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INSTITUTO DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
DOUTORADO EM EDUCAÇÃO
CUIABÁ-MT
2019
ROSALVA PEREIRA DE ALENCAR
CUIABÁ/MT
2019
Dados Internacionais de Catalogação na Fonte.
Ficha catalográfica elaborada automaticamente de acordo com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).
todas as pessoas que, de algum modo, contribuíram para que este trabalho se
mais simples, nos encontros felizes, nas prosas, alegrias e naqueles silêncios tão
soltar as mãos uns dos outros, mesmo nas adversidades! Meus esteios da/na vida!
À Caroline, minha menina do coração, que preenche os meus dias com sua
encorajadoras!
Estágio.
Aos meus amigos queridos Rogério e Cleusa, pela partilha de boas risadas,
meus passos!
experiências, afetos e pela leveza diária que, mesmo à distância, tornaram meus
de doutoramento.
This research deals with the Supervised Curricular Internship and the pedagogical praxis in
non-school spaces, as a possibility of appropriation, construction or not of the teaching
knowledge in the Pedagogy course of Campi de Cáceres and Juara, University of the State of
Mato Grosso. This approach arises from the following problematizing situation: How is the
articulation of theory and practice in non-formal education spaces? Therefore, as a general
objective, we seek to understand the internship and educational praxis in non-school spaces in
the context of initial formation, as a space of appropriation, construction and reconstruction of
teacher knowledge that emerge from the educational action of the people involved in this
process. In this research, we use the theoretical and methodological framework that anchors
the ideas and arguments presented by Nóvoa (1995, 1998), Pimenta (2011, 2012), Pimenta e
Lima (2012), Tardif (2002), Barbier (2006), Denzin (2006), Haguette (2000), among others.
The methodological approach is based on the qualitative perspective, through participant
observation. Four teachers participated in this research, two of each Pedagogy course, and 05
groups of students in internship activities during their practices. Of these, 03 groups of the
campus of Cáceres and other 02 groups of the Campus of Juara. In addition to the
observation, we conducted interviews with the teachers and those trainees who were willing
to participate. The research results showed three dimensions: first, it refers to the process of
theoretical-practical instrumentalization, emphasizing the contributions of the stage of the
constitution of the professional identity, organization of the pedagogical work, the theoretical-
practical aspects, the challenge of the existence or non-existence of non-school spaces,
educational activities planning, trainees' accompaniment and internship evaluation. The
dimension second refers to the pedagogical practice of the trainees, which evidenced the
reconstruction of knowledge as the social reality and the interests and needs of the community
led to the emergence of various knowledges and the role of the social educator as articulator
of these knowledges. Finally, the dimension third presents the reflections produced by the
trainees in the final reports of the traineeship, in which the contributions to the professional
formation and perspectives of extension of the pedagogue's field of action stand out. The
results confirm the thesis and show that the Supervised Curricular Internship in non-school
spaces allows the construction and reconstruction of teaching knowledge.
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 13
1 A FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO CONTEXTO DAS DIRETRIZES
CURRICULARES NACIONAIS .......................................................................................... 18
1.1 Os saberes constitutivos da formação DE PROFESSORES: os desafios e as articulações
necessárias ................................................................................................................................ 23
1.2 A educação não formal no contexto da legislação e do curso de pedagogia da UNEMAT35
1.3 A formação de professores reflexivos ................................................................................ 43
1.4 A formação do pedagogo na Universidade do Estado de Mato Grosso no contexto das
reformas .................................................................................................................................... 51
2 O ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISONADO DOS CURSOS DE PEDAGOGIA
DA UNEMAT: UM ESPAÇO DE CONSTITUIÇÃO DE SABERES .............................. 59
2.1 Aproximações conceituais na articulação da teoria e da prática ........................................ 59
2.2 A ação educativa no estágio curricular supervisionado noS cursoS de Pedagogia da
Unemat ..................................................................................................................................... 68
2.2.1 A constituição do Curso de Pedagogia: aspectos introdutórios ....................................... 69
2.2.2 O estágio supervisionado: aspectos históricos e conceituais ........................................... 77
2.3 O Estágio Curricular Supervisionado em espaços não escolares: produção de saberes .... 88
3 OS CAMINHOS DA PESQUISA....................................................................................... 95
3.1 A pesquisa: características e métodos ................................................................................ 96
3.2 O campo da pesquisa .......................................................................................................... 98
3.2.1 Contextualizando o Campus Universitário “Jane Vanini” .............................................. 99
3.2.2 Contextualizando o Campus Universitário de Juara...................................................... 103
3.3 Sujeitos participantes da pesquisa .................................................................................... 106
3.4 Desenvolvimento da pesquisa: procedimentos e técnicas utilizadas ................................ 106
3.4.1 O percurso da pesquisa .................................................................................................. 110
3.4.2 A participação dos sujeitos na pesquisa ........................................................................ 112
3.4.3 O processo de instrumentalização teórico-prático ......................................................... 113
3.5 Apresentação e interpretação de dados ............................................................................. 117
4 A ARTE DE APRENDER/ENSINAR A SER PROFESSOR: AS VOZES DOS
SUJEITOS DA PESQUISA ................................................................................................. 120
4.1 Espaços não escolares em Cáceres ................................................................................... 120
4.1.1 Projeto Gonçalinho ........................................................................................................ 120
4.1.2 Hospital Regional de Cáceres “Antônio Fontes” .......................................................... 125
4.1.3 Rede cidadã integração, inclusão e cidadania ............................................................... 127
4.2 Espaços não escolares em Juara ....................................................................................... 130
4.2.1 Creche Municipal Thayná Gabrielly Oliveira Moraes .................................................. 130
4.2.2 Projeto “O Protagonismo da mulher e os desafios da sociedade contemporânea”. ...... 132
4.3. Espaços de educação não formal: lugar de aprendizagem para a vida em coletivos....... 136
4.3.1 Relação institucional e o papel educativo dos espaços parceiros .................................. 136
4.4 As práticas realizadas no estágio em espaços não escolares: o que revelam as entrevistas138
4.5 O estágio em espaços não escolares: o olhar dos estudantes/estagiários de Pedagogia dos
Campi de Cáceres e Juara ....................................................................................................... 158
4.6 Dimensões Resultantes das Interpretações Analíticas dos Dados .................................... 183
4.6.1 Instrumentalização Teórico-Prática ............................................................................... 183
4.6.2 A Prática Pedagógica ..................................................................................................... 203
4.6.3. Reflexões apresentadas pelos estagiários nos relatórios finais de estágio.................... 207
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 214
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 221
APÊNDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO .......... 225
APÊNDICE B - INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS ...................................... 232
13
INTRODUÇÃO
1
O termo esfera utilizado no Projeto Pedagógico do Curso surge da concepção e arquitetura curricular
sustentada na estrutura e funcionamento do átomo e, desse modo, é compreendido como campo gravitacional
que atrai diferentes elementos para o seu núcleo e, ao mesmo tempo, imana seus efeitos para os Núcleo
Epistemológico, Núcleos de Estudos, Temas Indutores, Esferas de Formação e Temas Catalizadores, dessa
maneira, a dinâmica do currículo constitui-se, pelo menos, de dois movimentos estruturantes: a) um movimento
que parte do Núcleo em direção à órbita, provocando integrações disciplinares; que se dá sob a forma de ondas
que transpassam os Núcleos de Estudos (DCN 001/2006); e, b) outro movimento que retorna, sob a forma de
fluxos, em direção ao Objeto de Estudo da Pedagogia, plasmando-se no Núcleo epistemológico. Ressalta-se,
então, que a intensidade da instituição de esferas de formação e da produção de saberes sobre a Educação,
15
enquanto objeto de estudo da Pedagogia, está diretamente ligada à força (ou à atividade) dos Temas Indutores.
Analogamente, correspondente ao que se denomina de semestre. (UNEMAT, 2015, p.9)
2
Peço licença ao leitor para utilizar a linguagem escrita na primeira pessoa do singular, com pronomes
possessivos neste e no parágrafo seguinte, para expressar as experiências individuais que vivenciei no Estágio
Curricular Supervisionado na UNEMAT.
16
espaço de apropriação, construção e (re) construção de saberes docentes que emergem da ação
educativa das pessoas envolvidas no estágio.
Como objetivos específicos, por sua vez, delimitamos: evidenciar a concepção de
formação inicial presente nos referenciais teóricos que apontam sobre a formação inicial,
profissionalidade e a constituição da identidade profissional do pedagogo, tendo a práxis
pedagógica como o elemento propulsor da formação do pedagogo; descrever analiticamente
os aspectos relativos à articulação da teoria à prática no currículo do curso de Pedagogia;
evidenciar as práticas pedagógicas e a constituição de saberes docentes que se destacam
durante a realização do Estágio; e, por fim, interpretar as manifestações de apropriação,
construção e (re)construção dos saberes docentes a partir do estágio curricular supervisionado
no curso de Pedagogia.
A partir de tais objetivos, e conscientes dos riscos que a redução que ora nos
pautamos nos impõe, buscamos, por meio de levantamento bibliográfico, nos bancos de dados
de teses e dissertações da CAPES, as pesquisas que destacam o objeto deste estudo e
encontramos uma vasta produção que versa sobre o estágio e a práxis pedagógica, no curso de
Pedagogia e em outras licenciaturas que se aproximassem desta, no entanto, ainda que
compreendam objetivos semelhantes, não encontramos nenhuma pesquisa que tivesse o
enfoque que partisse das ações educativas em espaços não escolares como possibilidade de
construção e reconstrução de saberes, tomando a prática pedagógica dos estagiários como o
mote da formação.
Para tanto, a construção da pesquisa pauta-se na abordagem qualitativa, sob a
orientação metodológica da Observação Participante, cujos instrumentos utilizados para a
investigação são a análise documental, a entrevista com professores e estudantes estagiários,
observação das práticas educativas realizadas pelos estudantes, bem como suas reflexões
registradas nos relatórios finais de estágio.
Nesse sentido, tomamos como referência para a construção do delineamento da
pesquisa, as contribuições trazidas por Denzin (2006) e Haguette (2000); em relação aos
aspectos conceituais, históricos, políticos, teóricos e práticos utilizados para o
aprofundamento e compreensão acerca do estágio Curricular Supervisionado e a práxis
pedagógica, ancoramo-nos nas ideias e argumentos de Tardif (2002), Pimenta (2011, 2012),
Schön (1997), Pérez Goméz1997), dentre outros.
Nessa direção, no primeiro capítulo apresentamos argumentos teóricos e práticos
sobre a formação de professores no contexto das Diretrizes Curriculares Nacionais,
evidenciando os aspectos relativos à constituição de saberes docentes, à educação não formal
17
3
Embora consciente das implicações teóricas e políticas quanto ao uso da grafia o(s)/a(s) para uma maior
fluência do texto, assim como outros pesquisadores adoto o uso dos termos estudantes, estagiários e professores
para referir-me, respectivamente, a professores e professoras, alunos e alunas. A distinção será mantida quando
for relevante para a discussão realizada.
18
curso de Pedagogia tem por objetivo propiciar uma formação que atenda ao mercado de
trabalho, cada vez mais complexo e exigente, bem como produzir uma intervenção no
processo formativo, para que seja capaz de minimizar as “deficiências de leitura e escrita, que
são estruturais e históricas no processo de escolarização do país” (UNEMAT, 2015, p.6).
Outra preocupação igualmente desafiadora que se evidencia na constituição do
currículo do curso de Pedagogia diz respeito ao acompanhamento do avanço célere “das
tecnologias da comunicação e da informação, cujos resultados são perversamente distribuídos,
e que têm impactado a sociedade e de modo específico, bem como a comunidade
educacional” (UNEMAT, 2015, p.6). Esse contexto, aliado à histórica exclusão de
determinados grupos sociais, desafia a universidade a aprofundar e aprimorar a formação do
pedagogo, de maneira que possa atuar “em classes que incluem diferenças acentuadas,
decorrentes de necessidades educacionais especiais apresentadas por uma parcela significativa
dos estudantes” (UNEMAT, 2015, p.6).
Nesse contexto, o curso de Pedagogia, atendendo ao que dispõem as Diretrizes
curriculares que nos indicam muitas alterações advindas das várias esferas das políticas
públicas educacionais, em especial aquelas relativas às políticas de formação docente do
licenciado em Pedagogia, também sofre essas mudanças. Dentre elas, podemos destacar seu
lineamento aos aspectos que dizem respeito à ampliação das atribuições e responsabilidades
docentes em relação ao papel a ser desempenhado, tanto em seu processo formativo quanto
em sua atuação no processo ensino-aprendizagem.
Pode-se explicar tal situação por meio da literatura e das Diretrizes Curriculares
Nacionais para o Curso de Pedagogia – DCNP, instituídas pelos pareceres CNE/CP Nº
05/2005 e 03/2006 e que resultaram na Resolução MEC/CNE Nº 01/2006. Nesse sentido, a
partir da leitura do Parecer 05/2005, podemos inferir que a composição das Diretrizes é
resultante de diferentes influências, uma vez que em tal documento considerou-se o que
estava determinado na legislação vigente, o processo de consulta e de discussões com
diferentes protagonistas da área de educação, experiências e propostas que apresentavam
ideias inovadoras. Também levou-se em consideração os índices de avaliações institucionais e
as potencialidades e carências das instituições escolares.
Além disso, a referida Resolução n. 1/2006, ao se pautar pela busca do consenso
entre as correlações de forças durante o seu processo constitutivo, aponta indicativos quanto à
formação que atenda às necessidade sociais atuais, assim como perspectivas para o campo de
atuação nas atividades de ensino em espaços de educação formal e não formal. Define
20
A autora nos traz elementos para a reflexão de que a criação da “realidade humano
social” se dá no diálogo entre o pensar, a realidade e o agir consciente e coletivamente,
produzindo, assim, as transformações a partir dos anseios das pessoas envolvidas nesse
processo. Essa constituição requer o diálogo entre os saberes da academia e as vivências
sociais construídas nas lutas forjadas em busca de conquista de direitos e acesso aos bens
(i)materiais socialmente produzidos.
Nesse contexto, a Resolução CNE/CP n. 1/2006 amplia as atribuições relativas à
docência previstas no Artigo 4º, parágrafo único:
Nessa relação educativa, a Resolução evidencia que a docência requer uma nova
compreensão da dimensão pedagógica, que envolve a gestão e a administração dos fazeres
constituídos no trabalho docente. Isso significa dizer que a docência dialoga com a teoria e a
prática de modo a atender os anseios que emergem das coletividades dos diferentes espaços
educativos.
O educador, na sua práxis pedagógica, trabalha as dimensões do ensino, pesquisa e
extensão, que devem atender às várias áreas produtoras de conhecimento que se manifestam
de maneira indissociável ao ensino. Dessa forma, efetiva-se pesquisa e também a extensão,
pois entende-se que estas são interdependentes e simultâneas. Ao dimensionar o ensino,
pressupõe-se uma compreensão da pesquisa e da extensão, assim como nos explicita Freire
(2015, p.30) “não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino”.
Nessa perspectiva, ancoramo-nos nas ideias de Freire (2011) que reitera que ensinar
exige respeito aos saberes dos educandos, “por isso mesmo, pensar certo coloca ao professor
ou, mais amplamente, à escola, o dever de não só respeitar os saberes com que os educandos,
sobretudo os das classes populares, chegam a ela”, mas também, conforme evidenciou o
autor, que seja discutido com os envolvidos a importância e necessidade de determinadas
práticas em relação com o ensino do conteúdo (FREIRE, 2015, p. 31).
Para contribuir, Gohn (2009) traz uma reflexão sobre a formação de professores no
campo da Educação Não Formal, e aponta a importância do papel do educador social, no
contexto dos espaços não escolares. Quanto a sua função social, em primeiro lugar, a autora
afirma que o educador social tem um “papel ativo, propositivo e interativo” (p.33).
A prática docente, nesses espaços, deve se constituir em um processo de desafio para
todos os participantes, em busca da compreensão dos contextos nos quais estão inseridos, a
partir dos problemas e das necessidades geradas na comunidade, para que possam produzir os
saberes necessários a esta última. Por essa razão, os Educadores Sociais junto às coletividades
são protagonistas na dinamização e construção de um processo participativo em que o diálogo
tematizado constitui-se o fio condutor da formação, e deve estar pautado por metodologias e
princípios teóricos orientadores das ações educativas que priorizem os saberes produzidos nas
lutas cotidianas em confronto com a realidade social e cultural para desencadearem novos
saberes.
Gohn (2009, p.33), tomando como parâmetro a Pedagogia de Paulo Freire,
acrescenta que a ação educativa desenvolvida pelo educador social deve ser composta de três
fases distintas: “a elaboração do diagnóstico do problema e suas necessidades, a elaboração da
proposta de trabalho [...] e o desenvolvimento do processo de participação de um grupo [...]”,
23
docente, que acontecem nos contextos educativos, com sujeitos envolvidos no processo de
ensino e aprendizagem (AZZI, 2012, p.51).
O envolvimento do educador na atividade docente gera as respostas que traduzem
sua forma de intervenção sobre os espaços educativos em que atua. Essas respostas
constituem os saberes particulares daquele professor e, por isso, não podem, nessa etapa, ser
entendidas como saber pedagógico. Isso porque este saber é construído “a partir do
conhecimento e/ou saber que o professor possui” e na relação de experiências e “vivências,
isto é, na relação teoria-prática que é a ação docente” (AZZI, 2012, p.52).
Além dos saberes até aqui explicitados, Tardif (2002) apresenta a concepção de
saberes disciplinares como aqueles que correspondem aos vários campos do conhecimento
que se encontram presentes nos cursos de formação de professores e nas instituições de
ensino, sob a forma de disciplinas. Esses saberes são socializados independentemente das
especificidades dos cursos porque são saberes que surgem das manifestações culturais dos
diferentes grupos sociais ao longo das gerações.
Os saberes disciplinares compõem o arcabouço dos saberes pedagógicos, mas
referem-se a conhecimentos disciplinares, enquanto os saberes pedagógicos são constituídos
do fazer, da práxis. E, neste campo, insere-se o Estágio Curricular Supervisionado. Podemos
ilustrá-lo da seguinte maneira: os estagiários dispõem da instrumentalização teórica para
pensar sua prática e, ao ir a campo, conhecem a realidade, que é o lócus de seu fazer. No
entanto, ao entrar em contato com o conhecimento de outrem, essas interações proporcionam
aos estagiários a elaboração do seu fazer pedagógico. Com esse fazer, eles compreendem a
ação docente como saber pedagógico.
Nesse sentido, Pimenta (2012) contribui com a compreensão do conceito de saberes
pedagógicos:
Os saberes pedagógicos podem colaborar com a prática. Sobretudo se forem
mobilizados a partir dos problemas que a prática coloca, entendendo, pois, a
dependência da teoria em relação à prática, pois esta lhe é anterior. [...] Essa
anterioridade, no entanto, longe de implicar uma contraposição absoluta em
relação à teoria, pressupõe uma íntima vinculação com ela. (PIMENTA,
2012, p.30)
4
Habitus, segundo Tardif (2002, p.49), consiste em certas disposições adquiridas na e pela prática real. [...]
Podem transformar-se em um estilo de ensino, em ‘macetes’ da profissão e até mesmo traços da ‘personalidade
profissional’: eles se manifestam, então, através de um saber-ser e de um saber-fazer pessoais e profissionais
validados pelo trabalho cotidiano.
30
Desse modo, na perspectiva apresentada por Tardif (2002), é possível depreender que
os saberes experienciais surgem das práticas educativas cotidianas individuais e são por elas
validados nas diferentes situações em que se constituem as condições da profissão, sejam
essas nas interações entre os seus pares, seja durante o processo de formação, na elaboração
do projeto pedagógico ou, ainda, no atendimento às normas institucionais.
