Você está na página 1de 27

DIREITO AGRÁRIO

AULA 02
Denominação; Conceito; Natureza Jurídica;
Objeto; Autonomia; Fontes e Princípios.
1. DENOMINAÇÃO
Não é pacífico entre os doutrinadores a nomenclatura
desta disciplina, sendo “DIREITO AGRÁRIO” a denominação
mais usada. Entretanto, também são utilizadas as
terminologias “direito rural”, “direito da reforma agrária”,
“direito da agricultura”, ou mesmo “direito agrícola”.
As duas mais usadas são Direito Agrário e Direito Rural,
porém, prefere-se a primeira denominação porque agrarius
significa “campo”, relacionado à produção ou exploração
(caráter dinâmico). A expressão rural também significa
“campo”, mas no sentido de local distante da urbs (caráter
estático).
2. CONCEITO DE DIREITO AGRÁRIO
- Direito Agrário é o conjunto sistemático de normas
jurídicas que visam disciplinar as relações do homem com
a terra, tendo em vista o progresso social e econômico do
rurícola e o enriquecimento da comunidade (BORGES,
Paulo Torminn, p. 17).
- Direito Agrário é o conjunto de princípios e de normas, de
Direito Público e de Direito Privado, que visa a disciplinar
as relações emergentes da atividade rural, com base na
função social da terra (SODERO, F. Pereira, ob. cit., p. 32).
2. CONCEITO DE DIREITO AGRÁRIO
Conjunto de normas que visa regular as questões
sociais e econômicas decorrentes da aplicação do modelo
capitalista às ATIVIDADES AGRÁRIAS. Ordenamento que rege
as relações jurídicas que surgem entre os sujeitos
intervenientes das atividades agrárias.
- Problemas antigos: Reforma agrária, política agrícola,
contratos agrários, identificação e delimitação de terras
devolutas.
- Novos problemas: Propriedade intelectual agrária
(propriedade de novas sementes, por exemplo),
biotecnologia (transgênicos), segurança alimentar.
3. NATUREZA JURÍDICA
Muito se discute sobre a natureza jurídica do Direito
Agrário. Trata-se de um ramo do direito público ou do
direito privado?

Nos manuais de Direito Civil, quando do estudo de


introdução ao Direito, em que se apresenta as classificações
dos ramos, comumente observamos o Direito Agrário
localizado entre as disciplinas de Direito Privado, até por
tratar-se de disciplina que decorre diretamente do Direito
Civil. Assim:
3. NATUREZA JURÍDICA
DIREITO PÚBLICO DIREITO PRIVADO
 Direito Constitucional  Direito Civil
 Direito Administrativo  Direito Comercial
 Direito Tributário  Direito do Consumidor
 Direito Penal  Direito do Trabalho
 Direito Processual   DIREITO AGRÁRIO
 Direito Internacional  Direito Marítimo
 Direito Ambiental  Direito Aeronáutico
 Direito Previdenciário
FIGUEIREDO, Luciano e FIGUEIREDO, Roberto. Direito Civil – Parte Geral.
Salvador: Juspodivm, 2018, p. 83.
3. NATUREZA JURÍDICA
Com relação ao direito agrário, apesar da classificação
normalmente contida nas matérias introdutórias, a doutrina
especializada afirma ter CÁRATER MISTO (híbrido), pois
composto ao mesmo tempo por normas privadas e públicas.

“... Os contratos de direito agrário são regidos tanto por


elementos de direito privado como por normas de caráter
público e social, de observação obrigatória e, por isso,
irrenunciáveis, .... "(REsp 1.182.967).
4. OBJETO DO DIREITO AGRÁRIO
O principal objeto do Direito Agrário são as ATIVIDADES
AGRÁRIAS, acontece que não há unanimidade com relação à
abrangência dessa expressão.
- TEORIA AGROBIOLÓGICA (Rodolfo Carrera): são aquelas
atividades humanas incidentes sobre a terra, mas que se
submetem a um processo biológico. É imprescindível a
atividade do homem sujeita ao PROCESSO BIOLÓGICO.
Não abrange: Atividades não desenvolvidas na terra,
extrativismo vegetal e animal, bem como extração de
minérios.
4. OBJETO DO DIREITO AGRÁRIO

- TEORIA DA AGRARIEDADE (Antonio Carroza): são aquelas


atividades humanas sujeitas a um processo biológico e a
riscos correlatos, não controláveis pelo homem. Não só
atividades que envolvam a terra.

Amplia a abrangência das atividades agrárias no sentido


de contemplar, também, a psicultura, hidroponia e
aeroponia.
4. OBJETO DO DIREITO AGRÁRIO

- TEORIA DA ACESSORIEDADE (Antonio Vivanco): Se a


atividade principal for agrária, as acessórias também
serão assim consideradas.

