Você está na página 1de 68

Direito Administrativo

PODER ADMINISTRATIVO, DIREITO ADMINISTRATIVO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Poder Administrativo

Direito Administrativo Administração Pública

• PODER ADMINISTRATIVO

- Evolução do Poder Administrativo

O Poder Administrativo é um produto da separação de poderes, oriunda da Revolução Francesa.


Até então, o poder administrativo inseria-se no poder executivo, no entanto, a sua melhor
explicação faz-se por exclusão: não pertencia nem ao poder executivo, nem ao poder judicial.
O Poder Administrativo evoluiu com a própria evolução de Estado:

* Estado Liberal: antes das Guerras Mundiais o Estado tinha dois grande objectivos, a segurança
e a justiça;

* Estado Social de Direito: após a II Guerra Mundial acrescentou-se, às funções do Estado, o


Bem-Estar Económico-social, tornando-se o Estado um prestador de cultura, criador de infra-
estruturas, etc. Havendo um grande crescimento do poder administrativo (ex. surgem empresas
públicas, mais municípios e freguesias).

* Estado Pós-Social de Direito: houve uma regressão, pois o Estado na poderia ser omnipresente,
tendo-se agora um Estado fundamentalmente regulador dos termos em que os privados actuam
(ex. CMVM, Banco de Portugal).

ex. o Estado regula o funcionamento dos hospitais privados: não podem descriminar pessoas, têm
de atender todas as pessoas.

• DIREITO ADMINISTRATIVO

Na prática é o conjunto de leis, regulamentos, contractos e actos que se aplicam ao exercício do


Poder Administrativo, servindo-se a Administração Pública deste para cumprir com as suas
funções, é no fundo um conjunto de regras que dá poderes ou deveres acrescidos.
O Direito Administrativo português é de tradição francesa.

- Direito Administrativo enquanto ramo do direito público

O Direito Administrativo é um ramo do direito público constituído pelo conjunto de normas


jurídicas reguladoras da organização e funcionamento da Administração Pública, bem como das
relações estabelecidas entre esta e outros sujeitos de direito no exercício da atividade
administrativa e pertence ao direito público porque:

João Bernardo Silva 1 de 68


Direito Administrativo

* quanto ao critério do interesse: as normas de Direito Administrativo são estabelecidas tendo em


vista a prossecução do interesse público coletivo, destinando-se a permitir que este seja
realizado.

* quanto ao critério da posição de sujeito: todos os sujeitos que compõem o Direito Administrativo
são pessoas coletivas públicas.

* quanto ao critério dos poderes de autoridade: o Direito Administrativo concede à Administração


Pública poderes de autoridade.

Finalmente, aquilo que carateriza genericamente o Direito Administrativo é a "procura permanente


de harmonização das exigências da ação administrativa, na prossecução dos interesses gerais,
com as exigências de garantia dos particulares, na defesa dos seus direitos e interesses
legítimos”.

- Evolução do Direito Administrativo

Nasceu atribuladamente na Revolução Francesa que procurava dar representação democrática


aos cidadãos, criando-se, por decisões judiciais, regras especiais para certas situações,
revelando-se com o tempo, o Direito Civil insuficiente.

ex. no Século XIX, a cidade de Marselha celebrou um contracto de circulação de autocarros com
uma empresa privada, mas no Verão, com o aumento da procura por autocarros, o município
queria alterar o contracto e aumentar assim o número de autocarros, contra a vontade da empresa
privada e por decisão judicial entendeu-se que, as duas partes não estariam em posições iguais,
pois o Município prosseguia o interesse público, assim, o tribunal mesmo não havendo nenhuma
lei que o permitisse fazer, alterou-o, o que levou ao “poder de modificação unilateral do contracto”.

Mais tarde, esse conjunto de decisões judicias acabaram por ser codificadas.

• ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

A Administração Pública é o conjunto de necessidades coletivas cuja satisfação é a tarefa


fundamental da coletividade (Estado), através de serviços por esta organizados e mantidos.
Portanto, onde existe uma necessidade coletiva, há serviços públicos destinados a satisfazê-la.
Mas estes serviços têm natureza distinta, podendo enquadrar-se na administração direta do
Estado, administração indireta do Estado e ainda administração autónoma do Estado.

- Administração Pública em sentido orgânico - enquanto organização administrativa.

A Administração Pública não é uma atividade exclusiva do Estado, existindo vários órgãos e
serviços locais espalhados pelo país, desenvolvendo de forma desconcentrada funções de
interesse geral ajustadas às realidades locais.
Assim, a Administração Pública é o conjunto de órgãos, serviços e agentes do Estado, bem como
outras pessoas coletivas públicas, que prosseguem o interesse público.

- Administração Pública em sentido material - enquanto atividade administrativa.

Corresponde à atividade, ou seja, no conjunto de acções e decisões tomadas típica dos serviços
públicos e agentes administrativos (ex. municípios, freguesias, Ministérios, Institutos Públicos,
etc.) desenvolvida com o intuito de realizar o interesse público e, para tal, tomar decisões que
permitam uma alocação eficiente de recursos, devendo a Administração Pública garantir a
satisfação das necessidades coletivas, definidas pela política do Estado, mas movendo-se nos
termos da lei e sem ofender a legalidade vigente.

João Bernardo Silva 2 de 68


Direito Administrativo

Embora, a Administração Pública, com o surgimento de mais pessoas, tenha vindo a complexificar
a sua organização, pois:

* o Estado deixou de ser a única Pessoa Colectiva

ex. existem várias pessoas colectivas além do Estado como os municípios.

* o Estado relaciona-se com outras pessoas colectivas, sendo umas relações mais intensas que
outras.

ex. segundo o seu Estatuto, a Ordem dos Advogados é tutelada pelo Ministério da Justiça.

- Limitações da Administração Pública

* Lei é o fundamento, o critério e o limite da Administração Pública, podendo aumentar ou diminuir


o poder administrativo (ex. se o poder legislativo produzir leis muito detalhadas, deixa de haver
a necessidade de existir regulamentos, encurtando assim a força do poder executivo).

ex. uma lei diz que todos os estrangeiros, com mais de 25 anos e um contrato de trabalho sem
termo que residam em Portugal há mais de 5 anos, que requisitem o visto de residência, a
Administração Pública tem de atribuir o visto, não podendo violar a lei.

* Prossecução do Interesse Público - a Administração Pública prossegue o interesse público, e


por vezes é a própria lei que estabelece o que considera ser o interesse público, podendo o
poder administrativo ser limitado pelos objectivos prosseguidos pelo Estado.

ex. ex. uma lei diz que todos os estrangeiros, com mais de 25 anos e um contrato de trabalho sem
termo que residam em Portugal há mais de 5 anos, que demonstre se enquadrar socialmente no
sítio onde reside, a Administração Pública pode atribuir o visto, abrindo um espaço para o
interesse público.

- Atuação da Administração Pública, que se pode dar através de um:

* Contracto administrativo

ex. a Administração quer que um particular construa uma estrada, então, abre um concurso
público, firmando-se depois um contracto com certos direitos e deveres: estrada pintada de 3 em 3
anos, ter uma área de serviço de 10 em 10 quilómetros, etc.

* Regulamento: um comando unilateral, geral e abstracto que concretiza o que é estabelecido


pela lei, detalhando as Leis e os Decretos-Leis, criando regras a serem cumpridas pelos
particulares.

ex. para abrir qualquer (geral e abstracto) supermercado é necessário existir certos requisitos
como ter um frigorífico térmico.

* Acto Administrativo: uma decisão concreta, específica, individual e unilateral da


Administração.

ex. uma determinada pessoa para um terreno, pede em especifico uma decisão que a
Administração decide, é concreta e individual.

João Bernardo Silva 3 de 68


Direito Administrativo

PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO vs PROCESSO ADMINISTRATIVO

Procedimento Administrativo corresponde ao percurso de relacionamento entre Particulares e


Administração já Processo Administrativo corresponde ao desenvolvimento do processo em
tribunal do Particular contra a Administração.

ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

- Conceitos

* Pessoa Colectiva é o conjunto de órgãos e serviços a quem é atribuído um conjunto de


finalidades/atribuições definidas por lei.

ex. o Instituto Português da Juventude e do Desporto tem determinadas finalidades no âmbito da


juventude e do desporto, prosseguindo essas atribuições através de órgãos (auxiliados pelos seus
serviços).

* Órgão é o conjunto de pessoas que toma decisões em nome das pessoas colectivas. São
auxiliadas pelos Serviços.

ex. existe uma norma legal que diz que é o DGPescas (órgão) que tem de decidir se um barco
pode ou não pescar a meio da noite.

* Serviços corresponde ao conjunto de pessoas que pertence a um determinado serviço que


prepara e auxilia nas tomadas de decisões dos órgãos

ex. Mas o DGPescas para tomar a sua decisão tem o auxilio de técnicos e pessoas que estudem
as redes, analisem questões jurídicas sobre seguros, etc, emitindo depois um parecer ao
DGPescas (órgão) que lê o relatório e decide.

* Titular (de um órgão) é aquele que exerce as competências atribuídas ao órgão.

* Estado é uma pessoa colectiva e como tal, dentro deste encontramos órgãos e serviços, assim,
na sua acepção administrativa corresponde à pessoa colectiva pública que, sob a direcção do
Governo desempenha a actividade administrativa.

O que mais releva do ponto de vista administrativo, para além da orientação superior do Governo
é a distribuição de competências - estas poderes funcionais atribuídos por lei para que se
prossigam as atribuições da pessoa colectiva - pelos órgãos centrais e locais, assim como a sua
separação ante a outras pessoas colectivas públicas que integram a Administração mas estão
autonomizadas dessa.
Ainda assim, a qualificação do Estado enquanto pessoa coletiva, significa que existe:

* a enumeração, constitucional e legal, das suas atribuições;


* o estabelecimento, por via constitucional ou legal, dos seus órgãos;
* a definição das atribuições e competências a cargo dos seus diversos órgãos;
* a previsão da prática de atos jurídicos do Estado, nomeadamente atos unilaterais e
contratos;
* a delimitação do património estadual, distinto das restantes pessoas coletivas públicas;

- Organização das pessoas colectivas em geral com excepção do Estado

1) uma lei cria a pessoa colectiva

2) essa lei diz quais as atribuições/finalidades dessa pessoa colectiva, bem como os órgãos e
suas competências, assim como a dos seus serviços.
João Bernardo Silva 4 de 68
Direito Administrativo

Recorde-se que, o que distingue uma pessoa colectiva doutra são as atribuições.

ex. a Ordem dos Advogados e a Ordem dos Médicos podem ter competências iguais - ter um
bastonário - mas as suas atribuições são distintas.

- Organização da pessoa colectiva Estado

Distingue-se das outras pessoas colectivas por:

1) o Estado ser a única pessoa colectiva que não foi criado pelo Estado

2) nenhuma lei atribuir finalidades e atribuições ao Estado, mas tal não significa que não as
tenha, pois quando os órgãos exercem as suas competências têm de respeitá-las. Essas
atribuições ou finalidades organizam-se por temas, bem como os seus órgãos e serviços.

ex. no domínio da justiça, saúde, educação, economia, etc.

Assim, os ministérios são módulos de organização dentro da pessoa colectiva. Não são uma
pessoa colectiva, um órgão, ou um serviço, mas sim um departamento com vários órgãos e
serviços, que se agrupam no domínio próprio e, se somássemos todas as atribuições de cada
ministério teríamos o role de atribuições do Estado.

ex. no Ministério da Justiça, uma matéria deveria ter sido decidida pelo Ministro (órgão), mas foi o
Director Geral (órgão) que a decidiu. A decisão é ilegal pelo vício da incompetência do Director
Geral, pois não era o órgão competente para a tomar. No entanto, esse vício não é tão grave
como, se um DGJustiça tivesse tomado uma decisão da competência do DGSaúde, havendo aqui
um duplo vício: não partilham as mesmas atribuições, nem era o DG a tomar a decisão.
Ambos os actos são ilegais, mas o primeiro vício é sanável se passar 1 ano, o segundo não.

ADMINISTRAÇÃO DIRECTA DO ESTADO

Consiste na atividade exercida pelos órgãos e serviços integrados na pessoa colectiva do Estado,
isto é, o funcionamento da Administração dentro dos Ministérios, através dos órgãos e serviços do
Estado, organizados tematicamente. Caracteriza-se pela:

* Unicidade: o Estado é a única espécie deste género.

* Caráter originário: ao contrário das outras pessoas coletivas públicas, que são criadas ou
reconhecidas por lei, a pessoa coletiva Estado tem natureza originária.

* Territorialidade: ao Estado corresponde todo o território nacional, de tal forma que todas as
parcelas territoriais estão sujeitas ao seu poder.

* Multiplicidade de atribuições: o Estado pode e deve seguir variadas atribuições.

* Organização em ministérios: dado que prossegue muitas atividades, o Estado está dividido
em ministérios (departamentos governamentais), cada um especializando-se em determinada
matéria.

* Personalidade jurídica una: apesar da multiplicidade de órgãos, serviços e atribuições, bem


como a divisão em vários ministérios, o Estado tem uma personalidade jurídica una: isto
significa que as ações dos seus órgãos vinculam todo o Estado e não apenas o ministério ou o
serviço a que pertencem.

João Bernardo Silva 5 de 68


Direito Administrativo

- Atribuições do Estado

As atribuições do Estado, apesar de dispersas, têm sempre de resultar expressamente da lei, seja
da Constituição, seja de leis ordinárias.
As suas atribuições estão ao nível dos ministérios e não do Estado per se, dada a organização
destes consoante o tipo de finalidades a serem prosseguidas pelo Estado, bem como o elevado
número destas.

Assim, as atribuições do Estado podem encontrar-se nas leis orgânicas dos diferentes ministérios
e nas leis orgânicas das direções-gerais dos ministérios

Os ministérios não são pessoas colectivas públicas, estando antes integradas numa pessoa
colectiva pública, o Estado.

- Governo

O Governo é o órgão superior da Administração Pública, sendo responsável pela direção da


administração direta do Estado, tendo a superintendência e tutela da administração indireta e
autónoma.
Tanto pode exercer as suas competências por forma colegial, através do Conselho de Ministros,
ou individualmente, onde cada um dos membros do Governo decide sozinho, no âmbito das suas
atribuições, embora faça-o em nome do Governo.

- Primeiro Ministro

Tem a função de dirigir o funcionamento do Governo e coordenar e orientar a ação de cada um


dos Ministros, sendo ele quem preside ao Conselho de Ministros e quem administra ou gere os
serviços próprios da Presidência do Conselho
Na lógica de Estado enquanto pessoa coletiva, o Primeiro Ministro não está acima dos
Ministros, o que significa que os particulares não podem recorrer para aquele de uma
decisão destes.

- Ministros

São membros do Governo que exercem funções políticas e administrativas, tendo assento no
Conselho de Ministros, estando todos em posição de igualdade, sendo iguais entre si, em
categoria oficial e estatuto jurídico. Têm as suas funções previstas no artigo 201º.2 da CRP.
Na prática, as suas funções centram-se em:

* exercer poderes de superior hierárquico sobre todo o pessoal do seu ministério


* exercer poderes de superintendência ou de tutela sobre as instituições dependentes do
seu ministério ou por ele fiscalizadas
* assinar em nome do Estado os contratos celebrados, quando versem sobre matérias do
seu ministério
* resolver todos os casos concretos que por lei devam correr por qualquer dos serviços que
pertençam ao seu ministério, embora a competência para decidir possa estar delegada.

- Secretários de Estado

Não são órgãos com competências administrativas porque a lei lhes atribui competências, têm
sim, funções políticas. A nível administrativo só têm as competências que o Ministro lhe delegar.
Embora não estejam hierarquicamente subordinados aos Ministros, estão sujeitos à sua
supremacia política pois só podem atura mediante o âmbito da delegação de poderes concedida
por estes.

João Bernardo Silva 6 de 68


Direito Administrativo

- Conselho de Ministros

É um órgão colegial constituída pela reunião de todos os Ministros sob a presidência do Primeiro
Ministro, não é um órgão hierarquicamente superior a cada Ministro, podendo, no entanto,
deliberar sobre assuntos de determinado Ministério se o Ministro competente assim o propuser
numa lógica de exercício individual da competência governamental, cabendo ao Ministro a
decisão efectiva.

- Ministérios

Os Ministérios são os departamentos da administração direta do Estado dirigidos pelos respetivos


Ministros, estando a sua estrutura e organização encontrada nas respetivas leis orgânicas e
regulamentos internos, embora haja um padrão a nível da sua estrutura interna:

Ministro
(órgão

Direção- Inspeção- Secretaria-


Geral Geral Geral

Divisão de Divisão de Divisão de Divisão de Divisão de Divisão de


Serviço Serviço Serviço Serviço Serviço Serviço

A Lei 3/2004 de 15 de Janeiro procurou organizar as denominações dadas aos vários órgãos,
facilitando assim as terminologias (ex. Instituto/Agência, Gabinete/Direcção Geral).

* Direção-Geral: trata-se dos serviços executivos isto é, quem leva a diante as políticas, quem as
executa dentro de vários temas (ex. Educação: Infra-estruturas, Ensino Básico, Ensino
Secundário, Investigação, etc).

( Administrador do Ministério (Secretário Geral) gere o Ministério em si (ex. contracta telefones) )

* Inspeção-Geral: serviços de controlo, auditoria e fiscalização (ex. possível caso de corrupção)


* Secretaria-Geral: serviços executivos de caráter central com funções de apoio técnico.

( Chefe de Divisão (Divisões) > Chefe de Secção (Secções) )

Estas entidades, apesar de serem serviços, podem funcionar como órgãos (se tal lhes for
permitido por lei ou por delegação de poderes).

A sua estrutura é, como vemos hierarquizada verticalmente, unindo dois ou mais órgãos com
atribuições comuns, isto é, dentro da mesma pessoa colectiva ou Ministério, atribuindo ao
superior hierárquico poderes sobre o seu inferior e a este o dever de obediência ante o superior
Ministro > Director Geral > Director de Serviços.

‣ Poderes do superior hierárquico

* Poder de Direcção: consiste na faculdade do superior hierárquico dar ordens ou instruções ao


inferior em matéria de serviços, não carecendo este poder de consagração legal expressa por
ser inerente ao desempenho de funções de chefia.

✓ Ordem - comando individual e concreto (ex. amanhã no meu gabinete)


✓ Instrução - comando geral e abstracto (ex. todos os vistos que venham da Síria devem ser
aprovados)
João Bernardo Silva 7 de 68
Direito Administrativo

* Poder de Supervisão: é o poder mais relevante para os cidadãos porque se traduz na


possibilidade de o superior hierárquico revogar ou substituir as decisões dos inferiores, podendo
ainda avocar a competência do subalterno.

ex. o DG indeferiu o pedido de visto de certa pessoa de um país necessitado e o Ministro pode
revogar ou substituir a decisão por uma favorável.

Não há recurso hierárquico das decisões dos Ministros porque estes não têm superiores
hierárquicos.

* Poder Disciplinar: é o poder do superior hierárquico aplicar sanções disciplinares aos


subalternos se não cumprirem as regras que estão vinculados na lei (bem como ordens ou
instruções).

‣ Deveres do inferior hierárquico

* Dever de obediência face ao superior hierárquico: é a obrigação do inferior hierárquico


acatar/cumprir as decisões e ordens dadas pelo superior hierárquico dadas em serviço e sob
forma legal (ex. ir buscar o filho do superior ao colégio não é uma ordem).

Não há dever de obediência quando este implique a prática de um crime ou quando as ordens ou
instruções provenham de ato nulo.
Contudo, se as ordens ou instruções conduzirem à prática de um ato ilegal (que não seja crime
nem produza nulidade) o inferior que as cumpriu pode ser subtraído à responsabilidade.
Assim, fala-se, na doutrina em dois modelos:

* o Modelo Legalista em que a lei se sobrepõe ao próprio poder hierárquico


* o Modelo Hierárquico em que o poder hierárquico se sobrepõe à lei

O sistema português é um sistema misto em que, se a ordem ou a instrução implicar a prática de


um crime, o subalterno deve cumprir a lei e não cumprir a ordem.

Artigo 271º CRP (Responsabilidade dos funcionários e agentes)

3. Cessa o dever de obediência sempre que o cumprimento das ordens ou instruções implique a prática de
qualquer crime.

Aliás, dar uma ordem que é um crime, é já, só por si, uma ordem que extravasa as relações
profissionais entre um superior e um inferior hierárquico, no entanto, as ilegalidades não são tão
evidentes.

ex. um ministro diz para, se um jornalista pedir dados sobre pessoas, dar-los, mas não sei se as
informações são confidenciais, logo, não sei se será crime ou não.

Deste modo, regra geral, o inferior tem de cumprir a ordem, mas, em situações em que ache
serem ilegais, antes de cumprir a ordem ou instrução, pede para que esta seja redigida por
escrito, salvaguardando-se, e, mesmo com a ordem dada por escrito, se não concordar, deve
reclamar e pedir a confirmação da ordem, cumprindo-a, sem que seja responsabilizado por isso,
evitando-se que o inferior hierárquico fique em situações menos agradáveis.

Artigo 271º CRP (Responsabilidade dos funcionários e agentes)

2. É excluída a responsabilidade do funcionário ou agente que actue no cumprimento de ordens ou


instruções emanadas de legítimo superior hierárquico e em matéria de serviço, se previamente delas tiver
reclamado ou tiver exigido a sua transmissão ou confirmação por escrito.

João Bernardo Silva 8 de 68


Direito Administrativo

ADMINISTRAÇÃO INDIRECTA DO ESTADO

O Estado para prosseguir determinadas atribuições (dado o elevado número destas), entende ser
preferível autonomizá-las criando para o efeito outras pessoas colectivas públicas que beneficiam
de personalidade jurídica própria, não fazendo parte da pessoa colectiva “Estado”.
Esses poderes que o Estado confere a esses organismos autónomos ficam a cargo destes, sem
prejuízo da possibilidade de avocação mediante lei ou decreto.
Esta administração indirecta surge numa senda de pragmatismo, já que essas funções podem e
devem ser desenvolvidas por meio de organismos diferentes dos Ministros, criando-se para tal
verdadeiros centros autónomos de decisão e gestão que, apesar de não pertencerem à pessoa
colectiva Estado, continuam ligados a este e com ele colaboram.

ex. existem Fundações Públicas e Institutos Púbicos porque assim o Estado quis, que, através de
um acto administrativo ou acto legislativo criou-lhes, dando-lhes autonomia face ao governo: com
património próprio, funcionários próprias, sem que o Ministro possa lhes dar ordens ou instruções.

Assim, com estas opções diminui-se o poder de intervenção do Estado.

ex. Pessoa Colectiva “Estado” cria Pessoa Colectiva “INFARMED”

O Estado entendeu fazer essa autonomização, passando do Estado para o INFARMED um


conjunto de atribuições, passando a pertencer a duas personalidades jurídicas distintas, cada uma
com os seus órgãos, serviços e atribuições.
Por serem autónomos do Estado, o órgão de topo de cada um destes organismos não é um
Ministro, mas antes um Conselho Diretivo ou equivalente, tendo estas pessoas colectivas públicas
órgãos e serviços próprios, respondendo com estas às atribuições.

ex. Ministro da Saúde não é o superior hierárquico do Conselho de Administração do INFARMED.

- Relação do Governo com a Administração Indirecta do Estado

As pessoas colectivas públicas que se enquadram na administração indirecta do Estado não são
independentes, isto é, apesar de disporem de autonomia de gestão, dependem do Governo,
embora o modo como coincide com este não seja sempre igual, exercendo os Ministros exercem
alguns poderes sobre essas, nomeadamente:

* Poder de Superintendência: é o poder conferido ao Estado que permite que um órgão do


Governo dê orientações (genericamente), defina objectivos, aprove directas, solicite
informações, no fundo “orientar sem guiar a mão” a actuação das pessoas colectivas de fins
singulares colocadas por lei na sua dependência

ex. se a Lei o permitir, o Ministro dá orientações ao INFARMED: que deve procurar aumentar o
número de farmácias no país, definindo a linha de rumo.

Não procura “guiar” a mão desse instituto, pois se o Ministro quisesse incorporar esse campo de
atividade, extinguiria o Instituto e incorporava tudo no seu Ministério.
Segundo Freitas do Amaral, este é um poder mais amplo, mais intenso e mais forte que a tutela
administrativa, pois esta tem apenas por fim controlar a atuação das entidades a ela sujeitas, ao
passo que, a superintendência se destina a orientar a ação das entidades a ela submetidas.

Distingue-se do Poder de Supervisão por não poder revogar ou substituir os actos praticados pelo
inferior hierárquico (que nem existe neste caso).

João Bernardo Silva 9 de 68


Direito Administrativo

* Poder de Tutela: é o conjunto de poderes de intervenção de uma pessoa colectiva pública na


gestão de outra pessoa colectiva, a fim de assegurar a legalidade ou o mérito da sua actuação,
em síntese, é o poder de fiscalizar, ou seja, o poder que o Ministro tem de fiscalizar os órgãos
ou os actos dessa pessoa colectiva. É complexo pois exige que se recorra à lei, vendo se, numa
determinada situação concreta, a tutela existe ou não, ou seja, a tutela não se presume.

ex. o Ministro da Agricultura pode ter mais poderes ante o Instituto do Vinho do Porto que o
Ministro da Saúde tem sobre o INFARMED.

Distingue-se do Poder de Supervisão por não dar orientações, mas sim fiscalizar actos.

O Professor Freitas do Amaral distingue as espécies de tutela administrativa quanto ao fim e


quanto ao conteúdo

Distingue-se do Poder de Supervisão por não dar orientações, mas sim fiscalizar actos.

O Professor Freitas do Amaral distingue as espécies de tutela administrativa quanto ao fim:

> tutela da legalidade - é o controlo da legalidade das decisões da entidade tutelada.

