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JUARA – MT
2023/2
MAYRA ALCINA CARDOSO DE LIMA BRAUN
JUARA-MT
2023/2
2
MAYRA ALCINA CARDOSO DE LIMA BRAUN
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________
Prof. Me. Saulo Augusto de Moraes
Orientador
UNEMAT – Campus Universitário de Juara
_______________________________________
Profa. Ma. Francine Suélen Assis Leite
Professora Avaliadora
UNEMAT – Campus Universitário de Juara
_______________________________________
Prof. Ma. Gabriella Moura da Silva
Professora Avaliadora
UNEMAT – Campus Universitário de Juara
_______________________________________
Prof. Dr. Jairo Luís Fleck Falcão
Professor convidado
UNEMAT – Campus Universitário de Juara
_______________________________________
Profa. Dra. Lisanil da Conceição Patrocínio Pereira
UNEMAT – Campus Universitário de Juara
Professora de TCC
JUARA-MT
2023/2
3
4
Walter Clayton de Oliveira CRB 1/2049
5
AGRADECIMENTOS
6
“Se a educação sozinha não transforma a
sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”.
(Paulo Freire)
7
RESUMO
8
ABSTRACT
This course conclusion work, inserted in the History of Education research line, aimed to
research and present as a result, some historical trajectories of the Pedagogy course at the
State University of Mato Grosso (UNEMAT), in Juara–MT, based on memories,
photographic records and institutional documents. To contextualize, bibliographical
research was carried out on historical events in the country that promoted political and
social transformations in Brazilian education. At this point, we carry out a brief analysis of
the colonial period, the imperial period, the first and second republics until the first decade
of the 21st century, when the pedagogy course arrived in Juara–MT. This historical
contextualization aims to enable the reading public to understand a little about the way in
which the process of installing the pedagogy course in the northwest region of Mato Grosso
and its historical circumstances occurred, as no institution (therefore, no course) does not
suffer the influence of external events. The result of this research is initial, requiring further
research and greater depth. During the course of this research, it was not possible to provide
the desired depth, due to the fact that many documents from the time no longer exist (few
have survived to date), partly due to a lack of adequate care, which is something of concern
for future research; and due to the difficulty in locating (or interviewing) various actors at
the time involved in the process of installing the university campus in Juara–MT and the
pedagogy course. The photographs obtained for this research were also incipient, as more
than 25 people contacted (professionals and graduates of the first year of the course) said
they either did not have (anymore) these photographic records, or did not have time to look
for them, or that they would see if would, therefore, have a low return rate during the time
of this research. This research was based on the principle that for the State University of
Mato Grosso (UNEMAT), Juara–MT campus, to produce educational perspectives for the
future, especially the pedagogy course, it is necessary to know its own historical paths so
that it does not incur in the reproduction of errors and the production of educational
perspectives detached from their own historical reality, as this type of contextualization is a
condition without which there can be no coherent and political future. The final (and
provisional) conclusion is that Unemat is historically constituted as an institution focused
on teacher training.
9
Sumário
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 11
1. PERCURSO METODOLÓGICO DA PESQUISA.................................................................. 15
2. BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL............... 22
2.1 A educação no Brasil Colônia .................................................................................................. 22
2.2 A educação no Brasil Império .................................................................................................. 26
2.3 A educação na República (Velha) ou Primeira República .................................................... 29
2.4 A educação na Segunda República ou Era Vargas ................................................................ 33
2.5 décadas de 1960 e 1970: mudanças políticas, movimentos de contracultura e a pedagogia
tecnicista ........................................................................................................................................... 36
2.6 décadas de 1980 e 1990: novas reformas e novas pedagogias ................................................ 39
2.7 A primeira década do séc. XXI ................................................................................................ 42
3. PERCURSOS HISTÓRICOS DO CURSO DE PEDAGOGIA DA UNIVERSIDADE DO
ESTADO DE MATO GROSSO (UNEMAT) EM JUARA-MT .................................................. 47
3.1 Considerações iniciais ............................................................................................................... 47
3.2 Revisitando memórias ............................................................................................................... 51
3.3 Breve discussão .......................................................................................................................... 69
3.4 Perspectivas educacionais para o futuro ................................................................................. 72
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................................... 76
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................... 78
ANEXO (A) ...................................................................................................................................... 84
ANEXO (B) ...................................................................................................................................... 88
10
INTRODUÇÃO
11
educação do Mato Grosso, considerando a ampla região norte, contudo não encontramos
banco de dados público disponível on-line para essa busca.
O Mato Grosso possui apenas dois cursos públicos de graduação em história,
presenciais e permanentes, com tradição de pesquisa: um na Universidade do Estado de
Mato Grosso (UNEMAT), campus de Cáceres, e outro na Universidade Federal de Mato
Grosso (UFMT), campus de Cuiabá; e apenas dois programas de mestrado e um de
doutorado, em ambas as instituições. Os cursos púbicos de graduação em pedagogia
(ciência da educação), presenciais, permanentes e com tradição de pesquisa, são quatro: um
na UFMT (Cuiabá) e três na UNEMAT (Cáceres, Sinop e Juara). Cursos púbicos de pós-
graduação em história e em educação são: um de cada na UFMT e um de cada na
UNEMAT. Assim, fica já evidente a necessidade de mais cursos de graduação e pós-
graduação em história e em educação – presenciais e de caráter permanente – para gerar
tradição de pesquisa e produzir extensão nos lugares geográficos e territoriais em que
vierem se inserem.
Na microrregião Vale do Arinos (situada na ampla região norte mato-grossense, na
qual Juara se destaca como cidade polo), o campus da UNEMAT em Juara, a partir do
curso de pedagogia, vem consolidando ações no campo da história da educação regional,
especialmente a partir das disciplinas de história da educação; do Grupo de Pesquisa
“Fronteira, Territorialidade e Cultura: o Vale do Arinos na Memória de seus Habitantes”;
do Laboratório de Memória, Imagem e Som (LAMIS) e do Museu do Vale do Arinos. As
produções geradas configuram elementos, tangíveis e intangíveis, para a pesquisa em
História da Educação de Mato Grosso.
A ampla região norte concentra 51 municípios, mais de um terço do total de
municípios do estado, e também concentra mais de 70% das etnias indígenas, incluindo
povos isolados (populações não contatadas, mas identificadas pela Funai). Nesse sentido, os
investimentos em cursos acadêmicos, públicos e permanentes, campi e em programas de
pós-graduação são extremamente desiguais, em comparação com os investimentos voltados
para as cidades da baixada cuiabana, para a capital e algumas outras cidades maiores do
estado. Nessa análise, se encaixa também a própria UNEMAT que faz investimentos
desiguais: maior investimento em Cáceres, baixo investimento em municípios da ampla
região norte. É um cabo-de-guerra.
12
Agentes políticos da atualidade e instituições como a Secretaria de Estado de
Ciência e Tecnologia (SECITEC) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Mato Grosso
(FAPEMAT) seguem ignorando as diferentes realidades do estado mato-grossense e as
necessidades de educação pública.
A pesquisa em história da educação possibilita o mover-se a pensar criticamente os
processos de construção sociocultural nacional e regional, os diferentes momentos e
processos colonizatórios e seus impactos sobre territórios e diferentes povos, nos
permitindo compreender os processos que determinam as relações de poder que chegam até
o presente, inclusive na própria universidade. Ao mesmo tempo, nos ajuda a compreender a
história das ideias pedagógicas, das concepções de educação pública, da instituição escolar
reprodutora (Foucault, 1987) ou emancipadora (Freire, 1987; 2004); a pensar criticamente o
ser humano em sociedade, considerando a diversidade geo-histórica do país e suas
regionalidades (Moraes. 2022).
A memória, fenômeno humano que possibilita a relação do presente com o passado
e que interfere nas “representações” (Bergson Apud Bosi, 1979), nas compreensões de
mundo, nas construções identitárias, na construção de perspectivas para o futuro, tem sido
esmiuçada e discutida por diversos estudiosos, entre eles Bergson (1990), Chauí (2003),
Barros (2009), Halbwachs (1990) entre outros. Nesse sentido, esta pesquisa buscou
compreender alguns percursos históricos do curso de pedagogia em Juara, recorrendo
principalmente à memória de sujeitos envolvidos com estes percursos, por meio de
entrevistas, aplicação de questionário aberto entre outros recursos.
Como nenhum fenômeno social regional ocorre de maneira desconexa de outros
fenômenos sociais mais amplos, no primeiro capítulo buscamos contextualizar, brevemente,
a educação brasileira nos seus principais momentos históricos, de transformações políticas
e sociais do país, tais como o período colonial, o período imperial, o primeiro e o segundo
período republicano, e assim por diante, até a primeira década deste século, momento que o
curso de pedagogia é instalado em Juara por meio de um núcleo pedagógico vinculado ao
campus universitário de Sinop-MT.
Os recortes de memória capturados para esta pesquisa, os registros fotográficos
alcançados e documentos institucionais da época analisados, geraram dados que
proporcionaram um desenho inicial desse período histórico recente do curso de pedagogia
13
em Juara e o seu desenvolvimento até o presente. Também apontou para a característica
histórico-institucional da Unemat: a formação de professores, pois desde o surgimento da
UNEMAT, “os cursos de licenciatura, formação de professores, se instituíram como
prioritários [...]” (Cunha, 2010, p. 162), e “[...] havia uma constante mobilização para
defender esse espaço de formação de professores e garantir sua institucionalidade (Cunha,
2010, p. 23 – grifo nosso).
Em entrevista ao Portal da UNEMAT1 no ano de 2003, “o ex-prefeito de Cáceres e
fundador do IESC, Ernani Martins, juntamente com outros segmentos da sociedade
priorizou a abertura de cursos superiores voltados à formação de professores [...].
Inicialmente, o Instituto oferecia os cursos de Estudos Sociais, Ciências, Letras e
Pedagogia” (grifo nosso). O IESC (Instituto de Ensino Superior de Cáceres) foi o embrião
da UNEMAT.
1
http://portal.unemat.br/?pg=noticia/20/Universidade%20comemora%2025%20anos%20de%20atua%E7%E3
o%20no%20estado
14
1. PERCURSO METODOLÓGICO DA PESQUISA
O instrumento utilizado para a coleta de dados foi a entrevista por meio de áudio
gravado com uso da ferramenta digital WhatsApp. Para Lüdke e André (1986, p. 34):
15
Os dados coletados foram de cunho histórico, ou seja, do passado recente do curso
de pedagogia da Unemat em Juara (por consequência do campus universitário). Nesse
sentido, uma parte da pesquisa seguiu a metodologia da História Oral, a qual pode ser
compreendida como uma abordagem que se fundamenta na coleta e análise de relatos
pessoais, memórias e narrativas para compreender eventos históricos. De acordo com
Moura (2017, p. 163):
Meihy (1996) defende a história oral como “uma história vista de baixo”, porque
se propõe transcender os limites impostos pela “história oficial” “dos grandes
personagens”. Nessa mesma linha sobre o valor da história oral, Joutard (2000, p.
33-34) também sublinha sua relevância, em função de que “o oral nos revela o
indescritível, toda uma série de realidades que raramente aparecem nos
documentos escritos”, seja por serem “consideradas ‘muito insignificantes’ [...]
ou inconfessáveis [...].
