
professoras no trabalho pedagógico e o comprometimento delas no trabalho em sala de
aula, ressaltando ainda a dedicação do corpo docente e o uso dos materiais didáticos
oferecidos:
Ainda nos questionários dos pais, nesta mesma pergunta, notou-se em algumas
respostas, dos 98 pais questionados, 2 se pronunciaram alegando que o motivo que leva a
escola obter notas altas está voltado para a preparação dos alunos para os testes, e apenas
um pai escreveu que o que faz a escola atingir uma nota mais alta é o nível das escolas
públicas ser muito baixo. Também se observou que apenas um pai não concordou com a
pergunta, ou seja, este pai não acredita que a escola atinja notas altas:
Até mesmo o controle dos profissionais sobre os alunos e medo (temor) dos alunos
pela escola foi encontrado em uma das respostas:
Coletivo), essas reuniões acontecem todas as terças-feiras das 11h20m às 13h10m com
todos os professores da UEE. Nesses encontros também são realizadas oficinas, onde uma
professora repassa para o grupo uma prática que deu certo com seus alunos, evidenciando
pontos positivos e negativos da atividade escolhida, é uma troca de experiências entre
professoras mostrando práticas bem sucedidas. Todo esse trabalho é passado para a
Diretora, através da Coordenadora em reuniões entre Coordenadora, Vice-Diretora e
Diretora. Por isso, quando perguntado para a Diretora como é o seu envolvimento na
organização do trabalho pedagógico da escola, a mesma deu o seguinte esclarecimento:
Bom, na rotina dos gestores, a coordenadora tem uma reunião que nós
sentamos pra tratar do assunto pedagógico, muitas vezes, as vezes 3 vezes
por semana e as vezes mais. E às vezes é o momento, sentamos todos os
dias para conversar. Essa reunião nossa é fundamental, sentamos aqui
para tratar do trabalho pedagógico sempre, sempre (Entrevista, Diretora).
Nós fazemos juntas, ela passa a pauta e muitas vezes discutimos a pauta
da reunião e quando eu sinto alguma necessidade, peço pra ela trabalhar e
incluir alguma coisa (Entrevista, Diretora).
A Diretora combina todos os assuntos com a coordenadora, fazem juntas
(Entrevista, Vice- Diretora).
Ela (Diretora) participa, se envolve nas reuniões. Toda a pauta, o
replanejamento, e não é só lá na reunião, a gente senta aqui e analisa
mapas de hipóteses de escrita de crianças, a gente faz muito isso aí,
porque esse aluno não avançou? Vamos ver o histórico, é familiar? Então
vamos lá, chama o pai chama a mãe, faz de tudo para melhorar
(Entrevista, Coordenadora).
acalma essa ansiedade um pouco, é claro que vai ter uns com dor de
barriga, passar mal... Mas já acalma, porque eles sabem como vai ser essa
prova, o que ele vai ter que fazer, e que o importante é ele ler, entender o
que ele está lendo para responder de acordo (Entrevista, Profª X).
Ajuda muito (Entrevista, Profª Y).
Beneficia totalmente, porque é assim, quando a gestão percebe que o
professor tem menos segurança ou mais dificuldade em alguma coisa, o
grupo tenta socorrer e ajudar e socorrer essa pessoa, não no sentido de
criticar mas de ajudar essa pessoa. Então isso é importantíssimo, se está
tendo problema numa sala a gestão está ali como apoio (Entrevista, Profª
Z).
Uma característica muito marcante nesta unidade escolar é a gestão sempre presente
em todos os momentos da rotina escolar, marcante pois em outras escolas públicas é muito
difícil encontrar o diretor da instituição o tempo todo presente na escola. O horário de
trabalho da Diretora na escola estudada é das 6h30min às 17h, com um intervalo para o
almoço das 11h às 12h30min. Durante o seu horário de almoço e no período das 17h às
18h, a Vice-Diretora assume as responsabilidades escolares, sendo assim, a escola tem a
gestão presente desde as 6h30min até às 18h. A Diretora faz questão de estar presente em
todas as entradas (“Bom Dia” e “Boa Tarde”) das crianças, seja no período da manhã, seja
no período da tarde. Se ela possui uma reunião marcada na Diretoria de Ensino (prática
constante nas Diretorias de Ensino de Campinas para convocar diretores) é combinado na
véspera o horário com a Vice-Diretora. A escola, em hipótese alguma, fica sem alguém da
equipe gestora durante o período de aulas.
indisciplina, “o modo dela abordar é ótimo, sereno, de um modo atraente” (mãe nº5). Uma
das mães aponta que o lema da escola é “a gente precisa fazer junto”, e descreve como
referencia do trabalho da Diretora o “ensino moral e a disciplina”. Esta mãe termina seu
depoimento comparando a escola com o ensino do Karatê, o qual impõe ao aluno comando
e disciplina, aprendendo a respeitar o ser humano:
Conheço das vezes que eu venho pra cá. Quando há alguma falta de
indisciplina do meu filho que aconteceu, ela chama, conversa: “vamo
adequa, vamo corrigi”. Acho que o modo dela conduzir essa discussão,
esse diálogo entre o pai e a escola pra contar o que seu filho está
cometendo de irregular e que isso pode afetar ele moralmente na
personalidade, o modo dela abordar é ótimo, sereno, de um modo atraente,
ela conversa, precisamos melhorar. O lema da escola é ótimo: a gente
precisa fazer junto. É impossível você criar um filho só dentro de casa, é
impossível dar educação só na sua casa, depende de outros, depende da
escola, depende do lugar onde ele pratica um esporte. Entendeu? Duas
coisas que eu tenho de referencia aqui dessa escola: o ensino moral e a
disciplina. É muito importante, como na luta, que o meu filho faz Karatê,
e tem a mesma disciplina aqui da escola. Esse paradigma de falar que a
luta, a arte marcial deixa o aluno violento é mentira, meu filho ele era
duro na queda de fazer bagunça, ele melhorou 90% depois que ele entrou
no Karatê, é a mesma disciplina. Eu gostaria de fazer um projeto e
introduzir a arte marcial nas escolas (você sabia que qualquer cidadão
pode fazer projeto, né?) na educação física. Disciplina melhora e muito o
aluno, comando, obediência, aprende a ouvir e a gostar e a respeitar o ser
humano. O aluno tem que ter essa visão, e é a mesma conduta aqui da
escola (Entrevista, mãe nº 5).
Na opinião das famílias, quando perguntado no questionário como você avalia esta
escola, pudemos perceber um grande número de respostas dizendo que é uma escola
excelente, que possui seriedade, rigidez e regras claras na disciplina. Também, observamos
pais que acreditam que a escola é ótima por apontar diferenciais quanto à organização,
quanto à infraestrutura e a qualidade na administração. Outro depoimento apontou que a
disciplina é um dos fatores determinantes para a melhoria no desenvolvimento do aluno.
