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Relatório Final
PIRASSUNUNGA, SP
JULHO/2010
0
RESUMO
A bacia do Rio Paraíba do Sul é uma das regiões mais industrializadas do país. A forte
urbanização do eixo Rio - São Paulo ocorreu principalmente a partir da segunda metade
do século XX, desencadeando uma série de processos de degradação ambiental, o que
provocou a drástica redução das populações de peixes. O surubim-do-paraíba
(Steindachneridion parahybae) é um bagre pertencente à ordem Siluriformes, família
Pimelodidae e endêmico da bacia do Rio Paraíba do Sul. O surubim-do-paraíba consta
na Lista Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção (IN MMA n. 5/2004). Centrais
hidrelétricas e seus reservatórios são responsáveis pela alteração ou eliminação dos
ambientes lóticos ocupados por essa e outras espécies; juntamente com o lançamento
indiscriminado de esgotos doméstico e industrial, representam as principais ameaças.
Neste contexto, estudos que visem à implementação de medidas de conservação, tais
como a elaboração de Planos de Ação para espécies ameaçadas, tornam-se fundamentais
para a manutenção dessa biodiversidade. O presente trabalho tem como objetivo
subsidiar a elaboração de um Plano de Ação para a espécie-alvo ameaçada, reunindo
informações sobre sua biologia e sobre os principais impactos que ameaçam a bacia do
Rio Paraíba do Sul. Ações que visem à recuperação das condições ambientais dos
hábitats e dos diferentes ecossistemas encontrados nesta bacia foram igualmente
propostas. O projeto está em andamento pelos pesquisadores do Centro Nacional de
Pesquisa e Conservação de Peixes Continentais – CEPTA/ICMBio. Para o levantamento
de dados foi realizada a leitura de artigos científicos, relatórios técnicos, identificação
dos principais especialistas brasileiros e suas respectivas instituições, que vêm
desenvolvendo pesquisas relacionadas à espécie e à bacia. Dois eventos (uma Oficina de
Parceiros e um Workshop) foram realizados visando apoiar a elaboração do documento.
O presente relatório cumpre a etapa final, onde foi reunido e sistematizado informações
para a elaboração do Plano de Ação, articulação de parceiros, organização e realização
de evento e workshop, elaboração e consolidação do documento-base, que culminará
com a publicação do Plano de Ação. O projeto também contribuiu para o preenchimento
do novo formulário de avaliação do status de conservação da espécie S. parahybae.
1
ABSTRACT
The Paraíba do Sul basin is one of the most industrialized watershed in Brazil. The high
urbanization process of the Rio - São Paulo axis occurred mainly from the second half
of the twentieth century, and its results were severe levels of environmental degradation,
what lead to a drastic reduction of native fish stocks. Steindachneridion parahybae
(“surubim-do-paraiba”) is a catfish that belongs to the order of Siluriformes, family of
Pimelodidae and it is endemic to the basin of Paraíba do Sul river. This species is listed
on the current National List of Endangered Species (IN MMA 5/2004). Hydroelectric
dams and reservoirs are responsible for the environmental changes of lotic habitats
occupied by these native species. Along with the indiscriminate launch of industrial and
domestic sewage, these are the main threats to the aquatic organisms. In this context,
studies that objective to implement conservation measures, such as the development of
Action Plans for threatened species, become fundamental to the conservation of fish
biodiversity. The core goal of the study is to gather and organize information to help the
development of the Action Plan focused on the threatened fish fauna of Paraíba do Sul
basin. Actions aimed at the restoration of habitats and environmental conditions of
different ecosystems found in the basin have also been proposed. The project is being
undertaken by researchers at the National Center for Research and Conservation of
Freshwater Fish - CEPTA/ICMBio. Papers and technical reports were used as data
collection sources. The identification of Brazilian specialists and their institutions,
which have been developing researches related to the key-species and the watershed,
had completed the method. Two workshops were organized to support the drafting of
the document. This report fulfills the final step, where it was collected and systematized
information for the preparation of the Action Plan, by coordinating partners,
organization of workshop and consolidation of the drafting, which will culminate with
the publication of the Plan Action. The project also contributed to fill the new form of
conservation status assessment of S. parahybae.
2
LISTA DE SIGLAS
3
LISTA DE FIGURAS
4
Figura 12 – Fixação com formol de exemplar de surubim-do-paraíba capturado em rede
de espera (à esq.); à direita, cabeça de surubim-do-paraíba predado na rede, Resende/RJ.
Foto: Carla N. M. Polaz, 2008.........................................................................................32
Figura 18 – Espécimes capturados ainda com vida nas primeiras horas da chegada do
produto tóxico no município de Itaocara, RJ (à esq.). Exemplar de dourado (Salminus
brasiliensis) morto pelo endosulfan (à dir.). Fonte: Projeto Piabanha, 2008..................45
5
Figura 22 – Ocupação irregular e desordenada das margens do Rio Paraíba do Sul,
denunciando a falta de controle e fiscalização do Estado. Fotos: Carla N. M. Polaz,
2008 e INEA, 2009.........................................................................................................50
6
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Relação das espécies (incluindo exóticas) com registro de captura na calha
do Rio Paraíba do Sul no trecho Funil – Santa Cecília. Fonte: INEA, 2009...................30
LISTA DE TABELAS
7
SUMÁRIO
RESUMO
ABSTRACT
LISTA DE SIGLAS
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
1 INTRODUÇÃO............................................................................................................9
1.1 A bacia do Rio Paraíba do Sul - RPS....................................................................9
1.2 Os Comitês de Bacias..........................................................................................12
1.2.1 O Comitê para Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul –
CEIVAP...........................................................................................................................14
1.2.2 Agência da Bacia do Rio Paraíba do Sul – AGEVAP................................17
1.3 Livro Vermelho e Planos de Ação.......................................................................18
1.4 Surubim-do-paraíba: espécie-alvo.......................................................................20
2 MATERIAL E MÉTODOS....................................................................................25
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO.............................................................................27
3.1 A ictiofauna nativa da bacia do Rio Paraíba do Sul...........................................27
3.2 Principais ameaças à ictiofauna do Rio Paraíba do Sul.......................................33
3.2.1 Poluição Hídrica: esgotos domésticos e efluentes industriais...................33
3.2.2 Hidrelétricas e barramentos.......................................................................35
3.2.3 Transposição...............................................................................................42
3.2.4 Acidentes ambientais..................................................................................43
3.2.5 Introdução de espécies exóticas.................................................................46
3.2.6 Doenças e ictioparasitos.............................................................................48
3.2.7 Outros impactos..........................................................................................50
3.3 Medidas de conservação e Ações de Recuperação.............................................54
3.3.1 Elaboração de Planos de Ação para Espécies Ameaçadas........................54
3.3.2 Repovoamentos: benefícios e limitações....................................................64
3.3.3 Repovoamentos realizados no Rio Paraíba do Sul.....................................68
3.4 Avaliação do estado de conservação de S. parahybae........................................71
4 CONCLUSÕES........................................................................................................78
5 AGRADECIMENTOS............................................................................................79
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................80
7 ANEXO.....................................................................................................................84
8
1 INTRODUÇÃO
Serra do Mar) e Mantiqueira (ao norte), no Estado de São Paulo, e deságua no norte
Sua bacia possui área de drenagem de 55.300 km2, sendo 39% situadas em terras
fluminenses (21.567,0 km2), 37% mineiras (20.461,0 km2) e 24%, paulistas (13.272,0
confrontando-se com a bacia do rio Tietê. O rio Paraíba do Sul é formado pela
confluência dos rios Paraibuna e Paraitinga, no Estado de São Paulo, e percorre cerca de
1).
