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Recursos Naturais,

Desenvolvimento
Meio Ambiente e
UNOPAR RECURSOS NATURAIS, MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO
Recursos naturais
meio ambiente e
desenvolvimento

Flávia Bortoloti
Tiago Henrique dos Santos Garbim
Tatiana de Ávila Miguel
Lílian Gavioli de Jesus
© 2016 por Editora e Distribuidora Educacional S.A

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Bortoloti,
Bortoloti, Flávia
Flávia dada Silva
Silva
B739g
B739r Geografia
Recursos da população
naturais, / Flávia da
meio ambiente Silva Bortoloti, Lílian
e desenvolvimento /
Gavioli
Flávia de Jesus.
da Silva – Londrina:
Bortoloti, Editora e dos
Tiago Henrique Distribuidora
Santos Garbim,
Educacional
Tatiana de ÁvilaS.Miguel,
A., 2015.Lílian Gavioli de Jesus. – Londrina:
192
Editora p. : il.
e Distribuidora Educacional S.A., 2016.
210 p.

ISBN
ISBN 978-85-8482-166-2
978-85-8482-325-3

 1. Geografia da população. 2. População. 3. Demografia.


I. Jesus, Lílian Gavioli
1. Recursos de.2.II.Desenvolvimento
naturais. Título econômico
Aspectos ambientais. 3. Ecologia. I. Garbim, Tiago Henrique
dos Santos, II. Miguel, Tatiana de Ávila. III. Jesus, Lílian
Gavioli de. IV. Título. CDD 910

CDD 577

2016
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CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
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Sumário
Unidade 1 |Histórico da questão ambiental e sua relação com a popu-
lação 6

Seção 1 - A evolução das questões ambientais 11


1.1 | O Planeta Terra 12
1.2 | A descoberta da agricultura e o uso artificial do planeta: interferências no
meio ambiente 14
1.3 | A constituição das primeiras cidades 19
1.4 | Do artesanato à revolução industrial 20
1.5 | As Indústrias: agravamento das questões ambientais 21
1.6 | Conferências mundiais sobre o meio ambiente 25
1.6.1 | Estocolmo – 1972 28
1.6.2 | Comissão mundial sobre o meio ambiente e desenvolvimento (CMMAD) 29
1.6.3 | Conferência de Toronto – 1988 31
1.6.4 | Conferência de Genebra – 1990 31
1.6.5 | Conferência das nações unidas para o meio ambiente e o desenvolvimento (CNU-
MAD) 32
1.6.6 | Conferência das partes (COP) 35
1.6.7 | Conferência sobre o desenvolvimento sustentável (RIO+20) 37

Seção 2 - Crescimento populacional e a utilização dos recursos naturais 39


2.1 | O Crescimento populacional mundial e os recursos naturais 39
2.2 | A relação população e recursos naturais 43
2.2.1 | Consumo de combustíveis fósseis 46
2.2.2 | Consumo de água 49

Unidade 2 | Recursos naturais e fontes de energia 61

Seção 1 - Recursos naturais: conceitos e aplicações 65


1.1 | O que são Recursos Naturais? 65
1.2 | Tipos de recursos naturais 70
1.3 | Recursos naturais são aplicados como fontes de energia 74

Seção 2 - Fontes de energia renováveis: exemplos e distribuição 76


2.1 | Energia solar 76
2.2 |Energia eólica 82
2.3 |Energia hidrelétrica 84
2.4 |Energia geotérmica 87
2.5 |Energia das ondas e marés 89
2.6 |Energia de biomassa 90

Seção 3 - Fontes de energia não renováveis: exemplos e distribuição 95


3.1 | Carvão 95
3.2 | Petróleo 99
3.3 | Gás natural 103
3.4 | Energia nuclear 105
Unidade 3 | Ecologia e agronegócio – conceitos básicos e impactos so-
cioambientais no brasil 117
Seção 1 - Fundamentos de ecologia 121
1.1 | Cadeias e teias alimentares 125
1.2 | Relações ecológicas 126
1.3 | Dinâmica ambiental – equilíbrio ecológico, ação antrópica e poluição 128

Seção 2 - Agronegócio: impactos socioambientais, econômicos e


sustentabilidade 133
2.1 | Agronegócio: impactos socioambientais, econômicos e sustentabilidade 133
2.2 | Impactos sociais e ambientais do agronegócio 135
2.2.1 | Impactos socioeconômicos 135
2.2.2 | Impactos socioambientais 139
2.2.2.1 | A questão dos fertilizantes, defensivos, adubos e antibióticos 140
2.2.2.1.1 | Desmatamento e biodiversidade 143
2.2.2.2 | Solo 145
2.2.2.3 | Poluição, resíduos e efluentes 145
2.2.2.4 | Demanda por recursos naturais 147
2.2.2.5 | A questão dos transgênicos e da segurança alimentar 147
2.3 | Sustentabilidade e agronegócio 151

Unidade 4 | A importância da educação ambiental na conservação dos


recursos naturais 165

Seção 1 - Sustentabilidade e política nacional da educação ambiental 169

Seção 2 - Educação ambiental: projetos na escola 187


Apresentação

Caro aluno, você está iniciando mais uma disciplina do Curso de Licenciatura
em Geografia, cujo nome é Recursos Naturais, Meio Ambiente e Desenvolvimento.
Ao iniciar nossos estudos nesta disciplina, faço um convite para uma jornada
pelo conhecimento geográfico, em especial sobre os conceitos que envolvem a
dinâmica socioambiental.

Você sabe quais foram as principais conferências mundiais sobre o meio


ambiente? Sabe o que são recursos naturais? Ou ainda, qual a importância da
Educação Ambiental na manutenção dos recursos naturais?

Você será conduzido, ao longo da construção dos conhecimentos desta


disciplina, a correlacionar um conjunto de conteúdos básicos já apreendidos em
outras disciplinas, o que vai favorecer a compreensão de novos tópicos. Essa inter-
relação é importante, pois a aprendizagem ocorre não linearmente, mas por meio
de redes. Dessa maneira, é essencial correlacionar e estabelecer elos para que as
reflexões e sistematizações das ideias apresentem consistência.

Esta disciplina é de suma relevância tanto para sua formação acadêmica


quanto para sua atuação como professor de Geografia. Por meio da disciplina
de Recursos Naturais, Meio Ambiente e Desenvolvimento, portanto, você poderá
melhor compreender as interações entre o meio natural e o meio social e, ainda,
as profundas modificações causadas pelo homem no meio ambiente em favor do
desenvolvimento econômico.

Na Unidade 1 – Histórico da Questão Ambiental e sua Relação com a População,


você compreenderá a questão ambiental em suas bases históricas, conhecerá as
principais conferências mundiais sobre o meio ambiente e, ainda, verá a discussão
sobre o crescimento populacional e a utilização de recursos naturais.

Na Unidade 2 – Recursos Naturais e Fontes de Energia, será analisado o que


são os recursos naturais, qual sua importância para o manejo dos diferentes
ecossistemas. Nessa unidade serão abordados, também, exemplos de fontes de
energia renováveis e não renováveis, bem como sua distribuição.

Na Unidade 3 – Ecologia e Agronegócio – Conceitos Básicos e Impactos


Socioambientais no Brasil, serão discutidos os fundamentos de ecologia e os
impactos ambientais, econômicos e sociais do agronegócio no Brasil.
Na Unidade 4 – A Importância da Educação Ambiental na Conservação dos
Recursos Naturais, você compreenderá a relação entre a Educação Ambiental, a
sustentabilidade e o manejo dos recursos naturais.

Espera-se que, após o estudo desta disciplina, você possa melhor apreender os
estudos socioambientais, seus objetivos e propósitos e possa colocar em prática
os conhecimentos aqui construídos em sua futura prática docente.

Bom estudo!
Unidade 1

HISTÓRICO DA QUESTÃO
AMBIENTAL E SUA RELAÇÃO
COM A POPULAÇÃO
Flávia Bortoloti

Objetivos de aprendizagem:

Nesta unidade, você será levado a compreender o histórico da questão


ambiental no mundo; a conhecer as conferências mundiais sobre o meio
ambiente e, ainda, apreender sobre o crescimento populacional e o consumo
de recursos naturais.

Seção 1 | A evolução das questões ambientais


Na Seção 1.1, apreenderemos sobre o modo com que a degradação do
meio ambiente se iniciou e perdurou ao longo da evolução da humanidade,
se intensificando. Ainda nesta seção vamos conhecer algumas das principais
conferências mundiais sobre o meio ambiente e seus resultados.

Seção 2 | Crescimento populacional e a utilização dos


recursos naturais
Na Seção 1.2, discutiremos o crescimento populacional mundial e o consumo
de recursos naturais, em especial os combustíveis fósseis e a água.
U1

8 Histórico da questão ambiental e sua relação com a população


U1

Introdução à unidade

Caro acadêmico, você já teve acesso a algum material que discutisse a questão
ambiental? Já estudou a respeito das conferências mundiais sobre o meio ambiente
e a evolução das discussões sobre a relação entre o homem e o meio ambiente?

Nesta unidade, você é convidado a conhecer e analisar o modo como se deu


a relação do homem como o meio que o cerca e, ainda, como as ações humanas
fizeram para originar e agravar os problemas ambientais pela exploração e pelo
consumo de recursos naturais.

Bons estudos!

Histórico da questão ambiental e sua relação com a população 9


U1

10 Histórico da questão ambiental e sua relação com a população


U1

Seção 1

A evolução das questões ambientais


Caro acadêmico, você sabe o que é a questão ambiental? Como ela tem
evoluído? O modo como o ser humano tem se relacionado com os recursos
naturais?

Nesta seção, você vai compreender como ocorreu a evolução das questões
ambientais e, ainda, conhecer as principais conferências mundiais sobre o meio
ambiente.

Antes de iniciarmos nossas discussões, observe a Figura 1.1, o planeta Terra, e


reflita sobre os seguintes questionamentos:

• O planeta Terra pode ser considerado jovem?

• Ele está em constante transformação ou é estático?

• Como os seres humanos interferem na transformação do planeta?

Figura 1.1 | O planeta Terra

Fonte: Disponível em: <https://pixabay.com/get/08868f2b89f1db892b60/1438190018/earth-11015_1280.jpg?direct>. Acesso


em: 20 ago. 2015.

Histórico da questão ambiental e sua relação com a população 11


U1

1.1. O planeta Terra


O planeta Terra foi formado há cerca de 4,5 bilhões de anos (mostrando-se
muito “jovem” se comparado com a formação do universo, cerca de 15 a 18 bilhões
de anos) e ao longo de sua história propiciou um conjunto de condições únicas
para a existência e a estabilidade de diversas formas de vida, e evidências de vida
bacteriana foram já encontradas em rochas com idade de 3.500 milhões de anos.
A evolução da vida tornou possível o surgimento dos homens primitivos, porém,
há “apenas” 2 milhões de anos. Portanto, a história da humanidade é considerada
muito curta em relação à história da vida na Terra.

Na evolução da formação do planeta existem

[...] registros de drásticas alterações ambientais, como a deriva


dos continentes; as rupturas na crosta terrestre, áreas as quais
há milhões de anos pertenciam ao fundo do mar e hoje são
habitadas, como, por exemplo as ilhas havaianas, que surgiram
bem depois da formação do planeta, por consequência de
erupções vulcânicas; as glaciações registradas, diminuindo
a temperatura do planeta em vários graus centígrados, são
também exemplos de fenômenos geológicos e climáticos
que podem ser medidos em milhões e até centenas de anos,
mostrando que o planeta Terra não é algo inanimado, mas sim
vivo e em constante transformação natural (SILVA; CRISPIM,
2011, p. 164, grifos nossos).

Para aprofundar o conhecimento sobre a formação do planeta Terra,


acesse o site: <http://natgeotv.com/pt/terra-formacao-de-um-planeta>.
Acesso em: 20 ago. 2015. Nele você encontrará vídeos exclusivos sobre a
Terra, bem como galerias com imagens impressionantes.

Se colocássemos a formação do planeta Terra em uma linha


do tempo com duração de um ano, como ela ficaria?

12 Histórico da questão ambiental e sua relação com a população


U1

Se toda a história de nosso planeta, desde o primeiro momento de sua


existência até o presente momento, tivesse ocorrido em um intervalo de um ano,
os primeiros de nossos ancestrais iniciaram suas andanças, no continente africano,
no dia 31 de dezembro às 19:12 horas e Cabral só chegaria ao Brasil às 23:59:57
horas do mesmo dia!

Caro acadêmico, você já se deu conta de que é da Terra que retiramos tudo
aquilo de que necessitamos para nossa sobrevivência, tal como água e alimentos?
Já percebeu que sobre ela construímos nossas moradas e dela obtemos matérias-
primas para a produção de nossos utensílios e energia? Todavia, é nela que
depositamos todos resíduos, tanto os industriais quanto os domésticos.

A humanidade intervém no meio em que vive, pelo menos, desde que aprendeu
a dominar o fogo e então começou a modificar as condições naturais do planeta.
Não se sabe ao certo quando o homem começou a dominar o fogo e a natureza,
mas há registros de exploração mineral com cerca de 40.000 anos, quando a
hematita era minerada na África para ser utilizada como tinta para decoração.

Caro acadêmico, como futuro professor de geografia, você pode utilizar o filme
a Guerra do Fogo para discutir com seus alunos a importância do domínio do fogo
para a sobrevivência da raça humana.

Mesmo com a intervenção humana sendo iniciada há tantos séculos, os


impactos gerados no meio ambiente, antes da revolução agrícola (8.000 a.C.),
eram muito baixos, pois os primeiros humanos, por serem caçadores e coletores
nômades, retiravam da natureza somente o necessário para sua subsistência e
apresentavam baixa densidade demográfica.

De acordo com Cordani e Taioli (2003, p. 518):

[...] os registros mais antigos de uso artificial da Terra e sua


exploração mais ativa são de 8.000 a.C., com o início da
chamada revolução agrícola. Desde então a humanidade
explora os recursos naturais do planeta e modifica a superfície
terrestre para atender suas necessidades que crescem
continuamente com o desenvolvimento das civilizações.

Caro acadêmico, você consegue perceber que o domínio do fogo e da


agricultura transformaram radicalmente a vida humana e o planeta Terra?

Para que possamos compreender a evolução das questões ambientais é


necessário que entendamos como evoluiu o uso artificial da Terra.

Histórico da questão ambiental e sua relação com a população 13


U1

1.2 A descoberta da agricultura e o uso artificial do planeta:


interferências no meio ambiente
O uso artificial do planeta se iniciou há cerca de 11.000 anos com o
desenvolvimento das primeiras formas de agricultura. O desenvolvimento de
técnicas de plantio ocasionou grandes mudanças no modo de vida da humanidade.
Os cuidados com a agricultura exigiam que os homens a esta dedicassem uma
parte de seu tempo que outrora era destinado à caça e à colheita. Assim, dentre
outros fatores, o homem foi se tornando sedentário.

Mas não apenas mudanças sociais ocorreram com o desenvolvimento da


agricultura. É a partir de então que impactos significativos do homem sobre meio
se iniciam.

De acordo com Silva e Crispim (2011, p. 164), a “[...] evolução histórica das
questões ambientais repercute desde os tempos remotos, quando o homem
desenvolveu um relacionamento direto como dependente dos recursos existentes
na natureza, sua fonte de sobrevivência”.

Estudos realizados a partir da sondagem de amostras de gelo (por meio dos gases
aprisionados em bolhas de ar) com 2 quilômetros de comprimento, retirados do
continente Antártico e da Groelândia, indicam que, não coincidentemente, houve
aumento da concentração de CO2 (dióxido de carbono) e CH4 (gás metano) –
gases capazes de aprisionar calor na atmosfera e acentuar o efeito estufa – na
mesma época em que se começa a prática da agricultura. As amostras analisadas
preservaram um registro de 400 mil anos da temperatura do planeta e dos níveis
de dióxido de carbono e metano na atmosfera.

A agricultura se originou na Mesopotâmia, entre os rios Tigre e Eufrates


– região onde atualmente se situa o Iraque –, há cerca de 11.000 anos, quase
concomitantemente, no norte da China e poucos milênios mais tarde, nas
Américas. Através dos tempos, a agricultura se espalhou para outras regiões e há
cerca de 2.000 anos todos os alimentos conhecidos hoje já eram cultivados em
algum lugar do mundo.

Observe a seguir a Figura 1.2, que apresenta a localização da antiga civilização


mesopotâmica.

14 Histórico da questão ambiental e sua relação com a população


U1

Figura 1.2 | Mesopotâmia

Fonte: Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/fe/Karte_Mesopotamien.png>. Acesso em: 20


ago. 2015.

Pode parecer que realizar uma análise da agricultura primitiva e correlacioná-la


com a degradação ambiental global seja duro demais em épocas que a queima
de combustíveis fósseis (carvão, gás natural e petróleo) estão atingindo níveis
extremamente altos, em que a natureza não mais consegue absorver todo o
carbono lançado à atmosfera. No entanto, Cordani e Taioli (2003, p. 518) afirmam:

Vários séculos atrás, a civilização da Mesopotâmia utilizava


intenso sistema de irrigação que, pelo manejo intenso e
impróprio, levou à salinização dos solos e sua consequente
degradação para agricultura. Também a civilização Maia, na
América Central, entrou em decadência pela má utilização do
solo, o que provocou intensa erosão e escassez de água.

Histórico da questão ambiental e sua relação com a população 15


U1

Portanto, por mais que na atualidade os impactos ambientais causados pela


exploração dos recursos do planeta sejam mais intensos e visíveis, é possível
afirmar que surgimento da agricultura aumentou sobremaneira as transformações
da natureza.

Estudos demonstraram que o início da agricultura pode ter originado o


agravamento do efeito estufa, porque grandes áreas florestadas foram desnudadas
para dar lugar ao plantio. Para se ter uma ideia da magnitude do problema, na
Inglaterra, no ano 1086, 90% das florestas naturais em terras baixas agricultáveis
haviam sido eliminadas; isso em uma época em que se estima que a densidade
populacional do país fosse de cerca de 10 habitantes por quilômetro quadrado.

Cientistas, analisando as práticas agrícolas de civilizações de tecnologia


avançada que habitavam os vales férteis de importantes rios da Índia e da China,
acreditam que essas áreas foram desflorestadas há 2.000 ou 3.000 anos, pois nessa
época já apresentavam densidade demográfica maior que a inglesa supracitada.

A retirada da vegetação nativa acarreta diversos impactos sobre o meio, como


a exposição do solo que tende a ser carregado pelas águas das chuvas aos rios, o
que prejudica a fertilidade e pode incorrer em assoreamento de curso d’água, além
de aumentar a concentração de carbono na atmosfera, já que os gases CO2 e
CH4 são produzidos na queima e na decomposição da matéria, respectivamente.

O metano é emitido naturalmente na atmosfera por meio da decomposição de


vegetais em água parada. Após a vegetação de pântanos e charcos florescerem,
no fim do verão, elas morrem e emitem carbono na atmosfera na forma de CH4.
Outra forma natural de emissão ocorre por meio de fezes e gases intestinais dos
animais. Dessa forma, o desenvolvimento da pecuária também acarretou maiores
concentrações de gases do efeito estufa na atmosfera.

Os seres humanos desenvolveram, no sul da Ásia, há cerca de 5.000 anos,


técnicas de irrigação a partir da inundação de terras baixas, como no sul da China,
onde a inundação de áreas próximas a rios foi utilizada para o plantio de variedades
de arroz adaptadas. Com extensas planícies alagáveis ao redor de grandes rios, faz
sentido que vastas porções de terra pudessem ter sido alagadas tão logo a técnica
fosse descoberta, aumentando a concentração de metano pelo mesmo motivo
que ocorre em pântanos ou charcos.

Há 3.000 anos essa técnica já havia se difundido para Indochina e o vale do


rio Ganges (Índia), e há cerca de 2.000 anos agricultores do sudeste asiático
começaram a construir terraços em terrenos escarpados para o cultivo do arroz. A
técnica de terraceamento consiste na construção de terraços artificiais, isto é, no
aplainamento em degraus de superfícies inclinadas, em forma de curvas de nível,
interrompendo o declive, para que ocorra a retenção da água e de sedimentos.

16 Histórico da questão ambiental e sua relação com a população


U1

Com a realização da agricultura em áreas artificialmente alagadas, não é difícil


de entender que a interferência artificial no planeta estava ocorrendo e, assim
como em pântanos, a decomposição de vegetação em ambiente de água parada
gerava uma quantidade considerável de gás metano.

Figura 1.3 | Terraços em Guangxi, China

Fonte: Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/92/LongjiTerraces.jpg>.Acesso em: 20 ago. 2015.

O geólogo estadunidense William F. Ruddiman, que estuda mudanças climáticas


há aproximadamente 40 anos, defende a ideia de que as práticas agrícolas de
nossos ancestrais dispararam o aquecimento global milhares de anos antes de
começarmos a queimar combustíveis fósseis e a andar de automóveis.

Caro acadêmico, você acha que a ideia do geólogo William F.


Ruddiman é plausível?
Para saber mais da hipótese formulada por esse cientista,
acesse o site: <http://www.humansandnature.org/william-
ruddiman-and-the-ruddiman-hypothesis-article-196.php>.
Acesso em: 20 ago. 2015.

Histórico da questão ambiental e sua relação com a população 17


U1

É sabido que a temperatura média da Terra foi oscilante através dos tempos e que
muito provavelmente novas mudanças hão de ocorrer. As geleiras são os grandes
laboratórios naturais que ajudam a comprovar essas mudanças. Mais de 400 mil
anos de registro de temperatura e dos níveis de dióxido de carbono e metano na
atmosfera podem ser estudados a partir dos gases que ficam aprisionados nas
bolhas de ar e demonstram que o planeta já passou por períodos com médias
térmicas anuais mais ou menos elevadas, resultando em degelo – e consequente
aumento do nível do mar – ou épocas glaciais – tendo a última terminado há cerca
de 20.000 anos.

As análises de perfurações de gelo indicaram que a temperatura média global


tendia a declinar, há cerca de 11.000 anos, assim como as concentrações de CO2
e CH4 na atmosfera. O que se observou foi uma abrupta mudança em caminho
contrário, justamente quando a agricultura se tornou uma prática difundida em
todo o globo. A concentração de CO2 começou a aumentar há cerca de 8.000
anos e, 3.000 anos mais tarde, a mesma coisa aconteceu com o metano. Acredita-
se que não foi por mero acaso ou processo natural.

Simulações sugerem que, sem a interferência humana nas emissões de gases


do efeito estufa (tanto da agricultura quanto da indústria), a temperatura média
da Terra seria quase 2º C mais fria do que é hoje. Pode parecer pouco, mas a
média global na última máxima glacial, há 20 mil anos, era apenas 5º C a 6º C
mais baixa do que hoje! Então, talvez, as práticas agrícolas podem ter evitado que
entrássemos em uma nova era glacial.

Fato inegável é: as atividades humanas influenciam diretamente no equilíbrio


do planeta.

Para saber mais sobre as alterações climáticas, acesse a reportagem:


“Quando os humanos começaram a alterar o clima?” Disponível em:
<http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/quando_os_humanos_
comecaram_a_alterar_o_clima_.html>. Acesso em: 20 ago. 2015.

18 Histórico da questão ambiental e sua relação com a população


U1

1.3 A constituição das primeiras cidades

Com o gradual aumento populacional, novas áreas precisaram ser destinadas


à agricultura, as quais eram conseguidas por meio da derrubada de matas e
florestas. As árvores derrubadas serviam como combustível e matérias-primas para
construção de moradias. Assim, o homem foi, cada vez mais, aumentando não só
seu poder de controle sobre a natureza, mas também sua capacidade de fixação.
No entanto, a agricultura e o sedentarismo, apenas, caracterizam não a formação
de cidades, mas, no máximo, aglomerações humanas ou então vilas.

Para a efetivação de aglomerados humanos que possam ser considerados


cidades, a agricultura teve que evoluir até tornar possível a existência de um
excedente, isto é, o que aconteceu apenas quando a produção de alimentos se
tornou maior que a necessidade para a alimentação.

Isso porque não havia mais a necessidade de que todos do bando se dedicassem
apenas à atividade agrícola. Desse modo, um grupo de pessoas deveria se dedicar a
outras atividades, como a segurança do bando, o comércio e o artesanato. Assim,
houve a criação da divisão social do trabalho, o qual foi o fator último necessário
para a constituição das cidades.

Lembre-se, caro acadêmico, de que antes da existência de uma divisão social do


trabalho, havia a divisão sexual do trabalho, em que os homens eram responsáveis
pela caça e as mulheres pela criação e cultivo de alimentos.

As primeiras cidades foram fundadas às margens de grandes rios, em razão da


necessidade de utilizar a água para abastecimento e irrigação. Assim, as grandes
cidades da Antiguidade foram sendo construídas na Mesopotâmia (atual Iraque),
entre os rios Tigre e Eufrates, nos vales do Rio Nilo (Egito), do Rio Indo (Centro-
Norte da Índia) e dos grandes rios da China. Em virtude disso alguns autores
chamam essas cidades de hidráulicas.

Como apreendemos anteriormente, algumas civilizações perderam sua


importância por terem degradado o meio ambiente em que viviam, como as
civilizações mesopotâmica e maia. Mas, ainda na Antiguidade, houve tentativas de
conter os abusos dos recursos naturais, como no Egito há mais de 3.000 anos.

De acordo com Viestel (2011, p. 2): “Na sociedade egípcia os recursos naturais
tinham um valor histórico próprio (com suas características econômicas, políticas,
sociais e culturais), o que fez com que a questão ambiental fosse uma questão de
sobrevivência, e não uma ‘visão de conservação’ ou ‘consciência ambiental’ [...].”

A partir de então, paulatinamente, novas técnicas e novos instrumentos foram


desenvolvidos para melhoria da vida da população. O artesanato foi mais difundido
e, consequentemente, aumentou o uso artificial do planeta, mas não ao ponto de
se tornar expressivo.

Histórico da questão ambiental e sua relação com a população 19


U1

No trabalho artesanal, o trabalhador tem identidade total com o produto que


está desenvolvendo, tendo em vista que participa de toda a produção. Contudo, a
produtividade é muito baixa.

1.4 Do artesanato à revolução industrial

Até o período feudal, a produção artesanal continua sendo a única forma de


produção. Quando se inicia a decadência desse período e começa a ascensão das
cidades1, o comércio se torna uma prática mais difundida que outrora.

O trabalho artesanal foi sucedido pela manufatura, quando a produção se


tornou mais complexa, pois, no processo manufatureiro, vigorava a divisão do
trabalho, isto é, o produto não era mais realizado pelas mãos de uma só pessoa;
portanto, a produção aumentou de forma nunca antes imaginada.

As manufaturas eram estabelecimentos que podiam ser considerados a


primeira forma histórica de produção capitalista. Eram constituídas por empresas
que produziam mercadorias com métodos artesanais, isto é, embora sem o uso
de máquinas movidas por uma forma de energia não humana, nelas trabalhavam,
por vezes, até centenas de pessoas, com uma divisão do trabalho bem definida, ou
seja, cada trabalhador desempenhava determinada função.

Entre os séculos XVI e XVII, mudanças radicais sob todos os aspectos nas
relações sociais e de trabalho começaram a ocorrer com o desenvolvimento da
manufatura. Não só a produção e a capacidade de produção aumentaram, mas
também a utilização de recursos da natureza.

A complexidade do trabalho manufatureiro pode ser considerada o alicerce


da Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra nos séculos XVIII e XIX. Com o
advento de máquinas, a capacidade produtiva do ser humano alcançou números
nunca antes imaginados, porém a altos custos ao equilíbrio ambiental, visto que
o combustível adotado para mover as máquinas das fábricas foi o carvão mineral,
abundante na Inglaterra e altamente poluidor.

O processo industrial foi inaugurado por uma série de mudanças tecnológicas,


econômicas e sociais. Até a época em que se inicia a Revolução Industrial, as
preocupações com a degradação ambiental não eram tratadas com muita
relevância. E, diante da necessidade de busca de maiores fontes de matérias-
primas e em razão do crescente e acelerado aumento populacional observados
nos últimos dois séculos, a indústria mundial usurpou, a bel-prazer do lucro, toda
a fonte natural de que necessitou.
1
É bom dizer que os feudos, em razão de suas características, não podem ser considerados cidades. O modo de produção
feudal está baseado na servidão, em que não há mobilidade social, além de ser quase que exclusivamente agrário.

20 Histórico da questão ambiental e sua relação com a população


U1

Para saber mais sobre o desenvolvimento da tecnologia e seus


impactos no meio ambiente, acesse o documento acadêmico intitulado
“Tecnologia e Meio Ambiente”, de Alessandro Ribeiro de Sousa e Orlene
Silva da Costa. Disponível em: <http://estudio01.proj.ufsm.br/cadernos/
ifgo/tecnico_acucar_alcool/tecnologia_meio_ambiente.pdf>. Acesso
em: 20 ago. 2015.

Mesmo assim, nesse cenário, na França do século XVIII nasceu a ideia de


preservação e recuperação do meio ambiente, quando artistas (principalmente
pintores) realizaram um movimento para recuperar e preservar a floresta de
Fontenebleu.

Caro acadêmico, você consegue perceber que, com o desenvolvimento das


técnicas e da tecnologia, os seres humanos foram alterando com maior intensidade
o meio ambiente?

Veja que, hoje em dia, praticamente não existe um local que não tenha sido
modificado, mesmo que em menor escala, pelo homem.

1.5 As Indústrias: agravamento das questões ambientais

A Revolução Industrial teve início não por acaso. Os donos das manufaturas já
tinham percebido as vantagens econômicas do aumento da produtividade, e havia
a necessidade de aumentá-la ainda mais para alcançarem maiores lucros. Ademais,
a Inglaterra possuía uma grande soma de riquezas que puderam ser investidas em
novos meios para aumentar a produção, razão pela qual conseguiram desenvolver
máquinas para cuja movimentação não era utilizada energia humana.

A aplicação da energia a vapor às máquinas permitiu que estas fossem


completamente revolucionadas. Seu tamanho e sua velocidade de operação
deixaram de estar limitados pela capacidade do organismo humano, de modo que
sua eficiência parecia não ter limites. A energia a vapor passou a ser utilizada também
no transporte, tanto marítimo (barcos a vapor), quanto terrestre (locomotivas). O
proprietário de uma fábrica mecanizada podia vender seu produto a um preço
muito inferior do que o dono de uma manufatura, e com uma margem de lucro
muito maior. Desse modo, a produção industrial se difundiu com rapidez.

Histórico da questão ambiental e sua relação com a população 21


U1

Mas a revolução tecnológica das máquinas teve altos custos tanto para o
operário – não era raro haver fábricas que empregavam crianças e idosos, com
jornadas de trabalho que ultrapassavam 15 horas – quanto para o meio ambiente,
tendo em vista que o carvão mineral foi utilizado para a produção de vapor.

As cidades operárias inglesas foram cada vez mais aumentando o crescimento


populacional, não porque os salários pagos pelos donos das fábricas fossem
atrativos para os camponeses, mas porque o governo local desapropriou as terras
rurais para “liberar” os homens às fábricas. Esses trabalhadores livres vendiam sua
força de trabalho para as indústrias, pois era a única forma que tinham para ganhar
dinheiro.

Com os baixos salários e os altos índices de poluição, as cidades operárias


inglesas eram completamente insalubres. Os serviços públicos mais básicos,
como coleta de esgoto e abastecimento de água, não acompanhavam a intensa
migração de pessoas dos campos para as cidades.

Com o decorrer dos anos, os sistemas de produção industrial passaram por


diversas modificações, tornando-se cada vez mais complexos e produtivos
e buscando sempre a maximização dos lucros e a minimização dos custos de
produção. Com a fase monopolista do capital e a introdução dos conceitos de
racionalização do trabalho proposto por Taylor2, a produção industrial se apoiou
no suor de seus operários para que os lucros fossem os maiores possíveis.

A busca de maiores lucros motivou maiores níveis de produção e, por


consequência, maior exploração dos recursos naturais, elevando conjuntamente
a degradação do meio ambiente, por meio de desmatamentos, a poluição do ar,
da água e do solo e aumento da geração de resíduos, dentre outros impactos
negativos.

As mudanças ocorridas nos modos de produção fabril durante o século


XIX acarretou também mudanças no nosso modo de vida cotidiano; somos
influenciados a consumir cada vez mais, resultando em altos custos ao meio
ambiente.

Para se ter uma ideia, se todos os mais de 7 bilhões de habitantes do planeta


vivessem com um consumo médio de um morador dos EUA, estipula-se que em
menos de 5 anos seriam esgotadas as matérias-primas da Terra. Além disso, seria
praticamente impossível suprir a demanda de energia. Isso nos traz a reflexão de
que uma mudança em nosso comportamento consumista talvez seja a única
solução para diminuir a problemática ambiental de hoje.

De acordo com Silva e Crispim (2011, p. 165) ,


2
Frederick Winslow Taylor (1856-1915), estadunidense, engenheiro, considerado o pai da "Organização Científica do Trabalho",
desenvolveu um conjunto de estudos que determinaram a organização do processo de trabalho contemporâneo, difundido
em todo o mundo (COELHO; GONZAGA, s.d).

22 Histórico da questão ambiental e sua relação com a população


U1

A sociedade consumista em que vivemos enfrenta a acelerada


degradação dos recursos naturais que compromete a
qualidade de vida, principalmente das futuras gerações e,
por outro lado, leva nossa sociedade a procurar modelos
alternativos que harmonizem o desenvolvimento econômico
com a indispensável proteção ambiental.

Caro acadêmico, reflita sobre o seguinte questionamento:


é possível modificar os padrões de exploração de recursos
naturais sem, no entanto, afetar negativamente a economia
global?

Após a Segunda Guerra Mundial, com o agravamento da problemática


ambiental, as preocupações em torno do tema passaram a se destacar. O aumento
populacional e o das áreas urbanas tornaram mais evidentes os problemas que a
industrialização estava ocasionando ao meio ambiente, principalmente nos países
mais industrializados. As preocupações com a questão ambiental começaram a
ser consideradas mais pertinentes, pois esta mostrava-se, cada vez mais, capaz
de comprometer a qualidade de vida da população. Os problemas relativos ao
ambiente foram se acentuando e discussões a respeito do futuro do planeta
tornaram-se mais frequentes. As interferências humanas no meio ambiente não
mais tinham como ser negligenciadas.

Por exemplo, em dezembro de 1952, a cidade de Londres foi acometida de


um grande desastre. Durante o inverno daquele ano, diversas fábricas, sobretudo
as de geração de energia elétrica, e, também, as residências, utilizavam o carvão
mineral como combustível, lançando à atmosfera uma grande quantidade de gases
tóxicos, como o enxofre, além de material particulado, ocasionando o fenômeno
do smog — que é a contração das palavras fog e smoke (fumaça).

Histórico da questão ambiental e sua relação com a população 23


U1

No dia 4 de dezembro do mesmo ano, uma massa de ar frio vinda do Norte


penetrou na cidade e ocasiou uma inversão térmica; e até o dia 13 mais de 4.000
pessoas acabaram morrendo de problemas cardíacos e respiratórios.

Procure mais sobre o episódio o Grande Smog. Para isso, acesse o site
disponível em: <http://lhys.org/iag/141-smog.pdf> Acesso em: 20 ago.
2015. Nele você encontrará um breve texto com importantes dados e
fatos desse momento na Inglaterra.

Observe a Figura 1.4 a seguir para visualizar como Londres ficou coberta por
um grande nevoeiro durante três dias. Após esse episódio trágico em 1956, o
Parlamento Britânico aprovou uma legislação regulando a emissão de poluentes
no país.

Figura 1.4 | Smog em Londres – 1952

Fonte: Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/02/Nelson%27s_Column_during_the_Great_


Smog_of_1952.jpg>. Acesso em: 20 ago. 2015.

24 Histórico da questão ambiental e sua relação com a população


U1

Outro fator de grande importância para a divulgação dos problemas ambientais


são os desastres provocados pelas indústrias no mundo todo. Muitas empresas
foram responsáveis por desastres que levaram a óbito milhares de pessoas, como,
por exemplo, a contaminação por mercúrio na lagoa Minamata (Japão) em 1956,
ocasionada pela empresa Chisso Co. Ltd. Há também a explosão do reator da
empresa ICMESA, em Seveso (Itália), em 1976, que liberou toneladas de dioxina;
a falha em equipamento (ou humana) da unidade de fabricação de isocianato de
metila da Union Carbide Índia Ldt. em Bhopal (Índia), em 1984, em que ocorreu
a descarga de acidental na atmosfera de 40 toneladas da mistura que estava em
processo; a explosão de um dos reatores nucleares da Usina de Chernobyl, em
1986, na Ucrânia, que espalhou material radioativo correspondente a mais de
quarenta vezes ao das bombas de Hiroshima e Nagazaki juntas; ou o vazamento
de 24.000 barris de petróleo da Exxon Valdez, em 1989, no santuário ecológico
da Baía de Príncipe Williams, no Alasca. Somente esses cinco acidentes ambientais
somaram prejuízos maiores que U$ 13.670.000.000,00 (U$ 12 bi somente em
Chernobyl) e causaram danos à vida de mais de 140.000 pessoas, sem contar os
danos causados ao meio ambiente.

Perceba, caro acadêmico, que a industrialização é a maior responsável pela


rápida degradação que vivemos atualmente. A partir da década de 1960, as
preocupações com o meio ambiente passaram a ser amplamente discutidas e
popularizadas e a Organização das Nações Unidas (ONU), começaram a realizar
conferências internacionais para discutir o assunto.

1.6 Conferências mundiais sobre o meio ambiente

Caro estudante, antes de adentrarmos em nossas reflexões sobre as principais


conferências mundiais sobre o meio ambiente, é necessário que mencionemos
um importante trabalho realizado pela bióloga marinha Rachel Carson na década
de 1960; e, ainda, a criação do Clube de Roma, ocorrida no final da mesma década.

Carson lançou em setembro de 1962 um livro intitulado Primavera


Silenciosa, em que denunciou o intenso uso de agrotóxicos, em especial do
diclorodifeniltricloroetano (DDT), primeiro pesticida moderno, amplamente
utilizado após a Segunda Guerra Mundial.

A bióloga constatou que esse pesticida atingia todo ecossistema, solo, águas,
fauna e flora, e poderia trazer riscos à saúde humana, já que o DDT tem efeito
cumulativo na cadeia alimentar.

Por mais plausíveis, reais e apoiadas por diversos segmentos da sociedade


que fossem as formulações de Carson, fabricantes de pesticidas se uniram para
desacreditar as ideias da bióloga. Pereira (2012, s/p.) aponta que :

Histórico da questão ambiental e sua relação com a população 25


U1

Entender o perfil da população de um país é fundamental


par o delineamento de políticas públicas nas áreas de saúde,
educação, habitação e sistema previdenciário, bem como
para a elaboração de análises, estudos e prognósticos sobre
o desenvolvimento demográfico e socioeconômico da nação.

Cientistas comprometidos com a produção de agrotóxicos publicaram artigos


questionando a legitimidade do livro porque a autora não tinha doutorado (era
mestre em zoobotânica), e outros a atacaram com argumentos preconceituosos,
chamando-a de “freira da natureza”, “solteirona”, “feiticeira”, insinuando que deveria
se calar apenas pelo fato de ser uma mulher.

Apesar desse fogo cruzado – as difamações e o avanço do câncer –, Rachel


Carson depôs no Senado dos Estados Unidos e participou de debates e de
programas na televisão, divulgando os perigos dos agrotóxicos para a saúde
humana e para o ambiente.

Para saber mais sobre Rachel Carson, leia as informações do site <http://
www.rachelcarson.org/>. Acesso em: 20 ago. 2015. Nele você encontrará
informações sobre seus estudos, sua biografia, livros e pesquisas recentes
que foram inspiradas nessa cientista.
Procure, também, pelo livro Primavera Silenciosa, principal obra de
Rachel Carson. Leia uma resenha sobre esse livro tão importante para os
debates sobre o meio ambiente no site <http://cienciahoje.uol.com.br/
revista-ch/2010/275/pdf_aberto/resenha275.pdf>. Acesso em 20 ago.
2015.

O DDT teve seu uso banido em vários países europeus e nos Estados Unidos
durante as décadas de 1960 e 1970. Atualmente, cerca de 180 países restringem
o uso desse pesticida. No Brasil, as proibições com relação à fabricação e à
comercialização desse composto somente ocorreu no ano de 2009 (PEREIRA,
2012).

