Oscar: Apostas, curiosidades, recordes Estrelas.

Os atores
Lily Gladstone e Cillian Murphy

e mais sobre a entrega dos prêmios hoje SEGUNDO CADERNO

podem fazer história
na cerimônia

OGLOBO
Irineu Marinho (1876-1925) (1904-2003) Roberto Marinho RIO DE JANEIRO, DOMINGO, 10 DE MARÇO DE 2024 ANO XCIX - Nº 33.088 • PREÇO DESTE EXEMPLAR NO RJ • R$ 10,00

BRENNO CARVALHO

NOVA REVOLUÇÃO

Corrida global O presidente

do sindicato
por energia limpa dos deputados

turbina indústria
A obsessão do presidente da
Câmara, Arthur Lira, em pilotar
emendas e costurar votações
com seus pares em reuniões que
varam madrugadas explica

de etanol no país
tanto seu sucesso quanto a
tensão com um governo
do qual teve de se
aproximar às pressas.
O perfil escrito por
Produção triplicará com aposta em veículos VERA MAGALHÃES
inaugura o “Persona”,
híbridos, combustível de aviação e hidrogênio que trará relatos
feitos por colunistas,
editores e
Executivos e pesquisadores afirmam que o carbono, que demandará cada vez mais, em repórteres do
Brasil já deu início a uma nova revolução no todo o mundo, veículos e aeronaves menos GLOBO sobre as
setor sucroalcooleiro, que terá como resulta- poluentes e novos combustíveis, como o hi- mais relevantes
do uma produção de etanol três vezes maior drogênio verde. A indústria brasileira está in- figuras da
do que a atual, chegando a 100 bilhões de li- vestindo em usinas que chegam a R$ 1 bilhão República.
tros por ano. O motor da expansão é a transi- por unidade e em desenvolvimento tecnoló- PÁGINAS 8 a 10
ção energética para uma economia de baixo gico para atender a essas frentes. PÁGINA 17

Regulação eleitoral da IA Água, luz, internet, TV e

põe Brasil na vanguarda,
mas ainda há entraves
País se antecipa a nações que também
terão eleição este ano, mas limites
das plataformas e velocidade da
propagação do conteúdo desafiam
cumprimento das novas regras. PÁGINA 4
telefone: facções barram
prestação de serviços no Rio
Concessionárias colecionam casos de
funcionários obrigados a fazer ligações
ilegais e áreas onde até a polícia desacon-
selha a entrada para prestar serviços por
serem “dominadas por facção”. PÁGINA 28

MISTÉRIOS DA MENTE EDITORIAL MERVAL PEREIRA

O sonho e seus
significados ainda
desafiam a ciência
Por que sonhamos? Sem respostas claras,
cientistas levantam boas hipóteses como
“limpeza” do cérebro e consolidação
da memória. O significado dos sonhos
também segue no campo da teoria. PÁGINA 25
DENÚNCIA DE ABOLICIONISTA
André Rebouças e
o alerta à exploração
CRIMES CONTRA MULHER EXIGEM A tempestade perfeita que se
JULGAMENTO CÉLERE PÁGINA 2 forma no Palácio do Planalto PÁGINA 2
MÍRIAM LEITÃO LAURO JARDIM
Onda conservadora sempre Números revelam aumento
será contra as mulheres PÁGINA 18 da polarização no país PÁGINA 6
DORRIT HARAZIM ELIO GASPARI
É preciso buscar o belo enquanto Lula é um problema para
bombas explodem ao redor PÁGINA 3 o governo de Lula 3.0 PÁGINA 12
— E agora, para onde vamos?
BERNARDO MELLO FRANCO DANIEL BECKER
Governador de SP rasgou Ultraprocessados devem ser
a fantasia de moderado PÁGINA 3 taxados exemplarmente PÁGINA 27
BELEZA MADURA

de imigrantes europeus PATRÍCIA KOGUT CACÁ DIEGUES Miss e mister

Um dos principais nomes da luta
‘Balenciaga’é uma boa história
contada com talento SEGUNDO CADERNO
É hora de pensarmos no destino
da Humanidade SEGUNDO CADERNO
da terceira idade
abolicionista no Brasil, engenheiro baiano Aparência, carisma e experiência
denunciou a prática em cartas datadas PEDRO BUCHER
de vida contam ponto nos concursos
de 1891. Documentos serão digitalizados de beleza exclusivos para idosos
pelo Arquivo Nacional. PÁGINA 14 que se espalham pelo país. PÁGINA 15

Para analistas, postura De peito PREMIER LEAGUE

de Lula sobre Maduro aberto O duelo final

é ‘difícil e contraditória’ de dois gigantes
Apoio ao governo autoritário do Às vésperas Com sua anunciada saída do Liverpool,
presidente venezuelano mina discurso de estrear nova Klopp faz hoje contra o City de Guardiola
de petista pela democracia e tem alto série no streaming, o derradeiro embate de uma rivalidade que
risco, dizem especialistas. PÁGINA 22 Juliana Paes admite marcou época no futebol inglês. PÁGINA 34
ter tido depressão
e recorrido a
remédios após
EXTREMA DIREITA EM PORTUGAL cancelamento
Partido radical Chega pode em 2021:
triplicar bancada hoje PÁGINA 23 “Saí mais forte”.

DISPARADA CRIPTO
IAN HODGSON/AFP

O que é ‘halving’ e por que

PAUL ELLIS/AFP

ajuda na alta do bitcoin PÁGINA 20

INÊS249
2 |
Opinião do GLOBO
Crimes contra
mulher exigem
julgamento célere
Enquanto feminicídios estão
em alta, condenações por estupro
e assédio sexual demoram anos
A
violência contra a mu-
lher continua a exigir
mais atenção das insti-
tuições. Apenas no ano
passado, foram registra-
dos 1.463 feminicídios, um aumen-
to de 1,6% em relação ao ano anteri-
or, segundo dados do Fórum Brasi-
leiro de Segurança Pública. Foi o
número mais alto desde 2015, ano
em que o crime foi tipificado em lei.
Desde então, foram registrados
10.655 feminicídios. Em 18 estados,
a taxa de feminicídio ficou acima da
média nacional, de 1,4 morte por
100 mil habitantes. A mais alta (2,5)
foi registrada em Mato Grosso. A
mais baixa (0,9), no Ceará, embora
haja uma suspeita fundamentada
de subnotificação, já que apenas 28
das 264 mulheres assassinadas no
estado foram classificadas como
vítimas de feminicídio (crime em
que a vítima se torna alvo pela con-
dição de mulher).
É verdade que governo e sociedade
têm agido para combater a violência
contra as mulheres. A legislação se
tornou mais rígida, com canais ofici-
ais para denúncias, campanhas edu-
cativas e pressão sobre as autorida-
Veto a romance premiado reflete
moralismo injustificável contra arte
Em vez de barrar ‘O avesso da pele’
nas escolas, autoridades deveriam
cuidar da qualidade do ensino
É
injustificável o veto imposto
ao livro “O avesso da pele”,
de Jeferson Tenório, vence-
dor do Prêmio Jabuti em
2021, por parte de gestores
educacionais de pelo menos três esta-
dos brasileiros (Paraná, Mato Grosso
do Sul e Goiás). Num efeito dominó, a
Secretaria de Educação dos três esta-
dos mandou recolher o romance das
bibliotecas escolares, sob alegações
sem nexo de que apresenta vocabulá-
rio chulo e conteúdo sexual. Ora, as au-
toridades deveriam se preocupar com
a qualidade do ensino, não em cance-
lar obras consagradas pela crítica.
Ocapítulo inicial desse desvario foi o
vídeo da diretora de uma escola de San-
ta Cruz do Sul (RS) pedindo que exem-
plares do romance fossem retirados
das escolas. Ela criticou o MEC por en-
viar um livro “com vocabulários de tão
baixo nível para estudantes do ensino
médio”. Depois da repercussão, o vídeo
foi apagado. Mas cumpriu seu objetivo
de disseminar desinformação.
Não demorou para que outros esta-
dos se engajassem na cruzada contra a
CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
PRESIDENTE: João Roberto Marinho
VICE-PRESIDENTES: José Roberto Marinho e Roberto Irineu Marinho
O GLOBO
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des. Mais mulheres têm procurado o
Judiciário para se blindar contra seus
agressores. Mesmo assim, apesar do
aumento nas Medidas Protetivas
concedidas pela Justiça, mais mulhe-
res têm sido vítimas de agressão, nu-
ma espiral que, nos casos mais extre-
mos, culmina no feminicídio.
Condenações em primeira ins-
tância por estupro e assédio sexual
também têm crescido. As por estu-
pro aumentaram 57% entre 2020 e
2023 (de 7.532 para 11.801). Nas
denúncias de assédio, as condena-
ções aumentaram 240% no mesmo
período (de 345 para 1.175). Embo-
ra os processos por estupro tenham
caído 12%, as ações por assédio au-
mentaram 39%. Ainda havia, no fi-
nal do ano passado, 56.226 casos de
estupro e 6.154 de assédio à espera
de julgamento, a maioria com os
agressores à solta.
É lamentável o aumento no tem-
po para que esses processos sejam
julgados. Em 2020, casos de estu-
pro tinham de esperar 807 dias. A
demora aumentou para 983 dias
em 2023, salto de 22%. É mais de
dois anos e meio. A mesma tendên-
cia afeta os processos por assédio:
obra, traduzida em 16 idiomas. O se-
cretário de Educação do Paraná, Roni
Miranda, alegou que o problema “não
é o conteúdo de combate ao racismo,
mas a exposição do estudante ao voca-
bulário de sexo explícito, de baixo teor
(sic)”. Em Mato Grosso do Sul, o caso
mobilizou o governador Eduardo Rie-
del (PSDB), que mandou recolher os
exemplares. A Secretaria de Educação
alegou que a obra contém “expressões
impróprias” para a maioria dos alunos
da rede estadual (abaixo de 18 anos).
Oromance, que aborda o racismo, foi
selecionado por um edital de 2019 e in-
cluído no Programa Nacional do Livro
edo Material Didático (PNLD), do Mi-
nistério da Educação, por uma portaria
de 2022, ainda no governo Jair Bolso-
naro. Nas redes sociais, o autor reagiu
ao cerco. “O mais curioso é que as pala-
vras de ‘baixo calão’ e os atos sexuais do
livro causam mais incômodo do que o
racismo, a violência policial e a morte
de pessoas negras”, disse Tenório.
A perseguição à arte motivada pelo
moralismo não é exclusividade da di-
reita brasileira. Foram vítimas desse ti-
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de 547 dias em 2020, os julgamen-
tos passaram a demorar 668 dias
em 2023, quase dois anos.
Por trás dessas estatísticas há víti-
mas e familiares angustiados à espera
do desfecho judicial, sem falar nos
traumas e danos psicológicos. A rapi-
dez com que a Justiça espanhola con-
denou em primeira instância, por es-
tupro, o jogador brasileiro Daniel Al-
ves deveria ser um parâmetro segui-
do no Brasil. Do registro da denúncia
àcondenação em primeira instância,
transcorreu pouco mais de um ano.
Cabe ao Conselho Nacional de
Justiça (CNJ) debruçar-se sobre a
questão. Segundo o promotor Paulo
Fortes, do Ministério Público de
São Paulo, a Justiça não consegue
atender à demanda de processos
por falta de recursos humanos —
nas delegacias, no MP e nos tribu-
nais. Mas Fortes reconhece que há
espaço para melhorar e acelerar os
procedimentos, para que processos
de feminicídios e agressões de todo
tipo a mulheres tenham tramitação
mais rápida. Quanto mais eficiente
for a Justiça, menor será o incentivo
aos crimes. A punição célere é um
eficaz instrumento de prevenção.
po de histeria alguns dos maiores escri-
tores da literatura, como Gustave Flau-
bert (por “Madame Bovary”), James
Joyce (por “Ulysses”) ou Vladimir Na-
bokov (por “Lolita”). Por aqui, em no-
vembro passado, o governo de Jorgi-
nho Mello (PL) em Santa Catarina de-
terminou a retirada de nove obras das
bibliotecas escolares. Entre elas, “La-
ranja mecânica”, de Anthony Burgess,
e“It: a coisa”, de Stephen King. O depu-
tado Gustavo Gayer (PL-GO) promo-
veu uma campanha difamatória que
tachou de pornográfico o romance “Eu
receberia as piores notícias de seus lin-
dos lábios”, de Marçal Aquino, retirado
de um vestibular em Goiás.
Escolas deveriam ser espaços propí-
cios ao livre pensar, à diversidade de
ideias e ao senso crítico, não foco de
censura. Em que mundo vivem educa-
dores que se chocam com vocabulário
chulo e cenas de sexo? O papel da lite-
ratura ou de qualquer arte não é aten-
der a caprichos moralistas, mas desafi-
ar os limites da alma humana. Educar
pressupõe explicar, debater, ponderar
—o avesso de proibir.
SUCURSAIS
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Domingo 10.3.2024 | OGLOBO
Artigos
oglobo.globo.com/opiniao/
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MERVAL
PEREIRA
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editoria.artigos@oglobo.com.br
O enigma
U ma tempestade perfeita parece estar se formando so-
bre o Palácio do Planalto, com a perda de força políti-
ca do governo em relação ao Congresso e com a queda
de popularidade do próprio presidente Lula diante da
opinião pública, revelada por diversas pesquisas recen-
tes. O mais estranho é que os resultados econômicos es-
tão vindo, com crescimento do PIB, aumento no rendi-
mento médio dos trabalhadores e melhoria do PIB per
capita, o que não acontecia há muito tempo.
É provável que os resultados econômicos resultem
na reversão, ou pelo menos na neutralização, desse
quadro negativo, mas é preciso que o governo Lula
atue em outros campos, pois tudo indica que hoje já
não basta a situação econômica estar equilibrada para
preencher as aspirações de uma ampla massa de elei-
tores, que já atinge até mesmo os moradores do Nor-
deste, que continua sendo uma barreira inexpugnável
ao pessimismo em relação ao governo petista.
Mas já foi melhor para Lula a situação. Muito por-
que os avanços dos programas sociais já se desligaram
do petismo, pois todos os governos mantiveram a sis-
temática, o que incorporou na realidade desse públi-
co o automatismo desses benefícios, seja qual for a
tendência do governo.
A relação do governo com o Congresso, por sua vez,
depende muito da sua força popular, o que não está se
refletindo no momento a seu favor. O PL é hoje o maior
partido da Câmara, com quase 30 deputados a mais
que o PT. Os dois atuam hoje em disputa direta, o parti-
do de Bolsonaro avançando para controlar as princi-
pais comissões, como a de Constituição e Justiça e a de
Educação, enquanto o PT tenta defender algumas de
suas fronteiras, para impedir que o bolsonarismo con-
siga deter avanços econômicos.
Os petistas conseguiram proteger algumas comissões
que afetam a economia, para tentar controlar o avanço
da oposição. Mas as mais importantes —
O governo se vê Constituição e Justiça e Educação —estão
sem saída, não com Bolsonaro e o PL, com seus represen-
tem maioria no tantes mais aguerridos e radicais. Esta di-
Congresso e visão reflete a força do PL e a fraqueza do
está perdendo PT. Esta é a realidade do país. O Congresso
também nas predomina diante do Executivo, e quem
pesquisas de predomina no Congresso é o PL, com o
opinião Centrão, que não é tão radical à direita co-
mo o PL, mas é um grupo de centro-direi-
ta que tende ao bolsonarismo na disputa política.
Ogoverno está sem saída, não tem maioria no Con-
gresso e está perdendo também nas pesquisas de opi-
nião. A situação não está nada boa para o PT. A ques-
tão é que a esquerda brasileira é muito atrasada, ainda
está no século passado nas relações de trabalho e nas
relações humanas. Lula perde tempo com Maduro e
Venezuela, uma vergonha.
Enquanto não se atualizarem, não entenderem
que o mundo mudou e que não é assim que a “banda
toca”, vão ficar em minoria. Não estão entendendo
o que está acontecendo com a sociedade; não estão
compreendendo que a maneira como faziam políti-
ca há 20 anos não funciona mais. Teriam que mudar
a cabeça para tentar enfrentar essa disputa muito
dura com esta direita que saiu do armário em 2018 e
continua muito mais ativa.
Esse aggiornamento da esquerda brasileira depende-
rá muito da atuação pessoal do próprio presidente Lu-
la, que continua sendo o grande líder popular do país.
Assim como Bolsonaro, que apesar de toda sua radica-
lização política ainda consegue juntar liberais de diver-
sos teores em seu entorno, também Lula precisa man-
ter um centro político em sua volta, para que o espírito
de um governo de união nacional permita ampliar seu
apoio para fora da esquerda.
Mas Lula parece mais empenhado em falar aos seus,
especialmente quando escolhe Maduro para seu prote-
gido e Israel para seu inimigo preferencial, sem tomar
cuidado com as consequências. As pesquisas começam
a mostrar que Lula perde apoio entre não petistas que
votaram nele contra Bolsonaro, e mesmo no Nordeste o
apoio vem enfraquecendo, embora lentamente.
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INÊS249
OGLOBO | Domingo 10.3.2024 Opinião | 3

_ SEG _ Fernando Gabeira _ Demétrio Magnoli (quinzenal) _ Miguel de Almeida (quinzenal) _ Edu Lyra (quinzenal) _ Irapuã Santana (quinzenal) _ Washington Olivetto (quinzenal)
_ TER_ Merval Pereira _ Carlos Andreazza _ QUA_ Vera Magalhães _ Elio Gaspari _ Bernardo Mello Franco _ Roberto DaMatta (quinzenal) _ QUI_ Merval Pereira _ Malu Gaspar
_ SEX_ Vera Magalhães _ Flávia Oliveira _ Pedro Doria _ Bernardo Mello Franco _ SÁB_ Carlos Alberto Sardenberg _ Eduardo Affonso _ Pablo Ortellado _ DOM_ Merval Pereira _ Dorrit Harazim _ Bernardo Mello Franco

DORRIT nossas vidas”. Tinha razão o poeta, visto

que, para alcançar algum grau de autoconfi-
riam considerar-se sortudos.
—Daí meu conselho para quem deseja de- BERNARDO
HARAZIM ança, cabe a cada um construir sua ponte in-
dividual sobre o rio da vida. Como já se es-
dicar-se à poesia: a menos que você esteja
disposto a lutar até morrer em nome de ca-
MELLO FRANCO
creveu aqui, quase todo ser humano é capaz da palavra, é melhor fazer algo mais simples
de aprender a pensar, a fazer, a saber; mas como aprender a explodir o mundo. Isso soa
nenhum ser humano consegue ser ensina- sombrio? Não é. Essa é a vida mais esplen-
blogs.oglobo.globo.com/opiniao do a sentir. O motivo? Porque, em qualquer dorosa do mundo — concluiu. oglobo.com.br/bernardo
bernardomf
editoria.artigos@oglobo.com.br
atividade outra que não a sensorial, somos Estava com 53 anos e morreu em nome de bmf@oglobo.com.br
sempre a soma de outras pessoas, enquanto cada palavra arrancada de si.
Ser quem somos no sentir somos únicos — somos só nós
mesmos, verdadeiros. E é apenas a partir
Coisa para poucos.
A nós, como sociedade, que na definição O ‘tô nem aí’
de Tarcísio
desse “eu” raiz, secreto e íntimo, que adqui- do francês Frédéric Gros “não sabemos
rimos coragens, selecionamos lutas, arma- mais viver, apenas ocupamos o mundo e

Emeira
ntre os feitos do britânico C.S. Lewis es-
tão ter sobrevivido às trincheiras da Pri-
zenamos confiança, arriscamos mudanças.
De volta à necessidade do belo enquanto
consumimos”, sempre resta a oportunidade
de dar um restart. Coisa difícil e tortuosa,
Guerra Mundial e ser o autor das
“Crônicas de Nárnia”, cujos sete volumes
venderam mais de 100 milhões de exempla-
bombas explodem à nossa volta, o mesmo
e.e. cummings soube como poucos, por
meio da arte, ser ninguém outro que ele
pois nenhuma travessia expõe tanto nossa
vulnerabilidade e nossa força como come-
çar algo novo. Mergulhar no extraordinário
A ssim que venceu a eleição de
2022, Tarcísio de Freitas deu
início a uma operação de reposicio-
res e foram adaptados para TV, cinema, tea- mesmo. Deu um conselho sobre a busca pe- e assustador desconhecido do possível em- namento. Queria suavizar a ima-
tro, videogame. Em 1939, portanto às vés- la palavra certa para jovens candidatos a po- bute riscos e exige confiança. Receitas não gem e se descolar da extrema direi-
peras do conflito mundial seguinte, ele deu etas: se, ao final de dez ou 15 anos de tentati- faltam, tanto por parte de pensadores uni- ta. “Nunca fui bolsonarista raiz”, ju-
uma palestra na Universidade de Oxford. O vas, eles percebessem ter conseguido com- versais como em livros de autoajuda: ex- rou, dias antes da posse. “Sou cristão
tema era uma indagação: “O belo importa por uma única linha de um só poema, pode- pandir ao máximo os campos de interesse; e contra o aborto, mas não vou entrar
quando bombas começam a cair?”. cultivar a dúvida que permite erros e corre- em guerra cultural”, prometeu.
Como não? — respondeu ele. Se adiássemos ções; desconfiar de certezas absolutas; re- Com ambições presidenciais, o
A condição humana sempre foi feita de a busca do pelir o discurso mecânico, qualquer que se- governador de São Paulo foi aconse-
contendas, caos e dor. Vivemos inexoravel- conhecimento e a ja a nobre causa; saber que o desprezo pelo lhado a se vender como um político
mente à beira do precipício, mas a cultura procura do belo até que não é compreendido nunca é um senti- moderado. Na sexta-feira, abando-
também emerge, sempre. Se adiássemos a haver alguma paz, mento democrático. nou o teatro e rasgou a fantasia.
busca do conhecimento e a procura do belo nem sequer as Mulher combina com democracia. Não Entidades civis denunciaram a
até haver alguma paz, nem sequer as pintu- pinturas rupestres dá rima, mas dá alegria. É uma delícia poder polícia paulista ao Conselho de Di-
ras rupestres existiriam. existiriam gostar de ser mulher. reitos Humanos da ONU. Relata-
— O ser humano propõe teoremas mate- ram ameaças, torturas e execuções
máticos em cidades sitiadas, conduz argu- sumárias na Baixada Santista.
mentos metafísicos em calabouços, faz pia- Questionado sobre o assunto, o go-
das em cadafalsos e penteia o cabelo em vernador respondeu em tom de de-
trincheiras. Isso não é panache; é nossa na- boche. “O pessoal pode ir na ONU,
tureza — argumentou. na Liga da Justiça ou no raio que o
A matemática lhe dá razão. Historiadores parta, que eu não tô nem aí”, disse.
já calcularam que, ao longo de toda a traje- Antes de chegarem a Genebra, as
tória humana, tivemos até hoje míseros 29 acusações fizeram escala no Minis-
anos sem que alguma guerra estivesse em tério Público. Dossiê chancelado
curso em algum ou em vários pontos do pla- pela Ouvidoria da Polícia, pela Co-
neta. Atualmente, o portal Rule of Law in missão Arns e pelo Fórum Brasilei-
Armed Conflicts Online (Rulac), da Uni- ro de Segurança Pública enumerou
versidade de Genebra, monitora mais de irregularidades e abusos na segun-
110 conflitos armados a espalhar desgraças. da fase da Operação Escudo. O do-
Ucrânia e Gaza são apenas os mais visíveis. cumento descreveu uma PM sem
É neste mundaréu atritado que se come- controle, que parece ter carta bran-
morou, na semana passada, mais um Dia In- ca para atuar fora da lei.
ternacional da Mulher. Haja fôlego para Números oficiais reforçam a suspei-
ainda precisarmos tanto desse reconheci- ta de que a violência é autorizada. Em
mento com efeméride, apesar das distân- pouco mais de um ano sob o comando
cias já caminhadas. Boa oportunidade para de Tarcísio, a polícia promoveu as du-
querer ir além, alcançar o mais difícil para as maiores matanças registradas no
qualquer bípede: encontrar a si mesmo. O estado desde o Massacre do Carandi-
poeta e.e. cummings (em minúsculas, co- ru. Entre julho e setembro de 2023, a
mo ele gostava) sabia das coisas quando es- primeira fase da
creveu que “para sermos aquilo que somos De olho em 2026, Escudo deixou
— num mundo que se dedica, dia e noite, a governador de SP 28 mortos na
fazer com que sejamos como os outros —, é ensaiou se descolar Baixada. Entre
preciso embrenhar-se na luta mais árdua de de Bolsonaro. Ao janeiro e feverei-
ironizar crítica à ro de 2024, a Pro-
letalidade policial, motoria contou
rasgou a fantasia mais 54 mortes
ARTIGO de moderado em ações polici-
ais na região.
Em busca do país Real Eleito com os votos de Jair Bolso-
naro, Tarcísio dedicou os primeiros
meses a se diferenciar do padrinho.
Depois do 8 de Janeiro, foi visitar o
Esses países imaginários designam males Ao contrário desses países que ascende- presidente Lula e deu declarações
múltiplos presentes na atualidade brasileira: ram ao grupo dos ricos, o Brasil é um país contra o extremismo. Mais tarde,
EDMAR BACHA desigualdade, preços surreais, pobreza, intro- grande, desigual e fechado. Mantendo a reuniu-se com o ministro Fernando
versão, estagnação, impostos sem contraparti- unidade nacional, deveria ser possível de- Haddad e elogiou a reforma tributá-
da de serviços, corrupção e violência, ataques senvolvê-lo reformando os outros dois po- ria. A pose de direitista civilizado ir-

Edia,mdeum1974, escrevi uma fábula sobre o reino

Belíndia, mistura de Bélgica com Ín-
país em que o crescimento econô-
ao meio ambiente e aos povos originários.
O Plano Real permitiu abolir dois males
históricos da economia brasileira, a alta in-
los da trindade que nos distingue dos casos
de sucesso —a introversão e a desigualdade.
Afinal, o tamanho do mercado interno po-
ritou o capitão, que passou a fazer
críticas públicas ao pupilo.
O pito surtiu efeito. Para agradar o
mico beneficiava somente a parcela mais ri- flação e as crises de balanço de pagamentos. deria ser um trunfo para a abertura — uma chefe, o governador defendeu o ba-
ca da população. Em 1984, imaginei em no- Entretanto, afora curtos espasmos determi- plataforma para as empresas brasileiras se tismo de uma ponte com o nome do
va fábula uma reunião de economistas no nados pelo ciclo das expandirem para o mercado externo. En- coronel Erasmo Dias, símbolo da re-
Sambódromo para discutir como dar fim à O Plano Real commodities, o Brasil tretanto atualmente parece ser um impedi- pressão na ditadura. Depois perdoou
inflação no país dos contrários, em que tudo permitiu abolir continuou a crescer a mento, em consequência de uma política R$ 1 milhão em multas aplicadas a
funcionava de trás para a frente, inclusive o dois males taxas muito baixas. protecionista que explora com preços sur- Bolsonaro por infrações sanitárias na
próprio nome do país, Lisarb. Após a rede- históricos da Não se trata de fenô- reais os consumidores brasileiros e dá as pandemia. Além de desfalcar os co-
mocratização, Mário Henrique Simonsen economia, a alta meno incomum. É co- costas para o mundo. Exemplo disso é a re- fres estaduais, premiou o negacionis-
cunhou o termo Banglabânia, mistura de inflação e as nhecido como armadi- cém-anunciada Nova Política Industrial, mo e o descaso com a saúde pública.
Bangladesh com Albânia, para expressar crises de balanço lha da renda média na com suas tarifas, requisitos de conteúdo na- No mês passado, Tarcísio discursou
sua preocupação com o risco de empobreci- de pagamentos literatura internacio- cional e preferências para compras gover- no comício convocado pelo ex-presi-
mento do país como consequência das ten- nal. Uma coisa é transi- namentais. dente para tentar se livrar da cadeia.
dências autárquicas e estatizantes da Cons- tar da renda baixa para a renda média. Ou- A democracia é nosso grande trunfo, co- Em outro ato de subserviência, ofere-
tituição de 1988. Em 1994, Delfim Netto tra coisa é sair da renda média para alcançar mo demonstra o sucesso do Plano Real — ceu hospedagem a Jair e Michelle no
concebeu a Ingana, mistura de Inglaterra o nível de renda dos países ricos. exemplo maior da união da boa técnica com Palácio dos Bandeirantes.
com Gana, para criticar o governo que au- Desde a Segunda Guerra Mundial, dei- a Política com P maiúsculo. Nosso desafio é Eleito após sete mandatos consecu-
mentava os impostos como se estivesse xando de lado o caso peculiar dos países do conseguir canalizar a força da democracia tivos do PSDB em São Paulo, o bolso-
num país europeu, enquanto oferecia servi- Golfo Pérsico produtores de petróleo, iden- para a construção de um país rico, justo, sus- narista busca ocupar mais um espaço
ços públicos de terceiro mundo. As mani- tifiquei 12 países que conseguiram fazer a tentável e aberto ao mundo. Diante dos de- que pertencia ao partido: o de preferi-
festações de rua de 2013 trouxeram à tona transição da renda média para a renda alta: satinos de Bolsonaro, dos equívocos de Lu- do do poder econômico. Já aprovou a
outra caracterização, que denominei de Ru- Coreia do Sul, Hong-Kong, Israel, Cingapu- la, da voracidade do Centrão e do desmonte venda da Sabesp e promete desestati-
mala, triste combinação de Rússia com ra e Taiwan (exportando bens industriais); da Lava-Jato pelo STF, é razoável duvidar da zar os serviços de trem e metrô.
Guatemala: uma elite corrupta associada a Espanha, Grécia, Irlanda e Portugal (expor- viabilidade dessa empreitada. Mas a busca Ao peitar uma greve contra as privati-
uma alta taxa de criminalidade. Como se tando serviços, inclusive mão de obra); e por um país Real segue em frente. zações, ele somou mais alguns pontos
não bastasse, ao promover a devastação da Austrália, Nova Zelândia e Noruega (expor- com o establishment, que ainda procu-
Amazônia e a ocupação pelo garimpo ilegal tando recursos naturais). Cada um de acor- Edmar Bacha é economista. Este texto é extraí- ra candidato para 2026. Mas quem
dos territórios indígenas, o governo de Bol- do com suas vantagens comparativas, todos do de artigo para livro sobre os 30 anos do comprar seu bilhete não poderá dizer
sonaro me sugeriu criar Brasa, um país em integrados ao mundo. O Brasil segue isola- Plano Real a sair em junho pelo Selo História Real da que apostou num liberal. Vai levar no
chamas, completando essa peculiar lista. do do comércio exterior. Editora Intrínseca pacote o “tô nem aí” para a barbárie.
INÊS249
4 |
Política
DA TEORIA À REALIDADE
TSE sai na frente, mas pôr em prática o controle de
inteligência artificial nas eleições é desafio no mundo
GUILHERME CAETANO
E BRUNO GÓES
politica@oglobo.com.br
SÃO PAULO E BRASÍLIA
-
A pesar de ter largado na
frente ao regulamentar,
a nível federal, o uso de inte-
ligência artificial (IA) nas
eleições, o Brasil terá como
desafio colocar em prática o
controle sobre os abusos da
tecnologia durante as cam-
panhas deste ano. As especi-
ficidades de algumas redes
sociais e a velocidade da
propagação do conteúdo
são alguns dos entraves.
Com eleições em alguns
dos países mais populosos do
mundo, como Estados Uni-
dos, Índia, Indonésia, Méxi-
co e Reino Unido, além do
pleito municipal do Brasil,
este ano pode ser um ponto
de virada no uso de conteúdo
enganoso nas campanhas. Is-
so porque ferramentas para
criar e manipular imagens,
vídeos e áudios se tornaram
mais acessíveis.
Em 27 de fevereiro, o Tri-
bunal Superior Eleitoral
(TSE) aprovou 12 resoluções
que disciplinam as regras a
serem aplicadas no processo
eleitoral deste ano. As novi-
dades envolvem o uso de in-
teligência artificial na propa-
ganda: a exigência de rótulos
de identificação de conteúdo
sintético multimídia; a res-
trição ao uso de chatbots e
avatares para intermediar a
comunicação da campanha,
que não poderá simular in-
terlocução com pessoa real; e
a vedação de uso de deep-
fakes (conteúdo sintético em
formato de áudio, vídeo ou
combinação de ambos, que
tenha sido gerado ou mani-
pulado digitalmente).
DIFICULDADE CONCRETA
Professor do Insper e do Ib-
mec, Gustavo Macedo, que é
especialista em ética e inteli-
gência artificial, diz que a ini-
ciativa do TSE coloca o país
na vanguarda da discussão,
independentemente do
mérito das regras aprovadas:
— Como toda vanguarda,
há riscos. Não sabemos o que
vai dar certo e errado. Mas
com certeza os outros países
estão estudando o caso brasi-
leiro, acompanhando nosso
TSE REGULAMENTA USO DE IA NAS ELEIÇÕES
Entre as 12 resoluções aprovadas, novidades giram em torno da tecnologia
Exigência de rótulos de
identificação de conteúdo
sintético multimídia
A regulamentação da IA nos Estados Unidos
Estados americanos aprovam suas próprias normas visando as eleições
Washington
Exige clara
identificação
REGRA sobre IA
usada para
influenciar
uma eleição
Medida
cautelar e/ou
PUNIÇÃO indenização
Washington
Califórnia
Fonte: TSE e The National Conference of State Legislatures
debate. Nesse sentido temos a
oportunidade de exportar bo-
as práticas de regulação de IA.
Casos de deepfake eleitoral
já identificados dão a dimen-
são, no entanto, do desafio
que será a aplicação da nova
regra. Em ação que corre na
Justiça Eleitoral do Paraná,
por exemplo, o pré-candida-
to do PP à prefeitura de Ma-
ringá, Silvio Barros, não con-
seguiu impedir a continuida-
de da circulação de um mate-
rial falso pelo WhatsApp.
Barros teve um áudio fabri-
cado por IA em que ele anun-
cia ter desistido de concorrer
ao cargo, o que não ocorreu.
Na semana passada, o juiz
Nicola Frascati Junior, do Tri-
bunal Regional Eleitoral do
SERGIO LIMA/AFP/01.02.2024
Domingo 10.3.2024 | OGLOBO
DE SÃO PAULO AO PARANÁ PARA
ACESSAR
PT mira troca de domicílio de Rosângela Moro APONTE
O CELULAR
PARA
NA WEB Sigla acionou a Justiça após movimento da deputada diante de possível disputa pelo Senado O QR CODE
ANDRÉ MELLO
(YouTube) e o TikTok para lei, quanto o candidato pe-
comentar as normas aprova- ronista Sergio Massa, e seus
das pelo TSE, mas as empre- respectivos apoiadores,
sas não responderam. adotaram essas tecnologias
Restrição ao uso de chatbots e avatares
imitando pessoas reais para intermediar
Vedação de uso de deep
fake para prejudicar ou
—Esse requerimento de
transparência (aprovado
no TSE) está alinhado com
para produzir materiais de
campanha — e, por vezes,
produzir desinformação.
a comunicação da campanha para favorecer candidatura
legislações debatidas no
mundo. Tem muitas legis- PUNIÇÕES ÀS PLATAFORMAS
lações estaduais america- Executivos de grandes em-
nas que exigem essa rotula- presas ouvidos pelo GLOBO
gem — diz Laura Schertel temem que as resoluções do
Mendes, professora de Di- TSE deem margem para in-
reito Civil na Universidade terpretações divergentes. A
de Brasília (UnB). principal preocupação é
Nos Estados Unidos, ao com a possibilidade de pu-
menos cinco estados já apro- nição das plataformas.
Minnesota Michigan Califórnia Texas varam regulamentações so- O texto do TSE prevê a res-
Proíbe a Proíbe a Proíbe a Proíbe a bre o uso de inteligência arti- ponsabilização pela veicula-
publicação de IA
publicação de IA
para prejudicar
publicação de IA
para prejudicar para prejudicar
publicação
de vídeos
ficial nas eleições deste ano. ção de conteúdo ilegal se não
candidato sem o candidato e candidato e deepfake para Michigan, Minnesota e Te- for retirado do ar “imediata-
consentimento enganar enganar
eleitores, a
prejudicar xas preveem sanções na esfe- mente”. O significado do ter-
do indivíduo eleitores, a candidato ou
menos que inclua menos que inclua influenciar ra criminal para infratores, mo, porém, ainda não está
Medida cautelar, uma divulgação uma divulgação eleição enquanto as regras em claro. Se isso deve ocorrer lo-
de que a mídia foi
multa e/ou
prisão
de que a mídia
foi manipulada manipulada Multa e/ou
Washington e na Califórnia go após a postagem, e a em-
prisão se restringem à esfera cível. presa é obrigada a criar uma
Multa e/ou Medida cautelar
e/ou indenização
As leis vão desde a obriga- resposta automatizada; se
prisão
ção de identificar claramente deve ocorrer após decisão ju-
que se trata de um conteúdo dicial; ou depois de notifica-
manipulado até o banimento ção extrajudicial do TSE às
completo desse tipo de uso plataformas ou aos partidos.
Minnesota sem consentimento. As res- Para evitar interpretações
trições variam entre 30 e 90 divergentes, o TSE organiza
dias antes da eleição, e as pu- cursos de capacitação para juí-
Michigan
nições vão de medidas caute- zes de todo o país sobre as no-
lares e indenizações até mul- vas regras. O tribunal também
tas e prisões. Em Minnesota, decidiu convidar representan-
Texas
onde há as regras mais rígidas, tes de plataformas para con-
reincidências podem levar a versar com os magistrados que
cinco anos de prisão e multa devem atuar nas eleições mu-
de 10 mil dólares. Outros 14 nicipais. O objetivo é esclare-
estados americanos discutem cer as políticas de uso das re-
aprovar projetos de lei sobre o des, bem como questões técni-
tema ainda neste ano. cas relacionadas ao funciona-
EDITORIA DE ARTE A pressão pela regula- mento das ferramentas.
mentação vem crescendo Na próxima terça-feira, o
estado, que já havia determi- presas de aplicativos de men- após a aparição de deep- ministro Alexandre de Mora-
nado o bloqueio da dissemi- sagens possuem a seu favor fakes nas primárias ameri- es, presidente do TSE, irá
nação do conteúdo, destacou jurisprudência firmada de canas. Autoridades de New inaugurar um centro integra-
que o WhatsApp declarou ser que aplicativos de mensa- Hampshire começaram a do contra a desinformação,
“impossível o impedimento” gem não são obrigadas a vio- investigar em janeiro rela- na sede do tribunal. A ideia é
de que os usuários da rede lar a criptografia para cum- tos de uma aparente chama- que o órgão seja formado pelo
“veiculem novamente o con- prir decisões judiciais. da automática (robocall) Ministério Público Eleitoral,
teúdo tido por ilícito”. O GLOBO procurou a Me- que usava inteligência arti- governo federal e Ordem dos
A Meta, dona do What- ta, que também é dona ficial para imitar a voz do Advogados do Brasil (OAB)
sApp, alega que, por ser do Facebook e Insta- presidente Joe Biden e de- com função de monitorar o
um “sistema de crip- gram, o Google sencorajar os eleitores do tema durante a campanha.
tografia ponta-a- estado de irem às urnas. Durante a Conferência de
ponta”, é “descabi- Especialistas dizem espe- Segurança de Munique, rea-
da eventual impo- Corte Eleitoral. rar que as eleições de 2024 lizada no mês passado na
sição de filtragem O ministro sirvam como “laboratório” Alemanha, 20 empresas lí-
prévia de conteú- Alexandre para se observar as tendên- deres de tecnologia, incluin-
do de determinada de Moraes, cias do uso popularizado da do Google, Meta, TikTok e X
mensagem antes presidente inteligência artificial. As (antigo Twitter), firmaram
de que ela che- do TSE eleições argentinas, no ano acordo para trabalharem
gue ao seu passado, apontaram para al- juntas na detecção e combate
destinatá- gumas direções, pois tanto o a fake news geradas por IA
rio”. Em- presidente eleito, Javier Mi- nas eleições de 2024.
INÊS249
OGLOBO | Domingo 10.3.2024 Política | 5

Ministros não conseguem substituir Dino nas redes

Camilo Santana, da Educação, teve 12,7% da tração no ambiente virtual no primeiro bimestre e foi quem mais chegou perto.
Mesmo com com a saída do governo anunciada e sacramentada em 1º de fevereiro, ex-titular da Justiça respondeu por 18,8%

Mas, além da comunicação

PRESENÇA NAS REDES institucional, o vácuo é tam-
Ministros não conseguem preencher vácuo deixado por Flávio Dino nas redes sociais e pouco engajam seguidores em seus perfis
bém no embate com o bolso-
A ESCUTA DAS REDES narismo, que costuma ter o
Flavio Dino domínio do discurso no rin-
ALICE CRAVO
alice.cravo@bsb.oglobo.com.br
ex-Justiça gue virtual. Em entrevista ao
BRASÍLIA
Camilo
Santana
Silvio
Almeida
Geraldo
Alckmin
Paulo
Pimenta 18,82% GLOBO, Paulo Pimenta, res-
-
EDUCAÇÃO DIREITOS DESENVOL- COMUNICAÇÃO ponsável pela comunicação

A saída de Flávio Dino do do governo, já avisou que,

HUMANOS VIMENTO, SOCIAL
INDÚSTRIA E

Ministério da Justiça pa- 12,73%

COMÉRCIO
Sonia Marina Paulo Alexandre Simone Margareth com a saída de Dino, os mi-
Guajajara Silva Teixeira Padilha Tebet Menezes
ra assumir uma vaga no Su- POVOS MEIO DESENVOL- RELAÇÕES PLANEJA- CULTURA
nistros precisarão “compen-
premo Tribunal Federal dei- INDÍGENAS AMBIENTE VIMENTO INSTITUCIONAIS MENTO
Rui Fernando Nisia Anielle
sar” a presença nas redes.
9,14% 8,94% AGRÁRIO
xou um vácuo na comunica- 8,45% Costa Haddad Trindade Franco Silvio
ção do governo e no enfren- CASA
CIVIL
FAZENDA SAÚDE IGUALDADE
RACIAL
Wellington
Dias
Costa
Filho
Celso Alexandre Waldez
Sabino Silveira Goes
REALIDADE SE IMPÕE
tamento da oposição via re- 5,17% 5,10% 5,07% 4,72% 4,64%
4,49%
DESENVOL- PORTOS E TURISMO MINAS E INTEGRAÇÃO Como nenhum dos atuais
des sociais. Levantamento VIMENTO AEROPORTOS
SOCIAL
ENERGIA
ministros têm o mesmo per-
da consultoria Bites, feito a 2,54% 2,31% 2,13%
1,58%
fil combativo de Dino, são as
pedido do GLOBO, mostra 1% 0,74% 0,65% 0,56% 0,46% ações do próprio governo
que nenhum dos atuais 38 que acabam sendo diferenci-
ministros conseguiu ocupar 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19
ais para o resultado nas redes.
o mesmo espaço, evidenci- MAIORES TRAÇÕES* O desempenho de Cami-
ando a falta de articulação *Tração é um indicador da Bites que mede a capacidade de criar uma “propagação em ondas” na rede dos seus seguidores no Facebook, Twitter, Instagram, YouTube e TikTok lo Santana neste início de
em uma área na qual a ges- Fonte: Levantamento da consultoria Bites considerando postagens feitas de 1/1/2024 a 1/3/2024 EDITORIA DE ARTE
ano, por exemplo, foi im-
tão Lula tem patinado desde pulsionado pelo lança-
o início do mandato. gem ou post publicado. O ti- (Comunicação Social). Com mento do programa Pé-de-
A análise da consultoria tular da Educação foi respon- exceção do titular da Educa- Discrição de > O perfil discreto do de Comunicação, Mídia Meia, anunciado no fim de
aponta que o titular da Edu- sável por 12,7% da tração nas ção, contudo, todos os de- Lewandowski ministro da Justiça, e Informação da Funda- janeiro e que criou uma
cação, Camilo Santana, foi redes sociais entre os minis- mais ficam abaixo de 10%. o protege Ricardo Lewandowski, ção Getulio Vargas, que poupança para os alunos
quem chegou mais perto dos tros do governo nos dois pri- O vácuo do governo nas re- de críticas em contrapartida à analisou a repercussão do Ensino Médio.
índices obtidos por Dino. A meiros meses do ano. des já acendeu um alerta no na internet atuação de seu anteces- da discussão sobre Diretor técnico da Bites,
Bites elaborou um indicador Mesmo com a saída do go- Palácio do Planalto, que ten- sor, Flávio Dino, fez com segurança pública no X André Eler afirma que mi-
de tração, que mede a capaci- verno anunciada, Dino foi ta remodelar a estratégia di- que as críticas sobre a (antigo Twitter) de 14 a nistros que conseguem
dade de mover as discussões responsável por 18,8% dessa gital diante de pesquisas que fuga de dois detentos do 28 de fevereiro. apresentar entregas são os
no mundo virtual conside- tração no início do ano — ele apontam a queda na popula- presídio federal de que mais se destacam nas
rando a quantidade de inte- só deixou o cargo em 1º de fe- ridade de Lula. Um edital Mossoró (RN) se con- > Segundo o estudo, redes, como aconteceu
rações e comparando com vereiro. No ranking dos que aberto no início do ano prevê centrassem no governo Lewandowski é apenas o com Santana:
determinados cenários. Ou ficaram, Camilo é seguido R$ 197 milhões para a con- Lula, em detrimento de nono ministro mais men- —Querendo ou não, o que a
seja, o quanto uma pessoa pelos ministros Silvio Almei- tratação de agências especia- um ataque individual. cionado desde o dia que gente vê nessa leva mais re-
consegue criar uma “propa- da (Direitos Humanos), Ge- lizadas com o objetivo de ten- assumiu a pasta, em 1º de cente é que o ministro que te-
gação em ondas” no Facebo- raldo Alckmin (vice-presi- tar segmentar a comunica- > Essa foi uma das fevereiro, mesmo à frente ve entrega foi o que conseguiu
ok, X (antigo Twitter), Insta- dente e ministro do Desen- ção do governo e cativar elei- tendências observada de sua primeira crise. se destacar em relação aos ou-
gram, YouTube e TikTok a volvimento, Indústria e Co- tores simpáticos ao ex-presi- em pesquisa da Escola (Luis Felipe Azevedo) tros. Tem um pouco da reali-
partir de cada foto, mensa- mércio) e Paulo Pimenta dente Jair Bolsonaro. dade se impondo às redes.

Nordeste
uma nova fronteira do
desenvolvimento do Brasil
O nordeste brasileiro vem mostrando seu potencial para o país e
pode se tornar uma região-chave para áreas como a de energia
renovável, de infraestrutura e mesmo do agronegócio. Neste evento,
vamos conectar empreendedores, investidores, especialistas para
apresentar novos projetos em diversas áreas e discutir as
oportunidades crescentes da região. Participe.

21 março
Auditório Editora Globo
9H Rua Marquês de Pombal, 25
Centro - Rio de Janeiro

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INÊS249
6 | Política Domingo 10.3.2024 | OGLOBO

ANDRÉ MELLO
CÂMARA ECONOMIA
Deixa que eu resolvo LAURO Percentual definido
Aprovado o regime de urgência para
sua votação, o projeto de lei que dá
JARDIM Tarcísio de Freitas já decidiu: no
leilão de privatização da Sabesp,
ao Congresso o poder de renovar as que será realizado em meados
concessões das distribuidoras de do ano, o percentual do governo
energia elétrica (20 no total, entre de São Paulo na empresa cairá
elas a Light e a Enel), excitou uma oglobo.globo.com/laurojardim
Com João Paulo Saconi, Naira Trindade e Rodrigo Castro
dos atuais 50,3% para 30%.
certa turma de deputados. É um
grupo que se adiantou e, sabe-se lá Em estudo
por que, já está procurando conver-
sar diretamente com algumas em- Cresce a AUDIOVISUAL
Disputa Adireção da Petrobras estuda

presas cujas concessões estão perto
de vencer. Hoje, quem decide se as
concessões são renovadas é a Aneel,
como manda a lógica que a Câmara
pode jogar para o espaço se aprovar
essa novidade.
GOVERNO
Confusão à...
Lançado com toda pompa na
semana passada, o PAC das Sele-
ções, que investirá R$ 23 bilhões
em 16 áreas executadas pelos
Ministérios de Saúde, Educação,
Cultura e Esporte, conseguiu
irritar parlamentares da bancada
do... PT na Câmara e no Senado.
...vista
Isso porque até a véspera do lança-
mento do programa, na quinta-
feira, nenhum deputado ou senador
da base aliada do governo tinha sido
consultado ou ouvido sobre como e
onde seriam destinados os recursos
das 6.778 obras e equipamentos que
ogoverno pretende fazer nos 26
estados e no Distrito Federal. E olha
que esse PAC quer alcançar 59%
dos municípios brasileiros.
BRASIL
Em aberto
As negociações para as vice-presi-
dências da Caixa não chegaram ao
fim. Uma, das 11, ainda não foi
preenchida. Prometida ao União
Brasil, a vice-presidência de Gover-
no pode ser trocada a qualquer mo-
mento. Mas o partido ainda não
indicou o nome a ocupá-la.
Mais um mês
Falta menos de uma semana para os
assassinatos de Marielle Franco e do
seu motorista, Anderson Gomes,
completarem seis anos. Não será
nesta data, como gostaria o governo,
oanúncio do tão esperado desfecho
do caso, com a revelação do nome
do mandante do crime —ou dos
mandantes. A expectativa é que esse
desenlace ocorra em abril.
Email - Lauro Jardim: lauro.jardim@oglobo.com.br / João Paulo Saconi: joaopaulo.saconi@infoglobo.com.br / Naira Trindade: naira.trindade@bsb.oglobo.com.br / Rodrigo Castro: rodrigo.oliveira@infoglobo.com.br / Equipe:colunalaurojardim@oglobo.com.br
polarização
perdida
Uma rara disputa
Aumentou o percentual de brasileiros que empresarial em
afirmam que o país está mais dividido. que Abilio Diniz foi
Saltou de 64% para 83% entre outubro e derrotado —além
fevereiro, de acordo com dados inéditos de de ser a mais em-
uma pesquisa Quaest feita depois do ato blemática das que
bolsonarista na Paulista com 2 mil brasilei- ele protagonizou —
ros em todo o país. É exatamente o mesmo vai ser transforma-
patamar observado nas pesquisas realiza- da num documen-
das logo após o 8/1. Entre aqueles que vo- tário da Netflix. A
taram em Jair Bolsonaro no segundo tur- guerra com o Casi-
no, esse percentual chega a 91% (era 84% no pelo controle do
há cinco meses). Mas foi entre os eleitores Pão de Açúcar,
de Lula que a mudança se mostrou mais entre 2011 e 2013,
explícita: subiu de 43% para 76%. Os nú- será parte relevan-
meros revelam que a própria sociedade se te de um filme so-
percebe mais dividida —e parece querer bre a ascensão e
afirmar isso com certo orgulho, como uma queda do grupo
declaração de princípios. francês. Produzido
pela americana
Indigo Reign Films,
PLANETA JAIR o documentário
Ele manda deve ficar pronto
em 2025.
Em suas conversas com o seu grupo mais
fechado, Jair Bolsonaro tem repetido que FUTEBOL
só aceita Michelle como candidata ao Cofre cheio
Senado pelo Distrito Federal ou a vice-
presidente em 2026. O Flamengo já acer-
tou com o BRB a
Urnas, não renovação do con-
trato de patrocínio
Jair Bolsonaro tem se empenhado na mis- para o banco estam-
são de convencer Valdemar Costa Neto a se par sua marca na
candidatar a deputado federal em 2026. O omoplata da camisa
presidente do PL, porém, segue irredutível. rubro-negra. Valerá
de abril a dezem-
Acelera bro. O Fla receberá
R$ 19 milhões no
Areforma da casa em Angra dos Reis de Jair total. O contrato,
Bolsonaro ganhou uma motivação a mais contudo, ainda
para ser acelerada. O ex-presidente decidiu precisa ser formal-
finalizar as obras enquanto ainda tem livre mente aprovado
acesso ao seu dinheiro. Há um temor de que pelo conselho do
Alexandre de Moraes bloqueie os recursos. clube. Somando os
oito patrocinadores
PARTIDOS que exibem suas
Sem chaves marcas no unifor-
me, o Flamengo vai
Luciano Bivar perdeu a batalha pela presi- faturar um total de
dência do União Brasil, mas segue em pé de R$ 246 milhões
guerra. Recentemente, trancou a sala de este ano. (veja no
reuniões do partido para tentar impedir que blog o quanto o Fla
aexecutiva eleita usasse o espaço. Claro, não recebe de cada patro-
adiantou. O novo time recorreu ao auditório. cinador)
Jornada tripla
Cacá Diegues, 83 anos (84 em
maio), está duplamente sob as len-
tes de documentários dedicados a
retratá-lo. Em “Cacá Diegues —
Cineasta do Brasil”, os diretores Léo
Barros e Rossandra Leone vão mos-
trar como ele usou o cinema para
retratar um Brasil menos desigual
que nunca se concretizou. Por reco-
mendação de Cacá, o filme entrevis-
tará Gilberto Gil, Chico Buarque e
Zezé Motta. Ainda sem título defini-
do, outra produção, assinada por
Diogo Dahl, trabalha para esmiuçar
seus mais de 30 filmes. Em vez de
depoimentos, imagens de arquivo
vão mostrar como Cacá trabalhou
para que o cinema evoluísse desde
os anos 1960. Ambos os documentá-
rios devem estrear até 2025. Como
se fosse pouco, Cacá prepara o lan-
çamento de “Deus ainda é brasilei-
ro”, estrelado por Antonio Fagundes.
Na praia
Ocondomínio Portobello, em
Angra dos Reis, foi palco re-
cente de uma milionária tran-
sação imobiliária. Por R$ 27
milhões o cantor sertanejo Zé
Felipe comprou a casa de
Emerson Sheik, ex-jogador de
Corinthians e Flamengo.
comprar os ativos da encrencada
Unigel na área de hidrogênio
verde. Em 2023, a Unigel anunci-
ou que investia R$ 1,5 bilhão na
produção do insumo (basica-
mente em eletrolisadores) na
Bahia, mas tudo parou por causa
das dificuldades financeiras da
empresa, que recentemente
pediu recuperação extrajudicial.
Ainformação que o conselho de
administração tem é que o negó-
cio está acertado. A estatal diz
que faz “diversas análises sobre
projetos futuros, inclusive em
hidrogênio verde”, mas que “não
há qualquer decisão” tomada.
Na mira
Recentemente, um contrato de
R$ 759 milhões entre a Petro-
bras e a Unigel entrou na mira do
TCU. O ministro Benjamin Zim-
ler mandou investigá-lo depois
que a área técnica do tribunal
apontou “possíveis irregularida-
des” que poderiam levar a estatal
a um prejuízo de R$ 487 milhões
em seus oito meses de vigência.
O acordo envolve a industrializa-
ção, armazenamento, expedição
e pós-venda de ureia e amônia
pelas fábricas de fertilizantes
nitrogenados da Petrobras em
Sergipe e na Bahia, arrendadas
ao grupo Unigel desde 2019.
Em sintonia
Talvez por uma sintonia entre os
astros, entre janeiro e fevereiro
diversas concreteiras e cimentei-
ras enviaram cartas aos seus cli-
entes comunicando-os de reajus-
tes de preços que ocorreriam em
março. Os avisos continham o
mesmo percentual de aumento
ou pelo menos muito próximos.
Lá pelas tantas dos textos, por
precaução óbvia, ressaltava-se
que aquilo era “um comunicado
privado que não deve ser com-
partilhado”. A propósito, em
2014, o Cade multou o setor de
cimento em R$ 3,1 bilhões por
formação de cartel.

Moraes proíbe Bolsonaro de ir a eventos militares que a Polícia Federal (PF) já

apresentou “provas robustas”
de que um “grupo criminoso”
teria atuado de forma “coorde-
Decisão do ministro do Supremo vale também para os suspeitos de participação na tentativa de golpe de 8 de janeiro nada e estruturada” para efetu-
ar uma ruptura institucional.
Moraes fez a avaliação ao

O ministro Alexandre de
Moraes, do Supremo Tri-
bunal Federal (STF), proibiu
serva Walter Braga Netto,
Augusto Heleno e Paulo
Sérgio Nogueira, entre ou-
responder um pedido da
Ordem dos Advogados do
Brasil (OAB) em relação à
o ex-presidente Jair Bolsona- tros investigados por atos sua decisão que autorizou a
ro e suspeitos da tentativa de antidemocráticos, tanto ci- Operação Tempus Verita-
golpe no 8 de janeiro do ano vis quanto militares. tis, que investiga a suposta
passado de participarem de A determinação foi tomada tentativa de golpe de Esta-
eventos das Forças Armadas no âmbito da investigação que do. A ação teve como base
e da Polícia Militar. apura uma suposta tentativa mensagens de textos, a gra-
São afetados pela decisão, de golpe para manter Bolsona- vação de uma reunião mi-
além de Bolsonaro, os ex- ro no poder. Em decisão do nisterial, registros de en-
ministros e generais da re- mês passado, Moraes afirmou tradas em prédios públi-
cos, dados de celulares e
até pedidos de Uber.
Nas últimas semanas, os
ex-comandantes do Exérci-
to, Marco Antônio Freire Go-
mes, e da Aeronáutica, Car-
COMPRO JOIAS EM OURO los de Almeida Baptista Jú-
OURO - JOIAS ANTIGAS - PRATA - BRILHANTES - RELÓGIOS DE LUXO nior, prestaram depoimen-
PLATINA - MARFIM - MOEDAS EM GERAL - ANTIGUIDADES - QUADROS
ESCULTURAS - OBRAS DE ARTE - PRATARIAS
tos na investigação e confir-
(VENDA, CONSERTO, FABRICAÇÃO DE JOIAS EM GERAL) maram ter participado de
ESCOLHA SEMPRE UMA EMPRESA SEGURA uma reunião com Bolsonaro
COM CREDIBILIDADE HÁ 34 ANOS NO MERCADO na qual foi discutida uma mi-
* NÃO VENDA ANTES DE NOS CONSULTAR nuta golpista, como mostrou
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Megale. O encontro foi reve-
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INÊS249
OGLOBO | Domingo 10.3.2024
Nunes Marques
se aproxima de
Lula e preocupa
bolsonaristas
Indicado pelo ex-presidente, o ministro
presidirá o TSE nas eleições de 2026;
ele também estreitou laços com Gilmar
MARIANA MUNIZ
mariana.muniz@bsb.oglobo.com.br
BRASÍLIA
-
N o quinto andar do Supre-
mo Tribunal Federal, o
gabinete do ministro Nunes
Marques, um dos mais mo-
vimentados, recebe uma ro-
maria de advogados que se
enfileiram para audiências.
Aos 51 anos, quase três deles
na mais alta instância do Ju-
diciário, o magistrado che-
gou ao STF pelas mãos do
ex-presidente Jair Bolsona-
ro, mas tem se aproximado
do atual governo.
A nova rota preocupa alia-
dos de Bolsonaro, que tiveram
em Nunes Marques um alia-
do. Ele votou contra, por
exemplo, tornar o ex-presi-
dente inelegível. Agora, os bol-
sonaristas estão apreensivos
com a postura do magistrado
em 2026, quando presidirá o
Tribunal Superior Eleitoral.
A aproximação com o Palá-
cio do Planalto já rendeu con-
versas ao pé do ouvido com o
presidente Luiz Inácio Lula
da Silva e aumento da in-
fluência em tribunais fede-
rais, onde emplacou aliados.
As escolhas, ao final, são feitas
pelo presidente da República.
Na última leva de desem-
bargadores escolhidos por
Lula para o Tribunal Regional
Federal da 1ª Região, corte da
qual Nunes Marques é oriun-
do, o ministro emplacou o
juiz João Carlos Mayer Soa-
res. O tribunal reúne proces-
sos relativos à maior parte dos
estados do país.
CAMINHOS
Um dos facilitadores da apro-
ximação foi o ex-governador
do Piauí, estado natal de Nu-
nes Marques, e hoje ministro
do Desenvolvimento Social,
Wellington Dias (PT), de
quem é amigo. Mas, nos basti-
dores do Supremo, a avaliação
é a de que o estreitamento de
laços entre Lula e Nunes Mar-
ques teve como ponto de parti-
da a aproximação com Gilmar
O Prêmio Fazenda Sustentável dá visibilidade e valoriza o
agronegócio lucrativo, ambientalmente correto e socialmente justo!
Podem participar pequenas, médias e grandes propriedades rurais
que estão fazendo parte dos novos rumos do agronegócio
RE A LIZ AÇÃO
Indicações. Com bom relacionamento com o Planalto, Nunes Marques aumentou sua influência em tribunais federais
AS PONTES DO MAGISTRADO
Lula e o PT
Nunes Marques tem se aproximado
do presidente Lula. O magistrado é
amigo do ex-governador do Piauí,
seu estado natal, e hoje ministro do
Desenvolvimento Social, Wellington
Dias. Em paralelo, aumentou sua
influência nos tribunais federais,
onde emplacou aliados, cuja escolha
cabe ao presidente da República.
Mendes, hoje um dos inte-
grantes do STF com maior
trânsito no Planalto.
Nunes Marques e o decano
da Corte tiveram momentos
de atrito em julgamentos. Em
2021, Gilmar contestou um
Sua propriedade pode
ganhar este prêmio!
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PATROCÍNIO
Jair Bolsonaro
O ministro foi indicado para o
Supremo Tribunal Federal (STF)
por Jair Bolsonaro. Ele votou con-
tra, por exemplo, tornar o ex-presi-
dente inelegível. A aproximação de
Nunes Marques com Lula preocu-
pa os bolsonaristas, tendo em vista
que ele presidirá o Tribunal Superi-
or Eleitoral (TSE)em 2026.
voto do colega afirmando que
o argumento não era válido
“nem aqui nem no Piauí”. No
primeiro julgamento dos atos
golpistas de 8 de janeiro, o de-
cano retrucou outro posicio-
namento dizendo que a ca-
APOIO METODOLÓGICO
CRISTIANO MARIZ/07-12-2022
Gilmar Mendes
Nunes Marques distensionou a
relação com Gilmar Mendes, decano
do STF. Em 2021, Gilmar contestou
um voto do colega afirmando que o
argumento não era válido “nem aqui
nem no Piauí”. A trégua entre os dois
foi costurada pela advogada Guio-
mar Mendes, mulher de Gilmar, no
fim do ano passado.
deira do ministro também es-
tava na Praça dos Três Pode-
res, lembrando a violência
dos ataques.
A trégua foi costurada pela
advogada Guiomar Mendes,
mulher de Gilmar, no final
Política | 7
do ano passado. Um jantar na
casa do decano, em Brasília,
selou a paz, e Nunes Mar-
ques mostrou que, apesar das
divergências em alguns te-
mas, na maior parte dos jul-
gamentos os dois têm o mes-
mo posicionamento.
AFAGOS E CLIMA ‘CORDIAL’
Os afagos entre o ministro e
Lula ficaram mais evidentes
no final de 2023, quando o
presidente prestigiou no-
mes apoiados por Nunes
Marques para a promoção
em tribunais, ligando para
informá-lo. Na posse de
Paulo Gonet à frente da Pro-
curadoria-Geral da Repú-
blica (PGR), em dezembro,
os dois se falaram por alguns
minutos. O presidente per-
guntou ao ministro como
havia ocorrido a recupera-
ção da cirurgia no quadril a
que ele foi submetido — o
chefe do Executivo havia
passado por procedimento
semelhante.
Um dia depois, em um jan-
tar na casa do presidente do
STF, Luís Roberto Barroso,
os dois voltaram a trocar fi-
gurinhas, em um clima “cor-
dial”, segundo os presentes.
Para além dos acenos po-
líticos, casos importantes
para o Planalto estão no
gabinete de Nunes Mar-
ques. Um deles é a ação em
que o Executivo questiona
a redução do poder de voto
da União na Eletrobras.
Em um primeiro movi-
mento, considerado pró-
governo, o ministro enca-
minhou o caso para ser so-
lucionado pela Câmara de
Conciliação e Arbitragem
da Administração Federal,
da Advocacia-Geral da
União (AGU).
Acesse e
participe!
INÊS249
8 | Política Domingo 10.3.2024 | OGLOBO

O “Persona” estreia hoje uma série de perfis feitos por colunistas, editores e os
principais repórteres do GLOBO com as mais relevantes figuras da República

Q
FOTOS DE BRENNO CARVALHO
uando contempla o
plenário Ulysses
Guimarães da Câ- Há quem se refira a Arthur
mara dos Deputa- Lira como “o rei do baixo
dos a partir da ca- clero”, mas o apelido não
deira que um dia foi do pró- dá conta da realidade:
prio, o alagoano Arthur Cé- mais preciso é chamá-lo de
sar Pereira de Lira, de 54 presidente do “sindicato”
anos, vê um xadrez 4D da dos 513 deputados federais
tropa que comanda com
mão de ferro. Ele reproduz o
mapa em traços firmes nu-
ma folha de papel, hábito
que tem quando explica al-
go, um entre tantos que de-
nunciam sua ânsia por con-
trole. Faz um traço firme até
o meio do salão. Da metade
para a frente, ficam os depu-
tados “que só querem saber
de texto” — ou seja, que se
interessam por relatar me-
didas importantes, pois re-
presentam setores econô-
micos e bancadas temáticas
—, e no fundo se posicio-
nam os “que só querem sa-
ber de emenda”, o famoso
baixo clero. Quando o go-
verno veta um projeto sobre
o qual havia acordo, ou in-
siste em rever um assunto
que já passou pela Casa, de-
sagrada a ala do gargarejo.
Quando não cumpre com-
promissos orçamentários,
enfurece a turma do fundão.
Lira angariou o enorme
poder de que ainda desfruta
se tornando presidente de
um sindicato que reúne as
duas tribos. E boa parte da
inquietação atual vem do fa-
to de que seu período na ca-
deira está terminando, e seu
maior temor é perder o con-
trole da própria sucessão. É
um erro tachá-lo de “rei do
baixo clero”, como se con-
vencionou. Desde que che-
gou à Casa, em 2011, Arthur
Lira só passou um ano na
planície. Nos outros 13 ocu-
pou postos de destaque, da
liderança de seu partido
inúmeras vezes à presidên-
cia, passando pelo comando
das duas comissões mais
vistosas do parlamento, a de
Constituição e Justiça e a de
Orçamento.
Trata-se de alguém que es-
tá na elite da política desde
que ingressou nela, como
herdeiro de um típico clã
político do Nordeste. Mais
preciso é chamá-lo de presi-
dente do “sindicato” dos 513
deputados, expressão a que
ele mesmo recorre com fre-

ARTHUR LIRA
quência para explicar o ex-
pediente frenético na resi-
dência oficial da Câmara,
mais conhecida como RO,
no qual chega a despachar
com 60 “irmãozinhos" por

DA RELAÇÃO TENSA COM O GOVERNO

dia. A atividade sindical,
que consiste em pilotar as
emendas de forma obsessi-
va e de costurar os textos e as
votações em reuniões que
varam madrugadas, é que
explica tanto seu sucesso
À INQUIETUDE COM A SUA SUCESSÃO,
COMO O PRESIDENTE DA CÂMARA
quanto a tensão com um go-
verno do qual teve de se
aproximar às pressas depois
das eleições de 2022.