Na busca de aprofundar nossa compreensão sobre os saberes experienciais,
reportamo-nos às contribuições de Larrosa (2002) que pensa a educação a partir do par
experiência/sentido e define experiência como aquilo “que nos passa, o que nos acontece, o
que nos toca” (LARROSA, 2002, p. 21).
Em relação ao sentido, Larrosa (2002) o esclarece tomando o sujeito da experiência
como território de passagem, com uma superfície sensível que o afeta de algum modo, produz
alguns afetos, marcas, vestígios e efeitos, e, sobretudo, pela abertura de ser transformado pela
experiência, seja por um dia ou por um longo período. Afirma ainda que o “saber da
experiência se dá na relação entre o conhecimento e a vida humana, singular e concreta”
(LARROSA, 2002, p.24).
As contribuições acerca dos saberes experienciais trazidos por Larrosa (2002) e
Tardif (2002) complementam-se no diálogo produzido sobre os modos como cada ser humano
adquire ou vivencia a experiência:
não é o que acontece, mas o que nos acontece, duas pessoas, ainda que
enfrentem o mesmo acontecimento, não fazem a mesma experiência. O
acontecimento é comum, mas a experiência é para cada qual sua, singular e
de alguma maneira impossível de ser repetida. O saber da experiência é um
saber que não pode separar-se do indivíduo concreto em quem encarna. Não
está, como o conhecimento científico, fora de nós, mas somente tem sentido
no modo como configura uma personalidade, um caráter, uma sensibilidade
ou, em definitivo, uma forma humana singular de estar no mundo, que é por
sua vez uma ética (um modo de conduzir-se) e uma estética (um estilo). Por
isso, também o saber da experiência não pode beneficiar-se de qualquer
alforria, quer dizer, ninguém pode aprender da experiência de outro, a menos
que essa experiência seja de algum modo revivida e tornada própria
(LARROSA, 2002, p. 27).
As ideias e argumentos trazidos por Tardif (2002) e Larrosa (2002) traduzem a força
da relação existente entre o conhecimento e a vida humana, que mobiliza os sujeitos da
experiência nos modos como respondem aos acontecimentos de sua vida dando sentido às
situações, às coisas, e, principalmente, às formas como acontecem e produzem as
transformações em sua maneira de pensar e agir. Nesse sentido, o autor esclarece ainda que o
saber experiencial possui uma qualidade existencial pela sua relação imbricada com a vida
singular e concreta dos sujeitos.
Desse modo, utilizamos o seguinte quadro em que Tardif (2002) explicita a
pluralidade constitutiva dos saberes profissionais, situando-os nos espaços de atuação,
formação e experiências advindas das práticas educativas.
32
trabalho material”. Para o autor, essa epistemologia tem como “objeto o ser humano e cujo
processo de realização é fundamentalmente interativo, chamando assim o trabalhador a
apresentar-se [...] com tudo que ele é”, ou seja, sua história, sua personalidade, seus recursos e
seus limites. (TARDIF, 2002, p. 111).
Tardif (2002) diz, ainda, que os “saberes experienciais surgem como núcleo vital do
saber docente, núcleo através do qual os professores tentam transformar suas relações de
exterioridade com os saberes em relações de interioridade com sua própria prática”. Para ele,
os saberes experienciais são formados de todos os demais, mas retraduzidos e ressignificados
a partir das certezas que são construídas na prática educativa e, sobretudo, na experiência
(TARDIF, 2002, p.55).
Desse modo, o professor deve estar aberto para construir os seus saberes
experienciais a partir do outro, do interlocutor (alunos), nas diferentes interações realizadas.
Portanto, não há um saber acabado. Deve-se ancorar no inacabamento. Essa compreensão
foge ao engessamento vivido pelo tecnicismo por tantos anos, presente na educação.
Finalizando, Tardif (2002) afirma que as múltiplas articulações realizadas entre a
“prática docente e os saberes, fazem dos professores um grupo social e profissional, cuja
existência depende, em grande parte, de sua capacidade de dominar, integrar e mobilizar tais
saberes enquanto condições para sua prática” (TARDIF, 2002, p.39).
Nesse contexto, os saberes da experiência compõem o arcabouço utilizado pelos
professores no processo de instrumentalização teórico-prática para a realização do estágio,
haja vista que, ao tempo em que os sujeitos revestem-se dos saberes disciplinares,
curriculares, profissionais, em seu percurso formativo, eles os ressignificam e os
reconfiguram a partir de suas vivências nos vários espaços educativos em que estão inseridos,
e também produzem os saberes pedagógicos e os saberes experienciais.
Assim, segundo Tardif (2002), “os saberes são elementos constitutivos da prática
docente. Essa dimensão da profissão docente lhe confere o status de prática erudita que se
articula, simultaneamente, com diferentes saberes” (p.39). Nessa direção, para o autor, os
saberes sociais são transformados em saberes escolares por meio dos saberes disciplinares e
curriculares, os saberes oriundos das ciências da educação, os saberes pedagógicos e os
saberes experienciais” (TARDIF, 2002, p.39). Todos esses saberes são mobilizados na
realização da prática docente e contribuem, em maior ou menor grau, de acordo com as
necessidades geradas na realidade escolar, para que o sucesso do processo ensino
aprendizagem aconteça.
35
A concepção de Educação Não formal, assumida neste estudo, ancora-se nas ideias e
contribuições trazidas por Gohn (2010) e “articula-se ao campo da educação cidadã [...] volta-
se para a formação dos cidadãos(as) livres, emancipados, portadores de um leque
diversificado de direitos, assim como de deveres para com o(s) outro(s)” (GOHN, 2010,
p.33).
Em consequência, a partir da concepção que toma a democratização do
conhecimento como possibilidade de emancipação dos sujeitos, este estudo está orientado
pela compreensão das práticas realizadas nos espaços não escolares, ancorada na perspectiva
da educação não formal como “um processo sociopolítico, cultural e pedagógico de formação
para a cidadania, entendendo o político como a formação do indivíduo para interagir com o
outro em sociedade” (GOHN, 2010, p.33).
A educação não formal, segundo Gohn (2010):
A educação não formal inscreve-se nos marcos de uma teoria social crítica e
constitui-se um campo do conhecimento que costumeiramente se realiza em espaços sociais
de atendimento às comunidades ou grupos pertencentes às camadas populares que se
encontram em situações de vulnerabilidade social. Nesses espaços, as práticas de educação
não formal, segundo Gohn (2009), realizam-se “usualmente extramuros escolares, nas
organizações sociais, nos movimentos, nos programas de formação sobre direitos humanos,
cidadania, práticas identitárias, lutas contra desigualdades e exclusões sociais” (GOHN, 2009,
p.28).
Esses espaços, anteriormente assumidos, prioritariamente, pelos Movimentos
Sociais, ganham maior visibilidade no contexto atual, pela relação de proximidade e parceria
com a Universidade, nos diferentes cantos do país, o que se torna um fato importante pelas
possibilidades de trocas de saberes, mas, especialmente, pela legitimação das diferentes vozes
e manifestações em um espaço de resistência contra as políticas de segregação instaurada
pelas políticas oficiais do país.
36
Dessa forma, assumimos a perspectiva de que a educação não formal assume uma
feição eminentemente política, de compromisso com a formação e emancipação dos sujeitos,
nos diferentes contextos em que estão inseridos. Embora ela se manifeste nos espaços
lacunares, em que as políticas públicas sociais de Estado estejam ausentes ou sejam ainda
incipientes e/ou não possuam o devido reconhecimento e visibilidade social, a educação não
formal possui um alcance social muito grande.
Ousamos afirmar isso em razão de que a educação não formal atua em várias frentes,
em um processo com várias dimensões, tais como:
Desse olhar, é possível inferir que o processo formativo nos espaços não escolares
leva em consideração as vivências e experiências dos sujeitos envolvidos, tomando os saberes
produzidos pela comunidade como o ponto de partida e de chegada para desencadear a
produção e ressignificação dos saberes advindos dos grupos e aqueles oriundos do mundo das
ciências.
Nesse processo, a prática pedagógica desenvolvida nos espaços educativos não
escolares que se situam no campo da educação não formal, de acordo com Gohn (2009, p.
30), tem sido objeto de pesquisas, sobretudo a partir da crise da racionalidade científica,
ocasionada pelas transformações econômicas, sociais e culturais que, no contexto atual, tem
suscitado possibilidades para a emergência de novos “campos de produção de conhecimento e
áreas do saber que estavam invisíveis ou não tratadas como conhecimento ou saber
educativo”. Desse modo, torna-se imperioso para a universidade legitimar e reconhecer a
importância desses saberes no processo de desenvolvimento humano, a partir de sua inserção
e participação nesses espaços.
Daí decorre o seguinte questionamento: quais saberes compõem as práticas
pedagógicas e os processos educativos? Gohn (2009) destaca que, além daqueles saberes
oriundos das lutas empreendidas na busca de voz e direitos, existem outras dimensões da
realidade social que são igualmente produtoras de saberes, tais como “aquelas que advêm do
mundo das artes, do mundo feminino das mulheres, do corpo das pessoas, das religiões e
37
seitas, da cultura popular, das aprendizagens do cotidiano, via a educação não-formal”, que
são tecidos nos movimentos de emancipação dos sujeitos (GOHN, 2009, p.30).
Estas outras racionalidades que se realizam em diferentes projetos sociais
comunitários e organizações não governamentais também se constituem como espaços por
excelência para a formação e atuação profissional nos cursos de formação de professores,
tanto que os espaços de educação não formal foram inseridos na Resolução MEC/CP nº
01/2006, que estabelece as diretrizes para o Curso de Pedagogia.
Neste estudo, a Pedagogia é concebida como “a ciência da prática. [...] Ela se
constitui ‘a partir da prática dos educadores, tomada como referência para a construção de
saberes, no confronto com os saberes teóricos”. Portanto, a Pedagogia toma para si, “a
educação enquanto prática social”, parte da prática e a ela se dirige (PIMENTA, 2011, p.39).
Nessa direção, a relação instituída entre a universidade e a educação não formal
torna-se uma grande parceria do processo formativo do pedagogo, pelas suas características
de constituir-se como “um espaço concreto de formação com a aprendizagem de saberes para
a vida em coletivos”. A prática pedagógica desenvolvida em espaços assim constituídos, deve
considerar a produção de saberes nos vários aspectos, tais como emocionais, cognitivos,
aquisição de habilidades, atitudes e valores, de modo que estimulem e capacitem os
estagiários a produzir e ressignificar os saberes de suas vivências e experiências (GOHN,
2009, p.32-33).
Gohn (2009) apresenta como o eixo orientador do trabalho formativo nos espaços de
educação não formal a área de formação para a cidadania. Para a autora, essa área possui
vários desdobramentos, dentre eles, cita:
Além da capacitação para as diferentes dimensões da atividade docente, o art. 5º, nos
incisos IV, IX, X, XIII e XIV que destacam aspectos relativos aos espaços não escolares,
apresentam as atribuições para as quais o egresso do curso de Pedagogia deverá estar apto.
Em relação ao inciso IV5, este põe um desafio à prática educativa do educador social,
em especial, àquela desenvolvida em espaços não-escolares, considerando que, para a
realização de sua ação pedagógica, deve trazer para a discussão e reflexão os problemas e/ou
necessidades que emergem daquele coletivo. Somado a isso, os participantes desses espaços
estão em diferentes fases da vida humana, além de possuírem diferentes interesses e níveis de
formação. Essas múltiplas situações desafiam a realização de um trabalho articulado, coerente
e comprometido com os saberes ali produzidos e que são cotidianamente ressignificados pelos
envolvidos.
O inciso IX define, como mais uma das atribuições do egresso licenciado em
Pedagogia, a tarefa de identificar problemas de natureza social, cultural e educacional “com
postura investigativa, integrativa e propositiva em face de realidades complexas, com vistas a
contribuir para superação de exclusões sociais, étnico-raciais, econômicas, culturais,
religiosas, políticas e outras". Além disso, acrescenta o inciso X que também incumbe ao
egresso “demonstrar consciência da diversidade, respeitando as diferenças de natureza
ambiental-ecológica, étnico-racial, de gêneros, faixas geracionais, classes sociais, religiões,
necessidades especiais, escolhas sexuais, entre outras”.
Por sua vez, o inciso XIII aponta que, além da docência, a gestão constitui-se um
trabalho do pedagogo, ao estabelecer que a este cabe “participar da gestão das instituições
planejando, executando, acompanhando e avaliando projetos e programas educacionais, em
ambientes escolares e não-escolares”. Por fim, ao pedagogo é atribuída a função de
pesquisador que tenha suas experiências e vivências como objeto de investigação e reflexão,
conforme explicitado no inciso XIV:
5
“Art. 5º O egresso do curso de Pedagogia deverá estar apto a:
[...]
IV – trabalhar, em espaços escolares e não-escolares, na promoção da aprendizagem de sujeitos em
diferentes fases do desenvolvimento humano, em diversos níveis e modalidades do processo
educativo” (BRASIL, 2006)
39
Essas e tantas outras possibilidades que se colocam para a prática educativa suscitam
algumas inquietações quanto à formação e ao papel do educador, num contexto marcado pelas
diferenças sociais, culturais, religiosas e de escolarização, que são visíveis tanto em relação às
possibilidades de acesso aos saberes e aos bens imateriais socialmente produzidos, quanto ao
distanciamento que dificulta esse mesmo acesso, em função do lugar que ocupa no contexto
social.
Esse quadro demanda uma formação que esteja qualificada tecnicamente com o
domínio dos saberes profissionais, socialmente engajada e comprometida com uma parcela
significativa da sociedade que é silenciada e excluída de seus direitos. Portanto, essa é a
perspectiva de formação que o educador, para atuar nos contextos não escolares, deve estar
revestido em seu processo formativo e atuação profissional.
saberes profissionais estão na confluência entre várias fontes de saberes que estão ligadas à
história de vida individual, da sociedade, da instituição, de outros atores educativos, de cursos
de formação, etc.” (p.44).
Assim, Tardif (2012) traz à cena a reflexão de que os saberes que servem como base
para o ensino são aparentemente caracterizados pelo que o autor denomina de sincretismo,
definido em três concepções fundamentais. Para o autor, sincretismo “significa, em primeiro
lugar, o que seria vão, a nosso ver, procurar uma unidade teórica, ainda que superficial, nesse
conjunto de conhecimentos, de saber-fazer, de atitudes e intenções” (p.64). De acordo com o
autor, os professores possuem algumas concepções sobre o aluno, educação, ensino, gestão,
mas essas concepções não expressam uma totalidade, “um professor não possui habitualmente
uma única concepção de sua prática, mas várias concepções que utiliza em sua prática, em
função, ao mesmo tempo, de sua realidade cotidiana e biográfica e de suas necessidades,
recursos e limitações” (p.65).
Outro aspecto que diz respeito à concepção de sincretismo, segundo Tardif, significa
que a relação entre os saberes e o trabalho docente não podem ser pensados “segundo o
modelo aplicacionista seguindo a racionalidade técnica utilizados na maneira de conceber a
formação dos profissionais e no qual os saberes antecedem a prática, formando uma espécie
de repertório de conhecimentos” a priori, os quais, posteriormente, serão aplicados na ação
(2002, p.65).
O autor afirma que não há soluções prontas aos problemas que emergem da prática
docente, desse modo, torna-se impossível pensar em aplicação de modo de fazer pedagógico,
padronizados. Esses saberes-fazer constituem-se na mobilização de diferentes saberes
construídos ao longo da formação, de modo que possa responder determinadas situações de
ensino.
Por último, por sincretismo, de acordo com o teórico, entende-se que o ensino “exige
do trabalhador a capacidade de utilizar, na ação cotidiana, um vasto leque de saberes
compósitos. Ao agir, o professor se baseia em vários tipos de juízos práticos para estruturar e
orientar sua atividade profissional” (ibidem, p.66).
De tais ideias, podemos inferir que as decisões que são tomadas na prática docente
estão carregadas de valores morais, sociais e éticos que são adquiridos ao longo da vida.
Também, nesse processo, o professor utiliza-se daquelas informações que são oriundas de
saberes escolares, vivências e experiências pedagógicas e profissionais. Para Tardif, essas
vivências constituem-se “fonte viva de sentidos a partir da qual o próprio passado lhe
possibilita esclarecer o presente e antecipar o futuro” (2002, p.66). Portanto, a prática docente
45
está permeada por valores, normas, tradições e experiências vividas que, em nossa
compreensão, são os elementos nos quais são estabelecidos os critérios que servem como
parâmetros para emitir juízos profissionais.
A esse respeito, Pérez Gómez (1997) afirma que a formação de professores não pode
“considerar-se um domínio autônomo de conhecimentos e decisão. Pelo contrário, as
orientações adotadas ao longo de sua história encontram-se profundamente determinadas
pelos conceitos de escola, ensino e currículo prevalecentes em cada época” (PÉREZ GÓMEZ,
1995, p.95).
Nessa direção, Tardif (2002, p.66) afirma que os saberes do professor são
constituídos pelo “uso de raciocínios, de conhecimentos, de regras, de normas e de
procedimentos variados, decorrentes do tipo de ação nas quais o ator está concretamente
envolvido juntamente com os outros”, envolvidos na prática educativa.
A dimensão da prática educativa tecida neste estudo ancora-se na perspectiva do que
o autor denomina de epistemologia da prática profissional, que é compreendida como “o
estudo do conjunto dos saberes utilizados realmente pelos profissionais em seu espaço de
trabalho cotidiano, para desempenhar todas as suas tarefas” (TARDIF, 2002, p.255).
Também trazemos para este estudo a noção de ‘saber’ em um sentido amplo, que
“engloba os conhecimentos, as competências, as habilidades (ou aptidões) e as atitudes, isto é,
aquilo que muitas vezes foi chamada de saber, saber-fazer e saber-ser”. Esses elementos
constituem tanto a formação quanto a atuação profissional e pressupõem uma gama de saberes
oriundos do campo científico, e aqueles constituídos na prática educativa, além de outros
resultantes de sua história de vida, de seus valores, princípios éticos, morais e sociais
(TARDIF, 2002, p.255).
A epistemologia da prática profissional, nos argumentos apresentados pelo teórico,
possui a finalidade de revelar esses saberes, compreendê-los em sua articulação e na prática
educativa desenvolvida pelos profissionais, e ainda, “como estes os incorporam, produzem,
utilizam, aplicam e transformam em função dos limites e dos recursos inerentes às suas
atividades de trabalho” (TARDIF, 2002, p.256). Mas não apenas isso, para o autor, a
epistemologia da prática profissional visa compreender a natureza dos saberes socialmente
produzidos, que envolve os aspectos pessoais, formativos e profissionais, e também objetiva
compreender o papel que esses saberes desempenham na relação de trabalho como docente e
como se manifestam na constituição de sua identidade profissional.
Assim, tomamos de empréstimo três questões apresentadas por Schön (1997) a partir
das quais é possível refletir sobre a formação de professores nessa perspectiva: a primeira
46
[...]se efetua uma experiência, estabelecendo uma nova tarefa para testar a
sua nova hipótese, que formulou sobre o modo de pensar do aluno que
provoca no professor uma reflexão diante da ação que significou a produção
48
Diante da representação dos saberes dos alunos, é necessário perceber que não há um
saber exclusivo, único, que defina uma verdade absoluta sobre as coisas. Assim, é preciso que
os professores possibilitem a emergência de diferentes saberes individualmente produzidos,
que são socialmente válidos e que devem ser reconhecidos e encorajados, de modo a
possibilitar a reflexão sobre o ensino e os conhecimentos produzidos. E, nesse sentido,
segundo Schön (1997, p.83), refletir sobre a reflexão-na-ação é uma acção, uma observação e
uma descrição, que exige o uso de palavras”.