26 Histórico da questão ambiental e sua relação com a população


U1

Apesar de já ter se passado mais de meio século da publicação de Carson, seu


livro ainda continua a direcionar e inspirar os debates em torno da temática do
uso de agrotóxicos. Caro acadêmico, pesquise mais sobre esse tema, que é de
fundamental importância, já que Brasil lidera o ranking de consumo de agrotóxicos.

No final da década de 1960 foi criado o Clube de Roma. Em 1968, um


pequeno grupo de profissionais das áreas de diplomacia, indústria, universidades
e representantes da sociedade civil se reuniu em Roma para discutir suas
preocupações com relação ao crescimento econômico e ao consumo de recursos
naturais.

Esse grupo também trouxe à tona discussões sobre o consumismo como fator
para a degradação ambiental, o crescimento populacional mundial, o aumento das
atividades industriais e, ainda, propôs que se pensasse em todos os tipos de poluição,
e não somente a poluição atmosférica que se mostrava mais em evidência naquele
momento. O Clube, atualmente, trabalha em parceria com organizações como a
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco),
a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

O Clube de Roma teve papel decisivo nas discussões que posteriormente


ocorreriam na primeira conferência mundial sobre o meio ambiente, pois, no ano
de 1972, esse grupo publicou o relatório “Os limites do crescimento”, no qual se
realizou uma projeção para cem anos do crescimento populacional e econômico
– não considerando os avanços tecnológicos e a possibilidade de descoberta de
novos recursos e materiais. Constatou-se que, para atingir a estabilidade econômica
respeitando a limitação e a finitude dos recursos naturais, seria necessário parar o
crescimento populacional global e a industrialização, trazendo, assim, a tese do
Crescimento Zero.

De acordo com Meadows (1972, p. 20 apud GODOY, 2007, s.p.), as teses e


conclusões do relatório “Os limites do crescimento” são:

1. Se as atuais tendências de crescimento da população


mundial industrialização, poluição, produção de alimentos e
diminuição de recursos naturais continuarem imutáveis, os
limites de crescimento neste planeta serão alcançados algum
dia dentro dos próximos cem anos. O resultado mais provável
será um declínio súbito e incontrolável, tanto da população
quanto da capacidade industrial.
2. É possível modificar essas tendências de crescimento e
formar uma condição de estabilidade ecológica e econômica
que se possa manter até um futuro remoto. O estado de

Histórico da questão ambiental e sua relação com a população 27


U1

equilíbrio global poderá ser planejado de tal modo que as


necessidades materiais básicas de cada pessoa na Terra sejam
satisfeitas e que cada pessoa tenha igual oportunidade de
realizar seu potencial humano individual.
3. Se a população do mundo decidir empenhar-se em obter
este segundo resultado, em vez de lutar pelo primeiro, quanto
mais cedo ela começar a trabalhar para alcançá-lo, maiores
serão suas possibilidades de êxito.

Para aprofundar o entendimento sobre o Clube de Roma, entre no


site: <http://www.clubofrome.org> (acesso em: 20 ago. 2015), no qual
você encontrará publicações, notícias, webcast e eventos sobre o meio
ambiente.

1.6.1 Estocolmo – 1972

A Conferência das Nações Unidas Sobre o Meio Ambiente Humano foi a


primeira conferência da ONU para discutir os problemas ambientais que afetavam
o mundo. Aconteceu em Estocolmo na Suécia em 1972. Estavam presentes na
conferência, representantes de 113 países, 250 organizações não governamentais
e organismos da ONU.

Nessa conferência as nações foram alertadas para o fato de que as ações


humanas estavam causando sérias degradações à natureza, o que poderia colocar
em risco a própria sobrevivência da humanidade.

As discussões desse evento foram marcadas pelo confronto entre as perspectivas


dos países desenvolvidos e subdesenvolvidos (ou em desenvolvimento). Enquanto
os países desenvolvidos propunham programas internacionais, voltados à
conservação dos recursos naturais e genéticos da Terra, os países subdesenvolvidos
(ou em desenvolvimento) argumentavam que a imposição de exigências de
controle ambiental poderia retardar e aumentar os custos de seu recente processo
de industrialização.

28 Histórico da questão ambiental e sua relação com a população


U1

Os debates dessa conferência resultaram na Declaração sobre o Meio Ambiente


Humano, uma carta com princípios de responsabilidades e comportamentos
que deveriam orientar as decisões sobre as políticas ambientais; também foi
elaborado um plano de ação que convocava países, organismos da ONU e
demais organizações internacionais, a cooperarem na busca de soluções para os
problemas ambientais.

Leia mais sobre a Declaração sobre o Meio Ambiente Humano,


documento elaborado na Conferência da ONU em Estocolmo 1972,
no site da Biblioteca Virtual de Direitos Humanos da Universidade de
São Paulo, disponível em: <http://www.direitoshumanos.usp.br/index.
php/Meio-Ambiente/declaracao-de-estocolmo-sobre-o-ambiente-
humano.html>. Acesso em: 20 ago. 2015.

Ainda no ano de 1972, foi criado o Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente (PNUMA).

Caro acadêmico, reflita como o ano de 1972 foi importante para a evolução dos
debates sobre o meio ambiente.

1.6.2. Comissão mundial sobre o meio ambiente e desenvolvimento (CMMAD)

A Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento – também


conhecida como Comissão Brundtland por ter sido presidida por Gro Harlem
Brundtland – foi criada em 1983, pela ONU, e tinha como objetivo reexaminar as
questões relativas ao meio ambiente e reformular propostas realistas para abordá-
las e, ainda, propor novas formas de cooperação internacional, a fim de nortear
ações e políticas na realização de mudanças necessárias para a contenção dos
problemas ambientais.

Uma das principais ações dessa Comissão era a realização de audiências ao


redor mundo afim de se produzir um relatório formal com as conclusões advindas
dessas reuniões.

Histórico da questão ambiental e sua relação com a população 29


U1

O relatório foi publicado após três anos de audiências


com líderes de governo e o público em geral no mundo
todo sobre questões relacionadas ao meio ambiente e ao
desenvolvimento. Reuniões públicas foram realizadas tanto
em regiões desenvolvidas quanto nas em desenvolvimento, e
o processo possibilitou que diferentes grupos expressassem
seus pontos de vista em questões como agricultura,
silvicultura, água, energia, transferência de tecnologias e
desenvolvimento sustentável em geral. (UNEP, 2003, p. 11).

O relatório final da Comissão foi intitulado Our Common Future (Nosso


futuro comum) e foi publicado em 1987. Nesse documento, o desenvolvimento
sustentável foi definido como o “desenvolvimento que atende às necessidades das
gerações presentes sem comprometer a capacidade de gerações futuras de suprir
suas próprias necessidades” (CMMAD, 1987 apud UNEP, 2004, p. 11).

A CMMAD enfatizou problemas ambientais como o aquecimento global e a


destruição da camada de ozônio – conceitos inovadores para época – e, ainda,
demonstrou preocupação com o fato de que a velocidade das transformações da
natureza, causadas pelas ações humanas, excediam a capacidade das ciências em
avaliar e propor soluções para os problemas ambientais.

“A Comissão concluiu que os arranjos institucionais e as estruturas de tomada


de decisões existentes, tanto em âmbito nacional quanto no internacional,
simplesmente não comportavam as demandas do desenvolvimento sustentável.”
(UNEP, 2004, p. 11)

Caro acadêmico, para ler o documento original do relatório “Nosso futuro


comum”, acesse o site <https://ambiente.files.wordpress.com/2011/03/
brundtland-report-our-common-future.pdf> . Acesso em: 20 ago. 2015.

30 Histórico da questão ambiental e sua relação com a população


U1

1.6.3. Conferência de Toronto – 1988

Esta conferência ficou conhecida como a “Conferência de Toronto sobre a


atmosfera em mudança”, tendo sido a primeira a se preocupar com o clima. Nesse
evento, governantes e cientistas discutiram em conjunto as ações humanas na
mudança do clima. Os governos dos países industrializados comprometeram-se
a diminuir, voluntariamente, as emissões de CO2, com o corte de 20% até o ano
de 2005.

Esse evento foi de fundamental importância para a criação do Painel


Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), organismo internacional
instituído pelo Programa das Nações Unidas para o Ambiente (UNEP) e pela
Organização Meteorológica Mundial (OMM), a fim de fornecer ao mundo uma
visão científica sobre as alterações climáticas e suas possíveis repercussões
ambientais e socioeconômicas.

Para saber mais sobre o IPCC, acesse o site do Painel, em que você
encontrará informações atualizadas sobre o clima do planeta e, ainda,
publicações sobre o tema. Disponível em: <http://www.ipcc.ch/index.
htm>. Acesso em: 20 ago. 2015.

Em agosto de 1990 foi publicado o primeiro relatório de avaliação climática do


IPCC, mostrando que havia sinais de aumento da temperatura do planeta. Nesse
documento se afirmava que seria necessário reduzir de 60 a 80% das emissões de
CO2 para se estabilizar a concentração desse gás na atmosfera.

1.6.4. Conferência de Genebra – 1990

Diante do relatório de avaliação climática do IPCC, ocorreu em Genebra na


Suíça, em novembro de 1990, a segunda conferência sobre o clima do mundo;
a primeira ocorreu na mesma cidade no ano de 1979. O relatório do IPCC foi o
principal impulso político para nortear uma resposta global à ameaça da mudança
do clima.

Histórico da questão ambiental e sua relação com a população 31


U1

Nessa Conferência foi reafirmado que os países deveriam ter compromissos


reais com a comunidade internacional e traçar metas para atender ao objetivo de
estabilizar as emissões de gases do efeito estufa a fim de impedir uma interferência
perigosa no clima global. Ainda nesse evento discutiu-se a produção de um tratado
internacional do clima, que seria criado em 1992.

1.6.5. Conferência das nações unidas para o meio ambiente e o desenvolvimento


(CNUMAD)

A Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento,


também conhecida como Cúpula da Terra, Eco-92 ou Rio-92, realizada no Rio
de Janeiro em junho de 1992, foi uma das maiores conferências realizadas para
a discussão das questões ambientais. Vinte anos depois da primeira Conferência
Mundial da ONU sobre o meio ambiente, líderes mundiais e entidades ambientais
se reuniram para analisar como estava a evolução das políticas de proteção
ambiental.

Os principais objetivos dessa conferência foram:

• Avaliar a situação ambiental de acordo com o


desenvolvimento.
• Estabelecer mecanismos de transferência de tecnologias
não poluentes aos países em desenvolvimento.
• Examinar estratégias para a incorporação de preocupações
ambientais ao processo de desenvolvimento.
• Estabelecer um sistema de cooperação internacional para
prever ameaças ambientais e prestar socorro em casos de
emergência.
• Reavaliar o sistema de organismos da ONU, criando, se
necessário, novas instituições para implementar as decisões
da conferência. (PORTAL BRASIL, 2012, s/p.).

32 Histórico da questão ambiental e sua relação com a população


U1

Caro acadêmico, você consegue perceber que, com o passar


dos anos, as questões ambientais se tornaram cada vez mais
urgentes e discutidas em nível mundial? Convido você a
pesquisar mais sobre esse tema e refletir sobre as mudanças
ocorridas com relação ao tratamento das questões ambientais
em escala global.

Na Eco-92 foram produzidos cinco documentos e duas Convenções de suma


importância que, entre outros aspectos, advertiam sobre a necessidade, urgente,
de transformação de comportamento, com a finalidade de preservar a vida Terra.

São resultados da Rio-92:

A Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento


(contendo 27 princípios); A Agenda 21 – um plano de ação
para o meio ambiente e o desenvolvimento no século XXI; A
Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do
Clima (UNFCCC) e a Convenção sobre Diversidade Biológica
(CDB); A Comissão de Desenvolvimento Sustentável (CDS);
um acordo para negociar uma convenção mundial sobre
a desertificação; A declaração de Princípios para o Manejo
Sustentável de Florestas. (UNEP, 2004, p. 16).

Para saber mais sobre a Agenda 21 leia o Box 1 a seguir, no qual você
encontrará informações relevantes sobre as quatro principais áreas de atuação
desse documento, o qual, mesmo não tendo validade legal, mostra-se como um
instrumento importante e influente no campo do meio ambiente. Ela contém 4
seções, 40 capítulos, 115 programas, e aproximadamente 2.500 ações a serem
implementadas.

Ainda que esse instrumento seja base de referência para o manejo ambiental
na maior parte das regiões do mundo, as práticas enfatizadas em seus 40 capítulos
são pouco efetivas, em razão, principalmente, dos altos custos de implantação.

Histórico da questão ambiental e sua relação com a população 33


U1

Box 1: Agenda 21

A Agenda 21 estabelece uma base sólida para a promoção do desenvolvimento


em termos de progresso social, econômico e ambiental. A Agenda 21 tem quarenta
capítulos, e suas recomendações estão divididas em quatro áreas principais:

• Questões sociais e econômicas como a cooperação internacional para


acelerar o desenvolvimento sustentável, combater a pobreza, mudar os padrões de
consumo, as dinâmicas demográficas e a sustentabilidade, e proteger e promover
a saúde humana.

• Conservação e manejo dos recursos visando ao desenvolvimento, como a


proteção da atmosfera, o combate ao desmatamento, o combate à desertificação
e à seca, a promoção da agricultura sustentável e do desenvolvimento rural, a
conservação da diversidade biológica, a proteção dos recursos de água doce e
dos oceanos e o manejo racional de produtos químicos tóxicos e de resíduos
perigosos.

• Fortalecimento do papel de grandes grupos, incluindo mulheres, crianças


e jovens, povos indígenas e suas comunidades, ONGs, iniciativas de autoridades
locais em apoio à Agenda 21, trabalhadores e seus sindicatos, comércio e indústria,
a comunidade científica e tecnológica e agricultores.

• Meios de implementação do programa, incluindo mecanismos e recursos


financeiros, transferência de tecnologias ambientalmente saudáveis, promoção
da educação, conscientização pública e capacitação, arranjos de instituições
internacionais, mecanismos e instrumentos legais internacionais e informações
para o processo de tomada de decisões.

Fonte: UNEP. Integração entre o meio ambiente e o desenvolvimento: 1972-


2002. In: IBAMA. Perspectivas do Meio Ambiente Mundial 2002 – GEO-3. Nairobi,
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente 2004. Disponível em: <http://
www.wwiuma.org.br/geo_mundial_arquivos/capitulo1.pdf>. Acesso em: 29 jul.
2015.

Caro acadêmico, enquanto futuro professor de Geografia, você acredita que a


Agenda 21 possa ser utilizada em suas práticas docentes?

34 Histórico da questão ambiental e sua relação com a população


U1

Aprofunde mais o conhecimento sobre a Agenda 21 na escola ao ler a


publicação do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e do Ministério da
Educação (MEC) intitulada “Formando Com-Vida: construindo a Agenda
21 na escola”, na qual você encontrará projetos e oficinas que podem lhe
auxiliar em suas práticas pedagígicas. Disponível em: <http://www.mma.
gov.br/estruturas/agenda21/_arquivos/com_vida.pdf>. Acesso em: 20
ago. 2015.

1.6.6 Conferência das partes (COP)

As COPs começaram a ser realizadas anualmente em meados da década de


1990. A Conferência das Partes (COP) é um foro internacional de negociação dos
princípios e políticas referentes à implantação da Convenção-Quadro das Nações
Unidas sobre Mudança do Clima (CQMC).

A COP-1 foi realizada em Berlim, em 1995, onde foram realizadas negociações


e definidas metas para a redução dos gases do efeito estufa; a COP-2 ocorreu em
1996 em Genebra, quando foi decidido que os relatórios do IPCC iriam nortear
as futuras decisões sobre o clima e, ainda, que os países em desenvolvimento
receberiam auxílio financeiro da Conferência das Partes para desenvolver
programas de redução de emissões de gases do efeito estufa.

A COP-3 indubitavelmente foi a principal na década de 1990, pois foi nessa


conferência ocorrida em Kyoto, em 1997, que foi criado o Protocolo de Kyoto,
que impõe aos países signatários a reduzir (5,2%, comparando-se com os níveis de
1990, até o ano de 2012, tendo sido, entretanto, estendido até o ano de 2017) suas
emissões de gases do efeito estufa. Para que entrasse em vigor era necessário que
55 países (dentre eles os mais industrializados e poluidores) retificassem o acordo,
pois, juntos, eles representavam 55% das emissões globais de gases do efeito
estufa. O Protocolo entrou em vigor somente em 2005 com a adesão da Rússia
ao acordo. Os Estados Unidos, um dos maiores emissores de gases poluentes, não
aderiram ao acordo.

A COP-4 foi realizada na Argentina, em 1998. Nessa reunião decidiu-se como


seria a implantação das medidas preconizadas pelo Protocolo de Kyoto. A COP-5
(Bonn – Alemanha, 1999) deu início às reuniões sobre a Mudança de Uso da Terra

Histórico da questão ambiental e sua relação com a população 35


U1

e Florestas. Durante a COP-6 (em Haia – Holanda, 2000) o presidente dos EUA,
George W. Bush, afirmou que não ratificaria o Protocolo, alegando que os custos
de diminuição desses gases seriam muito elevados.

Na COP-7 (Marrakesh – Marrocos, 2001), o Brasil apresentou uma proposta de


criação de Fundo de Desenvolvimento Limpo, no qual os países que estivessem
descumprindo suas metas de redução de emissão de gases do efeito estufa,
deveriam depositar valores, que seriam utilizados pelos países em desenvolvimento,
com objetivo de auxiliá-los no desenvolvimento tecnológico e de “[...] evitar que os
países em desenvolvimento cometessem os mesmos erros, no âmbito ambiental
que os países desenvolvidos” (MARCHEZI; SANTOS, 2013, p. 42). A proposta foi
recusada e substituída pelo Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), que
entrou em vigor após a COP-8 (Nova Délhi – Índia, em 2001).

O MDL possibilita que os países desenvolvidos, que possuem metas de reduções


descritas no Protocolo de Kyoto, possam adquirir certificados de redução de
emissões (RCE) de GEE em projetos gerados e implementados em países em
desenvolvimento, como forma de cumprir parte de suas metas de redução.
(MARCHEZI; SANTOS, 2013).

Aprenda mais sobre MDL lendo a publicação intitulada Mecanismo de


Desenvolvimento Limpo – Guia de orientação. Disponível em: <http://
www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/
Arquivos/conhecimento/livro_mdl/mdl_1.pdf>. Acesso em: 20 ago.
2015.

Das COPs que se sucederam, as mais importantes foram a COP-16 (Cancun –


México, 2010), em que foi criado um Fundo Verde do Clima, que administra todo o
dinheiro dos países desenvolvidos aplicado em mecanismos para a diminuição dos
gases do efeito estufa, e a COP-17 (Durban – África do Sul, 2011), em que houve
a renovação do Protocolo de Kyoto e a extensão de suas metas de redução de
emissões de gases poluentes para 2017.

36 Histórico da questão ambiental e sua relação com a população


U1

1.6.7 Conferência sobre o desenvolvimento sustentável (RIO+20)

Esta conferência foi realizada em 2012 no Rio de Janeiro e ficou conhecida como
Rio+20 em razão de ter marcado os vinte anos de realização da Eco-92. Nesse
evento houve a contribuição na definição das ações futuras (para os próximos 20
anos) para o desenvolvimento sustentável. Os principais temas abordados durante a
conferência foram a economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável
e da erradicação da pobreza e a estrutura institucional para o desenvolvimento
sustentável.

De acordo com Brasil (2012, s/p.), a questão da economia verde é

[...] o desafio proposto à comunidade internacional é o


de pensar um novo modelo de desenvolvimento que
seja ambientalmente responsável, socialmente justo e
economicamente viável. Assim, a economia verde deve ser
uma ferramenta para o desenvolvimento sustentável. O Brasil
propõe-se a facilitar as discussões, uma vez que o debate
sobre o tema encontra-se em estágio inicial.

Leia sobre a Rio+20 no site do evento disponível em: <http://www.rio20.


gov.br/> . Acesso em: 20 ago. 2015. Nele você encontrará os documentos
resultantes da Conferência, o relatório de sustentabilidade os cadernos
de sustentabilidade, que trazem as diretrizes de sustentabilidade, bem
como um guia de boas práticas, para os setores da construção civil,
empresas de alimentação e hoteleiro.

Caro acadêmico, após refletir sobre a ideia supracitada, você acredita que
seja possível encontrar um mecanismo para que o desenvolvimento seja
ambientalmente “responsável, socialmente mais justo e economicamente fiável”?

Fato inegável é que, entre avanços e retrocessos, os debates sobre as ações


humanas e suas contribuições para a degradação ambiental estão na pauta do

Histórico da questão ambiental e sua relação com a população 37


U1

dia de, praticamente, todos os países do mundo, cabendo aos governos, ONGs e
todos os segmentos da sociedade unirem-se para que as ações sustentáveis sejam
efetivamente colocadas em prática.

1. De acordo com os conhecimentos construídos nesta seção


e com seus conhecimentos prévios, pontue por que o planeta
Terra pode ser considerado jovem quando comparado com
a evolução do Universo e, ainda, por que a Terra pode ser
considerada um organismo em transformação.

2. O Brasil pode ser considerado um país que inovou nos


debates sobre o meio ambiente no momento em que levou
à comunidade internacional a proposta de criação de Fundo
de Desenvolvimento Limpo. No entanto a proposta brasileira
foi recusada e em seu lugar criou-se o Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo.
Diante disto, explique o que é o Mecanismo de Desenvolvimento
Limpo e o modo como ele pode auxiliar na diminuição das
emissões de gases do efeito estufa.

38 Histórico da questão ambiental e sua relação com a população


U1

Seção 2

O crescimento populacional e a utilização dos


recursos naturais
Caro acadêmico, você sabe o que é a questão ambiental? E qual é a relação
entre o crescimento populacional e o uso dos recursos naturais? Já teve acesso
a alguma teoria que levasse em consideração o crescimento da população e a
pressão sobre os recursos naturais?

Aprendemos na Seção 1.1 que o ser humano transforma o meio em que vive,
pelo menos, desde a descoberta do fogo. Vimos ainda que, com a evolução da
sociedade, a descoberta de novos modos de produzir e o modo de consumo
exacerbado provocaram intensa exploração dos recursos naturais. Nesta seção,
você verá discussões e reflexões sobre o crescimento populacional e sua relação
com a utilização dos recursos naturais.

Antes de iniciarmos as discussões sobre o crescimento populacional e a


utilização dos recursos naturais, é necessário entender o que são esses recursos
(que serão discutidos com maior profundidade na Unidade 2 deste material).

De acordo com o Dicionário Brasileiro de Ciências Ambientais (RECURSOS,


2002, p. 198), recurso natural é “tudo o que se encontra na Natureza que podemos
utilizar, como os alimentos, energia, matéria-prima para construções etc.”; o ar, a
água, o solo, minerais não renováveis (ferro, areia), energia renovável (sol, vento,
fluxos de água), energia não renovável (combustíveis fósseis, energia nuclear).

Portanto, é possível compreender que os recursos naturais são necessários à


vida, tanto humana quanto a animal, e que a utilização inconsciente deles pode
trazer sérios risco à vida.

2.1 O crescimento populacional mundial e os recursos naturais

Caro estudante, você se recorda de como a população cresce? Lembra-se de


quais são os tipos de crescimento populacional existentes?

Histórico da questão ambiental e sua relação com a população 39


U1

A população apresenta dois tipos de crescimento: o vertical (natural ou


vegetativo) e o crescimento horizontal. O crescimento vertical é mensurado pela
diferença entre as taxas de natalidade e mortalidade; o crescimento horizontal,
por sua vez, é medido pela diferença entre o número de imigrantes e emigrantes.

Neste tópico nos ocuparemos de refletir sobre o crescimento vertical da


população. De acordo com dados da ONU (2004b), no ano 2000 o planeta Terra
atingiu a marca de 6,1 bilhões de habitantes e somente onze anos depois já éramos
em 7 bilhões. Recentemente, no ano de 2015, já somos cerca de 7,4 bilhões de
pessoas habitando a Terra.

Caro aluno, você acredita que os impactos ambientais são


ocasionados pelo intenso crescimento populacional mundial
ou pelo modo como a maior parte da população mundial
orienta seu consumo?
Realize pesquisas e reflita sobre este questionamento.

Para que possamos compreender como o planeta chegou a 7 bilhões de


habitantes, é interessante revisar a história e observar os dados ao longo do tempo.
Desse modo, podemos evidenciar que a população mundial tem crescido de modo
contínuo ao longo do tempo, apesar de apresentar intensidades e proporções
diferentes.

Na Figura 1.5 (Crescimento da População Mundial [1500 – 2050]), podemos


observar a trajetória do crescimento da população mundial.

40 Histórico da questão ambiental e sua relação com a população


U1

Figura 1.5 | Crescimento da População Mundial (1500-2050)

Fonte: Sene e Moreira (2010, p. 194)

Caro aluno, qual é a interpretação que podemos ter a partir das informações
desse gráfico?

Perceba que até 1800 o crescimento da população ocorreu em um ritmo muito


lento. No início do século XIX o mundo tinha um contingente populacional inferior
a 1 bilhão de habitantes, embora tenha atingido o primeiro bilhão de pessoas
nas primeiras décadas do referido século. A partir do século XX, especialmente
na segunda metade, 1950, observa-se um crescimento exponencial, de modo
que entre 1950 e 2000, mais que duplicou o número de habitantes no planeta,
passando de 2,5 bilhões em 1950 para 6,1 bilhões em 2000.

Segundo estimativas da ONU, a população mundial cresce cerca de 1,3% ao


ano. Contudo esse crescimento ocorre de forma desigual entre as regiões do
mundo, em especial entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento. Ainda
de acordo com as estimativas das Nações Unidas, as regiões que apresentam
maior crescimento são a Ásia e a África.

Na Tabela 1.1 é possível observar que a China e a Índia apresentam,


respectivamente, 1,3 bilhões e 1,2 bilhões de habitantes.

Histórico da questão ambiental e sua relação com a população 41


U1

Quadro 1.1 | População Mundial 2014 – países mais populosos

Fonte: Modificado de Word Population Data Sheet (2014, p. 2). Disponível em: <http://www.prb.org/pdf14/2014-world-
population-data-sheet_eng.pdf>.Acesso em: 20 ago. 2015.

Perceba, analisando a Figura 1.5, que a população mundial tende a chegar à


marca de 9,2 bilhões por volta dos anos 2050. Em 29 de julho de 2015 a ONU3
publicou um relatório indicando que em 2100 haverá 11 bilhões de habitantes e,
também, que em apenas sete anos a população da Índia será maior que da China.
O documento diz ainda que em 35 anos a Nigéria será o terceiro maior país do
mundo e o Brasil passará a ocupar a sétima posição, em 2050, e a décima terceira
em 2100.

De acordo com Letra (2015, s.p.)

A maior taxa de crescimento populacional nas próximas três


décadas estará concentrada na África. Pela projeção da ONU,
a população de 28 nações desse continente irá dobrar. E
olhando além, até 2100, Angola, Burundi e RD Congo serão
um dos 10 países da África com maior aumento populacional.
[...] O crescimento da população depende muito dos rumos
do padrão de fertilidade, porque segundo a ONU, pequenas
mudanças de comportamento podem gerar grandes
diferenças no total da população em cada região. Em anos
recentes, por exemplo, a taxa de fertilidade caiu em quase
todas as regiões do mundo, até mesmo na África, apesar do
continente manter o maior índice de fertilidade.
Com a redução da fertilidade, o número de pessoas mais
velhas aumenta ao longo do tempo. Até 2050, o total de
pessoas acima de 60 anos deverá dobrar. Na América Latina
e Caribe, 25% da população terá 60 anos ou mais em 2050.

3
United Nations, Department of Economic and Social Affairs, Population Division (2015). World Population Prospects: The 2015
Revision, Key Findings and Advance Tables. Working Paper No. ESA/P/WP.241. Disponível em: <http://esa.un.org/unpd/wpp/
Publications/Files/Key_Findings_WPP_2015.pdf>. Acesso em: 31 jul. 2015.

42 Histórico da questão ambiental e sua relação com a população


U1

Podemos perceber ao analisar as informações apresentadas pelo recente


relatório da ONU que a população mundial apresenta uma dinâmica mutável com
o tempo. Vemos também que os países que por ora estão no topo do ranking de
quantidade de habitantes tendem a perder lugar para os que hoje estão longe da
liderança.

Diante dessas projeções da intensa degradação ambiental instaurada na


atualidade, é urgente haver discussão sobre a disponibilidade dos recursos naturais
para a manutenção da vida na Terra.

Existem diferentes abordagens para se analisar a relação população e meio


ambiente, uma das quais é a neomalthusiana, difundida a partir da década de 1970.
Nessa abordagem traça-se uma relação direta entre o crescimento populacional e
a pressão sobre os recursos naturais. Assim, o controle demográfico seria parte da
solução da disparidade da equação população e disponibilidade de recursos. Essa
teoria foi amplamente utilizada para tentar explicar as causas da fome e da pobreza
no mundo, já que se acreditava que nos países pobres havia maior degradação
ambiental, razão pela qual a produção de alimentos tenderia a ser menor. Todavia,
sabe-se, atualmente, que uma das causas da pobreza e da fome é, dentre outras, a
má distribuição de renda em nível mundial.

A visão neomalthusiana pode ser compreendida como simplista já que considera


somente a dimensão demográfica, não relacionando a questão ambiental
a aspectos associados ao desenvolvimento e ao crescimento econômico e
desconsiderando que os padrões de produção e consumo, realizados até o
momento, são extremamente poluidores e, por vezes, predatórios. Perceba que
nessa visão considera-se que o crescimento populacional seria o centro dos
problemas econômicos, sociais e ambientais.

2.2. A relação população e recursos naturais

Vimos na Seção 1.1 que diversos fatos contribuíram para a degradação


ambiental vivenciada globalmente e a agravaram, como o desenvolvimento das
atividades agrícolas, a Revolução Industrial até o atual modelo de vida do capitalista.
Apreendemos também que, diante do agravamento das questões ambientais, na
década de 1960 se iniciaram os debates sobre o tema. Contudo, é somente a partir
do final do século XX que se presencia a ampliação da consciência da sociedade
em relação à degradação do meio ambiente.

Por séculos o meio ambiente foi considerado depósito direto dos subprodutos
inaproveitáveis das atividades econômicas, comportamento esse que era orientado
pela impressão de que os recursos eram infindáveis. Essa conduta advém da visão

Histórico da questão ambiental e sua relação com a população 43


U1

antropocêntrica – em vigor desde o início do século XIX –, que defende o homem


como centro do universo, alheio ao meio ambiente (ou ambiente natural). Segundo
essa perspectiva, a natureza serviria exclusivamente para satisfazer as necessidades
humanas e ser refúgio para os problemas causados pela vida urbana.

Dentro da perspectiva da natureza como refúgio, surge a noção de natureza


intocada que norteou as ideias preservacionistas, muito mais voltadas às
necessidades do homem do que para a “preservação” do meio ambiente.

A visão biocêntrica, na qual o homem é parte integrante do meio ambiente,


modifica a ideia de proteção ambiental e conduz à tomada de consciência sobre
os limites do planeta a partir da década de 1960, momento em que a degradação
ambiental tornou-se mais evidente.

A diferença entre essas visões consiste no fato de que a primeira baseia-se no


crescimento econômico como precondição para a manutenção da vida e de que
a segunda tem como centro primordial a dimensão ecológica, a partir da qual o
desenvolvimento econômico poder ser alcançado juntamente com a preservação
dos recursos naturais.

Aprofunde o conhecimento a respeito das visões antropocêntrica


e biocêntrica do meio ambiente lendo o artigo de Fabíola Ferreira e
Zulmira Áurea Cruz Bomfim, intitulado “Sustentabilidade Ambiental:
visão antropocêntrica ou biocêntrica?”. Disponível em: <http://dialnet.
unirioja.es/descarga/articulo/3609197.pdf>. Acesso em: 20 ago. 2015.

As características de desenvolvimento (desde a era primitiva até o momento


mais tecnológico) da humanidade exigem um consumo cada vez maior de
recursos naturais, tanto minerais quanto energéticos.

Observe a Figura 1.6 e perceba que o consumo de energia aumenta dependendo


do estágio de desenvolvimento em que a sociedade se encontra. Assim, quanto
maior for o nível de desenvolvimento dos povos, maior será a demanda por energia
per capita.

44 Histórico da questão ambiental e sua relação com a população


U1

Figura 1.6 | Consumo de energia por fase de desenvolvimento da humanidade

Fonte: Modificado de Cordani e Taioli (2003, p. 519)

De acordo com Cordani e Taioli (2003, p. 519):

Para possibilitar o conforto da população atual da Terra, o


volume de materiais mobilizados pela humanidade (materiais
para construção, minerais e minérios) é maior do que aquele
mobilizado pelos processos geológicos característicos
da dinâmica externa da Terra. Tal constatação coloca a
humanidade não só como um efetivo “agente geológico”,
mas como importante modificador da superfície do planeta
na atualidade.

Histórico da questão ambiental e sua relação com a população 45


U1

Estima-se que o consumo médio de recursos naturais essenciais nos países


desenvolvidos seja de 16 toneladas per capita por ano. Já nas regiões menos
desenvolvidas, esse consumo seria cerca de 8 toneladas per capita por ano.

No ano de 2006 o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP)
lançou um atlas intitulado Planeta em perigo: atlas das ameaças atuais às pessoas
e ao meio ambiente. Nesse estudo, a ONU aponta como principais ameaças o
aquecimento global (em razão das emissões de gases do efeito estufa), o intenso
uso da água, a poluição nos oceanos, o uso de energia nuclear (tanto civil, quanto
militar) e os acidentes industriais que geram degradação do meio ambiente e da
vida humana.

Mesmo passados nove anos da publicação desse estudo, o cenário mundial


pouco se alterou. Estima-se que o consumo de recursos naturais até 2050 seja
triplicado, passando para 140 bilhões de toneladas por ano caso não sejam tomadas
medidas drásticas para frear a superexploração.

A grande questão é que consumimos recursos naturais em uma velocidade


muito maior do que a Terra pode produzi-los. Desse modo, se os padrões de
consumo se mantiverem, precisaremos mais que um planeta para os satisfazer. No
entanto, mesmo diante de descobertas recentes de um planeta com características
semelhantes às da Terra fora do sistema solar, temos até agora apenas um planeta
para atender a nossas necessidades de sobrevivência.

Veja mais a respeito da recente descoberta que a NASA fez de um planeta


gêmeo da Terra. Disponível em: <http://www.dn.pt/inicio/ciencia/
interior.aspx?content_id=4696119>. Acesso em: 17 set. 2015.

Pontuaremos a seguir o consumo de dois dos principais recursos naturais


utilizados em larga escala no mundo: os combustíveis fósseis (principal fonte de
energia) e a água (recurso essencial à vida).

2.2.1. Consumo de combustíveis fósseis

O aumento constante do consumo de combustíveis fósseis é uma realidade


desde a Revolução Industrial. Nos últimos cem anos houve uma demanda
crescente de energia por parte dos países em desenvolvimento, demonstrando,
assim, que o crescimento econômico, nos moldes postos atualmente, é um fator

46 Histórico da questão ambiental e sua relação com a população


U1

de risco e poderá provocar um impacto global nas próximas décadas.

Observe a Tabela 1.2 a seguir e perceba que, mesmo diante do apelo global
pelo uso de fontes de energia renováveis, o consumo de petróleo no mundo
ainda é muito alto, impactando diretamente no aumento das emissões de gases
do efeito estufa.
Quadro 1.2 | Consumo de petróleo total em 2013

País Consumo de petróleo (barris por dia)


Estados unidos 18.961
China 10.480
Japão 4.531
Índia 3.660
Rússia 3.493
Brasil 3.003
Arábia saudita 2.961

Fonte: Energy Information Administration (EIA). Disponível em: <http://www.eia.gov/beta/international/rankings/#?prodact=5-


2&cy=2013>. Acesso em: 17 set. 2015.

Para visualizar a evolução da exploração das reservas mundiais de petróleo


de 1980 a 2013, acesse o site <http://www.eia.gov/beta/international/> (acesso
em: 20 ago. 2015), no qual você encontrará gráficos e mapas sobre as reservas
mundiais de petróleo e sua capacidade produção.

Observe na Figura 1.7 a seguir um gráfico no qual você poderá visualizar os


maiores consumidores de carvão do mundo.
Figura 1.7 | Pessoas em ambientes diversos realizando atividades diversas

4.000,000

3.000,000

2.000,000

1.000,000

0
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Fonte: Energy Information Administration (EIA). Disponível em: <http://www.eia.gov/beta/international/>. Acesso em 31 jul.
2015.

Histórico da questão ambiental e sua relação com a população 47


U1

Estima-se que os combustíveis fósseis tendem a continuar sendo a fonte


dominante de energia e fornecerão 78% de tudo o que o mundo consumirá em
20354.

Leia mais sobre o consumo mundial de carvão de 1980 a 2010 no site


<http://www.eia.gov/todayinenergy/detail.cfm?id=4390> (acesso em:
20 ago. 2015), em que você encontrará um mapa animado no qual é
possível visualizar a evolução do consumo de carvão no mundo.

Outro combustível que apresenta grande consumo mundial é o gás natural,


como podemos observar no Figura 1.8 a seguir.

Figura 1.8 | Consumo de gás natural seco em 2012

30,000

25,000

20,000

15,000

10,000

5,000

0
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Fonte: Energy Information Administration (EIA). Disponível em: <http://www.eia.gov/beta/international/>. Acesso em: 31 jul.
2015.

Diante dos dados apresentados e das estimativas para as próximas duas décadas,
é possível inferir que o modelo de produção e consumo de bens que está em vigor
há mais de 50 anos é incompatível com a ideia de sustentabilidade apresentada
em 1987, no relatório Nosso Futuro Comum, o que, sem muito sucesso, tenta-se
4
Fonte: Energy Information Administration. Disponível em: <http://futurelab.com.br/site/futureblog/numeros-recentes-
mostram-o-crescimento-continuo-no-consumo-de-combustiveis-fosseis/>. Acesso em: 31 jul. 2015.

48 Histórico da questão ambiental e sua relação com a população


U1

colocar em prática. Isso ocorre porque a visão de muitos países ainda está voltada
para o desenvolvimento econômico em detrimento da proteção ambiental.

2.2.2. Consumo de água

A água é um dos recursos naturais mais importantes para a manutenção da vida


na Terra, no entanto a maior parte das pessoas não está ciente disso.

Você, acadêmico, já pensou na importância da água? Já parou para pensar que,


sem água, não temos a produção de alimentos e de bens indispensáveis à vida?

De acordo com Lunardi e Rabaiolli (2013, p. 47),

A água doce, indispensável à vida, é um recurso renovável,


porém finito e relativamente escasso em algumas regiões. A
maior demanda é decorrente do crescimento acelerado da
população. O desperdício e o uso inadequado aceleram o
esgotamento e degradam esse recurso. Problemas desse tipo
já ocorrem em certas áreas e se mantidas as atuais formas de
uso da água eles poderão abranger todo o planeta, gerando
uma crise global da água.

O século atual se iniciou com uma grave crise hídrica. Segundo apontamentos
da ONU5, mais de 1 bilhão de seres humanos não tem acesso a água potável e 2,4
bilhões não têm acesso a saneamento básico. Para algumas pessoas, a água parece
abundante, mas as reservas estão distribuídas de forma desigual. Considerando
que alguns países detêm 60% de reservas de água doce do planeta, a Ásia, lar de
60% da população do mundo, só tem 30% do total.

Entretanto, não é somente a distribuição desse recurso que é preocupante;


a qualidade da água também é um problema. Quanto maior for a quantidade
consumida, maior será a água residual produzida. Nos países em desenvolvimento,
90% da água residual e 70% de resíduos industriais correm direto para rios e mares
sem qualquer forma de tratamento.

5
Planet in peril: Atlas of current threats to people and the environment. Disponível em: <http://apps.unep.org/publications/
index.php?option=com_pub&task=download&file=000667_en>. Acesso em: 31 jul. 2015.

