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MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE

INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE


CENTRO NACIONAL DE PESQUISA E CONSERVAÇÃO DE PEIXES
CONTINENTAIS
PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA-PIBIC/ICMBio

Relatório Final

SUBSÍDIOS PARA ELABORAÇÃO DE PLANO DE AÇÃO DO SURUBIM-DO-


PARAÍBA (Steindachneridion parahybae), ESPÉCIE AMEAÇADA DA
BACIA DO RIO PARAÍBA DO SUL

Bolsista: Lizandra Cristina Rosa Dolfini


Orientador: José Augusto Senhorini
Co-orientadora: Carla Natacha M. Polaz

PIRASSUNUNGA, SP
JULHO/2010

0
RESUMO

A bacia do Rio Paraíba do Sul é uma das regiões mais industrializadas do país. A forte
urbanização do eixo Rio - São Paulo ocorreu principalmente a partir da segunda metade
do século XX, desencadeando uma série de processos de degradação ambiental, o que
provocou a drástica redução das populações de peixes. O surubim-do-paraíba
(Steindachneridion parahybae) é um bagre pertencente à ordem Siluriformes, família
Pimelodidae e endêmico da bacia do Rio Paraíba do Sul. O surubim-do-paraíba consta
na Lista Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção (IN MMA n. 5/2004). Centrais
hidrelétricas e seus reservatórios são responsáveis pela alteração ou eliminação dos
ambientes lóticos ocupados por essa e outras espécies; juntamente com o lançamento
indiscriminado de esgotos doméstico e industrial, representam as principais ameaças.
Neste contexto, estudos que visem à implementação de medidas de conservação, tais
como a elaboração de Planos de Ação para espécies ameaçadas, tornam-se fundamentais
para a manutenção dessa biodiversidade. O presente trabalho tem como objetivo
subsidiar a elaboração de um Plano de Ação para a espécie-alvo ameaçada, reunindo
informações sobre sua biologia e sobre os principais impactos que ameaçam a bacia do
Rio Paraíba do Sul. Ações que visem à recuperação das condições ambientais dos
hábitats e dos diferentes ecossistemas encontrados nesta bacia foram igualmente
propostas. O projeto está em andamento pelos pesquisadores do Centro Nacional de
Pesquisa e Conservação de Peixes Continentais – CEPTA/ICMBio. Para o levantamento
de dados foi realizada a leitura de artigos científicos, relatórios técnicos, identificação
dos principais especialistas brasileiros e suas respectivas instituições, que vêm
desenvolvendo pesquisas relacionadas à espécie e à bacia. Dois eventos (uma Oficina de
Parceiros e um Workshop) foram realizados visando apoiar a elaboração do documento.
O presente relatório cumpre a etapa final, onde foi reunido e sistematizado informações
para a elaboração do Plano de Ação, articulação de parceiros, organização e realização
de evento e workshop, elaboração e consolidação do documento-base, que culminará
com a publicação do Plano de Ação. O projeto também contribuiu para o preenchimento
do novo formulário de avaliação do status de conservação da espécie S. parahybae.

1
ABSTRACT

The Paraíba do Sul basin is one of the most industrialized watershed in Brazil. The high
urbanization process of the Rio - São Paulo axis occurred mainly from the second half
of the twentieth century, and its results were severe levels of environmental degradation,
what lead to a drastic reduction of native fish stocks. Steindachneridion parahybae
(“surubim-do-paraiba”) is a catfish that belongs to the order of Siluriformes, family of
Pimelodidae and it is endemic to the basin of Paraíba do Sul river. This species is listed
on the current National List of Endangered Species (IN MMA 5/2004). Hydroelectric
dams and reservoirs are responsible for the environmental changes of lotic habitats
occupied by these native species. Along with the indiscriminate launch of industrial and
domestic sewage, these are the main threats to the aquatic organisms. In this context,
studies that objective to implement conservation measures, such as the development of
Action Plans for threatened species, become fundamental to the conservation of fish
biodiversity. The core goal of the study is to gather and organize information to help the
development of the Action Plan focused on the threatened fish fauna of Paraíba do Sul
basin. Actions aimed at the restoration of habitats and environmental conditions of
different ecosystems found in the basin have also been proposed. The project is being
undertaken by researchers at the National Center for Research and Conservation of
Freshwater Fish - CEPTA/ICMBio. Papers and technical reports were used as data
collection sources. The identification of Brazilian specialists and their institutions,
which have been developing researches related to the key-species and the watershed,
had completed the method. Two workshops were organized to support the drafting of
the document. This report fulfills the final step, where it was collected and systematized
information for the preparation of the Action Plan, by coordinating partners,
organization of workshop and consolidation of the drafting, which will culminate with
the publication of the Plan Action. The project also contributed to fill the new form of
conservation status assessment of S. parahybae.

2
LISTA DE SIGLAS

AGEVAP – Agência da Bacia do Rio Paraíba do Sul


ANA – Agência Nacional de Águas
ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica
CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior.
CEDAE – Companhia Estadual de Águas e Esgotos
CEIVAP – Comitê para Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul.
CEMIG – Companhia Energética de Minas Gerais.
CEPTA – Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Peixes Continentais.
CESP – Companhia Energética de São Paulo.
CNRH - Conselho Nacional de Recursos Hídricos.
CNPQ – Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico.
CODEVASF - Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco.
COPASA – Companhia de Saneamento de Minas Gerais.
DNOS - Nacional de Obras de Saneamento.
DNOCS - Departamento Nacional de Obras Contra as Secas.
EHA - Estação de Hidrobiologia e Aqüicultura, CESP, Paraibuna, SP.
EIA - Estudos de Impacto Ambiental.
FADETEC - Fundação de Apoio e Desenvolvimento de Ensino Tecnológico.
FEEMA – Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente.
FIPERJ – Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio de Janeiro.
IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
IBDF – Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal.
ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade.
INEA – Instituto Estadual do Ambiente.
IUCN – União Internacional para Conservação da Natureza.
MMA – Ministério do Meio Ambiente.
MNRJ – Museu Nacional do Rio de Janeiro.
MZJM – Museu de Zoologia João Moojen.
NUPELIA - Núcleo de Pesquisas em Limnilogia, Ictiologia e Aqüicultura.
PAN – Plano de Ação.
PCHs – Pequenas Centrais Hidrelétricas.
PIBIC – Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Cientifica.
RAN – Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Répteis e Anfíbios.
RPS – Rio Paraíba do Sul.
SABESP – Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo.
SAAE's – Serviço Autônomo de água e Esgoto
SUDEPE - Superintendência do Desenvolvimento da Pesca.
UHEs – Usinas Hidrelétricas.
USP – Universidade de São Paulo.

3
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Localização da bacia do rio Paraíba do Sul, abrangendo os estados de SP,


MG e RJ. Fonte: ANA, 2009...........................................................................................10

Figura 2 – Devastação da cobertura vegetal de morros (à esq.) e exemplo de processo


erosivo avançado (“voçoroca”, à dir.). Fotos: Carla N. M. Polaz, 2008 e INEA, 2009..12

Figura 3 – Paisagens frequentes na bacia do RPS: ocupação de margens por pastagens e


criação de gado em Áreas de Preservação Permanente. Fotos: Carla N. M. Polaz, 2008 e
INEA, 2009. ....................................................................................................................12

Figura 4 - Composição genérica dos Comitês de Bacia Hidrográfica. Fonte: ANA,


2009.................................................................................................................................13

Figura 5 – Fluxograma do Sistema Nacional de Recursos Hídricos. Fonte: ANA, 2009.


.........................................................................................................................................15

Figura 6 – Composição do Comitê para Integração da Bacia Hidrográfica do Rio


Paraíba do Sul – CEIVAP. Fonte: CEIVAP, 2009. ........................................................16

Figura 7 – Exemplares de Steindachneridion parahybae (Steindachner, 1877),


popularmente conhecido como surubim-do-paraíba. .....................................................21

Figura 8 – Mapa de distribuição atual e pretérita da espécie Steindachneridion


parahybae. Fonte: MMA, 2008.......................................................................................23

Figura 9 – Exemplares de surubim-do-paraiba mantidos em cativeiro na Estação de


Hidrobiologia da CESP, em Paraibuna, SP. Foto: Danilo Caneppele.............................24

Figura 10 – À esquerda, exemplar de S. parahybae capturado e depositado no MNRJ; à


direita, localidade de captura no rio Paraíba do Sul, defronte a Itaocara, no Domínio das
Ilhas Fluviais (largura aproximada 150m, profundidade variável, presença de ilhas de
pedra; algumas com arbustos, água clara, correnteza moderada, vegetação marginal
abundante, área urbana, pedras e areia no fundo. Coordenadas: 21º 41’S; 42º05’ W).
Fotos: Érica P. Caramaschi. ............................................................................................29

Figura 11 – Distribuição preferencial de habitats da ictiofauna registrada no Rio Paraíba


do Sul, no trecho Funil – Santa Cecília. Fonte: INEA, 2009b........................................31

4
Figura 12 – Fixação com formol de exemplar de surubim-do-paraíba capturado em rede
de espera (à esq.); à direita, cabeça de surubim-do-paraíba predado na rede, Resende/RJ.
Foto: Carla N. M. Polaz, 2008.........................................................................................32

Figura 13 – Efluentes domésticos lançados sem tratamento no rio Paraíba do Sul e


afluentes. Fotos: Carla N. M. Polaz, 2008 e INEA, 2009...............................................33

Figura 14 – Segmentação da bacia do RPS provocada pela série de reservatórios e


barramentos. Fonte: ARAÚJO & NUNAN, 2005...........................................................36

Figura 15 – À esquerda, paisagem de forte assoreamento instalado no reservatório do


Funil, um dos impactos ambientais mais evidentes da operação da UHE; à direita,
“bloom” de fitoplâncton registrado no reservatório em outubro/2007. Fotos: INEA,
2009.................................................................................................................................39

Figura 16 – Construção de duas Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) no rio Paraíba


do Sul, no trecho entre os municípios de Queluz e Lavrinhas/SP. Fonte: INEA, 2009..41

Figura 17 – Barragem da Usina Hidrelétrica de Ilha dos Pombos, localizada entre os


municípios de Volta Grande, MG e Carmo, RJ (à esq.). Mortandade de peixes na praia
da Ilha da Convivência, São Francisco do Itabapoana, em 27 de novembro de 2008 (à
dir.). Fotos: FIPERJ, 2008...............................................................................................45

Figura 18 – Espécimes capturados ainda com vida nas primeiras horas da chegada do
produto tóxico no município de Itaocara, RJ (à esq.). Exemplar de dourado (Salminus
brasiliensis) morto pelo endosulfan (à dir.). Fonte: Projeto Piabanha, 2008..................45

Figura 19 – Composição da ictiofauna nativa e exótica registrada no Rio Paraíba do Sul,


no trecho Funil – Santa Cecília. Fonte: INEA, 2009.......................................................46

Figura 20 – Exemplos de espécies exóticas encontradas na bacia do Rio Paraíba do Sul:


da esquerda para a direita, a) Salminus maxillosus, dourado; b) Cichla monoculus,
tucunaré; c) Hyphessobrycon eques, mato-grosso; e d) Ctenopheringodon idella, carpa
capim...............................................................................................................................47

Figura 21 – Anomalia (tumor) possivelmente relacionada à contaminação da água (à


esq.) e infestação de ectoparasitos (sanguessugas) registrada em cascudo durante coleta
de peixes no Rio Paraíba do Sul (à dir.). Fonte: INEA, 2009 e Carla N. M. Polaz,
2008.................................................................................................................................49

5
Figura 22 – Ocupação irregular e desordenada das margens do Rio Paraíba do Sul,
denunciando a falta de controle e fiscalização do Estado. Fotos: Carla N. M. Polaz,
2008 e INEA, 2009.........................................................................................................50

Figura 23 – Degradação da mata ciliar na região de Carangola, MG. Foto: Gláucia


Drummond.......................................................................................................................51

Figura 24 – Equipamentos utilizados na extração de areia (“areiais”) do leito do Rio


Paraíba do Sul e afluentes. Fotos: INEA, 2009...............................................................52

Figura 25 – Garimpo clandestino no Rio Paraíba do Sul. Fonte: INEA, 2009...............52

Figura 26 – Pontos de poluição do rio Paraíba do Sul. À esquerda, carreamento de lixo


misturado à matéria orgânica; à direita, áreas de disposição inadequada de resíduos
(“lixões”). Fonte: INEA, 2009.........................................................................................53

Figura 27 – Espécies ameaçadas (IN MMA nº05/2004) e endêmicas à bacia do rio


Paraíba do Sul. À esquerda, a pirapitinga-do-sul Brycon opalinus (Cuvier, 1819); à
direita, a piabanha Brycon insignis (Steindachner, 1877). Foto: Carla N. M. Polaz, 2008
e Projeto Piabanha, 2009.................................................................................................54

Figura 28 – Participantes da I Oficina de Parceiros do Rio Paraíba do Sul, realizada nos


dias 5 e 6 de novembro de 2009, em Paraibuna, SP (à esq.) e registro de dinâmica de
grupo realizada para definição da missão do Plano de Ação e espécies-alvo (à dir.).
Fotos: CEPTA, 2009........................................................................................................55

Figura 29 – Participantes do Workshop para elaboração do Plano de Ação Nacional do


Rio Paraíba do Sul, realizado de 24 a 27 de maio de 2010, em Pirassununga, SP. Foto:
CEPTA, 2010...................................................................................................................61

Figura 30 – Soltura de alevinos de espécies nativas (repovoamento) em Resende/RJ,


realizado no dia 20 de outubro de2009. Fonte:
www.comiteps.sp.gov.br/noticias.html...........................................................................69

6
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Relação das espécies (incluindo exóticas) com registro de captura na calha
do Rio Paraíba do Sul no trecho Funil – Santa Cecília. Fonte: INEA, 2009...................30

Quadro 2 – Espécies ameaçadas de peixes listadas no Livro Vermelho (MMA, 2008)


com ocorrência na bacia do Rio Paraíba do Sul. (CR) Criticamente em Perigo; (EN) Em
Perigo; (VU) Vulnerável.................................................................................................57

Quadro 3 – Espécie ameaçada de quelônio (Chelidae) listada no Livro Vermelho


(MMA, 2008) com ocorrência na bacia do Rio Paraíba do Sul......................................58

Quadro 4 – Matriz de apoio à decisão para definição das espécies-alvo do Plano de


Ação do Rio Paraíba do Sul.............................................................................................59

Quadro 5 – Espécies-alvo de peixes e quelônios com ocorrência na bacia do Rio Paraíba


do Sul pactuadas em plenária para a elaboração do Plano de Ação................................60

Quadro 6 - Potenciais problemas genéticos relacionados ao repovoamento. Fonte:


Hilsdorf, 2009..................................................................................................................67

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Histórico das listas oficiais de espécies ameaçadas de extinção da fauna


brasileira já publicadas. Fonte: IBAMA, 2010................................................................19

7
SUMÁRIO

RESUMO
ABSTRACT
LISTA DE SIGLAS
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS

1 INTRODUÇÃO............................................................................................................9
1.1 A bacia do Rio Paraíba do Sul - RPS....................................................................9
1.2 Os Comitês de Bacias..........................................................................................12
1.2.1 O Comitê para Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul –
CEIVAP...........................................................................................................................14
1.2.2 Agência da Bacia do Rio Paraíba do Sul – AGEVAP................................17
1.3 Livro Vermelho e Planos de Ação.......................................................................18
1.4 Surubim-do-paraíba: espécie-alvo.......................................................................20
2 MATERIAL E MÉTODOS....................................................................................25
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO.............................................................................27
3.1 A ictiofauna nativa da bacia do Rio Paraíba do Sul...........................................27
3.2 Principais ameaças à ictiofauna do Rio Paraíba do Sul.......................................33
3.2.1 Poluição Hídrica: esgotos domésticos e efluentes industriais...................33
3.2.2 Hidrelétricas e barramentos.......................................................................35
3.2.3 Transposição...............................................................................................42
3.2.4 Acidentes ambientais..................................................................................43
3.2.5 Introdução de espécies exóticas.................................................................46
3.2.6 Doenças e ictioparasitos.............................................................................48
3.2.7 Outros impactos..........................................................................................50
3.3 Medidas de conservação e Ações de Recuperação.............................................54
3.3.1 Elaboração de Planos de Ação para Espécies Ameaçadas........................54
3.3.2 Repovoamentos: benefícios e limitações....................................................64
3.3.3 Repovoamentos realizados no Rio Paraíba do Sul.....................................68
3.4 Avaliação do estado de conservação de S. parahybae........................................71
4 CONCLUSÕES........................................................................................................78
5 AGRADECIMENTOS............................................................................................79
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................80
7 ANEXO.....................................................................................................................84

8
1 INTRODUÇÃO

1.1 A bacia do Rio Paraíba do Sul - RPS

A bacia do Rio Paraíba do Sul começa na Serra da Bocaina ao Sul (parte da

Serra do Mar) e Mantiqueira (ao norte), no Estado de São Paulo, e deságua no norte

fluminense, percorrendo uma extensão de 1.137 Km de sua nascente, no rio Paraitinga

até sua foz em Atafona, RJ (ANA, 2009).

Sua bacia possui área de drenagem de 55.300 km2, sendo 39% situadas em terras

fluminenses (21.567,0 km2), 37% mineiras (20.461,0 km2) e 24%, paulistas (13.272,0

km2). Segundo CPTI (2001), a bacia possui os seguintes limites:

a) ao Norte: pelo divisor da Serra da Mantiqueira, onde se confronta com as bacias

hidrográficas dos rios Grande e Doce;

b) a Leste: por relevos montanhosos que a separam da bacia do rio Itabapoana,

predominantemente, já no Estado do Espírito Santo;

c) ao Sul: pela Serra do Mar, em praticamente toda a extensão, que a separa do

Oceano Atlântico, por estreita faixa; e

d) a Oeste: por diversas ramificações das Serras do Mar e Mantiqueira,

confrontando-se com a bacia do rio Tietê. O rio Paraíba do Sul é formado pela

confluência dos rios Paraibuna e Paraitinga, no Estado de São Paulo, e percorre cerca de

900 km antes de desembocar no Oceano Atlântico, no Estado do Rio de Janeiro (Figura

1).

