Você está na página 1de 49

PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.

154-18

DIREITO PENAL 1

Ponto 1 – Lesões Corporais

CPF: 860.542.154-18

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

APRESENTAÇÃO

Olá!
Nesta rodada, continuamos a análise do Título I da Parte Especial, que trata dos
crimes contra a pessoa.
Vamos analisar quatro tipos penais que podem cair na sua prova: lesão corporal
(art. 129), omissão de socorro (art. 135), condicionamento de atendimento médico-hos-
pitalar emergencial (art. 135-A) e rixa (art. 137).
Continuem firmes nos estudos!
Thiago Rocha.

CPF: 860.542.154-18

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

SUMÁRIO

1. DOUTRINA RESUMO ..................................................................................................... 4

1.1. LESÃO CORPORAL ...................................................................................................... 4

1.2. OMISSÃO DE SOCORRO ........................................................................................... 30

1.3. CONDICIONAMENTO DE ATENDIMENTO MÉDICO-HOSPITALAR EMERGENCIAL ... 36

1.4. RIXA .......................................................................................................................... 39

2. QUESTÕES ................................................................................................................... 44

3. GABARITO COMENTADO ............................................................................................ 46

CPF: 860.542.154-18

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

1. DOUTRINA RESUMO
1.1. LESÃO CORPORAL

TÍTULO I
CAPÍTULO II
DAS LESÕES CORPORAIS
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
Lesão corporal de natureza grave
§ 1º Se resulta:
I - incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta
dias;
II - perigo de vida;
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
IV - aceleração de parto:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
§ 2° Se resulta:
I - incapacidade permanente para o trabalho; 4
II - enfermidade incurável;
III - perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
IV - deformidade permanente;
V - aborto:
Pena -CPF: 860.542.154-18
reclusão, de dois a oito anos.
Lesão corporal seguida de morte
§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o
agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
Diminuição de pena
§ 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de
relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta
emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz
pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
Substituição da pena
§ 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a
pena de detenção pela de multa, de duzentos mil réis a dois
contos de réis:
I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior;

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

II - se as lesões são recíprocas.


Lesão corporal culposa
§ 6° Se a lesão é culposa:
Pena - detenção, de dois meses a um ano.
Aumento de pena
§ 7o Aumenta-se a pena de 1/3 se ocorrer qualquer das hipóteses
dos §§ 4o e 6o do art. 121 deste Código. (Redação dada pela Lei
nº 12.720, de 2012)
§ 8º Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121.
Violência Doméstica
§ 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente,
irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha
convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações
domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: (Redação dada
pela Lei nº 11.340, de 2006)
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. (Redação dada
pela Lei nº 11.340, de 2006)
§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as
circunstâncias são as indicadas no § 9o deste artigo, aumenta-se
a pena em 1/3. 5
9o
§ 11. Na hipótese do § deste artigo, a pena será aumentada
de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de
deficiência. (Incluído pela Lei nº 11.340, de 2006)
§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente
descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes
CPF:prisional
do sistema 860.542.154-18
e da Força Nacional de Segurança Pública,
no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu
cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro
grau, em razão dessa condição, a pena é aumentada de um a dois
terços. (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015)

O objeto jurídico do crime em estudo é a incolumidade pessoal do indivíduo,


protegendo-o na sua saúde corporal, fisiológica e mental (realidade corporal e anímica
da pessoa).

Classificação das lesões corporais Classificação das lesões corporais


quanto ao elemento subjetivo quanto à sua intensidade

Lesão corporal dolosa simples (art. 129, Lesão leve (art. 129, caput).
caput, CP).

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

Lesão corporal dolosa qualificada (§§ 1º - Lesão grave (art. 129, § 1º).
grave, 2º gravíssima, 3º seguida de morte
do art. 129 do CP).

Lesão corporal dolosa privilegiada (§§ 4º Lesão gravíssima (art. 129, §2º).
relevante valor social ou moral ou sob o
domínio de violenta emoção, logo em
seguida injusta provocação da vítima e 5º
- substituição de pena se as lesões não
forem graves do art. 129 do CP).

Lesão corporal culposa (art. 129, § 6º do Lesão seguida de morte (art. 129, § 3º).
CP).

Podem ser aplicadas as causas de diminuição (§4º) e de aumento (§7º) de pena.


No caso da lesão leve, também é possível a substituição da pena (§5º).

1.1.1. LESÃO CORPORAL DOLOSA


1.1.1.1. Lesão corporal dolosa de natureza leve

Lesão corporal
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
6
Pena - detenção, de três meses a um ano.

O conceito de lesão corporal leve é extraído por exclusão, ou seja, se a conduta


não provocar nenhum dos resultados previstos nos §§ 1º, 2º e 3º, a lesão corporal será
leve, enquadrando-se no tipoCPF: 860.542.154-18
básico do caput.
Sujeito ativo – Qualquer pessoa (crime comum). Admite-se a coautoria e a
participação.
Sujeito passivo – Em regra, qualquer pessoa. A condição especial da vítima, em
algumas hipóteses, enseja a figura majorada ou qualificada. Ex.: a causa de aumento
descrita no § 11 tem lugar se o crime for cometido contra pessoa portadora de
deficiência.
Núcleo do tipo – Pune-se a conduta de ofender (lesar) a integridade corporal
ou a saúde (abrange a integridade fisiológica e mental). O crime pode ser praticado tanto
por ação quanto por omissão. A dor não constitui elementar do tipo, sendo dispensável.

Vermelhidão passageira, provocada pela dilatação de vasos


EriTema
sanguíneos. Ex.: Tapa leve. Não configura lesão corporal.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

Mancha escura ou azulada provocada pelo rompimento de pequenos


Equimose vasos sanguíneos (na linguagem popular, é o “roxo”). Configura lesão
corporal.

Bolsa de sangue provocada pelo rompimento de vasos sanguíneos de


Hematoma
maior calibre. Configura lesão corporal.

Autolesão – Não configura o crime de lesão corporal, por conta do princípio


da alteridade (somente podem ser punidas criminalmente condutas que afetem
terceiros). Vale ressalvar a possibilidade de a autolesão estar relacionada a crime
diverso, caso da automutilação intencional para recebimento de indenização de prêmio
de seguro, que configura o delito previsto no art. 171, § 2º, V, do Código Penal.
Elemento subjetivo – Na hipótese prevista no caput do art. 129, é o dolo (direto
ou eventual), não se exigindo finalidade específica. O dolo de lesar a integridade física
ou a saúde é denominado animus laedendi ou vulnerandi.
Consumação e tentativa – O crime se consuma com a efetiva lesão à
integridade física ou à saúde da vítima (crime material). É possível a tentativa.
Como diferenciar a tentativa de lesão corporal da contravenção de vias de
fato?
Na tentativa de lesão corporal, o agente tem por finalidade ofender a
incolumidade física ou a saúde da vítima, mas não atinge seu intento por circunstâncias 7
alheias à sua vontade (ex.: tenta desferir um soco contra a vítima, mas é contido por
terceiro / lança ácido contra a vítima, mas ela consegue se esquivar). Já na contravenção
de vias de fato, o agente quer agredir a vítima, porém sem lesioná-la (ex.: empurrão).
Consentimento do ofendido – Existe posição no sentido de que a incolumidade
física e a saúde são bens indisponíveis, sendo irrelevante o consentimento do ofendido.
Porém, cada vez mais ganha CPF:espaço o860.542.154-18
entendimento de que é viável a aplicação dessa
excludente supralegal de ilicitude no contexto das lesões corporais. Existem inúmeras
hipóteses em que se admite a disponibilidade sobre o próprio corpo. Ex.: colocação de
piercings, realização de tatuagens e lesões consentidas entre adultos durante certas
práticas sexuais. Naturalmente, há limites para o consentimento do ofendido. Se a
situação extrapolar a razoabilidade, haverá crime (análise no caso concreto).
Assim, é possível dizer que o consentimento do ofendido, como causa
excludente da ilicitude, deve obedecer a algumas regras: (a) ofendido capaz; (b) bem
jurídico disponível e próprio; (c) consentimento válido, livre de coação ou fraude,
expresso e anterior a consumação.
Corte de cabelo ou barba sem autorização – Há controvérsia sobre qual a
infração penal a ser reconhecida. As principais correntes são:

- Crime de injúria real;


- Crime de lesão corporal;

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

- Depende do dolo do agente. Se a intenção é atingir a honra da


vítima, tem-se o crime de injúria real. Se o objetivo é modificar
negativamente o aspecto exterior da vítima, comprometendo
sua integridade física ou até mental, configura-se o delito de
lesão corporal. É a posição majoritária, que dependerá da análise
do caso concreto.

Pluralidade de Lesões – se o agente produz várias lesões na vítima no mesmo


contexto fático, haverá crime único, ressalvada a presença de desígnios autônomos para
a execução de cada uma das lesões.
Princípio da insignificância – Em princípio, não há óbice ao reconhecimento da
insignificância no crime de lesões corporais.
Há precedente do STF admitindo no âmbito na justiça militar:

“HABEAS CORPUS. PENAL. LESÃO CORPORAL LEVE [ARTIGO 209,


§ 4º, DO CPM]. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.
APLICABILIDADE. 1. O princípio da insignificância é aplicável no
âmbito da Justiça Militar de forma criteriosa e casuística.
Precedentes. 2. Lesão corporal leve, consistente em único soco
desferido pelo paciente contra outro militar, após injusta
provocação deste. O direito penal não há de estar voltado à
punição de condutas que não provoquem lesão significativa a
8
bens jurídicos relevantes, prejuízos relevantes ao titular do bem
tutelado ou, ainda, à integridade da ordem social. Ordem
deferida” (STF, HC 95445 / DF, Rel. Min. Eros Grau, 2ª T., j.
02/12/2008, v.u.).

CPF: 860.542.154-18
Colaciona-se ainda julgado do STJ reconhecendo a insignificância no crime de
lesão corporal culposa:

“CRIMINAL. LEVISSIMA LESÃO CORPORAL CULPOSA. PRINCIPIO


DA INSIGNIFICANCIA. AÇÃO PENAL. - FALTA DE JUSTA CAUSA.
INDISCUTIVEL A INSIGNIFICANCIA DA LESÃO CORPORAL
CONSEQUENTE DE ACIDENTE DO TRÂNSITO ATRIBUIDO A CULPA
DA MÃE DA PEQUENA VITIMA, CABE TRANCAR-SE A AÇÃO POR
FALTA DE JUSTA CAUSA. PRECEDENTES DO TRIBUNAL” (STJ, RHC
3557 / PE, Rel. Min. José Dantas, 5a T., j. 20/04/94).

ATENÇÃO! Tratando-se de violência doméstica contra mulher, o princípio da


insignificância é inaplicável. Súmula 589 do STJ.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

Abuso de Autoridade – o sujeito pode responder por um crime previsto na Lei


13.869/19 em concurso com o crime de lesão corporal. Ex: a autoridade constrange o
preso, mediante violência, a produzir prova contra si mesmo (art. 13, III), ofendendo-lhe
a integridade corporal.
Lesão leve e Lei 9.099/1995 – A lesão corporal leve é infração de menor
potencial ofensivo, compatível com o instituto da composição civil de danos (art. 72).
O acordo homologado judicialmente acarreta a renúncia ao direito de queixa ou
representação (art. 74, parágrafo único). Também são aplicáveis ao delito a transação
penal (art. 76) e a suspensão condicional do processo (art. 89), se presentes os
requisitos legais. Ademais, o artigo 88 estabelece que a ação penal relativa aos crimes
de lesões corporais leves e lesões culposas é pública condicionada à representação.

ATENÇÃO! Exceção - Súmula 542 do STJ – “A ação penal relativa ao crime de lesão
corporal resultante de violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada”.
Além disso, tratando-se de ofendida mulher não se aplica qualquer dos benefícios da
lei 9.099/95.

