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Cametá-PA
2019
DENISE DOS SANTOS SANTOS
Trabalho
de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de
Graduação em Letras, habilitação em Língua Portuguesa,
da Faculdade de Linguagem Língua Portuguesa, Campus
Universitário do Tocantins/Cametá, Universidade Federal
do Pará, como requisito parcial à obtenção do título de
Licenciado em Letras Língua Portuguesa.
Cametá-PA
2019
DENISE DOS SANTOS SANTOS
Banca Avaliadora
________________________________________________________
Prof. Dr. Doriedson do Socorro Rodrigues (Presidente e orientador)
Faculdade de Linguagem – Campus de Cametá - UFPA
_______________________________________________________
Prof. MSc. Sara Corrêa Dias (Avaliadora)
PPGEDUC - Campus de Cametá - UFPA
______________________________________________________
Prof. MSc. Ellen Rodrigues da Silva Miranda (Avaliadora)
PPGEDUC - Campus de Cametá - UFPA
Para Ana Sophie, a quem mais amo nesse mundo.
AGRADECIMENTOS
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 12
1. CAPITULO I. METAMORFOSES NO MUNDO DO TRABALHO E OS IMPACTOS NA
EDUCAÇÃO 16
1.1. O TRABALHO: CONSTITUIÇÃO DO SER SOCIAL AOS VALORES DE USO E DE TROCA E COMO
PRÁXIS
16
1.1.1. As Metamorfoses No Mundo Do Trabalho 19
1.1.2. As Transformações No Mundo Do Trabalho E As Questões Educacionais 22
1.1.3. O Contexto Histórico Da Educação Profissional No Brasil e o Ensino Médio 25
1.1.4. O Ensino Médio: Entre o Integrado e o Não Integrado 27
2. CAPÍTULO II. SABERES SOCIAIS E INTEGRAÇÃO NOS PROCESSOS
FORMATIVOS: A QUESTÃO DO CURRÍCULO, PROCEDIMENTOS DE ENSINO E
AVALIAÇÃO 33
2.1. Os Saberes Sociais e os Processos de Formação Humana 33
2.2. Ensino Médio e os Desafios de Uma Educação Que Integre os Sujeitos e Seus Diferentes Saberes
38
2.2.1. Currículo, Procedimento De Ensino E Avaliação Como Processo 40
2.2.2. A Integração Entre Currículo, Procedimento De Ensino E Avaliação 43
3. CAPITULO III. PROCESSOS FORMATIVOS DO SISTEMA MODULAR DE ENSINO:
NUMA PERSPECTIVA DE INTEGRAÇÃO E NÃO INTEGRAÇÃO 47
3.1. O Some No Estado Do Pará 47
3.1.1. O Some No Municipio De Cametá 48
3.2. A Afirmação e Negação Do Sistema Modular De Ensino: Perspectiva Docente e a Dos Jovens
Estudantes Trabalhadores Do Some 50
3.3. A Educação Do Campo Como Movimento De Inlusão 52
3.3.1. O Currículo Urbano Versus Currículo Do Campo 53
3. 4. A Difícil Permanência Da Juventude Na Escola Da Zona Rural 57
3.5. O Some Como Protagonista Na Vida Da Juventude Do Baixo Tocantins 60
3.6. A Prática Social Do Ensino Médio Modular 61
CONSIDERAÇÕES FINAIS 63
REFERENCIAS 65
12
INTRODUÇÃO
O presente trabalho é resultado do projeto de pesquisa intitulado “Saberes Sociais,
experimentações pedagógicas e as metamorfoses do mundo do trabalho: os processos formativos de
Ensino Médio no município de Cametá- entre o SOME (Sistema Modular de Ensino) e o não-
SOME”, financiado pelo (PIBIC/CNPQ). A partir então, desse projeto maior, materializou-se o
presente estudo “Metamorfoses do Mundo do Trabalho e os Processos Formativos do Ensino Médio
do Sistema Modular de Ensino do Estado do Pará-SOME- Analisando a perspectiva do trabalho
docente e a dos jovens estudantes trabalhadores” onde discutimos o desenvolvimento do Ensino
Médio na zona rural de Cametá, município do estado do Pará, partindo do Sistema Modular de
Ensino – SOME – da Secretaria Estadual de Educação, buscando compreender de que forma as
metamorfoses do mundo do trabalho impactam na proposta educacional, especificamente o ensino
médio, analisando como esses impactos se materializam no currículo, nos procedimentos de ensino
e na avaliação. Com base nisso, buscamos mostrar essas confluências no ensino médio, última fase
da educação básica, que atende a classe trabalhadora. Sendo que a classe trabalhadora sobre a qual
nos referimos é a classe que se encontra na pirâmide social representada marginalmente e
vulnerável para os planos perversos do capitalismo. Dessa forma, o ensino médio é visto como um
momento estratégico aos interesses e anseios da manutenção da disparidade social, historicamente
consolidada pela classe dominante.
Contudo, analisamos o ensino médio modular como uma modalidade de educação que surge
com uma proposta de democratização do ensino, por proporcionar à muitos trabalhadores a única
possibilidade de acesso ao ensino de segundo grau e por onde muitos se constituem com ações
transformadoras contra-hegemônicas na construção de homens, mulheres, trabalhadores em agentes
políticos, que, pensam e que agem, fazendo uso da palavra como expressão do conhecimento como
arma para transformação social. Mészáros (2008), afirma que, é preciso que se busque mudar as
estratégias do capital, para que a educação de fato seja ideal a classe trabalhadora, e que por meio
dela possa se transformar como sujeito social e transformar sua realidade.
Porém, evidenciamos o campo educacional dividido em propósitos distintos, centrado na
dualidade educacional, em que consiste de um lado, o formar para o mercado de trabalho, ou seja,
uma formação profissional, enquanto que do outro lado, busca-se articular a preparação dos
indivíduos para uma compreensão maior do mundo, nas suas diferentes dimensões, tendo o acesso à
cultura e a todo tipo de desenvolvimento da sociedade, mas que diante de sua condição social, a
maioria dos jovens ficam de fora desses processos de emancipação social, e que portanto, pelas
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condições estruturais econômicas, forçam desde muito cedo, a busca de preparação para o trabalho,
para sobreviver num mundo desigual e opressor da classe trabalhadora, e que diante dessas
condições exclui sem precedente muitos jovens, alienando-os a grande serventia do capitalismo.
Nesse aspecto, evidenciamos o quanto a educação é alienada ao processo de produção estabelecido
no mundo, e que por tanto, o ensino deve corresponder a esses objetivos, preparando assim, a
juventude para que façam parte da produtividade, desempenhando uma função que corresponda ao
grande capital. Logo, a educação deve se estruturar numa adequação capitalista.
Considerando essas indagações, nosso trabalho é estruturado em três capítulos, o primeiro
mostramos as metamorfoses do mundo trabalho como mecanismos de mudanças nas propostas e
objetivos educacionais. No contexto dessas transformações expomos como o mundo do trabalho
impulsionou o ensino aos parâmetros da emergência econômica mundial, implicando para um
ensino fragmentado e correspondente aos economistas e dirigentes com influência político
ideológico que distancia a educação com propostas de formação humana, para uma formação
mecanicista e sem fim pedagógico de transformação social da juventude. Teoricamente, pautamo-
nos nossas discussões principalmente nos autores a seguir: Marx (2008), Antunes, (1995), Saviani
(2007), Frigotto, Ciavatta e Ramos (2005), Vásquez (2011), Kuenzer (2011), Manacorda(1989),
Lukesi (2010) e outros.
No segundo capítulo discutimos os saberes sociais e integração nos processos formativos:
A questão do currículo, procedimentos de ensino e avaliação, articulando como as mudanças do
mundo trabalho definem as estruturas dos processos formativos e que se desvincula assim, de um
propósito de integração dos sujeitos estudantes. Sobre esses aspectos os saberes sociais presentes
nas diversas formas de realização da vida são desconsiderados, estabelecendo então, um currículo
escolar sob um olhar do outro, ou seja, da classe operante do país. Nesse sentido, apontamos para
uma educação integrada, ou mais especificamente para o ensino médio integrado, que converge nos
procedimentos de ensino estabelecido no sistema educacional. Teoricamente, nos baseamos
principalmente nos seguintes autores: Grybowski (1986), Damasceno (1995), Rodrigues (2012),
Rodrigues e Martins (2015), Saviani (2016), Schwart (2003 e 2009) e outros.
Com base nessas discussões o terceiro e último capítulo, analisamos o ensino médio
modular, e suas implicações, evidenciando sua proposta de democratização da educação para a
população do campo, bem como, se apresenta essa modalidade de ensino ao povo que vive no e do
campo, mostrando suas dificuldades de funcionamento, e como os procedimentos de ensino são
apresentados, tendo em vista as especificidades e peculiaridades sob as quais vivem as
comunidades rurais atendidas pelo sistema modular. Para isso, analisamos a perspectiva do trabalho
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docente e a dos jovens estudantes trabalhadores desse ensino. Com sustentação teórica em Arroyo
(2011), Nóvoa (1999), Kuenzer (2000), Freire (1987) e outros.
Como metodologia, este trabalho se pautou no materialismo histórico-dialético como
método de pesquisa, analisando a realidade do ensino médio modular a partir das categorias da
contradição e totalidade que analisa o objeto de pesquisa na sua totalidade e nas contradições que o
envolve. Tratou-se também de uma pesquisa de cunho qualitativo, pois analisa o objeto de pesquisa
como um fenômeno na sua singularidade, e proporciona ao pesquisador uma relação de contato
direto ao lócus pesquisado.
