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Capítulo 3

Oferta, Procura e Governo


Índice
3.1 Controlo de preços
3.1.1 Preços máximos
3.1.2 Preços mínimos
3.2 Quotas de produção
3.3 Impostos e subsídios
3.4 Aplicações
Bibliografia
• Mankiw e Taylor (2011), capítulo 6.
1
3.1 Controlo de preços

Os governos tomam medidas de controle de preços, de estabelecimento de quotas de


produção ou de impostos e subsídios por razões de vária ordem, económica, social e
política.

3.1.1 Preços máximos

Preço máximo: é um preço fixado administrativamente, pelo governo ou outra instituição


pública, como limite superior dos preços de transação no mercado.
Pode aplicar-se a mercados de bens ou de fatores de produção.
P

Pe

PMax
D

QSMax Qe QD Max Q

Excesso de procura
Figura 3.1 Fixação de um preço máximo num mercado
2
3.1.1 Preços máximos

Com a fixação de um preço máximo, ficam legalmente proibidas transações em que o


preço é superior ao preço máximo decretado administrativamente.
Esta medida só terá efeito se o preço for fixado abaixo do preço de equilíbrio de mercado.
Caso contrário, se o preço máximo fosse superior ao preço de equilíbrio, a medida de
política não teria qualquer efeito, visto que o mercado tenderia para o ponto de equilíbrio.

Com a fixação administrativa de um preço máximo, este será o preço que tenderá a
vigorar no mercado uma vez que a medida governamental não permite a atuação das
forças de mercado na convergência para o preço de equilíbrio; com efeito, a tendência de
ajustamento num mercado concorrencial seria para a subida do preço até ao nível de
equilíbrio.

A um preço de mercado igual ao preço máximo, a quantidade transacionada no mercado


será a quantidade oferecida àquele preço e verifica-se um excesso de procura. Neste
caso, alguns consumidores não conseguem adquirir o bem.

Como é que a quantidade oferecida é distribuída entre os consumidores que estão


dispostos a adquirir o bem quando o preço de mercado é igual ao preço máximo?

Havendo um excesso de procura resultante da fixação do preço máximo, vão surgir


incentivos para o surgimento de outro(s) mecanismo(s) de racionamento do bem: filas de
espera, discriminação ou favoritismo, mercado subterrâneo.
3
3.1.1 Preços máximos

Note-se que, se o mercado fosse livre, o bem seria racionado através do preço. Sem a
fixação do preço máximo, o preço de mercado seria igual ao preço de equilíbrio e a
quantidade oferecida seria igual à quantidade procurada. Neste caso, todos os
consumidores que estão dispostos a comprar o bem a esse preço conseguiriam adquirir o
bem e todos os produtores que desejam vender conseguiriam vender.

Exemplo 3.1: Controlo das rendas de habitação.

O objetivo do controlo das rendas de habitação é proteger o atual consumidor/inquilino,


garantindo que a renda de habitação contratada não ultrapassa um dado limite superior.
A análise dos efeitos económicos da fixação de uma renda máxima requer a distinção
entre os efeitos no curto prazo e os efeitos no longo prazo.
Considere-se as figuras 3.2 (a) e 3.2 (b), em que P = renda de habitação e
Q = número de habitações para arrendar numa dada cidade.
No curto prazo, por definição, não consideramos as decisões de construção de novas
habitações nem de reafetação das habitações a outros fins, que requerem um tempo
significativo para se concretizarem. Por outro lado, quer a lei quer os contratos de
arrendamento podem estabelecer desfasamentos temporais significativos para a
cessação do contrato. Assim sendo, no curto prazo as disposições à oferta e à procura
são relativamente inelásticas em relação à renda (ver Figura 3.2(a)).

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3.1.1 Preços máximos

Efeitos de uma renda controlada no curto prazo Efeitos de uma renda controlada no longo prazo

S
P P
S

Pe Pe

PMax PMax
D
Excesso de procura
Excesso de procura D

Qs Qe QD Max
Quantidade
Qs Max Qe QD Max
Quantidade
Max de
de
habitações habitações
para para
arrendar arrendar

Figura 3.2 (a) Figura 3.2 (b)

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3.1.1 Preços máximos

A Figura 3.2 (a) ilustra os efeitos da fixação de uma renda máxima no curto prazo no
mercado de arrendamento:

i. Dado que a quantidade oferecida é inferior à quantidade procurada à renda máxima


fixada pelo governo, alguns consumidores não conseguem alugar uma habitação a
essa renda. Excesso da procura significa falta de habitações para arrendar. Contudo,
a falta de habitações para arrendar é reduzida no curto prazo porque a oferta e a
procura são bastante inelásticas em relação à renda no curto prazo.
ii. Os efeitos no curto prazo são a redução da renda e uma redução da quantidade
oferecida.