> tutela de mérito - visa controlar o mérito das decisões administrativas da entidade tutelada.

E distingue-as também quanto ao conteúdo:

> Tutela integrativa/aprovatória - a possibilidade de previamente aprovar ou autorizar


determinados atos da entidade tutelada, podendo a autorização e a aprovação ser expressas ou
tácitas, totais ou parciais, puras, condicionais ou a termo.

ex. orçamento ou despesas muito elevadas

Distingue-se a tutela integrativa a priori (poder de autorizar a prática dos actos da entidade tutelada) da
tutela a posteriori (poder de aprovar os actos da entidade tutelada).
Isto é, na tutela a priori um acto da entidade tutelada está sujeito a autorização, o acto só pode ser praticado
quando obtiver a autorização da entidade tutelar. Por outro lado na tutela a posteriori a entidade tutelada
pode praticar um acto antes de obter autorização, mas não o pode pôr em prática nem executá-lo sem que
esteja devidamente aprovado pela entidade tutelar.

> Tutela inspectiva - a possibilidade de realizar inspeções aos órgãos, serviços, documentos e
contas da entidade tutelada

ex. A queixa-se ao ministro que o INFARMED pediu-lhe dinheiro para abrir uma farmácia e o
Ministro, caso a lei o preveja, pode pedir que se faça uma inspecção, analisando as últimas 300
decisões.

> Tutela sancionatória - a possibilidade de, após se efectivar a tutela inspectiva, reagir, de forma a
sancionar a pessoa coletiva pública

> Tutela revogatória - a possibilidade de revogar atos administrativos praticados pela entidade
tutelada (é o tipo de tutela que permite a existência de recursos tutelares). Divide-se ainda em
duas modalidades:
> tutela revogatória por legalidade - quando o ato pode ser revogado por ser considerado
ilegal
> tutela revogatória por mérito - quando o ato pode ser revogado porque, mesmo não
sendo ilegal, não permite uma prossecução adequada do interesse público

João Bernardo Silva 10 de 68


Direito Administrativo

> Tutela substitutiva - a possibilidade de o órgão tutelar se substituir ao órgão competente no caso
de este não actuar (por inércia), ou seja, é o poder da entidade tutelar suprir as omissões da
entidade tutelada, praticando, em vez dela e por conta dela, os actos que forem legalmente
devidos

Recorde-se então que, seja qual for o poder de tutela para que este seja efectivado é necessário
que a lei o preveja expressamente, incluindo assim os casos de recurso.

ex. se a lei atribuir o poder de tutela inspetiva ao Ministro X sobre o Instituto Público Y, a q u e l e
não pode revogar os atos praticados pelo Y, IP, pode apenas realizar inspeções.

- Institutos Públicos (Lei-Quadro dos Institutos Públicos - Lei 3/2004)

De recordar que se tratam de pessoas colectivas do Estado, criadas por lei e com o dever de
superintendência e tutela pelo Ministro da Tutela, com serviços próprios.

Os institutos públicos são pessoas coletivas públicas de cariz institucional criadas para assegurar
o desempenho de funções administrativas (e não privadas), embora sejam entidades de fins
singulares, já que só podem se ocupar de matérias que a lei lhes remeta.
Assim, a sua criação, modificação e extinção só pode ocorrer mediante ato legislativo.

Podem, pela Lei-Quadro dos Institutos Públicos, conceder ou delegar alguma das suas atribuições
a entidades privadas.

Há na verdade dois tipos de institutos públicos, que se distinguem pelo seu fim, nomeadamente:

* Serviços personalizados: os antigos serviços do Estado, agora autonomizados, sendo


verdadeiros departamentos do tipo Direcção-Geral, aos quais a lei concede personalidade
jurídica e autonomia apenas para que as suas funções possam ser melhor desempenhadas. No
fundo, prestam serviços à comunidade.

* Fundações Públicas: sendo fundações que se baseiam na gestão de dinheiro do Estado,


gerindo o património com autonomia, sendo estas fundamentalmente patrimoniais.

- Empresas Públicas (Lei das Empresas Públicas - DL 1333/2003)

Até 2013, havia uma distinção entre as Entidades Públicas Empresariais e as Sociedades
Anónimas, pertencendo, ambas às chamadas Empresas Públicas, onde, o Estado, a par dos seus
poderes de autoridade pública, criava um sector empresarial, onde se enquadram as empresas
públicas, autonomizadas a fim de terem uma maior capacidade competitiva e empresarial.
Estas regem-se pelo Direito Privado e são criadas numa lógica concorrencial com as empresas
privadas sendo unidades produtivas cuja finalidade institucional é o lucro, preocupando-se
também em alcançar níveis adequados de satisfação das necessidades colectivas.
Uma empresa é considerada pública se a maioria dos seus capitais provier do Estado ou se,
quando o Estado ou outras entidades públicas não detiveram a maioria do capital, o Estado
possuir direitos especiais de controlo, sendo que, em ambas, há uma sujeição legal ou estatuária
da empresa ao controlo da Administração Pública.
A sua criação e extinção faz-se através de ato legislativo.
Existem dois tipos de empresas públicas:

* Sociedades Anónimas (SA): que revestem forma jurídica privada, embora sejam empresas
públicas, pois são criadas da mesma forma que as empresas privadas, estando sujeitas às
mesmas regras com a peculiaridade de ser o Estado o seu dono, podendo vender acções
destas, sendo através do Conselho de Administração que o Estado diz qual o plano de
atividades e não ao abrigo dum poder de superintendência ou tutela. (ex. CGD).

João Bernardo Silva 11 de 68


Direito Administrativo

* Entidades Públicas Empresariais (EPE): estas, organizações económicas de fim lucrativo


criadas e controladas por entidades jurídicas públicas, sendo então entidades de gestão, criadas
pelo Estado por ato legislativo ao abrigo do Direito Público com vocações lucrativas,
concorrendo no mercado com pessoas privadas de fim lucrativo, logo regendo-se pelo Direito
Privado, estando nestas, o Estado impedido de vender acções.

ex. Hospital Público - pessoa coletiva diferente do Estado, sujeita a poderes de tutela por parte do
Ministro das Finanças e pelo Ministro da Saúde, tendo este último poderes de superintendência

ADMINISTRAÇÃO AUTÓNOMA DO ESTADO

São pessoas colectivas distintas do Estado, independentes a este, logo capazes de definir a
orientação das suas atividades sem estarem sujeitas a hierarquia ou superintendência do
Governo, sendo autónomas deste mesmo. Têm atribuições próprias e originais, reconhecendo o
Estado, depois de estas se formarem ou associarem autonomia.
Têm então órgãos próprios e que se relacionam com o Ministro da tutela, com a especificidade de
a entidade tutelar apenas exercer poderes de tutela e incluem:

- Associações Públicas

São pessoas colectivas constituídas pelo conjunto de pessoas (singulares ou colectivas) que não
têm por fim o lucro económicos destas, isto é, dos seus associados. Destinam a assegurar os
interesses públicos comuns às pessoas que as integram, tendo fins singulares, pois são criadas
para a prossecução de interesses públicos determinados.
São criadas pelo Estado através de ato legislativo que eles atribui um conjunto de poderes
públicos a exercer em relação aos seus membros ou em relação a terceiros, estando sujeitas a
especiais restrições de caráter público, embora nem todas as associações cujas associados
sejam entidades públicas sejam associações públicas.

ex 1. Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), onde todos os municípios


(pessoas colectivas públicas) estão associados porque decidiram entre si criar essa associação
privada, logo não faz parte da Administração Pública Portuguesa, quem o faz são os municípios.

ex 2. a Associação dos Amigos dos Professores de Direito Administrativo, criada pelo Tiago, pelo
João e pela Maria, não tem nada haver com a Administração Pública, é uma associação privada.

As associações públicas regem-se tanto pelo Direito Público como pelo Direito Privado, não
podendo os seus associados abandonar a associação, podendo-se encontrar:

* Associações Públicas de entidades públicas: tratam-se de entidades que resultam da


associação, união ou federação de entidades públicas menores e, especialmente, de autarquias
locais.

ex. Áreas Metropolitanas: os membros são os municípios (pessoas colectivas públicas), mas a
associação não foi criada por estes, foram, sim, criadas pelo Estado.

* Associações Públicas de entidades privadas: o Estado concede a este tipo de associações a


prossecução de um interesse público que é coincidente com os interesses dos particulares que
as integram, na prática, a lei reconhece que tal interesse público será melhor prosseguido por
particulares interessados, em regime de associação e sob direção independente do Estado, do
que se fosse prosseguido por este. O seu exemplo centra-se na figura das Ordens Profissionais.

João Bernardo Silva 12 de 68


Direito Administrativo

‣ Ordens Profissionais: pessoas coletivas públicas criadas pelo Estado para garantir a
qualidade do serviço prestado, satisfazer necessidades específicas (ex. igualdade nas
condições de acesso à profissão), bem como para assegurar que os profissionais
associados cumprem as regras deontológicas. As funções do Estado neste contexto são
as de fiscalização, não sendo exercido o poder de superintendência, ou seja, estão
sujeitas ao poder de tutela do Ministro em causa. Mais, o Estado garante que a
organização está regulada para se manter pública. Estamos então perante um poder de
tutela de legalidade. No fundo servem para organizar e fiscalizar a atividade profissional,
daí-se exigir que quem não estiver inscrito na Ordem, não possa exercer a profissão
assim como, quem não cumpra com as ordens podem ser alvo de sanções. Beneficiam
do privilégio da unicidade (só há uma por profissão) e beneficiam da quotização
obrigaria, fixada pelo Bastonário.

> Distinção entre Ordem Profissional e Sindicato Profissional

As Ordens Profissionais têm por objectivo a auto-organização das pessoas em entidades


patronais de forma justa e igualitária, estarrecendo o Estado um enquadramento geral (ex.
estatuto, regras, etc), mas deixando a sua organização para estes, sendo o seu ingresso
obrigatório.
Já os Sindicatos são uma associação privada organizada num conjunto de associados para
alcançarem um poder reivindicativo maior, cujo seu objectivo é reunir-se com as entidades
patronais, sendo uma espécie de porta-voz dos trabalhadores perante esta, sendo a sua inscrição
opcional.

* Associações de entidades públicas e privadas: agrupam uma ou mais pessoas coletivas


públicas e indivíduos ou pessoas coletiva privadas.

- Autarquias Locais

Assentam sobre uma fração do território. Na realidade, correspondem aos agregados de


residentes num determinado território, tendo como função a prossecução dos interesses próprios
desse tal agregado populacional.
As autarquias não são instrumentos do Estado, isto é, apesar de serem criadas por ato legislativo,
este é na verdade uma mera forma de reconhecimento da sua autonomia e não da sua criação
per se já que as autarquias emanam das populações residentes e desenvolvem uma atividade
administrativa própria e não uma atividade estadual.
A criação e extinção de autarquias locais faz-se através de lei da Assembleia da República e são
compostas por municípios e freguesias, sendo cada um destes uma pessoa coletiva pública, por
sua vez, composta por órgãos próprios, que não se confundem entre si.

* Município: consiste na autarquia local cuja função é a prossecução de interesses próprios da


população residente na área concelhia, mediante órgãos representativos por ela eleitos. São
três os principais órgãos do município: a Assembleia Municipal (órgão deliberativo), a Câmara
Municipal e o Presidente da Câmara Municipal (órgãos executivos).

> Câmara Municipal: é um órgão colegial, eleita pela população, sendo composta pelos
membros do partido mais votado, mas também por membros de outros partidos
(vereadores), contido os vários pelouros são entregues apenas aos membros do partido
mais votado, competindo a esta a gestão permanente dos assuntos municipais.
> Presidente da Câmara Municipal: é o primeiro candidato da lista mais votada nas
eleições da Câmara municipal e tem competências próprias e delegadas pela Câmara
> Assembleia Municipal: funciona como um parlamento municipal, sendo uma parte eleita
diretamente pela população e outra constituída pelos Presidentes das juntas de
freguesia, embora o número de membros diretamente eleitos não possa ser inferior ao
nº de membros por inerência. Reúne ordinariamente 5 vezes por ano e aprova o
programa anual, o orçamento do Município e fiscaliza a actuação da Câmara Municipal.
João Bernardo Silva 13 de 68
Direito Administrativo

A reforma autárquica mostra-se desadequada para os dias que correm: a Assembleia Municipal é quase um parlamento
com deputados municipais eleitos e, enquanto a Câmara Municipal deveria ser apenas um órgão executivo, apenas
composto por membros que ganharam as eleições, esta é, na verdade, eleita independentemente da Assembleia
Municipal, funcionado quase como uma mini-assembleia municipal.

ex. Câmara Municipal: Partido A (vencedor) - 4 vareadores, Partido B - 2 vareadores, Partido C - 1 vareador.

O normal seria que, quem ganhasse, governasse na totalidade e a oposição se fizesse na Assembleia Municipal (ex. o
Orçamento seria aprovado na Assembleia Municipal).
No entanto, o que hoje acontece, é que o Presidente da Câmara atribui pelouros apenas aos vereadores do seu partido,
ficando os outros sem funções executivas, havendo uma repetição da Assembleia Municipal na reunião de Câmara,
onde se vota, decide-se, faz-se oposição, etc.
A Assembleia Municipal não foi vista como um órgão permanente, daí que se reuna apenas 5 vezes por ano, logo tem
de ser a própria Câmara a fiscalizar a sua governação.
Tiago Duarte defende a reforma, propondo que a Assembleia Municipal se reunisse semanalmente, fiscalizando a
Câmara, entretanto transformada num órgão executivo.

* Freguesia: consiste na autarquia local que existe dentro do município e que visa a prossecução
de interesses próprios da população residente na sua circunscrição. As suas atribuições são
autónomas em relação às do município em que se insere, contando-se a realização do
recenseamento eleitoral e os processos eleitorais, tendo também funções de caráter económico
e de caráter cultural e social. Além das suas competências próprias, pode ainda ter
competências delegadas pelo município. Tem como órgãos a Assembleia da Freguesia, a Junta
de Freguesia e o Presidente da Junta de Freguesia, embora só se vote para a Assembleia de
Freguesia, sendo o Presidente da Junta de Freguesia o número 1 da lista candidata à
Assembleia da Freguesia.

> A relação dos entes da Administração Autónoma com o Governo

O Governo apenas exerce o poder de tutela, em moldes semelhantes à sua aplicação na


Administração Indirecta do Estado:

* cada associação pública está ligada a um Ministro, sendo esta puramente temática
* nas autarquias locais o poder de tutela do Estado remete apenas para a legalidade nos termos
da CRP, não estando atualmente prevista a tutela revogatória, logo para se revogar um ato ilegal
é necessário recorrer aos tribunais administrativos. Aliás, a única modalidade de tutela prevista
para as autarquias locais é a inspetiva. Este caso reporta-se apenas à legalidade e não ao
mérito, preservando a autonomia constitucionalmente prevista das autarquias.

As autarquias locais estão protegidas na Constituição (Art. 235º CRP e seguintes), relacionando-
se com o Governo (Art. 182º CRP), limitado ao regime de Tutela Administrativa (Art. 242º CRP).

Artigo 235º CRP (Autarquias Locais)

1. A organização democrática do Estado compreende a existência de autarquias locais.

2. As autarquias locais são pessoas colectivas territoriais dotadas de órgãos representativos, que visam a
prossecução de interesses próprios das populações respectivas.

Artigo 236º CRP (Categoria de autarquias locais e divisão administrativa)

1. No Continente, as autarquias locais são as freguesias, os municípios e as regiões administrativas.

2. As regiões autónomas dos Açores e da Madeira compreendem (apenas as) freguesias e municípios.

3. Nas grandes áreas urbanas e nas ilhas, a lei poderá estabelecer, de acordo com as suas condições
específicas, outras formas de organização territorial autárquica.

João Bernardo Silva 14 de 68


Direito Administrativo

4. A divisão administrativa do território será estabelecida por lei.

Artigo 182º CRP (Definição - Governo)

O Governo é o órgão de condução da política geral do país e o órgão superior da administração pública.

Artigo 242º CRP (Tutela Administrativa)

1. A tutela administrativa sobre as autarquias locais consiste (limita a tutela administrativa) na


verificação do cumprimento da lei por parte dos órgãos autárquicos (legalidade - verifica o
cumprimento da lei, não se as decisões foram ou não correctas > quem opina sobre estes são os
eleitores nas próximas eleições) e é exercida nos casos e segundo as formas previstas na lei (não
diz qual a amplitude da tutela, se é revogatória, inspectiva, etc > é o que a lei determinar ser).

2. As medidas tutelares restritivas da autonomia local são precedidas de parecer de um órgão autárquico,
nos termos a definir por lei.

3. A dissolução de órgãos autárquicos só pode ter por causa acções ou omissões ilegais graves.

Ver também a Lei 27/2006 - Lei da Tutela Administrativa

CONCLUSÃO: a Administração Indireta e a Administração Autónoma do Estado englobam pessoas


coletivas públicas diferentes do Estado que podem exercer funções administrativas ou outras. Entre
estas pessoas coletivas e o Estado não há uma relação de hierarquia.
Entre o Estado e a Administração Indireta há poderes de tutela e superintendência, ao passo que
entre o Estado e a Administração Autónoma há apenas poder de tutela. Em ambos os casos, a tutela
não se presume.

ADMINISTRAÇÃO PERIFÉRICA DO ESTADO

O termo "periferia" é usado para designar áreas territoriais situadas fora da capital do País, em
que a Administração atua. Correspondem ao conjunto de órgãos e serviços de pessoas coletivas
públicas que dispõem de uma competência limitada a uma área territorial e funcionam sob a
direção dos correspondentes órgãos centrais, numa lógica de hierarquia
Não se confunde com a administração local autárquica, mesmo que ambas se dediquem a
atividades de natureza semelhante numa certa área pois são sempre formas de administração
distintas. Os órgãos periféricos podem ser:

* órgãos locais do Estado (por exemplo, os serviços de finanças, que pertencem ao


Ministério das Finanças)
* órgãos exteriores ao Estado (por exemplo, embaixadas)
* órgãos locais de institutos públicos
* órgãos externos de institutos públicos

Refere-se na prática a órgãos e serviços desconcentrados em que a sua atividade está espalhada
pelo país, ou seja, com um conjunto grande de órgãos e serviços espalhados pelo país.

CENTRALIZAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO

Relaciona-se com a quantidade de pessoas colectivas com competência administrativa.


É uma gradação, se tiver várias pessoas colectivas com competência administrativa, dizemos que
é descentralizado, se pelo contrário, forem poucas é mais centralizado.

ex. Freguesias, Ordens Profissionais, se existissem Regiões Administrativas seria ainda mais.
João Bernardo Silva 15 de 68
Direito Administrativo

- Centralização

Falamos em centralização quando existem poucas colectivas, apresentando como vantagens a


unidade do Estado, a par da homogeneidade da acção politico-administrativa desenvolvida no
país, permitindo uma melhor coordenação do exercício da função administrativa.
No entanto, faz depender todo o sistema administrativo da vontade central, esquecendo as
autonomias locais, e causa a ineficácia da ação administrativa, por querer concentrar todos os
poderes decisórios nas mãos de uma única pessoa coletiva pública (o Estado).

- Descentralização

Falamos em descentralização quando existem várias pessoas colectivas públicas, só existindo a


descentralização originária porque as pessoas coletivas públicas são criadas por lei e não por
mera vontade de um órgão.
Tem como vantagens o facto de permitir que a Administração esteja mais perto dos cidadãos,
facilita a tomada de decisões quanto aos problemas locais, mantendo a autonomia e liberdade
locais e, em simultâneo, servindo como travão ao absolutismo do Estado. No entanto gera, até
certo ponto, uma descoordenação no exercício da função administrativa. Falamos ainda em:

* Descentralização material: quando criam-se várias pessoas colectivas públicas, através de


ato legislativo, atribuindo-lhes um conjunto de competências próprias (por exemplo, a criação
de vários Institutos Públicos).
* Descentralização territorial: quando se criam várias pessoas coletivas públicas com as
mesmas competências, mas distribuídas pelo País, delimitada territorialmente, aproximando
os serviços das populações

ex. criação de um Instituto Público (descentralização - nova pessoa colectiva) com competência
para a Região Norte (territorial).

CONCENTRAÇÃO E DESCONCENTRAÇÃO

São conceitos que remetem para a organização administrativa, nomeadamente para a distribuição
de competências dentro da mesma pessoa colectiva pública. A sua base é a organização vertical
dos serviços públicos, consistindo na existência ou ausência de distribuição vertical de
competência entre os diversos graus ou escalões hierárquicos, relacionando-se com a tomada de
decisões e por consequência, no numero de órgãos de uma dada pessoa colectiva.
Aliás, em rigor, não existem sistemas plenamente concentrados nem sistemas plenamente
desconcentrados: o que existe, de facto, são sistemas mais ou menos concentrados e sistemas
mais ou menos desconcentrados.

- Concentração

A sua definição pura diz-nos que, concentração é o sistema em que o mais alto superior
hierárquico é detentor de todas as competências existentes na pessoa coletiva, sendo por isso o
único órgão com poder decisório, ficando os inferiores hierárquicos limitados às tarefas de
preparação e execução de decisões daquele. No fundo, traduz-se na existência de um número
pouco significativo de órgãos (com competência).

- Desconcentração

Consiste no sistema em que o poder decisório é repartido entre o superior hierárquico e vários
órgãos inferiores, não obstante a existência de poderes de direcção e supervisão, assim, é
desconcentrado se tiver mais que um órgão que toma decisões dentro da pessoa colectiva (ex. 3
órgãos em vez de apenas 1), sendo um processo de descongestionamento de competências.
Distingue-se a desconcentração originária/superveniente ou material/territorial:

João Bernardo Silva 16 de 68


Direito Administrativo

* Desconcentração originária: dá-se quando é a própria lei a responsável por atribuir


competência, definindo que estas serão distribuídas por vários órgãos (e não entregues
apenas ao mais alto superior hierárquico).
* Desconcentração superveniente: dá-se quando a lei atribui competência a um determinado
órgão e este as passa para outros entes através de uma delegação de poderes.

* Desconcentração material: a desconcentração dá-se apenas ao nível da distribuição de


competências pelos órgãos: são atribuídas várias competências a vários órgãos, ou seja,
múltiplas competências para múltiplos órgãos.
* Desconcentração territorial: quando as mesmas competências são atribuídas a órgãos
diferentes, distribuídos pelo País, sendo que a atividade de cada órgão está circunscrita à área
em que este se encontra, ou seja, a mesma competência para múltiplos órgãos.

ex. Conselho Directivo dum Instituto para o Norte, outro para o Sul, para o Centro e para as Ilhas.

CENTRALIZAÇÃO/DESCENTRALIZAÇÃO + CONCENTRAÇÃO/DESCONCENTRAÇÃO

- Centralização com concentração: uma só pessoa colectiva pública (Estado) com o Governo
encarregue da plenitude das competências.

- Centralização com desconcentração: uma só pessoa coletiva pública (Estado), estando as


competências repartidas entre Governo e órgãos inferiores deste.

ex. só o Estado (uma pessoa colectiva), mas dentro deste, vários órgãos (ex. Directores
Regionais) têm competência para tomar decisões

- Descentralização com concentração: uma multiplicidade de pessoas coletivas públicas,


havendo em cada uma delas apenas um centro de poder decisório.

ex. várias pessoas colectivas (ex. Câmara Municipal, Ordem dos Advogados), mas cada uma
delas só com órgão que toma decisões (ex. Presidente da Câmara, Bastonário) destas.

- Descentralização com concentração: uma multiplicidade de pessoas coletivas públicas,


havendo em cada uma delas a repartição de competências entre superiores e inferiores
hierárquicos.

ex. várias pessoas colectivas dentro do Estado e cada uma delas com mais que um órgão com
competência para tomar decisões (ex. Ministros, Directores Gerais e Director de Serviços).

- O Sistema Português

O sistema português é constitucionalmente descentralizado e desconcentrado, tal como


previsto no Artigo 267º da CRP:

Artigo 267º CRP (Estrutura da Administração)

1. A Administração Pública será estruturada de modo a evitar a burocratização, a aproximar os serviços


das populações e a assegurar a participação dos interessados na sua gestão efectiva, designadamente
por intermédio de associações públicas, organizações de moradores e outras formas de representação
democrática.

2. Para efeito do disposto no número anterior, a lei estabelecerá adequadas formas de descentralização
(a descentralização e a desconcentração terá de ser adequada, não podendo ser pulverizada,
limitando-a) e desconcentração administrativas, sem prejuízo da necessária eficácia e unidade de
acção da Administração (com órgãos e competências definidas, mas pouco burocrática, eficaz e
unitária) e dos poderes de direcção, superintendência e tutela dos órgãos competentes.

