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PERSPECTIVAS DO DIREITO AGRÁRIO NO BRASIL

PERSPECTIVES OF AGRARIAN LAW IN BRAZIL

Leonardo Fagundes Dias de França1

Vivian Amaro Czelusniak2

RESUMO

O presente trabalho objetiva demonstrar os aparatos legislativos que permeiam o


ordenamento jurídico brasileiro e culminam na matéria que denominamos como
Direito Agrário. Diante desta pretensão de exposição acerca do Direito Agrário, iniciará
com a ilustração técnica do tema, através da apresentação de questões do Imóvel
Rural, Direito dos Índios, Direito da Águas, Concepções de Posse e Propriedade, dos
Contratos Rurais e, por fim, acerca das questões típicas do agronegócio, abordando
questões cotidianas enfrentadas por aqueles que integram a atividade. Busca-se, em
suma, tratar acerca da exponencial atuação do mercado agrário brasileiro, tanto no
mercado interno quanto no externo, tende em vista que o Brasil é tido como país mais
promissor neste setor da economia mundial. Por fim, pretende-se apontar as
expectativas para o futuro deste mercado, através da implementação de artefatos
tecnológicos que beneficiarão a gestão das atividades típicas do mercado, reduzirão
custos e aumentarão a produção, fatores que culminarão no aumento da demanda
mercantil ao Brasil, em especial aos profissionais do direito, que terão novos desafios
para corresponder.

Palavras-chave: Direito, Direito Agrário, Agronegócio, Negócios.

ABSTRACT

This work aims to demonstrate the legislative apparatus that permeate the Brazilian
legal system and culminate in the matter we call Agrarian Law. In view of this
pretension of exposition about Agrarian Law, it will start with the technical illustration
of the theme, through the presentation of issues of Rural Property, Indian Law, Water
Law, Concepts of Ownership and Property, Rural Contracts and, finally, about typical
issues of agribusiness, addressing everyday issues faced by those who integrate the
activity. In short, the aim is to address the exponential performance of the Brazilian
agrarian market, both in the domestic and foreign markets, considering that Brazil is

1 Graduando em Direito no UNICURITIBA (Centro Universitário Curitiba).


2 Professora no curso de graduação em Direito no UNICURITIBA (Centro Universitário Curitiba),
Doutora em Direito Econômico e Socioambiental pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná com
estágio de Pós-doutorado no Programa de Pós-Graduação em Direito - Mestrado do Centro
Universitário Autônomo do Brasil - UniBrasil; Mestrado em Tecnologia ênfase em Propriedade
Intelectual pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR. É Advogada e Professora do
Ensino Superior no Centro Universitário Curitiba - UniCuritiba. Tem experiência na área Direito
Empresarial, Propriedade Intelectual, Direito Econômico e Direito e Tecnologia.
considered the most promising country in this sector of the world economy. Finally, it
is intended to point out the expectations for the future of this market, through the
implementation of technological artifacts that will benefit the management of typical
market activities, will reduce costs and increase production, factors that will culminate
in the increase in market demand in Brazil, in special to legal professionals, who will
have new challenges to meet.

Keywords: Law, Agrarian Law, Agribusiness, Business.

1. INTRODUÇÃO

O Direito Agrário é imprescindível para toda e qualquer nação, independe de


seu grau de desenvolvimento, pois aborda a relação do homem com os recursos
naturais, para fins mercantis ou de preservação. Diante disso, a missão atribuída à
elaboração deste artigo é ilustrar acerca da importância deste ramo do direito ao
Brasil, com abordagem aprofundada no agronegócio.
É sabido pela maçante maioria da população, que o Agronegócio é um dos
segmentos mais dominantes no país, responsável por gerar milhões de empregos,
atrair investimentos internacionais ao Brasil e, principalmente, produzir alimento ao
mundo. Soa, de certa forma, espantoso dizer que o Brasil alimenta o mundo, mas, dos
195 (cento e noventa e cinco) países existentes o Brasil exporta alimento a 190 (cento
e noventa), de acordo com o site Canal Rural, comprovando sua fundamental atuação
neste ramo para à humanidade.
Além disso, o Brasil é o maior produtor e exportador de Soja do mundo,
colocação que era ocupada pela China há alguns anos. Ainda, o país possui destaque
na produção de carne bovina, açúcar, café e laranja. Não só na geração de alimentos
a indústria do agronegócio é composta, o setor também produz matéria prima a
praticamente todo o ramo industrial que existe, neste ponto, o Brasil contribui com a
produção de algodão e látex, materiais indispensáveis para confecção de roupas, por
exemplo.
Diante do massivo destaque no cenário mundial, o Brasil é visto com bons olhos
pelos investidores, que estão cada vez mais direcionando seus esforços à nação,
mediante a instalação de indústrias, bem como fomento tecnológico e profissional.
Medida que é benéfica não só aos colaboradores diretos do setor rural, a atração de
investimentos elevará o crescimento econômico da nação e proporcionará melhor
qualidade de vida a todos. Além disso, a expansão do mercado à novas áreas de
atuação é iminente, em especial aos profissionais do direito, que já contribuem de
forma avassaladora ao ramo e tendem a ser cada vez mais exigidos.

2. ESCORÇO DO DIREITO AGRÁRIO NO BRASIL

Por se tratar da seara do direito que aborda sobre a relação do home com a
terra, as primeiras concepções sobre Direito Agrário surgiram no começo da
humanidade, com a espécie do homo sapiens, que usavam dos seres vegetais e
animais, provindos da terra e água para seu sustento, sendo a relação do homem com
o campo algo inerente à natureza humana. Assim, o manejo da terra a fim de produzir
riquezas constituiu-se o termo agricultura, que é a junção dos termos latinos: ager,
tido como campo/território e cultus, no sentido de cultivar/cuidar, resultando em
“Cultivo do Campo”.
Desde os primórdios, já eram presentes sistemáticas, normas e tratados que
disciplinavam os homens com relação ao tratamento e provento da terra, a partir do
momento que se tomou ciência da necessidade de usufruir da terra para sobreviver e
produzir alimentos, foram iniciadas as inaugurais noções do que se tem por direito
agrário, ainda de forma muito singela, baseadas apenas na distribuição de terras e no
uso para plantio por aqueles que compunham o povoado.
Houve na história do direito brasileiro, algumas tentativas de implantação de
um Código de Direito Agrário, espelhando-se em países como Argentina, Uruguai e
Paraguai que já detinham tal dispositivo de lei. No entanto, os projetos não
prosperaram em razão da constante evolução da atividade rural no Brasil, que
caminhava a passos largo rumo ao progresso, assim, as relações deste meio eram
similares as do meio industrial e comercial, não se fazendo necessário o advento de
um escopo de leis específico para seu tratamento, visto que o Código Civil e demais
regimentos vigentes promoviam amparo suficiente. O único corpo legislativo que, de
grosso modo, é destinado ao Direito Agrário é o Estatuto da Terra, aprovado por meio
da Lei 4.504/1964, que basicamente regula e disciplinas as relações do homem com
a terra, mediante abordagens especiais de questões englobantes ao Direito Agrário,
como a proteção à propriedade rural bem como àqueles que a exercem.

