Você está na página 1de 36

emp0d3r4

Manual de Sobrevivência da
Mulher Moderna

Produzido por :
Gabriela Costa
Gabriela Pina
O que você vai encontrar
nesse material?

Objetivo ................................................................................................................................3

Caso Mari Ferrer..........................................................................................................4

O que você fazer?.......................................................................................................9

Números de emergência.....................................................................................12

Mapa Uberlandense de Assistência à Mulher..............................13

Quais as ONG's e instituições que podem nos ajudar? .....15

Quais são as leis existentes que nos auxiliam?.........................20

Depoimentos (aviso de gatilho)...............................................................30


Qual o objetivo do Emp0d3r4?
O Emp0d3r4 - Manual de Sobrevivência estão sendo obrigadas a permanecer mais
da Mulher Moderna tem o objetivo de tempo no próprio lar junto a seu agressor,
divulgar e explicar informações por vezes em habitações precárias, com os
importantes e ajudar mulheres que não filhos e vendo sua renda ser diminuída.
sabem o que fazer em casos de violência, De acordo com dados angariados do
seja ela física, psicológica, moral, sexual, Fórum Brasileiro de Segurança Pública
patrimonial ou doméstica. O manual será entre os meses de abril e maio de 2020, por
dividido em informações primordiais como meio de indicadores publicados nas mídias
números de emergência, leis que garantem sociais, houve um aumento de 431% nos
direitos essenciais às mulheres ou podem relatos de brigas entre vizinhos no Twitter
ser usadas para proteção, medidas a serem entre fevereiro e abril, além de 52 mil
seguidas em determinadas situações e menções contendo algum indicativo de
ONG’s que podem ajudar em certos casos. briga entre casais vizinhos entre fevereiro
Um dos fatores principais que inspiraram e abril.
a criação deste manual foi o crescente Em uma filtragem focada apenas nas
número de denúncias no caso de violência mensagens que traziam a ocorrência de
doméstica durante a quarentena. Embora violência doméstica, o resultado indicou
o isolamento social seja a medida mais 5.583 menções, sendo que 25% dos relatos
segura, necessária e eficaz para minimizar de brigas entre casais foram feitos às
os efeitos diretos da transmissão do novo sextas-feiras; 53% publicados no Twitter,
coronavírus, o regime tem imposto uma segundo a pesquisa, durante o período da
série de consequências para os sistemas de noite ou na madrugada - entre 20 e 3
saúde e para várias mulheres de todo o horas; e 67% foram realizados por
país. mulheres. Entretanto, em adição ao
Algumas dessas mulheres já viviam em aumento de casos de violência doméstica,
situação de violência doméstica, outras uma situação de grande repercussão
passaram a viver a partir de 2020. Seja instigou as autoras a escreverem este
qual for o caso, sem um lugar seguro, elas manual.
Caso Mari Ferrer
O acontecimento em questão foram as últimas notícias do caso de Mari Ferrer. Afinal, que
caso é esse?

Quem é Mari Ferrer?


Qual é o caso em que ela está envolvida?
Porque o caso se tornou público?

Então, quem é Mari Ferrer?

Mariana Ferreira Borges, conhecida nas mídias sociais como Mari Ferrer, hoje com 24
anos, usa suas contas do Twitter e do Instagram, atualmente, para desabafar e expor
materiais ligados ao dia em que foi estuprada enquanto estava bêbada e pedir por justiça.
Como uma representação da sua luta, ela utiliza a seguinte descrição nas redes sociais:
"Menina vegetariana. Sagitariana. Sobrevivente de violência contra a mulher lutando por
justiça".

Para entender os motivos que a levaram a lutar por esses direitos hoje é necessário voltar
para 2018. Mari tinha 21 anos e trabalhava como blogueira de moda e também ocupava o
cargo de embaixadora do estabelecimento Café de La Musique, um beach club de luxo em
Florianópolis, SC. No dia 15 de dezembro daquele mesmo ano, a jovem participou de um
evento no local e, no dia seguinte, registrou um boletim de ocorrência relatando ter sido
drogada e estuprada.
Caso Mari Ferrer
Relato do caso em que está envolvida:

Mariana Ferreira começou a relatar o acontecido por meio de seus perfis nas
plataformas de redes sociais. Ela foi dopada, estuprada e abandonada pelas pessoas que a
acompanhavam no local. A mesma descreve a situação em seu Twitter: "Minha virgindade
foi roubada junto com os meus sonhos".
Ela ainda posta prints das conversas que teve com as mulheres que estavam com ela
no café, pedindo ajuda. "Nenhuma das pessoas que me acompanhavam no dia me socorreu,
pelo contrário: me abandonaram, negaram meus pedidos de socorro, e todas as provas
levam a crer que compactuam para que o estuprador pudesse agir", escreveu.
Caso Mari Ferrer
Nas imagens, é possível notar que as mensagens estão escritas de maneira errada, com
erros de digitação típicos de pessoas não sóbrias, direcionadas a alguns de seus amigos no
dia e no horário da festa. Nas frases, desconexas, ela afirma estar triste e os acusa de
abandono. Mariana divulgou ainda um áudio direcionado a uma de suas amigas durante o
evento.
Nele, com a voz alterada, ela diz não estar bem e estar sozinha, sem saber para onde ir. Na
sua conta pessoal do Instagram, ela postou a seguinte descrição em uma de suas fotos:

Legenda: Print retirado da conta pessoal do Instagram de Marina Ferrer. @maribferrer


