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PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.

154-18

DIREITO ADMINISTRATIVO 1

Ponto 1 – Conceitos Iniciais e Sistemas

CPF: 860.542.154-18

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
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MENSAGEM DO MEGE
Vamos agora de Direito Administrativo, a melhor disciplina do seu concurso.
Certo?
É comum termos nossa disciplina em segundas fases e prova oral, a depender
da prova que você preste. Dessa forma, não negligencie Direito Administrativo, há
certames que cobram de dez a quatorze questões (PCGO, por exemplo).
Delta, em que pese a matéria ser muito bacana e a mais legal, eu preciso
como Professor abrir um parênteses: temos a frente um desafio para dominá-la, uma
vez que a depender do assunto tem grande variação doutrinária e jurisprudencial.
Ademais, é uma matéria que possui grande carga legislativa, e cada lei possui
uma técnica e proposta diferente. Então não será fácil, e o Mege estará contigo.
Hoje o ponto é leve, pra você se animar e motivar para começarmos.
Bons estudos.

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SUMÁRIO

1. DOUTRINA (RESUMO)................................................................................................... 4
1.1. ORIGEM DO DIREITO ADMINISTRATIVO.................................................................... 4
1.2. CONCEITO E OBJETO DE DIREITO ADMINISTRATIVO................................................. 5
1.3. FONTES DO DIREITO ADMINISTRATIVO .................................................................... 7
1.4. SISTEMAS DE JURISDIÇÃO ......................................................................................... 9
3. GABARITO COMENTADO – CARREIRAS JURÍDICAS................................................ 13

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1. DOUTRINA (RESUMO)
1.1. ORIGEM DO DIREITO ADMINISTRATIVO

A teoria da tripartição dos poderes, que teve como maior mentor Charles
MONTESQUIEU (Espírito das Leis, de 1748), abriu caminho para o surgimento do
Direito Administrativo, ao estabelecer a necessidade de distribuição do poder estatal
entre diferentes órgãos, separando e delimitando as funções legislativa, executiva e
judiciária. Na França, o art. 13 da Lei nº 16/1790 previu a separação rígida dos Poderes.
Some-se a isso o nascimento do Estado de Direito, o qual, à luz das ideias
iluministas do final do século XVII e início do XVIII, no embalo das Revoluções
Constitucionalistas Norte-Americana (1787) e Francesa (1789), estabeleceu que todos,
inclusive o Estado, estão submetidos ao Direito posto. Compreende-se, então, que a
organização e funcionamento dos órgãos estatais, em suas relações internas e
externas, não escapam à disciplina da lei.
A doutrina aponta como marco inicial do Direito Administrativo a edição, na
França Pós-Revolucionária, da Lei 28 de Pluvioso do Ano VIII (algo em torno de 1800),
diploma normativo da organização da Administração Pública francesa. Acrescenta-se,
ainda, o importante trabalho da jurisprudência do Conselho de Estado francês,
responsável pela construção de importantes institutos administrativistas, a exemplo da
noção de serviço público.
O Conselho de Estado francês foi criado pela Constituição de Brumário de 4
1799, com a dupla função de assessorar o governo na elaboração de atos normativos e
de resolver as controvérsias administrativas. Tal competência contenciosa, contudo,
era ainda incipiente, eis que suas decisões estavam submetidas ao Chefe de Estado, a
quem competia dar a última palavra, naquilo que se chamava “justiça retida”. Somente
a partir de 1872 é que o Conselho de Estado ganha autonomia, com decisões não mais
sujeitas ao controle do Executivo, assumindo verdadeira função jurisdicional,
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decidindo com independência e definitividade. A Administração Pública contenciosa
define-se, então, de forma clara e apartada, iniciando-se a fase da intitulada “justiça
delegada”. A doutrina explica o surgimento do Conselho de Estado na França a partir
da desconfiança da burguesia revolucionária que ascendia ao poder em relação aos
membros do Judiciário, estes que se teriam mostrado comprometidos com o Ancien
Régime.
Aponta-se como marco para autonomia do Direito Administrativo Francês o
famoso Caso Blanco: Agnès Blanco, uma menina de 05 anos, foi atropelada por uma
vagonete de uma companhia estatal e seu pai ingressou com uma ação de
responsabilidade civil contra o Estado, momento em que se instaurou controvérsia
acerca de qual Justiça teria competência para julgar o caso, a Comum, através da Corte
de Cassação, ou a Administrativa, por meio do Conselho de Estado, no qual o Tribunal
de Conflitos estabeleceu que o serviço público seria o critério divisor das Justiças
Comum e Administrativa, conferindo ao Direito Administrativo, por tabela, um
instituto/princípio próprio, o serviço público.
Para além da França, que nos legou os importantes institutos, princípios e
teorias do serviço público, ato administrativo, contrato administrativo,