MANEJA O ÚLTIMO ANO NA CADEIRA

A
ntes visto com des-
confiança nos cír-
culos econômicos
graças à fama de
presidente do sindicato dos
deputados, Lira passou a ser
recebido na Faria Lima e ad-
jacências à medida que fica-
va claro para o mercado que Por
dele dependia a votação de VERA MAGALHÃES
assuntos como o novo mar-
co fiscal e, sobretudo, a re-
forma tributária, tema que para os dois, que, mesmo residência oficial. Em dado viu do titular da Fazenda um tornou obsessivo pela ideia tou do dia a dia do seu sindi-
escolheu para ser o ponto de pertencendo a campos momento, Lira pegou de no- conselho que rapidamente de aprovar a reforma tribu- cato. Sabe que é mantendo o
virada de sua imagem públi- opostos, precisavam atra- vo uma folha de papel e tra- introjetou. tária, que andava em círcu- cabresto firme, como fazia
ca. A boa relação construída vessar os próprios rubicões çou uma linha: — Suba o elevador —lhe los havia 30 anos, antes do nos tempos em que era o rei
com o ministro da Fazenda, de desconfiança dos agen- —Ministro, o limite do disse Haddad, numa refe- fim do primeiro semestre. da vaquejada, que vai cons-
Fernando Haddad, nessa fa- tes econômicos. plenário é este. O que for rência à necessidade de dei- Mas nem quando passou a truir um futuro que não o re-
se de votação das medidas Na votação do novo marco além daqui não passa. xar de ser visto como defen- circular pelos prédios envi- legue ao ostracismo.
elencadas pelo governo foi fiscal, o texto depois aprova- Em retribuição, mais ou sor de pautas paroquiais. draçados dos bancos e fun- É por isso que tenta conter
um jogo de “ganha-ganha” do na Câmara foi fechado na menos na mesma época ou- Foi a partir dali que Lira se dos de investimento se afas- ao máximo a campanha an-
INÊS249
OGLOBO | Domingo 10.3.2024
tecipada pelo seu gabinete,
neste caso sem sucesso ne-
nhum. Dada a desenvoltura
com que os três principais
postulantes ao posto, Elmar
Nascimento (União Brasil-
BA), Marcos Pereira (Repu-
blicanos-SP) e Antonio Bri-
to (PSD-BA), vêm agindo
na pré-campanha, passou a
dizer a aliados que pode sur-
gir alguém “mais leve” que
lhes tome a dianteira. O
pacto velado com Lula tam-
bém pressupõe que o presi-
dente tem o direito de fazer
chegar a ele um nome com o
qual não concordaria em hi-
pótese alguma, da mesma
forma que não bancaria um
postulante que tivesse o ve-
to de Lira. A cláusula não es-
crita exclui, neste momen-
to, Elmar Nascimento, a res-
peito de quem Lula não es-
conde as restrições, e Brito,
em quem Lira vê afinidade
demasiada com o Palácio do
Planalto e o PT.
A proximidade de Elmar
Nascimento com Carlos Su-
arez é citada por Lula a cada
conversa que tem sobre o fu-
turo da Câmara. Foi a liga-
ção entre o empresário, co-
nhecido como “rei do gás”, e
o deputado baiano que ren-
deu vários jabutis incluídos
no projeto que permitiu a
privatização da Eletrobras e
que, hoje, banca a ostenta-
tória campanha do deputa-
do baiano à sucessão de Li-
ra, com convites a festas na-
babescas de réveillon e car-
naval. Lira, aliás, esteve no
camarote do “irmão" em
Salvador, mas ninguém do
seu núcleo próximo imagi-
na que ele vá dinamitar de
vez as pontes com Lula para
sustentar sua candidatura
caso fique explícito o veto
do Planalto. A não ser que a
relação com o governo se
deteriore de vez, o que seria
ruim e levaria alto grau de
imprevisibilidade para os
planos dos dois lados.
L
ira já tinha mais de
40 anos quando foi
eleito para o primei-
ro mandato de de-
putado federal. Filho de Be-
nedito de Lira, o Biu, ex-de-
putado, ex-senador e hoje
prefeito do município ala-
goano de Barra de São Mi-
guel, Arthur formou-se em
Direito pela Universidade
Federal de Alagoas em 1993,
mesmo ano em que assumiu
o primeiro mandato como
vereador de Maceió, aos 23
anos. Desembarcou em Bra-
sília, em 2010, para o pri-
meiro voo nacional com
84.676 votos na bagagem.
Três eleições depois, em
2022, já presidente da Câ-
mara, foi o mais votado do
seu estado, com 219.432 vo-
tos.
Na chegada, se juntou ao
grupo de Ciro Nogueira pa-
ra desbancar do comando
da sigla a velha guarda que
cerrava fileiras com o vete-
rano deputado José Janene,
morto no ano anterior. A
nova geração tratou de der-
rubar o ministro das Cida-
des de Dilma Rousseff, Ma-
rio Negromonte (BA), e de-
signar Agnaldo Ribeiro
(PB) em seu lugar. Em 2015,
já no auge da Lava Jato, o do-
leiro Alberto Youssef e o ex-
diretor da Petrobras Paulo
Roberto Costa associaram a
briga pelo comando do par-
tido a uma disputa pela dis-
tribuição de propinas
oriundas da diretoria de ex-
ploração da estatal, o que
deu origem ao inquérito que
ficou conhecido como Qua-
drilhão do PP, no qual Lira
figurava, que veio a ser ar-
quivado em 2021.
A arte de se livrar de inves-
tigações é outro aspecto da
biografia do presidente da
Câmara. O último episódio
dessa natureza veio em me-
ados do ano passado, quan-
do o ministro Gilmar Men-
des anulou integralmente o
Agenda econômica. Arthur Lira em sua residência oficial, em Brasília: texto do Marco Fiscal, negociado com Fernando Haddad e aprovado na Câmara, foi todo costurado ali
inquérito para apurar sua
participação na compra su-
perfaturada de kits de ro-
bótica, que envolvia direta-
mente um de seus mais
próximos assessores, Lucia-
no Cavalcanti. Apontando
vício de origem pelo fato de
o inquérito ter se desenvol-
vido todo em Alagoas a des-
peito de Lira ter prerrogati-
va de foro, Gilmar anulou
inclusive provas obtidas em
grampos e buscas e apreen-
são contra Cavalcanti e ou-
tros investigados. Superou
ainda obstáculos recentes
como os relatos feitos pela
ex-mulher Jullyene Lins,
que chegou a formalizar
uma série de acusações de
agressões e omissão de pa-
trimônio contra Lira, todas
elas arquivadas.
Na briga de grupos dentro
do PP, coube a Lira assumir a
liderança do partido, fun-
ção que ocupou até 2013.
Mas foi só no mandato se-
guinte, seu segundo como
federal, que ele ajudou a via-
bilizar o impeachment de
Dilma e ascendeu aos pos-
tos de comando estratégi-
cos na Casa, graças em boa
parte à sua proximidade
com o então todo-poderoso
Eduardo Cunha, que o de-
signou para a Comissão de
Constituição e Justiça, em
2015, e para a Comissão
Mista de Orçamento já nos
estertores, antes de ser cas-
sado e preso pela Lava Jato.
Apoiador de Jair Bolsonaro na
última eleição, Lira ligou para
o ex-presidente ainda durante a
apuração e avisou: “Game over”.
Em seguida, foi a primeira
autoridade a reconhecer
publicamente a vitória de Lula
A CCJ foi o grande tram-
polim de Arthur Lira. Ali,
distribuiu favores para cole-
gas de todos os partidos e
acabou com a letargia que
fazia com que o colegiado
discutisse muito e votasse
pouco. As duas característi-
cas — atuação pluripartidá-
ria e capacidade de fazer a
pauta andar — seriam repe-
tidas na Comissão de Orça-
mento e à frente da própria
Câmara, e virariam ativos
na consolidação da ampla
coalizão em torno de si.
N
a campanha pela
reeleição de Jair
Bolsonaro, Lira
fez tudo o que es-
tava a seu alcance para aju-
dar o ex-presidente, de
quem se aproximara na pri-
meira campanha para a pre-
sidência da Câmara, ainda
em 2020. Foi o presidente
do PSD, Gilberto Kassab, fa-
moso em Brasília por farejar
sempre com precisão para
onde vai soprar o vento do
poder, quem disse ao alago-
ano que sua chance de vitó-
ria em fevereiro do ano se-
guinte estava em formar um
bloco de centro-direita e ter
o apoio do presidente. De-
pois de várias reuniões no
Alvorada, Bolsonaro empe-
nhou a ele seu apoio para en-
frentar o candidato tardia-
mente definido por Rodrigo
Maia, que tentou até o últi-
mo instante uma quarta
Política | 9
ARTHUR candidatura ao posto mais
CÉSAR alto da Câmara, rompendo
PEREIRA acordo selado com Lira.
Com o apoio do PL, do Re-
DE LIRA
publicanos, de parte do
DEM, partido do próprio
Maia, e votos espalhados
1969 Nasce em em quase todas as outras si-
Maceió glas, inclusive na esquerda,
não foi difícil para Lira ven-
cer Baleia Rossi (MDB) por
302 votos a 145.
1992 Eleito vereador Começava ali a escalada
pelo PFL para se tornar um dos ho-
mens mais poderosos da Re-
pública. Sua eleição tam-
bém pavimentou o caminho
1993 Forma-se em para o ingresso efetivo do
Direito Centrão no governo de Bol-
sonaro, que praticamente
delegou a Lira e ao presiden-
te de seu partido, o senador
1998 Eleito deputado Ciro Nogueira, em seguida
estadual pelo indicado para a Casa Civil, a
PSDB gestão do Orçamento da
União, num arranjo que já
havia começado na gestão
Maia, mas só virou um es-
2011 Eleito deputado
cândalo no primeiro semes-
federal pelo PP
tre de 2021, quando viria a
ser batizado primeiro de
“tratoraço” e, depois, de Or-
çamento secreto.
2021 Eleito presidente
O mecanismo, pelo qual
da Câmara
emendas parlamentares co-
nhecidas pela rubrica técni-
ca de RP9 eram distribuídas
sem identificação clara a de-
2023 Reeleito putados escolhidos pelos
presidente da
comandantes da Câmara e
Câmara
do Senado, garantiu a Lira
aumentar exponencial-
mente a rede de apoios que
tinha levado à sua primeira
eleição para a presidência.
Foi para preservar esse ar-
ranjo lucrativo que Lira ar-
regaçou as mangas para aju-
dar a reeleição de Bolsonaro
no parlamento e para bus-
car votos para ele em Alago-
as. A pauta de “bondades" às
vésperas da eleição —que se
mostraram, depois, uma
bomba fiscal a ser herdada
pelo futuro governo — tra-
mitou com tranquilidade na
Câmara e também no Sena-
do, pilotado por Rodrigo Pa-
checo. Em Alagoas, o exérci-
to de Lira conseguiu dar ao
candidato do PL a derrota
mais “honrosa”, digamos,
no Nordeste: 58,5% dos vo-
tos válidos para Lula e
41,5% para o então presi-
dente. Maceió foi a única ca-
pital da região em que o can-
didato do PL venceu Lula.
No dia do segundo turno,
Lira estava tenso. Votou em
Maceió e embarcou para
Brasília para acompanhar a
contagem de votos da resi-
dência oficial. Antes mes-
mo da confirmação da vitó-
ria de Lula, jogou a toalha.
Ligou primeiro para Bolso-
naro e foi claro:
— Game over. O senhor
precisa reconhecer a derro-
ta e se preparar para 2026.
Em seguida, ignorou convi-
te de Alexandre de Moraes
para acompanhar a procla-
mação do resultado da sede
do Tribunal Superior Eleito-
ral e convocou a própria cole-
tiva, na qual foi a primeira au-
toridade a reconhecer a vitó-
ria de Lula. Naquele momen-
to, já havia telefonado para o
petista e o cumprimentado
pela vitória. Do outro lado da
linha não estava mais o candi-
dato que dissera na campa-
nha que Lira tinha a preten-
são de ser “imperador” por
meio do controle do Orça-
mento, mas um presidente
eleito que, em tom amigável,
perguntou pelo pai do presi-
dente da Câmara e prometeu
lhe fazer uma visita em breve.
A transição e a nova cam-
panha de Lira à reeleição co-
meçavam efetivamente ali.
CONTINUA NA PÁGINA 10
INÊS249
10 | Política Domingo 10.3.2024 | OGLOBO

‘
E
m dezembro, com a
transição já em cur-
so, veio a decisão do
STF de colocar uma

TENHO DO QUE RECLAMAR?

pá de cal no Orça-
mento secreto, mas, a despei-
to das severas críticas que fi-
zera na campanha, Lula auto-

SÃO 34 ANOS DE MANDATO. NÃO

rizou seus auxiliares a ofere-
cerem ao Congresso uma no-
va versão do mecanismo de
distribuição de emendas em

GERO EXPECTATIVA COM NADA’

troca da aprovação da PEC da
Transição. Foi Fernando Had-
dad quem, acompanhado de
outros petistas, foi à RO pin-
tar um quadro sombrio das
contas públicas legado por
Bolsonaro e Paulo Guedes:
—Se não for feito nada, es-
te governo não termina e o
próximo não começa.
Diante da promessa de res-
surreição das emendas RP9
com outra sigla e da garantia
de apoio a sua reeleição, Lira
arregaçou as mangas e pas-
sou a trabalhar a favor do tex-
to da PEC que, entre outras
medidas, garantiu ao gover-
no um extra-teto de gastos de
R$ 145 bilhões no primeiro
ano, que lhe permitiria pagar
o Bolsa-Família de R$ 600 e
honrar outros compromis-
sos de campanha.
Foi a primeira vez em que
Lula e seu time assistiram o
método Lira de angariar vo-
tos. Em jornadas madrugada
adentro, o presidente da Câ-
mara chegou a receber apelo
dos presidentes de seu parti-
do, Ciro Nogueira, e do Repu-
blicanos, Marcos Pereira, pa-
ra que trabalhasse contra o
texto, pois essas siglas, junta-
mente com outras do Cen-
trão, assegurariam sua reelei-
RICARDO STUCKERT/PR/20.12.2023
aliado dos Calheiros, dois
anos depois. Na mesma elei-
ção, no entanto, fez a maioria
da bancada de deputados fe-
derais. Uma lá, outra cá.
O último lance da briga en-
volve a disputa pela CPI da
Braskem, instalada na última
semana depois de insistência
de Renan e contra a vontade
de Lula e Lira. No entanto,
numa outra demonstração
de quão acirrada é a disputa
por poder em Alagoas, o se-
nador não conseguiu ser es-
colhido relator da comissão e
pediu seu desligamento da
investigação. Lá e cá.
Em novembro, Lula reuniu
os dois lados da guerra em
torno de uma mesa no Pla-
nalto. Disse que não desejava
aCPI nem a venda da compa-
nhia para nenhum grupo na-
cional, bem como a pulveri-
Vitória. Arthur Lira ao lado de Rodrigo Pacheco, Fernando Haddad e Lula durante a sessão solene no Congresso que promulgou a Reforma Tributária zação de seus ativos no exte-
MICHEL JESUS/CÂMARA DOS DEPUTADOS/26.02.2023
rior. Ficou, ao menos pontu-
Herdeiro? O bado um veto de Lula. almente, do mesmo lado de
presidente da No repeteco da DR, em feve- Lira contra seus aliados de
Câmara com o reiro, o presidente tentou son- mais tempo no estado.
dar qual era a chance de Lira

ção à presidência sem a neces-
sidade de apoio do governo.
No dia seguinte, Lira foi
até Ciro Nogueira:
—Eu estou disposto a fazer
esse gesto. Você me apoia?
Obteve do presidente do
PP a garantia de que não tra-
balharia a bancada contra
sua orientação. Ali se inicia-
va uma divergência interna
que não chegou a abalar a
amizade de ambos, mas que
persiste ainda hoje.
Para passar a régua na vitó-
ria de Lira à reeleição com
um recorde de 464 votos,
veio o 8 de Janeiro, e a união
dos três Poderes contra a ten-
tativa de golpe selou de vez a
decisão de Lula de não per-
mitir que sua base lançasse
algum nome contra o alagoa-
no. Dali em diante, a relação
de ambos seria marcada por
idas e vindas, desconfiança
mútua, mas, inequivoca-
mente, pela dependência do
governo em relação ao czar
da Câmara para que sua pau-
ta, sobretudo a econômica,
avançasse no primeiro ano.
deputado Elmar
Nascimento, restabelecer relações com Ale-
apontado como xandre Padilha. Ouviu que era
o seu favorito nula, e sugeriu que, enquanto
para a sucessão durasse a interdição, o alagoa-
no falaria com Rui Costa e di-
retamente com ele.
Lula também escutou outro
apelo que não era inédito: es-
tava precisando receber mais
deputados e senadores. Lira
ainda brincou que gostaria de
conhecer aquele Lula que pro-
movia churrascos e festas nos
mandatos anteriores. Em uma
CRISTIANO MARIZ/06.06.2022
Aliança. Eleito
presidente da das conversas que tiveram, o
Câmara com presidente chegou a lembrar,
aval do então com certo saudosismo, que
presidente, nos mandatos anteriores
em 2021, Lira “mandava mais” que no atual.
devolveu o gesto O presidente também per-
engajando-se na guntou o que Lira planejava
campanha de para o dia seguinte ao deixar
Bolsonaro no a cadeira —resposta esta que
ano seguinte foi vaga. Após passar o bastão
ao sucessor, a ideia de ocupar
um ministério de Lula não
parece seduzir Arthur Lira. É
difícil a alguém que foi chefe
por tanto tempo passar a ser
chefiado e, portanto, passível
de demissão. Além disso, di-
ço”, e as muitas vezes em que dad de que o acordo para que vidir espaço no ministério
acordos foram selados com não houvesse veto envolvera com Renan Filho, herdeiro
S
e equilibrando entre
a fama de coronel,
que atribui a um este-
reótipo pela sua ori-
gem nordestina, e o mais re-
cente verniz de queridinho do
mercado que lhe foi dado pelo
pacote de medidas econômi-
cas que entregou, Lira costu-
ma ostentar um lado família
no qual desempenha, inclusi-
ve, a função de “pãe”, pelo fato
de três dos cinco filhos terem
lhe dado razão na briga com a
ex-mulher.
São algumas das facetas de
alguém que dorme pouco, ar-
ticula muito, se irrita com faci-
lidade, é temido pelos funcio-
nários pelo tom colérico com
que se dirige a eles e os assesso-
res em série que demitiu, mas
que, nas brechas de tudo isso,
exibe um humor peculiar, cha-
ma a todos os deputados de
“meu irmãozinho" e tem um
dos raciocínios mais rápidos e
pragmáticos de Brasília.
— Nunca daqui dessa ca-
deira vai partir a falta de diá-
logo — afirma, a despeito de
alguns recados em contrário
disparados recentemente.

À
s vésperas do carna- o aval de ministros como reuniões longas na RO em de seu inimigo histórico, o Elenca como ativos o fato
val deste ano, Lira Haddad, Padilha e Rui Cos- “Meu pai tem 82 anos que até uma ata dos termos senador Renan Calheiros, de se dedicar às pessoas, de
estava inquieto com ta, da Casa Civil, e ainda as- e está querendo ir para da negociação fora lavrada. O não o convence. conhecer cada deputado pe-
sinais de que o go- sim foram descumpridos. a reeleição. Eu não ministro da Fazenda deu ra- O caminho mais mencio- lo nome e saber das suas de-
verno resolvera agir para mi- Não foi a primeira conversa zão a Lira. nado por ele quando se dispõe mandas, o que lhe daria “am-
nar sua influência na Câma- em termos semelhantes que quero isso pra mim”
ra, cortando emendas e igno- tiveram, depois de um início _ Não era a primeira vez que a tratar deste que é um assun-
uma matéria exaustivamente to-tabu é eleger ainda mais
plitude”, característica da
qual demonstra se orgulhar.
rando acordos em matérias já de governo em que Lula hesi- Arthur Lira, presidente negociada, com Lira empe- prefeitos que os que hoje já or- —Tenho do que reclamar?
votadas. Tinha proferido um tava em receber Lira sem a da Câmara dos Deputados nhando seu capital político bitam em torno de si em Ala- São 34 anos de mandato. Te-
discurso colérico, em tom presença de testemunhas. para o governo vencer, rece- goas para, em 2026, ser eleito nho 54. Meu pai tem 82 e está
ameaçador, na abertura do Numa dela, logo depois de bia vetos não combinados. O numa das vagas do Senado. querendo ir pra reeleição. Eu
ano legislativo. Via na ação do um dos momentos de crise mesmo acontecera no arca- Lula chegou a enunciar a pes- não quero isso pra mim —as-
ministro das Relações Insti- mais aguda, quando o presi- bouço fiscal e no projeto que soas próximas um plano em segura, enquanto desenha
tucionais, Alexandre Padi- dente vetou mais de 30 pon- restabeleceu o voto de miner- que tanto Renan quanto Lira no detalhe a décima eleição.
lha, com quem se estranha tos do Marco Legal de Ga- va nos julgamentos do Carf. E seriam eleitos com seu apoio. —Escreva aí que eu não gero
desde março passado, a per- rantias, em novembro, voltaria a acontecer no Orça- Mas a guerra política entre expectativa com nada — diz,
sonificação de seus proble- um irritado presidente mento e na reoneração da fo- eles no Estado é tão acirrada em mais uma das econômi-
mas de acesso ao presidente. da Câmara invocou o tes- lha de pagamentos de 17 se- que o arranjo não convence- cas declarações que aceitou
Acionou vários interlocu- temunho de Had- tores da economia, ria o eleitorado. dar para este perfil.
tores de Lula até que conse- desta vez com uma Lira venceu a eleição para a Vinda de alguém que con-
guiu a garantia de uma au- Pupilo. Arthur Medida Provisó- prefeitura de Maceió em trola o plenário no olho de ci-
diência na sexta-feira pré- beija o pai, ria enviada nos 2020 ao apoiar João Henrique ma da Mesa Diretora e passa
folia. Enumerou ao presi- Benedito de Lira, últimos dias Caldas, o JHC, no segundo dias esquadrinhando traições
dente as várias votações cru- ex-senador e hoje do ano depois turno. Em compensação, per- e programando os próximos
ciais para o sucesso do go- prefeito de Barra de o Congres- deu a disputa pelo governo passos que dará, eis uma afir-
verno que garantira “no bra- de São Miguel so ter derru- com a vitória de Paulo Dantas, mação difícil de acreditar.
REPRODUÇÃO
INÊS249
OGLOBO | Domingo 10.3.2024 Política | 11

Candidato próprio ou IMPASSES

Indefinições e
Belém
Oficialmente, o PT indica que

composição: PT racha
apoiará a reeleição de Edmilson
disputas no PT Rodrigues (PSOL). Uma ala, no
para a eleição entanto, prefere seguir com o MDB, que
municipal articula o lançamento de um candidato

em cinco capitais Fortaleza

O presidente da
Assembleia Legislativa,
Evandro Leitão, trava
Campo Grande uma disputa com a
Partido enfrenta indefinições sobre as eleições para prefeito A deputada federal
deputada federal
Luizianne Lins pelo
em Curitiba, Fortaleza, Maceió, Belém e Campo Grande Camila Jara é
pré-candidata, mas o grupo
posto de candidato à
prefeitura
do também deputado federal
Vander Loubert quer
compor com o União Brasil

LUÍSA MARZULLO
luisa.castro@oglobo.com.br
— O PT firmou compro- (PSOL), que tem a gestão mal
misso sem conversar com os avaliada. Mesmo assim, parte Curitiba Maceió
-
principais parlamentares da legenda defende fidelida- O PT costura apoio ao deputado O presidente estadual do PT,

A pouco mais de sete meses

das eleições municipais,
o PT enfrenta um cenário de
indefinição e brigas internas
em ao menos cinco capitais
de Curitiba. Ducci já foi pre-
feito e fez um mandato
ruim. Para fazer um enfren-
tamento direto com a extre-
ma-direita, precisamos de
de ao prefeito por ter três se-
cretarias e a vice da gestão.
Outra ala, contudo, avalia
que o desgaste de Edmilson
é grande e prefere seguir
federal Luciano Ducci (PSB),
mas uma ala do partido defende
candidatura própria e quer
lançar a também deputada
federal Carol Dartora
Ricardo Barbosa, é
pré-candidato, mas parte de seus
correligionários quer apoiar o
nome a ser lançado pelo senador
Renan Calheiros (MDB )
EDITORIA DE ARTE

do país por divergências que
contrapõem interesses locais
e alianças nacionais. São elas
Curitiba, Fortaleza, Belém,
Maceió e Campo Grande.
Na capital paranaense, o
impasse gira em torno do
deputado federal Luciano
Ducci (PSB), que coman-
dou a cidade entre 2010 e
2013. O PT costura um
apoio ao parlamentar, inte-
grante do partido do vice-
presidente Geraldo Alck-
min, o que desagrada a uma
ala do partido que defende
candidatura própria.
A reação é puxada pela de-
putada federal Carol Dartora
e pelo deputado estadual Re-
nato Freitas, que querem o
nome da parlamentar como
cabeça de chapa. Primeira ne-
gra eleita para a Câmara Fede-
ral pelo estado, a petista afir-
ma ser vítima de violência de
gênero e racismo político.
uma candidatura mais re-
presentativa, e não de al-
guém que já esteve ao lado
deles — diz Carol Dartora.
Segundo a deputada, sua
candidatura teria o apoio de
partidos como PSOL e PCdoB,
com os quais Ducci também
diz estar dialogando. Ao GLO-
BO, o ex-prefeito afirmou ter
interesse de construir uma
frente ampla da esquerda na
capital paranaense.
— Estamos conversando
bastante com partidos da
frente ampla de Lula, a fede-
ração PT-PCdoB-PV, PDT,
PSOL e Rede. Claro que cada
partido tem sua própria dis-
cussão interna, mas estamos
tentando construir uma can-
didatura única para ter uma
melhor condição eleitoral —
afirma Ducci.
Em Belém, oficialmente o
PT indica que apoiará a reelei-
ção de Edmilson Rodrigues
com o MDB do governador
Helder Barbalho. Ele arti-
cula a candidatura de seu
primo, o deputado federal
José Priante (MDB).
Edmilson acumulou uma
dívida superior a R$ 15 mi-
lhões com as concessioná-
rias responsáveis pela cole-
ta de lixo de Belém, o que ge-
rou irregularidade no aten-
dimento. Em alguns pontos
da cidade, detritos ficaram
empilhados nas calçadas.
Também são alvos de críti-
cas a falta de medicamen-
tos, leitos e remédios nas
Unidades de Pronto Atendi-
mento (UPAs) e o atraso nos
salários dos servidores, que
ocasionou greves.
EM CIMA DO MURO
Já em Maceió, o PT tenta se
equilibrar entre o presidente
da Câmara dos Deputados,
Arthur Lira (PP-AL), e o sena-
dor Renan Calheiros (MDB).
Uma alternativa defendida
por parte dos petistas é apoiar
o nome a ser lançado por Ca-
lheiros, ainda não definido,
para disputar com o atual pre-
feito, João Henrique Caldas
(PL), apoiado por Lira. No
momento, contudo, o ex-de-
putado Ricardo Barbosa, pre-
sidente estadual do PT, é o
pré-candidato da sigla na ca-
pital alagoana.
— Nós compreendemos
que a federação (PT-PV-PC-
doB) fez parte do grupo po-
lítico que elegeu (o governa-
dor) Paulo Dantas (aliado
de Calheiros) e Lula. Esta-
mos sempre procurando
fortalecer este bloco, a fim
de chegar a uma candidatu-
ra que unifique, e porque
não poderia ser a minha
própria? — indaga Barbosa.
A deputada federal Camila
Jara enfrenta um dilema pare-
cido em Campo Grande. Já se
lançou pré-candidata, mas há
no partido quem a pressione a
deixar a disputa. Esta “oposi-
ção” tem como líder o também
deputado federal Vander Lou-
bert, que deseja compor com o
União Brasil, acreditando que
uma aliança com um partido
mais ao centro seria uma alter-
nativa melhor para bater de
frente com o bolsonarismo lo-
cal, representado pelo líder da
bancada da bala, Marcos Pol-
lon (PL). Ao GLOBO, Camila
minimiza o impasse:
— Vander ficou preocupa-
do com o bolsonarismo, mas
agora está mais calmo. Esta-
mos em articulação com o
PSB e abrimos uma frente
com o PDT.
No Ceará, a briga na famí-
lia Ferreira Gomes, que mo-
vimentou a política local
nos últimos meses, também
provoca indefinições para o
PT. Após ter rompido com o
irmão, o ex-ministro Ciro
Gomes, o grupo do senador
Cid Gomes deixou ou tenta
deixar o PDT.
Oprimeiro a sair foi o presi-
dente da Assembleia Legisla-
tiva, Evandro Leitão, que, di-
ferentemente de Cid, que es-
tá no PSB, foi para o PT. Ele
trava uma disputa com a de-
putada federal Luizianne
Lins pela cabeça da chapa do
partido em Fortaleza .
Próximo a Cid, Leitão tem
ainda aliados no governo fe-
deral, como o ministro da
Educação, Camilo Santana,
ex-governador do Ceará. Em
janeiro, quando o presidente
esteve na capital, recepcio-
nou-o no aeroporto, enquan-
to Luizianne sequer compa-
receu ao principal evento.

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INÊS249
12 | Política Domingo 10.3.2024 | OGLOBO

ELIO A Justiça Militar brasileira carrega uma

pesada mochila. Ela acreditou que Vladi-

GASPARI mir Herzog e Manuel Fiel Filho suicida-

ram-se, que Rubens Paiva fugiu e que a du-
pla do DOI nada teve a ver com a explosão
da bomba do Riocentro no colo do sargento.
Na outra ponta, o Superior Tribunal
oglobo.globo.com/opinião Militar aliviou dois capitães: Jair Bolso-
editoria.artigos@oglobo.com.br
naro, que rabiscou um projeto para deto-
nar a adutora do Guandu, e Ailton Gui-
O lulopetismo marães Jorge, que arrepiava cargas de
contrabandistas no Rio de Janeiro.
Em tempo: o capitão Guimarães, poste-
tem um problema: riormente alistado na artilharia do jogo
do bicho, nunca foi acusado de contra-
Lula 3.0 bando, mas de confiscar as muambas. Na
madrugada de 14 de maio de 1971, com
uma tropa da 1ª Companhia do 2º Bata-

A
s pesquisas do Ipec e da Quaest
revelaram que entre agosto e
março a aprovação do desempe-
nho de Lula caiu enquanto a re-
provação cresceu. As duas li-
nhas se aproximaram, e o resultado confir-
mou a pesquisa do Ipec de dezembro, que
mostrava a boca do jacaré aberta: 50% dos
entrevistados não confiavam nele, contra
48% que confiavam. A diferença cabia na
margem de erro. Em março, não cabe mais:
51% não confiam, contra 45% que confiam.
Alguma coisa está funcionando mal no go-
verno de Lula 3.0. Não se pode dizer que seja
a economia. Anda-se de lado, mas anda-se.
Também não é a política, pois em mais de um
ano de governo, aprovou-se a reforma tribu-
tária e levou-se o andor sem escândalos. Lula
restabeleceu a relação civilizada com gover-
nadores filiados a partidos da oposição e en-
frentou uma crise militar com um desempe-
nho capaz de causar inveja ao ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso e a Nelson Jo-
bim, seu ministro da Defesa. Para quem já te-
ve um presidente que falava em “meu Exérci-
to” e anunciava que não compraria a vacina
adquirida pelo governador paulista João Do-
ria, isso não é pouca coisa.
Num país ainda dividido, seria razoável
que algum mau juízo persistisse, mas não
precisava crescer. Uma possível explica-
ção para esse crescimento está no pró-
prio Lula. Ele foi o motor da vitória elei-
toral, mas há um ano despreza o arco de-
mocrático que o elegeu, supondo que foi
uma frente de políticos. A diferença en-
tre o arco e a frente pode ser fulanizada: o
ex-ministro Pedro Malan esteve no arco,
mas não está na frente.
Afora esse enguiço, Lula tem verdadeira
paixão por duas cascas de banana. Uma é a
falecida Operação Lava-Jato, coisa de dez
anos atrás. Outra são as encrencas inter-
nacionais, uma logo ali, na Venezuela; ou-
tra, a milhares de quilômetros, na Faixa de
Gaza. Sua insistência, em ambos os casos,
aliena parte do eleitorado que teve ou po-
derá vir a ter. As bandeiras de Israel na
campanha presidencial de Bolsonaro
eram presepada. Já as que foram levadas
para a Avenida Paulista há duas semanas,
tinham real significado.
A República de Curitiba foi primitiva,
onipotente e parcial, isso está entendido.
Contudo, a Lava-Jato detonou roubalhei-
ras documentadas e confessadas. Quando
Lula fala dos seus defeitos e esquece o que
houve de virtuoso, prega para converti-
dos, sejam eles petistas ou empreiteiros,
mas agride parte do eleitorado, que não
aprova o que soa como uma indulgência
com os corruptos.
As duas cascas de banana pouco têm a ver
com o desempenho do governo. São inutili-
dades a serviço de uma espécie de autoglori-
ficação presente no Lula 3.0.
Nos dois governos anteriores, Lula foi
um presidente que mostrava interesse em
dar certo. Afinal, como ele mesmo dizia,
um ex-operário tinha chegado à Presidên-
cia, não tinha o dinheiro de errar. O tercei-
ro Lula comporta-se de outra forma. Não
mostra a humildade de quem quer acertar
porque está convencido de estar certo, a
respeito de seja lá o que for, da oposição
venezuelana, à importância do governo
americano na exposição das roubalheiras
ocorridas na Petrobras.
Num juízo sereno, a reprovação do go-
verno de Lula não deveria ter crescido,
pois nada ocorreu de reprovável, salvo o
congelamento de expectativas que eram
apenas expectativas. Talvez Lula não te-
nha percebido, mas como profeta, está
maltratando o eleitorado.
Generais incomodados
Aqui e ali reverberam sinais de desconforto
de alguns militares com as investigações da
Polícia Federal para desvendar a trama gol-
pista de Bolsonaro. Chefes militares depon-
do por horas na Polícia Federal, bem como
vazamentos irregulares podem explicar a
contrariedade, mas não a justificam.
Os tribunais militares de todos os paí-
ses vivem debaixo de uma desconfiança
sintetizada pelo presidente francês Ge-
orges Clemenceau (1841-1929): “A Justi-
ça Militar está para a Justiça assim como a
música militar está para a música.”
lhão da Polícia do Exército, ele saqueou
uma casa do subúrbio de Campo Grande
onde se guardava uma carga de milhares
de calças jeans, caixas de uísque e perfu-
mes. Os contrabandistas eram policiais
civis e militares. Depois do arrepio, ele te-
ria tentado vender a carga de calças jeans
e perfumes à própria vítima.
Enquanto circulam as notícias de descon-
fortos, no Superior Tribunal Militar trata-
se do caso da patrulha do Exército que ma-
tou dois cidadãos em 2019, numa cena em
que foram disparados 257 tiros e circula a
tese da legítima defesa.
Toda corporação tem um espírito de
corpo. A questão está em saber para onde
ele aponta. Há bons e maus espíritos.
Muitos militares se esquecem de que a
própria corporação deu exemplos de
grandeza e justiça. Tome-se o caso do ge-
neral Pery Bevilacqua.
Em 1961, durante a crise da renúncia de
Jânio Quadros ele comandava 3ª Divisão de
Infantaria e foi decisivo para permitir a pos-
se de João Goulart. Quando Jango dobrou à
esquerda, apoiado pelos “Generais do Po-
vo”, Pery desafiou o governo e perdeu o co-
mando da tropa de São Paulo.
Deposto Goulart, Pery foi para a chefia do
Estado-Maior da Forças Armadas. Ele dizia
o que pensava, passou a incomodar o gover-
no e foi mandado para o Superior Tribunal
Militar. Como votava a favor da libertação
de presos, continuou incomodando. Um de
seus votos derrubou uma denúncia contra o
professor Fernando Henrique Cardoso. Pi-
or: em 1966, ele defendeu uma anistia.
Em 1967, Pery aparteou um voto de ou-
tro ministro, o tempo fechou e os dois
chegaram a levantar-se. O outro chama-
va-se Ernesto Geisel.
Nesses dias, Pery comentou em casa: “Es-
tão preparando a sementeira do ódio.”
Em dezembro de 1968 veio o Ato Institu-
cional nº 5 e Pery Bevilacqua foi demitido
do STM. Pura malvadeza, pois faltavam
poucos meses para que caísse na compulsó-
ria. Foram além, confiscando-lhe as conde-
corações militares que havia recebido. Era
um sinal para outros generais prestigiosos
que ousassem sair da linha.
Pery filou-se ao MDB e passou a defender
a anistia. Morreu em 1990, aos 91 anos. Em
2002, a família do general foi informada de
que, caso requeresse, as condecorações se-
riam devolvidas. Seu filho, um coronel da
reserva, recusou-se a pedir.
Meses depois, o presidente Fernando
Henrique Cardoso assinou o decreto que
restabelecia as condecorações de Pery.

STF vai definir tese para casos envolvendo bala perdida ção de uma tese de repercus-
são geral, que seria seguida
em todos os casos semelhan-
tes. Esse entendimento será
Em julgamento no plenário virtual, Corte determina indenização para família de vítima de tiroteio no Complexo da Maré, no Rio definido em uma sessão pre-
sencial, ainda a ser marcada.
MÁRCIA FOLETTO/09-06-2018
A tese proposta por Fachin
DANIEL GULLINO
daniel.gullino@bsb.oglobo.com.br
O episódio analisado ocor- acompanhado integralmente foi de que “sem perícia conclu-
BRASÍLIA reu em 2015, no Complexo por três ministros: Rosa We- siva que afaste o nexo, há res-
-
da Maré, na Zona Norte. Um ber (hoje aposentada), Cár- ponsabilidade do Estado pelas

O Supremo Tribunal Fede-

ral (STF) decidiu que a
União deve indenizar a fa-
mília de um homem morto
por uma bala perdida du-
rante um tiroteio que envol-
veu o Exército, no Rio de Ja-
neiro. Os ministros ainda
vão decidir, no entanto, um
entendimento para ser se-
guido em todos os casos se-
melhantes envolvendo dis-
paros sem origem definida.
O julgamento ocorreu no
plenário virtual e foi encer-
rado anteontem. Nove mi-
nistros concordaram em
relação à responsabilidade
da União no episódio. Não
houve maioria, no entanto,
para determinar que o Es-
tado do Rio também fosse
responsabilizado.
homem foi morto após ser
atingido por uma bala dentro
de sua casa. As autoridades
relataram que estava ocor-
rendo um tiroteio com crimi-
nosos no momento.
Uma perícia não concluiu
a origem do disparo. A famí-
lia apresentou um pedido de
responsabilização, mas ele
foi negado na primeira e na
segunda instância.
O relator, Edson Fachin, vo-
tou para determinar uma in-
denização tanto da União
quanto do Rio. Para o ministro,
os “integrantes da Força de Pa-
cificação do Exército assumi-
ram o risco ao proceder uma
operação em local habitado”.
Já a responsabilidade do esta-
do seria pela falta de investiga-
ção sobre a morte. Fachin foi
men Lúcia e Gilmar Mendes.
André Mendonça e Cristia-
no Zanin apresentaram votos
divergindo parcialmente.
Eles concordaram com a res-
ponsabilização da União, mas
não do Rio, já que a Polícia Mi-
litar não participou da opera-
ção. Essa posição foi seguida
por Dias Toffoli, Nunes Mar-
ques e pelo presidente do STF,
Luís Roberto Barroso.
“Eventual falha em cum-
prir, com diligência, a inves-
tigação dos fatos é causa au-
tônoma e posterior à res-
ponsabilidade aqui tratada”,
justificou Zanin, que consi-
derou que esse ponto pode
ser analisado em outra ação.
Já o ministro Alexandre de
Moraes divergiu integral-
mente, por considerar que a
Forças Armadas. Exército na Rocinha em 2018: morte que gerou ação foi em 2015
União não pode ser responsa-
bilizada. “Como presumir
que os militares tinham con-
dições de evitar a ocorrência
do dano se, em meio a um
confronto armado, as forças
militares sequer conseguem
identificar todos os locais a
partir dos quais estão sendo
atacados pelos bandidos?”,
questionou Moraes. Ele foi
acompanhado por Luiz Fux.
PROPOSTAS DIFERENTES
Os ministros não chegaram,
ao contrário do que O GLO-
BO noticiou na edição de on-
tem, a uma maioria na defini-
causalidades em operações de
segurança pública” — ou seja,
haveria responsabilidade em
todas as mortes por bala perdi-
da durante operações.
Moraes sugeriu que a inde-
nização deve ser paga somen-
te com “comprovação de que
o projétil partiu dos agentes
do Estado”. Já para Mendon-
ça, a responsabilização só de-
ve ocorrer quando, além da
perícia for inconclusiva, for
“plausível o alvejamento por
agente de segurança pública”.
Atese proposta por Zanin é
de que uma perícia inconclu-
siva “não é suficiente, por si
só, para afastar a responsabi-
lidade civil do Estado”. Além
disso, o Poder Público teria
que demonstrar um “exclu-
dente de responsabilidade”.
INÊS249
OGLOBO | Domingo 10.3.2024
Altos cachês levam prefeituras aos tribunais
Pagamentos a artistas feitos por municípios do interior são alvo de denúncia de adversários e do Ministério Público, que veem
mau uso dos recursos públicos. Em alguns casos, apresentações são suspensas, enquanto outras estão sob investigação
FERNANDA ALVES
fernanda.lima@oglobo.com.br
-
P refeituras do interior dis-
postas a pagar altos cachês
a artistas para fazerem shows
em suas cidades têm sido alvo
de denúncias de mau uso de
recursos públicos que termi-
nam nos tribunais. Somente
este ano, três apresentações
foram alvo de batalhas judici-
ais, deixando em compasso de
espera cantores como Alexan-
dre Pires, Leo Santana e Gust-
tavo Lima, que não sabiam se
poderiam subir ao palco até
momentos antes das exibi-
ções, orçadas, nesses casos, en-
tre R$ 250 mil e R$ 1,3 milhão.
Em Embu das Artes (SP), o
show de Leo Santana, contra-
tado para celebrar o aniversá-
rio da cidade, em 18 de feverei-
ro, ficou suspenso por dois dias
e só foi liberado horas antes de
começar após recurso da pre-
feitura. O autor do pedido do
cancelamento, o então verea-
dor Abidan Henrique (PSB),
foi cassado 12 dias após conse-
guir na Justiça uma liminar pa-
ra embargar a apresentação. A
perda de mandato, aprovada
pela Câmara, ocorreu devido a
um outro episódio envolven-
do contratação de artistas em
2023. Durante uma sessão, ele
chamou de “ratos” os vereado-
res que não quiseram debater
oproblema.
—Foi uma forma de vingan-
ça. A perseguição aumentou
LUCAS TAVARES/31-12-2022
Alexandre Pires. Valor do cachê sob investigação
após a denúncia do show do
Leo Santana —diz o vereador,
que denunciou à Justiça falta
de transparência e irregulari-
dade na forma de pagamento
para o artista, feito antes mes-
mo de o show acontecer.
Procurada, a prefeitura
não comentou.
Em Três Rios (RJ), a briga
envolve a prefeitura e o Mi-
nistério Público, que apura
se houve superfaturamento
nos cachês pagos a artistas
que cantaram no carnaval,
entre eles Cláudia Leite,
Alexandre Pires e Belo. Eles
teriam recebido, respecti-
vamente, R$ 500 mil, R$
480 mil e R$ 250 mil.
“Pela impossibilidade de
comprovação de tal denún-
Leo Santana. Show liberado em cima da hora
cia antes do início do carna-
val, não foi possível nenhu-
ma medida para impedir a re-
alização do evento, mas serão
apuradas todas as despesas,
sem exceções, ainda que a
Câmara de Vereadores tenha
aprovado tudo por unanimi-
dade, como efetivamente o
fez”, diz trecho da nota envia-
da pelo MPRJ. Questionada,
a prefeitura não comentou a
investigação.
Já na Bahia, o MP estadual
R$ 1,3 milhão
É o valor que a prefeitura de Campo Alegre de Lourdes, na
Bahia, pagaria ao cantor Gusttavo Lima, em momento que a
cidade decretou emergência devido à seca na região, diz o MP
FÁBIO ROSSI/27-01-2024
Gusttavo Lima. Apresentação suspensa na Bahia
conseguiu na Justiça uma de-
cisão favorável ao pedido de
suspensão do show do cantor
Gusttavo Lima em Campo
Alegre de Lourdes, marcado
para 9 de fevereiro, data dos
festejos de Nossa Senhora de
Lourdes. A prefeitura desem-
bolsaria R$ 1,3 milhão apenas
para pagar o cantor.
A promotora Thays Rabelo,
titular da ação, afirma que cha-
mou atenção a contratação do
artista ter sido feita no período
LUCAS TAVARES/08-06-2022
em que o município decretou
emergência por conta da seca
na região. Ela ainda destaca a
importância do trabalho pre-
ventivo de órgãos de fiscaliza-
ção, antes que o pagamento
pelo evento aconteça:
—No caso de Campo Ale-
gre de Lourdes, identificamos
uma ausência de políticas
púbicas essenciais nos mais
variados setores e fomos taxa-
tivos em pedir a devolução in-
tegral dos valores do cachê pa-
ra os cofres públicos.
Em 2023, o promotor André
Luengo também conseguiu a
suspensão dos shows que
aconteceriam num rodeio na
cidade de Euclides da Cunha
Paulista, no interior paulista.
Ele argumentou que o valor
Política | 13
dos cachês das duplas sertane-
jas Fernando e Sorocaba, Jads
e Jadson e Antony e Gabriel —
mais de R$ 500 mil —era igual
ao orçamento da Secretaria de
Cultura da cidade.
—O intuito não é deixar a
população sem entretenimen-
to. Minha maior preocupação
foi ver a situação da cidade,
que tinha um déficit orçamen-
tário e onde os direitos básicos
da população, como saúde e
educação, não eram respeita-
dos. Os gastos de dinheiro pú-
blico precisam ser razoáveis —
afirma Luengo.
DESIGUALDADE DE FORÇAS
O publicitário especialista em
marketing político Renato Pe-
reira avalia que neste ano de
eleição municipal esse tipo de
evento tende a ser mais co-
mum porque ajuda a populari-
zar os gestores — que discur-
sam e marcam presença nos
palcos —, além driblar a lei
eleitoral, que proíbe a realiza-
ção de apresentações em
eventos de campanha:
—Eles promovem o atual
gestor debaixo de uma capa
de estímulo ao comércio e
turismo da cidade. Fora que
aumentam a desigualdade
de forças entre quem tem o
controle da máquina e os
demais opositores, já que se
os outros candidatos reali-
zassem um evento desse ti-
po, seriam punidos pela lei
eleitoral.
INÊS249
14 |
Brasil
APÓS A ESCRAVIDÃO,
A VENDA DA ILUSÃO
Em cartas, abolicionista André
Rebouças denunciou que europeus
eram enganados para imigrar
MARCELO REMIGIO
marcelo.remigio@oglobo.com.br
-
“O que há de horrível no
sistema é que o imi-
grante é fintado —iludido por
falsas promessas —(...). Só lu-
cram os agentes e os trafican-
tes, exatamente como no tem-
po do tráfico de africanos”. A
análise foi feita em 1891 pelo
abolicionista André Rebou-
ças, numa carta para um ami-
go em que abordava a chegada
de trabalhadores do exterior
ao Brasil. Ele alertava, a partir
de uma notícia de captura de
um imigrante ilegal e de anún-
cios de hospedarias que abri-
gavam estrangeiros, para a
tentativa de fazendeiros do es-
tado de São Paulo e agenciado-
res de mão de obra em imple-
mentar um comércio humano
com práticas próximas à escra-
vidão. O documento histórico
faz parte de uma coleção com
12 itens de Rebouças, que co-
meçaram a ser digitalizados
pelo Arquivo Nacional e pode-
rão ser consultados.
Areportagem destacada por
André Rebouças foi publicada
pelo jornal “Gazeta de Portu-
gal” e relatava a história de um
português chamado José Fran-
cisco Gil, de 21 anos, flagrado
em Lisboa pela polícia a bordo
do navio a vapor inglês Sorata,
numa tentativa de viajar para o
Brasil clandestinamente. Para
embarcar, o preso pagou nove
libras ao agenciador. Além de
uma vaga na embarcação, ele
ainda ganhou um nome falso,
Joaquim Pereira. “Com essas
nove libras (...) compraria este
infeliz um ‘lotezinho’ de terras
ou faria a primeira prestação
de um lote maior”, escreveu
Rebouças ao lado do recorte
de jornal colado na carta.
Em outras duas correspon-
dências para amigos brasilei-
ros enviadas de Lisboa, onde
passou a morar após a procla-
mação da República, Rebou-
ças anexou em cada uma
anúncios de hospedarias onde
eram oferecidos lotes de imi-
grantes. Havia trabalhadores
de Portugal, Itália, Áustria,
Alemanha, Polônia e Bélgica.
Além da quantidade de pesso-
as oferecidas para o trabalho
Acervos reúnem peças censuradas, fotos de jornal e gravação da TVE
O s documentos de André
Rebouças que serão digi-
talizados pelo Arquivo Nacio-
nal foram contemplados por
uma parceria assinada entre o
órgão e a empresa pública de
tecnologia Dataprev. O acordo
fechado recentemente prevê a
digitalização de mais três cole-
ções: uma com 1.699 roteiros
de espetáculos teatrais censu-
rados no início dos anos 1900;
Imigração. Correspondência com anúncio escrita por Rebouças para um amigo: abolicionista criticava o comércio de mão de obra estrangeira para fazendas
Preciosidades. A técnica Aline Torres, do Arquivo Nacional, analisa material histórico que pertenceu a André Rebouças ça a ser organizado, André Re-
Abolicionista
e defensor da
monarquia
> Um dos principais
nomes da causa abolicio-
nista, o baiano André
Rebouças nasceu em
cerca de 480 mil negativos que
pertenceram ao jornal “Cor-
reio da Manhã”; e 7 mil grava-
ções da TVE do Rio, a maior
parte inédita. O projeto será
usado como modelo para no-
vas parcerias da Dataprev com
órgãos federais com acervos.
De acordo com a diretora-
geral do Arquivo Nacional,
Ana Flávia Magalhães Pinto, a
parceria com a Dataprev possi-
1838. Era engenheiro civil ca, de onde mantinha
eprojetou obras como a contato com amigos no
estrada de ferro Curitiba- Brasil por meio de cartas.
Paranaguá, e atuou na
implantação do abasteci- > Para a socióloga e
mento de água no Rio. historiadora Silviane
Ramos, pesquisadora da
> Monarquista, se exilou Fiocruz e da Unemat, a
na Europa após a Repúbli- digitalização do acervo de negro. Era empoderado.
bilitará, pela primeira vez, cri-
ar um cronograma para a digi-
talização de acervos, trabalho
até então feito pontualmente.
—É uma parceria que une
dois órgãos públicos e que
permitirá criarmos uma pro-
gramação de digitalização
dando prioridade às coleções
que mais necessitam, que es-
tão em condições mais frágeis
—explica Ana Flávia, ao res-
SUBSTITUTA DO EL NIÑO
La Ninã chega para aliviar o calor
NA WEB Com a mudança de fenômeno, são esperadas frentes frias mais intensas
GUITO MORETO
Rebouças cria condições
para que histórias de
heróis negros sejam
contadas e valorizadas:
> — Ele teve significativo
papel na luta abolicionista, como “escravidão branca” —
primava pelo zelo do ser
saltar que muitas vezes a digi-
talização era feita em função
da procura do acervo, com au-
xílio da iniciativa privada.
A coleção de espetáculos te-
atrais censurados reúne rotei-
ros e propostas de cenários
que passaram pelo crivo da 2ª
Delegacia Auxiliar de Polícia
do Departamento Federal de
Segurança Pública. O órgão
era responsável por proibir es-
Domingo 10.3.2024
GUITO MORETO
braçal, ambas as publicidades
mostravam o interesse de fa-
zendeiros em encontrar famí-
lias e homens solteiros para su-
as propriedades rurais. Segun-
do análise de Rebouças, o co-
mércio que se instalava pre-
tendia manter por outras for-
mas práticas do período da es-
cravidão, quando africanos
foram trazidos à força por trafi-
cantes e privados da liberdade.
Numa primeira avaliação de
pesquisadores, na visão de Re-
bouças, o trabalho de imigran-
tes seria marcado pela explora-
ção econômica, com baixa re-
muneração, condições precá-
rias nas fazendas e pagamento
aagenciadores.
—Nesse material que come-
bouças faz uma comparação
da chegada dos imigrantes
com os métodos que foram
usados por traficantes de es-
cravos. Aponta que fazendei-
ros e agenciadores eram os
maiores beneficiados. Sistema
esse que Rebouças classificou
explica a técnica do Arquivo
Nacional e pesquisadora Aline
Torres. —É um acervo peque-
petáculos contrários à pauta
de costumes da época. Eram
barradas peças que não “res-
peitavam” questões de gênero,
como uma personagem mu-
lher vestida com roupas mas-
culinas, ou então uma atriz
nua, “afrontando” as famílias.
Já no acervo da TVE do Rio
há gravações não editadas de
programas das décadas de
1970. São bastidores de filma-
| OGLOBO
PARA
ACESSAR
APONTE
O CELULAR
PARA
O QR CODE
REPRODUÇÃO
no, mas muito simbólico e de
grande relevância histórica
para a preservação da memó-
ria do André Rebouças.
PRISÃO, PORTO E ORÇAMENTO
Os 12 itens compõem um lote
de preciosidades históricas en-
volvendo Rebouças e que fo-
ram doados ao Arquivo Nacio-
nal por Maurício Nabuco, fi-
lho do abolicionista Joaquim
Nabuco, em 1973. Além da
análise sobre a “escravidão
branca”, há no acervo um pro-
jeto de regulamentação de pe-
nitenciárias agrícolas (1888).
Na proposta, Rebouças, que
era engenheiro civil, sugere a
construção de presídios de se-
gurança máxima em ilhas ma-
rítimas e fluviais ou em locais
isolados. Os presos seriam di-
vididos em quatro níveis, de
acordo com a periculosidade,
e poderiam mudar de grupo
pelocomportamento. Entre as
penas, que mudavam segundo
o nível, havia a privação de ali-
mentação, trabalhos forçados
e celas de isolamento. O texto
previa recompensas. Os pre-
sos poderiam vender a produ-
ção e teriam salários, resgata-
dos ao final da pena. A alimen-
tação e prejuízos provocados
pela “malemolência dos pre-
sos” —moleza para o trabalho
—, segundo a proposta, seri-
am descontados da renda.
Também destaca-se no acer-
vo de Rebouças um documen-
to em que ele “refuta as obras
de modernização no Porto do
Rio”, em 1889, e alerta para o
desperdício do dinheiro públi-
co e projetos que só beneficia-
riam as empresas. Para o enge-
nheiro, que trabalhou na área
de portos, o projeto licenciado
pelo Império, a cargo da em-
presa do Visconde de Figueire-
do, chamava a atenção pela
“completa inutilidade”, “não
produzia benefícios”, não sa-
tisfazia a vontade da popula-
ção” e não era “higiênico”, já
que aumentava a poluição da
Baía de Guanabara.
O acervo ainda incluiu uma
proposta de Orçamento do
Império para 1886-1887, em
que Rebouças já indica que as
despesas seriam maiores que a
arrecadação do governo.
gens e depoimentos de nomes
como os sambistas Delegado,
Cartola e Jovelina Pérola Ne-
gra; show das Banda Black Rio
e do movimento Soul: entre-
vistas com os diretores Nelson
Pereira dos Santos e Gilda de
Abreu e os atores Flávio Migli-
accio, Hugo Carvana e Gian-
francesco Guarnieri; e ima-
gens do Show do Paraíso, o
Woodstock mineiro de 1977.
Já no acervo do “Correio da
Manhã” há negativos de repor-
tagens feitas entre 1901 e a dé-
cada de 1970 no Rio.
INÊS249
OGLOBO | Domingo 10.3.2024
FERNANDA ALVES
fernanda.lima@oglobo.com.br
-
C oncursos de beleza para
idosos, com coroação
da miss e do mister da ter-
ceira idade, se espalham
por cidades brasileiras. Só
no começo deste ano, pelo
menos três prefeituras
paulistas — Osasco, Embu
das Artes e Engenheiro Co-
elho — já abriram inscri-
ções para as competições
que, para além da aparên-
cia física, levam em consi-
deração o carisma e a vi-
vência dos competidores.
De acordo com o Censo
2020, 15,6% da população
do país têm mais de 60 anos,
totalizando aproximada-
mente 32 milhões. É um
crescimento de 56%, se
comparado com 2010. Com
isso, a promoção destes con-
cursos é elogiada por espe-
cialistas como o vice-presi-
dente da Sociedade Brasi-
leira de Geriatria e Geronto-
logia (SBGG), Leonardo
Brando de Oliva.
— Ainda existe muito pre-
conceito a respeito do pro-
cesso de envelhecimento.
Atividades como essa pro-
movem uma maior aceita-
ção, mostrando que o belo
transcende a idade, e tam-
bém incentivam os idosos a
se cuidarem física e mental-
mente — avalia.
Para a dona de casa Nilza
Borges da Silva, de 63 anos,
o concurso de Miss Idosa do
Amazonas, promovido pelo
projeto social Viver Mais,
foi uma “tábua de salvação”.
Nilza conta que a iniciativa
a ajudou no tratamento de
uma depressão após a morte
do marido, em 2019, com
quem viveu por 39 anos. Em
2021, na sua primeira parti-
cipação, sagrou-se campeã e
passou a se enxergar de uma
nova forma.
—Antes do título não me
achava bonita. Pensei que ao
chegar aos 60, minha vida ti-
nha parado ali. Quando me
tornei miss, aprendi a me va-
lorizar e vi que ainda tinha
muito coisa pela frente. Mui-
ta gente pensa que idoso só
tem que ficar em casa cui-
dando de neto, mas não é ver-
dade —defende a dona de ca-
sa, que aponta seu jeito ale-
gre e carinhoso como um dos
atributos que a ajudaram a
vencer a disputa.
VONTADE DE VIAJAR
A idade avançada era vista
por Maria Anunciada da
Silva, de 84 anos, como
uma barreira até mesmo
dentro do próprio grupo de
idosos de que faz parte. Ela
conta ter ficado surpresa
ao ser escolhida como a
Miss 3ª Idade da cidade de
Santa Cruz do Capibaribe,
no interior de Pernambu-
co, em 2021. Anunciada re-
conhece que a vitória a in-
centivou a acreditar na rea-
lização de seus sonhos, co-
mo o de ir para Portugal vi-
sitar parte da família.
—Não esperava que fosse
ganhar. Nem chamei mi-
nhas filhas para ir assistir.
Pensei que iam escolher al-
guém mais jovem. Essa vi-
tória me trouxe mais ale-
gria de viver — conta
Anunciada, que pretende
continuar participando de
outras edições do evento e
que a partir de agora vai fa-
zer questão de convidar os
11 netos e 11 bisnetos para a
torcida organizada.
Não foi fácil conciliar os
compromissos do posto de
“Ainda existe muito preconceito a respeito do processo de envelhecimento. Atividades
como essa promovem uma maior aceitação, mostrando que o belo transcende a idade”
_ Leonardo Brando de Oliva, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG)
A coroação de uma vida
longa que serve de estímulo
para continuar a ser vivida
Concursos de beleza para idosos se multiplicam e são defendidos por
especialistas como uma forma de incentivar atividade física e mental
“Tábua de salvação”. Nilza Borges, de 63 anos, que foi
coroada miss Amazonas nos anos de 2021 e 2022, contou que o
concurso a ajudou a sair da depressão depois da morte do marido
Atleta. Ivo Miguel Evangelista, de 70 anos, Mister São Paulo
em 2023, faz musculação e corre 10 km ao menos três vezes
por semana em Santos (SP), onde também levou prêmio
Mister Melhor Idade São
Paulo 2023, que demanda a
participação em eventos
representando o estado,
com o dia a dia de Ivo Mi-
guel Evangelista, de 70
anos. Ele atua como coor-
denador de Igualdade Ra-
cial e Étnica da Secretaria
da Mulher, Cidadania e Di-
reitos Humanos da prefei-
tura de Santos e também
tem uma intensa rotina de
atividades físicas, que en-
volve musculação e correr
10 km pelo menos três ve-
zes por semana.
Antes de participar do tor-
neio estadual, o administra-
dor ganhou a edição do con-
curso em Santos.
— Não fiz nada diferente
da minha rotina, mas inten-
sifiquei os cuidados que já
tenho com a saúde, como os
exercícios físicos. Conside-
ro minha vitória importan-
te porque, além dos idosos e
Aos 103 anos. Manuel de Jesus Lopes, Mister Melhor
Idade Caraguatatuba 2023 (SP): português joga bocha e
pratica pilates, musculação e hidroginástica
Torcida organizada. Maria Anunciada da Silva, de 84 anos:
coroada Miss Terceira Idade de Santa Cruz do Capibaribe (PE), vai
chamar 11 netos e 11 bisnetos para apoiá-la no próximo concurso
da população de Santos,
também há a representativi-
dade da comunidade negra
— avalia o coordenador de
Igualdade Racial e Étnica,
para quem a competição dá
visibilidade para uma ter-
ceira idade ativa, que está
produzindo e evoluindo in-
dependentemente da idade.
Aos 103 anos, o português
Manuel de Jesus Lopes já ti-
nha trabalhado em bar, pa-
daria e restaurante desde
FOTOS DE ARQUIVO PESSOAL
que veio para o Brasil, com
30 anos. Em 2023, no entan-
to, encarou um novo desa-
fio: ao vencer o concurso de
Mister Melhor Idade de Ca-
raguatatuba, também no in-
terior de São Paulo, promo-
vido pela Secretaria Dos Di-
reitos Da Pessoa Com Defi-
ciência e do Idoso do muni-
cípio. Manuel teve de atacar
de modelo para divulgar a
competição. A vitória veio
em sua segunda participa-
Brasil | 15
ção no evento, após ficar
com a faixa de Mister Sim-
patia no ano de estreia.
— Nunca imaginei que
nessa idade ia vencer um
concurso desse, mas foi
uma grata surpresa. Na vida
temos que nos divertir, se fi-
car só em casa fica enferru-
jado. Essa vontade de viver
que me incetiva a participar
desse tipo de evento — con-
ta ele, que também pratica
bocha, pilates, musculação
e hidroginástica no centro
de atendimento ao idoso do
município.
ENERGIA EMANADA
A atriz Vida Vlatt, que foi
uma das juradas do Concur-
so Miss & Mister Melhor
Idade 2023 em Embu das
Artes, conta que não avaliou
apenas a aparência na hora
de dar seus votos. Vlatt, que
trabalhou ao lado do apre-
sentador Clodovil em “A
Tarde é Sua”, na Rede TV, in-
terpretando a empregada
Ofrásia, e está em cartaz
com o espetáculo stand-up
“Tô Velha Mas Tô Na Moda”,
aponta a importância do ca-
risma do participante.
—A beleza e a parte estéti-
ca dizem muito sobre como
a pessoa se cuida, mas os ju-
rados não avaliam apenas is-
so. É fundamental olhar
também para a energia que
ela emana. É por ela que
conseguimos ver que, mes-
mo tendo passado por sofri-
mentos e percalços da vida,
o participante conseguiu
conservar a esperança, o
brilho no olhar e o sorriso no
rosto — explica.
A disputa em Embu das
Artes atraiu 34 candidatos,
dos quais 30 mulheres e
quatro homens, que desfi-
laram em trajes de gala. Fo-
ram analisados os quesitos
desenvoltura e postura,
elegância, simpatia, es-
pontaneidade e carisma,
além de charme e desinibi-
ção. Os prêmios foram de
coroa e buquê de flores a
vales para jantar, massa-
gem relaxante e tratamen-
to estético facial.
Para a psicóloga Cristiane
Moreira, esse tipo de evento
não deve enfocar apenas os
padrões estéticos.
—O contemporâneo valo-
riza a visibilidade pela bele-
za, mas isso não é saudável
em nenhuma faixa etária. É
importante que eles discu-
tam também temas como a
autonomia, autocuidado,
garantias de direitos e valo-
rização da história de vida —
recomenda.
De acordo com o Relató-
rio Mundial sobre Idadis-
mo, da Organização Mun-
dial da Saúde (OMS), o eta-
rismo se refere a “estereóti-
pos (como pensamos), pre-
conceitos (como nos senti-
mos) e discriminação (co-
mo agimos) direcionadas
às pessoas com base na ida-
de que têm”.
A preocupação com o te-
ma chegou também nos
concursos de beleza profis-
sionais e ganhou a atenção
dos organizadores do Miss
Universo, que derrubaram,
desde a edição de 2014, a
restrição de idade para par-
ticipação. Até 2023, só eram
aceitas mulheres entre 18 e
28 anos. A etapa da compe-
tição na Argentina contará
inclusive com a participa-
ção da atriz e modelo Iris
Amelia Alioto, de 72 anos,
que se tornará a mulher
mais velha a participar da
competição.
INÊS249
16 | Brasil Domingo 10.3.2024 | OGLOBO

ESPECIAL
EDIÇÃODE
ANIVERSÁRIO

MAR
2024
N0 198 | R$ 30
ESPECIAL
EDIÇÃODE
ANIVERSÁRIO

KARIME HAJAR
(à esq.), Senior
Investment
Manager da Basf
Venture Capital;
ERICA MENEZES
(ao centro), Head
de Venture Capital
Corporativo
da Eurofarma;
JULIANA INNECCO
(à dir.), Head do
Torq Ventures,
da Sinqia

A NOVA ONDA DO
CORPORATE VENTURE CAPITAL
COMO UM GRUPO CRESCENTE DE GRANDES EMPRESAS BRASILEIRAS SUBVERTE REGRAS
TRADICIONAIS DE NEGÓCIOS PARA ADERIR AO VENTURE CAPITAL, INOVAR E SE REINVENTAR

CARGA TRIBUTÁRIA FEDERAL APROXIMADA 4,65%

INÊS249
OGLOBO | Domingo 10.3.2024 | 17

MUSK ANUNCIA PARA

Economia
ACESSAR

Vídeos do ‘X’ para TVs inteligentes APONTE

O CELULAR
PARA
NA WEB Lançamento deve ser feito nos equipamentos da Amazon e da Samsung O QR CODE

NOVA REVOLUÇÃO
VINICIUS NEDER Energia e Materiais (CN-
vinicius.neder@oglobo.com.br
PEM), estima que a incorpo-
-
ração generalizada do etanol

V inte anos após a introdução

dos carros flex, em 2003, a
de segunda geração poderia
ampliar a produção em mais

Transição energética pode

transição para uma economia 50%. Se esse aumento se der
de baixo carbono oferece mais sobre a produção elevada pelo
uma oportunidade para a ca- aumento da produtividade da
na-de-açucar e a indústria su- cana, seriam 100 bilhões de li-

triplicar produção de etanol

croalcooleira no Brasil. A che-
gada dos veículos elétricos in-
tensifica investimentos em
carros híbridos, inclusive com
uso do etanol, uma vantagem
energética do país. Essa nova
perspectiva e avanços tecnoló-
gicos no campo formam um
cenário que pode dobrar a pro-
dução de cana e triplicar a de
etanol, dizem executivos e
pesquisadores do setor.
Com as metas de redução de
gases de efeito estufa (GEEs)
gerados pelos combustíveis de
origem fóssil, a indústria auto-
mobilística parece se dividir
entre a aposta da China nos
elétricos e o caminho dos
híbridos, que combinam mo-
tores elétricos e a combustão,
como o flex brasileiro. Essa se-
gunda vertente é o centro dos
planos bilionários anunciados
recentemente por Toyota e
Stellantis (dona de Fiat e Peu-
geot), por exemplo, entre os
R$ 117 bilhões que montado-
ras investirão no país até 2030.
Parte da indústria acredita
que os híbridos são o modelo
ideal de transição, particular-
mente em países emergentes,
onde o preço alto dos carros
elétricos e a falta de infraestru-
tura de recarga são barreiras.
Se, por um lado, o veículo
híbrido reduz o consumo de
etanol por motorista, a adoção
desse caminho por outros paí-
ses pode elevar a demanda glo-
bal por um combustível do
qual o Brasil é exportador.
E há outros motivos para o
otimismo: países discutem
elevar a diluição de biocom-
bustíveis na gasolina para re-
duzir emissões e várias rotas
tecnológicas tentam viabilizar
oSAF, o combustível sustentá-
vel de aviação que poderá
substituir o atual querosene,
de origem fóssil. Brasileiros es-
Futuro verde. A Usina Boa Vista, da São Martinho, em Goiás, produz etanol de cana e milho. Setor investe em expansão de olho na economia de baixo carbono
veis, observa Bernardo Gra-
din, presidente da GranBio,
pioneira brasileira no etanol
de 2ª geração. Segundo a Iata,
a entidade global que reúne as
companhias aéreas, 65% da
redução de emissões do setor
até 2050 terão de vir do SAF.
Em 2023, 300 milhões de li-
tros foram produzidos. A pers-
pectiva é de 5 bilhões de litros
anuais em 2025. A GranBio in-
veste numa usina experimen-
tal nos EUA em parceria com a
tros ao ano, o triplo da atual.
No estágio atual, o elevado
custo de produção ainda é um
obstáculo para a incorporação
da tecnologia de 2ª geração.
Para reduzi-lo, o LNBR traba-
DIVULGAÇÃO/SÃO MARTINHO
lha no desenvolvimento de en-
zimas nacionais, insumo es-
sencial no processo de trans-
formar a celulose em etanol.
Eduardo Couto, diretor do la-
boratório, diz que, após testes,
será possível o uso comercial
por volta de 2030.
— Uma enzima produzida
localmente na usina reduz
custos com logística, reduz a
pegada de carbono e faz com
que o etanol de segunda gera-
ção fique mais competitivo co-
mercialmente —diz Couto.
Luciano Rodrigues, diretor
de Inteligência Setorial da
Unica, que reúne empresas do
ramo, inclui no rol de uma
“transformação acelerada” do
setor o etanol de milho e o bio-
metano. Em dez anos, o etanol
de milho saltou de zero para
17% de todo o volume no país.
O biometano — substituto
do gás natural de origem fóssil,
tanto para a indústria quanto
para o transporte, como gás
natural veicular (GNV) — é
gerado a partir da vinhaça e da
torta de filtro, sobras da fabri-
cação de açúcar e etanol.
Rodrigues vê no gás potenci-
al semelhante ao da geração de
OS NÚMEROS DO SETOR eletricidade a partir do bagaço.
Produção total de etanol (de cana e milho) Hoje, essa fonte já soma 5% da
PARTICIPAÇÃO ENERGÉTICA
(em bilhões de litros) (em % da geração elétrica total) matriz elétrica do país.
40
Geração de energia elétrica a
35,4 CLIMA PREOCUPA
35 32,4 partir do bagaço de cana já é
30,2 relevante no país As oportunidades se colo-
30 25,6 27,5
29,7
cam num momento de reto-
Hidrelétricas
25 27,2 70,2%
Térmica a mada após anos de dificulda-
Biomassa
20 22,6 4,6% des, diz Leonardo Alencar,
14,7
analista da XP Investimen-
15 Solar
Fotovoltaica
tos. Desde a década passada,
10 3,3% a cana tem sido atingida pela
seca e pelo calor.
04 04
05 05
06 06

20 7-20 7
08 08
09 09

10 8
11 11
12 12
13 13
14 14
15 15
16 16
17 17
18 18
19 19
20 20

20 1-20 1
22 22

-2 3
4*
2 2
0 0

23 02
20 -200
20 -20

20 -20
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20 -20
20 -20
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tão otimistas sobre a possibili- Honeywell, fornecedora do Recentemente, problemas

20 -2

Térmica -
03
20

dade de o álcool despontar co- setor de aviação. Outros

mo o insumo mais vantajoso.
O etanol ainda pode ser usado
na produção de hidrogênio.
—Imagina os EUA colocan-
do 5% a mais de etanol na ga-
solina. Hoje são 10%. Imagi-
na, no Brasil, subindo para
30%. Imagina outros países
adotando essa mistura. O Bra-
sil tem grande potencial —
empolga-se Fabio Venturelli,
presidente da São Martinho,
—A demanda de SAF é real
—diz Gradin.
A Atvos já planeja a constru-
ção de uma refinaria de SAF
no Brasil, para ir além do açú-
car e do álcool e agregar valor.
O estudo de viabilidade eco-
nômica ainda pode consumir
de três a cinco anos, mas Bru-
no Serapião, presidente da
empresa, se diz confiante.
Na fronteira tecnológica, a
0,6%
climáticos na Índia, maior
Produção de etanol de milho competidor do Brasil no açú-
(em bilhões de litros)
Térmica car, elevaram os preços inter-
6 5,5 Eólica a Carvão nacionais, incentivando a pro-
15,0%
5 4,4
Mineral
1,1%
dução brasileira. Por aqui, ca-
Térmica Térmica
naviais foram beneficiados pe-
4 3,4 Nuclear a Gás las chuvas, que podem min-
3 2,5 2,2% 3,0% guar este ano com La Niña.
2 1,6
Térmica a Óleo
0,0%
Segundo Alencar, na con-
0,791 juntura atual, o açúcar tem
1 0,521 sustentado o setor, enquanto o
0,234
0,010 0,141 *Dados acumulados até a primeira quinzena de
0
fevereiro; a safra de cana começa em abril de um
ano e vai até março do ano seguinte.
etanol está com preço relativa-
Fonte: Unica, com dados da Câmara de mente baixo. Rodrigues, da
5

4*
02
01
01

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01

01

01

02

02

Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).

