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Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182 1

2 Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182


Editorial - edição 182

A cooperação é o melhor caminho


Soluções tomadas em conjunto são mais efetivas diante
de crises sanitárias e suas repercussões econômicas

O
aquicultor brasileiro segue aprendendo a lidar Sem que possamos nos mexer muito, cada
com os problemas que as baixas temperatu- um segue procurando soluções possíveis para as
ras do inverno costumam trazer. Animais se dificuldades que estamos vivendo. Entretanto, solu-
alimentam menos, crescem menos e têm o sistema ções tomadas em conjunto podem ser mais efetivas,
imune fragilizado. Um cenário favorável para as do- como aponta Yuval Noah Harari, autor do best-seller
enças típicas dessa época do ano. Esse momento é “Sapiens” em ensaio sobre o Coronavírus para a
particularmente delicado para produtores de uma boa revista Time. Segundo o escritor, historicamente a
parte do país, compromissados em despescar com cooperação é a melhor ferramenta para sairmos das
volume e qualidade suficientes para fechar o ciclo crises sanitárias e suas repercussões econômicas.
com as contas pagas e dinheiro no caixa. Harari destaca ainda que a confiança na ciência e nas
Fora da porteira das fazendas, e num segundo instituições precisa ser preservada nestes momentos.
ano da pandemia do Coronavírus, produtores acompa- Esforços de união e cooperação foram as estra-
nham com olhar atento a crise sanitária para entender tégias de enfrentamento usadas pela carcinicultura
melhor a queda acentuada no consumo das famílias. O mexicana diante da Síndrome da Mortalidade Pre-
cenário atual aponta que, com raras exceções, o pes- coce (EMS) que, em 2013, interrompeu um ciclo de
cado produzido no Brasil não poderá ser escoado para prosperidade da indústria do camarão do país. Nesta
países onde a economia está mais preservada, tendo edição, esse tema é trazido pelos pesquisadores Guil-
que ser consumido por aqui mesmo. A exportação se lermo Portillo Clark e Walter Seiffert, em um artigo
mantém permanentemente no radar do setor produtivo inspirador que mostra a bem sucedida experiência dos
mas, na prática, ela ainda acontece de forma pontual, produtores mexicanos.
já que trata-se de um comércio que exige um alto grau Voltando para a nossa realidade e seguindo na
de cooperação entre as instituições envolvidas, e isso busca de soluções para as nossas dificuldades, traze-
ainda não foi alcançado em grande escala dentro da mos também, entre outros temas, algumas sugestões
cadeia produtiva do pescado cultivado no nosso país. para um manejo da aeração focada na gestão mais
Como se não bastassem tantos esforços, o eficiente do uso da energia. Você vai ler ainda um ex-
produtor ainda sofre com o aumento sem precedentes celente artigo preparado por pesquisadores da UNESP,
no preço do farelo de soja e do milho, commodities do Instituto de Pesca e da FURG, que apresenta um
que juntas representam cerca de 70% do valor das panorama atualizado da aquicultura brasileira ava-
rações aqua, cujos preços dispararam. Esse setor liada em 1 bilhão de dólares, e vai descobrir porque
incansável vai continuar produzindo em um cenário essa promissora atividade ainda tem muito espaço
difícil de fechar as contas, pelo menos até que seja para crescer, razão pela qual deve ser vista como uma
decretada a suspenção da cobrança do PIS/COFINS realidade e não mais como um potencial.
incidente na ração. Esse benefício tributário é um
pleito antigo do setor aquícola, e já foi concedido A todos, uma ótima leitura.
a produtores de aves e suínos. Sua implementação
nesse momento seria muito bem-vinda para aliviar Jomar Carvalho Filho
o bolso do aquicultor. Biólogo e Editor

Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182 3


Expediente Índice

3 EDITORIAL 12 PLANEJAMENTO E DIETA


A primeira publicação brasileira dedicada DE QUALIDADE AMPLIAM
exclusivamente aos cultivos de organismos aquáticos 7 MARECHAL PESCA E LAZER AGORA RESULTADOS NA PRODUÇÃO
TAMBÉM É MARECHAL REDES DE PESCADOS
ISSN 1519-1141 Empresa foi escolhida pela USP Para ter o melhor desempenho
Uma publicação Bimestral da: Panorama da AQÜICULTURA Ltda.
para confeccionar rede para dos animais pelo menor custo é
captura em grandes profundidades. preciso se atentar para a infraes-
Rua Alegrete, 32 trutura, gestão e a biosseguran-
22240-130 - Laranjeiras - RJ
Fone/fax: (21) 3547-9979
ça, que diminuem os riscos de
VIVO: (015) 21 97252-5595 / TIM: (041) 21 97991-3577
www.panoramadaaquicultura.com.br
8 EMBRAPA E INSTITUTO DE doenças e parasitas e intoxica-
revista@panoramadaaquicultura.com.br PESCA ASSINAM ACORDO ções que podem influenciar na
Skype: panoramadaaquicultura
PARA INCREMENTAR PESQUISA produtividade.
Um importante acordo foi assina-
Editor Chefe:
do pela Embrapa Meio Ambiente
e o Instituto de Pesca, para a
14 GESTÃO EFICIENTE DA AERAÇÃO
Biólogo Jomar Carvalho Filho
jomar@panoramadaaquicultura.com.br criação da Rede de Pesquisa e
Monitoramento Ambiental da
Jornalista Responsável:
Solange Fonseca - MT23.828 Aquicultura nos Reservatórios da
Região Sudeste.
Direção Comercial: Solange Fonseca
publicidade@panoramadaaquicultura.com.br
9 INFORME  FENACAM’21:
RESERVE ESSA DATA NA SUA
Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores.
AGENDA
A Feira Nacional do Camarão na
Colaboradores desta edição:
sua 17a edição será realizada no
Fernando Kubitza, Guilherme W. Bueno, período de 16 a 19/11/2021, no
Guillermo Portillo Clark, Helenice P. Barros, O desempenho, a conversão
Centro de Convenções de Natal
Maria Mercè Isern-Subich, Patricia Moraes- alimentar, a saúde e a sobrevi-
Valenti, Ronaldo O. Cavalli, Thiago Tetsuo (RN). A solenidade de abertura do
vência dos peixes e camarões
Ushizima, Ulisses de Pádua Pereira, Wagner evento está programada para as 19
C. Valenti, Waldo G. Nuez-Ortiz, Walter são impactados pela concen-
horas do dia 16 de novembro.
Quadros Seiffert tração de oxigênio no ambiente
de cultivo. Neste artigo são
Exemplares avulsos custam R$ 22,00 cada. Para 10 USO DE ENZIMAS NA DIETA DOS apresentados os fundamentos
adquiri-los entre em contato com a redação. ANIMAIS PROPORCIONA MAIOR e sugestões para um manejo
RENTABILIDADE eficiente da aeração.

Assinatura: Daniela Dell’Armi


assinatura@panoramadaaquicultura.com.br 26 ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO
CONTRA FRANCISELOSE EM
Administrativo: Fernanda Araújo TILÁPIAS
fernanda@panoramadaaquicultura.com.br

Projeto Gráfico: Leandro Aguiar


leandro@panoramadaaquicultura.com.br

Design & Editoração Eletrônica:


Panorama da AQÜICULTURA Ltda.
 Impresso na Grafitto Gráfica & Editora Ltda.

Os editores não respondem quanto a qualidade dos


serviços e produtos anunciados. Compostos enzimáticos da Alltech
melhoram a digestibilidade dos
facebook.com/panoramadaaquicultura nutrientes e promovem benefícios
@revistapanoramadaaquicultura ao aquicultor.

4 Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182


AQUICULTURA NO BRASIL: UMA INDÚSTRIA DE 1 BILHÃO DE DÓLARES
A produção aquícola brasileira corresponde atualmente a cerca de R$ 5,5 bilhões de
receita bruta, ou um bilhão de dólares americanos e, portanto, deve ser vista como
uma realidade e não mais como um potencial. Ela ainda é pequena, no entanto, con-
siderando todos os recursos naturais, tecnológicos e financeiros para a produção de
organismos aquáticos disponíveis no país. Nossa diversificada indústria é alicerçada
nos pequenos produtores espalhados pelo Brasil, mas nosso modelo é o mesmo que
garante o crescimento da aquicultura mundial nos últimos 50 anos. Ainda temos
muito espaço para crescer devido ao grande mercado interno e a espécies com enor-
me potencial para atender mercados que não podem ser contemplados pelos atuais
protagonistas. Neste artigo, pesquisadores do Centro de Aquicultura da UNESP, do
Instituto de Pesca e da Estação Marinha de Aquacultura da FURG apresentam um
panorama atualizado da atividade, incluindo os pontos fortes e fracos dos diversos
setores que compõem a nossa aquicultura

Edição 182
Capa: Arte Panorama da AQÜICULTURA

Uso de aditivos como diversificada, gerando renda


ferramentas estratégicas e desenvolvimento social.
na prevenção e redução de
mortalidades. 51 LANÇAMENTOS EDITORIAIS:
Levantamento das Unidades
34 AQUICULTURA NO BRASIL: de Piscicultura do Estado de
UMA INDÚSTRIA DE São Paulo; Aquicultura na
1 BILHÃO DE DÓLARES Amazônia: Estudos Técnico-
Científicos e Difusão de
Tecnologias; Recomendações
práticas para avaliação
da qualidade da água na mento espetacular mesmo
produção de tilápia em na presença da mancha
tanques-rede; Tambaqui: branca, os produtores
benefícios econômicos com mexicanos se depararam
a adoção do Tambaplus com mortalidades atípicas.
Parentesco. A Sindrome da Mortalidade
Precoce (AHPND) havia
chegado, e algo novo pre-
54 O CULTIVO DE CAMARÕES
cisava ser feito.
MARINHOS NO MÉXICO
A perspectiva atual é A superação após a chegada
de que a aquicultura da enfermidade da síndrome 65 ASSINATURAS DA PANORAMA
brasileira continuará da mortalidade precoce e os
crescendo de forma sólida e desafios atuais, após cresci- 66 CALENDÁRIO AQUÍCOLA

Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182 5


6 Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182
Marechal Redes foi escolhida pela USP para
confeccionar rede de alta complexidade

Navio USP onde se realizará o projeto

P or sua experiência na confecção


de redes, principalmente para
aquicultura, a Marechal Redes foi es-
pelo Prof. Marcelo Melo, é vinculado ao
Departamento de Oceanografia Biológica
do Instituto Oceanográfico da Universida-
empresa em investir sempre em profissio-
nais treinados e a opção pelo uso de uma
matéria prima de primeira qualidade. A
colhida pela Universidade de São Paulo de de São Paulo, e sua missão é estudar rede de captura profunda confeccionada
- USP para confeccionar uma “rede para a diversidade e compreender a evolução pela Marechal Redes será operada a partir
captura em grandes profundidades”. O dos peixes, com ênfase na ictiofauna do do navio oceanográfico Alpha Crusis, da
artefato atende às exigências do Projeto oceano profundo, abordando aspectos de USP. “Possuímos uma equipe altamente
DEEP-OCEAN - Diversidade e Evolução taxonomia alfa, filogenia, biogeografia e qualificada para os nossos serviços.
de Peixes do Oceano Profundo, que é morfologia de peixes Teleosteis. Contamos com profissionais capacitados
desenvolvido pelo Laboratório de Diver- Para Adriana de Sotti Silva - Sócia e, por isso, oferecemos produtos de alto
sidade, Ecologia e Evolução de Peixes Diretora da empresa, o fato da Marechal desempenho e performance. Nossos pro-
(DEEP Lab), do Instituto Oceanográfico Redes ter sido a escolhida para a confec- dutos e acessórios desenvolvidos para
da USP, com financiamento da Fundação ção do artefato destinado a um projeto aquicultura são sob medida para os pro-
de Amparo à Pesquisa do Estado de São de tamanha complexidade é resultado de jetos dos nossos clientes, quaisquer que
Paulo - FAPESP. O DEEP Lab, coordenado dois importantes fatores: o empenho da sejam as suas necessidades”, diz Adriana.

Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182 7


EMBRAPA E INSTITUTO DE PESCA
assinam acordo para incrementar pesquisa

U m importante acordo foi assinado


pela Embrapa Meio Ambiente e o
Instituto de Pesca, para a criação da
“Rede de Pesquisa e Monitoramento Am-
biental da Aquicultura nos Reservatórios
da Região Sudeste”. A Rede regional é
parte integrante da Rede Nacional de
Pesquisa e Monitoramento Ambiental
Foto: Jefferson Christofoletti
da Aquicultura em Águas da União, em
operação desde 2018.
Com vigência de dois anos, o acor- das grandes regiões produtoras do pescado. dados científicos acerca do real impacto da
do visa, entre outras coisas, aperfeiçoar o Contudo, um dos principais entraves da ati- atividade nesses reservatórios. Assim, além
uso dos recursos no desenvolvimento de vidade está na dificuldade de regularização e de obter dados ambientais robustos sobre
pesquisas científicas e de monitoramento licenciamento dos empreendimentos. a atividade, o acordo visa também discutir
ambiental dos reservatórios regionais uti- A pesquisadora  Mariana Silveira a revisão da legislação, no que diz respeito
lizados para aquicultura. O acordo também Guerra, responsável técnica da Embrapa aos parâmetros de qualidade da água, com o
pretende subsidiar com informações téc- Meio Ambiente no acordo, explica que no intuito de tentar simplificar os requerimen-
nicas o desenvolvimento e a ampliação de Estado de São Paulo, especificamente, a tos exigidos pela legislação para aprovação
políticas públicas voltadas à aquicultura, questão impeditiva principal para o aumen- de licenciamentos de empreendimentos
além de criar um fluxo de comunicação mais to da produção de tilápia em tanques-rede aquícolas nos reservatórios”, diz Mariana.
robusto com a Secretaria de Aquicultura e é o limite de outorgas. Por utilizar recursos Já a pesquisadora do Instituto
Pesca (SAP), no sentido de integrar e atua- naturais e ser  considerada atividade po- de Pesca, Daercy Maria Resende Ayrosa,
lizar os dados de produção de pescado dos tencialmente poluidora, a piscicultura está ressalta que a proposta de criação do
principais reservatórios regionais da União. sujeita à obrigatoriedade do licenciamento acordo vai além do que apenas oferecer
O Sudeste possui uma vocação ambiental, com normas e critérios estabele- aos órgãos ambientais, informações sobre
natural para o cultivo de tilápia e é uma cidos pelo CONAMA. “Existem ainda poucos monitoramento e possíveis impactos da
atividade aquícola nos reservatórios do
Sudeste. Conforme explicou, a Rede propõe
a constituição de arranjos institucionais
locais, visando à integração das pesquisas
científicas e uma robusta formatação de
base de dados colaborativa, o que irá apro-
ximar a pesquisa com o setor produtivo.
Uma série de ações estão planejadas,
voltadas para fazer um diagnóstico atualiza-
do dos piscicultores da região em relação à
produção e à situação de ocupação das áreas
de piscicultura. Ainda no ano de 2021, estão
previstas ações no reservatório de Chavan-
tes para a coleta de dados físico-químicos
e biológicos da água e do sedimento, em
complementação de atualização às campa-
nhas realizadas de 2018 a 2020. Mariana
explica que Chavantes também conta com a
plataforma automatizada de coleta de dados
em alta frequência (SIMA), o que, segundo
ela, “permite monitorar, em tempo real, os
parâmetros físico-químicos de qualidade
da água, informações importantes para o
manejo da aquicultura”.

8 Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182


Informe Empresarial

FENACAM’21
Atenção!!! Reserve essa data na sua agenda
A Feira Nacional do Camarão, na sua 17a edição - FENACAM’21
será realizada no período de 16 a 19/11/2021, no Centro de
Convenções de Natal (RN). A solenidade de abertura do evento
está programada para as 19 horas do dia 16 de novembro. 

A FENACAM, ao longo desses dezessete anos, constituiu-


-se uma vitoriosa realização de eventos técnicos-científicos
e empresariais, tendo sempre como desafio, a superação das
- Avanços Tecnológicos na Maturação, Reprodução e
Larvicultura de Camarões e Peixes;
- Atualidades Tecnológicas da Nutrição e da Genética,
edições anteriores e a manutenção do evento que melhor para a produção de matrizes e alimentos balanceados, com
representa os segmentos da carcinicultura, piscicultura e vistas à exploração sustentável de camarões marinhos, peixes
malacocultura brasileira. Nesse contexto, a programação da e moluscos cultivados;  
FENACAM’21 contemplará a realização simultânea dos seguin- - As Boas Práticas de Manejo - BPM’s e as Medidas
tes eventos: XVII Simpósio Internacional de Carcinicultura; XIV de Biossegurança, como ferramentas indispensáveis para
Simpósio Internacional de Aquicultura; XVII Sessões Técnicas a sustentabilidade das explorações aquícolas, tanto para o
e Científicas – Aquicultura e Carcinicultura,  XVII Festival camarão marinho, como para as demais espécies aquícolas
Gastronômico de Frutos do Mar e, a XVII Feira Internacional cultivadas; 
de Equipamentos, Produtos e Serviços para a Aquicultura. - Apresentação Diferenciada, Agregação de Valor e
Para a realização dos eventos técnico-científicos e Aspectos Mercadológicos dos produtos aquícolas produzidos
empresariais acima referidos, a FENACAM’21 contará com a no Brasil; 
participação de renomados palestrantes nacionais e interna- - O Papel das Mídias Digitais na Promoção, Comercia-
cionais, que abordarão os mais variados e atualizados temas lização e Distribuição de Produtos Aquícolas no Contexto
sobre as atividades da carcinicultura e da aquicultura, brasi- do seu Consumo no Mercado Interno e Mercado Global de
leira e mundial, envolvendo:  Frutos do Mar. 
- Panorama da Produção Mundial de Aquicultura, As vendas de estandes já foram iniciadas. Reserve já
Carcinicultura, com destaque para as Oportunidades que o o seu e participe da XVII Feira Internacional de Serviços e
Gigantesco Trading Internacional de Frutos do Mar, pode Produtos para a Aquicultura, a maior Feira de Aquicultura da
oferecer para o Brasil;   América Latina, acesse o site www.fenacam.com.br/estandes

Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182 9


Uso de enzimas na dieta dos animais
proporciona maior rentabilidade
Compostos enzimáticos melhoram a
digestibilidade dos nutrientes, e promovem
miutos benefícios ao aquicultor

A zootecnista Carolina Farias, gerente de


vendas para aquicultura da Alltech, explica que
o aproveitamento de nutrientes presentes na
dieta dos animais é um fator fundamental para
melhorar a rentabilidade na aquicultura. Entre-
tanto, também pode ser considerado um desafio

P rodutores de tilápia têm observado na prática os bene-


fícios do uso de soluções enzimáticas na dieta dos seus
animais. Giuliano Mathias Dias, piscicultor em Caconde (SP),
no manejo de peixes e camarões, já que nem
todos os alimentos conseguem ser absorvidos de
maneira natural. Neste processo, a digestibilidade
relatou que ao utilizar enzima na alimentação dos peixes foi é essencial na busca pela eficiência alimentar.
possível melhorar 0.2 na conversão alimentar, uma diferença “O organismo dos peixes é preparado fisiologica-
significativa quando se pensa em grandes volumes, além de mente para aproveitar nutrientes disponíveis na
obter uma maior produção de filé com a mesma quantida- natureza, entretanto, alguns deles não são total-
de de peixe, Giuliano comentou também que notou outros mente absorvidos. Para alimentá-los em cultivos,
benefícios: “outro resultado positivo alcançado com o uso a exigência fisiológica dos animais é atendida
dessa tecnologia foi a diminuição de mortalidade. Tivemos com farinhas de origem animal e vegetal. Mas,
ainda uma melhora significativa também no crescimento. apenas isso não é suficiente. Alguns ingredientes
Tudo relacionado, talvez, ao melhor aproveitamento da ração de origem vegetal contêm substâncias antinutri-
proporcionado pela enzima”, disse. cionais para os peixes, que além de não serem

10 Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182


“O aproveitamento
traz uma série de benefícios ao
de nutrientes presentes produtor: “o que você oferece ao
animal vai ser melhor absorvido,
na dieta dos animais então consequentemente vai ter
é fundamental um maior ganho de peso, maior
manutenção dos parâmetros de
para melhorar a qualidade de água, e maior apro-
rentabilidade veitamento de nutrientes, pontos
muito importantes para a manuten-
na aquicultura.” ção da produtividade e a rentabili-
dade da produção.
Carolina Farias “Quanto mais o animal cres-
cer e ficar bem de saúde, num
ambiente adequado, melhor vai ser
bem aproveitadas, acabam piorando meio das enzimas, que conseguimos para ele”, completa Carolina, infor-
a absorção de outros elementos” diz. quebrar compostos antinutricionais e mando que para auxiliar o setor a
Por conta disso, as enzimas são elevar o aproveitamento de nutrien- melhorar a eficiência alimentar dos
tão importantes, já que têm a função tes que não estariam disponíveis sem animais, a Alltech possui em seu
de acelerar algumas reações químicas essa tecnologia”. portfólio as soluções Allzyme´s. 
específicas dentro do organismo dos A utilização de um complexo Allzyme SSF e Allzyme Veg-
animais, quebrando moléculas maiores enzimático depende da fase, da ge- pro auxiliam na saúde do sistema
em menores, o que acaba facilitando nética e até do manejo do animal, digestivo do animal e maximizam
a absorção de nutrientes pelo intes- e vale ressaltar que o seu uso na a digestibilidade dos nutrientes da
tino, ou seja, melhorando a digesti- aquicultura não só potencializa a dieta. Para mais informações visite
bilidade”, diz, ressaltando que “é por conversão alimentar, mas também www.alltech.com.br.

Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182 11


Planejamento e dieta de qualidade ampliam
resultados na produção de pescados

Alimentação rica em minerais orgânicos como Selênio e outros


nutrientes como Ômega 3, estão entre as principais variáveis que
influenciam diretamente na qualidade dos pescados

O planejamento antecipado dos ciclos de


produção e uma dieta balanceada, rica
em minerais orgânicos como Selênio e outros
nutrientes como Ômega 3, estão entre as
principais variáveis que influenciam direta-
mente na qualidade final dos pescados para
consumo. Produtores atentos a esses fatores
apresentam maior produtividade e se desta-
cam por sua competitividade no mercado. 

Conforme exemplifica o Gerente de Produtos para “É preciso  se atentar


Aquacultura da Guabi, o zootecnista João Manoel Cordeiro
Alves, já foi possível identificar, na produção de alevinos para a infraestrutura,
de tambaqui, que o uso de minerais orgânicos e de uma
nutrição planejada e especialmente formulada para repro-
dutores, proporcionou quase o dobro de rendimento da
gestão e a
produção de óvulos. “Antes da utilização de ração espe-
cífica de matrizes, uma fêmea de 10kg rendia 800 gramas biossegurança. Assim
de óvulos. Hoje, investindo em uma ração adequada, esse
rendimento subiu para 1,4 kg, passando de 8% para 14% diminui-se os riscos
do peso, além da maior taxa de eclosão e viabilidade das
larvas”, conta João Manoel. de doenças e parasitas
Pilares da boa produtividade
e intoxicações que
João Manoel explica ainda, que tudo começa pelo
planejamento, e a maneira mais adequada de se preparar podem influenciar na
e alcançar boa produtividade com rentabilidade e susten-
tabilidade está nos três pilares essenciais da produção produtividade.”
animal: nutrição, genética e manejo. E também nos pilares
viabilizadores do “aquanegócio”: gestão, infraestrutura
e biossegurança. Para auxiliar os produtores com esses João Manoel Cordeiro Alves
protocolos, a Guabi desenvolveu um método de avaliação, Gerente de Produtos para
com direcionamento das prioridades e acompanhamento Aquacultura da Guabi
dos resultados das fazendas aquícolas. Trata-se do “Sistema

12 Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182


Guabi de Alto Desempenho” (SIGAD), que se baseia ainda, que a qualidade da ração reflete diretamente
na boa aplicação desses itens em todas as etapas da na qualidade final dos produtos, e isso proporciona
produção de peixes e camarões. mais qualidade na alimentação humana e mais com-
Conforme explica o zootecnista, a produção petitividade desse pescado no mercado”, ressalta o
animal, que contempla nutrição, genética e manejo, gerente da Guabi. Os nutrientes e seus benefícios na
garante os melhores índices zootécnicos, como cresci- aquicultura podem ser encontrados em três linhas de
mento, conversão alimentar e sobrevivência. “Porém, produtos da empresa: Guabitech, Evolution, Pirá e
não garantem o bom negócio, rentável e perene. Para Poti. Saiba mais em: guabiaqua.com.br 
ter o melhor desempenho dos animais, pelo menor cus-
to, é preciso  se atentar para a infraestrutura, gestão
Guabi Nutrição e Saúde Animal
e a biossegurança, que diminui os riscos de doenças
e parasitas e intoxicações que podem influenciar na A Guabi Nutrição e Saúde Animal é uma empresa
produtividade”, exemplifica. que há mais de 46 anos se dedica ao desenvolvimento
e fabricação de produtos de alta qualidade, voltados
Benefícios da dieta de qualidade para o bem-estar de todo o ciclo: animais, produtores,
criadores e consumidor final. Investe na qualidade dos
Além dos nutrientes, as rações, atualmente, ser- insumos e tecnologias de ponta que garantam o me-
vem de veículos para aditivos que melhoram a saúde lhor resultado, e é hoje uma das maiores empresas de
e a digestão dos animais. Esses aditivos se aglutinam nutrição e saúde animal do país. Tem forte atuação em
com bactérias e toxinas, que, por sua vez, se tornam todos os estados brasileiros e exportações frequentes
inócuas e são excretadas com as fezes. “Assim, é pos- para mais de 30 países. Atualmente, a Guabi possui seis
unidades fabris distribuídas pelo Brasil, além de quatro
sível notar um crescimento acelerado dos pescados,
Centros de Distribuição e de seu Escritório Nacional, em
possibilitando ciclos mais curtos, o que se reflete Indaiatuba/SP. Acesse: guabi.com.br 
em maior produção e produtividade. Vale ressaltar,

Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182 13


Gestão eficiente da aeração

Por: Fernando Kubitza, Ph.D.


Acqua Imagem Serviços em Aquicultura
fernando@acquaimagem.com.br
Tel/fax: 11 4587-2496

14 Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182


Gestão eficiente da aeração
A aeração provê se- A importância da manutenção de adequados níveis de oxigênio
gurança e possi- O desempenho, a conversão alimentar, a saúde e a sobrevivência
bilita o aumento da pro- dos peixes e camarões são impactados pela concentração de oxigênio no
dutividade dos cultivos ambiente de cultivo. Em geral, níveis de oxigênio de 60 a 70% da saturação
(acima de 4,5 mg/l) são necessários para um adequado desempenho e saúde
de peixes e camarões. A dos peixes e camarões. A tolerância ao baixo oxigênio varia de acordo com
energia elétrica associa- a espécie cultivada e é influenciada por outros fatores de qualidade da água,
como a temperatura e as concentrações de gás carbônico, amônia e nitrito.
da à aeração dos tanques A tilápia e o tambaqui, por exemplo, são peixes extremamente tolerantes
e viveiros é um dos prin- a baixas concentrações de oxigênio dissolvido. Chegam a suportar níveis
cipais itens de custo na de oxigênio próximo de zero por várias horas sem morrer. No entanto, a
exposição frequente a baixos níveis de oxigênio (hipóxia) prejudica o cres-
aquicultura intensiva. cimento e a conversão alimentar, e deixam os peixes mais susceptíveis às
Esse custo pode ser con- doenças e menos tolerantes ao manuseio.
Nas Tabelas 1 e 2 são reunidos os efeitos do oxigênio no
sideravelmente reduzido desempenho da tilápia do Nilo e do camarão marinho (L. vannamei). Ob-
com uma gestão mais serve na Tabela 1 que tilápias criadas em água com níveis médio e baixo
eficiente da aeração. Não de oxigênio consomem menos ração, são menos eficientes na conversão
da ração consumida (altos valores de conversão alimentar 2,4 e 5,5) e,
é raro encontrar piscicul- dessa forma, ganham menos peso do que tilápias criadas em água com
turas onde os aeradores oxigênio próximo da saturação (7 mg/l). Para o camarão marinho criado
em água com oxigênio abaixo de 4 mg/l, foi registrado atraso no cres-
permanecem acionados cimento e menor sobrevivência ao longo do cultivo. Camarões criados
continuamente, prati- sob regime de baixo oxigênio na água apresentaram menor contagem de
camente 24 horas do hemócitos (células sanguíneas ligadas aos mecanismos de defesa), menor
atividade de fagocitose (processo em que as células de defesa “engolem” e
dia. Grande parte desse destroem alguns tipos de patógenos) e menor atividade de enzimas como
tempo os aeradores estão a fenoloxidase e a superóxido dismutase, que ativam importantes meca-
nismos de defesa nos camarões (Tabela 2). Dessa forma, após um desafio
operando em uma condi- experimental com Vibrio harveyi foi registrada menor sobrevivência entre
ção de baixa eficiência os camarões criados em águas com oxigênio dissolvido abaixo de 4 mg/l.
de incorporação do oxi-
gênio na água. Também
Tabela 1. Oxigênio dissolvido (OD) e crescimento de juvenis de tilápia do Nilo em sistemas
é comum observar situa- de água transparente (sem plâncton)
Adaptado de Tsadik e Kutty, 1987
ções onde a potência dos
equipamentos de aeração Águas transparentes

instalados é demasiada, Alto Médio Baixo


(7 mg/l) (3,4 mg/l) (1,2 mg/l)
ocasionando desperdício
Peso inicial (g) 7,83 8,60 8,23
de energia em boa parte
Peso final (g) 27,30 13,99 9,81
do ciclo de cultivo. Neste
Ganho de peso (g/peixe) 19,47 5,39 1,58
artigo serão apresenta-
Consumo de ração (g/peixe) 29,30 12,66 8,72
dos os fundamentos e su-
Conversão alimentar 1,51 2,35 5,52
gestões para um manejo
Ganho de peso relativo (%) 100% 28% 8%
eficiente da aeração.

Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182 15


Gestão eficiente da aeração

Oxigênio (mg/l)
>4 2a4 <2
Tabela 2. Efeito dos níveis
Peso final (g) 28,2 25,0 25,9
de oxigênio dissolvido (OD
em mg/l) sobre o peso final, Sobrevivência (%) 92,0 81,0 57,0
sobrevivência, resposta Total de hemócitos (x 10 /ml)
5
201,0 199,0 161,0
imunológica e tolerância do
Percentual de fagocitose 37,3 37,0 26,3
camarão branco do Pacífico,
Litopenaeus vannamei à Atividade da fenoloxidade 299,0 289,0 268,0
infecção por Vibrio harveyi Superóxido dismutase (unid/ml) 47,9 45,1 36,0

(Nonwachai et al, 2011) Sobrevivência a Vibrio harveyi 56% 40% 26%

Um estudo com juvenis de tilápia averiguou o desafiados injetando nos mesmos uma solução com
impacto da exposição a baixos níveis de oxigênio na as bactérias. Os juvenis que foram expostos a baixa
tolerância dos animais ao Streptococcus iniae. Lotes concentração de oxigênio apresentaram mortalidade
de juvenis foram mantidos por 24 horas em águas com acumulada de 27 a 80%, contra zero de mortalidade
oxigênio baixo (1 mg/l) ou com oxigênio próximo à sa- entre os juvenis que foram mantidos em água com
turação (7 mg/l). Após essa exposição, os peixes foram oxigênio próximo da saturação (Evans et al, 2003).

16 Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182


Gestão eficiente da aeração
Fatores que influenciam a Quando a aeração é eficaz?
concentração de oxigênio na água

Temperatura e salinidade são dois importantes


fatores que determinam a solubilidade do oxigênio Água supersaturada
na água. Quanto mais quente a água e quanto maior a
concentração de sais, menos oxigênio é capaz de ser
dissolvido. Outros fatores que influenciam os níveis Água saturada
de oxigênio são a intensidade de fotossíntese e de res-
piração. Em águas verdes abundantes em microalgas
(fitoplâncton), a concentração de oxigênio na água se Água subsaturada
eleva ao longo do dia devido à fotossíntese. Através
da fotossíntese as algas removem o gás carbônico e
aportam oxigênio na água. Já durante a noite ocorre o
inverso. Na ausência de fotossíntese (pela falta de luz
solar) a respiração das algas, peixes, camarões e micror- Figura 1. Representação da condição de saturação da água com oxigênio.
Uma água saturada (100% da saturação) mantém sua concentração de
ganismos presentes nos viveiros aporta gás carbônico oxigênio em equilíbrio com a concentração de oxigênio do ar atmosférico.
e consome o excedente de oxigênio que havia sido Já uma água supersaturada (>100% da saturação), quando essa é agitada por
acumulado na água ao longo do dia. Com isso, podem aeradores ou vento, o excesso de oxigênio escapa da água para a atmosfera.
O contrário ocorre em uma água subsaturada (< 100% da saturação), na
ocorrer déficits de oxigênio durante a madrugada e qual a ação dos aeradores e do vento promove a incorporação do oxigênio
nas primeiras horas da manhã nos tanques de cultivo. atmosférico para a água
Por esse motivo a aeração geralmente é empregada de
forma mais intensa durante a madrugada. Outros fatores
ambientais (altitude/ pressão atmosférica, luminosida-
de, ventos, chuvas, etc.) ou relacionados à produção
(biomassa estocada, taxa de alimentação, qualidade Água saturada (100%) - quando a concentração de
do alimento, etc.) ainda se combinam para determinar oxigênio na água atinge 100% da saturação, dizemos que a água
a concentração de oxigênio na água. Isso faz com que está saturada. A água saturada apresenta uma concentração de
cada viveiro ou tanque de cultivo tenha seu próprio oxigênio em equilíbrio com o ar atmosférico.
regime e níveis de oxigênio. Por isso, o monitoramento
dos níveis de oxigênio e o manejo da aeração devem ser Água supersaturada (> 100%) - quando a concentra-
individualizados para cada unidade de cultivo. ção de oxigênio na água excede o equilíbrio com a do ar, dize-
mos que a água está supersaturada, ou seja, com mais de 100%
Equilíbrio de oxigênio entre de saturação de oxigênio. A condição de água supersaturada é
o ar e a água – conceito de saturação comum em viveiros ou tanques com águas verdes a partir das
11 horas da manhã até o começo da noite, em função da síntese
De acordo com sua concentração em oxigênio, de oxigênio através da fotossíntese realizada pelo fitoplânc-
uma água pode estar saturada, subsaturada ou supersa- ton. Quando a água está supersaturada, qualquer movimento
turada com oxigênio (Figura 1). Ao nível do mar uma na superfície da água causado por ventos, aeração ou mesmo
água doce a 28ºC se encontra saturada em oxigênio chuva, implica em escape de oxigênio da água para o ar. Esse é
quando a concentração desse gás está próxima de 7,8 o mesmo efeito que observamos quando agitamos uma garrafa
mg/l (100% da saturação a 0 ppt de sal). Em uma água de refrigerante para eliminar parte do gás presente no líquido.
salgada, por exemplo, água do mar com 40 g de sal/
litro, a saturação ocorrerá a uma concentração de oxi- Água subsaturada (< 100%) - é a água que tem
gênio próxima de 6,3 mg/l (100% saturação a 40 ppt uma concentração de oxigênio abaixo da concentração em
de sal). Observe que a água do mar, por ter mais sais equilíbrio com o ar. Geralmente a água nos tanques e viveiros
dissolvidos que a água doce, tem menos capacidade de está subsaturada durante a noite e a madrugada, períodos em
solubilizar oxigênio. Assim, é necessário aplicar muito que não ocorre fotossíntese. A condição de “subsaturada” pode
mais potência de aeração na água do mar do que na se estender nas primeiras horas da manhã, até que a produção
água doce para elevar a sua concentração de oxigênio. de oxigênio pela fotossíntese comece a superar o consumo de

Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182 17


Gestão eficiente da aeração
oxigênio na respiração dos peixes, camarões, microalgas, bactérias
e outros organismos presentes nos viveiros. Em tanques com água
barrenta (argila em suspensão) geralmente a concentração de oxigê- “A água do mar, por ter
nio está abaixo da saturação, visto que a argila em suspensão reduz
a entrada de luz na água e, portanto, a intensidade da fotossíntese na
mais sais dissolvidos
água dos viveiros. Quando uma água está subsaturada em oxigênio,
qualquer movimento na superfície da água, seja pela ação dos aera-
que a água doce, tem
dores, ventos ou chuva, resulta em difusão (entrada) de oxigênio do menos capacidade de
ar para a água. Em síntese, a ação dos aeradores mecânicos somente
terá efetividade quando eles forem acionados nos momentos em que a solubilizar oxigênio.
água se apresenta subsaturada. No entanto, muitos produtores mantêm
os aeradores ligados em horas do dia onde a água está saturada ou Assim, é necessário
mesmo supersaturada, imaginando, de forma equivocada, que estão
promovendo aeração. aplicar muito mais
Equipamentos de aeração e taxa potência de aeração na
padrão de transferência de oxigênio (SAE)
água do mar do que
Diversos equipamentos podem ser usados para a aeração dos
tanques e viveiros de cultivo.
na água doce
Aeradores de pás e aeradores do tipo chafariz (ou fonte) são para elevar a sua
os mais utilizados por aquicultores que criam peixes em viveiros de
grandes dimensões. Os aeradores de pás usados no Brasil possuem concentração de
tamanhos e design distintos, de acordo com o fabricante, e geralmente
têm 2 a 3 CV de potência. Em alguns países é comum o uso de aera- oxigênio.”

18 Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182


Gestão eficiente da aeração
dores de pás com potência de até 10 CV. Os aeradores do tipo Bombas de água - podem ser usadas para a aeração da
chafariz disponíveis no Brasil geralmente são de 0,5, 1,0, 1,5 e água dos tanques e viveiros. São de fácil aquisição e instalação, e
2 CV de potência e apresentam variações no design das hélices possuem muitas opções em termos de potência e capacidade de
e flutuantes de acordo com cada fabricante. Aeradores de pás e movimentação de água (vazão). As bombas succionam a água do
aeradores do tipo chafariz efetivam a aeração lançando a água próprio viveiro ou tanque e retornam à água no formato de um
dos tanques e viveiros para a atmosfera. Dessa forma a água em spray pressurizado de 30 a 80 cm acima da superfície da água.
contato com o ar incorpora diretamente o oxigênio atmosférico. O contato da água com o ar durante o percurso de retorno, bem
Adicionalmente, um ganho extra de oxigênio ocorre quando a como o impacto da mesma sobre a superfície da água, promo-
água retorna ao viveiro, proporcionando um efeito cascata, in- vem a entrada do oxigênio atmosférico na água dos viveiros.
corporando diretamente mais ar e, consequentemente, oxigênio Em geral, as bombas de água são de menor custo de aquisição e
à água do viveiro. Aeradores de pás promovem uma circulação de mais fácil manutenção, se comparadas aos aeradores de pás
e movimentação de água mais eficientes do que os aeradores e chafariz. Com o uso de uma bomba de água pode se chegar
chafariz. Esses dois tipos de aeradores geralmente são os mais a uma eficiência de difusão de oxigênio muito próxima do
eficientes em termos de quilos de oxigênio incorporados por observado com os aeradores de pás e chafariz, dependendo em
CV de potência ou quilowatt de energia consumido (Figura 2). grande parte de como é montado o sistema de spray de água.