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responsabilidade civil do Estado e regime jurídico administrativo marcado por


prerrogativas e restrições, outros países influenciaram decisivamente a construção do
Direito Administrativo: a Itália, com a noção de mérito administrativo, interesses
públicos primário e secundário e sujeições geral e especial; a Alemanha, por meio dos
estudos sobre direitos fundamentais, conceitos jurídicos indeterminados e princípios
da proporcionalidade, segurança jurídica e proteção da confiança; e a Common Law
anglo-americana, que nos brindou com a unicidade de jurisdição, o due process of law,
as teorias sobre regulação e agências e a concepção das parcerias público-privadas.
Costuma-se acrescentar, ainda, o papel da doutrina social da igreja, que muito
trabalhou a ideia de função social da propriedade e da subsidiariedade estatal.
Por fim, registre-se que foi em 1819, em Paris, que se criou a primeira cátedra
de Direito Administrativo, sendo que, no Brasil, ela somente veio a surgir com o
Decreto 608/1851. A primeira obra doutrinária brasileira foi publicada apenas em
1857, em Recife, com o nome de “Elementos de Direito Administrativo Brasileiro”, do
autor Vicente Pereira do Rego.

1.2. CONCEITO E OBJETO DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Preliminarmente, cumpre esclarecer o conceito de Administração Pública: em


sentido formal, orgânico ou subjetivo, é o conjunto de órgãos e agentes estatais no
exercício da função administrativa; em sentido material ou objetivo, equivale à
“função administrativa”, compreendida como a atividade administrativa do Estado de
5
realização do interesse público.
A função administrativa não se confunde com a função política, pois,
enquanto esta corresponde às altas escolhas do Governo, de gestão superior da vida
estatal, marcada por ampla discricionariedade, aquela atua, de modo subordinado,
dentro dos limites da competência executiva, na concretização dos interesses públicos,
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através da prestação de serviços 860.542.154-18
públicos, exercício do poder de polícia, regulação e
fomento estatais e controle administrativo.
Por oportuno, sobreleva destacar que essa função administrativa – de
concretização dos interesses públicos, sempre nos limites da lei – não é exercida tão
somente pelo Poder Executivo, sendo também desempenhada, de forma atípica, pelos
Poderes Legislativo e Judiciário, nas hipóteses expressas da Constituição. Repita-se: há
exercício de função administrativa por todos os Poderes.
Na busca de conceituar o Direito Administrativo, diversos critérios surgiram
ao longo da história para definir seu objeto, a saber:

- Corrente ou Escola Legalista/Exegética/Empírica/Caótica: de


forma reducionista, entende que o Direito Administrativo se
resume ao conjunto da legislação administrativa existente no
país e sua interpretação exclusivamente a partir da
jurisprudência dos tribunais administrativos;
- Critério do Poder Executivo: identifica o Direito

