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GESTÃO DE

RECURSOS
AMBIENTAIS

Roger Santos Camargo


Direito e legislação
ambiental
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Analisar as principais leis ambientais em vigor no país.


„„ Discutir sobre a importância da aplicação da legislação para o pla-
nejamento ambiental.
„„ Reconhecer os princípios nos quais se baseiam nossa legislação
ambiental.

Introdução
A legislação ambiental foi concebida ao longo das necessidades huma-
nas mais aparentes e das prioridades econômicas, principalmente no
Brasil. Nas últimas décadas, com muitos impactos ambientais sentidos
pela sociedade, leis completas e com foco no interesse da coletividade
ganharam força e peso.
Neste capítulo, você será apresentado às principais leis ambientais,
à sua relevância e aos princípios jurídicos nas quais foram embasadas.
É esperado que, após a leitura do material, você entenda a grande res-
ponsabilidade que é realizar a gestão dos recursos naturais, tendo em
vista a legislação e a sustentabilidade, mas que, com certeza, é meritosa.

Principais leis ambientais e sua relevância


O Brasil possui uma forte legislação ambiental, considerada uma das mais
completas e complexas do mundo. O Direito Ambiental é uma especialização
de fundo teórico, área que tem crescido gradativamente, mas todos os profis-
sionais que lidam com questões ambientais precisam conhecer as principais
leis da área. As regulamentações sobre o meio ambiente estão disponíveis e
podem ser consultadas na Internet, pois seria maçante e improdutivo todas
122 Direito e legislação ambiental

serem abordadas neste capítulo. A melhor forma de estudo da legislação


ambiental é consultar o próprio documento on-line, visto que é atualizado
com frequência. O país nasceu com uma legislação vinda de Portugal. No
Quadro 1 você confere a cronologia do direito ambiental brasileiro.

Quadro 1. Histórico das primeiras legislações brasileiras.

Legislação Ano de origem Pontos principais

Ordenações Afonsinas 1446 Proibiu o corte de


árvores frutíferas

Ordenações Manuelinas 1521 Acrescentou, na legislação,


a proibição de caça que
cause sofrimento a lebres,
coelhos e perdizes

Carta Régia 1541 Proibiu o desperdício de Pau-


brasil e regulamenta o corte

Ordenações Filipinas 1603 Adicionou, à legislação,


pena para quem jogar
materiais para matar peixes

Regimento sobre 1605 Estabeleceu pena de morte


o Pau-brasil para quem cortasse o Pau-brasil
sem autorização da Coroa

Código Criminal 1830 Penas de multa e prisão para


do Império corte ilegal de árvores

Código Penal de 1890 1890 Multa para o responsável por


incêndio em áreas verdes

Como você pode notar, a evolução da legislação foi lenta e atrelada, muitas
vezes, aos interesses de Portugal, que via o Brasil apenas como fonte de riquezas
para exploração. Esse modo de crescimento afetou a natureza nacional e ainda
é presente no país. Com o Brasil independente e republicano, inúmeras leis
surgiram e alteraram, de forma definitiva, a relação da sociedade com o meio
ambiente. A seguir, serão apresentadas importantes leis vigentes que poderão
ser consultadas, na íntegra, no site do Senado Brasileiro.
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Constituição Federal de 1988


A Constituição de 1988 foi um marco ambiental para o Brasil por considerar
que o ecossistema equilibrado é direito de todos. Grandes desastres ambien-
tais sem precedentes, como o de Chernobyl (1979), o da indústria química
Seveso (1976) e os graves problemas de saúde causados pelos poluentes em
Cubatão (SP), impulsionaram a consolidação de regulamentação federal para
o monitoramento dos impactos ambientais.
Entre os artigos que foram inovadores, destaca-se o Art. 225º. Confira
alguns trechos (BRASIL, 1988):

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso


comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder
público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes
e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo
ecológico das espécies e ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fis-
calizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético.

Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981


Essa lei estabeleceu a Política Nacional do Meio Ambiente, considerada a mais
relevante das leis ambientais. Criou e implementou os Estudos de Impacto
Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), documentos
necessários para analisar e aprovar a instalação de um empreendimento.
Também definiu, conceitualmente, vários termos e a obrigatoriedade da edu-
cação ambiental em todos os níveis. Analise os incisos do Art. 2º a seguir, que
descrevem os princípios da Política Nacional do Meio Ambiente:

I - ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o


meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado
e protegido, tendo em vista o uso coletivo;
II - racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar;
Ill - planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais;
IV - proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas;
V - controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras;
VI - incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso
racional e a proteção dos recursos ambientais;
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VII - acompanhamento do estado da qualidade ambiental;


VIII - recuperação de áreas degradadas (Regulamento);
IX - proteção de áreas ameaçadas de degradação;
X - educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da
comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do
meio ambiente (BRASIL, 1981).

Você sabe dizer qual a diferença entre EIA e RIMA?


Para empreendimentos que se utilizarão de recursos naturais, os dois relatórios são
necessários para liberação. O EIA mostrará os dados da área e os estudos dos impactos
ao ambiente que foram pesquisados pelos especialistas, bem como as ações para
reduzir o prejuízo. O RIMA trará as conclusões sobre o EIA apresentado e pode ser
aceito ou indeferido, sendo de domínio público.

Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998


É conhecida como a Lei de Crimes Ambientais ou Lei da Vida. A lei tipifica os
crimes ambientais e as respectivas penas atribuídas. Muitas vezes classificada
por determinados peritos como contraditória, é a referência para identificar
e punir o delito ambiental. A lei é bastante discutida e há projetos no Senado
para alterações referentes às punições. Examine os trechos do Art. 29º:

Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre,
nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização
da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida:
Pena - detenção de seis meses a um ano, e multa.
§ 1º Incorre nas mesmas penas:
I - quem impede a procriação da fauna, sem licença, autorização ou em de-
sacordo com a obtida;
II - quem modifica, danifica ou destrói ninho, abrigo ou criadouro natural.
§ 2º No caso de guarda doméstica de espécie silvestre não considerada ame-
açada de extinção, pode o juiz, considerando as circunstâncias, deixar de
aplicar a pena.
§ 3° São espécimes da fauna silvestre todos aqueles pertencentes às espécies
nativas, migratórias e quaisquer outras, aquáticas ou terrestres, que tenham
Direito e legislação ambiental 125

todo ou parte de seu ciclo de vida ocorrendo dentro dos limites do território
brasileiro, ou águas jurisdicionais brasileiras.
§ 4º A pena é aumentada de metade, se o crime é praticado:
I - contra espécie rara ou considerada ameaçada de extinção, ainda que so-
mente no local da infração;
II - em período proibido à caça.
§ 5º A pena é aumentada até o triplo, se o crime decorre do exercício de caça
profissional (BRASIL, 1998).

Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012


Conhecido como Código Florestal, regulamenta todas as medidas de proteção
que envolvem as áreas com cobertura vegetal ou que foram devastadas. A
lei define os parâmetros de classificação dos locais protegidos e os níveis de
exploração permitidos e também caracteriza as contravenções penais. O Código
Florestal teve sua última alteração no ano de 2012, com muitas polêmicas.
Muitos ambientalistas acreditam que houve retrocesso sob alguns aspectos,
como no Art. 67º:

Nos imóveis rurais que detinham, em 22 de julho de 2008, área de até 4


(quatro) módulos fiscais e que possuam remanescente de vegetação nativa em
percentuais inferiores ao previsto no art. 12, a Reserva Legal será constituída
com a área ocupada com a vegetação nativa existente em 22 de julho de 2008,
vedadas novas conversões para uso alternativo do solo (BRASIL, 2012).
Coincidentemente ou não, o Brasil aumentou o desmatamento
nos anos posteriores ao novo Código Florestal.