Nessa linha de raciocínio, Schön (1997), acrescenta que:
Num practicum reflexivo, Schön (1997) exemplifica que “os alunos praticam na
presença de um tutor que os envolve num diálogo de palavras e desempenhos [...]”. Para esse
autor, o “desempenho do aluno transmite informação muito mais viável do que as suas
próprias palavras”. Por isso, um tutor pode demonstrar através do seu desempenho e convidar
os alunos a imitá-lo. A imitação é atividade criativa composta por dois elementos: o trivial e o
essencial, que na ação educativa encontram-se misturados, os quais, por meio do diálogo e da
ação, da demonstração e imitação, possibilitam aos interlocutores chegar a uma convergência
de significados (SCHÖN, 1997, p.90).
Schön (1997) esclarece-nos ainda que, no desenvolvimento de um practicum
reflexivo, é importante juntar três dimensões da reflexão sobre a prática: a primeira, concerne
aos modos como o aluno compreende a matéria e como que ele interpretou as instruções para
realizar as tarefas de aprendizagem. A segunda dimensão refere-se à interação entre o
professor e o aluno. E a terceira, focaliza a dimensão burocrática da prática e os modos como
o professor deve constituir-se no ambiente institucional e, nesse espaço, produz a prática
reflexiva, tomando como referência o fazer pedagógico realizado com os sujeitos envolvidos.
Nessa compreensão de practicum reflexivo, o processo de formação de professores
apresenta as duas grandes dificuldades. A primeira diz respeito ao conteúdo epistemológico
dominante nas instituições formadoras e, a segunda, ao seu currículo profissional normativo.
O que interessa à epistemologia da racionalidade prática não é primeiro acessar o
conhecimento científico e, posteriormente, aplicá-lo em situações práticas, mas, de fato, levar
em consideração a existência de outros espaços produtores de saberes que estão além da
escola (SCHÖN, 1997).
De acordo com Tardif (2002), “a epistemologia da prática profissional sustenta que é
preciso estudar o conjunto dos saberes mobilizados e utilizados pelos professores em todas as
suas tarefas” (p.259). Desse modo, a prática educativa não prescinde dos saberes constituídos
na sua história de vida, no processo de formação e desenvolvimento profissional. [...]. “O
estudo do ensino numa perspectiva ecológica deveria fazer emergir as construções dos saberes
docentes que refletem as categorias conceituais e práticas dos próprios professores,
constituídas no e por meio do seu trabalho no cotidiano” (TARDIF, 2002, p.259).
Pérez Gómez (1997) nos traz a concepção de reflexão numa perspectiva que “implica
a imersão consciente do homem no mundo de sua experiência, um mundo carregado de
conotações, valores, intercâmbios simbólicos, correspondências afetivas, interesses sociais e
cenários políticos” (p.103) que se manifestam a partir da constituição de sua história de vida,
assim como de seu processo formativo e profissional.
50
diplomados no ensino superior que queiram se dedicar à educação básica”. O inciso III, por
sua vez, atribui mais uma função com relação aos “programas de educação continuada para os
profissionais da educação, de modo geral” (BRASIL, 1996).
Esse delineamento político, ao exigir que os professores da educação básica
deveriam ter formação em nível superior, favoreceu escancaradamente a ampliação da criação
de institutos com essa função, especialmente em instituições de ensino superior privadas que,
em nossa compreensão, deveria ser atribuição da Universidade pública.
Algumas alterações importantes aconteceram a partir do Decreto n. 2.306/1997, que
produziram modificações no sistema de ensino superior. Scheibe (2007) afirma que as
“instituições de ensino superior passaram, então, a ser classificadas em: Universidades,
Centros Universitários, Faculdades Integradas, Faculdades e Institutos Superiores ou Escolas
Superiores” (p.280). Nessa classificação instaurou-se uma “indesejável distinção não apenas
entre universidades de pesquisa e universidades de ensino, mas entre ensino superior
universitário e não-universitário”. Ainda dentro dessa classificação, para a formação dos
docentes “estabeleceu-se o nível mais baixo dessa hierarquia, no qual são feitas menores
exigências de qualidade para o seu funcionamento” que são aqueles oferecidos pelo Normal
Superior ou Institutos (SCHEIBE, 2007, p.280).
Outro fato que nos chama atenção em relação a esse processo diz respeito ao curso
de Pedagogia, que, segundo Scheibe (2007), “a única referência, nesta lei, ao curso de
Pedagogia, está no seu artigo 64”:
desenvolvidas, seja como educador, aluno ou cidadão estejam pautadas no compromisso ético
com aqueles envolvidos no processo formativo. O fazer pedagógico constitui-se na relação
dialética em que enquanto aprende, ensina e, ao ensinar, aprende. Desse modo, abre-se espaço
para a reflexão do educador sobre a participação e colaboração na constituição dos saberes
socialmente produzidos.
O PPC de Cáceres, no que diz respeito à relação teoria/prática, traz apontamentos
sobre esse aspecto no Núcleo Epistemológico, em que descreve “como ênfases delimitadoras
para a formação do pedagogo, os aspectos relativos ao processo de produção de saberes sobre
a Educação e sobre a prática educativa vivenciada nos locais de exercício profissional”
(UNEMAT, 2015, p.61-62).
Esse documento esclarece também que essa relação manifesta-se na “práxis
educativa”; na “atitude investigativa”; e na “potência cultural”, como possibilidade de
manifestações culturais nas dimensões diversificadas das relações humanas.
Ilustramos tais argumentos com a imagem das inter-relações existentes entre os
diferentes campos do conhecimento e das disciplinas expressas no currículo do Curso de
Pedagogia de Cáceres:
Figura 1 – Esquema da Organização Curricular para Formação do Pedagogo
Esse processo formativo requer a persuasão dos sujeitos para a compreensão dos
diferentes saberes que são constitutivos da prática docente, tais como os saberes profissionais,
acadêmicos, curriculares, disciplinares, pedagógicos e experienciais que integralizam a
formação, os quais devem ser sintetizados, ressignificados como novos saberes que serão
construídos no seu fazer pedagógico.
Nessa compreensão, o PPC de Juara apresenta como se manifesta a articulação
teoria/prática no currículo do curso:
A concepção de práxis pedagógica presente nos PPCs dos Cursos evidencia o esforço
coletivo para consolidar a formação do pedagogo na perspectiva integradora dos campos
curriculares, disciplinares e dos saberes das vivências e experiências que se realizam pelos
estudantes e professores nos ambientes escolares e não escolares.
58
O excerto nos mostra que a identidade profissional é constituída por meio das
interações entre os pares, nas dinâmicas internas das instituições e nas reflexões individuais e
coletivas produzidas acerca da prática pedagógica desenvolvida no estágio ou no exercício
profissional.
No mesmo caminho, Nóvoa (1995) traz alguns elementos que contribuem para a
compreensão da constituição da identidade. Para ele, a “formação não se constrói por
acumulação (de cursos, de conhecimentos ou de técnicas), mas sim através de um trabalho de
reflexividade crítica sobre as práticas e de (re)construção permanente de uma identidade
pessoal” (p. 25). Corroborando tal pensamento, Day (2001) afirma que “os professores não
podem ser formados (passivamente). Eles formam-se (ativamente)”.
61
somente os saberes adquiridos na formação acadêmica, mas também aqueles que compõem a
sua trajetória enquanto sujeito histórico, cidadão que está imerso e embebido da realidade e
que procura, a partir dela, intervir e produzir mudanças.
A percepção dessa necessidade de construção de um currículo para o curso de
Pedagogia que busca a articulação de várias dimensões do processo ensino aprendizagem
sustentada na concepção de estágio ancora-se no tripé: ensino, pesquisa e extensão como
eixos da atividade docente:
Esse entendimento de que o estágio está atravessado por ações educativas que
atendem às dimensões do ensino, pesquisa e extensão representa, em nossa compreensão, a
confluência das vivências e experiências pessoais e acadêmicas no processo de tornar-se
professor(a). O estágio, revestido dessa centralidade, possibilita ao estagiário a imersão nos
saberes adquiridos para aprimorá-los, ressignificá-los e produzir novos saberes. Mas não só.
Constitui-se, também, o espaço de reflexões acerca de suas práticas, de questionamentos e de
intervenção, de maneira comprometida, na comunidade em que atua.
Portanto, o estágio curricular supervisionado no processo de formação de professores
consiste no espaço de articulação da teoria e da prática, numa relação de interdependência em
que seu significado só faz sentido no contexto das relações que se manifestam no fazer
pedagógico. Nesse sentido, trazemos a contribuição de Fontana e Cruz (1997) que ilustram
essa compreensão com os seguintes argumentos:
[...] o estágio vem sendo órfão da prática e da teoria [...]. Como lida
basicamente com as questões da realidade concreta da prática o aluno vai
perceber que para explicá-la e nela intervir é necessário refletir sobre a
mesma e que essa reflexão só não será vazia se alimentar-se da teoria [...]. O
bom professor, o professor comprometido, tem a obrigação de saber o que
indicar, o como indicar, o onde indicar, aí a importância das fontes.
essa razão, cabe ao professor a maior responsabilidade de ser comprometido técnica, política e
pedagogicamente com as necessidades educativas que emergem dos espaços, definindo o que
trabalhar, que metodologia selecionar para atender as intencionalidades da prática educativa, e
não apenas saber o como, mas onde, com quais sujeitos e em que condições irá trabalhar.
O estágio é, portanto, fruto da dialética de três campos: o quê, o como e o onde que
darão a tônica à prática docente como a novidade da formação. Então, nessa relação de ensino
e aprendizagem, os dois principais protagonistas do processo possuem um papel importante
no que se refere à realização da ação educativa, mas cabe ao professor perceber as
fragilidades e as potencialidades apresentadas pelos(as) alunos(as), de modo que sua
orientação, seu direcionamento e acompanhamento sejam precisos, pontuais e promovam a
superação das dificuldades por eles apresentadas.
Nesse sentido, Pimenta (2012) contribui com os argumentos pertinentes a tal
contexto:
Essa capacidade de conduzir a prática educativa de modo que nela contemple o quê,
como e com quem os alunos desenvolvem sua prática pedagógica constitui-se a tarefa
primeira do professor orientador do estágio. Nesse processo de orientação e acompanhamento
dos estagiários, Pimenta “detalha quatro passos que deverão ser seguidos no estágio: como
fazer a leitura do EU na escola; como fazer a leitura da sala de aula, instrumentando para a
leitura da sala de aula e da escola; intervindo na sala de aula” (Ibidem, p. 27).
Tomamos como referência a escola para acrescentar a essa os espaços educativos,
sejam eles escolares ou não escolares, por considerarmos importantes os modos de o aluno
constituir-se enquanto professor naquele espaço enredado de práticas sociais, de saberes, de
experiências múltiplas, e como o aluno compreende e coloca-se como parte constitutiva
daquele ambiente e das interações ali existentes, que fundam os objetivos da educação que se
pretende para aquele grupo e/ou comunidade.
Nesse sentido, a partir das teorias de Pérez Gómez (1997), compreendemos que há a
necessidade de que a prática constitua-se o eixo orientador do currículo dos cursos de
formação dos professores, a fim de possibilitar e “provocar o desenvolvimento das
capacidades e competências implícitas no conhecimento-na-ação, próprio dessa atividade
66
Pérez Gómez (1997) acrescenta que o “pensamento prático do professor não pode ser
ensinado, mas pode ser aprendido. Aprende-se fazendo e refletindo na e sobre a acção”
(p.112). Para ele, tomar a prática como instrumento de apoio e desenvolvimento do
pensamento prático só é possível se houver uma reflexão entre os envolvidos, seja o aluno-
professor, o professor-professor, ou aluno-aluno. Dito de outra forma, aprende-se fazendo por
meio das experiências e vivências produzidas na coletividade.
Nessa perspectiva, o autor destaca que dois aspectos emergem da interação dialógica
entre os sujeitos da ação pedagógica, o primeiro, diz respeito ao professor, enquanto
protagonista teórico-prático que se reveste da função de instrumentalização das capacidades,
habilidades, atitudes e valores que serão desenvolvidos na interação com os alunos, na
Universidade. O segundo aspecto refere-se aos alunos, pois quando estes assumem a função
de docência nos espaços educativos tornam-se os protagonistas no desenvolvimento de sua
prática pedagógica.
Assim, a presença do professor passa a ser secundária, atuando como aquele que
orienta, acompanha e supervisiona a ação pedagógica daquele que se faz professor. A
intervenção por meio da prática do professor fica em segundo plano, porque cabe, nesse
processo dialógico, o protagonismo da prática pedagógica do aluno.
Por fim, esse teórico enfatiza que [...] “é necessário garantir a presença de
professores experientes, que desenvolvam um ensino reflexivo e que se preocupem com a
inovação educativa com a sua própria auto-formação, como profissionais” (PÉREZ GÓMEZ,
1997, p.113). De acordo com o autor, esses professores devem desenvolver projetos de
“investigação-acção” que estejam comprometidos com “a aprendizagem na e sobre a acção
dos futuros professores” (Ibidem, p.113).
Desse modo, a ação educativa deve trabalhar a relação entre os sujeitos numa
perspectiva interdisciplinar, dialógica, permeando linguagens que permitam as interações
entre as áreas do conhecimento e saberes socialmente produzidos, e que levem em
consideração a ação pedagógica, no processo de constituição do tornar-se professor, em
situações de estágio curricular supervisionado, enquanto campo de atuação teórico-prática.
Por outro lado, nesse processo de reformulação dos Projetos Pedagógicos dos Cursos
de Pedagogia, estes apresentaram alteração significativa no campo epistemológico, uma vez
que, no currículo anterior, a área de Ciências Humanas apresentava um espaço satisfatório
para as disciplinas de Sociologia, Filosofia e Psicologia e, agora, predominam as disciplinas
do campo da prática.
Conforme descrito no parágrafo 2º da Resolução nº 01/2006/MEC/CP, ao pedagogo
cabe a formação para o “exercício da docência na Educação Infantil e nos anos iniciais do
6
Essa mobilidade começou com mudança no sistema de matrícula dos alunos, acabando com o conceito de
turmas, passando a ser individualizado, matrícula por disciplina.
72
não só. Esse processo reflete as contradições existentes na sociedade, que se constituíram em
espaço de luta e de conquista social que, em nosso entendimento, se tornam o fio condutor de
mudanças que ocorrem historicamente nos cursos de formação inicial e outros espaços
educativos.
Assim, a configuração do Curso representada nos Projetos pedagógicos é fruto de
posicionamentos teóricos metodológicos defendidos por determinados grupos, bem como de
suas visões de mundo acerca da realidade social, e constituem-se como um instrumento de
formação de sujeitos, capazes de atuar e de intervir nas práticas sociais produzidas na
comunidade em que vivem e atuam.
A retomada ao processo de constituição do curso possibilitou-nos produzir algumas
leituras sobre o conjunto de fatores que interferiram na realidade histórica específica que o
constitui. Essa retomada, em nosso entendimento, compõe-se da preocupação de compreender
o estágio e a práxis pedagógica no contexto de sua concepção e operacionalização.
Assim sendo, mediante as situações conflitantes, as discussões e orientações teórico-
metodológicas que deram nova configuração ao currículo do curso, as feições assumidas por
esse Projeto culminaram em um enfoque à epistemologia da prática, com especial atenção às
metodologias e didática, conforme apresenta e justifica o seguinte excerto do PPC do Curso
de Pedagogia do Campus “Jane Vanini” em Cáceres:
Desse processo de constituição dos cursos de Pedagogia, nos dois campi envolvidos
na pesquisa, o Curso de Cáceres assumiu a configuração da estrutura do átomo e, portanto, o
que na matriz anterior era denominado de semestres, foi substituído por esferas. Esse
delineamento curricular está apresentado no PPC do Curso de Pedagogia,
Em vista disso, os PPCs dos dois Campi apontam grandes similaridades em relação
às disciplinas e suas respectivas ementas dispostas na matriz curricular, mas apontam
diferenças, destacando-se entres estas, a organização das disciplinas no currículo do curso,
durante os oito semestres. Isso porque, para o Curso de Cáceres, cada semestre denomina-se
de esfera de formação, ao passo que para o curso de Juara denomina-se de fase formativa.
Os aspectos constitutivos do currículo do curso descritos no PPC do Curso de
Cáceres, de modo geral, almejam alcançar os seguintes objetivos:
Por sua vez, o PPC do Curso de Pedagogia de Juara (2013) apresenta no capítulo II,
76
como seu objetivo principal, formar um educador comprometido com o processo de ensino-
aprendizagem em diferentes contextos, conforme o disposto na Lei 9.394/96 em seus artigos
29 e 30, que tratam da finalidade e da oferta da Educação Infantil, e o artigo 32, que trata dos
objetivos do Ensino Fundamental para:
Nos objetivos dos PPCs, é possível perceber a preocupação com uma formação
docente que seja capaz de articular os conhecimentos e os saberes socialmente produzidos, na
perspectiva da interação entre a teoria e a prática no contexto da formação. Também evidencia
a necessidade de articular os princípios metodológicos que favoreçam a dialogicidade entre as
disciplinas na ação educativa, de modo que o processo ensino/aprendizagem possibilite as
produções de saberes que emanam da comunidade e que a ela retornam, produzindo e
ressignificando novos saberes.
A formação do pedagogo deve mobilizar conhecimentos, saberes, capacidades,
valores e atitudes de maneira a viabilizar a preparação do aluno para atuar nos diferentes
contextos, sejam escolares ou não escolares, por meio de uma prática pedagógica que
estabeleça as relações interdisciplinares entre as diferentes dimensões do processo educativo,
que podem contribuir para sua formação qualificando para a atuação profissional.
Além disso, os PPCs apontam para uma formação que contemple a atuação como
gestor da educação, considerando as dimensões da sala de aula, dos espaços não escolares, da
aprendizagem e da regulação da ação pedagógica, de modo que o seu fazer docente seja,
política e pedagogicamente engajado com a aprendizagem de todos os alunos que estão em
formação nas ações realizadas durante o estágio em espaços não escolares.
À vista disso, um trabalho pedagógico dessa natureza deve apontar estratégias que
77
Nesse sentido, o PPC do curso de Pedagogia do Campus “Jane Vanini” explicita que
a compreensão de estágio ancora-se na Resolução CNE/CP nº 1/2006 e deverá “ser realizado,
ao longo do curso, de modo a assegurar aos graduandos experiência de exercício profissional,
em ambientes escolares e não escolares, que ampliem e fortaleçam atitudes éticas,
conhecimentos e competências” (2015, p.64). Desse modo, o estágio constitui-se espaço de
formação e de construção da identidade do pedagogo, formalmente, a partir do terceiro
semestre/esfera e perdura até o oitavo semestre/esfera/fase formativa.
No PPC do Curso de Cáceres (2015), o estágio permeia o processo formativo dos
alunos em formação desde seu ingresso no curso, conforme delineado a seguir:
De acordo com a referida Resolução, em seu art. 8º, nos termos do projeto
pedagógico da instituição, a integralização de estudos será efetivada por meio de:
Carga
Conteúdo e/ou Atividade
Horária
- Etapa de instrumentalização teórico-prática: fundamentação teórica; conhecimento e
discussão da normatização do estágio; definição do Espaço Não Escolar para atuação;
viabilização dos instrumentos legais: ofício de apresentação do estagiário ao Espaço Não
Escolar e celebração do termo de compromisso entre o estagiário e a Instituição 15 horas
concedente, com a interveniência da UNEMAT; orientação aos estagiários na elaboração
do planejamento e execução de uma Proposta Pedagógica em espaços não-escolares; e,
orientação para elaboração do relatório final.
sobre Educação Formal, não formal, informal, pedagogia coletiva, socioeconômica solidária,
papel do educador social, exclusão/inclusão, identidades e diversidade cultural, dentre outros.