Adotamos como método de coleta de dados a entrevista do tipo semiestruturada junto a três
professores de diferentes disciplinas, como a filosofia, geografia e física, tendo como escolha
aqueles que mais possuem assiduidade e engajamento na comunidade e com o trabalho docente.
Nas entrevistas com os estudantes, a escolha foi de acordo com o tempo de vivência no sistema
modular, então, optamos preferencialmente a estudantes do terceiro ano e egresso universitários que
saíram dessa modalidade de ensino direto ao ensino superior.
As entrevistas com os professores foram feitas todas na cidade de Cametá, pois o período
que fomos a campo, a localidade pesquisada estava no intervalo entre os ciclos. Nesse sentido,
tivemos que fazer a coleta dos dados no Sintepp (Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública
do Pará) do município de Cametá. Mas nas entrevistas com os estudantes todas foram feitas na
comunidade. A escolha por esse tipo de entrevista foi pela maior possibilidade de resultado, pois,
ela proporciona uma maior probabilidade de manifestar maior abertura as respostas diante de um
guião (BOGDAN & BIKLEN, 1994) estabelecido pelo entrevistador, permitindo-se a obtenção de
dados comparáveis entre vários sujeitos.
Quanto à análise de conteúdo, partimos do exposto por Franco (2007), para a qual a análise
de conteúdo busca investigar o que têm a dizer as palavras que os homens produzem em suas
relações sócio históricas, sendo imprescindível observá-las em suas recorrências nas entrevistas
e/ou documentos escritos, buscando inclusive quantificá-las, sistematizá-las quanto a repetições
temáticas.
Para a construção teórica da pesquisa nos valemos da pesquisa documental, em que
buscamos autores que embasassem no desenvolvimento de nossas categorias de estudos e que nos
trouxessem reflexões acerca de nosso objeto de estudo.
O lócus da pesquisa é a comunidade de Cuxipiarí Furo Grande, considerando os
trabalhadores docentes que, atuantes no sistema modular de ensino, assim como jovens
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trabalhadores que estudam no SOME, para isso, construímos quatro objetivos específicos para
nossa análise:
Depreender os saberes sociais, resultantes da unidade trabalho-educação
vivenciados/produzidos pelos jovens matriculados no Ensino Médio ligado ao Sistema Modular de
Ensino;
Caracterizar as metamorfoses do mundo do trabalho, a partir das contradições entre capital e
trabalho, e suas materializações nos processos formativos, do SOME;
Descrever analiticamente o trabalho docente, em termos de procedimentos de ensino,
processos de avaliação e nas perspectivas curriculares, desenvolvido no interior do ensino médio
realizado pelo SOME;
Verificar o possível estabelecimento da relação dialética, no cotidiano do trabalho docente,
entre os saberes sociais dos jovens matriculados no Ensino modular, zona rural de Cametá, e as
metamorfoses do mundo do trabalho, materializados em processos de ensino, processos de
avaliação ou nas perspectivas curriculares.
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Nesse sentido, o homem só se constitui homem porque produz sua própria existência ao
realizar trabalho. Saviani (2007, p. 157) afirma também que, “Diferentemente dos animais, que se
1 Dubar (1997) concebe identidade como resultado do processo de socialização, que compreende o cruzamento dos
processos relacionais (ou seja, o sujeito é analisado pelo outro dentro dos sistemas de ação nos quais os sujeitos estão
inseridos) e biográficos (que tratam da história, habilidades e projetos da pessoa). Para ele, a identidade para si não se
separa da identidade para o outro, pois a primeira é correlata à segunda: reconhece-se pelo olhar do outro. Porém, essa
relação entre ambas é problemática, pois não se pode viver diretamente a experiência do outro, e ocorre dentro do
processo de socialização.
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adaptam a natureza, os homens têm de adaptar a natureza a si”, com isso, o homem atua sobre o
meio para existir na natureza e se constituir também natureza biológico-social. O trabalho
possibilita ao homem transformar a natureza para produzir sua subsistência no mundo, dando-lhe a
possibilidade de criar e recriar sua própria existência, pela ação consciente do trabalho, como nos
diz Marx:
Identificamos nesse processo que o valor de uso, no seu propósito inicial de necessidade e
desejo do trabalhador, adquire um novo objetivo, estabelecendo agregar mais e mais valor; e é
assim que funciona a perspectiva de produção capitalista. Com isso, o trabalho é reduzido em
mercadoria (FRIGOTTO, 2005).
Por outro lado, historicamente, o trabalho assume especificidades no tempo e no espaço,
segundo nos afirma Frigotto (2005, p.59), possibilitando ao homem também produzir suas
materialidades cultural, social, estética, etc., que também satisfazem sua existência, o que nos
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mostra por outro lado o teor da práxis, conforme exposto por Frigotto, (2005, p. 60), para o qual é o
“[...] trabalho como práxis que possibilita criar e recriar, não apenas no plano econômico, mas no
âmbito da arte e da cultura, linguagem e símbolos, o mundo humano como resposta às suas
múltiplas e históricas necessidades”.
O trabalho como práxis promove ao homem novas maneiras de representar-se no mundo,
para, assim, humanizar-se. Assim sendo, segundo Frigotto, (2005, p.61), o trabalho é um dever e
um direito do homem. Pois, através do trabalho nos constituímos e produzimos nossas necessidades.
A ação exercida do trabalho possibilita ao homem criar seus meios de existir no mundo. Dentro
dessa lógica, o trabalho exerce um princípio educativo. Porém, na sociedade capitalista, o trabalho
humano é reduzido à dimensão força de trabalho, que por sua vez limita-se à produção de
mercadorias para satisfazer a lógica do capital do mundo contemporâneo, ou seja,
No livro O Capital, Marx (2013) nos mostra o trabalho nas suas contradições, pois, ao
mesmo tempo em que humaniza o homem, também se apresenta como desumanizador e alienante.
A humanização acontece porque produz as condições para vida humana; condições essenciais de
sociedade como a produção de cultura, tecnologia, estética e simbólica. Por outro lado, se assume
como forma de alienação, com a exploração da força de trabalho, tirando do trabalhador o direito à
liberdade e a decisão pelo seu futuro, que vive em função do patrão, dono dos meios de produção,
em troca de um salário mínimo diante ao que faz. Essa desumanização é feita do processo de
produção de mercadorias, pensada para atender alguns outros e não a si próprio, por suas
necessidades. Tendo essa compreensão, temos o trabalho em duas dimensões, voltado para o campo
da necessidade e da liberdade.
Nesse sentido, o trabalho se apresenta dependendo do tipo de sociedade em que estamos
inseridos, de modo que, na sociedade capitalista, que visa a exploração humana, não poderia ser
diferente a condição da classe trabalhadora. Trabalhadores, homens e mulheres são impossibilitados
de gozar dos produtos que produz, e que Marx chama de alienação do produto. Com isso, então, o
homem não mais vivência o trabalho no seu sentido ontológico. Marx (2013), evidencia que, o
trabalho como valor de uso nesse momento assume um valor de troca, destinado para a venda, de
modo a maximizar a extração da Mais-Valia, havendo, a redução do trabalho necessário, em
detrimento da produção do excedente.
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Nessa perspectiva de produção, o trabalho a todo tempo vem sendo conduzido para formas
que mais adequadamente promovam a realização e eficiência para satisfazer o mercado consumidor.
Para tanto, os países de economia capitalista presenciaram grandes mudanças na estrutura
trabalhista, trazendo profundas transformações no mundo do trabalho. Essas transformações
provocaram uma grande crise na vida da classe trabalhadora, como o desemprego e
consequentemente a miséria, por consequência da modernização dos instrumentos de trabalho, pelo
incremento tecnológico, para a realização de funções que antes era exclusivamente manual, foi
substituída por novos aparatos, enquanto mecanismos que melhor auxiliem o processo de produção,
implicando substituição da mão de trabalho do operário por máquinas, ocasionando um grande
retalhamento nas relações de execução de trabalho.
A essas mudanças no espaço produtivo que busca fixar novas estruturas organizacionais no
mundo do trabalho, denominamos, com base em Antunes (1995), metamorfoses do mundo do
trabalho, em momentos em que se instituem novos modelos de produção diante das exigências de
um mercado que atente ao interesse do capital.
o desemprego de muitas famílias, por conta das máquinas no processo fabril. No século XIX,
Antunes (1995) afirma:
[...] As vantagens desses últimos, para o capital, são óbvias; eles tornam-se a cada
ano mais baratos e aperfeiçoados, não entram em sindicatos nem fazem greves, não
tiram férias e nem pedem reajuste salarial, não sofrem de doenças por esforços
repetitivos e não precisam de licença maternidade ou paternidade, não pedem para
ir ao colégio na reunião de pais, não precisam de horários diferenciados para
frequentar a escola, não fazem “corpo mole”, nem ficam indo ao banheiro durante
a jornada de trabalho e ainda podem trabalhar em ambientes insalubres. (BORGES,
2010, p. 162-163)
Essa foi a dura realidade vivida por milhões de trabalhadores, durante muito tempo. As
condições de trabalho eram desumanas, tudo proporcionado com o objetivo de cumprir as metas de
finalidade de um sistema que promove a competitividade, e submete a vida humana à degradação.
o mais impactante, quanto à produção e geração de lucro, tendo como principais características a
produção flexível com a incorporação de mais tecnologia informatizada e mão de obra mais
qualificada, com a substituição das funções repetitivas que exercia o fordismo. Nas palavras de
Antunes (2005, p. 34), o toyotismo é explicado da seguinte forma:
O modelo Toyota, diferentemente dos modelos americanos, possui uma dinâmica de fluxo
produtivo de exploração muito mais intensificada do que os modelos anteriores: monopólio sobre
exclusivo interesse dos empresários, pois os trabalhadores, agora, encontram-se desorganizados,
sem organização da classe operária que reivindicasse as condições trabalhistas do operariado. As
vantagens disso para o capital é que o trabalhador não mais faz greve por falta, além de direitos
básicos como férias, licença maternidade e outros. Como podemos observar as metamorfoses no
mundo do trabalho sempre colocam a classe trabalhadora em situação de exploração ao trabalho,
em situações insalubres e desumanas.
