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Colégio Brasileiro de Nutrição Animal
Foto da capa:
Cortesia Instituto Agronômico de Campinas
J U L IO F E R R A Z D E Q U E IR O Z
Embrapa M eio Am biente, Rodovia SP 340 Km 127,5,
Bairro Tanquinho V elho, Jaguariúna, SP, CEP: 13.820-000, Email:
jqueiroz@cnpma.embrapa.br
Introdução
C onsiderando esses aspectos, uma das m aneiras mais com uns em pregadas
para reduzir o risco de poluição da água pelas atividades industriais, urbanas e
agropecuárias, é a aplicação de padrões para os efluentes. Um padrão poderá
especificar os níveis aceitáveis para pH, concentração mínim a de oxigênio e
concentrações m áxim as de dem anda bioquím ica de oxigênio e sólidos totais cm
suspensão e outros. Os padrões ambém poderão indicar a quantidade diária máxima
que um poluente pode ser elim inado, por exem plo, a concentração da dem anda
bioquím ica de oxigênio no efluente não poderá ultrapassar uma quantidade
específica (A N ZEC C/A W R C , 1992; CON A M A , 1986).
C ontudo, existem várias lazões pelas quais os padrões tradicionais aplicados
a efluentes provavelm ente não cevam ser aplicados a aquicultura. A m aioria dos
efluentes da aquicultura não contém um a concentração muito alta de nutrientes,
dem anda bioquím ica de oxigênio, sólidos totais em suspensão e tam bém eles não
c o n tím nenhum tipo de material tóxico. A m elhor maneira para m onitorar os
efluentes da aquicultura é a uti ização de Boas Práticas de M anejo (B P M s)- Best
M anagem ent P ractices (BM Ps) A adoção de Boas Práticas de M anejo (BPM s)
poderá especificar os procediirentos para certos aspectos operacionais e a sua
respectiva aplicação pelos diversos sistem as de produção de organism os aquáticos
existentes, possibilitando dessa m aneira a elim inação de efluentes sem danos ao
meio am biente. O bviam ente as BPMs deverão ser especificas conform e o local,
porque, locais e sistem as de produção distintos terão requerim entos distintos para o
m onitoram ento de efluentes (Boyd & Q ueiroz, 1997, Boyd et al., 2000).
International C ham ber o f C omm erce (ICC) Principies, Forest Stew ardsliip
Certification (FSC). Além disso, com o instrum entos auxiliares dcstaca-se a A nálise
de Perigos e Pontos C ríticos de C ontrole (A PPCC) e os C ódigos de C onduta, os
quais tam bém estão sendo utilizados para gerenciam ento ambiental.
Em geral os questionam entos sobre a aquicultura se referem à destruição das
áreas de inundação das bacias hidrográficas (wctlands), e tam bém à conveisão de
áreas utilizadas pela agricultura em viveiros para a produção aquícola, poluição da
água, perda da biodiversidade, com petição pelo uso da água, uso de produtos
quím icos tóxicos ou bioacum ulativos e im pactos sociais negativos (Boyd et al.
2000). Esses exem plos dem onstram que é preciso estabelecer no futuro, “ Boas
Práticas de M anejo (B PM s)” visando a elaboração de Códigos de C onduta para os
sistem as de produção aquícola mais com uns no Brasil. E preciso reconhecer ainda, a
necessidade de desenvolver um sistem a formal de verificação e certificação tendo
por base os Códigos de Conduta. Desta form a, será possível dem onstrar para os
responsáveis pela regulam entação am biental, e para as várias organizações que
trabalham com meio am biente, que a aquicultura pode ser conduzida de form a
sustentável - social, econôm ica e am biental.
Se o próprio setor produtivo e a com unidade cientifica que atuam na área de
aquicultura não se envolverem de form a pró-ativa nesse processo, as agências de
preservação am biental poderão im por critérios relacionados à qualidade d ’água,
através de perm issões restritivas para a descarga de efluentes e outras
regulam entações. Esses critérios terão im plicações na im plantação de tecnologias
avançadas para tratam ento de efluentes, e tam bém de exigências de m onitoram ento
da qualidade da água e dos efluentes por parte dos produtores.