João Bernardo Silva 17 de 68


Direito Administrativo

INSTITUIÇÕES PARTICULARES DE INTERESSE PÚBLICO

Não fazem parte da Administração Pública, não se enquadrando na Administração directa,


indirecta ou autónoma do Estado, mas a atividade que exercem, prossegue fins de interesse
público, estando por isso sujeitas a um regime especial do Direito Administrativo, assim, não têm
um interesse puramente privado., devendo cooperar com a Administração. Dividem-se em:

- Sociedades de interesse colectivo

Tratam-se de empresas privadas com fins lucrativos, mas com finalidades de interesse público
actuando em áreas de interesse coletivo, estando sujeitas a um regime especial do Direito
Administrativo por se dedicarem, de foram estatutária ou contratual ao exercício de poderes
públicos que a Administração transferiu para elas. Nestas destacam-se as:

* Parceiras Público-Privadas: estas empesas privadas que visam ao lucro, celebrando


contractos de concessão com o Estado, investindo em áreas da responsabilidade da
Administração Pública. São contratadas pelo Estado que lhes dá a oportunidade de gerar
receitas próprias, isto é, os contratos de concessão são aqueles em que o co-contratante se
obriga à execução de obras públicas, adquirindo em contrapartida o direito de proceder,
durante determinado período de tempo, à respetiva exploração (e, se tal for estipulado, até ao
pagamento de um preço por parte do Estado). Apresenta como vantagens o facto de as
despesas serem suportadas pela entidade privada e não pelo Estado, embora os gastos
sejam directamente suportados pelos utentes por cada utilização.

ex. BRISA

- Pessoas colectivas de utilidade pública (Decreto-Lei 391, de 2007)

Consiste no conjunto de associações ou fundações privadas (portanto, sujeitas ao Direito Privado)


que prosseguem fins não lucrativos de interesse geral e que cooperam com a Administração
central ou local, levando a que o Estado, através do Governo, lhes atribua o estatuto de utilidade
pública, isto é, exercem uma actividade que é de interesse público, não persegue o lucro, é
desinteressada, tendo também certos benefícios (ex. isenções fiscais) e deveres que o Estado
lhes atribui/impõe. Há três tipos de pessoas colectivas de utilidade pública, nomeadamente:

* Instituições particulares de solidariedade social: constituídas para dar expressão


organizada ao dever moral de solidariedade e de justiça entre os indivíduos (ex. misericórdias)
* Pessoas colectivas de utilidade pública administrativa: consistem em associações
beneficentes ou humanitárias (ex. bombeiros voluntários), bem como os institutos de
assistência e educação (ex. creches).
* Pessoas colectivas de mera utilidade pública: aquelas que não se enquadram numa das
outras definições.

DELEGAÇÃO DE PODERES Artigo 44º e seguintes - CPA

Artigo 44º CPA (Delegação de Poderes)

1. Os órgãos administrativos (se são órgãos administrativos têm competências, competências essas que
podem delegar) normalmente competentes para decidir em determinada matéria podem (é uma
possibilidade, se assim o quiserem), sempre que para tal estejam habilitados por lei (1º requisito -
habitação legal), permitir, através de um ato de delegação de poderes (2º requisito - praticar um acto
de delegação), que outro órgão ou agente da mesma pessoa coletiva ou outro órgão de diferente
pessoa coletiva pratique atos administrativos sobre a mesma matéria.

João Bernardo Silva 18 de 68


Direito Administrativo

2. Para efeitos do disposto no número anterior (= Agente), considera-se agente aquele que, a qualquer
título, exerça funções públicas ao serviço da pessoa coletiva, em regime de subordinação jurídica (=
inferior hierárquico, logo tem de haver uma linha hierárquica).

o Número .3 e .4.são excepções ao 44º.1 e identifica as situações em que se aplicam:

3. Mediante um ato de delegação de poderes, os órgãos competentes para decidir em determinada


matéria podem sempre permitir que o seu imediato inferior hierárquico, adjunto ou substituto (do
delegante) pratiquem atos de administração ordinária (pode apenas delegar actos de administração
ordinária, isto é, actos repetitivos que não exijam um ponderação autónoma de critérios) nessa matéria.

4. O disposto no número anterior (o .3 e o .4 deveriam estar juntos) vale igualmente para a delegação de
poderes dos órgãos colegiais nos respetivos presidentes (quando o órgão colegial quer delegar no
seu presidente), salvo havendo lei de habilitação específica que estabeleça uma particular repartição de
competências entre os diversos órgãos. - este numero tem na verdade um duplo critério: aqueles
delegantes para aqueles delegados + Administração Ordinária.

5. Os atos praticados ao abrigo de delegação ou subdelegação de poderes valem como se tivessem sido
praticados pelo delegante ou subdelegante.

Assim, para se poder delegar um poder, é necessário preencher-se 2 requisitos:

1) Habitação legal - a lei tem de permitir essa delegação.


2) Praticar um acto de delegação - o Ministro tem de declarar que delega o poder X à pessoa Y.

O delegado pode ser quem:

➡ tenha já competência atribuída por lei, sendo ele próprio, por si, um órgão, podendo ser um
órgão da mesma pessoa colectiva (ex.. Director Geral) ou de outra (ex. Instituto Público).
➡ não tenha ainda competência por lei, aos Agentes, passando a ter competência para decidir
sobre aquela matéria. O agente tem de pertencer à mesma pessoa colectiva que quem delega
(ex. Ministro da Agricultura delega competências no Director dos Serviços Jurídicos do seu
Ministério)

Há também situações excepcionais em que não se exige habitação legal nessa delegação - Artigo
44º.3 e 44º.4:, podendo os órgãos competentes delegar determinada matérias ao seu:

➡ imediato inferior hierárquico, adjunto ou substituto (ex. Ministro -> DGeral - por ser o inferior
hierárquico, mesmo que a lei não o diga)
➡ Presidente - quando se trata de órgãos colegiais

No entanto coloca um limite: esta possibilidade de delegação sem habitação legal está
circunscrita apenas a actos de administração ordinária, isto é, aqueles que não exijam uma opção
autónoma de ponderação autónoma de requisitos ou critérios, é como se tivesse o órgão
competente praticado o acto (Artigo 44º.5).
ex. se se verificar o pagamento de X quantia de 2 em 2 anos, a licença é atribuída (renovada).

- Artigo 45º: Aborda os poderes que não podem ser delegados

Artigo 45º CPA (Poderes Indelegáveis)

1. Não podem ser objeto de delegação, designadamente:

a) A globalidade dos poderes do delegante - não pode delegar todos os poderes;

b) Os poderes suscetíveis de serem exercidos sobre o próprio delegado - ex. poder de sanção;

João Bernardo Silva 19 de 68


Direito Administrativo

c) Poderes a exercer pelo delegado fora do âmbito da respetiva competência territorial - algo territorial não
passa para a ter competência para o país inteiro: ex. delegar ao Director da Região Norte a competência
para atribuir licenças em todo o país

- Artigo 46º: Subdelegação

Artigo 46º CPA (Subdelegação de Poderes)

1. Salvo disposição legal em contrário, o delegante pode autorizar o delegado a subdelegar.

2. O subdelegado pode subdelegar as competências que lhe tenham sido subdelegadas, salvo
disposição legal em contrário ou reserva expressa do delegante ou subdelegante (não precisa dum acto
para isso mesmo, apenas não o pode fazer se houver impedimento: lei ou reserva expressa).

ex.

LEI Ministro Delegante

Delegação de Poderes: - Lei Habilitante


- Acto de Delegação

Delegado
Director Geral
Subdelegante

Subdelegação de Poderes: - Autorização do Delegante


- Acto de Subdelegação do
Delegado

Subdelegado
Director Serviços
Subsubdelegante

Subsubdelegação de Poderes: - Acto de Subsubdelegação

Chefe Divisão Jurídica Subsubdelegado

Existem requisitos para a subdelegação:

1) Autorização do delegante - para que o DGeral transferisse poderes para o DServiços, o


Ministro teria de o aprovar ou dar essa possibilidade.

O Ministro se quisesse poderia ter delegado os poderes logo ao DServiços, mas, se optou por delegar ao DGeral, seria
quase uma fraude, passá-la directamente, daí ser necessário que o Ministro autorize que o DG delegue.

2) Acto de Subdelegação por parte do delegado

O subdelegado pode ainda subdelegar as competências que lhe tenham sido subdelegadas, caso
não haja impedimento, ou seja, uma reserva expressa do delegante ou subdelegante: Artigo 46º.2.

João Bernardo Silva 20 de 68


Direito Administrativo

- Artigo 47º: Trata do conteúdo obrigatório do acto de delegação ou subdelegação, tendo que:

1) especificar os poderes delegados ou os actos que o delegado pode praticar


2) mencionar o artigo da lei que dá competência para delegar, que diz que pode delegar.

Artigo 47º CPA (Requisitos do Acto de Delegação)

1. No ato de delegação ou subdelegação, deve o órgão delegante ou subdelegante especificar os


poderes que são delegados ou subdelegados ou os atos que o delegado ou subdelegado pode
praticar, bem como mencionar a norma atributiva do poder delegado e aquela que habilita o órgão
a delegar (onde se diz na lei que o o delegante tem essa competência e aquela que o permite delegar).

2. Os atos de delegação ou subdelegação de poderes estão sujeitos a publicação, nos termos do artigo
159.º

- Artigo 48º: (Artigo 159º - quando a lei impuser a publicação do acto, mas não regular os
termos, esta deve ser feita em Diário da República ou na publicação oficial da entidade pública e
no site da Internet da entidade em causa, no prazo de 30 dias, contendo os elementos referidos
no 151º.1)

Artigo 48º CPA (Menção da Qualidade de Delegado ou Subdelegado)

1. O órgão delegado ou subdelegado deve mencionar essa qualidade no uso da delegação ou


subdelegação - tem de dizer que a decisão que toma tem por base a delegação de competências que
lhe foi atribuída

2. A falta de menção da delegação ou subdelegação no ato praticado ao seu abrigo, ou a menção


incorreta da sua existência e do seu conteúdo, não afeta a validade do ato, mas os interessados não
podem ser prejudicados no exercício dos seus direitos pelo desconhecimento da existência da
delegação ou subdelegação - Isto é, o particular não pode ser prejudicado por essa omissão

- Artigo 49º:

Artigo 49º CPA (Poderes do Delegante ou Subdelegante)

1. O órgão delegante ou subdelegante pode emitir diretivas (poder de superintendência - definir as linhas
gerais, as prioridades) ou instruções vinculativas (poder de direcção: poder de dar ordens: gerais e
abstractas) para o delegado ou subdelegado sobre o modo como devem ser exercidos os poderes
delegados ou subdelegados.

2. O órgão delegante ou subdelegante tem o poder de avocar (é o poder que o delegante tem de voltar a
chamar a si a competência delegada), bem como o de anular (trata-se da revogação dos actos por
ilegitimidade/ilegalidade: anulação administrativa), revogar (revogação por considerar que a decisão não
era a conveniente para o interesse público) ou substituir (2 actos num só: revogo e troco o acto
desfavorável por um acto favorável - Artigo 173º) o ato praticado pelo delegado ou subdelegado ao
abrigo da delegação ou subdelegação.

Não esquecer que os poderes são os típicos de delegação de poderes, não se tratando de outras
relações como as hierárquicas ou de superintenderia.

ex. se o Ministro delegar no Director Geral, esquecemos que um é Ministro e outro é Director
Geral, são sim delegante e delegado).

Percebe-se este poder que o órgão delegante tem de emitir directas ou fixar instruções
vinculativas sobre o modo como as questões devem ser decididas.

João Bernardo Silva 21 de 68


Direito Administrativo

ex. Ministro delega ao director dos SEF sobre asilos, o Ministro (delegante) pode dar uma
instrução vinculativa (geral e abstracta) onde diz em que situações devem ser tomadas certas
decisões: a todas as pessoas que venham da Síria deve-se atribuir o asilo.
Assim, o delegante controla o procedimento já que pode, a todo o momento recuperar o exercito
da competência delegada que, efectivamente pertence-lhe, podendo:

* avocar: baseia-se em chamar de volta a si uma competência que é sua

ex. DG delegou ao Director do SEF que deve conceder asilo se o requerente vive num país em
guerra e o delegado ao receber o pedido, analisa-o e decide, mas o líder da oposição síria,
possível futuro presidente requer asilo, numa delegação de poderes, o delegante não pode dar
ordens ao delegado, mas pode chamar a si a decisão desse caso antes que a decisão seja
tomada, pois a avocação surge sempre antes antes da tomada de decisão

* anular: associa-se à revogação dos actos por parte da Administração por considerá-los ilegais.
* revogar: associa-se à revogação dos actos por parte da Administração por conveniência

No antigo CPA quem anulava as decisões era apenas o Tribunal e sempre com base na lei,
podendo a Administração revogar o acto por ilegalidade ou inconveniência.
No novo CPA faz-se a distinção entre anulação e revogação, tendo a Administração dois critérios:

> legalidade: se é ou não legal (a Administração está adstrita ao princípio da legalidade)


> conveniência: se entender que a decisão não é conveniente para o interesse público.

Esses poderes de anulação e de revogação advém de órgãos que estão ao abrigo da delegação
de poderes, tendo apenas esses poderes enquanto delegantes ou subdelegantes.

ex. delegação de poderes em Janeiro de 2015 e uma subdelegação em Fevereiro de 2015, tendo
o subsubdelegado praticado um acto a 1 de Março. A 2 de Março o delegante revoga a delegação
de poderes o que implica que todas as delegações caduquem, não podendo o subdelegante
revogar o acto do subsubdelegado por já não ser o subdelegante.

Artigo 169º CPA (Iniciativa e competência)

1 - Os atos administrativos podem ser objeto de revogação ou anulação administrativas por iniciativa dos
órgãos competentes, ou a pedido dos interessados, mediante reclamação ou recurso administrativo.

2 - Salvo disposição especial e sem prejuízo do disposto nos números seguintes, são competentes para a
revogação dos atos administrativos os seus autores e os respetivos superiores hierárquicos, desde que não
se trate de ato da competência exclusiva do subalterno.

3 - Os atos administrativos podem ser objeto de anulação administrativa pelo órgão que os praticou e pelo
respetivo superior hierárquico.

4 - Enquanto vigorar a delegação ou subdelegação, os atos administrativos praticados por delegação ou


subdelegação de poderes podem ser objeto de revogação ou de anulação administrativa pelo órgão
delegante ou subdelegante, bem como pelo delegado ou subdelegado.

5 - Nos casos expressamente permitidos por lei, os atos administrativos praticados por órgãos sujeitos a
superintendência ou tutela administrativa podem ser objeto de revogação ou de anulação administrativa
pelos órgãos com poderes de superintendência ou tutela.

6 - Os atos administrativos praticados por órgão incompetente podem ser objeto de revogação ou de
anulação administrativa pelo órgão competente para a sua prática.

João Bernardo Silva 22 de 68


Direito Administrativo

* substituir: trocando um acto desfavorável por um favorável. Ver o regime do Artigo 173º

Distingue-se da anulação e da revogação por esses serem meramente negativos, isto é,


simplesmente desaparecem, mas, eliminar não é resolver o assunto.
- Reacção dos particulares face à Administração

A verdade é que o delegante não tem conhecimento de todas as decisões do subdelegado,


devendo ainda o delegado que dizer na sua decisão que actua ao abrigo de um poder de
delegação, notificando o particular da decisão fundamentada. E este, no antigo CPA podia reagir:

> nos tribunais (recurso contencioso): com uma impugnação judicial


> na própria Administração (recurso gracioso): através duma impugnação administrativa

Mas como novo CPA e face ao recurso do particular dentro da própria Administração, o particular
ao achar a decisão ilegal ou inconveniente só pode recorrer “por expressa disposição legal”,
isto é, se houve uma norma que permita essa recurso, como nos diz o Artigo 199º:

Artigo 199º CPA (Regime)

1 - Nos casos expressamente previstos na lei, há lugar a recursos administrativos:

a) Para órgão da mesma pessoa coletiva que exerça poderes de supervisão;

b) Para o órgão colegial, de atos ou omissões de qualquer dos seus membros, comissões ou secções;

c) Para órgão de outra pessoa coletiva que exerça poderes de tutela ou superintendência.

2 - Sem prejuízo dos recursos previstos no número anterior, pode ainda haver lugar, por expressa
disposição legal, a recurso para o delegante ou subdelegante dos atos praticados pelo delegado ou
subdelegado.

3 - O recurso tutelar previsto na alínea c) do n.º 1 só pode ter por fundamento a inconveniência ou
inoportunidade do ato ou da omissão nos casos em que a lei estabeleça uma tutela de mérito.

4 - No recurso tutelar, a modificação ou a substituição do ato recorrido ou omitido só é possível se a lei


conferir poderes de tutela substitutiva e no âmbito destes.

5 - Aos recursos previstos no presente artigo são aplicáveis as disposições reguladoras do recurso
hierárquico, mas, quanto ao recurso tutelar, apenas na parte em que não contrariem a natureza própria
deste e o respeito devido à autonomia da entidade tutelada.

O que acaba por ser algo deficiente e contraditório já que o delegante pode, por iniciativa revogar
um acto praticado pelo delegado, mas há não o pode revogar se alguém pedir que este analise,
portanto, em suma, o CPA “exige” que o delegante pede a si mesmo.
No entanto, o delegante, ao ter poder de supervisão sob o delegado, em vez de apresentar o
recurso ao abrigo do Artigo 169º.2, apresento-o ao abrigo do Artigo 199º.1.a) no caso de delegado
e delegante estarem na mesma pessoa colectiva, mas coloca-se uma vez mais um limite:
apenas “nos casos expressamente previstos na lei”.

Artigo 49º CPA (Poderes do Delegante ou Subdelegante)

1. O órgão delegante ou subdelegante pode emitir diretivas (poder de superintendência) ou instruções


vinculativas para o delegado ou subdelegado sobre o modo como devem ser exercidos os poderes
delegados ou subdelegados.

João Bernardo Silva 23 de 68


Direito Administrativo

2. O órgão delegante ou subdelegante tem o poder de avocar, bem como o de anular, revogar ou
substituir o ato praticado pelo delegado ou subdelegado ao abrigo da delegação ou subdelegação.

Mas a revogação de um acto praticado pelo delegado (Artigo 49º), distingue-se da revogação do
acto de delegação de competências (Artigo 50º), usando o legislador a palavra extinção:

Artigo 50º CPA (Extinção da delegação ou subdelegação)

A delegação e a subdelegação de poderes extinguem-se:

a) Por anulação ou revogação do ato de delegação ou subdelegação; - delegante acha que a delegação
afinal era inválida, anulando-a (ex. não havia lei para a delegação de poderes nesse despacho) ou então
revoga se quiser mudar a delegação (ex. fez a delegação de poderes há 2 anos, mas agora quer de volta).

b) Por caducidade, resultante de se terem esgotado os seus efeitos ou da mudança dos titulares dos
órgãos delegante ou delegado, subdelegante ou subdelegado. - se mudar alguns dos titulares dos órgão a
delegação caduca (ex. A era subdelegado de B, A demite-se, logo cessa essa delegação).

O PODER ADMINISTRATIVO

A Administração caracteriza-se como um poder, uma vez que está habilitada por lei a traçar a sua
própria conduta para alcançar os fins que lhe são adstritos, podendo-os impor à generalidade dos
cidadãos o respeito dessa mesma conduta.
A Administração, deve, como não poderia deixar de ser, de obedecer a uma serie de princípios
constitucionalmente previstos como o:

* princípio prossecução do interesse público


* princípio da legalidade
* princípio do respeito pelos direitos e interesses legalmente protegidos dos particulares
* poder discricionário da Administração (ou as margens da decisão administrativa)
* princípio da justiça
* princípio da proporcionalidade
* princípio da boa fé
* princípio da imparcialidade

De todos os princípios, o da Legalidade e o da Prossecução do Interesse Público são aqueles


vistos como os estruturantes, tendo a Administração Pública encontrado duas fronteiras nestes:

- Princípio da Legalidade

Estando a Administração subordinada ao Direito, então toda a atividade administrativa está


subordinada à lei, devendo mover-se apenas dentro do que lhe é legalmente permitido sem nunca
afrontar a lei vigente (no seu sentido amplo: CRP, leis ordinárias, regulamentos, princípios gerais).
Este princípio funciona como fundamento e como limite à acção da Administração, só podendo a
Administração fazer aquilo que a lei permitir que faça (princípio da competência).
A existência do princípio da legalidade dá-se também numa lógica de segurança jurídica.

A Administração encontra-se na base da pirâmide e, como tal, deve respeitar


todos os níveis que se encontram acima.
CRP O respeito por este princípio faz-se numa lógica ascendente e não
descendente, o que significa que o primeiro nível que a Administração deve
respeitar é o nível da legislação ordinária.
Legislação Ou seja, se a Administração se deparar com legislação contrária à
Constituição, deve tomar a sua decisão de acordo com a primeira. Se a
Administração considerasse inconstitucional (algo para o qual não é competente, pois não é
um órgão judicial) e não agisse de acordo com a legislação, a 24
Administração
João Bernardo Silva de 68
estaria a ignorar e a sobrepor-se ao nível legislativo, o que se traduziria no
desrespeito pelo princípio da legalidade.
Direito Administrativo

Artigo 3º CPA (Princípio da legalidade)

1 - Os órgãos da Administração Pública devem atuar em obediência à lei e ao direito, dentro dos limites
dos poderes que lhes darem conferidos e em conformidade com os respectivos fins.

2 - Os atos administrativos praticados em estado de necessidade, com preterição das regras estabelecidas
no presente Código, são válidos, desde que os seus resultados não pudessem ter sido alcançados de
outro modo, mas os lesados têm o direito de ser indemnizados nos termos gerais da responsabilidade da
Administração.

É um princípio complexo, tendo dois subprincípios:

* Princípio da Preferência de Lei (Artigo 266º CRP + Artigo 3º CPA): segundo o qual, é vedado
à Administração uma actuação num sentido contrário à lei, funcionando esta como limite à dita
atuação, ou seja, nenhum ato de categoria inferior à lei pode contrariar o bloco de legalidade:
num conflito entre um ato administrativo e uma lei, dá-se preferência à lei.

ex. uma lei diz que não é possível haver roulotes nos campus, o reitor não pode autorizar uma.

* Princípio da Reserva de Lei: segundo o qual nenhuma ato administrativo pode ser praticado
sem ter como fundamento a lei.

Até meados do Século XX alguns autores entendiam que a Administração teria de ser agressiva
exigindo previamente uma lei (ex. cobrando taxas antes de cada requerimento de um particular
que pretenda actuar), outros entendiam que a Administração deveria era ser prestadora (ex.
atribuir um subsídio aos alunos com menos de 1m70) não sendo necessário ser precedida por lei.
Mas com a evolução entendeu-se que a Administração prestadora acabara por gerar
desigualdades e como os recursos são limitados, haveria sempre uns que beneficiaram e outros
que sairam prejudicados (ex. os alunos com mais de 1m70 saíram prejudicados).
Assim, entendeu-se que o princípio de reserva da lei seria o fundamento da actuação da
Administração, exigindo-se que, para todos os actos que se façam seja necessário uma lei que
permita lhe praticar esse acto administrativo.
Este subprincípio subdivide-se também em dois, sendo estes complementares um ao outro:

‣ Princípio da precedência de lei: dado que todas as matérias estão reservadas à lei, tem
sempre de existir atividade legislativa antes de existir atividade administrativa, daí o
termo “precedência”

ex. primeiro tem de haver uma lei que diga que se deve incentivar a produtividade dos alunos, só
havendo depois o acto administrativo: os alunos a requererem o apoio à Administração por terem
tido uma média superior a 16.

‣ Princípio da densificação normativa: as leis não podem ser vazias, devem ter conteúdo
suficiente, não sendo nem castradoras da Administração - sendo demasiado
detalhadas -, nem abstractas ao ponto de, na prática, deixar a atuação da
Administração totalmente livre.

ex. uma lei que diga que as universidades podem atribuir apoios aos alunos os subsídios que
quisessem faria com que não houvesse nenhum caso contrário à lei, podendo a Administração
fazer tudo o que quisesse, daí ser necessário que a lei seja densa, tenha algum conteúdo.

Assim, a lei deve estabelecer regras e princípios, cabendo ao legislador decidir se concederá mais
ou menos espaço de atuação (ex. matéria penal ou matéria fiscal: não diz que a Administração
tribute se assim achar justo) à Administração - se as leis não forem suficientemente densas, esta
poderá criar regulamentos que as complementem.

João Bernardo Silva 25 de 68


Direito Administrativo

- Princípio da Prossecução do Interesse Público (Artigo 266º.1 CRP + Artigo 4º CPA)

O interesse público pode ser sucintamente descrito como o bem comum, o interesse geral da
comunidade, devendo-se assim procurar satisfazer uma serie de necessidades colectivas.
É a lei que define os interesses públicos a cargo da Administração - embora esta possa, ser
também habilitada por lei a defini-los autonomamente - esta prossecução é tida como obrigatória
para a Administração, a par desta está ainda o dever de boa administração - o dever da
Administração em prosseguir interesse público da forma mais eficiente possível.
Fixe-se que só os interesses públicos definidos por lei podem constituir motivos determinantes dos
atos administrativos.

Artigo 4º CPA (Princípio da prossecução do interesse público e da proteção dos direitos e interesses
dos cidadãos)

Compete aos órgãos da Administração Pública prosseguir o interesse público, no respeito pelos direitos e
interesses legalmente protegidos dos cidadãos.

A grande diferença entre estes dois princípios prende-se no facto de o princípio da legalidade
ser também um dos princípios nucleares do poder judicial e o segundo, o da prossecução do
interesse público, competir apenas à Administração.
Assim, a avaliação do mérito pertence em exclusivo ao Estado.

ex. em tempos houve uma polémica sobre uns líquidos que não se poderiam colocar em lado
nenhum, então a Administração decidiu que esses seriam queimados em fornos de cimento, não
podendo o Tribunal nada fazer, já que não avalia se é bom ou mau para o interesse público.

Artigo 4º CPA (Princípio da prossecução do interesse público e da proteção dos direitos e interesses
dos cidadãos)

Compete aos órgãos da Administração Pública prosseguir o interesse público, no respeito pelos direitos e
interesses legalmente protegidos dos cidadãos.

A ponderação do interesse público varia com o tempo e com o órgão (ex. energia nuclear).

A grande diferença entre estes dois princípios prende-se no facto de o princípio da legalidade
ser também um dos princípios nucleares do poder judicial e o segundo, o da prossecução do
interesse público, competir apenas à Administração.
Assim, a avaliação do mérito pertence em exclusivo ao Estado.

ex. em tempos houve uma polémica sobre uns líquidos que não se poderiam colocar em lado
nenhum, então a Administração decidiu que esses seriam queimados em fornos de cimento, não
podendo o Tribunal nada fazer, já que não avalia se é bom ou mau para o interesse público.