Caso Mari Ferrer
Por que e como o caso se tornou público?
O caso se tornou público principalmente "fantasiosa" a versão contada pela
devido aos apelos de Mariana nas mídias influenciadora. A conclusão das autoridades
sociais. Por conta do relato, as pessoas foi de que "não há provas contundentes nos
começaram a comentar nas mídias sociais e autos a corroborar a versão acusatória".
a exigir respostas e justiça. Todos os dados Com a conclusão do caso é chegado o
do caso, como as provas apresentadas pela termo que ficou na no dedo dos internautas
vítima, os áudios, as roupas sujas de sangue, por um bom tempo, o "Estupro Culposo". O
a comanda do dia da festa e as conversas termo foi bastante utilizado, pois segundo o
no WhatsApp, foram apresentados ao júri. promotor responsável, não havia como o
Em exame pericial feito com o esperma empresário saber, durante o ato sexual, que
encontrado na roupa da jovem, foi a jovem não estava em condições de
constatado que o material era compatível consentir a relação, não existindo portanto
com o DNA do empresário paulistano André a intenção de estuprar.
de Camargo Aranha. A professora da Faculdade de Direito -
Entretanto, no dia 9 de setembro de 2020, FADIR, Neiva Flávia, sobre o ocorrido
o juiz Rudson Marcos, da 3ª Vara Criminal comenta: "O sistema probatório poderia ser
de Florianópolis, julgou como feito sob um outro olhar, como por
improcedentes as denúncias da jovem e exemplo, se uma mulher vulnerável,
absolveu o réu André de Camargo Aranha alcoolizada ou dopada, alega estrupo, quem
da acusação de estupro de vulnerável. tem que provar que ela consentiu não é ela,
Durante a investigação que já dura dois é o homem, ele que tem que provar que ela
anos, foram ouvidas 22 testemunhas, além consentiu, invertendo o ônus da prova."
do acusado e da vítima. Em sua defesa, Com esse comentário entramos na
André confirma ter tido contato sexual com especulação: Como os crimes sexuais devem
a jovem, mas nega que o ato tenha sido ser tratados?
consumado e que tenha agido de forma
violenta; a defesa do empresário chama de
Caso Mari Ferrer
Por que e como o caso se tornou público?
Neiva responde que é necessário uma Diante dessa história, o presente material
escuta especializada, com assistentes sociais tem o objetivo de assistir mulheres, com
e psicólogas, para que a mulher se sinta ênfase nas estudantes universitárias, pois a
acolhida, além de ser atendida por um vulnerabilidade em todos os campos da
profissional que possui a condição de nossa vida (pessoal, profissional, cotidiano)
identificar a realidade. e a falta de acessibilidade à informação de
Assim, o importante nesse caso é qualidade pode prejudicar ou impedir
entender que a operalização das leis é o mulheres que sofreram, ou venham a sofrer,
mais vital. O Brasil é o país com a terceira algum tipo de violência, de reagirem de
maior legislação em combate à violência forma apropriada e efetiva.
contra mulher, entretanto, é o 5° lugar no Obrigada por lerem até aqui. Esperamos
ranking de feminicídios. A razão para tais que o Emp0d3r4 - Manual de Sobrevivência
dados é o fato que as leis não funcionam da Mulher Moderna seja útil durante os
do jeito que deveriam. Cláudia Guerra, trajetos da mulher contemporânea.
vereadora eleita na cidade de Uberlândia, As escritoras
comenta justamente isso: “Nós somos ótimos Gabriela Costa e Gabriela Pina.
com leis, entretanto, não sabemos
operacionalizar essas leis corretamente. Mas,
se temos essas leis hoje, é por causa das
lutas do movimento feminista. Pensando em
pesquisas, as mulheres que buscam ajuda
geralmente são mulheres pobres. A classe
média e alta possuem um status a preservar
e passam por essa situação de maneiras
diferentes.”
A vereadora deixou outro comentário.
“A fala da pessoa deve ser suficiente para
comprovar um estupro.".
O que você pode fazer quando
essa situação acontecer?
Quando uma história de assédio, violência ou constrangimento contra a mulher é
contada, uma das primeiras coisas que se passa pelo pensamento de muitas pessoas é a
seguinte frase: "Mas, se fosse comigo eu faria isso, isso e isso…”. Entretanto, em uma situação
como essas é impossível saber exatamente qual seria a sua reação. Mesmo assim, é
importante que se tenha em mente, pelo menos, algumas ações ou conselhos para que o
susto não seja maior que a ação.

O que fazer quando ele não aceita o "não"?

Quando o "não" não é o suficiente, ou quando nem O que fazer quando um homem está te seguindo?
mesmo a explicação faz mais efeito e ele continua
insistindo. O que pode e deve ser feito é um BO
Infelizmente, a grande maioria das mulheres possuem pelo menos uma história
sugerindo perseguição, caso mesmo com o boletim a
em que são seguidas por um homem, seja na rua, em um estabelecimento, dentro do
situação não se resolva, como em casos de ex
shopping, em um festival… enfim, não estamos seguras em lugar algum. Sempre que
relacionamentos, a mulher deve entrar em contato
isso acontece, podemos entrar em desespero, afinal, quais medidas a serem tomadas?
com um advogado para tentar verificar qual seria a
O sentimento de insegurança é tremendo, a ameaça iminente nos deixa com os
procedência no seu determinado caso.
nervos à flor da pele, a sensação de estar sendo seguida e observada é horrível.
Porém, não possuímos ações concretas para denunciar ou questionar o cidadão. O
que nos resta fazer?
O que fazer quando você percebe o táxi A indicação é que você ande com algo que possa machucar o perseguidor, por
tomar o caminho que você não conhece? exemplo, um livro, uma garrafa de água mais resistente entre outros pertences que
podem servir de “arma” nessa situação. Outro ponto é caminhar relativamente
A mulher moderna vive em um mundo de
rápido, seguindo por caminhos com mais pessoas e espaço, caso você precise correr.
mobilização constante, que é facilitada por
Por último, finja que conheça alguém no lugar que está andando, comprimente as
aplicativos de transporte tais como o Uber, 99,
pessoas, seja com um “bom dia” ou um simples aceno de cabeça, isso faz com que o
Wappa, entre outros. Entretanto, apesar de serem
perseguidor sinta que alguém está prestando atenção em você. A professora de
facilitadores, o tempo também mostrou que essas
Direito, ainda diz “Em qualquer circunstância, se alguém está te seguindo na rua,
viagens com “desconhecidos” podem ser
procure não ficar só, procure estar próximo de alguém e imediatamente, pelo
perigosas, em especial para as mulheres.
próprio celular, se você tiver, chame a polícia, mas procure não estar só.”
Novamente, fiquei com algo na mão que
poderia machucar, caso o motorista tente fazer
algo. Enquanto estiver na corrida, entre em
contato com alguém de sua confiança e
compartilhe sua viagem com essa pessoa, seja por
áudio ou ligações, o motorista irá perceber que
está sendo monitorado. Por último, peça que ele
siga o caminho do GPS ou as suas instruções,
caso ele não respeite a sua decisão, diga que irá
reportar a atitude para o aplicativo, até porque o
passageiro é você.
O que você pode fazer quando
essa situação acontecer?
O que fazer quando ele te bate pela
primeira vez?