2.1 DEFINIÇÕES E CARACTERÍSTICAS DO DIREITO AGRÁRIO


A atividade rural é regida por normas, fundamentos e princípios que tratam da
relação do homem com a terra, seja para manejos de cunho econômico ou apenas
destinados à subsistência e consumo próprio. O Professor Arnaldo Rizzardo,
conceitua o direito agrário da seguinte maneira:

O direito agrário ou rural é formado pelo conjunto de normas que disciplinam


a vida e o desenvolvimento econômico da agricultura, além daqueles que
utilizam a terra para atividades produtivas. Trata-se do direito que rege o
mundo rural, a proteção da natureza, o cultivo da terra e as demais atividades
rurais. Em suma, como a generalidade dos autores concorda, mas revelando-
se insuficiente a definição, vem a ser o regramento da relação do homem com
a terra rural, ou, no dizer de Vivanco, toda a atividade vinculada com a
produção agropecuária.1 Mais diretamente, corresponde ao ramo do direito
que regula a relação do homem com a terra, as atividades rurais, o uso e
proveito da terra, a produção dos bens, e a interferência do Poder Público em
todos os setores de atuação do homem com a terra e da propriedade rural.
Está ligado diretamente à atividade agrária, à agricultura, ao cultivo das
terras, com a finalidade de produzir os gêneros alimentícios indispensáveis à
sobrevivência do ser humano. É o direito que cuida de uma atividade básica,
fundamental, para a sobrevivência humana, pois proporciona o sustento de
todos os seres humanos (RIZZARDO, 2021).

O Direito Agrário possui um forte paralelo com o homem, pois está


profundamente conectado com a produção alimentícia da humanidade, e não somente
a isso, tendo em vista que absolutamente tudo que se consome e está presente no
cotidiano das pessoas, é oriundo de produções agrícolas. Por exemplo, a confecção
de roupas provém do cultivo de algodão, a borracha provém da árvore seringueira,
entre outros. Diante desta singela reflexão, percebe-se que o homem é inteiramente
dependente da agricultura, e estamos à ela assim como ela está a nós.
A preservação do meio ambiente é talvez a missão mais importante do Direito
Agrário, tendo em vista que a prática desenvolvida usa de recursos naturais e
biológicos dispostos na terra e na água, que precisam de zelo para serem renováveis.
Também, o exercício do agronegócio necessita da renovação de recursos naturais,
sendo profundamente de seu ofício, adotar como princípio o tratamento primordial à
preservação do meio ambiente.
Retornando ao mérito da conceitualização do direito que permeia a atividade
rural, cabe ressaltar a existência da pequena diferença semântica presente entre
direito agrário e direito rural. A primeira é originária do termo ager em latim, cujo
significado é cultivável, a segunda, é oriunda da palavra rus, também em latim, que
significa “terra fora da zona urbana”, de modo genérico, sendo ou não produtiva. No
entanto, o direito brasileiro adotou o termo “agrário” para descrever sobre toda e
qualquer atividade relacionada ao cultivo da terra. Tal adoção se dá principalmente,
para cumprir o requisito da função social da propriedade exposto pela Constituição
Federal.
Contudo, o direito agrário brasileiro é o agente regulador das relações voltadas
ao trato da terra e as atividades agrárias em geral, bem como posse e uso da terra,
reforma agrária e colonização. Sendo responsável àquilo gerado pelas próprias ações,
sendo exploração agrícola, pecuária. Inclui-se também, o extrativismo, que são as
atividades que usam produtos naturais como matéria prima, seja vegetal, animal ou
mineral, e, o direito agrário também abarca a prática da silvicultura, que é voltada
especialmente voltada ao cultivo de florestas.
Ademais, extensões ligadas às relações rurais trabalhistas, previdência social
rural, seguros agrícolas e instrumentos de crédito rural, não estão relacionados
especificamente ao corpo legislativo contido no instituto do direito agrário, sendo
abordadas por suas respectivas normas e princípios especiais, apesar de possuírem
profundo encadeamento.
O instituto do Direito Agrário tem como objeto a atuação do homem voltada à
produção na terra, em prol da plena utilização dos recursos naturais a fim de garantir
subsistência econômica e social, regida por planejamentos regimentais capazes de
proporcionar a conservação e reutilização da natureza. No entanto, a atuação do
homem, conforme versa o Professor Arnaldo Rizzardo, está presente e é desenvolvida
em três campos:

–Explorações rurais típicas, abrangendo a lavoura (lavoura temporária:


arroz, feijão e milho; e lavoura permanente: café, cacau, laranja etc.), o
extrativismo animal e vegetal, a pecuária de pequeno, médio e grande porte,
e a hortigranjearia (hortaliças, ovos etc.).
–Exploração rural atípica, revelada no beneficiamento ou transformação
dos produtos rústicos (matéria-prima), envolvendo a agroindústria, a qual se
realiza nos processos industrializantes dos produtos (produção de farinha,
beneficiamento de arroz etc.).
–Atividade complementar da exploração agrícola, que é a atividade final
do processo produtivo, materializado no transporte e na comercialização dos
produtos.

O Brasil, detentor de uma das maiores produções agrárias do mundo,


desempenha e atua amplamente nas três referidas demandas, possuindo não
somente produções rurais que bastecem inúmeras nações, como também, é
fornecedor de matéria prima às mais vastas produções industriais do planeta. Como
é o caso do minério de ferro, por exemplo, sendo o segundo produto que o país mais
exporta, em razão de abrigar a quinta maior reserva natural do mundo, equivalentes
a 17 bilhões de toneladas, de acordo com o portal da DC Logistics Brasil.