16
Outra parte dos dados da pesquisa foram coletados por meio de aplicação de
questionário com perguntas abertas. Para Babbie (2003, p. 504) o Questionário é “um
documento com perguntas e outros tipos de itens que visam obter informações para
analise”. Laville e Dionne (1999, p. 184) explicam que o Questionário “permite alcançar
rápida e simultaneamente um grande número de pessoas”. O retorno das pessoas contatadas
para entrevistas e para responder ao Questionário, correspondeu a um percentual em torno
de 75%. Nesse sentido, Babbie (2003, p. 253) afirma que “a taxa de 70% ou mais é muito
boa”. De acordo com Gil (1999, p.128), o Questionário pode ser compreendido “como a
técnica de investigação composta por um número mais ou menos elevado de questões
apresentadas por escrito às pessoas, tendo por objetivo o conhecimento de opiniões,
crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas etc”.
O critério utilizado para a seleção dos jeitos da pesquisa foi a relação direta destes
com partes dos processos de instalação do curso de pedagogia em Juara, bem como do
campus universitário. No caso dos egressos, foram selecionados aqueles que compuseram
as primeiras turmas do curso de pedagogia, contudo apenas dois sujeitos foram alcançados.
Assim, ficaram distribuídas das seguintes formas as respostas dos sujeitos da pesquisa:
Entrevista/áudio 09
Questionário/respondido na forma de texto 04
Total de sujeitos da pesquisa:.............................................................................................................................13
17
Cáceres-MT, bem como entre o campus e a comunidade local. Não conseguimos acessar
documentos anteriores ao período de 2005. Sobre a dificuldade que encontramos para
acessar documentos institucionais mais antigos, Cunha (2010, p. 31) relata dificuldade
semelhante, por ocasião de sua pesquisa:
18
Fig. 01: Ofício/UNEMAT, campus de Juara. Ano 2005.
19
Fig. 02: Ofício/UNEMAT, campus de Juara. Ano 2005.
20
Da mesma forma, analisamos algumas legislações internas da Unemat, com
destaque para a Resolução 014/2003 que “Dispõe sobre a alteração do Núcleo Pedagógico
de Juara para Campus Universitário de Juara”.
21
2. BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL
22
se aproveitava de muitas dessas ideias para manter o estado das coisas, diante das
mudanças (Alves, 1984).
De 1759 – expulsão dos jesuítas – à 1808 – chegada da família real e da corte
portuguesa ao Brasil – há um hiato enorme no que se refere à educação pública (instrução
pública), pois não houve planejamento da Coroa, nem de seu ministro, o Marquês de
Pombal, para a substituição dos jesuítas no que se refere às estruturas educacionais já
consolidadas, até então, havia mais de duzentos anos. Essa reestruturação viria a ocorrer
somente após a chegada a família real e da corte portuguesa ao Brasil, mesmo assim, seria
uma educação fortemente cristianizada, carregada do religiosismo católico típico da corte
portuguesa, a mais atrasada de toda a Europa (Gomes, 2007).
A pedagogia jesuítica se baseava no método Ratio Studiorum (também conhecido
como "Plan de Estudios Jesuita" ou "Plan de Estudios de la Compañía de Jesús"), que se
propunha a estabelecer uma abordagem uniforme e instrumento regulador de ensino, e se
baseava na filosofia e teologia escolásticas e humanismo renascentista cristão. As
principais características do método Ratio Studiorum incluíam:
23
O método Ratio Studiorum teve um impacto duradouro na educação e na pedagogia,
influenciando na formação de muitas instituições educativas jesuíticas em todo o mundo.
Com o tempo, as necessidades e as teorias educativas evoluíram, e as escolas e as
pedagogias adaptaram seus métodos de ensino para refletir as mudanças políticas e sociais.
Assim, o legado do Ratio Studiorum perdura como uma parte significativa da história da
educação.
Maria Lúcia de Arruda Aranha (2006, p. 134) chama a pedagogia desse período de
“pedagogia da contrarreforma”, a qual pode ser compreendida como uma “pedagogia
aristotélica-tomista” (Aranha, 2006, p. 134), pois a interpretação de mundo pelos Jesuítas
era através da Escolástica, distante de qualquer concepção humanista daquele período
histórico (Aranha, 2006).
Entretanto, a mesma autora explica que esse período foi um período de transição, que
nada era estático. O pensamento renascentista e humanista, ganhavam cada vez mais força.
A pedagogia realista, a revolução científica e o alvorecer da Era Contemporânea com a
Revolução Francesa no séc. XIII, o pensamento iluminista e o ideal liberal de educação, a
pedagogia de Rousseau forçaram muitas transformações na educação e na pedagogia
ocidentais. Suchodolski (apud Aranha, 2006) compreende a pedagogia de todo esse
período como uma pedagogia essencialista.
Sobre o período colonial, de modo geral, os historiadores Arno Wehling e Maria Jose
C. M. Wehling (1999, p. 13) comentam o seguinte:
24
A chegada da família real ao Brasil em 1808, marcou um importante ponto de
inflexão na história da educação. Com a transferência da Corte para o Rio de Janeiro, uma
série de mudanças significativas começaram a ocorrer, incluindo o desenvolvimento de
uma estrutura educacional mais sólida. Isso se deu, em grande parte, devido à necessidade
de criar uma infraestrutura que pudesse sustentar a nova administração da Colônia.
No entanto, é importante destacar que, embora tenham feito avanços nesse campo, as
realizações na área da educação foram relativamente limitadas durante o período
monárquico, que se estendeu de 1808 a 1889. Isso se deveu, em parte, à falta de prioridade
atribuída à educação pelo Estado naquele período.
O Brasil enfrentou desafios complexos durante esse período, com a necessidade de
consolidar o controle sobre um vasto território e lidar com questões políticas e econômicas
igualmente prementes. Em meio a essas preocupações, a educação ficou em segundo plano.
A nova administração, na Colônia tinha receio de que uma população educada poderia
ameaçar a própria soberania do Estado, uma vez que cidadãos instruídos poderiam se tornar
críticos e questionadores do regime vigente.
Apesar desses obstáculos, houveram algumas iniciativas importantes e inovadoras. A
corte portuguesa necessitando de recursos para sua estruturação no Brasil, impossibilitada
de contar com a Europa, ocupada por Napoleão, teve que contar com os ricos da colônia
brasileira, os quais fizeram questão de doar somas importantes de dinheiro e outras
riquezas para a corte, em troca de favores e privilégios. Sobre isso, Gomes (2007, p. 172-
173) comenta que:
25
nobreza, D. João distribuiu 4048 insígnias de cavaleiros, comendadores e grã-
cruzes da Ordem de Cristo, 1422 comendas da Ordem de São Bento de Avis e
590 comendas da Ordem de São Tiago. “Em Portugal, para fazer-se um conde se
pediam quinhentos anos; no Brasil, quinhentos contos”, escreveu Pedro Calmon.
Nos primeiros anos do séc. XIX a família real e todas a corte portuguesa
transferiram-se para o Brasil, a mais rica Colônia portuguesa, fugindo de Napoleão
Bonaparte, desembarcando em praias brasileiras em 1808, primeiro em Salvador, depois no
26
Rio de Janeiro (Gomes, 2007). De 1808 a 1822 o Brasil passou por diversas transformações
de ordem política, social e econômica, sofrendo ainda influências externas, frente às
exigências do novo capitalismo surgido das subsequentes revoluções industriais (Wehling
& Wehling, 1999).
Uma vontade por independência já era sentida muito antes da família real e da corte
portuguesa transferirem-se para o Brasil. Assim, após uma série acontecimentos e
combinações de fatores, tais como pressões internacionais e movimentos locais em que
várias revoltas e movimentos de independência surgiam em diferentes partes do Brasil,
como a Revolução Pernambucana de 1817, descontentamento com o Pacto Colonial e
interesses da elite brasileira (latifundiários, comerciantes e intelectuais), a independência
do Brasil se tornou inevitável. Essa independência resultou em uma monarquia
independente no Brasil, que durou até a proclamação da República em 1889.
Em 1824 foi promulgada a Constituição Política do Império do Brasil, elaborada por
um Conselho de Estado e outorgada pelo Imperador D. Pedro I, em 25 de março de 1824
(Carta de Lei de 25 de Março de 1824)2 a qual previa que: “A instrução primária é gratuita
para todos os cidadãos”. Na falta de melhor regulamentação, em 1827 foi aprovada pela
Assembleia Legislativa a instrução pública nacional do Império do Brasil3, estabelecendo
que “em todas as cidades, vilas e lugares populosos haverá escolas de primeiras letras que
forem necessárias”.
2
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao24.htm
3
https://histedbrantigo.fe.unicamp.br/navegando/periodo_imperial_intro.html
4
https://histedbrantigo.fe.unicamp.br/navegando/periodo_imperial_intro.html
27
e secundária. Ao Governo Central ficava reservado o direito, a primazia e o
monopólio do ensino superior. Graças à descentralização, em 1835, surgiu a
primeira escola normal do país, em Niterói. Baseado nessa Lei, cada
província passava a responder pelas diretrizes e pelo funcionamento das suas
escolas de ensino elementar e secundário. Logo se defrontaram, porém, com as
dificuldades para dar instrução de primeiras letras aos moradores dos lugares
distantes e isolados. Neste período, o acesso à escolarização era precário ou
inexistente, tanto por falta de escolas, quanto de professores. Para atender a
demanda de docentes, saíram os decretos para criação das primeiras escolas
normais no Brasil, com o objetivo preparar professores para oferecer a instrução
de primeiras letras. Em 1836 foi criada a da Bahia, em 1845 a do Ceará e,
em 1846, a de São Paulo. Em 1837, na cidade do Rio de Janeiro foi criado o
Colégio Pedro II, onde funcionava o Seminário de São Joaquim. O Colégio Pedro
II fornecia o diploma de bacharel, título necessário na época para cursar o nível
superior. Foram também criados nessa época colégios religiosos e alguns cursos
de magistério em nível secundário, exclusivamente masculinos. O colégio de
Pedro II era frequentado pela aristocracia, onde era oferecido o melhor ensino, a
melhor cultura, com o objetivo de formar as elites dirigentes. Por este motivo, era
considerado uma escola modelo para as demais no país5.
5
https://histedbrantigo.fe.unicamp.br/navegando/periodo_imperial_intro.html
6
https://histedbrantigo.fe.unicamp.br/navegando/periodo_imperial_intro.html
28
Nesse período, o analfabetismo era generalizado entre a população brasileira. O
acesso limitado à educação formal e a falta de incentivo ao ensino resultaram em altas
taxas de analfabetismo, especialmente entre os mais pobres. A educação para os
escravizados era proibida, essa estratificação social da época não tinha o direito de
aprender a ler e escrever, o que contribuiu para a manutenção de sua condição de
subjugação e exploração.
A educação no Brasil Império era um sistema restrito e elitista, com acesso limitado
ao ensino superior e precária oferta de educação básica. A falta de investimento em
educação e a forte influência da Igreja Católica dificultaram o avanço e a democratização
do ensino no período imperial. O cenário educacional começaria a passar por mudanças
apenas após a Proclamação da República, em 1889.
De acordo com Aranha (2006) a pedagogia do séc. XIX foi fortemente influenciada,
e contraditada, pelas ideias científicas e filosóficas do positivismo (Comte), do idealismo
(Fichte, Schelling e Hegel) e do materialismo (Feuerbach, Marx e Engels). Este século
apresentou como seus mais influentes pedagogos: Pestalozzi, Froebel e Herbart. Os
principais críticos da escola tradicional, neste século foram os filósofos Nietzsche e
Dilthey, sendo que este último também era pedagogo (Aranha, 2006).