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Administrativo como complexo de leis disciplinadoras da


atuação do Poder Executivo, olvidando de que este possui
também a função de governo (política) e que o Legislativo e o
Judiciário também desempenham, atipicamente, atividades
administrativas, sem falar nos particulares que atuam por
delegação estatal ou em parceria com o Poder Público;
- Critério das relações jurídicas: disciplinaria as relações
jurídicas entre a Administração Pública e o particular, omitindo-
se quanto às outras ações administrativas não interpessoais e à
existência dessas mesmas relações em outros ramos do Direito
(Tributário, p.ex.);
- Critério ou Escola da Puissance Publique (potestade pública):
no século XIX, Maurice Hauriou promove a distinção entre atos
de gestão, regidos pelo Direito Comum, e atos de autoridade,
submetidos a um regime jurídico extroverso, marcado por
prerrogativas exorbitantes, estas que delimitaram, justamente,
o âmbito do Direito Admistrativo. O critério desconsidera que a
Administração também desenvolve suas funções submetida
predominantemente ao Direito Comum, a exemplo de quando
pratica atos negociais;
- Critério ou Escola do Serviço Público (ou de Bordeaux):
capitaneada por Leon Duguit, Gaston Jèze, Roger Bonnard e
Louis Rolland, estabelece, a partir da jurisprudência do
6
Conselho de Estado Frances (caso Blanco), que o serviço
público seria o verdadeiro critério definidor do Direito
Administrativo [em substituição à noção de poder público, de
Hauriou]. Também se mostrou insuficiente, contudo, dadas as
diversas outras atividades da Administração Pública;
Obs.: CPF: 860.542.154-18
Gaston Jèze apresenta uma concepção de serviço público
mais restrita, limitada à prestação de utilidades ao público,
deixando de fora, assim, funções administrativas de polícia,
intervenção e fomento, ao passo que Leon Duguit, buscando
contornar o excessivo reducionismo dessa teorização, oferece
uma visão excessivamente ampla de serviço público,
abrangente de todas as funções estatais, incursionando até
mesmo por campos outros do Direito, como o Direito
Constitucional.
- Critério teleológico ou finalístico: o Direito Administrativo se
ocuparia da regulação das atividades do Estado para o
cumprimento dos seus fins;
- Critério negativista ou residual: caberia ao Direito
Administrativo normatizar todas as questões não contempladas
por outro ramo jurídico, vale dizer, todas as funções de Estado
que não fossem legislativas ou jurisdicionais;
- Critério funcional ou da Administração Pública: adotado pela

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doutrina majoritária brasileira, define a função administrativa


(e suas regras e princípios próprios) e suas entidades, órgãos e
agentes como o verdadeiro objeto do Direito Administrativo,
exercida por quaisquer Poderes Estatais ou mesmo por
particulares.

A partir desse critério funcional ou da Administração Pública, pode-se dizer


que o Direito Administrativo tem por objeto:

(i) as relações internas à Administração Pública (entre os


órgãos e entidades administrativas e entre a administração e
seus agentes);
(ii) as relações entre a Administração e os administrados
(reguladas predominantemente pelo direito público ou pelo
direito privado); e
(iii) as atividades de Administração Pública em sentido
material exercidas por particulares sob regime predominante
de direito público (a exemplo da prestação de serviços públicos
mediante contratos de concessão).

Nessa toada, Maria Sylvia Zanella Di Pietro afirma que o Direito Administrativo 7
“tem por objeto os órgãos, agentes e pessoas jurídicas administrativas que integram a
Administração Pública, a atividade não contenciosa que exerce e os bens de que se
utiliza para a consecução de seus fins, de natureza pública”.
Definido o objeto do Direito Administrativo, podemos conceituá-lo como
ramo do Direito Público que disciplina a função administrativa (serviços públicos,
poder de polícia, regulaçãoCPF:
e fomento estatais e controle administrativo) e a
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organização e funcionamento dos agentes, órgãos e pessoas jurídicas administrativos
que a desempenham.