3. IMÓVEL RURAL

O Estatuto da Terra define o imóvel rural, como sendo todo e qualquer objeto
de área contínua específico à exploração extrativa agrícola, pecuária ou
agroindustrial, seja por meio da iniciativa pública ou privada. Tal definição, demonstra
não só o que é de fato o imóvel rural, como também, novamente esclarece a real
pretensão do Direito Agrário, de atribuir a função social da propriedade ao imóvel.
A Lei da Reforma Agrária define o imóvel rural como o prédio rústico, de área
contínua qualquer que seja sua localização que se destina à exploração extrativa
agrícola, pecuária ou agroindustrial, seja pela iniciativa pública ou privada. De acordo
com a definição de Christiano Cassettari (2015), a atividade agrária é formada através
da junção de dois elementos, sendo o processo agrobiológico, que é a interação do
homem com a natureza, a fim de produzir alimentos e/ou matéria-prima, e o risco
correlatado, que é o possível estrago que as condições climáticas podem ocasionar à
atividade agrária.

3.1 IMÓVEL RURAL PELA NATUREZA

O critério de classificação do imóvel rural pela natureza, leva em conta a


localização e a destinação da propriedade. Em breve síntese histórica, anteriormente,
o direito usufruía somente da teoria da localização para qualificar se o imóvel era ou
não rural, levando em conta, logicamente, a localização da propriedade. Com o passar
do tempo, se iniciou a adoção da Teoria da Destinação, qual considera de forma única
e exclusiva, o destino/finalidade daquela propriedade. Tal alteração na exegese, se
deu por conta da incidência de tributos sobre os imóveis rurais situados em zonas
urbanas, onde o artigo 29 da Lei 5.172/1966 - Código Tributário Nacional (CTN) exige
do legislativo a necessidade de providenciar uma Lei única para esta finalidade.
Tendo em vista que o Código Tributário Nacional possui status de lei
complementar, sendo superior às demais leis que discorrem sobre o mesmo assunto,
o Presidente Humberto de Alencar Castelo Branco, por meio do Decreto Lei 57/1996,
adotou o critério de destinação ao referido dispositivo.
Este implemento legislativo impacta diretamente no recolhimento de tributos
pelos municípios e pela união, onde, imóveis urbanos devem pagar IPTU (Imposto
Predial Territorial Urbano) ao município de sua localidade e, os imóveis rurais, devem
pagar ITR (Imposto Territorial Rural) à União. O cálculo é o mesmo para ambas as
tarifas, onde o valor do IPTU/ITR, advém da multiplicação do valor do imóvel com a
alíquota (percentual definido por lei que varia entre 1% e 1,5%), por exemplo, se o
imóvel possui o valor de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) e a alíquota incidente é
de 1,4%, o valor do tributo será de R$ 7.000,00 (sete mil reais).
Desta forma, se o imóvel está situado em área urbana, mas nele se
desenvolvem práticas de extração vegetal, agrícola, pecuária ou agroindustrial, o
imposto recolhido é o ITR.
O poder judiciário adota a Teoria da Destinação de forma unânime, conforme
ilustra-se através dos acórdãos do Superior Tribunal de Justiça:

TRIBUTÁRIO. IMÓVEL NA ÁREA URBANA. DESTINAÇÃO RURAL. IPTU.


NÃO-INCIDÊNCIA. ARTIGO 15 DO DL 57/1966. RECURSO REPETITIVO.
ARTIGO 543-C DO CPC. 1. Não incide IPTU, mas ITR, sobre imóvel
localizado na área urbana do Município, desde que comprovadamente
utilizado em exploração extrativa, vegetal, agrícola, pecuária ou
agroindustrial (artigo 15 do DL 57/1966). 2. Recurso Especial provido.
Acórdão sujeito ao regime do artigo 543-C do CPC e da Resolução 8/2008
do STJ (Superior Tribunal de Justiça, Recurso Especial nº 1112646).

Assim, a destinação dos tributos dos imóveis rurais é por meio do ITR, qual é
destinado à União, conforme a Constituição Federal de 1988.
3.2 IMÓVEL RURAL PELA DIMENSÃO

Além de ser classificado pela natureza e localização, o imóvel rural é distinguido


também por sua dimensão, conforme disposição da Lei nº 4.054/64 (Estatuto da
Terra), e da Constituição Federal de 1988 em consonância à Lei nº 4.054/64 (Lei da
Reforma Agrária).
O Estatuto da Terra traz o conceito de Propriedade Familiar como o imóvel rural
explorado pelo seu agricultor e sua família, a fim de garantir subsistência e progresso
social e econômico, devendo ser de extensão limitada que varia de cada região e tipo
de exploração, permitindo eventualmente, o ingresso de terceiros que o(s) ajudem no
trabalho.
Em seguida, traz o conceito de Módulo Rural, tido como a coligação entre a
dimensão territorial, a situação geográfica do imóvel e seu aproveitamento econômico
à região, em outras palavras, trata-se de uma unidade de medida territorial de cada
imóvel.
Os parâmetros para estabelecer a unidade de medida do módulo rural são
definidos com base na legislação vigente, que observa não só a localização do imóvel,
mas também a atividade agrária nele desenvolvida.
A Constituição Federal de 1988, classifica o imóvel rural em propriedade
pequena, propriedade média e grandes propriedades rurais. No entanto, as
disposições trazidas pela Constituição estão definidas somente na Lei da Reforma
Agrária, onde se tem por pequena propriedade, a área entre 1 (um) e 4 (quatro)
módulos fiscais, por média propriedade a área superior a 4 (quatro) e inferior a 16
(dezesseis) módulos fiscais e, por grande propriedade, aquela superior a 16
(dezesseis) módulos fiscais.
A definição trazida pela Lei da Reforma Agrária, traz à tona o conceito de
Módulo Fiscal, que é a medida, em hectares, fixada para cada município, em
observância à atividade exercida, à renda obtida e ao conceito de propriedade familiar.
No entanto, não se confunde com módulo rural, que é calculado com base na
destinação e no proveito econômico de cada imóvel, enquanto o módulo fiscal adota
a média geral do município.
Tantos esclarecimentos são essenciais para entender os quesitos de reforma
agrária, que só é possível por meio da desapropriação e em face de grandes
propriedades rurais, nos casos de descumprimento da função social da propriedade.
Denota-se nos princípios e termos introdutórios ao Direito Agrário, que a
“Função Social da Propriedade”, é sem dúvidas o ponto central para discussões
processuais e/ou doutrinárias deste instituto.