9
Figura 1 – Localização da bacia do rio Paraíba do Sul, abrangendo os estados de
SP, MG e RJ. Fonte: ANA, 2009.

O curso do rio Paraíba do Sul é subdividido em quatro trechos: a) Curso

superior: desde as nascentes do rio Paraitinga até a cidade de Guararema (cerca de 280

km), correndo sobre terrenos antigos, em altitudes de 1.800 a 572 metros, com

declividade média de 4,9 m/km. Abrange área drenada de 5.271 km2; b) Curso médio-

superior: desde Guararema até a cidade de Cachoeira Paulista (cerca de 300 km),

correndo em terrenos sedimentares de idade terciária, em altitudes de 572 a 515 metros

e declividade média de 0,19 m/km. A área drenada é de 6.676 km2; c) Curso médio-

inferior: de Cachoeira Paulista até a cidade de São Fidélis – RJ (cerca de 430 km),

correndo sobre terrenos sedimentares de origem antiga (arqueanos), em altitudes de 515

a 20 metros e declividade média de 1,3 m/km. A área drenada é de 33.663 km2; d)

Curso inferior: de São Fidélis - RJ até desembocadura no Oceano Atlântico, em São

João da Barra - RJ (cerca de 90 km), correndo sobre terrenos sedimentares de origem

10
fluvial, em altitudes de 20 metros até o nível do mar, drenando área de 9.690 km2

(FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA, 2009).

Especificamente em relação ao trecho paulista do rio Paraíba do Sul, os maiores

afluentes são: (i) Paraibuna; (ii) Paraitinga; e o (iii) Jaguari. Nas décadas de 1950 e

1960, o rio Paraíba do Sul teve trechos retificados, entre os municípios de Cachoeira

Paulista e Caçapava, e de Aparecida e Pindamonhangaba. Tal iniciativa do

Departamento Nacional de Obras de Saneamento - DNOS visou aumentar a declividade

de escoamento, aumentando a capacidade de vazão, com redução do risco de

transbordamento e de inundação das margens. Mais recentemente, alguns barramentos

foram construídos com esse mesmo objetivo. São eles, os reservatórios de Paraibuna,

Santa Branca e do Jaguari (no rio Jaguari) (FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA, 2009).

O processo de degradação ambiental da bacia do Rio Paraíba do Sul foi

desencadeado no século XVII, quando se iniciou a devastação da cobertura vegetal para

implantação da cultura da cana de açúcar no vale do Paraíba paulista e região dos

Campos dos Goitacazes, no Estado do Rio de Janeiro. O processo foi intensificado nos

séculos XVIII e XIX, nas regiões do alto e médio Paraíba, com o ciclo do café. No final

do século XIX, houve o colapso da cultura cafeeira devido à abolição da escravatura.

Por esta época, porém, a dramática redução da área original de cobertura vegetal do vale

do Paraíba do Sul já se fazia sentir, com o surgimento de problemas originados pela

erosão acelerada, assoreamento de rios e perda da fertilidade do solo (Figura 2).

Como conseqüência, as plantações transformaram-se em pastagens (Figura 3).

Ainda assim, na primeira metade do século XX a atividade econômica da bacia ainda se

limitava basicamente a atividades agropecuárias. O desenvolvimento industrial e a

conseqüente expansão urbana somente se iniciaram na década de 1940 (FUNDAÇÃO

CHRISTIANO ROSA, 2009).

11
Figura 2 – Devastação da cobertura vegetal de morros (à esq.) e exemplo de processo
erosivo avançado (“voçoroca”, à dir.). Fotos: Carla N. M. Polaz, 2008 e INEA, 2009.

Figura 3 – Paisagens frequentes na bacia do RPS: ocupação de margens por pastagens e


criação de gado em Áreas de Preservação Permanente. Fotos: Carla N. M. Polaz, 2008 e
INEA, 2009.

1.2 Os Comitês de Bacias

Os Comitês de Bacia Hidrográfica são a base do Sistema Nacional de

Gerenciamento de Recursos Hídricos. Neles são debatidas as questões relacionadas à

gestão desses recursos. Participam dos Comitês representantes do Poder Público, dos

usuários das águas e das organizações da sociedade com ações na área de recursos

hídricos (Figura 4).

12
Figura 4 - Composição genérica dos Comitês de Bacia Hidrográfica. Fonte: ANA, 2009.

Os Comitês de Bacia têm como objetivo a gestão participativa e descentralizada

dos recursos hídricos em um território, por meio da implementação dos instrumentos

técnicos de gestão, da negociação de conflitos e da promoção dos usos múltiplos da

água. Os Comitês devem integrar as ações de todos os Governos, seja no âmbito dos

Municípios, dos Estados ou da União; propiciar o respeito aos diversos ecossistemas

naturais; promover a conservação e recuperação dos corpos d'água e garantir a

utilização racional e sustentável dos recursos hídricos. Dentre suas competências se

destacam (ANA, 2009):

 Arbitrar os conflitos relacionados aos recursos hídricos naquela bacia


hidrográfica;

 Aprovar os Planos de Recursos Hídricos;

 Acompanhar a execução do Plano e sugerir as providências necessárias para o


cumprimento de suas metas;

 Estabelecer os mecanismos de cobrança pelo uso de recursos hídricos e sugerir


os valores a serem cobrados;

 Definir os investimentos a serem implementados com a aplicação dos recursos


da cobrança.

13
As Agências de Bacia são instaladas para atuar como Secretarias Executivas de

um ou mais Comitês de Bacia. Seu funcionamento deve ser autorizado pelo Conselho

Nacional de Recursos Hídricos – CNRH. A criação das Agências de Bacia está

condicionada à comprovação prévia da sua viabilidade financeira, assegurada pela

cobrança pelo uso da água na respectiva bacia. Competirá às Agências de Bacia, entre

outras atividades (ANA, 2009):

 Atuar como Secretaria Executiva do Comitê de Bacia;

 Manter balanço atualizado da disponibilidade dos recursos hídricos em sua área


de atuação;

 Manter o cadastro de usuários de recursos hídricos;

 Elaborar o Plano da Bacia para apreciação do Comitê;

 Acompanhar a administração financeira dos recursos arrecadados com a


cobrança.

1.2.1 O Comitê para Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul

- CEIVAP

O Sistema Nacional de Recursos Hídricos, instituído pelas Leis nº. 9.433/97 e

9.984/00, introduz novos atores no cenário institucional brasileiro, no contexto da

gestão dos recursos hídricos: os Comitês de Bacia - fóruns democráticos para os debates

e decisões sobre as questões relacionadas ao uso das águas da bacia -, as Agências de

Bacia – braço executivo do Comitê ou mais de um Comitê, que recebe e aplica os

recursos arrecadados com a cobrança pelo uso da água na bacia -, e, na jurisdição

pública federal, a Agência Nacional de Águas, autarquia especial vinculada ao

Ministério do Meio Ambiente - MMA, que assume as funções de órgão gestor dos

recursos hídricos de domínio da União, anteriormente exercida pela Secretaria de

Recursos Hídricos do MMA (Figura 5).

14
Figura 5 – Fluxograma do Sistema Nacional de Recursos Hídricos. Fonte: ANA, 2009.

Criado pelo Decreto Federal nº. 1.842, de 22 de março de 1996, o CEIVAP, ou

Comitê para Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul, é o parlamento

onde ocorrem os debates e decisões descentralizadas sobre as questões relacionadas aos

usos múltiplos das águas da bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul, inclusive a decisão

pela cobrança pelo uso da água na bacia. O Comitê é constituído por representantes dos

poderes públicos, dos usuários e de organizações sociais com importante atuação para a

conservação, preservação e recuperação da qualidade das águas da Bacia.

O CEIVAP é formado por 60 membros, sendo três da União e 19 de cada estado

(SP, RJ e MG) da bacia do Paraíba do Sul, com a seguinte composição: 40% de

representantes dos usuários de água (companhias de abastecimento e saneamento,

indústrias, hidrelétricas e os setores agrícola, de pesca, turismo e lazer); 35% do poder

público (União, governos estaduais e prefeituras) e 25% de organizações civis

(CEIVAP, 2009) (Figura 6).

15
Figura 6 – Composição do Comitê para Integração da Bacia Hidrográfica do Rio
Paraíba do Sul – CEIVAP. Fonte: CEIVAP, 2009.

Seus membros são eleitos em fóruns democráticos, nas diversas regiões que

compõem a bacia. Sua Diretoria, escolhida bienalmente pelos membros, é formada pelo

presidente, vice-presidente e secretário. São atribuições do CEIVAP:

 Definir as metas de qualidade (enquadramento) para as águas dos rios da bacia;


 Propor diretrizes para a outorga de direito de uso da água – permissão legal
obrigatória para o uso - captação, consumo ou diluição - das águas da bacia
concedida pelo poder público;
 Aprovar o Plano de Recursos Hídricos da Bacia do Paraíba do Sul e acompanhar
sua execução;
 Acompanhar e direcionar as ações da AGEVAP, que é a figura jurídica e o braço
executivo do CEIVAP;
 Aprovar e acompanhar a execução da cobrança pelo uso da água, cujos critérios
e valores a serem cobrados foram aprovados pelo plenário do CEIVAP,
consubstanciados na Deliberação CEIVAP 08/01.

A secretaria executiva do CEIVAP, hoje exercida pela Agência da Bacia –

AGEVAP, garante os meios para seu funcionamento e coloca em prática suas decisões.

16
A cobrança deverá induzir o uso racional da água, reduzindo o desperdício e os índices

de poluição. Cabe, também, ao CEIVAP decidir onde aplicar os recursos arrecadados.

Dentre as ações de maior impacto desenvolvidas pelo CEIVAP desde 1997, cabe

destacar (CEIVAP, 2009):

 Implantação pioneira, no Brasil, da cobrança pelo uso da água, satisfazendo


todas as exigências legais;
 Aprovação do Plano de Recursos Hídricos da Bacia do Rio Paraíba do Sul,
contendo o Programa de Investimentos para aplicação de recursos da ordem de
R$ 24 milhões, arrecadados com a cobrança pelo uso da água, de 2003 a 2006;
 Criação da Associação Pró-Gestão das Águas da Bacia do Paraíba do Sul para
exercer as funções de Agência da Bacia via contrato de gestão com a ANA;
 Viabilização de recursos de diversas fontes totalizando, aproximadamente, R$
72 milhões para ações de recuperação ambiental e melhoria da disponibilidade
de água da bacia;
 Difusão de informações, através de cursos de capacitação em gestão de recursos
hídricos e de capacitação em elaboração de projetos, realizados em diversos
municípios da bacia, em parceria com a Agência Nacional de Águas - ANA;
 Implementação de 13 programas de educação ambiental e mobilização social,
em vários municípios da bacia, viabilizados com recursos da cobrança pelo uso
da água;
 Desenvolvimento de atividades permanentes de comunicação social e
institucional.

1.2.2 Agência da Bacia do Rio Paraíba do Sul - AGEVAP

Criada em 20 de junho de 2002, a AGEVAP - Associação Pró Gestão das Águas

da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul, foi constituída para o exercício das

funções de secretaria executiva do CEIVAP, desenvolvendo também as funções

definidas no art. 44 da Lei n°. 9.433/97, que trata das competências das chamadas

17
Agências de Água, ou Agências de Bacia, como são mais conhecidas, principalmente no

que se refere à elaboração do Plano de Recursos Hídricos e à execução das ações

deliberadas pelo Comitê para a gestão dos recursos hídricos da Bacia (AGEVAP, 2010).

A partir da edição da Medida Provisória nº. 165/04, posteriormente convertida

na Lei nº. 10.881/04, a AGEVAP pôde, por meio do estabelecimento de Contrato de

Gestão com a Agência Nacional de Águas – ANA, assumir as funções de uma Agência

de Bacia, que são, essencialmente, receber os recursos oriundos da cobrança pelo uso da

água bruta na bacia e investi-los segundo o plano de investimentos aprovado pelo

Comitê da Bacia – CEIVAP.

A AGEVAP tem a personalidade jurídica de uma associação de direito privado,

sem fins lucrativos, cujos associados são membros do CEIVAP, que compõe sua

Assembléia Geral. Ela é administrada pelo Conselho de Administração, cujos membros

são indicados pela Assembléia geral, Conselho Fiscal e Diretoria, que é formada por um

Diretor e dois Coordenadores (AGEVAP, 2010).

No contexto do presente trabalho, considerando que essas duas organizações,

CEIVAP e AGEVAP, formam a legítima representatividade política para as questões

relacionadas à bacia do RPS, torna-se fundamental a inserção de ambas no processo de

elaboração de um Plano de Ação para esta região.

1.3 Livro Vermelho e Planos de Ação

Compete ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade –

ICMBio, autarquia federal vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, o fomento e a

execução de programas de pesquisa, proteção, preservação e conservação da

biodiversidade brasileira. Para o cumprimento dessa missão, o ICMBio assumiu como

18
prioridades: I) a revisão da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da Fauna (MMA,

2008) e II) a elaboração de Planos de Ação para as espécies já listadas.

Data de 1968 a primeira lista brasileira de espécies ameaçadas, elaborada pelo

extinto Instituto Brasileiro do Desenvolvimento Florestal – IBDF. À época, apenas 45

espécies de vertebrados apareciam sob esta condição. Desde então, tais listagens são

periodicamente revistas e ampliadas, dando origem às listas oficiais, cada vez com mais

espécies e contemplando mais grupos taxonômicos. Entretanto, somente em 1998 o

IBAMA lista o primeiro peixe ameaçado. Atualmente, a Instrução Normativa IN MMA

n.05 de 2004 é que dispõe sobre as espécies de peixes e invertebrados aquáticos

ameaçados de extinção e sobreexplotação (Tabela 1).

Tabela 1 – Histórico das listas oficiais de espécies ameaçadas de extinção da fauna


brasileira já publicadas. Fonte: IBAMA, 2010.

O CEPTA, centro especializado do ICMBio, sediado em Pirassununga/SP,

possui atuação em todo território nacional e dentre sua nova missão está a de gerar e

difundir conhecimentos técnicos e científicos para a conservação da biodiversidade de

peixes continentais. Assim, o CEPTA, rebatendo a missão institucional do ICMBio,

19
assumiu a coordenação da revisão da lista de peixes continentais ameaçados, bem como

a elaboração de Planos de Ação (PAN) para tais espécies.

Conciliando os esforços de execução de projetos já existentes na bacia do RPS, e

levando-se em conta a situação de extrema fragilidade dos ambientes e das espécies que

ali residem, optou-se para objeto do primeiro Plano de Ação o debruçar sobre a

ictiofauna nativa desta bacia, tendo como espécies-alvo aquelas constantes no Livro

Vermelho de Espécies Ameaçadas de Extinção da Fauna Brasileira. Dentre as nove

espécies de peixes ameaçadas na bacia do RPS, presentes na lista em vigor (IN MMA n.

5/2004), o surubim-do-paraíba (Steindachneridion parahybae) é aquela que apresenta a

situação mais crítica, explicada pelas características biológicas da espécie (endemismo e

populações naturalmente pequenas), e combinada com as ameaças e impactos aos quais

a espécie vem sendo submetida ao longo das últimas décadas (MMA, 2008).

1.4 Surubim-do-paraíba: espécie-alvo

Steindachneridion parahybae (Steindachner, 1877), vulgarmente conhecido

como surubim-do-paraíba (Figura 7), é um bagre de grande porte, atingindo pelo menos

60 centímetros de comprimento padrão1 (OLIVEIRA E MORAES, 1997). Endêmico da

bacia do rio Paraíba do Sul, com biologia pouco conhecida (HONJI et al., 2009), possui

características de espécie migratória (GARAVELLO, 2005). Seu hábito alimentar é

carnívoro bentófago (peixes e crustáceos). Pertence à ordem dos Siluriformes, família

Pimelodidae, que abrange todas as espécies de bagres. Tem corpo achatado, com o

dorso escuro marcado por muitas manchas pequenas e alongadas, hábitos noturnos,

repousando durante o dia ficando ativo à noite. Devido à predominância de atividade

1
Comprimento padrão é, basicamente, o maior comprimento que se pode obter de um peixe, colocando-o
numa linha reta.

20
noturna, seus olhos são pequenos e pouco eficientes, e a percepção do ambiente é

auxiliada pelos barbilhões (bigodes) (GARAVELLO, 2005).

EXEMPLAR FIXADO EM FORMOL (MZJM, 2009)

EXEMPLAR VIVO EM AQUÁRIO (MZUSP, 2010)

Figura 7 – Exemplares de Steindachneridion parahybae (Steindachner, 1877),


popularmente conhecido como surubim-do-paraíba.

“Surubim” é um termo genérico utilizado para peixes de couro, pertencentes à

mesma ordem. Em 1877, Franz Steindachner (1834-1919) adicionou a essa família o

primeiro surubim descrito pela ciência com o nome Platystoma parahybae (atualmente

Steindachneridion parahybae). Mais tarde, em 1888, dois famosos ictiologistas, Carl

Eigenmann e Rosa Smith Eigenmann, o homenagearam mudando o nome do gênero

21
para Steindachneria. Após revisões posteriores e outras descrições o gênero ainda veio a

ser alterado para Steindachneridion (MZJM, 2009).