9
Figura 1 – Localização da bacia do rio Paraíba do Sul, abrangendo os estados de
SP, MG e RJ. Fonte: ANA, 2009.
superior: desde as nascentes do rio Paraitinga até a cidade de Guararema (cerca de 280
km), correndo sobre terrenos antigos, em altitudes de 1.800 a 572 metros, com
declividade média de 4,9 m/km. Abrange área drenada de 5.271 km2; b) Curso médio-
superior: desde Guararema até a cidade de Cachoeira Paulista (cerca de 300 km),
e declividade média de 0,19 m/km. A área drenada é de 6.676 km2; c) Curso médio-
inferior: de Cachoeira Paulista até a cidade de São Fidélis – RJ (cerca de 430 km),
10
fluvial, em altitudes de 20 metros até o nível do mar, drenando área de 9.690 km2
afluentes são: (i) Paraibuna; (ii) Paraitinga; e o (iii) Jaguari. Nas décadas de 1950 e
1960, o rio Paraíba do Sul teve trechos retificados, entre os municípios de Cachoeira
foram construídos com esse mesmo objetivo. São eles, os reservatórios de Paraibuna,
Santa Branca e do Jaguari (no rio Jaguari) (FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA, 2009).
Campos dos Goitacazes, no Estado do Rio de Janeiro. O processo foi intensificado nos
séculos XVIII e XIX, nas regiões do alto e médio Paraíba, com o ciclo do café. No final
Por esta época, porém, a dramática redução da área original de cobertura vegetal do vale
11
Figura 2 – Devastação da cobertura vegetal de morros (à esq.) e exemplo de processo
erosivo avançado (“voçoroca”, à dir.). Fotos: Carla N. M. Polaz, 2008 e INEA, 2009.
gestão desses recursos. Participam dos Comitês representantes do Poder Público, dos
usuários das águas e das organizações da sociedade com ações na área de recursos
12
Figura 4 - Composição genérica dos Comitês de Bacia Hidrográfica. Fonte: ANA, 2009.
água. Os Comitês devem integrar as ações de todos os Governos, seja no âmbito dos
13
As Agências de Bacia são instaladas para atuar como Secretarias Executivas de
um ou mais Comitês de Bacia. Seu funcionamento deve ser autorizado pelo Conselho
cobrança pelo uso da água na respectiva bacia. Competirá às Agências de Bacia, entre
- CEIVAP
gestão dos recursos hídricos: os Comitês de Bacia - fóruns democráticos para os debates
Ministério do Meio Ambiente - MMA, que assume as funções de órgão gestor dos
14
Figura 5 – Fluxograma do Sistema Nacional de Recursos Hídricos. Fonte: ANA, 2009.
usos múltiplos das águas da bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul, inclusive a decisão
pela cobrança pelo uso da água na bacia. O Comitê é constituído por representantes dos
poderes públicos, dos usuários e de organizações sociais com importante atuação para a
15
Figura 6 – Composição do Comitê para Integração da Bacia Hidrográfica do Rio
Paraíba do Sul – CEIVAP. Fonte: CEIVAP, 2009.
Seus membros são eleitos em fóruns democráticos, nas diversas regiões que
compõem a bacia. Sua Diretoria, escolhida bienalmente pelos membros, é formada pelo
AGEVAP, garante os meios para seu funcionamento e coloca em prática suas decisões.
16
A cobrança deverá induzir o uso racional da água, reduzindo o desperdício e os índices
Dentre as ações de maior impacto desenvolvidas pelo CEIVAP desde 1997, cabe
da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul, foi constituída para o exercício das
definidas no art. 44 da Lei n°. 9.433/97, que trata das competências das chamadas
17
Agências de Água, ou Agências de Bacia, como são mais conhecidas, principalmente no
deliberadas pelo Comitê para a gestão dos recursos hídricos da Bacia (AGEVAP, 2010).
Gestão com a Agência Nacional de Águas – ANA, assumir as funções de uma Agência
de Bacia, que são, essencialmente, receber os recursos oriundos da cobrança pelo uso da
sem fins lucrativos, cujos associados são membros do CEIVAP, que compõe sua
são indicados pela Assembléia geral, Conselho Fiscal e Diretoria, que é formada por um
18
prioridades: I) a revisão da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da Fauna (MMA,
espécies de vertebrados apareciam sob esta condição. Desde então, tais listagens são
periodicamente revistas e ampliadas, dando origem às listas oficiais, cada vez com mais
possui atuação em todo território nacional e dentre sua nova missão está a de gerar e
19
assumiu a coordenação da revisão da lista de peixes continentais ameaçados, bem como
levando-se em conta a situação de extrema fragilidade dos ambientes e das espécies que
ali residem, optou-se para objeto do primeiro Plano de Ação o debruçar sobre a
ictiofauna nativa desta bacia, tendo como espécies-alvo aquelas constantes no Livro
espécies de peixes ameaçadas na bacia do RPS, presentes na lista em vigor (IN MMA n.
a espécie vem sendo submetida ao longo das últimas décadas (MMA, 2008).
como surubim-do-paraíba (Figura 7), é um bagre de grande porte, atingindo pelo menos
bacia do rio Paraíba do Sul, com biologia pouco conhecida (HONJI et al., 2009), possui
Pimelodidae, que abrange todas as espécies de bagres. Tem corpo achatado, com o
dorso escuro marcado por muitas manchas pequenas e alongadas, hábitos noturnos,
1
Comprimento padrão é, basicamente, o maior comprimento que se pode obter de um peixe, colocando-o
numa linha reta.
20
noturna, seus olhos são pequenos e pouco eficientes, e a percepção do ambiente é
primeiro surubim descrito pela ciência com o nome Platystoma parahybae (atualmente
21
para Steindachneria. Após revisões posteriores e outras descrições o gênero ainda veio a
espécies nobres2 da bacia do rio Paraíba do Sul, foi outrora importante para pesca
profissional. Machado e Abreu (1952) relatam que a pesca da espécie em todo Vale do
Paraíba Paulista nos anos de 1950 e 1951 totalizou 1.898 Kg. Esse total equivale a,
profundidade, o que dificulta a pesca da espécie. Outra hipótese que pode ajudar a
explicar esses valores, uma vez que são desconhecidos dados de pesca anteriores a
1950, é o fato das maiores capturas terem se dado no passado, sem que tenha havido o
extinta no estado.