1.3. FONTES DO DIREITO ADMINISTRATIVO

As fontes do Direito Administrativo, compreendidas como as formas de


expressão de suas normas jurídicas, o meio técnico de realização do direito objetivo,
dividem-se em: formais, diretas ou imediatas (lei, analogia, costumes e princípios
gerais do direito, com aptidão para a inovação da ordem jurídica); e não formais,
indiretas ou mediatas (doutrina e jurisprudência, incapazes de criar direitos e
obrigações).

1.3.1. LEI

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Por força do princípio da legalidade (art. 5º, II, da CF/88), inclusive enquanto
princípio fundamental da Administração Pública (art. 37, caput, da CF/88), a lei é fonte
formal e primária do Direito Administrativo, somente ela pode criar direitos e
obrigações, inovando a ordem jurídica.
Por lei, deve-se entender a Constituição e todas as demais espécies
normativas primárias (com fundamento direto na Lei Maior), como as leis
complementares, as leis ordinárias, as leis delegadas, os decretos-lei e as medidas
provisórias.
Incluem-se, ademais, todos os atos normativos (infralegais) editados pela
própria Administração Pública, que são de observância obrigatória por ela mesma,
desautorizadas, contudo, a inovar a ordem jurídica, cabendo-lhes atuar apenas nos
termos e limites legais.
Anote-se a ausência de codificação do Direito Administrativo, na medida em
que as normas administrativas se encontram esparsas pelos diversos diplomas
normativos, o que sobreleva a importância da doutrina e jurisprudência na
estruturação de seus institutos e preenchimento das lacunas comumente existentes,
conferindo-lhe uma noção orgânica.
De mais a mais, a competência para legislar sobre Direito Administrativo é,
em regra, concorrente, cabendo a todos os entes federativos legislar na matéria
consoante o princípio da predominância do interesse. Em determinadas hipóteses,
contudo, a Constituição estabelece ser determinado assunto da competência privativa
da União, a exemplo da desapropriação, das jazidas, minas e outros minerais e das 8
normas gerais de licitação e contratação pela Administração.
Registre-se, por fim, que o princípio da legalidade não se confunde com o da
reserva legal, porquanto o primeiro estabelece a submissão e o respeito à lei, ou a
atuação dentro da esfera estabelecida pelo legislador; ao passo que o segundo
prescreve que determinadas matérias devem ser necessariamente disciplinadas por lei
formal.
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No Direito Administrativo, via de regra, fala-se em princípio da legalidade
[administrativa, que possui peculiaridade, conforme ainda será estudado], porquanto,
como visto, não há, grosso modo, qualquer embargo à disciplina das diversas matérias
administrativas por atos normativos infralegais, sempre se respeitando, é claro, os
limites da lei [também consoante aprenderemos, existe reserva legal no Direito
Administrativo, como ocorre com o serviço público].

1.3.2. COSTUMES

Ao lado da analogia e dos princípios gerais do direito, os costumes são


mecanismos de colmatação de lacunas, expressamente previstos no art. 4º da LINDB.
No ponto, apraz conhecer a distinção entre costumes sociais e costumes
administrativos:

- Costumes sociais: são o conjunto de comportamentos

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reiterados, uniformes, públicos e gerais (elemento externo ou


material) compreendidos como obrigatórios pelo corpo social
(elemento interno ou psicológico). Classificam-se em costumes
secundum legem (expressamente mencionados em dispositivos
legais), prater legem (integrativos, destinam-se a suprir lacunas
normativas) e contra legem (opõem-se ao comando da lei,
sendo chamados de costumes ab-rogatórios). Por força do art.
2º da LINDB, não se admite o costume contra legem;
- Costumes administrativos: são práticas reiteradamente
observadas pelos agentes administrativos diante de uma
situação concreta, aptas a gerarem direitos para aqueles que se
relacionam com a Administração, em virtude da legítima
expectativa originada, possuindo fundamento maior na boa-fé
objetiva.