Segundo o Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (MMA,

2008), S. parahybae recebe o status de “ameaçada”. Considerada uma das poucas

espécies nobres2 da bacia do rio Paraíba do Sul, foi outrora importante para pesca

profissional. Machado e Abreu (1952) relatam que a pesca da espécie em todo Vale do

Paraíba Paulista nos anos de 1950 e 1951 totalizou 1.898 Kg. Esse total equivale a,

aproximadamente, 400 indivíduos adultos, o que corrobora a hipótese de que a espécie

apresente, naturalmente, populações reduzidas na natureza. Entretanto, como se trata de

um peixe de fundo, é possível que os baixos valores de captura sejam resultado de um

esforço de pesca dirigido para espécies de superfície ou de meia-água. Além disso, é

sabido que o surubim prefere aqueles poções profundos, com mais de 3m de

profundidade, o que dificulta a pesca da espécie. Outra hipótese que pode ajudar a

explicar esses valores, uma vez que são desconhecidos dados de pesca anteriores a

1950, é o fato das maiores capturas terem se dado no passado, sem que tenha havido o

registro. De acordo com o recém-publicado livro da Fauna Ameaçada de Extinção no

Estado de São Paulo: Vertebrados (SMA, 2009), a espécie é considerada regionalmente

extinta no estado.

No início da década de 50 foi registrada a captura do surubim-do-paraíba em dez

municípios do vale do Paraíba paulista, desde a região do alto Paraíba, em Paraibuna,

passando pelos municípios de Caçapava, Pindamonhangaba, Aparecida do Norte,

Guaratinguetá, Lorena, Cachoeira Paulista, Cruzeiro, Lavrinhas e Queluz. A

configuração do rio nos quatro últimos municípios citados se assemelha muito às

2
Considera-se “carne nobre” aquela de coloração clara e textura firme, com sabor pouco acentuado, baixo
teor de gordura e ausência de espinhos intramusculares, o que a torna adequada aos mais variados usos e
preparos, agradando ao mais exigente e requintado paladar. Informação extraída de
www.nordesterural.com.br.

22
características ambientais mais propícias à ocorrência da espécie, tendo ocorrido nestas

regiões a captura mais expressiva (MACHADO E ABREU, 1952). Com base nestas

informações, acredita-se que a espécie tenha tido uma distribuição geográfica pretérita

em toda a bacia do rio Paraíba do Sul, estando mais presente em ambientes que se

apresentavam originalmente com corredeiras e poções (MMA, 2008) (Figura 8).

Figura 8 – Mapa de distribuição atual e pretérita da espécie Steindachneridion


parahybae. Fonte: MMA, 2008.

Registros recentes da espécie vêm sendo efetuados na calha principal do rio

Paraíba do Sul (RJ) e nos rios Pomba e Paraibuna (MG), na maioria das vezes a partir

de dados da pesca profissional. A ocorrência recente da espécie foi confirmada pela

Companhia Energética de São Paulo (CESP) em duas localidades (Figura 9). A primeira

está entre os municípios Arinos, RJ, Manuel Duarte, RJ, e Belmiro Braga, MG, a

montante de Afonso da foz do rio Preto (afluente da margem direita do Rio Paraibuna

mineiro). A segunda está entre os municípios de Rio das Flores e Vassouras, RJ, no rio

Paraíba do Sul (MMA, 2008; CANEPELLE, com. pes.).

23
Figura 9 – Exemplares de surubim-do-paraiba mantidos em cativeiro na Estação de
Hidrobiologia da CESP, em Paraibuna, SP. Foto: Danilo Caneppele.

Bizerril (1999) associa sua existência a áreas intermediárias (que tem sua

continuidade interrompida), tais como as encontradas no remanso do domínio das ilhas

fluviais e nos encontros de rios. No rio Pomba, próximo à cidade de Laranjal (MG),

entre janeiro e outubro de 2002, foram registrados, junto a pescadores locais, 30

exemplares da espécie que indicaram que o habitat preferencial de S. parahybae

consiste em poções ou canais de rio de pelo menos 3 metros de profundidade, próximos

a fortes corredeiras (MMA, 2008).

O presente trabalho tem por objetivo subsidiar a elaboração de um Plano de

Ação para a ictiofauna ameaçada da bacia do Rio Paraíba do Sul, tendo por foco a

espécie Steindachneridion parahybae, endêmica à bacia e criticamente ameaçada de

extinção.

Secundariamente, são objetivos específicos deste trabalho i) o levantamento das

características da espécie, ii) a identificação das principais ameaças, iii) a proposição de

ações e medidas de conservação para as populações de peixes e ecossistemas da bacia

do RPS e, iv) finalmente, a sistematização dessas informações em formulário específico

de avaliação do status de conservação de S. parahybae.

24
2 MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi desenvolvido nas dependências do Centro Nacional de Pesquisa e

Conservação de Peixes Continentais – CEPTA, centro especializado do Instituto Chico

Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio, em Pirassununga, SP.

Este trabalho se encontra vinculado a dois projetos em desenvolvimento no atual

exercício do Centro, sendo eles: 1) “Monitoramento da ictiofauna ameaçada da bacia do

rio Paraíba do Sul: subsídios para conservação” e 2) “Elaboração de Plano de Ação para

as espécies ameaçadas da bacia do Rio Paraíba do Sul”, ambos coordenados pela

analista ambiental Carla N. M. Polaz, co-orientadora deste trabalho.

O levantamento das características biológicas da espécie foi realizado por meio

de revisão bibliográfica, consultando-se diferentes sítios de busca (bases de dados) e

coleções científicas especializadas, vinculadas ao Portal CAPES. A análise e

compilação desta revisão tiveram o intuito de atualizar as informações contidas no Livro

Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (MMA, 2008), contribuindo,

desta forma, para o preenchimento do novo formulário de avaliação do status de

conservação da espécie-alvo.

Esforços foram envidados para identificar os principais especialistas brasileiros

(e suas respectivas instituições) que desenvolvem pesquisas relacionadas à espécie S.

parahybae e à ictiofauna da bacia do RPS em geral. A partir desta identificação, foi

gerada uma tabela de contato, apresentada oportunamente em Anexo. Toda produção

científica cujo tema se relacionou aos objetivos deste trabalho foi igualmente registrada

nas “Referências”.

25
Para tanto, foram realizadas consultas à base de dados da Plataforma Lattes,

utilizando-se o sítio eletrônico do CNPq (www.cnpq.br > Plataforma Lattes), seguido de

contato pessoal via endereço eletrônico e/ou telefone com os especialistas.

Organizada pelo CEPTA em parceria com a CESP, nos dias 5 e 6 de novembro

de 2009, ocorreu a “I Oficina de Parceiros do Rio Paraíba do Sul”, em Paraibuna, SP.

Dentre seus objetivos estavam: a) a formação e consolidação de uma rede de parceiros

para a elaboração de Plano de Ação para as espécies ameaçadas do RPS, b) a

identificação de demais parceiros potenciais, c) a reunião de informações sobre as

espécies-alvo e d) a discussão de uma agenda interinstitucional de trabalho.

Os resultados obtidos apontaram para a necessidade de realização de uma oficina

de trabalho ampliada (Workshop), com o objetivo de reunir o maior número possível de

instituições/especialistas que têm atuado na bacia do Rio Paraíba do Sul, a fim de traçar

as principais estratégias para a recuperação de sua ictiofauna nativa, assim como dos

seus ambientes ripários. Apesar de se ter a recuperação da ictiofauna como alvo, essas

estratégias certamente beneficiarão os demais grupos aquáticos que ali residem.

Atendendo a esta demanda, entre os dias 24 e 27 de maio de 2010, foi realizado

no CEPTA, em Pirassununga, SP, o “Workshop para a Elaboração do Plano de Ação

Nacional para a Conservação das Espécies Ameaçadas da Bacia do Rio Paraíba do Sul”,

desta vez em parceria com o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Répteis e

Anfíbios – RAN/ICMBio, este também um dos centros especializados do Instituto. Os

detalhes do evento estão apresentados no item “Resultados”, em subitem específico.

As informações obtidas sobre a biologia da espécie, as condições ambientais da

bacia, e possíveis medidas de conservação e recuperação foram sistematizadas em

formulário específico, que vem sendo utilizado para a compilação de dados referente à

revisão do status de conservação das espécies de peixes continentais ameaçados de

26
extinção, também em andamento no CEPTA. Estas informações irão apoiar o processo

de revisão da lista nacional de espécies ameaçadas da fauna brasileira, assim como

subsidiaram a elaboração do Plano de Ação para o surubim-do-paraíba, em especial a

Etapa I (diagnóstico).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 A ictiofauna nativa da bacia do Rio Paraíba do Sul

Até o início da década de 1980, a fauna ictiológica da Bacia do Rio Paraíba do

Sul foi pouco estudada. Apenas Fowler (1948-51) e Britski (1970) contribuíram para

seu conhecimento preliminar, o primeiro através de uma lista compilada da literatura

dos peixes de água doce citados para o Brasil e o segundo abordando aspectos

taxonômicos dos peixes dos rios do Estado de São Paulo.

No início da década de 80, em termos de inventários faunísticos, nenhum

trabalho conhecido abrangia especificamente a bacia do rio Paraíba do Sul, à exceção

das pesquisas desenvolvidas pelo projeto “Biodetecção de Tóxicos em Sistemas

Fluviais de Utilização em Sistemas Públicos de Abastecimento”. Este projeto, com

coordenação da FEEMA e apoio do Museu Nacional do Rio de Janeiro (MNRJ),

realizou o primeiro inventário detalhado da ictiofauna da Bacia do Rio Paraíba do Sul

abrangendo o trecho UHE do Funil – Barragem de Santa Cecília (FEEMA, 1983;

NUNAN, 1983).

Alguns anos depois (1988-1990), por meio de um contrato firmado entre o

consórcio FURNAS-ENGEVIX e a UFRJ, que financiou o projeto “Levantamento da

ictiofauna do rio Paraíba do Sul e ciclo reprodutivo das principais espécies, no trecho a

jusante de Três Rios (RJ)”, coordenado pela professora Érica Pellegrini Caramaschi e

27
também com a participação do Museu Nacional do RJ, foi possível seguir com novas

campanhas de captura dessas espécies.

Foram realizadas coletas mensais entre outubro de 1988 e fevereiro de 1989, em

136 localidades envolvendo o próprio canal do RPS, mais pequenos afluentes e lagoas

marginais e as bacias dos rios Piabanha, Paraibuna, Pomba, Muriaé e Dois Rios. Os

petrechos utilizados para a coleta foram: tarrafas, redes de espera e arrasto, peneiras,

puçá para larvas e juvenis, covos, espinhel e anzol. Consultas e encomendas a

pescadores locais também foram estratégias complementares, assim como visitas a

pontos de venda de peixes.

Foram capturadas 89 espécies de peixes, pertencentes a 26 famílias e 7 ordens

(Characiformes, Siluriformes, Gymnotiformes, Cypriniformes, Perciformes,

Cyprinodontiformes e Clupeiformes). Representantes de todas as espécies foram

depositados no Museu Nacional (UFRJ). Para estudos de reprodução, foram dissecados

10.084 indivíduos de 41 espécies, entre elas nove exemplares de S. parahybae,

capturados na junção do RPS com os rios Paraibuna e Piabanha (Figura 10).

De nove exemplares, dois foram capturados com linhada (um no rio Paraibuna e

outro no RPS) e os demais foram capturados com rede de espera (malha 45) pela

equipe, sempre no mesmo local, em diferentes meses, em um poço fundo a jusante de

uma corredeira. Os indivíduos apresentaram comprimento-padrão variando de 24,0 a

38,0cm.

Foram registrados o sexo, estádio gonadal e conteúdo do trato digestório de sete

exemplares: cinco machos e duas fêmeas; uma fêmea de 32 cm mostrou ovócitos

vitelogênicos e um macho de 33,9 cm apresentou espermatozóides nos túbulos

seminíferos. Nos estômagos foi registrada a presença de um exemplar de Rineloricaria,

28
de uma Pimelodella e de um caranguejo Trichodactylus, mostrando que a espécie é, de

fato, carnívora.

Figura 10 – À esquerda, exemplar de S. parahybae capturado e depositado no MNRJ; à


direita, localidade de captura no rio Paraíba do Sul, defronte a Itaocara, no Domínio das
Ilhas Fluviais (largura aproximada 150m, profundidade variável, presença de ilhas de
pedra; algumas com arbustos, água clara, correnteza moderada, vegetação marginal
abundante, área urbana, pedras e areia no fundo. Coordenadas: 21º 41’S; 42º05’ W).
Fotos: Érica P. Caramaschi.

Ao final deste trabalho, que envolveu grande esforço de pesca, algumas espécies

foram consideradas “raras” em virtude das baixas capturas: Brycon insignis, Brycon

opalinus, Leporinus thayeri, Pogonopoma parahybae, Rhinelepis aspera e

Steindachneridion parahybae.

Um enfoque ecológico, enfatizando aspectos de distribuição e abundância de

peixes no trecho do médio–baixo RPS (Barra do Piraí a Atafona), foi realizado por

Araújo et al. (1995) e Araújo (1996). Alguns estudos sobre a comunidade de peixes

29
realizados nos últimos anos no RPS podem ser destacados. Técnicos da antiga

FEEMA/RJ (atual INEA - Instituto Estadual do Ambiente), coordenaram e publicaram,

em 2009, o documento “Critérios e procedimentos para o monitoramento da ictiofauna

do Rio Paraíba do Sul no trecho Funil – Santa Cecília”. Neste trabalho, que envolveu

mais de 200 amostragens em campo com captura de peixes, a equipe atualizou a relação

de espécies encontradas na calha do RPS, num trecho de aproximadamente 180 km

(INEA, 2009). A lista das espécies capturadas encontra-se no Quadro 1.

Quadro 1 – Relação das espécies (incluindo exóticas) com registro de captura na


calha do Rio Paraíba do Sul no trecho Funil – Santa Cecília. Fonte: INEA, 2009b.
CHARACIFORMES SILURIFORMES
FamíliaErythrinidae Família Loricariidae
Hoplias malabaricus – traíra Harttia loricariformes – viola
Hoplerythrinus unitaeniatus – ega, morobá Rineloricaria nigricauda. – violinha
Família Prochilodontidae Hypostomus affinis – cascudo-pintado
Prochilodus lineatus – curimbatá Hypostomus luetkeni – cascudo-preto
Prochilodus vimboides – curimbatá Rinelepis asper – cascudo-preto
Família Curimatidae Pogonopoma parahybae – cascudo-preto
Cyphocarax gilbert – sairú Família Callichthyidae
Família Anastomidae Callichthys callichthys – tamboatá
Leporinus copelandii – piau Hoplosternun littorale – tamboatá
Leporinus mormyrops – timburé Família Clariidae
Leporinus conirostris – piapara Clarias gariepinus – bagre-africano *
Família Characidae GYMNOTIFORMES
Astyanax bimaculatus - lambari rabo amarelo Família Sternopygidae
Astyanax intermedius – lambari Eigenmannia virescens – tuvira
Astyanax parahybae – lambari rabo vermelho Família Gymnotidae
Astyanax giton – lambarí Gymnotus carapo – sarapó
Brycon insignis – piabanha CYPRINODONTIFORMES
Astyanax intermedius – lambari Família Poeciliidae
Probolodus heterostomus – lambari Phalloceros caudomaculatus – guarú
Oligosarcus hepsetus – bocarra Poecilia egado – guppy *
Hyphessobrycon eques – mato grosso * SYNBRANCHIFORMES
Salminus brasiliensis – dourado * Família Synbranchidae
Família Characidae Synbranchus marmoratus – muçum
Subfamília Serrasalminae PERCIFORMES
Piaractus mesopotamicus – pacu * Família Cichlidae
Metynnis maculatus : pacu-peva * Geophagus brasiliensis –acará; acará bandeira
CYPRINIFORMES Australoheros facetus – acará-preto
Família Cyprinidae Oreochromis niloticus- tilápia do Nilo*
Cyprinus carpio – carpa-comum * Cichla kelberi – tucunaré-amarela *
SILURIFORMES Crenicichla lacustris – cabo de foice; jacundá

30
Família Pimelodidae Família Sciaenidae
Steindachneridion parahybae – surubim do Plagioscion squamosissimus - pescada-do-Piauí*
Paraíba
Pseudoplatystoma corruscans – pintado * Pachyurus adspersus – corvina
Rhamdia quelen – bagre
Pimelodus maculatus – mandi amarelo
Pimelodus fur – mandi branco
Família Auchenipteridae
Trachelyopterus striatulus – cumbaca
Glanidium melonopterum – cumbaca
* Espécies introduzidas e/ou exóticas.

A composição da ictiofauna original só pode ser determinada com base na

experiência de especialistas em ictiologia, em dados históricos e bibliografia científica

específica na qual foram obtidos os seguintes resultados sobre a composição da

ictiofauna da bacia do RPS (Figura 11):

 Total geral de espécies = 127


 Total de espécies nativas da bacia = 115
 Total de espécies exóticas introduzidas na bacia = 12
 Total de espécies nativas que ocorrem na calha principal = 47
 Total de espécies introduzidas que ocorrem na calha principal = 12
 Espécies que ocorrem somente em afluentes e lagoas da bacia = 68

Figura 11 – Distribuição preferencial de habitats da ictiofauna registrada no Rio Paraíba


do Sul, no trecho Funil – Santa Cecília. Fonte: INEA, 2009b.

31
Anteriormente à ocorrência do vazamento de endosulfan no RPS, em novembro

de 20083, foram realizadas amostragens qualitativas para inventário da ictiofauna na

região. Essas amostragens permitiram registrar a ocorrência do surubim-do-paraíba na

região de Floriano, em Resende/RJ. Nessas amostragens foram capturados quatro

exemplares, sendo: um em 13/07/2004, um em 30/10/2004 pelo convênio FECD/CSN;

um em 03/11/2008; e um em 04/11/2008 pela ARMP/FEEMA (INEA, 2009a).

