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UM OCEANO

LIVRE DE
PLÁSTICO
DESAFIOS PARA REDUZIR A
POLUIÇÃO MARINHA NO BRASIL
UM OCEANO
LIVRE DE
PLÁSTICO
DESAFIOS PARA REDUZIR A
POLUIÇÃO MARINHA NO BRASIL
Diretor-Geral FICHA TÉCNICA
Ademilson Zamboni
Autores:
Diretor Científico Lara Iwanicki
Martin Dias Ademilson Zamboni

Diretora de Comunicação Colaboradores:


Camilla Valadares Giral Viveiro de Projetos:
Ícaro Fogaça Barbosa
Diretor Administrativo e Financeiro
Mateus Mendonça
José Machado
Milena Beltrami Tudisco
Cientista Marinha Veridiana Sedeh
Lara Iwanicki
Silvia Martarello Astolpho, SMA Ambiental
Analista de Campanha
Maria Paola de Salvo, EasyTelling
Miriam Bozzetto
Tiffany Emmerich, UNIVALI
Analista Administrativo e Financeiro
Lúcia Silva Projeto Gráfico e Diagramação:
Duo Design
Analista de Operações
Juliana Silva Foto da capa:
Instituto Mar Urbano / Ricardo Gomes
Assistente Executiva
Edna Santana

Assistente de Comunicação
Beatriz Ribeiro

Estagiária de Comunicação
Nathalia Carvalho
DOI: 10.5281/zenodo.4281201

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Iwanicki, Lara
SIG Quadra 01, Um oceano livre de plástico : desafios para
reduzir a poluição marinha no Brasil / Lara Iwanicki,
Centro Empresarial Parque Brasília Ademilson Zamboni. -- 1. ed. -- Brasília, DF : Oceana
Sala 251 - 70610-410, - Brasília/DF Brasil, 2020.
Telefone: +55 (61) 3247-1800
ISBN 978-65-992012-5-7
imprensa@oceana.org
Brasil.oceana.org 1. Meio ambiente 2. Oceanos 3. Plásticos -
Aspectos ambientais 4. Poluição marinha 5.
Twitter.com/oceanabrasil Sustentabilidade ambiental I. Zamboni, Ademilson. II.
Facebook.com/oceanabrasil Título.

Instagram.com/oceanabrasil
Youtube.com/oceanabrasil 20-49457 CDD-304.2
Índices para catálogo sistemático:

1. Sustentabilidade ambiental : Ecologia 304.2

Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129


UM OCEANO
LIVRE DE
PLÁSTICO
DESAFIOS PARA REDUZIR A
POLUIÇÃO MARINHA NO BRASIL
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO 7
3. GESTÃO DE RESÍDUOS
DE PLÁSTICO 27

Como funciona a gestão dos


RESUMO EXECUTIVO 8 resíduos sólidos no Brasil? 28
Resíduos plásticos à luz da LDNSB e PNRS 30

Cadeia de reciclagem de plástico 33


INTRODUÇÃO 11
Agentes ambientais: os catadores de
materiais recicláveis 36

1.
Geração e coleta de resíduos
A ERA
de plásticos no Brasil 37
DO PLÁSTICO 15

Reciclagem dos resíduos


Breve história dos plásticos 15
de plásticos 39

Cadeia produtiva 16
Por que reciclamos tão pouco? 43

Classificação e usos 18
Interesse do setor de reciclagem em
materiais plásticos de uso único 43
Produção global 19

2.
PLÁSTICO DE
USO ÚNICO 21 4. POLUIÇÃO MARINHA POR
PLÁSTICO NO BRASIL 49

Produtos descartáveis 21 Impactos na fauna marinha


brasileira 53
Embalagens 22
Microplásticos 59
Produção de plásticos de Riscos para a saúde humana –
o que sabemos até agora? 60
uso único 23
5.
SOLUÇÕES PARA UM
OCEANO LIVRE DE PLÁSTICO 65 6. PROPOSTAS DA OCEANA
PARA O BRASIL 81

Enxugando gelo: falsas soluções


para a crise do plástico 65
Reciclagem de plástico descartável 65 ANEXO I – METODOLOGIA 85
Recuperação energética 67
Bioplásticos 68
Plástico oxibiodegradável 70 LISTA DE FIGURAS E TABELAS 96

Legislação internacional para


redução de plásticos de uso único 71 LISTA DE TABELAS 98

Reduzir, reusar, retornar 75

BIBLIOGRAFIA 101
Foto: Oceana/Enrique Talledo
APRESENTAÇÃO
Inventados há mais de 100 anos, os plásticos A quarta seção apresenta os caminhos e
passaram a estar presentes em praticamen- vetores para que tais resíduos cheguem ao
te todos os aspectos da vida cotidiana – de mar e a participação do Brasil na poluição
garrafas de água a materiais de construção e marinha por plásticos. Traz, ainda, informa-
equipamentos médicos. Notícias e estudos so- ções inéditas sobre os impactos na fauna
bre a poluição marinha por plástico começaram marinha brasileira e o que se sabe até agora
a surgir ainda na década de 1970, mas somente sobre os riscos para a saúde humana devido
a partir de 2010 as evidências acumuladas alar- à exposição aos microplásticos.
maram a comunidade científica e a sociedade Diante desse cenário, na última seção
como um todo. apresenta-se uma análise das oportunidades
Ainda que este tema tenha amadurecido com e soluções reais para a redução da poluição
informações em nível global, este relatório é um por plástico de uso único, incluindo casos de
esforço para consolidar um panorama sobre o legislações internacionais, novas tecnologias
contexto brasileiro da poluição por plástico, com e inovações para reduzir, reutilizar e retornar
base em dados nacionais, públicos e privados. embalagens. Ao final, a Oceana propõe três
A primeira seção caracteriza o plástico medidas concretas, que em conjunto, podem
enquanto material, apresentando dados sobre ser uma efetiva contribuição brasileira para a
produção global, consumo aparente nacional, mitigação desse problema global.
com um recorte para produtos de uso único na Com este documento, esperamos apro-
segunda seção. Em seguida, a terceira seção fundar e qualificar o debate sobre plásticos
dá ênfase aos resíduos plásticos, apresentando de uso único a partir de um retrato nacional,
dados sobre sua coleta, reciclagem e destinação assim como contribuir para a implementação
final, o arcabouço legal e normativo que disci- de medidas que tornem nossos oceanos
plina a gestão de resíduos sólidos no Brasil. limpos e abundantes novamente.

Ademilson Zamboni
Diretor Geral da Oceana no Brasil

7
RESUMO EXECUTIVO
Quando o plástico entrou no mercado na déca- O Brasil tem a sua parcela de responsabili-
da de 1950, ele foi celebrado por tornar a vida dade, contribuindo com 325 mil toneladas de
mais conveniente e eficiente. Hoje, bebemos resíduos plásticos, levados ao mar a partir de
nosso café em copos de plástico com tampas fontes terrestres, como disposição em lixões a
de plástico e canudos de plástico. Transporta- céu aberto. Os produtos e as embalagens plás-
mos nossas compras, muitas das quais emba- ticas descartáveis estão no centro da discus-
ladas em plástico, em sacos e sacolas. Nossos são sobre a poluição plástica nos oceanos em
produtos de higiene pessoal e materiais de razão das evidências de que compõem a maior
limpeza são embalados em plástico e projeta- parte do lixo marinho. De forma consistente, as
dos para serem descartados após um único uso. limpezas de praia em todo o mundo demons-
No Brasil, produzimos 2,95 milhões de tram que plásticos descartáveis e embalagens
toneladas de plásticos de uso único, produtos são o grande problema. No Brasil, o cenário
e embalagens que não são concebidos, proje- não é diferente: pelo menos 70% dos resíduos
tados ou colocados no mercado para perfazer encontrados nas praias brasileiras é plástico,
múltiplas viagens ou rotações no seu ciclo de principalmente embalagens. E, uma vez no mar,
vida. Do volume total de produção de plástico o plástico não se degrada. Em vez disso, divide-
de uso único, 87% corresponde à categoria se em pedaços cada vez menores, tornando-
de embalagens em geral e 13% à categoria de se microplásticos que atuam como ímãs para
produtos descartáveis como pratos, talheres, poluentes químicos nocivos.
copos, sacolas plasticas e canudos. Isso equi- À medida que o plástico continua a
vale a produzir cerca de 500 bilhões de itens inundar nossos oceanos, a lista de espécies
descartáveis, como copos, talheres, sacolas marinhas afetadas por detritos plásticos
plásticas, e embalagens em geral – tanto rígidas aumenta. Dezenas de milhares de organismos
quanto flexíveis –, que representam a maior marinhos estão ingerindo plástico, desde
fatia do mercado de plásticos de uso único. zooplâncton e peixes a tartarugas, mamíferos
As mesmas propriedades que tornaram os e aves marinhas, muitas delas já ameaçadas
plásticos tão úteis também tornam os resíduos de extinção. No Brasil já foram necropsia-
uma ameaça ambiental. Sua durabilidade signi- dos mais de 3,7 mil animais que ingeriram
fica que eles persistem no ambiente por muitos resíduos plásticos. Um em cada dez animais
anos e sua baixa densidade significa que são que ingerem plástico vem a óbito. Esse é um
facilmente dispersos pela água e pelo vento. número subestimado, porque os projetos
Como resultado, os resíduos plásticos são hoje de monitoramento das praias se limitam às
poluentes onipresentes, mesmo nas áreas mais regiões Sudeste e Sul do país, mas alerta para
remotas do mundo. Detritos de plástico foram um problema maior que está acontecendo no
encontrados flutuando na superfície do mar, mundo todo. Os animais não apenas estão
derretendo no gelo do Ártico e acumulados no tendo contato com resíduos da produção
ponto mais profundo do oceano. humana, mas estão morrendo devido a eles.

8
6,67 2,95 87% 500
milhões de milhões de são embalagens
bilhões de
toneladas
toneladas
é a produção nacional é a produção 13% unidades
é o consumo anual de
de plásticos nacional de plásticos são produtos itens de uso único
de uso único descartáveis

10,1 325 70% 1 em


milhões
mil toneladas
de toneladas
é a contribuição do
do resíduo
encontrado em
cada 10
de resíduos Brasil para limpezas de praias animais que
plásticos foram a poluição marinha no Brasil é ingeriram plástico
coletados em por plásticos plástico morreram
2018

O problema da poluição por plásticos tem implementada. Já para os resíduos de produtos


sido atribuído a falhas no sistema de gestão de plástico descartável, como talheres, sacolas,
de resíduos. Esse enquadramento transferiu pratos e copos, a PNRS não prevê responsabi-
a responsabilidade (e a culpa) para o consu- lidades ou tratamento diferenciado. Sem valor
midor (que falha em separar seus resíduos) e para o mercado de reciclagem, os produtos
para as cidades (que não fazem coleta seleti- descartáveis se tornam rejeitos e representam
va, não investem em infraestrutura de recicla- um custo para o sistema de gestão de resíduos.
gem e não regularizam seus lixões). Assim, as Para impedir que o plástico entre em
soluções políticas têm se concentrado em me- nossos oceanos, precisamos reduzir a quan-
lhorar a reciclabilidade e as taxas de recicla- tidade de plástico descartável, desnecessário
gem dos produtos e embalagens de plástico e, e problemático, produzido na fonte. Essa
em alguns casos, em promover a recuperação abordagem está alinhada com os princípios
energética desse resíduo. da Economia Circular e abre espaço para o
No entanto, uma avaliação realista mostra desenvolvimento de negócios inovadores,
que mesmo nas suposições mais otimistas so- novas tecnologias e mercados que favorecem
bre o aumento das taxas de coleta seletiva e a reutilização de embalagens, parte crucial da
reciclagem, elas não acompanharão o volume solução para a poluição plástica. A Oceana
e velocidade de produção de plástico de uso recomenda que (1) o Brasil aprove uma lei
único e, portanto, não impedirão o fluxo de nacional regulamentando o uso de plásticos
residuos plásticos para o oceano. de uso único; (2) que as empresas reduzam a
No Brasil, a Política Nacional de Resíduos quantidade de plástico que estão colocando
Sólidos(PNRS) prevê a implementação de um na cadeia de suprimentos e ofereçam aos
Acordo Setorial para Logística Reversa de consumidores opções livres de plástico para
Embalagens em Geral, onde se inserem as seus produtos; (3) que estabelecimentos
embalagens de plástico. A Fase I do Acordo comerciais tornem-se zonas livres de plástico.
tem sido contestado em sua eficácia pelo Sem mudanças imediatas e concretas, a quan-
Ministério Público em vários estados e a Fase tidade desse resíduo que entra no ambiente
II, prevista para iniciar em 2018, ainda não foi marinho triplicará nos próximos 20 anos.

9
Foto: Instituto Mar Urbano / Ricardo Gomes
INTRODUÇÃO

Leve, versátil, barato e poluente. O plástico é ladas de plástico vão parar nos oceanos5 – o
hoje um material onipresente, encontrado em equivalente a um caminhão de lixo por minuto.
quase todos os setores da economia e aspec- Se continuar nesse ritmo, o volume de plás-
tos da vida moderna. Em 50 anos, o consumo tico acumulado no oceano será quatro vezes
global dos polímeros fósseis cresceu mais de maior em 20406. Essa poluição causa diversos
20 vezes1 e o material virou símbolo da socie- problemas para centenas de espécies marinhas,
dade de consumo e de produtos descartáveis. como ingestão, sufocamento, emaranhamen-
Mais da metade de todo plástico consumido no to e morte, e traz riscos à saúde humana pela
mundo foi produzido depois de 2005, sendo ingestão de microplásticos7. Existem ainda
principalmente usado para embalagens e pro- impactos negativos para a pesca e o turismo,
dutos descartáveis2. na qualidade da paisagem e altos custos para
Segundo diretiva da União Europeia que remoção e disposição. Sua queima, voluntária
regula a questão, plástico de uso único é ou não, polui a atmosfera com compostos de
definido como um produto feito inteiramen- alta toxicidade e expõe comunidades a severos
te ou parcialmente de plástico, e que não é impactos à saúde.
concebido, projetado ou colocado no mercado Quando se fala de plásticos de uso único,
para realizar, ao longo de sua vida, múltiplas eles estão entre os resíduos mais encontrados
viagens, não retornando ao produtor como na costa de diferentes países do mundo. Na
refil ou reúso com o mesmo propósito para o União Europeia, de 80% a 85% do lixo marinho,
qual foi concebido3. Entram nessa categoria medido por contagem em mutirões de limpeza
utensílios descartáveis, como copos, pratos, de praias, é constituído por plásticos e, desses,
canudos e talheres, e as embalagens em geral. os itens de uso único respondem por 50%8.
Este trabalho adota a definição de plásticos de Estudo brasileiro publicado em 2020 fez
uso único da União Europeia. uma avaliação de larga escala do lixo encon-
Embora grande parte do plástico seja usado trado na costa brasileira e constatou a predo-
uma vez e descartado, o material leva centenas minância do plástico, confirmando a tendência
de anos para se decompor, já que a maioria não mundial. Embalagens de alimentos, junto com
é biodegradável. O material sofre um processo pontas de cigarro, foram os itens mais encon-
chamado fotodegradação, no qual, pela ação trados nas praias do Brasil9. Segundo Ryan
da luz, é quebrado lentamente em pequenos Andrade, autor principal do estudo, os resíduos
fragmentos, chamados de microplásticos4. mais frequentes são embalagens de comida ou
A cada ano, ao menos 8 milhões de tone- itens associados a alimentos, como embalagens

11
de bala, de sorvete, biscoitos, canudos e tam- Entram ainda em cena plásticos de fontes
pas de refrigerante e sacolas. renováveis e biodegradáveis e iniciativas para
Governos ao redor do mundo têm reconhe- mudar os padrões de consumo, mesclando
cido a gravidade dessa poluição e aprovado leis práticas antigas com inovação. É o caso de lojas
e medidas para diminuir a oferta de plásticos de especializadas na venda de produtos a granel,
uso único. Como resultado, há uma busca por marcas que propõem utensílios ecológicos reu-
materiais mais sustentáveis, por mudanças nos tilizáveis e sistemas de reúso inteligentes. Mas,
padrões de consumo e no design de produtos e até o momento, nada é capaz de fazer frente ao
embalagens. apetite da indústria em inundar o mundo com
Na substituição do plástico para a produção aquilo que não tem outra finalidade senão a
de embalagens e utensílios descartáveis, ga- de permanecer umas poucas horas em nossas
nham espaço matérias-primas bem conhecidas, mãos até, sem outra utilidade, tornar-se lixo.
como papel, alumínio e até madeira de plantio Assim, a poluição plástica, dentro e fora
manejado. Também se destacam materiais inu- dos oceanos, é um problema sem fronteiras,
sitados e inovadores, a exemplo de copos feitos que tem sua origem em terra e em decisões de
de polpa de mandioca, embalagens à base de atores em todos os níveis – de governos, legis-
algas e pratos de bagaço de cana-de-açúcar. lado-res e grandes empresas a consumidores.

Foto: Instituto Mar Urbano / Ricardo Gomes

12
13
Foto: Needpix
1. A ERA
DO PLÁSTICO

Em sua origem, a palavra “plástico” vem do para o bem e para o mal – nossa forma de con-
verbo grego plassein, que significa “moldar ou sumir, ao introduzir no mercado uma variedade
modelar”. O plástico tem essa capacidade de de materiais leves, resistentes, flexíveis e aptos
ser moldado graças à sua estrutura, feita de a múltiplos usos, mas que não se degradam13.
longas e flexíveis cadeias de moléculas ligadas
em um padrão repetitivo, mais conhecidas
como polímeros10. BREVE HISTÓRIA DOS PLÁSTICOS
Os polímeros são abundantes na natureza e
desempenham processos vitais nos seres vivos: A história da produção de plásticos começa
a celulose que compõe as paredes celulares das em 1855, quando o britânico Alexander Parkes
plantas é um polímero, assim como as proteínas inventou e patenteou o “Parkesine”, o primeiro
que compõem os músculos, a pele e as com- plástico produzido pelo homem e feito a partir
plexas moléculas que sustentam o nosso DNA. de celulose. Parkes mostrou ao mundo um ma-
Outros polímeros orgânicos conhecidos são a terial que podia ser modelado quando aquecido
lignina, a seda e a borracha natural11. e mantido sua forma quando resfriado. Alguns
Polímeros também podem ter origem sin- anos depois, fundou a Parkesine Company, em
tética ou natural. O látex e a celulose foram as Londres, lançando as bases da indústria de
primeiras matérias-primas utilizadas na fabri- plásticos14. Outra descoberta revolucionária foi
cação de plásticos, mas, atualmente, a maioria feita em 1869 por John Wesley Hyatt, que, ao
dos plásticos são feitos a partir do refino de submeter a celulose derivada da fibra de algo-
petróleo e do gás natural. Seja um polímero dão a um tratamento com cânfora, concebeu o
natural ou sintético, no centro de sua com- celuloide. A ampla oferta de celuloide e o baixo
posição química está um átomo de carbono e custo da matéria-prima substituíram o marfim,
outros elementos, como oxigênio, nitrogênio e cuja demanda estava associada à crescente
hidrogênio – que frequentemente se juntam ao popularidade do bilhar à época15.
carbono para produzir variedades específicas Até então, os plásticos eram produzidos a
de polímeros12. partir de matéria-prima natural. Foi em 1907
Os diferentes arranjos moleculares po- que o primeiro plástico completamente sintético
dem originar uma variedade quase infinita de foi desenvolvido por Leo Hendrik Baekeland,
polímeros com inúmeras propriedades. Por essa considerado o pai da indústria de plástico.
razão, a descoberta do plástico revolucionou – Baekeland buscava um material substituto para

15
a goma-laca, um isolante elétrico natural, para apenas um pequeno nicho de mercado.
suprir a demanda da indústria elétrica americana. O gatilho para a rápida expansão da indústria
Sua pesquisa resultou na invenção do primeiro de óleo e gás e seus subprodutos foi a Segun-
plástico durável, a baquelite, cujas característi- da Guerra Mundial, com aumento significativo
cas, como isolamento térmico e maleabilidade, da demanda para a produção de materiais e
renderam o título de “material de mil usos”16. equipamentos. Novas fábricas petroquímicas
Desde a criação da Baekeland, outros tipos foram construídas nos Estados Unidos para
de plásticos foram desenvolvidos (FIGURA 1), mas, transformar petróleo em plástico, resultando no
até meados do século XX, os plásticos ocupavam aumento de 300% da produção17.

FIGURA 1.
Linha do tempo da invenção das principais resinas plásticas

1855 1907 1931 1937 1952


“Parkesine” Baquelite Poliestireno Poliuretano Polietileno de baixa
(PS) densidade (PEBD)

1869 1912 1935 1941 1954


Celuloide Policloreto de Polietileno de Polietileno Polipropileno
vinila (PVC) alta densidade tereftalato (PP)
(PEAD) (PET)

No final da década de 1950, a economia do gimento da cultura do desperdício e um estilo


pós-guerra começou a ser impulsionada pela de vida que gera quantidades alarmantes de
necessidade de consumir quantidades cada vez lixo plástico.
maiores de bens. Segundo a jornalista Susan
Freinkel, “produto após produto, mercado após
mercado, os plásticos desafiaram os materiais CADEIA PRODUTIVA
tradicionais e venceram, substituindo o aço nos
automóveis, o papel e o vidro nas embalagens, A cadeia produtiva do plástico tem início com
e a madeira nos móveis”18. Com matéria-pri- a extração e refino do petróleo para produção
ma barata, os fabricantes simplificaram suas de derivados como gasolina, óleo diesel e nafta.
cadeias de suprimentos e passaram a produzir A partir da nafta ou do gás natural, a indústria
plástico em larga escala. No início dos anos petroquímica produz matérias-primas básicas,
1960, bilhões de itens de plástico já estavam com destaque para o etileno (ou eteno) e o pro-
enchendo lixões, aterros e incineradores no pileno (ou propeno), que são transformadas em
mundo todo. A mudança para a embalagem resinas petroquímicas virgens, como polietilenos
descartável, na década de 1970, marcou o sur- (PEs) e polipropilenos (PPs). A partir das resinas

16
virgens, ou de resinas recicladas, a indústria de de uso único. Por fim, a indústria de reciclagem
transformação irá produzir itens plásticos para fabricará resinas recicladas a partir do material
as mais diversas aplicações, inclusive os plásticos reciclável beneficiado e processado (FIGURA 2)19.

FIGURA 2.
Fluxograma da cadeia de plástico

Exportação Exportação de Exportação de


de resinas transformados produto final
plásticos de uso
único

Importação Importação de Importação de


de resinas transformados plásticos de produto final
uso único

Matérias- 1 2 3
primas INDÚSTRIA DE Resíduos
PRODUTORES DE INDÚSTRIA & plásticos
TRANSFORMAÇÃO CONSUMIDORES
RESINAS VIRGENS COMÉRCIO
PLÁSTICA pós-consumo

Resíduos
plásticos pós-consumo
Aditivos Perdas
Resíduos pós-industriais
PVC 4
INDÚSTRIA DE
Perdas
RECICLAGEM
Aditivos Resina Reciclada

CA (Consumo Aparente)

1 CA resinas virgens 2 CA resinas virgens e recicladas 3 CA plásticos de uso único 4 Produção resinas recicladas

Elaboração: Giral Viveiro de Projetos

As principais resinas termoplásticas utiliza- ● extrusão (principalmente na obtenção de


das no processo de transformação são: polieti- filmes de PEBD, para uso como saco plás-
leno de baixa ou alta densidade (PEBD/PEAD), tico, ou tubos de PVC);
polipropileno (PP), policloreto de vinila (PVC),
● sopro (na confecção de peças ocas, como
poliestireno (PS) e polietileno tereftalato (PET).
bolsas, frascos ou garrafas);
Utilizando como insumos essas resinas ter-
moplásticas, a indústria de transformados é ca- ● rotomoldagem (na produção de caixas-d’á-
paz de gerar uma grande variedade de produtos gua e tanques);
para diversos mercados a partir de diferentes
● termoformagem (na produção de embala-
processos de produção20:
gens rígidas);

● injeção (na confecção de utensílios plásti- ● vacuum forming (na produção de proteto-
cos em geral, como bacias, tampas, caixas, res de cárter e para-choques).
para-choques e calotas);

17
CLASSIFICAÇÃO E USOS

Os plásticos se tornaram onipresentes. De sa- ● poliuretanos (PUR): colchões, almofadas,


colas plásticas a seringas descartáveis, de canos isolamentos;
de PVC a peças eletrônicas, os plásticos fazem
● poliésteres insaturados: banheiras e chu-
parte de todos os aspectos da vida cotidiana. A
veiros, móveis, cascos de barco;
grande variedade de aplicações se deve às dife-
rentes características do plástico e demandas de ● epóxis: colas e adesivos, revestimentos
consumo (TABELA 1). Em função de suas proprie- para dispositivos elétricos;
dades, formam-se assim dois grupos distintos: os
● baquelite: eletrodomésticos, placas de
polímeros termoplásticos e os termorrígidos21.
circuito elétrico e interruptores.
Termorrígidos: polímeros que endurecem
irreversivelmente, isto é, não retornam à sua
forma original depois de aquecidos ou curados. Termoplástico: os polímeros termoplásticos se
Os termorrígidos são valorizados por sua dura- fundem por aquecimento e solidificam por resfria-
bilidade e resistência, e amplamente utilizados mento em um processo reversível, podendo tam-
em carros e construções, incluindo aplicações bém ser dissolvidos em solventes. Os termoplás-
como adesivos, tintas e revestimentos. Alguns ticos costumam ser utilizados ​​em embalagens em
exemplos de plásticos termorrígidos e suas geral, como para alimentos e bebidas, pois podem
aplicações em produtos são: ser moldados de forma rápida e econômica.