ATIVIDADE DISCRICIONÁRIA DA ADMINISTRAÇÃO

Apesar de a Administração estar subordinada à lei, a verdade é que esta não regula sempre do
mesmo modo a atividade daquela: há casos em que a lei pode regular todos os aspetos e nesses
a atuação da Administração é mecânica e dedutiva, traduzindo-se na mera aplicação da lei
abstrata ao caso concreto. Mas na maioria dos casos o legislador reconhece a sua incapacidade
para prever todas as circunstâncias em que a Administração terá de atuar e, como tal, é-lhe
impossível dispor sobre qual será a melhor solução.
Assim, os actos vinculados são aqueles onde a ponderação do interesse pública é feita pelo
legislador, já os actos discricionários são aqueles onde a decisão da Administração tem de
respeitar o interesse público, mas a sua ponderação não é totalmente feita pelo legislador.

João Bernardo Silva 26 de 68


Direito Administrativo

- Actos vinculados

Quando só há uma solução legalmente possível (resultante de uma regulamentação precisa), tem-
se que a lei vincula totalmente a Administração pois eta não tem outra possibilidade senão chegar
àquele resultado.
Aliás, quem decide o nível de densificação da lei é o próprio legislador e, em certos casos
concretos, o legislador não deixa à Administração nenhuma ponderação, sendo as leis de tal
maneira densas que fazem com que a actuação da administração seja uma actuação vinculada,
preferindo o legislador que a actuação da Administração seja quase automática, entendendo que,
aquelas regras seriam as que melhor prosseguiam o interesse público.
É mais previsível, dando maior segurança, mas é muito menos maleável, levando a certas
situações contraditórias.

ex. entrada dos alunos na faculdade: não há espaço para uma entrevista com os candidatos

- Actos discricionários

Quando, por outro lado, a lei é mais imprecisa, atribuindo uma maior margem de autonomia
decisória à Administração, deixando que esta decida quais os critérios que melhor se adequam ao
caso para prosseguir o interesse público, havendo assim discricionaridade.
O legislador entendeu que deveria haver uma apreciação do caso concreto por parte da
Administração, tranferindo a ponderação do interesse público do legislador para a Administração,
utilizando palavras mais amplas, valorizando a maleabilidade.

ex. possibilidade do encerramento da faculdade: a lei diz que se o quadro clínico existente for
muito grave, isto é, se colocar em causa a saúde pública, deve-se encerrar a escola, deixando
essa ponderação de gravidade para a Directora da Faculdade.

Do ponto de vista da Administração, essa ponderação perante o caso concreto não é aleatória,
devendo escolher a melhor decisão que poderia tomar perante o dado caso concreto.

ex. a directora decide fechar a faculdade num dia em que estava previsto que uma companhia de
teatro actuasse, tendo esta um grande prejuízo, então decide ir para tribunal por achar que os
alunos estavam eram muito nervosos e não com uma gastroenterite: o Tribunal nada pode fazer
pois não lhe pertence a competência de mérito, não podendo esta ser reavaliada nos tribunais.

Na verdade, não há atos que sejam totalmente discricionários e atos que sejam totalmente
vinculados, todos são, em medidas diferentes, vinculados em relação a certos aspectos e
discricionários em relação a outros.
Ainda assim, não se deve confundir a discricionaridade com liberdade ou aleatoridade, pois a
decisão do órgão está condicionada pelos princípios e regras gerais que vinculam a Administração
Pública.
Portanto, na prática, continua a haver apenas uma solução: a mais adequada para o interesse
público, embora nos actos vinculados, independente do órgão esta é sempre a já determinada e
nos actos discricionários, o preenchimento deste critério deferir consoante os órgãos titulares d
poder de exercício de tal acto.

- Controlo Judicial da Discricionaridade

Uma das grandes diferenças entre a atividade vinculada e discricionária é a capacidade de os


atos das primeiras poderem ser impugnados junto do tribunal.
Após uma decisão no âmbito da atividade discricionária esta não pode ser submetida a processo
judicial, pois não há critérios legais objectivos que sustentem uma possível anulação, aliás, se os
tribunais reapreciassem a acção, estar-se-iam a substituir à Administração, desrespeitando o
princípio da separação de poderes, no entanto os tribunais podem exercer um controlo de
legalidade sobre a Administração (mas nunca de mérito)
João Bernardo Silva 27 de 68
Direito Administrativo

- Impugnação de Atos Discricionários

Os fundamentos em que o particular pode basear a impugnação de um ato administrativo


discricionária são os elementos vinculados desse ato, pois, na verdade, os actos administrativos
são como Saturno (competência de mérito, não podendo ser anulado em Tribunal) e as suas luas
(elementos que podem determinar a sua anulabilidade em Tribunal):

* incompetência do autor do ato: a lei fixa qual é o órgão com competência para decidir (não
obstante a possibilidade de delegação de poderes)

ex. O Plano Director Municipal diz que só podem ser licenciados edifícios que mantenham a
harmonia e coerência da paisagem, podendo o Presidente da Câmara indeferir um pedido de
construção se essa colocar em causa a harmonia paisagística, mas o promotor imobiliário recebe
uma resposta de indeferimento assinada pelo vereador e não pelo Presidente da Câmara e, não
tendo sido praticado pelo órgão competente, pode o ato ser anulável.

* vícios de forma: a lei estabelece qual a forma que o ato administrativo deve tomar

ex. a decisão seria tomada por Resolução de Conselho de Ministros, mas foi decidida por
despacho assinado pelo Ministro das Finanças: não respeitaria a forma exigida.

* incumprimento de formalidades: a lei obriga a que sejam respeitadas formalidades (como a


audiência prévia dos interessados ou a fundamentação do ato)

ex. perante os elementos de facto (achava que cada torre teria 200 andares, mas na verdade só
teria 5) o Presidente da Câmara indefere o pedido sem ter feito uma audiência prévia ao particular
em questão: o acto não respeitaria uma das formalidades exigidas.

João Bernardo Silva 28 de 68


Direito Administrativo

* vícios da vontade: corresponde a todos os elementos que perturbem a vontade de tomar uma
decisão, como os casos de erro de facto, coacção moral ou incapacidade acidental, etc.

ex. o Presidente da Câmara após um almoço com amigos em que bebeu demais indefere o
pedido por ver duas torres e achar demasiadas, quando na verdade no projecto só se previa a
construção de uma torre: ao ser uma decisão discricionária, ver-se-ia se a decisão teria sido ou
não de acordo com a lei.

* violação de lei: ou vício residual

ex. para duas situações iguais, decide-se de maneira, violando-se o Princípio da Igualdade

* desvio de poder (ou desvio de fim): tratam-se dos casos em que ao tomar a decisão o órgão
não tem em conta a prossecução do interesse público específico, dando-se quando se usa o
poder para alcançar benefícios privados (corrupção) ou quando, mesmo ponderando sobre
interesses público, o órgão pondera interesses públicos sobre os quais não tem competência
para ponderar - a existência deste vício comprova a importância da fundamentação dos atos
administrativos.

ex. o Presidente da Câmara decide a favor da construção de um hotel junto ao mar por, o
promotor imobiliário ter oferecido 1 milhão de dólares numa conta off-shore: podendo a decisão
ser anulável, por ter havido um desvio da actuação, não prosseguindo o interesse público, mas
sim o seu interesse privado.
ex 1. uma dei diz que a decisão sobre determinadas obras perto de edifícios de interesse
público só poderiam ser aprovados se não perturbar esse edifico e o Presidente da Câmara
autoriza a licença para a construção de um túnel próximo de um museu com a fundamentação de
que seria bom para a fluidez do transito: desviando-se do seu foco: o museu (e não o trânsito)

Assim, em síntese, a matéria de discricionaridade implica uma actuação imune à actuação dos
tribunais, recordando-se os dois elementos estruturantes:

* só há discricionaridade se o legislador quiser e na medida que este quiser - não é fruto da


arbitrariedade, o legislador entende que nesses casos a ponderação do interesse público deve
ser feita pela Administração, prescindindo o legislador dessa ponderação.
* a discricionaridade da ponderação do interesse público por não ser feita pelo legislador é imune
aos tribunais - em tribunal pode-se discutir se a decisão foi ou não boa, mas esta não é passível
de ser impugnada em tribunal.

- Interpretação de conceitos vagos ou indeterminados

O legislador recorre a conceitos vagos ou indeterminados (como "necessárias", "adequadas",


"razoáveis"), cabendo à Administração preenchê-los. A sua utilização é propositada, a fim de
atribuir algum poder discricionária à Administração.
Há no entanto que distinguir o preenchimento de conceitos vagos ou indeterminados com a
interpretação de conceitos: os conceitos indeterminados cuja determinação depende apenas da
interpretação da lei e da subvenção não pretendem atribuir qualquer poder discricionário à
Administração, é uma atividade vinculada e não discricionária, sendo que, a sua errada
interpretação ilegal (pois, sendo diligente, o órgão teria feito uma interpretação correcta e chegado
à solução procurada pela lei), permite o recurso para tribunal.
Assim, os conceitos vagos ou indeterminados cuja concretização apela a preenchimentos
valorativos e não meras interpretações linguisticas, pretendem, de facto, atribuir autonomia à
vontade do órgão decisor, não sendo passíveis de impugnação judicial.
Apesar de o mais comum ser a existência de discricionaridade na estatuição da norma (onde o
espaço de conformação da Administração se cinge à fixação dos efeitos da decisão), o legislador
pode também permitir poder discricionário quanto à previsão (alargar o espaço de determinação
dos pressupostos da decisão).
João Bernardo Silva 29 de 68
Direito Administrativo

ex 1. vinculação em ambos os lados: “quem circular a 150 km/h tem uma coima de 500€”

Previsão: 150 km/h Estatuição: 500€

ex 2. vinculação na previsão e discricionaridade na estatuição: “quem circular a 150 km/h tem uma
sanção adequada ao perigo provocado nessa situação concreta”

Previsão: 150 km/h Estatuição: sanção adequada ao perigo provocado.

ex 3. discricionaridade na previsão e vinculação na estatuição: “em caso de velocidade excessiva


na estrada X, aplicada coima de 500€”

Previsão: velocidade excessiva em X Estatuição: 500€

ex 4. discricionaridade em ambos os lados: “quem circular a velocidade excessiva, terá uma


sanção adequada”

Previsão: velocidade excessiva em X Estatuição: sanção adequada ao perigo provocado

* Norma que atribuía poderes aos governadores civis: onde, a Administração desconcentrada do
Estado, com funções territorialmente estabelecidas e com competências exercidas pelos
ministros, estavam atribuídos legalmente aos governadores civis que actuavam territorialmente.

ex. inundação em Bragança: até que o Ministro se impusesse, o Governador Civil “comandava” a
situação.

“Sempre que o exija (não é sempre que queira) circunstâncias excepcionais e urgentes (2
premissas) de interesse público, o governador civil, pode praticar todos os actos ou tomar todas
as providências administrativas indispensáveis (sem abusar), solicitando, logo que lhe seja
possível (podia definir um prazo, 1 dia, 24 horas, etc etc, mas não o faz, é logo que lhe seja
possível), a ratificação pelo órgão normalmente competente”

O legislador não conseguindo prever o que aconteceria (ex. inundações, incêndios, etc), pensou
que o melhor seria criar uma norma que fosse útil em qualquer circunstância, havendo elementos
discricionários tanto na previsão como na estatuição, apresentando-se uma estatuição aberta
onde se pudesse realizar todos os actos e providências administrativas indispensáveis.

• Professor Marcelo Rebelo de Sousa

João Bernardo Silva 30 de 68


Direito Administrativo

Tiago Duarte critica a palavra:

* “margem de livre decisão” - Marcelo Rebelo de Sousa considera tão central como a actuação
vinculada, quando, no entender de Tiago Duarte tem uma componente de excepcionalidade, de
reduzida importância, relacionando-se com os conceitos vagos e indeterminados da
discricionaridade.
* “margem de livre decisão” - discorda por completo por entender que não se trata de um
preenchimento livre, pois, apesar de discricionário, vincula a Administração à concepção que
acha ser a mais correcta, devendo-se estudar, ponderar e depois sim decidir.

Quanto à liberdade na avaliação, Marcelo Rebelo de Sousa induz a ideia de uma decisão
arbitrária, sendo refutada esta concepção por Freitas do Amaral que se baseia na justiça da nota.

- Mitos Urbanos na Discricionaridade

* a discricionaridade é um poder livre da Administração: a Administração deve sempre


cumprir os requisitos e os fins impostos por lei

* na discricionaridade todas as escolhas são admissíveis: apesar de os tribunais não


poderem julgar o mérito das escolhas só há uma considerada admissível: aquela que
melhor prossegue o interesse público.

* só há discricionaridade na estatuição da norma: apesar de menos comum, o legislador


pode atribuir poder discricionário ao órgão para que determine ele próprio os
pressupostos normativos.

* toda a interpretação de conceitos indeterminados é discricionária: há que reconhecer a


diferença entre conceitos legais (passíveis de interpretação) e conceitos vagos ou
indeterminados

* na discricionaridade não há controlo judicial: podem ser submetidas a julgamento os


elementos vinculados dos atos discricionários

- Auto-Limitação da Administração

A Administração pode, ela própria querer fazer regras num domínio que o legislador não previu,
sendo esta uma situação livre, tendo, no caso de serem criados regulamentos que os cumprir.

ex. quem estiver em velocidade excessiva vê-lhe aplicada uma sanção adequada, mas a
Administração, por iniciativa própria e por questões de igualdade faz ela própria um conjunto de
regras, dizendo que entre 120 e 150 kms/h tem uma sanção de 500€, entre 151 e 200 kms/h uma
de 1000€ e superior a 200 apreende-se a carta.

Esses regulamentos não são ilegais, embora há quem entenda que são abusivos pois o que o
legislador quis foi, perante uma dada situação que se tomasse uma solução concreta.
Escusado será dizer que esses regulamentos podem ser sempre revogados e que, uma vez
criados têm de ser respeitados.

João Bernardo Silva 31 de 68


Direito Administrativo

MARCHA DO PROCEDIMENTO

Os procedimentos administrativos vão do muito simples ao muito complexo, mas todos eles
cumprem uma determinada etapa:

1) Início do Procedimento
2) Instrução: fase em que os serviços preparam a decisão, vendo a lei, os factos, pedindo outras
informações necessárias, etc.
3) Audiência Prévia dos Interessados: quando a Administração já formulou a decisão, mas antes
de decidir ouve o interessado cujo pedido será, à partida, indeferida (se a decisão for favorável
não se necessita de ouvir o particular)
4) a Decisão ou Não Decisão (sendo esta uma anormalidade, pois, se está previsto na lei então
tem de haver uma solução, mas acaba por haver uma omissão)
5) Notificação: comunicação da decisão ao interessado

(6) se a decisão for desfavorável, o particular pode impugnar o acto na Administração ou então
dirigir-se ao Tribunal, procurando a anulação da decisão:

* Artigo 53º e ss - regime comum;


* Artigo 102º e ss - Procedimento administrativo - tendente à prática de um acto administrativo
ou à prática de um regulamento, havendo regras específicas para os actos administrativos que
regulam os regulamentos (97º e ss.).

1. INÍCIO DO PROCEDIMENTO

O mais comum é o procedimento iniciar-se com a solicitação dos interessados

Artigo 53º CPA (Iniciativa) - ver artigo 102º

O procedimento administrativo inicia-se oficiosamente (processo sancionatórios) ou a solicitação dos


interessados.

O requerimento inicial deve ser formulado por escrito e conter uma série de disposições previstas
no Artigo 102º:

Artigo 102º CPA (Requerimento inicial) - ver artigo 53º

1 - O requerimento inicial dos interessados, salvo nos casos em que a lei admite o pedido verbal, deve ser
formulado por escrito e conter:

a) A designação do órgão administrativo a que se dirige; - qual o órgão a que se dirige (ex. Ministro)

b) A identificação do requerente, pela indicação do nome, domicílio, bem como, se possível, dos números
de identificação civil e identificação fiscal; - quem está a requerer (ex. pode ser uma empresa, domicílio, etc)

c) A exposição dos factos em que se baseia o pedido e, quando tal seja possível ao requerente, os
respetivos fundamentos de direito; - a exposição dos factos é obrigatória, já a fundamentação, isto é, a
causa do pedido, o motivo pelo qual o particular requer, não se dá como obrigatória permitindo que um
maior número de pessoas requeira (nem todos os requerimentos são feitos por um advogado)

d) A indicação do pedido, em termos claros e precisos; - a Administração defere ou indefere

e) A data e a assinatura do requerente, ou de outrem a seu rogo, se o mesmo não souber ou não puder
assinar;

f) A indicação do domicílio escolhido para nele ser notificado;

João Bernardo Silva 32 de 68


Direito Administrativo

g) A indicação do número de telefax ou telefone ou a identificação da sua caixa postal eletrónica, para os
efeitos previstos no n.º 1 do artigo 63.º - para comunicação

2 - Podem ser formulados num único requerimento vários pedidos, desde que entre eles exista conexão.

3 - Salvo disposição em contrário, podem ser formuladas num único requerimento as pretensões
correspondentes a uma pluralidade de pessoas que tenham conteúdo e fundamento idênticos ou
substancialmente similares.

Os requerimentos devem ser apresentados, isto é, entregues, nos serviços dos órgãos aos quais
sejam dirigidos, como enuncia o Artigo 103º:

Artigo 103º CPA (Local de apresentação dos requerimentos)

1 - Os requerimentos devem ser apresentados nos serviços dos órgãos aos quais são dirigidos, salvo o
disposto nos números seguintes.

2 - Os requerimentos dirigidos aos órgãos centrais podem ser apresentados nos serviços locais
desconcentrados do mesmo ministério ou organismo, quando os interessados residam na área da
competência destes, ou nos gabinetes de apoio aos representantes da República nas regiões autónomas.

3 - Os requerimentos apresentados nos termos previstos no número anterior são remetidos aos órgãos
competentes pelo registo do correio, ou por via eletrónica, no prazo de três dias após o seu recebimento,
com a indicação da data em que este se verificou.

4 - Os requerimentos podem ser apresentados nos serviços das representações diplomáticas ou consulares
sediadas no país em que residam ou se encontrem os interessados.

5 - As representações diplomáticas ou consulares (número anterior) remetem os requerimentos aos órgãos


a quem sejam dirigidos, com a indicação da data em que se verificou o recebimento.

No entanto, o prazo de apresentação de requerimentos é relevante no decurso da marcha do


procedimento. Aliás, no disposto do antigo CPA, onde a data de entrada era a de entrada no
serviço, havia na verdade um regime dúbio, já que:

> se fosse dentro da Administração contava-se a partir da entrada no serviço


> se fosse para questões judiciais, a data seria a do envio do requerimento.

No entanto, resta acrescentar que no novo CPA, houve uma equiparação, valendo a:

> data de entrega nos serviços


> data de envio pelo correio sob registo, valendo a data de envio (registo)

Artigo 104º CPA (Forma de apresentação dos requerimentos)

1 - Os requerimentos dirigidos a órgãos administrativos podem ser apresentados por uma das seguintes
formas:

a) Entrega nos serviços, valendo como data da apresentação a da respetiva entrega;

b) Remessa pelo correio, sob registo, valendo como data da apresentação a da efetivação do respetivo
registo postal;

c) Envio através de telefax ou transmissão eletrónica de dados, valendo como data da apresentação a
do termo da expedição;

João Bernardo Silva 33 de 68


Direito Administrativo

d) Envio por transmissão eletrónica de dados, valendo como data da apresentação a da respetiva
expedição;

e) Formulação verbal, quando a lei admita essa forma de apresentação.

2 - Os requerimentos enviados por telefax ou transmissão eletrónica de dados podem ser apresentados em
qualquer dia e independentemente da hora da abertura e do encerramento dos serviços.

3 - A Administração pode estabelecer modelos e sistemas normalizados de requerimentos, disponibilizando


aos interessados os respetivos formulários.

4 - Os requerentes podem juntar os elementos que considerem convenientes para precisar ou completar os
dados do modelo, os quais devem ser admitidos e tidos em conta pelo órgão ao qual se dirige o
requerimento.

5 - O requerimento eletrónico deve observar o formato definido, para cada caso, no sítio institucional da
entidade pública.

6 - Quando a lei admita a formulação verbal do requerimento, é lavrado termo para este efeito, o qual deve
conter as menções previstas no n.º 1 do artigo 102.º e ser assinado, depois de datado, pelo requerente e
pelo agente que receba o pedido.

Cada vez que se entrega algo à Administração deve-se ficar com um registo de entrega do
requerimento, protegendo-me e tendo-se como provar que efectivamente este foi entregue.

Artigo 106º CPA (Recibo de entrega de requerimentos)

1 - Os interessados podem exigir recibo comprovativo da entrega dos requerimentos apresentados.

2 - O recibo pode ser passado em duplicado ou em fotocópia do requerimento que o requerente apresente
para esse fim.

3 - O registo eletrónico emite automaticamente um recibo comprovativo da entrega dos requerimentos


apresentados por transmissão eletrónica de dados, contendo a indicação da data e hora da apresentação e
o número de registo.

Artigo 108º CPA (Deficiência do requerimento inicial)

1 - Se o requerimento inicial não satisfizer o disposto no artigo 102.º, o requerente é convidado a suprir as
deficiências existentes (ex. referência a uma lei de 2027, quando se queria dizer 2007).

2 - Sem prejuízo do disposto no número anterior, devem os órgãos e agentes administrativos procurar suprir
oficiosamente as deficiências dos requerimentos, de modo a evitar que os interessados sofram prejuízos
por virtude de simples irregularidades ou de mera imperfeição na formulação dos seus pedidos.

3 - São liminarmente rejeitados os requerimentos não identificados e aqueles cujo pedido seja ininteligível
(ex. conjunto de ofensas gratuitas ao órgão competente para decidir sem nenhum pedido sério).

João Bernardo Silva 34 de 68


Direito Administrativo

• Apreciação preliminar da formalidade

A Administração deve verificar se o requerimento sofre de algum problema que impeça aquele
órgão da Administração decidir, fazendo uma triagem do que está ou não em condições de ser
apreciado.

Artigo 109º CPA (Questões que prejudiquem o desenvolvimento normal do procedimento)

1 - O órgão competente para a decisão final, logo que estejam apurados os elementos necessários,
conhece de qualquer questão que prejudique o desenvolvimento normal do procedimento ou impeça a
tomada de decisão sobre o seu objeto e, nomeadamente, das seguintes questões:

a) Incompetência do órgão administrativo; - ex. dirigido ao Ministro da Defesa quando deveria ter sido
enviado para o Ministro da Justiça

b) Caducidade do direito que se pretende exercer;

c) Ilegitimidade dos requerentes; ex. pedido de licença para abrir um supermercado sem ser o proprietário
do terreno.

d) Extemporaneidade do pedido. - quando o prazo já passou, tendo-se deixado passar o prazo.

2 - Quando o requerimento haja sido apresentado a órgão incompetente, é aplicável o disposto no artigo
41.º

Artigo 41º CPA (Apresentação de requerimento a órgão incompetente)

1 - Quando seja apresentado requerimento, petição, reclamação ou recurso a órgão incompetente, o


documento recebido é enviado oficiosamente ao órgão titular da competência, disso se notificando o
particular.

2 - Nos casos previstos nos números anteriores, vale a data da apresentação inicial do requerimento para
efeitos da sua tempestividade. - para efeitos de prazos, vale a data da entrega no primeiro órgão a que se
enviou, independentemente de o particular ter estado de boa ou má fé.

Enquanto no antigo CPA, se o órgão competente e o órgão incompetente pertencessem à mesma


pessoa colectiva conseguia-se resolver o erro, mas se fossem de pessoas colectivas diferentes, o
requerimento era devolvido ao titular para que este enviasse ao órgão competente.
Já no novo CPA, há na verdade uma regra única, já que, caso o requerimento tenha sido
apresentado ao órgão incompetente:

> o órgão incompetente deve rejeitar o requerimento


> reencaminhar o requerimento ao órgão competente
> notificar o particular do que aconteceu

2. INSTRUÇÃO DO PROCEDIMENTO

• Direcção do Procedimento

A direcção do procedimento não precisa necessariamente de ser feita pelo órgão competente,
podendo este delegar no seu inferior hierárquico, que assim dirige o procedimento (ex. analisa
documentos técnicos, tira fotografias, estuda a lei, etc), como enuncia o Artigo 55º:

João Bernardo Silva 35 de 68


Direito Administrativo

Artigo 55º CPA ( Responsável pela direção do procedimento)

1 - A direção do procedimento cabe ao órgão competente para a decisão final, sem prejuízo do disposto
nos números seguintes.

2 - O órgão competente para a decisão final delega em inferior hierárquico seu, o poder de direção do
procedimento, salvo disposição legal, regulamentar ou estatutária em contrário ou quando a isso obviarem
as condições de serviço ou outras razões ponderosas, invocadas fundamentadamente no procedimento
concreto ou em diretiva interna respeitante a certos procedimentos. - Tiago Duarte considera que da leitura
deste numero 2, o órgão competente é obrigado a delegar num inferior hierárquico, sendo o dever seu
delegar, entendendo que seria mais fácil se se dissesse que a competência seria do inferior hierárquico.

3 - O responsável pela direção do procedimento pode encarregar inferior hierárquico seu da realização de
diligências instrutórias específicas.

4 - No órgão colegial, a delegação prevista no n.º 2 é conferida a membro do órgão ou a agente dele
dependente.

5 - A identidade do responsável pela direção do procedimento é notificada aos participantes e comunicada


a quaisquer outras pessoas que, demonstrando interesse legítimo, requeiram essa informação.

