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RELACIONAMENTOS ABUSIVOS NA PERSPECTIVA

PSICANALÍTICA

Ângela Queiroz Alves1, Daiane Lima Batista², Eliene Nunes Ferreira Levi³, Gillian Ribeiro
Maia Moura4, Juclécia Ferreira da Silva5, Leandra Carvalho6, Márcia Alves da Silva
Andrade7; Rita Oliveira Sodré Alencar8
¹Acadêmica do Curso de Graduação em Psicologia da FAI - Faculdade Irecê,
20223493@faifaculdade.com.br;
2
Acadêmica do Curso de Graduação em Psicologia da FAI - Faculdade Irecê,
20223165@faifaculdade.com.br;
3
Acadêmica do Curso de Graduação em Psicologia da FAI - Faculdade Irecê,
20223109@faifaculdade.com.br;
4
Acadêmica do Curso de Graduação em Psicologia da FAI - Faculdade Irecê,
20223111@faifaculdade.com.br;
5
Acadêmica do Curso de Graduação em Psicologia da FAI - Faculdade Irecê,
20223087@faifaculdade.com.br;
6
Acadêmica do Curso de Graduação em Psicologia da FAI - Faculdade Irecê,
20212735@faifaculdade.com.br;
7
Acadêmica do Curso de Graduação em Psicologia da FAI - Faculdade Irecê,
20223090@faifaculdade.com.br;
8
Psicóloga, especialista em psicanálise e professora do Curso de Psicologia da FAI -
Faculdade Irecê, rita.oliveira@faifaculdade.com.br.

Resumo
O presente resumo aborda a complexidade dos relacionamentos abusivos sob a perspectiva da
Lei Maria da Penha no contexto brasileiro, utilizando a abordagem psicanalítica de Lacan como
base teórica. A metodologia empregada consiste em revisão bibliográfica exploratória, focando
em pesquisas qualitativas entre 2018 e 2023. Os resultados evidenciam um aumento
significativo nas denúncias de violência doméstica durante a pandemia, especialmente
feminicídios. A análise psicanalítica destaca a complexidade dessas relações, sugerindo que
experiências traumáticas da infância moldam escolhas relacionais na vida adulta. Lacan enfatiza
a importância da linguagem e estrutura simbólica do inconsciente, revelando como o agressor
pode manipular verbalmente a vítima para exercer controle. A discussão explora equívocos que
levam à permanência em relacionamentos abusivos, incluindo a dificuldade em identificar
comportamentos sutis como formas de violência. Manifestações psicológicas, como medo e
baixa autoestima, são consequências comuns. A conclusão destaca que, embora nenhuma forma
de abuso seja justificável, compreender as complexidades subjacentes pode informar
intervenções eficazes. A prevenção, conscientização e apoio às vítimas continuam sendo
cruciais na abordagem desse problema social.
Palavras-chave: Relacionamentos afetivos; Psicanálise e as relações abusivas; Feminicídio.

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Introdução

Frequentemente no cenário sociocultural, nos deparamos com narrativas alarmantes de


feminicídio, uma problemática que se agravou durante o período de distanciamento social
decorrente da pandemia Covid-19. As notificações recorrentes de denúncias de violência
doméstica de acordo as constatações do relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pública
(2020), tiveram um aumento expressivo de aproximadamente 50%. Tal incremento está
predominantemente, associado a episódios de violência cometidos por companheiros
agressores, instigando reflexões sobre as causas que levam as mulheres a continuar em
relacionamentos abusivos. Segundo o artigo 5º, da Lei de nº 11.340 Maria da Penha (BRASIL,
2006), descreve a violência doméstica e familiar contra a mulher como toda e qualquer ação ou
omissão que culmine em morte, lesão, sofrimento físico, sexual, psicológico, dano moral ou
patrimonial. Desse modo, se caracteriza como relacionamento abusivo toda ação que ultrapassa
os limites estabelecidos na relação, que cause danos físico ou emocional. Na
contemporaneidade, algumas pessoas continuam romantizando essas relações abusivas, mesmo
passando por sofrimentos psíquicos e, em alguns casos, tendo consciência dessa situação. Na
visão psicanalítica, as relações abusivas são compreendidas como dinâmicas complexas que se
enraízam na psique individual, moldadas por experiências passadas e padrões inconscientes.
Segundo Freud, as experiências traumáticas da infância, especialmente aquelas relacionadas às
primeiras relações vividas, influenciam as escolhas relacionais na vida adulta. Ele enfatizava a
importância do complexo de Édipo, e a ideia de transferência, onde sentimentos e desejos
inconscientes de relacionamentos passados são projetados em novos parceiros. Jacques Lacan,
trouxe uma nova perspectiva para a compreensão das relações abusivas na psicanálise,
enfatizando a linguagem e a estrutura simbólica do inconsciente, com a premissa de que o
inconsciente é estruturado como linguagem. Ele introduz conceitos fundamentais como o
“Outro”, que representa as normas e expectativas sociais e culturais, e o “desejo”, visto como
uma força motriz que nunca é completamente satisfeita. Nesse sentido, este estudo tem o
objetivo de dissertar sobre os aspectos dos processos psíquicos que constituem os
relacionamentos abusivos, fazendo uma análise acerca da construção histórica e sociocultural,
sob a perspectiva lacaniana.