TABELA 1.
Tipos de polímeros termoplásticos, propriedades e usos

SÍMBOLO TIPO DE POLÍMERO PROPRIEDADES EXEMPLOS DE APLICAÇÕES

Poli (tereftalato Resistência física e química, Garrafas para bebidas não alcoólicas,
PET de etileno) transparência, leveza embalagens de alimentos e cosméticos

Polietileno de Dureza, rigidez, Frascos rígidos para limpeza doméstica e


PEAD alta densidade resistência química higiene pessoal, potes e contêineres

Dureza, flexibilidade, elevada Tubos e encanamentos para água e esgoto,


Policloreto de vinila
PVC resistência química mangueiras, material hospitalar

Resistência química,
Polietileno de Embalagem para alimentos, sacos
flexibilidade, forma
PEBD baixa densidade e sacolas, contêineres, filmes
películas e filmes

Resistência térmica,
Sacos, embalagens de alimentos, canudos,
Polipropileno química e ao desgaste,
PP contêineres para uso farmacêutico
dureza e flexibilidade
Isopor – contêineres de delivery,
Baixa densidade e absorção
Poliestireno bandejas espumadas, embalagens de
PS de umidade, leveza
itens frágeis, copos descartáveis

Outros Combinação de outras resinas CDs, eletrônicos, embalagens de salgadinhos etc.


OUTROS

Fonte: Norma ABNT NBR 13230 – Embalagens e acondicionamentos plásticos recicláveis – Identificação e simbologia e Sociedade da Indústria de Plástico22.

18
PRODUÇÃO GLOBAL

Desde o início da produção industrial de Em 2018, foram produzidas globalmente 359


polímeros, em 1950, até o ano de 2017, esti- milhões de toneladas de plástico, um aumento
ma-se que tenham sido produzidas cerca de de 3,2% em relação ao ano anterior (FIGURA 3).
9,2 bilhões de toneladas de plástico a partir de A China sozinha foi responsável por 30% desse
resinas virgens, sendo que mais da metade des- volume, e a América Latina contribuiu com 4%
se volume foi produzido nos últimos 20 anos23. do total24.

FIGURA 3.
Produção global de plásticos, de 1950 a 2018, e projeção de crescimento para 2050

1800

1600

9,2 1400

bilhões ...e projeção para 2050 1200

de toneladas de plástico
1000
(1950-2017)

800

359
milhões de
Desde 2000, foram
produzidos mais
plásticos do que nos
600

50 anos anteriores 400


toneladas (2018)*
200
56%
*Não inclui fibras sintéticas 0
1950 2000 1018 2050

Fonte: Ryan, P. G. (2015) 25 Plastics Europe (2018)26; UNEP, GRID-Arendal (2016)27, Plastic Atlas (2019)28.

A projeção para 2050 é de que a produção de plásticos quadruplique. Se mantivermos a tendência


atual de aumentar a produção global em aproximadamente 5% ao ano, teremos acumulado 33 bilhões
de toneladas de plástico em todo o planeta até 205029.

19
Foto: Depositphotos
2. PLÁSTICO DE
USO ÚNICO
A legislação brasileira – omissa – não define uma vez ao longo da sua vida útil e descartados
plásticos de uso único, mas, de acordo com a em seguida. Eles possuem grande heterogenei-
Diretiva Europeia sobre plásticos (2019/904)30, dade no que diz respeito às resinas utilizadas
em seu artigo 3º, das Definições: para sua fabricação, suas formas e aplicações.
Nessa definição, enquadram-se duas categorias
Produto de plástico de uso único é de produtos: os produtos descartáveis e as em-
um produto fabricado total ou par- balagens plásticas em geral. As denominações
cialmente a partir de plástico e que “plástico de uso único” e “plástico descartável”
não é concebido, projetado ou colo- são, portanto, sinônimas.
cado no mercado para perfazer múlti-
plas viagens ou rotações no seu ciclo
de vida mediante a sua devolução a PRODUTOS DESCARTÁVEIS
um produtor para reenchimento ou
a sua reutilização para o mesmo fim Os produtos descartáveis são demandados
para o qual foi concebido. para diversas aplicações e incluem sacos e sa-
colas, copos, pratos, talheres e canudos. Dentre
Em outras palavras, esses materiais são as resinas utilizadas para essas aplicações estão
concebidos para que sejam utilizados apenas PP, PS, PEAD, PEBD, PEBDL e EPS (TABELA 2).

TABELA 2.
Classificação dos produtos descartáveis por setor
demandante, exemplo de aplicações e resinas utilizadas na fabricação

TIPOS SETOR DEMANDANTE EXEMPLOS DE APLICAÇÕES RESINAS

Varejo Sacolas PEAD, PEBD, PEBDL

Descartáveis Copos de água e café PP, PS, EPS


PRODUTOS
DESCARTÁVEIS
Descartáveis Pratos, talheres PS

Descartáveis Canudos PP, PS

Fonte: Giral Viveiro de Projetos

21
EMBALAGENS

As embalagens atendem diversos setores uso de diversos tipos de resina para a produção
da economia, destacando-se os setores de dessas embalagens, entre elas, polipropileno
alimentos, bebidas, higiene pessoal, limpeza (PP), poliestireno (PS), polietileno de alta den-
doméstica, alimentos para animais e farmacêu- sidade (PEAD), polietileno de baixa densidade
tico. Elas são compostas por diversos produtos, (PEBD), polietileno de baixa densidade linear
tais como potes, tampas, frascos, embalagens (PEBDL), politereftalato de etileno (PET) e po-
flexíveis, rótulos, entre outros. A indústria faz liestireno expandido (EPS) (TABELA 3).

TABELA 3.
Classificação das embalagens por setor demandante,
exemplo de aplicações e resinas utilizadas na fabricação

TIPOS SETOR DEMANDANTE EXEMPLOS DE APLICAÇÕES RESINAS

Potes (iogurte, sorvete, achocolatado), embalagens


flexíveis (macarrão, biscoito, cereais, arroz,
PEBD, PEBDL,
feijão, sopa, carnes, frios, café), embalagens
Alimentos PEAD, PP, PS,
rígidas (frascos de ketchup, maionese, óleo,
PVC, PET, EPS
vinagre, margarina), sachês e cápsulas de
café, bandeja de isopor, rótulos e tampas

PEBD, PEBDL,
Garrafas de água, refrigerante, sucos,
Bebidas PEAD, PP,
garrafões, rótulos e tampas
EPS, PET

EMBALAGENS Frascos de xampu, condicionador, desodorante, PEBD, PEBDL,


Higiene pessoal sabonete líquido, embalagens flexíveis cosméticas, PEAD, PP,
bisnagas de creme dental, rótulos e tampas PS, PET

PEBD, PEBDL,
Frascos de desinfetantes, detergentes,
Limpeza doméstica PEAD, PP,
amaciantes, produtos de limpeza em geral
PS, PET

Frascos para soro, potes e frascos PEAD, PEBD,


Farmacêuticos
para remédios, tampas e rótulos PVC, PET

PEBD, PEBDL,
Alimentos para animais Embalagens flexíveis para ração
PET

Fonte: Giral Viveiro de Projetos.

22
PRODUÇÃO DE PLÁSTICOS DE
USO ÚNICO

Segundo dados da Maxiquim, contratados embalagens em geral e produtos descar-


pela consultoria Giral Viveiro de Projetos, o táveis. Entre 2010 e 2019, nota-se que o
Brasil produziu 6,67 milhões de toneladas volume de produção de plásticos teve pouca
de transformados plásticos a partir de resina variação anual, sendo que os de aplicação
virgem. Desse volume, 44% (ou 2,95 milhões para uso único têm representado quase me-
de toneladas) correspondem a transformados tade da produção de transformados na última
plásticos para aplicações de uso único, como década (FIGURA 4).

FIGURA 4.
Produção de plástico de uso único a partir de resinas virgens e
sua relação com a produção total de transformados no Brasil, 2010-2019

8.000

100%

% plástico de uso único


Produção (mil ton.)

6.000
80%

60%
4.000

40%
41% 41% 44% 45% 45% 44% 44%
2.000 40% 38% 40%
20%

- 0%
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019

Plástico de uso único Total transformados

Fonte: Banco de dados Maxiquim (2020) contratado pela Giral Viveiro de Projetos

Com relação às aplicações, do total toneladas) foram utilizados para a produção


de transformados plásticos de uso único de produtos descartáveis (FIGURA 5). Em ter-
produzido em 2019, 87% (ou 2,56 milhões mos de volume, o segmento de embalagens
de toneladas) destinaram-se à produção supera em mais de seis vezes o segmento de
de embalagens, enquanto 13% (ou 396 mil descartáveis.

23
FIGURA 5.
Produção de plástico de uso único no Brasil em 2019

2.556
Produção total de transformados plásticos

mil ton
44%
Plástico
uso único 87%
Embalagens

396mil ton

13%Produtos
descartáveis Embalagens Produtos
descartáveis

Fonte: Banco de dados Maxiquim (2020) contratado pela Giral Viveiro de Projetos

Quando a quantidade de embalagens é cos de uso único. O polipropileno (PP), o PET, o


comparada ao volume total de transformados poliestireno (PS) e o PVC tiveram participação
produzidos a partir de resina virgem, perce- de 22,3%, 18,2%, 6,1% e 1%, respectivamente.
be-se que elas correspondem a quase 40% da A indústria brasileira responde por mais
produção, o que faz desse segmento um dos de 90% do plástico de uso único consumido
maiores mercados para a indústria de transfor- no país. As importações representam apenas
mados no Brasil. 4,1% do consumo total, sendo 3,8% relativas a
A resina mais utilizada para a produção de embalagens e 0,3% a produtos descartáveis. As
plástico de uso único é o polietileno (PE), con- sacolas representam a maior parcela do volume
siderando suas famílias de PEAD (polietileno de produtos descartáveis consumidos em 2019,
de alta densidade), PEBD (polietileno de baixa representando 53% do total, seguidas por
densidade) e PEBDL (polietileno de baixa den- copos (37%), utensílios como pratos e talheres
sidade linear). Em 2019, essa família de resinas (7%) e outros itens, como canudos e misturado-
respondeu por 52,3% dos transformados plásti- res de bebidas, representando 3% (FIGURA 6).

24
FIGURA 6.
Consumo aparente de produtos descartáveis em 2019, por tipo de aplicação, e quantidade equivalen-
te em unidades1.

3% ...equivalente a:
7% Outros
Utensílios (11 mil ton)
(30 mil ton)

71 bilhões
CONSUMO de sacolas
DE PRODUTOS
DESCARTÁVEIS
EM 2019
68 bilhões
de copos

37% 53%
Copos
Sacolas
(213 mil ton)
17 bilhões
(150 mil ton) de utensílios
Fonte: Banco de dados Maxiquim (2020) contratado pela Giral Viveiro de Projetos

Dentro da categoria de embalagens, que corres- 51% do consumo total, seguidas pelas garrafas PET
pondem à maior fatia do mercado de plásticos de (21%), outras embalagens rígidas (20%), embalagens
uso único, as embalagens flexíveis representaram termoformadas (7%) e bandejas espumadas (2%).

FIGURA 7.
Consumo aparente de embalagens em geral em 2019, por tipo de aplicação, e quantidade equivalente
em unidades1

20% 6%
Embalagens Embalagens
...equivalente a:
rígidas termoformadas
11 bilhões
(515 mil ton) (164 mil ton)

CONSUMO
2% de garrafas
Bandejas PET 2L
DE EMBALAGENS
espumadas
21% EM 2019
(52 mil ton)

Garrafas
PET 51%
8 bilhões
de bandejas
(537 mil ton) Embalagens espumadas
flexíveis
(1317 mil ton)

Fonte: Banco de dados Maxiquim (2020) contratado pela Giral Viveiro de Projetos

Ao analisar a quantidade equivalente em nas mais diversas aplicações em nosso cotidiano.


unidades (ver Anexo 1), obtemos um valor provável A maior parte desses itens permanecerá acumu-
de cerca de 500 bilhões de itens de plástico de uso lada em aterros, lixões e no ambiente, como será
único consumidos por ano, que estão presentes apresentado nos próximos capítulos.

1 Maiores detalhes sobre a metodologia de cálculo estão disponíveis no Anexo 1.

25
Foto: Pixabay
3. GESTÃO DE RESÍDUOS
DE PLÁSTICO

O crescimento da concentração de plásticos passou a demandar alimentos congelados e


descartados e não recuperados por processos preparados, a pedir deliverys por aplicativos de
produtivos não é problema atual e vem au- celular ou a consumir alimentos com embala-
mentando na medida em que os plásticos são gens cada vez menores e mais leves. Esse estilo
produzidos e consumidos, sem que se tenha de vida, baseado na conveniência e no consu-
dimensão dos impactos de sua permanência no mo rápido, é sustentado por produtos feitos de
solo e no oceano. plástico destinados a um único uso.
Após a Segunda Guerra Mundial, mudanças A crescente demanda e o volume de
no padrão de consumo criaram um estilo de produção de itens de uso único superam em
vida descartável, intensificado pelo crescimento muitas vezes a capacidade de gestão dos re-
da população e pelos processos de urbanização. síduos plásticos que são gerados após o uso,
O que antes era um bem produzido para ser tanto no âmbito local, nacional, quanto no
durável e reutilizável, passou a ser produzido internacional. Globalmente, mesmo que cerca
com um ciclo de vida mais curto para, assim, de 29% (ou 2,7 bilhões de toneladas) de todo
alavancar o consumo e, consequentemente, a plástico produzido entre 1950 e 2017 per-
economia. Alimentos eram vendidos a granel ou maneça em uso, na forma de bens e materiais
embalados em papel, garrafas e frascos eram duráveis, como eletrodomésticos ou materiais
reutilizados ou devolvidos, compras de merca- de construção, 71% de todo plástico produ-
do eram transportadas em sacos próprios ou zido (6,5 bilhões de toneladas) se tornaram
de papel. Hoje, uma diversidade desses itens resíduo, dos quais apenas 9% foram reci-
é produzida ou embalada em plásticos e feitos clados, 14% incinerados e os 77% restantes
para serem descartados, com a proposta de encontram-se em aterros, lixões ou dispersos
facilitar a vida moderna. no ambiente31 (FIGURA 8). Em outras palavras,
No século XXI, a velocidade da vida moder- 5 bilhões de toneladas de resíduos de plástico
na exigiu facilidades para o consumidor, que estão acumuladas.

27
FIGURA 8. A Lei de Diretrizes Nacionais para o Sanea-
Destino dos resíduos de plásticos gerados entre mento Básico (LDNSB), regulamentada por
1950 e 2017 meio do Decreto nº 7.217/2010, considera os
serviços públicos de limpeza urbana e manejo
de resíduos sólidos como parte do saneamen-
9%
Reciclado to básico, o que inclui as atividades de coleta
e transbordo, transporte, triagem para fins
14% de reutilização ou reciclagem, tratamento e
Incinerado
disposição final dos resíduos. Esses serviços
são de responsabilidade dos municípios e cabe

6,5 à União o repasse de recursos para aplicação


no setor.
Bilhões A LDNSB foi atualizada pelo Novo Marco
Regulatório do Saneamento Básico (NMRSB),
77% de toneladas resíduos
Acumulado em
de plástico que reconfigurou a gestão dos serviços de
aterros e lixões ou
no meio ambiente saneamento básico mediante a adoção de pro-
cessos para assentar o imperativo do capital.
O Novo Marco trouxe à luz a viabilidade
econômica da disposição de rejeitos (e não
resíduos) em aterros sanitários, abrindo outras
possibilidades de disposição final economica-
Adaptado de: Single-use plastics – a roadmap for sustainability, UN Environment, 2018. mente viáveis de modo a evitar danos ou riscos
Fonte: Geyer, Jambeck, and Law (2017); Jambeck et al. 2015; The Plastic Atlas, 2019
à saúde pública, à segurança e visando minimi-
zar os impactos ambientais.
COMO FUNCIONA A GESTÃO DOS Já a Política Nacional de Resíduos Sóli-
RESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL? dos (PNRS) – Lei nº 12.305/2010 – reúne o
conjunto de princípios, objetivos, instrumen-
A gestão dos resíduos sólidos no Brasil tos, diretrizes, metas e ações com vistas à
é regida pela Lei nº 12.305, de 2010, que gestão integrada, e deixa a operacionalização
dispõe sobre a Política Nacional dos Resíduos do gerenciamento dos resíduos sólidos sob
Sólidos (PNRS)32, como também pela Lei nº a égide da LDNSB. A PNRS estabelece uma
11.445, de 200733, que estabelece as Dire- ordem de prioridade em termos da gestão dos
trizes Nacionais para o Saneamento Básico, resíduos sólidos: a) não geração; b) redução;
atualizado pela Lei nº 14.026, de 15 de julho c) reutilização; d) reciclagem; e) tratamento; e
de 201034. Além delas, existem inúmeras f) disposição final ambientalmente adequada
regras aplicáveis para a gestão, gerenciamen- dos rejeitos, sujeitando a essa regra as pessoas
to e manejo dos resíduos sólidos no Brasil, físicas ou jurídicas, de direito público ou priva-
com normas dos âmbitos federal, estadual e do, responsáveis, direta ou indiretamente, pela
municipal, que determinam diretrizes, e nor- geração de resíduos sólidos e as que desenvol-
mas técnicas e regulamentos, que orientam o vam ações relacionadas à gestão integrada ou
trabalho qualificado nesses processos. ao gerenciamento de resíduos sólidos.

28
Dentre os princípios da lei, encontra-se a ambientais e para a saúde humana.
responsabilidade compartilhada pelo ciclo de Dois instrumentos são fundamentais para
vida dos produtos, em que setor privado (fabri- operacionalizar a responsabilidade comparti-
cantes, importadores, distribuidores e comer- lhada: a coleta seletiva, que deve ser imple-
ciantes), setor público (titulares dos serviços mentada pelos municípios com a participação
públicos de limpeza urbana e de manejo dos dos catadores e cooperativas de reciclagem; e
resíduos sólidos) e consumidores têm a respon- a logística reversa, regulamentada por meio do
sabilidade de reduzir o volume de resíduos sóli- Decreto nº 7.404/2010, em que fabricantes,
dos e rejeitos gerados, assim como os impactos importadores, distribuidores e comerciantes

“são obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística


reversa, mediante retorno dos produtos após o uso pelo con-
sumidor, de forma independente do serviço público de limpeza
urbana e de manejo dos resíduos sólidos” (Art. 33).

Na prática, o objetivo da logística reversa é que estudos de viabilidade técnica e econômica


a reinserção de produtos sem uso ou embala- (EVTE) devem ser elaborados, antecedendo a
gens pós-consumo no ciclo produtivo por meio implantação de sistemas.
de sistemas que promovem a coleta, reúso, Na implementação e operacionalização da
reciclagem, tratamento e/ou disposição final logística reversa poderão ser adotados proce-
dos resíduos gerados. A implementação desses dimentos de compra de produtos ou embala-
sistemas deve se dar por meio de acordos seto- gens usadas e instituídos postos de entrega de
riais e termos de compromisso firmados entre o resíduos reutilizáveis e recicláveis, devendo ser
poder público e o setor empresarial. priorizada, especialmente no caso de embala-
Nesse sentido, a PNRS tornou obrigatória a gens pós-consumo, a participação de coopera-
implantação de Sistemas de Logística Reversa tivas ou outras formas de associações de cata-
(SLR) para os agrotóxicos, seus resíduos e em- dores de materiais recicláveis ou reutilizáveis.
balagens; pilhas e baterias; pneus; óleos lubrifi- Os fabricantes, importadores, distribuido-
cantes, seus resíduos e embalagens; lâmpadas res e comerciantes ficam responsáveis pela
fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio realização da logística reversa no limite da
e de luz mista; e produtos eletroeletrônicos e proporção dos produtos que colocarem no
seus componentes. Para o caso dos produtos mercado interno, conforme metas progressi-
comercializados em embalagens plásticas, vas, intermediárias e finais estabelecidas no
metálicas ou de vidro e aos demais produtos e instrumento que determinar a implementação
embalagens, o Decreto nº 7.404/2010 impõe da logística reversa.