O que fazer quando você está no ônibus e sente


Um relacionamento abusivo nunca que alguém te pressiona por trás?
começa de maneira óbvia. No começo,
provavelmente, tudo eram flores e ele, um De acordo com um levantamento realizado pela instituição “Viver em São
cara carinhoso e romântico. Essa fachada, Paulo - Mulher”, cerca de 43% das mulheres entrevistadas durante o ano de 2020
porém, não pode ser mantida para sempre. relataram já ter passado por algum tipo de experiência de assédio em transporte
Neiva Flávia, comenta “Em relação à violência, público. Esse resultado indica um aumento de 18 pontos percentuais em relação a
na primeira agressão, seja física, seja moral, dados de 2018, ano em que, após um homem ejacular em uma passageira em um
seja emocional, faça o boletim de ocorrência, ônibus, uma lei federal contra a importunação entrou em vigor.
procure a polícia e denuncie.” Nesses casos, é sempre indicado que a mulher ande com a bolsa na parte de
trás ou que fique escorada pelos cantos do ônibus, para que seja impossível a
aproximação de qualquer pessoa pela parte de trás. Caso você perceba alguém te
encarando ou muito próximo, desça do ônibus e procure outro ou tente ficar
O que fazer quando um homem se
masturba na sua frente? perto de mulheres que irão te ajudar caso percebam algo de errado.
Existem, ainda, casos que vão muito além disso, havendo relatos de mulheres
Infelizmente, deparar-se com este tipo de que tiveram seus corpos violados por ejaculações dentro de ônibus. Nesse caso, vá
situação é desconfortavelmente comum e muitas até a Delegacia da Mulher e faça o seu BO, é imprescindível ter ajuda em um caso
garotas, antes mesmo de chegarem à puberdade, de violação como esse. Para Neiva, esse é o procedimento ideal: “Num ônibus, se
já passaram por este tipo de assédio e você sente que alguém te toca, peça para o ônibus parar e o motorista chamar a
testemunharam um homem se masturbar em polícia, esse é o procedimento.” esclarece.
público olhando para elas ou com a intenção de
ser visto. Novamente, procure sair do lugar onde
esteja, vá para um local que tenha pessoas por O que fazer quando você está bêbada em uma festa
e não acha nenhuma pessoa para te ajudar?
perto ou pegue o seu celular e ligue para alguém
de sua confiança.
Por último, procure uma delegacia e faça o O direito ao lazer é garantido pela Constituição Federal de 1988, porém
mais rápido possível o BO, indicando quem seria como sabemos, a liberdade da mulher é muitas vezes limitada pelas situações
pessoas, para que as ações necessárias sejam indesejadas que podem ocorrer enquanto está tentando se divertir.
tomadas. Primeiramente, procure ir em festas com pessoas de sua confiança,
principalmente em bares e ou festas muito grandes. Além de estar ciente dos
locais de ajuda das festas, seja o gerente, seja o organizador, para que assim
você possa procurar ajuda no lugar mais indicado.
Para Neiva a sororidade é o que poderá ajudar em situações como essa.
“Realmente, a sororidade. Em festa, eu só vejo esse caminho. Por que? Porque
se uma menina vai para uma festa e fica bêbada ou colocam alguma coisa na
bebida dela, se ela estiver só, o risco que ela tem é muito alto, a gente tem
visto estes casos. Então só a sororidade, só estando com amigas. Ou quando
ver que está ficando um pouquinho alta, procure uma mulher próxima e fale
'olhe, eu tô ficando bêbada, não tô me sentindo bem, me ajuda, me põe em
um Uber, me ajuda a ir embora', alguma coisa nesse sentido.”
O que você pode fazer quando
essa situação acontecer?
O que fazer quando começam a passar a
mão em você de forma maliciosa?

Uma situação comum no cotidiano de muitas mulheres é a famosa “apalpada”, um grave tipo de assédio físico e
sexual. Pode acontecer no ambiente escolar ou de trabalho, em um círculo de amigos ou em meio à multidão,
quando você está sozinha com o agressor ou em meio a muitas outras pessoas.
Nesse caso é importante procurar um local de fuga, tirar a mão do assediador e sair o mais rápido possível de
onde você esteja e procurar um local com mais pessoas à vista, amigos, colegas de trabalho para que ele perceba que
você não está sozinha e tem ajuda de outras pessoas ao seu redor.