1.3.3. JURISPRUDÊNCIA

Entendida como as reiteradas decisões dos órgãos do Judiciário num mesmo


sentido, a jurisprudência caracteriza-se como uma orientação pretoriana acerca de
determinado assunto, com especial função interpretativa e sistematizadora das
esparsas regras e princípios administrativos.
É, pois, fonte informal, indireta ou mediata do Direito Administrativo, sem
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capacidade para criar, diretamente, normas jurídicas.
Nada obstante, a partir da EC 45/04, com o surgimento das súmulas
vinculantes do Supremo Tribunal Federal, verificam-se manifestações jurisprudenciais
com natureza de fontes formais, diretas ou imediatas do Direito Administrativo.
Com efeito, as súmulas vinculantes fixam normas jurídicas de efeitos
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obrigatórios e erga omnes, para os demais órgãos do Judiciário e para a Administração
Pública, inclusive decorrendo diretamente da Constituição Federal, a exemplo do
Enunciado nº 13, que trata da vedação ao nepotismo.

1.3.4. DOUTRINA

Também fonte informal, indireta ou mediata, a doutrina consiste no


arcabouço teórico elaborado pelos estudiosos do Direito Administrativo, que,
conquanto não possua aptidão para criar normas jurídicas administrativas, serve de
norte para a elaboração de leis e para a formação de entendimento dos órgãos
judiciários e administrativos sobre os diversos institutos.

1.4. SISTEMAS DE JURISDIÇÃO: SISTEMA INGLÊS, SISTEMA FRANCÊS E


SISTEMA ADOTADO NO BRASIL

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Os sistemas de jurisdição adotados no mundo ocidental dividem-se, grosso


modo, em: sistema inglês ou de jurisdição única; e sistema francês ou do contencioso
administrativo. A distinção entre esses sistemas de jurisdição é de fundamental
importância para a delimitação do controle da atuação administrativa. Vejamos:
No SISTEMA INGLÊS, também chamado de sistema judiciário ou de jurisdição
única/una, o exercício da jurisdição é reservado ao Poder Judiciário, a quem cabe, com
exclusividade, aplicar o direito ao caso concreto com definitividade, com aptidão de
formação de coisa julgada material.
Nesse sistema, a Administração Pública, conquanto possua poder para
controlar seus próprios atos (autotutela), não o faz de forma definitiva, sempre
cabendo ao Poder Judiciário examinar a legalidade e legitimidade dos atos e processos
administrativos. A decisão administrativa, portanto, jamais formará a chamada coisa
julgada material, sendo amplo o acesso ao Poder Judiciário, a quem cabe dar a última
palavra.
É o sistema adotado no Brasil desde a República e atualmente consagrado no
art. 5º, XXXV, da Constituição Federal, de acordo com o qual não se pode excluir do
Judiciário a apreciação da lesão ou ameaça de lesão de um direito.
Pertinente destacar que, diante da garantia do amplo acesso ao Judiciário,
não se pode exigir, em regra, o esgotamento da via administrativa para que aquele
Poder analise e controle a atuação administrativa. Ressalvam-se, contudo:

(i) ações relativas à disciplina e às competições desportivas (art.


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217, § 1º, CF/88);
(ii) ato ou omissão administrativa que contrarie súmula
vinculante, para sua submissão ao STF por meio da reclamação
(art. 7º, § 1º, da Lei Federal nº 11.417/2006);
(iii) habeas data, que, conforme entendimento do Supremo,
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pressupõe o indeferimento ou a omissão administrativa em
atender pedido de informações pessoais;

OBSERVAÇÃO: Em relação ao exaurimento da via administrativa para o ajuizamento


de ações pleiteando a concessão de benefícios previdenciários, O STF, no julgamento
do RE 631240/MG, manifestou-se no sentido de que: “A concessão de benefícios
previdenciários depende de requerimento do interessado, não se caracterizando
ameaça ou lesão a direito antes de sua apreciação e indeferimento pelo INSS, ou se
excedido o prazo legal para sua análise. É bem de ver, no entanto, que a exigência de
prévio requerimento não se confunde com o exaurimento das vias administrativas. A
exigência de prévio requerimento administrativo não deve prevalecer quando o
entendimento da Administração for notória e reiteradamente contrário à postulação
do segurado”.