29
Por fim, a PNRS proibiu o lançamento de ção. Enquanto a LDNSB regula um conjunto
resíduos sólidos ou rejeitos em praias, no mar de atividades, infraestruturas e instalações
ou em quaisquer corpos hídricos, o lançamen- operacionais de coleta, transporte, transbordo,
to in natura a céu aberto (exceto dos resíduos tratamento e destinação final dos resíduos
de mineração) e a queima a céu aberto ou em domésticos e daqueles originários da varrição e
recipientes, instalações e equipamentos não limpeza de logradouros e vias públicas (ma-
licenciados para essa finalidade, além de outras nejo de resíduos sólidos), a PNRS estabelece
formas de destinação e disposição final vetadas diretrizes relativas à gestão integrada e ao
pelo poder público. gerenciamento desses resíduos, às responsabi-
lidades dos geradores e do poder público e aos
instrumentos econômicos aplicáveis. Em ambas,
RESÍDUOS PLÁSTICOS À LUZ DA os resíduos são classificados por sua origem.
LDNSB E PNRS Assim, resíduos de plásticos são conside-
rados como resíduos sólidos urbanos (RSU)
No Brasil, a gestão dos resíduos sólidos quando originados em domicílios (em ativida-
não é efetuada ou planejada por cadeias de des domésticas de residências urbanas), bem
materiais (vidros, plásticos, metais, papéis etc.) como quando originários da varrição, limpeza
como ocorre em países europeus, e sim por de logradouros e vias públicas e outros serviços
sua origem, ou seja, diante do agrupamento de limpeza urbana. Os resíduos gerados por ati-
dos resíduos gerados em domicílios (secos vidades comerciais e de prestação de serviços,
e úmidos/orgânicos), que está condiciona- quando equiparados pelos municípios aos resí-
da às formas de manejo adotada por cada duos domiciliares (volume ou composição), são
um de seus municípios. Acordos setoriais e coletados junto aos demais RSU (e assim são
termos de compromisso orientam os domicí- considerados), triados para fins de reutilização
lios quanto ao destino a ser dado a diversos ou reciclagem/compostagem e dispostos pelos
materiais. Para os resíduos de plásticos, apesar municípios por meio dos serviços públicos de
do Acordo Setorial de Embalagens em Geral limpeza urbana e de manejo dos resíduos sóli-
instrumentar e capacitar cooperativas para o dos ofertados à população.
recebimento e processamento desses mate- Um instrumento importante para a gestão
riais, deixa por conta dos serviços públicos a dos resíduos de embalagens plásticas, que
coleta seletiva, quando existente. Assim, os correspondem à maior fração dos plásticos de
resíduos plásticos são retratados nas políti- uso único, é o Acordo Setorial de Embalagens
cas públicas como uma parcela ou fração dos em Geral (AS). O AS foi firmado em 2015 entre
resíduos sólidos urbanos, com especificidades o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e os
estabelecidas por acordo setorial. produtores e comerciantes de embalagens, que
Tanto o NMRSB quanto a PNRS preconizam consolidou um grupo de 3.768 empresas orga-
o planejamento em torno dos resíduos gerados nizadas em 22 associações representadas pela
nos domicílios (resíduos nos quais os plásticos Coalizão Embalagens.
estão incluídos), seja na modalidade local ou re- O AS estabeleceu metas e instrumentos
gionalizada, e atribuem aos municípios a tarefa para coletar e reciclar embalagens em geral com
de organizar sua segregação, coleta e destina- o objetivo de reduzir, no mínimo, 22% das em-

30
balagens de papel e papelão, plástico, alumínio, das. No entanto, até a data de publicação deste
aço, vidro, ou ainda pela combinação desses relatório, a segunda fase do AS ainda não havia
materiais, dispostas em aterros, até 2018. Para sido oficializada.
isso, o AS previu a implantação do sistema em O relatório de desempenho da Fase I do
duas fases. Na Fase I, levou ações de coleta às sistema de logística reversa de embalagens em
12 capitais do país que sediaram jogos da Copa geral35 (2017) aponta que, como resultado da
do Mundo de 2014 e suas regiões metropolita- aplicação dos R$ 2,8 bilhões, a taxa de recupe-
nas, por meio do fortalecimento/estruturação ração de materiais foi ampliada em 2,4% – de
das cooperativas de catadores de materiais 29,5% em 2015 (período da assinatura do
recicláveis e reutilizáveis e do aumento do nú- AS), passando para 31,9% em 2017 –, o que
mero de pontos de entrega voluntária (PEVs). demostra o investimento de R$ 1,2 bilhão para
A partir dos resultados obtidos com a imple- o incremento de 1% na taxa de recuperação
mentação da Fase I, as empresas analisariam os de materiais. Ainda como resultado, apresenta
principais obstáculos encontrados e traçariam que, no mesmo período (entre 2015 e 2017),
estratégias para a realização da Fase II, que foi observada redução de 3% (18,3-21,3%) das
consiste na ampliação das medidas previstas embalagens destinadas ao aterro (não mencio-
na Fase I para os municípios a serem definidos na termos da disposição final ambientalmente
numericamente e geograficamente com base adequada ao citar “aterro”).
nos critérios apresentados pelas empresas. Em Na observação dos resultados apresentados,
no máximo 90 dias após o encerramento da chama atenção o extraordinário investimento
Fase I, a Coalizão se comprometeu a apresentar realizado face a um baixíssimo índice de re-
ao MMA o plano de implantação da Fase II, mo- cuperação dos materiais: 0,5% a.a. Esse per-
mento no qual as metas deveriam ser repactua- centual sequer está em linha com os resultados

Foto: Instituto Mar Urbano / Ricardo Gomes

31
apresentados pelos municípios no SNIS-RS tamente todas as embalagens de aço, alumínio,
(2018) – que indicou 0,1% de incremento na papel, papelão, plástico e vidro em cada um
recuperação de recicláveis secos entre os anos dos municípios do Acre, providenciando sua
2016 e 2018, com uma redução de 1,6% da destinação final adequada (Ação Civil Pública nº
massa recebida em unidades de processamento 9999999-99.2019.8.01.9999).
de resíduos sólidos. O Ministério Público do Estado do Paraná
Diferentemente dos outros acordos se- (MPPR), por meio do Centro de Apoio Opera-
toriais pactuados e implantados, o Acordo cional às Promotorias de Justiça de Proteção
Setorial de Embalagens em Geral tem sido con- ao Meio Ambiente e de Habitação e Urbanis-
testado em sua eficácia pelo Ministério Público mo – CAOPMAHU, instaurou Procedimento
em vários estados. O Ministério Público do Administrativo (MPPR nº 0046.19.004508-1)
Estado do Acre (MPAC), alegando insuficiência para apurar o cumprimento da obrigação legal
no AS firmado, propôs ações civis públicas nos relacionada à implantação de sistemas de
22 municípios do Acre contra as associações logística reversa. Segundo o MPPR, não foram
signatárias do acordo, fundamentadas no des- identificadas ações, medidas e procedimen-
cumprimento da PNRS, na medida em que não tos relativos ao tema da logística reversa das
cumpriram as obrigações legais referentes à embalagens em geral no estado do Paraná, ou,
implementação de sistema de logística reversa se existem, são insuficientes.
nos municípios do estado. Como pedido liminar, Ainda, tramita na 26ª Promotoria de Justiça
requereu que as rés passem a recolher imedia- do Estado de Mato Grosso do Sul, o Inquérito

Foto: Instituto Mar Urbano / Ricardo Gomes

32
Civil nº 06.2016.00000122-8, que versa sobre co pós-industrial ou pré-consumo), sua recicla-
a não implementação da obrigação de logística gem se dá na própria indústria transformadora
reversa pelo setor de embalagens, o qual cita ou são vendidos a uma recicladora.
que a situação tem causado prejuízos ao meio A primeira etapa da cadeia de reciclagem
ambiente, aos cofres públicos e aos catadores dos plásticos oriundos dos RSU é a segre-
de materiais recicláveis. Consta no relatório gação na fonte geradora (domicílios, estabe-
que, com o descumprimento da lei, as empresas lecimentos comerciais/comércios em geral e
estão lucrando indevidamente sobre o trabalho prestadores de serviços) e a disponibilização
dos catadores, que não têm sido remunerados desses materiais à coleta.
por separar os materiais, trabalho que deveria Há uma importante distinção de fontes
ser feito pelas próprias empresas – ou, então, geradoras em função dos volumes gerados
mediante remuneração aos catadores. (pequeno ou grande gerador), cujos limites de
Conforme se percebe, o AS de Embalagens geração são definidos normalmente por legisla-
em Geral, tal como foi concebido e firmado, ção municipal ou são estabelecidas nos respec-
não logrou êxito em sua implantação, fato que tivos Planos Municipais de Gestão Integrada
necessitará ser observado para o não compro- de Resíduos Sólidos. Esse enquadramento é o
metimento da Fase II. que vai definir as responsabilidades no manejo
dos resíduos sólidos gerados. Via de regra, cabe
ao grande gerador garantir a segregação dos
CADEIA DE RECICLAGEM DE PLÁSTICO resíduos gerados e destiná-los adequadamente.
São exemplos de grandes geradores de resí-
A cadeia de reciclagem de plásticos oriun- duos sólidos: shoppings centers, restaurantes,
dos dos resíduos sólidos urbanos constitui-se espaços comerciais de prestação de serviços,
como uma hierarquia, contemplando diversas condomínios, entre outros.
etapas e múltiplos atores, desde geradores; Ao grande gerador cabe a opção de con-
prefeituras municipais que prestam os servi- tratar os serviços ofertados pelos municípios
ços públicos de limpeza urbana e de manejo – que poderá ser na modalidade porta a porta
de resíduos sólidos, seja por via direta ou (PP) ou por meio de Postos ou Pontos de
contratada; organizações de catadores; reci- Entrega Voluntária (PEVs) – ou contratar os
cladores; sucateiros; operadores de aterros serviços ofertados pela iniciativa privada. A
sanitários; empresas de gerenciamento de coleta poderá se dar igualmente na modalidade
resíduos sólidos; além, é claro, da indústria da PP ou por meio de PEVs, desde que a iniciativa
reciclagem e transformação (FIGURA 9). A maté- privada disponha e oferte essas modalidades
ria-prima que alimenta a cadeia é constituída na operacionalização dos serviços. Ao pequeno
sobretudo por embalagens elaboradas a partir gerador cabe disponibilizar os resíduos segrega-
de diferentes resinas, que geralmente pos- dos para a coleta ofertada pelos municípios por
suem alto grau de contaminação por matéria meio dos serviços públicos de limpeza urbana
orgânica, elementos como rótulos, lacres, e de manejo dos resíduos sólidos (LUMRS). São
tintas de impressão etc. exemplos de pequenos geradores: domicílios,
Para os resíduos proveniente de aparas e do pequenos comércios, prestadores de serviços
processo de transformação de produtos (plásti- individuais, entre outros.

33
34
Etapas
Coleta Escala 1
Segregação e Escala 1
Geração de Resíduos Triagem/ (aquisição de Transformação
Consumo disponibilizaçao (aquisição de Beneficiamento Reciclagem
resíduos Sólidos beneficiamento volumes) plástica
para a coleta volumes)
Urbanos

Atores
Iniciativa Cooperativas
privada - e associações
modalidade de grande
Domicílios porta a porta porte
ou PEVs

Elaboração: Giral Viveiro de Projetos / Revisão: SMA Ambiental


Cooperativas/
associações
Resíduos Cooperativas/ (médio porte)
Pequenos segregados associações
e grandes de catadores
e dispostos
de materiais
geradores para a recicláveis Cooperativas/
(residências, coleta
pequenos associações
Comércio comércios, (pequeno

LUMRS= Limpeza Urbana e Manejo dos Resíduos Sólidos AS=Aterro Sanitário


em geral condomínios, porte)

Sucateiros
shopping Serviços

(ferros-velhos)
centers, Públicos de
Beneficiadores
Indústria de transformação

serviços LUMRS Empresas de


públicos etc.) (coleta direta
Grandes sucateiros

gerenciamento
ou contratada) de resíduos
Indústria de reciclagem

- modalidade sólidos
porta a porta
ou PEVs

Resíduos
não Catadores
Prestadores
segregados autônomos
de serviços
e dispostos Catadores
para a coleta autônomos
Segregação mecânica em AS
FIGURA 9. Esquema geral das etapas da Indústria de Recuperação de Materiais Plásticos

PEV = Postos, locais ou pontos de entrega voluntária


Se o resíduo for descartado junto com os em pontos específicos ou também na
demais RSU, terá como destino final aterros sa- modalidade PP, por meio de equipamen-
nitários ou lixões (a depender da opção adotada tos diversos, a depender do tamanho da
nos municípios), onde permanecerá por séculos cooperativa/associação;
com impactos que vão além do fechamento ou
● por catadores informais, que coletam os
desativação dessas áreas de destino final. Porém,
resíduos secos segregados ou não e trans-
uma das maiores preocupações é o abandono de
portam os resíduos coletados em equipa-
resíduos. Por qualquer motivo, tanto os grandes
mentos mais precários (carrinhos, carroças,
como os pequenos geradores podem abandonar
bicicletas etc.). Nesse caso, são seleciona-
seus resíduos em terrenos baldios, cruzamentos
dos materiais leves e com maior valor de
de vias públicas, valas de processos erosivos,
mercado – como PETs, latas de alumínio
locais abandonados, margens de rios e cursos-
e frascos de produtos de limpeza – e
d’água etc., o que faz com que esses resíduos
resíduos de plásticos de uso único (des-
alimentem os impactos ambientais e promovam a
cartáveis, sacolas e embalagens flexíveis)
poluição que se necessita combater.
não coletados que seguem ao destino final
No entanto, se o resíduo for segregado e
juntamente com os demais RSU.
disponibilizado à coleta seletiva, poderá, em
alguma medida, tornar-se resina reciclada. Há ainda a segregação diretamente em ater-
ros sanitários, além de catadores informais que
realizam a catação nos lixões.
A coleta do que foi segregado e disponibilizado Após a coleta, o material é recebido em
pode se dar de diversas maneiras: centros ou centrais de triagem, operados por
cooperativas ou associações de catadores,
● de forma seletiva, realizada pelos municí- apoiados ou não pelos municípios. A triagem e
pios, seja na modalidade de prestação di- o beneficiamento dos resíduos coletados são
reta dos serviços com efetivo próprio dos realizados na forma manual ou mecânica, na
municípios, ou na modalidade contratada qual são descontaminados (retirada de tampas,
(efetivo contratado especialmente para a lacres ou rótulos) e separado o plástico por tipo
prestação desses serviços). A coleta é rea- de resina, por cor ou por processo de fabrica-
lizada por equipamentos (caminhões) que ção, em mesas de separação ou esteiras rolan-
recolhem os resíduos secos segregados tes. Nessa etapa, boa parte do resíduo plástico
de porta em porta ou em PEVs públicos coletado acaba sendo descartado e enviado
implantados e em operação; para disposição final – tanto por chegarem con-
taminados com restos de alimentos, produtos
● em PEVs associados à logística reversa
químicos e outros, quanto por não haver ou
de embalagens em geral, cuja coleta é ge-
impedir a viabilidade técnica ou econômica para
renciada pela iniciativa privada, conforme
a reciclagem.
estabelecido no acordo setorial;
No beneficiamento, após triados, os
● por meio da coleta realizada pelas próprias materiais são prensados na forma de far-
cooperativas/associações de reciclagem dos, pesados e vendidos diretamente para a
(contratadas ou não pelas prefeituras) indústria recicladora ou para intermediários

35
de pequeno porte, como sucateiros
(ferro-velho), ou grandes comercian-
AGENTES AMBIENTAIS:
tes de sucata (grande porte). Esses
OS CATADORES DE MATERIAIS
recebem os resíduos dos PEVs e das
RECICLÁVEIS
cooperativas/associações e vendem
por um preço melhor para a indústria O Movimento dos Catadores de Materiais Recicláveis
de reciclagem justamente em função da (MNCR) estima que existam entre 800 mil e 1 milhão
escala (volumes comercializados). No de catadores e catadoras em atividade (formalizados ou
mercado de sucatas, tanto a qualidade não), que são responsáveis pela coleta de 90% de tudo
dos resíduos beneficiados e comerciali- que é reciclado hoje no Brasil¹. Os catadores informais
zados quanto os volumes são determi- realizam parte importante, mas frequentemente não
nantes para uma boa comercialização reconhecida, do sistema de gestão de resíduos.
(alto valor agregado).
A atuação dos catadores contribui para a redução da dis-
Já na indústria recicladora, os resí-
posição final de resíduos reaproveitáveis e do consumo de
duos comercializados passam por uma
matéria-prima virgem. Apesar disso, não são remunera-
nova etapa de beneficiamento, que con-
dos pelo serviço ambiental prestado e sua renda depende
siste na moagem, lavagem para remoção
exclusivamente da comercialização dos materiais coleta-
de sujeiras e contaminantes, secagem e
dos. Como a disponibilidade dos materiais recicláveis não
aglutinação dos plásticos rígido e flexí-
é necessariamente constante e previsível, os catadores e
vel. Na indústria recicladora, o plástico
catadoras estão expostos aos movimentos e oscilações
aglutinado passará por um processo de
da disponibilização dos resíduos para a coleta.
extrusão para formar produtos granu-
lados ou pellets de plástico reciclado. Estima-se que, em 2018, as organizações apoiadas pela
Algumas cooperativas de catadores ANCAT (Associação Nacional dos Catadores e Catado-
podem realizar esse processo de benefi- ras de Materiais Recicláveis) coletaram 26 mil toneladas
ciamento, extrusando ou granulando os de plásticos, equivalentes a 17% do total faturado com
plásticos coletados. todos os resíduos2. O material com maior volume de
Assim como para as resinas plásticas coleta é o papel/papelão devido à demanda desses
virgens, o mercado das resinas recicla- materiais para a reciclagem².
das é composto por empresas transfor-
Quando o resíduo apresenta menor valor de comer-
madoras de produtos plásticos. A aquisi-
cialização, não chega a remunerar a contento as horas
ção da resina reciclada é feita, na maioria
dos trabalhadores dedicados aos serviços de coleta e
dos casos, por empresas transformado-
beneficiamento. Sendo assim, na prática, as cooperati-
ras de produtos plásticos que, por sua
vas buscam trabalhar com um mix de resíduos consti-
vez, atendem as demandas das empresas
tuído prioritariamente por aqueles de maior valor.
dos diferentes segmentos de mercado.
Há casos em que a aquisição da resina 1 M
 ovimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis disponível
em http://www.mncr.org.br/sobre-o-mncr/duvidas-frequentes.
reciclada é feita diretamente pelos brand
2 Anuário da Reciclagem 2017-2018. Disponível em: https://ancat.org.
owners, que repassam a matéria-prima
br/wp-content/uploads/2019/09/Anua%CC%81rio-da-Reciclagem.pdf
para um reciclador contratado.

36
GERAÇÃO E COLETA DE RESÍDUOS DE
PLÁSTICOS NO BRASIL

Os dados de geração, coleta, reciclagem e De acordo com a Organização das Nações


destinação dos resíduos de plásticos consistem Unidas (ONU Meio Ambiente), em 2018 a
em informações bastante complexas, principal- geração de resíduos nos países da América
mente devido às diferentes metodologias de Latina e Caribe foi de aproximadamente 1,0 kg/
cálculo e fontes de dados utilizadas no Brasil. hab./dia37. Considerando que a massa coletada
As fontes se diferenciam por contar com dados no Brasil foi estimada em 0,96 kg/hab./dia e
primários ou secundários em seus respectivos os déficits existentes na cobertura da coleta, é
bancos, por tamanho da amostra efetuada ou por possível estimar que 4% dos resíduos gerados
adotarem regras metodológicas distintas para ainda se encontram dispersos, sem que rece-
contabilização dos dados. O Sistema Nacional de bam um destino final adequado.
Informações sobre Saneamento, em seu compo- É possível inferir a quantidade de resíduos
nente Resíduos Sólidos (SNIS-RS), é a única base plásticos coletados tomando-se como base a
de dados oficial pública e, portanto, foi a principal caracterização gravimétrica dos resíduos sólidos
fonte de informações utilizada neste documento coletados no Brasil. Pela média simples da
para retratar o manejo de resíduos sólidos. composição gravimétrica de 93 municípios bra-
No Brasil, a adoção da nomenclatura sileiros, pesquisados entre 1995 e 2008, o Ipea
“geração” encontra-se amparada na Lei nº estimou que os plásticos compunham 13,5%
12.305/2010 – Política Nacional de Resíduos dos resíduos sólidos coletados no Brasil38. Como
Sólidos (PNRS, artigo 3º, parágrafo IX), que não foram encontrados dados mais atualizados,
estabelece como geradores de resíduos as pes- tomou-se como referência a composição gravi-
soas físicas ou jurídicas, de direito público ou métrica disponível em oito Planos Estaduais de
privado, que geram resíduos sólidos por meio Resíduos Sólidos – AL (2015)39, MA (2012)40, PE
de suas atividades, nelas incluído o consumo. (2010)41, PI (2011)42, RJ (2013)43, RN (2012)44,
O indicador de geração dos resíduos sólidos SC (2014)45 – que considera os resíduos sólidos
não é calculado pelo SNIS-RS, pois supõe que urbanos (domiciliares e de limpeza urbana). Na
a massa efetivamente gerada não deva atingir composição gravimétrica, 16,08% são resíduos
valor muito superior em relação à massa coleta- de plástico (ver Anexo 1), valor pouco acima
da (população urbana), uma vez que, para esta dos dados obtidos pelo Ipea para 1995-2008
população, a cobertura dos serviços de coleta (13,5%). Com base nesse valor, estimou-se que
está próxima à universalização (98,8%). 10,1 milhões de toneladas de resíduos plásticos
De acordo com o Diagnóstico do Manejo foram coletadas no país em 2018, por serviços
de Resíduos Sólidos, em 2018 foram coletadas disponíveis. (FIGURA 10).
62,78 milhões de toneladas de resíduos sólidos Nota-se que a estimativa de 10,1 milhões
urbanos (RSU), das quais 1,67 milhão se deu toneladas de resíduos plásticos do lado da cole-
por meio da coleta seletiva. Em relação à po- ta supera em 35% a produção total de transfor-
pulação total atendida pelos serviços de coleta mados plásticos no Brasil, nos anos de 2018 e
regular ou convencional, a massa coletada de 2019, que foi de aproximadamente 7,4 milhões
RSU foi de 0,96 kg/hab./dia36. de toneladas.

37
FIGURA 10.
Quantidade de resíduo sólido urbano (RSU) coletado no Brasil em 2018 e destinação final nos
anos de 2014 a 2018

Destinação do RSU no Brasil


62,78 100%

milhões 90%
de toneladas 80%
coletadas - 2018
70% 66,4% 71,3% 72,1% 74,1% 74,4%
60%
50%
40%
30%
32,3% 27,2% 26,3% 24,2%
20% 24,0%
10%

16% PLÁSTICO 0%
2014 2015 2016 2017 2018

Reciclados Disposição final inadequada Aterro sanitário

Fonte: SNIS-RS (2014 a 2018).

A PNRS (art. 3º) considera por destinação 3.468 municípios que participaram do Diag-
final ambientalmente adequada a reutiliza- nóstico do Manejo de Resíduos Sólidos, apenas
ção, reciclagem, compostagem, recuperação e 607 (17,5%) declararam dispor seus rejeitos em
aproveitamento energético e disposição final aterros sanitários. A mesma relação ocorre nos
em aterros sanitários. Enquanto os serviços países da América Latina e Caribe, onde 26%
públicos determinam as formas de coleta dos dos resíduos gerados ainda são destinados aos
resíduos sólidos, é o mercado quem determina lixões, dos quais 12% são resíduos de plásticos.
a sua efetiva recuperação, impulsionando ativi- A coleta seletiva e reciclagem tem uma
dades-meio, principalmente aquelas efetuadas participação muito pequena na destinação
por catadores e cooperativas de reciclagem. do RSU em geral, e pouco se tem evoluído
A maior parte do volume de resíduos coleta- nos últimos anos, indicando que somente por
dos recebe disposição final em aterros sanitá- meio da coleta seletiva não se tem conseguido
rios (74,4% em 2018), ou ainda em lixões (24% atingir índices para reciclar os resíduos gerados
em 2018). De acordo com o SNIS-RS, a desti- conforme determinou a PNRS. Um fator que
nação final em lixões ainda é uma realidade em contribui para índices tão baixos é que 62% dos
grande parte dos municípios brasileiros. Dos municípios brasileiros ainda não contam com

38
um sistema estruturado de coleta seletiva. das quais 280 mil toneladas são resíduos de
A participação formal de catadores na coleta plásticos (22,6%).
seletiva em parceria com o poder público repre- No entanto, como os resíduos de plásticos
sentou 30,7% do total das toneladas coletadas são retratados nas políticas públicas como
seletivamente em 2018. Segundo o Anuário da uma parcela ou fração dos resíduos sólidos
Reciclagem 2017-2018, foram apontadas 1.232 urbanos, o SNIS-RS não contempla dados ou
organizações de catadores no país, distribuídas informações sobre a efetiva reciclagem desses
por 827 municípios, com mais de 27 mil catado- materiais – dados obtidos a partir da indústria
res vinculados a essas entidades – associações de reciclagem - e os dados referentes à massa
ou cooperativas. recuperável é de aproximadamente 30% dos
municípios brasileiros.
Já os dados do estudo PICPlast retrataram
RECICLAGEM DOS RESÍDUOS
que o país gerou um total de 3,4 milhões de
DE PLÁSTICOS
toneladas de resíduos plásticos e que foram
Os dados sobre reciclagem de resíduos efetivamente recicladas 757 mil toneladas de
de plásticos divulgados no país são bastante resíduos plásticos, com uma taxa de recicla-
divergentes, principalmente devido às diferen- gem de 22,1%. O estudo não apresenta a
tes bases de dados e metodologias utilizadas metodologia e origem dos dados de geração
em seus cálculos. De acordo com o SNIS-RS de resíduos obtidos. 46
(2018), somente 4% dos resíduos disponibiliza- Tendo em vista os diferentes percentuais
dos à coleta são coletados seletivamente encontrados nas diversas bases de dados
(a cada 10 kg disponibilizado, apenas 411 disponíveis, e as diferenças entre os indicado-
gramas são coletadas de forma seletiva). res retratados, torna-se necessário consolidar
Indica que a parcela de materiais poten- uma base única de dados que realmente refli-
cialmente recicláveis presente nos RSU pos- ta as condições da recuperação de plásticos
sa ser de 30% e que a massa recuperada de no país, com transparência. Assim, será possí-
recicláveis secos em relação à massa total vel aferir a real capacidade das indústrias na
de recicláveis secos presentes nos RSU é de recuperação dos resíduos plásticos colocados
7,3%. Apresenta que a taxa de recuperação de no mercado de consumo, assumindo suas
materiais recicláveis (exceto matéria orgânica e responsabilidades.
rejeitos) em relação à quantidade total de RSU Os resíduos de plástico de uso único, sobre-
coletada é de 2,2% e que 22,6% dessa parcela é tudo as embalagens, compõem a maior parte
atribuída aos plásticos. do volume de plástico efetivamente reciclado
Diante dos índices apresentados e da massa – 694 mil toneladas, ou 91,6%. Do total de
coletada registrada para o ano de 2018 (62,78 resíduos plásticos de uso único reciclados em
milhões de toneladas), é possível estimar que 2018 (694 mil toneladas), 48% foi transformado
1,26milhões de toneladas (2,2%) foram re- em PET, 20% transformado em PEAD, 17% em
cuperadas por programas de coleta seletiva, PEBD/PELBD e 14% em PP (FIGURA 11).