-2

-2
-2

-2

-2

-2

fabricante de açúcar e etanol. startup Hydron, nascida na Unica, considera o vaivém dos
-2

-2
-2

-2
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20

20

20

USP, trabalha com a Raízen e a EDITORIA DE ARTE

SUSTENTABILIDADE NO AR
A Raízen, maior do ramo no
país, constrói, até 2027, oito
usinas de etanol de 2ª geração,
fabricado a partir de celulose
encontrada em palha de cana
ou outras plantas. O investi-
mento soma quase R$ 10 bi-
lhões, já que cada unidade cus-
ta em torno de R$ 1,2 bilhão.
Até 2030, serão 20 usinas. No
fim de fevereiro, anunciou a
captação de US$ 1,5 bilhão
(R$ 7,5 bilhões), em “títulos
verdes” de longo prazo, para fi-
nanciar parte desses aportes.
—Nas regulações europeia,
japonesa e americana, o eta-
nol de 2ª geração se encaixa.
Uma empresa de energia eu-
ropeia, por exemplo, tem um
limite de emissões (de GEEs).
Ou ela reduz ou compra um
produto que tenha créditos. O
etanol de 2ª geração é como se
fosse um crédito de carbono
—define Mateus Lopes, dire-
tor de Transição Energética e
Investimentos da Raízen.
Na aviação comercial, não
há saída fora dos biocombustí-
petroleira Shell num projeto
para desenvolver hidrogênio
verde a partir do etanol. Seria
uma forma de driblar dois dos
principais obstáculos à produ-
ção de hidrogênio verde: a alta
demanda por eletricidade de
fonte renovável e o transporte
do gás, que requer condensa-
ção em baixíssima temperatu-
ra em navios para exportação.
O projeto, que constrói unida-
des experimentais, consiste
em extrair hidrogênio do eta-
nol, mais fácil de transportar,
em usinas, chamadas de “re-
formadores”, instaladas próxi-
mas dos consumidores.
— Em vez de desenvolver
uma cadeia logística nova, po-
demos aproveitar a que já exis-
te —diz o gerente de Tecnolo-
gia de Baixo Carbono da Shell
no Brasil, Alexandre Breda.
Na frente agrícola, a tecno-
logia possibilitará produzir
mais com menos cana. O
CTC, empresa de pesquisa
mantida pelos principais gru-
pos sucroalcooleiros, desen-
volve novas variedades genéti-
preços normal.
cas de cana, incluindo trans-
gênicas, mais resistentes a pra-
gas e mais produtivas, e se-
mentes para facilitar o plantio,
até hoje baseado em mudas.
—Nossa visão é que é possí-
vel dobrar a produtividade da
cana-de-açúcar nos próximos
20 anos, o que vai mudar com-
pletamente o jogo —diz Cesar
Barros, presidente do CTC.
Isso significaria alcançar 1,2
bilhão de toneladas de cana
por ano, conforme dados da
Unica, entidade que represen-
ta o setor, com a mesma área
plantada. Com mais cana e a
ampliação do parque industri-
al (atualmente são 360 usi-
nas), o país poderia dar um sal-
to na produção de açúcar e eta-
nol, para cerca de 70 bilhões
de litros anuais. A do combus-
tível poderia triplicar porque
há também ganhos na frente
tecnológica industrial. Um es-
tudo publicado em 2020 pelo
Laboratório Nacional de Bior-
renováveis (LNBR), do Cen-
tro Nacional de Pesquisa em
INÊS249
18 | Economia Domingo 10.3.2024 | OGLOBO

SEG _ Rachel Maia (quinzenal) _Ricardo Henriques (quinzenal)_ TER _ Míriam Leitão _ QUA _ Zeina Latif _ QUI _ Míriam Leitão _ SEX _ Fabio Giambiagi (quinzenal)_Rogério Furquim Werneck (quinzenal) _ SÁB _ Carlos Góes (mensal) _ Alvaro Gribel (quinzenal) _ DOM _ Míriam Leitão

MÍRIAM Mary Wollstonecraft escreveu alguns tex-

tos considerados fundadores do feminismo,
servadora sempre será contra as mulheres, por-
que em nome da tradição e da religião tiram-se
Casos de sucesso ou de esperanças derrota-
das. Elas estão em toda parte. É difícil esco-
LEITÃO mais de um século antes de haver a palavra fe-
minismo. Em 1792 escreveu uma frase sim-
direitos. O feminismo, palavra que foi mal en-
tendida por tantas pessoas durante tanto tem-
lher uma história síntese. O mais importan-
te é constatar que todas elas fazem parte de
ples que explica o que tantos ainda hoje não po, volta a ser tratado como anátema por pesso- uma mesma caminhada. Até as perdas pavi-
querem entender. “Não desejo que as mulhe- as da direita. Até algumas mulheres, e jovens, se mentam a estrada.
blogs.oglobo.globo.com/miriam-leitao
res tenham poder sobre os homens, mas so- incorporam ao movimento de rejeição ao que Quem olha para trás, vê a constante exclu-
miriamleitao@oglobo.com.br bre si mesmas”. Seu livro “Reivindicações dos não é nada mais do que a defesa da equidade. são das mulheres na História, seja impedindo
Com Ana Carolina Diniz direitos da mulher” tem trechos espantosa- Podemos aqui pensar em números do sua atuação, seja negando-lhes o reconheci-
mente atuais. Ela é a mãe de Mary Shelley, a mercado de trabalho, e mento do que de fato fizeram. “Até hoje, pou-
Luta secular escritora que produziu, entre outras obras, o
inesquecível “Frankenstein”, num tempo em
Uma onda
conservadora
houve, na última sexta-
feira, muitas matérias
co se sabe sobre Hipólita Jacinta, mas uma
coisa salta aos olhos: era uma mulher deste-

das mulheres
que poucas mulheres se atreviam na literatu- sempre será indo por essa trilha que mida”, escreveu a historiadora Heloisa Star-
ra. Estas duas Mary, mãe e filha, nos mostra- contra as é natural do jornalismo ling, tentando preencher o vazio que há na
ram o caminho. mulheres, porque econômico. Os pontei- história da Conjuração Mineira. Sim, houve
Quantas vezes voltarmos à peça Antígo- em nome da ros parecem não se me- uma mulher. E Hipólita pregava a insurrei-

A causa é vasta como a vida. Para onde se olhe,

há uma trincheira para a mulher. Uma foi
morta a cada seis horas, no ano passado, no Bra-
na, tantas vezes entenderemos o que é o es-
pírito indômito de uma mulher que quer ser
livre. O rei Creonte, indignado com a insis-
tradição
e da religião
xer nas estatísticas,
ainda que, na cena pú-
tiram-se direitos blica e nas empresas, a
ção armada para libertar, senão o Brasil, pelo
menos Minas, do jugo de Portugal. O traba-
lho de Heloisa, que resultou no livro de várias
sil, pelo fato de ser mulher. Dez mil assassina- tência de Antígona em fazer o que estava in- presença de mulheres autoras, organizado com Antonia Pellegrino,
das em uma década pelos que se consideravam terditado, diz, dirigindo-se ao coro, “Ela já esteja hoje muito mais visível. Um avanço “Independência do Brasil: as mulheres que
seus donos. Mulheres ganham menos do que se atrevera, antes, a insolências, ao trans- mais fácil para as mulheres brancas do que estavam lá”, acabou levando a uma ampliação
homens, mulheres negras ganham menos do gredir as leis apregoadas; hoje, pela segun- para as negras. Só agora há uma lei sobre do panteão dos Inconfidentes. Agora, há uma
que todo mundo. São poucas nas cúpulas de to- da vez, revela-se insolente: ufana-se do fei- igualdade de salários, mas aparecem tam- lápide para ela, a mulher da qual não se co-
das as empresas. É uma só na corte suprema da to e mostra-se exultante”. Antígona respon- bém as análises de sempre, sustentando que nhece o rosto, mas que lutou pelo mesmo ide-
Justiça. Elas foram apagadas da história, foram de altiva: “Prendeste-me; desejas mais que seremos as prejudicadas. Curiosa essa linha al de liberdade ainda que ela demore a chegar.
barradas na vida pública, as leis restringem, ain- a minha morte?”. Há 25 séculos, o espírito de raciocínio que sempre nos ameaça a cada Quem olha para frente sabe que há muito
da hoje, seus direitos, foram ensinadas que são o livre de uma mulher inspirou o teatro grego. nova conquista, como se estivéssemos per- o que caminhar até chegar à igualdade al-
segundo sexo, foram chamadas de bruxas, tran- O espírito de Antígona terá que permanecer to de perder o paraíso. Aquele da desigual- mejada. E na estrada há os tropeços que o
cadas em torres e queimadas em fogueira. Essa entre nós, porque o que se vê no Brasil e no dade e do confinamento no lar. conservadorismo sempre armou contra as
luta é longa como a História. mundo é o avanço de sombras. Uma onda con- Podemos contar histórias de mulheres. mulheres. Mas isso nunca nos deteve.

Inseto vira
FOTOS DE EDILSON DANTAS
2023, em Amiens, na França.
Nos próximos dois meses che-
gam ao mercado os primeiros

proteína de pet
itens para consumo humano e
animal, além de biofertilizan-
tes. A biofábrica de 45 mil me-
tros quadrados pode produzir

enquanto tenta
160 mil toneladas por ano.
—A aceitação da alimenta-
ção com insetos para pets e
animais é muito maior. Há

chegar à mesa
uma demanda global por pro-
dutos para pets com mais qua-
lidade e que sejam mais sus-
tentáveis, é aí que queremos
entrar —admite Antoine Hu-
Itens como barrinha de larva e farinha de bert, cofundador da Ynsect.
grilo ‘fit’ ainda não são aprovados para FAO APOIA DESDE 2013
Uma das veteranas no Brasil é
humanos. Produtores focam em ração a Hakkuna, fundada pelo en-
genheiro Luiz Filipe Carvalho
e pelo biólogo Murilo Gusti-
JULIANA CAUSIN tão entre os itens vendidos pa- nelli. Assim como a Lets Fly, a
juliana.causin@sp.oglobo.com.br
SÃO PAULO
ra virar comida de cães, gatos, empresa se prepara para en-
passarinhos e peixes. trar este ano com o pedido de
-
Esse também é o foco da Lets autorização, na Anvisa, para

U m alimento com custo de

produção relativamente
mais baixo, rico em proteína e
Fly, que tem como clientes os
animais do AquaRio e do Bio-
Parque, no Rio. Com uma uni-
produção em nível industrial
de insetos para produtos de
consumo humano. Um deles é
nutrientes, e que gera pouco dade piloto em Cachoeira de afarinha de grilo, que pode ser
impacto ambiental. Essas são Macacu, a duas horas da capi- usada para alimentos fit e alta-
algumas das qualidades que fi- tal fluminense, fez quatro ro- mente proteicos
zeram os insetos serem apon- dadas de investimento para a Criação exótica. —Comecei a entrar na área
tados, na última década, como criação de mosca soldado ne- Acima, viveiro de porque estava em busca de
uma alternativa para a alimen- gra. Parte dos recursos, R$ 2,5 moscas da Protin, uma proteína mais natural pa-
tação humana do futuro. En- milhões, vem da Finep. em Santana do ra consumir como apoio às mi-
quanto, diante de barreiras —Estamos nos preparando Parnaíba, na nhas atividade físicas, mas que
culturais e regulatórias, isso para fazer nova captação para região fossem mais saudáveis que as
ainda parece muito distante, escalar nossa produção, que metropolitana de vendidas atualmente — diz
startups no país exploram o hoje é de 1,5 tonelada de lar- São Paulo. Ao Carvalho, que é CEO da em-
potencial deles na alimenta- vas por mês — conta Bruno lado, criação de presa. —A farinha de grilo foi a
ção de animais domésticos. Multedo, cofundador e CEO larvas. Abaixo, melhor alternativa que encon-
Fundador da Protin Biote- da Lets Fly. —Nesse momen- Philippe Bekes, trei, porque é rica em amino-
ch, Philippe Bekes Camargo to, as empresas estão desen- sócio da empresa ácidos e altamente proteica.
opera, desde 2021, uma “fa- volvendo essa indústria com Os empreendedores do se-
zenda urbana”, na Grande São foco em animais, mas o passo tor costumam destacar que os
Paulo, dedicada à criação da seguinte é levar aos humanos. insetos podem responder dois
mosca soldado negra, mais desafios globais: alimentar a
conhecida pela sigla BSF. 250 PRODUTORES NO PAÍS população global, que deve
—Estamos falando de uma A Associação Brasileira dos chegar a 9,7 bilhões até 2050, e
indústria de farinha de insetos Criadores de Insetos (Asbraci) reduzir emissões de carbono
que está nascendo no mundo, conta com cerca de 250 pro- da indústria de alimentos.
na qual o Brasil talvez seja o pa- dutores no país. Casé Oliveira, Em 2013, a produção e o
ís com maior potencial para se presidente da entidade, diz consumo de insetos são uma
colocar como produtor — diz que são empreendedores que bandeira levantada pela Orga-
Camargo. — No nosso caso, o têm em comum o desejo de nização das Nações Unidas pa-
foco agora está no mercado “criar a alimentação para o fu- ra Alimentação e Agricultura
pet, em colocar a BSF em pe- turo da humanidade”, uma al- (FAO), que listou em relatório
tiscos, rações e comidas natu- ternativa mais barata e susten- 1,9 mil espécies de insetos que
rais, mas achamos que é possí- tável que a criação de bovinos e poderiam virar alternativas
vel ampliá-lo no futuro. suínos, por exemplo. sustentáveis e nutritivas de
Até o fim do ano, a Protin Bi- —A proteína de insetos pre- proteína animal para huma-
otech espera atingir a capaci- cisa, comparativamente, de nos. Os argumentos incluem o
dade de produção diária de al- muito menos água e recursos valor nutricional (insetos têm
go entre 200 e 300 quilos de para ser gerada —argumenta. níveis significativos de proteí-
farinha de larvas, com foco no Uma pioneira no Brasil é a nas, gorduras e vitaminas) e a
consumo animal, para a qual Cyns, que fabrica ingredientes guem vender nos supermerca- los para bichos estão a Purina, mostram que os investidores segurança alimentar global
foi autorizada pelo Ministério à base de moscas soldado ne- dos um biscoito com farinha da Nestlé, e a britânica Yora. de risco injetaram US$ 76,8 com baixos custo e impacto
da Agricultura. A produção gra (BSF) em Piracicaba (SP). de grilo ou uma barrinha de Lá fora, a Tyson Foods, um milhões (R$ 382 milhões) em ambiental. Mas o setor esbarra
para consumo humano não é A empresa recebeu este ano cereal com proteína de larva, dos maiores produtores de car- empresas de alimento à base principalmente na questão
regulamentada no Brasil, on- um investimento inicial do os empreendedores brasilei- ne bovina do mundo, com- de inseto no mundo em 2023. cultural, que impede consu-
de há forte resistência cultu- grupo japonês Sumitomo, que ros exploram o mercado de co- prou recentemente parte da Na Europa, onde a venda pa- midores de verem grilos e ba-
ral, diferentemente de países vai permitir aumentar a pro- mida para pets, que movimen- holandesa Protix para cons- ra consumo humano já é reali- ratas como alimento.
asiáticos. Óleo de larva da dução de farinha de BSF para ta R$ 37 bilhões por ano. Entre truir uma fábrica de insetos dade, a maior fábrica de inse- —A popularização só deve
mosca, farinha de grilo preto mil toneladas por ano. as grandes marcas que já ado- nos EUA. Dados do PitchBo- tos do mundo, da startup Yn- acontecer em anos, para não
e larva vermelha in natura es- Enquanto ainda não conse- tam proteínas de moscas e gri- ok, que monitora startups, sect, foi inaugurada no fim de dizer décadas —diz Hubert.
INÊS249
OGLOBO | Domingo 10.3.2024
ENTREVISTA
Lisa McKnight / VICE-PRESIDENTE DA MATTEL
Executiva que liderou a renovação da boneca de
65 anos comemora bilheteria de filme e diz que
marca ficou ‘tão popular quanto a da Coca-Cola’
EDUARDO GRAÇA* eduardo.graca@oglobo.com.br LOS ANGELES
‘A BARBIE
PRECISA ESTAR
EM EVOLUÇÃO
CONSTANTE’
V ice-presidente executiva e
diretora-geral de marcas
da Mattel, Lisa McKnight so-
prou ontem 65 velinhas cor-
de-rosa da Barbie com fôlego
para dar e vender. O filme ho-
mônimo lançado no ano pas-
sado, que teve bilheteria glo-
bal de US$ 1,4 bilhão (cerca
de R$ 7 bilhões) e disputa ho-
je oito Oscars, fez da boneca
assunto mundial, o que a res-
ponsável pela renovação da
marca comemora: “Somos,
agora tão populares no plane-
ta quanto a Coca-Cola”, diz
McKnight, em entrevista ao
GLOBO no quartel-general
da Barbie, em El Segundo,
área industrial do sudoeste de
Los Angeles, EUA.
Lá é possível conferir cada
etapa de criação da boneca
mais famosa do mundo, da
motivação de uma nova edi-
ção à pesquisa, observar resul-
tados de meses de conversas
com consumidores (crianças
e seus responsáveis) e psicólo-
gos, e até descobrir detalhes
curiosos, como a invenção dos
cortes e cores de cabelos das
novas encarnações da perso-
nagem criada em 1959, vivida
agora por Margot Robbie no
cinema. O sucesso do filme
provou que a guinada na mar-
ca Barbie imaginada por McK-
night há uma década era o ca-
minho certo para rejuvenes-
cer um brinquedo que estava
ficando datado, ela admite.
Assim como outras executi-
vas da Mattel ouvidas pelo
GLOBO, McKnight responde
que prêmios e a bilheteria gor-
da do filme respondem tanto
às críticas conservadoras
quanto as que avaliam a obra
da diretora Greta Gerwig co-
mo não feminista o suficiente.
Diversidade é um mantra atu-
almente para uma boneca cri-
ticada justamente por ter se
tornado símbolo de um pa-
drão de beleza. A executiva,
que já comandou o grupo En-
demol Shine (criador do for-
mato do reality show “Big Bro-
ther”) destaca como parte das
comemorações dos 65 anos o
lançamento da primeira bone-
ca indígena amazônica, inspi-
rada na influenciadora brasi-
leira Maira Gomez, do povo
Tatuyo. A boneca tem roupas
típicas e pinturas característi-
cas no rosto. A seguir os princi-
pais trechos da conversa.
Ao ser apresentado à
cronologia da Barbie aqui, veio
à minha cabeça, Bob Dylan…
Por essa eu não esperava!
(risos). De que modo?
Em “The back pages”, ele diz
“ah, mas eu era muito mais
velho / sou hoje mais jovem
do que já fui”…
É exatamente isso o que a
gente quis fazer com a Barbie.
Um processo de evolução e
atualização em que ela não po-
deria, em nenhum momento,
deixar de ser o espelho, de con-
versar, com o tempo presente.
A Barbie precisava estar em
um estado de evolução cons-
tante. Era a única maneira de
aquela criação que completa
65 anos neste fim de semana
seguir relevante, atual, do
mesmo modo que na vida real.
Nadando na corrente, sempre
buscando se renovar.
Aboneca tem se transformado
mais rapidamente, abraçando
temas sociais,
representatividade, profissões
menos óbvias. O que foi mais
difícil nesse processo?
Não tínhamos opção. Há
dez anos nos deparamos com
os números e constatamos
que havia uma queda relativa
de vendas. Sempre conversa-
mos com os clientes, em vários
canais, e, naquele momento, o
retorno era, para ser 100% ho-
nesta, alarmante.
O que os consumidores diziam?
Elas, especialmente. As
mães, e as que tinham brinca-
do com a Barbie. De modo ge-
ral, não se sentiam mais con-
fortáveis com a boneca que fi-
zera parte da infância delas.
Não consideravam mais, in-
clusive, dar uma às filhas ou
presentear uma amiguinha
delas com a boneca. Percebe-
mos então o tamanho do pro-
blema. Por outro lado, foi um
sacode, nos acordou. Tínha-
mos que, muito rapidamente,
modernizar a marca, nos con-
vencer e, depois, os clientes,
de que a Barbie poderia, aliás ,
deveria, refletir o tempo em
que vivemos.
Mudanças são arriscadas.
Quando vocês perceberam
que era o caminho correto?
Foi uma combinação do re-
sultado mais prático, o aumen-
to dos negócios, das vendas, e,
de novo, o feedback das cente-
nas de grupos de consumido-
res da Barbie com quem man-
temos contato próximo. A per-
cepção foi mudando muito
claramente, podíamos medir,
era palpável. Nós nos posicio-
namos para fazer parte de um
movimento de redefinição das
percepções do corpo femini-
no, de positividade, alarga-
mento de definições de bele-
za, e, acima de tudo, inclusão e
diversidade. Representativi-
dade foi crucial também. A
Barbie passou a ser, assim,
mais singular, menos genéri-
ca. Inovamos para sobreviver.
Houve resistências, como no
caso da Barbie inspirada na
modelo e ativista transgênero
Laverne Cox. No filme, a atriz
Hari Nef vive uma Barbie trans.
É um caminho sem volta?
Ah, sim, é um caminho sem
volta, certamente. Não vamos
retroceder. Temos um time in-
crível nas áreas de design e
marketing que fizeram uma
pesquisa monumental sobre o
que queríamos fazer, e de que
modo. Toda vez que lançamos
uma Barbie nova, conversa-
mos extensamente com pes-
soas que fazem parte daquela
identidade específica. Quere-
mos que a representação delas
na Barbie seja correta. Ou não
faz sentido. E, muito clara-
mente, nos posicionamos a fa-
vor de quem retratamos: esta-
Diversidade. Cabeças de versões da Barbie em desenvolvimento na Mattel, fabricante do brinquedo, nos EUA: boneca ficou “menos genérica”, diz executiva
DIVULGAÇÃO
mos endossando-as. E orgu- criar histórias, a socializar
lhosos e felizes com o que fize- com amigas na escola. E me
mos neste sentido.
O filme, de certa forma,
sintetiza essa transformação?
Essa foi a ideia. Para começo
de conversa, não conseguiría-
mos atrair nomes como (a di-
retora) Greta Gerwig, (a prota-
gonista) Margot Robbie e todo
oelenco se não tivéssemos fei-
to o que fizemos anteriormen-
te, se não fosse essa Barbie
“evoluída” a que eles retratam.
A Barbie do filme já é a que,
acreditamos, tornou-se um
símbolo, talvez surpreendente
para muitos, de empodera-
mento feminino. E aí o longa
criou essa explosão, proporci-
onou a mais pessoas se debru-
Na tela. Margot Robbie como Barbie em imagem promocional da trilha do filme çarem sobre a transformação
de um ícone pop. Ele escanca-
rou a multiplicidade da marca
Barbie, não poderíamos ter fi-
cado mais felizes.
Ninguém duvidava de que o
filme seria um sucesso
popular. Como vocês se
prepararam, do ponto de vista
da marca, para aproveitar ao
máximo da oportunidade?
Apostamos que seria tam-
bém um fenômeno cultural. E
foi. Mas até nisso o filme supe-
rou as expectativas.
“The world of Barbie”
(exposição com experiências
relacionadas à boneca) está
neste momento na Arábia
Saudita. Qual é a ambição da
marca como ‘soft power’ global?
Éum reflexo do tamanho do
filme, que criou um senso de
Maira Gomez. Influenciadora do povo Tatuyo, de 25 anos, inspirou versão indígena comunidade global de sorori-
dade. A resposta foi tão boa
porque o mundo estava procu-
rando uma mensagem positi-
va e um meio para isso. Nos 65 anos da Barbie, o
Como a Barbie transformou
você, quando criança?
Cresci brincando, nos anos
1970, nas proximidades de
São Francisco, onde moráva-
‘Nadando na mos, na Califórnia, com a Bar-
corrente’. Lisa bie Malibu, que era com
McKnigh, quem dialogava. A cidade ti-
vice-presidente nha aquela neblina perpé-
executiva da tua, era cinza, e eu fan-
Mattel, conta que tasiava em um dia ir
sintonizar boneca também para o sul
com valores atuais da Califórnia, ainda
foi única forma de que não especifica-
reverter queda nas mente Malibu (ri-
vendas: “Inovar sos). Ela me ajudou a
para sobreviver.” entender quem eu era, a
DIVULGAÇÃO/MATTEL
Economia | 19
FOTOS DE DIVULGAÇÃO/MATTEL
trouxe até aqui.
Brasileiras indígenas agora
têm uma boneca-tributo
inspirada na ativista e
‘influencer’ Maira Gomez. Qual
o pensamento por trás dessas
homenagens a culturas e
realidades específicas?
Sabemos que a marca Bar-
bie tem um reconhecimento
global de 98%. Somos, hoje,
tão populares e identificáveis
no planeta quanto a Coca-Co-
la. E com isso temos uma pla-
taforma única para trabalhar.
Etrabalhar direito. Para frente,
queremos ampliar ao máxi-
mo, na prática, a ideia de inclu-
são e representatividade. É um
movimento global, mas que só
faz sentido se feito em âmbito
local. Você verá mais e mais es-
se movimento nosso.
No caso da Amazônia e na
escolha de Maira como
modelo, há também um
comentário sobre a crise
climática…
Sim. Propositadamente.
Quando conversamos com as
crianças percebemos que é
um tema central para elas,
mundo afora. Decidimos pen-
sar em estratégias para comu-
nicar, dentro das nossas possi-
bilidades, as questões do meio
ambiente através da Barbie.
Há alguns anos criamos a li-
nha “Barbie ama os oceanos”,
com plástico reciclável, e cha-
mando a atenção para a res-
ponsabilidade de todos nós
neste aspecto, e o que elas (as
crianças) poderiam fazer para
ajudar. Sabemos que há muito
mais a fazer, nos aguarde.
etarismo é um aspecto que
poderia ter sido abordado, não?
Uma Barbie de fato aparentando
65 anos não foi cogitada?
Adoramos o aspecto de que
nossos consumidores vão da
infância à terceira idade hoje.
Ecelebramos, nos tributos que
fazemos, mulheres ícones de
todas as idades (uma das novas
bonecas da série Barbie role
model, que não será comercia-
lizada, é a de Helen Mirren,
que tem 78 anos). Mas a Bar-
bie, o personagem, tem uma
idade específica, e isso, prova-
velmente, não mudará.
*Viajou a convite da Mattel
INÊS249
20 | Economia Domingo 10.3.2024 | OGLOBO

Bitcoin não para de subir à espera do ‘halving’

Redução de ganhos de ‘mineradores’ em abril turbina a expectativa de disparada da criptomoeda, que bateu novo recorde
na sexta ao ultrapassar US$ 70 mil. Analistas compartilham otimismo, mas alertam que esse é um mercado imprevisível

LETYCIA CARDOSO que a demanda por bitcoin es- monetária dos países. Para ele,
letycia.cardoso@oglobo.com.br
tá em forte alta. Desde o início ENTENDA A MOEDA DIGITAL assim como as ações se benefi-
-
do ano, com oficialização de ciam de juros baixos, o bitcoin

Q uem tem qualquer míni-

ma fração de bitcoin está
em contagem regressiva. Fal-
tam menos de dois meses para
ohalving, um dos eventos mais
esperados pelos entusiastas da
primeira e mais popular crip-
tomoeda do mundo. Não se
pensa em outra coisa a não ser
como isso pode turbinar ainda
mais a atual disparada da cota-
ção do bitcoin. A moeda digi-
tal bateu novo recorde na sex-
ta, superando US$ 70 mil (R$
350 mil), antes de voltar para a
casa dos US$ 68 mil (R$ 340
mil). Nada mau para um ativo
que já valorizou cerca de 60%
somente neste início de ano.
O halving é aguardado com
ansiedade por investidores
porque tende a valorizar o bit-
coin, explica Bernardo Srur,
diretor-presidente da Associa-
ção Brasileira de Criptoecono-
mia (ABcripto). Quando foi
criada, essa critpomoeda foi
programada para totalizar 21
milhões de unidades. Atual-
mente, há cerca de 19,5 mi-
lhões, e o último bitcoin deve
ser gerado em 2140. Cada um
deles nasce da chamada “mi-
neração”: computadores re-
solvem equações matemáti-
cas complexas e recebem no-
vos bitcoins como recompen-
sa. A cada quatro anos, esse pa-
gamento cai pela metade —e a
isso se dá o nome de halving. O
próximo acontece em abril.
O halving é uma forma de a
mineração de bitcoins ir dimi-
nuindo aos poucos, limitando
aoferta de moedas digitais e fa-
vorecendo sua valorização. Vai
acontecer num momento em
Exchange Traded Funds O QUE É O BITCOIN?
(ETFs) de bitcoins pela SEC,
órgão regulador do mercado
1 moedas digitais
de capitais nos EUA, o bitcoin
não para de subir.
Os ETFs funcionam como
fundos negociados em Bolsa
que tentam acompanhar o va- O QUE GARANTE O SEU VALOR?
lor da criptomoeda, e já exis-
tem no Brasil desde 2021. Per-
mitem ao investidor aplicar
em bitcoins sem ter de com-
prar uma fração delas direta-
mente. Analistas apontam que
o avanço da regulamentação EVOLUÇÃO DA COTAÇÃO DO BITCOIN (Em R$ mil)
no mundo tem atraído investi- 400.000
dores institucionais para o bit-
300.000
coin, promovendo a alta.
OTIMISMO EXIGE CAUTELA
Atualmente, os mineradores 100.000 13,6
recebem 6,25 bitcoins em ca-
da operação. Após o halving de
2024, a recompensa cairá para
3,125 bitcoins. Com menor COMO
oferta da moeda, a tendência é OBTER
que seu preço suba ainda mais, BITCOINS?
mas isso não é uma certeza,
alerta Bernardo Srur: COMO É A
—O bitcoin historicamente ‘MINERAÇÃO’
passou por ciclos de mercado, DE BITCOINS?
eos halvingsmuitas vezes coin-
cidem com períodos de alta.
Mas outros fatores externos e
eventos macroeconômicos O QUE É ‘HALVING’?
também desempenham papel
significativo nos preços. O
mercado de criptomoedas é
complexo. O impacto específi-
co de cada halving pode variar,
e a resposta do mercado nem
sempre é previsível.
José Artur Ribeiro, CEO da
Coinext, diz que o bitcoin tem
ficado menos suscetível a es-
peculações e vem ganhando
maior influência da política Fontes: ABcripto, Bloomberg, Mercado Bitcoin
É a mais utilizada das É virtual. Não é emitida As criptomoedas surgiram
tem mais chance de se valori-
zar com a remuneração da ren-
da fixa em queda, levando in-
pelo banco central de após a crise global de 2008.
transacionadas por um país ou tem O bitcoin foi criado por um vestidores a mais ativos de ris-
meio de criptografia, representação em programador cuja identidade co. A expectativa de que o Fe-
as criptomoedas moedas ou cédulas nunca foi revelada deral Reserve ( banco central
americano) comece a cortar
juros em junho, como o Banco
Sua autenticidade é automaticamente por O valor do bitcoin Central do Brasil já está fazen-
assegurada por uma cadeia milhares de computadores varia de acordo com do, favorece a volta do interes-
de blocos de instruções ao redor do mundo, o que oferta e procura no se pelo bitcoin,após um longo
criptografadas criadas impede adulterações. É o mercado de inverno no ano passado.
incessante e chamado de blockchain criptoativos Pensando no longo prazo, o
escritor Ian Ulian, de 37 anos,
começou a aplicar em criptoa-
360,3
340,8 tivos em 2017. Fazendo apor-
tes regulares, investiu ao todo
R$ 200 mil e diz ter consegui-
200.000 do ganhos expressivos, valen-
do-se da intensa volatilidade.
— Tenho contas em cinco
0 corretoras de criptoativos e fa-
07/01/2019 08/11/2021 08/03/2024 ço operações todos os dias.
Tento comprar barato num lu-
Receber de Comprar em uma ‘Minerar’
gar e vender mais caro em ou-
alguém como exchange, as corretoras novas
tro, mas não dependo dessa
pagamento de criptomoedas bitcoins
quantia. Também tenho inves-
timentos em Tesouro Direto,
1 O algoritmo do bitcoin 2 A máquina que primeiro Em tese, qualquer
CDB, fundos imobiliários,
propõe problemas desvenda a sequência computador pode “minerar”
matemáticos à rede numérica de uma bitcoins, mas isso requer ações e ativos internacionais.
global de computadores transação ganha um máquinas com alto poder Beto Fernandes, analista da
dedicada à mineração valor em novos bitcoins, computacional e elevado Foxbit, avalia que a perspectiva
de criptomoedas gerados nesse processo consumo de energia. éotimista, especialmente con-
siderando o histórico de alta do
bitcoin após os halvings anteri-
O bitcoin foi programado 6,25 bitcoins 3,125 bitcoins 2140 ores, mas recomenda cautela
para, a cada quatro anos, É o ano em que, em um momento suscetível a
reduzir pela metade a É a recompensa Será a recompensa após 33 halvings, volatilidades no mercado fi-
recompensa dos de um minerador de um minerador a deve ser gerado nanceiro. Theodoro Fleury,
mineradores, até que hoje partir de 20 de abril o último bitcoin gestor e diretor de Investimen-
o valor chegue a zero e tos da QR Asset, concorda:
acabe a geração de 21 milhões 19,6 milhões 1,34 trilhão —É um mercado extrema-
novas moedas. mente volátil. Para quem pen-
É o número máximo É o número atual É o valor atual de
Neste ano será feito o sa em um investimento de
4º halving da história de bitcoins que de bitcoins em todos os bitcoins
anos, ainda dá tempo de en-
do bitcoin. poderão ser gerados circulação existentes
trar. Para quem pensa em dias
EDITORIA DE ARTE
ou meses, é uma loteria.

Governo vai tentar

LEO PINHEIRO/VALOR

influenciar decisão
sobre sucessão na Vale
Lista de pré-candidatos à vaga de CEO terá de
passar pelo crivo de conselheiros alinhados com
a gestão Lula. Bartolomeo ficará até o fim do ano

BRUNO ROSA E Vale, Eduardo Bartolo-

GLAUCE CAVALCANTI
economia@oglobo.com.br meo, até 31 de dezembro.
-
O mandato de Bartolo-

A decisão do Conselho de
Administração da Vale de
estender o mandato do atual
CEO da companhia até de-
zembro não deve afastar as
tentativas do governo Lula de
influenciar a sucessão na mi-
neradora, na avaliação con-
selheiros e analistas. Isso por-
que a lista tríplice que será le-
vada ao colegiado por uma
empresa de recrutamento te-
rá de passar pelo crivo de in-
tegrantes do conselho ali-
nhados ao governo.
A Previ, fundo de pensão
dos funcionários do Banco
do Brasil, é a maior acionista
individual da empresa, com
uma participação direta de
8,7%. Outros acionistas, co-
mo a Cosan, fazem parte de
grupos econômicos que têm
negócios com o governo.
—Há uma forte influên-
cia indireta do governo
com as empresas que têm
assento no Conselho da Va-
le. Hoje, muitos votam ali-
nhados — disse uma fonte
a par das conversas que re-
sultaram na extensão do
mandato do presidente da
meo iria até 26 de maio. Sua
extensão foi uma solução in-
termediária — o governo
pressionava por sua substi-
tuição imediata — e buscou
contemplar o desejo do pró-
prio executivo de ajudar na
escolha de seu sucessor. Dos
13 conselheiros, apenas
dois se opuseram à proposta
vencedora. Eles defendiam
que o mandato fosse prorro-
gado até maio de 2025.
— Decidiu-se que seria
melhor definir um prazo pa-
ra acabar com as especula-
ções e evitar mais perdas pa-
ra a empresa —disse a fonte.
‘RISCO DE INGERÊNCIA’
Uma empresa de head hun-
ter será contratada para se-
lecionar três executivos. A
lista será apresentada ao
conselho, como é de praxe
na mineradora. Bartolo-
meu pediu para acompa-
nhar as entrevistas.
— Ele deixou claro para o
conselho que não iria conti-
nuar na empresa se não fos-
se atendido e se não pudesse
participar do processo de
Troca de comando. O atual presidente da Vale, Eduardo Bartolomeu, quer participar da escolha do novo CEO da mineradora e será consultor da empresa em 2025
escolha de seu sucessor. Ele
se sente responsável pelo
bom desempenho da com-
panhia — explicou a fonte.
Bartolomeo assumiu o co-
mando da Vale há cinco anos e
manifestava vontade de per-
manecer na companhia. Após
ofim de seu mandato, o execu-
tivo atuará ainda como consul-
tor da Vale até 31 de dezembro
de 2025, informou a minera-
dora. Durante a transição de
comando, ele vai permanecer
na empresa nos dois primeiros
meses do ano que vem.
Nos últimos meses, o go-
verno Lula tentou emplacar
o ex-ministro Guido Mante-
ga para o cargo de CEO da
Vale, mas a possibilidade foi
fortemente criticada den-
tro da companhia e pelo
mercado. Após o governo
desistir da indicação, circu-
laram nas bolsas de apostas
os nomes de Paulo Caffarel-
li, ex-presidente do Banco
do Brasil, e Walter Shalka,
que está de saída da Suzano.
Para Igor Guedes, analista
do setor de Metais e Minera-
ção da Genial Investimentos,
a decisão de alongar o man-
dato de Bartolomeo abre bre-
cha para que a companhia
continue a ser pressionada
pelo governo.
— Como estenderam o
mandato até o fim de 2024,
daqui a poucos meses, a dis-
cussão (em torno da suces-
são) volta de novo. E nesse
meio tempo o governo pode
continuar pressionando.
Ele teme que os ruídos
atrapalhem o desempenho
da empresa:
—Existem ruídos atrapa-
lhando o papel da Vale a ga-
nhar tração, atrapalhando
a companhia a surfar a on-
da de desempenho opera-
cional favorável. Esses ruí-
dos são a lentidão na deci-
são sobre o CEO, a atuação
do (presidente) Lula e as
negociações em torno do
pacote de indenizações (do
desastre da Samarco) em
Mariana. — Para o investi-
dor, o maior risco é de inge-
rência política.
Bartolomeo focou seu
mandato na recuperação
da reputação da Vale entre
os investidores preocupa-
dos com questões ambien-
tais, sociais e de governan-
ça. Ele procurou reduzir os
riscos ligados ao armaze-
namento de resíduos de
mineração após dois desas-
tres com barragens de re-
jeitos em 2015 e 2019.
Bartolomeo também se
desfez de negócios não es-
senciais e transformou as
operações de metais básicos
em um negócio separado pa-
ra gerar valor para os ativos
de níquel e cobre da Vale.
Analistas reconhecem os
esforços na área de segu-
rança. Por outro lado, inves-
tidores têm se preocupado
com o desempenho opera-
cional, o controle de custos
e a percepção de que a Vale
poderia conduzir melhor as
relações com os estados e o
governo federal.
INÊS249
OGLOBO | Domingo 10.3.2024
Bem-estar. No Arte Botânica, segundo empreendimento do bairro planejado Cidade Arte, natureza, arte e arquitetura vão conviver em harmonia, oferecendo qualidade de vida e segurança
N
o entorno de um
imenso parque urba-
no,cercadopelavegetação
da Mata Atlântica, ergue-
se um projeto residencial
naBarraquereúneumaar-
quitetura de ponta e pa-
drãodesegurançainterna-
cional. Trata-se do Arte
Botânica, segundo em-
preendimento do Cidade
Arte, um bairro planejado
que oferece mais de 60 mil
metros quadrados de la-
zer, comércios e serviços
diferenciados. O projeto
Arte Jardim Residencial,
primeira fase do bairro,
vendeu 60% das unidades
em apenas 48 horas.
Localizado próximo da
Avenida Abelardo Bueno
e do Shopping Metropoli-
tano, o Arte Botânica con-
templa diversas tipologi-
as de plantas. As unidades
dedoisquartostêm60m²,
enquanto as de três quar-
tos têm 74m². As town-
houses, situadas no térreo,
apresentam pé-direito du-
plo, terraço e espaço inte-
ligente, e tamanhos que
vão de 160m² a 197m².
Localização disputada é chamariz para viver na Barra
Facilidade de acesso, espaços de lazer ao ar livre e valorização dos imóveis estão entre os principais atrativos da região
O Cidade Arte está lo-
calizado entre a Li-
nha Amarela e a Transo-
límpica,pertodaTransca-
rioca, da Transoeste, o
que permitirá acesso rápi-
do aos principais pontos
da cidade. Quem mora na
região tem acesso a mui-
tas opções de linhas de
ônibus e estações de BRT,
o que evita congestiona-
mentos. Também será
possível fazer uso do ôni-
bus exclusivo do condo-
mínio até a estação de me-
trô Jardim Oceânico.
MORARBEM
CIDADE ARTE:
BAIRRO PLANEJADO
EM NOVA FASE
Após sucesso da primeira fase, construtora Calper lança
segundo projeto residencial na Barra, o Arte Botânica
Já as unidades up gar-
dens são aquelas com ter-
raço privativo, localizadas
no pavimento de uso co-
mum e possuem três quar-
tos, variando de 87m² a
138m². O pavimento ele-
vadosedebruçasobreuma
vista maravilhosa, um
grande diferencial ante
outros apartamentos gar-
den existentes na região.
No topo, erguem-se as
coberturas duplex, que
estão disponíveis em ver-
O legado da Barra Olím-
pica também está presen-
te, com espaços para gran-
des eventos esportivos e
culturais da cidade, como
o Rock in Rio, que movi-
menta a economia local e
aumenta a procura por
aluguéis de temporada.
O cardápio de serviços do
entornoéextenso.Háshop-
pings, centros comerciais,
escolas, universidades e
hospitais de referência. A
Barra Olímpica também é
conhecida por oferecer um
pologastronômicodiversifi-
APRESENTADO POR
sões de dois quartos, com
118m², ou de três quartos,
com 145m².
Além disso, todas as
plantas possuem integra-
ção com a natureza, com
jardineiras que filtram a
visão dos apartamentos,
trazem conforto térmico
e qualidade de vida. A fa-
chada em vidro favorece
a iluminação natural em
todas as unidades, que
também incluem ambi-
entes integrados. A sala
cado.Alémdisso,osdiversos
centros e quadras poliespor-
tivas estão inseridos em es-
paços públicos onde é possí-
vel pedalar, caminhar e pra-
ticaresportesaoarlivre.
O visual também é des-
lumbrante, com vistas pa-
ra o Maciço da Tijuca e a
Pedra da Gávea.
Com os juros mais baixos,
as classes A e B estão bus-
cando oportunidades de in-
vestimento.ParaRanauro,o
Cidade Arte é único por tra- a possibilidade de valori-
zer também expectativa de zação de 25% a 30% dos
valorização na região: imóveis. A longo prazo es-
tem ampla comunicação
com a cozinha, trazendo
convivência entre os mo-
radores e otimização do
espaço.
DIFERENCIAIS
Diante do franco cresci-
mento dos empreendi-
mentos de alto padrão, o
CEO da Calper, Ricardo
Ranauro, enumera os des-
taques do Cidade Arte.
— Os principais dife-
renciais estão no micro-
Investimento. A tendência de
valorização do residencial é um
dos atrativos do Cidade Arte
—A médio prazo existe
CALPER/DIVULGAÇÃO
clima criado por milha-
res de árvores nativas da
Mata Atlântica a serem
implantadas no bairro, a
vegetação na fachada dos
prédios, o conceito ar-
tístico com esculturas
em grande escala e diver-
sos espaços para progra-
mações culturais. Para fi-
nalizar, o lazer com mais
de 60 mil metros quadra-
dos com diversas opções
para prática de esportes
ao ar livre e espaços que
incentivam as interações
sociais.
Reunindo muita sofisti-
cação, o Cidade Arte con-
ta com uma área de proje-
to de 130 mil metros qua-
drados, mais de sete mil
metros quadrados de qua-
dras esportivas e mais de
70 mil metros quadrados
de área urbanizada. As ru-
as estão integradas a mui-
to verde, criando um tra-
çado uniforme e acessí-
vel. Já as ciclovias e pistas
de corrida complemen-
tam o cenário em que na-
tureza e arquitetura vão
conviver em harmonia.
CALPER/DIVULGAÇÃO
ses percentuais podem
chegar ao dobro. Além
disso, um dos grandes di-
ferenciais dos projetos da
CONTEÚDO PATROCINADO PRODUZIDO POR
Economia | 21
“Os principais
diferenciais estão no
microclima criado
por milhares de
árvores nativas, assim
como no conceito
artístico, com
esculturas em grande
escala. Além disso,
são mais de 60 mil
metros quadrados
dedicados à práticas
de esportes ao ar livre
e a espaços com
interações sociais.”
RICARDO RANAURO
CEO da Calper
LAZER E CONVIVÊNCIA
O lazer completo do Cida-
de Arte inclui play kids, pet
place, espaço para eventos,
praça, fitness externo, es-
paço para piquenique, ci-
clovia, pistas de skate, pa-
tins e corrida. O complexo
aquático do Arte Botânica
é digno de um clube, com
piscinas adulto e infantil
com toboágua, raia semio-
límpica, deck molhado, es-
guichos de água e biribol,
entre outros espaços.
Outros destaques do pro-
jeto são os espaços e servi-
ços criados para deixar a vi-
dadafamíliamuitomaiscô-
moda, como guarda-entre-
gas,ambientequevaiarma-
zenar compras e outras en-
comendas com segurança.
Haverá ainda um cowor-
king,alémdeespaçosdefer-
ramentas compartilhadas.
A segurança também é
um quesito fundamental
do Cidade Arte. O bairro
planejado oferece um
projeto de segurança 5.0
com várias iniciativas, in-
cluindo câmeras equipa-
das com inteligência arti-
ficial, guarita com vidro
balístico e vigilância 24
horas. Haverá ainda aces-
so dos moradores por re-
conhecimento facial e
portas eletromagnéticas
nas entradas das torres.
Pensando na sustentabi-
lidade, o bairro planejado
terá coleta seletiva de lixo,
lâmpadasdotipoLED,sen-
sores de presença nas áreas
comuns, válvulas que raci-
onalizam o consumo de
água dos banheiros, medi-
dores individuais de água,
reservatório para o reapro-
veitamento de águas pluvi-
ais para os jardins, lavagem
de calçadas e ruas, portas e
guarnições em madeira de
reflorestamento.
Calper está no modelo de
gestão compartilhada,
que possibilita um maior
retorno sobre o investi-
mento, ao oferecer uma
negociação sem interme-
diários financeiros e sem
juros —afirma Ranauro.
A Calper estará com
apartamento decorado e
estande de vendas do Ci-
dade Arte a partir de 9 de
março, das 9h às 19h, na
Avenida Ator José Wilker
600, na Barra.
O lançamento do projeto
ocorrerá em março e a pre-
visãodeentregaseránopri-
meiro semestre de 2028.
Na abertura de vendas ha-
verá unidades de dois quar-
tos a partir de R$ 429 mil e
unidades de três quartos a
partir de R$ 569 mil.
GLAB.GLOBO.COM
INÊS249
22 |
Mundo
CÁLCULO ARRISCADO
Aposta eleitoral em Maduro afeta imagem de
Lula ao contradizer discurso pela democracia
JANAÍNA FIGUEIREDO
janaina.figueiredo@oglobo.com.br
BUENOS AIRES
-
N o último encontro entre os
presidentes do Brasil, Luiz
Inácio Lula da Silva, e da Vene-
zuela, Nicolás Maduro, no âm-
bito da cúpula da Comunida-
de de Estados Latino-america-
nos e Caribenhos (Celac), há
pouco mais de uma semana, a
agenda se concentrou na reto-
mada da cooperação entre os
dois países. De fora da conver-
sa, confirmou uma fonte do
governo brasileiro, ficaram te-
mas como o recrudescimento
da repressão interna (ontem a
líder opositora Maria Corina
Machado denunciou o quarto
sequestro de um colaborador
em dois meses), presos políti-
cos, candidatos inabilitados e
denúncias de violações dos di-
reitos humanos no país vizi-
nho. Diante de uma consulta
superficial do brasileiro sobre
as eleições presidenciais, Ma-
duro se limitou a dizer que elas
seriam realizadas no segundo
semestre —a data, dias depois,
foi finalmente anunciada para
28 de julho.
Otom e teor da conversa re-
flete a decisão de Lula de não
dar qualquer passo que possa
ameaçar a relação com o Palá-
cio de Miraflores, apesar do
elevado custo político interno
que a decisão traz. Lula está
com Maduro e não abre, e es-
sa opção, que até mesmo aca-
dêmicos alinhados com a po-
lítica externa do governo con-
sideram “tóxica”, tem como
pano de fundo uma análise
geopolítica global e regional,
que envolve atores como
EUA, China, Rússia e Argen-
tina, entre outros.
AMIZADE ‘TÓXICA’
Dawisson Belém Lopes, pro-
fessor de Política Internacio-
nal e Comparada da Univer-
sidade Federal de Minas Ge-
“Não tem rais (UFMG), que costuma
defender a política externa
o menor do atual governo nas redes
sentido sociais, afirma que a postura
defender de Lula sobre Maduro é “di-
a demo- fícil e contraditória”.
cracia — O Brasil assumiu com-
promissos em matéria de di-
no Brasil reitos humanos e proteção dos
e não de- direitos políticos. Por outro la-
fender do, há imperativos do ponto de
fora. vista geopolítico, interesses de
longo prazo. A capacidade de
Só vale chegar a Maduro é algo que
aqui?” Lula quer cultivar, mas essa
_ proximidade é tóxica e já con-
Rubens taminou Lula.
Barbosa, Para Raul Nunes, professor
diplomata da Universidade Federal Flu-
brasileiro minense, a aposta poderia ser
justificada pelo fracasso de to-
“Lula das as tentativas de isolar a Ve-
nezuela. Mas, ao mesmo tem-
mancha po, não está rendendo frutos:
o discurso —Fica complicado quando
interno Lula tenta relativizar a demo-
contra o cracia fora do Brasil: ele man-
cha o discurso interno contra o
bolsona- bolsonarismo. Do jeito que
rismo” tem defendido Maduro, o pre-
_ sidente aparece como fiador
Raul Nunes, do venezuelano e abre espaços
professor da para o questionamento de
Universidade seus próprios compromissos
Federal democráticos.
Fluminense Tanto Lopes quanto Nunes
Fora da disputa. Mesmo inabilitada, María Corina mantém campanha; Lula evitar mencionar nome da opositora
entendem e até mesmo con-
cordam com a decisão de apoi-
ar países afetados por sanções,
como Venezuela e Cuba, e a
priorização de aliados consi-
derados importantes para o
Brasil na agenda da política ex-
terna. O problema é quando
esse aliado passa dos limites
em matéria de repressão.
Para Creomar De Souza,
CEO da Dharma Politics, “Lu-
la prefere Maduro sendo um
ditador próximo do Brasil do
que um governo democrático
alinhado com outros”.
— O discurso de Lula está
afastando pedaços de seu
eleitorado.
A preocupação, também
presente em alguns setores do
governo, não faz Lula mudar a
direção. Em conversas infor-
mais, fontes do governo afir-
mam que, nas atuais circuns-
tâncias na América Latina, e
com a perspectiva de uma pos-
sível volta de Donald Trump
ao poder nos EUA, o que o Bra-
sil espera é uma eleição que
possa ser reconhecida como
democrática pela comunida-
de internacional. As fontes ad-
mitem que, para Lula, a conti-
nuidade de Maduro no poder
seria o melhor cenário.
Depois de ter perdido a Ar-
gentina para a ultradireita, e
com o republicano Trump no-
GUERRA ISRAEL X HAMAS
Menino vira rosto da fome em Gaza
NA WEB Imagem de criança de 10 anos é alerta sobre crise humanitária no enclave
vamente no radar, uma even-
tual guinada radical na Vene-
zuela, país com o qual o Brasil
compartilha uma ampla fron-
teira e pretende, nos próximos
tempos, recuperar o vigor do
intercâmbio comercial e a co-
operação em várias áreas, é um
cenário que não agrada ao go-
verno. Existe, ainda, o desejo
de recuperar um espaço perdi-
do nos últimos anos e que foi
ocupado por importantes só-
cios do governo chavista, co-
mo China, Rússia, Irã e Tur-
quia. Lula quer evitar, frisam
as fontes, que a crise de Cara-
cas acabe sendo resolvida por
atores de fora da região.
QUEDA NAS PESQUISAS
O problema é que o cálculo
político do presidente esbarra
em questões sensíveis: a ero-
são da democracia venezuela-
na e, como parte desse pro-
cesso, a violação dos direitos
humanos e políticos de oposi-
tores —que vão de prisões ar-
bitrárias a execuções extraju-
diciais e torturas. As denún-
cias foram confirmadas em
relatórios elaborados por
uma missão de reconheci-
mento das Nações Unidas e
estão sendo investigadas pelo
Tribunal Penal Internacional
(TPI), com sede em Haia.
Existe, ainda, um terceiro ele-
REPRODUÇÃO
mento, que gera enorme ins-
tabilidade regional: o êxodo
de mais de 7 milhões de vene-
zuelanos nos últimos anos,
além da atuação em vários pa-
íses da região de grupos crimi-
nosos locais, sendo o mais im-
portante o Trem de Aragua.
Quando consultadas sobre
alguns dos temas, fontes do
governo asseguram que aler-
tas são feitos a interlocutores
de Maduro, por canais infor-
mais. Mas, para a sociedade
brasileira e para o mundo, o
que se vê e se ouve é um presi-
dente disposto a tolerar os abu-
sos cometidos pelo chavismo.
Na coletiva ao lado do pri-
meiro-ministro da Espanha,
Pedro Sánchez, na semana
passada, o presidente brasilei-
ro disse — sem dar nome aos
bois —que candidatos inabili-
tados na Venezuela deveriam
“deixar de chorar”, assim co-
mo ele mesmo fez em 2018
quando, estando preso, esco-
lheu Fernando Haddad para
disputar a Presidência. Uma
alfinetada em Machado, que
Lula se recusa a mencionar.
Na mesma coletiva, o presi-
dente disse esperar que as elei-
ções sejam as “mais demo-
cráticas possíveis”, frase que,
segundo fontes do governo, foi
um recado para Maduro.
Ontem, a líder do partido
Domingo 10.3.2024 | OGLOBO
PARA
ACESSAR
APONTE
O CELULAR
PARA
O QR CODE
MARCELO GARCÍA/PRESIDÊNCIA DA VENEZUELA VIA AFP/1-3-2024
Vente denunciou um novo De mãos dadas.
sequestro de um membro Lula e Maduro
de sua equipe. Nos últimos posam para fotos
dois meses, quatro inte- após reunião às
grantes de sua campanha fo- margens da
ram presos e levados para o cúpula da Celac,
Helicoide, uma das princi- na semana
pais prisões do Serviço Boli- passada: temas
variano de Inteligência (Se- espinhosos
bin), em Caracas, onde tam- ficaram de fora
bém está Rocio San Miguel, do encontro
especialista em temas mili-
tares, detida há um mês.
Os casos de repressão
crescem, mas o governo Lu-
la está decidido a se expor ao
risco de fracassar. Pesquisas
mostram que o posiciona-
mento de Lula está contri-
buindo para o desgaste de
sua imagem internamente.
Em uma sondagem feita pe-
la Quaest, em dezembro, a
retomada de relações com a
Venezuela é considerada o
terceiro maior erro cometi-
do por Lula em seu terceiro
mandato. Uma pesquisa da
Atlas, também do final do
ano passado, mostra que,
para 59% dos entrevistados,
o Brasil está mais próximo
do que deveria do vizinho.
INTERESSES IDEOLÓGICOS
Lula segue firme e vem con-
versando com outros gover-
nos para criar um “clima ami-
gável” em relação à eleição,
disseram fontes . O assunto foi
discutido com Sánchez e será
debatido com o presidente
francês, Emmanuel Macron,
em sua visita ao Brasil.
Para o embaixador Rubens
Barbosa, está claro que na
equação prevalecem interes-
ses ideológicos. O Itamaraty,
diz, continua mantendo uma
“atitude profissional”.
—Não tem o menor sentido
defender a democracia no Bra-
sil e não defender fora. Só vale
aqui a democracia? —questio-
na Barbosa, que destaca, po-
rém, os enormes ganhos que o
Brasil teria se a Venezuela nor-
malizasse sua situação. — Te-
mos interesses econômicos,
comerciais, em matéria de
energia, fronteiras, refugia-
dos, enfim, muitos.
INÊS249
OGLOBO | Domingo 10.3.2024
Extrema direita
avança em
Portugal e pode
triplicar bancada
Partido Chega deve se consolidar como
terceira força no Parlamento hoje e atrai
brasileiros apesar de pauta anti-imigração
GIAN AMATO
Especial para O GLOBO
PORTO
-
EdosmPortugal
menos de cinco anos,
deixou de ser um
poucos países europeus li-
vres da extrema direita e pode
ver o partido radical Chega até
triplicar seu número de depu-
tados, chegando a 32 do total
de 230, na eleição ao Parla-
mento hoje. Enquanto as pes-
quisas mostram um cenário
incerto entre as siglas que se al-
ternam no poder, com uma vi-
tória apertada para o esquer-
dista Partido Socialista (PS) ou
para o Partido Social Demo-
crata (PSD), de centro-direita,
ocrescimento da ultradireita é
dado como certo e atrai brasi-
leiros dentro e fora do país.
Em menos de três anos, o
Chega se estabeleceu como
terceira força no Parlamen-
to: da eleição solitária, em
outubro de 2019, do ex-co-
mentarista de futebol André
Ventura, aos 12 deputados
eleitos em janeiro de 2022.
Agora, é um dos protagonis-
tas, levando os moderados do
PSD a replicar parte do dis-
curso radical contra imigran-
tes para não perder eleitores.
Para o cientista político
Desinformação impõe desafio
para campanhas eleitorais
Tema foi destaque no festival de inovação South by Southwest, no Texas
JULIANA CAUSIN
juliana.causin@sp.oglobo.com.br
AUSTIN, TEXAS
-
Eta dommetade
um ano em que quase
da população adul-
mundo irá às urnas (mais
de 2 bilhões de eleitores), com
dezenas de eleições presiden-
ciais marcadas para 2024, o
combate à desinformação tes-
ta a resiliência das campanhas
políticas. Em uma das demo-
cracias mais antigas do plane-
ta, a americana, o tema escan-
cara um desafio adicional: o
racha ideológico sobre como
combater mentiras online.
Em "The Lie Detectives: In
Search of a Playbook for Win-
ning Elections in the Disinfor-
mation Age" (Os detetives de
mentiras: em busca de um ma-
nual para vencer eleições na
era da desinformação, em tra-
dução livre), o jornalista e es-
critor Sasha Issenberg, autor
António Costa Pinto, Portu-
gal não consegue mais fugir
da onda populista global por-
que o Chega soube como
ocupar o espaço que o PSD
não conseguiu explorar.
—A natureza da ruptura da
transição portuguesa fez com
que os partidos de direita de-
mocráticos se afastassem da
velha ditadura. Mas sempre
soubemos pelas pesquisas
que cerca de 18% da socieda-
de expressavam valores auto-
ritários de direita. Até 2019,
os partidos de direita absorvi-
am esse eleitorado.
ELEITORADO JOVEM
Parte da sociedade, sobretudo
a mais jovem, encontrou no
Chega um partido alinhado
com suas expectativas. E as
quedas consecutivas, primei-
ro do premier socialista Antó-
nio Costa, em novembro, e de-
pois do governo autônomo da
Ilha da Madeira, do PSD, em
janeiro, ambos por suspeitas
de corrupção, ajudaram.
—A conjuntura populista
fez o resto. Explorando o te-
ma da corrupção, mais imi-
gração e criminalidade, o
Chega virou um desafio gran-
de aos partidos democráticos
de outros três livros sobre es-
tratégia eleitoral, lembra que o
próprio conceito do que é de-
sinformação se tornou um
embate ideológico nos Esta-
dos Unidos, e contrapõe repu-
blicanos e democratas desde
as eleições de 2016.
— Uma versão da história
para os republicanos é que a
desinformação, como um te-
ma, foi inventada pelos demo-
cratas para que o governo se
apoiasse nas big techs e censu-
rasse vozes conservadoras. En-
tão, não teria sentido, nessa vi-
são, categorizar o que seria in-
formação e desinformação —
explicou Issenberg, no pri-
meiro dia do South by Sou-
thwest, maior festival de
inovação e tecnologia do
mundo, que começou no
Texas, semana passada.
Oembate é um desafio para
outros países que terão elei-
Crescimento meteórico. Ventura saúda apoiadores: influência internacional e corrupção alavancaram o Chega
de direita, mobilizando seg-
mentos do eleitorado que vo-
tavam no PSD e, de maneira
mais interessante, os jovens
menos escolarizados. Se ti-
verem mais de 15%, serão
um grande desafio de gover-
nabilidade —disse Pinto.
Duas eleições antecipadas
favoreceram o Chega, que
saiu mais forte a cada pleito e
quer virar referência da ul-
tradireita no continente.
Com ajuda de aliados como
Marine Le Pen, líder do parti-
do francês Reagrupamento
Nacional, Ventura, que é pre-
sidente da legenda, ganhou
status em Portugal, cooptan-
do influências internacio-
nais, explicou Pedro Góis, in-
vestigador do Centro de Es-
tudos Sociais da Universida-
de de Coimbra.
—O contágio do exterior, in-
ção em 2024. Katie Harbath,
que foi diretora de Políticas
Públicas da Meta durante
uma década e a voz da big tech
sobre eleições mundo afora,
lembrou que o combate à de-
sinformação eleitoral traz em
si a complexidade dessa disso-
nância entre grupos da es-
querda e direita:
—A direita [americana] cos-
tuma rebater que a desinfor-
mação é uma espécie de des-
culpa usada pelos democratas
para o fato de não terem venci-
do as eleições. Mais do que is-
so, eles argumentam que a "Se-
nhora Desinformação" é uma
forma da esquerda de tentar si-
lenciá-los — afirma Harbath,
atual diretora de Assuntos
Globais da Duco Experts.
Em "The Lie Detectives", Is-
senberg investiga como estra-
tegistas eleitorais passaram a
combater e rebater ameaças
cluindo do Brasil e dos EUA,
via redes sociais, acelerou a
percepção de que a democra-
cia liberal já não funciona e
que é necessário mais autori-
dade/autoritarismo. Há um
conjunto de perdedores da de-
mocracia que parece aceitar
perder liberdade. O alerta que
devemos fazer é que não há so-
luções simples para proble-
mas complexos. Todos os que
prometerem facilidades são
vendedores de ilusão.
Iludidos ou não, os brasi-
leiros são atraídos pelo dis-
curso anticorrupção e cos-
tumam fazer comparações
entre escândalos de Portu-
gal e do Brasil. Apesar de o
Chega ser um partido anti-
imigração, parte deles ajuda
no engajamento virtual nas
redes sociais da sigla —mes-
mo quando nem vivem no
Debate. Sasha Issenberg e Katie Harbath participam do South by Southwest
que se espalham nas redes so-
ciais, em um cenário em que
as plataformas se tornaram ar-
senal político. No SXSW, o au-
tor contou que em 2016 teve
dificuldades de encontrar, no
lado republicano, uma estraté-
gia política digital que fosse
voltada a detectar mentiras.
Para Harbath, o desafio tem
aver com a própria negação de
conservadores sobre a ideia do
PATRICIA DE MELO MOREIRA/AFP/20-2-2024
país, caso de Rafael Santos.
—No Brasil, sigo uma linha
de pensamento de direita e
acabei conhecendo o trabalho
do André Ventura no Insta-
gram. Desde então, comecei a
seguir e apoiá-lo, mas sem me
aprofundar no partido.
Chef em Lisboa, o brasileiro
Christian Grecco está impres-
sionado com a quantidade de
seguidores brasileiros da le-
genda, dentro e fora das redes.
—É desesperador. Quando
essa pessoa defende um parti-
do contra imigração, perdeu
qualquer tipo de lógica. Está
votando em alguém que al-
gum dia vai querer, provavel-
mente, te expulsar do país.
Recentemente, o grupo de
personalidades brasileiras em
Portugal “O Brasil também é
aqui” publicou um manifesto
contra o avanço da extrema di-
JULIANA CAUSIN
que é desinformação. Os dois
destacaram a necessidade de
que campanhas eleitorais te-
nham a capacidade de se arti-
cular para o uso de dados e fer-
ramentas que possam detectar
edenunciar esse tipo de conte-
údo — e encontrar formas de
responder a eles. A equipe de
Joe Biden, por exemplo, conta
com grupos de voluntários *A jornalista viajou
treinados e comunidades onli- a convite do Itaú.
Mundo | 23
reita, apelando ao voto no Blo-
co de Esquerda (BE), que, as-
sim como os demais partidos,
tem perdido terreno diante do
aumento do populismo, se-
gundo constatou Isabel David,
cientista política e professora
da Universidade de Lisboa.
—A [antiga] ditadura, o de-
clínio do nível de vida, a rejei-
ção dessas ideias de extrema
direita pelos partidos princi-
pais, o fato de a imprensa igno-
rar esses partidos… E tam-
bém houve uma boa escolha
estratégica na entrada de An-
dré Ventura na política, ainda
pelo PSD, e concentrou a cam-
panha nos ciganos, uma mino-
ria em relação à qual, histori-
camente, sempre houve mui-
to racismo e discriminação.
ECOS DA DITADURA
Ventura acusa a comunidade
dos roma (ciganos) de viver
às custas do Estado. Na cam-
panha, tem defendido que os
estrangeiros têm de pagar
por cinco anos a Previdência
Social antes de receberem al-
gum subsídio. Mas foi graças
aos imigrantes que a Previ-
dência teve arrecadação de €
1,2 bilhão (R$ 6,4 bilhões)
em 2021 — com os brasilei-
ros liderando, com € 414 mi-
lhões (R$ 2,2 bilhões).
—O racismo contra os ciga-
nos é real e visível diariamen-
te. Tudo se traduz em discri-
minação diária, repulsa e me-
do. Há muitos racistas e xenó-
fobos votando no partido —
ressaltou a cientista política.
Os ecos da ditadura e o apoio
de um grupo de simpatizantes
do nazismo e do fascismo em
Portugal revelam com clareza
uma realidade que seria im-
pensável há até bem pouco
tempo, num país governado
pelo PS nos últimos oito anos.
—Era inevitável que os que
se sentem herdeiros do Estado
Novo se reagrupassem. E Ven-
tura, carismático e bom ora-
dor, soube usar esse capital po-
lítico —concluiu Góis.
ne articuladas para rebater
conteúdos nocivos, contou Is-
senberg.
Harbath lembra que o cená-
rio americano é um espelho do
embate que acontece nos de-
mais países que irão às urnas
este ano, incluindo o Brasil
com as eleições municipais. A
lista inclui pleitos na União
Europeia, Índia, Indonésia,
México, África do Sul, Ucrâ-
nia, Reino Unido, além de elei-
ções locais no Brasil.
IA, UM NOVO DESAFIO
Enquanto isso, a pressão em
cima das plataformas, Judiciá-
rio, políticos e eleitores, au-
menta. O elemento novo que
surge a partir daqui é a inteli-
gência artificial. Para Harbath,
por ora, as deepfakes em áudio
são o tipo de conteúdo que po-
de representar maiores riscos,
por terem a possibilidade de
serem criadas com mais realis-
mo do que vídeos. A vanta-
gem, destaca ela, é que a preo-
cupação sobre impacto da IA
emergiu bem mais do que
aconteceu com as redes soci-
ais de uma forma geral.
INÊS249
24 | Mundo Domingo 10.3.2024 | OGLOBO
CATALINA CADENAS

“A turma do Numa”. Mais de 50 anos após fundação, antes da tragédia nos Andes, clube de futebol vive boom nas redes sociais com sucesso de filme uruguaio indicado ao Oscar: página passou de 800 a quase 20 mil seguidores no Instagram

Time que homenageia

ARQUIVO PESSOAL
capital uruguaia.
—Foram três velórios. Um
quando ocorreu o acidente,
outro quando apareceram os

vítima da tragédia dos sobreviventes e agora o tercei-

ro, com toda a questão do fil-
me. Eu compartilhava muita

Andes vive ‘Numa-mania’

coisa com ele, sempre foi uma
figura muito presente — diz.
— O que me alegra é justa-
mente que minhas filhas,
meus sobrinhos e sobrinhas,
Último a morrer no acidente em 1972, Numa Turcatti aparece como de alguma forma começaram
a descobrir quem era Numa e
narrador do filme ‘A Sociedade da Neve’, que concorre hoje ao Oscar Passado. Numa (agachado à esquerda) com outros jogadores do Loyola FC os valores que ele tinha.

