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CAMETÁ-PA
2019
CLEICIANE DO ROSÁRIO MORAES SOUZA
CAMETÁ-PA
2019
AS CONTRIBUIÇÕES DO PROGRAMA RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA PARA A
FORMAÇÃO INICIAL DOS LICENCIANDOS EM EDUCAÇÃO DO CAMPO DO
CAMPUS DO TOCANTINS - CAMETÁ
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________
Hellen do Socorro de Araújo Silva
________________________________________________
João Furtado Miranda
________________________________________________
Salomão Antônio Mufarrej Hage
AGRADECIMENTOS
Durante todo o curso, vivi momentos singulares, que só foram possíveis com a
colaboração e carinho de muitas pessoas. Por essa razão, agradeço imensamente a Deus, por
ter sido meu sustento.
Aos meus pais Odivaldo Pinto Souza e Cleonice de Souza Moraes pelo incentivo e
pelo apoio.
Aos meus irmãos Cleane Moraes Souza, Ana Flavia de Souza Moraes e Oberdan
Moraes Souza por me apoiarem nos momentos difíceis.
Aos meus mais que amigos José Luis Garcia Serrão, Rodrigo Pontes, Elielma Lopes,
Albert Martins, Paulo Sousa Braga, Henrique Mendonça Jr, Roberta Meireles, José Ivonilde
da Silva Marçal, Marcela Almeida, Laurinete Gomes, Juliane Santos, Marinaldo Souza,
Rodinaldo Filho, Nilton Rosa, Ezequiel Pereira, Gleicy Lopes, Rosenilde Dutra, Solange
Quaresma, Ester Ferreira, Noely Azevedo, Rosimary Menezes, Edilson Costa, Ângelo
Costa, Laís Quadros, Elivane Marques, Isnária Kelly Bezerra Vieira, Reginária Bezerra,
Vitória Bezerra, Helena Maria e Cleison Junior; que estavam ao meu lado durante esse
percurso.
Agradeço também, imensamente, o meu Orientador Prof. Dr. Salomão Hage, que me
motivou e ajudou ao longo deste trabalho.
Á Profª Dr. Hellen do Socorro de Araújo Silva, com a qual sempre pude contar, e
sempre será uma inspiração para minha formação.
Aos meus professores ao longo do curso, e aos técnicos da FECAMPO, Idalina, João
e Willian.
Ao programa residência pedagógica, articulado a CAPES, que possibilitaram viver e
pesquisar o projeto.
Por fim como não poderia deixar de ser agradeço a todos os meus amigos, amigos de
curso, e principalmente meus familiares.
A todos deixo aqui meus sinceros agradecimentos pelo apoio a mim dedicado,
que direta ou indiretamente contribuíram para minha formação. .
Dedico este trabalho de conclusão de curso,
primeiramente a Deus pelas graças a mim
concedidas para o término desta monografia,
a todos os meus familiares e amigos,
especialmente a minha mãe Cleonice de
Souza Moraes e a meu pai Odivaldo Pinto
Souza, que sempre me incentivaram e
apoiaram em todos os meus passos ao longo
do meu percurso acadêmico.
Estão aqui, como movimentos, como
coletivos, que vem à universidade para
participar do banquete do conhecimento,
mas também para trazer seus pratos. Para
derrubar as cercas do saber. Suas místicas
são uma metáfora. Trouxeram aqui suas
frutas, suas ferramentas, suas bandeiras,
seu trabalho, suas lutas, seus saberes e
indagações. Vocês vêm para o diálogo de
saberes, para o diálogo de conhecimentos,
não vem apenas para encher os tanques
vazios de conhecimento, de experiências, de
indagações. Hoje as relações entre os
movimentos sociais não é apenas dizer,
entrem que vocês também têm direito ao
conhecimento. É algo diferente, entrem com
seus conhecimentos e vamos tentar dialogar
e construir novos saberes, novas visões de
ser humano, de mundo, de Campo.
(Miguel Arroyo)
RESUMO
Esta monografia tem como foco investigar a formação inicial dos estudantes do Curso de
Licenciatura em Educação do Campo, partindo da experiência do Programa Residência Pedagógica
- RP em uma escola do Campo, com o objetivo de analisar as contribuições do Programa para a
formação inicial dos estudantes desse Curso ofertado pela UFPA no Campus do Tocantins em
Cametá e sua relação com as práticas educativas desenvolvidas na escola Orvácio Gomes de
Carvalho. A metodologia deste trabalho apresenta abordagem qualitativa, realizada através de
pesquisa bibliográfica, e pesquisa participante, envolvendo a vivência da pesquisadora com a
experiência em estudo. Na coleta de dados foram utilizadas as seguintes técnicas: entrevistas
(semiestruturadas), observações, aplicação de questionário, caderno de campo, assim como as rodas
de conversa ocorridas nas reuniões e socializações do próprio projeto. O lócus de pesquisa foi a Vila
de Juaba, localizada em Cametá, no Estado do Pará, a uma distância de 30 km do centro urbano de
Cametá, onde está localizada a EMEF Orvácio Gomes de Carvalho. Os resultados revelam que o
Programa Residência Pedagógica centrado na proposta da Faculdade de Educação do Campo,
apresentou diversas contribuições para a formação inicial dos estudantes do Curso Educação do
Campo, com destaque para a experiência prolongada na escola, a aproximação do futuro professor
com o seu campo de atuação, a parceria entre a escola de Educação Básica e a Instituição de Ensino
Superior - IES, para ofertar uma formação integral centrada na práxis para os licenciandos, e o
fortalecimento da identidade de educador do campo.
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 9
METODOLOGIA................................................................................................................. 13
2.2 Processo de ambientação: as primeiras vivências dos residentes com a escola do Campo
.............................................................................................................................................. 42
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 58
APÊNDICE A ...................................................................................................................... 61
9
INTRODUÇÃO
A minha relação com o campo iniciou desde minha infância, pois foi nele que me
construí como sujeito do Campo, vivenciei a falta de políticas públicas, principalmente
educacionais. Assim, construí o meu pertencimento baseado em uma identidade de
resistência, de não me conformar com a realidade condicionada, por isso nos últimos quatros
anos a minha postura tem sido de me formar como professora do campo para contribuir com
a construção de um Campo mais humano, assim como de posicionamento na luta dos
movimentos sociais por direitos.
O Curso de Licenciatura em Educação do Campo desde o início tem instigado
reflexões acerca de muitas problemáticas, dentre elas, a formação de professoras e
professores do campo, pensada e voltada para a realidade do campo, contemplando os
inúmeros desafios pedagógicos de formar sujeitos do campo cientes de sua história, do
território que ocupa e de sua identidade. Pois, quando pesquisamos a realidade das
professoras e professores que atuam nas escolas do campo, mesmo com alguns avanços,
constatamos que são muitos os professores que trabalham sem o curso de graduação, ou
ainda, professores que atuam em áreas de conhecimento diferentes para as quais foram
formados.
A formação específica ofertada pelo Curso de Educação do Campo, sendo um curso
novo no Brasil, e principalmente na realidade do Baixo Tocantins, ofertado no Campus do
Tocantins – Cametá, desde 2014, nos estimula a refletir sobre como iremos atuar e se vamos
dar conta de realizar as atribuições requeridas pela nossa formação 1. Contudo, minha
inserção no curso contribuiu com a escolha desse tema para o Trabalho de Conclusão de
Curso, haja vista que a vivência no Residência Pedagógica através do projeto, possibilitou
buscar respostas enquanto estudantes e futuros egressos, a própria inserção e as vivências
em nosso campo de atuação nos provocaram pensar e repensar o quanto podemos crescer
enquanto profissionais, enquanto resistência e enquanto educadoras e educadores da
Educação do Campo.
