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MULTILETRANDO EM ENSINO REMOTO E/OU HÍBRIDO: A

CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA A PARTIR DOS USOS ATIVOS DA


LÍNGUA PORTUGUESA

Nathallye Galvão De Sousa Dantas1


Inayara Élida Aquino de Melo2

INTRODUÇÃO

É evidente que o mundo tem passado por um momento atípico, o qual


impulsionou modificaçõ es em â mbito social, político, econô mico e cultural. Nesse
diapasã o, entendendo a escola como um espaço que reflete as diversas
transformaçõ es que ocorrem em sociedade, os profissionais envolvidos no
processo de ensino-aprendizagem receberam a incumbência de se adaptar aos
novos tempos, desenvolvendo métodos e valendo-se de diferentes recursos, a fim
de continuar alcançando os alunos, estejam de forma presencial, online ou offline,
residentes em qualquer recanto deste país.
Em consonâ ncia, é necessá rio resistir e sobreviver aos desafios, nã o se
deixando esmorecer, encontrando formas de aliar a realidade ao aprendizado.
Desse modo, partindo da premissa de Á lvaro Vieira Pinto (1989, p. 29), “a
educaçã o é o processo pelo qual a sociedade forma seus membros a sua imagem e
em funçã o de seus interesses”. Sob esta perspectiva, é dever de Estado oferecer
suporte ao processo de ensino-aprendizagem, de modo a sanar as lacunas deixadas
pelo fechamento das escolas e a necessidade de manter o distanciamento social.
Logo, é necessá rio rever métodos e recursos, com o intuito de modernizar e
democratizar o ensino, desenvolvendo nos estudantes habilidades acerca da
resoluçã o de problemas prá ticos, incluindo-os digitalmente a partir do manejo de
diferentes recursos tecnoló gicos, tornando-os autô nomos, responsá veis pela
aquisiçã o de seu pró prio conhecimento.
Nesse contexto, visando rescindir as fraquezas diagnosticadas por meio de
avaliaçõ es internas e externas na 3ª série do ensino médio da Ecit Otá via Silveira,
instituiçã o de ensino estadual localizada no município de Mogeiro-PB, o ensino