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Sem avançar no estudo do controle administrativo, registre-se que o Judiciário


jamais poderá examinar o mérito dos atos administrativos, cuja análise, em respeito ao
princípio fundamental da separação dos poderes (art. 2º, CF/88), é exclusiva da
Administração Pública responsável por sua edição.
Finalmente, importa explicar a noção de “coisa julgada administrativa”, que se
traduz na definitividade de determinada matéria controvertida submetida ao exame
da Administração no âmbito administrativo, sem prejuízo, é claro, de sua revisibilidade
pelo Poder Judiciário. A coisa julgada administrativa vai ao encontro do princípio da
segurança jurídica substancial e da estabilidade das relações jurídicas, impedindo que
a Administração rediscuta litígios por ela já solucionados, segundo as normas de
processo administrativo, quebrando a boa-fé e a legítima expectativa dos cidadãos.
A seu turno, o SISTEMA FRANCÊS ou de dualidade de jurisdição confere
jurisdição também à Administração Pública, atribuindo-lhe, com exclusividade (e
definitividade), competência para decidir sobre matérias administrativas, tornando-as
infensas ao controle pelo Poder Judiciário.
Na França, a jurisdição administrativa é encabeçada pelo Conselho de Estado,
órgão integrante da Administração Pública e que analisa com exclusividade matérias
relacionadas à função administrativa, retirando-a do âmbito de conhecimento da
chamada “jurisdição comum”, a quem cabe decidir sobre os demais litígios.
Neste sistema dual, não é possível o controle judicial dos atos administrativos.
Ademais, existe coisa julgada material propriamente dita no âmbito da Administração
Pública, a partir daquilo que é decidido pelo Conselho de Estado. 11
No Brasil, a Constituição Imperial de 1824 criou um Conselho de Estado, que
veio a ser extinto com a Constituição Republicana de 1891. Mais na frente, em 1977, a
Emenda Constitucional 7 (à Constituição de 1967/69) chegou a prever a recriação do
contencioso administrativo, o qual, entretanto, jamais foi implantado.

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2. QUESTÕES – CARREIRAS JURÍDICAS

1. (AGU – 2009 – CESPE) Relativamente aos critérios de delimitação do âmbito do


Direito Administrativo, julgue os itens a seguir:
Pelo critério teleológico, o Direito Administrativo é considerado como o conjunto de
normas que regem as relações entre a administração e os administrados. Tal critério
leva em conta, necessariamente, o caráter residual ou negativo do Direito
Administrativo.

2. (JUIZ SUBSTITUTO – 2014 – PUC-PR) Sobre o conceito do direito administrativo e a


sua formação histórica no Brasil, analise as assertivas abaixo e assinale a alternativa
CORRETA:
I. A primeira cadeira de direito administrativo no Brasil foi criada em 1851 e com a
implantação da República acentuou-se a influência do Direito Público Norte-
Americano, adotando-se todos os postulados do rule of law e do judicial control.

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II. O Brasil adotou, desde a instauração da primeira República, o sistema da jurisdição


única, com exceção do período de vigência da Emenda Constitucional nº. 07/77, com a
instalação dos dois contenciosos administrativos por ela estabelecidos.
III. O direito administrativo tem como fontes a lei, a doutrina, os costumes e a
jurisprudência, vigorando entre nós, desde o início da República, dado a influência
sofrida do direito norte-americano, o princípio do stare decises.
IV. A interpretação do direito administrativo, além da utilização analógica das regras
do direito privado que lhe foram aplicáveis, há de considerar, necessariamente, três
pressupostos: 1º) a desigualdade jurídica entre a Administração e os administrados;
2º) a presunção de legitimidade dos atos da administração; 3º) a necessidade de
poderes discricionários para a Administração atender ao interesse público.
a) Apenas as assertivas III e IV estão corretas.
b) Apenas as assertivas I e III estão corretas.
c) Apenas as assertivas I e II estão corretas.
d) Apenas as assertivas I e IV estão corretas.