2
Considera-se “carne nobre” aquela de coloração clara e textura firme, com sabor pouco acentuado, baixo
teor de gordura e ausência de espinhos intramusculares, o que a torna adequada aos mais variados usos e
preparos, agradando ao mais exigente e requintado paladar. Informação extraída de
www.nordesterural.com.br.
22
características ambientais mais propícias à ocorrência da espécie, tendo ocorrido nestas
regiões a captura mais expressiva (MACHADO E ABREU, 1952). Com base nestas
informações, acredita-se que a espécie tenha tido uma distribuição geográfica pretérita
em toda a bacia do rio Paraíba do Sul, estando mais presente em ambientes que se
Paraíba do Sul (RJ) e nos rios Pomba e Paraibuna (MG), na maioria das vezes a partir
Companhia Energética de São Paulo (CESP) em duas localidades (Figura 9). A primeira
está entre os municípios Arinos, RJ, Manuel Duarte, RJ, e Belmiro Braga, MG, a
montante de Afonso da foz do rio Preto (afluente da margem direita do Rio Paraibuna
mineiro). A segunda está entre os municípios de Rio das Flores e Vassouras, RJ, no rio
23
Figura 9 – Exemplares de surubim-do-paraiba mantidos em cativeiro na Estação de
Hidrobiologia da CESP, em Paraibuna, SP. Foto: Danilo Caneppele.
Bizerril (1999) associa sua existência a áreas intermediárias (que tem sua
fluviais e nos encontros de rios. No rio Pomba, próximo à cidade de Laranjal (MG),
Ação para a ictiofauna ameaçada da bacia do Rio Paraíba do Sul, tendo por foco a
extinção.
24
2 MATERIAL E MÉTODOS
rio Paraíba do Sul: subsídios para conservação” e 2) “Elaboração de Plano de Ação para
conservação da espécie-alvo.
científica cujo tema se relacionou aos objetivos deste trabalho foi igualmente registrada
nas “Referências”.
25
Para tanto, foram realizadas consultas à base de dados da Plataforma Lattes,
instituições/especialistas que têm atuado na bacia do Rio Paraíba do Sul, a fim de traçar
as principais estratégias para a recuperação de sua ictiofauna nativa, assim como dos
seus ambientes ripários. Apesar de se ter a recuperação da ictiofauna como alvo, essas
Nacional para a Conservação das Espécies Ameaçadas da Bacia do Rio Paraíba do Sul”,
formulário específico, que vem sendo utilizado para a compilação de dados referente à
26
extinção, também em andamento no CEPTA. Estas informações irão apoiar o processo
Etapa I (diagnóstico).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Sul foi pouco estudada. Apenas Fowler (1948-51) e Britski (1970) contribuíram para
dos peixes de água doce citados para o Brasil e o segundo abordando aspectos
NUNAN, 1983).
ictiofauna do rio Paraíba do Sul e ciclo reprodutivo das principais espécies, no trecho a
jusante de Três Rios (RJ)”, coordenado pela professora Érica Pellegrini Caramaschi e
27
também com a participação do Museu Nacional do RJ, foi possível seguir com novas
136 localidades envolvendo o próprio canal do RPS, mais pequenos afluentes e lagoas
marginais e as bacias dos rios Piabanha, Paraibuna, Pomba, Muriaé e Dois Rios. Os
petrechos utilizados para a coleta foram: tarrafas, redes de espera e arrasto, peneiras,
De nove exemplares, dois foram capturados com linhada (um no rio Paraibuna e
outro no RPS) e os demais foram capturados com rede de espera (malha 45) pela
38,0cm.
28
de uma Pimelodella e de um caranguejo Trichodactylus, mostrando que a espécie é, de
fato, carnívora.
Ao final deste trabalho, que envolveu grande esforço de pesca, algumas espécies
foram consideradas “raras” em virtude das baixas capturas: Brycon insignis, Brycon
Steindachneridion parahybae.
peixes no trecho do médio–baixo RPS (Barra do Piraí a Atafona), foi realizado por
Araújo et al. (1995) e Araújo (1996). Alguns estudos sobre a comunidade de peixes
29
realizados nos últimos anos no RPS podem ser destacados. Técnicos da antiga
do Rio Paraíba do Sul no trecho Funil – Santa Cecília”. Neste trabalho, que envolveu
mais de 200 amostragens em campo com captura de peixes, a equipe atualizou a relação
30
Família Pimelodidae Família Sciaenidae
Steindachneridion parahybae – surubim do Plagioscion squamosissimus - pescada-do-Piauí*
Paraíba
Pseudoplatystoma corruscans – pintado * Pachyurus adspersus – corvina
Rhamdia quelen – bagre
Pimelodus maculatus – mandi amarelo
Pimelodus fur – mandi branco
Família Auchenipteridae
Trachelyopterus striatulus – cumbaca
Glanidium melonopterum – cumbaca
* Espécies introduzidas e/ou exóticas.
31
Anteriormente à ocorrência do vazamento de endosulfan no RPS, em novembro
ocorrência do surubim. Infelizmente, não foi possível retirar com vida os dois
3
Maiores detalhes no item 3.2.4 Acidentes ambientais.
32
Com a ocorrência do acidente químico e conseqüente mortandade de peixes, o
uma perda irreparável para programas de recuperação das espécies ameaçadas do Rio
Paraíba do Sul.
De acordo com a Agência Nacional de Águas - ANA, uma das maiores fontes de
tratamento dos esgotos coletados. As redes de coleta atendem, atualmente, a cerca de:
81,9%, 45,0% e 48,5% das populações urbanas, respectivamente, dos Estados de São
Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais; enquanto o tratamento limita-se a apenas 10,4%,
2,0% e 1,2% das mesmas populações. Esse quadro desolador, com baixos índices de
tratamento, ocasiona intensa poluição do Rio Paraíba do Sul e dos cursos d’água que
33
Enquanto no abastecimento de água as empresas estaduais de saneamento ou as
(SAAE's), observa-se que, com poucas exceções nos três estados, não é dada a devida
ao afastamento dos efluentes domésticos, o que é realizado, muitas vezes, por meio da
incluir, além dos limites de concentração de poluentes específicos, limites de carga para
(INEA, 2009b).