Admitindo agora um horizonte temporal mais longo em que há a possibilidade de


construção e de remodelação de habitações para oferta no mercado de arrendamento, e
a possibilidade de cessar contratos e reafetar as habitações existentes a outras
utilizações. Assim, no longo prazo a oferta e a procura de habitações são mais elásticas
em relação à renda (ver Figura 3.2(b)).

Efeitos económicos no longo prazo:


a) A fixação de uma renda máxima, abaixo da renda de equilíbrio, implica que a
quantidade oferecida de habitações para alugar diminui e a quantidade procurada
aumenta substancialmente. O excesso da procura é maior no longo prazo que no
curto prazo.
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3.1.1 Preços máximos

b) Relativamente à situação de funcionamento livre de mercado, esta medida vai dar


origem a:

b.1) Uma redução no número de habitações disponíveis para arrendamento no montante de


(Qe – QsMax). De notar que uma parte desse segmento de disposições à oferta poderá
não ser efetivamente revelado no mercado de arrendamento; algumas habitações
poderão não ser oferecidas no mercado de habitação e serem convertidas em
escritórios, escapando, assim, ao controlo das rendas de casa para habitação.
b.2) Quando a quantidade oferecida é igual a QsMax, há um número significativo de
potenciais inquilinos que estão dispostos a pagar uma renda superior. Esta pressão
encontra geralmente um modo, legal ou ilegal, de se expressar. Por exemplo, habitações
que são alugadas a uma renda superior à renda máxima mas cujos contratos são
efetuados fora do quadro legal (mercado subterrâneo).

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3.1.1 Preços máximos

c) Deterioração dos edifícios e das habitações devido a menores gastos na manutenção.


Os proprietários, tal como qualquer agente económico, reagem a incentivos. Num mercado
livre, os proprietários procuram manter um certo nível de qualidade dos edifícios com o
objetivo de obter uma certa renda. Com o controlo das rendas, esse incentivo deixa de
existir. Os senhorios gastam menos na manutenção da qualidade dos edifícios e das
habitações.

d) Sérios entraves a uma reafetação eficiente das habitações no mercado.


Por exemplo, suponhamos o caso de uma senhora idosa que permanece numa habitação
com sete quartos, apesar de os filhos já terem saído de casa. Esta é para ela uma situação
muito mais barata do que outras habitações alternativas, possivelmente mais adequadas e
que a senhora preferiria, caso o diferencial de rendas não fosse tão grande. Na ausência
desta distorção ao mecanismo de preços, esta reafetação teria condições para acontecer
e, nessa situação, quer esta senhora quer outros potenciais inquilinos poderiam ficar
melhor caso ela arrendasse uma outra habitação e esta habitação ficasse disponível no
mercado de arrendamento. Mas, havendo uma lei de controlo de rendas, geralmente não
vai existir incentivo económico para que a realização desta reafetação de recursos possa
ter lugar através de decisões livres no mercado.

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3.1.1 Preços máximos

Finalmente, em termos gerais, a imposição de um preço máximo tem os seguintes


efeitos:

1. Excesso de procura.
O processo de distribuição do bem deixa de ser feito pelo mecanismo do preço e passa a
ser feito de outra forma.
Por exemplo, as filas de espera são uma forma de racionamento do bem.

2. Mercado informal / mercado subterrâneo.


Incentivos ao surgimento de transações no mercado subterrâneo: alguns indivíduos no
mercado estarão dispostos a realizar contratos ilegais e há consumidores dispostos a
pagar um preço superior ao preço máximo.

3. Menor qualidade do bem.

4. Afetação ineficiente dos recursos.

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3.1.2 Preços mínimos

3.1.2 Preços mínimos

Preço mínimo: é um preço fixado administrativamente, pelo governo ou outra instituição


pública, como limite inferior dos preços de transação no mercado.

Pode aplicar-se a mercados de bens ou de fatores de produção.

Uma medida desta natureza só terá efeito se o preço for fixado acima do preço de
equilíbrio; caso contrário, se o preço mínimo fosse inferior ao preço de equilíbrio, a medida
de política não teria qualquer efeito, visto que o mercado tenderia para o ponto de
equilíbrio. P

A B
PMin S
E
Pe

D
QDMin Qe QSMin Q

Excesso de oferta
Figura 3.3 Fixação de um preço mínimo num mercado
10
3.1.2 Preços mínimos

Com um preço mínimo, este será o preço que tenderá a vigorar no mercado uma vez que
a medida governamental não permite a atuação das forças de mercado na geração de um
equilíbrio; com efeito, a tendência de ajustamento num mercado concorrencial seria para a
descida do preço até ao nível de equilíbrio.

