A instituição escolar é muito mais que uma instituição mediadora de
conhecimentos, ela exerce o papel de formadora de sujeitos, que podem, a partir de seus conhecimentos, compreender o ambiente em que estão inseridos, seja no âmbito social, econômico, político e cultural. Por isso, há uma necessidade que as instituições abordem em seus currículos temas pertinentes à formação dos seus sujeitos, levando em consideração a realidade em que estes estão inseridos. A escola do campo enquanto instituição formadora de sujeitos não pode e nem deve ficar alheia à concepção de que o campo é um espaço particular de cultura, política, identidade, história e de existência social. Que é necessário a formação de sujeitos que valorizem o espaço, tempo e currículo. Desse modo, o presente artigo visa apresentar e analisar o uso de letras de músicas do Grupo Cordão da Bicharada 1 enquanto estratégia de intervenção pedagógica em uma turma do 5º ano do Ensino Fundamental em uma escola do campo, a qual atua como docente da turma esta autora. Esta investigação é fruto de uma intervenção pedagógica oriunda do curso de Especialização em Práticas Pedagógicas na Educação do Campo, que enfatiza a importância da escola como um local privilegiado para o ensino dos saberes populares, tradições e costumes próprios de cada comunidade. A princípio cabe salientar que durante quase dois anos, devido à pandemia do novo coronavírus, as aulas presenciais foram suspensas, fazendo com que as escolas adotassem e criassem estratégias pedagógicas junto à Secretaria Municipal de Educação local. O objetivo era fazer com os educandos não perdessem o interesse pelos estudos e não ficassem sem o auxílio educacional. Para tanto, uma das estratégias utilizadas foram o ensino remoto, os cadernos pedagógicos e, em alguns casos, o ensino hibrido. Mesmo que as escolas tenham adotado tais medidas educativas, os alunos apresentam dificuldades com relação à aprendizagem, principalmente por falta de acesso à internet, enquanto elemento essencial para acompanhar o processo educacional proposto durante a pandemia. O interesse pela temática surgiu a partir da minha vivência enquanto engessa de uma educação toda em escola do campo, além de estar como professora da turma 1 Bloco carnavalesco da Vila de Juaba, em Cametá, que homenageia os animais da Amazônia – simbolicamente representados pelos personagens de animais, com participações de moradores locais – adultos e crianças. As letras das músicas retratam temas bem atuais e caros à região Amazônica; a preservação de sua mata, sua fauna e flora (ALMEIDA, 2020) pesquisada, que vivencia os desafios educacionais diariamente principalmente, principalmente em relação à leitura e à escrita dos educandos. Através dos estudos durante a especialização, e principalmente durante as aulas com estes educandos, percebi uma oportunidade de intervir junto à turma com uma prática pedagógica que levasse em consideração os elementos da cultura local, e que possibilitasse aos educandos o ensino e aprendizado necessários a sua formação. Essas práticas utilizadas devem afirmar a importância de uma educação campesina onde a escola busque reafirmar identidades, que levem em apreço não somente o currículo educacional, mas também a multiplicidade dos sujeitos. Isso só poderá acontecer se as instituições de ensino se apropriarem dos conhecimentos articulados com as relações sociais e a dimensão cultural de onde se encontram, relacionando seus conteúdos com os traços tradicionais das comunidades locais. A educação do campo busca garantir uma visão mais abrangente da formação educacional e emancipatória da legitimidade dos sujeitos do campo, é uma educação voltada para os sujeitos do campo, mas que não se restringe dentro de uma sala de aula, pois compreende os processos de ensino aprendizagem destes sujeitos como algo capaz de formar estes para relações sociais concretas, para a intervenção na sociedade, tornando-se construtores de novas políticas e ideologias que correspondam e garantam sua especificidade. Foi através desta visão de educação que eu, enquanto professora da turma do 5° ano “B” da série inicial do ensino fundamental, frente os desafios encontrados principalmente após dois anos de “paralização” das aulas por conta da pandemia causada pelo novo corona vírus, percebi a necessidade de buscar novas práticas pedagógicas que considerassem os sujeitos aprendizes e suas realidade concretas. Objetivando aprofundarmos a respeito do tema, elegeu-se o seguinte problema de pesquisa: como as letras das músicas do grupo Cordão da Bicharada, enquanto estratégia de intervenção pedagógica, podem ajudar no processo de leitura e escrita dos alunos do 5° ano “B”? Sabemos que a dificuldade de leitura e escrita dos educandos interferem no seu processo de aprendizagem e necessitam de um olhar bem especial principalmente se tratando de uma dificuldade apresentada no último ano das séries iniciai do ensino fundamental. Para responder à pergunta do problema, tivemos como objetivo geral analisar como as letras das músicas do grupo Cordão da Bicharada, enquanto estratégia de intervenção pedagógica, podem ajudar no processo de ensino aprendizagem, especialmente no letramento de alunos do 5° ano de uma escola do campo. Para alcançarmos o objetivo macro, elencamos os seguintes objetivos específicos: a) compreender como os educandos refletem suas realidades socioculturais a partir das letras de músicas do Grupo Cordão da Bicharada, considerando os elementos constitutivos da cultura local; b) avaliar nos educandos o processo de evolução da leitura e escrita por meio da construção do caderno de memória, que enfatiza a importância da cultura local e a valorização da identidade dos sujeitos; c) refletir como as práticas pedagógicas lúdicas na Educação do Campo podem despertar o interesse nos educandos por contar, interpretar e reescrever o que foi lido e trabalhado. A musicalidade é parte integrante, e de fundamental importância para formação humana. Eu, enquanto educadora, percebi nesta expressão cultural um elemento muito forte em nossa comunidade, por isso compreendi a importância de usar as letras das músicas no processo de letramento destes sujeitos, pois, segundo Brito (1998), a música é uma forma de linguagem que faz parte da cultura humana desde tempos remotos. É uma forma de expressão e comunicação e se realiza por meio da apreciação e do fazer música. A utilização da música enquanto prática pedagógica pode ajudar a dinamizar a aula e principalmente ajudar os educandos no seu desenvolvimento emocional, afetivo e cognitivo. Para além desta introdução, o trabalho apresenta a metodologia, que explicita detalhadamente os caminhos percorridos da pesquisa, além de apresentar o lócus da pesquisa e os sujeitos pesquisados. Em seguida traça o referencial teórico, trazendo debates teóricos a respeito da cultura popular, educação do campo e práticas pedagógicas da escola do campo. Na sequência faz uma análise da intervenção pedagógica em uma turma do 5º ano do ensino fundamental em escola do campo, dialogando com os autores que tratam da temática. Para encerrar, as considerações finais retomam algumas ideias já discutidas no texto, trazendo reflexões para o presente e futuro na turma pesquisada.