Você está na página 1de 60

Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005 

 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005


Editorial

“A
rroz de festa” na boca dos presidenciáveis, o agronegócio nunca foi tão falado em nosso País. É bem
verdade que falam de bois, sojas, milhos e trigos, afinal o Brasil produz nada mais nada menos que 15
milhões de toneladas de carne por ano, e o campo emprega 24% da população economicamente ativa
do País o que significam 16,6 milhões de trabalhadores, um número de votos nada desprezível para
qualquer candidato. O fato é que acaba respingando um pouco na nossa aqüicultura, fazendo com que já tenha
presidenciável falando em piscicultura, coisa nunca vista antes.

Para o OPA, Departamento de Pesca e Aqüicultura do Ministério da Agricultura, o momento é de divulgação das nossas
capacidades produtivas e de apresentar a atividade como um excelente negócio. Para botar em prática o conceito de
agronegócio e solucionar os diversos gargalos da nossa aqüicultura, o DPA quer dar incentivo à integração da cadeia
produtiva com o consumidor final, palavras do novo Coordenador de Aqüicultura do Departamento, que neste momento
de transição por que passa o País, está centralizando seus esforços apenas na propagação da atividade. Competitividade
e cooperativismo são as palavras de ordem de Alexandre Caixeta Spínola, que entrevistamos nesta edição.

Agronegócios e cadeias produtivas à parte, os problemas do dia-a-dia do campo são realidades estressantes que todo
aqüicultor enfrenta. Pode parecer estranho, mas muita gente já ouviuJalar de viveiros onde os peixes não engordam
direito, ou até daqueles que impossibilitam a despesca, isso sem contar aqueles que não enchem. E isto está longe de ser
uma..exceção. O que aparentemente deveria ser uma coisa fácil e simples, a Construção de viveiros pode se transformar
numa dor de cabeça crônica e se tornar um pesadelo eterno no quintal de um produtor. Detalhes como a estrutura do
solo ou o desenho das estruturas hidráulicas de abastecimento e drenagem podem ser determinantes para o sucesso
ou o fracasso de um empreendimento. Nesta edição estamos dando início a uma importante série de três artigos onde
os assuntos relacionados à construção de viveiros são abordados em detalhes, com gráficos, tabelas e ilustrações, de
forma a permitir que técnicos e produtores possam se sair bem na hora de projetar seus viveiros e dimensionar os canais,
bombas e tubulações, Afinal, nada melhor que viveiros que se mantêm cheios, que permitem uma despesca tranqüila
sem contratempos e que, além de engordarem os peixes, engordam também o bolso do produtor.

E por falar em contratempos, abordamos também nesta edição um tema que todos nós gostaríamos que ficasse longe
das nossas águas mas que, infelizmente , tem ocasionado perdas de bilhões de dólares aos carcinicultores ao redor do
mundo: as patologias. Multas doenças, apesar de não exterminarem os camarões confinados, mexem com o bolso do
produtor ao se traduzirem em taxas reduzidas de crescimento e ganho de peso, sem falar das deformações que lhes dão
uma aparência indesejada para o mercado. Apesar de poucos saberem, muitas dessas doenças já fazem parte do dia-adia
do carcinicultor brasileiro que, por isso mesmo, deve estar atento e apto a identificá-las o quanto antes.

Além desses temas, destaco também o trabalho que vem sendo realizado na Bahia com o cultivo de tilápia em águas
estuarinas. Apesar de estar ainda no início, os primeiros resultados dos cultivos em tanques-rede na Baia de Camamu
apontam para mais essa possibilidade de cultivo desse peixe maravilhoso. Aliás, deliciosamente maravilhoso. Quem já
teve a oportunidade de degustar a tilápia cultivada no mar, sabe do que estou falando.

Até a próxima edição, e que tenhamos um bom presidente. A topos, uma.órima leitura.

Jomar Carvalho Filho


Biólogo e Editor

Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005 


 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005
índice
Edição 72 – julho/agosto,2002
A única publicação brasileira dedicada
exclusivamente aos cultivos de organismos
Capa: Arte Panorama
aquáticos
ISSN 1519-1141
Uma publicação Bimestral da:
Panorama da AQÜICULTURA Ltda.
Rua Mundo Novo, 822 # 101
22251-020 - Botafogo - RJ
Tel: (21) 2553-1107
Fax: (21) 2553-3487
www.panoramadaaquicultura.com.br
Editorial ...Pág 3
revista@panoramadaaquicultura.com.br
Notícias & Negócios ...Pág 6
Endereço para correspondência:
Caixa Postal 62.555 Entrevista: Alexandre C. Spinola ...Pág 10

22252-970 - Rio de Janeiro - RJ Tilapicultura em Tanques-rede em


Ambiente Estuarino ...Pág 15
Editor Chefe: Avaliando o Estado de Saúde de
Biólogo Jomar Carvalho Filho Camarões Marinhos na Engorda ...Pág 23
jomar@panoramadaaquicultura.com.br Construção de viveiros e estruturas
hidráulicas para o cultivo de peixes
Direção Comercial: - Parte 1 ...Pág 35
Solange Fonseca I Congresso Internacional de Comer-
solange@panoramadaaquicultura.com.br cialização de Peixes Cultivados
...Pág 49
O Sal de Cozinha no Transporte
Jornalista Responsável: de Peixes.
Solange Fonseca - MT23.828 ...Pág 50
Lançamentos Editoriais
...Pág 52
Assistente: O Milagre da Multiplicação dos Peixes
Fernanda Carvalho Araújo Calendário Aqüícola
...Pág 53
fernanda@panoramadaaquicultura.com.br ...Pág 58

Projeto Gráfico:
Leandro Aguiar
leandro@panoramadaaquicultura.com.br

Colaboradores:
Fernando Kubitza
Alberto J. P. Nunes
Os artigos assinados são de responsabili-
dade exclusiva dos autores. Os editores não
respondem quanto a qualidade dos serviços
e produtos anunciados, bem como pelos
dados divulgados na seção “Informe Publici-
tário”, por serem espaços comercializados. Tilápias em Ambiente Estuarino

Design & Editoração Eletrônica: O Programa de Maricultura Artesanal do Estado da Bahia, que tem como
Panorama da AQÜICULTURA Ltda. parceiros a BAHIA PESCA, SEBRAE/BA e IDES - Instituto de Desenvolvimento do
 Impresso na SRG Gráfica & Editora Ltda. Baixo Sul, desenvolveu um projeto experimental de cultivo de tilápias em tanques–rede
em ambiente estuarino nas localidades de Barra do Serinhaém e Canavieiras, ambas na
Números atrasados custam R$ 7,50 cada. Para Baía de Camamu. Os experimentos, coordenados pela Bahia Pesca com o objetivo de
adquiri-los entre em contato com a redação. avaliar a viabilidade técnica e econômi-
ca do cultivo de tilápias em ambientes
Para assinatura use o cupom encartado, visite estuarinos, objetivam também fornecer
www.panoramadaaquicultura.com.br subsídios básicos sobre a performance
ou envie e-mail: assinatura@panoramadaaqui- de cultivos de linhagens e híbridos
cultura.com.br de tilápia nas condições testadas a
serem conduzidos por pescadores e
ASSINANTE - Você pode controlar, a cada marisqueiras reunidos em associações.
edição, quantos exemplares ainda fazem parte Foram utilizadas como base do estudo,
da sua assinatura. Basta conferir o número de as estruturas e o manejo de cultivo em
créditos descrito entre parenteses na etiqueta tanques-rede adotados no complexo de
que endereça a sua revista. barragens de Paulo Afonso – BA.
Edições esgotadas: 01, 05, 09, 10, 11, 12, 14, 17,
18, 20, 21, 22, 24, 25, 26, 27, 29, 30,33, 34, 35, 36,
37, 38, 39, 40, 41, 44, 45, 59, 61, 62, 63, 65.

Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005 


CADÊ O PROCAMOL? - Um conhecido recursos próprios. Depois de tudo isso, Fundo Setorial de Recursos Hídricos
produtor de tilápias em Jundiaí -SP, iniciou não há quem o convença que tentar obter (CT-Hidro).
há um ano os contatos com o Banco do recursos do Procamol não passa de uma
Brasil para financiamento de infra-estru- grande perda de tempo.
tura utilizando o Procamol - Programa de AINDAAABRAq - A partir de informações
Apoio ao Desenvolvimento da Produção de do Sr. Adilon de Souza, presidente da ABRAq
Tilápias, Camarões e Moluscos. O primeiro RECURSOS HÍDRICOS - Foi lançado - Associação Brasileira de Aqüicultura, a
problema a ser resolvido pelo produtor no dia 31 de julho de 2002, em São Paulo, Panorama da AQÜICULTURA publicou
foi convencer a gerência do banco de que pelo Ministro da Ciência e Tecnologia, na sua última edição 71 o nome da Dra.
o Procamol existe, já que não consta da Ronaldo Sardenberg, e pelo Presidente do Tereza Cristina Vasconcelos Gesteira, como
lista de produtos das agências. Após ter o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos diretora de ensino, pesquisa e tecnologia da
cadastro aprovado e, por exigência do BB, (CGEE), Evandro Mirra, o Portal de Re- nova diretoria da ABRAq. Surpresa ao ver
contratou um técnico indicado pelo próprio cursos Hídricos (www.prossiga.br/recur- seu nome constando da relação de diretores,
banco para preparar o projeto, que foi, ao soshidricos). O canal reúne informações e salientando que não havia tomado conhe-
final, totalmente aprovado com garantias atualizadas, de caráter geral e específico, cimento das manobras da última eleição,
de que os recursos estariam disponíveis em no que concerne à preservação dos recur- Gesteira declarou que havia, apenas, acei-
mais 30 dias, sendo inclusive, aconselhado sos hídricos no Brasil e no mundo, como tado um convite para a coordenação Técni-
a já gastar por conta. Na hora de finalizar o as referentes à legislação (municipal, es- ca-científica do Simbraq, que teria sede em
contrato a agência passou a oferecer outros tadual, federal) e acordos internacionais Fortaleza em 2004. Diante dos fatos, Tereza
produtos e um deles era simplesmente um que regem o uso. No portal, o internauta Cristina solicitou a retirada do seu nome da
seguro sobre o financiamento, que tinha vai encontrar também informações sobre referida diretoria, uma vez que não é sócia
um custo maior que a metade dos juros da a conservação, preservação e a comercia- da Abraq e que nem mesmo havia estado
operação. Por se negar a contratar outros lização dos recursos hídricos brasileiros e presente ao Simbraq de Goiânia.
serviços que não tinham sido acordados internacionais; dados sobre associações
anteriormente, de um dia para o outro o científicas brasileiras e internacionais,
cadastro da empresa foi revisto e negado, organizações não governamentais e SANTA CATARINA - Segundo o Insti-
apesar de já ter apresentado as garantias outras associações da sociedade civil tuto Cepa de Santa Catarina, as atividades
exigidas de 2,4 vezes o valor financiado. organizada que atuam no tema; artigos aqüícolas, brevemente vão figurar entre os
Apesar de ter sido considerada pelo ban- e comunicações científicas de eventos, produtos que ocupam os primeiros lugares
co uma “empresa de risco”, o piscicultor livros, teses e relatórios, além de dados do ranking do VBP - Valor Bruto da Pro-
achou por bem seguir seu caminho e fazer atualizados sobre os projetos e progra- dução agrícola catarinense. A produção da
os investimentos que necessitava com mas desenvolvidos com recursos do aqüicultura em 2001 alcançou o valor bruto

 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005


de R$ 47.275.997,00, apresentando um US$ 100 MILHÕES - Criado em 1998, o Unidas para o Desenvolvimento (PNUD),
crescimento de 28,10% com relação a DPA- Departamento de Pesca eAqüicultura do governo do Canadá, Television Trust for the
2000. A piscicultura, com a produção Ministério da Agricultura foi um instrumento Environment, Fundação das Nações Unidas,
de peixes de águas interiores, somou fundamental para que o Brasil melhorasse International Development Research Center,
R$ 27.633.645,00, a mitilicultura o desempenho das vendas externas do setor World Conservation Union, Nature Conser-
com R$ 7.351.410,00 e a ostreicultura pesqueiro. Naquele ano, o país registrou um vancy e BrasilConnects. Dois representantes
R$ 6.688.179,00. Para garantir a con- déficit na balança comercial de pescados de do projeto, desenvolvido em parceria com a
clusão de projetos de desenvolvimento, US$ 332 milhões. No ano seguinte, em 1999, Fundação Florestal do Estado de São Paulo
entre eles a maricultura, o estado de o déficit caiu para US$ 150 milhões e, em e apoio do Ministério da Agricultura, foram
maior produção de moluscos do Brasil 2000, caiu ainda mais tendo sido registrado o convidados a participar da RIO+10 - Cúpula
vai, através da Epagri-SC - Empresa de déficit de US$ 58 milhões. Em 2001, com o Mundial para o Desenvolvimento Sustentável
Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural auxílio luxuoso das exportações de camarões em Johannesburgo, na África do Sul, de 26
de Santa Catarina, contratar a partir de cultivados, o setor já apresentou um superávit de agosto a 4 de setembro. A América Latina
setembro técnicos e extensionistas já de US$ 22,6 milhões. Devido ao aumento da concorre ao todo com 11 projetos, sendo quatro
aprovados por concurso. Há mais de captura de novas espécies e ao crescimento da do Brasil. Um júri selecionará seis projetos que
uma década nenhum funcionário era carcinicultura no País, a expectativa do Ministro receberão o Prêmio da Iniciativa Equatorial
contratado. No ano passado o cultivo Pratini de Moraes é de que o saldo positivo da no valor de U$ 30.000,00. Este é mais um
de mexilhões catarinenses teve queda balança comercial no setor pesqueiro alcance importante reconhecimento ao projeto sobre
de 7% na produção e, como forma os US$ 100 milhões no final deste ano. exploração racional de ostra em Cananéia,
reconquistar as 12 mil toneladas de que já recebeu o prêmio Eco 99, oferecido
mexilhões produzidas de 2000, a Epa- pela Câmara Americana do Comércio de
gri-SC está substituindo o uso dos atuais COOPEROSTRA - Após uma extensa São Paulo. A ostreicultura em Cananéia foi
bancos naturais de sementes por coletores investigação para identificar parcerias comu- implantada pelo Instituto de Pesca, que iniciou
artificiais já testados anteriormente. Os nitárias que promovam a redução da pobreza suas pesquisas em 1973. Três anos mais tarde,
parques de coleta, porém, deverão suprir através do uso sustentável da biodiversidade, pescadores já recebiam treinamento sobre o
a necessidade de apenas metade dos pro- o Comitê Técnico Consultivo da Iniciativa cultivo, depuração, acondicionamento, trans-
dutores que fazem parte Associações de Equatorial escolheu a Cooperostra - Coope- porte e comercialização do produto, além de
Maricultores de São Francisco do Sul. rativa dos Produtores de Ostras de Cananéia noções sobre cuidados com a saúde, moradia
O primeiro deles estará localizado -SP, para estar entre os 25 projetos mais e de como melhorar o seu padrão social com
do Balneário de Enseada, em São importantes em todo o mundo. A iniciativa a atividade. Quase duas décadas depois, os
Francisco do Sul. é uma parceria entre o Programa das Nações bons resultados levaram

HIPÓFISES
&
OVOPEL
Importados da Hungria.
A melhor qualidade do
mercado.
O melhor preço.

Fale com:
Sérgio: (47) 9982-9405

Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005 


a formação da Cooperostra com a fi- está sediada em Ibitirama, a 250 quilômetros laboratório já estará disponível ao público
nalidade de legalizar o escoamento da de Vitória. a partir de setembro de 2002.
produção e melhorar o produto cultivado,
ao mesmo tempo em que comunidade
local se envolvia com a defesa do meio NOVIDADES - A Socil Guyomarc‘h está NEGÓCIOS CARIOCAS - A Urca,
ambiente. Por ocasião da formação da lançando no mercado de rações a Laguna um dos bairros mais charmosos da zona
Cooperativa, a remuneração média pela Santé, um produto desenvolvido segundo sul do Rio de Janeiro abrigará uma loja
dúzia de ostras era de apenas R$ 0,50. modernos conceitos de balanceamento de especializada em venda de Litopenaeus
A partir da organização da produção de rações, com altos níveis de vitamina C, vannamei, cultivados na Bahia. A loja é
forma cooperada, a remuneração passou a energia e imuno-estimulantes naturais, es- uma iniciativa do empresário Paulo da Luz
R$ 1,70 e, atualmente, os ostreicultores já senciais no combate ao estresse e prevenção que pretende abastecer casas e restaurantes
podem planejar uma remuneração mensal de doenças dos peixes. Pode ser utilizado nas com o camarão, vendido limpo e conge-
ao redor de R$ 800,00. fases de crescimento, engorda e terminação lado. Os vannamei que Paulo da Luz vai
e, principalmente, na preparação dos peixes comercializar vêm da Valença Maricultura,
para o período de estresse, como antes do que produz mensalmente 450 toneladas. A
FILÉS DE TRUTA - Com uma produção transporte ou durante períodos de oscilações loja comercializará também carne de siri,
anual de 120 toneladas de trutas frescas, de temperatura e qualidade de água. O novo filés de tilápia e lagosta.
a Tecnotruta, que já distribui seus peixes produto ajuda também na prevenção de en-
nos mercados de São Paulo, Espírito Santo, fermidades que ocorrem durante o inverno.
Minas Gerais e Rio de Janeiro, se prepara A Socil está lançando também um novo WEB - A página do BMLP- Brazilian
para comercializar também filés. Além do serviço: o LABRO - Laboratório de Análises Mariculture Linkage Program na Internet
mercado interno, a truticultura pretende Bromatológicas, dotado de equipamentos está com novidades. Lá, o internauta vai
conquistar também os mercados europeu e de última geração e uma equipe altamente conheçer as técnicas canadenses que estão
americano. O volume da exportação ainda profissional, que atenderá as indústrias ali- sendo aplicadas em Santa Catarina para
não foi definido, mas a idéia da empresa mentícias, e fabricantes de rações, além das garantir o suprimento de semente de ostra
é exportar filezinhos para aperitivo e filés empresas de matérias-primas que entram na no estado; saber como pesquisadores do
pré-cozidos no vapor de caldo de legumes, composição dos alimentos. Um dos grandes BMLP e pescadores pretendem melhorar a
ervas aromáticas e vinho branco. Atualmen- destaques do LABRO é a análise que detecta maricultura artesanal na Bahia; saber sobre
te, a Tecnotruta comercializa seus filés de farinha animal nas rações, um forte aliado na os investimentos que podem transformar
truta apenas no Espírito Santo. A empresa rastreabilidade da origem dos alimentos. O a Universidade de Malaspina em centro

FUNPIVI
CENTRO DE PRODUÇÃO E
TECNOLOGIA EM AQUACULTURA

Alevinos
Carpas
Tilápia Revertida
Bagre Africano
Pacu
Jundiá Branco
Piauçu
Marrecos de Pequim
(5 dias)
Fone/fax: (47) 382-0512
Timbó - SC

 Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2002


de referência na pesquisa de moluscos, a oportunidade, no dia 30 de julho a Purina Pacífico, do Japão a Austrália. É uma espécie
entre outros assuntos relevantes. A missão inaugurou em Paulo Afonso a sua Estação que apresenta rápido crescimento sob as
do Programa Brasileiro de Intercâmbio em Demonstrativa de Piscicultura, que tem como mais variadas condições de cultivo, sendo
Maricultura é aumentar a capacidade das objetivo simular os seus programas nutricio- a mais cultivada no mundo, com uma alta
universidades nordestinas selecionadas, nais e obter resultados nas reais situações aceitação nos mercados americano e japo-
agências de extensão governamentais e de campo, para testes com novos produtos nês. O P. monodon é, contudo, altamente
organizações não governamentais (ONG´s) e ainda como unidade de treinamento para susceptível às enfermidades virais Mancha
com o objetivo de desenvolver as atividades funcionários e de difusão de tecnologia para Branca (WSSV) e Cabeça Amarela (YHV).
de maricultura nas comunidades e progra- clientes e técnicos de campo. Foi introduzido no Brasil na década de 80,
mas correlatos. O endereço da BMLP é mas seu cultivo foi abandonado devido a
http://web.uvic.ca/bmlp/port-index.html e resultados zootécnicos insatisfatórios. Entre
vale uma visita. MONODON - Uma fêmea da espécie Pe- algumas hipóteses para a sua ocorrência no
naeus monodon com 220g de peso e compri- litoral brasileiro estão: o estabelecimento
mento de 28,5 cm foi encontrada no litoral de populações naturais como resultado
CAPACITAÇÃO - A Purina realizou entre de Fortaleza -CE. O camarão foi capturado, de espécimes fugitivas ou remanescentes
os dias 29 de julho e 2 de agosto em Paulo a cerca de 500 m da costa, por pescadores dos cultivos da década de 80; a migração
Afonso - BA um treinamento de Capacitação através de arrasto realizado próximo ao Porto através de correntes marítimas vindas de
Técnica de Peixes Avançada com sua equipe do Mucuripe, uma região muito utilizada pela outros países da América Latina onde está
de vendas de todas as unidades da Purina pesca artesanal de espécies nativas. Este é espécie já foi cultivada e, o transporte e
no Brasil. Paulo Afonso - BA foi escolhida o terceiro relato comprovado da ocorrência introdução acidental através da água de
como sede desta capacitação, por ser refe- do P. monodon no Ceará dentro de um perí- lastro de cargueiros intercontinentais.
rência na piscicultura nacional. A frente do odo de um ano e dois meses. O P. monodon Para validar as hipóteses levantadas, a
treinamento Fernando Kubitza e Alberto J. também é conhecido como camarão tigre Universidade Federal do Ceará vai iniciar
P. Nunes, dois dos mais conceituados espe- gigante, por seu tamanho desproporcional um trabalho de isolamento e amplificação
cialistas em aqüicultura do País. O principal em relação a outras espécies de peneídeos do DNA genômico do camarão capturado
objetivo foi ampliar a capacitação técnica e por apresentar listras duplas de coloração para comparar as bandas de RAPD (Poli-
da equipe de vendas para dar maior suporte marrom e amarelo ao longo de todo seu ab- formismo de DNA Amplificado) encon-
técnico aos clientes de norte a sul do Brasil, dômen, cefalotórax, nadadeiras e apêndices. tradas nos camarões asiáticos P. monodon,
visando conquistar os melhores resultados O camarão tigre tem sua ocorrência natural obtidos em análises prévias realizadas por
de produtividade nos cultivos. Aproveitando no Oceano Índico e Sudoeste do Oceano outros pesquisadores.

você leu?
o seu cliente
também....
anuncie!
solicite nossa
tabela de preços
(21) 2552-2223

seu cliente
certamente
é nosso leitor

Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2002 


O Departamento de Pesca e Aqüicultura do Ministério da Agricultura tem no cargo
de Coordenador-Geral de Aqüicultura, Alexandre Caixeta Spinola, um brasiliense
de 28 anos, formado como administrador de empresas e engenheiro agrônomo
com mestrado em agronegócio pela UNB – Universidade Nacional de Brasília. Alexandre
Spinola veio da ABIPTI – Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológi-
ca, onde participava da equipe do Projeto Agropolos.  Para Alexandre, o agronegócio,
que representa a moderna dinâmica da agropecuária, vem possibilitando sua inserção
no mercado global de forma competitiva e sustentável, e vem ganhando força e desta-
que por representar uma nova visão de negócio dos produtos agropecuários. Na sua
concepção, o principal entrave para a sua maior disseminação é a resistência da so-
ciedade em incorporar o novo e até em certo ponto, desconhecido enfoque. A Revista
Panorama da Aqüicultura conversou com Spinola sobre suas atribuições e propostas
frente as novas estratégias de trabalho.

