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Resumo
O curso de Educação do Campo da UTFPR Campus Dois Vizinhos iniciou em 2011, tendo
formado sua primeira turma no final de 2014, e tendo outras duas turmas em formação, uma
no segundo e outra no quarto períodos, respectivamente. O funcionamento do curso é baseado
na Pedagogia da Alternância, o que determina o acontecimento de uma alternância entre o
Tempo Universidade (TU), composto por aproximadamente quatro semanas consecutivas de
aulas e atividades na Universidade; e o Tempo Comunidade (TC), em que os educandos
retornam para suas comunidades de origem por um período equivalente ao TU. O presente
trabalho é um relato das experiências desenvolvidas no período do TC, composto por
atividades voltadas ao objetivo principal de relacionar teoria e prática, ou seja, estabelecer
mecanismos que permitam melhor relacionar as atividades do Tempo Universidade com as
atividades do Tempo Comunidade. A partir de uma proposta de trabalho em que os
professores encaminham atividades para serem desenvolvidas no TC, faremos o relato das
atividades encaminhadas por um grupo de professores, atividade esta denominada
Diagnóstico das Comunidades, cujo objetivo foi o levantamento progressivo de dados com
vistas ao aprofundamento dos conhecimentos da realidade vivencial dos educandos. Os
resultados desse trabalho revelaram uma rica realidade das comunidades de origem dos
educandos, o que tem permitido muitas possibilidades de relação entre teoria e prática ou, em
termos do processo educativo, entre Tempo Universidade e Tempo Comunidade.
1
Filósofo, doutor em sociologia pela UFPR. Professor do curso de Educação do Campo da UTFPR-DV. E-mail:
em.batistela@hotmail.com.
2
Filósofo, Doutor em Educação pela PUCPR, professor da UTFPR-PB. E-mail: batistela.airton@hotmail.com
3
Pedagoga, Especialista em Trabalho, Educação e Movimentos Sociais pela FIOCRUZ-RJ. Professora da Rede
Municipal de Ensino de Quedas do Iguaçu-PR. E-mail: marcelainereguelin@hotmail.com.
4
Teólogo, Doutor em Teologia, professor da UTFPR-DV. E-mail: paulodiel@utfpr.edu.br
5
Pedagoga, Mestre e Doutora em Educação pela UFPR, professora do curso de Educação do Campo da UTFPR
Campus Dois Vizinhos. E-mail: zinara1@gmail.com.
ISSN 2176-1396
19931
Introdução
A educação permanente é uma concepção e uma prática muito antiga. Nas culturas
tradicionais os anciãos sempre foram considerados sábios, por que aprenderam pela longa
vivência da vida, em permanência. Na primeira metade do século 20, a institucionalização de
uma educação formal inicial sob a forma de uma escola inibiu o processo de permanência.
Pensou-se que todo o saber importante poderia ser abstrato, concentrado teoricamente e
transmitido formalmente. A idade adulta consistiria então, em aplicar, nas práticas
profissionais, esses saberes teóricos adquiridos na escola. Isso gerou o que é muito conhecido
de todos: a dicotomia entre teoria e prática, entre escola e vida, entre universidade e
sociedade.
Na Segunda metade do século 20, a evolução acelerada das práticas profissionais,
técnicas, cientificas e sócio-culturais criaram a necessidade de uma educação permanente. Em
1972, a UNESCO (1999), após um estudo internacional sobre a educação, considerou a
educação permanente como o princípio organizador das práticas educativas futuras. Mas essa
abertura da educação para todas as idades e setores levanta uma série de questionamentos
profundos, inclusive sobre as relações teoria-prática. Um problema central que se estabelece
concerne ao fato de que a maioria dos modelos teóricos herdados não consegue mais dar
sentido às suas práticas. O sentido deve ser construído com práticas e com pedaços de teoria
muitas vezes incompatíveis entre si. Estamos, pois, numa transição de paradigmas, onde as
novas relações entre teoria e prática se estabelecem de formas novas e complexas.
Nesse sentido, em todo contexto educacional e na própria compreensão da educação,
gira uma variedade de posicionamentos e entendimentos de forma a se instalar, não raras
vezes, um ambiente de animosidade entre políticas educacionais e ação educacional, entre
teorias educacionais e atuação docente e entre propósitos escolares e necessidades
comunitárias.
A problemática daí decorrente evidencia que ao contrário das políticas educacionais
oficializados a cada governo, existe uma decepção facilmente constatável em alunos,
professores, pais e na sociedade. A situação parece, às vezes, caótica aos envolvidos nesta
questão, com sobreposição de planos de estudo; nefastas condições; meios econômicos
insuficientes; divergências entre as exigências institucionais e as necessidades individuais e
sociais, que são alguns dos aspectos em que se evidencia a crise.
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integrativo em sua metodologia, formar uma ação educativa motivadora e consolidar o valor
do meio. O primeiro passo para um avanço significativo parece estar na definição de um
modelo pedagógico e no apontamento de seus pressupostos metodológicos.
Assim, a formação por alternância não pode ser reduzida, como é o caso muitas vezes,
as simples relações binárias do tipo: teoria-prática, escola-empresa, trabalho profissional-
formação escolar, emprego-formação, saber experiência-saber livresco... Na medida em que
se coloca o acento sobre o institucional, o cognitivo, o relacional ou outras aprendizagens. A
realidade é mais complexa e se queremos entender os segredos da formação alternada,
convém definir-lhe os componentes e suas interações, de hierarquizá-los e organizá-los numa
perspectiva sistêmica. Somente assim deixa-se o simples método pedagógico para encarar a
colocação em prática de um sistema educativo. Não nos contentamos com as alternâncias
justapostas ou administrativas (BOURGEON, 1979), mas visamos a alternância integrativa,
ou seja, a verdadeira alternância, (CHARTIER, 1982 e 1986).