Em vários depoimentos das famílias, as palavras “disciplina”, “rigor” e/ou “organização”,
apareceram como uma avaliação positiva da escola pelos pais, assim, podemos inferir que a
comunidade concorda com o tipo de gestão onde a disciplina, o rigor nas regras e a
organização são itens imprescindíveis para uma educação pública de qualidade, a seguir
alguns depoimentos:
Na questão aberta do questionário “se você deseja fazer outro comentário, utilize o
espaço abaixo”, encontramos alguns comentários das famílias sobre esse assunto:
Daniela C. de Menezes Cosso | 175
Outro aspecto que chamou a atenção durante a organização dos dados coletados foi
a grande quantidade do uso de palavras nos depoimentos das famílias voltadas ao modo de
organização escolar, podendo ser entendida como um modelo autocrático de gestão. As
palavras encontradas nas respostas dos pais foram: “rigidez”, “falta de interação”, “regras”,
“disciplina”, “quase um quartel”, “ordem”, “cobrança”. Cabe salientar que essas palavras
foram colocadas positivamente pelos pais, como elogios para a escola. Nota-se assim, que
os pais concordam com esse tipo de gestão e estão muito satisfeitos com essa forma da
direção administrar esta instituição escolar, salvo algumas reclamações sobre a falta de
passeios ou festas (ver item 4.4.5). Estas palavras foram utilizadas pelos pais nas respostas
das quatro questões abertas do questionário aplicado. Na questão “Como você avalia a
escola do seu filho?” foram encontradas as seguintes respostas com ênfase nas palavras
voltadas à uma gestão autocrática:
Daniela C. de Menezes Cosso | 176
Com esses dados apresentados podemos afirmar que esta UEE é uma escola
considerada pelos pais como uma escola de referência, vista como uma instituição que
passa valores morais para as crianças através de regras e disciplina, e parecem estar muito
satisfeitos com a escola, embora não propicie passeios culturais ou festas para as crianças
(ver discussão no item 4.4.5).
A forma como a escola concebe sua função social, a organização curricular, e seus
conteúdos escolares pode, em alguma medida, estar circunstanciado pelo conjunto das
reformas educacionais situadas no contexto político, econômico e social. É possível situar a
organização curricular de uma rede como um produto histórico, resultado de um conjunto
de forças sociais, políticas e pedagógicas que expressam e organizam os saberes que
circunstanciam as práticas escolares na formação dos sujeitos que, por sua vez, são também
históricos e sociais. Nesta perspectiva, o currículo deve oferecer, não somente vias para
compreender tanto os saberes nele inseridos, como também, os movimentos contraditórios
pelos quais a sociedade vem enfrentando e de que forma os sujeitos se inserem neles. Os
conteúdos escolares da escola podem ser considerados como uma seleção intencional dos
sujeitos que nela estão inseridos.
O currículo adotado nas escolas da rede estadual paulista expressa a centralidade das
políticas educacionais do Estado de São Paulo (discutidas no capítulo I deste estudo), ele
está também expressando as intenções sociais, políticas, ideológicas e até econômicas que
se manifestam sobre a escola e sobre as aspirações que se tem sobre ela. Assim, o currículo
acaba se manifestando nas tensões e contradições entre o caminho que se almeja percorrer,
a intenção deste caminho e o ponto de chegada dele. Parece-nos que o currículo adotado
nas escolas paulistas percorrem os conteúdos que as avaliações externas almejam, e para as
escolas alcançarem boas notas netas avaliações as mesmas devem seguir esse conteúdo,
como uma “cartilha”.
Daniela C. de Menezes Cosso | 178
No caso das escolas públicas dos Anos Iniciais do estado de São Paulo (1º ao 5º
ano), o currículo proposto está baseado nos PCNs (Parametros Curriculares Nacionais) e
nas Orientações Curriculares do Estado de São Paulo (Língua Portuguesa e Matemática –
Ciclo I)31. Desde 2007, com a implantação do Programa Ler e Escrever em toda a rede
paulista, a SEE/SP adotou guias de planejamento para os professores e materiais didáticos
para os alunos, articulando neste programa todas as orientações curriculares proposta pela
rede estadual.
Nesse sentido, este estudo buscou observar na UEE quais conteúdos escolares são
trabalhados nas salas dos quintos anos e se esses conteúdos podem influenciar nas notas das
avaliações externas. Como o Programa Ler Escrever faz parte do currículo proposto pela
SEE/SP, buscou-se investigar também se os guias e materiais oferecidos por este programa
são utilizados nas salas dos quintos anos e se eles são suficientes para uma boa
aprendizagem.
31
São Paulo (Estado). Secretaria da Educação. Orientações Curriculares do Estado de São Paulo: Língua
Portuguesa e Matemática – Ciclo I. São Paulo: FDE, 2008. Disponível em :
http://www.rededosaber.sp.gov.br/portais/LinkClick.aspx?fileticket=EIzTa6VMZ%2Bg%3D&tabid=1251.
Acesso em 24 jun 2013.
Daniela C. de Menezes Cosso | 179
Utilizo, embora tenho muitas críticas sobre esse material. Dei uma crítica
por escrito para a Coordenadora sobre esse material, quando eu escrevi
organizei melhor as minhas críticas no papel. Crítica é assim, em alguns
projetos, os textos não são atraentes para os alunos dessa faixa etária,
vocabulário dificílimo, tem texto que precisa ser traduzido. Como
estratégia de tradução eu fiz o seguinte: depois das várias leituras, leitura
silenciosa, a minha leitura, leitura que um aluno lê até um ponto e o outro
continua, depois que o texto está esmigalhado, aí eu vou com marca texto,
eu grifo com eles todas as palavras diferentes e no próprio livro eu estico
uma flechinha e eles escrevem o sinônimo. Eu discuto com eles isso, pra
mim se eles não compreendem determinadas coisas fica difícil entender o
todo, a compreensão fica muito prejudicada, então eu ajudo nessa
tradução. Por exemplo no projeto “Lendas”, nossa o Brasil é super rico
em lendas, em histórias, tem uns textos que para o aluno não é
interessante, não tem graça. Já no projeto “Universo ao meu redor” tem
textos excelentes de biodiversidade, meio ambiente, sustentabilidade,
conceitos mais recentes sobre meio ambiente e natureza, os textos são
ótimos mas são muitos difíceis pra eles e eu demoro muito quando vou
trabalhar com estes textos, porque eu pego texto por texto, um texto em
cada aula, eu traduzo, explico, dou exemplo, porque os textos são bons
mas precisa do professor, não dá pra pedir pra lê e abrir o debate na sala,
não rola. Matemática, eu também tenho algumas críticas quanto a
sequencia acho que podia ser um pouco melhor, e a quantidade de
atividades, tem umas atividades bem bobinhas que poderiam ser mais
aprofundada. Em português o projeto de pontuação, todos os projetos de
português e as sequencias didáticas, todos, eles precisariam ser revistos,
ou são fáceis de mais ou difícil de mais. Já estou a 4 anos com esses
material do Ler e Escrever e nunca houve nenhuma mudança, só em
matemática que agora entrou o projeto EMAI, que é um complemento
daquele, então em matemática as coisas do EMAI estão boas. O projeto
“Uma lenda, duas lendas...” é o primeiro projeto do Ler e Escrever, como
ele pode ser o primeiro projeto se é bem pertinente para o segundo
semestre, está em pauta o assunto aí você enriquece o assunto e acrescenta
mais. Outra coisa, nas sequencias didáticas, tem a sequencia “Caminhos
do verde”, meu Deus! Ele é todo baseado numa visita ao jardim botânico
de São Paulo, então tem relatos ali de crianças que foram fazer uma visita
ao Jardim Botânico de São Paulo, eu nunca fui ao Jardim Botânico, sou de
lá e nunca fui. Como eu posso pegar uma criança que vive em uma
comunidade de favela lá em São Paulo e falar de Jardim Botânico, se ele
Daniela C. de Menezes Cosso | 181
nunca foi lá, se ele nunca viu tal árvore, esse projeto “Caminhos do
Verde” esse eu não dou e me recuso a dar, por me recusar a dar eu fiz por
escrito para a coordenação da escola o por quê que eu não ia dar
(Entrevista, Profª Z).