39
FIGURA 11.
Participação dos materiais de uso único na indústria de reciclagem, em 2018

PP
PS
14% 1%

LDPE
17%

694 MIL
TONELADAS

HDPE
20% PET
48%

Fonte: Banco de dados Maxiquim (2020), contratado pela Giral Viveiro de Projetos, e pesquisa primária com análises estatísticas

As resinas de PET e do PE (PEAD e PEBD-L) atendem às demandas das empresas dos dife-
têm bastante relevância nos mercados de ma- rentes segmentos de mercado. Ainda segundo
teriais secundários. Elas representam fatia do dados do estudo do PICPLast, elaborado pela
mercado de 48% e 37%, respectivamente. Maxiquim, quando se trata da totalidade da
O PET é o material de maior preço médio e com indústria de reciclagem plástica, não somente
maior atratividade para a reciclagem devido à da parcela de plásticos de uso único, tem-se
sua disponibilidade, trazendo maior previsibili- a seguinte distribuição por setores: 18% do
dade aos catadores quanto ao preço de venda. plástico reciclado é utilizado pela indústria de
As outras resinas apresentam grande variedade higiene pessoal e limpeza doméstica, 13% na
nos preços pagos, dando maior imprevisibilida- construção civil, 10% no segmento de bebidas,
de na receita de venda do material. Essas varia- 9% no segmento de vestuário e têxtil e 9% em
ções de preço dizem respeito muitas vezes à di- utilidades domésticas.
versidade da qualidade dos resíduos recicláveis Historicamente, a utilização de resinas reci-
(cor e composição, por exemplo) disponíveis, o cladas pela indústria de transformação de plás-
grau de pureza dos resíduos e o interesse do ticos é efetuada pela compensação financeira
mercado comprador nesses produtos. em adquirir uma matéria-prima mais barata para
A aquisição da resina reciclada é feita na a fabricação de produtos que não exigem alta
maioria dos casos por empresas transforma- performance. Ou seja, em produtos de menor
doras de produtos plásticos, que, por sua vez, valor agregado e que não possuem requisitos

40
técnicos avançados, a utilização de resinas reci- resina reciclada e de baixo valor agregado foram
cladas é uma alternativa financeiramente mais desenvolvidas e hoje estão bem estabelecidas.
rentável e por isso é escolhida em detrimento São elas: sacos de lixo, cerdas de vassouras,
da resina virgem oriunda da petroquímica. galões de produtos de limpeza doméstica
Dessa forma, algumas aplicações clássicas para (água sanitária), lonas etc. (TABELA 4).

TABELA 4.
Principais mercados demandantes dos produtos
provenientes da indústria de reciclagem de plástico de uso único

RESINA RECICLADA SETOR DEMANDANTE/MERCADO PRINCIPAIS APLICAÇÕES

Higiene pessoal e limpeza doméstica Frascos de produtos e cerdas de vassoura

Bebidas Garrafas

PET Vestuário/Têxtil Fio de poliéster, fibras e cordas


(politereftalato
de etileno) Alimentos Embalagens laminadas, frascos e garrafas

Automobilístico Fibra para cintos de segurança e tapetes de veículos

Transporte/Industrial Fitas de arquear

Descartáveis Sacos de lixo e sacolas, plásticos bolha

Agroindústria Lonas, mangueiras para irrigação

Higiene pessoal e limpeza doméstica Tampas de produtos, embalagens secundárias flexíveis


PEBD/L
(polietileno de baixa Tubos, eletrodutos, conduítes, tapumes,
Construção civil
densidade linear) baldes, sacos para areia

Banquinhos, mesas, cadeiras, floreiras,


Móveis
plástico bolha e filmes para embalagem

Industrial Filmes flexíveis para paletização e unitização

Construção civil Mangueiras corrugadas, tubulações, conexões

Lonas, embalagens para defensivos


Agroindústria
agrícolas e mangueiras de irrigação

Higiene pessoal e limpeza doméstica Frascos e embalagens secundárias


PEAD
Industrial Bombonas, caixas, pallets, filmes
(polietileno de
alta densidade) Baldes, bacias, pás, prendedores de
Utilidades domésticas
roupas, cabides, suportes

Descartáveis Sacos de lixo e sacolas

Madeiras plásticas para deques e pergolados,


Infraestrutura
bancos de praças, jardins e áreas de lazer

41
RESINA RECICLADA SETOR DEMANDANTE/MERCADO PRINCIPAIS APLICAÇÕES

Utilidades domésticas Baldes, bacias, lixeiras, prendedores de roupas

Carrinhos, bonecas, baldes e pás de


Brinquedos
areia e embalagens secundárias

Automotivo Peças automotivas de 2ª linha, como para-choques


PP
(polipropileno) Industrial Caixas, pallets, filmes

Eletrodomésticos & eletroeletrônicos Componentes eletrônicos de 2ª linha, carcaças

Móveis Mesas, cadeiras, puxadores

Construção civil Tomada, interruptor, caixas elétricas

Fonte: Banco de dados Maxiquim, contratado pela consultoria Giral Viveiro de Projetos

Portanto, a maior parte do plástico subme- FIGURA 12.


tido ao processo de reciclagem criará pro- Destino dos resíduos de embalagens plásticas em
dutos de qualidade inferior e de baixo valor escala global, com base na geração de resíduos de
agregado em comparação ao produto original. embalagens de plástico geradas em 2015
Esse é o caso de muitas embalagens, que ge-
ralmente são difíceis de reciclar em decorrên- 14%
cia do material que as compõe (multicamadas, 14% Incinerado
Reciclado
polímeros com baixa reciclabilidade) ou pela
falta de mercado. 141 milhões
de toneladas de
Em escala global e com dados de 2015, resíduos de
estima-se que apenas 14% das embalagens embalagens de
plásticos
plásticas foram enviadas para a reciclagem47
(FIGURA 12). A maior fatia – 72% – não é
32% em 2015
40%
Despesas do Aterros
“recuperada” e os dados confirmam que não meio ambiente sanitários
se recicla tanto quanto se espera. Dos 14%
de todas as embalagens de plástico coletadas
para reciclagem em 2015, apenas 2% foram 8%
efetivamente recicladas em produtos de Reciclado
valor igual ou superior (upcycled), 4% foram para produzir 4%
aplicações de Perdas de
contabilizadas como perdas nos processos e menor valor processo
8% foram transformadas em um produto de 14%
plástico de menor valor (downcycled). Portan- Reciclado
to, é possível afirmar que apenas 2% do total
2%
de resíduos de embalagens plásticas foram, Efetivamente
de fato, reciclados48. reciclado

Fonte: World Economic Forum, Ellen MacArthur Foundation and McKinsey


& Company, The New Plastics Economy — Rethinking the future of plastics,
(2016,http://www.ellenmacarthurfoundation.org/publications)

42
POR QUE RECICLAMOS TÃO POUCO? Observa-se que as formas adotadas e prati-
cadas para possibilitar a gestão e o gerenciamen-
Em 2018, pelo menos 77,9% dos resíduos to dos resíduos sólidos no Brasil não têm sido
plásticos gerados no Brasil não foram acessados e suficientes para alavancar as taxas de reciclagem
tampouco aproveitados pela indústria de reci- e diminuir o impacto ambiental causado pelo
clagem. São inúmeros os fatores relacionados à descarte inadequado dos resíduos. No entanto,
ineficiência da reciclagem de plásticos no Brasil. esse não é um problema exclusivo da gestão
A imensa variedade de produtos e emba- ou do gerenciamento de resíduos, mas sim da
lagens colocados no mercado, compostos por velocidade de produção e do consumo desses
diferentes polímeros, e diversificados índices de materiais que não tem sido acompanhada por
reciclabilidade tornam o gerenciamento desses investimentos em tecnologias inovadoras desde
materiais bastante complexo. A diversidade o estágio de concepção e desenvolvimento dos
de propriedades e composições dos resíduos produtos e consumo até sua recuperação ou
de PE e PP, por exemplo, incluindo uma boa reciclagem. Essa falha permite a produção e o
parcela de plásticos flexíveis, dificulta a coleta, consumo de grandes quantidades de plásticos a
segregação e reciclagem. A variação de qualida- preços muito baixos, inclusive porque a produ-
de das resinas recicladas produzidas complica o ção não internaliza os custos da poluição e seus
desenvolvimento de mercados e restringe sua efeitos para o ambiente e a saúde humana.
aplicação na composição de novos itens. Essas Como a indústria produtora e usuária de
características tornam a demanda pelos resí- plásticos em seus produtos se exime da respon-
duos mais restrita, dificultando e inviabilizando sabilidade de reduzir ou reorientar sua produção
sua comercialização. e oferta desses materiais ao consumo, transfere
para a sociedade toda a externalidade negativa
causada pelo consumo, inclusive responsabili-
A maior parte do plástico de uso único não zando-a pela destinação final dos resíduos, com
será reciclada simplesmente porque não alternativas precárias da separação doméstica e
foi projetada para ser reciclada ou requer disposição à coleta seletiva desses resíduos.
especificidades no manejo não previstas
no seu gerenciamento. Esse é caso dos INTERESSE DO SETOR DE RECICLAGEM EM
produtos descartáveis, como copos, pratos MATERIAIS PLÁSTICOS DE USO ÚNICO
ou talheres, que não foram contemplados
nos sistemas de logística reversa, tampou- O universo de itens plásticos de uso único
co são segregados nas centrais de triagem é bastante diverso, assim, o interesse das coo-
porque não há interesse dos catadores perativas e associações de catadores é variável
ou do mercado para sua reciclagem. Para em relação aos diversos tipos de materiais
esses produtos, assim como para muitas disponíveis (TABELA 5). Há que se levar em conta
outras embalagens, a reciclagem não é que o mercado desses materiais sempre estará
uma opção viável e, como resultado, esses condicionado à existência de compradores que
resíduos acabam se tornando rejeitos e, operam em um raio viável de entrega (os custos
consequentemente, poluição. com transporte de materiais recicláveis são
bastante significativos em um país continental,
com malha viária restrita a rodovias).

43
O setor informal de reciclagem é muito cia do PET no contexto de reciclagem no Brasil
hábil em identificar resíduos com potencial se deve principalmente ao seu maior valor
valor de mercado. A margem de lucro é o de mercado quando comparado aos demais
principal critério de seleção para a busca dos resíduos, mas também à sua abundância na
materiais, embora isso também dependa da composição dos resíduos sólidos urbanos e à
acessibilidade, conveniência, facilidade de facilidade de sua identificação em meio aos
transporte e manuseio49. Por isso, a relevân- outros componentes dos RSU.

TABELA 5.
Principais critérios para busca de resíduos recicláveis
plásticos por catadores, suas cooperativas e associações

PROXIMIDADE TERRITORIAL Materiais devem possuir cadeia viável de destinação. Precisam


DOS COMPRADORES contar com comprador(es) num raio economicamente
DE RECICLÁVEIS viável para transporte/entrega desses materiais.

Contaminação pode existir desde que não inviabilize a qualidade final do


produto e seu manuseio. Se a embalagem plástica é colocada no mercado
PUREZA E RECICLABILIDADE contendo vários tipos de plásticos (embalagens multimaterial), selos de
alumínio, rótulos de papel, entre outros, as partes devem ser segregáveis. A
composição dos produtos (aditivos e cores) pode afetar a reciclabilidade.

FACILIDADE DE ADENSAMENTO/ O mais compacto/compactável possível, viabilizando uma maior


COMPACTAÇÃO produtividade no transporte (distâncias percorridas) dos catadores.

FACILIDADE DE IDENTIFICAÇÃO Deve ser passível e de fácil distinção de outros materiais


DO MATERIAL NA TRIAGEM semelhantes nas condições de processo.

QUANTIDADE DISPONÍVEL O tempo requerido para a escalabilidade do material deve ser o menor
E AGILIDADE NA possível, com o emprego de menor capital de giro. Tempo longo
FORMAÇÃO DE CARGAS requer área para armazenamento e maior controle de pragas.

PREÇO DO MATERIAL
Quanto maior o preço dos materiais, maior o interesse do
RECICLÁVEL (MARGEM DE
catador e melhor valor obtido por distância percorrida.
LUCRO POTENCIAL)

Elaboração: Giral Viveiro de Projetos, com base em entrevista a cooperativas de reciclagem na região Sudeste do Brasil.

Uma característica intrínseca e comum a to- a sua escolha preferencial em várias aplicações,
dos os tipos de plásticos que dificulta a triagem e incluindo os itens de uso único. No entanto,
o beneficiamento por cooperativas e associações essas mesmas características – leveza e resistên-
de catadores, comparado com outros materiais cia – são desafios para os catadores no que diz
recicláveis, é a sua leveza. O fato de o plástico ser respeito à escala ou acúmulo do material plástico
um material leve e resistente é diferencial para (massa) e seu adensamento/compactação.

44
De forma geral, o interesse dos catadores grandes as dificuldades para se conformar volu-
por resíduos de plásticos de uso único depende mes comercializáveis (TABELA 6).
exclusivamente da existência de mercado e As exceções são os itens descartáveis
pode ser classificado em três categorias: sem fabricados em polipropileno (PP), que podem
interesse, baixo interesse e alto interesse. Al- ser acondicionados/enfardados juntamente
guns itens descartáveis normalmente desper- com demais itens de PP, e alguns tipos de
tam baixo ou nenhum interesse dos catadores, sacolas plásticas – aquelas que não levam
pois, apesar de existir potencial mercado, são aditivos oxidegradáveis.

TABELA 6.
Categorização do interesse dos catadores em relação aos produtos descartáveis

PRODUTOS DESCARTÁVEIS

SEM INTERESSE BAIXO INTERESSE ALTO INTERESSE

Talheres Sacolas (com aditivos oxidegradáveis)


Sacolas (sem aditivos oxidegradáveis)
Canudos Copos de PS e EPS
Copos e pratos de PP
Misturadores de bebidas Pratos de PS

PS = Poliestireno, EPS = Poliestireno expandido, PP = Polipropileno. Elaboração: Giral Viveiro de Projetos, com base em entrevista a cooperativas
de reciclagem da região Sudeste do Brasil.

No caso específico das sacolas plásticas, chegam às unidades de triagem. Portanto, não
observa-se desde a coleta seu efeito negativo apresentam valor na cadeia de reciclagem, não
na cadeia da reciclagem face à incorporação de geram renda para os catadores e sobrecarre-
aditivos oxidegradáveis. A presença desses aditi- gam o trabalho de triagem com a diminuição da
vos afeta a qualidade da resina reciclada, mesmo produtividade na etapa de separação nas mesas
que esteja presente em pouca quantidade, o que e esteiras, onerando. inclusive, os catadores
afetou o interesse dos compradores de materiais que devem arcar com os custos da destinação
recicláveis por essas sacolas e, consequentemen- final desses materiais.
te, refletiu-se no preço pago às cooperativas. Ainda com relação às embalagens plásticas
Ainda, um ponto de extrema relevância para (TABELA 7), as garrafas PET nas cores cristal (in-
os descartáveis é que itens plásticos menores – color) e verde são os itens que se destacam em
em dimensão e peso –, como talheres, mistu- relação ao interesse dos catadores, juntamente
radores de bebidas e canudos, que não são de com as embalagens rígidas e flexíveis mono-
interesse dos compradoresnem dos catado- materiais (elaboradas com um único material)
res. Esses materiais são descartados quando – tanto de PEAD quando PP.

45
TABELA 7.
Categorização do interesse das cooperativas em relação às embalagens plásticas de uso único

EMBALAGENS PLÁSTICAS DE USO ÚNICO

SEM INTERESSE BAIXO INTERESSE ALTO INTERESSE

Bandejas espumadas (EPS)


Embalagens termoformadas de PVC Garrafas PET cristal e verde
Embalagens termoformadas de PET
Garrafas multicamadas de PET Embalagens flexíveis PEAD
Garrafas PET coloridas
Embalagens flexíveis multimateriais Embalagens rígidas PEAD e PP
(âmbar, vermelha, azul)

PVC = Policloreto de vinila, PET = Politereftalato de etileno, EPS = Poliestireno expandido, PEAD = Polietileno de alta densidade, PP = Polipropileno. Elaboração:
Giral Viveiro de Projetos, com base em entrevista a cooperativas de reciclagem na região Sudeste do Brasil.

Entre os materiais de menor interesse do-se as verdes e cristal – despertam também


estão também as bandejas espumadas de um baixo interesse dos catadores em função
EPS (isopor), crescentemente utilizadas como dos pequenos volumes encontrados, o que
embalagens para delivery de alimentos. Além dificulta sua comercialização e, por essa razão,
de difícil agregação, por serem materiais são pouco valorizadas.
muito leves, em geral, seguem para o lixo Dentre os materiais que não despertam
com muitos contaminantes orgânicos (restos nenhum interesse dos catadores e cooperativas
de alimentos), dificultando seu manuseio estão as embalagens termoformadas de PVC,
e requerendo o controle de pragas. O EPS as garrafas multicamadas de PET (leite) e as em-
apresenta uma peculiaridade que restringe balagens flexíveis multimateriais, em função do
o interesse dos catadores: dependem de mercado restrito para sua reciclagem. Portanto,
tecnologia muito específica para sua recicla- quem determina a destinação final ambien-
gem. No Brasil, essa tecnologia é restrita e talmente adequada dos resíduos é a demanda
não está disponível em todas as regiões do por materiais (mercado) que dependem de sua
país (acesso), por essa razão, grande parte do efetiva utilização pela indústria.
material descartado não é reciclado de fato. As mesmas propriedades que tornaram os
As embalagens termoformadas de PET plásticos tão úteis também tornam os resíduos
despertam um interesse reduzido a partir do um problema para a gestão e uma ameaça am-
momento em que são confundidas com emba- biental, à saúde humana e à de cidades e países.
lagens termoformadas feitas de PVC. Surge daí Sua durabilidade significa que eles persistem
uma dificuldade para a distinção destes dois no ambiente por séculos, e sua baixa densidade
materiais – PET e PVC – nas esteiras de tria- significa que são facilmente dispersos pela água
gem. As garrafas de PET coloridas – excetuan- e pelo vento até chegarem ao mar.

46
47
Foto: shutterstock
4.
POLUIÇÃO MARINHA
POR PLÁSTICO
NO BRASIL

A poluição marinha por plásticos não é um lados. Entre 4,8 e 12,7 milhões de toneladas de
problema recente. A comunidade científi- plástico chegam ao ambiente marinho todos os
ca começou a documentar sua presença e anos, sendo 8 milhões de toneladas o quantita-
impactos no oceano já na década de 197050, tivo mais utilizado57.
com a descoberta de plástico no trato A maioria desses poluentes que é despejado no
digestivo de tartarugas marinhas51 e aves oceano vem de fontes terrestres58 (FIGURA 13)
marinhas na Nova Zelândia52, Canadá53 e e seu transporte pode se dar de diversas maneiras:
em papagaios-do-mar no Atlântico Norte54.
Também há registros de que os fabricantes
i. O lixo plástico descartado diretamente nas
de combustíveis fósseis e plásticos já esta-
ruas, praias e estradas será levado pelo
vam cientes do problema nos anos 1970 e já
sistema de drenagem de água e esgoto e
participavam de conferências para discutir
pode ser lançado no mar por um emissário
esse problema nos oceanos55.
ou pela rede de esgoto.
A partir dos anos 2000, o acúmulo de evi-
dências chegou ao ponto de alarmar não ape- ii. O descarte do lixo plástico diretamente em
nas a comunidade científica, mas a sociedade córregos e rios, que transportarão o lixo
como um todo. Notícias e relatórios alertavam até o mar através de suas bacias hidrográ-
sobre as grandes ilhas de plástico flutuante no ficas, ou em áreas costeiras como mangue-
meio do oceano56. Em 2015, um estudo condu- zais, onde o lixo poderá ser levado pelo
zido por uma equipe de cientistas liderada por movimento da maré.
Jenna Jambeck, professora na Universidade da
iii. A ação do vento e de chuvas poderá trans-
Geórgia (EUA), quantificou o volume de plástico
portar o plástico disposto em lixões para cór-
que entra no oceano com base no volume de
regos ou rios que desembocam no oceano.
resíduos que são mal gerenciados, incluindo
resíduos descartados diretamente no ambiente iv. Produtos plásticos transformados que po-
ou destinados para lixões e aterros não contro- dem se perder no processo e no transporte.

49
FIGURA 13.
Principais fontes e meios de transporte do resíduo plástico de
origem terrestre até o mar

COMO O PLÁSTICO PODE CHEGAR NO MAR?

O lixo plástico nas ruas chega Vento e chuva podem Produtos industriais podem ser
no sistema de drenagem e transportar resíduos descartados inadequadamente
pode ser lançado no mar plásticos de lixões para ou perdidos durante o
através de emissários córregos e rios processo e o transporte

Segundo dados do último censo do Instituto receber grandes volumes de resíduos.


Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em Essencialmente, quando o plástico chega
2010, cerca de 26,5% da população brasileira ao oceano, ele flutua na superfície ou afunda. À
vivia no litoral, algo em torno de 50 milhões de medida que o plástico se desgasta pela luz do sol
pessoas à época59. O país é cortado por incontá- ou pela ação da água salgada, ele se decompõe
veis rios que compõem 12 bacias hidrográficas em pedaços menores e é ingerido pela vida mari-
– incluindo a maior do mundo, a Bacia Amazôni- nha61. Estima-se que existem, pelo menos,
ca –, que contribuem para levar o resíduo plásti- 5 trilhões de pedaços de plástico no oceano62
co até o Oceano Atlântico60. Embora o país não (FIGURA 14), dos quais cerca de 94% está abaixo
tenha um número significativo de lixões próxi- da superfície63. A maior parte do plástico que
mos ao mar, como ocorre no sudeste asiático, está disperso consiste em pedaços pequenos de-
há mangues e igarapés tomados por ocupações mais para serem coletados por limpezas de praia
irregulares e lixo, e inúmeras cidades e povoa- ou em alto mar. E esse número só deve aumentar
dos à beira de corpos-d’água que acabam por à medida que o plástico continua a ser produzido.

50
FIGURA 14.
Quantidades estimadas de plástico nas principais áreas marinhas,
em bilhões de itens (adaptado de Plastic Atlas (2019))

324 532

85 146
2 73
688 1160
Oceano
Atlântico Norte 0,4 16
930 bilhões
3 132
de itens Mar
Mediterrâneo Oceano
247 bilhões 85 146 Pacífico Norte
176 269
106 167 de itens 1.990 bilhões
de itens

0,4 16
0,5 24
1 2
Oceano
Oceano Atlântico Sul Índico
Pacífico Sul 297 bilhões 1.300 bilhões
491 bilhões de itens de itens
de itens

Tamanho
Pequenos Grandes
das partículas microplásticos microplásticos
Mesoplástico
4.76 – 200 mm
Macroplástico
> 200 mm
de plástico 0.33 - 1.00mm 1.01 - 4.75mm

Fonte: Lebreton et al (2014)64.