Dessa forma, por exemplo, as atividades de transporte e


comercialização de produtos, quando realizadas pelo
próprio produtor, serão consideradas atividades agrárias.
4. OBJETO DO DIREITO AGRÁRIO
ATIVIDADE AGRÁRIA (Raymundo Laranjeira)
• Explorações rurais típicas: que compreendem a lavoura, a
pecuária, o extrativismo vegetal e animal e a hortigranjearia.

• Exploração rural atípica: que compreende a agroindústria.

• Atividade complementar da exploração rural: que compreende


o transporte e a comercialização dos produtos.
4. OBJETO DO DIREITO AGRÁRIO

LAVOURA - temporária ou transitória (arroz, o milho, o feijão


e outros) ou permanente ou duradoura (café, o abacate, o
cacau, a laranja etc.).

PECUÁRIA – Pequeno (aves domésticas, abelhas etc.), médio


(suínos, caprinos, ovinos etc.) e grande porte (bovinos,
bubalinos, asininos, equinos ou muares.).

HORTIGRANJEARIA – Atividade apropriada às pequenas


glebas, cuja produção é constituída de hortaliças, frutas,
verduras, ovos etc.
4. OBJETO DO DIREITO AGRÁRIO
EXTRATIVISMO RURAL - Extração de produtos vegetais e na
captura de animais. São exemplos dessa atividade a extração
de castanha, açaí, babaçu, carnaúba, látex e a caça e a pesca.
Lei no 11.284, de 2.3.2006.

AGROINDÚSTRIA – tida como exploração atípica, diz respeito


ao processo industrializante desenvolvido nos mesmos
limites territoriais em que são obtidos os produtos primários.
São exemplos dessa atividade as usinas de beneficiamento de
arroz, a produção de rapaduras, farinha de mandioca etc.
4. OBJETO DO DIREITO AGRÁRIO
ATIVIDADE COMPLEMENTAR DA EXPLORAÇÃO RURAL – é
aquela que diz respeito ao transporte e à comercialização dos
produtos, diretamente do estabelecimento rural e pelo
próprio produtor. Não sem razão, uma corrente doutrinária
denomina de conexas essas atividades.
5. AUTONOMIA DO DIREITO AGRÁRIO
No Brasil o Direito Agrário tem autonomia legislativa,
científica e didática, mas ainda não tem autonomia
jurisdicional, vez que não existe uma Justiça Agrária.

AUTONOMIA LEGISLATIVA: Ocorreu quando, através da


EC nº 10 (10.11.64) acrescentou-se à CF/46, a alínea “a” ao
inciso XV, do artigo 5º, inserindo o Direito Agrário no âmbito
de competência legislativa da União. Assim, logo em seguida
foi promulgado o Estatuto da Terra.
5. AUTONOMIA DO DIREITO AGRÁRIO
- LEGISLAÇÃO: Lei 601/1850  Lei de Terras (outorgada pelo
imperador) // Lei 4.132/1962  Desapropriação para reforma
agrária // Lei 4.504/1964  Estatuto da Terra // Lei
4.947/1966  Lei Agrária // Lei 6.969/1981  Usucapião
Especial Rural // LC 76/1993  Procedimento de
desapropriação para fins de reforma agrária // LC 88/1998 
Procedimento de desapropriação para fins de reforma
agrária // Lei. 8.629/93  Lei Agrária.

CF/88, Art. 22. Compete PRIVATIVAMENTE à União legislar


sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral,
AGRÁRIO, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho.
5. AUTONOMIA DO DIREITO AGRÁRIO
AUTONOMIA CIENTÍFICA: O Direito Agrário é um ramo
autônomo, pois conta com princípios e normas próprias, que
o diferencia dos demais ramos da ciência jurídica. Além disso,
tem objeto específico. O princípios próprios e vasta legislação
conferem ao Direito Agrário sua autonomia científica.

AUTONOMIA DIDÁTICA: A disciplina de Direito Agrário,


atualmente, é lecionada em praticamente todas as
instituições de ensino superior de Direito. Trata-se de matéria
opcional ou eletiva (Res. 03 de 25.2.72 do CFE).
5. AUTONOMIA DO DIREITO AGRÁRIO
AUTONOMIA JURISDICIONAL: Ainda não foi possível
implantar a Justiça Agrária no Brasil. Ela representa um
anseio e, para muitos, uma necessidade, na medida em que
os conflitos oriundos das mais diferentes relações agrárias se
agravam e se multiplicam, por exemplo, envolvendo
proprietários e os chamados “sem-terra”.