Os estágios realizados ao longo do curso também apresentam vínculo direto com o
objeto de estudo, nos proporcionando a compreensão da realidade escolar, social, ambiental
1
A Licenciatura em Educação do Campo é uma nova modalidade de curso de graduação nas universidades
públicas brasileiras. Esta licenciatura tem como objetivo formar e habilitar profissionais para atuação nos anos
finais do Ensino Fundamental e Médio, tendo como objeto de estudo e de práticas as escolas de Educação
Básica do campo. (MOLINA e SÁ, 2012, p.1)
10
METODOLOGIA
Para que fosse possível levantar dados, analisando-os para contemplar o objetivo
deste trabalho utilizamos inicialmente a Pesquisa bibliográfica, fazendo a análise de
documentos e pesquisas vinculados ao objeto de estudo. Como nos diz Lakatos e Marconis
(2003) “A pesquisa bibliográfica é um apanhado geral sobre os principais trabalhos já
realizados, revestidos de importância, por serem capazes de fornecer dados atuais e
relevantes relacionados com o tema”.
Sendo o RP é um programa até então pouco pautado nas discussões regionais, foi
necessário recorrer a várias fontes e estudos, para colaborar com os questionamentos e
reflexões, por isso buscamos pesquisas, entrevistas, e etc. Segundo as autoras,
práticas. Para isso, foi necessário um levantamento sobre o subprojeto elaborado pela
FECAMPO para a implementação do RP na Escola Orvácio Gomes de Carvalho.
Esta é uma pesquisa com uma abordagem qualitativa, uma vez que se terá contato
direto com pessoas envolvidas. Pois, como Oliveira (2008) pontua nesse posicionamento
teórico, a vida humana é vista como uma atividade interativa e interpretativa, realizada pelo
contato das pessoas. Como o mesmo ainda afirma, o homem é diferente dos objetos, por isso
o seu estudo necessita de uma metodologia que considere essas diferenças. Em seu artigo,
Oliveira (2008, p. 03) nos diz que:
As coletas das falas dos residentes foram realizadas através de rodas de conversas,
de socialização das experiências registradas através de gravador de celular, realizadas no
último semestre na IES, antes da apresentação de seus trabalhos finais, quando já estávamos
mais convictos das consequências das vivências do RP para nossa formação. Sendo aplicado
questionário a todos os Residentes. As entrevistas com auxílio de formulários foram
desenvolvidas com amostragem de 5% dos residentes.
Com os professores preceptores realizamos um levantamento de seus perfis, isto é,
sua formação, a área e tempo de atuação na escola, se têm feito formações atualmente, e
ainda, como tem sido sua experiência com o Programa Residência Pedagógica. Da mesma
forma usamos questionários para coletar informações com a diretora da EMEF Orvácio
Gomes de Carvalho. E também com os sujeitos que participam diariamente das envolvidas
com esse programa, os alunos e 6º ao 9º ano, buscando levantar o que os mesmos têm a
dizer sobre o Programa na escola.
Os sujeitos da pesquisa são os discentes do Curso da Educação do Campo - Campus
do Tocantins Cametá, residentes do Programa, assim como os educadores da Escola
Municipal de Ensino Fundamental Prof.º Orvácio Gomes de Carvalho, preceptores do
programa. Que tem como laboratório das práticas de ensino, tanto dos residentes quanto dos
professores preceptores, os alunos de 6º ao 9º ano da referida escola, que dentro dessa relação
aluno professor foram importantes para despertar características nas personalidades dos
professores e residentes.
Os residentes são caracterizados inicialmente como discentes do Curso de
Licenciatura em Educação do Campo. Eles pertencem a uma comunidade do Campo que
pode ser tradicional ou não, com aspectos territoriais específicos, como: condições
econômicas, sociais, culturais e ambientais. Tudo isso, suscita identidades, perfis dos
residentes, o que configura suas práticas educacionais e suas formas de relacionamento.
Dentre os 24 residentes pesquisados, contamos com 8 sujeitos de comunidades
quilombolas, dentre estes 6 residentes no distrito de Juaba e 4 moram na vila de Juaba (lócus
do subprojeto); 8 são de comunidades ribeirinhas de três municípios do Baixo Tocantins:
Cametá, Igarapé-miri e Mocajuba; 3 moram na sede do município de Cametá, 5 em colônias.
Sendo 16 mulheres e 8 homens, em uma faixa etária de 21 a 48 anos de idade.
Os três residentes que moram na sede do município de Cametá, são parte de um
conjunto de sujeitos do Campo que por motivos educacionais, econômicos e sociais,
migraram para a cidade, situação que vem sendo refletida por Hage (2004, p.6),quando
afirma que “essas particularidades todas, em seu conjunto, fortalecem uma visão negativa,
16
pejorativa e depreciativa com relação à escola rural, levando parte significativa dos sujeitos
do campo a deixar o campo para estudar e migrarem para a cidade em busca de melhores
condições de vida e de educação”.
O Programa iniciou com três preceptores, um deles mudou no início do projeto e
outro no final, assim tivemos o contato com 5 preceptores, e por meio de maior convivência
nos aproximamos da realidade de dois destes. Pelo fato dos dois preceptores afastados serem
do sexo feminino, avaliamos que a condição da mulher como educadora é diferenciada neste
processo, por questões de saúde e características próprias das mesmas. Identificamos que
dos 5 professores, todos têm graduação e atuam nas suas respectivas áreas de formação,
inclusive 2 preceptores possuem pós-graduação, três moram na vila de Juaba, e dois na sede
do município de Cametá, com idades na faixa etária de 32 a 49 anos.
Os alunos da EMEF Orvácio Gomes de Carvalho são das comunidades do distrito de
Juaba ou até mesmo da Vila de Juaba, alguns de terra firme, outros de várzea. Em sua maioria
negros, filhos de agricultores, pescadores, servidores públicos, produtores independentes,
dentre outros. Hage (2004, p. 1), ao analisar quem são os sujeitos que ocupam o território
amazônico, diz que “são pardas, negras, brancas e amarelas; são meninas, meninos e
adolescentes; são indígenas, quilombolas, ribeirinhos, camponeses e urbanos – expressão de
um território gigante, marcado de grandezas e contradições”.
Não são raros os casos de distorção idades-série, ocasionados pelos fatores sociais
externos e/ou por conta do não avanço nas séries, que sé recorrente em todas as turmas, e
mais frequentes nas turmas de 6º e 9º ano. A faixa etária dos alunos é de 10 a 20 anos,
encontram-se em fase de construção de identidade, na qual a escola é principal agente dessa
formação que pode ser emancipadora ou alienadora.
As questões éticas da pesquisa foram consideradas antes da coleta de dados, levando
aos sujeitos os temas e os objetivos da pesquisa por meio do termo de consentimento livre e
esclarecido. Onde os sujeitos leram, concordaram e assinaram, confirmando sua colaboração
e boa vontade para com o objeto de estudo. Por isso, como forma de respeito a identidade
dos participantes, utilizamos nomes fictícios.
A Vila de Juaba, é uma das vilas mais antigas e populosa do município de Cametá,
com aproximadamente 600 famílias. Atualmente a população desse distrito é de 16.772
habitantes. Rica em cultura é conhecida por suas manifestações culturais, tais como
bicharada de Juaba e Babaê do Rosário. Surgiu ainda no século XIX, a partir de um refúgio
de pessoas que eram escravizadas em engenhos de cana de açúcar e se refugiaram, criando
o quilombo de mola, hoje Juaba.
De frente para o rio Tocantins, rodeada por florestas e campos de natureza, é uma
comunidade remanescente de quilombo. O distrito de Juaba é formado por várias
comunidades remanescentes de quilombolas, algumas, principalmente, as que fazem parte
da Associação Terra da Liberdade receberam recentemente a titulação de terra: Itabatinga,
Itapocú, Taxizal, Frade, Bom Fim, Tomásia, Laguinho e Mola.
Juaba foi elevado à categoria de Vila, através da Lei 557, de 07 de Junho de 1898, e
do Decreto nº819, de 08 de Fevereiro de 1900, tendo sua devida instalação no dia 19 de
Março de 1990, e passou à condição de “Vila Distrital” através da lei nº1530 de 05, de
18
Outubro 1916. Consta que o título de “Vila” ao povoado de Juaba aconteceu na Residência
do Sr. Thomé Antônio do Espírito Santo, na referida Vila. Seus primeiros habitantes faziam
parte de algumas das famílias mais influentes, da qual a povoação de Juaba foi formada por
negros escravos.