Uma das conseqüências dessas restrições poderá ser a adoção de m étodos
para o m anejo de viveiros sem que exista a possibilidade de efetuar a descarga dos
efluentes. Essa m edida poderá alterar drasticam ente a m aneira pela qual a
aquicultura mundial tem sido tradicionalm ente realizada e exigirá pesquisas para a
criação de tecnologias apropriadas. Além disso, esses requerim entos ou exigências
am bientais restritivas poderão im plicar em uma sobrecarga financeira adicional
sobre as operações já existentes e restringir o desenvolvim ento futuro da industria da
aquicultura. Um exem plo dessas considerações é o que vem ocorrendo nos EUA
desde 1974. A partir daquele ano, a descarga de efluentes de várias unidades de
produção anim al no país estão sujeitas às norm as do Sistem a Nacional de
Elim inação e D escarga de Poluição - N ational Pollution D ischarge Elim ination
System (NPDES), conform e trata o D ecreto sobre Água Lim pa - C lear W ater A ct
(Federal Register, 2000).
D e acordo com Boyd and Q ueiroz (2001), com exceção dos dados
apresentados para a produção de peixes em tanques rede em águas públicas, a
Tabela 1 não fornece estim ativas significativas referentes às cargas de nutrientes
geradas pelos efluentes ou resíduos da aquicultura. Para o cultivo de salmão em
tanques rede (ou outras espécies), todos os nutrientes não assim ilados pelos pe'xes
irão se dispersar na água em to rro dos próprios tanques rede. Entre os diversos
sistemas de produção utilizados pela aquicultura, os tanques rede são os que
apresentam o m aior potencial par; a liberação de nutrientes. No caso dos tanques
rede serem instalados em águas públicas (lagos, reservatórios, rios, etc), as
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Tecnologia da Produção de Rações
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V iveiros
O cultivo peixes ou cam arões em viveiros é diferente do cultivo em tanques
rede ou racew ays, porque, a água fica retida no interior dos viveiros por longos
períodos antes de ser drenada dos viveiros para locais que contenham águas
públicas. E sse período de tem po, mais longo, perm ite aos viveiros assim ilar o
nitrogênio e o fósforo, e consequentem ente, reduzir as cargas desses nutrientes
contidas nos efluentes dos viveiros. Por outro lado, a am ônia que é excretada pelos
peixes, cam arões e bactérias na água dos viveiros, poderá seguir um ou vários
cam inhos. A am ônia poderá ser absorvida pelo fitoplâncton e ser convertida em
nitrogênio orgânico. Além disso, a am ônia tam bém poderá ser oxidada para nitrato
pela ação das bactérias nitrificantes, ou então, entrar na atm osfera pela volatilização.
Da m esm a form a, o nitrato poderá ser convertido em gás de nitrogênio pelas
bactérias denitrificantes e ser elim inado dos viveiros. Finalm ente, o fitoplâncton
morto, a ração não consum ida e as fezes sedim entam no fundo dos viveiros e se
acum ulam 110 sedim ento com o m atéria orgânica.
O nitrogênio orgânico pode ser reciclado retornando para a água dos
viveiros com o am ônia após a decom posição bacteriana. O plâncton e outras
partículas orgânicas não são norm alm ente elim inadas dos viveiros diretam ente para
o meio am biente, a não ser que os viveiros sejam drenados. O fósforo é adsorvido
rapidam ente pelo sedim ento do fundo dos viveiros, ou é precipitado da coluna
d 'água com o fosfato de cálcio. D essa forma, o fósforo contido 110 sedim ento do
fundo dos viveiros tem um a solubilidade baixa e está quase indisponível para
retornar para a coluna d ’água (M asuda and Boyd 1994). Boyd (1985), e G ross et al.
