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UNIVERSIDADE ALTO VALE DO RIO DO PEIXE – UNIARP


CURSO DE AGRONOMIA

LIGIA DE LARA FURTADO

CONTROLE DE FORMIGAS CORTADEIRAS COM ISCA ECOLÓGICA EM


REFLORESTAMENTO DE PINUS

CAÇADOR
2018
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LIGIA DE LARA FURTADO

CONTROLE DE FORMIGAS CORTADEIRAS COM ISCA ECOLÓGICA EM


REFLORESTAMENTO DE PINUS

Relatório apresentado como exigência para a


obtenção do título de Bacharel, do curso de
Agronomia, ministrado pela Universidade Alto
Vale do Rio do Peixe – UNIARP, sob
orientação do professor Dr. Rafael Borges.

CAÇADOR
2018
3

CONTROLE DE FORMIGAS CORTADEIRAS COM ISCA ECOLÓGICA EM


REFLORESTAMENTO DE PINUS

LIGIA DE LARA FURTADO

Este Relatório de Estágio foi submetido ao processo de avaliação pela Banca


Examinadora para obtenção de Título de:

Bacharel em Agronomia

E aprovado em sua versão final em __________, atendendo às normas da


legislação vigente da Universidade Alto Vale do Rio do Peixe e coordenação
do curso de Agronomia.

_________________________________

Leandro Hahn

BANCA EXAMINADORA:

______________________

Nome do presidente

______________________

Membro

______________________

Membro
4

AGRADECIMENTOS

Primeiramente а Deus por permitir que tudo isso acontecesse, ао longo de minha
vida, е não somente nestes anos como universitária, mas que em todos os momentos
é o maior Mestre qυе alguém pode conhecer.

À Universidade Alto Vale do Rio do Peixe, pela oportunidade de fazer o curso.

Ao meu orientador, Dr. Rafael Borges, pelo empenho e confiança dedicados a


elaboração deste trabalho.

À Empresa Adami S/A pela disponibilização da área para o desenvolvimento do


experimento em campo.
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RESUMO

As formigas cortadeiras são consideras as principais pragas florestais do Brasil,


resultando em grande prejuízo para o setor florestal. Com intuito de buscar uma nova
tecnologia no controle das formigas, foi desenvolvido um experimento em um
reflorestamento de Pinus taeda, com idade de 2,5 anos, altura média de 3,2 metros e
espaçamento entre plantas de 2,5 x 2,5 metros, no município de Ponte Serrada (SC).
O objetivo do estudo foi analisar a eficácia da isca formicida ecológica no controle de
formigas cortadeiras do gênero Acromyrmex spp. O período de avaliação foi de 36
dias. Foram selecionados 27 formigueiros aleatórios e separados em blocos de três
formigueiros com dimensões semelhantes, após, foram distribuídos os tratamentos
em cada um dos blocos e as avaliações como forrageamento, carregamento de iscas,
movimentação das formigas e tamanho do fungo foram realizadas. Três tratamentos
foram testados, 150 g de isca ecológica, 50 g de Blitz e testemunha. Pode-se observar
que a isca ecológica foi muito atrativa e na maioria das avaliações o carregamento
deste tratamento foi intenso em relação a isca Blitz. O tratamento com a isca Blitz
apresentou maior mortalidade das colônias e o volume de chuvas pode ter interferido
nos resultados.

Palavras-chave: Acromyrmex spp, Leucoagaricus gongylophorus, chuva


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ABSTRACT

Cutting ants are considered the main forest pests in Brazil, resulting in great damage
to the forest sector. In order to search for a new technology in ant control, an
experiment was carried out in a reforestation of Pinus taeda, 2.5 years old, average
height of 3.2 meters and plant spacing of 2.5 x 2.5 meters in the municipality of Ponte
Serrada (SC). The objective of the study was to analyze the efficacy of the ecological
formicide bait in the control of leaf cutting ants of the genus Acromyrmex spp. The
evaluation period was 36 days. Twenty-seven random anthyles were selected and
separated in blocks of three similar antlers, after which the treatments were distributed
in each of the blocks and the evaluations as foraging, bait loading, ant movement and
fungus size were performed. Three treatments were tested, 150 g of ecological bait,
50 g of Blitz and control. It can be observed that the ecological bait was very attractive
and in most evaluations the loading of this treatment was intense in relation to the Blitz
bait. The treatment with the Blitz bait showed higher mortality of the colonies and the
volume of rainfall could have interfered in the results.

