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Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

Exame de Direito Fiscal – 4.º Ano

Regência: Professora Doutora Ana Paula Dourado


Colaboradores: Mestres Nuno de Oliveira Garcia, Sónia Martins Reis, Sérgio Varela Alves, Daniela Pessoa Tavares e
Daniel Bobos-Radu
26 de janeiro de 2022 / Turma A / Duração: 90 minutos
Leia com atenção o enunciado infra e responda sucintamente, relevando as normas jurídicas aplicáveis e,
se for o caso, a jurisprudência e doutrina relevantes

I.

O João e a Maria, casados e com três filhos menores, residem no Porto. Ele é administrador da XPTO, S.A., uma
empresa com a qual celebrou um contrato escrito para uso de uma viatura automóvel a título pessoal, mas cujos
encargos seriam suportados pela mesma. Já ela, uma experiente advogada, aufere mais de 200.000,00€ por ano no
exercício da sua profissão liberal. Ambos são proprietários de um imóvel que arrendaram em Lisboa, no qual realizaram
extensas obras de manutenção nos doze meses antes do início do arrendamento e alienaram um outro imóvel, sito no
Algarve, adquirido para casa de férias. Os três filhos menores estudam num colégio privado.

Em junho de 2022, a Assembleia da República decide aumentar as alíquotas de tributação autónoma do CIRS e do
CIRC, cf. respetivamente os Artigos 73.º do CIRS e 88.º do CIRC, e aumentar o número de escalões do CIRS, cf. o
Artigo 68.º do CIRS, com efeitos a 1 de janeiro de 2022.

O João esqueceu-se de reter as quotizações para a Segurança Social dos salários dos seus trabalhadores, tendo os últimos
sido demandados pela AT para o cumprimento da dívida tributária e a título de “devedor originário”, sendo que no
data/prazo de entrega das quotizações, João já não era Administrador da XPTO, S.A. e fora substituído no cargo

II.

A ABCD, Lda., uma fábrica que fabrica parafusos, foi sujeita a uma inspeção tributária por parte da AT que detetou as
seguintes situações: i) gastos com ajudas de custo e despesas de representação; ii) gastos com coimas relativas a infrações
rodoviárias; iii) bem como gastos com a construção de uma creche anexa à empresa, com o intuito de servir os filhos
e filhas dos seus funcionários. A ABCD, Lda., adquiriu também ao dobro do preço de mercado um lote de aço para o
fabrico de parafusos à XPTO, S.A., uma empresa que detém 80% do seu capital social.

O Governo decidiu aprovar por Decreto-Lei a criação de uma “taxa de emergência”, a incidir sobre o rendimento dos
trabalhadores e para financiar um novo “fundo de emergência da Segurança Social”, criado para ser acionado em alturas
de maior esforço financeiro, e.g., como as decorrentes do aumento das prestações sociais em pagamento aquando da
ocorrência de “crises”. A posteriori e por Portaria, determinar-se-ia em que tipo de “crises” o fundo poderia ser acionado
e a alíquota da “taxa de emergência”.

O Manuel, desempregado e sem quaisquer fontes de rendimento que se lhe conheça, comprou um automóvel novinho
em folha por 60.000 €, com dinheiro que transferira previamente de uma conta bancária de que era titular no Mónaco.

Cotação: I: 10 valores / II: 10 valores


Grelha de Correção

I.

J e M são sujeitos passivos de IRS uma vez que residem em território português e aqui obtêm rendimentos, sendo
tributados pelo seu rendimento mundial (“worldwide income”), cf. os artigos 13.º, n.º 1, 15.º, n.º 1 e 16.º, n.º 1, alínea a)
do CIRS. J e M fazem parte do mesmo agregado familiar, cf. o artigo 13.º, n.º 4, alínea a) do CIRS, bem como os seus
três filhos menores, cf. o artigo 13.º, n.º 5, alínea a) do CIRS. Como J e M são casados, poderão optar pela tributação
conjunta dos seus rendimentos, cf. o artigo 13.º, n.ºs 2 e 3 do CIRS, caso em que aplicará o quociente familiar do artigo
69.º do CIRS.

(1 valor)

J aufere um rendimento da categoria A, cf. o artigo 2.º, n.º 3, alínea a) do CIRS e a viatura automóvel é uma renumeração
acessória, cf. o artigo 2.º, n.º 3, alínea b), subalínea 9) do CIRS. A equivalência pecuniária do rendimento em espécie
faz-se de acordo com o valor de mercado, cf. o artigo 24.º, n.º 1, alínea e) e n.ºs 5 a 7 do CIRS. Este rendimento é
sujeito a englobamento, cf. o artigo 22.º, n.º 3 a contrario do CIRS, sujeito a retenção na fonte, exceto o rendimento
pago em espécie, cf. o artigo 99.º, n.º 1, alínea a) do CIRS, sendo tributado pelas taxas gerais do artigo 68.º do CIRS.