Histórico da questão ambiental e sua relação com a população 49


U1

Pesquise sobre o uso e a distribuição da água no mundo lendo a publicação


Planet in peril: Atlas of current threats to people and the environment,
na qual você poderá observar mapas com essas informações. Disponível
em: <http://apps.unep.org/publications/index.php?option=com_
pub&task=download&file=000667_en>. Acesso em: 20 ago. 2015.

Lunardi e Rabaiolli (2013, p. 48) nos ensinam que:

Juntamente com a escassez causada pela demanda crescente,


nos países industrializados o problema da poluição das águas
doces representa uma seria preocupação. Esse fator reduz os
recursos de água doce. Dois milhões de toneladas de resíduos
são jogados diariamente nas fontes receptoras, incluindo
componentes industriais, químicos, dejetos humanos e
resíduos agrícolas (fertilizantes e herbicidas).

Perceba que não é somente o crescente consumo que faz com que os
recursos hídricos sejam escassos. A poluição indiscriminada da água doce em
vários países do mundo também contribui para uma possível crise hídrica de escala
global. Apesar de sua extrema importância, a água é mal utilizada, mau uso que
é caracterizado tanto pelo uso excessivo (abuso e desperdício, que reduzem a
quantidade disponível) quanto pelo uso inadequado que leva à degradação do
recurso (pela redução de sua qualidade).

O desperdício e a poluição de corpos hídricos por resíduos industriais e


domésticos têm se tornado uma preocupação mundial. Estima-se que daqui
quinze anos (2030) o planeta enfrentará um déficit de água de 40%, a menos que
a gestão desse recurso seja modificada drasticamente6.

Caro acadêmico, você consegue pensar em ações que


possam minimizar os impactos negativos sobre os corpos
hídricos?

6
Fonte: Gestão mais sustentável da água é urgente. Disponível em: <http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-this-
office/single-view/news/urgent_need_to_manage_water_more_sustainably_says_un_report/#.Vb0Ct_lViko>. Acesso em:
31 jul. 2015.

50 Histórico da questão ambiental e sua relação com a população


U1

A ONU, em seu Relatório Mundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento


de Recursos Hídricos 2015 – Água para um Mundo Sustentável, aponta que a
crise global de água é um problema muito mais relacionado à governança que
à disponibilidade do recurso. O uso abusivo é frequentemente o resultado de
modelos antigos de utilização de recursos naturais e de governança. A utilização
de recursos para o crescimento econômico tem regulação deficiente e é realizada
sem controle adequado.

De acordo com esse Relatório7 (UNESCO, 2015, p. 6):

O avanço em governança dos recursos hídricos exige o


envolvimento de uma ampla gama de atores sociais, por meio
de estruturas de governança inclusivas, que reconheçam
a dispersão da tomada de decisão através de vários níveis
e entidades. É imperativo reconhecer, por exemplo, a
contribuição das mulheres para a gestão local dos recursos
hídricos e seu papel nas tomadas de decisão relacionadas
à água. Enquanto diversos países enfrentam impasses em
relação a reformas na área de recursos hídricos, outros
têm feito grandes progressos na implementação de vários
aspectos da gestão integrada de recursos hídricos (GIRH),
incluindo a gestão descentralizada e a criação de organismos
de bacias hidrográficas. Considerando que a implementação
da GIRH, com muita frequência, é orientada para a eficiência
econômica, há necessidade de enfatizar as questões de
equidade e sustentabilidade ambiental, e adotar medidas para
fortalecer a responsabilidade social, administrativa e política.

Esse Relatório afirma ainda que a demanda hídrica global é fortemente


influenciada pelo crescimento da população, pela urbanização, pelas políticas de
segurança alimentar e energética, e pelos processos macroeconômicos, tais como
a globalização do comércio, as mudanças na dieta e o aumento do consumo. Prevê
que no ano de 2050 haverá um aumento de 55% na demanda hídrica mundial,
principalmente em virtude da crescente demanda do setor industrial, dos sistemas
de geração de energia termoelétrica e dos usuários domésticos.

7
Relatório original disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0023/002318/231823E.pdf>. Acesso em: 31 jul. 2015.

Histórico da questão ambiental e sua relação com a população 51


U1

As demandas concorrentes pela água impõem decisões difíceis


quanto à sua alocação e limitam a expansão de setores críticos
para o desenvolvimento sustentável, em particular, para a
produção de alimentos e energia. A competição pela água –
entre “usos” da água e “usuários” da água – aumenta o risco
de conflitos localizados e as desigualdades são perpetuadas
no acesso aos serviços, com impactos significativos nas
economias locais e no bem-estar humano. (UNESCO, 2015,
p. 2).

A ONU afirma, ainda, que os aquíferos freáticos estão baixando, mostrando


que que cerca de 20% dos aquíferos do mundo inteiro estão superexplorados. A
intensidade da urbanização, aliada às práticas agrícolas impróprias, o desmatamento
e a poluição estão entre os fatores que colocam o meio ambiente no limite,
com relação tanto ao fornecimento de “serviços ecossistêmicos”8, quanto ao
provisionamento de água potável.

“Os aquíferos, que concentram água no subterrâneo e abastecem nascentes


e rios, são responsáveis atualmente por fornecer água potável à metade da
população mundial e é de onde provêm 43% da água usada na irrigação.” (PORTAL
BRASIL, 2015, s/p.)

Caro aluno, os desafios que se colocam para o futuro são muitos, como
pontua a Organização das Nações Unidas. Devemos compreender, então, que
o crescimento populacional é parte desse desafio. No entanto, ele não pode ser
visto como o problema central dos problemas ambientais, sociais e econômicos.

A intensa exploração e o consumo de recursos naturais não representam mais


um modelo sustentável, o que já tem sido exaustivamente discutido há pelo menos
30 anos, como pudemos perceber ao refletir sobre as Conferências Mundiais do
Meio Ambiente. Muitas metas foram traçadas ao longo de tantas discussões;
todavia, os avanços no cumprimento são imensamente mais lentos que os do
ritmo de destruição. Os alertas da ONU são contínuos: se não modificarmos nossa
relação com os recursos naturais, as projeções para os próximos 100 anos podem
não ser muito otimistas.

O maior desafio no século XXI, referente à questão ambiental, é colocar


plenamente em prática o discurso do desenvolvimento sustentável e a busca de
alternativas para os problemas ambientais já instaurados e, ainda, a tentativa de
minimizar a possibilidade e novos impactos.
8
Sumário Executivo do Relatório Mundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento dos Recursos (2015). Disponível em:
<http://www.unesco.org/new/fileadmin/MULTIMEDIA/HQ/SC/images/WWDR2015ExecutiveSummary_POR_web.pdf>.
Acesso em: 31 jul. 2015. Relatório Integral (Original) disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0023/002318/231823E.
pdf>. Acesso em: 31 jul. 2015.

52 Histórico da questão ambiental e sua relação com a população


U1

Enquanto professores de uma ciência que estuda as diferentes interações do


homem com o meio, devemos incluir em nossas práticas pedagógicas ações que
tenham como objetivo sensibilizar os alunos e toda a comunidade escolar na
busca do desenvolvimento sustentável e do consumo consciente.

A fim de aprofundar-se no estudo da dinâmica populacional e meio


ambiente, procure pelo livro Dinâmicas demográficas e ambiente,
organizado por Álvaro de Oliveira D’Antona e Roberto Luiz do Carmo.
Disponível em: <http://www.nepo.unicamp.br/textos/publicacoes/
livros/ambiente/DinamicasDemograficasAmbiente.pdf>. Acesso em: 20
ago. 2015.

1. O crescimento populacional mundial em diversos momentos


foi encarado como um dos fatores principais na crescente
degradação ambiental e na superexploração dos recursos
naturais. Tendo como base os conhecimentos construídos
nesta seção e seus conhecimentos prévios, é correto afirmar
que o crescimento exponencial da população mundial é o
fator central dos problemas ambientais? Por quê?

2. A relação entre o homem e o meio ambiente pode ser


analisada por duas principais visões, a antropocêntrica e a
biocêntrica. Explique como a relação homem/meio ambiente
é analisada por essas duas correntes de pensamento.

Histórico da questão ambiental e sua relação com a população 53


U1

- O uso artificial do planeta Terra teve maior intensidade a partir


da revolução agrícola por volta de 8.000 a.C. e foi aprofundado
com o desenvolvimento da sociedade em suas fases de
desenvolvimento.
- A questão ambiental começou a ser discutida com maior
seriedade na década de 1960, por meio do Clube de Roma (1968).
- A partir da década de 1970 se iniciaram as Conferências
Mundiais sobre o Meio Ambiente organizadas pela Organização
das Nações Unidas. A primeira ocorreu em Estocolmo na Suécia
e a última em 2012 no Rio de Janeiro.
- No ano de 1987 o Relatório de Brundtland definiu o
desenvolvimento sustentável, trazendo uma nova tratativa aos
problemas ambientais e a exploração dos recursos naturais.
- Em 1997 foi criado o Protocolo de Kyoto, que entrou em vigor
em 2007, mesmo sem a ratificação dos Estados Unidos.
- O crescimento populacional não é o principal responsável
pelos impactos sobre os recursos naturais, mas sim o padrão de
consumo e produção das sociedades atuais.

Nesta unidade tivemos a oportunidade de discutir como se


deu a evolução da questão ambiental desde as mais primitivas
interações entre o homem e o meio que o cerca até a
instauração da sociedade de consumo que estamos vivenciando
na atualidade. Também pudemos apreender as relações entre o
crescimento populacional e a utilização dos recursos naturais,
além de compreender que somente o crescimento populacional
não pode ser considerado como centro dos problemas
ambientais, econômicos e sociais enfrentados pelos diferentes
países do mundo.
Como futuro professor de Geografia, é essencial que você
inclua em suas práticas pedagógicas ações que tenham como
objetivo sensibilizar os alunos com relação ao desenvolvimento
sustentável e ao consumo consciente.
Esperamos que durante seus estudos você tenha se motivado
para aprofundar seus conhecimentos sobre os conteúdos aqui
apresentados. Procure mais sobre o assunto em livros, artigos e
revistas eletrônicas disponíveis na internet e sites especializados.

54 Histórico da questão ambiental e sua relação com a população


U1

1. A Revolução Industrial foi, indubitavelmente, um


marco histórico na exploração dos recursos naturais e no
agravamento da degradação ambiental, em especial com
relação à emissão dos gases do efeito estufa, que possibilitam
o aumento da temperatura do planeta. No entanto, há uma
teoria que aponta que a difusão das práticas agrícolas desde
a antiguidade foi um dos fatores preponderantes para as
mudanças climáticas.
Diante do exposto, assinale a alternativa que apresenta
corretamente as hipóteses dessa teoria.
a) Essa teoria aponta, por meio de medições realizadas em
bolhas de ar presentes nas calotas polares do Ártico, que as
concentrações de gases do efeito estufa foram muito elevadas
quando houve a disseminação das práticas agrícolas.
b) Essa teoria aponta, por meio de aferições realizadas
em bolhas de ar presentes nas calotas polares, que as
concentrações de gases metano e dióxido de carbono foram
elevadas quando houve a disseminação das indústrias.
c) Essa teoria aponta, por meio de estudos realizados em bolhas
de ar presentes nas calotas polares, que as concentrações de
gases do efeito estufa foram diminuídas no momento em que
houve a disseminação da agricultura.
d) Essa teoria aponta, por meio de aferições realizadas em
bolhas de ar presentes nas calotas polares do Ártico, que as
concentrações de gases do efeito estufa foram intensificadas
desde o momento que houve o domínio do fogo pelo
homem.
e) Essa teoria aponta, por meio de medições realizadas em
estrias de calotas polares, que as concentrações de gases
metano foram minimizadas com o advento da Revolução
Industrial.

2. A exploração e o consumo de recursos naturais


mostraram-se diferenciados ao longo do desenvolvimento da
humanidade. A partir da Revolução Industrial a exploração e o
consumo desses recursos tornaram-se muito mais intensos,
acarretando e intensificando a degradação ambiental.
Diante disso, analise as afirmações a seguir e depois assinale
a alternativa correta.

Histórico da questão ambiental e sua relação com a população 55


U1

I – A Revolução Industrial fez aumentar o consumo de bens


graças aos altos salários.
II – Durante a Revolução Industrial houve a passagem da
manufatura para a maquinofatura.
III – A primeira fonte de energia para as máquinas utilizadas
nas indústrias foi o carvão mineral.
IV – As fontes de energia renováveis começaram a ser
utilizadas na indústria no século XIX.

É verdadeiro o que se afirma apenas em:


a) I e IV.
b) II e III.
c) III e IV.
d) I e III.
e) II e IV.

3. O processo industrial utiliza majoritariamente como fonte


de energia os combustíveis fósseis e recursos naturais não
renováveis que, por vezes, são altamente poluidores. Os
gases emitidos pela queima dos combustíveis fósseis podem
contribuir para qual problema ambiental em nível mundial?
Assinale a alternativa que apresenta o problema ambiental
que pode ser agravado pela queima de combustíveis fósseis.
a) Derretimento das geleiras.
b) Chuva ácida.
c) Aquecimento global.
d) Inversão térmica.
e) Ilhas de calor.

4. Em 2006, o Programa das Nações Unidas para o Meio


Ambiente (UNEP) lançou Planeta em perigo: atlas das ameaças
atuais às pessoas e ao meio ambiente, documento que mostra
que os recursos hídricos do planeta são distribuídos de modo
desigual entre os continentes. No entanto, uma crise hídrica
global pode ocorrer não somente em razão da distribuição
desigual da água no planeta.
Diante disso, assinale a alternativa que apresenta os elementos
que podem motivar uma crise hídrica global.
a) Degradação dos mananciais e desperdício no consumo.
b) Escassez de rios e bacias hidrográficas.
c) Ausência de lençóis freáticos.
d) Redução das áreas agriculturáveis.
e) Poluição dos aquíferos freáticos.

56 Histórico da questão ambiental e sua relação com a população


U1

5. Em 1983 foi criada a Comissão Mundial sobre o Meio


Ambiente e Desenvolvimento – também conhecida como
Comissão Brundtland, com a finalidade de reexaminar as
questões relativas ao meio ambiente e reformular propostas
realistas para abordá-las. Essa Comissão formulou um
Relatório intitulado Nosso Futuro Comum, no qual foi definido
o conceito de que os recursos naturais devem ser utilizados
de modo racional para que as gerações futuras tenham
disponíveis os mesmos recursos que a geração atual tem.
Assinale a alternativa que apresenta a nomenclatura do
conceito definido pelo Relatório Nosso Futuro Comum.

a) Crescimento neomalthusiano ambiental.


b) Desenvolvimento sustentável.
c) Ecodesenvolvimento neoliberal.
d) Desenvolvimento ambiental.
e) Ecocapitalismo ambiental.

Histórico da questão ambiental e sua relação com a população 57


U1

58 Histórico da questão ambiental e sua relação com a população


U1

Referências
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Conferência das nações unidas sobre desenvolvimento sustentável, Rio de Janeiro,
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GODOY, Amalia Maria Goldberg. O Clube de Roma: Evolução histórica. Blog
Economia e meio ambiente, 2007. Disponível em: <http://amaliagodoy.blogspot.com.
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LETRA, Leda. Mundo terá 9,7 bilhões de habitantes em 2050. Notícias e Mídia – Rádio
ONU. 2015. Disponível em: <http://www.unmultimedia.org/radio/portuguese/2015/07/
mundo-tera-97-bilhoes-de-habitantes-em-2050/#.Vb4n3vlViko>. Acesso em: 31 jul.
2015.
LUNARDI, James; RABAIOLLI, Joel Albino. Valorização e preservação dos recursos
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Debate, João Pessoa, v. 7, n. 1, p. 44-62, jan.-jun. 2013.
MARCHEZI, Roberta da S. M.; SANTOS, Helio Ricardo da F. Projeto ambiental: uma
visão de negócio. Curitiba: Appris, 2013.
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<http://www.pnud.org.br/HDR/arquivos/RDH2000/RDH0por.pdf>. Acesso em: 29
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Histórico da questão ambiental e sua relação com a população 59


U1

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________. (UNITED NATIONS) Department of Economic and Social Affairs, Population
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ciências ambientais. 2. ed. Rio de Janeiro: Thex, 2002.
SENE, Eustáquio; MOREIRA, João Carlos. Geografia geral e do Brasil: espaço
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VIESTEL, Roberto Marin. História e questão ambiental: apontamentos. In: Simpósio de
Educação Ambiental e Transdisciplinaridade, 2, 2011, Goiânia. Anais... Goiânia: UFG /
IESA / NUPEAT, 2011. p. 1-9.

60 Histórico da questão ambiental e sua relação com a população


Unidade 2

RECURSOS NATURAIS E FONTES


DE ENERGIA
Tiago Henrique dos Santos Garbim

Objetivos de aprendizagem:

Caro aluno, na segunda unidade do seu material vamos iniciar um assunto


que será de extrema importância nos próximos temas das próximas unidades de
seu livro. Quando abordados os tópicos relacionados a recursos naturais e fontes
de energia, tenha em mente que diferentes análises podem ser realizadas acerca
dos temas, uma vez que estes podem funcionar como assuntos transversais
e interdisciplinares em áreas como: Ciências Biológicas, Geografia, Gestão
Ambiental, Engenharia Ambiental, dentre outras. A visão interdisciplinar vai nos
orientar à medida que desenvolvermos os conteúdos da unidade de estudo,
porém os enfoques necessários aos profissionais da Geografia, especialmente
no campo da licenciatura, serão sempre enfatizados.

Compreender não só no que consistem os recursos naturais, sua


disponibilidade, distribuição, aplicações, usos, mas também a maneira como os
mesmos podem estar relacionados com fontes de energia disponíveis nos dá a
base necessária para a análise mais profunda acerca de tais fontes energéticas,
seus diferentes exemplos e processos, os panoramas mundial e brasileiro, os
impactos e as perspectivas futuras. Você está convidado a ver uma interessante
perspectiva acerca dos recursos naturais do planeta e fontes de energia, para
que, assim, possa compreender e aplicar os seus conceitos com os alunos em
sala de aula.

Seção 1 | Recursos naturais: conceitos e aplicações


A análise dos recursos naturais do planeta nos permite compreender
todos aqueles elementos que são necessários à manutenção de organismos,
populações e ecossistemas. São os recursos naturais que dão a base para o
funcionamento de tais ecossistemas. Sendo assim, é de suma importância
compreendermos o que são esses recursos e também como eles podem ser
explorados.
U2

Seção 2 | Fontes de energia renováveis: exemplos e


distribuição
Fontes de energia renováveis são aquelas que consistem em recursos
naturais renováveis, ou seja, aqueles não exauríveis. Aplicadas em várias partes
do mundo, são aquelas que podem manter-se e serem aproveitadas ao longo
do tempo sem a chance de seu esgotamento. É interessante que possamos
conhecer a respeito da distribuição dessas fontes de energia no Brasil e no
mundo.

Seção 3 | Fontes de energia não renováveis: exemplos e


distribuição
Fontes de energia não renováveis correspondem aos recursos naturais não
renováveis, ou seja, aqueles que são exauríveis. Assim como as fontes renováveis,
embora altamente aplicadas, seus recursos são limitados, dependentes de
recursos disponíveis no planeta, porém não com a mesma demanda dos
renováveis, uma vez que a chance de seu esgotamento é possível de acontecer.
Conhecer a respeito da distribuição dessas fontes de energia no Brasil e no
mundo nos permite refletir acerca de sua importância.

62 Recursos naturais e fontes de energia


U2

Introdução à unidade

Esta unidade gira em torno de princípios básicos a respeito do uso de fontes e


recursos de energia do planeta. Independentemente de como o assunto for abordado,
o cenário atual sobre ele é preocupante e deve ser levado em consideração. O uso
de recursos energéticos do planeta é um dos principais fatores que afetam o meio
ambiente em qualquer escala, uma vez que o consumo de combustíveis fósseis
após a Revolução Industrial ficou cada vez mais intenso e foi responsável pelo
aumento da concentração de dióxido de carbono na atmosfera em cerca de 30% a
mais do que antes, acarretando problemas ambientais como o aquecimento global.
A maneira pela qual um recurso é explorado também pode influenciar diretamente
no ambiente, uma vez que, se não for realizada da forma mais apropriada, pode vir
a causar danos e desequilíbrios ambientais. Casos que demonstram como esses
exemplos podem vir a surgir estão presentes na mídia, como o grande vazamento
de petróleo que aconteceu no Golfo do México em 2010, um dos maiores desastres
de vazamento desse tipo na história.

O foco deste material não é necessariamente esse a respeito das questões


ambientais, porém, se tivermos a visão de como a exploração e o uso de recursos
e fontes energéticas acontece no mundo, poderemos compreender os seus
conceitos básicos de forma mais efetiva. Dessa maneira, na Seção 2.1 desta unidade,
vamos analisar os recursos naturais em sua forma mais básica. Veremos como
são definidos, analisaremos exemplos e suas aplicações como fontes de energia;
podendo visualizar como as fontes de energia são caracterizadas. Na Seção 2.2
vamos abordar as fontes que são renováveis, analisando exemplos e sua distribuição
no Brasil e mundo. Na Seção 2.3 vamos realizar uma análise semelhante à da segunda
seção, enfatizando, no entanto, as fontes de energia não renováveis.

Recursos naturais e fontes de energia 63


U2

64 Recursos naturais e fontes de energia


U2

Seção 1

Recursos naturais: conceitos e aplicações


Recursos naturais são importantes ao balanço e equilíbrio no meio ambiente,
proporcionando o melhor desenvolvimento e adaptação do homem no planeta
Terra. Para que possamos compreender a existência de recursos naturais, devemos
também saber da importância dos mesmos para a sobrevivência de qualquer forma
viva do planeta, desde o homem até qualquer animal ou planta que habita a superfície
terrestre.

1.1 O que são recursos naturais?

Primeiramente, vamos começar nossos estudos compreendendo a que


correspondem os recursos naturais. Deve-se ter a ideia inicial de que o homem
sempre teve diversas matérias-primas e recursos a seu dispor desde o início dos
tempos, ou seja, o homem sempre retirou do ambiente tudo aquilo que ele acreditava
que iria lhe beneficiar de alguma maneira (Figura 2.1). Entram, nesse contexto, os
recursos naturais, principalmente quando analisamos a definição do Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), com base na qual conseguimos
realmente ter essa visão. Segundo esse órgão da Organização das Nações Unidas
(ONU), são recursos naturais todas as matérias-primas de ordem renovável ou não
renovável que são obtidas diretamente da natureza e aproveitadas pelo homem
(PNUD, 2010).

Recursos naturais e fontes de energia 65


U2

Figura 1.1 | Pessoas em ambientes diversos realizando atividades diversas

Fonte: Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Neanderthals_-_Artist%27s_rendition_of_Earth_


approximately_60,000_years_ago.jpg>. Acesso em: 09 set. 2015.

Conheça melhor o que é o Programa das Nações Unidas para o


Desenvolvimento no link <http://www.pnud.org.br/sobrepnud.aspx>.
Acesso em: 01 set. 2015.

Recursos naturais são todos os elementos que são essenciais à sobrevivência e


à manutenção da vida de qualquer ser vivo, já que todos nós dependemos deles.
Eles podem ser de ordem mineral, vegetal, ambiental, combustíveis fósseis, dentre
outros. Exemplos práticos de recursos naturais podem ser: água, ar, água, flora,
fauna, minerais, energia, dentre outros.

66 Recursos naturais e fontes de energia


U2

Uma vez que o homem extrai recursos naturais, tecnologias


são necessárias para tornar esse recurso possível ao uso?

A extração de recursos naturais visando lucro é uma prática comum de


sociedades capitalistas. A mineração, por exemplo, é uma prática que surgiu no
Brasil desde a época do Brasil colônia, quando os portugueses extraíam recursos
naturais de nosso país, como por exemplo, o ouro (BARRETO, 2001). Alguns metais
são extraídos e utilizados como matérias-primas na produção de materiais que farão
parte da indústria da construção civil, além dos demais ramos das engenharias, em
que matérias-primas como essas são extremamente necessárias aos processos de
produção (VALVERDE, 2001).

À medida que o homem passou a utilizar os recursos naturais em processos


produtivos e tecnológicos, ele melhorou a sua qualidade de vida: recursos
que inicialmente eram indispensáveis à sua sobrevivência poderiam então ser
considerados fontes que promoviam o bem-estar material e, consequentemente,
social. As atividades de extração de recursos de forma excessiva acabaram por
promover grandes alterações no equilíbrio natural que acontece nos ecossistemas.

Saiba como acontece o equilíbrio dos ecossistemas com mais detalhes


no link <http://www.infoescola.com/ecologia/equilibrio-ecologico/>.
Acesso em: 01 set. 2015.

Hoje, nas linhas que estudam os recursos naturais, o que se defende fortemente
é a questão do desenvolvimento sustentável, vertente favorável a que a humanidade
deva sim usufruir dos recursos naturais disponíveis, porém com a consciência de
que a biodiversidade e o manejo sustentável de tais recursos devem ser mantidos,
ou seja, a cultura da gestão sustentável dos recursos naturais.

Recursos naturais e fontes de energia 67


U2

Organizações como o WWF-Brasil estimulam e apoiam as comunidades de


reservas extrativistas que realizam essas práticas prezando pela manutenção do
meio ambiente, pois, assim, nossa qualidade de vida pode ser mantida e aumentada.
Tais práticas podem melhorar a produtividade e a renda das comunidades que as
aplicam.

Conheça como esses programas de uso sustentável dos recursos naturais


funcionam no link da página oficial do WWF-Brasil. Disponível em:
<http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/reducao_de_impactos2/
amazonia/amazonia_acoes/uso_sustentavel/>. Acesso em: 01 set. 2015.

Os recursos naturais são divididos em dois grupos: os recursos renováveis e


os recursos não renováveis. Os recursos renováveis são aqueles que se renovam
naturalmente após o seu uso, ou seja, que são repostos na natureza em taxas
iguais ou superiores àquelas antes de o homem deles usufruir. Um exemplo prático
e muito fácil de ser identificado de recurso renovável é a água, um recurso que
se renova naturalmente através do ciclo hidrológico (Figura 2.2). Esse processo é
impulsionado por fatores como: energia térmica solar (que promove a evaporação
da água), força dos ventos (os quais transportam o vapor d’água), a gravidade (que
promove as chuvas e o deslocamento das águas nos continentes) e a água, que
estará disponível para as plantas absorverem e realizarem fotossíntese. A água
presente nos seres vivos, oceanos, rios, lagos e solos passa por evaporação, sendo
o ciclo, portanto, constante (TUNDISI, 2003).

Saiba mais sobre o ciclo hidrológico no link <http://www.mma.gov.br/


agua/recursos-hidricos/aguas-subterraneas/ciclo-hidrologico>. Acesso
em: 1 set. 2015.

Basicamente, podemos concluir que recursos naturais renováveis são elementos


da natureza que são processados e transformados para atender às necessidades
do homem sem degradar o ambiente de alguma maneira, sendo constantemente
repostos através de ciclos biogeoquímicos. Outros exemplos de recursos naturais
renováveis são as florestas, o solo e a biomassa, de origem animal ou mineral, mas
que sempre estarão consumindo gases da atmosfera e se desenvolvendo.

68 Recursos naturais e fontes de energia


U2

Figura 2.2 | Ciclo hidrológico com detalhes

Fonte: Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Ciclo_da_%C3%A1gua.jpg>. Acesso em: 09 nov. 2015.

Recursos naturais renováveis sempre se renovam em longos


períodos de tempo?

Os recursos não renováveis são aqueles que, embora também sejam


provenientes da natureza como os renováveis, não se renovam naturalmente após
o seu uso. Tais recursos são provenientes de matéria orgânica em decomposição
que é depositada e compactada, processo geológico que levou milhões de anos
para acontecer. Logo, demorará todos esses milhões de anos para acontecer
novamente. Quando esses recursos são retirados do ambiente e utilizados, eles
não podem ser reaproveitados ou reutilizados. Um exemplo clássico é o petróleo,
sobre o qual voltaremos a discutir sobre mais à frente em nossa unidade. No
entanto, o que neste momento você deve ter em mente, caro aluno, é como
ele se forma. A formação do petróleo acontece a partir da deposição no fundo
de lagos e mares de restos de seres vivos que morreram no decorrer de milhares

Recursos naturais e fontes de energia 69


U2

de anos. Com o tempo esses restos iam sendo cobertos por sedimentos, que
se transformavam em rochas sedimentares e, com a ação do calor e pressão e
de reações complexas, formaram o petróleo. Outros exemplos de recursos não
renováveis são o carvão e o urânio.

Saiba mais sobre a formação do petróleo no link: <http://www.uenf.br/


uenf/centros/cct/qambiental/pe_formacao.html>. Acesso em: 01 set.
2015.

Todos os recursos não renováveis são oriundos de processos


geológicos?

Odum (2001) destaca a importância da conservação de recursos naturais,


uma vez que assim asseguramos a preservação de um ambiente de qualidade,
garantindo matérias-primas aos produtos essenciais, além de assegurar uma
produção contínua de plantas, animais e matérias úteis mediante um ciclo
equilibrado de retirada e renovação.

Bem, agora que você já compreendeu o que são os recursos naturais e que
eles podem ser divididos em dois grupos: renováveis e não renováveis, chegou a
hora de estudar os quatro tipos básicos de recursos naturais: recursos minerais,
recursos hídricos, recursos biológicos e recursos energéticos. Esses quatro tipos
podem ser distribuídos dentro dos dois grupos de recursos naturais que estudamos
(renováveis e não renováveis).

1.2 Tipos de recursos naturais


Vamos iniciar nossas análises com os recursos minerais, que nada mais são
do que as concentrações de rochas e minerais que juntos estabelecem a crosta
terrestre e apresentam características específicas. Trata-se de recursos não
renováveis que apresentam origem geológica a partir dessas rochas e minérios

70 Recursos naturais e fontes de energia


U2

que são amplamente utilizados na indústria em ramos da construção civil ou na


produção de fios de cobre, por exemplo, que são fundamentais na condução de
eletricidade.

Os recursos minerais são classificados em recursos metálicos e não metálicos,


e são extraídos a partir das atividades de mineração. Alguns exemplos de recursos
minerais metálicos são: cobre (Cu), alumínio (Al), ferro (Fe), chumbo (Pb), entre
outros. Exemplos de minerais não metálicos são: granito, basalto, mármore, areia
etc.

Quais são os objetivos de uso de recursos minerais metálicos


e não metálicos?

A maneira pela qual a extração de um recurso mineral é feita pode poluir o


ambiente ou degradá-lo, gerando um impacto visual na paisagem (Figura 2.3),
por exemplo, quando um corpo d’água é contaminado a partir da exploração de
uma mina ou quando a extração de um mineral deixa o solo vulnerável à erosão
(MECHI; SANCHES, 2010).
Figura 2.3 | As práticas de extração de recursos minerais podem vir a deixar o solo vulnerável

Fonte: Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Gypsum_layers_Caprock_Canyons_1.JPG>. Acesso em: 09


nov. 2015.

Recursos naturais e fontes de energia 71


U2
Os recursos hídricos correspondem à água que está ao dispor do homem, sendo
ela superficial ou subterrânea. Assim como comentado anteriormente e analisado
na Figura 2.2, os recursos hídricos são considerados recursos renováveis graças
à conexão deles com os grandes ciclos que acontecem no planeta. Infelizmente
o cenário observado hoje a respeito do uso da água é de grande desperdício em
atividades domésticas, industriais e também na agricultura. Os recursos hídricos
potencialmente disponíveis ao homem estão presentes em lagos, rios e lençóis de
água subterrâneos, os aquíferos.

Mesmo se tratando de um recurso natural renovável, a qualidade da água pode


vir a diminuir em razão do grande desperdício, já que, dessa forma, há um grande
risco de a qualidade da água disponível ao homem diminuir. Trabalhos como o de
Moraes e Jordão (2002) mostram que o crescimento populacional desenfreado
tende a superar os níveis suportados pela natureza, resultando em um estresse no
sistema hídrico, além das práticas de degradação de recursos hídricos que podem
vir a poluir o pouco que ainda resta de água apropriada ao consumo humano.

Saiba mais sobre recursos hídricos no conteúdo oferecido no link <http://


www.mma.gov.br/agua/recursos-hidricos>. Acesso em: 01 set. 2015.

Os recursos biológicos representam uma série de recursos que o homem pode


obter e utilizar a partir de outros seres vivos, razão pela qual falamos que esses
recursos são renováveis, assim como os recursos hídricos. O homem pode aplicar
esses recursos em diferentes áreas de sua vida, na alimentação, na construção,
na indústria têxtil, na produção de medicamentos e vacinas etc. Esses recursos
geralmente são explorados e obtidos por meio de práticas humanas que podem
ser de ordem extrativista ou coletora. Sendo assim, dentro dos recursos biológicos
se enquadram recursos agropecuários, aquáticos, florestais, entre outros, ou seja,
qualquer prática que envolva seres vivos em qualquer ordem.

Recursos biológicos são indispensáveis à nossa vida?

72 Recursos naturais e fontes de energia


U2

A agricultura representa hoje a principal fonte de alimentos que são plantados


e coletados pelo homem, assim como a pecuária, em que animais são criados em
cativeiro e utilizados como alimento ou na produção de produtos para as pessoas;
a caça pode também ser uma prática comum de alguns países, bem como a
pesca. Por fim, das florestas provêm madeira e matérias-primas como a celulose,
utilizadas na produção de produtos e serviços para a sociedade. Uma vez que os
recursos biológicos são considerados inesgotáveis, a extração e a retirada desses
recursos acabam acontecendo de forma desenfreada, levando à superexploração
e consequente perda da biodiversidade (PRIMACK; RODRIGUES, 2001).

Mais detalhes sobre a perda da biodiversidade você encontra no link


<http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/especiais/biodiversidade/
consequencias_perda_biodiversidade/>. Acesso em: 01 set. 2015.

Por fim, os recursos energéticos incluem as fontes de energia que provêm


de recursos disponíveis no ambiente. Nesse sentido, esses recursos podem ser
tanto renováveis quanto não renováveis, uma vez que isso vai depender do tipo de
recurso que está envolvido na produção de energia. Como esses recursos são os
pontos principais de nosso livro, vamos então dar-lhes ênfase nas próximas duas
seções deste material. Para resumirmos todos os tipos de recursos naturais e suas
particularidades, acompanhe o esquema presente na Figura 2.4 a seguir!

Figura 2.4 | Os tipos de recursos naturais e suas classificações

HÍDRICOS

RENOVÁVEIS BIOLÓGICOS

ENERGÉTICOS
RECURSOS
NATURAIS

ENERGÉTICOS

NÃO
RENOVÁVEIS

MINERAIS

Fonte: O autor (2015)

Recursos naturais e fontes de energia 73


U2

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) elaborou um


documento que traz o vocabulário básico de recursos naturais e ambiente.
Confira o arquivo no link <http://ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/
vocabulario.pdf>. Acesso em: 01 set. 2015.

1.3 Recursos naturais são aplicados como fontes de energia


Os recursos naturais podem apresentar um certo potencial energético, porém a
forma em que está disponível pode não ser aquela aplicável como fonte de energia
propriamente dita. Por exemplo, a água, quando move uma turbina, apresenta
o potencial de ser convertida em energia elétrica, que é aplicável e que usamos
diariamente em nosso cotidiano.

Fontes primárias de energia são aquelas que são provenientes diretamente


da natureza, como a energia solar, os ventos, a água, os combustíveis fósseis e
urânio. As fontes secundárias de energia são aquelas provenientes de reações que
transformam as fontes primárias, como, por exemplo, a energia química.

Assim, caro aluno, conseguimos visualizar como transformações conseguem


viabilizar recursos naturais enquanto formas de energia. Por exemplo, a água tem
esse potencial de mover turbinas e produzir energia elétrica, a qual, por sua vez,
será convertida em calor e eletricidade, formas de energia viáveis. Ou ainda, o
petróleo, um combustível fóssil, que é refinado em gasolina que produz energia e
move carros (Figura 2.5).
Figura 2.5 | Exemplo de como recursos naturais se transformam em fontes de energia:
(A) extração de petróleo, (B) bombas de gasolina abastecendo carros, (C) pessoa dirigindo
um carro. Uma vez extraído, o petróleo é transformado em gasolina, combustível que
move carros.

Fonte: Disponível em: A - <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Bomba_Cabe%C3%A7a_de_Cavalo.jpg>. Acesso em: 09


nov. 2015.
Fonte:Disponível em: B - <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Petrol_pump_mp3h0355.jpg>. Acesso em: 09 nov. 2015.
Fonte: Disponível em: C - <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Boy_driving.jpg>. Acesso em: 09 nov. 2015.

74 Recursos naturais e fontes de energia


U2

Desse modo, você consegue traçar uma relação e perceber que, toda vez que
você acende uma lâmpada ou liga o seu computador, essa energia só está ao
seu dispor graças à força das águas em turbinas de usinas hidrelétricas, ou ainda
quando dirige o seu carro e compreende o poder da gasolina e do petróleo. Assim
funciona a dinâmica da viabilização de recursos naturais em fontes de energia.

Todo recurso natural apresenta potencial energético?

1. O uso de recursos oriundos da natureza é um fato que


pode ser observado desde os primórdios, quando o homem
das cavernas retirava do ambiente algumas matérias-primas
essenciais para a sua sobrevivência. Tais recursos podem ser
considerados renováveis ou não renováveis.
Qual é a diferença entre recursos renováveis e recursos não
renováveis?

2. Fontes de energia renováveis ou não renováveis devem


apresentar potencial energético. Porém, nem sempre a forma
que encontramos na natureza é a forma viável do recurso para
ser aplicado como energia.
Nesse contexto, como se diferenciam as fontes primárias e as
fontes secundárias de energia?

Recursos naturais e fontes de energia 75


U2

76 Recursos naturais e fontes de energia


U2

Seção 2

Fontes de energia renováveis: exemplos e


distribuição
Assim como vimos anteriormente, recursos energéticos são determinados
pelas fontes de energia que provêm de recursos naturais, sendo um de seus tipos
os recursos energéticos renováveis. As fontes de energia renováveis utilizam-se
de recursos que são inesgotáveis, ou seja, que podem manter-se disponíveis por
um longo tempo, uma vez que contam com recursos que se regeram ao longo
do tempo ou simplesmente são ativos permanentemente. Os principais tipos
dessa energia serão abordados nesta seção. Conheça então suas características,
aplicações e distribuição no planeta.

2.1 Energia solar


Segundo Hinrichs, Kleinbach e Reis (2014a), fontes de energia renováveis
representam hoje aproximadamente 8% da energia mundial, embora essa
porcentagem continue aumentando em muitas regiões do mundo de maneira
significativa. Estudos indicam que até 2050 as fontes renováveis de energia devem
chegar à margem de 30% a 40% no mundo, uma vez que esforços mundiais vêm
sendo realizados para o aumento desse percentual. Nos Estados Unidos, um
exemplo de grande potência, de toda a energia lá utilizada proveniente de fontes
renováveis, 1% é energia solar, 50% é biomassa, 9% é eólica, 35% é hidrelétrica
convencional e 5%, geotérmica. Já no Brasil, as energias renováveis representam
cerca de 85% da energia elétrica que é produzida e utilizada em nosso país.

Brasil é o quarto maior produtor de energia renovável no mundo.


Disponível em: <http://www.pac.gov.br/noticia/3c67e495>. Acesso em:
01 set. 2015.

Recursos naturais e fontes de energia 77


U2

Os recursos energéticos renováveis representam uma alternativa vantajosa ao


mundo, uma vez que podem ser usados de diversas maneiras, geram problemas
ambientais mínimos, além de oferecerem grandes esperanças a países em
desenvolvimento, cujas taxas de desenvolvimento econômico são afetadas pelos
altos custos de energia. Acompanhe no Quadro 2.1 como recursos energéticos
renováveis podem ser utilizados. Vamos detalhar todos eles e outros mais nos
tópicos que seguem em nossa unidade.

Quadro 2.1 | Possibilidades de uso de recursos energéticos renováveis

Recurso Uso
Solar Aquecimento e refrigeração de ambientes,
aquecimento de água, eletricidade, termoeletricidade.
Eólica Eletricidade, mecânica.
Hídrica Eletricidade, mecânica.
Biomassa Calor, eletricidade, combustíveis.
Geotérmica Eletricidade, aquecimento.