Figura 2. Imagens de diferentes


tipos de aeradores usados em vivei-
ros de cultivo de peixes e cama-
rões a) aerador de pás; b) aerador
chafariz (bomba vertical); c) bomba
de água adaptada como aerador

Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182 19


Gestão eficiente da aeração

A aeração por ar difuso combina o uso de so- Na Tabela 3 é apresentada uma análise comparativa das
pradores de ar (compressores radiais ou do tipo “root”) e taxas padrões de eficiência de transferência de oxigênio (SAE)
difusores de membrana, mangueiras porosas, pedras po- de diferentes tipos de aeradores. A SAE é então expressa em kg
rosas, tubos perfurados, entre outros (Figura 3). No geral, de oxigênio/CV/hora ou kg de oxigênio/kW/hora. Os valores
os sistemas de ar difuso apresentam menor eficiência de de SAE são obtidos em testes com metodologia padronizada,
incorporação de oxigênio comparado aos demais. Assim, onde os aeradores são instalados em piscinas com volume de
seu uso para prover aeração deve ser limitado a tanques de água conhecido (Figura 4). O oxigênio na água das piscinas é
cultivo de menor tamanho (de até 10 ou 20 m3), nos quais zerado com a adição de sulfito de sódio para remover o oxigênio
geralmente não é possível usar outros tipos de aeradores. e cloreto de cobalto como catalizador da reação. Os aeradores são
O uso de ar difuso é comum nos cultivos em bioflocos, ligados e a concentração de oxigênio é mensurada a intervalos
especialmente com o objetivo de manter continuamente de tempo. O teste se estende até o momento em que a saturação
os sólidos em suspensão na coluna d’água. de oxigênio na água chega a 80%. O consumo de energia do equi-

Figura 3. Imagens de sistemas de aeração com ar difuso, usados geralmente em tanques de menor tamanho para cultivo intensivo de peixes.
(A,B) sopradores de ar (compressores radiais); (C,D) difusores de ar (filtros e membranas)

A B

C D

20 Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182


Gestão eficiente da aeração
Tabela 3. Taxa
Variação da padrão de
No de SOTR SAE média
Tipo de aerador SAE transferência de
aeradores (kg O2/hora) (kg O2/CV/h)
(kg O2/CV/h) oxigênio (SOTR) e
eficiência padrão de
Aeradores de pás 24 2,5 a 23,2 0,8 a 2,2 1,64 aeração (SAE) de
diferentes aeradores
Chafariz (bombas verticais) 15 0,3 a 10,9 0,5 a 1,3 1,04
(Boyd e Ahmad 1987)

Propulsores (propeler aspirator) 11 0,1 a 24,4 1,0 a 1,3 1,19

Bombas de água 3 11,9 a 14,5 0,7 a 1,4 0,97

Ar difuso (sopradores e difusores) 5 0,6 3,9 0,5 a 0,9 0,67

pamento é registrado em um medidor e a quantidade de oxigênio os 24 aeradores de pás testados, a SOTR variou desde 2,5 a 22
incorporada à água é calculada com base nos níveis de oxigênio kg de oxigênio incorporados por hora. E para os 15 aeradores
mensurados e no volume de água da piscina. chafariz testados, o valor de SOTR variou desde 0,3 a 10,9 kg
Observe na Tabela 3 que, com base nos valores médios de oxigênio incorporados por hora. Essa grande variação nos
de SAE, os aeradores de pás são geralmente mais eficientes valores de SOTR reflete o grande número de aeradores avalia-
do que os demais. No entanto, há alguns aeradores do tipo dos, cada um com uma potência de motor e tamanho de aerador
chafariz, propulsores de ar e bombas de água que podem ser diferente. Geralmente, quanto maior a potência total do aerador
tão ou mais eficientes do que alguns modelos de aeradores de e maior o tamanho do aerador, maior será o valor de SOTR, ou
pás. Por outro lado, os sistemas de ar difuso, em geral, possuem seja, maior a quantidade total de oxigênio incorporada por hora
menores valores de SAE, ou seja, menor eficiência de trans- pelo aerador. Um aerador de pás de 10 CV tem maior SOTR
ferência de oxigênio do ar para a água. Na Tabela 3 ainda são que um de 2 CV. Mas isso não quer dizer que sua SAE vai ser
apresentados os valores de SOTR (Taxa padrão de transferência maior. A SAE leva em consideração a potência ou o consumo
de oxigênio), que indica quantos quilos de oxigênio por hora de energia gasto pelo aerador, e é calculada dividindo o valor de
um aerador é capaz de incorporar na água. Observe que para SOTR pela potência ou consumo de energia do equipamento.

Teste de aeração de diferentes modelos de aeradores


Figura 4. Imagem de (adaptado de Jayanthi et al 2021) – SAE a 35 ppt em kg O2/CV/h
tanques usados no teste
de diferentes modelos de
aeradores e respectivos
valores da taxa padrão da
eficiência de transferência
de oxigênio dos aeradores
(SAE), neste caso a uma
salinidade de 35 ppt
(Adaptado de Jayanthi et al 2021)
Propulsor/ injetor de ar Propulsor/ injetor de
uma saída SAE = 0,17 ar 4 saídas SAE = 0,50

Propagador de
ondas SAE = 0,31

Aerador de pás modificado – SAE = 1,51 Aerador de pás convencional – SAE = 1,08

Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182 21


22 Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182
Gestão eficiente da aeração
Manejo eficiente da aeração Monitoramento contínuo do oxigênio e controle da
aeração - Em muitas fazendas de cultivo, as despesas com
De uma maneira geral, no cultivo intensivo de peixes energia elétrica usada na aeração são bem elevadas. Isso
e camarões em viveiros, mesmo sob altas densidades de es- justifica designar um funcionário para fazer o monitoramento
tocagem e biomassa, não é necessário manter os aeradores contínuo do oxigênio dissolvido nos tanques, e com base
ligados o tempo todo. Geralmente em dias ensolarados, a nisso, ligar ou desligar os aeradores. Para tanto, se estabelece
fotossíntese realizada pelas microalgas (fitoplâncton) é capaz uma rotina diária de leitura dos níveis de oxigênio nos vivei-
de produzir oxigênio suficiente para superar o consumo de ros. Leituras a cada duas horas são adequadas. A primeira
oxigênio na respiração dos peixes, das próprias microalgas, leitura do dia é feita próximo das 7h (horário em que os ae-
das bactérias e outros organismos presentes nos viveiros. radores ainda estão ligados por conta da aeração noturna). Se
Dessa forma o produtor pode desligar os aeradores durante o nessa primeira leitura o oxigênio estiver acima de um limite
dia, ou alternar horas de aeração com horas de equipamentos estabelecido (3 mg/l, por exemplo), os aeradores podem ser
desligados, e concentrar a aeração mais no período noturno, desligados no respectivo viveiro. Muito possivelmente a
onde geralmente os aeradores ficam ligados continua- fotossíntese será capaz de elevar gradualmente seus níveis
mente. Esse manejo eficiente da aeração contribui com de oxigênio. Se o oxigênio ainda estiver abaixo do limite os
a redução nas despesas com energia, além de reduzir o aeradores devem ser mantidos ligados até a próxima ronda de
desgaste dos equipamentos. leituras, às 9h. Dessa forma, monitorando o oxigênio a cada

Fator de correção da SAE de acordo com a concentração de oxigênio da água a ser aerada
Muitos testes de aeradores reportam um va- SAE dos aeradores usando esse nomograma é útil quando se projeta
lor de SAE obtido em uma faixa de baixa saturação um sistema de aeração, para definir a necessidade de aeradores
de oxigênio na água, muitas vezes entre 0 e 40% (número e potência dos aeradores que precisam ser instalados) em
da saturação, ou seja média de 20% da saturação, um empreendimento.
ou 1,6 mg de oxigênio por litro. Nessa faixa de
saturação de oxigênio os valores de SAE tendem
a ser mais elevados, pois é mais fácil incorporar
oxigênio quanto menor for a concentração de
oxigênio na água.
O nomograma pode ser usado para a corre-
ção dos valores de SAE. Esse nomograma ilustra
como diminui a eficiência dos aeradores quando
a concentração de oxigênio na água se aproxima
da concentração na saturação (entre 7 e 8 mg/l a
28ºC). Consideremos que um aerador teve seu
valor de SAE quantificado a uma concentração
média de oxigênio de 40% da saturação, ou seja,
perto de 3 mg de oxigênio por litro, ou 3 ppm
(considerando 40% x 7,8 mg/l, que é a concen-
tração de saturação de oxigênio em água doce a
28ºC). E sua SAE nessas condições foi de 1 kg de
O2/CV/hora. Se esse aerador operar a uma faixa
de concentração de oxigênio de 70% da saturação
(próximo de 5 mg/litro), ao invés de 0,6, seu fator Nomograma usado para correção da SAE dos sistemas de aeração,
de correção de SAE passa a ser 0,34. Dessa forma, útil no dimensionamento da potência de aeração a ser instalada
em um empreendimento de aquicultura. Esse nomograma mostra
a SAE efetiva do aerador diminui e, ao invés de 1 como cai a eficiência de transferência de oxigênio conforme a
kg O2/CV/hora, ela deve ficar mais próxima de 1 concentração de oxigênio na água se aproxima da saturação
x (0,34/0,6) = 0,57 kg O2/CV/hora. A correção da (entre 7 e 8 mg/litro a 28ºC)

Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182 23


24 Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182
Gestão eficiente da aeração
duas horas, o funcionário toma a decisão de desligar ou
ligar os aeradores, respeitando um nível limite de oxigê-
nio na água. Como discutido previamente nesse artigo, é
muito ineficiente manter os aeradores ligados quando os
níveis de oxigênio ultrapassam 5 mg/l. Assim, ao longo
do dia o funcionário pode desligar os aeradores nos vi- Figura 5. Sistemas de monitoramento
do oxigênio em tempo real em viveiros
veiros quando a concentração de oxigênio na água atinge de cultivo de peixes, acoplados com
o patamar dos 5 mg/l. Pode ser que na próxima leitura, as caixas de comando dos aeradores.
duas horas depois, o oxigênio tenha abaixado novamente Os aeradores são automaticamente
ligados de acordo com a concentração
para valores próximos de 3 mg/l e os aeradores precisem de oxigênio mensurada no momento
ser ligados novamente. Essa rotina de controle, portanto, em cada viveiro
implica em uma alternância de acionamento ou desliga-
mento dos aeradores nos viveiros a cada duas horas, o que
resulta em considerável economia de energia ao produtor.
Com um pouco de experiência acumulada, o produtor
pode instalar “timers” para controlar o acionamento e o
desligamento dos aeradores nos viveiros, alternando 1
hora de aeradores ligados e 1 hora desligados. Fazendo
isso, no período entre 7h e 19h é possível reduzir 6 horas
de aeração (25% de economia de energia em fazendas
onde os aeradores costumam ficar ligados o tempo todo).
Esses mesmos procedimentos podem ser empregados
no manejo da aeração noturna. Um funcionário ou uma
equipe, monitorando o oxigênio e acionando os aeradores
no momento mais adequado durante o período noturno,
traz segurança e grande economia ao empreendimento.

Sondas para o controle em tempo real do oxigê-


nio e do acionamento dos aeradores (Figura 5) - Uma
maneira de controlar o acionamento dos aeradores é a
instalação de sondas que fazem a leitura dos níveis de
oxigênio em tempo real (Figura 5). Estas sondas enviam
os dados para uma caixa onde estão os comandos dos
aeradores. O acionamento dos aeradores é automático Concentrar os aeradores em uma área de segurança - em
quando se atinge um valor mínimo definido pelo produtor viveiros de cultivo de peixes, os peixes se direcionam rapidamente
(3 a 3,5 mg/litro, por exemplo). Num primeiro momento para áreas do viveiro onde a concentração de oxigênio está mais
pode ser acionada a metade dos aeradores instalados no elevada. Dessa forma, ao invés de esparramar os aeradores por toda
viveiro. Se a concentração de oxigênio continuar caindo a extensão dos viveiros, na tentativa de manter uma concentração
e atingir um segundo limite crítico (por exemplo, 2 a 2,5 de oxigênio uniforme em toda a extensão dos viveiros, os aeradores
mg/l), o sistema aciona os demais aeradores do viveiro. podem ser concentrados em uma área mais restrita, área de seguran-
Esses equipamentos e sistemas de controle são usados ça, para onde os peixes se dirigem durante os momentos de baixo
em diversos países. Requerem um investimento inicial e oxigênio. Outros locais do viveiro podem ficar com oxigênio zerado
uma constante limpeza e manutenção das sondas. Apesar que não será problema algum, visto que os peixes se concentram
de funcionarem de maneira autônoma, é temerário não na área de segurança. Isso diminui consideravelmente a potência
ter um funcionário de plantão para acompanhar checar de aeração necessária nos viveiros, e assim, o consumo de energia.
o funcionamento do sistema, monitorando em paralelo
os níveis de oxigênio e verificando se os aeradores estão Considerações finais
mesmo sendo ligados e desligados como o programado.
Há muito a ser ajustado no manejo da aeração nas piscicultu-
Opção por usar dois, três ou mais aeradores, ao ras, de modo a aumentar a eficiência no uso dos aeradores, diminuir
invés de um único aerador - essa estratégia permite um uso o seu desgaste e as despesas com energia elétrica e manutenção de
mais racional da energia. Muitas vezes não é preciso acionar equipamentos. Espero que os fundamentos e sugestões aqui apre-
toda a potência de aeração instalada em um viveiro. Aerado- sentados possam contribuir para que os produtores criem estraté-
res adicionais podem ser transferidos para um determinado gias eficazes de monitoramento do oxigênio e controle dos aeradores
viveiro, à medida que mais potência de aeração é necessária. compatíveis com a realidade de seus empreendimentos.

Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182 25


Estratégias de prevenção
contra franciselose em tilápias
Uso de aditivos como ferramentas
estratégicas na prevenção e
redução de mortalidades.
Por:

Thiago Tetsuo Ushizima Waldo G. Nuez-Ortiz


thiago.ushizima@adisseo.com Cientista Chefe Aquacultura Adisseo
Gerente Aquacultura Latam Adisseo

Maria Mercè Isern-Subich Ulisses de Pádua Pereira


Gerente Global Produtos Saúde Coordenador do Laboratório
Aquacultura Adisseo de Bacteriologia em Peixes
LABBEP/UEL

26 Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182


Prevenção da franciselose
Mais um inverno se aproxima e a preocupação Apesar da franciselose ser uma enfermidade bac-
com as enfermidades típicas desse período, teriana mais frequente e severa no outono e inverno, pe-
ríodo em que há uma diminuição da temperatura da água
como a Franciselose, causada pela bactéria na Região Centro Sul do Brasil, ela não é uma doença
Francisella orientalis, implica em mudança exclusiva das regiões frias. Já foram observados casos na
nas rotinas de monitoramento dos animais Região Nordeste, em anos com temperaturas mais baixas,
assim como na saída do inverno (setembro e outubro),
e implementação de estratégias preventivas, fato que reforça a importância de programas específicos
entre elas o uso de aditivos, no intuito de de monitoramento e de estratégias preventivas para esta
fortalecer os programas preventivos das fa- enfermidade, também nessa região.
zendas. Apresentamos a seguir, experiências Identificando a franciselose
a campo e os resultados da pesquisa realizada
no Laboratório de Bacteriologia em Peixes da Surtos de franciseloses são mais comuns em
alevinos e juvenis (0,5 g a 200 g) e pode-se dizer que é uma
Universidade Estadual de Londrina (LABBEP), “doença silenciosa”, com mortalidades sem sinais clínicos
que utilizou o Programa de Aquacultura da característicos, diferente por exemplo, da estreptococose
Adisseo em tilápias infectadas in vivo com ou columnariose. Além disso, sintomatologias comuns a
outras doenças são vistas com frequência na franciselose,
Francisella orientalis. Os resultados mostra- como a redução no apetite e no consumo de ração, pei-
ram que os peixes que receberam aditivos xes escuros, peixes nadando na superfície, acúmulo de
tiveram uma sobrevivência 32% superior. líquido na cavidade abdominal (ascite), pontos brancos
nas brânquias e olhos saltados (exoftalmia). Entretanto,

O utono e inverno são estações do ano que requerem uma


atenção especial por parte dos piscicultores, pois são
períodos de intensos desafios para os peixes, principalmen- “Apesar da franciselose ser
te na Região Sul e Sudeste do país. Baixas temperaturas,
grande amplitude térmica diária, escassez de chuva e pio- mais frequente e severa
ra na qualidade da água, são algumas características que
impactam negativamente a saúde e os índices produtivos
no outono e inverno,
da tilápia durante esse período. Além de afetar o consumo ela não é uma doença
de alimento e o ganho de peso, a queda na temperatura da
água deprime o sistema imunológico dos animais. Isso, exclusiva das regiões frias,
somado a outros fatores geradores de estresse como a
má qualidade da água, manejos (biometria, classificação, tendo sido observada
vacinação, transferência), altas densidades, entre outros,
deixa os animais ainda mais susceptíveis às enfermidades na Região Nordeste em
parasitárias, fúngicas, bacterianas e virais.
Francisella orientalis é uma bactéria Gram negativa
anos com temperaturas
intracelular facultativa, e teve seu primeiro relato científico mais baixas, fato que
de ocorrência no Brasil em 2012, registrado em publicação
de 2014. Portanto, trata-se de uma doença “nova” para muitos reforça a importância de
produtores, ainda que mortalidades causadas por franciselose
já tenham ocorrido em mais de 10 estados brasileiros, e nos programas específicos
principais polos de produção de tilápia do país.
Entre os fatores que favoreceram a disseminação da de monitoramento e de
doença, merecem destaque a falta de protocolos de biossegu- estratégias preventivas para
ridade, as movimentações de alevinos e juvenis doentes entre
os estados, pesando também o fato de ser uma doença que esta enfermidade.”
pode ser transmitida de maneira vertical, dos reprodutores
para os alevinos.

Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182 27


Prevenção da franciselose

A B

Foto: Gustavo Alves.

Figura 1. Quadro agudo de franciselose em tilápia, indicando o avanço dos nódulos pelos órgãos (A – nódulos em baço e B – nódulos no rim cranial)

após necrópsia dos animais, observa-se uma característica de “squash” (Figura 3), e passam a ser visualizados
muito típica de franciselose que são os nódulos de coloração a olho nu em outros órgãos, podendo ser vistos em
branco-amarelados (granulomas), principalmente nos órgãos
do sistema imune como baço e rim (Figura 1). Com o avanço
da doença, os nódulos vão se espalhando para outros órgãos
como fígado, brânquias, podendo chegar até mesmo ao cora- “Esperar o aparecimento
ção, em casos mais avançados, ao ponto de acarretar perda das
funções desses órgãos.
de peixes mortos para
O monitoramento preventivo dos lotes é uma rotina pouco iniciar o diagnóstico,
utilizada no dia a dia das pisciculturas. Esperar o aparecimento
de peixes mortos para iniciar o diagnóstico e monitoramento, monitoramento e terapias
assim como para iniciar as terapias com antimicrobianos, é uma
estratégia reativa, pois a perda de apetite dos animais aliado às com antimicrobianos é
baixas temperaturas, dificultará ainda mais o consumo de ração
medicada e consequentemente a efetividade do tratamento no uma estratégia reativa,
controle da doença. Portanto, criar uma rotina frequente de
monitoramento de alevinos e juvenis durante este período de
pois a perda de apetite
alto desafio, é a estratégia mais recomendada. dos animais aliado às
Uma das formas utilizadas à campo para o monitoramen-
to preventivo é a técnica denominada “squash”, que consiste baixas temperaturas,
na coleta de um fragmento de órgão, principalmente o baço,
esmagando-o entre duas lâminas de vidro e fazendo a análise dificultará ainda mais o
visual, para verificar a presença de granulomas ou nódulos
branco amarelados. Na Figura 2, podemos observar na lâmina consumo de ração medicada
A um “squash” de baço saudável e, na lâmina B, de baço com
presença de pequenos nódulos branco-amarelados em fase ini-
e consequentemente a
cial (fase 1 e fase 2), em que ainda não é possível a visualização efetividade do tratamento
de nódulos a olho nu em baço, após biópsia.
Nessa fase inicial, ainda não encontramos granulomas no no controle da doença”.
baço que possam ser vistos a olho nu. À medida que a doença
avança, os granulomas vão aumentando de tamanho nas análises

28 Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182


Prevenção da franciselose
Figura 2.
Monitoramento através
da técnica de “squash”
em fragmento de baço
de tilápia, sendo a
lâmina A de um peixe
saudável e a lâmina
B de um peixe em
estágio inicial de
franciselose, sendo
possível identificar
pequenos nódulos
branco-amarelados

Foto: Gustavo Alves

Figura 3. Estágio avançado


A de franciselose, identificado grande quantidade no baço, rim, fígado e brânquias. A técnica
pela técnica de “squash” de “squash” é uma alternativa a campo para realização do
em fragmento de baço de
tilápia com nódulos branco-
monitoramento preventivo, e recomenda-se também o envio
amarelados de tamanho de amostras para confirmação em exames laboratoriais.
aumentado (imagem A) e
visualização dos nódulos em
órgãos (imagem B)
Impacto na Produção

Fonte: dados da pesquisa O impacto causado pela franciselose na produção
de tilápia é significativo, e os prejuízos vão muito além da
B forma aguda, que afeta, principalmente, alevinos e juvenis no
inverno, e causa altas mortalidades e custos adicionais com
o uso de antibióticos (altas doses e tratamentos prolonga-
Fotos: Ulisses de Pádua Pereira e Gustavo Alves

dos). Existem também os impactos causados pelos quadros


crônicos observados em animais que foram acometidos por
franciselose no inverno e não morreram. Além de gerarem
perdas expressivas de desempenho zootécnico (crescimen-
to, conversão alimentar, sobrevivência, heterogeneidade),
esses animais ficam mais susceptíveis a estreptococose no
verão, com taxas de mortalidades mais altas e apresenta-
rão maiores índices de condenações de filés e carcaças no
frigorífico, devido a formação de pontos negros (melano-
macrófagos) (Figura 4).

Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182 29


Prevenção da franciselose

“O impacto da franciselose
na produção de tilápia
é significativo. Afeta
alevinos e juvenis no
inverno, e causa altas
mortalidades e custos
adicionais com o uso de
antibióticos em altas doses
Figura 4. Pontos negros (melanomacrófagos) em filés de tilápia,
e tratamentos prolongados. causados pela infecção por Francisella orientalis
Foto: Gustavo Alves
Além de gerarem
perdas expressivas de
Aqua fossem testados in vivo para avaliar sua capacidade de
desempenho, os animais minimizar os efeitos da infecção em tilápias por Francisella
ficam mais susceptíveis a orientalis. Para ambos experimentos, juvenis de tilápias
(35 - 40 gramas) foram aclimatados por 7 dias e receberam
estreptococose no verão.” Sanacore® GM via alimento com inclusão de 3 g/kg de
ração (experimento 01) e Bacti-nil® Aqua com inclusão de
5 g/kg de alimento (experimento 02), durante 20 dias até a
infecção experimental. Foi utilizado cepa de Francisella
Desafio experimental in vivo orientalis e a rota de infecção foi por imersão por 3 horas
com concentração de 1,5 x 107 CFU/ml.
Uma parceria com a equipe do Laboratório de Bac- Durante o período de pré-infecção (20 dias) em
teriologia em Peixes da Universidade Estadual de Londrina que os peixes receberam os aditivos, observou-se melhora
(LABBEP), permitiu que o Sanacore® GM e o Bacti-nil® significativa no desempenho zootécnico para Sanacore®
Mortaldade acumulada (%)

Figura 5.
Mortalidade
acumulada de
tilápia, desafiada
com Francisella
orientalis
com infecção
experimental via
imersão, tratada
com Sanacore®
GM (3 g/kg)

30 Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182


Prevenção da franciselose
Figura 6.
Mortalidade
acumulada de
tilápia, desafiada
com Francisella
orientalis
com infecção
Mortaldade acumulada (%)

experimental via
imersão, tratada
com Bacti-nil®
Aqua (5g/kg)

GM, com crescimento 22% maior e conversão alimentar 30% celular e alterações intracelulares (redução de pH, bloqueio
menor comparado ao controle. Para Bacti-nil® Aqua uma do metabolismo e absorção de nutrientes). Bacti-nil® Aqua
redução de 10% na conversão alimentar quando comparada é uma solução econômica e eficiente para uso contínuo em
ao controle. Embora ambas soluções sejam eficientes na re- todas as fases de produção (alevino, juvenil e engorda).
dução da carga patogênica, Sanacore® GM tem benefícios
adicionais, como a melhora significativa da integridade intes-
tinal, o que pode explicar os melhores índices de crescimento
e eficiência alimentar.
Após o período de pré-infecção foi realizado o desafio “O uso dos aditivos
experimental através da infecção dos animais por imersão
em água com Francisella orientalis. O grupo de tilápias
durante a produção da
tratadas previamente com Sanacore® GM apresentou mor- tilápia tem proporcionado
talidade 32% menor que o grupo controle sem aditivo e
infectado (Figura 5), e com evolução mais branda da doença. uma diminuição das
O grupo de tilápias tratadas previamente com Bacti-nil® Aqua
apresentou mortalidade 26% menor que o grupo controle sem mortalidades por
aditivo e infectado (Figura 6).
Sanacore® GM tem como mecanismo de ação, redu- franciselose, e do impacto
zir a carga patogênica, prevenindo assim sua proliferação.
Também melhora a resistência dos peixes às enfermidades,
da doença na forma sub
devido ao aumento da imunidade (modulação da flora in- clínica e assintomática,
testinal e reforço do sistema imune). Os extratos botânicos
afetam a viabilidade da bactéria e interrompem o sistema de que pode ser comprovada
comunicação QS (Quorum sensing). Outros componentes,
estimulam o sistema imune e melhoram a integridade do epi- pela melhora dos índices
télio intestinal. Isso faz do Sanacore® GM, uma ferramenta
eficaz para as situações de alto risco e desafio, bem como na zootécnicos pós inverno,
produção de alevinos e juvenis.
Bacti-nil® Aqua é um aditivo que tem como alvo, os
pela diminuição da
principais patógenos que afetam a aquacultura, pelo efeito ocorrência e da mortalidade
sinérgico da combinação dos ácidos orgânicos com objetivo
de inibir o crescimento e o desenvolvimento das principais por estreptococose”.
bactérias patogênicas (Gram + e -). Age diretamente na parede
celular das bactérias patogênicas, causando danos à parede

Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182 31


32 Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182
Prevenção da franciselose
Uma parceria da Adisseo com a Universidade AQÜICULTURA), controlando outras bactérias oportunistas
de Ghent, na Bélgica, e a Universidade Estadual de que geram coinfecção.
Londrina, no Brasil, permitiu a realização de estudos O Programa de Aquacultura da Adisseo, é uma
para avaliar a Concentração Mínima Bactericida (MBC) ferramenta utilizada com muito êxito à campo, para enfren-
desses aditivos, tanto para bactérias patogênicas quanto tar os períodos de alto desafio no inverno com Fransicella
para bactérias probióticas. Os resultados mostraram que orientalis e no verão com Streptococcus agalactiae. O uso
as bactérias patogênicas, tanto Gram positivas como estratégico e/ou permanente dos aditivos durante o ciclo de
Gram negativas, são altamente sensíveis ao Sanacore® produção da tilápia, têm proporcionado uma diminuição
GM e ao Bacti-nil® Aqua, para as doses recomendadas das mortalidades agudas de inverno por franciselose, além
(2 a 6 g/kg de ração). Já as bactérias probióticas, se de diminuir o impacto da doença na forma sub clínica e as-
mostraram altamente resistentes às doses recomendadas, sintomática (forma crônica), que pode ser comprovada pela
reforçando assim o efeito benéfico de ambos produtos significativa melhora dos índices zootécnicos pós inverno,
na saúde intestinal dos peixes. A MBC é a mais baixa pela diminuição da ocorrência e mortalidade por estrepto-
concentração de um produto, responsável por anular cocose no verão (peixes que atravessaram o inverno) e nos
totalmente o crescimento bacteriano. O valor de MBC danos e descartes de filés causados pela franciselose.
para a bactéria patogênica Francisella orientalis com Além dos protocolos padronizados para os períodos de
Sanacore® GM foi de 1,25 g/kg e o valor de MBC do alto desafio de inverno e verão, temos utilizado a combinação
Bacti-nil® Aqua foi de 0,3 g/kg. de outros Programas de Aquacultura da Adisseo com suces-
Já para as bactérias probióticas Bacillus subtilis, so para aumentar a sobrevivência na produção de juvenis,
Bacillus licheniformis, Lactobacillus plantarum e Pe- programas para momentos de alto estresse para diminuir
diococcus acidilactici, as concentrações de inibição do mortalidades pós manejos, para aumentar os rendimentos de
crescimento com Sanacore® GM foram respectivamente filé nas fases finais de engorda, entre outras soluções.
de 25, 20, 20 e 25 g/kg e as concentrações de inibição Entendemos que nossos clientes possuem desafios e
com Bacti-nil® Aqua foram respectivamente de 9,4 - 9,4 necessidades específicas. Desta forma, convidamos a todos
- 18,8 e 18,8 g/kg, mostrando efeito sinérgico, de ambos para compartilharem suas experiências e visões com o nosso
os produtos, com bactérias probióticas. time de especialista para que, em conjunto, possamos buscar
uma solução sustentável e rentável. Oferecemos na Adisseo,
Conclusão duas plataformas específicas para aquicultura (Nutrição e
Saúde), e três plataformas de serviços (E.Lab - Serviços
O uso do Sanacore® GM e Bacti-nil® Aqua tanto Analíticos, DIM - Sistemas de Dosagens de Líquidos e a
em testes in vitro como in vivo comprovaram seus efeitos PNE - Tecnologia NIR). Para saber mais, entrem em contato
contra as bactérias Francisella orientalis e Streptococ- com Thiago Ushizima no tel: (11) 9 9533-1746, e-mail thiago.
cus agalactiae (consultar edição 180 da Panorama da ushizima@adisseo.com ou visite www.adisseo.com

Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182 33


Aquicultura no Brasil:
uma indústria de 1 bilhão de dólares

Por:

Wagner C. Valenti1 Helenice P. Barros² Patricia Moraes-Valenti1 Guilherme W. Bueno1 Ronaldo O. Cavalli3
w.valenti@unesp.br helenice.barros@sp.gov.br moraes-valenti@gmail.com guilherme.wolff@unesp.br ronaldocavalli@gmail.com

1
Centro de Aquicultura da UNESP – CAUNESP
2
Instituto de Pesca/APTA/SAA
3
Estação Marinha de Aquacultura, Universidade Federal do Rio Grande – FURG

A aquicultura no Brasil prova-


velmente teve início no século
XVII, mas somente ganhou status
Figura 1. Principais grupos de espécies
produzidas em cada estado brasileiro

profissional na década de 1970.


Portanto, a aquicultura industrial é
uma atividade relativamente jovem
no Brasil. A maior parcela da pro-
dução nacional vem de pequenos
empresários e fazendas com áreas
de produção menores que 2 ha, de
modo similar aos principais países
produtores da Ásia. Neste artigo,
obtivemos informações de 77 co-
legas que atuam nas várias cadeias
produtivas da aquicultura brasileira.
Consultamos documentos históricos,
dados estatísticos de diferentes fon-
tes, documentos governamentais ou
de organizações internacionais. Tam-
bém revisamos a literatura científica
recente. Assim, tentamos obter um
panorama atualizado da atividade.
Com base nesta compilação, descre-
vemos o estado da arte, incluindo
uma discussão dos pontos fortes e
fracos dos diversos setores que com-
põem a nossa aquicultura. Este texto
foi baseado na Aquaculture Reports,
v.19, 10611, 2021, e a versão origi-
nal, em inglês, pode ser obtida em
https://bit.ly/3vy9pCk

34 Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182


As estatísticas de produção

Aquicultura no Brasil
A estatística pesqueira no Brasil sempre foi falha devido “A produção da pesca
a um sistema ineficiente de coleta de dados. As informações
sobre a produção da pesca marinha são fragmentadas e desatua-
de captura no Brasil
lizadas, enquanto os números das capturas nas águas interiores se manteve estável na
são subestimados. Felizmente, desde 2013 o Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE) coleta dados estatísticos última década, enquanto
sobre a aquicultura (Disponível em: https://sidra.ibge.gov.
br/Tabela/3940 e https://sidra.ibge.gov.br/Tabela/6938). Em que a aquicultura vem
paralelo, a Associação Brasileira dos Criadores de Camarão
(ABCC) e a Associação Brasileira de Piscicultura (Peixe BR) apresentando crescimento.
também apresentam estimativas de seus setores, embora os
números sejam diferentes dos dados oficiais do IBGE.
A produção aquícola
Estima-se que a produção brasileira de pescado tenha brasileira corresponde a
atingido algo em torno de 1,6 milhão de t, com a aquicultura
respondendo por aproximadamente 50%. Acompanhando uma cerca de R$ 5,5 bilhões de
tendência mundial, a produção da pesca de captura no Brasil
se manteve estável na última década, enquanto a produção receita bruta, ou um bilhão
da aquicultura vem apresentando um crescimento contínuo.
A produção da aquicultura brasileira corresponde atualmente de dólares americanos.
a cerca de R$ 5,5 bilhões de receita bruta, ou um bilhão de
dólares americanos. Com base nisso, o valor médio pago ao
O valor médio pago ao
produtor seria de aproximadamente R$ 6,90 por kg de produto produtor é de R$ 6,90
da aquicultura.
por kg de produto da
As espécies produzidas
aquicultura.”
Mais de 60 espécies de organismos aquáticos para
consumo humano e aproximadamente 250 espécies de peixes
ornamentais, invertebrados e plantas aquáticas foram produ-
zidos no Brasil nos últimos anos. A produção comercial de estados, enquanto os camarões do gênero Macrobrachium são
peixes é dominada pela tilápia-do-nilo (Oreochromis niloticus) produzidos em 19 estados e em todas as regiões do país. A aqui-
e pelos peixes redondos (tambaqui, pacu e híbridos). Com base cultura de outras espécies se restringe a uma região geográfica
na tradição, características de produção, cadeia produtiva e específica: a produção de moluscos ocorre em todos os estados
organização dos produtores, a aquicultura brasileira pode ser costeiros, a carcinicultura marinha concentra-se nos estados do
dividida em cinco grupos principais: peixes de água doce Nordeste e a produção de rãs, no Sudeste (Figura 1). Algumas
(várias espécies), camarão de água doce (Macrobrachium espécies respondem pela maior parte da produção. Segundo
rosenbergii), rãs (Lithobates catesbeianus), camarão mari- o IBGE, a tilápia-do-nilo vem em primeiro lugar com 57,9%
nho (camarão-branco-do-pacífico Litopenaeus vannamei) e da produção total da aquicultura brasileira. Em segundo, com
moluscos bivalves marinhos (mexilhões Perna perna e ostras 25,2%, estão o tambaqui e seus híbridos. O camarão marinho
Crassostrea gigas e Crassostrea gasar = C. tulipa). Além disso, responde por 9,7% da produção nacional, sendo o terceiro
tartarugas (Podocnemis expansa, P. unifilis e P. sextubercula- mais produzido. Nas posições 4 e 5 estão as carpas (comuns
ta), jacaré (Caiman crocodilus), peixes marinhos (beijupirá e chinesas) e o mexilhão P. perna, respectivamente. Muitas
Rachycentron canadum, garoupa Epinephelus marginatus e publicações trazem dados de produção do tambaqui e pacu
cerca de 25 espécies ornamentais), invertebrados marinhos incluindo os híbridos, o que dificulta a estimativa da produção
(cerca de 100 espécies de corais e o microcrustáceo Artemia das espécies puras.
franciscana), macroalgas (Porphyra, Hypnea, Gracilaria e
Kappaphycus alvarezii), microalgas (Spirulina, Arthrospira As fazendas aquícolas
platensis e várias espécies usadas na alimentação de larvas de
camarão) e a planta halófita salicórnia (Sarcocornia ambigua) A aquicultura brasileira depende basicamente de peque-
são cultivadas em menor escala. nas unidades de produção. Tradicionalmente, as aquiculturas no
Diferentes sistemas de produção aquícola foram encon- Brasil são classificadas de acordo com a área do espelho d´água.
trados em 4.198 dos 5.570 municípios do Brasil pelo IBGE. Este critério pode se adequar para a produção em viveiros,
Os peixes de água doce são o único grupo criado em todos os que corresponde à maioria da produção do país, mas não para

Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182 35


a produção em águas abertas, como no caso dos moluscos Por sua vez, os aquicultores são responsáveis ​​pela infraestrutura
Aquicultura no Brasil

ou de peixes em tanques-rede. Nestes casos, a classificação de criação, energia e mão-de-obra. Muitas vezes, a empresa líder
deveria considerar o volume efetivamente usado para criar tem sua unidade processadora e também é responsável pela co-
os organismos ou incluir o volume de água disponível para a mercialização e distribuição dos produtos finais.
diluição dos resíduos. Propriedades com viveiros podem ser
classificadas como muito pequenas (< 2 ha), pequenas (2,1 a Larviculturas
4,9 ha), médias (5 a 49,9 ha) e grandes (> 50 ha). O número
de fazendas de aquicultura em 2017 foi estimado pelo IBGE As larviculturas variam em tamanho e no nível de tecno-
em cerca de 233.000. Cerca de 95% são muito pequenas, logia aplicado. Algumas podem ser grandes e tecnologicamente
enquanto apenas 0,1% são classificadas como grandes. Estas sofisticadas, enquanto unidades pequenas e simples também
normalmente produzem camarão marinho, tambaqui/tam- são encontradas. Peixes nativos, como tambaqui e pacu,
batinga ou tilápia. Uma estrutura semelhante, dominada por precisam ser induzidos a desovar; o manejo de ovos, larvas e
pequenas fazendas com viveiros, é encontrada nos principais alevinos é feito em tanques internos, enquanto a criação até os
países produtores asiáticos. A grande diferença é a frequência alevinos é realizada, principalmente, em viveiros fertilizados.
de uso de sistemas integrados de produção, que no Brasil é Para a tilápia, larvas recém-eclodidas podem ser coletadas em
pequena, mas frequente na Ásia. tanques ou viveiros de reprodutores ou diretamente da boca das
A aquicultura no Brasil é muitas vezes uma atividade fêmeas para serem transferidas para ambientes controlados. A
secundária. As empresas mais resilientes são aquelas operadas inversão do sexo em tilápia pode ser realizada em pequenos
pelos proprietários. A maioria das fazendas está organizada tanques internos ou externos com rígido controle das con-
horizontalmente, com os aquicultores comprando alevinos ou dições ambientais, em tanques-rede em viveiros ou mesmo
pós-larvas, rações de outras empresas e vendendo sua produção livremente nos viveiros. Existem milhares de larviculturas de
para plantas de processamento, atacadistas, varejistas ou direta- diferentes espécies. Segundo o IBGE, a produção anual de
mente aos consumidores. Alguns empreendimentos produtores alevinos, pós-larvas (PL) e sementes de moluscos em 2019
de tilápia, tambaqui, truta, camarão marinho e rãs são parciais ou foi de cerca de 1,35 bilhão, 12,0 bilhões e 46,2 milhões de
totalmente verticalizados e possuem larvicultura própria, infra- unidades, respectivamente.
estrutura para engorda, fábrica de ração e planta processadora.
A integração entre diferentes empresas é um modelo utilizado Sistemas de produção
em algumas cadeias produtivas. A empresa líder fornece supor-
te técnico e insumos (alevinos, ração, calcário e fertilizantes), De modo geral, a engorda de peixes e de camarões ma-
pessoal e equipamentos para a despesca, e compra a produção. rinhos e de água doce é realizada em viveiros de fundo natural.
Atualmente, a piscicultura em tanques-rede tem aumentado
significativamente e é priorizada por vários órgãos governa-
mentais. Segundo alguns pesquisadores, o Brasil tem potencial
para produzir 2,5 milhões de t de pescado por ano neste sistema.
Os tanques-rede são instalados em pequenos reservatórios
em propriedades rurais, bem como em reservatórios maiores
construídos para geração de energia ou fornecimento de água.
O uso de raceways é praticamente restrito à criação de
trutas, enquanto tanques com troca contínua de água limitam-
-se à produção de larvas e alevinos de peixes de água doce e
à criação de ornamentais. Os sistemas de recirculação (RAS)

Guilherme Nakata - Piscicultura Cristalina - SP Viveiros de tilápia no oeste do Paraná