TRADIÇÃO SE MANTÉM
FERNANDA CANOFRE de os 5 anos. Cibils o conside- que ia para o Chile: Alfredo todos, imediatamente, con- de tocar no assunto. Numa morreu no dia 11 de
Especial para O GLOBO
PORTO ALEGRE
rava seu melhor amigo. Apai- “Pancho” Delgado e José Luis cordaram. Numa era alma Numa Turcatti levava esse dezembro de 1972, um dia
xonados por futebol, eles e Coche Inciarte, que voltaram mater da nossa equipe, era nome por causa do avô mater- antes que Nando Parrado e
-
um grupo de amigos haviam vivos, e Arturo Nogueira e Ju- muito querido, tinha um ca- no, Numa Pesquera. Um dos Roberto Canessa partissem

A lfredo Cibils jogava cartas,

naquele dezembro de
1972, quando chegou a notí-
cia de que haviam encontrado
o avião uruguaio desapareci-
do na Cordilheira dos Andes,
pouco mais de dois meses an-
tes. Na mesma hora, ele e
Raúl Zorrilla saíram atrás da
família de Numa Turcatti em
busca de mais informações.
Zorrilla conhecia Numa des-
fundado, seis anos antes, o
Loyola FC para continuarem
jogando depois de se forma-
rem no colégio católico onde
estudavam. A tragédia, no en-
tanto, mudou todos os planos.
Numa — o capitão da equi-
pe que disputava a Liga Uni-
versitária — não sobreviveu à
tragédia. Além dele, outros
quatro companheiros do
Loyola FC estavam no avião
lio Martínez Lamas, que mor-
reram na cordilheira. Para ho-
menageá-los, os amigos do ti-
me, que era uma referência a
Santo Inácio de Loyola, resol-
veram mudar o nome: no ano
seguinte, o clube passou a se
chamar Numa Turcatti.
— Quando descobrimos
que Numa não voltaria, pedi-
mos permissão aos pais dele,
falamos com os jogadores e
ráter espetacular. Era humil-
de e sempre ajudava os ami-
gos — conta Cibils, hoje com
76 anos, que desistiu da via-
gem na última hora por causa
das provas na faculdade.
AMOR PELO FUTEBOL
Hoje, 51 anos após a fundação,
o Numa Turcatti tem cerca de
100 jogadores em quatro cate-
gorias e vive a ‘‘Numa-mania’’
causada pelo fenômeno do fil-
me “A Sociedade da Neve”, di-
rigido por Juan Antonio Bayo-
na e que concorre hoje ao Os-
car de Melhor Filme Estran-
geiro. No filme, é a partir do
ponto de vista de Numa que se
conta a história do acidente
com o avião da Força Aérea
Uruguaia, que levava 40 passa-
geiros e cinco tripulantes.
—No Instagram, tínhamos
700, 800 seguidores, agora
são quase 20 mil — conta o
atual presidente Rodrigo Ca-
denas, de 37 anos. — A maio-
ria das pessoas perguntavam
o porquê do nome, não há
muita gente que se chame
Numa no Uruguai. De cada
100 que perguntassem, um
sabia da história. Agora não,
fundadores da petroleira Ipi-
ranga, ele foi presidente do ti-
me Nacional nos 1920 e levou
o clube para uma turnê his-
tórica pela Europa. Ser “bol-
so”, como são chamados os
torcedores do Nacional, um
dos maiores do Uruguai, vi-
rou tradição de família e algo
que Numa compartilhava
com Cibils, Zorrilla e com o ir-
mão mais novo, Daniel.
Apesar de a história do aci-
dente estar ligada ao rúgbi, já
que a viagem era motivada por
uma partida que seria disputa-
da pela equipe do Old Christi-
ans, Numa amava mesmo o fu-
tebol. Era Daniel quem jogava
rúgbi e que chegou a sofrer
uma fratura séria no ano ante-
rior. Há uma semana, os dois
times tiveram um encontro
em Montevidéu para compar-
tilhar histórias dos veteranos.
A família de Numa evita
dar entrevistas, porque acre-
dita que são os sobreviventes
que devem falar. Dos cinco
irmãos Turcatti, dois estão vi-
vos. Eles foram procurados
por Bayona e pelo escritor
Pablo Vierci, autor do livro
homônimo no qual o filme se
em busca da ajuda que salvou
o restante do grupo. Foi o úl-
timo a morrer na cordilheira.
— A morte dele foi o que
precipitou essa última tenta-
tiva. Ainda assim, Numa é um
herói trágico por antonomá-
sia, porque entrega tudo sem
ter recompensa, morrendo só
11 dias antes de Nando e Ro-
berto chegarem à civilização.
Ele não reserva nada para si,
mas sua generosidade é abso-
luta —diz Vierci.
Zorrilla concorda:
— Numa viveu 60 dias na
cordilheira, entregou sua vida
aos amigos. Não havia amor
maior do que dar a vida pelos
amigos, e realmente acredito
que foi assim. Tratou de aju-
dar a se salvar e salvar todos.
Sem sede própria, alugan-
do os campos em que jogam,
Cadenas acredita que o time
se mantém hoje com esse
mesmo espírito.
— É como uma cadeia de
amizade, quando as pessoas
se sentem identificadas com
o time, seguem perto e vão
trazendo outras pessoas para
que se somem —diz ele.
Daniel Turcatti espera ver a

no Brasil
agora todo mundo conhece.
O pai dele, Gonzalo Cade-
nas, primo da família Turcatti,
U M A I N I C I AT I VA
também foi fundador do time.
Gonzalo lembra que ia aos jo-
gos, ouvia histórias sobre Nu-
ma, mas não muito sobre o aci-
dente, já que o pai não gostava
A MELHOR COBERTURA DO G20 ESTÁ
NAS PLATAFORMAS DO GLOBO, VALOR E CBN Negociações entre Israel
Pela primeira vez, o Brasil sediará o encontro internacional do G20,
grupo formado pelas maiores economias do mundo. e Hamas estão paralisadas
Para você se informar sobre os diversos temas
que envolvem o evento, O Globo, Valor e CBN criaram O diálogo está estagnado pela desconfiança
mútua; conversas devem ser retomadas hoje
canais especiais repletos de conteúdo.
ACESSE E FIQUE POR ANTONIO PITA E LUIS DE VEGA
DENTRO DE TUDO O QUE Do El País
ACONTECE NO RIO G20. -
baseia, sobre a decisão de ter
Numa como protagonista.
Daniel diz que viu o filme
quatro vezes — na sessão
com sobreviventes e fami-
liares, com os netos, e na
sessão que reuniu o time de
futebol, em um cinema da
não foram atendidas. Já o Ha-
mas quer garantias de que a
trégua se tornará permanente
tradição da família seguir na
geração dos netos, que têm 12
e 9 anos, e já amam futebol.
—Tenho esperança de que
quando cheguem na idade,
eles e seus amigos também jo-
guem, para seguir a mística de
um time fraterno.
la que 130 das 250 pessoas de-
tidas pelo grupo fundamenta-
lista em 7 de outubro continu-
em em cativeiro no enclave
palestino, e que pelo menos 31
deles tenham morrido.
Os pontos básicos da primei-
ra fase de negociação estão cla-
ros: devem ser seis semanas de
cessar-fogo para trocar 40 (dos
mais de 130) reféns em Gaza
pela libertação de 400 prisio-
neiros palestinos e um aumen-

P oucos dias antes do Ra-

madã, mês sagrado para
os muçulmanos e que come-
ça hoje, as negociações de
uma segunda trégua entre Is-
rael e o grupo terrorista Ha-
mas estagnaram. O diálogo,
que será retomado hoje, está
paralisado pela desconfian-
ça. Autoridades israelenses
E S TA D O A N F I T R I Ã O REALIZAÇÃO não enviaram uma delega-
ção para as conversas sobre o
cessar-fogo em Gaza, realiza-
das no Cairo semana passa-
da, porque suas exigências
—algo que Israel rejeita —e te-
me assinar um acordo que pos-
sa desmoronar após a entrega
dos primeiros reféns.
O governo israelense afir-
mou que não enviou represen-
tantes para a capital do Egito
porque o Hamas não forneceu
uma lista com os sequestrados
que estão sob sua custódia, vi-
vos e mortos, além da propor-
ção de prisioneiros palestinos
que deveriam deixar as prisões
israelenses por cada refém li-
berado no acordo. Israel calcu-
to na ajuda humanitária no en-
clave. Segundo o presidente
dos Estados Unidos, Joe Biden,
Israel aceita este acordo. O
chefe da diplomacia america-
na, Antony Blinken, instou o
Hamas a concordar com o pla-
no de interromper os comba-
tes e permitir a entrada de su-
primentos no território. Por
outro lado, um alto funcioná-
rio do grupo, Sami Abu Zuhri,
culpou Israel por “frustrar” os
esforços de negociação ao se
recusar encerrar a ofensiva.
INÊS249
OGLOBO | Domingo 10.3.2024
Saúde
Mistério
noturno.
Uma forma de
organizar as
experiências?
Formar
memórias?
Ou aprender?
CÉREBRO ATIVO
Ciência busca explicar a origem
dos sonhos e o que eles significam
CONSTANÇA TATSCH
constanca.tatsch@oglobo.com.br
SÃO PAULO
- uma paralisia temporária
Eperde
stá na hora de dormir.
Durante o sono, você
calor, seus batimen-
tos cardíacos e pressão arte-
rial diminuem, a frequência
respiratória desacelera,
ocorre um relaxamento
muscular. Mas, à noite, há
uma luz que nunca se apaga
e onde o trabalho nunca pa-
ra: seu cérebro. Ele não des-
liga e, na hora de sonhar, agi-
ta boa parte do sistema.
Se você não tem nenhum
distúrbio do sono, pode es-
tar certo de que sonha entre
1h30 e 2h todas as noites.
Não importa que não lem-
bre, você sonha. Não é tudo
de uma vez, como um episó-
dio de uma série, mas parce-
lado entre quatro a seis ve-
zes durante a noite, princi-
palmente quando ocorre o
sono REM (também conhe-
cida como a fase em que os
olhos mexem).
Felizmente, seu corpo foi
criado direitinho, e salvo
uma pessoa ou outra com al-
gum distúrbio, acontece a
atonia muscular, ou seja,
dos músculos do corpo. É
graças a ela que você pode so-
nhar que está voando sem
pular pela janela ou lutar bo-
xe sem esbofetear o parceiro.
Por outro lado, mesmo so-
nhando que está num tem-
plo budista, sua pressão ar-
terial aumenta 30% e a res-
piração fica ofegante nesse
momento. Acabou o sonho,
ambas descem rápido.
— Toda essa movimenta-
ção acontece porque duran-
te o sonho o cérebro realiza
um grande recrutamento de
neurotransmissores. Ele é
tão intensamente ativo so-
nhando quanto na vigília —
explica Monica Andersen,
diretora do Instituto do So-
no e professora do departa-
mento de Psicobiologia da
Universidade Federal de
São Paulo (Unifesp).
Agora é a hora que você
pode estar se perguntando:
tudo isso para quê? Afinal,
por que sonhamos?
Quando fez 125 anos, a
prestigiosa revista Science
NOVOS PADRÕES
Conheça as definições de intersexo
NA WEB Fotógrafa é a primeira pessoa no país a ter o termo registrado em documento
trouxe na sua edição de ani-
versário uma lista com as
125 perguntas que a ciên-
cia ainda não consegue res-
ponder. E esse era um des-
ses mistérios. Mas há algu-
mas boas hipóteses.
UTILIDADE
De acordo com Monica An-
dersen, uma delas é que o
sonho seja fruto de uma or-
ganização das informações
que a gente vivencia no cé-
rebro. Uma parte desses
dados seria jogada fora e o
que é relevante é separado
para ser armazenado na
parte da memória.
Por isso, mesmo você
morrendo de saudades de
um ente querido talvez não
sonhe com ele com a fre-
quência que gostaria, mas
seu colega chato de escritó-
rio aparece diversas noi-
tes: são informações novas
a serem processadas.
Outra hipótese é a da con-
solidação da memória. Du-
rante o sonho, essas informa-
ções seriam guardadas em ga-
vetas para que, no momento
oportuno, possam ser usadas.
— Evidências mostram
que quando a pessoa não
tem sono REM de qualidade
e quantidade tem piora cog- “O sonho tem ou sua mente. Mas, para is-
nitiva, em especial da me- que ter uma
mória — afirma a diretora utilidade,
do Instituto do Sono. porque todo
Há quem diga que sonhar mundo sonha recordar o que sonhou são
é fundamental para o desen- 1h30. Por que maiores se você acordar no
volvimento do sistema ner- o cérebro faria meio ou logo depois dele. E
voso e do cérebro. Daí vem a tudo isso para anote (talvez seu cérebro
hipótese do sentido de nada?”
aprendizado. Estudos reve- _ nar essas informações).
laram que, nos primeiros di- Monica
as de vida, cerca de 50% do Andersen,
tempo dormindo do bebê é diretora do
sonho REM, com sonhos. Instituto do ção de Ameaças, que de-
— Isso num cérebro que Sono
vem com HD zero. Por quê?
Acredita-se, não tem como “O que um
provar, que é o amadureci- sonho signifi- tuações ameaçadoras (se-
mento desse cérebro, por- ca para uma
que não há nenhuma fase pessoa é
em que uma pessoa vai subjetivo,
aprender tanto — diz a dire- assim como o
tora do Instituto do Sono. que fazemos
Já quando adultos, esse com as
período passa para 23 a 25% experiências
do tempo de sono. de vigília”
Há também quem diga _ não gosta. Nada mais é que
que o sonho é uma vivência David
inusitada de fatos que de al- Billington,
guma forma marcaram pre- psicoterapeuta dável”. Feche os olhos e ou-
sença no seu dia, coisas do
| 25
PARA
ACESSAR
APONTE
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PARA
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subconsciente que reapare-
cem aleatoriamente.
—O que a gente sabe é que
o sono REM, dos sonhos, é
precioso porque confere
bem-estar físico e metal. O
sonho tem que ter uma utili-
dade, porque todo mundo
sonha 1h30. Por que o cére-
bro faria tudo isso para na-
da? Quando a pessoa tem
pouco sono REM, os estu-
dos mostram que a vida dela
é cinza, nada vai estar bom
para ela ao longo do dia.
SIGNIFICADOS
O que os sonhos significam
é outro tema sem resposta
pronta. Muitas teorias so-
bre o significado dos sonhos
surgiram ao longo da nossa
existência. Na Grécia Anti-
ga ou no Império Romano,
acreditava-se que eles são
presságios ou previsões de
eventos futuros. Entretan-
to, o que as pesquisas já mos-
traram é que sonhos não
têm efeito premonitório.
Pai da psicanálise, o psi-
cólogo Sigmund Freud di-
zia que os sonhos represen-
tam a realização de desejos
não realizados — muitas
vezes sexuais. Já Carl Jung,
que fundou a psicologia
analítica, defendia que “os
sonhos são mensagens en-
viadas pelo inconsciente”
e, como tal, podem ajudar-
nos a compreender a nossa
psique interior.
“Pode-se dizer, num senti-
do muito amplo, que sonhar
com coisas específicas sig-
nifica que essas coisas estão
relacionadas com as suas
preocupações de vigília —
sejam elas conscientes, se-
miconscientes ou inconsci-
entes”, defende David Bil-
lington, psicoterapeuta e
diretor do Instituto de Pes-
quisa do Sonho (Dream Re-
search Institute, no Reino
Unido), ao IFLScience.
“Mas o que uma expe-
riência ou imagem onírica
significa para uma pessoa
específica é altamente sub-
jetivo, assim como o que fa-
zemos com as experiências
de vigília é altamente sub-
jetivo: um momento de
conflito com um estranho
pode ser altamente pertur-
bador para um bibliotecá-
rio, mas faz parte do dia a
dia de um porteiro de boa-
te”, completa.
Por essas hipóteses é que
os especialistas recomen-
dam debater os sonhos em
terapia, com um profissio-
nal que possa ajudar a en-
tender se essas informações
revelam algo sobre sua vida
so, é preciso lembrar do so-
nho, uma tarefa difícil para
muita gente. As chances de
não considere útil armaze-
O pesquisador britânico
diz ainda que existem teses
como a Teoria da Simula-
fendem um uso evolutivo
para os sonhos, nos permi-
tindo ensaiar respostas a si-
jam elas físicas ou sociais)
sem realmente nos colo-
carmos em risco.
Porém, como explica An-
dersen, os pesadelos não
são uma categoria à parte
no universo dos sonhos,
apenas um “de que você
um sonho com um conteú-
do que para você não é agra-
tro já vai começar.
INÊS249
26 | Saúde
SOHLA EL-WAYLLY
-
Do New York Times
T
anto para iniciantes
quanto para cozinheiros
experientes, preparar fran-
go pode trazer muitas dúvi-
das (e nervosismo!). Vou
pegar salmonela? Estou
condenado a uma eternida-
de comendo peito de frango
seco? Para sanar esses ques-
tionamentos a chef e autora
de livros de receitas Sohla
El-Waylly explica como do-
minar o básico para cozi-
nhar o alimento.
Quando você vai comprar
frango, tem a opção de pegar
uma peça inteira ou uma
parte que desejar. Para El-
Waylly, a melhor opção é de-
sossá-lo em casa. Mas se isso
parecer complicado, as op-
ções orgânicas são ótimas,
pois garantem que o frango
não recebeu antibióticos e
foi criado de forma natural.
Ela acredita que os animais
criados em pastagens têm o
gosto mais real. Mas quando
se trata de custo benefício, o
frango convencional é mais
barato e tem a proporção
ideal de peito para coxa, por-
que a maioria das pessoas
prefere esses cortes.
Livre de bactérias
Vários estudos foram realiza-
dos com testes de luz negra
quando se lava o frango. E foi
comprovado que as bactérias
acabam se espalhando por to-
das direções. Segundo a chef, a
ação também deixa o alimento
encharcado, e isso dificulta
deixá-lo dourado e delicioso.
— A única maneira de eli-
minar as bactérias e preve-
nir a salmonela é cozinhan-
do a proteína minuciosa-
mente —diz. —Uso uma tá-
bua de corte de madeira,
pois pesquisas mostraram
que a madeira realmente
tem propriedades antibac-
terianas naturais.
Dessa forma, quando se
corta o frango na madeira,
se houver alguma bactéria
restante na superfície, ela é
sugada pelo material, onde
morre de fome. Quando se
corta no plástico, à medida
que usa sua tábua por um
tempo, ela desenvolve esses
sulcos. E se usada repetida-
mente, a bactéria ainda po-
de viver profundamente e
crescer nessas ranhuras.
As dicas de uma chef
para fazer o frango
assado perfeito
Sohla El-Waylly explica como desossar, temperar e assar
a ave para que fique deliciosa (e livre de bactérias)
Antes de preparar o ali-
mento a chef deixa tudo que
irá utilizar durante o pro-
cesso separado:
— Mantenho minhas te-
souras e facas à mão, para
não ficar revirando uma ga-
veta com as mãos sujas de
frango, e vou misturar o sal e
pimenta, que será para mi-
nha salmoura seca.
Desossado
Uma técnica valiosa é remo-
ver a espinha dorsal e abrir o
frango para que fique plano.
Isso ajuda a reduzir o tempo
de cozimento e permite que
o calor do forno penetre de
maneira mais uniforme, re-
sultando em carne suculen-
ta e pele crocante.
— Pegue um bom par de
tesouras de cozinha, mas se
não tiver pode fazer com
uma faca — diz a chef.
Coloque o frango de cos-
tas, localize a coluna e vá
cortando de um lado dela,
RECEITA DE FRANGO ASSADO COM ERVAS
Ingredientes:
- 1 frango inteiro (aproximada-
mente 1,5 a 2 kg)
- Azeite de oliva extra virgem
- Sal e pimenta a gosto
- Ervas frescas (alecrim, tomilho,
salsa, etc.)
- 4 dentes de alho (opcional)
- Limão (opcional)
Instruções:
1. Enxágue bem o frango por
dentro e por fora. Seque com
papel toalha para garantir uma
pele crocante. Coloque
o frango com o peito para baixo
em uma tábua de cortar.
2. Com uma tesoura de cozinha
depois do outro, para poder
retirá-la. Depois, ela reco-
menda virar o frango de no-
vo e pressionar o peito do
frango, para achatar um
pouco — com cuidado para
não romper a pele.
Salmoura
Antes de temperar o frango,
é crucial garantir que a pele
esteja completamente seca.
Isso ajuda a obter uma pele
crocante e dourada. Depois,
aplique uma quantidade ge-
nerosa de sal em toda a su-
perfície e deixe descansar
na geladeira por pelo menos
seis horas, idealmente até
24 horas. Isso ajuda a retirar
o excesso de umidade da
carne e a melhorar o sabor.
Temperos
El-Waylly oferece inúmeras
opções para adicionar sabor
e profundidade ao frango.
resistente, corte ao longo de ambos
os lados da espinha dorsal, remo-
vendo-a completamente. Abra o
frango e pressione firmemente no
peito para quebrar o osso e acomo-
dá-lo em uma superfície plana.
3. Pré-aqueça o forno a 200°C.
Esfregue generosamente azeite de
oliva por dentro e por fora do fran-
go. Tempere bem com sal e pimen-
ta, certificando-se de cobrir todos
os cantos. Se desejar, esfregue o
alho picado e as ervas frescas fina-
mente picadas sobre a pele. Adicio-
ne um pouco de limão para um
toque cítrico.
4. Coloque o frango em uma assa-
Alecrim, tomilho, salsa,
manjericão e coentro são al-
gumas das muitas opções de
ervas frescas que podem ser
usadas. Entre as especiarias
vale tentar alho, pimenta,
páprica, cominho, curry e
gengibre para elevar o sabor
— elas proporcionam um
toque de calor, complexida-
de e riqueza de sabores.
O azeite de oliva extravir-
gem é uma escolha popular
de gordura para temperar o
frango devido ao seu sabor ri-
co e aroma frutado. Ele tam-
bém ajuda a manter a umida-
de da carne e contribui para
obter uma pele dourada e
crocante. A manteiga clarifi-
cada é outra opção de gordu-
ra, ideal para o cozimento em
altas temperaturas. Já a ba-
nha de porco é tradicional-
mente usada em muitas cozi-
nhas, adicionando suculên-
cia à carne e crocância à pele.
Experimentar diferentes
combinações de temperos e
gorduras pode ajudá-lo a
descobrir o jeito preferido.
deira ou em uma grade dentro de
uma assadeira para permitir que
o ar circule por baixo.
Asse no forno pré-aquecido por
aproximadamente 45 a 60 minu-
tos, ou até que o termômetro de
carne inserido na parte mais
espessa da coxa registre 75°C.
Se a pele estiver dourando muito
rapidamente, cubra com papel
alumínio e continue assando até
que esteja cozido por completo.
5. Retire o frango do forno e deixe
descansar por alguns minutos
antes de cortar. Fatie em pedaços e
sirva com acompanhamentos de
sua escolha, como salada, batatas
ou legumes.
Domingo 10.3.2024 | OGLOBO
FREEPIK
No ponto.
Assado uniformemente Receita para um
frango assado
Pré-aqueça o forno. Depois, com ervas, com
para assar, uma temperatura carne suculenta
entre 175°C e 200°C é geral- e pele crocante
mente ideal para a ave inteira.
O tempo de cozimento po-
de variar dependendo do ta-
manho e do tipo de frango,
geralmente levando entre 1h
a 1h30 para assar completa-
mente, mas é importante ve-
rificar a temperatura interna
com um termômetro de car-
ne para garantir que esteja
completamente cozido, atin-
gindo pelo menos 75°C.
Coloque o frango em uma
assadeira grande ou em uma
grelha para permitir que o ar
quente circule ao redor de-
le, garantindo que asse uni-
formemente.
—A grade na assadeira é re-
almente muito importante.
Eleva o frango para que não
fique em seus próprios sucos.
Não queremos que ele fique
sentado nisso. A grade per-
mite que haja um fluxo de ar
ao redor de todo o frango.
Vire-o de vez em quando
durante o processo. Ao fi-
nal, permitir que o frango
descanse por alguns minu-
tos após o cozimento é es-
sencial para garantir que os
sucos se distribuam unifor-
memente. Isso ajuda a man-
ter a carne suculenta.
—Eu deixaria descansar
por pelo menos 15 minu-
tos. Descansar é muito im-
portante porque quando
você tira uma proteína do
calor, seja no forno ou no
fogão, os sucos estão real-
mente escorrendo, sabe, o
calor faz as coisas dança-
rem — recomenda a cozi-
nheira profissional.
Sirva o frango assado com
seus acompanhamentos fa-
voritos, como legumes assa-
dos, purê de batatas, arroz
ou saladas frescas.
Aproveitamento
Não deixe as sobras de fran-
go irem para o lixo! Elas po-
dem ser usadas de diversas
maneiras, como em sopas,
saladas, sanduíches ou até
mesmo transformadas em
um novo prato principal.
Aproveitar ao máximo cada
parte do frango não só reduz
o desperdício, mas também
proporciona refeições deli-
ciosas e econômicas.
INÊS249
OGLOBO | Domingo 10.3.2024 Saúde | 27

DANIEL histórico para o Brasil na caminhada em dire-

ção a um sistema mais racional, eficiente e
BECKER justo. E pode ser também um passo funda-
mental para sermos um país menos desigual,
mais saudável e sustentável.
Hoje os impostos pesam mais para a popula-
ção pobre e de classe média, enquanto os mais
Pediatra, sanitarista, palestrante e
escritor. Ativista pela infância, saúde
ricos têm muitos privilégios fiscais. Além disso,
coletiva e meio ambiente. os setores que fabricam produtos que prejudi-
cam a saúde da população e causam danos ao
Quando o imposto meio ambiente são os que mais recebem bene-
fícios. Indústrias como BRF (das marcas Sadia,
desses produtos. Um estudo recente revelou
que 57 mil pessoas entre 30 e 69 anos morrem
todos os anos, no Brasil, por causa do seu consu-
mo. Além de morte e sofrimento individual,
trazem custos bilionários para o SUS, sobrecar-
regam a previdência social, e penalizam sobre-
tudo as classes sociais mais vulneráveis.
Aconta dos impactos ambientais também é
alta: a emissão de gases de efeito estufa por ul-
traprocessados aumen-
A ciência vem
cada vez mais
tou 245% entre 1987 e
2018, e sua pegada
derado pela ACT Promoção da Saúde, que tive
a honra de assinar juntamente com organiza-
ções como Abrasco, Alana, Instituto Brasileiro
de Defesa do Consumidor (Idec), instituições
de pesquisa, associações médicas, economis-
tas, ex-ministros, autoridades em nutrição,
médicos, cientistas e artistas, para apoiar a
causa do tributo saudável: que os ultraproces-
sados não recebam qualquer incentivo fiscal e
que sejam alvo do imposto seletivo, ao lado dos
cigarros e das bebidas alcoólicas.
Diversos estudos mostram que a tributa-

faz bem à saúde

Perdigão, Qualy, Claybom), JBS (Seara, Swift e responsabilizando hídrica cresceu 233%. ção é eficaz para reduzir as vendas de produ-
Doriana), AMBEV (Pepsi, Guaraná e bebidas os ultraprocessa- Temos portanto mui- tos nocivos à saúde. Mais de 55 países já a
alcoólicas) e Coca-Cola recebem anualmente dos pelo aumento tas razões para criar tri- adotaram, e 94% da população apoia a me-
cerca de 2,5 bilhões em benefícios fiscais, para exponencial das butos adicionais sobre dida, segundo pesquisa Datafolha de 2023.

N osso país não consegue garantir a alimen-

tação adequada, direito humano previsto
na Constituição, para grande parte da popu-
lação. Temos 32 milhões de brasileiros viven-
do com fome ou insegurança alimentar. Ao
mesmo tempo, crescem as doenças associa-
das à alimentação não saudável.
A forma como os impostos são cobrados e
distribuídos tem forte relação com a socieda-
de que queremos construir. A aprovação da
reforma tributária em 2023, após décadas de
tentativas frustradas, representou um marco
produzir, fazer publicidade e lucrar com produ-
tos que estão adoecendo e matando brasileiros.
Eesses são apenas alguns exemplos.
Aciência vem cada vez mais responsabilizan-
do os ultraprocessados (fabricados com aditi-
vos nocivos e excesso de açúcar, sal e gordura:
refrigerantes, salgadinhos, biscoitos, carnes
processadas, sobremesas adoçadas, sorvetes,
etc) pelo aumento exponencial das doenças
crônicas —as que mais matam no mundo. Cân-
cer, infarto, diabetes, depressão, hipertensão,
derrame e demência já estão associados ao uso
doenças crônicas produtos nocivos à saú-
—as que mais de, cobrando mais des-
matam no mundo tes setores, para mitigar
seus impactos negati-
vos. Por outro lado, precisamos incentivar a
produção e distribuição de alimentos saudá-
veis, essenciais à vida, como arroz, feijão, fru-
tas, legumes e grãos, estimulando a agricultu-
ra familiar, criando a cesta básica nacional de
alimentos com alíquota zero e tornando-os
acessíveis à população mais pobre.
Esta semana foi publicado um manifesto, li-
O Brasil já deu o primeiro passo para de-
sestimular o consumo de ultraprocessados
com a decisão da Agência Nacional de Vigi-
lância Sanitária (Anvisa), de 2021, de obri-
gar os fabricantes a colocar advertências na
parte frontal das embalagens.
Com a regulamentação da reforma tributá-
ria, temos a oportunidade de avançar significa-
tivamente na garantia do direito à alimentação
adequada e saudável para toda a população.
Junte-se a nós nesse esforço: busque por do-
ceveneno.org.br e apoie o tributo saudável.

FREEPIK

risco de manchas. Além dis-

so, é o médico dermatologis-
ta que sabe qual tipo de trata-
mento é indicado para a po-
pulação de pele negra: qual
peeling, qual tipo de laser, de
cirurgia, ou seja, o tratamen-
to da pele negra, sim, é espe-
cífico para esse fototipo —
enfatiza Schechtman.
O envelhecimento da pele
é um processo influenciado
por vários fatores, incluindo
a genética, estilo de vida e
cuidados dermatológicos.
Embora a pele escura possa
ter certas vantagens, ela tam-
bém possui características
que devem ser consideradas.
— A pele negra tem uma
tendência maior à acne,
manchas e distúrbios de ci-
catrização, como cicatrizes
hipertróficas, queloide, e
também possui maior ten-
dência a distúrbios de pig-
mentação em geral, como o
melasma, principalmente
após a terceira década de vi-
da. Então é preciso ter um
cuidado específico — desta-
ca Ana Paula Fucci.
A dermatologia cosmética
deve ser adaptada para aten-
der às necessidades espe-
cíficas da pele negra.
— Ao escolher tratamen-
tos cosméticos, é essencial
optar por profissionais ex-
perientes que estejam fami-
liarizados com as caracte-

Pele negra — afirma a dermatologista

Michele Kreuz, especialista
pela Sociedade Brasileira de
sol das 10h às 16h, usar bo-
né, chapéu e óculos escuros.
Outro ponto importante é o
Blindagem.
Ao contrário do
que diz o senso
rísticas únicas da pele negra
para garantir resultados efi-
cazes e seguros. A dermato-

merece cuidados
Dermatologia.
Rugas e linhas de expressão
podem se desenvolver em
pessoas de todas as etnias, es-
cuidado com os cabelos, evi- comum, pele logia cosmética pode ser
tando o uso excessivo de negra precisa de adaptada de maneira perso-
química, que pode afetar o proteção solar nalizada para abordar as
couro cabeludo e provocar preocupações específicas

específicos para
pecialmente com o passar
dos anos e a exposição a fato-
res ambientais prejudiciais.
É preciso atenção aos cuida-
doenças de pele —diz a vice- de envelhecimento e cuida-
presidente da Sociedade dos com a pele na pele negra
Brasileira de Dermatologia — explica Kreuz.
do Rio de Janeiro, Regina De acordo com as derma-

manter juventude
dos adequados para manter
uma aparência saudável. Isso
inclui a limpeza regular da
pele, o uso de protetor solar
diariamente, a hidratação
Ideia de que envelhecimento é mais lento para o adequada e a visita regular ao
dermatologista.
fototipo pode ser verdade desde que haja cuidado — É importante manter a
pele bem hidratada, pois a
com o sol e respeito às suas características pele negra tende a ser mais
seca. Evitar produtos que
possam causar irritação ou
LAÍS REIS
saude@oglobo.com.br
tas têm opiniões variadas so- inflamação, como certos
-
bre esse assunto. químicos agressivos ou pro-
— Um mito comum é que cedimentos abrasivos. Uma
Schechtman. tologistas, desmistificar os
É verdade que a melanina estigmas associados à pele
oferece uma certa proteção retinta é crucial para pro-
contra os danos causados mover uma abordagem in-
pelos raios ultravioleta clusiva à saúde. Cada pessoa
(UV) do sol. Ela atua como é única e pode responder de
um filtro natural, absorven- maneira diferente ao pro-
do e dispersando a radiação cesso de envelhecimento.
UV antes que ela possa cau- —A indústria e o merca-
sar danos significativos às do já estão exigindo produ-
células da pele. tos adequados para a cos-
— A formação de rugas e mética da pele negra, tanto
lesões pelo sol se dá de for- em maquiagem quanto em
ma mais lenta — ressalta a produtos para os cabelos.
médica da Academia Euro- Já é uma realidade a exis-

A crença popular de que a

pele negra envelhece
mais lentamente do que as
outras é um tópico de deba-
te há décadas. O que não
falta são mitos sobre o as-
sunto, gerando dúvidas so-
bre os cuidados adequados
com esse fototipo.
Muitos acreditam que a
melanina, o pigmento que dá
cor à pele, oferece uma pro-
teção natural contra os danos
causados pelo sol, atrasando
o processo de envelhecimen-
to. No entanto, os especialis-
a pele negra é imune ao en-
velhecimento devido à pre-
sença de melanina, porém,
também está sujeita ao pro-
cesso natural do tempo, in-
cluindo rugas e perda de
elasticidade. Outro equívo-
co é que pessoas de pele ne-
gra não precisam de prote-
tor solar, mas é essencial pa-
ra prevenir danos solares e
envelhecimento precoce.
Além disso, é falso acreditar
que a pele negra não requer
cuidados específicos; cada
tipo tem suas necessidades
alimentação rica em antio-
xidantes pode ajudar a pro-
teger a pele contra danos
causados pelos radicais li-
vres. O estilo de vida tam-
bém influencia, incluindo
hábitos como fumar e con-
sumir álcool em excesso,
que podem acelerar o enve-
lhecimento — diz Kreuz.
PROTEÇÃO
—A pessoa de pele negra, ao
contrário do que se pensa,
também deve fazer fotopro-
teção, evitar exposição ao
peia de Dermatologia, Ana
Paula Fucci.
Entretanto, a pele negra
tência de produtos desti-
nados à pele negra e profis-
sionais capacitados e trei-
ainda pode sofrer com os da- nados para lidar com trata-
nos, incluindo queimadu- mentos dermatológicos de
ras solares, hiperpigmenta- doenças e cosméticos no
ção e aumento do risco de sentido de cuidar e melho-
câncer de pele. Portanto, o rar a pele negra — conclui
uso regular de protetor solar Regina Schechtman.
é indispensável . Consultar um especialista
— Durante o verão, não é pode ajudar a desenvolver
aconselhável às pessoas de uma rotina de cuidados per-
pele negra fazer tratamentos sonalizada e eficaz para li-
excessivamente abrasivos, dar com as preocupações
que desgastam a pele, por dermatológicas específicas
causa da exposição solar e o dessa comunidade.
INÊS249
28 |
Rio
SINAL DA VIOLÊNCIA
Concessionárias são impedidas de prestar
serviço em áreas dominadas por criminosos
SELMA SCHMIDT
selma@oglobo.com.br
-
D epois de quatro anos traba-
lhando numa empresa
terceirizada que presta servi-
ço para uma concessionária
de TV e internet, o eletricista
João (nome fictício) pediu de-
missão há cerca de 40 dias. A
gota d’água foi uma situação
vivida por colegas que execu-
tavam um trabalho na rede da
operadora na Avenida Pastor
Martin Luther King Jr., na Pa-
vuna. Obrigada por bandidos
a ir a uma favela próxima, a
equipe foi ameaçada e teve
seu material roubado, sendo
liberada após receber a ordem
de não voltar.
—Nunca me pegaram, por-
que não questionava; ia embo-
ra. Mas passei muito susto. Às
vezes, estava fazendo um repa-
ro, paravam dois caras de mo-
to, me abordavam no meio da
rua, diziam que se eu não saís-
se me levariam para dentro da
favela, que iriam matar, que a
gente não está autorizado a
trabalhar ali, que a área é deles,
que vendem “gatonet” —con-
ta João. —O que mais me ater-
rorizou é que levaram colegas
da minha empresa. Eu falei:
Não vou mais; não vou ficar
correndo esse risco.
A ação de criminosos, inclu-
sive no entorno de favelas, im-
pacta a prestação de serviços
públicos, amedronta técnicos
e deixa consumidores sem
atendimento. Segundo a Light
e a Enel, bandidos chegam ao
ponto de “sequestrarem” pro-
fissionais para que eles execu-
tem consertos não programa-
dos, muitas vezes em ligações
clandestinas, atrasando as visi-
tas agendadas.
‘SÓ COM AUTORIZAÇÃO’
Diante da violência, em janei-
ro, a Telefônica Brasil (Vivo)
mandou em ofício para o 18º
BPM (Jacarepaguá) uma lista
de 12 vias onde pretendia pas-
sar fibra ótica. Para executar o
projeto, queria saber se os en-
dereços eram áreas de risco. E
lembrou “histórico de impedi-
mento de acesso por crimino-
sos da Cidade de Deus”. Em
resposta, o comando do bata-
lhão informou que sete das ru-
as estão dentro da Cidade de
Deus, “que é uma área confla-
grada e dominada pela facção
Comando Vermelho”.
—Podemos dar segurança
para a Vivo fazer as instala-
ções, mas sairemos em algum
momento, e o tráfico pode ar-
rebentar tudo, se não for do in-
teresse dele. Talvez a Cidade
de Deus seja uma das áreas
mais perigosas hoje do Rio,
ainda mais que está em guerra
com a Gardênia —afirma o te-
nente-coronel Lourival do
Nascimento Júnior, que co-
manda o 18º BPM .
Na energia, a Enel Rio —
que atende 66 municípios,
entre eles Niterói, São Gon-
çalo, Caxias e Magé — viu o
número de clientes em áreas
com restrição operacional
subir de 74 mil, em 2004, pa-
ra 472 mil, em 2023, um
crescimento de 538%. Esse
universo representa 15% de
Domingo 10.3.2024 | OGLOBO
BALEADO POR PM PARA
ACESSAR
Estado de entregador é estável APONTE
O CELULAR
PARA
NA WEB Vítima já passou por duas cirurgias e não tem previsão de receber alta O QR CODE
Nos últimos tempos, o apo-
DIREITOS VIOLADOS PELO CRIME sentado Antônio (nome fictí-
Serviços públicos são postergados pela insegurança
cio), de 67 anos, tem ficado
1 2 Telefônica Brasil (Vivo) informa, em 9/1/2024, as dificuldades de acesso à
Cidade de Deus e pergunta à PM sobre a segurança nas ruas onde pretendia
pelo menos duas vezes por
mês sem telefone, internet e
TV. Ele é morador da Rua Es-
Aplicativo da
Claro informa a
instalar rede de fibra ótica pírito Santo, na Praça Seca,
cliente, no último próximo às favelas São José
dia 16, que não Operário e do Fubá, disputa-
tem como das entre tráfico e milícia:
restabelecer os —Ao acessar o aplicativo da
sinais de TV, Claro para pedir reparo, há
internet e
telefone na Rua
uma mensagem informando
Espírito Santo, na que estou sem sinal e que os
Praça Seca técnicos não podem ir ao local
3 Em resposta à concessionária, no último dia 23, o 18º BPM
lista as ruas dominadas pelo crime realizar o conserto devido à vi-
olência. A Praça Seca sofre
com tiroteios quase que diá-
rios. Então, além de não poder
sair de casa, também não pos-
so fazer nada dentro dela.
QUATRO DIAS SEM SINAL
Outro morador da Praça Seca,
ONDE PODE E ONDE NÃO
ÃO PODE Daniel (nome fictício) conta
Ruas com acesso restrito que a Rua Albano, vizinha à fa-
4 pelo Comando Vermelho vela Bateau Mouche, ficou
da
5 quatro dias sem sinal de inter-
ce r
2 1 Rua Arthur Marinho
net em janeiro. Ele, que estava
La
1 2 Rua Jericó
os
3 Rua Elisama pensando em se mudar por
arl
1 CIDADE
4 Estrada Santa Efigênia conta da distância do trabalho,
rC
DE DEUS
no Centro, agora tomou a deci-
ado
7 FREGUESIA 5 Av. Cidade de Deus
2
são definitiva de sair do bairro,
ern
6 Rua Noé
6
Av. Gov
3
7 Rua Josias onde vive há três anos.
—Descobri que a internet
3
5 Ruas de fácil acesso não estava sendo cortada para a
dominadas por crime organizado gente assinar a paralela. O
1 Estrada dos Bandeirantes meu prédio é o último da rua
2 Rua Edgard Werneck com sinal da operadora.
5 3 Estrada do Gabinal Quando caiu a internet, apare-
JACAREPAGUÁ
4 Av. Tenente Coronel Muniz de Aragão cia uma mensagem automáti-
4
5 Estrada do Engenho D’Água ca no aplicativo. Por telefone,
Fonte: Polícia Militar do Rio de Janeiro (18º BPM) EDITORIA DE ARTE uma atendente disse que os
DIVULGAÇÃO
técnicos estavam recebendo
toda a base de clientes da dis- Área restrita. ameaças caso fossem restabe-
tribuidora e é responsável Técnicos da Enel lecer o serviço —recorda.
por metade do volume de prestam serviço A Conexis, que representa
energia desviada na área de em Niterói: o setor de teles, não tem nú-
concessão da empresa. funcionários meros. Contudo, reconhece
Segundo o diretor de Opera- nunca entram que, em alguns locais, o pro-
ção de Redes da Enel Rio, Jose em áreas de risco blema de roubo e vandalismo
Luis Salas, as dificuldades para para verificar “se soma ao bloqueio de aces-
trabalhar em determinados casos de perda so das equipes das prestado-
locais começaram com a im- de energia ras para a manutenção de
plantação de Unidades de Polí- (“gatos”) ou seus equipamentos”.
cia Pacificadora (UPPs) na ca- para fazer corte Quanto às concessioná-
pital, a partir de 2008, quando por falta de rias de saneamento, a Águas
os bandidos passaram a migrar pagamento, do Rio ressalta que “procura
para outros municípios. E o diz diretor desenvolver uma relação de
problema foi se agravando. parceria com lideranças co-
— Só entramos nessas munitárias”. Porém, obser-
áreas com autorização. Te- va que enfrenta dificulda-
mos 200 líderes comunitá- des operacionais, devido a
rios que nos ajudam. Mesmo furtos. E que “operações po-
assim, só recebemos autoriza- liciais ou outros eventos de
ção para fazer manutenção, ou segurança obrigam a con-
seja: quando a comunidade é cessionária a reprogramar
afetada. Nunca em caso de vários serviços e paralisar a
perda de energia (o chamado atuação das equipes, impac-
“gato”) ou para fazer um corte tando o cronograma de pro-
por falta de pagamento — la- jetos e obras previstos”.
menta Salas. A Iguá confirma que suas
Os episódios de intimidação atividades, “em alguns mo-
se sucedem. Na última segun- mentos, são afetadas por
da-feira, no bairro Santo Alei- questões de falta de segu-
xo, vizinho a uma área de risco rança” e que prioriza a inte-
de Magé, uma equipe da Enel gridade dos seus emprega-
foi ameaçada com pistola, du- dos. A Rio+Saneamento se
rante operação de rotina para limitou a dizer que segue o
detectar ligações clandestinas. cronograma previsto.
A ação do bandido foi filmada zer reparos numa rede de tação da empresa é o trabalha- dores e moradores”. A PM afirma que tem se
por câmera instalada na viatu- transmissão às 6h do dia 25. A dor se retirar quando há risco. Já a Rioluz afirma que, reunido com representan-
ra da empresa. O homem con- falta de luz não tinha afetado Sem dar detalhes, a Light diz “quando não há operação po- tes de concessionárias e tra-
versa com um técnico e, de- os moradores da comunidade. que “tem restrição de opera- licial”, seus empregados “não balha em conjunto com a
pois, entra em casa e sai com a —O nosso dia a dia é assim. ção em boa parte da sua área encontram dificuldades em Polícia Civil, “propiciando
arma na mão, a fim de impedir Em 18 de novembro (houve de concessão”. Acrescenta que executar os serviços” em fave- uma rede de apuração que
que o “gato” fosse desfeito. um temporal e vários municí- “a situação se agrava com a ri- las. A explicação, diz a compa- visa a identificar e localizar
Nem o Natal foi poupado. pios ficaram um fim de sema- validade em regiões violentas nhia, é o pré-agendamento os envolvidos e tais organi-
Cerca de 25 mil clientes de na sem luz), por exemplo, tive- edominadas por poderes para- feito com associações de mo- zações criminosas”. Pede
Maricá passaram a noite sem mos veículos “sequestrados” lelos que, quando estão em radores. Mas a companhia ainda a colaboração da po-
energia, porque traficantes da para fazer reparos dentro de conflito, não podem ser aten- contabiliza perdas: desde ou- pulação acionando a central
Favela da Linha só autoriza- comunidades — recorda Sa- didas pela concessionária para tubro de 2020, 102 luminá- 190 e o Disque-Denúncia
ram a entrada da Enel para fa- las, acrescentando que a orien- preservar a vida de colabora- rias foram avariadas por tiros. (2253-1177).
INÊS249
OGLOBO | Domingo 10.3.2024
ENTREVISTA
Victor Cesar Santos / SECRETÁRIO DE SEGURANÇA PÚBLICA
Há três meses no cargo, delegado da Polícia Federal diz que, em encontro com o ministro
Fachin, acertou que escolas serão avisadas sobre operações policiais uma hora antes
VERA ARAÚJO E GIULIA VENTURA
granderio@oglobo.com.br
-
D
elegado da Polícia
Federal há mais
de 20 anos, o se-
cretário estadual
de Segurança Pú-
blica, Victor Cesar Carvalho
dos Santos, de 55 anos, acre-
dita que o melhor método de
investigação é a extração de
informações diretamente de
“fontes humanas”. Ele afirma
que foi assim que conseguiu
prender o bicheiro Rogério de
Andrade, em setembro de
2006, e diz ter feito o mesmo
no fim de 2023, ao tomar co-
nhecimento do interesse do
chefe da maior milícia do Rio,
Luis Antônio da Silva Braga, o
Zinho, em se entregar. Para
Victor Cesar, abrir diálogo é
fundamental. Agora, depois
de três meses à frente da pas-
ta, ele volta a apostar na mes-
ma estratégia, mas com outro
foco. Procurou o ministro Ed-
son Fachin, do Supremo Tri-
bunal Federal (STF), para tra-
tar sobre a ADPF das Favelas,
ação que visa a reduzir a letali-
dade policial. Na conversa,
acertou que as escolas serão
avisadas sobre operações po-
liciais uma hora antes e infor-
mou que planeja oferecer
treinamento para alunos e
professores enfrentarem situ-
ações de risco.
Em três meses no cargo de
secretário, como está sendo a
estruturação da pasta?
Estamos planejando uma
política de segurança públi-
ca, o que não existia. A se-
cretaria tem como meta três
pilares: fortalecimento ins-
titucional; valorização do
policial, neste caso, o capi-
tal humano, que é o ativo
mais importante de qual-
quer empresa; e o investi-
mento em tecnologia como
ferramenta de transforma-
ção da segurança pública.
Eu quero ter o diagnóstico
da segurança até o fim de
março, seguindo o raciocí-
nio de que os estados preci-
sam acompanhar as diretri-
zes do governo federal.
Como resolver as questões
impostas pela ADPF das
Favelas para reduzir a
violência policial?
Fizemos em três meses o que
não se conseguiu em três
anos. O primeiro passo foi as-
sumir a responsabilidade.
Então, a responsabilidade
hoje é da Secretaria de Segu-
rança. Já estive com o Fachin
e sua equipe. Mostramos pa-
ra ele como é feito o controle
de armas e munição das polí-
cias. A ideia é dar a maior
transparência possível. Além
disso, nos comprometemos a
regulamentar a participação
de vítimas e familiares na in-
vestigação de crimes. Nas
operações em (áreas com)
escolas, a gente vai delinear
os horários. O acionamento
das secretarias (estadual e
municipais de Educação e de
Saúde) para avisar da opera-
ção será cerca de uma hora
antes. Vamos investir na ca-
pacitação de professores e
alunos. Mesmo assim, aque-
les desavisados vão saber exa-
tamente como proceder para
se proteger no interior da es-
cola, seja professor, aluno ou
funcionário. A ideia é fazer
uma capacitação desse pro-
fessor, com exercícios se-
mestrais, igual em casos de
incêndio. Também haverá o
PROFESSORES
E ALUNOS VÃO TER
TREINAMENTO PARA
O CASO DE TIROTEIOS
Projeto. Operação da Polícia Militar no Complexo da Penha, na Zona Norte: agentes envolvidos em confrontos vão passar por avaliação
“O combate à milícia foi
merecido. Até porque eu
já tive um tio morto pela
milícia. Sei como
funciona essa desgraça,
merecia uma resposta”
“Na PF, usamos
informantes. Tínhamos
verba para isso. Quero
tentar fazer isso. Criar
uma forma de pagar,
legalmente, por
informantes”
“A investigação
financeira é o caminho,
a médio e longo prazo,
para tirar esse poderio
bélico e territorial
das organizações
criminosas”
atendimento psicológico
aos policiais que partici-
pam de confronto. Essa ava-
liação não é no sentido de
punição, como: “Você par-
ticipou de um confronto,
vai ficar afastado”. Não é is-
so. Ele tem que ser avaliado,
saber se está bem.
Haverá mudanças na perícia,
devido à crítica de ser ligada à
Polícia Civil?
Você não sabe hoje qual pe-
rito que vai ao local de crime.
Isso vai para uma distribuição
como acontece num processo
judicial. Ou seja, você não di-
reciona o caso para um perito.
Na Polícia Federal, a gente
tem um dos centros
mais avançados
do mundo, o Ins-
tituto Nacional
de Crimina-
lística (INC).
Então, esse é
o modelo
que a gen-
te quer
trazer pa-
ra cá.
DOMINGOS PEIXOTO
O que fazer para levantar
verbas para custear essas
melhorias?
A ideia é a seguinte: é fazer
esse investimento e deduzir
do crédito que a União tem
com o Rio. Isso vai atender
ao anseio não só do estado,
mas também do governo fe-
deral. Também estamos
conversando com municí-
FABIANO ROCHA
pios que recebem royalties
do petróleo.
Apesar de o ISP apontar para a
redução da letalidade policial,
os índices ainda são altos, não?
Hoje eu posso adiantar
que a letalidade está ligada
diretamente ao aumento de
crimes contra o patrimônio
praticados com violência ou
grave ameaça, principal-
mente com o uso de arma de
fogo. Ou seja, quanto maior
o índice de crimes pratica-
dos com violência ou grave
ameaça com o uso de arma
de fogo, maior o índice de le-
talidade. Por isso, será cria-
da uma fórmula matemáti-
ca, que você aplica em qual-
quer região, para
entendermos
melhor o que es-
tá acontecendo
e possamos
atacar o pro-
blema. O ISP
está fazendo
o estudo e
irá validar
o méto-
do, se ele
Rio | 29
cumpre o papel de justifi-
car o motivo dessa altera-
ção dos índices de letalida-
de. Se tenho alta letalidade
e baixo número de crimes,
vou ter ali um grupo de ex-
termínio. Tem alguma coi-
sa errada. Então, eu consi-
go ter essa luz laranja.
Sobre a política de segurança
pública, o que pretende fazer
com as UPPs e o Cidade
Integrada?
A questão é: a UPP hoje
atende aos objetivos e às ne-
cessidades de quando foi cria-
da? Talvez sim, talvez não.
Talvez apenas algumas ou to-
das atendam. Não sei. E a
ideia não é só avaliar isso. Eu
quero saber qual o custo e o
benefício. Do que as pessoas
que moram nessas comuni-
dades precisam. O mesmo es-
tudo será feito com o Cidade
Integrada. Isso será feito com
acertificação da FGV (Funda-
ção Getulio Vargas) e da Uerj.
Como será o enfrentamento
ao crime organizado?
Ocombate à milícia foi me-
recido. Eu já tive um tio mor-
to pela milícia. Sei como fun-
ciona essa desgraça, merecia
uma resposta. Mas, ao longo
dos últimos anos, se esque-
ceu um pouco das facções do
tráfico. Agora temos tráfico
agindo como milícia e vice-
versa. Enfraquecendo uma
facção, a outra vê uma opor-
tunidade. As favelas são mui-
to próximas, e as facções aca-
bam se unindo contra um
inimigo comum. A lógica é
mercadológica. Todo mundo
quer lucro. Por isso, a investi-
gação financeira é o cami-
nho, a médio e longo prazo,
para tirar esse poderio bélico
e territorial das organizações
criminosas.
Como foi a estratégia para que
o Zinho se entregasse?
Chegou para mim que ele
queria se entregar. Comecei
abuscar nas fontes humanas.
Levantei a advogada dele, da
parte financeira, não da par-
te criminal. Ela veio aqui na
secretaria e negociamos a
rendição dele. Avisei à Polí-
cia Federal e chamei a 8ª
DPJM (Delegacia de Polícia
Judiciária Militar) da PM pa-
ra acompanhar a rendição.
Por que fiz isso? Porque havia
apossibilidade de o Zinho ter
mandado matar a policial Va-
neza Lobão, que pertencia
àquela unidade. Foi graças
aos contatos, a informantes.
Na PF, usamos informantes.
Tínhamos verba para isso.
Quero tentar fazer isso. Criar
uma forma de pagar, legal-
mente, por informantes.
O senhor prendeu o
contraventor Rogério de
Andrade, em 2006, foi com
esse tipo de informação?
Dependemos de boas infor-
mações. Depois da prisão, me
encontrei com Rogério três
vezes por acaso. Numa delas,
estava com um juiz amigo
num restaurante da Barra. Ele
chegou antes de mim. Não
havia nada contra ele na Justi-
ça. Ele pediu ao garçom que
me perguntasse se eu queria
que ele saísse. Eu respondi
que não. Não se pode mistu-
rar as coisas. As pessoas falam
da minha visita ao Falcon
(Marcos Falcon, policial mili-
tar suspeito de envolvimento
com a milícia) na prisão. Ele
era meu informante. Prendi
muita gente com a ajuda dele.
INÊS249
30 | Rio
LUIZ ERNESTO MAGALHÃES
luiz.magalhaes@oglobo.com.br
U m prédio de 15 andares
na Rua Gonçalves Dias,
a poucos metros da históri-
ca Confeitaria Colombo, no
Centro, está prestes a deixar
seu passado de escritórios
para se tornar moradia de
98 famílias. O imóvel deve
ser a primeira unidade co-
mercial beneficiada pelo
projeto Reviver Centro, que
oferece incentivos financei-
ros a construtoras a fim de
dar um perfil residencial pa-
ra a região que ficou esvazia-
da com a pandemia. As ven-
das das unidades devem co-
meçar em 30 de abril, com
previsão de entregar 90 dias
depois. Outro que será
transformado fica no bur-
burinho do mercado popu-
lar da Saara, na Rua Buenos
Aires, onde funcionava a Fa-
culdade Mackenzie. Este
deve entrar em obras até o
início de julho.
—O desafio é que esse tipo
de retrofit é mais caro do
que reformar um hotel, por
exemplo, cujos quartos se-
rão adaptados, ou construir
um prédio do zero, como
são os projetos já lançados
até agora no Centro. Isso de-
vido ao volume de adapta-
ções. A conta precisa fechar
—diz o presidente do Sindi-
cato da Indústria da Cons-
trução Civil (Sinduscon),
Claudio Hermolin.
Nas contas dos empresá-
rios, para um projeto ser com-
petitivo, o metro quadrado
tem que ser oferecido para in-
vestidores ou futuros com-
pradores por valores entre R$
10 mil e R$ 11 mil. Começar
do zero um projeto custa, em
média, R$ 4,5 mil o metro
quadrado. No caso de hotéis
ou antigos residenciais, esse
valor chega a R$ 5 mil. Os gas-
tos para modernizar prédios
de escritórios, por sua vez, so-
bem para R$ 6 mil.
PISCINA E LOJAS
O investimento total para
reformar o prédio da Gon-
çalves Dias não foi divulga-
do, e o preço de venda dos
apartamentos ainda está em
análise. Responsável pela
Lobie, que faz a gestão de lo-
cação e administração con-
dominial dos dois prédios,
Victor Tulli conta as dificul-
dades de fazer a reforma na
Gonçalves Dias:
— Foi preciso planejar ba-
nheiros para cada unidade,
fazer novas instalações
elétricas, redividir espaços,
abrir novas janelas. Só de
novas tomadas foram insta-
lados cerca de 500 pontos.
Isso sem contar a dificulda-
de logística para remover
entulho no Centro. Isso só é
viável durante a noite.
O condomínio terá piscina
para os moradores, e três an-
dares serão destinados a lo-
jas. O acesso à parte comerci-
al tem entrada independente
dos apartamentos. Nos anda-
res mais altos, é possível, por
exemplo, avistar a Igreja da
Candelária. As unidades te-
rão entre 29 e 32 metros qua-
drados. Não há vagas de gara-
gem no projeto.
Na Saara, o projeto prevê,
inicialmente, 96 apartamen-
tos com até 32 metros qua-
drados e outros 16 com até 40
metros quadrados. O que era
uma sala de aula deverá ser
transformado em dois apar-
tamentos. Das janelas dos an-
dares mais altos, um dos atra-
tivos é a vista para o Cristo
9 projetos
Total de empreendimentos beneficiados pelo Revi-
ver Centro, cujas obras já começaram. Ao todo, a
prefeitura concedeu 36 licenças e analisa mais dez
Escritórios começam
a dar lugar a residências
no centro da cidade
Primeiro edifício comercial convertido em moradias dentro
do projeto Reviver Centro deve começar a ser vendido em abril
Quase pronto. Redentor. Haverá ainda um
O prédio em anexo de três andares, para
obras na Rua serviços e garagem com ape-
Gonçalves Dias: nas 17 vagas.
serão três De acordo com o Sindus-
andares de lojas con, contando com o prédio
da Gonçalves Dias, nove no-
vos projetos já começaram a
sair do papel na região. Des-
ses, apenas três durante o Re-
viver Centro 1. Os outros es-
peraram até outubro do ano
passado, quando o prefeito
Eduardo Paes sancionou o
projeto Reviver 2, que conce-
de ainda mais incentivos fis-
cais, incluindo isenção de IT-
BI e redução de IPTU.
194 apartamentos 424 moradias
Número de unidades nos prédios comerciais
que serão convertidos em residenciais nas ruas
Gonçalves Dias e Buenos Aires
Entre os lançamentos do
Reviver 1, está o Cores do
Rio, na Rua Irineu Marinho,
com 52 apartamentos, que
deve ser entregue aos futu-
ros moradores em maio. Na
Rua Visconde de Inhaúma,
dias depois de o Reviver 2
ser aprovado na Câmara
Municipal do Rio, ficou
pronto o Casa Mauá, que re-
formou a estrutura do anti-
go Hotel São Francisco. A
previsão é que os primeiros
moradores dos 232 aparta-
mentos se mudem nos
próximos meses.
Segundo a Secretaria muni-
O icônico edifício A Noite, que era do governo fede-
ral, deve ser transformado num residencial, mas a
data do início das obras não foi divulgada
cipal de Desenvolvimento
Urbano e Econômico da pre-
feitura, já foram emitidas 36
licenças para construções
com incentivos fiscais na área
do Reviver, incluindo esses
nove identificados pelo Sin-
duscon. A decisão sobre o me-
lhor momento para lançar
projetos, iniciar a obra ou de-
finir se as intervenções não
serão executadas é dos inves-
tidores. Se todos os projetos
vingarem, a região ganhará
2.761 apartamentos e 39 pon-
tos de lojas comerciais.
—De fato, a reconversão de
prédios comerciais é algo
Domingo 10.3.2024 | OGLOBO
FOTOS DE ALEXANDRE CASSIANO
No burburinho
da Saara.
A vista de um
mais complexo, principal-
mente de prédios comerciais
mais novos, construídos a
dos andares do partir dos anos 1950 — disse
prédio da Rua o arquiteto Washington Fa-
Buenos Aires, jardo, ex-secretário munici-
onde funcionava pal de Desenvolvimento Ur-
uma faculdade bano que concebeu o plano
original do Revier, em 2021.
Fajardo prossegue:
—Até os anos 1950, os pro-
jetos de escritórios eram de
menor porte, de certa forma
lembravam residências. Ca-
da escritório tinha janela e
ventilação própria. A partir
dali, os prédios comerciais
foram projetados sem tantas
divisórias, com sistema de
climatização único. De fato,
nesses casos, o retrofit tende
“Foi preciso a sair mais caro. Porém, com
planejar mais segurança e gente cir-
banheiros culando no Centro, a tendên-
para cada cia é que os terrenos também
unidade, se valorizem, o que pode esti-
fazer novas mular mais retrofits — expli-
instalações cou o especialista.
elétricas,
redividir ‘A NOITE’ AINDA SEM DATA
espaços, abrir Os imóveis mais antigos, se-
novas janelas. jam hotéis, comerciais e até
Só de novas residenciais, são bem desafi-
tomadas adores para as construtoras,
foram como explica o presidente da
instalados Associação de Dirigentes de
cerca de 500 Empresas do Mercado Imo-
pontos” biliário (Ademi), Marcos Sa-
_ ceanu, que retrofitou um
Victor Tulli, prédio centenário no Fla-
que faz a mengo, recentemente:
administração — É complexo cumprir as
do condomínio exigências da legislação.
do prédio na Além dos 36 projetos já li-
Gonçalves cenciados, outros dez estão
Dias em análise na prefeitura
com 960 apartamentos e 17
“O desafio é lojas. Entre eles, há a pro-
que esse tipo posta para o icônico Edifício
de retrofit é Joseph Gire (A Noite), na
mais caro do Praça Mauá, primeiro arra-
que reformar nha-céu da América Latina,
um hotel, por que terá 424 apartamentos.
exemplo, cujos Em março de 2023, após a
quartos serão União tentar sem sucesso
adaptados, ou vender o imóvel à iniciativa
construir um privada, a prefeitura deci-
prédio do diu comprar o prédio. Me-
zero” ses depois, em julho, foi re-
_ vendido. Em nota, a incor-
Claudio poradora Azo não deu prazo
Hermolin, para iniciar a reforma e dis-
presidente se que o processo de aquisi-
do Sinduscon ção está em ‘‘fase de diligên-
cias jurídicas’’.
R$ 4,5 mil
É o valor da construção do metro quadrado de
um edifício partindo do zero. Já a transformação de
um hotel em residencial sai a R$ 6 mil
INÊS249
OGLOBO | Domingo 10.3.2024 Rio | 31