Fonte: Adaptado de Hinrichs, Kleinbach e Reis (2014a)

Se fontes de energia renováveis são tão vantajosas, por que


são quase sempre subutilizadas?

Assim como vimos no Quadro 2.1, a energia solar pode ser utilizada para o
aquecimento de prédios e da água para o consumo residencial e também para a
produção de eletricidade por meio de células solares e geradores de calor. Hoje
podemos considerar que os sistemas de aquecimento solar que são aplicados
na obtenção de água quente doméstica, embora lentamente, crescem de forma
constante no mundo, com pelo menos 5% por ano, de forma mais intensa na Ásia
e na Europa. De fato a energia solar já apresenta um crescimento de 35% por ano
no mundo todo. O grande crescimento das técnicas de aquecimento solar no
mundo aconteceu no começo da década de 1980, com estímulos do governo,
quando o embargo do petróleo em 1973 aumentou os preços do petróleo e da
eletricidade (HINRICHS; KLEINBACH; REIS, 2014a).

78 Recursos naturais e fontes de energia


U2

Basicamente todos os sistemas solares de aquecimento possuem


características estruturais em comum, uma vez que são formados pelas
seguintes partes: aparelho de coleta, estrutura de armazenamento e
sistema de distribuição. Mas você sabe como um sistema aquecedor solar
de água funciona? Descubra a resposta no link <http://www.soletrol.
com.br/educacional/comofunciona.php> . Acesso em: 1 set. 2015.

A conversão de luz solar em eletricidade é chamada de geração fotovoltaica


(FV), uma tecnologia muito interessante porém relativamente dispendiosa,
uma vez que as células solares são caras, embora, de acordo com Hinrichs,
Kleinbach e Reis (2014c), os avanços nessa tecnologia cooperem com o avanço
do desenvolvimento de materiais com custos mais baixos e maiores eficiências.
Fatos como esse demonstram que os campos de FV fornecem energia a
diversas aplicações residenciais, iluminação externa e até mesmo refrigeração de
vacinas. Nessa tecnologia, células solares formam as placas solares (Figura 2.6),
representando uma fonte de energia não poluente e funcionando em diversos
locais do mundo com saídas de ordem de megawatts.

Figura 2.6 | Estação de FV em Starokozache, na Ucrânia

Fonte: Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:STAROKOZACHESOLARSTATION.jpg>. Acesso em: 09 nov.


2015.

Recursos naturais e fontes de energia 79


U2

O planeta conta com um potencial de energia solar para a implantação de


tais tecnologias (Figura 2.7). Atualmente, Europa, Ásia e América do Norte são os
continentes onde as projeções para a implantação de energia solar são maiores.
De fato o continente europeu é o que concentra maior capacidade de geração de
energia solar, representando 55% do mercado hoje em dia. No entanto, outros países
continuam ajustando suas tecnologias para a implantação de placas fotovoltaicas.
Países como a Alemanha, Itália, China, Japão, Espanha, França, República Checa,
Bélgica, Austrália e Estados Unidos representam as maiores capacidades de energia
solar instaladas. Detendo as maiores porcentagens do mercado mundial de energia
solar, esses países continuam a ampliar sua capacidade de energia.

Japão vai ter o maior sistema de armazenamento de energia solar do


mundo. Leia mais sobre o assunto em: <http://info.abril.com.br/noticias/
ciencia/2015/06/japao-vai-ter-maior-sistema-de-armazenamento-de-
energia-solar-do-mundo.shtml>. Acesso em: 1 set. 2015.

Figura 2.7 | Potencial de energia solar global

Fonte: Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:SolarGIS-Solar-map-World-map-en.png>. Acesso em: 09


nov. 2015.

No Brasil, de acordo com Hinrichs, Kleinbach e Reis (2014a), a energia solar ainda é
pouco difundida, com restrição às regiões Sul e Sudeste. Porém, de qualquer forma,
não podemos descartar o fato de que esses números estão crescendo em todo o

80 Recursos naturais e fontes de energia


U2

país. Programas e movimentos incentivam a utilização de sistemas de aplicação de


energia solar, como o Solcial, o primeiro programa social de energia solar no Brasil.
Diferentes técnicas que buscam analisar o potencial energético solar do Brasil e
da América latina vêm sendo aplicadas, como demonstra o trabalho de Martins,
Pereira e Echer (2004), o qual detalha como funciona o modelo BRASIL-SR, que
mapeia esse potencial energético mediante técnicas de satélite geoestacionário,
com resultados bem esperançosos. De acordo com Pereira et al. (2006), no Atlas
Brasileiro de Energia Solar, a região da Amazônia apresenta um potencial enorme
para a implantação de sistemas de FV.

Feita a comparação com os países onde a energia solar é predominante, vê-se


que há no Brasil as maiores taxas de irradiação solares, razão pela qual as condições
seriam muito mais favoráveis aqui do que naqueles países. Recentemente, a Agência
Nacional de Energia Elétrica (Aneel) vem contratando novos projetos para a geração
de energia solar no país: na Bahia encontram-se os maiores investimentos, onde se
pode contar com a construção de 16 usinas solares. Reflexos desses investimentos
são vistos, por exemplo, na Usina Fotovoltaica Cidade Azul, que abastece cerca de
2,5 mil residências com essa fonte renovável de energia em Tubarão, no sul do
estado de Santa Catarina.

A maior usina solar do Brasil em Santa Catarina entra em operação


comercial. Disponível em: <http://www.tractebelenergia.com.br/wps/
portal/internet/imprensa/press-release/conteudos/Release_Operacao_
Usina_Solar>. Acesso em: 01 set. 2015.

Por qual motivo a energia solar é tão pouco aplicada no


Brasil?

Infelizmente o Brasil conta apenas com 1% da produção de energia por meio


de sistemas solares ou eólicos, em razão dos objetivos políticos do país, que
continua a insistir nas usinas hidrelétricas. Graças à grande capacidade fotovoltaica
do país, investimentos pouco a pouco começam a surgir em nosso território,
com modelos que objetivam implementar a utilização de energia solar como nos
moldes alemães.

Recursos naturais e fontes de energia 81


U2

2.2 Energia eólica


Com um impacto ambiental praticamente insignificante, o interesse na força
dos ventos para a produção de energia nos remete à Antiguidade, quando moinhos
de vento eram comuns na China, Babilônia e Holanda, correspondendo a uma das
primeiras fontes naturais de energia do mundo. De acordo com Hinrichs, Kleinbach
e Reis (2014c), atualmente, países nos quais os governos apresentam um plano
consistente de incentivos econômicos apresentam um número alto de instalações
de energia eólica, incentivando a construção de parques eólicos em campos ou
em costas marinhas (Figura 2.8).

Figura 2.8 | Exemplos de parques eólicos: A – Complexo eólico na Alemanha.


B – Parque eólico em costa marinha na Dinamarca.

Fonte: Disponível em: A – <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Windpark_Havelland_1.jpg>. Acesso em: 09 nov. 2015.


Fonte: Disponível em: B – <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Middelgrunden_wind_farm_2009-07-01_edit_filtered.
jpg>. Acesso em: 09 nov. 2015.

Como funcionam turbinas eólicas? Leia mais no link <https://


evolucaoenergiaeolica.wordpress.com/aerogerador-de-eixo-
horizontal/>. Acesso em: 01 set. 2015.

A energia eólica pode ser utilizada para bombear água, mover moinhos ou
também para gerar energia elétrica, tornando-se uma fonte altamente rentável a
partir do desenvolvimento de rotores e geradores de alta eficiência e passando
a ser uma interessante alternativa frente ao esgotamento do aproveitamento
hidrelétrico (TAIOLI, 2009). É o recurso energético que aumenta mais rapidamente
no mundo em relação a sua utilização, crescendo cerca de 30% a 40% ao ano.
Entre 2000 e 2008, a energia eólica deu um salto de 55% ao ano na Europa, que

82 Recursos naturais e fontes de energia


U2

lidera o ranking de maior capacidade instalada (cerca de 135.000 MW em 2014) e


de 37% ao ano nos Estados Unidos. Considera-se que ela pode vir a suprir cerca
de 30% da demanda de eletricidade dos EUA até 2020 (HINRICHS; KLEINBACH;
REIS, 2014c).

Na Tabela 2.1 você acompanha a capacidade instalada nos 10 maiores mercados


mundiais de energia eólica. É interessante enfatizar que a energia das turbinas
eólicas é produzida se houver vento com velocidades médias e os países nos quais
os campos e fazendas eólicas são instalados devem apresentar tais capacidades.

Quadro 2.1 | Possibilidades de uso de recursos energéticos renováveis

País Capacidade instalada (mw)


China 114,609
Estados Unidos 65,879
Alemanha 39,165
Espanha 22.987
Índia 22,465
Reino Unido 12,440
Canadá 9,694
França 9,285
Itália 8,663
Brasil 5,939
Resto do mundo 58,473
Total 369,597
Fonte: Global Wind Energy Council (2014)

Assim como analisado na Tabela 2.1 acima com dados da Global Wind Energy
Council e também com base nos dados provenientes das estatísticas da World
Wind Energy Association, o cenário atual do uso da energia eólica no mundo vem
crescendo cada vez mais, com grande destaque a China.

China dá o maior impulso à energia eólica já visto no mundo. Disponível


em: <http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/01/140108_
china_eolica_mdb>. Acesso em: 01 set. 2015.

Recursos naturais e fontes de energia 83


U2

De acordo com Taioli (2009), o Brasil possui um grande potencial para o


aproveitamento da energia eólica, uma vez que apresenta regiões favoráveis em
razão dos ventos, com destaque aos litorais norte e sul do país, a região do vale
do rio São Francisco e o oeste dos estados do Paraná e Santa Catarina. De acordo
com dados do Ministério de Minas e Energia, o Ceará apresenta uma das maiores
proporções de geração de energia eólica com 34%, seguido de Rio Grande do
Norte e Rio Grande do Sul com 20% cada. Os seis maiores parques e fazendas
eólicas do país são: Parque Eólico de Osório (RS), Usina de Energia Eólica de Praia
Formosa (CE), Parque Eólico Alegria (RN), Parque Eólico de Rio do Fogo (RN),
Parque Eólico Eco Energy (CE) e Parque Eólico de Paracuru (CE).

Como a energia eólica contribui para o desenvolvimento do


país?

O Brasil está recebendo grande destaque no campo da energia eólica.


Acompanhe as notícias que comprovam tal fato em: <http://www.
pac.gov.br/noticia/22d0c0bd> (acesso em: 1 set. 2015) e também em:
<http://www.brasil.gov.br/infraestrutura/2015/04/capacidade-de-
energia-eolica-deve-crescer-62-em-2015-no-pais>. Acesso em: 01 set.
2015.

2.3 Energia hidrelétrica

A energia hidrelétrica fornece cerca de 21% da eletricidade consumida


no planeta e 15% da energia produzida no País. Barragens já eram construídas
antigamente para viabilizar a água disponível à população. No entanto, a partir do
desenvolvimento da energia elétrica, as barragens passaram a ser integradas à sua
produção (Figura 2.9). Aproveitando o gradiente hidráulico dos rios, com um fluxo
contínuo de água, turbinas e geradores de energia elétrica são movidos, sendo
esta considerada então uma energia renovável (TAIOLI, 2009).

84 Recursos naturais e fontes de energia


U2

Os locais em que barragens são implantadas levam em consideração a largura


do rio e a topografia da região, visando ao melhor aproveitamento do gradiente
do rio e evitando a inundação extensa da região. Sendo assim, a região em que se
pretende instalar uma barragem hidrelétrica deve atender a esses critérios, além
daqueles de ordem ambiental. Alguns critérios de restrição à inundação da área de
implantação durante tal instalação das barragens são analisados. Por exemplo, em
algumas regiões do norte do Brasil as características topográficas são relativamente
planas, exigindo o alagamento de áreas maiores do que as consideradas ideais.
Fatores como desmatamento da região a ser alagada, deslocamento de cidades,
inundação de sítios históricos e arqueológicos, além do assoreamento da
barragem e destino das barragens após sua vida útil, são elementos um tanto
quanto contraditórios se levados em conta.

Figura 2.9 | Usina hidrelétrica de Itaipu na cidade de Foz do Iguaçu no Paraná

Fonte: Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:ItaipuAerea2AAL.jpg>. Acesso em: 09 nov. 2015.

Segundo Hinrichs, Kleinbach e Reis (2014c), fornecendo 650.000 MW de


energia no mundo todo, nos últimos dez anos a produção hidrelétrica mundial
cresceu apenas 1,8% ao ano. Na Tabela 2.2 acompanhamos o cenário mais
recente acerca da produção hidrelétrica no mundo.

Recursos naturais e fontes de energia 85


U2

Tabela 2.2 | Produção Hidrelétrica no mundo

Eletricidade gerada Capacidade instalada


País
(bilhões de kwh) (Milhares de mw)
China 538 171
Estados Unidos 272 78
Brasil 380 77
Canadá 380 73
Rússia 163 46
Índia 131 35
Noruega 139 27
Japão 94 22
Suécia 80 17

Fonte: U.S Energy Information Administration (2015)

Assim como observado na Tabela 2.2, a energia hidrelétrica é muito utilizada no


Brasil. Essa utilização está concentrada principalmente nas regiões Sul e Sudeste,
graças à sua extensa rede fluvial. Segundo dados do Portal Brasil (2014), de todo
o potencial hidrelétrico do país, 40,5% estão localizados na Bacia Hidrográfica do
Amazonas – para efeito de comparação, a Bacia do Paraná responde por 23%, a do
Tocantins, por 10,6% e a do São Francisco, por 10%, sendo que a Região Norte no
geral apresenta um grande potencial a ser explorado.

Analisando todos os fatores que estudamos acerca da energia


hidrelétrica, você a considera uma energia totalmente limpa?

86 Recursos naturais e fontes de energia


U2

Conheça as dez maiores usinas hidrelétrica do mundo no link <http://


www.brasilescola.com/geografia/as-maiores-hidreletricas-mundo.
htm>. Acesso em: 1 set. 2015.

2.4 Energia geotérmica

De acordo com Hinrichs, Kleinbach e Reis (2014f), a energia geotérmica é


produzida a partir do calor originado no interior do planeta Terra. Vulcões, gêiseres,
fontes de água e lama quentes são as evidências mais visíveis que nos permitem
perceber o calor que existe dentro e abaixo da crosta terrestre, limitada a alguns
lugares (Figura 2.10).

Figura 2.10 | Usina geotérmica de Nesjavellir na Islândia

Fonte: Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:NesjavellirPowerPlant_edit2.jpg>. Acesso em: 09 nov. 2015

Essa fonte de energia começou a ser explorada em 1904 na Itália, quando a


eletricidade foi produzida a partir de vapor natural, expandindo esse princípio a
diversas usinas geotérmicas que estão em operação em todo o planeta. Na Tabela
2.3 podemos acompanhar a capacidade mundial em usinas de energia geotérmica.

Recursos naturais e fontes de energia 87


U2

Quadro 2.1 | Possibilidades de uso de recursos energéticos renováveis

País Capacidade instalada (mwe)


Estados Unidos 3086
Filipinas 1904
Indonésia 1197
México 958
Itália 843
Nova Zelândia 628
Islândia 575
Japão 536
El Salvador 204
Quênia 167
Total 58,473
Fonte: Dickson e Fanelli (2004)

As aplicações dessas fontes de energia podem ser elétricas ou não, porém os


sistemas de vapor seco são os mais aplicados na geração de eletricidade; um
exemplo são os gêiseres. Basicamente, a energia geotérmica é explorada de
maneira em que o vapor natural gerado na Terra é retirado e usado para fazer
funcionar uma turbina, gerando, consequentemente, eletricidade. Devemos atentar
para que, eventualmente, essas fontes naturais de vapor podem vir a se esgotar
em razão do uso excessivo, embora, mesmo assim, sejam consideradas fontes
renováveis de energia, sendo a extensão dos recursos geotérmicos considerada
grande (HINRICHS; KLEINBACH; REIS, 2014f).

Leia o artigo “Suíça é recordista em número de usinas geotérmicas”


no link <http://www.swissinfo.ch/por/suíça-é-recordista-em-usinas-
geotérmicas/7864706>. Acesso em: 14 out. 2015.

No Brasil essa fonte de energia é explorada a partir de zonas termais presentes


em parques localizados em Caldas Novas (GO) e Poços de Caldas (MG) e utilizada
na forma de água aquecida. Contudo, o Brasil não possui potencial necessário para
ser utilizado na produção de energia geotérmica, uma vez que o terreno brasileiro
é muito antigo, sem formações que tornem possíveis rochas derretidas ou magma
mais perto da superfície, o que torna tal fonte cara e trabalhosa em nosso país.

88 Recursos naturais e fontes de energia


U2

Como essa fonte de energia renovável poderia ser explorada


em nosso território?

2.5 Energia das ondas e marés

De acordo com Taioli (2009), a maré é um fenômeno natural que ocorre duas
vezes ao dia, causado pela interação gravitacional entre a Terra, a Lua e o Sol,
processo dependente das posições relativas destes. O homem aproveita a energia
proveniente das marés através da conversão de energia potencial em energia
cinética, armazenando água durante a maré cheia por meio da abertura de uma
barragem que permite a entrada de água em um dique; quando a maré baixa, a
água sai por turbinas geradoras de energia elétrica. É um sistema que necessita de
correntes e marés fortes, sendo possível em apenas algumas regiões do mundo.

A energia cinética das ondas pode ser usada para fazer funcionar uma turbina.
Protótipos fixos e flutuantes visam aproveitar tal energia, em uma dinâmica em
que a elevação da onda em uma câmara promove a saída do ar, movimento que
pode vir a girar uma turbina, que se transforma em energia elétrica por meio de um
gerador. Modelos também podem ser aplicados em movimentos de êmbolos que
podem fazer funcionar geradores.

Em alguns países as marés são utilizadas na geração de energia, como França,


Rússia, Portugal, Estados Unidos e China, porém a implantação depende muito
de características geográficas do litoral e da amplitude da maré (Figura 2.11). Essa
fonte de energia também não é aproveitada no Brasil, uma vez que as amplitudes
das marés não permitem o aproveitamento desse tipo de energia.

Recursos naturais e fontes de energia 89


U2

Figura 2.11 | Usina La Rance na França. Eletricidade é produzida a partir da energia das
marés.

Fonte: Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Barrage_de_la_Rance.jpg>. Acesso em: 10 out. 2015.

Uma vez que os custos de implantação dessas tecnologias são bastante


elevados e as condições para sua implementação são muito específicas, torna-
se um método um tanto quanto pouco aplicável no mundo. Além disso, sua
construção pode vir a gerar alguns impactos ambientais.

Como a energia de ondas e marés pode ser aplicada em


processos de dessalinização da água do mar?

2.6 Energia de biomassa

Segundo Hinrichs, Kleinbach, Reis (2014e), a biomassa representa uma fonte de


energia e começou a ser buscada a partir da realidade de que, um dia, combustíveis
fósseis – os quais serão abordados na próxima seção desta unidade – iriam se
esgotar, e a solução para tal problema estaria mais próxima do que imaginávamos.
A biomassa representa uma fonte de energia muito antiga, mas que permanece
atual e se mostra fundamental frente ao cenário mundial, funcionando como
alternativa de combustíveis.

90 Recursos naturais e fontes de energia


U2

A biomassa apresenta potencial de substituir combustíveis


fósseis no futuro?

Considera-se energia de biomassa aquela que é derivada de matéria viva, por


exemplo, grãos, árvores e plantas aquáticas, podendo ainda ser encontrada em
resíduos agrícolas e florestais, bem como em resíduos sólidos municipais. Alguns
estudiosos consideram a biomassa como “energia solar armazenada”, sendo
convertida em combustível de três possíveis maneiras: combustíveis sólidos
(lascas de madeira), combustíveis líquidos (produzidos pela ação química ou
biológica sobre a biomassa) e combustíveis gasosos (produzidos por meio de altas
temperaturas e alta pressão).

Com a aplicação das três diferentes técnicas, vários produtos com potencial
energético são derivados da biomassa, como, por exemplo: bio-óleo (aplicado
no aquecimento e geração de energia elétrica), biogás (gases obtidos da
decomposição de matéria orgânica que podem gerar energia elétrica – Figura 2.12),
etanol ou metanol (combustíveis produzidos a partir de matérias-primas como a
cana de açúcar, milho e madeira), gás natural comprimido – GNC (combustível
gasoso que pode funcionar em veículos como alternativa ao álcool ou à gasolina),
biodiesel (combustível produzido a partir de óleos vegetais de dendê, mamona,
sorgo, soja etc., representando uma interessante alternativa ao diesel padrão –
Figura 2.13), carvão vegetal (obtido da carbonização da lenha), turfa (material
orgânico encontrado em regiões pantanosas) e lenha (a utilização de biomassa
mais antiga).
Figura 2.12 | Usinas de biogás podem gerar energia elétrica

Fonte: Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Usinabiogas.JPG>. Acesso em: 10 out. 2015.

Recursos naturais e fontes de energia 91


U2

Figura 2.13 | O biodiesel representa uma interessante alternativa ao diesel padrão

Fonte: Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Jetta_Biodiesel.jpg>. Acesso em: 10 out. 2015.

Recursos de biomassa apresentam capacidade de oferecer energia em


qualquer lugar. Fornece, por exemplo, até 25% da energia dos Estados Unidos;
na Suécia representa 32% das necessidades energéticas do país; a Finlândia, por
sua vez, recebe 70% de sua energia de fontes renováveis, e 80% disso provém
de madeira florestal e restos agrícolas. De acordo com dados da IEA Bioenergy
Task 40, o Brasil é o país que mais utiliza biomassa na sua produção de energia,
representando 16% do uso mundial, seguido dos Estados Unidos (9%) e Alemanha
(7%), num contexto em que a biomassa representa 10% da produção global de
energia. O etanol é o biocombustível mais aplicado no Brasil (proveniente da cana
de açúcar) e Estados Unidos (proveniente do milho), mas também é produzido na
Alemanha (proveniente do centeio) e França (proveniente da beterraba e trigo). Na
União Europeia em geral, o biodiesel predomina no mercado de biocombustíveis.

92 Recursos naturais e fontes de energia


U2

Leia o artigo “Geração por biomassa no Brasil vai receber investimentos


de US$ 26 bilhões”. Disponível em: <http://www.midianews.com.br/
conteudo.php?sid=4&cid=238706>. Acesso em: 01 set. 2015.

1. A energia de biomassa corresponde a uma fonte de energia


relativamente antiga, porém, com os avanços capitalistas, os
combustíveis fósseis predominaram no mercado. Atualmente
vivemos em um cenário mundial em que a energia de biomassa
volta a ganhar espaço como fonte alternativa aos combustíveis
fósseis. Sendo assim, quais são as possíveis maneiras de
conversão da energia de biomassa?

2. A energia hidrelétrica representa uma considerável


parcela em escala mundial quando analisamos as fontes de
energia aplicadas em diferentes países. Essa fonte cresce
consideravelmente ano após ano e divide opiniões quanto à
sua aplicabilidade. Com base nos tópicos abordados, quais
os dados de produção de energia hidrelétrica no Brasil e no
mundo?

Recursos naturais e fontes de energia 93


U2

94 Recursos naturais e fontes de energia


U2

Seção 3

Fontes de energia não renováveis

Uma vez que já abordamos as fontes de energia renováveis, na continuação


da unidade trataremos das fontes de energia não renováveis. Tais fontes de
energia utilizam-se de recursos naturais que não estão disponíveis continuamente
na natureza, ou seja, recursos naturais esgotáveis, que desaparecerão em curto,
médio ou longo prazo. Vários fatores de ordem ambiental e política podem estar
envolvidos quando tais fontes de energia são analisadas, justamente em razão de
suas características. Em nossa seção abordaremos os seus principais tipos, bem
como suas aplicações e distribuição.

3.1 Carvão

Os combustíveis fósseis integram as fontes de energia não renováveis,


representando cerca de 85% das fontes comerciais de energia usadas no mundo,
nas quais não se enquadram somente o carvão, mas também o petróleo e o
gás natural – os quais abordaremos mais à frente nesta seção, caminhando ao
encerramento de nossa unidade. De acordo com as informações e reflexões de
Hinrichs, Kleinbach e Reis (2014b), as reservas desses combustíveis podem não
durar muito mais do que a existência das pessoas vivas hoje, razão pela qual as
fontes de energia renováveis que analisamos na Seção 2.2 vêm recebendo maior
atenção, sendo grandemente exploradas e investidas, já que uma solução para tal
situação deve ser encontrada.

Fontes de energia renováveis substituirão fontes de energia


não renováveis?

Recursos naturais e fontes de energia 95


U2

Nos Estados Unidos, a utilização do carvão corresponde à maior parte da


produção de energia doméstica, seguida pelo gás natural e o petróleo. A atual
demanda de combustíveis fósseis é reflexo da sociedade atual e do uso excessivo
das fontes esgotáveis de energia. A situação pode ser guiada a uma possível crise,
uma vez que há constante crescimento do mercado dos transportes, combinado
à não expansão da economia global de combustível nos últimos anos.

Segundo Taioli (2009), o carvão mineral é utilizado há mais de 2.000 anos,


desde a ocupação romana da Inglaterra, quando utilizavam o carvão para aquecer
suas casas. Contudo, a expansão do carvão começou com as máquinas a vapor
que eram movidas por esse combustível. Podemos definir carvão, basicamente,
como uma rocha sedimentar combustível, formada pelo soterramento e pela
consequente compactação de matéria orgânica vegetal, processo no qual o
aumento da pressão e da temperatura e o movimento tectônico a transformam
em carvão com uma concentração elevada de carbono. No Brasil a existência de
carvão no sul de Santa Catarina é conhecida desde 1827.

As classificações citadas por Hinrichs, Kleinbach e Reis (2014b) mostram


que existem quatro tipos básicos de carvão: lignitos (carvões mais jovens), sub-
betuminoso (pressões e temperaturas maiores), betuminoso (calor e pressão
adicionais) e antracito (carvão muito duro com alto valor calorífico). Os processos
de extração de carvão envolvem o subsolo e também minas de superfície onde
ocorrem. Cerca de 60% de todo o carvão produzido hoje é extraído de minas
de superfície, de veios muito próximos à superfície da Terra, onde máquinas
escavadeiras realizam a sua retirada (Figura 2.16).

Leia interessantes informações sobre as características e o processamento


de carvão mineral no link a seguir: <http://www.aneel.gov.br/arquivos/
pdf/atlas_par3_cap9.pdf>. Acesso em: 02 set. 2015.

96 Recursos naturais e fontes de energia


U2

Na Figura 2.14 você pode acompanhar a distribuição das reservas mundiais de


carvão mineral segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Na Figura
2.15, você também pode verificar um gráfico que traz a mesma relação. De certa
forma, a distribuição de carvão mineral no mundo é irregular. Embora a Rússia,
por exemplo, possua aproximadamente 50% das reservas conhecidas, uma das
maiores reservas está presente nos Estados Unidos, chegando a quase 300 bilhões
de toneladas recuperáveis, cerca de 30% do carvão do mundo, razão pela qual o
carvão apresenta uma importância tão grande para essa nação.

O Brasil conta com cerca de 0,1% do carvão conhecido no mundo todo apenas.
O carvão brasileiro explorado é derivado de uma paleoflora típica do Carbonífero
e Permiano do antigo supercontinente Gondwana. O carvão brasileiro utiliza os
depósitos na borda leste da bacia do Paraná, principalmente nos estados de Santa
Catarina e Rio Grande do Sul, em rochas de idade permiana inferior – cerca de 260
Ma (TAIOLI, 2009).

Figura 2.14 | Reservas mundiais de carvão mineral

Fonte: Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL)

Recursos naturais e fontes de energia 97


U2

Figura 2.15 | Reservas recuperáveis mundiais de carvão

Fonte: Adaptado de Hinrichs, Kleinbach e Reis (2014b)

A mineração de superfície de carvão apresenta uma série de problemas


ambientais envolvendo o solo de tais regiões, uma vez que modificam o meio
ambiente. No Brasil, por exemplo, quando as atividades de extração de carvão
começaram a acontecer no início do século XX, pouca importância à preservação
ambiental foi dada. Logo, várias regiões de produção de carvão mineral vêm
sofrendo consequências. Alguns dos problemas decorrentes da mineração
do carvão são: acidificação de rios, chuvas ácidas, degradação do ambiente,
subsidência local, rebaixamento do nível freático, assoreamento das drenagens,
poluição dos solos e doenças relacionadas ao trabalho (TAIOLI, 2009).
Figura 2.16 | Mineração de carvão

Fonte: Disponível em: <https://pixabay.com/en/brown-coal-open-pit-mining-97100/>. Acesso em: 10 out. 2015.

98 Recursos naturais e fontes de energia


U2

3.2 Petróleo

O petróleo é um líquido oleoso, normalmente com densidade menor que


a da água, com cores variadas: incolor, verde, marrom e preto. As utilidades do
petróleo já foram muito diferentes com o passar das diferentes épocas, sendo
utilizado como impermeabilizante, na iluminação, até que destilarias começaram a
processar o petróleo que era retirado de poços. Todo o aspecto histórico culminou
com a invenção dos motores de combustão interna e a produção de automóveis
movidos à gasolina, dando um uso mais notório ao combustível proveniente do
refino do petróleo. Nesse momento se iniciava a revolução da indústria do petróleo
que é visível até hoje, graças a suas aplicações, como nos exemplos que vimos na
Figura 2.5.

De acordo com Hinrichs, Kleinbach e Reis (2014b) e Taioli (2009), várias teorias
tentam explicar a origem do petróleo, o qual, basicamente, consiste em uma
mistura de óleo bruto, gás natural em solução e semissólidos asfálticos espessos e
pesados, consistindo em uma mistura complexa de hidrocarbonetos (compostos
de hidrogênio e carbono). Sua origem é proveniente de matéria orgânica soterrada
com sedimentos lacustres ou marinhos. A grande diferença entre a formação do
carvão mineral para os hidrocarbonetos é a matéria-prima: o material lenhoso
origina o carvão e as algas originam os hidrocarbonetos, processos definidos pela
sedimentação que ocorre a seguir. Todos os depósitos de petróleo contêm gás
natural, mas nem todos os depósitos de gás natural contêm óleo.

Na Figura 2.17 você confere um esquema de uma rocha reservatório e como


a matéria orgânica dos hidrocarbonetos se modifica em razão da profundidade e
das condições de pressão e temperatura.

Figura 2.17 | Rocha reservatório de hidrocarbonetos

Fonte: Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Oil.png>. Acesso em: 10 out. 2015.

Recursos naturais e fontes de energia 99


U2

Trazido à superfície, o petróleo é transportado à refinaria para a separação de


seus constituintes, produzindo combustíveis como a gasolina, o óleo diesel, o
óleo combustível, a querosene, os gases provenientes de petróleo, o asfalto, entre
outros (Figura 2.18).

Figura 2.18 | A – Refinaria de petróleo. B – Separação dos produtos provenientes do


petróleo

Fonte: Disponível em: A – <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:ShellMartinez-refi.jpg>. Acesso em: 10 out. 2015.


Fonte: Disponível em: B – <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Crude_Oil_Distillation-es.svg>. Acesso em: 10 out. 2015.

Conheça mais detalhes acerca do refinamento do petróleo no link


<http://www.brasilescola.com/quimica/refinamento-petroleo.htm>.
Acesso em: 01 set. 2015.

Acompanhando a grande procura por petróleo que no mundo não para de


crescer desde o seu descobrimento, vamos agora abordar as reservas de petróleo
disponíveis no planeta. A distribuição do petróleo não é uniforme, uma vez que
algumas regiões podem ter esgotado suas reservas enquanto outras ainda são
descobertas em novas regiões. A maior distribuição de petróleo no mundo está no
Oriente Médio, em campos que contêm cerca de 55% do petróleo mundial, em
0,5% da área total do planeta. Na Tabela 2.4 você pode verificar a distribuição das
reservas de petróleo no mundo.

100 Recursos naturais e fontes de energia


U2

Tabela 2.4 | Reservas mundiais de petróleo.

País Reservas de petróleo (bilhões


de barris)
Arábia Saudita 267
Canadá 178
Irã 136
Iraque 115
Kuwait 104
Venezuela 99
Emirados Árabes
98
Unidos
Rússia 60
Líbia 44
Nigéria 36
Estados Unidos 21
China 16
Qatar 15
Argélia 12
México 10
Noruega 7
Índia 6
Egito 4
Indonésia 4
Reino Unido 3

Fonte: Adaptado de Hinrichs, Kleinbach e Reis (2014b)

O petróleo é crucial para a economia mundial, especialmente


em aplicações nas quais sua substituição é difícil atualmente,
como transporte, agricultura e produtos petroquímicos. Você
acredita que outra fonte energética poderá substituí-lo?

Recursos naturais e fontes de energia 101


U2

Dados presentes em Taioli (2009) mostram que no Brasil já havia referências


acerca da existência de petróleo na região sul da Bahia desde o século XIX, embora a
primeira descoberta de petróleo de interesse comercial tenha acontecido em 1938,
no município de Lobato, Bahia, na bacia sedimentar do Recôncavo. Em seguida
houve descobertas no continente (bacia de Sergipe-Alagoas, bacia do Espírito
Santo, bacia Potiguar, bacia do Solimões e na bacia do Paraná) e na plataforma
continental (Potiguar, Campos, Foz do Amazonas, Ceará, Santos, Espírito Santo e
Costa da Bahia). De todas as bacias, a de Campos possui as maiores reservas de
petróleo em produção no país (Figura 2.19). No passado, as bacias do Recôncavo
e Sergipe-Alagoas eram importantes produtoras, porém atualmente as bacias de
Campos, Espírito Santo e Potiguar respondem por quase toda a produção de
petróleo do Brasil.

Saiba mais sobre os impactos ambientais devido à exploração e


consumo de petróleo no link <http://www.oei.es/divulgacioncientifica/
reportajes_047.htm>. Acesso em: 1 set. 2015.

Nosso país apresenta potencial na exploração de petróleo?

102 Recursos naturais e fontes de energia


U2

Figura 2.19 | Bacias sedimentares brasileiras

Fonte: Lucchesi (1998)

3.3 Gás natural

Segundo informações de Hinrichs, Kleinbach e Reis (2014b), assim como


o petróleo bruto, o gás natural é formado a partir da decomposição da matéria
orgânica, composta por uma mistura de hidrocarbonetos leves, principalmente
metano (CH4). Como comentado anteriormente, ele pode estar misturado com o
petróleo bruto ou estar presente em regiões em que não há petróleo bruto (Figura
2.17).

O gás natural corresponde a uma fonte de energia muito versátil, podendo


ser aplicada como fonte de geração de energia elétrica alimentando turbinas e
substituindo o carvão e o petróleo (outros combustíveis fósseis). Também pode ser
uma alternativa para combustíveis automotivos, substituindo a gasolina, o etanol
e o óleo diesel. Além disso, pode ter aplicações domésticas e ser utilizado no
lugar do GLP (o gás liquefeito de petróleo ou gás de cozinha) e, por fim, funciona
como um insumo básico da indústria gasoquímica, produzindo compostos como
metano e ureia. De certa forma, apresenta queima limpa, pois emite 2/3 da emissão
do carvão mineral e 60% do petróleo.

Recursos naturais e fontes de energia 103


U2

Atualmente a utilização de gás natural consiste em 15,6% do consumo de


energia mundial, crescendo vagarosamente ao ritmo de 1,5% ao ano. As reservas
mundiais de gás natural são estimadas em mais de 6.200 trilhões de pés cúbicos
(tft3), sendo possivelmente suficientes para mais 60 anos, de acordo com a taxa
anual de consumo que é 108 tft3. Na Tabela 2.5 é possível verificar a distribuição
das reservas mundiais de gás natural, sendo as maiores delas encontradas na
Rússia.

Tabela 2.5 | Reservas mundiais de gás natural

País Gás natural (trilhões de pés


cúbicos)
Rússia 1680
Irã 991
Qatar 892
Arábia Saudita 258
Estados Unidos 238
Emirados Árabes
214
Unidos
Nigéria 184
Venezuela 171
Argélia Líbia 159
Iraque 112
Indonésia 106
Noruega 82
China 80
Kuwait 63
México 58
Canadá Egito 58
Líbia 54
Índia 38
México 13
Reino Unido 12

Fonte: Adaptado de Hinrichs, Kleinbach e Reis (2014b)

Segundo dados do Portal Brasil, o Brasil tem investido na expansão do uso do


gás natural, que, além de apresentar menor emissão de poluentes no processo de

104 Recursos naturais e fontes de energia


U2

combustão, favorece a maior durabilidade aos equipamentos em que é utilizado.


O Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE 2021) prevê para o ano de 2016
uma produção de 134 milhões de m³/dia e, para o ano de 2021, uma produção de
200 milhões de m³/dia, reflexo da descoberta da camada pré-sal no país.

Leia o artigo “Estudo diz que pré-sal do Brasil contém 176 bilhões de
barris de petróleo e gás” no link <http://g1.globo.com/economia/
noticia/2015/08/pre-sal-do-brasil-contem-176-bilhoes-de-barris-de-
petroleo-e-gas-diz-estudo.html>. Acesso em: 01 set. 2015.

3.4 Energia nuclear

A última fonte de energia não renovável que vamos analisar é a energia nuclear.
Primeiramente, vamos compreender como funciona esse tipo de energia. A
energia nuclear é gerada pela fissão do núcleo do elemento Urânio (235U) através
de um bombardeamento de nêutrons, liberando mais nêutrons e calor, o que
acontece em cadeia. Com o estudo mais aprofundado de tal fonte de energia, foi
possível gerar sistemas de controle dessas reações em cadeia, o que estabeleceu
um controle da energia gerada, com o consequente uso dela em fins militares ou
de energia termoelétrica (TAIOLI, 2009).

A energia nuclear é uma fonte de energia totalmente segura?

Recursos naturais e fontes de energia 105


U2

Os sistemas de geração de energia por fissão nuclear são os chamados reatores


e fazem parte das usinas geradoras de eletricidade ou usinas termonucleares, onde
a geração de energia é feita por meio de turbinas que são movidas a vapor de água,
aquecidas por combustível nuclear (Figura 2.20).

Figura 2.20 | Esquema de uma usina nuclear

Fonte: Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Esquema_de_uma_Usina_Nuclear.png>. Acesso em: 10


out. 2015.

A concentração média de urânio na crosta terrestre é de 2 ppm. Para ser


considerada uma jazida, a concentração de urânio deve ser de 400 a 2.500 vezes
maior do que a sua concentração média. Na Figura 2.21 encontramos os países
produtores de minérios de urânio.

Segundo dados presentes em Hinrichs, Kleinbach e Reis (2014d), em países como


a França, 77% de toda a energia elétrica produzida provém das usinas nucleares;
a Coreia do Sul tem cerca de 35% de eletricidade proveniente de energia nuclear,
seguida da Alemanha, que possui aproximadamente 30%, empatada com o Japão
que também possui 30%. Na Tabela 2.6 é possível conferir todos esses dados com
maiores detalhes, além da constatação de 70 reatores que estão em construção
no mundo, de acordo com dados da International Atomic Energy Agency de 31 de
dezembro de 2014.

106 Recursos naturais e fontes de energia


U2

Figura 2.21 | Países produtores de minérios de urânio

Fonte: Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Paises-Produtores-de-Uranio-2007.png>. Acesso em: 10


out. 2015.

No Brasil, energia elétrica é gerada em usinas nucleares como a de Angra dos


Reis (RJ), embora a energia nuclear tenha sido pouco explorada. De fato, em nosso
país já foram estudadas e catalogadas dezenas de milhares de ocorrências de urânio,
porém nenhuma dessas descobertas levou a algum depósito economicamente
explorável. A primeira unidade mineira e de beneficiamento do Brasil foi iniciada
em 1982, em Caldas no sul de Minas Gerais, tendo fornecido combustível para
a usina nuclear de Angra dos Reis. Uma vez que essa mina chegar ao ponto de
exaustão, o urânio passará a ser produzido na região sudoeste da Bahia, nos
municípios de Lagoa Real e Catité, que apresentam reservas com uma estimativa
de 100 mil toneladas de urânio. No Ceará, no município de Santa Quitéria, há uma
jazida com cerca de 140 mil toneladas. Veja quais são as reservas brasileiras de
urânio na Figura 2.22. Com a soma de todas essas jazidas, nosso país já alcança o
sexto lugar em reservas de urânio no mundo, como você pode conferir na Tabela
2.6 (TAIOLI, 2009).