Todas essas mudanças radicais na vida dos trabalhadores não se limitam apenas no
contexto das relações de produção, com a modernização e o crescimento das empresas houve
22
também a flexibilização do trabalho. E, como aponta Kuenzer (2011, p. 45), houve mudanças nas
relações de emprego e no perfil dos trabalhadores, sendo os mais atingidos com essas novas
configurações do trabalho, pois,
[...] estar incluído a partir de uma dada qualificação não assegura que não esteja
excluído em outros momentos, e vice-versa, dependendo das necessidades do
sistema produtivo. [...] Daí o caráter “flexível” da força de trabalho; importa menos
a qualificação prévia do que a adaptabilidade, que inclui tanto as competências
anteriormente desenvolvidas, cognitivas, práticas ou comportamentais, quanto à
competência para aprender e para submeter-se ao novo. (KUENZER, 2011, p.45)
É sobre esta perspectiva que se estrutura o ensino médio no contexto brasileiro; esse nível
educacional é um campo de disputa do grande capital de formação excludente, que nega à maioria
dos jovens uma educação que de fato lhes constitua sujeitos com formação para os diversos setores
sociais. Isso nos mostra os reflexos da sociedade que se estabeleceu pela desigualdade e continua
por ela fundamentada, recaindo sobre o cenário educacional, visto que retrata o modelo social
dividido em classes sociais, as quais são antagônicas e dependentes ao mesmo tempo entre si,
característica do modo de produção capitalista, o modelo hegemônico de relação social vigente.
O modelo de produção é caracterizado antagônico no seu modo de direcionamento
educacional, pensado e separado de acordo com a classe social. E esse antagonismo promove um
bloqueio a todos os caminhos de mudanças necessárias a essa classe trabalhadora, correspondendo
às perspectivas do mercado profissional, estabelecendo, desse modo, uma educação nitidamente
capitalista, que coloca a juventude em conformidade com as exigências do sistema produtivo
gerenciada pelas organizações políticas de formação técnica, profissionalizante que fundamenta o
ensino para os jovens, filhos de trabalhadores. Com isso Meszáros (2008) complementa dizendo:
nos quais aqueles que detêm o poder político, econômico, social, entre outros, ocupam a posição de
dominantes e aqueles que são desprovidos desse poder ocupam o papel de dominados.
Nessa perspectiva, Araújo e Rodrigues (2010) caracterizam essa separação como que
movimentando “[...] aquelas que buscam a transformação dos homens à realidade dada e outras que
buscam a transformação social”; essas proposições se constituem em nossa sociedade nas
diferentes classes sociais, gerando “[...] uma pedagogia focada no trabalho e outra focada no
capital”. Conforme ainda, os dois autores, “[...] esses dois projetos formativos, com objetivos
comuns, ao buscarem o ajustamento da formação apenas a realidade imediata legitimando a divisão
técnica do trabalho e caracterizam a dualidade da educação no Brasil [...]”. (ARAÚJO e
RODRIGUES, 2010, p. 51)
Tendo em vista essa análise, o currículo voltado para o ensino médio possui uma dupla
personalidade quanto à dualidade educacional que por um lado ensina o conhecimento médio para a
formação dos jovens estudantes e por outro lado, encaminha-os para uma visão de empregabilidade,
assim que saem desse nível de estudo. Contudo, Krawczyk (2011, p. 757) pontua o seguinte,
Assim, a “travessia” para efetuar uma nova realidade precisa de possibilidades de acesso
para que ela aconteça, de modo que para se chegar do outro lado é importante que se tenha uma
ponte e essa ponte se refere a organismos políticos com criações de condições materiais concretas,
para que dessa forma tenhamos uma educação com compromisso social, responsável pelo futuro da
26
juventude que busca na escola a maneira de se ter uma outra realidade em suas vidas e que
realmente essa fase do ensino médio seja uma travessia para um futuro digno.
Portanto, Frigotto, Ciavatta e Ramos (2005) discutem uma nova perspectiva de ensino que
venha contemplar uma formação para a classe trabalhadora, que possibilite uma nova forma e um
novo direcionamento e percepção de mundo, permitindo sair do conformismo, em busca de
transformação social. Então se apresenta o ensino médio de educação integral ou ensino médio
integrado, e o ensino politécnico, que visam tanto o ensino profissionalizante, quanto um ensino
humanizado dos sujeitos, que encontram na educação meios para uma vida digna. Esse novo ensino
médio discute o trabalho como princípio educativo.
O trabalho como princípio educativo coloca o trabalho como meio para construção do ser
social. Contudo, isso depende de como está estruturado o conceito do trabalho na sociedade. Se o
trabalho se apresenta com o objetivo de humanização ou alienação; se coloca como exploração,
teremos o trabalho que só se mantém para o acúmulo de mercadoria e exploração humana; se em
formar de maneira ampla, temos o trabalho que humaniza.
Todavia o trabalho como princípio educativo é em sua essência processo formativo,
efetivadas pelas realizações das práticas humanas num movimento que traz ao homem o sentido
pelo qual a história se realiza. Pela concretização do trabalho como meio de educação dos
indivíduos se desenvolve a compreensão histórica da realidade. Diante disso, Frigotto (2005, p.60),
diz que “O trabalho como princípio educativo, então, não é, primeiro e sobretudo, uma técnica
didática ou metodológica no processo de aprendizagem, mas um princípio ético-político”, com base
nisso, o trabalho como princípio educativo, deve transpor os interesses políticos econômico, assim,
deve contemplar as diferentes esferas da vida cidadã com propostas concernente com a realidade
estrutural sobre a qual estão os sujeitos e suas relações e fazer do trabalho uma prática educativa.
A marca social é dada pelo fato de que cada grupo tem um tipo de escola próprio,
destinado a perpetuar nestes grupos uma determinada função tradicional, diretiva
ou instrumental. Se se quer destruir esta trama, portanto, deve-se evitar a
multiplicação e graduação dos tipos de escola profissional, criando-se ao contrário,
27
Dentro desse contexto, são trabalhados vários conceitos que direcionarão a educação
integradora. Temos então a formação omnilateral, que, segundo Frigotto (2012), significa uma
formação por “[...]todos os lados ou dimensões[...]” (FRIGOTTO, 2012, p. 267). Assim, a educação
omnilateral busca desenvolver todas as múltiplas dimensões do indivíduo, afetivas, intelectuais,
emocionais, dentre outras que articuladas ao trabalho proporcionarão a emancipação do sujeito. A
perspectiva omnilateral é a crítica direcionada à educação subordinada à lógica capitalista que não
promove o desenvolvimento integral dos sujeitos.
Trata-se de uma perspectiva Libertária de formação que segue os princípios de educação
sem separação por sexos ou classe social, o ensino livre de dogmas (racionais e integrais) e
principalmente o respeito à liberdade. Todas essas características buscam também fazer uma crítica
e separação da escola tradicional estatal ou confessional, por meio da educação crítica e
emancipação para a revolução social.
A concepção do ensino médio integrado é, acima de tudo, uma proposta de sociedade que
esteve presente na construção da LDB - Leis de Diretrizes e Bases, que contemplava muito do que
trazemos como uma educação que corresponde à realidade da juventude da classe trabalhadora,
devendo possuir um sentido, um significado. A juventude precisa ser vista como pessoas de direitos
que precisam que a política pública lhes dê o verdadeiro significado do estudo para suas vidas.
Desse modo, é preciso que o ensino assuma uma formação humana, focada na juventude, capaz de
proporcionar condições materiais concretas à um futuro com melhorias de vida. Para tanto, é
necessário que se mude a visão de que a juventude é despossuída de sentido em si, conforme
destacado por Nosella (2015). Porém, ainda estamos caminhando para isso, pois, pouco se
materializou de fato e ainda estamos discutindo um ensino que supere a dupla identidade da
educação.
E infelizmente nossa sociedade caminha para a manutenção dessa divisão. Diante disso,
temos a reformulação do ensino médio pela Lei nº13.415, de 2017, que modificou os principais
parágrafos da LDB para deixar bem claro para classe trabalhadora que o objetivo é que fiquemos
onde estamos e que a educação deve assumir um partido, que no momento se apresenta como
representante da classe dominante, demonstrada na nova LDB, em que parágrafos inteiros foram
modificados para algo bem longe do que se pretende se destinar a essa etapa do ensino. Vemos,
então, o que tínhamos e com a reformulação o que temos, tomando como exemplo o art. 36. Essas
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alterações trazem em suas propostas um retrocesso de lutas para se ter uma educação que emancipe,
que humanize, que integre, que transforme as pessoas protagonistas de um novo futuro. Então, para
podermos demonstrar esse retalhamento fizemos a análise da LDB, que trazia de fato uma proposta
de sociedade para a juventude desse país. Do outro lado trazemos as alterações que claramente
conformam a juventude a um ensino voltado a atender o grande empresariado do país. Dessa forma,
segue abaixo a LDB Lei nº 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996, que expunha o seguinte:
● I – destacará a educação tecnológica básica, a compreensão do significado da
ciência, das letras e das artes; o processo histórico de transformação da sociedade e da cultura; a
língua portuguesa como instrumento de comunicação, acesso ao conhecimento e exercício da
cidadania;
● II - adotará metodologias de ensino e de avaliação que estimulem a iniciativa dos
estudantes O artigo 36 foi totalmente modificado. O que constava na LDB:
● III - será incluída uma língua estrangeira moderna, como disciplina obrigatória,
escolhida pela comunidade escolar, e uma segunda, segunda, em caráter optativo, optativo, dentro
das disponibilidades da instituição.