Após as orientações iniciais em relação à disciplina e formalizado pelos professores
orientadores de estágio, cada estagiário ou grupo escolhe, por afinidade, o espaço não escolar
para a realização das atividades e entra em contato com a gestão do local para a etapa de
observação. Após ter definido o espaço de atuação de forma coletiva e de ter constatado os
aspectos organizacionais e as necessidades educacionais ali existentes, os estagiários
elaboram a proposta pedagógica para a intervenção no espaço definido.
Nessa tarefa, os estagiários pensam as atividades educativas tomando como
parâmetros os conhecimentos e saberes adquiridos na trajetória acadêmica e nas vivências e
experiências advindas do mundo social, a fim de oportunizar aos participantes a inclusão de
todos aqueles que se encontram em situação de vulnerabilidade social.
A culminância da atividade do Estágio Curricular Supervisionado VI ocorre com a
avaliação coletiva de todos os grupos de estagiários, momento em que se posicionam acerca
das fragilidades, potencialidades e das contribuições realizadas e, ao mesmo tempo,
adquiridas durante esta etapa acadêmica. Nessa perspectiva, o processo de avaliação será
embasado nos princípios da avaliação emancipatória, incidindo sobre as dimensões cognitivas
e socioafetivas dos estagiários, ocorrendo em cinco fases. Conforme descrito no PPE do
Curso de Pedagogia de Cáceres (2015), tais fases estão assim distribuídas:
de determinados grupos que estão no poder e, dessa forma, encurtam e, por vezes, prejudicam
as relações entre a “educação escolar e outros modos de produção de conhecimento que
emergem das ações no campo da arte, da estética, da cultura e das experiências coletivas que
produzem a existência” e configuram a identidade de determinados grupos (ALENCAR,
ALONSO, COSTA, 2018, p. 3).
Sabemos que a Educação Não Formal constitui-se um espaço propício para a
aquisição, produção e ressignificação de saberes pelos sujeitos em formação que, por meio de
ações educativas que contemplem os anseios e necessidades que emergem de determinados
grupos, podem interferir positivamente na realidade daquela comunidade e promover ações
que contribuam não apenas com a construção da identidade dos envolvidos, mas que reflitam
sobre essa realidade e a tomem como ponto de partida para transformá-la.
Estas outras racionalidades realizam-se junto a diferentes projetos sociais,
organizações não governamentais e nos cursos de formação de professores como espaços por
excelência para a formação e a atuação profissional. Tanto assim que os espaços de Educação
Não Formal foram inseridos nas Resoluções nº 01/2006 e 02 de 2015, ambas do CNE, que
estabelecem as diretrizes para o Curso de Pedagogia e definem as Diretrizes Curriculares
Nacionais para a formação inicial em nível superior (cursos de licenciatura, cursos de
formação pedagógica para graduados e cursos de segunda licenciatura) e para a formação
continuada, respectivamente.
Gohn (2009, p.4) explicita que os espaços não escolares são compreendidos como
“processos de autoaprendizagem e aprendizagem coletiva a partir da experiência em ações
organizadas segundo os eixos temáticos: questões étnico-raciais, gênero, geracionais, de
idade, etc”. Essas temáticas são importantes e necessárias para o processo de constituição dos
sujeitos como pessoas de direitos e contribuem para que os alunos e alunas em situação de
estágio possam tornar-se professores(as) mais próximos da realidade onde atuam, seja em
ambientes escolares ou não escolares.
Essa perspectiva de compreensão do trabalho educativo em espaços de educação não
formal pressupõe assumir metodologias, segundo Gohn (2010), que partam da “cultura dos
indivíduos e dos grupos. O método nasce a partir da problematização da vida cotidiana; os
conteúdos emergem a partir dos temas que se colocam como necessidades [...] e não são
dados a priori. São construídos no processo” (GOHN, 2010, p. 46).
Nesse sentido, “o método passa pela sistematização dos modos de agir e de pensar o
mundo que circunda as pessoas” (Ibidem, p.47) e, nessa perspectiva, carrega os sentidos e
significados atribuídos pelos participantes na ação educativa, de modo que o fazer de cada
91
Como educação não é sinônimo de escola, dado que esta é parte daquela,
tudo o que se expande para além da formalização escolar é território
educativo a ser operado. Ademais, se essa operação compartilhante na
Educação não formal pretende a consolidação de uma sociedade com
convivência justa e equânime, a cidadania em paz é o horizonte
(CORTELLA, 2007, P. 47).
Esse olhar de que a educação não formal possui uma função social e política
comprometida com a sociedade composta por homens e mulheres, jovens e crianças que
dispõem de interesses e ou necessidades formativas, o campo da educação não formal pode,
em determinadas circunstâncias e/ou contextos, complementar a educação formal.
Libâneo (2005, p.95) afirma que a “Educação formal e não formal interpenetram-se
constantemente, uma vez que as modalidades de educação não formal não podem prescindir
da educação formal”, o que corrobora o entendimento de complementaridade, apontado por
Gohn (2010) e Cortella (2007).
Assumimos, neste estudo, a perspectiva de educação não formal, embora dialogue
com a pedagogia social, pela sua origem caritativa do Cristianismo, considerando que esta
orienta-se para o trabalho educativo voltado para as pessoas que se encontram em condições
sociais desfavoráveis, conforme descreve Gohn (2010), enquanto que a educação não formal
possui um “processo político pedagógico ancorado em dimensões como a aprendizagem dos
indivíduos como cidadão, para atuar no mundo do trabalho, por meio de práticas cidadãs”
(GOHN, 2010, p. 35).
As práticas de educação não formal desenvolvidas em ONGs e outras instituições
constituem um mercado de trabalho em construção que se descortina para ações educativas do
pedagogo em diferentes frentes. Esse aspecto, somado ao que dispõe a Resolução CNE/CP nº
01/2006, a qual acrescentou a necessidade de formação para atuação nos espaços de educação
não formal, confere centralidade na busca de estudos e reflexões sobre as contribuições desses
espaços de aprendizagem e de formação.
Nessa direção, o Estágio nos Cursos de Pedagogia da UNEMAT, dos campi de
Cáceres e Juara, adquire o status de campo dialético em que se afirma como práxis educativa,
dinamizada na articulação entre a ação (atividade educativa), reflexão (repensar a sua prática)
e voltar à ação. Esse movimento dialético educativo nos espaços de educação não formal
produz a novidade que significa não a repetição da ação, mas a transformação pelo princípio
do protagonismo criado pelos membros do grupo nos momentos de interações e de
aprendizagem.
94
3 OS CAMINHOS DA PESQUISA
[...] tem o ambiente natural como sua fonte de dados e o pesquisador como
seu principal instrumento; e os dados coletados são predominantemente
descritivos; a preocupação com o processo é muito maior do que com o
produto; os investigadores qualitativos tendem a analisar os dados de forma
indutiva e por último, o significado é de importância vital na abordagem
qualitativa (BOGDAN, BIKLEN, 1994, p. 47-51).
Para vislumbrar essas possibilidades é que nos utilizamos da observação das práticas
que ocorrem durante o estágio, bem como das entrevistas com docentes que atuam na referida
disciplina e com os discentes em situação de estágio. Refletindo sobre isso, Denzin (2006)
afirma que a pesquisa qualitativa envolve uma abordagem interpretativa que faculta a
compreensão da análise da práxis e da sua relação com os contextos vividos, o que significa
que seus pesquisadores estudem os fatos em seus cenários naturais, tentando entender, ou
interpretar, os fenômenos em termos dos significados que as pessoas a eles conferem nos
espaços que estão ao seu alcance, disponíveis à pesquisa.
Portanto, consideramos que o aprofundamento da temática no Estágio por meio da
concepção qualitativa constitui-se uma prática importante, na medida em que possibilita ao
pesquisador situar-se no mundo com o outro que realiza a interlocução com o objeto de sua
práxis e com a realidade social, entendidas como práticas materiais que são construídas pelos
sujeitos e percebidas pelo pesquisador.
Esta pesquisa tem como campo empírico o estágio curricular e a práxis pedagógica
com foco em espaços não escolares no curso de licenciatura em Pedagogia da Universidade
do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), nos campi universitários “Jane Vanini” em Cáceres e
em Juara.
99
Inicialmente, foi planejada para ser realizada nos três campi da Unemat que ofertam
o curso de Pedagogia, na modalidade presencial, ou seja, em Cáceres, Juara e Sinop. No
entanto, em virtude da dificuldade encontrada na obtenção de autorização formal para
pesquisa junto ao campus de Sinop e, dada a exiguidade do tempo, reorganizamos a pesquisa
delimitando seu alcance apenas aos campi de Juara e Cáceres. Dessa forma, apresentamos de
modo sucinto os referidos campi com o intuito de contextualizar o lócus de pesquisa.
O Campus Universitário “Jane Vanini” 7é, ainda, um campus jovem e que nasceu,
em agosto de 1999, para atender as demandas dos cursos existentes que, à época, eram
atendidos pela administração central da Universidade. Então, sua função primeira consistiu na
descentralização das atividades de gestão da reitoria da Universidade dos cursos de Cáceres, à
qual esteve vinculado.
7
As informações sobre o breve histórico do Campus “Jane Vanini” foram extraídas do portal da
UNEMAT. Disponível em: <http://caceres.unemat.br/portal/>
100
Curso de Pedagogia e, nesta, consta que o primeiro Curso de Pedagogia de Cáceres teve sua
estrutura curricular elaborada em 1986. Esta matriz, atendendo à legislação da época, era
destinada à habilitação para Magistério das Matérias Pedagógicas do 2º Grau e Supervisão
Escolar para o exercício da docência nas escolas de 1º e 2º graus.
Posteriormente, em 1989, o curso sofreu as primeiras alterações, conforme consta no
PPC (2015). Essas alterações referem-se às ementas das disciplinas e ao processo de
integralização do currículo relativo às habilitações, as quais objetivaram organizar o currículo
para atender às necessidades para autorização do funcionamento do Curso.
Apenas três anos depois, após a constatação de vários problemas apresentados
quanto à integralização da matriz curricular, tiveram início novas discussões com o intuito de
avaliar a Matriz do Curso existente e atender a necessidade de delinear-se o perfil profissional
do pedagogo. Em 1992 as discussões foram retomadas, impulsionadas pelo trabalho de
reconhecimento do Curso (UNEMAT, 2015).
Por sua vez, em 1995, os resultados das discussões e avaliações culminaram na
proposta de Licenciatura em Pedagogia com habilitações em Magistério de 1ª a 4ª série do
Ensino de Primeiro Grau, Educação Pré-Escolar, Supervisão Escolar, Orientação Escolar,
Educação Especial e Educação de Adultos (UNEMAT, 2015).
Tomando como parâmetro a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(Lei n. 9.394/96), em 1997, tiveram início as discussões sobre o Projeto Político Pedagógico e
os elementos constitutivos do currículo nesse projeto. Dessas discussões e consensos,
redefiniu-se a disposição das disciplinas na matriz curricular, adequação das terminologias
das ementas, sua carga horária etc. Também houve redefinição da concepção de pesquisa,
prática de ensino e didática e delineamento do perfil do profissional que se pretendia formar.
Essas discussões e encaminhamentos resultaram na proposição da nova habilitação: Docência
nas séries iniciais do Ensino Fundamental, que foi autorizada pelo Conselho Estadual de
Educação, em abril de 1999, por meio da Portaria n. 196/99-SEDUC/MT (UNEMAT, 2015).
Essa etapa de reconhecimento culminou em 2001 com o reconhecimento, por três
anos, do curso, através da Portaria n. 529/00-SEDUC/MT. No entanto, no segundo semestre
de 2002, foram realizadas várias discussões com vistas à reformulação do curso, sob a
orientação da Resolução CNE/CP nº 01/02 que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura,
de graduação Plena e pela Resolução CNE/CP n° 02/02 que institui a duração e a carga
horária dos cursos de licenciaturas (UNEMAT, 2015).
Então, por conta dos resultados decorrentes dessa reformulação, o curso de
102
Licenciatura Plena em Pedagogia foi reconhecido por cinco anos, através da Portaria n.
267/04 - CEE/MT, publicada no Diário Oficial do Estado de Mato Grosso. Esse curso tinha
pela frente o desafio de promover uma formação inicial que fosse comprometida política e
pedagogicamente com os sujeitos em formação, mas, sobretudo, com o desempenho dos
formados no curso, para que atendessem as necessidades de conhecimento e, ao mesmo
tempo, desenvolvessem uma postura profissional comprometida ética e politicamente com os
alunos da educação pública da comunidade.
Nesse caminhar histórico do curso, em maio de 2006, o CNE – Conselho Nacional
de Educação instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em
Pedagogia, definindo-o como licenciatura, o que provocou a necessidade de outra
reformulação para adequá-lo às novas Diretrizes. De acordo com o PPC (2015), nesta
Resolução do CNE/CP nº 01/2006, definiram-se os princípios, as condições de ensino e de
aprendizagem, além dos procedimentos a serem observados no planejamento e na avaliação
pelos órgãos dos sistemas de ensino e pelas instituições de educação superior do país. Assim,
tomando as orientações trazidas pelas Diretrizes, o Curso de Pedagogia tem entre suas
finalidades:
O Projeto Pedagógico do Curso (2013) nos traz o histórico de que, em Juara, foi
criado e implantado em 2011 o Núcleo Pedagógico de Juara, a partir da ideia de expansão da
UNEMAT8 implementada pelo Campus de Sinop com o objetivo de atender à demanda de
formação superior na região do Vale do Arinos, assinalando seu compromisso político-
educacional e científico com a população daquela região.
Por conseguinte, a implantação do núcleo Pedagógico atendeu às necessidades de
qualificação da população juarense e da região, composta pelos municípios de Tabaporã,
Porto dos Gaúchos e Novo Horizonte do Norte. Todos os encaminhamentos que resultaram na
implantação desse Núcleo foram concebidos pelo Campus Universitário de Sinop9 em 1999, e
homologado no mesmo ano pelas instâncias deliberativas da UNEMAT.
Tal disposição político-acadêmica representou a possibilidade de atender as
necessidades de formação profissional em nível superior a uma população carente de acesso a
espaços institucionais de ensino superior, em condições diferenciadas, pois não fosse assim,
teriam pouca, ou nenhuma, condição de ingressar em uma universidade pública.
Vale ressaltar que o processo de implantação do Núcleo contou com a articulação de
parcerias entre os poderes Executivo e Legislativo de Juara que atuaram com zelo e empenho
na perspectiva de viabilizar a presença da UNEMAT na região, com destinação de verbas.
8
As informações acerca do breve histórico do Campus Universitário de Juara são oriundas do Projeto
Pedagógico do Curso de Pedagogia e do portal da UNEMAT. Disponível em http://juara.unemat.br/.
9
O Núcleo Pedagógico de Juara era um espaço pedagógico de ensino superior vinculado ao Campus
Universitário de Sinop.
104
Assim, o Campus de Sinop, a quem o Núcleo de Juara estava vinculado por meio do
Colegiado Superior, em reunião realizada em junho de 2003, exarou parecer favorável à
implantação do novo Campus Universitário e realizou os encaminhamentos burocráticos para
que, em junho de 2003, houvesse a alteração na denominação de Núcleo Pedagógico para
Campus Universitário de Juara.
105
educativos não escolares; e na etapa de intervenção pedagógica, que são descritas e discutidas
nas seções seguintes.
entanto, por razões pessoais e de trabalho, o grupo de estagiários do Projeto Gonçalinho não
dispôs da semana para o planejamento, iniciando a realização da regência já nos dias
subsequentes à observação. Essa situação facilitou o acompanhamento da fase de regência.
Quanto a esta fase, os dados coletados por meio da observação participante serão
descritos e interpretados no capítulo seguinte.
A observação feita pelo grupo esteve voltada para o conhecimento da estrutura física
e condições de funcionamento do Projeto Gonçalinho. Nessa etapa de observação, os
estagiários tiveram acesso ao Projeto político do espaço e, também, a oportunidade de, além
de conhecer a estrutura e as relações de manutenção e apoio financeiro com a Alemanha,
identificar as necessidades e possibilidades de trabalho pedagógico junto àquele espaço.
Dessa etapa de observação e monitoria resultou a proposta de intervenção
pedagógica com a seguinte nomenclatura: Projeto semeando e cultivando valores humanos
para relação harmônica. Nessa proposta pedagógica, com enfoque nos valores humanos, os
estagiários trabalharam durante toda a semana com temas que reforçam a ideia central,
desenvolvendo a cada dia um tema como solidariedade, gentileza, união, danças, respeito,
além de muitas brincadeiras.
A proposta de intervenção pedagógica delimitou como objetivos desenvolver os
valores à vida plena e à convivência nas relações de amizade, cooperação, respeito, trabalho
em equipe e compreender por meio de atividades lúdicas, a eficácia dos valores morais e
éticos para uma boa convivência. Todas as atividades propostas durante a etapa de regência
“tem por objetivos promover a interação do grupo, por meio de rodas de conversa, atividades
ao ar livre, dinâmicas de grupo, atividades artesanais, movimentos corporais, danças, jogos,
brincadeiras e aula de judô” (Grupo de estagiário do Projeto Gonçalinho).
crianças, fez a partir do Hip Hop, estabelecendo conexões com práticas de religiões de matriz
africana. A conversa entre eles demonstrou bastante familiaridade com o assunto.
Outro aspecto que nos chamou a atenção também, mas que não foi evidenciado pelos
estagiários, diz respeito à familiaridade com as drogas. Com isso, não estamos afirmando que
os participantes eram usuários ou qualquer outra coisa nesse sentido, mas, enquanto
estávamos no intervalo das atividades, aqueles fizeram comentários sobre possíveis valores de
roupa e de tênis em “bocas de fumo”. Essa conversa feita pelo grupo de adolescentes não foi
percebida pelo grupo de estagiários, mas é algo muito preocupante e que nos leva a pensar a
respeito do quanto o papel social do Projeto Gonçalinho é grandioso para aquela comunidade.
Entendemos que as atividades desenvolvidas no campo da educação não formal
tomam por base a cultura dos indivíduos, as suas experiências e vivências, como ponto de
partida e de chegada, para promover a apropriação e produção de saberes para a vida em
coletividade. Assim, o planejamento das ações realizadas deve ser elaborado, cotidianamente,
a partir das percepções das vivências e necessidades que emergem das práticas sociais e
educativas desenvolvidas nos espaços, pelos estagiários e pelos participantes. Por isso, não
podem escapar às percepções dos educadores sociais (estagiários) as problemáticas que se
apresentam na realização de ações educativas.
estágio, é que a pessoa responsável pelo espaço tem como função primeira o trabalho de
enfermagem, no qual está engajada profissionalmente. Ainda assim, à medida que surge uma
brecha em seu horário de trabalho, destina a atenção às estagiárias, informando-lhes sobre o
espaço.
Por fim, durante a observação desse trabalho educativo naquele espaço, foi possível
perceber o quanto houve interações das mães, assim como das crianças com as estagiárias.
Uma relação de confiança, de apoio e de trocas. Em várias situações foi possível perceber as
mães trazendo os bebês e as crianças para que as estagiárias cuidassem, enquanto tomavam
banho, atendiam telefones ou conversavam com os médicos. Assim, entendemos que o
trabalho educativo no espaço hospitalar, além de propiciar aprendizagens múltiplas, constitui-
se um espaço de exercício de solidariedade, de trocas de saberes e de convivência social.
