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INTENSIVO I

Barney Bichara
Direito Administrativo
Aula 1

ROTEIRO DE AULA

Tema: Introdução ao Direito Administrativo

Considerações iniciais:

O professor informa que, para concursos públicos, em relação ao Direito Administrativo, o estudo deve se focar em 4
aspectos:

i) Estudo da legislação – O estudo da legislação é imprescindível e deve abranger tanto a leitura da Constituição Federal
quanto das leis específicas (exemplos: lei de serviços públicos, lei de PPP, lei das estatais, lei de licitações, lei de contratos
administrativos, etc.).

ii) Estudo da doutrina - Como o Direito Administrativo não é codificado, é a doutrina que organiza toda a matéria.

Em relação à bibliografia, há vários livros:


1ª) Hely Lopes Meirelles – Clássico do D. Administrativo.
2ª) Maria Sylvia Zanella di Pietro;
3ª) Celso Antônio Bandeira de Mello;
4ª) José dos Santos Carvalho Filho;

✓ O professor somente ressalta que, em determinado momento, o livro de Hely Lopes Meirelles deve ser adotado
para conceitos e classificações. Este livro, entretanto, não deve ser adotado como manual, pois é muito antigo e
foi criado em outro contexto.

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Obs.: O professor destaca que o aluno deve evitar a mudança de livros de Direito Administrativo.
✓ O aluno deve escolher um livro de Direito Administrativo e deve adotá-lo como fonte de estudos.

iii) A jurisprudência também é cada vez mais importante nos concursos, por isso, seu estudo é essencial.
É necessário estudar as repercussões gerais (reconhecidas e julgadas no mérito).

iv) O aluno também deve resolver muitas questões de concurso sobre todos os temas de Direito Administrativo.

Em suma: o estudo deve ser organizado dentro de 4 pilares:


• Legislação;
• Doutrina;
• Jurisprudência; e
• Resolução/treino de questões.

INTRODUÇÃO AO DIREITO ADMINISTRATIVO

1. FORMAÇÃO HISTÓRICA

Do Século V ao Século XV, houve a Idade Média (marcado pelo feudalismo). Do Século XV ao XVIII, houve a Idade Moderna.
Do Século XVIII em diante, há a Idade Contemporânea.

No final do Século XV, houve a tomada de Constantinopla pelos turcos e, com isso, surgiu a Idade Moderna.
Durante a Idade Moderna, formaram-se os estados nacionais.
✓ O Estado moderno possui 3 elementos: povo, território e poder.
✓ O Estado que nasce nesse período gira em torno do rei, o qual concentra a autoridade estatal em suas mãos e
governa de forma monocrático.

Até o Século XVIII, vigorava o regime político denominado de Absolutismo. Esse regime político era caracterizado pela
autocracia real, pois todo o poder do Estado emanava da vontade do soberano, o qual sujeitava os súditos ao arbítrio do
rei.

No final do Século XVII, surgiu o Iluminismo. Com a Revolução Francesa, nasce o chamado Estado de Direito.
Assim, a Revolução Francesa colocou um ponto final no Absolutismo e em todas as suas manifestações. Neste aspecto,
fez-se necessário criar um Estado cujo poder fosse limitado.

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Apesar de o Estado ser soberano para legislar (império da lei), ele deveria criar normas a serem observadas por todos,
inclusive pelo próprio Estado.
✓ Submeter o Estado à lei significou garantir a proteção do indivíduo, de suas liberdades e da propriedade contra o
arbítrio do Estado. Neste momento, nasceu o princípio da legalidade e se iniciou a formação de uma nova
disciplina jurídica (Direito Administrativo), cujo objetivo era limitar o poder do Estado e proteger as liberdades
individuais.
✓ Desse modo, a legalidade e o Estado de Direito (bases do Direito Administrativo) surgiram como solução para
limitar o poder do Estado e proteger as liberdades individuais.

Veja as duas referências históricas que marcaram a formação do Direito Administrativo:

a) A Lei do 28 pluvioso do ano VIII (1800) organizou juridicamente a Administração Pública na França.
✓ Após o fim da Revolução Francesa, surgiu a Lei do Pluvioso, que foi a primeira lei administrativa da França, a qual
buscou estruturar administrativamente o Estado Francês.

b) O Caso Blanco de 1873 marcou os primeiros anos da dogmática do Direito Administrativo.