● IV – serão incluídas a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatórias em
todas as séries do ensino médio. (Incluído pela Lei nº 11.684, de 2008).
Como ficou com a Lei 13.415
Art. 36. O currículo do ensino médio será composto pela Base Nacional Comum Curricular
e por itinerários formativos, que deverão ser organizados por meio da oferta de diferentes arranjos
curriculares, conforme a relevância para o contexto local e a possibilidade dos sistemas de ensino,
ensino, a saber:
I - linguagens e suas tecnologias;
II - matemática e suas tecnologias;
III - ciências da natureza e suas tecnologias;
IV - ciências humanas e sociais aplicadas;
V - formação técnica e profissional.
Essas reformulações são significativas ao projeto de capital de uma sociedade que vive o
berço do capitalismo, e que, portanto, o currículo de educação que atende a juventude prepara
jovens capazes de realizarem os requisitos do mercado com novas tecnologias de funcionamento,
ocorrido pelas metamorfoses do mundo do trabalho. Logo temos uma educação que corresponde
não mais um compromisso social, e sim um compromisso de capital financeiro.
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Em face dessas contradições, é preciso que o ensino médio defina sua identidade
como última etapa da educação básica mediante um projeto que, conquanto seja
unitário em seus princípios e objetivos, desenvolva possibilidades formativas que
contemplem as múltiplas necessidades socioculturais e econômicas dos sujeitos
que constituem – adolescentes, jovens e adultos-, reconhecendo-os não como
cidadãos e trabalhadores de um futuro indefinido, mas como sujeitos de direitos no
momento em que cursam o ensino médio. (RAMOS, 2008, p. 8)
De acordo com Vasquez (2011), nesse contexto em que encaminha a educação brasileira, a
filosofia da práxis se torna inoperante, já que é necessário instigar essas potencialidades por meio da
educação, sendo que segundo o autor “[...] práxis é, portanto, a revolução, ou crítica radical que,
correspondendo às necessidades radicais, humanas, passa do plano teórico ao prático” (VASQUEZ,
2011, p. 119).
As transformações curriculares, nos mostram uma grande característica de um país que
pauta os objetivos educacionais sob o olhar do que é necessário a rede de produção e centrado no
que nós chamamos de conformação humana. Então, observa-se a centralidade do currículo de
educação brasileira centrado na pedagogia das competências. (ARAÚJO e FRIGOTTO, 2015)
A pedagogia das competências possui como método constituir um tipo humano, capaz de
realizar as funções necessárias no mundo trabalho. É sob este objetivo que se propõe uma educação
que forma a juventude para o trabalho emprego, então,
Assim, os desenhos curriculares organizados com base nesse critério recorriam aos
saberes, habilidades e atitudes apenas na medida da possibilidade de promoverem
alguma capacidade específica requerida pelo mercado. Aquilo que não se revelasse
imediatamente útil não deveria ser incorporado nos currículos. (ARAÚJO e
FRIGOTTO, 2015, p. 68)
Desse modo, os homens constituem suas histórias, de maneira que as habilidades, valores,
conhecimentos e atitudes, mencionados por Grzybowski (1986), pois os indivíduos em suas
diferentes sociedades, no tempo e no espaço produzem seus saberes, na vivência e no
desenvolvimento do trabalho comum a todas as sociedades. No convívio social os homens se
32
organizam como forma de se estabelecerem de acordo com seus objetivos e metas comuns, para
então buscarem os interesses comuns a seu grupo social. Sendo assim, os saberes são fatores que
unem e reconhecem os grupos sociais. Desse modo, Rodrigues e Martins (2015, p.6) afirmam que:
As necessidades e carências vivenciadas por uma classe social faz dos saberes sociais
movimento de luta, de reivindicação social, tornando-se, então, uma ferramenta com
potencialidades, que articula os sujeitos em prol de suas reais necessidades estruturais, vivenciada
no dia- a –dia. Logo, os saberes sociais são resultados de organizações sociais, que se fortalecem
numa identidade comum, ou seja, as suas vivências e carências, muitas vezes negadas pela falta de
articulações dos movimentos sociais. Portanto Damasceno (1995, p. 20) afirma:
[...] Onde houver um grupo social organizado, seguramente existirá uma estrutura
social de produção e de reprodução do saber e, portanto, agentes, redes, grupos e
um processo de construção e transmissão do “saber social”.
Nota-se, então, que a organização é uma forma de fortalecimento dos grupos sociais para
que organizados os saberes produzidos possam ser repassados para as gerações como algo eficaz
para a permanência da vida que orienta os sujeitos. São princípios que fazem cada sociedade
desempenhar suas atividades de existência. Mas também nessa lógica, a produção de saberes traz ao
mesmo tempo “ideias, representações, saberes que contribuem para a reprodução e transformação
da realidade” (DAMASCENO, 1995, p.21).
Quando os saberes produzidos e elaborados pelos grupos fazem com que os sujeitos as
utilizem para a transformação da realidade, se estabelece uma relação que Damasceno (1995) traz
como a relação entre saber e práxis, explicando que na prática social vivenciada pelos grupos
sociais a práxis se faz presente quando o saber que constitui suas ideias busca mudar a realidade
com ações que passa do campo teórico ao campo da prática social em busca daquilo que possui
33
como certo, como direito e etc., que lhe foi concebido na relação com o seu grupo. De acordo com
isso, Rodrigues (2012, p. 43) destaca que:
[...] concentrado de história [...] de uma parte inacabado, lacunar, isto significa que
a história se re-escreve em permanência, que novas normas de construção de
saberes, de construção do social, “renormalizações” incessantes reaparecem em
todos os lugares onde os grupos humanos se mobilizam para produzir. Se então
estas renormalizações são aí operantes, se o saber adere a tudo isto que aí se recria,
aí se reinventa, reproduz sem cessar, porque os meios de trabalho são sem dúvida o
que acumula mais cristalizações industriosas, nesse sentido, “fazem
verdadeiramente história”, renovam em permanência todas essas aquisições –
contrarias – da história humana. (SCHWART, 2003, p. 24)
Quando o autor coloca os saberes como sempre algo inacabado e lacunar, isso significa dizer
que o processo histórico, principalmente introduzido pelo trabalho e suas transformações, faz com
que os costumes, habilidades, valores e etc. necessitem de novas adequações, e que, portanto, os
saberes sociais não são algo estático e sim um processo em desenvolvimento de acordo com a
construção social, impulsionada consequentemente por novas renormalizações.
conduzir a vida da sociedade, e que por meio dela os coletivos das comunidades possam se
apropriar, para assim, produzirem e se beneficiarem na superação das suas necessidades.
Contudo, Schwart (2009) discute a existência de dois tipos de saberes, os saberes que
nascem dentro da sociedade, passados pelos seus antepassados e tidos durante séculos como uma
identidade própria, característica de dada comunidade, que pode então ser considerado como
original, pois tem origem no convívio das coletividades, sem nenhuma interferência externa ou
intencional, tudo é passado naturalmente nas suas atividades rotineiras de existência. O outro tipo
de saber que o autor nos traz é o saber genérico ou também podemos chamar de artificial, tido como
algo invasivo, descaracterizado dos reais costumes e vivências das sociedades, que são aqueles
saberes trazidos pelas mudanças da estrutura social que implica na mudança da essência humana,
nas formas de vida que antes se tinha, que em consequência do horizonte globalizado interfere
profundamente na vida da humanidade, muitas vezes lhes descaracterizando do seu real modo de
viver, desconstruindo suas identidades que os fazem únicos.
Diante disso, ainda de acordo com Schwart (2009), a humanidade passa a viver entre dois
pólos de saberes, entre os saberes da vida em aderência e desaderência. A produção da vida em
aderência está contida onde nascem os saberes que a ela faz parte, tida como aquela que orienta a
vida humana e que, segundo o autor, é um fluxo natural, mas que se estabilizam provisoriamente
para prolongar e enfrentar os desafios a serem superados para continuação da vida coletiva. Mas
que também nesse movimento cria mecanismo de resistência para viver no presente e no meio. E
esse presente e meio é segundo Schwart (2009, p. 265), um processo de encontro em que:
Portanto, a vida em aderência tem referência no ambiente que institui a vida coletiva. É um
saber que nasce na atividade inerente à vida social, sem normas antecedentes para a sua realização,
ou seja, não possui “caixas intelectuais” que o autor argumenta como antecipação das ações dos
sujeitos. Elas simplesmente acontecem, independente de normas que venham postular e legitimar
esses saberes. Logo, a aderência é, portanto, a representação das realidades objetivas do meio e do
presente vivido e que, portanto, as situações advindas no meio social se produzem as condições de
vida necessária para as comunidades.
35
Quando a vida é vista somente sobre o olhar da desaderência, ignora-se o mundo dos saberes
tradicionais comuns às sociedades tradicionais, e quando isso ocorre, há uma supervalorização dos
saberes científicos, que estruturam e padronizam as atividades. Schwartz (2009, p. 268) diz que “o
prestígio de um saber especialista, é, de qualquer modo, mecanizar a vida humana”, de certo modo,
esse prestígio coloca o saber em aderência sem legitimidade.