A última campanha (03-04/11/2008), realizada pouco antes do vazamento, tinha

o objetivo de capturar exemplares vivos para reforçar o plantel de reprodutores da

Estação de Hidrobiologia e Aqüicultura – EHA de Paraibuna da CESP. Nesta campanha

participaram técnicos do CEPTA/ICMBio e técnicos da EHA/CESP. Para a captura,

foram utilizadas redes de espera armadas em pontos específicos de conhecida

ocorrência do surubim. Infelizmente, não foi possível retirar com vida os dois

exemplares capturados (Figura 12). Um deles, entretanto, encontrava-se em condições

de ser fixado e destinado à coleção do MNRJ.

Figura 12 – Fixação com formol de exemplar de surubim-do-paraíba capturado em rede


de espera (à esq.); à direita, cabeça de surubim-do-paraíba predado na rede, Resende/RJ.
Foto: Carla N. M. Polaz, 2008.

3
Maiores detalhes no item 3.2.4 Acidentes ambientais.

32
Com a ocorrência do acidente químico e conseqüente mortandade de peixes, o

local ficou praticamente descartado como possível fonte de reprodutores, constituindo

uma perda irreparável para programas de recuperação das espécies ameaçadas do Rio

Paraíba do Sul.

3.2 Principais ameaças à ictiofauna do Rio Paraíba do Sul

3.2.1 Poluição Hídrica: esgotos domésticos e efluentes industriais

O tratamento de esgotos domésticos na bacia do RPS é ainda bastante incipiente.

De acordo com a Agência Nacional de Águas - ANA, uma das maiores fontes de

poluição dos recursos hídricos da bacia do RPS decorre do baixo percentual de

tratamento dos esgotos coletados. As redes de coleta atendem, atualmente, a cerca de:

81,9%, 45,0% e 48,5% das populações urbanas, respectivamente, dos Estados de São

Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais; enquanto o tratamento limita-se a apenas 10,4%,

2,0% e 1,2% das mesmas populações. Esse quadro desolador, com baixos índices de

tratamento, ocasiona intensa poluição do Rio Paraíba do Sul e dos cursos d’água que

cruzam ou tangenciam as áreas urbanas, gerando óbvios inconvenientes, inclusive a

possibilidade de disseminação de doenças de veiculação hídrica (Figura 13).

Figura 13 – Efluentes domésticos lançados sem tratamento no rio Paraíba do Sul e


afluentes. Fotos: Carla N. M. Polaz, 2008 e INEA, 2009.

33
Enquanto no abastecimento de água as empresas estaduais de saneamento ou as

prefeituras e seus serviços ou empresas de águas, procuram atender ao aumento da

demanda decorrente da expansão demográfica, promovendo a ampliação do

atendimento de forma quase continuada, o mesmo não acontece com o esgotamento

sanitário. À exceção do estado de São Paulo, onde a SABESP é a responsável pelo

esgotamento sanitário em mais de 40% dos municípios da sub-bacia paulista, a

participação da CEDAE, no Rio de Janeiro, e da COPASA, em Minas Gerais, é

praticamente nula, visto que os convênios de prestação dos serviços de saneamento

quase sempre se limitam ao abastecimento de água (FEEMA, 2005).

Quando esses serviços estão a cargo das prefeituras ou de serviços autônomos

(SAAE's), observa-se que, com poucas exceções nos três estados, não é dada a devida

importância ao esgotamento sanitário, pois se limita, quando muito, à simples coleta e

ao afastamento dos efluentes domésticos, o que é realizado, muitas vezes, por meio da

rede de drenagem pluvial.

Em relação aos efluentes industriais lançados no RPS, o principal problema é o

seu monitoramento. Mesmo considerando o licenciamento ambiental e a

obrigatoriedade das atividades industriais a se enquadrarem na legislação e normas

ambientais, o monitoramento e controle dos efluentes gerados pelas indústrias tornaram-

se ineficazes e insuficientes (INEA, 2009b).

As normas com os padrões de lançamento precisam ser revistas, devendo-se

incluir, além dos limites de concentração de poluentes específicos, limites de carga para

alguns parâmetros prioritários, principalmente para a calha do RPS. É imprescindível,

portanto, o desenvolvimento de um novo modelo de gestão para o monitoramento dos

efluentes líquidos, bem como da qualidade ambiental visando o diagnóstico e o controle

(INEA, 2009b).

34
3.2.2 Hidrelétricas e barramentos

De acordo com o Livro Vermelho (MMA, 2008), a construção de

aproveitamentos hidrelétricos e seus reservatórios são responsáveis pela alteração ou

eliminação de ambientes lóticos, expondo as comunidades biológicas a fenômenos de

predação e à ação de agentes patogênicos. Junto com o lançamento de efluentes

domésticos e industriais, sem tratamento, representam as principais ameaças para a

manutenção da biota aquática.

Além dos inevitáveis conflitos sociais, como desapropriações e deslocamentos

massivos de população, os problemas causados pelas hidrelétricas e barragens implicam

na divisão de rios em compartimentos (Figura 14) e ocasionam sérias alterações nas

características ecológicas dos segmentos da bacia hidrográfica onde cada obra está

inserida. As barragens impõem um obstáculo físico, efeito barreira, que altera habitats,

diminui a vazão original, cria regime de escoamento irregular, altera a qualidade da

água e aumenta a vulnerabilidade das comunidades de peixes. Limitam a livre

movimentação de espécies nativas migratórias para montante ou jusante do obstáculo,

reduzindo ou impedindo o seu acesso a áreas fundamentais para seu ciclo de vida. Tal

fragmentação populacional causa desequilíbrio na estrutura das populações e, a médio

prazo, provoca o desaparecimento de espécies migratórias a montante ou a jusante

(ARAÚJO & NUNAN, 2005).

Em suma, a formação de reservatórios para implantação de uma hidrelétrica

provoca modificações no fluxo de água, nutrientes e energia no meio aquático,

alterando, assim, a dinâmica dos processos hidrográficos de uma bacia. Para a

ictiofauna local, os principais impactos causados pela implantação de hidrelétricas são:

a) o desaparecimento de obstáculos naturais, importantes para reprodução de espécies

migratórias (piracema); b) a regularização da vazão dos rios, que influencia as espécies

35
que desovam em ninhos; c) a redução de matas ciliares essenciais para alimentação dos

peixes; e d) o desaparecimento das lagoas marginais, criadouro natural para eclosão de

ovos e manutenção da fase juvenil de diversas espécies de peixes (HILSDORF, 2002).

Figura 14 – Segmentação da bacia do RPS provocada pela série de reservatórios e


barramentos. Fonte: ARAÚJO & NUNAN, 2005.

Esta situação vem se agravando gradualmente na bacia do RPS, em função da

construção de novas barragens de grandes (UHEs) e pequenas (PCHs) usinas na calha

principal do rio, bem como nos seus principais afluentes (rio Preto, Paraibuna, Grande e

outros). Isto pode determinar, além de outros problemas, o desaparecimento de grande

parte das populações das espécies de peixes nativas da bacia, incluindo o aumento dos

riscos para espécies já ameaçadas, como o surubim-do-paraíba e a piabanha.(MMA,

2008).

36
Na calha do Rio Paraíba do Sul existem quatro hidrelétricas operando e uma

barragem destinada ao bombeamento de água do Sistema Light. Em adição, estão

previstos sete empreendimentos hidrelétricos nas regiões do Médio e Baixo Paraíba,

quatro deles já em construção (INEA, 2009b).

As principais hidrelétricas e barragens existentes são4:

 UHE Paraibuna, operada pela CESP, em Paraibuna, SP (1978);

 UHE Santa Branca, operada pela LIGHT, em Jacareí, SP (1960);

 UHE do Funil, operada por FURNAS, em Itatiaia, RJ (1969);

 Barragem de Santa Cecília, operada pela LIGHT, no RJ (1952);

 UHE Ilha dos Pombos, operada pela LIGHT, entre RJ/MG (1924).

Das mencionadas acima, a UHE do Funil não concluiu seu licenciamento

corretivo nem apresentou propostas de medidas mitigadoras e compensatórias

adequadas. As questões relacionadas ao sistema LIGHT e a UHE de Ilhas dos Pombos

também são problemáticas e mal resolvidas.

A barragem do Funil, construída por FURNAS, está situada no município de

Itatiaia, RJ, próxima à divisa com o estado de São Paulo. O reservatório teve início do

enchimento em outubro de 1969 e a última de suas três unidades geradoras entrou em

operação em abril de 1970. Os principais problemas atuais relacionados à barragem e ao

reservatório são (ARAÚJO & NUNAN, 2005; INEA, 2009b):

 A área do entorno permanece degradada e o acanhado reflorestamento de

FURNAS não vem atendendo às expectativas, devido à sua intenção declarada

em dividir suas responsabilidades com os proprietários do entorno, órgãos

públicos, ONGs etc;

4
Não estão incluídas as PCHs dos afluentes.

37
 Foi constatado em pesquisas realizadas nos últimos 29 anos a diminuição

drástica ou desaparecimento de várias espécies de peixes na calha do RPS, tanto

à montante como à jusante da barragem;

 Não existe intenção de FURNAS em implementar programas para proteção da

fauna aquática para manutenção da diversidade da ictiofauna nativa ou para

repovoamentos programados e controlados;

 Não existe um programa oficial de recuperação ambiental do reservatório;

 O licenciamento ambiental corretivo não foi concluído e existem dois inquéritos

em andamento nos MPs Estadual e Federal referentes às questões relacionadas

às medidas mitigadoras e de recuperação ambiental.

Merece destaque o fato do estado do Rio de Janeiro, sendo usuário de jusante,

estar totalmente vulnerável à poluição, interferências e manipulação dos recursos

hídricos pelos usuários de montante, isto é, os estados de São Paulo e Minas Gerais.

A entrada do Rio Paraíba do Sul no estado do Rio de Janeiro se dá pelo

reservatório do Funil, o qual recebe toda a carga poluente da bacia vinda do território

paulista. Há um grande engano em dizer que o reservatório do Funil funciona como um

grande “depurador” da poluição. A carga de nutrientes gerada em território paulista,

principalmente por esgotos sanitários, está transformando o reservatório em uma grande

latrina devido à excessiva produção de biomassa planctônica, inclusive de

cianobactérias (Figura 15), com um input e reciclagem interna equivalente a um enorme

lançamento de esgoto in natura. Ressalta-se também o acúmulo de poluentes nos

sedimentos finos dentro do reservatório, principalmente metais pesados, podendo-se

tornar um sério problema no futuro.

38
Figura 15 – À esquerda, paisagem de forte assoreamento instalado no reservatório do
Funil, um dos impactos ambientais mais evidentes da operação da UHE; à direita,
“bloom” de fitoplâncton registrado no reservatório em outubro/2007. Fotos: INEA,
2009.

Por sua vez, a barragem de Santa Cecília está localizada em Barra do Piraí, RJ e

foi construída pela LIGHT para transposição de água e geração de energia. Entrou em

operação em 1952. A transposição de água do rio Paraíba do Sul pelo sistema da

LIGHT em Santa Cecília representou um dos piores golpes para o Rio Paraíba do Sul na

região. A vazão à jusante foi reduzida em aproximadamente 1/3 (um terço) do volume

original, tendo o rio Piraí tido o seu curso invertido através do reservatório de Santana,

em Barra do Piraí, daí sendo empurrado pelas águas do rio Paraíba e bombeado para o

Reservatório de Vigário, em intervenção que formou ecossistemas isolados na bacia

(Figura 14). A barragem também criou um obstáculo para a livre movimentação das

espécies de peixes, principalmente das migratórias (ARAÚJO & NUNAN, 2005).

Essas intervenções isolaram a Bacia do Rio Piraí, e ainda não existem dados

científicos quantitativos definindo a real situação da ictiofauna a jusante de Santa

Cecília, entre Barra do Piraí e Três Rios. Entretanto, há intenção da empresa em firmar

uma parceria com o Museu Nacional do RJ e com o INEA para monitoramento do RPS

e reservatórios e definição uma estratégia para criação de um programa de

repovoamento sistemático para manutenção das espécies de peixes nativas da região

(INEA, com. pes.).

39
A UHE de Ilha dos Pombos foi construída pela LIGHT na região de Além

Paraíba, MG, e Carmo, RJ. Entrou em operação em 1924. Em 1994, procurando pôr fim

à mortandades de peixes na época da piracema, em razão do acúmulo de cardumes junto

à barragem, foi construída uma escada de peixes para permitir a subida de espécies de

migração de longa distância para locais de desova rio acima. Porém, pode-se considerar

que houve um grande equívoco na criação de “um caminho” com o intuito de resolver o

problema da migração das populações das espécies de piracema já estabilizadas à

jusante da barragem de Ilha dos Pombos: a) na região do Baixo Paraíba existem outras

rotas de migração que permitem certo equilíbrio na manutenção dessas populações

(Rios Pomba, Dois Rios e Muriaé); b) a escada permitiu a migração dos peixes rio

acima, mas sem volta, desfalcando os cardumes à jusante; e c) parece que não

consideraram a possível construção do Complexo Anta/Simplício (ARAÚJO &

NUNAN, 2005).

De acordo com o INEA (2009), responsável pelo licenciamento das futuras

unidades hidrelétricas, os prováveis impactos no estado do RJ serão: a) eutrofização; b)

impacto na economia local, dependente da pesca, nas regiões de Itaocara/São Fidélis e

toda a bacia à jusante inclusive dos principais afluentes (Pomba, Muriaé, Dois Rios e

formadores); c) redução da pesca em virtude da redução/extinção de populações de

espécies migratórias à jusante e inibição da migração de espécies anádromas (migram

do mar para o rio na época da desova); d) redução da pesca, ocasionada pela

redução/extinção de populações de espécies migratórias à montante, principalmente nos

rios Paraibuna e Preto, onde provavelmente ainda existem espécies em extinção como o

surubim-do-paraíba; e) extinção definitiva das populações da “lagosta do Paraiba”

(Macrobachium carcinus), criticamente ameaçadas.

40
Em relação às hidrelétricas planejadas ou em construção pode-se mencionar5:

 PCH de Queluz, SP – 30MW (em construção, Figura 16);


 PCH de Lavrinhas, SP – 30MW (em construção, Figura 16);
 Complexo PCH Anta/UHE de Simplício, RJ/MG – 333MW (em
construção);
 UHE de Itaocara, RJ – 195MW (leilão ganho pela Light, revisão do
EIA/RIMA);
 PCH de Barra do Pomba, RJ – 80MW (depende de leilão da ANEEL);
 PCH de Cambucí, RJ – 50MW (depende de leilão da ANEEL).

Figura 16 – Construção de duas Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) no rio Paraíba


do Sul, no trecho entre os municípios de Queluz e Lavrinhas/SP. Fonte: INEA, 2009.

Os impactos ambientais e sociais das hidrelétricas invariavelmente se revelam

irreversíveis, e as medidas mitigadoras muitas vezes acabam se limitando a meras ações

indenizatórias, que não compensam a perda de identidade cultural das populações

afetadas, muito menos a extrema degradação ambiental provocada pelos

empreendimentos. Ao alterarem a qualidade ambiental à jusante, devido à manipulação

dos recursos hídricos, findam por influenciar significativamente a qualidade de vida dos

5
Da mesma forma, não estão incluídas as PCHs planejadas nos afluentes. Segundo o INEA (com. pes.), o
licenciamento ambiental dessas unidades é altamente questionável.

41
usuários, obrigando, em muitos casos, as populações ribeirinhas a se readaptarem às

novas condições, o que significa mudanças de comportamento ou mesmo perda de

tradições culturais.

3.2.3 Transposição

Como já mencionado, as florestas primitivas da bacia do RPS foram

sistematicamente devastadas, influenciando diretamente na produção de água. Essa

situação é particularmente preocupante nesta região, ao se considerar as demandas

futuras de água. No Rio de Janeiro, o rio Paraíba do Sul é o principal manancial de

águas lóticas, com extensão de aproximadamente 1.000 km, e abastece cerca de 80% do

suprimento de água da população de aproximadamente 10 milhões de pessoas da área

metropolitana do Grande Rio, sendo também responsável por cerca de 20% da produção

de energia hidrelétrica. Por tão grande importância para o Estado, justifica-se a adoção

de medidas de controle e ações preventivas e de acompanhamento permanente da

qualidade da água (FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA, 2009).

Entretanto, envolvendo os Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro,

está em discussão a nova transposição do RPS, promovido principalmente pelos Estados

Bandeirante e Fluminense, em especial para atender suas regiões com maiores

demandas. Já consta uma primeira transposição em Barra do Piraí (RJ) e, o projeto

recente prevê a captação em cabeceira, onde a água é de altíssima qualidade (REVISTA

CEIVAP, 2010).

A transposição de rios não é um assunto novo na história humana. O aumento

populacional, a facilitação de obtenção da água, transporte, agricultura e até mesmo

desertificação regional, conceberam idéias e obrigaram populações inteiras a buscar

soluções no remodelamento hidrográfico para atender suas necessidades. Atualmente,

42
pelo menos outros dois motivos engrossaram esta lista: a industrialização e a produção

energética (REVISTA CEIVAP, 2010).

Ocorre, no entanto, que do ponto de vista ambiental, em pouco ou nada houve de

progresso, ou seja, os motivos e os resultados são praticamente os mesmos, a

necessidade da água e o impacto ambiental, que pelo visto, não mudaram. No Brasil,

causa debates acalorados a transposição do rio São Francisco e Amazonas, para atender

população assolada pela seca na região nordeste do país.