A equipe gestora desta unidade escolar acredita que o material do Programa Ler e
Escrever não é suficiente para um bom desempenho dos alunos, ele deve ter uma
complementação. Quando perguntado se esse material é suficiente para um bom
desempenho dos alunos responderam:
Não, eu acho que o professor tem que ter várias alternativas, ler muito, ter
outros conhecimentos para poder complementar, eu acho que tem que ter
uma complementação do trabalho (Entrevista, Diretora).
O suficiente acho que não, mas acho que esse material tem que ser
complementado. Eu acho que a nível de (nome da escola) ele tem que ser
complementado. E aqui todas as professoras complementam e bastante
(Entrevista, Vice-Diretora).
O programa Ler e Escrever é uma situação..., é um programa que trabalha
muito a convivência da criança. Isso na nossa prática pedagógica é muito
importante só que ele precisa de uma complementação. Se fosse só ele
seria pouco, nós temos o livro didático, além do livro didático
trabalhamos com o jornal, o cotidiano, atividades complementares e
inclusive com o xerox, que facilita muito (Entrevista, Coordenadora).
professoras que já tinha trabalhado com esse livro nos outros anos sabia
responder o que eles queriam, ninguém sabia. Aí vai fazer o quê? Tem
que pular uma atividade assim... Se comparar com o livro didático que é
todo colorido, o livro didático chama mais atenção da criança e é mais
fácil dele entender a atividade do que o Ler e Escrever. Eu vejo assim. O
Ler e Escrever em Língua Portuguesa precisava mudar, ou então vir com
um manual para o professor, ou preciso voltar pra escola pra aprender
novas coisas... Descobrimos erros no livro Ler e Escrever, palavras
escritas erradas, era uma lenda... “sua imagem refetida na água...” e o
correto seria “refletida”. Acho que eles precisam rever... (Entrevista, Profª
X).
Não, falta muita coisa. Como eu já falei na questão anterior (Entrevista,
Profª Z).
Não. Porque ele deixa muito a desejar no conteúdo. Muito fraco, e muitos
textos não condizentes a própria idade. Desinteressante para a criança. É
DE-SIN-TE-RES-SAN-TE (a professora falou mais alto e pausadamente
para dar ênfase ao significado da palavra). A ecologia para eles é de outra
forma que devemos trabalhar, como a chuva ácida, clima, problemas de
poluição através da indústria, efeito estufa. Acho que devemos trabalhar
coisas simples com as crianças, lixo no lixo, não gastar água, distribuir o
lixo para a reciclagem em seus devidos lugares, essas coisas simples o
livro não aborda, eles vem com coisas de clima que é uma interferência da
indústria, que está muito longe das crianças, não é do que eles podem
contribuir, levar para a família. Se eles levam para a família a educação
ambiental, a família xinga a professora, se a criança fala para a mãe fechar
a torneira... não jogar papel na rua..., aprendeu na escola a família xinga.
Porque é próprio de pais de ignorantes, e de infelizes. Então, se a escola
faz esse tipo de trabalho? Faz. E a professora é consciente do trabalho que
faz, é um grãozinho de areia que vai acrescentar. É para a família tirar e o
governo dar risada (Entrevista, Profª Y).
Não, falta muita coisa. Como eu já falei na questão anterior (Entrevista,
Profª Z).
Daniela C. de Menezes Cosso | 183
Quando perguntado às professoras “Se a escola usasse apenas esse material (do
Programa Ler e Escrever) alcançaria as notas que vem alcançando?”, todas acreditam que
não, pois depende muito do trabalho do professor em sala de aula e que esse material
deveria ser reformulado, pois é muito desinteressante:
Fonte: SEE/SP
Daniela C. de Menezes Cosso | 185
Notou-se assim, que as salas dos quintos anos desta UEE seguem a grade curricular
proposta pela SEE/SP. As Professoras, apesar de perceberem que os conteúdos de
Geografia e História estão muito longe da realidade das crianças, acabam dando maior
ênfase ao ensino de Língua Portuguesa e Matemática.
Imagem 12: Caixas organizadoras com materiais de leitura – sala de aula do 5º ano
Escrever32 (somente este, pois o “verde” ela não gosta, como já colocado no item anterior)
é um livro muito rico:
No questionário dos alunos também foi perguntado sobre os materiais que eles
utilizam em sala de aula (tabelas 25, 26, 27 e 28), tanto o livro de textos (laranja) do
Programam Ler e Escrever, o livro de atividades do mesmo programa, como os gibis e
revistas Recreio são sempre utilizadas em sala de aula, nos quintos anos W e X a
32
O livro “laranja” do Programa Ler e Escrever é um livro de textos para leitura do aluno. Cada criança
possui o seu, é um único volume que pode ser usado durante os cinco anos do Ensino Fundamental dos Anos
Iniciais. Este livro laranja não possui atividades para serem completadas, são 190 páginas de textos variados:
canções, adivinhas, trava-línguas, poemas, parlendas, quadrinhas, lendas, fábulas, contos de fadas, textos de
divulgação científica, textos instrucionais, contos, jogos e biografias. As crianças podem ler sozinhas, com
ajuda do professor ou realizar algumas atividades propostas pelo professor da classe como uma leitura
compartilhada ou atividade de reconto oral.