A luta faz parte desse povo guerreiro que carrega na história de seus antepassados a
força de vencer e ser livre. Muitas das características culturais hoje existente na Vila de Juaba
são heranças dos antepassados, principalmente da cultura afro-brasileira, trazida pelos negros
escravizados nos engenhos da região.
Várias das manifestações culturais da Vila de Juaba vivem à beira da extinção pela
falta de uma verdadeira política pública de conservação cultural e pelo escasso interesse das
gerações mais novas em darem prosseguimento às tradições. Essas manifestações também
deveriam ser valorizadas também nas escolas, mas isso não ocorre.
O Grupo do Mestre Vital Batista de Cametá, conhecido como Engole Cobra, a
Bicharada, são alguns dos vários que ainda sobrevivem com muita dificuldade e sem nenhum
incentivo cultural, os demais movimentos culturais estão quase extintos na vila como a
Ladainha, Bambaê do Rosário, Samba de Cacete, Banguê, Boi Bumbá Campineiro, Dança
da Farinha, Dança do Negro e o Pingo de Ouro.
Desde o ano de 1994, a população Juabense vem organizando, anualmente, o festival
da cultura Juabense. Nesse festival, que acontece no mês de julho, durante três dias são
apresentadas, além de partes dos rituais da dança, quadrilhas e outras práticas culturais, além
das que foram citadas acima.
A cultura do povo Juabense, está impregnada de religiosidade, pois existem nesta vila
quatro igrejas evangélicas, porém o catolicismo ainda sobressai. As festas religiosas são de
grande influência e resgatam a tradição religiosa dos antepassados, nos costumes e na
veneração dos santos de devoção, podemos citar as festas religiosas do lugar como: Nossa
Senhora de Fátima que é venerada no grupo comunitário de Fátima, que está em processo de
implantação e se realiza no mês de maio; Sagrado Coração de Jesus e de Maria venerado no
mês de Junho na comunidade São José; Festividade de São João Batista, realizado também
no mês de junho na comunidade de São João Batista; Festividade de São José e Nossa
Senhora da Misericórdia, realizada no mês de julho, juntamente com o festival cultural
Juabense; Festividade de Nossa Senhora da Piedade, realizada na comunidade Nossa Senhora
da Piedade, no final do mês de agosto e no início de setembro; e no mês de outubro a
tradicional festividade de Nossa Senhora do Rosário, com mais de 100 anos de veneração.
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para obter renda. Resultando no aumento da escassez do pescado para os ribeiros locais da
comunidade e por consequência disto, muitas famílias passaram a desenvolver outras formas
de sobrevivência.
As maiores fontes de renda das famílias da comunidade são a produção da farinha e
também benefícios como aposentadoria, bolsa família e seguro defeso. Dessa forma, a
economia tem sua base no cultivo da mandioca, sua principal atividade agrícola, a qual os
roceiros locais extraem uma determinada quantidade em forma de farinha para o próprio
consumo, sendo que o pequeno excedente é comercializado na feira da vila de Juaba. A
economia desde o século XIX até a primeira metade do século XX, esteve voltada para as
atividades extrativistas como: a coleta do cacau, da ucuúba, e da andiroba, latéx de
seringueira, além do plantio de mandioca, de arroz e milho. Já nos dias de hoje, o estado e a
prefeitura, tem sido o maior empregador dos Juabense, porém, a maior parte da população
vive da pesca ou desenvolve uma agriculta.
A feira de Juaba, pequeno polo de intercâmbio comercial entre a povoação de Juaba
e outras localidades vizinhas, que ocorre toda manhã, porém culturalmente em abundância
nos domingos, já apresenta uma diversidade de produtos orgânicos das suas próprias
comunidades, seja de origem animal ou vegetal, em menor quantidade. As galinhas caipiras
dão espaço as galinhas das granjas, de forma que esta tem sido uma das preferidas dos
campesinos, ou seja, a cultura tem sido modificada, por influência das forças ideológicas das
mídias e meio de comunicação, que desvalorizam a produção local e incentivam a produção
capitalistas dos grandes mercados. E não é apenas as galinhas, as carnes suínas e bovinas têm
sido trocadas pelas salsichas, calabresas linguiças e carnes embutidas e enlatadas. O suco de
fruta regional tem sido trocado por refrigerantes e sucos sintéticos com quase 0% de
nutrientes, e em sua maioria feito de conservantes, aromatizantes e corantes feitos em
laboratórios.
Por ser uma região ribeirinha, os hábitos alimentares destes sujeitos estão vinculados
diretamente com as características do meio ambiente, seja ribeirinho, de várzea e terra firme.
Isto é, os alimentos mais consumidos nas comunidades do distrito de Juaba são, o pescado:
Mapará, Tucunaré, Pescada, Branquinha, Caratinga, dentre outros, bem como, açaí, farinha
de mandioca, carnes de boi, porco e frango e das carnes salgadas de jacaré, camarão e peixe.
A maioria destes alimentos são compradas na sede da cidade, com exceção de algumas
hortaliças e das frutas, que ainda são cultivadas pelas famílias, sem o uso de agrotóxico.
Porém os alimentos adquiridos no mercado como as hortaliças (tomate, cebola, pimentão e
batata), nem todos são isentos de produtos químicos.
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Em se tratando de saúde, na vila de Juaba há uma unidade de saúde, que atende tanto
os habitantes da vila quanto os da localidade vizinhas, onde são realizadas atividades como:
vacinação, curativo, suturas e acompanhamento de hipertensos e grávidas. Porém as
condições materiais, estruturais, de medicamentos e de médicos deixam a desejar. Em
recorrência dos fatores acima mencionado, é comum a falta de materiais, medicamentos e
médicos, com isso os profissionais que ali estão se esforçam para atender a população nessas
condições.
Antigamente não existia médico na vila, o jeito era contar com as curandeiras, e as
parteiras, que também eram parte importante naquela época, pois eram elas que faziam os
partos das mulheres. Hoje já não existem mais tantas pessoas consideradas parteiras e
curandeiras como antigamente, devido às pessoas não se organizarem para manter este
conhecimento popular que deveria ser mantido de geração para geração.
Com o decorrer do tempo as coisas melhoraram um pouco com a construção do posto
e contratação de enfermeiro. Mas ainda hoje a população sofre com descaso por parte do
poder público, que não investe na saúde. Os médicos que vem da cidade para o posto de
saúde, atuam uma ou duas vezes por semana e só pela manhã. O posto tem que atender todo
o distrito da vila, com isso ele fica sobrecarregado fazendo que muitos pacientes tenham que
se descolar para Cametá botando suas vidas em risco.
Com a baixa frequência dos médicos, na ausência deles, os funcionários
responsáveis pelo posto dizem enfrentar sérios problemas com a população, que se dirige ao
posto em busca de medicamentos que não tem condições de comprar. De modo geral, além
da ausência de médicos, a população local convive com a constante falta de medicamentos
e materiais básicos de primeiros socorros, agora a vila já conta com duas ambulâncias.
Neste ano, a epidemia de malária afetou muitos moradores do distrito, afetando
também seus estudos e trabalhos. O que gerou uma certa calamidade no posto, pois, todos
contaminados por malária das comunidades vizinhas, se deslocavam para o mesmo posto de
Juaba. Outras epidemias comuns são as viroses, principalmente em período de transição e
clima, assim como a conjuntivite, catapora, e este ano com o aparecimento da caxumba.
Sobre tudo isso que falamos sobre esse território, Miguel Arroyo (2007), nos traz uma
análise que reflete essa realidade,
Porém isso não significa que não haja adultos ou idosos do campo com ensino médio
ou superior, assim como não significa que não haja jovens com falhas de alfabetização ou
com o ensino fundamental incompleto, na tentativa de ofertar um direito de todos a educação
temos a modalidade de Educação de Jovens e Adultos, que no Juaba é ofertada na escola
professor Orvácio de Carvalho, que recebe os jovens e adultos da 1ª e 2ª etapa referentes ao
nível fundamental, do distrito que tiveram seus estudos interrompidos por diversos motivos.