No caso do atual projeto no RPS, representantes da sociedade civil e da

iniciativa privada entendem que a transposição é inevitável, em face da proximidade

com a região metropolitana paulista e a redução de custos. Mesmo assim, têm-se

conseguido êxito em adicionar à pauta uma discussão mais séria a respeito do impacto

ambiental ao ecossistema da região. Estudos iniciados recentemente a pedido dos

governos envolvidos foram objetos de crítica ante aos laconismos ambientais

apresentados somente após questionamentos do setor ambiental (REVISTA CEIVAP,

2010).

3.2.4 Acidentes ambientais

O histórico de acidentes ambientais é antigo: há mais de um quarto de século o

rio Paraíba do Sul e seus afluentes vem sofrendo com desastres ambientais. Diante deste

quadro já foram elaborados vários planos de recuperação para o Rio Paraíba do Sul,

sendo que o primeiro data de 1982, através do Decreto Nº 87.561 de 13 de setembro

de1982.

Entre os desastres ambientais, destaca-se a ocorrência de alguns de extrema

gravidade (INEA, 2009a):

43
 1977 - Rompimento do dique de contenção da lagoa da Companhia Paraibuna de

Metais em Juiz de Fora, MG, contaminando os Rios Paraibuna e Paraíba do Sul

com metais pesados;

 1982 – Vazamento da Cia. Paraibuna de Metais, com o rompimento de um dique

de contenção de rejeitos no Rio Paraibuna, que carreou resíduos de metais

pesados (cromo e cádmio) e outras substâncias tóxicas, contaminando o Rio

Paraíba do Sul desde a confluência com o Paraibuna até a foz;

 1984 – Acidente rodoviário em que um caminhão despejou 30 mil litros de ácido

sulfúrico no Rio Piabanha;

 1988 – Vazamento de óleo ascarel diluído em 3000 litros de água utilizada para

apagar o incêndio de transformadores na Thyssen Fundições;

 1989 – Acidente com um caminhão tanque de metanol que despejou o produto

no rio, na altura de Barra do Piraí;

 2003 – Rompimento do dique de contenção da lagoa de rejeitos da Cia de Papel

Cataguases, em Cataguases, MG, contaminando os Rios Pomba e Paraíba do Sul

com o “licor negro” altamente alcalino proveniente dos processos de fabricação

do papel. Estima-se que vazaram mais de 20 milhões de litros de soda cáustica

no Rio Pomba. Acidentes de menores proporções ocorreram também em 2006 e

2007, sob a responsabilidade da mesma indústria.

 2007 - Rompimento do dique de contenção de bauxita da Mineradora Rio

Pomba em Miraí, MG, em 2007 contaminando os Rios Fubá, Muriaé e Paraíba

do Sul.

 2008 – Em 18 de novembro, o Rio Pirapetinga, afluente do Rio Paraíba do Sul,

foi atingido por um vazamento de cerca de oito mil litros do produto químico

endosulfan, causando grande mortandade de peixe (Figura 17) ao longo de mais

44
de 400 quilômetros na bacia. Desta vez a empresa Servatis S.A., localizada no

município de Resende/RJ, foi a responsável pelo acidente.

Figura 17 – Barragem da Usina Hidrelétrica de Ilha dos Pombos, localizada entre os


municípios de Volta Grande, MG e Carmo, RJ (à esq.). Mortandade de peixes na praia
da Ilha da Convivência, São Francisco do Itabapoana, em 27 de novembro de 2008 (à
dir.). Fotos: FIPERJ, 2008.

O endosulfan é um organoclorado, altamente tóxico, usado na produção de

pesticidas e inseticidas (Figura 18). Cabe ressaltar que os compostos organoclorados

foram proibidos no Brasil pela Portaria Nº 329 de setembro de 1985 (Brasil, 1985),

devido a sua alta persistência e toxicidade (FIPERJ, 2008).

Figura 18 – Espécimes capturados ainda com vida nas primeiras horas da chegada do
produto tóxico no município de Itaocara, RJ (à esq.). Exemplar de dourado (Salminus
brasiliensis) morto pelo endosulfan (à dir.). Fonte: Projeto Piabanha, 2008.

45
3.2.5 Introdução de espécies exóticas

Reconhece-se hoje que a introdução de espécies exóticas é uma das principais

causas de perda de biodiversidade no mundo, ocasionando a diminuição de populações

naturais e atingindo casos extremos de extinção local ou total de espécies

(VALLADARES-PÁDUA et al., 2006). Registros da ocorrência de espécies exóticas na

bacia do RPS são conhecidos desde a década de 1940 (ARAÚJO, com.pes.).

No trabalho de monitoramento da ictiofauna, conduzido pelo INEA e

mencionado anteriormente, consideraram-se “espécies nativas” aquelas com registro

científico comprovado na região e depositados no acervo do Museu Nacional do RJ. Da

mesma forma, são consideradas espécies exóticas aquelas com registro científico

comprovado na região, também depositadas em acervo específico, porém, originárias de

outras bacias brasileiras ou de outros países (Figura 19).

Figura 19 – Composição da ictiofauna nativa e exótica registrada no Rio Paraíba do Sul,


no trecho Funil – Santa Cecília. Fonte: INEA, 2009.

Quanto à introdução de espécies exóticas na bacia do Rio Paraíba do Sul, a

maior responsabilidade cabe às atividades de piscicultura e empreendimentos do tipo

46
pesque-e-pague. Acidental ou propositalmente, introduziram pacus, carpas e outros

peixes em toda a área da bacia de drenagem. Considerando a deficiência da fiscalização,

são prováveis novas introduções em curto prazo na calha principal do rio. O dourado

(Salminus brasiliensis) foi introduzido na bacia do Rio Paraíba do Sul em 1945,

provocando um sensível desequilíbrio na fauna ictiológica nativa em razão de seus

hábitos predatórios (Figura 20). Por ser, contudo, espécie que migra por longas

distâncias para desovar, o dourado está hoje praticamente extinto no trecho Funil –

Santa Cecília. Já o muçum (Synbranchus marmoratus) e o morobá (Hoplerythrinus

unitaeniatus) não eram registrados no trecho há até poucos anos atrás, sendo as causas

de seu aparecimento (ou talvez “reaparecimento”) tema de especulações (INEA, 2009).

Figura 20 – Exemplos de espécies exóticas encontradas na bacia do Rio Paraíba do Sul:


da esquerda para a direita, a) Salminus maxillosus, dourado; b) Cichla monoculus,
tucunaré; c) Hyphessobrycon eques, mato-grosso; e d) Ctenopheringodon idella, carpa
capim.

Algumas espécies, como o tucunaré (Cichla kelberi), o pacu-peva (Metynnis

maculatus), o pacu (Piaractus mesopotamicus) e o pintado (Pseudoplatystoma

corruscans) têm limitadas possibilidades de se estabelecerem como populações viáveis

na calha principal e afluentes do Paraíba do Sul. O tucunaré e o pacu-peva preferem

ambientes lênticos; o pacu, o tambaqui e o pintado são espécies migratórias de longa

distância demandando áreas de inundação e lagoas para se reproduzirem, feições não

mais existentes entre as duas barragens (Funil e Santa Cecília). Dentre todas as espécies

introduzidas, o mandi-amarelo (Pimelodus maculatus) é a única que vem demonstrando

47
grande capacidade de adaptação e resistência às pressões humanas na região,

competindo com as espécies nativas de fundo e provocando um desequilíbrio nas

populações dessas espécies (INEA, 2009b).

3.2.6 Doenças e ictioparasitos

Peixes são uma importante ferramenta de avaliação da qualidade ambiental. Em

estudo realizado na bacia do Rio Paraíba do Sul, Araújo (1983) salientou que as

atividades antrópicas têm exercido uma profunda e, normalmente, negativa influência

nos peixes de água doce, dos menores córregos aos maiores rios. O conhecimento do

efeito de poluentes encontrados no ambiente sobre os organismos aquáticos é

principalmente derivado de experimentos sobre mortalidade, que são freqüentemente

realizados em curtos períodos de tempo.

Influências antropogênicas nas propriedades físico-químicas da água, como as

descargas diretas de indústrias e contaminantes, metais pesados ou hidrocarbonetos

clorados, foram relatadas por Iger e colaboradores (1994) em concentrações que podem

levar a fracasso reprodutivo e morte, e assim ao desaparecimento de populações de

peixes e outros organismos aquáticos. Doenças como tumores, neoplasias e câncer são

cada vez mais comuns em peixes e podem estar relacionadas a uma enorme diversidade

de fatores (genéticos, físico-químicos, infestação por vírus, bactérias e parasitos, etc.).

O RPS apresenta um número expressivo de peixes com anormalidades

associadas a uma variedade de poluentes (ARAÚJO, 1983). A frequência de peixes com

tumores, lesões nas nadadeiras ou deformidades, parasitas e outros indicadores de

doenças ou anomalias (Figura 21) pode ser um fator útil na classificação do grau de

impacto de um ambiente, servindo como indicadores de qualidade ambiental.

48
Figura 21 – Anomalia (tumor) possivelmente relacionada à contaminação da água (à
esq.) e infestação de ectoparasitos (sanguessugas) registrada em cascudo durante
coleta de peixes no Rio Paraíba do Sul (à dir.). Fonte: INEA, 2009 e Carla N. M.
Polaz, 2008.

As anomalias em peixes do RPS (trecho Funil – Santa Cecília) começaram a ser

estudadas a partir de 1980 (FEEMA, 1983), sendo sua investigação um dos principais

objetivos dos estudos solicitados e supervisionados pela CPDMA da ALERJ. Os dados

referentes à freqüência de ocorrência de indivíduos anômalos são importantes para a

avaliação das condições ambientais do RPS.

Anomalias são efeitos morfológicos observáveis, decorrentes de processos

patológicos de origem química, biológica ou de outra natureza. Manifestam-se em

peixes sob a forma de deformidades anatômicas, erosão de nadadeiras, lesões

histológicas e tumores (INEA, 2009b).

As espécies de peixes que demonstraram ser mais susceptíveis às pressões da

poluição hídrica no trecho Funil - Santa Cecília são: Hypostomus affinis (cascudo

amarelo), Hypostomus luetkeni (cascudo preto), Leporinus mormyrops (timburé),

Pimelodus maculatus (mandi guaçú) e Astyanax bimaculatus (lambari) (ARAÚJO &

NUNAN, 2005).

A percentagem de peixes apresentando externamente evidência de doenças ou

anomalias deve ser utilizada em avaliações de qualidade ecológica. Deve-se, entretanto,

assumir alguns cuidados na interpretação dos dados, principalmente no que se refere à

49
tendência de associar as anomalias unicamente à poluição química industrial. As

condições sanitárias ruins provocadas pelos esgotos domésticos, contendo também

efluentes de outras atividades poluidoras como: oficinas mecânicas, postos de gasolina,

hospitais, clínicas, pequenas indústrias que lançam na rede pública de esgoto etc,

representam também um peso enorme nos efeitos adversos sobre a ictiofauna (ARAÚJO

& NUNAN, 2005).

3.2.7 Outros impactos

Além dos impactos descritos acima, alguns outros contribuem para aumentar o

grau de ameaça ao qual a bacia do RPS está exposta. A exploração da agricultura em

algumas regiões, a pecuária extensiva e a expansão urbana desordenada (Figura 22)

potencializaram o desgaste dos solos, o que vem acentuando os processos erosivos em

curso na bacia (INEA, 2009b).

Figura 22 – Ocupação irregular e desordenada das margens do Rio Paraíba do Sul,


denunciando a falta de controle e fiscalização do Estado. Fotos: Carla N. M. Polaz,
2008 e INEA, 2009.

Apesar de tão necessária, a mata ciliar vem desaparecendo muito rapidamente

em praticamente toda a bacia do RPS (Figura 23). A ocupação das várzeas por

plantações e pastagens, o despejo de enormes quantidades de lixo e esgotos nos rios, a

50
falta de planos para a utilização racional e adequada das florestas, além de agravarem o

problema das enchentes, reduzem a produtividade agrícola e provocam o acúmulo de

material nas barragens e nos fundos dos rios.

Figura 23 – Degradação da mata ciliar na região de Carangola, MG. Foto: Gláucia


Drummond.

Esse assoreamento ocasiona, em muitos casos, a redução no número de peixes

nos corpos d´água. Com a diminuição da profundidade dos rios, os peixes passam a ter

dificuldades de encontrar alimento, visto que é principalmente no fundo dos rios onde

vivem os organismos que os peixes consomem. O assoreamento também provoca a

morte de bactérias e algas que necessitam de oxigênio e faz proliferar outros organismos

que liberam substâncias tóxicas na água (INEA, 2009b).

Outros trechos da bacia do RPS sofrem com atividades muitas vezes

clandestinas de extração mineral, especialmente de saibro, brita e areia (os chamados

“areiais”) (Figura 24). Um dos principais problemas, além da falta de licenciamento

ambiental, é a exploração além da capacidade de suporte dos rios da bacia. No trecho

Funil – Santa Cecília, por exemplo, a reposição de areia está limitada à bacia drenante, à

jusante da barragem do Funil, a qual não recebe mais a contribuição da bacia paulista de

montante. Garimpos clandestinos também são comuns (Figura 25) (INEA, com.pes.).

51
Figura 24 – Equipamentos utilizados na extração de areia (“areiais”) do leito do Rio
Paraíba do Sul e afluentes. Fotos: INEA, 2009.

Figura 25 – Garimpo clandestino no Rio Paraíba do Sul. Fonte: INEA, 2009.

A disposição inadequada de Resíduos Sólidos Urbanos é também um grande

problema a ser enfrentado pelos municípios da bacia do RPS. Depósitos irregulares de

lixo são comuns em toda a extensão da bacia, particularmente nas regiões

metropolitanas, onde a geração per capita é maior. Além do lixo já carregado para os

rios pela chuva, muitos locais se tornam verdadeiros “lixões” a céu aberto (Figura 26).

52
Figura 26 – Pontos de poluição do rio Paraíba do Sul. À esquerda, carreamento de
lixo misturado à matéria orgânica; à direita, áreas de disposição inadequada de resíduos
(“lixões”). Fonte: INEA, 2009.

Entre as medidas que devem ser incentivadas merecem destaque o tratamento

adequado de efluentes domésticos e industriais, a preservação das matas ciliares, o

aumento da complexidade estrutural de ambientes alterados (como os reservatórios) e

principalmente a manutenção de trechos de rios com suas características originais.

Diante de todos esses problemas, é grande o desafio de recuperar a bacia do Rio

Paraíba do Sul. Entretanto, algumas ações relativamente simples, como o tratamento

dos efluentes domésticos (que depende basicamente da vontade política dos gestores),

podem fazer diferença em termos de melhoria da qualidade ambiental.

Outras medidas, mais direcionadas à conservação das comunidades de peixes,

são discutidas nos itens a seguir.

53
3.3 Medidas de Conservação e Ações de Recuperação

3.3.1 Elaboração de Planos de Ação para Espécies Ameaçadas

Para a elaboração do primeiro Plano de Ação, em decorrência de um projeto em

parceria com a equipe da CESP Paraibuna/SP e do INEA/RJ, a bacia do Rio Paraíba do

Sul foi escolhida como ponto de partida, uma vez que concentra grande quantidade de

espécies sob forte ameaça.

Dentre essas espécies se encontram o surubim-do-paraíba (Steindachneridion

parahybae), a pirapitinga-do-sul (Brycon opalinus) e a piabanha (Brycon insignis)

(Figura 27), assim como representantes de outros grupos taxonômicos, como o cágado-

de-hogei (Mesoclemmys hogei).

Figura 27 – Espécies ameaçadas (IN MMA nº05/2004) e endêmicas à bacia do rio


Paraíba do Sul. À esquerda, a pirapitinga-do-sul Brycon opalinus (Cuvier, 1819); à
direita, a piabanha Brycon insignis (Steindachner, 1877). Foto: Carla N. M. Polaz, 2008
e Projeto Piabanha, 2009.

Nos dias 5 e 6 de novembro de 2009, foi realizada em Paraibuna/SP, uma

reunião entre os parceiros para a definição das diretrizes que nortearão a elaboração e

implementação deste plano. Representantes de 12 instituições estiveram presentes,

54
sendo elas: CEPTA e RAN (ICMBio); Centrais Energéticas de São Paulo – CESP;

Instituto Estadual do Ambiente – INEA; Universidade Mogi das Cruzes – UMC;

Universidade de São Paulo – USP; Museu de Zoologia da USP – MZUSP; Projeto

Piabanha; Fundação Biodiversitas; Light/CEMIG; Consultoria Ambiental Ecology

Brasil e o facilitador do Grupo de Especialistas da União Internacional para

Conservação da Natureza – CBSG SSC IUCN (Figura 28).

Reunidos em um grupo único, os participantes discutiram a missão do futuro

Plano de Ação, que foi definida como: “Recuperar e manter as espécies ameaçadas

de peixes e quelônios da bacia do Rio Paraíba do Sul” (Figura 28).

Figura 28 – Participantes da I Oficina de Parceiros do Rio Paraíba do Sul, realizada nos


dias 5 e 6 de novembro de 2009, em Paraibuna, SP (à esq.) e registro de dinâmica de
grupo realizada para definição da missão do Plano de Ação e espécies-alvo (à dir.).
Fotos: CEPTA, 2009.

Após o estabelecimento da missão, foram discutidas quais as espécies que

seriam alvo do Plano. Sobre isto, foi posto que:

1. De acordo com o Livro Vermelho da Fauna Ameaçada de Extinção, publicado

em 2008 pelo Ministério do Meio Ambiente, existem 37 espécies de

vertebrados oficialmente ameaçados de extinção, em nível nacional, na bacia

55
do Rio Paraíba do Sul, sendo: nove mamíferos, 14 aves, um réptil, quatro

anfíbios e nove peixes.

2. Destes, considerando a atuação institucional dos dois Centros Especializados do

ICMBio – CEPTA e RAN – envolvidos diretamente na elaboração do

documento-base que subsidiará o Plano de Ação, num primeiro momento, o foco

se dará sobre as espécies de peixes e répteis listados.