É importante ressaltar que os pontos ditos nesse tópico, com o objetivo de ajudar, são
pontos de conhecimento da sociedade como um todo. Voltando à conversa com Neiva
Flávia, que comenta que o que nós como mulheres temos que procurar é não estarmos só,
sempre com alguém, seja no telefone, seja perto: “Essa é uma das maiores dicas que a gente
pode dar, não é uma dica jurídica, é uma dica da sociedade”, e acrescenta no final da
conversa: “A denúncia é sempre o melhor caminho”.
Outro ponto que merece destaque sobre como proceder em casos de assédio e violência
é o que a Claudia menciona em nossa conversa: “Além de fazer o exame de corpo de delito,
tem que orientar a não tomar banho e trocar de roupa porque é necessário para o exame.
É a recomendação. Pedir para que a pessoa lembre alguma marca, tatuagem, anel ou
característica para a descrição e procurar atendimento psicológico. Por último, levar na
justiça, exigindo e lutando pelos seus direitos”, ela orienta.
Números para contatar em uma
emergência
Mesmo que seja de conhecimento geral, é importante que se saiba quais os números de
emergência para certas situações. Principalmente quando se leva em consideração que, de
acordo com a vereadora Cláudia Guerra e ex Diretora da ONG SOS Mulher, o número de
ligações para a ONG no período de pandemia aumentou 45%.
A Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL), desde 2014, uniformizou em todo o
Brasil os códigos dos serviços emergenciais, de utilidade pública e serviços de telefonia fixa.
Assim, todos os números necessários de serviços de emergência podem ser encontrados no
site da Anatel.
Ligue 190 - PMDF
Serviços Públicos de Emergência Você sabia? Em caso de emergência, a mulher ou
(As ligações são gratuitas)
alguém que esteja presenciando alguma situação
Secretaria dos Direitos Humanos - 100
Serviços de Emergência no Mercosul - 128 de violência pode pedir ajuda por meio do telefone
Guarda Municipal - 153 190. Uma viatura da Polícia Militar é enviada
Delegacia de Atendimento à Mulher - 180
Disque Denúncia - 181
imediatamente até o local para o atendimento.
Marinha – Emergências Marítimas / Fluviais - 185 Disponível 24 horas por dia, todos os dias. Ligação
Polícia Militar - 190
gratuita.
Polícia Rodoviária Federal - 191
Remoção de Doentes (Ambulâncias - SAMU) - 192 Ligue 180 – Central de Atendimento à Mulher
Corpo de Bombeiros - 193Polícia Federal - 194
Polícia Civil - 197 A Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180 é
Polícia Rodoviária Estadual - 198 Defesa Civil - 199
um canal criado pela Secretaria Nacional de Políticas
para as Mulheres, que presta uma escuta e acolhida
qualificada às mulheres em situação de violência. O
Entretanto, mesmo com os avanços obtidos serviço registra e encaminha denúncias de violência
pelas mulheres na defesa de seus direitos, a contra a mulher aos órgãos competentes, bem como
violência contra a mulher ainda é um problema reclamações, sugestões ou elogios sobre o
social. Visando a uma solução mais ágil para a funcionamento dos serviços de atendimento. A
denúncia, o Tribunal de Justiça preparou um denúncia pode ser feita de forma anônima
compilado com números que poderão ajudar disponível 24 horas por dia, todos os dias. Ligação
estritamente nessas situações. gratuita.
Delegacia Especial de Atendimento à Mulher - DEAM
Diante de qualquer situação que configure violência doméstica, a mulher deve registrar a
ocorrência em uma delegacia de polícia, preferencialmente, nas Delegacias Especiais de Atendimento
à Mulher (DEAM), que funcionam das 8 às 18 horas. Endereço: Avenida Rondon Pacheco, 2446,
Saraiva, CEP 38408-404
Telefones: (34) 3210-3646
Página: http://www.policiacivil.mg.gov.br
Mapa de Assistência em
Uberlândia-MG
Casa da Mulher - Delegacia Especializada em Defensoria Pública da União (DPU) em
Atendimento a Mulher - DEAM Uberlândia/MG
Av. Nicomedes Alves dos Santos, 727 - Centro, R. Eduardo Marques, 1049 ·
Uberlândia - MG, 38408-343 Atendimento: 08h às 17h
Funcionamento: 08h às 17h Telefone: (34) 3211-4664
Telefone: (34) 3231-3756

Delegacia Especializada de CIM - Diretoria da Mulher


Defensoria Pública do
Atendimento à Mulher – DEAM Av. Nicomedes Alves dos
Estado de Minas Gerais
Endereço: Avenida Nicomedes Alves Santos, 728 - Lídice,
Av. Fernando Vilela, 1313
dos Santos, nº 727, bairro Lídice Uberlândia - MG
Atendimento: o9h às 18h
Atendimento: 8h às 18h Atendimento: 08h às 18h
Telefone: (34) 3235-0799
Telefone: (34) 3231-3756 Telefone: (34) 3214-0022
Quais lugares existem para nos
apoiar em Uberlândia-MG?

Foto: Divulgação/SECOM

"Necessitamos de um
atendimento constante, uma
escuta ativa, sem julgar, que
acolhe, que encoraja."

- Cláudia Guerra
Organizações Não-Governamentais
Organizações Não-Governamentais

O papel das ONGs


Entrevista com Cláudia Guerra, professora universitária,
pesquisadora, diretora do SOS Mulher por 28 anos e vereadora
recém-eleita

"A mulher que sofre violência, ela precisa de trabalho e


renda. A mudança não é só lei, é necessário criar as
condições de equidade"
Foto: Divulgação/Assessoria.

Não adianta ter uma lei maravilhosa se não há prática. As ONGs são lugares que fazem aquilo que o poder
público não faz. Nem sempre a lei funciona e é operacionalizada naquilo que precisa.
Instituições dedicadas aos Direitos das
Mulheres indicadas pelo Ministério
Público Federal

Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão:


http://www.mpf.mp.br/pfdc

Governamentais

Conselho Nacional dos Direitos da


Mulher (CNDM):
https://www.gov.br/mdh/pt-br/acesso-a-
informacao/participacao-
social/conselho-nacional-dos-direitos-
da-mulher-cndm
Ministério da Justiça (MJ):
http://www.mj.gov.br/
Ministério da Saúde (MS):
http://www.saude.gov.br/
Instituições dedicadas aos Direitos das
Mulheres indicadas pelo Ministério
Público Federal

Sociedade Civil
Instituto Patrícia Galvão:
Centro Feminista de Estudos e Assessoria: https://agenciapatriciagalvao.org.br/
http://www.cfemea.org.br/ IPAS Brasil: https://www.ipas.org/
Instituto da Mulher Negra (SP): Movimento Nacional de Direitos
http://www.geledes.org.br/ Humanos: https://mndhbrasil.org/
Rede Nacional Feminista de Saúde e Mulher 500 anos atrás dos panos:
Direitos Reprodutivos: http://www.mulher500.org.br/
http://www.redesaude.org.br/ Organização Internacional do Trabalho
Rede Mulher de Educação: (OIT): http://www.oit.org/
https://ndptoledo.wixsite.com/ndptoledo/r Pagu - Núcleo de Estudos de Gênero:
ede-mulher https://www.pagu.unicamp.br/
Sempreviva Organização Feminista: Rádio Feminista - RIF/FIRE:
http://www.sof.org.br/ http://www.radiofeminista.net/
Articulação de Mulheres Brasileiras: Revista Estudos Feministas:
https://www.facebook.com/amb.feminista/ http://www.cfh.ufsc.br/~ref
Católicas pelo Direito de Decidir: SOS Corpo - Gênero e Cidadania:
https://catolicas.org.br/ http://www.soscorpo.org.br/Themis -
ECOS - Comunicação em Sexualidade: Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero:
http://www.ecos.org.br/ http://www.themis.org.br/
Gênero, Direitos Humanos e Saúde: Associação Brasileira de Organizações
http://www.mulheres.org.br/ não Governamentais: www.abong.org.br
Instituições dedicadas aos Direitos das
Mulheres indicadas pelo Ministério
Público Federal