Essas súmulas irão cair na prova:

É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou


9
contravenções penais praticados contra a mulher no âmbito
Súmula 589 do STJ das relações domésticas.
STJ. 3ª Seção. Aprovada em 13/09/2017, DJe 18/09/2017.

CPF: 860.542.154-18
A prática de crime ou contravenção penal contra a mulher com
violência ou grave ameaça no ambiente doméstico impossibilita
Súmula 588 do STJ a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de
direitos.
STJ. 3ª Seção. Aprovada em 13/09/2017, DJe 18/09/2017.

A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de


Súmula 542 do STJ
violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada.

A suspensão condicional do processo e a transação penal não se


Súmula 536 do STJ aplicam na hipótese de delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da
Penha.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

1.1.1.1.1. Substituição da pena da lesão dolosa leve

Substituição da pena
§ 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a
pena de detenção pela de multa:
I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior;
II - se as lesões são recíprocas.

No crime de lesão leve, o juiz pode substituir a pena de detenção pela de multa
em 2 casos:
1) Lesões “privilegiadas”:

a) Lesões leves praticadas por motivo de relevante valor social ou


moral;
b) Lesões leves praticadas sob o domínio de violenta emoção, logo
em seguida a injusta provocação da vítima - art. 129, § 5º, I c.c. o.
§ 4º).

2) Lesões recíprocas: ex.: discussão entre vizinhos que desborda para troca de 10
agressões físicas, sendo os contendores mutuamente agressor e agredido (art. 129, §
5º, II).
Nesses casos, à luz do que entender mais adequado ao caso concreto, poderá
o juiz reduzir a pena de 1/6 a 1/3 (§4º) OU substituí-la por pena de multa (§5º).

CPF:
1.1.1.2. Lesão corporal dolosa 860.542.154-18
de natureza grave

Lesão corporal de natureza grave


§ 1º Se resulta:
I - incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta
dias;
II - perigo de vida;
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
IV - aceleração de parto:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.

Lesão grave – A lesão corporal de natureza grave é forma do crime qualificada


pelo resultado. Embora o legislador tenha incluído sob a rubrica “lesão grave” os §§ 1º

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

e 2º do artigo 129, a doutrina considera lesão grave apenas a figura do §1º,


denominando lesão gravíssima a hipótese do § 2º.
O resultado que qualifica a infração penal pode se dar a título de dolo (direto
ou eventual) ou por meio da culpa (crime preterdoloso). Vejamos os incisos do § 1º.
I. Incapacidade (física ou mental) para as ocupações habituais por mais de 30
dias – Consideram-se ocupações habituais as regularmente exercidas pela vítima,
considerando sua rotina particular. O dispositivo abrange todo o conjunto de atividades
desempenhadas pelo ofendido, não apenas laborativas (ex.: frequentar academia) ou
as lucrativas, excluídas tão somente as atividades ilícitas. A possibilidade de realização
das atividades costumeiras deve ser analisada sob o espectro objetivo, de modo que se
o ofendido deixar de realizá-las por vergonha dos ferimentos ou por outra razão de
ordem subjetiva, não incide a figura qualificada. A figura é uma hipótese de crime a
prazo, na qual se exige o transcurso de um lapso temporal para caracterização do delito.
Comprovação – Para configuração desta hipótese, são exigidos dois exames
periciais: um exame inicial, feito após o crime para demonstrar a existência das lesões,
e um exame complementar, realizado 30 dias após com o escopo de aferir a duração da
incapacidade. Admite-se a realização do segundo exame alguns dias após esse lapso,
sendo fundamental a possibilidade de o perito constatar se a incapacidade perdurou
mais de trinta dias. A falta de exame complementar poderá ser suprida pela prova
testemunhal (art. 168, §§ 1º e 2o, do CPP).
II. Perigo de vida – Não importa se a lesão cessou com ou sem tratamento, nem
quanto tempo durou. A doutrina majoritária, entende que essa é uma figura 11
preterdolosa, havendo dolo na conduta de lesionar e sobrevindo culposamente o
resultado qualificador (perigo de vida). Portanto, é inadmissível a tentativa. Se houver
dolo quanto ao resultado (ex.: agente quer ou assume o risco de tirar a vida da vítima),
o crime passa a ser de homicídio.
O perigo de vida, que deve ser presente, concreto, real e sério, via de regra,
deve ser constatado por exame pericial. Contudo, a 2ª Turma do STF já entendeu que a
CPF: 860.542.154-18
ausência do laudo pericial não impede que a materialidade do delito de lesão corporal
de natureza grave seja reconhecida por outros meios, como testemunhas e relatórios
de atendimento hospitalar (HC 114567/ES, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
16/10/2012).
III. Debilidade permanente – Debilidade é a redução de alguma funcionalidade
do corpo humano. Permanente tem o significado de não transitória, ou, ao menos, com
prazo indeterminado, não se exigindo que seja perpétua ou irreversível. Eventual
tratamento ou readaptação não afasta a gravidade da lesão.
Pode ser de:

- Membro – O corpo humano pode ser dividido em cabeça,


pescoço, tronco e membros (superiores e inferiores). São
membros superiores: ombros, braços, antebraços e mãos. São
membros inferiores: quadril, coxas, pernas e pés. Haverá
debilidade, por exemplo, se houver redução de mobilidade de
um braço ou de uma perna. Os dedos integram as mãos e os pés,

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

de modo que a perda de um dedo implica debilidade do membro


no qual está inserido.
- Sentido – Sentidos são as capacidades sensoriais que
possibilitam a interação com o mundo exterior. São eles: tato,
olfato, visão, audição e paladar.
- Função – Relaciona-se aos sistemas corpóreos, necessários
para a manutenção da vida (digestório, respiratório, circulatório,
excretor, nervoso, locomotor, reprodutor e endócrino).

Algumas hipóteses importantes:

- Perda de dente - Pode comprometer a função mastigatória,


fazendo incidir a qualificadora (isso é aferido por perícia). Há
precedente no sentido de que a perda de dente não configura a
qualificadora atinente “deformidade permanente” prevista
como lesão corporal gravíssima no art. 129 § 2º, IV do CP, mas
sim, a lesão grave do art. 129 § 1º III:
“A deformidade permanente prevista no art. 129, § 2º, IV, do
Código Penal é, segundo a doutrina, aquela irreparável,
indelével. Assim, a perda de dois dentes, muito embora possa
reduzir a capacidade funcional da mastigação, não enseja a 12
deformidade permanente prevista no referido tipo penal, mas
sim, a debilidade permanente de membro, sentido ou função,
prevista no art. 129, § 1º, III, do Código Penal” (STJ, REsp
1620158 / RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, 6a T., j. 13/09/2016,
v.u.).
- Órgãos duplos – A perda de um deles pode configurar a
CPF: 860.542.154-18
debilidade. A perda dos dois configura a lesão gravíssima (art.
129, § 2°, III) (mas claro, desde que não cause a morte da vítima,
caso que em que haverá lesão corporal seguida de morte ou
homicídio, a depender do dolo do agente).
- Prótese – A possibilidade de a vítima utilizar prótese não afasta
a qualificadora.

IV. Aceleração de parto – Se a conduta provocar a antecipação do parto,


nascendo o feto com vida e assim permanecendo, a lesão será de natureza grave (§ 1°,
IV).
O agente deve ter ciência da gravidez para se configurar esta qualificadora (do
contrário, haveria responsabilidade penal objetiva). No desconhecimento dessa
condição, o agente responde por lesão corporal leve.
Se, todavia, em consequência da lesão corporal praticada contra a gestante, o
feto for expulso morto do ventre materno, o crime será o de lesão corporal gravíssima
em razão do aborto (art. 129, § 2º, V).

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

Caso atue o agente com dolo (direto ou eventual) no tocante à morte do feto,
responderá pelo crime de lesão corporal e tentativa de aborto.
Comunicabilidade – todas as circunstâncias do §1º são objetivas. Logo,
comunicáveis em concurso de agentes.
Pluralidade de qualificadoras – quando presentes mais de uma qualificadora,
uma deve ser utilizada para compor o tipo qualificado e a outra deve ser utilizada como
circunstância judicial desfavorável (STJ – HC291596/PE)
E se a criança nascer com vida, mas falecer algum tempo depois, em razão da
lesão corporal?
Há 2 correntes:

a) Configura lesão gravíssima qualificada pelo aborto (§ 2°, V)


(Bitencourt, Hungria, entre outros). É a corrente majoritária.
b) Configura lesão grave qualificada pela aceleração de parto (§
1°, IV) (Mirabete).

1.1.1.3. Lesão corporal dolosa de natureza gravíssima

§ 2° Se resulta:
I - incapacidade permanente para o trabalho;
13
II - enfermidade incurável;
III - perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
IV - deformidade permanente;
V - aborto:
CPF: 860.542.154-18
Pena - reclusão, de dois a oito anos.

Se comparado com o parágrafo anterior, podemos perceber que aqui, as


consequências do crime são mais graves.
I. Incapacidade permanente para o trabalho – É a incapacidade não transitória
para o desempenho de atividade laboral. Não se exige que seja irreversível ou perpétua,
deve ser duradoura, no tempo e sem previsão de cessação. Note-se que, enquanto o §
1°, I, menciona incapacidade para as ocupações habituais por mais de trinta dias, o § 2°,
I, requer especificamente incapacidade para o trabalho em caráter permanente. O
resultado agravador pode decorrer de dolo ou culpa.
A incapacidade abrange qualquer trabalho ou apenas aquele desempenhado
pela vítima? (ex.: a perda de um dedo pode significar a incapacidade permanente para
o trabalho de um músico ou cirurgião, mas não o privaria do desempenho de outra
atividade laboral).
Há 2 correntes:

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

a) A incapacidade tem de ser para o labor em geral, e não


apenas para o trabalho próprio e pessoal da vítima
(majoritária).
b) A incapacidade permanente diz respeito à atividade que a
vítima exercia antes do crime.

II. Enfermidade incurável – É a moléstia que não pode ser curada pelos
recursos da medicina. Se a cura depender de tratamento médico arriscado ou
extremamente penoso, ou ainda de recursos alternativos ou experimentais (sem
comprovação científica de eficiência), estará configurada a qualificadora. Fora desses
casos, sendo injustificada a recusa da vítima em buscar a cura, não incide a presente
figura. O resultado agravador pode decorrer de dolo ou culpa.
Por qual crime responde o agente que, deliberadamente, transmite o vírus da
imunodeficiência humana (HIV) a outras pessoas?
Há basicamente 3 correntes:

a) Homicídio (tentado ou consumado, conforme a vítima venha


ou não a falecer). Essa corrente vem perdendo força, porque
hoje essa doença é considerada crônica, e não mais letal.
14
Há julgado do STF afastando o crime de tentativa de homicídio, embora sem
indicar qual seria o tipo penal aplicável:

MOLÉSTIA GRAVE – TRANSMISSÃO – HIV – CRIME DOLOSO


CONTRA A VIDA
CPF: VERSUS O DE TRANSMITIR DOENÇA GRAVE.
860.542.154-18
Descabe, ante previsão expressa quanto ao tipo penal, partir-se
para o enquadramento de ato relativo à transmissão de doença
grave como a configurar crime doloso contra a vida.
Considerações. (STF, HC 98712/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, 1ª
T., j. 05/10/2010).

b) Perigo de contágio de moléstia grave (art. 131 – “Praticar,


com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está
contaminado, ato capaz de produzir o contágio”).
c) Lesão corporal gravíssima em razão de enfermidade
incurável (art. 129, § 2°, V).