O Código Florestal é um instrumento de conhecimento e também de análise crítica


para os profissionais preocupados com a gestão ambiental. Ler o Código Florestal, bem
como tentar compreender por que alguns artigos foram intensamente debatidos e
outros vetados pela então Presidenta Dilma Rousseff, é acompanhar o jogo de interesses
envolvidos na preservação dos habitats. Para ajudá-lo a entender a dimensão dessa lei
e as futuras consequências, você pode ler o artigo Reflexos do novo Código Florestal nas
Áreas de Preservação Permanente – APPs – urbanas (AZEVEDO; OLIVEIRA, 2014), no link:

https://goo.gl/FsBVBL
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Lei nº 11.445, de 5 de janeiro de 2007


A Lei do Saneamento define os direitos da população e outras diretrizes
referentes ao saneamento básico. Como saneamento básico, a lei entende o
acesso ao abastecimento de água potável, o acesso à rede de esgoto, a limpeza
urbana e o adequado destino dos resíduos sólidos e também a drenagem das
águas pluviais do município. Leia um trecho do Art. 12º:

Nos serviços públicos de saneamento básico em que mais de um prestador


execute atividade interdependente com outra, a relação entre elas deverá ser
regulada por contrato e haverá entidade única encarregada das funções de
regulação e de fiscalização.
§ 1o A entidade de regulação definirá, pelo menos:
I - as normas técnicas relativas à qualidade, quantidade e regularidade dos
serviços prestados aos usuários e entre os diferentes prestadores envolvidos;
II - as normas econômicas e financeiras relativas às tarifas, aos subsídios
e aos pagamentos por serviços prestados aos usuários e entre os diferentes
prestadores envolvidos;
III - a garantia de pagamento de serviços prestados entre os diferentes pres-
tadores dos serviços;
IV - os mecanismos de pagamento de diferenças relativas a inadimplemento
dos usuários, perdas comerciais e físicas e outros créditos devidos, quando
for o caso;
V - o sistema contábil específico para os prestadores que atuem em mais de
um Município (BRASIL, 2007).

O direito do cidadão ao saneamento, conforme lido no Art. 12º, não ne-


cessita ser realizado por um serviço público, ou seja, é de responsabilidade do
governo municipal ou de um consórcio entre as cidades, que pode terceirizar
o serviço, desde que mantenha o controle sobre o serviço ofertado e fiscalize.

Juntamente com a Lei do Saneamento, outra lei imprescindível e relacionada com a


água é a Política dos Recursos Hídricos, sancionada pela Lei nº 9.433, de 8 de janeiro
de 1997. A política esclarece pontos importantes para a gestão dos recursos hídricos,
tais como a classificação dos corpos de água e os aspectos de direito e cobrança no
uso do recurso hídrico. Para saber mais, acesse o link:

https://goo.gl/0q4Ou
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Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010


A Política Nacional dos Resíduos Sólidos reúne diretrizes, objetivos, metas e
ações para o manejo e a gestão adequada desse tipo de resíduo, tanto para os
poderes públicos, como para os empreendimentos particulares. A intenção é
cobrar de todos os setores o planejamento responsável dos resíduos sólidos.
Um dos grandes avanços da lei é o fomento da logística reversa e a responsa-
bilidade compartilhada. No Art. 3º temos o entendimento dessas estratégias:

XII - logística reversa: instrumento de desenvolvimento econômico e social


caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados
a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial,
para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra
destinação final ambientalmente adequada.
XVII - responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos: conjun-
to de atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores,
distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços
públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, para minimizar
o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para reduzir os
impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do
ciclo de vida dos produtos, nos termos desta Lei (BRASIL, 2010).