Internacionais

Articulación Feminista Marcosur: https://www.mujeresdelsur-afm.org/


https://www.facebook.com/ArticulacionFeministaMarcosur/
Campaña por una Convención Interamericana de los Derechos Sexuales y los
Derechos Reproductivos: http://convencioninteramericana.org/
Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos:
http://www.clam.org.br/
Comité de América Latina y el Caribe para la Defensa de los Derechos de la Mujer
(CLADEM): http://www.cladem.org/
Cotidiano Mujer: http://www.cotidianomujer.org.uy/
Feminist Approaches to Bioethics: http://www.fabnet.org/
Fempress - Red de Comunicación Alternativa de la Mujer: http://www.fempress.cl/
Flora Tristán: http://www.flora.org.pe/
Human Rights International: http://www.hri.ca/
Isis internacional:https://www.isiswomen.org/
Red de Educación Popular entre Mujeres (REPEM): http://repem.org/
OMS - Organização Mundial da Saúde: http://www.who.ch/
A Legislação Brasileira
Entrevista com Amanda Gondim, advogada em direitos das mulheres, fundadora do projeto
Todas Por Ela e vereadora recém-eleita

A Constituição Brasileira e suas leis assistentes são, no


papel, excelentes em termos de proteção das mulheres,
crianças e adolescentes. Quais seriam ações possíveis, na
sua opinião, para usar desta legislação para criar ação
concreta de proteção para estes grupos?

Foto: Divulgação/PDT.

Em termos de legislação de proteção à violência contra a mulher, o Brasil tem a terceira maior
legislação do mundo. A Lei Maria da Penha é um instrumento muito avançado, o nosso problema
mesmo é operacionalizar. Por exemplo, questões culturais, machismo, patriarcado, a forma como as
instituições e a nossa sociedade são organizadas, com uma distinção de papéis de gênero, colabora
muito para essa cultura de violência, a própria cultura do estupro, que se aproveita da naturalização de
papéis violentos que as mulheres são submetidas desde a infância. Essas são dificuldades culturais e
organizacionais. Os instrumentos que já estão nos dispositivos da lei precisam ser regularizados e
constituídos de fato.
Além disso, pensar em comunicação e educação como uma base de prevenção. Mudar essa concepção
de educação racializada para algo mais diverso e inclusivo, que trabalhe pautas de gênero, educação
sexual e que leve a informação na formação cidadã desde a infância. [...] É até uma dificuldade que
temos na prática da advocacia, o direito das mulheres é uma área interdisciplinar que se alia ao Serviço
Social, à Saúde Básica, pensando em educação, acesso e recursos e informações. Vai muito além de
somente a legislação em si, é pensar também na emancipação das mulheres, na emancipação financeira,
na formação profissional, além da desigualdade salarial entre homens e mulheres — que implica
diretamente em questões de reprodução de violência. São ações que buscam um impacto social, em
diversas áreas, com uma visão sistêmica e integrada, como a nossa visão também deve ser, alcançando
diversos setores de maneira integrada.
Legislação
Quais são as leis que existem a nosso favor?

A mulher brasileira passou a ter mais direitos legais apenas a partir da


Constituição de 1988, vigente até os dias de hoje. A partir dela a condição de
equidade de gênero se estabeleceu como mais presente no Direito, uma vez
que ampliou os direitos e garantias fundamentais da população feminina

Constituição (1988) Art. 5º Todos são


iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: I -
homens e mulheres são iguais em direitos e
obrigações, nos termos desta Constituição.

Ainda na Constituição há outros trechos que garantem direitos


fundamentais da mulher, mas desde então muito se avançou em relação aos
direitos do grupo com a aprovação de diversas leis de proteção específicas
para atender a situação de desigualdade de gênero no país.
Legislação
Quais são as leis que existem a nosso favor?
Primeiro, precisamos entender o que é considerado violência aos olhos da lei. A Lei
Maria da Penha (nº 11.340/2006) conceitua as seguintes violências:

Violênc
ia
V io lê n c ia Sexual
F ís ic a Qualquer co
presenciar, a nduta que a constranja
Qualquer conduta que ofenda a relação se manter ou a particip a
integridade ou saúde corporal. intimidação, xual não desejada, me ar de
a d
que a induza meaça, coação ou uso iante
d
Vi olê nc ia qualquer mo comercializar ou utili a força;
a
do, a sua sex za
Ps ico lóg ica impeça de u ualidade, qur, de
contraceptiv sar qu ea
o ou que a foalquer método
à gravidez, rce ao matr
co nd ut a qu e cause dano emocionae
le mediante co ao aborto ou à prostitu imônio,
er a iç
Qual qu
stima, que prejudique manipulaçãoção, chantagem, suborn ão,
diminuição da auto-envolvimento ou que vise a exercício de
; ou que limit oo
e ou anule o u
perturbe o pleno dese r suas ações, seus direit
degradar ou controla e reprodutivos.os sexuais e
rta m en to s, cr en ça s e decisões, mediant
com po ento, humilhação,
ameaça, constrangim , vigilância constante,
ento Vi olê nc ia
manipulação, isolam az, insulto, chantagem,
perseguição co nt um ito Mo ra l
la riz aç ão , ex pl or aç ão e limitação do direuse
ridicu e ca
er outro meio que lh Qualquer conduta
de ir e vir, ou qualqu úde psicológica e à que configure calúnia,
prejuízo à sa
autodeterminação. difamação ou injúria.