Nesse sentido:

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

“1. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do HC 98.712/RJ,


Rel. Min. MARCO AURÉLIO (1.ª Turma, DJe de 17/12/2010),
firmou a compreensão de que a conduta de praticar ato sexual
com a finalidade de transmitir AIDS não configura crime doloso
contra a vida. (...)
2. O ato de propagar síndrome da imunodeficiência adquirida
não é tratado no Capítulo III, Título I, da Parte Especial, do Código
Penal (art. 130 e seguintes), onde não há menção a
enfermidades sem cura. Inclusive, nos debates havidos no
julgamento do HC 98.712/RJ, o eminente Ministro RICARDO
LEWANDOWSKI, ao excluir a possibilidade de a Suprema Corte,
naquele caso, conferir ao delito a classificação de "Perigo de
contágio de moléstia grave" (art. 131, do Código Penal),
esclareceu que, "no atual estágio da ciência, a enfermidade é
incurável, quer dizer, ela não é só grave, nos termos do art. 131".
3. Na hipótese de transmissão dolosa de doença incurável, a
conduta deverá será apenada com mais rigor do que o ato de
contaminar outra pessoa com moléstia grave, conforme
previsão clara do art. 129, § 2.º inciso II, do Código Penal.
4. A alegação de que a Vítima não manifestou sintomas não
serve para afastar a configuração do delito previsto no art. 129,
§ 2º, inciso II, do Código Penal. É de notória sabença que o
contaminado pelo vírus do HIV necessita de constante
15
acompanhamento médico e de administração de remédios
específicos, o que aumenta as probabilidades de que a
enfermidade permaneça assintomática. Porém, o tratamento
não enseja a cura da moléstia” (STJ, HC 160982 / DF, Rel. Min.
Laurita Vaz, 5ª T., j. 17/05/2012, v.u.)
CPF: 860.542.154-18
A terceira corrente parece ser a melhor posição para concursos, mas
ressaltamos que o tema é controvertido.

OBSERVAÇÃO: entende-se que não se configura o crime de perigo de contágio venéreo


(art. 131 – “Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a
contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado”)
porque o HIV não é uma moléstia venérea, transmitindo-se por outras vias, a exemplo
da transfusão de sangue.

III. Perda ou inutilização do membro, sentido ou função – Enquanto o § 1º, III,


fala em debilidade de membro, sentido ou função, ou seja, redução da funcionalidade,
o presente dispositivo compreende a completa eliminação da funcionalidade. São
exemplos de perda ou inutilização: de membro - a ablação de uma perna ou perda de
mobilidade de uma mão; de sentido – cegueira ou surdez total; de função – perda dos

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

dentes, impedindo a função mastigatória; perda dos ovários, ceifando a função


reprodutora. O resultado agravador pode decorrer de dolo ou culpa.
A cirurgia de esterilização e de mudança de sexo provocam a inutilização da
função reprodutora. Configuram lesão corporal gravíssima?
Não, assim como não configura as intervenções médicas ou cirúrgicas em
geral (com finalidade curativa, reparadora etc.). Colacionamos diversos argumentos
trazidos pela doutrina:

- Fato atípico, pois o médico não atua com dolo de lesionar, mas
sim tratar o paciente;
- Conduta lícita, pois o médico atua amparado pela excludente
de ilicitude do exercício regular de direito (art. 23, III);
- Teoria da tipicidade conglobante (Zaffaroni) - Fato atípico,
justamente porque o médico atua em exercício regular de direito
(art. 23, III) (lembrete: para a teoria da tipicidade conglobante, o
exercício regular de direito e o estrito cumprimento de dever
legal excluem a tipicidade, não a ilicitude);
- Teoria da imputação objetiva - Fato atípico por ausência de
nexo causal, já que o médico não cria ou incrementa risco
proibido ou não permitido;
- Conduta lícita, pois está presente a excludente supralegal de 16
ilicitude do consentimento do ofendido.

IV. Deformidade permanente – Deformidade é a alteração morfológica de


algum aspecto externo do corpo, ensejadora de um dano de natureza estética.
Considera-se permanente se não puder ser eliminada pela capacidade de regeneração
do organismo. Prevalece queCPF: 860.542.154-18
a deformidade deve ser de monta suficiente para causar
transtorno ou impressão vexatória. Além disso, é majoritário o entendimento de que a
deformidade precisa ser visível (ex.: face, braços, pernas).
Em sentido contrário, há quem entenda que basta se tratar de deformidade
permanente, não se exigindo que seja visível ou vexatória, já que o CP não fez referência
a tal exigência. Para a incidência dessa qualificadora, bastaria a alteração prejudicial e
duradoura no corpo da vítima (posição de Cleber Masson e Nucci, por exemplo).
Existe entendimento doutrinário no sentido de que, se a vítima se submeter a
cirurgia estética e reparar a deformidade, afasta-se a qualificadora. Porém, a vítima não
pode ser obrigada a tanto; havendo recusa de se submeter à cirurgia, ainda que possível,
incide a qualificadora. Na jurisprudência, há precedentes no sentido de que a realização
de cirurgia reparadora não afasta a qualificadora. Confira:

“A realização de cirurgia estética posteriormente à prática do


delito não afeta a caracterização, no momento do crime
constatada, de lesão geradora de deformidade permanente, seja
porque providência não usual (tratamento cirúrgico custoso e de

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

risco), seja porque ao critério exclusivo da vítima.” (STJ, HC


306677 / RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro, 6a T., j. 19/05/2015, v.u.).

Outrossim, para a caracterização da dita deformidade permanente, exige-se


que a lesão corporal resulte em danos físicos à vítima. A qualificadora prevista no art.
129, § 2º, inciso IV, do Código Penal (deformidade permanente) abrange somente lesões
corporais que resultam em danos físicos. Nesse sentido, “alteração permanente da
personalidade” não pode ser considerada para fins de incidência da qualificadora. (STJ
HC 689.921-SP-2022)
Mas atenção, o crime de lesão corporal caracteriza-se em qualquer dano
ocasionado por alguém, sem animus necandi, à integridade física ou a saúde (fisiológica
ou mental) de outrem. Ou seja, o dano mental é capaz de configurar lesão corporal, mas
não é suficiente para representar a aplicação da qualificadora da deformidade
permanente.
O resultado agravador pode decorrer de dolo ou culpa.

OBSERVAÇÃO: Vitriolagem é o ato de lançar ácido sulfúrico contra a vítima, com o


objetivo de desfigurá-la. Pode configurar o crime de lesão corporal gravíssima, pela
deformidade permanente.

V. Aborto – Ocorre o aborto com a morte do feto, independentemente de sua 17


expulsão do organismo materno. Para incidência dessa figura qualificada, é preciso que
o agente tenha ciência da gravidez. Segundo a doutrina majoritária, esta figura é
preterdolosa, havendo dolo na conduta antecedente (lesão corporal) e culpa no
resultado subsequente (aborto).
Se o agente atuar com dolo, direto ou eventual, também em relação ao aborto,
responderá pelos crimes deCPF:
lesão 860.542.154-18
corporal (sem a qualificadora) e aborto sem o
consentimento da gestante em concurso formal.

Lesão Corporal Gravíssima qualificada Aborto majorado pela lesão corporal


pelo aborto (art. 129, §2º, V) grave (art. 127)

Dolo quanto à lesão corporal. Dolo quanto ao aborto.


Resultado (aborto) causado Resultado (lesão grave) causada
culposamente. culposamente.

E se estiver presente mais de uma qualificadora? Ex.: deformidade


permanente + aceleração de parto + incapacidade para ocupação habitual por mais de
30 dias.
Aplica-se a hipótese mais gravosa para tipificar o crime (no exemplo, deve ser
reconhecida a lesão gravíssima), podendo o juiz utilizar as demais na primeira fase da
dosimetria.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

1.1.1.3.1. Quadro comparativo

Sem olhar a matéria, você saberia dizer se a lesão corporal da qual resulta
perigo de vida é grave ou gravíssima? E a lesão da qual resulta aceleração de parto?
Não vamos perder questão fácil. Segue abaixo um quadro comparativo para
revisão:

18

CPF: 860.542.154-18

1.1.1.4. Lesão corporal seguida de morte

Lesão corporal seguida de morte


§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o
agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.

A figura também é denominada homicídio preterintencional ou homicídio


preterdoloso.
É um crime preterdoloso, havendo dolo na conduta antecedente (lesão
corporal) e culpa no resultado agravador subsequente (morte). Tanto assim que o art.
129, § 3° expressamente limita sua aplicação às hipóteses em que o agente não quis o

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

resultado (ou seja, não agiu com dolo direto), nem assumiu o risco de produzi-lo (leia-
se, também não atuou com dolo eventual).
Há lesão corporal seguida de morte, por exemplo, se o agente desfere um soco
contra a vítima (lesão dolosa), que se desequilibra e sofre um traumatismo craniano
fatal em razão da queda (morte culposa).
Sendo vedada a responsabilidade objetiva, a figura apenas terá lugar se o
resultado agravador decorrer de culpa do agente. Se o resultado agravador decorrer não
de culpa, mas de caso fortuito ou de alguma situação de imprevisibilidade, não incidirá
a qualificadora. O agente responde, apenas, pela lesão corporal.
Sendo crime preterdoloso, não se admite a tentativa. Ocorrendo a morte,
responderá o agente pelo crime do 129, § 3°; não ocorrendo, haverá o delito de lesão
corporal (sem essa qualificadora).
Vejam o quadro abaixo para melhor fixação da matéria:

Conduta do agente Crime

Dolo no antecedente Homicídio doloso


+ Ex.: ao atacar a vítima, o agente não visava
Dolo direto no resultado apenas a lesão; queria o resultado morte.
agravador
19
Homicídio doloso
Ex.: ao desferir os golpes, o agente queria
Dolo no antecedente diretamente que a vítima fosse apenas
lesionada. No entanto, previu que com os
+
golpes, a vítima poderia morrer e, mesmo
Dolo eventual no resultado
CPF: assim, assumiu o risco na produção desse
860.542.154-18
agravador resultado.
Caso a vítima morra, o agente responderá por
homicídio.

Lesão corporal seguida de morte


Ex.: ao desferir os golpes, o agente queria
apenas que a vítima fosse lesionada. O autor
Dolo no antecedente dos fatos não queria o resultado morte e
sequer assumiu o risco de sua produção.
+
A culpa no resultado agravador comporta duas
Culpa no resultado agravador modalidades:
- culpa inconsciente: o agente não previu
(embora fosse previsível) que, com os golpes, a
vítima poderia morrer.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

- culpa consciente: o agente previu o resultado,


mas acreditou sinceramente que não iria
acontecer.

Lesão corporal simples


Com sua conduta, o agente queria apenas a
lesão (não queria o resultado agravador e nem
assumiu o risco de produzi-lo).
O resultado morte além disso, era imprevisível.
Dolo no antecedente
Ex.: João desfere golpes contra José. José cai e
+
bate a cabeça no meio-fio. No entanto, após a
Sem culpa no resultado realização de laudo pericial, constata-se que a
agravador causa da morte da morte da vítima não foi o
choque de sua cabeça contra o meio-fio
(choque craniano), mas sim uma hemorragia
encefálica decorrente da ruptura de um
aneurisma cerebral congênito, situação clínica
de que sequer a vítima tinha conhecimento.

1.1.1.5. Lesão corporal dolosa privilegiada

20
Diminuição de pena
§ 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de
relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta
emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz
pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
CPF: 860.542.154-18
A figura é comumente denominada lesão “privilegiada”. Tecnicamente,
contudo, trata-se de uma causa de diminuição de pena.
São 3 as hipóteses:

- Motivo de relevante valor social;


- Motivo de relevante valor moral;
- Sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta
provocação da vítima.

A minorante aplica-se à lesão leve, grave, gravíssima e seguida de morte (caput,


§§1º, 2º e 3º). Não se aplica à lesão culposa e à resultante de violência doméstica
(incompatibilidade lógica). As causas de diminuição são circunstâncias subjetivas, e,
portanto, são incomunicáveis em concurso de pessoas.
Quanto a elas, valem os mesmos comentários feitos ao crime de homicídio.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

Vale lembrar que, sendo leve a lesão privilegiada, o juiz pode substituir a pena
de detenção por multa.

