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Brasil é o 4º país do mundo que mais gera lixo plástico

O estudo do WWF aponta as possíveis soluções e caminhos capazes de estimular


a criação de uma cadeia circular de valor ao plástico.
A crise mundial da poluição por plásticos só vai piorar a menos que todos os
atores da cadeia de valor dos plásticos se responsabilizem pelo custo real do material
para a natureza e para as pessoas, alerta um relatório do WWF (Fundo Mundial para a
Natureza) publicado hoje. O novo estudo, “Solucionar a Poluição Plástica:
Transparência e Responsabilização”, reforça a urgência de um acordo global para
conter a poluição por plásticos.
A proposta desse acordo global será votada na Assembleia das Nações Unidas
para o Meio Ambiente (UNEA-4), que será realizada em Nairóbi, no Quênia, de 11 a
15 de março. Segundo o estudo do WWF, mais de 104 milhões de toneladas de plástico
irão poluir nossos ecossistemas até 2030 se nenhuma mudança acontecer na nossa
relação com o material.
Em fevereiro, o WWF lançou uma petição para pressionar os líderes globais a
defenderem esse acordo legalmente vinculativo sobre a poluição dos plásticos marinhos
na UNEA-4, que até agora atraiu 200.000 assinaturas em todo o mundo.
Segundo o estudo lançado pelo WWF, o volume de plástico que vaza para os
oceanos todos os anos é de aproximadamente 10 milhões de toneladas, o que equivale a
23 mil aviões Boeing 747 pousando nos mares e oceanos todos os anos – são mais de 60
por dia. Nesse ritmo, até 2030, encontraremos o equivalente a 26 mil garrafas de
plástico no mar a cada km2, revela o estudo conduzido pelo WWF.
"Nosso método atual de produzir, usar e descartar o plástico está
fundamentalmente falido. É um sistema sem responsabilidade, e atualmente opera de
uma maneira que praticamente garante que volumes cada vez maiores de plástico vazem
para a natureza", afirma Marco Lambertini, Diretor-Geral do WWF-Internacional.

De acordo com o estudo:


“O plástico não é inerentemente nocivo. É uma invenção criada pelo homem que gerou
benefícios significativos para a sociedade. Infelizmente, a maneira com a qual
indústrias e governos lidaram com o plástico e a maneira com a qual a sociedade o
converteu em uma conveniência descartável de uso único transformou esta inovação
em um desastre ambiental mundial.
Aproximadamente metade de todos os produtos plásticos que poluem o mundo hoje
foram criados após 2000. Este problema tem apenas algumas décadas e, ainda assim,
75% de todo o plástico já produzido já foi descartado.”

No Brasil
O Brasil, segundo dados do Banco Mundial, é o 4o maior produtor de lixo
plástico no mundo, com 11,3 milhões de toneladas, ficando atrás apenas dos Estados
Unidos, China e Índia. Desse total, mais de 10,3 milhões de toneladas foram coletadas
(91%), mas apenas 145 mil toneladas (1,28%) são efetivamente recicladas, ou seja,
reprocessadas na cadeia de produção como produto secundário. Esse é um dos menores
índices da pesquisa e bem abaixo da média global de reciclagem plástica, que é de 9%.
Mesmo parcialmente passando por usinas de reciclagem, há perdas na separação
de tipos de plásticos (por motivos como estarem contaminados, serem multicamadas ou
de baixo valor). No final, o destino de 7,7 milhões de toneladas de plástico são os
aterros sanitários. E outros 2,4 milhões de toneladas de plástico são descartados de
forma irregular, sem qualquer tipo de tratamento, em lixões a céu aberto.
O levantamento realizado pelo WWF com base nos dados do Banco do Mundial
analisou a relação com o plástico em mais de 200 países, e apontou que o Brasil
produz, em média, aproximadamente 1 quilo de lixo plástico por habitante a cada
semana.

PRODUÇÃO E RECICLAGEM DE PLÁSTICO NO MUNDO


Números em toneladas

Fonte: WWF / Banco Mundial (What a Waste 2.0: A Global Snapshot of Solid Waste
Management to 2050)
* Valor total de lixo plástico descartado em resíduos sólidos urbanos, resíduos
industriais, resíduos de construção, lixo eletrônico e resíduos agrícolas, na fabricação
de produtos durante um ano.

“É hora de mudar a maneira como enxergamos o problema: há


um vazamento enorme de plástico que polui a natureza e ameaça a vida. O próximo
passo para que haja soluções concretas é trabalharmos juntos por meio de marcos legais
que convoquem à ação os responsáveis pelo lixo gerado. Só assim haverá mudanças
urgentes na cadeia de produção de tudo o que consumimos”, afirma Mauricio
Voivodic, Diretor Executivo do WWF-Brasil.

Impacto socioambiental
A poluição do plástico afeta a qualidade do ar, do solo e sistemas de
fornecimento de água. Os impactos diretos estão relacionados a não regulamentação
global do tratamento de resíduos de plástico, ingestão de micro e nanoplásticos
(invisível aos olhos) e contaminação do solo com resíduos.
A queima ou incineração do plástico pode liberar na atmosfera gases tóxicos,
alógenos e dióxido de nitrogênio e dióxido de enxofre, extremamente prejudiciais à
saúde humana. O descarte ao ar livre também polui aquíferos, corpos d'água e
reservatórios, provocando aumento de problemas respiratórios, doenças cardíacas e
danos ao sistema nervoso de pessoas expostas.
Na poluição do solo, um dos vilões é o microplástico oriundo das lavagens de
roupa doméstica e o nanoplástico da indústria de cosméticos, que acabam sendo
filtrados no sistema de tratamento de água das cidades e acidentalmente usados como
fertilizante, em meio ao lodo de esgoto residual. Quando não são filtradas, essas
partículas acabam sendo lançadas no ambiente, ampliando a contaminação.
Micro e nanoplásticos vêm sendo ainda consumidos por humanos via ingestão
de sal, pescados, principalmente mariscos, mexilhões e ostras. Estudos indicam que 241
em cada 259 garrafas de água também estão contaminadas com microplásticos.
Apesar de alarmante, ainda são pouco conhecidos os impactos desta exposição humana,
a longo prazo.
Apesar de ainda haver poucos estudos sobre o impacto da ingestão de plástico
por seres humanos e outras espécies de animais, a Organização Mundial de Saúde
(OMS) declarou, em 2018, que entender os efeitos do microplástico na água potável é
um passo importante para dimensionar o impacto da poluição de plásticos em humanos.