34
3.2.2 Hidrelétricas e barramentos
características ecológicas dos segmentos da bacia hidrográfica onde cada obra está
inserida. As barragens impõem um obstáculo físico, efeito barreira, que altera habitats,
reduzindo ou impedindo o seu acesso a áreas fundamentais para seu ciclo de vida. Tal
35
que desovam em ninhos; c) a redução de matas ciliares essenciais para alimentação dos
principal do rio, bem como nos seus principais afluentes (rio Preto, Paraibuna, Grande e
parte das populações das espécies de peixes nativas da bacia, incluindo o aumento dos
2008).
36
Na calha do Rio Paraíba do Sul existem quatro hidrelétricas operando e uma
UHE Ilha dos Pombos, operada pela LIGHT, entre RJ/MG (1924).
Itatiaia, RJ, próxima à divisa com o estado de São Paulo. O reservatório teve início do
4
Não estão incluídas as PCHs dos afluentes.
37
Foi constatado em pesquisas realizadas nos últimos 29 anos a diminuição
hídricos pelos usuários de montante, isto é, os estados de São Paulo e Minas Gerais.
reservatório do Funil, o qual recebe toda a carga poluente da bacia vinda do território
38
Figura 15 – À esquerda, paisagem de forte assoreamento instalado no reservatório do
Funil, um dos impactos ambientais mais evidentes da operação da UHE; à direita,
“bloom” de fitoplâncton registrado no reservatório em outubro/2007. Fotos: INEA,
2009.
Por sua vez, a barragem de Santa Cecília está localizada em Barra do Piraí, RJ e
foi construída pela LIGHT para transposição de água e geração de energia. Entrou em
LIGHT em Santa Cecília representou um dos piores golpes para o Rio Paraíba do Sul na
região. A vazão à jusante foi reduzida em aproximadamente 1/3 (um terço) do volume
original, tendo o rio Piraí tido o seu curso invertido através do reservatório de Santana,
em Barra do Piraí, daí sendo empurrado pelas águas do rio Paraíba e bombeado para o
(Figura 14). A barragem também criou um obstáculo para a livre movimentação das
Essas intervenções isolaram a Bacia do Rio Piraí, e ainda não existem dados
Cecília, entre Barra do Piraí e Três Rios. Entretanto, há intenção da empresa em firmar
uma parceria com o Museu Nacional do RJ e com o INEA para monitoramento do RPS
39
A UHE de Ilha dos Pombos foi construída pela LIGHT na região de Além
Paraíba, MG, e Carmo, RJ. Entrou em operação em 1924. Em 1994, procurando pôr fim
à barragem, foi construída uma escada de peixes para permitir a subida de espécies de
migração de longa distância para locais de desova rio acima. Porém, pode-se considerar
que houve um grande equívoco na criação de “um caminho” com o intuito de resolver o
jusante da barragem de Ilha dos Pombos: a) na região do Baixo Paraíba existem outras
(Rios Pomba, Dois Rios e Muriaé); b) a escada permitiu a migração dos peixes rio
acima, mas sem volta, desfalcando os cardumes à jusante; e c) parece que não
NUNAN, 2005).
toda a bacia à jusante inclusive dos principais afluentes (Pomba, Muriaé, Dois Rios e
rios Paraibuna e Preto, onde provavelmente ainda existem espécies em extinção como o
40
Em relação às hidrelétricas planejadas ou em construção pode-se mencionar5:
dos recursos hídricos, findam por influenciar significativamente a qualidade de vida dos
5
Da mesma forma, não estão incluídas as PCHs planejadas nos afluentes. Segundo o INEA (com. pes.), o
licenciamento ambiental dessas unidades é altamente questionável.
41
usuários, obrigando, em muitos casos, as populações ribeirinhas a se readaptarem às
tradições culturais.
3.2.3 Transposição
águas lóticas, com extensão de aproximadamente 1.000 km, e abastece cerca de 80% do
metropolitana do Grande Rio, sendo também responsável por cerca de 20% da produção
de energia hidrelétrica. Por tão grande importância para o Estado, justifica-se a adoção
CEIVAP, 2010).
42
pelo menos outros dois motivos engrossaram esta lista: a industrialização e a produção
necessidade da água e o impacto ambiental, que pelo visto, não mudaram. No Brasil,
causa debates acalorados a transposição do rio São Francisco e Amazonas, para atender
conseguido êxito em adicionar à pauta uma discussão mais séria a respeito do impacto
2010).
rio Paraíba do Sul e seus afluentes vem sofrendo com desastres ambientais. Diante deste
quadro já foram elaborados vários planos de recuperação para o Rio Paraíba do Sul,
de1982.
43
1977 - Rompimento do dique de contenção da lagoa da Companhia Paraibuna de
1988 – Vazamento de óleo ascarel diluído em 3000 litros de água utilizada para
do Sul.
foi atingido por um vazamento de cerca de oito mil litros do produto químico
44
de 400 quilômetros na bacia. Desta vez a empresa Servatis S.A., localizada no
foram proibidos no Brasil pela Portaria Nº 329 de setembro de 1985 (Brasil, 1985),
Figura 18 – Espécimes capturados ainda com vida nas primeiras horas da chegada do
produto tóxico no município de Itaocara, RJ (à esq.). Exemplar de dourado (Salminus
brasiliensis) morto pelo endosulfan (à dir.). Fonte: Projeto Piabanha, 2008.
45
3.2.5 Introdução de espécies exóticas
mesma forma, são consideradas espécies exóticas aquelas com registro científico
46
pesque-e-pague. Acidental ou propositalmente, introduziram pacus, carpas e outros
são prováveis novas introduções em curto prazo na calha principal do rio. O dourado
hábitos predatórios (Figura 20). Por ser, contudo, espécie que migra por longas
distâncias para desovar, o dourado está hoje praticamente extinto no trecho Funil –
unitaeniatus) não eram registrados no trecho há até poucos anos atrás, sendo as causas
mais existentes entre as duas barragens (Funil e Santa Cecília). Dentre todas as espécies
47
grande capacidade de adaptação e resistência às pressões humanas na região,
estudo realizado na bacia do Rio Paraíba do Sul, Araújo (1983) salientou que as
nos peixes de água doce, dos menores córregos aos maiores rios. O conhecimento do
clorados, foram relatadas por Iger e colaboradores (1994) em concentrações que podem
peixes e outros organismos aquáticos. Doenças como tumores, neoplasias e câncer são
cada vez mais comuns em peixes e podem estar relacionadas a uma enorme diversidade
doenças ou anomalias (Figura 21) pode ser um fator útil na classificação do grau de
48
Figura 21 – Anomalia (tumor) possivelmente relacionada à contaminação da água (à
esq.) e infestação de ectoparasitos (sanguessugas) registrada em cascudo durante
coleta de peixes no Rio Paraíba do Sul (à dir.). Fonte: INEA, 2009 e Carla N. M.
Polaz, 2008.
estudadas a partir de 1980 (FEEMA, 1983), sendo sua investigação um dos principais
poluição hídrica no trecho Funil - Santa Cecília são: Hypostomus affinis (cascudo
NUNAN, 2005).