1.1.1.6. Violência doméstica e familiar


1.1.1.6.1. Lesão leve dolosa qualificada pela violência doméstica

Violência Doméstica
§ 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente,
irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha
convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações
domésticas, de coabitação ou de hospitalidade:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.
§ 13. Se a lesão for praticada contra a mulher, por razões da
condição do sexo feminino, nos termos do § 2º-A do art. 121
deste Código: (Incluído pela Lei nº 14.188, de 2021)
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro anos). (Incluído pela Lei nº
14.188, de 2021)

Se o agente praticar lesão, grave, gravíssima ou seguida de morte em contexto


de violência doméstica, incidirá nas penas previstas nos §§1º a 3º. 21
Se a lesão corporal LEVE praticada em contexto de violência doméstica, são
duas as possíveis situações:

1) Regra: se a lesão for praticada CONTRA A MULHER, por


razões da condição do sexo feminino, a conduta se enquadra no
CPF: 860.542.154-18
§ 13 do art. 129.
2) Exceção: nos demais casos, como nos casos de vítima
homem, a conduta será tipificada no § 9º do art. 129 do CP.

O § 9º traz uma qualificadora aplicável na hipótese de lesão corporal leve. Com


a pena majorada, o delito em análise deixa de ser de menor potencial ofensivo.
O §13 apresenta uma qualificadora aplicável na hipótese de lesão corporal leve
praticados contra a mulher por razões de condição do sexo feminino, o que, nos termos
do art. 121, §2º-A, envolve:
a) Violência doméstica e familiar: não bastando que o crime seja praticado
contra mulher no âmbito doméstico ou familiar, exigindo-se que a motivação do
acusado seja de gênero, ou que a vulnerabilidade da ofendida seja decorrente da sua
condição de mulher. (STJ - AgRg no AREsp 1700026/GO-2020)

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

b) Menosprezo ou discriminação à condição de mulher: sendo necessário que,


além de a vítima ser mulher, fique caracterizado que o crime foi motivado ou está
relacionado com o menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
Pela leitura do art. 121, §13 do CP, extrai-se que se trata de uma qualificadora
de natureza objetiva, porquanto guarda relação com a condição da vítima, ou seja, está
ligada ao fato praticado. Percebe-se que na hipótese, não há ligação da qualificadora
com aspectos pessoais ou individuais do agente delituoso, não se tratando, portanto, de
qualificadora de natureza subjetiva. Assim sendo, na hipótese de concurso de pessoas,
esta qualificadora comunica-se aos demais agentes por ter natureza objetiva.
Hipóteses que ensejam a aplicação da qualificadora:

a) contra Cônjuge ou Companheiro, Ascendente, Descendente


ou Irmão (CCADI);
b) Com quem o agente conviva ou tenha convivido;
c) Prevalecendo-se das relações domésticas, de coabitação ou
de hospitalidade.

Incide a qualificadora se o crime for praticado contra cônjuge ou


companheiro, ascendente, descendente ou irmão com quem o agente não conviva
nem tenha convivido?
Há 2 correntes:
22
- Sim. As hipóteses são alternativas. Incide a qualificadora contra
cônjuge ou companheiro, ascendente, descendente ou irmão,
independentemente de convivência atual ou pretérita. Também
incide a qualificadora se o agente praticar o crime contra outras
CPF: 860.542.154-18
pessoas, com quem conviva ou tenha convivido.
- Não. A incidência da qualificadora pressupõe crime praticado
contra cônjuge ou companheiro, ascendente, descendente ou
irmão, desde que com ele o agente conviva ou tenha convivido.
A expressão deve ser interpretada restritivamente, sob pena de
levar a uma indesejada amplitude do tipo penal.

1.1.1.6.2. Pessoa portadora de deficiência e causas de aumento de pena da lesão leve


praticada no âmbito doméstico e familiar

§ 11. Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será aumentada


de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de
deficiência.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

Conforme § 11, nas hipóteses descritas no § 9º (lesão leve praticada contra


ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou
tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de
coabitação ou de hospitalidade), a pena é aumentada de 1/3 se o delito for praticado
contra deficiente.
Esta causa de aumento aplica-se exclusivamente ao § 9º, que contempla a lesão
leve. Não incide, portanto, se a lesão é grave, gravíssima ou seguida de morte. Trata-se
de opção legislativa restritiva, interpretação ao contrário seria fazer analogia in malam
partem o que é vedado no Direito Penal.

1.1.1.7. Causas de aumento de pena da lesão dolosa


1.1.1.7.1. Causa de aumento de pena na lesão grave, gravíssima e seguida de morte
praticada no âmbito de violência doméstica

§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1º a 3º deste artigo, se as


circunstâncias são as indicadas no § 9º deste artigo, aumenta-se
a pena em 1/3 (um terço).

Nos termos do § 10, aumenta-se de 1/3 a pena da lesão grave (art. 129, § 1º),
gravíssima (§ 2º) ou seguida de morte (§ 3º), se praticada contra Cônjuge,
Companheiro, Ascendente, Descendente, Irmão ou com quem conviva ou tenha 23
convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação
ou de hospitalidade (§ 9º).
Note-se que a lesão leve praticada nas situações descritas no § 9º
consubstancia uma qualificadora, ao passo que a lesão grave, gravíssima ou seguida de
morte cometida nas mesmas hipóteses dá ensejo a uma causa de aumento de pena
(considerada na terceira faseCPF:
da dosimetria).
860.542.154-18

1.1.1.7.2. Causa de aumento de pena da lesão dolosa

Aumento de pena
§ 7o Aumenta-se a pena de 1/3 se ocorrer qualquer das hipóteses
dos §§ 4o e 6o do art. 121 deste Código. (Redação dada pela Lei
nº 12.720, de 2012)

O § 7º prevê uma causa de aumento de pena, de 1/3, se ocorrer qualquer das


hipóteses dos §§ 4º e 6º do art. 121 deste Código.
Portanto, aumenta-se a pena da lesão culposa se:

- Praticada contra pessoa menor de 14 ou maior de 60 anos;

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

- Cometida por milícia privada, sob o pretexto de prestação de


serviço de segurança;
- Grupo de extermínio.

Examinamos cada uma dessas hipóteses ao tratarmos do crime de homicídio,


sendo integralmente aplicáveis os comentários ali realizados.

1.1.1.7.3. Causa de aumento de pena da lesão dolosa

§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente


descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes
do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública,
no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu
cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro
grau, em razão dessa condição, a pena é aumentada de um a dois
terços.

Tratamos dessa hipótese ao examinarmos o crime de homicídio, ao qual


remetemos o leitor. No entanto, vale ressaltar que essa nova causa de aumento de pena
aplica-se à lesão corporal dolosa, em qualquer de suas modalidades, leve, grave,
gravíssima ou seguida de morte.
24

OBSERVAÇÃO: Enquanto no homicídio esta hipótese constitui uma qualificadora, na


lesão corporal é uma causa de aumento de pena, e deve incidir na terceira fase de
aplicação da pena.
CPF: 860.542.154-18
ATENÇÃO! Também é CRIME HEDIONDO a “lesão corporal dolosa de natureza
gravíssima (art. 129, § 2o) e lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3o), quando
praticadas contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição
Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no
exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou
parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição” (art. 1º, I-A, da Lei
8.072/90).

1.1.2. LESÃO CORPORAL CULPOSA


1.1.2.1. Figura simples

Lesão corporal culposa


§ 6° Se a lesão é culposa:
Pena - detenção, de dois meses a um ano.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

É aquela decorrente de negligência, imprudência ou imperícia.


Na figura culposa, o tipo penal não faz distinção quanto à gravidade dos
ferimentos, assim, seja a lesão leve, grave ou gravíssima, aplicar-se-á a mesma pena de
detenção, de dois meses a um ano.
Lesão culposa e Lei 9.099/1995 – A lesão culposa é infração de menor
potencial ofensivo. Anote-se que o artigo 88 da Lei 9.099 estabelece que a ação penal
relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas é pública condicionada à
representação.
Lesão corporal culposa e Código de Trânsito Brasileiro – Se a lesão corporal
culposa for praticada na condução de veículo automotor, não se aplica o Código Penal,
mas sim o Código de Trânsito Brasileiro (art. 303 da Lei 9.503/1997), lei especial que
disciplinou tal hipótese. Quanto à ação penal, confira-se o disposto no art. 291 do CTB:

Art. 291. Aos crimes cometidos na direção de veículos


automotores, previstos neste Código, aplicam-se as normas
gerais do Código Penal e do Código de Processo Penal, se este
Capítulo não dispuser de modo diverso, bem como a Lei nº
9.099, de 26 de setembro de 1995, no que couber.
§ 1º Aplica-se aos crimes de trânsito de lesão corporal culposa o
disposto nos arts. 74, 76 e 88 da Lei no 9.099, de 26 de setembro 25
de 1995, exceto se o agente estiver:
I - sob a influência de álcool ou qualquer outra substância
psicoativa que determine dependência;
II - participando, em via pública, de corrida, disputa ou
competição automobilística, de exibição ou demonstração de
períciaCPF:
em manobra de veículo automotor, não autorizada pela
860.542.154-18
autoridade competente;
III - transitando em velocidade superior à máxima permitida para
a via em 50 km/h (cinquenta quilômetros por hora).
§ 2º Nas hipóteses previstas no § 1º deste artigo, deverá ser
instaurado inquérito policial para a investigação da infração
penal.

Portanto, se a lesão corporal culposa for praticada na condução de veículo


automotor, em princípio a ação penal será pública condicionada à representação da
vítima. Porém, será pública incondicionada se o agente estiver:

I - sob a influência de álcool ou qualquer outra substância


psicoativa que determine dependência;
II - participando, em via pública, de corrida, disputa ou
competição automobilística, de exibição ou demonstração de

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

perícia em manobra de veículo automotor, não autorizada pela


autoridade competente;
III - transitando em velocidade superior à máxima permitida
para a via em 50 km/h.

1.1.2.2. Causa de aumento de pena da lesão culposa

Aumento de pena
§ 7o Aumenta-se a pena de 1/3 se ocorrer qualquer das hipóteses
dos §§ 4o e 6o do art. 121 deste Código. (Redação dada pela Lei
nº 12.720, de 2012)

O § 7º prevê uma causa de aumento de pena, de 1/3, se ocorrer qualquer das


hipóteses dos §§ 4º e 6º do art. 121 deste Código.
Portanto, aumenta-se a pena da lesão culposa se:

- Resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou


ofício;
- Agente deixa de prestar imediato socorro à vítima;
26
- Não procura diminuir as consequências do seu ato;
- Foge para evitar prisão em flagrante.

Examinamos cada uma dessas hipóteses ao tratarmos do crime de homicídio,


sendo integralmente aplicáveis os comentários ali realizados.
CPF: 860.542.154-18
1.1.2.3. Perdão judicial

Aumento de pena
§ 8º Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121.

É aplicável à lesão corporal culposa, nos termos do § 8º do art. 129.


O juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração
atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne
desnecessária.
Valem as mesmas regras atinentes ao homicídio, estudadas anteriormente.

1.1.3. AÇÃO PENAL

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

Considerando a legislação e a decisão proferida pelo STF na ADI 4424 (na qual
o Plenário entendeu que, nos crimes de lesão corporal praticados contra a mulher no
ambiente doméstico, mesmo de caráter leve, o Ministério Público tem legitimidade para
deflagrar ação penal contra o agressor sem necessidade de representação da vítima),
chegamos à seguinte conclusão quanto à ação penal no crime de lesão corporal:

Lesão corporal Ação penal

Lesão leve (caput). Pública condicionada à representação.