O Estágio no espaço Rede Cidadã foi realizado no período vespertino, por um grupo
composto por 5 estagiárias, sob a supervisão, acompanhamento e avaliação das duas
professoras responsáveis pela disciplina.
Entre o período de observação e de regência, as professoras orientadoras de estágio
destinam uma semana para que o grupo elabore a proposta pedagógica de intervenção no
espaço e, então, após o acompanhamento e a avaliação da proposta pelas docentes da
disciplina, os estagiários a executam, junto ao espaço não escolar, parceiro na semana
seguinte.
A Base Comunitária de Segurança Pública do Bairro Junco e Região fica localizada
na Avenida Nossa Senhora do Carmo, no Bairro Junco, sem número. A instituição oferece
aulas de artes, violão, capoeira e zumba. As atividades são gratuitas, oferecidas pelo trabalho
voluntário de parceiros do Projeto e funcionam em horários diferentes, com crianças e
adolescentes que se encontram em situação de risco ou demanda espontânea.
O programa Rede Cidadã conta com uma sala ampla para estudos, com seis
ventiladores de teto e duas mesas grandes. Possui um quadro de giz, dois banheiros pequenos,
um banheiro unissex, uma cozinha, dois depósitos, uma sala para psicólogo, uma
coordenação, e uma sala em que fica o policiamento que atende as ocorrências dos moradores
daquele bairro e região. O Programa não dispõe de recursos próprios, dependendo de doações
de lanches e de materiais de apoio pedagógico para a sua continuidade.
128
O programa Rede Cidadã é coordenado por uma pedagoga e por um policial militar.
Nesse trabalho de coordenação atendem, além das crianças nas atividades educativas, também
os pais ou responsáveis, quando os procuram naquela unidade de policiamento.
O projeto atende crianças na faixa etária de 7 aos 17 anos, no período vespertino,
com duas educadoras sociais que são alunas do Curso de Pedagogia, sendo que uma delas
exerce a atividade de modo remunerado e a outra, voluntariamente.
As atividades referentes ao Projeto Arte e Terapia são realizadas em um contexto
geral, nas segundas e quartas-feiras. Nas terças e quintas acontecem as aulas de violão que são
ministradas por um educador Soldado da Polícia Militar, com três turmas, em horários
diferenciados.
Para o grupo, esta se constitui uma fase em que as crianças e adolescentes precisam
de um olhar que entenda seus medos, anseios e mudanças nas suas vidas. E um trabalho
pedagógico que enfoca tais perspectivas torna-se algo motivador e, ao mesmo tempo,
formativo.
Esse projeto teve como objetivos desenvolver na criança uma imagem positiva de si
mesma, com confiança, com base no respeito ao outro, por meio de atividades que
desenvolvam e utilizam suas diferentes linguagens corporal, musical, oral e escrita. Os
conteúdos trabalhados enfocaram a identidade, autoestima, afetividade, brincadeiras e
músicas. A metodologia, pautou-se em rodas de conversas, jogral, brincadeiras, apresentação
musical e atividades artesanais.
Conforme descrita no relatório “a avaliação [...] parte do interesse da criança na
realização das atividades, pela oralidade e participação comprometida com as atividades
propostas e desenvolvidas” (Grupo 3-C).
129
No entanto, tal como no outro grupo de Juara, a temática para discussão surge de
uma leitura da realidade que foi provocada pelas evidências de fatos na comunidade, o que
motivou os estagiários a planejar ações coletivas e executá-las, procurando minimizar tal
realidade. Essa iniciativa constitui-se uma atitude reconhecidamente político-acadêmica,
interessante e necessária ao trabalho docente.
Nesta direção, Gohn (2010) afirma que
É importante destacar o papel e a importância dos cinco espaços não escolares que,
neste estudo, contribuíram para a realização da pesquisa: Projeto Gonçalinho, Hospital
Regional “Dr. Antonio Fontes”, Programa Rede Cidadã, Integração, Inclusão e Cidadania,
Creche Municipal “Thainá Gabrielly Oliveira Moraes” e o Projeto Protagonismo da mulher e
os desafios da sociedade contemporânea. Esses espaços educativos possibilitaram a realização
do Estágio Curricular Supervisionado, com foco em espaços não escolares, e deram valorosa
contribuição para a formação inicial dos estagiários do oitavo semestre do Curso de
Pedagogia, no período letivo de 2018/1, nos campi de Cáceres e Juara, na perspectiva da
docência, gestão e extensão.
Entendemos que os espaços educativos se situam para além da dimensão física e
territorial, haja vista que ali, naquele ambiente, “ocorrem aprendizagens, trocas de saberes,
valores, culturas, habilidades e processos educativos” (GOHN, 2010, p.17). Portanto, são
espaços que possibilitam ao estagiário a imersão em uma realidade social e cultural que
possui dinâmicas de organização dos processos pedagógicos diferentes daquelas realizadas
nas unidades escolares. Isso, por si só, já lhes atribui uma riqueza de possibilidades de
aprendizagens.
137
pedagógico, enquanto que, nos dois últimos, as ações foram orientadas pela extensão, sem
diálogo e ou articulação com a docência.
Os espaços onde acontecem as práticas de educação não formal, segundo Gohn
(2010):
[...] se desenvolvem usualmente extramuros escolares, nas organizações
sociais, nas associações comunitárias, nos programas de formação sobre
direitos humanos, cidadania, práticas identitárias, luta contra desigualdades e
exclusões sociais. Elas estão no centro das atividades das ONGs, nos
programas de inclusão social, especialmente no campo das artes, educação e
cultura (GOHN, 2010, p.36).
Nesse sentido, podemos inferir que os espaços de educação não formal, parceiros
para a realização de Estágio Curricular Supervisionado, inscrevem-se nas lutas e políticas para
a inclusão social, e vislumbram contribuir para a formação de cidadãos livres, autônomos e
conscientes de que são sujeitos de direitos e de deveres.
Assim sendo, os Projetos parceiros trabalham com a dimensão da inclusão social, de
acesso a conhecimentos e de construção de saberes que emergem da própria prática das
crianças, adolescentes e jovens, objetivando aprender a ler e interpretar o mundo que os cerca,
a respeitar e conviver com as diferenças, além de desenvolver a autoestima e formar atitudes e
valores adequados à convivência social.
Sobre os modos de realização do processo educativo, segundo Gohn (2010, p.39):
“[...] não delimitamos o campo da educação não formal a faixas etárias, categorias
socioeconômicas ou tipo de instituição que a oferece”. Esse critério de enturmação, seriação,
classificação, tão presente na educação formal, dilui-se na dinâmica do trabalho pedagógico
nos espaços da educação não formal, uma vez que esse campo da educação está voltado para a
formação do ser humano como um todo.
Assim, podemos resumidamente explicitar que a Resolução do CNE/CP nº 01/2006,
ao inserir os espaços de educação não formal como possibilidade formativa e campo de
atuação do pedagogo, estreitou os mecanismos institucionais entre a Universidade e as
organizações sociais como relação de compartilhamento de responsabilidades e compromisso
com a formação de sua comunidade acadêmica.
Nessa perspectiva, o professor P4-J revela a sua formação com foco na Educação
Integral e destaque para o protagonismo do aluno. Em sua narrativa, remete-nos à
compreensão de que o aluno se constitui o núcleo central da formação nos espaços, e cabe ao
professor a tarefa de motivá-lo a tornar-se protagonista de suas ações por meio de leituras e
problematização de sua realidade. A partir dessa compreensão da realidade, também cabe aos
professores proporem ações que passam não só pela instrumentalização teórico-prática, mas,
sobretudo, pela realização da prática pedagógica de intervenção e de transformação dessa
realidade.
As leituras das trajetórias profissionais apresentadas pelos quatro participantes
evidenciam aspectos fundamentais que emergem de suas narrativas. O primeiro diz respeito
ao papel da reflexão sobre a realidade social como parte constitutiva do processo de formação,
enquanto que, o segundo revela que há uma dialogicidade entre os campos de formação e
construção de saberes. Por conseguinte, a partir das interações entre o processo de apreensão e
intervenção na realidade dos espaços, são produzidos novos modos de pensar e agir sobre a
formação docente.
Outra evidência constatada diz respeito ao protagonismo dos alunos no processo
formativo, e o papel do professor em promover e estimular esse protagonismo, conduzindo os
estudantes, problematizando essa realidade social e produzindo discussões acerca das
reflexões sobre as várias possibilidades de intervenção e transformação desses ambientes não
escolares, por meio das ações educativas.
A trajetória profissional dos professores orientadores de Estágio Curricular
Supervisionado, esclarece, ainda, que as duas professoras que atuam no Curso de Pedagogia
do Campus de Cáceres têm formação em nível de mestrado em educação, enquanto que os
dois professores do Campus de Juara têm pós-graduação lato sensu. Quanto ao tempo de
atuação na disciplina de Estágio, três professores argumentaram que estão nesse campo há
algum tempo, e apenas um desses começou a docência nessa disciplina no primeiro semestre
de 2018.
Após o acesso à trajetória profissional dos quatro participantes, na sequência,
apresentamos as narrativas que tratam do processo de instrumentalização teórico-prática no
campo formativo dos estagiários em ambientes não escolares tratadas na questão 2: Como se
142
Nós seguimos de base o que nós tínhamos anteriormente, ele [o estágio] vem
organizado por rotinas, seguindo a constituição de compreensão teórica,
metodológica do espaço não escolar, com leituras dos autores que vamos
trabalhar. Que define o que é o espaço não escolar, quais são os conceitos,
onde que eles surgem, e qual é a finalidade de se trabalhar um estágio em um
espaço não escolar para vida do acadêmico. A gente faz toda essa construção
da identidade do espaço não escolar, por meio das leituras dos teóricos em
sala de aula, através de leitura coletiva, individual, debate, discussão com
relação às temáticas tratadas. Também trazemos alguns vídeos que
apresentam o espaço não escolar em outras realidades, apresentamos
também vários acadêmicos, algumas imagens que nós já tínhamos de
atividades dos semestres anteriores dos espaços que vamos trabalhar.
Trazemos também uma das nossas acadêmicas do semestre anterior para
fazer um relato com relação ao espaço não escolar. Então, são todas essas
situações de processo de aprendizagem que envolve em sala de aula, para ver
se eles conseguem construir um conceito sobre esse espaço não escolar (P1-
C).
Então, nessa etapa que temos trabalhado em espaço de educação não formal,
normalmente a gente trabalha com uma colega e, antes de nós termos o
início do semestre, a gente se encontra para começar o planejamento e
definir a fundamentação teórica, os materiais que vamos usar para que os
acadêmicos tenham um entendimento teórico sobre o assunto que vamos
tratar, para que possam compreender e conceituar o que seria educação não
formal, e compreender também quando estamos falando em educação não
formal ou educação não escolar, porque às vezes, eles têm dificuldade de
conceituar o que estamos falando, então é interessante que eles possam ter
esses materiais para que eles entendam e possam discutir e dialogar sobre o
assunto e compreender melhor o que seria educação não formal, e, sobretudo
conseguir pensar o estágio em espaço não escolar, diferente do que se pensa
quando estamos em uma instituição escolar, porque quando os estudantes
vêm, eles já passaram por 5 estágios, anteriormente, o não formal é o 6,
então o estagiário já vem passando por 5 estágios e já vem com bastante
atividades que são usadas em ambientes escolar. Então, nós precisamos
trabalhar bastante o olhar que os estagiários devem ter para atividade em
educação não formal, para que eles não venham com compreensões ou com
ações que sejam de escolarizações, que não sejam essa proposta do espaço
de educação social que, neste caso, são os espaços de educação não formal
(P2-C).
Na sala, nós aproveitamos parte da carga horária teórica para tomar decisões,
e construir a escrita. Inclusive a escrita desse projeto. Na semana retrasada
nós fizemos em sala, porque a gente demorou na organização do que íamos
fazer. E, nós passamos por duas propostas, uma foi até iniciada, e eles
voltaram atrás, não dava certo, era muita coisa, enfim. Foram dois dias para
discutir, porque o evento já estava caminhando, eles já tinham ido no bairro,
já haviam visto o barracão da comunidade, era uma outra coisa diferente
deste, da creche. E aí eles resolveram mudar. Então, pegamos quatro aulas e
debatemos a questão do bairro, da creche, com os alunos e a diretora da
escola sobre essa necessidade. A partir disso, fomos organizando tudo, e
estabelecemos datas e metas a serem atingidas. Além disso, definimos como
e quando isso seria feito, se no meio da semana ou no fim de semana. Ficou
144
acordado que eles iriam passar o final de semana lá, o sábado o dia inteiro e
parte do domingo, fazendo esses brinquedos, que são os pneus do parque, os
outros em casa e não na Unemat (P3-J).
Então, esses momentos das aulas teóricas nós, basicamente fazemos isso, as
leituras de artigos, da ementa, geralmente a gente passa para eles ir fazendo a
leitura em casa. Bom, não é comum gente fazer isso antes do 8° fase
formativa, porque eles não leem. Mas na 8°, a gente meio que força um
pouco, no sentido que pensamos que eles têm que dar conta disto, porque é
uma realidade que está bem pertinho deles (P3-J).
Das narrativas de P4-J, é possível inferir que o trabalho educativo orientado pelo
professor evidencia o protagonismo do acadêmico para que, a partir de suas leituras da
realidade social, produzam caminhos para resolução dos problemas encontrados na
comunidade.
Na sequência, objetivando aprofundar a compreensão sobre o processo de
instrumentalização teórico-prático, fizemos o seguinte questionamento: (Questão 3) o que se
leva em consideração na elaboração do planejamento?
A professora P1 - C, respondendo a esta questão, apresenta os critérios para
elaboração de seu planejamento que nasce das necessidades que emergem das inquietações
apontadas pelos alunos:
Com isso não quis dizer que no espaço escolar, não seja necessário, mas no
espaço não escolar por emergir da situação que as crianças, os adolescentes e
as famílias vivenciam, eles precisam de um planejamento bem mais denso,
para acolher as necessidades daquele espaço e dos sujeitos que ali estão (P1-
C).
Então, com relação a esse planejamento, após esse período que nós temos de
30 horas de instrumentalização teórica-metodológica, durante esse período,
nós construímos uma rotina de atividades, ou uma rotina de ações que eles
devem se envolver no período de observação e depois na construção do
próprio planejamento de intervenção (P1-C).
Para a professora P1-C, todas essas ações são pensadas no plano de ensino com
vistas a estabelecer um fio condutor entre a etapa de instrumentalização e da observação para
que possa “criar esse olhar de pesquisador porque, normalmente, quando os estudantes vão
para o espaço, sem uma rotina ou orientação, eles acabam observando as fragilidades e não
percebendo realmente quais são os elementos importantes” (P1-C) e, assim, a partir da
compreensão dos aspectos essenciais percebidos nos espaços, possibilitar o planejamento do
processo de intervenção que atenda às demandas existentes na comunidade.
Outro aspecto que P1-C traz diz respeito ao planejamento de estágio, que leva em
conta “os elementos que contém o PPC do curso, a ementa do curso, e depois a realidade
formativa dos nossos próprios acadêmicos” (P1-C). Desse modo, na organização do trabalho
pedagógico, “nós temos acadêmicos que conseguem ter uma prospecção maior, ou uma
compreensão maior do espaço nas primeiras leituras, e nós temos alguns que acabam indo
para esse espaço sem compreender os conceitos básicos” (P1-C). Essa percepção e atenção da
professora aos modos como os estudantes assimilam o processo de instrumentalização
teórico-prático é muito importante, pois seu olhar possibilita redimensionar as ações tanto
como docente como aquelas que são desenvolvidas pelos alunos.
Nesse sentido, a professora (P1-C) narra também sobre o esforço didático-
pedagógico para a compreensão das dinâmicas de funcionamento dos espaços não escolares,
pois “apesar de todas as orientações feitas, de todas as leituras, vídeos, depoimentos,
fotografias e diálogos, eles acabam indo ainda para esse espaço com uma cabeça de espaço
escolar” (P1). Então, cabe ao professor continuar, insistentemente, com as orientações e
acompanhamento para que produzam a atividade de intervenção baseada nos princípios
metodológicos da educação não formal.
Ainda, a professora P1-C traz a reflexão sobre os desafios encontrados no
planejamento e execução das atividades educativas em espaços não escolares:
estagiários, uma porcentagem considerável da turma, por mais que haja todo
esse roteiro de trabalho, acaba indo para o espaço com a concepção de
escola, e ali naquele momento de observação, eles não conseguem ainda
entender o funcionamento daquele espaço no período de planejamento do
projeto de intervenção (P1-C).
Então, nós precisamos trabalhar bastante o olhar que eles vão ter para
atividade em espaço de educação não formal, para que eles não venham com
compreensões ou com ações que sejam de escolarizações, que não sejam
essa proposta do espaço de educação social que no caso são os espaços não
formais (P2-C).
sentido, Gohn (2010), citando Pérez (1999), apresenta conceitualmente educação social
ligando-a à categoria de educação não formal:
Então, a partir dessa rotina, eles vão para os espaços, tendo pelo menos,
assim, um traçado de quais ações que eles precisam desenvolver no período
de observação, por exemplo que eles precisam marcar uma reunião com a
equipe gestora do espaço, que eles precisam ler os documentos que
formaliza aquele espaço, aonde as atividades de estágio vão ser
desenvolvida. E aí eles organizam uma rotina inteirinha do que precisa ser
observado naquele espaço, que não é só parte de estrutura, mas como as
interações acontecem lá dentro, então todos esses elementos são necessários
para ser desenvolvido no processo de execução da observação e de regência
(P1-C).
E para a seleção dos espaços, alguns espaços nós já temos uma parceria, mas
normalmente, a gente procura uma informação, como exemplo o espaço que
eu estou agora (Rede Cidadã), a gente toma ciência de alguns espaços, como
eu tomei ciência desse espaço aqui através de algumas pessoas que
trabalham com a educação, me inteirei para saber como que ele era, o que
acontecia aqui [...]. E então nós fomos conhecer o espaço, conversamos com
a coordenação, isso tudo antes de iniciar qualquer processo de atividade de
estágio. Depois com a coordenadora pedagógica, educadores sociais que são
voluntários e as crianças que frequentam o espaço. E, assim fizemos também
em relação ao hospital [...]. Então nós conversamos e levamos as
informações sobre os espaços para os alunos, apresentamos cada espaço, os
horários de funcionamento, e as atividades que realizam, pois temos de
manhã, a tarde e à noite. Então vamos organizando os grupos conforme a
disponibilidade de cada acadêmico, porque a gente considera que o pessoal
da área de pedagogia são trabalhadores, então às vezes eles não podem estar
em um horário, mais podem em outro. Então nós tentamos organizar dessa
forma. Essa é a forma que definimos: quais são os espaços aonde nós vamos
trabalhar e como nos organizamos em cada espaço (P2-C).
A escolha dos espaços não escolares, é feita a partir das informações trazidas
pelos alunos sobre a realidade que eles conhecem na comunidade ou
instituições, que podem contribuir com um trabalho educativo com aquela
comunidade. Aqui em Juara, são poucos os espaços organizados que
oferecem a possibilidade de estágio, por isso optamos, coletivamente, em
elaborar projetos de intervenção em determinadas instituições ou bairros
(P3-J).
A seleção dos espaços, para P4-J, também parte das necessidades de determinados
ambientes que os alunos percebem, discutem e deliberam sobre a ação de intervenção nesse
espaço. E, a partir da definição do espaço para a realização do estágio, elaboram e executam o
projeto de extensão junto àquela comunidade.
Nessa perspectiva, questionamos: (Questão 5) como são selecionados e/ou indicados
os estagiários para os espaços?