A passagem do Império para a República não foi marcada por uma grande revolução
ou uma significativa participação popular. Em vez disso, o processo de transição aconteceu
por meio de um golpe militar, liderado pelo Marechal Deodoro da Fonseca, que culminou
na Proclamação da República em 15 de novembro de 1889. Esse golpe foi favorecido por
uma combinação de fatores importantes, como o desejo republicano de alguns oficiais do
Exército, o apoio da burguesia cafeeira e o supervisor da situação política do Império. O
Exército teve um papel fundamental no fim do Império brasileiro. O Marechal Deodoro da
Fonseca, um dos líderes militares, tornou-se chefe do governo provisório após a
proclamação da República, e vários outros oficiais foram eleitos para o Congresso
Constituinte. Muitos oficiais desses foram influenciados pelo pensamento Positivista, que
29
defendia a necessidade de uma república e uma forma de governo mais racional e
científica7.
A burguesia cafeeira também desempenhou um papel relevante nesse processo de
transição. A economia brasileira, na época, era impulsionada pela produção e exportação
de café, e a classe cafeicultora encontrou no movimento republicano uma possibilidade de
obter mais poder político e econômico. Assim, ela apoiou o Exército no golpe militar. A
situação política do Império também foi um fator importante para a queda do regime
monárquico. O imperador Dom Pedro II, que havia sido uma figura política estável e
respeitada, estava com a saúde debilitada devido à diabetes e se ausentou do trono. Essa
ausência aumentou as desavenças entre a elite imperial e os militares brasileiros, que se
sentiram desprestigiados, principalmente pela nomeação de civis para o Ministério da
Guerra. Outro fator que contribuiu para o fim do Império foi a questão da sucessão do
trono. A princesa Isabel seria a sucessora caso o imperador morresse, e seu esposo, o conde
d'Eu, era francês e não agradava à elite cafeicultora, o que gerava desconforto entre
diferentes setores da sociedade (Silva, 2011; Araújo, 2019).
Quanto às interpretações dos historiadores, Boris Fausto considera a transição entre a
Monarquia e a República como "quase um passeio", sugerindo que não houve grandes
obstáculos ou resistências enfrentadas para o golpe militar. Por outro lado, o historiador
Caio Prado Júnior afirma que a mudança de regime não passou efetivamente de um golpe
militar, com o concurso apenas de grupos reduzidos de civis e sem nenhuma participação
popular. Ambos concordam que a queda da monarquia brasileira ocorreu principalmente
devido a disputas de interesses entre as elites nacionais, e não por um clamor popular em
deixar de ser governado por uma Família Real.
As disputas entre a Igreja e o Estado e a abolição da escravatura, embora relevantes
em suas próprias questões, foram menos determinantes no processo de transição e na
proclamação da República, se revelaram à influência dos militares, da burguesia cafeeira e
da influência política do Império.
Sobre o panorama geral do Brasil no início da (primeira) república, ou república de
coronéis, Vieira; Câmara & Gomes (2014, p. 534) comentam que:
7
https://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-
republica/PROCLAMA%C3%87%C3%83O%20DA%20REP%C3%9ABLICA.pdf
30
Após o golpe republicano em 1889, a primeira década do novo regime é
reconhecida como a década do caos, ou como anos entrópicos. Isto porque é
"caracterizada, além da ausência de mecanismos institucionais minimamente
rotinizadores, pelo comportamento errático dos atores, que, no tratamento das
fontes de instabilidade, acabaram por introduzir ainda mais incerteza e confusão"
(Lessa, 1999:27). Pode-se então dizer que somente uma década depois registram-
se a gênese e a implantação da ordem política republicana, tomando como
evidência e passo inicial a fórmula política aplicada no governo do presidente
Manoel Ferraz de Campos Sales, entre 1898 e 1902.
Com base neste panorama apontado por Vieira; Câmara & Gomes (2014), podemos
supor que a educação nacional, em seu aspecto institucional republicano, também se
encontrava em caos, o que aponta para uma organização apenas na primeira década do séc.
XX.
Para se entender melhor o início do séc. XX, no tocante à educação republicana –
período em que se lançam as bases da produção historiográfico-educativa brasileira (Alves,
2014) – é preciso revistar ao séc. XIX, onde desde 1835 o Brasil vinha experimentando a
chamada Escola Normal, um modelo de formação inicial de professores para a instrução
primária e magistério, trazido da França. Esse modelo de formação inicial de professores
visava oferecer uma preparação mínima, comum, a professores e professoras que atuavam,
ou que iriam atuar, na educação escolar, pois não existia no país uma formação pedagógica
universitária devido não existir ainda Universidade. A primeira Universidade brasileira
veio existir apenas na década de 1920 – a Universidade do Rio de Janeiro (URJ) – e, ainda
assim, não oferecia formação pedagógica. De acordo com o Portal História da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)8:
8
https://ufrj.br/acesso-a-
informacao/institucional/historia/#:~:text=Em%207%20de%20setembro%20de,Rio%20de%20Janeiro%20(U
RJ).
31
O Decreto nº 10, de 10 de abril de 1835 que instituiu a primeira Escola Normal no
Brasil, em Niterói (RJ), expressa que o seu objetivo principal era capacitar pessoas para o
ofício da instrução primária e do magistério. A criação da Escola Normal representou um
esforço para melhorar a formação pedagógica de professores, muitos dos quais não tinham
instrução adequada para o exercício da profissão.
A iniciativa da Escola Normal no Brasil foi liderada por um grupo conservador
formado pelo presidente da Província do Rio de Janeiro, Joaquim José Rodrigues Torres e
pelo vice-presidente José Soares de Souza que queriam promover a ordem e a posição da
sociedade brasileira (Villela, 2008), sendo, portanto, uma ação política, pois se alinhava
aos objetivos do grupo conservador. O método de ensino adotado, embora não fosse
totalmente adequado à realidade das escolas brasileiras da época, destacou-se pelo seu
sistema disciplinar, que enfatizava a importância da hierarquia e da ordem, valores
fundamentais para o projeto conservador.
Esses valores conservadores, oligárquicos, coloniais e militarescos formavam a base
da visão e dos valores pedagógicos da educação nacional, ou instrução pública, durante a
primeira república. Mas não sem resistência. O movimento Escola Nova (ou movimento de
renovação do ensino) irrompido nos Estados Unidos da América ainda no final do séc.
XIX, pela influência das ideias do filosofo da educação John Dewey, já havia migrado para
o Brasil, através de Rui Barbosa, em 1882. O movimento escolanovista se fortalecia desde
então, culminando em seu ápice com a publicação do Manifesto dos Pioneiros da Educação
Nova, em 1932.
De acordo com André Luís Ramos Soares (s/d, p. 25):
32
Com uma percepção de que a criança não é um mini-adulto, mas precisa de
estímulos para o desenvolvimento intelectual e emocional, propõe que a infância
é o momento de construção dos processos cognitivos, psíquicos e motores da
criança. Deve-se permitir ao novo indivíduo a livre manifestação de suas
inclinações primárias e disponibilizar condições de experimentar, descobrir,
explorar e desenvolver o conhecimento de forma própria e individual. Nessa
concepção, a construção do conhecimento para a criança não separa a atividade
intelectual, prática e lúdica. Os principais preceitos destas escolas ativas são: 1– o
“puericentrismo”, ou seja, o reconhecimento do papel central das crianças no
processo educativo; 2 – a valorização do “fazer”, ou “aprender fazendo”, levando
em conta a necessidade de um aprendizado através do jogo, do trabalho, etc; 3 –
A motivação, na qual o verdadeiro aprendizado acontece se tem uma finalidade;
4 – na importância do ambiente, quer dizer, a realidade que circunda é que
estimula a aprendizagem; 5 – a socialização, visto que a criança necessita trocar
experiências para a formulação de seu processo educativo; 6 – o “anti-
autoritarismo”, que representa uma ruptura brusca com os métodos tradicionais
de ensino, a centralização no professor e métodos e conteúdos congelados; 7 – o
“anti-intelectualismo” que centraliza as atividades e os conhecimentos a partir de
problemas, pesquisas ou estímulo, e rompe com a organização engessada dos
conteúdos programáticos. As “Escolas Novas” também são a representação de
novas visões de mundo, seja pelo seu caráter ativo na formação do conhecimento
ou na forma como retoma a preocupação com as áreas filosóficas e humanísticas,
em direção contrária ao modelo industrial e tecnológico do século XIX.
Até a década de 1930, a educação nacional passou por várias pequenas revoluções, se
comparada à educação do séc. XIX. Eventos como a Primeira Guerra Mundial forçaram
muitas mudanças no campo geopolítico, econômico, tecnológico, cultural dos países
ocidentais. Como a educação não é isenta das influências desses acontecimentos, também
foi pressionada a mudanças.
Mesmo assim, na prática, uma educação transformadora nunca aconteceu de fato
devido à cultura política brasileira de não se valorizar a escola, a profissão de professor, a
educação de modo geral e a ciência como um todo (como é até os dias atuais, onde a
Pedagogia busca, enquanto campo científico, por sua regulamentação).
33
vista o papel significativo da educação totalitária para a formação de crianças e jovens
dispostos a morreram pela ideologia nacionalista extremada – assim como não perderam de
vista os usos dos museus enquanto instituições nacionais educativas disseminadoras de
memórias (selecionadas) e histórias (fabricadas) no esforço ideológico de guerra. O Brasil,
apesar de uma participação “pequena” no conflito, sentiu os efeitos mundiais que a Grande
Guerra provocou.
No Brasil, a década de 1930 se iniciou com a chamada Revolução de 1930,
protagonizada por Getúlio Vargas, um golpe de estado nos moldes militares. Em face da
instabilidade política que se sucedeu, em 1937 Vargas instalou a ditadura no país a qual
seguiu por oito anos de perseguição, prisão, exílio e execução de opositores ao regime
(período que ficou conhecido como “Estado Novo” ou “Terceira República Brasileira”).
Devido a insatisfação das cúpulas militares de alta patente com o governo de Vargas,
o depuseram do cargo em 1945. Com a saída de Vargas do poder, uma nova Constituição
foi promulgada em 1946, dando início ao período que ficou conhecido como a “Quarta
República”, que seguiu até o golpe militar de 1964. Durante esse período, Vargas,
invariavelmente conseguiu retornar ao poder em 1951, permanecendo até 1954, ano de sua
morte, mas sem grandes alterações de política de Estado. Esse segundo momento de
Vargas no poder ficou conhecido como “governo democrático de Getúlio Vargas”.
Os períodos de governo Vargas foram importantes para a educação nacional (para o
bem e para o mal). O primeiro mais significativo devido às diversas reformas e a criação da
Universidade de São Paulo, em 1934, e a Universidade do Distrito Federal, em 1935
(Sokolowski, 2013).
34
técnicos de educação do Ministério da Educação” (Art. 51, c) (Sokolowski, 2013
p. 84)
36
acessíveis e disponíveis, jornais e revistas impressas, independentes, e publicações
científicas colaboravam, de uma ou outra forma, com a resistência.
No campo político (e militar), ainda estava fortemente presente o ideário
desenvolvimentista industrial do país (alicerçado no sonho de Juscelino Kubitschek) de
base positivista. Assim, os militares buscaram implantar esse ideário nas escolas, na
instrução pública, na educação nacional. Até porque, seria uma forma de combater as ideias
“subversivas” que todos esses movimentos que citamos anteriormente, entre outros,
provocavam nas massas ocidente a fora. A partir desse ideário, as escolas passaram a
ensinar, principalmente, a partir de uma pedagogia tecnicista.