Os quadros 2 e 3 ilustram tais espécies, como também trazem o status de ameaça

das mesmas, tendo como balizador as categorias e critérios adotados pela União

Internacional para a Conservação da Natureza - IUCN.

Em plenária, o grupo listou os principais critérios para a seleção das espécies

que seriam consideradas “guarda-chuva” e que, portanto, seriam as espécies-alvo

contempladas pelo Plano. O método utilizado foi a “chuva de idéias” (brainstorm). Os

critérios listados foram:

 Estar ameaçada por fatores antrópicos

 Tamanho da espécie (grande X pequena)

 Explorar diferentes habitats/ambientes (calha, riachos, corredeiras, remansos,

lagoas marginais, ilhas fluviais, mata ciliar)

 Importância social

 Valor comercial X valor ecológico

 Aspectos regionais

 Sensibilidade ecológica X conectividade da paisagem

 Migração

 Atributos biológicos

 Abordagens institucionais

56
Quadro 2 – Espécies ameaçadas de peixes listadas no Livro Vermelho (MMA, 2008)
com ocorrência na bacia do Rio Paraíba do Sul. (CR) Criticamente em Perigo; (EM) Em
Perigo; (VU) Vulnerável.
Espécie “guarda-
Espécies Nome popular Status de ameaça
chuva”
CHARACIFORMES
Família Prochilodontidae
Prochilodus vimboides (Kner, Curimbatá *Não consta na lista SIM
1859) oficial
Família Anastomidae
Leporinus thayeri (Borodin, Timburé; Piau- VU – A2ace; B2ab(iii)
1929) beiçudo
Família Characidae
Brycon insignis (Steindachner, Piabanha CR – A2ace; B2ab(iii) SIM
1877)
Brycon opalinus (Cuvier, Pirapitinga-do-Sul VU – A2ace; B2ab(iii) SIM
1819)
**Hyphessobrycon duragenys Lambari CR – A2ace
(Ellis, 1911)
Família Crenuchidae
***Characidium lagosantense Não existe. Em geral, VU – A2ace; B2ab(iii)
(Travassos, 1947) são conhecidos como
“piabinhas”
Família Poeciliidae
Phallotorynus fasciolatus Barrigudinho; Guaru EN – A2ace; B2ab(iii)
(Henn, 1916) (SP)
SILURIFORMES
Família Pimelodidae
Steindachneridion parahybae Surubim-do-paraíba CR – A2ace; B2ab(iii) SIM
(Steindachner, 1876)
Família Loricariidae
Delturus parahybae Cascudo CR – A2ace; B2ab(iii)
(Eigenmann & Eigenmann,
1889)
Pogonopoma parahybae Cascudo-leiteiro CR – A2ace; B2ab(iii) SIM
(Steindachner, 1877)
Família Heptapteridae
Taunayia bifasciata Bagrinho VU – A2ace; B2ab(iii)
(Eigenmann & Norris, 1900)

*Embora não conste no Livro Vermelho (lista nacional), esta espécie foi incluída por deliberação
unânime dos especialistas presentes.
** Presumivelmente distribuída originalmente através dos sistemas do alto rio Tietê, alto Juquiá (bacia do
rio Ribeira) e alto rio Paraíba do Sul. Entretanto, não há registros recentes conhecidos para o rio Paraíba
do Sul. O último registro no alto Tietê é de 1985, em um riacho próximo a Paranapiacaba. O registro mais
recente da espécie foi feito em um tributário do alto rio Juquiá, em 1999 (MMA/Livro Vermelho, 2008).
*** Sua distribuição pretérita relaciona-se às lagoas e ambientes lênticos da região superior da bacia do
rio São Francisco. Exemplares coletados na bacia do rio Paraíba do Sul nas proximidades da serra dos
Órgãos e nas cabeceiras do rio Paraná (bacia do Tocantins) são provisoriamente identificados como
pertencentes a esta espécie. A distribuição da espécie, hoje, encontra-se reduzida, tendo em vista a
extinção das populações nos ambientes sujeitos ao impacto urbano da região metropolitana de Belo
Horizonte e nas bacias adjacentes sujeitas aos impactos de atividades mineradoras (MMA/Livro
Vermelho, 2008). A informação de ocorrência da espécie no RPS não foi confirmada pelos especialistas
presentes.

57
Quadro 3 – Espécie ameaçada de quelônio (Chelidae) listada no Livro Vermelho
(MMA, 2008) com ocorrência na bacia do Rio Paraíba do Sul.
Espécie Nome popular Status de ameaça Espécie “guarda-
chuva
Phrynops hogei (Mertens, Cágado (RJ, ES e EN – B1ab(iii) SIM
1967) MG); Cágado-de-
Nome Atual: *Mesoclemmys hogei (RJ)
hogei
*Espécie endêmica à bacia do rio Paraíba, com distribuição conhecida no Estado do Rio de Janeiro e sul
de Minas Gerais, até o rio Itapemirim, nas regiões costeiras do Estado do Espírito Santo. Não ocorre no
Estado de São Paulo.

Paralelamente, foram identificadas as principais ameaças a que estas espécies

estão submetidas, partindo-se da visão e da experiência profissional do grupo

participante. As principais ameaças consideradas foram:

 Planos de desenvolvimento
 Poluição (doméstica, industrial, agrícola)
 Ocupação desordenada
 Esgoto
 Sobrepesca
 Falta de fiscalização
 Desmatamento
 Assoreamento
 Pescadores (seguro desemprego)
 Extração mineral
 Barramentos
 Transposição
 Outorga
 Falta de informação
 Aqüicultura (pesque-pagues)
 Espécies introduzidas
 Repovoamentos equivocados
 Legislação (condicionantes)

Combinando-se os critérios e as ameaças identificadas pelo grupo, os itens

foram confrontados com as espécies de peixes e quelônios ameaçados de extinção

58
constantes na lista oficial, compondo uma matriz de apoio à decisão (Quadro 4). Nesta

dinâmica, foram utilizadas quatro cartolinas unidas para montar um quadro grande e

visível a todos. Auxiliados pelo moderador da IUCN (Figura 13), os participantes foram

questionados quanto à pertinência dos critérios frente às espécies elencadas. Com uma

caneta-pincel, o moderador preenchia os espaços da matriz com as respostas obtidas da

seguinte forma: “X” quando a espécie era afetada/impactada por aquele critério, “0” na

situação contrária e “?” quando se confirmava desconhecimento ou incerteza científica.

O produto final (quadro completamente preenchido) foi reproduzido a seguir:

Quadro 4 – Matriz de apoio à decisão para definição das espécies-alvo do Plano de


Ação do Rio Paraíba do Sul.
Critérios/Espécies 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
a.Importância social (cult.) X X X ? ? X 0 0 0 0
b.Valor comercial X X 0 0 ? X 0 0 0 0
c.Importância ecológica (cadeia X X 0? X ? X ? ? ? X
trófica)
d.Conectividade da paisagem X X X ? ? X 0 0 0 X
(migração)
e.Sensibilidade ecológica X X X X ? X ? X X X
(tolerância)
f.Calha (princ. + afluentes) X X 0 X ? X X 0 0 X
(só afl.)
g.Riachos (tributários) 0 0 X 0 ? 0 0 X X X
h.Lagoas marginais 0? X 0 0 ? X X 0 0 0
i.Mata ciliar X X X X ? X X X X X
j.Aspectos regionais (origem) X X X X ? X 0 0 0 0
(só SP) (exc.SP)
k.Poluição X X X X ? X X X X X
l.Assoreamento (desm., extr. Min., X X X X ¿ X X X X X
ocup. Desord.)
m.Barramentos X X X X ? X X 0 0 X
n.Sobrepesca X X X 0 ? X 0 0 0 0
o.Introdução de espécies (aquicult., X X X X ? X 0? ? ? ?
repov.)
p.Falta de informação X X X X X X X X X X
Total 14 15 12 10 1 15 7 6 6 10
Espécie 1 – Surubim-do-paraíba Steindachneridion parahybae; Espécie 2 – Piabanha Brycon insignis;
Espécie 3 – Pirapitinga-do-sul Brycon opalinus; Espécie 4 – Cascudo Pogonopoma parahybae; Espécie
5 – Piau-beiçudo Leporinus thayeri; Espécie 6 – Curimbatá Prochilodus vimboides; Espécie 7 – Cascudo
Delturus parahybae; Espécie 8 – Guaru-listrado Phallotorynus fasciolatus; Espécie 9 – Bagrinho
Taunayia bifasciata; Espécie 10 – Cágado-de-hogei Mesoclemmys hogei. Espécies presentes na Lista
Estadual do Estado de SP – Cascudo do rabo seco H. loricariformis; Cascudo piririca H. gobio;
Cascudinho cabeçudo P. brachyrhyncha; Cascudinho do rabo chato P. rudolphi.

59
Para a definição das espécies-alvo, foram selecionadas aquelas com as maiores

pontuações, ou seja, maior quantidade de critérios assinalados com “X”. Além disso,

foram discutidos aspectos biológicos importantes para as espécies serem consideradas

“guarda-chuva”, principalmente o quesito “principal hábitat de ocorrência”. Optou-se

por selecionar aquelas espécies que representassem a diversidade de ambientes

existentes na bacia do RPS.

A lista final de espécies, acordada em plenária, encontra-se no quadro 5.

Quadro 5 – Espécies-alvo de peixes e quelônios com ocorrência na bacia do Rio Paraíba


do Sul pactuadas em plenária para a elaboração do Plano de Ação.
Peixes Quelônio
Surubim-do-paraiba (Steindachneridion
parahybae)
Piabanha (Brycon insignis)
Pirapitinga-do-sul (Brycon opalinus) Cágado-de-hogei (Mesoclemmys hogei)
Cascudo-do-paraíba ou caximbau
(Pogonopoma parahybae)
Curimbatá-do-paraíba (Prochilodus vimboides)

Após a definição das espécies objeto do PAN, foi elaborada uma lista preliminar

de participantes com intituições-chave para a tomada de decisão. Constaram dessa lista

as seguintes organizações: IBAMA; CEIVAP/AGEVAP; Secretarias Estaduais de Meio

Ambiente (SP, RJ, MG); Museu Nacional do Rio de Janeiro; Ministério da Pesca e

Aqüicultura; Colônias de Pescadores Z-19 e Z-21; Laboratório de Ecologia de Peixes da

UFRJ; Polícia Ambiental; Universidade Estadual do Norte Fluminense; Companhias de

geração de energia (CEMIG, FURNAS); Ministérios Públicos Estaduais e Federal;

CETESB; Agência Nacional de Águas; ANEEL; Sociedade Brasileira de Ictiologia;

ONGs (CI, SOS Mata Atlântica, Instituto Terra, Ecoanzol); EMATER Universidade

Estadual de Minas Gerais/CECO; Universidade Federal de Lavras; INPA; Indústrias

(FIESP, FIRJAN, FIEMG, CSN), EMBRAPA, INPE, Companhias Estaduais de

Abastecimento Público, Associações de Proprietários Rurais.

60
Dando prosseguimento às etapas necessárias para a elaboração de um Plano de

Ação, sendo fruto da parceria de dois centros especializados, CEPTA e RAN, foi

realizado entre os dias 24 e 27 de maio, em Pirassununga/SP, o workshop para

elaboração do Plano de Ação das espécies ameaçadas da bacia do Rio Paraíba do Sul.

Com a missão de “recuperar e manter as espécies ameaçadas de peixes e

quelônios da bacia do Rio Paraíba do Sul”, definida em ocasião anterior, o Plano terá

como alvo seis espécies ameaçadas e endêmicas, sendo cinco peixes (Steindachneridion

parahybae; Brycon insignis; Brycon opalinus; Pogonopoma parahybae e Prochilodus

vimboides) e um quelônio, o cágado-do-paraiba, Mesoclemmys hogei.

O evento contou com a presença de 20 instituições e 42 participantes (Figura

29), incluindo os analistas ambientais dos dois centros, que deram contribuições

valiosas para a elaboração do documento. O workshop foi conduzido por moderadores

do grupo de especialistas da IUCN.

Figura 29 – Participantes do Workshop para elaboração do Plano de Ação Nacional do


Rio Paraíba do Sul, realizado de 24 a 27 de maio de 2010, em Pirassununga, SP. Foto:
CEPTA, 2010.

61
Os participantes foram divididos em quatro Grupos de Trabalho, definidos a

partir do agrupamento dos principais impactos que ameaçam a conservação da bacia. O

documento construído, pactuado pelos presentes, será encaminhado à Diretoria de

Biodiversidade do ICMBio para a etapa de validação, que culmina com a publicação do

Plano de Ação no Diário Oficial, prevista para o mês de agosto de 2010.

Em anexo, encontra-se a tabela dos especialistas identificados para participar dos

eventos que levaram à elaboração do Plano de Ação para a conservação das espécies

ameaçadas da bacia do Rio Paraíba do Sul.

Dentre o conjunto de ações pactuadas entre os participantes e suas respectivas

instituições, em síntese, pode-se dizer que a recuperação e o controle da degradação

ambiental na região do RPS seja a principal medida para a conservação das espécies

ameaçadas. Listados a seguir, alguns exemplos de ações que constarão no documento

final:

 Tratamento dos esgotos sanitários e implantação de aterros sanitários adequados

em 100% dos municípios da bacia do RPS;

 Controle efetivo do lançamento dos efluentes industriais, feito com base nos

padrões estabelecidos por lei (notadamente a Resolução CONAMA 357/2005),

por meio da criação de um programa de garantia da qualidade do monitoramento

de efluentes líquidos;

 Manutenção rigorosa, por parte das empresas, dos sistemas de controle de

poluição, programas de gestão ambiental e otimização gradativa dos processos

industriais com investimentos em “tecnologias limpas”;

 Estabelecer restrições criteriosas referentes à implantação de indústrias com alto

potencial poluidor hídrico na bacia do RPS;

62
 Reavaliar a política e os critérios do licenciamento ambiental, o mapa da

biodiversidade dos estados abrangidos pela bacia, de modo a interromper a

degradação do RPS;

 Incentivar a “produção de água” na bacia hidrográfica, ou seja, a recuperação

planejada da cobertura vegetal da bacia e a recuperação de nascentes e zonas de

recarga;

 Estabelecer regras operacionais menos impactantes possíveis para a manutenção

das vazões do Rio Paraíba do Sul. Mesmo garantindo-se volumes mínimos de

água para os múltiplos usos, a qualidade ambiental e das águas da bacia estão

sendo gradativamente comprometidas;

 Identificar e avaliar os efeitos das hidrelétricas sobre a ictiofauna do RPS e

afluentes e exigir medidas mitigadoras adequadas como, por exemplo:

repovoamento e manutenção da diversidade de espécies nativas ameaçadas na

calha do Rio Paraíba do Sul;

 Controlar e fiscalizar a pesca principalmente nas áreas mais impactadas e nos

reservatórios. Concomitantemente, promover a recuperação e conservação das

áreas de influência dos mesmos;

 Estabelecer restrições criteriosas referentes à implantação de novas UHEs e

PCHs na bacia do RPS.

Destas, a reintrodução de espécies nativas (repovoamentos ou “peixamentos”

como também são chamados), apesar de se tratar de um tema particularmente polêmico,

é uma das ações necessárias enquanto medida de conservação a ser colocada em prática

em algumas situações bastante específicas. Dada a importância do tema, no item

seguinte, serão discutidos os benefícios e os prejuízos dessa técnica para a preservação e

perpetuação da ictiofauna nativa na bacia do RPS.

63
3.3.2 Repovoamentos: benefícios e limitações

A história dos repovoamentos no Brasil está intimamente ligada ao

desenvolvimento da aqüicultura, uma vez que a maioria das espécies utilizadas nessa

prática possui sua origem em estações de piscicultura. O domínio da técnica de

hipofização, desenvolvida por volta de 1930 pelo pesquisador Rodolpho Von Ihering,

que induz a reprodução através da administração de extrato da glândula hipófise,

representou um grande avanço para a piscicultura mundial e permitiu a população em

cativeiro de diversos peixes brasileiros. Desde então, o número de espécies com

potencial para piscicultura – portanto, com potencial para uso em repovoamento –

aumentou substancialmente no país, passando a incluir espécies nativas.

Os repovoamentos não se valeram apenas das espécies produzidas em

piscicultura: parcela significativa das espécies disseminadas no território brasileiro foi

simplesmente capturada em algum ambiente natural e liberada em outro (espécies

alóctones). Algumas delas passaram por um período prévio de aclimatação em estações

de piscicultura, como a corvina-de-água-doce ou pescada-do-piauí (Plagioscion

squamosissimus), o apaiari ou oscar (Astronotus ocellatus), o tucunaré (espécie do

gênero Cichla), e muitas outras mantidas nos açudes do Nordeste e depois introduzidas

em reservatórios e rios do Sul e do Sudeste do país.

Recentemente, a liberação de peixes híbridos agravou ainda mais o já confuso

quadro dos repovoamentos no país. Os exemplos mais conhecidos são os “paquis” e

“tambacus” obtidos por cruzamentos entre pacu (Piaractus mesopotamicus) e tambaqui

(Colossoma macropomum). Também é híbrida a espécie conhecida como “pintachara”

ou “cachapinta” (do gênero Pseudoplatystoma, cruzamento entre as espécies P.

corruscans e P. fasciatum), piscívora de grande porte muito cultivada para uso em

estabelecimentos do tipo “pesque-pague” e para alimentação. Existem registros de

64
captura de exemplares desses híbridos no RPS, porém, com identificação ainda não

confirmada (INEA, com. pes.).