4. DO DIREITO DAS ÁGUAS

Como se sabe, o uso das águas é essencial ao abastecimento e sobrevivência


humana, às atividades industriais em geral contemplo, à geração de energia elétrica,
entre outros. Diante disso, torna-se passível a compreensão da necessidade de
dispositivos normativos de regulamentação da utilização das águas. A luz do direito
agrário brasileiro, o usa das águas é preponderante para fins de irrigação das
plantações e demais atividades agropecuárias no geral. Diante disso, o ordenamento
jurídico regula não só uso de águas tidas como públicas, como também daquelas
componentes às propriedades privadas, para que desempenhem e atinjam a plenitude
da função social constitucional.
No que concerne às águas públicas, o Código Civil é que disciplina a matéria
em consonância com o Código das Águas. Há também a incidência da Lei 9.433 de
1997, que trata da Política Nacional dos Recursos Hídricos, e da Lei 9.984 de 2000,
que dispõe da criação da Agência Nacional de Águas – ANA, órgão destinado à
regulamentação dos recursos hídricos da União.
O Código das Águas, teve como princípio em sua elaboração, de que a água é
um bem de uso social, distinguindo assim, em águas de uso comum e uso dominical.
As de uso comum são compostas pelos mares, correntes, canais, lagos
navegáveis, fontes e reservatórios públicos. As de uso dominical são todas as demais,
que não se enquadram na de uso comum.

4.1 UTILIZAÇÃO DAS ÁGUAS EM ATIVIDADES AGRÁRIAS

O uso das águas públicas para atividades agropecuárias ou indústrias é


abordado pelo Código das Águas, que confere aos donos ou possuidores dos prédios
atravessados ou banhados pelas correntes, a possibilidade de utilizarem dela para
uso na propriedade, seja para fins de agricultura ou indústrias, desde que, não
ocasione prejuízos aos prédios vizinhos nem altere o ponto de saída das águas
remanescentes. Porém, o uso das águas para os mencionados fins está condicionado
ao ato administrativo de outorga pelo poder público, nos termos da Lei da Política
Nacional de Recursos Hídricos.
Ainda, a Lei da Política Nacional de Recursos Hídricos, é pontuado sobre o uso
das águas públicas para outras finalidades de pequeno porte, tratadas como
“insignificantes” pela Lei. Esta exceção retira o viés de obrigatoriedade de outorga
para uso das águas públicas, onde o usufruto para pequenas atividades independe
de autorização do estado. Sendo assim, o proveito de “recursos hídricos para a
satisfação das necessidades de pequenos núcleos populacionais, distribuídos no
meio rural, as derivações, captações e lançamentos considerados insignificantes e as
acumulações de volumes de água consideradas insignificantes” são livres.

5. POLÍTICA AGRÍCOLA

Como se sabe, a Constituição Federal de 1988 é popularmente conhecida


como “Constituição Cidadã”, em razão de buscar formalizar garantias sociais e
políticas aos brasileiros. Qualificação esta, que foi atribuída pelo então Presidente da
Assembleia Nacional Constituinte, deputado Ulysses Guimarães, em 05 de outubro
de 1988. Neste contexto, a carta magna embasou todos os dispositivos normativos
posteriores, que seguiam os princípios fundamentais constitucionais para elaboração
dos respectivos corpos legislativos.
Com relação ao Direito Agrário não é diferente, a fim de garantir a função social
da propriedade, a Constituição estabelece o fenômeno da Política Agrícola,
conceituando como o trabalho realizado pelo estado para ampara à propriedade da
terra, que se destinem a orientar, no interesse da economia rural, as atividades
agropecuárias, seja no sentido de garantir-lhes o pleno emprego ou para fins de
progresso da industrialização do País, em contexto geral, de acordo com o artigo 1º,
§2º do Estatuto da Terra.
A Constituição Federal de 1988, no artigo 187, propõe que “A Política Agrícola
será planejada e executada na forma da lei, com a participação efetiva do setor de
produção, envolvendo produtores e trabalhadores rurais, bem como dos setores de
comercialização, de armazenamento e de transportes...”. Em seguida, nos incisos que
preenchem este artigo, a Constituição aborda as pretensões a serem promovidas pela
Política Agrícola, onde as de maior relevância são:
Assistência Creditícia, por meio de concessões de empréstimos e
financiamentos, cedidos por instituições bancárias mediante incentivo e amparo do
estado.
Garantia de preços mínimos justos – compatíveis com a realidade,
proporcionando condições dignas de subsistência aos moradores do campo, do
menor ao maior poder aquisitivo.
Difusão da Educação, para que o estado leve meios de proporcionar
educação aos cidadãos da região rural.
Progresso Técnico e Industrial, a fim de instaurar meios de produção
tecnológica e industrial na respectiva região, como comércios, empresas geradoras
de implementos tecnológicos, hospitais, construtoras, acesso à comunicação, entre
outros.
Tal urbanização da zona rural, deve receber o incentivo do estado para que
seja exercida, cabendo aos prefeitos e governadores, buscar por melhores condições
de vida aos habitantes rurais e aos negócios presentes, atingindo a proposta de
Política Agrícola suscitada.
Ainda, a tributação das propriedades rurais por meio do ITR, compõe a
proposta da Política Agrícola, uma vez que há interferência nas produções agrárias,
onde a arrecadação de recursos deve ser direcionada à propulsão e extensão da
Política, conforme o artigo 153, inc. VI da Constituição Federal.
Por fim, como elemento preenchedor da Política Agrária, a Constituição
estabelece no artigo 191 acerca do Usucapião Agrário, que se configura como o
exercício da posse livre, mansa e pacífica, pelo agente que a exerça por cinco
ininterruptos, área de terra não superior a cinquenta hectares, e que tenha a tornada
produtiva para seu sustento e sua moradia.
Tal previsão legislativa visa garantir a função social da propriedade, cedendo
ao possuidor que exerça o cultivo de culturas agrárias na terra, a aquisição plena do
imóvel por meio do usucapião.