Em 1873, Agnès Blanco atravessava a rua na cidade de Bordeaux e foi atropelada por uma vagonete, a qual pertencia à
Companhia estatal francesa – que produzia cigarros. A atividade desempenhada pela companhia era, na época,
considerada serviço público.

O pai de Agnès Blanco ajuizou uma ação judicial de reparação de danos em razão do acidente.

Observação: Na França, há duas jurisdições: uma jurisdição administrativa e uma jurisdição comum.
Na França, as duas jurisdições (jurisdição administrativa e jurisdição comum) aplicam a lei ao caso concreto para resolver
conflitos sociais com força de coisa julgada.
• A jurisdição comum aplicava a lei ao caso concreto para resolver conflitos sociais entre particulares.
• A jurisdição administrativa julgava os conflitos de interesses que envolviam os cidadãos e o Estado.
A jurisdição administrativa era exercida por um órgão chamado Conselho de Estado.
A jurisdição comum, por sua vez, era exercida pela Corte de Cassação.

A ação foi ajuizada perante a jurisdição comum, que era o órgão que aplicava o direito privado, pois quem havia causado
o dano era Companhia estatal. Entretanto, a Corte de Cassação afirmou não ser competente para o caso, pois a atividade
exercida era um serviço público.
Diante disso, o pai de Agnès Blanco ajuizou uma ação no Conselho de Estado, órgão que exercia a jurisdição administrativa.
Este, por sua vez, também se julgou incompetente, pois, segundo eles, quem havia causado o dano era uma pessoa
jurídica de direito privado.

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Diante do conflito negativo de competência, a questão foi encaminhada ao Tribunal de Conflitos.
O Tribunal de Conflitos decidiu que o órgão competente para julgar o caso era o Conselho de Estado.
✓ Essa história é importante porque, no momento em que o Tribunal de Conflitos atribuiu ao Conselho de Estado o
julgamento do caso, este órgão precisou criar um conjunto de princípios e regras de direito público para resolver
a questão posta.
✓ Esse caso criou as primeiras bases do Direito Administrativo e foi muito além da questão da responsabilidade civil
do Estado.
✓ As premissas construídas para o julgamento desse caso formaram, posteriormente, o Direito Administrativo.

2. CONCEITO DE DIREITO ADMINISTRATIVO: CRITÉRIOS ADOTADOS PARA SUA CONCEITUAÇÃO


Toda a definição é construída a partir de uma premissa.
Ao longo da história, surgiram vários critérios com o objetivo de conceituar o Direito Administrativo.
✓ À medida em que se altera o critério, o conceito também é alterado.

a) Escola do Puissance Publique: trata-se da escola das “prerrogativas públicas”.


Para essa escola, o Direito Administrativo era o conjunto de princípios e regras que disciplinava/estruturava os poderes
públicos necessários à realização do bem comum.

*b) Escola do Serviço Público:


Para esta escola, o Direito Administrativo era o conjunto de princípios e regras que disciplinava a organização e o
funcionamento do serviço público.

Nesse caso, o serviço público é entendido em sentido amplo para se referir a toda atividade estatal que vise à satisfação
do bem comum.

Até hoje, há reflexos desse conceito no Direito Administrativo.


Exemplo: o princípio da continuidade dos serviços públicos (a atividade administrativa não pode ser interrompida)
trabalha com o mesmo sentido trazido pela Escola do Serviço Público francês.

Outro exemplo é a responsabilidade civil do Estado – Teoria da culpa do serviço. O Estado responde se o serviço público
não funcionou, funcionou mal ou tardiamente. Nessa situação, a expressão “serviço público” também é vista em sentido
amplo.

✓ Assim sendo, ainda hoje, em muitas situações, a expressão “serviço público” tem o mesmo sentido amplo dado
pela escola francesa do serviço público.

