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7.

INFRAESTRUTURA SOCIAL E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DE LONGO PRAZO

7.1 Introdução

 Por que alguns países investem muito em capital e em capacitação dos trabalhadores (e,
por isso, são mais desenvolvidos) e outros não (e, por isso, são menos desenvolvidos)?
 Países geograficamente (clima, terras, dotação de recursos naturais etc.) e culturalmente
parecidos podem apresentar níveis de desenvolvimento muito diferentes.
 Por exemplo: Coréia do Sul e Coréia do Norte; e, anteriormente, Alemanha Oriental e
Alemanha Ocidental. Por quê?
 Pode-se responder dizendo o seguinte: a qualidade das instituições e as políticas adotadas
afetam os investimentos e as atividades inovadoras.
 Quais são, então, as instituições que afetam o crescimento e o desenvolvimento
econômico? Isso será tratado na presente apostila.

7.2 Investimento Empresarial

 Como um administrador ou CEO de uma multinacional decide abrir uma subsidiária em um


país (realização de um investimento direto estrangeiro, por exemplo)?
 Uma possibilidade é uma análise de custo-benefício: (i) caso benefícios ≥ custos →
investimento são realizados; e (ii) caso benefícios < custos → investimento não são
realizados.
 O investidor deverá analisar as licenças necessárias, locais e estrangeiras; a cadeia de
suprimento; os distribuidores do bem ou serviço etc. para tomar a sua decisão.
 • Implantação (ou início) de um negócio: (i) custo de instalação: F; e (ii) valor presente
descontado dos lucros futuros (o valor da firma): π.
 Generalizando, π pode ser considerado como o valor da subsidiária. Então, a decisão de
investimento torna-se (lucro esperado versus custo do investimento):

π ≥ F → investe π < F → não investe

Reescrevendo:
 Caso o valor gerado pela subsidiária, após o seu estabelecimento, for superior ao custo de
instalação, o projeto deve ser empreendido; e
 Caso contrário, o projeto não deve ser empreendido.

 A mesma análise poderia ser utilizada para:


(i) determinação de investimentos locais;
(ii) transferências tecnológicas;
(iii) acumulação de qualificação (capital humano) etc.

A decisão de fazer um “MBA em Direito e Regulação do Setor Elétrico”, incluindo o tempo


gasto no curso (custo de oportunidade) e os recursos despendidos (valor monetário do
curso), depende do ganho remuneratório futuro derivado exatamente da realização do
curso!

 Há variabilidade em “F” e em “π” entre os países → variação nos investimentos, nos


resultados educacionais e na produtividade dos fatores.
 Há diferenças consideráveis entre os países em relação ao custo do empreendimento de
negócios, bem como na capacidade de obter retornos desses investimentos.
 A variação em F e em π entre os países decorrem de diferenças nas políticas públicas e/ou
governamentais, inclusive na política econômica, e nas instituições:

INFRAESTRUTURA SOCIAL

 Caso o governo oferte instituições e infraestrutura social que minimizem F e maximizem π


→ incentivo aos investimentos. OU
 Máx. π – F → investimentos.

7.3 Determinantes do Custo de Instalação (F)

 Lembrando: F é o custo da instalação de uma empresa ou subsidiária.


 A instalação de um negócio ou atividade produtiva exige diversos passos, muitos dos quais
com interação com o governo: vistorias, autorizações, alvarás etc.
 Esta intensa interação com o governo abre espaço para a corrupção, suborno, rente-
seeking etc.
 Mesmo que não haja problemas de ordem policial com representantes do governo, pode
haver o custo de taxas, emolumentos, contribuições, impostos, dentre outros, adicionais.
 O tomador de decisão relativo à instalação do negócio ou realização dos investimentos
deve considerar estes custos adicionais (propina, suborno etc.) → sunk costs, que são
custos irrecuperáveis ou custos afundados (não podem ser recuperados).
 Caso estes custos adicionais sejam muito elevados, comprometendo os lucros (π), o
investimento não deve ser realizado.
 Em economias desenvolvidas, os custos adicionais ou sunk costs são baixos → ambiente de
negócios favorável.
 Por outro lado, em economias em desenvolvimento e economias subdesenvolvidas os
custos adicionais tendem a ser elevados → impedimento ao investimento direto
estrangeiro e mesmo ao empreendedorismo local.
 Mas o que causa os custos adicionais? Governos fracos e a falta de instituições.

Observação 01: ver “doing business” do Banco Mundial.


Observação 02: um governo grande não é sinônimo de governo forte. Pelo contrário, um
governo grande expõe suas fraquezas por causa de seu excesso de burocracia e pela
corrupção, rente-seeking, suborno etc. derivados.