5.1 DESAPROPRIAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA

A Constituição Federal concede ao direito à propriedade a condição de cláusula


pétrea. No entanto, a exceção desta garantia é a desapropriação, que se dá na
ausência da fruição social da propriedade.
Entende-se como desapropriação, o fenômeno de mudança dominial
compulsória, em outras palavras, é a retirada da propriedade de um particular por
razões de interesse público. Assim, a propriedade rural que não cumprir sua função
social poderá ser objeto de desapropriação à reforma agrária. De maneira incisiva, a
propriedade que não exercer plena função social nos termos constitucionais, de gerar
benefícios à população como um todo, será objeto de desapropriação como sanção
ao não cumprimento da função social. Arnaldo Rizzardo conceitua a legitimação da
posse agrária como sendo o ato que confere a propriedade àquele que explora
economicamente com atividades agrícolas, em tela:

Trata-se de um sistema jurídico que leva a reconhecer a legitimidade da


posse de uma fração de terras devolutas ou públicas em favor daquele que a
ocupa, nela residindo e fazendo-a produzir, ou explorando-a
economicamente com culturas agrícolas. Considera-se um procedimento
especial destinado a transformar uma situação possessória em relação de
domínio ou propriedade (RIZZARDO, 2021).

A Constituição propõe, no artigo 5º, inc. XXIV, que “a lei estabelecerá o


procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por
interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro...”. Desta forma, o
Estatuto da Terra complementa a deliberação constitucional no tocante à
desapropriação de imóveis rurais, em seu vigésimo artigo, onde valora-se a função
social da propriedade como ponto chave.
A desapropriação exercida sobre determinado imóvel, por via de regra, irá gerar
o direito à compensação para com o proprietário, que será mediante indenização em
dinheiro. A exceção se dá pelo artigo 243 da Constituição, que condiciona a
desapropriação de imóveis rurais com plantação de entorpecentes ou exploração de
trabalho escravo sem a necessidade de indenizar, revertendo o imóvel à reforma
agrária. Ainda, o parágrafo único do referido artigo propõe a criação de um fundo
especial, para o caso da expropriação de terras de plantio de entorpecentes ou
trabalho escravo, a ser composto com o valor econômico obtido mediante a venda
dos bens que guarnecem a propriedade confiscada.
O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) é o órgão
responsável à execução da reforma agrária, ao mantimento do cadastro nacional de
imóveis rurais e à administração de terras públicas. Como se sabe, o imóvel rural deve
preencher a função social da propriedade, onde, a certificação acerca deste
preenchimento será feita pelo INCRA, através do procedimento administrativo
denominado de “vistoria prévia”.
No tocante à desapropriação para fins de reforma agrária, há a discussão sobre
a incidência deste fenômeno em propriedades produtivas que degradem o meio
ambiente. Importante lembrar que o artigo 185 da Constituição Federal garante dispõe
que a propriedade produtiva não é passível de ser desapropriada, no entanto, sobre
esse debate são duas as correntes doutrinárias dominantes.
A primeira linha de pensamento é do Professor José Afonso da Silva, que atribui
um conotação positivista ao texto na lei, afirmando que é imprescindível seguir a
disposição nela contida, no sentido de nunca conferir a desapropriação à propriedade
produtiva, onde, determinada sanção motivada pela degradação ambiental poderá se
fazer presente de outra maneiras, como na progressão do valor do ITR recolhido pelo
proprietário, ou através de multas ambientais a serem aplicadas pelos competentes
órgãos.
A segunda posição é defendida por estudiosos do direito agrário, que pregam
a desapropriação às propriedades que violem a função social trazida pela
Constituição, onde, qualquer ação ou omissão contrária aos interesses sociais e
ambientais deverá ser caracterizada como abuso do direito de propriedade.
O Estatuto da Terra, em seu artigo 2º, estabelece que a propriedade rural não
cumpridora da função social da propriedade, prevista no artigo 9º do mesmo
dispositivo, será passível de desapropriação. Diante disso, o Supremo Tribunal
Federal adota a segunda tese defendida nesta discussão, a fim de desapropriar o
imóvel rural que promova degradações ambientais, nos termos da Constituição
Federal e da legislação complementar atinente à prática.

6. CONTRATOS AGRÁRIOS E AFINS

Como se sabe, o negócio jurídico bilateral ou plurilateral, que criar, modificar,


resguardar, transmitir ou extinguir direitos, é denominado de Contrato. Assim, têm-se
por Contratos Agrários, a formalização da vontade das partes voltada à aquisição, à
modificação, à extinção e ao resguardo dos direitos vinculados às atividades
produtivas da terra.
No ramo do Direito Agrário, os contratos mais utilizados são o de Parceria,
como sendo a disposição de um imóvel rural a um terceiro, ou de uma parte dele,
incluindo ou não benfeitorias ou equipamentos atinentes à prática, para que seja
explorada atividade agrária mediante partilha dos frutos, riscos, produtos e lucros dela
emergidos. E o contrato de Arrendamento, como o qual um agente se obriga a ceder
a um terceiro, por tempo determinado ou não, o uso de um prédio rústico, incluindo
ou não benfeitorias e equipamentos atinentes, para a prática de atividades agrárias,
em troca de certa retribuição ou aluguel. Em outros termos, é o ato de locar um
determinado terreno a outra pessoa que vá exercer atividades agrárias, devendo
compensar o cedente do imóvel com o pagamento em dinheiro ou em frutos oriundos
da prática.
Em se tratando do Contrato de Arrendamento, é possível a prática do
“Subarrendamento”, onde o Arrendatário transfere de integralmente ou parcialmente
a um terceiro, os direitos e obrigações provenientes do contrato celebrado, nos termos
do Decreto 59.566 de1966, sendo necessário o consentimento do
Arrendador/Arrendante, em razão de formalidades possessórias descritas pelo
Estatuto da Terra.
Embora o Contrato de Parceria ser muito similar ao de Arrendamento, o ponto
primordial que os difere é no tocante ao deslinde dos negócios jurídicos, enquanto o
de Parceria divide entre os contratantes os frutos, riscos, produtos e lucros emergidos
da atividade agrária, o de Arrendamento estipula um determinado valor em troca da
cessão da propriedade também para fins agrários, assemelhando-se a um contrato
de locação.
No que concerne aos prazos de vigência para os Contratos de Parceria e
Arrendamento, o Estatuto da Terra prevê a variação do tempo de duração conforme
a exploração que estará envolvida. Os contratos que envolvam plantações serão tidos
como finalizados após a colheita, os que tratam da criação e abate de animais, após
a parição dos rebanhos ou comercialização da carne. As condições e prazos devem
ser firmadas com observância às condições e aos costumes de cada região.