Na ausência de normas injuntivas, o Artigo 56º diz-nos que o responsável pela direcção goza de
discricionaridade, esta nunca arbitrária e sempre limitada

Artigo 56º CPA (Princípio da adequação procedimental)

Na ausência de normas jurídicas injuntivas, o responsável pela direção do procedimento goza de


discricionariedade na respetiva estruturação, que, no respeito pelos princípios gerais da atividade
administrativa, deve ser orientada pelos interesses públicos da participação, da eficiência, da
economicidade e da celeridade na preparação da decisão.

O responsável pela orientação do procedimento deve actuar sob uma perspectiva pró-activa,
procedendo às diligências que se revelem adequadas e necessárias para a preparação da
decisão legal.

Artigo 58º CPA (Princípio do inquisitório)

O responsável pela direção do procedimento e os outros órgãos que participem na instrução podem,
mesmo que o procedimento seja instaurado por iniciativa dos interessados, proceder a quaisquer
diligências que se revelem adequadas e necessárias à preparação de uma decisão legal e justa, ainda
que respeitantes a matérias não mencionadas nos requerimentos ou nas respostas dos interessados

• Prova

O Artigo 116º e ss trata da Prova, pertencido o ónus da prova a quem requer.

ex. A pede asilo em Portugal, sendo um dos requisitos deste um conhecimento suficiente de
português, então A deve juntar ao requerimento a prova de ter esse conhecimento.

Artigo 116º CPA (Prova pelos interessados)

1 - Cabe aos interessados provar os factos que tenham alegado, sem prejuízo do dever cometido ao
responsável pela direção do procedimento nos termos do n.º 1 do artigo anterior.

João Bernardo Silva 36 de 68


Direito Administrativo

2 - Quando os elementos de prova dos factos estiverem em poder da Administração, o ónus previsto no
número anterior considera-se satisfeito desde que o interessado proceda à sua correta identificação junto
do responsável pela direção do procedimento.

3 - Os interessados podem juntar documentos e pareceres ou requerer diligências de prova úteis (requerer
auxílio, pedindo a outra entidade que o auxilie: ex. requerer aos bombeiros uma ambulância para prova)
para o esclarecimento dos factos com interesse para a decisão.

4 - Sendo necessário juntar documento passado em país estrangeiro, a lei que rege a produção da forma
especial desse documento é a lei do Estado de emissão, aferindo-se a suficiência daquela forma especial
por equiparação funcional à forma exigida pela lei nacional.

5 - As despesas resultantes das diligências de prova são suportadas pelos interessados que as tiverem
requerido, sem prejuízo do disposto no n.º 2 do artigo 15.º

O Artigo 117º em suma concretiza o Artigo 58º, enunciando que o responsável pela direcção do
Procedimento pode, se considerar que faltam provas, requerê-las aos interessados.

Artigo 117º CPA (Solicitação de provas aos interessados)

1 - O responsável pela direção do procedimento pode determinar aos interessados a prestação de


informações, a apresentação de documentos ou coisas, a sujeição a inspeções e a colaboração noutros
meios de prova.

2 - É legítima a recusa às determinações previstas no número anterior, quando a obediência às mesmas:

a) Envolver a violação de sigilo profissional ou segredo comercial ou industrial;

b) Implicar o esclarecimento de factos cuja revelação esteja proibida ou dispensada por lei;

c) Importar a revelação de factos puníveis, praticados pelo próprio interessado, pelo seu cônjuge ou por seu
ascendente ou descendente, irmão ou afim nos mesmos graus;

d) For suscetível de causar dano moral ou material ao próprio interessado ou a alguma das pessoas
referidas na alínea anterior.

O Artigo 119º prossegue, mostrando as consequências da recusa ao fornecimento de prova, e,


caso seja tido como determinante o pedido é indeferido, caso não seja, considera-se, no mínimo
que aquele requisito não foi cumprido

Artigo 119º CPA (Falta de prestação de provas)

1 - Se os interessados regularmente notificados para a prestação verbal de informações ou apresentação


de provas não derem cumprimento à notificação, pode proceder-se a nova notificação ou prescindir-se
da prática do ato, conforme as circunstâncias aconselharem.

2 - A falta de cumprimento da notificação é livremente apreciada para efeitos de prova, consoante as


circunstâncias do caso, não dispensando o órgão administrativo de procurar averiguar os factos, nem de
proferir a decisão.

3 - Quando as informações, documentos ou atos solicitados ao interessado sejam necessários à


apreciação do pedido por ele formulado, não deve ser dado seguimento ao procedimento, disso se
notificando o particular.

João Bernardo Silva 37 de 68


Direito Administrativo

• Acordos Endoprocedimentais

Assenta na ideia de que o procedimento administrativo não tem de ter uma lógica unilateral,
podendo haver momentos de contracto dentro (“endo”) do próprio procedimento em que as partes
fazer pequenos acordos.

ex. uma lei diz que, para situações de construção de edifícios em terrenos inclinado a decisão
depende de um parecer técnico, não dizendo como deve essa peritagem ser feita: o Particular
pode fazer um acordo com a Administração de que esse será feito pela Ordem dos Engenheiros.

ex 2. requerimento para que uma casa seja reconhecida como hotel, acordando-se que para ser
considerado um quarto este deve ter pelo menos uma janela com mais de 1 metro.

É também comum encontrar-se acordos quanto à própria decisão quando esta é discricionária.

ex. para a construção de um edifício, a Administração pode acordar com o Particular que, em caso
de decisão favorável, o particular terá de construir um parque infantil à frente.

Artigo 57º CPA (Acordos endoprocedimentais)

1 - No âmbito da discricionariedade procedimental, o órgão competente para a decisão final e os


interessados podem, por escrito, acordar termos do procedimento. - ex. se for preciso ouvir
testemunhas, que sejam no máximo 3.

2 - Os acordos referidos no número anterior têm efeito vinculativo e o seu objeto pode, designadamente,
consistir na organização de audiências orais para exercício do contraditório entre os interessados que
pretendam uma certa decisão e aqueles que se lhe oponham.

3 - Durante o procedimento, o órgão competente para a decisão final e os interessados também podem
celebrar contrato para determinar, no todo ou em parte, o conteúdo discricionário do ato
administrativo a praticar no termo do procedimento.

• Auxílio Administrativo

Trata-se um novo artigo no CPA que legisla a “cooperação administrativa”, isto é, aquelas
situações em que o órgão com competência para decidir requere a ajuda de outro órgão para
decidir, podendo este auxílio ser requerido por iniciativa própria ou por proposta deste (ao superior
hierárquico que decide o procedimento) ou pelo próprio particular nas situações descritas.

Artigo 66º CPA (Auxílio Administrativo)

1 - Para além dos casos em que a lei imponha a intervenção de outros órgãos no procedimento, o órgão
competente para a decisão final deve, por iniciativa própria, por proposta do responsável pela direção do
procedimento ou a requerimento de um sujeito privado da relação jurídica procedimental, solicitar o auxílio
de quaisquer outros órgãos da Administração Pública, indicando um prazo útil, quando:

a) O melhor conhecimento da matéria relevante exija uma investigação para a qual o órgão a quem é
dirigida a solicitação disponha de competência exclusiva ou de conhecimentos aprofundados aos quais o
órgão solicitante não tenha acesso; - questões técnicas que o órgão que decide não domina (ex. técnicos
da marinha auxiliam o Ministro da Economia na aprovação ou não da construção de um porto em Cascais,
precisando este de saber se a construção prejudicaria ou não as marés

b) Só o órgão a quem é dirigida a solicitação tenha em seu poder documentos ou dados cujo conhecimento
seja necessário à preparação da decisão; - documentos ou dados na posse de outro órgão.

João Bernardo Silva 38 de 68


Direito Administrativo

c) A instrução requeira a intervenção de pessoal ou o emprego de meios técnicos de que o órgão


competente para a decisão final não disponha. - sejam necessários meios técnicos (ex. ambulância)

2 - À comunicação de documentos ou dados solicitados nos termos do número anterior aplicam-se as


restrições fixadas na legislação sobre o acesso aos documentos administrativos.

3 - Em caso de recusa de auxílio administrativo requerido nos termos do n.º 1, ou de dilação na sua
prestação, a questão é resolvida, consoante o caso, pela autoridade competente para a resolução de
conflitos de atribuições ou de competência entre os órgãos solicitante e solicitado ou, não a havendo, por
órgão que exerça poderes de direção, superintendência ou tutela sobre o órgão solicitado.

• Pareceres

Artigo 91º CPA (Espécies de pareceres)

1 - Os pareceres são obrigatórios ou facultativos, consoante sejam ou não exigidos por lei, e são
vinculativos ou não vinculativos, conforme as respetivas conclusões tenham ou não de ser seguidas pelo
órgão competente para a decisão.

2 - Salvo disposição expressa em contrário, os pareceres legalmente previstos consideram-se


obrigatórios e não vinculativos. - Regra Geral

Os pareceres distinguem-se dos auxílios já que nos últimos é o próprio órgão que decide a sua
necessidade, enquanto que os pareceres tanto podem estar previstos na lei (obrigatórios) - só
podendo a decisão ser tomada após parecer -, como resultar da opção do órgão competente para
a decisão (facultativos). Assim, os pareceres podem ser:

> obrigatórios: aqueles que a própria lei impõe que sejam requisitados, não podendo
haver decisão sem estes. No entanto, quanto a pareceres obrigatórios não tratamos do
seu conteúdo, mas sim na obrigatoriedade de ser requerido. Assim, distingue-se:

‣ vinculativos: em que a Administração não se pode afastar do Parecer, tendo o


órgão com competência para decidir que ir ao encontro do que o parecer
estabelece, devendo a lei dizer que as suas disposições têm de ser cumpridas.

‣ não vinculativos: em que o órgão competente para decidir pode-se afastar da


decisão do parecer, devendo explicar na fundamentação o porquê desse
afastamento.

Ainda assim, o Artigo 91º.2 esclarece que, regra geral, se da leitura não se conseguir perceber se
se trata de uma acto vinculativo ou não vinculativo, o parecer será tido como não vinculativo.

ex. o Presidente de Câmara decide após parecer da Liga dos Bombeiros, como não explicita a
sua obrigatoriedade, sigo a regra geral, não sendo vinculativo, podendo-o afastar.

Ainda assim, no caso da lei previr a necessidade de parecer favorável (vinculativo), isso não
significa que a decisão terá de ser obrigatoriamente favorável já que existem outros critérios
necessários a serem cumpridos.

ex. para a licenciação da construção de um centro comercial exige-se parecer favorável da Liga
dos Bombeiros (vinculativo) que assim é dado, mas não cumpre com outros critérios como o
numero de lugares de estacionamentos necessário ou a existência de elevadores, não sendo
deferido. Já se o parecer fosse desfavorável, o processo caria por isso mesmo, matando o
procedimento.
João Bernardo Silva 39 de 68
Direito Administrativo

> facultativos: aqueles que não estão previstos na lei, mas, caso pedidos, são não
vinculativos.

ex. DGPescas recebe um requerimento duma empresa de pesca pedindo a autorização para
pescar com redes especiais, pedindo este um parecer à Associação de Defesa da Fauna e Flora,
mas caso o parecer não chegue no prazo legal de 30 dias previsto no Artigo 92º.3, o órgão deve
decidir o requerimento. Também, em caso de chegada e parecer negativo, o órgão pode decidir a
favor ou contra o parecer, pois este, ao ser facultativo é não vinculativo.

Os pareceres devem ser sempre fundamentados, claros e inequívocos, tendo-se de tomar partido
por uma decisão

Artigo 92º CPA (Forma e prazos dos pareceres)

1 - Os pareceres devem ser sempre fundamentados e concluir de modo expresso e claro sobre todas as
questões indicadas na consulta.

2 - O responsável pela direção do procedimento deve solicitar, sempre que possível em simultâneo, aos
órgãos competentes a emissão dos pareceres a que haja lugar logo que, perante a marcha do
procedimento, estejam reunidos os pressupostos para tanto. - procura-se que haja um certo consenso nos
pareceres, sendo de bom senso que o órgão competente peça os pareceres, de preferência, ao mesmo
tempo, isto é, no mesmo dia.

3 - Na falta de disposição especial, os pareceres são emitidos no prazo de 30 dias, exceto quando o
responsável pela direção do procedimento fixar, fundamentadamente, prazo diferente.

4 - O prazo diferente previsto no número anterior não deve ser inferior a 15 dias nem superior a 45 dias.

5 - Quando um parecer obrigatório não for emitido dentro dos prazos previstos no número anterior,
pode o procedimento prosseguir e vir a ser decido sem o parecer, salvo disposição legal expressa em
contrário. - nos pareceres obrigatórios estabeleceu-se um prazo, após o qual, no caso de não entrega, a
decisão possa surgir sem o parecer, desbloqueando na prática o “veto” que evitava ou bloqueava a decisão
no antigo CPA, verdadeiramente omisso nestas situações

6 - No caso de o parecer obrigatório ser vinculativo, a decisão final só pode ser proferida sem a prévia
emissão daquele desde que o responsável pela direção do procedimento tenha interpelado, no prazo de 10
dias, o órgão competente para o emitir, sem que este o tenha feito no prazo de 20 dias a contar dessa
interpelação. - caso o parecer seja obrigatório e vinculativo a decisão só pode ser tomada, se tiver havido
uma interpelação ao órgão competente para o emitir, 10 dias após ter passado o prazo, tendo o órgão
competente para entregar 20 dias e só, caso este não tenha entregue é que a Administração pode decidir.

30 dias não houve parecer


I____________________________________I_________________I_____________________
10 dias p/ interpelar 20 dias p/ decidir

A acrescentar apenas que Tiago Duarte não concorda com a imposição dos 10 dias por entender
serem curtos demais.

Todos os prazos no CPA são prazos procedimentais, estando a sua contagem prevista nos Artigos 86º, 87º e 88º,
começando o prazo a ser contado no dia seguinte em dias úteis.

João Bernardo Silva 40 de 68


Direito Administrativo

3. AUDIÊNCIA PRÉVIA DOS INTERESSADOS

Antes da tomada de decisão o particular deve ser notificado com o projecto de decisão, dando-se
espaço, finda a instrução, a uma audiência desse mesmo interessado, distinguindo-se de um
simples esclarecimento na análise do procedimento (ex. são 4 ou 5 andares de garagem?).
A jurisprudência com o antigo CPA era algo dúbia e controversa pela utilização da expressão
“secção distinta da instrução”, entendendo que, no caso de um acto imediato, sem necessidade
de instrução, não havendo por isso audiência prévia, mas tal dúvida foi dissipada com o Art. 121º:

Artigo 121º CPA (Direito de audiência prévia)

1 - Sem prejuízo do disposto no artigo 124.º, os interessados têm o direito de ser ouvidos no
procedimento antes de ser tomada a decisão final, devendo ser informados, nomeadamente, sobre o
sentido provável (se é favorável ou desfavorável e porquê) desta. - se não forem ouvidos, é suficiente para
que o Tribunal anule a decisão

2 - No exercício do direito de audiência, os interessados podem pronunciar-se sobre todas as questões com
interesse para a decisão, em matéria de facto e de direito, bem como requerer diligências complementares
e juntar documentos. - pode juntar documentos ou demonstrar situações de erro da decisão.

3 - A realização da audiência suspende a contagem de prazos em todos os procedimentos administrativos.

A notificação é geralmente feita por escrita, tendo o particular, um prazo não inferior a 10 dias
úteis para se pronunciar.
O antigo CPA falava apenas em sentido provável de decisão, exigindo-se apenas que se
transmitisse o sentido provável da decisão, assim, neste novo artigo o .2) clarifica a interpretação
feita e o sentido do Artigo 121º.

Artigo 122º CPA (Notificação para a audiência)

1 - Para efeitos do disposto no artigo anterior, o órgão responsável pela direção do procedimento
determina, em cada caso, se a audiência se processa por forma escrita ou oral e manda notificar os
interessados para, em prazo não inferior a 10 dias, dizerem o que se lhes oferecer.

2 - A notificação fornece o projeto de decisão e demais elementos necessários para que os interessados
possam conhecer todos os aspetos relevantes para a decisão, em matéria de facto e de direito, indicando
também as horas e o local onde o processo pode ser consultado.

3 - No caso de haver sítio na Internet da entidade em causa onde o processo possa ser consultado, a
notificação referida no número anterior deve incluir a indicação do mesmo para efeitos de o processo poder
também ser consultado pelos interessados pela via eletrónica.

Ainda assim, existem certas situações onde se dispensa a audiência dos interessados.

Artigo 124º CPA (Dispensa de audiência dos interessados)

1 - O responsável pela direção do procedimento (ver Artigo 55º.2) pode não proceder à audiência dos
interessados quando:

a) A decisão seja urgente;

b) Os interessados tenham solicitado o adiamento a que se refere o n.º 2 do artigo anterior e, por facto
imputável a eles, não tenha sido possível fixar-se nova data nos termos do n.º 3 do mesmo artigo;

c) Seja razoavelmente de prever que a diligência possa comprometer a execução ou a utilidade da decisão
- ex. Banco de Portugal e BES: a existência de audiência prévia comprometeria a execução da decisão.
João Bernardo Silva 41 de 68
Direito Administrativo

d) O número de interessados a ouvir seja de tal forma elevado que a audiência se torne impraticável,
devendo nesse caso proceder-se a consulta pública, quando possível (Tiago Duarte não encontra nenhuma
situação em que não seja possível fazer uma consulta pública), pela forma mais adequada;

e) Os interessados já se tiverem pronunciado no procedimento sobre as questões que importem à


decisão e sobre as provas produzidas; - Tiago Duarte entende que o legislador confunde duas situações
distintas: durante o procedimento o particular não se pode pronunciar sobre a decisão se o procedimento
ainda nem havia sido concluído, impedindo que o particular de se pronunciar sobre as provas.

f) Os elementos constantes do procedimento conduzirem a uma decisão inteiramente favorável aos


interessados.

2 - Nas situações previstas no número anterior, a decisão final deve indicar as razões da não realização da
audiência. - muitas vezes a Administração decidia sem verificar a audiência prévia e o legislador entendeu,
bem, que a não realização da audiência prévia só seria relevante se tal premissa fosse bem justificada.

Ainda assim, quando se chega à anulação judicial por não ter existindo audiência prévia, a
jurisprudência tem feito um compasso de espera, procurando saber se, apesar do ausência, a
decisão tomada teria sido ou não a mesma, havendo o princípio do aproveitamento dos actos,
dizendo que apesar da ilegalidade, este não anula a decisão.

4. DECISÃO OU NÃO DECISÃO DO PROCEDIMENTO

Em traços gerais na fase da decisão do procedimento podemos encontrar:

* decisão expressa: quando há uma decisão propriamente dita, podendo o particular se


conformar ou não com a decisão e se quer ou não reagir, podendo dirigir-se à Administração ou
aos Tribunais (pedindo ao juiz que anule a decisão por a considerar inválida e analise o
requerimento, condenando o tribunal a tomar a decisão correcta: 69º.2 CPTA).
* silêncio: uma omissão jurídica revelaste que pode ter dois sentidos:

> incumprimento do dever de decidir (a regra geral: Artigo 129º): podendo o particular,
findo os 90 dias úteis e no pressuposto de não ter apresentado um requerimento igual
no prazo de 2 anos (Artigo 13º.2), impugnar o silêncio junto:

‣ da administração: através de um recurso hierárquico


‣ dos tribunais: pedindo não a anulação do acto (que não houve), mas que
condene a Administração a praticar o acto no prazo de 1 ano (Artigo 69º CPTA).

Recordando que caso haja decisão abandona-se o prazo e vamos para a decisão expressa.

> Deferimento tácito (Artigo 130º): apenas nos casos previstos na lei, surgindo quando
não há nenhuma decisão expressa, mas a própria lei diz que, o o silêncio equivale a um
deferimento tácito, equivalendo então a um deferimento expresso.

João Bernardo Silva 42 de 68


Direito Administrativo

➡ Decisão Expressa

Um acto administrativo termina geralmente com uma decisão.

Artigo 13º CPA (Princípio da Decisão)

1 - Os órgãos da Administração Pública têm o dever de se pronunciar sobre todos os assuntos da sua
competência que lhes sejam apresentados e, nomeadamente, sobre os assuntos que aos interessados
digam diretamente respeito, bem como sobre quaisquer petições, representações, reclamações ou queixas
formuladas em defesa da Constituição, das leis ou do interesse público. - se não decidirem aplica-se o 129º.

2 - Não existe o dever de decisão quando, há menos de dois anos, contados da data da apresentação do
requerimento, o órgão competente tenha praticado um ato administrativo sobre o mesmo pedido,
formulado pelo mesmo particular com os mesmos fundamentos.

3 - Os órgãos da Administração Pública podem decidir sobre coisa diferente ou mais ampla do que a
pedida, quando o interesse público assim o exija.

O órgão responsável pela direcção do procedimento, se existir, apresenta um relatório para que o
órgão competente da decisão tome a decisão, podendo este concordar ou não com a proposta de
decisão.

Geralmente o órgão com competência para decidir, assina a manuscrito em cima do relatório:
“concordo/indefiro”, juntamente com a fundamentação apresentada, esta sempre exigida pelo
Artigo 153º.

Artigo 126º CPA (Relatório do responsável pela direção do procedimento)

Quando o responsável pela direção do procedimento não for o órgão competente para a decisão final,
elabora um relatório no qual indica o pedido do interessado, resume o conteúdo do procedimento,
incluindo a fundamentação da dispensa da audiência dos interessados, quando esta não tiver ocorrido, e
formula uma proposta de decisão, sintetizando as razões de facto e de direito que a justificam.

O prazo para a decisão é, em regra de 90 dias, podendo este ser prorrogado por, no máximo,
mais 90 dias, mediante autorização do órgão competente para a decisão final, contando-se o
prazo desde a chegada do documento à Administração.
Caso não decida temos um incumprimento do dever de decisão

Artigo 128º CPA (Prazos para a decisão dos procedimentos)

1 - Os procedimentos de iniciativa particular devem ser decididos no prazo de 90 dias, salvo se outro
prazo decorrer da lei, podendo o prazo, em circunstâncias excecionais, ser prorrogado pelo responsável
pela direção do procedimento, por um ou mais períodos, até ao limite máximo de 90 dias, mediante
autorização do órgão competente para a decisão final, quando as duas funções não coincidam no mesmo
órgão.

2 - A decisão de prorrogação referida no número anterior é notificada ao interessado pelo responsável


pela direção do procedimento.

3 - O prazo referido no n.º 1 conta-se, na falta de disposição especial, da data de entrada do


requerimento ou petição no serviço competente, salvo quando a lei imponha formalidades especiais
para a fase preparatória da decisão e fixe prazo para a respetiva conclusão.

4 - No caso previsto na parte final do número anterior, o prazo conta-se do termo do prazo fixado para a
conclusão daquelas formalidades.

João Bernardo Silva 43 de 68


Direito Administrativo

5 - Para eventual apuramento de responsabilidade disciplinar, a inobservância dos prazos referidos nos
números anteriores deve ser justificada pelo órgão responsável dentro dos 10 dias seguintes ao termo dos
mesmos prazos.

6 - Os procedimentos de iniciativa oficiosa, passíveis de conduzir à emissão de uma decisão com efeitos
desfavoráveis para os interessados caducam, na ausência de decisão, no prazo de 180 dias.

Até 2004, a única coisa que os tribunais poderiam fazer era anular o acto caso fosse um acto
expresso, mas na verdade isso não traria grandes vantagens pois o particular teria de voltar ao
início, apresentando um novo requerimento à Administração, assim, a partir de 2004, permitiu-se
que os tribunais, para além de anularem actos administrativos poderiam condenar a Administração
a praticar actos administrativos.

ex. até 2004: articular faz um requerimento para construir uma casa que a Administração
indefere, o particular vê o Tribunal a considerar o acto inválido, eliminando a decisão, tendo o
particular que fazer um novo pedido e começar tudo de novo.
depois de 2004: o Tribunal avaliaria o pedido do particular e não só o anularia, como
proferiria uma sentença condenaria, obrigando a Administração a responder afirmamente ao
pedido do particular

Nos acto discricionário, a sentença é condenatória, mas apenas naquilo a que pode condenar.

ex. construção duma casa perto dum rio, só podendo o pedido ser indeferido se não prejudicasse
demasiado a visibilidade dos prédios que estão atrás e o Tribunal anula o pedido por considera
que não está fundamentada e depois condena a Administração a praticar um acto administrativo,
que até pode não ser favorável, podendo apenas condenar a Administração a praticar o acto
competente (Câmara e não Presidente), bem fundamentado.

Como o próprio conceito de ato administrativo enuncia, supõe-se neste a existência duma decisão

Artigo 148º CPA (Conceito de ato administrativo)

Para efeitos do disposto no presente Código, consideram-se atos administrativos as decisões que, no
exercício de poderes jurídico-administrativos, visem produzir efeitos jurídicos externos numa situação
individual e concreta.

Essa decisão expressa pode ser tomada por:

> um órgão singular


> um órgão colegial: sendo necessário reunir as pessoas, haver quorum, maioria, se se
respeitou a ordem de trabalhos da reunião, etc, estado o seu regime nos Artigos 20º a
35º.

Ainda assim, quer seja um órgão colegial ou singular, quem toma a decisão é um órgão pelo seu
titular, devendo este órgão ser o competente e o titular deste aquele com poderes para decidir.

ex. mulher do Presidente da Câmara faz um requerimento, pode o Presidente da Câmara, sendo
este o órgão competente para tal, não pode decidir.

ex 2. A era DG tendo tomado uma decisão que o particular recorreu para o Ministro, mas A foi
promovido a Ministro não podendo analisar a decisão.

Encontrando-se esse conjunto de situações em que o órgão competente para decidir não
pode nos Artigos 69º e 73º.

