Você está na página 1de 63

UNIVERSIDADE PARANAENSE -

UNIPAR

LESÃO CORPORAL

Prof. Me. Alessandro Dorigon


LESÃO CORPORAL
⚫CONSIDERAÇÕES GERAIS
⚫Lesão corporal é a ofensa humana direcionada à integridade
corporal ou à saúde de outra pessoa.

⚫Integridade Corporal (física):


⚫- EQUIMOSE:
⚫- HEMATOMA:
⚫Já o ERITEMA (vermelhidão decorrente de uma bofetada),
não é lesão.

⚫Saúde fisiológica:

⚫Saúde mental:
LESÃO CORPORAL
⚫BEM JURÍDICO
⚫Exposição de motivos do CP – art. 42.
⚫SUJEITOS
⚫Ativo é comum. Se for autoridade, responde pelo abuso de
autoridade (13.869/2019) c/c 129.
⚫Passivo é comum tbm
⚫TIPO OBJETIVO
⚫Núcleo ‘ofender’, no sentido de prejudicar a integridade física
e a saúde da pessoa.
⚫Conduta
⚫Forma
⚫Dor e sangramento são dispensáveis.
⚫TIPO SUBJETIVO
⚫Dolo, culpa e preterdolo
LESÃO CORPORAL
⚫CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
⚫Crime material e de dano.
⚫A tentativa é possível, mas tem discussão sobre qual lesão
seria.

⚫AÇÃO PENAL E PROCEDIMENTO


⚫De regra é pública incondicionada.
⚫Exceção: Art. 88 – Lei 9.099/95 - Além das hipóteses do Código Penal e da
legislação especial, dependerá de representação a ação penal relativa aos
crimes de lesões corporais leves e lesões culposas.
⚫Se for violência doméstica contra mulher, é incondicionada: Art. 41 –
Lei 11.340/06 - Aos crimes praticados com violência doméstica e
familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista, não
se aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995.
⚫Súmula 542 do STJ também fala que é incondicionada. Súmula 542 -
A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de
violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada.
(Súmula 542, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 26/08/2015, DJe
31/08/2015)
LESÃO CORPORAL

⚫DISCUSSÕES:

⚫- Lesão corporal e consentimento do ofendido:


⚫- Princípio da insignificância ou crime de bagatela:
⚫- Autolesão:
⚫- Lesões em atividades esportivas:
⚫- Intervenções médico-cirúrgica:

⚫- Diferença da lesão com a contravenção de vias de fato–21 da LCP.


LESÃO CORPORAL
⚫LESÃO CORPORAL LEVE OU SIMPLES

⚫Lesão corporal
⚫Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de
outrem:
⚫Pena - detenção, de três meses a um ano.

⚫Critériode eliminação – Se não for as demais lesões dolosas, é esta.


⚫Infração de menor potencial ofensivo
⚫Tem que ter prova da materialidade
LESÃO CORPORAL QUALIFICADA
⚫LESÕES GRAVES
⚫§ 1º Se resulta: ***Pena - reclusão, de um a cinco anos.
⚫I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;
⚫Ocupações cotidianas, rotineiras.
⚫Precisa de exame complementar, conforme art. 168 do CPP.

⚫II - perigo de vida;


⚫Perigo concreto de perder a vida, comprovado por perícia, não se
presumindo.

⚫III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;


⚫Permanente não significa perpétuo, mas de recuperação incerta.
⚫Membro, sentido ou função
⚫Órgãos duplos

⚫IV - aceleração de parto:


⚫Antecipação do parto. Se morrer após nascer é gravíssima.
LESÃO CORPORAL QUALIFICADA
⚫- LESÕES GRAVÍSSIMAS:
⚫ § 2° Se resulta: **Pena - reclusão, de dois a oito anos.
⚫I - Incapacidade permanente para o trabalho;
⚫Qual trabalho?
⚫II - enfermidade incurável;
⚫Doenças incuráveis, irremediáveis de acordo com os recursos da
medicina na época dos fatos.
⚫Se tiver procedimento é qualificadora grave
⚫Discussão sobre a AIDS
⚫III - perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
⚫Perda (destruir, amputar, cortar) ou inutilização (continua no corpo).
⚫IV - deformidade permanente;
⚫Deformidade é o dano estético, aparente, considerável e irreparável
pela força da natureza, capaz de provocar impressão vexatória.
⚫V - aborto:
⚫Se tiver dolo, responde em concurso com 125. Deve conhecer a
gravidez.
LESÃO CORPORAL QUALIFICADA
⚫LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE
⚫§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o
agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de
produzi-lo:
⚫Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
⚫Crime preterdoloso por excelência.
⚫Depende dos requisitos: 1. conduta dolosa visando a lesão; 2.
resultado morte culposo; 3. nexo causal entre conduta e
resultado.
⚫Estou em boate e dou um soco para agredir somente uma pessoa, ela leva
o soco e cai, bate na quina de uma mesa e morre, qual o crime praticado?
⚫Caso na boate somente empurra a pessoa, ela cai bate a cabeça e morre
(morte culposa), qual o crime praticado?
LESÃO CORPORAL
⚫LESÃO CORPORAL DOLOSA PRIVILEGIADA
⚫§ 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de
relevante valor social ou moral ou sob o domínio de
violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da
vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.

⚫SUBSTITUIÇÃO DA PENA
⚫§ 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda
substituir a pena de detenção pela de multa, de duzentos
mil réis a dois contos de réis:
⚫I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior;
⚫II - se as lesões são recíprocas.
LESÃO CORPORAL CULPOSA
⚫§ 6° Se a lesão é culposa
⚫Pena - detenção, de dois meses a um ano.
⚫Imprudência, negligência e imperícia

⚫CÓDIGO DE TRÂNSITO
⚫Art. 303. Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo
automotor:
⚫Penas - detenção, de seis meses a dois anos e suspensão ou
proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir
veículo automotor.
LESÃO CORPORAL
⚫AUMENTO DE PENA
⚫§ 7º - Aumenta-se a pena de um terço, se ocorrer qualquer
das hipóteses do art. 121, § 4º e 6º.
⚫§ 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço),
se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão,
arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à
vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge
para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena
é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra
pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.
⚫§6º A pena é aumentada de 1/3 até a metade se o crime for
praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de
serviço de segurança, ou por grupo de extermínio.
⚫§ 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121.
⚫§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de
aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o
próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne
desnecessária.
LESÃO CORPORAL
⚫- Violência doméstica - vítima Homem.

⚫ § 9º Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente,


irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou
tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das
relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade:
⚫Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.

⚫Para casos de lesões leves em violência doméstica.


⚫Contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro
⚫Com quem conviva ou tenha convivido
⚫Prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação
ou de hospitalidade
⚫Diferenças entre homens/mulheres e mulheres do art. 121, §2º-A
LESÃO CORPORAL
⚫VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

⚫A Lei 11.340/06, conhecida com Lei Maria da Penha, ganhou este


nome em homenagem à Maria da Penha Maia Fernandes, que
por vinte anos lutou para ver seu agressor preso.
⚫Processo da Comissão Interamericana de Direitos Humanos
(OEA)

⚫Em 9 de fevereiro de 2012, o Supremo Tribunal Federal julgou


as discussões na Lei 11.340/063 em uma Ação Declaratória de
Constitucionalidade (ADC) nº 19 e uma Ação Direta de
Inconstitucionalidade (ADI) nº 4424.
⚫I - Ação penal incondicionada ao crime de lesão corporal leve:
⚫II - Competência cumulativa de varas:
⚫III - Não aplicação da Lei nº 9.099/1995:
⚫IV – Princípio da Isonomia:
LESÃO CORPORAL
⚫VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA MULHER – O
QUE É?
⚫Art. 5o Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra
a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte,
lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial (Art.
7º):
⚫I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de
convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as
esporadicamente agregadas;
⚫II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por
indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por
afinidade ou por vontade expressa;
⚫III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou
tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.
⚫Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de
orientação sexual.
⚫Art. 6o A violência doméstica e familiar contra a mulher constitui uma das
formas de violação dos direitos humanos.
LESÃO CORPORAL
⚫MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA – Art. 18 a 24
⚫Procedimento
⚫Delegacia,Juiz, Ministério Público
⚫Medidas isoladas, cumulativas e podem ser substituídas ou
concedidas novas medidas e prisão.
⚫Notificação

⚫Medidas contra o AGRESSOR


⚫I - suspensão armas
⚫II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a
ofendida;
⚫III - proibição de determinadas condutas, entre as quais:
⚫a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas,
fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor;
⚫b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por
qualquer meio de comunicação;
⚫c) frequentação de determinados lugares
⚫IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores
⚫V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.
LESÃO CORPORAL
⚫MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA – Art. 18 a 24

⚫Medidas de proteção à OFENDIDA


⚫Encaminhamento da ofendida e seus dependentes a programas
⚫Recondução ao domicílio
⚫Afastamento do lar, sem prejuízos
⚫Separação de corpos.
⚫Restituição de bens
⚫Suspensão de procuração e proibições do ofensor celebrar
contratos
⚫Prestação de caução provisória pelo ofensor.
LESÃO CORPORAL
⚫DESCUMPRIMENTO DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE
URGÊNCIA

⚫CRIME – Art. 24-A – Lei 13.641/2018


⚫Art. 24-A. Descumprir decisão judicial que defere medidas protetivas de
urgência previstas nesta Lei:
⚫Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos.
⚫§ 1o A configuração do crime independe da competência civil ou criminal
do juiz que deferiu as medidas.
⚫§ 2o Na hipótese de prisão em flagrante, apenas a autoridade judicial
poderá conceder fiança.
⚫§ 3o O disposto neste artigo não exclui a aplicação de outras sanções
cabíveis.

⚫MULTAS
LESÃO CORPORAL
⚫LEI MARIA DA PENHA – PONTUAÇÕES E SUAS
CONSEQUÊNCIAS

⚫Discriminação entre homens e mulheres


⚫Aplicação a LGBT
⚫Renúncia da representação da ação penal somente em
audiência
⚫Vedação da substituição das penas privativas por restritivas
⚫Preferência nas Vara Criminais
⚫Fiscalização do Ministério Público
⚫Equipe de atendimento multidisciplinar
⚫Assistência judiciária gratuita em todos os processos
LESÃO CORPORAL
⚫VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA MULHER -
DADOS
LESÃO CORPORAL
⚫VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA MULHER -
DADOS
LESÃO CORPORAL
⚫- Violência doméstica - vítima mulher em razão da
condição do sexo feminino - 121, §2-A.

⚫ § 13º Se a lesão for praticada contra a mulher, por razões da


condição do sexo feminino, nos termos do § 2º-A do art. 121
deste Código:
⚫Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro anos).

⚫Modificação pela Lei 14.188/2021 - Sinal Vermelho


⚫Para lesões leves.
⚫Art. 121, §2º-A, CP -
o Violência doméstica e familiar
o Menosprezo ou discriminação à condição de mulher
LESÃO CORPORAL
⚫VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - Homem e mulher
⚫Qualificadoras:

⚫§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1º a 3º deste artigo, se


as circunstâncias são as indicadas no § 9º deste artigo,
aumenta-se a pena em 1/3 (um terço).
⚫Prestar atenção onde se aumenta a pena.

⚫§ 11. Na hipótese do § 9º deste artigo, a pena será


aumentada de um terço se o crime for cometido
contra pessoa portadora de deficiência.
o Não aplica ao §13º
LESÃO CORPORAL

⚫CAUSA DE AUMENTO – Em razão da função de


autoridade

⚫§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou


agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição
Federal, integrantes do sistema prisional e da Força
Nacional de Segurança Pública, no exercício da
função ou em decorrência dela, ou contra seu
cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até
terceiro grau, em razão dessa condição, a pena é
aumentada de um a dois terços.
o Crime hediondo – Art. 1º, I-A, Lei 8.078/90.
CRIMES CONTRA A VIDA

O direito à vida está consagrado no art. 5º, caput, da CF, bem como,
nos tratados internacionais de direitos humanos. É um direito supraestatal,
inerente a todos os homens e aceito por todas as nações.
O direito à vida é um direito de não ter interrompido o processo vital,
senão pela morte espontânea.
Caso de eutanásia, ortotanásia, suicídio assistido, testemunhas de Jeová,
dentre outras discussões.
Mas esse direito é relativo, pois pode ter a pena de morte no caso de
guerra (art. 5º, XLVII, 'a').
Ademais, têm as excludentes que dá direito a matar.