7. O AGRONEGÓCIO NO BRASIL

A produção de commodities é o carro-chefe do PIB brasileiro, de acordo com a


pesquisa realizada pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada –
CEPEA, “no ano de 2020 o agronegócio participou diretamente da fatia de 26,6% do
PIB, sendo que em 2019 o fator foi de 20,5% apenas”, de acordo com o blog Fielview.
Um dos fatores que justifica a crescente de mais de seis por cento na atividade agrária
se dá em virtude da pandemia do Covid-19, onde, a demanda por alimentos e matéria-
prima aumentou significativamente.
Em 1970, o agronegócio correspondia a 7,5% do PIB brasileiro apenas, índice
que triplicou nos últimos quarenta anos. O que explica essa evolução é o avanço na
industrialização do Brasil, que se iniciou no governo de Juscelino Kubitschek e foi
continuado pelo governo de Emílio Médici, que adotou medidas para estimular o
crédito, incentivar exportações e adotar o ingresso de capital estrangeiro. Esse
conjunto de medidas é popularmente conhecido como Milagre Econômico. Crescente
essa dos anos 70, atraiu olhares de investidores do mundo todo que desde então
concentram altas cifras de investimento no país, que novamente culmina na
estruturação e desenvolvimento tecnológico do setor, sendo um dos pilares para
atingir os números alcançados nos dias de hoje.
Em 2020, a agropecuária foi responsável por 48% das exportações realizadas
pelo Brasil, e a expectativa é que o país se destaque ainda mais nos próximos dez
anos. De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, nos
últimos dez anos a atuação do Brasil no mercado mundial de alimentos saiu de US$
20,6 bilhões para US$ 100 bilhões, números que surpreendem o mundo todo e elevam
as apostas em maiores avanços.

7.1 A EXPANSÃO TECNOLÓGICA NO AGRONEGÓCIO

Assim como em qualquer setor, o investimento em aparatos tecnológicos é


fundamental nos dias de hoje, pois é sabido que a tecnologia proporciona retenção de
gastos e melhoria de desempenho, com o agronegócio não é diferente, uma das
promissoras adoções para alavancar as produções é a modernização, mediante
inclusão de sistemas e aplicativos que unificam as informações a fim de facilitar o
trabalho do produtor rural.
Muito se fala nos bastidores do agronegócio sobre a necessidade de se
atualizar ao mercado, sendo um dos desafios do setor, alinhar-se às tecnologias que
chegarão em breve. Por oportuno, menciono as cinco principais ferramentas que
prometem aquecer o mercado.
Agricultura de Precisão (AP): É o nome dado aos dispositivos que mapeiam
a área de cultivo, permitindo que o monitoramento seja feito através de tablets,
smartphones ou computadores. A ferramenta mais comum são os aplicativos para
celulares ou tablets, que reúnem uma série de informações úteis à gestão das
propriedades, um exemplo é o Aegro, que organiza informações financeiras, faz
cotação de seguros e até notifica das condições climáticas, fator que é de extrema
importância ao produtor rural, a fim de organizar a rotina das plantações de acordo
com os dias de chuva, entre outros. As configurações são amplamente diversas,
sendo possível verificar a umidade do solo, a presença de plantas daninhas e pragas.
Dentro da Agricultura de Precisão, encaixam-se drones, maquinários e demais
ferramentas.
Equipamentos Autônomos: Ditos robôs, os Equipamentos Autônomos
proporcionam economia, rentabilidade e praticidade, tendo em vista que não
dependem diretamente do homem para serem operados. O primeiro trator autônomo
está sendo projetado para trabalhar 24 horas por dia, além de conter um dispositivo
que prevê e evita possíveis acidentes na lavoura.
Controle de Dados (Big Data): É a unificação dos dados da propriedade rural,
que ao serem armazenados em softwares, permitem ao produtor o controle de tudo
através de um tablet ou smartphone, tornando desnecessária sua presença física e
reduzindo deslocamentos dentro da propriedade. É notório que a adoção das Big
Datas irá reduzir gastos e proporcionar melhores resultados.
Essa tecnologia nos permite fazer um paralelo do Agronegócio com a Lei Geral
de Proteção de Dados – LGPD (Lei nº 13.709/2018), onde, de acordo com o estudo
realizado pela LGPD - ABES (Associação Brasileira de Empresas de Software) em
parceria com o instituto Ernest Young, “somente 31,13% dos negócios do segmento
do agronegócio estão em conformidade com as disposições da LGPD”, de acordo com
o site Conjur. O setor do agronegócio concentra uma série de informações de
funcionários, clientes e fornecedores, fazendo com que a regularização nos termos da
Lei evite sanções e imprevistos, além de proteger o vazamento de informações do
próprio negócio a terceiros. Portanto, verifica-se que consultores jurídicos
especializados em LGPD, possuem vasta uma demanda no assessoramento das
propriedades em dissonância com a Lei, em especial à crescente adoção de Big Datas
pelos produtores, que ainda segue lentamente, mas promete ser cada vez mais
adotada.
Biotecnologia e Melhoramento Genético: Com maior destaque na pecuária,
embora presente também nas lavouras, a Biotecnologia e o Melhoramento Genético
são o conjunto de técnicas usadas para proporcionar melhor desenvolvimento do
animal, mediante alimentação balanceada, medicação, suplementação alimentar e
cruzamento de raças, tudo isso com o objetivo de estimular a produção de nutrientes
de cada animal. Já existe no mercado, uma espécie de “coleira” que monitora as
características de cada animal, se está desidratado ou desnutrido, se está
caminhando demais ao longo do período de pastagem, o que proporciona o
emagrecimento, entre outros. Com relação à lavoura, a Biotecnologia e o
Melhoramento Genético atuam de forma similar, mas com o objetivo de promover o
aceleramento de crescimento dos vegetais, bem como melhor qualidade nutritiva. O
nicho dentro do mercado agropecuário que vive em constante evolução com essa
ferramenta, é o de Insumos e Fertilizantes, onde ano após ano surgem produtos com
promessas de sucesso nos resultados da respectiva atividade.
O grande marco para essa evolução tecnológica, será a instauração da internet
5G, que viabilizará o desenvolvimento econômico de todos os setores da economia,
em especial ao industrial e ao agronegócio. No entanto, tal processo ainda está sendo
iniciado na maioria países, sendo que ao todo, apenas trinta e quatro possuem a
tecnologia em vigência. A tecnologia do 4G conectou as pessoas, já o 5G conectará
as empresas, e isso promete um exponencial avanço na economia. Se pensarmos
que nos anos 70, quando o agronegócio começou a decolar rumo ao topo do PIB
brasileiro e da produção/exportação em massa a nível global, foi devido ao fator de
abertura do mercado brasileiro para investimentos estrangeiros e modernização do
país, mediante construção de pontes, estradas, portos, entre outros, imagina agora,
que a tecnologia proporcionará ainda melhor desenvolvimento e controle de produção
ao homem do campo... É de se apostar veemente no sucesso do país, que alcançará
cada vez mais altos rumos. Por exemplo, hoje com o 4G, o produtor rural utiliza
somente um drone para aplicar insumos em sua plantação, com o 5G ele utilizará
vários drones e identificará em seu mapa a parcela da plantação de precisa de mais
ou menos insumo. No caso de um ataque de praga em determinada área plantada, o
produtor verifica por meio de seu mapa e conduz os drones, já abastecidos com a
substância repelente necessária, e aplica naquela área. Atualmente, isso é feito de
modo arcaico, onde é necessário se deslocar até a parcela afetada e aplicar o insumo
de modo braçal.
7.2 O PAPEL DO DIREITO NO AGRONEGÓCIO