A pedagogia tecnicista pode ser compreendida como uma abordagem educacional
que se baseia na aplicação de princípios e métodos técnicos ao processo de ensino e
aprendizagem. Ela enfatiza a objetividade, a eficiência e a padronização no campo da
educação. Essa abordagem educacional tem suas raízes no pensamento behaviorista e no
modelo de gestão empresarial, e seu objetivo é preparar os alunos para o mercado de
trabalho. Esse modelo pedagógico busca tornar o processo educativo objetivo e
mensurável. A eficiência é um valor fundamental na pedagogia tecnicista. Ela busca
maximizar a eficiência do processo educacional, reduzindo o “desperdício” de tempo e
recursos. A padronização dos métodos de ensino e das avaliações é outro elemento
característico da pedagogia tecnicista. Isso significa que os conteúdos são organizados de
forma estruturada e uniforme, e os alunos são submetidos a avaliações padronizadas. Este
modelo pedagógico viria a ser fortemente criticado e combatido pela pedagogia
progressista.
A Lei de Reforma Universitária (Lei nº 5.540, de 1968) representou esse anseio de
mudança na formação pedagógica voltada ao ensino escolar. A mudança na Pedagogia
brasileira visava dar conta de formar brasileiros com sólidos valores patrióticos,
nacionalistas de perspectiva militaresca e tecnicista. Também visava responder aos tratados
internacionais sobre educação para o desenvolvimento do país (entenda-se: para o
desenvolvimento do capital, em detrimento do desenvolvimento humano), via Banco
Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) e outras instâncias
economicistas com interesse no desenvolvimento econômico da América Latina e Caribe,
37
ligadas à ONU (Organização das Nações Unidas) à qual o Brasil é signatário desde o fim
da Segunda Guerra Mundial.
38
políticas, tentativas de retirar a obrigatoriedade do ensino de história, sociologia e filosofia
tem sido algumas ameaças que seguem no tempo histórico presente. A valorização da
formação tecnicista em detrimento da formação humana e política é latente na atualidade,
inclusive nos cursos de Pedagogia da Unemat, de onde escrevemos este texto. O apelo à
formação tecnicista nos cursos de pedagogia segue um modelo ocidental, especialmente
europeu e estadunidense, fingindo não ver/compreender as pedagogias críticas decoloniais
e interculturais críticas da América Latina. Autores e pesquisadores dessas linhas (como
Aníbal Quijano; Walter Mignolo; Catherine Walsh; Arturo Escobar, entre outros) são
amplamente ignorados nos Projetos Políticos Curriculares (PPCs) e outros documentos
acadêmicos nas universidades brasileiras, ao mesmo tempo em que autores tecnicistas são
divulgados e considerados nestes mesmos documentos.
39
IV - Atendimento em creche e pré-escola às crianças de 0 a 6 anos de idade.
Art. 213. Os recursos públicos serão destinados às escolas, podendo ser dirigidos
a escolas comunitárias, confessionais ou filantrópicas, definidas em lei, que:
I – Comprovem finalidade não lucrativa e apliquem seus excedentes financeiros
em
educação.
40
(LDB) em 1996. A nova LDB (1996) foi a maior conquista da educação nacional do séc.
XX, em que pese as críticas a ela realizadas pelo teórico da educação Dermeval Saviani,
que vê nela muito dos valores (e interesses) neoliberais, pois:
41
O crescimento demográfico do país9, avanços tecnológicos, estruturações
universitárias em diferentes cidades do país (públicas e privadas), possibilitaram um
aumento significativo de matriculados em cursos universitários (púbicos e privados).
Martins (2000, p. 47) comenta que os cursos universitários “Em 1962, atendia pouco mais
de 100 mil alunos, desempenho que contrasta de maneira significativa com os 2,1 milhões
que frequentaram a graduação em 1998”. Evidentemente que os fatores que impulsionaram
o crescimento universitário têm relação com o campo econômico (ofertas privadas de
cursos preconizados pedagógica e socialmente), aumento da receita púbica pelo aumento
demográfico e, consequentemente, do PIB nacional, que não pode ser confundido com uma
democratização ideal de acesso ao ensino superior (como não o é até a atualidade).
9
“Entre os Censos de 1940 e 2000, a população brasileira cresceu quatro vezes. O Brasil rural tornou-se
urbano (31,3% para 81,2% de taxa de urbanização)” (https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-
imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/13300-asi-estudo-revela-60-anos-de-transformacoes-sociais-no-
pais#:~:text=Em%201940%20e%202000%20Brasil,%25%20para%2012%2C1%25.)
10
“A taxa de analfabetismo na população de 15 anos ou mais de idade caiu de 13,63% em 2000 para 9,6% em
2010. Em 2000, o Brasil tinha 16.294.889 analfabetos nessa faixa etária, ao passo que os dados do Censo
2010 apontam 13.933.173 pessoas” https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-
agencia-de-noticias/releases/14124-asi-indicadores-sociais-municipais-2010-incidencia-de-pobreza-e-maior-
nos-municipios-de-porte-
medio#:~:text=A%20taxa%20de%20analfabetismo%20na,desse%20contingente%20eram%20de%20idosos.
42
miséria em 2004 caiu 8% se comparada a 2003, ano em que Lula tomou posse.
Ainda segundo a PNAD, oito milhões de pessoas teriam saído da pobreza
(classes D e E) ao longo do seu primeiro mandato.
43
2008, os 5.563 municípios brasileiros aderiram ao compromisso. Assim, todos os
municípios e estados do Brasil se comprometeram a atingir metas como a
alfabetização de todas as crianças até, no máximo, oito anos de idade.
Até o ano de 2014 o ProUni “havia ofertado 2.227.038 bolsas de estudo, segundo
dados apresentados pelo Sistema do ProUni, o Sisprouni (2015) (Felicetti & Cabrera (2017,
p. 873)”. Ainda de acordo com os mesmos autores:
44
De acordo com Chaves & Amaral (2016, p. 59-60):
Outra ação importante no âmbito da educação superior nos governos Lula foi o
Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais
(Reuni). Essa medida buscava, entre outras, a interiorização da universidade pública. De
acordo com o Portal https://reuni.mec.gov.br/o-que-e-o-reuni do Governo Federal:
11
https://lula.com.br/universidades-por-todo-o-pais-lula-levou-a-educacao-brasil-adentro/
45
O reflexo dessa expansão do ensino superior e sua interiorização, durante a primeira
década do séc. XXI, influenciou as universidades estaduais (e agentes políticos com
interesse nessa expansão para os seus municípios e regiões) em todo o Brasil, o que
certamente facilitou a interiorização da Universidade do Estado de Mato Grosso
(UNEMAT), a qual em 2003 instalou um campus universitário em Juara, cidade interiorana
da Amazônia mato-grossense, distante 683 km da capital Cuiabá-MT, ofertando neste
mesmo ano o curso de pedagogia, foco de investigação desta pesquisa.
Vale ressaltar, entretanto, que os investimentos no campo da educação e da pesquisa
científica eram tão insuficientes quanto o são hoje, se comparado aos investimentos em
outras áreas de maior interesse do capital. É inegável o papel fundamental de lideranças
políticas estaduais e regionais nesse processo de interiorização da Unemat.
46
3. PERCURSOS HISTÓRICOS DO CURSO DE PEDAGOGIA DA
UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO (UNEMAT) EM JUARA-MT
12
https://unemat.br/site/institucional/nossa-hist%C3%B3ria
47
Grosso, que visa promover a pesquisa e o estudo dos diferentes ramos do saber e
a divulgação científica, técnica e cultural. A Lei Estadual nº 5.495, de 17 de julho
de 1989, altera a Lei nº 4.960 e, atendendo às normas da legislação de Educação,
passa a denominar-se Fundação Centro de Ensino Superior de Cáceres (FCESC).
Em 1992, a Lei Complementar nº 14, de 16 de janeiro, a Fundação Centro de
Ensino Superior de Cáceres (FCESC) passa a denominar-se Fundação de Ensino
Superior de Mato Grosso (FESMAT). A expansão da instituição para outras
regiões de Mato Grosso ocorre na década de1990, com a abertura dos núcleos
fora de Cáceres. O primeiro a ser criado é o de Sinop em 1990, os de Alta
Floresta, Alto Araguaia, Nova Xavantina, Pontes e Lacerda e Luciara em 1991,
Barra do Bugres e Colíder em 1994, Tangará da Serra em 1995, e Juara em 1999,
entrando em efetivo exercício em 2001. Em 15 de dezembro de 1993, através da
Lei Complementar nº 30, institui-se a Universidade do Estado de Mato Grosso
(Unemat), mantida pela Fundação Universidade do Estado de Mato Grosso
(Funemat), e transformou em câmpus os antigos núcleos pedagógicos. Em 10 de
janeiro de 1995, o Conselho Estadual de Educação de Mato Grosso homologa e
aprova os Estatutos da Funemat e da Unemat por meio da Resolução nº 001/95-
CEE/MT, publicada no Diário Oficial do Estado de Mato Grosso em 14 de março
de 1996. [...].
48
De acordo com o Portal https://unemat.br/13 não existem mais, Núcleo de Ensino
Superior, mas Núcleo Pedagógico, apenas.
13
http://www.unemat.br/index/conteudo.php?id_conteudo=4
49
Nesse cenário, o Núcleo Pedagógico de Juara se constituiu de maneira precária em
infraestrutura, em financiamento e em condições pedagógicas para o trabalho docente.
A expansão da Unemat – um de seus objetivos intrínsecos – e a sua chegada aos
lugares mais remotos do estado, simboliza um gesto que está no âmago da natureza do
educar: a democratização do acesso ao ensino, ao saber elaborado, à cultura científica, à
profissionalização por meio do curso superior. Mas, é necessário refletir criticamente sobre
a forma como essa expansão ocorreu e como ainda vem ocorrendo.
Na forma atual, a impressão que se tem é de uma expansão sem a perspectiva de
criação de novos campi, o que pode representar alguns problemas, como, por exemplo, a
precarização da pesquisa e da extensão; a inviabilidade de concurso público (pois tudo
passa a se basear em contratos temporários e cedência de servidores municipais); a
mercadorização de cursos (negociatas com prefeitos e/ou deputados que escolhem cursos,
em geral, sem consulta popular prévia e/ou sem considerar, antes, o desenvolvimento de
pesquisa); a saída constante de docentes efetivos dos seus campi de origem, para
acumularem aulas parceladas (impactando na diminuição da qualidade do ensino, da
pesquisa e da extensão nos seus campi) entre outros.
Entendemos que os relatos de memórias apontam para a Unemat se fortalecendo a
partir da criação de campi universitários, não de núcleos pedagógicos. Deve ser um
processo: primeiro o núcleo, em seguida o campus, pois assim efetiva-se docentes e
técnicos por meio de concurso púbico, consolidando o ensino, a pesquisa, a extensão,
vinculando a Unemat à identidade loca/regional, promovendo o desenvolvimento regional.
Também é importante ressaltar que os lugares onde a Unemat se insere na forma de
campus, ganham com a formação de recursos humanos, com o desenvolvimento da
pesquisa e inovação, com a transferência de tecnologia, com programas de incubadoras e
aceleradoras, com cultura e arte. A presença da Unemat em um município representa
desenvolvimento humano, técnico e impacto positivo na economia regional. De acordo
com Leal, Izidoro & Oliveira (2018, p. 76):
50
Uma sociedade bem-sucedida e inovadora, portanto, passa pela formação técnica
universitária de seus membros. Não se pode negar a relevância dos campi para as cidades
onde a Unemat é inserida.