Um estudo publicado na revista Science gerido65. Usando a mesma metodologia e com


– Plastic waste inputs from land into the ocean base em dados de 2018, o Brasil atualmente
(Jambeck et al, 2015) – estimou a quantidade contribui para a poluição marinha por plásticos
total de plástico que entra no oceano, com com 325 mil toneladas de resíduo de plástico
dados de 2010, a partir de resíduos gerados todo ano (FIGURA 15) 2 .
por populações costeiras em todo o mundo. O Essa metodologia considera apenas a
Brasil ficou em 16º lugar no ranking de 20 paí- parcela da população que vive próximo à costa.
ses com maior volume de resíduo plástico mal No entanto, a literatura científica já evidencia o

2 Mais informações sobre a metodologia de cálculo podem ser encontradas no Anexo 1.

51
papel que as bacias hidrográficas têm no trans- Os produtos e as embalagens plásticas des-
porte dos resíduos até o mar66. Sendo assim, é cartáveis estão no centro da discussão sobre
possível que cidades do interior, distantes mais a poluição nos oceanos em razão das incon-
de 50 km da costa, com gestão inadequada de testáveis evidências de que compõem a maior
resíduos também contribuam com a poluição parte do lixo marinho. De forma consistente, as
marinha por plástico através das bacias hidro- limpezas de praia em todo o mundo demons-
gráficas que as drenam, e que o volume de tram que plásticos descartáveis e embalagens
plástico que chega no mar seja ainda maior. são o grande problema.

FIGURA 15.
Contribuição anual do Brasil para a poluição marinha por plásticos e quantidade de itens plásticos
encontrados em limpezas de praia.

325
mil toneladas
de plástico por ano

70%
do itens encontrados
em limpezas de praias:
plásticos

Fonte: Andrades et al (2020) e Jambeck et al (2015)67.

52
21 a 34
Um estudo brasileiro de Andrades e cola-
boradores (2020) realizou o primeiro levan-
tamento sistemático do lixo antropogênico
em 44 praias brasileiras distribuídas ao longo
bilhões
de garrafas PET no
de todo o país. O plástico foi o resíduo mais oceano
encontrado, seguido por pontas de cigarro e
papel68. De acordo com os autores, o escoa- 706 mil a 1,1 milhão
mento pelos rios e estuários é o principal fator de toneladas métricas
para o acúmulo desses resíduos nas praias,
confirmando o papel que as bacias hidrográfi-
cas têm no seu transporte desde o interior do
país até o oceano.
IMPACTOS NA FAUNA MARINHA
Os resultados desse estudo indicam que
BRASILEIRA
70% de todos os itens encontrados nas limpe-
zas de praia são plásticos, sendo as embalagens À medida que o plástico continua a inundar
de alimento o item mais comum. Dados com- nossos oceanos, a lista de espécies marinhas
putados pelo Ministério do Meio Ambiente69 afetadas por detritos se expande. Mais de 800
confirmam que o plástico também foi o item espécies de mamíferos, aves marinhas, peixes e
mais encontrado nas limpezas de praia (46%)3, tartarugas estão sendo impactadas pelo emara-
seguido de bitucas de cigarros (36%). Os de- nhamento em redes de pesca ou pela ingestão
mais 18% são compostos por vidro, madeira, do plástico. É um poluente que afeta toda a
papel, borracha e outros itens. cadeia alimentar, do zooplâncton aos mamíferos
Além das embalagens, outro item fre- marinhos e aves71. Cerca de 90% das espécies de
quentemente encontrado são as garrafas de aves marinhas e tartarugas já consumiram plásti-
bebidas. A Oceana analisou dados da Global co72. Dezessete por cento das espécies afetadas
Data, de 2018, sobre vendas de bebidas não por tais detritos estão listadas como ameaçadas
alcoólicas, para 76 países costeiros diferen- ou quase ameaçadas de extinção pela União
tes, para determinar a poluição de garrafas Internacional para a Conservação da Natureza73.
PET por país. Nossa análise constatou que, Outros organismos, como os corais, parecem
globalmente, em 2018, o equivalente a 21 a ainda mais atraídos pelo microplástico do que por
34 bilhões de garrafas PET de um litro gera- suas fontes naturais de nutrição74 e estudos mos-
das pela indústria de bebidas não alcoólicas traram que, quando os corais entram em contato
chegou ao oceano, representando 706 mil a direto com fragmentos de plásticos (FIGURA 16),
1,1 milhão de toneladas métricas de resíduos sua probabilidade de contrair uma doença aumen-
de garrafas plásticas.70 ta de 4% para impressionantes 89%75.

3 Considerando todos os itens de plástico, fraldas e absorventes, seringas e redes de pesca.

53
FIGURA 16.
Foto de um saco plástico emaranhado em uma gorgônia (Rio de Janeiro, 2020)
Foto: Oceana/Enrique Talledo

No Brasil, os projetos de Monitoramento aos animais resgatados vivos e debilitados,


de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS) e da bem como a realização de necropsias. Todos
Bacia de Campos (PMP-BC), ambos vinculados os encalhes são registrados em uma plata-
a licenciamentos ambientais de atividades de forma on-line, onde os dados são públicos e
exploração de petróleo e gás da Petrobras, atualizados diariamente, e é considerada a
se dedicam a monitorar encalhes de animais maior fonte atual de informações disponível
marinhos nas regiões Sul e Sudeste76. Seu obje- no Brasil sobre a interação desses animais
tivo é avaliar a interferência das atividades de com os resíduos plásticos.
produção e escoamento de petróleo, realizadas Entre os anos de 2015 e 2019 foram
no Pré-Sal, sobre os tetrápodes marinhos. realizadas 29.010 necrópsias de tetrápodes
Esses programas captam diversas informa- marinhos (aves, répteis e mamíferos marinhos)
ções sobre espécies de aves, tartarugas e ma- encontrados ao longo das praias do Sul e Su-
míferos marinhos encalhados, desde o estado deste do Brasil. Desses, 3.725 indivíduos, entre
de saúde até a interação e ingestão de lixo golfinhos, baleias, pinípedes, aves e répteis
marinho. As atividades desenvolvidas con- apresentaram algum tipo de detrito não natural
sistem em monitoramento diário das praias e em seus tratos digestórios. Aproximadamente
realização de atendimento médico-veterinário 13% deles tiveram sua morte diretamente

54
associada ao consumo de materiais antropo- blemas causados pela ingestão. Ainda, 85%
gênicos. Em outras palavras, um em cada dez dos indivíduos que ingeriram resíduos sólidos,
animais que ingeriram algum tipo de resíduo inclusive plástico, são espécies ameaçadas de
sólido veio a óbito em decorrência dos pro- extinção (FIGURA 17).

FIGURA 17.
Quantidade de indivíduos e espécies de mamíferos, aves e tartarugas marinhas que ingeriram resíduos
plásticos, inclusive espécies ameaçadas de extinção, entre 2015 e 2019, nas regiões Sudeste e Sul do Brasil

ESPÉCIES DE ANIMAIS QUE INGERIRAM LIXO MARINHO

Mamíferos Aves marinhas Tartarugas marinhas

197 animais 573 animais 2.955 animais

2 espécies ameaçadas 2 espécies ameaçadas 5 espécies ameaçadas

50% dos animais ingeriram plástico

Fonte: Sistema de Informação de Monitoramento da Biota Aquática/Petrobras.

Esses números refletem apenas a fração de No mesmo monitoramento, o plástico foi


animais que foi necropsiada e encontrada nas o material antropogênico mais encontrado no
regiões Sudeste e Sul do país. Portanto, a quanti- trato digestório, descrito nas fichas de triagem
dade de espécies e indivíduos sendo impactados de 1.837 animais, sendo 1.496 répteis, 295
pela ingestão de resíduos plásticos está critica- aves e 46 mamíferos. Foram registradas sacolas,
mente subestimada. O impacto da interação com embalagens, tampas de caneta e de garrafa
o lixo pode ser observado por meio do número de PET, botões, buchas de parafuso, pulseiras, ca-
espécies afetadas, muitas delas ameaçadas, como nudos, lacres de alimentos embutidos, palitos,
o caso das toninhas, cuja diminuta população copos descartáveis e outros materiais descritos
possui hábitos costeiros, próximos das nascentes apenas como “plástico ou microplástico”. Tam-
poluídas, ou ainda, afetando as fêmeas juvenis, bém estão inclusos nessa categoria todos os
no caso das tartarugas, que ainda não iniciaram polímeros sintéticos que derivam originalmente
a ovipostura, repercutindo negativamente nas do plástico, como fios de nylon, fios e linhas
gerações futuras. de pesca, redes de pesca, esponjas de limpeza,

55
isopor, fitas adesivas, fita isolante, fibras sinté- dos dados do PMP confirmou essa tendência.
ticas, cordões multifilamento etc. Aproximadamente a metade (49,3%) dos resí-
São crescentes os estudos que apontam o duos sólidos identificados durante a triagem
papel do lixo, principalmente plástico, como do sistema digestório é derivada do plástico
causa de morte de animais marinhos77. A análise (FIGURA 18).

FIGURA 18.
Resíduos sólidos encontrados durante a triagem do trato digestório dos animais necropsiados.
A: Plástico rígido colorido e isopor. B: Microplástico e fragmento de vidro. C: Fragmentos de sacolas,
tampinha. D: Plástico maleável colorido.

Fotos: Petrobras/Sistema de Informação de Monitoramento da Biota Aquática ou Petrobras/Projeto de Monitoramento de Praias

56
As espécies marinhas não apenas estão FIGURA 19.
tendo contato crescente com resíduos da pro- Pinguim de Magalhães (Spheniscus magellanicus) e
dução humana, mas também estão morrendo tartaruga-verde (Chelonia mydas), ambas encontra-
devido a eles. Após o trauma físico, a obstrução das com sacolas plásticas no conteúdo estomacal
do trato digestório é o primeiro efeito direto
causado por sua ingestão. Quando o trato está
repleto, seja de alimentos ou outras substân-
cias, como os detritos marinhos, ocorre a ativa-
ção de vias neuroendócrinas que transmitem ao
animal a sensação de saciedade. Desta forma,
quando o animal está com o estômago repleto
de lixo plástico, ele se sente saciado e deixa
de buscar alimentos, resultando em inanição e
morte78. Os efeitos subletais também podem
ocorrer devido à bioacumulação de poluentes
orgânicos e toxinas, produzindo alterações
genéticas e impactando gerações futuras, com-
prometendo a taxa de reprodução, crescimento
e longevidade das espécies79.
A maioria dos itens encontrados boiam na
superfície ou permanecem na coluna-d’água.
Essa característica pode ajudar a compreender
por que mais de 83% das mortes associadas à
ingestão de lixo marinho foram de tartarugas. A
ingestão equivocada desses resíduos pelas tar-
tarugas ocorre porque elas os confundem com
alimentos naturais, como águas-vivas, peixes e
algas, embora os animais possam se alimentar
dos resíduos em condições de fome, já que pos-
suem uma baixa seletividade aos alimentos80.
Foram encontrados resíduos no trato diges-
tório de todas as espécies de tartarugas que
habitam o litoral brasileiro (FIGURA 19). São elas:
Caretta caretta (tartaruga-cabeçuda), Eretmochelys
imbricata (tartaruga-de-pente), Dermochelys co-
riacea (tartaruga-de-couro) e Lepidochelys olivacea
(tartaruga-oliva). Todas estão classificadas como
ameaçadas (categorias “Vulnerável”, “Em Perigo
de Extinção” ou “Criticamente em Perigo de Ex-
tinção”) na Lista Vermelha da União Internacional Fotos: Petrobras/Sistema de Informação de Monitoramento da Biota Aquá-
tica ou Petrobras/Projeto de Monitoramento de Praias
para a Conservação da Natureza81.

57
Quanto às aves, das 32 espécies que tiveram apresentaram grande incidência de morte por
materiais antropogênicos identificados durante interação com os resíduos, possivelmente por es-
a necropsia, três estão ameaçadas de extinção. tarem bastante difundidas nas praias, utilizando a
São elas: a Pardela-de-capuz (Pterodroma incer- faixa de areia como fonte forrageira e, portanto,
ta), o Albatroz-de-nariz-amarelo (Thalassarche com valor numericamente superior de encalhes
chlororhynchos) e o Albatroz-real (Diomedea epo- devido à facilidade de encontro de suas carcaças.
mophora). As espécies com maior incidência de As toninhas (Pontoporia blainvillei) e os bo-
resíduos sólidos foram os pinguins de Magalhães tos-cinza (Sotalia guianensis) foram os mamífe-
(Spheniscus magellanicus) e os bobos-pequenos ros em que se observou maior grau de ingestão
(Puffinus puffinus), seguidos pelas gaivotas-co- de resíduos sólidos, ambas as espécies amea-
muns (Larus dominicanus) e pelas pardelas-pretas çadas de extinção e com hábitat costeiro, onde
(Procellaria aequinoctialis). Já os ­atobás (Sula as interações com materiais antropogênicos
leucogaster) e as gaivotas (Larus dominicanus) ocorrem com maior facilidade (FIGURA 20).

FIGURA 20.
Duas toninhas (Pontoporia blainvillei), espécie de golfinho criticamente ameaçada de extinção, com
registro de ingestão de plástico. O indivíduo da foto superior foi encontrado em Bombinhas (SC),
em 11/09/2016, e o indivíduo da foto inferior, em Laguna (SC), em 08/02/2018.

Fotos: Petrobras/Sistema de Informação de Monitoramento da Biota Aquática ou Petrobras/Projeto de Monitoramento de Praias

58
Os animais que ingeriram lixo marinho que Ainda, a literatura científica internacional
foram objeto dessas análises estavam distribuí- vem evidenciando a ingestão de fragmentos
dos ao longo de aproximadamente 2.300km de de plástico por inúmeras espécies de peixes82,
faixa de areia monitorada no litoral Sudeste e Sul como o bacalhau norueguês83 e os atuns84,
do Brasil (FIGURA 21). Os registros desses enca- assim como em tubarões85. No Brasil, estudos
lhes, embora numerosos e expressivos em rique- recentes também registraram ingestão de plás-
za de espécies e detalhes, representam apenas tico em oito espécies comerciais de peixes nas
uma parcela de encalhes que ocorrem em todo regiões Sudeste e Sul86 e em mexilhões87.
o território brasileiro. A distribuição das ocorrên-
cias de animais marinhos com ingestão de resí-
duos sólidos em toda a faixa de areia monitorada MICROPLÁSTICOS
indica que os resíduos estão disseminados pelas
águas brasileiras e que podem estar causando a Não há uma definição padronizada e
morte de mais animais de Norte ao Sul. internacional para micro e nanoplásticos. Os
microplásticos abrangem uma ampla gama de
FIGURA 21. materiais compostos por diferentes substân-
Distribuição dos animais marinhos que ingeriram cias, com diferentes densidades, composições
resíduos sólidos, inclusive plástico, químicas, formas e tamanhos. Apesar de não
no litoral Sudeste e Sul do Brasil, de 2015 a 2019 haver uma definição cientificamente aceita,
esses materiais são, em geral, descritos como
partículas de plástico com menos de 5 mm de
comprimento88. Os chamados primários são
fabricados para ter esse tamanho e os secun-
dários são resultantes de fragmentação de
pedaços maiores.
Já os nanoplásticos são os microplásticos
ainda menores, com menos de um micrômetro
de comprimento, o equivalente a um milésimo
de centímetro (0,0001 centímetro). Eles podem
ter sido projetados pela engenharia de mate-
riais para ter esse tamanho ou podem ter se
originado de excessiva fragmentação89.
Os três principais polímeros que formam os
microplásticos são polietileno (PE), polipropi-
leno (PP) e poliestireno (PER). Cerca de 4% do
peso desses pequenos fragmentos de plástico
são formados por aditivos90, que podem ser
substâncias orgânicas e não orgânicas. Metade
Fonte: Petrobras / Sistema de Informação de Monitoramento da Biota deles são plastificantes, como ftalatos, mas
Aquática. O mapa interativo pode ser acessado no link:
https://www.google.com/maps/d/embed?mid=1OJ-yZ10po2JM4lIDA-
alquilfenóis e bisfenol-A (BPA) também estão
IHsb_UDfEAD6j5b presentes. Nanopartículas de dióxido de titânio,

59
bem como bário, enxofre e zinco, têm sido microplástico e seus potenciais riscos devem
exemplos de aditivos inorgânicos que também aumentar com o crescimento projetado na
já foram encontrados91. produção de plástico94.
Desde 2010, quando os primeiros estudos Estamos expostos aos microplásticos por
sobre microplásticos na fauna marinha começa- meio da ingestão, inalação e possivelmente pelo
ram, muitas pesquisas robustas já identificaram a toque e manuseio de materiais plásticos o dia
presença de microplásticos em animais marinhos todo. As principais rotas de possíveis contamina-
consumidos pelos humanos. Até agora, as pesqui- ções incluem fontes da indústria (fabricação de
sas já provaram que existe transferência trófica de plásticos), da vida urbana (pneus) e doméstica (de
microplásticos de uma espécie para outra. Em ou- produtos químicos de limpeza) que são transpor-
tras palavras, isso significa que predadores (peixes tados às populações pela água (chuva, rios, mares,
maiores) que se alimentarem de presas contendo esgoto) e ar (vento, inalação)95.
as partículas passarão a levá-las consigo também Ainda não existem estudos e dados conclu-
dentro do sistema digestivo92. sivos sobre a absorção de microplásticos por
Peixes e outros frutos do mar, como os seres humanos, já que, segundo a Organização
bivalves, são os mais estudados – os mexilhões Mundial da Saúde, partículas acima de 150
azuis (Mytilus edulis) são os que acumulam micrômetros são facilmente excretadas pelo
maior número de artigos científicos dedicados a organismo humano e, assim, não representa-
eles. Essa maior representatividade de espécies riam grandes riscos à saúde96. Atenção maior
marinhas nas pesquisas pode ser explicada pelo deve ser dada àquelas partículas menores que
foco que a ciência tem dado à poluição dos ma- 150 micrômetros – incluindo os nanoplásticos
res. Peixes são utilizados também para rações –, porque podem ser absorvidas pelo corpo.
para criações de frango e porcos, mas até agora São as que têm maiores chances de penetrar
não há evidências de migração de microplásti- profundamente em órgãos e tecidos como
cos para a carne de frangos, bovina ou suína93. ocorre com outros organismos97.
Em agosto de 2019, a Organização Mundial
da Saúde divulgou o relatório Microplastics in
RISCOS PARA A SAÚDE HUMANA – drinking-water98, que identificou e analisou mais
O QUE SABEMOS ATÉ AGORA? de 50 estudos sobre a presença de partículas e
fibras plásticas em águas naturais, potáveis e de
Nosso ar, alimentos e água potável estão esgoto para avaliar os riscos à saúde humana.
contaminados com microplásticos. Eles foram Como são onipresentes no ambiente, os micro-
descobertos no pó doméstico, no sal marinho, plásticos também foram detectados em uma
em frutos do mar, como peixes, ostras e maris- ampla gama de concentrações nas águas do
cos, no mel, na cerveja e até em fezes humanas. mar, residuais, doce e potável, tanto em garra-
Mas ainda não há consenso sobre como esses fas quanto em água da torneira (TABELA 8), além
microplásticos afetam nossa saúde. O que se de vários estudos que evidenciam a presença
sabe, com certeza, é que nossa exposição ao do microplástico no ar99.

60
TABELA 8.
Exemplos de estudos científicos sobre microplásticos encontrados na água

FONTE TAMANHO DAS PARTÍCULAS CONCENTRAÇÃO PRINCIPAIS ESTUDOS


Oßmann et al, 2018100
De 10,4 a 6.292
Garrafa De 1 a 100 micrômetros Schymanski et al, 2018101
partículas por litro
Mason, Welch and Neratko, 2018102

Torneira (fontes 5,45 partículas


De 60 a 100 micrômetros Kosuth, Mason and Wattenberg, 2018103
diversas) por litro

0,0007 a 0,312
Fontes subterrâneas De 10 a 100 micrômetros Strand et al, 2018104
partícula por litro

Outro estudo realizado por um grupo de A partir daí, o estudo avaliou quanto desses
cientistas do Departamento de Biologia da alimentos costumam ser ingerido por homens,
Universidade de Victoria, no Canadá, também mulheres e crianças por ano, concluindo que
analisou as quantidades dessas partículas em uma pessoa pode estar ingerindo, em média,
frutos do mar, açúcares, sais, álcoois, água – entre 74.000 a 121.000 partículas plásticasa-
de torneira e engarrafada – e no próprio ar. nualmente105 (FIGURA 22).

FIGURA 22.
Quantidade de microplástico encontrado em itens de consumo
humano e estimativa de consumo anual de microplástico, por pessoa

Água engarrafada 94,37 particulas/L

Cerveja 32,27 particulas/L

Ar 9,8 partículas/m3

Água de torneira 4,24 particulas/L

Frutos do Mar 1,48 particulas/g Consumo anual de


microplástico por
Açucar 0,44 particulas/g pessoa

Sal 0,11 particulas/g Entre 74 e 121 mil


partículas*
Mel 0,10 particulas/g *inalação e ingestão.

Fonte: Kieran Cox (2019).

61
Amplamente divulgado e comentado na A toxicidade causada por microplásticos e
imprensa global, o estudo da Divisão de Gas- componentes químicos associados depende
troenterologia e Hepatologia da Universidade de uma ampla gama de propriedades e condi-
de Medicina de Viena, na Áustria, encontrou ções que incluem concentração e composição
partículas de microplásticos em fezes huma- química das substâncias. Os danos tóxicos
nas em indivíduos em oito países diferentes: de partículas inaladas são mais bem com-
Finlândia, Itália, Japão, Holanda, Polônia, Rússia, preendidos do que as ingeridas. O destino e o
Reino Unido e Áustria. Todos eles tinham tido transporte dessas fibras após a ingestão não
contato com comida embalada por plástico e são bem estudados pela ciência. Até o mo-
seis haviam comido peixes e frutos do mar du- mento, a maioria dos testes toxicológicos de
rante o período de observação do experimento. microplásticos se concentrou em organismos
Cerca de 95% das fezes continham 20 partí- aquáticos e não foram identificados estudos
culas de microplástico a cada 10 gramas. As epidemiológicos sobre microplásticos ingeri-
substâncias mais comuns foram polipropileno dos por humanos.
(PP), polietileno tereftalato (PET), poliestireno O que sabemos até aqui é que estamos
(PS) e polietileno (PE). A pesquisa não avaliou ingerindo e inalando microplásticos por
quantidades nem possíveis concentrações ou diferentes meios, seja pela comida, pela água
contaminações por componentes e aditivos106. ou pelo ar. A comunidade científica ainda não
Outra preocupação dos cientistas são os ris- quantificou a concentração necessária no
cos químicos das micropartículas ingeridas ou sistema digestivo humano para afetar nossa
inaladas por humanos e animais. Os microplás- saúde. Estudos toxicológicos que exploram a
ticos têm capacidade de acumular substâncias relação dose-efeito (crônico ou agudo) levam
altamente tóxicas, como poluentes orgânicos tempo para serem executados. Embora não
persistentes (POPs), incluindo bifenilas policlo- se tenha hoje dados suficientes para tirar
radas, conhecidos por PCBs, hidrocarbonetos conclusões mais concretas sobre a toxicida-
aromáticos policíclicos PAHs e pesticidas. Até de das nanopartículas, nenhuma informação
por isso são utilizados como marcadores para confiável sugere que essa preocupação deva
monitoramento ambiental107. ser eliminada.

62
Foto: Depositphotos
5. SOLUÇÕES PARA
UM OCEANO LIVRE
DE PLÁSTICO

ENXUGANDO GELO: FALSAS SOLUÇÕES deixam por conta exclusiva do consumidor ou


PARA A CRISE DO PLÁSTICO usuário todo o esforço para conter a poluição,
o que não é suficiente.
O plástico de uso único é uma ameaça crescen-
te para nossos oceanos. Apesar das inúmeras
evidências e estudos científicos sobre os danos RECICLAGEM DE PLÁSTICO DESCARTÁVEL
irreversíveis que o plástico pode causar ao meio
ambiente e às pessoas, essa crise está longe de A reciclagem é uma etapa necessária do
terminar. De fato, nos próximos anos a produ- processo de gestão dos resíduos sólidos que já
ção de plástico está projetada para aumentar foram gerados, gerando renda e emprego para
significativamente e inundar os mercados (e o milhares de pessoas. Apesar de sua importân-
oceano) com ainda mais plásticos. cia, ela não é uma opção viável para muitos dos
Para interromper esse fluxo de poluição não itens plásticos, como os produtos descartáveis.
basta apenas coletar seletivamente os materiais Globalmente, apenas 9% de todo o resíduo
ou encaminhá-los à reciclagem. É primordial plástico produzido no mundo foi reciclado.
reduzir a quantidade de plásticos produzidos na No Brasil, as taxas de reciclagem são divergen-
fonte. As empresas precisam assumir seu papel tes, mas apontam que pelo menos 77,9% do
neste ciclo vital e reduzir a quantidade de plás- resíduo plástico está acumulado em aterros,
ticos descartáveis, com a oferta aos consumido- lixões ou disperso no meio ambiente.
res de opções alternativas. Diferentemente do vidro e do alumínio, que
Em vez disso, governos e empresas estão podem ser reciclados infinitamente sem perder
promovendo falsas soluções que efetivamente a qualidade do material produzido (são materiais
não interrompem o fluxo de poluição e não 100% recicláveis, o plástico só pode ser reciclado
diminuem a quantidade de plásticos de uso uma ou duas vezes antes de se tornar inútil. Isso
único consumida. São elas: a reciclagem, a acontece porque o plástico é sensível ao calor
recuperação energética de resíduos e a subs- e, quando submetido aos processos térmicos e
tituição do plástico convencional por plástico mecânicos da reciclagem, suas moléculas longas
biodegradável ou oxibiodegradável. Assim, e flexíveis se quebram num processo irreversível.