Desse modo, a soberania da desaderência traz à sociedade a mecanização do agir, fazendo da
produção de saberes uma emergência, aos moldes do mundo contemporâneo que cria as formas de
vida. Diante disso, é preciso que a luta pelo reconhecimento do saber das coletividades seja
fortalecida e defendida pelos atores sociais. E que então os saberes sejam reconfigurados e
reavaliados para que ocorra uma reaprendizagem sobre o saber social (SCHWARTZ, 2009).
A educação assume num percurso histórico, “[...] um caráter institucionalizado, cuja forma
mais conspícua se revela no surgimento da escola[...]” (SAVIANI, 2016, p. 64). Então, a escola
caracteriza uma manifestação secundária de educação, mas que adquiriu no tempo a forma principal
de educação. Como consequência dessa nova representação da educação temos a reprodução do
“[...]saber metódico, sistemático, científico, elaborado, passa a predominar o saber espontâneo
“natural” assistemático[...]” (SAVIANI, 2016, p. 64). Nesse sentido, a educação é a representação
da divisão de interesse que divide as classes sociais, representado por um lado pela burguesia e do
outro o proletariado preenchido pela classe trabalhadora e que, portanto, vive sob os padrões que
potencializam o capital e o grupo social burguês que detém os meios de produção.
36
Sob este olhar, a educação, em especial o ensino médio, imprime seus objetivos e orienta os
jovens estudantes de acordo com a cultura a que faz parte a classe burguesa. Contudo, a cultura que
se apresenta universal, não chega a muitos com realidade geográfica de difícil acesso, e que,
portanto, vivem em comunidades tradicionais com seus saberes locais e regionais.
Assim, o que se busca é fazer do ensino médio uma fase que envolva nos processos
formativos, como os procedimentos de ensino, currículo e avaliação, a realidade e identidade dos
sujeitos com seus diferentes conhecimentos de cultura, sem desconsiderar a forma do saber social
que as comunidades possuem como identidade cultural e que deve ser valorizada pela educação.
Nesse contexto, Damasceno (1995, p. 33) nos traz o papel da escola e do “saber social” na
construção da identidade dos sujeitos, para investigar, segundo o autor, qual tem sido “[...] o
significado prático, pedagógico e político desta instituição social para os setores populares”. Na sua
pesquisa a escola é caracterizada pelas populações diante de três orientações que as regula.
Diante deste olhar, o autor coloca a escola como um mecanismo que normatiza a vida social
e se coloca como propulsora para uma ascensão social, ou seja, num plano de condições financeiras,
é também colocada como instrumento básico e necessário. Logo, a escola acaba por conformar um
tipo de identidade social da qual a maioria dos sujeitos não fazem parte, então a escola quando não
reelabora o seu procedimento de ensino, o seu currículo e a sua avaliação de acordo com a realidade
ao redor, ela estará conformando os sujeitos a uma outra realidade que não é a dele. Deste modo as
verbalizações encontradas nos sujeitos “[...] mostram que a visão de mundo que as preside não é
coerente, ao contrário, encerra uma série de ambiguidades em virtude das mistificações operadas
pelo modo de pensar dominante” (DAMASCENO, 1995, p. 35). Isso significa dizer que
verbalizações das populações são introduzidas na sociedade como um mecanismo ilusório de
ascensão social e que deste fato deve orientar para o trabalho.
Diante disso, busca-se uma proposta de escola que valorize a cultura local, a identidade dos
sujeitos, sistematizando os objetivos educacionais em consonância com vida de seus alunos.
Contudo, se faz necessário uma adequação nos procedimentos de ensino para se ter como foco uma
formação integral. Dessa forma, a escola estará fazendo do saber educacional uma prática social a
qual os discentes estão inseridos. Contrapondo-se a uma escola onde os alunos não se reconhecem,
não se identificam; com isso, se fortalece a escola desinteressante.
37
Com base nessa concepção temos o paradigma educação do campo, que surge da
compreensão e esforços dos movimentos sociais para garantir novos métodos de aplicação e
ampliação de práticas pedagógicas pautadas na diversidade de experiências de cunho sociocultural
dos sujeitos do campo, como afirma Caldart (2008):
[...] A verdade é que a escola perdeu de vista a sua atividade nuclear que é a de
propiciar aos alunos o ingresso na cultura letrada assegurando-lhes a aquisição dos
instrumentos de acesso ao saber elaborado. Em suma, o currículo incorporou as
mais diversas atividades, mas dedicou pouco tempo para o estudo da língua
vernácula, matemática, ciências da natureza, ciências da sociedade, filosofia, artes.
(SAVIANI, 2016, p. 57)
Diante de tais observações feitas pelo autor, se fez necessário ressignificar o conceito
anteriormente definido. Essa ressignificação contempla de forma significativa os objetivos do
currículo, para assim atender o verdadeiro funcionamento do papel da elaboração de um currículo
educacional. Então o currículo: “[...] é o conjunto das atividades nucleares desenvolvidas pela
escola” (SAVIANI, 2016, p. 57).
Nessa nova definição a palavra nuclear é substancial para o novo direcionamento do
currículo escolar. A palavra nuclear de acordo com o dicionário significa
“relativo ao ponto mais importante; essencial; principal”. Portanto, o currículo deve dar maior
importância ao que se refere ao enriquecimento do processo de ensino aprendizagem dos
estudantes, proporcionando uma boa aquisição educacional, diferenciando assim das questões
extracurriculares, onde se inclui as relações da comunidade escolar, importante para o trabalho com
diversas interações articuladas, mas que também deve proporcionar aos estudantes diferentes
conhecimentos de mundo, mas sempre atento no que diverge a função do currículo e a função
extracurricular. Tendo consciência dessa essencial diferença se estabelece então “o que é principal e
o que é secundário”. (SAVIANI, 2016, p. 57)
39
Com efeito, o que podemos observar é que os valores educacionais se invertem, em suas
efetivações, deixando o principal em segunda instância, fazendo dessa inversão uma educação
distanciada da função principal, responsável pela instrução e construção do saber. Pois é através da
elaboração do currículo que os conteúdos são apresentados e efetivados e que, portanto, é onde se
mostram os objetivos educacionais. Contudo, é na escolha dos conteúdos que a educação se revela
sistematizadora e veiculadora do pensar elaborado pelo outro, de cultura e vivência deslocada da
comunidade onde está inserida, onde em sua maioria são alunos da classe trabalhadora e que pouco
tèm acesso à cultura letrada, mas que pertence a determinados saberes, culturas e costumes
particulares. Nesses aspectos, a escola anda na contramão, visto a sua parcialidade pelo saber
elaborado dada pela classe que domina os propósitos educacionais. Nesse contexto Saviani (2016,
p. 58) nos traz a seguinte afirmação:
Nessa condição, a restrição do acesso à cultura erudita conferirá, àqueles que dela
se apropria, uma situação de privilégio, uma vez que o aspecto popular não lhes é
estranho. A recíproca, porém, não é verdadeira: os membros da população
marginalizados da cultura letrada tenderão a encará-la como uma potência estranha
que os desarma e domina.
Esta afirmação é relevante quando se observa que o currículo é uma questão de identidade e
poder segundo Silva (2010). Porque este importante instrumento educacional demonstra uma
apropriação do saber, sendo assim, uma ferramenta de reprodução da desigualdade educacional e o
meio pelo qual se faz a alienação de um pequeno grupo social. Esta alienação se configura pelo
conhecimento selecionado, tendo em vista a realidade deste grupo social, pois, quando observamos
que o acesso não é equivalente a todos, mas temos uma educação que vigora nessas condições; logo
temos uma parcialidade nesse modo de oferta. Em resumo, a potencialidade é dada aos que provém
de bons acessos à cultura letrada, potencializando assim seus conhecimentos. Enquanto do outro
lado “para se libertar da dominação os dominados necessitam dominar aquilo que os dominantes
dominam”. (SAVIANI, 2016, p. 58).
Entendida dessa forma, Amorim (2010) questiona afirmando que a produção do currículo
deve ser pensada e construída coletivamente pelas instituições que articulam o conjunto de
experiências que devem orientar os educandos, e isso deve ser feito por toda a comunidade escolar,
integrando-se com as experiências formativas dos sujeitos.
A lógica que fundamenta a interdisciplinaridade curricular, foi ao longo da história
sustentada sobre a “uma lógica de fragmentação do saber”, onde o que predomina é um currículo
com parâmetros curriculares nacionais que sustenta uma visão da centralidade educacional. Porém,
o que se busca é um currículo identitário a realidade dos alunos, considerando dessa forma, um
40
currículo integrado que se baseia na valorização dos saberes a que fazem a realidade dos alunos,
tendo como suporte a visão de Ramos (2005, p. 118)
Portanto, pensar um currículo integrado aos saberes dos discentes é traçar uma proposta
pedagógica que considere os saberes e a partir de então objetivar uma nova possibilidade de ensino,
e isso que requer uma nova organização do já estabelecido, se apropriando dos saberes como um
importante conhecimento a ser agregado nos Projetos Político Pedagógico da escola, sob a
configuração das múltiplas relações considerando a totalidade do que é vivido pelos discentes. A
escola nesse sentido, conecta a vida ao currículo, estabelecendo então, uma lógica de pertença ao
reconhecimento da vida no processo educacional.