Panorama – O agronegócio desponta como o único setor da eco- atividade. Temos também o Plano de Safra, que já está no terceiro
nomia brasileira que apresenta superávits na balança comercial ano. De toda a gama de produtos agropecuários brasileiros, onze
há mais de 10 anos, sendo responsável por 27% do PIB nacional foram tidos como estratégicos e a aqüicultura está incluída entre
em 2001. Com relação ao setor de pescados, como o MAPA eles, com recursos liberados para todas as espécies aqüícolas.
- Ministério da Agricultura vê o Brasil e quais as perspectivas Num curto prazo é isso. Outro ponto importante é essa nova fase
para a aqüicultura? da aqüicultura em relação à consolidação das cadeias produtivas
e temos diversos exemplos de que a aqüicultura está evoluindo
Alexandre - O setor de pescado para o ministério é um setor que para isso. Só teremos um agronegócio forte da aqüicultura no dia
apresenta resultados. Nesse sentido ele se torna estratégico, pois em que tivermos a cadeia produtiva consolidada. Essa organiza-
tem um grande potencial, pode exportar proteína animal e gerar ção é fundamental para termos um avanço maior a médio e longo
empregos, principalmente a carcinicultura no nordeste, uma região prazos. Com força e representação a cadeia produtiva conseguirá
com muitas dificuldades de renda, que o camarão muda esse cená- fazer pressão sobre o governo para atender às suas demandas. A
rio. Para o Governo Federal a aqüicultura brasileira é vista como gente já começa ver essa nova fase de organização. Não é produzir
“a bola da vez” no cenário internacional. Chegou a vez do Brasil. e esperar que o pesque-pague venha comprar, é preciso se profis-
Os estoques pesqueiros chegaram num ponto de sustentabilidade sionalizar cada vez mais. Nossa função é mostrar o potencial do
atingindo seu patamar de 100 milhões de toneladas. A FAO projeta mercado sem criar uma imagem ilusória e falsa. Não podemos falar
para 2010, um consumo de mais de 30 milhões de toneladas de “olha gente, montem uma indústria de processamento que vocês
pescados e a pesca não tem como responder a essa demanda. O vão ter mercado”. Mas sabemos que o setor de pescados, dentro
Brasil é a nova fronteira do pescado mundial. Temos 12% da água da economia alimentícia, é o que mais cresce no mundo, com
disponível no mundo e 5 milhões e quinhentos mil hectares de 11% de crescimento ao ano. Esses dados são os que precisamos
reservatórios, além de um clima tropical em quase todo o país. Isso apresentar aos formadores de opinião e da mesma forma mostrar
para o MAPA é muito importante, principalmente porque não tem que o governo está apto a trabalhar com a regulamentação mais
mais aquela visão protecionista do IBAMA – Instituto Brasileiro voltada para a produção, não só para preservação; ou seja, que o
do Meio Ambiente e sim de fomento. O DPA, apesar de ser um governo está disposto a colaborar naquilo que for pertinente para
departamento novo de apenas 4 anos, tem uma boa credibilidade que esse fluxo ao longo da cadeia produtiva aconteça da melhor
dentro do MAPA. E isso tem que ser creditado ao fato do Gabriel forma possível. A partir daí a iniciativa privada entra e vai procurar
Calzavara, diretor do DPA, ter incorporado a perspectiva de cadeia uma melhor embalagem, vai procurar um marketing, ela vai fazer
produtiva, que vem de encontro ao discurso do próprio ministério. uma degustação...
Isso deu visibilidade interna e com certeza o DPA está à frente da
formulação de uma política para o pescado. Panorama – Quais são os gargalos identificados hoje pelo DPA e
por você pessoalmente?
Panorama – Esse aumento da demanda mundial por pescados e a
impossibilidade dos estoques naturais de atenderem a esta demanda Alexandre – Organização, informação e comercialização. Eu acho
já são constatações bem antigas, bem como a grande vocação do que é principalmente isso. O primeiro é a falta de organização e,
Brasil para a aqüicultura e, no entanto, ainda não foram suficientes decorrente dessa falta de organização, temos informações incom-
para que se formulasse, até hoje, uma política para o desenvol- pletas. Nem todo mundo tem acesso à informação.
vimento do setor. Quais, a seu ver, serão as transformações que
devemos esperar a curto, médio e longo prazos? Panorama – Que tipo de informação especificamente?

Alexandre – Temos um programa no PPA – Plano Plurianual. Alexandre – Informação de mercado. No meu ponto de vista é
Entre 365 programas de diretrizes para o Brasil, a aqüicultura depois da porteira que estão os principais gargalos. Eu não tenho
está incluída e isso é um sinal de que o governo está atento para a conhecimento se há falta de informação tecnológica, daí não posso

10 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005


afirmar nada. Mas acho que o acesso à tecnologia não deve ser está estimulando o setor de pescado e frutas e reduzindo batata
complicado, pode ser caro, mas o acesso não deve ser difícil. e o bacon por causa da obesidade do país. É contar que o Mc
Donald’s pediu para o Ministro Pratini de Moraes que seja au-
Panorama - Existe hoje dentro da política do agronegócio algu- mentada a produção de tilápia, porque eles querem matéria prima
mas estratégias para eliminar esses gargalos que você acabou de para o macfish, ou seja, é fazer essa promoção institucional da
citar? aqüicultura. Outro ponto interessante é que estamos pensando em
promover um encontro nacional com a visão de mercado. Discutir,
Alexandre – Sim. Antes de mais nada, teremos que trabalhar a por exemplo, se a coisa vai caminhar para a integração. Discutir
parte de informação interna do DPA. Nós temos um corpo téc- os aspectos de mercado.
nico excelente, embora pequeno (cinco pessoas), mas altamente
qualificado. Estamos recebendo agora uma pessoa específica na Panorama - No que se refere à organização, como o DPA ima-
piscicultura e vamos ver se damos uma guinada. Também não gina que pode interferir para efetivamente ajudar a organizar a
podemos ficar fechados nessas 4 paredes, temos que mostrar a atividade?
cara. Temos que mostrar a aqüicultura para o público, para os
formadores de opinião seja ele do setor público ou privado. Temos Alexandre – A gente não pode apenas falar que quer um setor
que apresentar a aqüicultura como um excelente negócio e que as organizado. De repente meia dúzia de produtores pode se juntar e
pessoas devem investir nela porque existe possibilidade de retorno formar uma organização que não é representativa. Não podemos
garantido, seguro. Num primeiro momento a gente está pensando estimular esse tipo de coisa, porque isso é paliativo e não resolve.
mais na promoção institucional, ou seja, nós temos que falar que o Acabam ficando esperando recursos do governo apenas pra se
setor está pronto para receber investidor, está pronto para crescer. manter e aí quando acaba o recurso, acaba tudo. É a tal da chapa
É o que está acontecendo com o camarão. Nós temos que colocar branca e não é por aí. A nossa vontade é que o setor aqüícola esteja
pra esse próximo ano que a aqüicultura é uma coisa interessante, cada vez mais organizado de fato e de direito, e não de sigla. Não
que o pessoal pode investir pode acreditar, que é uma coisa que temos como trabalhar com todos os aqüicultores, mas podemos
vai emplacar cada vez mais. trabalhar com a representação desses aqüicultores.

Panorama – Já existe alguma maneira de fazer isso? Panorama - Como é que o DPA está vendo hoje a discussão com
relação a ABRAq-Associação Brasileira de Aqüicultura que, em
Alexandre – Através de marketing, publicações e reuniões de tese, é uma organização representativa?
articulação. É essa coisa simples, mas que é “o meio de campo”
que às vezes não é feito. É mais essa questão mesmo de ser um Alexandre – Eu acho que ela saiu um pouco desgastada do último
propagandista. É falar por exemplo que o governo americano Simbraq, em Goiânia, e precisa de um tempo pra se reestruturar

Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005 11


e se tornar uma associação forte e representativa. A partir desse Federal de Santa Catarina, ou seja, tentamos englobar o máximo
momento eu acho que o canal está aberto. pessoas e instituições que têm algum interesse na carcinicultura.
Eu acho que ela ficou bem de acordo com os interesses da produção
Panorama - A ABRAq hoje seria estrategicamente importante com responsabilidade sustentável. Ninguém está sendo irresponsável
para a política do DPA? ou indo contra a questão da sustentabilidade. Estamos atuando com
responsabilidade e bom senso. Trabalhamos pelo interesse do país,
Alexandre - Ela é importante porque ela é uma representação. então não podemos ser unilaterais no processo, mas também não
Agora, não devemos nos limitar apenas a ABRAq. Existe espaço podemos ser radicais, porque a carcinicultura é uma atividade que
pra outras associações mais específicas, com todo mundo tendo traz renda e emprego. Outro ponto importante é a cessão das águas
o mesmo objetivo. Isso é mais forte que uma entidade que não públicas. O DPA entende que a aqüicultura só vai ser forte quando
tenha a mesma linguagem com todos os seus envolvidos. A ABCC ela tiver uma regulamentação adequada. Estamos tendo um pouco
– Associação Brasileira dos Criadores de Camarão, por exemplo, de dificuldade na parte da licença ambiental e tivemos reuniões
está aí e é bem forte. com o IBAMA, para que desobstruam o fluxo disso tudo, para que
facilitem as coisas, como por exemplo, a isenção da taxa para pe-
Panorama – A questão ambiental mal interpretada vem prejudi- quenos produtores. Nem tudo depende da gente, temos que esperar,
cando o desenvolvimento da atividade. Como o DPA está vendo dar tempo ao tempo. O IBAMA pelo menos está com boa vontade
esse assunto? de colaborar e isso é um ponto importante.
Alexandre – A gente não pode falar numa aqüicultura forte sem ela Panorama – O que você tem a dizer ao pequeno produtor?
ter uma regulamentação voltada para a produção. Estamos num mo-
mento de mudanças, final de ano e redução no orçamento, o que nos Alexandre – Que eu acho fundamental que ele se organize, seja
sobra poucos recursos para trabalhar o fomento. Mas para trabalhar em cooperativa ou associação, para que tenha cada vez mais o
a regulamentação da aqüicultura não precisamos de muito dinheiro seu espaço. E essa organização requer uma profissionalização. A
e sim de articulação política. Estamos fazendo um re-ordenamento partir do momento em que ele está estruturado e organizado, ele
institucional voltado para a produção. Recentemente, atuamos conseguirá novos canais de comercialização, como uma rede de
junto ao CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente no supermercados...
processo de elaboração da resolução sobre a regulamentação da
carcinicultura. Encaminhamos uma proposta de harmonização de Panorama – Daí estaremos falando em rastreabilidade, inspeção
interesses, onde incluímos sugestões da ABCC, pegamos algumas federal...Quer dizer, para encontrar esses canais o pequeno produtor
coisas do próprio Ministério do Meio Ambiente e da Universidade vai necessitar de recursos, investimentos...

Alexandre – Daí a necessidade de uma associação. Quanto mais


fortalecido ele estiver numa organização, mais força ele terá no mer-
cado. A política que a gente está tentando implementar aqui no DPA
é a política na perspectiva do agronegócio, e que esteja em sincronia
com a demanda dos produtores e com a demanda do mercado mun-
dial. Nós não podemos priorizar uma política apenas para o mercado
e esquecer do produtor. Ou apenas para o produtor e esquecer do
mercado. E, lógico, que seja geradora de emprego, renda.

Panorama – Finalizando, o que o produtor pode e deve esperar em


termos de realizações do DPA, em cima dessa política que você
acabou de falar?

Alexandre - Estrategicamente definimos quatro vetores de atuação.


Esses vetores são a promoção institucional; o encontro do agronegócio
aqüícola do Brasil; a regulamentação do setor e, a harmonização da
agenda política. A promoção institucional, como foi dito, tem como
objetivo a geração e difusão de informações para a consolidação das
cadeias produtivas. Através da informação gerada, tem-se como
objetivo a disseminação do potencial da aqüicultura, elevando a
imagem do setor. O encontro do agronegócio aqüícola do Brasil tem
como objetivo a consolidação das ações das cadeias produtivas de-
senvolvidas pelo DPA e a orientação de ações futuras, na perspectiva
do mercado aqüícola. A regulamentação, como vimos, tem como
objetivo a coordenação institucional para normatizar a atividade,
facilitando os fluxos nas cadeias produtivas e garantindo segurança
ao empreendedor quanto à legalidade de seus investimentos. Por
fim, a harmonização da agenda política tem como objetivo introduzir
uma moderna ferramenta de gestão da política pública, através de
intermediação de interesses na cadeia produtiva. Será realizada por
consenso, minimizando os conflitos e demonstrando à iniciativa
privada que o setor público está aberto ao diálogo.

12 Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2002


Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2002 13
14 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005
Por: Leonardo Dell”Orto - Bahia Pesca S.A.,
e-mail: ldelorto@bahiapesca.ba.gov.br;
Mónica Morais e Denise Soledade  – Dell’acqqua
Consultoria, e-mail: dellacqqua@dellacqqua.com.br

O Programa de Maricultura Artesanal do Estado da Bahia, que tem como parceiros a BAHIA PESCA,
SEBRAE/BA e IDES - Instituto de Desenvolvimento do Baixo Sul, desenvolveu um projeto experimental
de cultivo de tilápia em tanques–rede em ambiente estuarino nas localidades de Barra do Serinhaém e
Canavieiras, ambas na Baía de Camamu. Os experimentos, coordenados pela Bahia Pesca e executados
pela empresa de consultoria Dell’acqqua, foram iniciados em dezembro de 2001, com o objetivo de avaliar a via-
bilidade técnica e econômica do cultivo de tilápias em ambientes estuarinos. Os experimentos objetivam também
fornecer subsídios básicos sobre a performance de cultivos de linhagens e híbridos de tilápia nas condições
testadas, inclusive com análise econômica preliminar da viabilidade do cultivo para módulos familiares, a serem
conduzidos por pescadores e marisqueiras reunidos em associações. Pelo fato de existirem poucas referências
bibliográficas a respeito de cultivo de tilápias em estuários, foram utilizadas como base as estruturas e o manejo
de cultivo em tanques-rede adotados no complexo de barragens de Paulo Afonso – BA.

Os peixes testados no experimento foram machos sexualmen- densidade de estocagem de 2 alevinos/L. A elevação da salinidade
te revertidos da Tilápia Nilótica (Oreochromis niloticus) da linhagem variou de 7 a 10 ppm ao dia, durante três a cinco dias, a depender do
Chitralada e um híbrido vermelho, denominado comercialmente de destino dos alevinos (Canavieiras = 20 ppm; Barra do Serinhaém =
Red Jamaica, resultante do cruzamento das espécies Tilápia Nilótica 28 ppm) e da variedade de tilápia (Chitralada = 5 dias; Vermelha = 3
(Oreochromis niloticus); Tilápia Zanzibar (Oreochromis urolepis dias). Neste período, a alimentação foi oferecida duas vezes ao dia em
hornorum); Tilápia Moçambique (Oreochromis mossambicus) e uma quantidade diária de 2 a 3% da biomassa. A limpeza dos restos de
Tilápia Áurea (Oreochromis aureus). ração e fezes foi feita diariamente, por sifonamento, com a troca de 30
Os locais selecionados, Barra do Serinhaém e Canavieiras, a 50 % do volume de água.
apresentam condições ambientais distintas, como pode ser visto na
tabela 1. Durante o experimento os parâmetros físico-químicos da Estruturas de Cultivo
água como a velocidade das correntes, transparência, temperatura,
pH, salinidade e oxigênio dissolvido, foram avaliados mensalmente Cada bateria de cultivo experimental foi composta por dois
na enchente, vazante e maré morta. tipos de tanques-rede: 1 tanque-rede de 4 m3 destinado à fase de
alevinagem, construído em tela de seda de poliéster revestida de
PVC, medindo 2,0 x 2,0 x 1,2 m, com malha de 4,0 mm e 3 tan-
ques-rede de 4 m3 cada, destinados à fase de engorda, construídos
nas dimensões de 2,0 x 2,0 x 1,2 m com tela de seda de poliéster
revestida de PVC com malha de 17,0 mm .
Os tanques-rede de engorda possuem uma tampa móvel com
Tabela 1 – Parâmetros físico-químicos avaliados no início do cultivo nas recinto de alimentação, formado por um cilindro vazado de 120
localidades selecionadas para o experimento. cm de diâmetro e 60 cm de altura, com malha de 4,0 mm armada
sob a tampa. Essa estrutura facilita a tarefa de alimentação dos
O processo de condicionamento dos alevinos às condições de peixes, minimizando perdas com ração.
salinidade do estuário foi realizado em tanques de fibra de vidro com Foi adotado o sistema bifásico de cultivo (alevinagem/en-
capacidade de 1.000 L, em sistema de água parada com aeração, com gorda), sendo estocados inicialmente no tanque-rede de alevinagem

Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005 15


PELETIZADO-
RAS CHA-
Tecnologia Própria
Máquinas de 7,5 HP a 300 HP
Peletiza rações, farelos e pós finos
em geral, com e sem vapor.
De 100 kg a 30 t/hora.

s
Os melhore
preços d o
!
mercado !!