[...] em 1999, a Unemat criou um núcleo pedagógico [...] em Juara com a oferta
dos cursos de Administração, Ciências Contábeis e Letras, e eu fui convidada
pela direção do campus universitário de Sinop [MT] para atuar junto ao núcleo
pedagógico aqui [Juara] da Unemat. E nesse período estava se tramitando a
criação do campus universitário de Juara e eu presidi a comissão de criação do
campus e em 2004 nós tivemos a aprovação da criação do campus universitário
de Juara, com a criação do curso de Pedagogia (Docente A).
51
Inicialmente o campus funcionou com servidores cedidos pela prefeitura
municipal de Juara. Eu mesma fui cedida pela prefeitura para a Unemat, para
atuar como secretária executiva no campus. A gestão do campus era exercida
professores de Sinop, primeiro foi a Adélia Stedile de Matos, depois professor
Marion Machado Cunha (Docente A).
Eram todos cedidos pela prefeitura e dentre esses técnicos estava dona Dirce
Neide Formigoni, que era chefe da divisão da secretaria acadêmica, a Sandra
Aparecida Cavallari, que também atuava na secretaria acadêmica, a professora
Alaíde Batista S. Riva que atuava na biblioteca (docente A).
52
A consolidação do campus universitário de Juara ocorreu em função de um
conjunto de acontecimentos e não apenas por iniciativa da própria UNEMAT, seja em nível
local ou estadual, mas sobretudo pelo e empenho de agentes políticos da época,
especialmente um deputado ligado ao município de Juara – e microrregião Vale do Arinos
– e de diferentes prefeitos que passaram pela administração municipal de Juara, que
buscavam atender cobranças sociais e luta do professorado da rede municipal de ensino.
Outra entrevistada para esta pesquisa, a “docente B”, que também atua na rede
municipal de ensino desde antes da existência do núcleo pedagógico da Unemat em Juara,
narra que conheceu a Unemat no início da década de 2000 “[...] lutando junto com a
sociedade juarense para que a Unemat fosse realidade nesse município”, o que confirma
essa cobrança social (que não poderia passar despercebida pela classe político-partidária).
A entrevistada “docente B” também explica que o movimento da sociedade
juarense, e região, naquela época, ocorria principalmente via rede municipal de ensino
(coletivo de professores já em exercício), para a instalação do curso de pedagogia no
município, pois quase a totalidade dos professores em exercício na rede municipal de
ensino não tinham graduação. Nesse sentido, outra entrevistada, a “docente C”, narra que
“[as] primeiras turmas tinham um perfil diferente. Nós fizemos a formação dos professores
que estavam atuando e que não tinham formação ainda. Tinha um perfil de pessoas mais
velhas, hoje mudou muito, temos um perfil de pessoas mais jovens”.
Esse dado é confirmado também por outra entrevistada, a “docente D”, que afirma
que “[na] época havia uma pressão da sociedade para que Juara ofertasse cursos de
graduação, [que] trouxesse a universidade para cá [Juara-MT]”.
Sobre: 1) a estrutura predial; 2) o fornecimento de energia elétrica; 3) o
abastecimento de água; 4) a comunicação: correios, telefonia, internet e; 5) a estrada/ruas
para chegar até ao campus, na época, a entrevistada “docente B” narra que:
53
A instalação do curso de pedagogia, bem como do campus universitário, em uma
área rural, ainda que nas proximidades do perímetro urbano, demonstra o resquício de uma
cultura criada no período da ditadura militar do Brasil: a prática de “empurrar” as
universidades públicas para a áreas mais distantes dos centros urbanos, dado suas
características “subversivas”. Apesar da eventual disponibilidade de prédios púbicos nas
áreas centrais de Juara, propícios para a instalação da Unemat, esta foi alocada em área
distante do perímetro urbano.
De acordo com o Portal https://unemat.br/14 o concurso público de provas e títulos
para provimento do cargo de professor da educação superior ocorreu por meio do Edital nº
002/2006 - SAD/MT, de 24 de fevereiro de 2006, contudo, conforme outra entrevistada, a
docente D:
Então deixa eu te falar como a minha história com a Unemat começou, antes de
eu ser funcionária. Então, no ano de dois mil e dois teve o vestibular para uma
turma especial de contabilidade, eu fiz vestibular e passei, foi aí que eu resolvi
permanecer em Juara para terminar esse curso na Unemat. Era um curso que eu
tinha interesse, era na área da contabilidade, então por isso eu fiquei. Eu
comecei a trabalhar em dois mil e cinco, quando teve um seletivo e eu prestei e
passei. Quando eu comecei a estudar aqui era núcleo pedagógico, não era
campus ainda. Era novo, em dois mil e um, turma vinculada a Sinop [MT]. No
ano de dois mil e quatro foi constituído campus aqui. No ano [em que] foi
constituído campus, tiveram autorização para ter seletivo, teve seletivo para
técnico no ano de dois mil e cinco e eu comecei a trabalhar dia primeiro de abril
de dois mil e cinco.
14
http://www.unemat.br/concursos/2006/unemat2006/arquivos/edital__abertura_8065981.pdf
54
Sobre os cursos em funcionamento na época, a mesma entrevistada narra que:
[A energia elétrica do campus] [...] era motor [não motor do campus, mas da
cidade – motores da CEMAT]. Mas a oscilação de energia era grande. Depois
da gestão da professora Cleusa, demorou alguns anos a gente conseguiu trocar o
transformador, então tanto é que a secretaria acadêmica sempre tinha vela. Vela,
lanterna, que sempre aconteceu de acabar a luz. Telefonia, até que o telefone não
era problema, só tinha 02 linhas, era até engraçado. Tinha que sair chamando,
correndo, tocava aqui tinha que sair correndo para chamar, liga daqui a pouco,
não tinha ramal. A internet era aquela situação de internet dos anos 2000.
Nossa, deixa eu falar um pouco sobre essa questão da infraestrutura! Todo dia,
quando eu ia embora, eu tinha que jogar uma lona em cima da minha mesa,
porque chovia no nosso prédio, nossa sala administrativa não era aqui onde é
agora era naquela sala lá do fundo, era lá, então, todo dia, antes de ir embora, a
gente tinha que jogar uma lona em cima da mesa, para não molhar os
computadores, caso chovesse. A biblioteca era lá também, era tudo lá biblioteca
era pequena. Todo dia a menina da biblioteca, que era professora Sandra Mara,
pequenininha daquele jeito, a gente tinha que ajudar ela a cobrir as prateleiras
com lona, já aconteceu de molhar os livros e a gente estava no outro dia lá,
mutirão, trazendo os ventilador e secador de casa para secar os livros porque
molhou tudo. Só tinha um ventilador na minha sala porque eu que trazia, porque
não tinha (técnica do ensino superior A).
Sobre o acesso ao campus naquela época, “inúmeras vezes aconteceu acidente. Tem
uma baichadinha ali, que tinha uma ponte, acontecia de o povo cair de vez em quando lá!
Eu caí altas vezes no barro, de moto. Uma vez uma colega caiu dentro do Corguinho,
vindo trabalhar” (técnica do ensino superior A).
Ao finalizar a entrevista, perguntado sobre “o que mais gostaria de dizer”, a
entrevistada “técnica do ensino superior A” respondeu o seguinte:
O campus de Juara é para mim motivo de muito orgulho. Todo mundo que vem
da Reitoria, aqui, olha como aqui é organizado, porque nós somos o campus com
menor recurso de repasse, e a gente consegue investir isso muito bem no
campus. A gente vê as salas, todas pintadas, os corredores todos organizados, o
55
jardim, a gente tenta dar a manutenção é o que não acontece em muitos campi
maiores, com muito mais recursos e, assim, se tiver oportunidade de visitar, você
vai ver. Então o campus de Juara para mim é um lugar de muito orgulho, porque
todo mundo [que] está aqui, realmente gosta de estar aqui. Quem ficou, quem
permaneceu é porque ama o campus e quer ver crescer, então isso faz diferença.
Quem trabalha aqui trabalha por amor ao trabalho, além do que é sua função. É
isso.
[...] íamos com ônibus fretado custava R$ 95, 00 por mês, na época. [O] ônibus
era uma sucata, vou contar algumas passagens com este ônibus: cobras dentro,
entre elas duas bicos de jaca. O ônibus incendiou na entrada do “carvalho”, na
ida, uma vez, outra vês na volta. Já fomos sem farol e voltamos. Já tivemos que
vir de a pé, lá do frigorifico, na volta da faculdade, chegamos 3 horas da manhã
e só tinha uma lanterna. Ficamos atolados aí na entrada da Unemat, ninguém
conseguiu passar para as aulas. Passado algum tempo a prefeitura de Novo
Horizonte do Norte-MT, resolveu nos ajudar a irmos e forneceu o ônibus e o
motorista, tínhamos que pagar somente o Diesel, lembro que foi uma grande
ajuda. Passado algum tempo foi possível o município levar de graça a todos. E
hoje tem como obrigação fornecer o transporte.
56
Sobre a estrutura do campus, o mesmo entrevistado narrou que:
57
Bom, por consequência por alguns anos a gestão ficou centralizada em seus
apoiadores político-partidários e o campus dependia de emendas parlamentares
para sua melhoria, mas isso não acontecia, porque por um bom tempo não se
tinha oposição dentro do campus. A partir que nós acadêmicos começamos as
cobranças para melhoria, apoiados por alguns professores que começaram a
chegar do concurso para se efetivarem em Juara, as melhorias começaram a
acontecer, mas as grandes discussões e acusações e vias de fato ideológica
aconteciam tanto no campus quanto por todo Vale do Arinos. As gestões do
campus de Juara enquanto, estive frequentando, nunca foram imparciais nas
suas ideologias, nem mesmo na hora dos testes seletivos para professores. Em
épocas professores com uma linha de pensamento alinhado a gestão são
selecionados. Conforme mudam as linhas ideológicas de gestão outros são
selecionados. A parte burocrática da gestão era bem complicada, primeiro
tempo passava tudo para Sinop-MT que depois enviava para Cáceres-MT,
depois quando viramos campus a burocracia vai direto a Cáceres-MT, mas na
nossa época era tudo via malote do Correios, então tudo se resolvia
morosamente. Os recursos financeiros eram mínimos como sempre na educação,
as parcerias com as prefeituras da região foi o que possibilitou vários eventos,
que se demandassem da burocracia e do financiamento da própria Unemat não
aconteceriam (egresso A).
58
me chamavam de doido. Foi a experiência mais fantástica que eu tive com esta
escolha. Na primeira vez que nos reunimos para escolhermos o tema da pesquisa
a professora Marfa me perguntou o que eu queria com a pesquisa. Eu respondi
que eu gostaria de usar a mesma para fazer um mestrado posteriormente. Ela me
respondeu: então vamos fazer uma pesquisa como se você estivesse fazendo um
mestrado! Eu concordei, ela esclareceu que não iria ser fácil que teria que usar
os sábados para ir pra Juara-MT para ela poder me orientar, me passou
materiais em espanhol, sobre metodologia de pesquisa e sobre transversalidade,
para escrever o projeto. Me dava prazos para entregar material escrito para ela,
mandava correções e novas leituras e muito criteriosa com o método de
pesquisa. Ela me falou um dia o seguinte: você vai ser o primeiro acadêmico a
defender um Projeto de Pesquisa no campus de Juara, você já pensou nisso, na
sua responsabilidade? E isso me enche de orgulho até hoje, sou o primeiro
acadêmico do curso de Pedagogia da Unemat do Campus de Juara a defender
um projeto de pesquisa. Este projeto tinha 60 páginas, mas só podíamos entregar
para a banca 40 páginas. A professora: deixa que eu entrego as outras 20 na
hora da banca! E isso ela fez e justificou o porquê, a banca teve que ler na hora
as 20 páginas. Bom, a minha apresentação foi de 1 hora e 30 minutos, a mais
longa até hoje de toda a história do campus, e a metodologia que apresentei
também foi única e espelhada na metodologia usada na Universidade de Jean na
Espanha, onde eu tive este mesmo projeto aprovado para mestrado, mas
infelizmente minhas condições financeiras não me permitiram ir. Logo após a
defesa do projeto, a professora Marfa se transferiu para Tangará da Serra-MT.