Leia o artigo “Jazida de urânio no Ceará é promessa para geração de


energia”. Disponível em: <http://www.opovo.com.br/app/opovo/
cotidiano/2015/08/03/noticiasjornalcotidiano,3478264/itataia-uma-
promessa-para-o-futuro-da-energia-nuclear-no-brasil.shtml>. Acesso
em: 01 set. 2015.

Recursos naturais e fontes de energia 107


U2

Embora a Europa Ocidental dependa muito de energia nuclear, a tendência é


de um afastamento dessa tecnologia, como se pode ver em alguns países que já
interromperam novas construções. A energia eólica, além de outras renováveis,
substituirá a nuclear.

Figura 2.22 | Distribuição das reservas brasileiras de urânio

Fonte: Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:UranioBrasil.gif>. Acesso em: 10 out. 2015.

108 Recursos naturais e fontes de energia


U2

Tabela 2.6 | Energia nuclear no mundo – 31 de dezembro de 2014


Unidades em Unidades em
País MW
operação construção
Argentina 3 1627 1
Armênia 1 375 -
Bielorrússia - - 2
Bélgica 7 5927 -
Brasil 2 1884 1
Bulgária 2 1926 -
Canadá 19 13500 -
China 23 19007 26
República Tcheca 6 3904 -
Finlândia 4 2752 1
França 58 63130 1
Alemanha 9 12074 -
Hungria 4 1889 -
Índia 21 5308 6
Irã 1 915 -
Japão 48 42388 2
República da Coreia 23 20717 5
México 2 1330 -
Holanda 1 482 -
Paquistão 3 690 2
Romênia 2 1300 -
Rússia 34 24654 9
Eslováquia 4 1814 2
Eslovênia 1 688 -
África do Sul 2 1860 -
Espanha 7 7121 -
Suécia 10 9470 -
Suíça 5 3333 -
Emirados Árabes Unidos - - 3
Reino Unido 16 9373 -
Ucrânia 15 13107 2
Estados Unidos 99 98639 5
Total 438 376216 70
Fonte: International Atomic Energy Agency (2015)

Recursos naturais e fontes de energia 109


U2

1. O gás natural representa uma fonte de energia


consideravelmente versátil, apresentando diferentes
aplicações na geração de energia elétrica ou em combustíveis
automobilísticos, representando uma alternativa mais limpa e
sustentável quando comparada aos combustíveis de origem
fóssil. Quais dados nos permitem dizer que o gás natural
apresenta queima limpa?

2. O petróleo em nosso país não apresenta um potencial tão


amplo de exploração. Porém se reconhece que o Brasil é
detentor de importantes bacias sedimentares. Indique quais
são as bacias sedimentares brasileiras e as suas principais
características.

1. Recursos naturais são todas as matérias-primas de ordem


renovável ou não renovável que são obtidas diretamente da
natureza e aproveitadas pelo homem.
2. Os recursos renováveis são aqueles que se renovam
naturalmente após o seu uso, ou seja, eles são repostos na
natureza em taxas iguais ou superiores àquelas de antes de o
homem usufruí-los.
3. Os recursos não renováveis são aqueles que, embora
provenientes da natureza – assim como os renováveis –, não se
renovam naturalmente após o seu uso.
4. Recursos energéticos incluem as fontes de energia que
provêm de recursos disponíveis no ambiente. Sendo assim, esses
recursos podem ser tanto renováveis quanto não renováveis.
5. Fontes de energia renováveis representam hoje
aproximadamente 8% da energia mundial, porcentagem que
continua aumentando no mundo significativamente.

110 Recursos naturais e fontes de energia


U2

6. Países como a Alemanha, Itália, China, Japão, Espanha, França,


República Checa, Bélgica, Austrália e Estados Unidos representam
as maiores capacidades de energia solar instaladas, detendo as
maiores porcentagens do mercado mundial de energia solar. No
Brasil, a energia solar ainda é pouco difundida, com restrição às
regiões Sul e Sudeste.
7. O cenário atual do uso da energia eólica no mundo vem
crescendo cada vez mais, com grande destaque para a China.
O Brasil possui um grande potencial para o aproveitamento da
energia eólica, com destaque para os litorais norte e sul do país.
8. A energia hidrelétrica fornece cerca de 21% da eletricidade
consumida no planeta e 15% da energia produzida no País. Os
países que lideram a produção de energia hidrelétrica no mundo
são China e Estados Unidos, seguidos do Brasil.
9. Países com as maiores capacidades geotérmicas instaladas
são: Estados Unidos, Filipinas e Indonésia. No Brasil essa fonte
de energia é explorada a partir de zonas termais presentes em
parques localizados em Caldas Novas (GO) e Poços de Caldas
(MG), utilizada na forma de água aquecida.
10. Em alguns países as marés são utilizadas na geração de
energia, como França, Rússia, Portugal, Estados Unidos e China,
fonte não explorada no Brasil.
11. O Brasil é o país que mais utiliza biomassa na sua produção
de energia, representando 16% do uso mundial, seguido dos
Estados Unidos (9%) e da Alemanha (7%). A biomassa representa
10% da produção global de energia.
12. A distribuição de carvão mineral no mundo é irregular: a
Rússia possui aproximadamente 50% das reservas conhecidas,
seguida dos Estados Unidos com 30%. O Brasil apresenta apenas
0,1% do carvão conhecido no mundo todo, em depósitos na
borda leste da bacia do Paraná.
13. A maior distribuição de petróleo no mundo está no Oriente
Médio, em campos que contêm cerca de 55% do petróleo
mundial, em 0,5% da área total do planeta. De todas as bacias
sedimentares brasileiras, a de Campos possui as maiores reservas
de petróleo em produção no país.
14. As maiores reservas de gás natural do mundo são encontradas
na Rússia, seguidas de Irã e Qatar. O Brasil tem investido na
expansão do uso do gás natural.
15. A energia nuclear depende diretamente dos minérios de
urânio disponíveis no mundo. Países como Estados Unidos,
França, Japão e Rússia lideram os números a respeito do
potencial e de unidades em operação em seus territórios. O
Brasil alcança o sexto lugar em reservas de urânio no mundo,
fornecendo combustível para, por exemplo, a usina nuclear de
Angra dos Reis.

Recursos naturais e fontes de energia 111


U2

Para concluir esta unidade, podemos refletir sobre como as


fontes de energia e as suas classes, assunto que aqui estudamos,
estão sendo aplicadas e estimuladas no Brasil. É preciso olhar
para o presente para que se possa compreender as perspectivas
do futuro de nosso país a respeito das tecnologias e aplicações
energéticas em nosso território.
A energia não renovável apresentou crescimento na matriz
energética do País, um cenário em que os combustíveis fósseis
continuam a dominar o mercado, com cerca de 57,6% de
participação. Porém, percebe-se que fontes não renováveis
estão começando a perder participação, uma vez que fontes
energéticas alternativas vêm ganhando maior espaço na matriz
energética brasileira.
Sendo assim, analisando as fontes de energia renováveis,
podemos perceber que estamos passando por uma era de
transição em que, literalmente, bons ventos estão por vir. Estima-
se que em 2014 e até o fim de 2015, o Brasil terá atraído cerca
de US$ 300 bilhões em investimentos para a geração de energia
elétrica, dos quais 70% serão direcionados à energia eólica e
solar. Acredita-se que até a data estimada, energia eólica, solar e
de biomassa, que somam cerca de 14%, alcançarão cerca de 50%
de capacidade instalada no país.
Nosso país segue a tendência mundial de aproveitamento de
energias limpas e renováveis, uma vez que, atualmente, de
acordo com as linhas do desenvolvimento sustentável, devemos
hoje ter o cuidado necessário para mantermos a qualidade das
condições de vida de nosso planeta para as gerações futuras.
Caro aluno, estamos vivenciando um momento na história do
planeta em que fontes alternativas ganham destaque, tomando
o lugar de práticas mais antigas e menos sustentáveis.

112 Recursos naturais e fontes de energia


U2

1. Consideramos que os recursos renováveis são aqueles que


se renovam naturalmente após o seu uso, ou seja, aqueles
que são repostos na natureza em taxas equivalentes àquelas
disponíveis antes de seu uso.
Qual das alternativas a seguir traz uma opção em que
encontramos apenas fontes de energia renováveis?
a) Energia eólica, energia solar, carvão mineral.
b) Biomassa, energia eólica, energia nuclear.
c) Energia nuclear, carvão mineral, gás natural.
d) Petróleo, biomassa, energia geotérmica.
e) Energia eólica, energia solar, biomassa.

2. A mineração de superfície de carvão apresenta uma série de


problemas ambientais envolvendo o solo das regiões em que
é realizada, uma vez que modifica muito o meio ambiente.
Quais são as desvantagens da mineração de superfície na
extração de carvão mineral?

3. Os recursos naturais não renováveis são provenientes


de matéria orgânica em decomposição que é depositada e
compactada através de processos geológicos que levam
milhões de anos para acontecer. Quando esses recursos
são retirados do ambiente e utilizados, eles não podem ser
reaproveitados ou renovados.
Qual das alternativas a seguir traz uma opção de fonte de
energia não renovável?
a) Energia nuclear.
b) Energia eólica.
c) Energia solar.
d) Energia de biomassa.
e) Energia geotérmica.

4. “A Finlândia recebe 70% de sua energia de fontes renováveis.


Disso, 80% provém de madeira florestal e restos agrícolas”.
A informação sobre a Finlândia nos permite que concluir que

Recursos naturais e fontes de energia 113


U2

esses 80% de suas fontes de energia são gerados a partir de


qual das opções seguintes?
a) Energia de combustíveis fósseis.
b) Energia de biomassa.
c) Energia solar.
d) Energia de ondas e marés.
e) Energia de fissão nuclear.

5. As aplicações das fontes de energia geotérmica podem ser


de ordem elétrica ou não, sendo os sistemas de vapor seco os
mais aplicados na geração de eletricidade.
De que maneira a energia geotérmica é explorada para a
geração de eletricidade?

114 Recursos naturais e fontes de energia


U2

Referências
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Recursos naturais e fontes de energia 115


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VALVERDE, F. M. Agregados para construção civil. Balanço Mineral Brasileiro, 2001.

116 Recursos naturais e fontes de energia


Unidade 3

ECOLOGIA E AGRONEGÓCIO
– CONCEITOS BÁSICOS E
IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS
NO BRASIL Tatiana de Ávila Miguel

Objetivos de aprendizagem:

Nesta unidade, você vai aprender o significado dos principais conceitos de


Ecologia e, em seguida, verá a importância do agronegócio para a economia
brasileira, bem como os impactos positivos e negativos para a sociedade e para
o meio ambiente.

Seção 1 | Fundamentos de ecologia


Serão introduzidos aqui fundamentos da Ecologia importantes para a
compreensão da dinâmica entre meio ambiente, sociedade e economia. Você
aprenderá o que é bioma, habitat, ecossistema, dentre outros. Além disso, serão
discutidos os tipos de relações ecológicas, as cadeias e teias alimentares.

Seção 2 | Agronegócio: impactos socioambientais,


econômicos e sustentabilidade
Você vai aprender o que é o agronegócio, sua importância e a forma como
foi estabelecido no Brasil. Além disso, serão discutidos os impactos econômicos,
sociais e ambientais decorrentes do atual modelo do agronegócio brasileiro.
U3

118 Ecologia e agronegócio – conceitos básicos e impactos socioambientais no brasil


U3

Introdução à unidade

Com certeza, você conhece alguns conceitos de Ecologia, porém muitas vezes
é possível confundi-los. Por essa razão, acaba-se analisando as consequências das
ações humanas de maneira equivocada. Na maioria das situações, o homem é
separado do meio ambiente, gerando assim uma partição que na verdade não existe,
uma vez que o ser humano é uma espécie animal integrante dos ecossistemas. Nesse
sentido, todas as atividades humanas (econômicas e sociais, por exemplo) estão
intrinsecamente relacionadas ao meio ambiente e à sua preservação. Desde muito
antigamente o homem utiliza a agropecuária como base para o desenvolvimento
das sociedades, e, atualmente, essas atividades estão englobadas dentro do sistema
do agronegócio. Embora extremamente importante para economia e para a
sociedade, o atual modelo de agronegócio utilizado no Brasil e no mundo acarreta
diversos impactos socioambientais negativos, o que levanta questões sobre o futuro
das sociedades e a necessidade de mudanças para que o desenvolvimento seja
mais sustentável. Assim, na primeira parte desta unidade você vai compreender os
conceitos fundamentais da Ecologia, para que na Seção 3.2 possamos introduzir a
questão do agronegócio, levando em consideração o seu desenvolvimento histórico
e as consequências positivas e negativas que dele decorrem. Por fim, vamos discutir a
sustentabilidade no agronegócio, juntamente com alternativas para que os impactos
socioambientais negativos possam ser ultrapassados.

Ecologia e agronegócio – conceitos básicos e impactos socioambientais no brasil 119


U3

120 Ecologia e agronegócio – conceitos básicos e impactos socioambientais no brasil


U3

Seção 1

Fundamentos de ecologia
A ecologia é, basicamente, o ramo da biologia que estuda os seres vivos e suas
interações entre si e com o meio ambiente.

A relação dos seres vivos com a natureza vem sendo observada e estudada
pela humanidade intuitivamente desde seus primórdios, pois o homem precisava
conhecer o seu ambiente para sobreviver. Os primeiros antecedentes científicos da
ecologia são encontrados na história grega, através de um discípulo de Aristóteles:
Teofrasto, cujos estudos descreveram as relações dos organismos entre si e com
o meio ambiente. Porém, o termo Ecologia surgiu apenas em 1866, no livro
Morfologia Geral dos Organismos do biólogo alemão Ernst Haeckel, com a proposta
de relacionar a teoria da evolução das espécies de Charles Darwin à morfologia
animal e de estudar a relação das espécies entre si e com o ambiente.

Com base em sua definição, podemos notar que a Ecologia é uma ciência
interdisciplinar, que permeia diversos ramos, como agronomia, etologia, zoologia,
botânica, biogeografia, genética, paleontologia, sociologia, entre outros, sendo de
extrema importância para a humanidade.

Qual é a importância da Ecologia em nossa vida cotidiana?

Ecologia e agronegócio – conceitos básicos e impactos socioambientais no brasil 121


U3

O estudo da Ecologia exige a observação e o conhecimento dos componentes


abióticos (não vivos) e bióticos (seres vivos) de um sistema. Entre os fatores
abióticos podemos incluir qualquer componente físico-químico de um ambiente,
como temperatura, umidade, água, luz, vento, solo etc. Entre os componentes
bióticos, por sua vez, incluem-se todos os organismos vivos – plantas, animais,
fungos, algas etc. O conjunto desses fatores, bióticos e abióticos, é denominado
biossistema (Figura 3.1).

Figura 3.1 | Biossistemas – Hierarquia dos níveis de organização

Fonte: Adaptado de Odum (2004, p. 6)

Conforme podemos observar na Figura 3.1, há muitos conceitos importantes


para a Ecologia, tais como população, comunidade e ecossistema. Para facilitar
nossos estudos, vamos trabalhar tais conceitos em forma de tópicos.

• Espécie

Conjunto de organismos semelhantes, estrutural e funcionalmente, capazes de


se reproduzir e gerar descendentes férteis.

• População = Espécie + Ambiente

Conjunto de indivíduos da mesma espécie que vivem na mesma área, em um


mesmo intervalo de tempo.

• Comunidade ou Biocenose = População + Ambiente

Conjunto de populações (seres vivos de diferentes espécies) que vivem na


mesma área, no mesmo intervalo de tempo.

• Habitat

É o local geográfico ocupado por uma espécie.

122 Ecologia e agronegócio – conceitos básicos e impactos socioambientais no brasil


U3

• Biótopo

Área geográfica ocupada por uma biocenose ou comunidade. Alguns autores


trabalham biótopo e habitat como sinônimos. Porém, aqui vamos utilizar a palavra
habitat quando estivermos fazendo referência a uma única espécie, e biótopo
quando referenciarmos comunidades.

• Ecossistema = Biocenose + Biótopo

Conjunto de comunidades que vivem na mesma área, no mesmo intervalo de


tempo.

• Biota

Conjunto de seres vivos (ou componentes bióticos) de uma região.

• Bioma

Não há um consenso sobre o conceito de bioma, que pode ser trabalhado


de diferentes maneiras, por diferentes autores (COUTINHO, 2006). Porém, de
forma geral, podemos defini-lo como um conjunto de ecossistemas ou uma área
geográfica que apresenta uniformidade de macroclima, fitofisionomia (aspecto
da vegetação de um lugar), de determinada fauna e outros organismos vivos
associados, e de outras condições ambientais, como altitude, solo, alagamentos,
fogo e salinidade. Essas características lhe conferem estrutura e funcionalidade
peculiares e ecologia própria. Os principais biomas da Terra são Savana, Deserto,
Tundra, Mediterrâneo, Floresta Tropical Úmida, Floresta Tropical Seca, Floresta
Temperada, Chaparral, Prados Temperados, Montanhas e Taiga. No Brasil temos
seis biomas: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal.

Como biomas podem ser delimitados de diferentes formas, há biomas


maiores e menores, e até “biomas dentro de biomas”. Por exemplo, o
bioma Cerrado faz parte do Savana, e o Floresta Amazônica faz parte
do Floresta Tropical. Uma revisão detalhada pode ser encontrada no
artigo “O Conceito de Bioma”, de Leopoldo Magno Coutinho, publicado
em 2006 na revista Acta Botanica Brasilica (vol. 20, n. 1, p. 13-23).
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid
=S0102-33062006000100002>. Acesso em: 6 out. 2015.

Ecologia e agronegócio – conceitos básicos e impactos socioambientais no brasil 123


U3

• Biosfera ou Ecosfera

É o conjunto de todos os ecossistemas da Terra, ou seja, é todo o espaço


ocupado por seres vivos no planeta. Podemos dizer que Biosfera = litosfera
(superfície terrestre) + hidrosfera (ambientes aquáticos) + atmosfera + biota do
planeta.

• Biodiversidade

É sinônimo de diversidade biológica, ou seja, variedade do número de espécies


diferentes encontradas em determinado sistema ecológico. Quanto maior a
biodiversidade, maior o número de espécies diferentes encontradas.

• Espécie Nativa

Espécie que é natural de um determinado ecossistema ou região, ou seja, é


própria da região em que vive e cresce dentro dos seus limites naturais.

• Espécie Exótica

Não habita seu local natural, isto é, foi introduzida pelo homem. Quando a
espécie vive em harmonia com os organismos nativos, dizemos que ela é uma
espécie exótica introduzida. Já a espécie que altera as condições ambientais do
solo, da água, elimina e/ou interfere nas espécies nativas é denominada de espécie
exótica invasora.

A introdução de espécies exóticas invasoras é uma das principais causas


para a perda da biodiversidade, pois sua propagação é muito ampla, e
geralmente se reproduz rapidamente. Com isso, a fauna e a flora nativas
são prejudicadas, podendo fugir do seu ambiente natural para sobreviver
ou, em casos mais extremos, serem extintas. Exemplos comuns de
invasoras são eucalipto, pínus, braquiária, beijinho, goiabeira. Você
pode conhecer mais sobre as espécies invasoras no Brasil acessando
o link: <http://www.mma.gov.br/estruturas/174/_publicacao/174_
publicacao17092009113400.pdf>. Acesso em: 8 out. 2015.

124 Ecologia e agronegócio – conceitos básicos e impactos socioambientais no brasil


U3

Agora que você já aprendeu os principais conceitos de ecologia, vamos estudar


as relações ecológicas importantes para discutirmos os impactos ambientais
provocados pelo homem, especialmente pelo agronegócio, que é o tema da
Seção 2.

1.1 Cadeias e teias alimentares

As cadeias alimentares são as inter-relações de alimentação dos seres


vivos. É pelo alimento que conseguimos a energia necessária para sobreviver.
Certos organismos são capazes de produzir seu próprio alimento (organismos
autotróficos), ao passo que alguns precisam se alimentar de outros seres vivos
(organismos heterotróficos).

Você provavelmente já ouviu a celebre frase de Antoine Lavoisier “na natureza


nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Essa citação resume perfeitamente
o que ocorre em uma cadeia alimentar: uma transferência de matéria e energia
através dos seres vivos, desde os organismos autotróficos até os heterotróficos,
retornando a matéria para a natureza através dos decompositores. Como
podemos observar na Figura 3.2, os organismos são classificados em produtores,
consumidores e decompositores, de acordo com o seu papel na cadeia alimentar.

• Produtores: são sempre autótrofos e por isso estão no início de qualquer


cadeia alimentar. Exemplos: plantas e algas.

• Consumidores: são os organismos heterótrofos, que podem ser:

• Consumidores primários: sempre herbívoros, ou seja, se alimentam dos


autótrofos.

• Consumidores secundários, terciários e assim por diante: sempre carnívoros,


se alimentam de outros heterótrofos (herbívoros ou carnívoros).

• Decompositores: são organismos que transformam matéria orgânica em


matéria inorgânica, fazendo que esses compostos retornem à natureza para serem
reutilizados. Exemplos: bactérias e fungos.

Ecologia e agronegócio – conceitos básicos e impactos socioambientais no brasil 125


U3

Figura 3.2 | Cadeia alimentar – ciclagem de matéria e fluxo de energia

Fonte: Elaborada pelo autor (2015)

Embora a matéria seja sempre reciclada, o fluxo de energia através da cadeia


alimentar é unidirecional. Isso quer dizer que parte dessa energia é perdida no
decorrer de uma cadeia alimentar, diminuindo sempre a cada nível trófico, que é
uma etapa ou estágio da cadeia.

Os produtores ocupam sempre o primeiro nível trófico. Os consumidores


primários ocupam o segundo nível trófico, consumidores secundários estão no
terceiro nível, e assim por diante. Os decompositores estão no último nível trófico.
Alguns animais ocupam mais de um nível trófico, pois são onívoros, ou seja, se
alimentam tanto de vegetais quanto de outros animais. Como exemplo, podemos
citar o homem.

Na natureza, as interações e relações dos seres vivos são mais complexas, e as


cadeias alimentares se entrelaçam, formando as teias alimentares.

1.2 Relações ecológicas

Conforme discutimos anteriormente, as interações entre os seres vivos (relações


ecológicas) são um ponto-chave no estudo da Ecologia. Quando a interação ocorre

126 Ecologia e agronegócio – conceitos básicos e impactos socioambientais no brasil


U3

entre indivíduos da mesma espécie, dizemos que é uma relação intraespecífica.


Quando esse relacionamento ocorre entre indivíduos de espécies diferentes, dá-
se a ele o nome de relação interespecífica. Podemos ainda classificar os tipos
de interação em harmônicas (quando pelo menos uma espécie é beneficiada e
não ocorre prejuízo para nenhuma das partes) ou desarmônicas (pelo menos uma
espécie é prejudicada). A Figura 3.3 mostra um resumo das diferentes relações
ecológicas que observamos na natureza.

Figura 3.3 | Principais relações ecológicas

Fonte: Elaborada pelo autor (2015)

A forma como uma espécie se comporta (seus hábitos alimentares, reprodutivos,


territoriais etc.) se relaciona com as outras e interfere no meio ambiente, ou seja,
o seu “papel no ecossistema” é o que define seu nicho ecológico. Esse conceito
engloba todas as relações ecológicas e alimentares que discutimos anteriormente,
e é de suma importância para compreendermos a dinâmica da natureza, o equilíbrio
ambiental e como as ações humanas interferem no meio ambiente.

Ecologia e agronegócio – conceitos básicos e impactos socioambientais no brasil 127


U3

1.3 Dinâmica ambiental – equilíbrio ecológico, ação antrópica e


poluição
A dinâmica de relações de organismos entre si e com o meio ambiente é
extremamente complexa; tudo se entrelaça, seja por meio das teias alimentares,
por meio das relações ecológicas, seja pelas mudanças ambientais (tanto naturais
quanto aquelas provocadas pelo homem). Podemos fazer aqui uma analogia: a
natureza funciona como se fosse um só organismo vivo, tal qual o corpo humano,
onde tudo acontece de forma interligada e com o propósito de manter um
equilíbrio.

Podemos, portanto, definir o equilíbrio ecológico como a relação que acontece


entre os organismos vivos e com o seu meio, assegurando a sobrevivência das
espécies e preservação dos recursos naturais. Quando em equilíbrio, a fauna e a
flora do ecossistema são praticamente constantes, mostrando, assim, uma relação
de dependência e ajuste complexo, que é essencial para manter a continuidade
das espécies. É um balanço delicado, com muitas variáveis, o qual, portanto, pode
ser facilmente afetado, provocando o chamado desequilíbrio ecológico.

Fator de desequilíbrio é qualquer acontecimento ou evento que venha a


perturbar as características naturais de um ecossistema. Podem ser fatores naturais
(furacões, terremotos, tempestades etc.) ou induzidos pelo homem (poluição,
desmatamento, caça, despejo inadequado de resíduos etc.). Em alguns casos, os
fatores de desequilíbrio induzem ao desenvolvimento de adaptações, as quais são
de suma importância no processo evolutivo e na manutenção das espécies. Por
exemplo: nos cerrados, onde o fogo é um fator de desequilíbrio periódico (ocorre
em intervalos mais ou menos regulares), muitas árvores e plantas se adaptaram de
tal forma que precisam, inclusive, do fogo em alguns processos reprodutivos. Nesse
caso, o fogo do cerrado é um fator de desequilíbrio para alguns componentes do
ecossistema mas para outros não.

Você consegue citar alguns fatos que poderiam ocorrer com


uma espécie que não se adapta a um fator de desequilíbrio
constante?

128 Ecologia e agronegócio – conceitos básicos e impactos socioambientais no brasil


U3

As ações do homem também podem causar perturbações nos ecossistemas,


provocando desde efeitos imperceptíveis a curto prazo até a destruição de
ecossistemas inteiros. É muito importante que você perceba que, como na natureza
os seres vivos são interligados em um ecossistema delicadamente equilibrado, as
perturbações ocorridas em uma única espécie refletirão em toda a teia trófica
e nas relações ecológicas, afetando todo o ecossistema. É por isso que há uma
grande preocupação com temas como o de biodiversidade, por exemplo.

Se você se interessa em saber mais sobre os impactos da humanidade


na natureza, leia no livro Destruição e equilíbrio (o homem e o ambiente
no espaço e no tempo), de Sérgio de Almeida Rodrigues (São Paulo:
Atual, 1989. p. 98). O autor discute a questão do antropocentrismo,
desde a origem da espécie humana, e demonstra que as relações que
desenvolvemos com a natureza hoje atingem um ponto crítico.

Além da perda de biodiversidade, outras consequências negativas comuns da


ação antrópica no meio ambiente são a chuva ácida, o desmatamento, a poluição
das águas e do ar, o efeito estufa, a erosão, os incêndios florestais, as inundações,
as alterações climáticas, a eutrofização, a destruição da camada de ozônio, dentre
outros.

A humanidade possui hoje uma visão antropocêntrica em relação ao meio


ambiente, ou seja, o ser humano se vê como centro do planeta e detentor do papel
de dominador sobre a natureza. Entretanto, somos apenas uma espécie dentre
tantas outras e devemos passar a nos ver em nosso lugar, como parte integrante
da biosfera. Daí a importância da Educação Ambiental.

Todas as relações que o homem estabelece entre si e com o meio ambiente são
estudadas pela Ecologia Humana, pela Sociologia e pela Antropologia. Portanto,
você pode perceber que, conforme discutimos no início desta unidade, a Ecologia
é uma ciência interdisciplinar. Isso quer dizer que, para discutirmos e realmente
compreendermos a natureza, precisamos, além de estudar a fauna e a flora dos
ecossistemas, estudar o comportamento humano e seu impacto na natureza.

O homem interfere negativamente no meio ambiente de várias maneiras. Muitas


vezes nossos próprios hábitos diários causam prejuízos enormes para a natureza.

Ecologia e agronegócio – conceitos básicos e impactos socioambientais no brasil 129


U3

Imagine uma situação bastante comum: lavar a calçada, ou não reciclar o lixo,
ou despejar óleo na pia. Agora imagine que há no mundo 7 bilhões de pessoas
(Organização das Nações Unidas – ONU, 2014) e que apenas um centésimo de
toda a população mundial faça alguma dessas atividades diariamente. O resultado
dessa conta é que diariamente 7 milhões de pessoas prejudicam o meio ambiente
de alguma forma, isso se levarmos em consideração apenas 1 centésimo da
população mundial e 1 fator de desequilíbrio. Se, no entanto, extrapolarmos essa
estimativa e considerarmos que a maioria das pessoas não faz a sua parte para a
preservação do meio ambiente, e que temos milhares de indústrias, pastagens
e plantações, milhões de veículos movidos a combustível fóssil, toneladas de
resíduos, fica fácil perceber o quanto o homem prejudica o meio ambiente e o
quão importante é a Ecologia.

1. Algumas espécies de morcegos frugívoros (ou seja, que


comem frutas) estão contaminadas com um vírus chamado
Nipah. Esse vírus pode provocar infecções graves em muitos
animais domésticos, como porcos, e também em humanos.
Na Malásia, em 1998, as fazendas de criação de porcos
invadiram o ambiente natural dos morcegos, e os chiqueiros
ficaram cheios de frutas mordidas, fezes e urina infectada.
Os porcos adoeceram e as pessoas foram contaminadas pela
carne ou excrementos dos animais, tendo sido de 50% a taxa
de mortalidade (SEGATTO, 2006).

Com base no texto, analise as afirmações:

I. No texto, a expressão “ambiente natural” corresponde a


habitat.
II. Os porcos foram contaminados por meio da ingestão dos
morcegos.
III. Os seres humanos foram infectados pelo contato com
excrementos contaminados e também através da cadeia
alimentar, pela ingestão da carne de porco.
IV. Na cadeia alimentar, as árvores frutíferas são produtoras, e
os morcegos consumidores primários.
V. A contaminação dos porcos não ocorreu através da cadeia
alimentar, pois eles não se alimentam dos morcegos.
Estão corretas as afirmativas:

130 Ecologia e agronegócio – conceitos básicos e impactos socioambientais no brasil


U3

a) I e II, apenas.
b) I, III e IV, apenas.
c) I, III, IV e V, apenas.
d) II, III, e IV, apenas.
e) I, II, III, IV, V.

2. Na natureza as relações ecológicas ocorrem de várias formas


e maneiras surpreendentes:
I. A erva de passarinho é uma planta que não possui clorofila.
Ela se apoia no tronco das árvores e retira seiva para realizar a
fotossíntese e se alimentar.
II. Nas florestas, samambaias se apoiam no topo das árvores
em busca de luminosidade.
III. Em algumas espécies de tubarão, dentro do útero da mãe,
os embriões mais fortes se alimentam dos mais fracos e de
ovos não fecundados.
IV. Os seres humanos cultivam abelhas para produção de mel.
V. Os crocodilos permitem que aves-palito pousem dentro de
sua boca para que estas se alimentem dos restos de comida e
das sanguessugas que ali se instalam.
VI. A associação entre certos fungos e algas clorofíceas ou
cianobactérias costuma ser tão íntima que ambos formam um
novo tipo de organismo, o líquen.
VII. Algumas espécies de árvores produzem substâncias que
são dissolvidas pela água das chuvas e levadas até o solo, onde
dificultam o crescimento de outras espécies vegetais, ou até
mesmo matam sementes, impedindo que germinem.
VIII. Os cupins por vezes infestam casas e se alimentam da
madeira. Porém eles não são capazes de digerir a celulose.
Para isso, contam com a ação de protozoários que vivem em
seu aparelho digestório para se alimentarem.
As situações acima correspondem respectivamente a quais
tipos de relação ecológica?

Ecologia e agronegócio – conceitos básicos e impactos socioambientais no brasil 131


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132 Ecologia e agronegócio – conceitos básicos e impactos socioambientais no brasil


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Seção 2

Agronegócio: impactos socioambientais,


econômicos e sustentabilidade
Você sabe o que é agronegócio? Muitas vezes, a primeira coisa que vem à
mente ao ouvir ou ler essa palavra é a agropecuária, embora esta seja somente
uma porção de toda a cadeia que engloba o agronegócio (observe a Figura 3.4). O
agronegócio é formado por um conjunto de diversas atividades correlacionadas,
que estão diretamente ligadas à agropecuária (MENDES, 2007). O termo engloba
toda a cadeia, formada por fornecedores, indústrias, transporte e serviços. Portanto,
relaciona três setores da economia: o primário (agropecuária e extração vegetal), o
secundário (industrial) e terciário (distribuição e comercialização).
Figura 3.4 | Atividades e setores do Agronegócio
agronegócio
Sinônimo: agrobusiness.

Definição: é o conjunto de todas as


atividades econômicas relacionadas à
agropecuária.

Costuma-se dividir o agronegócio em


três partes.

1. Pré-porteira: fabricantes e
fornecedores de matéria-prima,
equipamentos e insumos.

2. Dentro da porteira: negócios


agropecuários propriamente ditos
(pequenos, médios ou grandes
produtores).

3. Pós-porteira: transporte, distribuição


e venda (incluindo frigoríficos, as indústrias
têxteis, moinhos, indústrias de suco e
alimentos, mercados, empacotadores,
distribuidores de alimentos, fábricas de
Fonte: Elaborada pelo autor (2015) ração etc.).

Ecologia e agronegócio – conceitos básicos e impactos socioambientais no brasil 133


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2.1 Breve Histórico do Agronegócio Brasileiro

A agricultura moderna teve início na Europa durante os séculos XVIII e XIX,


sendo impulsionada pelo aumento da atividade industrial – a chamada Revolução
Agrícola foi fundamental para a decomposição do feudalismo e a implementação
do capitalismo. Durante esse período, a agricultura ainda utilizava força animal e o
setor manufatureiro usava máquinas a vapor (VEIGA, 1991).

Aos poucos os animais foram substituídos por máquinas e as indústrias químicas


passaram a ter um papel crucial para o aumento do rendimento das lavouras, em
especial após a II Guerra Mundial. No Brasil, o processo de modernização agrícola
iniciou-se na década de 1950, mas se acentuou no final da década de 1960 e início
de 1970, principalmente nas regiões Sul e Sudeste, na chamada Revolução Verde.
Sobre essa revolução, Albergoni e Pelaez (2007, p. 32) relataram:

Apoiada em uma promessa de aumento da oferta de alimentos


que proporcionaria a erradicação da fome, a revolução verde
resultou em um novo modelo tecnológico de produção
agrícola que implicou na criação e no desenvolvimento
de novas atividades de produção de insumos (químicos,
mecânicos e biológicos) ligados à agricultura.

O processo de modernização da agricultura foi a base para a formação do


agronegócio. À medida que esse processo foi se intensificando, a demanda por
insumos e maquinário aumentou, acarretando o desenvolvimento de indústrias
destinadas a atender especificamente ao setor agropecuário. Com o passar do
tempo, a correlação entre os setores agropecuário e industrial tornou-se cada vez
mais íntima, e a agropecuária já não poderia ser abordada de maneira isolada.

O Estado teve papel crucial na modernização da agricultura e na consolidação


do agronegócio no Brasil, mediante programas como o Crédito Rural Subsidiado,
o qual incentivava o investimento na área agrícola. Em 1980, em razão da crise
fiscal do Estado e do descontrole da inflação, o governo viu-se obrigado a reduzir
sua participação no financiamento do crédito rural, e para tal buscou outras
fontes de financiamento, aumentou a atuação dos agentes privados e retirou
progressivamente a política de crédito subsidiado. Na década de 1990 o Estado
já deixaria de ser a principal fonte de crédito rural, assumindo um papel de agente
regulador e incentivador do agronegócio (RAMOS; MARTHA JUNIOR, 2010).

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O desenvolvimento tecnológico promovido pela Embrapa (Empresa Brasileira


de Pesquisa Agropecuária) também foi de fundamental importância. Com o
tempo, a produção agropecuária brasileira passou a ser baseada em grande escala,
apoiando-se na mecanização do campo, no uso de químicos, sementes híbridas e
no seu vínculo com a indústria.

O agronegócio no Brasil consolidou-se rapidamente e foi difundido de tal


maneira que, na atualidade, não apenas grandes propriedades enquadram seu
modelo de produção nesse conceito, mas também muitas propriedades de
agricultura familiar realizam sua produção de forma que podemos considerá-las
inseridas no agronegócio.

O desenvolvimento do agronegócio é extremamente dependente da


infraestrutura. Para você se situar na atual conjuntura do nosso país, leia
o artigo “O agronegócio e os desafios do financiamento da infraestrutura
de transportes no Brasil”, de César Nunes de Castro (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada – IPEA, 2015). Disponível em: <http://www.ipea.
gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=25
081%3Atd-2074-o-agronegocio-e-os-desafios-do-financiamento-
da-infraestrutura-de-transportes-no-brasil&catid=344%3A2015&-
directory=1&Itemid=1>. Acesso em: 6 out. 2015.

2.2. Impactos sociais e ambientais do agronegócio

A palavra “impacto” imediatamente nos remete a fatos ruins, mas obviamente


os impactos podem ser tanto negativos quanto positivos. Ao consideramos o
agronegócio, a maior parte das consequências positivas está relacionada com
a questão econômica e social. Entretanto, há muitos pontos negativos também
relacionados ao social, além do meio ambiente. Para discutirmos todos esses
fatores de forma clara, vamos dividir nosso conteúdo em tópicos.

2.2.1. Impactos socioeconômicos

A consequência mais óbvia da modernização do campo é o aumento expressivo


na produção e produtividade das lavouras, além do crescimento do setor agrícola e
da ampliação da área destinada à agropecuária. Com o aumento da produtividade
e a mecanização da agropecuária, ocorre diminuição dos custos de produção, o

Ecologia e agronegócio – conceitos básicos e impactos socioambientais no brasil 135


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que acarreta preços mais baixos dos alimentos. Isso se aplica a toda a cadeia do
agronegócio, por exemplo: quando o preço da soja, do milho e de outros grãos
diminui, todos os produtos industrializados derivados também sofrem queda de
preço, incluindo produtos de origem animal, já que a ração contém esses grãos.
Barros (2006, p. 2) relatou que, de 1989 a 2006:

A produção física de alimentos expandiu 68% enquanto a


população cresceu 27%. Isso significa que a disponibilidade
per capita de alimentos para os brasileiros cresceu 32%. O
custo da alimentação caiu 11% graças a um aumento médio
de produtividade agrícola de cerca de 2,6% ao ano e pecuária
em torno de 4% ao ano.

Com o aumento da produção também houve incremento das exportações, e o


Brasil passou a ocupar um papel de destaque no cenário mundial. A modernização
e o desenvolvimento do agronegócio, portanto, melhoram a competitividade da
agropecuária brasileira, proporcionado aumento das exportações. Dessa forma, o
agronegócio assume uma posição crucial para a economia nacional.

Atualmente, o agronegócio é responsável por 37% dos postos de trabalho no


Brasil, por 23% do PIB e por 40% do faturamento das exportações, sendo um dos
principais responsáveis pelos superávits comerciais. Além disso, o desempenho
do setor é um dos fatores determinantes da inflação, já que 23% do IPCA (Índice
Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) é representado por bebidas e alimentos
(CEPEA, 2014).

Você com certeza já se deparou inúmeras vezes com os termos


“produção” e “produtividade”. Você sabia, no entanto, que eles são
conceitos diferentes? Produção é a quantidade física de bens ou
produtos obtidos (por exemplo: 10 litros de leite, 20 quilogramas de
soja etc.). Produtividade, por outro lado, é uma medida de eficiência ou
performance, com base na economia, sendo geralmente expressa em
porcentagem. Em geral, quanto maior é a produtividade, menores são o
tempo e os recursos utilizados para a produção (ou seja, os custos foram
reduzidos e a produção foi alta).

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Da perspectiva econômica, o agronegócio visa sempre ao aumento da


produtividade, o que requer, primeiramente, melhorias tecnológicas. Portanto, a
expansão do agronegócio incentiva de forma direta o desenvolvimento científico
(principalmente nas áreas de engenharia, ciências biológicas e agronomia) e
tecnológico. De fato, temos hoje no Brasil uma grande parte das pesquisas
científicas das universidades voltada ao agronegócio e à biotecnologia, além de
institutos importantes, tais como a Embrapa, Iapar, Emater, Epamig, Emdagro, IPA,
entre outros.