IND. E COM. CHAVANTES


Av. João Martins, 738 - Chavantes - SP
Cep: 18970-000
Tel.: (14) 3342-1911
Fax: (14) 3342-1913
e-mail: iccl@uol.com.br
www.indcomchavantes.com.br

16 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005


5.000 alevinos de tilápia macho de 1,0 - 3,0 gramas até atingirem corrente. Devido à impossibilidade de diagnóstico laboratorial,
o peso de 25 - 40 gramas. Após esta fase os juvenis foram classifi- alguns bioensaios foram realizados para indicar a melhor forma
cados por tamanho, contados e estocados em três tanques-rede de de tratamento.
engorda numa densidade de 185 peixes/m3 até atingirem o peso
médio de 700 g. Foram utilizados dois métodos de arraçoamento Bioensaio I (Barra do Serinhaém) – Foram utilizados dois tanques
no experimento: método da saciedade, descrito por Schmittou (sem de fibra de vidro contendo água com salinidade de 25 ppm (com
data), em Produção de Peixes em Alta Densidade em Tanques-rede parâmetros físico-químicos estáveis), sem circulação de água, mas
de Pequeno Volume e método do percentual da biomassa, este último com aeração, contendo cada um 100 tilápias Chitraladas com ulce-
baseado no programa alimentar adotado nos cultivos no município rações. Os peixes foram submetidos a dois diferentes tratamentos.
de Paulo Afonso – BA. No primeiro tanque receberam administração oral de tetraciclina
misturada à ração, na posologia de 50 mg/Kg de peso vivo, uma vez
Resultados ao dia, durante 14 dias consecutivos. No segundo, administração
oral da mistura, em partes iguais, de alho com limão (imunoes-
Os dados biométricos, consumo de ração e mortalidade, tanto timulantes), na posologia de 3,0 g/Kg de peso vivo, uma vez ao
de alevinagem quanto engorda, nesta primeira fase dos experimentos dia, durante 14 dias consecutivos. Os resultados dos tratamentos
forneceram os subsídios para inferir sobre a performance de cada foram semelhantes, com cerca de 95% dos peixes nos dois tanques
variedade de tilápia nas diferentes condições ambientais em que curados das ulcerações, e 5% em processo de cicatrização.
foram realizados os experimentos, inclusive na análise econômica
preliminar de viabilidade do cultivo para a montagem do módulo de Bioensaio II (Barra do Serinhaém) - Foram colocadas 50 tilápias Chi-
cultivo familiar. traladas em um tanque circular de fibra de vidro, também contendo
água com salinidade de 25 ppm, sem circulação de água e com
Alevinagem aeração, aos quais forneceu-se apenas ração, sem qualquer tipo de
tratamento. Com 15 dias, estes também apresentaram cicatrização
Os módulos instalados na localidade de Canavieiras apre- das ulcerações.
sentaram resultados superiores aos de Barra do Serinhaém. A
performance de cultivo em Barra do Serinhaém, onde as condições - Descartaram-se os peixes com
Bioensaio III (Barra do Serinhaém)
de correnteza e valores de salinidade são maiores foi inferior, possi- ulcerações, de um tanque-rede, e administrou-se a mistura imuno-
velmente, em decorrência do aumento do gasto energético, elevando estimulante de alho e limão, na posologia já descrita, ao restante
a conversão alimentar. Além disso, o estresse fisiológico debilitou dos peixes sem sintomatologia. Entretanto, estes peixes também
os peixes, reduzindo a imunidade e favorecendo o aparecimento desenvolveram as ulcerações após alguns dias.
de doenças e elevando a mortalidade (tabela 2).
Comparando os resultados obtidos em Canavieiras com os Bioensaio IV (Barra do Serinhaém)- 50% das tilápias vermelhas de
cultivos no município de Paulo Afonso, observa-se que os valores um tanque-rede apresentaram ulcerações. O tratamento utilizado foi
obtidos no ambiente estuarino foram semelhantes. Em Paulo Afonso, com tetraciclina misturada à ração para que se observasse também
a duração desta fase gira em torno de 45 - 60 dias, com peso final se haveria cicatrização das lesões, mesmo com os peixes sendo
entre 25 a 40 gramas e conversão alimentar 1,5 -1,8:1,0. submetidos às variações de parâmetros físico-químicos da água.
Em Barra do Serinhaém, o cultivo com Nilótica Chitralada Após dez dias de tratamento, cerca de 30% dos peixes continuaram
foi interrompido e os juvenis sacrificados aos 64 dias, devido à com as ulcerações.

Bioensaio V (Canavieiras)- O tratamento das Chitraladas foi reali-


zado com Permanganato de Potássio no tanque-rede, em forma de
imersão, na posologia de 10 g/m3, durante cinco dias consecutivos.
Para efetuar o tratamento utilizou-se um tanque de lona plástica de
2,20 x 2,20 x 1,20 m para revestir o tanque-rede, sendo o produto
aplicado uma vez ao dia durante 5 -10 minutos ou até que os peixes
mostrassem sinais de aflição. Houve redução no número de peixes
infectados e na mortalidade, mas não houve cura total.

Tabela 2 - Média dos parâmetros avaliados ao final do cultivo de Os resultados dos bioensaios realizados sugerem que a
alevinagem, período de dezembro/2001 a janeiro/2002 . causa mais provável da sintomatologia apresentada pelos pei-
xes é resultado de estresse fisiológico provocado por condições
Bioensaios de tratamento das infecções ambientais desfavoráveis, principalmente os valores elevados da
salinidade e velocidade de corrente, deprimindo o funcionamento
No final da fase de alevinagem, as tilápias da variedade dos mecanismos de defesa dos peixes contra parasitos patógenos
Chitralada de ambas as localidades e as vermelhas de Barra do e infecções oportunistas. Deste modo, alguns procedimentos que
Serinhaém, apresentaram sintomas externos de infecção com ul- poderão ser vistos a seguir, serão adotados para a próxima fase
cerações esbranquiçadas ou hemorrágicas por todo o corpo e com dos experimentos:
mortalidade crônica. • Os cultivos com as espécies testadas serão realizados somente em
Foi coletada uma amostra de peixes com a sintomatologia e locais que apresentem condições físico-químicas da água próximas
enviado para análise no Laboratório de Aqüicultura da Faculdade às encontradas na localidade de Canavieiras;
de Medicina Veterinária - UFBA. O resultado das culturas com • Seleção de novas linhagens e/ou híbridos de tilápia mais resis-
material das lesões foi negativo não detectando presença de patóge- tentes às altas de salinidades;
nos, sugerindo que as alterações apresentadas foram decorrentes de • Testes de estruturas que diminuam a correnteza dentro dos tan-
estresse fisiológico provocado pela alta salinidade e velocidade da ques-rede, nos locais onde este procedimento se fizer necessário;

Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005 17


18 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005
• Permanência dos alevinos em quarentena após a aclimatação, zada aos 146 dias de cultivo com uma conversão alimentar média
durante sete dias, para melhor adaptação e observação de possíveis de 3,93:1,0; peso médio final de 390,9 gramas e sobrevivência de
enfermidades pré-existentes. 38,47%. A performance de cultivo foi muito abaixo do observado
na localidade de Canavieiras devido as condições ambientais en-
Engorda contradas no local (forte correnteza e alta salinidade) o que levou
ao acometimento da maioria dos peixes pelas ulcerações, pontos
Concluída a fase de berçário os juvenis foram selecionados e hemorrágicos e elevada mortalidade durante toda esta fase, de forma
separados em três lotes com 740 peixes cada, de tamanhos diferentes: crônica. Os peixes deste cultivo foram sacrificados e descartados
pequenos (21,2 -25,5 g), médios (37,9 - 36,5 g) e grandes (52,0 - 57,4 por apresentarem, em sua maioria, infecção com ulcerações.
g), vindo cada lote a povoar um tanque-rede de engorda. Os juvenis
restantes foram descartados do experimento, cujos resultados são Canavieiras (bateria de Chitralada) - A fase de engorda da Chitra-
descritos a seguir, bem como estão resumidos na tabela 3. lada foi finalizada aos 142 dias de cultivo, com uma conversão
alimentar média de 2,08:1,0 e peso médio final de 791,6 g. Em
cultivos dessa variedade de tilápia na região de Paulo Afonso,
este peso seria alcançado com cerca de 130 dias de cultivo, com
uma conversão alimentar entre 1,6 a 1,8:1,0. A sobrevivência de
75,77% foi menor que a observada em cultivos de água doce, onde
costuma ser em torno de 90%. A elevada mortalidade, nesta fase,
ocorreu principalmente, no segundo e no terceiro mês, de forma
crônica, quando os peixes apresentaram sinais de infecção (manchas
e ulcerações cutâneas esbranquiçadas ou hemorrágicas pelo corpo
e redução de apetite).
Como nos bioensaios realizados nenhum tratamento efe-
tuado nos tanques-rede mostrou-se eficiente, optou-se por não
realizar nenhum tratamento na fase de engorda e após o terceiro
mês as ulcerações cicatrizaram e a mortalidade crônica cessou.
Tabela 3 – Média dos parâmetros avaliados ao final do cultivo de Durante o quarto mês houve uma diminuição no ritmo de cresci-
engorda, período de janeiro/2001 a julho/2002 .
mento dos peixes, provavelmente devido às menores temperaturas
(cerca de 25 oC) e excesso de chuvas no mês de junho na região,
Barra de Serinhaém (bateria de Red Jamaica) - Os juvenis selecionados o que estendeu o tempo de cultivo.
foram separados por tamanho em três lotes, cada um com 740 peixes. Apesar da elevada mortalidade apresentada pela tilápia ni-
Cada lote povoou um tanque-rede de engorda. Esta fase foi finali- lótica chitralada neste primeiro cultivo e do atraso de crescimento,

Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005 19


20 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005
o custo de produção de 1,0 Kg de peixe em produzido, considerando os mesmos itens de
ração foi de R$ 1,59 (preço médio de ração = custo, produtividade e módulo de cultivo pro-
R$ 0,77), e o custo final por quilo produzido posto para a tilápia Nilótica. A produtividade
foi de R$ 2,30, considerando como itens de final variou entre 76,2 a 117,9 Kg/m3, devido
custos: depreciação, pró-labore, assistência à variação de crescimento dos peixes em cada
técnica, amortização dos juros, alevinos, ração tanque (P, M, G), não havendo correlação entre
e transporte para um módulo produtivo com a produtividade alcançada e mortalidade.
02 tanques-rede de alevinagem e 10 tanques-
rede de engorda, com produtividade de 120 Tilápia Marinha
Kg/m3.
Devido à elevada mortalidade e à varia- A primeira fase dos experimentos
ção de crescimento dos peixes em cada tanque, forneceu importantes indicativos do manejo,
a produtividade final variou entre 97,9 a 131,4 principalmente com relação às condições
Kg/m3. A maior sobrevivência (83,33%) foi ambientais e às diferenças de performan-
registrada no tanque em que foram estocados ce das variedades de tilápia no ambiente
os juvenis grandes, onde a produtividade final estuarino.
foi de 131,4 Kg/m3.Aconversão alimentar ficou Os peixes derivados destes experi-
em 1,98:1,0 indicando a possibilidade de nos mentos foram apresentados às comunidades
próximos cultivos serem testadas produtivida- locais através de um Festival de Tilápia Mari-
des acima de 120 Kg/m3, o que deverá reduzir nha, onde a aceitação foi total, sendo sugerido
os custos de produção. um preço de venda por quilo, em torno de R$
3,00 a R$ 3,50 para peixe inteiro, já que o
Canavieiras (bateria de Red Jamaica) - A fase sabor e a textura da carne se assemelha bas-
de engorda do híbrido vermelho foi concluída tante aos peixes de água salgada capturados
aos 133 dias, com peso médio de 556,3 gramas na região, cujo preço para o vermelho, por
e conversão alimentar média de 2,4:1,0, ficando exemplo, é de R$ 5,00/kg.
abaixo do observado em cultivos deste híbrido A nova fase dos trabalhos para a con-
em água doce, onde este peso é alcançado por tinuação dos cultivos pilotos de tilápias em
volta dos 120 dias com uma conversão próxima tanques-rede no estuário será realizada em co-
a 2,0:1,0 (Gráfico). munidades que possuam condições ambientais
A sobrevivência de 95,36% foi ele- semelhantes as da localidade de Canavieiras.
vada, considerando a média encontrada nos Outras variáveis que provocam estresse nos
cultivos em água doce, que é de 90%. A alta peixes cultivados, em especial, as flutuações dos
sobrevivência nesta fase em relação à nilótica parâmetros físico-químicos da água provocados
chitralada provavelmente é decorrente da pelas marés estão sendo analisadas, visando
maior resistência destes híbridos aos cultivos identificar os locais mais adequados para a
em águas salinas. instalação dos cultivos comerciais.
Por volta do quarto mês de engorda, Será também testado um novo pro-
também houve diminuição no ritmo de cres- grama alimentar com valores mais altos de
cimento e pequena incidência de peixes com proteína bruta na ração, utilizando quatro va-
ulcerações, provavelmente em função do riedades de tilápias: Chitralada, dois híbridos
aumento do nível de estresse provocado pela vermelhos (Red Jamaica e Saint Peter) e um
piora nas condições ambientais (diminuição híbrido cinza, resultado do cruzamento de O.
de temperatura e aumento de chuvas), como niloticus x O. hornorum, desenvolvido pela
nas tilápias nilóticas as ulcerações também Estação de Piscicultura da CHESF - Paulo
regrediram sem tratamento. Afonso. Da mesma forma, serão realizados
Apesar da elevada sobrevivência, testes para o desenvolvimento da estrutura
ao contrário da tilápia Nilótica Chitralada, dos tanques-rede em relação ao volume,
a alta conversão alimentar apresentada pelo abertura de malha, estruturas de flutuação,
híbrido vermelho neste cultivo elevou o custo estrutura de quebra corrente e materiais de
de produção para R$ 2,60 por quilo de peixe construção.

Gráfico 1 - Comparativo de
desempenho de cultivo em
tanques-rede de tilápias,
linhagem Chitralada e Red
Jamaica em barragens e no
estuário

Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005 21


22 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005
Por:
Alberto J.P. Nunes, Ph.D. albertojpn@uol.com.br
Pedro Carlos Martins, M.Sc., Doutorando
Centro de Diagnóstico de Enfermidades de Camarão Marinho
(Cedecam/Labomar/UFCedecam)
Instituto de Ciências do Mar/Universidade Federal do Ceará
(LABOMARabomar) pedro@labomar.ufc.br

No final dos anos 80 e na década de 90,


as doenças infecciosas tiveram um efeito As Enfermidades no Cultivo de Camarão Marinho
Na carcinicultura, enfermidade significa qualquer alteração
devastador no cultivo de camarão marinho, adversa na saúde ou no desempenho de camarões ou populações
causando o colapso na produção de grandes de camarões cultivados. No cultivo, as enfermidades são desen-
países produtores e desencadeando perdas cadeadas quando ocorre um desequilíbrio entre as condições
ambientais do viveiro, o estado de saúde dos camarões cultivados
multimilionárias na indústria (Tab. 1). A partir e os agentes potencialmente patogênicos. As enfermidades infec-
de então, as enfermidades passaram a ser ciosas são causadas por patógenos transmissíveis (vírus, bactérias,
vistas como um obstáculo econômico e uma protozoários e fungos), enquanto as não infecciosas são resultantes
ameaça à viabilidade da atividade. Apesar de de agentes abióticos (efeitos nutricionais, genéticos, ambientais e
físicos). Sob uma situação de desequilíbrio no ambiente de cultivo,
algumas destas doenças ocorrerem habitu- os camarões são submetidos a uma condição de estresse, gerando
almente em fazendas de cultivo no Brasil, uma alteração em seu estado imunológico. Nestas circunstâncias, a
seu impacto econômico não é considerado população cultivada pode sofrer um ataque de patógenos levando
expressivo quando comparado a outros pa- os indivíduos a debilitação ou a morte.
Inúmeros fatores ambientais podem desencadear um
íses. Contudo, estas infecções afetam con- processo infeccioso nos camarões marinhos. Temperaturas e pH
sideravelmente o desempenho dos cultivos extremos, baixas concentrações de oxigênio dissolvido, mudanças
e causam alterações na aparência física dos abruptas na salinidade e presença de substâncias tóxicas são ele-
mentos associados a um desequilíbrio no ambiente. A propagação
camarões e conseqüentemente na qualidade de bactérias patógenas oportunistas (Vibrio spp., Aeromonas spp.),
do produto final. Este artigo fornece uma a proliferação de protozoários (Zoothamnium spp. e gregarinas),
descrição das principais enfermidades que a captação de água contaminada, a aquisição de pós-larvas com
abatem a indústria de cultivo de camarão, alta carga viral e a presença excessiva de microalgas (dinoflage-
lados e cianofíceas) também geram efeitos deletérios na saúde
seus sinais clínicos e as técnicas para mo- dos camarões.
nitorar e diagnosticar o estado de saúde da A implementação de procedimentos para diagnosticar o
população cultivada. estado de saúde de camarões cultivados serve para detectar pre-
cocemente problemas no sistema de cultivo, como a presença de
enfermidades, condições ambientais adversas ou ainda deficiências
nutricionais e (ou) genéticas da população. Isto permite que ações
sejam tomadas rapidamente para controlar, minimizar ou excluir os
efeitos negativos de condições desfavoráveis sobre a produção de
camarão, reduzindo os prejuízos financeiros resultantes da perda
ou mau desempenho do estoque cultivado.

Anatomia Funcional dos Camarões e Sinais Clínicos


de Enfermidades
Os camarões marinhos cultivados pertencem a família Pe-
naeidae. Estes animais possuem o corpo comprimido e alongado,
dividido em duas principais partes. O cefalotórax (cabeça) arma-
zena os principais órgãos funcionais, como o coração, a glândula
digestiva (hepatopâncreas), as brânquias e o estômago (Fig. 1).
*Perdas estimadas desde a detecção até 2001 As estruturas de detecção, captura e manipulação do alimento são
**Inclui pesca do Golfo da Califórnia (1989 – 1994) encontradas na região anterior ventral do cefalotórax.

Panorama
Panorama
da AQÜICULTURA,
da AQÜICULTURA,
julho/agosto,
setembro/outubro,
2002 2005 23
23
24 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005
Figura 1A e 1B - Vistas superior,
lateral e ventral do camarão Li-
topenaeus vannamei com seus
principais órgãos e estruturas do
cefalotórax e abdômen.

O abdômen (cauda) é adaptado para o nado e sub- Figura 2 - Classificação dos


dividido em segmentos que se fundem ao cefalotórax. É tipos de patógenos que afe-
na região ventral do abdômen onde estão localizadas as tam a indústria de cultivo
estruturas natatórias (pleópodos), o apêndice reprodutivo de camarão marinho.
dos machos (petasma) e parte do cordão nervoso. Os
principais órgãos e apêndices dos camarões e suas funções
são apresentadas na tabela 2. Estas estruturas, quando ex-
postas a agentes infecciosos, podem apresentar alterações
funcionais ou lesões estruturais, gerando efeitos desde um
retardamento no crescimento até o enfraquecimento e a
morte do camarão. IHHNV (Infecção Viral na Hipoderme e Necrose do Tecido He-
matopoético)
O IHHNV é classificado como sendo um vírus da categoria C-1. Foi
inicialmente observado em 1980 no Havaí, em populações cultivadas do
Litopenaeus stylirostris. O IHHNV apresenta como principais sinais clínicos
deformidades no rostrum, flagelo antenal enrugado, deformidades cuticu-
lares e taxa de crescimento reduzida. No Litopenaeus vannamei, o IHHNV
pode se manifestar através de animais nanicos com deformidades ao longo
do corpo (RDS, “Runt Deformity Syndrome”). A transmissão do IHHNV
pode ser vertical, durante o desenvolvimento embrionário, ou horizontal,
através da ingestão de tecido infectado com o vírus e contato com água ou
equipamentos contaminados. Não existe tratamento disponível para erra-
dicação do IHHNV. Seu controle se dá através da aquisição de pós-larvas
de boa procedência. Está presente no Brasil.

Sinopse das Principais Doenças


As enfermidades na carcinicultura são categorizadas
sob três níveis, baseando-se no seu nível de patogenicidade
e perigo para a indústria de camarão (Fig. 2). A categoria 3
(C-3) envolve os patógenos que causam um mínimo impacto
à produção, contudo podem gerar deformidades e alterações
na aparência física dos camarões. Sob a categoria 2 (C-2)
estão os patógenos que causam ameaça a produção, poden-
do afetar a produtividade dos cultivos e o crescimento e a
sobrevivência dos camarões. A categoria 1 (C-1) inclui os
patógenos que causam mortalidade em massa em popula-
ções cultivadas de camarões, representando uma ameaça
a sobrevivência da indústria em uma determinada área
geográfica. É nesta categoria onde está inclusa a maioria
das doenças virais dos camarões marinhos.

Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005 25


26 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005
TSV (Vírus da Síndrome de Taura) recomendada a implementação de métodos de detecção precoce e
Desde 1992 o TSV já se manifestava em fazendas de monitoramento contínuo do estoque cultivado para evitar e controlar
camarão marinho no Equador. Inicialmente especulava-se a im- o NHP. O NHP pode ocorrer em camarões cultivados no Brasil.
plicação de fungicidas e pesticidas utilizados em plantações de
banana como causadores da enfermidade. Contudo em 1994, um Vibrioses
vírus foi identificado como sendo o agente causador da Síndro- Surtos de vibrioses são geralmente causados por um dese-
me de Taura. O TSV foi responsável pelo colapso da indústria quilíbrio na população das bactérias do gênero Vibrio que se encon-
Equatoriana em 1993. Este vírus apresenta em sua fase aguda, tram naturalmente nos ecossistemas estuarino e marinho. Entre as
camarões avermelhados em função da expansão de cromatóforos. principais espécies do gênero que causam maiores prejuízos estão
Os camarões moribundos não conseguem completar o processo de o Vibrio harveyi, V. vulnificus, V. parahaemolyticus e V. alginolyti-
muda, morrendo com o exoesqueleto ainda mole. Quando captu- cus. As vibrioses são classificadas como infecções secundárias e
rados vivos, os animais apresentam um comportamento letárgico, oportunistas, atacando todos os estágios de vida do camarão (larval,
não se alimentam e estão próximos a morte. Na fase aguda, as pós-larval, juvenil e adulta). Problemas com vibriose ocorrem
mortalidades geralmente ocorrem entre 15 e 45 dias após a esto- quando condições de estresse surgem no sistema de cultivo, tais
cagem de pós-larvas no viveiro. A taxa diária de mortalidade pode como: (a) queda de oxigênio; (b) densidade de estocagem excessiva
alcançar 25%, restando no final entre 5% e 25% de sobreviventes. (super povoamento); (c) manuseio inapropriado do estoque (e.g.,
Na fase crônica da doença, os camarões conseguem sobreviver a transferência, amostragem); (d) lesões na cutícula dos camarões;
muda, podendo apresentar comportamento ativo e alimentar-se (e) subalimentação; e, (f) altas concentrações de compostos nitro-
normalmente. Neste estágio, os indivíduos infectados apresentam genados no ambiente de cultivo. O processo de infecção da vibriose
lesões e melanizações na cutícula, podendo sucumbir nos ciclos pode ser cuticular, entérico (intestinal) e sistêmico (envolvendo
de muda subseqüentes. Algumas vezes apresentam cutícula mole e vários órgãos). Quando localizada, apresenta lesões melanizadas na
expansão avermelhada dos cromatóforos. Transmissão e controle carapaça e (ou) abscessos pontuais no hepatopâncreas. O impacto
semelhante ao IHHNV. Está presente no Brasil. da vibriose é variável, mas em alguns casos pode alcançar até 70%
da população cultivada. Na vibriose crônica, camarões mortos ou
WSSV (Vírus da Mancha Branca) moribundos podem ser canibalizados, rapidamente contaminando
Os primeiros relatos da ocorrência do WSSV ocorreram outros indivíduos na população.
entre os anos de 1992 e 1993 em países do Nordeste asiático. A Os camarões infectados internamente por víbrios apresentam
partir de então, o WSSV dispersou-se muito rapidamente nas sinais característicos quando estão próximos a morte. Estes sinais
principais regiões produtoras de camarão da Ásia. Em 1999, foi incluem: (a) fraqueza demasiada (camarões deitam no fundo do
detectada a ocorrência do WSSV em diferentes países da Amé- viveiro); (b) nado desorientado; (c) opacidade da musculatura ab-
rica Central, inicialmente em Honduras e na Nicarágua e logo dominal; (d) aumento da pigmentação; (e) grampo na cauda (Fig.
em seguida no Panamá e Equador. O diagnóstico do WSSV para 3); e, (f) lesões escuras ou amarronzadas na cutícula. A ocorrência
as espécies asiáticas baseia-se em sinais macroscópicos, como a de vibriose é comum em fazendas de camarão no Brasil.
presença de manchas brancas cuticulares sobre o exoesqueleto.
Estas manchas podem ser facilmente observadas a olho nu em
casos mais avançados e são mais evidentes no Penaeus monodon
devido a sua típica coloração escura. As manchas são depósitos Figura 3 - Camarões
apresentando sintoma
excessivos de sais de cálcio na epiderme cuticular
de grampo.
No Litopenaeus vannamei o aparecimento de manchas
brancas cuticulares pode não ocorrer ou não ser facilmente vistas
a olho nu. Os sintomas da Mancha Branca se manifestam até que
os camarões tenham atingido PL20 - PL21. Os principais sintomas
da infecção são: (a) camarões letárgicos, exibindo um nado lento
na superfície; (b) baixo consumo alimentar; (c) corpo com uma
coloração rosada a pardo-avermelhado; (d) cauda vermelha
associada à expansão de cromatóforos (condição similar àquela
causada pelo TSV); (e) mortalidade de até 100% nos primeiros 3 a Variáveis da Produção como Indicador da Condição
10 dias após a exibição dos sinais clínicos; (f) morte de camarões de Saúde
no fundo dos viveiros, e; (g) manchas brancas de 0,5 mm a 2,0 mm Uma série de parâmetros deve ser considerada quando
de diâmetro no interior da superfície do exoesqueleto, resultante o estado de saúde de camarões é avaliado na fazenda. Além da
de um depósito anormal de sais de cálcio. Até hoje, não há relatos aparência física e comportamento dos animais, são também ana-
da presença do WSSV no Brasil. lisadas as variáveis de produção, as características populacionais
do estoque cultivado e a qualidade dos parâmetros ambientais ao
NHP (Hepatopancreatite Necrosante) longo do cultivo. As estimativas da taxa de sobrevivência ou de
O NHP é causado por bactérias gram-negativas e intra- mortalidade, o peso corporal e sua homogeneidade e a taxa de
celulares, do grupo das Ricktesia que atacam o hepatopâncreas. crescimento são os índices mais sensíveis a alterações adversas
Inicialmente, os camarões afetados pelo NHP podem apresentar na condição saúde da população cultivada.
um quadro clínico sem sintomas evidentes (assintomático). Em
seguida, os camarões cessam a alimentação e o crescimento, exi- Taxa de Sobrevivência e Mortalidade
bindo um exoesqueleto amolecido. O trato digestivo apresenta-se A sobrevivência é uma estimativa do número de camarões
sempre vazio com brânquias descoloradas e visíveis alterações remanescentes no viveiro após a estocagem. Esta variável é expressa
no hepatopâncreas (esbranquiçado, reduzido e túbulos lesiona- em termos percentuais (%) e é determinada dividindo o número
dos). As mortalidades acumuladas podem alcançar 50%. O NHP de camarões vivos no viveiro pelo número de camarões vivos
aparentemente não ocorre em salinidades inferiores a 10 ppt. É previamente estimado, multiplicando este resultado por 100. Ao

Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005 27


28 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005
longo do ciclo de produção, pode ser determinada a sobrevivência do possível, a população deve ser amostrada através do uso de
através de estimativas da demanda de ração nas bandejas de ali- tarrafa para avaliação do seu estado de saúde ou ainda para de-
mentação, pelo uso de redes de tarrafa ou por tabelas padronizadas tecção de camarões mortos ou moribundos no fundo do viveiro.
de sobrevivência. Camarões mortos em bandejas de alimentação e (ou) a presença
Geralmente os resultados finais de sobrevivência obtidos na de aves próximas aos taludes do viveiro pode ser um indicativo de
despesca são empregados para projetar a taxa de sobrevivência da problemas no cultivo. Um pequeno cercado contendo um número
população em ciclos subseqüentes de engorda. Para isto, é necessário conhecido de camarões pode auxiliar em estimativas da progressão
calcular o número total de camarões despescados, empregando os valo- e transmissão de doenças e avaliação das respostas a tratamentos
res da biomassa e do peso médio individual dos camarões despescados ou outras manipulações do cultivo.
(Fig. 4). Considerando que em 1 ha foi despescado 2.889 kg de camarão
com 11,03 g, estima-se que um total de 261.922 camarões sobreviveu Peso Médio e Taxa de Crescimento
à engorda [2.889 ÷ (11,03 ÷ 1.000)]. Neste viveiro, foi povoado um Alterações no peso médio dos camarões cultivados ao
total de 350.000 indivíduos, resultando em uma sobrevivência de longo de um determinado período (taxa de crescimento) é um
74,8% ao longo do ciclo de produção [(261.922 ÷ 350.000) x 100]. forte indicador da condição de saúde da população. A taxa de
Extrapolando este resultado para o período total de engorda, teremos crescimento pode ser estimada semanalmente para cada unidade
durante um ciclo de 84 dias, uma taxa de mortalidade diária de 0,3% produtiva. A precisão das estimativas de crescimento da população
[(100 – 74,8) ÷ 84]. A precisão deste método aumenta na medida em depende do número de indivíduos contidos em cada amostra e do
que são contabilizadas as variáveis de produção (ração, pós-larvas, número de amostras pesadas. Geralmente é determinado o peso
qualidade de água, etc) e obtidos novos valores de sobrevivência final. de três ou mais amostras contendo 50 indivíduos cada, coletadas
De uma forma geral, os dados de sobrevivência alcançados para um aleatoriamente no viveiro por meio de uma tarrafa (Fig. 5). O
determinado viveiro não deve ser extrapolado para outras unidades número de camarões é contado em cada amostra e calculado o
de produção, distintas épocas de engorda no ano e para diferentes peso médio individual dos camarões capturados. A precisão da
fontes de pós-larva e tipos de ração. Uma classificação subjetiva taxa de crescimento e peso médio pode ser melhorada através da
para interpretar os resultados finais de sobrevivência de camarões é medida do peso individual de cada camarão amostrado. Contudo,
apresentada na tabela 4. determinar o peso individual de grandes amostras de camarão é um
processo laborioso para operações comerciais de cultivo e somente
deve ser aplicado caso haja suspeita de problemas no estado de
saúde da população.

Figura 5 - De-
terminação do
peso médio de
uma população
cultivada de ca-
marões.

Figura 4 - Estimativas da taxa de sobrevivência de uma população


cultivada de camarões e biomassa estocada, considerando uma
mortalidade total de 25,2% na engorda.

A taxa de crescimento dos camarões é influenciada por


fatores ambientais, genéticos, biológicos, nutricionais e de manejo.
A temperatura da água, por exemplo, tem influência sobre as taxas
sazonais de crescimento da população cultivada, afetando os ganhos
semanais de peso dos camarões durante os meses mais quentes e
frios do ano. Da mesma forma, densidades de estocagem mais
elevadas podem resultar em taxas de crescimento mais reduzidas
caso não seja dado o devido suporte nutricional. Os camarões tam-
bém exibem menores taxas de crescimento na medida em que são
alcançados pesos corporais mais elevados. Taxas de crescimento
semanal entre 0,8 e 1,2 g são consideradas adequadas, contudo estes
A taxa de sobrevivência da população não necessariamen- valores variam muito dependendo da qualidade da ração, localização
te é resultado direto da mortalidade de camarões. Fatores como da fazenda, sazonalidade e práticas de cultivo (Tab. 4). Resultados
escape, predação, contagem incorreta de pós-larvas no momento inferiores a 0,5 g por semana podem sugerir problemas de saúde
do povoamento, roubo ou estimativas imprecisas da sobrevivência na população. Dados de crescimento da população associados às
podem contribuir para uma perda de camarão em viveiros. Portanto, estimativas de sobrevivência permitem calcular a biomassa estoca-
taxa de sobrevivência somente significa o oposto de mortalidade da, informação que serve como subsídio para tomada de decisões
se animais mortos puderem ser identificados no viveiro. Dentro relativas ao manejo e a despesca (Fig. 6).

Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005 29


Figura 6 - Dados de crescimento
dos camarões Farfantepenaeus
subtilis e Litopenaeus vannamei
em dois viveiros de engorda,
cultivados sob baixa densidade
(8 e 10 camarões/m2, respecti-
vamente).

Avaliação da Variação de Peso da População


A análise dos padrões de distribuição de peso corporal entre a população pode
fornecer indícios da presença de enfermidades ou deficiências no manejo. Geralmente
nestas situações, é observada uma grande distribuição de pesos entre a população cultiva-
da. Para melhor compreender as causas das variações no peso médio dos camarões, deve
ser plotado a distribuição de pesos da população amostrada e calculado o desvio padrão
e o coeficiente de variação. Para determinar a distribuição de pesos entre a população,
recomenda-se a coleta e pesagem individual de 100 a 200 camarões em uma balança de
precisão, agrupando os resultados em um gráfico de acordo com a freqüência de ocorrência
dos pesos encontrados (Fig. 7).

Figura 7 - Histograma da distri-


buição de pesos de uma popula-
ção cultivada do camarão branco
Litopenaeus vannamei.

Enquanto o desvio padrão mede o nível de variação em uma determinada amostra,


o coeficiente de variação compara esta variação em amostras que possuem diferentes va-
lores médios. Se em um viveiro forem pesados cinco camarões com os pesos individuais
de 11,5 g, 10,9 g, 12,4 g, 10,7 g e 12,8 g, a média destas amostras é de 11,7 g, o desvio
padrão de 0,92 g e o coeficiente de variação equivalente a 18,4% [(desvio padrão ÷ média)
x 100]. Normalmente o coeficiente de variação de populações cultivadas do Litopenaeus
vannamei varia entre 10 e 20%. Valores superiores a 30% indica uma distribuição anormal
de pesos, sugerindo a ocorrência de algum problema. Não é recomendado determinar de
forma rotineira a distribuição de pesos de camarões saudáveis, exceto se for observada
mortalidade no viveiro ou no momento da despesca (Fig. 8).

Ferramentas de Diagnóstico de Enfermidades


Para confirmação do estado de saúde da po-
pulação, as avaliações empíricas apresentadas acima
devem ser ratificadas por meio de métodos mais diretos
e precisos para detecção e diagnóstico da enfermidade.
Algumas destas técnicas podem ser implementadas na
própria fazenda de cultivo, enquanto outras necessitam
da infra-estrutura dos laboratórios especializados.
O diagnóstico de doenças infecciosas envolve
a coleta de camarões que apresentam anomalias em
Figura 8 - Heterogeneidade de seus aspectos externos ou de comportamento. Nor-
peso e tamanho corporal entre malmente estes animais encontram-se próximos aos
alguns camarões capturados de taludes dos viveiros, sendo facilmente capturados.
um mesmo viveiro. Diversas ferramentas de diagnóstico podem ser uti-

30 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005


lizadas, variando de técnicas rápidas de campo até outras mais 9A); (h) brânquias com presença de matéria orgânica (Fig. 9B); (i)
sofisticadas, tais como histologia convencional, microbiologia e urópodos (rabo) avermelhados; (j) necroses, erosões, manchas e (ou)
biologia molecular. Para todas estas técnicas, é necessário que lesões ao longo do corpo; (l) apêndices deteriorados ou quebrados;
seja coletado animais vivos, de preferência moribundos e (ou) (m) presença de organismos comensais, deformidades no rostrum
com sintomatologia externa (presença de necroses, deformidades e ao longo do corpo (camarão torto); (n) nanismo; e, (o) estômago
no corpo, presença de manchas, etc.). avermelhado e hepatopâncreas esbranquiçado (Fig. 9C).
As técnicas de campo podem fornecer uma idéia do
estado sanitário dos animais e em alguns casos, diagnóstico A
confirmatório de enfermidades em poucas horas. Em virtude
de serem técnicas simples, podem ser conduzidas na própria
fazenda. São necessários equipamentos como um microscó- B
pio com objetiva de 100x e ferramentas para dissecação dos C
camarões. Em alguns procedimentos, o camarão sobrevive ao Figuras 9 A,B e C - Camarões com aparência alterada. (A) camarão
exame (técnicas não destrutivas), enquanto em outros, o camarão esbranquiçado. (B) presença de matéria orgânica nas brânquias. (C)
necessita ser sacrificado para realização da análise (técnicas estômago avermelhado.
destrutivas). Na tabela 5 encontram-se as principais técnicas de
campo, as anomalias e (ou) patógenos relacionados. Montagem Úmida
Assim como outras rotinas (análise dos parâmetros de
qualidade de água, biometria), a montagem úmida das brânquias
e do hepatopâncreas podem fazer parte do dia-a-dia das fazendas
de camarão. Um dos indicadores mais sensíveis a condição geral
de saúde dos camarões é o estado branquial. A partir do exame em
microscópio de uma só lamela branquial pode-se detectar sinais
de melanização, presença de bactérias filamentosas, protozoários
ciliados, detritos ou algas. Os resultados do exame branquial
são graduados numericamente e ordenados por grau de seve-
ridade (0 = ausente; 1 = muito leve; 2 = leve; 3 = média e 4 =
grave). Um alto grau de incrustação branquial geralmente indica
uma reduzida freqüência de muda e (ou) um alto nível de matéria
orgânica na água do viveiro. Portanto, qualquer procedimento
para induzir a muda (alta renovação, incremento alimentar, etc)
geralmente reduzirá estas incrustações. Os filamentos brânquias
melanizados podem ser causados por um grande número de agentes
patógenos e substâncias tóxicas. Uma das causas mais comuns de
brânquias negras é a toxicidade de amônia e nitrito.
Outro indicador sensível da saúde e nutrição dos camarões
é o grau de vacuolização dos lipídios e deformação nos túbulos
do hepatopâncreas. A montagem úmida do hepatopâncreas deve
quantificar a concentração de vacúolos de lipídios e os túbulos
deformados, obedecendo à mesma graduação numérica das brân-
quias. Em camarões saudáveis, os túbulos do hepatopâncreas devem
Indicadores Comportamentais e de Aparência Física estar preenchidos de vacúolos de lipídios (vacúolos = espaços
A avaliação da aparência física e comportamental dos cheios de líquidos). Pouca quantidade destes vacúolos pode ser
camarões fornece informações importantes relativas a condição causada por uma alimentação insuficiente, contaminações na água
de saúde e desempenho do animal. Para isto, é necessário que (e.g., pesticidas) ou enfermidades. Um dos principais sintomas do
se reconheça o camarão no seu estado normal de saúde, para NHP (Hepatopancreatite Necrosante) é a reduzida quantidade de
servir como base comparativa. Alterações na aparência de al- vacúolos. A montagem úmida das brânquias e do hepatopâncreas
guns órgãos (brânquias, apêndices, cutícula do corpo, músculo consiste basicamente em três passos conforme apresentado nas
abdominal e hepatopâncreas) pode fornecer de diagnósticos figuras 10 e 11.
sugestivos a definitivos sobre algumas doenças. Um compor-
tamento anormal pode servir de indicador do estágio inicial de Histologia Convencional
uma determinada enfermidade. Outra técnica utilizada para estudar os diferentes tecidos
Nas fazendas de camarão, as equipes de alimentação, qualida- e avaliar suas lesões é a histologia convencional. Na maioria dos
de de água e biometria devem ser devidamente orientadas e treinadas casos é possível identificar o patógeno causador da lesão através
para observar alterações incomuns no comportamento e aparência das alterações no tecido e (ou) órgão afetado. Esta técnica fornece
física dos animais. As principais alterações comportamentais e uma melhor qualidade de imagem dos tecidos, e em algumas oca-
mudanças na aparência física dos camarões associadas a possíveis siões, sua utilização é necessária para diagnóstico da enfermidade.
problemas incluem: (a) dificuldade de muda; (b) nado errático na Os principais tecidos analisados nesta técnica são: brânquias,
superfície e (ou) próximo aos taludes; (c) tempo prolongado de cordão nervoso, epitélio cuticular, estômago, glândula antenal,
enterramento no fundo do viveiro; (d) demasiado comportamento hepatopâncreas, intestino, órgão linfóide, tecido conjuntivo, tecido
migratório no viveiro; (e) concentração excessiva de camarões hematopoiético e cutículas. Desta forma, faz-se uma varredura com
próximo aos taludes e comportas; (f) falta de apetite, camarão grande probabilidade de encontrar um dano nos principais sistemas
magro, com intestino e (ou) estômago vazios; (g) baixo nível de funcionais do camarão. Seu grande inconveniente é o tempo reque-
melanização (pigmentos) e alteração na coloração do corpo (Fig. rido, custo e a necessidade de infra-estrutura especializada.

Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005 31


A B A B

Figura 10 - Esquema de montagem Figura 11 - Esquema de monta-


úmida das brânquias. (A) retirada de gem úmida do hepatopâncreas.
lamelas e/ou filamentos brânquias (A) retirada do hepatopâncreas
dos animais coletados; (B) colo- com cuidado; (B) separação do
cação do material em lâmina com material a fim de evitar excesso de
gotas de solução salina 2,5% e corte material analisado; (C) saturação
de pequenos pedaços do material; da amostra com gotas de solução
e, (C) montagem das lâminas com salina 2,5%, montagem das lâmi-
lamínulas e posterior análise em nas com lamínulas e análise em
C microscópio. C microscópio.

Para análise, deve-se usar camarões vivos com sinais de enfermidades. do terceiro e último segmento e em ambos os lados.
Os animais selecionados são injetados e submergidos em uma solução Após a injeção, os camarões devem ser submersos em solu-
de Davidson. A solução de Davidson é tóxica por contato e inalação e ção de Davidson durante 24 a 48 horas dependendo do tamanho do
deve ser manipulada com luvas, máscara e óculos protetores em zona indivíduo. Um corte superficial na cutícula, sem penetrar o tecido,
ventilada. A composição de 1 litro de solução fixadora de Davidson deve ser realizado em camarões maiores antes de submergir-los em
é constituída de: (A) 330 mL de álcool etílico a 95%; (B) 220 mL Davidson. Em seguida, o animal é transferido para uma solução de
de formalina 100% (37% – 39% formaldeído); (C) 115 mL de ácido etanol 50%, podendo ser enviado ao laboratório enrolado em papel
acético glacial; e, (D) 335 mL de água destilada. Em animais maiores toalha umedecido com álcool. É muito importante que o produtor
que 3 g, deve-se injetar um volume aproximado de solução pelo menos execute perfeitamente esta etapa de fixação ou encaminhe animais
equivalente ao volume aproximado do seu corpo. Os seguintes pontos vivos a um laboratório de histopatologia. Todas as amostras devem
do camarão devem ser penetrados com a seringa contendo a solução: ser rotuladas com lápis, contendo as informações básicas do material
(A) diretamente no hepatopâncreas, e uma vez no lado esquerdo e uma (data da coleta, nome da fazenda, número do viveiro) a ser analisado
vez no lado direito do órgão (Fig. 12); e, (B) no abdômen, na região e enviada em frasco limpo e bem fechado.