Lesão leve no âmbito da violência


Pública condicionada à representação.
doméstica contra homem (§ 9º).

Grave (1º). Incondicionada.

Gravíssima (2º). Incondicionada.

Seguida de morte (3º). Incondicionada.

Culposa (6º). Pública condicionada à representação.

Culposa no âmbito da violência


Pública condicionada à representação.
doméstica contra homem (6º).

Lesão corporal contra mulher, no 27


cenário de violência doméstica
Incondicionada.
(culposa, leve, grave, gravíssima ou
seguida de morte).

1.1.4. CONFRONTO CPF: 860.542.154-18

Se não chega a ocorrer lesão corporal (ex.: puxão de cabelo, empurrão), pode haver
a contravenção penal de vias de fato (art. 21 do Decreto-lei 3.688/1941) (ver
comentários acima).

Retirada de tecidos, órgão ou partes do corpo de pessoa viva – Configura o crime do


art. 14, § 1º da Lei 9.434/1997 (Lei de Transplantes): “Art. 14. Remover tecidos,
órgãos ou partes do corpo de pessoa ou cadáver, em desacordo com as disposições
desta Lei: Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa, de 100 a 360 dias-multa. § 1º
Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa ou por outro
motivo torpe: Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa, de 100 a 150 dias-multa.
§ 2º Se o crime é praticado em pessoa viva, e resulta para o ofendido: I - incapacidade
para as ocupações habituais, por mais de trinta dias; II - perigo de vida; III - debilidade
permanente de membro, sentido ou função; IV - aceleração de parto: Pena - reclusão,
de três a dez anos, e multa, de 100 a 200 dias-multa § 3º Se o crime é praticado em
pessoa viva e resulta para o ofendido: I - incapacidade para o trabalho; II -
enfermidade incurável; III - perda ou inutilização de membro, sentido ou função; IV -

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

deformidade permanente; V - aborto: Pena - reclusão, de quatro a doze anos, e multa,


de 150 a 300 dias-multa. § 4º Se o crime é praticado em pessoa viva e resulta morte:
Pena - reclusão, de oito a vinte anos, e multa de 200 a 360 dias-multa”.

Realizar cirurgia de esterilização sexual sem os requisitos legais – A Lei 9.263/1996,


que trata do planejamento familiar, regulamentou esse tipo de intervenção cirúrgica,
estabelecendo os requisitos para sua realização. Obedecidas as disposições legais,
quem realiza o procedimento atua em exercício regular de direito. Por outro lado, se
a cirurgia de esterilização for feita sem os requisitos legais, não se aplica o art. 129 do
Código Penal, mas sim o art. 15 da Lei 9.263/1996, que é um tipo penal específico.

Se o agente não atua com dolo de lesionar a incolumidade alheia (crime de dano),
mas com dolo de expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente
(crime de perigo), responde pelo crime do art. 132 do CP.

1.1.5. QUADRO RESUMO

Substituição da
Leve (art. 129, caput)
pena de detenção
(Menor potencial por multa (§ 5º):
ofensivo)
- Lesão
Ação condicionada à “privilegiada”. Diminuição
28
representação.
- Lesões recíprocas. de pena
de 1/6 a 1/3
Grave (§ 1º)
(§ 4°):
- Incapacidade para as ocupações habituais, por
mais de 30 dias. - Relevante
CPF: 860.542.154-18
- Perigo de vida.
valor social.
- Relevante
- Debilidade permanente de membro, sentido
Lesão valor moral.
Dolosa ou função.
corporal - sob o
- Aceleração de parto.
domínio de
Ação incondicionada violenta
emoção,
Gravíssima (§ 2º)
logo em
- Incapacidade permanente para o trabalho. seguida a
- Enfermidade incurável. injusta
provocação
- Perda ou inutilização do membro, sentido ou
da vítima.
função.
- Deformidade permanente.
- Aborto.
Ação incondicionada

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

Seguida de morte (§ 3º)


Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam
que o agente não quis o resultado, nem
assumiu o risco de produzi-lo.
Ação incondicionada

Lesão leve QUALIFICADA pela violência


doméstica
Causa de
(§ 9º) aumento de
- contra Cônjuge, Companheiro, Ascendente, pena
Descendente ou Irmão (CCADI). de 1/3 se
- com quem conviva ou tenha convivido. vítima
deficiente
- prevalecendo-se o agente das relações
domésticas, de coabitação ou de hospitalidade. (§ 11).
Ação condicionada à representação.

Lesão grave, gravíssima ou seguida de morte


MAJORADA pela violência doméstica
(§ 10)
- contra Cônjuge, Companheiro, Ascendente,
Descendente ou Irmão (CCADI). 29
- com quem conviva ou tenha convivido, ou,
ainda;
- prevalecendo-se o agente das relações
domésticas, de coabitação ou de hospitalidade.
Ação incondicionada
CPF: 860.542.154-18
Lesão grave, gravíssima ou seguida de morte
QUALIFICADA por razões de condição de sexo A causa de
feminino (§13) aumento de
pena prevista
Se a lesão for praticada contra a mulher, por no §11 é
razões da condição do sexo feminino: restrita aos
- violência doméstica e familiar; casos do §9º,
- menosprezo ou discriminação à condição de NÃO sendo
mulher. aplicável ao
§13.
Ação incondicionada.

Causa de aumento de pena


(§ 7º)
Pena aumentada de 1/3 se crime contra:
- Pessoa menor de 14 ou maior de 60 anos.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

- Cometida por milícia privada, sob o pretexto


de prestação de serviço de segurança.
- Grupo de extermínio.

Causa de aumento de pena


(§ 12)
Pena aumentada de 1/3 a 2/3
- Crime contra autoridade ou agente descrito
nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal,
integrantes do sistema prisional e da Força
Nacional de Segurança Pública, no exercício da
função ou em decorrência dela, ou seu cônjuge,
companheiro ou parente consanguíneo até
terceiro grau, em razão dessa condição.

Simples
(§ 6º)
(Menor potencial ofensivo)
Ação incondicionada se contra mulher
Ação condicionada à representação se contra
homem 30
Causa de aumento de pena
(§ 7º)
- Se resulta de inobservância de regra técnica de
profissão, arte ou ofício.
Culposa
- Se o agente
CPF:deixa de prestar imediato socorro
860.542.154-18
à vítima.
- Não procura diminuir as consequências do seu
ato.
- Foge para evitar prisão em flagrante.

Perdão judicial
(§ 8º)
O juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as
consequências da infração atingirem o próprio
agente de forma tão grave que a sanção penal
se torne desnecessária.

1.2. OMISSÃO DE SOCORRO

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

Omissão de Socorro
Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo
sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à
pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente
perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade
pública:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão
resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta
a morte.

No capítulo III, o Código Penal trata, entre os arts. 130 a 136, dos crimes de
perigo, isto é, infrações penais que ofendem o bem jurídico tutelado com a simples
probabilidade de dano. Passemos à análise do crime de omissão de socorro.
Objeto jurídico – Protege-se a vida e a saúde da pessoa humana. O fundamento
dessa criminalização é a solidariedade humana.
Núcleo do tipo – O art. 135 é um crime omissivo puro ou próprio. São duas as
condutas puníveis, ambas consistentes em um “não fazer”: deixar de prestar
assistência e não pedir o socorro da autoridade pública.
Prestar assistência significa uma atuação direta ou imediata do agente no
sentido de auxiliar quem se encontra em situação adversa (ex.: retirar a vítima de uma 31
enchente). O socorro direto deve ser possível; se implicar risco pessoal ao agente (ex.:
área sujeita a desabamento) ou depender de conhecimentos técnicos de que não
dispõe, o dever de prestar assistência dá lugar ao dever de pedir socorro da autoridade
pública, que se refere a uma atuação indireta ou mediata. Ou seja, prefere-se a
prestação de socorro direta, imediata, e, somente quando esta não for possível, deverá
o agente acionar a autoridade pública competente.
CPF: 860.542.154-18
Quem é a “autoridade pública” mencionada no artigo?
É aquela apta a prestar o socorro no caso específico (ex.: polícia, corpo de
bombeiros, Ministério Público, conselho tutelar etc.).
Elemento subjetivo - É o dolo de perigo. Não se exige elemento subjetivo
específico, nem se pune a modalidade culposa.
Sujeito ativo – Qualquer pessoa (crime comum). A omissão de socorro dispensa
a existência de vínculo especial entre o sujeito ativo e passivo.
Para responder pelo crime, o sujeito ativo precisa estar presente no local em
que a vítima precisa de socorro?
Há 2 posições:

- Sim. Se estiver distante, a abstenção pode até ser moralmente


reprovável, mas não configura o crime.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

- Não. Mesmo se estiver distante, responde pelo delito, se


chegar ao seu conhecimento a situação de perigo.

E se foram vários os omitentes? Ex.: Vítima em situação de perigo iminente.


Três pessoas ficam de braços cruzados, observando.
Todos responderão pelo crime do art. 135.
Contudo, se uma dessas pessoas não se omitir e socorrer a vítima, retirando-a
da situação de perigo, os demais não respondem pelo crime. Apenas responderão se o
socorro for insuficiente.
Sujeito passivo – O sujeito passivo poderá ser:

a) criança abandonada ou extraviada - Criança é a pessoa até 12


anos de idade incompletos, nos termos do art. 2º da Lei
8.069/1990 (ECA). Contudo, há vozes no sentido de que o termo
“criança” deve ser analisado no caso concreto, referindo-se à
pessoa que não tenha capacidade de autodefesa e proteção.
Abandonada é a criança que foi deixada à própria sorte pelo
responsável. Extraviada é aquela que se perdeu do seu protetor
por alguma razão.
O responsável pelo abandono, contudo, responderá pelos
crimes do art. 133 ou 134 do CP, conforme o caso.
32
b) pessoa inválida ou ferida em situação de desamparo - Pessoa
inválida é aquela que, em razão de algum impedimento de
ordem física ou mental, geralmente permanente ou de longa
duração, não consegue praticar os atos cotidianos por si (ex.:
senilidade, paralisia, enfermidade etc.).
CPF: 860.542.154-18
Pessoa ferida é aquela que sofreu alguma espécie de dano à sua
incolumidade física.
Para configuração do tipo penal do art. 135, é preciso que a
pessoa inválida ou ferida esteja em situação de desamparo, isto
é, privada de cuidado e assistência.
c) pessoa em grave e eminente perigo - O perigo a que se refere
o tipo penal é aquele próximo e concreto. Não se contempla, por
conseguinte, o perigo abstrato, distante ou especulativo. É
necessário, portanto, que a pessoa esteja enfrentando situação
de risco eminente à sua vida ou à sua saúde, ainda que seja ela
saudável física e mentalmente (ex.: pessoa presa em quarto
durante incêndio ou inundação).

Recusa da vítima em receber o auxílio – Em princípio, não afasta o crime. Isso


porque os bens jurídicos protegidos (vida e saúde) são indisponíveis. Apenas ficará
excluído o delito se a resistência da vítima impossibilitar o agente de socorrê-la.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

ATENÇÃO! O art. 304 da Lei 9.503/97 (Código de Trânsito Brasileiro) traz regra
específica: Art. 304. Deixar o condutor do veículo, na ocasião do acidente, de prestar
imediato socorro à vítima, ou, não podendo fazê-lo diretamente, por justa causa, deixar
de solicitar auxílio da autoridade pública:
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa, se o fato não constituir elemento
de crime mais grave.
Parágrafo único. Incide nas penas previstas neste artigo o condutor do veículo, ainda
que a sua omissão seja suprida por terceiros ou que se trate de vítima com morte
instantânea ou com ferimentos leves.