O crescimento do setor agropecuário, apoiado no advento de novas tecnologias


que tornaram possível o cultivo em terras anteriormente tidas como impróprias,
promoveu a incorporação de áreas produtivas em regiões que antes tinham
participação marginal na produção agrícola nacional (Centro-Oeste, Norte –
principalmente Roraima, Rondônia, Pará e Tocantins – e Nordeste – principalmente
Maranhão, Bahia e Piauí). Nessas regiões, a chegada do agronegócio atraiu
investimentos e propiciou aumento do desenvolvimento econômico, geração de
empregos, melhora de infraestrutura e de IDH (AZEVEDO; PASQUIS, 2007; ÁVILA;
ÁVILA, 2007).

Sempre que falamos de agronegócio, benefícios e adversidades se contrapõem,


gerando uma discussão de duas vias. Do ponto de vista econômico, há mais
impactos positivos do que prejuízos. Entretanto, o agronegócio continua a ser tido
como um dos principais agentes nas questões ambientais e sociais.

Conforme discutimos no tópico anterior, historicamente a difusão do


agronegócio no Brasil ocorreu graças à expansão da fronteira agrícola e à
utilização dos recursos naturais, combinados às políticas governamentais de
incentivo e a adventos tecnológicos. O crédito agrícola subsidiado, que foi de
extrema importância para a expansão do agronegócio, privilegiou os detentores de
grandes propriedades, o que causou concentração de renda e terras, promovendo,
portanto, grande diferenciação social e espacial, com consequente marginalização
do pequeno produtor. Além disso, o aumento da produtividade da terra promoveu
a alta de preços dos terrenos, dificultando ainda mais o acesso aos pequenos e
médios produtores. Esse processo histórico ocorre até hoje e levanta as questões
dos movimentos sociais e da tão necessária reforma agrária em busca de uma
distribuição de terras mais justa.

Com a substituição gradual do crédito subsidiado, a partir da década de 1990


a agricultura familiar foi inserida no contexto do agronegócio, e aos poucos foi
aumentando sua participação na agropecuária brasileira, o que auxiliou a diminuição
da desigualdade social no campo (GANZAROLLI; BERENGUER, 2010). Atualmente
tem se verificado uma tendência nesse sentido, com a inclusão cada vez maior de
pequenos produtores nas cadeias produtivas do agronegócio. Porém, precisamos
ressaltar que, apesar disso, a desigualdade social historicamente gerada pelo

Ecologia e agronegócio – conceitos básicos e impactos socioambientais no brasil 137


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agronegócio ainda persiste, devendo ser adotadas outras medidas para sanar esse
problema.

Sendo a produtividade um dos fatores mais importantes para a competitividade


de mercado, quanto maior é a extensão de terra e melhor é a tecnologia empregada,
maior é a possibilidade de entrada no mercado externo. Isso quer dizer que, graças
à estrutura do agronegócio, os grandes produtores são quem geram os produtos
de exportação brasileiros, enquanto pequenos e médios produtores abastecem
somente o mercado interno.

Ainda assim, Mendonça (2005) acrescenta que:

[...] as pequenas e médias propriedades respondem pela maior


parte do abastecimento do mercado interno brasileiro e pela
maior parte dos empregos existentes no meio rural. De acordo
com o 2º Plano Nacional de Reforma Agrária, a agricultura
familiar responde por 37,8% da produção, mas consome
apenas 25,3% do crédito, enquanto a patronal, que responde
por 61% da produção, consome 73,8% do crédito.

Apesar de não apresentar um conceito bem definido, podemos entender


fronteira agrícola como a região onde as atividades agropecuárias
avançam sobre o meio natural. Portanto, não se trata de uma linha fixa,
tal como a fronteira entre países, mas sim de um limite mais ou menos
definido, que muda com o decorrer do tempo.

Outros impactos sociais causados pelo agronegócio ocorrem indiretamente,


em razão da contaminação e/ou da alteração do meio ambiente. A expansão
da fronteira agrícola, por exemplo, vem gerando diversos conflitos de terras em
virtude do deslocamento das populações tradicionais. Outras discussões sobre o
avanço do agronegócio estão nas questões de disponibilidade e distribuição de
alimentos, a segurança alimentar, as implicações na saúde animal e humana, entre
outros. Para facilitar os seus estudos, alguns desses tópicos serão abordados com
mais detalhes nos próximos itens.

138 Ecologia e agronegócio – conceitos básicos e impactos socioambientais no brasil


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Se o agronegócio gera desigualdades sociais, por que ocorre


melhora no IDH?

Para que você possa compreender melhor, segue lista com os impactos
socioeconômicos gerados pelo agronegócio, discutidos anteriormente:

• Aumento da produção e da produtividade no setor agropecuário.

• Diminuição do custo de bebidas e alimentos para o consumidor final.

• Aumento das exportações e geração de riquezas (PIB e balança comercial).

• Incentivo ao desenvolvimento tecnológico e científico.

• Incorporação de áreas anteriormente impróprias para o cultivo.

• Concentração de renda e terras nas mãos dos grandes produtores.

• Desenvolvimento econômico, geração de empregos e melhoria da


infraestrutura e do IDH.

• Aumento das desigualdades sociais no meio rural.

• Aumento no valor da terra.

• Dificuldade na participação de pequenos e médios agricultores no setor


agropecuário.

• O mercado de exportações fica nas mãos dos grandes produtores, e o


mercado interno é abastecido por pequenos e médios produtores.

• Expansão da fronteira agrícola, conflitos de terras, deslocamento de


populações tradicionais.

2.2.2 Impactos socioambientais

Nesta parte, vamos abordar os impactos ambientais do agronegócio e suas


consequências para o meio social. Vamos iniciar nossa reflexão apenas citando os
principais impactos e vamos separá-los em itens para que você possa compreender
melhor.

Ecologia e agronegócio – conceitos básicos e impactos socioambientais no brasil 139


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No campo (setores de produção agropecuária), há problemas de contaminação


por adubos, agrotóxicos, fertilizantes e antibióticos utilizados na criação animal,
além dos riscos para a saúde dos trabalhadores que manuseiam os defensivos
químicos. Além disso, a expansão da fronteira agrícola promove o desmatamento,
causando um intenso desequilíbrio ecológico e perda de biodiversidade. Também
há a questão dos transgênicos, do uso da água e do empobrecimento e erosão
do solo.

No transporte, no armazenamento e no processamento, a poluição é um dos


principais problemas ambientais gerados. A indústria é responsável pela poluição
tanto do ar quanto da água e do solo. No caso específico do agronegócio, a
indústria de alimentos é uma das maiores fontes de resíduos orgânicos e efluentes,
os quais frequentemente são despejados no ambiente sem tratamento adequado.
Aqui também contabilizamos as peixarias, os matadouros, os abatedouros e
os frigoríficos, que geram uma grande quantidade de resíduo orgânico, o qual
pode causar diversos problemas ambientais a curto e longo prazo, bem como
proliferação de roedores, insetos e de doenças. Há ainda as indústrias têxteis, cujos
resíduos químicos são um grande problema ambiental.

Conforme você aprendeu anteriormente, o agronegócio engloba uma gama


imensa de diferentes indústrias, além dos setores de transporte, armazenagem e
distribuição, todos com a sua parcela de contribuição para a degradação do meio
ambiente. Portanto, a questão dos resíduos e efluentes é extensa, e não podemos
abordá-la aqui como um todo, mas podemos ter uma noção geral do potencial
poluidor do agronegócio e de quão importante é o tratamento de resíduos e
efluentes industriais.

Durante a etapa de distribuição e consumo também temos os problemas de


desperdício de alimentos, geração de resíduos (embalagens), poluição do ar por
combustíveis fósseis, desmatamento (abertura de estradas, rodovias e ferrovias),
dentre outros. Em suma, o agronegócio é composto por uma rede imensa e
diversificada, e a forma como o meio ambiente é prejudicado ocorre de diversas
maneiras. Os desequilíbrios ecológicos (que estudamos na Seção 3.1) gerados
podem ter consequências a curto, médio e longo prazo, sendo estas sentidas
diretamente por todas as formas de vida do planeta. Veremos os principais impactos
socioambientais com detalhe nos tópicos seguintes.

2.2.2.1 A questão dos fertilizantes, defensivos, adubos e antibióticos

O agronegócio visa maior produtividade e competitividade. Nessa perspectiva,


não são levados em consideração a conservação dos recursos naturais, o equilíbrio
ecológico, a sustentabilidade do sistema de produção e a qualidade dos alimentos
(no que se refere à contaminação por substâncias químicas). Com isso, ocorre
grande uso de agrotóxicos, fertilizantes, adubos e antibióticos.

140 Ecologia e agronegócio – conceitos básicos e impactos socioambientais no brasil


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Os agrotóxicos são utilizados para impedir o crescimento e a proliferação das


chamadas “pragas” de lavoura. O primeiro problema que podemos destacar aqui é
a contaminação por via direta dos trabalhadores que manuseiam esses produtos
químicos e das comunidades dos entornos (tanto da lavoura quanto das indústrias
que fabricam agrotóxicos). A intoxicação aguda (exposição a doses elevadas; dano
aparente a curto prazo) pode provocar convulsões, vômitos, cefaleia, dermatite,
lesões etc. Já na intoxicação crônica (exposição contínua a baixas doses; danos
visíveis a longo prazo) pode ocorrer perda de fertilidade e câncer. Os consumidores
são contaminados de forma indireta e ficam sujeitos à exposição crônica, uma
vez que resíduos dos agrotóxicos permanecem nos alimentos (SOARES; PORTO,
2007). A mesma lógica se aplica para outros insumos químicos que podem ser
utilizados na agropecuária.

No meio ambiente, os agrotóxicos contaminam o solo, a água e a biota.


Os mesmos efeitos tóxicos observados nos seres humanos podem ocorrer
em qualquer outro animal, incluindo os efeitos teratogênicos e promotores
de mutação. Alguns tipos de agrotóxicos podem acumular ao longo da cadeia
alimentar (biomagnificação), contaminando todos os organismos envolvidos no
processo, inclusive os seres humanos. Além disso, Soares e Porto (2007, p. 134)
afirmam que:

[...] alguns agrotóxicos, além de erradicar as pragas, também


eliminariam seus inimigos naturais [...]. Acrescenta-se o fato de
que alguns indivíduos são mais resistentes, o que faz com que,
na maior parte das vezes, as pragas não sejam completamente
dizimadas, restando indivíduos com genótipo mais forte.
O cruzamento desses indivíduos [...] promove aumentos
substanciais na população, fazendo com que a praga volte
mais resistente [...].

No solo, o acúmulo de agrotóxicos e outros insumos químicos pode provocar


a queda de fertilidade. A contaminação da água e do solo por agrotóxicos,
adubos, fertilizantes e antibióticos também é um problema constante, já que a
deterioração da qualidade de águas subterrâneas e superficiais (inclusive fontes
de abastecimento) é a principal preocupação no que diz respeito ao impacto da
agropecuária no ambiente.

Os fertilizantes e adubos provocam um incremento massivo de matéria orgânica


no solo e na água, acarretando uma série de problemas ambientais. O balanço de
nutrientes nos ecossistemas equilibrados é afetado em razão do aumento de um

Ecologia e agronegócio – conceitos básicos e impactos socioambientais no brasil 141


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ou de outro componente. Uma das consequências mais comuns é o aumento


dos níveis de fósforo e nitrogênio em corpos d’água, ocasionando a eutrofização.
Esse fenômeno é caracterizado pelo crescimento de microalgas e cianobactérias
toxigênicas (que produzem substâncias tóxicas denominadas de cianotoxinas),
configurando, em muitos casos, um problema de saúde pública. A contaminação
da água por cianotoxinas é cada vez mais constante e, visto que o tratamento
de água convencional não elimina as toxinas, configura um perigo cada vez
maior para a saúde humana e animal. Além disso, como a taxa de multiplicação
das algas é bastante alta, forma-se uma cobertura na superfície da água, o que
interfere nas trocas gasosas com o meio ambiente. Com isso, ocorrem diminuição
da concentração de oxigênio dissolvido e, consequentemente, morte da biota
aquática do local.

No ano de 1996, em Caruaru, Pernambuco, água contaminada com


cianotoxinas foi fornecida a um centro de hemodiálise. Do total de
pacientes, 85% foi afetado. Cerca de 23 morreram nas primeiras duas
semanas em decorrência de sintomas neurológicos ou de falência
hepática. Nas cinco semanas seguintes, outros 37 pacientes faleceram
em razão de efeitos tóxicos no fígado (JOCHIMSEN et al., 1998; POURIA
et al., 1998).

Em relação aos antibióticos utilizados na produção animal, muitos compostos


não são metabolizados completamente, sendo excretados na urina e nas fezes.
A utilização dos excretos animais como adubo no lodo de esgoto é uma das
principais vias de contaminação do meio ambiente por antibióticos (CHRISTIAN
et al., 2003). Os resíduos de antibióticos podem contaminar o solo diretamente,
serem transportados para os corpos d’água ou absorvidos pelas plantas, afetando
seu crescimento e desenvolvimento e resultando em risco alimentar à saúde
humana e animal (BOXALL et al., 2006). Os efeitos tóxicos crônicos em animais
são geralmente estudados em laboratório, em situações diferentes daquelas
encontradas no meio ambiente. Portanto, ainda se sabe pouco sobre os problemas
de ecotoxicidade de antibióticos e sua interação com outros resíduos (REGITANO;
LEAL, 2010).

Outra questão é a possibilidade do surgimento de bactérias resistentes


aos antibióticos, principalmente em razão da exposição contínua a baixas
concentrações, a qual exerce uma pressão de seleção natural (CHANDER et al.,
2007).

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É importante perceber que, conforme veremos nos tópicos seguintes, os


organismos vivos (aquáticos e terrestres) são expostos a uma grande variedade de
compostos e moléculas residuais, as quais podem interagir entre si de forma aditiva,
antagônica, sinérgica etc. Ou seja, a situação real dos impactos socioambientais do
agronegócio é bastante complexa, e os diversos processos que estudamos aqui
ocorrem de forma simultânea, constituindo uma ampla cadeia de consequências.

2.2.2.1.1 Desmatamento e biodiversidade

Desde o início de sua expansão, na década de 1960, a agropecuária vem


sendo um dos principais fatores de desequilíbrio dos recursos naturais. Com o
crescimento populacional, não somente no Brasil, mas em todo o mundo, a
produção de alimentos também aumentou. De 1972 a 2001, por exemplo, foi
necessário produzir alimentos para cerca de 2,22 bilhões de pessoas a mais
(UNITED NATIONS, 2001).

A expansão agropecuária nos moldes do agronegócio intensificou o uso dos


recursos naturais, gerando e/ou agravando muitos dos processos de degradação
do meio ambiente. Por meio da atividade agropecuária, ocorrem, por exemplo, o
desmatamento, a compactação do solo, a lixiviação de nutrientes, a poluição e a
erosão, que são processos ainda mais agravados pelo crescimento populacional e
pela urbanização trazidas pelo agronegócio.

Embora existam diversas causas para o desmatamento (extração ilegal


de madeira, expansão urbana, dentre outros), um relatório da Forest Trends
(organização sem fins lucrativos) foi elaborado para determinar exatamente quanto
do desmatamento mundial é causado pelo agronegócio. A pesquisa concluiu que
de 2000 a 2012, entre 63% e 75% do desmatamento ocorreu graças à expansão
do agronegócio. Dessa porcentagem, 36% a 65% era ilegal, ou seja, não detinha
licença, utilizava técnicas destrutivas de ocupação e/ou outras atividades proibidas
pelos governos locais (HARBALL, 2014).

De acordo com o mesmo relatório, Brasil e Indonésia detém 75% do total


das florestas devastadas ilegalmente. No Brasil, os principais responsáveis pelo
desmatamento foram a produção de soja, a pecuária bovina e a apropriação
irregular de terras públicas (grilagem). A organização aponta ainda o agronegócio
como responsável pelo desmatamento de pelo menos 90% da Amazônia brasileira
(WELLE, 2014).

Embora o Brasil ainda apresente alta porcentagem de desmatamento ilegal,


a derrubada ilegal da Amazônia regrediu mais de 70% se comparada aos índices
de 1996 a 2005, graças às medidas legais implantadas pelo governo em 2004. A
legislação nacional determina que as propriedades rurais privadas mantenham pelo
menos 20% da flora natural (a denominada Reserva Legal). Entretanto, ainda não

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existem cadastros oficiais para determinar quem cumpre a lei, daí o “incentivo” à
ilegalidade. Com o intuito de auxiliar na regularização desse processo, o Cadastro
Ambiental Rural foi introduzido no novo Código Florestal. O cadastro incluirá
dados georreferenciados da terra, determinando as áreas de proteção permanente
e Reserva Legal, por exemplo. Com isso, espera-se que ocorra uma regressão do
desmatamento ilegal por parte dos proprietários privados (WELLE, 2014).

Conforme você aprendeu anteriormente, o agronegócio no Brasil foi


implantado de maneira desenvolvimentista, não levando em consideração os
impactos ambientais e suas consequências para as comunidades. Portanto, o
aumento de pastagens e terras aráveis tem causado o desmatamento de florestas
e a degradação dos biomas brasileiros, especialmente no Pantanal, no Cerrado e
na Amazônia.

A Amazônia é o maior bioma brasileiro e detém 1/3 de todas florestas tropicais


úmidas do planeta. Esse bioma contém grande número de espécies deferentes
de animais e vegetais, muitas das quais são endêmicas (que ocorrem somente em
determinada área). Além disso, acredita-se que a Floresta Amazônica contém a
maior biodiversidade do mundo e 20% da toda a água potável disponível no planeta.
O segundo maior bioma do Brasil é o Cerrado, sendo considerado a savana mais
rica do planeta. Nele existe uma grande variedade de espécies endêmicas, tanto
animais quanto vegetais, e diversidade de habitats.

De acordo com dados publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e


Estatística (IBGE, 2015), a porcentagem de áreas desmatadas do Bioma Cerrado
atingiu 49,1% até 2010, e na Amazônia Legal (área de 5,2 milhões de km², que inclui
o bioma Amazônia e inclui parte do Cerrado), embora o ritmo de degradação venha
diminuindo, o desmatamento chegou a 14,83% até 2011. A devastação do Cerrado
também atinge o Pantanal, uma vez que seus principais rios nascem nas chapadas,
as quais têm diversos problemas ambientais decorrentes do agronegócio. Além
disso, no Pantanal também ocorre grande expansão agropecuária, bioma que já
teve 15% de seu total desmatado.

O desflorestamento na Amazônia e no Cerrado acarreta perda de


biodiversidade, extinção de espécies, danos aos solos e à água (perda de
nutrientes, erosão e poluição), além de ameaçar a sobrevivência de populações
tradicionais, que dependem da floresta. Precisamos considerar também que os
biomas desempenham um papel fundamental no clima, já que sua devastação
pode provocar desertificação e contribuir para o aquecimento global, entre outros
danos. O desmatamento também ameaça a regulação de vazão dos rios, bem
como a qualidade e a quantidade da água e os ecossistemas aquáticos em geral.

Sempre que discutimos desmatamento, é importante lembrar que as queimadas


são frequentemente utilizadas para a remoção da vegetação original. A queima
da vegetação, além de poluir a atmosfera, também afeta diretamente o solo, já

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que facilita a ocorrência de processos erosivos e promove perda de nutrientes.


Com isso, acaba sendo necessária a utilização de quantidades cada vez maiores
de fertilizantes e outros produtos químicos na lavoura, o que também impacta o
meio ambiente, conforme aprendemos no item anterior. De acordo com o IBGE
(2015), as queimadas e o desflorestamento são as principais fontes de CO2 e gases
do efeito estufa.

Somando todos os efeitos do desmatamento provocado pelo avanço


desenfreado do agronegócio, os impactos resultantes alteram o equilíbrio dos
ecossistemas, os quais, por sua vez, fornecem condições fundamentais ao bem-
estar do ser humano.

2.2.2.2 Solo

A degradação dos solos é um dos principais impactos ambientais das atividades


agropecuárias e geralmente é resultado de práticas inadequadas de cultivo e
criação animal. Você provavelmente já sabe que o cultivo impróprio do solo e a
manutenção de monoculturas causam perda de nutrientes, razão pela qual ocorre
um aumento no uso de produtos químicos nas lavouras. Além disso, a pecuária
também constitui um grande problema ambiental para a preservação do solo,
principalmente porque promove sua compactação, diminuindo a permeabilidade
e, consequentemente, aumentando o escoamento superficial de água. Com isso,
agravam-se os problemas de lixiviação, contaminação de corpos d’água e erosão,
dentre outros. Por essa razão, ocorrem favorecimento de eutrofização, perda de
biodiversidade, além de prejuízos socioeconômicos. Por exemplo: à medida que
o solo é degradado, pode ocorrer a perda de fertilidade do terreno, resultando em
baixa produção e produtividade agrícola, ou seja, impactando na economia e na
sociedade.

2.2.2.3 Poluição, resíduos e efluentes

Além da poluição causada diretamente pelas atividades agropecuárias, o


agronegócio traz consigo o desenvolvimento de infraestrutura, urbanização e
centros industriais, todos os quais são fontes de poluição.

Você sabe a diferença entre efluentes e resíduos? Resíduo é qualquer


material que sobra e é descartado, podendo ser sólido, líquido ou gasoso,
embora o termo seja mais usado para designar materiais sólidos. Efluente
é a terminologia utilizada para os resíduos líquidos, provenientes do meio
urbano ou da indústria.

Ecologia e agronegócio – conceitos básicos e impactos socioambientais no brasil 145


U3

As cidades, rodovias e indústrias promovem a contaminação do ar, uma vez


que diversas atividades, incluindo o transporte, exigem a queima de combustíveis
fósseis. A poluição do ar representa um risco à saúde (pneumonia, asma, doenças
respiratórias, tumores etc.), além de poder provocar fenômenos como a chuva
ácida, a inversão térmica e a alteração climática.

Os efluentes e resíduos urbanos e industriais também causam grande impacto


no meio ambiente. Quando não tratados, os efluentes líquidos (provenientes dos
esgotos sanitários e das indústrias) lançados na água causam um forte desequilíbrio
ecológico, pois alteram o conteúdo de oxigênio dissolvido na água, interferindo
na vida aquática, e promovem um aumento nos níveis de nutrientes orgânicos,
tais como o fósforo e o nitrogênio, provocando a eutrofização e a proliferação
de microalgas tóxicas. Com isso, os processos de decomposição e toda a
cadeia alimentar são afetados e geralmente atingem o homem, seja através da
contaminação alimentar (pela ingestão de peixes, por exemplo), seja através de
doenças.

A poluição da água por compostos orgânicos pode provocar diversas


doenças, tais como amebíase, cisticercose, cólera, disenteria, entre outras. Há
ainda a possibilidade de poluição da água por compostos químicos (corantes,
metais pesados, agrotóxicos etc.), muitos dos quais têm potencial carcinogênico
e teratogênico, além de alterarem o equilíbrio hormonal de seres humanos e
animais. Com isso, ocorre o desenvolvimento de tumores, de doenças hepáticas
e de tireoide, de dermatoses, alergias, lesões e até alterações neurológicas. Os
poluentes químicos também podem ser acumulados ao longo da cadeia alimentar,
provocando efeitos tóxicos em plantas e animais.

Alguns tipos de efluente alteram a temperatura da água (poluição térmica),


como por exemplo águas utilizadas para sistemas de refrigeração em indústrias.
Esse efluente provoca um aumento na temperatura do ecossistema aquático, o
que ocasiona queda da concentração de oxigênio dissolvido, afetando todas as
formas de vida e relações ecológicas.

Assim, o tratamento de efluentes é extremamente importante para a


conservação do meio ambiente e, embora algumas empresas tenham programas
para esse fim, ainda existe uma grande quantidade de efluentes sem tratamento
sendo despejados na água. Aqui podemos dizer que o problema é ainda mais
grave em regiões menos desenvolvidas economicamente.

Os resíduos sólidos (orgânicos e inorgânicos) gerados pelo meio urbano e pelas


indústrias também representam um desafio para a preservação do meio ambiente.
Muitas cidades e comunidades não possuem um programa de destinação adequada
do lixo, por exemplo. Assim como qualquer tipo de poluição, os resíduos sólidos
também impactam na economia e na saúde humana.

146 Ecologia e agronegócio – conceitos básicos e impactos socioambientais no brasil


U3

Com o crescente desenvolvimento agroindustrial e urbano, principalmente


nos moldes desenvolvimentistas do agronegócio, a sociedade enfrentará cada vez
mais as consequências da emissão de poluentes no meio ambiente, seja por meio
de sua presença no ar, através de sua deposição no solo e nos vegetais, seja pela
contaminação da água.
Conhecendo mais sobre os efeitos que os resíduos urbanos e industriais
provocam no meio ambiente, fica fácil para você compreender como o
tratamento e a destinação adequada são importantes: além do impacto negativo
nos ecossistemas, a poluição afeta diretamente a vida do ser humano.
2.2.2.4 Demanda por recursos naturais

Anteriormente, você aprendeu que o crescimento populacional e a expansão


do agronegócio demandam cada vez mais terras, o que causa a expansão da
fronteira agrícola, o desmatamento e a poluição. Porém, a demanda por outros
recursos também aumenta. Por exemplo, com a expansão do espaço urbano e da
produção trazida pelo agronegócio, é necessário aumentar a geração de energia,
melhorar a malha viária, disponibilizar acesso à água, dentre outros. Ou seja,
toda a infraestrutura necessária precisará ser construída em meio à mata nativa,
provocando sua diminuição e sua degradação. As hidrelétricas e usinas eólicas
provocam um grande desiquilíbrio ecológico quando instaladas. Há também a
questão da irrigação, que muitas vezes desvia o curso de rios para fins produtivos
e afeta o ecossistema como um todo.
Faremos aqui apenas esta breve discussão, porém você pode imaginar a
extensão dos danos que a expansão insustentável do agronegócio pode causar.
Tente pensar em tudo o que discutimos nos tópicos anteriores em um só cenário
e tenha em mente que o desenvolvimento econômico ainda impera sobre a
preservação do meio ambiente em nossa sociedade.
2.2.2.5 A questão dos transgênicos e da segurança alimentar

Antes de discutirmos esse tópico, você precisa entender o que é segurança


alimentar. Esse conceito implica não somente a qualidade dos alimentos, mas
também a sua quantidade, sua disponibilidade e sua forma de produção. De acordo
com a Lei n. 11.346, artigo 3º:

A segurança alimentar e nutricional consiste na realização do


direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos
de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer
o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base
práticas alimentares promotoras da saúde que respeitem
a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural,
econômica e socialmente sustentáveis. (CONSEA, 2006).

Ecologia e agronegócio – conceitos básicos e impactos socioambientais no brasil 147


U3

Neste sentido, vamos abordar como algumas práticas corriqueiras no


agronegócio impactam diretamente na quantidade e na qualidade dos alimentos.
Daremos um enfoque à questão das toxinas naturais, aos agrotóxicos e transgênicos,
relacionando-os com a o desenvolvimento de novas tecnologias.

Existem diversos microrganismos que vivem naturalmente nos grãos e que,


conforme a pressão ambiental, produzem substâncias com efeito tóxico para
humanos e diversos outros animais – as chamadas toxinas naturais. Nas principais
lavouras comerciais (milho, soja, trigo, café, amendoim, dentre outras) há
diferentes espécies de fungos que danificam os grãos e produzem toxinas naturais
com efeitos diversos, incluindo promotores de câncer. Para sanar esse problema,
os produtores muitas vezes utilizam fungicidas, mas essa prática, embora elimine
visualmente os fungos, pode provocar um aumento na produção das toxinas
naturais antes que o microrganismo morra (FALCÃO et al., 2011).

Como consequência, o alimento fica contaminado não somente com resíduos


químicos, mas também com toxinas naturais, reduzindo assim a qualidade e
ocasionando riscos à saúde. Lembre-se de que muitos animais que nos servem de
alimento também comem grãos contaminados (com toxinas naturais e compostos
químicos), e algumas substâncias e moléculas são acumuladas no decorrer da
cadeia alimentar até chegar nos seres humanos.

A contaminação dos alimentos por toxinas naturais é um problema mundial,


porém existem legislações locais que estabelecem níveis máximos permitidos
nos alimentos. Esse é um problema que ocorre naturalmente e, apesar de poder
ser intensificado com o uso de agentes químicos, também pode ser controlado
com boas práticas de cultivo e pesquisas que explorem opções para minimizar sua
ocorrência.

Nesse sentido, a biotecnologia é uma ferramenta de suma importância para a


agropecuária e o agronegócio em geral. Essa ciência é praticada pela humanidade
de forma intuitiva há milhares de anos, em processos de fermentação para
fabricação de vinho, pão e cerveja, nos cruzamentos de plantas e animais para
obtenção de melhoria, em técnicas de enxertia, entre outros. Foi entre as décadas
de 1950 e 1980, com a descrição da estrutura do DNA e a descoberta de enzimas
de restrição, que a biotecnologia deu um grande salto e passou a ter maior atenção
no meio científico. A partir desse momento, os cientistas puderam desenvolver
uma técnica de melhoria em nível molecular, a denominada tecnologia do DNA
recombinante, que permitiu o desenvolvimento de organismos transgênicos
(FARAH, 2007).

Basicamente, os organismos transgênicos ou geneticamente modificados


(OGM) são aqueles que receberam um gene que não possuíam anteriormente,
seja da mesma espécie, seja de outra completamente diferente. Podemos

148 Ecologia e agronegócio – conceitos básicos e impactos socioambientais no brasil


U3

dizer, portanto, que a transgenia é uma evolução do melhoramento genético


convencional. Os cientistas pesquisam a transgenia não somente em plantas,
mas também em microrganismos e animais. Uma vez que nossa discussão está
atrelada ao agronegócio, vamos focar apenas naquilo que nos é relevante, ou seja,
nas variedades geneticamente modificadas de plantas utilizadas atualmente na
agricultura.

Se você quiser aprender mais sobre biotecnologia, genes, tecnologia do


DNA recombinante e transgenia, leia o livro DNA – Segredos e Mistérios,
de Solange Bento Farah (2007). O livro foi escrito de forma que qualquer
pessoa pudesse entender seu conteúdo, em linguagem bastante
acessível, ou seja, para lê-lo você não precisa entender muito de Biologia
ou Genética.

A maioria das pesquisas genéticas relacionadas ao agronegócio desenvolve


plantas transgênicas pelos seguintes motivos: desenvolver tolerância à seca ou
herbicidas, resistência a insetos e vírus, melhorar o valor nutricional do alimento, ou
ainda para a utilização de plantas como biofábricas de medicamentos. Aprendemos
que a contaminação dos alimentos por agrotóxicos é um dos principais problemas
na segurança alimentar, e, tendo isso em vista, muitas variedades transgênicas de
grãos passaram a ser utilizadas com a promessa de aumento da produtividade e
de redução do uso de insumos químicos. É importante que você compreenda
que, assim como qualquer tecnologia, a utilização da transgenia na produção de
alimentos apresenta vantagens e desvantagens, conforme resumido na Figura 3.5.
Figura 3.5 | Prós e contras da utilização de plantas transgênicas

Fonte: Elaborada pelo autor (2015)

Ecologia e agronegócio – conceitos básicos e impactos socioambientais no brasil 149


U3

No Brasil, a utilização dos transgênicos é regulamentada pela Lei de


Biossegurança (Lei n. 11.105, de 24 de março de 2005), mas ainda há bastante
polêmica em torno desse assunto. A aceitação pelo consumidor também é outra
questão relevante para o agronegócio, já que o público em geral vê os alimentos
transgênicos como prejudiciais à saúde e ao meio ambiente. Entretanto, a utilização
de novas tecnologias (incluindo a transgenia) é de extrema importância para que
se possam melhorar as práticas agropecuárias, sendo fundamental para a evolução
das técnicas de cultivo.

Você sabia que alguns medicamentos e hormônios que a humanidade


consome cotidianamente, como por exemplo a insulina e o GH (hormônio
do crescimento), são produzidos por microrganismos transgênicos?

Uma outra questão importante da segurança alimentar é o desperdício de


alimentos durante todas as etapas do agronegócio (produção, armazenagem,
processamento, transporte e consumo). De todo o alimento desperdiçado no
mundo, a maior porcentagem (54%) ocorre nas etapas de produção, manipulação,
pós-colheita e armazenagem. Os outros 46% ocorrem durante o processamento,
a distribuição e o consumo. O Brasil está entre os 10 países que mais desperdiçam
alimentos no mundo, jogando fora cerca de 30% de toda a produção (FAO, 2013).

Muito se debate a respeito dos motivos de tamanho desperdício. Os principais


fatores envolvidos são a falta de logística ao longo da cadeia produtiva e a
necessidade de melhora na infraestrutura (decorrente da limitação financeira e
estrutural no cultivo, na colheita, no transporte e no armazenamento). Há também
dois problemas cruciais no comportamento do consumidor: a compra de alimentos
em excesso e a rejeição de grandes quantidades de alimentos graças aos padrões
estéticos e de qualidade, acarretando desperdícios enormes. Além disso, todo esse
alimento descartado constitui um resíduo e, portanto, impacta negativamente no
meio ambiente, conforme apresentado anteriormente.

Conforme pudemos analisar até aqui, há diversos impactos positivos e


negativos decorrentes do agronegócio, o qual ainda precisa ser redesenhado e/ou
aprimorado para que se consiga uma produção agropecuária sustentável do ponto
de vista econômico, social e ambiental.

150 Ecologia e agronegócio – conceitos básicos e impactos socioambientais no brasil


U3

2.3. Sustentabilidade e agronegócio

Agora que você já aprendeu os impactos negativos do agronegócio e também a


sua importância socioeconômica para o Brasil, com certeza já percebeu porque esse
modelo é tão criticado, compreendendo que são necessárias diversas melhorias
para o Brasil conseguir implantar uma produção agroindustrial sustentável.

Atualmente, o fortalecimento do agronegócio brasileiro depende cada vez mais


da adoção de estratégias sustentáveis, que integrem a produção, a preservação
ambiental e a responsabilidade social. Para superar a insustentabilidade atual, os
novos modelos de agropecuária deverão ser racionais na utilização de recursos
naturais, desenvolver-se dentro da legalidade e dos princípios de preservação dos
ecossistemas, produzir alimentos saudáveis em qualidade e quantidade necessárias
e trabalhar em conjunto com o sistema econômico e com a sociedade.

Quanto ao desmatamento ilegal, a educação ambiental, a difusão de


conhecimento e tecnologia são extremamente importantes para acabar com
o problema, já que ajudam a melhorar a produtividade, tornando, portanto, “a
legalidade rentável”. Além disso, é necessária a realização de cadastro e fiscalização
via satélite das propriedades rurais.

O aumento populacional e a crescente demanda por alimentos exercem forte


pressão sobre o agronegócio, o que favorece a expansão da fronteira agrícola
e a degradação do meio ambiente. Nesse sentido, para um desenvolvimento
mais sustentável, social e ambientalmente, as pesquisas científicas e a utilização
de tecnologias que aumentam a produtividade são cruciais. Além disso, são
necessários investimentos em profissionalização, infraestrutura e logística, a fim
de reduzir o desperdício de alimentos e melhorar a sua distribuição, diminuindo
assim os problemas de fome, desnutrição e de expansão das áreas destinadas à
agropecuária.

Em relação ao desperdício de alimentos, a abordagem para a solução precisa


ser multidisciplinar e interinstitucional, visando ao melhor aproveitamento
dos alimentos, incluindo aqueles fora do padrão de consumo, bem como a
integração das práticas de cultivo, pós-colheita, processamento e aproveitamento
de subprodutos. Como exemplos, podemos citar a capacitação dos produtores
rurais e a utilização de resíduos de alimentos para compostagem. Além disso, é
necessário um maior planejamento para equilibrar oferta e demanda, e, em casos
de excedentes, pode-se adotar estratégias como a reutilização de alimentos através
de mercados secundários ou da doação. Quando a qualidade dos alimentos não
permitir sua reutilização, a reciclagem e a recuperação permitem que o desperdício
seja diminuído (como por exemplo através de digestão anaeróbia, compostagem
ou incineração de subprodutos para geração de energia).

Ecologia e agronegócio – conceitos básicos e impactos socioambientais no brasil 151


U3

No agronegócio algumas medidas já estão sendo utilizadas para redução dos


impactos socioambientais, dado que a maioria dos projetos está relacionada ao
aproveitamento de resíduos, como, por exemplo, a queima do bagaço de cana e o
tratamento de dejetos suínos em biodigestores para geração de energia (CENAMO,
2005).
O papel do Estado para a adoção de medidas que favoreçam a sustentabilidade
é crucial, tais como o Cadastro Ambiental Rural, o projeto de lei que institui o
pagamento por serviços ambientais (que recompensa produtores rurais pela
proteção e restauração de áreas degradadas) e legislação específica para proteção
dos biomas nacionais. O incentivo ao desenvolvimento tecnológico também é
uma alternativa interessante, já que possibilita incorporar a sustentabilidade ao
agronegócio de maneira estratégica, por meio da adoção de novos padrões de
produção.
Para que se possa realmente conseguir a sustentabilidade do agronegócio,
é necessário que seja sempre realizado um planejamento prévio para orientar
o desenvolvimento, levando em consideração as limitações e vulnerabilidades
do ambiente. Dessa forma, trata-se de buscar medidas não apenas mitigadoras,
mas também preventivas, através de mecanismos como o Zoneamento
Ambiental e o Zoneamento Ecológico Econômico. Essas ferramentas permitem
que o desenvolvimento seja realizado em conformidade com as características
e particularidades de cada local, e não de maneira uniforme como ocorre
atualmente. Com isso, consegue-se uma maior integração e sustentabilidade entre
agroindústria, economia, sociedade e meio ambiente.
Embora o Estado tenha adotado certas medidas favoráveis ao desenvolvimento
sustentável do agronegócio, a complexidade da questão fundiária e dos impactos
socioambientais ainda encontra muitos desafios, principalmente em razão dos
interesses unicamente econômicos e de manutenção do status quo representados
pela bancada ruralista no Congresso.
Tendo em vista a sustentabilidade do setor agroindustrial, existe hoje uma
tendência de crescimento da Agroecologia. Essa ciência tem uma perspectiva
holística de desenvolvimento econômico, social e preservação ambiental. Dessa
forma, prioriza-se a qualidade dos alimentos e processos de produção, garantindo
a preservação dos recursos naturais e mantendo o equilíbrio ecológico. Ainda
nessa perspectiva, o homem é colocado como parte integrante da natureza,
sendo a cultura e o conhecimento histórico dos povos e trabalhadores também
incorporados no processo produtivo, juntamente com o conhecimento técnico-
científico. De forma geral, a agroecologia tem seu foco no tratamento das
áreas produtivas dentro dos ecossistemas (agroecossistemas), afirmando a sua
correlação e dependência e, portanto, fornecendo princípios para que ocorra
um desenvolvimento economicamente viável e ao mesmo tempo culturalmente
sensível, socialmente justo e ecologicamente correto.

152 Ecologia e agronegócio – conceitos básicos e impactos socioambientais no brasil


U3

Na prática, a agroecologia é aplicada nas formas de:

• Agricultura Orgânica (ou Biológica): não se permite o uso de insumos


químicos em geral (fertilizantes sintéticos, agrotóxicos etc.) e transgênicos. A
produção para ser considerada orgânica deve contemplar o uso responsável dos
recursos naturais, respeitando as relações sociais e culturais locais.

• Agricultura Biodinâmica: as práticas são bastante parecidas com a agricultura


orgânica, porém aqui há um caráter “religioso”, baseado na influência cósmica.
A propriedade é entendida como um organismo vivo (as práticas promovem a
interação entre animais e vegetais e seguem o calendário astrológico biodinâmico).
A principal diferença aqui é a utilização de preparados biodinâmicos (adubos
biodinâmicos), os quais são utilizados para intensificar as relações da terra com o
cosmos.

• Agricultura Natural: apresenta uma vinculação religiosa (Igreja Messiânica), e


as práticas agrícolas devem respeitar as leis da natureza, reduzindo ao máximo a
interferência do homem. Na prática não se realizam nem o revolvimento do solo
nem a utilização de composto químicos e adubos orgânicos. Aqui recomenda-se
a utilização apenas de materiais vegetais (composto, cobertura morta, adubação
verde etc.) e outros recursos naturais (microrganismos do solo, controle biológico
de pragas e controle biomecânico de ervas daninhas). Procura integrar os povos
por intermédio de uma agricultura sustentável e competitiva, já que tem claras
consequências econômicas e sociais.