1
Licenciada em Letras pela Universidade Federal da Paraíba, especialista em Língua Portuguesa e
Literatura e Mestranda do Profletras-UEPB. E-mail:
nathallye.galvao.sousa.dantas@aluno.uepb.edu.br
2
Licenciada em Pedagogia pela Universidade Federal da Paraíba, especialista em Educaçã o
Ambiental e Mestranda em Linguística e Ensino -UFPB. Email: inayara.elida@academico.ufpb.br
remoto e a inserçã o das TDICs no processo educativo se tornaram uma
oportunidade para a experimentaçã o de métodos e recursos inovadores, a tanto
tempo defendidos e aclamados no meio acadêmico como ferramentas de combate
à evasã o e ao fracasso escolar, adequando a escola à s necessidades
contemporâ neas da sociedade. Todavia, cabe salientar que, ainda que as
disparidades sociais tenham se acentuado durante o período, nã o é objeto deste
estudo analisá -las, apresentando sobretudo consideraçõ es acerca das
possibilidades de trabalho lú dico, coletivo, colaborativo e interativo, buscando o
apoio na coletividade e na interdisciplinaridade, aliando as teorias de
aprendizagem ativa à s prá ticas democrá ticas de ensino.
No tocante à modalidade de ensino remoto e/ou híbrido, o projeto se
baseou nos documentos e nas açõ es propostas pela Secretaria de Estado da
Educaçã o do Governo da Paraíba, além de analisar e aplicar as premissas da
Educaçã o Integral, buscando congregar as metodologias ativas à s novas
modalidades de ensino, adequando recursos diversos à s metas pré-estabelecidas
pela Comissã o Estadual da Escolas Integrais e aos documentos oficiais, como a
Base Nacional Comum Curricular e os Parâ metros Curriculares Nacionais da
Língua Portuguesa, preconizando a construçã o da autonomia dos indivíduos e da
formaçã o crítica a partir de prá ticas sociais, despertando a busca por melhores
condiçõ es de vida, para si pró prio e para a comunidade em que vivem, ampliando a
participaçã o política e tornando significativa a conquista de seu projeto de vida.
Em suma, este artigo deriva de observaçõ es realizadas sobre o projeto
interdisciplinar “Solte a língua e conquiste o mundo”, elaborado e desenvolvido
pelas autoras do estudo, concebido sob uma perspectiva de construçã o da
autonomia e da consciência cidadã , que visou favorecer a aquisiçã o e o
fortalecimento de habilidades linguísticas possibilitando a destreza social,
aplicando-as à s diferentes modalidades discursivas da língua, valendo-se, para
tanto, de metodologias ativas.
Dessa forma, o sustentá culo metodoló gico das açõ es encontra-se na Base
Nacional Comum Curricular (BNCC), mais especificamente nos campos pessoal e
da vida pú blica da á rea de linguagens, visto que eles promovem a competência
crítica, sensibilizando para o que o sujeito faz e pensa sobre o mundo, posto que é
na apreensã o do contexto em que vive que o homem tem condiçõ es para entendê-lo
e posicionar-se criticamente perante os outros, tornando-se agente formador de si
e de outrem. Sob tal ó tica, a Língua Portuguesa se torna o palco que possibilitará a
expressã o do pensamento e imprimirá a transformaçã o social. Portanto, ressalta-
se que o sujeito da linguagem fala, nã o de um lugar qualquer, mas de uma posiçã o
já definida social, histó rica e ideologicamente.
Por conseguinte, no biênio pandêmico, com a funçã o de desenvolver
habilidades específicas do ensino médio e ainda recuperar o déficit de
aprendizagem por meio de aulas de Nivelamento, as açõ es do projeto sã o
desenvolvidas com o intuito de promover o desenvolvimento integral dos alunos,
via ensino remoto e híbrido, trabalhando de forma colaborativa com outros
professores, criando situaçõ es de conversas interdisciplinares, visando
compartilhar desafios e propor a resoluçã o de problemas através de estratégias
articuladas que respondam à s demandas da educaçã o do século XXI, respeitando o
Projeto de Vida de cada um, incentivando-os à formaçã o individual, autô noma,
solidá ria e competente, capazes de projetarem seus sonhos, tornando-os os atores
principais do processo de ensino-aprendizagem.
Por fim, o meio virtual e todas as suas possibilidades se tornam o tablado
para que as metodologias ativas, aproveitando-se de momentos de trocas de
conhecimentos possibilitados por parcerias entre professores, alunos e
profissionais de outras á reas, sejam aplicadas com vistas a construir uma Educaçã o
em Direitos Humanos, que respeite as diferenças e dê voz à queles que geralmente
sã o silenciados pela sociedade.
Além do mais, longe de ser um estudo acabado, as açõ es desenvolvidas
servirã o a docentes e a pesquisadores de educaçã o que buscam compreender e
implementar novas metodologias de ensino em suas prá ticas escolares, de modo a
repensar os propó sitos da educaçã o no ensino médio, instaurando uma visã o nã o
só voltada à preparaçã o ao mercado de trabalho, mas, acima de tudo, que
preconiza a humanizaçã o e a preocupaçã o com o desenvolvimento crítico e
socioemocional dos indivíduos.