Nosso CP considera os seguintes crimes contra a vida:

1 – Homicídio – art. 121;


2 – Induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio – art. 122;
3 – Infanticídio – art. 123; e
4 – Aborto – art. 124 a 128.

Se for contra grupo nacional, religioso, étnico é genocídio (Lei nº


2.889/56), com a pena do homicídio qualificado.
Terrorismo – Tínhamos o art. 20 da Lei 7.170/83 (antiga Lei de
Segurança Nacional) que previa uma causa de aumento de pena se houvesse
a morte. Esta lei foi revogada pela lei 14.197/21 – Lei dos crimes contra o
Estado Democrático de Direito, que acrescentou os artigos 359-I a 359-N no
CP, prevendo agora o concurso material com o crime de homicídio ou lesão
corporal (violência).
Competência do T. do Júri. Porque temos o júri? Lembrar dos casos
polêmicos – Eutanásia, aborto por estupro sem BO, suicídio assistido, matar o
estuprador de sua filha.

HOMICÍDIO – ART. 121 DO CP.

Art. 121. Matar alguém:


Pena – reclusão, de 06 (seis) a 20 (vinte) anos.

- Conceito e considerações gerais: É a morte de um homem provocada por


outro homem. Supressão da vida humana extrauterina praticada por outra
pessoa.
Nelson Hungria fala que “é o crime por excelência”.
É um dos primeiros crimes conhecidos pela humanidade.

- Bem jurídico (objeto jurídico): Vida humana exterior ao útero materno.


Vida extrauterina iniciada com o parto. Assim, não é necessário o sistema
1
respiratório (tem doutrinador que fala isso), mas sim somente comprovar que
começou o parto (contrações, rompimento da bolsa e dilatação ou no momento
da incisão do bisturi para a cesariana). Seria aqui a diferença entre vida
extrauterina (homicídio e infanticídio) e intrauterina (aborto). Neste sentido
STJ - HC 228.998/MG, 2012.
Informativo 507 do STJ fala que:

Não importa se iria viver ou não, o que importa é se nasceu com vida
(anomalia), exceto o anencefálico, que não tem vida, por não ter atividade
cerebral. Conforme entendimento do STF, ADPF 54/DF, de 2012, ajuizada pela
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde.

- Objeto material: É o ser humano vivo que suporta a conduta criminosa.

- Sujeitos do delito: Ativo - Crime comum, então é qualquer pessoa. Pode


ser autor direto, coautor mediato (doente mental), coautoria colateral (duas
pessoas independentes com o mesmo objetivo). Admite coautoria e
participação. Sujeito passivo é qualquer pessoa também, que esteja com vida.
(diferenciar do aborto, infanticídio).
Se for contra índio, tem causa especial de aumento na lei do índio (59,
Lei 6.001/73).
A doutrina questiona se irmãos xifópagos podem cometer crime
e se positivo como se dará a responsabilidade? É irrelevante saber se
pode haver separação cirúrgica, pois ninguém é obrigado a se submeter a ela.
A doutrina é dividida: a primeira corrente diz que o sujeito ativo deve ser
absolvido, pois deve-se evitar o recolhimento prisional de um inocente
(Euclides da Silveira). A segunda corrente diz que o sujeito ativo deve ser
condenado, porém só cumpre a pena se um dia o seu irmão praticar um crime,
deve-se evitar ofensa ao princípio da personalidade da pena.

- Tipo objetivo: Verbo “matar”. É o núcleo do tipo.


É um crime de forma livre, então pode ser cometido por vários meios.
Pode ser por ação ou omissão (nesse caso tem que ter o dever de agir -
GARANTE, art. 13, §2º, CP - Ex: médico plantonista, mãe, salva vidas).
Temos o problema da transfusão de sangue para as testemunhas de
jeová. Seria homicídio por omissão? Hoje a jurisprudência entende que sim.
Pode ser cometido de forma direta (tiro, facada) ou indireta (mandar
alguém ou cão)
Há entendimentos que pode ser cometido por meio de relações sexuais,
no caso da AIDS, pois é uma doença fatal e incurável. Mas o autor tem que
saber que tem a doença. Aqui não é 130 - perigo de contágio venéreo. Ou no
caso de injetar líquido infectado com aids – STJ 9378/2000. Tem doutrina e

2
STJ (HC 160.982/DF) que entende que no caso da AIDS é 129, §2º, II,
enfermidade incurável.
Os meios de execução podem ser materiais (faca, arma), ou morais
(enfermidade, depressão, remédio).

- Tipo Subjetivo: Dolo, direto ou eventual. Animus necandi. Vontade de


eliminar a vida humana. Ou culposo, no caso do §3º.
Problema da bebida e direção ou então o caso do Racha. O caso do racha,
Rogério Greco fala que, para ser dolo eventual, o infrator deve ter a intenção
suicida, pois, somente assim é que assumiria o risco sem ligar para o
resultado. Bem discutido!!

- Consumação e Tentativa (art. 14): É um crime material (exige a morte -


tem conduta e resultado para o crime) e Instantâneo (consuma-se no
momento determinado). Morte (total) da vítima, com a cessação da atividade
encefálica (art. 3º da Lei nº 9434/97 – transplantes).
Tentativa é claramente possível.

- Ação Penal e Procedimento


Ação Penal Pública Incondicionada e o procedimento é do Tribunal do
Júri.

- Comentários: Crime hediondo (Lei 8.072/90); grupo de extermínio. Essa


hipótese é difícil na prática, pq normalmente é por motivo torpe, então já é
homicídio. Tem o caso tbm de ser de grupo de extermínio e privilegiado
(policiais que saem para matar bandidos).

HOMICÍDIO PRIVILEGIADO

Caso de diminuição de pena


§ 1º Se o agente cometer o crime impelido por motivo de relevante
valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em
seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de
1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço).

- Natureza Jurídica: Foi criado pelo CP de 1940, pois o CP de 1890 tinha o perdão
ao homicida que matasse em face de perturbação dos sentidos e da inteligência
(Passionais).
É homicídio, mas por causa de circunstâncias subjetivas do autor, tem menor
reprovação social (motivação).
É uma causa de diminuição de pena e pode exceder os limites do crime, sendo
que o Juiz DEVE diminuir a pena, que fica a seu critério.
Não é crime hediondo, nem se for qualificado.

As duas primeiras, estão ligadas à razão de ser do crime:

3
- Relevante valor social: Matar para atender interesses coletivos (humanitários,
patrióticos), ou seja, nobre, altruístico: Ex: Pessoa que causa mal para todos.
Traficantes, estupradores, traidor da pátria.

- Relevante valor moral: Matar para atender interesse particular, porém ligado aos
sentimentos de compaixão misericórdia ou piedade, aprovados pela moral da
sociedade. Princípios éticos dominantes em uma sociedade. Ex: Eutanásia,
ortotanásia, distanásia (atrasar a vida), mistanásia (abandono do estado).

APELAÇÃO CÍVEL. ASSISTÊNCIA À SAÚDE. BIODIREITO. ORTOTANÁSIA.


TESTAMENTO VITAL. 1. Se o paciente, com o pé esquerdo necrosado, se nega à
amputação, preferindo, conforme laudo psicológico, morrer para "aliviar o
sofrimento"; e, conforme laudopsiquiátrico, se encontra em pleno gozo das
faculdades mentais, o Estado não pode invadir seu corpo e realizar a cirurgia
mutilatória contra a sua vontade, mesmo que seja pelo motivo nobre de salvar sua
vida. 2. O caso se insere no denominado biodireito, na dimensão da ortotanásia, que
vem a ser a morte no seu devido tempo, sem prolongar a vida por meios artificiais,
ou além do que seria o processo natural. 3. O direito à vida garantido no art. 5º,
caput, deve ser combinado com o princípio da dignidade da pessoa, previsto
no art. 2º, III, ambos da CF, isto é, vida com dignidade ou razoável
qualidade. A Constituição institui o direito à vida, não o dever à vida, razão
pela qual não se admite que o paciente seja obrigado a se submeter a
tratamento ou cirurgia, máxime quando mutilatória. Ademais, na esfera
infraconstitucional, o fato de o art. 15 do CC proibir tratamento médico ou
intervenção cirúrgica quando há risco de vida, não quer dizer que, não havendo risco,
ou mesmo quando para salvar a vida, a pessoa pode ser constrangida a tal. 4. Nas
circunstâncias, a fim de preservar o médico de eventual acusação de terceiros, tem-
se que o paciente, pelo quanto consta nos autos, fez o denominado testamento vital,
que figura na Resolução nº 1995/2012, do Conselho Federal de Medicina. 5. Apelação
desprovida. (Apelação Cível Nº 70054988266, Primeira Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Irineu Mariani, Julgado em 20/11/2013)

Testemunhas de Jeová?

.- Comentários: Os motivos devem ser em relação ao que a sociedade pensa e não


ao que o autor pensa. Diferente da atenuante do artigo 65, III, a, do CP, porque ela
se aplica a outros crimes.
Ver também o que fala o item 39 da exposição de motivos da parte especial do
CP.

- Sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação


da vítima:

Se relaciona com o estado de ânimo do agente:

● Domínio - Não confundir com a atenuante do art. 65, III, c, do CP. Domínio
e não influência.
● Violenta emoção – É aquela que se apresenta forte, provocando um
verdadeiro choque emocional, mas tem que ser violenta. Se for a sangue
frio ou frieza de espírito, não é privilégio.
● Logo em seguida – não precisa ser necessário no momento. Mas não pode
ser premeditado, dependendo do caso concreto e enquanto durar a violenta
emoção.
4
● Injusta provocação da vítima – Injusta, sem motivo razoável, antijurídica.
Contra a pessoa ou contra terceiros.

- Homicídio Passional – Homicídio por amor. É a paixão amorosa induzindo o


agente a eliminar a vida da pessoa amada. Ciúmes não entra aqui. Lembrar que a
paixão e emoção não exclui o crime – 28 CP.

- Legítima defesa da honra:

- Concomitância de causas de diminuição:


Pode se ter duas causas, no caso, por exemplo, de um traidor da pátria, que
agride alguém, e depois é morto. O juiz pode colocar as duas causas, sendo que uma
pode ser atenuante genérica.

- O privilégio se comunica a autores e partícipes? Não, pois são circunstâncias


subjetivas do autor do crime e não elementares, que somente se comunicariam se
estivessem no tipo e não na causa de diminuição da pena.

HOMICÍDIO QUALIFICADO

§ 2° Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo
torpe;
II - por motivo fútil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro
meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro
recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem
de outro crime:
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da
Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força
Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em
decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição:
VIII – com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido:
IX – contra menor de 14 (quatorze)anos:

Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

- Natureza jurídica: São qualificadoras que são usadas na pena base.


Se tiverem mais qualificadoras, aumenta-se na pena base ou nas
circunstâncias agravantes genéricas.

5
Aumenta-se a pena do homicídio, pq se diz respeito aos motivos do crime
e aos meios e modos de execução, que são mais graves. Contrário ao
privilégio.

- Classificação:

Subjetivas: Dizem respeito ao agente e não ao fato. Em caso de


concurso de pessoas, não se comunicam aos demais coautores e partícipes,
conforme art. 30 do CP.
Objetivas: Dizem respeito ao fato e não ao agente. Comunicam com as
demais pessoas, desde que os demais tenham conhecimento, para afastar a
responsabilidade penal objetiva.
Ademais, o autor tem que ter o dolo em todos os casos. Não basta matar
com meio cruel, ele deve ter a vontade de agir de forma cruel, p. ex.