Risco pessoal ao agente - devemos ter atenção ao elemento normativo


“quando possível fazê-lo sem risco pessoal” (possibilidade real de agir). Isso porque,
havendo risco pessoal, será atípica a conduta de “não pedir, nesses casos, o socorro da
autoridade pública” (atuação subsidiária).
O pedido de socorro à autoridade pública deve ser imediato.
O risco meramente patrimonial não afasta o crime.
E se a vítima for idosa?
Aplica-se o art. 97 da Lei 10.741/03 (Estatuto do Idoso), que é especial.
33
Art. 97. Deixar de prestar assistência ao idoso, quando possível
fazê-lo sem risco pessoal, em situação de iminente perigo, ou
recusar, retardar ou dificultar sua assistência à saúde, sem justa
causa, ou não pedir, nesses casos, o socorro de autoridade
pública:
Pena –CPF: 860.542.154-18
detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se da omissão
resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta
a morte.

Consumação e tentativa - Trata-se de crime formal, bastando para a


consumação que o agente deixe de prestar assistência à vítima ou, se isso não lhe for
possível, abstenha-se de pedir socorro à autoridade pública. O crime é instantâneo,
consumando-se em momento específico, qual seja, com a omissão do agente.
Como se trata de crime omissivo próprio, não é possível a tentativa, já que o
fracionamento do iter criminis é inviável.
Morte instantânea – a morte instantânea da vítima impede a consumação do
crime.
Criação do perigo – é indiferente quem criou a situação de perigo, se a própria
vítima, terceiros ou fenômenos naturais etc. Entretanto, se a situação de perigo foi
criada pelo próprio omitente, dolosa ou culposamente, este transforma-se em

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

garantidor e responderá não simplesmente por crime de perigo, mas por eventual
resultado que advier da situação criada, nos termos do art. 13, §2º do CP.

OBSERVAÇÃO: Havendo o dever de agir disposto no artigo 13, §2º do Código Penal,
responderá o agente pelo crime comissivo respectivo.

O art. 135 é um crime de perigo abstrato (presumido pelo legislador,


dispensando comprovação no caso concreto) ou de perigo concreto (deve ser
comprovado caso a caso)?
Há 2 correntes principais:

- Todas as figuras são crimes de perigo concreto. Nos dizeres de


Nucci, “não é qualquer criança abandonada ou extraviada que
está em perigo (...). Pode ocorrer, o que não é raro nos dias
atuais, que a criança, pela sua própria vivacidade, não
encontrando imediato socorro de terceiros, encontre, sozinha, o
caminho de sua casa ou do local onde se encontram seus pais.
(...) No mesmo caso estão os demais (inválido ou ferido) que
tenham encontrado meios de solucionar os seus respectivos
problemas”.
- Nas quatro primeiras figuras (“criança abandonada ou 34
extraviada e pessoa inválida ou ferida em situação de
desamparo”) o crime é de perigo abstrato ou presumido; no
entanto, na última hipótese (pessoa em grave e iminente
perigo) o crime é de perigo concreto. Há necessidade de
comprovação da situação perigosa legalmente exigida e do nexo
de causalidade.
CPF: 860.542.154-18

No homicídio culposo e na lesão corporal culposa, a omissão de socorro


configura uma causa especial de aumento de pena (aumenta de 1/3, de acordo com os
arts. 121, §4º e 129, §7º), afastando-se a responsabilização autônoma pelo art. 135.

1.2.1. CAUSA DE AUMENTO DE PENA

Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão


resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta
a morte.

A pena deve ser aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal


de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte. Tratam-se de figuras preterdolosas,
isto é, o resultado mais gravoso decorre da culpa do agente.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

Contudo, se a morte de quem está em perigo for inevitável, o agente não


responderá pela omissão de socorro na sua forma qualificada. Exige-se, para a incidência
da majorante, que se prove, no caso concreto, que a conduta do agente seria capaz de
evitar o resultado mais grave.

1.2.2. CONFRONTO

Lesão corporal culposa ou homicídio culposo – a omissão de socorro praticada pelo


agente de tais delitos não configura o crime do art. 135, mas sim a causa de aumento
de pena prevista no art. 121, §4º ou no art. 129, §7º do Código Penal,
respectivamente.

Abandono de incapaz (art. 133) – aqui, é o próprio agente que abandona a pessoa
que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo,
incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono (há um vínculo entre o
sujeito ativo e a vítima). Já no delito do art. 135, o agente já encontra a vítima nessa
situação e não a auxilia.

Exposição ou abandono de recém-nascido (art. 134) – É o crime a ser reconhecido se


o agente expõe ou abandona recém-nascido, com a finalidade de ocultar desonra
própria (também aqui há um vínculo entre sujeito ativo e vítima).

Abandono material - Se o agente deixa de socorrer, sem justa causa, ascendente ou 35


descendente gravemente enfermo, há o crime do art. 244 (última parte).

1.2.2.1. Confronto - Código de Trânsito Brasileiro

CPF: 860.542.154-18
Importa confrontar o crime de omissão de socorro previsto no art. 135 do
Código Penal com três outras figuras previstas na Lei 9.503/97 (Código de Trânsito
Brasileiro), a seguir expostas.

CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO

Causa de aumento de Causa de aumento de Crime autônomo de


pena do homicídio pena da lesão corporal omissão de socorro
culposo. culposa.
no trânsito.

Art. 302. Praticar Art. 303. Praticar lesão


Art. 304. Deixar o condutor do
homicídio culposo na corporal culposa na
veículo, na ocasião do
direção de veículo direção de veículo
acidente, de prestar imediato
automotor. automotor
socorro à vítima, ou, não
§ 1 o
No homicídio § único. Aumenta-se a podendo fazê-lo diretamente,
culposo cometido na pena de 1/3 à metade, por justa causa, deixar de

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

direção de veículo se ocorrer qualquer das solicitar auxílio da autoridade


automotor, a pena é hipóteses do § 1o do art. pública.
aumentada de 1/3 à 302. Parágrafo único. Incide nas
metade, se o agente: (...) penas previstas neste artigo o
III - deixar de prestar condutor do veículo, ainda que
socorro, quando possível a sua omissão seja suprida por
fazê-lo sem risco pessoal, terceiros ou que se trate de
à vítima do acidente. vítima com morte instantânea
ou com ferimentos leves.

Existem 3 possibilidades:

- Se o agente pratica homicídio culposo ou lesão corporal


culposa na direção de veículo automotor, e deixa de prestar
socorro, incorre na causa de aumento do art. 302, § 1o, III ou do
art. 303, parágrafo único, do CTB, respetivamente.
- Se o omitente estiver na condução de veículo envolvido no
acidente, mas não for o responsável pelo ocorrido, incorrerá no
crime do art. 304 do CTB.
- O indivíduo não envolvido no acidente (condutor de veículo
ou não) responderá pelo art. 135 do CP. 36
1.3. CONDICIONAMENTO DE ATENDIMENTO MÉDICO-HOSPITALAR
EMERGENCIAL

CPF:Exigir
Art. 135-A. 860.542.154-18
cheque-caução, nota promissória ou qualquer
garantia, bem como o preenchimento prévio de formulários
administrativos, como condição para o atendimento médico-
hospitalar emergencial: (Incluído pela Lei nº 12.653, de 2012).
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
(Incluído pela Lei nº 12.653, de 2012).

O art. 135-A foi introduzido pela Lei 12.653/2012, constituindo uma


modalidade específica de omissão de socorro.
Objeto jurídico – Busca-se proteger a vida e a saúde. Secundariamente, tutela
a lisura e a boa-fé na relação de consumo no âmbito da prestação de serviço médico-
hospitalar emergencial.
Sujeito ativo – Cuida-se de crime próprio, podendo ser praticado somente por
pessoa que tem o poder de cercear o atendimento médico-hospitalar emergencial
enquanto não prestada a garantia ou preenchidos os formulários administrativos (ex.:
diretor de hospital, médico, enfermeiro, atendente, segurança etc.). Se o diretor do

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

estabelecimento de saúde, por exemplo, edita norma interna vedando a internação


emergencial sem a prestação de caução, e a exigência – manifestamente ilegal – é feita
pelo recepcionista do hospital, ambos responderão pelo crime em coautoria.
Eventualmente, o funcionário poderá não responder pelo delito se ficar
demonstrada a inexigibilidade de conduta diversa (ex.: fez a ação cumprindo ordens sob
ameaça de demissão).
O delito somente pode ser praticado em hospitais particulares, já que no
âmbito da rede pública é vedada a cobrança de valores para o atendimento médico. Se
o funcionário público fizer tal exigência, incidirá nas penas do crime de concussão (art.
316 do CP).
Sujeito passivo – Qualquer pessoa. A vítima é a pessoa carecedora de
atendimento de emergência e, secundariamente, aquela de quem se exige a prestação
de garantia ou a assunção de obrigação perante o estabelecimento de saúde.
Núcleo do tipo - O verbo nuclear do tipo é exigir, isto é, demandar, solicitar de
forma imperativa. A exigência tem por objeto a entrega de cheque-caução, nota
promissória ou qualquer outra garantia similar, ou ainda o preenchimento de
formulários administrativos, como condição para o atendimento médico-hospitalar
emergencial. Diante da redação do tipo penal, infere-se que a exigência deve ser prévia
ao atendimento.
Elemento subjetivo - Trata-se de crime punido exclusivamente na forma
dolosa. Exige-se, ademais, o elemento subjetivo específico, consistente na finalidade de
condicionar o atendimento emergencial. Não se pune a modalidade culposa. 37
Crime de perigo concreto – Para a configuração do delito, não basta a exigência
de garantia ou de preenchimento de formulários administrativos, sendo imprescindível
que o paciente necessite de tratamento médico-hospitalar de emergência. Portanto,
prevalece que o perigo resultante da conduta deve ficar demonstrado no caso
concreto, não sendo presumido pelo legislador.
CPF:
Qual a diferença entre 860.542.154-18
urgência e emergência médica?
A resposta está na Resolução 1451/1995, do Conselho Federal de Medicina:

- “Define-se por URGÊNCIA a ocorrência imprevista de agravo à


saúde com ou sem risco potencial de vida, cujo portador
necessita de assistência médica imediata” (art. 1º, § 1º).
- “Define-se por EMERGÊNCIA a constatação médica de
condições de agravo à saúde que impliquem em risco iminente
de vida ou sofrimento intenso, exigindo portanto, tratamento
médico imediato” (art. 1º, § 2º).

Em quais dessas duas hipóteses se configura o crime?


Há duas correntes. A primeira entende, com base na legalidade estrita, que o
crime se configura apenas na hipótese de emergência médica (é o texto da lei, não se
admitindo analogia in mallam partem). Porém, há posição em sentido contrário,
afirmando que o crime restará configurado tanto nos casos de emergência quanto nas

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

hipóteses de urgência, pois em ambas existe a necessidade de tratamento médico


imediato (Rogério Greco).

1.3.1. CAUSA DE AUMENTO DE PENA

Parágrafo único. A pena é aumentada até o dobro se da negativa


de atendimento resulta lesão corporal de natureza grave, e até
o triplo se resulta a morte.

Causas de aumento - Preceitua o parágrafo único do artigo que a pena será


aumentada até o dobro se da negativa do atendimento resultar lesão corporal grave, ou
até o triplo se resultar a morte. Trata-se de crime preterdoloso, ou seja, dolo de perigo
na conduta primária e culpa na consequente.

Omissão de socorro Condicionamento de atendimento


médico-hospitalar emergencial

Art. 135, parágrafo único - A pena é Art. 135-A, parágrafo único - A pena é
aumentada de metade, se da omissão aumentada até o dobro se da negativa de
resulta lesão corporal de natureza grave,
e triplicada, se resulta a morte.
atendimento resulta lesão corporal de
natureza grave, e até o triplo se resulta a
38
morte.