Esta é a forma pela qual o procedimento de ensino deveria contemplar; contudo o que
temos são formas de escolas capitalistas, que comportam métodos que incluem e que excluem os
que não conseguem atingir de forma satisfatória os objetivos almejados, para assim serem
considerados capazes. Contudo, quando se pretende incluir o outro, vemos o que se incluirá, sempre
com uma negatividade, como se o outro fosse despossuído de cultura, história, personalidade e
território. (FREITAS, 2010). No entanto, o outro considerado marginalizado, que vive a margem, é
essencial para ser incluído. Neste contexto, a avaliação utilizada pelas instituições escolares é o
método que promove essa tal inclusão. Segundo o autor acima citado, essa avaliação funciona como
uma forma de pedágio, que para chegar do outro lado, onde se encontram os incluídos, é preciso
“transitar pela ponte da inclusão” (FREITAS, 2010, p. 90). Segundo o autor nos afirma a seguir:
com os mesmos níveis de aprendizagem, então esse pensamento reforça mais ainda a
responsabilidade sobre o aluno, deixando claro que se ele não conseguiu foi porque não se esforçou
suficientemente. Sobre esta perspectiva os autores afirmam que:
[...] A escola, para nós, torna possível o “cada um pode”, por um lado, e o “tudo”,
por outro. Em outras palavras, em vez de pensar como uma escola utópica ou um
sistema educacional utópico seriam (como muitas vezes é o caso), sugerimos olhar
para a escola em si mesma, e através do que ela faz por meio da sua forma
pedagógica, como a materialização da ideia utópica de que cada um pode aprender
tudo (MASSCHELEIN E SIMONS, 2017, p. 22)
Este “cada um pode tudo” vem introduzir um pressuposto de igualdade, porém quando
analisada de perto e com olhar clínico diante das especificidades de cada um, aí vemos que por um
lado de fato cada um pode, mas de forma diferente da forma padrão, ou seja, com uma forma
particular ele poderá atingir a mesmo aprendizagem e o mesmo resultado dos demais. Diante disso,
a escola deve assumir formas pedagógicas com diferentes estratégias, assumindo o verdadeiro
sentido de igualdade educacional. Portanto, é necessário tirar a escolas das mãos de quem tem essa
instituição como expressão de frustração e de interesses políticos, econômicos e éticos
(MASSCHELEIN e SIMONS, 2017).
O propósito então, é redimensionar o processo avaliativo por meio das propostas
pedagógicas, pensadas a e representadas com múltiplas finalidades, como afirma Leal (2003, p. 14):
“pressuposto da totalidade do real como síntese de muitas determinações” (RAMOS, 2017, p. 36).
Visa, portanto, a organização de um currículo que se utilize no real, ou seja, propõe que a formação
educacional seja focada na composição do todo. Nessa percepção os procedimentos de ensino
devem estar dimensionados a compreensão da complexidade sobre a qual se estabelece a sociedade.
Com base nisso, propõe-se:
Por esse viés temos uma educação que se apresenta focada no sujeito como o principal
objetivo substancialmente responsável para a formação da constituição humana, num âmbito de
propostas educacionais sob a ótica de um tipo humano. Logo, uma prática curricular que
problematiza os processos do mundo do trabalho, como processo de alienação e exploração da
classe trabalhadora. Então, possibilitar essa visão no processo educacional é tirar o foco para vida
regrada ao intuito produtivo e prepará-lo com as diversas áreas do conhecimento. De acordo com
Araújo e Frigotto (2015, p. 68):
Neste capítulo nos dedicamos as análises das falas dos docentes, tendo como foco a
realização do trabalho docente, no que se refere aos processos formativos em termos de
procedimentos de ensino, processos de avaliação e nas perspectivas curriculares, desenvolvido no
interior do Ensino Médio realizado pelo SOME.
Nessa perspectiva, buscamos analisar, como esses procedimentos formativos se relacionam
com os saberes sociais historicamente vivenciado e produzido pela juventude, bem como, verificar
de que forma, se materializa as metamorfoses do mundo do trabalho, decorrentes da contradição
entre capital e trabalho, nos processos formativos do Ensino Médio, com ênfase no Sistema
Modular de Ensino do Estado do Pará, da comunidade de Cuxipiarí Furo Grande, município de
Cametá.
Modular, deste modo, por esta modalidade de educação, com suas diferentes formas de
oferecimento, já que o direito ao ensino médio, isto é, o direito à educação e seu local de convívio
familiar, estão sendo preservando dentro de suas características socioeconômicas e culturais.
Tendo isso em consideração, lançamos ao esforço de analisar esse processo formativo sob
a ótica dos docentes e a dos jovens estudantes trabalhadores do SOME, mas sem abrir mão de uma
compreensão mais panorâmica do contexto situacional do sistema modular e sem descuidar das
condições históricas sob as quais vem se forjando sua construção. Com efeito, é preciso considerar
a relevância inegável do modelo somista no campo educacional paraense nas últimas quatro
décadas, mas também as históricas adversidades enfrentadas para a elevação da referida política a
um patamar mais sistematizado, que possa firmá-la, de fato, enquanto política de estado.
Com isso, buscou-se, analisar, a relação dialética que se estabelece nos processos
formativos de jovens matriculados no Ensino Médio Modular, entre os saberes sociais por eles
historicamente vivenciados/produzidos e as metamorfoses do mundo do trabalho presentes nessa
modalidade de ensino, frutos do modo de produção capitalista, quer materializados em
procedimentos de ensino, processos de avaliação ou nas perspectivas curriculares desenvolvidas nas
atividades docentes aí realizadas. Buscando por meio disso, os aspectos de integração dos saberes
sociais estabelecidos nesses espaços. E também verificar o possível estabelecimento das
metamorfoses do mundo do trabalho, materializados em procedimentos de ensino, processos de
avaliação ou nas perspectivas curriculares desenvolvidas nas atividades docentes.
Esta lei veio assegurar o direito ao acesso da educação as comunidades em suas diferentes
situações geográficas, nesse sentido, concretizando um dos direitos essenciais a sociedade, presente
na Constituição de 1988. Um outro ponto a destacar nessa modalidade educacional, é a permanência
dos sujeitos nas suas comunidades, onde constituem laços afetivos, vinculados aos seus costumes e
valores que ali vivenciam. Contudo, existe uma grande contradição quando nos referimos ao
disposto na lei que a regulamenta e o modo como ela vem sendo desenvolvida nessas comunidades.
Acima vimos que no artigo 4º no seu objetivo I, ele assegura o direito a uma escola pública e de
qualidade. Porém, ainda não é possível na maioria dessa oferta ver esse direito assegurado, pois
ocorrem situações em que o professor ao chegar nessas localidades, ainda não encontrar um espaço
adequado no qual poderá realizar as suas atividades. Desse modo, os professores desse sistema vão
utilizando espaço não convencional de estudo e com isso vão adequando a forma de realização de
seu trabalho, como nos relata o professor 01.
“[...] A gente chega naquele primeiro momento pra conhecer e ver o que o que é
que a gente tem a disposição, se a aula funciona em escola, algumas poucas ainda
funcionam em espécie de barracão, dependendo dessa realidade que a gente
encontra a gente vai adaptando o nosso trabalho”. (PROFESSOR 01)
O meio rural sempre foi visto com um olhar de atraso e de negatividade frente ao
desenvolvimento do mundo industrial e capitalista. Essa representação social do contexto rural é
perpetuada diante do que só louvável de admiração aquilo que está no desenvolvimento de acordo
com o mundo globalizado e que, portanto, é esquecido e de pouca importância.
De acordo com Leite (1999) a educação rural sempre foi inferiorizada por questões
ideológicas e socioculturais da sociedade burguesa, em estabelecer a educação como de cunho
elitista e o pensamento oligárquico de que o povo do campo não precisa de estudo.
Com base nisso, a educação por muito tempo foi tida como privilégio de poucos, pois a
escola se constitui tardiamente nos espaços rurais de nosso país. Essas questões por séculos
deixaram filhos e filhas de trabalhadores de fora do seu direito e de todo o acesso educacional,
negligenciado pelo estado manipulado pela classe dominante que nunca viu o campo com os seus
sujeitos sociais.
Portanto, foi diante da negação, da exclusão da população campesina que surgiram
organizações de movimentos sociais que se engajaram em mobilizações para reivindicar o direito a
uma educação do campo. De acordo com Arroyo (1999), o I Encontro Nacional de Educadores e
Educadoras da Reforma Agrária (I ENERA), organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra (MST), que se começou a pensar em estratégias e mecanismos educacionais que almeja
uma educação a partir da realidade do campo. Nesses encontros o engajamento e organização das
camadas populares com apoio da CEB´S E ONGS, é que os movimentos sociais foram se
fortalecendo e tomando visibilidade por meio de ações coordenadas como ocupações de espaços
públicos/ rodovias, praças e prédios e dezenas de greves. Fundamentando dessa forma, as
reivindicações sociais ligadas às questões do campo e também da cidade. Vale ressaltar que por
longos anos os movimentos sociais tiveram que resistir aos embates, com certa atenção, a repressão
do regime militar que por volta de duas décadas agiu com rigor contra toda mobilização contrária
aos seus métodos de controle social.
Diante das mobilizações, a educação do campo se tornou então um palco de assíduas
discussões e consequentemente um palco de políticas públicas. Nesse espaço se constituiu e se
fortaleceu ainda mais na luta por uma educação no e do campo. Com base nas políticas públicas é
possível legitimar o campo educacional com compromisso que se pensa no cumprimento de tais
reivindicações. E somente com a pressão e interesse dos movimentos populares e educadores que a
educação pode ser vista como direito do cidadão do campo, assumindo as necessidades e anseios
das populações em seus diversos locais de vida.