Divisão:

● Motivos determinantes: I, II, V, – Causa subjetiva;


● Meios: III – Causa objetiva;
● Modos ou formas: IV – Causa objetiva.
● VI e VII – Causas objetivas ou subjetivas? DIVERGÊNCIA
● VIII e IX – Causas objetivas.

Quanto a qualificadora do inciso VII, tem prevalecido que é subjetiva


(Rogério Sanches Cunha). Mas há autores que falam em objetiva (Daniel
Kessler de Oliveira).

Quanto ao feminicídio:
Há muitas posições sobre o assunto:
- Subjetiva: Rogério S. Cunha, Cleber Masson, Luiz Flávio Gomes, Alice
Bianchini e TJ/PR 1ª Câmara.

“Segundo os mesmos autores (LFG e Alice Bianchini) não se pode pensar em um


feminicídio, que é algo reprovável à dignidade da mulher, que tenha sido praticado por
motivo de relevante valor moral ou social ou logo após injusta provocação da vítima.
Contudo, seguindo a tese dos autores, a natureza da qualificadora do feminicídio trata-
se de ordem subjetiva, pois a violência de gênero não é uma forma de execução do crime
e sim sua razão ou seu motivo. A qualificadora seria de ordem objetiva se dissesse
respeito ao modo ou meio de execução do crime.”

PRONÚNCIA - HOMICÍDIO TRIPLAMENTE QUALIFICADO - MOTIVAÇÃO


FÚTIL, RECURSO QUE IMPOSSIBILITOU A DEFESA DA VÍTIMA E
FEMINICÍDIO - EXISTÊNCIA DE INDICATIVOS - EXCLUSÃO -
INADMISSIBILIDADE - APRECIAÇÃO AFETA AO TRIBUNAL DO JÚRI, JUIZ
NATURAL DA CAUSA - PRISÃO PREVENTIVA - SUBSISTÊNCIA DOS
6
MOTIVOS QUE ENSEJARAM A CUSTÓDIA - ALEGAÇÃO DE EXCESSO DE
PRAZO - INCIDÊNCIA DA SÚMULA 21 DO STJ - MANUTENÇÃO DA
DECISÃO IMPUGNADA - RECURSO DESPROVIDO.
Por outro lado, também não se encontra dissociada da prova a
qualificadora de feminicídio, pois, como visto, existe no conjunto
probatório elementos a evidenciar que o Réu pode ter praticado o delito
em razão das "condições de sexo feminino da vítima", por não aceitar o
término do relacionamento e, tampouco, que ela mantivesse contato com
outra pessoa.
A Lei no 13.104/2015 inseriu o feminicídio no Código Penal, como
qualificadora do homicídio que se configura quando praticado "contra a
mulher, por razões da condição de sexo feminino", envolvendo "violência
doméstica e familiar" (art. 121, § 2º, VI, e § 2º- A, I, do CP).
Acerca de violência doméstica e familiar, o artigo 5º o da Lei n
11.340/2006 define como: "qualquer ação ou omissão baseada no
gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou
psicológico e dano moral ou patrimonial". Enquanto o inciso III do citado
artigo, complementa que se entende como tal violência a praticada "em
qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha
convivido com a ofendida, independentemente de coabitação" (inciso
III). Assim, havendo nos autos fortes indícios de que o crime foi praticado
pela condição de sexo feminino da vítima, tratando- se de violência
doméstica, deve permanecer a qualificadora em destaque.
Nesse contexto, ressalta-se uma vez mais que competirá aos integrantes
do Conselho de Sentença do Tribunal do Júri analisar os fatos em todos
os seus aspectos, valorar as provas carreadas aos autos e decidir sobre
as circunstâncias qualificadoras do crime, mantendo-as ou as excluindo,
conforme seu livre convencimento. (TJPR - 1ª C.Criminal - RSE -
1492402-8 - Cantagalo - Rel.: Naor R. de Macedo Neto - Unânime - J.
07.04.2016)

- Objetiva: Guilherme de Souza Nucci, Paulo Cezar Buzato e Adriana


Ramos de Melo, STJ, TJ/MG, TJ/DF e TJ/PR 1ª Câmara.

Recentemente, no informativo 625, O STJ sedimentou o entendimento


que o agente seja condenado pelas qualificadoras do motivo torpe e
feminicídio:

“Não caracteriza bis in idem o reconhecimento das qualificadoras de


motivo torpe e de feminicídio no crime de homicídio praticado contra
mulher em situação de violência doméstica e familiar. Isso se dá porque
o feminicídio é uma qualificadora de ordem OBJETIVA - vai incidir
sempre que o crime estiver atrelado à violência doméstica e familiar
propriamente dita, enquanto que a torpeza é de cunho subjetivo, ou
seja, continuará adstrita aos motivos (razões) que levaram um indivíduo
7
a praticar o delito. STJ. 6ª Turma. HC 433.898-RS, Rel. Min. Nefi
Cordeiro, julgado em 24/04/2018 (Info 625).

TJ/DF - PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. RÉU PRONUNCIADO


POR HOMICÍDIO COM MOTIVO TORPE. MORTE DE MULHER PELO MARIDO
EM CONTEXTO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR. PRETENSÃO
ACUSATÓRIA DE INCLUSÃO DA QUALIFICADORA DO FEMINICÍDIO.
PROCEDÊNCIA. SENTENÇA . A inclusão da qualificadora agora prevista
no artigo 121, § 2º, inciso VI, do Código Penal, não poderá servir apenas
como substitutivo das qualificadoras de motivo torpe ou fútil, que são de
natureza subjetiva, sob pena de menosprezar o esforço do legislador. A
Lei 13.104/2015 veio a lume na esteira da doutrina inspiradora da Lei
Maria da Penha, buscando conferir maior proteção à mulher brasileira,
vítima de condições culturais atávicas que lhe impuseram a subserviência
ao homem. Resgatar a dignidade perdida ao longo da história da
dominação masculina foi a ratio essendi da nova lei, e o seu sentido
teleológico estaria perdido se fosse simplesmente substituída a torpeza
pelo feminicídio. Ambas as qualificadoras podem coexistir
perfeitamente, porque é diversa a natureza de cada uma: a
torpeza continua ligada umbilicalmente à motivação da ação
homicida, e o feminicídio ocorrerá toda vez que, objetivamente,
haja uma agressão à mulher proveniente de convivência
doméstica familiar. 3 Recurso provido. (TJ-DF. Acórdão n.904781,
20150310069727RSE, Relator: GEORGE LOPES 1ª TURMA CRIMINAL,
Data de Julgamento: 29/10/2015, Publicado no DJE: 11/11/2015. Pág.:
100).

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO - PEDIDO DE REINCLUSÃO DA


QUALIFICADORA DO MOTIVO FÚTIL - ACOLHIMENTO - EXISTÊNCIA NOS
AUTOS DE ELEMENTOS A SINALIZAR SUA POSSÍVEL INCIDÊNCIA -
QUALIFICADORA DO MOTIVO FÚTIL POSSUI CARÁTER SUBJETIVO,
ENQUANTO A DO FEMINICÍDIO POSSUI NATUREZA OBJETIVA -
PRESENÇA DE RAZÕES DIVERSAS PARA ENQUADRAR A CONDUTA
CRIMINOSA NAS DUAS QUALIFICADORAS EM COMENTO - RECURSO
PROVIDO, A FIM DE PRONUNCIAR O RÉU COMO INCURSO NA SANÇÃO
DO ART. 121, §2º, INC. II, IV E VI, DO CP. (TJPR - 1ª C.Criminal - RSE -
1493533-2 - Umuarama - Rel.: Antonio Loyola Vieira - Unânime - J.
19.05.2016)

- MISTA: André Estefam (2018) e alguns artigos.

“Tendo em vista que há discussões acerca do caráter da Lei em estudo,


em nossa opinião esta Lei possui natureza mista, já que se o homicídio
ocorrer pelo simples fato de ser mulher, a sua natureza será
considerada subjetiva, visto que, neste caso, o que se qualificaria seria
8
a motivação delitiva e não as formas de execução do crime. Já em
relação ao homicídio ocorrer em razão de violência doméstica ou
familiar, tem-se nesta Lei caráter objetivo, ou seja, nesta, diz respeito
as condições em que ocorreu o fato e não ao agente.” (DIAS N. G.;
DORIGON A. https://jus.com.br/artigos/62823/feminicidio-somente-
a-modificacao-da-norma-tem-poder-de-diminuir-as-mortes-de-
mulheres)

- Incompatibilidade com privilégio: Subjetividade do autor. Só é possível


qualificado-privilegiado quando a qualificadora é objetiva.

- Homicídio privilegiado qualificado – Crime hediondo? Não é hediondo,


conforme entendimento majoritário.

- Pode as qualificadoras com dolo eventual? Somente as de motivo e de


meio, as de modo não poderia! (Informativo 677 STF).

QUALIFICADORAS

I – Mediante paga ou promessa de recompensa, ou outro motivo torpe:

Tem uma corrente que fala que o motivo torpe tem que ser próximo ao
paga e promessa de recompensa, mas a maioria da doutrina diz que é qualquer
outro motivo torpe.

● Paga ou promessa de recompensa (mercenário): A maioria da


doutrina fala que tem que ser qualquer coisa que tenha valor
econômico. Ex: carro, casa, ouro. Já para Damasio, o pagamento pode
ser com promessa de emprego, cargo político (minoria).
Tem divergência doutrinária quanto aos sujeitos do delito. É preciso
dois sujeitos, um que promete ou paga e outro que executa (concurso
necessário). A Divergência é se os dois respondem na qualificadora.
Mirabete e STF (HC 71.582) e STJ (HC 56.825) diz que sim, falando
que ela é elementar ao crime. Luiz Regis Prado, Masson e Rogério
Greco falam que não, pq o que pagou, não tem como motivo o dinheiro
(majoritário, pq é questão subjetiva e não comunica ao partícipe – art.
30).
Assim, o mandante pode responder por outra qualificadora, até o
torpe, ou até por privilégio.
● Motivo torpe: Moralmente reprovável, demonstrativo de depravação
espiritual do sujeito. Motivo indigno, desprezível. Ex: Herança,
domínio de território, demonstração de virilidade, rivalidade
profissional.
A vingança, por si só, não é torpe. Tem que analisar o caso
concreto, conforme decisão do STJ – Resp 21.261.
9
Ciúmes também deve ser considerado o caso concreto, havendo
discussões doutrinárias e jurisprudenciais.

II – Motivo fútil;
É um motivo totalmente desproporcional no ponto de vista de um homem
médio. Mas há julgamentos que fala que deve ser visto de acordo com o que
o Autor pensa, por ser qualificadora de ordem subjetiva, mas minoria.

● Fútil significa frívolo, mesquinho, desproporcional, insignificante. Ex:


café da manhã, discussão de trânsito, rompimento de namoro,
discussão na família.
● Ausência de motivo: Para Delmanto, Damasio e Masson, a ausência
de motivo não se encaixa com a qualificadora do fútil. Já para Capez,
a ausência de motivo é tão grave quanto ao fútil, pois matou sem
motivo. STJ entende que não qualifica.
● Fútil não é injusto. Todo crime é injusto.
● Ciúmes também não é fútil – STJ e Masson.
● Embriaguez tbm não qualifica, pois não tem discernimento.
● Incompatibilidade entre o motivo fútil e o motivo torpe.

III – Emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro


meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum.

É uma qualificadora objetiva, pois diz respeito ao modo de execução, que


demonstra uma certa perversidade. Precisa de Perícia!!!