7.4 Determinantes dos Lucros (π)

 Tão relevante quanto os custos de instalação (F) são os retornos esperados dos
investimentos (π).
 Determinantes da rentabilidade:
(i) o tamanho do mercado;
(ii) a medida em que a economia favorece a produção ao invés do desvio (despesas
improdutivas de recursos com burocracia, rent-seeking, licenças etc.); e
(iii) estabilidade do ambiente de negócios.
(i) tamanho do mercado: um mercado deve ser suficientemente grande para compensar os
custos de instalação do negócio, inclusive os custos de desenvolvimento de bens e
serviços.

• O tamanho do mercado se associa às economias de escala → necessidade de diluição dos


custos fixos.

• Economias de Escala: redução do custo médio de produto (CMe) à medida que a


produção aumenta → diluição dos custos fixos:

onde CT é o custo total; CF é o custo fixo; CV é o custo variável; q é a quantidade produzida;


CMe é o custo médio; e CVME é o custo variável médio.

 Outro fator importante em relação ao tamanho do mercado é o comércio internacional.


 Quanto maior o grau de abertura de uma economia maior será o seu comércio
internacional e, dessa forma, o tamanho do mercado e a diluição dos custos fixos → mais
prováveis os investimentos.

Atendimento da Economia Local + Internacional > Atendimento da Economia Local



MAIOR MERCADO

(ii) produção ou desvio: a economia incentiva a produção, a distribuição e o comércio ou,


por outro lado, favorece o roubo, a corrupção, o rent-seeking, a reserva de mercado etc.?
 Se o ambiente favorece o roubo, a corrupção etc., as instituições desta economia estão
favorecendo os desvios ao invés da produção.
 O desvio aloca recursos improdutivamente (discussões judiciais, discussões
administrativas, lobby ou, simplesmente, o pagamento de subornos e propinas) → diminui
a produção, desestimula os investimentos e concentra renda.
 Primeiro efeito do “desvio” (diversion): ele funciona como um tributo → uma parcela da
receita ou do lucro é retirada do empreendedor, diminuindo, dessa forma, a taxa de
retorno do investimento.
 Nesse primeiro “desvio”, recursos podem ser alocados justamente para o pagamento de
subornos, propina, rent-seeking etc → corresponde uma alocação ineficiente de recursos
porque não está associada à atividade produtiva.
 Segundo efeito do desvio (diversion): ele incentiva o empreendedor a “investir” recursos
em mecanismos que evitem o desvio (áreas de controles, compliance, auditoria interna e
externa etc.).
 Produção/Distribuição/Comercialização ou desvio? Depende da atuação do governo e das
instituições do país:

Tributação excessiva ou abusiva e complexa, excesso de burocracia, responsabilidade


competitivas dentro do governo etc. → favorecimento de desvios, e seus efeitos adversos,
ao invés da produção.

(iii) estabilidade do ambiente econômico: uma economia onde as regras, regulamentos e


instituições modificam com frequência aumenta o risco para os investidores: Criação de
uma sensação de insegurança jurídica, risco político, risco regulatório etc. → desestímulo
aos investimentos.

 Conclusões:
(i) sociedades que apresentam uma frágil infraestrutura social (governo fraco,
instituições deficientes e instabilidade política, econômica e social) propiciam o
desvio ao invés da produção.
(ii) sociedades (economias) com frágil infraestrutura social terão menores
investimentos em capital físico, menores investimentos estrangeiros (que
poderiam promover a transferência de tecnologia), menor acumulação de capital
humano, menos investimentos no desenvolvimento de novas ideias e inovações →
menor crescimento e desenvolvimento econômico.

7.5 Evidências Empíricas

 A atração de investimentos (capital, transferência de tecnologia, capital humano etc.)


ocorrerá mais acentuadamente se as seguintes condições forem satisfeitas:
(i) as instituições e as leis favorecem a produção ao invés do desvio;
(ii) a economia é aberta ao comércio internacional e à concorrência global;
(iii) as instituições econômicas e políticas são estáveis.

 Uma boa infraestrutura social (governo forte e instituições sólidas) incentivam o


investimento doméstico e estrangeiro, além de estimular as inovações ao mesmo tempo
em que coíbe os desvios.
 Em um bom ambiente econômico indivíduos procuram melhores meios para criar,
produzir ou transportar seus bens ao invés de usar o tempo na captura de rendas do
sistema econômico.
 Estas afirmações precisam ser validadas por evidências empíricas.
 O Banco Mundial, por meio de Daniel Kaufmann, Aart Kraay e Massimo Mastruzzi (2010),
elaborou o Governance Indicators Project, que traz uma série de índices relacionados com:

 prestação de contas por parte dos políticos e sua responsabilização;


 estabilidade política;
 eficácia do governo;
 qualidade das regulamentações;
 medidas de implementação do estado de direito;
 controle da corrupção.