Vi olê nc ia
qu ar ta
Pa tri nia l
mo Qualquer conduta ilegítima que
configure perda, retenção,
subtração, destruição parcial ou
total de objetos, instrumentos de
trabalho, documentos pessoais,
bens, valores e direitos ou recursos
econômicos, incluindo os
destinados a satisfazer suas
necessidades
Legislação
Lei 11.340/2006 - Maria da Penha

A Lei Maria da Pena, é provavelmente a lei Ela prevê que agressores — no campo
mais importante e conhecida da legislação doméstico e familiar — sejam presos em
brasileira no que diz respeito ao direito das flagrante ou tenham a prisão preventiva
mulheres, sendo, inclusive, considerada a decretada em decorrência de qualquer
terceira melhor de combate à violência ação que cause morte, lesão, dano moral
doméstica do mundo pela Organização das ou patrimonial às vítimas, além de casos de
Nações Unidas (ONU), em 2012. violência física, sexual e psicológica.

Além disso, existem várias leis aprovadas com a intenção de alterar ou acrescentar termos
a ela, tais como:

Prevê a competência dos Juizados de


Violência Doméstica e Familiar contra a
Mulher para ações de dissoluções de Garante a matrícula dos
casamento ou uniões estáveis em caso dependentes da mulher vítima
de violência doméstica e torna de violência doméstica e familiar
obrigatória a informação às vítimas em instituição de educação
acerca da possibilidade de serviços de básica mais próxima de seu
assistência judiciária ajuizarem as domicílio.
ações.
Prevê a apreensão de
arma de fogo sob posse
de agressor em casos
Autoriza a aplicação de medida
de violência doméstica,
Dispõe sobre a responsabilidade do protetiva de urgência à mulher em
na forma em que
agressor pelo ressarcimento dos custos situação de violência doméstica e
especifica.
relacionados aos serviços de saúde familiar, ou a seus dependentes, e
prestados pelo Sistema Único de Saúde para determinar o registro da
(SUS) às vítimas de violência doméstica medida protetiva de urgência em
e familiar e aos dispositivos de banco de dados mantido pelo
segurança por elas utilizados. Conselho Nacional de Justiça.
Legislação

Também conhecida como “Lei do Minuto Seguinte”, prevê que toda vítima de violência sexual tem
o direito de buscar atendimento emergencial, integral e gratuito na rede pública de saúde sem a
necessidade de apresentar boletim de ocorrência ou qualquer outro tipo de prova do abuso
sofrido.
Basta a sua palavra para que o sistema de saúde seja obrigado a dar acolhimento com amparo
médico, social e psicológico, além do diagnóstico e do tratamento das lesões físicas. A rede pública
também deve fornecer os medicamentos necessários para evitar a gravidez e infecções sexualmente
transmissíveis.

Conhecida como “Lei do Feminicídio”, esta lei altera o artigo 121 do Código Penal,
instituindo o feminicídio como um crime de homicídio, e o artigo 1º da Lei de Crimes
Hediondos, acrescentando o feminicídio à categoria.
Quando uma mulher perde a vida em derivação de abuso, violência doméstica,
discriminação, menosprezo, ou nos casos em que a mulher é levada a cometer suicídio
por abuso psicológico ou pelo simples fato de ser mulher, o ato deixa de ser um
homicídio comum e torna-se qualificado e, consequentemente, crime hediondo (de
extrema gravidade). A lei ainda pontua alguns agravantes, sendo eles: feminicídio durante
a gestação ou nos três primeiros meses após o parto; contra mulheres menores de 14 anos,
maiores de 60 anos ou portadoras de deficiência física ou mental; e feminicídio na
presença de descendente ou ascendente da vítima.
Legislação

Afirma a necessidade da
notificação compulsória em
caso de violência contra a
mulher para os casos que são
atendidos em sistemas de
saúde públicos e privados em
todo o Brasil.
A “Lei Carolina Dieckmann” não A “Lei Joanna Maranhão” altera
é destinada exclusivamente às os prazos de prescrição para
mulheres, mas a motivação partiu crimes de abusos sexuais
de um crime mais comum contra cometidos contra crianças e
o grupo e promoveu alterações adolescentes (de qualquer
no Código Penal para definir sexo/gênero), que passam a ter o
crimes cibernéticos no Brasil. tempo contado para a prescrição
após a vítima completar 18 anos,
além de aumentar o prazo para a
denúncia para 20 anos.

Pune
de o s c ri
ia de c on tr m es q
n c a a di u e vã
s g o
e f e rê c a s o d o a c om o n i d a de se
x
r n o estu p u a l,
a a p p a ra e v i t a a ra fa v o re ro , a s s é d i o ,
n , p a
de n to os ra ess p ro s t i c im en
to de
O r a m e ion d em o es d tu iç ã o
, v i o la
g d d m
ju l e s h e a d e e c r i . etc .
ç ão se
xual
m ci d a
c ri rrê n e n t o t u re z
o
o c lg a m n a sável pela
ju Torna a PF respon
imes
investigação de cr
vulgação de
relacionados à di
eúdo
mensagens de cont
rnet. Ela
misógino pela inte
/02.
altera a Lei 10.446
Legislação

Estabelece quais são as


diretrizes para um
atendimento humanizado de
vítimas de violência sexual,
realizado pelos profissionais
Tipifica os crimes de da segurança pública e pelo
importunação sexual e de SUS.
divulgação de cena de estupro, Visa a punição para diversos
torna incondicionada a ação crimes de violência contra a
penal de crimes contra a mulher. Algumas dessas punições
liberdade sexual e crimes sexua
is estão hoje previstas na Lei Maria
contra vulnerável e determina da Penha.
o
aumento da pena para estupro
coletivo e corretivo.

n o mo o P ro í b
e o ca
t ô s sam en
r i m e au m e dida aqu el
e re a l to in f
ac de ei i za d o a n t i l,
T o rn ri m e n t o s t o n a “L i n fo rm
a lm e n , f o r m a l ou
um p re v i te, a n
d e s c v a s , já p e n h a . ” a n os tes do
eti P de ida s 18
p ro t ia da de.
M ar
tificação
Dispõe sobre a no
casos de
compulsória dos
cia contra a
suspeita de violên
mulher.
O que pode ser melhorado?
Por Neiva Flávia, professora da Faculdade de Direito da UFU, coordenadora dos projetos
Todas Por Ela, Acolhidas e Entre Irmãs.