● Veneno: Substância mineral, vegetal ou animal que causa lesão ou


morte. O Açúcar para diabético não é veneno e sim outro meio
insidioso.
● Fogo:
● Explosivo:
● Asfixia: Impedimento da função respiratória e consequente ausência
de oxigênio no sangue. Pode ser mecânica (enforcamento,
estrangulamento) ou tóxica (gás).
● Tortura: Suplício ou tormento que faz a vítima sofrer
desnecessariamente antes da morte. Diferenciar com a Lei nº
9.455/97. Na qualificadora, usa a tortura para matar, como meio. Na
lei, quer torturar, mas acaba matando.
● Meio insidioso: Escondido. O agente se utiliza de um meio para a
prática do crime sem que a vítima tenha conhecimento. Ex: freio do
carro, armadilha, veneno (?).
● Meio Cruel: É o meio preferido pelo sádico, que se satisfaz mais com
o sofrimento da pessoa. Ex: pisoteamento, desferimento de pontapés,
golpes de palmatória, impedimento do sono, privação de alimento ou
água, esfolamento.
10
A reiteração de golpes ou tiros, por si só não qualifica. Tem que ver
se o agente tinha dolo do meio cruel. Os Tribunais têm entendido que
o meio cruel só pode ser qualificado para a pessoa que o usa
intencionalmente. Se for por nervosismo ou inexperiência, não
qualifica. Caso da reiteração.
Tem o caso da reiteração, mas o primeiro golpe já matou. Não há
qualificadora. Pode haver homicídio cumulado com destruição de
cadáver (art. 211).
● Resultar perigo comum: É aquele que além de matar a vítima, põe
em perigo um número indeterminado de pessoas. Ex: desabamento,
epidemia, desastres por meio de transportes coletivos.
Tem que diferenciar do delito de perigo comum (art. 258), onde se
observa o elemento subjetivo.

IV – Traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro


recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido.

Qualificadora objetiva, pois diz respeito ao modo de execução do crime.


São recursos que dificulta ou impossibilita a defesa da vítima.
Este modo demonstra maior grau de criminalidade, pois se esconde a
ação e intenção de matar, agindo de forma sorrateira, inesperada,
surpreendendo a vítima que estava descuidada ou confiava no agente.
O MP, às vezes, denuncia o réu nesta qualificadora simplesmente por ter
uma superioridade de armas. Mas não é o entendimento jurisprudencial e
doutrinário, que é contra.

● Traição: Segundo Nelson Hungria – é aquele cometido mediante


ataque súbito e sorrateiro, atingindo a vítima, descuidada ou
confiante, antes de perceber o gesto criminoso. A vítima tem que
conhecer o Autor e o ataque tem que ser sem que a vítima tenha
previsão. Relação de confiança.
● Emboscada: Tocaia. Fica esperando escondido.
● Dissimulação: Capez – o criminoso age com falsas mostras de
amizade, ou de tal modo que a vítima, iludida, não tem motivo para
desconfiar do ataque e é apanhada desatenta e indefesa. Confiança da
vítima.
● Qualquer outro meio que dificulte ou torne impossível a defesa
do ofendido: Tem que ser parecido com os demais meios descritos
no inciso. Por ex a surpresa, onde a vítima é atacada quando estava
dormindo, gesto repentino, vítima atacada pelas costas (diferença
entre atacada pelas costas e atacada nas costas) – Caso da vítima
correr.

PS: Se tiver desentendimento anterior e discussão antes do crime, não cabe


as hipóteses de traição ou dissimulação – Entendimento do STF. Não é
11
compatível com dolo eventual, pois tem que querer usar de modo para
enganar. E tem que dificultar a defesa.

A premeditação gera esta qualificadora? Não, homicídio


premeditado não necessariamente será qualificado, a premeditação por si só
não qualifica o homicídio, homicídio qualificado não é sinônimo de homicídio
premeditado.

A idade da vítima pode gerar essa qualificadora seja menor ou


senil (recurso que torne difícil a defesa da vítima)? A idade da vítima
(tenra ou avançada), por si só não gera a qualificadora do inciso IV, pois
constitui característica da vítima, e não recurso procurado pelo agente.

V - Para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem


de outro crime – Conexão:
Não é o homicídio o objeto central, mas sim a perfeição do outro crime.
Não é necessário que o outro crime se concretize, sendo necessário o motivo.
Ex: cometeu o roubo, uma testemunha viu, mata a testemunha.
Se tiver crime diverso do homicídio, usa o concurso material.
Não há esta qualificadora no caso da contravenção penal, por falta de
previsão legal.

VI – Feminicídio – Contra a mulher por razões da condição de sexo


feminino.
Inserido pela Lei nº 13.104/15. Reclama situação de violência praticada
contra mulher, em contexto caracterizado por relação de poder e submissão,
praticada por homem ou mulher sobre mulher em situação de vulnerabilidade.
Para esclarecer o que é condição de sexo feminino, inseriu-se o §2º-A,
que diz:

§ 2º-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino


quando o crime envolve:
I - violência doméstica e familiar;
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.

Daí temos uma norma penal em branco, onde o conceito de violência


doméstica e familiar está no artigo 5º, da Lei nº 11.340/06:

Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e


familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero
que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e
dano moral ou patrimonial:
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de
convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar,
inclusive as esporadicamente agregadas;
12
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada
por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por
laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva
ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de
coabitação.
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientação sexual.

Já o inciso II, trata-se de menosprezo ou discriminação à condição de


mulher: Menosprezo significa “desvalorização da qualidade, da importância,
depreciação, desqualificação”. Discriminação (separar, segregar, por à parte).
Deve ser analisado no caso concreto, sendo de competência do julgador
verificar se houve ou não tais circunstâncias.
Pode figurar como vítima do feminicídio pessoa transexual?
Transexual não é gay, travesti, ele é aquele que pode ter a mudança de
sexo determinada pela justiça. Se para todos os seus efeitos jurídicos pode ter
a mudança de sexo, pode também para o feminicídio (Rogério Greco, TJ/MG,
aplicando a lei Maria da penha).
DISCUSSÕES: Problemas da diferenciação dos filhos. Do homem e da
mulher. Já não seria outra qualificadora do inciso I ou II?

- Causas de aumento de pena específica ao feminicídio:

§ 7º A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a


metade se o crime for praticado:
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto;
II - contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos, com deficiência ou
com doenças degenerativas que acarretem condição limitante ou de
vulnerabilidade física ou mental; (Redação dada pela Lei nº 14.344, de
2022).
III - na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da
vítima; (Redação dada pela Lei nº 13.771, de 2018)
IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas
nos incisos I, II e III do caput do art. 22 da Lei nº 11.340, de 7 de
agosto de 2006. (Incluído pela Lei nº 13.771, de 2018)
Não se fala em aborto. Se tiver, responde em art. 70. Mesmo em caso
de feto anencefálico, tem-se a causa de aumento, pois a proteção é para a
mulher e não para o feto.
E na presença de descendentes e ascendentes, tem-se entendido que se
for virtual, cabe a causa de aumento.

VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da


Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força
Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em
13
decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição:

Artigos 142 (forças armadas) e 144 (segurança pública).


Acrescido pela Lei nº 13.142/15, sendo justificado para tentar prevenir
ou diminuir crimes contra pessoas que atuam na área de segurança pública,
pessoas que atuam no front no combate à criminalidade.
Também entra como sujeito passivo desta qualificadora os guardas civis
(municipais ou metropolitanos).
Se ocorrer o homicídio contra servidor aposentado, será qualificado se
ocorreu por motivo do trabalho, pois fala-se “em decorrência dela”.
Parente consanguíneo de terceiro grau – tios, sobrinhos, bisavós e
bisnetos.

VIII - com emprego de arma de fogo de uso restrito ou


proibido: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Qualificadora incluída pelo Pacote Anticrime, sendo que ela foi vetada
pelo presidente, mas tal veto foi derrubado pelo Congresso em 29/04/2021!!!
Mensagem do Veto do Presidente: "A propositura legislativa, ao prever
como qualificadora do crime de homicídio o emprego de arma de fogo de uso
restrito ou proibido, sem qualquer ressalva, viola o princípio da
proporcionalidade entre o tipo penal descrito e a pena cominada, além de gerar
insegurança jurídica, notadamente aos agentes de segurança pública, tendo
em vista que estes servidores poderão ser severamente processados ou
condenados criminalmente por utilizarem suas armas, que são de uso restrito,
no exercício de suas funções para defesa pessoal ou de terceiros ou, ainda,
em situações extremas para a garantia da ordem pública, a exemplo de conflito
armado contra facções criminosas".
Antes desta atualização, se discutia muito sobre a absorção dos crimes
referentes a armas de fogo pelo homicídio, havendo críticas da posição da
consunção. Assim, ficou pacífico que se a arma é utilizada dentro do iter
criminis para cometer o homicídio, será absorvida por este, devendo qualificar
se a arma for de uso restrito ou proibido. Se for arma de uso permitido,
somente há a consunção.
Qualificadora objetiva, pois deve haver o emprego (utilização) desta
arma de fogo para matar a pessoa.
E tal arma deve ser utilizada na sua modalidade normal, ou seja, com
disparos de projeteis, não sendo qualificada se utilizar para bater na vítima,
no caso da coronhada!
Para saber o que é arma de fogo, deve-se analisar o Estatuto do
Desarmamento (Lei 10.826/03), bem como, vários decretos
regulamentadores.
O Decreto federal nº 10.030/19 define arma de fogo como "arma que
arremessa projéteis empregando a força expansiva dos gases, gerados pela
14
combustão de um propelente confinado em uma câmara, normalmente
solidária a um cano, que tem a função de dar continuidade à combustão do
propelente, além de direção e estabilidade ao projétil". Tal conceito é
completado pelo artigo 2º, I, II e III, do Decreto federal nº 9.847/19, o qual
elencou as armas de uso permitido, restrito e proibido, modificado
parcialmente por vários outros decretos.
Tal qualificadora não pune o porte ou posse ilegal de arma de fogo,
somente se a arma utilizada é de uso restrito ou proibido. Assim, pouco
importa se o agente tinha ou não direito de estar portando ou em posse de tal
arma.

- Homicídio de menor de 14 anos - LEI HENRY BOREL LEI Nº 14.344, DE


24 DE MAIO DE 2022

IX - contra menor de 14 (quatorze) anos:


E se o agente atira contra a vítima de 13 anos e ela morre após fazer 14
anos, como fica?? Art. 4º do CP.

-Causas de aumento de pena específicas.


§ 2º-B. A pena do homicídio contra menor de 14 (quatorze) anos é
aumentada de:
I - 1/3 (um terço) até a metade se a vítima é pessoa com deficiência
ou com doença que implique o aumento de sua vulnerabilidade;
II - 2/3 (dois terços) se o autor é ascendente, padrasto ou madrasta,
tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou
empregador da vítima ou por qualquer outro título tiver autoridade
sobre ela.

Concomitância desta qualificadora com as demais. Como ficariam as


causas de aumento de pena de se matar uma filha de 13 anos? Aplica-se as
duas causas?

HOMICÍDIO CULPOSO

§ 3º Se o homicídio é culposo:
Pena - detenção, de um a três anos.

Na conduta culposa, há uma ação voluntária dirigida a uma finalidade


lícita, mas, pela quebra do dever de cuidado a todos exigidos, sobrevém um
resultado ilícito não querido, cujo risco nem sequer foi assumido. Ex: quer
chegar na aula, anda a 140, e não consegue frear o carro, e atropela a vítima.
O objetivo era lícito, mas foi imprudente, quebrando o dever de cuidado.
Tem o tipo específico de cometer homicídio culposo na condução de
veículo automotor – Art. 302 da Lei 9.503/97.

15
- Modalidades de culpa: Art. 18, II, do CP. Só ocorre culpa por essas
modalidades.

● Imprudência: É um comportamento positivo. É o atuar sem


precaução, precipitado, imponderado. Ex: manejar arma carregada,
conduzir carro em alta velocidade.
● Negligência: É a culpa de forma omissiva. Deveria ter feito algo e
não fez. Ex: deixar arma de fogo, veneno, substância tóxica ao alcance
de crianças.
● Imperícia: Consiste na falta de conhecimentos técnicos ou habilitação
para o exercício de arte ou profissão. É a prática de modo omisso ou
insensato, por alguém incapacitado para tanto: Ex: médico,
engenheiro.

- Culpa exclusiva da vítima: No caso da culpa exclusiva da vítima, é fato


atípico.
- Culpa concorrente: Se for culpa concorrente, o autor do homicídio responde
pelo crime, mas terá na pena base (comportamento da vítima), a pena
diminuída.