[...] (egresso A).
Na entrevista que realizamos com outro egresso, o “egresso B”, perguntamos sobre
seu ingresso no curso de pedagogia e o mesmo narrou que inicialmente não queria cursar,
mesmo tendo passado no vestibular: “Eu não queria, pois, tinha construído mentalmente o
estereótipo de que ser professor era ser desvalorizado. Mas obedeci ao meu pai e fiz a
matrícula. Ingressar no curso de pedagogia foi mais que a oportunidade de formação foi o
momento de descoberta pessoal”.
Sobre suas experiências enquanto estudante, narrou o seguinte:
59
até Porto dos Gaúchos, em um posto de gasolina eu trancava a moto, tomava
banho e aguardava o ônibus que nos levavam em uma viagem de 50km até
Juara, no campus da Unemat. O desafio era mais intenso no período de chuva,
pois na ida e no retorna à Unemat, no trecho entre Porto dos Gaúchos e Novo
Paraná havia muita lama e atoleiros e por diversas vezes eu chegava em casa
01:00h da manhã, para no outro dia estar as 06:45h na escola. No quarto
semestre, casei e mudei para Porto dos Gaúchos e a partir daí dependi apenas
do ônibus. O ônibus no início era pago pelos estudantes, por isso, para garantir
o pagamento, minha esposa fazia bombons de chocolate e eu vendia no intervalo
para os acadêmicos, foram desafios interessantes que contribuíram para meu
crescimento (egresso B).
Indagado sobre quais significados a Unemat tem para si, respondeu que:
60
tempo né, principalmente e infelizmente depois da pandemia melhorou mais
ainda. Mais é infelizmente eu digo a pandemia não há melhoria no espaço de
comunicação, era difícil a comunicação, tinha um único orelhão no campus, era
nesse orelhão o meu dialogo com minha família, eu digo isso em quanto
professora que vem para Juara, permanece em Juara, mas que tem toda família,
toda sua raiz na cidade de Cáceres-MT e cacerense é povo mato-grossense, é
povo enraizado mesmo, então assim, eu nunca estive só aqui, estive só lá, até
escrevi um texto, ontem, dizendo que eu fui construída pelo complexo da
distância dos apegos né, eu acho que é um pouco disso, eu não sei se estou
falando demais, mas estou falando um pouco do que vem na minha cabeça [...].
O perfil do curso, olha, vou dizer para você que o perfil do curso não mudou
muito. O gênero feminino sempre foi maior, a visibilidade, né, meninas,
mulheres, mães com crianças. Uma grande maioria de bicicleta [...]. E depois
um ônibus, né. Pessoas que vinham realmente de vários lugares. Como hoje. De
novo, Horizonte [Novo Horizonte do Norte-MT], de Tabaporã [MT], [...] nós
tínhamos vários que já tinham experiência no magistério, já chegava com
experiência porque eram professores que já estavam atuando e não tinham uma
formação. [...] davam um tom diferente nos debates, nas discussões, nas
colocações dos problemas, tinham uma compreensão da educação, porque já
eram profissionais em serviço. Mas o perfil quando eu falo que não mudou
muito, eu estou dizendo dentro das questões econômicas, hoje muda, hoje a gente
vê no campus motos, carros, um monte disso. Mas você sabe que tudo isso muda
também a partir do governo Lula. A partir do governo Lula esse país muda
inteiro. A cara do pobre muda. Muda porque começa a ter acesso, acesso às
coisas, inclusive muda porque consegue ir no dentista e melhorar o sorriso. Eu
sei o que eu estou falando e que isso não vai entrar, talvez, no seu trabalho. Mas
se a gente tivesse conversando pessoalmente, eu diria muitas coisas assim que
muda e eu estou dizendo muda, muda a aparência das pessoas, porque as
pessoas se alimentam melhor, porque as pessoas se vestem é têm acesso a bens a
mais bens, não é o que nós não tínhamos naquela época (docente F).
61
Participei sim da reestruturação do PPC, foi muito importante. A gente tem essa
disciplina de Pressupostos Antropológicos da Educação e também essa das
Relações Raciais, que foram fortemente discutidas, muito [em razão] das
discussões de um grupo pesquisa chamado Leal [“Laboratório de Estudos e
Pesquisas da Amazônia Legal (Leal)”, à época], o qual faço parte [juntamente
da] Professora Lisanil, ela é a presidente de grupo, então esse grupo discute em
Juara a diversidade dentro da Amazônia legal. [O] Laboratório de Estudos da
Diversidade da Amazônia Legal. Então, a inclusão dessas disciplinas faz parte
de toda uma discussão, não só desse grupo, mas esse grupo inserido dentro um
grupo maior, e aí faz com que a gente pense em várias situações de diversidade
dentro do currículo do curso de pedagogia. Agora a gente vai estar passando por
uma outra reorganização, e eu acabei de compor o novo núcleo docente
estruturante, na presidência do Professor Jairo. Quero explicar para você que
não existe PPC consolidado, um PPC está sempre em construção, porque nós
não podemos pensar em fixidades, em coisa fixa, em coisa parada, em coisa
inerte, até porque as legislações mudam, as formas de pensar mudam. A
pedagogia ela sempre teve uma luta. Porque os pedagogos, em relação às de
outras formações, é inclusive das licenciaturas nós somos um Patinho Feio.
Porque todo mundo olha para a pedagogia como se a pedagogia fosse cortar
papel e fosse colar figurinha e não é isso. E nós não podemos fazer com que o
curso seja isso, o curso ele precisa ser, é o que o campo da pedagogia sempre fez
com todas as ideias divergentes e que bom que elas existam se não, não seria
uma Universidade, nós não seriamos a pluralidade. Ainda que tenham as
diretrizes gerais, mas a gente tem pensamentos, e que são pensamentos
diferentes, mas que a partir do diálogo, a gente acaba convergindo para a
construção de um curso. Então consolidado, eu não diria que a gente teve um
PPC consolidado, o PPC é escrito, né? A consolidação ela se dá efetivamente na
ação, onde é que o currículo se consolida? O currículo se consolida nas ações.
Quando eu penso no PPC, eu penso nas ações empreendidas na construção do
curso, nas relações que a gente tem, pedagógicas e também institucionais
(docente F).
62
ideia de ser professor. [...] Quando cheguei em Sinop, em 1995, a Unemat existia
em termos formais, mas muito precarizada. Ela funcionava de forma muito
improvisada. Mas não era só o campus de Sinop. Quando eu cheguei aqui
[Sinop-MT], a Unemat funcionava em um espaço da igreja [católica] [...] e os
cursos ofertados [eram] Letras, Pedagogia e Matemática, [que] funcionavam em
escolas, ou que alugavam, ou que emprestavam suas salas para os cursos. [...]
Chego aqui [Sinop-MT], as escolas são pequenos barracões e uma universidade
que funcionava em prédios alugados... ué? Como isso funciona? Parecia que
havia uma certa resistência [do capital, contra a Unemat]. Ai um dia eu me
deparei com os dados, em 1996, com os dados da secretaria estadual de
educação que cerca de 70% dos professores que atuavam nas escolas, públicas e
privadas, da região norte do Mato Grosso, não tinham curso de licenciatura.
[...] Não tinham formação em ensino superior. [...] Mas a Unemat nunca fez
parte dos projetos elitistas [do] Mato Grosso. Não compunha ofertas de
perspectiva de formação de nível superior para a classe rica, a classe dominante
e isso explica porque os cursos oferecidos pela Unemat não eram bem aceitos
aqui na cidade de Sinop
Acerca da fala do entrevistado “docente G”: “Mas a Unemat nunca fez parte dos
projetos elitistas [do] Mato Grosso”, compreendemos que o ensino formal e seus espaços,
a escola, a universidade, se resiste aos interesses dominantes do capital, são “mal vistas” ou
vistas como irrelevantes (portanto, sucateadas), daí podemos supor as dificuldades
enfrentadas pela UNEMAT nos seus processos de expansão e interiorização no que se
refere aos cursos de formação de professores. Sobre isso, Peripolli (2008, p.p. 11-12)
comenta que:
63
O “docente G” nos apresenta, em sua entrevista para esta pesquisa, um amplo e
complexo panorama das relações políticas e institucionais que levaram à instalação do
curso de pedagogia em Juara, bem como a criação do campus universitário. Para darmos
lugar de destaque à essas memórias, passamos a descrevê-las, de forma longa, porém
necessária para uma compreensão mais profunda dos percursos históricos de instalação do
curso de pedagogia em Juara e a instalação do campus.
Se em Sinop [MT], mesmo de uma certa forma, a Unemat não fazia parte das
políticas públicas, por que a universidade não foi extinta, se ela não atendia a
elite? É porque ela vai ter um sujeito prioritário – e aí vem a chave para Juara
[MT] – tem um elemento prioritário sobre o qual e para o qual a Unemat
conseguia manter suas raízes, ir construindo suas raízes, que era o Professor.
Esse sujeito prioritário, chave sobre o lugar de existência da Unemat, e que faz
ela resistir, né, às ventanias opostas à sua existência, as tempestades opostas à
sua existência, faz com que ela sobreviva – e sobrevivesse – até os dias de hoje.