No caminho das soluções


O estudo do WWF também aponta as possíveis soluções e caminhos capazes de
estimular a criação de uma cadeia circular de valor ao plástico. Pensados para cada elo
do sistema, que envolve a produção, consumo, descarte, tratamento e reúso do plástico,
os cuidados necessários propostos oferecem uma orientação para os setores público e
privado, indústria de reciclagem e consumidor final, de modo que todos consumam
menos plástico virgem (o plástico novo) e estabeleçam uma cadeia circular completa.
Os principais pontos da proposta são:
● Cada produtor ser responsável pela sua produção de plástico – O valor
de mercado do plástico virgem não é real pois não quantifica os prejuízos causados ao
meio ambiente e também não considera os investimentos em reúso ou reciclagem. É
necessário haver mecanismos para garantir que o preço do plástico virgem reflita seu
impacto negativo na natureza e para a sociedade, o que incentivaria o emprego de
materiais alternativos e reutilizados.
● Zero vazamento de plástico nos oceanos – O custo da reciclagem é
afetado pela falta de coleta e por fatores como lixo não confiável, ou seja, misturado ou
contaminado. As taxas de coleta serão maiores se a responsabilidade pelo descarte
correto for colocada em empresas produtoras dos produtos de plástico e não apenas no
consumidor final, uma vez que serão encorajadas a buscar materiais mais limpos desde
seu design até o descarte.
● Reúso e reciclagem serem base para o uso de plástico – A reciclagem é
mais rentável quando o produto pode ser reaproveitado no mercado secundário. Ou seja,
o sucesso desse processo depende de que valor esse plástico é negociado e seu volume
(que permita atender demandas industriais). Preço, em grande parte, depende de
qualidade do material, e essa qualidade pode ser garantida quando há poucas impurezas
no plástico, e quando ele é uniforme – em geral, oriundo de uma mesma fonte. Um
sistema de separação que envolva as empresas produtoras do plástico ajuda a viabilizar
esta uniformidade e volume, ampliando a chance de reúso.
● Substituir o uso de plástico virgem por materiais reciclados. Produtos
de plástico oriundo de uma única fonte e com poucos aditivos reduzem os custos de
gerenciamento desses rejeitos e melhoram a qualidade do plástico para uso secundário.
Por isso o design e o material de um produto são essenciais para diminuir esse impacto,
e cabe às empresas a responsabilidade por soluções.
Reduzir o consumo de plástico resulta em mais opções de materiais que sirvam
como opção ao plástico virgem, garantindo que seu preço reflita plenamente seu custo
na natureza e, assim, desencorajando o modelo de uso único. “Criar uma cadeia circular
de valor para o plástico requer melhorar os processos de separação e aumentar os custos
por descarte, incentivando o desenvolvimento de estruturas para o tratamento de lixo”,
afirma Gabriela Yamaguchi, Diretora de Engajamento do WWF-Brasil.

Biodiversidade
Estima-se que os resíduos plásticos existentes nos solos e rios seja ainda maior
do que nos oceanos, impactando a vida de muitos animais e contaminando diversos
ecossistemas, abrangendo agora os quatro cantos do mundo – inclusive a Antártida.
“No Brasil, a maior parte do lixo marinho encontrado no litoral é plástico. Nas
últimas décadas, o aumento de consumo de pescados aumentou em quase 200%. As
pesquisas realizadas no país comprovaram que os frutos do mar têm alto índice de
toxinas pesadas geradas a partir do plástico em seu organismo, portanto, há impacto
direto dos plásticos na saúde humana. Até as colônias de corais – que são as
‘florestas submarinas’ – estão morrendo. É preciso lembrar que os oceanos são
responsáveis por 54,7% de todo o oxigênio da Terra”, afirma Anna Carolina Lobo,
Gerente do Programa Mata Atlântica e Marinho do WWF-Brasil.
Criado como uma solução prática para a vida cotidiana e difundido na sociedade
a partir da segunda metade do século 20, o plástico há muito vem chamando atenção
pela poluição que gera, uma vez que o material, feito principalmente a partir de petróleo
e gás, com aditivos químicos, demora aproximadamente 400 anos para se decompor
plenamente na natureza.
Estimativas indicam que, desde 1950, mais de 160 milhões de toneladas de
plástico já foram depositadas nos oceanos de todo o mundo. Ainda assim, estudos
indicam que a poluição de plástico nos ecossistemas terrestres pode ser pelo menos
quatro vezes maior do que nos oceanos.
Os principais danos do plástico à natureza podem ser listados como
estrangulamento, ingestão e danos ao habitat.
O estrangulamento de animais por pedaços de plástico já foi registrado
em mais de 270 espécies animais, incluindo mamíferos, répteis, pássaros e peixes,
ocasionando desde lesões agudas e até crônicas, ou mesmo a morte. Esse
estrangulamento é hoje uma das maiores ameaças à vida selvagem e conservação da
biodiversidade.

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