Em relação ao critério de indicação de estagiários para os espaços não escolares,
segundo as narrativas dos quatro professores participantes, esta ação ocorre após as discussões
feitas em sala de aula, sobre o que o espaço realiza, como, onde e a quem se destina. À
medida que os estudantes se identificam e se sensibilizam com determinados espaços, optam
por aquele com o qual sentiram mais afinidade. Nesse sentido, os quatro professores
afirmaram que deixam os alunos livres para a escolha do espaço de sua preferência ou
afinidade.
Após essas escolhas e a partida dos estagiários para a atividade campo, perguntamos:
(Questão 6) como tem sido feito o acompanhamento dos estagiários?
Para a professora P1-C, o acompanhamento das ações dos estagiários passa pela
orientação contínua do grupo. Essa atitude demonstra uma percepção aguçada das atividades
dos estudantes, conforme explicitado a seguir:
[...] eles então levam um choque inicial que aí depois eles conseguem
reestruturar toda a metodologia, revivem os conteúdos das disciplinas
anteriores e caminham ali os quatro dias para frente, conseguem finalizar
esse estágio com uma atividades mais interessantes e apreciada pelas
crianças. Com relação dos espaços nós temos alguns desafios em Cáceres
(P1-C).
Então a partir dessa rotina, eles vão para os espaços, tendo pelo menos assim
um traçado de quais ações que eles precisam desenvolver no período de
observação, por exemplo que eles precisam marcar uma reunião com a
equipe gestora do espaço, que eles precisam ler os documentos que
formaliza aquele espaço, aonde as atividades de estágio vão ser
desenvolvida. E aí eles organizam uma rotina inteirinha do que precisa ser
observado naquele espaço, que não é só parte de estrutura né? mas como as
interações acontecem lá dentro, então todos esses elementos para ser
desenvolvido no processo de execução da observação e de regência (P1-C).
[...] ninguém vai para visita na comunidade com algo definido, pois você não
conhece a realidade. Então você vai chega lá para conhecer a realidade,
conhecer a instituição, conhecer os sujeitos, os que participam, os
educadores sociais, os educandos, enfim conhecer todos os sujeitos presentes
lá. Depois, a partir disso, de uma conversa, aí sim define uma temática.
Então o planejamento primeiro vai ser pensado na temática. Mas o porquê
essa temática? Então vai ser necessário fazer uma justificativa, vai pensar o
objetivo, as ações para cada dia, pois o tempo é muito curto, então tem que
ser muito bem pensado, para cada dia o que vai ser realizado! Então, o
estágio precisa ser desenvolvido em 4 horas, então eu tenho diariamente esse
tempo para desenvolver, então dentro do meu planejamento seguindo uma
temática, vai ter uma sequência lógica do que vai ser desenvolvido até o
ultimo dia (P2-C).
Em relação aos aspectos que são orientados para observar, elaborar e executar a
proposta pedagógica no espaço educativo não escolar, P3-J traz a seguinte contribuição,
Essa seção compõe-se das narrativas feitas pelos estudantes sobre as suas
percepções, potencialidades e fragilidades frente ao estágio, em espaços não escolares. Nessa
direção, trazemos primeiro as informações dos grupos de alunos do curso de Pedagogia do
Campus de Cáceres e, em seguida, as informações referentes às entrevistas realizadas com os
alunos do Campus de Juara. A apresentação das narrativas dos estudantes está sistematizada
por grupos: G1-C, G2-C e G3-C, G1-J etc. O acompanhamento da letra C corresponde ao
Campus de Cáceres e a letra J, ao Campus de Juara, tanto em relação à identificação dos
grupos, quanto dos estudantes pelas letras, tais como: E1-C, E2-C e E3-C, E1-J etc.
A partir da questão um, o estudante narra sobre a constituição identitária no campo
pessoal e profissional. As narrativas apresentadas trouxeram apenas três informações acerca
159
dos participantes, um deles identificou-se da seguinte maneira: “Sou cacerense e atuo como
professor da Educação Básica na rede estadual de ensino”. E apenas dois narraram que são
servidores públicos que atuam no Conselho tutelar. Quanto aos demais, não se manifestaram a
esse respeito.
A opção por conhecer a constituição identitária dos entrevistados foi concebida
objetivando vislumbrar em que espaços atuam nossos estudantes e perceber suas perspectivas
em relação as suas futuras atuações. Essa interlocução vislumbrou, também, reconhecer se os
participantes demonstram engajamento em movimentos sociais, ou se exercem atividades
como educadores sociais em determinados espaços não escolares.
Essa interação nos possibilitaria perceber como se constituem as vivências, as
experiências, os saberes nos ambientes de educação não formal e as formas como estabelecem
as relações com as aprendizagens da vida acadêmica. Mas, as informações coletadas apontam
a realização do estágio nos ambientes não escolares como a primeira experiência nesse
campo.
A questão dois apresenta as narrativas dos estudantes sobre as percepções do
processo educativo em espaços não escolares, conforme excertos apresentados a seguir:
O grupo G1-C trouxe-nos os seguintes argumentos narrados pelo estudante E1-C:
Sim, porque no espaço escolar você tem uma proximidade com a criança, e
sempre com as mesmas crianças, na mesma série, e no espaço não escolar já
temos o contato até com os pais. Vemos crianças de várias idades e
trabalhamos com uma criança de uma certa idade, no outro dia já tem
crianças diferentes e com outras idades, então há sim uma grande diferença.
Essa é uma das maiores diferenças entre a unidade escolar e o espaço
hospitalar (G2-C, E1-C).
criança. Além disso, nos chamou a atenção a sua menção em relação à prática pedagógica que
está baseada em atividades lúdicas, jogos, brincadeiras e dinâmicas de grupos.
Nesse sentido, a prática pedagógica possui uma intencionalidade, mas não se
restringe a uma obrigatoriedade de avaliação classificatória. A participação e o envolvimento
das crianças e jovens com as atividades propostas servem como parâmetro para avaliar a ação
e tomar decisões sem, contudo, punir, excluir ou classificar o desempenho dos participantes.
Além disso, a práticas educativas nos espaços de educação não formal, segundo
Gohn (2010), são construídas no processo, tanto em relação ao conteúdo quanto ao método,
considerando que esses nascem da realidade social, por isso são sistematizados tomando os
modos de agir na produção da existência humana por determinados grupos e comunidades
como o objeto de ensino e de aprendizagem.
A participante E2-C, do grupo G2-C, afirma que há uma diferença gritante entre a
educação escolar e não escolar. Destaca que, na escola, há um corpo de saberes que são
necessários para a vida social, no âmbito geral, enquanto que para os ambientes não formais
esses saberes partem da dinâmica e interesses do grupo local, isto é, da vivência daquela
coletividade e, posteriormente, são apropriados, ressignificados e (re)construídos pelos
estagiários na ação educativa com a comunidade, visando contribuir para aprimorar aspectos
da vida local, mas, também, a vida social mais ampla.
Segundo Gohn (2010) as práticas de educação não formal estão no “centro das
atividades das ONGs nos programas de inclusão social, especialmente no campo das artes,
educação e cultura”. (GOHN, 2010, p. 36). As práticas desenvolvidas nos espaços de
educação formal vislumbram a formação do sujeito para a vida cidadã, nesse sentido, são
empregadas metodologias específicas como o diálogo para propiciar trocas e construção de
saberes que produzam a interpretação crítica da realidade da qual faz parte.
162
não formal, que ancora sua prática educativa a partir da apreensão da realidade social, local,
para retornar aos saberes produzidos socialmente.
A participante E5-C, do grupo G3-C, também afirma que percebe diferença entre os
espaços, mas por não ter feito uma leitura suficiente, não conseguiu identificar a diferença
nem caracterizar os espaços, bem como a dinâmica de funcionamento. Isto a levou à
perplexidade ou ao choque de realidade. Quando ela foi à prática docente se revestiu de
saberes escolarizáveis, não conseguindo fazer uma prática em espaços não escolares como
gostaria.
Tal narrativa vai de encontro com as afirmações da professora P1-C de que, mesmo
com todo esforço empreendido no processo de instrumentalização teórico-prático, existem
“alguns alunos que vão para o espaço sem compreender os conceitos básicos” e essa
manifestação de ausência de compreensão dos aspectos conceituais ou teórico-metodológicos
que orientam o trabalho educativo nos espaços não escolares, presente na narrativa da aluna,
se encontra na contramão das narrativas de todos demais estagiários.
A esse respeito, Gohn (2010) traz algumas contribuições acerca do método e de
conteúdos que devem orientar o trabalho educativo nos espaços de educação não formal, que
devem partir da “sistematização dos modos de agir e de pensar o mundo que circunda as
pessoas” (p.47). Nesse contexto, o processo de ensino e aprendizagem deve levar em
consideração as vivências e experiências, desafios e necessidades daquela comunidade, como
elementos para problematização da vida cotidiana de modo que as interações e os diálogos
produzidos estejam carregados de significados tanto para os sujeitos daquele grupo, quanto
para os estudantes estagiários e produzam as transformações necessárias naquela realidade
social.
A leitura inicial das narrativas dos participantes nos revelaram que todos eles
perceberam diferenças do processo educativo que se realiza nos espaços de educação formal e
de educação não formal. Os argumentos, ora explicitados, demonstraram, com exceção de
uma participante, que a diferença consiste na concepção de educação, na metodologia de
trabalho educativo e nas interações que se realizam nos espaços não escolares.
164
A participante E1-C, do grupo G2-C, demonstra em sua narrativa que a opção pelo
campo de artes possibilita maior aproximação e interlocução entre os educadores sociais, as
crianças e, muitas vezes, seus acompanhantes. Demonstrou ainda que, devido às fragilidades
físicas e psicológicas em que as crianças se encontram, a arte possibilita um pouco de alívio
ao sofrimento e enfado, pela participação nas atividades pedagógicas desenvolvidas.
165
Nesse sentido, trazemos as contribuições de Miranda (2009) que afirma: “para cada
dia foram realizadas atividades diferentes, pois a rotatividade nas enfermarias exigia que
tivéssemos uma diversidade de trabalhos que iniciassem e terminassem no mesmo dia, porque
algumas crianças podiam não mais fazer parte do grupo” (MIRANDA, 2009, p.6458).
A respeito da relação professor/aluno/prática pedagógica, o G3-C apresentou as
seguintes contribuições narradas pelos estagiários:
filho, aonde que ele mora, sabe muito da vida da criança. Já na escola, isso
não acontece. O professor às vezes, mal sabe o nome da criança, mas ali, o
educador sabe de onde ele vem, que tipo de bairro que ele mora, e monta o
seu projeto educativo, em cima da realidade da criança. A relação é boa e
tem uma certa afetividade. As práticas pedagógicas são de acordo com a
vivência das criança e procura trabalhar com coisas que chamem a atenção e
trazem incentivo para que as crianças permaneçam ali. Nenhum deles é
obrigado a estar lá naquele horário, eles vão porque querem (G3-C, E2-C).
Olha, até mesmo o nosso trabalho que foi proposto às crianças foi de muita
importância para nós e para eles. Tivemos um respaldo das crianças, um
acolhimento também pela educadora, pela estagiária e pela voluntária que
trabalha lá. Tivemos respaldos sobre o nosso projeto, as crianças vieram,
participaram e realizaram as atividades. Eu gostei (G3-C, E3-C).
Em relação à estudante E5-C, pertencente ao grupo 3-C, sua narrativa não nos
permite perceber em seu discurso a compreensão do que se constitui a educação não formal,
os aspectos teórico-metodológicos que sustentam as práticas educativas nesses espaços. O que
168
nos chamou a atenção e destoa do que foi apresentado acima, está no fato de que ela
reconhece as contribuições de outras disciplinas para a realização do trabalho pedagógico com
as crianças sem, no entanto, mencionar eventual contribuição da disciplina de estágio com
foco nos espaços não escolares para a instrumentalização teórico-prática das ações a serem
desenvolvidas.
A esse respeito, ancorada na observação participante realizada durante as aulas que
conduzem o processo de instrumentalização teórico-prática na disciplina de Estágio
Curricular Supervisionado com foco nos espaços não escolares, aliada à narrativa da
Professora P1-C, em que afirma: “define o que é o espaço não escolar, quais são os conceitos,
onde que eles surgem, e qual é a finalidade de se trabalhar um estágio em um espaço não
escolar para vida do acadêmico”.
Além disso, assegura a professora P1- C, “a gente faz toda essa construção da
identidade do espaço não escolar por meio das leituras dos teóricos em sala de aula, através de
leitura coletiva, individual, debate, discussão com relação às temáticas tratadas” (P1-C).
Diante disso, ousamos afirmar que a narrativa da estagiária E5-C apresenta evidências de
ausência de leitura, participação e compromisso com os aspectos teórico-metodológicos
trabalhados pelas professoras da disciplina.
Após a compreensão dos aspectos constitutivos da relação professor/aluno/prática
pedagógica, aprofundamos o estudo buscando as evidências apresentadas na questão quatro
que aborda as narrativas dos estudantes sobre as dinâmicas realizadas nos espaços educativos
não formais.
A respeito da questão sobre as dinâmicas realizadas nos espaços educativos não
formais, o grupo G1-C, produziu os seguintes argumentos:
existência. Essa dinâmica propicia a apropriação e construção de saberes que contribuem com
a construção de identidade e cidadania dos estagiários.
Nesse sentido, é importante trazer as contribuições de Gohn (2010) quando destaca
que é preciso ter a capacidade de fazer uma leitura crítica do mundo que nos rodeia, no plano
local, para entender as contradições globais [...]” (GOHN,2010, p.41). Diante disso, a
narrativa apresenta importante elemento da educação não formal que é desenvolvida em
espaços não escolares no que diz respeito a liberdade, à democracia, à igualdade, que
constituem os objetivos dessa modalidade de educação.
O grupo G2-C, a respeito de tal questão, apresentou os seguintes argumentos:
Com certeza, porque ali quando você vai fazer o estágio em um ambiente
formal, você tem ali todo acompanhamento, uma professora atuando, vai
adquirindo conhecimento, vendo se você tem capacidade de trabalhar, e no
hospital no ambiente não formal, a gente ficou meio preocupada, porque ali
a gente não tinha um educador. No início, tivemos muita dificuldade para
perceber que dinâmica se realiza naquele espaço, para atuar com eles ali
dentro. Mas, aos poucos, conseguimos fazer várias atividades com os bebês
e com as crianças, como contação de histórias, dedoches, gibis, pinturas. Foi
muito interessante. Conseguimos atuar como um bom profissional (G2-C,
E1-C).
deve ser resguardada, respeitando assim o direito de privacidade das informações de cada
paciente, bem como a confiança que o paciente deposita nas pessoas com que se relaciona.
(MIRANDA, 2009, p. 6459)
Em relação às dinâmicas realizadas nos espaços educativos não formais, o grupo G3-
C apresentou os seguintes posicionamentos:
levar um projeto que vai fazer diferença na vida das crianças que estão lá
(G3-C, E2-C).
Naquele espaço não escolar foi impossível a gente apresentar tudo que
aprendeu. Porque no decorrer do curso, a gente aprende de uma forma, e
chega no estágio é totalmente diferente. Primeiro, porque o tempo é muito
curto para praticar o que nós aprendemos, aqui dentro da sala. (G3-C, E3-C).
A participante E4-C, do grupo G3-C, chamou a atenção para o fato de que o espaço
escolar dispõe de uma rotina semanal de trabalho, enquanto que nos espaços não escolares há
172
novos “campos de produção de conhecimento e áreas do saber que estavam invisíveis ou não
tratadas como conhecimento ou saber educativo” (GOHN, 2009, p.3).
Portanto, é possível depreender que a formação passa sempre pela mobilização de
vários tipos de saberes, sejam eles curriculares, disciplinares, pedagógicos ou experienciais,
bem como aqueles saberes denominados por Nóvoa (1995) como “saberes de uma prática
reflexiva; saberes de uma teoria especializada; saberes de uma militância pedagógica”
(Hameline, 1991, apud Nóvoa, 1995, p.28).
A respeito dessa questão, o grupo G2-C expressou os seguintes argumentos:
[...] quando você vai para o estágio, você percebe como funciona a prática,
porque a teoria e a prática andam junto. Então você tem a teoria aqui e lá.
Então você vai perceber como você vai agir, como vai praticar essa atividade
escolar (E1-C, G2-C).
A estagiária E1-C, do grupo G3-C, iniciou sua narrativa afirmando que o estágio em
espaços não escolares “trouxe uma contribuição muito grande, na vida pessoal, pois ali você
está conhecendo a realidade de cada um, e, às vezes, você pensa que está passando por algo
ruim, mas aquelas crianças podem estar passando algo pior que você”. A argumentação
utilizada é justificada, posteriormente, na direção de que a prática pedagógica desenvolvida
nos espaços não escolares deve pautar-se na realidade dos participantes, nas dificuldades que
enfrentam, nas suas expectativas e interesses que possuem. E, nesse olhar, enxergar as pessoas
176
como elas são e do lugar onde estão, provocar mudanças que humanizam as relações e,
consequentemente, transformam as realidades vividas na prática pedagógica.
Nesse sentido, para atender à demanda educativa, tanto dos espaços de educação
escolares quanto dos não escolares, as práticas pedagógicas devem ser planejadas de modo
que ultrapassem a simples instrução ou informação, de tal maneira que propiciem a realização
de experiências visando desencadear a emergência de outros saberes provindos da voz dos
sujeitos participantes, em suas manifestações sociais, culturais e históricas, como instrumento
de apropriação e (re)elaboração de saberes que sejam frutos daquela comunidade.
Eu acho que a contribuição maior foi a que não precisa de um conteúdo em
si para ensinar alguém, você precisa ter uma meta que vai fazer a diferença,
que vai mudar algo na vida daquela criança, e que vai mudar a realidade que
ela está, e que não adianta fazer um projeto que não está de acordo com a
realidade dela. Então eu acredito que fez crescer também, porque me fez
olhar para arte de maneira diferente, e que todos os projetos que são levados
pra lá são relacionados com a arte, e isso nos faz pensar o que a arte pode
mudar a vida de uma criança (G3-C, E2-C).
A estagiária E2-C, do grupo 3-C, argumenta que não há conteúdo prévio para o
trabalho educativo nos espaços não escolares porque ele emerge das realidades da vida das
crianças e jovens. E essa percepção a fez olhar para si e vislumbrar possiblidades de trabalho
mais consistente e adequado à realidade do campo de estágio.
Nesse sentido, a prática pedagógica do estagiário em formação que se realiza no
processo de ensino aprendizagem deve ser planejada de modo que as ações tenham no diálogo
um dos princípios educativos que permeiam as relações intersubjetivas construídas nos vários
espaços de produção de saberes, sejam eles escolares ou não escolares. Assim, a atividade
docente deve levar em consideração como os interlocutores percebem a si, enquanto sujeitos,
o outro e o mundo para produzir e ressignificar as experiências sociais e culturais oriundas das
vivências daquela coletividade.
Esse último estágio veio contribuir para minha vida pessoal e profissional,
de uma forma de como eu posso trabalhar, no futuro, com as outras crianças,
até mesmo no meu ambiente familiar, como que eu posso compreender
melhor as crianças. Eu achei mais fácil, então eu me volto na primeira
pergunta que a senhora fez, eu quero me especializar em educação infantil
porque eu me identifico com crianças, eu tenho muito o que ensinar e
aprender com as crianças. Eu gostei. Como eu já disse, se eu puder trabalhar
até mesmo como voluntária, eu trabalharei. Ali teve crianças que eu me
identifiquei, na minha infância, eu me vi em várias crianças, ali e um
ambiente acolhedor, um ambiente que nós temos oportunidade de dar e
receber carinho de várias formas, de pessoas que talvez a gente só encontrou
ali naqueles dias, mas foi muito gratificante pra mim, eu espero voltar lá
outras vezes (G3-C, E3-C).