65
Portanto, a maior parte do plástico submetido ao contaminantes dificultam a triagem, a segrega-
processo de reciclagem tenderá a criar produtos ção e a reciclagem desses materiais. Se as taxas
de qualidade inferior e de menor valor em compa- de reciclagem já são baixas para itens plásticos
ração ao produto original. de alto interesse, como o PET, para os produtos
A variedade de produtos plásticos colocados descartáveis como talheres, sacolas, pratos e
no mercado torna a gestão desses materiais copos, sem valor para o mercado de reciclagem,
bastante complexa. Tanto sua coleta quanto o elas são praticamente nulas.
destino final dependem do tipo de polímero Ainda que seja possível superar todos os
utilizado em sua constituição, da eficiência da desafios inerentes ao processo de gestão dos
segregação, da demanda e existência de plantas resíduos nos municípios brasileiros e aumentar
que propiciem a reciclagem, dos limites de as taxas de reciclagem, somente ela não será ca-
reciclabilidade desses materiais, das condições paz de acompanhar a velocidade e o volume dos
disponíveis de oferta e eficiência dos serviços resíduos de plástico descartável introduzidos no
públicos de limpeza urbana e de manejo dos mercado de consumo (FIGURA 23). Investimentos
resíduos sólidos nos municípios brasileiros e subsídios para a reciclagem não estão na mes-
(ex.: coleta, coleta seletiva, logística reversa), ma escala que investimentos na produção de
dentre outros fatores relevantes e de igual plásticos, o que dificulta que a resina reciclada
forma dificilmente controláveis. Fatores como a possa competir com a resina virgem.
ausência de identificação dos tipos de plásticos,
dimensões reduzidas, pigmentação, sujidades e

FIGURA 23.
Projeção da quantidade de resíduo de plástico que
será gerado e reciclado até 2050, em escala global

25
Bilhões de toneladas

20

15

10

0
1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020 2003 2040 2050

Resíduo plástico gerado Resíduo plástico reciclado


Fonte: Geyer R, Jambeck JR and Law KL (2017)108.

66
RECUPERAÇÃO ENERGÉTICA Incineração

A recuperação energética dos resíduos Na combustão direta (incineração ou ter-


sólidos urbanos está prevista nos artigos 3º e movalorização dos resíduos), a recuperação de
9º da Política Nacional de Resíduos Sólidos, que energia a partir dos resíduos sólidos é realizada
entende como disposição final ambientalmente por meio do aproveitamento do calor gerado
adequada dos resíduos a reutilização, recicla- no processo de queima dos resíduos, mas seu
gem, compostagem, recuperação e aproveita- pleno funcionamento requer um alto consumo
mento energético ou outras destinações ad- de energia na operação, o que pode inviabilizar
mitidas pelos órgãos competentes, “desde que torna sua adoção. Requer ainda alta capacidade
tenha sido comprovada sua viabilidade técnica técnica para o monitoramento e controle das
e ambiental e com a implantação de programa emissões e, sobretudo, escalas grandiosas no
de monitoramento de emissão de gases tóxicos consumo de resíduos de alto poder calorífico,
aprovado pelo órgão ambiental”109. Na ordem como é o caso dos plásticos.
de prioridade da gestão e gerenciamento A preocupação com a utilização dessa
dos resíduos, ela é a última das alternativas, tecnologia corre diante da possibilidade da
quando as opções de não geração, redução, emissão de poluentes à atmosfera, principal-
reutilização, reciclagem e tratamento já foram mente quanto à emissão de dioxinas e furanos,
esgotadas. metais pesados (Hg, Pb e Cd), material parti-
Mesmo que esteja prevista em lei, a recupe- culado e gases ácidos (HCl, HF, SO2 e N2O)
ração energética ainda é pouco adotada no que comprovadamente afetam a saúde pública
Brasil devido a dificuldades na comprovação de e o meio ambiente.
sua viabilidade técnica e ambiental. A escolha Em contraponto a essa preocupação, tecno-
por essa tecnologia deverá estar de acordo logias restritivas voltadas à limpeza dos gases
com o conceito de melhor técnica disponível e, e emissões nocivas podem ser adotadas com a
sobretudo, atender aos parâmetros de emissões elevação substancial dos custos de investimen-
vigentes e ainda contar com aterros de resíduos to, operação e manutenção das plantas.
industriais para a disposição final de sobras de Porém, mesmo os filtros e equipamentos
processo (cinzas). de última geração para o controle da polui-
No entanto, o Novo Marco Legal do Sanea- ção atmosférica não impedem que todos os
mento Básico, aprovado em 2020, fomenta sua poluentes sejam liberados no ar. A recuperação
adoção desde que se considere requisitos de energética é, portanto, uma “solução” de alto
eficácia e eficiência, ponderada a capacidade de custo de instalação, operação e manutenção,
pagamento das populações e usuários envol- com estudos que apontam que a energia gerada
vidos e ainda observadas as normas técnicas e por meio deste processo é uma energia mais
operacionais estabelecidas, de modo a evitar cara do que a energia nuclear (por KW), portan-
danos ou riscos à saúde pública e à segurança e to, investimentos dessa natureza poderiam ser
a minimizar os impactos ambientais110. aplicados no desenvolvimento de soluções reais

67
para contenção da poluição que sejam renová- um material é definido como bioplástico se ele
veis e sustentáveis. tiver origem renovável, se for biodegradável ou
Os plásticos, que compõem 16% do RSU, se possuir as duas características.
detêm alto poder calorífico por serem um pro- A biodegradação é o processo de decom-
duto derivado de petróleo e gás mineral fóssil, posição completa ou parcial de um polímero,
o que torna um material de alto interesse para transformando-o em água, dióxido de carbono
esse setor. Sua combustão em grande escala ou metano, energia e nova biomassa por meio
(escala industrial) converte os resíduos plásticos da ação de microrganismos como bactérias
em poluição do ar através de emissões tóxicas, ou fungos. Já o termo “compostável” é fre-
como dioxinas e furanos, que são substâncias quentemente utilizado quando se fala do fim
cancerígenas, e metais pesados, como mercú- do ciclo de vida dos bioplásticos. Refere-se à
rio, cádmio e chumbo. Além dos gases tóxicos, biodegradação em condições específicas e em
a queima também emite gases de efeito estufa um ambiente aeróbico ou anaeróbico, isso é, na
que contribuem para as mudanças climáticas. presença ou não de oxigênio.
As limitações dos processos deixam claro Como não se encontram disponíveis de-
que é necessário avançar para um sistema que finições claras para o percentual mínimo de
envolva a redução de resíduos, a reutilização e matéria-prima de fonte renovável contida na
o redesenho ou substituição de embalagens, a composição desses materiais para que sejam
compostagem, além de mudanças significativas considerados bioplástico, o uso de baixos per-
e permanentes nos hábitos de consumo da centuais da matéria-prima renovável que se re-
população. A maneira mais eficaz de reduzir os quer em sua composição pode levar o consumi-
danos causados ​​pelo plástico após o término dor a falsas escolhas, colaborando apenas para
de sua vida útil é reduzir seu fluxo de produção o mercado greenwashing (maquiagem verde) e
na fonte. O primeiro passo deve ser eliminar os não para a contenção da poluição.
plásticos de uso único que são comprovada- Diferentes normas internacionais definem
mente problemáticos e desnecessários nesses se um material ou produto pode ser considera-
novos tempos. do biodegradável ou compostável. Normalmen-
te, a degradação precisa acontecer dentro de
uma escala de tempo medida em semanas ou
BIOPLÁSTICOS meses. No Brasil, para os plásticos, quem regula
a matéria é a ABNT (Associação Brasileira de
Os bioplásticos, ou biopolímeros, são “ce- Normas Técnicas), por meio da norma ABNT
lebrados” como uma versão mais sustentável 15.448-2:2008.
do plástico. Como não existe uma definição
padrão para esses termos, eles podem acabar Bioplástico não degradável
suscitando confusão. Para a European Bioplas-
tics, bioplástico é um termo amplo que pode São plásticos produzidos a partir de bio-
se referir tanto à origem renovável desses massa renovável – como cana-de-açúcar ou
materiais quanto à sua degradabilidade. Assim, milho – ou de uma combinação de biomassa

68
renovável e fontes de petróleo, mas que não Já o PHA (polihidroxialcanoatos) responde
se degrada. É o caso, por exemplo, do polieti- por 6% da produção mundial de bioplásticos111
leno (PE) verde I’m green™, desenvolvido pela e pode ser utilizado na fabricação de embala-
empresa brasileira Braskem. Feito a partir do gens rígidas, potes, sacolas, bandejas, copos,
etanol de cana-de-açúcar, esse biopolímero talheres e pratos.
é semelhante ao plástico de origem fóssil em Como é produzido a partir da fermentação
propriedades, aplicações e tempo de decompo- de açúcares provenientes de carboidratos, como
sição do plástico convencional. Assim, se não amido de milho ou cana-de-açúcar, o material
usados e descartados corretamente, causarão é biodegradável sob compostagem em escala
os mesmos problemas de poluição do plástico industrial, uma vez que exige principalmente
de origem fóssil. temperaturas controladas para a decomposição.
Sem essas instalações, os plásticos compostáveis ​​
Bioplástico biodegradável acabam em aterros, lixões ou dispersos no meio
ambiente, como todos os outros resíduos112.
O bioplástico biodegradável pode ser pro- No Brasil, plantas de compostagem em
duzido a partir de matérias primas renováveis escala industrial ainda não são uma realidade,
e não renováveis, sendo projetado para se o que impede que plásticos biodegradáveis,
decompor em substâncias naturais com a aju- como o PLA, sejam tratados adequadamente.
da de microrganismos. Os biopolímeros mais Na ausência de plantas de compostagem em
comumente produzidos são o ácido polilático grande escala, os plásticos compostáveis, como
(PLA) e o poli-hidroxialcanoato (PHA). O P os PHA, precisariam ser tratados pelos próprios
A é considerado o exemplo mais proeminente consumidores em seus domicílios, o que é pou-
de bioplástico biodegradável em função de co provável de ocorrer mesmo no médio prazo,
suas propriedades mecânicas comparáveis ao tendo em vista não ser uma prática difundida,
poliestireno (PS) e ao PET (politeleftalato consolidada e, consequentemente, praticada
de etileno). entre a população.

69
PLÁSTICO OXIBIODEGRADÁVEL

Polímeros oxidegradáveis são vendidos no Brasil e em documento da Fundação Ellen MacArthur pedindo a
vários países do mundo com o apelo de serem biode- proibição do uso desses aditivos em embalagens e pro-
gradáveis, o que é falso. Esses plásticos recebem adi- dutos plásticos em todo o mundo². Segundo a Abiplast,
tivos oxidegradáveis para acelerar o seu processo de não há nenhuma regulação que proíba o uso desses
degradação oxidativa (pela ação de oxigênio). A erosão aditivos no país em nível federal. Há, no entanto, leis e
do material é rápida, mas a degradação não é total, projetos de lei que banem o uso de produtos específicos
gerando microplásticos que representam uma ameaça contendo aditivos oxidegradáveis.
para os oceanos e outros ecossistemas naturais. Outro
Na cidade de São Paulo, a Lei nº 17.261, assinada em
grave problema é que a maioria dos aditivos contêm
janeiro de 2020, proíbe em estabelecimentos comerciais
metais de transição que podem ser altamente tóxicos
o fornecimento de copos, pratos, talheres, agitadores
para o meio ambiente¹.
para bebidas e varas para balões de plásticos descar-
A União Europeia baniu o uso de oxidegradáveis. No táveis, incluindo os oxidegradáveis. A lei, atualmente
Brasil, sua utilização é condenada pela Associação suspensa pela Justiça de São Paulo, estava prevista para
Brasileira da Indústria do Plástico, que assinou um entrar em vigor a partir de 1º de janeiro de 2021.

1 ABIPLAST. Bioplástico, oxidegradável e biodegradável. Qual a diferença entre esses plásticos. Publicado em 11 de setembro de 2018.

2 VASCONCELOS, Y. Reutilizar, substituir, degradar. Revista Pesquisa Fapesp. Edição 281. Publicado em julho de 2019.

Além disso, os mesmos desafios que dificultam e destinação para centrais de compostagem que
a reciclagem de pequenos pedaços de plástico ofereçam as condições necessárias para sua com-
de uso único (como tamanho, baixo valor econô- pleta degradação. Ressalta-se aqui que não há no
mico associado e altos custos de coleta) também Brasil sistemas de reciclagem em operação para o
se aplicam para materiais biodegradáveis ou tratamento de tipos alternativos de plástico, quais
compostáveis, que requerem separação, coleta sejam os plásticos biodegradáveis e compostáveis.

70
LEGISLAÇÃO INTERNACIONAL PARA Políticas como proibições, impostos, siste-
REDUÇÃO DE PLÁSTICOS DE USO ÚNICO mas de devolução de embalagens e responsa-
bilidade estendida do produtor podem ser efi-
Governos ao redor do mundo têm reconhecido cazes para incentivar a redução de plástico de
a gravidade da poluição e aprovado leis e medidas uso único. Algumas políticas visam incentivar o
para diminuir o uso de plásticos de uso único. Blo- descarte adequado de plásticos de uso único,
cos econômicos e mais de 40 países já aprovaram alterando o comportamento do consumidor.
leis que restringem ou banem plásticos de uso único Outros determinam que os produtores atinjam
e estabelecem metas altas de reciclagem. determinadas metas de reciclagem ou cole-
Essas políticas geralmente se concentram ta, ou que os fabricantes garantam que seus
nos itens de lixo mais comuns encontrados produtos sejam facilmente recicláveis, cubram
nas limpezas de praia: utensílios, embalagens o custo de limpeza dos resíduos que geram e
de alimentos, garrafas e tampas de garrafas de aumentem a conscientização sobre o descarte
plástico, sacolas, outros sacos e recipientes de adequado de lixo.
plástico ou de espuma. Como todos esses itens A seguir são apresentados três exemplos
são usados ​​uma vez e depois jogados fora, um detalhados de legislações internacionais que
ponto de partida lógico é direcionar políticas estão regulamentando adequadamente o uso
públicas para itens de plástico de uso único. de plásticos de uso único (PUU):

UNIÃO EUROPEIA

Recipientes para alimentos, copos de bebidas, cotonetes, talheres, pratos, canudos, agitadores
PUU para bebidas, hastes para balões, recipientes para bebidas, absorventes higiênicos externos
regulamentados e internos e seus aplicadores, lenços umedecidos, balões, invólucros e embalagens, produtos
de tabaco com filtro, produtos plásticos oxibiodegradáveis ​​e poliestireno expandido.

Instrumento Proposta Diretiva da UE113

A União Europeia (UE) aprovou uma diretiva Essa proposta surge como um complemento
sobre a regulamentação de determinados pro- aos esforços já empreendidos pela UE no marco
dutos plásticos de uso único que visa prevenir de sua Estratégia para o Plástico114 corrigindo
e reduzir seu impacto sobre o meio ambiente, algumas lacunas detectadas nas diferentes
principalmente no ambiente e na vida aquática, legislações europeias em vigor e reforçando a
e sobre a saúde humana, bem como promover abordagem sistêmica e inovadora para conseguir
a transição para uma economia circular com impulsionar substitutos de origem biológica que
modelos de negócios, produtos e materiais que ofereçam novas oportunidades para as empresas
sejam inovadores e sustentáveis, contribuindo e proporcionem conforto aos consumidores. A
para o funcionamento eficiente do mercado proposta europeia estabelece a obrigação de os
interno (artigo 1). Estados-membros adotarem medidas como:

71
Redução de consumo: Redução de, pelo menos, ou para levar, sem qualquer preparação
25% do consumo de recipientes para alimentos adicional, por exemplo, os usados para fast
com ou sem tampa, copos para bebidas e outros food, com exceção daqueles para bebidas,
produtos até 2025. Essas medidas podem incluir os pratos e as embalagens e os invólucros
garantir a disponibilidade de produtos reutilizá- que contêm alimentos.
veis nos pontos de venda ao consumidor final
● Invólucros e embalagens feitos de ma-
ou impostos sobre esses produtos. De qualquer
terial flexível que contenham alimentos
forma, os países devem elaborar planos nacio-
destinados ao consumo imediato no pró-
nais com as medidas de redução, estabelecendo
prio invólucro, sem qualquer preparação
objetivos quantitativos (artigo 4).
posterior.

Restrições de mercado: Ampla proibição à ● Recipientes para bebidas, ou seja, em-


introdução no mercado de cotonetes, talheres balagens ​​para líquidos, como garrafas de
(garfos, facas, colheres, palitos), pratos, canu- bebidas, incluindo suas tampas.
dos, agitadores para bebidas, hastes destinadas
● Copos para bebidas.
a segurar e unir balões, produtos plásticos
oxibiodegradáveis e recipientes para alimentos e ● Produtos de tabaco com filtro e filtros
bebidas feitos de poliestireno expandido. Além comercializados para uso em combinação
disso, devem garantir que, até 2025, garrafas de com produtos de tabaco.
bebidas só possam ser comercializadas se forem
● Lenços umedecidos, pré-umedecidos para
fabricadas com pelo menos 35% de conteúdo
cuidados pessoais, para uso doméstico e
reciclado e/ou forem recicláveis (artigo 6).
industrial.

Responsabilidade estendida do produtor: Esta- ● Balões, exceto os de usos e aplicações


beleceu regimes de responsabilidade estendida industriais e profissionais, que não sejam
do produtor em relação aos seguintes produtos distribuídos aos consumidores.
listados na parte E do Anexo I da diretiva:
● Equipamento de pesca contendo plástico.
Os Estados-membros devem garantir a co-
● Recipientes para alimentos, como caixas, leta de, pelo menos, 50% do equipamento
com ou sem tampa, usados ​​com a finalida- de pesca que contenha plástico até 2025
de de armazenar alimentos para consumo e reciclar pelo menos 15% desse equipa-
imediato no próprio recipiente, no local mento no mesmo ano.

Isso significa que os fabricantes deverão arcar com os custos de coleta, transporte e tratamento dos
resíduos gerados por esses produtos, o que incluirá os custos de limpeza do lixo e medidas de cons-
cientização (artigo 8).

72
COSTA RICA

PUU Embalagem de espuma plástica (isopor), embalagens de alimentos e talheres descartáveis,


regulamentado não recicláveis, não compostáveis, ​​e canudos, colheres, garfos, facas e utensílios de plástico.

Instrumento Estratégia Nacional

Em 2017, a Costa Rica publicou sua “Estra- 1. Incentivos municipais para substituir
tégia Nacional para substituir o plástico de uso plásticos de uso único por alternativas
único por alternativas renováveis ​​e compostá- renováveis e compostáveis, cuja meta é
veis”115 (doravante denominada “a estratégia”), a que, até 2021, 80% dos cantões4 tenham
fim de contribuir para a solução do problema da regulamentações de licenças modificadas
poluição gerada por esses plásticos nas bacias para incluir taxas que desestimulem o
hidrográficas da Grande Área Metropolitana e do consumo de PUU e estimulem sua substi-
Pacífico da Costa Rica. Essa estratégia faz parte tuição por alternativas renováveis
do “Plano Nacional para Gestão Integrada de e compostáveis.
Resíduos 2016-2021”, da “Política Nacional para
2. Políticas e diretrizes institucionais para
Gestão Integrada de Resíduos 2010-2021” e da
que seus fornecedores substituam a com-
“Estratégia Nacional de Separação, Recuperação
pra de plástico de uso único por alternati-
e Valorização de Resíduos”.
vas renováveis e compostáveis.
Essa estratégia nasceu como um processo vo-
A meta é que, até 2021, 70% das institui-
luntário e coletivo entre o setor público (governo
ções públicas da Costa Rica tenham ado-
central e municípios), o setor privado (indústria,
tado políticas internas de suprimento que
comércio) e a sociedade civil em geral. Entre seus
desestimulem a compra de PUU e facilitem
impactos estão: 1) redução da presença de PUU
a aquisição de alternativas renováveis e
em rios e praias da Costa Rica; 2) redução da
compostáveis.
presença de PUU em centros de recuperação de
resíduos e 3) crescimento econômico da indústria 3. Promover a substituição dos produtos
de alternativas renováveis e compostáveis. plásticos de uso único por alternativas
Para alcançar o exposto, a estratégia visa renováveis e compostáveis entre comer-
difundir e acompanhar compromissos volun- ciantes, atacadistas e varejistas em todo
tários de instituições, municípios, empresas o país, estabelecendo como meta que,
e organizações agrupadas em torno de cinco até 2021, 80% dos membros da Câmara
linhas estratégicas que, por sua vez, definem Nacional de Comércio e Afins (Canacodea)
metas para 2021, indicadores de conformidade tenham substituído os PUU por alternati-
e determinação de linhas de base com as quais vas renováveis e compostáveis.
serão feitas comparações. As cinco linhas são:

4 Um cantão é uma unidade territorial de caráter subnacional. Especificamente, as sete províncias que compõem a República
da Costa Rica estão divididas em 82 cantões.

73
4. Estimular a pesquisa e o desenvolvi- como alternativas renováveis e compos-
mento para criar e projetar embalagens, táveis até 2021.
sacolas e recipientes de produtos sólidos
5. Estimular o investimento em projetos pro-
e líquidos que substituam os PUU por
dutivos que contribuam para a substitui-
alternativas renováveis ​​e compostáveis ​​
ção dos PUU por alternativas renováveis ​​e
por parte de laboratórios especializa-
compostáveis, definindo como meta para
dos, empresas privadas, universidades,
2021, que existam 20 novos empreendi-
colégios técnicos e centros de formação,
mentos (ou reconversões) que contribuam
definindo como meta ter pelo menos dez
para a substituição de PUU por alternati-
novos produtos lançados no mercado
vas renováveis ou compostáveis.

ANTÍGUA E BARBUDA

Recipientes de poliestireno expandido, utensílios de plástico (colheres, garfos,


PUU
facas e canudos), bandejas para frutas, carnes e verduras, e caixas de ovos
regulamentados
feitas de plástico, embalagens isolantes de espuma de poliestireno.

Instrumento Lei.

O governo de Antígua e Barbuda foi um da Ordem do Comércio Externo (Proibição de


dos primeiros a proibir a importação e o uso de Importação) de 2017 [External Trade (Import Pro-
produtos de espuma de poliestireno para ali- hibition) Order], que dispunha sobre a proibição
mentos a partir de 1º de julho de 2017, através em três etapas116:

Etapa 1 (1º de julho de 2017 a 1º de dezembro de 2017): Proibição da importação e uso


de recipientes para alimentos do tipo “concha”, dobráveis, para cachorros-quentes e todos
os outros recipientes feitos de poliestireno expandido, como potes, pratos, copos, tampas,
coberturas e xícaras para bebidas quentes e frias. O governo também promoveu a substi-
tuição de recipientes plásticos PET por outros, feitos de amido de milho (PLA Cornshap).

Etapa 2 (1 de janeiro de 2018 a 30 de junho de 2018): Proibição da importação e uso de


utensílios como colheres, garfos, facas e canudos, bandejas para frutas, carnes e verduras e
caixas de ovos feitos de plástico.

Etapa 3 (1 de julho de 2018 a 1 de janeiro de 2019): Proibição da importação e uso de


embalagens isolantes de espuma de poliestireno sem revestimento.