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

Localizada no município de Mogeiro-PB, a Escola Cidadã Integral


Técnica Estadual de Ensino Fundamental e Médio Otávia Silveira atende a um
público simples, beneficiário de programas sociais, como o Bolsa Família,
proveniente de comunidades da zona urbana e, principalmente, rural de
Mogeiro, como também de municípios circunvizinhos. Configura-se como uma
instituição de ensino de porte médio, com 479 (quatrocentos e setenta e nove)
estudantes matriculados, contudo, convém salientar que se trata da maior
escola cidadã integral técnica da 12ª Gerência Regional de Ensino (GRE).
Atualmente, as famílias, das quais provêm os estudantes, desempenham
atividades profissionais diversificadas simples, formados principalmente por
pedreiros, mecânicos, serventes, servidores públicos, motoristas, pintores e etc.
A religião predominante é a católica, seguida pelo protestantismo, espiritismo e
religiões de matriz africana. Os pais possuem em média de um a três filhos. A
vida social e de lazer das famílias restringe-se a costumes interioranos, tais
como frequência à igreja, clubes sociais e visitas familiares.
A infraestrutura da escola é razoável, composta por treze salas de aula,
laboratório de informática, biblioteca e auditório. No ano de 2020, a instituição,
que era regular até 2019, passa a funcionar na modalidade integral, abrigando,
nesse ínterim, tanto o ensino regular (noturno), o integral (Fundamental –9º
Ano– e Médio – 3ª série–) e o integral técnico (1ª e 2ª séries), resultado de uma
ação estratégica do Governo Estadual contra os índices gerais pouco
satisfatórios coletados em avaliações internas e externas, principalmente o
Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) –que está em 3,4, em
2019, sendo que a meta geral é 6,03– e o Exame Nacional do Ensino Médio
(Enem) –cuja resultado em Linguagens e Códigos foi 473 pts e em Redação 548
pts, ou seja, abaixo da média nacional–, visando reverter a insuficiência no
rendimento dos conteúdos curriculares da base comum.
As turmas, objeto de estudo deste trabalho, compreendem as 3ª séries
“A” e “B” do Ensino Médio no ano de 2020, compostas, respectivamente, por 37
(trinta e sete) e 31 (trinta e um) estudantes, que apresentaram deficiências em
todas as habilidades de Nivelamento requeridas para os componentes
curriculares de Língua Portuguesa, conforme dados extraídos de uma Avaliação
Diagnóstica Interna (ver Gráfico 1), adquiridas provavelmente no ensino
fundamental e médio. Ademais, como a maior parte dos alunos demonstravam
interesse pelo Enem, as ações foram desenvolvidas visando incentivar o estudo e
a construção de competências exigidas para o exame, de modo que alcançassem
tanto os ativos na internet como aqueles que permaneram offline.

3
Para maiores informaçõ es, acesse:
https://qedu.org.br/escola/25082493-eeefm-otavia-silveira/ideb. Acesso em: 13 out. 2022.
Gráfico 1- Consolidação da Avaliação Diagnóstica de Nivelamento- 3º Ano – Língua
Portuguesa

Fonte: Coordenação Pedagógica da Ecit Otávia Silveira, 2020.4

Em contraposição ao cenário caótico, o ensino remoto/híbrido se torna


uma estratégia oportuna para experimentar métodos e recursos, combatendo e
dissolvendo as fraquezas supracitadas e preconizando a construção da
autonomia dos indivíduos e da formação crítica a partir de práticas sociais.
Assim, além do aporte do eixo norteador para a disciplina de Língua Portuguesa
na 3ª série do Ensino Médio com foco na Educação em Direitos Humanos,
articula-se as ações com base nas habilidades da Base Nacional Comum
Curricular para o Ensino Médio, principalmente aquelas que preconizam o
trabalho com gêneros textuais/discursivos, a serem estudados à luz da Análise
do Discurso, buscando o entendimento de que todo enunciado carrega
ideologias, crenças e costumes e que estes possuem objetivos determinados,
gerando conflitos de interesses muitas vezes polêmicos, que precisam ser
refletidos e criticados a partir do contexto sócio-histórico e cultural dos autores.
A saber: EM13LGG101; EM13LGG102; EM13LGG103; EM13LGG203;
EM13LGG303; EM13LP03; EM13LP04; EM13LP05; EF69LP07; EM13LP13.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