ARTIGO

Bar do Serginho faz 40 anos: ‘cenário de simplicidade’

Autora de ‘A Trinca do Curvelo’ narra a experiência de começar o domingo com uma média
bem preparada e pão francês com manteiga de boa qualidade na mercearia em Santa Teresa

HERMES DE PAULA
ELVIA BEZERRA* Pena e, em 1984, comprou a
birosca do seu Alexandre,

M amão papaia, uma mé-

dia bem preparada, pão
francês com manteiga de
boa qualidade dourado no
forninho elétrico. O que
mais se pode querer na pri-
meira refeição do dia? Pan-
quecas, bolos, tortas — lem-
brarão alguns. Mas nem as
mais fartas iguarias supe-
ram o luxo de dar bom-dia,
sentar-se à mesa de plástico,
sem toalha, banquinho
meio bambo, também de
plástico, não dizer nada e
ver o Fabiano me trazer o ca-
fé da manhã completo. Se,
no trajeto, o café derramar
no pires, ele, vigilante, põe
um guardanapo de papel
sob a xícara para que o líqui-
do não pingue ao levantá-la.
Antes dessas delicadezas,
ouço os funcionários se di-
vertindo, na cozinha: — Pão
sem miolo pra d. Elvia. — É
com miolo —grita o outro. —
Sem miolo, com miolo — se-
gue o coro, e o pãozinho virá
com miolo, como gosto. Ali o
cliente pode escolher a fruta
na prateleira externa do bar e
tomar seu café numa xícara
de borda fina e alça de onde
desce uma espécie de subal-
ça, em formato de vírgula,
para apoio do dedo médio.
Faço questão de dar o spoiler:
são apenas cinco mesas enfi-
leiradas na calçada, e a refei-
ção matinal pode ser pertur-
bada pelo caminhão de lixo,
que insiste em ficar longa-
mente na esquina.
ONDE MOROU BANDEIRA
É assim o meu desjejum do-
mingueiro no lendário Bar
do Serginho, na Dias de Bar-
ros 2, em Santa Teresa, que
em 15 de fevereiro de 2024
completou 40 anos. Foi nessa
rua, quando se chamava Rua
do Curvelo, que, de 1920 a
1933, morou Manuel Ban-
deira. Na “ruazinha tão coti-
diana”, dirá ele, escreveu os
poemas de “O ritmo dissolu-
to” (1924), livro de transição
para o modernismo, assim
como os de “Libertinagem”
(1930), obra de cristalização
como poeta modernista.
Se alguém julga que ele
pensou em se integrar à es-
tética proclamada no Teatro
como era conhecido Jorde-
lino Alexandre Alves, então
dono da Mercearia e Con-
feitaria Rio Zela Ltda. Seu
Alexandre a havia compra-
do em 1968 de dois portu-
gueses: Fernando Ribeiro
do Vale e Graciano Marques
de Almeida, que, com o no-
me Zela, homenagearam
um rio do distrito português
de Viseu. Em 2003, Sergi-
nho mudou a razão social
para Bar e Mercearia Rio
Zela Ltda. Àquela altura já
tinha resolvido o dilema en-
tre ser embaixador ou dono
de botequim. De um modo
ou de outro, sua elegância é
natural, e começa na simpli-
cidade, como toda elegân-
cia genuína. Dela faz parte o
bom relacionamento com
“os meninos”, seus funcio-
nários. “Eu queria mudar o
mundo”, diz, e hoje emprega
sete funcionários no seu
“mundinho”, conclui ele.
Com ou sem miolo. Funcionário do Bar do Serginho serve o café da manhã: “O cliente pode escolher a fruta na prateleira externa”, ensina Elvia Bezerra
GUITO MORETO
CHORINHO EM FRENTE
Municipal de São Paulo, de- Quarentão neste ano, o Bar
ve considerar suas palavras do Serginho encanta pela
no “Itinerário de Pasárga- cordialidade. Ali encontra-se
da”: “o elemento de humil- odiretor de teatro Amir Had-
de cotidiano que começou dad, tomando seu café, ou o
desde então a se fazer sentir cartunista Cássio Loredano,
em minha poesia não resul- que chega mais tarde, para
tava de nenhuma intenção uma boa cerveja. Como ex-
modernista. Resultou, mui- tensão do bar, em espaço em
to simplesmente, do ambi- frente, apresenta-se o Choro
ente do Morro do Curvelo”. da Esquina, uma Roda de
De fato, ele não só se apro- Choro e a cantora Cristina
ximou dos vizinhos como Bhering, em programação
homenageou Irene, sua divulgada nas redes sociais.
empregada doméstica, nos A segunda geração do Bar
versos de “Irene preta/ Ire- já se anuncia: Sir Samuel Li-
ne boa/ Irene sempre de ma, de 10 anos, filho do ge-
bom humor”, do poema rente Moisés, vem à minha
“Irene”. Foi ali, na sua “casi- casa às quintas de tarde para
nha”, que lhe saltou do in- estudar inglês. Pouco antes
consciente o grito “Vou-me das 17h, me telefona.
embora pra Pasárgada”, do Para mudar o mundo. Serginho abandonou o Direito há 40 anos para ficar atrás do balcão: “elegância natural” — A aula é às 17h ou às
poema que o consagrou co- 17h30?
mo o Poeta de Pasárgada. aria o mesmo cenário de Barbosa 300, no Rio, para guém menos que o advoga- Respondo simplesmente
simplicidade e vertigem da dividir um apartamento do Sobral Pinto: — Mande que pode vir. Ele não aceita
COMO RESISTIR AO CAFÉ? antiga Rua do Curvelo: a vis- com seu irmão João Otávio e entrar os comunistas — or- imprecisões:
Se morasse nessa rua, paca- ta da Baía de Guanabara “co- um grupo de estudantes da denou, certo de que a defesa — Mas é às 17h ou às
ta até hoje, certamente mo uma mesa posta” — as- Coppe. Não tardou que o dos direitos individuais es- 17h30?
compraria pão no Bar do sim ele a descreveu. próprio Serginho começas- tava acima de ideologias.
Serginho. Duvido que não Em 1976, o santista Paulo se a cursar o mestrado em Antes de um ano, a bolsa foi
se abastecesse dos produtos Sérgio Paes de Barros, o Ser- Planejamento Urbano e Re- restabelecida. Elvia Bezerra é autora de
de mercearia ou que resis- ginho, deixou o escritório gional, também na Coppe, Mas Serginho mudou de “A Trinca do Curvelo:
tisse ao café bem tirado pela Campos Andrade, onde tra- que, em algum momento, rumo: nem a carreira diplo- Manuel Bandeira, Ribeiro Couto e
turma: Fabiano, Naldo, balhava como estagiário de suspendeu as bolsas de estu- mática, com que sonhara, Nise da Silveira”, Topbooks, 1995.
Bruno, Assis, José, Denison, Direito, em São Paulo, e de- dos. Os alunos entraram em nem a acadêmica. Associ- Uma edição revista e ampliada será
e Moisés, o gerente. Apreci- sembarcou na Avenida Rui greve e apelaram para nin- ou-se ao amigo Fernando publicada em 2025, pela Todavia

Jequitibá-rosa, que
FUNDAÇÃO MACATUR/DIVULGAÇÃO
tesouro. A nossa cidade sem-
pre recebeu muitos visitan-
tes, mas é claro que agora,
encanta em novela, com a repercussão da novela
e a divulgação na mídia, au-

é um tesouro do Rio menta a curiosidade. A po-

pulação de Cachoeiras de
Macacu agradece e fica orgu-
Árvore fica no Parque Estadual dos Três Picos, em lhosa —diz Paulo Schiavo,
Cachoeiras de Macacu, e tem 43 metros de altura; engenheiro florestal e presi-
dente da Fundação Macatur
para abraçá-la, é preciso de 13 a 15 pessoas de Cultura e Turismo.

ENTRADA GRATUITA
LUCAS FREITAS
lucas,freitas.rpa@edglobo.com.br
e fica no Estado do Rio, mais O Três Picos é o maior parque
-
precisamente no Parque estadual de preservação de
Estadual dos Três Picos, em Mata Atlântica no território

Tlhares
odas as noites, no horário
nobre da TV Globo, mi-
de pessoas acompa-
nham o sucesso das histórias
do coronel José Inocêncio
(interpretado por Humberto
Carrão/Marcos Palmeira) na
novela “Renascer”, de Bruno
Luperi, adaptada do sucesso
original de 1993, de autoria
de seu avô, Benedito Ruy
Barbosa. O que poucos sa-
bem é que o imponente je-
quitibá da telinha, que se faz
presente de maneira tão forte
na história, pode ser visitado
Cachoeiras de Macacu, na
Região Metropolitana.
Não é a mesma árvore da
primeira versão da novela.
Aquela ficava na Floresta da
Tijuca, mas não resistiu às
forças da natureza e tombou,
com o tronco velho e frágil. O
jeito foi buscar uma substitu-
ta, e a de Cachoeiras de Ma-
cacu não deixa nada a desejar
para sua antecessora.
Trata-se de uma “senhora”
que testemunhou mais de
500 anos de história. De uma
espécie nativa da Mata Atlân-
Grandiosidade. O jequitibá-rosa que fica no Parque Estadual dos Três Picos é de fácil acesso: só 20 minutos de trilha
tica, o jequitibá-rosa é uma
das maiores árvores do Brasil,
que atinge até 50 metros de
altura. Tanto que, em tupi,
significa “gigante da floresta”.
Sua densa e ampla copa, que é
uma característica marcante,
proporciona sombra e abrigo
para outras plantas e animais.
Para se ter uma ideia da
grandiosidade dessa espécie,
o exemplar de Cachoeiras de
Macacu com 43 metros de
altura e 19 metros de circun-
ferência da base, é dos pou-
cos no estado. Só para abraçá-
lo, são necessárias de 13 a 15
pessoas. E para conhecê-lo
nem é preciso ser tão aventu-
reiro. A trilha que leva à árvo-
re é considerada de dificulda-
de física e técnica leve e dura
cerca de 20 minutos.
—As pessoas visitam o
Parque e ficam encantadas
com tudo o que essa árvore
representa. É realmente um
fluminense. Possui mais de
65 mil hectares e se estende
por partes dos municípios de
Teresópolis, Guapimirim,
Nova Friburgo, Cachoeiras
de Macacu e Silva Jardim.
Aentrada e o estaciona-
mento são gratuitos e é reco-
mendável a visitação acompa-
nhada de um guia de turismo
ou condutor de trilhas. Mais
detalhes podem ser obtidos
no Centro de Informações
Turísticas de Cachoeiras de
Macacu ou pelo telefone
(21) 2649-6847.
INÊS249
32 | Rio Domingo 10.3.2024 | OGLOBO

Tempo
TEMPERATURA SOL E LUA Nasc. 5H52 Cheia Ming. Nova Cresc.
> 40º 37º/40º 33º/36º 29º/32º 12º/14º
25º/28º 20º/24º 16º/19º 12º/15º < 12º Poente 18H13 25/03 08/03 10/03 17/03

PREVISÃO Sol Nublado Nublado Pancadas Nublado Chuvas e Geada MARÉ Hora BAIXA 0h41m 5h51m BAIXA 13h03m 18h43m
parcialm. de chuva c/ chuvas trovoadas Altura 0,5m ALTA 1,1m 0,3m ALTA 1,1m

29°
Macapá Fortaleza
BRASIL RIO Porciúncula
20° Previsão
ZONA
SUL
ZONA
NORTE
ZONA
OESTE
SENSAÇÃO
TÉRMICA/RIO
PROBABILIDADE
DE CHUVA
Boa Vista 25°/ 30° 24°/ 32° Chuva diminui no Sul e Domingo de sol, temperaturas Bom Jesus do 30°
26°/ 37° Natal
temporais continuam no elevadas e umidade, ainda Itabapoana 21° HOJE 26°/33° 25°/35° 25°/35° 25°/35° Alta
São Luís 26°/ 31°
Belém Sudeste; dia quente em MG, provocando pancadas típicas 32°
AMANHÃ 26°/30° 25°/32° 25°/32° 24°/33° Alta
Manaus 25°/ 29° João Itaperuna NORTE São Francisco 31°
26°/ 30°
24°/ 29° SP, RJ, MS e GO, com de verão em todas as regiões. 21°
de Itabapoana 23°
Pessoa Santo Antônio 31° TERÇA 25°/31° 24°/33° 24°/33° 25°/33° Alta
26°/ 33° pancadas fortes de verão. Chove forte em forma de de Pádua 21°
Porto Velho
25°/ 33°
Teresina Recife Alerta no AM, PA, MA, PI e CE; temporais na Serra. Capital 32° São João 31° QUARTA 23°/33° 22°/35° 22°/35° 23°/36° Baixa
25°/ 32° risco de temporais. com atenção. São Fidélis 32° da Barra 22°
27°/ 32° 22° Campos
Rio Branco Palmas Maceió
23° QUINTA 26°/32° 25°/34° 25°/34° 26°/35° Alta
24°/ 33° Santa Maria 28°
24°/ 31° 25°/ 33°
31° Paraíba SERRANA Madalena 20° SEXTA 27°/33° 26°/35° 26°/35° 27°/36° Baixa
Brasília Salvador Aracaju 23° do Sul Nova 24°
Cuiabá Friburgo 18°
25°/ 33° 20°/ 29° 26°/ 34° 26°/ 32° 26° Visconde 30°
28°
Teresópolis
SÁBADO 27°/33° 26°/35° 26°/35° 27°/35° Baixa
Valença 32°
Vitória 16° de Mauá 20° Casimiro 34° Macaé
Campo Grande 21° 23°
24°/ 32° 31° Volta de Abreu 23°
22°/ 31° 31° 21° Redonda Barra 33° Cachoeiras Rio das 32°
Belo Horizonte Resende Petrópolis de Macacu
21° do Piraí 22° Ostras 23°
21°/ 30° 31° Barra 27° 32° Silva Jardim
Goiânia
21° Mansa 35° Duque 19° 33° 31° Praias - Impróprias: Ondas - Ondas: 1,0 metro. Ventos - Vento: Rajadas
21°/ 30° Rio de Janeiro SUL 21° Búzios
25°/ 35° 27° de Caxias LAGOS 24° 22° Arpoador, Botafogo, Ondulação de sul. Melhores variando de 51 a 70 km/h.
33°
34° Araruama
31° Flamengo, Leblon, São locais: Arpoador, Macumba
São Paulo Mangaratiba 35° Rio de 23° Cabo Frio
23°
25°
Janeiro Niterói
Maricá Saquarema 22° Conrado e Vidigal. e Prainha.
22°/ 29° Angra 33°
34° 33° 32°
dos Reis METROPOLITANA 27°
Porto Alegre Florianópolis Curitiba 23° 23° 23° informações: Inea informações: Ricosurf
33°
21°/ 29° 22°/ 30° 20°/ 29° Paraty
22°

Equipamentos culturais
FOTOS DE LUÍS ALVARENGA/DIVULGAÇÃO

passam por ‘banho de loja’

para receber o público
Teatros João Caetano e Arthur Azevedo, entre outros, estão em
obras; investimento do governo do estado é de R$ 12,7 milhões

CARMÉLIO DIAS
carmelio.dias@oglobo.com.br
não é apenas sobre preservar o ção de energia solar. A tecno-
patrimônio histórico e artísti- logia será adotada também
-
co, é sobre abrir novas portas na Sala Cecília Meireles, que

A frase é gasta, mas segue

eficaz na sua função ori-
ginal de motivar quem habita
para a cultura, sempre olhan-
do para o futuro —diz Jackson
Emeric, presidente da Funda-
já passou por obras de imper-
meabilização da laje. As in-
tervenções ali serão feitas em
o nem sempre glamouroso ção Anita Mantuano de Artes quatro etapas e incluem, a João Caetano. O teatro mais antigo do Rio vai receber R$ 4,6 milhões: novo sistema de climatização está entre as melhorias
mundo dos espetáculos: o (Funarj), entidade vinculada à exemplo do João Caetano, a
show tem que continuar. A Secretaria estadual de Cultura manutenção no sistema de Arthur
Azevedo.
questão é que para que o eEconomia Criativa. ar-condicionado. O espaço, que
show continue quase sempre Por sua grandiosidade —de Em Campo Grande, na fica em
é preciso que haja um palco. longe o maior entre os tea- Zona Oeste, o Teatro Arthur Campo
Grande, na
E, para que haja palco, é ne- tros reformados, com 1.139 Azevedo passará por refor- Zona Oeste,
cessário que toda uma estru- lugares — e seu valor históri- ma bem mais ampla. O pla- será
transformado
tura, normalmente escondi- co, o João Caetano é apresen- nejado é ampliar a capacida- em centro
da dos olhos do público, este- tado como a estrela do pro- de para 350 lugares, cem a cultural
ja em condições de funcionar grama. Inaugurado em 12 de mais que a lotação atual. O
adequadamente. Nem sem- outubro de 1813, com a pre- local ganhará ainda outras
pre é assim. Palco histórico sença de Dom João VI na pla- instalações, sendo transfor-
do Rio —o mais antigo deles, teia, o teatro teve sua história mado em centro cultural.
com 210 anos completados marcada por três incêndios Pelas redes sociais do Tea-
em outubro do ano passado ao longo do século XIX. tro Armando Gonzaga, em
—, o Teatro João Caetano fe- Marechal Hermes, na Zona
chou as portas em dezembro TUDO NOVO NO GLAUCIO GILL Norte, dá para acompanhar
para que fosse iniciada a pri- A ideia é que toda a parte um pouco das obras que têm
meira grande manutenção elétrica seja substituída e sido feitas no local. Na publi-
em suas instalações elétricas modernizada. O teatro ga- cação mais recente, da últi-
desde a década de 1970. nhará ainda um novo sistema ma segunda-feira, é possível
A iniciativa faz parte do de climatização. O antigo vi- ver operários trabalhando no rá novo letreiro. anta preparar um teatro De acordo com o governo
programa Acelera Funarj, do nha há tempos funcionando piso da plateia após a retirada Para o ator Hugo Gross, desses só para receber gran- do estado, até o fim do ano os
governo do estado, que prevê com apenas 20% de sua capa- das 205 cadeiras, que serão presidente do Sindicato dos des nomes, grandes espetá- recursos destinados ao Ace-
obras em oito equipamentos cidade. Ao todo, serão inves- substituídas: “A todo vapor! Artistas e Técnicos em Es- culos — pondera Gross. lera Funarj podem mais que
culturais e investimento ini- tidos R$ 4,6 milhões na casa Estão assim as obras no nosso petáculos de Diversões do O ator ressalta ainda a im- dobrar, chegando aos R$ 26
cial de R$ 12,7 milhões. de espetáculos. TAG! Aguardem o Armando Rio (Sated-RJ), as obras são portância de recuperar o João milhões. Por causa das refor-
Além do João Caetano, pas- —A gente vinha operando Gonzaga novinho e tradicio- bem-vindas, mas ele faz al- Caetano e de garantir ao pú- mas, os teatros Arthur Aze-
sarão por algum tipo de inter- com todo cuidado, e, por isso, nal”, diz o texto que acompa- gumas observações: blico e aos profissionais a se- vedo, Armando Gonzaga,
venção este ano os teatros muitas vezes nem conseguia nha a imagem. O teatro tem — Obra, tanto interna, gurança necessária para fre- Glaucio Gill e João Caetano
Glaucio Gill, em Copacaba- atender a algumas moderni- projeto do arquiteto moder- quanto externa, é muito quentar os espetáculos. ficarão fechados temporaria-
na; Arthur Azevedo, em dades cênicas, justamente nista Affonso Eduardo Reidy bem-vinda. Só não posso — É um teatro ímpar, faz mente. Não há ainda previ-
Campo Grande; e Armando para evitar riscos. A partir (1909-1964). mensurar esses R$ 12 mi- uma grande diferença no são de quando os espetáculos
Gonzaga, em Marechal Her- dessa obra, se abre mais esse No Glaucio Gill será in- lhões, que é muito dinheiro. Rio de Janeiro. Eu adoro o serão retomados.
mes. A Sala Cecília Meireles, leque para a possibilidade de vestido R$ 1,7 milhão. O tea- Será que vai ser gasto isso? João Caetano, mas está en- — Essas iniciativas asse-
na Lapa; a Casa da Marquesa receber mais projetos e espe- tro ganhará nova bilheteria Não adianta deixar o teatro tregue às baratas. Espero guram que o legado e a cena
de Santos, em São Cristóvão; táculos — aposta Marcos e passará por alterações no pronto, tem que aproveitá- que também tenha seguran- artística fluminense conti-
e os museus do Ingá e Antô- Edom, diretor do teatro. mezanino e nos camarins. lo. Voltar com cursos dentro ça, né? A categoria, além de nuem a prosperar, benefici-
nio Parreiras, em Niterói, O projeto para o teatro in- As cadeiras serão trocadas, a dos teatros, abrir para a peri- fazer espetáculo, quer que ando gerações presentes e
também entraram no pacote. clui ainda a instalação, no te- mesa de som passará por feria, para as pessoas que realmente possa ir e voltar futuras — avalia o governa-
—O projeto Acelera Funarj lhado, de painéis para capta- manutenção, e a casa ganha- não têm condições. Não adi- com segurança — afirma. dor Cláudio Castro.

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INÊS249
OGLOBO | Domingo 10.3.2024 Rio | 33

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Paris nos relembra do exalta e as teorias vencerão

Lava-Jato
Carlos Alberto Sardenberg foi
cirúrgico em seu artigo sobre a
Lava-Jato (“Uma bandeira a
reerguer: a anticorrupção”, 9 de
março). Sim, o tiro de
misericórdia na Lava-Jato foi
dado à queima-roupa, com
prazer e à luz do dia por
Bolsonaro, que transformou o
então “herói nacional” Sergio
Moro em funcionário, vassalo de
luxo como ministro da Justiça.
Bolsonaro foi a criptonita do
combate à corrupção, em
benefício próprio e da família. O
que Lula e o PT tentaram
lutando durante anos (derrubar
Moro), Bolsonaro comprou com
algumas linhas do Diário Oficial
que transformaram Batman
num melancólico e anêmico
Robin. Humilhado, defenestrado
da Esplanada, o símbolo da
Lava-Jato que estava mesmo
limpando o país tornou-se um
pífio senador candidatíssimo à
perda do mandato. Bolsonaro
e Lula brindam a escorregada
infame do ex-juiz que poderia
ter sido capa da História, mas
preferiu uma nota de rodapé na
última página.
ANTONIO FARIAS
NITERÓI, RJ
_
Nada como consultar a História.
A operação Mãos Limpas, da
Itália, já havia sinalizado e
aconteceu. A Operação
Lava-Jato foi sendo comida
pelas beiradas como mingau. De
passo em passo anistiaram réus
confessos, e com simples
canetadas acabaram com as
devoluções milionárias de gaita
surrupiada aos cofres públicos.
Pelo andar da carruagem, é fácil
prever que o atual inelegível vai
acabar sendo elegível. E ainda
de quebra ganhou um excelente
garoto-propaganda eleitoral,
que cada vez que abre a boca
consegue mais milhares de
votos para ele. Pobres coitados
dos brasileiros.
VICTOR KOIFMAN
RIO
Isentão
Aleluia, não estou sozinho.
Como liberal que sempre fui,
venho sendo taxado de isentão
pela direita radical e às vezes
de comunista, além de ser
classificado de fascista ou de
capitalista mercenário pelos
radicais de esquerda. Eduardo
Affonso me tirou da solidão
ideológica em que hábito com
sua coluna (“O liberal, esse
desconhecido”, 9 de março), a
quem agradeço de joelhos.
Cheguei a achar que era o único
sobrevivente pensante da era
que será um dia classificada
como período antidemocrático
polarizado radical.
CARLOS FERNANDO C. MOTTA
PETRÓPOLIS, RJ
Isentões
Ao artigo de Vera Magalhães
(“Lula está com um foco, e o
povo com outro”, 8 de março),
acrescento o seguinte:
Bolsonaro perdeu as eleições
por uma fração de votos, e
quem deu a vitória a Lula, os
chamados isentões, são
pessoas que detestam tanto
um quanto o outro, que não se
deixam levar por encantos dos
corruptos e que merecem até
uma pesquisa, pois o fizeram
porque se decepcionaram com
o ex-presidente por sua
boçalidade enquanto homem,
por suas rachadinhas, por
colocar coleira nas instituições
para defender seus parentes e
amigos de irem para a cadeia.
Enfim, sem querer ofender,
Bolsonaro perdeu as eleições
porque não teve tutano.
WILTON RIBEIRO GOMES
MARICÁ, RJ
Aborto
Tenho filhas e netas, e em nome
delas e no meu próprio: muito
obrigado por sua crônica, Ruth de
Aquino (“A favor do aborto”, 8 de
março). O voto na Assembleia de
protagonismo civilizatório da
França. Triste ver que no Brasil,
por razões sórdidas, caminhamos
no sentido contrário.
MARCUS DE ALBUQUERQUE MELLO
RIO
_
A jornalista Ruth de Aquino diz
que a mulher tem o direito de
abortar. Não é bem assim! Ela
tem sim, o livre-arbítrio. Mas terá
que prestar contas à sua
consciência. A partir do
momento da concepção, há vida!
Um ser começa a se formar. A
religião sobre esta discussão não
pune, não castiga nem condena.
Mas alerta, e orienta. Praticar o
aborto é crime!
WILSON LONGOBUCCO
RIO
_
Coluna impecável. Mon corps,
mon choix. E vive la France.
Enquanto isso, no Brasil,
vivemos um paradoxo. Por uma
questão eleitoral, um governo
de centro-esquerda adota
políticas de direita, isentando
impostos de igrejas (leia-se
evangélicos) e posicionando-se
contra a descriminalização do
aborto. Sauve qui peut.
OTAVIO MONTEIRO
RIO
IA sem dono
Com relação à inteligência
artificial, acredito que o
presidente Lula está mal
assessorado. A IA não tem dono,
não pertence aos Estados
Unidos nem a ninguém. Ela está
aberta a quem quiser e souber
utilizá-la. A produção de IA
envolve matemáticos, físicos,
engenheiros de computação,
programadores de software e
áreas afins. Portanto,
presidente Lula, se quiser que o
Brasil seja protagonista nessa
área, invista em cérebros e em
educação, e não em patriotadas
tipo “o petróleo é nosso”.
ARTUR MENDES
CAMPINAS, SP
Ditaduras
Ao ler o título da reportagem
“Lula critica oposição a
Maduro” (7 de março), eu ri,
mas de indignação. Como uma
pessoa que tenta se intitular
democrata defende esse
ditador da pior espécie, só por
ele ser de um regime de
esquerda? A esquerda não tem
ditadura, só a direita, na
concepção deturpada dele e de
seus assessores em diplomacia
que, em sua miopia, não
enxergam que qualquer regime
que cerceia opositores e não
permite a alternância é
prejudicial.
JOSÉ CARLOS LUZ BERNARDO
RIO
_
Desconfio que a cadeira da
Presidência da República tem
que ser urgentemente trocada.
Nos últimos tempos, todos que
nela se sentaram fizeram
declarações surreais. Uma
ocupante sugeriu na ONU
estocar o vento; outro se
posicionou contra a vacinação e
a democracia; o atual ocupante
defende ou não se posiciona em
relação a ditaduras se elas
forem amigas, como Rússia,
Cuba, Nicarágua e Venezuela,
países que têm em comum a
forte crítica ao imperialismo
americano, bem como a
supressão das liberdades
democráticas da população.
Mas, pelo jeito, para ele isso é
irrelevante em relação ao
primeiro critério.
JOSÉ LERER
RIO
Atropelos
Parece que o presidente
desconsidera os mais óbvios
sinais e avisos e acredita que a
experiência política o livrará
das consequências de falar
bobagens (Israel e Hamas), que
o tempo vai dar conta de
consertar as arbitrariedades
cometidas por ditadores que
pelo cansaço. Quando o autor
dessas bobagens é experiente,
com tanto tempo na lida
política, espera-se que reflexão
e o bom senso liguem o alerta e
diminuam os desatinos, a não
ser que existam problemas
cognitivos e que as ações
possam atender aos anseios da
audiência, solucione os
problemas pendentes e não
crie novos atropelos.
LUIZ SERGIO CARDOSO
RIO
_
Já estamos precisando de um
estudo que nos revele o porquê
de Lula estar dando tantos tiros
no pé. Autossabotagem?
Identificação com o agressor?
Falta de autocrítica, ao se
imaginar um líder de influência
mundial? Falando demais,
conseguiu de uma só tacada
colocar os judeus e os
evangélicos contra ele. Para não
falar do governo de Israel, que o
declarou persona non grata. Só
falta agora alguém mandar que
ele se cale para o vexame ser
completo.
MARIÚZA PERALVA
NITERÓI, RJ
Mônaco é aqui
Quero parabenizar o leitor
Euzébio Simões Torres que
colocou na sua carta de hoje
(ontem), “Mônaco é aqui”, um
assunto que venho falando há
muito tempo: por que não
liberam o jogo e terminam de
vez essa hipocrisia. É sabido
que aqui tem “500.000” jogos
de todas as espécies, até o
cassino clandestino. Imaginem
a quantidade de empregos que
com os cassinos funcionando
legalmente iria nos
proporcionar, além da
quantidade de impostos que
iriam entrar para o governo.
Ah… a hotelaria, os taxistas, os
restaurantes e muitos outros
setores agradeceriam.
JOSÉ LUIZ OROFINO COSTA
RIO
Guarda Municipal
Para que serve a Guarda
Municipal do Rio? Cena 1:
quatro guardas municipais
batem ponto na esquina das
ruas São Clemente e Barão de
Lucena, em Botafogo. Um
conversa com um camelô (!),
outro no celular dentro do
carro curtindo uma fresca, e
outros dois batem um papo
animado, só interrompido
para olharem as meninas que
passam. À sua volta, o caos.
Motociclistas, ciclistas,
motoristas e pedestres
cometem toda a sorte de
delitos e barbaridades. Cena
2: esquina das ruas Ministro
Raul Machado e Mário Ribeiro,
na Gávea. Trânsito infernal.
Carros fechando o
cruzamento, motos
avançando o sinal e
ambulantes vendendo balas.
Dois representantes da GM
limitavam-se a soprar
alucinadamente os
respectivos apitos e a
gesticular quando os sinais
abriam ou fechavam. Nossa
GM é um imenso
ralo para onde escoam a
incompetência e o nosso
suado pixulé.
MURILO SANCHES RODRIGUES
RIO
Violência
Se fizermos a conta das
pessoas presas no Rio
diariamente, sob os mais
variados motivos, maiores e
menores de idade, veremos o
seguinte: as vagas nas
delegacias e presídios não
dariam conta das detenções
mensais. Daí vem que a maioria
é logo solta. E volta a praticar os
mesmos crimes. Existe uma
estatística oficial que informe
quantos foram presos e
quantos foram soltos num
determinado mês, e destes
quantos foram reincidentes?
LUIZ TORRES COSTA FILHO
RIO

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Sabores do Japão, da Conhecimento para Noite ao som do groove

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e ganhe
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Marina da Glória, o
Kitchen Asian Food é
dedicado aos apaixona-
dos pela culinária asiáti-
ca, bem como a quem
quer descobrir as recei-
tas do continente em
refeições saborosas à
beira do mar. O restau-
rante, que é parceiro
do Clube, tem cardápio
inspirado em pratos
DIVULGAÇÃO
tradicionais de Ja-
pão, China e Tailân-
dia, com opções frias
e quentes prepara-
das respectivamente
pelos chefs Nao Hara
e Pierre Landry. Na
compra de um prato
principal (cozinha
quente ou combina-
do), assinante e
dependentes ga-
nham um drink
ou uma sobremesa
como cortesia. Confi-
ra os detalhes da
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Estados Unidos (Ibeu)
atua há mais de 85 anos
na formação de cidadãos
bilíngues. No Rio, é o único
curso que possui certifica-
ção oficial americana para
oensino de inglês. Assi-
nante O GLOBO se matri-
cula nas aulas com benefí-
cios exclusivo nas filiais
da Ilha do Governador,
Campo Grande, Freguesia,
no ‘sextou’ da Lapa
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Méier e Nova América,
oClube tem 40% OFF
nas mensalidades —
bem como na modali-
dade Ibeu@home,
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Tijuca (Maria Amália
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em nosso site. do conjunto, também
DIVULGAÇÃO
se apresentam
Na próxima sexta- BNegão & Os Seleto-
feira, o Circo Voador, na res de Frequência, Aberta oficialmente dia 4 de março, a ponte que
Lapa, recebe sob sua que estão encerran- liga Rio e Niterói virou atração turística, e a
lona uma sequência de do a turnê de dez previsão é de que 45 mil veículos tenham passado
atrações aguardadas anos do álbum “Sin- por ela no sábado. Dezenas de motoristas
pelo público carioca toniza Lá”. Assinante pararam seus carros na pista para apreciar a
que gosta de ouvir músi- O GLOBO compra paisagem e tirar fotos, o que é perigoso e proibido.
cas do gênero groove. ingressos pela metade A Polícia Rodoviária precisou intervir 56 vezes,
A noite contará com um do preço para o even- aplicando multas e rebocando carros.
show do grupo Bixiga to. As vendas anteci- Durante visita ao Guandu, o secretário de Obras,
70, que vai compartilhar padas já começaram. Emílio Ibrahim, afirmou que “a Guanabara estará
com o público, pela Acesse o site do Clube inundada de água dentro de nove meses”, ao fim das
primeira vez ao vivo, e confira os detalhes. obras no sistema de abastecimento da cidade.
INÊS249
34 | Domingo 10.3.2024 | OGLOBO

FUTEBOL ESPANHOL PARA

Esportes
ACESSAR

Ancelotti sai em defesa de Vini Jr APONTE

O CELULAR
PARA
NA WEB ‘Nunca vi jogador tão perseguido’, diz técnico do Real Madrid sobre brasileiro O QR CODE

MARCELO tigas práticas esportivas) ou vôlei e basque-

te (ambos criados no fim do século XIX, por
BARRETO encomenda a professores da Associação
Cristã de Moços). Algumas mudanças im-
portantes se perderam no tempo, caso da
invenção do travessão — os primeiros árbi-
tros eram obrigados a decidir no olho se um
esporteglb@oglobo.com.br chute tinha passado por cima das traves, co-
mo se faz nas peladas em que dois chinelos
fazem a marcação do gol. Outras, mais re-
Rivalidade centes, ainda têm seus efeitos visíveis, e a
mais impactante delas nos levará ao tema
Perto do nosso goleiro ficam um ou dois,
para fazer a bola cruzar o campo do jeito
mais rápido, um lançamento longo. A estra-
tégia, além da lacuna óbvia (não sofrer gols
também importa no placar final), esbarrava
na lei do impedimento — que já constava
das regras originais. Em resposta a esses
problemas, surgiram o passe, invenção atri-
buída aos escoceses, e o meio de campo, res-
ponsável pela ligação
O tiki taka de
Guardiola e o
entre defesa e ataque e
pelos números triplos
ram conceitos fundamentais do jogo. O
espanhol, que veio primeiro, levou ao ex-
tremo a ideia de que a melhor defesa é o
ataque: muito além de um bonito sistema
de passes curtos e rápidos, seu tiki taka se
baseava na ideia de que, enquanto um ti-
me está com a bola, a chance de sofrer um
gol é mínima. Só não é zero porque ela po-
de ser perdida — e é aí que entra o alemão,
com sua constatação de que um desarme
perto da área adversária pode criar mais
chances de gol que seu melhor camisa 10.

genial
desta coluna: a proibição de o goleiro apa- pressing de que passaram a definir Foram as duas melhores respostas moder-
nhar com as mãos uma bola atrasada com os Klopp são os esquemas: 4-2-4, 4- nas aos efeitos colaterais da inversão da pi-
pés por um companheiro de equipe está in- as melhores 3-3, 4-4-2. râmide, e só se tornaram possíveis porque a
timamente ligada ao sucesso de Pep Guar- respostas do Já simplifiquei de- regra mudou: com a limitação dos recuos,
diola e Jürgen Klopp, que se enfrentam hoje futebol moderno mais até aqui para co- correr riscos tornou-se praticamente obri-

N ão é fácil mudar o futebol. O esporte

mais popular do mundo tem na simpli-
cidade uma das chaves de seu sucesso, e pas-
sou por menos modificações estruturais
nos 161 anos desde que suas regras foram es-
tabelecidas do que outras modalidades
bem-sucedidas, como futebol americano e
beisebol (que também são evoluções de an-
num jogo decisivo e com cara de despedida.
Em “A pirâmide invertida”, um dos livros
mais influentes sobre a história do futebol,
Jonathan Wilson mostra como a disposição
tática das equipes foi migrando do ataque
para a defesa. No começo, os jogadores se-
guiam a lógica das crianças: se o objetivo é
fazer gol, vamos para a área do adversário.
à inversão
da pirâmide
meter a imprudência
de dizer que pouco
mudou desde então. A
gatório. Hoje, ou o seu time sabe o que fazer
com a bola, como os de Guardiola, ou vai
perdê-la para quem o pressiona perto de sua
Hungria de 54, o Brasil tricampeão mun- área, como os de Klopp. Como torcedor do
dial, a Holanda do futebol total são apenas Arsenal, espero que exista uma terceira via.
alguns dos exemplos de grandes revolu- Como fã de futebol, espero que o Liverpool
ções no jeito de jogar. Mas Guardiola e x Manchester City de hoje não seja o último
Klopp, mais do que a pirâmide, inverte- confronto entre os dois.

O duelo final OS NÚMEROS DA RIVALIDADE

Jogos

entre Klopp e
29
Vitórias de Klopp Empates Vitórias de Guardiola
11 8 10

Guardiola pela Times de Klopp

44
GOLS Times de Guardiola
49

Premier League
ELEITO MELHOR DO MUNDO
Klopp Guardiola
2 2019 2020 2011 2023 2
EM LIVERPOOL X MANCHESTER CITY (INGLATERRA)
Jogos
Após quase dez anos de protagonismo 21
na Inglaterra, treinadores têm último Vitórias de Klopp Empates Vitórias de Guardiola
encontro, em meio à busca pelo título 8 7 6
Times de Klopp GOLS Times de Guardiola
33 38
DAVI FERREIRA
davi.ferreira@oglobo.com.br
jeito carismático e físico de EM BORUSSIA DORTMUND X BAYERN DE MUNIQUE (ALEMANHA)
-
trabalhar os jogadores, sem- Jogos
pre fica perto dos títulos. Se
8
J ürgen Klopp desembar- não tivesse um (rival) tão es-
cou em Liverpool em ou- petacular do outro lado,
tubro de 2015, com a missão conquistaria muito mais. Vitórias Empates Vitórias de
de resgatar do marasmo um
de Klopp 1 Guardiola

dos maiores clubes da Ingla- OUTRO NÍVEL DE COMPETIÇÃO 3 4

Times de Klopp GOLS Times de Guardiola
terra. Em julho do ano se- Sem se preocupar em ser
guinte, Pep Guardiola, seu uma antítese a Pep, o ale-
11 11
adversário desde a época de mão se firmou como um dos
Borussia Dortmund, foi do melhores do planeta. E am-
Bayern de Munique para o bos usaram seus enfrenta-
Manchester City, fazendo mentos para proporcionar
com que os dois consolidas- futebol de outro nível, algo
sem uma das maiores rivali- exemplificado pelas duas
dades entre treinadores na temporadas nas quais o City
história do futebol. Quase venceu o Campeonato In-
dez anos depois, a decisão glês por um ponto, em
do alemão de deixar os Reds 2018/19 (98 a 97) e 2021/22
ao fim da temporada, pro- (93 a 92), fazendo do Liver-
metendo nunca mais dirigir pool um segundo colocado
outro time no país, dá o tom recordista de desempenho.
de melancolia e apreciação Quando este triunfou, na
ao 30º confronto entre eles, temporada 2019/20, Klopp
o último na Premier League, superou Pep por margem de
às 12h45 de hoje, direto de 18 pontos: 99 a 81.
Anfield Road, com trans- Apesar da disputa quente,
missão da ESPN. os dois nunca levaram a ri-
Adeptos de correntes dife- validade para além dos gra-
rentes e que, por vezes, pa- mados. Diante dos resulta-
recem paralelas, eles foram dos sempre imprevisíveis, EDITORIA DE ARTE

os protagonistas das últimas reagiam à sua maneira e

seis temporadas do Campe- buscavam voltar melhores principal adversário nestes — Wenger e Ferguson ti- elenco promovida por seu
onato Inglês — com bem jogo após jogo, comporta- anos. E, pessoalmente, ele é nham uma hostilidade muito treinador. Só que o último
mais títulos para os City- mento observado de perto meu maior rival. Vou sentir grande. No caso de Klopp e confronto entre Klopp e Pep
zens (5 a 1). Além disso, vi- pela jornalista Natalie Ge- “Não existe hostilidade, falta. Admito que também Guardiola, não existe hostili- na Premier League — eles
veram confrontos memorá- dra, que os cobre na Europa. nem herói e vilão” vou dormir um pouco me- dade, nem herói e vilão. Foi ainda podem duelar na final
veis na Champions (2017/
18) e nas copas do país.
— Eles se conhecem mui-
to bem e entendem o que o
_ lhor — brincou o catalão. muito bom para o futebol e
para a liga. Teve espaço para
da Copa da Inglaterra —não
é tratado como uma “final
Natalie Gedra,
Se o catalão é tratado co- outro vai fazer. Esse con- RIVALIDADE QUASE ÚNICA os dois deixarem um impac- antecipada”, pois o Arsenal
repórter da Sky Sports
mo maior técnico de todos fronto é a cara das ideias de- Não é simples encontrar um to eterno —observa Gedra. surge de vez como candida-
os tempos, ele vê em Klopp les. O heavy metal do Klopp enfrentamento similar na — Liverpool e Manches- to ao título inglês, dando si-
um dos únicos dois oponen- e o tempo e a pausa do Pep. “Vou sentir falta. História. Guardiola viveu ter City não eram rivais. O nais da nova era que pode se
tes contra quem amarga re- Foi muito legal ver o quanto Admito que também um pouco disso com José City se tornou gigante por estabelecer após a partida
trospecto negativo, num le- um empurrou o outro — vou dormir melhor” Mourinho, na época de Bar- causa do Guardiola. Já o Li- de Jürgen Klopp.
vantamento que considera conta a repórter da Sky
amostragens de ao menos Sports. — Tive a satisfação
_ celona x Real Madrid, mas
dizia mais respeito à perso-
verpool se reencontrou com
sua história por causa do
Ontem, o time comanda-
do por Mikel Arteta buscou
cinco duelos. O outro é o ita- de falar com eles após vários Pep Guardiola, nalidade confrontadora do Klopp. Os dois criaram uma a virada sobre o Brentford,
liano Antonio Conte. confrontos. Já vi Guardiola técnico do Manchester City português e à oposição de nova realidade no futebol por 2 a 1, em Londres, e assu-
— Klopp representa a es- feliz, monossilábico… Já vi estilos entre eles. No terri- inglês — completa Marra. miu a liderança provisória
cola alemã e foi desenvol- Klopp resignado, eufórico, tório inglês, é preciso voltar Após um 2022/23 desas- da Premier League (64 pon-
vendo sua forma de pensar. analítico, ao mesmo tempo dela, como declarou o “sur- aos tempos de Alex Fergu- troso para o Liverpool, na tos). Os gols foram marca-
Já Guardiola, sendo ele mes- feliz… São dois obcecados preso” Pep após o anúncio son (Manchester United) e temporada em que o City dos por Rice e Havertz. Com
mo, é professor de 50% da por estudar futebol. do adeus do oponente. Arsène Wenger (Arsenal) conquistou a tríplice coroa, 63 e 62, respectivamente,
Premier League — analisa Uma relação tão intensa — Sinto que, com a ida de- na virada do século, ou mes- a equipe voltou ao posto de Liverpool e City podem
Mário Marra, comentarista despertará certo vazio em le, parte de nós também se mo aos de Brian Clough e concorrente, graças à sur- agarrar o topo da tabela após
da ESPN. — Klopp, com seu quem também se alimenta vai. O Liverpool é o nosso Don Revie, nos anos 1970. preendente repaginação de o duelo especial de hoje.
INÊS249
OGLOBO | Domingo 10.3.2024
Vasco tenta voltar à final do Carioca após 5 anos
Cruz-maltino não decide o campeonato desde 2019, quando perdeu para o Flamengo. De lá para cá, viveu várias
crises e soube sair delas. Hoje, faz a primeira semi, contra o Nova Iguaçu, em um cenário bem mais animador
VITOR SETA
vitor.seta@extra.inf.br
C ampeão estadual em 24
oportunidades, o Vasco
não sabe o que é decidir o
Campeonato Carioca desde
2019. São cinco anos de al-
tos, baixos e problemas no
futebol que tornaram o in-
sucesso local um fato até pe-
queno diante do panorama
geral. Mas a situação, que
agora é completamente di-
ferente no cruz-maltino,
pode seguir mudando a par-
tir de hoje: com mais de 60
mil ingressos vendidos, o
Vasco enfrenta o Nova Igua-
çu, às 18h30, no primeiro
jogo da semifinal, no Mara-
canã, em meio a uma dose
significativa de otimismo.
Segundo colocado na Taça
Guanabara e vivendo uma
das melhores temporadas
de sua história, o Laranjão
da Baixada tem a vantagem
do empate e venceu o Vasco
(2 a 0) no primeiro encon-
tro entre as equipes —único
revés cruz-maltino no Esta-
dual. Mas deve enfrentar
um cenário duríssimo hoje.
O Vasco vem de um susto
na Copa do Brasil, num jogo
em que chegou a levar a vira-
da do Água Santa-SP, empa-
tou e arrastou a decisão para
a disputa de pênaltis. O au-
xiliar técnico Emiliano Díaz
já avisou que essa não pode
ser a regra na equipe.
Com foco na Libertadores,
Botafogo encara o Sampaio
Alvinegro entra em campo hoje, pela Taça Rio, com time quase todo reserva
BRENO ANGRISANI
breno.santos@oglobo.com.br
-
A ntes de decidir a vida na
Libertadores, diante do
Bragantino, nesta quarta-
feira, o Botafogo tem pela
frente outro desafio do
Campeonato Estadual. O ti-
me treinado interinamente
por Fábio Matias encara o
Sampaio Corrêa, hoje, no
Verstappen vence e chega a 100 pódios na carreira
Holandês da RBR conquista o GP da Arábia Saudita, seu segundo na temporada; Pérez e Leclerc vêm logo atrás
RIAD
-
A temporada da Fórmula 1
mudou, mas os resulta-
dos são praticamente os
mesmos. Após vencer com
tranquilidade o GP do Bah-
rein, na semana passada,
Max Verstappen repetiu a
dose e ganhou sem sustos o
Grande Prêmio da Arábia
Saudita, ontem. Com o re-
sultado, o piloto da Red Bull
chegou à incrível marca de
56 vitórias na F1 e ao seu
100° pódio da carreira.
— No geral, foi um fim de
semana fantástico para a
equipe inteira e para mim.
Me sinto ótimo no carro. As
últimas voltas com os retar-
datários e os pneus gastos
foram um pouco escorrega-
dias, mas conseguimos ge-
renciar com a vantagem.
Idealmente, você não quer
Pai e filho. Emiliano e Ramón Díaz são responsáveis pela transformação do Vasco em um time competitivo, apesar das limitações que persistem no elenco
— Em outro Vasco, com
outra mentalidade, poderí-
amos comemorar. Mas não
gostamos de ganhar assim.
Fizemos muito para ganhar
de outra forma — analisou
na quinta-feira.
Na última vez em que foi à
final do Estadual, o cruz-
maltino vivia um cenário de
fragilidade financeira. Co-
mandada por Alberto Va-
lentim, a equipe tinha como
primeiro jogo da semifinal
da Taça Rio, no Estádio
Elcyr Resende de Mendon-
ça, em Saquarema, às 16h.
Como o principal objetivo
do alvinegro é, evidente-
mente, a vaga na fase de gru-
pos da Libertadores, a equi-
pe vai a campo hoje com um
time alternativo. A exceção
é o lateral-esquerdo Hugo,
que será o único entre os jo-
fazer um stint tão longo com
o pneu, mas nós precisamos
— disse Max Verstappen ao
fim da corrida.
O holandês só não domi-
nou a prova de ponta a ponta
porque perdeu a liderança
para Norris, da McLaren,
depois que um safety car, na
sétima volta, foi acionado
quando Lance Stroll bateu
na barreira macia. Contudo,
a bandeira verde reestabele-
ceu a disputa na décima vol-
ta, e Verstappen recuperou
a primeira posição.
O piloto holandês, que
conquistou o Circuito Cor-
niche de Jidá pela segunda
vez, ficou 13,64 segundos à
frente do seu companheiro
de equipe, Sergio Pérez, que
largou em terceiro, mas ul-
trapassou Charles Leclerc
no começo da corrida. O
mexicano se assegurou na
destaques Maxi López, Yago
Pikachu, Marrony, Fernan-
do Miguel, Bruno César e
Leandro Castan.
Na decisão, encarou um
Flamengo que viveria um
ano de conquistas do Brasi-
leiro e da Libertadores. Não
fez frente e levou 2 a 0 nas
duas partidas da decisão.
Valentim foi demitido logo
após o fim do campeonato.
Naquela temporada, o Vas-
gadores mais utilizados em
2024 a estar em ação, segun-
do o site ge.
A partida, portanto, será a
oportunidade de mostrar
serviço para os jogadores
que não costumam receber
tantas chances, principal-
mente os do setor ofensivo,
que deve ser composto por
Raí, Diego Hernández,
Émerson Urso e Janderson.
_ _
GP DA ARÁBIA SAUDITA
1. Max Verstappen (RBR)
2. Sergio Pérez (RBR)
3. Charles Leclerc (Ferrari)
4. Oscar Piastri (McLaren)
5. Fernando Alonso (Aston Martin)
co chegou a ficar ameaçado
de rebaixamento, mas Van-
derlei Luxemburgo ajudou
o time a engatar uma cam-
panha de recuperação.
Entre 2019 e 2024, o cruz-
maltino esteve por duas ve-
zes na Série B e amargou cri-
ses financeira e estrutural.
No Estadual, ficou fora das
semis em 2020 e 2021 e foi
eliminado pelo rubro-negro
nessa fase em 2022 e 2023.
Oportunidade. Urso deve ser titular no sistema ofensivo alvinegro nesta tarde
Enquanto isso, o provável ti- Atual campeão da Taça
me titular desta quarta ficou Rio, o Botafogo volta a dis-
no Rio para uma atividade putar a competição após fi-
de olho no duelo decisivo. car fora das semifinais do
MUNDIAL DE PILOTOS
1h20min43s273 1. Max Verstappen (RBR)
+13s643 2. Sergio Pérez (RBR)
+18s639 3. Charles Leclerc (Ferrari)
+32s007 4. George Russell (Mercedes)
+35s759 5. Oscar Piastri (McLaren)
LEANDRO AMORIM/VASCO/3-3-2024
Esse “outro Vasco”, como
citou Emiliano, parece ter
ficado para trás. Agora uma
SAF, o clube aliviou as ques-
tões financeiras e ganhou
poder de investimento. Na
comissão técnica liderada
por Ramón Díaz, encontrou
um ponto de virada, não só
técnico e tático, mas com-
petitivo. Mesmo que o elen-
co ainda tenha fragilidades,
a dupla trouxe ao cruz-mal-
VITOR SILVA/BOTAFOGO/29-2-2024
GIUSEPPE CACACE/AFP
Rotina.
Verstappen
volta ao topo
do pódio
na Arábia
Saudita
51 6. Carlos Sainz (Ferrari)
36 7. F. Alonso (Aston Martin)
28 8. Lando Norris (McLaren)
18 9. Lewis Hamilton (Mercedes)
16 10.Oliver Bearman (Ferrari)
Esportes | 35
Vasco
Léo Jardim, João
Nova Iguaçu
Caio Borges,
Victor, Medel e Gabriel Pinheiro,
Léo; Paulo Henri- Maicon, Yan e
que, Zé Gabriel Sergio Raphael;
(Sforza), Galda- Ronald, Xandinho,
mes, Payet e Albert e Bill; Yago
Piton; Adson e Ferreira e Carli-
Vegetti. Técnico: nhos. Técnico:
Ramón Díaz. Carlos Vitor.
Local: Maracanã. Horário: 18h30. Árbitro:
Alex Gomes Stefano. Transmissão: SBT,
Sportv, CazéTV e Rádio Globo/CBN.
tino, nos bastidores e em
campo, a mentalidade ven-
cedora com a qual construí-
ram suas carreiras.
Hoje, não há barreiras pa-
ra dizer que o Vasco entra
nos campeonatos, especial-
mente o Carioca, olhando
para o título. E ciente do tra-
balho que precisa ser feito.
No elenco estão atletas que
já mostraram que sabem li-
dar com o peso de decisões,
como Medel, Vegetti, Payet,
Léo Jardim e Lucas Piton. O
otimismo é bem mais pre-
sente que há cinco anos.
A principal arma do Nova
Iguaçu na semifinal —a me-
lhor campanha de sua histó-
ria — não poderia ser outra:
é o atacante Carlinhos, de
27 anos, que divide a artilha-
ria do Carioca com Pedro,
do Flamengo (oito gols).
S. Corrêa
Leandro, Lucas
Botafogo
Igo Gabriel, Mateo
Carvalho, Índio, Ponte, Bastos,
Thuram e Guilher- Kawan e Hugo;
me; Rodrigo Newton, Kauê e
Dantas, Agú e Raí; Diego Her-
Marcelo; Max, nández e Émerson
Octávio e Rafael Urso e Janderson.
Pernão. Técnico: Técnico: Fábio
Alfredo Sampaio. Matias.
Local: Elcyr Resende de Mendonça (Sa-
quarema). Horário: 16h. Árbitro: André
Rodrigo Rocha. Transmissão: Band,
Bandsports e Canal Goat (YouTube).
Estadual e tem a obrigação
de conquistar o título para
garantir uma vaga na Copa
do Brasil de 2025.
vice-liderança da prova,
mesmo punido em cinco se-
gundos por quase bater com
Fernando Alonso nos boxes
em seu pit stop na volta sete.
Leclerc terminou em ter-
ceiro e conquistou o seu pri-
meiro pódio da temporada.
O monegasco da Ferrari lar-
gou em segundo, foi ultra-
passado por Pérez na quarta
volta, mas conseguiu termi-
nar no top 3, à frente do aus-
traliano Oscar Piastri, com
a melhor volta da corrida.
No pódio no GP do Bah-
rein, na semana passada,
Carlos Sainz ficou fora da
disputa na Arábia Saudita.
O espanhol de 29 anos foi
diagnosticado, na sexta-fei-
ra, com apendicite, passou
por uma cirurgia e se recu-
pera em um hospital de Jidá.
Com isso, ele foi substituído
pelo piloto reserva Oliver
Bearman, de 18 anos, que
fez sua estreia na Fórmula 1,
terminando em sétimo.
15
12
A F1 terá uma semana de
12 descanso antes do GP da
8 Austrália, em Melbourne,
6 entre 22 e 24 de março.
INÊS249
ESPORTES
esporteglb@oglobo.com.br
O HOMEM DO ANO
Xabi Alonso vira alvo de gigantes
antes mesmo de levantar taça
VITOR SETA
vitor.seta@extra.inf.br
-
H á 11 anos o Campeonato
Alemão não vê um ven-
cedor diferente do Bayern
de Munique, maior campe-
ão do país com 32 taças. Mas
isso parece cada vez mais
perto de mudar: a dez roda-
das do fim da temporada, o
Bayer Leverkusen caminha
para uma conquista inédita,
com sete pontos de vanta-
gem sobre o time de Muni-
que, que ontem fez 8 a 1 no
Mainz. E tem um jogo a me-
nos, já que entra em campo
hoje, às 15h30, contra o
Wolfsburg (transmissão da
TV Cultura). O principal
Sem pena
na caça
ao líder
FOTO: LUKAS BARTH/AFP
Ainda na tentativa de
diminuir a distância para o
líder Bayer Leverkusen, o
Bayern de Munique entrou
em campo mais cedo na
rodada e não tomou
conhecimento do Mainz,
ontem. Thomas Müller
(foto) marcou o quarto da
goleada por 8 a 1 sobre o
vice-lanterna do Campeo-
nato Alemão, na Allianz
Arena, em Munique.
A partida teve ainda hat-
trick de Harry Kane e gols
de Goretzka (dois), Musia-
la e Gnabry. Amiri descon-
tou para os visitantes.
Agora a sete pontos de
distância, os bávaros
secam o Leverkusen, que
duela hoje com o Wolfs-
burg. Em jogo, está a
busca pelo 12º título
seguido da Bundesliga.
OGLOBO | Domingo 10.3.2024
responsável pelo feito é um
velho conhecido do futebol
europeu, o ex-volante e ago-
ra técnico Xabi Alonso.
Em campo, não faltou na-
da na carreira do espanhol.
Um dos volantes mais ele-
gantes e habilidosos deste
século, ele acumulou passa-
gens por Liverpool, Real
Madrid e Bayern, além de
grande trajetória pela sele-
ção da Espanha. Ganhou
Copa do Mundo, Eurocopa
(duas), Champions League
(duas) e uma série de títulos
nacionais, incluindo três
Bundesligas com o Bayern.
Na nova função, já começa a
trilhar o caminho para ser
novamente um dos grandes.
E, antes mesmo de estar
matematicamente próximo
de gritar “é campeão” com o
Bayer Leverkusen, o espa-
nhol de 42 anos já é corteja-
do pelo Liverpool. O clube
inglês perderá Jürgen Klopp
ao fim desta temporada e
precisará manter o ritmo
das conquistas. Nada me-
lhor que trazer o ídolo de
volta a Anfield.
Os Reds já enviaram uma
proposta, segundo o jornal
alemão Bild, mas a decisão
só deve ser tomada na reta
final da temporada. Outros
clubes estão atentos ao futu-
ro do treinador, como o pró-
prio Bayern, que definiu a
saída de Thomas Tuchel.
O hype em torno do espa-
nhol tem seus motivos. Nos
Werkself, Xabi desenvolve
um trabalho que passa por
gestão de grupo, proposta
de jogo e precisão no merca-
do de transferências.
Além de líder na Bundes-
liga, o Leverkusen é semifi-
nalista da Copa da Alema-
nha e está nas oitavas da Eu-
ropa League. E acredite se
quiser: tudo isso sem perder
um jogo sequer na tempora-
da. É a única equipe das
principais ligas europeias
que não foi batida. Ainda
venceu 30 das 35 partidas
que disputou na temporada.
Em campo, não há rein-
venção da roda, mas uma or-
ÚLTIMO
CAPÍTULO
O derradeiro Pep
x Klopp no Inglês
PÁGINA 34
BAYER LEVERKUSEN/DIVULGAÇÃO
Animador.
Trabalho no
Leverkusen é
o primeiro de
Xabi Alonso
em uma
equipe
principal
ganização e aplicação de
conceitos altamente efici-
entes. Xabi consolidou um
3-4-2-1 ou 3-4-3 que combi-
na a superioridade numéri-
ca e a criatividade pelo meio
com o jovem Florian Wirtz e
o experiente Jonas Hof-
mann com o avanço dos alas
Frimpong e Grimaldo.
GRANDE LARGADA
Vertical, o time de Xabi
Alonso gosta de ter a bola (é
dono da segunda maior pos-
se média do Alemão, 58%) e
acelerar os ataques, basea-
dos em trocas rápidas de
passe e infiltrações sempre
que possível. Mestre do pas-
se que foi, Xabi tem no suíço
CAMPEONATO
CARIOCA
Um Vasco muito
mais competitivo
PÁGINA 35
Xhaka e no argentino Exe-
quiel Palacios os homens de
confiança no setor central,
que definem os rumos da
construção dos ataques, se
pelos flancos ou pelo meio.
— É um técnico muito es-
pecial, porque sabe como
explicar cada conceito, co-
mo tratar os jogadores, co-
mo cobrar e dar confiança
sem perdê-la em qualquer
momento — elogiou Gri-
maldo em entrevista ao jor-
nalista Fabrizio Romano.
Grimaldo, Xhaka, Hof-
mann e o centroavante ni-
geriano Victor Boniface, ar-
tilheiro da equipe com 16
gols em 23 jogos (atualmen-
te lesionado) foram contra-
tados já com Xabi no co-
mando. O técnico também
ajudou a recuperar e fazer
crescer nomes como os de-
fensores Tah e Tapsoba, ho-
je entre os melhores da liga.
Diante de tudo isso, cabe
lembrar que este é o primeiro
trabalho do espanhol numa
equipe principal. Antes, Xabi
treinara somente o sub-14 do
Real Madrid e o time B da Re-
al Sociedad. Foi o suficiente
para se tornar a aposta de um
desesperado Leverkusen, vi-
ce-lanterna em 2022.
NADA DE PISTAS
O ex-volante evita cravar
um estilo próprio, mas as in-
fluências são muitas: ele
trabalhou com nomes de
peso como Carlo Ancelotti,
Pep Guardiola e José Mouri-
nho ao longo da carreira.
Mas faz diferente dos três.
Em agosto do ano passado,
o espanhol renovou com os
Werkself até junho de 2026.
Mas, apesar da expectativa
da diretoria de ver perma-
necer o treinador que pode
fazer do clube pela primeira
vez campeão da Bundesliga,
será difícil segurar o interes-
se externo, especialmente
se confirmadas uma ou mais
das três taças que disputam.
— Estou desfrutando meu
trabalho, cada dia e cada jo-
go são um desafio. Estamos
aproveitando muito este ca-
minho desafiante e intenso.
Por isso, no momento, não
estou pensando no que vem
depois. Só penso no agora.
Estou num lugar incrível e
me divertindo muito —des-
pistou o treinador na época
do anúncio da saída de
Klopp do Liverpool.
INÊS249
FOTOS DE DIVULGAÇÃO/CHARLES WHITE/JWPICTURES/©ACADEMY MUSEUM FOUNDATION
‘Cry-Baby’. Guitarra e jaqueta de couro usadas por Johnny Depp no filme
EDUARDO GRAÇA
eduardo.graca@oglobo.com.br
LOS ANGELES, EUA
A 15 minutos de carro do
Dolby Theater, onde a
cerimônia de entrega de prê-
mios mais aguardada do ano
em Hollywood acontece ho-
je, é possível mergulhar na
história do Oscar por meio
do impressionante acervo
do Museu de Cinema da Aca-
demia do Oscar. Um luxo.
Por US$ 10, além da entrada
de US$ 25 (cerca de R$ 175
no total), desfruta-se da Ex-
perience, com o visitante
tendo direito de fazer um
agradecimento, como se ti-
vesse recebido uma estatue-
ta, imortalizado na nuvem, à
família, ao cachorro e àquele
visionário que percebeu lá
atrás seu talento. Parabéns.
Se os 45 segundos cravados
de discurso subirem à cabe-
ça, e o cinéfilo estiver dando
sopa em L.A. e disposto a de-
sembolsar US$ 450 (cerca
de R$ 2.300), pode-se acom-
panhar a cerimônia no terra-
ço da instituição, com telão
de última geração, de frente
para o letreiro mais famoso
do planeta. Diferenciado.
Mas bem mais em conta é
dar de ombros aos clichês e
passar pelo menos as mes-
mas três horas e 26 minutos
de uma sessão de “Assassinos
da lua das flores” (na luta
nesta noite por dez estatue-
tas) no quarto andar do pré-
dio. Lá, reina absoluta “John
Waters — O papa do trash”, a
primeira e monumental ex-
posição dedicada ao bigodi-
nho mais famoso das telas.
“Vamos ser honestos? Mais
completa do que essa mostra,
só se você visse meus filmes,
um a um, em um mesmo dia.
Mas aí você seria internado
em um sanatório”, disse o
próprio John Waters ao per-
correr pela primeira vez o tri-
buto ao autor de, entre ou-
tros, “Pink flamingos”,
“Hairspray —E éramos todos
jovens”, “Cry-Baby” e “Ma-
mãe é de morte”.
LINHA DO TEMPO
“Papa do trash” foi o epíte-
to dado ao provocador de
Baltimore, caótica cidade
do estado de Maryland, pe-
lo escritor beatnik William
S. Burroughs. O abre-alas
da exposição é uma igreja.
Entre vitrais, estão os san-
tos cultuados por todo alu-
no pelo menos razoável do
cinema de Waters: Divine,
Tab Hunter, Johnny Depp,
Kim McGuire, Melanie
Griffith, Ricki Lake, Kath-
leen Turner.
Transportada de seu
acervo pessoal e de coleci-
onadores (são mais de 400
objetos-fetiche à disposi-
ção dos voyeurs, incluindo
a peruca usada pela musa
do rock Debbie Harry em
“Hairspray”), um dos des-
taques é a cadeira elétrica
cênica de “Problemas fe-
mininos”, lançado há meio
século. Em noite de Oscar,
é impossível não abrir um
sorriso cúmplice ao ver e
ouvir na mostra o discurso
final de Dawn Davenport
(Divine), a protagonista MAIS SOBRE JOHN WATERS
obcecada pela fama, con- E APOSTAS DO OSCAR, NAS
denada à morte por uma PÁGINAS 2, 4 E 5
DIVULGAÇÃO/GREG GORMAN/©ACADEMY MUSEUM FOUNDATION
OGLOBO | Domingo 10.3.2024
SEGUNDO CADERNO
segundocaderno@oglobo.com.br
série de assassinatos, e que
parece aceitar um laurel e
não vislumbrar seu fim.
Ou as duas coisas.
Waters, que, além de diri-
gir, escreveu todos os seus
Bigode
outsider.
O “gênio do
filmes, não lança um longa- mau gosto”
metragem há duas déca- homenageado
das, desde o fracasso de no Museu de
“Clube dos pervertidos”. Cinema da
Aos 77 anos, vive momento Academia do
raro: cult e hip ao mesmo Oscar, que
tempo, com suas obras de abriga a
décadas atrás consagradas exposição “John
e atualíssimo. Em cartaz Waters — O papa
nos cinemas americanos, a do trash”
comédia dark “Garotas em
fuga”, ainda sem data no
circuito brasileiro, não se
cansa de dizer seu diretor,
Ethan Coen (o irmão de Jo-
el), é homenagem declara-
da aos trashy-fun de Waters.
CALÇADA DA FAMA
O sucesso de crítica e públi-
co da exposição, que fica no
Museu da Academia até
agosto e depois viaja pelo
país, também confirma tra-
ma característica do lado de
cá das telas nos EUA: a ab-
sorção pela indústria do que
um dia foi marginal.
Um dos entusiasmados
idealizadores e curadores
da exposição, não por acaso,
é Bill Kramer, diretor do
Museu e da Academia. Ano
passado, em cerimônia dis-
putada, John Waters tam-
bém teve o molde de suas fi-
nas mãos acrescentadas à
Calçada da Fama.
“Se me tornar um se-
nhor mais respeitável do
que isso, sou capaz de vo-
mitar”, proclamou, des-
frutando a consumação da
acolhida pelo mainstream
ensaiada desde a explosão
comercial do “Hairspray”
original, em 1988.
ODE CINEMATOGRÁFICA
AO ‘PAPA DO TRASH’
No início deste mês, a di-
vulgação, por um site que
cobre a cena alternativa do
cinema americano, de que
Waters começaria a filmar a
versão cinematográfica de EM DIA DE ENTREGA DO OSCAR,
seu livro “Liarmouth”, com
Aubrey Plaza no papel prin- UM PASSEIO PELO MUSEU DA
cipal, rapidamente se tor-
nou celebração no Guardi- ACADEMIA, QUE ABRIU EXPOSIÇÃO
an e na Vogue. Títulos que se SOBRE VIDA E OBRA DE JOHN
desculparam com os leito-
res após o ícone gay, do re- WATERS, MOSTRANDO COMO O
côndito de sua Baltimore CINEASTA GRAVOU SEU NOME NA
querida, afirmar que a “no- ‘Pink flamingos’.
tícia” era mera especulação. INDÚSTRIA DO ENTRETENIMENTO Trailer onde
John Waters é ao mesmo AMERICANA UNINDO O UNIVERSO Divine vivia no
tempo criador e, desavergo- filme foi recriado
nhadamente, caricatura pop MARGINAL E O MAINSTREAM para a mostra
da indústria do entreteni-
mento americana. A exposi-
ção “O papa do trash” perse-
gue sua trajetória no detalhe, ‘Hairspray’.
desde suas primeiras cria- Acervo do longa
ções em espetáculos artesa- inclui peruca usada
nais. Passa pela reação vio- pela estrela
lenta às suas obras por uma musical Debbie
parte do público e pela cen- Harry, vocalista
sura, ainda ativa nos anos do Blondie
1960 e 1970 em seu estado
natal. Apresenta aspectos
curiosos de sua parceria com
estrelas como Johnny Depp
e Kathleen Turner. E termi-
na com o diretor, no papel
dele mesmo, em aparições
deliciosas em episódios de
“Os Simpsons” ou subver-
tendo a mitologia do brin-
quedo assassino Chucky.
INÊS249
2 | Segundo Caderno Domingo 10.3.2024 | OGLOBO