50
Essa conquista de educação voltada aos povos do campo foi uma conquista de uma
sociedade que sempre viveu à margem do processo educacional, e de um pensar da educação que
desconsidera os diferentes aspectos geográficos e sociocultural. Nesse contexto, surgem novas
propostas educacionais que visa superação e a inclusão das sociedades em suas diversas formas de
vida. Com isso, a LDB dispõe em seus artigos os direcionamentos educacionais pensando o campo
como protagonista, respeitando sobretudo as suas características locais, na identidade local.
Portanto, quando se estabelece no plano de educação que a educação deve se voltar para realidade e
vivência do camponês, é uma questão de respeito em relação aos cidadãos e suas diferentes
realidades. Contudo, o que se apresenta na educação presente nas escolas do campo é o currículo
sendo realizado sob o olhar das escolas urbanas, como nos relata o professor 2.
Na fala desse professor percebe-se que o currículo é um grande impasse dessa oferta de
ensino, pois, o Sistema Modular de Ensino deve ser norteado na perspectiva da educação do campo,
51
como vimos nos objetivos da Lei nº 7.806 que a regulamenta e na LDB, no seu artigo 28
explicitando que os conteúdos curriculares da educação do campo deva-se adequar de acordo com
as necessidades do seu alunado. Jovens que vivem e recriam o campo no seu dia -a- dia para viver
e produzir sua subsistência. Por isso, o ensino deve assumir a responsabilidade de representar esses
sujeitos, nas suas especificidades campesinas; portanto é importante que o currículo esteja em
consonância com essa realidade. Com base nisso Arroyo (2011), nos traz o questionamento quanto
ao profissionalismo e ética do profissional docente, tendo em vista o que se busca enquanto
proposta de educar, visando o que é melhor e o que é importante ensinar, rompendo assim, com o
currículo enquanto dogma e invariável.
O autor nos mostra que é preciso confrontar os projetos de sociedades fazendo da prática
docente um movimento de luta e liberdade por mais dignidade no ato educativo, transformando o
currículo em novas propostas de sociedade e de afirmação social. Dessa forma, o autor aponta para
o questionar do conhecimento tido como necessário.
Com base nisso, é importante trazer para discussão sobre o que é “necessário”, palavra
pequena, mas que carrega todo um significado quando analisada de determinado ângulo e lugar
social, pois, o necessário deve ser sempre questionado. Primeira esse necessário é para quem e para
que é necessário?
É nesse “necessário” que é desconsiderado toda a diferença educacional, pois o currículo é
sempre visto de um olhar de quem está de fora, é sempre um olhar distante e externo, que
desconhece as invariáveis do processo educativo, então é sobre essa perspectiva que é colocado a
todos uma única forma de educação, que atende a necessidade do outro e menos do ser estudante.
É então que entra o papel do profissional docente que tem o poder de transformar esses
objetivos educacionais em pró do sujeito, do compromisso social, da vida, e fazer do currículo uma
prática transformadora dos sujeitos ali presentes. Sobre esse olhar, ainda de acordo com Arroyo
(2011) aponta o significado que a prática docente tem no fazer educativo para os diferentes
coletivos sociais. E que, portanto, diante disso os professores desenvolvam projetos inovadores
apresentando a esses sujeitos conhecimentos válidos a suas formas de vida. Logo, é nessas
circunstâncias que a prática docente deva apresentar um ensino significativo.
É significativo que nas escolas e salas de aula onde chegam os(as) filhos(as) dos
coletivos sociais, étnicos, raciais, das periferias e dos campos tenham lugar especial
52
Por ser aluno que está ali na realidade do campo a gente costuma muito trabalhar
com essa realidade campesina dentro de sala de aula, trazendo todo esse
conhecimento de cultura dele. Os professores costumam fazer muitos projetos,
eventos, baseado no conhecimento dos saberes locais pra dentro de sala.
(PROFESSOR 02)
[...] Chegamos em localidades em que eles estão diretamente ligados ali com o
trabalho do açaí, por exemplo né, então a gente acaba trazendo pra dentro da sala
de aula essa discussão. Em outras localidades que os alunos estão diretamente
ligados na questão da pesca, tipos de lavouras, outras atividades produtivas, então,
tudo isso ai os professores costumam aproveitar, nós temos colegas, por exemplo,
da área da biologia que aproveitando que a escola está ali no meio da natureza, eles
costumam tirar o aluno ali da sala e levar pro mato [...] (PROFESSOR 03)
Essas iniciativas são de grande valia para se iniciar um currículo sobre uma perspectiva
curricular do campo e não no campo. Assumindo os traços e identidade do povo campesino e suas
formas de produção do trabalho, e com isso na realização dos seus saberes culturais por eles
produzidos. Observa-se então, que essas didáticas são redirecionadas pelo professor em sua
metodologia e se consiste num outro plano do ensino aprendizagem, fugindo dessa forma, do meio
tradicional de sala de aula centrado no que diz Libâneo (2008) no “triangulo Didático” entre a
disciplina, quadro negro e conteúdo. Diante disso, vemos que então há uma tentativa de quebrar
com essa estrutura.
Porém, não podemos perder de vista que apesar de existir essas iniciativas criativas, a fim
de fomentar uma nova proposta curricular, ela não pode ocultar a necessidade e a presença de um
currículo próprio para a realidade das comunidades. É importante um planejamento do trabalho
docente junto à comunidade escolar, assim como junto à comunidade local, para assim, ouvir quais
as necessidades e anseios que se busca construir para a juventude que ali reside e que busca no
SOME uma formação participativa e democrática. Contudo, ainda existe uma persistência
sistemática que se perpetua e nega a afirmação dos sujeitos em suas identidades, como evidencia a
fala abaixo destacada:
53
A escola sede tem cerca de seis professores técnicos da escola, esses seis eles estão
lá grande parte deles, por causa dos alunos do Some, mas a gente não tem esse
retorno de trabalho pedagógico como deveria, por isso que eu digo que essa
questão de planejamento, esse trabalho ainda é insuficiente, mas ocorre geralmente
no começo do ano letivo existe um planejamento. (PROFESSOR 01)
A tabela nos mostra que após dois anos de estabilidade entre 2016 e 2017 com percentual de
(87,2%), no que se refere a taxa de escolarização das pessoas de 15 a 17 anos subiu para 88,2% em
2018, porém houve um baixo índice de frequência líquida. Já em termos regionais, as regiões norte
e nordeste do país ainda são os quais apresentam os menores índices educacionais, enquanto na
região sul se apresentam sempre com um bom rendimento e em constante crescimento, saindo de
85,8 % em 2017 e 88,2%. O Sudeste e centro Oeste, os indicadores apontam para uma estabilidade
de seus desempenhos.
No Plano Nacional de Educação (PNE), onde se determina as diretrizes, metas e estratégias
para a política educacional. A meta 3 define a universalização do atendimento escolar para a
população na idade de 15 a 17 anos, com intenção de obter esse resultado em 2016. Mas em 2018,
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todavia, essa parte da meta não havia não foi alcançada em nenhuma grande região brasileira. A
Meta 3 também estabelece que a taxa de frequência escolar líquida ao ensino médio seja elevada
para 85,0% até o final da vigência do Plano em 2024.
Esses dados são importantes para compreendermos o distanciamento da tão sonhada
igualdade social, pois quando fazemos o comparativo geográfico, as regiões que mais apresentam
baixo desempenho estão localizadas nas regiões periféricas, onde existe pouco alcance do poder
público. Diante dessa realidade se apresenta o Sistema Modular e sua juventude com suas inúmeras
dificuldades. Diante dessa difícil realidade os alunos e professores que estão nesse sistema
educacional relatam tais enfrentamentos.
Cada Módulo dura 52 (cinquenta e dois) dias, e vem duas ou três matérias por
modulo e durante todo o ano nós estudamos 12 (doze) disciplina, por falta de
transporte nós gastamos 02 (dois) litros de gasolina por dia, e isso dificulta o
aprendizado, mas nos esforçamos muito para não chegar atrasado na aula.
(ALUNO 2)
Ah! O SOME ocorre por módulos que duram um mês, as vezes dois ou três
professores, mas a gente encontra várias dificuldades por que não tem transporte,
merenda, as vezes os professores terminam as aulas cedo, por que os transportes
que alguns alunos vão é do ensino fundamental, ai eles voltam cedo e isso
atrapalha muito, muito mesmo, por que a gente perde aula, não vai na carga horaria
correta que é. Perde assunto, fica assunto atrasado, a gente aprende menos, mas a
gente tem que recuperar isso estudando na casa, mas não é a mesma coisa do que
ter um auxílio de um professor ao lado, a gente tem a dúvida, por que todos nós
temos dúvidas. Mas os professores são ótimos, mas a dificuldade é essa, não temos
transporte, temos que sair cedo de casa, as vezes a gente fico no rio quando
escangalha o motor da gente, mas o SOME é bom sim, porém a gente tem muita
dificuldade. (ALUNO 1)
Nessas afirmativas existe um ponto de suma importância para focarmos, então destacamos
o calendário escolar como um grande impasse para os alunos e professores do Sistema Modular,
pois existe uma dependência da estrutura física das escolas municipais, assim como transporte
escolar. Então, observamos o quanto é emblemático esse acesso. Dessa forma, quando há a negação
do transporte escolar para a efetivação e permanência desses alunos na escola, existe a persistência
da família e dos próprios alunos em continuar, mesmo que seja gastando o dinheiro do sustento
familiar. Logo, dentro dessa realidade, muitas famílias não conseguem com que seus filhos
concluam essa etapa do ensino. Então, dentro desses aspectos, permanecem a grande diferença da
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realidade do acesso a escola estipulado Plano Nacional de Educação para que a educação chegue ao
maior número da população do País. Nesse sentido, falta uma maior articulação do Estado e com o
respectivo Munícipios, para que de fato se tenho a garantia do direito ao transporte escolar e que
assim tenhamos um maior suporte educacional.