A um preço de mercado igual ao preço mínimo, a quantidade transacionada no mercado


será a quantidade procurada àquele preço e verifica-se um excesso de oferta. Alguns
vendedores que estariam dispostos a vender o bem ao preço mínimo não conseguem
fazê-lo.

O ponto E seria o ponto de equilíbrio se não existisse um preço mínimo. A fixação de um


preço mínimo igual a PMin , superior ao preço de equilíbrio, gera um excesso de oferta
igual à distância AB.

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3.1.2 Preços mínimos

Exemplo 3.2: Fixação de um preço mínimo de transação de um bem.

A fixação de um preço mínimo é muito frequente no caso de produtos agrícolas.


O objetivo desta política é proteger a receita da produção e o rendimento dos
agricultores.

Questão: Quais as consequências económicas da imposição de um preço mínimo?

A imposição de um preço mínimo resulta num excesso de oferta.

A existência de um excesso de oferta/excesso de produção levanta vários problemas.


Em particular, caso se trate de um bem não perecível coloca-se o problema da
acumulação de stocks.
O governo pode comprar e armazenar esse excesso. Contudo, o que irá o governo fazer
com esse stock de mercadoria? Se o excesso persistir de período para período, o
governo poderá considerar destruir o stock ou lançá-lo no mercado. Se for destruído, é
óbvio que o país desperdiçou recursos escassos na produção desse bem, a custo dos
contribuintes. Se o governo lançar no mercado esse excesso, isso irá implicar uma
diminuição do preço, o que vai contra o próprio objetivo da medida governamental.
Uma saída encontrada em vários países é favorecer a exportação do bem, ou mesmo
fazer donativos internacionais do bem.

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3.1.2 Preços mínimos

Para evitar os problemas com a acumulação de excedentes de certos produtos agrícolas


ou pecuários, os governos criam mecanismos administrativos com vista a restringir a
oferta, seja limites de quantidade oferecida no mercado por cada produtor, seja limites de
capacidade produtiva desses mesmos produtores.

Uma forma de limitar a área afeta à produção de um bem agrícola consiste em


estabelecer direitos de produção baseados na área afeta a essa cultura, cada agricultor
podendo utilizar apenas uma fração da área da sua exploração agrícola na produção do
bem.

Vamos supor que a restrição da área agrícola desloca a curva da oferta para a esquerda.
Note-se que haverá uma grandeza dessa deslocação que permite que o preço mínimo
não tenda a gerar excesso de oferta no mercado. Mas esta medida gera também
ineficiência económica, como vamos ver no capítulo 4.

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3.1.2 Preços mínimos

Exemplo 3.3: Fixação de um salário mínimo no mercado de trabalho.

Um exemplo importante de decisão governamental de preço mínimo é o salário mínimo.

Numa economia, não há um único mercado de trabalho, mas vários mercados de trabalho
para diferentes tipos de trabalhadores, nomeadamente trabalhadores qualificados e
trabalhadores não qualificados. No caso do mercado de trabalho qualificado, a imposição
do salário mínimo não terá qualquer efeito, visto que o salário mínimo legalmente
estabelecido é, em geral, inferior ao salário de equilíbrio nesse segmento do mercado de
trabalho.
Considere-se o segmento do mercado de trabalho não qualificado, em que:
- P é o salário/mês e
- Q é a quantidade de trabalho não qualificado/mês.
No mercado de trabalho, a oferta de trabalho é determinada pelos trabalhadores e a
procura deste fator é determinada pelos empregadores. Na ausência da imposição de um
salário mínimo, o salário de equilíbrio seria Pe e a quantidade seria Qe .

Tendo em atenção a Figura 3.3, suponha que é fixado um salário mínimo igual a PMin .
Para o salário mínimo PMin, a quantidade procurada de trabalho é QDMin e a quantidade
oferecida é QSMIn.

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3.1.2 Preços mínimos

A imposição do salário mínimo ao nível PMin:


- reduz a quantidade procurada de trabalho no mercado no montante de (Qe - QDMin) , e
- gera um excesso de oferta de trabalho no montante de (QSMin - QDMin).

Excesso de oferta de trabalho significa que o mercado de trabalho está em desequilíbrio,


dado que há trabalhadores que desejariam trabalhar a salários inferiores ao salário
mínimo e não conseguem encontrar emprego. Ou seja, um excesso de oferta do fator
trabalho no mercado significa que há um recurso que está disposto a ser empregue
durante um certo período de tempo a um salário abaixo do vigente e que não encontra
procura.