CACÁ CONTINUAÇÃO DA CAPA

DESPREZO À
DIEGUES
segundocaderno@oglobo.com.br O gênio do mau gosto é
eleitor do Oscar desde
1990, quando se tornou

A ESPLÊNDIDA CARTILHA DOS QUE

membro da Academia após
campanha enfática de seu
amigo (e dono de outra as-
HISTÓRIA DA sinatura muito própria)

HUMANIDADE BUSCAM APROVAÇÃO David Lynch. “Sou daque-

les membros caxias. Vejo,
desde então, todos os fil-
mes. To-dos”, garantiu, em
REPRODUÇÕES
entrevista ao New York Ti-

A cabo de mandar uma mensagem eletrônica

para um grande amigo meu que sabe dessas
coisas. Eu lhe dizia que os sinos da Academia
mes, na reportagem que
anunciava a exposição no
Museu da Academia.
estão batendo até agora com grande euforia Que prove, desafiou a re-
por causa da eleição de Lilia Schwarcz. Ela é a vista New York. Em novem-
mais nova acadêmica e ocupa a cadeira nº 9, bro, a publicação pediu a
onde esteve o querido Alberto da Costa e Silva, Waters a lista dos dez longas
que nos honrou e ensinou durante anos com que mais o impressionaram
seus conhecimentos obtidos com a Diploma- em 2023. Ele não se fez de
cia, na Literatura e na História do Brasil. “Mi- rogado. E começa o texto re-
nha candidatura é uma homenagem ao dr. velando que mantém, há
Costa e Silva”, disse ela com modéstia, “ele três décadas, um “aparta-
sempre foi meu pai espiritual, meu pai intelec- mento secreto” em NYC.
tual, gostaria muito de seguir seus passos, e a “Para quê? Ora, para ver fil-
ABL é fundamental para isso, como é funda- mes estrangeiros do cacete,
mental para nossa memória nacional”. Os si- com muita nudez frontal”.
nos continuam portanto a bater. Em uma hipotética Acade-
Lilia traz para a Academia, além desse olhar mia de Artes e Ciências Ci-
novo e ao mesmo tempo respeitoso, um es- nematográficas John Wa-
pírito original que ela desenvolveu bastante ters, os indicados para me-
com seus estudos de Antropologia e seus li- lhor filme só bateriam com
vros sobre a história do país, visto como um os da festa de hoje naquele
território de futuro. Uma nação que tinha (e que é pule de dez para sair
tem) o dever de uma enorme correção social com a maioria dos prêmios:
para o bem de todos. “Oppenheimer”, de Chris-
Tenho a impressão de que a Academia se atua- topher Nolan (“Merece, é
liza com esses problemas como os que Lilia ex- inteligente e com elenco
punha em sua campanha e seus interesses cultu- primoroso”). Os outros no-
rais que ela confirma até ho- ve são, pela ordem, papel e
je. A chegada dela na Aca- caneta na mão:
demia corresponde ao “Beau tem medo”, do
mesmo ímpeto. americano Ari Aster, com
Uma instituição Joachin Phoenix (“O filme
que perdeu recen- é uma gargalhada dos in-
temente uma pes- fernos que você, mesmo se
soa como Nélida quisesse, jamais seria ca-
Piñon não pode paz de esquecer”).
seguir reclaman- “Um príncipe”, do francês
do do destino dian- Pierre Creton (“Um filme
te de conquistas co- em que paus se transfor-
mo as de Heloisa Tei- mam em criaturas míticas e
xeira Buarque e, agora, homens uivam como cães.
Lilia Schwarcz. Lento, assustador e poetica-
Mas está também na hora mente fodido. Em outras pa-
SOMOS SEMPRE de se parar para pensar no lavras, perfeito”).
AMEAÇADOS destino da Humanidade. “Master gardener”, de
PELO QUE NÓS Ou para ser mais específico, Paul Schrader (“Sigour-
MESMOS no destino do Homo sapi- ney Weaver oferece ‘ape-
ens. Nosso sucesso como nas’ a melhor performan-
PROVOCAMOS.
espécie não pode ignorar ce do ano. Caia de boca!”).
AS GUERRAS nosso futuro incerto, as di- “Contratempos”, do fran-
COMO AS DA ficuldades com que convi- co-canadense Eric Gravel
UCRÂNIA E DO vemos depois de milênios (“Brilhante, um thriller do
ORIENTE MÉDIO de vitórias incontestáveis quilate do clássico dos anos
SE REPETEM POR diante dos neandertais ou 1970 ‘Operação França’, de
TODA PARTE. dos denisovanos. William Friedkin”).
PARECE ATÉ QUE Deixamos a África mo- “Culpa e desejo”, da fran-
destamente, de barco ou a cesa Catherine Breillat
CURTIMOS
nado, fomos enfrentar nos- (“Uma obra devastadora-
DESGRAÇAS sos parecidos na Ásia e no mente perniciosa”).
Mar da China, fomos até a “Sparta”, do austríaco Ulri-
insípida e sombria Europa para garantir e con- ch Seidl (“Não me escapou a
firmar essas vitórias, em 40 mil anos derrota- polêmica sobre a abordagem
mos todos eles. Temos agora que resolver esse da pedofilia, mas o resultado
problema crucial: como vencer mais essa etapa, é fantástico”).
não se trata mais de superar um inimigo presen- O esnobado pelo Oscar
te ou futuro, mas de se estabelecer no mundo re- “Folhas de outono”, de Aki
al como somos agora. Não queremos mais pas- Kaurismäki (“Obra-prima
sar a perna em ninguém, mas simplesmente ga- de um dos maiores autores
rantir nosso futuro nesse mundo em que pode- do cinema. Apenas cale a
mos desaparecer. boca e veja”).
Somos constantemente ameaçados pelas mu- O veloz “Estranha forma
danças climáticas que nós mesmos provoca- de vida”, de Almodóvar
mos, a população do planeta segue crescendo e (“Pedro prova que os laços
não temos como evitá-lo, as guerras destrutivas do sangue são mais fortes
como as da Ucrânia e no Oriente Médio se repe- que os do sêmen”).
tem por toda parte, parece até que curtimos es- E “Não espere muito do
sas desgraças todas porque deixamos que elas fim do mundo”, do rome-
aconteçam sem reagir. Enquanto isso o progres- no Radu Jude (“Radical,
so de nossa passagem pelo mundo parece se in- brilhante, Godard encon-
terromper na injusta divisão social dos países. tra Harmony Korine na
Mesmo as nações mais ricas não conseguem re- lentidão de 2h43min. Vá,
solver a questão interna crucial para a sobrevi- que às vezes vale sim so-
vência de todos eles. frer pelo cinema”).
Enfim, nossa Lilia não tem nada a ver com isso,
ela segue no rumo correto de sua participação ALÉM DOS PADRÕES
no conhecimento e na cultura, brilhará certa- Sofrência, aliás, é a ausên-
mente com esses instrumentos à mão e se tiver cia que não faz falta algu-
que afundar nessas histórias todas vai afundar ma em “O papa do trash”. A
sem culpa e sem restrições. Somos nós todos mostra pode ser absorvida
que temos que pensar no futuro incerto, nessa como espécie de avesso da
incapacidade de resolver a questão central: o festa do Oscar. Um traje
que fazer para manter o Homo sapiens no plane- usado de trás para frente
ta, sem subestimar seu papel em tudo isso? que pode até não chocar
Podemos imaginar as gerações futuras reuni- como “Pink flamingos” o
das em torno da batalha por um novo projeto hu- fez em 1972, profetizando
manista, como podemos simplesmente vê-las o punk, mas escancara co-
sem saber o que fazer diante do que necessitam. Fora da curva . Cartazes de mo os americanos ainda
A ABL, agora com nossa Lilia, seguirá seu rumo alguns dos filmes que tornaram rebolam para dar palco aos
ajudando-nos no que for possível. Os sinos não John Waters um ícone que desafiam padrões.
vão parar de bater! (Eduardo Graça)
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OGLOBO | Domingo 10.3.2024
ÓTIMO
PATRÍCIA
KOGUT
patriciakogut.com
colunapatriciakogut
PONTO ALTO
Gemma Whelan vive Prudence Glynn,
respeitadíssima editora de moda do inglês
The Times. Ela batalha sua entrevista com
Balenciaga por um ano. Acaba tendo su-
cesso depois de encontrá-lo pessoalmen-
te, na missa de sétimo dia de Coco Chanel.
A conversa dos dois amarra o roteiro. Não é
um recurso inovador, mas funciona muito
bem nessa produção. O seriemaníaco se
lembrará da atriz por seu papel em
“Game of thrones”.
Filme com Jeffrey Wright. Em questão, a imposição de que negros sejam obrigados a abordar questões ligadas a raça
ARTIGO
O debate racial
em ‘Ficção americana’
GABRIEL TRIGUEIRO
Especial para O GLOBO
C om uma safra excelente
de indicados ao Oscar,
não é exagero afirmar que
“Ficção americana” é aque-
la pepita mais ou menos es-
condida, ainda que esteja
concorrendo com cinco in-
dicações. É a estreia na dire-
ção de Cord Jefferson, co-
nhecido como roteirista de
séries como “Master of No-
ne” e “Watchmen”.
No filme, acompanha-
mos a vida do professor de
literatura Thelonious
“Monk” Ellison, interpre-
tado por Jeffrey Wright. O
personagem é um esnobe
cultural: um escritor eru-
dito e sofisticado, mas sem
leitores e o reconhecimen-
to literário que almeja.
BOM ‘CRISTÓBAL BALENCIAGA’
RAZOÁVEL RUIM , STAR+
MUITO RUIM
UMA BOA HISTÓRIA LEVADA
POR UM ELENCO TALENTOSO
N o último domingo, recomendei “The new
look” (o leitor acha no
www.patriciakogut.com), da AppleTV+.
Aquela produção dialoga com “Cristóbal
Balenciaga”, que é o tema de hoje. A
produção do Star+ tem seis episódios —
todos eles já disponíveis na plataforma. É um Acabou pegando os terríveis anos do
programão, e não só para quem entende de
moda. O espectador em busca de uma trama Chanel já era uma estrela e surgiam jovens
saborosa com fundo histórico pode conferir talentos como Christian Dior e Pierre
sem medo. Trata-se de entretenimento de
primeira, com elenco de talentos e fotografia ele conhecia e dominava cada etapa de seu
e figurinos da melhor qualidade.
As duas séries se detêm sobre o período
da Segunda Guerra, com atenção especial à costurar e calcular o que tornaria a
ocupação alemã em Paris, entre 1940 e
1944. “Cristóbal Balenciaga” se concentra padrões da época, claro). Cuidava com
no seu biografado e deixa o painel amplo
em segundo plano. Os acontecimentos
ÓTIMO BOM
DIVULGAÇÃO
“Ficção americana” é uma de modo muito óbvio, ques-
adaptação de “Erasure”, livro tões associadas a raça?
de Percival Everett lançado em
2001 nos EUA e ainda sem edi-
ção brasileira. Ambos questio-
O nome do protagonista,
aliás, é uma referência ao pia-
nista de jazz Thelonious
nam o espaço que a elite inte- Monk, claro, mas igualmente
lectual e os árbitros do bom a outro personagem impor-
gosto permitem que seja ocu- tante do século XX, o roman-
pado por um autor negro. cista negro americano Ralph
Ellison — ele mesmo extre-
CLICHÊS OBRIGATÓRIOS mamente crítico à tradição de
Tanto na interpretação de escritores negros que o ante-
Jefferson quanto na obra ori- cedeu, que, segundo ele, ao
ginal, estamos diante de sáti- escreverem romances de pro-
ras poderosas e de indaga- testos raciais, “performavam
ções sobre os limites das po- negritude” para uma audiên-
líticas de representatividade cia composta majoritaria-
em meios culturais ocupados mente por brancos. Ao agi-
predominantemente por rem dessa forma, os próprios
uma classe intelectual bran- autores negavam a complexi-
ca. Até que ponto é permiti- dade da tal experiência negra
do ser um intelectual ou ar- e a apequenavam, a achata-
tista negro que não se ocupe vam, para que ela coubesse na
em abordar, pelo menos não expectativa dos brancos, de
Segundo Caderno | 3
DISNEY/DIVULGAÇÃO
Grinberg) quem, numa cena, resume suas
capacidades: “Ele é um estilista no
sentido mais verdadeiro da palavra, um
cirurgião plástico dos modelos, sabe
corrigir imperfeições. Os outros são
simplesmente designers de moda”. Era
sincero: ela não era exatamente generosa
para falar sobre os colegas.
Balenciaga também ficou conhecido pela
aversão aos holofotes. Acompanhava até os
desfiles em sua maison observando atrás
das cortinas. Por isso,
ALBERTO SAN uma grande inspiração
JUAN SE SAI do roteiro está em
MUITO BEM NO evidenciar esse
PAPEL DO comportamento
reservado. O estilista
COSTUREIRO
não dava entrevistas.
DE GESTOS Até aceitar conversar
MIÚDOS E com a editora de moda
QUE ESCONDIA do The Times
A EMOÇÃO Prudence Glynn
(Gemma Whelan, de
alheios aos dramas pessoais do estilista até
aparecem, mas o roteiro se interessa mais
em contar a trajetória dele.
“Game of thrones”). A conversa deles é o
fio condutor do enredo. Entre doce e
antipático, ele vai abrindo seu passado,
O espanhol Balenciaga (Alberto San fazendo silêncios reveladores sobre os
Juan) se instalou na França no fim da tempos da guerra, e dando respostas
década de 1930, fugindo do franquismo. ríspidas, e por isso mais reveladoras ainda,
a respeito de sua vida afetiva. Alberto San
nazismo em Paris. Nessa época, Coco Juan se sai muito bem como o estilista de
gestos miúdos que escondia a emoção.
Uma passagem é especialmente
Balmain. Diferentemente de seus colegas, desafiadora para o ator: mostrar contenção
até quando Balenciaga está dominado pelo
trabalho. Idealizava seus modelos e tinha ódio na competição feroz com Christian
ideias geniais, mas também sabia cortar, Dior (Patrice Thibaud). Como
aprendemos em “The new look”, Dior foi o
silhueta feminina mais perfeita (para os queridinho da França no pós-guerra e
conquistou a clientela dos outros.
obsessão de cada detalhe. Fazia e refazia Recomendo conferir as duas séries, elas
até gostar do que via. É Chanel (Anouk se complementam.
RAZOÁVEL RUIM MUITO RUIM
acordo com o argumento de Este candidato ao Oscar que reafirma a humanidade
Ellison, o Ralph. de melhor filme e um dos fa- da experiência de ser negro,
Em “Ficção americana”, voritos à estatueta de me- já que amplia a conversa so-
Thelonious Ellison se cansa lhor roteiro adaptado é um bre o significado dessa con-
da falta de notoriedade co- argumento sofisticado con- dição existencial em um
mo escritor e de escutar que tra as expectativas e proje- mundo racista e hostil.
não é “black enough” (“sufi- ções sociais com as quais os
cientemente negro”) e deci- intelectuais e artistas ne- Gabriel Trigueiro é doutor em
de escrever e publicar, obvia- gros infelizmente estão fa- História Comparada pela
mente com um pseudôni- miliarizados. Mais do que UFRJ e escreve na newsletter
mo, um romance com todos mero cinema, é uma peça Nada de Errado Nisso
os clichês literários e cacoe-
tes de linguagem daquilo
que se convencionou espe-
rar da ficção produzida por
autores negros: uma história
“perigosa”, “urgente”, “ver-
dadeira”, “visceral”, “crua” e
escrita a partir de elementos
autobiográficos de alguém
“que veio das ruas”.
OPORTUNISMO E CAPITAL
O revés é que aquilo que
começa como uma piada di-
rigida ao mercado editorial
e a uma classe pautada por
uma conjunção de “white
guilt” (“culpa branca”) e
oportunismo capitalista, lo-
go se torna sucesso comer-
cial estrondoso.
Daí em diante o que temos
é uma comédia de erros com
pitadas de drama existencial,
à moda de um Alexander
Payne — que inclusive tem
cinco indicações neste Oscar
com o seu “Os rejeitados”.
O protagonista se vê às
voltas com questões de
identidade e consciência,
mas também com sua famí-
lia, com quem se reconecta
em um momento particular
e delicado. O filme se equili-
bra entre esses dois polos
com graça e segurança. A
adaptação para o cinema da
obra abre mão das experi-
mentações de linguagem
presentes em “Erasure” e é
muito mais linear e forma-
lista, mas apresenta com a
mesma elegância ideias
complexas, ao mesmo tem-
po em que desenvolve per-
sonagens interessantes.
INÊS249
4 | Segundo Caderno Domingo 10.3.2024 | OGLOBO

OSCAR: É CHEGADA A HORA

PRINCIPAL NOITE DE GALA DO CINEMA, CERIMÔNIA DO PRÊMIO DA ACADEMIA
ACONTECE HOJE, EM LOS ANGELES; SAIBA O QUE ESPERAR E RELEMBRE INDICADOS

LUCAS SALGADO Downey Jr.), trilha sonora e por “Me chame pelo seu sa, mas o longa de Jonathan
lucas.salgado@oglobo.com.br
montagem, e tem grandes nome” aos 89 anos. Glazer é falado em alemão.

H oje é dia de estender o ta-

pete vermelho para a
principal premiação do ci-
nema mundial: o Oscar. Em
sua 96ª edição, a cerimônia
da Academia de Artes e
Ciências Cinematográficas
de Hollywood acontece no
Dolby Theater, em Los An-
geles, na Califórnia, com
Jimmy Kimmel assumindo
o posto de mestre de ceri-
mônias pela quarta vez.
GANHADORES NO PALCO
Para 2024, a premiação terá
a volta de um formato de en-
trega de prêmios que fez su-
cesso no passado. Para a en-
trega dos troféus de melhor
atriz, ator, atriz coadjuvan-
te e ator coadjuvante, o pal-
co da cerimônia receberá
um grupo de cinco ex-ven-
cedores para anunciar o re-
sultado. A fórmula foi usada
pela última vez em 2009,
ano marcado pela premia-
ção póstuma de Heath Led-
ger. Vencedores do passado,
como Mahershala Ali, Ni-
colas Cage, Jamie Lee Cur-
tis, Brendan Fraser, Rita
Moreno, Lupita Nyong’o, Al
Pacino, Jennifer Lawrence,
Matthew McConaughey,
Ke Huy Quan, Octavia
Spencer, Michelle Yeoh,
Charlize Theron, Chris-
toph Waltz e Forest Whi-
taker, já tiveram suas pre-
senças no palco confirma-
das pela Academia.
FAVORITOS
Se tudo sair como planeja-
do, a cerimônia do Oscar
deve confirmar o favoritis-
mo de “Oppenheimer”. O
drama de Christopher No-
lan sobre o pai da bomba
atômica chega ao evento
como recordista em indi-
cações, concorrendo a 13
estatuetas, e como grande
vencedor dos principais
prêmios da temporada, co-
mo Globo de Ouro, Critics
Choice Awards e Bafta,
além dos principais tro-
féus dos sindicatos dos
atores, diretores, produ-
tores, montadores e dire-
tores de fotografia.
A obra é favorita absoluta
nas categorias de melhor
filme, direção, ator co-
adjuvante (Robert
chances em melhor ator
(Cillian Murphy), som e di-
reção de fotografia. E ainda
E “Oppenheimer” pode su-
perar, enquanto que “Pobres
criaturas” pode empatar, a
COMO ASSISTIR
O Oscar 2024 será exibido
tem oportunidade nas dis- marca de filmes com o maior pelo canal por assinatura
putas de roteiro adaptado e número de estatuetas do Os- TNT e pela plataforma de
penteado e maquiagem. car na História, mas os dois streaming Max (antiga
A briga por roteiro adap- casos são muito improváveis, HBO Max). A transmissão
tado, por sinal, parece uma na visão de analistas. Até ho- começa às 19h (horário de
das mais abertas da noite. je, “Ben-hur”, “Titanic” e “O Brasília), com flashes do ta-
Além de “Oppenheimer”, senhor dos anéis — O retor- pete vermelho, e a cerimô-
surgem com boas chances no do rei” são os maiores ven- nia se inicia às 20h. Os
“Zona de interesse” e “Po- cedores do Oscar, com 11 apaixonados por moda e
bres criaturas”. prêmios cada. comportamento também
Nas categorias de atua- poderão acompanhar o ta-
ção, Cillian Murphy e Ro- QUESTÃO DE LÍNGUA pete vermelho pelo canal
bert Downey Jr. são os favo- Sem a presença de “Anato- E! Entertainment, a partir
ritos entre os homens, en- mia de uma queda”, que não das 18h.
quanto Lily Gladstone (de foi escolhido o representan-
“Assassinos da lua das flo- te francês, a disputa de me-
res”) e Da’Vine Joy Ran- lhor longa internacional
dolph (“Os rejeitados”) são deve ficar com “Zona de in-
as apostas mais certas entre teresse”, que pode se tornar
as mulheres. o primeiro filme britâni-
Isso não significa que não co premiado na catego-
exista espaço para surpre- ria. Geralmente, as
sas. Emma Stone (“Pobres produções do Reino
criaturas”) e Sandra Hüller Unido não são ele-
(“Anatomia de uma queda”) gíveis por serem
também estão na corrida de de língua ingle-
melhor atriz, e Paul Gia-
matti (“Os rejeitados”) po-
de surpreender como me-
lhor ator.
E uma dúvida é para saber
qual canção de “Barbie” le-
vará um Oscar para casa,
“I’m just Ken” ou “What was
I made for?”?
PODE FAZER HISTÓRIA
Um marco pode ser alcança-
do nesta 96ª edição do Os-
car. Se confirmar seu favori-
tismo, Gladstone se tornará
a primeira mulher de ori-
gem indígena a conquistar o
prêmio de melhor atriz.
Pessoa viva com maior
número de indicações ao
Oscar (54), John Williams
pode bater outro recorde
caso seja premiado pela tri-
lha sonora de “Indiana Jo-
nes e a relíquia do destino”.
Aos 92 anos, ele se tornaria
a pessoa mais velha a con-
quistar uma estatueta. Ho-
je, a marca pertence a James
Ivory, que recebeu o Oscar
de melhor roteiro adaptado

INDICADOS AO OSCAR 2024

> Melhor filme: “Ficção americana”, “Barbie”,
“Anatomia de uma queda”, “Os rejeitados”,
“Assassinos da lua das flores”, “Maestro”, “Op-
penheimer”, “Vidas passadas”, “Pobres criatu-
ras” e “Zona de interesse”
> Melhor direção: Yorgos Lanthimos (“Pobres
criaturas”), Christopher Nolan (“Oppenhei-
mer”), Martin Scorsese (“Assassinos da lua das
flores”), Justine Triet (“Anatomia de uma que-
da”) e Jonathan Glazer (“Zona de interesse”)
> Melhor atriz: Emma Stone (“Pobres criatu-
ras”), Lily Gladstone (“Assassinos da lua das
flores”), Carey Mulligan (“Maestro”), Sandra
Hüller (“Anatomia de uma queda”) e Annette
Bening (“Nyad”)
> Melhor ator: Cillian Murphy (“Oppenhei-
mer”), Paul Giamatti (“Os rejeitados”), Bradley
Cooper (“Maestro”), Jeffrey Wright (“Ficção
americana”) e Colman Domingo (“Rustin”)
> Melhor atriz coadjuvante: Da’Vine Joy
Randolph (“Os rejeitados”), Jodie Foster
(“Nyad”), Danielle Brooks (“A cor púrpura”),
Emily Blunt (“Oppenheimer”) e America
Ferrera (“Barbie”)
> Melhor ator coadjuvante: Ryan Gosling
(“Barbie”), Robert Downey Jr. (“Oppe-
nheimer”), Robert De Niro (“Assassinos
da lua das flores”), Sterling K. Brown
(“Ficção americana”) e Mark Ruffalo (“Po-
bres criaturas”)
> Melhor roteiro original: “Vidas passadas”,
“Anatomia de uma queda”, “Os rejeitados”,
“Maestro” e “Segredos de um escândalo”
> Melhor roteiro adaptado: “Zona de inte-
resse”, “Pobres criaturas”, “Oppenheimer”,
“Barbie” e “Ficção americana”
> Melhor longa internacional: “Dias perfei-
tos” (Japão), “A sala dos professores” (Alema-
nha), “Eu, capitão” (Itália), “A sociedade da
neve” (Espanha) e “Zona de interesse” (Ingla-
terra)
> Melhor longa de animação: “O menino e a
garça”, “Elementos”, “Nimona”, “Meu amigo
robô” e “Homem-Aranha: através do Ara-
nhaverso”
> Melhor documentário: “Bobi Wine: O
presidente do povo”, “A memória infinita”,
“As 4 filhas de Olfa”, “To kill a tiger” e “20
dias em Mariupol”
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OGLOBO | Domingo 10.3.2024 Segundo Caderno | 5

O QUE
DIZ O
BONEQUINHO

“A grande certeza que

temos neste Oscar é que,
na divisão de bens do
fenômeno ‘Barbieheimer’,
‘Oppenheimer’ vai ficar
com a maior parte
dos louros e ‘Barbie’ com
um ou no máximo dois
prêmios de consolação”
André Miranda

Bolsa de apostas.
Em sentido horário
(a partir da foto maior, à
direita), Cillian Murphy em
ação, Yorgos Lanthimos,
Christopher Nolan, a
animação “O menino e a
garça”, sequência de
“Assassinos da lua das
flores”, imagem de “Anatomia
de uma queda”, Emma Stone,
cena de “Vidas passadas”,
Paul Giamatti,
Ryan Gosling
e Sandra Hüller
“O apresentador Jimmy
Kimmel terá a difícil tarefa
de manter o interesse
em uma das edições mais
previsíveis do Oscar nos
últimos tempos. Tomara
que o clima não termine tão
gelado e sem humor quanto
o favorito ‘Oppenheimer’”
Gustavo Leitão
“É o Oscar com a melhor lista
de candidatos dos últimos
anos, o que é bastante
animador para quem
acompanha a disputa
torcendo pela vitória da
qualidade e não da bilheteria”
Marcelo Janot
“Tudo aponta para a
consagração
do diretor Christopher Nolan,
e realmente há muito tempo o
Oscar não reúne filmes tão
bons, demonstrando que a
Academia está afinada com
crítica especializada ao redor
do planeta”
Mario Abbade

“Duas grandes perguntas

no ar: 1) ‘Oppenheimer’
conseguirá se aproximar
do recorde de 11 Oscars de
‘Ben-Hur’, ‘Titanic’ e ‘O senhor
dos anéis — O retorno do rei’?
2) Messi, o cão de ‘Anatomia
de uma queda’, participará
da cerimônia?”
Sérgio Rizzo

“Se America Ferrera levar

a estatueta de melhor
coadjuvante, o discurso está
pronto. A fala da imigrante
Gloria em ‘Barbie’ explica a
exclusão de Greta Gerwig
(direção) e Margot Robbie
(atriz) do Oscar. O erro
das rejeitadas? Faturar
US$ 1 bilhão e meio”
Susana Schild

ARTE DE GUSTAVO AMARAL SOBRE FOTOS DE DIVULGAÇÃO

> Melhor trilha sonora: “Ficção ame-
ricana”, “Indiana Jones e a relíquia do
destino”, “Assassinos da lua das
flores”, “Oppenheimer” e “Pobres
criaturas”
> Melhor canção original: “It never
went away”, de “American symp-
hony”; “I’m just Ken”, de “Barbie”;
“What was I made for?”, de “Barbie”;
“The fire inside”, de “Flamin’ hot — O
sabor que mudou a história”; e “Wa-
hzhazhe (a song for my people)”, de
“Assassinos da lua das flores”
> Melhor montagem: “Anatomia de uma
queda”, “Os rejeitados”, “Assassinos da
lua das flores”, “Oppenheimer” e “Po-
bres criaturas”
> Melhor direção de fotografia: “O con-
de”, “Assassinos da lua das flores”,
“Maestro”, “Oppenheimer” e “Pobres
criaturas”
> Melhores efeitos visuais: “A resistên-
cia”, “Godzilla: Minus One”, “Guardiões da
galáxia vol. 3”, “Missão: Impossível —
Acerto de contas parte um” e “Napoleão”
> Melhor figurino: “Barbie”, “Assassinos da lua
das flores”, “Napoleão”, “Oppenheimer” e “Po-
bres criaturas”
> Melhor maquiagem e penteado: “Golda — A
mulher de uma nação”, “A sociedade da neve”,
“Maestro”, “Oppenheimer” e “Pobres criaturas”
> Melhor design de produção: “Barbie”, “As-
sassinos da lua das flores”, “Napoleão”, “Oppe-
nheimer” e “Pobres criaturas”
> Melhor som: “Resistência”, “Missão: impos-
sível — Acerto de contas parte 1”, “Maestro”,
“Oppenheimer” e “Zona de interesse”
> Melhor curta-metragem: “The after”,
“Invincible”, “Night of fortune”, “Red,
white and blue” e “The wonderful story of
Henry Sugar”
> Melhor curta de animação: “Letter to
a pig”, “Ninety-five senses”, “Our uniform”,
“Pachyderme” e “War is over! Inspired by
the music of John & Yoko”
> Melhor curta de documentário: “The
ABCs of book banning”, “The barber of
Little Rock”, “Island in between”, “The last
repair shop” e “Nai Nai & Wài Pó”
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6 | Segundo Caderno Domingo 10.3.2024 | OGLOBO
DIVULGAÇÃO/JAMES HODGES

Metal inoxidável.
A partir da esquerda, Ian Hill, que
está na estrada com o grupo há
55 anos, Scott Travis, Rob Halford,
Richie Faulkner e Glenn Tipton

‘VOCÊS, BRASILEIROS, SÃO

BERNARDO ARAUJO Frequentadores do Brasil
Especial para O GLOBO
desde o Rock in Rio de

Etal.raque
uma vez uma banda
definia o heavy me-
1991, Rob Halford, o Judas
Priest e sua moto Harley-
Vindo da região indus-
trial da Inglaterra batizada
Black Country, arrasada pe-
la Segunda Guerra Mundi-
TÃO LOUCOS QUANTO NÓS’ Davidson (com a qual ele
entra no palco) só devem
pintar por aqui em 2025.
— Peço um pouco de pa-
al, o quinteto tinha como BAIXISTA DO — Estamos ensaiando pa- — A doença é o que é — Lançada em plena pande- ciência — desculpa-se Hill.
assinatura um estridente ra ir para a estrada — come- diz, com os pés no chão mia, em 2021, a autobiogra- —Temos uma agenda lotada
cantor louro de cabelos cur- JUDAS PRIEST, IAN ça Hill, 73 anos, em conver- típicos da Black Country fia do cantor, “Confess” de shows pela Europa, de-
tos (na contramão da carti- sa por vídeo de sua casa em britânica. — Ele está bem (editada pela Belas Letras pois América do Norte, vol-
lha fashion do gênero) e HILL PROMETE Staffordshire (Londres é na medida do possível, sob no Brasil) é um dos relatos tamos para os festivais do
uma dupla de guitarristas VOLTAR AO PAÍS muito posh, ou metido a bes- os cuidados dos melhores mais completos já feitos da meio do ano, depois mais
coesa e pesadíssima. ta, afinal). — Acho que gra- médicos, mas não tem for- vida no mundo do rock pe- América e Japão. Mas apare-
Lá se vão 55 anos desde COM A BANDA vamos um disco com a assi- ça para tocar por períodos sado, da infância em meio à ceremos por aí em algum
que se formou o embrião QUE RESISTE AO natura do Priest. mais longos. Quando está fumaça até o estrelato, a momento. Vocês são tão
do Judas Priest, que acaba Mas sem as guitarras ori- bem, viaja conosco e parti- grana, o álcool, as drogas e a loucos quanto nós, é uma
de lançar o disco “Invinci- TEMPO, AOS ginais? cipa do bis, com três músi- luta de mais de 20 anos con- combinação perfeita.
ble shield”, seu 19º, meio — Sim, é um processo gra- cas. Peço aos fãs que não tra a própria homofobia. Houve um momento em
século depois da estreia, PRECONCEITOS, dual — diz ele. — Glenn se comprem ingressos na in- Tudo com muita autozoa- que o Judas Priest saiu em
com “Rocka Rolla”. Os sol- DESDE QUE O envolveu muito no processo tenção de vê-lo, porque ele ção, a começar pela própria uma turnê chamada “Epi-
dados do Império Britâni- de composição e gravação pode aparecer ou não. origem interiorana. taph” (“Epitáfio”), inici-
co do Metal estão todos lá? VOCALISTA ROB do disco, ao longo dos últi- Hill também tem uma re- —Como Rob diz no livro, almente com a intenção
Mais ou menos. HALFORD SE mos dois ou três anos. Ele es- lação especial com o bate- não seria possível fazermos de se aposentar. Mas o pla-
O cantor Rob Halford — teve no estúdio o tempo to- rista Scott Travis e com o as- qualquer coisa que não fos- no fracassou.
primeiro (e possivelmente ASSUMIU GAY, E do, nem sempre tocando, tro da banda, seu ex-cunha- se heavy metal —analisa. — — No meio dos shows já
único) músico do primeiro mas também dando suas do Rob Halford. Eu morava no campo, e, víamos que queríamos
escalão do metal a se assu- AOS PROBLEMAS ideias e opiniões. — Scott entrou na banda mesmo assim, da minha ja- continuar. É o que gosta-
mir gay até hoje, depois de DE SAÚDE, AGORA em 1989, está há uma vida nela, tudo o que se via eram mos de fazer, até hoje, e por
décadas de conflito inter- ‘A DOENÇA É O QUE É’ inteira conosco, e é um ba- indústrias pesadas e minas isso ainda estamos aí — re-
no — esteve fora da banda UM OBSTÁCULO Nos lugares dos dois guitar- terista tremendo, apesar de de carvão. Como podería- sume o baixista. — Esta-
por uma década, mas já re- PARA K.K. ristas estão Richie Faulkner americano — brinca. — E mos trabalhar com música mos muito felizes com “In-
tomou o microfone desde e Andy Sneap, que também Rob, para mim, até hoje é pop e cantar sobre assuntos vincible shield”, com músi-
2005, em ótima forma. A DOWNING, COM faz as vezes de produtor. aquele garoto que conheci legais? cas como “Trial by fire”,
dupla infernal de guitar- — Richie está conosco em Wallsall, irmão da mi- Halford mora entre Wall- “Panick attack” e “Giants
ristas anda desfalcada: PARKINSON desde a saída de Ken nha namorada da época, sall, onde nasceu, Phoenix e in the sky”, e animados pa-
K.K. Downing saiu da ban- REPRODUÇÃO
(K.K.), há 12 anos, é parte Sue. É apenas Robbie. San Diego, nos Estados Uni- ra a turnê. Gostamos muito
da em 2011, deixando da família e do som do Pri- Hoje exibindo uma careca dos, com o marido, Thomas. de tocar ao vivo, e acho que
Glenn Tipton no coman- est — classifica o baixista. lustrosa e uma vasta barba —Ele está chegando para apresentamos bom entre-
do. Ele padece do Mal de —Andy veio produzir nos- branca, Halford, de 72 anos, os ensaios — diz Hill, que tenimento. O que cansa
Parkinson desde 2018, o so disco “Firepower”, de é possivelmente o rosto lembra que a homossexua- são as viagens.
que limita sua participa- 2018, quando Glenn teve o mais conhecido do Planeta lidade do cantor sempre foi Ele, claro, diz que não teria
ção nas gravações e, prin- Mal de Parkinson diagnos- Heavy Metal. conhecida e nunca foi de- imaginado, meio século
cipalmente, nos shows. ticado. Ele conhecia todo o “Estamos aqui para espa- batida pela banda. — Va- atrás, que estaria fazendo
Completam o time o bai- nosso repertório. Foi a es- lhar o Evangelho do Metal”, mos nos reunir aqui na In- heavy metal pelo mundo de-
xista fundador Ian Hill e o colha natural. costuma dizer ele, com a voz glaterra e logo partimos pois dos 70 anos:
baterista Scott Travis, um Ele lembra que o velho suave, no início dos shows, para o primeiro show da — Quando éramos jovens,
americano infiltrado na companheiro Glenn ainda depois do tradicional “The turnê, em Glasgow, na Es- era com essa idade que as
tropa há mais de 30 anos. Novo disco: "Invincible shield" aparece em shows eventuais. Priest is back!”. cócia (amanhã). pessoas morriam.

HORÓSCOPO Cláudia Lisboa

ÁRIES (21/3 A 20/4) Elemento: Fogo. Modalidade: Impulsivo. Signo complementar: Libra.
Regente: Marte.
Você ampliará a sensação de bem-estar ao alinhar a sua prática com aquilo
que acredita ser verdadeiramente benéfico para si mesmo. Esqueça as opiniões
alheias e confie no cuidado que dedica a si mesmo.
LEÃO (23/7 a 22/8) Elemento: Fogo. Modalidade: Fixo. Signo complementar: Aquário. Regente:
Sol.
Este será um momento para louvar sua intimidade e vivenciar as emoções
em toda sua potência. Reserve um tempo para si mesmo e mergulhe em seus senti-
mento mais profundos. Acolha-se com carinho e cuidado.
SAGITÁRIO (22/11 A 21/12)Elemento: Fogo. Modalidade: Mutável. Signo complementar:
Gêmeos. Regente: Júpiter.
Agora você experimentará uma profunda sensibilidade que poderá desor-
ganizar seu universo interior, estimulando-lhe a diminuir o ritmo e olhar para dentro
com atenção. Respeite seu tempo e seus processos.

TOURO (21/4 A 20/5) Elemento: Terra. Modalidade: Fixo. Signo complementar: Escorpião.
Regente: Vênus.
Para desenvolver bons acordos afetivos, será preciso agora deixar que suas
emoções emerjam. Assim, você compreenderá melhor cada sentimento e poderá
cuidar de qualquer ferida no seu interior. Entregue-se.
VIRGEM (23/8 A 22/9) Elemento: Terra. Modalidade: Mutável. Signo complementar: Peixes.
Regente: Mercúrio.
Para cultivar um cenário saudável e equilibrado com amigos e parceiros de
caminhada, será necessário cuidar da qualidade de seus sentimentos e exercitar um
diálogo construtivo. Honre suas emoções.
CAPRICÓRNIO (22/12 A 20/1) Elemento: Terra. Modalidade: Impulsivo. Signo
complementar: Câncer. Regente: Saturno.
Você terá a oportunidade de estabelecer longos diálogos através do silên-
cio e da intimidade, seja com você mesmo ou com os amigos próximos. Garanta-lhe
boas companhias para compartilhar tais momentos.

GÊMEOS (21/5 A 20/6) Elemento: Ar. Modalidade: Mutável.
Signo complementar: Sagitário. Regente: Mercúrio.
Agora você deverá ser fiel às suas próprias escolhas, mesmo que não
encontre uma explicação lógica e racional para elas. As portas se abrirão quando você
se alinhar com o seu coração. Sinta-se confiante.
LIBRA (23/9 A 22/10)Elemento: Ar. Modalidade: Impulsivo. Signo complementar: Áries.
Regente: Vênus.
Ainda que o dia seja de muitos compromissos e tarefas, você poderá vivê-lo
com prazer e alegria. Lembre-se do que lhe motiva a estar onde você se encontra
agora. O desejo é o alimento da alma. Nutra-se.
AQUÁRIO (21/1 A 19/2) Elemento: Ar. Modalidade: Fixo. Signo complementar: Leão. Regente:
Urano.
Você encontrará motivação através dos seus sonhos, pois eles lhe indicarão
os melhores caminhos a seguir. Agarre-se em seus objetivos para se conectar com a
força que nutre a perseverança. Movimente-se.

CÂNCER (21/6 a 22/7) Elemento: Água. Modalidade: Impulsivo. Signo complementar:
Capricórnio. Regente: Lua.
Ainda que o passado lhe ofereça importantes lições, agora será determi-
nante olhar para o futuro e abrir-se para novas possibilidades que o mundo deseja lhe
ofertar. Não se prenda a antigas amarras.
ESCORPIÃO (23/10 A 21/11)Elemento: Água. Modalidade: Fixo. Signo complementar: Touro.
Regente: Plutão.
Você estará cheio de energia e será difícil ficar parado agora. Deixe que tal
agitação chegue através da consciência, organizando-a como uma luz que ilumina a
escuridão. Explore seus talentos e tesouros.
PEIXES (20/2 A 20/3) Elemento: Água. Modalidade: Mutável. Signo complementar: Virgem.
Regente: Netuno.
Ao confiar na sua intuição, você fortalecerá a sensibilidade para perceber o
verdadeiro sentido por trás de cada situação. Não deixe que o mundo concreto lhe
faça questionar a legitimidade de suas emoções.
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OGLOBO | Domingo 10.3.2024 Segundo Caderno | 7

SERIAIS TALITA DUVANEL talita.duvanel@oglobo.com.br

‘ÚLTIMO ATO’ ‘ENCANTADO’S’ ‘O CASO OUTREAU: UM PESADELO FRANCÊS’

APPLE TV+, A PARTIR DE SEXTA-FEIRA GLOBOPLAY, A PARTIR DE TERÇA-FEIRA NETFLIX, A PARTIR DE SEXTA-FEIRA
FOTOS DE DIVULGAÇÃO

UNIÃO NACIONAL DESASTRE JUDICIAL

AMERICANA EM CRISE SEM PRECEDENTES

A busca por John Wilkes Booth, o homem que matou Numa pequena cidade do Norte da França, no ano 2000,
Abraham Lincoln, um dos presidentes mais importantes dois meninos, um deles de 7 anos, acusam os pais de abuso
dos Estados Unidos, em 1865, é tema deste thriller com sexual. Eles, por sua vez, envolvem outras 17 pessoas. Anos
Tobias Menzies (de “The crown”). O ponto de partida foi o depois de condenações e prisões, é provado que os pais
best-seller “A caçada ao assassino de Lincoln: 12 dias que mentiram perante o tribunal, punindo gente inocente, e a
abalaram os EUA”, do historiador James L. Swanson. Justiça do país passa por sua maior crise.

‘AS GAROTAS DO ÔNIBUS’

MAX, A PARTIR DE QUINTA-FEIRA

JUNTAS PELA
TEM CONFUSÃO ‘CORPO DOURADO’
GLOBOPLAY, A PARTIR DE AMANHÃ

QUADRILÁTERO AMOROSO
ESTRADA AFORA NA PROMOÇÃO EM CENÁRIO RURAL

A lô, povão, agora é sério! A segunda temporada de “Encantado’s”, comédia

de escola de samba chega ao catálogo do Globoplay a partir de terça-feira.
Quatro jornalistas americanas de prestígio embarcam
numa viagem que tem tudo para mudar suas carreiras:
rodar o país para cobrir uma campanha presidencial. O
que elas não contavam é que esse trabalho, na verdade,
vai lhes proporcionar uma intensa amizade, apesar da
diferença entre elas.
do Globoplay sobre o supermercado do subúrbio que à noite vira quadra
Se os irmãos Eraldo (Luis Miranda) e Olímpia (Vilma Melo) acharam
que iam ter sossego com a ida do bicheiro Madurão (Tony Ramos) para
um ponto menor, saiba que eles vão ter que lidar agora com Dalva (Eliane
Giardini). É ela quem vai mandar na região e tirar o sono da família.
“Dalva é ainda pior do que Madurão”, diz Renata Andrade, uma das
criadoras da série. “É muito mais passional e conseguirá ser
manipuladora, maquiavélica, sem parecer”. Como se os problemas
fossem poucos, Maria Augusta (Evelyn Castro), mulher de Eraldo, Em 1998, o novelista Antonio Calmon escalou a atriz
pretende bagunçar o juízo de Olímpia. A influencer vai se autonomear Cristiana Oliveira para viver Selena, a protagonista desta
gerente do mercado, um grande teste para a cunhada workaholic. trama da faixa das 19h. Vaqueira com fama de durona — e
“Encantado’s” é uma criação de Renata Andrade e Thais disputada pelo empresário Arturzinho (Marcos Winter) e
Pontes,roteiristas com Hela Santana, e tem redação final de Antonio pelo fazendeiro Jorginho (Gerson Brenner) —, ela acaba
Prata e Chico Mattoso. A direção artística é de Henrique Sauer. apaixonada pelo delegado Chico (Humberto Martins).

Passatempo
CRUZADAS VERSOGRAMA
1 J 2 C 3 F 4 H 5 L 6 I 7 J

8 A 9 D 10 L 11 E 12 J 13 I 14 G

15 A 16 I 17 E 18 H 19 B 20 C 21 B 22 A 23 G

24 I 25 H 26 L 27 F 28 G 29 H 30 F 31 D

32 M 33 B 34 D 35 A 36 B 37 I 38 E 39 G

40 B 41 C 42 D 43 E 44 J 45 F 46 G

47 M 48 C 49 I 50 C 51 E 52 F 53 L 54 M

55 B 56 F 57 A 58 I 59 J 60 D 61 J

62 A 63 M 64 L 65 H 66 C 67 M 68 L 69 B

70 D 71 E 72 G 73 F 74 H 75 L

A = duplicar
8 62 15 22 57 35
POESIA: Minha vida é como barco / perdido em alto mar. / tQuer um porto, mas não

CONCEITOS : DOBRAR – EMBOQUE – NHAPIM – TACAPE – RECHÃO – ONGLETE –

B = passagem duma coisa por alguma parte

21 33 55 19 36 40 69 estreita
C = soldado
50 66 48 20 2 41
D = arma ofensiva usada por índios
DEMORO – ACHADO – VASQUIM – IMPURO – DESTOAR – AROMA

31 9 70 34 42 60 americanos
E = planalto
17 38 11 71 51 43
F = pequeno buril usado por gravadores em
52 3 73 30 27 45 56 metal e madeira
G = detenho, atraso
23 72 28 14 39 46

H 74 18 4 29 25 65 = coisa encontrada, por acaso ou não

sabe / a que porto há de chegar...

I
= corpete de vestido de mulher
6 16 49 58 37 24 13
TÍTULO: DENTRO DA VIDA

J = contaminado
3 70 30 60 50 20 54
L = desafinar
69 23 17 48 44
M = perfume
57 32 42 34 1 47

Editor: Marcelo Balbio (balbio@oglobo.com.br). Editor assistente: Eduardo Rodrigues (earodrigues@oglobo.com.br) . Diagramação: Gustavo Amaral (gdamaral@edglobo.com.br)
oglobo.com.br/cultura Telefones: Redação:2534-5703. Publicidade: 2534-4310 publicidade@oglobo.com.br Correspondência: Rua Marquês de Pombal 25, 4º andar. CEP 20.230-240
INÊS249
8 | Segundo Caderno Domingo 10.3.2024 | OGLOBO
_ SEG_ Joaquim Ferreira dos Santos _ TER_ Leo Aversa_ QUA_ Ana Paula Lisboa (quinzenal) _ Martha Batalha (quinzenal)_ QUI_ Cora Rónai_ Luis Fernando Verissimo _ SEX_ Ruth de Aquino_Nelson Motta_ SÁB_ José Eduardo Agualusa_ DOM_Cacá Diegues

HUMOR

ISENTO DE VERDADE

Especialistas
discutem se Biden
Para recuperar popularidade, Perfume da grife
Bolsonaro tem cheiro
PL põe Nikolas
Ferreira na
pode ressuscitar
até as eleições
Lula vai proibir streaming de de suor para quem quer
fingir que trabalha
Comissão da
Educação porque

É ano de eleição nos cobrar por senha compartilhada Impossibilitado de concorrer a

creche estava
lotada
EUA, e Trump vem REPRODUÇÃO
cargos públicos, Jair Bolsonaro está
ganhando várias pri-
márias para se tornar o
candidato Republicano
O PT prepara uma série de
medidas para estancar a
queda de popularidade do
se virando como pode. O ex-presi-
dente anunciou, semana passada,
uma nova linha de cosméticos,
O deputado Nikolas
Ferreira vai assumir a
presidência da Comis-
mais uma vez. Já seu fã presidente Lula. O governo começando por um perfume que são de Educação da
brasileiro Jair Bolsona- vai baixar uma medida pro- leva seu nome. Apelidado de “Eau Câmara dos Deputa-
ro está para perder o visória impedindo sites de du cloroquine”, o perfume será dos. Logo ele que não
réu primário. usar manchetes caça-clique REPRODUÇÃO
lançado tem educação nem
A preocupação no enigmáticas com a expres- com diver- para dar bom dia
Partido Democrata é são “saiba qual”. Os sites sas flagrân- às pessoas.
grande. Muitos querem também não poderão mais cias, perdão, A indicação revoltou
que Biden, que já tem fazer “reportagens” sobre a fragrâncias. praticamente todo o
81 anos, faça uma pro- mudança do corpo de Joice A primei- mundo político. “O que
va de vida para renovar Hasselmann ou matérias ra delas terá vão fazer depois dessa?
seu título de eleitor. com o título “exibe corpão cheio de Colocar o Dani Alves
Outros temem que ele no Instagram”. suor para o na Comissão da Defesa
se confunda na urna Outra ação popular será bolsonaris- da Mulher?”, pergun-
e acabe votando proibir conversas sobre in- ta que, ins- tou um deputado. “Ou
em Trump. tolerância a lactose e glúten. pirado no o Bolsonaro no Conse-
Trump lidera não só Na área econômica, haverá ídolo, quer lho de Ética? Bom, esse
as pesquisas internas um pedido ao BC para au- fingir que trabalha mas na verda- está inelegível, pelo
do Partido Republica- mentar os juros. Assim Lula de passa o dia nas redes comparti- menos não dá.”
no, mas é também o voltará a fazer discursos de lhando fake news. Outros aromas Depois que a indica-
favorito para as elei- improviso sobre um tema estão sendo estudados para lança- ção foi anunciada, apa-
ções. Ao saber que realmente popular. mento como: o cheirinho de gol- receu um vídeo em que
Trump pode voltar, um As medidas afetarão também pe, a essência de laranja e o fuma- Nikolas insinua que a
morador da Faixa de o mundo digital. O governo ça de tanque de guerra. Terra é plana. “Deixa
Gaza disse que alguém começou a conversar com a Além da linha de perfumes, a grife ele ir de barco até a
deveria invadir os Esta- Meta para proibir o envio de Bolsonaro também pretende se beirada da Terra e cair
dos Unidos para levar a mensagens em listas de lançar no ramo alimentício come- de lá, então”, disse ou-
democracia até lá. transmissão no WhatsApp. çando pelo picolé sabor coturno. tro colega.

HISTÓRIA DE TERROR
BOLÍVAR TORRES ais —diz Diniz. —Trato delí- walk tour pelo pontos mais
bolivar.torres@oglobo.com.br
rios atuais como, por exem- aterrorizantes da capital

P ara a maioria dos brasilei-

ros, os nomes dos serial
plo, as pessoas que acredi-
tam que na vacina contra a
gaúcha, incluindo a vizi-
nhança do célebre casal (a
killers José Ramos e Catarina
Palse não dizem muita coisa.
Entre os moradores de Porto
Alegre, porém, é sinônimo de
DA VIDA REAL DIVULGAÇÃO
Covid é introduzido um chip
através do qual a mente pode
ser manipulada.
Não é difícil traçar parale-
antiga casa em que mora-
vam já não está mais de pé).
Desde 2022, Hernandez e
sua companheira Martina
morte, mistério e... consumo los entre as duas épocas. Com Mombelli também tocam o
de carne humana. Desde o a indústria do entretenimen- Café Mal-Assombrado, um
século XIX, os crimes reais do to cada vez mais viciada em estabelecimento temático
casal ganharam lugar de des- crimes reais, o caso tem tudo que incorpora o imaginário
taque no imaginário da cida- para voltar a ficar famoso fora do caso. No cardápio, iguari-
de gaúcha, inspirando diver- de Porto Alegre. Recente- as como bolo de sangue e a
sas obras de ficção e de não mente, porém, historiadores Cuca do Claus, que vem
ficção, como o recém-lança- ‘Os canibais da começaram a questionar as- com linguiça. Uma “home-
do romance policial “Os cani- Rua do Arvoredo’ pectos mais sensacionalistas nagem” ao açougueiro Car-
bais da Rua do Arvoredo” (Ci- Autor: Tailor Diniz. da história, como a comercia- los Claussner.
tadel), de Tailor Diniz. Editora: Citadel. lização de linguiças huma- — Muita gente acha a
A história, que completa Páginas: 208. nas. Muitos estranham o fato brincadeira de mau gosto —
160 anos em 2024, não fica Preço: R$ 66,90. não aparecer nos inquéritos diz Hernandez, vencedor
atrás de nenhum tema de do processo, que condenou da última edição do reality
true crime contemporâneo. Ramos à prisão perpétua (ele Batalha dos Cozinheiros,
Resumindo: Palse atraía imi- negou os crimes até a sua produzido pela Discovery
grantes alemães afortuna- morte, em 1893). Condena- Networks. — O fato é que a
dos para a casa. Ramos, seu da por outros crimes, Palse cidade se sente desconfor-
cônjuge, os matava. Com a foi libertada em 1891. tável pelo fato de seus ante-
ajuda do açougueiro alemão Desde então, a versão “ofi- passados terem saboreado
Carlos Claussner, os corpos cial” do caso —com as lingui- carne humana.
de suas vítimas eram trans- ças — foi retratada em pro-
formados em linguiça. Sem gramas de radioteatro locais CANIBALISMO ABAFADO
que ninguém desconfiasse, a e ficcionalizada nos roman- Algumas versões da história
carne humana era vendida ces “Canibais” (2013), de Da- dizem que as linguiças de
no comércio da Província de vid Coimbra, e “Cães da pro- Claussner tinham “muito
São Pedro, como era então víncia” (1987), de Luiz Anto- boa aceitação” entre os seus
chamada a antiga capital do nio de Assis Brasil. Também clientes, que pertenciam à
Rio Grande do Sul. foi mote da série em áudio “A elite porto-alegrense. Se-
Depois de ser desvendado febre do Kuru”, com Cleo e gundo o historiador Décio
pela polícia, o episódio ro- Lucélia Santos, em 2021. Freitas, autor do livro “O
dou o mundo na época e foi Amemória coletiva ainda é maior crime da terra”, de
parar até no caderno de ano- assombrada pela Rua do Ar- 1996, houve um pacto entre
tações de Charles Darwin Roteiro turístico voredo, atual Fernando Ma- os poderosos da cidade para
(“Existe um chacal adorme- do crime. chado, endereço da casa on- abafar a parte sobre carne
cido em cada homem?”, per- O Café de foram encontrados per- humana, razão pela qual o fa-
guntou-se o naturalista in- Mal-Assombrado tences de pessoas desapare- to não apareceria nos autos.
glês). O jornal Le Temps, da é inspirado cidas e pedaços mutilados de Para Tailor Diniz, existe
França, tratou-o como “o no caso três vítimas. Entre elas estava atualmente uma rixa entre
maior crime da Terra”. Carlos Claussner, também historiadores, dividindo os
O romance de Diniz atuali- LIVRO REVISITA CRIMES DE PORTO computador pelo narrador assassinado pelo casal, que se que acreditam em canibalis-
za o caso, em tom de sátira do livro, que diz pertencer a apossou de seu açougue. mo e os que defendem se tra-
surrealista. Um casal de uni- ALEGRE COM ASSASSINOS QUE uma organização globalista. —Moro na Fernando Ma- tar de uma lenda urbana.
versitários é assombrado pe- A trama será adaptada para o chado, e com certeza ela é —A tese do Décio é bem ve-
los espíritos de Palse e Ra- FAZIAM LINGUIÇAS COM A CARNE cinema pela produtora Ac- hoje a rua mais mitológica rossímil — diz o autor. — Ele
mos, e passa a repetir seus DAS VÍTIMAS E AS VENDIAM PARA A corde/Paris Filmes. da cidade, por conta desses diz que a negação coletiva, se-
atos sangrentos. Agora, po- —Tentei trazer uma histó- acontecimentos — diz o guida do esquecimento grada-
rém, as vítimas não viram lin- CLIENTELA, MAS HÁ CONTROVÉRSIAS. ria absurda de um século e compositor e escritor André tivo, foi a única saída da popu-
guiça, mas hambúrguer ‘É BEM VEROSSÍMIL’, DEFENDE AUTOR meio atrás para dialogar com Neto, o Hernandez, respon- lação da cidade para resolver
gourmet. Os protagonistas os absurdos que temos hoje, sável pelo projeto cultural psicologicamente o fato de te-
são seguidos numa tela de nestes tempos de redes soci- POA Mal-Assombrado, um rem praticado canibalismo.
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10 DE MARÇO DE 2024
.
O GLOBO

JULIANA
PAES ATRIZ ABRE O JOGO
SOBRE POLÍTICA, DEPRESSÃO
E CASAMENTO
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INÊS249

editorial
conversa franca

E
m junho de 2021, quando o Brasil contabilizava
cerca de duas mil mortes diárias em decorrência
da Covid-19 — e eu me mudava de mala e laptop
para a antessala da UTI onde minha mãe,
intubada, lutava pela vida —, vi que a internet
cobrava da atriz Juliana Paes um posicionamento político sobre
as atrocidades cometidas pelo governo Bolsonaro.
O estopim da crise surgiu quando Juliana gravou um vídeo para uma
“cara colega”, no qual defendia a não polarização e o direito de “não se
sentir representada”. Do outro lado do imbróglio estava Samantha
Schmütz, estarrecida com a morte do amigo Paulo Gustavo e de tantas outras
pessoas, conclamando Juliana a sair de cima do muro. As divergências entre
as duas, como bem escreve a repórter Marcia Disitzer, a partir da página 10,
transbordaram para o público, inflamando ainda mais o caldeirão.
Em 20 de junho de 2021, Samantha foi capa da Revista ELA, cobrando
um posicionamento não só de Juliana, mas de outras personalidades.
Otema urgia. Bolsonaro negligenciava a vacina, e a imprensa precisou criar um
consórcio para transmitir à população a verdade que o governo queria esconder:
milhares de pessoas morrendo pelo descaso de terraplanistas genocidas.
Enquanto isso, calada, Juliana sofria com a morte de pessoas próximas
e com o que chama de “curra pública”. “Os danos mentais foram sérios”,
confessa a atriz a Marcia, em sua primeira entrevista sobre o assunto.
Crises agudas de ansiedade e um quadro de depressão e estresse
pós-traumático a levaram a buscar ajuda psiquiátrica, tomar
antidepressivos e, finalmente, encarar a terapia, protelada por anos.
Aos 44 anos, e semanas depois de emocionar o Brasil na pele de Dona
Jacutinga, no remake de “Renascer”, Juliana sente que se fortaleceu com o
episódio: “Quem passa por esse trauma não sai a mesma pessoa. A gente fica mais
forte”. E esse é só o início da conversa. Se eu fosse você, não deixaria de ler o resto.

marina caruso

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18

30 28
SUMÁRIO
40

42
9 MARTHA MEDEIROS expediente
23 LUANA GɁNOT
EDITORA-CHEFE Marina Caruso
24 MODA FOTO Pedro Bucher EDITORA ASSISTENTE Joana Dale

38 BELEZA MODA Lucas Magno

BELEZA Markito Costa
46 BRUNO ASTUTO PRODUÇÃO Juliana veste blazer
e calça NK e óculos Off-White na
NK Store, argolas Betty Brand
REPÓRTERES Eduardo Vanini, Laís Rissato,
Marcia Disitzer e Yasmin Setubal
STYLIST Lucas Magno F.
PRODUTORA EXECUTIVA Kariny Grativol
EDIÇÃO DE ARTE Dushka e Mayu Tanaka
DIAGRAMAÇÃO Ana Scott e Cristina Flegner
INSTAGRAM @elaoglobo
SITE oglobo.com.br/ela
E-MAIL revistaela@oglobo.com.br

4
INÊS249
Grand Hyatt Rio de Janeiro completa
oito anos com programação especial
De um lado, o mar azul e as areias bran-
cas da praia da Barra. Do outro, a Lagoa
de Marapendi com sua vegetação nativa.
Esse cenário único é o endereço do Grand
Hyatt Rio de Janeiro, hotel e resort urbano
que completa, em março, oito anos e tem
contribuído notavelmente para o desen-
Oito anos de Rio de Janeiro, com a sofisticação e a descontração que a cidade merece.
O Grand Hyatt Rio de Janeiro segue os
padrões globais de excelência da marca
Grand Hyatt e oferece estrutura comple-
ta para receber eventos corporativos e
reuniões de negócios, além de serviços
exclusivos para quem busca lazer e pri-
vacidade na “Cidade Maravilhosa”.
A experiência é completa, desde o bom
gosto na decoração e na seleção do mo-
biliário e dos materiais, passando pelas
amenities da tradicional marca carioca
Granado. Entre os destaques do hotel
estão a Suíte Presidencial, com 165m², e
a Suíte Penthouse com 308m² e piscina
privativa.
As atividades estilo resort são diversas:
aula de ioga, aula de caipirinha, bike ex-
perience, degustação de cachaça, pas-
seio de balsa na Lagoa de Marapendi e
muito mais. Para os pequenos hóspedes
o sucesso é a programação do Kids Club,
Informe Publicitário
volvimento e o turismo de luxo da região.
A data será celebrada em grande estilo
com atividades especiais para hóspedes e
não hóspedes. No dia 28 de março, haverá
um jantar a quatro mãos com o chef resi-
dente Guilherme Campos, do Shiso, pre-
e o hotel também é dogfriendly, com seu
próprio parcão.
Outros destaques:
O Grand Club Lounge é uma área ex-
clusiva para hóspedes com serviços es-
peciais, amplos terraços e duas opções
de cenários, a Lagoa de Marapendi e a
praia, além de café da manhã e coque-
tel à noite, concierge dedicado e sala de
reuniões.
A gastronomia está sob o comando do
chef Raphael Hoelz, diretor adjunto de
alimentos e bebidas, e traz duas opções
incríveis:
O Cantô Gastrô & Lounge tem clima
praiano e informal, com muito conforto
e descontração. O cardápio oferece re-
leituras da clássica culinária brasileira,
apostando em ingredientes nativos e, re-
centemente, um menu vegano completo.
Grand Hyatt Rio de Janeiro
Av. Lucio Costa 9600 – Barra da Tijuca
www.grandhyattriodejaneiro.com
@grandhyatt_rio
miado restaurante japonês do hotel, com
o chef convidado Uilian Goya, do Goya
Zushi, de São Paulo. Para fechar a progra-
mação, no dia 31 de março, acontece o
Brunch de Páscoa.
Vendas através do site www.pacoteshyatt.
com.br/rio-de-janeiro
O Shiso está sob o comando do chef Gui-
lherme Campos e, além da grande varie-
dade de pratos, oferece o Omakase: um
menu degustação com uma sequência de
seis etapas com criações autorais de acor-
do com os melhores produtos do dia, re-
sultando em sabores inesquecíveis.
O Atiaia Spa & Fitness oferece uma cuida-
dosa seleção de tratamentos para o bem-
-estar do corpo e da mente para homens
e mulheres. O hóspede também tem à
sua disposição um Fitness Center 24 ho-
ras muito bem equipado e um Estúdio de
Yoga/Multifuncional.
Com acesso à piscina, vestiários e saunas
do Atiaia Spa & Fitness, toalhas, guarda-
-sol e espreguiçadeira na areia, o Day Use
de piscina, disponível todos os dias é uma
excelente oportunidade para conhecer
o hotel sem precisar se hospedar, e em
março oferece 15% off.
INÊS249

front
Por HELOISA MARRA

CABEÇA
FEITA CARLOS DAUDT
TRANSFORMA
PERUCAS EM
ESCULTURAS
LÚDICAS E
CONQUISTA
NOMES DA
MODA E DA
NOITE DO RIO
E DE SÃO
PAULO

A drag
performer
Danny Cowlt
usa peruca
FOTOS DE DIVULGAÇÃO

criada por
Carlos Daudt

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E stratosféricas e multicoloridas: as pe-

rucas de Carlos Daudt invadiram a moda, o carnaval e a
noite do Rio e de São Paulo. Thomaz Azulay e Patrick
Doering, da The Paradise, a escultora Gabriella Gar-
cia, a drag performer Danny Cowlt e muitos outros es-
tão fazendo a cabeça com elas.
O estilista Thomaz Azulay tornou-se fã do aderecis-
ta. “Usei nas vitrines e nas ‘montações’ de carnaval. As
perucas são muito leves e confortáveis. É importante
que esses artistas que arrasam na folia furem a bolha do
próprio carnaval”, observa.
O comentarista Milton Cunha encomendou várias, ca-
da uma homenageando uma escola de samba. “A peruca- Acima, Daudt,
ria entra no saber das artes visuais do figurino. A de espu- que nasceu
em Trajano
ma está com Carlos Daudt no patamar de excelência. O de Moraes, no
volume desvairado, as cores estouradíssimas e a adereça- Estado do Rio
ria da composição da peruca fazem dele um mestre.”
A fada-madrinha de Carlos Daudt foi Tchaka Drag
Queen, rainha das festas em São Paulo. “Ele andava tristi-

“É IMPORTANTE
QUE ESSES ARTISTAS
QUE ARRASAM NA
FOLIA FUREM A Vitrine da
The Paradise
BOLHA DO PRÓPRIO e, abaixo,
Tchaka Drag
CARNAVAL” Queen

THOMAZ AZULAY
ESTILISTA

nho com a pandemia. Encomendei então uma cabeça”,

lembra Tchaka, personagem criada pelo ator Valder Bas-
tos. Daudt e Tchaka se basearam no visual da série “Drag
Race”, do Ru Paul. A matéria-prima preferida é a espuma.
“Compro a branca e depois pinto. Trabalho com spray
quase como uma pichação”, explica ele.
A arte de Daudt conquistou a escultora Gabriella
Garcia.“São esculturas com referências históricas que
me transportam diretamente a ícones de moda. Mas o
que mais me encanta é esse lugar do impossível, do
lúdico. Quando vesti a primeira vez me transportou
para uma cena de Inteligência Artificial.” e

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INÊS249
Por JOANA DALE

Samantha

MENINA
Jones é Zinha
em “Renascer”:
“Nordestina,

baiana
como eu”

Nascida em Salvador e crescida em Senhor do

Bonfim, Samantha Jones é destaque no remake
de “Renascer”, na TV Globo. A atriz, de 26 anos,
celebra a coincidência de ter as raízes baianas
também na ficção. “A Zinha é minha primeira
personagem nordestina na TV. Sinto muito orgulho
em poder interpretar uma baiana como eu”, diz
Samantha, que passou a ser conhecida pelo grande
público como a Ciça de “Todas as Flores”. Agora,
em “Renascer”, ela sente a repercussão nas ruas e
nas redes sociais. “O desafio de estar em um projeto
com tanta visibilidade vem grudado com o prazer.
São milhões de pessoas assistindo, logo, milhões
de pessoas com expectativas e leituras diferentes.”