74
A lei estabeleceu uma lista de alternativas design de produtos. Na substituição do plástico
para substituição aprovadas pelo governo que para a produção de embalagens e utensílios
consiste em: bagaço (polpa de cana), amido de descartáveis, ganham espaço matérias-primas
milho (não modificado geneticamente), bambu, bem conhecidas, como papel e alumínio, e se
hastes de trigo, papelão/papel, palmeira de are- destacam materiais inusitados e inovadores, a
ca e amido ou fécula de batata. Esses produtos exemplo de copos feitos de polpa de mandioca,
estarão isentos de impostos. De qualquer for- embalagens à base de algas e pratos de bagaço
ma, os importadores dessas alternativas devem de cana-de-açúcar.
apresentar as certificações correspondentes Empresas ajustam suas práticas, e novos
dos fabricantes e laboratórios credenciados negócios são criados para operar dentro de
para verificação. Além disso, a lei previu um pe- uma lógica de economia circular. Segundo a
ríodo de carência de seis meses para se eliminar Fundação Ellen MacArthur, a economia circular
todo o estoque existente de produtos proibi- se coloca como uma alternativa ao modelo
dos, após o qual seriam realizados inspeções e econômico linear atual de “extrair, produzir,
confiscos, se necessário. desperdiçar”. O modelo dissocia a atividade
A lei foi aplicada a todas as empresas do econômica do consumo de recursos finitos
setor de alimentos em Antígua e Barbuda, e elimina resíduos do sistema por princípio.
incluindo catering, vendedores, supermerca- Seus três fundamentos básicos são: eliminar
dos grandes e pequenos e lojas de comida. resíduos e poluição desde o princípio; manter
No entanto, companhias aéreas, voos fretados produtos e materiais em uso e regenerar siste-
particulares e cruzeiros de passageiros estarão mas naturais118.
isentos até novo aviso. Seguindo os princípios de economia circular,
cresce o número de comércios e marcas que
Por fim, uma análise das políticas nacionais
propõem a venda a granel, isso é, de produtos
mostra que, do ranking dos 20 países que mais
que não foram pré-embalados. Além de tempe-
contribuem para a poluição marinha por plásti-
ros, cereais, queijos e carnes vendidos a granel,
co, sete ainda não têm marco legal para reduzir
em países como a França é possível comprar
significativamente ou substituir os plásticos de
azeite, vinho, produtos de limpeza e cosméticos
uso único. São eles Filipinas, Tailândia, Egito,
em recipientes reutilizáveis.
Argélia, Mianmar e Coreia do Norte e Brasil117.
A Fundação Ellen MacArthur estima que a
Por isso, é urgente que o governo brasileiro
substituição de apenas 20% das embalagens
aprove legislação robusta para reduzir sua con-
plásticas de uso único por alternativas reutilizá-
tribuição na poluição por plástico no oceano.
veis tem um potencial de negócios de US$ 10
bilhões119. Com a ajuda de tecnologias digitais,
REDUZIR, REUSAR, RETORNAR os modelos de reúso podem propiciar aos con-
sumidores experiências de melhor qualidade,
Os problemas causados pelo excesso e customizar produtos de acordo com as necessi-
mau uso dos polímeros fósseis também têm dades individuais, garantir fidelidade às marcas,
levado à busca por materiais mais ecológicos otimizar operações e reduzir custos. Eles permi-
e a mudanças nos padrões de consumo e no tem, por exemplo, que uma embalagem de sor-

75
vete de alta qualidade que conserva o produto
por horas fora do congelador seja entregue e
INICIATIVAS
retirada em casa por meio de um modelo de
assinaturas. Além de conveniente e agradável, ALEMANHA – sistema nacional
a experiência pode fidelizar o cliente. de depósito e devolução de garrafas
Sistemas de reúso também têm o potencial
de criar empregos localmente e diminuir os A Alemanha conta com um sistema na-
gastos da administração pública com gestão de cional de garrafas retornáveis, feitas de
resíduos e limpeza. O sistema de garrafas retor- vidro ou PET, em tamanhos que variam de
náveis já foi a principal forma de distribuição da 200 ml a 1,5 litro. Quase todas as garrafas
indústria de bebidas, mas as empresas diminuí- (99%) são retornadas pelos consumido-
ram significativamente a parte de mercado des- res, via máquinas ou em pontos de venda.
se tipo de embalagem em prol das descartáveis. Na devolução, eles são reembolsados
Estudo da Oceana calculou que um au- pelos depósitos de € 0.08 ou € 0.15. As
mento de 10% na fatia de mercado de garra- garrafas de vidro são higienizadas e reu-
fas retornáveis de bebidas não alcóolicas nos tilizadas até 50 vezes, enquanto as PET,
países costeiros poderia reduzir a poluição 20 vezes, em média. A maior parte das
marinha por essas garrafas em 22%. Isso sig- garrafas têm tamanho padrão, o que per-
nificaria deixar de 4,5 bilhões a 7,6 bilhões de mite que sejam usadas e retornadas por
garrafas PET longe dos oceanos a cada ano. Já diversos consumidores121.
um aumento de 20% na fatia de mercado de
retornáveis poderia levar a uma diminuição da ReCup – sistema de depósito
poluição marinha por esses produtos de 39%, e devolução de copos
evitando que de 8,1 bilhões a 13,5 bilhões de
garrafas PET cheguem ao mar anualmente120. A Recup propõe um sistema de reúso de
O estudo da Oceana pontua que, apesar dos copos para cafeterias na Alemanha. Os
retornáveis terem perdido espaço para as consumidores pagam € 1 por copos de
embalagens não retornáveis, o primeiro ainda polipropileno reutilizáveis em três ta-
detém grandes fatias de mercado ao redor do manhos: 200 ml, 300 ml ou 400 ml. Eles
mundo e tem ficado mais eficiente e rentável. recuperam o dinheiro ao retornar o copo
Visando à diminuição de resíduos plásti- vazio em qualquer uma das mais de 2,7 mil
cos, surgem produtos em novos formatos e lojas cadastradas espalhadas por 450 ci-
materiais, como escovas de dentes de bambu dades. Os parceiros comerciais da ReCup
e xampus e cremes dentais sólidos. A preo- pagam uma taxa de adesão para financiar
cupação com o meio ambiente também abre o sistema e ter acesso ao aplicativo. Os
espaço para o desenvolvimento de negócios copos são projetados para serem usados
inovadores que favorecem a reutilização de até mil vezes122.
embalagens, parte crucial da solução para a
poluição plástica.

76
Loop – produtos de grandes marcas em economizando assim centenas de embalagens
embalagens retornáveis descartáveis. Os consumidores pagam € 9 pela
embalagem para viagem, que pode ser devolvi-
A Loop é uma plataforma on-line desenvolvida da em qualquer restaurante parceiro, onde são
pela empresa de reciclagem Terra Cycle que pro- reembolsados. Os restaurantes da rede são res-
põe produtos de grandes marcas em embalagens ponsáveis pela higienização dos recipientes124.
de boa qualidade e retornáveis. Ela simplifica ao
mesmo tempo a vida dos consumidores, entre- Algramõ 2.0 – sistema de refil inteligente
gando os produtos e coletando as embalagens sobre rodas
vazias em casa, e dos fabricantes, encarregando-
se da logística reversa, higienização e redistribui- Em parceria com a Unilever e a Nestlé, a startup
ção das mercadorias. chilena lançou um sistema-piloto de distribuição
inteligente de produtos em domicílio usando
As taxas de adesão para os parceiros comerciais triciclos elétricos. Os consumidores compram
são definidas em função da durabilidade, grau de embalagens reutilizáveis e fazem uma conta
dificuldade de limpeza e avaliação dos ciclos de on-line, que administra os créditos para refil e re-
vida das embalagens. Recipientes de lavagem di- compensas de fidelidade que podem ser descon-
fícil implicam taxas mais altas do que embalagens tadas nas máquinas distribuidoras. Os usuários
simples de higienizar. podem marcar a visita pelo aplicativo sem custo.
O primeiro projeto-piloto tem opções de refil de
Para os usuários, não há mensalidades ou taxas produtos de limpeza, como Omo, e ração Purina.
de inscrição, eles apenas precisam pagar uma pe- A startup está aberta para incluir novas marcas ao
quena quantia pelo empréstimo da embalagem, sistema e instalar seu dispositivo de vendas em
que é restituída no ato da devolução. Em parceria supermercados125.
com empresas como P&G, Unilever, Nestlé, Pep-
siCo e Coca-Cola, a Loop está disponível atual- Projeto Reutilizar #praserfeliz – produtos a
mente na costa leste americana e em Paris. Ao granel no Pão de Açúcar, no Brasil
longo de 2020, a plataforma deve expandir suas
operações para outros países123. Algumas lojas da bandeira de supermercados
Pão de Açúcar participam do Projeto Reutili-
ReCircle - sistema de embalagens retornáveis de zar #praserfeliz. Produtos como grãos, chás,
comida para viagem temperos e chocolates são disponibilizados em
dispensers específicos para venda a granel. Essas
Esse sistema de reúso de embalagens conta com estruturas garantem o frescor dos alimentos e
mais de 800 restaurantes parceiros na Suíça e 27 permitem que os clientes comprem porções dos
na Alemanha, tendo mais de 70 mil recipientes tamanhos desejados. O projeto contribui para
em circulação. Os estabelecimentos pagam uma a redução do uso de descartáveis e permite aos
anuidade de € 135, que inclui 20 recipientes, consumidores pagarem menos por não incluir

77
no preço o custo das embalagens. As lojas que bananeira para embalar verduras e planeja trocar
aderem ao programa comercializam embalagens bandejas de isopor por soluções biodegradáveis
reutilizáveis de vidro. à base de bagaço de banana e mandioca126.

B.O.B – bars over bottles – cosméticos em barra Tamoios – embalagens biodegradáveis feitas
de resíduos agroindustriais
Com a proposta “zero plástico”, a marca brasileira
vende xampus e condicionadores sólidos em A empresa paulista Tamoios Tecnologia produz
embalagens biodegradáveis. Os produtos são embalagens biodegradáveis a partir de resíduos
veganos e livres de conservantes. agroindustriais. As aplicações incluem bandejas
para alimentos secos e frutas, embalagens para gar-
Beegreen – talheres de bambu reutilizáveis rafas, enchimento para sapatos e embalagens para
made in Brazil peças automobilísticas. Os produtos são feitos com
polpa moldada obtida a partir do papelão e outras
A empresa brasileira Beegreen Sustentabilida- fibras vegetais, como fibra de bananeira. Também
de Urbana desenvolveu uma linha de talheres podem ser utilizados no processo papéis de recicla-
feitos de bambu com produção 100% brasileira. gem e casca de arroz. Um diferencial da empresa é o
“Levamos mais de um ano no desenvolvimento maquinário desenvolvido pelos sócios, que é capaz
dos talheres, já que o Brasil não possui maqui- de fabricar diferentes formatos de embalagens.
nário e estrutura adequada para a produção em Infelizmente, isso não ocorre com os fabricantes de
bambu. Nossos produtos são feitos quase que caixas de ovos, que, apesar da técnica parecida (pol-
manualmente, mesmo assim, já estamos no pro- pa moldada), trabalham com máquinas enormes
cesso de desenvolvimento de novidades”, disse que só conseguem fazer um tipo de produto127.
a engenheira de produção e sócia proprietária da
Beegreen, Patricya Bezerra. O Brasil tem 258 es- Oka Bioembalagens - bioembalagens 100%
pécies de bambu e conta com a maior reserva na- compostáveis
tural do planeta, mas a cadeia produtiva da planta
ainda está sendo estruturada no país. A empresa brasileira Oka Biotecnologia produz
bioembalagens 100% compostáveis, de matéria
Casa Santa Luzia – verduras embaladas prima de fonte renovável - a fécula da mandio-
em folhas de bananeira ca. No portfólio de produtos da empresa estão
bowls, copos de 80ml a 500ml, e talheres, todos
A Casa Santa Luzia, em São Paulo, tem se esfor- compostáveis e comestíveis, e que podem subs-
çado para reduzir sua produção de resíduos. O tituir embalagens de plástico ou isopor. A empre-
empório voltado a um público de alto poder aqui- sa também desenvolve outros tipos de bioemba-
sitivo substituiu parte do plástico por folhas de lagens personalizadas.

78
79
Foto: Oceana/Lara Iwanicki
6. PROPOSTAS DA
OCEANA PARA
O BRASIL
Mais plástico foi produzido na década anterior bilidade e o aumento das taxas de reciclagem
do que em todo o século passado e, como dos resíduos produzidos e, em alguns casos,
resultado, um caminhão de resíduos de plástico em promover a incineração com a recuperação
é despejado em nossos oceanos a cada minuto. energética desse resíduo plástico.
As projeções atuais indicam que, nesse ritmo, No entanto, uma avaliação realista do
12 bilhões de toneladas de resíduos plásticos impacto potencial da reciclagem mostra que
estarão em aterros sanitários wou dispersos no ela por si só não é e não será suficiente na
ambiente até 2050. prevenção da poluição por plásticos. Mesmo
As embalagens são o maior mercado para nas suposições mais otimistas sobre aumento
o plástico, consumindo cerca de 36% da das taxas de reciclagem, ela não acompanhará a
produção mundial e 40% da produção nacio- tendência de crescimento na produção total de
nal. O plástico de uso único é a opção mais descartáveis e, portanto, não impedirá o fluxo
barata porque as externalidades negativas não de plástico para os oceanos.
estão contabilizadas no custo das embalagens É preciso exigir que as empresas de bens
ou dos produtos descartáveis. Esses custos de consumo vão além dos compromissos de
ocultos para o meio ambiente e para a saúde reciclagem e reciclabilidade e ofereçam opções
humana acabam sendo pagos pelos impostos de embalagens sem plástico. O consumidor que
dos contribuintes. queira evitar esses materiais tem escolha limi-
Nos últimos anos, o problema da poluição tada devido à carência de alternativas e, assim,
por plásticos tem sido atribuído a falhas no não consegue fazer escolhas conscientes.
sistema de gestão e gerenciamento de resíduos. Governos também têm papel fundamen-
Esse enquadramento transferiu a responsabi- tal na redução da poluição. Muitos países já
lidade (e a culpa) para o consumidor (que tam- im-plementaram ou estão desenvolvendo
bém falha na separação daquilo que descarta) políticas nacionais limitando o uso de produtos
e para as cidades (que não efetivam a imple- de plástico descartável e embalagens, e à me-
mentação da coleta seletiva, investem pouco dida que governos e sociedade se tornam mais
em infraestrutura de reciclagem, ainda mantém conscientes, aumenta o número de legislações
lixões a céu aberto e não formam capacidades nessa direção.
institucionais). Assim, as soluções políticas No Brasil, não há ainda uma legislação na-
têm se concentrado em demonstrar a recicla- cional sobre produtos plásticos descartáveis:

81
diferente das embalagens, não são tratados de A solução prática e concreta para impedir que o
forma diferenciada pela Política Nacional de Resí- plástico de uso único continue poluindo o mar
duos Sólidos (PNRS) ou pelo Acordo Setorial para é reduzir a oferta e consumo desse material.
Logística Reversa de Embalagens em Geral, nem é O primeiro passo é substituir, gradativamente,
foco de regra restritiva de qualquer natureza. todo o plástico evitável, como os produtos des-
Subnacionalmente, tanto na esfera legal cartáveis, por alternativas retornáveis, reutilizá-
quanto na vigilância sanitária, há regulamentos veis, que não gerem resíduos, ou por materiais
diversos nos estados e municípios, nem sempre alternativos mais sustentáveis.
na mesma direção. Há leis que obrigam o uso Apenas se estiverem limpos e em equilíbrio,
de oxidegradáveis para sacolas plásticas e ou- nossos oceanos podem alimentar um bilhão de
tras que o proíbem, há banimentos de canudos pessoas todos os dias. A única solução prática e
e há obrigatoriedade de embalagens individuais concreta para impedir que o plástico continue
e herméticas para canudos. Há, portanto, ao poluindo o mar é que governos e empresas
mesmo tempo, vácuo e confusão legal, além de se comprometam com ações para redução do
falta de vontade política que impede o país de uso desse material. A Oceana recomenda três
enfrentar, de forma efetiva, o crescente volume soluções concretas que, juntas, podem reduzir
de lixo plástico gerado no território nacional. efetivamente a poluição marinha por plástico:

LEI NACIONAL PARA REDUZIR O USO DE PLÁSTICOS DE USO ÚNICO

O Brasil precisa de uma lei em âmbito nacional regulando a oferta e o uso de todo plástico
evitável e desnecessário. É inegável a contribuição do Brasil para a poluição plástica nos
oceanos, portanto, o país tem grande responsabilidade em reduzir esse impacto. É urgente
uma legislação robusta, inspirada em políticas, leis e boas experiências internacionais, visando
reduzir a geração de resíduos evitáveis para:

i. Harmonizar as regulamentações dispersas sobre o uso de plásticos descartáveis;

ii. Promover a não geração de resíduos plásticos;

iii. Exigir a substituição dos produtos de plástico descartável, como utensílios, pratos, copos,
assim como bandejas e contêineres de isopor, por opções retornáveis, reutilizáveis ou,
ainda, por opções mais sustentáveis.

iv. Estabelecer metas para a redução e reutilização de embalagens plásticas de uso único;

v. Exigir que o fornecimento de sacolas plásticas seja feito mediante cobrança de, no míni-
mo, seu preço de custo, até que sejam completamente substituídas por sacolas retorná-
veis ou opções mais sustentáveis;

vi. Estabelecer sanções pelo não cumprimento da responsabilidade estendida do produtor


pelas embalagens pós-consumo, por meio de fiscalização e suspensão de licença de
comercialização.

Ainda, é preciso que municípios e estados também implementem políticas locais limitando o
uso de plástico descartável.

82
OFERTA DE ALTERNATIVAS SEM PLÁSTICO PARA O CONSUMIDOR

As empresas devem oferecer aos consumidores opções livres de plástico para seus produtos e
embalagens, a um custo similar ou menor do que as embalagens hoje utilizadas. Isso significa que
as empresas devem substituir os produtos descartáveis por opções reutilizáveis, inovar e investir
em sistemas de entrega com embalagens retornáveis ou reutilizáveis. Os consumidores desempe-
nham papel importante e devem exigir que suas marcas favoritas ofereçam opções sem plástico.

Diversas empresas têm oferecido alternativas, comprovando não só a viabilidade da transição


para produtos ou embalagens diferenciadas, como o interesse do consumidor por essa opção.
São inúmeras as possibilidades no Brasil:

● Oferta de produtos a granel, sem embalagem plástica, para envase em recipiente pró-
prio do cliente;

● Produtos oferecidos em embalagens retornáveis;

● Substituição de embalagens – como as bandejas de isopor para frios, ou embalagens


de plástico para bolos e pães, ou, ainda, frutas e legumes embalados – por alternativas
biodegradáveis ou compostáveis;

● Desenvolvimento e oferta de embalagens alternativas (em vidro, alumínio ou cartonado),


com base em análises de ciclo de vida;

● Oferta de refis em loja mediante entrega da embalagem vazia (o consumidor paga apenas
pelo produto: entrega a embalagem vazia e leva um produto novo).

As mudanças de produtos emblemáticos trazem inspiração para outras mudanças, ou a criação de


ambiente favorável para novos modelos de negócio menos intensivos no uso de plástico.

ZONAS LIVRES DE PLÁSTICO

Com o objetivo de reduzir a quantidade de plástico de uso único e conscientizar o público quanto
à poluição de plásticos nos oceanos, a Oceana propõe que sejam criadas Zonas Livres de Plásti-
co. Essas zonas são áreas onde não são fornecidos, comercializados ou utilizados plásticos de uso
único, podendo ser desde escritórios corporativos, aeroportos, escolas e universidades, hotéis,
bares de praia, até festivais, eventos e cidades inteiras. Essas iniciativas não precisam se limitar a
áreas costeiras e podem ser implementadas pelas próprias comunidades, governos ou estabeleci-
mentos comerciais, de forma individual ou por meio de suas redes.

83
Foto: Instituto Mar Urbano / Ricardo Gomes
ANEXO I – METODOLOGIA

A construção deste relatório teve como base a SEÇÃO 1. A ERA DO PLÁSTICO


abordagem da Oceana globalmente, ajustada
a cada país, e foi feita a partir da contratação As informações apresentadas na Seção 1 são
de quatro consultorias especializadas, que resultado de revisão bibliográfica, compilação e
contribuíram para as análises e resultados análise de dados disponíveis na literatura citada.
apresentados. Além dos relatórios produzidos
por cada consultoria, também foram SEÇÃO 2. PLÁSTICOS DE USO ÚNICO
realizadas revisões bibliográficas e análises
de dados secundários pela Oceana. Metodologia do dimensionamento do mercado
Foram utilizadas fontes de informação públi- de plásticos de uso único no Brasil
cas e oficiais, como dados do Sistema Nacional
de Informações sobre Saneamento – módulo Re- Os plásticos de uso único foram descritos
síduos Sólidos, do Programa de Monitoramento sob duas categorias: produtos descartáveis e
de Praias (PMP), do Painel de Combate ao Lixo no embalagens de uso único. A produção de trans-
Mar, do Ministério do Meio Ambiente, números formados plásticos de uso único foi estimada a
sobre exportação e importação, do Ministério da partir do consumo aparente de resinas virgens
Indústria, Comércio Exterior e Serviços, além de (provenientes da 2ª geração petroquímica) para
artigos científicos e banco de dados da legislação aplicações de uso único. Sobre este valor so-
brasileira. Para dados específicos sobre produção, mou-se os dados de comércio exterior relativos
consumo aparente e aplicações dos plásticos de à importação e exportação de itens plásticos
uso único, a consultoria Giral Viveiro de Projetos de uso único para que se chegasse ao consumo
contratou um estudo da Maxiquim, empresa de aparente de plásticos de uso único.
avaliação de negócios na indústria química. O consumo aparente de resinas termo-
Para enriquecer o relatório, também foram plásticas virgens foi calculado com base nos
realizadas entrevistas com as seguintes asso- dados de produção, importação e exportação
ciações setoriais: Abal (Associação Brasileira brasileiras de cada resina. São elas: PEBD,
de Alumínio), Abiplast (Associação Brasileira da PEBDL, PEAD, PP, PS, PET, PVC e EPS. Os
Indústria do Plástico) e Abividro (Associação dados de produção de resinas virgens são
Brasileira das Indústrias de Vidro). oriundos de fontes primárias – as próprias
A metodologia específica para cada seção produtoras de resinas (indústrias petroquími-
está detalhada a seguir. Todas as referências bi- cas) –, enquanto os dados de importação e
bliográficas citadas e utilizadas para a construção exportação de resinas foram obtidos junto ao
deste estudo estão disponíveis para consulta. Comex (Ministério da Indústria, Comércio

85
Exterior e Serviços – MDIC). Foram utiliza- de uso único, considerando apenas resinas
das as Nomenclatura Comum do Mercosul virgens. Também não foram contabilizadas apli-
(NCMs) das resinas em questão. cações de uso único para as resinas de plásticos
Quanto ao levantamento das importações e de engenharia. Para o caso do PVC, o volume é
exportações de plásticos de uso único, utilizou-se irrisório e a Maxiquim não possui série histórica
algumas NCMs de plásticos transformados. Foi disponível. Realizou-se o levantamento do volu-
feita uma busca detalhada, a partir dos nomes das me de PVC de uso único para o ano de 2019.
NCMs para se chegar aos números desse recorte.
Com base na segmentação por aplicação de Metodologia de cálculo da quantidade de itens
cada resina, destacando-se os usos relacionados descartáveis e embalagens (página 29)
a embalagens de bens de consumo não duráveis
(alimentos, bebidas, higiene pessoal, limpeza do- A quantidade de itens de uso único consumi-
méstica) e de descartáveis, chegou-se ao consumo dos, apresentada na página 25, foi obtida pela divi-
aparente de resinas termoplásticas virgens para são do volume consumido por produto pelo peso
aplicações de uso único por resina. Os dados de médio de uma unidade, conforme TABELA 9. Como
segmentação de mercado são oriundos da base o peso de uma unidade pode variar de acordo
de dados e inteligência da Maxiquim, empresa de com a sua espessura, utilizou-se como referência
avaliação de negócios na indústria química, que os valores disponíveis na literatura, especificações
forneceu dados para a consultoria Giral Viveiro de técnicas e/ou dados sobre os produtos à venda,
Projetos contratada pela Oceana. para os itens com informação disponível. A soma
O cálculo do consumo aparente de resinas das unidades totaliza 482,16 bilhões de unidades,
de uso único não considerou a produção de e por aproximação, considerou-se o valor de 500
resinas recicladas que se destinam a aplicações bilhões de unidades.