A formulação de legislação especifica – as portarias 46, de 27de janeiro de 1971

e a 001, de 4 de janeiro de 1977, da então Superintendência do Desenvolvimento da

Pesca (Sudepe) – fez dos peixamentos uma regra a partir dos anos 70, quando essa

prática passou a ser o principal método para diminuir os impactos da construção de

barragens sobre as comunidades de peixes. As portarias tornaram obrigatória a

implantação, junto às usinas hidrelétricas, de estações de piscicultura. A definição legal

adotada para essas estações revela a baixa preocupação com os impactos ambientais: “o

conjunto de obras, instalações e equipamentos necessários aos trabalhos de pesquisa e

produção de alevinos para reposição, manutenção, substituição e ampliação dos

estoques de peixes das represas e bacias hidrográficas”. O termo ‘substituição’, por

exemplo, comprova a visão inadequada em que esse documento legal estava baseado.

Uma confirmação do uso constante dos repovoamentos foi feita por um estudo

da Universidade Federal de Juiz de Fora: de 30 Estudos de Impacto Ambiental (EIA)

realizados para usinas hidrelétricas, em diferentes estados, 25 apresentaram propostas de

mitigação de impactos e, desses, 11 recomendaram ações de peixamentos. Na

interpretação dos pesquisadores, tais ações são ineficazes, pois não há relatos de

peixamentos que tenham conseguido o retorno de espécies nativas perdidas com a

transformação do hábitat de rio para reservatório. Para agravar a situação, a maioria das

espécies introduzidas (e que conseguiram se estabelecer) em reservatórios brasileiros

veio de outros países ou de bacias diferentes daquela em que a barragem foi implantada.

Um exemplo patente é a introdução do bagre-africano (Clarias gariepinus), espécie

agressiva e com alto potencial invasor, em muitos rios e reservatórios do país.

65
A associação entre a intensa degradação dos ambientes aquáticos nas últimas

décadas e uma legislação ambiental equivocada tornou os programas de repovoamentos

a principal, e em alguns casos, única estratégia de reversão do processo de perda de

espécie em corpos d’água. Embora estas ações continuem a ser praticadas em todo o

país, são raros os estudos que avaliem sua eficiência na recuperação de espécies de

populações ameaçadas, sua relação custo-benefício o seu papel dentro de sistemas de

manejo sustentável das populações.

Os poucos estudos disponíveis até agora mostraram alterações em vários

sistemas, embora a maioria das questões continue sem repostas. A manutenção da

qualidade genética dos exemplares produzidos talvez seja um dos maiores problemas

nos programas de repovoamentos (Quadro 6). A alta taxa de sobrevivência de

indivíduos obtida nas estações de piscicultura, se comparada à da natureza, indica que

genótipos de baixa aptidão, normalmente eliminados atreves da seleção natural, serão

liberados. Como é liberada grande quantidade de indivíduos, tida como necessária para

a eficiência das reintroduções, a aptidão média dos indivíduos da população (a natural

mais a introduzida) tende a diminuir, o que altera as taxas de sobrevivência e de

renovação da população.

Outro fator que não pode ser desconsiderado é uma possível redução da

qualidade do estoque receptor, quer dizer, dos indivíduos nativos que já viviam no

ambiente, em função do aumento dos níveis de consangüinidade. Quando o

repovoamento é realizado com espécies exóticas, inúmeros problemas adicionais podem

ocorrer, inclusive a predação de peixes nativos e a introdução no ambiente de agentes

causadores de doenças que antes não existiam (HILSDORF, 2009).

66
Quadro 6 - Potenciais problemas genéticos relacionados ao repovoamento. Fonte:
Hilsdorf, 2009.
Características Problemas genéticos
Tipos de estoque
populacionais populacionais
 Populações selvagens  Ausência de
nativas ou não informações sobre a
nativas. biologia e estrutura
Doador  Populações populacional das
cultivadas. espécies.
 Populações híbridas
(selvagens x cultivadas)
 Amostra do  Perda da
estoque doador heterozigosee da
Fundador conhecido como diversidade alélica.
“plantel de  Seleção para
reprodutores”. condições de cultivo.
 Amostra do estoque  Baixos valores de Ne
fundador (número efetivo de
Reprodutor efetivamente usada reprodutores).
como parental
(geração P1)
 Geração F1 do  Efeitos de
estoque reprodutor consagüinidade e da
Repovoador
usada para soltura deriva genética
nos reservatórios.
 Populações já  Competição,
existentes no predação.
reservatório.  Introdução de
Receptor parasitos.
 Hibridação.
 Falta de adaptação
aos reservatórios.

Considera-se um repovoamento “de sucesso” aquele capaz de estabelecer uma

população introduzida em um ambiente natural. No entanto, sob o ponto de vista da

integridade dos ambientes aquáticos, isso é questionável. Embora os peixamentos

possam aumentar a disponibilidade de peixes, fato raramente demonstrado no Brasil,

eles não têm resultado na manutenção da biodiversidade ou na recuperação das funções

ecológicas, pois não são direcionados para isso (VIEIRA & POMPEU, 2001).

No Brasil, os programas de repovoamento desenvolvidos por órgãos públicos ou

concessionárias do setor elétrico indicam um aumento anual do número de peixes

liberados, como no caso da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco

67
(Codevasf). Grande parte das espécies usadas nesses programas ainda são exóticas,

evidenciando que, apesar do conhecimento dos problemas que o uso destes organismos

gera, eles continuam a ser liberados em grande proporção.

Outro exemplo que mostra a necessidade de revisão dessa estratégia está na

pesca profissional no reservatório de Furnas, situado no rio Grande, em Minas Gerais.

Estudo realizado desse reservatório mostrou que, após 17 anos de reintroduções com o

trairão (Hoplias lacerdae), essa espécie contribuía com apenas 1,9 % da população

pesqueira. O restante da população compôs-se de espécies nativas ou exóticas, que não

haviam sido objeto de repovoamentos sistemáticos (VIEIRA & POMPEU, 2001).

Dados como esses chamam a atenção para a afirmação do biólogo Ângelo

Antonio Agostinho do Núcleo de Pesquisas em Limnologia, Ictiologia e Aqüicultura

(Nupélia) da Universidade Estadual de Maringá (PR), quanto aos programas de

reintroduções conduzidos no Brasil: “Espécies erradas colocadas em locais

inadequados, de maneira equivocada e sob condições naturais não apropriadas

levaram esses esforços ao insucesso. Na maioria dos casos de introduções, os

espécimes liberados jamais foram capturados, o que obviamente significa equívoco na

alocação de esforços”.

Cabe ainda ressaltar que a maioria dos peixamentos teve ou tem como objetivo

explícito o cumprimento da legislação ou o aumento da produção pesqueira. Raras

vezes, essa estratégia foi empregada para recuperar populações que estivessem em

perigo real de extinção (VIEIRA & POMPEU, 2001).

3.3.3 Repovoamentos realizados no Rio Paraíba do Sul

Nos dias 13 e 20 de outubro de 2009, o município de Resende/RJ recebeu as

terceira e quarta ações do Programa de Recuperação da Ictiofauna do Rio Paraíba do

68
Sul, com a soltura de 47 mil alevinos (Figura 30). Os eventos foram promovidos pela

Secretaria de Estado do Ambiente, INEA e a Prefeitura de Resende. As doações dos

alevinos, das espécies curimbatá e piabanha (esta endêmica à bacia e ameaçada de

extinção) – das estações de aquicultura da CESP - vieram das empresas Votorantim

Siderurgia (13/10) e Servatis Agro e Fine Chemicals (20/10).

A Votorantim desenvolve com o INEA um projeto de avaliação ambiental do rio

no trecho Funil-Resende. Já a Servatis, empresa responsável pelo acidente com o

endosulfan, assinou convênio com o INEA, no valor de R$ 1,2 milhão, para

investimento em atividades de recuperação do rio que englobam iniciativas como a

implantação de um Centro de Conservação da Ictiofauna Nativa, a ser construído na

sede da empresa.

Figura 30 – Soltura de alevinos de espécies nativas (repovoamento) em Resende/RJ,


realizado no dia 20 de outubro de2009. Fonte: www.comiteps.sp.gov.br/noticias.html.

Antes de propor e adotar medidas que vissem à conservação dos peixes nativos é

necessário compreender melhor quais as principais ameaças a esses organismos. Os

ambientes aquáticos, que ao longo da expansão da civilização humana tem sofrido

69
alterações substanciais, talvez seja os que melhor expressam as conseqüências da

exploração e ocupação desordenada do planeta. Assim, não é difícil concluir que a

maior ameaça aos peixes e a modificação e/ou destruição dos locais onde vive.

Essa foi a constatação de um interessante estudo sobre a fauna de peixes de água

doce da América do Norte, realizado pelos ictiólogos Robert R. Muller, James D.

Willians e Jack E. Willins para o Comitê de Espécies Ameaçadas da Sociedade Norte-

Americana de Pesca. O trabalho analisou os principais fatores responsáveis pela

extinção das espécies de peixes durante um século (1889-1989) e concluiu que a

destruição dos habitats foi a causa mais frequente da eliminação de espécies. A pesca

excessiva, apontada no Brasil como agente determinante da perda de espécies, foi a

forma menos intensa de eliminação de espécies, pelos menos na avaliação dos

pesquisadores norte-americanos.

É interessante notar ainda que, embora tenham em geral o objetivo de recuperar

e/ ou incrementar a pesca, os repovoamentos estão vinculados a duas importantes causas

da redução de populações de peixes: introdução de espécies exóticas e hibridização com

outras espécies ou subespécies (VIEIRA & POMPEU, 2001).

As reintroduções certamente podem ser uma ferramenta auxiliar para a

conservação da fauna nativa de peixes das bacias fluviais brasileiras, em especial nos

casos de risco eminente de extinção de alguma espécie, como é o caso do surubim-do-

paraiba. No entanto, seu uso como ação de reparação ambiental deve ser revisto, pois

além de equivocado em muitos casos (quando os repovoamentos são realizados com

espécies exóticas ou alóctones, por exemplo), tem provocado sérios danos às

populações nativas, como a alteração da composição das comunidades de peixes e a

própria contaminação genética dos estoques naturais.

70
Fica claro, portanto, que a melhoria da qualidade e a manutenção da integridade

dos ambientes aquáticos são o caminho mais seguro para a manutenção não só da

grande diversidade de peixes existente de peixes no Brasil – a maior do mundo – mas

também de todos os organismos que vivem nos ambientes aquáticos.

3.4 Avaliação do estado de conservação de S. parahybae

Desde sua criação, em 2007, o ICMBio detém a responsabilidade de coordenar a

revisão da Lista de Espécies Ameaçadas da Fauna Brasileira. Esta tarefa é

compartilhada entre os centros especializados do Instituto, de acordo com suas

especificidades taxonômicas. Por este motivo, cabe ao CEPTA, centro especializado em

peixes continentais, coordenar o processo de elaboração da nova lista de peixes de água

doce do Brasil.

Diante desse contexto institucional, os analistas ambientais do CEPTA estão

reunindo as informações, em formulário próprio, desenvolvido a partir do modelo de

avaliação adotado pela IUCN, de cada uma das quase 2.500 espécies de peixes

continentais já descritas no país. Esses formulários, devidamente preenchidos, são

submetidos aos workshops de avaliação de espécies, momento em que estão reunidos os

maiores especialistas daqueles grupos taxonômicos em análise. Aplicando-se os

critérios desenvolvidos pela IUCN para este fim, as espécies são qualificadas para uma

das categorias de ameaça (Criticamente em Perigo, Em Perigo ou Vulnerável) ou de

não-ameaça. Por outro lado, quando há insuficiência de dados, a espécie é classificada

como DD (do inglês, data deficient).

De acordo com essa metodologia, S. parahybae qualifica para a categoria CR, ou

seja, criticamente em perigo. No estado de São Paulo, a espécie está, inclusive,

considerada como extinta regionalmente (SMA, 2009). As informações levantadas por

71
ocasião deste trabalho foram compiladas no formulário que está sendo utilizado como

guia para a elaboração das fichas de avaliação das espécies, que se segue:

1. Dados pessoais do Colaborador:

Nome completo: Lizandra Cristina Rosa Dolfini e Carla N. M. Polaz


Instituição: CEPTA/ICMBio
Data: Junho de 2010

2. Nome científico (incluir a autoria e ano):

Steindachneridion parahybae (Steindachner, 1876)

3. Sinonímias (se houve qualquer mudança taxonômica nos últimos 5 anos ou do nome
amplamente usado)
O gênero Steindachneridion, conhecido pelo nome popular de surubim, foi descrito por
Eigenmann & Eigenmann (1919) para abrigar a espécie S. amblyurum do rio
Jequitinhonha. Recentemente, o gênero foi revisto por Garavello (2005), que descreveu
uma nova espécie do rio Iguaçu, S. melanodermatum, e reconheceu S. parahybae
(Steindachner, 1877), S. doceanum (Eigenmann & Eigenmann, 1889), S. scriptum
(Miranda-Ribeiro, 1918) e S. punctatum (Miranda-Ribeiro, 1918). As espécies estão
distribuídas nas bacias do Alto rio Paraná, rio Uruguai (S. scriptum e S. punctatum), rio
Paraíba do Sul (S. parahybae), rio Doce (S. doceanum), rio Iguaçu e rio Jequitinhonha
(S. amblyurum).

4. Nomes comuns em português (se conhecidos)


surubim-do-paraíba

5. Nomes comuns em inglês, espanhol e francês (se conhecidos; colocar o nome e o


país onde ele é usado)

A espécie é endêmica à bacia do Rio Paraíba do Sul, não ocorrendo fora do Brasil.

6a. Ordem 6b. Família


Siluriformes Pimelodidae

7. Taxonomia: qualquer nota relevante sobre a taxonomia. Inclua também qualquer


informação sobre conectividade ou estratégia de dispersão, p. ex. informação genética.

A taxonomia da espécie está resolvida.

72
8. Distribuição: descreva a amplitude da distribuição em termos de países, estados,
municípios de ocorrência; use o nome de lagos, rios, bacias ou sub-bacias
hidrográficas, etc; Incluir aqui se ocorre fora de sua área de distribuição natural
(espécies introduzidas). Especificar se nos locais de ocorrência são nativos ou
alóctones (p. exemplo o tucunaré no Pantanal). Distribuição passada e presente, se
disponível. Verificar se a sua distribuição é bem conhecida e informar se a espécie
ocorre em apenas um ou mais locais.

No passado, a espécie era encontrada em toda a bacia do Rio Paraíba do Sul. Na década
de 1950, foi realizada captura em 10 municípios do Vale do Paraíba paulista (Caçapava,
Pindamonhangaba, Aparecida do Norte, Guaratinguetá, Lorena, Cachoeira Paulista,
Cruzeiro, Lavrinhas, Queluz). Todos os exemplares presentes em coleções são
provenientes do Rio de Janeiro (Garavello, 2005), tendo sido registrada recentemente a
captura de um exemplar no Rio Paraíba do Sul, em Barra Mansa, que foi depositado no
Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo. A espécie deixou de existir na
porção paulista do Rio Paraíba do Sul, sendo considerada regionalmente extinta. No
estado do RJ é encontrado na calha principal do rio Paraíba do Sul, em MG nos rios
Pomba e Paraibuna (montante da foz do rio Preto, entre Afonso Arinos/RJ, Manuel
Duarte/RJ e Belmiro Braga/MG) e no Rio Paraíba do Sul, entre os municípios de Rio
das Flores e Vassouras/RJ (MMA, 2008).

PRESENÇA ORIGEM
Vagr
Poss
Períod ante
Período Migra ivel Pres Rein Orig
o não (oco
Estados brasileiros Todo reproduti nte men ença Nati Introd trod em
reprod rrênc
ano vo passa te incer vo uzido uzid incer
utivo ia
apenas geiro exti ta o ta
apenas even
nto
tual)
Acre
Alagoas
Amapá
Amazonas
Bahia
Distrito Federal
Ceará
Espírito Santo
Goiás
Maranhão
Mato Grosso
Mato Grosso do
Sul
Minas Gerais X X
Pará
Paraíba
Paraná
Pernambuco

73
F. de Noronha
Piauí
Rio de Janeiro X
Rio G. do Norte X
Rio Grande do Sul
Rondônia
Roraima
Santa Catarina
São Paulo X X
Sergipe
Tocantins
Trindade

9. População: tamanho populacional, abundância (se a espécie é rara, comum, etc),


número e tamanho das sub populações se conhecidas, grau de fragmentação e qualidade
do hábitat. Qualquer índice de abundância relativa adequado para o táxon (captura por
unidade de esforço - CPUE; desembarque da pesca comercial, etc). Se possível verificar
se existem dados sobre a densidade populacional (local, regional). Efeitos de espécies
introduzidas, hibridação, agentes patogênicos, poluentes, competidores ou parasitas
sobre as populações naturais. Redução observada, estimada, inferida ou suspeitada do
tamanho da população. Para espécies que são explotadas existe informação de declínio
através de dados de desembarque tais como CPUE e diminuição do tamanho dos peixes
capturados ou na percentagem de captura da espécie? Há indícios de sobrepesca,
declínio na área de ocupação, extensão da ocorrência, níveis de explotação atuais ou
potenciais.

Não existem estimativas do tamanho populacional atual da espécie. Há alguns registros


isolados de capturas de indivíduos de S. parahybae, sempre em baixas quantidades (um
ou dois indivíduos). A espécie está considerada regionalmente extinta no estado de São
Paulo. A partir de dados de pesca datados da década de 1950 (Machado e Abreu, 1952),
é possível calcular uma redução de mais de 90% nas populações de surubim-do-paraíba,
o que revela a condição crítica a que estas populações estão submetidas. Atualmente, a
espécie não é alvo de pesca dirigida.