Chega às livrarias, no próximo dia 26,

S
“Modativismo — Quando a moda encontra

IA
a luta” (Paralela). Com curadoria de Ana

VÁR AS
Paula Xongani, o livro é escrito pela artista
e designer Carol Barreto, que há 20 anos
comanda o ateliê-escola que dá nome à

LUT
publicação. “Dezenas de mentes, mãos e
corações de mulheres negras, de diversas
origens, alicerçaram junto comigo esse
movimento de pensar a moda sob a
perspectiva antirracista e feminista”, conta.

SAMANTHA JONES NO HORÁRIO NOBRE, MODA

E ATIVISMO EM LIVRO E AUDIOBOOKS DE CASAL

JUNTOS NO ESTÚDIO
Namorando há um ano, Antonia Leite Barbosa e Luiz Oscar
BEATRIZ ORLE (ANTONIA E LUIZ OSCAR)

Niemeyer lançam, juntos, audiobooks neste mês de março. Ela

MARIA MAGALHÃES (SAMANTHA) E

narra a saga de sua família no mercado financeiro em “Os Leite

Barbosa”, livro de George Vidor. Ele conta suas próprias aventuras
na produção de shows e festivais realizados no Brasil a partir dos
anos 1980 em “Memórias do rock” — e não pense que há só
vitórias, como os Rolling Stones na Praia de Copacabana em 2016;
tem também perrengues e prejuízos. “Eu incentivei o Luiz Oscar
a gravar o dele e, muitas vezes, fomos juntos para o estúdio,
cada um em uma cabine”, conta Antonia. Saem pela Ubook.

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INÊS249
NADA
Martha Medeiros
marthamedeiros
@terra.com.br
Q
uando a conheci pela TV, intuí que
aquela bonitona tinha “gente em casa” (tenho uma amiga
que classifica as pessoas assim, quem tem “gente em casa”
equem habita o vazio). Mas foi só quando nos conhecemos
pessoalmente que o clarão se acendeu. Não eram apenas
seus olhos verdes que brilhavam, ela iluminava com o cor-
po inteiro: voz, braços, pernas. A verdade pontuava todas
as suas frases. Me rendi. Cissa é de verdade — demais. Tal-
vez isso explique ela fazer mais sucesso como apresenta-
dora do que como atriz, ainda que ótima atriz, os 10 anos de
sucesso da peça “Doidas e santas” confirmam.
Atualmente, todos falam de Cissa Guimarães, que assu-
miu o comando do programa de entrevistas “Sem Censura”,
da TV Brasil. Os dias úteis ficaram ainda mais úteis, as tardes
mais coloridas e vivas. Cissa é uma mulher-contágio. Afaste-
se, caso não queira ser infectado por sua autenticidade.
Em meio à purpurina à sua volta, Cissa deu uma entrevista
recente que fez o país engolir o choro. Ao ser perguntada so-
bre a perda do seu filho Rafael, em 2010, ela respondeu: “Eu
não perdi o meu filho, eu só ganhei o meu filho. O tempo to-
do. Não perdi nada. Só ganhei 18 anos do meu filho aqui neste
plano. Sagrado amor que só posso agradecer”.
Fiquei pensando em todos os pais e mães que passaram
pela mesma situação e que, com razão, arrastam correntes.
Escutar que não existe perda, só ganho, é um beijo na testa
e um abraço de urso. A faiscante Cissa coloca tochas acesas
no caminho daqueles que vivem sua mesma dor, e também
no caminho de quem a desconhece. Nós, que não perde-
crônica
SE
PERDE
mos filhos, mas que já perdemos amores, empregos, opor-
tunidades, precisamos redimensionar nossas queixas
mundanas. Tudo o que nos acontece é ganho. A palavra fra-
casso é um fracasso semântico, não define coisa alguma.
Tudo é experiência real. Exige “gente em casa”, preparada
tanto para o êxtase quanto para o absurdo. Abaixo o vazio.
Cissa lateja. Vibra. Treme. É espasmódica, energética, su-
persônica. Também cai, como todos caímos. É um ser vivo,
modular, cíclico. Sorte a nossa que sua montanha-russa
emocional jamais enguiça. Cissa não optou pelo mais fácil
— sumir, acabar-se. Cissa optou pela coragem do enfrenta-
mento. Pela continuação, não pela extinção. Para isso, reor-
ganiza coração e mente, alia-se à Lavoisier, perde nada,
transforma-se. Cissa, minha amiga, esta crônica é para você,
para homenagear todas as mulheres através de você. Para
lhe dar, de novo, boas-vindas, você que é uma estreante con-
tumaz, sempre em cartaz, sempre se aventurando, se ex-
pondo, se entregando e nos inspirando.
Você é o contrário do desperdício nesse mundo em que
tantos desistem tão cedo e por tão pouco. Nada se perde.
Nada. Sua voz ecoa na minha alma e ecoará em todas as al-
mas sensíveis, enquanto existirmos. e
“
T E C ISSA
SCAN AS
A FAI CA TOCH HO
COLO NO CAMIN M
AS IVE
ACES LES QUE V R
E O
DAQU MESMA D
SUA
9
INÊS249
CAPA

JULIANA PAES FALA

SOBRE DEPRESSÃO
PÓS-CANCELAMENTO,
IMPORTÂNCIA DA SAÚDE
MENTAL, CASAMENTO
E PASSAGEM DO TEMPO
Por MARCIA DISITZER | Fotos PEDRO BUCHER
Edição de moda LUCAS MAGNO F.

10
intei
INÊS249

ira 11
INÊS249

N
o mês passado, Juliana Paes, na pele de Dona Jacutinga na se-
gunda fase de “Renascer”, parou o Brasil. A dança de despedida
da personagem, ao lado de Norberto (Matheus Nachtergaele),
causou comoção no público e engarrafou as redes sociais com
elogios à sua atuação. “Fiz questão de fazer a novela para ter
oportunidade de falar sobre a autonomia de nossos corpos. Essa
mensagem é muito importante para as mulheres do interior do
Brasil, muitas ainda são tratadas como propriedade”, observa
Juliana, em entrevista presencial, olho no olho, feita diante do
mar, num dia especialmente quente no Rio. Ainda neste semes-
tre, a atriz encarnará Liana, na série “Pedaço de mim”, da Net-
flix. A trama gira em torno do abuso sexual sofrido pela persona-
gem. “Somatizei o sufoco dela. A cenas foram barra pesada.
Acabei no hospital por causa de uma sinusite”, diz.
Aos 44 anos, a atriz está com a sensibilidade aflorada. O sor-
riso largo e a personalidade solar continuam os mesmos. Po-
rém, sente-se outra depois de ter sofrido o que chama de “cur-
ra pública”. A polêmica, que, assim como sua performance
como Jacutinga, parou o país, começou em junho
LONGE DOS PALANQUES
“Nunca fiz nenhum tipo de aceno partidário para nin-
guém. Durante a minha vida pública, não levantei ban-
deiras nem para cá nem para lá. Não votei no Bolsonaro.
Não me sinto capaz de compreender a complexidade des-
ses ambientes políticos partidários e tenho pouca fé. Po-
lítica, para mim, é realizada na prática, na vida real. Con-
tribuo silenciosamente para inúmeros projetos sociais.
Faço melhor esse papel atuando em outras frentes.”
A ANSIEDADE PRÉ-PANDEMIA
“Minhas crises de ansiedade começaram antes da pan-
demia. Fui diagnosticada com transtorno de estresse
pós-traumático depois de perder pessoas da família,
minha cachorra e embarcar em uma novela (“A dona do
pedaço”) que me exigiu atenção integral. Fiquei sem
tempo para me cuidar. Na sequência, veio a Covid-19 e,
com ela, a pressão para que me posicionasse politica-

“Estava lutando
de 2021, durante a pandemia de Covid-19, quan-
do a atriz passou a ser cobrada a se manifestar po-
liticamente. O estopim da crise se deu quando Ju-
liana gravou e postou um vídeo, endereçado a
uma “cara colega”, no qual defendia a não polari-
contra fantasmas
zação e o direito de “não se sentir representada”.
Do outro lado do imbróglio estava Samantha
internos e fui
Schmütz. A humorista havia enviado uma men-
sagem, por meio do WhatsApp, à colega de traba-
incapaz de elaborar
lho, conclamando-a a sair de cima do muro. As di-
vergências das duas transbordaram para o públi-
sentimentos
co, inflamando ainda mais o caldeirão.
Essa é a primeira vez que Juliana topa falar em
e pensamentos”
uma entrevista sobre o assunto e suas conse- JULIANA PAES
quências emocionais. “Os danos mentais foram
sérios”, ressalta. Entre eles, crises agudas de ansiedade e um mente. Mas, estava lutando contra fantasmas internos
quadro de depressão. Para contorná-los, procurou ajuda psi- e fui incapaz de elaborar sentimentos e pensamentos.
quiátrica, tomou antidepressivos e começou a terapia, pro- Especialmente naquela semana em que recebi a men-
telada por anos. A seguir, os melhores trechos da conversa sagem de Samantha, por meio do WhatsApp, estava to-
em que a atriz fala sobre a polêmica, posicionamento políti- mada pelo medo. Respondi a ela, que ficou em silêncio.
co, casamento de 16 anos e passagem do tempo. Depois, gravei o vídeo e publiquei no Instagram.” a

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Juliana veste
top, saia e calça,
tudo Francesca
na Pulsa Rio,
pulseira Nádia
Gimenes e
sapatos
Santa Lolla

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Macacão
Andrea
Marques

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INÊS249
“SOFRI, O QUE A MINHA
TERAPEUTA DENOMINOU, DE
‘CURRA PÚBLICA’. ISSO É UM
TRAUMA. MAS SAÍ MAIS FORTE”

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INÊS249
O VÍDEO
“É claro que não me expressei no vídeo como gostaria, es-
tava no calor da emoção. Minha intenção era estimular
uma cultura de paz. Não estava aguentando ver as pessoas
se digladiando, amigo brigando com amigo. Sou, por natu-
reza, uma pessoa diplomática. Meu erro foi tentar falar so-
bre debate e união naquele momento.”
A REPERCUSSÃO
“Virei o alvo perfeito. Por um bom tempo, tive medo de abrir
meu celular. Acabei terceirizando minhas redes sociais para fi-
car afastada dos comentários. Fiquei impressionada com os lu-
gares que as pessoas me colocaram... Me adicionaram rótulos
que nunca me descreveram, fui chamada de ‘Bolsominion’.
Acabou virando um telefone sem fio louco. Eu lia e pensava:
‘Mas eu nunca disse isso!’. A falta de um debate sadio e de uma
interação que não fosse ataques pessoais me estarreceu. Gos-
taria de ter me posicionado mais. Porém, me fechei, virei um
bichinho. E desenvolvi um quadro de depressão. Mesmo as-
sim, conclamei a população a tomar vacina, me mostrei sendo
vacinada. Acredito mais no exemplo do que no discurso.”
A DEPRESSÃO
“Demorei a entender que estava deprimida, nunca tinha senti-
do nada parecido. Mas passei a ter pensamentos que não eram
de vida, como “para que a gente vive?”, “por que a gente está
aqui?”, “por que você me jogou aqui? Não queria ter vindo”.
Quando me dei conta de que eles estavam invadindo a minha
mente, eu, com dois filhos amados e amáveis, re-
solvi procurar ajuda psiquiátrica. Tinha alguma
coisa química que não estava funcionando bem.
Tomei antidepressivo por um tempo e parei.
“Demorei a entender
Iniciei a terapia, que havia evitado a vida toda, e
mergulhei nos meus treinos físicos.”
que estava deprimida.
Mas passei a ter
pensamentos que não
O TRAUMA
“Sofri o que a minha terapeuta denominou
de ‘curra pública’. Isso é um trauma. E, uma
vez que se passa por ele, não se sai a mesma
pessoa. A gente fica mais forte. A unanimida-
eram de vida”
de não existe. Nem todo mundo vai me achar
fofa, e tudo bem. Tem gente que segue um de-
terminado artista só para não gostar dele, ‘hater’ virou uma
espécie de profissão digital. Atualmente, quando leio cer-
tos comentários, penso: ‘Putz, essa pessoa não me conhece
mesmo’. Isso não tem me ferido mais. Na vida pessoal, amo
conhecer pessoas. Por mais traumatizada que tenha fica-
do, não consigo me fechar. A cada trabalho, estabeleço re-
lações com novos profissionais. Poderia ser daquele tipo
que faz ‘barreirinha’, mas não sei agir assim.”
16
A VIRADA DE CHAVE
“A minha ida para o Pantanal, para gravar a novela, repre-
sentou a virada de chave nesse processo. A cura se fez em
dois pontos: em relação ao meu trabalho e às oportunida-
des. Eu me pegava pensando se as pessoas iriam acreditar
naquilo tudo que estavam falando de mim... E a conexão
com o divino. Estávamos imersos na natureza e, muitas
vezes, sem sinal de celular. No final, percebi que traumas
criam fantasmas que, na prática, não são nada disso.”
O CASAMENTO DE 16 ANOS
“Além do sexo como forma de reconexão, o que nos mantém
juntos há 20 anos, entre namoro e casamento, é o que chamo
de individualidade saudável. Viajo com minhas amigas, e o
Dudu (o empresário Carlos Eduardo Baptista, marido de Julia-
na) faz o mesmo com os amigos dele. Saio sozinha, e ele tam-
bém. Já li comentários maldosos do tipo “cadê o marido?”.
Mas viver coisas sem ele só fortalece o nosso laço. Ainda o
convenci a entrar na terapia, enchi o saco (risos). Falei que es-
tava disposta a uma jornada de crescimento e, caso ele não vi-
esse comigo, não estaríamos no mesmo platô. Ele entrou e as
DRs estão mais fáceis e, o melhor, mais escassas.”
SEXO EM EVOLUÇÃO
“Eu e Dudu viemos, ao longo dos anos, quebrando mui-
tas caretices relacionadas a brinquedinhos eróticos e
gadgets. Hoje, a gente se diverte muito. Indico o suga-
dor de clitóris, que é uma alegria. Uso sozinha e com
JULIANA PAES
ele. Meu marido sempre se mostrou aberto. Atual-
mente, Dudu é quem fala: ‘Cadê?’ (risos).”
A PASSAGEM DO TEMPO
“É como disse Jacutinga para Maria Santa (Duda Santos)
em ‘Renascer’: ‘Oxalá ter a sua idade com a cabeça que te-
nho hoje’. Tem essa luta de envelhecer diante do mundo.
Mas estou adorando a segurança que a maturidade dá.” e
INÊS249

Vestido
Anselmi,
pulseiras Yar
Atelier e brincos
Betty Brand

Beleza:
Markito Costa.
Assistente
de fotografia:
Ana Santos.
Produção
de moda:
Isa Corazza.
Produção
executiva:
Kariny Grativol
e Juliana Schiffler.
Agradecimentos:
Cliffside Rio e
Empório Jardim.

17
INÊS249

Aciência CONHEÇA SONIA

GUIMARÃES, A
PRIMEIRA MULHER

explica
NEGRA DOUTORA
EM FÍSICA NO
BRASIL: ‘É TUDO
AINDA MUITO

S
Por YASMIN SETUBAL
Foto MARIA ISABEL OLIVEIRA
BRANCO E
MASCULINO’
onia Guimarães subverte alguns estere-
Para Sonia, “a dificuldade de acesso de pessoas pretas na
ótipos de cientistas que vêm à mente. Perfis sisudos e dis-
ciência está no racismo estrutural do país”, além da defi-
cretos à la Albert Einstein e Nicola Tesla dão espaço para a
ciência de ensino na educação básica, em especial nas es-
gargalhada alta, o black power descolorido e as cores cha-
colas públicas. “Não há estímulo para o ingresso na área de
mativas em roupas e acessórios usados pela primeira mu-
exatas. Por isso, muitos desistem quando levam bomba em
lher negra Phd em Física no Brasil e professora do Instituto
cálculo. Além disso, ainda há professor universitário que se
Tecnológico da Aeronáutica (ITA). “Acabei de ler minha
certifica se o aluno negro está na sala correta. Como aguen-
última avaliação acadêmica. Diz que meu vestuário chama
tar isso por cinco anos?”, questiona.
muito a atenção para o meu corpo, e que não sou boa e inte-
No ano passado, Sonia recebeu a medalha Santos Dumont
ligente o suficiente”, conta a pesquisadora, de 66 anos.
de Honra ao Mérito pelas três décadas no ITA, onde ingressou
O currículo, no entanto, diz o contrário. Graduada pela
como professora em 1993, época em que a instituição não
Universidade Federal de São Carlos, onde emendou o mes-
aceitava meninas como estudantes (o que viria a ocorrer em
trado, e com doutorado pela Universidade de Manchester,
1996). Em entrevista a Pedro Bial, em 2018, a pesquisadora
na Inglaterra, Sonia dedicou toda a sua trajetória acadêmica
afirmou que o ambiente era hostil. Seis anos depois, Sonia rei-
ao estudo dos semicondutores, materiais que possibilitaram
tera que, de lá para cá, nada mudou. “A reitoria, os professores
odesenvolvimento de telefones. Em 2020, ganhou a patente
e os alunos: todos ficaram ofendidos quando eu disse no pro-
de uma técnica para a produção de sensores em cabeça de
grama que estavam acostumados a ver pessoas como eu lim-
mísseis usados em aviões de guerra. “Além de cientista, sou
pando o chão”, diz. “Não sou daquelas que falam ‘sim, senhor’
inventora. Atuo em um ambiente que ainda é muito branco e
para tudo. É por isso que sou odiada naquele lugar.”
masculino. Se eu fizesse alguma coisa diferente na minha
Em partes. Bruna Assis, de 22 anos, aluna de Engenharia
carreira, daria vitória a quem quis me derrubar”, afirma.
Eletrônica da instituição, afirma ver Sonia como “referên-
Filha de um tapeceiro e uma dona de casa, Sonia foi a pri-
cia de possibilidade”. “Enquanto menina negra, é impor-
meira pessoa da família a se formar na faculdade, e sempre re-
tante saber que pessoas como eu conseguem chegar a lu-
cebeu o apoio dos pais. “É uma felicidade acompanhar a traje-
gares onde sonham estar”, ressalta Bruna.
tória de sucesso dela, houve muito esforço para isso”, orgulha-
Sonia não teve filhos nem se casou. “Não há homem que vá
se dona Clélia Guimarães, a mãe da pesquisadora. querer ser meu coadjuvante”, diz. Mas, segundo ela, a dedica-
ção à ciência nunca a impediu de nada. En-
“Enquanto menina negra, tusiasta do carnaval de São Paulo, a cientis-
ta já desfilou pela X9, Dragões da Real,
é importante saber que Tom Maior e Nenê de Vila Matilde. “Em
pessoas como eu conseguem duas delas, com meia bundinha de fora. E
se alguém reclamar, que se dane para lá!”
chegar onde sonham estar” O ITA foi procurado para falar sobre a
relação com a professora, mas não retor-
BRUNA ASSIS, ALUNA DE ENGENHARIA ELETRÔNICA nou até o fechamento desta edição. e

18
INÊS249

19
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seu ar
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Barbie da
robusta coleção
de Thi Bonfanti,
com itens raros
fabricados
pela Estrela
par
FOTOS DE ARQUIVO PESSOAL

20
INÊS249

O
“
Woody é meu amigo desde sempre.” Nostalgia
também passa
A frase dita por um Andy já crescido na animação “Toy por fitas VHS
story 3”, enquanto titubeia em doar seu boneco de cau- no Instagram
@recaptured80s
bói, é capaz de fazer lacrimejar os olhos até dos marman-
jos desapegados. Afinal, brinquedos costumam figurar
entre as mais fortes memórias afetivas da nossa vida. A
designer Lully Salle, de 45 anos, sabe exatamente o que o
personagem sentiu naquele mo-
mento. Ela própria se arrepende
até hoje de ter se desfeito de seus
brinquedos durante a adolescên-
cia. “Queria ser grande a todo
custo na época. Hoje, são como
obras de arte para mim”, diz.
Dona de um acervo de 500 ob-
jetos do tipo e do Instagram
@pastel_cubes_toys, ela faz par-
te de uma cena que só cresce nas
redes: a de colecionadores de
brinquedos fabricados, sobretu-
do, nos anos 1980 e 1990. Adultos
com um faro apurado para vascu- Acervo da
Pastel Cubes
lhar antiquários, brechós e sites, e Toys e achados
capazes de rememorar as melho- do Eu e meu
guarda-chuva
res brincadeiras ou até mesmo (ao lado)
satisfazer sonhos não realizados.
Um dos perfis mais populares
nesta seara é o “Eu e meu guarda-chuva” (@meuguarda- Tamagotchis,
chuva), abastecido pela designer têxtil Heloisa Fleming e febre dos anos
1990, em
seguido por 82 mil admiradores no Instagram. Ela come- ilustração que
çou a garimpar seu acervo munida de um objetivo: “Que- fez sucesso no
Instagram
ria morar num lugar de sonho”. Montou, então, um canto
para chamar de seu no apartamento onde vive, decorado
com caixinhas de música na parede, um pôster do filme
“Lua de cristal”, estrelado por Xuxa, e uma cristaleira re-
pleta de brinquedos antigos, com direito a um chocolate
Laka embalado na primeira versão. “Tenho cerca de 300
peças e, finalmente, estou catalogando tudo. Vi que esta-
va a um passo de chegar na acumulação”, brinca. a

“Queria morar
num lugar de sonho”
HELOISA FLEMING, DESIGNER TÊXTIL

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INÊS249
Heloisa não viveu a infância sem brinquedos, mas recorda-se
Luly arrepende-se de desejar alguns e não ganhá-los. Quando começou a coleção,
de ter doado os
brinquedos na quis logo completar toda a linha da apresentadora Eliana. E da-
adolescência lhe “Sorveteria da Eliana”, “Maquininha de chiclete da Eliana”,
cujos anúncios passavam na TV, nos anos 1990. Ela mostra to-
das as aquisições no perfil, além de dar dicas de lojas para os as-
sinantes e comercializar itens vintage, como adesivos e clipes
coloridos de plástico dentro da maçã de acrílico (lembra?).
Também ressalta nunca ter feito uma extravagância. No
máximo, pagou R$ 500 no mítico motorhome da Barbie, um
hit dos anos 1990. Mas, se tivesse R$ 30 mil dando sopa na con-
ta bancária, sabe o que faria: “Tem uma casa enorme da Barbie,
ainda lacrada, no Mercado Livre, que é o meu sonho”.
Em todos os perfis, não faltam desa-
bafos emocionados de pessoas que tive-
ram uma memória ativada. E vale para
todas as idades. “Uma vez, uma menina
me escreveu perguntando se podia mo-
rar na minha casa”, conta Heloisa.
“Sonho”:
O quarto Tamanha adesão ocorre, segundo o
decorado psicólogo Rossandro Klinjey, especialis-
por Heloisa
Fleming ta em desenvolvimento pessoal, porque
as redes “tornaram-se um verdadeiro
‘armário digital’”. E, nesse campo, os
brinquedos têm poder quase mágico.
“A nostalgia atua como uma utopia, não
buscando o retorno a um local específi-
co, mas o anseio por reviver um mo-
mento. Fotos e vídeos podem desenca-
dear essa sensação, mas é o brinquedo
que nos permite ‘tocar’ esse passado.”
Engana-se, porém, quem pensa que a
turma brinca como criança. A graça, di-
zem, é manter os itens bem cuidados e à vista. Que o diga o far-
macêutico Thi Bonfanti (@thibonfanti, no Instagram), de 38
anos, dono de uma respeitosa coleção da Barbie: ele tem 90%
de todos os produtos da boneca fabricados pela Estrela no Bra-
sil, entre 1982 e 1996. Ficam num quarto de sua casa, onde a
Thi Bonfanti
tem um quarto iluminação é especial e um umidificador resguarda a qualida-
especialmente de do ar. O motivo de tanto zelo? “Tenho um lugar onde, não
ambientado
para as bonecas importa o que esteja passando, vou encontrar só sorrisos.”
Encantado desde menino pela boneca, que completou 65
anos ontem, ele sempre se inspirou na liberdade de ela ser o

“O brinquedo que quiser. A brincadeira tida como “coisa de menina”, porém,

FOTOS DE ARQUIVO PESSOAL

não lhe era livremente permitida e, ao conquistar independên-

nos permite ‘tocar’ cia financeira, quis preencher essa lacuna. Embora não fale em
valores, admite fazer “abdicações imensas” em nome de itens
esse passado” raros. E, quando julgado por isso, dá de ombros e responde:
“Estamos falando de percepção. Eu, por exemplo, acho um ab-
ROSSANDRO KLINJEY, PSICÓLOGO surdo gastar uma fortuna num carro. Jamais faria isso”. e

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INÊS249
MATERNIDADE-
PENALIDADE
Luana Génot
lgenot@simaigualdade
racial.com.br
V
iralizou recentemente nas redes uma
imagem de um gráfico que mostra o quanto a materni-
dade afeta as carreiras. A primeira vez em que vi a ima-
gem foi no perfil da Nana Lima, diretora do Think Olga,
ONG dedicada à promoção de impacto positivo na vida
das mulheres. O gráfico dinâmico mostra uma linha
vermelha que percorre uma trajetória simulando a pas-
sagem do tempo a partir do nascimento de uma criança.
E compara o quanto homens e mulheres têm suas car-
reiras afetadas a partir disso.
Estes dados fazem parte do “The child penalty atlas”, ou
“O atlas da penalidade da criança”, em tradução livre. O
estudo divulgado pelo jornal The Economist foi feito pela
economista de Harvard Cláudia Golin, que ganhou o No-
bel em 2023. Ela conduziu algumas pesquisas sobre a par-
ticipação das mães no mundo do trabalho formal, num le-
vantamento que envolve mais de 130 países.
Inclusive, cruzando dados de diferentes regiões como
África, Ásia e América do Sul, num horizonte de 10 anos.
Após o nascimento do filhos, a carreira dos homens perma-
nece praticamente estável, com alguma queda em termos
de performance. Já a carreira da mulher cai de forma verti-
ginosa, especialmente em regiões da América do Sul. No
Brasil, a linha decrescente das mulheres é ainda mais desta-
cada que a média global nos 10 primeiros anos da criança.
Mais desenhado impossível. Alerta para o desperdício de
talentos e oportunidades para as mulheres. O que causa per-
das anuais de trilhões de dólares às economias. Até quando as
mulheres serão duramente penalizadas por serem mães?
crônica
Globalmente, 95% dos homens, entre 25 e 54 anos,
estão na força de trabalho. Mas, quando a gente analisa
as mulheres, apenas 52% estão trabalhando. Pratica-
mente, três a cada 10 mulheres saem da força de traba-
lho, após o primeiro parto.
Depois de 10 anos, duas delas ainda não retornaram e,
quando estão trabalhando fora de casa, são vistas como
menos comprometidas com os empregos. Isso sem entrar
nos detalhes dos recortes racial, LGBTQIAP+ ou de defi-
ciência, o que nos traria dados ainda mais alarmantes.
Fora a problematização sobre o quanto mulheres ainda
estão em cargos mais baixos do que os dos homens. Em
postos que, em geral, são os primeiros a serem cortados
em contextos de crise. Sabemos também o quanto mulhe-
res acabam negociando menos salários e projeções, e têm
as carreiras congeladas. Por outro lado, os pais são perce-
bidos como mais comprometidos e ganham mais promo-
ções no trabalho do que os homens sem filhos.
Essa linha vermelha comparativa do gráfico precisa ser
levada em consideração não só no mês de março, onde mui-
tas empresas debatem a questão feminina. Precisamos, ao
longo do ano, dar suporte contínuo ao crescimento de car-
reira de mulheres, de grupos plurais, com um olhar espe-
cífico às que são mães e acabam sendo penalizadas.
Mesmo em contextos em que linguagens e enquadra-
mentos do feminismo são questionados, é importante en-
tender que, enquanto a maternidade for uma penalidade
e não ampliarmos acesso para as mulheres em sua plurali-
dade, economias terão crescimento limitado. e
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23
INÊS249

moda Por MARCIA DISITZER

dolce &
a
gabban

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tom for

ATEMPORAL,
SEXY LINGERIE COM
ALFAIATARIA, COURO
DA CABEÇA AOS

E DOCE
PÉS, LAÇOS E
FOTOS GETTYIMAGES

COMPRIMENTO MÍNI
SÃO PROTAGONISTAS
NO INVERNO DE MILÃO

24
INÊS249

E m tempos turbulentos, qual é o papel

da moda? Se depender de Miuccia Prada e Donatella
Versace, transmitir positividade. As duas titãs do esti-
lo italiano tocaram no mesmo ponto ao serem entre-
MÍNI
Pode ser contraditório, mas o comprimento
míni tomou a frente nos desfiles da última
Semana de Moda de Milão. As pernas à mostra,
que deixam os passos largos das mulheres em
evidência, surgem no que está sendo chama-
do de alfaiataria curta — roupa de trabalho
com bermuda, short e minissaia — e em mini-
vistadas na Semana de Moda de Milão, que apresen- vestidos e microssaias, em shapes e tecidos
tou, mês passado, 62 coleções de inverno 2024/ diversos, em marcas como Gucci, Tom
Ford, Marni e Disel. Maxicasacos tam-
2025. Miuccia disse que a inspiração foi “uma ne-
bém vieram acompanhados de peças
cessidade instintiva de amor e bondade”, e Donatel- curtíssimas. Para a stylist Manu Carva-
la declarou que “a moda é um veículo de união”. lho, a inclinação vem de outras tempo-
Diante desse cenário, há diferentes propostas. A lingerie radas: “A pele à mostra segue presente.
vem coordenada com a alfaiataria na Dolce & Gabbana. Vivemos um horizonte hedonista e a
Transparências seguem em alta e laços, que já estavam bom- moda reflete o sexy”, diz.
bando no TikTok, confirmam a estética coquete por
meio da linha cerebral da Prada. O couro, ou materiais
que o simulam, aparece da cabeça aos pés. Há compri-
mentos míni (Gucci e Diesel) e mídi (Bottega Veneta
e Prada) e alfaiataria de ponta (MaxMara e Gucci).
“Em Milão, foi inventada na década de 1960 a indús-
tria de confecção bem-feita”, ressalta a consultora de
moda Costanza Pascolato. A tradição continua. a

diesel

LINGERIE
Não é de hoje que a lingerie flerta com o prêt-à- tom
porter e com a alta-costura. Espartilhos, corseletes,

ford
sutiãs, cintas-ligas, rendas, babados, transparências,
camisolas: há uma série de peças para deixar esse
namoro sempre atualizado. Nesta temporada, a gucci
Dolce & Gabbana, adepta de carteirinha do poder
feminino do underwear no look de todos os dias
(e de todas as noites, é claro), revisita a década
de 1990, quando essa obsessão fashion começou.
A dupla de estilistas misturou lingerie com uma peça
icônica do guarda-roupa: o smoking. O mix com
alfaiataria, e a top Naomi Cambell fechando, mais
uma vez, o desfile da grife, deu a maior liga. Na cole-
ção de Tom Ford, formas que fazem alusão à lingerie,
como o body, vieram minimalistas, sem tantos deta-
lhes, mas igualmente sedutoras e transgressoras.
É o feminino feminista pedindo passagem.

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VERDE-OLIVA
São várias as apostas de cores da semana de moda
italiana. A cartela veio bem democrática: há o preto,
o cinza e toda a gama de marrons. Mas outros tons tam-
bém desfilaram por lá com propriedade. O verde-oliva,
quase militar, faz parte dessa paleta inesperada, e rou-
bou a cena no desfile de Roberto Cavalli e da Ferragamo.
Nessa aquarela, há também o vermelho e suas nuances
(cereja e bordô), o roxo azulado, na passarela da Fendi
e de Tom Ford, e, finalmente, o amarelo amanteigado,
fendi destaque em etiquetas como Jil Sander. “Na contramão
da monocromia, há também uma nova maneira de mis-
turar as cores, que quebra a rigidez das formas clássicas
da alfaiataria”, pontua o editor de moda Rogério S.

amo
ferrag

o
robert
cavalli

amo
ferrag
TRANSPARÊNCIA
Tecidos fluidos, que escondem, revelam
e criam efeitos sobres outras tramas, reforçam
a influência do underwear. “É uma grande tendên-
cia, que entra na proposta da estética coquete.
A transparência dialoga bem com rendas, plumas
e bordados. E também pode aparecer misturada
a casacos, tricôs e botas, em uma outra vertente”,
observa a pesquisadora de moda Paula Saady. Esse
foi o caso da Fendi: o diretor de criação Kim Jones,
que teve o movimento oitentista New Romantic como
base da coleção de inverno, misturou bota de montaria
com saia transparente e bordada. Formou.

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COQUETE
A estética coquete, que contagiou a geração Z
e o TikTok, ganhou agora aval precioso. Isso por-
que no desfile da Prada foram os laços os protago-
nistas, em vestidos de comprimento mídi e soltos
no corpo. É a coquete cerebral, digamos assim.
“Todas as grifes italianas entraram neste neofemi-
nismo”, reflete Constanza Pascolato. “A ideia é a
seguinte: a mulher pode e deve usar laços e rendas
e segue tendo o mesmo poder. Usar esse tipo de
roupa não faz com que ela seja considerada sub-
missa.” Costanza destaca que metade do desfile
amo
ferrag
da Prada foi exuberante e a outra, masculina.
“Mostrando que hoje podemos ser um pouco
de tudo”, conclui a consultora. e

versace

COURO prada
Numa temporada de muitas estreias — o
italiano Matteo Tamburini debutou como o
novo diretor criativo da Tod’s e o argentino
Adrian Appiolaza, na Moschino —, o britâni-
co Maximilian Davis, no comando da Ferraga-
mo desde 2022, mostrou a importância do
refresh. Ele se inspirou nos anos 1920 para dese-
nhar peças de cintura baixa e de alfaiataria em couro, em
referência à época em que mulheres subverteram a ordem
FOTOS GETTY IMAGES

aderindo a itens do guarda-roupa masculino. Já a veterana

Donatella desconstruiu o estilo punk. Tem xadrez, brilho e até
tweed. Porém, uma das peças mais fotografadas foi o vestido
de couro de vermelho sexy. “A Itália é o maior fornecedor
desta matéria-prima do mundo”, diz Costanza Pascolato.

27
INÊS249
Por MARCIA DISITZER

DEZ É
ANOS hora
Stella McCartney
fez de seu desfile
na última Semana
de Moda de Paris
um manifesto em prol
das causas ambientais.
A camiseta com a
frase (“Já está mais
do que na hora”),
frisando a urgência da
consciência ecológica,
viralizou. E a inovação
foi destaque. Desta vez,
um material produzido
a partir de resíduos
de maçã imitou a
aparência do couro.

UP
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car cling cessó
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ano icina e past caso
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Uma década de parceria merece ser min s 1960 franc lhas
comemorada: a Farm e a Adidas partem para ibo que esa
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a festa com o lançamento de uma coleção his sa. Po virou dos
tor
y.ca r R$ 1. uma
exclusiva. A primeira cápsula (serão várias em ll_) 280
.
2024) chama-se Sol. A estamparia vibrante
traduz calor em diversos produtos. “Teremos
surpresas. É uma alegria poder levar um
pouco do Rio e do Brasil para o mundo”,
diz Kátia Barros, cofundadora da Farm.
GETTYIMAGES E DIVULGAÇÃO

COLLAB FARM E
ADIDAS EM FESTA,
COURO DE MAÇÃ E
BOLSA VINTAGE

28
INÊS249
INÊS249
MODA

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30
INÊS249

Blusa e calça
ambos Maison
Alaïa, sapatos
Prada; na outra
página, vestido
Ateliê Kylie Co.

31
INÊS249
Vestido
Ateliê Kylie Co,
peitos de ouro
Paola Vilas e
sapatos Prada

32
INÊS249
Colar
Ferragamo

33
INÊS249

Vestido Israel
Valentim, brincos
Swarovski e
botas Saint
Laurent Vintage

34
INÊS249
Vestido Fauve,
brincos Paola
Vilas, meias
Calzedonia e
sapatos Prada

35
INÊS249

Colar
Paola Vilas

36
INÊS249
Vestido
Ateliê Kylie Co,
colar Paola
Vilas, meias
Calzedonia e
sapatos Prada

Beleza: Clara
Holtz (com
produtos Le
Sourcil, Violette
FR e Océane).
Asistente de
foto: Renato
Zimmermann.
Produção de
moda: Jonathan
de Sousa.
Modelos: Jae
Chang (Joy)
e Mayumi
Ishihara (Allure).
Retouch:
Angêlica Marina.

37
INÊS249

beleza
Por ISABELA CABAN

NÓ
DE
VOLTA
EM ALTA NA MODA,
O LAÇO INSPIROU O
BEAUTY ARTIST
FERNANDO
TORQUATTO A
CRIAR ESTE LOOK
RETRÔ FUTURISTA.
UMA BONEQUINHA
DE LUXO
METALIZADA

FOTO E BELEZA: FERNANDO TORQUATTO; LAÇO FISZPAN

38
 INÊS249

PARA
Livro resgata
memória
limpar
Dá até vontade de esfregar e
afetiva e esperar o gênio para realizar
preciosas fotos
do universo pedidos, mas o apetrecho
da beleza fofo abaixo é um higienizador
nasal chamado neli pot.
Técnica antiga e repetida
por praticantes de ioga e
ayurveda, a limpeza das vias
nasais utiliza água e sal.
“Atualmente, muitos médicos
e pediatras já recomendam
para tratar rinite, sinusite
e gripes”, conta a médica
Monica Mohan. Custa R$ 95,
yogateria.com.br

QUEM SE LEMBRA?
Pomada Minancora, corte Chanel, dieta da proteína, câmara de bronzeamento, o
corpo livre de Leila Diniz e a sensualidade de Sônia Braga. Tudo isso e muito mais
reunido no “Pequeno almanaque da beleza”, que será lançado no dia 26 de março,
na Travessa de Ipanema, de Marcia Disitzer, jornalista da nossa ELA. São 143
páginas que reviram a memória de modismos, produtos e nomes relacionados à
beleza. “À medida que fui mexendo nesse baú, quis frisar a imposição de padrões
ao longo das décadas. Ainda bem que estamos em outro momento e podemos ser
quem a gente é com mais liberdade”, avalia a autora. Nas fotos, cabelos naturais com
o movimento da libertação do alisamento nos anos 2010; o black power de Elza
Soares e a capa do livro. Por R$ 100, Andrea Jakobsson Estúdio Editorial.
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39
INÊS249
MODA ENTRE FAMOSOS, IMERSÃO
EM BANHEIRA DE GELO CONQUISTA
ADEPTOS, QUE APONTAM MAIOR ENERGIA
E DISPOSIÇÃO APÓS O ‘MERGULHO’
Por LAÍS RISSATO | Foto HERMES DE PAULA

entrando
numa
fria

Renata mudou
o mindset: de
banhos quentes
para o relax no
gelo pós-treino

40
INÊS249
A
moda já pegou no Brasil. Nas redes soci-
ais, não é raro ver famosos, como os atores Felipe Titto, Duda
Nagle, Cauã Reymond e a modelo e apresentadora Mariana
Goldfarb, imersos em uma banheira com água e muito gelo até
o peito. No Tik Tok, a hashtag #icebath, ou banho de gelo, em
português, tem mais de 100 mil citações. As expressões faciais
dos usuários vão da dor ao alívio, e quem já experimentou ga-
rante: o efeito congelante, após os primeiros dois minutos, traz
bem-estar e relaxamento imediato.
“Essa é a sétima vez que faço e todas
elas são desafiadoras. É uma situa-
ção de desconforto intencional que
traz benefícios: me sinto mais forte,
energizada, pronta para dominar o
mundo”, brinca a professora de ioga
Esther Ktenas. Ela viveu a experiên-
cia mais recente na Rio Academia,
instalada a céu aberto na Praia de
Ipanema, que funciona até este do-
mingo. “Mais do que os benefícios
corporais, é algo que traz preparo emo-
cional e autoconfiança.”
Aprática, que agora furou a bolha do universo
dos atletas de alto rendimento, é conhecida co-
mo crioterapia de corpo inteiro. De acordo com
o ortopedista Marco Aurélio Silvério Neves, da
Clínica Movité, em São Paulo, e membro da So-
ciedade Brasileira de Ortopedia (SOB), o proce-
dimento é indicado após atividades físicas inten-
sas para reduzir o processo inflamatório nos
músculos e articulações e ajudar na recuperação
muscular. “O frio estimula a vasoconstrição, se-
FOTOS: ANA BRANCO (ESTHER) E MARCOS VIEIRA (ANDERS)
guida de vasodilatação, melhorando a circulação
sanguínea. Há relatos de melhorias na qualidade do sono”, diz.
Entusiasta dos banhos quentes, a arquiteta Renata Zap-
pellini nunca imaginou que um dia conseguiria entrar
“numa fria”. Hoje, tem até uma banheira de gelo para cha-
mar de sua, com vista para o mar. “Faço corridas longas, e
experimentei depois de uma delas. Na primeira vez, pen-
sei: ‘é impossível’. Mas, quando rolou, vi como a sensação
do pós é maravilhosa”, elogia. Renata define a experiência
como “um banho de cachoeira, porém mais gelado”. O se-
gredo para ter sucesso? A resiliência mental. “Você tem
que estar ali praticamente meditando. Depois, você sente
uma energia potente e quer fazer mais”, define a arquiteta.
“É um desconforto
que traz benefícios.
Eu me sinto mais
forte e energizada”
ESTHER KTENAS, PROFESSORA DE IOGA
Embora não existam estudos científicos que comprovem a
eficácia do tratamento, a mudança brusca de temperatura libe-
ra a adrenalina e, consequentemente, a sensação de bem-estar,
diz a médica do esporte do Hospital do Coração
(HCor), de São Paulo, Cristina Milagre. “Quan-
do há a ideia de que algo é benéfico, você incor-
pora isso do ponto de vista psicológico. Não há
problema na prática, mas é preciso cuidado”, avi-
sa. Seu colega, o cardiologista Elton Simionato,
alerta para os riscos: “A exposição prolongada à
água gelada pode causar estresse ao coração, le-
sões na pele, reações alérgicas e até hipoter-
Assíduos na mia”. Quem tem doenças circulatórias,
prática, Esther
e Anders veem neuropatias periféricas ou problemas respi-
benefícios para ratórios precisa consultar um médico antes.
além do corpo
A temperatura ideal para fins terapêuti-
cos, segundo os especialistas, é de 10
a 15 graus. “O ideal é que a pessoa
não passe de 20 minutos submerso”,
completa Elton.
Enfrentar temperaturas negati-
vas não é exatamente uma novida-
de para atletas e amantes de espor-
tes. O holandês Wim Hof, de 64
anos, conhecido como “The Ice-
man”, nos idos dos anos 2000, cri-
ou uma técnica que leva o seu nome
para quem quer se aventurar em
terrenos gelados. Ela combina práticas de respiração, ioga e
meditação. Hof entrou para o Guiness Book ao ficar 1h52
imerso num cubo de vidro com gelo e competir uma meia
maratona descalço na neve. O dinamarquês Anders Hofman,
de 33 anos, tem sido comparado a Hof após realizar a versão
gelada do ironman (prova que reúne ciclismo, natação e corrida),
na Antártida. A façanha transformou-se no documentário
“Iceman”, lançado no ano passado. O uso da banheira já é roti-
na na vida de Anders. “Ela é boa para o corpo e a mente. Você
tem um boost de dopamina”, fala. Morando no Rio e acostu-
mado ao frio intenso, ele tira de letra a atividade em terras ca-
riocas. “Para os meus amigos é bem mais difícil”, brinca. e
41
INÊS249

giro
Por JOANA DALE

MOSAICO
VIVO
O FRANCÊS
DANIEL BUREN
REALIZA
INTERVENÇÃO
NA ICÔNICA
FACHADA DO
COPACABANA
PALACE

O artista,
de 85 anos,
é conhecido
pelas listras
e pelas cores

42
INÊS249

O Copacabana Palace está

diferente. Nas últimas semanas, os vidros das
121 janelas da icônica fachada do hotel foram
coloridos por 1.322 vinis transparentes, em
“Escala
colorida”:
1.322 vinis
em 121 janelas
azul, vermelho, verde, amarelo e rosa, obra do da fachada
artista francês Daniel Buren. Intitulada “Esca-
la colorida para Copacabana Palace”, a instala-
ção faz parte do projeto Mitico, realizado há
três anos pela Belmond em parceria com a
Galleria Continua. Neste 2024, seis en-
dereços da rede de luxo hoteleira ga-
nham o colorido de Buren. Além do
Copa, estão na lista Mount Nelson, na
Cidade do Cabo; Villa San Michele,
em Florença; Castello di Casole, na
Transparências
Toscana; Hotel Cipriani, em Veneza; e jogo de luz
e La Residencia, em Maiorca. “São fazem parte
da dinâmica:
seis trabalhos absolutamente dife- até na neve
rentes, só o meu nome os conecta”,
deixa claro o artista, de 85 anos, em en-
trevista por Zoom de sua casa, em Bou-
logne-Billancourt, na França.
Na próxima quinta, dia 14, Buren esta-
rá no Rio para inaugurar pessoalmente a
instalação e participar do Copa Art Talks,
evento para convidados no teatro do hotel. Se-
rá sua quinta ou sexta vez na cidade, ele já perdeu
as contas. “Há cerca de 40 anos, quando vim ao Bra-
sil, pela primeira vez, para participar
da Bienal de São Paulo, emendei dois
dias no Rio e fiquei hospedado no Co-
pacabana Palace”, lembra. “Tantos
anos depois, quando me pediram para
fazer uma intervenção, fiquei intriga- NA PARCERIA
do diante dessa fachada histórica, gi- COM A
GETTY IMAGES E GABRIEL TESSEROLLI (COPA)

gante e intocável. Então, resolvi tirar

partido da transparência das janelas.”
GALLERIA
Ao longo do dia, a obra — que transfor- CONTINUA,
ma o visual do prédio de dentro para SEIS HOTÉIS
fora — pode ser conferida de diferen-
tes formas, tanto por hóspedes quanto DA BELMOND
por transeuntes. “O jogo de cores e Instalação
no interior do
RECEBEM
sombras é dinâmico, muda de acordo
com a ocupação do hotel e o acender
Grand Palais,
em Paris, criada
OBRAS DO
ou apagar das luzes nas suítes.” a
em 2012
ARTISTA

43
INÊS249
Diretor da Belmond no Brasil, Ulis-
ses Marreiros celebra a novidade e
reforça a ligação do hotel, que aca-
bou de completar cem anos, com a
arte. “É uma instalação que inclui a
cidade. A ideia é que cariocas e turis-
Listras e
espelhos no
tas possam contemplar o trabalho,
jardim do olhando de dentro ou de fora”, diz
Mount Nelson,
na Cidade
Ulisses. A intervenção permanece
do Cabo até meados de setembro, mês em
que acontece a ArtRio.
Até lá, é possível que Daniel Buren
inaugure, ou pelo menos anuncie,
outro trabalho em solo brasileiro.
“Vou aproveitar a viagem para confe-
rir o espaço de três museus, onde
posso vir a fazer uma nova exposi-
ção: o Museu de Arte Contemporâ-
nea de Niterói, projeto do Oscar Nie-
meyer, o Museu de Arte Moderna de São
Paulo e a Casa de Vidro Lina Bo Bardi, tam-
“O tabuleiro de bém em São Paulo”, adianta o artista.
xadrez arco-íris
ondulante”, de Figura central na arte desde a década de
2016, instalado, 1960, Buren é famoso pelo uso de cores con-
no ano passado,
em um vinhedo trastantes dispostas sobre superfícies ou espa-
ços arquitetônicos e listras simétricas. A marca
está em obras como as colonnes preto e brancas do
Palais Royal e “L’Observatoire de la lumière” (“O ob-
servatório da luz”, em tradução livre) na Fundação
Louis Vuitton, ambas em Paris.
O “ateliê” do artista é a rua. “Depois de 55 anos de traba-
lho, hoje posso afirmar que nunca terei um estúdio, de fato.
Não mudarei mais o meu processo criativo”, diz ele, respon-
sável por introduzir a noção de “in situ”nas artes visuais,
conceito que caracteriza a prática que conecta o
trabalho às especificidades físicas e culturais
dos locais onde ele é apresentado. “Se eu
tivesse um estúdio, talvez fizesse o
O francês, este
ano, diante de DANIEL mesmo trabalho. Mas, como vivo di-
GETTY IMAGES E DIVULGAÇÃO (MOUNT NELSON)

trabalho no ante de novas paisagens, novas cul-

Le Bon Marché, BUREN É turas e novas pessoas, minha obra
em Paris
CONHECIDO está sempre mudando. É o meu
jeito de criar e, o melhor, não
NO MUNDO corro o risco de precisar virar a
INTEIRO PELO noite trabalhando e dormir no
USO DE CORES estúdio”, diverte-se o artista, que
opta por vestir-se exclusivamente
E LISTRAS de preto. “É mais prático, não pre-
SIMÉTRICAS ciso pensar de manhã. Todos os dias
uso o mesmo equipamento e voilà!” e

44
INÊS249

“O observatório
da luz”: obra
realizada na
Fundação Louis
Vuitton, 2016

45
INÊS249
crônica
A MORTE
DO CISNE
Bruno Astuto
brunoastuto1@gmail.com.br
S
ocialites! As protoinfluenciadoras de mea-
dos do século XX! O elo entre a era das aristocratas sangue-
azul, que perderam o poder depois das duas grandes guerras, e
a das celebridades. A segunda temporada do seriado “Feud”
traz o embate entre elas e seu melhor amigo, o escritor ameri-
cano Truman Capote, que as batizou “cisnes” por causa de seus
pescoços longilíneos, frequentados por joias inacreditáveis.
Entre o grupo, Ann Woodward, casada com William Wo-
odward Jr, herdeiro da fortuna do Hanover National Bank e do
patrimônio de Belair, em quem ela atirou e que matou em 1955
alegando tê-lo confundido com um ladrão; a lendária beldade
Slim Keith; Pamela Churchill, ex-nora do primeiro-ministro
britânico Winston Churchill; Marella Agnelli, casada com o
dono da Fiat; Lee Radziwill, a irmã caçula de Jacqueline Ken-
nedy; e Babe Paley, mulher do chefão da CBS Bill Paley, sobre
quem Truman escreveu em seu diário: “A Sra. P tinha apenas
um defeito: ela era perfeita; caso contrário, ela seria perfeita.”
Lindas, ricas e frequentadoras assíduas das listas de
mais elegantes, essas senhoras encontraram, naquele ho-
mem espirituoso e de inteligência cáustica, um confiden-
te divertido para suas alegrias mundanas, inseguranças e
seus dramas afetivos. Convidavam-no para viagens em
seus aviões particulares, barcos e suas casas espalhadas
pelo mundo. Em retribuição, ele as colocou num pedestal.
Mas, embora as adorasse, também as estava estudando, como
faz qualquer pessoa que coloque outra em um pedestal.
Em 1975, o autor de clássicos como “Bonequinha de luxo”
(1958) e “A sangue frio” (1966), publicou, na revista Esquire,
La Côte Basque 1965, um capítulo daquele que seria seu der-
46
radeiro, inacabado e tão aguardado romance, “Súplicas aten-
didas”, em que revelaria os bastidores do mundo dos ricos. A
obra prometia ser uma versão contemporânea do clássico
“Em busca do tempo perdido”, de Marcel Proust, que, aliás,
inspirou Truman a chamar as amigas de cisnes.
Tanto elas quanto a crítica reagiram com rara violência às cer-
ca de 13 mil palavras do texto. “Chocantemente repugnante e
completamente difamatório”, escreveu o dramaturgo Tennes-
see Williams. “Capote morde as mãos que o alimentam”, lia-se
na New York Magazine. O fato de nem sequer terem desconfia-
do das intenções do escritor ou de suas intriguinhas em tom de
galhofa foi ingenuidade ou excesso de autoconfiança?
Babe, que se tratava de um câncer nos pulmões, colocou a
culpa da piora de sua condição na traição do ex-amigo. Diz-se
que Ann se matou com cianureto quando soube que o assassi-
nato do marido voltaria à tona pela pluma de Truman. Depois
da publicação, o escritor desceu a ladeira, como pária social.
Suas asas foram cortadas, e ele simplesmente perdeu os su-
perpoderes, como o Mago Rothbart do balé de Tchaikovsky.
Bom lembrar que não havia Instagram naquela época,
portanto, fora os filtros das colunas sociais sempre elogio-
sas, os comuns mortais apenas desconfiavam do que se
passava no restrito grupo do “soçaite”. Os anos 1960 foram
uma década de incrível transformação social, o boom eco-
nômico permitiu subidas impensáveis na pirâmide e mes-
mo os círculos mais fechados estiveram, em certas ocasi-
ões, abertos a novas ideias e à penetração de diferentes
grupos que passaram a reivindicar seus direitos e seu lugar
na sociedade. Daí o acesso do abertamente gay Truman a
esse gotha invisível que em outras eras não o receberia e
que ele resolveu contar, dissecar e, por que não, balançar.
Oescritor só não contava com a única coisa com que a tur-
ma não estava disposta a romper: a omertà da hipocrisia. e
“
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SENSAÇÃO DE
INSEGURANÇA
Com roubos e furtos em alta na
região, moradores pressionam poder
público para recuperar tranquilidade
INÊS249
CULTURA / ARTES PLÁSTICAS
Artista mirim
aporta em Paris
Sophia Helena vai expor em galeria do Louvre
MADSON GAMA
madson.gama@oglobo.com.br
-
A os 6 anos, Sophia Helena
já demonstrava habilida-
de para as artes plásticas. O
potencial foi identificado
por uma professora do Colé-
gio Adventista de Jacarepa-
guá, onde estuda. Logo que
percebeu o talento, Débora
de Faria Hemerly procurou a
mãe da criança, Daniele Mo-
reira, e a orientou a dar aten-
ção à aptidão da menina, que
começou a se aventurar no
universo da pintura e, aos 9
anos, pediu para ser matri-
culada num curso. O inves-
timento deu frutos. No fim
de fevereiro, a artista mi-
rim, especializada em tinta
acrílica sobre tecido, foi
aprovada numa seleção pa-
ra expor no Carrousel du
Louvre, uma galeria no
subsolo do museu francês.
—Eu não sou desse mun-
do da arte; então, para mim,
é normal uma criança dese-
nhar, mas a professora abriu
meus olhos para o talento
especial dela e falou: “Inves-
te!”. Nós somos cristãos, e
ela começou a pintar nos
eventos da igreja. Numa das
gincanas, fez Jesus com tin-
ta guache, algo bem ama-
dor. Mas, depois disso, viu
oglobo.com.br/rio/bairros
O GLOBO - BARRA DA TIJUCA, JACAREPAGUÁ, RECREIO, SÃO CONRADO, VARGEM GRANDE E VARGEM PEQUENA
BANGU, BARRA DE GUARATIBA, CAMPO DOS AFONSOS, CAMPO GRANDE, COSMOS, DEODORO, GUARATIBA, INHOAÍBA, JARDIM SULACAP, MAGALHÃES BASTOS, PACIÊNCIA, PADRE MIGUEL,
PEDRA DE GUARATIBA, REALENGO, SANTA CRUZ, SANTÍSSIMO, SENADOR CAMARÁ, SENADOR VASCONCELOS, SEPETIBA, VILA MILITAR E VILA VALQUEIRE
Editor responsável: Milton Calmon Filho (miltonc@oglobo.com.br). Edição impressa: Lilian Fernandes (lilian@oglobo.com.br). Diagramação: Ana Scott e Jacqueline Donola. Telefones: Redação: 2534-
5000, r. 5905/5123. Publicidade: 2534-4355. Faturamento: 2534-5484. Crédito: 2534-5860. Endereço: Rua Marquês de Pombal 25, 3º andar - CEP 20230-240. E-mail: falabarra@oglobo.com.br.
FOTOS DE DIVULGAÇÃO/ANDRÉ LUIZ
um artista plástico na televi-
são que ensinava a pintar.
Pediu para eu comprar a tela
e foi reproduzindo tudo o
que o rapaz fazia. No final,
ela me mostrou e pediu que
eu a colocasse num curso de
pintura — relata a mãe. —
Paguei uma aula experi- A criadora
mental para ver se ela se e a criatura.
adaptava, e ela adorou. Só Sophia Helena
tem ela de criança na tur- diante de
ma. A instrutora também seu quadro
exaltou o talento dela; dis- “As bailarinas”
se que já chegou com voca-
bulário de artista.
Atualmente, Sophia, que
mora em Madureira, com-
plementa o curso de pintura,
às terças-feiras, em Vila Val- “Tiradentes”.
queire, com aulas on-line de Artista mirim
arte, às sextas, em que apren- retrata árvore
de sobre traços, desenhos e de cidade do
grandes pintores, como Van interior de
Gogh e Claude Monet. Ela Minas Gerais
tem cerca de 15 telas, que
vão da arte figurativa, com ra o que a professora disse, na.artes. — Eu sinto muita ça para as pessoas.
paisagens e animais, à abs- mas se passaram alguns alegria quando estou pin- O Carrousel du Louvre
trata. Entre elas estão “As anos e pedi para entrar num tando. Às vezes, quando a tem obras de artistas de 25
bailarinas”, com duas meni- curso de pintura, que amei pintura é muito desafiado- nacionalidades. No mo-
nas dançando em sincronia; desde o início. Depois, gra- ra, como a “Pavão”, fico ten- mento, Sophia trabalha na
“Tiradentes”, que retrata ças a Deus, tudo foi aconte- sa, mas paro, penso e depois produção de obras exclusi-
uma árvore do município do cendo, até que minha mãe vai fluindo. Eu pesquiso vas para a galeria. A meta é
interior de Minas Gerais; e me inscreveu para expor no muitas imagens na internet desenvolver oito, mas ape-
“Casa de Friburgo”, seu pri- Carrousel du Louvre, e a como referências, só para nas duas serão selecionadas
meiro quadro, inspirado nu- aprovação me deixou muito me guiar. Gosto muito de para a exposição em Paris,
ma moradia de campo. feliz e ansiosa — conta Sop- trabalhar com as cores azul, em outubro. A família tenta
— Inicialmente, minha hia, cujo trabalho pode ser amarelo e magenta, para patrocínios para custear a
mãe não deu muita bola pa- visto no perfil @sophiahele- transmitir alegria e confian- ida à capital francesa.
Capa: Patulhamento na Avenida
Lucio Costa. FOTO DE DIVULGAÇÃO/
POLÍCIA MILITAR
INÊS249
DIA DA MULHER / ESPECIAL
Empreendedorismo: elas
vão ao shopping para vender
Via Parque e Recreio Shopping abrigam pop-ups colaborativas
“C onectadas somos mais
fortes” é o tema da
campanha EmpoderaEla,
dos shoppings da rede Allos,
para celebrar o mês da mu-
lher este ano. Na região, Via
Parque e Recreio Shopping
terão ações especiais.
Até o fim de março, pop-
ups colaborativas, nas quais
empreendedoras estarão
vendendo seus produtos,
vão funcionar nos dois cen-
*Promoção válida somente para reservas feitas para o feriado da Semana Santa.
tros comerciais. No Via Par-
que, a loja fica no 1º piso,
próximo à portaria B, e tem
parceria com o Amor de
Mãe, um dos maiores gru-
pos maternos do Brasil, lista-
do em 2022 pela Meta, dona
do Facebook e do Instagram,
como um dos projetos de
maior impacto social no pa-
ís. Em 13 estandes, que po-
dem ser visitados de sexta a
domingo, o público encon-
tra artigos como peças de
crochê, acessórios com pe-
dras, suspiros e macarons.
No Recreio Shopping, a lo-
ja, também no 1º piso, tem
peças de artesanato, incluin-
do artigos em macramê, rou-
pas, chinelos bordados e cus-
tomizados e plantas, entre
outros produtos. O funciona-
mento do espaço seguirá o
horário do shopping.
No Dia Internacional da
BARRA OGLOBO 3
Domingo 10.3.2024
DIVULGAÇÃO/THAIS MONTEIRO
EmpoderaEla. Loja do projeto montada no 1º piso do Recreio Shopping
Mulher, comemorado na expor na entrada principal
última sexta-feira, a artista do shopping. A peça será
plástica Nise (@le- doada para a Ação Social
tras.da.nise), especializa- Recreio, entidade que atua
da em ilustrações em giz no Terreirão, comunidade
pastel, criou uma obra para no mesmo bairro.