Key words: Acromyrmex spp, Leucoagaricus gongylophorus, rain


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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 8
1.1 PROBLEMA .......................................................................................................... 9
1.2 JUSTIFICATIVA .................................................................................................... 9
1.3 OBJETIVOS ........................................................................................................ 10
1.3.1 Objetivo Geral .................................................................................................. 10
1.3.2 Objetivos Específicos ....................................................................................... 10
2 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................. 11
2.1 Setor florestal brasileiro ....................................................................................... 11
2.2 Formigas cortadeiras ........................................................................................... 11
2.2.1 Importância econômica .................................................................................... 11
2.2.2 Gêneros Atta e Acromyrmex ............................................................................ 12
2.2.3 Métodos de controle ......................................................................................... 13
2.3 Certificação florestal ............................................................................................ 14
2.4 Uso de iscas alternativas..................................................................................... 15
3 CARACTERIZAÇÃO DO CAMPO DE ESTÁGIO .............................................. 16
4 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................... 18
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................................... 19
6 CONCLUSÃO ..................................................................................................... 23
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 24
8 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 25
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1 INTRODUÇÃO

As árvores reflorestadas representam 91% da madeira produzida para fins


industrias e 6,2% do PIB industrial no país (IBA, 2017). Na região de Caçador/SC o
setor florestal possui grande representatividade na geração de empregos diretos e
indiretos, contribuindo para a economia local. A cadeia produtiva do setor
caracteriza-se pela grande diversidade de produtos, compreendendo um conjunto de
atividades que incluem a produção, a colheita e a transformação da madeira até a
obtenção dos produtos finais.
A comercialização no mercado interno e externo possuem requisitos quanto a
procedência e origem da madeira, como exemplo as certificações de tratamento
térmico, fitossanitário entre outros. Atualmente, a maioria das empresas de base
florestal seguem os princípios do padrão FSC® (Forest Stewardship Council) (IPEF,
2016).
A certificação FSC® garante que as florestas sejam manejadas de forma
sustentável, respeitando os critérios e princípios ambientais, mantendo viabilidade
econômica e benefícios sociais. O FSC® por meio de sua política de pesticidas (FSC-
GUI-30-0001 V2-0 EN) possui uma lista de classificação de princípios ativos,
restringindo a utilização de alguns princípios ativos altamente perigosos (IPEF, 2016).
Os inseticidas presentes em formulações utilizadas para manejo de formigas
cortadeiras estão nesta lista de produtos com uso restrito, no entanto, pelo fato de não
haver formas de controle efetivo com iscas seguras toxicologicamente e
ambientalmente, a proibição das formulações formicidas convencionais foi prorrogada
e o uso de deltamethrina, fenitrothion, fipronil e sulfuramida ainda é mantida para o
controle de formigas cortadeiras do gênero Atta spp. e Acromyrmex spp. Esse uso,
entretanto, tem sido restringido de forma progressiva, como por exemplo limitando o
uso da deltamethrina (forma líquida) e alfa-cipermetrina (IPEF, 2016).
Os princípios ativos listados, agem diretamente nas formigas, estas
transportam as iscas até o formigueiro, onde o material servirá de substrato ao fungo
Leucoagaricus, responsável pela alimentação das formigas, ou seja, um depende do
outro para sobreviver (BORBA et al. 2006).
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No contexto atual, surge a necessidade do desenvolvimento de novas práticas


de controle, visando diminuir e/ou eliminar o uso convencional de inseticidas
sintéticos, reduzindo os efeitos residuais causados pelo uso destes produtos
químicos. Uma alternativa promissora ao manejo convencional é o uso de produtos
naturais de plantas potencialmente tóxicas para as colônias de formigas cortadeiras.
Cantarelli et al. (2005) relatam que é possível conseguir produtos com ação inseticida
extraindo compostos originados de metabólicos secundários presentes em algumas
plantas. Com isso, através de uma parceria entre a ISCA Technologies, Inc. e a
UNIARP (Universidade Alto Vale do Rio do Peixe), foi desenvolvida uma formulação
contendo extrato de Wintergreen que visa a paralização do corte e transporte de
materiais para o formigueiro, sendo a patente registrada sob nº 20160316764.