Tomando por referência a figura 3.3, a fixação de um salário mínimo ao nível PMin tem as
seguintes consequências no mercado de trabalho, relativamente à situação de livre
concorrência:
a quantidade procurada de trabalho é igual a QDMin ,
o emprego, i.e., o número de postos de trabalho preenchidos, diminui num montante
igual a (Qe – QDMin) ,
há um conjunto de trabalhadores dispostos a oferecer trabalho a um salário inferior
ao salário mínimo (QSMin - Qe) .

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3.1.2 Preços mínimos

É de prever que a imposição de um salário mínimo gere desemprego para alguns


trabalhadores, no segmento do mercado de trabalho não qualificado.

A imposição de um salário mínimo dá origem a uma redução do emprego, pelo que se


perde a quantidade de bens que poderia ser obtida e consumida com a utilização
produtiva desse fator, comparativamente ao equilíbrio de mercado.

Notas para reflexão:


(a) O excesso de oferta de trabalho resultante da fixação do salário mínimo pode ser
decomposto em duas partes, qualitativamente distintas:
(Qe – QDMin) : quantidade do fator trabalho que seria transacionada adicionalmente
no mercado caso não houvesse salário mínimo, i.e., perda de emprego
(QSMin – Qe) : quantidade do fator trabalho que não estaria disposta a oferecer os
seus serviços ao salário de equilíbrio.
(b) Tratando-se da análise do mercado dos serviços do fator trabalho com referência a um
certo período de tempo (por ex., mercado de trabalho em Portugal no ano de 2007), esta
redução do emprego significa uma perda definitiva de bem estar no período de análise do
mercado (diferentemente do que vimos a propósito do caso do bem agrícola armazenável,
em que o stock poderia eventualmente vir a ser transacionado em data futura).
16
3.1.2 Preços mínimos

Finalmente, em termos gerais, o estabelecimento de um preço mínimo gera os seguintes


efeitos:

1. Excesso de oferta.

2. Afetação ineficiente dos recursos.

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3.2 Quotas de produção

3.2 Quotas de produção


Quota de produção de um bem, fixada administrativamente pelo governo, pode tomar as
seguintes formas:
(i) Fixação de uma quantidade máxima do bem que pode ser oferecida no mercado, sendo
que existe um modo de repartição dessa quota total pelos produtores; i.e., o mecanismo
consiste na fixação de uma quota total, da sua repartição entre os produtores e pode
permitir, ou não, a utilização de formas de troca de direitos de produção entre os
produtores ou, em certos casos, comerciantes autorizados.

(ii) Limitação da quantidade total oferecida num dado mercado, por via indireta:
- por um número máximo autorizado de produtores/vendedores,
- numa área máxima de cultivo (e.g., agricultura) ou
- num número máximo de dias de exploração do recurso (e.g., pesqueiro, cinegético).

Exemplos:
(i) - bens agrícolas e pecuários, como no caso da Política Agrícola Comum da União Europeia,
- quanto aos direitos de captura de sardinha e bacalhau, é estabelecido um máximo e são
estabelecidas quotas às frotas pesqueiras de cada um dos países membros da União Europeia;
estas quotas são negociadas e, depois de aprovadas e impostas pelo Conselho Europeu, são
administradas pela Comissão Europeia e pelos governos nacionais.
(ii) - atribuição de alvarás de táxi (licença transacionável) e fixação de um número máximo de
alvarás numa cidade.
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3.2 Quotas de produção

Se um governo deseja que, no mercado de um bem, vigore um preço superior ao preço de


equilíbrio sem intervenção, pode recorrer a uma quota de produção para restringir a
quantidade oferecida desse bem pelos produtores e, desta forma, tornar aquele preço um
preço sustentável no mercado.

Historicamente, têm sido estabelecidas quotas de produção nos mercados agrícolas, que
se traduzem em:
- quantidades máximas que cada agricultor pode produzir e vender de um dado bem (e.g.,
quotas de produção leiteiras estabelecidas no passado pela UE à produção de leite nos
Açores) ou
- em limites máximos à área cultivada.

O objetivo principal da introdução de quotas de produção de bens agrícolas é proteger ou


aumentar as receitas da produção e o rendimento dos agricultores.

Nota: De lembrar que a fixação de preços garantidos à produção agrícola pode gerar, de
per si, excesso de oferta. Um modo de contrariar este efeito é conjugar a administração de
preços com um mecanismo de administração da produção quantitativo, por ex., quotas.