Daniela C. de Menezes Cosso | 190
porcentagem de alunos que respondeu “sim” é maior do que nos quintos anos Y e Z, onde a
opção “as vezes” aparece em maior número. Quanto às atividades xerocadas é unanime a
resposta dos alunos, nas salas W e Y todos os alunos (100%) responderam que usam (sim)
esse tipo de material em sala de aula como parte dos materiais pedagógicos utilizados pela
professora:
Tabela 25: Respostas dos Alunos à questão: sobre os materiais utilizados em sala de aula: a) Você utiliza o “livro texto” do
Ler e Escrever?
Alunos Sim Às vezes Não Total
5º ano W 18 (69,24%) 8 (30,76%) - 26
5º ano X 16 (57,14%) 8 (28,57%) 4 (14,29%) 28
5º ano Y 2 ( 8,33%) 22 (91,66%) - 24
5º ano Z 2 (8,33%) 6 (25%) 16 (66,66%) 24
Total:102
FONTE: Dados levantados para esta pesquisa – Questionário dos alunos (maio de 2012)
Tabela 26: Respostas dos Alunos à questão: sobre os materiais utilizados em sala de aula: b) Sua professora passa
atividades do livro Ler e Escrever?
Alunos Sim Às vezes Não Total
5º ano W 26 (100%) - - 26
5º ano X 28 (100%) - - 28
5º ano Y - 19 (79,17%) 5 (20,83%) 24
5º ano Z 2 (8,33%) 22 (91,66%) - 24
Total:102
FONTE: Dados levantados para esta pesquisa – Questionário dos alunos (maio de 2012)
Tabela 27: Respostas dos Alunos à questão: sobre os materiais utilizados em sala de aula: c) Você lê Gibis e Revistas
Recreio em sala de aula?
Alunos Sim Às vezes Não Total
5º ano W 25 (96,15%) 1(3,8%) - 26
5º ano X 9 (32,14%) 19 (6,85%) - 28
5º ano Y 9 (37,5%) 15 (62,5%) - 24
5º ano Z 12 (50%) 11 (45,83%) 1 (4,17%) 24
Total: 102
FONTE: Dados levantados para esta pesquisa – Questionário dos alunos (maio de 2012)
Daniela C. de Menezes Cosso | 191
Tabela 28: Respostas dos Alunos à questão: sobre os materiais utilizados em sala de aula: e) Você faz atividades xerocadas?
Alunos Sim Às vezes Não Total
5º ano W 26 (100%) - - 26
5º ano X 16 (57,14%) 12 (42,86%) - 28
5º ano Y 24 (100%) - - 24
5º ano Z 22 (91,66%) 2 (8,33%) - 24
Total: 102
FONTE: Dados levantados para esta pesquisa – Questionário dos alunos (maio de 2012)
A crescente produção de trabalhos que têm como foco a lição de casa e a relação
família e escola (FRANCO, 2002; SILVA, PICCHIONI, e CASCAPERA, 2009;
Daniela C. de Menezes Cosso | 192
CARVALHO, 2000) nos dá indícios de que tal problemática passa a ocupar um lugar
central para o entendimento de fatores que possam interferir no rendimento dos alunos.
Dentre algumas pesquisas sobre esse tema, a que mais chamou a atenção foi a de
Carvalho (2000), que aponta suas repercussões no que tange ao acompanhamento dos filhos
na execução das lições de casa. Segundo a autora, o dever de casa, embora pouco estudado
ou problematizado, é uma prática que integra as relações família–escola e a divisão de
trabalho educacional entre estas instituições. Ele pode ser visto das seguintes formas: como
uma necessidade educacional, reconhecida por pais e professores, como uma ocupação
adequada para os estudantes em casa, e também como um componente importante do
processo ensino–aprendizagem e do currículo escolar. O dever de casa pode ser concebido
como uma política tanto da escola e do sistema de ensino, quanto da família. O primeiro
objetivando ampliar a aprendizagem em quantidade e qualidade para além do tempo–
espaço escolar, e o segundo visando estimular o progresso educacional e social dos
descendentes.
Por outro lado, as lições de casa, são concebidas como dispositivos de controle dos
aprendizados, exame minucioso dos conteúdos trabalhados, produzindo critérios de
medição de aproveitamento escolar e, por fim, são vistas como passaporte de acesso ao
mercado de trabalho (SILVA, PICCHIONI, e CASCAPERA, 2009, p. 337). O nível de
escolarização dos pais, também apontado como indício de bom aproveitamento, deixa
transparecer que o que se valoriza na escola é, acima de tudo, a cultura escolar, e não
Daniela C. de Menezes Cosso | 193
qualquer cultura. Nesta perspectiva, as autoras acreditam que nas escolas se reproduz as
desigualdades que operam nos níveis macro sociais: quanto maior a escolarização das
famílias, melhor o desempenho dos alunos e vice-versa. O impacto da escola em crianças
provenientes de famílias pouco escolarizadas parece ser mínimo se tais famílias não se
adaptam às expectativas escolares. Por fim, a lição de casa, segundo essas autoras, pode ser
considerada como forma de controle disciplinar, controle sobre as aprendizagens, sobre o
certo e o errado, sobre a diversidade entre os âmbitos familiar e escolar, controle sobre as
formas de pensamento e, quem diria, até sobre o futuro. (2009, p. 338).
A discussão das autoras sobre lição de casa nos ajuda a entender que esse tipo de
tarefa pode ser considerado como um importante mecanismo de controle sobre as
aprendizagens, sendo assim percebemos uma grande preocupação na UEE quanto ao
tempo, os dias da semana que as professoras passam lição de casa para os alunos.
4. A escola passa lição para seu filho fazer em casa? (marque apenas uma
resposta):
(A) Sim, sempre, todo dia ou quase todo dia.
(B) Sim, algumas vezes, de vez em quando.
(C) Sim, mas é muito pouco, quase nunca.
(D) Não, nunca há lição para fazer em casa.
(E) Não sabe (QUESTIONÁRIO DE CONTEXTO – SARESP 2011).
33
O Planejamento escolar, nas escolas estaduais, é feito todos os anos no início do ano letivo antes do
primeiro dia de aula, são três dias consecutivos que a equipe gestora e os professores se reúnem para
organizar e planejar o ano letivo.