177
espaços não escolares e, o segundo ateve-se à percepção das diferenças existentes entre o
estágio em espaços escolares e não escolares.
Portanto, apresentamos a seguir as informações contidas nas narrativas dos
estudantes que, naquele momento, dispuseram-se a realizar a entrevista. Diante da situação de
início das atividades pertinentes ao estágio, mudamos o roteiro de questões e focamos sobre
as impressões iniciais do estágio supervisionado em espaços não escolares.
O grupo G1-J, apresentou as seguintes narrativas feitas pelos estudantes:
Bom, a princípio foi proposto pra gente realizar um projeto numa creche.
Esse é o nosso primeiro contato com o projeto a ser realizado em espaços
não escolares, então nós estamos buscando o que precisa para ser realizado
esse projeto, no que precisa ser investido e tudo mais, porque até então o
nosso estágio foi sempre atuar em sala de aula, mais com observação e
intervenção mais com práticas pedagógicas, e esse é o primeiro contato com
o projeto mesmo em ambientes não escolares, então nós ainda estamos
percebendo como é realizar um projeto também em ambientes não
escolares...(G1-J, E1-J)
O grupo G1-J iniciou sua narrativa afirmando que esse era o primeiro momento que
tiveram contato com projetos em espaços não escolares, e que suas experiências anteriores se
limitavam aos espaços escolares. Estavam, portanto, na etapa de levantamento do que
precisariam e de como elaborar o projeto. Tais afirmações mobilizaram-nos a entender que a
instrumentalização teórico-prática realiza-se no contexto da elaboração do projeto.
O grupo G2-J, composto pelos estudantes de Porto dos Gaúchos, apresentou os
seguintes argumentos:
Então, professora, a princípio, nós estávamos muito ansiosos para fazer em
delegacias, o nosso grupo estava pensando em fazer em um projeto que
atende crianças carentes, e que é um projeto não governamental, porque
normalmente os alunos aqui da UNEMAT, eles vão estagiar lá nesse projeto,
a princípio seria isso, só que nem todos da sala concordaram em fazer lá esse
projeto, só que na verdade queria fazer esse projeto que fosse levado para
comunidade, igual ao ‘Viva seu bairro’ que tem lá em Cuiabá, corte de
cabelo, fazer unha, então eles queriam fazer para que beneficiasse a
população (G2-J, E1-J).
O estagiário E4-J, do grupo 2-J, tal como E3-J, apresentou em sua narrativa o
processo pelo qual se deu a definição da temática com possíveis colaboradores que atuam e
vivenciam situações da comunidade. E, nessa direção, foram pensando quais conferencistas
poderiam contribuir com a temática, possíveis espaços de realização, formas de divulgação,
de organização e divisão do trabalho no grupo.
181
Outra questão que precisamos evidenciar diz respeito às diferenças percebidas pelos
estagiários acerca da educação formal e não formal.
Respondendo a essa questão, o grupo G1-J, apresentou as ideias descritas em sua
narrativa, conforme relato a seguir:
Sim. A creche é recém inaugurada, ainda não tem um parque nessa creche, e
não há investimentos governamentais na creche, então surgiu essa
oportunidade da gente estar fazendo esse projeto e melhorar um pouco a
condição da creche. As crianças precisam de brinquedos para interagir fora
da sala de aula, então essa é uma oportunidade da gente ajudar a escola e os
alunos que vão ser principalmente privilegiados nesse projeto. A creche é
um ambiente lúdico, mas sem ter nenhum tipo de material. Então o parque
foi criado pensando como um benefício e pra nós como uma experiência, de
uma atividade não escolar, e vai ser uma experiência vencedora, a educação
não acontece somente em sala de aula, mas também fora dela. Desse modo,
então, [...] esse projeto tem um envolvimento da coordenação, da secretaria,
e não apenas do professor, com a população, com a direção, com todo
mundo envolvido para fazer o parquinho das crianças (G1-J, E1-J).
Tal narrativa, segundo Tardif (2002) descreve aspectos que situam-se no campo dos
saberes experienciais considerando que a confecção do parque infantil na referida creche
pressupõe, por parte dos estagiários, conhecimento prévio acerca de que as práticas educativas
para a Educação Infantil necessitam de determinadas condições para que a aprendizagem se
realize e, ainda, que as interações entre os seus pares seja durante o processo de formação ou
na elaboração do parque, mesmo que sem a presença da docência nas atividades
desenvolvidas, contribuem de alguma maneira para a formação do pedagogo.
182
O estagiário E1-J, do grupo 2-J, afirmou que há uma diferença, e que o estágio em
espaço não escolar permite trabalhar com temas ou ações ligadas à vida da comunidade. Para
esse estudante, é importante trabalhar os acontecimentos sobre a violência que ocorrem na
comunidade, e são temas que não são, costumeiramente, trabalhados no currículo escolar.
Os argumentos utilizados pelo Estagiário E1-J, encontra ancoragem na perspectiva
de educação não formal discutida por Gohn (2010), em que o processo educativo em espaços
não escolares se distancia dos modos de conhecimentos produzidos pela racionalidade técnica
e científica, considerando que as ações realizadas no campo da educação não formal garantem
a manifestação de outros conhecimentos e saberes que emergem de olhares que vão além do
liberalismo e do capitalismo emergente e pragmático. Em tal contexto, o currículo nasce das
vivências dos indivíduos a partir do protagonismo daquela coletividade.
Por fim, destacamos que os diferentes saberes manifestos nas narrativas feitas pelos
estagiários fazem parte do arcabouço cultural evidenciados nas práticas educativas realizadas
e são tão necessários e importantes quanto os conhecimentos produzidos pela racionalidade
científica. Em suma, a inserção do Estágio Curricular Supervisionado com foco nos espaços
nos cursos de formação do pedagogo, dos Campi de Cáceres e Juara, constitui-se um avanço
significativo enquanto possibilidade de aprendizagem e de atuação profissional. Além do
183
Esta dimensão toma como ponto de partida as contribuições trazidas por Pimenta
(2012, p.107) de que “a teoria e a prática são indissociáveis como práxis”. E, nesse
184
As reflexões produzidas a partir das contribuições dos referidos autores apontam para
o estágio como campo de conhecimento que comporta a confluência dos diferentes
conhecimentos e saberes, mas, também, constitui-se como fio condutor entre os polos
institucionais constitutivos do processo formativo.
Assim, o Estágio Curricular Supervisionado coloca como necessidade ao educador
social, segundo Pimenta e Lima (2012), “além de saber os conhecimentos sobre determinada
área da realidade, que se converterá no conteúdo de ensino [...] o domínio de recursos teóricos
e metodológicos para transmissão, partilha e socialização” (PIMENTA, LIMA, 2012, p.65)
dos conhecimentos e saberes e, nesse processo de aprendizagem de tornar-se professor, deve-
se ter e almejar também para os estudantes, “uma visão crítica dos princípios que
fundamentam sua prática, dos objetivos por ela visados, dos compromissos por ela
requeridos” (PIMENTA, LIMA, 2012, p.65-66).
construção da identidade profissional, tais como o curso do qual faz parte, o Estágio
Curricular Supervisionado, as aprendizagens derivadas das demais disciplinas, assim como as
experiências e vivências, dentro e fora da Universidade, ajudam a construir a identidade
docente.
Nesse entendimento, trazemos a narrativa da professora P2-C como exemplo de
como as interações entre o mundo do trabalho, as vivências e experiências contribuem para a
constituição da identidade profissional, nos diálogos e questionamentos produzidos entre os
dois níveis de ensino: “estou atuando na educação do ensino superior desde 2012. Nesses
anos todos, estamos também na rede, com a educação infantil” (P2-C). Desse modo, a busca
pela compreensão das complexidades que envolvem a prática pedagógica, enquanto atividade
situada no contexto social mais amplo, estabelece o desafio da necessidade de
aperfeiçoamento de sua formação.
As narrativas docentes, tanto de P1 e P2, ambas do Campus de Cáceres, permitem
compreender que os estudos realizados para o aprofundamento teórico-prático, as análises e as
reflexões produzidas acerca das práticas pedagógicas que ocorrem nos espaços educativos não
escolares, a partir dos referenciais assumidos e/ou ressignificados pelos sujeitos, contribuem
para a construção da identidade profissional dos professores.
Nesse sentido, podemos interpretar que devemos levar em consideração os aspectos
“subjetivos da profissão, que dizem da identificação e da adesão dos sujeitos a ela, para que
os candidatos a essa profissão, digam para si, que querem ser professores” (PIMENTA, 2012,
p. 63-64). E, nessa direção, os professores orientadores de estágio devem promover situações
que suscitem nos estagiários análises e reflexões sobre o reconhecimento de si e o desejo de
tornar-se professor.
Nessa perspectiva, o processo de instrumentalização teórico-prática torna-se o fio
condutor na preparação dos estudantes para os processos de ensino e aprendizagem por meio
de ações educativas que demandam um tratamento didático-pedagógico do conhecimento de
tal modo que possibilite aos estudantes estagiários “o estudo, a análise, a problematização, a
reflexão e a proposição de soluções às situações de ensinar e aprender” (PIMENTA, LIMA
2012, p.55).
Nesse sentido, a realização do trabalho educativo deve ser feita de forma articulada e
coletiva entre professores, estagiários e comunidade, a fim de que possa propiciar uma
formação inicial que promova ações comprometidas qualitativamente com os sujeitos, com as
instituições parceiras situadas em determinados contextos históricos, sociais e culturais e que
contribuirão para a formação política, técnica, humana e social de todos os envolvidos.
188
Considerando que as ações educativas desenvolvidas nos espaços não escolares são
realizadas pelo educador social, esse deve ter sua proposta de intervenção na realidade numa
perspectiva “socioeducativa, de produção de saberes a partir da tradução de culturas locais
existentes e da reconstrução e ressignificação de alguns eixos valorativos, tematizados
segundo o que existe, em confronto com o novo que se incorpora” (GOHN 2010, p. 55).
Assim, tomando o estágio como campo, por excelência, que pode desencadear a
reflexão sobre a construção e o fortalecimento da identidade, apoiamo-nos nas contribuições
de Pimenta e Lima (2012) que define o estágio como “lugar onde são tecidos os fundamentos
e as bases identitárias da profissão docente” (p. 62). Para as autoras(2012), “O estágio é o
lócus onde a identidade profissional é gerada, construída e referida; volta-se para o
desenvolvimento de uma ação vivenciada, reflexiva e crítica e, por isso, deve ser planejado
gradativa e sistematicamente com essa finalidade” (PIMENTA, LIMA, 2012, P.62)
A partir desse olhar, encontramos na narrativa do Professor (P3-J) argumentos que
convergem com a perspectiva trazida por Pimenta e Lima (2012), quando comenta: “observei
que no processo de formação do pedagogo, deve passar pela vivência nos espaços escolares e
não escolares[...] (P3-J). A narrativa do professor P3-J traz as contribuições das vivências e
experiências na sua trajetória e constituição identitária: “Eu trabalho com o campo da
educação não formal, já faz algum tempo. No começo, com a disciplina de gestão de
ambientes não escolares, e nos últimos anos também com o estágio” (P3-J).
Nesse sentido, as narrativas dos professores apresentam aspectos relativos às análises
e reflexões sobre a profissão que encontram ancoragem em Pimenta e Lima (2012):
[...] no confronto com as representações e as demandas sociais que a
identidade construída durante o processo de formação será reconhecida, para
o qual serão necessários os conhecimentos, os saberes, as habilidades, as
posturas, e o compromisso profissional. Trata-se, pois, de nos estágios se
trabalhar a identidade em formação, definida pelos saberes, e não ainda pelas
atividades docentes (PIMENTA, LIMA, 2012, p.64).
Nesse processo de preparação e formação para atuação nos espaços, a Professora P1-
C acrescenta ainda que “também trazemos alguns vídeos que apresentam o espaço não escolar
em outras realidades. Apresentamos também algumas imagens que nós já tínhamos de
atividades dos semestre anteriores dos espaços que nós vamos trabalhar” (P1 – C).
Igualmente, a Professora P2-C, em sua narrativa, apresenta a organização do trabalho
pedagógico no processo de instrumentalização teórico-prática, para a realização do estágio da
seguinte maneira:
[...] a gente se encontra para começar o planejamento e definir a
fundamentação teórica, os materiais que vamos usar para que os acadêmicos
tenham um entendimento teórico sobre o assunto que vamos está tratando,
para que possam compreender e conceituar o que seria educação não formal,
e compreender também quando nós estamos falando em educação não
formal ou educação não escolar, porque às vezes eles têm dificuldade de
conceituar o que estamos falando (P2-C).
No entanto, no que diz respeito às questões relativas aos espaços não escolares, há
convergência com as demais professoras quanto à percepção e seleção desses espaços: “[...]
debatemos a questão do bairro, da creche, com os alunos e a diretora da escola sobre essa
necessidade. A partir disso, fomos organizando tudo e estabelecemos datas e metas a serem
atingidas” (P3-J).
191
materiais [...] objetivando conceituar o que seria educação não formal, e compreender também
quando estamos falando em educação não formal ou educação não escolar[...]” (P2-C).
A esse respeito, faz-se necessário tomar para nosso entendimento as importantes
contribuições de Gohn (2010):
[...] a educação não formal tem campo próprio, tem intencionalidades, seu
eixo deve ser formar para cidadania e emancipação social dos indivíduos.
Sabemos que a escola também tem intencionalidades, assim como deve
também cuidar de formar para a cidadania, tendo como uma de suas tarefas
fundamentais desenvolver a capacidade de aprender mediante ‘pleno
domínio da leitura, da escrita e do cálculo’, conforme prevê o artigo 32, I, da
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB – Lei nº 9.9394/96)
(GOHN, 2010, pp33-34).
Essa diferença conceitual entre educação não formal e educação formal ganha mais
evidência na categoria intencionalidade, embora, para Gohn (2010), a diferença existente na
“[...] intencionalidade não é o único marco diferencial entre a educação formal e a não formal,
porque existe nas duas, mas é ela que demarca um objetivo específico na educação não formal
– formar para a cidadania” (GOHN, 2010, p.34).
Nessa perspectiva, a organização do trabalho pedagógico deve ancorar-se em
dimensões educativas que envolvem, segundo Gohn (2010):
a aprendizagem política dos direitos dos indivíduos como cidadãos, ou
aprendizagem para a cidadania, aprendizagem dos indivíduos para atuarem
no mundo do trabalho, por meio da aprendizagem de habilidades e/ou
desenvolvimento de potencialidades em oficinas e laboratórios” (GOHN,
2010, p.35).
Essas dimensões encontram sentidos nas ações educativas quando estas se realizam
tomando a leitura da realidade social, as práticas sociais dos indivíduos de determinada
comunidades, aliadas aos saberes e conhecimentos trazidos pelos professores e estagiários em
situações problematizadoras.
Assim, utilizamo-nos da narrativa do professor P4-J sobre como, coletivamente,
pensaram as ações educativas:
10
Disponível em: <http://portal.unemat.br/?pg=site&i=proec&m=extensao-na-unemat>. Acesso em: 15 de jan.
de 2019.
195
Igualmente, o professor P4-J narra que “em nossa cidade, hoje, é carente desses
espaços” (P4-J). A alegação, explicitada pelos dois professores P3-J e P4-J, evidencia a saída
encontrada pelo coletivo de professores e alunos estagiários para realização do estágio, não
obstante a ausência de docência nas atividades realizadas.
Destacamos a importância social da realização de ações extensionistas que
contribuem de maneira objetiva para o fortalecimento das relações entre universidade e
sociedade por meio das instituições educativas não escolares. Consideramos esse aspecto um
avanço significativo, mas tomamos a liberdade de externalizar alguns pontos que podem
contribuir para a relação de interdependência entre ensino e extensão, na realização do
estágio:
Possibilidade de retorno à comunidade a partir das ações extensionistas,
formativas contanto que promovam a troca de saberes e conhecimentos produzidos nas
vivências e experiências daquela comunidade;
Possibilidade de produção de materiais educativos, como cartilhas, manuais,
relatórios, revistas, jornais locais tomando como fundamento e base da elaboração os saberes
produzidos por aquela coletividade;
Realização de palestras, oficinas, laboratórios, cursos, feiras, exposições entre
outras, em que os professores orientadores de estágio e estagiários promovam intercâmbio de
saberes e partilhem práticas e experiências comprometidas com aquele grupo ou comunidade;
Promoção de levantamentos de necessidades, anseios e dificuldades daquela
comunidade e, juntos, realizarem ações que possam minimizar tais situações, aliando
atividades de docência à extensão;
Promoção de excursões a diferentes espaços que apresentem possibilidades de
aprendizagens, com objetivos e roteiros previamente definidos;
Participação, organização e incentivo ao grupo a promover encontros para
estudos e reflexões acerca de temáticas de interesse coletivo;
Promoção de eventos culturais que acolham as manifestações culturais
presentes naquele grupo social ou comunidade, destacando aspectos relativos às diferenças
culturais existentes;
Ciclos de diálogos sobre temas relevantes socialmente;
Promoção de cursos de formação aos educadores sociais sobre o trabalho
didático-pedagógico e gestão dos espaços não escolares.
Como se vê, são inúmeras as possibilidades de trabalhos extensionistas que
envolvem a atividade de docência. Neste estudo, listamos apenas algumas, para exemplificar.
196
Assim, entendemos que a ausência de espaços não pode constituir-se um elemento limitador
de possibilidades educativas.
Em relação a (in)existência dos espaços não escolares, a professora P1-C expressa a
preocupação e compromisso com aqueles espaços parceiros no sentido de continuidade da
parceria. Nessa mesma direção, a professora P2-C enfatiza o compromisso e respeito para
com a dinâmica e funcionamento dos espaços, de modo que as ações de estágio produzam a
menor interferência possível no trabalho realizado. Tomamos como exemplo a narrativa da
Professora P2-C no seguinte sentido: “nós conversamos e levamos as informações sobre os
espaços para os alunos, apresentamos cada espaço, os horários de funcionamento e as
atividades que realizam[...]” (P2-C).
Segundo Gohn (2010), “a educação não formal [...] não é herdada, é adquirida. Ela
capacita os indivíduos a se tornarem cidadãos do mundo, no mundo. Sua finalidade é abrir
janelas de conhecimentos sobre o mundo que circunda os indivíduos” (p.19), como sujeitos
situados historicamente e revestido de suas relações sociais.
A professora de Estágio P2-C afirma, em sua narrativa, que há uma constante busca
por ambientes educativos não formais: “[...] procuro me informar a respeito de espaço, como
este que estou agora (Rede Cidadã), [...] tomo ciência [...] através de algumas pessoas e
procuro me inteirar para saber como que ele era, o que acontecia aqui [...]” (P2-C) e, então, à
medida em que descobrem novos espaços, vão formalizando as relações institucionais para
atender a demanda para a realização de estágio em espaços não escolares.
A esse respeito, atentamos ao fato de que, às vezes, há uma expectativa de que os
espaços não escolares para a realização do estágio já estejam prontos, mas os espaços também
podem ser criados, por exemplo: fazer o levantamento de crianças que estão fora da escola
num bairro e desenvolver uma proposta pedagógica com elas...
É importante lembrar que os objetivos da educação não formal, segundo Gohn
(2010), “não são dados a priori”(p.19), haja vista que eles emergem no processo resultante
das interações entre os sujeitos para gerar um processo educativo, tomando os interesses e as
necessidades dos que participam. Por isso, estar atento aos modos de organização da
sociedade e da comunidade, por meio de seus diferentes grupos, constitui-se uma atitude
necessária para que outras possibilidades de espaços possam emergir desse olhar.