Na perspectiva destes autores, sete componentes estão atuando na Pedagogia da
Alternância:
1. O centro dessa sistemática é a pessoa em formação, ou seja, o alternante. Não
importa que ele seja adolescente, jovem ou adulto.
2. O projeto educativo subentende as ações de formações. Dá-lhes sentido, tanto do
ponto de vida de cada alternante quanto das instituições.
3. O lugar da experiência sócio-profissional ao mesmo tempo como fonte de saber,
ponto de partida e de chegada do processo de aprendizagem e funil educativo.
4. A rede de parceiros co-formadores nos diferentes espaços-tempos da formação,
porque a alternância leva à partilha do poder educativo.
5. O dispositivo pedagógico enquanto subsistema de gestão e de operacionalidade da
formação.
6. Um contexto educativo criando as condições psico-afetivas, garantindo a
qualidade de vida, um clima facilitador das aprendizagens e da educação.
7. Os formadores e outros atores educativos responsáveis pela animação do
conjunto, supondo um estatuto e papeis específicos.
O curso de Educação do Campo da UTFPR Campus Dois Vizinhos está em seu quinto
ano de funcionamento, já formou uma turma e está com outras duas em formação. Desde a
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na volta do TC, cada professor procurou discutir o conteúdo do livro e relacionar com o
conteúdo de sua disciplina.
Com relação ao terceiro ponto previsto na proposta do projeto para o TC, em que cada
professor poderia encaminhar atividades específicas para serem desenvolvidas por todos os
educandos de cada período, faremos, a seguir, um relato das atividades encaminhadas no
âmbito de três disciplinas: Filosofia I e Questão Agrária (1º período) e Fundamentos
Sociológicos e Antropológicos da Educação ( 2º período). O trabalho encaminhado foi
denominado Diagnóstico das Comunidades e consistiu na seguinte tarefa: organizados de
acordo com suas comunidades de origem, cada grupo de educandos deveria realizar um
diagnóstico da realidade demográfica, sócio-organizacional, econômica, cultural e fundiária.
O objetivo principal consistia em coletar dados com vistas ao conhecimento da realidade das
comunidades de onde provinham os educandos e para onde retornariam e desenvolveriam
suas atividades no TC.
A grande maioria dos educandos (que dos dois períodos em formação são
aproximadamente 45), são provenientes de comunidades rurais, com exceção de quatro
estudantes provenientes de comunidades urbanas. Os 41 educandos residentes em
comunidades rurais provêm dos seguintes tipos de comunidades: Acampamentos de reforma
agrária, Assentamentos de reforma agrária, Comunidades quilombolas e Comunidades rurais
compostas por pequenas propriedades rurais.
Assim, na vigência da primeira etapa do TC do primeiro semestre de 2015, os
acadêmicos organizados em grupos, realizaram uma coleta de dados sobre suas comunidades,
com o objetivo de apresentar estes dados para toda turma no início do TU. A primeira etapa
desse diagnóstico das comunidades foi orientado no sentido da captação de dados da realidade
demográfica, sócio-organizaconal, econômica, cultural e fundiária das comunidades. No
início do TU cada grupo apresentou a pesquisa para a turma e um relatório escrito para os
professores das disciplinas envolvidas. Após todas as apresentações foi feito um debate geral
com o objetivo de encontrar os pontos comuns mais importantes dessa primeira etapa do
diagnóstico das comunidades. Os pontos comuns encontrados foram os seguintes:
a) Deficiências de infraestrutura nas comunidades, apontado para uma tendência de
esquecimento do poder público com relação às necessidades das comunidades
rurais. Isso é especialmente representativo na questão das estradas, educação e
saúde;
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Considerações Finais
A Pedagogia da Alternância apontou para o fato de que cada pessoa vive em um meio
social, em uma realidade repleta de elementos referenciais da sua vida, da sua família e da sua
comunidade, que são fundamentais para determinar a eficácia da formação. Por isso a
educação deve centrar-se sobre a realidade do meio, do grupo que estuda, junto com o
professor, inserido na comunidade. Por isso a pedagogia da alternância é revestida de uma
preocupação valorativa, e o ato mesmo de educar é aí concebido pelas interrogações oriundas
do meio.
As experiências acontecidas no âmbito do curso de Educação do Campo da UTFPR
Campus Dois Vizinhos, que funciona através do regime de alternância, nos permitiram alguns
aprendizados importantes. O mais importante de todos, sem dúvida, refere-se à constatação de
que a realidade vivencial das comunidades de origem dos educandos é sempre uma realidade
determinante tanto da postura dos educandos como seres humanos, quanto do seu
desempenho e interesses teóricos nos estudos na Universidade.
A coleta de dados sobre a realidade das comunidades despertou, também, o interesse
de toda a turma no sentido de se conhecerem a partir do conhecimento da realidade social de
cada um. Nesse sentido, alguns relatos foram particularmente marcantes, especialmente a
realidade histórica das comunidades quilombolas que despertou o interesse da turma; bem
como sobre a realidade dos acampamentos e assentamentos de reforma agrária, onde alguns
jovens integrantes fazem parte do curso de Educação do Campo.
19939
REFERÊNCIAS
RAMOS, A. G. A nova ciência das organizações. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 1989.