Foto: Guilherme Wolff Bueno

36 Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182


são usados ​​principalmente em larviculturas de camarão e na

Aquicultura no Brasil
produção de ornamentais, mas tem havido alguns estudos com
peixes marinhos. Sistemas de produção usando a tecnologia Figura 2. Principais espécies de peixe de
água doce produzidas no Brasil em 2019
de bioflocos (BFT) vêm sendo desenvolvidos para a criação
superintensiva de L. vannamei e tilápia. A tecnologia BFT tem
alta produtividade, baixa demanda por água e menor conversão Aquicultura Continental
Principais espécies
alimentar, mas grande necessidade de energia e requer pessoal Total: 529.223 t
qualificado e investimento inicial elevado.
A maioria dos peixes e crustáceos são produzidos em
monocultivos com fornecimento de ração. A produção em
aquicultura integrada é representada pela criação da carpa
comum e das carpas chinesas em viveiros, integrada ou não
com suínos, e dos camarões de água doce combinados com
peixes. O policultivo de carpas é praticado há mais de quatro
décadas no sul do Brasil. A tilápia e o jundiá (Rhamdia que-
len) vêm sendo adicionados a este policultivo. O interesse em
outras formas de produção integrada, incluindo aquaponia e
aquicultura multitrófica integrada (IMTA na sigla em inglês)
de espécies marinhas, vêm aumentando, mas ainda são reali-
zadas em escala piloto. Sistemas de criação não-alimentados,
ou seja, sem o uso de rações, ocorrem na produção de juvenis
de peixes de água doce em pequenos viveiros fertilizados, na
criação de peixes de água doce em grandes reservatórios, no tamanho médio de despesca varia de 0,7 a 1,2 kg. Aeradores e
policultivo de carpas, e na produção de moluscos e algas. A alimentadores automáticos são usados com​​ frequência. Produ-
aquicultura urbana se restringe à produção de ornamentais, tividades anuais de 30 a 60 t/ha são comuns, mas valores mais
algumas larviculturas, aquaponia e à produção de microalgas. baixos, de 10 t/ha, ocorrem em muitas pequenas propriedades
em diferentes estados. Peixes de viveiros com off-flavor (sabor
Peixes de água doce estranho devido à presença de cianobactérias) são um proble-
ma frequente. Em tanques-rede, peixes com 1 a 5 g (juvenis
O IBGE indica que, em 2019, a produção de peixes de com 25-40 g também são usados) são inicialmente estocados
água doce representou quase 95% da produção da aquicultura em altas densidades, sendo divididos duas ou três vezes até
do Brasil e 98% do número de fazendas, sendo que quase 80% a despesca. O ciclo pode durar seis meses no Nordeste e de
da atividade é realizada em viveiros. As principais espécies são 7 a 9 meses no Sudeste. A produtividade geralmente varia de
a tilápia-do-nilo sexualmente revertida, tambaqui (C. macropo- 30 a 70 kg/m3/ciclo. A conversão alimentar é de cerca de 1,4
mum) e seus híbridos, quatro espécies de carpas, e o pacu (P. nos viveiros, e de 1,6 a 1,8 nos tanques-rede. Mil alevinos de
mesopotamicus) e seus híbridos (Figura 2). Cerca de 120.000 tilápia de 0,5 a 1 g custam de R$ 82,50 a 165,00, enquanto o
produtores de carpa foram identificados em todos os estados, produtor recebe de R$ 4,40 a 6,60/kg.
exceto Roraima. A carpa comum (C. carpio), a carpa capim (C. Nas últimas duas décadas, a produção de tilápia tem
idella), a carpa prateada (H. molitrix) e a carpa cabeça-grande se expandido do tradicional sistema em viveiros para o de
(H. nobilis) são as principais espécies de carpas criadas em tanques-rede em reservatórios. Os produtores de tilápia em
sistemas integrados, muitas vezes com a produção de suínos no tanques-rede têm enfrentado dificuldades, como baixos ní-
sul do Brasil. A produção de tilápia foi registrada em 110.000 veis de água nos reservatórios devido às secas, ocorrência de
estabelecimentos rurais em todos os estados. Muitas pequenas doenças bacterianas e até problemas de mercado. A margem
fazendas produzem carpas e tilápias. de lucro de pequenas fazendas de tanques-rede é baixa e,
portanto, quaisquer dificuldades durante a produção podem
Tilápia - A tilápia é criada em viveiros e em tanques-rede em afetar a lucratividade. A restrição ambiental mais crítica ocorre
reservatórios. Chitralada e Gift são as linhagens mais frequen- no inverno, quando as águas superficiais esfriam, ficam mais
tes, sendo comum a produção de mais de uma linhagem na densas e afundam. Como resultado, águas profundas com baixo
mesma fazenda. Vários laboratórios fornecem juvenis com alto teor de oxigênio e ricas em compostos tóxicos são forçadas para
valor genético, enquanto muitas empresas oferecem dietas de cima e podem causar a morte dos peixes. O uso de altas den-
qualidade. O Estado do Paraná é o maior produtor, e a maior sidades pode aumentar a produtividade e reduzir os custos de
parte da produção é proveniente de pequenos viveiros (0,1 a produção, mas causa estresse crônico, facilitando a instalação
0,5 ha) em fazendas com área de 1 a 10 ha. As tilápias são de vírus e bactérias. Tanto o Tilapia Lake Virus (TiLV) como o
inicialmente estocadas com 1 a 15 g e, após 6 a 10 meses, o Iridovirus (ISKNV - vírus da necrose infecciosa do baço e rim)

Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182 37


Aquicultura no Brasil

são ameaças para a produção intensiva de tilápia. Possíveis


epidemias em um futuro próximo podem causar drásticas “As principais espécies
perdas de produção. Outras dificuldades enfrentadas pelos
produtores de tilápia em tanques-rede são a legalização da criadas em 2019 foram a
atividade e a consequente impossibilidade de acesso ao cré-
dito, a falta de assistência técnica, a necessidade de aumentar tilápia-do-nilo, tambaqui
a produtividade e minimizar os custos, a diversificação dos e seus híbridos, quatro
canais de comercialização, treinamento e comercialização.
A infestação do mexilhão-dourado (Limnoperna fortunei), espécies de carpas, pacu
ocorrência de off-flavor e​​ o tamanho não padronizado dos
peixes entregues para o processamento também são questões e seus híbridos. A carpa
a serem resolvidas.
comum, a carpa capim, a
Carpas, trutas e panga - Além da tilápia-do-nilo, as carpas,
a truta arco-íris (Oncorhynchus mykiss) e o bagre panga
carpa prateada e a carpa
(Pangasius hypophthalmus) são outras espécies exóticas cabeça-grande são as
criadas no país. A aquicultura de carpas foi muito importante
no passado, mas diminuiu com o aumento da produção de principais espécies de
tilápia. Apesar disso, segundo o IBGE, as carpas ocupam
o primeiro lugar em número de produtores em todo o país, carpas criadas em sistemas
embora a produção corresponda a apenas 4% entre os grupos
de espécies. As carpas são criadas em monocultivo com for- integrados, muitas vezes
necimento de ração, mas principalmente em integração com
outras espécies de peixe. A aquicultura integrada de ​​ carpas
com a produção de suínos.
em Santa Catarina é baseada em tecnologia desenvolvida A produção de tilápia foi
localmente e que alcança altas produtividades, lucratividade
e resiliência. Sistemas de produção com carpas sem forne- registrada em 110.000
cimento de rações são capazes de produzir de 4 a 6 t/ha em
ciclos de um ano, quando os peixes atingem de 1 a 2 kg e estabelecimentos.”
geram um lucro anual de R$ 16.500 a 27.500 por ha. Quando
a tilápia é incluída e dietas de finalização são oferecidas 3-4
meses antes da despesca, é possível alcançar uma conversão enquanto no Sudeste, a visita às fazendas e a gastronomia
alimentar entre 0,6 e 0,9. Nesse caso, o ciclo de produção são importantes fontes de receita. As principais restrições ao
varia de 8 a 10 meses, e a produtividade e o lucro líquido aumento da produção de trutas são a falta de plantas de pro-
aumentam para 7-12 t/ha/ano e cerca de R$ 27.500/ha/ano, cessamento com certificação sanitária, mercado limitado e a
respectivamente. Algumas fazendas produzem peixes de competição entre fazendas em uma mesma região, resultando
dois anos com 3-5 kg ​​para o mercado vivo ou para estabe- na diminuição dos preços de venda.
lecimentos de pesca recreativa. Recentemente, tem havido um interesse crescente na
A truta arco-íris é produzida em pequenas proprie- produção do panga. Esta espécie foi introduzida em alguns
dades familiares, com alta produtividade e um mercado estados das regiões Sudeste e Nordeste. O desempenho nos
lucrativo. As fazendas estão localizadas em áreas de altitude primeiros ensaios foi promissor, mas ainda não conclusivo.
no Sul e Sudeste, onde a temperatura da água varia de 10 a
20°C. Cerca de 200 fazendas estão concentradas no sul de Espécies Nativas
Minas Gerais. A produção em 2019 foi de aproximadamente
2.000 t, de acordo com o IBGE. As trutas são criadas em A produção de espécies nativas de peixe ocorre em todo
altas densidades em raceways e em tanques circulares com o país e, em 2019, foi estimada em 185,8 mil t, o que, segundo
alta renovação de água. A fase de engorda dura 10-12 me- o IBGE, corresponde a 35,1% da produção nacional de peixes.
ses, a produtividade é de aproximadamente 30 kg/m3/ano Os peixes redondos, tambaqui (C. macropomum), pacu (P.
e trutas com peso entre 300 e 400 g são vendidas por cerca mesopotamicus) e seus híbridos (tambacu: C. macropomum
de R$ 12,00/kg. Pequenas truticulturas familiares, com 300 fêmea x Piaractus mespotamicus macho; patinga: P. mesopo-
a 1.000 m2 de tanques, podem ser lucrativas devido à alta tamicus x P. brachypomus; e tambatinga: C. macropomum x P.
produtividade. No RS e SC, a liberação de juvenis em rios brachypomus), são o segundo e terceiro grupos de espécies de
para a pesca esportiva é comumente associada ao turismo, peixes mais produzidas no país, respectivamente. A produção

38 Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182


Aquicultura no Brasil
Tambaqui produzido na
Aquicultura Cerrado,
Alexânia, GO
Foto: Lincoln Nunes Oliveira

dessas espécies de baixo nível trófico tem um ciclo de criação devem ser realizados para esclarecer esta questão. Alguns
de cerca de um ano, a qual é realizada principalmente em produtores preferem a tambatinga devido à cor prateada e
viveiros, mas também em tanques-rede. Os peixes redondos opérculo avermelhado, que se adequam ao gosto dos consumi-
têm boa aceitação no mercado, sendo vendidos inteiros, em dores. O processo de produção do tambaqui e da tambatinga
postas, cortados ao meio segundo um plano sagital, costela, é similar. Ambos são criados em viveiros em fazendas de
ventrecha ou filé. Trabalhadores treinados podem remover fa- pequeno, médio e grande porte, algumas com mais de 400
cilmente os espinhos em forma de Y durante o processamento, ha de espelho de água. A estocagem direta de juvenis com
mas, infelizmente, essa técnica ainda não é aplicada em todo o 2-5 g na densidade de 0,4 a 0,7/m2 por 12 meses é a prática
país, o que limita o mercado em algumas regiões. O tambaqui padrão, mas também é comum uma fase anterior de 3 meses,
e híbridos, em corte sagital desossado, são comumente encon- quando os peixes atingem 70-80 g. Estes juvenis maiores são
trados nos mercados do norte do país. A produção de peixes transferidos para viveiros na densidade de 0,5 a 2/m2. Após
de tamanho heterogêneo, a susceptibilidade à contaminação 10 meses, atingem cerca de 1,5 a 3,0 kg e sobrevivência
por Salmonella e a presença de parasitas são alguns obstáculos em torno de 70%. Em algumas áreas da região Norte, os
na produção de peixes redondos que podem ser superados por aquicultores estocam juvenis com 300-500 g em viveiros e,
boas práticas de manejo tanto nas fazendas quanto nas unidades após 8 meses, obtêm 6-8 t/ha. Outros preferem duas fases
de processamento. anteriores de cultivo e estocam os viveiros de engorda com
peixes de 0,8 kg. A conversão alimentar varia de 1,6 a 1,8,
Tambaqui e tambatinga - A produção de tambaqui concentra- mas valores mais baixos são comuns porque o tambaqui se
-se no Centro-Oeste e Norte, principalmente em Rondônia, alimenta de zooplâncton. A produtividade varia de 5 a 12 t/
Roraima e Maranhão. Embora Rondônia se especialize na ha/ano, e o preço de venda de peixes entre 0,8 e 3,0 kg é de
produção de tambaqui puro, a produção de tambatinga está R$ 5,00 a 6,60/kg. O estado do Amazonas possui um nicho
crescendo. Na região Nordeste e no Mato Grosso, a produção de mercado para tambaquis com 500 g, conhecido como
de híbridos tem ganhado espaço em relação a do tambaqui puro. “tambaqui curumim”.
Muitos aquicultores acreditam que a tambatinga tem melhor
desempenho em viveiros e seria mais fácil de ser processada. Pacu e seus híbridos - O pacu, patinga e tambacu são produ-
Ao contrário, alguns pesquisadores afirmam que o tambaqui zidos principalmente nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
tem um desempenho superior, e a substituição do tambaqui O tambacu também é produzido no Norte e Nordeste. Alguns
puro por híbridos estaria associada à procura dos piscicultores piscicultores acreditam que o tambacu seria mais resistente a
por novas espécies ou linhagens. Experimentos controlados temperaturas baixas que o tambaqui, e também que cresceria

Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182 39


mais rápido que o pacu. No entanto, os resultados experi- qualificados ou quando densidades menores (< 0,5 peixes/
Aquicultura no Brasil

mentais não confirmam o desempenho superior do híbrido m²) são usadas. O peixe é vendido a atacadistas, varejistas ou
em relação ao pacu puro. Ambos toleram temperaturas de empresas de pesque-e-pague por R$ 7,00-10,50/kg. Os tanques-
águas mais frias prevalentes no inverno em latitudes de -rede são estocados com 50-60 peixes/m3, e a produtividade
25°S, quando o crescimento e a ingestão de alimentos são chega ao redor de 40 kg/m3. Falhas na organização da cadeia
reduzidos. No entanto, com temperaturas mais altas na de valor e dificuldades na tecnologia de processamento são
primavera e no verão, taxas de crescimento compensatórias os principais entraves para o desenvolvimento da aquicultura
de 8 g por dia são observadas. A patinga é menos gordurosa do pacu no Brasil.
que o pacu, o que é considerado uma vantagem no mercado.
Além disso, muitos piscicultores acreditam que a patinga Curimbatá - A produção de Prochilodus é uma atividade
cresça mais rápido que o pacu. A criação de pacu, tambacu tão tradicional que é praticada em todos os estados do país.
e patinga segue protocolos semelhantes. Geralmente são Prochilodus constitui o quinto grupo de espécies nativas
produzidos em viveiros, mas também em tanques-rede. Em mais produzido para consumo humano no Brasil. Um grande
viveiros, juvenis de 2-3 cm são estocados com 0,5 a 2 pei- número de juvenis de diferentes tamanhos é liberado em ba-
xes/m² por 10-12 meses, quando os peixes atingem de 1,2 cias hidrológicas impactadas por barragens no Sul e Sudeste,
a 2 kg. Normalmente são usadas rações com 24 a 32% de constituindo um grande mercado para a mitigação ambiental.
proteína sem diferenças evidentes no desempenho, prova- O repovoamento sustenta a pesca artesanal, que é muito impor-
velmente porque o pacu e o tambacu se alimentam também tante em várias regiões. Exemplares de Prochilodus lineatus
de alimentos naturais presentes nos viveiros. A variação da com aproximadamente 15 cm também são vendidos como iscas
conversão alimentar entre fazendas é grande (de 1,3 a 2,5), vivas para a pesca esportiva. Além disso, o curimbatá tem grande
provavelmente devido a diferenças no manejo, particular- potencial para ser produzido em cultivos multitróficos integrados
mente a densidade. A produtividade anual varia de 10 a 12 (IMTA), pois habita a porção inferior dos ambientes aquáticos
t/ha, mas menos de 5 t/ha são obtidas por produtores menos e se alimenta da matéria orgânica no sedimento.

Pintado, cachara e jundiá - Os bagres nativos, como pintado


(Pseudoplatystoma coruscans) e cachara (Pseudoplatystoma
fasciatum), e seus híbridos, cachapira (Pseudoplatystoma
“A produção de peixes reticulatum x Phractocephalus hemioliopterus) e pintachara
(Pseudoplatystoma fasciatum x P. reticulatum), foram produ-
nativos ocorre em todo o zidos no passado. Mais recentemente, eles foram substituídos
pelo híbrido do cachara (Pseudoplatystoma reticulatum) com
país e corresponde a 35,1% o jundiá-onça (Leiarius marmoratus) porque os alevinos são
mais fáceis de produzir, além de não serem tão canibais e acei-
da produção nacional. Peixes tarem bem as rações comerciais. O desempenho deste híbrido
de tamanho heterogêneo, supera o das linhagens puras e dos outros híbridos. Os bagres
nativos são criados principalmente nas regiões Centro-Oeste
a susceptibilidade e Sudeste em monocultivo intensivo com arraçoamento. Os
viveiros são estocados com 0,5 a 0,8 juvenis/m2, e o ciclo
à contaminação por geralmente dura um ano, quando os peixes atingem 1,5 a 2,0
kg. A produção atingiu 11 mil t em 2019, e o preço ao produtor
Salmonella e a presença está em torno de R$ 11,00/kg. Os juvenis também são vendidos
de parasitas são alguns como ornamentais.
Esforços para desenvolver a produção do jundiá (R.
obstáculos que podem quelen) estão em andamento. Este bagre é produzido no sul do
Brasil em monocultivo alimentado com ração ou em policultivo
ser superados por boas com carpas. Quando em monocultivo, o tamanho comercial
(cerca de 0,5 kg) é alcançado em torno de 6 meses. As princi-
práticas de manejo, tanto pais dificuldades na produção do jundiá são a alta incidência de
parasitas nos juvenis e a variação genética. Fazendas na região
nas fazendas quanto nas Sul criam inadvertidamente uma mistura de três espécies de
processadoras.” Rhamdia (R. quelen, R. branneri e R. voulezi). Todos os bagres
nativos são produzidos em viveiros, mas algumas tentativas
de criar o pintado e o jundiá em tanques-rede têm produzido
resultados promissores.

40 Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182


Pirarucu - Endêmico da bacia

Aquicultura no Brasil
amazônica, a demanda por Ara-
paima gigas tem sido atendida
pela pesca manejada de popu-
lações naturais em Reservas de
Desenvolvimento Sustentável
ou Reservas Extrativistas. Um
grande esforço de pesquisa tem
sido realizado visando o seu
cultivo. A produção comercial é
feita em viveiros estocados com
juvenis de aproximadamente10
cm (cerca de 1 kg) na densidade
de 1 peixe/10 m2. O preço dos
juvenis varia de R$ 5,50 a 16,50
por unidade de acordo com a re-
gião e estação do ano. O pirarucu
é alimentado com rações comer-
ciais para peixes carnívoros que
custam ao redor R$ 2,75/kg, e
geram uma conversão alimentar
próxima a 2,1. O pirarucu nor-
malmente atinge 10-12 kg em Exemplar de pirarucu da Bacia Amazônica - Arapaima gigas
um ano e pode chegar a 25-30
kg em dois anos. Embora ainda
não haja um protocolo de criação
estabelecido, a produção em cativeiro tem grande potencial e lambaris congelados, eviscerados e sem espinhas para con-
aumenta gradativamente. Segundo o IBGE, em 2019 foram sumo humano. Devido à sua tolerância às águas salinas, a
produzidas 1.900 t. O preço ao produtor varia de R$ 11,00 a produção do lambari da Mata Atlântica (Deuterodon iguape)
17,50/kg. O pirarucu é tradicionalmente comercializado em está sendo considerada para uso como isca para a pesca de
filés secos e salgados, mas empresas de aquicultura também atuns. A produção dessa espécie pode ser uma ferramenta
fornecem filés frescos e congelados. A principal limitação tec- importante para o desenvolvimento sustentável de populações
nológica na criação desta espécie está relacionada à reprodução rurais e uma fonte alternativa de renda para as comunidades
(identificação do sexo, baixa fecundidade e falta de controle em áreas de conservação florestal.
sobre as desovas). Outras limitações incluem a disponibilidade
de juvenis, altos custos de produção e questões de mercado. Outros nativos - A produção de outras espécies nativas de
Alguns aquicultores relataram dificuldades em vender sua peixes, especialmente as de baixo nível trófico, como ma-
produção a preços compensatórios. trinxã ou jatuarana (Brycon cephalus), piracanjuba (Brycon
orbignyanus), curimbatá ou curimatã (Prochilodus spp.) e
Lambari - O mercado de pequenas espécies de peixes nativos piau (Leporinus spp.), também têm representatividade na
para uso como isca viva é grande e pouco conhecido pelos aqui- aquicultura nacional, embora o volume de produção certa-
cultores. O lambari (Astyanax lacustris) é a principal espécie mente seja subestimado. As estimativas oficiais de produção
que atende este mercado. Embora presente em todo o país, a dessas espécies em 2019 variaram de 3.000 a 3.500 t, sendo
produção está concentrada no Sul e Sudeste, principalmente em que, em 2017, aproximadamente 5.000, 9.000 e 8.000 pro-
São Paulo. O lambari é criado em viveiros pequenos (0,03 a 0,3 priedades produziam matrinxã, curimbatá e piau, respecti-
ha) em pequenas propriedades, embora duas grandes empresas vamente, de acordo com o IBGE. O piau (Leporinus spp.)
estejam atualmente em operação. A produção anual estimada é produzido principalmente para subsistência, para atender
supera 1.000 t, sendo comercializada principalmente para o mercados locais ou direcionado para estabelecimentos de
mercado de iscas, mas também para consumo como aperitivo. pesque-e-pague e para o mercado de mitigação ambiental. O
O tamanho de comercialização varia de 6 a 8 cm (adultos), piavuçu, Leporinus microcephalus, e o ximboré, Schizodon
mas alguns pescadores esportivos preferem lambaris entre 3 a borelli, são produzidos para o consumo humano e para o
5 cm. Independentemente do tamanho, o produtor recebe cerca mercado de iscas vivas. A utilização de sistemas intensivos
de R$ 275,00 por mil unidades. Uma planta de processamento em tanques-rede poderá impulsionar a produção de algumas
específica para essa espécie paga cerca de R$ 17,50/kg e vende dessas espécies nativas.

Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182 41


reprodutores é necessário para evitar a erosão genética das
Aquicultura no Brasil

populações naturais causada pela liberação de indivíduos com


depleção genética.
“A piscicultura ornamental A piscicultura ornamental de água doce é uma
de água doce é uma indústria importante que se concentra em São Paulo e
Minas Gerais. Mais de 100 espécies da bacia amazônica e
indústria importante. da Ásia foram produzidas nas últimas décadas, incluindo
o acará-bandeira (Pterophylum scalare), o acará-disco
Mais de 100 espécies (Symphysodon aequifasciatus), o betta (Betta splendens),
o peixe-japonês ou quínguio (Carassius auratus), a carpa
da bacia amazônica e da nishikigoi (Cyprinus carpio) e o barrigudinho ou guppy
(Poecilia reticulata). Milhões de exemplares são comer-
Ásia foram produzidas cializados anualmente. Segundo o Instituto Pet Brasil
nas últimas décadas e (www.institutopetbrasil.com), o peixe ornamental é o
quarto animal de estimação mais popular no país, com
milhões de exemplares cerca de 20 milhões de indivíduos nos lares brasileiros.
Os esforços de pesquisa relacionados à produção de or-
são comercializados namentais concentram mais de 50 patentes depositadas
no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI).
anualmente. Segundo o Ainda assim, esse número é relativamente baixo quando
comparado a outros países exportadores de ornamentais.
Instituto Pet Brasil, o peixe A falta de vacinas, métodos de diagnóstico e tratamento
ornamental é o quarto rápido de doenças e dietas contendo medicamentos são os
principais entraves à produção. Um sistema regulatório
animal de estimação mais específico e programas de rastreabilidade e certificação
também são necessários para impulsionar a aquicultura
popular no país." ornamental no país.

Camarão de água doce

O cultivo de camarões de água doce no Brasil começou


nos anos 1980. A maior parcela da produção vem de pequenas
fazendas espalhadas pelo país que produzem o camarão-da-
Repovoamento e ornamentais -malásia, M. rosenbergii. O Espírito Santo é o principal polo,
mas, após anos de secas, a produção diminuiu drasticamente.
Juvenis de várias espécies nativas são produzidos para Hoje, o Brasil possui pelo menos dez larviculturas comerciais.
atender projetos de mitigação ou biorremediação ambiental. A criação é realizada em viveiros com áreas de 0,1 a 0,5 ha.
Eles são vendidos para usinas hidrelétricas ou empresas de A produção total é estimada em cerca de 150 t, que é vendida
abastecimento de água para repovoar rios impactados pela a atacadistas, varejistas ou diretamente ao consumidor final.
construção de barragens. Como várias espécies de peixes O Brasil sempre teve tradição em pesquisas com os
nativos são reofílicos, as barragens prejudicam a migração camarões de água doce. O grande grupo de especialistas deu o
reprodutiva, levando a drástica redução das populações natu- apoio necessário para estabelecer uma base sólida que permitiu
rais e afetando negativamente a pesca artesanal. Para superar a produção destes camarões em todas as fases de produção.
esse problema, milhões de juvenis de curimbatás (P. linea- As larviculturas são pequenas, geralmente com capacidade de
tus), pacus (P. mesopotamicus), piaus (Leporinus elongatus produção anual de 5 a 10 milhões de PL, operam com sistemas
e Leporinus obtusidens), lambaris (A. lacustris), jundiá (R. de recirculação de água e podem ser altamente lucrativas se
quelen), piracanjuba (B. orbignyanus), dourado (Salminus operadas de forma contínua. O milheiro de PL é vendido a R$
brasiliensis) e outras espécies são produzidos e liberados 110,00-175,00, o que representa cerca de 20% dos custos na
nos rios anualmente. Este é um mercado importante para engorda. Esta é realizada tanto em mono como em policultivos.
as larviculturas de peixes, pois os juvenis são vendidos por A produtividade anual é de 2,0 a 3,0 t/ha em monocultivos
R$ 550,00 a 1.100,00 por mil unidades. A liberação desses arraçoados e de 0,8 a 1,0 t/ha em cultivos integrados sem
juvenis sustenta uma sólida atividade pesqueira continental, fornecimento de ração aos camarões. O produtor recebe de
principalmente no Sudeste. Assim, a pesca dependente da R$ 33,00 a 66,00/kg de camarões com 20-70 g. Embora a
aquicultura é uma importante atividade em algumas regi- lucratividade da atividade no Brasil tenha sido demonstrada,
ões. Um programa de controle da variabilidade genética dos o setor não se desenvolveu de acordo com o potencial. As

42 Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182


Aquicultura no Brasil
Rãs

Atividade tradicional no Brasil,


a ranicultura se restringe a poucos
produtores no Sudeste. Um recente
levantamento realizado pelo Instituto
de Pesca/SP revelou 22 fazendas em
operação, que produzem 80 t anuais.
Apesar de economicamente atrativa,
a produção vem diminuindo por ques-
tões sanitárias, principalmente pela
presença do Ranavírus (Frog virus 3),
que foi descoberto em 2006 quando a
produção anual era superior a 600 t.
Esse vírus é altamente letal para anu-
ros e também afeta répteis e peixes.
Muitas fazendas enfrentaram surtos
substanciais e outras foram fechadas
pelas autoridades sanitárias.
A única espécie criada comer-
cialmente é a rã-touro norte-americana,
Juvenis de beijupirá L. catesbeianus, que se adaptou bem
Foto R.O. Cavalli
às condições ambientais locais. Pes-
quisadores brasileiros desenvolveram
tecnologia para a criação de rãs há mais
principais limitações estão relacionadas à desconexão da de cinco décadas. Um eficiente sistema de cultivo intensivo,
cadeia produtiva, como a dificuldade no transporte das PL e denominado anfigranja, que integra instalações para repro-
a indisponibilidade de dietas de baixo custo. A organização dução, cultivo e crescimento de girinos, está disponível. As
da cadeia produtiva é fundamental para o desenvolvimento rãs também podem ser criadas em sistemas inundados e em
deste setor no país. gaiolas. Pelo menos duas plantas processadoras específicas
Espécies nativas também são produzidas, mas em para rãs operam em São Paulo. Os custos de produção são
menor escala. Duas larviculturas produzem PL do camarão- altos, e o preço de venda é cerca de R$ 65,00/kg, o que res-
-da-amazônia Macrobrachium amazonicum com tecnologia tringe o mercado. A produção de rãs em gaiolas instaladas
desenvolvida por um consórcio de instituições de pesquisa e em viveiros de peixes ou camarão de água doce pode ser
que foi patenteada no INPI. Esta espécie é tradicionalmente uma possibilidade de diminuir os custos de produção e a
consumida no Norte e Nordeste, principalmente no Pará e poluição ambiental.
Amapá. Espera-se que a produção pela aquicultura substitua
a pesca artesanal, que está em declínio, além de atender à Peixes marinhos
demanda de iscas vivas pela pesca esportiva. O camarão-
-canela, Macrobrachium acanthurus, é criado com juvenis Embora os primeiros relatos sobre aquicultura no
capturados na natureza ou em viveiros de peixes. O camarão Brasil sejam de peixes marinhos no século XVII, a atividade
Macrobrachium carcinus está ameaçado de extinção e vem ainda não alcançou importância comercial no país. A partir
sendo produzido em larviculturas para fins de repovoamento. dos anos 1990, várias instituições começaram a desenvolver
Os camarões de água doce têm grande potencial para pesquisas com o robalo peva (Centropomus parallelus),
produção em IMTA, pois vivem no fundo dos viveiros e po- tainha (Mugil spp) e linguado (Paralichthys orbignyanus).
dem se alimentar de resíduos de outras espécies. A introdução Outras espécies nativas que têm recebido atenção são a
de camarões em lavouras de arroz irrigado, bem como em garoupa verdadeira (E. marginatus), o robalo flecha (Cen-
viveiros de tilápia e tambaqui também deve ser considerada. tropomus undecimalis), a carapeba (Eugerres brasilianus),
Nestes casos, não há necessidade de suplementação alimentar a cioba (Lutjanus analis) e o ariacó (Lutjanus synagris). No
e os únicos custos adicionais são os relacionados à aquisição início dos anos 2000, a produção de beijupirá (R. canadum) na
de PL, manejo da colheita e pré-processamento. A viabilidade Ásia despertou o interesse de várias instituições de pesquisa
técnica e econômica e os ganhos ambientais da produção e empresas privadas. Em 2006, foram obtidas as primeiras
integrada ao cultivo de arroz, tilápia, tambaqui ou lambari desovas em cativeiro e, logo em seguida, um projeto piloto
foi demonstrada em diversos estudos. e uma fazenda experimental, ambas em mar aberto, foram

Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182 43


Aquicultura no Brasil

implantadas em Pernambuco. Embora essas iniciativas tenham realizadas. Esta espécie é usada como isca viva na pesca do
mostrado que a atividade pode ser economicamente viável, os atum, além de sustentar uma grande indústria de conservas.
altos riscos associados ao pioneirismo da atividade levaram Desovas espontâneas e induzidas de reprodutores captu-
essas fazendas a fechar. Entre as principais dificuldades estão rados na natureza e criados em laboratório foram obtidas,
a necessidade de importação de equipamentos especializados o que permitiu a realização de larviculturas e testes de
com elevada carga tributária, alto investimento inicial, dificul- engorda. Após 10 meses, sardinhas pesando 45-58 g foram
dade na obtenção de rações e juvenis de qualidade, e a falta obtidas em tanques dentro de estufas e em tanques-rede.
de pessoal experiente e de serviços de patologia. A piscicultura ornamental marinha também é um
Paralelamente às tentativas de criação de beijupirá setor promissor, e que conta com mais de 20 produtores.
no Nordeste, fazendas menores, próximas à costa, estão Pelo menos 25 espécies, das famílias Pomacentridae (12),
em operação no Sudeste (especificamente no RJ, SP e Gobiidae (4), Blenniidae (4), Pseudochromidae (5) e
ES). Em SP, uma larvicultura comercial produz juvenis Apogonidae (1), são produzidas. Os peixes são vendidos
de beijupirá e garoupa. Estima-se que a produção anual de para atacadistas ou diretamente para lojas com preços
beijupirá nesta região tenha aumentado de 25 t em 2015 médios de R$ 33,00/unidade. A produção é urbana e
para 100 t em 2019. A maioria das fazendas de beijupirá normalmente realizada em pequenos aquários ou tanques
opera pequenos tanques-rede com diâmetro menor ou operados em RAS. Os peixes-palhaço (Amphiprion ocella-
igual a 16 m. Após um ciclo médio de 12 meses, peixes ris, Amphiprion percula e Premnas biaculeatus) são as
com 3,5 a 5 kg são despescados e vendidos localmente, principais espécies produzidas. Outras espécies comuns
principalmente para restaurantes de luxo. Embora o são o “dottyback fridmani” (Pseudochromis fridmani)
interesse inicial tenha se concentrado no beijupirá, tem e “striped blenny” (Meiacanthus grammistes). Todas as
havido um interesse crescente na produção da garoupa. cinco espécies acima são exóticas, mas a tecnologia para
Recentemente, uma fazenda em São Paulo passou a pro- produzir espécies nativas, como o neon goby (Elacatinus
duzir essa espécie em parceria com um grupo estrangeiro, figaro) e o cavalo-marinho (Hippocampus reidi), estão
e um projeto de repovoamento no litoral norte de São disponíveis. Os cavalos-marinhos têm um grande mercado,
Paulo está em andamento. As principais restrições para pois são usados em práticas religiosas no país e como pro-
o desenvolvimento da produção de peixes marinhos no dutos nutracêuticos e farmacêuticos na Ásia, sobretudo na
Sudeste são a dificuldade de obtenção do licenciamento China. Esse mercado é atendido pelo extrativismo ilegal,
ambiental e a disponibilidade de rações de qualidade que impacta as populações naturais. Uma tecnologia de
específicas para peixes marinhos. baixo custo usando tanques-rede em viveiros de camarão
Nos últimos anos, pesquisas sobre a produção da está disponível, e pode atender a esse mercado com boa
sardinha brasileira (Sardinella brasiliensis) vêm sendo lucratividade. As principais restrições incluem a dificul-

Viveiros de cultivo e camarão L. vannamei despescado no Ceará | Fotos: Carolina Costa

44 Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182


Aquicultura no Brasil
Grande do Norte e Ceará. Várias fazendas no interior
“A aquicultura brasileira usam águas de baixa salinidade (menos de 1) e obtêm
sobrevivência de 60-80%. Tem havido um interesse
gera uma receita superior crescente na intensificação, em paralelo com a produção
no interior, a minimização dos impactos ambientais e a
a um bilhão de dólares utilização de unidades de produção menores em sistema
por ano. E deve ser vista BFT. Os aquicultores estocam PL ou juvenis, que são
produzidos em grandes e sofisticadas larviculturas pri-
como uma realidade e não vadas. Em 2019, a produção nacional de PL ultrapassou
12 bilhões, as quais foram comercializadas por R$ 7,50
mais como um potencial. a 11,00 por mil unidades. Os camarões são alimentados
com dietas extrusadas de alta densidade. Uma fazenda
No entanto, ela ainda é orgânica não utiliza ração, explorando a produtividade
natural dos viveiros. Em várias fazendas, são utilizados
pequena considerando probióticos para melhorar a qualidade da água e o estado
todos os recursos naturais, imunológico dos camarões. Os ciclos de criação variam
de 3 a 4 meses, com 10 a 20 PL estocadas por m2, e a
tecnológicos e financeiros produtividade gira em torno de 2-6 t/ha/ano. Maiores
produtividades podem ser alcançadas quando sistemas
disponíveis no país. Nossa multifásicos são aplicados. A duração dos ciclos de
produção foi significativamente reduzida na tentativa de
indústria é diversificada mitigar a mortalidade causada por doenças virais. Atual-
mente, algumas fazendas realizam as despescas apenas
em termos de espécies e 2 meses após a estocagem. Em sistemas de monocultivo,
de sistemas de produção, bandejas de alimentação são colocadas estrategicamente
em diferentes partes do viveiro, e a conversão alimentar
alicerçada nos pequenos varia de 1,0 a 1,8 quando rações com 30 a 35% de proteína
bruta são fornecidas. Em sistemas BFT, os camarões são
produtores.” normalmente produzidos em densidades acima de 100
juvenis/m² com o uso de aeradores e/ou sopradores e alta
demanda de energia. Os preços obtidos pelos produtores
dade de se obter licenças para comercializar espécies para camarões de 8 a 10 g variam de R$ 17,50 a 22,00/
nativas, a falta de equipamentos e materiais especiali- kg. A maioria das fazendas vende direto para atacadistas
zados no mercado nacional, como dietas específicas e ou restaurantes sem qualquer processamento.
de enriquecimento para alimento vivo; a burocracia na A produção de L. vannamei no Brasil aumentou
importação de suprimentos essenciais; e a falta de rastre- rapidamente de 4.000 t em 1997 para 90.000 t em 2003,
abilidade na comercialização de ornamentais marinhos. mas diminuiu depois disso. Em 2019, o IBGE estimou
Além disso, os esforços de pesquisa têm recebido apoio uma produção de 54,3 mil t. A queda na produção na-
limitado. Há a necessidade de desenvolver e melhorar a cional, observada desde 2003, deve-se a vários fatores,
tecnologia de produção de espécies ameaçadas e de alto como doenças virais, principalmente vírus da mionecrose
valor, especialmente as nativas. infecciosa (IMNV ou NIM) e vírus da síndrome da mancha
branca (WSSV), inundações sazonais, a taxa de câmbio
Camarões marinhos do Real em relação ao dólar americano que dificulta a
exportação, a queda dos preços no mercado internacional
A criação de camarões peneídeos é um setor bem e as medidas antidumping impostas pelo governo dos
organizado, com cerca de 3.000 produtores. As peque- Estados Unidos às importações de camarão do Brasil.
nas propriedades representam cerca de 75%, as médias Atualmente, existem vários produtores de PL e fazendas
20% e as grandes apenas 5%. A produção é baseada na fechadas ou com áreas subutilizadas. Na última década,
monocultura de L. vannamei, normalmente em sistemas a maior parte do camarão marinho produzido no Brasil
semi-intensivos em viveiros. Iniciativas de produção de era exportado para os EUA e Europa. No entanto, desde a
camarão integrado a tilápia, algas e moluscos têm apresen- década de 2010, o mercado interno tornou-se o principal
tado resultados promissores. A maior parte da produção consumidor do camarão da aquicultura, dividindo espaço
provém de fazendas no Nordeste, principalmente no Rio com o oriundo da pesca.

Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182 45


46 Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182
Moluscos

Aquicultura no Brasil
A criação de moluscos no Brasil teve
início na década de 1970 com iniciativas na
BA, RJ e SP, mas a atividade só passou a ter
importância socioeconômica no final dos anos
1980 em Santa Catarina e em Cananéia, SP. No
início, a maioria dos produtores eram pescadores
artesanais, para os quais os moluscos represen-
tavam uma renda complementar. Em muitos
casos, porém, a criação de moluscos tornou-se
a principal fonte de renda. Nos últimos anos,
tem-se verificado uma diversificação no perfil
dos produtores, com um aumento no número
de pequenos empresários. Mesmo com essa
Longlines duplos usados para produção de mexilhões em sistema
mudança, a criação de moluscos no Brasil ainda contínuo em Santa Catarina | Foto: G. Manzoni
tem caráter familiar e artesanal e, na maioria
dos casos, atende exclusivamente aos mercados
locais. A organização é incipiente, com poucas
iniciativas como cooperativas ou associações de produtores. vulgaris), do sururu ou mexilhão (Mytella charruana)
Todos os estados costeiros do Brasil produzem molus- e do marisco branco (Amarilladesma mactroides) tam-
cos pela aquicultura, mas a produção concentra-se na região bém estão em desenvolvimento. As pequenas fazendas
Sul. O IBGE estimou a produção de 15,2 mil t de moluscos de moluscos são geralmente familiares e, portanto, de
em 2019. Desse total, o Sul é responsável por mais de 95%. grande importância socioeconômica, mesmo em áreas
O mexilhão (P. perna) é a principal espécie, com produção com pequeno volume de produção.
anual próxima a 13.000 t. A ostra do Pacífico (C. gigas) vem A estrutura mais usada na produção de mexilhões
em segundo, com quase 2.000 t. Há também uma pequena, são longlines com 50 a 100 m. Embora a tecnologia para
mas crescente, produção de vieiras (Nodipecten nodosus), a produção de sementes em laboratório esteja disponível,
principalmente no RJ, SP e SC. A criação de ostras de man- a produção de mexilhão se baseia na coleta de sementes
gue (C. rhizophorae e C. gasar) é realizada desde a década silvestres. Em Santa Catarina, principal produtor do país,
de 1980 em São Paulo. Atualmente, vários pequenos produ- o período recomendado para instalação dos coletores
tores estão estabelecidos nas regiões Sul, Sudeste, Nordeste de sementes é de agosto a dezembro. Dependendo do
e Norte. Tecnologias para a criação do berbigão, marisco ou tamanho inicial da semente e das condições ambientais,
chumbinho (Anomalocardia brasiliana, syn. A. flexuosa), da P. perna pode levar de 7 a 12 meses para atingir o tama-
ostra perlífera (Pteria hirundo), do polvo comum (Octopus nho comercial de 6 a 9 cm. Recentemente, tem havido
um interesse crescente no uso de sistemas
contínuos a fim de aumentar a produtivi-
dade e a competitividade da indústria. Os
sistemas contínuos permitiriam a mecani-
zação, o que facilita o manejo das cordas,
a despesca e o transporte para as unidades
de depuração e processamento.
A produção da ostra do Pacífico (C.
gigas) depende de sementes produzidas
por um laboratório público e um privado
em Santa Catarina. Por outro lado, os pro-
dutores da ostra nativa (C. gasar) coletam
as sementes na natureza. Um pequeno
laboratório comercial no Rio Grande do
Norte fornece sementes de C. gasar, mas
sua produção tem sido irregular. Segundo
o IBGE, cerca de 46.000 milheiros de se-
Coletores de sementes de mexilhão em Santa Catarina | Foto: G. Manzoni
mentes foram produzidas em 2019, sendo
a maioria de C. gigas. Nenhum cultivo de
fundo é praticado no Brasil, mas sistemas

Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182 47


fixos, como mesas e parreiras (racks), são bastante
Aquicultura no Brasil

utilizados. As parreiras são comuns no Sul em locais


rasos e protegidos. Nas regiões Norte e Nordeste, onde
a produção de ostras nativas é realizada principalmente
em áreas de manguezais, mesas fixas são comuns. Estas
são um sistema estático em que ostras são colocadas em
travesseiros presos a estruturas de madeira em locais
com grande amplitude de maré.
Algas nocivas e a poluição das águas são as
principais ameaças à produção de moluscos. Em 2012,
foi formalizado o Programa Nacional de Controle Higi-
ênico-Sanitário de Moluscos Bivalves (PNCMB), o qual
define os limites de concentração de microrganismos
contaminantes e biotoxinas provenientes de florações de
algas, entre outros. Derramamentos acidentais de óleo
cru na costa brasileira causaram perdas substanciais na
produção e comercialização de moluscos nos últimos
anos. Outras limitações importantes incluem a necessi-
dade de legalização de áreas de produção, a competição Ostras do Pacífico (Crassostrea gigas) prontas para consumo in natura
com produtores ilegais, a falta de um sistema eficiente
de fiscalização e proteção contra roubos.