3. (JUIZ – 2009 – VUNESP) Compromissos republicanos, liberalismo político e


econômico, proteção dos direitos individuais e, especialmente, independência da
Administração Pública foram valores postos pela Revolução Francesa que, sob os
influxos da teoria de Montesquieu, deram origem ao contencioso administrativo.
À vista desses parâmetros, pode-se afirmar que:
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a) no Brasil, adota-se o sistema da jurisdição única visando dar efetivo cumprimento ao
regime jurídico-constitucional de proteção e garantia dos direitos individuais contra
abuso ou arbítrio do Estado.
b) a instalação do Conselho Nacional de Justiça significa a introdução do contencioso
administrativo no sistema jurídico-administrativo brasileiro com o efeito de impedir o
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abuso ou arbítrio dos juízes.
c) os Tribunais de Contas produzem decisões com a qualidade de definitivas, própria
do sistema do contencioso administrativo.
d) o sistema do contencioso administrativo é o que melhor atende ao atual conceito
de Estado Democrático de Direito porque coloca o Estado, no plano jurisdicional
judicial, em pé de igualdade com o particular.

4. (PROMOTOR DE JUSTIÇA – 2016 – MPE-SC) Sinônimo de função de governo para a


doutrina brasileira, a função administrativa consiste primordialmente na defesa dos
interesses públicos, atendendo às necessidades da população, inclusive mediante
intervenção na economia.

5. (JUIZ – 2015 – FMP CONCURSOS) Em face da formação histórica do Direito


Administrativo e do modelo de Estado vigente, é correto afirmar que:
a) a noção de coisa julgada nas esferas administrativa e judicial tem a mesma

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dimensão e conteúdo.
b) as decisões proferidas por órgãos públicos de natureza superior não podem ser
revistas pelo Poder Judiciário
c) o processo administrativo somente pode ser instaurado mediante provocação do
interessado, por representação escrita endereçada ao agente competente para a
solução da controvérsia.
d) o regime jurídico juspublicista, no todo ou em parte, somente pode ser aplicado às
pessoas jurídicas de direito público.
e) tem por objeto os órgãos, agentes e pessoas jurídicas administrativas que integram
a Administração Pública, a atividade não contenciosa que exerce e os bens de que se
utiliza para a consecução de seus fins, de natureza pública.

6. (DEFENSOR PÚBLICO – 2022 – CESPE/CEBRASPE) O direito administrativo é um


conjunto de normas e princípios que rege a atuação da administração pública.
Assinale a opção que indica apenas as fontes do direito administrativo.
a) lei, jurisprudência, normas e regras.
b) costumes, regras, jurisprudência e normas.
c) jurisprudência, costumes, lei e doutrina.
d) normas, lei, doutrina e regras.
e) lei, normas, jurisprudência e doutrina. 13
3. GABARITO COMENTADO – CARREIRAS JURÍDICAS

1. RESPOSTA: “ERRADO”
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O critério finalístico, como visto, entende o Direito Administrativo como o conjunto de
princípios e regras jurídicas que disciplinam a atividade do Estado para a consecução
dos seus fins, não se confundindo com o negativista, que atribui ao Direito
Administrativo um objeto por exclusão, enquanto todas as questões não relativas às
funções legislativa e judiciária ou a outro ramo do Direito.