João Bernardo Silva 44 de 68


Direito Administrativo

Artigo 69º CPA (Casos de impedimento)

1 - Salvo o disposto no n.º 2, os titulares de órgãos da Administração Pública e os respetivos agentes, bem
como quaisquer outras entidades que, independentemente da sua natureza, se encontrem no exercício de
poderes públicos, não podem intervir em procedimento administrativo ou em ato ou contrato de direito
público ou privado da Administração Pública, nos seguintes casos:

a) Quando nele tenham interesse, por si, como representantes ou como gestores de negócios de outra
pessoa;

b) Quando, por si ou como representantes ou gestores de negócios de outra pessoa, nele tenham
interesse o seu cônjuge ou pessoa com quem viva em condições análogas às dos cônjuges, algum parente
ou afim em linha reta ou até ao segundo grau da linha colateral, bem como qualquer pessoa com quem
vivam em economia comum ou com a qual tenham uma relação de adoção, tutela ou apadrinhamento civil;

c) Quando, por si ou como representantes ou gestores de negócios de outra pessoa, tenham interesse em
questão semelhante à que deva ser decidida, ou quando tal situação se verifique em relação a pessoa
abrangida pela alínea anterior;

d) Quanto tenham intervindo no procedimento como perito ou mandatário ou hajam dado parecer sobre
questão a resolver;

e) Quando tenha intervindo no procedimento como perito ou mandatário o seu cônjuge ou pessoa com
quem viva em condições análogas às dos cônjuges, parente ou afim em linha reta ou até ao segundo grau
da linha colateral, bem como qualquer pessoa com quem vivam em economia comum ou com a qual
tenham uma relação de adoção, tutela ou apadrinhamento civil;

f) Quando se trate de recurso de decisão proferida por si, ou com a sua intervenção, ou proferida por
qualquer das pessoas referidas na alínea b) ou com intervenção destas.

2 - Excluem-se do disposto no número anterior:

a) As intervenções que se traduzam em atos de mero expediente, designadamente atos certificativos;

b) A emissão de parecer, na qualidade de membro do órgão colegial competente para a decisão final,
quando tal formalidade seja requerida pelas normas aplicáveis;

c) A pronúncia do autor do ato recorrido, nos termos do n.º 2 do artigo 195.º

3 - Sob pena das sanções cominadas pelos n.os 1 e 3 do artigo 76.º, não pode haver lugar, no âmbito
do procedimento administrativo, à prestação de serviços de consultoria, ou outros, a favor do responsável
pela respetiva direção ou de quaisquer sujeitos públicos da relação jurídica procedimental, por parte de
entidades relativamente às quais se verifique qualquer das situações previstas no n.º 1, ou que hajam
prestado serviços, há menos de três anos, a qualquer dos sujeitos privados participantes na relação jurídica
procedimental.

4 - As entidades prestadoras de serviços no âmbito de um procedimento devem juntar uma declaração de


que se não encontram abrangidas pela previsão do número anterior.

5 - Sempre que a situação de incompatibilidade prevista no n.º 3 ocorrer já após o início do procedimento,
deve a entidade prestadora de serviços comunicar desde logo o facto ao responsável pela direção do
procedimento e cessar toda a sua atividade relacionada com o mesmo.

Artigo 73º CPA (Fundamento da escusa e suspeição)

1 - Os titulares de órgãos da Administração Pública e respetivos agentes, bem como quaisquer outras
entidades que, independentemente da sua natureza, se encontrem no exercício de poderes públicos devem
pedir dispensa de intervir no procedimento ou em ato ou contrato de direito público ou privado da
Administração Pública quando ocorra circunstância pela qual se possa com razoabilidade duvidar
seriamente da imparcialidade da sua conduta ou decisão e, designadamente:
João Bernardo Silva 45 de 68
Direito Administrativo

a) Quando, por si ou como representante ou gestor de negócios de outra pessoa, nele tenha interesse
parente ou afim em linha reta ou até ao terceiro grau da linha colateral, ou tutelado ou curatelado dele, do
seu cônjuge ou de pessoa com quem viva em condições análogas às dos cônjuges;

b) Quando o titular do órgão ou agente, o seu cônjuge ou pessoa com quem viva em condições análogas às
dos cônjuges, ou algum parente ou afim na linha reta, for credor ou devedor de pessoa singular ou
coletiva com interesse direto no procedimento, ato ou contrato;

c) Quando tenha havido lugar ao recebimento de dádivas, antes ou depois de instaurado o procedimento,
pelo titular do órgão ou agente, seu cônjuge ou pessoa com quem viva em condições análogas às dos
cônjuges, parente ou afim na linha reta;

d) Se houver inimizade grave ou grande intimidade entre o titular do órgão ou agente, ou o seu cônjuge
ou pessoa com quem viva em condições análogas às dos cônjuges, e a pessoa com interesse direto no
procedimento, ato ou contrato;

e) Quando penda em juízo ação em que sejam parte o titular do órgão ou agente, o seu cônjuge ou pessoa
com quem viva em condições análogas às dos cônjuges, parente em linha reta ou pessoa com quem viva
em economia comum, de um lado, e, do outro, o interessado, o seu cônjuge ou pessoa com quem viva em
condições análogas às dos cônjuges, parente em linha reta ou pessoa com quem viva em economia
comum.

2 - Com fundamento semelhante, pode qualquer interessado na relação jurídica procedimental deduzir
suspeição quanto a titulares de órgãos da Administração Pública, respetivos agentes ou outras entidades
no exercício de poderes públicos que intervenham no procedimento, ato ou contrato.

O Artigo 151º enumera o que deve constar num acto administrativo.

Artigo 151º CPA (Menções obrigatórias)

1 - Sem prejuízo de outras referências especialmente exigidas por lei, devem constar do ato:

a) A indicação da autoridade que o pratica e a menção da delegação ou subdelegação de poderes,


quando exista;

b) A identificação adequada do destinatário ou destinatários; - a quem é dirigida a explicação

c) A enunciação dos factos ou atos que lhe deram origem, quando relevantes;

d) A fundamentação, quando exigível;

e) O conteúdo ou o sentido da decisão e o respetivo objeto; - se defere ou indefere

f) A data em que é praticado;

g) A assinatura do autor do ato ou do presidente do órgão colegial que o emana.

2 - As menções exigidas no número anterior devem ser enunciadas de forma clara, de modo a poderem
determinar-se de forma inequívoca o seu sentido e alcance e os efeitos jurídicos do ato administrativo.

Os actos devem ser geralmente apresentados por escrito.

Artigo 150º CPA (Forma dos Actos)

1 - Os atos administrativos devem ser praticados por escrito, desde que outra forma não seja prevista por
lei ou imposta pela natureza e circunstâncias do ato.

João Bernardo Silva 46 de 68


Direito Administrativo

2 - A forma escrita só é obrigatória para os atos dos órgãos colegiais quando a lei expressamente a
determinar, mas esses atos devem ser sempre consignados em ata, sem o que não produzem efeitos

Os actos administrativos estão, por vezes, sujeitos a cláusulas acessórias, fazendo depender
uma decisão de outra condição, embora hajam alguns limites, distinguindo-se ainda se o acto é
vinculado ou discricionário.

Artigo 149º CPA (Cláusulas acessórias)

1 - Os atos administrativos podem ser sujeitos, pelo seu autor, mediante decisão fundamentada, a
condição (efeitos dependentes de um facto futuro e incerto, podendo ser suspensiva ou resolutiva: ex.
autorizo a inscrição, na condição de trazerem o comprovativo da nota recebida), termo (dependente de um
facto futuro e certo: ex. decido favoravelmente à possibilidade de fazerem exames em português e não
inglês até 31 de dezembro de 2015), modo (ou encargo, é um peso que se coloca na decisão: ex. decido
favoravelmente a construção de um edifício, mas com o encargo de fazer uma contribuição mensal para os
bombeiros volutários) ou reserva (uma decisão sujeita a uma reserva: ex. a administração decide, mas
coloca uma reserva dizendo que o acto pode ser revogado mais tarde se contrário ao interesse público),
desde que estes não sejam contrários à lei ou ao fim a que o ato se destina, tenham relação direta com o
conteúdo principal do ato e respeitem os princípios jurídicos aplicáveis, designadamente o princípio da
proporcionalidade (ex. para construir 2 andares teria de entregar 5 terrenos do campo de futebol). - actos
discricionários, logo posso dizer que: “sim, desde que..”

2 - A aposição de cláusulas acessórias a atos administrativos de conteúdo vinculado só é admissível


quando a lei o preveja ou quando vise assegurar a verificação futura de pressupostos legais ainda não
preenchidos no momento da prática do ato. - actos vinculados: só podem ser incluídas cláusulas
acessórias nos termos em que a lei o disser (ex. lei diz que o asilo é concedido aos cidadãos com 18 anos,
mas se tiver 17 e trabalhar podem também ser concedido), tendo a contrapartida que estar prevista na lei.

Como sabemos, é exigível a um acto administrativo a sua fundamentação.

Artigo 152º CPA (Dever de Fundamentação)

1 - Para além dos casos em que a lei especialmente o exija, devem ser fundamentados os atos
administrativos que, total ou parcialmente:

a) Neguem, extingam, restrinjam ou afetem por qualquer modo direitos ou interesses legalmente protegidos,
ou imponham ou agravem deveres, encargos, ónus, sujeições ou sanções; - o principio geral é o que as
decisões negativas ou penalizadoras (Tiago Duarte discorda do uso de exemplos) para o particular devem
ser fundamentadas.

ex. impõe uma sanção ao particular de 500€

b) Decidam reclamação ou recurso;

ex. o particular recorreu havendo uma segunda decisão e esse recurso deve ser SEMPRE fundamentado,
mesmo que a decisão seja favorável para o particular.

c) Decidam em contrário de pretensão (distingue-se da alínea a) por tratar de decisões contrárias à


pretensão do particular, pois nessas situações a Administração nega um pedido: ex. A quer ser aumentando
por já ter 8 anos de serviço, mas a Administração não autoriza, tendo de fundamentar tal recusa) ou
oposição formulada por interessado, ou de parecer (a Administração não pode ir contra os pareceres
vinculativos, logo esta alínea assenta nos pareceres não vinculativos, sendo necessário porque a decisão
foi contra o parecer apresentado), informação (ex. Ministro pede ao DG que este prepare uma informação
com proposta de decisão e essa entende que o Ministro deveria indeferir o pedido e este recusa) ou
proposta oficial;

João Bernardo Silva 47 de 68


Direito Administrativo

d) Decidam de modo diferente da prática habitualmente seguida na resolução de casos semelhantes, ou na


interpretação e aplicação dos mesmos princípios ou preceitos legais; - situações em que a Administração
pode se afastar do modo de decidir, tendo de o fundamentar.

ex. Administração costuma proibir os edifícios que destruam a paisagem, negando qualquer requerimento
para edifícios com mais de 10 andares, mas aprova um com 12 andares tendo de a fundamentar,
mostrando que não viola o princípio da igualdade por exemplo.

e) Impliquem declaração de nulidade, anulação, revogação, modificação ou suspensão de ato administrativo


anterior. - articula-se com a alínea b) embora possa ser a pedido de particular ou por iniciativa própria,
devendo esta ser sempre fundamentada

2 - Salvo disposição legal em contrário, não carecem de ser fundamentados os atos de homologação (é
tudo ou nada, ou concorda com o acto todo ou então não aceita nada) de deliberações tomadas por júris
(pois o júri - na fase da instrução - diz qual o concorrente que deve ser contratado com base em certos
critérios que este próprio estabelece: ex. candidatos A, B, C e D e o júri na fase da instrução adjudica a A,
há audiência prévia e à decisão chama-se de acto de homologação de deliberação tomada por júri, pois o
órgão simplesmente assume a proposta do júri, concordando com esta, fazendo quase um carimbo na
proposta do júri), bem como as ordens dadas pelos superiores hierárquicos aos seus subalternos (associa-
se ao poder hierárquico, onde se inclui o poder de dar ordens ou instruções ao inferior hierárquico e, em
matéria de serviço ou legal o superior não tem de justificar essa ordem) em matéria de serviço e com a
forma legal. - deve ser lido em articulação com o nº1 do Art. 153

Essa fundamentação responde a uma serie de requisitos:

Artigo 153º CPA (Requisitos da Fundamentação)

1 - A fundamentação deve ser expressa, através de sucinta exposição dos fundamentos de facto e de
direito da decisão, podendo consistir em mera declaração de concordância com os fundamentos de
anteriores pareceres, informações ou propostas, que constituem, neste caso, parte integrante do respetivo
ato. - tem de ser explicita e pode absorver a fundamentação de outro

2 - Equivale à falta de fundamentação a adoção de fundamentos que, por obscuridade, contradição ou


insuficiência, não esclareçam concretamente a motivação do ato.

3 - Na resolução de assuntos da mesma natureza, pode utilizar-se qualquer meio mecânico que reproduza
os fundamentos das decisões, desde que tal não envolva diminuição das garantias dos interessados.

➡ Não Decisão

• Incumprimento do dever de decisão

De recordar apenas que, caso o particular tenha apresentado o requerimento a um órgão


incompetente este não pode esperar que a decisão chegue 90 dias depois, devendo o órgão
incompetente (Artigo 41º) de o enviar para o órgão competente, havendo prorrogação do prazo,
não se coadunando a “não decisão” com o disposto do número 2 do Artigo 13º.2.
Assim, se, passados 90 dias não houve qualquer decisão,diz-se que houve um incumprimento do
dever de decisão por parte da Administração, tendo, para tal ser classificada, que cumprir vários
requisitos.

Artigo 129º CPA (Incumprimento do dever de decisão)

Sem prejuízo do disposto no n.º 2 do artigo 13.º e no artigo seguinte, a falta, no prazo legal, de decisão
final sobre pretensão dirigida a órgão administrativo competente / 1ª consequência constitui
incumprimento do dever de decisão, / 2ª consequência ou consequência da consequência: conferindo ao
interessado a possibilidade (o particular é que decide se quer utilizar tais meios ou se prefere esperar) de
João Bernardo Silva 48 de 68
Direito Administrativo

utilizar os meios de tutela administrativa e jurisdicional adequados (a ida para tribunal tem o prazo de 1 ano
após o fim do prazo para a decisão, tendo 3 meses após a decisão expressa para pedir a anulação da
decisão).

Até 2004, permanecia a regra de que, em caso de incumprimento do dever de decisão, haveria
indeferimento tácito, ou seja, considerava-se que o pedido haveria sido indeferido tacitamente,
tendo o requerimento o pior de dois mundos: seria indeferido, nem poderia ser impugnado porque
não teria decisão,
Mas a partir de 2004 passou-se a aceitar o silêncio naquilo que ele verdadeiramente é: um
silêncio, permitindo o reconhecimento do incumprimento do dever de decidir, abrindo as portas ao
particular do Tribunal ao fim de 90 dias sem decisão.

ex. com 3 meses para pedir a anulação da decisão


Decisão expressa negativa - - - - ->
I______________I_________x______________________I_________________
90 dias tem um 1 ano Tribunal

Não houve decisão nos 90 dias, tendo o particular esperado, surgindo uma decisão expressa
negativa para o particular e o prazo de 1 ano a partir dos 90 dias é para os silêncio da
Administração, por isso, agora com a decisão expressa tem 3 meses para apresentar em tribunal
a impugnação da decisão.

Ao contrário das decisões expressa onde a data da decisão é fixa, é clara, nas situações de
silêncio, dá-se um prazo razoavelmente amplo de 90 dias.
No que respeita às impugnações em tribunal, este é fixado em 90 dias, seja dentro ou fora do
prazo para decisão.

O particular pode então “utilizar os meios de tutela administrativa e jurisdicional adequados”.


A tutela administrativa é uma verdadeira novidade neste CPA, isto é, havia, no antigo CPA uma
desprotecção do particular, pois não se previa a via administrativa (“dos actos praticados pelo
subalterno cabe recurso ao seu superior hierárquico”) e, não havendo nenhum acto praticado não
se poderia recorrer, mas no novo CPA, o particular, ao abrigo do Artigo 129º, pode, com o silêncio
do inferior hierárquico, dirigir-se no prazo de 1 ano ao tribunal ou ao superior hierárquico.

Artigo 69º CPTA (Prazos)

1- Em situações de inércia (casos em que a Administração não decidiu) da Administração, o direito de


acção caduca no prazo de um ano contado desde o termo (fim) do prazo legal estabelecido para a emissão
do acto ilegalmente omitido.

2 - Tendo havido indeferimento, o prazo de propositura da acção é de três meses.

3 - No caso previsto no número anterior, o prazo corre desde a notificação do acto, sendo aplicável o
disposto nos artigos 59.º e 60.º

Aliás o CPTA prevê que, em caso de silêncio ou de decisões desfavoráveis, espera-se que o
Tribunal faça mais do que devolver a questão ao acto competente, anulando e impondo a prático
do acto devido.

Artigo 71º CPTA (Poderes de pronúncia do tribunal)

1 - Ainda que o requerimento apresentado não tenha obtido resposta ou a sua apreciação tenha sido
recusada, o tribunal não se limita a devolver a questão ao órgão administrativo competente, anulando ou
declarando nulo ou inexistente o eventual acto de indeferimento, mas pronuncia-se sobre a pretensão
material do interessado, impondo a prática do acto devido.
João Bernardo Silva 49 de 68
Direito Administrativo

2 - Quando a emissão do acto pretendido envolva a formulação de valorações próprias do exercício da


função administrativa e a apreciação do caso concreto não permita identificar apenas uma solução como
legalmente possível, o tribunal não pode determinar o conteúdo do acto a praticar, mas deve explicitar as
vinculações a observar pela Administração na emissão do acto devido. - caso de actos discricionários, o
tribunal pode exigir que se tome uma decisão e, havendo mais que uma decisão possível, o tribunal pode
exigir que se tome uma decisão num dado prazo, devendo explicitar as vinculações.

• Actos Tácitos

Há ainda uma situação excepcional a dar ao silêncio, solução essa que só vigora nos casos
previstos na lei que é a de dar ao silêncio o valor de uma decisão favorável, associada aos actos
tácitos ou diferimento tácito

ex. A e B querem fazer investigação, fazendo um requerimento à faculdade para tal e esta
responde afirmante a A, mas não responde a B, tendo-se de ir à lei ver se lá se dizia que, em caso
de silêncio há deferimento tácito, equiparando este a uma decisão favorável.

Artigo 130º CPA (Atos tácitos)

1 - Existe deferimento tácito quando a lei ou regulamento determine que a ausência de notificação da
decisão final sobre pretensão dirigida a órgão competente dentro do prazo legal tem o valor de
deferimento.

2 - Considera-se que há deferimento tácito se a notificação do ato não for expedida até ao primeiro dia
útil seguinte ao termo do prazo da decisão.

3 - O prazo legal de produção de deferimento tácito suspende-se se o procedimento estiver parado por
motivo imputável ao interessado e só se interrompe com a notificação de decisão expressa.

4 - Quando a prática de um ato administrativo dependa de autorização prévia ou um ato esteja sujeito à
aprovação de um órgão da Administração Pública ou de outra entidade no exercício de poderes públicos,
prescinde-se da autorização prévia ou da aprovação desde que o órgão que as solicitou tenha interpelado
o órgão competente para as emitir. - se a continuação do procedimento depender de outro órgão e esse não
participar dentro do prazo, notifica-se esse órgão para o emitir.

5 - A interpelação a que se refere o número anterior deve ser efetuada decorridos 10 dias, a contar do
termo do prazo para a autorização ou aprovação, devendo o órgão competente, nesse caso, emiti-las no
prazo de 20 dias.

O antigo CPA descrevia uma serie de exemplos em que haveria deferimento tácito, já este CPA
opta por remeter para legislação especial que possa ocorrer.
Em síntese, no novo CPA, só existem actos tácitos deferidos nos casos previstos na lei, fixando o
legislador dois requisitos:

‣ a pretensão tenha sido dirigida ao órgão competente: isto é, o particular ter apresentado
o requerimento ao órgão competente (caso tenha enviado ao que achava ser o
competente, mas não o era, esse tem a responsabilidade de enviar para órgão
competente), entendo Tiago Duarte que o prazo deveria ser contado desde o dia em que
o requerimento chega à posse do órgão competente (Artigo 130º.3), suspendendo-se o
prazo de 90 dias para a formação do pedido tácito até que este entre no órgão
competente.

‣ tenha sido dentro do prazo legal: o legislador colocou o foco, não na data da decisão
mas na notificação ao particular, falando-se em deferimento tácito na ausência de
notificação no prazo adequado.

João Bernardo Silva 50 de 68


Direito Administrativo

ex. alunos têm no máximo 30 dias após o inicio do ano lectivo par pedir a transferência, se não
houver decisão, então há diferimento tácito - o pressuposto legal são os 30 dias: se não cumpre o
prazo não pode esperar que seja cumprido.
A notificação do acto tem de ser enviada até o primeiro dia útil seguinte ao termo (dia 90) do prazo
da decisão:

90 dias úteis 89- 3ª feira 90 - 4ª feira 91 - 5ª feira


I____________________I_________x___________x_________________________
decisão diferimento tácito máximo para colocar no correio

No antigo CPA ou conseguia-se mostrar que o dia 89 era fictício ou então nada se poderia fazer.
No novo CPA, o legislador optou por beneficiar o particular, dizendo que o relevante é a data em
que se expediu por correio a decisão, estabelecendo o máximo de um dia após o termo do prazo
Havia ainda, na doutrina, a dúvida sobre como se contaria esses 90 dias, divida esse que não foi
clarificada neste novo CPA. Assim, tomemos os vários exemplos agora apresentados:

ex. a) a Administração apercebeu-se da falta duma certidão de casamento (documento legalmente


obrigatório), dando 10 dias ao particular para o fazer:

20 10 …………… 90 dias…………….
I____I__I________I_________________I Os 90 dias só começam a contar quando o particular
…….. 90 dias……. junta todos os documentos obrigatórios

O particular não pode querer beneficiar como se tivesse juntado todos os documentos
necessários, já que a Administração não teve 90 dias para decidir pois o documento era essencial.

ex. b) a Administração, na instrução, pede uma simulação em 3D do edifício a querer ser


construído (documento não obrigatório, juntando um dado prazo), dando 10 dias ao particular.

20 10
I____I__I________I Não se justifica a suspensão, ignorando-se os 10 dias pois o processo foi
…….. 90 dias……. parado por motivo imputável à Administração.

ex. c) a Administração, na instrução, pede uma simulação em 3D do edifício a querer ser


construído (documento não obrigatório), dando 10 dias ao particular para os juntar, mas este
apenas os junta passados 15 dias.

20 10 5 5
I____I__I_I_______I__I Suspende-se por 5 dias, pois o processo esteve parado por motivo
…….. 90 dias……….+5. imputável ao interessado.

• Comparação da decisão expressa de deferimento com o silêncio de deferimento tácito

Como vimos decisão expressa equivale a um deferimento tácito, sendo que as suas decisões
podem ser também ilegais, podendo o particular impugnar uma decisão que lhe é favorável por
achar ilegal.

ex. um vizinho crê que um deferimento que permita a construção de 3 andares tirar-lhe-ia a vista,
sendo para eles o deferimento desfavorável.

De recordar também que, após um ano na presença de uma invalidade não impugnada, esta
invalidade “torna-se” “válida”

ex. um requerimento para construir uma torre de 30 andares é deferido, sendo o máximo 5
andares, dizendo que, no caso de silêncio, este vale como um deferimento tácito, a decisão é
ilegal.
João Bernardo Silva 51 de 68
Direito Administrativo

Assim, tanto viola a lei um acto expresso como uma acto tácito.

• Problemas do Deferimento Tácito

Enquanto que nas decisões expressas quem tem de decidir pondera a legalidade e o mérito das
decisões (consoante o interesse público), podendo o particular, numa questão de legalidade
dirigir-se aos tribunais e numa questão de mérito ao superior hierárquico, no silêncio enquanto
decisão tácita de deferimento e, não tendo havido ponderação de mérito, o deferimento pode ser
anulado pelo tribunal numa questão de ilegalidade, mas quanto ao mérito, este deferimento tácito
pode ser altamente prejudicial para o interesse público e, não tendo havido decisão da
Administração nada se pode fazer.

Só existe a possibilidade de alterar uma decisão tácita sem ponderação de mérito se for útil ou
beneficiar o particular.

• Quando se forma um Deferimento Tácito

90 dias úteis 10 Maio 15 Maio


I____________________I________x_______________________________________
diferimento tácito decisão expressa de indeferimento e agora?

Se há uma decisão tácita, houve já decisão, não podendo a Administração dizer que afinal não
decidiu, assim, no caso dum silêncio por deferimento tácito, juridicamente o pedido não está à
espera de ser decidido, assim, encara-se a decisão expressa como uma revogação da decisão
tácita, sendo esta substituída, só podendo a Administração substituir um deferimento por um
indeferimento caso este tenha sido ilegal.
Assim, caso o deferimento seja legal e confira um direito nada se pode fazer, pelo contrario, se o
acto tácito é ele próprio inválido, este pode ser anulado pela Administração e ser substituído por
outra decisão, tendo o particular 3 meses para impugnar a decisão.

No antigo CPA, se a decisão expressa tivesse vindo com data de 8 de Maio, não teria havido
deferimento tácito, “falsificando” muitas vezes a Administração essa decisão, colocando uma
decisão de 15 de Maio com data de 8 de Maio.

• Casos em que o Procedimento pode terminar sem a Decisão

* Desistência e renúncia do requerimento: caso o particular renuncie a direitos ou prescinda do


procedimento, a não ser que a Administração queira que este continue por vontade própria.

ex. A quer-se aposentar e durante o procedimento, a Direcção Geral de Aposentações vê que A só


fez contribuições por 5 anos, desistindo A do procedimento para não pagar, mas a CGA pode fazer
com que o procedimento se mantenha, transformando-o num processo oficioso

Artigo 131º CPA (Desistência e renúncia)

1 - Os interessados podem, mediante requerimento escrito, desistir do procedimento ou de alguns dos


pedidos formulados, bem como renunciar aos seus direitos ou interesses legalmente protegidos, salvo nos
casos previstos na lei.