Daniela C. de Menezes Cosso | 194
passar lição de casa todos os dias da semana menos sexta-feira pois acreditam que o final
de semana deve ser um período em que as crianças descansem, “fiquem liberado da lição” e
aproveitem o tempo para ficar com os pais. Também, podemos perceber através da resposta
da Coordenadora, que passar lição de casa de segunda a quinta-feira é uma obrigação da
professora, ela não pode deixar de passar, parece mais uma imposição do que um
combinado, podendo ser considerada como um importante mecanismo de controle sobre as
aprendizagens. Observe as respostas durante as entrevistas:
Quando perguntado às Professoras com que frequência você passa lição de casa aos
alunos, todas assinalaram no questionário a opção “diariamente”. Sobre a quantidade de
alunos que fazem a lição de casa, quando perguntado “quantos alunos da sua classe fazem
lição de casa”, das 4 Professoras participantes, duas responderam “a maioria” (50%) e duas
assinalaram “todos os alunos” (50%).
todos os dias e por isso ele achava muita lição, e nesse momento todos os outros alunos
concordaram com ele.
Ainda no questionário dos alunos, quando perguntado “Com que frequência sua
professora passa lição de casa”, todos os alunos (100%) assinalaram a alternativa “todos os
dias da semana, menos sexta-feira”. Neste caso, percebemos que não houve dúvida nas
crianças em responder essa questão, já é uma prática consolidada nesta escola.
Na entrevista com a Coordenadora, quando perguntado “qual seria outro fator para o
bom desempenho dos alunos”, ressaltou a importância da lição de casa e esta vista como
uma devolutiva do que foi ensinado dentro da sala de aula:
Sim, é uma prática da escola. Olha, tem várias razões para isso. Primeira
razão é a responsabilidade do professor em estar tirando da escola um
aluno muito pequeno, nós não temos quem possa acompanhar esses
alunos. Nós trabalhamos dentro da escola muitos assuntos relacionados a
teatro e outros assuntos, mas internamente. Outra coisa, nós já tivemos
Daniela C. de Menezes Cosso | 197
(...) Ainda mais aqui que não tem festa nenhuma, o objetivo da escola não
é esse mesmo (o que eu acho certíssimo!), acho que é um dos grandes
pontos da escola, até merece ser destacado isso, que escola não é lugar de
fazer festa junina. O assunto festa junina, o não faltar balão, os textos
relacionados ao assunto são pertinentes à escola. Agora, aquela festa de
barraquinha, de vender pipoca, de arrecadar dinheiro, “mis caipirinha”,
“mister isso”, tirar o aluno da sala de aula para ensaiar exaustivamente
danças, ao invés de você estar trabalhando estar ensaiando, ai é lindo o
aluno tem que se expressar, tem que dançar, mas isso não é minha
obrigação, minha função. Isso é um dos grandes pontos da escola. Se eu
não tenho que me envolver com enfeitinhos de festa junina, festa da
primavera, se eu não tenho que gastar energia com isso, vou gastar minha
energia em sala de aula, dando aula. Então pode fazer falta pra
comunidade? Pode, mas pelo menos eu venho de uma época que as festas
arrecadavam dinheiro e que você levava um mês fazendo enfeites, um
mês ensaiando apresentações, era um desgaste muito grande, gerava
indisciplina, movimentava a escola, uma agitação, uma coisa horrível,
Daniela C. de Menezes Cosso | 198
No que refere à fala dos pais, o assunto “festas e passeios” apareceu tanto nos
questionários como nas entrevistas. No questionário, na questão “Como você avalia a
escola do seu filho? Justifique sua resposta”, dois pais evidenciaram o problema da falta de
passeios na escola estudada:
Quando pedido aos pais que escrevessem qualquer outro comentário a respeito da
escola de seu filho, apareceram vários comentários a respeito desta questão. Observamos
Daniela C. de Menezes Cosso | 199
que muitos pais fizeram comentários sobre a falta de passeios culturais e festividades nesta
escola:
Na entrevista feita com os pais, quando pedido para que eles descrevessem algo
negativo e algo positivo sobre a escola do filho, uma mãe deu o seguinte depoimento a
respeito das festas, colocando como algo negativo não ter festas na escola, mas ao final do
depoimento parece que essa mãe acredita que o fato de não ter festas é uma maneira de
enfatizar o ensino e o comportamento, ou ainda ter uma boa educação, por ser uma escola
de referência:
Através da fala dos pais, percebemos que os mesmos gostariam que essa escola
organizasse mais atividades extracurriculares como passeios culturais e festas, pois
acreditam que a falta desse tipo de atividade seria um ponto negativo desta instituição. Já
para a direção e professoras, estas acreditam que fazer festas ou sair para passeios culturais
pode prejudicar o andamento do conteúdo na sala de aula, tendo como justificativa a perda
de tempo nestas atividades em detrimento do conteúdo escolar.
Na última questão aberta do questionário das famílias, foi pedido para que os pais
fizessem algum comentário sobre a escola, caso desejassem. O número de comentários foi
surpreendente, pois geralmente em perguntas como esta não conseguimos um número de
respostas muito grande. Nesse caso, quase a metade das famílias (47 pais) fizeram algum
tipo de comentário, cerca de 48% dos pais. Nos comentários os pais ressaltam gostar muito
da rigidez com que a disciplina é tratada, também salientam a metodologia e aprovam o
modelo de ensino sugerindo a solicitação de Ensino Fundamental II (Anos Finais – 6º ao 9º
ano) e até mesmo do Ensino Médio nesta escola. Também evidenciam as notas elevadas
nas avaliações externas, e a coloca como exemplo para muitas outras escolas:
Eu acho que deveria ter ginásio na escola porque assim não teríamos que
se preocupar onde colocaríamos nossas crianças (Questionário, família nº
18, 5ºano Y).
Estou convencida de que os índices desta escola são elevados, em relação
às avaliações externas (SARESP) porque há pais, professores, diretores e
toda a equipe escolar voltados para a excelência do aprendizado
(Questionário, família nº 14, 5ºano W).
Esta escola é muito boa, deve ser exemplo para outras (Questionário,
família nº 22, 5ºano W).
Espero que a busca incessante da qualidade continue sempre; que a escola
seja a melhor do Estado de S.P. e, quem sabe, até do Brasil!!! E, que meu
filho faça parte de tudo isso a partir de 2013!!! Assim como minha filha
fez parte. Sinceros agradecimentos a todos!!! (Questionário, família nº 23,
5ºano W).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo iniciou-se buscando uma visão de contexto das políticas públicas do estado
de São Paulo, pois a escola estudada é uma instituição pública da rede estadual paulista.
Nesta perspectiva, a qualidade educacional aparece como um desafio para a melhora do
ensino paulista.
Com o olhar centrado na dinâmica do cotidiano de uma escola pública com alto
IDESP, pode-se dizer que este estudo possibilitou identificar e compreender determinados
aspectos relacionados à organização do trabalho pedagógico e à avaliação enquanto
mecanismos intrínseco a ela, mas não se esgotam todas as questões que poderiam ser objeto
de análise, como as relacionadas ao desempenho dos alunos, ao currículo, à formação
docente , entre outros. No entanto muitos aspectos significativos estão colocados em
discussão e poderão ser ponto de partida para novas investigações.