32 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005


em um método simples de biologia molecular.
Figura 12. Injeção da solução As técnicas de biologia molecular são úteis para detecção da
de Davidson no hepatopâncreas presença de patógenos antes que se desenvolvam as enfermidades.
de um camarão Portanto, no caso de determinação da incidência de determinada
enfermidade, é importante que a amostra da população seja esta-
tisticamente representativa. Geralmente utiliza-se uma prevalência
de 2% (porcentagem de animais infectados) com 95% de confiança,
seguindo um tamanho amostral (Tab. 6).
Bacteriologia
O controle da dinâmica populacional das bactérias no camarão e
no viveiro é um importante indicador do início de um processo infeccio-
so no cultivo. Vários grupos classificados como bactérias oportunistas
tornam-se patogênicos no momento de uma deficiência imunológica dos
camarões. Um dos principais grupos oportunistas são as bactérias do
gênero Vibrio (vibriose). Sua quantificação em uma amostra é realizada
através do cultivo em placa de Petri com meio Agar TCBS. Através
deste cultivo é possível avaliar o equilíbrio entre bactérias sacarose
positiva (cor amarela) e sacarose negativa (cor verde). É importante
frisar que a maior parte das bactérias, assim como os Vibrios, fazem
parte da microbiota natural do ecossistema estuarino, onde geralmente
estão instaladas as fazendas de cultivo de camarão marinho.
A suspeita de algum processo infeccioso causado por outros
grupos de bactérias, diferente dos Vibrios, pode ser quantificada atra-
vés do cultivo em placa com meios Agar marinho ou Agar PCA (3%
NaCl). Além da análise quantitativa das bactérias totais e dos víbrios é
possível identificar grupos específicos de colônias. Essa identificação
pode ser realizada por métodos tradicionais de identificação bioquímica,
os quais demandam muito tempo, ou através de kits de identificação
do sistema API 20 E ou API 20 NE. Para aplicação das técnicas de biologia molecular, os cama-
As avaliações bacteriológicas podem ser realizadas na própria rões moribundos ou sob suspeita de enfermidade devem ser enviados
fazenda de cultivo, desde que exista um local adequado para comportar ao laboratório vivos ou fixados em etanol 95% (não utilizar álcool
os equipamentos necessários as análises. Geralmente é analisado o de farmácia). Para os camarões juvenis e adultos, uma outra opção é
hepatopâncreas, a hemolinfa ou o camarão macerado. Caso o produtor remover um segmento branquial ou os pleópodos de cada indivíduo.
não disponha de local apropriado, amostras de camarão vivo podem Estas estruturas são acondicionadas juntas a fim de representarem a
ser enviadas para laboratórios especializados. Os camarões devem população estocada. No caso de larvas ou pós-larvas, pode-se coletar
chegar ao laboratório dentro de um prazo máximo de 8 horas, pois milhares de animais de diferentes pontos do tanque, juntá-los em
desta forma são evitados erros no diagnóstico. um balde e girar a água do mesmo. Os animais que permanecem
no fundo ou no centro do vasilhame devem ser amostrados, pois
Biologia Molecular provavelmente são os animais mais debilitados. Caso os animais
Diferente das técnicas que avaliam os tecidos dos camarões, as tenham sido lavados com alguma solução desinfetante, devem ser
técnicas de biologia molecular são utilizadas para a detecção de pató- bem enxaguádos antes da fixação, pois alguns produtos químicos
genos. Em certas ocasiões, a presença do patógeno não significa que o podem inibir a reação de PCR.
animal está enfermo. Existem várias técnicas que utilizam ferramentas
da biologia molecular para detecção de patógenos, entre elas pode-se Conclusão e Perspectivas
citar: Exames confirmatórios em laboratório fornecem um diagnóstico
(A) PCR (Reações de Polimerase em Cadeia): permite a detecção definitivo da doença. Contudo, estas análises devem também estar
e amplificação do DNA do patógeno. Quando o DNA é amplificado, fundamentadas em sinais clínicos, nos padrões de comportamento ou
a sensibilidade para detecção tornar-se muito alta. O PCR pode ser mortalidade de camarões e nas variáveis ambientais e de produção.
realizado com uma ou duas etapas de amplificação, conseqüentemente Através de técnicas rápidas de diagnóstico e das características de
aumentando milhares de vezes a sensibilidade da análise. O resultado manifestação de cada doença é possível estabelecer um diagnóstico
pode ser obtido em poucas horas. presumível, agilizando a tomada de decisões na fazenda e a implemen-
(B) RT-PCR: técnica que segue o mesmo princípio do PCR, porém tação de medidas para contenção e (ou) exclusão da doença.
permite a detecção e amplificação do RNA do patógeno. Isto é possí- A mais bem sucedida das estratégias para o controle de
vel, pois se realiza um passo adicional onde se transforma o RNA em doenças em fazendas de cultivo combina a prevenção por exclu-
DNA. O resultado é também obtido em poucas horas. são (biossegurança) e adoção de práticas saudáveis de manejo. É
(C) Hibridação in situ: técnica que combina os princípios da histologia importante compreender que um único elemento do manejo não
com a detecção do DNA ou RNA do patógeno, sem entretanto realizar protege os estoques contra a reincidência de enfermidades, mas
amplificações. O patógeno é detectado em uma lâmina de histologia. sim a unificação de um plano integrado de manejo para a ma-
Fornece informações adicionais as técnicas de PCR, pois é possível nutenção de um sistema de cultivo ambientalmente saudável. O
localizar o patógeno e as lesões que o mesmo está causando. Devido desenvolvimento de pós-larvas resistentes a patógenos específicos
ser uma técnica que exige muito trabalho e tempo, é utilizada princi- (SPF), o aperfeiçoamento de técnicas rápidas para o diagnóstico de
palmente em estudos científicos. enfermidades em camarões, a emergência dos sistemas fechados
(D) Método de dot blot: utiliza o princípio de localizar o DNA do de cultivo e as inovações tecnológicas das rações balanceadas e
patógeno sendo executado em membranas de nitrocelulose, sem entre- probióticos prometem aumentar consideravelmente o estado de
tanto haver a necessidade de amplificações. Desta forma, constitue-se saúde de camarões e a integridade dos cultivos.

Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005 33


34 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005
Construção de viveiros e de estruturas
hidráulicas para o cultivo de peixes
Parte 1 – Planejamento, seleção das Por:
Eduardo Akifumi Ono, M. Sc.
áreas, fontes de água, demanda hídrica (Eng.º Agrônomo, especialista em produção de
peixes) onoedu@aol.com
e propriedades dos solos. Fernando Kubitza, Ph.D.
(Eng.º Agrônomo, especialista em produção de
peixes) fernando@acquaimagem.com.br

E sta seqüência de artigos visa esclarecer as


principais questões referentes à avaliação
e à seleção das áreas para a implantação
do empreendimento; ao uso eficiente dos
O planejamento na construção dos viveiros

Quem percorre pisciculturas em diversas regiões do país se


surpreende com a grande diversidade de instalações e, mais ainda,
com a grande amplitude dos investimentos, que podem variar
recursos hídricos; às características dos solos de de R$ 4.000,00 a R$ 35.000,00 por hectare de viveiro instalado.
importância à construção dos viveiros; ao design A construção dos viveiros e das estruturas hidráulicas representa
e dimensionamento dos viveiros e das estruturas o maior ítem de investimento em uma piscicultura. O custo de
hidráulicas; ao processo construtivo em si, com construção depende das características da área (topografia, tipo
ênfase ao uso dos equipamentos mais adequa- de solo, cobertura vegetal e necessidade de drenagem), do design
e da estratégia de construção dos viveiros e demais instalações,
dos; à facilidade operacional das instalações; as de fatores climáticos, dentre outros. Para minimizar esse custo é
estratégias para reduzir a infiltração de água no necessário um adequado planejamento das ações e das etapas de
solo; o manejo do solo do fundo dos viveiros e , as implantação do empreendimento (Quadro 1).
estratégias de reaproveitamento de água e da pro-
dução sem efluentes. Assim, além do planejamento
visando a redução nos custos de implantação do
empreendimento, o foco destes artigos também
procura mostrar a possibilidade da redução das
despesas operacionais e das despesas com a ma-
nutenção das instalações através da implantação
de estruturas duráveis e que facilitam a realização
das atividades de rotina (despesca, carregamentos
e transferências de peixes, manutenção das áreas
de viveiros, distribuição das rações e alimentação,
dentre outras).

Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005 35


36 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005
A fase de planejamento merece atenção especial, pois, municipais quanto ao uso dos recursos naturais e os procedimentos
além de possibilitar uma boa avaliação dos riscos e incertezas para a obtenção das licenças ambientais do empreendimento.
quanto à viabilidade econômica, esclarece as dúvidas quanto
à concepção, design, construção e operação das instalações, · A infra-estrutura básica: as condições das estradas, a dispo-
poupando o investidor de gastos desnecessários na implantação nibilidade de energia, a proximidade dos aeroportos e portos,
e operação do empreendimento. dentre outras facilidades em infra-estrutura, são fatores decisivos
As preocupações com a facilidade operacional e a longevi- na seleção dos locais.
dade das instalações devem ser uma constante no planejamento,
design e construção dos viveiros. Viveiros de difícil acesso, ou · A disponibilidade de mão-de-obra, insumos e serviços:
sem estruturas de apoio ao manejo (sistema de drenagem total, deve ser considerada a facilidade de recrutamento de mão-de-obra
caixas de despesca e manejo, dentre outras) exigem o uso mais temporária; a conveniência na aquisição dos insumos básicos
intenso de mão-de-obra nas despescas e no carregamento dos (ração, alevinos, corretivos e fertilizantes, entre outros) e a oferta
peixes. As colheitas representam o ponto crítico no manejo de de serviços de apoio (terraplenagem; manutenção de veículos e
uma piscicultura e se repetem diversas vezes ao longo do ano outros equipamentos; instalação e manutenção de redes elétricas,
e de toda a vida útil das instalações, impondo grande esforço galpões e outras estruturas; transporte de cargas; confecção de
aos funcionários e considerável custo à produção. Despescas embalagens; dentre outros).
que exigem diversas passagens de rede, além de demandar mais
mão-de-obra, aceleram os danos aos taludes, diminuindo a vida
útil e aumentando os custos de manutenção dos viveiros. · O acesso ao mercado consumidor: a proximidade e o acesso
a vários mercados são fatores decisivos na seleção dos locais.
A escolha do local Um adequado posicionamento logístico permite reduzir o custo
de transporte dos produtos, diversificar os mercados e reduzir
A seleção das áreas para a implantação dos viveiros deve os riscos de comercialização, melhorando a competitividade do
considerar diversos aspectos que exercem efeito direto sobre os custos empreendimento.
de implantação e de operação e, portanto, sobre o sucesso econômico
do empreendimento. Alguns destes aspectos são aqui reunidos: · Os programas de incentivos fiscais e creditícios: dentre
outros fatores.
· A topografia da área: terrenos planos ou com suave declive Qualidade e disponibilidade de água
(não superior a 2m de desnível a cada 100m de distância, ou 2%)
possibilitam um melhor aproveitamento da área e a redução nos
custos de construção dos viveiros. Águas de rios, córregos, represas, açudes, minas, poços e
até mesmo a água captada das chuvas são utilizadas no abaste-
cimento das pisciculturas. A principal questão é se a qualidade e
·O tipo de solo: solos argilosos e de baixa permeabilidade per- a quantidade da água disponível são compatíveis com a exigência
mitem a construção de diques mais estáveis, sendo, portanto, os do projeto. Isso somente pode ser respondido após uma detalhada
mais favoráveis à construção dos viveiros. Solos arenosos ou com investigação da vazão, dos parâmetros de qualidade e dos fatores
grande quantidade de cascalho geralmente apresentam alta infil- de risco associados a cada fonte de água (Quadro 2).
tração, demandando um maior uso de água. Esses solos também
são pouco estáveis e mais susceptíveis à erosão.

· A qualidade e a disponibilidade de água: as áreas eleitas devem


dispor de fontes de água de boa qualidade, sem contaminação por
poluentes e em quantidade mínima para abastecer a demanda da
piscicultura. A quantidade de água necessária depende da área dos
viveiros, das taxas de infiltração e evaporação, da renovação de
água exigida no manejo da produção e do uso de estratégias de
reaproveitamento da água, dentre muitos outros fatores.

· A compatibilidade do clima: o clima deve ser compatível com as


exigências das espécies que serão produzidas. Muitas pisciculturas
convivem com os riscos de perdas de peixes durante o inverno. Por
outro lado, algumas espécies, como o bagre-do-canal e o “black-
bass” necessitam passar por um período de inverno bem definido
para que atinjam condição adequada para a reprodução. Outros
parâmetros climáticos, como o fotoperíodo e o regime das chuvas, Avaliação e correção da qualidade da água
também são decisivos na reprodução de muitos peixes.
Amostras de água podem ser enviadas a laboratórios espe-
· Restrições ambientais: devem ser observadas as restrições cializados para a determinação de diversos parâmetros químicos.
quanto ao desmatamento e à preservação das áreas de proteção Diversas análises podem ser feitas diretamente no campo, com o
ambiental e das matas ciliares. Também devem ser observadas as uso de kits de análises, medidores de oxigênio, peagâmetros, re-
restrições no uso dos recursos hídricos, principalmente quanto ao fratômetros ou salinômetros, dentre outros equipamentos portáteis.
volume de água que pode ser captado e ao lançamento da água No quadro 3 são resumidos os valores adequados dos principais
de drenagem dos viveiros nos corpos d’água naturais. Assim, é parâmetros de qualidade da água para o cultivo de peixes e ca-
fundamental conhecer as regulamentações federais, estaduais e marões marinhos.

Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005 37


38 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005
viveiros. Assim, já no início dos ciclos (fases) de cultivo, é comum
registrar o uso de uma renovação excessiva de água nos viveiros,
o que prejudica a eficiência da calagem e da adubação, fazendo
com que a água permaneça pobre em nutrientes. Isso impede a
formação do plâncton, mantendo a água transparente por muito
tempo, favorecendo a entrada de luz na coluna d’água e, assim,
o desenvolvimento de algas filamentosas e de plantas submersas
no fundo dos viveiros.
Se a água de abastecimento fosse a única fonte de oxigênio
nos viveiros, seriam necessárias altas taxas de renovação de água
para assegurar a sobrevivência dos peixes. Tal prática geralmente
é proibitiva na maioria das pisciculturas, mesmo naquelas com
pequena área de viveiros, em virtude da restrição na disponibili-
dade de água. Isso pode ser visualizado no exemplo do quadro 5.
Se a água de abastecimento fosse a única fonte de oxigênio, um
viveiro com 4.000kg de peixes/ha demandaria uma vazão contínua
próxima a 50 litros/s/ha (ou seja, 30% do volume total/dia) para
repor o oxigênio consumido pelos peixes e pela decomposição da
matéria orgânica excretada nas fezes. Se a biomassa for 6.000kg/ha
Diversos parâmetros de qualidade da água podem ser corri- e forem aplicados 72kg de ração/ha/dia, esse consumo de oxigênio
gidos antes e durante o cultivo, particularmente no cultivo de peixes só poderia ser suprido com uma vazão ao redor de 80 litros/s/ha
em viveiros com baixa renovação de água, bem como nos sistemas (45% do volume total/dia). Com o aumento da biomassa para
de recirculação, onde é feito o reaproveitamento da água. No quadro 10.000kg/ha e a uma taxa de alimentação de 120 kg/ha/dia seria
4 são resumidas as principais medidas de correção da qualidade da necessária uma renovação diária de 75%.
água empregadas nesses sistemas. Por outro lado, a correção da
qualidade da água é muitas vezes impraticável em viveiros com
alta renovação de água ou em “raceways” (tanques com alto fluxo
que operam como uma ou mais trocas totais de água por hora),
devido ao grande volume de água que precisa ser tratada. Assim,
as águas para uso em sistemas intensivos que empregam alta re-
novação de água devem ser originalmente adequadas ao cultivo
das espécies desejadas. Além da preocupação com a qualidade da
fonte de água, os empresários e técnicos devem ficar atentos às
restrições impostas pela legislação ambiental quanto ao volume de
água que pode ser captado e à qualidade dos efluentes que podem
ser retornados a um determinado manancial ou corpo d’água.

Na prática, cerca de 4.000 a 6.000kg de peixe/ha são man-


tidos em viveiros sem aeração, nos quais apenas é reposta a água
perdida por evaporação e por infiltração. Em viveiros com baixa
infiltração (<1mm/h) essa reposição não excede 3% do volume
total ao dia, o que equivale a uma vazão constante não superior a 4
litros/s/ha, mesmo sob taxas de evaporação de até 12mm/dia (ver
o Quadro 6). Mesmo em solos com alta infiltração (até 5mm/h)
e sob uma alta taxa de evaporação, a reposição de água sequer
ultrapassa 15% ao dia. Isso demonstra que a água de abastecimento
está longe de ser a principal fonte de oxigênio para a respiração
dos peixes e dos demais organismos nos viveiros.

Então, de onde vem o oxigênio necessário para isso?

Da fotossíntese realizada pelo fitoplâncton, que chega a


fornecer mais de 80% do oxigênio demandado pelos peixes e
demais organismos, inclusive o próprio fitoplâncton. O balanço
Uso adequado da água disponível entre fotossíntese e respiração é geralmente positivo, ou seja, o
fitoplâncton produz mais oxigênio do que é consumido nos pro-
O desperdício e o mau uso da água são comuns na maio- cessos respiratórios que ocorrem nos viveiros. Exceções podem
ria das pisciculturas. Esse desperdício é acentuado pela idéia ocorrer em dias nublados ou chuvosos, nos quais, em virtude da
de que a troca de água é indispensável para a oxigenação dos baixa luminosidade, a produção de oxigênio via fotossíntese pode

Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005 39


40 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005
ser superada pelo consumo de oxigênio na respiração. A respiração Observe que, se considerarmos um hectare de viveiro com
também pode exceder a fotossíntese nos viveiros com excessiva 15.000m3 de água armazenada, uma vazão de água de 7 litros/s/
biomassa ou com grande massa de fitoplâncton. Portanto, é equivo- ha equivale a 4% de reposição do volume total ao dia. Assim, o
cada a argumentação de que a água de abastecimento dos viveiros leitor pode facilmente estimar a taxa de renovação diária (% ao
é quem supre o oxigênio demandado pelos peixes. Isso somente dia) multiplicando as vazões (em l/s/ha) do quadro 6 pelo fator
seria possível com altas renovações de água, o que é impraticável 0,6. Por exemplo, para uma vazão de 12 l/s/ha (evaporação de
na maioria das pisciculturas brasileiras. Mesmo em locais com 8mm/dia e VIB de 4mm/h), a renovação diária é próxima de 7%
recursos hídricos abundantes, a alta renovação de água nos viveiros (12 x 0,6).
pode ocasionar um elevado investimento e custo de manutenção Intensidade de renovação de água - O uso mais intenso da água
e operação dos sistemas hidráulicos (canais, tubulações, filtros geralmente ocorre na fase final de um ciclo de cultivo. No quadro
e bombas), particularmente onde não são possíveis a captação e 7 são reunidas as estimativas do uso de água em viveiros de 1
o abastecimento de água por gravidade. Pode haver um grande hectare (15.000m3) submetidos a diferentes regimes de renovação
conflito pela necessidade de captação de grandes volumes de água de água, em cilcos de cultivo de 120 dias. O uso total de água pode
para abastecer uma única piscicultura, bem como com a geração variar entre 36.000 a 126.000m3/ha/ciclo, sendo usados entre 6 e
de um grande volume de efluentes que pode atrair as atenções das 9m3 de água/kg de peixe produzido.
instituições ambientais e da comunidade em geral.

Demanda hídrica

Dentre muitos fatores, a quantidade de água necessária para


suprir uma piscicultura varia com as perdas de água por infiltração
e evaporação, com o número de vezes em que os viveiros são
drenados no ano; com a renovação de água durante o cultivo; com
as estratégias de reaproveitamento da água; e com a precipitação
(chuva) anual que incorpora água diretamente nos viveiros.

Evaporação e infiltração - A taxa de infiltração da água depende


das características do solo dos viveiros, da eficiência do trabalho
de compactação, do uso de estratégias para amenizar a infiltração,
do tempo de uso dos viveiros, dentre outras variáveis. Viveiros
construídos em solos com alto teor de argila podem apresentar
infiltração próxima de zero. Adiante, neste artigo, são apresenta- O investimento em aeração e a implementação de medidas
das algumas maneiras de mensurar a infiltração da água no solo. de conservação de água (acúmulo da água de chuva, aproveitamen-
Também são discutidas as características dos solos e a sua relação to da água de drenagem para o abastecimento de outros viveiros,
com a infiltração de água. implementação do cultivo com despescas e estocagem múltiplas,
A evaporação da água dos viveiros varia de acordo com os entre outras possibilidades) possibilitam minimizar o uso de água e
meses do ano, sendo acentuada pelas altas temperaturas, pela baixa o descarte de efluentes por tonelada de peixe produzida. Os prós e
umidade do ar e pela ação contínua dos ventos. Informações sobre contras do reaproveitamento da água serão discutidos com maiores
a evaporação de água podem ser obtidas em estações meteoroló- detalhes nas próximas matérias.
gicas mantidas pelas casas de agricultura, institutos de pesquisas,
universidades e outras instituições. Solos para a construção dos viveiros
A recomendação mais comum é de que esteja disponível
entre 10 e 20 litros/segundo (36 a 72m3/h) para cada hectare Do ponto de vista da engenharia, a seleção dos locais para
(10.000m2) de viveiro. No entanto, na grande maioria das pis- a construção de viveiros deve ser baseada na compatibilidade dos
ciculturas, vazões menores do que 10 litros/s/ha são suficientes solos que servirão como fundação e como material para a constru-
para a reposição das perdas de água por evaporação e infiltração, ção dos diques. Os solos usados na fundação dos viveiros e diques
exceto em áreas com excessiva infiltração de água, como pode ser devem dispor de lençol freático profundo para não comprometer
observado no quadro 6. e/ou encarecer os trabalhos de construção; serem pouco susceptí-
veis às rachaduras, à erosão interna e à percolação de água; serem
estáveis para que não ocorram acomodações ou expansões no solo
que causem danos estruturais à fundação.
As áreas selecionadas devem ser detalhadamente inves-
tigadas, abrindo-se trincheiras ou realizando “tradagens” (coleta
de amostras do solo em diversas profundidades com a ajuda de
um trado) ao longo de toda a área, de forma a conhecer tanto as
características do material, como a predominância e suficiência
dos mesmos para a construção das fundações e dos diques. As
investigações do perfil do solo devem se estender por pelo menos
60cm abaixo da cota prevista para o fundo dos viveiros.
Os técnicos envolvidos com o projeto e a construção dos
viveiros devem possuir um mínimo de conhecimento sobre os
solos e as suas propriedades, para uma melhor compreensão das
limitações de cada local e para a adoção de procedimentos e ações
corretivas que viabilizem o empreendimento.

Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005 41


42 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005
Noções básicas sobre solos Textura e gradiente de partículas dos solos - De acordo com a
sua textura, os solos são classificados como finos ou grosseiros.
O solo representa o conjunto de partículas sólidas (mine- Um solo é considerado de textura fina quando mais de 50% de
rais e orgânicas) e de espaços ou poros (ocupados pelo ar e pela suas partículas (em peso) passam pela Peneira 200 (com malha
água). As partículas sólidas que compõem o solo variam quanto de 0,074mm). Um solo é considerado de textura grosseira quando
à composição mineral, tamanho, formato, homogeneidade de mais de 50% de suas partículas (em peso) são retidas na Peneira
tamanho, entre outras características. As propriedades de um 200. A fração fina do solo é composta por argila e silte, partículas
solo de importância para a engenharia da construção dos viveiros de tamanho inferior a 0,074mm, praticamente indistinguíveis (não
resultam da combinação das propriedades de suas partículas e da visíveis) a olho nu. A fração grosseira do solo (partículas maiores
proporção em que estas se encontram no material. que 0,074mm) é constituída por areia e cascalho. Estes materiais
O perfil vertical de um terreno é composto por diversos podem ser separados com o uso da Peneira 4 (abertura de 4,76mm).
horizontes, cada qual formado por um tipo peculiar de solo (Figura Assim, quando mais de 50% da fração grosseira (material retido na
1). O horizonte superficial (Horizonte A) abriga a cobertura vegetal Peneira 200) passar pela Peneira 4, a fração grosseira é chamada
(gramíneas, arbustos e árvores) e apresenta a maior concentração de “areia”. Se mais de 50% das partículas grosseiras ficarem retidas
material orgânico (raízes, folhas em decomposição, estercos animais, na Peneira 4, a fração grosseira é denominada “cascalho”. Na
dentre outros). Parte deste horizonte geralmente é removida durante prática, quando visualmente é possível afirmar que predominam
a limpeza do terreno antes da terraplenagem, de forma a evitar que partículas de tamanho superior ao de um grão de soja (ou ervilha)
o solo com material orgânico seja usado na construção dos diques. na fração grosseira do solo, este é chamado de cascalho. No qua-
Os horizontes intermediários (Horizontes B1 e B2) estão na posição dro a seguir são apresentadas as faixas de tamanho das diversas
da cota do fundo dos viveiros. Desses horizontes sai quase todo o partículas da fração grosseira do solo.
material usado na construção dos diques. Portanto, os solos destes
horizontes devem ter gradiente suave, textura fina, boa plasticidade A distribuição do
e baixa permeabilidade, garantindo uma boa estabilidade e grande tamanho de partículas de
retenção de água nos viveiros. O horizonte profundo (Horizonte C) um solo pode ser bastante
é formado por rocha em decomposição, que geralmente dá origem variável. Os solos são
ao solo adjacente a este horizonte. O horizonte C geralmente apre- “gradiente suave” quando
senta alta permeabilidade, pois a água percola facilmente por entre apresentam uma distri-
as fissuras e espaços nas rochas. Assim, é recomendável que haja buição mais homogênea
uma boa distância entre a cota do fundo dos viveiros e a cota de no tamanho de suas partículas. Solos de “gradiente abrupto” são
início do horizonte C (pelo menos 60cm no caso de horizontes B de aqueles em que predominam um determinado tamanho de partículas.
baixa permeabilidade), de forma a reduzir o risco de uma excessiva Ilustrações dessas características estão nas Figuras 2 e Figura 3.
infiltração de água nos viveiros.
O reconhecimento dos horizontes do perfil do solo é possível
com a abertura de trincheiras em diversos locais das áreas eleitas
Superfície do solo
para a construção dos viveiros. Uma vez identificados os horizontes
de um perfil, devem ser averiguadas as propriedades dos solos de
Partículas de solo
cada horizonte. Este trabalho faz parte do mapeamento dos solos não uniformes
na área de implantação do empreendimento.

Horizonte superficial (A), onde


geralmente se encontra a maior
concentração de material orgâ-
nico no solo.
Horizontes intermediários (B1
e B2) que, nos solos aptos para Figura 2 - Ilustração de um solo com gradiente suave no tamanho de suas
a construção de viveiros, apre- partículas, e que possibilita boa compactação na construção dos diques.
sentam teores mais elevados de
partículas finas como a argila.

Horizonte profundo (C), onde ge-


Superfície do solo
ralmente há presença de cascalho e
material rochoso (que deu origem Partículas de solo
ao solo). Quando muito próximo Figura 1 – Representação não uniformes
ao fundo dos viveiros este horizonte esquemática dos horizon-
pode atuar como um efetivo dreno tes de um perfil de solo.

Solos de importância à construção de viveiros

A seguir serão apresentadas as principais propriedades dos


solos que exercem grande influência sobre os processos construtivos, Figura 3 - Ilustração de um solo com gradiente abrupto no tamanho
a estabilidade e a capacidade de contenção de água, a susceptibi- de suas partículas, formado primordialmente por partículas de gran-
de tamanho (areia e cascalho) e que não possibilitam atingir uma
lidade à erosão, dentre outras características dos viveiros (diques) adequada compactação e adesão entre as partículas.
que estão sendo implantados.

Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005 43


44 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005
Determinando a composição e o gradiente das partículas Plasticidade do solo - A plasticidade de um solo indica a fa-
do solo: a determinação da textura e do gradiente de distribuição cilidade com que o solo é capaz de ser modelado. Um solo pode
das partículas do solo geralmente é feita por laboratórios espe- ser chamado de plástico (moldável) ou não plástico. A presença de
cializados em análises de solos. Uma avaliação prática da textura argila no solo é importante para que este seja plástico e possibilite
e do gradiente pode ser realizada no campo. Reúna amostras de um adequado trabalho de modelagem e compactação dos diques
solo dos diferentes perfis utilizando “tradagens” ou a abertura de dos viveiros. Solos em que predominam cascalho e areia, e com
trincheiras. Depois de identificadas, cada uma das amostras deve pouca argila, geralmente são inadequados para a construção de
ser assim analisada: viveiros, pois além de apresentarem alta infiltração, não permitem
a construção de diques estáveis, havendo grande risco de erosão e
a) coloque cerca de 300ml de solo em um recipiente transparente com de colapso dos mesmos.
cerca de 1 litro de volume (proveta graduada ou garrafa “pet”); Os solos plásticos apresentam maior resistência à erosão, à
b) “soque” o material com uma haste para eliminar o volume de percolação de água e às rachaduras por acomodação do material.
ar no interior do solo e registre o volume do solo no recipiente (se Também apresentam maior coesão entre as partículas, conferindo
necessário use uma régua e meça a altura do solo no recipiente); grande estabilidade aos diques desde que tenha sido realizado um
c) adicione 500ml de água sobre o material e misture bem com uma adequado trabalho de compactação. A plasticidade de um solo
haste de forma a desagregar as partículas do solo; (índice de plasticidade) somente pode ser avaliada em laboratórios
d) tampe a boca do recipiente e repetidamente vire o recipiente de especializados. No entanto, existem diversos testes práticos que
cabeça para baixo, misturando ainda mais o material. Após uma permitem ter uma idéia de quão plástico um solo é.
boa mistura deixe o recipiente descansar por 25 segundos e anote
o volume de material decantado. Se mais de 50% do volume inicial •Teste 1 - Resistência ao esmagamento: pegue um bloco de solo
decantou em 25 segundos, o solo pode ser considerado de textura seco com 2 x 2 cm e esmague-o com os dedos. Blocos muito duros
grosseira. Se menos de 50% decantou, o solo pode ser considerado indicam a presença de grande quantidade de argila no solo, sendo
de textura fina; este muito plástico e bastante coeso, características desejáveis para
e) o material deve ser novamente agitado e virado de cabeça para a construção dos diques. Blocos que se quebram com uma leve
baixo durante cerca de 2 minutos. Em seguida o material é deixado pressão geralmente apresentam pouca argila e muito silte, e são
decantar por 24 horas. Após este descanso, é possível observar típicos de solos de pouca plasticidade e coesão, inadequados para
diferentes camadas de partículas dentro do recipiente. As de maior a construção dos viveiros.
tamanho (mais pesadas) ficam no fundo do recipiente. As alturas das • Teste 2 - Modelagem e resistência: Outra maneira de avaliar a
camadas devem ser anotadas e expressas em percentual da altura plasticidade de um solo é preparando uma amostra de solo peneirada
total do solo decantado no recipiente (Figura 4). (Peneira 40 é a peneira padrão, com malha de 0,42mm). A amostra
que passou pela peneira deve ser umedecida de forma a obter uma
massa que não seja pegajosa às mãos. Em seguida role a massa de
solo entre as mãos de forma a fazer um “macarrão” com cerca de 3
Régua e tubo transparente para medir o percen- a 4mm de diâmetro. Desfaça o “macarrão” e refaça novamente até
tual (em altura) de cada grupo de partículas que ele comece a se partir em pedaços de tamanho próximo de uns
2cm. Este é o indicativo do limite plástico do solo. Observe então
as rachaduras na superfície do macarrão. Rachaduras no sentido
circunferencial indicam que predomina argila na fração fina do
solo, indicando que este é de alta plasticidade. Se as rachaduras são
Argila (6cm ou 6/38 = 16%) longitudinais, predomina silte na fração fina e o solo é considerado
Silte (12cm ou 12/38 = 31,5%) de plasticidade média (Figura 6). Em seguida remodele a massa
Areia (16cm ou 16/38 = 42%)
em um “macarrão” mais grosso (ao redor de 13mm de diâmetro)
e puxe o macarrão pelas extremidades, com a intenção de parti-lo
Cascalho (4cm ou 4/38 = 10,5%)
(Figura 6). A força necessária para partir o material pode ser pou-
ca (material pouco plástico), média (material plástico) ou grande
(material muito plástico). Naturalmente que este teste é bastante
Figura 4 – Ensaio prático de textura e gradiente feito com uma proveta
graduada ou com uma garrafa “pet” e régua. Observe a deposição de subjetivo, mas permite verificar boas diferenças entre as amostras
diferentes grupos de partículas, com as partículas maiores (mais pesadas) de solo avaliadas.
ficando no fundo do recipiente.
Solo plástico(rachaduras circunferenciais)
Figura 6 – No desenho
superior estão dois ro-
linhos (macarrões com
O gradiente entre as partículas é avaliado de forma sub- cerca de 3 a 4mm de
jetiva, verificando no recipiente se a transição de uma camada diâmetro) feitos com o
para a outra é suave (solos de gradiente suave) ou se é repentina solo úmido para a ava-
(solos de gradiente abrupto, onde geralmente há o predomínio de liação da capacidade de
modelagem (plasticida-
um determinado tamanho de partículas). Solo pouco plástico(rachaduras longitudinais) de) do solo. No desenho
inferior é apresentado
Os solos mais adequados para a construção dos diques devem um macarrão de maior
apresentar gradiente suave (Figura 2) e uma composição ao redor diâmetro (ao redor de
de 60 a 80% de areia, 30 a 15% de argila e o restante como silte, 13mm), usado no teste
de forma a garantir um suave gradiente entre as partículas. Solos de resistência do solo,
com menos de 12% de finos (argila e silte) não são apropriados uma forma indireta de medir a plasticidade do mesmo. A presença de
para a construção dos diques, a não ser quando misturados com rachaduras circunferenciais e a maior resistência à ruptura do “macarrão
outros solos mais finos. de 13mm” são indicativos de solos muito plásticos.

Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005 45


46 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005
Densidade, umidade ótima e compactação do solo - A densida-
de do solo é influenciada pelo volume dos espaços (poros)
presentes no solo. Solos com baixa densidade geralmente
são solos grosseiros, onde predominam cascalho e areia. A
densidade do solo pode ser alterada pela compactação pro-
porcionada pelo rodado dos pneus dos tratores, caminhões e
moto-“scrapers”, por rolos compactadores e, com uma menor
eficiência, pela esteira de alguns maquinários. A eficiência
de cada um destes equipamentos na compactação dos diques
e do fundo dos viveiros será discutida com maior detalhe na
segunda parte deste artigo. Além do equipamento utilizado, o
grau de compactação alcançado depende da pressão imposta
sobre o solo, da espessura da camada a ser compactada e da
umidade do solo no momento da compactação. Sob o ponto de
vista da construção dos diques, a umidade ótima de um solo
é aquela que possibilita atingir a máxima densidade (máxima
compactação) sob um determinado esforço de compactação.
Figura 8 - Teste de infiltração de água no solo com o uso dos anéis
Porosidade e permeabilidade do solo - A porosidade de um solo concêntricos (anel interno com diâmetro de 20cm e anel externo
expressa a relação percentual entre o volume de espaços (poros) com diâmetro de 40cm). No exemplo os anéis foram cravados em
uma depressão locada na cota de fundo dos viveiros.
e o volume total do solo. A permeabilidade de um solo depende
do tamanho e da forma dos espaços (poros) e da densidade e
grau de compactação do solo. Quanto maior for a porosidade
de um solo, maior a sua permeabilidade. A permeabilidade é de 60 em 60 minutos, ou mesmo mais tempo se necessário),
alta em solos com partículas grosseiras (areia e cascalho) e em devem ser registradas as alterações no nível da água (Figura
solos de baixa densidade. O processo de compactação diminui 7). A trincheira deve ser mantida sempre cheia, adicionando-
a porosidade e aumenta a densidade do solo, reduzindo a sua se água periodicamente ao longo do teste de infiltração. A
permeabilidade. velocidade de infiltração básica (VIB) é obtida no momento
em que as leituras da infiltração se estabilizam. Por exemplo,
Infiltração de água se após intervalos de 120 minutos a infiltração estabilizou em
1mm, a VIB será 1mm em duas horas, ou 0,5mm/h.
Os técnicos e piscicultores devem estar atentos à ve- A infiltração de água no solo também pode ser quantificada
locidade de infiltração da água. Através de testes simples e utilizando o método dos anéis concêntricos. Dois anéis de ferro
rápidos, o grau de infiltração pode ser avaliado e quantificado, com altura ao redor de 25cm (um com 40cm e o outro com 20cm
evitando a frustração de ter construído os viveiros em local de diâmetro) são cravados no solo na posição que corresponderá
inadequado, bem como o excessivo gasto de tempo e dinheiro à cota do fundo dos viveiros (Figura 8). Geralmente é necessário
na construção e no uso de medidas remediadoras da infiltração, abrir uma trincheira no terreno. Os anéis são cravados no solo a
que nem sempre solucionam completamente o problema. uma profundidade ao redor de 8 a 10 cm, ficando o anel menor
Testes rápidos de infiltração podem ser realizados posicionado bem no centro do anel maior. O espaço entre o anel
cavando-se trincheiras no solo. O fundo das trincheiras deve maior e o menor é preenchido com água, para induzir a formação de
ficar na mesma cota do fundo dos viveiros. A trincheira deve uma frente molhada no solo. Em seguida, é introduzida água dento
ser cheia com água para saturar o solo das paredes laterais e do do anel menor. Uma régua é colocada no interior do anel menor e a
fundo da trincheira. Com o auxílio de uma régua, a intervalos infiltração (em milímetros) deve ser anotada a intervalos de tempo
regulares (de 5 em 5, de 10 em 10, de 20 em 20, de 30 em 30, igualmente espaçados. Quando a infiltração estabilizar, é possível
calcular a velocidade de infiltração básica (VIB) da água no solo.
Os testes de infiltração usando trincheiras, com ou sem o
uso dos anéis concêntricos, também possibilitam avaliar a eficácia
de estratégias para reduzir a infiltração de água no solo. O efeito
da compactação do solo do fundo do viveiro, da incorporação de
materiais argilosos (solos argilosos emprestados de outras áreas
próximas ou a argila bentonita), do uso de dispersantes como a
soda cáustica e o cloreto de sódio, da aplicação de adubos orgâ-
nicos (cama de frango e outros estercos animais; vinhaça; farelos
vegetais), dentre outras estratégias. As estratégias para reduzir a
infiltração de água no fundo dos viveiros serão discutidas com
maiores detalhes nos artigos seguintes.

Solos críticos

Diversos tipos de solos são inadequados à construção de


viveiros, seja pela presença de rochas, pela alta permeabilidade e
Figura 7 - Teste de infiltração de água no solo com o uso de uma trin- ou pela baixa estabilidade que proporciona aos diques. No entanto,
cheira. O fundo da trincheira esta na cota do fundo dos viveiros. este artigo dedica especial atenção a dois tipos de solos: os solos
ácido-sulfáticos e os solos orgânicos (turfas).

Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005 47


Solos ácido-sulfáticos
Solos orgânicos (turfas)
Diversas áreas de mangues ou, mesmo em outros locais
onde ocorre um acúmulo de material orgânico sob uma condição de Solos orgânicos são aqueles que possuem mais de 20% de
encharcamento, podem apresentar solos ácido-sulfáticos. Estes solos carbono orgânico na matéria seca ou aqueles que apresentam mais
têm origem com os depósitos de aluviões nas áreas de inundação. da metade dos primeiros 80cm formados por solo orgânico. Esses
Nestas áreas há o desenvolvimento de uma densa vegetação e de solos são de reconhecimento fácil devido à coloração escura típica,
florestas de mangue ou pântanos que favorece o acúmulo de material ao forte odor de mofo e à presença e predomínio de um material
orgânico (raízes, folhas, frutos, galhos) em áreas freqüentemente orgânico fibroso no horizonte superficial. Os solos orgânicos
encharcadas. A decomposição desse material orgânico no solo apresentam baixa estabilidade e resistência ao deslizamento e não
resulta no estabelecimento de condições de anaerobiose (ausência permitem uma boa compactação, não sendo, portanto, adequados
de oxigênio), nas quais as bactérias redutoras de enxofre se tornam para a construção de viveiros. As turfas são solos orgânicos que
abundantes. Estas bactérias produzem sulfetos, que se acumulam podem apresentar horizonte superficial orgânico com mais de um
no solo na forma de H2S (gás sulfídrico) ou de dissulfeto de ferro metro de profundidade. Construir viveiros sobre um solo com estas
(FeS2), que posteriormente forma o mineral ferro-pirita. características é muito dispendioso e tecnicamente quase impossível,
Enquanto o solo está encharcado não há problema algum. No a não ser que seja feito o empréstimo de um solo mais adequado de
entanto, quando estas áreas são limpas e drenadas para a construção de outras áreas. Também há uma necessidade de remover a camada
viveiros, o solo é exposto ao ar e ocorre a formação de ácido sulfúrico, orgânica antes do início dos trabalhos de terraplenagem.
que fará com que o pH do solo abaixe drasticamente. Assim, após a
drenagem, este sedimento se torna um solo ácido-sulfático.

FeS2 + 3,75 O2 + 3,5 H2O = Fe(OH)3 + 2SO42- + 4H+


As partes 2 e 3, continuação deste artigo, estarão nas
A identificação de um solo ácido sulfático: pode ser feita através duas próximas edições (números 73 e 74) e trarão os
do odor característico de ovo podre (gás sulfídrico - H2S) e pela seguintes temas:
leitura de um valor de pH abaixo de 4 em uma amostra do solo
seco (100g de solo seco em 100ml de água destilada, fazendo a Parte 2 - Os viveiros e as estruturas hidráulicas
leitura com um peagâmetro).  
O topo dos diques construídos com esse tipo de solo está · O design da piscicultura e dos viveiros;
continuamente exposto ao ar, levando à formação de ácido sulfúrico.
Com a chuva sobre os diques, o ácido sulfúrico é lavado para dentro
· Os trabalhos de terraplenagem (etapas e maquinário);
dos viveiros. Algumas medidas corretivas que podem ser tomadas
· Sistemas de abastecimento e drenagem;
são a calagem dos diques e a manutenção dos mesmos protegidos · Bombas, filtros, monges e cachimbos;
por gramíneas resistentes a solos ácidos. · Caixas de despesca e manejo.
Os viveiros construídos em solos ácido-sulfáticos necessitam  
de doses muito elevadas de calcário para a neutralização da acidez, Parte 3 - O aproveitamento da água e o manejo do solo 
ou então, devem passar por diversos enchimentos e drenagens para  
ficarem com uma água de pH mais adequado para a estocagem · Sistemas sem efluentes (reuso da água);
dos peixes e camarões. Evitar a exposição destes solos ao ar (ou · Estratégias para reduzir a infiltração de água nos viveiros;
seja, deixar os viveiros pouco tempo sem água) é uma medida · Manejo do solo dos viveiros.
mais eficaz do que ficar o tempo todo corrigindo a acidez com a
aplicação de calcário.