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3.2 Quotas de produção

P
S

E1 Figura 3.4 Fixação de uma quota


Pe E0 de produção num mercado.

QT Qe Q

Como ilustra a figura 3.4, a introdução de uma quota de produção estabelece uma
restrição à quantidade (legalmente) transacionada no mercado ao nível QT .
A diminuição da oferta torna sustentável um preço de mercado superior ao preço de
equilíbrio sem intervenção. Com efeito, quando o preço no mercado está ao nível do
preço ao qual a curva da procura interseta a restrição estabelecida pela quota máxima
fixada administrativamente, a quantidade que os consumidores desejam comprar é igual à
quantidade que os produtores podem produzir e vender.
Em conclusão, a esse novo preço de equilíbrio, a quantidade legalmente transacionada no
mercado (QT ), é igual à quota de produção, i.e., QT = Quota.

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3.2 Quotas de produção

Consequências da imposição de uma quota de produção em mercados que satisfazem


as leis da procura e da oferta:

1. A quantidade transacionada será menor do que a quantidade de equilíbrio. A fixação de


uma quota de produção num dado mercado resulta numa restrição à quantidade
transacionada. O volume de transações formais e legais é, no máximo, igual à quota de
produção estabelecida administrativamente pelo governo.

2. Ao preço ao qual a curva da procura interseta a restrição estabelecida pela quota máxima
fixada administrativamente, a quantidade que os consumidores desejam comprar é igual
à quantidade que os produtores podem produzir e vender.

3. No caso (i) visto atrás, fixação de uma quantidade máxima do bem que pode ser
oferecida no mercado, há efeitos de desperdício de recursos. Por ex., no caso da pesca
(a finalidade da quota é a preservação de uma espécie ou várias), na extração de uma
espécie, caso não haja quota para a comercialização de outra espécie que é extraída
conjuntamente com essa outra, esse peixe é lançado ao mar.

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3.2 Quotas de produção

A magnitude do efeito da introdução de uma quota de produção sobre o preço de mercado


do bem depende da elasticidade preço da procura.

Considere-se a figura 3.4:


O preço de mercado, após a introdução da quota de produção, depende da elasticidade
preço da procura.

No caso de um bem com procura inelástica em relação ao preço, a introdução da quota de


produção gera um aumento substancial no preço desse bem.
Por exemplo, no caso dos bens agrícolas, a procura é frequentemente inelástica em
relação ao preço. Por esta razão, a introdução de quotas de produção de bens agrícolas
tem sido eficaz na proteção dos rendimentos, ou no aumento das receitas e dos
rendimentos dos agricultores.

Quanto mais elástica a procura do bem, menor o aumento do preço de mercado do bem.
Na situação extrema de uma curva da procura perfeitamente elástica, a fixação de uma
quota de produção não teria efeito sobre o preço de mercado; este seria igual ao preço de
equilíbrio sem intervenção.
Se o objetivo do governo é a proteção ou aumento da receita da produção ou do
rendimento dos produtores, a fixação da quota de produção seria, neste caso, uma
medida totalmente ineficaz.

22
.
3.3 Impostos e subsídios

3.3 Impostos e Subsídios

Imposto específico: aplicação de determinado montante monetário por unidade de bem


transacionado. Exemplos: imposto sobre o tabaco (por maço) e o imposto sobre a
gasolina (por litro).

Imposto ad valorem: aplicação de uma determinada percentagem sobre o preço unitário


do bem.

3.3.1 Imposto Específico

O imposto implica uma diferença entre o preço pago pelos consumidores e o preço
recebido pelos produtores.
O objetivo neste ponto é, especificamente, fazer uma análise de incidência de um imposto
específico, i.e., analisar quem suporta o imposto.

Exemplo: Consideremos o caso do tabaco. Vamos supor que um imposto específico de


20 cêntimos é aplicado a cada maço de tabaco vendido. Se o preço pago pelos
consumidores é igual a € 2,50, então o preço recebido pelo vendedor é igual a € 2,30 e
os 20 cêntimos são arrecadados pelo Estado.
23
3.3 Impostos e subsídios

Considere a Figura 3.5 em que o ponto E representa o equilíbrio de mercado antes do


imposto, sendo Pe o preço de equilíbrio (preço pago pelos consumidores e recebido pelos
produtores) e Qe a quantidade de equilíbrio.

Vamos supor que o governo lança um imposto específico igual a t u.m. por unidade de
produto vendido. Para determinar diretamente o preço pago pelos consumidores, devemos
deslocar a curva da oferta para cima pelo montante do imposto t . A nova curva da oferta
passa a ser S(PC) , representada na Figura 3.5. Porquê?