A partir desses indicadores e variáveis constrói-se o “índice de infraestrutura social”.

 O Índice de infraestrutura social varia entre “0” e “1”, sendo “1” o máximo de
infraestrutura social.
 Passo seguinte: demonstrar que uma elevada infraestrutura social causa maiores taxas de
investimento e melhorias nos resultados econômicos.
 Inferências:
(i) maior índice de infraestrutura social, maiores taxas de investimento em capital
físico e capital humano.
Explicação: países com elevada infraestrutura social proporcionam retornos
adequados para os investimentos; com isso, empresas, firmas e trabalhadores
investem fortemente em capital físico e qualificação.
(ii) maior infraestrutura social resulta em uma melhor alocação de recursos e, dessa
forma, em uma maior produtividade total dos fatores de produção.

• QUESTÃO:

Economias com os mesmos níveis de estoque de capital (K), de mão-de-obra (L) e de capital
humano (h) podem gerar diferentes níveis de produto ou de renda (Y)! Por quê????

Diferenças no ambiente econômico, político ou social (estabilidade ou instabilidade), bem


como diferenças nas instituições!!!

7.6. Alocação (Ineficiente) de Recursos e Produtividade

 Quanto maior a infraestrutura social, melhor a alocação de recursos na economia.


 Caso contrário, quanto pior ou menor a infraestrutura social, pior a alocação de recursos
na economia.
Recursos serão despendidos improdutivamente na obtenção de vantagens
governamentais (subsídios, desonerações tributárias, crédito favorecido, proteção
tarifária, barreiras não tarifárias etc.), o que não se transforma em produção!

 Há o emprego de grande quantidade de recursos (capital, trabalho etc.) em empresas


pouco produtivas, de baixo retorno.
 Existência de diferenças entre as empresas → redução da produtividade total dos fatores
de produção (PTF) → diminuição das taxas de crescimento econômico.
 Uma baixa infraestrutura social permite que as empresas menos eficientes, em
decorrência de favores governamentais, continuem operando ao invés de este capital se
deslocar para as empresas mais eficientes → haveria uma maior produtividade do capital.
 Esta realocação de recursos das firmas ou empresas menos eficientes para as mais
eficientes aumentaria a produtividade dos fatores de produção e, consequentemente, o
produto agregado da economia → aumento da produtividade da economia. O que
permitiria esta realocação de recursos? Infraestrutura social!
(i) concorrência;
(ii) marcos regulatórios adequados e estáveis;
(iii) políticas horizontais (ao invés de verticais onde os setores favorecidos são
escolhidos);
(iv) melhor sistema tributário;
(v) abertura da economia ao comércio e ao capital estrangeiro etc.

 Diferenças entre os países (taxas de crescimento, renda per capita etc.) não residem
apenas no acesso à tecnologia, mas também no grau de eficiência na alocação de recursos.
 Infraestrutura social importa se os recursos movem em direção às melhores firmas ou se
eles são mantidos nas menos produtivas.
 Políticas públicas que subsidiem empresas ineficientes ou de baixa produtividade, que
limitem a mobilidade dos fatores de produção (capital e trabalho, dentre outros) etc.
resultam em má alocação de recursos e em diminuição da produtividade total dos fatores
de produção (PTF) → menor crescimento e desenvolvimento econômico.

Menores subsídios, menores desonerações tributárias setoriais, maior mobilidade dos


fatores de produção etc. → melhor alocação de recursos e aumento da PTF → maior
crescimento e desenvolvimento econômico.

7. 7 Milagres e Desastres do Crescimento

 Políticas governamentais e instituições constituem a infraestrutura social.


 A infraestrutura social determina o investimento e a produtividade e, dessa forma, a
riqueza das nações.
 Modificações na infraestrutura social podem gerar tanto milagres quanto desastres do
crescimento.
 Dois exemplos: o Japão do pós-Guerra, milagre do crescimento; e a Argentina dos séculos
XX e XXI, desastre do crescimento, em parte atribuído ao peronismo.
 No entanto, nas últimas décadas (a partir dos anos 1960, por exemplo) há mais exemplos
de milagres do que de desastres do crescimento → a distribuição de renda ao longo do
tempo vem melhorando.
 Possível explicação: a sociedade está descobrindo as instituições e as políticas propícias a
um melhor desenvolvimento econômico.

Mas a melhoria na distribuição de renda mundial é lenta!!!

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