O Brasil tem uma excelente legislação contra violência


doméstica e crimes sexuais também. Então qual é o problema?
Bom, vou pontuar três principais problemas: machismo
estrutural da nossa sociedade, educação e estrutura judiciária.
Quando falamos de machismo estrutural, estamos falando de
criação. A estrutura da nossa sociedade é machista. Isso não é
exclusivo do Brasil, é claro, veio da Europa, exportado a
partir da nossa colonização. [...] Nós importamos essa
Foto: Divulgação/ComunicaUFU. estrutura que entende que as mulheres estão à disposição dos
homens. A estrutura aparece nas brincadeiras, na maneira
como os pais lidam com seus filhos, na maneira como um
chefe lida com sua funcionária… a estrutura da sociedade
"Era fundamental que a
brasileira é construída de forma machista. Para desconstruir,
gente, na educação formal, é preciso ação. Essa estrutura não vai se desconstruir
nós tivéssemos naturalmente, uma vez que ela mesma não é natural. É
obrigatoriamente, por necessário ação. A ação nesse sentido é, especialmente,
política pública, por lei, um campanhas. Campanhas publicitárias são um ponto
conteúdo que se combate a fundamental, tanto em empresas, na mídia (alternativa ou
violência contra a mulher. E convencional), entre outros.
Em relação à educação, é fundamental que nas escolas, seja
como seria isso?
considerando os níveis fundamental, médio ou superior, seja
Evidentemente, esclarecendo
implementada uma política pública — inclusive normatizada
o que é machismo, o que é por legislação — de obrigatoriedade de conteúdos acerca da
misoginia, quais são as violência contra a mulher, a revelar o que eu chamei de
práticas de violência, o que é machismo estrutural e trabalhar a sua desconstrução e o
a violência e como evitá-la." combate à ela [violência contra a mulher].
O que pode ser melhorado?
Por Neiva Flávia, professora da Faculdade de Direito da UFU, coordenadora dos projetos
Todas Por Ela, Acolhidas e Entre Irmãs.

Por fim, chegamos ao sistema judiciário. Pois bem, não adianta "Ademais, seria fundamental
ter a legislação, se não existir um aparato judiciário adequado que o sistema judiciário
para apurar aquela legislação. Por exemplo, a Lei Maria da brasileiro reconhecesse um
Penha, que é uma lei de política pública, que fique claro, grande erro judiciário que foi
estabeleceu uma vara especializada para a violência doméstica, a tese da “Legítima Defesa da
o que nem todos os lugares têm. Uberlândia, por exemplo, Honra'', que justificou o
ainda não tem, o que seria fundamental. Por que? Porque os homicídio de mulheres. E mais
profissionais que vão atuar nessa vara são capacitados para
que justificar o homicídio de
lidar com caso em espécie, são formados e educados para isso.
mulheres, vilipendiou a
Fora que o sistema probatório é próprio, a escuta é
memória dessas mulheres no
especializada. Nós precisamos da mesma estrutura em crimes
contra as mulheres, crimes sexuais em espécie. [...] Nós processo. A Justiça Brasileira
precisávamos que nos crimes sexuais tivesse escuta precisa assumir esse erro, se
especializada, com assistentes sociais, com psicólogas. Primeiro responsabilizar pelo o que fez e
para que essa mulher se sentisse acolhida, segundo porque esses reparar a memória dessas
profissionais conseguem identificar a realidade. mulheres, [...]."

Além disso, o sistema probatório poderia ser feito sob um outro olhar. Por exemplo, se uma mulher
vulnerável, alcoolizada ou dopada, alega estrupo, quem tem que provar que ela consentiu não é ela, é o
homem que tem que provar que ela consentiu. A gente inverte então o que chamamos de ônus da
prova. Isso só é possível em justiças especializadas, como o caso da Trabalhista. Isso justifica a justiça
especializada. Por que? Ora, por que existe a Trabalhista? Porque nós entendemos que o trabalhador
em relação ao empregador é mais fragilizado socioeconomicamente, porque o empregador que detém
o poder econômico. É o mesmo em relação à mulher. Nos crimes sexuais, quem detém o poder físico e
uma estrutura social que o referenda (que questiona muito essa mulher que sai, que vai pra balada,
etc), quem está nessa posição social superiorizada é o homem. Nesse caso, é necessário uma justiça
especializada para buuscar igualdade nessas situações e buscar verdade nesses casos. Isso é essencial:
justiça especializada para crimes sexuais contra mulheres e feminicídio também.
O que pode ser melhorado?
Por Neiva Flávia, professora da Faculdade de Direito da UFU, coordenadora dos projetos
Todas Por Ela, Acolhidas e Entre Irmãs.

É fundamental também que nas cidades existam


movimentos que pressionem o poder público para
valorizar a vida das mulheres. Não permitir que
homens que assassinaram, estupraram, agrediram
mulheres e foram condenados por isso sofram
qualquer tipo de homenagens. E que tenha em cada
cidade um memorial de mulheres, que fale sobre a
memória das mulheres que foram assassinadas, mas
também sobre as mulheres que construíram a cidade,
o estado, o país e o mundo, porque isso fortalece a
autonomia das mulheres e meninas que estudam e
vivem nessas cidades que vão se reconhecer nessas
histórias. [...]
O movimento de mulheres é imprescíndivel, só ele vai transformar a
sociedade. Todas as conquistas que aconteceram, desde o voto feminino, se
deram em função da luta dos movimentos das mulheres. Então o que
precisamos é da união de mulheres, uma união qualificada, que faça
capacitação, que faça cartilha, que busque campanhas em mídias, que
trabalhe com arte… a arte é um dos maiores instrumentos de
conscientização existentes. Então, trabalhar com arte, seja teatro, seja curta
[...], e que tenha equipes para várias atividades, várias ações e que
congregue muitas mulheres: “ah, então nós vamos buscar a justiça
especializada, então nós vamos fazer uma campanha para isso e vamos
congregar muitas mulheres”. Mas que mulheres? Deputadas, senadoras,
vereadoras, demais entidades, juízas, promotoras. Então, trabalhar nesse
sentido de união, capacitação e sororidade das mulheres.
Depoimentos
Antes de finalizar o Emp0d3r4, queremos deixar alguns dos depoimentos que nos
ajudaram e intuíram em quais questões abordar, assim como nos mobilizaram para
tentar fazer uma diferença, mesmo que pequena, na sociedade.
Além disso, aqui temos uma pequena metáfora para que sirva de reflexão:

Aviso de gatilho: o conteúdo a seguir foi


recolhido a partir de um formulário
disponibilizado em canais de redes sociais para o
recolhimento de depoimentos de mulheres que já
haviam passado por algum tipo de situação de
violência de gênero. Pode conter gatilhos.
Depoimentos Recolhidos

“Não lembro a idade, mas eu era criança, estava no Praia Clube, na


piscina aquecida usando um óculos de natação e um senhor começou
a se masturbar dentro da água pois sabia que eu poderia ver com os
óculos. Então saí da piscina e fui para outra, ele foi atrás. Fiquei com
medo, saí da piscina e fui logo embora para onde meus pais estavam,
mas nunca contei nada. Essa foi apenas uma das situações que vivenciei
no Praia Clube, já aconteceram várias, a maioria lá.”
- Depoimento Anônimo

“Quando eu tinha oito ou nove anos meu padrinho começou a me


aliciar. Começou com os olhares, depois foram os carinhos estranhos.
Eu não me sentia confortável, mas achava que era só coisa da minha
cabeça, então ficava calada. Depois de um tempo, ele começou a
mostrar as partes íntimas pra mim, tentava colocar a minha mão nas
partes dele e me convencer a fazer coisas e por mais que eu já tivesse
noção de que a forma com que ele agia fosse completamente errada, eu
ainda permanecia calada (até hoje), pois achava/acho que se eu contar,
ninguém vai acreditar em mim, vão rir, invalidar ou qualquer coisa
assim. Esses assédios duraram anos e só "pararam" porque eu me mudei
de cidade. Mas até hoje, mais de 14 anos depois, quando raramente o
vejo, ainda sinto os olhares maliciosos dele.”
- Depoimento Anônimo
Depoimentos Recolhidos

“Quando eu tinha cerca de 15 anos fui no camelódromo com a minha


mãe, fomos em uma lojinha que estava cheia então aguardávamos
atrás de umas pessoas e outras ainda atrás de nós. Então do nada
minha mãe começou a gritar e a xingar um homem que estava
próximo a mim. Ele logo saiu andando rápido e sumiu de vista, eu não
entendi direito o que tinha acontecido, minha mãe disse que ele estava
atrás de mim com o pênis de fora da calça. Foi muito traumatizante, eu
lembro que me senti suja e culpada, pensando que por estar com um
short curto eu tinha provocado aquilo, na época eu namorava, mas
nunca tive coragem de comentar com ele.”
- Depoimento Anônimo

“Uma vez um cara tentou me agarrar, graças a deus eu consegui me


livrar e não aconteceu nada, mas foi MUITO horrível. Eu era bem nova,
cerca de 12 anos e até hoje eu sinto um receio quando homens vem me
abraçar ou coisa do tipo, independente de ser um parente meu, sempre
me afasto e evito.”

- Depoimento Anônimo
Depoimentos Recolhidos
“O ex marido da minha irmã me assediava quando eu tinha uns 9 anos,
ele me colocava no colo dele e começa a lamber a minha orelha e a
passar a mão na minha perna. Ele fazia isso todos os dias e sempre que
chegava lá em casa, me procurava e me chamava. Até que um dia eu
comecei a me esconder dentro do guarda roupa e eu sempre ficava
muito assustada e com medo…”
- Depoimento Anônimo

“Outro episódio ocorreu quando eu tinha 18 anos, voltava do almoço


com uma amiga para o cursinho, quando no quarteirão da escola,
entre duas árvores, um homem se masturbava olhando pra gente, nós
saímos correndo e entramos na escola, aquela cena nojenta ainda me
acompanha após 5 anos. Na rua, a partir dos 17 anos, quando comecei a
andar sozinha ou com amigas de dia, sempre escutei caras de moto,
caminhão ou carro gritando alguma coisa quando passavam, nunca
tratei como um elogio, isso me gerava repulsa e raiva.”
- Depoimento Anônimo

"Eu estava em um ônibus lotado e o cara que estava atrás de mim, de


costas, ficava tentando por a mão em mim. Foi apavorante porque não
tinha muito espaço pra eu sair de onde estava.”
- Depoimento Anônimo
Depoimentos Recolhidos

“Quando tinha 8 anos, mais ou menos, um familiar próximo tentou


passar as mãos em minhas partes íntimas, conseguiu na área dos seios,
mas não conseguiu mas genitais porque consegui sair do quarto. Isso
até hoje me deixou um trauma, com quase 20 anos, não consigo ficar
sozinha com nenhum homem sem sentir medo e até hoje não consegui
manter relações com ninguém por insegurança, a vez que eu tentei,
chorei muito…”
- Depoimento Anônimo

“Meu ex, pai da minha filha, não aceitava o término do


relacionamento: chegou a me agredir, entrar na minha casa forçado e
levar meu celular e nunca me devolver, e no episódio mais grave,
apareceu na porta da minha casa e me apontou uma arma pelo portão,
mas se assustou quando viu minha avó e fugiu. Eu denunciei mas nada
aconteceu. Com o tempo ele me deixou para lá, casou novamente e tem
outra filha. Eu e minha filha não o vemos há 4 anos, ele nunca nos
ajudou em nada mas eu prefiro assim. Que ele nunca volte.”

- Depoimento Anônimo
Depoimentos Recolhidos

“Já sofri violência sexual (tentativa de


estupro) aos 12 anos de idade em que
lutei e consegui fugir”
- Depoimento Anônimo

"Relacionamento abusivo com um


homem, onde ele justificava as
agressões em outras pessoas falando
que era para não explodir em mim,
fora as agressões psicológicas”
- Depoimento Anônimo

"Estava esperando meu ônibus após o


trabalho, um homem de
aproximadamente 50 anos passou a
mão em minha bunda e gritou
'gostosa'”
- Depoimento Anônimo
“Um rapaz pegou na minha bunda e
quando eu percebi fui enfrentá-lo, ele
se fez de desentendido, mas dois
rapazes me ajudaram e bateram nele.”

- Depoimento Anônimo

Você também pode gostar