1.1 PROBLEMA

A utilização de isca formicida de base sintética no controle de formigas


cortadeiras possuí algumas limitações quanto a aplicação e manuseio do pesticida.

Os produtos utilizados hoje para o controle de formigas são a base de


ingredientes ativos como deltamethrina, fenitrothion, fipronil e sulfuramida. Alguns
desses não seletivos, logo, muitos organismos não alvo são afetados pelas aplicações
do produto e acabam morrendo, além das questões relacionadas aos resíduos que se
mantem no ambiente por muito tempo. Isso tem impacto na questão das certificações,
já que esses são proibidos para algumas finalidades, como por exemplo o controle de
formigas cortadeira no pinus.

1.2 JUSTIFICATIVA

Busca-se encontrar alternativas viáveis para reduzir a aplicação de inseticidas


altamente tóxicos no ambiente, bem como, mitigar os possíveis efeitos prejudiciais
10

sobre a saúde do homem e organismos não alvo, atendendo assim as principais


exigências do processo de certificação.

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Objetivo Geral

Analisar a eficácia de isca formicida ecológica no controle de formigas


cortadeiras do gênero Acromyrmex spp. em reflorestamento de pinus.

1.3.2 Objetivos Específicos

· Comparar a eficácia da isca ecológica com o método convencional utilizado


pela empresa;
· Quantificar a precipitação durante o período do estudo para verificar a
influência da umidade sobre as iscas;
· Analisar o consumo das iscas utilizadas para o controle das formigas.
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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Setor florestal brasileiro

O Brasil possui aproximadamente 7,8 milhões de hectares de florestas


plantadas, o que corresponde a 1% do território nacional. Os plantios florestais de
espécies exóticas são responsáveis por 91% da madeira produzida para fins
industriais, os demais 9% são de florestas nativas legalmente manejadas (IBÁ, 2017).
Os principais usos dos produtos gerados pelas florestas plantadas são:
produção de celulose, papel, madeira serrada, painéis de madeira, carvão vegetal,
biomassa e outros diversos subprodutos gerados a partir da madeira. Há ainda um
papel fundamental exercido pelas florestas plantadas na prestação de serviços
ambientais, como a regulação dos ciclos hidrológicos, o controle da erosão e da
qualidade do solo, a conservação da biodiversidade e mitigação de mudanças
climáticas (ACR, 2016).
As florestas plantadas reduzem a pressão sobre as florestas naturais,
proporcionando a conservação da biodiversidade, auxiliam na polinização, no controle
do clima, formação de estoques de carbono por meio da fotossíntese e controle de
pragas; conservação do solo, dispersão de sementes, ciclagem de nutrientes e
formação de corredores ecológicos; além de atividades culturais, científicas,
recreativas e educacionais (ABRAF, 2007).

2.2 Formigas cortadeiras

2.2.1 Importância econômica

As formigas cortadeiras, gêneros Atta (saúvas) e Acromyrmex (quenquéns),


são as principais pragas de reflorestamentos no Brasil, devido ao elevado número de
colônias por área, pela voracidade, difícil controle e ampla distribuição geográfica. O
ataque as plantas de interesse comercial (pinus, eucalipto) acontecem em todos os
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estádios de desenvolvimento, sendo intenso e constante, retardam o crescimento,


ocasionando queda de produção e consequentemente resultam em altos custos de
controle (CANTARELLI, 2005).
Tanto espécies de Atta como Acromyrmex são responsáveis por significativas
perdas, estas devoram totalmente o limbo foliar. Vários autores citam as perdas de
produtividades, Anjos et al., (1998) identificaram uma redução de 13% no ciclo total
de mudas de Eucalyptus grandis, quando atacadas no primeiro ano de plantio. Em
plantios de Pinus taeda, Cantarelli, (2005) observou perda de mudas em 20,8% após
65 dias de plantio. Deve-se considerar que os prejuízos causados pelas formigas são
avaliados em diferentes locais, e as peculiaridades de clima, vegetação, entre outros
fatores, podem influenciar de maneira diferente em cada região.