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c) Critério do Poder Executivo: neste caso, o Direito Administrativo é o conjunto de princípios e regras que disciplina a
organização e o funcionamento do Poder Executivo.
Muitas pessoas rechaçaram esse conceito, pois o Direito Administrativo não se restringe ao Poder Executivo. Os outros
Poderes (ainda que de forma atípica) exercem função administrativa e, por esse motivo, não é possível restringir esse
critério ao Poder Executivo.

d) Critério das Relações Jurídicas: para esse critério, o Direito Administrativo é o conjunto de princípios e regras que trata
da relação jurídica existente entre a Administração e os administrados.
Este conceito também é insuficiente, pois não traz critérios diferenciadores válidos para o Direito Administrativo, pois
todo o ramo do direito público disciplina essa relação jurídica (relação entre Administração e administrados).

e) Critério Teleológico: para o critério teleológico, o Direito Administrativo é o conjunto de princípios e regras que
disciplina a atividade material e concreta realizada pelo Estado para a realização dos seus fins.

Esse critério foi adotado, no Brasil, por Oswaldo Aranha Bandeira de Mello para conceituar o Direito Administrativo.

O Estado é um Pessoa Jurídica de Direto Público que legisla, julga, governa e administra (funções clássicas e essenciais do
Estado).
✓ Quando o Estado exerce jurisdição, ele aplica a lei ao caso concreto para resolver conflitos sociais com força de
coisa julgada.
✓ Quando o Estado legisla, ele faz o ato geral, abstrato, obrigatório e inovador (lei).
✓ Quando o Estado administra, ele aplica a lei ao caso concreto para realizar os fins do Estado.
✓ Quando o Estado governa, ele gere a vontade superior do Estado.
O governo dirige. A Administração executa.

Para o critério teleológico, o Direito Administrativo é o conjunto de princípios e regras que disciplina a atividade material
e concreta do Estado, voltada para realizar seus próprios fins.

f) Critério negativo ou residual: para este critério, o conceito de Direito Administrativo é definido por exclusão.
Neste caso, o Direito Administrativo é o conjunto de princípios e regras que disciplina a atividade estatal não legislativa e
não jurisdicional.

Esse critério também foi rechaçado, pois o Estado desempenha outras atividades além de legislar, julgar e administrar.
Exemplo disso é a atividade de governar.

✓ A atividade de governo é completamente distinta da legislação, da administração e da jurisdição.

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✓ Quando o Estado exerce a função de governo, ele aponta os fins a serem perseguidos pelo Estado. A partir disso,
a Administração executa. Assim sendo, a função de governo é de direção, enquanto a função administrativa é de
execução e ambas não se confundem.
✓ Há vários atos de governo que não se confundem com a administração, como, por exemplo, declarar guerra,
celebrar a paz, declarar estado de sítio etc.

g) Critério da distinção entre a atividade jurídica e social do Estado


Para este critério, o Direito Administrativo é o conjunto de princípios e regras que disciplina a atividade administrativa
(objeto) e, também, os sujeitos incumbidos de desempenhar tal função.

Este critério se preocupa com aspecto objetivo (a atividade administrativa) e com o aspecto subjetivo (os sujeitos
encarregados de desempenhá-la).
✓ No Brasil, o professor Cretella Júnior adotou este critério.

h) Critério da Administração Pública: para o critério da Administração Pública, o Direito Administrativo é o conjunto de
princípios e regras que disciplina a Administração Pública.
✓ Este é o critério mais moderno.

No Brasil, Hely Lopes Meirelles adotou este critério e foi de suma importância para o Direito Administrativo, pois ele
revolucionou o Direito Administrativo brasileiro.

✓ A influência de Hely Lopes Meirelles repercutiu por várias gerações de estudantes e na Constituição Federal de
1988, pois esta separou a Administração Pública dos demais poderes, em um capítulo específico para a
Administração Pública.

CF, art. 37: “A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também,
ao seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) (...)”

3. CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO ADMINISTRATIVO

Na constitucionalização do Direito Administrativo, há dois marcos referenciais: pós-positivismo e neoconstitucionalismo.

a) O pós-positivismo:
O período que se seguiu à Segunda Guerra Mundial assistiu a uma constitucionalização do direito como um todo e isso
ocorre, sobretudo, pelos horrores vivenciados nesse período. O mundo percebeu que o fato de algo estar previsto em
uma lei não garantia segurança e direitos fundamentais.

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Os maiores horrores que a humanidade viveu no período decorreu de normas que estavam previstas em lei.