Não há uma instituição que ofereça serviço de creche para crianças de 0 a 2 anos. As
crianças de 3 a 11 anos são atendidos na EMEIF João Moraes, que fica na vila de Juaba,
assim as crianças que moram ali percorrem uma pequena distância para chegar a escola, pois
quase todas as comunidades vizinhas têm escola de ensino fundamental pelo ao menos até o
5º ano o que evita o deslocamento dos alunos dessa faixa etária para estudar na vila. Para o
ensino fundamental séries finais a realidade é outra, pois nem todas as comunidades vizinhas
de Juaba ofertam esses anos escolares, dessa forma a escola professor Orvácio de Carvalho
recebe alunos de aproximadamente 18 comunidades, tanto ribeirinhas quanto de várzea e
terra firme, sendo que há alunos que gastam desde 10 minutos a 1 hora de tempo para chegar
a escola.
24
Até ano passado essa realidade não era diferente para os alunos que estudam o ensino
médio, pois só havia sistema modular de ensino na vila de Juaba, assim os alunos se
deslocavam de suas comunidades até a escola, e pela qualidade de ensino muitas pessoas
preferiam estudar em Cametá, mas neste ano se conquistou o ensino médio regular,
melhorando as condições do ensino médio. Já os alunos do ensino superior, que para alcançar
seus sonhos se deslocam diariamente para alguma cidade, 95% desses alunos estudam em
Cametá, por estar a 40 minutos de Juaba, seja para estudar em universidades particulares ou
públicas.
É e tem sido há tempos, o sistema que vem ditando que esses sujeitos, principalmente
do campo, a estudarem “só até o ensino médio e fazer um curso técnico e profissionalizante
e tá tudo certo”, “não vá para as universidades, lá não é seu lugar”, “só o trabalho dignifica
o homem”. Essas frases que venho escutando desde criança, e que o sistema reforça, quando
não oferece formação de professores de qualidade, pensadas para manipular não para educar,
quando precariza o trabalho do professor, quando é omisso na oferta de condições de
funcionamento adequado das escolas de educação básica, estou falando de escolas do campo
sem paredes, sem quadro, sem transporte escolar e sem alimentação escolar de qualidade e
suficiente.
Isto é, tanto manipulada por ideologias quanto pela falta de subsídios. Como é difícil
para o aluno do Campo entrar nas universidades, pois é, sua educação tem sido para afirmar
essa condição. Quando falamos dos cursos de educação do Campo, falamos de uma política
educacional que surgiu dessa necessidade, mas porque houve mobilização dos movimentos
sociais, ninguém ofereceu naturalmente um curso para nossos povos. É a nossa porta de
direito para alcançar um conhecimento que nós também queremos ter, formamo-nos para
formar outros mais que comunguem da reflexão social.
Fazer o RP na escola do Campo, analisando tantas problemáticas assim, nos fez ver
como estamos nos construímos como educadores do Campo, quantos desafios temos que
transformar em aulas para formar sujeitos emancipados, o RP mostrou que é difícil, porém
que é possível.
O núcleo de residência do curso de educação o campo, a escola municipal de ensino
fundamental Profº. Orvácio Gomes de Carvalho, que atende do 6º ao 9° ano do ensino
fundamental e 3ª e 4ª etapa da EJA. No ano de 2018 obteve um total de 430 matrículas que
estão distribuídas em 18 turmas, sendo 117 alunos no 6° ano, 94 alunos no 7° ano, 79 alunos
no 8° ano, 61 alunos no 9° ano, 34 alunos na 3° etapa e 35 alunos matriculados na 4° etapa.
A escola atende várias comunidades vizinhas, como as seguintes comunidades,
ribeirinhas: Rio Tem Tem, Pacovatuba, Ilha Grande de Juaba, Caripí, Beira da Várzea, Ilha
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Sobral, Tabatinga Boca, Ilha Caciri, Ilha dos Portilhos; Terra firme: Matias, Santa Maria do
Cupjó, Tomásia e Tapocu. Pois o acesso à escola ainda é uma necessidade de muitas
comunidades, que por não disponibilizarem de escola, precisam se deslocar para outras
localidades. Conforme Antunes-Rocha et al (2012), os dados governamentais sobre a
educação brasileira têm mostrado que as ações governamentais têm sido insuficientes para
superar o quadro de marginalização e exclusão dos camponeses do acesso à educação
escolar.
A escola não apresenta um Projeto Político Pedagógico, o que dificulta uma
caracterização mais clara dos objetivos da mesma, pois funciona de acordo com um plano
que não condiz com os desafios que são próprios da escola, por isso se perde esse vínculo
com o real. A escola adapta seu plano de trabalho anual do plano disposto pela Secretaria
municipal de educação-SEMED, pelo que observamos e também pelo que foi dito, este plano
da apresenta muitas ações pertinentes, porém a dificuldade é tirar isso do papel, isto é,
realmente praticá-los. A primeira parte do planejamento é feito em janeiro, avaliado em
Agosto e só assim é feito outro para o último semestre.
A escola tem 21 professores, tanto concursados, como efetivados, destes apenas 4
foram preceptores no RP. Dentre os professores a maioria mora na Vila de Juaba, e todos
apresentam curso superior, porém em relação a formação continuada logo se vê que não são
todos que tem feito atualmente.
A escola tem um problema na relação com as famílias dos alunos, isto é, não
consegue manter uma comunicação e uma participação constante dos mesmos na escola. Na
tentativa de melhorar essa relação, a escola realiza eventos mensalmente, principalmente a
semana da família, realizada anualmente, onde as famílias vêm até a escola tem a
oportunidade de conhecer como está se dando os estudos de seus filhos, mas a maioria não
vem. Quando perguntamos sobre isso ao coordenador pedagógico ele nos disse que por isso
a escola vai até a casa das famílias, mas não os encontra porque estão trabalhando ou
viajando, o que dificulta essa interação necessária.
para fazer os pais se sentirem parte da escola. Esses pais em sua maioria não completaram o
ensino fundamental, talvez escola para eles não represente um espaço que possa ser
receptivo. Porém é necessário que a família seja presente nas questões educacionais da
escola, pois dizem respeito aos seus filhos.
Segundo o coordenador pedagógico em vigência no ano de 2018, quando iniciamos
o projeto na escola, outros dois grandes desafios para a gestão escolar tem sido o transporte
e a merenda escolar. Haja vista que os dois são primordiais, porém nem sempre estão como
deveriam estar, já que o transporte só é garantido 8 meses, o que exige a aceleração das
aulas, e a merenda escolar fornecida é insuficiente e mal planejada. Os dois são de suma
importância porque sem transporte como o aluno vai à escola, e sem merenda o que o aluno
que não comeu em casa vai se alimentar. Arroyo (2007) afirma que a desestruturação das
escolas do campo faz parte da desconstrução da cultura do campo, tudo parte da
intencionalidade do paradigma urbano.
Os alunos dependem de dois meios de transportes, um terrestre para as comunidades
de terra firme, e um aquático para os ribeirinhos, porém os que moram na terra firme andam
de transporte próprio, apenas os ribeirinhos que disponibilizam de transporte do tipo lancha
ou barco. Nesse último semestre do ano letivo, acompanhamos de perto o drama dos
barqueiros, que ameaçavam paralisação caso não fossem pagos, a direção, através de diálogo
conseguiu resolver, porém é um assunto que ainda não acabou. Principalmente no horário
da manhã, percebemos que se não há transporte as turmas ficam quase vazias, pois a maioria
são das comunidades vizinhas.
A alimentação escolar, que deveria ser mensal supre a necessidade de no máximo 3
semanas, isso com o esforço do corpo escolar, que se esforçam o máximo possível para fazer
render a alimentação, que apesar do cardápio ser escolhida por uma nutricionista, são
porções desproporcionais, ou seja, por exemplo, as vezes vem muitos pacotes de arroz e
verduras, porém não vem a proteína, então a única solução é fazer mingau.