Importância das leis para o planejamento


ambiental
Regras sociais ou na Constituição asseguram que o modo de vida da maior
parte da sociedade seja viável. As leis foram criadas para que todos possam
se beneficiar com a convivência em conjunto, mas sem que haja prejuízo a
alguém por isso. E claro, se há algum dano, as consequências podem ser
grandes e o responsável sofrer penalizações. As mudanças do estilo de vida,
da mentalidade e, por conseguinte, de maior consciência ambiental formaram
e ainda fazem mudar a legislação do meio ambiente.
Com muitos impactos ambientais irreversíveis, como a extinção da arara
azul pequena (Anodorhynchus glaucus), o planejamento ambiental é de in-
teresse coletivo, além de auxiliar o empreendimento a seguir a legislação
pertinente. Mas você sabe o que é planejamento ambiental?
128 Direito e legislação ambiental

Integrante da gestão ambiental, o planejamento ambiental busca, por meio


de estratégias e métodos, a forma mais sustentável de utilizar recursos naturais.
O foco é a proteção e o respeito à natureza. O país não é reconhecido por es-
pecialistas da área ambiental como sendo de grande atuação no planejamento
ambiental. Tal fato revela que há muito a ser feito, estudado e implementado
e que o domínio da legislação ambiental é uma ferramenta imprescindível
para tal.
O planejamento ambiental, aliado às leis, deve sempre buscar:

„„ Evitar problemas socioambientais.


„„ Mitigar ao máximo os impactos socioambientais.
„„ Priorizar o crescimento das vantagens socioambientais.
„„ Traçar metas ambientais ambiciosas.

Agora que você compreendeu a magnitude do estudo da robusta legislação


ambiental brasileira, serão mostrados os pormenores de cada lei quanto à sua
aplicação no planejamento ambiental e na busca pela sustentabilidade.

Importância do Art. 225º


O Art. 225º relacionou a qualidade de vida ao aspecto ambiental e garantiu,
por lei, que todos têm o direito de usufruir de um meio ambiente saudável
(BRASIL, 1988). Ainda, é interessante notar a responsabilidade assumida pelo
poder público com a pesquisa, o patrimônio genético e com a proteção e a
criação dos habitats naturais. Você pode perceber também que há preocupação
com as necessidades das próximas gerações, o que implica em todos terem
papéis atuantes na preservação do meio ambiente.

Importância da Lei nº 6.938/81


Esta determinou os tipos de documentos necessários para as organizações
estarem em dia com a legislação ambiental e os valores dos serviços prestados,
como vistorias, licenças e autorizações. A Lei nº 6.938/81 também delimitou o
papel do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) como órgão que
estabelece as normas e os critérios para as licenças ambientais, item obriga-
tório desde a promulgação da lei. Outros trâmites burocráticos referentes aos
licenciamentos também foram descritos na legislação.
Direito e legislação ambiental 129

Importância da Lei de Crimes Ambientais


A lei estipula não só o crime, mas as circunstâncias que podem pesar para
o aumento da pena, bem como para a redução ou a anulação. Outros pontos
relevantes são a criminalização da pessoa jurídica e as penas de sanções
restritivas de direito, como prestação de serviços comunitários, suspensão
total ou parcial da atividade, perda de licenças e outras. Na Figura 1, temos
um exemplo de crime ambiental.

Figura 1. O crime para caça e/ou reclusão de animais silvestres, sem permissão, é de
reclusão de até 1 ano e multa.
Fonte: icosha/Shutterstock.com.

Importância do Código Florestal


A lei reforçou a responsabilidade do Brasil com a preservação da sua riqueza
florestal, sua biodiversidade e seu ecossistema. Além disso, incluiu a partici-
pação e o compromisso ambiental de grandes e pequenos ruralistas e colocou
o poder público, independentemente do nível, em conjunto com a sociedade,
como protagonistas para conservar a vegetação nativa.
130 Direito e legislação ambiental

Importância da Lei do Saneamento


A Lei do Saneamento legitima o acesso universal à água como direito, for-
nece proteção ao meio ambiente por meio da preservação das fontes de água,
possibilita a articulação política para a aquisição do saneamento das cidades,
o controle social e o incentivo à sustentabilidade. O saneamento básico ainda
não é realidade em boa parte do Brasil, por isso, a cobrança da aplicação da
lei é um direito da população.