(1 valor)

M aufere um rendimento da categoria B, cf. o artigo 3.º, n.º 1, alínea b) do CIRS, com o CAE 6010, cf. a tabela de
atividades do artigo 151.º do CIRS, que será obrigatoriamente determinado com base na contabilidade, cf. o artigo 28.º,
n.º 1, alínea b) e n.º 2 do CIRS, ou seja, o rendimento líquido da categoria será determinado nos termos do CIRC, ex vi
artigo 32.º do CIRS. Este rendimento é sujeito a englobamento, cf. o artigo 22.º, n.º 3 a contrario do CIRS, sujeito a
retenção na fonte, cf. o artigo 101.º, n.º 1, alínea b) do CIRS, e é tributado pelas taxas gerais do artigo 68.º do CIRS.

(1 valor)

O rendimento resultante do arrendamento do imóvel é de qualificar na categoria F, cf. o artigo 8.º, n.º 1 do CIRS,
tendo lugar a dedução específica do artigo 41.º, n.º 7 do CIRS, apenas sujeito a retenção na fonte no caso previsto no
artigo 101.º, n.º 1, alínea e) do CIRS, e tributado a uma alíquota mínima de 28%, cf. o artigo 72.º, n.º 1, alínea e) do
CIRS, salvo opção pelo englobamento, cf. o artigo 72.º, n.º 13 do CIRS, podendo igualmente e sob certos requisitos
ser tributado a alíquota menor, cf. o artigo 72.º, n.º 2 a 5 do CIRS. A contitularidade dos rendimentos implicará também
a aplicação do artigo 19.º do CIRS.

(1 valor)

O rendimento da alienação do imóvel será de qualificar na categoria G, cf. os artigos 9.º, n.º 1, alínea a) e 10.º, n.º 1,
alínea a) do CIRS, não se encontrando a mais-valia excluída de tributação nos termos do artigo 10.º, n.º 5 do CIRS,
apenas considerada em 50% do seu valor, cf. o artigo 43.º, n.º 2, alínea b) do CIRS, não sujeito a retenção na fonte, cf.
o artigo 101.º a contrario do CIRS, mas sim a englobamento, cf. o artigo 22.º, n.º 3 a contrario do CIRS, e é tributado pelas
taxas gerais do artigo 68.º do CIRS. A contitularidade dos rendimentos implicará também a aplicação do artigo 19.º do
CIRS.

(1 valor)
As propinas pagas ao colégio privado, são a priori sujeitas a dedução à coleta, cf. os artigos 78.º, n.º 1, alínea d) e 78.º-
D, n.º 1 do CIRS.

(1 valor)

Os factos cometidos a tributação autónoma nos artigos 73.º do CIRS e 88.º do CIRC são para efeitos de aplicação da
lei no tempo factos tributários de obrigação única, ou seja, constituem-se e extinguem-se num mesmo momento. Já o
IRS em si é um facto tributário de obrigação periódica., pois o facto tributário constitui-se a 01 de janeiro e extingue-
se a 31 de dezembro de cada ano civil. Assim, temos uma situação de retroatividade forte no primeiro caso, que será
inconstitucional de acordo com a interpretação que o TC faz do artigo 103.º, n.º 3 da CRP, cf., e.g., o Acórdão n.º
129/09, já no segundo caso uma situação de retrospetividade, que tão-só não será inconstitucional se não houver uma
violação do princípio da proteção da confiança, que radica no princípio do estado de direito consagrado no artigo 2.º
da CRP, cf., e.g., o Acórdão n.º 128/2009.

(2 valores)

Como sujeito ativo da relação jurídico-tributária temos a Segurança Social, I.P., cf. o artigo 18.º, n.º 1 da LGT, já como
sujeitos passivos a XPTO, S.A. como substituto, os trabalhadores como substituídos e J como eventual responsável
tributário, cf. o artigo 18.º, n.º 3 da LGT. Não tendo havido nem retenção nem entrega aplicar-se-á o artigo 28.º, n.º 3
da LGT, uma vez que retenção seria a título definitivo e razão pela qual os trabalhadores são apenas subsidiariamente
responsáveis pelas importâncias que deveriam ter sido deduzidas, ou seja, não são “devedores originários”. A reversão
do processo de execução fiscal que efetiva a responsabilidade subsidiária depende da fundada insuficiência dos bens
penhoráveis do devedor principal, sem prejuízo do benefício da excussão prévia, cf. o artigo 23.º, n.º 1 e 2 da LGT.
Para se responsabilizar J ter-se-ia de excluir a culpa da empresa, sendo a sua culpa uma culpa funcional, cf. o artigo 64.º
do CSC, sendo-lhe exigida uma diligência máxima no exercício de funções, devendo a culpa funcional in casu ser provada
pela AT, cf. o artigo 24.º, n.º 1, alínea a) da LGT.

(2 valores)

II.