10. Tendência populacional (marque uma das seguintes):

crescente X decrescente estável desconhecida

11. Habitat e ecologia:


- Descreva o tipo de habitat em que a espécie é conhecida, incluindo profundidade
relativa (pelágica, bentônica, epipelágica, etc.) tipo de substrato em que ocorre (arenoso,
rocha, argiloso, etc.) e qualquer associação específica (mangues, áreas alagadas, brejos,
poças temporárias, etc)
- Esta espécie pode tolerar alterações no seu habitat?
- O habitat natural desta espécie muda durante seu ciclo de vida (seca e cheia, por
exemplo)?

74
- Há outros fatores ecológicos e biológicos que possam afetar a resiliência da espécie
frente às ameaças, tais como baixa taxa reprodutiva ou característica reprodutiva muito
específica?
- Qual o tipo de alimentação desta espécie na natureza (carnívora, onívora, frugívora,
insetívora, etc.)

Steindachneridion parahybae é um bagre de grande porte, atingindo pelo menos 60 cm


de comprimento padrão (Oliveira & Moraes Júnior, 1997). Seu hábitat preferencial
consiste em poções e canais de rios com 3 metros de profundidade, geralmente
associados a fortes corredeiras. Seu hábito alimentar é carnívoro bentófago, com a dieta
consistindo de peixes (Rineloricaria sp. e Pimelodella sp.) e crustáceos (Trichodactylus
sp) (Moraes Júnior & Caramaschi, 1993). O surubim-do-paraíba é presumido como
sendo um migrador, devido a resposta positiva à indução hormonal, que indica a espécie
como migradora e de desova total. Durante os trabalhos de larvicultura também foram
observados e registrados o canibalismo e a fotofobia das larvas (MMA, 2008).

12. Ameaças: descrever as principais ameaças para a espécie, e se conhecidos, o grau e


extensão dessas ameaças (perda de habitat, introdução de espécies, mudanças
climáticas, pesca, barragens, efeito de espécies introduzidas, hibridação, agentes
patogênicos, poluentes, competidores ou parasitas, degradação de habitat, etc.). Explicar
se as ameaças são locais ou regionais.

- Quando a pesca for uma ameaça importante, descreva as tendências históricas quanto
às áreas de pesca, petrechos, capturas e desembarques ao longo dos anos; se a espécie é
utilizada pela pesca artesanal ou industrial, estimativas de tamanhos de frota pesqueira
(passadas e atuais), número de pescadores dependendo desse recurso e sazonalidade da
pescaria, dados de desembarque ao longo do tempo (descrever a história desta pesca).
Esta pesca está colapsada em alguma região? Qual o valor de mercado desta espécie?

- há alguma ameaça futura para esta espécie? É possível quantificá-las?

Degradação de hábitats pela poluição, desmatamento, construção de barragens e


introdução de espécies exóticas (tucunaré, dourado, bagre-africano) são as principais
ameaças. Vazamentos químicos que provocam grandes mortandades de peixes também
têm sido recorrentes na bacia do RPS. Entre os maiores estão: Cataguases/MG, em
mar.2003, e vazamento de endosulfan, um organoclorado, pela empresa Servatis, em
novembro de 2008, no Rio Pirapetinga, afluente do Paraíba do Sul, em Resende/RJ.
Este último acidente provocou uma grande mortandade de peixes, entre os quais o
surubim-do-paraíba.

13. Ações de conservação: incluir informação sobre a presença da espécie dentro de


áreas protegidas. Citar em quais UCs ela ocorre (nome e localização).
- há alguma medida adotada que proteja esta espécie?
- há quotas ou limites de captura para ela?
- que medidas de conservação foram recomendadas (em artigos, teses, etc.) para esta
espécie ou para seu habitat?
- há indícios ou dados que mostrem que alguma medida tenha trazido bons resultados?

75
É desconhecida a ocorrência da espécie em Unidades de Conservação. Por este motivo,
o hábitat remanescente onde a espécie ocorria deve ser protegido e recuperado.
Programas de conservação ex situ e manejo in situ são necessários e já estão sendo
desenvolvidos pela Companhia Energética de São Paulo – CESP, Estação de Paraibuna,
SP, e pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Peixes Continentais,
CEPTA/ICMBio, em Pirassununga, SP. Um Plano de Ação para a Conservação das
Espécies Ameaçadas da Bacia do Rio Paraíba do Sul também está em andamento pela
equipe do CEPTA e parceiros. São ainda recomendadas mais pesquisas científicas
relacionadas à biologia e ecologia de S. parahybae (SMA, 2009).

14. Utilização: se é utilizada em piscicultura, se é espécie considerada ornamental ou se


tem outro tipo de uso (por exemplo medicinal).

No passado, a espécie foi bastante apreciada pelo sabor da carne (peixe considerado
“nobre”).

76
15. Informações sobre reprodução, crescimento e mortalidade
(especificar se os parâmetros são conhecidos, citando as referências; ou se
desconhecidos, estimados ou inferidos, indicando a fonte ou argumento para inferência)

Se houver várias fontes de informações com dados diferentes, citar todos.

Idade de primeira maturação sexual (anos) * fêmea: Desconhecida


macho: Desconhecida
Tamanho de primeira maturação sexual (CT fêmea: Desconhecida
em cm)*
macho: Desconhecida
Longevidade (anos): Desconhecida
Média da idade reprodutiva (em anos)** 2-3 anos
Se os dados acima são desconhecidos, eles podem ser estimados ou inferidos comparando-se com uma
espécie similar?
Rio onde a espécie desova (trecho do rio, se a Na calha do Rio Paraíba do Sul, em poções profundos,
informação existir) próximos a corredeiras.
Este local de desova é bem conservado? Sofre Não existe qualquer tipo de proteção nestes ambientes,
alguma ameaça? Existe alguma UC que sendo que a bacia do RPS é uma das regiões mais
protege este local? antropizadas do país.
Tamanho corporal máximo (CT em cm) L∞ Desconhecido
K (taxa de crescimento) Desconhecido
Tipo de desova: parcial, total Indícios de desova total.
Esta espécie forma pares/grupos ou cardumes para a Provavelmente não.
reprodução?
Época reprodutiva, sazonalidade (anual, mensal, etc.), se Espécie presumivelmente migradora.
é ou não reofílica
Hermafroditismo (proporção sexual na pesca e no Desconhecido
ambiente natural, tamanho da troca de sexo, tipo de
hermafroditismo, etc.)
Taxa anual de crescimento populacional (r) Desconhecida
Mortalidade natural Desconhecida
Mortalidade por pesca Desconhecida
Mortalidade total Desconhecida
* Indicar se o sexo for desconhecido, e também se a idade é do indivíduo mais novo, ou da
idade de 50 ou 100% de maturação populacional.
** Este é o tempo geracional, necessário para a utilização dos critérios de declínio populacional
da IUCN. Ver definição do termo nas instruções de preenchimento.

77
4 CONCLUSÕES

As bacias do Leste brasileiro, nas quais se insere a bacia do Rio Paraíba do Sul,

constitui a região de endemismo com o maior número de espécies ameaçadas (59). Esta

situação é parcialmente explicável devido à grande extensão territorial desta área, mas

deve-se, sobretudo, ao alto grau de degradação ambiental da região, combinado ao nível

de endemismo acentuado de sua ictiofauna (MMA, 2008). Das muitas causas e efeitos

das pressões antrópicas sobre a ictiofauna do RPS, pode-se citar:

 Perda de conexão pelas barragens do Funil e Santa Cecília causou redução

considerável ou extinção das populações das espécies migratórias de grande distância.

 Regularização de vazão do rio Paraíba do Sul e alterações nas regras

operacionais dos reservatórios, reduziram considerável das populações das espécies de

migração localizada, devido à alteração radical no sistema natural de cheias do rio, o

que provocou a extinção das áreas de reprodução constituídas pela planície de

inundação de Porto Real/Resende e foz dos afluentes do Paraíba do Sul.

 A poluição industrial causou redução das populações de várias espécies devido

aos efeitos tóxicos da água e sedimentos. Mortandades observadas até o final da década

de 1970, por descargas de efluentes altamente tóxicos de indústrias químicas da região,

lograram efeitos adversos nos peixes (teratogenia, neoplasias).

 Esgoto doméstico teve impacto em determinadas populações devido à

disponibilidade desequilibrada de alimentos (excesso de nutrientes e matéria orgânica);

aumento de indivíduos doentes e infestados por parasitas.

 Desmatamentos causaram a perda das condições naturais da bacia hidrográfica.

Diante deste cenário, a principal estratégia para conservação do surubim-do-

paraíba e de outras espécies endêmicas da bacia do RPS, que também se encontram

ameaçadas de extinção, como a piabanha e a pirapitinga-do-sul, consiste em programas

78
de recuperação ambiental dos ambientes, melhorando a qualidade da água e a

manutenção de trechos significativos de rio com as características lóticas originais.

A criação de Unidades de Conservação para proteger as populações

remanescentes, a fiscalização efetiva, a implementação de programas de Educação

Ambiental e a manutenção de bancos genéticos ex situ das espécies ameaçadas também

são estratégias importantes. Adicionalmente, é necessária a avaliação da distribuição

atual das espécies na bacia do RPS, bem como a realização de estudos acerca de suas

necessidades biológicas.

Nesse contexto é que se justifica a elaboração e publicação de um Plano de Ação

para as espécies ameaçadas da bacia do RPS. As pesquisas conduzidas pelo CEPTA e

parceiros vêm atuando no sentido de identificar quais os trechos prioritários para a

conservação destas espécies, além de gerar dados sobre a sua biologia. Estas

informações serão fundamentais para a etapa posterior de implementação do Plano de

Ação das Espécies Ameaçadas da Bacia do RPS, que se inicia logo após a sua

publicação.

5 AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem às analistas ambientais Izabel Boock de Garcia e Rita de

Cássia A. G. Rocha pelas valiosas contribuições feitas a este relatório e ao CNPq-

PIBIC/ICMBio pela concessão da bolsa.

79
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE. Fauna Ameaçada De Extinção No Estado De


São Paulo: Vertebrados / coordenação geral: Paulo Magalhães Bressan, Maria Cecília
Martins Kierulff, Angélica Midori Sugieda. -- São Paulo: Fundação Parque Zoológico
de São Paulo: SMA, 2009.

VALLADARES-PADUA, C.B.; Martins, C.S.; Rudran, R. Manejo integrado de


espécies ameaçadas. In: Métodos de estudos em biologia da conservação e manejo da
vida silvestre. Larry Cullen Jr., Cláudio Valladares-Pádua, Rudy Rudran (orgs.);
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VIEIRA, F. & Pompeu, P.S., (2001). Peixamento, uma alternativa inteligente. Ciência-
Hoje, 30(175): 28-33.

82
7 ANEXO

Relação de especialistas presentes nos eventos, Oficina de Parceiros e Workshop, que levaram à elaboração do Plano de Ação para a
Conservação das Espécies Ameaçadas da bacia do Rio Paraíba do Sul.

PARTICIPANTES INSTITUIÇÃO CIDADE TELEFONE E-MAIL


1. Alexandre Wagner Silva UMC – Universidade Mogi São Paulo/SP (11) 4798-7210 wagner@umc.br
Hilsdorf das Cruzes
2. Alexandre Pires Marceniuk UMC – Universidade Mogi São Paulo/SP (11) 4798-7210 a_merceniuk@hotmail.com
das Cruzes
3. Arnaud Desbiez IUCN/SSC Conservation Campo Grande/MS (67) 3341-4897 adesbiez@hotmail.com
Breeding Specialist Group
4. Braz Antônio Pereira Universidade Estadual de Carangola/MG (32) 3741-1969 cosenza@carangola.br
Cosenza Minas Gerais (CECO)
5. Carla Natacha Marcolino CEPTA/ICMBio Pirassununga/SP (19) 3565-1299 carla.polaz@icmbio.gov.br;
Polaz carlapolaz@yahoo.com.br
6. Carlos Eduardo Tolussi Universidade de São Paulo, São Paulo/SP (11) 3091-7521 ctolussi@gmail.com
Depto de Fisiologia Ramal: 7519/7531
7. Cíntia Coimbra ICMBio/RAN Goiânia/GO (62) 3901-1997 cintiacoimbra@hotmail.com

8. Cláudio Lopes Soares Eletrobrás Furnas Rio de Janeiro/RJ (21) 2528-3266 clsoares@furnas.com.br
(21) 9622-7789
9. Cristiéle da Silva Ribeiro Universidade de São Paulo, São Paulo/SP (11) 3091-7521 cristiele@gmail.com
Depto de Fisiologia Ramal: 7519/7531
10. Danilo Caneppele CESP – UHE Paraibuna Paraibuna/SP (12) 3974-2012 danilo.caneppele@cesp.com.br

11. Edmur Donola CESP – UHE Paraibuna Paraibuna/SP (12) 3974-2012 edmsjc@gmail.com

12. Edson G. L. Fujita AGEVAP Resende/RJ (24) 3355-8389 fujita@agevap.org.br

13. Erica Pellegrini Caramaschi Universidade Federal do RJ Rio de Janeiro/RJ (21) 2562-6332 erica.caramaschi@ufrj.br;
- UFRJ (LabEco) ericapc2001@yahoo.com
14. Érico Demari e Silva Ecology Brasil (Consult. Rio de Janeiro/RJ (21) 2108-8795 erico.demari@ecologybrasil.com.br
Ambiental)
15. Evódio Luiz Sanches Projeto Piabanha - APARPS Itaocara/RJ (22) 3861-2569 evodio-ita@hotmail.com

84
Peçanha
16. Fabiana L. Rocha Fundação Oswaldo Cruz Rio de Janeiro /RJ (21) 2598-4324 ou rochabia2@yahoo.com.br
4564
17. Fernando Regis de Siqueira APA Mananciais do Rio Caraguatatuba/SP (12) 3883-7520/ 3883- fernando.siqueira@icmbio.gov.br;
Paraíba do Sul (ICMBio) 9362 frsiqueira@gmail.com
18. Flávio Wolf Durão Light/CEMIG Rio de Janeiro/RJ wolfdurao@gmail.com

19. Gláucia Moreira Drummond Fundação Biodiversitas Belo Horizonte/BH (31) 2129-1300 glaucia@biodiversitas.org.br
20. Guilherme Souza Projeto Piabanha Itaocara/RJ (22) 3861-2569 gui.piabanha@gmail.com

21. João Alberto Cardoso de CESP - UP - Paraibuna Paraibuna/SP (12) 3974-0333 joao.oliveira@cesp.com.br
Oliveira
22. João Henrique Pinheiro Dias CESP - OAE São Paulo/SP (18) 9742-2369 joao.dias@cesp.com.br
23. José Oswaldo Junqueira CEPTA/ICMBio Pirassununga/SP (19) 3565-1299 jose-oswaldo.mendonca@icmbio.gov.br
Mendonça
24. José Roberto de Souza INEA/RJ Rio de Janeiro/RJ (24) 3354-7152 jrsa01@terra.com.br
Araujo
25. Letícia Domingues Brandão APA Mananciais do Rio Caraguatatuba/SP (12) 3883-7520/ 3883- leticia.brandao@icmbio.gov.br
Paraíba do Sul (ICMBio) 9362
26. Luiz Alberto Gaspar CEPTA/ICMBio Pirassununga/SP (19) 3565-1299 luis.gaspar@icmbio.gov.br

27. Marcelo Cardozo Demarco Superintendência do Rio de Janeiro/RJ (21) 3077-4301 marcelo.demarco@ibama.gov.br
IBAMA/RJ – Núcleo de
Pesca
28. Marcos Eduardo Coutinho RAN/ICMBio Lagoa Santa/ MG (31) 8874-6368 marcos.coutinho@icmbio.gov.br;
ranpantanal@hotmail.com
29. Marcelo Lima Reis ICMBio/DIBIO/COPAN Brasília /DF (61) 3341- 9304 mukirabsb@yahoo.com.br

30. Marcelo Marcelino de DIBIO/ICMBio Brasília /DF (61) 3341-9050 marcelo.oliveira@icmbio.gov.br


Oliveira
31. Marcelo Pedro da Cruz CESP - Viveiro de Mudas Paraibuna/SP (12) 3974-0333 marcelo.cruz@cesp.com.br
de Par.
32. Michel Bastos Silva Instituto Estadual do Volta Redonda/RJ (24) 8815-4717 micbastoss@yahoo.com.br
Ambiente - INEA/RJ
33. Miguel Ribon Junior Instituto Estadual de Belo Horizonte/MG (31) 3915 -1319/1320 miguel.ribon@meioambiente.mg.gov.br
Florestas - IEF

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34. Osvaldo Takeshi Oyakawa Universidade de São Paulo- São Paulo/SP (11) 2065-8100 oyakawa@usp.br
USP / Museu de Zoologia
35. Paula Maria Gênova de Instituto de Pesca da São Paulo/SP (11) 3726-7421 paulagc08@gmail.com; paula@pesca.gov.br
Castro Secretaria de Agricultura e (11) 7169-5331
Abastecimento do Estado de
São Paulo
36. Renata Guimarães Moreira Universidade de São Paulo- São Paulo/SP (11) 3091-7521 renata.fish@gmail.com;
USP (Depto de Fisiologia- Ramal: 7519/7531 renatagm@ib.usp.br
IB)
37. Sildecir Alves Ribeiro Secretaria Municipal de Itaocara/RJ (22) 3861-4529 sildecir@yahoo.com.br
Meio Ambiente de Itaocara (22) 9957-4757
- RJ
38. Vera Lúcia Ferreira Luz RAN/ICMBio Goiânia/ GO (62) 3901-1997 vera.luz@icmbio.gov.br
39. Wilson Oliveira Ribeiro de INEA/RJ Resende/RJ (24) 3354-7152 wilson.moura2009@hotmail.com
Moura
40. Yeda Soares de Lucena RAN/ICMBio Goiânia/ GO (62) 3901-1997 yeda.bataus@icmbio.gov.br
Bataus

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