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INTRODUÇÃO
“ [...] vejo a palavra enquanto ela se nega a me ver. A mesma palavra
que me desvela, me esconde. Toda palavra é espelho onde o
refletido me interroga”.
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Esse desafio está posto de forma incisiva na escola, quando nós mesmos,
como docentes, ainda não nos apropriamos dessas tecnologias, apenas tateando
essas competências demandadas atualmente, o que dificulta a mediação com
nossos educandos. Neste sentido, voltar os olhos para a própria prática nos
possibilita colocar em questão a nossa trajetória docente, os acertos e os equívocos
cometidos, tecendo uma reflexão mais consistente não só à luz das teorias, mas
também de novas formas de pensar e fazer, para, assim, ir trilhando continuamente
na docência. A abordagem da pesquisa-ensino, segundo PENTEADO (2010, p.11),
“produz mudanças nos alunos, qualificando seus processos de aprendizagem, e
também no docente pesquisador, em sua prática de ensino, tornando-o mais
confiante, autônomo e compromissado com o que faz. Produz, ainda,
conhecimentos sobre a docência”. A este respeito, BRAGA (2013, p.52) nos diz que
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É importante ter em mente que esses diferentes recursos, como texto verbal,
imagens em movimento ou não, sons e música, se articulam visando à
comunicação, ainda que as interpretações não sejam únicas, pois os indivíduos têm
experiências diferenciadas, que levam a interpretações diferenciadas.
A escolha do projeto “Minas, Nordeste & África” para aprofundamento das
análises deve-se ao fato de ele ter representado um marco para os educandos em
termos de novas possibilidades de envolvimento nas aprendizagens desses
múltiplos letramentos. Depois de vivenciar, em 2016, um projeto focado
intensamente nas questões étnico-raciais, que dialogava com o livro “Quarto de
despejo-diário de uma favelada” de Carolina Maria de Jesus (Projeto “Carolina: a
catadora de palavras”), penso que elementos distintos convergiram para um novo
patamar identitário no grupo dos estudantes, que passou a ser trabalhado desde
então. Neste novo projeto, foi possível contemplar a cultura nordestina (visando
atender a seis estudantes oriundos desta região do país) e, também, a cultura
indígena, tão invisibilizada no cotidiano escolar. Também foi possível abordar os
cuidados maternos presentes na obra “Indez”, de Bartolomeu Campos de Queirós,
para um grupo formado, em sua maioria, por mães. Esta temática foi aliada a
referências da cultura interiorana mineira, dada ser esta a origem de muitos
educandos, cujas vidas são marcadas pelo êxodo rural.
O audiovisual também esteve presente neste projeto, potencializando saberes
e propiciando reflexões coletivas sobre a nossa condição humana. No decorrer da
proposta, pequenos vídeos foram trabalhados envolvendo conhecimentos de
História com as questões étnico-raciais (“Consciência Negra: um caminho longo para
a liberdade”: encurtador.com.br/dVYZ2; “Povos Originários”:
encurtador.com.br/gIJLN), conhecimentos de Geografia envolvendo países de África
(“África de A a Z”: encurtador.com.br/zMU39), conhecimentos de Ciências
contemplando a cultura nordestina e o bioma Caatinga (“Caatinga TV Educativa de
Alagoas”: encurtador.com.br/tuEP1; stop-motion “O Cangaceiro”:
encurtador.com.br/ehmzX), além de vídeos de músicas associadas às temáticas
(“Cidadão”, de José Geraldo: encurtador.com.br/cfjvK; “Mestre-sala dos Mares”, de
João Bosco: encurtador.com.br/mtxKT; “Asa Branca”, de Luiz Gonzaga:
encurtador.com.br/fiIQV). Com estes materiais, a estratégia junto à turma consistiu
em estimular a educação do olhar, ao fazer inferências de forma coletiva,
representando, também, um incentivo à desinibição para adultos mais tímidos.
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que trazia releituras de trechos do livro Indez. O teor engraçado de várias produções
dos estudantes, partilhadas coletivamente nas aulas, tinha grande receptividade do
grupo. Foram momentos em que escrever estava em um contexto de descontração,
desprendimento, favorecendo o avanço no processo da escrita dos educandos,
conforme o caminhar de cada um. Quanto ao processo emancipatório dos
sujeitos pesquisados, analisando o cotidiano da sala de aula, na qual “quem ensina
aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender” (FREIRE, 1999), considero
que a estruturação de uma prática pedagógica focada em processos dialógicos, por
meio de uma relação educador/educando mais democrática e respeitosa, foi um
importante pilar na construção dos processos educativos junto à turma. É nessa
alteridade que construímos nossas teias de conhecimento, apropriando-nos de nossos
atributos humanos, nossa dignidade. A tradução dessa teia da cena da aula expressa-
se nos dizeres de TEIXEIRA (2007, p.432), para quem “o que mais importa é que ali
existam, que ali estejam, na relação, os sujeitos socioculturais que nela se constituem
como docentes e discentes, numa interação intencionalmente mediada pelos processos
de transmissão e de reinvenção da cultura e do conhecimento”.
A docência na EJA traz um fio diferencial nessa teia, a vivência do adulto, que
representa uma demanda específica em termos de postura, concepção e
compromisso do educador com os sujeitos da aprendizagem. Os reflexos se fizeram
notar na autonomia dos educandos em direcionar os temas a serem estudados,
proporcionando que os conhecimentos estivessem conectados aos interesses,
valores e possibilidades do grupo, encaminhados para o objetivo de atender aos
processos de desenvolvimento dos multiletramentos, em que cinema e literatura
dialogaram enquanto linguagens artísticas propulsoras de aprendizagens diversas
na teia das possibilidades que a sensibilidade e a liberdade enredaram.
Ainda que as possibilidades antes citadas sejam cruciais, reconheço que a
ação educativa que desenvolvemos na escola, que propicia a emancipação dos
educandos, não se apresenta concluída entre as quatro paredes da sala de aula.
Conhecimentos são construídos e difundidos pelos sujeitos nas diferentes esferas
sociais das quais participam. Além disso, a efetivação das aprendizagens ou, mais
especificamente, a construção de experiências, também pode ser ressignificada a
partir de novas oportunidades. Só o tempo dirá sobre outros desdobramentos e
repercussões do trabalho, aqui e acolá, nas vidas dos educandos.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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OLIVEIRA, Míria Gomes de. De leitor para leitor: relações raciais no ensino da
literatura infantil e juvenil no Brasil. Belo Horizonte: 2019.
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