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Assim no geral, foi uma essa experiência melhor que o estágio, que a gente teve
mais tempo, um período mais longo na escola, onde a gente teve uma vivência
maior na escola, de conhecer como funciona, tanto com os professores, os alunos,
a parte administrativa da escola. Então a gente teve um conhecimento de que é
uma escola, uma sala de aula, como a gente vai atuar como professor. (Rafaela
Moia, turma de Cametá-2016)
Por isso, o projeto do RP é dividido em fases: a começar pelo contato com escolas
públicas parceiras que se tornariam núcleo residente; a segunda fase é o processo de
ambientação com carga horária de sessenta horas, onde temos o contato com alunos e
professores e de fato vamos nos ambientando; a terceira fase é denominada imersão, onde
supõe – se que, os residentes já ambientados, passam a viver mais profundamente a vida
escolar, seja nos eventos e principalmente nas regências, desenvolvendo o plano de ação
com intervenções necessárias; por fim, não menos importante a fase de avalição, onde os
residentes entregaram o relatório final, e juntamente com a coordenação e os preceptores
fizeram as avaliações a respeito de tudo que ocorreu ao longo do projeto.
30
O primeiro objetivo do Programa residência pedagógica visa por meio de projetos dos
cursos de das Instituições de Ensino Superior (IES), alargar o campo da prática, propiciando
a interação teoria e prática ao professor residente, utilizando de vários aparatos
metodológicos e didáticos, como coleta de dados e diagnóstico do contexto educacional.
Tudo isso em prol do aperfeiçoamento dos discentes dos cursos de licenciatura, uma vez que
atuarão nas inúmeras escolas da educação básica futuramente, necessitando por esse viés,
estarem devidamente qualificados.
Nesse sentido, no Campus do Tocantins Cametá, as faculdades de licenciaturas,
Faculdade de Educação, Faculdade de Letras, Faculdade de Educação do Campo e Faculdade
de Matemática, desenvolveram seus respectivos subprojetos, de acordo com a perspectiva
das atribuições de cada área de Formação. O que possibilitou para além das experiências
práticas vivenciadas pelos discentes-residentes de cada curso, um repensar dos próprios
currículos dos cursos e a forma como tem sido feita, principalmente quando se fala de estágio.
Pois há muito tempo que se tem travado um debate árduo acerca da relação teoria e
pratica na formação inicial de professores, no que tange a dificuldade de entender essa relação
como integração, e não como complemento, ou ainda, como fatores indissociáveis.
Durante a residência, os levantamentos de dados, diagnoses de ensino e
aprendizagem, propuseram experienciar a teoria e a prática como parceiras, ou seja, por conta
da demanda exigida no pensar/construir os trabalhos na escola, foi necessária uma
concomitância teoria/pratica, para dar conta de problematizar de forma profissional a escola,
o que muitos autores como Freire (2016) chamam de práxis.
O segundo objetivo apresenta a experiência da residência pedagógica como uma
intervenção para induzir a reformulação do estágio supervisionado nos cursos de licenciatura,
já que aponta fases mais elaboradas e longas, com acompanhamento intensivo os professores
formadores.
Os cursos de licenciaturas, há muito tempo tem sido criticado pelas formas como
desenvolvem seus estágios e no impacto de suas falhas da questão teórica e prática na
formação dos egressos de seus cursos, vistos como uma deficiência formativa que reflete
diretamente nas escolas. E essa análise é comum entre os próprios discentes e docentes da
graduação. Porém ainda não foram repensadas formas de melhorar o estágio, ainda mais de
reformulá-los (PIMENTA E LIMA, 2011).
O RP, procura também através de sus estratégias instigar a reformulação do estágio
supervisionado das licenciaturas, um dos fatores que poderia contribuir para o avanço dos
estágios seria um acompanhamento mais regular e próximo dos estagiários por parte dos
31
A formação de professores é um tema que nunca se esgota, pois, em todo ano letivo
é uma questão debatida, a cada estágio obrigatório realizado nas escolas é pautado pelas
pesquisas acadêmicas, além de que, é comum o fracasso escolar ser indiscriminadamente
associado a formação de professores, seja ela inicial ou continuada. É nesse sentido que
falamos também da disponibilidade e oferta de formações que sanem essa dificuldade.
Quando pensamos a educação do campo, vimos que é ainda mais precarizada pela
falta de políticas de formação que sejam realmente de acordo com a territorialidade dos
sujeitos do campo. Isto é, os cursos de formação de professores em sua maioria
desconsideram em seus currículos as especificidades do trabalho educacional para formação
de sujeitos do campo. Daí a importância do curso de educação do campo, que visa formar
educadores de acordo com o campo que irão trabalhar, formando sujeitos emancipados.
O Programa Residência Pedagógica que ocorre na Universidade Federal do Pará, no
Campus do Tocantins Cametá, é a proposta pelo MEC e iniciada em 2018. Que tem sido
feito com os discentes dos Cursos de licenciatura. A UFPA/Campus Cametá tem o RP
desenvolvido por quatro faculdades.
Esse trabalho discorre a partir da experiência da Faculdade de Educação do Campo-
FECAMPO com o RP, que criou um projeto a partir do currículo e princípios do curso, que
teve como título: Os saberes da Etnociência e as práticas pedagógicas no ensino de Ciências
da Natureza nos anos finais do ensino fundamental, ensino médio e na modalidade EJA:
Contribuições para a formação permanente dos educadores do campo. E apresentava como
objetivo norteador: desenvolver atividades interdisciplinares considerando os saberes da
etnociência no ensino de Ciências da Natureza nos anos finais do Ensino Fundamental e na
modalidade EJA, e construir redes de aprendizagens colaborativa a partir das experiências
35
[...]
2.2.2 Na escola-campo, o residente será acompanhado por um professor da
educação básica, denominado preceptor.
2.2.3 A orientação do residente será realizada por um docente da IES, denominado
docente orientador.
2.2.4 A coordenação do Projeto Institucional de Residência Pedagógica será
realizada por um docente da IES, denominado Coordenador Institucional. [...]
Edital CAPES, 06/2018).
problemas na logística, outras porque a relação entre as instituições exigia um cuidado com
o calendário letivo da escola.
Concordamos com Costa e Fontoura (2015, p. 175) quando dizem que, a pesquisa do
modelo de inserção profissional docente, denominado Residência Pedagógica, nos revelou
que não é simples transformar as experiências individuais e coletivas em conhecimento
profissional. Estabelecer relações entre a formação de professores e os projetos educativos
das escolas torna-se indispensável ao se propor uma ação efetiva de formação docente.
Uma questão impar neste subprojeto foi a proposta interdisciplinar, pois o curso de
Educação do Campo funciona a partir de uma perspectiva interdisciplinar, visando o diálogo
com as áreas de conhecimento, para que o ensino seja uma análise o mais semelhante
possível do que se vive no dia a dia, isto é uma interação entre conhecimentos, como discuti
Silva (2017). Dessa forma, esses residentes atuariam nas diversas áreas, de acordo com as
distribuições nas salas de aula. O que exigiria uma expertise maior dos residentes, que não
só mais atuariam em Ciências da Natureza, mas também, em Matemática, Linguagens e
Ciências Humanas, constituiu-se como um desafio, conforme revela os depoimentos
apontam que:
Ministrar aula em disciplinas que não são especificas da área de ciências, além é
claro do desafio de conciliar meus estudos e o programa residência pedagógica.
(Raiane Costa, 32 anos, Residente da turma de Cametá-2016).
Trabalhar com os alunos diversos, aula com assuntos diferentes sobre determinada
área, ou seja ser flexível e interdisciplinar. (Alan Gonçalves, 24 anos, Residente da
turma de Cametá-2016).
De fato, um desafio, mas que possibilitou, pensar todas essas áreas de conhecimento
a partir do olhar da Educação do Campo, e como poderíamos dialogar os conhecimentos
interdisciplinares. Até para os próprios alunos da escola foi diferente, pois já estavam
habituados ao modelo disciplinar. Era comum ouvir dos alunos uma pergunta, “professora a
senhora não é professora de ciências? Como vai dar aula de Português? ”. Então tínhamos
que explicar o porquê de atuarmos em diferentes competências, nem sempre eles entendiam,
mais iniciavam a percepção do que viria a ser.