Lesão grave: metade Lesão grave: até o dobro


Morte: triplica Morte: até o triplo

CPF: 860.542.154-18
OBSERVAÇÃO: afixação de aviso - A Lei 12.653/2012 tornou obrigatória a afixação, em
local visível nos estabelecimentos que realizem atendimento médico-hospitalar
emergencial, de cartaz ou equivalente com a seguinte informação: “Constitui crime a
exigência de cheque-caução, de nota promissória ou de qualquer garantia, bem como
do preenchimento prévio de formulários administrativos, como condição para o
atendimento médico-hospitalar emergencial, nos termos do art. 135-A do Decreto-Lei
no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal”. O objetivo é dar ciência ao
consumidor sobre a proibição e, ao mesmo tempo, coibir tal conduta.

1.3.2. CONFRONTO

Sendo a vítima idosa, pode-se configurar o crime do art. 103 da Lei


10.741/2003 (Estatuto do Idoso): “Negar o acolhimento ou a permanência do idoso,
como abrigado, por recusa deste em outorgar procuração à entidade de atendimento:
Pena – detenção de 6 meses a 1 ano e multa”.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

1.4. RIXA

Capítulo IV
Art. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os contendores:
Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.
Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza
grave, aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena de
detenção, de seis meses a dois anos.

A Rixa é uma luta tumultuosa e confusa que três ou mais pessoas travam entre
si, acompanhada de vias de fato ou de violência recíproca. Entende-se que quando o CP
exige a presença de pluralidade de agentes em determinado tipo penal, sem estabelecer
expressamente quantas são, é porque devem ser no mínimo três.
Objeto jurídico – Protege-se a incolumidade humana das pessoas envolvidas
na rixa, e, secundariamente, a ordem e a paz pública. Nesse sentido, aliás, a Exposição
de Motivos da Parte Especial do Código Penal: “A ratio essendi da incriminação é dupla:
a rixa concretiza um perigo à incolumidade pessoal (e nisto se assemelha aos ‘crimes de
perigo contra a vida e a saúde’) e é uma perturbação da ordem e disciplina da
convivência civil”. 39
Sujeitos ativo e passivo – Quaisquer pessoas podem ser sujeito ativo e passivo
do delito (crime comum). Trata-se de crime plurissubjetivo, plurilateral ou de concurso
necessário, exigindo a participação de pelo menos 3 pessoas. Incluem-se nesse número
os inimputáveis. Apenas não se computa a pessoa que ingressa na briga para separar
os participantes.
Os participantes da CPF:
rixa, denominados rixentos ou rixosos, são, ao mesmo
860.542.154-18
tempo, agente e vítima. Melhor explicando, são sujeito ativo e passivo uns dos outros,
isto é, sujeito ativo da própria conduta e sujeito passivo em relação aos demais
participantes. O rixoso não é sujeito ativo e passivo da própria conduta. Trata-se de
crime de condutas contrapostas.
A participação na rixa pode ser material ou moral:

Material – É a efetiva participação na rixa, trocando agressões


com os demais rixosos (autores da rixa).
Moral - Induzimento ou instigação para o crime (partícipe da
rixa).

Elemento subjetivo – O crime é punido exclusivamente na forma dolosa,


tratando-se de dolo de perigo. Há, ainda, o elemento subjetivo específico implícito,
denominado animus rixandi, consistente na vontade de tomar parte na contenda
violenta e generalizada, ciente do risco gerado à incolumidade física dos demais

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

participantes. Ausente tal finalidade, inserindo-se o agente na disputa, por exemplo,


para separar os contendores, fica afastado o delito. Não se pune a modalidade culposa.
Núcleo do tipo – A conduta punível é participar, ou seja, tomar parte, associar-
se. Rixa é uma disputa ou contenda, caracterizada pela participação de pelo menos três
pessoas que devem combater entre si.
Não configura rixa a mera discussão ou troca de palavras ou injúrias, mas sim a
briga generalizada, o tumulto com golpes e pancadas, como socos, empurrões, tapas,
pontapés etc. Não é necessário que haja contato físico, como nos casos em que se atiram
pedras, disparam tiros etc.
Cada um age por si contra os demais, tornando-se difícil individualizar a
atividade de cada agente. Por conseguinte, não caracterizam rixa, podendo configurar
lesão corporal ou homicídio:

a) luta corporal entre duas pessoas;


b) o ajuste entre dois ou mais agentes para agredir uma pessoa
específica;
c) contenda entre dois grupos de participantes individualizados.

Crime de perigo abstrato – Para configuração do delito, basta o mero ingresso


do agente na contenda, havendo a presunção de que tal conduta cria ou eleva o risco
à incolumidade dos demais rixosos. Caso fique individualizada a conduta de
40
determinado agente, que vier a lesionar ou a matar outro contendor, responderá aquele
pelo crime de perigo (rixa) em concurso com o crime de dano (lesão corporal ou
homicídio), enquanto os demais rixosos incorrerão apenas no crime do art. 137.
Consumação e tentativa – o delito consuma-se com o início do conflito, ou seja,
quando da efetiva troca de agressões pelos rixosos (seja pela violência, seja pelas vias
CPF:
de fato), pouco importando que haja 860.542.154-18
ou não ferimentos. Trata-se de crime formal, cuja
consumação se dá com o ingresso voluntário do agente na contenda, imbuído de animus
rixandi.
A tentativa é possível quando a rixa for ex proposito ou preordenada, isto é,
previamente ajustada (ex.: indivíduos combinam encontro em determinado horário e
local para entrarem em contenda física). Quando ex improviso, ou seja, iniciada ao
acaso, sem premeditação, torna-se inviável, pois não há possibilidade do fracionamento
do iter criminis.
Agressões verbais – a rixa pressupõe violência física, não podendo ser cometida
por meio de agressões verbais.
Contato físico – não é indispensável, na medida em que o delito pode ser
consumado a distância, com tiros, arremesso de objetos etc.
O rixoso pode se valer da legítima defesa?
Há duas posições:

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

a) Não. Todos os rixosos estão em situação irregular, são


recíprocos agressores e agredidos, e, por esse motivo, nenhum
deles pode se valer da excludente.
b) Sim, caso um dos rixosos extrapole os limites da briga até
então desenvolvida. À agressão extraordinária e
desproporcional é cabível a legitima defesa. Ex.: em dado
momento da contenda física, um dos agentes faz uso de arma de
fogo. Neste caso, a agressão é injusta, mesmo dentro da rixa,
sendo jurídica a utilização da excludente.

1.4.1. QUALIFICADORA

Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza


grave, aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena de
detenção, de seis meses a dois anos.

Nos termos do parágrafo único do art. 137, se da rixa resulta lesão corporal de
natureza grave ou morte, a pena passa a ser de 6 meses a 2 anos de detenção.
Portanto, sobrevindo lesão grave ou morte, todos os participantes
sobreviventes responderão pelo crime do art. 137 na forma qualificada.
É uma das últimas reminiscências da responsabilidade penal objetiva, por isso,
41
é irrelevante saber quem efetivamente matou ou lesionou e se o resultado foi produzido
a título de dolo ou culpa. Todos aqueles que aqueles que participaram da rixa até o
momento da produção do resultado responderão pela forma qualificada, até mesmo o
agente que sofreu a lesão grave (posição majoritária).
Diferentemente do caput, a forma qualificada é um crime material, pois
depende do resultado (morteCPF: 860.542.154-18
ou lesão grave) para consumar-se.
Frise-se, porém, que os agentes responderão pela rixa qualificada e não pela
lesão corporal de natureza grave ou morte. Para a incidência da qualificadora basta a
relação de causalidade entre a rixa e o resultado naturalístico.
O resultado agravador pode se dar tanto a título de dolo quanto a título de
culpa. Portanto, não se cuida de crime essencialmente preterdoloso.
Vejam a redação do item 48 da exposição de motivos do CP:

“48. ...A participação na rixa é punida independentemente das


consequências desta. Se ocorre a morte ou lesão corporal grave
de algum dos contendores, dá-se uma condição de maior
punibilidade, isto é, a pena cominada ao simples fato de
participação na rixa é especialmente agravada. A pena
cominada à rixa em si mesma é aplicável separadamente da
pena correspondente ao resultado lesivo (homicídio ou lesão
corporal), mas serão ambas aplicadas cumulativamente (como

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

no caso de concurso material) em relação aos contendores que


concorrerem para a produção desse resultado”.

OBSERVAÇÃO: Lesões leves e tentativa de homicídio não qualificam a rixa.

E se o agente abandonou a rixa antes do resultado mais gravoso (lesão grave


ou morte)?
Responde pela figura qualificada, pois a prévia participação contribuiu para a
exaltação de ânimos e causação do resultado.
E se o agente ingressou na rixa depois do resultado mais gravoso (lesão grave
ou morte)?
Não responde pela figura qualificada, pois não há nexo causal entre a conduta
e o resultado.
E se ocorrerem várias mortes ou lesões graves?
Estará caracterizado um único crime de rixa qualificada. A pluralidade de
eventos lesivos deve ser sopesada pelo juiz na fixação da pena-base.
E se o agente causador do resultado mais gravoso (lesão grave ou morte) for
identificado? Há 3 correntes:

a) O autor identificado responderá por lesão corporal ou


42
homicídio em concurso com o delito de rixa qualificada,
enquanto os demais agentes responderão por rixa qualificada.
É a posição majoritária na doutrina e na jurisprudência;
b) O autor identificado responderá pelo crime de lesão corporal
ou homicídio em concurso com rixa simples, por força do
CPF: 860.542.154-18
princípio do ne bis in idem, ao passo que os demais responderão
por rixa qualificada (Euclides Custódio da Silveira);
c) Haverá para o agente somente o crime de dano (lesão corporal
ou homicídio), que absorve o crime de perigo (rixa) (Basileu
Garcia).

Entre os dois delitos (lesão corporal ou homicídio + rixa) há concurso material


ou formal?
Prevalece na doutrina e na jurisprudência que há concurso material, pois a rixa
é crime autônomo, que tem objeto jurídico e momento consumativo distinto do crime
de dano. Nesse sentido, inclusive, é a Exposição de Motivos do Código Penal (item 48).
E o próprio rixoso que sofreu a lesão grave, responde pela rixa qualificada?
Há 2 correntes:

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

- Sim. A punição se dá por ter o agente tomado parte na rixa,


cuja particular gravidade é comprovada justamente pela lesão
grave sofrida. Ademais, todos os participantes da rixa são,
também, sujeito passivo do delito (Hungria). É a posição
majoritária.
- Não. O rixoso ferido não poderia assumir, concomitantemente,
a posição de sujeito ativo e passivo. Ademais, já foi punido
excessivamente pelas lesões corporais graves (Flavio Monteiro
de Barros).

OBSERVAÇÃO: A rixa simples e a qualificada são infrações de menor potencial ofensivo.


A ação penal, em qualquer das modalidades é pública incondicionada.

43

CPF: 860.542.154-18

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

2. QUESTÕES

1. Sobre os crimes da Parte Especial do Código Penal, analise as afirmativas a seguir,


marque V para as verdadeiras e F para as falsas.
( ) O “aborto com consentimento” da gestante constitui exceção à teoria monística
adotada pelo Código Penal. ( ) Sob a mesma rubrica, o legislador tipificou dois
modelos distintos de lesão corporal: a grave e a gravíssima. Segundo o Código Penal,
a perda ou inutilização de membro, sentido ou função, devidamente atestada em
laudo pericial, é classificada como lesão grave. ( ) O crime de perigo de contágio
venéreo se consuma com a prática da relação sexual ou de ato libidinoso,
independentemente do efetivo contágio que, se ocorrer, será simples exaurimento do
delito. ( ) No crime de difamação, não é admitida a exceção da verdade.
A sequência está correta em:
a) V, F, F, V.
b) F, V, V, F.
c) V, F, V, F.
d) F, V, V, V.