Aumento de pena

§ 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se


o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou
ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não
procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar
prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada
de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14
(quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.
● Inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício: Não
se confunde com imperícia, que é a falta de aptidão técnica. Neste
caso, o profissional sabe, é formado, mas não o usa por desídia ou
outro motivo injustificável. Só se aplica às profissões, arte ou ofício.

● Omissão de socorro imediato à vítima: Embora prevista como


crime autônomo, figura como causa especial de aumento de pena no
homicídio culposo, o que deve ser usado. Não se aplica aqui o art. 135,
CP, pois tem que se evitar o bis in idem.
Para incidir o aumento é indispensável: i) a vítima viva, pois se morta
não tem o que socorrer; ii) condições do agente socorrer sem risco
pessoal;
Ex: arma de fogo em casa. Mas se a culpa não foi dele, responde só
pelo 135.
Não cabe também se tinham pessoas mais capacitadas para o socorro.

16
E se o agente não socorre porque pensa que a vítima iria morrer
em todo caso? Segundo o STF: se o autor do crime apesar de reunir
condições de socorrer a vítima, não o faz, acreditando ser inútil sua
ajuda em face da gravidade da lesão provocada, não escapa do
aumento de pena (HC 84.380-MG, STF). Não compete ao agente
decidir se é inútil ou não o socorro e sim a médicos.
Não pode no trânsito, pq neste tem uma causa de aumento do culposo.

● Não procura diminuir as consequências de seu ato: Ocorre no


caso onde o autor não pode prestar socorro, mas também nem liga
para alguém fazer.

● Fuga para evitar a prisão em flagrante: a doutrina diz que o


agente demonstra insensibilidade moral, ausência de escrúpulo e
prejudica a investigação. A maioria entende ser constitucional, mas há
alguns doutrinadores que entendem que fere a garantia constitucional
de não produzir prova contra si mesmo. Atentar que não cabe no caso
de veículo automotor. Um ex deste caso é do atirador que erra o lobo
e mata uma pessoa. Foge para não ser punido. É isso que o legislador
queria impedir.

Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se


o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60
(sessenta) anos.
Revogação tácita da primeira parte do menor de 14 anos, onde agora é
homicídio qualificado, não podendo incidir esta causa de aumento.

PERDÃO JUDICIAL

§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar


a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de
forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.

Causa de extinção da punibilidade – 107, IX, CP.


Não há a função da pena, pois tanto a função retributiva (punição, pagar)
como a preventiva (ex. para outras pessoas) estão satisfeitas. Há um ato
típico, antijurídico e culpável, mas deixar de aplicar a pena por um dispositivo
legal e taxativo.
Estamos diante de uma causa extintiva da punibilidade, no entanto o
perdão judicial não se confunde com o perdão do ofendido (o qual tbm é causa
extintiva da punibilidade), a diferença é que o perdão do ofendido é bilateral e
precisa ser aceito, já o perdão judicial é unilateral e não precisa ser aceito,
ainda que o acusado o recuse ele estará perdoado.

17
Cometeu o crime, mas as consequências são tão grandes e graves contra
ele, que a pena não precisa ser aplicada. Ex: morte de um filho, invalidez.
Neste caso, não fica nem reincidência, art. 120 CP, e nem os efeitos da
condenação. Súmula 18 STJ.
Mas somente pode ser reconhecida no fim do processo, pois o perdão
precisa de culpa.

É possível perdão judicial no homicídio culposo previsto no CTB?


O ideal primeiro é ver se o CTB prevê o perdão judicial, pois para conceder o
perdão judicial deve haver previsão legal, sendo que o art. 300, CTB previa o
perdão judicial, o qual foi vetado pelo Presidente da República, entretanto
pelas razões do veto deve-se aplicar ao CTB o art. 121, p. 5º, CP, pois o veto
fundamentou-se que já existia o perdão previsto no código penal.

§6º A pena é aumentada de 1/3 até a metade se o crime for praticado


por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de
segurança, ou por grupo de extermínio.
Natureza Jurídica: Causa de aumento de pena, que somente pode ser
reconhecida pelos jurados.
Foi introduzido este parágrafo pela Lei nº 12.720/12. Mas já tinha
previsão na lei dos crimes hediondos.
Milícia privada: agrupamento armado e estruturado de civis (militares
fora de suas funções tbm é), com a finalidade de restaurar a segurança em
locais de criminalidade acentuada.
Grupo de extermínio: associação de matadores, justiceiros, que
buscam eliminar pessoas rotuladas como inconvenientes aos anseios da
coletividade.
Tem que ter no mínimo 04 pessoas (para os dois grupos), conforme Lei
nº 12.850/13 – organização criminosa.
Existe os dois grupos por causa da omissão do Estado em fornecer a
segurança.
Pode ter concurso com associação (288-A).

INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO A SUICÍDIO OU A


AUTOMUTILAÇÃO

- REDAÇÃO ANTIGA

Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe


auxílio para que o faça:
Pena - reclusão, de 02 a 06 anos, se o suicídio se consuma; ou
reclusão, de 01 a 03 anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão
corporal de natureza grave.

18
Parágrafo único. A pena é duplicada:
Aumento de pena
I - se o crime é praticado por motivo egoístico;
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a
capacidade de resistência.

Houve uma modificação pela Lei do Pacote Anticrime – Lei nº 13.968/19,


que dentre várias modificações no CP, CPP e legislação especial, trouxe a
alteração do crime e também a inclusão de um tipo novo, que é a indução,
instigação e auxílio a automutilação!!
A doutrina, em sua esmagadora maioria, criticou muito esta modificação,
especialmente na inclusão da participação em automutilação, visto que são
crimes de naturezas diferentes. Um é contra a vida e outro é contra a
incolumidade pessoal.
Ademais, há penas iguais para os dois crimes, o que se torna totalmente
injusto, visto o bem jurídico protegido.
Diante disso, deveriam estar em locais diferentes, ou seja, o da
automutilação, deveria ter sido incluído no 129, podendo ser uma qualificadora
ou um novo artigo, como exemplo, 129-A.
Veja-se então a nova redação:

- REDAÇÃO NOVA – LEI 13.968/19

Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a praticar


automutilação ou prestar-lhe auxílio material para que o faça:
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.

§ 1º Se da automutilação ou da tentativa de suicídio resulta lesão


corporal de natureza grave ou gravíssima, nos termos dos §§ 1º e 2º
do art. 129 deste Código:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.

§ 2º Se o suicídio se consuma ou se da automutilação resulta morte:


Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.

§ 3º A pena é duplicada:
I - se o crime é praticado por motivo egoístico, torpe ou fútil;
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a
capacidade de resistência.

§ 4º A pena é aumentada até o dobro se a conduta é realizada por meio


da rede de computadores, de rede social ou transmitida em tempo
real.

19
§ 5º Aumenta-se a pena em metade se o agente é líder ou coordenador
de grupo ou de rede virtual.

§ 6º Se o crime de que trata o § 1º deste artigo resulta em lesão


corporal de natureza gravíssima e é cometido contra menor de 14
(quatorze) anos ou contra quem, por enfermidade ou deficiência
mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou
que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência,
responde o agente pelo crime descrito no § 2º do art. 129 deste
Código.

§ 7º Se o crime de que trata o § 2º deste artigo é cometido contra


menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem não tem o necessário
discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa,
não pode oferecer resistência, responde o agente pelo crime de
homicídio, nos termos do art. 121 deste Código.

Percebe-se que houve várias modificações, inclusive situações de


remessa às penas de outros artigos, sendo que deve-se ter muito cuidado com
isso.
Ademais, houve a inclusão de duas causas de aumento novas, §§ 5º e
5º, onde se pune com aumento de pena.
Para se ter uma melhor análise no tipo, vamos sempre citar na estrutura
doutrinária os dois crimes (suicídio e automutilação).

- Conceito e considerações preliminares (suicídio):


Antigamente se punia o suicida com a perda dos bens, punindo também
seus herdeiros e, até, a pena de morte, isso em outros países.
Na Roma antiga, tinha pena de morte para o soldado que tentava se
matar. Mas havia possibilidade de suicídio, onde o cidadão deveria requerer ao
Senado, que poderia aceitar ou não, bem como, decidir como seria a morte.
Na Itália, França e Alemanha, a punição era do sepultamento fora do solo
sagrado, com o confisco das propriedades do suicida. Na tentativa iria de
punição de castigos corporais e aprisionamento.
Na Grécia era considerado um crime contra a comunidade, tendo a
punição de não se ter as honras da sepultura regular, com a amputação das
mãos, que eram enterradas em local diverso.
Há religiões que amaldiçoam o suicídio, falando que a alma irá
diretamente para o inferno. O direito canônico proíbe as oferendas ao morto.
Mas há quem aceita.
No Brasil, nunca teve isso e somente no Código Criminal de 1830 se
tipificou a indução ou auxílio ao suicídio.
Conceito: O suicídio é a deliberada destruição da própria vida. Haverá
suicídio quando o ser humano, de forma direta, voluntária e consciente,
elimina a própria vida.
20
O suicídio não é um ilícito penal, mas é um fato antijurídico, pois a vida
é um bem jurídico indisponível, sendo certo que o art. 146, §3º, inciso II, do
CP, prevê a possibilidade de se exercer a coação contra quem tenta suicidar-
se, justamente pelo fato de que a ninguém é dado o direito de dispor da própria
vida. Tem o caso das seguradoras também.
O que se pune não é o suicídio no Brasil, mas sim alguém influenciar para
que a pessoa se suicide.

- Conceito e considerações preliminares (automutilação):


Crime incluído pela Lei nº 13.968/19, sendo que no projeto de Lei se
justificou a sua inclusão por conta dos vários casos ocorridos nos últimos anos,
principalmente pelo meio da internet, onde os jovens são atraídos a participar
de “brincadeiras ou desafios” de se lesionarem, sendo que, caso não façam o
proposto ou participem, podem sofrer bullying.
Segundo o projeto, houve uma pesquisa em 2006 pela Academia
Americana de Pediatria, apontando que 17% dos adolescentes em idade
escolar praticaram automutilação mais de uma vez em toda a sua vida.
A automutilação (também chamada de cutting) é caracterizada pela
agressão deliberada ao próprio corpo, sem a intenção de cometer suicídio.
Pode ser definida também como “o ato intencional de provocar lesões no
próprio corpo, sem o propósito consciente de cometer suicídio” (CUNHA,
2020).
O crime então será caracterizado quando se induz, instiga ou auxilia
alguém a se automutilar, ou seja, a lesionar o próprio corpo.
Perceba-se que é a mesma pena se o agente induz a vítima a se matar
ou a se automutilar, sendo que se resulta lesão ou morte, será a mesma pena
para as duas condutas de indução, instigação e auxílio. Ou seja, igualou a pena
se o dolo do agente for da vítima morrer ou se lesionar. Ficou meio
desproporcional, segundo alguns doutrinadores.

- Bem jurídico:
No suicídio tutela-se a vida humana, direito fundamental e previsto no
art. 5º da CF. É um bem jurídico indisponível.
Temos o caso do suicídio assistido, onde hoje é crime ainda, mas há
muitas discussões, sobre a possibilidade de retirada da própria vida. O que
difere é a motivação e só pode no auxílio.
No Novo CP (art. 123), terá o perdão judicial e uma excludente de
ilicitude para o suicídio assistido, igual na eutanásia e ortotanásia.
Já na automutilação, o bem jurídico é a incolumidade pessoal, ou seja, a
integridade física e a saúde da vítima. O problema que deverá ser discutido
será quanto a disponibilidade do bem jurídico, visto que a lesão leve é
disponível. Como ficaria a situação de induzir, instigar ou auxiliar alguém a se
automutilar em uma situação que cause lesão leve? Parece que, diante da
redação do caput do artigo, que tem a previsão de punição para a lesão leve,

21
este bem seria também indisponível. Esperamos a posição da doutrina e
jurisprudência sobre isso.

- Sujeito ativo: Para os dois crimes é qualquer pessoa, crime comum. Pode
ter coautoria e participação. Coautor é quando 2 auxiliam. Participação é
quando o partícipe, por exemplo, induz uma pessoa a auxiliar o suicida.