Exemplos: a escravidão e a perseguição aos judeus na Alemanha Nazista ocorreram com o respaldo legal.

Assim sendo, percebeu-se que cumprir a lei não era suficiente. Seria necessário observar um conjunto de princípios e
regras constitucionais de proteção à pessoa, à democracia e aos direitos fundamentais.
A partir do pós-positivismo, há a constitucionalização do Direito Administrativo.

b) O Neoconstitucionalismo
Aqui há a ideia de força normativa dos princípios.
A norma se divide em princípios e regras. Se princípio é espécie de norma, ele tem força normativa e deve ser aplicado.

Jurisprudência:

RE 579951 – “A vedação ao nepotismo não exige a edição de lei formal para coibir a prática, dado que essa proibição
decorre diretamente dos princípios contidos no art. 37, caput, da Constituição Federal.”

RE 592581 - “É lícito ao Judiciário impor à Administração Pública obrigação de fazer, consistente na promoção de medidas
ou na execução de obras emergenciais em estabelecimentos prisionais para dar efetividade ao postulado da dignidade da
pessoa humana e assegurar aos detentos o respeito à sua integridade física e moral, nos termos do que preceitua o art.
5º, XLIX, da Constituição Federal, não sendo oponível à decisão o argumento da reserva do possível nem o princípio da
separação dos poderes.”

RE 570908 – “I - O direito individual às férias é adquirido após o período de doze meses trabalhados, sendo devido o
pagamento do terço constitucional independente do exercício desse direito;
II - A ausência de previsão legal não pode restringir o direito ao pagamento do terço constitucional aos servidores
exonerados de cargos comissionados que não usufruíram férias.”

RE 592581 – “É lícito ao Judiciário impor à Administração Pública obrigação de fazer, consistente na promoção de medidas
ou na execução de obras emergenciais em estabelecimentos prisionais para dar efetividade ao postulado da dignidade da
pessoa humana e assegurar aos detentos o respeito à sua integridade física e moral, nos termos do que preceitua o art.
5º, XLIX, da Constituição Federal, não sendo oponível à decisão o argumento da reserva do possível nem o princípio da
separação dos poderes.”

✓ Princípios devem ser ponderados. No caso em questão, há dois princípios: separação de Poderes e dignidade da
pessoa humana e este último deve prevalecer no caso concreto.

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4. COMPETÊNCIA LEGISLATIVA
Questão: Quem tem competência para legislar sobre Direito Administrativo?

a) Regra: União, Estados, Municípios e DF.


A regra do Direito Administrativo é que todos os entes federativos possuem competência para legislar.

A Constituição Federal consagra, no art. 1º, caput,1 o federalismo. Em uma federação, a República é soberana. Entretanto,
cada ente da federação é autônomo e esta autonomia se traduz em três premissas: autoconstituição, autogoverno e auto-
organização.

✓ Cada ente federado tem capacidade para se autoconstituir. Por isso, há a Constituição Federal, a constituição
estadual e há a lei orgânica do município.
✓ A autonomia se desdobra em autogoverno. É por esse motivo que os entes políticos têm autonomia para se
governar (eleições municipais, estaduais e federal).
✓ A autonomia se traduz em autoadministração das entidades, dos órgãos, dos serviços, dos bens e dos servidores.
Toda essa auto-organização é feita pelo ente da federação por meio do Direito Administrativo. Assim, para tais
assuntos, o ente precisa legislar sobre o Direito Administrativo.
Obs.: A competência para legislar sobre Direito Administrativo é de cada ente da federação.

A União faz Lei Federal, que vale para a União. Cada estado faz a sua lei estadual; cada município faz a sua lei municipal.

Cuidado: O aluno precisa ter cautela, pois muitas leis estudadas são federais e, portanto, são aplicáveis apenas à União.

Exemplos:
• A Lei 9.784/99 (Processo administrativo federal) é lei federal e só vale para a União.
• A Lei 8.112/90 é o Estatuto do Servidor Público Federal e é válida para a União (não é válida para estados e
municípios).

Atenção: Quando a doutrina organiza a disciplina de direito Administrativo, ela usa como referência a lei federal, pois
seria inviável explicar os institutos de direito administrativo com base nas leis estaduais e municipais, pois essas são
inúmeras.