Metodologia

A elaboração deste trabalho teve como base revisões bibliográficas de cunho exploratório,
através de uma pesquisa qualitativa tendo como tema norteador: relacionamentos abusivos na
perspectiva psicanalítica. Foram acessadas as bases de dados do Google Acadêmico, Scielo e
Periódicos, através de buscas criteriosas realizadas em novembro e dezembro de 2023,
utilizando como delimitações, publicações entre os anos de 2018 a 2023, bem como as palavras
chaves “Relacionamentos afetivos”, “Psicanálise e as relações abusivas” e “Feminicídio”.
Foram selecionados 06 artigos através dos seguintes critérios: estudos que apontam de forma
objetiva o tema e as palavras chaves de interesse, publicações em Língua Portuguesa, estudos
disponíveis na íntegra e de forma gratuita, período de publicação dos últimos cinco anos. Tudo
que estivesse fora destes critérios foram desconsiderados.
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Resultados e Discussão

Primeiramente se faz necessário entender que relacionamento abusivo é toda e qualquer relação
com o outro que demonstre abusos, seja físico, patrimonial, sexual, moral ou psicológico. Souza
(2019), diz que estas relações envolvem todo e qualquer comportamento de uma pessoa, que
tenha o intuito de domínio e controle do outro em uma relação. Desse modo, é preciso que haja
um elo entre a vítima e o opressor, uma vez que é por meio da relação próxima e de confiança
que o opressor exerce o domínio sobre o outro.
Relacionamentos abusivos são preocupações sociais crescentes, no contexto de relacionamento
conjugal entre homens e mulheres, comprometem a saúde física e psicológica de mulheres em
diferentes classes sociais e faixas etárias. É importante esclarecer que não há justificativa válida
para um relacionamento abusivo. No entanto, algumas interpretações errôneas surgem quando
se examinam as dinâmicas complexas dessas relações. (Souza 2021).
A compreensão desses equívocos pode ser útil para implementar estratégias preventivas e
educacionais. Assim é possível identificar que alguns fatores que corroboram para a
permanência de mulheres em relacionamentos abusivos podem estar relacionados tais sutilezas
ao ponto de a mulher não conseguir identificá-la como violência, embora ela destrua o seu bem-
estar e autoestima, criando confusão e sentimento de incapacidade. A mulher se torna incapaz
de tomar decisões que julga correta. (Miller, 1999 apud de Queiroz; Cunha 2018).
Dessa forma, manifestações psicológicas trazem consequências como: medo, baixa autoestima,
não se sentir suficiente, dificuldades em construir relações, culpa e insegurança. Assim,
percebe-se que comportamentos do agressor podem distrair a vítima distorcendo a percepção
do que é um relacionamento saudável, normalizando comportamentos abusivos, deixando a
vítima mais dependente da relação e isolada socialmente; explorando algumas vulnerabilidades
individuais como: baixa autoestima, histórico de trauma, dependência emocional, perpetuação
do abuso, momentos de violência seguida de carinho e reconciliação, manipulação psicológica
para manter o controle sobre a vítima. Os fatores socioculturais também contribuem para uma
compreensão equivocada de comportamentos abusivos. (ROSSETTO, Bruna, et al 2020).
É importante enfatizar que, mesmo ao discutir esses pontos, não se está justificando o
relacionamento abusivo. A intenção é entender as complexidades subjacentes para informar
intervenções eficazes, promovendo relações saudáveis e oferecendo suporte às vítimas. A
prevenção e a conscientização continuam sendo componentes fundamentais na abordagem
desse problema. (ROSSETTO, Bruna, et al 2020).
Compreende-se que as estruturas do eu, especialmente o eu imaginário, podem ser exploradas
no relacionamento abusivo. Quando fazemos um paralelo entre as estruturas do Eu de Lacan,
com os relacionamentos abusivos, é possível perceber que o agressor pode distorcer a percepção
da vítima, manipulando a imagem que ela tem de si mesma, a linguagem por exemplo, é central
na formação da psique. No relacionamento abusivo, a manipulação verbal do agressor pode
exercer controle sobre a vítima, reforçando uma dinâmica de poder desigual. Sendo assim,
desejo e fantasia para Lacan, exploram os elementos inconscientes do desejo e da fantasia na
relação abusiva, ocasionando em uma dependência emocional da vítima que pode ser enraizada
nas fantasias inconscientes que perpetuam o ciclo de abuso. (Lacan, 1878/1992).
A análise freudiana das dinâmicas familiares, especialmente o Complexo de Édipo na fase de
desenvolvimento psicossexual da criança, identifica traumas ou conflitos não resolvidos que
se manifestam nos relacionamentos na vida adulta, dessa forma os traumas da infância podem
ser revividos de maneira dolorosa, na manutenção de relações conjugais insatisfatórias, difíceis
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e abusivas, gerando tensões e vivências de medo e insegurança, e a necessidade de estar sempre