2. RESPOSTA: LETRA “D”


I – CORRETO. Desde a República, o Brasil adotou o sistema de jurisdição una, de
origem inglesa, passando a se espelhar no Direito Público Norte-Americano, seguindo
os postulados do rule of law e do judicial control. A assertiva reproduz lição do
eminente administrativista Hely Lopes Meirelles;
II – ERRADO. De fato, a EC 07/77 trouxe a previsão do contencioso administrativo no
Brasil, o que, contudo, jamais se concretizou, nunca sendo efetivamente instalado;
III – ERRADO. O enunciado deixa de mencionar os princípios gerais do direito, para
além do fato de incluir a jurisprudência e a doutrina, que são apenas fontes
informais/indiretas/mediatas do Direito Administrativo. Como se não bastasse, o

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princípio do stare decisis ou da vinculação ao precedente somente foi trazido ao


sistema jurídico brasileiro a partir de 2004, com a súmula vinculante e a repercussão
geral, além, mais recentemente, da técnica do julgamento de recursos repetitivos e do
incidente de uniformização de jurisprudência;
IV – CORRETO. O enunciado traz, de forma adequada, peculiaridades da interpretação
do Direito Administrativo.

3. RESPOSTA: LETRA “A”


O Brasil adotou o sistema de jurisdição una, cabendo apenas ao Judiciário dizer o
Direito no caso concreto com definitividade, com aptidão para a formação de coisa
julgada material. Não se adota, pois, o sistema dual de jurisdição ou do contencioso
administrativo. O CNJ e os Tribunais de Contas, assim, não são órgãos jurisdicionais, de
modo que suas decisões podem ser revistas pelo Poder Judiciário.

4. RESPOSTA: ERRADO
Função de governo não é sinônimo de função administrativa. O enunciado traz a
definição de função administrativa, que consiste na defesa concreta dos interesses
públicos, sempre dentro dos limites da lei, enquanto que a função de governo ou
política abrange as decisões e atos de governo, de gestão superior da vida estatal,
dotados de discricionariedade política, sendo exercida unicamente pelos Poderes
Executivo e Legislativo. 14
5. RESPOSTA: LETRA “E”
A – ERRADA. O Brasil adota o sistema de jurisdição única, no qual a coisa julgada
administrativa não é dotada de definitividade, ou seja, ainda que esgotadas todas as
instâncias administrativas, a questão ainda poderá ser apreciada pelo Judiciário. A
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coisa julgada judicial é a qualidade decisão judicial que torna a questão imutável e
indiscutível;
B – ERRADA. No sistema de jurisdição única, adotado pelo Brasil, toda matéria poderá
ser apreciada pelo Judiciário, conforme o princípio da inafastabilidade de jurisdição,
consagrado no art. 5º, incido XXXV, da Constituição Federal;
C – ERRADA. A Lei Federal nº 9.784/99, que regula o processo administrativo federal,
estabelece, em seu art. 5º, que o processo administrativo poderá ser iniciado de ofício
ou a pedido do interessado;
D – ERRADA. O regime jurídico juspublicista aplica-se às relações jurídicas integradas
pelo Estado e pessoas jurídicas de direito público ou particulares;
E – CORRETA. O enunciado traz a definição de Direito Administrativo da Profa. Maria
Sylvia Zanella Di Pietro, segundo a qual o Direito Administrativo é “o ramo do direito
público que tem por objeto órgãos agentes e pessoas jurídicas administrativas que
integram a administração pública, a atividade jurídica não contenciosa que exerce e os
bens de que se utiliza para a consecução de seus fins de natureza pública”.

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6. RESPOSTA: LETRA “C”


Como visto, são fontes do Direito Administrativo a lei (fonte formal e primária), os
costumes (fonte informal e secundária), a jurisprudência (fonrte informal e secundária)
e doutrina (fonte informal e secundária). Sem embargo, como bem ressalvado,
entende-se que, a partir da EC 45/04, as súmulas vinculantes assumiram, ao lado das
leis, a posição de fontes formais e primárias do Direito Administrativo.

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