Assim, as conclusões podem ser consideradas provisórias, uma vez que suscitam
provocações para novos estudos, com outros objetivos, contribuindo para a reflexão sobre a
organização do trabalho pedagógico em escolas públicas voltada para a qualidade
educacional.
outras, e a amostra em estudo não representa a totalidade da rede pública estadual paulista.
O que se tem é um estudo baseado na investigação do trabalho pedagógico de uma escola
dos anos iniciais com notas elevadas nas avaliações externas, associado a inferências e
compreensões do contexto estudado.
Quanto ao nível de instrução das famílias dos 5º anos, a grande maioria possui
Ensino Médio Completo ou Ensino Superior. A grande maioria da amostra de mães e pais
participantes do estudo possui Ensino Médio Completo ou Ensino Superior. Sobre o tipo de
trabalho que os pais realizam como profissão, ocupação ou atividade, as respostas foram
condizentes com o nível de escolaridade, por exemplo, o pai que se declarou trabalhar
como médico veterinário possui Ensino Superior como escolaridade.
A renda mensal das famílias participantes do estudo pode ser considerada alta,
observamos que a maioria das famílias (64%) possui uma renda familiar considerada
média-alta/alta. Outro dado importante quanto ao nível socioeconômico é a existência de
famílias com poucos filhos. Quanto à opinião das Professoras sobre se o nível
socioeconômico pode influenciar no desempenho dos alunos, observamos as seguintes
opiniões: a postura familiar e estímulo dos pais são mais importantes do que o nível
socioeconômico para o aprendizado; acesso à informações como internet, jornais e livros
podem influenciar no aprendizado; e, quanto menos favorecido economicamente mais
dificuldade a criança pode ter na escola.
pontos negativos relatados pelos pais destacados foram: muita rigidez nas regras, não há
passeios e festas, e excesso de disciplina. A grande maioria dos pais (cerca de 95%)
escolheu esta escola por causa da qualidade do ensino;
Os motivos que levam a escola a atingir notas altas nas avaliações segundo a
Diretora desta UEE são: equipe comprometida; participação da formação dos docentes no
Programa Ler e Escrever (Língua Portuguesa e Matemática); poucos professores ausentes;
atendimentos dos alunos que apresentam dificuldades durante s recuperação contínua;
alunos muito frequentes; organização da escola; normas internas contribuindo para bom
andamento da escola. Segundo as professoras o motivo maior é a presença constante da
Diretora na escola, direção atuante e comprometimento da equipe de professores. Em
relação à opinião dos pais, estes acreditam que os motivos que levam esta escola atingir
Daniela C. de Menezes Cosso | 210
boas notas são: pulso firme da direção, dedicação da diretora (é essencial), poucas faltas
dos professores, participação da diretora e das professoras. Podemos destacar também que
todos os pais entrevistados deram seus depoimentos destacando o trabalho da Diretora em
primeiro lugar.
A terceira dimensão analisada foi sobre a gestão escolar, para responder se a gestão
influencia na organização do trabalho pedagógico, organizamos os dados em três
subdimensões: envolvimento da gestão no trabalho pedagógico; gestão presente na escola;
disciplina, rigor e organização.
As disciplinas observadas nas salas dos quintos anos e o trabalho pedagógico são
condizentes com a matriz curricular da SEE/SP, há a utilização de quadro de horário de
aulas pelas professoras como uma questão de ordem (organização) incluindo na grade
horária disciplinas como Geografia, História e Ciências.
Os materiais didáticos utilizados nas salas dos quintos anos são: o uso periódico de
revistas Recreio, revistas Ciência Hoje das Crianças, gibis, filmes, jornais, livros didáticos.
Também observou-se o uso diário de atividade xerocadas para o aluno como atividade
complementar do conteúdo visto nos livros didáticos.
Quanto à questão da lição de casa, todas as professoras passam lição de casa todos
os dias da semana menos sexta-feira, pois acreditam que o final de semana deve ser um
período em que as crianças possam descansar, “ficam liberados da lição” e aproveitam o
tempo para ficar com os pais. Há grande cobrança em relação à lição de casa, as constantes
lições diárias que fazem para reforçar o que aprendeu na escola, a cobrança das lições
podem afetar os resultados positivos nos testes externos, de acordo com os dados da
pesquisa.
Sobre passeios culturais e/ou festas, esta instituição escolar optou por não realizar
passeio culturais com as crianças e a não realização de festas comemorativas, pois segundo
a direção hoje em dia é muito perigoso sair com crianças pequenas (violência), os
professores visam, sobretudo a parte pedagógica em sala de aula (acreditam que há muita
perda de tempo nesses passeios culturais). Mas para os pais esse é um ponto negativo da
escola, a escola falha muito por não haver passeios culturais e, assim as crianças são
prejudicadas por não adquirirem conhecimento cultural, pois cultura também faz parte da
educação.
Daniela C. de Menezes Cosso | 212
Um dos comentários, feito pela família 18 (5º ano Z) no questionário, deixa claro a
opção da escola em priorizar os conteúdos em detrimento do conhecimento cultural
adquirido através de passeios ou mesmo em festas culturais:
Através da fala dos pais, percebemos que os mesmos gostariam que essa escola
organizasse mais atividades extracurriculares como passeios culturais e festas, pois
acreditam que a falta desse tipo de atividade seria um ponto negativo desta instituição. Já
para a direção e professoras, estas acreditam que fazer festas ou sair para passeios culturais
pode prejudicar o andamento do conteúdo na sala de aula, tendo como justificativa a perda
de tempo nestas atividades em detrimento do conteúdo escolar.
profissionais envolvidos nas escolas. Quando foi introduzido na rede estadual, o SARESP
(Sistema de Avaliação do Rendimento escolar do Estado de São Paulo) parecia ter uma
finalidade diagnóstica, parecia estar voltado a apoiar as escolas em suas dificuldades, e o
discurso da Secretaria da Educação acenava nesse sentido. Mas, a partir do momento que
passou a ser utilizado para classificar as escolas, percebeu-se que essa visão era uma ilusão.
O modelo de avaliação externa que o SARESP representa revelou-se em mais uma função
reguladora do aparato governamental.
Assim, as avaliações deveriam ser usadas como uma ferramenta para ajuste dos
meios ou dos métodos a serviço do desenvolvimento de professores e alunos, nunca uma
ferramenta de controle ou de competição. Devemos ter em mente que as crianças não estão
na escola para passar nas provas. Elas vêm aprender a vida, encontrar seu próprio caminho.
É possível medir a vida? No país europeu mais bem colocado nos rankings internacionais,
as pessoas veem com muita desconfiança... os rankings.