- Sujeito Passivo: Qualquer pessoa também, desde que tenha capacidade de


resistência e discernimento.
Aqui houve uma modificação bem grande, visto que antes era um
entendimento doutrinário a necessidade da pessoa ter capacidade de
resistência e discernimento, visto que o menor de 14 anos (217-A) e
deficientes sem discernimento, responderia pelo homicídio.
Agora houve uma mudança com a inclusão dos PARÁGRAFOS 6º e 7º,
sendo então tipificado este entendimento doutrinário.

Para o resultado lesão gravíssima:


§ 6º Se o crime de que trata o § 1º deste artigo resulta em lesão
corporal de natureza gravíssima e é cometido contra menor de 14
(quatorze) anos ou contra quem, por enfermidade ou deficiência
mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou
que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência,
responde o agente pelo crime descrito no § 2º do art. 129 deste
Código.
Então agora, responderá pelo crime do artigo 129, §2º, do CP, ou seja,
é uma situação de aplicação da pena de 02 a 08 anos previsto neste artigo se
tiver a lesão de natureza gravíssima ou se a vítima é menor de 14 ou tem
diminuída a capacidade.

§ 7º Se o crime de que trata o § 2º deste artigo é cometido contra


menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem não tem o necessário
discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa,
não pode oferecer resistência, responde o agente pelo crime de
homicídio, nos termos do art. 121 deste Código.
Aqui então pacificou também a situação do menor de 14 ou que não
tenha o discernimento ou resistência. Antes era só entendimento doutrinário.
Agora tipificou este entendimento, sendo que se a vítima se encaixar nestas
situações, o agente responde pelo crime de homicídio, podendo, inclusive, ser
até qualificado.

Ademais, tem que haver vítima certa, se for genérica (espetáculo, obras
literárias), não há crime.
Não pode ser brincadeira, tem que ser sério.

- Tipo objetivo: Induzir, instigar ou prestar-lhe auxílio.


22
Pode ser moral (induzir, instigar) ou material (prestar auxílio).
Pode ser comissivo (fornecer a arma, veneno) ou omissivo (pai que não
impede que filha seduzida venha se suicidar por este fato desonroso, diretor
de um presídio, médico de um doente). Mas há divergência doutrinária quanto
à conduta omissiva, prevalecendo que pode.
Há omissão quando o sujeito tinha o dever de garante, e não o fez. Art.
13, §2º, CP. (entendimento do Capez, Nelson Hungria e Mirabete). Damásio,
Delmanto e Marques entende que é sempre comissiva a conduta, por causa do
que fala o artigo – prestar auxílio – sendo uma conduta comissiva.

● Induzir: inspirar, incutir, sugerir, persuadir. Fazer brotar no espírito de


outrem a ideia suicida. Não tinha a ideia. Ex: Sujeito perdeu o emprego
e tem dívidas, outro vem e dá a ideia para se suicidar para acabar com
os problemas.
● Instigar: Estimular, incitar. Neste caso o suicida já tinha a ideia suicida
e o instigador a impulsiona. Tem o ex. das pessoas que gritam para a
vítima pular do prédio.
● Prestar auxílio: O sujeito fornece os meios necessários para que o
suicídio aconteça. Emprestar a arma, veneno, ou, através de conselhos
sobre como manusear a arma ou falando a dose letal do veneno.
O auxílio tem que ser uma atividade acessória, secundária. Se agir
para retirar a vida, é 121, pois quem tem que eliminar a própria vida é a
vítima.
Pode a coexistência dos tipos objetivos, mas só comete um crime,
chamado de tipo misto alternativo ou plurinuclear!!
Com a modificação da Lei 13.968/19, houve uma divisão no crime de
acordo com os resultados.
No caput, observa-se a seguinte redação:
Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a praticar
automutilação ou prestar-lhe auxílio material para que o faça:
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
É uma inovação, visto que antes era necessário uma lesão grave ou
gravíssima, ou então a morte, sendo que se tivesse lesão leve ou não tivesse
lesão, não haveria o crime.
Então, para se ter esta pena de 06 meses a 02 anos, basta somente as
práticas de indução, instigação ou auxiliar de forma material ao suicídio ou a
automutilação, sem a necessidade de que a vítima faça algo, ou então, se fizer,
que se tenha somente lesão leve.

Já a segunda conduta prevê o seguinte:


§ 1º Se da automutilação ou da tentativa de suicídio resulta lesão
corporal de natureza grave ou gravíssima, nos termos dos §§ 1º e 2º
do art. 129 deste Código:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.

23
Antes era a primeira forma do crime do 122, sendo que agora, apesar de
se ter a mesma pena, tem-se uma redação mais clara, com remição aos
parágrafos do 129, dizendo o que é lesão grave ou gravíssima.
Assim, comete este crime quem induz, instiga ou auxilia a vítima a se
automutilar ou a se suicidar, sendo que se resulta lesão grave ou gravíssima,
não tendo sucesso na morte, no caso da vítima tentar se suicidar.

E por último, temos o resultado mais grave:


§ 2º Se o suicídio se consuma ou se da automutilação resulta morte:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
Aqui, com a mesma pena do art. anterior, temos a conduta do crime com
resultado morte, ou seja, comete o crime com esta pena quando se induz,
instiga ou auxilia a vítima a se suicidar ou a se automutilar, vindo a vítima a
morrer.

- Tipo Subjetivo:
É o dolo nos dois crimes. Admite-se tbm dolo eventual, no caso de
alguém ficar maltratando o outro até este se suicidar, mas tem que ter a
vontade suicida ou de automutilação, se não tiver é homicídio.
Não há culpa por falta de previsão legal - art. 18, pu, CP.
Há críticas quando a situação de se induzir à automutilação e a vítima
vem a se suicidar, sendo que, neste caso, falta o dolo na morte. Rogério
Sanches Cunha entende que responderia por lesão corporal seguida de morte,
conf. Art. 129, §3º, CP, visto que a vontade do agente era de lesão e não de
morte. Se a vontade é de lesão e a morte vem por culpa, seria o crime de
lesão seguida de morte.

- Nexo causal: Tem que ter o nexo, art. 13 do CP. Tem que ficar provado que
houve o tipo objetivo e a vítima se matou por causa disso. Assim, se eu dei a
arma e a pessoa se suicidou com veneno, não configura o crime.

- Consumação ou tentativa:
Houve modificação de entendimento neste crime!!
Antes era um crime material somente e que se necessitava de um dos
dois resultados (lesão ou morte). Agora, com o caput, houve a modificação.
Então ficou assim:
- No caput, o crime é formal, sendo que não necessita da vítima
tentar se suicidar ou se automutilar. É necessário somente fazer a indução,
instigação ou auxílio à vítima, podendo esta fazer o ato ou não. Diante disso,
cabe tentativa, visto que o agente pode ser impedido de entregar o objeto
para o auxílio, ou a mensagem de indução ou instigação for interceptada.
- Já nos §§ 1º e 2º, são crimes materiais e de resultado obrigatório,
pois para serem cometidos, é necessária a lesão grave ou gravíssima, ou
então, o resultado morte. Nestas duas situações, entende-se que não cabe
tentativa, pois, se for tentado, será o crime o caput (MASSON, 2020).
24
O momento da consumação não importa, podendo ter lapso temporal
entre o ato e o suicídio.

- Ação Penal e procedimento:


A ação penal em todos é pública incondicionada.
O procedimento é diferente, se for a participação ao suicídio, será T. do
Júri. Se for para automutilação, será o comum, podendo ser sumaríssimo no
caput, sumário se resulta lesão grave (1 a 3 anos) e ordinário se resulta morte
(2 a 6 anos) – Vide art. 394 do CP.
Lembrando, que se foi procedimento comum sumaríssimo, é cabível a
transação penal. Se for o crime com pena mínima até 1 ano, cabe suspensão
condicional do processo.

- Causas de aumento de pena:

Neste ponto também houve modificação, visto que só tinha a causa de


aumento de pena no motivo egoístico e contra a vítima menor e com
diminuição da capacidade de resistência.
Verifica-se que pode-se aplicar todas as causas, não sendo bis in idem,
pois são causas diversas.
Agora ficou assim:
§ 3º A pena é duplicada:
I - se o crime é praticado por motivo egoístico, torpe ou fútil;
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a
capacidade de resistência.
● Egoístico: é aquele que diz respeito a interesse próprio, à obtenção de
vantagem pessoal, ex: recebimento de herança, ocupar seu cargo. Visa
tomar vantagem pessoal.
● Torpe: É o mesmo conceito da qualificadora do homicídio. É aquele
repugnante, razões vis. Ex: para terminar um casamento, para que a
pessoa perca o emprego, vingança!!!
● Fútil: Também no mesmo conceito da qualificadora do homicídio, ou
seja, por um motivo muito pequeno, desarrazoado. Ex: pequena
discussão; porque não fez um favor.
● Vítima menor: O CP não fala a idade, mas se tem por analogia que é o
menor de 18 anos, art. 27 do CP. Mas tem que ser maior de 14 anos,
pois se for menor, é pessoa vulnerável, então seria os §§ 6 e 7 e não se
aplica esta causa de aumento.
● Capacidade de resistência diminuída por qualquer causa: Tem que
ter mais de 18 anos. Embriaguez parcial, idade avançada, enfermidade
física ou mental. Resistência diminuída. Se for incapacidade total (muito
bêbado, pessoa bem deficiente), aplica-se os §§ 6 e 7.

25
§ 4º A pena é aumentada até o dobro se a conduta é realizada por meio
da rede de computadores, de rede social ou transmitida em tempo
real.
Causa nova de aumento, com valor “até metade”, podendo o juiz
escolher conforme o caso de 0 até metade da pena.
São 3 situações de participação. Rede de computadores, que é a internet;
rede social (face, whatsapp) ou com transmissão em tempo real (lives).

§ 5º Aumenta-se a pena em metade se o agente é líder ou coordenador


de grupo ou de rede virtual.
Também uma nova causa de aumento, mas agora com pena definida
(metade), observando a qualidade do agente.
Aumenta se o agente for líder ou coordenador de grupo ou de rede
virtual.
A justificativa desta causa está no impacto que esta pessoa pode causar,
visto que tem mais influência sobre as vítimas, e formas de se comunicar mais
fácil.

- Suicídio a dois ou pacto de morte (ambicídio):

Quando duas pessoas querem se suicidar e não tem coragem sozinhas,


daí um auxilia o outro. Ex: Quarto com gás; pular de um edifício.
● Havendo um sobrevivente, quem abriu a torneira responde por
homicídio, e quem não abriu a torneira, 122.
● Dois sobrevivem e lesão grave ou gravíssima, quem abriu 121, 14 II,
outro 122, §1º;
● Não há lesão, quem abriu 121, 14 II e outro 122 caput;
● Dois sobrevivem e os dois abriram a torneira, 121, 14 II.

- Roleta russa e duelo americano:

Roleta: 01 arma e um projétil. Duelo, duas armas e uma está carregada.


Os dois respondem por 122.
Se houver emprego de fraude: Homicídio.

Temos o caso das testemunhas de Jeová também que se tem bastante


discussão, pois pode-se imputar este crime o religioso que induz, instiga ou
auxilia o outro a não usar a transfusão de sangue. Mas é bem complicado isso,
tendo em vista a liberdade religiosa, que é um direito fundamental.

INFANTICÍDIO:

Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho,


durante o parto ou logo após:
26
Pena - detenção, de dois a seis anos.