(2000). determ inaram as cargas de nitrogênio e fósforo de viveiros de catfish, e dão
uma estim ativa das percentagens do aporte desses dois nutrientes, contidos na ração,
em função da form a que eles são retirados dos viveiros:
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Tecnologia da Produção dc Rações
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N itrogênio
Efluentes 16,0%
Fósforo
Efluentes 11,4%
V ale destacar que os processos de assim ilação de nutrientes são sim ilares
nos viveiros utilizados para a maioria dos cultivos de peixes e cam arões, portanto, a
discussão sobre o cultivo de catfish em viveiros é aplicável para a m aior parte dos
sistem as de produção sem trocas d ’água utilizados pela aquicultura. Estim ativas
razoáveis para cargas de nutrientes liberadas para o meio ambiente aparentam estal
em torno de 10 kg N e 1 kg P /l 000 Kg de ração para tilápia, catfish e para o cultivo
semi intensivo de cam arões eir viveiros drenados anualm ente. Essas estim ativas
representam um quarto da quantidade de nitrogênio e cerca de um sexto da
quantidade de fósforo, que poderia ser elim inada para o meio am biente, em
com paração com 1.000 kg de ra;ão utilizada para o cultivo de salm ão em tanques
rede, ou para o cultivo de trutas em raceways (sem sedim entação). Entretanto, deve
ser enfatizado que essas e stim a ti/is das percentagens de ração, nitrogênio e fósforo
seguem diferentes ciclos de transform ação para o caso de viveiros que utilizam taxas
norm ais de estocagem e alim entação em nível com ercial. Isso significa que não
existe um a correlação forte entre o aporte de ração e as concentrações de nutri ;ntes
na água dos viveiros ou nos efluentes em decorrência de vários fatores com o troca
d ’água, capacidade de assim ilação dos viveiros, adoção de boas práticas de manejo
(BM Ps), etc.
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Troca d'águ a
A troca d ’água reduz o tem po de retenção da água nos viveiros e dim inui a
capacidade dos viveiros de assim ilar os nutrientes. A ssum indo que um viveiro de
cam arão com um 1,0 m etro de profundidade recebe 4,000 kg/ha de ração contendo
1,6% de fósforo por um período de 100 dias, equivalente ao ciclo norm al de
produção, a taxa de troca d ’água deveria ser de 10% do volum e total do viveiro por
dia. D essa form a pode-se considerar que a troca d ’água desse viveiro com essa taxa
de arraçoam ento, contém cerca de 0,18 m g/L de fósforo total, e tam bém é possível
afirm ar que a carga de fósforo durante um único ciclo de cultivo contida nos
efluentes de um viveiro com esse regim e de troca d ’água é:
C onclusões
As Boas Práticas de M anejo (BM Ps) para a produção de catfish nos EUA.
elaboradas pela A uburn U niversity e pelo U SDA /N RCS, e o manual do GAA
referente aos “Códigos de Práticas para Produção Responsável de C am arão",
contém várias sugestões que podem ser utilizadas para prevenir ou m itigar im pactos
am bientais negativos e tam bém prom over em pregos e boas relações com a
com unidade local. Esses docum entos incluem práticas para m itigar im pactos
am bientais para diferentes sistem as de produção. D ependendo da situação atual, um
núm ero m aior ou m enor de práticas será necessária, além da com binação de práticas
que poderão variar para resolver problem as am bientais e sociais localizados.
A lgum as das práticas poderão ser aplicadas para quase todas as situações, enquanto
outras práticas serão aplicadas em situações especificas.
As práticas passíveis de aplicação em um a escala m aior deverão ser
consideradas obrigatórias para todos os participantes do programa da A BCC sobre
A quicultura R esponsável, ou ainda para outros program as que venham a scr
desenvolvidos, com o por exem plo, para a produção responsável de peixes em
tanques rede, sistem as de produção de peixes integrados à produção de suínos,
pesque pagues, etc. Em adição as práticas obrigatórias, é preciso desenvolver uma
lista de padrões. O s padrões são necessários para confirm ar que as Boas Práticas de
M anejo estão sendo usadas e que essas práticas estão m elhorando os resultados
am bientais e sociais da atividade.