[...] foi a única forma que eu tive para poder cursar e concluir o ensino médio, mas
foi muito resumido. Quando fiz o vestibular vi assunto ali que nunca tinha
estudado, sem contar as dificuldades que tinham de estudar, pois não tínhamos
transporte escolar, merenda. As vezes nós perdíamos aula, porque não tínhamos em
que ir pra aula, ou algumas vezes os professores não iam dar aula, ou seja, era
muito complicado. Acredito que com a formação que recebemos pelo SOME é
muito difícil para passarmos no vestibular, pois tem muitos jovens que estão em
nossa frente, que estudam em escola particular, fazem cursinho. E nós filhos de
pescadores não temos condições de financiar nossos estudos, ou seja, investir numa
educação de qualidade. (ALUNO 3)
Quando nos atemos a esses aspectos, vemos que diante dos problemas estruturais das
escolas no campo, o transporte escolar é um importante instrumento de acesso aos alunos que
necessitam do mesmo para efetivação e permanência na escola. O transporte escolar é responsável
pela dinâmica diária da escola no campo, pois sem a efetivação de locomoção dos estudantes na
hora e dias certos, acabam afetando a aprendizagem dos estudantes, assim como afetam a
andamento das metodologias didáticas do trabalho docente com relação ao tempo de aula,
ocasionando assim, uma redução do tempo escolar e consequentemente uma forma reducionista
dos conteúdos, deixando o aluno com uma lacuna na aprendizagem.
Nessas lacunas são estruturadas as limitações ao longo da vida estudantil influência para
uma negação das competências necessárias para essa fase do ensino. E diante dessa realidade a
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formação negligenciada acaba que o jovem posteriormente em exames educacionais que se volta ao
público jovem estudante como um todo homogêneo equivalente a educação tal qual apresentada
pelas legislações e metas de cumprimento educacional. Contudo, dentro desse contexto analisado a
concorrência nesses exames é desleal com os quais tem uma realidade tão diversa e particular que
fazer do some uma modalidade de ensino pautado na negatividade.
Contudo, nesse turbilhão de dificuldades existem as exceções de jovens que persistem e
através do ensino médio modular conseguem o suporte necessário e bons resultados em exames,
que os possibilitam o ingresso na universidade.
Posso dizer que, o SOME foi fundamental pra que eu estivesse hoje cursando o
ensino superior. Primeiro porque se eu não tivesse passado pelo SOME, não
poderia nem prestar o vestibular. Claro que a formação que recebi pelo SOME, não
são as das melhores, mas me deu uma base para que eu pudesse estudar de outras
formas, tipo, em casa, e poder fazer uma boa prova do ENEM e passar e poder
cursar o ensino superior na Universidade Federal do Pará. Costumo dizer que o
SOME realizou meu sonho de estar hoje na universidade. (ALUNO 4)
cidade, mas o SOME ele me ajudou muito a está concluindo o ensino médio.
(ALUNO 1).
Nesta fala observamos que esse jovem teve pela oferta do Some a continuação do
estudo, vemos também que muitas vezes essa escolha a qual ele se refere é imposta, porque se fosse
lhe possibilitado a escolha, ele escolheria a opção do ensino médio regular, justamente pelas
negativas que a modalidade modular possui na sua oferta. Contudo, o some exerce um importante
papel social, na construção democrática da consciência cidadã, que quando ativada desenvolve a
responsabilidade do exercício coletivo, desempenhando uma prática política. (Nóvoa, 1999). É
relevante apontar que talvez em muitos contextos se a escola não exercer essa função social na
construção dos sujeitos, corremos o risco de não ser incentivada por outras formas, nesse sentido a
escola se destaca como principal e quem sabe a única forma de formação.
Pelo Some eu pude ser mais crítica, não aceitar as coisas como elas são, a sempre
questionar porque tudo está em mudança, ai se eu aceitar sempre, eu não vou
conseguir enxergar o mundo daqui a alguns anos, e através do SOME alguns
professores me ajudam a questionar, a aprender algo a mais, não aprender só o que
está no presente mas enxergar um futuro pra frente, a sempre ajudar as famílias,
ajudar a minha família. O SOME me ajudou nisso, a realizar o meu sonho.
(ALUNO 1)
A esse tipo de formação docente se dá pela pedagogia tal qual Paulo Freire descreve
como pedagogia libertadora. Essa pedagogia possui como foco o sujeito em sua condição social,
descartando qualquer currículo regulador, para dar suporte aos indivíduos.
Segundo Freire (1987), trata a pedagogia libertadora como problematizadora, pois ao
visualizar as coisas, já não é mais possível olhá-lo com passividade e neutralidade. O olhar tende a
partir da libertação fazer um ato reflexivo e cognoscente, ou seja, já não é a pedagogia bancária, no
qual só cabe a reflexão docente como única e verdadeira.
Tendo isso como análise podemos ver o Some no seu processo educacional funciona
como uma ferramenta que faz dos sujeitos jovens, sujeitos críticos diante da sociedade, ativando
dessa forma sujeitos políticos e responsável em produzir seus próprios conhecimentos e poder
formar do mesmo modo o professor.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho nos traz apontamentos de como as metamorfoses do mundo do trabalho
determina o que temos hoje no âmbito educacional, dividido entre uma formação para os
dominantes e outra para os filhos de trabalhadores. Não queremos somente apontar como a escola
deveria direcionar seus ensinamentos. Esses apontamentos têm o objetivo de instigar e provocar
reflexões com o intuito de mostrarmos os mecanismos que induzem de forma direta e indiretamente
a finalidade na sociedade capitalista no tocante à educação brasileira, assim como de todo o mundo.
Percebemos, então, quando buscamos fundamentos na história, que a função da escola na
contemporaneidade é essencialmente fundamentada e legitimada a uma hierarquia construída na
sociedade. Essa supremacia é muito bem admitida no âmbito do capitalismo, construindo assim,
uma sociedade de desiguais.
As reflexões aqui feitas, se fazem necessárias para entender melhor a logística de
funcionamento do ensino médio. E que diante disso, devemos nos impulsionar cada vez mais para
buscarmos propostas que tornem a educação para além do capital (MÉSZÁROS, 2005), para que de
fato a educação seja interessante para a juventude. Dessa maneira, traçar uma luta contra a classe
dominante pressupõe, discussões que devem culminar com o reconhecimento e a necessidade de
elaboração de propostas que,
[...] permitam articular cidadania, cultura e trabalho, identificando a escola [...]
como um dos únicos espaços de que dispõem os trabalhadores e seus filhos, bem
como os excluídos do mundo do trabalho, para ter acesso a todos os tipos de
conhecimento que lhes permitam melhor compreender as relações sociais e
produtivas das quais participam, inserir-se no mundo do trabalho como condição
de existência e organizar-se para destruir as condições que produzem exclusão
(KUENZER, 2000, p. 12).
Essa articulação, se mobiliza para um pensamento de desarticulação da escola do capital
e se voltar para o sujeito, numa formação que transcende o mercado de trabalho e foca nas práxis
como forma de transformação social dos indivíduos.
Com base nisso, acreditamos ter alcançado os objetivos dessa pesquisa, pois chegamos à
conclusão de que, os processos formativos presentes no Sistema Modular, são trabalhados de
acordo com a proposta curricular de uma escola urbano-Centrica, e que dessa forma, apresenta-se
pouco articulado aos saberes sociais vivenciados e produzidos historicamente pela juventude. Ou
seja, nesses aspectos pouco se faz a integração dos saberes presentes na comunidade onde vive os
jovens estudantes trabalhadores.
Percebemos, que a desarticulação vem da falta de uma proposta curricular própria as
peculiaridades do campo, pois, defendemos o pressuposto de um currículo do campo, no qual
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assume a identidade do povo campesino, potencializando o processo formativo por meio de suas
vivencias e práticas sociais, considerando assim, os valores e costumes dos grupos sociais no
processo educacional conforme estabelece a LDB (Leis de Diretrizes e Bases da Educação). Logo,
quando se observa uma educação antagônica, firmada e centrada numa dominação do currículo,
pouco se faz a integração dos processos formativos nas práticas docentes.
Assim, as metamorfoses do mundo do trabalho são materializadas e legitimados nos
processos formativos, e, com base nisso, por mais que as questões dos saberes locais venham
sendo trabalhado no processo educacional, ela não é considerada legitimada por um currículo.
Logo, com essas reflexões afirmamos a necessidade de o Sistema Modular ter o seu próprio
processo formativo, tendo como base, os saberes sociais, como meio de potencialidades da
educação dos sujeitos do campo.
Contudo, afirmamos a importância do Some nas localidades de difícil acesso, pois,
acreditamos que ele é, uma, importante política de fortalecimento do ensino e democratização da
educação nas regiões que antes eram esquecidas pelas políticas de acesso à educação. Mas o
período de seu funcionamento tornou realidade o sonho de muitos jovens ao ensino médio e
posteriormente ao ensino superior. Contudo, apontamos para a necessidade de melhores condições
de realização desse ensino no município, como as condições estruturais dos espaços físicos e tornar
essa modalidade uma educação do campo, fazendo valer assim o que expõe as diretrizes
educacionais, para então, buscarmos uma melhor qualidade do ensino.
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