Isso é muito importante! É um dos lugares definidores da historicidade da
Universidade do Estado de Mato Grosso. Então veja: não era uma universidade
aceita, não fazia parte das políticas púbicas, precarizada e improvisada, com
dificuldades orçamentárias e financeiras, meu Deus, como era difícil, salários
atrasados, na década de 1990. Isso tudo começa a mudar na década de 2000. E
aí você tem um lugar muito decisivo e reorientador do lugar da universidade, e
começa um terceiro processo de expansão, agora com ofertas de cursos
diferentes das licenciaturas, que são ofertados cursos de bacharelados. Naquele
momento, e aí é importante frisar, que os lugares do cotidiano em que a vida
realmente é travada e construída, começa a ter várias novas experiências. A
primeira experiência que a Unemat, então, organizou, foi fazer ofertas para além
da licenciatura para garantir à essa universidade uma existência para além do
sujeito prioritário, o Professor. Foi na gestão do Prof. Arno que começa a
criação dos cursos de bacharelados, e aí então o campus de Sinop. Visando,
vislumbrando – na época o coordenador era o Prof. Aumeri Carlos Bampi, junto
com o Prof. Almir Arantes, junto com o Prof. Tadeu Antônio Azevedo, com a
Profa. Claudete Scroczynski, e outros colegas, vão vislumbrar uma política
[inaudível] na área de ciências sociais aplicadas com a proposta da criação de
novos cursos de Administração, Economia e Contábeis. Esse processo de novos
cursos na área de bacharelados, chamou atenção de uma figura proeminente,
uma figura atuante no estado de Mato Grosso, politicamente, que é o deputado
Riva. E aí, então, começa uma aproximação muito forte, na época, do deputado
Riva com a gestão [ da Unemat] de Sinop [MT]. Porque o deputado Riva queria
a criação de um campus na cidade de Juara [MT]. Assim como a maioria dos
políticos locais, há um vislumbre sobre o lugar da Unemat em todas as cidades,
praticamente, em que eles representam; cidades polos. Mas, o lugar [inaudível],
para esse lugar que a Unemat começa a ser tecida, reorganizada, re-concebida,
tem no deputado Riva uma figura mediadora, atuante, tanto [...] na
especificidade de Juara, quando da própria Unemat. O deputado Riva ele vai
imprimir um novo discurso político sobre o lugar da Unemat no estado de Mato
Grosso e com o Governo. E isso é muito interessante! [...] quando eu terminei
meu mestrado [Santa Maria-RS], em 2001, [...] voltei para Sinop [MT]. Quando
eu volto para Sinop [MT] já tem a criação do curso de Administração, Ciências
Contábeis, Ciências Econômicas e a criação do Núcleo Pedagógico de Juara
[MT], já sobre essa base que eu tinha te falado anteriormente. [...] eu voltei
64
[para Sinop-MT] no mês de setembro, [...] final de novembro me convidaram
para assumir a coordenação do núcleo pedagógico [...] que tinha sido criado em
Juara [MT] – eu não conhecia Juara [MT], naquele momento – para que eu
desse ao núcleo pedagógico um formato acadêmico, um formato de formação de
ensino superior [...]. E aí então, nesse momento, [...] eu aceitei. Fui conhecer
Juara [...]. Era um prédio [...] muito precarizado. [...] Essa oferta dos cursos se
deu numa discussão, numa conversa, entre a reitoria, o campus de Sinop [...], o
deputado Riva e algumas esferas de representações locais. Mas aí tem um
detalhe, não menos importante, [...] (que é) o PQD, que foi um programa
especifico de formação e professores, na época com a perspectiva de formar mil
e quinhentos professores na região de Mato Grosso, porque faltavam
professores, criado pelo campus de Sinop. O PQD, que é o Programa
Interinstitucional de Qualificação Docente, era uma contraproposta do campus
de Sinop, (de) que era possível formar professores, diferente da oferta do
programa da Unemat concentrado em Cáceres [MT], que era o curso de
parceladas, que em princípio eram cursos – comparado com os nossos - de
elevado custo e muito concentrado sob a política de Cáceres [MT], desconectado
das necessidades da região norte do Mato Grosso. O PQD tinha convênio com
vários municípios da região norte, entre eles Juara.
65
curiosidade foi, de fato, conhecer a UNEMAT, porque eu falava muito em
educação na minha campanha e eu tinha, assim, uma determinação, uma
disciplina de, a qualquer custo, levar o campus universitário da UNEMAT para
Juara, a criação de um campus universitário. E esse campus acabou atrasando
um pouco, primeiro em função da falta de interesse do Prof. Arno, na ocasião,
que era o Reitor. Mas, graças a Deus, depois, com a chegada do Prof. Taisir à
reitoria da UNEMAT, com o Prof. Marion assumindo a coordenadoria geral da
Unemat em Sinop [MT] – são duas pessoas que foram extremamente importantes
para isso, juntamente com a Profa. Vera Maquêa – veio acontecer a criação do
Núcleo. Já a criação do Núcleo foi fruto de uma pressão. De uma pressão que
nós começamos a exercer bem lá atrás, já em 1998, eu apresentei um projeto de
lei, que se tornou lei, que autorizava o Estado a criar a Universidade. Essa lei é
a lei nº 6.998, de 14 de maio de 1998, e essa publicação se deu no Diário Oficial
[MT] também no dia 14 de maio de 1998. O campus universitário de Juara
abrangia, na época, os municípios do Vale do Arinos, Juara, Porto dos Gaúchos,
Novo Horizonte do Norte, Tabaporã. Isso já era uma pressão para a criação
desse campus universitário. Nós trabalhamos com essa lei, exatamente para
exercer uma pressão, porque a gente sabia que precisava da aprovação do
CONSUNI, precisava, uma série de situações a serem aprovadas pelo conselho
universitário para virar um campus. Mas a criação do campus já era uma
pressão para acontecer a criação do Núcleo Pedagógico, que foi encaminhado
pelo campus universitário de Sinop em 1999, e no mesmo ano ele foi
homologado pelas instâncias deliberativas da Unemat, conselho de ensino
superior, pesquisa e extensão, o CONEP e o conselho universitário. [...] A lei de
1998 ela culminou com a aprovação da criação de um núcleo pedagógico que
tinha a finalidade especifica na formação de professores, mas em seguida
também nos tivemos aprovados os cursos [...] bacharelado em administração,
bacharelado em ciências contábeis e licenciatura em letras. Para os três cursos,
na época, foi definido, através da Resolução nº 035/99 e 070/2001, e também
pelo CONEP, a oferta de 15 vagas, inicial. Já no ano de 2022, ampliado mais
100 vagas, para o segundo semestre, o ingresso de mais 100 vestibulandos, que
ingressariam na universidade.
66
A narrativa de memória do “Agente político A” até aqui, apresenta um amplo
espectro de relações e ações político-partidárias estratégicas na estrutura do Estado para a
consolidação do Núcleo Pedagógico de Juara, assim como da subsequente criação do
campus universitário, demonstrando a importância do papel do agente político-partidário
para a expansão da universidade pública. Seguindo com a narrativa de memória, o mesmo
entrevistado explica que:
67
consolidação do campus, como foi em Xavantina, como foi em outros lugares,
como foi em Rondonópolis, a pressão que nós fizemos com audiência pública ,
com seminários, enfim, o envolvimento da classe política, como de fato tem que
ser. Eu sei que eu tenho muitas fotografias desse período [...]. A Unemat, para
mim, ela representa a maior conquista de todos os meus mandatos como
deputado estadual. O asfalto é importante? É! As obras que nós conseguimos
para Juara é importante e para os demais municípios são muito importantes,
enfim, todas as obras que nós construímos são importantes [...], mas nada foi tão
importante como a Unemat. Ela significa para mim um marco no meu mandato.
Eu me lembro da primeira formatura e emoção que eu senti, de ver muitos
profissionais se formando e sei que muitos deles hoje estão no mercado de
trabalho contribuindo não só com o Vale do Arinos, mas também com o estado
do Mato Grosso e com o Brasil, e depois você vê o ingresso de novos alunos.
Você vê a alegria no rosto dos seus pais, familiares. [...] nós tínhamos uma
carência muito grande de professores, grande parte dos professores da rede
municipal não tinham se quer pedagogia, não tinha curso superior e aí eles
passaram a ter oportunidade, e eles davam aula por necessidade, era um esforço
pessoal deles e que atendia um pedido um pedido meu, na ocasião – eu fui
prefeito em Juara de 1983 a 1988 – e eu dava graças a deus quando encontrava
um professor em alguma localidade. [...] tinha locais que se quer tinha uma
pessoa formada para dar aula. Aqueles que davam aula, que contribuía, tinha
apenas o segundo gral. [...] Eu quero deixar aqui como mensagem para a
Unemat, que hoje eu estou fora da política, não exerço mandato, tenho uma filha
que exerce mandato, mas eu continuo sendo fervoroso defensor da Unemat [...].
Eu me lembro quando o governador Blairo Maggi quando venceu a sua eleição,
contra o Antero e a Janete, de vice, ele tinha um discurso que dava um
entendimento de que o melhor era extinguir, acabar com os Campus da Unemat,
e investir em bolsa nos cursos, nas universidades privadas. Mas a universidade
pública ela é fundamental. Não é fundamental apenas como instituição de
ensino, mas como uma instituição de pesquisa, que ela é mal utilizada nesse
aspecto, em que pese alguns avanços. Mas ela poderia ser melhor utilizada no
momento em que o Mato Grosso passa por uma transição. Inevitavelmente nós
vamos ter que sair desse título de grande produtor rural [...] para passar por um
processo de transição de industrialização e a Unemat tem um papel muito
importante nesse contexto, principalmente através das pesquisas. Finalizando
aqui, Mayra, eu só complemento que, outra coisa, é a qualidade do ensino
púbico. Não dá nem para você comparar uma universidade estadual com
determinadas universidades privadas. Então é a qualidade desse ensino. E outra
situação importante é: a pesquisa é fundamental para o estado, principalmente
nesse momento de transição, como eu já afirmei antes, que o Mato Grosso tem
que, inevitavelmente, avançar na industrialização e fazer isso gerar riqueza, não
só para os grandes produtores, mas para a população de um modo geral, gerar
mais emprego, gerar renda, propriamente dita. Então quero aqui agradecer você
por essa oportunidade, eu fico à sua disposição, à disposição da Unemat de
Juara, campus que eu tenho o maior carinho e que eu gostaria de ver se
transformar a cada dia. Eu creio que já melhorou muito, mas precisamos ainda
investir mais, a UNEMAT ela tem que chegar em todo o estado, mas ela tem que
principalmente consolidar os Campus instalados, oferecer novos cursos, então
isso é muito importante.
68
da Unemat em todo o estado, pois afinal “Se a educação sozinha não transforma a
sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda” (Freire, 2000, p. 67). Também fica
evidente a importância da pesquisa acadêmica, da produção científica a partir da
universidade pública para o avanço da sociedade. O ex-parlamentar entrevistado demonstra
ter essa compreensão, tendo isso como motivação para sua atuação junto da Unemat em
todo o estado.
É inegável a responsabilidade que todos os parlamentares estaduais devem ter com
a Unemat, os quais nem sempre compreendem essa responsabilidade, pois também não é
incomum ataques à Unemat vindo de parlamentares estaduais.
Os trechos de entrevistas que selecionamos para esta pesquisa nos apontaram para
momentos histórico-institucionais importantes: a chegada dos primeiros cursos superiores
na região do Vale do Arinos e o curso de pedagogia que provocou novos significados,
especialmente, aos profissionais da rede municipal de ensino da região; as experiências dos
profissionais que chegaram à Juara para lecionar no curso, a maioria vindo de outras
cidades, deixando para trás seus lugares de origem e familiares; os primeiros alunos e os
desafios vivenciados... Essas memórias nos proporcionaram um recorte dos percursos
históricos e dos movimentos que concretizaram o curso de pedagogia e o campus
universitário de Juara.
O que podemos afirmar é que a origem do curso de pedagogia de Juara e do campus
universitário, é resultado de diferentes acontecimentos em nível de país, de estado, de
movimentos de luta social local, bem como pela iniciativa de docentes e da gestão do
campus universitário de Sinop, na época, e a atuação parlamentar do “agente político A”.
Esse mosaico, construído por muitas mãos, segue com novas construções por novas mãos
na busca e na defesa da consolidação do curso de pedagogia e do campus universitário de
Juara, especialmente frente à novas ameaças institucionais (como aquela provocada pelo
governador Mauro Mendes que em 2018 desvinculou o orçamento da Unemat da receita
corrente líquida do estado, gerando graves problemas à instituição).
69
No momento desta pesquisa, o número de docentes concursados em 2006 para o
curso de pedagogia, totaliza cinco (05), sendo que o restante está em cedência para outros
campi, ou foram removidos, temporária ou definitivamente (a pedido). Daqueles
concursados em 2013, totalizam três (03), sendo que os demais também pediram remoção
para outros Campus. Alguns lotados na faculdade do campus de Juara atuam, também, na
pós-graduação. Assim, as vagas docentes ociosas têm sido preenchidas por professores
contratados (via processo seletivo). Os professores interinos – no período de tempo desta
pesquisa – são, na sua maioria, egressos do próprio curso de pedagogia, todos com nível de
mestrado acadêmico e alguns em processo de doutoramento.