49
tendência de associar as anomalias unicamente à poluição química industrial. As
hospitais, clínicas, pequenas indústrias que lançam na rede pública de esgoto etc,
representam também um peso enorme nos efeitos adversos sobre a ictiofauna (ARAÚJO
Além dos impactos descritos acima, alguns outros contribuem para aumentar o
em praticamente toda a bacia do RPS (Figura 23). A ocupação das várzeas por
50
falta de planos para a utilização racional e adequada das florestas, além de agravarem o
nos corpos d´água. Com a diminuição da profundidade dos rios, os peixes passam a ter
dificuldades de encontrar alimento, visto que é principalmente no fundo dos rios onde
morte de bactérias e algas que necessitam de oxigênio e faz proliferar outros organismos
Funil – Santa Cecília, por exemplo, a reposição de areia está limitada à bacia drenante, à
jusante da barragem do Funil, a qual não recebe mais a contribuição da bacia paulista de
montante. Garimpos clandestinos também são comuns (Figura 25) (INEA, com.pes.).
51
Figura 24 – Equipamentos utilizados na extração de areia (“areiais”) do leito do Rio
Paraíba do Sul e afluentes. Fotos: INEA, 2009.
metropolitanas, onde a geração per capita é maior. Além do lixo já carregado para os
rios pela chuva, muitos locais se tornam verdadeiros “lixões” a céu aberto (Figura 26).
52
Figura 26 – Pontos de poluição do rio Paraíba do Sul. À esquerda, carreamento de
lixo misturado à matéria orgânica; à direita, áreas de disposição inadequada de resíduos
(“lixões”). Fonte: INEA, 2009.
dos efluentes domésticos (que depende basicamente da vontade política dos gestores),
53
3.3 Medidas de Conservação e Ações de Recuperação
Sul foi escolhida como ponto de partida, uma vez que concentra grande quantidade de
(Figura 27), assim como representantes de outros grupos taxonômicos, como o cágado-
reunião entre os parceiros para a definição das diretrizes que nortearão a elaboração e
54
sendo elas: CEPTA e RAN (ICMBio); Centrais Energéticas de São Paulo – CESP;
Plano de Ação, que foi definida como: “Recuperar e manter as espécies ameaçadas
55
do Rio Paraíba do Sul, sendo: nove mamíferos, 14 aves, um réptil, quatro
das mesmas, tendo como balizador as categorias e critérios adotados pela União
Importância social
Aspectos regionais
Migração
Atributos biológicos
Abordagens institucionais
56
Quadro 2 – Espécies ameaçadas de peixes listadas no Livro Vermelho (MMA, 2008)
com ocorrência na bacia do Rio Paraíba do Sul. (CR) Criticamente em Perigo; (EM) Em
Perigo; (VU) Vulnerável.
Espécie “guarda-
Espécies Nome popular Status de ameaça
chuva”
CHARACIFORMES
Família Prochilodontidae
Prochilodus vimboides (Kner, Curimbatá *Não consta na lista SIM
1859) oficial
Família Anastomidae
Leporinus thayeri (Borodin, Timburé; Piau- VU – A2ace; B2ab(iii)
1929) beiçudo
Família Characidae
Brycon insignis (Steindachner, Piabanha CR – A2ace; B2ab(iii) SIM
1877)
Brycon opalinus (Cuvier, Pirapitinga-do-Sul VU – A2ace; B2ab(iii) SIM
1819)
**Hyphessobrycon duragenys Lambari CR – A2ace
(Ellis, 1911)
Família Crenuchidae
***Characidium lagosantense Não existe. Em geral, VU – A2ace; B2ab(iii)
(Travassos, 1947) são conhecidos como
“piabinhas”
Família Poeciliidae
Phallotorynus fasciolatus Barrigudinho; Guaru EN – A2ace; B2ab(iii)
(Henn, 1916) (SP)
SILURIFORMES
Família Pimelodidae
Steindachneridion parahybae Surubim-do-paraíba CR – A2ace; B2ab(iii) SIM
(Steindachner, 1876)
Família Loricariidae
Delturus parahybae Cascudo CR – A2ace; B2ab(iii)
(Eigenmann & Eigenmann,
1889)
Pogonopoma parahybae Cascudo-leiteiro CR – A2ace; B2ab(iii) SIM
(Steindachner, 1877)
Família Heptapteridae
Taunayia bifasciata Bagrinho VU – A2ace; B2ab(iii)
(Eigenmann & Norris, 1900)
*Embora não conste no Livro Vermelho (lista nacional), esta espécie foi incluída por deliberação
unânime dos especialistas presentes.
** Presumivelmente distribuída originalmente através dos sistemas do alto rio Tietê, alto Juquiá (bacia do
rio Ribeira) e alto rio Paraíba do Sul. Entretanto, não há registros recentes conhecidos para o rio Paraíba
do Sul. O último registro no alto Tietê é de 1985, em um riacho próximo a Paranapiacaba. O registro mais
recente da espécie foi feito em um tributário do alto rio Juquiá, em 1999 (MMA/Livro Vermelho, 2008).
*** Sua distribuição pretérita relaciona-se às lagoas e ambientes lênticos da região superior da bacia do
rio São Francisco. Exemplares coletados na bacia do rio Paraíba do Sul nas proximidades da serra dos
Órgãos e nas cabeceiras do rio Paraná (bacia do Tocantins) são provisoriamente identificados como
pertencentes a esta espécie. A distribuição da espécie, hoje, encontra-se reduzida, tendo em vista a
extinção das populações nos ambientes sujeitos ao impacto urbano da região metropolitana de Belo
Horizonte e nas bacias adjacentes sujeitas aos impactos de atividades mineradoras (MMA/Livro
Vermelho, 2008). A informação de ocorrência da espécie no RPS não foi confirmada pelos especialistas
presentes.
57
Quadro 3 – Espécie ameaçada de quelônio (Chelidae) listada no Livro Vermelho
(MMA, 2008) com ocorrência na bacia do Rio Paraíba do Sul.
Espécie Nome popular Status de ameaça Espécie “guarda-
chuva
Phrynops hogei (Mertens, Cágado (RJ, ES e EN – B1ab(iii) SIM
1967) MG); Cágado-de-
Nome Atual: *Mesoclemmys hogei (RJ)
hogei
*Espécie endêmica à bacia do rio Paraíba, com distribuição conhecida no Estado do Rio de Janeiro e sul
de Minas Gerais, até o rio Itapemirim, nas regiões costeiras do Estado do Espírito Santo. Não ocorre no
Estado de São Paulo.