Daniela C. de Menezes Cosso | 215
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Carta Capital (Online). 21.07.2011. Bônus não gera motivação. Disponível em:
<http://www.cartacapital.com.br/politica/copia-fiel/>. Acesso em: 22 nov. 2011.
Época (Online). Quando a pública ganha da particular. 11/07/2008. Disponível em: <
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI7709-15228-3,00-
QUANDO+A+PUBLICA+GANHA+DA+PARTICULAR.html>. Acesso em: 11 mar. 2012.
______. Ciclos, seriação e avaliação: confronto de lógicas. São Paulo: Moderna, 2003b.
FREITAS, L. C.; et al. Dialética da inclusão e da exclusão: por uma qualidade negociada e
emancipadora nas escolas. In: GERALDI, C. G. et al.. Escola viva: elementos para a
construção de uma educação de qualidade social. São Paulo: Mercado de Letras, 2004.
______. Avaliar para promover: as setas do camino. Porto Alegre: Mediação, 2004.
______. Os processos avaliativos: entre os pais e a vida escolar dos filhos. In: FREITAS, L.
C. (org). Avaliação: construindo o campo e a crítica. Florianópolis: Insular, 2002.
RUZ PERES, J. R.. Avaliação, Impasses e Desafios da Educação Básica. Campinas, SP:
Editora da Unicamp, 2000.
______. Alternativas propositivas no campo da avaliação: por que não? In: CASTANHO,
S.; CASTANHO, M. E. (orgs.). Temas e textos em metodologia do Ensino Superior.
Campinas, SP: Papirus, 2001.
DOCUMENTOS OFICIAIS:
______. Ministério da Educação. PDE: Plano de Desenvolvimento da Educação- Prova Brasil: ensino
fundamental - matrizes de referência, tópicos e descritores. Brasília: MEC, SEB; Inep, 2011. Disponível
em: http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/ prova%20brasil_matriz2.pdf , acesso em 13 mai.
2013.
ANEXOS
QUESTIONÁRIO ALUNOS
4. Antes de entrar no primeiro ano, você fez educação infantil(creche, pré-escola, etc)?
A) ( ) Sim B) ( ) Não
6. Leia as frases abaixo sobre você e sua escola. Para cada frase, escolha apenas uma das opções de
resposta (Sim, muito/ Sim, só um pouco/ Não) e faça um X na resposta escolhida.
Sim, Sim, só Não
muito um pouco
A) Minha professora me incentiva a melhorar. ( ) ( ) ( )
B) Eu me sinto bem na minha escola. ( ) ( ) ( )
C) Eu gosto das atividades da escola. ( ) ( ) ( )
D) Minha professora mostra interesse no aprendizado de todos os ( ) ( ) ( )
alunos.
E) Minha professora passa lição de casa (Tarefa). ( ) ( ) ( )
7. Leia as frases abaixo referentes às suas tarefas de casa (lição de casa). Para cada frase, escolha
apenas uma das opções de resposta (SIM/ AS VEZES / NÃO) e faça um X na resposta escolhida.
ÀS VEZES NÃO
SIM
A) Eu me esforço bastante para fazer lição de casa, mesmo sabendo ( ) ( ) ( )
que não vai valer nota.
B) Eu faço minhas lições de casa, mesmo que meus pais não peçam. ( ) ( ) ( )
B) Eu gosto de estudar. ( ) ( ) ( )
J) Eu gosto de ir à escola. ( ) ( ) ( )
K) As atividades fora da escola (brincar, passear, etc) são mais legais do que as ( ) ( ) ( )
atividades feitas dentro da escola.
10. Com que frequência sua professora passa lição de casa? (marque apenas uma opção)
QUESTIONÁRIO PROFESSORES
A) Livros
( ) ( ) ( )
B) Revistas
( ) ( ) ( )
C) Jornais
( ) ( ) ( )
Daniela C. de Menezes Cosso | 231
10. Como avalia o conteúdo trabalhado? (Você pode escolher mais de um item).
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
18. Sua escola é considera de excelência por alcançar elevadas notas nas avaliações
externas todos os anos. Em sua opinião, quais fatores a fazem chegar nesta excelência?
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
19. Se você deseja fazer algum outro comentário, utilize o espaço abaixo.
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
Daniela C. de Menezes Cosso | 233
QUESTIONÁRIO GESTÃO
5. Além do magistério, você exerce outra atividade formal ou informal que contribua para
sua renda pessoal?
a. Não b. Sim, fora da área de educação. c. Sim, na área de educação.
D) Livros
( ) ( ) ( )
E) Revistas
( ) ( ) ( )
F) Jornais
( ) ( ) ( )
Daniela C. de Menezes Cosso | 234
8. Em relação a procura por vagas assinale qual alternativa melhor caracteriza sua
escola?
9.Você acha que a escola e o trabalho nela realizados são valorizados pela comunidade?
( ) SIM ( ) AS VEZES ( ) NÃO
Justifique sua resposta: _________________________________________________________
11.Assinale o motivo que você acha ser o mais relevante para os pais matricularem seus
filhos nesta escola:
( )Fica próximo de casa.
( ) Fica próximo ao trabalho dos pais.
( ) Por causa da qualidade de ensino.
da escola.
17. Sua escola é considera de excelência por alcançar elevadas notas nas avaliações
externas todos os anos. Em sua opinião, quais fatores a fazem chegar nesta excelência?
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________
Daniela C. de Menezes Cosso | 236
QUESTIONÁRIO PAIS
1. Das opções abaixo, assinale a que corresponde ao maior nível de escolaridade terminado:
2. Você trabalha?
5.Você frequenta:
Frequentemente Raramente Nunca
A) Teatro ( ) ( ) ( )
B) Cinema ( ) ( ) ( )
C) Clube ( ) ( ) ( )
D) Instituição Religiosa (igreja, ( ) ( ) ( )
centro espírita, etc).
6.Indique o grau de importância dos motivos abaixo para a escolha dessa escola.
8.Por que a escola é importante para você? Indique o grau de importância dos itens
abaixo:
Muito importante Importante Pouco importante
A) Ensina a ler. ( ) ( ) ( )
B) Porque fornece alimentação. ( ) ( ) ( )
C) É um lugar seguro onde meu ( ) ( ) ( )
filho pode ficar.
D) Tem bons professores. ( ) ( ) ( )
E) Outra razão. Qual? ( ) ( ) ( )
9. Qual sua opinião sobre as avaliações que a escola aplica em seu filho?
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
10. Como você avalia a escola do seu filho(a)? Justifique sua resposta.
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
11. A escola de seu filho(a) é considera de excelência por alcançar elevadas notas nas
avaliações externas (SARESP) todos os anos. Em sua opinião, quais são os fatores que a
fazem atingir essas notas altas?