2 - A desistência ou renúncia dos interessados não prejudica a continuação do procedimento, se a


Administração entender que o interesse público assim o exige.

João Bernardo Silva 52 de 68


Direito Administrativo

* Deficiência do requerimento inicial: se parado há mais de 6 meses, o processo extingue-se.

Artigo 132º CPA (Deserção)

1 - É declarado deserto o procedimento que, por causa imputável ao interessado, esteja parado por mais
de seis meses, salvo se houver interesse público na decisão do procedimento.

2 - A deserção não extingue o direito que o particular pretendia fazer valer. - se o direito não estiver
sujeitos a um prazo, o particular pode voltar a requerê-lo: ex. A, professor, deixa o processo parado porque
pediram que continuasse a dar aulas, A pode passado 2 anos começar um novo procedimento

* Falta de pagamentos de Taxas ou Despesas: quando o particular não paga o que deveria pagar,
ressalvando que o .2 foi já tido pela doutrina como inconstitucional por violar o princípio da
proporcionalidade.

ex. A tem 15 dias para pagar, ao não pagar o direito extingue-se, mas, pode readquiri-lo se, nos
próximos 10 dias pagar em dobro.

Artigo 133º CPA (Falta de pagamento de taxas ou despesas)

1 - O procedimento extingue-se pela falta de pagamento, no prazo devido, de quaisquer taxas ou


despesas de que a lei faça depender a realização dos atos procedimentais, salvo nos casos previstos no n.º
2 do artigo 15.º

2 - Os interessados podem obstar à extinção do procedimento se realizarem o pagamento em dobro da


quantia em falta nos 10 dias seguintes ao termo do prazo fixado para o seu pagamento.

5. NOTIFICAÇÃO

O artigo mais relevante é o 114º, explicando o 112º e o 113º a sua forma e a sua perfeição.

Artigo 114º CPA (Notificação dos atos administrativos)

1 - Os atos administrativos devem ser notificados aos destinatários, designadamente os que:

a) Decidam sobre quaisquer pretensões por eles formuladas;

b) Imponham deveres, encargos, ónus, sujeições ou sanções, ou causem prejuízos;

c) Criem, extingam, aumentem ou diminuam direitos ou interesses legalmente protegidos, ou afetem as


condições do seu exercício.

2 - Da notificação do ato administrativo devem constar:

a) O texto integral do ato administrativo, incluindo a respetiva fundamentação, quando deva existir;

b) A identificação do procedimento administrativo, incluindo a indicação do autor do ato e a data deste;

c) A indicação do órgão competente para apreciar a impugnação administrativa do ato e o respetivo prazo,
no caso de o ato estar sujeito a impugnação administrativa necessária.

3 - O texto integral do ato pode ser substituído pela indicação resumida do seu conteúdo e objeto, quando
o ato tiver deferido integralmente a pretensão formulada pelo interessado.

João Bernardo Silva 53 de 68


Direito Administrativo

4 - Para efeitos do disposto na alínea c) do n.º 2, o reconhecimento jurisdicional da existência de erro ou


omissão na indicação do meio de impugnação administrativa a utilizar contra o ato notificado não prejudica
a utilização do referido meio no prazo de 30 dias, a contar do trânsito em julgado da decisão jurisdicional.

5 - Quando não haja prazo fixado na lei, os atos administrativos devem ser notificados no prazo de 8 dias.

Também nas relações poligonais, ou seja, aquelas onde pode haver mais que um interessado na
decisão, impõe-se a publicação desse acto administrativo.

Artigo 158º CPA (Publicação obrigatória)

1 - A publicação dos atos administrativos só é obrigatória quando exigida por lei.

2 - A falta de publicação do ato, quando legalmente exigida, implica a sua ineficácia.

A publicação é feita obrigatoriamente em Diário da República ou publicação oficial e na Internet.

Artigo 159º CPA (Termos da publicação obrigatória)

Quando a lei impuser a publicação do ato, mas não regular os respetivos termos, deve a mesma ser feita
no Diário da República ou na publicação oficial da entidade pública, e na Internet, no sítio institucional da
entidade em causa, no prazo de 30 dias, e conter todos os elementos referidos no n.º 1 do artigo 151.º

O Artigo 160º acrescenta que se impõe a publicação se o acto administrativo tiver como conteúdo
a imposição de certas situações, só contando o efeito a partir do momento da notificação

Artigo 160º CPA (Eficácia dos atos constitutivos de deveres ou encargos)

Independentemente da sua forma, os atos que imponham deveres, encargos, ónus, sujeições ou sanções,
que causem prejuízos ou restrinjam direitos ou interesses legalmente protegidos, ou afetem as condições
do seu exercício, só são oponíveis aos destinatários a partir da respetiva notificação.

• Eficácia Retroactiva dos Actos

Artigo 156º CPA (Eficácia retroativa)

1 - Têm eficácia retroativa os atos administrativos:

a) Que se limitem a interpretar atos anteriores;

b) A que a lei atribua efeito retroativo.

2 - Fora dos casos abrangidos pelo número anterior, o autor do ato administrativo só pode atribuir-lhe
eficácia retroativa:

a) Quando a retroatividade seja favorável para os interessados e não lese direitos ou interesses
legalmente protegidos de terceiros, desde que à data a que se pretende fazer remontar a eficácia do ato
já existissem os pressupostos justificativos dos efeitos a produzir;

ex. A deve receber mais 500€ do que recebia - não é prejudicial ao particular

b) Quando estejam em causa decisões revogatórias de atos administrativos tomadas por órgãos ou agentes
que os praticaram, na sequência de reclamação ou recurso hierárquico;

João Bernardo Silva 54 de 68


Direito Administrativo

ex. aplicaram a A uma coima de 50€ por dia, não tido A culpa de nada, recorrendo para o Reitor da
faculdade e, tendo razão, a revogação tem efeitos retroactivos permitindo a A reaver os 50€ por dia.

c) Quando tal seja devido para dar cumprimento a deveres, encargos, ónus ou sujeições constituídos no
passado, designadamente em execução de decisões dos tribunais ou na sequência de anulação
administrativa, e não envolva a imposição de deveres, a aplicação de sanções, ou a restrição de direitos ou
interesses legalmente protegidos. - semelhante a b), tendo efeitos retroactivos as decisões que revoguem
ou anulem a decisão anterior, assim como a anulação das decisões pelas quais se recorre para Tribunal.

d) Quando a lei o permita ou imponha.

(6) IMPUGNAÇÃO OU ANULAÇÃO DO ACTO

• Invalidades das decisões administrativas

O Acto Administrativo pode ser válido - embora alguns possam ser revogados por motivos de
mérito - ou inválidos, podendo estes últimos ser:

> nulos (regra geral): podendo esta ser declarada a qualquer tempo: Artigo 161º e 162º
> anulável (excepção): podendo ser pedido a sua anulação no prazo de 1 ano: Artigo 163º

• Nulidade

São nulos apenas os actos assim previstos na lei.

Artigo 161º CPA (Atos nulos)

1 - São nulos os atos para os quais a lei comine expressamente essa forma de invalidade.

2 - São, designadamente, nulos:

a) Os atos viciados de usurpação de poder; - a usurpação de poderes só surge quando há uma usurpação
na separação de poderes: ex. Ministro quer revogar uma decisão da competência dos tribunais ou o
Tribunal querer decidir um acato administrativo.

b) Os atos estranhos às atribuições dos ministérios, ou das pessoas coletivas referidas no artigo 2.º, em
que o seu autor se integre; - incompetência absoluta.

ex. Câmara Municipal de Lisboa e Câmara Municipal de Cascais com atribuições de Município, mas um
partilha as de Lisboa e o outro de Cascais, tendo cada município as suas próprias atribuições, logo
estaríamos perante uma incompetência absoluta e um acto nulo.

c) Os atos cujo objeto ou conteúdo seja impossível, ininteligível ou constitua ou seja determinado pela
prática de um crime;

d) Os atos que ofendam o conteúdo essencial de um direito fundamental; - Tiago Duarte critica este
alínea por desconhecer saber o que é um acto que careça em absoluto de forma legal.

e) Os atos praticados com desvio de poder para fins de interesse privado; - Artigo novo no CPA:
devendo-se procurar saber se há ou não desvio de poder e porquê, afectando apenas actos discricionários,
sendo nulo por exemplo um acto de corrupção, mas anulável um acto decidido por interesse público como
pela fluidez do trânsito.

f) Os atos praticados sob coação física ou sob coação moral;

g) Os atos que careçam em absoluto de forma legal;

João Bernardo Silva 55 de 68


Direito Administrativo

h) As deliberações de órgãos colegiais tomadas tumultuosamente ou com inobservância do quorum ou da


maioria legalmente exigidos; -

i) Os atos que ofendam os casos julgados;

j) Os atos certificativos de factos inverídicos ou inexistentes; - outra inovação do CPA, onde, perante
factos inexistentes ou inverídicos com um documento da decisão, certificando-a, esse mesmo acto não se
consolidaria: ex. A consegue que um órgão administrativo certificasse que ele era o proprietário da Lua - o
acto certificativo não tem qualquer valor.

k) Os atos que criem obrigações pecuniárias não previstas na lei;

l) Os atos praticados, salvo em estado de necessidade, com preterição total do procedimento legalmente
exigido.

A usurpação referida na alínea a) do Artigo 161º não pode ser confundida com questões de
competência, recordando a distinção entre:

> incompetência relativa: actos em que apesar de ter sido um órgão incompetente a
praticar o acto, este partilha as mesmas atribuições que o órgão competente, podendo o
vício ser anulado.

ex. acto que deveria ter sido praticado pela Assembleia Municipal foi praticado pela Câmara
Municipal

> incompetência absoluta: actos em que atém de ter sido o órgão incompetente a praticar
o acto, este prossegue diferentes atribuições do órgão competente, sendo o vício nulo.

ex. Ministro da Saúde e Ministro da Educação - dois órgãos distintos, da mesma: Estado, mas
com atribuições a organização distinta.

Os actos nulos podem ser invocados como tal a todo o tempo por qualquer interessado, podendo
ainda esta ser conhecida por qualquer autoridade ou declarada pelos tribunais ou órgãos
administrativos competentes para tal

Artigo 162º CPA (Regime da Nulidade)

1 - O ato nulo não produz quaisquer efeitos jurídicos, independentemente da declaração de nulidade.

2 - Salvo disposição legal em contrário, a nulidade é invocável a todo o tempo (não se sana ao longo do
tempo, podendo ser conhecido a qualquer momento) por qualquer interessado e pode, também a todo o
tempo, ser conhecida por qualquer autoridade e declarada pelos tribunais administrativos ou pelos órgãos
administrativos competentes para a anulação. - a nulidade pode ser declarada pela Administração e
Tribunais

3 - O disposto nos números anteriores não prejudica a possibilidade de atribuição de efeitos jurídicos a
situações de facto decorrentes de atos nulos, de harmonia com os princípios da boa-fé, da proteção da
confiança e da proporcionalidade ou outros princípios jurídicos constitucionais, designadamente associados
ao decurso do tempo. - um acto nulo quando fundamenta uma situação de facto, já ter ou não passado um
um certo tempo sem que se soubesse que o que estava na base eram um acto nulo seria violador do
principio da boa-fé, protecção da confiança e da proporcionalidade por estar a desfazer uma situação criada
no mundo dos factos apenas por não ter sustentação jurídica.

ex. a nomeação para um cargo (directora de especialidade) é ilegal, mas A exerceu-no de facto por 10
anos, estando A de boa-fé, respeitando todos os princípios, então reconhece-se os efeitos jurídicos não ao
acto nulo, mas à situação de facto constituída, regularizando a situação com a devida fundamentação,
chamando-se a isto os efeitos potativos dos actos nulos.

João Bernardo Silva 56 de 68


Direito Administrativo

Assim, retenha-se que um acto potativo é aquele que atribui efeitos que os actos nulos
produziriam se não fossem nulos, sendo, para que estes se verifiquem, necessários que:

> não seja atentatório da boa-fé, protecção da confiança e proporcionalidade


> tenha tido efeito por um período de tempo suficientemente longo para que essa
confiança e boa-fé tivesse sido gerada (Marcelo Caetano falava em 10 anos)

Aliás, usa-se a expressão “efeitos/situações de facto” justamente para os contrapor aos efeitos
jurídicos

ex. A era diplomata em Paris, mas passado 3 anos conclui-se que deveria era estar na Noruega -
não se pode evitar, que, de facto que ele tenha estado em Paris, mas podemos emendar,
colocando-o na Noruega no próximo triénio.

• Anulação

Os actos anuláveis e o seu regime encontra-se disposto no Artigo 163º.

Artigo 163º CPA (Atos anuláveis e regime da anulabilidade)

1 - São anuláveis os atos administrativos praticados com ofensa dos princípios ou outras normas jurídicas
aplicáveis, para cuja violação se não preveja outra sanção. - são anuláveis aqueles aos quais a lei não
preveja outra sanção que não a anulabilidade

2 - O ato anulável produz efeitos jurídicos, que podem ser destruídos com eficácia retroativa se o ato vier
a ser anulado por decisão proferida pelos tribunais administrativos ou pela própria Administração. - os
efeitos jurídicos dos actos anuláveis podem ser destruídos retroactivamente pela Administração e pelos
Tribunais se anulados.

3 - Os atos anuláveis podem ser impugnados perante a própria Administração (ver Artigo 168º e ss.) ou
perante o tribunal administrativo (ver Artigo 68º do CPTA) competente, dentro dos prazos legalmente
estabelecidos.

4 - Os atos anuláveis podem ser anulados pela Administração nos prazos legalmente estabelecidos.

5 - Não se produz o efeito anulatório quando: - artigo novo no CPA correspondendo a situações onde não
se produz efeitos anulatórios, havendo a corporizarão de um princípio geral, o do aproveitamento dos actos

a) O conteúdo do ato anulável não possa ser outro, por o ato ser de conteúdo vinculado ou a apreciação
do caso concreto (actos discricionários) permita identificar apenas uma solução como legalmente possível;

ex. existiam 4 candidatos, mas 3 desistem, naquela situação concreta só há uma hipótese possível de
decidir-se por aquele que se manteve.

b) O fim visado pela exigência procedimental ou formal preterida tenha sido alcançado por outra via;

ex. havia uma exigência formal de pedido um parecer, mas ao invés, colocou-se num site para consulta
pública e aquele que deveria emitir um parecer comentou, pronunciando-se sobre essa situação.

c) Se comprove, sem margem para dúvidas, que, mesmo sem o vício, o ato teria sido praticado com o
mesmo conteúdo.

O Artigo 164º, apresenta-nos 3 maneiras de salvar um acto inválido, sem declarar a sua nulidade:

* Ratificação: só se aplica quando o vício do acto é de incompetência relativa, podendo-se salvar


esse acto se o órgão que o deveria ter exercido aprovar ou assinar por vazio, ou seja, ratificado
tal acto, tendo a ratificação efeitos retroactivos, ou seja, sendo o acto legal desde o início.

João Bernardo Silva 57 de 68


Direito Administrativo

* Reforma: associada à figura da redução.

ex. só se pode aprovar licenças de exploração de um bar na praia no máximo de 5 anos e a


Câmara atribui por 10 anos, pode-se reduzir o acto, passando este a ser válido e a ter um prazo
de 5 anos.

* Conversão: implica a transformação noutro acto diferente

ex. a lei permitia que essas licenças fossem emitidas com reserva de revogação, mas a licença foi
atribuída sem essa reserva, muda-se o acto, passando a ser válido, havendo uma modificação de
forma a legitimar a legalidade que esse acto deveria ter.

Artigo 164º CPA (Ratificação, reforma e conversão)

1 - São aplicáveis à ratificação, reforma e conversão dos atos administrativos as normas que regulam a
competência para a anulação administrativa dos atos inválidos e a sua tempestividade.

2 - Os atos nulos só podem ser objeto de reforma ou conversão.

3 - Em caso de incompetência, o poder de ratificar o ato cabe ao órgão competente para a sua prática.

4 - A reforma e a conversão obedecem às normas procedimentais aplicáveis ao novo ato.

5 - Desde que não tenha havido alteração ao regime legal, a ratificação, reforma e a conversão retroagem
os seus efeitos à data dos atos a que respeitam, mas não prejudicam a possibilidade de anulação dos
efeitos lesivos produzidos durante o período de tempo que as tiver precedido, quando ocorram na
pendência de processo impugnatório e respeitem a atos que envolvam a imposição de deveres, encargos,
ónus ou sujeições, a aplicação de sanções ou a restrição de direitos e interesses legalmente protegidos.

• Revogação e Anulação de Actos Válidos

Por revogação entende-se um ato administrativo que visa à cessação de um acto administrativo
por interesse público e não por legalidade.
Já anulação administrativa é o ato administrativo que determina a destruição dos efeitos de outro
acto com fundamento em invalidade

Artigo 165º CPA (Revogação e anulação administrativas)

1 - A revogação é o ato administrativo que determina a cessação dos efeitos de outro ato, por razões de
mérito, conveniência ou oportunidade. - regra geral a revogação não é retroactiva

2 - A anulação administrativa é o ato administrativo que determina a destruição dos efeitos de outro ato,
com fundamento em invalidade. - a anulação tem efeitos retroactivos

O Artigo 166º descreve quais os actos que não são susceptíveis de serem revogados ou
anuláveis

Artigo 166º CPA (Atos insuscetíveis de revogação ou anulação administrativas)

1 - Não são suscetíveis de revogação nem de anulação administrativas:

a) Os atos nulos;

b) Os atos anulados contenciosamente; - aqueles que foram já anulados anteriormente pelo Tribunal

João Bernardo Silva 58 de 68


Direito Administrativo

c) Os atos revogados com eficácia retroativa. - não faz sentido revogar o acto pela segunda vez:
podendo ser revogados os actos revogados sem eficácia retroactiva, desde que essa procure destruir os
efeitos para o passado

2 - Os atos cujos efeitos tenham caducado ou se encontrem esgotados só podem ser objeto de anulação
administrativa ou de revogação com eficácia retroativa. - por terem tido um período de tempo limitado,
cessando ou esgotando os seus efeitos no futuro, só faz sentido que estes possam destruir os efeitos
criados anteriores (retroactivos)

Criticava-se o antigo CPA, por ser demasiado protector dos efeitos dos particulares em
contraponto com a protecção do interesse público, entendendo-se que a Administração poderia
terminar um contracto atempadamente por motivos de interesse público, compensando o
particular, mas que tal não seria possível nos actos administrativos, não podendo estes serem
revogados por motivos de interesse público mesmo que se compensasse com o particular, assim
surgiu o Artigo 167º neste novo CPA:

Artigo 167º CPA (Condicionalismos aplicáveis à revogação)

1 - Os atos administrativos não podem ser revogados quando a sua irrevogabilipdade resulte de
vinculação legal ou quando deles resultem, para a Administração, obrigações legais ou direitos
irrenunciáveis. - se a lei impõe um acto administrativo e esse foi praticado, não o podemos revogar

2 - Os atos constitutivos de direitos (ex. atribuição de licença) só podem ser revogados:

a) Na parte em que sejam desfavoráveis aos interesses dos beneficiários; - ex. pagar renda de 500€

b) Quando todos os beneficiários manifestem a sua concordância e não estejam em causa direitos
indisponíveis; - quando o beneficiário aceita o acto (ex. carrinha de street food que teria de estar parada no
mesmo sítio, mas o reitor queria que esta andasse pelo campus todo, revogando o acto, criando outro, com
o consentimento do dono da carrinha, dando algo que lhe beneficia)

c) Com fundamento na superveniência de conhecimentos técnicos e científicos (ex. a Administração


praticou um acto em 1990, permitindo que um restaurante se fixasse na Praia, aceitando que os resíduos de
lixo deste fossem deitados ao mar, mas em 1995 conclui-se que a poluição prejudica a fauna e a flora,
então se soubesse disso na altura a lei não teria permitido esse acto, ou seja, o acto, apesar de válido, é
ultrapassado pelo interesse público que beneficiou de novos conhecimentos técnicos e científicos) ou em
alteração objetiva das circunstâncias de facto (ex. uma indústria viu autorizada a sua construção numa dada
área por se considerar estar fora da cidade, mas a cidade cresceu tanto que a fábrica está agora dentro da
cidade, não podendo por lei), em face das quais, num ou noutro caso, não poderiam ter sido praticados; -
esta alínea articula-e com o numero 4 (prazo para essa revogação) e com o numero 5 (qual a indemnização
que o particular deve ter)

d) Com fundamento em reserva de revogação, na medida em que o quadro normativo aplicável consinta
a precarização do ato em causa e se verifique o circunstancialismo específico previsto na própria cláusula. -
deve ser articulado com o Artigo 149º, sendo que, um acto administrativo aprovado com reserva de
revogação é aquele que, ao ser aprovado é um acto administrativo constitutivo de direitos, diz-se ao
particular que se aprova esse acto, mas que este não fica com esse direito porque a Administração reserva
o direito de revogação.

ex. A, proprietário da carrinha de street food quer tê-la no campus por 5 anos e o Reitor atribui a licença,
mas com reserva de revogação, ou seja, o reitor, pode, a qualquer momento, revogar com pré-aviso essa
licença mesmo que não tenham passado os 5 anos.

3 - Para efeitos do disposto na presente secção, consideram-se constitutivos de direitos os atos


administrativos que atribuam ou reconheçam situações jurídicas de vantagem ou eliminem ou limitem
deveres, ónus, encargos ou sujeições, salvo quando a sua precariedade decorra da lei ou da natureza do
ato.

João Bernardo Silva 59 de 68


Direito Administrativo

4 - A revogação prevista na alínea c) do n.º 2 deve ser proferida no prazo de um ano, a contar da data do
conhecimento da superveniência ou da alteração das circunstâncias, podendo esse prazo ser prorrogado,
por mais dois anos, por razões fundamentadas. - o prazo conta-se a partir do momento que a Administração
está na posse desse conhecimento concreto ou circunstancia de facto, tendo 1 ano, período o qual deve
revogar o acto, embora esse prazo possa ser prorrogado por 2 anos - esse prazo explica-se pelo intuito de
encontrar uma situação menos absoluta ou menos bruta, resolvendo o problema, sem que se tenha de
revogar o acto, ou seja, dando algum tempo à entidade privada para se adaptar às novas circunstancias e
evitar a revogação.

5 - Na situação prevista na alínea c) do n.º 2, os beneficiários de boa-fé do ato revogado têm direito a ser
indemnizados, nos termos do regime geral aplicável às situações de indemnização pelo sacrifício, mas
quando a afetação do direito, pela sua gravidade ou intensidade, elimine ou restrinja o conteúdo
essencial desse direito, o beneficiário de boa-fé do ato revogado tem direito a uma indemnização
correspondente ao valor económico do direito eliminado ou da parte do direito que tiver sido restringida. -
no regime da responsabilidade civil do Estado, prevê-se como se indemniza os danos que o Estado faça
que possam prejudicar os particulares, prevendo-se, nas indemnizações ao Estado por actuação legal uma
indemnização por sacrifício que pode ser requerida pelo particular.

A segunda parte do numero 5 dá a entender que quando a afectação do direito seja “grave ou intensa”,
haveria outra consequência, mas se a primeira parte fala de um regime especial em prejuízos especiais e
anormais porque é que a norma diz que no caso de ser grave e intenso a consequência é outra? É algo
contraditório, repetindo, na verdade o disposto na primeira parte.

6 - Para efeitos do disposto no número anterior, consideram-se de boa-fé os beneficiários que, à data da
prática do ato revogado, desconheciam sem culpa a existência de fundamentos passíveis de determinar a
revogação do ato. - explica quem são os beneficiários de boa fé, mas Tiago Duarte entende esse numero
não se aplica, tomemos o seguinte exemplo:

ex. é atribuída uma licença a um particular em 2000 por 30 anos, mas chega-se a 2015 e temos o acto de
revogação da licença, revogando a licença dada e a razão pela qual podemos revogar é porque em 2014
houve uma alteração de circunstancias ou conhecimentos científicos novos e esses, SE tivessem sido
conhecidos em 2000, impediriam que a licença tivesse sido atribuída, mas não se sabia… sendo assim,
Tiago Duarte não consegue perceber porque é que a lei diz que aquele que recebeu a licença em 2000 tem
direito a indemnização se tiver de boa fé e o que é estar de boa fé? É ter conhecimento que surgiriam novos
conhecimentos científicos ou novas alterações de circunstancia, mas claro que este desconhecia o facto
porque só mais tarde é que este veio a ser descoberto.

O Artigo 169º, aplica-se tanto à revogação como à anulação, mas nem sempre da mesma
maneira.

Artigo 169º CPA (Iniciativa e competência)

1 - Os atos administrativos podem ser objeto de revogação ou anulação administrativas por iniciativa dos
órgãos competentes, ou a pedido dos interessados, mediante reclamação ou recurso administrativo.

2 - Salvo disposição especial e sem prejuízo do disposto nos números seguintes, são competentes para a
revogação dos atos administrativos os seus autores e os respetivos superiores hierárquicos, desde que não
se trate de ato da competência exclusiva do subalterno (desde que a lei diga que não se trata de um acto
exclusivo do subalterno, podendo o seu superior hierárquico revogá-lo).

3 - Os atos administrativos podem ser objeto de anulação administrativa pelo órgão que os praticou e pelo
respetivo superior hierárquico. - semelhante ao nº2, adaptando as críticas do nº4 à anulação e não à
revogação.