4
Legenda: H1 – Interpretar com base no texto; H2 - Identificar os elementos constitutivos da
organização interna dos gêneros escritos; H3 - Diferenciar ideias centrais das secundárias de um
texto; H4 – Identificar os elementos constitutivos da organização interna dos gêneros escritos;
H5- Identificar o sentido de processos persuasivos utilizados em textos da ordem de
argumentar; H6- Reconhecer no texto o valor expressivo e o efeito de sentido de recursos
linguísticos; H7- Estabelecer relação entre termos de um texto a partir da repetição e/ou
substituição de um termo que contribui para a progressão e continuidade das ideias; H8-
Reconhecer, distinguir fato e/de opinião; H9- Realizar transformações de estruturas
gramaticais, observando suas consequências expressivas e de sentido; H10- Identificar recursos
semânticos expressivos em seguimentos de um poema, a partir de uma dada definição.
O referido projeto se sustenta teoricamente por meio da relação existente
entre letramentos, tecnologias e educação. A tríade conceitual já está sendo
discutida por estudiosos e pesquisadores a nível nacional e global, gerando
inúmeros trabalhos, publicações e, principalmente, criando espaços para
discussão desses temas, abarcando diferentes teorias e modelos de comunicação
e aprendizagem (RIBEIRO et al., 2010). Para Soares (2003), letrar é mais que
alfabetizar, é ensinar a ler e a escrever de modo que a experiência faça tanto
sentido como parte da vida do aluno. Sob tal perspectiva, adaptar-se
adequadamente ao ato de ler e escrever é “compreender, inserir-se, avaliar,
apreciar a escrita e a leitura". Assim, o letramento engloba desde a apropriação
das técnicas para a alfabetização até o aspecto de convívio e do hábito de
utilização da leitura e da escrita por meio dos aspectos sociais dessas atividades.
Além do mais, Soares (2003) também postula que o letramento não deve
ser responsabilidade apenas do professor de língua portuguesa ou dessa área,
mas de todos os educadores que trabalham com leitura e escrita. Dessa forma,
qualquer trabalho que se encarregue de letrar deve acontecer de modo
interdisciplinar e até transdisciplinar, o que já é defendido por diversos
especialistas.
Ademais, é importante ressaltar que há espaços distintos influenciando a
orientação das práticas de indivíduos e de comunidades para diferentes
letramentos, de tal maneira que a escola não é a única base de aquisição de
saberes. Contudo, salienta-se que a educação formal ainda se concretiza como
uma agência de letramento relevante, porém nem por isso é exclusiva na vida
das comunidades. Logo, indivíduos podem ser letrados em espaços diversos e
por meio de práticas distintas, mas igualmente necessárias para os usos daquela
sociedade, conforme menciona Kleiman (1995):

Pode-se afirmar que a escola, a mais importante das agências de


letramento, preocupa-se, não com o letramento, prática social, mas
com apenas um tipo de prática de letramento, a alfabetização, o
processo de aquisição de códigos (alfabético, numérico), processo
geralmente concebido em termos de uma competência individual
necessária para o sucesso e promoção na escola. Já outras agências de
letramento, como a família, a igreja, a rua como lugar de trabalho,
mostram orientações de letramento muito diferentes.

De acordo com a autora, as diversas experiências e vivências formam o


conhecimento de mundo, que podem fomentar letramentos em diferentes
níveis. Para tanto, Soares (2002, p. 156) sugere a pluralização do verbete, haja
vista que "diferentes espaços de escritas e diferentes mecanismos de produção,
reprodução e difusão da escrita resultam em diferentes letramentos". Seguindo
esta premissa, Roxane Rojo (2012) defende ainda que se use o termo
“Multiletramentos” para se referir à multiplicidade cultural pós-moderna e à
influência da linguagem das tecnologias no aprendizado, visto que o significado
emerge de modos variados (multimodais), seja a escrita verbal, a imagem, o
movimento, o áudio etc. Sobre o verbete, Rojo e Moura (2012, p. 08)
argumentam que:

trabalhar com Multiletramentos pode ou não envolver (normalmente


envolverá) o uso de novas tecnologias de comunicação e informação
("novos letramentos"), mas caracteriza-se como um trabalho que parte
das culturas de referência do alunado (popular, local, de massa) e de
gêneros, mídias e linguagens por eles conhecidos, para buscar um
enfoque crítico, pluralista, ético e democrático - que envolva agência -
de textos/discursos que ampliem o repertório cultural, na direção de
outros letramentos, valorizados (...) ou desvalorizados.