Portanto, observa-se que o mercado do agronegócio tem tudo para decolar


ainda mais, muito em ocasião dos avanços tecnológicos que proporcionarão redução
de custos e maior rentabilidade ao setor.
Além disso, um dos fatores que contribuiu para o destaque do agronegócio no
PIB brasileiro, que compôs ¼ do montante total no ano de 2020, foi o advento da
Covid-19, responsável por inflacionar o preço dos alimentos em geral e aumentar o
interesse dos demais países em fazer negócios com o Brasil, uma vez que a demanda
era maior que a produção. Por exemplo, “no ano de 2019 um saco de soja de 60 kg
era vendido por aproximadamente R$85,00 (oitenta e cinco reais), de acordo com o
site Cepea.
Já em 2020, quando a pandemia estava em curso, a mesma quantidade de
soja era comercializada pelo preço médio de R$170,00, conforme consulta ao portal
Stonex.
Assim, o Brasil, como um dos maiores produtores do mundo foi beneficiado
pela demanda excessiva que surgiu.
Diante desse exponencial aquecimento no mercado, podemos considerar que
os produtores rurais brasileiros enriqueceram nos últimos anos e certamente
investirão recursos em suas propriedades, a fim de elevar as produções. Por exemplo,
a disparada nos preços da soja aumentou a procura de maquinários, silos
(equipamento para armazenar grãos), secadores (equipamento para secar grãos) e
demais ferramentas, no entanto, o crescimento do consumo incide diretamente no
crescimento da inadimplência. Em um raciocínio rápido, podemos extrair que a
inadimplência leva o credor ao advogado, que deverá estar capacitado e por dentro
do assunto, para que possa resolver a questão do cliente. Outro exemplo, é no tocante
à adequação da propriedade rural à LGPD, que exigirá a presença de um consultor
para auxiliar no saneamento. Por fim, são inúmeras as situações e oportunidades de
mercado que surgiram nos últimos anos e que se intensificarão nos anos seguintes,
que resultará em vasta atuação dos profissionais do direito.