• Permacultura: engloba uma visão holística, onde os seres vivos, as


infraestruturas e os recursos naturais (bem como seus inter-relacionamentos) são
unidos para criar ambientes humanos em harmonia com a natureza. Dá ênfase na
aplicação dos princípios básicos da natureza em ambientes produtivos. Une práticas
tradicionais com tecnologia, proporcionando um desenvolvimento integrado da
propriedade rural. Tem um design definido por um esquema conhecido como a
flor da permacultura.

Como você pode perceber, há inúmeras estratégias que podemos adotar para
reduzir os impactos negativos provocados pelo agronegócio e ao mesmo tempo
manter suas implicações positivas para a economia e para a sociedade.

Ecologia e agronegócio – conceitos básicos e impactos socioambientais no brasil 153


U3

1. Em relação aos impactos sociais, econômicos e ambientais


gerados pelo agronegócio, podemos afirmar que:
a) A política de crédito rural subsidiado foi fundamental para
o avanço do agronegócio e beneficiou pequenos, médios e
grandes produtores.
b) A utilização de agrotóxicos e fertilizantes nas lavouras
vem crescendo conforme a necessidade de aumento da
produtividade e competitividade.
c) Os resíduos e efluentes gerados pelo agronegócio são
exclusivos das atividades agropecuárias.
d) A incorporação da agricultura familiar no modelo do
agronegócio ocorreu desde o início de sua implantação, por
meio das políticas de crédito subsidiado e de regulação de
mercado.
e) A contaminação do ar é a principal consequência da
expansão do agronegócio.

2. Sobre a expansão do agronegócio podemos afirmar que:


a) A erosão é um problema intensificado pelo agronegócio,
principalmente porque novas rodovias são construídas.
b) A eutrofização é um problema ambiental causado pelo
agronegócio, porém não apresenta correlação direta com as
atividades agropecuárias.
c) A expansão da fronteira agrícola na Amazônia e no Cerrado
foi realizada de forma lenta, tendo sido preservada a maior
parte da fauna e flora nativa.
d) O agronegócio leva o desenvolvimento para áreas longínquas,
beneficiando a população como um todo, principalmente
por trazer oportunidades de emprego para as comunidades
indígenas e ribeirinhas.
e) O crescimento populacional e o aumento da demanda por
alimentos são fatores que influenciam diretamente na expansão
do agronegócio.

154 Ecologia e agronegócio – conceitos básicos e impactos socioambientais no brasil


U3

Veja um resumo do que você aprendeu nesta unidade:

• Alguns fundamentos da Ecologia são importantes para a


compreensão da dinâmica entre meio ambiente, sociedade
e economia (biossistemas, espécie, população, comunidade,
habitat, ecossistema, biota, bioma, entre outros).
• As cadeias alimentares são as inter-relações de alimentação
dos seres vivos, que podem ser classificados em produtores,
consumidores e decompositores.
• As relações ecológicas podem ser harmônicas ou desarmônicas,
intraespecíficas ou interespecíficas.
• O equilíbrio ecológico é a relação que ocorre entre os
organismos vivos e com o seu meio, assegurando a sobrevivência
das espécies e a preservação dos recursos naturais. Fator de
desequilíbrio é qualquer acontecimento ou evento que venha a
perturbar as características naturais de um ecossistema, podendo
ser naturais ou induzidos.
• O agronegócio é formado por um conjunto de diversas
atividades correlacionadas, que estão diretamente ligadas à
agropecuária.
• No Brasil, o processo de modernização agrícola iniciou-se na
década de 1950, mas se acentuou no final da década de 1960
e início de 1970, principalmente nas regiões Sul e Sudeste, na
chamada Revolução Verde.
• O agronegócio é responsável por 37% dos postos de
trabalho no Brasil, por 23% do PIB e por 40% do faturamento
das exportações, sendo um dos principais responsáveis pelos
superávits comerciais.
• Você viu os principais impactos socioeconômicos e
socioambientais decorrentes do atual modelo de agronegócio.
• Você compreendeu a complexidade da questão dos
transgênicos, o desperdício de alimentos e a segurança alimentar.
• O aumento populacional e a crescente demanda por alimentos
exercem forte pressão sobre o agronegócio, o qual necessita
de alterações no modelo para que seja conseguido um
desenvolvimento mais sustentável.
• Há inúmeras estratégias que podemos adotar para reduzir os
impactos negativos provocados pelo agronegócio e ao mesmo
tempo manter suas implicações positivas para a economia e para
a sociedade, sendo crucial o papel do Estado.

Ecologia e agronegócio – conceitos básicos e impactos socioambientais no brasil 155


U3

Nesta unidade, você aprendeu o significado dos principais


conceitos de Ecologia, bem como o papel do homem como
ser integrante da natureza e dos ecossistemas. Com isso, você,
futuro professor de Geografia, terá um embasamento mais
holístico para discutir os impactos das ações humanas no meio
ambiente com seus alunos.
Você também aprendeu o que é agronegócio e como foi a
sua implementação histórica no Brasil, o que é crucial para a
compreensão de como e por que o atual modelo é como é.
Discutimos ainda alguns dos principais impactos socioambientais
e socioeconômicos do agronegócio no Brasil, bem como
alternativas para um desenvolvimento e uma expansão
sustentáveis. Assim, o futuro professor de Geografia poderá
incorporar essa discussão com outras questões e disciplinas
aprendidas durante o curso e futuramente auxiliar na difusão do
conhecimento científico, colaborando para uma sociedade cada
vez melhor e mais justa.

1. O avanço desenfreado do agronegócio e da fronteira


agrícola alteram o equilíbrio dos ecossistemas, os quais, por
sua vez, fornecem condições fundamentais ao bem-estar
do ser humano. Sobre o equilíbrio ecológico, analise as
afirmativas:

I. Equilíbrio ecológico se refere à dinâmica de relações entre


os organismos entre si e com o meio ambiente, de maneira
que a sobrevivência das espécies e a preservação dos recursos
naturais sejam asseguradas.
II. O desequilíbrio ecológico ocorre somente quando o homem
interfere na natureza, através da poluição, do desmatamento,
da caça esportiva, entre outros.
III. Durante o equilíbrio ecológico, a fauna e a flora do
ecossistema são praticamente constantes.

156 Ecologia e agronegócio – conceitos básicos e impactos socioambientais no brasil


U3

IV. Fatores de desequilíbrio podem induzir o desenvolvimento


de adaptações.
V. Furacões, terremotos, tempestades, ciclones e maremotos
são exemplos de fatores de desequilíbrio naturais.

É incorreto o que se afirma em:


a) I e III, apenas.
b) I, II e III, apenas.
c) II e V, apenas.
d) IV, apenas.
e) II, apenas.

2. No Brasil, o processo de modernização agrícola ocorreu


por meio da chamada Revolução Verde, a qual resultou em
um modelo de produção agrícola baseado na utilização
de insumos químicos, máquinas e biotecnologias. Sobre o
desenvolvimento histórico e a consolidação do agronegócio
no Brasil, assinale a alternativa correta:

a) O processo de modernização da agricultura foi a base para


a formação do agronegócio.
b) A correlação entre os setores agropecuário e industrial
enfraqueceu-se com o advento das novas tecnologias, e a
agropecuária passou a intensificar sua produtividade, não
mais necessitando dos insumos industriais.
c) O Estado teve papel crucial na modernização da agricultura,
principalmente na década de 1970, atuando como agente
regulador e incentivador.
d) Com o tempo, a produção agropecuária brasileira passou
a ser baseada em grande escala, apoiando-se em práticas
sustentáveis.
e) O agronegócio no Brasil consolidou-se rapidamente e
foi difundido de maneira a beneficiar igualmente pequenos,
médios e grandes proprietários.

3. Muitos impactos positivos, especialmente no âmbito


socioeconômico, são decorrentes do agronegócio brasileiro.
Sobre a questão, assinale V (para as afirmações verdadeiras)
ou F (para as afirmações falsas).

( ) O agronegócio é de extrema importância para a economia


brasileira, sendo gerador de riquezas e empregos.
( ) Apesar da utilização de novas tecnologias, o modelo atual
do agronegócio não facilita a produção agropecuária em
áreas impróprias para cultivo e/ou criação de animais.

Ecologia e agronegócio – conceitos básicos e impactos socioambientais no brasil 157


U3

( ) O agronegócio traz o desenvolvimento local, colaborando


para uma maior igualdade social nos meios rural e urbano.
( ) Embora extremamente importante para a economia
brasileira, o agronegócio promove a concentração de terras e
de renda, favorecendo primariamente os grandes produtores.
( ) Uma vez que a demanda por alimentos acarreta a demanda
por maior produtividade, a expansão do agronegócio incentiva
o desenvolvimento tecnológico e científico.

4. Desmatamento legal e perda de biodiversidade são


consequências negativas da expansão das fronteiras agrícolas
de acordo com o atual modelo de agronegócio. Sobre esse
assunto, assinale a alternativa incorreta:
a) A expansão da fronteira agrícola e o desmatamento ilegal
estão relacionados com o crescimento populacional e o
aumento da demanda por alimentos.
b) Além do desmatamento e da perda de biodiversidade, a
expansão do agronegócio intensifica o uso dos recursos
naturais, promovendo a degradação do meio ambiente por
meio da compactação do solo, da lixiviação de nutrientes, da
poluição e da erosão, por exemplo.
c) O aumento de pastagens e terras aráveis tem causado
o desmatamento de florestas e a degradação dos biomas
brasileiros, especialmente na Mata Atlântica, Caatinga e
Amazônia.
d) No âmbito do agronegócio brasileiro, os principais
responsáveis pelo desmatamento são a produção de soja, a
pecuária bovina e a grilagem.
e) Embora o Brasil ainda apresente alta porcentagem de
desmatamento ilegal, a derrubada ilegal da Amazônia
regrediu mais de 70% se comparada aos índices de 1996 a
2005, graças às medidas legais implantadas pelo governo, tais
como a reserva legal e o cadastro ambiental rural.

5. Atualmente, o fortalecimento do agronegócio brasileiro


depende cada vez mais da adoção de estratégias sustentáveis,
que integrem a produção, a preservação ambiental e a
responsabilidade social. Sobre esse tema, assinale a alternativa
correta.

a) Os novos modelos de agropecuária deverão utilizar os


recursos naturais conforme sua necessidade, embora os
impactos possam ser negativos ao meio ambiente, a fim de

158 Ecologia e agronegócio – conceitos básicos e impactos socioambientais no brasil


U3

produzir alimentos saudáveis em qualidade e quantidade


necessárias.
b) A educação ambiental, a difusão de conhecimento e
tecnologia são extremamente importantes para acabar com
os problemas ambientais gerados pelo agronegócio.
c) Para reduzir os impactos socioambientais negativos do
agronegócio será necessário diminuir a produtividade, utilizar
menos tecnologias e insumos, além da fiscalização via satélite
das propriedades rurais.
d) Para um desenvolvimento mais sustentável, o foco deve
ser na expansão das áreas destinadas à agropecuária, a fim
de eliminar os problemas de distribuição de alimento e fome.
e) O papel do Estado para a adoção de medidas mitigadoras
é a principal questão para que o desenvolvimento do
agronegócio e a expansão da fronteira agrícola possam ser
sustentáveis.

Ecologia e agronegócio – conceitos básicos e impactos socioambientais no brasil 159


U3

160 Ecologia e agronegócio – conceitos básicos e impactos socioambientais no brasil


U3

Referências
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Ecologia e agronegócio – conceitos básicos e impactos socioambientais no brasil 163


Unidade 4

A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO
AMBIENTAL NA CONSERVAÇÃO
DOS RECURSOS NATURAIS
Lílian Gavioli de Jesus

Objetivos de aprendizagem:

Caro acadêmico, você conhecerá nesta unidade a relação entre Educação


Ambiental, Sustentabilidade, Recursos Naturais, no contexto das políticas públicas
que contribuem para a sua legalidade e exequibilidade, mas de um modo que
contribua para sua formação enquanto licenciando em Geografia. Entenderá e
compreenderá práticas, a forma como fazer projetos a partir da aprendizagem
significativa na educação básica acerca da Educação Ambiental (EA), para que
não reproduza práticas tradicionais e sem objetivos pedagógicos geográficos,
conseguindo, no entanto, construir na comunidade escolar projetos que
transformem a paisagem da escola sem que isso se manifeste apenas mediante
cartazes colados nas paredes da escola. Essas reflexões acerca dos conceitos
buscam que sua formação seja pautada na criticidade das concepções e na
relação com o atual espaço geográfico.

Seção 1 | Sustentabilidade e política nacional da educação


ambiental
A Política Nacional de Educação Ambiental, o conceito de Sustentabilidade
e até mesmo a Política Nacional de Resíduos Sólidos serão discutidos a fim de
que você conheça esses mecanismos estatais que devem possuir significado
no ambiente escolar, uma vez que Geografia forma também para a cidadania.

Seção 2 | Educação ambiental: projetos na escola


Projetos na escola ainda são muito precários em sua praticidade e exequibilidade.
Nesta seção busca-se instrumentalizar e aproximar do ambiente escolar as práticas
relevantes de Educação Ambiental.
U4

166 A importância da educação ambiental na conservação dos recursos naturais


U4

Introdução à unidade

A Educação Ambiental é muitas vezes entendida pelo ambiente escolar como


uma data comemorativa, seja em setembro com o dia da árvore, seja em junho
com o dia do meio ambiente. A equipe pedagógica e a comunidade escolar devem
realizar construções e desconstruções a respeito daquilo a que remete o conceito
de Educação Ambiental.

O primeiro passo é respaldar-se nas leis, como a Lei n. 6.938 de 1981, que
estabelece a Política Nacional do Meio Ambiente. Ela deve ser lida e discutida em
reuniões pedagógicas ou até mesmo em reuniões com a presença da comunidade
escolar, para que, com base nela, sejam formuladas ações e os projetos a partir dos
quais a comunidade local e a escola possam juntos promover melhorias no bairro e
também no ambiente escolar.

Essas melhorias só poderão ser solidificadas ao se envolver o todo, como a


Secretaria de Educação e/ou Cultura e a do Meio Ambiente, para haver respaldo
público e legal, ou seja, para que a lei federal seja cumprida em escala municipal.

Além de não ser uma tarefa fácil, muitas vezes ela pode ser frustrante ao
professor de Geografia, como será detalhado nesta unidade, considerada a realidade
socioeconômica e cultural das famílias, a qual muitas vezes pode ser vulnerável, o
que dificulta um diálogo pautado na Educação Ambiental.

Todavia, mesmo com essas dificuldades, a escola ainda é um local em que os


alunos e a família buscam por um refúgio. Essa é a realidade das escolas públicas
brasileiras, dadas as condições que são oferecidas e a estrutura arcaica que ainda é
mantida.

Essa busca de “esperança” que o bairro tinha em relação ao ambiente escolar não
deve ser confundida com um ato assistencialista, o que é de responsabilidade dos
gestores e educadores a partir de suas ações e interações para com a comunidade
que cerca a escola.

Com isso, envolver a criatividade e a criticidade em Projetos de Educação


Ambiental poderá sensibilizar os envolvidos para com os recursos naturais. Ora,
como buscar a preservação destes apenas com gravuras nos livros didáticos? Ou
ainda, com trabalhos (cópias – impressões apenas) de sites de busca na internet

A importância da educação ambiental na conservação dos recursos naturais 167


U4

(quando o conteúdo não é copiado do próprio livro didático)? Essas ações, não se
assuste, ainda imperam na educação brasileira.

Por acreditar em você, espero que aproveite esta leitura a fim de questionar e
refletir sobre as políticas públicas voltadas ao meio ambiente; aos recursos naturais
e ao seu desenvolvimento e aplicabilidade nas escolas. Ou existe ambiente melhor
para se debater as políticas públicas que não sejam as escolas?

Portanto, perceba que, ao desenrolar desta unidade, você poderá entrar em


conflito com inúmeras questões, o que é aqui o nosso papel: proporcionar-lhe um
pensamento além do que já foi escrito e um dia pensado, essa é a aprendizagem
significativa.

Boa leitura!

168 A importância da educação ambiental na conservação dos recursos naturais


U4

Seção 1

Sustentabilidade e política nacional da educação


ambiental
Palavras de um general

General, teu tanque é um carro forte.


Ele derruba uma floresta
e esmaga cem homens.
Tem, porém, um defeito:
Precisa de um motorista.
General, teu bombardeiro é poderoso
Voa mais depressa que a tempestade,
Carrega mais que um elefante.
Tem, porém, um defeito:
Precisa de um piloto.
General, o homem é muito útil.
Sabe voar, sabe matar.
Tem, porém, um defeito:
Ele sabe pensar.
(Brecht, B. Antologia poética, s.d.)

O homem, como o próprio poeta coloca, é um ser crítico, isto é, questionador


sobre sua atual condição. A natureza e seus recursos são vistos pelos homens a
partir de uma lógica capitalista, como um meio para o modo de produção ao se
espacializar, aplicando-se, com base nisso, uma logística com fins lucrativos.

Todavia, esse não é o pensamento que os geógrafos possuem em relação ao


meio e os recursos naturais. Sim, existe uma “onda” de sustentabilidade atrelada
ao modo de vida urbano que podemos chamar de “gourmet” (que impera desde o
início do século XXI). No entanto, o que se deve evidenciar, do ponto de vista do
pensamento geográfico, se refere à quantidade dos recursos naturais, onde eles
estão, quem são os que deles necessitam para subsistência e como devem ser
preservados, conservados e até mesmo manipulados.

A importância da educação ambiental na conservação dos recursos naturais 169


U4

A Geografia entende os recursos naturais como parte dos elementos espaciais


e não como uma área afim. Entender e compreender a razão da preservação e
conservação dos recursos naturais é uma ação cidadã, que pode ser realizada nos
espaços escolares. Por isso, aqui colocamos a importância da Educação Ambiental
atrelada à Geografia, já que serão vários os desafios que deverão ser encarados
pelo licenciado em Geografia, seja em ambientes de educação formal, como na
escola, seja até mesmo em ONGs, em que ocorre a educação informal.

Os desafios não se limitam a construir e desenvolver projetos, eles também dão


continuidade a estes a partir da comunidade escolar. A mídia e também as redes
sociais podem ser utilizadas para a sensibilização ambiental, para que se construa
uma sociedade mais reflexiva sobre o seu futuro em relação aos recursos naturais
do espaço de vivência.

Eis o que deve ser enfatizado desde já: professores de Geografia, muitas vezes,
ao ensinar sobre os recursos naturais, atribuem exemplos a lugares distantes da
permanência e interação dos alunos. Promovem, por exemplo, “Semana do Meio
Ambiente” nas escolas, com a utilização de cartazes e pinturas em sulfite. Esquecem
do espaço escolar como algo ativo na vida escolar, pois a impressão que passam
é a de uma educação inexistente, em que os livros didáticos são projetados em
terceira ou quarta dimensão no ambiente escolar, sem que seja considerado o
conhecimento prévio do aluno ou até mesmo o espaço escolar.

Observamos que os entornos das escolas públicas brasileiras, assim como


ambientes internos, não possuem regras ou até mesmo uma organização interna
referente ao destino dos resíduos sólidos de maneira correta. Ou, se existem as
famosas lixeiras coloridas, estas são pouco utilizadas pelos alunos, quando não são
depredadas ou utilizadas apenas como “decoração” da escola.

Alunos criaram um videoclipe sobre problemas ambientais que podem ser


gerados pelo lixo próximo da escola em que estudam e foram vencedores
de um concurso promovido pela TV Escola. Leia a reportagem na íntegra.
Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_cont
ent&view=article&id=17878:video-sobre-lixo-jogado-perto-de-escola-
de-sp-ganha-concurso&catid=372&Itemid=86>. Acesso em: 22 out.
2015.

170 A importância da educação ambiental na conservação dos recursos naturais


U4

Isso se observa até mesmo no caso de escolas que possuem a merenda escolar
no lugar da cantina, em que os resíduos dos alimentos são colocados pelos
funcionários das escolas, e não pelos alunos. Você deve se perguntar: “por que
isso ocorre?”. Isso acontece porque no Brasil ainda existem práticas equivocadas
sobre as ações dos alunos na escola, que são justificadas com frases como “eles
não saberão fazer isso!”, “isso é trabalho dos serventes”, “são muito pequenos para
separar esse lixo”, “a bagunça será imensa, vamos evitar”.

Esse é o reflexo das gestões das escolas brasileiras que, por sua vez, minimizam
as atitudes referentes à Educação Ambiental, que não está presa simplesmente à
horta da escola e às lixeiras coloridas.

A Educação Ambiental está associada à socialização e à pretensão de futuro,


razão pela qual colocamos aqui, nesta seção, a sustentabilidade, que não se
configura enquanto conceito científico, aparecendo, na verdade, de maneira
eficaz e sugestiva, além de reflexiva, sobre as ações humanas presentes, alegando-
se uma inquietação com as futuras gerações, o que muitas vezes é minimizado
pelo imediatismo da sociedade que vem se formando no século XXI, tão acelerado
por tecnologias e aplicativos on-line.

A Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA) se iniciou com a Lei n. 6.938 de


1981, a partir da Conferência Intergovernamental de Educação Ambiental de Tbilisi
(observe na Figura 4.1 abaixo a localização), em meados de 1970, com vistas a uma
educação dinâmica e progressista.

Figura 4.1 | Tbilisi – capital da Geórgia

Fonte: Disponível em: Google Maps (2015). Disponível em: <https://www.google.com.br/maps/place/Tbilisi,+Georgia/@42.40


85915,43.3736782,6.75z/data=!4m2!3m1!1s0x40440cd7e64f626b:0x61d084ede2576ea3>. Acesso em 1 set. 2015.

A importância da educação ambiental na conservação dos recursos naturais 171


U4

Junto a essa política da década de 1980, no mesmo ano, o Brasil teve uma nova
Constituição, a qual assegura como dever do Estado a promoção da Educação
Ambiental em todas as modalidades de ensino, assim como a conscientização
ambiental pública, para que se evitem danos no ambiente; na sociedade.

Durante a década de 1990, eventos sobre os fatores ambientais e de


Educação Ambiental ocorreram a fim de realizar uma discussão sobre as leis e
diretrizes que estariam envolvidas ou poderiam ser desenvolvidas.

Foi no Brasil, em 1992, que ocorreu a Conferência das Nações Unidas sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento, com o objetivo de reunir chefes de Estado e
de governo e ONGs para a discussão e análise sobre documentos relacionados
aos problemas ambientais.

Numa avaliação realizada por um grupo de 150 ONGs sobre


o desempenho dos países na Conferência, o pior deles foi
atribuído, por unanimidade, aos Estados Unidos, pela conduta
destrutiva nas negociações da Convenção de Climas e do
Tratado de Biodiversidade; o segundo lugar coube à Arábia
Saudita, por resistir às propostas referentes ao uso de outras
formas de energia, que não as derivadas do petróleo; o terceiro
lugar coube ao Japão; em quarto lugar ficou a Malásia, por
colocar a soberania nacional acima das questões ambientais.
(PENTEADO, 2010, p. 17).

Percebam que o Estados Unidos, o país que possui a maior indústria


biotecnológica do mundo e também um dos maiores PIBs, acaba por influenciar
os demais países com decisões negativas relacionadas às políticas ambientais,
dada a sua importância no cenário mundial.

Lembre-se de que este evento ficou conhecido como Rio-92, ou Eco-92, ou


ainda Cúpula da Terra, após 20 anos da Conferência de Estocolmo (Suécia), em
que os países envolvidos reconheceram a importância da sustentabilidade e suas
responsabilidades com o meio ambiente.

O principal documento que foi discutido na Rio 92 se chama “Agenda 21”,


que corresponde a um instrumento para a organização de futuras sociedades
sustentáveis em diferentes espaços geográficos, que une conceitos referentes a
meio ambiente, justiça social e competência econômica. Esse instrumento possui
participação coletiva e ativa com as comunidades envolvidas, e o seu início data
de 2002 no Brasil.

172 A importância da educação ambiental na conservação dos recursos naturais


U4

Para sua implantação, é necessário o Fórum da Agenda 21, um elo entre


sociedade e Estado que objetiva a construção do Plano Local de Desenvolvimento
Sustentável, com projetos e ações de curto, médio e longo prazos.

• Assista ao vídeo a seguir que relata brevemente o que ocorreu na Rio


92 e também na Rio +20. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=g77DTYKJecU>. Acesso em: 23 out. 2015.
• A Rio +20 é explicada pelo negociador-chefe do Brasil, André Corrêa
do Lago. Assista ao vídeo na íntegra em: <https://www.youtube.com/
watch?v=2kxDpnhUwfw>. Acesso em: 23 out. 2015

A Agenda 21 pode ser discutida e construída pela comunidade escolar de uma


escola, o que é bastante atrativo, dados os projetos a serem executados. Nesse
sentido, é importante que se organizem reuniões e que estas sejam registradas em
atas, para que haja uma formalização das ações dos projetos, assim como dos que
estão envolvidos.

Uma prática como esta partir do professor de Geografia é primordial,


considerados seus conhecimentos científicos, que podem ser utilizados para a
transformação da paisagem. Vamos agora exemplificar algumas práticas que
podem envolver a Agenda 21.

A sala de aula é o primeiro local. Deve-se orientar os alunos sobre a quantidade


de resíduos produzidos em um período de aula, como proporcionar momentos de
reflexão sobre por que razão se deve manter a sala de aula limpa, sem papéis de
doces no chão ou até mesmo folhas de caderno que foram amassadas, restos de
aparas de lápis e resíduos de borracha escolar.

Reflexões podem ser feitas com os alunos do ensino fundamental ou médio


a partir de músicas instrumentais e sons da natureza (se possível, próximos de
um riacho). É necessário que o aluno compreenda o motivo da reflexão, caso
contrário, “pôr o lixo na lixeira” não fará sentido.

Mas há as situações complexas em que o aluno reside em uma moradia de


baixa renda, cuja família não partilha desses conhecimentos ambientais, por falta
de instrução e também de convívio com a realidade desses conceitos. Esse é o
maior desafio! Esse é o momento em que todo professor busca ser o super-herói,

A importância da educação ambiental na conservação dos recursos naturais 173


U4

estimulando o aluno de variadas maneiras. Todavia, o professor deve não perder


suas expectativas referentes a aprendizagem, mas se precaver de que a educação
ambiental se intimida quando não há estrutura para que ela possa ocorrer por
omissão estatal, dada a condição de qualidade de vida ofertada ao indivíduo de
baixa renda.

Atrelar os objetivos de uma aprendizagem significativa sobre Educação


Ambiental à realidade socioeconômica e cultural dos alunos é o que os envolvidos
na Agenda 21 devem considerar ao esboçar os projetos.

Como podem ver, não é uma simples tarefa que acarretará como atividade
final um simples cartaz nos corredores da escola, mas em ações permanentes que
alterarão a paisagem escolar.

Pensando em indivíduos de baixa renda e sua relação com a cultura da periferia,


o hip hop se apresenta com um bom aliado, seja pela música, seja pelas artes
plásticas.

Uma das atividades a se desenvolver poderá ser o grafite para reconstruir uma
sala de aula ao ar livre (algum espaço abandonado no pátio escolar), ou nos muros
escolares a partir de releituras artísticas ou charges, ou nas paredes da quadra
escolar, ou no refeitório, proporcionando um ambiente educativo de maior
qualidade.

Veja no link seguinte que o grafite é uma metodologia utilizada em


algumas escolas brasileiras. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=km5fWQiKN4U>. Acesso em: 23 out. 2015.

Observe que essa ação, que envolve a arte, poderá se estender por toda a
comunidade escolar e não se restringir a um pequeno grupo, podendo acontecer
em diferentes turmas escolares e com um professor de arte.

As escolas brasileiras assumem em sua maioria o caráter conteudista,


mesmo alegando em seu projeto político-pedagógico linhas antagônicas a
esse pensamento escolar. Isso é o resultado da estrutura falha na organização
pedagógica das escolas em sua maioria públicas do Brasil. Há precariedade de
recursos didáticos e estrutura física incompatível com a faixa etária dos alunos

174 A importância da educação ambiental na conservação dos recursos naturais


U4

(como, por exemplo, as carteiras escolares muito grandes ou muito pequenas),


dados os poucos programas eficazes de formação para o professor oferecidos
pelo Estado, assim como tempo escasso que o professor possui para sua formação,
considerada a grande carga horária que assume (o que compromete sua saúde e a
qualidade de seu trabalho), que é necessária para que possua condições mínimas
financeiras para seu sustento.

Conseguimos traçar mais um obstáculo para que aconteça uma educação


qualitativa no ambiente escolar, pois relatamos quão vulneráveis são as condições
enfrentadas pelos professores brasileiros.

A Educação Ambiental seria um estímulo ou um tropeço


na formação e na prática dos docentes, em especial os de
Geografia?

Até o momento você percebeu quão provocador é trabalhar a Educação


Ambiente nos ambientes escolares.

Atente-se ao fato de que o Programa Nacional de Educação Ambiental possui


quatro diretrizes a serem seguidas, as quais foram estabelecidas pelo Ministério
do Meio Ambiente, sendo elas: transversalidade; sustentabilidade; participação e
controle social; e fortalecimento do Sistema Nacional do Meio Ambiente.

Em paralelo a essas diretrizes, abrimos para a discussão sobre o caso dos lixões
no Brasil. O descarte dos resíduos sólidos no Brasil é poucas vezes trabalhado
nas escolas brasileiras. As lixeiras coloridas, como já mencionado antes, muitas
vezes não são utilizadas da forma correta, por falta de informação da comunidade
escolar. Isso ocorre porque os professores não possuem essas informações, que
devem ser oriundas de formações pedagógicas, uma vez que não são todas as
áreas do conhecimento que estudam os resíduos sólidos.

Ocorre que, com a Lei n. 12.305, de 2 de agosto de 2010, foi instituída a Política
Nacional de Resíduos Sólidos. É uma das ações que devem ser realizadas em todo
território nacional, a partir da colaboração das prefeituras, com a mudança dos
lixões para os aterros sanitários.

A importância da educação ambiental na conservação dos recursos naturais 175


U4

Está sujeito a multa aquela prefeitura que não executar o que rege a mencionada
lei, sendo próximo de 60% o número dos municípios brasileiros que não respondem
a essa nova legislação.

De acordo com dados do Ministério de Meio Ambiente, cerca de 2.000


municípios buscaram realizar algumas medidas, como a compostagem e a
reciclagem. Os demais encontram sérios problemas ao discutir, ou até mesmo
mitigar, essa questão, dada a falta de profissionais específicos no corpo técnico.

A Figura 4.2 retrata o espaço geográfico dos lixões. Observe quão vulnerável é
este lugar, e a pergunta que emerge é: “por que só agora, a partir dos anos 2000,
é que isso foi ser pensado?”

Figura 4.2 | Lixão no Brasil – local de despejo ou de trabalho?

Fonte: Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/d0/LixaoCatadores20080220MarcelloCasalJrAge


nciaBrasil.jpg>Acesso em: 26 out. 2015.

Essa lei ainda busca:

• Uma gestão mais eficaz perante os resíduos e sua gestão, ou seja, a forma
como não gerar tais resíduos, ou reduzir, ou reutilizar, ou reciclar, ou ainda fornecer
um tratamento específico para o rejeito.

• Fontes alternativas de energia a partir do lixo, sendo fiscalizados os gases


tóxicos que poderão ser liberados.

• Atualização do Plano Nacional de Resíduos Sólidos a cada quatro anos.

176 A importância da educação ambiental na conservação dos recursos naturais


U4

Para refletir sobre o cotidiano dos indivíduos que moram no lixão,


trabalhe com os alunos o documentário Ilha das Flores.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=e7sD6mdXUyg>.
Acesso em: 23 out. 2015.

Os resíduos sólidos podem ser classificados de acordo com Lei Federal


12305/2010 (Política Nacional de Resíduos Sólidos):

• Resíduos domiciliares.

• Resíduos de limpeza urbana.

• Resíduos sólidos urbanos.

• Resíduos de estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços.

• Resíduos dos serviços públicos de saneamento básico.

• Resíduos industriais.

• Resíduos de serviços de saúde.

• Resíduos da construção civil.

• Resíduos agrossilvipastoris.

• Resíduos de serviços de transportes.

• Resíduos de mineração.

Quanto à periculosidade, os resíduos são classificados apenas em resíduos


perigosos e não perigosos (BRASIL, 2010).

Os resíduos domiciliares, de acordo com a legislação, são oriundos de atividades


domésticas em residências urbanas. De acordo com Zanta e Ferreira (2015), são
os resíduos domiciliares que são concebidos e coletados cotidianamente no
domicílio e seus semelhantes.

Já os resíduos de limpeza urbana são gerados a partir da varrição, limpeza de


vias públicas e outros serviços de limpeza urbana. Observe na imagem a seguir um
exemplo.

A importância da educação ambiental na conservação dos recursos naturais 177


U4

Figura 4.3 | Exemplo de limpeza urbana – Garis limpando as vias públicas

Fonte: Disponível em: <https://encrypted-tbn3.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQS5MfaypPxxqGxfomU29Po6WiqXdAjnRi


N7jD5IgphBM2wkwzt>. Acesso em: 23 out. 2015.

Os resíduos sólidos urbanos podem ser domésticos (oriundos de casas e


apartamentos), comerciais (mercados, hotéis, escritórios), institucionais (escolas
e outras instituições) e de serviços municipais (manutenção de jardins, varrição de
vias etc.), ou seja, engloba os resíduos domiciliares e de limpeza urbana.

Figura 4.4 | Resíduos sólidos urbanos

Fonte: Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/6/6b/Lixo2.JPG/250px-Lixo2.JPG>. Acesso


em: 23 out. 2015.

178 A importância da educação ambiental na conservação dos recursos naturais


U4

Os municípios ganharam um novo prazo para erradicar os lixões e então


instaurar o funcionamento dos aterros sanitários: até o dia 31 de julho
de 2018 para as capitais e municípios das regiões metropolitanas; já para
os municípios de fronteira, que possuam mais de 100 mil habitantes, o
período vai até julho de 2019. Os prazos finais serão 2020 e 2021, sendo
o primeiro para os municípios entre 50 e 100 mil habitantes e o último
para os que possuem menos de 50 mil habitantes. Você pode ler mais
sobre o assunto na reportagem do link a seguir: <http://www12.senado.
leg.br/noticias/materias/2015/07/01/senadores-aprovam-prorrogacao-
do-prazo-para-fechamento-dos-lixoes> . Acesso em 9 nov. 2015.

Os resíduos de estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços, por sua


vez, são os gerados nessas atividades, ou seja, englobam os resíduos de limpeza
urbana, os resíduos dos serviços públicos de saneamento básico, os resíduos de
serviços de saúde, os resíduos de construção civil e os de serviços de transporte.

Os resíduos dos serviços públicos de saneamento básico são aqueles gerados


nessas atividades e também nos resíduos sólidos urbanos. Já os resíduos industriais
são os concebidos pelas atividades industriais, ou seja, a partir da transformação
de elementos em novos produtos que passaram por processos químicos e físicos.
Pode-se citar como exemplo os resíduos derivados das estações de tratamento de
água e/ou esgoto.

Os resíduos de serviços de saúde geralmente são conhecidos como lixo


hospitalar, ou seja, correspondem ao descarte de seringas, gazes, algodão,
remédios com a data de validade antiga, entre outros.

Figura 4.5 | Exemplos de resíduos hospitalares

Fonte: Disponível em: <http://www.ortigueira.pr.gov.br/media/med/e53563e935f4b47320b9d8bc97644f54.jpg>. Acesso em:


9 nov. 2015.

A importância da educação ambiental na conservação dos recursos naturais 179


U4

Logo a seguir acompanhe as classificações desses resíduos de acordo com a


NBR 12808 (ABNT, 1993).

Figura 4.6 | Classificação dos resíduos de serviço de saúde.

Fonte: Elaborado pelo autor (2015, adaptado de ABNT, 1993)

Conheça as subdivisões dessas classificações a partir da leitura do


seguinte link: <http://wp.ufpel.edu.br/residuos/files/2014/04/NBR-
12808-1993-Res%C3%ADduos-de-servi%C3%A7os-de-sa%C3%BAde.
pdf> . Acesso em: 3 nov. 2015. Trata-se da NBR 12808 (ABNT) de resíduos
de serviços de saúde.

Os resíduos da construção civil são aqueles provenientes de reformas e


demolições, assim como os resultantes da preparação e escavação de terrenos
para obras civis.

Acesse o documentário Resíduos da Construção Civil - Programa Ecologia


em Ação disponível no link a seguir: <https://www.youtube.com/watch?v=-
aj0VeVOP1s> (acesso em: 3 nov. 2015) e realize uma breve reflexão sobre o tema
e até mesmo como esse tipo de manuseio ocorre na sociedade.

Os resíduos agrossilvipastoris são os gerados nas atividades agropecuárias e


silviculturais, incluídos os relacionados a insumos utilizados nessas atividades.
Eles possuem potencial energético em algumas situações, como na queima do
bagaço de cana-de açúcar (Figura 4.7). Todavia, deve-se atentar para o descarte
de embalagens dos defensivos agrícolas para que não haja maiores danos na
sociedade.

180 A importância da educação ambiental na conservação dos recursos naturais


U4

O Programa Agrinho busca atrair jovens em idade escolar (ensino


fundamental) para uma proximidade com as áreas rurais e também
enfatiza o manejo e o descarte de defensivos agrícolas.
Assista a um vídeo sobre o assunto no link a seguir: <https://www.
youtube.com/watch?v=JqcnqLizdok> . Acesso em: 23 out. 2015.

Figura 4.7 | Bagaço para a geração de energia

Fonte: Disponível em: <http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Repositorio/Bagaco_000fk5h6pn202wyiv80sq98yqirrjbz0.


jpg>.Acesso em: 3 nov. 2015.

Os resíduos de serviços de transportes são originários de portos, aeroportos,


terminais alfandegários, rodoviários e ferroviários e passagens de fronteira. Os
resíduos de mineração, por sua vez, são aqueles gerados na atividade de pesquisa,
extração ou beneficiamento de minérios. Observe o exemplo na Figura 4.8, em
que o regato possui grande quantidade superficial de hidróxido de ferro, já que
recebe águas ácidas provenientes de uma mina de carvão.

A importância da educação ambiental na conservação dos recursos naturais 181


U4

Figura 4.8 | Precipitado de hidróxido de ferro num regato recebendo águas ácidas de uma
mina de carvão

Fonte: Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/b/b8/Iron_hydroxide_precipitate_in_stream.jpg>.


Acesso em: 3 nov. 2015.

Os resíduos perigosos oferecem riscos à saúde coletiva e também ao meio


ambiente. Podem ser patogênicos, tóxicos, corrosivos, entre outros. Um caso pode
ser exemplificado com os resíduos radioativos decorrentes do acidente nuclear
que ocorreu em 1986 na Usina Nuclear de Chernobil (Figura 4.9). Cerca de 50 mil
pessoas tiveram que se deslocar em razão da radiação presente na atmosfera, o
que pode causar desde perda de membros até o óbito.
Figura 4.9 | O acidente em Chernobil

Fonte: Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/pt/thumb/1/1b/Chernobyl_Disaster.jpg/250px-Chernobyl_


Disaster.jpg>. Acesso em: 3 nov. 2015.

182 A importância da educação ambiental na conservação dos recursos naturais


U4

Os resíduos não perigosos são todos aqueles que não se enquadram como os
perigosos, que foram explicados acima.

Existe também a classificação dos resíduos sólidos a partir da NBR


10004 (ABNT), cuja leitura você faz no link: <http://www.ccs.ufrj.br/
images/biosseguranca/CLASSIFICACAO_DE_RESIDUOS_SOLIDOS_
NBR_10004_ABNT.pdf> . Acesso em: 3 nov. 2015.