Nesse diapasão, as recentes transformações culturais que provocam


intensas mudanças nas formas de interação humana, produzindo a cibercultura,
promoveram a necessidade de um letramento digital, entendido como um “certo
estado ou condição que adquirem os que se apropriam da nova tecnologia
digital e exercem práticas de leitura e de escrita na tela". (SOARES, 2002,
p.151).
Para Moran (2000), a concepção de ensino e aprendizagem pós-moderna
se revela na prática da sala de aula e na forma como professores e alunos
utilizam os recursos tecnológicos disponíveis. No entanto, a presença destes em
sala de aula não garante mudanças na forma de ensinar e aprender. Por isso, a
tecnologia deve servir para enriquecer o ambiente educacional, propiciando a
construção de conhecimentos por meio de uma atuação ativa, crítica e criativa
por parte de alunos e professores.
Para construir uma aprendizagem significativa, o processo de ensino e de
aprendizagem precisa estar alicerçado sobre ferramentas tecnológicas aliadas às
metodologias ativas. Segundo Backes et al. (2012), a introdução das
metodologias ativas “maximiza o ecossistema inovativo dentro do processo de
construção do conhecimento, por meio da promoção de um ensino pautado na
vivência prática e sob variáveis de incerteza”. Os autores ainda ressaltam a
importância das metodologias ativas para a construção de espaços onde seja
possível pensar, criar e transformar o indivíduo em protagonista dentro da
sociedade.
De acordo com Pedrosa et al. (2011), é possível perceber que a inclusão
das metodologias ativas no âmbito educativo permite aos estudantes a adoção
de uma visão sistêmica do todo. Segundo os autores, com a experimentação
dessas oportunidades, de cunho prático, o senso crítico é desenvolvido e
colabora para a criação de um cenário de mudanças mais amplo. Por
conseguinte, reforça-se que ser letrado digitalmente implica saber se comunicar
em diferentes situações, buscar informações no ambiente digital e selecioná-las
avaliando sua credibilidade, cabendo ao leitor estar atento à autoria, e à fonte, e
ter senso crítico para avaliar o que encontra.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O referido artigo nasce da observação sobre o projeto interventivo “Solte


a língua e conquiste o mundo”, que foi elaborado a partir da detecção das
fragilidades no componente curricular de Língua Portuguesa, seguindo o Plano
Estratégico Curricular (PEC) do 3º Bim de 2020, lançado pela Secretaria de
Estado da Educação, Ciência e Tecnologia, para a disciplina de Língua
Portuguesa da 3ª série do Ensino Médio, alicerçando-se sob o eixo teórico
transversal de Educação em Direitos Humanos. De acordo com o supracitado
documento, a necessidade de estudo do eixo se justifica porque:

Vivemos em uma sociedade amplamente heterogênea quanto aos


gêneros, etnias, religiões, classes sociais, aspectos culturais, entre
outros. Logo, surgem inúmeros conflitos, pois alguns fatores presentes
na sociedade padronizam o perfil de cultura como uma tendência que
reproduz discursos segregatórios. (SEECT, 2020, p.170).

Desse modo, é evidente que a temática proposta torna-se alvo para o


desenvolvimento das ações a seguir descritas, uma vez que as aulas de Língua
Portuguesa e Pós-médio serviram para a reafirmação do papel de ampliação dos
debates e a reflexão sobre as dinâmicas sociais, o respeito à diversidade,
despertando o desejo de transformação da realidade vivente, acrescentando aos
conteúdos temáticas nacionalistas e regionalistas, que contribuem para a
compreensão das transformações da sociedade, bem como favorecendo a
formação de um repertório vasto e essencial na construção de argumentos
permanentes, corroborando para o bom senso e para a autenticidade de
produções textuais bem elaboradas e consistentes, que lhes proporcionem
“poder” de vez e voz na sociedade.
Consoante, a Base Nacional Comum Curricular para o Ensino Médio
também ressalta a importância do tema da Educação em Direitos Humanos nas
aulas de Língua Portuguesa:

Os Direitos Humanos também perpassam todos os campos de atuação


social de diferentes formas, seja no debate de ideias e organização de
formas de defesa de direitos (campo jornalístico-midiático e campo de
atuação na vida pública), seja no exercício desse direito (direito à
literatura, à arte, à informação, aos conhecimentos disponíveis, ao
saber sobre si etc.) (BNCC, 2017, p.66).

Sendo assim, a metodologia foi executada a partir das seguintes


estratégias:

I) Lançamento do Projeto “Solte a Língua e Conquiste o Mundo” e suas


respectivas atividades por meio de um minicurso online “Coaching
Literário”;
II) Aulas e Atividades elaboradas com metodologias ativas, baseada no Eixo
Norteador Educação em Direitos Humanos;
III) Atividades orais e escritas, de acordo com a BNCC e voltadas ao Enem,
explorando metodologias ativas, gamificação, práticas sociais e
democráticas da língua;
IV) Conteúdos abordados envolvendo as habilidades de Nivelamento de
Língua Portuguesa para a 3ª série;
V) Organização e participação em atividades e eventos voltados à aquisição
de conhecimentos para o Enem;
VI) Apoio Técnico, Acompanhamento na Escrita e Reescrita e Avaliação de
textos voltados ao Desafio Redação Nota 1000.
VII) Escrita do Artigo analisando os resultados obtidos.

DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES PROPOSTAS

Após reconhecer o problema, contatou-se um profissional Coach e


Palestrante que, voluntariamente, firma parceria com a Ecit Otávia Silveira no
desenvolvimento de um projeto pessoal com alunos em preparação para o
Enem. Assim, o minicurso é ministrado durante as aulas de Pós-médio, durante
um mês, às quintas-feiras, de modo interdisciplinar, e objetivava despertar o
autoconhecimento no aluno, percebendo o seu estado atual, motivando-os a
alcançarem o estado desejado de alta performance, unindo razão e emoção de
forma equilibrada, utilizando técnicas de Mindfulness e ferramentas do
Coaching Integral Sistêmico. Tal estratégica desperta visivelmente o interesse
dos estudantes como também de pais, à medida que o ensino remoto envolve
toda a família, e, a cada encontro, surgem mais alunos, que até então haviam
abandonado a modalidade de ensino, uma vez que as adesões ao material
impresso eram crescentes.
Concomitante ao desenvolvimento do minicurso, buscou-se articular
novas metodologias e recursos virtuais com os temas de aula propostos. Então, a
construção dos planejamentos semanais passou a preconizar a articulação da
teoria com a prática, de modo que transcendesse a aquisição do conhecimento
de forma passiva. Para tanto, as aulas de Língua Portuguesa buscavam
impulsionar o uso da língua na prática, aplicando diferentes discursos a gêneros
distintos, orais e escritos, através de exercícios colaborativos e interativos que
incentivavam o processo autônomo da aprendizagem. Neste aspecto, a Língua
Portuguesa, como língua mãe e marca de nossa nacionalidade, permite oferecer
a dimensão mais profunda de pertencimento à nação, preservando nossos
direitos e expandindo a proteção aos que por ora silenciam.
Seguindo tais premissas, nas aulas de Literatura, abordou-se o
Modernismo, sob o tema “O papel da linguagem na reivindicação dos direitos
humanos”, destacando a problemática social, a denúncia da opressão e a
literatura engajada, de modo que resultasse na construção de uma consciência
crítica em alunos ativos e participativos na sociedade em que estão inseridos,
convivendo com as leis, os deveres, com a concepção de sujeitos, implicando o
aprendizado do que é viver a cidadania, além da compreensão de uma
organização política de um país regido pelos poderes legislativo, executivo e
judiciário, baseando-se na vivência social desses poderes com objetivos do
desenvolvimento intelectual e social de cada estudante.
Consoante, as aulas ministradas através do Google Meet seguiram as
estratégias de utilização de diferentes ferramentas tecnológicas e subsídios
virtuais que auxiliaram a construção do conhecimento de modo interativo e
colaborativo, a ser arquitetado a partir da realidade vivenciada, mesmo que seja
uma experiência virtual e abstrata. Logo, utilizou-se o Google Apresentações
para a apresentação do conteúdo, o Mentimeter para recuperar o conhecimento
de mundo e interagir, realizando-se a seguir uma aula de campo virtual pelo
Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), onde cada um teve a
oportunidade de descrever as obras, deixando as suas impressões por meio do
debate regrado.
Para a conclusão da unidade temática, os estudantes dedicaram-se a
elaboração de duas atividades. A primeira, visando a prática da destreza oral, a
autonomia sobre a decisão da escolha do método e a desinibição, atuando sobre
a leitura: a representação e a divulgação de poemas da 2ª Geração do
Modernismo, no Instagram da escola e no Google Classroom, em um
miniprojeto intitulado “Sarau Virtual”. O resultado foi encantador, o que
comprovou ainda certa timidez, pois, muitos vídeos contêm apenas as suas
vozes, mas encorajou-os à fala, a usar a língua formal e a representar ao estilo
“podcast”.
A segunda atividade proposta consistia na elaboração e na organização
da Revista Literária Virtual, visando exercitar a língua escrita formal, revisar e
reescrever os textos dos colegas, fortalecendo os conhecimentos adquiridos em
aula e a construção crítica sobre os acontecimentos do período, utilizando a
ferramenta Padlet como recurso. Na aula seguinte, o arquivo é transformado em
PDF e distribuído de forma online para os estudantes por diversas redes sociais.
Os alunos intitularam o periódico de “Ser Moderno é...”, resultado de anotações
e apontamentos das aulas, de pesquisas individuais e de curiosidades sobre as
três fases do Modernismo, um exercício do uso normativo da língua através do
gênero textual revista científica. Composta por três edições que correspondem
às fases do Modernismo e lançadas entre os meses de agosto e setembro de
2020, emprega-se ferramentas de divulgação usadas pelos modernistas para
disseminar o movimento literário e o conhecimento, os “manifestos” e as
revistas, como a Klaxon, desde a Semana de Arte Moderna de 1922.
Além do mais, no âmbito da Produção Textual, durante o
desenvolvimento do projeto foram realizadas lives que eram transmitidas no
Instagram da Ecit Otávia Silveira, no turno da noite. Os temas voltavam-se ao
debate de conteúdos polêmicos e transversais, elencados a partir de discussões
fomentadas pelo Desafio de Redação Nota 1000 5, oferecendo aporte ao