O campus de Juara não é uma ilha isolada, espelha a própria Unemat em nível de
estado, apresentando um enorme quadro de docentes contratados, deixando clara a
necessidade de novo concurso público. Observando no site oficial da Unemat a quantidade
de vagas disponíveis para contratação de professores por meio de processo seletivo, fica
evidente a defasagem em seu quadro docente efetivo.
Por outro lado, verificamos um avanço significativo no tocante à qualificação
acadêmica, o que, certamente, reflete na qualidade do curso de pedagogia, a médio e longo
prazo. Verificamos também uma mudança no perfil do estudante ingressante, sendo, na
atualidade, majoritariamente jovens, entre 19 e 27 anos de idade.
No quadro de Avaliação dos Cursos de Graduação, Conceitos MEC E ENADE -
2010 A 2017, apresentado pelo Portal http://portal.unemat.br/15, o curso de pedagogia do
campus universitário de Juara apresenta nota 03 (três), estando dentro do rendimento
comum. Contudo, com o processo constante de qualificação dos docentes do curso
(incluindo os contratados), no momento desta pesquisa, acreditamos que essa nota tende a
melhorar exponencialmente.
Ainda neste tema, vale observar, verificamos que a maioria dos professores
contratados atuam de forma constante no curso, sendo que a maioria já atua,
ininterruptamente, há mais de seis anos (há outros que atuam a dez, doze, treze anos,
exceto pelo período de dois meses, a cada dois anos, que ficam sem contrato – período do
recesso letivo). Isso tende a consolidar uma identidade docente junto ao curso de pedagogia
15
http://portal.unemat.br/media/files/Avalia%C3%A7%C3%A3o%20dos%20Cursos%20de%20Gradua%C3%
A7%C3%A3o,%20Conceitos%20MEC%20E%20ENADE%20-%202010%20A%202017.pdf
70
do campus, ainda que sob a fragilidade da condição própria da interinidade. Essa formação
identitária, no geral, é positiva para o curso, pois estes professores tendem a assumir
compromissos com o curso e com a instituição como um todo, tendendo ainda a melhorar
cada vez mais suas práticas docentes pela experiência e pelo estudo constante. Outro ponto
positivo, é a participação colaborativa em projetos de pesquisa, de ensino e de extensão,
também em grupos de pesquisas de graduação, contribuindo assim de modo significativo
para a consolidação do curso e para o avanço da instituição.
No momento desta pesquisa, existe uma movimentação, no sentido de cobrança
social, para que ocorra novo concurso público para professores da Unemat, pois, como
mencionamos, o quadro atual de docentes concursados é defasado. Também porque a
interinidade não oferece dignidade a nenhum profissional da educação (na verdade chega a
ser um contrassenso termos como educação e contrato temporário, numa mesma frase).
Outra problemática são os investimentos, às próprias expensas, em qualificação stricto
sensu, destes profissionais interinos que tem como objetivo exatamente o concurso púbico,
se não, por qual razão se qualificariam?
Desde a instalação do Núcleo Pedagógico de Juara até o presente, os avanços são
evidentes e os resultados são significativos na sociedade regional. Praticamente a totalidade
dos professores da educação básica na rede municipal de ensino são graduados e pós-
graduados na área da educação, refletindo diretamente na qualidade da educação básica. Se
fizer um comparativo entre a educação pública dos municípios alcançados pela Unemat de
Juara e aqueles não alcançados, dependentes apenas da formação por EaD, geralmente
oferecida por instituições privadas, a diferença nessa qualidade é gigantesca.
Os percursos históricos do curso de pedagogia em Juara, analisados por esta
pesquisa, apontam para a importância de cursos de formação de professores nas cidades
interioranas do estado, porém com o suporte do campus universitário, para consolidar (e
qualificar) o ensino, a pesquisa e a extensão; para se criar a cultura universitária; para se
propor ações conjuntas e interinstitucionais com prefeituras e outros órgãos – como foi o
caso da criação do Museu do Vale do Arinos em Juara, instituição municipal, mas gestada
no âmbito da Unemat, especificamente a partir do curso de pedagogia.
A criação de novos campi foi estagnada. Os núcleos pedagógicos passaram a ocupar
lugar de destaque e preponderância absoluta, pois demandam menores espaços nos
71
municípios onde se instalam, utilizando salas de aula emprestadas de escolas públicas ou
outros espaços semelhantes. Neste ponto, voltamos à pesquisa de Cunha (2010, p. 225)
quando trata do problema do espaço físico adequado para o desenvolvimento institucional
da Unemat, apontando que “[...] a falta de estrutura física condiciona e limita a
funcionalidade e a organização da Instituição. A falta de salas de aula, de salas para
professores, de salas para pesquisa e projetos, impõe limites às atividades dos professores e
à formação dos alunos [...]”. Na atualidade, a possibilidade desses núcleos se
transformarem em campi é remota. É quase um paradoxo: atende-se à uma necessidade no
campo do ensino, mas fragiliza-se a pesquisa, a extensão e a própria universidade.
72
O campo da educação está em constante transformação. Nesse sentido, os cursos de
pedagogia precisam se transformarem constantemente. A realidade é dinâmica, pois as
pessoas são dinâmicas, a sociedade é dinâmica. Portanto, o dinamismo nos cursos de
pedagogia é uma necessidade. A estática não cabe em um curso de pedagogia (nem numa
universidade). Dentro deste dinamismo, está a luta. Sobre as lutas do curso de pedagogia
do campus universitário de Juara, Moraes & Ferreira (2021, p. 06) comentam:
73
drasticamente diminuídos e os enfrentamentos – uma característica da boniteza freireana da
pedagogia – cessaram.
O Diretório Central dos Estudantes (DCE), formalmente organizado em 2009, (re)
existiu até por volta de 2014, sendo extinto em seguida. Os centros acadêmicos e outras
organizações autônomas do movimento estudantil cessaram. O que se vê no campus é a
falsa autonomia estudantil no sentido de que qualquer criação/inovação que venha do
movimento estudantil é, na verdade, atuação docente por trás. Esse tutelamento chegou até
2022, sendo que apenas em 2023 se iniciou um novo processo de transformação dessa
realidade estudantil a partir da nova gestão (2023/2026).
74
fortalecido, especialmente, após a chegada do curso de Administração, em 2012, o qual
tende a seguir (e a influenciar), pela sua própria natureza, a cultura de mercado, mesmo em
um ambiente universitário. Isto tende a seguir aumentando se não encontrar resistência.
Por outro lado, um fenômeno importante tem sido a chegada de estudantes indígenas,
compondo o público discente e produzindo diversidade e interculturalidade no ambiente
universitário. Nos últimos três anos, ao menos oito indígenas se matricularam no curso de
Pedagogia, sendo respectivamente das etnias Kayabi, Apiaká, Munduruku e Xavante. Este
fenômeno, por sua vez, produz, também, desafios pedagógicos. A maioria destes estudantes
tem dificuldade com o idioma português. Ainda que consigam se comunicar bem, escapa-
lhes, em muito, os sentidos ou os significados de conceitos não indígenas, somados à
dificuldade para a apreensão de conceitos propriamente acadêmicos, que são não indígenas.
Isso tem movido os docentes a buscarem resoluções conjuntas para estes desafios. Este
fenômeno da chegada de estudantes indígenas, “pegou” a universidade de surpresa.
Porem neste ponto, é necessário retornarmos ao contexto histórico de Juara. Este
município é, historicamente, território indígena e tem em sua extensão geográfica,
diferentes terras indígenas, diferentes etnias e inúmeras aldeias. Ou seja, uma forte
presença indígena (historicamente marcada). Eventualmente, estes povos chegariam na
universidade e no curso de pedagogia. Agora chegaram! É aí que compreendermos o traçar
de perspectivas educacionais para o futuro. Em que momento a Universidade, o curso de
pedagogia, chegará às aldeias, por exemplo? Ou, em que momento colocará em debate os
desafios pedagógicos à estas populações?
75
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
76
Unemat, campus de Juara. Com o nascimento do Centro de Pesquisa e Documentação da
Unemat, campus de Juara, atualmente uma proposta a se desenvolver, novas possibilidades
de pesquisa e de formação de acervos históricos no campo da história da educação regional,
serão possíveis.
Este trabalho de conclusão de curso (TCC) nos possibilitou conhecer mais do que
apenas fragmentos de percursos históricos do curso de pedagogia e do campus universitário
de Juara, no possibilitou conhecer histórias de vida, trajetórias profissionais. Nos
possibilitou entrevistar diferentes pessoas, em diferentes lugares, criando novos laços.
Como já foi dito antes, o curso de pedagogia e o campus universitário de Juara são
conquistas conseguidas por muitas mãos. Um mosaico, se preferir.
Aprendemos com isso que quando a sociedade se une em luta por um objetivo
comum, a realização é uma certeza.
77
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, Leci Maria Araújo. Nas trilhas do ensino (Educação em Mato Grosso: 1910-
1946). EdUFMT. Cuiabá-MT. 1998.
BABBIE, Earl. Métodos de pesquisa de survey. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003.
FALCÃO, Jairo Luís Fleck. LEITE, Francine Suélen Assis. História da Educação em
Juara: currículo e cultura escolar na década de 1980. FACES DA HISTÓRIA, Assis-
SP, v.6, nº1, p.203-222, jan.-jun., 2019.
78
CUNHA, Marion Machado. O trabalho dos professores e a Universidade do Estado de
Mato Grosso em Sinop/MT na década de 1990: o sentido do coletivo. Tese apresentada
ao Programa de Pós-graduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade
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83
ANEXO (A)
Fonte. Laboratório de Memória, Imagem e Som (LAMIS) da Universidade do Estado de Mato Grosso
(UNEMAT), campus de Juara-MT (encaminhada por José Geraldo Riva).
84
Fig. 02: cerimônia de instalação do Núcleo Pedagógico de Juara. Ano, 2001
Fonte. Laboratório de Memória, Imagem e Som (LAMIS) da Universidade do Estado de Mato Grosso
(UNEMAT), campus de Juara-MT (encaminhada por José Geraldo Riva).
85
Fig. 03: cerimônia de instalação do Núcleo Pedagógico de Juara. Ano, 2001.
Fonte. Laboratório de Memória, Imagem e Som (LAMIS) da Universidade do Estado de Mato Grosso
(UNEMAT), campus de Juara-MT.
86
Fig. 03: cerimônia de instalação do Núcleo Pedagógico de Juara. Ano, 2001.
Fonte. Laboratório de Memória, Imagem e Som (LAMIS) da Universidade do Estado de Mato Grosso
(UNEMAT), campus de Juara-MT
87
ANEXO (B)
Fig. 7: Núcleo Pedagógico de Juara em funcionamento no prédio da extinta escola agrícola. Ano
2002.
Fonte. Laboratório de Memória, Imagem e Som (LAMIS) da Universidade do Estado de Mato Grosso
(UNEMAT), campus de Juara-MT.
88
Fig. 7: Núcleo Pedagógico de Juara em funcionamento no prédio da extinta escola agrícola. Ano 2002.
Fonte: Laboratório de Memória, Imagem e Som (LAMIS) da Universidade do Estado de Mato Grosso
(UNEMAT), campus de Juara.
89