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
12. Se você deseja fazer algum outro comentário, utilize o espaço abaixo:
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
Daniela C. de Menezes Cosso | 239
I - Geral:
II – Práticas avaliativas:
III – Currículo
IV – Gestão escolar
V – Fatores sócio-familiares
I – Geral
1- Quanto tempo você trabalha nesta escola? E quanto tempo no magistério?
2- Você gostaria de mudar de escola ou está satisfeita aqui? Por quê?
3- A escola atingiu notas altas no SARESP, em sua opinião quais são os fatores que
levaram a escola a atingir essas notas?
4- Como se dá a organização escolar de modo geral, ou seja, serviços; recursos
materiais, humanos e financeiros; relação com as famílias e o funcionamento da
escola?
5- Que aspectos facilitam a organização escolar e quais dificultam? Algum se
relaciona com a avaliação?
6- Você acha que o bônus influencia na organização do trabalho pedagógico?
7- E o SARESP, influencia ou não na organização do trabalho pedagógico?
8- Existe algum documento que estabelece as diretrizes gerais do trabalho escolar?
Como é usado?
II – Práticas avaliativas:
1- Como a diretora/vice/coordenadora vê a avaliação? Qual sua concepção sobre
avaliação?
2- De que forma sua atuação contribui para a avaliação escolar?
3- Em sua opinião a avaliação só acontece em sala de aula?
4- Como você avalia as práticas de seus professores?
5- Como são usados os resultados tanto das avaliações internas como externas no
desenvolvimento do trabalho pedagógico?
6- Qual a sua concepção sobre avaliações externas? A sua prática tem sido mudada a
partir dessas avaliações?
7- Como você avalia a sua escola? Justifique
8- Há momentos nas reuniões pedagógicas para os professores se autoavaliarem em
suas práticas? (Ver o que deu certo, e o que não deu e tentar modificar?)
III – Currículo
1- A escola utiliza o material do Programa Ler e Escrever?
2- Você acha que esse material é suficiente para um bom desempenho dos alunos? Por
quê? Dê exemplos.
3- Se a escola usasse apenas esse material (do Programa Ler e Escrever) alcançaria as
ótimas notas que vem alcançando?
4- História, Geografia e Ciências fazem parte do currículo dos 5º anos, como seus
professores organizam essas disciplinas no trabalho pedagógico?
Daniela C. de Menezes Cosso | 242
IV – Gestão escolar
1- Como é o seu envolvimento na organização do trabalho pedagógico da escola?
2- Como se dá o trabalho da gestão nas reuniões pedagógicas? Dê exemplo.
3- Como se dá o processo de matrícula aqui na escola? Do 2º ao 5º ano você também
matriculam alunos (quando há vagas), como é esse processo? E quando a criança
mora em bairros distantes mas quer estudar aqui, ela tem possibilidade de
matrícula?
V – Fatores sócio-familiares
1-Observando e analisando o questionário de contexto (SARESP 2011) respondido pelas
famílias, algumas questões me chamaram atenção:
a) Todas as famílias (sem exceção) responderam a letra A (sim, todos os dias, ou
quase todos os dias) na questão sobre lição de casa. Como vocês lidam com a
questão da lição de casa? É um combinado entre os professores?
b) No questionário do aluno (questão 38) “Este ano, já fui com minha escola a teatros,
museus, zoológicos, Bienal do Livro, parques, etc:”. Todos os alunos responderam:
“Não fui porque na minha escola não teve essa atividade”. Isso é uma prática da
escola, não levar alunos à passeios? Qual o objetivo desta opção?
c) Notamos que um grande número de alunos apresenta um nível sócio econômico
considerado elevado (38% estão na faixa D, e 26% na faixa E). Você acredita que o
nível sócio econômico interfere no bom desempenho no SARESP?
d) Esse nível sócio econômico seria um dos fatores para um bom desempenho no
SARESP? Por quê?
e) Qual seria outro fator para o bom desempenho dos alunos?
2- Pelos questionários respondidos pelas famílias pude perceber que muitos alunos moram
em bairros afastados da escola. Porque você acha que essas famílias procuram essa escola?
Qual o motivo? E como eles conseguem matricular seus filhos, já que a matrícula é feita
pela proximidade do bairro?
a) Você acha importante a família interagir com a escola? Por quê?
b) Você acha que a participação das famílias no andamento das atividades (ver
cadernos, ajudar nas lições, cobrança para estudar, etc) colabora ou não na
aprendizagem das crianças? Você tem algum exemplo?
c) As diferenças socioeconômicas entre as famílias influenciam o desempenho dos
alunos?
d) Se sim, quais as características das famílias que você acha que influenciaria um
bom e um mau desempenho das crianças? Dê exemplo vivenciado neste ano.
e) Pelos questionários respondidos pelas famílias percebi que muitos alunos
moram em bairros afastados da escola. Porque você acha que essas famílias
procuram essa escola? Qual o motivo?
Daniela C. de Menezes Cosso | 243
I – Geral
1- Quanto tempo seu filho estuda nesta escola?
2- Você sempre participa das reuniões pedagógicas do seu filho? Qual o motivo faz
você participar destas reuniões?
3- Descreva algo negativo e algo positivo da escola de seu filho.
4- Qual motivo (ou quais motivos) fez você procurar e matricular seu filho nesta
escola?
5- Você está satisfeito com esta escola? Por quê?
II – Práticas avaliativas:
1- Qual sua opinião sobre as avaliações que a escola aplica em seu filho?
2- Pra você, como seu filho deveria ser avaliado?
3- Como você avalia a escola de seu filho? Por quê?
4- Você é informado sobre as notas que a escola vem alcançando nas avaliações
externas, como o SARESP? Como?
5- Em sua opinião, quais são os motivos que levam esta escola atingir boas notas?
III – Currículo
1- Você conhece o material do Programa “LER e ESCREVER”?
2- Seu filho utiliza esse material? Se sim, como é usado?
3- Seu filho aprende outras disciplinas além de matemática e português? Se sim,
quais?
4- Você está satisfeito com o conteúdo que seu filho aprende em sala de aula?
IV – Gestão escolar
1- Você conhece a Diretora desta escola?
2- Você acha importante a Diretora ser presente na escola? Por quê?
3- Você conhece a Coordenadora? O trabalho dela é importante para melhorar o
desempenho dos alunos?
4- Você concorda com o modelo de gestão existente nesta escola? Por quê?
V – Fatores sócio-familiares
1- Você gostaria de matricular seu filho em outra escola pública? Por quê?
2- E em uma escola particular? Por quê?
3- Você acha que o um bom nível sócio econômico das famílias prejudica ou ajuda a
criança no seu desempenho escolar? Como?
4- Você gostaria de fazer algum comentário (elogio ou crítica) sobre a escola de seu
filho?
Daniela C. de Menezes Cosso | 244
TERMO DE AUTORIZAÇÃO
Assinatura:___________________________________