Outros invertebrados A produção extensiva de Artemia franciscana é realizada em


salinas da região Nordeste. Em 2020, estimava-se uma produção
Invertebrados marinhos ornamentais vêm sendo de 5 t de cistos, comercializados no mercado local com preços que
criados no Brasil nas últimas décadas. Cerca de 30 variam de R$ 125 a 350 por kg. Essa produção supre cerca de 20%
empreendedores produzem cnidários. Crustáceos e mo- da demanda de cistos no Brasil. Biomassa de juvenis e adultos tam-
luscos são produzidos em pequena escala. Com cerca de bém é produzida e comercializada congelada, liofilizada ou como
100 espécies cultivadas no Brasil, a maioria oriunda do componente de rações em flocos.
Indo-Pacífico, os corais são o principal grupo de inver- Os pepinos-do-mar têm grande potencial para produção no
tebrados cultivados. A medusa Cassiopea andromeda, Brasil. Holothuria grisea tem distribuição natural na nossa costa,
o camarão bailarino Lysmata ankeri e o nudibrânquio exceto no extremo sul. As populações naturais têm sofrido com a
Berghia stephanieae são produzidos em pequena escala. pesca ilegal, não regulamentada e não declarada a fim de abastecer
o mercado ilegal internacio-
nal. Os adultos pesam cerca
de 500 g, o que geralmente
resulta em 50-80 g de produ-
to seco. Os pepinos-do-mar
são detritívoros e podem ser
criados em associação com
camarões, peixes e moluscos.
H. grisea contém um com-
posto semelhante a heparina
com alto valor para a indústria
farmacêutica. São também
consumidos como alimento
seco na Ásia e usados ​​na me-
dicina tradicional chinesa.
Esforços de pesquisa para
produzir H. grisea em cati-
veiro estão em andamento,
além de tentativas de obter
heparinóides em quantida-
Cultivo de ostras em Cananeia, SP | Fotos: Levi P. Machado des suficientes para atender
à demanda da indústria.

48 Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182


Aquicultura no Brasil
Algas

O potencial do cultivo de macroalgas no


Brasil vem sendo estudado desde os anos 1980
visando a produção de ficocolóides (ágar e carra-
gena). Esses compostos têm inúmeras aplicações
nas indústrias médico-farmacêutica, cosmética,
química, alimentícia e têxtil, e o Brasil depende
de importações para atender suas necessidades.
Além da produção de biomassa, o cultivo de ma-
croalgas também pode ser utilizado para mitigar
impactos ambientais por meio da absorção de ni-
trogênio e fósforo. Ao contrário de outras formas
de aquicultura, o cultivo de macroalgas não faz
uso de rações ou fertilizantes, as demandas por
tecnologia e capital são relativamente pequenas,
e os ciclos de produção são curtos, variando de
15 a 90 dias. Dadas essas características, o cultivo
de macroalgas tem gerado benefícios para muitas
comunidades costeiras em todo o mundo. Produção experimental da macroalga Ulva em viveiros, integrada
Alguns estudos têm indicado a viabilidade com camarões e ostras | Foto: Luana M. C. Mendonça
técnica e econômica do cultivo de macroalgas no
Brasil. No entanto, a atividade ainda é incipiente
com poucos empreendimentos comercias. As A produção de microalgas para fins biotecnológicos também
principais espécies nativas cultivadas são dos vem sendo realizada. As microalgas podem ser uma fonte de subs-
gêneros Gracilaria, Porphyra e Hypnea. Atual- tratos para produzir energia ou como fonte de moléculas biologica-
mente, quatro comunidades tradicionais produzem mente ativas para usos nutricionais e farmacêuticos. Estudos foram
essas espécies no Ceará e Rio Grande do Norte. A desenvolvidos usando tanto espécies marinhas como de água doce.
FAO estimou a produção brasileira dessas algas Atualmente, grandes empresas de energia, pequenas empresas e
em 30 t em 2016. Recentemente, foi desenvolvida startups têm projetos-piloto em desenvolvimento.
tecnologia para a produção de Hypnea pseudo-
musciformes, com patente depositada no INPI. Conclusão e perspectivas
Essa tecnologia está embasada em estudos de
viabilidade técnica, econômica e de sustentabili- A aquicultura brasileira gera uma receita direta superior a um
dade ambiental e social. bilhão de dólares por ano. Portanto, deve ser vista como uma realidade
A macroalga exótica K. alvarezii foi intro- e não mais como um potencial. No entanto, ela ainda é pequena con-
duzida em São Paulo em 1995, e a produção foi siderando todos os recursos naturais, tecnológicos e financeiros para a
estimada em 700 t em 2016 pela FAO. A produção produção de organismos aquáticos disponíveis no país. Nossa indús-
na Baía da Ilha Grande, RJ teve início em 1998 e, tria é diversificada em termos de espécies e de sistemas de produção,
em 2003, uma fazenda comercial foi instalada na alicerçada nos pequenos produtores espalhados pelo país da mesma
baía de Sepetiba, RJ. Após mais de uma década de forma que os gigantes asiáticos da produção aquícola. Portanto, nosso
pesquisas e cultivo experimental, a autorização para modelo é o mesmo que vem garantindo o crescimento da aquicultura
o cultivo da espécie foi restrita ao litoral do Rio de mundial nos últimos 50 anos. O monocultivo da tilápia, do tamba-
Janeiro, São Paulo (da Baía de Sepetiba a Ilhabela) e qui e seus híbridos, e dos camarões marinhos dominam a produção
Santa Catarina. Recentemente, outra fazenda come- nacional. Esses setores ainda têm muito espaço para crescer devido
çou a operar na Paraíba. O baixo custo de produção ao grande mercado interno. No entanto, há vários outros grupos de
de algas para a produção de ficocolóides na Ásia e espécies com enorme potencial para atender mercados que não podem
as oscilações de preço nos mercados internacionais ser contemplados pelos atuais protagonistas. As políticas públicas e
inviabiliza economicamente a produção local. As- o empresariado do setor devem considerar esse leque de oportunida-
sim, ao invés de atender à indústria do ficocolóide, des para o desenvolvimento da atividade. Evidentemente que muitos
o cultivo de macroalgas no Brasil deveria se con- ajustes poderiam ser feitos para facilitar e acelerar o desenvolvimento
centrar no mercado de alimentação humana e de do setor aquícola. Independentemente deles, a perspectiva atual é de
matéria-prima para a produção de cosméticos, que que a aquicultura brasileira continuará crescendo de forma sólida e
apresentam viabilidade econômica. diversificada, gerando renda e desenvolvimento social.

Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182 49


50 Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182
Lançamentos Editoriais

Levantamento das e, inclusive, as atividades de pesque-pagues. “A publicação é


Unidades de Piscicultura bastante visual e qualquer interessado na atividade pode obter
do Estado de São Paulo boas informações”, afirma Diego Barrozo, lembrando que a união
Documento Técnico nº 123 e o empenho dos colegas Jairo Tcatchenko, do Ciagro, e Marcus
Vinícius Salomon, da assessoria da CDRS, fizeram com que o
trabalho fosse agilizado, em função de novas ferramentas.
Lançado recentemente pela Secre- O podcast da Secretaria de Agricultura e Abastecimen-
taria de Agricultura e Abastecimento via to sobre este lançamento está disponível em: https://spoti.
Coordenadoria de Desenvolvimento Rural fi/3vnnZN0
Sustentável (CDRS), o “Levantamento das O Documento Técnico 123 pode ser baixado gratuitamente,
Unidades de Piscicultura do Estado de São Paulo - Documento no link: https://bit.ly/34CVsHu
Técnico nº 123”, traz um raio-X completo das pisciculturas do
Estado de São Paulo. Informações obtidas pelos técnicos da CDRS
em todas as regiões do Estado de São Paulo e de pesquisadores
do Centro de Informações Agropecuárias (Ciagro), vinculado à E-Book:
CDRS são ilustradas com quadros e tabelas, que demonstram Aquicultura na Amazônia:
claramente a expansão da atividade e o percentual das espécies Estudos Técnico-Científicos
de peixes de cultivo. Segundo os autores, o documento permite e Difusão de Tecnologias
programar ações para que a atividade continue a se desenvolver
de forma sustentável. “A aquicultura pode vir a ser o
Segundo o coordenador da CDRS, engenheiro agrônomo motor de um novo ciclo de desenvol-
José Luiz Fontes o estudo é uma ferramenta essencial para vimento sustentável na Região Ama-
entender o aumento da produção de peixes, em especial da zônica, além de ser uma das melhores
tilápia, no Estado de São Paulo. “Ações podem ser executadas a ferramentas na luta contra a fome e a pobreza rural, na
partir desse conhecimento para que a atividade se desenvolva diminuição do desmatamento e na emissão de gases de
de forma adequada e sustentável e atinja o potencial esperado”, efeito estufa”, diz Felipe Matias, no prefácio deste livro,
relata Fontes.
que é um instrumento de popularização do conhecimento
O pesquisador Luiz Marques da Silva Ayroza, diretor téc-
técnico-científico. O trabalho apresentado na forma de E-
nico de Departamento da Agência Paulista de Tecnologia dos
-book teve como desafio oferecer uma síntese abrangente
Agronegócios (Apta Regional), assina o prefácio do documento.
sobre os principais temas voltados ao desenvolvimento da
“O potencial de expansão é imenso, seja no mercado interno ou de
aquicultura na região Amazônica. A publicação comprova
exportação”, garante Ayroza, que foi convidado por sua estreita
a importância da atividade nessa região, cuja diversidade
relação com a piscicultura, além de ter atuado ativamente na
de espécies e possibilidades de manejos já são um grande
elaboração de outras publicações editadas pela CDRS, tais como o
desafio.
Manual Técnico de Piscicultura e o Levantamento das Pisciculturas
A obra possui uma abrangência de tópicos e atua-
da Região Oeste do Estado de São Paulo- Documento Técnico 122,
que forneceu dados referentes às principais regiões produtoras lidades do manejo em aquicultura, não só para algumas
de peixes de cultivo no Estado de São Paulo. das mais importantes espécies de peixes amazônicos, mas
Para Luiz Ayroza “o Brasil tem condições ideais para a também para outros animais aquáticos com potencial de
atividade, e o Estado de São Paulo, que sem dúvida é o maior criação, seja ela voltada ao abate ou fins ornamentais.
mercado consumidor, também tem as condições necessárias para “Aquicultura na Amazônia: Estudos Técnico-Científicos e
continuar em expansão, inclusive com outras espécies de peixes, Difusão de Tecnologias” é, portanto, de grande contri-
como o peixe panga ou pangasius”, afirmou.  buição àqueles que buscam mais oportunidades de en-
O engenheiro agrônomo Fernando Carmo, que atua na tendimento tanto do mundo que os cerca, como também
CDRS Regional Jales, e que capitaneou a publicação dos dois de como fazer mais e melhor pela produção de alimentos
Documentos Técnicos, conta que para a atual publicação foi nutricionais.
disponibilizado um link, que possibilita verificar as atualizações Na publicação, didaticamente dividida em seções
constantes da evolução da piscicultura. e capítulos, observa-se a divulgação do conhecimento
O zootecnista Diego Barrozo, um dos autores, explica e o envolvimento daqueles que se dedicam a produzir
que não só a quantidade e variedade de peixes pode ser ob- ciência na região. A Seção A, dividida em quatro capí-
servada, mas também as variadas formas de cultivo em todo o tulos, diz respeito aos sistemas de produção, citando
Estado, como os viveiros escavados, barramentos, tanques-rede diferentes tecnologias sustentáveis para a aquicultura

Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182 51


na Amazônia. A Seção B, com cinco capítulos, faz um amplo relato sobre a
Economia Aquícola e sua relação com as bases para o desenvolvimento técnico
e econômico. A Seção C, também com cinco capítulos, versa sobre Nutrição e
Manejo Alimentar de Peixes Amazônicos e, a Seção D, traz considerações so-
bre o importante tema da Reprodução e Preservação da Biodiversidade das
Espécies de Importância Comercial, sendo dividida em três capítulos. Por
fim, a Seção E dividida em seus quatro capítulos, trata sobre a Fisiologia
e Sanidade Aquícola Aplicada à Piscicultura.
De grande importância para o setor produtivo e acadêmico a obra
contou com o apouio de diversas instituições entre elas o IFAM, UFRB,
Unifesspa, UNESP/CAUNESP, UNB, UFV, UFRRJ, UFRGS, UFRA, UFPA, UFOPA,
UFMS, UFMG, UFAM, Johns Hopkins University, IPAAM, INPA, IFPA, FVS/AM,
EMBRAPA Aquicultura e Pesca, EMBRAPA Amazônia Ocidental, EMBRAPA
Amapá e Bahia Pesca S/A.
O E-Book é disponibilizado gratuitamente através do link de acesso
https://bit.ly/3fpFYx3

Recomendações práticas
para avaliação da qualidade da
água na produção de
tilápia em tanques-rede
Circular Técnica 31

A Circular Técnica 31, lançada recentemente em abril de


2021 pela Embrapa trata da produção de peixes em tanques-rede
em reservatórios rurais já existentes na propriedade, uma ativida-
de que pode contribuir para o aumento da renda do pequeno produtor. Nesse sentido,
muitos produtores rurais têm investido na criação piscícola com o objetivo de aumentar
a renda de suas propriedades.
Segundo os autores, a piscicultura em tanques-rede em represa rural é capaz de
gerar receitas adicionais e aperfeiçoar o uso dos reservatórios, reduzindo o tempo de
retorno do capital investido, e é compatível com a maioria das outras formas de uso
dos açudes. Outra grande vantagem é obter mais facilidades de licenciamento ambiental
do empreendimento.
Diante disso, muitos produtores rurais têm investido em piscicultura, fato que tem
gerado uma demanda crescente por insumos, equipamentos e recomendações práticas
de manejo. Para atender a essa demanda, entre 2007 e 2014 foram realizadas pesquisas
sobre a produção de tilápia em tanques-rede em reservatório rural no Polo Regional do
Leste Paulista, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), em Monte
Alegre do Sul, SP, quando foram avaliados os efeitos de diferentes densidades de esto-
cagem, a frequência alimentar, linhagens e percentuais de proteína bruta na ração para
produção de tilápia em tanques-rede.
Com o objetivo de colaborar e fornecer informações básicas para o produtor, tais
como a escolha do local, qualidade da água, manejo produtivo e desempenho zootéc-
nico, a publicação traz recomendações consideradas como práticas gerais na produção
de tilápia em tanques-rede em reservatórios rurais.
Os autores orientam sobre o uso de Boas Práticas de Manejo (BPM) como o
monitoramento das variáveis da água (temperatura, oxigênio, pH e transparência);
orientam quanto ao registro diário da temperatura máxima e mínima do ar, em local
próximo aos tanques-rede, e várias outras práticas importantes.
A publicação poderá ser baixada no link: https://bit.ly/3wOHnCS

52 Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182


Lançamentos Editoriais

Tambaqui: resultar em um produto de menor preço para as indústrias de


processamento e para o consumidor final”. Pedroza Filho afirma
benefícios econômicos
ainda que “o controle genético dos plantéis é um processo fun-
com a adoção do Tambaplus
damental para o desenvolvimento de qualquer cadeia aquícola,
Parentesco
sendo amplamente difundido na produção de espécies mais
Produtores de alevinos, téc- consolidadas como o salmão e a tilápia”.
nicos e todos os interessados em Segundo o pesquisador Alexandre Caetano, responsável
tecnologias direcionadas para a pelo desenvolvimento dessa ferramenta e um dos autores, o
melhoria da aquicultura brasileira documento foi elaborado com linguagem simples e oferece ao
contam agora com mais informa- produtor informações que o auxiliarão tanto no aumento da
ções sobre a cadeia produtiva do tambaqui Colossoma produtividade quanto na redução das perdas durante o processo
macropomum, espécie nativa mais produzida no Brasil. de alevinagem e engorda de espécies nativas, especialmente do
A recém lançada publicação “Tambaqui: benefícios tambaqui. A publicação traça ainda um panorama das tendências
econômicos com a adoção do Tambaplus Parentesco” ela- econômicas da aquicultura no país colocando em perspectiva
borada por pesquisadores da Embrapa Recursos Genéticos dados que apontam para a tendência de crescimento do setor.
e Biotecnologia (Brasília-DF) e da Embrapa Pesca e Aqui- O desenvolvimento do Tambaplus Parentesco ocorreu
cultura (Palmas-TO), apresenta aos leitores os resultados dentro do Projeto BRSAQUA, a partir de dados gerados por
do uso do Tambaplus Parentesco, uma ferramenta genô- outros projetos da Embrapa já finalizados. O trabalho cien-
mica que visa proporcionar bom retorno financeiro para tífico conta com financiamento do Banco Nacional do De-
aqueles que se dedicam à criação do tambaqui. Segundo senvolvimento Econômico e Social (BNDES), da Secretaria da
os autores, para cada R$1,00 investido pelo produtor, Aquicultura e Pesca (SAP), ligada ao Ministério da Agricultura,
o retorno pode chegar a R$195,00. Para Manoel Xavier Pecuária e Abastecimento (MAPA) via Conselho Nacional de
Pedroza Filho, um dos autores, “a produção de pós-larvas, Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Funda-
alevinos e juvenis é um dos segmentos mais importan- ção de Amparo à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF) e da
tes de dentro da cadeia produtiva da aquicultura, pois própria Embrapa. Participaram do trabalho os pesquisadores
a qualidade destes insumos tem impacto direto sobre Alexandre Caetano, Patrícia Ianella, Manoel Xavier Pedroza
o desempenho zootécnico e econômico dos cultivos. Filho, Roberto Manolio Valladão Flores, Leonardo Castilho-
Neste sentido, os ganhos gerados com a utilização do -Barros e Éder José de Oliveira.
Tambaplus terão reflexos em todo o setor, uma vez que
as melhorias proporcionadas por essa tecnologia poderão A publicação pode ser acessada em: https://bit.ly/3fO5M4E

Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182 53


O cultivo de camarões
marinhos no México:
A superação após a chegada da
síndrome da mortalidade precoce
Por:

Guillermo Portillo Clark Walter Quadros Seiffert


portillog57@gmail.com walter.seiffert@ufsc.br
Centro de Investigaciones Biológicas del Departamento de Aquicultura, UFSC
Noroeste, CIBNOR, México

Em 2020 o México produziu


161.212 toneladas de cama-
rão, e 80% desse volume foi
consumido pelos próprios
mexicanos. A carcinicultura
no país segue próspera e
as perspectivas são as me-
lhores. O produto mexicano
é muito bem posicionado
no mercado mundial, re-
conhecido por atender as
mais exigentes demandas
internacionais. Mas nem
sempre foi assim. Na últi-
ma década, produtores se
Acuícola NASE, na costa de Hermosillo, no estado de Sonora, México
depararam com surtos virais
seguidos de uma doença
bacteriana surgida inespe-
radamente. A Síndrome da A aquicultura no México tem suas origens no período pré-hispânico, quando
vários organismos eram cultivados em cercados. Os primeiros cultivos em
escala comercial - camarão marinho e tilápia – somente surgiram nos anos 1970
Mortalidade Precoce (EMS)
fez a produção despencar e 1980 com o apoio da Subsecretaria de Pesca, crida em 1970, que permitiu
um avanço acelerado da aquicultura mexicana, com mudanças qualitativas e
num momento em que já quantitativas em seu desenvolvimento. A partir de 1986 foram introduzidas
se encontrava severamente mudanças na política de promoção da aquicultura, principalmente a de espécies
abatida. Mas a retomada de alto valor comercial como o camarão e a ostra, que até então era explorada
foi rápida e feita de forma exclusivamente por cooperativas de pescadores. Assim, a criação de camarões
em grande escala, que havia sido iniciada no final dos anos 1980, se expandiu
muito segura. E é sobre isso ao longo de toda a década de 1990 tendo como base o camarão azul do Pacífico
que tratamos esse artigo. (Litopenaeus stylirostris).