2. No crime de lesão corporal leve praticado no âmbito de violência doméstica (art.


129, § 9º, do Código Penal), a ação penal é: 44
a) pública incondicionada, se a agressão se der do marido contra a mulher.
b) pública incondicionada, em qualquer hipótese, segundo entendimento sumulado do
STF.
c) privada, se a agressão se der de irmão contra irmão.
d) privada, se a agressão se der do filho
CPF: maior contra o pai.
860.542.154-18
e) pública condicionada, em qualquer hipótese.

3. No crime de lesão corporal praticado no contexto de violência doméstica (art. 129,


§ 9º, do Código Penal):
a) o sujeito passivo é sempre a mulher.
b) é necessário que a vítima conviva com o agente.
c) não incide a agravante de o crime ser cometido contra cônjuge, se a ofendida é casada
com o autor.
d) a pena é aumentada de 1/6 (um sexto) se o crime for cometido contra pessoa
portadora de deficiência.
e) não basta que se prevaleça o agente de relação de hospitalidade.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

4. Com relação ao crime de rixa, descrito no art. 137, caput, do Código Penal
(“Participar de rixa, salvo para separar os contendores”), assinale a alternativa
incorreta.
a) É crime plurissubjetivo ou de concurso necessário.
b) Há presunção de perigo, que decorre da simples existência material da contenda.
c) É possível uma pessoa ser sujeito ativo e passivo do mesmo crime.
d) É infração de forma livre, podendo ser cometida por qualquer meio eleito pelo
agente.
e) Quem provoca a rixa por imprudência, sem dela participar, responde também pelo
crime.

5. De acordo com o Código Penal, no crime de homicídio e lesão corporal, a pena é


aumentada de um terço se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de
prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio.
( ) certo
( ) errado

6. No que se refere ao delito de lesões corporais, assinale a opção correta.


a) Constitui circunstância agravante o fato de o delito ser praticado contra cônjuge ou
companheiro, ou, ainda, de prevalecer-se o agente das relações domésticas, de
45
coabitação ou de hospitalidade.
b) Se do delito em questão resultar perigo de vida e caso se constate ter sido incompleto
o primeiro exame pericial, realizar-se-á, necessariamente, exame complementar por
determinação da autoridade judiciária.
c) Na hipótese de lesão corporal
CPF: culposa, o juiz poderá deixar de aplicar a pena se as
860.542.154-18
consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção
penal se torne desnecessária.
d) A lesão corporal será considerada de natureza gravíssima se do fato resultar
incapacidade da vítima, por mais de trinta dias, para as suas ocupações habituais.
e) Para o referido delito, é irrelevante o fato de o agente cometer o crime impelido por
motivo de considerável valor social ou moral.

7. De acordo com o Artigo 129 do Código Penal Brasileiro, trata-se de lesão corporal
de natureza gravíssima:
a) Aceleração de parto.
b) Debilidade permanente de membro, sentido ou função.
c) Deformidade permanente.
d) Perigo de vida.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

8. No tocante ao crime de lesão corporal praticado no ambiente doméstico, correto


afirmar que:
a) incabível a suspensão condicional da pena.
b) inaplicável a suspensão condicional do processo, independentemente da condição da
vítima, ainda que de natureza leve.
c) a pena será aumentada de 1/3 (um terço), se de natureza grave, mas apenas se a
vítima for mulher.
d) não é vedada por entendimento sumulado a aplicação, em tese e para algumas
situações, do chamado princípio da insignificância.
e) a ação penal é sempre pública condicionada.

3. GABARITO COMENTADO

1. Resposta: “C”.
A gestante responderá pelo art. 124 do CP: Provocar aborto em si mesma ou consentir
que outrem lho provoque. Já o terceiro que provoca o aborto responderá pelo crime do
art. 126, CP: Provocar aborto com o consentimento da gestante.
A perda ou inutilização de membro, sentido ou função, devidamente atestada em laudo
pericial, é classificada como lesão gravíssima.
O crime de perigo de contágio venéreo se consuma com a prática da relação sexual ou
46
de ato libidinoso, independentemente do efetivo contágio que, se ocorrer, será simples
exaurimento do delito. É Crime Formal.
Na difamação, admite-se exceção da verdade no caso do funcionário público ofendido
no exercício das suas funções, conforme art. 139, § único, do CP.
CPF: 860.542.154-18
2. Resposta: “A”.
Conforme decisão proferida pelo STF na ADI 4424 e súmula 542 do STJ (“A ação penal
relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência doméstica contra a mulher é
pública incondicionada”).
Lesão corporal no âmbito doméstico:
Vítima do sexo feminino: ação penal pública incondicionada;
Vítima do sexo masculino: ação penal pública condicionada à representação do
ofendido. Percebam: Não há ação penal privada em se tratando de lesão corporal em
âmbito doméstico.

3. Resposta: “C”.
Na hipótese do § 9º, o fato de a vítima ser casada com o autor é o que faz incidir a
qualificadora. Desse modo, não é aplicável também a agravante prevista no Código
Penal, sob pena de bis in idem. Conforme inteligência do Art. 61, caput, do CP, "São
circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

crime II - ter o agente cometido o crime: e) contra ascendente, descendente, irmão ou


CÔNJUGE”.
A. Errada. O sujeito passivo pode ser homem ou mulher. Se mulher, haverá a incidência
da lei Maria da Penha.
B. Errada. NÃO é necessário que a vítima conviva com o agente. Vejam a redação do §
9º: “...com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das
relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade”.
D. Errada. Neste caso a pena é aumentada de um terço (art. 129, § 11., CP).
E. Errada. As relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade bastam para
caracterizar a lesão corporal no âmbito doméstico. As relações domésticas são as criadas
entre os membros de uma família, podendo ou não existir ligações de parentesco
(exemplo: patrão e babá de seu filho). Coabitação é a moradia sob o mesmo teto, ainda
que por breve período (exemplo: moradores de uma república). Deve ser lícita e
conhecida dos coabitantes. Hospitalidade é a recepção eventual, durante a estadia
provisória na residência de alguém, sem necessidade de pernoite (exemplo: receber
amigos para um jantar).

4. Resposta: “E”.
A rixa é crime doloso, não culposo. Ademais, a conduta punível é “participar” de rixa. O
elemento subjetivo do crime de Rixa é o DOLO de perigo, pouco importando o motivo
que ensejou o surgimento da rixa. Deve estar presente o animus rixandi (vontade de 47
participar da rixa).
A. Correta. A Rixa é uma luta tumultuosa e confusa que três ou mais pessoas travam
entre si, acompanhada de vias de fato ou de violência recíproca.
B. Correta. A rixa é crime de perigo. Para configuração do delito, basta o mero ingresso
do agente na contenda, havendo a presunção de que tal conduta cria ou eleva o risco à
incolumidade dos demais rixosos.
CPF: 860.542.154-18
C. Correta. Os participantes da rixa, denominados rixentos ou rixosos, são, ao mesmo
tempo, agente e vítima. Melhor explicando, são sujeito ativo e passivo uns dos outros,
isto é, sujeito ativo da própria conduta e sujeito passivo em relação aos demais
participantes. O rixoso não é sujeito ativo e passivo da própria conduta. Trata-se de
crime de condutas contrapostas.
D. Correta. A rixa é classificada como crime de forma livre. Pode ser praticada por ação
ou omissão.

5. Errado.
Em ambas as hipóteses a pena é aumentada de 1/3 até a metade.

6. Resposta: “C”.
É o teor do art. 129, § 4º, do CP.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

7. Resposta: “C”.
a) Lesão Corporal de Natureza Grave - Art. 129, §1º, IV, do Código Penal.
b) Lesão Corporal de Natureza Grave - Art. 129, §1º, III, do Código Penal.
c) Lesão Corporal de Natureza Gravíssima - Art. 129, §2º, IV, do Código Penal.
d) Lesão Corporal de Natureza Grave - Art. 129, §1º, II, do Código Penal.

8. Resposta: “D”
Questão bastante capciosa, que tenta confundir os entendimentos sobre crime de lesão
corporal praticado com violência doméstica (art. 129, §9º do Código Penal) com os
entendimentos advindos da Lei Maria da Penha e a prática de crime de lesão corporal
praticado com violência doméstica contra a mulher (Lei 11.340/06).
Assim sendo:
Atenção 1: O sujeito passivo do crime previsto no art. 129, § 9º, do Código Penal, pode
ser homem ou mulher. Entretanto, se a violência for praticada contra mulher, incidirão
as regras da Lei 11.340/06.
Atenção 2: o enunciado trata de lesão corporal praticado no ambiente doméstico, mas
sem especificar a condição da vítima (se homem ou mulher). Ou seja, não podemos
presumir que se trata de uma lesão corporal praticado no ambiente doméstico contra
mulher, se assim a questão não expressamente indicar.
(A) Incorreta. O item não indicou que o crime foi cometido contra mulher, assim sendo, 48
nos casos de lesão corporal praticada no ambiente doméstico, não há vedação para a
aplicação suspensão condicional da pena. De todo modo, ainda que se considerarmos
que o crime foi cometido contra mulher, a vedação ocorre com relação aos institutos
despenalizadores previsto na Lei 9.099/95 e não com relação à suspensão condicional
da pena, que tem previsão do art. 77 do Código Penal. Isso porque o art. 41. Da Lei Maria
da Penha afirma que aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a
CPF: 860.542.154-18
mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei 9.099, de 26 de
setembro de 1995. E mais, há entendimento jurisprudencial cristalizado pela Súmula
536-STJ: A suspensão condicional do processo e a transação penal não se aplicam na
hipótese de delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha.
(B) Incorreta. Conforme já explicado no item “a”, a suspensão condicional do processo
e a transação penal não se aplicam na hipótese de delitos sujeitos ao rito da Lei Maria
da Penha (súmula 536-STJ). Entretanto, tal entendimento só pode ser aplicado se o
delito de lesão corporal praticado no ambiente doméstico for praticado contra a mulher.
Caso o delito seja praticado contra outro tipo de vítima, não há que falar em vedação de
concessão do benefício da suspensão condicional do processo e da transação penal.
Assim sendo, a aplicabilidade ou não da suspensão condicional do processo depende da
condição da vítima.
(C) Incorreta. O aumento de 1/3 ocorrerá nas seguintes hipóteses: Art. 129, § 10. Nos
casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no § 9o
deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço) e Art. 129, § 11. Na hipótese do §
9o deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for cometido contra
pessoa portadora de deficiência.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

(D) Correta. A vedação prevista na Súmula 589 do STJ diz respeito especificamente ao
crime de lesão no âmbito da violência doméstica contra mulher. Assim sendo, como o
item não especificou a condição da vítima como mulher, não há que falar em vedação
sumulada para a aplicação do princípio da insignificância nos casos de lesão no âmbito
da violência doméstica contra homem. Ainda assim, se considerarmos que a questão
estivesse tratando de um crime de lesão doméstica contra mulher, não há previsão de
qualquer situação em que seja possível a aplicação do princípio da insignificância para
delitos praticados no ambiente doméstico, a vedação é absoluta e não há exceções “em
tese, para algumas situações”, como indica o item. Vejam o teor do entendimento da
Súmula 589-STJ: É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções
penais praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas.
(E) Incorreta. Se ocorrer lesão leve ou culposa no âmbito da violência doméstica contra
homem, a ação será pública condicionada à representação. Se ocorrer lesão grave,
gravíssima, ou seguida de morte no âmbito da violência doméstica contra homem, a
ação será pública incondicionada. Se ocorrer lesão corporal contra mulher, no cenário
de violência doméstica (culposa, leve, grave, gravíssima ou seguida de morte), a ação
penal será incondicionada, conforme indica a súmula 542-STJ: A ação penal relativa ao
crime de lesão corporal resultante de violência doméstica contra a mulher é pública
incondicionada.

49

CPF: 860.542.154-18

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

Você também pode gostar