Após o lançamento do imposto, a curva da oferta de mercado representa os preços que os


consumidores teriam que pagar para induzir os produtores a oferecer quantidades
alternativas, e aqueles preços são iguais aos preços de produzir o bem e colocá-lo no
mercado (preços na produção, inicialmente representados na curva de oferta S(PP) ) mais o
imposto por unidade de produto, t .

Na presença de um imposto específico, temos que distinguir sempre entre o preço pago
pelos compradores/consumidores e o preço recebido pelos vendedores/produtores.

24
3.3 Impostos e subsídios

S (PC)
P
S (PP)

PF F

E1
PC Figura 3.5
Pe Eo Imposto específico.

PP M
D

Q1 Qe Q

Seja t o imposto por unidade de produto transacionado, PC o preço pago pelos


consumidores e PP o preço recebido pelos produtores. Então: PC = PP + t .
Veja-se então como se representa o mercado após o lançamento do imposto: para induzir
agora os produtores a oferecer a quantidade Qe, os consumidores teriam que pagar o preço
PF , que é igual ao preço Pe mais o imposto específico t (dado pela distância vertical EF).
Assim sendo, para cada quantidade transacionada, o preço recebido pelos produtores
(líquido de imposto) é lido na curva da oferta S(PP) e o preço pago pelos consumidores é
lido na curva S(PC) .

25
3.3 Impostos e subsídios

Considerando o imposto específico, em equilíbrio de mercado vamos ter o seguinte:

- o preço de equilíbrio no mercado é PC ,

- a quantidade transacionada é Q1,

- a esta quantidade transacionada Q1 , vão corresponder agora dois preços:


- um preço do produtor PP (sobre a curva da oferta S(PP) ) e
- um preço do consumidor PC (sobre a curva da oferta S(PC) ).

Comparando o mercado sem imposto e com imposto, temos:

- Após o imposto, o equilíbrio passa de Eo para E1, ponto onde a curva da oferta S(PC)
interseta a curva da procura D.

- O preço pago pelos consumidores aumenta de Pe para PC, e a quantidade


transacionada diminui de Qe para Q1.

- O preço recebido pelos produtores (líquido de imposto) diminui de Pe para PP , dado


que Pp = Pc – t.
.
26
3.3 Impostos e subsídios

Questão: Quem suporta o imposto?

Note-se que t = PC – PP = (PC – Pe ) + ( Pe – PP )

sendo PC – Pe = parte do imposto (por unidade de produto) suportado pelos


consumidores,
Pe – PP = parte do imposto (por unidade de produto) suportado
pelos produtores.

Em termos percentuais:
PC − Pe
= percentagem do imposto suportada pelos consumidores;
t
Pe − PP
= percentagem do imposto suportada pelos produtores.
t

No caso da figura 3.5:


- uma fração do imposto específico é suportada pelos consumidores,
- a fração restante é suportada pelos produtores,
- o governo arrecada uma receita num montante igual a (t .Q1)=(Pc-Pp).Q1, representada
graficamente pela área do retângulo [ PC PP M E1 ] .
27
3.3 Impostos e subsídios

Questão: O que determina a proporção do imposto pago pelos consumidores e pelos


produtores?

Proposição 3.1: A fração do imposto suportada pelos consumidores é maior


quando (1) a elasticidade preço da procura é baixa e (2) a elasticidade preço da
oferta é elevada.

Dito de outro modo, e tendo em conta (1) e (2), se a elasticidade preço da procura for
inferior à elasticidade preço da oferta no equilíbrio de mercado, a maior parte do imposto é
suportada pelos consumidores.

A figura 3.6 ilustra o ponto (1) da proposição 3.1.


Considere-se:
- a curva da oferta antes de imposto S e,
- em alternativa, as curvas da procura D, H e V , com elasticidades preço diferentes.

O ponto de equilíbrio inicial, ou antes de imposto, é o ponto E, sendo que:


- o preço de equilíbrio é igual a PH (preço pago pelos consumidores e recebido pelos
produtores) e
- a quantidade de equilíbrio é QV.

28
3.3 Impostos e subsídios

S (PC)
S (PP)
P
V
PV F

C
PC
G E H
PH Figura 3.6
Incidência tributária e
elasticidade preço da procura.
D
QH Q1 QV Q

Vamos supor que é lançado um imposto específico igual a t por unidade de produto. A
curva da oferta desloca-se verticalmente para a esquerda, sendo a distância EF igual a t .