✓ Estando diante de uma lei, é sempre necessário se perguntar a quem ela se aplica.

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CF, art. 1º, caput: “A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do
Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:”

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b) Exceção: União, nos termos da CF/88.
Excepcionalmente, há casos em que só a União pode legislar.
Nos casos previstos na CF/88, a competência para legislar sobre Direito Administrativo é da União e isso é feito na
extensão do que é estabelecido pelo próprio texto constitucional.

Exemplo: art. 22, II e III, CF:


CF, art. 22: “Compete privativamente à União legislar sobre:
(...)
II - desapropriação;
III - requisições civis e militares, em caso de iminente perigo e em tempo de guerra;”

Observação 1: os estados, DF e municípios têm competência para desapropriar (competência administrativa), mas apenas
a União pode legislar sobre o tema.

Observação 2: apenas a União pode legislar sobre requisições administrativas. Estados e municípios podem requisitar,
mas a atividade legislativa é privativa da União.
Exemplo: os entes federativos podem, exemplificativamente, requisitar máscaras e seringas. Entretanto, somente a União
pode legislar sobre requisições e faz isso em toda a sua extensão (e não apenas sobre normas gerais).

Cuidado: Em outros casos, a CF/88 estabelece que a União deve legislar sobre normas gerais. É o caso, por exemplo, do
art. 22, XXVII:

CF, art. 22: “Compete privativamente à União legislar sobre:


(...)
XXVII - normas gerais de licitação e contratação, em todas as modalidades, para as administrações públicas diretas,
autárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, obedecido o disposto no art. 37, XXI, e para
as empresas públicas e sociedades de economia mista, nos termos do art. 173, § 1°, III;”

✓ Neste caso, estados e municípios podem legislar, desde que observem as normas gerais da União.

✓ O professor explica que, portanto, em alguns casos, a União legisla sozinha sobre determinados temas de forma
exclusiva). Em outros casos, ela apenas traça normas gerais e os demais entes legislam de forma suplementar.
Assim sendo, todas as vezes em que o aluno estiver estudando alguma lei, ele precisa se perguntar a quem ela se
aplica.

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5 - INTERPRETAÇÃO DO DIREITO ADMINISTRATIVO

O Direito Administrativo sempre teve suas peculiaridades. Não há um código sistematizando a disciplina e há normas
espalhadas em várias leis distintas. Neste contexto, foi necessário criar premissas para a interpretação e aplicação do
direito administrativo.

✓ O professor destaca que, com a alteração da LINDB em 2018, foram incluídas normas referentes à interpretação
e à aplicação do Direito Público, do qual faz parte o Direito Administrativo.

✓ Assim sendo, atualmente, há a positivação de normas relativas à interpretação e à aplicação do Direito


Administrativo. Entretanto, muito antes da alteração da LINDB, várias premissas interpretativas já haviam sido
consagradas pela doutrina.

A doutrina tradicional (Hely Lopes Meirelles) estabelecia 3 premissas:

a) Reconhecimento de uma relação jurídica de desigualdade entre a Administração e os administrados: interpretar o


Direito Administrativo é reconhecer que a relação jurídico-administrativa é desigual.
Por ocasião dessa desigualdade, há prerrogativas/poderes em favor da Administração.

b) Reconhecimento de uma presunção de legitimidade dos atos da Administração: interpretar o Direito Administrativo
é reconhecer que existe uma presunção de legitimidade dos atos da Administração (presunção relativa em favor da
Administração).
Essa premissa se desdobra em várias consequências. Exemplos: o ato administrativo é autoexecutório; mesmo inválido,
o ato produz efeitos (como se válido fosse).

c) Reconhecimento de poderes discricionários para a Administração Pública atender ao interesse público


Poder discricionário é a liberdade de que a administração dispõe para decidir.

Alguns doutrinadores não utilizam a expressão “poder discricionário”. Segundo eles, tecnicamente, seria mais adequado
falar em discricionariedade.

Existem dois tipos de discricionariedade:


• Discricionariedade Administrativa; e
• Discricionariedade Técnica.

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Discricionariedade Administrativa – É a liberdade que a lei dá à Administração para essa tomar decisões administrativas
a partir de um juízo de oportunidade e conveniência.
Exemplo: Concurso para o MP de MG – As matérias constantes dos editais serão definidas pelo próprio órgão, de modo
discricionário.