2.2.2 Gêneros Atta e Acromyrmex

As saúvas, conhecidas como formigas do gênero Atta, podem atingir 15 mm de


comprimento, apresentando três espinhos na parte superior do tórax. Os seus
formigueiros são chamados de sauveiros e são constituídos de diversas câmaras,
subterrâneas, ligadas entre si e a superfície do solo através de galerias que terminam
em olheiros na superfície. Característica marcante dos formigueiros é a presença de
terra solta ao redor, formado pelo acúmulo de terra extraída das câmaras (ZANETTI
et al., 2001).
As quenquéns, representada pelo gênero Acromyrmex são caracterizadas por
apresentar quatro a cinco pares de espinhos no tórax, o comprimento das formigas
pode atingir 8 a 10 mm. Seus formigueiros são menores que os sauveiros, geralmente
são constituídos de uma estrutura interna principal e muitas vezes única, comumente
chamada de panela. Este formato facilita o controle em comparação com os sauveiros,
outra característica é o tamanho menor das operárias em relação às saúvas (DELLA
LUCIA, 1993).
13

2.2.3 Métodos de controle

O controle de formigas cortadeiras é considerado difícil, por se tratar de um


inseto social complexo, que requer pesquisas biológicas e comportamentais mais
aprofundadas para a descoberta de novos tipos de controle, que minimizam os
prejuízos ao meio ambiente (COSTA et al., 2008).
As formigas estão associadas com um fungo simbionte que lhe serve de
alimento e é cultivado em câmaras subterrâneas. Com isso, alguns fatores
comportamentais podem constituir obstáculos no momento do controle, pois a
complexa estrutura dos ninhos, prejudica a disseminação dos produtos utilizados para
o manejo (COSTA et al., 2008).
O controle pode ser realizado de forma silvicultural, utilizando o cultivo mínimo,
aumentando os resíduos vegetais e a formação de sub-bosque, diminuindo a taxa de
infestação na cultura implantada, por outro lado dificulta a localização dos
formigueiros. A aração e gradagem do solo podem ser eficientes para formigas do
gênero Acromyrmex, devido seus ninhos ser menos profundos, podendo matar a
rainha (BURRATO, et al., 2017).
A utilização do controle mecânico é pouco usada, neste procedimento é
necessário a escavação do formigueiro até matar a rainha, dependendo do número
de ninhos, esta operação é inviável. As formigas cortadeiras possuem diversos
inimigos naturais, como parasitóides, patógenos e nematóides, porém pouco
estudados (MACEDO, 1993).
O controle químico é o mais empregado, devido à praticidade de aplicação. Os
dois métodos mais utilizados são: isca granulada e pó seco. As iscas granuladas
compreendem um substrato atrativo em mistura com um princípio ativo sintético, em
pellets (EMBRAPA, 2015). Devido às condições de umidade do ambiente, foram
desenvolvidas porta-iscas, mais conhecidos como MIPIS, que são saquinhos plásticos
com isca formicida (10 gramas) em seu interior.
A utilização do pó seco requer maior utilização de mão-de-obra para aplicação,
além de necessitar uma polvilhadeira. É recomendado aplicar em dias secos, em pelo
menos três olheiros ativos, isso justifica a baixa produtividade.
14