54 Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182


Carcinicultura no México
Figura 1. Os estados
da Baja California,
Baja California
Sur, Sonora,
Sinaloa e Nayarit
são responsáveis
por cerca de 90%
da produção de
camarões no país.
Os 10% restantes
são produzidos nos
estados de Jalisco,
Colima, Michoacán
e Guerrero, também
localizados na
costa do Pacífico; e
Tamaulipas, Veracruz,
Campeche, Yucatan
e Tabasco, na costa
oeste do Atlântico

Em 1998-99, em plena expansão, a carcinicultura A maioria das fazendas se agrupa por corpos
mexicana se viu severamente afetada por uma possível mu- d’água, em bacias hidrográficas locais ou parques
tação, ou nova cepa, do vírus da Síndrome de Taura (TSV), que compartilham a infraestrutura de consumo e
fato que levou produtores a buscar alternativas para superar descarga de água.
este problema, entre elas a mudança da espécie cultivada,
que passou a ser o camarão branco do Pacífico Litopenaeus
vannamei. Isso se explica pelo fato de que, no México, essa
espécie tende a ser mais tolerante a infecções por TSV. “Em plena expansão, a
A partir desta alteração, a carcinicultura mexicana
retoma seu crescimento e, de 2002 a 2008, um amplo pro- carcinicultura mexicana se
grama para fortalecimento da indústria, representado pelo
setor produtivo, governo, comitês de sanidade e instituições viu afetada por uma possível
de pesquisa, possibilitou uma nova retomada na produção.
mutação, ou nova cepa, do
Características da carcinicultura mexicana vírus da Síndrome de Taura.
Localizados na costa leste do Pacífico, e favorecidos Para superar este problema
por uma zona de ressurgência provocada pelo encontro da
corrente da Califórnia (fria) com a Equatoriana (quente), optou-se pela mudança da
os estados da Baja California, Baja California Sur, Sonora,
Sinaloa e Nayarit são responsáveis por cerca de 90% das espécie cultivada, que passou
161.212 toneladas de camarões produzidas no país no ano
passado (Figura 1). Os 10% restantes são produzidos nos
a ser o camarão branco
estados de Jalisco, Colima, Michoacán e Guerrero, também do Pacífico Litopenaeus
localizados na costa do Pacífico; e Tamaulipas, Veracruz,
Campeche, Yucatan e Tabasco, na costa oeste do Atlântico. vannamei, pelo fato de que,
Embora existam projetos intensivos e hiper-inten-
sivos, o sistema de cultivo predominante no México é o no México, essa espécie
semi-intensivo com viveiros de tamanhos variados, com
média de 5 ha. Existem fazendas pequenas, com menos
tende a ser mais tolerante a
de 40 hectares, até fazendas com mais de 400 hectares de infecções por TSV.”
lâmina d’água. A maior parte delas dispõe de eletrificação,
e as que não têm utilizam motores a diesel.

Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182 55


56 Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182
Dependendo da localização geográfica das fazendas, po-

Carcinicultura no México
dem ser realizados de 1 a 3 cultivos por ano. Nas regiões de águas
mais frias, como Sonora e norte de Sinaloa, são produzidas apenas “Com o desenvolvimento da
uma safra anual, de março a novembro (nos casos do ciclo mais
longo de 240 dias) e de maio a novembro (ciclo mais curto de
carcinicultura, processadoras
180 dias). Já onde a água é mais quente e as fazendas são semi- passaram a ter outra fonte
-intensivas, são realizados dois ciclos por ano, de março a julho
e julho a novembro. Nas operações intensivas, por encurtarem o de abastecimento para suas
tempo de entressafra, são obtidas até 2,3 despescas anuais. Mas a
maior parte das fazendas fazem de 1 e 2 ciclos por ano. Os ciclos operações. Essa infraestrutura
curtos produzem camarão de aproximadamente 15 g, enquanto
ciclos longos podem produzir tamanhos de 15 a 35 g, utilizando faz com que o camarão
para isso um manejo com despescas parciais.
No México existe uma grande rede de processamento que
mexicano seja reconhecido
atua na indústria de camarão. A maior parte destas instalações por atender aos mais rígidos
foram concebidas para o processamento do camarão e do atum
provenientes da frota pesqueira e das comunidades litorâneas padrões de qualidade,
de pesca. Com o desenvolvimento da carcinicultura esses pro-
cessadores passaram a ter outra fonte de abastecimento para aprovados pelo Food and
suas operações. Toda essa infraestrutura faz com que o camarão
mexicano seja reconhecido por atender aos mais rígidos padrões
Drug Administration (FDA)
de qualidade, aprovados pelo Food and Drug Administration dos Estados Unidos, que os
(FDA) dos Estados Unidos, que os distinguem como um produto
confiável e de alta qualidade. distinguem como um produto
A enfermidade da mortalidade precoce confiável e de alta qualidade.”
De 2002 a 2008, a produção mexicana de camarão
cultivado passou por um crescimento exponencial, saltando
das 23.798 t em 2002, para 132.342 t em 2008 (Figura 2). cultivo para fortalecer as medidas sanitárias e promover as
Foram anos em que a indústria passou a adotar protocolos de boas práticas de cultivo nas unidades de produção.

Figura 2. O gráfico
mostra uma tendência
de crescimento da
produção a partir
161.212
de 2002, ano que
mal ultrapassou as
132.789
20.000 toneladas, até
2008 em que foram
despescadas 132.789
toneladas. Mostra
também uma queda
na produção de 2008
103.706
a 2013, ano em que
foram produzidas
apenas 53.047
toneladas, seguida
de uma recuperação 53.047
espetacular nos
últimos 7 anos, 23.798
atingindo uma
produção, em 2020,
de 161.212 toneladas

Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182 57


Carcinicultura no México

Em 2009 foram produzidas 132.789 t, praticamente toda sorte de produtos que outrora costumavam funcionar no
o mesmo volume produzido no ano anterior. A expectativa, controle do WSSV, entre eles antibióticos - que já não estão
no entanto, era despescar pelo menos 10.000 t a mais, o que mais sendo utilizados -, cloro, imunoestimulantes, húmus,
não foi alcançado devido a um surto da Mancha Branca sulfato de cobre, gesso, peróxidos, probióticos, quaternários
(WSSV) na parte final do ciclo. de amônia, ácidos orgânicos, alho, entre outros. Nada mais
Em 2010 o produtor mexicano viu a Mancha funcionava como antes na luta contra o que se pensava ser
Branca se intensificar ainda mais, e a indústria despes- apenas a Mancha Branca. Até mesmo nos locais onde a
cou 103.706 t. Na ocasião, produtores, pesquisadores e temperatura atingia níveis superiores a 30-35 graus, e onde
autoridades estavam certos de que já tinham encontrado as o WSSV praticamente não se manifestava, as mortalidades
melhores estratégias para lidar com esse vírus. Berçários continuaram de forma crescente.
haviam sido incorporados no intuito de estocar os viveiros Entretanto, novos padrões de mortalidades começaram
um pouco mais tardiamente, com larvas mais fortalecidas a ser identificados. Na Mancha Branca, mesmo na presença
e de maior tamanho. No entanto, mesmo com um manejo de níveis adequados de oxigênio, os animais morrem por
especial, aditivos e mudanças no protocolo visando o anóxia e boiam até as margens (Figura 3). Mas o que estava
controle do WSSV, as taxas de sobrevivência seguiram sendo observado era totalmente diferente. Apareciam cama-
despencando ao longo de 2011 e 2012, quando 100 mil rões mortos próximo das comportas, espalhados pelo fundo,
toneladas foram despescadas. Mas o pior estava por vir. sendo todos muito jovens.
Em 2013, as sobrevivências despencaram. Neste Por conta disso, optou-se por utilizar no povoamento
ano a indústria viveu seu pior momento, tendo produzido animais já crescidos, de 5 gramas, e mesmo assim, as mor-
apenas 53.047 t. Todos os manejos até então conhecidos talidades continuaram, relacionadas também com os ciclos
contra a Mancha Branca foram utilizados, assim como lunares. Os camarões apresentavam uma coloração escura

Figura 3. Camarões mortos pela Mancha Branca, boiam e se acumulam nas margens

58 Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182


Carcinicultura no México
patopancreática Aguda (ou AHPND da sigla em inglês),
“Em 2010 o produtor mais conhecida como Síndrome da Mortalidade Precoce
(EMS), causada por uma cepa do Vibrio parahaemolyticus.
mexicano viu a Mancha
Protocolos
Branca se intensificar. Na
Por muitos anos, uma complexa rede de instituições
ocasião, berçários haviam sido trabalhou junto ao setor produtivo, e foi muito importante
incorporados no intuito de para o sucesso da atividade, principalmente diante dos gran-
des desafios, como o vírus da Mancha Branca (WSSV). Por
estocar os viveiros um pouco conta dessa rede de parcerias foram implantados manejos
com o objetivo de erradicar os patógenos, e protocolos
mais tardiamente, com larvas como o certificado sanitário de origem, o controle sanitário
dos veículos, entre outros. No entanto muito pouco do que
maiores e mais fortalecidas. estava sendo feito, contribuiu para controlar as mortalidades
No entanto, mesmo com decorrentes da EMS. Até mesmo o vazio sanitário, proto-
colo que sempre foi utilizado no México como medida de
manejo especial, aditivos e sucesso para controlar patógenos, se mostrou ineficiente.
Por ter se tornado cada vez mais prolongado, o vazio sanitá-
mudanças no protocolo visando rio prejudicou a produção por tornar os ciclos muito curtos.
A filtragem das águas de cultivo, outro protocolo
o controle do WSSV, as taxas muito adotado para reduzir a presença de vetores de pató-
genos, chegou a ser levada ao extremo, a ponto de preju-
de sobrevivência seguiram dicar a produção ao reduzir a disponibilidade de alimentos
despencando.” naturais. Nada do que se conhecia parecia funcionar diante
da Síndrome da Mortalidade Precoce (EMS), com suas
mortalidades massivas nos primeiros 40 dias de cultivo.
Na busca de soluções, os olhares se voltaram para
com cromatóforos expandidos, músculo opaco e hapa- a genética dos animais utilizados. Na ocasião, a indústria
topâncreas reduzido. utilizava uma linhagem de camarões selecionada para
Os produtores mexicanos estavam diante de uma crescimento rápido, com ganhos de peso que superavam
nova e desconhecida doença bacteriana - a Necrose He- 2,5 gramas por semana, mas não se mostrava tão boa para

Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182 59


60 Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182
Carcinicultura no México
resistência às doenças. Além disso, possíveis problemas
relacionados com endogamia podiam estar se manifestando,
resultado de 20 anos de cruzamentos.
“Uma complexa rede de
A retomada
instituições trabalhou junto
A superação e a retomada da produção de cama-
rões a patamares superiores aos obtidos antes da chegada
ao setor produtivo. Por conta
da EMS deve ser atribuída às mudanças de paradigma dessa rede de parcerias
por parte dos produtores. Até então, todo o setor produ-
tivo e governamental acreditava que o esforço realizado foram implantados manejos
para manutenção do sucesso da indústria passaria apenas
pela manutenção de seu status sanitário, utilizando as com o objetivo de erradicar
linhagens genéticas conhecidas, sem a necessidade de
utilizar genéticas de outros países. E isso foi mudado,
os patógenos, e protocolos
com uma forte mobilização do setor para trazer do ex- como o certificado sanitário
terior linhagens mais resistentes às doenças.
Produtores importaram do Texas (EUA) três de origem, o controle
lotes de uma linhagem de camarões equatorianos que
tiveram sucesso contra a mancha branca naquele país. sanitário dos veículos,
As pós-larvas dessas linhagens, ao serem introduzidas
nos viveiros mexicanos, logo mostraram que seriam entre outros. No entanto
capazes de reerguer a carcinicultura do país porque, muito pouco do que estava
além de serem resistentes à mancha branca, apresen-
taram bons resultados no controle das mortalidades sendo feito, contribuiu para
precoces (EMS).
Em outra frente, a ANPLAC (Asociación Nacio- controlar as mortalidades
nal de Productores de Postlarva de Camarón), também
importou da Nicarágua um lote de uma linhagem resis- decorrentes da EMS.”
tente que foi compartilhada entre todos os produtores
de PLs. Em 2014 foram testadas no campo e, em 2015,
praticamente todos os produtores mexicanos já utiliza-
vam esta linhagem.
O manejo adequado, utilizado durante os anos e reconhecida pelo êxito na produção frente a Mancha
produzindo na presença da Mancha Branca ensinou Branca, somente pode novamente se fortalecer após
muito aos produtores mexicanos, que atualmente não a importação de linhagens resistentes, originárias do
têm problemas com esse vírus. Sob o ponto de vista Equador e da Nicarágua.
sanitário, este ano o país foi declarado livre do Vírus Em torno desta nova perspectiva de retomada,
da Mionecrose Infecciosa - IMNV (o vírus da NIM) observada a partir dos resultados da importação das
e Vírus da Cabeça Amarela (YHV). Mas ainda segue novas linhagens, a indústria novamente se uniu em torno
produzindo com a incômoda presença do IHHNV. de treinamentos, medidas de sanidade, boas práticas
e novos protocolos de produção. Foram recuperados
Novos paradigmas os protocolos originais de cultivo fundamentados na
produtividade aquática, ao mesmo tempo que muitos
Antes da Mortalidade Precoce (EMS), o México produtos entre eles aditivos, desinfetantes, próbióticos e
se dedicou à formação de um banco de reprodutores produtos químicos, deixaram de ser utilizados de forma
melhorados geneticamente visando o crescimento. O indiscriminada.
ganho superou as 2,5 gramas semanais. Os setores pro- Antes da EMS, as densidades de cultivo que
dutivo e governamental acreditavam que o esforço para estavam se elevando a cada ano com mais de 20 ca-
o sucesso da indústria passaria apenas pela manutenção marões/m 2, passaram a baixar significativamente a
de seu status sanitário, sem a necessidade de utilizar patamares de 8-10 camarões/m2. Com respeito às taxas
genéticas de outros países. Entretanto, toda experiência de sobrevivência, passaram de 20-30% em 2013 para
e união do setor produtivo conquistada anteriormente, 55-60% em 2020.

Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182 61


62 Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182
Carcinicultura no México
na taxa de disparidade, ou heterogeneidade, dos pesos
médios dos camarões em relação a média da população
“A indústria se uniu em cultivada. (Figura 4).
torno de treinamentos, Desafios Atuais
medidas de sanidade, boas
Apesar da retomada, a indústria do cultivo de
práticas e novos protocolos de camarões segue dinâmica e a preocupação constante
deste setor, não somente no México mas em todos
produção. Foram recuperados os países, é a chegada de novas enfermidades. Além
disso, as marés vermelhas e a eutrofização de corpos
os protocolos originais de d’água adjacentes às fazendas e aos laboratórios estão
cultivo fundamentados na se tornando mais frequentes, e estão causando proble-
mas adicionais.
produtividade aquática, ao No que tange às linhagens genéticas, algumas
perguntas ainda precisam ser respondidas: o que
mesmo tempo em que muitos acontecerá com a manutenção da resistência e com os
problemas relacionados com a conversão alimentar e a
produtos entre eles aditivos, heterogeneidade de peso? Se houver uma recuperação
da taxa de crescimento, a resistência poderá ser perdi-
desinfetantes, probióticos e da? Por quê os camarões geneticamente modificados
produtos químicos, deixaram para resistência seguem com sobrevivências de 60%
e têm que ser cultivados em baixas densidades? Além
de ser utilizados de forma disso, a melhora da conversão alimentar é outro desafio
que precisa ser enfrentado.
indiscriminada.” Em relação ao mercado, assistimos os custos
de produção do camarão em alta e preços de venda
em queda, controlados pelo intermediário, algo que
vem sendo trabalhado há muito tempo, mas que
Se por um lado houve incremento da sobrevivên- ainda não foi superado. E, por fim, a incerteza das
cia, o setor agora convive com uma taxa de crescimento importações por tratados de livre comércio com
semanal abaixo de 1,5 grama. Além disso, observa-se outros países tanto por problemas de mercado, como
aumento tanto no fator de conversão alimentar (2:1) como sanitário e de inocuidade.

A
Figura 4. Disparidade de tamanhos entre as pós-larvas (A),
e os camarões adultos cultivados (B)

Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182 63


64 Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182
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Calendário Aquícola Anunciantes da edição 181

24-27- Aqua Nor 2021 – A Feira é uma ACQUA SUPRE 24


Os organizadores dos eventos estão
das maiores exposições de tecnologia de
adotando medidas plausíveis, entre elas
aquacultura do mundo. Inf.: www.aquanor.no
o possível cancelamento. Antes de se ADISSEO 33
programar, informe-se.
SETEMBRO
ALFAKIT LTDA 52
14-16- IX Congresso Brasileiro de Aquicultura
JUNHO e Biologia Aquática - Aquaciência 2021 – ALIMENTOS YEDA - ALLIPLUS 07
Será realizado no formato digital. Inf.:www.
08-10, 15-17 e 22-24 – Aquicultura aquaciencia2021.aquabio.com.br ALISUL ALIMENTOS - SUPRA 22
Online - AqOL 2.0 - Será realizado em três
encontros com acesso pelo canal Youtube OUTUBRO ALLTECH DO BRASIL 06
do “Aquicultura on-line” do Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia 26-28- Seafood Show Latin America – ALTAMAR SISTEMAS AQUÁTICOS 09
do Ceará (IFCE). Inscrição: https://forms. Será realizada no Expo Center Norte São
gle/D21r1cfiX1JZVq746 Paulo Inf.: (11) 2226-3186, seafoodshow. AQUATEC AQUACULTURA LTDA 59
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22-24- Alltech One Simpósio de AQUAVITA – GUARAVES 56
Ideias – Será realizado virtualmente e NOVEMBRO
abordará temas relacionados aos desafios ARENALES HOMEOPATIA ANIMAL 07
e oportunidades na aquicultura. Inf.: 16-19- XVII FENACAM - Feira Nacional
https://go.alltech.com/pt-br/one21 do Camarão 2021 e XVII Simpósio BERNAUER AQUACULTURA 16
Internacional de Carcinicultura 2021–
AGOSTO Serão realizados no Centro de Convenções BIORIGIN 62
de Natal/ RN. Inf.: (84) 3231-6291/ 99612-
25-26 - Curso on-line - Processamento 7575 ou www.fenacam.com.br DANÚBIO PISCICULTURA LTDA 07
de produtos de pescado a base de carne
mecanicamente separada (CMS) - Realização 24-26- III International Fish Congress &
FERRAZ MÁQUINAS 11
do Instituto de Pesca e do Centro de Tecnologia Fish Expo - IFC 2021 – Será realizado no Hotel
de Carnes do ITAL, será ministrado pela Recanto Cataratas, em Foz do Iguaçu/ PR. Inf.:
HUVEPHARMA 10
plataforma Zoom. Inf.: https://bit.ly/3i8Ph6j (48) 99980-4920 ou panty@ifcbrasil.com.br
MANZONI INDUSTRIAL 53

MARECHAL REDES 08
participantes a experiência espetacular
desejada, que inclui networking e recursos
MCASSAB – ACQUAPAC LIFE 50
adicionais de engajamento.
A participação no evento, que
terá tradução simultânea, será mediante PISCICULTURA AQUABEL 68
doações em valores a partir de R$ 200,
Com o compromisso de entregar e toda a arrecadação será revertida para POTIPORÃ 60
inovação e qualidade únicas, além de instituições de caridade como auxílio
construir um encontro mais robusto aos impactos causados pela pandemia de RAÇÕES GUABI 46
e com experiência interativa aos Covid-19. Os participantes terão acesso às
participantes do evento, a Alltech apresentações, networking, perguntas e RAGUIFE IND. COM. DE RAÇÕES 50
anuncia novas datas. O encontro respostas com palestrantes selecionados,
virtual, que aconteceria em maio, acesso aos conteúdos sob demanda, TÊXTIL SAUTER 13
será realizado de 22 a 24 de junho. A podcast do ONE, salão de exposições
decisão foi tomada pois observou-se virtuais e mais de 100 vídeos, conteúdo TREVISAN AQUICULTURA 18
que a tecnologia digital necessária para novo e premium publicado regularmente,
apoiar o grande objetivo não estava além de ofertas exclusivas para o próximo VAZFLUX 08
totalmente pronta. Assim, a Alltech ONE. Os interessados em realizar as
optou por não abrir as portas do ONE doações e saber mais sobre o evento WENGER MANUFACTURING 62
virtual até que todas as ferramentas podem acessar aqui: https://go.alltech.
estejam prontas para entregar aos com/pt-br/one21 ZEIGLER 02

66 Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182


Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182 67
68 Panorama da AQÜICULTURA | Edição 182

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