Importância da Política de Resíduos Sólidos


Essa política possibilitou um acordo entre as esferas públicas e os empre-
endimentos para que houvesse destinação sustentável dos resíduos, vetou a
continuidade dos aterros a céu aberto (os famosos lixões), estabeleceu a logística
reversa como estratégia ambiental na legislação e incluiu os catadores de lixo
cooperativados como protagonistas no processo.
Apesar disso, mesmo com a lei, os “lixões” não deixaram de existir. Infe-
lizmente, mais da metade das cidades brasileiras não cumprem a legislação,
o que deixa claro o quanto ainda se tem para planejar sobre os resíduos.

Princípios ambientais da legislação


Os princípios ambientais são significativos, não apenas na área jurídica, mas
para o gestor ambiental estar ciente das regras e das interpretações da legislação.
Com base nos princípios, é possível analisar a maneira como a preservação
da natureza acontece e é entendida pela sociedade. O número de princípios
varia conforme o autor, portanto, aqui, serão destacados os mais prevalentes.

Princípio da dignidade do ser humano


Tendo os homens como foco principal quando se pensa no desenvolvimento
sustentável, o meio ambiente equilibrado é prioridade para que os indivíduos
possam gozar de saúde, qualidade de vida e bem-estar social. Não só as so-
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ciedades se organizaram de forma dependente dos recursos naturais para seu


desenvolvimento, como elas também necessitam da natureza saudável para
atingir o mínimo de dignidade humana.

Princípio do desenvolvimento sustentável


A única maneira de desenvolver a sociedade de forma sustentável é com a
aplicação de tecnologias pensadas para tal e com a diminuição dos problemas
sociais. Há relação estreita entre danos ambientais e pobreza, pois, em geral,
a questão ambiental em regiões carentes acaba por não ser prioridade. Por
isso, para que haja manutenção e para que o incentivo ao meio ambiente seja
respeitado, o desenvolvimento sustentável precisa fazer parte da agenda das
lideranças governamentais e dos demais setores.

Princípio da precaução
Todas as atividades que envolvem o meio ambiente deixam impactos, sejam
eles positivos ou negativos. Estabelecer os riscos da intervenção e avaliar os
prejuízos e o planejamento para contenção é uma questão ética. Na dúvida de
possíveis danos e restrições, até mesmo o impedimento da ação acaba por ser
o mais seguro. De maneira sucinta, o princípio rege a cautela para qualquer
atividade no meio ambiente.

Princípio da responsabilidade
Concomitante ao Art. 225º da Constituição, o princípio da responsabilidade
preconiza que os causadores de prejuízos ambientais sofrerão as devidas penas
(BRASIL, 1988). Estas podem ser sanções penais, cíveis ou administrativas.
Tanto os custos da reparação ou da compensação também são arcados pelos
culpados, que podem ser pessoas físicas ou jurídicas, e até mesmo o erro de
prevenção ou de precaução são cabíveis de penalização. A Figura 2 representa
um caso hipotético que envolve a disposição de rejeitos de forma inadequada.
132 Direito e legislação ambiental

Figura 2. Apesar de serem proibidos por lei, os “lixões” ainda são comuns no Brasil.
Fonte: kaband/Shutterstock.com.