Discricionariedade técnica – É a liberdade que a lei dá à Administração para decidir o que é melhor para o interesse
público a partir de critérios técnicos.
✓ Neste caso, a Administração precisa recorrer a informações técnicas/científicas para decidir.
Exemplo: Compete à ANVISA fazer o registro de vacinas. Neste caso, a ANVISA, antes de registrar (ou não) recorre a dados
técnicos e pode decidir positivamente ou negativamente. Trata-se de discricionariedade técnica.
✓ Neste exemplo, a autoridade administrativa tem liberdade para decidir, mas o critério utilizado para tal é técnico
e não meramente administrativo.

Obs.: Hipóteses de discricionariedade administrativa:


1. Quando a lei expressamente reconhece.
Exemplos: Cargos de provimento em comissão; casos de dispensa de licitação.

2. Quando a lei não é capaz de descrever todas as situações enfrentadas pela Administração.
Segundo o princípio da legalidade, a Administração faz o que a lei manda. Entretanto, a lei não capaz de descrever
todas as situações enfrentadas pela Administração, cabendo a esta, diante de determinada situação, decidir como
agirá (DE MODO DISCRICIONÁRIO)
Obs.: Todo o rol exemplificativo, segundo o professor, consiste no reconhecimento de poder discricionário ao
administrador, pois o legislador não foi capaz de exaurir as hipóteses de ocorrência de determinada situação.
Exemplo: art. 25, Lei 8.666/932 e art. 74 da Lei 14.133/20213 - Neste caso, o legislador exemplificou os casos em
que a competição seria inviável, já que não é possível estabelecer todas as hipóteses de inviabilidade.

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Lei 8.666/93, art. 25: “É inexigível a licitação quando houver inviabilidade de competição, em especial:
I - para aquisição de materiais, equipamentos, ou gêneros que só possam ser fornecidos por produtor, empresa ou
representante comercial exclusivo, vedada a preferência de marca, devendo a comprovação de exclusividade ser feita
através de atestado fornecido pelo órgão de registro do comércio do local em que se realizaria a licitação ou a obra ou o
serviço, pelo Sindicato, Federação ou Confederação Patronal, ou, ainda, pelas entidades equivalentes;
II - para a contratação de serviços técnicos enumerados no art. 13 desta Lei, de natureza singular, com profissionais ou
empresas de notória especialização, vedada a inexigibilidade para serviços de publicidade e divulgação;
III - para contratação de profissional de qualquer setor artístico, diretamente ou através de empresário exclusivo, desde
que consagrado pela crítica especializada ou pela opinião pública.”
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Lei 14133/21, art. 74: “Art. 74. É inexigível a licitação quando inviável a competição, em especial nos casos de:

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Atenção: Na inexigibilidade de licitação, a discricionariedade não está na escolha entre fazer ou não fazer a
licitação, mas sim no poder para aferir a viabilidade da competição.

3. Quando a lei atribui uma competência e não descreve o modo de exercê-la.


Neste caso, a lei atribui uma determinada competência à Administração, mas não fixa o modo de exercê-la. Neste
caso, o modo de exercício é discricionário.
Exemplo 1: o CTB afirma que o condutor que cometer a infração xxx terá o direito de dirigir suspenso por até 6
meses. É a Administração que definirá o prazo de suspensão.
Exemplo 2: o Ibama multará quem desrespeitar a legislação ambiental em até 50 milhões de reais. O modo pode
ser uma multa de 1 real até 50 milhões de reais.

OBS: Hipóteses de discricionariedade Técnica

Lei 14.133/2021, art. 98: “Nas contratações de obras, serviços e fornecimentos, a garantia poderá ser de até 5% (cinco
por cento) do valor inicial do contrato, autorizada a majoração desse percentual para até 10% (dez por cento), desde que
justificada mediante análise da complexidade técnica e dos riscos envolvidos.”