48 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005


I Congresso Internacional de Comercialização de
Peixes Cultivados reunirá os setores de Produção,
Processamento e Distribuição
Nos dias 16 e 17 de outubro acontecerá em Indaiatuba, no Resumo da Programação
Estado de São Paulo, o I Congresso Internacional de Comercialização
de Peixes Cultivados. Dia 16 de outubro – quarta-feira
O evento reunirá empresários do setor produtivo, processamen-
to e distribuição e técnicos de piscicultura que apresentarão as suas Manhã
Viabilidade econômica e produtiva de peixes destinados à
experiências e os resultados alcançados na comercialização para redes
industrialização. Mesa-redonda com piscicultores que apre-
de supermercados, restaurantes, diretamente ao consumidor e para o sentarão experiências inovadoras em comercialização.
mercado mundial. Contará também com palestrantes internacionais Tarde
que mostrarão as oportunidades na comercialização de peixes para Mercado e comercialização de filé de tilápias e produção de
os Estados Unidos e a Europa. farinha de peixe. Mesa-redonda com piscicultores que co-
Para ampliar as perspectivas, a consultora de Marketing Ana mercializam tilápia e pintado para redes de supermercados
Lúcia Miranda apresentará o processo de planejamento e estratégias e restaurantes.
de marketing utilizados no desenvolvimento de produtos. Noite
O Congresso é uma iniciativa do ANFAL AQUA, grupo for- “Cultivando Peixes e Consumidores” - Palestra da Consultora
mado por oito empresas do setor de rações para peixes. Tem como de Marketing Ana Lúcia Miranda sobre o desenvolvimento de
produtos em novos mercados. Coquetel e Show.
objetivo potencializar ações que incrementem o desenvolvimento
da piscicultura. Segundo Vanice Waldige, coordenadora do ANFAL Dia 17 de outubro - quinta-feira
AQUA, todo o apoio e repercussão que este evento inédito vem recebendo
demonstram que será o mais importante do setor na atualidade, pelo fato Manhã
de reunir empresários com diversas experiências de comercialização de Desenvolvimento de produtos de valor agregado e oportunida-
peixes em todas as regiões do Brasil e no exterior. des de comercialização no mercado nacional. Mesa-redonda
Os interessados poderão conferir toda a programação e fazer suas com representante de uma grande rede de supermercados e
inscrições pela internet no endereço www.congressodepeixes.com.br ou um distribuidor de peixes para restaurantes.
diretamente na secretaria do Congresso, pelo telefone 19 3258- 2454. Tarde
O I Congresso de Comercialização de Peixes Cultivados será Tendências e oportunidades de comercialização no mercado
internacional. Planejamento e estratégias para o desenvolvi-
realizado no Hotel Vitória, localizado em Indaiatuba-SP, próximo ao
mento de produtos para o mercado internacional.
aeroporto de Viracopos em Campinas.

Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005 49


O sal de cozinha no
Transporte de juvenis
O transporte de juvenis geralmente é uma etapa obrigatória
na piscicultura, pois são criados em fazendas de larvicultura e

transporte de peixes transportados para as fazendas de engorda com tamanhos que


variam de 3 a 5 cm e, o principal método de transporte é um
sistema no qual os peixes são acondicionados em sacos plás-
ticos, onde após adicionada a água e em seguida os peixes, é
injetado oxigênio puro comercial. Após a adição do oxigênio,
o saco é então fechado herméticamente com o uso de uma liga
Por: Levy de Carvalho Gomes1, Rodrigo Roubach2 e Carlos A. R. M. Araújo-Lima2 de borracha. O tamanho do saco pode variar com a finalidade do
1
Embrapa Amazônia Ocidental, E-mail: levy@cpaa.embrapa.br transporte e com o tamanho do peixe. Em fazendas de larvicul-
2
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia/INPA tura normalmente se utilizam de sacos de 30 ou 60 litros, onde
em 20% do volume é adicionado água e no restante é injetado
o oxigênio. Os sacos podem ser transportados sem proteção ou
colocados em caixas de papelão ou isopor, que oferecem proteção

D
adicional aos choques mecânicos e as variações térmicas.
iversas substâncias têm sido utilizadas
com a finalidade de diminuir o estresse
e conseqüentemente a mortalidade de
peixes durante operações estressantes
na aqüicultura, como o manejo, manuseio e o
transporte. Dentre estas substâncias destaca-
se o sal de cozinha (NaCl 90%), um produto
de fácil obtenção e baixo custo e que muitas
vezes é utilizado de forma desordenada e sem
o conhecimento da melhor concentração.

Preparo de juvenis de tambaqui para transporte em sacos plásticos


com oxigênio, protegidos por caixa de isopor (detalhe)
O sal é utilizado para igualar o gradiente osmótico entre a
água e o plasma do peixe, fazendo com que haja uma redução na
difusão de íons para a água, permitindo que o peixe mantenha sua Nos estados do Amazonas e Rio Grande do Sul, por exemplo,
homeostase (funções vitais em harmonia), não comprometendo as fazendas de larvicultura normalmente colocam na água do transpor-
a sua saúde. O sal também estimula a secreção de muco sobre o te o sal e o azul de metileno, sem contudo utilizar uma concentração
epitélio branquial, dificultando a passagem de íons através das previamente estabelecida, e também não existe um acompanhamento
membranas celulares. Além de reduzir o estresse, o sal também da sobrevivência destes peixes na chegada ao destino.
tem efeito profilático sendo indicado para o tratamento de fungos, Testes realizados com o tambaqui e com o jundiá, utilizando
infestação de parasitas monogenéticos, lernea, infecção branquial o sal como redutor de mortalidade, mostraram, no entanto, resultados
bacteriana, entre outras. inversos ao esperado, ocorrendo mortalidades maiores quando o
Trabalhos de caráter informativo sobre o transporte, como sal foi utilizado no transporte. Também foi observado que quanto
apostilas e livros técnicos, costumam recomendar a utilização do maior a concentração de sal, maior a mortalidade (Tabela 1), cuja
sal e citam as doses que devem ser aplicadas para os diversos causa provável é o aumento da concentração de sódio corporal.
tamanhos de peixes que são transportados, normalmente variando Portanto, o sal não melhora as condições de transporte de juvenis
de 1 a 5 g de sal/L de água. Porém, a maioria desses trabalhos (3-5 cm) de jundiá e tambaqui, devendo este trabalho ser repetido
não têm um embasamento científico e não indicam de forma com outras espécies usadas em piscicultura, para que haja uma
precisa como obtiveram estas recomendações, que são muitas avaliação adequada desta prática no transporte de peixes.
vezes feitas sem que sejam levadas em consideração a espécie a
ser transportada e a resistência da mesma à salinidade.
A falta de precisão quanto ao uso de sal na literatura, Tabela 1 – Mortalidade (%) de juvenis de jundiá e tambaqui durante o
levou-nos a testar sua eficiência durante o transporte de tamba- transporte por 12 e 24 horas com e sem adição de sal. Ao lado do nome
qui (Colossoma macropomum) em duas fases: juvenis (2-5 cm) e do peixe, entre parênteses, está a densidade utilizada no transporte.
peixes para o abate (1kg). Ao buscarmos informações científicas
a respeito do uso do sal durante o transporte de espécies nativas,
identificamos dois trabalhos: um realizado por Carneiro & Urbinati
(2001) com matrinxã (Brycon cephalus) com tamanho para abate
(1kg) e outro por Gomes et al. (1999) com juvenis de jundiá (Rha-
mdia quelen) (5 cm). Os resultados obtidos nos testes e relatados
na bibliografia científica mostraram que o uso do sal no transporte
nem sempre é recomendado, porém, existem situações em que o
sal é eficiente ao suprimir a mortalidade e as respostas de estresse
durante o transporte. * Gomes et al. (1999) ** Gomes (2002)

50 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005


Transporte de peixes com tamanho para abate são as hormonais; as secundárias são as mudanças nos parâmetros
No Brasil, o transporte de peixes com tamanho para abate fisiológicos e bioquímicos e; as terciárias são o comprometimento no
(1-2Kg) vem aumentando consideravelmente para atender, entre desempenho, mudanças no comportamento e aumento da suscetibili-
outras finalidades, o comércio de peixe vivo em feiras para con- dade a doenças, que normalmente leva o peixe à morte. As respostas
sumo, o fornecimento de peixes para fazendas e sítios de pesque- do estresse são manifestadas em seqüência, onde a resposta primária
pague e para a formação de plantel de reprodutores. ativa a secundária, que por sua vez ativa a terciária.
Para o transporte desses peixes, normalmente são utilizadas O sal de cozinha foi eficiente para suprimir as respostas
caixas rígidas com tampa, feitas dos mais diversos materiais como: primárias e secundárias do estresse quando utilizado no transporte
plástico, fibra e alumínio, e com capacidades que variam de 100 a de tambaqui e matrinxã destinados ao abate. A principal causa
4000 litros de água, sendo as de 500 e 1000 litros as mais utilizadas. provavelmente foi devido ao ajuste de gradiente entre o peixe e
Nestas caixas é injetado oxigênio por meio de um borbulhamento o ambiente, diminuindo a pressão osmótica, o trabalho osmorre-
controlado durante todo transporte, mas em algumas ocasiões, gulatório e, conseqüentemente, a diminuição do custo energético
também são utilizados compressores de ar, como uma alternativa durante o processo de transporte.
de se realizar a aeração da água durante o transporte. O sal de cozinha na concentração de 8 g/L de água se mos-
tra eficiente para diminuir a maioria das respostas fisiológicas do
estresse em tambaquis durante o transporte, e doses mais baixas
de sal são apenas parcialmente eficientes. O mesmo resultado foi
obtido para o matrinxã, porém a dose de sal mais eficiente foi de 6
g/L de água (Tabela 2). Pode-se, então concluir, que a colocação
de sal de cozinha na dose correta é eficiente para o transporte de
peixes (tambaqui e matrinxã) para o abate em caixas transportado-
ras, pois há uma supressão da maioria das respostas de estresse e
não há mortalidade quando transportados na densidade de 150 g
de peixe/L de água.
Tabela 2- Eficiência do sal como redutor de estresse durante o transporte
de tambaqui e matrinxã na densidade de 150 g de peixe/L de água.

Caixa utilizada para transportar peixes em tamanho de abate


com injeção de oxigênio

Durante o transporte, os peixes são afetados por uma série


de agentes estressores decorrentes da captura, do confinamento e do
manuseio. A quantificação do estresse ao qual o peixe é submetido
durante o processo de transporte é fundamental para que se estabeleçam
práticas de manejo adequadas. As respostas ao estresse são divididas em
três categorias: primária, secundária e terciária. As respostas primárias * Gomes (2002) ** Carneiro & Urbinati (2001)

Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005 51


Dietary-Carnitine and energy and lipid
metabolism in African catfish (Clarias
gariepinus) juveniles.

Durante os últimos seis anos o brasileiro Rodri-


Camarões Marinhos go Ozório focou a sua pesquisa nos efeitos dos
Engorda – Volume II diferentes níveis de l-carnitina sobre o desem-
As experiências profissionais do penho e características de carcaça de juvenis do
biólogo Roberto Barbieri Jr. e do bagre africano Clarias gariepinus, na fase de
oceanógrafo Antônio Ostrensky crescimento. A carnitina é uma substância que
com o cultivo de camarões marinhos auxilia o transporte de ácidos graxos de cadeia
foram reunidas em dois volumes, longa (LCFA) para o interior das mitocôndrias, realizando papel im-
ambos redigidos com uma lingua- portante no metabolismo energético. É encontrada em duas formas:
gem de fácil assimilação. O Volume l-carnitina e d-carnitina. Em seu trabalho, realizado nos laboratórios
I, lançado no ano passado, apresenta do Instituto de Ciências Animais da Universidade de Wageningen, na
informações sobre a reprodução, Holanda, Rodrigo estudou a forma l-carnitina, que deve ser utilizada
maturação e a larvicultura e, o como suplemento alimentar, pois é biologicamente ativa e não tóxica
Volume II, disponível agora para ao organismo. Já a d-carnitina é inativa e pode trazer reações tóxicas
os leitores, traz orientações sobre provenientes de sua utilização. Vários estudos precedentes demons-
a engorda. Este novo volume apre- traram que os suplementos dietéticos da carnitina aumentaram a taxa
senta conceitos, orientações e dicas de crescimento e diminuíram a acumulação de lipídios no corpo do
sobre todo o processo de engorda, desde a preparação dos viveiros animal, entretanto, outros estudos não observaram tais efeitos. Em seu
até a comercialização da produção. Os autores se debruçam sobre os estudo, Rodrigo Osório procurou determinar se a existência de efeitos
aspectos relacionados à produção e ao mercado mundial de camarões da carnitina no desempenho do bagre africano estão associados com a
marinhos; relatam um breve histórico da carcinicultura brasileira; fase de crescimento em que o animal se encontra e/ou com a relação
apresentam os aspectos biológicos do Litopenaeus vannamei; ofe- proteína/lipídio na ração. Rodrigo Osório trabalhou com a hipótese de
recem bases teóricas para o manejo do solo e da água nos cultivos que os efeitos da adição de carnitina na ração seriam mensuráveis so-
de camarões marinhos; entre tantos outros temas. A obra foi escrita mente se os peixes fossem incapazes de sintetizar a carnitina. O livro é
com base em conceitos atuais e é dedicada tanto aos estudantes, escrito em inglês e pode ser adquirido diretamente com o autor através
quanto a produtores e técnicos. Os livros podem ser solicitados do e-mail: rozorio@carpa.ciagri.usp.br
diretamente à editora pelo e-mail: vendas@cpt.com.br

Asia Diagnostic Guide to Aquatic


Animal Diseases
Pesque-pague no Estado de São Paulo
Vetor de desenvolvimento da piscicul- O Guia Asiático de Diagnóstico de Doenças
tura e opção de turismo e lazer em Animais Aquáticos é de fácil compreensão
e muito atualizado com relação às patologias
e as doenças listadas pela NACA (Network
Neste trabalho foram identificadas as principais os aquaculture Centres in Ásia–Pacific); FAO
características desta atividade, necessidades, (Food and Agriculture Orgazination) e OIE
dificuldades, tendências e paradigmas. Os – (Organização Internacional de Epizoodias),
pesque-pagues paulistas surgiram como uma incluindo também outras doenças que possuem
atividade complementar a outras desenvolvidas importância na Ásia. O Guia, editado em inglês,
pelos produtores rurais, que foram se especiali- foi desenvolvido a partir das contribuições técnicas dos especialistas
zando agregando novas oportunidades de lazer. em sanidade de animais aquáticos da região do pacífico asiático,
São, geralmente, empreendimentos familiares, cujos proprietários com o objetivo foi ajudar em diagnósticos feitos em laboratórios e
se viram obrigados a conhecer e a utilizar técnicas de manejo e de nas próprias fazendas. Muito didático, o Guia é totalmente ilustra-
gerenciamento, com muitos fechando e outros abrindo a cada tempo- do com excelente material fotográfico, trazendo seções dedicadas
rada, o que explica a instabilidade desses empreendimentos. O livro a doenças de peixes, moluscos e crustáceos, com detalhes para a
é o resultado de uma pesquisa feita pela autora Rossana Venturieri, coleta adequada do material para análise e distintas abordagens para
em todo o Estado de São Paulo, com o objetivo de levantar as prin- identificação de doenças virais, bacterianas e fúngicas. O Guia traz
cipais informações sobre os pesque-pagues paulistas, cujo objetivo também uma relação de laboratórios de referências e contatos dos
é elucidar aqueles que pretendem entrar na atividade ou mesmo especialistas envolvidos com cada uma das enfermidades. Apesar
auxiliar aos que já fazem parte dela. O estudo faz parte do PNDPA de ter sido elaborado visando a região do pacífico/asiático, o Guia
– Programa Nacional de Desenvolvimento da Pesca Amadora, uma certamente será útil no Brasil, mesmo para produtores, já que
parceria entre os ministérios do Esporte e Turismo e do Meio Am- numa primeira abordagem orienta uma identificação “grosseira”
biente e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. das enfermidades ainda na beira do viveiro, para depois entrar nos
Apesar de só lançado em maio de 2002, o estudo foi realizado de detalhes citológicos e biomoleculares. O preço de catálogo do Guia
agosto de 1998 a agosto de 1999, por meio de levantamentos em que faz parte da Série FAO Fisheries Technical Papers, No. 402/2,
órgãos normativos e de pesquisa, além de informações colhidas junto é US$ 26. É bom lembrar que a FAO dá um desconto especial de
aos proprietários e usuários de pesque-pagues. Os interessados na 35% para interessados de países em vias de desenvolvimento. Os
publicação podem entrar em contato com a pesquisadora através do custos de frete não têm esse desconto. Para adquirir, solicite através
email: rventurieri@uol.com.br do e-mail: publications-sales@fao.org

52 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005


O Milagre da mos ou distantes, da piscicultura, tais como: produção de escargots,
chinchilas, coelhos, rãs, faisões, marrecos de Pequim, etc., todos
Multiplicação propalados como sendo excelentes alternativas de diversificação para
as pequenas propriedades. A realidade, no entanto, nunca chegou aos

dos Peixes
pés da propaganda e a maioria dos projetos implantados naufragou.
O grande diferencial da piscicultura foi que, pelo menos na região
Centro-Sul do Brasil, a atividade teve um forte empurrão para se desen-
volver: o surgimento do fenômeno dos pesque-pagues (ou pesqueiros,
como queiram chamar), durante a década de 90.
Por: Antonio Ostrensky - Coordenador do Grupo Integrado de Aqüicultura e De uma hora para outra, os pesque-pagues se multiplicaram,
Estudos Ambientais, UFPR E-mail - ostrensky@ufpr.br.
criando uma forte e, até então inédita demanda por peixes vivos. Qualquer
“poça d’água” com uns peixinhos dentro era e, em alguns locais ainda é,
considerada um pesque-pague. O mais incrível é que ao lado dessa poça
um sem número de pessoas se acotovelavam, disputando um lugar para

O
artigo “Os números da Piscicultura Paranaense”, de a sua linha, tamanho o fascínio que a pesca exerce sobre os brasileiros.
Antônio Ostrensky, professor e coordenador do Grupo A demanda, principalmente no Estado de São Paulo, foi tão forte, que
Integrado de Aqüicultura e Estudos Ambientais da carpas produzidas na região de Ajuricaba, RS, podiam ser comercializadas,
Universidade Federal do Paraná, publicado na última vivas e com excelente margem de lucro, em São Paulo.
edição 71 da Panorama da AQÜICULTURA, apresentou Esse fenômeno gerou um clima propício para a disseminação da
dados nada otimistas a respeito da piscicultura praticada piscicultura como atividade complementadora de renda, pelo menos para
no Paraná, provavelmente uma realidade que se repete aqueles produtores que não recebiam por meio de cheques sem fundos
em outras regiões do Brasil. No artigo publicado a seguir, ou através de cheques que seriam sustados logo a seguir.
Ostrensky lança o seu olhar sobre os caminhos possíveis Essa febre dos pesque-pagues foi, e ainda é, tão importante para
para reverter este quadro, já que, segundo ele, milagres, a piscicultura porque o peixe produzido tem como destino a indústria do
ao menos na piscicultura, não existem. Desta vez ,o autor entretenimento e não a indústria alimentar. Se, por um lado, é relativa-
analisa a lucratividade das alternativas geralmente buscadas mente fácil estabelecer margens de comparação de preços entre as carnes
pelos produtores rurais, como a diversificação das atividades de peixe e a de frango, ou a de boi, por outro, é difícil estimar o quanto
de uma propriedade, a agregação de valores à produção vale a diversão familiar do final de semana.
e a exportação, apontando ainda o cooperativismo como Esse fato, associado ao aumento repentino da demanda, fez com
solução para transformar o cultivo de peixes em nosso país que a tilápia chegasse a ser vendida viva na propriedade a valores irreais,
em uma atividade verdadeiramente comercial. superiores, por exemplo, a R$ 6,00 o quilo. Hoje, o preço pago ao produtor
raramente chega a R$ 2,00, isso se falarmos na venda de peixes para os
pesque-pagues, já que a indústria não consegue pagar nem R$ 1,30-1,40 por
uma tilápia de 450-500 g. A competição com o pesque-pague acabou freando
Na edição anterior da Panorama, terminamos o comentário o desenvolvimento da indústria de processamento de peixes cultivados, que
sobre os números da piscicultura paranaense demonstrando que a sempre teve que enfrentar a realidade das gôndolas dos supermercados, onde
receita mensal média por produtor no estado não chega nem a a comparação de preços é inevitável.
R$ 35,00. O mais preocupante, contudo, é que esse certamente Atualmente, os pesqueiros também estão começando a sofrer
não deve ser um privilégio do Estado do Paraná, mas uma triste os efeitos das leis de mercado, onde, em um ambiente competitivo, só
realidade que se repete em vários estados do País. Mas, será possível, os mais bem estruturados sobrevivem. Prova disso é que entre 2000
de alguma forma, reverter esse quadro e transformar a piscicultura e 2001, com a produção estacionada na casa das 17.000 toneladas,
brasileira em uma atividade verdadeiramente comercial? Essa é a a percentagem de peixes produzidos no Paraná e comercializados
pergunta que tentaremos responder neste artigo. em pesque-pagues caiu de 68 para 62%. Os empreendedores de
Antes de mais nada, é necessário destacar que, pelo menos visão e que possuem recursos, estão investindo em seus próprios
na piscicultura, o milagre da multiplicação dos peixes simples- pesque-pagues, transformando esses locais em verdadeiros centros
mente não existe. Esperar que, de uma hora para outra surja de lazer, onde é possível desfrutar de uma boa infra-estrutura, com
alguma solução mágica, que viabilize a produção comercial de restaurantes, churrasqueiras, piscinas, trilhas, parques infantis ou
peixes produzidos em sistema “quase-extensivo”, em uma área coisas do gênero. Nesses locais, o peixe é mais uma atração e não
média de 0,37 ha e por produtores muito pouco qualificados, é o mais a única atração.
mesmo que esperar por um milagre. Em outras regiões do Brasil, onde não houve uma populariza-
ção tão intensa dos pesque-pagues, a piscicultura não conseguiu se
Conhecendo o passado desenvolver com a mesma intensidade que na Região Centro-Sul,
O surgimento do atual modelo de “piscicultura como o que explica porque, apesar do clima desfavorável, Paraná, Santa
fonte de complementação da renda nas pequenas propriedades” Catarina e Rio Grande do Sul são citados como maiores produtores
nasceu do enfraquecimento das monoculturas agrícolas. Se para brasileiros de peixes cultivados (vide os dados publicados no livro
uma grande empresa rural, que produz em grande escala, já há Aqüicultura para o Desenvolvimento Sustentável, editado pelo Dr.
um risco excessivo nas monoculturas, o que dizer então em uma Wagner Valenti).
pequena propriedade? O risco de se apostar tudo em uma única No entanto, em algumas regiões, particularmente no Nordeste,
safra anual, tendo, portanto, receita em apenas uma pequena época os preços de venda alcançados pelos produtores ainda são elevados,
do ano e despesas para pagar no ano todo, e ainda depender dos chegando e, em alguns casos, até superando, a marca dos R$ 4,50/kg.
humores do clima, é uma aventura que não pode ser bancada pela Obviamente que o produtor deve aproveitar o momento e se capitalizar.
imensa maioria dos agricultores brasileiros. Mas, também deve ter a consciência de que tais preços só se manterão
A preocupação em buscar fórmulas para “complementar enquanto a oferta não for muito elevada. Depois, eles também serão
a renda da propriedade” deu origem a vários primos, próxi- convidados a conhecer o lado mais amargo das leis de mercado.

Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005 53


Diversificar é a solução?
Como já foi discutido, a diversificação das atividades rurais pode
ser uma importante alternativa para o produtor rural que procura maiores
lucros do que os obtidos quando pratica uma única atividade.
No entanto, é preciso destacar dois pontos importantes: 1) a
piscicultura, como qualquer outra atividade, requer níveis mínimos
de produção e de produtividade (que variam de propriedade para
propriedade), abaixo dos quais o prejuízo é certo. 2) se, por um lado,
a diversificação da pequena propriedade rural é algo quase sempre
benéfico e necessário, o mesmo não se pode falar da diversificação
da produção aqüícola na propriedade.
Ao contrário das atividades agropecuárias mais tradicionais
(bovinocultura, avicultura, suinocultura e inclusive na carcinicultura
nacional), que cultivam apenas uma ou, no máximo, duas diferentes
espécies, mais de 50 espécies de peixes vêm sendo cultivadas experi-
mental ou comercialmente no país (tabela 1). Esse número certamente
aumentaria muito se fossem incluídos aí os peixes ornamentais.
Também, ao contrário do que se pode imaginar, o uso de
várias espécies juntas em um viveiro ou mesmo na propriedade
rural, exige uma grande dose de conhecimento técnico para que o
produtor consiga produzir com a competitividade necessária para
que a margem de lucro compense o investimento.
Sob o ponto de vista da produção em larga escala, esse número
elevado de espécies é um absurdo. Não há tecnologia disponível
para o cultivo da grande maioria delas nem insumos apropriados
(infelizmente, ainda se fala em rações para carnívoros ou não-carní-
voros no Brasil e não em ração para tilápia ou para tambaqui, para
carpa ou para a espécie que seja). Não há escala de produção para
a grande maioria dessas espécies. E o que é pior, em alguns casos
não se sabe nem se há mercado para tais peixes ou se o produto
produzido através de cultivo atende as exigências do mercado.

A saída é a agregação de valores?


Certamente é nos momentos de crise que se conhece a
solidez de um empreendimento ou de uma atividade. Mas também
é nos momentos de crise que as soluções mágicas costumam a
aparecer. Muito se fala hoje em dia na necessidade do produtor de
agregar valor à sua produção. Mas será que isso é algo factível?
Como o produtor pode fazer isso? Criando centenas ou milhares
de micro indústrias caseiras por todo o país (só no estado do Pa-
raná são mais de 20.000 piscicultores)? Espero que essa não seja
a idéia, porque ela é péssima e apenas mais uma forma de onerar
a produção, endividar e até quebrar o pequeno produtor.
O piscicultor, por produzir matéria prima, tem participação
minoritária no valor agregado da piscicultura. Estudos realizados com
diversas cadeias agroindustriais mostram que os produtores geralmente
ficam com cerca de 10% do valor agregado ao produto, enquanto 70% Tabela 1. Principais espécies de peixes produzidas, comercial
do valor total agregado fica com setores localizados no “pós-portei- ou experimentalmente no país.
ra” e 20% com o setor de produção de insumos. Também é preciso
considerar que, mesmo na produção familiar, há necessidade de um presidente já disse que agora é “exportar ou morrer”. Mas será que o piscicultor
investimento significativo na qualificação de todos os elementos da brasileiro está preparado para exportar?
família, em especial para que eles possam trabalhar na engenharia de Vamos aos números, tomando como base os dados divulgados pela
processos e na gerência econômico-financeira do negócio, pois perdas American Tilapia Association e pelo Departamento de Comércio dos Esta-
com perecíveis de elevado valor agregado, podem também quebrar o dos Unidos. No ano 2001, os EUA importaram 56.337.449 kg de tilápias,
empreendimento familiar. Ou seja, o risco é muito elevado. sendo 68,7% na forma de tilápia inteira congelada, 18,2 % na forma de
A estrutura de manipulação de produtos perecíveis, mais filé fresco e 13,1% na forma de filé congelado.
que qualquer outra cadeia de produção, exige uma grande dose de Os dados mostram ainda, que no ano de 2001 a exportação brasileira
planejamento e organização, para que se obtenha produtividade, de tilápias para os Estados Unidos foi simplesmente ridícula, 0,01% em ter-
qualidade e baixo índice de perdas. mos de volume importado por aquele país, e 0,02% em termos de valores de
A agregação de valores seguramente é uma das boas alternati- comercialização. Já se considerarmos apenas as importações americanas de
vas para a indústria aqüícola, mas não há qualquer garantia de que os filés congelados, essa contribuição relativa subiria para 10,9 e 9,7%, respecti-
valores agregados aos produtos sejam repassados aos produtores. vamente. O incrível é que até o Chile, com todas as suas limitações de área e
de clima, exporta mais tilápias que o Brasil (tabela 2).
A saída é exportar? Historicamente, o produto que atinge o maior preço no mercado
Atualmente os brasileiros assistem a escalada vertiginosa do norte-americano é o filé de tilápia fresco. Em 2001, ele chegou a U$S
dólar. Muitos devem estar pensando: “a saída é exportar”. O próprio 6.00/kg, contra U$S 4,00/kg do filé congelado e U$S 1.00/kg a tilápia

54 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005


Talela 2. Importações norte-americanas de tilápia em 2001.

inteira congelada. São preços, a princípio, bastante atrativos. No entanto,


esse é o chamado preço CIFC (Cost, Insurance, Freight and Comission
– ou Custo, Seguro, Frete e Comissão), o que significa que o vendedor
entrega as mercadorias quando elas transpõem a amurada do navio no
porto de embarque e arca com os custos do frete relativo ao transporte
até o porto de destino além de obter um seguro marítimo contra o risco
de perda ou dano às mercadorias durante o transporte e a comissão paga
a terceiros. Como se pode prever, a lista de custos de exportação pode
ser bastante extensa, incluindo, além do frete e do seguro, custos de
edição do contrato de câmbio, custo de remessa, de armazenagem (cujo
valor geralmente não fica por menos de 1% do valor CIFC), capatazia
(imposto pago pela mercadoria que passa pelo cais de embarque),
honorários do despachante, taxa para o sindicato dos despachantes e
taxas aduaneiras. Ou seja, o valor de US$ 1.00 pago pelo comprador
americano nem de longe significa que o produtor brasileiro receberá
R$ 3,00 pelo quilo da tilápia exportada inteira congelada.

Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005 55


Infelizmente, mantido o atual modelo produtivo, a imensa Cooperativa é, segundo uma definição das mais recentes,
maioria dos piscicultores brasileiros nunca terá condições de exportar “uma associação autônoma de pessoas que se unem, voluntariamen-
a sua produção, pois, além da questão dos custos, é preciso que se te, para satisfazer aspirações e necessidades econômicas, sociais e
saiba que em comércio exterior não há lugar para o improviso e para culturais comuns, por meio de uma empresa de propriedade coletiva
ações amadorísticas. Conhecer o essencial sobre os trâmites envol- e democraticamente gerida”.
vendo a exportação, em seus aspectos administrativos, financeiros, Os objetivos básicos de uma cooperativa são: 1) reduzir, em
cambiais, regimes alfandegários, impostos e taxas, custos no país beneficio de seus membros e através do esforço comum destes, o custo
em questão, bem como o rito processual para liquidação de cambiais ou, conforme o caso, o preço de venda de determinados produtos
vencidas, ações judiciais, etc., são preceitos indispensáveis para o ou serviços, substituindo o intermediário; 2) aprimorar a qualidade
sucesso nesse mercado. e a forma de apresentação dos produtos fornecidos.
Exportar é um processo que exige continuidade, não podendo A atuação das cooperativas pode englobar, desde o forne-
ser entendido como alternativa ou válvula de escape para eventuais cimento dos insumos (alevinos, fertilizantes, ração, etc.), até uma
crises do mercado interno. Além disso, é preciso investir na organi- completa rede de assistência técnica, que permitiria aos piscicultores
zação do mercado externo. Sem pesquisa de mercado, sem escolha o acesso a tecnologias mais modernas e voltadas para a sua realidade
cuidadosa dos agentes, sem definição do consumidor que se pretende local. Além disso, como o mercado exige qualidade, a custos de
atingir e sem conhecer as exigências de cada mercado, só poderão ser produção reduzidos, as cooperativas que se estruturassem poderiam,
realizados negócios esporádicos, nunca permanentes. através de eventos como: dias de campo, treinamentos continuados,
Outro detalhe importante é que o mercado externo exige o cursos de capacitação, palestras e seminários, promover o trabalho de
cumprimento rigoroso dos prazos de embarque e dos volumes con- extensão e a capacitação rural, ponto nevrálgico para a modernização
vencionados, coisas bastante difíceis para o desestruturado setor da da aqüicultura brasileira. No entanto, produzir é apenas uma das
piscicultura nacional. etapas do complexo sistema cooperativo agropecuário. O produto
Por fim, deve-se atentar para duas regras básicas: 1) Ninguém produzido nas propriedades rurais precisa ser transportado, conser-
compra por favor. Sempre deve haver razões para que alguém comece vado, beneficiado, comercializado e industrializado, exigindo das
a comprar de um fornecedor novo e tão distante, como melhor preço, cooperativas estrutura para tal e grande eficiência técnica gerencial,
qualidade aceitável e garantia de fornecimento contínuo, além de pois delas depende a remuneração dos produtores cooperados.
atendimento tão eficiente quanto aos fornecedores tradicionais. 2) Não
se deve esperar por resultados imediatos e grandiosos. A abertura de Os problemas cooperativistas
novos mercados necessita sempre de muito trabalho a médio e longo Claro que nem tudo são flores. É justamente em função da sua
prazo. Exportar é, na realidade, um “investimento” que necessita de significativa participação na produção, que as empresas cooperativas
tempo para dar retorno. ficam expostas às crises econômicas, como as que tem assolado pe-
riodicamente o Brasil e, é por isso que administrar uma cooperativa
A saída está no cooperativismo? não é trabalho para qualquer um. Uma administração em moldes
Na realidade, as possíveis saídas para o desenvolvimento pouco profissionais é o caminho mais curto para o fracasso. As coo-
da piscicultura nas pequenas propriedades envolvem a agregação perativas precisam, sim, contar com a participação ativa e constante
de valores, a diversificação da produção e até mesmo a exportação. dos piscicultores, mas não podem abrir mão de funcionar centradas
Loucura nossa, depois de tudo o que foi escrito anteriormente? em moldes totalmente empresariais, o que implica na contratação
Claro que não. Todas as vias de comercialização discutidas de administradores de empresa com comprovada qualificação para
anteriormente devem, a priori, ser consideradas, pois cada região promoverem o seu gerenciamento.
brasileira possui as suas próprias peculiaridades e potenciais a serem As empresas cooperativas devem estar voltadas para o aumen-
explorados. Mas, o importante é que qualquer que seja a opção adotada, to da eficiência, com base no tripé produtor-cooperativa-mercado.
dificilmente ela poderá ser abraçada e viabilizada por pequenos ou Em outras palavras, é preciso planejar ações que fortaleçam os
médios produtores rurais isoladamente, pois essa opção acarretará cooperados; que garantam a profissionalização das próprias coope-
em custos elevados e necessidade de produção de peixes em larga rativas; e que produzam de acordo com as necessidades do mercado.
escala. Disso é difícil escapar. A profissionalização e o mercado exigem altos investimentos em
Como quase nunca é factível elevar a área de cultivo de uma comunicação, marketing e treinamento pessoal.
pequena propriedade de 0,37 ha para 3,7 ou para 37 ha, a saída é Por fim, é preciso ter em mente que não são apenas as pessoas
juntar a produção de vários pequenos produtores e comercializá-la a razão do sucesso ou do fracasso das empresas cooperativas, e sim a
em bloco. Em outras palavras, a saída é, sim, os produtores unirem capacidade destas cooperarem entre si para construírem algo maior que
seus esforços em torno de cooperativas. suas limitações e seus sonhos individuais. Os princípios cooperativistas
Muitos, baseados na história recente das cooperativas agrícolas estão inspirados e fundamentados no desejo e na necessidade das pessoas
brasileiras, dirão que elas não funcionam. De fato, administradas de de cooperarem entre si para, em conjunto, obterem melhoria da qualidade
forma amadora e sendo compostas por cooperados que não se esforçam do nível de vida, o que, isoladamente, dificilmente seria atingido. Essa
em nada para a sua viabilização, elas não funcionarão. tese reúne princípios muito mais avançados do que a teoria tradicional
Hoje em dia, há cooperativas de taxistas, de trabalho, de crédito, do lucro e das relações entre capital e trabalho.
de consumo, de transporte, de serviços, de saúde, de educação, de mine- Como foi dito inicialmente, não há milagres para a trans-
ração, cooperativas artesanais... Por que não de piscicultores? Será que formação do atual modelo de piscicultura de “sub-subsistência”
as 800 milhões de pessoas que, segundo dados da Aliança Cooperativa praticado no país, em um modelo comercialmente viável. Há, sim,
Internacional (ACI), agrupam-se em torno de cooperativas espalhadas saídas. Mas saídas que passam pela organização, capacitação, pla-
pelo mundo estão indo na direção errada e só o individualista sistema de nejamento e profissionalismo.
produção de peixes cultivados do Brasil está correto? Isso tem que ser válido não só para o setor produtivo, mas também
Vamos analisar o exemplo do nosso próprio país. Juntas, as co- para todos os demais elos da cadeia produtiva da aqüicultura brasi-
operativas agropecuárias brasileiras representam uma força econômica leira, incluindo aí as universidades e centros de pesquisa, empresas
invejável. Faturam cerca de R$ 20 bilhões/ano, o que representa 22% prestadoras de serviço e fornecedoras de produtos e até o Poder
do Produto Interno Bruto do setor, que soma R$ 90 bilhões. O número Público, cuja inoperância atual está muito bem retratada na figura do
de agricultores vinculados a uma das 1.048 cooperativas agropecuárias Departamento de Pesca e Aqüicultura, do Ministério da Agricultura.
brasileiras supera a marca de 1 milhão de pessoas. Mas esse é um outro capítulo deste processo de mudanças.

56 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005


Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005 57
C alendário A qüícola
setembro 28-31- VII ENBRAPOA e III ELAPOA – Os encontros realizados pela
ABRAPOA serão no Rafain Palace Hotel em Foz do Iguaçu – PR. Inf:
Tel: (44) 261-4641, fax: (44) 263-5964 ou abrapoa@wnet.com.br
14-15- Curso Básico de Piscicultura- Será realizado na sede da
ABRACOA, em São Paulo. Inf: (11) 3672-8274, e-mail: abracoa@ 29-31- China Fisheries & Seafood Expo e Aquaculture China
uol.com.br ou www.setorpesqueiro.com.br/abracoa 2002 – Será na cidade de Qingdao na China. Inf: tel: 206-7895741,
fax: 206-7890504 ou e-mail: jennie@seafare.com
16-18- I Simpósio de Aqüicultura – Será realizado na UNESP – Campus
de Botucatu. Inf: (14) 6821-5933 ou e-mail: julivalle@yahoo.com
novembro
17 – Curso Oceano Silencioso - Será realizado em Santos, pelo 05 – Curso Formas de Oceano – Será realizado em Santos, pelo
Instituto de Pesca de São Paulo. Inf: (11) 3871-7520/ 3871-7553 Instituto de Pesca em São Paulo. Inf: (11) 3871-7520/ 3871-7553
ou fax: (11) 3872-5035. ou fax: (11) 3872-5035.

19-21- Seminário Estadual de Maricultura – Promovido pelo 09 – Curso de Aquarismo e Reprodução de Peixes Ornamentais
SEBRAE/RJ, será realizado no Hotel Angra Inn em Angra dos – Será realizado pelo Instituto de Pesca em São Paulo. Inf: (11)
Reis – RJ. Inf: Tel/Fax: (24) 3365-2799/ (24) 3365-5597 ou e-mail: 3871-7520/ 3871-7553 ou fax: (11) 3872-5035.
balcaoangra@sebraerj.com.br
09-10- Curso Básico de Piscicultura- Será realizado na sede da
19-21- Fishery & Seafood 2002 Aquaculture – Será realizado em ABRACOA, em São Paulo. Inf: (11) 3672-8274, e-mail: abracoa@
Cebu, Filipinas. Inf: tel: (603) 56319390, fax: (603) 56311602 ou uol.com.br ou www.setorpesqueiro.com.br/abracoa
e-mail: imske@tm.net.my
10-14- II Congresso Brasileiro sobre Crustáceos – Será realizado
21- Curso Ranicultura na Prática - Será realizado em Pindamo- no Hotel Fazenda Fonte Colina Verde em São Pedro – SP, com o
nhangaba, pelo Instituto de Pesca de São Paulo. Inf: (11) 3871-7520/ patrocínio da Sociedade Brasileira de Carcinologia. Inf: Sr. Sérgio
3871-7553 ou fax: (11) 3872-5035. Luiz da S. Bueno – (11) 3091-7627 ou sbueno@ib.usp.br

23-28- Curso Aproveitamento Integral de Pescado, com 12-15 - X Congreso Latinoamericano de Acuicultura y 3º
Tecnologia de Baixo Custo para o Mundo Globalizado - Será Symposio Avances y Proyecciones de la Acuicultura en Chile
realizado em Fortaleza – CE. Inf: Tel: (85) 287-5211 R. 290, fax: – Será organizado pela Asociación Latino Americana de Acuicultura
(85) 287-1522 ou e-mail: marinus@fortalnet.com.br (ALA) e a Facultad de Ciencias del Mar de La Universidade Católica
del Norte, em Coquimbo, Chile. Inf: Tel: 56-51-209756/ 209-711,
outubro Fax: 56-51-209759-209782 ou e-mail: congreso2002@ucn.cl

20-23- Acuicultura 2002 – Será realizado em Santiago, Chile. Inf:


7-10 - Semana do Fazendeiro - Se realizará na Estação Experi- Fax: +44 20 7017 4537, e-mail: sue.hill@informa.com ou www.hei-
mental Dr. Leonel Miranda, situada na Estrada do Açúcar, Km 05, ghwayevents.com
Penha - município de Campos dos Goytacazes. Inf: Renato Borges,
Tel: (21) 3787-6277 ou e-mail: rcborges@hotmail.com 25-28- 5º Simpósio sobre Doenças da Aqüicultura na Ásia – Será
realizado no Gold Coast International Hotel, na Austrália. Inf: tel:
9-11- II Congresso Nacional de Camaronicultura – Será realizado 61-7-38541611 ou e-mail: daa5@ozaccom.com.au
em San Cristobal, Edo. Tachira, Venezuela. Inf: Tel/fax : 58-241-
8587382/ 58-243-2456810 ou e-mail: sva111@cantv.net
dezembro
16-17- I Congresso Internacional de Comercialização de Peixes
Cultivados – O Congresso é uma iniciativa do ANFAL AQUA e
será realizado no Hotel Vitória em Campinas, SP. Inf: (19) 3258- 07-08- Curso Básico de Piscicultura- Será realizado na sede da
2454 ou www.congressodepeixes.com.br ABRACOA, em São Paulo. Inf: (11) 3672-8274, e-mail: abracoa@
uol.com.br ou www.setorpesqueiro.com.br/abracoa

16-18- Criando Peixe – Curso sobre Piscicultura – Será


realizado na Sede do Instituto de Pesca em São Paulo. Inf: (11) maio 2003
3871-7509, com Nilton Rojas.

16-19- Aquaculture Europe 2002– Será realizado no Stazione 19-23- WAS 2003 - Brasil- O encontro anual da World Aquaculture
Marítima Congress Centre, em Trieste na Itália. Inf: tel: 32-59-32- Society será realizado no Centro Empresarial Niemeyer em Salvador,
38-59, fax: 32-59-32-10-05 ou e-mail: ae2002@aquaculture.cc BA. Inf: tel: +55-71-3494 1828 ou e-mail: salvador2003@aol.com

58 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005


Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005 59
60 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2005

Você também pode gostar