Imagine que houve uma denúncia, por parte de uma ONG (Organização Não Gover-
namental) ambiental, relatando que uma fábrica de calçados de determinada cidade
está despejando os resíduos da produção de maneira irregular no antigo “lixão”. A
autoridade ambiental verificou o aterro e identificou uma grande quantidade de couros,
panos, sapatos e plástico, inclusive com a marca do empreendimento estampado, o
que não deixou mais dúvidas.
A indústria, em consonância com o Princípio da Responsabilidade e a Política Nacional
dos Resíduos Sólidos, recebeu a seguinte pena: incinerar os produtos tóxicos, proibição
da produção até apresentar o plano de destino dos resíduos e multa.
Direito e legislação ambiental 133

Princípio do poluidor pagador


O princípio é entendido como a contribuição da instituição por utilizar os
recursos naturais, que são considerados como bens comuns. Dessa forma,
o estabelecimento deve contabilizar todos os custos necessários para evitar
desperdício e manter a sustentabilidade em pauta, além de tomar todas as
devidas providências para não causar maiores impactos ambientais. O custo é
entendido como uma forma da organização não se apropriar ao seu bel-prazer
dos recursos da natureza.

Princípio do equilíbrio
Antes de implementar uma ação sobre o meio ambiente, o responsável precisa
contrabalancear todos os prós e os contras. Caso a iniciativa pese negativamente
para o meio ambiente, há desequilíbrio e necessidade de adaptação. Todas
as possíveis consequências da operação devem ser rastreadas e a escolha
da continuidade da intervenção decidida pelos benefícios que trará, sob os
aspectos econômicos, ambientais e sociais.

Princípio da prevenção
O princípio indica que os riscos e os danos ambientais de conhecimento notório
devem ser devidamente prevenidos. Com base em prejuízos consolidados na
literatura científica ou os apontados pelo Estudo de Impacto Ambiental, estes
necessitam ser estudados e trabalhados com cautela para que as lesões ao meio
ambiente sejam prevenidas.
Direito e legislação ambiental 134

AZAVEDO, R. E. S.; OLIVEIRA, V. P. V. Reflexos do novo Código Florestal nas áreas


de preservação permanente – APPs – urbanas. Desenvolvimento e Meio Ambiente,
v. 29, p. 71-91, abr. 2014. Disponível em: <http://revistas.ufpr.br/made/article/
viewFile/32381/22438>. Acesso em: 22 fev. 2018.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília: Presidência da
República, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
constituicao.htm>. Acesso em: 22 fev. 2018.
135 Direito e legislação ambiental

BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Brasília: Presidência da República, 1981.


Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6938.htm>. Acesso em:
09 fev. 2018.
BRASIL. Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Brasília: Presidência da República, 1998.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/leis/L9605.htm>. Acesso em:
09 fev. 2018.
BRASIL. Lei nº 11.445, de 5 de janeiro de 2007. Brasília: Presidência da República, 2007.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11445.
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BRASIL. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Brasília: Presidência da República, 2010.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.
htm>. Acesso em: 09 fev. 2018.
BRASIL. Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012. Brasília: Presidência da República, 2012.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12651.
htm>. Acesso em: 09 fev. 2018.

Leituras Recomendadas
ALVIM, M. Novo Código Florestal: cinco anos depois. O Globo, 04 jun. 2017. Disponível
em: <https://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/meio-ambiente/novo-codigo-
-florestal-cinco-anos-depois-21432468>. Acesso em: 09 fev. 2018.
SILVA, F. L. P.; FELÍCIA, M. J. Os princípios gerais do direito ambiental. Colloquium
Socialis, Presidente Prudente, v. 1, n. esp., p. 632-640, jan./abr. 2017. Disponível em:
<http://www.unoeste.br/site/enepe/2016/suplementos/area/Socialis/Direito/OS%20
PRINC%C3%8DPIOS%20GERAIS%20DO%20DIREITO%20AMBIENTAL.pdf>. Acesso
em: 09 fev. 2018.
SILVA, G. C. L. Os princípios do direito ambiental. [S.l.]: E-Gov, 2012. Disponível em: <http://
www.egov.ufsc.br/portal/conteudo/os-princ%C3%ADpios-do-direito-ambiental>.
Acesso em: 09 fev. 2018.

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