2.3 Certificação florestal

A certificação florestal é um sistema que identifica através de algumas


logomarcas, a origem de produtos madeireiros e não madeireiros, que utilizam
princípios e critérios voltados ao desenvolvimento de atividades socialmente justas,
ambientalmente corretas e economicamente viáveis (FSC, 2018a).
Diversos programas nacionais e internacionais de certificação balizam o setor
florestal, tais como (FSC - Conselho de Manejo Florestal) e Cerflor. A maioria das
empresas florestais de médio a grande porte adere a estes programas, as quais
possibilitaram o desenvolvimento de suas estruturas e padrões de administração,
segundo os princípios de transparência, prestação de contas, responsabilidade social
e corporativa. Outro fator que impulsionou a certificação foi à preocupação das
empresas com as questões ambientais, reconhecendo assim suas importantes
funções de manutenção da biodiversidade, dos ciclos hidrológicos e influência do
clima; da importância da geração de retornos econômicos e da relevância das
questões socioculturais nos processos decisórios de um adequado manejo florestal
(PENIDO, 2008).
Atualmente, são aproximadamente 199 milhões de hectares de florestas
certificadas no mundo, o Brasil possui 6,6 milhões de hectares, sendo o país com
maior proporção de área certificada da América Latina e 7º lugar no ranking mundial
(FSC, 2018b). As certificadoras, em seu plano de critérios e princípios, exigem
diversos procedimentos em cada área de atuação, além de controlar e fiscalizar o uso
de produtos químicos.
Em 2016, o FSC® emitiu a derrogação que permite o uso restrito de alguns
princípios ativos, como deltamitrina, fipronil e sulfluramida no combate de formigas
cortadeiras do gênero Atta spp e Acromyrmex spp (IPEF, 2016). Com o passar dos
anos, o uso de produtos com base química no combate a formigas vem sendo
restringido, com isso é necessário estudos que buscam alternativas de controle,
visando à diminuição de químicos no meio ambiente e exposição ao homem.
15

2.4 Uso de iscas alternativas

A relação entre o fungo simbionte e as formigas cortadeiras é obrigatória. As


formigas inoculam o fungo sobre o material vegetal e previnem o crescimento de
microrganismos contaminantes prejudiciais a ele, mantendo-o limpo e sem
comprometer o seu desenvolvimento (BUENO et al., 2008), elas alimentam-se desse
fungo e por esse motivo necessitam constantemente fornecer material vegetal a ele,
ocasionando assim os prejuízos.
Os gêneros que apresentam maior ocorrência nas florestas de pinus são Atta
e Acromyrmex, especialmente nas fases de pré-corte e imediatamente após o plantio
ou início da condução de brotação (BOARETTO FORTI, 1997).
Sendo necessário diminuir os prejuízos, são procurados métodos de controle
que sejam eficientes, desde métodos caseiros até o uso de técnicas avançadas. Inibir
o crescimento do fungo, intoxicar os insetos ou uso de barreiras mecânica são
algumas das maneiras de controle, sendo umas mais eficientes que outras. Alguns
trabalhos vem sendo desenvolvidos com intuito de encontrar métodos alternativos,
utilizando-se produtos de origem natural que tenham ação inseticida e/ou fungicida
verificando seus efeitos no fungo simbionte e nas formigas. É o caso dos extratos de
plantas, já que os metabólicos secundários presentes nelas podem ser prejudiciais às
formigas e/ou ao seu fungo simbionte (HOWARD et al., 1988, BUENO et al., 1990).
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3 CARACTERIZAÇÃO DO CAMPO DE ESTÁGIO

A área de estudo situa-se sob as coordenadas 26º47’44.64” de latitude Sul


e 51º46’11.63” de longitude Oeste, município de Ponte Serrada, no estado de Santa
Catarina. Localizada no meio oeste do Estado de Santa Catarina, no Alto Vale do Rio
do Peixe, a Fazenda São Francisco do Chapecozinho (Figura 1), horto florestal que
sediou o presente estudo, compreende uma área total de 11.000 hectares, com
povoamentos florestais de Pinus taeda ocupando uma área efetiva de 5.500 hectares.
Figura 1 – Localização da Fazenda São Francisco do Chapecózinho – Ponte
Serrada/SC

Fonte: Google Maps, 2018.