5
Lançado por meio da Secretaria de Estado da Educaçã o, em meados de abril de 2020, o Desafio de
Redaçã o Nota 1000 objetiva mobilizar, desenvolver a competência leitora e construir a cidadania a
partir da aquisiçã o de uma consciência crítica sobre a realidade, com respeito aos Direitos
Humanos, possibilitando aos estudantes da Rede Estadual de Ensino a manutençã o de uma rotina
de estudos, mesmo durante uma pandemia. (SEECT, 2020)
repertório sociocultural para a escrita da produção do gênero dissertação-
argumentativa e contribuindo com o Eixo da Educação em Direitos Humanos e
o respeito à diversidade.
Ainda nas aulas de Língua Portuguesa, os estudos remeteram ao
entendimento das regras gramaticais, à “Análise Linguística” e aos “Mecanismos
de Textualização”, de modo que se desenvolvesse a habilidade de produzir e
relacionar textos orais e escritos, realizando inferências sobre informações
implícitas e explícitas nos mais diferentes gêneros textuais, reafirmando o papel
de ampliar os debates e o entendimento sobre o mundo através das aulas de
Língua Portuguesa, a fim de acrescentar ao conhecimento dos estudantes
temáticas que contribuem para a construção de um repertório vasto e essencial
na construção de argumentos permanentes, corroborando o bom senso e a
autenticidade de produções textuais bem elaboradas e consistentes,
contribuindo para a apropriação da língua formal, atuando sobre procedimentos
de revisão de textos orais e escritos, conforme as regras da norma culta,
voltando-se sempre ao aprimoramento, ao empoderamento do indivíduo e à
adequação do discurso aos diferentes contextos de usos. Tais conteúdos foram
expostos no Prezi, testando os conhecimentos de forma divertida, por meio de
jogos e competições, utilizando site educativos de jogos, como Quizlet e Kahoot.
As aulas de gramática gamificadas tornam o processo de ensino-
aprendizagem mais natural e simpático. Dessa forma, essa metodologia foi
escolhida nesse tipo de conteúdo justamente porque, geralmente, os estudantes
costumam reclamar das muitas e “difíceis” regras gramaticais, visto que é um
desafio prender a atenção dos aprendentes diante de desafios linguísticos
abstratos. Portanto, segundo o site Ipog.edu (2018):

A experiência com os games vai além do fator entretenimento e passa


por outros pontos, como a necessidade de competição, de feedbacks
instantâneos, a possibilidade de evolução rápida, e a busca por
recompensas e prêmios tangíveis, que são características inerentes dos
seres humanos. Além disso, a criação de comunidades e o senso de
urgência trabalhado nos jogos também são ações que incentivam o
participante a continuar jogando, até que os seus objetivos sejam
atingidos.

Em suma, diante do exposto, o desenvolvimento das atividades de forma


colaborativa, interativa e/ou competitiva resultam em uma aprendizagem
natural, menos conflituosas, que se refletem em correções menos discrepantes,
visto que as fraquezas no aprendizado se tornam menores e mais fáceis de
serem sanadas.