   
  
 
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CAPA / VIOLÊNCIA
Dia a dia norteado pelo
medo de ser a próxima vítima
Casos frequentes de furtos e roubos, inclusive a mão armada, assustam
moradores, que reivindicam medidas dos órgãos de segurança
MADSON GAMA madson.gama@oglobo.com.br
O
empresário Guy
Maciel, de 46
anos, que vive
num condomí-
nio na orla da
Barra da Tijuca, na altura do
Posto 8, tem evitado sair de
casa à noite. Quando abre ex-
ceções, prefere programas
em ambientes fechados, co-
mo shoppings, e não costu-
ma voltar tarde. As precau-
ções têm uma razão: a cres-
cente sensação de inseguran-
ça que domina não apenas
sua rotina, mas a de muitos
moradores assustados com
os episódios de violência na
região nos últimos meses.
—Eu sou meio paranoico
com segurança. Tem um
mercado aqui do lado, por
exemplo, onde eu não vou à
noite. Não tenho carro que
chame atenção e, no sinal,
paro sempre na pista do
meio, além de não usar obje-
tos como relógio. Prefiro ir a
shoppings aqui perto, como
o Vogue Square e o Down-
town a ir à Olegário Maciel,
por exemplo, onde já houve
tiro e morte. Eu não fico
dando mole. Quando vou à
praia no fim de semana, não
levo nada —conta Maciel.
O crime que mais preocu-
pa os moradores são os rou-
bos de celulares. Entre os
pontos mais perigosos, des-
tacam, estão as avenidas das
Américas, perto do Down-
town; e Ayrton Senna, próxi-
Insegurança. Patrulhamento
em frente à estação Riocentro
do BRT, na Avenida Salvador
Allende: moradores temem
andar a pé pelas ruas da Barra
mo ao Via Parque Shopping;
o Bosque da Barra, onde, se-
gundo relatos, os assaltantes
usam as áreas verdes para se
esconder; e os postos 3, 6 e 8
da orla da Barra.
—Há duas semanas, uma
vizinha chegou à portaria do
prédio aos prantos dizendo
que tinham acabado de le-
var seu celular num assalto e
que os rapazes tinham saído
correndo em direção à
praia. Assim que ouvi a his-
tória, corri para tentar en-
contrar um PM e avisar. Foi
uma loucura, porque não te-
nho nem mais idade para is-
DIVULGAÇÃO/POLÍCIA MILITAR
so, mas a situação dela me-
xeu comigo —diz Maciel. —
Em muitos casos, os crimi-
nosos chegam de moto,
abordam as vítimas e fazem
a limpa.
De acordo com dados di-
vulgados pelo Instituto de
Segurança Pública (ISP) no
fim de fevereiro, na compa-
ração entre janeiro de 2023
e o mesmo mês deste ano, o
total de roubos aumentou
27,3% na Barra (área da 16ª
DP), passando de 143 para
182. Entre eles, o roubo de
aparelho celular subiu 35%
no período, de 28 para 38
casos registrados. De janei-
ro a dezembro de 2023, fo-
ram 384 roubos do tipo, um
crescimento de 15% em re-
lação ao mesmo período de
2022, que registrou 333 ca-
sos. Na área do 31º Batalhão
(Recreio), o número de rou-
bos também aumentou
(15,9%) em janeiro deste
ano em relação ao mesmo
mês de 2023, de 246 para
285. Os roubos de celulares
na região tiveram alta de
32,6% no período, subindo
de 43 para 57 casos. Já na
área do 18º Batalhão (Jaca-
repaguá) os dois índices caí-
ram 24,1% (total de roubos)
e 19,7% (roubo de celular).
— Quando observamos
anos passados recentes, em
ambas as Aisps (Áreas Inte-
gradas de Segurança Públi-
ca), cobertas pelo 18º e pelo
31º batalhões, observamos
uma tendência de aumento
nos roubos de celulares a
partir de 2020, exatamente
quando se criou o Pix — ex-
plica o antropólogo Robson
Rodrigues, coronel da reser-
va da Polícia Militar e pes-
quisador do Laboratório de
Análise da Violência da
Uerj. — A hipótese é que o
pagamento eletrônico ins-
tantâneo seja um fator de-
terminante para explicar es-
sa evolução nos registros.
Nesse caso, o intuito do rou-
bo é um acesso direto às
contas bancárias para trans-
ferências rápidas de altas
quantias. Essa dinâmica se
soma à outra mais tradicio-
nal, em que o foco é a venda
dos aparelhos subtraídos no
mercado ilegal.
INÊS249 BARRA OGLOBO 5
Domingo 10.3.2024

Crimes recentes aumentaram preocupação

MARCOS NUNES REPRODUÇÃO/EMPRESA GABRIEL BÁRBARA LOPES/15-08-2017 CUSTODIO COIMBRA/9-7-2019

Recreio. Rua onde jovem foi assassinado Avenida do Pepê. Bandidos atacam turistas Uptown. Tiroteio na Gardênia causou pânico Salvador Allende. Avenida teve confronto

O estudante de odontologia Lucas Carnei-
ro Monteiro Meirelles, de 27 anos, foi
morto durante um assalto na Rua Joa-
quim da Silveira, no Recreio, na madruga-
da do último dia 13, terça-feira de carna-
val. Ele e a namorada chegavam em casa,
após uma viagem, quando um homem
armado e de bicicleta anunciou o roubo.
Durante uma luta corporal com o crimino-
so, o jovem foi alvejado na cabeça e che-
gou a ser socorrido, mas não resistiu.
Câmeras de segurança flagraram o mo-
mento que um grupo de turistas foi rouba-
do, na madrugada de 23 de fevereiro, uma
sexta-feira, na orla da Barra. As imagens
mostram que o grupo caminhava pela
Avenida do Pepê quando foi surpreendido
por quatro criminosos em duas motos, que
os agrediram e roubaram seus pertences.
Um motorista de aplicativo que testemu-
nhou a ação, de menos de um minuto,
ofereceu ajuda aos estrangeiros.
Um tiroteio na Gardênia Azul, na noite de
domingo, dia 18 de fevereiro, levou pânico
aos arredores, inclusive a funcionários e
clientes do shopping Uptown Barra, na
Avenida Ayrton Senna. No dia seguinte,
houve novo tiroteio na comunidade locali-
zada nos fundos do shopping, causando
mais alvoroço. Em ação no local, o Bata-
lhão de Choque prendeu um homem e
apreendeu uma granada, carregadores de
fuzil, munições e um radiotransmissor.
Pedestres e motoristas que passavam pela
Avenida Salvador Allende na noite do últi-
mo dia 19 levaram um susto ao deparar
com tiroteio entre policiais e quatro ho-
mens que estavam num carro roubado
perto da estação Riocentro do BRT. Abor-
dados, os bandidos reagiram, iniciando o
confronto. Um deles tentou fugir e foi atro-
pelado. Outros dois correram mas acaba-
ram presos com dois simulacros de arma
de fogo e três celulares. O quarto fugiu.

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INÊS249
CAPA / VIOLÊNCIA
Endurecimento das leis
é visto como solução
Especialistas, porém, dizem que encarceramento não é eficaz
O medo da violência tem
mobilizado os mora-
dores. A Associação de
Condomínios Residenci-
ais Bosque Marapendi
(ABM), o Conselho Co-
munitário de Segurança
(CCS) da Barra e a associa-
ção comunitária Barra
Alerta se uniram para im-
plantar um destacamento
policial na Praça Pimenti-
nha, cuja frente ocupa a
Avenida das Américas; e as
laterais, as avenidas Afon-
so Arinos de Melo Franco e
Evandro Lins e Silva,
próximo à estação de BRT
Bosque Marapendi. A
construção do espaço —
que terá 50 metros quadra-
dos, será climatizado e
contará com alojamento
para os agentes dormirem,
além de geladeira e micro-
ondas — começou em no-
vembro de 2023 e deve es-
tar concluída em abril.
—Ao longo do ano passa-
do, fizemos reuniões com
autoridades públicas. Con-
seguimos autorização da
prefeitura para a constru-
ção, que está sendo financi-
ada com recursos dos 22
condomínios da ABM e o
patrocínio de empresas par-
ceiras. Já o comando do 31º
Batalhão vai disponibilizar
o efetivo para o local e defi-
nir a estratégia do destaca-
mento, mas a ideia é que
funcione 24 horas, tenha
sempre uma viatura e, pelo
menos, três agentes — diz
Ricardo Magalhães, mora-
dor da ABM e presidente do
CCS de 2021 a 2023.
BRENNO CARVALHO/27-3-2018
Atual presidente do
CCS, Maria Lucia Masca-
renhas tem promovido
uma reunião por mês com
os moradores para discutir
os problemas de seguran-
ça. E, devido à gravidade
do tema, planeja passar a
ter dois encontros men-
sais. O último foi no dia 18
de fevereiro. Entre as prin-
cipais reivindicações dos
moradores está o endure-
cimento da legislação de
encarceramento.
— Temos pedido ao 31º
Batalhão o aumento das
equipes de patrulhamen-
to. Mas há dois problemas:
um é o efetivo aquém do
necessário, tanto da Polícia
Militar quanto da Civil, pa-
ra tantas ocorrências. A ou-
tra questão é a legislação, FOTO DE LEITOR
que é branda com os crimi- Bosque da
nosos e precisa passar por Barra. Local
mudanças se realmente se é apontado
quer combater a criminali- como um dos
dade. Muitas pessoas são mais perigosos
detidas e soltas logo em se-
guida. Isso é um estímulo
aos marginais, que acham
que não vão permanecer
presos, têm certeza da im-
punidade. O CCS trabalha
em prol do enrijecimento
das leis vigentes, que não
estão favorecendo os cida-
dãos de bem, mas os que
cometem delitos — opina
Maria Lucia.
Os encontros do CCS
acontecem no auditório da Reforço.
Ordem dos Advogados do Base policial
Brasil (OAB) na Barra, no em construção
segundo piso do Marapen- próximo ao
di Shopping. Presidente da Marependi
entidade, o advogado Mar-
INÊS249
LUCAS TAVARES/4-5-2022
cus Soares costuma parti-
cipar das reuniões repre-
sentando a instituição. O
objetivo é contribuir com o
debate sobre segurança
pública com esclareci-
mentos sobre aplicação
das leis, por exemplo.
— Surgem muitas dúvi-
das relacionadas à aplica-
bilidade da legislação em
determinados casos. En-
tão, elaboramos pareceres
apontando possíveis falhas
na atuação das forças de se-
gurança ou na interpreta-
ção das leis pelos cidadãos
e apresentamos no conse-
lho, no sentido de informar
a população — explica. —
Segurança Esse sentimento de que a
Presente. polícia prende e a Justiça
Programa solta é, realmente, muito
chegou à presente na maioria dos
Barra no moradores da Barra, que é
final de 2019 um bairro mais conserva-
ARQUIVO PESSOAL
dor. A população quer mo-
dificações no regramento
legal que impeçam, respei-
tando os direitos humanos,
que um marginal com ex-
tensa ficha criminal seja
posto em liberdade e volte
a cometer crimes.
Morador do condomínio
Parque das Rosas, na Bar-
Guy Maciel. ra, desde 1999, Soares ad-
Empresário diz mite que não tem se senti-
que evita sair à do seguro no bairro.
noite para se — Vai fazer 25 anos que
proteger da moro na área. O bairro
violência cresceu muito nas últimas
ARQUIVO PESSOAL
décadas. Antes, aqui tínha-
mos a sensação de que viví-
amos em uma pequena ci-
dade, em que todos se co-
nheciam e que a criminali-
dade não alcançava, por
conta da geografia local,
um filete de terra entre o
mar e a montanha. Hoje,
Ricardo perdemos a sensação de se-
Magalhães. gurança. O Parque das Ro-
Morador reuniu sas vem sendo alvo fre-
associações quente de pequenos deli-
para financiar tos, como roubos de celula-
nova base res, mas que nos dão a im-
policial pressão de que um crime
maior, como um homicí-
BARRA OGLOBO 7
Domingo 10.3.2024
dio, pode ocorrer de forma
repentina — relata. — Du-
as semanas atrás, um cole-
ga da OAB estacionou na
praça do Parque das Rosas
e, quando voltou, o veículo
tinha sido levado. Há três
semanas, moradores de
um dos prédios foram
mantidos reféns dentro de
casa por um assaltante que
se aproveitou da entrada
de um entregador de comi-
da. O delito acarretou a
proibição da entrada des-
ses profissionais.
Em relação ao pleito dos
moradores por leis mais
severas de encarceramen-
to, o antropólogo Robson
Rodrigues avalia a medida
como ineficaz na redução
da violência.
—Entendo que as pesso-
as pensem nessa saída em
virtude de toda a sensação
de insegurança e de que es-
tão abandonadas pelo esta-
do. É um sentimento justo,
mas mais emocional do
que racional. As evidências
mostram que nosso siste-
ma carcerário é criminóge-
no, ou seja, não só não res-
socializa como gera crimi-
nalidade e produz mão de
obra para o crime organiza-
do. Há alta taxa de incidên-
cia. Você vai jogar o preso
na cadeia pensando só no
seu problema imediato,
mas vai criar um problema
maior e mais rápido para o
futuro. É um ledo engano
achar que aumentar o cár-
cere é solução para dimi-
nuir a criminalidade. O
Brasil já tem uma das maio-
res populações carcerárias
do mundo. Prende-se mui-
to, mas prende-se mal. A
maior parte dos presos não
é formada por quem prati-
cou homicídio, que é o pior
crime do código penal. Os
Estados Unidos têm o mai-
or encarceramento do
mundo, mas ainda são
muito violentos—analisa.
INÊS249 CAPA / VIOLÊNCIA

Polícia diz que foca em áreas

mais perigosas e prevenção
Segurança Presente informa que reforçou patrulhamento na orla

As ofertas anunciadas nesta página ficarão disponíveis

ao longo da semana. Fique ligado em: clubeoglobo.com.br REPRODUÇÃO

DIVULGAÇÃO
U ma passeata em prol da
segurança e em protesto
contra a morte do estudante
Lucas Carneiro Monteiro
Meirelles, de 27 anos, atingi-
do com um tiro na cabeça
durante um assalto no Re-
creio na terça-feira de carna-
val, foi realizada por mora-
dores no dia 18 de fevereiro,
na Avenida Lucio Costa. Cer-
ca de 200 pessoas participa-
ram. Em discurso ao micro-
fone durante a manifesta-
ção, a mãe do jovem, Cristia-
HOTEL NA SERRA DO RIO ne Meirelles, pediu justiça.
— Perdi meu filho com
Hospede-se no Le Canton, em Tere- um tiro na cabeça. O crimi-
sópolis, na serra do Rio de Janeiro, 20% noso não teve dó; voltou pa-
com 20% de desconto. Em pacote desconto ra descarregar arma. Não
de feriados, a oferta é de 10% OFF. Reservas estou aqui para pedir para o
podem ser feitas por telefone (21-3616-9500). bandido morrer, não, mas
para pedir justiça pelo meu
DIVULGAÇÃO DIVULGAÇÃO filho, que não vai voltar.
Tem quatro dias que deixei
meu filho num cemitério.
Ele era uma pessoa boa; a so-
ciedade perdeu um bom
menino, um bom cidadão.
Nós estamos sendo encur-
ralados dentro de casa. Nin-
FOCO NA PIZZAS guém imagina o quanto es-
tou sofrendo, mas quero
SUA SAÚDE DIVERSAS transformar meu luto e mi-
Aproveite até 40% OFF Assinante tem 35% nha dor numa luta pela me-
em todas as categorias OFF em pedidos on-li- mória eterna do meu filho
de medicamentos à ven- ne na Domino’s, nas —declarou na ocasião.
da na Drogasmil em lo- mais de 300 unidades A Polícia Militar informa
jas no delivery (21-2472- espalhadas pelo país. que os comandos do 31º
3000). Veja on-line. Confira em nosso site. BPM (Recreio dos Bandei-
rantes) e 18º BPM (Jacare-
paguá) distribuem os esfor-
ACESSE E CONFIRA! ços de policiamento osten-
Escolha o modo “Foto” e posicione a sivo nos bairros, com ron-
câmera de modo a captar o código. das e abordagens realizadas
Feito isso, a câmera mostrará no topo por viaturas e motopatru-
da tela a opção para abrir o link.
lhas, de acordo com dados
da mancha criminal. E que
Manifestação. Cerca de 200 moradores participaram de ato por segurança
os batalhões trabalham
com as delegacias da Barra
da Tijuca para identificar e
prender os envolvidos em
ações criminosas.
Desde o ano passado, o
combate a roubos e furtos
tem sido um dos principais
alvos, salienta a corpora-
ção, destacando que, de
acordo com o ISP, o núme-
ro total de furtos caiu
13,2%, na área do 31º Bata-
lhão, e 14,1%, na do 18º Ba-
talhão, na comparação en-
tre janeiro de 2023 e o mes-
mo mês de 2024.
Os casos de roubo citados
nesta reportagem, diz a PM,
podem ser considerados cri-
mes de oportunidade, em
que o criminoso espera uma
brecha para agir após obser-
var seu alvo, e não necessari-
amente refletem a realidade
do policiamento.
A Polícia Civil, por sua
vez, afirma que realiza di-
versas ações para prevenir
crimes nas áreas citadas e
prender suspeitos. A atua-
ção é conjunta com a PM e
inclui monitoramento
constante e levantamento
de inteligência para nortear
o patrulhamento ostensivo
em áreas com maior índice
de criminalidade, bem co-
mo a identificação e a captu-
ra de criminosos que este-
jam com mandado de prisão
em aberto. Informa ainda
que as prisões em flagrante
aumentaram 41,7% na Bar-
ra e 11,2% em Jacarepaguá,
no comparativo entre janei-
ro de 2023 e o deste ano.
A coordenação do progra-
ma Segurança Presente, por
sua vez, garante que está
com reforço em todas as
áreas de orla e turísticas des-
de o mês novembro. O pro-
grama chegou à Barra da Ti-
juca em novembro de 2019
e ao Recreio no mês seguin-
te, após sucessivos pedidos
dos moradores.
INÊS249 BARRA OGLOBO 9
Domingo 10.3.2024

DIVERSÃO
DIVULGAÇÃO/BRUNO MACHADO

DIVULGAÇÃO

MPB PARA CRIANÇAS

Para celebrar seus dez anos

de existência, o projeto Gran-
des Músicos para Pequenos
reencena seu primeiro espe-
táculo, “Luiz e Nazinha — Luiz
Gonzaga para crianças”, já
visto por mais de 200 mil
pessoas. A peça, que reúne
passagens da infância do rei SOM DANÇANTE
do baião e apresenta sua obra
ao público infantil, fica em Indicado ao Prêmio Multishow
cartaz até o dia 31 na Grande 2023 , o grupo Os Garotin sobe
Sala da Cidade das Artes. ao palco do Teatro Sesi, em
As sessões são aos sábados e Jacarepaguá, na sexta-feira, às
domingos, às 16h, com ingres- 20h, com sua mistura de samba,
sos a partir de R$ 15 (meia- soul, funk, R&B e black music.
entrada, no camarote), vendi- Surgido em São Gonçalo, o trio,
dos na bilheteria ou na plata- que lançou em janeiro o single
forma Sympla. Depois de “Nossa resenha”, com participa-
Gonzagão, o Grandes Músicos ção de Caetano Veloso, tem mais
para Pequenos exibiu musi- de cem mil seguidores nas redes
cais dedicados a nomes como sociais e vídeos que acumulam
Elis Regina, Milton Nascimen- cinco milhões de visualizações.
to e Raul Seixas. Ingresso a R$ 40 (inteira).

DIVULGAÇÃO/QUALISTAGE

POLÍTICA E POLÍCIA RIR NUNCA É DEMAIS GÊNERO FLUIDO

DIVULGAÇÃO
Inspirada no poema “José”, Rodrigo Sant’Anna será atração
de Carlos Drummond de do Festival Humor Contra-
Andrade, a peça “A virada de Ataca, no Qualistage, no Via
José” está em cartaz no Tea- Parque, na próxima sexta-feira,
tro Del’Art, no Barra Point, às 21h30m. No show “Atazan-
até o fim do mês. O protago- do”, o comediante interpreta
nista da trama é um empresá- cinco personagens para levar a
rio que se envolve na política uma reflexão divertida sobre o
por ambição e acaba cercado cotidiano. O ingresso custa a
pela Polícia Federal. Sábados partir de R$ 40, e a classifica-
e domingos, às 20h. Ingresso ção etária é 18 anos (menores A atriz Christiana Guinle apre-
a R$ 80 (inteira). podem assistir ao show, acom- senta “Gênero livre” até o dia
DIVULGAÇÃO panhados dos responsáveis). 31 na Sala Eletroacústica da
Inicialmente, o festival de hu- Cidade das Artes. No monólo-
mor seria apresentado apenas go, ela revela ao público suas
nos meses de janeiro e feverei- descobertas e seus questiona-
ro, mas, devido à boa repercus- mentos envolvendo identidade
são, novas datas foram reserva- de gênero e orientação sexual.
das para o gênero. No dia 20, Sábados, às 20h, e domingos,
será a vez de Leandro Hassum às 19h, com ingresso a R$ 50. A
fazer o público rir. classificação etária é 12 anos.
INÊS249
GASTRONOMIA / GRÁTIS
Em goles, uma
viagem ao mundo
Adega promove degustações de vinhos
MADSON GAMA
madson.gama@oglobo.com.br
-
S e é de um bom pretexto
que os amantes de vinho
precisam para apreciar a be-
bida, ei-lo aqui: a distribui-
dora Wine Out começou,
este mês, a promover degus-
tações gratuitas em sua loja
da Barra da Tijuca, a Wine-
bar, situada no Vision Office
(Avenida Embaixador Abe-
lardo Bueno 3.500). A expe-
riência vai acontecer todas
as sextas-feiras e os sábados
do ano, das 13h às 19h. A ca-
da semana, serão apresenta-
dos rótulos diferentes. E ha-
verá sempre um sommelier
presente para falar sobre o
produto para as pessoas que
SHOPPING / ESPECIAL
NYCC tem agenda cultural
A pós passar por uma am-
pla reforma, inspirada
no parque suspenso High
Line Park, de Nova York, o
shopping NewYorkCity-
Center lança uma progra-
mação cultural especial,
que será apresentada da
próxima sexta-feira até o
mês de outubro. Às quintas
e aos sábados, o projeto
High Line NewYorkCity-
Center, uma parceria com
a rádio Mood FM, será vol-
tado para os adultos, com
shows, podcasts e bate-pa-
DIVULGAÇÃO
forem chegando. Não há li-
mite de público.
Na sexta e no sábado que
vem, dias 15 e 16, o público
poderá conhecer os rótu-
los da vinícola espanhola
Pata Negra.
— Vamos degustar os vi-
nhos da uva tempranillo,
que é muito famosa da Espa-
nha. Vamos servir três vi-
nhos produzidos com ela,
mas de estilos totalmente
diferentes: um mais leve,
um com mais estrutura e o
outro mais encorpado. O
cliente vai perceber essa di-
ferença durante a prova —
explica Leonardo Khouri,
sommelier da Wine Out.
Nos dias 22 e 23, o públi-
co terá à disposição três ró-
pos sobre temas variados.
Já os domingos serão dedi-
cados às crianças.
A estreia, na sexta, dia
14, às 19h, será com a can-
tora e compositora Becca
Perret. Nas semanas se-
guintes, o palco receberá
Nêgamanda (dia 21) e
Cammie (28). As atrações
de sábado, que começam
sempre às 18h, serão vari-
adas. No dia 16, haverá o
Painel Mulher, com a em-
presária Kamila Fialho.
No dia 23, será a vez de um
tulos da vinícola australia-
na Jacob’s Creek. Já no fim
de semana seguinte, dias
29 e 30, será a vez da portu-
guesa QPA Vinho Verde,
da chilena Tres Palacios e
da argentina Torre Golasso
Premium.
— O QPA e o Tres Palaci-
os são ótimas sugestões pa-
ra acompanhar o baca-
stand-up com Paulinho
Serra; e, no dia 30, da pa-
lestra “Cerveja e chocola-
te, uma supercombina-
ção”, com Frán Sanci.
A programação domini-
cal dedicada ao público in-
fantil terá início às 16h. Na
primeira semana, será en-
cenado o musical “Bossi-
nha legal”, com produção
de Roberto e Marcio Me-
nescal. Dia 24 tem a comé-
dia musical “Espelho, es-
pelho meu”; e, dia 31, “A ci-
garra e a formiga”.
lhau. Já o Torre Galasso
tem uma textura que com-
bina com pratos mais es-
truturados — explica o es-
pecialista. — Nosso foco
com essa experiência não
são os vinhos de alta gama,
que são mais caros, com
preços a partir de R$ 300.
A ideia é proporcionar a
degustação de rótulos com
NewYorkCityCenter. Shopping foi inteiramente reformado
Além da nova identidade
visual, o NewYorkCity-
Center incrementou sua
gastronomia. De novem-
bro para cá, foram inaugu-
rados no shopping os res-
Estilos
diversos.
Experiência
inclui rótulos
de diferentes
nacionalidades
e texturas, com
preços a partir
de R$ 40
bom custo-benefício, de
qualidade e que são mais
consumidos no dia a dia.
Os vinhos da semana terão
promoções especiais, com
as garrafas custando entre
R$ 40 e R$ 120.
Para mais informações,
basta entrar em contato
com a loja pelo WhatsApp
(21) 99901-3104.
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taurantes Saikô, Colinda e
BistrOgro. Na última quar-
ta, foi a vez do Nolita e, em
breve, o shopping ganhará
uma filial do mexicano
Guacamole.
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MEDICINA E SAÚDE 12
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Corpo de Bombeiros
RESTAURANTES 15
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Defesa Civil Rodoviária Federal
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NITERÓI
FOME DE QUÊ?
Ana Cláudia
Guimarães
É oficial: Roberto
Carlos fará show no
oglobo.com.br Caio Martins em abril
PÁGINA 4

CIDADE
PROTESTOS MARCAM VOTAÇÃO DO
PROJETO DA NOVA LEI URBANÍSTICA
MP APURA SE MUDANÇA de parâmetros em áreas protegidas pode gerar aumento nos gastos
públicos; secretário afirma que modificações de gabarito são pontuais e fora de zonas ambientais PÁGINA 2

Mostra de fotos com mulheres atendidas pela Codim leva à reflexão sobre a violência contra elas
FOTOS DE DIVULGAÇÃO/ADRIANA OLIVEIRA
Ao lado, três imagens da
exposição “Metamorfose:
das sombras à luz”, uma
imersão poética através da
fotografia, inaugurada
sexta-feira no MAC.
Amostra, que fica em
cartaz até o dia 20 e segue
depois para a Sala Carlos
Couto, traz sete mulheres
que receberam apoio da
Coordenadoria de Políticas
e Direitos das Mulheres
(Codim), órgão municipal
de Niterói, e posaram para
as lentes de Adriana Olivei-
ra. O público é convidado a
fazer uma reflexão sobre as
muitas faces da violência
contra a mulher, mas tam-
bém sobre o poder da
metamorfose e do renasci-
mento. “Através da minha
lente, as mulheres que
enfrentaram a sombra da
violência encontram uma
poderosa ferramenta de
expressão e cura”, diz a
fotógrafa, cuja avó foi
vítima de violência do-
méstica. A psicanalista
Andrea Ladislau forneceu
consultoria psicológica
para as mulheres da exposi-
ção. A Codim bateu o recor-
de de atendimentos no ano
passado. Foram registradas
4.366 ações em 2023, 10%
a mais do que os 3.972
atendimentos de 2022.
Neste mês das mulheres, o
órgão municipal vai inaugu-
rar um novo equipamento,
na Região Oceânica.
“O aumento no número de
atendimentos não significa
um crescimento dos atos
de violência contra as
mulheres. Estes dados
mostram que, na verdade,
está acontecendo um
aumento da consciência e
da disposição das mulheres
de denunciar os abusos e
pedir ajuda a profissionais
capacitadas”, destaca
Thamyris Elpídio, coorde-
nadora da Codim. PÁGINA 2

A lenda da Pedra de Itapuca

FOTOS DE DIVULGAÇÃO/RAMON COSTA

no palco do Theatro Municipal

Protagonista. Yasmin Pellerano interpreta Jurema
Com três indígenas no elenco de 11 atores,
o espetáculo “Itapuca, o musical”, parte
das comemorações pelo aniversário de
450 anos da cidade, vai ocupar o Theatro
Municipal do dia 14 até o dia 24. Passada
em antigas aldeias, que ficavam localiza-
das onde hoje estão bairros como São
Francisco e Icaraí, a trama, inspirada na
lenda da Pedra de Itapuca, narra o amor
proibido de Jurema e Cauby. Mas, nesta
versão, o herói é escravizado.
“Tenho encontrado muitas inspirações
nas minhas origens ancestrais, principal-
mente na minha mãe, que é da aldeia ma-
cuxi”, diz Jana Figarella, uma das três indí-
genas em cena, que já havia atuado em es-
petáculos como “Cássia Eller”, “Morte e
vida severina” e “Por elas”. “Ela é uma mu-
lher guerreira e livre, que sempre levou a
vida com coragem”.
A produção tem nomes de peso na cena
musical. Conta com temas inéditos do
premiado compositor Elton Towersey e
direção musical de Thalysson Rodrigues,
que ostenta no currículo sucessos como
“Mamma mia” e “A cor púrpura”. Niteroi-
enses e moradores da cidade pagam um
terço do valor do ingresso. PÁGINA 5 Jana Figarella. Uma das três indígenas no elenco
INÊS249
2 | Niterói
Lei Urbanística: votação
tem protestos; MP alerta
para desapropriações
Para Ministério Público, novos parâmetros em áreas protegidas
podem aumentar o gasto público, beneficiando proprietários
LÍVIA NEDER
livia.neder@oglobo.com.br
-
A provada em primeira dis-
cussão, a terceira versão
do projeto de Lei de Uso e Ocu-
pação do Solo, que vai definir a
nova Lei Urbanística de Nite-
rói, foi recebida com protestos
por ambientalistas e represen-
tantes da sociedade civil, na
sessão realizada terça-feira, na
Câmara Municipal. Se os ma-
nifestantes estão de olho nos
impactos que o aumento dos
gabaritos podem provocar em
diversos bairros da cidade, o
Ministério Público do Rio de
Janeiro (MPRJ) e vereadores
da oposição também se debru-
çam sobre outro ponto: novos
parâmetros definidos em
áreas protegidas que podem
beneficiar proprietários em
futuras desapropriações, au-
mentando o gasto público. A
proposta volta, na quarta-fei-
ra, para votação em segunda e
última discussão, com a totali-
dade das emendas.
Em uma das últimas audiên-
cias públicas realizadas antes
dessa votação, no dia 20 do
mês passado, o promotor de
Tutela Coletiva e Defesa do
Meio Ambiente de Niterói,
Leonardo Cunha, chamou a
atenção para o possível prejuí-
zo ao erário que o aumento do
potencial construtivo em
áreas ambientalmente prote-
gidas pode gerar em futuras
desapropriações.
Ciclomotores ainda circulam sem restrições na cidade
Ausência de aplicação de multas permite que veículos continuem a transitar em ciclovias, desrespeitando decreto municipal
GABRIELLE LOPES
gabrielle.lopes.rpa@edglobo.com.br
-
Tlecido
erminado o prazo de 180
dias inicialmente estabe-
pela prefeitura de Ni-
terói para implementar a fis-
calização da nova regula-
mentação proibindo a circu-
lação de ciclomotores em ci-
clovias, ciclofaixas e calçadas
compartilhadas, a presença
desses veículos ainda é nota-
da nessas áreas da cidade.
A decisão baseia-se na Re-
Codim: atendimento a mulheres
aumentou 10% no ano passado
Coordenadoria vai inaugurar este mês um novo espaço, na Região Oceânica
LÍVIA NEDER
livia.neder@oglobo.com.br
-
C riada em 2003, a Coorde-
nadoria de Políticas e
Direitos das Mulheres (Co-
dim) bateu o recorde de
atendimentos no ano passa-
oglobo.com.br/rio/bairros
Editor: Milton Calmon Filho (miltonc@oglobo.com.br). Editora assistente e edição on-line: Lilian Fernandes (lilian@oglobo.com.br). Diagramação: Ana Scott e Jacqueline Donola. Redação: 2534-5000, r. 5265.
Publicidade: 2534-4355. Faturamento: 2534-5484. Crédito: 2534-5860. Endereço: Rua Marquês de Pombal 25, 3º andar - CEP 20230-240. E-mail: falaniteroi@oglobo.com.br.
“Esse projeto de lei prevê
aumento de gabarito em
áreas ambientalmente rele-
vantes. Me gera uma preocu-
pação porque há um procedi-
mento no MP que investiga
algumas desapropriações pa-
ra a criação da APA do Morro
do Morcego. Nada contra a
criação da APA, só que aquilo
era um imóvel particular que
teve que ser desapropriado.
Foram dois lotes, e custou cer-
ca de R$ 20 milhões, cada. Só
oorçamento para desobstruir
o Canal do Tibau é R$ 19 mi-
lhões. Dava para desobstruir
duas vezes. Explicitamente
(no Morro do Morcego) não
havia direito de construir,
mas ao invés de ser utilizado
método comparativo se usou
método involutivo, que en-
volve uma série de cálculos e
indeniza o proprietário pelo
potencial construtivo ainda
que ele não tenha direito de
construir”, declarou Cunha.
O promotor destacou que,
nesse mesmo raciocínio, é
possível que se abra preceden-
te pelo potencial construtivo
em áreas protegidas, de acordo
com a nova lei: “Me preocu-
pam os precedentes que vão
sendo abertos. Gostaria de re-
comendar à Casa que olhe
com atenção essas áreas que
estão aumentando o potencial
construtivo e podem ser obje-
tos de desapropriação, como
foi no Morro do Morcego. O
gasto público será muito alto”.
solução 996/2023 do Conse-
lho Nacional de Trânsito
(Contran), a qual define dis-
tintamente diversos tipos de
equipamentos de mobilida-
de, abrangendo ciclomoto-
res, veículos autopropelidos,
bicicletas elétricas, motoci-
cletas e motonetas.
As bicicletas elétricas e os
veículos autopropelidos têm
permissão para circular tanto
pelas calçadas quanto pelas
ciclovias, conforme estipula-
do pelo Código de Trânsito
do. Foram registradas 4.366
ações em 2023, 10% a mais
do que em 2022, que regis-
trou 3.972 atendimentos.
Neste mês das mulheres, o
órgão municipal vai inaugu-
rar um novo equipamento,
na Região Oceânica.
A Promotoria de Tutela Co-
letiva e Defesa da Cidadania,
que investiga a desapropriação
dos do Morro do Morcego, pu-
blicou, na terça, um aditamen-
to ao inquérito para seguir in-
vestigando e reunir mais pro-
vas. “Há indícios de vícios nos
laudos de avaliação elaborados
pelo município, bem como in-
consistência no que tange à
propriedade dos bens desa-
propriados”, diz o despacho.
O vereador Paulo Eduardo
Gomes (PSOL) declarou que,
caso o projeto da nova Lei Ur-
banística seja aprovado sem as
emendas que impedem
acréscimos em unidades de
conservação e áreas protegi-
das, vai propor uma investiga-
ção por improbidade adminis-
trativa dos agentes do Poder
Executivo que enviaram a pro-
posta e dos vereadores que não
aceitaram corrigir o texto.
—Aumentar gabarito e im-
pulsionar qualquer outra for-
ma de potencial construtivo
onde não se pode construir ou
é um indício de que se preten-
de em breve desproteger a área
ou é nitidamente uma forma
de tentar obter vantagens para
seus proprietários em futuras
desapropriações —diz.
O vereador Daniel Marques
(DEM) destaca que o MP
vem, desde as oficinas realiza-
das ano passado, ressaltando
ilegalidades no projeto:
— A opção de autorizar
construir prédios no Morro do
Brasileiro (CTB). Já os ciclo-
motores exigem habilitação
da categoria A (para motoci-
cletas) ou uma Autorização
para Conduzir Ciclomotor
(ACC), específica, devido à
capacidade desses veículos de
atingir altas velocidades, sen-
do restritos a trafegar apenas
nas vias públicas.
No momento da publicação
no Diário Oficial, a prefeitura,
pioneira no estado a adotar tal
medida regulatória, anunciou
um plano para lançar uma
De acordo com o balanço,
foram atendidas no ano pas-
sado 2.975 mulheres no Cen-
tro Especializado de Atendi-
mento à Mulher Neuza San-
tos (Ceam), além de 1.250 na
Sala Lilás e 141 no Núcleo de
Atendimento à Mulher (Nu-
Fazendo barulho. Movimentos sociais e ambientalistas se manifestaram contra o aumento de gabarito nos bairros
Gragoatá, na área úmida da
Lagoa de Itaipu, na área do
Sambaqui de Camboinhas e
na Pedreira de Charitas, que
está em área ambiental prote-
gida, são alguns desses exem-
plos. A desapropriação tem
muito a ver com isso. Terrenos
serão valorizados sempre que
tiverem potencial construtivo.
O secretário municipal de
Urbanismo, Renato Barandi-
er, defende que o zoneamento
proposto pelo projeto da nova
Lei Urbanística não se so-
brepõe à legislação ambiental:
—Posso afirmar com tran-
quilidade que não há ne-
nhum aumento de gabarito
sobre nenhuma zona ambi-
ental definida hoje. Quando a
gente delimita a zona, deli-
mita uma porção da cidade
que tem caraterísticas simila-
res, mas isso não quer dizer
que vai ser permitido cons-
truir sobre um rio ou na faixa
marginal de proteção, que
tem legislação estadual que
se sobrepõe ao zoneamento.
Em qualquer cidade do mun-
do que trabalhe com zonea-
mento você vai encontrar
graus para se levar em consi-
deração, como ruas, praças,
faixas marginais de proteção.
Questionada sobre a desa-
propriação do Morro do Mor-
cego e o risco de gastos futuros
Proibição. Os ciclomotores são proibidos de trafegar nas ciclovias de Niterói
am) do Plaza Shopping.
— O aumento no número
de atendimentos nos equipa-
mentos da Codim não signifi-
ca um crescimento dos atos
de violência contra as mulhe-
res. Estes dados mostram que,
na verdade, está acontecendo
um aumento da consciência e
da disposição das mulheres
de denunciar os abusos e pe-
dir ajuda a profissionais capa-
citadas para atuar em situa-
ções de violência. A prefeitu-
ra trabalha para oferecer to-
das as formas de atendimento
e suporte às mulheres que so-
freram situações de violência
Domingo 10.3.2024
com novas desapropriações, a
prefeitura respondeu, em nota
que “o método de desapropria-
ção dos dois imóveis utilizado
foi expressamente justificado
na Câmara pelas secretarias
competentes. Foi atestado,
ainda, que a preservação am-
biental no local era insuficien-
te, sendo criado um Parque
Natural no local. A área total
desapropriada tem 240 mil
metros quadrados”.
IMPACTOS NA CIDADE
Os manifestantes contrários
apontam que a prefeitura não
está levando em conta proble-
mas que vêm assolando a cida-
de e podem piorar com o au-
mento do potencial construti-
vo em diversos bairros, como
alagamentos quando chove,
falta de água, falta de energia,
menos áreas verdes e mais po-
luição. Afirmam que o Execu-
tivo desconsidera ainda as
emergências climáticas e o
crescimento da população.
Entre as críticas, os movi-
mentos populares destacam
as seguintes liberações: pré-
dios de 26 andares, na Aveni-
da Marquês do Paraná, no
Centro; 15 a 19 andares, em
Icaraí; 16 andares, em frente
ao Clube Naval, e 14, na altu-
ra do Preventório, em Chari-
tas; 15 andares, na Alameda
FABIANO ROCHA/10-8-2023
—diz Thamyris Elpídio, coor-
denadora da Codim.
Este mês, a Codim vai inau-
gurar uma unidade do Nuam
no Hospital Mário Monteiro,
em parceria com a Secretaria
municipal de Saúde. Será o
quinto equipamento da coor-
denadoria, que também conta
com o Espaço Empreender
Mulher, um coworking públi-
co para mulheres.
A Codim também é res-
ponsável pelo programa Au-
xílio Social, uma ferramenta
para ajudar mulheres a que-
brar o vínculo com o agressor
e romper o ciclo da violência
| OGLOBO
DIVULGAÇÃO/SÉRGIO GOMES(CMN)
São Boaventura e nas ruas
Noronha Torrezão, Desem-
bargador Lima Castro e Vinte
e Dois de Novembro, no Fon-
seca; 19 andares, na Rua Má-
rio Vianna, e 14, nas ruas Ve-
reador Duque Estrada, Dou-
tor Sardinha e Siqueira Cam-
pos, em Santa Rosa; 11 anda-
res, na Avenida Sete e na orla
da Lagoa de Piratininga, no-
ve na quadra da praia e nove e
11 andares na Rua Almirante
Tamandaré, em Piratininga;
e quadras com seis andares
em Camboinhas, sendo nove
no Canto de Camboinhas.
Grupos como o Movimento
Lagoa para Sempre publica-
ram as fotos dos parlamenta-
res que votaram a favor do pro-
jeto. Apenas a bancada do
PSOL, formada por Paulo
Eduardo Gomes, Professor
Túlio e Benny Briolly; e os ve-
readores Daniel Marques
(DEM) e Douglas Gomes (PL)
votaram contra.
—As modificações de gaba-
rito ocorrem em áreas pontu-
ais da cidade, apenas 5% ao
longo dos corredores de trans-
porte. É uma lei que prepara
Niterói para os próximos 50
anos, qualificando a infraes-
trutra urbana que existe e pre-
servando áreas que não estão
ocupadas — argumenta o se-
cretário Barandier.
campanha de conscientização
sobre a nova norma. O objeti-
vo é reforçar a proibição esta-
belecida e promover a adesão à
nova política de trânsito. Entre
as medidas anunciadas está a
aplicação de multas. Porém,
até o momento, nenhuma re-
solução saiu do papel.
A Coordenadoria do Nite-
rói de Bicicleta diz que a cida-
de está seguindo as restrições
estabelecidas pela regula-
mentação federal e concen-
trando esforços na educação e
conscientização sobre o uso
de ciclomotores, um dos prin-
cipais pontos da regulamen-
tação municipal. Não infor-
ma, no entanto, a data para o
início da aplicação das multas
por desrespeito às regras.
doméstica. A prefeitura ga-
rante o repasse de mil reais
mensais pelo período de até
um ano, além de acompa-
nhamentos psicológico, ju-
rídico e social gratuitos. Des-
de de dezembro de 2021, o
programa já alcançou quase
300 beneficiárias.
A coordenadoria destaca
que a dependência econômica
éum fator que dificulta o rom-
pimento do ciclo de violência;
por isso, o principal objetivo
do programa é assegurar uma
renda mínima para que as mu-
lheres possam quebrar de vez
ovínculo com o seu agressor.
INÊS249
OGLOBO | Domingo 10.3.2024
Dengue: rede privada registra avanço dos casos
Número de pacientes com suspeita da doença aumenta cerca de 25%. Gerente das emergências do CHN
ressalta que a prevenção é o melhor remédio. Prefeitura afirma que combate ao mosquito é contínuo
GABRIELLE LOPES
gabrielle.lopes.rpa@edglobo.com.br
-
Eações
mbora a prefeitura de Ni-
terói tenha divulgado
e resultados satisfató-
rios em relação ao controle
do avanço da dengue na ci-
dade, a realidade na rede pri-
vada revela uma situação di-
ferente. No Complexo Hos-
pitalar de Niterói (CHN),
instituição de referência no
estado do Rio que reúne cin-
co unidades no Centro, foi
registrado um aumento sig-
nificativo no fluxo de paci-
entes com suspeita de den-
gue, com uma elevação en-
tre 25% e 30% em compara-
ção a registros de novembro
do ano passado.
O aumento tem sido nota-
do desde dezembro e tor-
nou-se mais evidente após
carnaval e ao longo do mês
de fevereiro. Thiago Mattos,
gerente das emergências do
CHN, ressalta que a maioria
dos pacientes não apresenta
sintomas graves e não neces-
sita de internação. Em geral,
eles recebem apenas acom-
panhamento ambulatorial e
prescrição de medicamen-
tos específicos e repouso.
— A prevenção é a melhor
maneira de combater a den-
gue e reduzir as chances de
desenvolvimento da doen-
ça. É preciso eliminar o foco
de criação dos mosquitos. O
uso de repelentes aprovados
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pela Anvisa também é váli-
do — esclarece Mattos.
Além da população local
de Niterói, a rede privada
registrou aumento no nú-
mero de pacientes prove-
nientes de cidades vizi-
nhas, como São Gonçalo,
Itaboraí e Maricá.
Segundo a prefeitura, Ni-
terói contabiliza 494 casos
prováveis da doença. Isso se
traduz em uma taxa de inci-
dência de 102,5 casos por
cem mil habitantes.
Apesar das garantias for-
necidas pelo município de
que a situação está sob con-
trole, parte da população ex-
pressa preocupação. Nas re-
des sociais, moradores da
Rua Fagundes Varela, no In-
gá, compartilharam suas in-
quietações sobre uma casa
abandonada que, segundo
eles, está servindo de foco
de mosquitos.
“Minha varanda dava dire-
tamente para essa casa, e foi o
principal motivo de eu ter
mudado de endereço. Fiquei
apenas um ano. Havia ratos, li-
xo e muitos mosquitos. Eu de-
nunciei várias vezes enquanto
estava lá, mas não adiantou”,
afirmou um internauta.
Um outro usuário com-
partilhou sua frustração
com as tentativas fracassa-
das de denunciar casos co-
mo esse através do Colab, o
aplicativo da prefeitura des-
tinado a receber as deman-
Estação de
Infláveis
/lecanton | Teresópolis, RJ
Mutirão. Agentes da prefeitura na Ponta da Areia durante ação contra a proliferação do “Aedes aegypti”
das da comunidade: “Eu já
denunciei uma casa aqui na
minha rua com possível fo-
co de dengue e não deu em
nada. Nem ligando para a
prefeitura, o Disque-De-
núncia e o Centro de Zoono-
ses”, escreveu.
ESTRATÉGIA EFICIENTE
Uma das ações de combate à
dengue que têm sido efici-
entes na cidade foi a intro-
dução artificial, em 2015, da
bactéria Wolbachia, natural-
mente presente em cerca de
60% dos insetos na nature-
Espetáculo
Infantil
za, mas ausente no Aedes
aegypti. Quando a bactéria é
inserida nos ovos do mos-
quito, a capacidade dele de
transmitir os vírus da den-
gue, zika, chikungunya e fe-
bre amarela é reduzida.
O projeto teve início com
uma ação piloto no bairro de
Jurujuba e, em 2017, foi ex-
pandido para outros 33 bair-
ros nas regiões da Baía de
Guanabara e Oceânica.
Graças à iniciativa, de acor-
do com a prefeitura, houve
uma redução de aproxima-
damente 70% nos casos de
RESERVE ATÉ DIA 15/03
E GANHE UMA DIÁRIA GRÁTIS
DIVULGAÇÃO/LUCAS BENEVIDES
dengue, 60% de chikun-
gunya e 40% de zika nas
áreas abrangidas.
Em nota, a prefeitura rea-
firma que o Colab é um dos
principais canais de comu-
nicação com os cidadãos,
destacando que as solicita-
ções recebidas são agenda-
das prontamente para visto-
rias de fiscalização. E expli-
ca que lidar com imóveis fe-
chados requer um processo
mais complexo de contato
com os proprietários.
Sobre a residência na Rua
Fagundes Varela, informa
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e saiba mais
Niterói | 3
que equipes do Centro de
Controle de Zoonoses
(CCZ) realizaram múltiplas
visitas, encontrando o imó-
vel fechado. Um processo de
infração está em andamen-
to, e novas equipes serão en-
viadas ao local.
Já a Secretaria municipal
de Saúde afirma que realiza
durante todo o ano, por
meio das equipes do CCZ, o
trabalho de rotina de pre-
venção e combate ao mos-
quito transmissor das doen-
ças. A cobertura abrange
205 mil imóveis, que são vi-
sitados pelos agentes a cada
dois meses. Há cerca de 300
servidores envolvidos nas
atividades, e cinco mil imó-
veis são visitados diariamen-
te. Equipes do CCZ também
realizam atividades educati-
vas nas redes de ensino mu-
nicipal e estadual.
A pasta informa ainda que
profissionais do programa
Médico de Família prestam
serviços em suas áreas de co-
bertura. Uma equipe de fis-
cais sanitários é dedicada à
vistoria de imóveis abando-
nados. E o Comitê Interseto-
rial de Acompanhamento e
Monitoramento das Ações
Integradas de Prevenção à
Dengue oferece suporte du-
rante os mutirões.
Já em relação à vacina con-
tra a dengue, a cidade de Ni-
terói aguarda liberação pelo
Ministério da Saúde.
INÊS249
4 | Niterói Domingo 10.3.2024 | OGLOBO

FOME DE QUÊ? Empreendedoras da cidade no Plaza

A ex-Casseta & Planeta Maria Paula, o músico George Israel,
do Kid Abelha, e Fernanda Sixel, da Codim, participarão, dia
ANA CLÁUDIA GUIMARÃES 27, de encontro com 80 empreendedoras de Niterói. O evento
sobre mulheres será no Coco Bambu, no Plaza Shopping. Terá
uma roda de conversa sobre igualdade de gênero e garantia de
ana@oglobo.com.br direitos, além de pocket show de Israel.

RC vem aí
Desta vez é oficial. Roberto
O nome por trás do sucesso do MAC Saúde mental
Niterói está entre as três
GP Brasil de Atletismo
DIVULGAÇÃO

DIVULGAÇÃO
Carlos vai fazer show, no
dia 26 de abril, mês do ani-
versário dele, no Caio Mar-
V ictor de Wolf é o nome
por trás da revitaliza-
ção do Museu de Arte
cidades do estado Rio com
maior número de registros
de violência autoprovocada
tins. A produção do Rei Contemporânea de Nite- contabilizados pelo Samu.
também reservou o dia 27 rói. Ele conseguiu voltar a A cidade fica atrás de Itabo-
no estádio. Então, talvez encher os salões do MAC raí e Maricá. A maioria dos
sejam dois shows. no período pós-pandemia. casos é consequência de
A venda dos ingressos co- Agora, De Wolf tem um envenenamento (64,1%),
meça no próximo dia 20, a novo desafio: vai lançar seguido por objeto perfuro-
princípio, pela Eventim. este ano um edital visando cortante (13,9%).
à compra de obras de arte
para o acervo do museu. O
Acabou o amor valor da licitação será de Precisamos falar...
R$ 4,5 milhões. Veja como está ficando
O cirurgião plástico Wag- Hoje, como se sabe, o Em 2023 houve 2,9 casos para linda a pista de atletismo da
ner de Moraes acusa a ex- museu tem como acervo cada cem mil habitantes aqui UFF. A obra é da prefeitura
mulher Ângela Bismarchi (por comodato) obras da na cidade. A maioria das auto- e vai ser inaugurada dia 19
de ter dado calote na venda coleção de João Sattamini agressões foi cometida por de maio, com a realização
da casa em Niterói onde (1935-2018) —algumas mulheres (68,4%), nas faixas do GP Brasil de Atletismo,
moravam, que foi vendida delas já foram retiradas De Wolf. Diretor do MAC abre, pela prefeitura, edital para compra de obras de arte de 20 a 29 anos (27,9%). última etapa das classifica-
por R$ 1,5 milhão. Ele ale- pelas herdeiras do colecio- Os homens, entre 40 e 49 tórias para os Jogos Olímpi-
ga, nos autos, que “está nador. É um comodato de cinco anos. para o mundo — afirma o diretor. anos, representaram 76,9% cos de Paris. A pista segue
abrigado na casa de ami- — A nossa proposta é começarmos um Em 2023, para a gente relembrar, a estre- dos casos de suicídio consu- os padrões para receber
gos”. Moraes e a ex-modelo, processo para que o museu tenha a sua la foi a exposição do grafiteiro TOZ, com mado. O suicídio é reconheci- competições de nível inter-
ex-rainha de bateria e, hoje, coleção própria. A ideia é termos obras de 20 mil pessoas em um mês. Teve também o do pela OMS como um pro- nacional.
evangélica, foram casados artistas brasileiros contemporâneos, desde evento de projeção de obras de Van Gogh, blema de saúde pública glo-
por 20 anos. O cirurgião os renomados até os mais jovens. Também com 21 mil pessoas em um único fim de bal. O Centro de Valorização
pede ainda indenização de queremos dar visibilidade ao trabalho de semana. A média de público tem sido de 13 da Vida (CVV) oferece atendi- Contra a dengue
R$ 30 mil e o bloqueio das artistas negros — diz Victor de Wolf, que mil por mês. Aliás, o MAC saiu na revista mento gratuito pelo 188.
contas da ex-modelo. está há quatro anos à frente da instituição. holandesa “Hollad Herald” ao lado dos Agentes da Vigilância Sani-
Na agenda deste ano, o MAC já tem gran- principais museus do mundo. tária estarão durante três
des exposições. Entre elas, uma de Quebra- Agora, para honrar ainda mais o nobre Cozinha italiana dias, esta semana, na Pesta-
Segue... dinho, artista paulista, negro e que nunca espaço assinado por Oscar Niemeyer, lozzi de Niterói. Vão fazer
fez exposição individual. Micaela Costa, presidente da FAN, pro- O chef Vicente Maia abre, palestras, apresentar
A casa foi negociada por — O MAC é um dos museus mais impor- mete abrir licitação para a compra do no- terça, curso voltado para o maquetes e pedir apoio de
R$ 1,5 milhão, e o valor tantes do nosso país, seja pelo seu acervo e vo sistema de ar-condicionado neste pri- aprendizado das técnicas e alunos, pacientes e familia-
deveria ter sido dividido em as suas exposições, seja pela sua arquitetu- meiro semestre. Ela também adianta que processos culinários italia- res no combate ao mosqui-
partes iguais. Só que o autor ra única. É um patrimônio cultural do país, já mandou trocar o vidro da frente do mu- nos. As aulas serão no Vicen- to da dengue. Além disso,
diz que recebeu R$ 300 mil. faz parte da paisagem urbana e, o mais im- seu e que, logo depois, fará a manutenção te Maia Experiências Culiná- vão mostrar aos pacientes
A ação corre na 6ª Vara Cí- portante, do afeto do niteroiense. Gosto de do espaço. rias (@chef.viente.maia), às possíveis focos de prolifera-
vel de Niterói. ver o MAC como um museu de Niterói O MAC é nosso! terças, das 19h às 22h. ção do Aedes aegypti.

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vidade e tecnologia na produção de ca-
misetas que geram impacto social e pri- O casal de atores Letícia Colin e
orizam temas ligados à liberdade indi-
vidual e à diversidade. O trabalho é feito
Michel Melamed está em cartaz 50%
no Teatro Adolpho Bloch, na Gló- desconto
com o auxílio de diferentes ilustrado- ria, com “Um filme argentino”. No palco, eles
res, todos inseridos em contextos diver- interpretam Claudia e Claudio, que são casa-
sos da sociedade brasileira: a intenção é dos e estão em crise. Depois de uma discussão,
garantir que as peças promovam a ex- ele fica no apartamento dos dois e ela passa a
pressão artística de maneira plural, in- chamar a portaria do prédio de “lar”, após ador-
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OGLOBO | Domingo 10.3.2024 Niterói | 5

Municipal abre as cortinas para ‘Itapuca, o musical’

Com três artistas indígenas em cena, espetáculo narra o amor proibido de Jurema e Cauby, em trama que se passa em
antigas aldeias onde hoje ficam bairros como São Francisco e Icaraí. Diretor afirma que montagem resgata a história da cidade

DIVULGAÇÃO

A história de amor proibi-

do da indígena Jurema
com o guerreiro Cauby vai
ganhar o palco do Theatro
Municipal de Niterói com
“Itapuca, o musical”, que
estreia quinta, dia 14. Inspi-
rado na lenda da Pedra de
Itapuca, o paulista Marllos
Silva escreveu o texto e diri-
ge o espetáculo. Só que nes-
ta nova versão Cauby é es-
cravizado. O musical tem
temas inéditos do premiado
compositor Elton Towersey
e produção da Scuola di
Cultura e faz parte das co-
memorações de aniversário
de 450 anos de Niterói.
— “Itapuca, o musical” é
um resgate da história de
Niterói. É trazer à cena o
DNA da cidade e do seu
povo. Mostrar que os nos-
sos heróis estão aqui on-
tem, hoje e amanhã. Apre-
sentar essa história é dar
força e relevância ao nosso
povo. A trama se passa na
aldeia Keriy, localizada no
bairro de São Francisco,
cruza o Carahy, atual Icaraí,
e termina na Praia das Fle-
chas. Visitamos também o
Ingá e o Centro. Lugares
conhecidos pela população
são cenários da nossa histó-
ria — destaca Silva, respon-
sável pela criação do Prê-
mio Bibi Ferreira.
O elenco, formado por 11
artistas, tem como protago-
nistas a belenense Yasmin
Pellerano (Jurema) e o cario-
ca Pedro Madeira (Kaub). O
espetáculo também conta
com o retorno aos palcos
niteroienses da atriz e canto-
ra Giovanna Sassi, que inter-
preta Maria Antonieta. Ela
volta a atuar na cidade de-
pois de uma longa tempora-
da de sucesso em São Paulo
com o musical “Kafka e a
boneca”. Além deles, estarão
em cena três artistas indíge-
nas, das aldeias macuxi
(RO), marakanã (Rio) e
xukuru (Pernambuco). Uma
delas é a experiente Jana
Figarella, que atuou em mu-
sicais como “Cássia Eller”,
“Morte e vida severina” e
“Por elas”.
— A minha personagem é
uma matriarca indígena.
Eu tenho encontrado mui-
tas inspirações nas minhas
origens ancestrais, princi-
palmente na minha mãe,
que é da aldeia macuxi. Ela
é uma mulher guerreira e
livre que sempre levou a
vida com coragem, notada-
mente após a separação do
meu pai, um militar. Foi
minha mãe, por exemplo,
que conseguiu me resgatar
quando, ainda bebê, fui
roubada por uma vizinha da
vila militar, onde moráva-
mos, em Manaus. Ela con-
seguiu evitar o meu seques-
tro, mas desde então nunca
mais trabalhou fora de casa
— conta Jana.
A lenda de Itapuca. A montagem, com estreia na próxima quinta, é parte das comemorações dos 450 anos da cidade
Ela diz que também se
identifica com essa energia
indígena de Niterói, como
se sentisse a presença dos
seus ancestrais na cidade.
Jana atua ao lado de outros
dois indígenas, Dario Jure-
ma (Morubixaba Itanhyã) e
Henrique Patuã (Taynã).
O elenco de profissionais
por trás do espetáculo tam-
bém foi escolhido a dedo.
“Itapuca, o musical” conta
com a colaboração do visa-
gista indígena maranhense
Sandro Akroá, de 28 anos,
da aldeia akroá. Hoje mora-
dor da Aldeia Maracanã, no
Rio, Akroá passou este ano
no vestibular para a Univer-
sidade do Estado do Rio de
Janeiro (Uerj), onde vai
cursar Artes Visuais.
— Meus grafismos indíge-
nas foram descobertos pe-
los pesquisadores da Uerj.
Eles e o cacique Urutau, da
Aldeia Guajajara, me orien-
taram a concluir o ensino
médio no Colégio Estadual
Antonio Prado Jr., em São
Cristóvão. Sou filho de mãe
indígena e pai preto e tenho
muito orgulho da minha
ancestralidade — frisa.
Além de Akroá, a produ-
ção tem nomes de peso na
cena do teatro musical. O
diretor musical Thalysson
Rodrigues, por exemplo,
atuou em produções de
sucesso como “A cor púrpu-
ra” e “Mamma mia”. Gabri-
el D’Angelo, designer de
som, fez “Sintonia” para a
Netflix e “Odilon – Réu de
si mesmo” na HBO. E Paulo
Altafim, também designer
de som, trabalhou em mais
de 40 produções nos últi-
mos dez anos, entre elas
“Castelo Rá-Tim-Bum” e
“Marrom, o musical”.
REFLEXÃO CRÍTICA
O figurino é assinado por
Ney Madeira (verbete na
enciclopédia do Itaú Cultu-
ral) e Dani Vidal, que reúne
prêmios em mostras inter-
nacionais como a World
Stage Design —Seul (2009)
e a Quadrienal de Cenogra-
fia de Praga (2019). A dupla
já assinou figurinos de co-
missões de frente para Vila
Isabel e Beija-Flor. Para Fa-
brizio Sassi, produtor execu-
tivo do projeto, o espetáculo
aborda questões profundas
de uma forma leve:
—Esse espetáculo dá luz à
perspectiva dos povos origi-
nários, dos escravizados e
dos colonizadores. De um
modo leve, questões profun-
das são abordadas para que
haja uma reflexão crítica
sobre a História. Tudo isso
envolto na força da lenda de
Itapuca, que fala sobre o
amor proibido de Jurema e
Cauby, que tiveram o amor
eternizado pelo deus Tupã.
A temporada vai até o
próximo dia 24. O ingresso
é gratuito para alunos das
redes pública e particular. O
público em geral paga R$ 30
(inteira); e moradores e
niteroienses, R$ 10.


   
  
 

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6 | Niterói
Direitos humanos e antirracismo
nas telas do Cine Arte UFF
Mostra de cinema com programação gratuita inclui 18 filmes, que serão exibidos
de quarta-feira a sábado. O cineasta Silvio Tendler é o homenageado do evento
LÍVIA NEDER
livia.neder@oglobo.com.br
-
A a 13ª Mostra Cinema e Di-
reitos Humanos, que tem
como tema “Vencer o ódio, se-
mear horizontes”, chega a Ni-
terói e a outros estados convi-
dando o público a debater o
país além da tela. Toda gratui-
ta, a programação estreia no
Cine Arte UFF, na quarta,
com cerimônia de abertura às
18h30, e a exibição do filme
“Nas asas da Pan Am”, de Sil-
vio Tendler, o cineasta home-
nageado nesta edição, às 19h.
A agenda segue até sábado.
Amostra tem 18 filmes reali-
zados por profissionais esco-
lhidos por terem relação direta
com os temas abordados nas
telas, como racismo e direitos
das mulheres, de pessoas com
deficiência, de povos indíge-
nas e da comunidade
LGBTQIAPN+. O roteiro do
evento foi organizado nas se-
ções “Homenagem”, “Raízes”,
“Sementes” e “Frutos”.
Nascida em Niterói e hoje
morando em São Paulo, a ar-
tista visual Aline Motta está
feliz em poder exibir “Filha
natural” na cidade natal. Par-
te do programa “Raízes”, o
trabalho traz pesquisas sobre
aorigem da família da autora.
A tataravó dela teria nascido
Mostra nos Correios se inspira
na diversidade do povo brasileiro
Ticiana Parada expõe obras com temas que vão da cultura à religiosidade
A arte de Ticiana Parada já
foi vista em cenários de
novelas como “Amor perfei-
ro” (2023) e na ambientação
de programas como “Encon-
tro com Patrícia Poeta”. Ago-
ra, seus trabalhos podem ser
apreciados ao vivo no Centro
Cultural Correios, onde ela
apresenta até 27 de abril a
mostra “A cara do Brasil”, cu-
ja inspiração são as mais vari-
adas facetas do povo brasilei-
ro, da sua religiosidade à di-
versidade cultural.
—O artesanato, a poesia, a
música, as histórias e o colo-
rido do brasileiro são inspi-
ração para o meu trabalho.
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Domingo 10.3.2024 | OGLOBO
DIVERSÃO
MARIA ISABEL OLIVEIRA/02-07-2023
DIVULGAÇÃO
Confira a
programação
> Quarta:
Às 19h, “Nas
“Tesouro qui-
lombola”, “Muti-
asas da Pan rão, o filme”,
Am” (2020), “Cósmica” e “O
de Silvio Tend- pato”. A partir
ler, no Cine das 19h, o Toni Garrido encerra o ID: Rio 2024
Arte UFF. programa
> Quinta: “Sementes” Realizado desde sexta no MAC, com o tema “Multiversos susten-
Às 14h, o pro- traz “Ribeiri- táveis”, o ID: Rio 2024, que mergulha nas possibilidades da iden-
grama “Fru- nhos do asfalto”, tidade da cadeia produtiva fluminense, termina hoje. O evento
tos”, dedicado “Adão, Eva e o começa às 15h, e a programação conta com o desfile “Mulheres
ao público fruto proibido”, do Brasil by mulheres do Sul global”, às 18h, e com o show de Toni
infantojuvenil, “Nossos espíri- Garrido, às 19h. O pátio do museu também recebe o Mercado
exibe “Um tos seguem Criativo, que reúne microempreendedores de todo o estado e
filme de verão”. chegando” , opções de gastronomia. Ingressos gratuitos no Sympla.
Ancestralidade. A niteroiense Aline Motta apresenta o filme “Filha natural” A partir das “Me farei ouvir”
19h, o progra- e “Escrevivên- DIVULGAÇÃO
por volta de 1855 em uma fa- são outras atrações da mostra. ma “Raízes” cia e resistên-
zenda de café em Vassouras, No estado do Rio, elas aconte- traz “Traves- cia: Maria
na época do escravidão. Fazer ceram em dezembro no Insti- sia”, “Filha Firmina dos
a ponte entre passado e o pre- tuto de Artes e Comunicação natural”, “Nos- Reis e Concei-
sente é o desafio. Social da UFF (Iacs). O objeti- sa mãe era ção Evaristo”,
— É importantíssimo que vo é a formação de multiplica- atriz”, “Mãri Hi com debate na
meu filme tenha sido convi- dores, alcançando mais de — A árvore do sequência.
dado para ser visto e debati- 700 educadores no país, para sonho”, “O que > Sábado: Às
do em um festival que co- que a arte e os direitos huma- pode um cor- 19h, a sessão
necta cinema com os direi- nos apoiem o ensino. po?” e “A poei- “Homenagem”
tos humanos. Tenho procu- Em uma segunda fase, de 25 ra dos peque- exibe mais um
rado com meu trabalho unir de março a 24 de abril, o evento nos segredos”, filme de Silvio
a história da minha família terá a Mostra Difusão, quando com debate Tendler, “A
com a História de nosso país, a programação ficará disponí- às 20h40. bolsa ou a vida”,
preenchendo algumas lacu- vel on-line, na plataforma de > Sexta: Às seguido de um
nas num exercício de imagi- streaming InnSaei.TV e em 14h, o programa debate sobre a
nação radical — diz Aline. equipamentos culturais das ci- “Frutos” exibe obra do diretor. Teatro infantil no tempo dos dinossauros
As oficinas com educadores dades participantes.
Hoje e no próximo fim de semana, sempre às 16h, o espetáculo
infantil “Uma aventura jurássica” será encenado na Sala Nelson
Pereira dos Santos, em São Domingos. No palco, além dos atores
ções e esculturas em que Ti-
ciana utiliza caixas de pape-
lão e materiais reciclados.
(Beatriz Cachinho, Bruno Silvestre, Jairo Santos, Juliana Maia e
Karoline Brown), há protótipos de última geração que recriam
esses seres pré-históricos. Os ingressos custam R$ 90 (inteira) e
A exposição contará tam-
bém com um setor interati-
vo. Antes de se dedicar inte-
estão disponíveis no site da Sympla (www.sympla.com.br).
Quem doar um quilo de alimento não perecível paga meia.
gralmente às artes plásticas, DIVULGAÇÃO
Ticiana trabalhou por 30
anos com educação infantil.
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A experiência com crianças
No ateliê.
A artista plástica
trabalha em
inspirou a artista a criar
uma área na exposição em
que os pequenos poderão
uma de suas desenhar a cara do Brasil em
pinturas: ela um papel gigante.
mora no Ingá — Sempre estive envolvi-
da com arte, teatro, música,
pintura, cenários e constru-
ção de instalações com ma-
terial reciclado. Tudo isso
junto com as crianças nas
escolas — conta ela, que faz
sua terceira individual.
Mostro tudo o que sinto e o plástica, que mora no Ingá. O espaço cultural fica na CineSesc homenageia mulheres
que vivi. Fico muito feliz Com curadoria de Marcia Rua Visconde Itaboraí 20,
quando enxergam o país Marschhausen, a exposição no Centro. A mostra pode O CineSesc exibe em Niterói e em outras dez unidades fil-
dentro de cada obra feita. reúne 20 obras em tinta ser vista de segunda a sexta, mes com histórias a partir do tema “Pelas telas: a presença
Quero colocar o samba, o acrícila e óleo, de tamanhos das 11h às 18h; e aos sába- das mulheres em cena e atrás das câmeras”. A seleção tem
frevo, o sertão —diz a artista variados. Há ainda instala- dos, das 13h às 18h. “Bom trabalho”, da premiada cineasta francesa Claire De-
nis, quarta, às 18h, e dia 27, às 16h; “Solange”, quarta, às 16h;
“Medusa” (foto), dia 20h, às 16h; “Paloma”, dia 20, às 18h; e
“Carvão”, dia 27, às 18h. A entrada é gratuita.
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vel”, composto pela vocalista Ariela Assahi e o DJ Vini Porto,
tem apresentação hoje, às 16h, no Mureta de Jurujuba. Da
black music à MPB, o repertório da dupla conta com versões
de músicas como “Killing me softly” (Lauryn Hill), “Dona de
97940-2930 & 2235-8289 & 3988-3985 mim” (Iza) e “Cara valente” (Maria Rita). Grátis.
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