A altitude média da região de estudo situa-se a aproximadamente 980 metros


acima do nível médio do mar, com seu ponto culminante alcançando 1.308 metros, a
área do estudo encontra-se a 1.142 metros.
O clima regional é, conforme classificação de Köppen (ALVARES et al., 2013),
do tipo temperado úmido (Cfb1), com precipitação média variando entre 1600 a 1800
mm/ano e temperatura média anual de 16,6 ºC.
17

O local do estudo possuía no momento da instalação do experimento um plantio


comercial de Pinus taeda, com 2,5 anos de idade e altura média de 3,20 metros
(Figura 2). Em seu estágio inicial, aproximadamente até 6 meses após a implantação
do reflorestamento houve o combate de formiga com isca granulada a base de fipronil,
método convencional utilizado pela empresa conforme derrogação de utilização. Na
área de estudo não foi utilizado nenhum produto químico para controle de espécies
invasoras, somente roçada mecânica em três períodos.
Os povoamentos de Pinus taeda são originados de plantio via seminal,
plantados sob espaçamento de 2,5 x 2,5 metros, com densidade inicial de 1.600
árvores por hectare.
Figura 2 – Delimitação do local do experimento com área total de 8,4 hectares

Fonte: Google Earth, 2018.


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4 MATERIAL E MÉTODOS

O experimento para avaliação do novo formicida orgânico foi realizado em


reflorestamentos de pinus na região de Ponte Serrada/SC. Foram localizadas 27
colônias de formigas as quais foram georeferênciadas e medidas com fita métrica nas
direções Leste-Oeste e Norte-Sul para estabelecimento do tamanho da superfície
ocupada pelos insetos, cada formigueiro foi identificado com uma estaca numerada.
Posteriormente foram estabelecidos blocos experimentais contendo três formigueiros
da mesma espécie (Acromyrmex spp.) com dimensões semelhantes. Os seguintes
tratamentos dispostos nos carreiros das formigas foram avaliados: 1) 150 g da isca
orgânica dispostas em taquaras; 2) 50 g da isca comercial Blitz e 3) Testemunha (sem
aplicação).

A atividade de cada colônia após 2; 7; 14; e 36 dias foi avaliada através da


observação de movimento das formigas nos orifícios dos ninhos, renovação da terra
solta e corte de folhas. Os dados foram comparados pela porcentagem de
formigueiros que apresentavam os comportamentos avaliados, sendo assim a análise
estatística dos dados não foi realizada para este ensaio.

Quando surgiam dúvidas com relação a morte natural por conta da


inviabilização da colônia dos fungos, os formigueiros eram abertos para observação.
Dados coletados de hora em hora sobre precipitação foram fornecidos pela PCH
Santo Antônio do Salto (Chapecózinho Energética) utilizados durante o período de
avaliação.
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5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A atividade das formigas foi observada durante 38 dias, neste período, fatores
como movimentação fora do formigueiro, carregamento de iscas, precipitação,
presença do fungo e “corte das acículas” foram quantificados, conforme mostram os
gráficos 1, 2 e 3.

Gráfico 1: Representa a movimentação, forrageamento e o carregamento das


iscas na 1ª, 2ª, 3ª e 4ª avaliação em um período total de 38 dias

Fonte: F.L Ligia, 2018.

Pode-se observar que a isca ecológica foi bastante atrativa e na maioria das
avaliações o carregamento deste tratamento foi intenso. Fato interessante foi o de que
na implantação do experimento as taquaras foram dispostas próximos aos carreiros,
assim como o Blitz, porém os formigueiros que seriam avaliados com a isca ecológica
carregaram a taquara para perto do ninho, facilitando assim o abastecimento da isca
na colônia.
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Gráfico 2: Volume de chuva acumulado no período de avaliação durante 38 dias

Fonte: EMETER, 2018.

Conforme mostra o gráfico 2, pode-se verificar que no período de avaliação


ocorreu grande incidência de chuvas, influenciando diretamente nos resultados,
corroboram com o estudo de Sousa (1996) que cita que a ação da chuva deteriora as
iscas granuladas. Também coincidem com as afirmações feitas por Mendes Filho
(1979), Mariconi (1979), Dow Elanco (1996) e Atta Kill (1993), que citam a ação da
umidade como uma das principais desvantagens das iscas granuladas, pois estas
depois de úmidas tornam-se menos atrativas às formigas, que é o que podemos
observar no caso da Isca blitz, onde menos da metade foram carregadas após as
primeiras chuvas. A isca ecológica por estar disposta em taquaras não teve tanta
influência das chuvas, porém, suas propriedades podem ter sido perdidas.