correspondendo às expectativas do outro. (Freud 1905/2016).
Através da base teórica psicanalítica é possível identificar quais são as raízes da infância que
permitem o adulto a permanência em um relacionamento abusivo, assim, é possível
compreender como esses sentimentos se estruturam e correlacionam, compreendendo os
processos psíquicos que constituem os relacionamentos marcados pela dependência emocional
de um parceiro em relação ao outro (Freud 1926).
Ambas as perspectivas destacaram a importância das dinâmicas inconscientes, mas enquanto
Lacan se concentrava nas estruturas linguísticas e simbólicas, Freud explorou pulsões e
experiências infantis. Ambas as abordagens ofereceram uma compreensão abrangente das
complexidades psicológicas subjacentes aos relacionamentos abusivos, desse modo,
possibilitou a reflexão sobre a existência do inconsciente enquanto um elemento atuante sobre
as escolhas amorosas, deste modo, a psicanálise se torna uma teoria importante para o
embasamento da prática clínica psicológica, sugerindo o tratamento psicológico para que essas
mulheres enxerguem o seu próprio lugar na relação, e tenham domínio de si, reconhecendo
enquanto sujeito.

Conclusão

É possível concluir que a violência e o abuso contra as mulheres possuem muitas facetas,
embora nenhuma justifique os abusos exercidos sobre elas, não sendo demonstrado apenas em
agressões físicas, mas também emocionais, psicológicas, afetivas e é crucial que estas mulheres
possam reconhecer os indícios de alerta, para identificar mais facilmente e não chegue ao
desfecho mais cruel que é o feminicídio.

Este trabalho buscou abordar os principais sinais de alerta que são inerentes ao comportamento
do agressor, que acontecem gradativamente e por esta razão, dificulta muito a identificação da
violência, com o propósito de auxiliar e apoiar mulheres na identificação de relações
prejudiciais e abusivas. A legislação está passando por alterações para combater a violência
contra a mulher. No entanto, é de fundamental importância que elas não se deixem coagir e
denunciem qualquer tipo de abuso para que os casos de feminicídio possam ser prevenidos,
combatidos e, espera-se, erradicados.

É importante que as mulheres conheçam a legislação, os sinais de abuso e a história de Maria


da Penha, para que não se sintam sozinhas e tenham forças para buscar por seus direitos no
combate ao relacionamento abusivo, à qualquer tipo de violência, discriminação e busquem
suporte, pois as pessoas vítimas de relacionamento abusivo necessitam de apoio psicológico
constante, já que de maneira inconsciente procuraram essas relações e que diante disso,
adquiram os seus direitos iguais como propõe a Constituição Federal brasileira.
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Referências

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separação. Psicologia em Estudo, 12(3), 513-521. Disponível site SciELO. Acesso em: 7 dez.
2023.

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