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A experiência de desenvolvimento do Projeto "Solte a língua e conquiste


o mundo" mostrou-se desafiante e enriquecedora, pois, à medida que os
estudantes iam se tornando protagonistas na construção de significados e na
produção de textos em diferentes linguagens, verificava-se também maior
desenvoltura linguística, tanto oral como escrita.
Nesse sentido, consideramos que os objetivos do projeto foram atingidos,
uma vez que se observa um envolvimento prazeroso no processo de ensino-
aprendizagem, despertando habilidades de leitura e produção escrita que
expressam a multiculturalidade a que os estudantes estão inseridos,
incentivando-os na elaboração de gêneros discursivos expressos em diferentes
linguagens, tornando-se usuários funcionais (possuem conhecimentos técnicos),
criadores de sentidos (entendem como diferentes tipos de texto e de tecnologias
operam), analistas críticos (entendem que tudo o que é dito e estudado é fruto
de seleção prévia) e transformadores (utilizam o que foi aprendido de novos
modos), como propõe Rojo.
Ao analisar os resultados quantitativos e até qualitativos do trabalho
realizado em produção textual no biênio pandêmico, 2020-2021, deve-se
analisar a evolução na aquisição de competências do grupo bem como
individual. Assim, comparando às habilidades conquistadas ao nível máximo
estadual, conclui-se que os efeitos são visíveis e animadores. Em geral, as
médias das turmas subiram em progressão aritmética, apresentando alguns
períodos de estagnação. Porém, o projeto abre espaço para que novas ações
sejam realizadas, visando sempre o oferecimento de um ensino público de
qualidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao término da execução das ações estratégicas previstas para o referido


projeto, pode- se afirmar que o uso das metodologias ativas, da gamificação e
dos recursos diversificados favoreceram a permanência e a frequência dos
estudantes nas aulas de língua portuguesa e, principalmente, facilitaram a
adesão ao ensino remoto/híbrido. Nesse diapasão, as atividades interativas e
colaborativas e as discussões sobre as situações-problemas propostas durante o
desenvolvimento das ações propiciaram a construção do pensamento
autônomo, motivando-os a posicionar-se diante dos fatos cotidianos com
maturidade para criticar e argumentar sobre temas polêmicos, respeitando os
direitos humanos e desenvolvendo a sua cidadania de forma responsável.
Em consonância, mesmo quando se mostraram tímidos, reticentes ou até
indiferentes aos conteúdos propostos, o docente deve manter a postura e
acolher as diferenças, preconizando sobretudo o respeito mútuo, e,
paulatinamente, torna-se possível conquistar a atenção e o afeto da maioria,
visto que, por depoimentos, confessam o quanto aprenderam a apreciar as aulas
de Língua Portuguesa, sentindo-se à vontade e perdendo o receio da fala e da
escrita, sem medo de “errar”, um conceito abolido nas aulas.
Em contrapartida, apesar dos esforços despendidos para incluir o grupo
offline nas atividades, é notável que as experiências e as oportunidades são
desiguais e, por muitas vezes, geraram o desânimo e acentuaram a evasão
escolar, o que, consequentemente, desembocará no aprofundamento das
disparidades sociais existentes no país nos próximos anos.
Por conseguinte, torna-se evidente que os profissionais de educação
devem estar atentos ao seu papel na contribuição para a democratização do
ensino, favorecendo acesso equitativo ao conhecimento. Entretanto,
compreende-se as dificuldades vivenciadas tanto por educadores quanto por
estudantes neste período. Contudo, é fulcral ressaltar que, independentemente
da modalidade de ensino que vigorar, o ensino deve ser contextualizado, criativo
e envolvente, buscando aguçar a curiosidade, característica inerente dos seres
humanos, que gostam de ser desafiados e, que diante de algumas situações, é
preciso reivindicar, fazendo valer seus direitos enquanto cidadãos.
No entanto, para que ocorra uma mudança significativa, é necessário que
toda a escola preconize uma educação emancipadora, onde os alunos tornem-se
os sujeitos do processo, exercendo o protagonismo ativamente. Ressalta-se
também que o uso de metodologias ativas e de práticas interdisciplinares,
mesmo aplicadas durante o ensino remoto e em tão curto espaço de tempo,
proporcionaram a recuperação da autoestima, da autoconfiança e permitiu-lhes
que soltassem a voz em busca de seus direitos, fazendo-os perceber a
importância de exercer o seu papel na sociedade e de lutar pela conquista de seu
Projeto de Vida.
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