Nossa hipótese é que a chuva teve efeito no bom funcionamento da isca


ecológica por ter impedido que as formigas distribuíssem por toda a colônia do fungo
o agente de controle, apesar do alto índice de carregamento. Esse é fator
determinante para o sucesso desta formulação pois o extrato de Wintergreen não tem
efeito sistêmico no formigueiro. Houve um impacto da isca ecológica na colônia pois
atividades corriqueiras como o forrageamento foram paralisadas, no entanto a
umidade afetando a formulação impediu que os insetos carregassem o volume de isca
necessário para a contaminação de todo o fungo.
21

Diferentemente do que acontece com a isca Blitz formulada com inseticida


fipronil que tem efeito sobre as formigas e que mesmo tendo sido carrega em menor
quantidade, o volume de princípio ativo que foi levado para dentro do formigueiro em
muitos casos foi suficiente para comprometer a colônia pois que a dose letal deste
princípio ativo para insetos é muito baixo, como mostrou Tingle et al. (2003)
identificando a LD50 = 0.004 microgramas por inseto adulto.

Gráfico 3: Presença do fungo vivo ou contaminado nos ninhos no último dia de


avaliação

Fonte: F.L. Ligia, 2018.

Diante dos dados observa-se a menor presença do fungo (vivo) na isca Blitz
em contra partida maior volume de fungos contaminados (figura 3), no caso da isca
ecológica 5 dos 9 ninhos tinham presença do fungo, 2 contaminados e 2 não foram
encontrados, na testemunha houve apenas um ninho contaminado, possivelmente
pelo excesso de umidade (Figura 4).
22

Figura 2: Fungo Contaminado semelhante a “teia” de aranha

Fonte: F. L Ligia, 2018.

Figura 3: Áreas úmidas no experimento

Fonte: Google Earth, 2018.


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6 CONCLUSÃO

Nas condições em que foram conduzidos os tratamentos concluiu-se que:

1. A isca ecológica teve durabilidade e atratividade por um período maior em


relação a formulação Blitz;
2. O tratamento com isca Blitz apresentou maior mortalidade de colônias;
3. Alguns ninhos tiveram contaminação por motivo desconhecido, supõe-se que
a alta umidade no período de avaliação tenha colaborado, pois esses ninhos ficavam
próximos há áreas úmidas;
4. As chuvas podem ter influenciado os resultados, especialmente afetando a
eficiência da isca ecológica avaliada;
24

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sugere-se que novos estudos sejam desenvolvidos para avaliar de forma mais
precisa o efeito das chuvas sobre o funcionamento da isca ecológica. Métodos que
permitam a manutenção da sua integridade e eficiência deverão ser avaliados em tais
condições. Uma alternativa seria o estudo de uma fórmula de liberação lenta ou
controlada, onde a umidade ou o calor à ativasse sem alterar as propriedades da isca
ou o uso de isca MIPIS em sacos plásticos.
25

8 REFERÊNCIAS

ABRAF - Associação Brasileira de Florestas Plantadas. Anuário Estatístico da


ABRAF 2007– Ano base 2006. Brasília 2007.

ACR - Associação Catarinense de empresas florestais. Anuário estatístico de base


florestal para o Estado de Santa Catarina (base 2015). Lages, 108 p. 2016.

ALVARES, C. A et al. KÖppen’s climate classification map for Brazil.


Meteorologische Zeitschrift, v.22, n. 6, p.711-728. 2013.

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ATTA-KILL. Formigas cortadeiras, problemas e soluções. Dossiê técnico. São


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BOARETTO, M. A. C.; FORTI, L. C. Perspectivas no controle de formigas


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BUENO, F. C.; GODOY, M. F. P.; BUENO, O. C.; PAGNOCCA, F. C.; LEITE, A. C.;
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