TABELA 9.
Para o volume de consumo/ano - Base de dados da Maxiquim, contratada pela Giral Viveiro de Projetos.

ITEM VOLUME CONSUMO/ANO PESO DE 1 UNIDADE TOTAL UNIDADES/ANO

Sacolas 213 mil toneladas 3 g1 71.000.000.000,00


Copos 150 mil toneladas 2,2 g (copo de 200 ml) 2
68.181.818.181,82
Utensílios 30 mil toneladas 1,72 g 3
17.441.860.465,12
Garrafas PET 537 mil toneladas 47 g (garrafa de 2 L)4 11.425.531.914,89
Bandejas de isopor 52 mil toneladas 6g 5
8.666.666.666,67
Embalagens flexíveis 1317 mil toneladas 4,9g⁶ 268.775.510.204,08
11 mil toneladas
Canudos e misturadores de bebidas 0,3g7 36.666.666.666,66

Referências:
1
Dados

do Estudo de Ecoeficiência de Sacolas de Supermercado, disponível em: http://www.braskem.com.br/Portal/Principal/Arquivos/
Download/Upload/SOAP_Estudo%20sacolas_FINAL%20WEBSITE_26.pdf
2
Dados de informação ao consumidor do Inmetro, disponível em: http://www.inmetro.gov.br/consumidor/produtos/copos_plasticos.asp
3
Informação disponível em: http://bellocopo.com.br/garfo-ref-cristal/
4
Dados da ABIPET, disponível em: http://www.abipet.org.br/index.html?method=mostrarInstitucional&id=66
5
Informação disponível em: https://embalagensoriginal.com.br/produto/bandeja-de-isopor-b3-rasa-400-unidades/153
⁶ O peso das embalagens flexíveis é variável. Utilizou-se um valor médio como referencia de calculo. Fonte: https://blog.sulprint.com.br/
calculo-de-rendimento-para-embalagens-flexiveis/
7
Informação disponível em: http://monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10030034.pdf

86
SEÇÃO 3. GESTÃO DE RESÍDUOS
DE PLÁSTICOS

O SNIS é o maior e mais importante sistema única fonte de dados e informações primárias
de informações do setor saneamento no Brasil, oficiais confiáveis sobre a gestão e o manejo
que se apoia em um banco de dados que dos resíduos sólidos gerados no país.
contém informações de caráter institucional,
administrativo, operacional, gerencial, econô- Composição física dos resíduos sólidos coletados
mico-financeiro, contábil e de qualidade sobre
a prestação de serviços de água, de esgotos e A caracterização gravimétrica ou gravimetria
de manejo de resíduos sólidos urbanos. Para é um método analítico quantitativo comumente
o componente resíduos sólidos, as informa- aplicado à massa de resíduos sólidos na busca
ções do SNIS-RS são coletadas anualmente e de conhecer a sua real composição (frações
provêm de prestadores de serviços ou órgãos constituintes), com o objetivo de planejamento
municipais encarregados da gestão dos serviços mostrando-se uma análise fundamental para
(fonte primária), sendo a base de dados total- conhecer e monitorar os resíduos para os quais
mente pública e disponibilizada gratuitamente se deve planejar e/ou gerenciar, uma vez que sua
no sítio www.snis.gov.br. composição apresenta variações em função das
Por meio da base de dados coletada, o características de cada município e/ou região.
Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) Grande parte dos municípios brasileiros
estrutura o Diagnóstico do Manejo dos Re- ainda não realizam a análise gravimétrica
síduos Sólidos Urbanos, tendo como ano de periódica para os resíduos gerados, ou, se a
referência o ano anterior ao seu lançamento. realizam, não disponibilizam seus resultados
Na edição 2018, 3.468 municípios participaram para consulta. Por essa razão, para possibi-
da coleta de dados (62,3% do total do país), litar conhecer a composição dos resíduos
cobrindo 85,6% da população urbana do país. domiciliares gerados no Brasil para fins desse
Foram consolidados 47 indicadores para os estudo, foram adotados os dados levantados
resíduos sólidos, eentre eles taxa de cobertura pelos Planos Estaduais de Resíduos Sólidos
do serviço de coleta domiciliar, massa recupe- (TABELA 10) de oito estados, ainda que esses
rada per capita e autossuficiência financeira do tenham sido estimados por meio de diferentes
órgão gestor. Atualmente, mostra-se como a metodologias e em diferentes períodos.

87
TABELA 10.
Composição física dos resíduos coletados disponíveis em Planos Estaduais de Resíduos Sólidos (%)

MATÉRIA
ESTADO PAPEL/PAPELÃO PLÁSTICO VIDRO METAIS OUTROS REJEITOS
ORGÂNICA

AL 10,49 13,19 3,97 3,28 - - 54,08

MA 21,89 32,13 3,01 39,97 10,00 - -

MG 9,75 8,25 2,50 3,00 11,50 - 65,00

PE 8,93 11,04 2,69 3,10 - 17,84 56,46

PI 12,01 13,22 2,54 0,03 - - -

RJ 15,99 19,14 3,28 1,57 6,74 - 53,28

RN 3,50 15,30 2,00 2,54 2,75 36,34 35,54

SC 14,40 16,38 3,63 3,06 18,67 - 43,83

Média 12,12 16,08 2,95 7,07 9,93 - 51,37

Fonte: Planos Estaduais de Resíduos Sólidos – AL (2010), MA (2012), PE (2010), PI (2011), RJ (2013), RN (2012), SC (2014).

Observa-se que os dados disponibilizados Viveiro de Projetos, que realizou as análises


pelos estados não somam 100% como o espe- estatísticas.
rado, provavelmente em função de alguns es-
tados terem considerado a parcela de outros SEÇÃO 4. POLUIÇÃO MARINHA POR
resíduos não especificados como rejeitos, não PLÁSTICOS NO BRASIL
sendo possível identificar a inconsistência por
não conterem informações a respeito. Assim, Contribuição do Brasil para a poluição marinha
dados de alguns estados (MA, RN, SE é PI) por plásticos
que se mostraram incompletos ou imprecisos O cálculo da contribuição do Brasil para a po-
foram excluídos uma vez que inconsistências luição marinha por plásticos foi realizado usando
deste tipo podem aumentar o viés (erro) do a mesma metodologia de Jambeck e colaborado-
cálculo Brasil. res no artigo Plastic waste inputs from land into the
Os dados sobre reciclagem e volume de ocean, publicado na revista Science, em 2014. Este
resíduos plásticos de uso único consumidos artigo estima a quantidade total de plástico que
para produção de resinas recicladas fo- entra no oceano, a cada ano, a partir de resíduos
ram uma consolidação estatística de dados gerados por populações costeiras em todo o
oriundos das próprias empresas recicladoras. mundo. O Brasil aparece em 16º lugar no ranking
As estratificações dos plásticos de uso único dos 20 países com maior massa de plásticos
por resina foram obtidas da base de dados da destinados inadequadamente, contribuindo para
Maxiquim, contratada pela consultoria Giral introduzir entre 70 a 190 mil toneladas de lixo no

88
mar anualmente (dados de 2010). A Oceana utili- dados disponíveis. A tabela 11, abaixo, resume
zou dados públicos e oficiais do governo brasileiro as variáveis e dados utilizados por Jambeck et al
para atualizar os valores de cada parâmetro e, (2014), assim como os dados usados pela Oceana
assim, obter um valor para 2018, último ano com para atualizar o cálculo.

TABELA 11.
Variáveis e dados utilizados para calcular a contribuição do Brasil para a poluição marinha por plásticos

PARÂMETROS BRASIL (2010) BRASIL (2018) DDESCRIÇÃO

UMI = upper middle income; classificação do


Status econômico UMI UMI Banco Mundial para o status econômico do
Brasil, de acordo com a renda per capita.

Os autores consideram como população costeira


os habitantes que vivem em cidades até 50 km
do litoral, e não apenas os municípios litorâneos.
Como não tivemos acesso à lista de municípios
População costeira (até considerados, atualizamos o número de habitantes
74.696.771 81.646.480
50 km do litoral) com base nos dados do IBGE sobre crescimento
da população brasileira. Calculamos a taxa de
crescimento da população para cada ano entre
2010-2019, e aplicamos a taxa sobre população
considerada pelos autores (74,69 milhões),

Dados do SNIS indicam que são coletados


0,96 kg de resíduos/hab./dia, mas não
Taxa de geração de
1,03 1,03 apresentam a quantidade per capita de
resíduo [kg/pessoa/dia]
resíduos gerados, por dia. Conservadoramente,
foi mantido o valor utilizado em 2010.

Porcentagem do resíduo coletado que é


composto por plástico. Para atualizar esse
número, calculamos a média ponderada da fração
% de plástico na
15,95 16,08 de plástico na composição física dos resíduos
composição do lixo
coletados, disponíveis em 8 Planos Estaduais de
Resíduos Sólidos (AL/2010, MA/2012, PE/2010,
PI/2011, RJ/2013, RN/2012, SC/2014).

89
PARÂMETROS BRASIL (2010) BRASIL (2018) DDESCRIÇÃO

Segundo os autores são consideradas práticas


inadequadas de gestão do resíduo a destinação
para locais sem gestão formal, incluindo
vazadouros a céu aberto ou aterros onde o
% de resíduo destinado resíduo não é totalmente controlado. No Brasil,
8,52% 24,38%
inadequadamente é considerada inadequada toda disposição de
resíduos em lixões e aterros controlados (que,
em muitos municípios, se assemelham a lixões).
Dados do SNIS apontam que 24,38% do resíduo
coletado tem disposição final inadequada.

Na metodologia, os autores consideram, para


cada país, um volume adicional equivalente a 2%
da quantidade de resíduos gerados por dia, que
% de resíduo jogado corresponde ao resíduo descartado de maneira
2% 2%
direto no ambiente inadequada nas vias públicas, nos rios, nos terrenos
baldios, na areia da praia etc. Na falta de um dado
mais recente e específico para o Brasil, utilizou-
se o mesmo valor considerado pelos autores.

Geração de resíduos [kg/dia] 76.937.674 84.095.874

Geração de resíduos
12.271.559 13.522.617
de plásticos [kg/dia]

Resíduos de
plásticos destinados 1.046.087 3.296.814
inadequadamente [kg/dia] Cálculos realizados em planilha Excel,
seguindo a metodologia dos autores, e
utilizando os dados atualizados de 2018.
Resíduo de plástico jogado
245.431 270.452
no ambiente [kg/dia]

Resíduo plástico mal


0,017 0,044
gerido [kg/pessoa/dia]

Resíduo plástico mal


471.404 1.302.052
gerido [toneladas] no ano

90
A fonte de informação utilizada foi o 17º Portanto, essa porcentagem é altamente
Diagnóstico do Manejo de Resíduos Sólidos Ur- variável e dependente de fatores locais de
banos, elaborado pelo Ministério do Desenvolvi- cada país, como condições climáticas, topo-
mento Regional, no âmbito do Sistema Nacional grafia e vegetação. O estudo propõe, então,
De Informações Sobre Saneamento, e dados do três taxas de conversão (15%, 25% e 40%),
IBGE sobre crescimento da população brasileira. consideradas conservadoras, para estimar a
De acordo com Jambeck et al (2014), massa de plástico que entrou no mar a partir
uma porcentagem do total de resíduos mal de resíduos terrestres. A tabela 12, abaixo,
gerenciados chega aos oceanos por meio de mostra o resultado obtido para o Brasil em
córregos, rios, escoamento de águas pluviais 2010 e os resultados obtidos pela Oceana a
ou esgoto, transporte por vento ou marés. partir dos dados de 2018.

TABELA 12.
Resultado da contribuição do Brasil para a poluição por plástico no oceano, em 2010 e em 2018

PARÂMETROS 2010 2018

Massa de resíduo plástico gerido inadequadamente (tons) 471.404 1.302.052

Massa de plástico que chega ao oceano (15%) (tons) 70.711 195.308

Massa de plástico que chega ao oceano (25%) (tons) 117.851 325.513

Massa de plástico que chega ao oceano (40%) (tons) 188.562 520.821

Usando o mesmo artigo como referência, o Os dados oficiais do governo (SNIS, 2018)
Ministério do Meio Ambiente apontou que 470 indicam que 24,4% do resíduo coletado tem
mil toneladas de lixo plástico são geridas de disposição final inadequada. Segundo dados
forma inadequada e que 133 mil toneladas de da Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas
plástico chegam aos mares no Brasil por ano5, de Limpeza Pública e Resíduos Especiais), esse
valor que é aproximadamente a média pondera- valor é ainda maior – 40,9%6 –, o que nos leva-
da entre os limites de 15% e 40% para o ano de ria a uma contribuição para a poluição marinha
2010. Com base nos dados atualizados, a Ocea- ainda mais alarmante. Ainda, a metodologia de
na considera que a contribuição mais provável referência considera apenas a parcela da popu-
do Brasil para a poluição marinha por plásticos lação que vive próximo à costa. No entanto, a
é de aproximadamente 325 mil toneladas por literatura científica já evidencia o papel que as
ano (valor intermediário de 25%), ainda que bacias hidrográficas têm no transporte dos resí-
este valor seja bastante conservador. duos até o mar, como já mencionado anterior-

5 https://www.mma.gov.br/agenda-ambiental-urbana/lixo-no-mar.html
6 Panorama Abrelpe 2019.

91
mente. Sendo assim, é possível que cidades do veterinário aos animais resgatados vivos e debi-
interior, distantes mais de 50 km da costa, com litados, bem como a realização de necropsias.
gestão inadequada de resíduos também con- A rede de atendimento desses encalhes
tribuam com a poluição marinha por plástico constitui-se de instalações distribuídas entre
através das bacias hidrográficas que as drenam. Laguna/SC e Conceição da Barra/ES, totali-
zando 2.788 km de faixa litorânea, formada
Impactos na fauna marinha brasileira por instituições como a Universidade do
Estado de Santa Catarina – Udesc, Instituto
Os registros obtidos para as análises apre- Australis, Associação R3 Animal, Universidade
sentadas no capítulo 4 fazem parte do escopo do Vale do Itajaí – Univali, Universidade da
do Projeto de Monitoramento de Praias da Região de Joinville – Univille, Universidade
Bacia de Santos (PMP-BS) e Bacia de Campos Federal do Paraná – UFPR, Instituto de Pes-
(PMP-BC), no Espírito Santo, cujo objetivo é quisas de Cananeia – IPEC, Instituto Biopes-
avaliar a interferência das atividades de produ- ca, Instituto Gremar, Instituto Argonauta, CTA
ção e escoamento de petróleo, realizadas no Meio Ambiente Consultoria e Instituto de
Pré-Sal, sobre os tetrápodes marinhos (aves, Pesquisa e Reabilitação de Animais Marinhos
tartarugas e mamíferos). As atividades desen- – Ipram, integrantes da Rede de Encalhes de
volvidas consistem em monitoramento diário Mamíferos Aquáticos do Brasil (Remab) e pela
das praias e realização de atendimento médico- Fundação Pró-Tamar (FIGURA 24).

92
FIGURA 24.
Instituições que compõem o PMP entre os estados do Espírito Santo
e Santa Catarina e localização das suas respectivas unidades de atendimento

93
O levantamento de dados foi realizado e/ou ingestão de resíduos sólidos ou, contudo,
baseando-se em informações disponíveis ao na maior parte das vezes, os resíduos sejam
público em Fichas de Ocorrência de Fauna Alvo observados apenas após a morte do animal, no
Individual e Exame Anatomopatológico, na exame de necropsia.
plataforma Simba (Sistema de Informação de A interação com os resíduos sólidos, como
Monitoramento da Biota Aquática), disponíveis plásticos, pode ou não estar vinculada com a
on-line no endereço eletrônico: https://seguro- causa mortis. Para discernir os casos, o diag-
gis.petrobras.com.br/simba/web/. nóstico presuntivo de necropsia é classificado
Nessas fichas registram-se informações como de causa natural ou antropogênica. As
compiladas desde o momento do encalhe do análises foram realizadas por espécie, sexo e
animal/carcaça na praia, como localização geo- classificação de ameaça segundo a IUCN.
gráfica da ocorrência, condições climáticas, bem As informações apresentadas no capítulo
como informações sobre a fauna (espécie, con- 4 são resultado das análises das Fichas de
dição da carcaça, integridade física, presença Ocorrência de Fauna Alvo Individual e Exame
de sinais de interação antrópica etc.). Há, ainda, Anatomopatológico disponíveis na plataforma
o registro de todos os achados de necropsia, Simba, no período de 24 de agosto de 2015
englobando as principais lesões encontradas, a 23 de agosto de 2019. Foram analisadas as
tipos de interações antrópicas sofridas, bem informações sobre conteúdo estomacal regis-
como o diagnóstico da causa mortis. Outras tradas nas fichas de necrópsia para verificar
informações adicionais foram encontradas em a quantidade de animais que haviam ingerido
consulta aos relatórios anuais disponíveis no fragmentos de plástico, por espécie, e quan-
canal de comunicação on-line da Petrobras tos tiveram como causa mortis a ingestão do
(https://www.comunicabaciadesantos.com.br/ lixo marinho.
programa-ambiental/projeto-de-monitoramen- Embora sejam registrados, nem todos os
to-de-praias-pmp.htm l). indivíduos que chegam mortos às praias estão
Os animais que encalham vivos na faixa de em condições satisfatórias para a realização de
atuação de cada uma das instituições recebem exames necroscópicos, uma vez que a morte
atendimento veterinário e passam por detalha- pode ocorrer longe da costa e a carcaça sofrer
do exame clínico, onde, além dos parâmetros ações enzimáticas autolíticas post mortem até o
biológicos, são também investigadas quaisquer momento do encalhe, impedindo naturalmente
marcas de traumas na pele, deixadas pelo o diagnóstico. Portanto, os números apresen-
contato com petrechos de pesca abandonados tados no capítulo 4 estão subestimados.

94
MICROPLÁSTICOS

Foram mapeadas e analisadas 62 pesquisas ● Os potenciais riscos das partículas e de


e revisões sistemáticas de qualidade científica seus aditivos/componentes do ponto de
reconhecida por organizações como a Orga- vista físico, químico e toxicológico.
nização Mundial da Saúde, FAO e a European
● Limitações metodológicas dos estudos so-
Food Safety Authority (EFSA) e por outros pes-
bre riscos à saúde e recomendações para
quisadores que analisaram dezenas de estudos
melhorar as pesquisas.
sobre os seguintes temas:
● Outras iniciativas que ajudariam a avaliar
● Tamanhos, formatos e tipos de microplás- melhor a contaminação de microplásticos
ticos com maior potencial de prejudicar o em espécies marinhas brasileiras e que
organismo humano. poderiam interessar à Oceana dentro de
seu escopo de atuação.
● Principais fontes de contaminação por
meio dos alimentos, água e pelo ar e o que ● Recomendações para redução do contato
já se sabe sobre a exposição humana e os com microplásticos, segundo organizações
riscos à saúde em cada um desses meios. ambientais e do direito do consumidor.

● Peixes, crustáceos e animais bivalves onde


Também foi realizada entrevista com espe-
foram encontradas as maiores concentra-
cialista do Instituto Oceanográfico da Universi-
ções e partículas com potencial de absor-
dade de São Paulo (IOUSP) e membro do Grupo
ção pelo corpo humano.
de Especialistas sobre Aspectos Científicos da
Proteção do Ambiente Marinho.

95
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1. Linha do tempo da invenção das principais resinas plásticas. 16

FIGURA 2. Fluxograma da cadeia de plástico. 17

FIGURA 3. Produção global de plásticos, de 1950 a 2018, e projeção de


crescimento para 2050. 19

FIGURA 4. Produção de plástico de uso único a partir de resinas virgens e sua


relação com a produção total de transformados no Brasil, 2010-2019. 23

FIGURA 5. Produção de plástico de uso único no Brasil em 2019. 24

FIGURA 6. Consumo de descartáveis em 2019, por tipo de


aplicação, e quantidade equivalente em unidades. 25

FIGURA 7. Consumo de embalagens em 2019, por tipo de


aplicação, e quantidade equivalente em unidades1. 25

FIGURA 8. Destino dos resíduos de plásticos gerados entre 1950 e 2017. 28

FIGURA 9. Esquema geral das etapas da Indústria de Recuperação


de Materiais Plásticos. 34

FIGURA 10. Quantidade de resíduo sólido urbano (RSU) coletado no Brasil


em 2018 e destinação final nos anos de 2014 a 2018. 38

FIGURA 11. Participação dos materiais de uso único na indústria de


reciclagem, em 2018. 40

FIGURA 12. Destino dos resíduos de embalagens plásticas em escala global, com base
na geração de resíduos de embalagens de plástico geradas em 2015. 42

FIGURA 13. Principais fontes e meios de transporte do resíduo plástico de


origem terrestre até o mar. 50

FIGURA 14. Quantidades estimadas de plástico nas principais áreas marinhas,


em bilhões de itens. 51

96
FIGURA 15. Contribuição anual do Brasil para a poluição marinha por plásticos
e quantidade de itens plásticos encontrados em limpezas de praia. 52

FIGURA 16. Foto de um saco plástico emaranhado em uma gorgônia


(Rio de Janeiro, 2020). 54

FIGURA 17. Quantidade de indivíduos e espécies de mamíferos, aves e tartarugas


marinhas que ingeriram resíduos plásticos, inclusive espécies ameaçadas
de extinção, entre 2015 e 2019, nas regiões Sudeste e Sul do Brasil. 55

FIGURA 18. Resíduos sólidos encontrados durante a triagem do trato


digestório dos animais necropsiados. 56

FIGURA 19. Pinguim de Magalhães (Spheniscus magellanicus) e tartaruga-verde


(Chelonia mydas), ambas encontradas com sacolas plásticas
no conteúdo estomacal. 57

FIGURA 20. Duas toninhas (Pontoporia blainvillei), espécie de golfinho criticamente


ameaçada de extinção, com registro de ingestão de plástico. 58

FIGURA 21. Distribuição dos animais marinhos que ingeriram resíduos sólidos,
inclusive plástico, no litoral Sudeste e Sul do Brasil, de 2015 a 2019. 59

FIGURA 22. Quantidade de microplástico encontrado em itens de consumo


humano e estimativa de consumo anual de microplástico, por pessoa. 61

FIGURA 23. Projeção da quantidade de resíduo de plástico que


será gerado e reciclado até 2050, em escala global. 66

FIGURA 24. Instituições que compõem o PMP entre os estados do


Espírito Santo e Santa Catarina e localização das suas respectivas
unidades de atendimento. 93

97
LISTA DE TABELAS

TABELA 1. Tipos de polímeros termoplásticos, propriedades e usos. 18

TABELA 2. Classificação dos produtos descartáveis por setor demandante,


exemplo de aplicações e resinas utilizadas na fabricação. 21

TABELA 3. Classificação das embalagens por setor demandante,


exemplo de aplicações e resinas utilizadas na fabricação. 22

TABELA 4. Principais mercados demandantes dos produtos


provenientes da indústria de reciclagem de plástico de uso único. 41

TABELA 5. Principais critérios para busca de resíduos recicláveis


plásticos por catadores, suas cooperativas e associações. 44

TABELA 6. Categorização do interesse dos catadores em


relação aos produtos descartáveis. 45

TABELA 7. Categorização do interesse das cooperativas em


relação às embalagens plásticas de uso único. 46

TABELA 8. Exemplos de estudos científicos sobre


microplásticos encontrados na água. 61

TABELA 9. Dados utilizados para converter volume dos itens


de uso único em unidades. 86

TABELA 10. Composição física dos resíduos coletados disponíveis em


Planos Estaduais de Resíduos Sólidos (%). 88

TABELA 11. Variáveis e dados utilizados para calcular a contribuição do


Brasil para a poluição marinha por plásticos. 89

TABELA 12. Resultado da contribuição do Brasil para a poluição


por plástico no oceano, em 2010 e em 2018. 91

98
99
Foto: Oceana/Lara Iwanicki
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