Trabalhar com a interdisciplinaridade, significa pensar fora da “caixinha” que sempre
somos induzidos a pensar, e que nos ensinaram desde a educação infantil, que penso que
tenha tornado ainda mais complicado o aprendizado. Também vivemos um pouco da
vantagem do ensino multisseriado, onde o aluno estudava junto com alunos de todas as
séries, e isso lhe dava a vantagem de ir logo introduzindo o ensino que estava por vir. Assim
os residentes, vivenciaram os conhecimentos de outras competências, que nos possibilitaram
38
aprender mais do que as nossas áreas de conhecimento nos proporcionam, e poder ser mais
completo, no sentido de conhecer mais sobre as diferentes áreas.
Os residentes foram distribuídos na escola segundo os acordos do subprojeto da
faculdade, que redistribuiu os alunos de acordo com um horário que não coincidisse com o
horário de aula. Como o subprojeto contava com 22 bolsistas da turma de educação do
Campo-2016, que tem aula no período da manhã- extensivo, estes bolsistas se deslocavam
para a escola no período vespertino. Ainda assim, foi cansativo para estes, que quase sempre
saiam da aula, almoçavam e pegavam o ônibus até o Juaba. Sobre essas questões podemos
entender a partir das falas de alguns residentes:
Um dos desafios é ir à escola toda semana, pois se torna muito cansativo estudar
pela manhã e sair da aula diretamente para viajar pra escola. (Gabriela Serrão, 28
anos, Residente da turma de Cametá-2016).
Com o programa a escola pode ter uma nova visão do que seja a educação em uma
escola do campo, e o quão importante é valorizar o cotidiano dos alunos (Carlos
Souza, 23 anos, turma de Cametá-2016).
40
Essa aproximação entre a EMEF Orvácio Gomes de Carvalho e a UFPA por meio da
Faculdade de Educação do Campo, ao mesmo tempo que contribuiu para a formação dos
estudantes de educação do Campo, contribuiu também com a formação continuada dos
professores da escola.
Creio que sim. O PRP nos convida para uma reflexão acerca da docência. A
presença dos residentes em sala de aula, de certa forma, contribuiu para que nossa
prática docente fosse “sacudida”, e assim observar melhor os eventuais “erros” e
“acertos”. Também o programa que com professores e residentes trocarem
experiências, principalmente na necessidade de efetivarmos, de fato, nosso olhar
sobre a escola do campo, com materiais e métodos próprios. (Preceptor 1, 44 anos,
professor de Língua Portuguesa).
Nessa relação próxima do residente com o chão da escola, desperta neste uma
reflexão sobre se de fato quer ser um professor do campo, uma vez que diante de tantas
adversidades, ser professor do Campo exige comprometimento e principalmente querer estar
envolvido com o campo de atuação. Para que assim, ensinar e aprender seja bom para o
professor e para o aluno, pautando metodologias dialógicas.
O residente não estava sozinho na sala de aula, também com ele estava o professor
(a), que em suma o orientava e auxiliava para melhor andamento da aula, compartilhando
experiências. Essa relação ocorria de acordo com a forma como os estes foram construindo,
como apontam os residentes,
Em se tratando dos professores, logo no começo foi uma barreira, parece assim
que eles pensavam que a gente ia tomar o lugar deles, precisava melhorar o
diálogo, houve um afastamento entre a gente, que chegou uma hora que eu percebi
que precisava me aproximar, porque já estávamos lá a mais de sete meses. (Camila
Borges, 24 anos, Residente da turma de Cametá-2016).
Pois nos proporcionou um contato com uma escola rural, onde primeiro tivemos
que conhecer a comunidade, a realidade dos estudantes, as culturas agrícolas, as
culturas religiosas. Toda essa compreensão tanto da escola quanto da comunidade,
possibilitou relacionar os conteúdos com os saberes locais. (Lara Moura, 25 anos,
turma de Limoeiro do Ajurú-2015).
único dilema referente as relações dos alunos é segregação por gênero, pois é comum os
homens sentarem-se em grupos atrás e as meninas agrupadas a frente da sala. São poucos os
alunos que não se sentem à vontade para o diálogo, a maioria entra na dinâmica.
Uma barreira na efetivação do ensino-aprendizagem tem sido o fato dos professores
ainda não conseguirem relacionar suas aulas com a realidade vivida pelos alunos na
comunidade, e avançar na integração de todos os alunos acerca da compreensão que se quer
ensinar, ainda mais quando o aluno apresenta dificuldades na leitura e escrita.
Assim, elencamos que nem todos os professores conseguem relacionar seus
conteúdos com a realidade dos alunos, tendo como a justificativa de que a maioria dos
docentes não serem da vila de Juaba, tendo em vista que a escola está situada em uma região
que possuir traços da cultura quilombola. Para além de uma educação transformadora é
importante fazer uma reflexão acerca da educação do campo, já que os professores ainda não
conhecem a perspectiva de uma educação diferenciada e libertadora. Como nos diz Freire:
A grande tarefa do sujeito que pensa certo não é transferir, depositar, oferecer,
doar ao outro, tomado como paciente de seu pensar, a inteligibilidade das coisas,
dos fatos, dos conceitos. A tarefa coerente do educador que pensa certo é,
exercendo como ser humano a irrecusável prática de inteligir, desafiar o educando
com quem se comunica e a quem comunica, produzir sua compreensão do que
vem sendo comunicado. Não há inteligibilidade que não seja comunicação e
intercomunicação e que não se funde na dialogicidade. O que é essencial para que
os sujeitos recebam uma educação a partir da sua realidade, promovendo a quebra
do paradigma da educação. (FREIRE 1996, p. 21).
nas séries iniciais, isto é durante o processo de alfabetização, mais a essa altura implica em
muitas questões, como a vergonha que o aluno tem de não saber ler e nem escrever, nas
dúvidas dos docentes do que fazer. O problema é que nada tem sido feito, e o aluno continua
na mesma.
O que se vê é uma tentativa de superar os métodos tradicionais nas práticas
educativas, no entanto, parece que as falhas formativas e materiais petrificam um avanço nas
formas de educar. Por isso é comum que ora se veja uma certa dinamicidade e outrora antigas
ações tradicionais. Os desafios maiores em relação a isso, são mais marcantes nas disciplinas
de exatas, devido a uma falta de perspectiva que estas também podem ser flexibilizadas.
Outra questão é a rotina cansativa dos professores, que na tentativa de completar uma
carga horaria maior acabam se sobrecarregando, ou seja, estes trabalham nos dois ou três
turnos, da manhã, tarde e noite. Isso influencia no planejamento e na qualidade da aula, pois
as aulas nem sempre são elaboradas com cuidado, e o professor por estar cansado pouco
consegue dedicar seu melhor para educar.
Nesse contexto, Paulo Freire (2016), defende uma educação emancipadora com
âncoras nas práxis educativas. Portanto, a partir de uma educação reflexiva busca-se
proporcionar aos alunos uma prática crítica, dinâmica e participativa a qual venha contribuir
para formação social, no processo educativo entre educador e educando, sendo este o
planejamento da EMEF. Profº. Orvácio Gomes de Carvalho nas suas práticas pedagógicas.
O processo de ambientação nos proporcionou o viver a escola, por conseguinte os
desafios discentes e docentes. Mais o que marcou foi poder estar em todas as aulas seja de
qual área for, e poder enxergar uma interdisciplinaridade possível. E trazer também uma
consciência liberta das amarras históricas que a sociedade construiu e que precisam ser
desconstruídas, essa ânsia por emancipação é vista nos alunos quando indagam as questões
políticas, históricas e sociais que os conteúdos apresentam, os alunos têm a curiosidade
epistemológica que Freire tanto fala, porém talvez ainda falte a autonomia do professor de
ao aprender, ensinar o que ainda é velado. Eis um fator falho na nova Base Nacional Comum
Curricular, a parte de pensar e criticar a realidade foi ignorada em suas novas proposições.
Esse processo foi o ponto de partida para uma caminhada cheia de pesquisas, que
almejam conhecer os desafios educacionais e só assim propormos ações elaboradas para
contribuir na construção da educação do campo que nos é de direito. Como diz Michelotti e
Pereira (2012), a construção do conhecimento científico tem a realidade como ponto de
partida, análises e sínteses necessárias para uma tentativa de reconstrução da realidade em
sua totalidade.