No caso da curva da procura V, a procura perfeitamente inelástica, o novo ponto de


equilíbrio seria o ponto F. Neste caso, o preço pago pelos consumidores seria PV . Note-
se que PV = PH + t , visto que o segmento FE = t .
Consequentemente, o imposto seria integralmente suportado pelos consumidores.
Note-se que a procura perfeitamente inelástica significa que os consumidores não
dispõem de (pelo menos) um bem substituto do bem tributado, em análise.
29
3.3 Impostos e subsídios

Se considerarmos a curva da procura H (a procura é perfeitamente elástica), o novo ponto


de equilíbrio seria G.
O preço pago pelos consumidores não se alteraria, ou seja, continuaria a ser igual a PH .
O imposto seria suportado integralmente pelos produtores.

Finalmente, considerando-se a curva da procura D , o novo ponto de equilíbrio seria C.


Considerando o imposto, em equilíbrio de mercado o preço pago pelos consumidores é
igual a PC, superior ao preço de equilíbrio inicial sem imposto.
Contudo, o aumento do preço pago pelos consumidores é inferior ao montante do
imposto, o que implica que os consumidores suportam apenas uma parte do imposto.

.
30
3.3 Impostos e subsídios

P
V S (PC)
S (PP)

PR R
H (PC) Figura 3.7
E
Pe H (PP) Incidência tributária e
elasticidade preço da oferta.

QH Qe Q

A figura 3.7 ilustra o ponto (2) da proposição 3.1.


Considere-se:
- a curva da procura D e
- em alternativa, as curvas da oferta S, H e V .

Consideremos o ponto de equilíbrio inicial E , sem imposto.


Vamos assumir que a oferta é perfeitamente elástica, curva H. O imposto provoca uma
deslocação para cima da curva da oferta. A nova curva da oferta é a curva H(Pc). O ponto
de equilíbrio passa a ser R e o preço pago pelos consumidores aumenta em t.
Consequentemente, os consumidores suportam integralmente o imposto.
31
3.3 Impostos e subsídios

Alternativamente, se a oferta fosse perfeitamente inelástica, curva V, o ponto de equilíbrio


seria o ponto E. Porquê? Uma reta vertical que se desloca verticalmente não muda de
posição.
Neste caso, o preço pago pelos consumidores não se altera e o imposto é totalmente
suportado pelos produtores.
Este resultado faz sentido visto que oferta perfeitamente inelástica significa que os
produtores estão dispostos a vender uma dada quantidade, neste caso Qe, qualquer que
seja o preço.

Finalmente, considerando a curva da oferta S , o preço pago pelos consumidores seria


superior ao preço de equilíbrio inicial, Pe . Contudo, o aumento do preço pago pelos
consumidores é inferior ao montante do imposto, o que implica que os consumidores
suportam apenas uma parte do imposto.

.
32
3.3 Impostos e subsídios

3.3.1 Subsídio Específico

No caso de um subsídio específico, a análise é similar à que acabamos de realizar para o


caso do imposto específico.

A aplicação de um subsídio específico representa-se através de uma deslocação da curva


da oferta para a direita. Analiticamente, um subsídio funciona como um imposto negativo.

Proposição 3.2: A fração do subsídio específico de que os consumidores


beneficiam é maior quando (1) a elasticidade preço da procura é baixa e (2) a
elasticidade preço da oferta é elevada.

Dito de outro modo, e tendo em conta (1) e (2), se a elasticidade preço da procura for
inferior à elasticidade preço da oferta no equilíbrio de mercado, os consumidores
beneficiam da maior parte do subsídio.

33
3.4 Aplicações

Exercício 1 (Sebenta 2, Exercício 8 ):

Considere um mercado concorrencial com as seguintes funções procura e oferta de um


bem: P + Qd = 10
P = Qs + 2

a) Que variáveis se tem que assumir como constantes para representar graficamente estas
duas funções?
b) Determine o preço e a quantidade de equilíbrio e proceda à representação gráfica dessa
situação.
c) Suponha que é implementada pelas autoridades a administração do preço, com o objetivo
de que, no mercado, P = 4 . Vai originar-se um excesso da oferta ou um excesso da
procura no mercado? Trata-se de um preço máximo ou de um preço mínimo? Justifique.
d) Suponha que o governo decide subsidiar este bem, concedendo um subsídio de 1 u.m.
por unidade transacionada do bem. Como se vai agora representar o mercado e que
alterações se verificam no equilíbrio de mercado? Proceda à representação gráfica.
e) Analise o modo como se repartem os benefícios do subsídio entre produtores e
consumidores em equilíbrio neste mercado. Calcule o valor do benefício recebido pelo
conjunto dos consumidores e pelo conjunto dos produtores no mercado, em resultado da
concessão deste subsídio específico pelo governo.