Planos de desenvolvimento
Poluição (doméstica, industrial, agrícola)
Ocupação desordenada
Esgoto
Sobrepesca
Falta de fiscalização
Desmatamento
Assoreamento
Pescadores (seguro desemprego)
Extração mineral
Barramentos
Transposição
Outorga
Falta de informação
Aqüicultura (pesque-pagues)
Espécies introduzidas
Repovoamentos equivocados
Legislação (condicionantes)
58
constantes na lista oficial, compondo uma matriz de apoio à decisão (Quadro 4). Nesta
dinâmica, foram utilizadas quatro cartolinas unidas para montar um quadro grande e
visível a todos. Auxiliados pelo moderador da IUCN (Figura 13), os participantes foram
questionados quanto à pertinência dos critérios frente às espécies elencadas. Com uma
seguinte forma: “X” quando a espécie era afetada/impactada por aquele critério, “0” na
59
Para a definição das espécies-alvo, foram selecionadas aquelas com as maiores
pontuações, ou seja, maior quantidade de critérios assinalados com “X”. Além disso,
Após a definição das espécies objeto do PAN, foi elaborada uma lista preliminar
Ambiente (SP, RJ, MG); Museu Nacional do Rio de Janeiro; Ministério da Pesca e
ONGs (CI, SOS Mata Atlântica, Instituto Terra, Ecoanzol); EMATER Universidade
60
Dando prosseguimento às etapas necessárias para a elaboração de um Plano de
Ação, sendo fruto da parceria de dois centros especializados, CEPTA e RAN, foi
elaboração do Plano de Ação das espécies ameaçadas da bacia do Rio Paraíba do Sul.
quelônios da bacia do Rio Paraíba do Sul”, definida em ocasião anterior, o Plano terá
como alvo seis espécies ameaçadas e endêmicas, sendo cinco peixes (Steindachneridion
29), incluindo os analistas ambientais dos dois centros, que deram contribuições
61
Os participantes foram divididos em quatro Grupos de Trabalho, definidos a
eventos que levaram à elaboração do Plano de Ação para a conservação das espécies
ambiental na região do RPS seja a principal medida para a conservação das espécies
final:
Controle efetivo do lançamento dos efluentes industriais, feito com base nos
de efluentes líquidos;
62
Reavaliar a política e os critérios do licenciamento ambiental, o mapa da
degradação do RPS;
recarga;
água para os múltiplos usos, a qualidade ambiental e das águas da bacia estão
é uma das ações necessárias enquanto medida de conservação a ser colocada em prática
63
3.3.2 Repovoamentos: benefícios e limitações
desenvolvimento da aqüicultura, uma vez que a maioria das espécies utilizadas nessa
hipofização, desenvolvida por volta de 1930 pelo pesquisador Rodolpho Von Ihering,
gênero Cichla), e muitas outras mantidas nos açudes do Nordeste e depois introduzidas
64
captura de exemplares desses híbridos no RPS, porém, com identificação ainda não
Pesca (Sudepe) – fez dos peixamentos uma regra a partir dos anos 70, quando essa
adotada para essas estações revela a baixa preocupação com os impactos ambientais: “o
exemplo, comprova a visão inadequada em que esse documento legal estava baseado.
Uma confirmação do uso constante dos repovoamentos foi feita por um estudo
interpretação dos pesquisadores, tais ações são ineficazes, pois não há relatos de
transformação do hábitat de rio para reservatório. Para agravar a situação, a maioria das
veio de outros países ou de bacias diferentes daquela em que a barragem foi implantada.
65
A associação entre a intensa degradação dos ambientes aquáticos nas últimas
espécie em corpos d’água. Embora estas ações continuem a ser praticadas em todo o
país, são raros os estudos que avaliem sua eficiência na recuperação de espécies de
qualidade genética dos exemplares produzidos talvez seja um dos maiores problemas
liberados. Como é liberada grande quantidade de indivíduos, tida como necessária para
renovação da população.
Outro fator que não pode ser desconsiderado é uma possível redução da
qualidade do estoque receptor, quer dizer, dos indivíduos nativos que já viviam no
66
Quadro 6 - Potenciais problemas genéticos relacionados ao repovoamento. Fonte:
Hilsdorf, 2009.
Características Problemas genéticos
Tipos de estoque
populacionais populacionais
Populações selvagens Ausência de
nativas ou não informações sobre a
nativas. biologia e estrutura
Doador Populações populacional das
cultivadas. espécies.
Populações híbridas
(selvagens x cultivadas)
Amostra do Perda da
estoque doador heterozigosee da
Fundador conhecido como diversidade alélica.
“plantel de Seleção para
reprodutores”. condições de cultivo.
Amostra do estoque Baixos valores de Ne
fundador (número efetivo de
Reprodutor efetivamente usada reprodutores).
como parental
(geração P1)
Geração F1 do Efeitos de
estoque reprodutor consagüinidade e da
Repovoador
usada para soltura deriva genética
nos reservatórios.
Populações já Competição,
existentes no predação.
reservatório. Introdução de
Receptor parasitos.
Hibridação.
Falta de adaptação
aos reservatórios.
ecológicas, pois não são direcionados para isso (VIEIRA & POMPEU, 2001).
67
(Codevasf). Grande parte das espécies usadas nesses programas ainda são exóticas,
evidenciando que, apesar do conhecimento dos problemas que o uso destes organismos
Estudo realizado desse reservatório mostrou que, após 17 anos de reintroduções com o
trairão (Hoplias lacerdae), essa espécie contribuía com apenas 1,9 % da população
alocação de esforços”.
Cabe ainda ressaltar que a maioria dos peixamentos teve ou tem como objetivo
vezes, essa estratégia foi empregada para recuperar populações que estivessem em
68
Sul, com a soltura de 47 mil alevinos (Figura 30). Os eventos foram promovidos pela
sede da empresa.
Antes de propor e adotar medidas que vissem à conservação dos peixes nativos é
69
alterações substanciais, talvez seja os que melhor expressam as conseqüências da
maior ameaça aos peixes e a modificação e/ou destruição dos locais onde vive.
destruição dos habitats foi a causa mais frequente da eliminação de espécies. A pesca
pesquisadores norte-americanos.
conservação da fauna nativa de peixes das bacias fluviais brasileiras, em especial nos
paraiba. No entanto, seu uso como ação de reparação ambiental deve ser revisto, pois
70
Fica claro, portanto, que a melhoria da qualidade e a manutenção da integridade
dos ambientes aquáticos são o caminho mais seguro para a manutenção não só da
doce do Brasil.
avaliação adotado pela IUCN, de cada uma das quase 2.500 espécies de peixes
critérios desenvolvidos pela IUCN para este fim, as espécies são qualificadas para uma
71
ocasião deste trabalho foram compiladas no formulário que está sendo utilizado como
guia para a elaboração das fichas de avaliação das espécies, que se segue:
3. Sinonímias (se houve qualquer mudança taxonômica nos últimos 5 anos ou do nome
amplamente usado)
O gênero Steindachneridion, conhecido pelo nome popular de surubim, foi descrito por
Eigenmann & Eigenmann (1919) para abrigar a espécie S. amblyurum do rio
Jequitinhonha. Recentemente, o gênero foi revisto por Garavello (2005), que descreveu
uma nova espécie do rio Iguaçu, S. melanodermatum, e reconheceu S. parahybae
(Steindachner, 1877), S. doceanum (Eigenmann & Eigenmann, 1889), S. scriptum
(Miranda-Ribeiro, 1918) e S. punctatum (Miranda-Ribeiro, 1918). As espécies estão
distribuídas nas bacias do Alto rio Paraná, rio Uruguai (S. scriptum e S. punctatum), rio
Paraíba do Sul (S. parahybae), rio Doce (S. doceanum), rio Iguaçu e rio Jequitinhonha
(S. amblyurum).