46
mostra a beleza das interações entre as áreas de conhecimento e realidade social, de fato
nessa fase do programa aprendemos muito.
Onde se vive um dilema, de praticar durante nossas regências um ensino
diferenciado, dialógico e interdisciplinar, ou seguir aquele modelo de ensino monótono,
apenas do livro didático e da lousa. Sem dúvida, quando se fala em prática pedagógica, esse
é um grande desafio, de escolher seguir as concepções que aprendeu na academia desafiando
a realidade, ou se encaixar na realidade do ensinar por ensinar. Como bem podemos ver na
fala de dois residentes:
Quando pensamos nisso parece um caminho sem volta, que se construiu assim por
motivos aparentes. Porém, quando se pensa a imersão dos professores na escola, há que se
refletir como ocorreu, se diante deste mesmo dilema, coagidos pela falta de apoio material e
profissional, optaram pela prática do ensinar por ensinar. Pensemos também na falta de
formação continuada para professores, que de fato agregue saberes significantes às suas
metodologias.
Foi durante a imersão que realmente conseguimos assumir os desafios de um
professor, desde a preparação da aula, realizando a viagem de 28 km de Cametá até a vila
de Juaba, como dois professores preceptores, que fazem esse trajeto rotineiramente, até ouvir
o som da sirene anunciando a primeira aula, e no momento que colocamos os pés na sala de
aula, saudamos e somos saudados pelos alunos. Eles fazem tantas perguntas, mais sobre as
nossas vidas do que sobre o assunto da aula, com o passar do tempo acaba a vergonha dos
alunos e eles começam a bagunçar mais, a gente já tem que ter mais uma preocupação com
a organização em sala de aula. Sobre as contribuições do RP para nossa formação um
residente diz que: “Contribuiu, pois com o Residência pude sentir na pele o que é ser um
educador do Campo, e vê as dificuldades desses educadores”. (Mário David, 26 anos,
Residente da turma de Cametá-2016).
É nas aulas que confirmamos que nunca estaremos prontos, e saberemos de tudo,
mas sim que nosso estudo é contínuo, devemos sempre estudar para poder dar aula. No caso
da residência, precisávamos estudar mais ainda, uma vez que realizamos regências em todas
49
Acredito que se tornou muito importante, pois nota-se na fala de alguns alunos,
que alguns professores mudaram para melhor sua prática de ensino, com isso
vemos a importância do programa na escola. (Mário David, 26 anos, Residente da
turma de Cametá-2016.
bastante rica, para todos nós, para a professora preceptora, por ser algo diferente na aula
dela, para os alunos por poder tocar nas rochas e não mais só vê-las nos livros, para mim por
não ter tido essa oportunidade de estudar rochas de uma forma tão concreta, não abstrata
como estávamos acostumados.
Figura 2: Participação dos alunos na regência Figura 3: Regência na escola Orvácio Gomes de
Carvalho
Nas outras aulas sempre fazia algo para aguçar a curiosidade dos alunos, como na
segunda aula, onde apresentei por meio de uma maquete como funciona um vulcão,
utilizando os conhecimentos de ácido-base aprendidos na universidade, para explicar os
fenômenos dos vulcões. Já na terceira aula, falamos sobre o solo, onde a proposta para os
alunos foi coletar uma amostra do seu quintal (terreiro), para fazermos uma simples
classificação de solos arenosos, argilosos e humíferos, através das características estudadas.
Essa foi uma estratégia para trazer os elementos de uma aula de Campo, tão necessária, mas
complicada de se desenvolver. Foi por meio dessas amostras coletadas que conseguimos
fazer um diálogo sobre a realidade dos alunos, para que eles pudessem fazer essa relação
conteúdo-realidade.
As relações sociais irão apontar os conhecimentos escolares, os procedimentos
didáticos, os tempos e espaços necessários, próprios e adequados para cada
vivência na perspectiva de tornar mais densa a formação humana, ou seja, a
internalização de conhecimento e produção de novas relações na vida dos sujeitos,
que nessa prática atribuem novo sentido à escola. (GEHRKE, 2010, P.171).
51
O que de fato nos aproximou mais dos alunos e possibilitou esse ensino-
aprendizagem mais interessante, algo que foi marcante nas aulas eram os olhos arregalados
e os pescoços que se esticavam para dar atenção quando falávamos das plantações, dos tipos
de culturas e solos adequados para cada uma. Esse comportamento aparentava interesse
sobre algo que lhes pertencia e do qual eles tinham conhecimento.
Na verdade, houve uma troca de conhecimentos entre preceptores e residentes,
porque a residente também aprendia com os preceptores, que sempre orientavam como lidar
com os alunos, como organizar o conteúdo naquela aula. Pois, os residentes com pouca
experiência em sala de aula, as vezes tinham dúvida de como organizar alguns conteúdos,
dizendo se estava incompleto ou em excesso algum conceito, principalmente da área de
linguagens e matemática.
Além das intervenções indiretas como essas citadas acima, foram realizadas ações
mais diretas, como as residentes da manhã, que através do tema Alimentação saudável
desenvolveram aulas de ciências, trabalharam o conteúdo: Alimentos e Sistema Digestório
Humano, voltados para a realidade da cultura alimentar da Vila de Juaba, isto é, seus
alimentos mais comuns, proteínas e vitaminas presentes nestes.
Essa foi uma intervenção pensada para a problemática alimentar diagnosticada no
levantamento sobre a comunidade e a escola, pois logo percebemos que os alimentos locais
estão sendo trocados pelos industrializados dos supermercados, e que isso tem afetado a
saúde da Comunidade, que a cada dia vem estando mais doente. Na escola, é comum na hora
do intervalo, ver os alunos consumido corriqueiramente alimentos como refrigerantes,
salgados e pipocas, na comunidade os adultos tem adoecido mais cedo, pela troca dos
alimentos orgânicos por enlatados e embutidos.
Sendo assim, percebemos a necessidade de trabalhar isso com os alunos, para além
das aulas desenvolvemos um Livro de histórias em quadrinhos, contando no início um pouco
da história da Vila de Juaba, trabalhando a problematização do Contexto, em seguida
dinamizamos uma história em quadrinhos, discutindo essa troca de alimentos saudáveis por
alimentos não saudáveis que ocorre na comunidade, no final trouxemos um pouco de
informações sobre as vitaminas presentes em frutas locais, como a manga, tucumã, açaí,
cacau e ingá. Como podemos ver na imagem abaixo:
Figura 4: Livro de histórias em quadrinhos construído pelos residentes.
52
Dos residentes da tarde, era comum ver os elementos da educação do campo, como
trabalhar os conteúdos por meio de mandalas, místicas e roda de conversa. Tais práticas eram
significativas para pensar uma educação pautada nos princípios da educação do Campo,
pelas quais exercitamos a formação que recebemos no curso, além de que é uma forma de
despertar uma problematização social a partir das realidades doa alunos, provocando que
estes critiquem o que os cerca.
O maior desafio é o tempo que temos para elaborar dinâmica para os alunos. (Luis
Menezes, 32 anos, Residente da turma de Cametá-2016).
O 1º desafio era para chegar na escola por causa da distância; o segundo era ensinar
os alunos da melhor forma para que conseguissem compreender o assunto, essa
dúvida sempre me deixava nervosa. Porém depois de algumas vezes de regência já
53
me senti segura e assim observei rendimento na minha didática, e que alguns alunos
já conseguiam maior compreensão dos conteúdos estudados. (Lara Moura, 25 anos,
turma de Limoeiro do Ajurú-2015)
Muito maior que os desafios enfrentados, sendo que esses fazem parte da vida do
professor do campo são as experiências construídas ao longo desses processos, fazemos essa
análise a partir da visão dos residentes, que quando perguntamos se o RP contribuiu para sua
formação disseram que:
Sim, pois pude observar a partir do contexto escolar, quanto na prática as coisas
mudam, mas agradeço ao programa e acredito que essa experiência só veio
enriquecer e contribuir para a minha vida educacional e profissional. Me
aproximou do meu ambiente de atuação e me fez viver e mostrar na prática o que
tenho aprendido em meu curso. (Alan Gonçalves, 24 anos, residente da turma de
Cametá-2016).
a participar dos seus processos, e além disso, é onde os profissionais aprimoram sua
formação, sendo por isso um espaço educativo.