Agora que você já conheceu as classificações utilizadas a partir do Plano


Nacional de Resíduos Sólidos, vamos entender o que podemos separar para
descarte utilizando as lixeiras ecológicas coloridas (Figura 4.10)
Figura 4.10 | Lixeiras recicláveis

Fonte: Disponível em: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/discovirtual/galerias/imagem/0000000542/0000004645.


jpg>. Acesso em: 3 nov. 2015

Para mobilizá-lo diante desta temática, você pode assistir ao vídeo a


seguir com algumas dicas sustentáveis. Disponível em: <https://www.
youtube.com/watch?v=gVkZ2xP5IW8>. Acesso em: 23 out. 2015.

A importância da educação ambiental na conservação dos recursos naturais 183


U4

Nesta seção, você conheceu alguns conceitos e parte da legislação acerca da


Educação Ambiental e dos Recursos Naturais, que pouco são discutidos tanto na
formação do professor, como em sua prática escolar.

Na próxima seção serão enfatizados os projetos na escola, com o objetivo de


concretizar de maneira qualitativa as práticas no ensino de Geografia.

1. A Lei n. 12.305/2010, que institui a Política Nacional


de Resíduos Sólidos (PNRS), é bastante atual e contém
instrumentos importantes para permitir o avanço necessário
ao País no enfrentamento dos principais problemas ambientais,
sociais e econômicos decorrentes do manejo inadequado dos
resíduos sólidos. Prevê a prevenção e a redução na geração
de resíduos, tendo como proposta a prática de hábitos de
consumo sustentável e um conjunto de instrumentos para
propiciar o aumento da reciclagem e da reutilização dos
resíduos sólidos (aquilo que tem valor econômico e pode ser
reciclado ou reaproveitado) e a destinação ambientalmente
adequada dos rejeitos (aquilo que não pode ser reciclado ou
reutilizado) (BRASIL, 2010).
De acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos,
classificam-se como resíduos domiciliares e industriais:

a) Resíduos provenientes de culturas, como o feijão e o lixo


hospitalar.
b) Resíduos provenientes de indústrias lácteas e de varredura
urbana.
c) Resíduos provenientes de feiras livres e indústrias de esmaltes.
d) Resíduos provenientes de restos e cascas de frutas e de
indústrias de leite.
e) Resíduos provenientes de indústrias lácteas e restos de
pneus.

2. Trata-se de um documento elaborado pela ONU, que busca


a construção de projetos evidenciando o caráter sustentável,
tendo sido discutido na Eco-92 no Rio de Janeiro. Pode ser
aplicado nas escolas desde que haja envolvimento com a
comunidade escolar e os demais órgãos que representem o
Estado, pois busca garantir a qualidade econômica e ambiental.

184 A importância da educação ambiental na conservação dos recursos naturais


U4

A que documento se refere o texto anterior?


a) Protocolo de Kyoto.
b) Pacto Nacional da Educação Ambiental.
c) Agenda 21.
d) Carta de Crédito de Carbono.
e) Carta da Terra.

A importância da educação ambiental na conservação dos recursos naturais 185


U4

186 A importância da educação ambiental na conservação dos recursos naturais


U4

Seção 2

Educação ambiental – Projetos na escola


Caro acadêmico, nesta seção, você é convidado a compreender a discussão
sobre projetos de Educação Ambiental na Educação Básica. Você verá a importância
da Educação Ambiental formal – que ocorre nos âmbitos escolares– na busca pela
manutenção, exploração e utilização sustentável dos recursos naturais.

Como vimos anteriormente, a evolução das técnicas e tecnologias dos seres


humanos ao longo do tempo levou o meio ambiente a um estágio de depreciação
nunca presenciado anteriormente.

A exploração irracional dos recursos naturais e a produção industrial movida pela


ideia de maximização dos lucros, somadas às ocupações irregulares e ao descarte
incorreto de resíduos sólidos, resultaram em intensos impactos ambientais como
os desmatamentos, assoreamento de corpos hídricos, desertificação, perda de
fertilidade do solo, poluição das águas (superficiais e subterrâneas), poluição do ar
e do solo.

Diante de todos os impactos e desastres que a humanidade tem vivenciado nos


últimos séculos, cabe questionarmos: o que fazer?

As ações devem ser urgentes e de âmbito global, ainda que se aja localmente
visando à obtenção de resultados que beneficiarão globalmente. A Educação
Ambiental pode ser apontada como um dos caminhos para mitigar os efeitos da
crise ambiental que está instaurada.

Você já teve acesso a algum material que abordava o tema


Educação Ambiental? Já pensou na importância desse tema
nas atividades escolares na Educação Básica?

A importância da educação ambiental na conservação dos recursos naturais 187


U4

De acordo com EPA (2008, apud LUZZI, 2005, p. 15), “por meio da Educação
Ambiental, as pessoas passam a compreender como as ações individuais afetam o
meio ambiente, adquirem competências para pensar os vários lados das questões
e tornar-se mais aptas para tomarem decisões conscientes”. Diaz (2002) nos ensina
que devemos resgatar a relação que os homens primitivos tinham com o meio
ambiente, que estava baseada no respeito à natureza.

O papel da Educação Ambiental, segundo Pelicioni e Philippi Jr. (2014, p. 3), é “[...]
formar e preparar cidadãos para a reflexão crítica e para uma ação social corretiva,
ou transformadora do sistema, de forma a tornar viável o desenvolvimento integral
dos seres humanos”.

Caro acadêmico, você já pensou onde e quando começaram as discussões


sobre Educação Ambiental?

Vimos na Unidade 1 deste livro que as discussões referentes ao meio ambiente


chegaram ao cenário mundial nas décadas de 1960 e se fortaleceram nas décadas
seguintes. Foi na Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental,
realizada em 1977 em Tbilisi na Geórgia, que foi consolidado o Programa
Internacional de Educação Ambiental (PIEA), proposto inicialmente na Conferência
de Estocolmo de 1972.

Leia a Declaração da Conferência Intergovernamental sobre Educação


Ambiental. Disponível em: <http://www.ambiente.sp.gov.br/wp-
content/uploads/cea/Tbilisicompleto.pdf>. Acesso em: 8 out. 2015.

Na Conferência de Tbilisi foi proposto que a educação ambiental deveria se


constituir em uma educação geral e permanente, para que, desse modo, pudesse
reagir às transformações realizadas no mundo, devendo esta ter uma intervenção
formal (institucionalizada, que ocorre nas unidades de ensino públicas ou privadas
de ensino básico e superior) e não formal ou informal (que ocorre fora das
instituições de ensino e tem como objetivo a sensibilização da coletividade, por
meio de ações educativas).

De acordo com a Declaração da Conferência Intergovernamental sobre


Educação Ambiental (1977, p. 1):

188 A importância da educação ambiental na conservação dos recursos naturais


U4

A Educação Ambiental, bem compreendida, deverá constituir


uma educação geral permanente que reaja às mudanças
produzidas num mundo em rápida evolução. Essa educação
deverá preparar o indivíduo através da compreensão
dos principais problemas do mundo contemporâneo,
proporcionando-lhe os conhecimentos técnicos e as
qualidades necessárias para desempenhar uma função
produtiva que vise melhorar a vida e proteger o ambiente,
valorizando os aspectos éticos.

Perceba, caro acadêmico, que, na proposta dessa Conferência, a Educação


Ambiental tem papel fundamental na intervenção e transformação da realidade
concreta. Também segundo a Declaração supracitada, as ações de EA devem ter um
enfoque global – ainda que sejam ações locais –, basear-se na interdisciplinaridade
(diferentes ciências interagindo entorno da mesma temática ou objetivo) e ser
voltadas para a comunidade, estimulando os indivíduos a intervirem em realidades
específicas. Em Tbilisi foi realizado um apelo aos Estados membros para que
realizassem políticas de educação ambiental incorporando os objetivos e diretrizes
da Conferência.

Acesse o artigo “Políticas públicas de educação ambiental numa


sociedade de risco: tendências e desafios no brasil de Luciano Chagas
Barbosa”, para ter mais informações sobre as políticas públicas para
Educação Ambiental no Brasil.
Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/publicacao11.
pdf>. Acesso em: 8 out. 2015.

Outro marco institucional importante no decurso da Educação Ambiental no


mundo foi a Agenda 21, como citado na seção anterior, um documento concebido
e aprovado pelos governos durante a Rio-92. A Agenda 21 pode ser compreendida
como:

A importância da educação ambiental na conservação dos recursos naturais 189


U4

[...] um plano de ação para ser adotado global, nacional e


localmente, por organizações do sistema das Nações Unidas,
governos e pela sociedade civil, em todas as áreas em que a
ação humana impacta o meio ambiente. Além do documento
em si, a Agenda 21 é um processo de planejamento
participativo que resulta na análise da situação atual de um
país, estado, município, região, setor e planeja o futuro de
forma socioambientalmente sustentável. (BRASIL, 2007, p. 12).

Para efetivar as práticas da Educação Ambiental, como a Agenda 21, precisaremos


entender mais sobre os projetos. Para isso, vamos nos respaldar na Pedagogia
de Projetos, já que ela possui suas raízes na Escola Nova, um movimento que
ocorreu na educação com vistas à modernização, ou seja, com o objetivo de que
a educação brasileira não ficasse marginalizada perante as novas descobertas
científicas acerca do processo de ensino-aprendizagem.

Quatro eram as propostas da Escola Nova: revisão do ensino tradicional, inclusão


de fatores históricos e culturais na formação educacional, utilização de referenciais
teóricos oriundos da Biologia e Psicologia para a capacitação do professor (a fim
de que compreendesse as fases do sujeito) e a transferência da responsabilidade
da ação educadora da família e da Igreja para a escola, como forma de amenizar
as diferenças sociais e culturais existentes entre os diversos grupos e, juntamente
com isso, a responsabilização do Estado pela educação do indivíduo (LAMEGO,
1996).

A Pedagogia de Projetos foi muito discutida antes mesmo do movimento


Escola Nova:

A discussão sobre Pedagogia de Projetos não é nova. Ela surgiu


no início do século com John Dewey e outros representantes
da chamada “Pedagogia Ativa”. Já nessa época, a discussão
estava embasada numa concepção de que “educação é um
processo de vida e não uma preparação para a vida futura e
a escola deve representar a vida presente tão real e vital para
o aluno como a que ele vive em casa, no bairro ou no pátio”.
(LEITE, 2014, p. 28).

190 A importância da educação ambiental na conservação dos recursos naturais


U4

John Dewey, um dos primeiros pedagogos da Escola Nova, iniciou seus estudos
sobre projetos a partir de sua concepção de construção coletiva do conhecimento,
segundo a qual o saber é constituído por conhecimentos e vivências que se unem
dinamicamente. Ele acredita que o aluno deva ter condições para resolver por si
próprio os seus problemas, porque a escola não apenas prepara a vida, como é a
vida. Para que um projeto se consolide, o pedagogo propõe que este surja através
de uma situação problemática e que esta situação seja levada para além dos muros
da escola e então se estabeleça uma solução para esta por meio de um olhar não
fragmentado diante das disciplinas escolares (DEWEY, 1970).

O então chamado Método de Projetos chegou ao Brasil,


juntamente com o movimento conhecido como Escola
Nova. Opondo-se aos princípios da escola tradicional, foi
um movimento desencadeado por grandes educadores
europeus, tais como Maria Montessori, Ovídio Decroly,
Edouard Claparède e outros. E tiveram, na América do Norte,
dois grandes expoentes: John Dewey e seu discípulo, William
Kilpatrick. Foram esses dois norte-americanos os criadores do
Método de Projetos, com suas ideias disseminadas no Brasil,
principalmente por Anísio Teixeira e Lourenço Filho. (PEREIRA,
2014, p. 83).

Sabe-se que um projeto tem suas origens no irreal e com seus avanços atinge
a materialidade. O professor tende a buscar no mundo das ideias um ponto de
partida, para então estruturar um projeto. Todavia, para isso é necessário haver uma
boa estrutura e um respaldo teórico-científico, caso contrário, a prática escolar
seria apenas uma reunião de saberes populares aplicados (NOGUEIRA, 2001). E
assim complementa Perrenoud (2003, p. 13-14):

[...] uma empreitada coletiva gerada pelo grupo-classe, na qual


o professor coordena, mas não decide tudo; Uma orientação
para uma produção concreta (textos, jornais, espetáculos,
exposições, maquetes, experiências científicas, festas,
passeios, eventos esportivos, concurso etc.); Um conjunto
de tarefas nas quais todos os alunos possam participar e
tenham uma função ativa, a qual poderá variar em função
de seus recursos e interesses; Um aprendizado de saberes
e conhecimentos no âmbito da gestão de projetos (decidir,
planejar, coordenar etc.); Um aprendizado identificável e que
conste do programa de uma ou mais disciplinas; Uma atividade
emblemática e regular, colocada a serviço do programa.

A importância da educação ambiental na conservação dos recursos naturais 191


U4

A pedagogia de projetos visa um sistema de ensino pautado na


interdisciplinaridade, ou seja, um conhecimento uno, sem fragmentações, que
busca por um saber totalitário e não especializado. Trabalhar com projetos na
escola é um desafio e também é visto e entendido como um trabalho árduo pelos
professores:

[...] a negação em trabalhar com um projeto interdisciplinar


não está na má vontade dos professores, mas talvez
na obstinação em cumprir 100% de seu conteúdo, não
percebendo as múltiplas possibilidades que um projeto deste
porte pode gerar em resultados, ou, ainda, na insegurança de
como proceder como ator de um projeto interdisciplinar. O
não entendimento de uma proposta interdisciplinar também
parece ser uma das barreiras. Como já mencionado, a
simplicidade como é encarada e a dificuldade apresentada
pelo professor, que acredita ter que elaborar exercícios,
problemas, questões e atividades pertinentes à temática em
questão, fazem da interdisciplinaridade o “bicho papão”,
que dará mais trabalho do que ele possui. Por estes e outros
motivos, a interdisciplinaridade acaba não sendo uma
prática, o professor não assume uma atitude interdisciplinar
e continua o seu árduo trabalho de ministrar conteúdos
compartimentados e descontextualizados do dia a dia do
aprendiz. A interdisciplinaridade apresenta-se apenas no
sonho do coordenador pedagógico, do diretor e de alguns
poucos professores que conseguem enxergar além das
paredes da sala de aula. (NOGUEIRA, 2001, p. 54).

Logo, materializar os projetos, ainda na perspectiva ambiental, será um desafio.


Segundo Reigota (2009), é importante que possamos definir bem alguns conceitos
quando trabalhamos nos projetos de educação ambiental em quaisquer que sejam
os campos de abordagem. Devemos analisar os problemas ambientais em nosso
planeta, no sentido da compreensão do consumo excessivo de recursos naturais
por uma certa parcela da humanidade e, ainda, sobre o desperdício e produção
de artigos inúteis à qualidade de vida. Esse paralelo nos permite refletir sobre
um conceito errado que desenvolvemos ao abordarmos problemas ambientais,
vinculando os mesmos unicamente à quantidade de pessoas que existe no planeta.

192 A importância da educação ambiental na conservação dos recursos naturais


U4

Por qual motivo os problemas ambientais são vinculados ao


número de pessoas que vivem em nosso planeta?

A educação ambiental analisa os princípios reflexivos das relações econômicas


e culturais entre a humanidade e a natureza, possibilitando a sobrevivência de
espécies naturais e também da humanidade. O homem e suas práticas representam
um frágil componente de todo o sistema que é o planeta Terra, sendo o equilíbrio
homem-natureza essencial para a manutenção de todas as funções básicas para
a nossa sobrevivência e a de todas as espécies presentes no planeta Terra (Figura
4.11). Nesse contexto, a educação ambiental se mostra muito importante.
Figura 4.11 | O equilíbrio homem-natureza é essencial ao planeta

Fonte: Disponível em: Érico Candido (Wikimedia Commons). Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/
commons/9/9e/Equilibrio_homem_natureza.png>. Acesso em: 30 out. 2015.

Como a ausência de planejamento ambiental pode impactar


a natureza?

A importância da educação ambiental na conservação dos recursos naturais 193


U4

Podemos unir todos os conceitos sobre os quais se reflete nesse


interessante vídeo a seguir, que aborda a Associação Peixe-Boi, para
conhecermos a importância dos componentes da natureza ao homem
em uma abordagem socioambiental. Disponível em: <https://www.
youtube.com/watch?v=mZ3l8WylLW8>. Acesso em: 9 nov. 2015.
Como podemos associar os pontos acerca da conscientização e
educação ambiental com todos os aspectos abordados nesse vídeo?

Ainda de acordo com Reigota (2009), a educação ambiental deve preparar


os cidadãos a exigirem justiça social, cidadania nacional e planetária, autogestão
e ética nas relações sociais com a natureza, devendo, assim, ser compreendida
como educação política. Logo, caro aluno, devemos inspirar e fazer crescer esses
mesmos sentimentos em nossos alunos quando abordamos a educação ambiental
em sala de aula.

A educação ambiental como educação política deve então enfatizar nos


cidadãos o “porquê” e o “como” fazer, já que, dado o contexto histórico em que
vivemos, ela assume um caráter questionador, tornando o processo de educação
criativo e inovador mas ao mesmo tempo crítico. Tal espírito crítico leva à formação
de cidadãos cada vez mais ativos no exercício de seus direitos e deveres políticos
frente aos problemas ambientais (REIGOTA, 2009; REGOTA, 2010).

Para aprimorar o entendimento sobre a situação da educação ambiental


frente aos discursos atuais sobre a natureza, leia o interessante artigo
de Reigota (2010) presente no link: <http://www.scielo.br/pdf/ep/v36n2/
a08v36n2.pdf> . Acesso em: 26 out. 2015.

194 A importância da educação ambiental na conservação dos recursos naturais


U4

Em suma, a educação ambiental pode sim colaborar com a redução de


impactos negativos no planeta, uma vez que orienta cidadãos mais conscientes de
seus diretos e deveres. Esses cidadãos, sejam crianças, sejam adultos, vão atuar em
suas comunidades, ocasionando uma primeira mudança no sistema. É claro que
os resultados não acabam sendo imediatos, mas com o tempo e esforço coletivo
esse cenário se modificará (figuras 4.12 e 4.13).

Figura 4.12 | O projeto “Peladão Verde na Escola” desenvolve trabalho com jovens no
Amazonas. Assim a conscientização ambiental é passada adiante.

Fonte: Disponível em: <http://lh3.ggpht.com/_pUt1891eyMo/TNQsyNxqq2I/AAAAAAAABrM/GFyzcHjOVas/Escola-Estadual-


Sebastiao-Augusto-Loureiro_ACRIMA20101105_0001_13%5B6%5D.jpg?imgmax=800>. Acesso em: 26 out. 2015.

Saiba como projetos e cooperativas são desenvolvidos em comunidades


e contribuem com a educação ambiental e conscientização no seguinte
vídeo:
<https://www.youtube.com/watch?v=ezDTYUm4BVs>. Acesso em: 26
out. 2015.
Projetos como esse podem ser iniciados nas escolas e se expandirem
para toda a comunidade, atingindo crianças, jovens e adultos.

Esse sentimento de compreensão frente à importância da educação ambiental


existe há algum tempo, por exemplo, na Declaração de Estocolmo em 1972. O seu
princípio 19 já determinava desde então a essencialidade da educação ambiental,
favorecendo o público e formando assim a opinião pública e uma conduta

A importância da educação ambiental na conservação dos recursos naturais 195


U4

consciente das pessoas e empresas no sentido da proteção e melhoria do ambiente


e todos os fatores que o permeia (TOALDO; MEYNE, 2013). A conscientização e a
compreensão da complexidade do meio ambiente seriam a chave do processo.
Observe na imagem a seguir.
Figura 4.13 | Alunos nas atividades de educação ambiental de interpretação de trilha no
centro interpretativo da Mata Atlântica.

Fonte: Disponível em: <http://www.ra-bugio.org.br/manutencao/uploaded/petro2.jpg>. Acesso em: 26 out. 2015.

O desenvolvimento e o destaque das políticas ambientais, principalmente nos


países em desenvolvimento, vêm tornar a educação ambiental cada vez mais
necessária. No artigo 225, §1º, VI, da Constituição Federal e pela Lei n. 9.795, de 27
de abril de 1999, determina-se que a educação ambiental deve ser estimulada e
abranger todos os níveis de ensino, promovendo a conscientização pública para a
preservação (TOALDO; MEYNE, 2013).

Conheça a Declaração do Rio de Janeiro sobre a Conferência das Nações


Unidas sobre meio ambiente e desenvolvimento. Disponível em: <http://
www.scielo.br/pdf/ea/v6n15/v6n15a13.pdf>. Acesso em: 26 out. 2015.

196 A importância da educação ambiental na conservação dos recursos naturais


U4

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), implantados a partir de 1998 e


fortemente difundidos nas séries referentes ao ensino fundamental, implantaram
os chamados temas transversais, aqueles que permeiam todas as disciplinas dos
alunos. Esses temas prezam pelo fortalecimento dos princípios de cidadania
nos alunos, trabalhando temas como: meio ambiente, ética, pluralidade cultural,
orientação sexual, trabalho e consumo (BRASIL, 2008).

O tema transversal “meio ambiente” abriu espaço para o campo da educação


ambiental nas escolas. Desde então esse tema poderia ser trabalhado de forma
ampla com os alunos por meio de diferentes atividades.

Para a implantação de tal projeto na rede de ensino, o MEC estabeleceu o


programa Capacitação de Multiplicadores em EA, uma vez que com os novos
temais propostos pelos PCN há a uma inovação no processo de ensino, envolvendo
alunos, professores, funcionários e comunidade. A formação dos professores foi
o principal alvo do programa, estabelecendo processos que são guiados desde
a análise de problemas socioambientais até o planejamento voltado à educação
ambiental. Da mesma maneira, os Parâmetros em Ação – Meio Ambiente na
Escola (PAMA) também vieram com a intenção de proporcionar ferramentas aos
professores em sua formação, que deveria ser continuada (BRASIL, 2008; PEDRINI,
2002).

Para saber mais detalhes sobre a formação de multiplicadores para


educação ambiental bem como a avaliação de um programa de Educação
Ambiental do Ministério da Educação, acesse o documentos disponível
no link:
<http://www.luzimarteixeira.com.br/wp-content/uploads/2011/04/
multiplicadores-para-educacao-ambiental.pdf> >. Acesso em: 26 out.
2015.

Como programas de capacitação em educação ambiental


poderiam colaborar para realidades fora das escolas?

A importância da educação ambiental na conservação dos recursos naturais 197


U4

A educação ambiental também pode ser aplicada no cenário empresarial.


Conheça essa perspectiva de acordo com o texto do link a seguir:
<http://www.sobreadministracao.com/como-a-educacao-ambiental-
para-funcionarios-pode-beneficiar-sua-empresa/> . Acesso em: 26 out.
2015.

Dois importantes eventos aconteceram em 2003 em Brasília: a I Conferência


Nacional do Meio Ambiente, que abordou o tema “Vamos Cuidar do Brasil”, e a I
Conferência Nacional Infantojuvenil do Meio Ambiente. Em suma, esses eventos
prezaram pelo estabelecimento e consolidação do Sistema Nacional do Meio
Ambiente (Sisnama), analisar a situação ambiental do país, promovendo assim a
educação ambiental nas escolas (BRASIL, 2008).

Conheça melhor sobre as Conferências Nacionais pelo Meio Ambiente


e o projeto Vamos Cuidar do Brasil com escolas sustentáveis no vídeo:
<https://www.youtube.com/watch?v=n2wSGUXEWd0>. Acesso em: 26
out. 2015.
Além do vídeo, para saber mais detalhes sobre os princípios e bases do
projeto Vamos Cuidar do Brasil, acesse o documento disponível no link:
<http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/publicacao3.pdf>. Acesso em:
26 out. 2015.

Como comentado, o Vamos Cuidar do Brasil (um projeto do Órgão Gestor da


Política Nacional de Educação Ambiental, com a colaboração dos Ministérios do
Meio Ambiente e Educação) estabelece a criação das Com-Vidas (Comissões de
Meio Ambiente e Qualidade de Vida na Escola), com a intenção de que todas as
atividades de educação ambiental extrapolem o âmbito escolar e promovam o
aprendizado e, até, a transformação de todos nós (Figura 4.14).

198 A importância da educação ambiental na conservação dos recursos naturais


U4

Figura 4.14 | Simples atividades que visem à reutilização de materiais que seriam jogados
no lixo, conscientização sobre a reciclagem, plantio de mudas e sementes de plantas,
dentre outras, são desenvolvidas com as crianças dentro das Com-Vidas.

Fonte: Disponível em: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/discovirtual/galerias/imagem/0000002538/


md.0000030861.jpg>. Acesso em: 26 out. 2015.

Com-Vida é uma organização, nas escolas, que visa desenvolver e acompanhar


a Educação Ambiental de forma permanente e continuada, envolvendo a
comunidade. Estudantes são os principais articuladores da Com-Vida. Seu principal
objetivo é potencializar as ações de educação ambiental nas escolas do ensino
fundamental (6º ao 9º ano) e de ensino médio, por meio da criação e manutenção
de um espaço democrático e participativo que congregue toda a comunidade
escolar e fomente iniciativas voltadas para a sustentabilidade socioambiental e
para a melhoria da qualidade de vida na escola e sua comunidade, assim como o
diálogo sobre temas socioambientais contemporâneos.

Vamos aprender mais sobre o Com-Vida assistindo ao vídeo a seguir


indicado e analisando as ações sustentáveis desenvolvidas em uma
escola, de forma que consigamos visualizar todo o processo na prática:
<https://www.youtube.com/watch?v=1undjnTLqAw> (acesso em: 26
out. 2015).

A importância da educação ambiental na conservação dos recursos naturais 199


U4

Quais setores das escolas devem estar articulados na


implantação de projetos sustentáveis?

Os Censos Escolares do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas


Educacionais Anísio Teixeira) comprovam que a educação ambiental foi amplamente
disseminada nas escolas e aplicadas como parte dos assuntos presentes nos
currículos. O que nos surpreende é que algumas escolas já vinham implantando
temas referentes à Educação Ambiental e ao meio ambiente ativamente nas turmas
desde a convenção Rio-92, visto que esta convenção, realizada em 1992 no Rio
de Janeiro, já discutiu e levantou alguns pontos referentes às questões ambientais
(BRASIL, 2008).

Conheça melhor a definição sobre Censos Escolares na página do INEP:


<http://portal.inep.gov.br/basica-censo>. Acesso em: 26 out. 2015.

Alguns pontos levantados por Reigota (2009) acerca da aplicação prática da


educação ambiental são pertinentes à nossa formação. Vamos considerar tais
pontos dentro dos conteúdos trabalhados, da metodologia aplicada, da avaliação
realizada e dos recursos didáticos segundo o autor!

1) Os conteúdos não devem ser estritamente específicos, uma vez que os


pontos trabalhados dentro da temática da educação ambiental devem obedecer
à problemática ambiental vivida no cotidiano dos alunos, a qual deve ser resolvida.
Não deve haver a transmissão específica de acepções específicas da biologia
ou geografia, porém alguns conceitos básicos devem ser compreendidos pelos
alunos, mas de maneira natural.

200 A importância da educação ambiental na conservação dos recursos naturais


U4

2) Os métodos para a aplicação da educação ambiental são diversos e muito


particulares. Em suma, eles devem obedecer aos padrões estabelecidos pelo
professor, com base no nível de seus alunos e das temáticas atuais que possam
ser abordadas. O professor deve ser sempre criativo ao abordar os assuntos com
seus alunos.

3) Alguns conteúdos que podem ser trabalhados de forma interdisciplinar nas


atividades de educação ambiental são: saneamento básico, extinção de espécies,
poluição, efeito estufa, biodiversidade, reciclagem do lixo, entre outros. Como os
conceitos são trabalhados de forma interdisciplinar, cada disciplina contribui com
seus pontos específicos.

4) A avaliação dos alunos depende muito dos objetivos da prática aplicada.


Basicamente, elas devem seguir o sentido da exploração da solução dos problemas
ambientais levantados.

5) Os recursos didáticos empregados são variados, mas sua eficácia dependerá


de como o professor os aplica e de sua criatividade (Figura 4.15).

Na realização da educação ambiental, podemos empregar os métodos:


– Passivo (em que só o professor fala).
– Ativo (em que os alunos realizam experiências sobre o assunto).
– Descritivo (em que os alunos aprendem definições de conceitos e
descrevem o que observaram em trabalhos de campo).
– Analítico (em que os alunos completam suas descrições com mais
informações e respondem questões sobre o tema).
– Interdisciplinar (em que professores de diferentes disciplinas trabalham
um mesmo tema).
– Histórias de vida (em que os alunos fazem um levantamento de histórias
relacionadas com o tema).
– Pedagogia do projeto (em que toda a escola – até mesmo os pais – se
envolvem no estudo de um tema específico).

A importância da educação ambiental na conservação dos recursos naturais 201


U4

Figura 4.15 | Apresentações escolares são atividades simples mas criativas e efetivas

Fonte: Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/c/c6/Heep_Hong_healthy_kids_nursery_


school.JPG/800px-Heep_Hong_healthy_kids_nursery_school.JPG>. Acesso em: 26 out. 2015.

O professor pode trabalhar a educação ambiental juntamente com a


política dos 3 Rs (reduzir, reutilizar e reciclar)! Confira no link a seguir:
<http://www.futuroprofessor.com.br/educacao-ambiental-3rs>. Acesso
em: 26 out. 2015.

Trabalhos como o de Marques et al. (2014) enfatizam a importância da


formação da consciência ecológica nos alunos durante o trabalho dos tópicos
relacionados com a educação ambiental. Os autores discutem as dificuldades
que são encontradas ao se trabalhar a quebra de conceitos em nossos alunos no
sentido da preservação e uso consciente dos recursos naturais. Devemos tomar
algumas medidas capazes de sensibilizar a população e transformar o seu modo
de pensar. Introduzir novos conceitos e moldar a consciência de nossos alunos
(especialmente os de ensino fundamental) pode ser o primeiro passo na influência
ambiental positiva da sociedade.

Barbosa (2010) desenvolveu em seu trabalho uma análise sobre como a


educação ambiental vem sendo implementada e desenvolvida nas escolas. O autor

202 A importância da educação ambiental na conservação dos recursos naturais


U4

notou que, nas escolas em questão, os princípios vigentes na legislação brasileira


são aplicados, visando realizar atividades permanentes com os alunos, trabalhando
a formação de professores e envolvendo a comunidade local, processos que,
embora possam ser melhorados, são destaque. Essa é a melhor maneira de
implantar e realizar a educação ambiental nas escolas!

Freitas et al. (2012) destaca que a educação ambiental pode apresentar


uma ênfase no contexto tanto familiar quando escolar, bem como um caráter
interdisciplinar. O educador, por meio de suas ferramentas e técnicas – deve
reconhecer sua importância enquanto agente modelador de conceitos nos
alunos e na sociedade, em que os conceitos devem transcender a sala de aula e
acompanhar a globalização.

Por fim, em sua experiência com o trabalho da educação ambiental, Cuba


(2010) enfatiza que a aplicação do tema no contexto escolar é desafiadora e muito
prazerosa, tendo em vista sua importância para o desenvolvimento das gerações
futuras com sustentabilidade. E, assim como os outros autores, reflete sobre a
importância da participação da escola e da comunidade na postura da sociedade
perante questões ambientais.

1. Os projetos nas escolas devem ser pensados pelos professores


e também pela equipe pedagógica, a fim de envolver a
comunidade escolar como um todo. A qualidade dos projetos
não está atrelada apenas à estética de sua exequibilidade, mas
na significância daqueles para a sociedade.
São exemplos de projetos que buscam um ensino e uma
aprendizagem qualitativos:
a) O lúdico na construção de atividades: o jornal da escola,
para informar aos estudantes e professores os acontecimentos
da escola.
b) O lúdico na construção de atividades: a horta da escola, para
envolver a comunidade escolar, apenas para fins lucrativos.
c) O lúdico na construção de atividades: economizando energia
na escola, buscando a conscientização sobre os recursos
naturais e maneiras de economizar.
d) O lúdico na construção de atividades: pintando a escola,
para que a escola possa ser um ambiente mais agradável ao
estudo, não levando em conta os recursos naturais.

A importância da educação ambiental na conservação dos recursos naturais 203


U4

e) O lúdico na construção de atividades: brincando na escola,


pois a escola é um ambiente que abarca objetivos pedagógicos,
populares e ambientais.

2. Leia a citação a seguir:


[...] a transformação começa na consciência, nas referências
conceituais internalizadas que se confundem com o modo
de ser da pessoa. Então é preciso um exorcismo porque
os homens em geral... ao fazer uso do título “Pedagogia
de Projetos” que, na verdade, na maioria das propostas,
trata-se de “Método de Projetos”, reduz-se a teoria que o
acompanha à análise e construção de objetivos circunstanciais
e instrumentais, reproduzindo, em última instância, o “modus
vivendi” do sistema hegemônico, ou seja, substitui o referencial
teórico original pelas referências das pedagogias tradicional e
tecnicista. Com o termo “objetivos específicos” terminam por
justificar a delimitação das aulas aos conteúdos específicos.
(SANTOS, 2006, p. 5).

A Pedagogia de Projetos é bastante discutida nas pesquisas


educacionais, mas a corrente teórica que iniciou os debates
acerca desta temática foi a:

a) Escola Piagetiana.
b) Escola Nova.
c) Escola Tradicional.
d) Escola Montessoriana.
e) Escola de Skinner.

Aproveite a leitura desta unidade para se atualizar em relação


aos conceitos discutidos e analisados e para conseguir utilizá-
los enquanto acadêmico e também em sua prática enquanto
professor de Geografia. Um bom professor, afinal, não se afasta
das leituras acadêmicas. Além disso, por nosso estudo estar

204 A importância da educação ambiental na conservação dos recursos naturais


U4

relacionado à legislação (como Política Nacional de Educação


Ambiental e a Política Nacional de Resíduos Sólidos), é importante
você se atentar às reportagens e aos decretos que aparecerão a
fim de conhecê-los e analisá-los criticamente. Lembre-se de que
a reprodução de conteúdo deve ser evitada tanto nos ambientes
escolares como em sua formação.

Esta unidade contribuiu para que você aprendesse sobre a


articulação entre as políticas públicas e o ensino de Geografia, a
partir da temática dos recursos naturais.
Os recursos naturais foram debatidos em todas as unidades.
Nesse sentido, acredita-se que a identificação deles para você se
tornou mais eficiente e eficaz, o que torna o processo de ensino
e aprendizagem mais sólido.
Aproximar os debates como as construções das políticas
públicas em forma de projetos na escola é papel de todo o
corpo docente e equipe gestora. No entanto, quando o ato parte
do docente de Geografia a atitude é singular, visto que você
poderá elencar conceitos geográficos para serem discutidos e
até mesmo construídos pela realidade dos alunos com base nos
conhecimentos prévios deles.
E lembre-se de que a sustentabilidade, a educação ambiental
e os recursos naturais, além de não serem apenas temas de
datas comemorativas, devem fazer parte do planejamento do
professor de Geografia para que sejam trabalhados em sala
de aula constantemente e sempre que possível de maneira
interdisciplinar.

A importância da educação ambiental na conservação dos recursos naturais 205


U4

1. Referente à Política Nacional de Educação Ambiental, são


considerados princípios básicos:
I - O enfoque humanista, holístico, democrático e participativo.
II- A concepção do meio ambiente em sua totalidade,
considerando a interdependência entre o meio natural, o
socioeconômico e o cultural, sob o enfoque das vertentes
econômicas.
III - O pluralismo de ideias e concepções pedagógicas, na
perspectiva de práticas tradicionais.
IV- A vinculação entre a ética, a moral, o naturalismo e o
trabalho.

Assinale a alternativa correta:


a) Apenas o item I é verdadeiro.
b) Apenas o item II é verdadeiro.
c) Apenas os itens III e IV são verdadeiros.
d) Apenas o item IV é verdadeiro.
e) Apenas os itens I e IV são verdadeiros.

2. A Educação Ambiental, no que diz respeito às modalidades


de ensino, deve estar presente, seja em instituições públicas,
seja em instituições privadas, assegurando seu ensino na:
a) Educação básica e no ensino superior.
b) Educação básica e no ensino de jovens e adultos.
c) Educação básica, na educação especial e na educação
profissional.
d) Educação básica, no ensino de jovens e adultos, no ensino
superior, no ensino profissional e na educação especial.
e) Educação básica, na educação especial e no ensino
superior.

3. É ação que simboliza o desenvolvimento sustentável nas


escolas:
a) Exposição de cartazes com mapas sobre a devastação de
matas nativas no Brasil.
b) Criação de uma sala de aula ao ar livre.
c) Utilização das lixeiras recicláveis, mesmo que selecionando
o lixo de maneira errada.
d) Plantio de mudas de árvore próximo da escola, mesmo
sem a identificação delas, pois o que se deve considerar é o
plantio.

206 A importância da educação ambiental na conservação dos recursos naturais


U4

e) Exposição de cartazes que ilustrem a retirada de pneus de


uma área inapropriada próxima da escola.

4. De acordo com a Política Nacional dos Resíduos Sólidos,


os lixões no Brasil não poderão continuar existindo para que
seja implantado o uso de aterros. Considere as afirmativas a
seguir e depois assinale a alternativa correta:
I- O prazo final para o fim dos lixões já foi encerrado, e
os municípios brasileiros cumpriram a legislação em sua
totalidade.
II- A Política Nacional dos Resíduos Sólidos não estabeleceu
prazos para que os lixões sejam inativados.
III- Os lixões ocupam pouco espaço no território brasileiro e
não provocam danos ambientais.
IV- A diferença entre o aterro e os lixões é a de que o primeiro
corresponde a uma área sem preparo para receber as
toneladas de resíduos sólidos – além de gerar o chorume, o
que pode prejudicar o lençol freático. Os aterros, por sua vez,
possuem estrutura para receber os resíduos sólidos a fim de
emitir poluentes.

a) Apenas os itens III e IV são verdadeiros.


b) Apenas os itens II e III são verdadeiros.
c) Apenas o item IV é verdadeiro.
d) Apenas o item I é verdadeiro.
e) Apenas os itens I e IV são verdadeiros.

5. As lixeiras recicladoras estão em grande parte do território


nacional, mas muitas vezes são utilizadas de maneira incorreta.
Analise as afirmativas a seguir e depois assinale a alternativa
correta:
I- O papel toalha que utilizamos para amenizar o óleo de
frituras pode ser reciclado.
II- Os potes de vidro quebrado não precisam de proteção ao
serem colocados nas lixeiras.
III- Os papéis secos podem ser reciclados.
IV- As latas de refrigerante podem ser recicladas, desde que
limpas e também amassadas.

a) Apenas os itens I e II são verdadeiros.


b) Apenas os itens III e IV são verdadeiros.
c) Apenas o item III é verdadeiro.
d) Apenas os itens II e IV são verdadeiros.
e) Apenas os itens II e III são verdadeiros.

A importância da educação ambiental na conservação dos recursos naturais 207


U4

6. A Agenda 21 Global é um programa de ação baseado em


um documento de 40 capítulos. Analise as afirmativas a seguir
e depois assinale a alternativa correta:
I- Sua implementação não exigia recursos financeiros, pois
corresponde a um compromisso político no nível mais alto
no que diz respeito ao desenvolvimento e à cooperação.
II- A adoção de medidas para promover padrões de consumo
e produção que ampliem as pressões ambientais, atendendo
às necessidades básicas da humanidade, é um de seus
objetivos.
III- Os estados ribeirinhos, com recursos hídricos fronteiriços,
devem formular estratégias e preparar programas de ação
relativos a esses recursos, desobrigando-se da harmonização
entre estratégias e programas de ação.
IV- Os países em processo de desenvolvimento precisam
expandir padrões elevados de consumo a fim de garantir o
atendimento das necessidades básicas dos empobrecidos.
V- Os programas de trabalho destinados a promover
a segurança dos produtos químicos têm repercussões
internacionais, pois seus riscos ignoram as fronteiras
nacionais, sendo necessário redobrar os esforços coletivos
para conseguir um manejo ambientalmente saudável desses
produtos.

a) Apenas os itens I e II são verdadeiros.


b) Apenas o item IV é verdadeiro.
c) Apenas os itens II e III são verdadeiros.
d) Apenas os itens III e V são verdadeiros.
e) Apenas o item V é verdadeiro.

208 A importância da educação ambiental na conservação dos recursos naturais


U4

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210 A importância da educação ambiental na conservação dos recursos naturais


Recursos Naturais,

Desenvolvimento
Meio Ambiente e
UNOPAR RECURSOS NATURAIS, MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO

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