A espécie é endêmica à bacia do Rio Paraíba do Sul, não ocorrendo fora do Brasil.
72
8. Distribuição: descreva a amplitude da distribuição em termos de países, estados,
municípios de ocorrência; use o nome de lagos, rios, bacias ou sub-bacias
hidrográficas, etc; Incluir aqui se ocorre fora de sua área de distribuição natural
(espécies introduzidas). Especificar se nos locais de ocorrência são nativos ou
alóctones (p. exemplo o tucunaré no Pantanal). Distribuição passada e presente, se
disponível. Verificar se a sua distribuição é bem conhecida e informar se a espécie
ocorre em apenas um ou mais locais.
No passado, a espécie era encontrada em toda a bacia do Rio Paraíba do Sul. Na década
de 1950, foi realizada captura em 10 municípios do Vale do Paraíba paulista (Caçapava,
Pindamonhangaba, Aparecida do Norte, Guaratinguetá, Lorena, Cachoeira Paulista,
Cruzeiro, Lavrinhas, Queluz). Todos os exemplares presentes em coleções são
provenientes do Rio de Janeiro (Garavello, 2005), tendo sido registrada recentemente a
captura de um exemplar no Rio Paraíba do Sul, em Barra Mansa, que foi depositado no
Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo. A espécie deixou de existir na
porção paulista do Rio Paraíba do Sul, sendo considerada regionalmente extinta. No
estado do RJ é encontrado na calha principal do rio Paraíba do Sul, em MG nos rios
Pomba e Paraibuna (montante da foz do rio Preto, entre Afonso Arinos/RJ, Manuel
Duarte/RJ e Belmiro Braga/MG) e no Rio Paraíba do Sul, entre os municípios de Rio
das Flores e Vassouras/RJ (MMA, 2008).
PRESENÇA ORIGEM
Vagr
Poss
Períod ante
Período Migra ivel Pres Rein Orig
o não (oco
Estados brasileiros Todo reproduti nte men ença Nati Introd trod em
reprod rrênc
ano vo passa te incer vo uzido uzid incer
utivo ia
apenas geiro exti ta o ta
apenas even
nto
tual)
Acre
Alagoas
Amapá
Amazonas
Bahia
Distrito Federal
Ceará
Espírito Santo
Goiás
Maranhão
Mato Grosso
Mato Grosso do
Sul
Minas Gerais X X
Pará
Paraíba
Paraná
Pernambuco
73
F. de Noronha
Piauí
Rio de Janeiro X
Rio G. do Norte X
Rio Grande do Sul
Rondônia
Roraima
Santa Catarina
São Paulo X X
Sergipe
Tocantins
Trindade
74
- Há outros fatores ecológicos e biológicos que possam afetar a resiliência da espécie
frente às ameaças, tais como baixa taxa reprodutiva ou característica reprodutiva muito
específica?
- Qual o tipo de alimentação desta espécie na natureza (carnívora, onívora, frugívora,
insetívora, etc.)
- Quando a pesca for uma ameaça importante, descreva as tendências históricas quanto
às áreas de pesca, petrechos, capturas e desembarques ao longo dos anos; se a espécie é
utilizada pela pesca artesanal ou industrial, estimativas de tamanhos de frota pesqueira
(passadas e atuais), número de pescadores dependendo desse recurso e sazonalidade da
pescaria, dados de desembarque ao longo do tempo (descrever a história desta pesca).
Esta pesca está colapsada em alguma região? Qual o valor de mercado desta espécie?
75
É desconhecida a ocorrência da espécie em Unidades de Conservação. Por este motivo,
o hábitat remanescente onde a espécie ocorria deve ser protegido e recuperado.
Programas de conservação ex situ e manejo in situ são necessários e já estão sendo
desenvolvidos pela Companhia Energética de São Paulo – CESP, Estação de Paraibuna,
SP, e pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Peixes Continentais,
CEPTA/ICMBio, em Pirassununga, SP. Um Plano de Ação para a Conservação das
Espécies Ameaçadas da Bacia do Rio Paraíba do Sul também está em andamento pela
equipe do CEPTA e parceiros. São ainda recomendadas mais pesquisas científicas
relacionadas à biologia e ecologia de S. parahybae (SMA, 2009).
No passado, a espécie foi bastante apreciada pelo sabor da carne (peixe considerado
“nobre”).
76
15. Informações sobre reprodução, crescimento e mortalidade
(especificar se os parâmetros são conhecidos, citando as referências; ou se
desconhecidos, estimados ou inferidos, indicando a fonte ou argumento para inferência)
77
4 CONCLUSÕES
As bacias do Leste brasileiro, nas quais se insere a bacia do Rio Paraíba do Sul,
constitui a região de endemismo com o maior número de espécies ameaçadas (59). Esta
situação é parcialmente explicável devido à grande extensão territorial desta área, mas
de endemismo acentuado de sua ictiofauna (MMA, 2008). Das muitas causas e efeitos
aos efeitos tóxicos da água e sedimentos. Mortandades observadas até o final da década
78
de recuperação ambiental dos ambientes, melhorando a qualidade da água e a
atual das espécies na bacia do RPS, bem como a realização de estudos acerca de suas
necessidades biológicas.
conservação destas espécies, além de gerar dados sobre a sua biologia. Estas
Ação das Espécies Ameaçadas da Bacia do RPS, que se inicia logo após a sua
publicação.
5 AGRADECIMENTOS
79
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRITSKI, H. Peixes de água doce do estado de São Paulo; Sistemática. In: Comissão
Interestadual da Bacia do Paraná – Uruguai. Poluição e Piscicultura, São Paulo, SP, p.
79-108. 1970.
80
FEEMA, Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente. Biodetecção de Tóxicos
em Sistema Fluviais de Utilização em Captação de Água para Sistemas Públicos de
Abastecimento. Convênio DEPEA/BNH / UERJ / Museu Nacional, UFRJ. Relatório.
1983. 4 vol., il.