Sobre a construção de nossas identidades centradas na relação com o contexto
escolar, é importante registrar ainda, a essência desse contato direto diariamente com os
alunos, que vai nos moldando como professores que seremos. Uma dentre tantas
experiências, foi poder dar aula para um aluno deficiência múltipla (com paralisia cerebral,
estrabismo), experiências únicas, que muito já nos ensinaram nesse período de tempo. Pois
é uma experiência que nos impulsiona na busca por ser um profissional consciente e
motivado em aprender a lidar com desafios pedagógicos.
Caldart (2009), nos traz uma reflexão muito importante no campo da identidade,
apresentando o papel da escola na formação das identidades, no sentido de cultivar um olhar
de si mesmo nos sujeitos que ali vivem, sobre o que querem ser, ter orgulho disso, de saber
que é sujeito do campo, sua cultura, seu povo. Isso perpassa por um trabalho de cultivo, de
três aspectos: autoestima; memória e resistência cultural; e militância social. Quando
falamos isso, nos referimos a todos, professores, alunos e residentes. Pois, durante o período
que vivemos a escola, não observamos apenas as mudanças nas nossas identidades, mas
como também na identidade dos professores e alunos da escola, o que impactou nossa
atuação e consequentemente nossa formação. A mesma autora diz que:
As identidades se formam nos processos sociais. O papel da obra será tanto mais
significativo se ela estiver em sintonia com os processos sociais vivenciados pelos
seus educandos e educadores, e se ela mesma consegue se constituir com um
processo social, cumprindo a tarefa da socialização de que tratamos antes, capaz
de ajudar a construir e fortalecer identidades. (CALDART, 2009, P. 26).
Para que fosse possível inspirar identidades, os próprios residentes precisavam estar
seguros das suas próprias afirmações, enquanto sujeitos e educadores do Campo. Pois vê-se
que a evidente afirmação dessa identidade, instiga a construção da tão sonhada Educação do
Campo de que temos falado, que Arroyo (2007) e Caldart (2009) vem falando. E que o
Curso de Educação do Campo vem despertando em seus estudantes desde seu início. A
forma como o projeto do RP foi desenvolvido na escola do Campo, foi significativo para
pensar essa identidade e avançar no sentido de fortalecê-la.
56
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
CALDART, Roseli Salete. Educação do Campo: notas para uma análise de percurso.
Trab.Educ.Saúde,Rio de Janeiro, v.7 n. 1, p.35-64, mar/ jun. 2009
GIGLIO, Célia Maria Benedicto. Residência pedagógica como diálogo permanente entre
a formação inicial e continuada de professores. In: Dalben, Ângela Imaculada Loureiro
de Freitas, et al. Convergências e tensões no campo da formação e do trabalho docente
/– Belo Horizonte: Autêntica, 2010, p. 384 -403.
LIBÂNEO. José Carlos. Organização e Gestão da escola: teoria e prática. 5. Ed. Revista
e ampliada. Goiânia: Editora Alternativa, 2004.
MOLINA, Mônica Castagna & SÁ, Lais Mourão. Licenciatura em Educação do Campo.
IN: CALDART, Roseli Salete; PEREIRA, Isabel Brasil; ALENTEJANO, Paulo &
FRIGOTTO, Gaudêncio (Orgs.). Dicionário da Educação do Campo. Rio de Janeiro, São
Paulo: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, Expressão Popular, 2012.
PIMENTA, Selma Garrido; LIMA, Maria do Socorro Lucena. Estágio e Docência. São
Paulo: Cortez, 2011.
SENADO FEDERAL. Projeto de Lei n. 227. Brasília, 2007.
SILVA, Katia Augusta Curado Pinheiro da; CRUZ, Shirleide Pereira. A Residência
Pedagôgica na formação de professores: história, hegemonia e resistências. Momento:
diálogos em educação, E-ISSN 2316-3100, v. 27, n. 2, p. 227-247, mai./ago, 2018.
60
APÊNDICE A
Eu, _______________________________________________________________,
estou ciente que o projeto de pesquisa, pretende analisar as contribuições do Programa
Residência Pedagógica na formação inicial dos licenciandos em educação do campo do
campus do Tocantins –Cametá.
Também, tenho conhecimento dos objetivos específicos e dos procedimentos
metodológicos a serem desenvolvidos para consecução da pesquisa.
Como participante do estudo, estou ciente de que tenho plena liberdade para me
retirar, a qualquer tempo, sem que ocorra qualquer prejuízo pessoal e/ou profissional. Ainda,
fui informado (a) quanto a que a privacidade será garantida pelo sigilo quanto à identidade
e/ou informações danosas, uma vez que os resultados da pesquisa serão divulgados
periodicamente e ao seu término sem identificação dos participantes.
________________________________________
Assinatura
62
APÊNDICE B
Questionário-Professor
1. Nome: ______________________________________________________________
2. Formação: ____________________________________________________________
Instituição: _____________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
________________________________________________________________
14. Você mantém uma relação afetiva com seus alunos, isto é, uma boa relação?
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
________________________________________________________________
15. O que você faz quando encontra dificuldades para orientar seu aluno sobre um
determinado assunto?
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
________________________________________________________________
16. Durante o ano letivo você desenvolveu com seus alunos alguma aula de campo (locais
fora da escola) para observarem a realidade que os cerca ou na prática como algum fenômeno,
experiência e relações ocorrem?
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
________________________________________________________________
17. O Programa Residência Pedagógica tem contribuído com o seu trabalho na E.M.E.F.
Prof.º Orvácio Gomes de Carvalho? Justifique.
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
__________________________________________________________
18. O que mudou na E.M.E.F. Prof.º Orvácio Gomes de Carvalho com a implantação do
Programa Residência Pedagógica?
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_____________________________________________________________
64
APÊNDICE C
Questionário – Residente
Nome: _________________________________________________________________
Turma: _________________________________________________________
Sexo: [ ] Masculino [ ] Feminino Idade: ______________________
Local de moradia:
[ ] Comunidade: _______________________________________________________
[ ]Cidade: ____________________________________________________________
3.Em quais matérias você sente maior dificuldade para dar aula?
_________________________________________________________________________
___________________________________________________________________
4.Você utiliza recursos didáticos e dinâmicas? [ ] Sim [ ] Não. Se sim, você poderia dizer
quais utiliza?
_________________________________________________________________________
___________________________________________________________________
5.Você utiliza os princípios da educação do Campo no Programa Residência Pedagógica?
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
________________________________________________________________
6. Os conhecimentos adquiridos no Curso Educação do Campo dão subsídios suficientes para
seu bom desempenho no PRP?
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
________________________________________________________________
7.Como você organiza suas aulas?
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_____________________________________________________________
8.Quais os desafios você vivencia como Residente na E.M.E.F. Prof.º Orvácio Gomes de
Carvalho?
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_________________________________________________________________________
_____________________________________________________________
9.Você mantém uma relação amigável com os outros professores, isto é, uma boa
convivência?
65
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10. Qual a importância do Residência Pedagógica para a E.M.E.F. Prof.º Orvácio Gomes de
Carvalho?
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11. Sobre a sua experiência como residente, você vê isso como um diferencial na sua
formação inicial?
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12. O Programa Residência Pedagógica tem contribuído com a sua formação enquanto
educador do Campo? Se sim, de que forma?
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66
APÊNDICE D
1. Nome: ______________________________________________________________
2. Formação: ____________________________________________________________
Instituição: _____________________________________________________________
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________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
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11. Quais os pontos positivos dessa residência pedagógica?
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____________________________________________________________
12. Quais os pontos negativos dessa residência pedagógica?
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13. O Programa Residência Pedagógica tem contribuído com o seu trabalho na E.M.E.F.
Prof.º Orvácio Gomes de Carvalho? Justifique.
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14. O que mudou na E.M.E.F. Prof.º Orvácio Gomes de Carvalho com a implantação do
Programa Residência Pedagógica?
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68
ANEXO
69