Em relação à seleção de espaços não escolares, portanto, os quatro professores
participantes afirmaram em suas narrativas que dão liberdade para que os alunos escolham o
ambiente com o qual mais se identificam com as atividades que são realizadas.
197
Tal situação denota que o planejamento se constitui um instrumento vivo, que se faz e refaz
no processo. É construído nas dimensões do ensinar e do aprender.
O ponto convergente entre as quatro narrativas, em relação ao planejamento,
portanto, diz respeito à concepção de que as ações educativas em espaços de educação não
formal devem partir do conhecimento da realidade social, das necessidades e interesses da
coletividade para, a partir desse conhecimento, elaborar a proposta de intervenção pedagógica
no ambiente.
Diferentemente, nas narrativas dos quatro professores participantes, dois aspectos se
revelaram divergentes quanto ao plano de ensino e de aula. O primeiro relaciona-se à
diferença quanto ao enfoque dado ao trabalho educativo, pois, enquanto as professoras P1-C e
P2-C enfatizam as ações educativas na perspectiva da docência, os professores P3-J e P4-J
trabalham na perspectiva da extensão, mais alinhados à dimensão da prática. O segundo
aspecto diz respeito à articulação da teoria à prática que as professoras P1-C e P2-C a tomam
como prospecção de uma prática educativa que seja bem fundamentada teórica e
praticamente. Isto é, que esteja comprometida ética, política e pedagogicamente com a
aprendizagem daquele grupo a que se destina. Já para os professores P3-J e P4-J, pela
concepção e operacionalização de Estágio assumida pelos professores e alunos, evidencia-se a
prevalência do aspecto prático sobre o teórico.
Em suma, em um processo de planejamento, algumas inquietações importantes
devem ser consideradas a respeito do currículo a ser desenvolvido nesses espaços não
escolares, como por exemplo: quais saberes devem ser ensinados e/ou produzidos nos espaços
de educação não formal? Qual saber deve prevalecer e qual deve ser excluído? Vejamos que
há seleção de saberes, conhecimentos a serem desenvolvidos nesses espaços educativos por
meio do currículo ali desenvolvido. Os indicativos de respostas para esses questionamentos
assumem diferentes perspectivas, pois devem sempre partir da realidade social, dos interesses
e necessidades daquele coletivo de sujeitos naqueles contextos históricos e sociais nos quais
são produzidos. Portanto, a seleção ou escolha dos conteúdos não são dados à priori, mas
construídos no processo. “Eles emergem das condições sociais, econômicas, culturais da
coletividade que luta e reivindica novos conhecimentos e saberes e ressignificam outros”
(ALENCAR, FERREIRA, 2017, p.6).
Nessa perspectiva, tanto os conteúdos quanto os aspectos metodológicos são
produzidos nas condições objetivas e subjetivas de existência daquelas comunidades
atendidas, a fim de permitir o desenvolvimento de atividades de criação e recriação de saberes
200
produzidos na sua relação com o mundo, que resulta em saberes e conhecimentos, frutos do
trabalho realizado nos espaços sociais em que vivem.
Nesse visão, assumimos as ideias e argumentos de Tardif (2002) que afirma que os
saberes carregam uma carga histórica de vivências e experiências dos sujeitos e reafirmamos
que estes saberes se ressignificam e se transformam no diálogo com outras vivências. Assim,
podemos problematizar, a partir das narrativas dos professores, que, nesse contexto, os
conteúdos e as ações realizadas nos estágios em espaços não escolares são constituídas dos
saberes adquiridos ao longo da vida e no cotidiano de todos os participantes do processo de
formação.
Nessa perspectiva, o educador social assume o papel de orientador dos estagiários
para a realização dos estágios, mas, nesse caso, o educador não é simplesmente aquele que
ensina, mas aquele que é capaz de aprender enquanto ensina, conforme Freire (1993). E, desse
modo, enquanto o educador ultrapassa os limites das atribuições docentes em relação ao
conteúdo e saberá ouvir e orientar aqueles conteúdos que partem daqueles que querem
aprender.
Segundo Ghon (2010), o educador social vai além do aspecto pedagógico, da
disciplina, da metodologia e passa a ser um animador cultural e do grupo porque, a partir do
momento que ele se dispõe a ensinar, é ensinado e pertencido. Nesse pertencimento, ele tem
as condições de orientar as reflexões para alcançar as transformações sociais da comunidade.
A dialogicidade que ocorre nos espaços de educação não formal está para além de
uma conversa informal porque, na relação horizontal entre educador e educando, o diálogo se
constitui no fio condutor da formação na comunidade. O diálogo espontâneo cria o espaço, o
tempo e o lugar, mas não é tudo que pertence ao campo da educação porque pressupõe a
existência de princípios, métodos e metodologias do trabalho educativo. (ALENCAR,
FERREIRA, 2017).
O trabalho educativo do educador social parte de três premissas básicas, segundo
Freire (1993): a elaboração do diagnóstico do problema e suas necessidades, a elaboração
preliminar da proposta de trabalho e o desenvolvimento e complementação do processo de
participação dos membros da comunidade na implementação da proposta.
Por fim, assumimos a compreensão da perspectiva de educação não formal como
aquela que tem como objeto a formação para cidadania e eixo orientador da atividade docente
associada à ideia de cultura, que “consiste em recriar e não repetir. O homem pode fazê-lo
porque tem uma consciência capaz de captar o mundo e transformá-lo”. (Freire, 2007, p. 31).
Portanto, constitui-se um campo rico para desencadear novas e diferentes aprendizagens.
201
g) A Avaliação do estágio
As contribuições apresentadas por Gohn (2010) pontuam alguns aspectos que podem
auxiliar no processo de avaliação das atividades de estágio. Elas estão ligadas aos objetivos,
conteúdos, metodologia e participação qualitativa nas ações oriundas daquele grupo ou
comunidade.
estagiários percebem a realidade e articulam ações que vão ao encontro das expectativas e
interesses daquela comunidade, em diferentes frentes de atuação.
A esse respeito, Gohn (2010), traz uma significativa contribuição:
[...] um dos grandes desafios, na era da Globalização, é a construção e
implementação de processos educativos no interior dos grupos, associações,
movimentos sociais etc. que contemplem a autonomia, que explicitem as
diferenças entre ocupar os espaços públicos somente, e ocupá-los com uma
visão crítica de mundo. É necessário deixar de ser dependente de práticas
políticas do passado. A autonomia deve capacitá-los a inserir-se no contexto
social e a compreender as circunstâncias da existência social, econômica,
cultural e ética da globalização (GOHN, 2010, p.41).
Em suma, a diferença entre educação formal e não formal, apontada nas narrativas
dos estagiários, carrega as marcas que caracterizam os saberes concebidos nas vivências e
experiências dos indivíduos nos espaços de educação não formal. As práticas sociais
desenvolvidas naquela coletividade estão carregadas de significados para os sujeitos, portanto,
uma prática político-pedagógica realizada pelos estagiários deve ser revestida do
reconhecimento e do pertencimento naquele grupo social, para que promova uma
aprendizagem comprometida com as expectativas, intenções e relações culturais.
Por fim, para Gohn (2010), será ideal que a educação não formal seja complementar,
não somente no sentido de fazer o que a escola deveria fazer e não o faz, mas ampliar as ações
no sentido de possibilitar o desenvolvimento dos campos de aprendizagens e saberes que lhe
são específicos. Desse modo, o trabalho educativo nos espaços de educação não formal pode,
e deve, ser realizado em conjunto com as escolas.
O educador social é aquele que, enquanto ensina, aprende; e, nesse processo, ele não
é simplesmente um professor, mas orientador, animador, pertencente e pertencido ao grupo
social do qual faz parte.
A sua prática pedagógica está revestida de uma proposta situada na reflexão, ação
das vivências e experiências da comunidade, de modo que os objetivos daquele grupo social
sejam de todos. Portanto, a prática pedagógica torna-se uma prática política e social na
206
medida em que lida com discussões sobre conquistas e garantias de direitos sociais, com
ações cidadãs de formação para o exercício da cidadania, e que traduzam os significados das
práticas culturais.
Nesse sentido, ancorados nas contribuições sobre aprendizagem de conteúdos,
trazidas por Gohn(2010), cabe ao educador social orientar os indivíduos para fazerem a leitura
de mundo do ponto de vista de compreensão do que se passa ao seu redor. É fundamental na
educação não formal, “[...]que a aprendizagem seja o exercício de práticas que capacitam os
indivíduos a se organizarem com objetivos comunitários” (GOHN, 2010, p.35).
Além disso, a prática pedagógica dos alunos estagiários, como educadores sociais,
deve ser voltada para a solução de problemas cotidianos, tais como aqueles que são
levantados no âmbito da participação coletiva nas associações, movimentos sociais e nos
conselhos, de modo que todos os cidadãos pertencentes ao grupo possam fazer uma leitura de
mundo, saber “quem é quem, que projetos e quais interesses cada um defende, quais são os
interesses da maioria que deveriam ser defendidos, quais são as práticas cidadãs e
emancipatórias” (GOHN, 2010, p.35).
Também cabe ao educador social realizar ações que promovam a aprendizagem e
que tenham como enfoque as práticas culturais que possibilitem aos indivíduos fazerem uma
leitura do mundo por meio do “acesso a recursos culturais como museus, bibliotecas, shows,
palestras etc.” (GONH, 2010, p.35).
Em suma, os estagiários, nesse papel de educador social, ao planejarem e executarem
as ações de intervenção pedagógica nos espaços de educação não formal, tiveram o cuidado
de partir da realidade social, dos interesses e necessidades dos grupos sociais e comunidades
onde atuaram para que as práticas, ali desenvolvidas, tivessem o engajamento e participação
daquela comunidade. Nesse sentido, enfocaram ações que envolveram aspectos culturais, tais
como: atividades pedagógicas com datas comemorativas, temáticas sobre afetividade,
agressividade, respeito mútuo, violência social, preconceitos, bullyng, discriminação quanto à
raça, gênero, social, entre outros.
Podemos citar, como exemplo, a temática sobre a violência, em que trataram sobre o
feminicídio na região do Vale do Arinos. Essa atividade, que contou com a participação de
representantes da Polícia e da Câmara Municipal, teve por fim discutir aspectos conceituais
sobre violência doméstica, bem como expor palavras e exemplos de incentivo e valorização
do papel social da mulher nas várias esferas da vida pública. A realização desse evento
demonstra implicitamente a busca, por parte dos estagiários, de respostas quanto ao empenho
do papel do Estado no trato com a política de segurança pública para aquela região, assim
207
modalidade de ensino. As crianças que fazem parte do Programa Rede Cidadã traz consigo
inúmeros desafios que ali no projeto eles encontram forças para superar” (G3-C).
Outro aspecto ao qual atentamos diz respeito ao papel e às contribuições que o
estágio traz para a vida dos estagiários, o que se extrai do seguinte excerto “[...] o estágio se
constitui uma oportunidade de crescermos como seres humanos e profissionalmente e, ainda,
contribuir na formação de vida de cada criança que faz parte do projeto”.
A valorização do espaço de educação não formal fica evidente nessa narrativa: “o
Projeto Rede Cidadã se torna um instrumento de mudança na vida das crianças, para
compreender a realidade em que vivem, despertando o senso crítico [...] e contribuir para
transformar a vida delas e a nossa sociedade”.
A esse respeito, Gohn (2010) apresenta uma importante contribuição acerca do papel
da educação não formal na vida dos sujeitos, uma vez que aquela se constitui na historicidade
humana. De acordo com a autora, “ela capacita os indivíduos a se tornarem cidadãos do
mundo, no mundo. Sua finalidade é abrir janelas de conhecimentos sobre o mundo que
circunda os indivíduos e suas relações sociais” (GOHN, 2010, p.19).
Após a leitura cuidadosa das reflexões produzidas pelo grupo de estagiários da
Creche Municipal Thayná Gabrielly Oliveira Moraes - G1-J também foi possível abstrair
alguns aspectos fundamentais quanto às contribuições do estágio. Quanto à importância do
trabalho em equipe, os estagiários E1-J, E5-J, E6-J e E9-J revelaram que o trabalho em equipe
possibilita aprendizagens e, além disso, auxilia a instituição no desempenho de seu trabalho
pedagógico, ao propiciar a oferta de atividades lúdicas e brincadeiras às crianças que utilizam
a Creche.
Outro aspecto que se evidenciou nas narrativas relaciona-se com as contribuições
do estágio para o crescimento pessoal e profissional, destacado pelo estagiário (E1-J) em sua
narrativa. As questões descritas quanto à dimensão pessoal de tornar-se professor também
atraíram nossa atenção; os estagiários E3-J e E4-J destacam a visão de que o estágio
possibilitou-lhes a reflexão sobre o papel do pedagogo, a responsabilidade social com a
comunidade e sobre a importância dos materiais para as ações educativas.
Em relação à criação e preparação do ambiente pedagógico, considerando o parque
infantil como um espaço de ação pedagógica, os estagiários E7-J e E11-J argumentaram em
suas narrativas que o estágio em espaços não escolares possibilitou que “contribuíssemos de
maneira significativa à instituição e às crianças que ali estudam, por meio de planejamento
que aconteceu em grupo e por todo conhecimento adquirido da realidade da creche” (E7-J).
211
Também apareceu a perspectiva do voluntariado pelos estagiários, uma vez que E8-J
sinalizou que por meio dessas ações “nos tornamos mais humanos. É um momento de
experiência que levamos para nossas vidas, pois através delas podemos nos envolver com
crianças, jovens e idosos que precisam de atenção e um pouco do nosso tempo” (E8-J).
Quanto ao aspecto relativo à articulação entre a teoria e a prática, este foi
apresentado pelo estagiário E10-J, ao abordar a importância de “conhecer as teorias
relacionadas ao desenvolvimento infantil, pois são fundamentais para embasar nossas práticas
pedagógicas[...]” (E 10-J). Tal percepção converge com o entendimento de que, na educação
infantil, o educador social é constantemente desafiado a ampliar seu conhecimento a respeito
de si mesmo, dos outros e do mundo ao seu redor quanto às questões ligadas à infância.
Por fim, os estagiários (E12-J, E13-J) destacaram a importância dos vários espaços
educativos, sejam eles formais ou não formais, pois, segundo o sujeito E12-J, o papel do
educador social “não é só estar em sala de aula, mas sim desempenhar seu papel em qualquer
espaço [...] no qual há um intuito de aprendizagem” (E.12-J). No mesmo sentido, o estagiário
(E13) trouxe a reflexão de que as ações educativas realizadas nos espaços de educação não
formal “complementam a educação escolar, pois os/as envolvidos/as tem a possibilidade de
participar e agir nesse contexto social, no sentido de utilizar e refletir sobre os conhecimentos
adquiridos e transformar a realidade” (E13-J).
Desse modo, o conjunto de reflexões apresentadas nas narrativas dos estagiários, que
atuaram na Creche Municipal Thayná Gabrielly Oliveira Moraes, trazem muitas contribuições
acerca da percepção do papel do estágio e dos processos de ensino e de aprendizagens. No
entanto, mesmo apontando as contribuições e a riqueza das experiências adquiridas durante
esse processo, sentimos a ausência de narrativas que apontam a docência como base da
formação do professor.
Nesse sentido, destacamos que as ações educativas em espaços de educação não
formal devem ser permeadas por práticas pedagógicas que dialoguem com o exercício de
práticas cidadãs, mas que, também, contribuam para um trabalho educativo que tenha na
docência o eixo constitutivo da formação para o processo de tornar-se professor. Assim,
consideramos louvável a atitude do grupo em contribuir com o ambiente da Creche, por meio
da elaboração do parque infantil, utilizando-se de pneus, tintas, madeiras e outras ferramentas,
porém, tal prática não se configura como a atividade fundamental do Estágio Curricular
Supervisionado, mas como um trabalho voluntário.
Finalmente, apresentamos as reflexões produzidas pelo grupo 2–J, de estagiários que
desenvolveram o Projeto “O Protagonismo da mulher e os desafios da sociedade
212
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por outro lado, nessa investigação foi possível perceber algumas lacunas e/ou
fragilidades nas práticas pedagógicas de estágio:
Ausência ou pouca oferta de Espaços não escolares disponíveis para a
realização de estágio;
Ausência de retorno formal da Universidade aos espaços não escolares com
disponibilidade de monitores e/ou estagiários em parceria temporária ou
permanente, de modo a contribuir com as ações educativas desenvolvidas por
instituições, como é o caso de hospitais;
Ausência de promoção de cursos de formação para os educadores sociais que
atuam nos espaços parceiros;
Não disponibilidade de cursos, oficinas e laboratório que produzam o acesso
e a socialização de saberes, tais como: aprendizagem musical, pintura,
artesanato, uso da internet e equipamentos, programas e aplicativos
eletrônicos, construção de blogs, dentre outros, ao longo do ano letivo;
Inexistência de produção e sistematização de materiais (in)formativos sobre
possíveis práticas realizadas em espaços de educação não formal que possam
contribuir e desencadear novos saberes;
Ampliação das atribuições para o pedagogo na Resolução do CNE/CP nº
01/2006 que ocasiona uma demanda de campos de conhecimento ao Curso de
Pedagogia que dificulta o aprofundamento dos estudos, sobretudo no que diz
respeito aos espaços de educação não formal.
217
REFERÊNCIAS
BARBIER, René. A pesquisa-ação. Brasilia: Liber Livro Editora, 2004. Tradução: Lucie
Didio. (Série Pesquisa em Educação, v.3)
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Tradução Ernani F da F. Rosa)
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Você está sendo convidado (a) para participar, como voluntário (a), em uma
pesquisa. Após ser informado (a) e, no caso de aceitar, assine ao final deste documento, que
está em duas vias. Uma delas é sua e a outra da pesquisadora. Em caso de recusa você não
terá nenhum prejuízo, tampouco sofrerá penalizações.
Eu ________________________________________________________concordo
em participar da pesquisa “ESTÁGIO CURRICULAR E PRÁXIS PEDAGÓGICA EM
ESPAÇOS NÃO ESCOLARES: A CONSTRUÇÃO DE SABERES DOCENTES NOS
CURSOS DE PEDAGOGIA DA UNEMAT”. Como participante da pesquisa entendo que
terei garantia de confidencialidade, ou seja, que apenas dados consolidados serão divulgados.
Entendo, também, que tenho direito de receber informações adicionais sobre o estudo a
qualquer momento, mantendo contato com a pesquisadora principal. Fui informado, ainda,
que a minha participação é voluntária e que se eu preferir não participar ou deixar de
participar deste estudo em qualquer momento, isso não me acarretará qualquer tipo de
penalidade.
Após o conhecimento do teor da pesquisa e concordância em responder as perguntas a
mim formuladas, autorizo a pesquisadora, regularmente vinculada a este estudo, a fazer uso
científico das informações obtidas. Ademais, quanto às imagens para ilustrar a prática
pedagógica:
Assim, compreendendo tudo que me foi explicado sobre o estudo a que se refere este
documento, concordo em participar da pesquisa e declaro que assinei duas vias deste termo,
ficando com uma delas em meu poder.
.
Assinatura dermatoglifo
Assinatura do participante:__________________________________________
estudo foi aprovado pelo CEP perante o qual o projeto foi apresentado e pela CONEP, quando
pertinente. Comprometo-me, por fim, a utilizar o material e os dados obtidos nesta pesquisa
exclusivamente para as finalidades previstas neste documento ou conforme o consentimento
dado pelo participante, conduzindo a pesquisa de acordo com o que preconiza a Resolução
acima indicada.
Observações complementares:____________________________________________