FOWLER, H. Os peixes de água doce do Brasil. 1a - 3a entrega. Arq. Zool., São Paulo,
SP, 1948-51, v. 6, p. 1-628.
HILSDORF, A.W.S. & M. Petrere Jr. 2002. Conservação de peixes na bacia do rio
Paraíba do Sul. Ciência-Hoje. 30 (180):62-65.
MACHADO, C.E.M. & H.C.F. Abreu. 1952. Notas Preliminares Sobre a Caça e a Pesca
no Estado de São Paulo – I. A Pesca no Vale do Paraíba. Bol. de Indústria Animal.
13:145-160.
81
Pereira Paglia (Eds). – 1.ed – Brasília, DF : MMA; Belo Horizonte, MG : Fundação
Biodiversitas, 2008. 2v. 1420 p.
OLIVEIRA, J.C. & D.F. Moraes Júnior. 1997. Dados adicionais à descrição de
Steindachneridion parahybae (Steindachner, 1876) (Teleostei, Siluroidei,
Pimelodidae). Bol. Mus. Nac., Sér. Zool. 384:11.
SALGADO, F.G.A., M.G. Chain, L. Girardi e C.A. Faria. 1997. O salvamento de uma
espécie em extinção: A conservação da Piabanha (Brycon insignis) na Bacia do Rio
Paraíba do Sul. Relatório Técnico da CESP-Companhia Energética de São Paulo. 28p.
VIEIRA, F. & Pompeu, P.S., (2001). Peixamento, uma alternativa inteligente. Ciência-
Hoje, 30(175): 28-33.
82
7 ANEXO
Relação de especialistas presentes nos eventos, Oficina de Parceiros e Workshop, que levaram à elaboração do Plano de Ação para a
Conservação das Espécies Ameaçadas da bacia do Rio Paraíba do Sul.
8. Cláudio Lopes Soares Eletrobrás Furnas Rio de Janeiro/RJ (21) 2528-3266 clsoares@furnas.com.br
(21) 9622-7789
9. Cristiéle da Silva Ribeiro Universidade de São Paulo, São Paulo/SP (11) 3091-7521 cristiele@gmail.com
Depto de Fisiologia Ramal: 7519/7531
10. Danilo Caneppele CESP – UHE Paraibuna Paraibuna/SP (12) 3974-2012 danilo.caneppele@cesp.com.br
11. Edmur Donola CESP – UHE Paraibuna Paraibuna/SP (12) 3974-2012 edmsjc@gmail.com
13. Erica Pellegrini Caramaschi Universidade Federal do RJ Rio de Janeiro/RJ (21) 2562-6332 erica.caramaschi@ufrj.br;
- UFRJ (LabEco) ericapc2001@yahoo.com
14. Érico Demari e Silva Ecology Brasil (Consult. Rio de Janeiro/RJ (21) 2108-8795 erico.demari@ecologybrasil.com.br
Ambiental)
15. Evódio Luiz Sanches Projeto Piabanha - APARPS Itaocara/RJ (22) 3861-2569 evodio-ita@hotmail.com
84
Peçanha
16. Fabiana L. Rocha Fundação Oswaldo Cruz Rio de Janeiro /RJ (21) 2598-4324 ou rochabia2@yahoo.com.br
4564
17. Fernando Regis de Siqueira APA Mananciais do Rio Caraguatatuba/SP (12) 3883-7520/ 3883- fernando.siqueira@icmbio.gov.br;
Paraíba do Sul (ICMBio) 9362 frsiqueira@gmail.com
18. Flávio Wolf Durão Light/CEMIG Rio de Janeiro/RJ wolfdurao@gmail.com
19. Gláucia Moreira Drummond Fundação Biodiversitas Belo Horizonte/BH (31) 2129-1300 glaucia@biodiversitas.org.br
20. Guilherme Souza Projeto Piabanha Itaocara/RJ (22) 3861-2569 gui.piabanha@gmail.com
21. João Alberto Cardoso de CESP - UP - Paraibuna Paraibuna/SP (12) 3974-0333 joao.oliveira@cesp.com.br
Oliveira
22. João Henrique Pinheiro Dias CESP - OAE São Paulo/SP (18) 9742-2369 joao.dias@cesp.com.br
23. José Oswaldo Junqueira CEPTA/ICMBio Pirassununga/SP (19) 3565-1299 jose-oswaldo.mendonca@icmbio.gov.br
Mendonça
24. José Roberto de Souza INEA/RJ Rio de Janeiro/RJ (24) 3354-7152 jrsa01@terra.com.br
Araujo
25. Letícia Domingues Brandão APA Mananciais do Rio Caraguatatuba/SP (12) 3883-7520/ 3883- leticia.brandao@icmbio.gov.br
Paraíba do Sul (ICMBio) 9362
26. Luiz Alberto Gaspar CEPTA/ICMBio Pirassununga/SP (19) 3565-1299 luis.gaspar@icmbio.gov.br
27. Marcelo Cardozo Demarco Superintendência do Rio de Janeiro/RJ (21) 3077-4301 marcelo.demarco@ibama.gov.br
IBAMA/RJ – Núcleo de
Pesca
28. Marcos Eduardo Coutinho RAN/ICMBio Lagoa Santa/ MG (31) 8874-6368 marcos.coutinho@icmbio.gov.br;
ranpantanal@hotmail.com
29. Marcelo Lima Reis ICMBio/DIBIO/COPAN Brasília /DF (61) 3341- 9304 mukirabsb@yahoo.com.br
84
34. Osvaldo Takeshi Oyakawa Universidade de São Paulo- São Paulo/SP (11) 2065-8100 oyakawa@usp.br
USP / Museu de Zoologia
35. Paula Maria Gênova de Instituto de Pesca da São Paulo/SP (11) 3726-7421 paulagc08@gmail.com; paula@pesca.gov.br
Castro Secretaria de Agricultura e (11) 7169-5331
Abastecimento do Estado de
São Paulo
36. Renata Guimarães Moreira Universidade de São Paulo- São Paulo/SP (11) 3091-7521 renata.fish@gmail.com;
USP (Depto de Fisiologia- Ramal: 7519/7531 renatagm@ib.usp.br
IB)
37. Sildecir Alves Ribeiro Secretaria Municipal de Itaocara/RJ (22) 3861-4529 sildecir@yahoo.com.br
Meio Ambiente de Itaocara (22) 9957-4757
- RJ
38. Vera Lúcia Ferreira Luz RAN/ICMBio Goiânia/ GO (62) 3901-1997 vera.luz@icmbio.gov.br
39. Wilson Oliveira Ribeiro de INEA/RJ Resende/RJ (24) 3354-7152 wilson.moura2009@hotmail.com
Moura
40. Yeda Soares de Lucena RAN/ICMBio Goiânia/ GO (62) 3901-1997 yeda.bataus@icmbio.gov.br
Bataus
84