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chegando ao fim deste trabalho, extrai-se, primeiramente, a complexa atuação
e interferência do Direito nas atividades agropecuárias, mediante a concepção da
preocupação do legislador para estruturar e introduzir normas voltadas ao simples
exercício do trabalho com a terra. Grande parte da população brasileira não cogita a
respeito da existência destes dogmas voltados exclusivamente para a fruição das
relações atinentes ao trabalho rural, por exemplo, muitos dos cidadãos não possuem
conhecimento da existência do Código de Águas, que é um dispositivo fundamental
para o controle e outorga do uso das águas públicas e privadas. A irrigação de
plantações e o cuidado dos animais, inicia-se na redação do Código da Águas, e este
fato é desconhecido por parte da sociedade.
Muitas vezes, os juristas já formados e os que ainda estão em formação,
também não possuem conhecimento acerca dos dispositivos normativos que
englobam o Agronegócio, embora o tema seja fundamental à economia nacional e à
segurança alimentar do Brasil e do mundo, tendo em vista que o nosso país é
destaque no meio.
A motivação para minutar este trabalho parte de origens culturais e familiares
deste que vos escreve, conjuntamente com a análise feita sobre o contexto
Agronegócio como um todo, isto é, desde a interpretação cedida pelos códigos que
regem a matéria, passando pela cadeia produtiva, econômica e social, e, por fim,
chegando ao estágio final mediante o consumo do alimento produzido.
O escopo planejado para execução deste trabalho de conclusão do curso de
direito, partiu da percepção da necessidade de instruir este tema, que é pouco
debatido na academia, aos leitores, através da explanação de conceitos gerais do
Direito Agrário, quais são tecnicamente minimalistas e de singela compreensão. Muito
do que se vê no Direito Agrário provém do Direito Civil, devido a isso a absorção ocorre
de maneira analógica pelos leitores.
Após a compreensão inicial dos conceitos gerais, junto dos princípios e
paralelos do Direito Agrário, nota-se que a influência do Direito Ambiental e Direito
Administrativo, são fortemente ativas. A partir disso, é possível identificar a teoria da
Política Agrícola em prática, quando busca introduzir o mercado agropecuário no rol
industrial do país, a fim de gerar resultados positivos à nação como um todo. A
influência do Direito Administrativo age, especialmente, para gerir as produções
agropecuárias e garantir o cumprimento das exigências impostas pela lei. O Direito
Ambiental busca a proteção do meio-ambiente, através de prevenção de catástrofes
e repressão de danos praticados por particulares. Portanto, Direito Agrário, Direito
Administrativo e Direito Ambiental caminham lado a lado.
A título de extensão e ilustração, viu-se oportuno versar a respeito do Povoado
Indígena, que embora vivam em regiões de florestas, ainda são muito presentes em
todo o território brasileiro, além de possuírem uma relevante participação histórica. O
papel do povoado indígena é culturalmente forte no Agronegócio, pois, são pioneiros
em muito do que atualmente é praticado na agricultura mundial. O Direito Agrário
demonstra, por meio do Estatuto do Índio, o zelo e o respeito com o seu povo e sua
propriedade, devido a isso foi profundamente necessário e gratificante discorrer sobre
o povoado indígena neste trabalho.
Indispensável também, a exposição sobre o Direito das Águas, tendo em vista
que tal recurso natural é utilizado em larga escala na atividade agrária. O estado busca
administrar o uso das águas a fim de garantir sua abundância à sociedade, ou seja,
sua gestão é fundamental para que haja água para o consumo da sociedade, bem
como ao uso para atividades mercantis, visando o bem-estar social e o exercício da
atividade econômica. Além disso, a outorga do uso de águas é muito importante para
zelar o meio-ambiente, evitando degradações e desastres ambientais.
Observou-se que os institutos da Política Agrícola e da Reforma Agrária são os
condutores do Direito Agrário. As disposições normativas seguem estritamente estes
conceitos, que se correlacionam e nos levam à conclusão da Política Agrícola como
um conjunto de meios que busca integrar a atividade do agronegócio ao rol econômico
e social do país, sendo consumada quando promovida a descentralização da
propriedade, conforme pretende a Reforma Agrária. Conclui-se que a junção destes
conceitos visa alavancar a economia e garantir bem-estar social aos cidadãos. Ainda
que a maioria da população não possua conhecimento sobre o funcionamento prático
da atividade agropecuária, é notável o seu importante papel na garantia dos direitos
fundamentais do cidadão.
Foi possível identificar neste trabalho, a importância das figuras da
Desapropriação e Reforma Agrária, para o fim de cumprir a função social da
propriedade e gerar benefícios à população como um todo. De início, vê-se como
necessária a distribuição de terras que descumprem os requisitos pretendidos pelo
ordenamento jurídico. Porém, foi apresentada a corrente doutrinária que defende a
não desapropriação de propriedades produtivas que degradem o meio-ambiente,
onde, sua produção preenche significante parte dos requisitos da função social da
propriedade. Muitas vezes a desapropriação desta propriedade pode ser prejudicial à
região que são exercidas as atividades agropecuárias, em se tratando da geração de
empregos e demais fatores sociais, bem como à segurança alimentar e à economia
nacional do país, tendo em vista que a desapropriação põe fim as atividades ali
exercidas. Sendo assim, vê-se que a sanção aplicada nestes casos específicos
deverá ser a progressão tributária ou autuação da propriedade em multa, mas, apenas
em último caso a desapropriação.
A abordagem acerca da Posse Agrária foi fundamental para a compreensão da
proposta deste trabalho, pois as discussões possessórias são muito recorrentes no
cotidiano da atividade agropecuária. Foi possível notar que os institutos que regem a
Posse Agrária são derivados das concepções de Posse do Direito Civil.
Dos contratos que regem as atividades agropecuárias, foram expostos apenas
os dois mais tradicionais, sendo o de parceria, quando há a cessão do imóvel rural
mediante partilha dos frutos da atividade a ser desenvolvida, e o de arrendamento,
quando o agente dispõe de seu imóvel rural a um terceiro, mediante compensação e
sem partilha dos resultados. Estas são as modalidades contratuais pioneiras no ramo
agrário, que, no entanto, deram origem a contratos acessórios e específicos para um
único fim. Hoje em dia há o Contrato de Pastoreio, por exemplo, que é utilizado
exclusivamente para o aluguel de pasto para animais, onde as características e
necessidades desta atividade são especificamente detalhadas neste tipo de contrato,
fazendo com que as partes celebrem este ao invés do de Parceria.
Por fim, foram expostos os aspectos históricos da evolução do agronegócio no
Brasil, que teve início com o fomento industrial ocorrido nos anos 70. O mercado que
era tímido e crescia lentamente, alavancou de forma impressionante e atualmente é
responsável pela produção de 25% do Produto Interno Bruto do país. A aposta para
ainda mais expansão e domínio no cenário do agronegócio mundial, são os
implementos tecnológicos, que facilitarão a gestão das produções, reduzirão custos e
aumentarão a cadeia produtiva.
O iminente crescimento deste mercado tende a aumentar a demanda dos
profissionais do direito, tanto na prestação de serviços já usuais quanto na prestação
de novos serviços que surgirão, principalmente, com as alterações e inovações
legislativas, como é o caso da LGPD. Portanto, serão necessários profissionais
qualificados para atuar na área, assim como amparo e incentivo do estado, mediante
incentivo creditício, fiscal e tributários aos homens do campo.
REFERÊNCIAS

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alta segurança. Disponível em:
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13.043/14 e EC 81/14, 2ª edição. São Paulo: Grupo GEN, 2015. 9788522499441.
Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788522499441/.
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RIZZARDO, Arnaldo. Direito do Agronegócio. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2021.


9786559640621. Disponível em:
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brasileiras. Disponível em: <https://blog.climatefieldview.com.br/qual-e-a-
participacao-do-agronegocio-no-pib-e-nas-exportacoes-
brasileiras#:~:text=Qual%20%C3%A9%20o%20PIB%20do,20%2C5%25%20em%20
2019>. Acesso em 24 de novembro de 2021.

CONJUR. Os reflexos da lei geral de proteção de dados no agronegócio. Disponível


em: <https://www.conjur.com.br/2021-jun-17/ribeiro-serra-reflexos-lgpd-
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CEPEA. Soja/Retro 2019: Menor oferta e demanda firme sustentam preços em 2019.
Disponível em: <https://www.cepea.org.br/br/releases/soja-retro-2019-menor-oferta-
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STONEX. Retrospectiva do mercado de soja em 2020. Disponível em:


<https://www.mercadosagricolas.com.br/graos-e-oleaginosas/retrospectiva-do-
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