- Conceito e Considerações Gerais:


Infanticídio significa a morte de um ‘infante’. É uma forma privilegiada
de homicídio (pelo estado puerperal) e por isso tem a pena mais branda que
ele. É a ocisão da vida do ser nascente ou do neonato, realizada pela própria
mãe, que se encontra sob a influência de estado puerperal.
O estado puerperal é o período pós-parto ocorrido entre a expulsão da
placenta e a volta do organismo da mãe para o estado anterior a gravidez. Há
quem diga que o estado puerperal dura somente de até 3 a 7 dias após o
parto, mas também há quem entenda que poderia perdurar por um mês,
dependendo de perícia.
Assim, NUCCI nos lembra que se deve interpretar a expressão "logo
após" com o caráter de imediatidade, pois, do contrário, poderão existir
abusos.
A mãe em estado puerperal pode apresentar depressão, não aceitando a
criança, não desejando ou aceitando amamentá-la, e ela também fica sem se
alimentar. Às vezes a mãe fica em crise psicótica, violenta e pode até matar a
criança.
Tem que ser usado um critério fisiopsíquico ou biopsíquico. Não pode por
honra.
Para que se trate de infanticídio e não de homicídio, não basta que
a agente esteja no período de puerpério (se bastasse, estaríamos diante de
um critério meramente biológico), tampouco é suficiente que esteja em estado
puerperal. É imprescindível que sua conduta tenha sido influenciada por esse
estado.
Vale ressaltar que em decorrência do parto algumas mulheres têm uma
alteração no psiquismo, se tratando de uma psicose puerperal, assemelhando-
se às psicoses de curta duração. Nesse caso acarreta em uma redução da
capacidade penal, se enquadrando na semi-imputabilidade (cf. art. 26,
parágrafo único, CP).
Pode acontecer de se ter a inimputabilidade também, sendo que daí não
será punido pelo crime (depressão pós-parto).
Tem que ter perícia para a inimputabilidade.
Mas não precisa de perícia para o estado puerperal, que deve ser
presumido.
É uma forma de homicídio, que, utilizando do Princ. da Especialidade,
fazendo com que a norma especial (123) derrogue a geral (121).

- Objeto Jurídico - Bem jurídico: Vida humana extrauterina.


Vida extrauterina iniciada com o parto. Assim, não é necessário o sistema
respiratório (tem doutrinador que fala isso), mas sim somente comprovar que
começou o parto (rompimento da bolsa e dilatação) Seria aqui a diferença
entre vida extrauterina (homicídio e infanticídio) e intrauterina (aborto). Neste
sentido STJ - HC 228.998/MG, 2012.
27
No caso da anencefalia nem seria vida, conforme entendimento do STF,
ADPF 54/DF, de 2012, ajuizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores
na Saúde.

- Objeto Material: É a criança, nascente ou recém-nascida, contra quem se


dirige a conduta criminosa.

- Sujeito ativo: Crime próprio, só pode ser praticado somente pela mãe. Mas
admite coautoria e participação. Ex: mãe pede ajuda para matar ou pede para
matar o filho.
Tem discussão sobre este assunto da coautoria no infanticídio, pois
parece ser injusto, tendo em vista que o coautor não estaria em estado
puerperal, devendo responder por homicídio.
Mas nós adotamos a teoria monista, conforme art. 29 do CP, onde todos
os que colaborarem para o cometimento do crime incidem nas penas a ele
destinadas.
Bem como pelo art. 30 do CP, onde fala da elementar do estado
puerperal, que comunica para os outros agentes.
Assim, pode sim coautoria, sendo um crime próprio.

- Sujeito Passivo: Próprio filho nascente ou recém-nascido (durante o parto


ou logo após). Se a mãe mata outra criança pensando ser a sua, é infanticídio
putativo, sendo que irá responder como se tivesse matado seu próprio filho.
Não tem as agravantes do art. 61, II, 'e' e 'h', do CP. bis in idem.

- Tipo Objetivo: Núcleo-Matar.


Crime de forma livre (por qualquer meio).
Conduta pode ser por ação ou por omissão (ex: deixa de amamentar).
Elementar é o “sob influência de estado puerperal”.
Temos a questão do tempo, que fala “durante o parto ou logo após”.

- Tipo Subjetivo: Dolo direto ou eventual. Não há culpa.


Caso a parturiente em estado puerperal negligentemente sufoca o
recém-nascido e o mata, qual o crime? (Ex: não dar leite para o filho; dar
banho de forma descuidada).
Primeira corrente diz ser fato atípico, pois a previsibilidade do crime
culposo é incompatível com os abalos psicológicos do estado puerperal.
(Damasio, Masson)
A segunda corrente diz que o estado puerperal não retira da
parturiente o poder de discernimento e de previsibilidade, persistindo o dever
de cuidado objetivo, responderá por homicídio culposo (prevalece essa última
corrente, Mirabete, Nelson Hungria, Capez e Bitencourt). Ex: mãe sente a dor
do parto em um ônibus, mas acredita que o filho não vai nascer, sendo que
ele nasce, cai no chão e morre.

28
- Consumação e tentativa: Consuma-se com a morte da criança
(instantâneo e material). Admite-se tentativa. Tem casos de crime impossível,
se a criança já nasce morta. Art. 17. Se for casos de anencefalia também é
crime impossível.

- Ação penal e Procedimentos: Publica incondicionada e T. Júri.

- Diferenças entre o infanticídio e aborto (art. 124):


O infanticídio é durante ou logo após o parto. Assim, iniciou-se o parto,
é infanticídio. O parto se inicia com a dilatação, com as dores e dilatação do
colo do útero.

- Diferenças entre infanticídio e abandono de recém-nascido com


resultado morte (art. 134, §2º, CP)
Ambos delitos possuem a mesma pena. O infanticídio vai a júri, enquanto
o abandono de recém-nascido com resultado morte não vai a júri, naquele
(infanticídio) a mãe age com dolo de dano, já neste a mãe atua com dolo de
perigo, no infanticídio a intenção é matar, já no art. 134, p. 2º, CP a intenção
é abandonar para ocultar desonra. No infanticídio existe uma morte dolosa, já
no abandono com morte existe uma morte preterdolosa.

ABORTO

- Conceito e considerações gerais:


Aborto é a interrupção da gravidez, da qual resulta a morte do produto
da concepção (Masson).
É a eliminação da vida intrauterina.
Nem sempre a humanidade condenou a prática do aborto, pois se
considerava o feto como parte da integrante do organismo da mulher. Após,
se condenou a mulher porque era um direito do homem a prole. Só veio depois
do cristianismo.
No Brasil, Código Criminal 1830, somente previa o aborto provocado por
terceiro. Já o CP 1890 veio com a previsão do aborto provocado pela própria
gestante.
Conforme estudos da UNIVERSA (UOL) de 2016, 01 a cada 05 mulheres
de 40 anos já abortou no Brasil. Nos últimos 10 anos, o SUS gastou R$ 500
milhões com tratamentos em razão de complicação de abortos ilegais. E por
dia, são 4,5 mulheres fazendo aborto ilegal pelo SUS no Brasil.
O correto é aborto ou abortamento? Uma primeira corrente trás os
termos como sinônimo, já uma segunda corrente diz que aborto é o resultado
e abortamento é a conduta, sendo que como o direito penal pune a conduta
geradora do resultado então o correto seria chamar de abortamento.

Discussões e fundamentações de quem quer legalizar o aborto:


● O feto é parte da mulher e ela pode dispor;

29
● A vida do feto não é um bem jurídico individual;
● A pena não logra evitar as práticas abortivas;
● Só atinge as classes sociais mais pobres;
● Deve-se proteger as mulheres que recorrem ao aborto clandestino.

Temos a contravenção do art. 20 LCP, que traz a tipificação de anunciar


meios abortivos – “Art. 20 Anunciar processo, substância ou objeto destinado
a provocar aborto.”

- Espécies de aborto:

● Natural: Espontâneo;
● Acidental: Traumatismo, quedas, não há crime por falta de dolo;
● Criminoso: interrupção dolosa da vida - Arts. 124 a 127.
● Legal ou permitido: aborto voluntário e aceito por lei. Art. 128.
● Eugênico ou eugenésico: interrupção da gravidez para evitar o
nascimento da criança com graves deformidades genéticas - Vai ser
estudado no art. 128.
● Econômico ou social: Mata-se o feto para não agravar a situação de
miséria da mãe ou família. É crime, pq o o dto penal não acolheu.
● Aborto “honoris causa”: Praticado para interromper gravidez adulterina.

- Bem Jurídico:
Vida humana. No 124 e 126. Direito a vida do feto.
No 125, protege-se a vida do feto e a integridade física e psíquica da
gestante.

- Objeto Material

A Lei não faz distinção entre:


● Óvulo fecundado - 3 primeiras semanas;
● Embrião - 3 primeiros meses;
● Feto - a partir de 3 meses;

Assim o objeto material é qualquer um desses, sendo que é preciso ter


prova da gravidez, pois se o feto já estiver morto é crime impossível, 17 CP.
A partir de quando começa a gravidez?? Tem entendimento que é
com a fecundação. E tem entendimento que só seria gravidez após a nidação
(implantação do óvalo fecundado no útero), pois existe a permissão do uso do
DIU (dispositivo intrauterino) e anticoncepcionais, que agem após a
fecundação.
Cleber Masson entende que é da fecundação, pois o uso do
anticoncepcionais seria uma excludente de ilicitude por exercício regular do
direito.

30
Já o Nucci entende que é a nidação mesmo, pois nós temos os casos da
fecundação em vitro, que implanta o óvalo fecundado.
Tem o caso do Embrião conservado fora do útero materno. Neste caso é
fato atípico, pois não tem previsão legal e analogia só pode ser usado a favor
do réu ou para interpretação. Não é aborto porque não é vida intrauterina e
não é considerado pessoa humana e nem coisa.

- Sujeito Ativo:
Gestante no art. 124 e qq pessoa nos 125 e 126.
● 124 - Mão própria, somente a gestante e com participação. Não tem
coautoria. Ser for coautor, é art. 126.
● 125 e 126 - Comum. Qq. Pessoa (menos a gestante) com coautoria e
participação.

- Sujeito Passivo:
No art. 124 e 126 é o feto. No 125 é o feto e a gestante.
Mas tem discussão: A primeira corrente diz que é o Estado, pois o feto
só é sujeito de direitos na lei civil. Prevalece a segunda corrente que diz que a
vítima é sim o feto, pois o feto é sim sujeito de direitos, pouco importa se é
direito civil ou não. O reflexo prático é que se entende que na gravidez de
gêmeos o crime é único, se entender que o feto é a vítima existirá um concurso
formal impróprio com desígnios autônomos (soma a pena) de delitos.

- Tipo objetivo:
Provocar o aborto. Tem o consentir no 124. Conduta pode ação ou
omissão. Ex de omissão: deixar de tomar o remédio, deixar de se alimentar
adequadamente.
É de forma livre.
Os meios de execução têm que ser eficaz, rezas, despachos e simpatias
é crime impossível.

- Tipo subjetivo:
Dolo, direito ou eventual.
Não tem culpa. Se a gestante age culposamente é fato atípico. Se culposo
provocado por terceiro, responde por lesão corporal culposa.
Se agride a mulher, que sabe estar grávida, com a intenção de lesioná-
la e aborta culposamente, é artigo 129, §2º, inc. V.
Dolo Eventual. Nelson Hungria traz o exemplo da gestante suicida, sabe
que é gestante, tenta se matar, não consegue, mas o feto morre, irá responder
pelo art. 124, CP a título de dolo eventual.

- Consumação e tentativa:
Crime material e de resultado.
Interrupção da gravidez e morte do feto.

31
A expulsão do feto é irrelevante, pois a medicina aponta vários casos do
feto morto ficar dentro da mãe.
Deve-se ter exame de corpo de delito, mas é suprido pelo exame indireto
(testem. e documentos). Deve-se ter prova de que o feto estava vivo.
A tentativa é possível em todas as modalidades.
Caso importante é se a mãe toma o remédio e aborta o feto com vida, e
depois vendo ele com vida, mata-o. É tentativa de aborto e homicídio em
concurso material, ou infanticídio.

- Ação Penal e Procedimento.


Pública incondicionada e T. Júri. Cabe Sursis para o 124 e 126.

- Aborto e LCP - 3.688/41 - Art. 20 – Anúncio de processos, substâncias ou


objetos destinados a provocar aborto.