Eventualm ente, tais padrões poderão ser necessários para com por o próprio
program a. D essa form a, é recom endável que as associações de produtores de
cam arões, em cada um dos países envolvidos com essa atividade, com ecem a
acum ular inform ações sobre a qualidade de efluentes, a fim de contribuir para a
tom ada de decisões racionais, no m om ento em que os padrões de qualidade dc água
forem identificados e selecionados. Por outro lado, é im portante que as associações
nacionais envolvidas com a aquicultura investiguem opções que possam perm itir o
estabelecim ento de program as de m onitoram ento am biental, sem a im posição dc
regulam entações im praticáveis e de caráter restritivo para os produtores.
N esse sentido, é preciso considerar que os viveiros são diferentes dos
tanques rede e dos racew ays, porque eles não elim inam nitrogênio e fósforo nos
corpos d ’água naturais diariam ente. Além disso, os viveiros possuem uma grande
capacidade para assim ilar esses dois nutrientes, e tam bém servem com o uma bacia
de sedim entação, em função de apresentarem um tem po de retenção da água de
vários dias ou até de vários meses. E im portante observar que não existe uma
correlação entre o aporte de nutrientes nos viveiros, e as concentrações de nutrientes
encontradas na água dos viveiros e nos efluentes, a não ser que a capacidade de
assim ilação dos viveiros seja excedida. Essa situação foi ilustrada por meio de um
estudo no qual rações contendo 0.58. 0,68, 0,75, 0,81, e 0,99% de fósforo foram
adicionadas, com o tratam entos distintos, em quantidades iguais a vários viveiros de
produção de catfish. A concentração e as cargas de fósforo na água dos viveiros e
nos efluentes não apresentaram diferenças significativas entre os tratam entos
utilizados (G ross et al. 1998).
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Na Europa, uma atenção considerável lem sido dada para lim itar a adição de
nitrogênio e fósforo nas rações para o cultivo de peixes em tanques rede, com o um a
forma de reduzir a carga am biental. Esse procedim ento não é adequado para a
produção de peixes em viveiros, porque, nenhum a m elhoria na qualidade dos
efluentes poderia ocorrer com o resultado da lim itação de nutrientes na ração
adicionada em viveiros, nos quais a capacidade de assim ilação não foi superada.
D ependendo da espécie cultivada e do m étodo de cultivo utilizado, existe
uma taxa de arraçoam ento acim a da qual a qualidade da água dos viveiros vai
deteriorar, devido a perda da capacidade de assim ilação. Para o cultivo de catfish em
viveiros estáticos (sem troca d ’água), essa taxa de arraçoam ento é cerca de 30 kg/ha
por dia em viveiros sem aeração, e 120 kg/lia por dia em viveiros com aeradores
cuja potência total é de 3 a 4 HP por hectare (Boyd and T ucker 1998). R elações
sim ilares entre as taxas dc conversão alim entar e a qualidade da água, tam bém
ocorrem ':m viveiros para a produção de cam arões sem trocas d ’água. E ntretanto,
uma quantidade m uito m aior de ração pode ser aplicada em viveiros para a produção
de tilápia e para a produção de cam arões com troca d ’água.
A adoção dc Boas Práticas de M anejo (BPM s) para prevenir que a
capacidade de assim ilação dos viveiros seja excedida, deve ser enfatizada com o
parte das regulam entas am bientais relativas à efiuentes, e um a determ inada BPM
poderá ser recom endada no caso da elevação das taxas de arraçoam ento. Entretanto, f
até o m om ento não existe um a base cientifica que perm ita afirm ar a existência dc
uma relação direta entre a taxa dc arraçoam ento e a qualidade dos efluentes.
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