34
3.4 Aplicações

Exercício 2:

Considere que, no mercado do bem X, a procura pode ser expressa pela função:
Qd = 7 500 – 15 P .

Sabe-se, ainda, que vigora neste mercado um imposto unitário e que a função oferta
de mercado, dado o imposto, é descrita pela expressão:
Qs = – 180 + 9 P .

a) Determine o equilíbrio de mercado, explicitando como é condicionado pela presença


do imposto.

b) Suponha que o Estado decide eliminar o imposto, passando a função oferta a


descrever-se como:
Qs = – 90 + 9 P .

Calcule o valor do imposto unitário agora eliminado, e proceda à repartição


percentual, por entre os dois grupos de agentes, do impacto desta medida.

35
3.4 Aplicações

Soluções:
1.
a) É necessário admitir que todos os fatores capazes de influenciar a quantidade procurada,
para além do preço do próprio bem não se alteram - rendimento dos consumidores,
preferências dos consumidores, preços de bens relacionados. No caso da função oferta, é
necessário admitir que todas as variáveis suscetíveis de influenciarem a quantidade
oferecida, para além do preço do próprio bem permanecem constantes - estádio da
tecnologia, custos de produção, preços de bens relacionados.

b) P + Qd = 10 ⇒ Qd = 10 – P Qd≥0 : 0≤P≤10

P = Qs + 2 ⇒ Qs = – 2 + P Qs≥0 : P≥2

Qe = 4
Pe = 6

36
3.4 Aplicações

c) PAdministrado = 4 < Pe = 6
No mercado há um excesso de procura, no montante de 4 unidades do bem:
Qd (P = 4) = 6 unid. Qs (P = 4) = 2 unid.
Para que esta fixação de preço tenha eficácia no funcionamento do mercado terá que ser
um preço máximo, caso contrário haveria uma tendência de ajustamento para o preço de
equilíbrio.

d) Um subsídio ao produtor pode ser representado como uma deslocação da curva da oferta
de mercado. Para qualquer quantidade transacionada: PC = PP – 1 .

 PC = PP − 1
Qs = Qd  PP = 6,5
 
 ⇔  PC = 5,5
 Qd = 10 − PC Q ' e = 4,5
Qs = PP − 2 
P
S (PP)

S (Pc)
6,5

5,5

4 4,5 Q 37
3.4 Aplicações

e) Cálculo da repartição dos benefícios do subsídio entre consumidores e produtores:


PP − Pe
Subs. = (6,5 – 6)/ 1 = 0,5

Pe − PC
= (6 – 5,5) / 1 = 0,5
Subs.

O subsídio concedido pelo governo às transações realizadas no mercado é repartido de


forma igual pelos consumidores e pelos produtores: cada lado beneficia em 50% do
subsídio. A explicação é a seguinte: as elasticidades das duas funções procura e oferta,
no ponto de equilíbrio inicial, têm valores iguais: Epd = 1,5 = Eps .

Do total gasto pelo governo, os montantes que revertem a favor do conjunto dos
consumidores e do conjunto dos produtores são os seguintes:
- Total de subsídio de que os consumidores beneficiam:
4,5 unid. transacionadas * 0,5 u.m. = 2,25 u.m.
- Total de subsídio de que os produtores beneficiam:
4,5 unid. transacionadas * 0,5 u.m. = 2,25 u.m.
- Total da despesa efetuada pelo Estado:
4,5 unid. transacionadas * 1 u.m. = 4,5 u.m.

38
3.4 Aplicações

2.
a) Qd = Qs(PC) ⇔ 7 500 – 15 P = – 180 + 9 P
Donde: P’e = 320 = Pc Pp = 320 – t Q’e = 2 700

b) Qd = Qs ⇔ 7 500 – 15 P = – 90 + 9 P

Donde: Pe = 316,25
Qe = 2 756,25

Pp = ?
2 700 = – 90 + 9 Pp ⇔ Pp = 310

Imposto específico = Pc – Pp = 320 – 310 = 10 u.m./ unid. produto

Decomposição da incidência do imposto específico:

PC − Pe = (320 – 316,25) / 10 = 0,375 Consumidores: 37,5%


t
P e − PP = (316,25 – 310) / 10 = 0,625 Produtores: 62,5%
t

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Exercícios da Sebenta #2 que dizem respeito ao capítulo 3

Capítulo 3:

Exercício 2
Exercício 6
Exercício 7
Exercício 8 (resolvido na aula)
Exercício 14: 1, 2, 4 e 5 (i.e., exceto a questão 3). As questões 1, 2 e 4 dizem respeito ao
capítulo 2 e a questão 5 diz respeito ao capítulo 3.

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