CF/88, Art. 126. Para dirimir conflitos fundiários, o Tribunal


de Justiça proporá a criação de varas especializadas, com
competência exclusiva para questões agrárias.
5. AUTONOMIA DO DIREITO AGRÁRIO
CORREGEDORIA-GERAL DA JUSTIÇA DE MT
2ª Vara Cível – Vara Especializada Direito Agrário - Processar
e julgar ações que envolvam conflitos fundiários/agrários
coletivos dentro do Estado, independentemente do local do
litígio, nos termos do art. 126 da Constituição Federal, e
ações que lhe são conexas, assim como os processos
concernentes a conflitos possessórios individuais urbanos e
rurais da Comarca de Cuiabá, excluindo da competência o
processo e julgamento dos crimes praticados em decorrência
dos conflitos agrários ou com eles relacionados, bem como
cartas precatórias cíveis de sua competência
6. FONTES DO DIREITO AGRÁRIO
A despeito da grande quantidade de normas públicas, a
principal fonte do Direito Agrário é o Direito Civil, mas
também é influenciado Direito Constitucional, no Direito
Administrativo, no Direito Judiciário Civil, no Direito
Comercial, no Direito do Trabalho, no Direito Penal, no Direito
Tributário e Direito Ambiental.

Doutrinariamente, fala-se em fontes imediatas (ou


diretas) e fontes mediatas (ou indiretas). Também em fontes
formais e fontes materiais.
6. FONTES DO DIREITO AGRÁRIO
FONTES DO DIREITO:
a) Fontes imediatas ou diretas: Leis e Costumes;

b) Fontes mediatas ou indiretas: Doutrina e


Jurisprudência.

FONTES DO DIREITO AGRÁRIO:


a) Fontes Formais: Leis e costumes.

b) Fontes Materiais: Planos do Poder Público relativos à


produção agrária (política agrícola e reforma agrária);
7. PRINCÍPIOS GERAIS
 Princípio da Primazia do Interesse Coletivo

Sempre que for constatada a improdutividade de um imóvel


rural, haverá a necessidade de se implementar mecanismos de
reforma agrária, dentre os quais se destaca a desapropriação por
interesse social.
 Princípio do Combate às Terras Improdutivas

Além da evidente relação com as políticas de reforma


agrária, este princípio visa promover a gradativa extinção dos
latifúndios e minifúndios improdutivos.
7. PRINCÍPIOS GERAIS
 Princípio da Utilização da Terra Sobreposta à Titulação
Dominial

Evitar o fenômeno da chamada “grilagem”, falsificação de


títulos dominiais agrários. Fundamento da usucapião especial
rural.
 Progresso socioeconômico do rurícola

O direito agrário determina várias regras que objetivam o


desenvolvimento de todos aqueles que desenvolvem algum tipo
de atividade agrária.
7. PRINCÍPIOS GERAIS
 Proteção do Hipossuficiente
O direito agrário determina várias regras que objetivam a
proteção daqueles que são mais fracos nas relações jurídicas
desenvolvidas em razão de atividades agrárias, o que fica muito
visível nos contratos agrários, de arrendamento e parcerias.
 Estímulo ao cooperativismo
O direito agrário, de forma geral, busca a formação de
propriedades familiares e, para que isso seja possível, tenta
estimular que essas famílias se reúnam em cooperativas e
associações (não em sociedades empresárias), para que consigam
atender, inclusive, o progresso socioeconômico do rurícola.
7. PRINCÍPIOS GERAIS
 Privatização das Terras Públicas

O Estado, com regra, não pode exercer atividades agrárias.


Não obstante, existe uma enorme quantidade de terras públicas e
devolutas, de modo que não é do interesse da sociedade que tais
terras continuem sob o domínio do Estado, à exceção de algumas,
por exemplo, que são necessárias à proteção do meio ambiente,
terras ocupadas por indígenas e etc.
7. PRINCÍPIOS GERAIS
 Privatização das Terras Públicas

O Estado pode exercer atividades agrárias? Como regra, NÃO.

CF/88, Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta


Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo
Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da
segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme
definidos em lei.
7. PRINCÍPIOS GERAIS
ET, Art. 10. O Poder Público poderá explorar direta ou
indiretamente, qualquer imóvel rural de sua propriedade,
unicamente para fins de pesquisa, experimentação,
demonstração e fomento, visando ao desenvolvimento da
agricultura, a programas de colonização ou fins educativos de
assistência técnica e de readaptação.
§ 3º Os imóveis rurais pertencentes à União, cuja utilização não se
enquadre nos termos deste artigo, poderão ser transferidos ao
Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, ou com ele permutados
por ato do Poder Executivo.

Você também pode gostar