4 - Enquanto vigorar a delegação ou subdelegação (só tendo tais competências sobre dada matéria devido
à delegação: ex: delegado tinha delegação de poderes e realizou um acto administrativo: indeferiu o poder
de um particular, mas o delegante revogou a delegação, o delegado, ao não estar ja ao abrigo duma
delegação de competências, já não é o competente, não podendo revogar as decisões tomadas.), os atos

João Bernardo Silva 60 de 68


Direito Administrativo

administrativos praticados por delegação ou subdelegação de poderes podem ser objeto de revogação ou
de anulação administrativa pelo órgão delegante ou subdelegante, bem como pelo delegado ou
subdelegado.

Tiago Duarte levanta a questão de, se o delegado enquanto autor poderia revogar o acto ao abrigo do nº2,
enquanto autor, entendendo que este nº 4 serve para que o delegado não revogue actos praticados por si
quando já não está sob o manto da delegação de poderes, pois trata-se de uma situação limitada, que
necessita da delegação de poderes para poder ser praticado, entendendo ainda que o delegante pode
revogar os actos do delegado quer exista ou não delegação de poderes, pois o delegante não ganha ou
perde poderes por causa da delegação.

5 - Nos casos expressamente permitidos por lei, os atos administrativos praticados por órgãos sujeitos a
superintendência ou tutela administrativa (dever-se-ia falar apenas nos poderes de tutela porque a
superintendência, per si, nunca dá poderes de revogação) podem ser objeto de revogação ou de anulação
administrativa pelos órgãos com poderes de superintendência ou tutela.

6 - Os atos administrativos praticados por órgão incompetente podem ser objeto de revogação ou de
anulação administrativa pelo órgão competente para a sua prática.

Havia duas posições na doutrina face a esta situação; uma entendia que fazia sentido que o órgão
incompetente revogasse o acto e uma outra, que pelo contrário, entendia que se se permitisse tal situação
chegar-se-ia ao cúmulo, onde qualquer órgão poderia revogar a actuação de outro órgão por se “achar
competente”, tendo o legislador entendendo que os actos praticado por órgão incompetente poderiam ser
revogados ou anulados pelos órgãos competentes, mas Tiago Duarte não entende porque poderia ser
revogado, não entende como é que o órgão competente poderia revogar um acto praticado por um órgão
incompetente que acha ser competente, admitindo apenas que se poderia anular tais actos.

Assim, podem revogar o acto:

* o autor do acto - artigo 169º.2


* o superior hierárquico - artigo 169º.2
* o delegante/subdelegante ou o delegado/subdelegado - artigo 169º.4
* o órgão de tutela (tutela revogatória/tutela de mérito) - artigo 169º.5
* o órgão competente para a prática do acto - artigo 169º.6

Assim, podem anular o acto:

* o autor do acto - artigo 169º.2


* o superior hierárquico - artigo 169º.3
* o órgão de tutela (tutela revogatória/tutela de mérito) - artigo 169º.5
* o órgão competente para a prática do acto - artigo 169º.6

• Prazos da Revogação e Anulação

- Revogação

Em princípio não está sujeita a prazos, podendo ser revogada a qualquer altura por questões de
mérito, estando apenas sujeita a prazos se for penalizadora para os particulares, tendo 1 ano ou
no máximo 2 (caso se justifique) a partir da “data de conhecimento”, tal como nos diz o Art. 167º.4:

4 - A revogação prevista na alínea c) do n.º 2 deve ser proferida no prazo de um ano, a contar da data do
conhecimento da superveniência ou da alteração das circunstâncias, podendo esse prazo ser prorrogado,
por mais dois anos, por razões fundamentadas. - o prazo conta-se a partir do momento que a Administração
está na posse desse conhecimento concreto ou circunstancia de facto, tendo 1 ano, período o qual deve
revogar o acto, embora esse prazo possa ser prorrogado por 2 anos.

João Bernardo Silva 61 de 68


Direito Administrativo

- Anulação Administrativa

Regra geral, os actos administrativos podem ser anulados administrativamente no prazo de 6


meses a contar da data do conhecimento pelo órgão competente da invalidade, desde que não
tenham decorrido 5 anos desde a sua emissão, mas se forem atos constitutivos de direito o prazo
é de 1 ano.

Artigo 168º CPA (Condicionalismos aplicáveis à anulação administrativa)

1 - Os atos administrativos podem ser objeto de anulação administrativa no prazo de seis meses, a contar
da data do conhecimento pelo órgão competente da causa de invalidade, ou, nos casos de invalidade
resultante de erro do agente, desde o momento da cessação do erro, em qualquer dos casos desde que
não tenham decorrido cinco anos, a contar da respetiva emissão. - regra geral

2 - Salvo nos casos previstos nos números seguintes, os atos constitutivos de direitos só podem ser objeto
de anulação administrativa dentro do prazo de um ano, a contar da data da respetiva emissão. - para os
atos constitutivos de direitos, mas, se os actos são objecto de anulação administrativos são actos inválidos.

3 - Quando o ato tenha sido objeto de impugnação jurisdicional, a anulação administrativa só pode ter lugar
até ao encerramento da discussão. - nos casos de impugnação judicial é até o o processo estar fechado.

4 - Salvo se a lei ou o direito da União Europeia prescreverem prazo diferente, os atos constitutivos de
direitos podem ser objeto de anulação administrativa no prazo de cinco anos, a contar da data da
respetiva emissão, nas seguintes circunstâncias:

a) Quando o respetivo beneficiário tenha utilizado artifício fraudulento com vista à obtenção da sua
prática;

b) Apenas com eficácia para o futuro, quando se trate de atos constitutivos de direitos à obtenção de
prestações periódicas, no âmbito de uma relação continuada;

c) Quando se trate de atos constitutivos de direitos de conteúdo pecuniário cuja legalidade, nos termos da
legislação aplicável, possa ser objeto de fiscalização administrativa para além do prazo de um ano, com
imposição do dever de restituição das quantias indevidamente auferidas.

5 - Quando, nos casos previstos nos n.os 1 e 4, o ato se tenha tornado inimpugnável por via jurisdicional,
o mesmo só pode ser objeto de anulação administrativa oficiosa.

6 - A anulação administrativa de atos constitutivos de direitos constitui os beneficiários que


desconhecessem sem culpa a existência da invalidade e tenham auferido, tirado partido ou feito uso da
posição de vantagem em que o ato os colocava, no direito de serem indemnizados pelos danos anormais
que sofram em consequência da anulação.

7 - Desde que ainda o possa fazer, a Administração tem o dever de anular o ato administrativo que tenha
sido julgado válido por sentença transitada em julgado, proferida por um tribunal administrativo com base na
interpretação do direito da União Europeia, invocando para o efeito nova interpretação desse direito em
sentença posterior, transitada em julgado, proferida por um tribunal administrativo que, julgando em última
instância, tenha dado execução a uma sentença de um tribunal da União Europeia vinculativa para o Estado
português.

Recordar apenas que um acto de revogação é um acto administrativo estando sujeito a toda a
Marcha do Procedimento, incluindo-se a audiência prévia dos interessados e o dever de
fundamentação.

João Bernardo Silva 62 de 68


Direito Administrativo

• Efeitos da Revogação e Anulação

Artigo 171º CPA (Efeitos)

1 - Por regra, a revogação apenas produz efeitos para o futuro, mas o autor da revogação pode, no
próprio ato, atribuir-lhe eficácia retroativa quando esta seja favorável (ex. revogação da taxa que os
alunos têm de pagar quando se inscrevem à partida teria efeitos apenas para o futuro, mas por terem
causado benefícios ao particular pode ter efeitos retroactivos se assim o autor do acto o fixar) aos
interessados ou quando estes concordem expressamente com a retroatividade e não estejam em causa
direitos ou interesses indisponíveis. - a revogação apenas produz tem efeito para o futuro, nas fazendo
sentido destruir, sendo esses actos válidos, os efeitos anteriores à revogação, mas o autor da revogação
pode atribuir eficácia retroactiva caso essa favorável ao particular ou estes concordem com essa

2 - A revogação de um ato revogatório só produz efeitos repristinatórios se a lei ou o ato de revogação


assim expressamente o determinarem. ex. A revoga B e A é revogado por C, tendo depois C revogado B: se
C quisesse que A não voltasse à vida porque haveria de revogar B? Faria mais sentido então que C
revogasse B dizendo que se represtina A.

3 - Salvo disposição especial, a anulação administrativa produz efeitos retroativos, mas o autor da
anulação pode, na própria decisão, atribuir-lhe eficácia para o futuro, quando o ato se tenha tornado
inimpugnável por via jurisdicional. - uma anulação administrativa produz efeitos retroactivos, fazendo
sentido, pois, sendo a norma inválida, é normal que se destrua os efeitos produzidos, mas o autor do acto,
pode, na sua decisão, dizer que essa anulação vale para o futuro caso se tenha tornado inimpugnável por
via jurisdicional, ou seja, não podendo o acto ser anulado pela Tribunal, a Administração pode entender se a
sua anulação destrói tudo ou não.

ex. A é inválido e B anula A, não se aplicando mais A daí em diante, destruindo-se, em princípio, os efeitos
produzidos por A, embora possa haver situações em que B anula A, mas não se destrói os efeitos
retroactivos.

4 - A anulação administrativa produz efeitos repristinatórios e, quando tenha por objeto a anulação de um
ato revogatório, só não determina a repristinação do ato revogado se a lei ou o ato de anulação assim
expressamente dispuserem. - a anulação administrativa só não produz efeitos represtinatórios se o autor
do acto assim o entender ou a lei expressamente o dispuser.

De destacar apenas o Artigo 173º, onde há uma nota de equiparação dizendo-se que tudo aquilo
que se leu (Artigo 165, 167, 169, etc.) sobre a revogação aplica-se também à substituição

Artigo 173º CPA (Alteração e substituição dos atos administrativos)

1 - Salvo disposição especial, são aplicáveis à alteração e substituição dos atos administrativos as normas
reguladoras da revogação.

2 - A substituição de um ato administrativo anulável, ainda que na pendência de processo jurisdicional, por
um ato válido com o mesmo conteúdo sana os efeitos por ele produzidos, assim como os respetivos atos
consequentes.

3 - No caso previsto no número anterior, se o ato substituído tiver tido por objeto a imposição de deveres,
encargos, ónus ou sujeições, a aplicação de sanções ou a restrição de direitos ou interesses legalmente
protegidos, a renovação não prejudica a possibilidade da anulação dos efeitos lesivos produzidos durante o
período de tempo que precedeu a substituição do ato.

João Bernardo Silva 63 de 68


Direito Administrativo

• RECURSOS

Como se sabe, o destinatário de um acto administrativo pode estar descontente com o acto
recebido ou porque:

> entende que o acto é inválido, podendo se dirigir: à Administração ou aos Tribunais
> entende que o acto apesar de válido, não é a decisão que mais lhe favorece,
associando-se aos actos discricionários, podendo se dirigir apenas à Administração

- Administração

Quer seja um acto válido ou inválido, o particular pode dirigir-se à Administração, sob duas
hipóteses, podendo:

> apresentar uma reclamação, pedindo ao autor do acto que reaprecie o acto, voltando a
decidir sobre a matéria perante a qual pode anular (169º.3) ou revogar (169º.2).

> apresentar um recurso, dirigindo-se a outro órgão que não o autor do acto.

Antes de os distinguir, de referir apenas que segundo o Artigo 185º.2, em princípio, isto é, caso a
lei nada diga, a reclamação e o recurso são facultativos.
Assim, o particular perante actos inválidos tanto pode primeiro apresentar um recurso ou uma
reclamação na Administração, como pode dirigir-se para o tribunal. Já perante actos válidos que
sejam contrários ao seu interesse, recurso é também facultativo, embora só possa, se assim
pretender, recorrer para a Administração.

Artigo 185º CPA (Natureza e fundamentos)

1 - As reclamações e os recursos são necessários ou facultativos, conforme dependa, ou não, da sua prévia
utilização a possibilidade de acesso aos meios contenciosos de impugnação ou condenação à prática de
ato devido.

2 - As reclamações e os recursos têm caráter facultativo, salvo se a lei os denominar como necessários.

3 - Sempre que a lei não determine o contrário, as reclamações e os recursos de atos administrativos
podem ter por fundamento a ilegalidade ou inconveniência do ato praticado.

> Reclamação

O seu prazo é de 15 dias, começando a ser contado desde o dia seguinte à recepção da
notificação: Artigo 191º.3: “quando a lei não estabeleça prazo diferente, a reclamação deve ser
apresentada no prazo de 15 dias”

Artigo 188º CPA (Início dos prazos de impugnação)

1 - O prazo da reclamação e dos recursos pelos interessados a quem o ato administrativo deva ser
notificado só corre a partir da data da notificação, ainda que o ato tenha sido objeto de publicação
obrigatória.

2 - O prazo da reclamação e dos recursos por quaisquer outros interessados dos atos que não tenham de
ser obrigatoriamente publicados começa a correr do seguinte facto que primeiro se verifique:

a) Notificação; b) Publicação; c) Conhecimento do ato ou da sua execução.

b) 3 - O prazo da reclamação e dos recursos contra a omissão ilegal de ato administrativo conta-se da
data do incumprimento do dever de decisão.
João Bernardo Silva 64 de 68
Direito Administrativo

> Recurso

No antigo CPA previa-se 3 tipos de recurso:

* recurso hierárquico: quando o particular se dirigia ao superior hierárquico

* recurso hierárquico impróprio: com as mesmas regras do recurso hierárquico mas com a
especificidade de se recorrer a um órgão que não era superior hierárquico (ex. delegado ->
delegante ou Presidente da Câmara -> Câmara enquanto órgão colegial)

* recurso tutelar quando se recorria para o órgão de tutela, se existisse e se tivesse tutela
revogatória (ex. Instituto Público -> Ministro)

No novo CPA abandonou-se o recurso hierárquico e dividiu-se os recursos em:

> Recurso Hierárquico - Artigo 193º e ss

Artigo 193º CPA (Regime geral)

1 - Sempre que a lei não exclua tal possibilidade, o recurso hierárquico pode ser utilizado para:

a) Impugnar atos administrativos praticados por órgãos sujeitos aos poderes hierárquicos de outros
órgãos; - percebendo-se que, um ato pratico por um órgão sujeito a uma relação hierárquica, o particular
pode recorrer automaticamente ao superior hierárquico

b) Reagir contra a omissão ilegal de atos administrativos, por parte de órgãos sujeitos aos poderes
hierárquicos de outros órgãos.

2 - Quando a lei não estabeleça prazo diferente, o recurso hierárquico necessário dos atos administrativos
deve ser interposto no prazo de 30 dias e o recurso hierárquico facultativo, no prazo de impugnação
contenciosa do ato em causa.

> Recursos Administrativos especiais - Artigo 199º, aplicando-se nestes, salvo excepções o
regime do recurso hierárquico.

Só existem nos casos previstos na lei, podendo-se recorrer para o Tribunal caso não esteja
previsto qualquer tipo de recurso administrativo.
Distingue-se fundamente quatro tipos de recursos administrativos especiais:

* recurso pelo poder de supervisão - Artigo 199º.a)

No antigo CPA esta alínea justificava-se quando o delegante tem poder de supervisão pelo
delegado, mas ainda assim, ter-de-ia de pertencer à mesma pessoa colectiva.
Ainda assim, na nova redação deste CPA encontra-se dois problemas:

‣ mantém a referência à mesma pessoa colectiva o que não faz sentido pois o poder de
supervisão existe mesmo que não sejam da mesma pessoa colectiva.
‣ o artigo acabou, na verdade esvaziado porque servia, no antigo CPA, para os actos
praticados pelo delegado, permitindo o seu recurso ao delegante, mas agora existe o
numero 2 do 199º que é exclusivo para essa situações.

* recurso para o órgão colegial - Artigo 199º.b)

* recurso tutelar - Artigo 199º.c) conjugada com o 199º.3 e 199º.4

João Bernardo Silva 65 de 68


Direito Administrativo

* recurso para o delegante ou subdelegante dos actos praticados pelo delegado ou subdelegado -
Artigo 199º.2

É supérfluo pois, se não existisse, aplicar-se-ia a alínea a), e, verificando-se também, apenas nos
casos previstos na lei, Tiago Duarte não percebe porque se criou o número 2 em vez de ter
adicionado uma alínea nos casos previstos no numero 1.
Do antigo CPA abandonou-se a expressão da “mesma pessoa colectiva”, mas passou-se a dizer
que esse recurso só existe nos casos previstos na lei.

Artigo 199º CPA (Regime)

1 - Nos casos expressamente previstos na lei, há lugar a recursos administrativos:

a) Para órgão da mesma pessoa coletiva que exerça poderes de supervisão; - ex. B praticou o acto e o
particular quer recorrer do acto de B, tendo A o poder de supervisão sob B, podendo por isso revogar ou
substituir os actos praticados por B

b) Para o órgão colegial, de atos ou omissões de qualquer dos seus membros, comissões ou secções; -
ex. se a lei previr é possível que, a um acto praticado pelo Presidente da câmara se recorra para a Câmara.

c) Para órgão de outra pessoa coletiva que exerça poderes de tutela ou superintendência. - numa relação
de tutela, existe também superintendência, não se percebendo o sentido de falar-se em “poderes de tutela
ou de superintendência”

2 - Sem prejuízo dos recursos previstos no número anterior, pode ainda haver lugar, por expressa
disposição legal, a recurso para o delegante ou subdelegante dos atos praticados pelo delegado ou
subdelegado. - ex. se previsto na lei, a um acto de A, delegado, pode se recorrer para B, delegante.

3 - O recurso tutelar previsto na alínea c) do n.º 1 só pode ter por fundamento a inconveniência ou
inoportunidade do ato ou da omissão nos casos em que a lei estabeleça uma tutela de mérito. - o recurso
para o órgão de outra pessoa colectiva que exerça poderes de tutela ou superintendência só pode
acontecer por fundamento de inconveniência ou inoportunidade do acto se o órgão tiver tutela de mérito.

4 - No recurso tutelar, a modificação ou a substituição do ato recorrido ou omitido só é possível se a lei


conferir poderes de tutela substitutiva e no âmbito destes. - só posso pedir ao órgão de tutela para
substituir esse acto por outro se o órgão tiver tutela substitutiva.

5 - Aos recursos previstos no presente artigo são aplicáveis as disposições reguladoras do recurso
hierárquico, mas, quanto ao recurso tutelar, apenas na parte em que não contrariem a natureza própria
deste e o respeito devido à autonomia da entidade tutelada. - a tudo o que não estiver especificado, aplica-
se o regime do recurso hierárquico.

• Prazos

Faz-se uma distinção no Artigo 193º entre:

‣ recursos hierárquicos necessários: prazo de 30 dias


‣ recursos hierárquicos facultativos: prazo da impugnação contenciosa, isto é, de 3
meses, segundo o Artigo 58º.2.b) do CPTA.

O Artigo 185º.2 diz-nos que os recursos e as reclamações têm caráter facultativo, salvo se a lei os
denomine como necessários.

2 - Quando a lei não estabeleça prazo diferente, o recurso hierárquico necessário dos atos administrativos
deve ser interposto no prazo de 30 dias e o recurso hierárquico facultativo, no prazo de impugnação
contenciosa do ato em causa.
João Bernardo Silva 66 de 68
Direito Administrativo

O recurso é sempre dirigido ao mais elevado superior hierárquico, isto é, aquele que
verdadeiramente decide, salvo a competência para a decisão estar sob uma acto de delegação.

ex. DG praticou um acto A, mas o Ministro delegou ao Secretário de Estado um conjunto de


matérias como a de decidir recursos hierárquicos, devendo o recurso ser divido ao secretário de
Estado por ser o mais elevado superior hierárquico.

Artigo 194º CPA (Imposição)

1 - O recurso é dirigido ao mais elevado superior hierárquico do autor do ato ou da omissão, salvo se a
competência para a decisão se encontrar delegada ou subdelegada.

2 - O requerimento de interposição do recurso é apresentado ao autor do ato ou da omissão ou à


autoridade a quem seja dirigido, que, neste caso, o remete ao primeiro, no prazo de três dias. - o
requerimento pode ser entregue ao mais alto superior hierárquico que remete ao autor do acto ou
directamente ao próprio autor do acto. Tiago Duarte entende que se deve apresentar ao autor do acto
porque a primeira etapa é feita por este, assim, se o apresentasse ao mais alto superior hierárquico perder-
se-ia até 3 dias, pois este teria de remeter ao autor do acto.

Artigo 195º CPA (Tramitação)

1 - Recebido o requerimento, o autor do ato ou da omissão deve notificar aqueles que possam ser
prejudicados pela sua procedência para alegarem, no prazo de 15 dias, o que tiverem por conveniente
sobre o pedido e os seus fundamentos. - quem praticou o acto tem a oportunidade de se defender da
decisão tomada que foi a recurso

2 - No mesmo prazo referido no número anterior, ou no prazo de 30 dias, quando houver


contrainteressados, deve o autor do ato ou da omissão pronunciar-se sobre o recurso e remetê-lo ao
órgão competente para dele conhecer, notificando o recorrente da remessa do processo administrativo.

3 - Quando os contrainteressados não hajam deduzido oposição e os elementos constantes do processo


demonstrem suficientemente a procedência do recurso, pode o autor do ato recorrido revogar, anular,
modificar ou substituir o ato, informando da sua decisão o órgão competente para conhecer do recurso. - o
próprio autor do acto pode poupar o trabalho ao superior hierárquico, modificando, revogando, anulado ou
substituindo o acto.

4 - Para efeitos do disposto no número anterior, o autor do ato recorrido não pode modificar ou substituir o
ato recorrido em sentido menos favorável ao recorrente.

5 - O órgão responsável pelo incumprimento do dever de decisão pode praticar o ato ilegalmente omitido
na pendência do recurso hierárquico, disso dando conhecimento ao órgão competente para conhecer do
recurso e notificando o recorrente e os contrainteressados que hajam deduzido oposição.

6 - Na hipótese prevista no número anterior, o recorrente ou os contrainteressados podem requerer que o


recurso prossiga contra o ato praticado, com a faculdade de alegação de novos fundamentos e da junção
dos elementos probatórios que considerem pertinentes.

7 - O requerimento a que se refere o número anterior deve ser apresentado dentro do prazo previsto para a
interposição de recurso hierárquico contra o ato praticado.

• Decisão do Recurso

Em geral, o órgão com competência para decidir o recurso ou confirma a decisão ou modifica-a,
revoga-a ou substitui-lhe.

João Bernardo Silva 67 de 68


Direito Administrativo

Artigo 197º CPA (Decisão)

1 - O órgão competente para conhecer do recurso pode, salvas as exceções previstas na lei, confirmar ou
anular o ato recorrido e, se a competência do autor do ato recorrido não for exclusiva, pode também
revogá-lo, modificá-lo ou substituí-lo, ainda que em sentido desfavorável ao recorrente.

2 - O órgão competente para conhecer do recurso não fica obrigado à proposta de pronúncia do autor do
ato ou da omissão, e deve respeitar, na fundamentação da decisão que venha a tomar, quando não opte
por aquela proposta, os requisitos previstos no artigo 153.º

3 - O órgão competente para decidir o recurso pode, se for caso disso, anular, no todo ou em parte, o
procedimento administrativo e determinar a realização de nova instrução ou de diligências
complementares.

4 - No caso de ter havido incumprimento do dever de decisão, o órgão competente para decidir o recurso
pode substituir-se ao órgão omisso na prática desse ato, se a competência não for exclusiva deste, ou
ordenar a prática do ato ilegalmente omitido.

Devendo a decisão sobre o recurso ser feita no prazo de 30 dias, começando este a ser contado
deste a chegada do recurso ao órgão competente

Artigo 198º CPA (Prazo para a decisão)

1 - Quando a lei não fixe prazo diferente, o recurso hierárquico deve ser decidido no prazo de 30 dias, a
contar da data da remessa do processo ao órgão competente para dele conhecer.

2 - O prazo referido no número anterior é elevado até ao máximo de 90 dias, quando haja lugar à realização
de nova instrução ou de diligências complementares.

3 - No âmbito do recurso hierárquico necessário, o superior hierárquico deve apreciar todas as questões
suscitadas pelo recorrente, excetuadas aquelas cuja decisão esteja prejudicada pela solução dada a outras.

4 - O indeferimento do recurso hierárquico necessário ou o decurso dos prazos referidos nos n.os 1 e 2,
sem que haja sido tomada uma decisão, conferem ao interessado a possibilidade de impugnar
contenciosamente o ato do órgão subalterno ou de fazer valer o seu direito ao cumprimento, por aquele
órgão, do dever de decisão.

Resta acrescentar que, quando os particulares recorrem para a Administração, o prazo para que
estes recorram ao Tribunal fica suspenso até que a Administração o decida. Assim, caso a
Administração decida desfavoravelmente ao particular o prazo para que este possa recorrer ao
tribunal volta a contar.
No entanto, caso a Administração decida o recurso ou quando tenham passado 30 dias úteis sem
que se tenha tido decisão esse prazo é descongelado, segundo o Artigo 59º.4 do CPTA.
Tiago Duarte entende que, caso a Administração tenha entendido prolongar o prazo da decisão, o
prazo suspende-se durante esse prolongamento, pois o artigo 59º.4 do CPTA estabelece o prazo
legal e não os 30 dias

Artigo 59º CPTA (Prazos)

4 - A utilização de meios de impugnação administrativa suspende o prazo de impugnação contenciosa do


acto administrativo, que só retoma o seu curso com a notificação da decisão proferida sobre a impugnação
administrativa ou com o decurso do respectivo prazo legal.

Conceitos recorrentes: desvio de poder, poder de tutela / direcção, entidade pública empresarial,
principio de preferência de lei, desconcentração de poderes, sanação do ato administrativo

João Bernardo Silva 68 de 68

Você também pode gostar