- Concurso de crimes:
● Homicídio e Aborto: Se o sujeito sabe que está grávida, mas só quer
matar ela, responde em concurso formal próprio (exaspera). Se quer os
dois, concurso formal impróprio (cúmulo).
● Aborto e constrangimento ilegal (art. 146): Marido constrange mediante
ameaça ou violência a abortar. Aborto do 125 e 146 em concurso formal
próprio.
● Aborto de gêmeos. Se souber dos gêmeos, concurso formal impróprio.
Se não souber é crime único (resp. objetiva).
● Aborto e comunicação falsa de crime (art. 340). No aborto sentimental,
humanitário e ético, a gestante fornece ao médico um boletim de
ocorrência falso de estupro. Ela responde em concurso material e o
médico não responde nada por discriminante putativa.
● No caso de associação criminosa-288, responde em concurso material.

CRIMES DE ABORTO EM ESPÉCIE:

Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento

Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lhe


provoque:
Pena - detenção, de um a três anos.

Pena baixa de detenção e admite o Sursis processual.

1 - A primeira parte do artigo é o autoaborto, em que a gestante efetua


contra si própria o procedimento abortivo. Ex: golpes de instrumentos, quedas
propositais, ingestão de medicamentos.
Não há tentativa de aborto quando a mulher tenta se suicidar e não
acontece nada. Se aborta, responde por aborto do 124 por dolo eventual. Há
32
discussão falando que não há crime porque o aborto foi uma consequência da
autolesão (minoritária).
É compatível com a participação somente e não com coautoria (mão
própria). Ex: se o namorado compra o remédio. É partícipe e a mulher autora
do art. 124.
E se ocorre a lesão corporal ou morte da gestante, o partícipe responde
porque? Pelo art. 127? NÃO, pq o 127 não prevê isso. Ele responde por lesão
corporal de natureza grave ou homicídio culposo.

2 - A segunda parte é consentir, outro tipo objetivo, que cuida somente


do consentimento para o aborto. O que fez, responde pelo artigo 126 e não
em coautoria. Tem a participação neste caso uma pessoa induz a grávida a
consentir que um médico provoque o aborto.
Este consentimento tem que ser da gestante que tem capacidade e
discernimento (menor de 14 anos e deficiente mental não pode), e isento de
fraude e coação, sob pena de ser o 125.

Aborto provocado por terceiro

Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:


Pena - reclusão, de três a dez anos.

É a forma mais gravosa do delito de aborto e tem pena de reclusão. Não


há o consentimento da gestante.
Há duas vítimas, o feto e a gestante.
Tem dois tipos, ela não prestou consentimento (violência, agressões) e
o caso do consentimento dela ser inválido por previsão legal (PU do 126).

Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante:


Pena - reclusão, de um a quatro anos.

Neste caso se vê que a gestante tem que consentir.


Pena de reclusão, mas tem Sursis Processual.
É um caso interessante de exceção da teoria monista (unitária) do
concurso de pessoas, pois tiveram o mesmo objetivo, mas vão responder por
crimes diferentes. Ela por 124 e ele por 126, com penas um pouco diferentes.
Quis tratar a mulher de forma mais branda em decorrência dos abalos físicos
e mentais que ela enfrente por causa do aborto.
O partícipe responde da seguinte forma. Se vinculado ao consentimento
da gestante é 124 (pessoas que incentiva ou paga pelo aborto). E se vinculado
ao terceiro é 126 (enfermeira que auxilia o médico).
O consentimento deve perdurar durante todo o procedimento. Se ela,
durante a prática abortiva muda de ideia, ele é 125 e ela não responde por
nada.

33
Deve se tomar cuidado sobre o erro sobre o consentimento, pois daí o
terceiro irá responder como se tivesse consentido.

Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não


é maior de quatorze anos, ou é alienada ou debil mental, ou se o
consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência

- Dissentimento presumido:
1ª parte do PU. Menor de 14 anos ou alienada ou debil mental.

- Dissentimento Real: 2ª parte do PU:


● fraude: é o emprego ardil e capaz de induzir a gestante em erro. Ex:
médico que fala que vai fazer exame e pratica manobras abortivas.
● grave ameaça. Marido que fala que vai se matar se não abortar. Pai que
fala que vai mandar a filha pra fora de casa se não abortar.
● violência: Emprego da violência. Bate na mulher até ela concordar com
o aborto.

Forma qualificada – “é uma causa de aumento de pena”

Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são


aumentadas de um terço, se, em consequência do aborto ou dos meios
empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de
natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe
sobrevém a morte.

É uma causa de aumento de pena e só pode ser aplicado nos artigos 125
e 126 (terceiro).
Não qualifica a lesão que provocou lesão grave em si mesma porque o
direito penal não pune a autolesão – P. Alteridade. Não poderia ser diferente,
pois a lesão e a morte atingem diretamente à mulher.
Assim, se as majorantes em estudo não se aplicam à mulher, também
não incidirá sobre a conduta do partícipe (acessório e principal).
Por qual crime responde o partícipe:
● Responderá por lesão corporal culposa ou homicídio culposo - Nelson
Hungria;
● Somente pela participação no 124 - Magalhães Noronha;
● Pratica o partícipe o 124 e lesão corporal culposa ou homicídio culposo
em concurso formal - Damasio e Capez (Maioria da Doutrina).

São duas hipóteses de crime qualificado pelo resultado, de natureza


preterdolosa, pois o crime de aborto foi doloso e o resultado culposo.
“Resultado lesão grave ou morte” – é um preterdolo, isto é, dolo no
aborto e culpa na lesão ou morte, se agir com dolo no aborto e na lesão ou
morte deverá haver cumulação de crimes (material ou formal imperfeito,
34
dependendo do caso), pois para incidir o art. 127, CP o resultado mais grave
deve advir de culpa.
Para incidir no art. 127, CP tem que interromper a gravidez ou basta a
lesão grave ou morte? O art. fala “dos meios provocados” – assim o aborto é
dispensável, basta a lesão grave ou morte. Assim, se tiver o aborto, é
consumado com o aumento da pena. Se não tiver o aborto, é tentado com o
aumento da pena.
Tem que ser lesão grave, se for leve não aumenta, respondendo só pelo
aborto.

Aborto legal ou permitido

Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:

Aborto necessário
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;

Aborto no caso de gravidez resultante de estupro


II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de
consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante
legal.

- Natureza jurídica e fundamentos constitucionais:


Este artigo é uma causa especial de exclusão da ilicitude, pois o aborto
é um crime, então é fato típico, mas não é ilícito e nem culpável. Não é
excludente de culpabilidade pq o artigo não fala "não se pune o médico que
pratica o aborto", pq a culpabilidade tem que ser individual. Como fala que não
pune o aborto, é geral, então é exclusão da ilicitude.
O aborto necessário há um conflito entre dois valores fundamentais: a
vida da gestante e a vida do feto. O legislador preferiu a vida da gestante por
se tratar de pessoa madura e completamente formada, sem a qual dificilmente
o próprio feto poderia seguir adiante.
Já o aborto em caso de gravidez resultante do estupro, a fundamentação
é no Princ. da dignidade da pessoa humana (CF, art. 1º, inci. III). O legislador
entendeu que seria atentatório à mulher ter um filho que lhe traria lembranças
trágicas e péssimas. Mas tem discussão de doutrinadores que fala que é
inconstitucional, pois o feto não é culpado pelo estupro (bem minoritária). O
direito à vida deve ser relativizado de acordo com o Princ. da Proporcionalidade
(implícito), visto que há casos em que se pode tirar a vida, como é o caso da
leg. defesa.

Hipóteses legais

Aborto necessário ou terapêutico:


35
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;

Depende de dois requisitos:


● vida da gestante corre perigo;
● não existe outro meio de salvar a vida da gestante.

Neste caso, não precisa de consentimento da gestante e não são puníveis


as lesões corporais decorrentes do procedimento cirúrgico, a não ser que haja
excessos.
Não precisa de autorização judicial.
Se for realizado por outro profissional que não é o médico, daí tem duas
situações:
● se presente o perito atual de morte para a gestante, o fato será lícito
pelo estado de necessidade (art. 24 CP).
● ausente o perigo atual (pode ser feito após algum tempo), é aborto
125/126, tendo em vista que não é estado de necessidade e somente o
médico poderia realiza-lo, pois é o profissional mais qualificado.

Aborto no caso de gravidez resultante de estupro

Também chamado de aborto sentimental, humanitário ético ou piedoso:

II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de


consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante
legal.

Depende de 03 requisitos:
● ser praticado por médico;
● consentimento da gestante ou de seu responsável legal;
● gravidez resultante de estupro;

Neste caso tem que ser o médico, pois se for outro é aborto, por previsão
legal. Se a enfermeira auxiliar, não é crime, uma vez que a conduta do médico
não é ilícita - Acessório.
Será 124 se for autoaborto. Assim, somente o médico mesmo.
E tem que ter o consentimento, igual no caso do art. 126.
Tem que ser gravidez decorrente de estupro contra mulher, pouco
importando o meio de execução, se foi com violência ou grave ameaça, se foi
sexo anal ou qq ato libidinoso diverso.
Se for estupro de vulnerável também pode, apesar de não estar tipificado
no 128, por fundamentação da analogia in bonam partem.
Não precisa de processo e condenação pelo crime de estupro. Somente
o BO, declaração e testemunhas já comprovam o crime e permite o médico
fazer os procedimentos. Não precisa de autorização judicial
36
No caso da mulher fornecer ao médico um BO falso e demais documentos
falsos, o médico não responde por nada, discriminante putativa - 20, §1º - e
a mulher responde por 340 (comunicação falsa de crime) e 124.

Aborto eugênico ou eugenésico e o tratamento jurídico -penal da


anencefalia:

Aborto eugênico ou eugenésico é no caso do feto apresentar


deformidades físicas ou psíquicas. Não está autorizado por Lei, portanto é
aborto.
O fundamento é que, se terá vida, ela deve ser protegida, mesmo em
casos de graves deficiências. O que importa é a vida.

Já os casos de anencefalia: malformação rara do tubo neural,


caracterizada pela ausência total ou parcial do encéfalo e da calota craniana.
O Conselho Federal de Medicina considera o anencéfalo um natimorto
cerebral. Por este motivo que relevante parcela do Poder Judiciário tem
permitido a prática do aborto neste caso.
Ademais, o artigo 3º da Lei nº 9.434/97, fala que o ser humano está
morto com a morte encefálica.
Assim, não se trata de aborto, mas uma antecipação terapêutica de parto
em razão de anencefalia.
A melhor fundamentação é que o médico realiza uma conduta atípica,
pois o feto anencéfalo não possui vida humana. A morte só ocorre quando o
ser humano não possui mais suas atividades cerebrais. Assim, se o feto
anencéfalo nunca teve atividade cerebral, nunca viveu.
Tem muita discussão, mas legalmente não há o crime de aborto por
ausência da vida humana.
Caso da menina Marcela de Jesus Ferreira, nascida com anencefalia
em Patrocínio Paulista-SP, que viveu 01 ano, 08 meses e 12 dias. Mas é uma
exceção e o direito deve se amparar na normalidade.
O fundamento legal está no artigo 1º, inciso III, da CF, Princ. da
Dignidade da Pessoa Humana, em relação à mulher. Não é justo com os pais,
que no lugar de comprar roupa, cama e cerimônia de batismo, tem que
organizar roupa para o enterro, caixão e cerimônia do 7º dia.
Teve o julgado da ADPF 54/DF em 2012, ajuizada pela CNTS –
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde, sendo que o Plenário do
STF entendeu que é inconstitucional a interpretação que a interrupção da
gravidez de feto anencéfalo seria aborto, reconhecendo o direito da gestante
em ter ou não a gravidez.
Conclui-se que não se permite o aborto quando o feto apresentar graves
anomalias físicas ou psíquicas, ou mesmo quando possuir características
monstruosas. Mas no caso do anencefálico sim, pelo fato de não haver
possibilidade de vida extrauterina.

37
Tem que ser diagnosticado pelo médico, mas o seu aborto pode ser por
qualquer pessoa, tendo em vista que se trata de antecipação do parto, sendo
que não há vida, logo, seria crime impossível.

38

Você também pode gostar