I - aquisição de materiais, de equipamentos ou de gêneros ou contratação de serviços que só possam ser fornecidos por
produtor, empresa ou representante comercial exclusivos;
II - contratação de profissional do setor artístico, diretamente ou por meio de empresário exclusivo, desde que consagrado
pela crítica especializada ou pela opinião pública;
III - contratação dos seguintes serviços técnicos especializados de natureza predominantemente intelectual com
profissionais ou empresas de notória especialização, vedada a inexigibilidade para serviços de publicidade e divulgação:
a) estudos técnicos, planejamentos, projetos básicos ou projetos executivos;
b) pareceres, perícias e avaliações em geral;
c) assessorias ou consultorias técnicas e auditorias financeiras ou tributárias;
d) fiscalização, supervisão ou gerenciamento de obras ou serviços;
e) patrocínio ou defesa de causas judiciais ou administrativas;
f) treinamento e aperfeiçoamento de pessoal;
g) restauração de obras de arte e de bens de valor histórico;
h) controles de qualidade e tecnológico, análises, testes e ensaios de campo e laboratoriais, instrumentação e
monitoramento de parâmetros específicos de obras e do meio ambiente e demais serviços de engenharia que se
enquadrem no disposto neste inciso;
IV - objetos que devam ou possam ser contratados por meio de credenciamento;
V - aquisição ou locação de imóvel cujas características de instalações e de localização tornem necessária sua escolha.
(...)”

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No exemplo dado (art. 98), a autoridade vai celebrar um contrato e a garantia é de até 5% do contrato. Entretanto, esse
valor pode ser aumentado (até 10%), desde que justificada mediante análise da complexidade técnica e dos riscos
envolvidos.

Obs.: Limites à discricionariedade administrativa:


1. O Princípio da Legalidade – Só há discricionariedade administrativa nos estritos limites da lei. Exemplo: aumento
da garantia até 10% do contrato.
2. O Princípio da razoabilidade e proporcionalidade – As decisões administrativas sempre devem ser razoáveis e
proporcionais.
Exemplo: o Ibama multará quem desrespeitar a legislação ambiental em até 100 mil reais. Diante disso, “A” mata
um tatu e é multado em R$ 100 mil. A decisão, apesar de legal, não é proporcional (“A” não é reincidente e só
matou um tatu).
3. O Princípio da motivação – As razões da decisão integram o devido processo legal e devem ser demonstradas
(teoria dos motivos determinantes). Assim, a motivação limita a discricionariedade administrativa, pois, se o
motivo for falso, o ato é ilegal.
4. A responsabilidade pessoal do agente público.

d) A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro - Decreto-Lei nº 4.657/1942


A lei positivou o que a doutrina defendia – critérios relativos à segurança jurídica e eficiência em âmbito administrativo.

✓ O quarto critério para interpretar o Direito Administrativo está disposto na LINDB.


✓ A nova lei de licitações diz, expressamente, que os contratos administrativos serão interpretados a partir das
normas da LINDB.

Decreto-Lei nº 4.657, art. 20: “Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base em valores
jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão.
Parágrafo único. A motivação demonstrará a necessidade e a adequação da medida imposta ou da invalidação de ato,
contrato, ajuste, processo ou norma administrativa, inclusive em face das possíveis alternativas.”

✓ As normas da LINDB não se restringem à Administração (atinge o poder judiciário, os órgãos de controle etc.).
✓ A Administração, o Poder Judiciário ou o TC não podem decidir com base única em valores abstratos, como, por
exemplo, interesse público, urgência etc.
✓ Obs.: A nova lei de licitações disciplina que, antes da decisão administrativa que ordena a anulação do contrato
administrativo, é necessário analisar os impactos trazidos pela anulação.
✓ A LINDB amplia o espectro da motivação, mostrando que ela tem que indicar o fato, o direito, a necessidade e a
adequação da medida.

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Obs.: Tradicionalmente, a motivação é a exposição do fato e do direito que determinaram a decisão.

Decreto-Lei nº 4.657, art. 22: “Na interpretação de normas sobre gestão pública, serão considerados os obstáculos e as
dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos direitos dos administrados.”

Decreto-Lei nº 4.657, art. 23: “A decisão administrativa, controladora ou judicial que estabelecer interpretação ou
orientação nova sobre norma de conteúdo indeterminado, impondo novo dever ou novo condicionamento de direito,
deverá prever regime de transição quando indispensável para que o novo dever ou condicionamento de direito seja
cumprido de modo proporcional, equânime e eficiente e sem prejuízo aos interesses gerais.”

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