A ABCD, Lda. é sujeito passivo de IRC, cf. o artigo 2.º, n.º 1, alínea a) do CIRC, sendo tributada pelo seu lucro, cf. o
artigo 3.º, n.º 1, alínea a) do CIRC, determinado como prescrito no artigo 17.º, n.º 1 do CIRC, e que concretiza o
princípio do rendimento real consagrado no artigo 104.º, n.º 2 da CRP.

(1 valor)

Os gastos com as ajudas de custo e despesas de representação são a priori dedutíveis, cf. o artigo 23.º, n.º 2, alínea d) do
CIRC, mas encontram-se cometidos a tributação autónoma às alíquotas de 5% e 10% respetivamente, cf. o artigo 88.º,
n.ºs 9 e 7 do CIRC, não sendo o quantum de tributação autónoma dedutível, cf. o artigo 23.º-A, n.º 1, alínea a) do CIRC.

(1 valor)

Os gastos com as coimas não são dedutíveis, ex vi artigo 23.º-A, n.º 1, alínea e) do CIRC.

(1 valor)
Já os gastos com a creche serão dedutíveis, porque incorridos no interesse na empresa (“business purpose”), e na senda
da interpretação que tem sido feito pela doutrina e jurisprudência do artigo 23.º, n.º 1 do CIRC, cf., e.g., o Acórdão do
STA processo n.º 779/12, com base no critério da indispensabilidade.

(1 valor)

Como temos uma relação especial entre a ABCD, Lda. e a XPTO, S.A., cf. o artigo 63.º, n.º 4, alíneas a) e f) do CIRC,
a operação deveria ter tido lugar como se entre duas entidades independentes, cf. o artigo 63.º, n.º 1 do CIRC, a preços
de mercado, cf. o artigo 63.º, n.º 3, alínea a) do CIRC, podendo a AT efetuar as necessárias correções ao lucro tributável,
cf. o artigo 63.º, n.º 9 do CIRC. O artigo 63.º do CIRC consagra uma CEAA.

(1 valor)

A “taxa de emergência” é uma contribuição financeira unilateral, porque é ad valorem e se encontra consignada ao “fundo
de emergência da Segurança Social”, cf. o artigo 165.º, n.º 1, alínea i) da CRP e 3.º, n.º 2 da LGT, sendo que precisamente
porque unilateral, quer Ana Paula Dourado como Casalta Nabais entendem que o tributo em questão deve estar
cometido a reserva de lei, pelo que temos uma violação do princípio da legalidade quando por Decreto-Lei simples e
sem prévia autorização legislativa da Assembleia de República o Governo cria a suprarreferida “taxa de emergência”,
cf. o artigo 165.º, n.º 2 da CRP. Também há uma violação do princípio da legalidade quando se remete para Portaria o
an (“crises”) e o quantum (“alíquota da taxa de emergência”) do tributo, cf. o artigo 103.º, n.º 2, primeira parte da CRP,
pois não se trata de mera remissão da densificação de conceitos vagos e indeterminados ou da concretização de critérios
meramente técnicos.

(2,5 valores)

Em relação a M temos duas manifestações de fortuna, cf. o artigo 87.º, n.º 1, alínea d) e n.º 2 da LGT, como determinado
pelo rendimento padrão dos pontos 1. e 6. da tabela do artigo 89.º-A, n.º 4 da LGT, sendo que o Mónaco é um paraíso
fiscal, cf. a Portaria n.º 150/2004 a que se refere o artigo 63.º-D, n.º 1 da LGT. M bem poderá demonstrar a fonte da
manifestação de fortuna, cf. o artigo 89.º-A, n.º 3 da LGT, mas se não o conseguir fazer teremos um rendimento da
categoria G em IRS, cf. o 89.º-A, n.º 5 da LGT. Assim e em sede de IRS temos um acréscimo patrimonial injustificado,
cf. o artigo 9.º, n.º 1, alínea d) do CIRS, tributado a 60% e se de valor superior a 100.000,00 €, cf. o artigo 72.º, n.º 16
do CIRS.

(2,5 valores)
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

Exame de Direito Fiscal – 4.º Ano

Regência: Professora Doutora Ana Paula Dourado


Colaboradores: Mestres Nuno de Oliveira Garcia, Sónia Martins Reis, Sérgio Varela Alves, Daniela Pessoa Tavares e
Daniel Bobos-Radu
10 de janeiro de 2022 / Turma A / Duração: 90 minutos
Leia com atenção o enunciado infra e responda sucintamente, relevando as normas jurídicas aplicáveis e, se
for o caso, a jurisprudência e doutrina relevantes

I.

O António terminou o seu estágio no Hospital de Santa Maria em Lisboa, estando inscrito como médico cirurgião na
respetiva ordem profissional. Em janeiro de 2022 recebeu uma proposta de emprego a recibos verdes por 2.000 €
ilíquidos/mês. O António, solteiro e sem filhos, é inquilino numa casa em Lisboa e perguntou ao Bento seu amigo
finalista na FDUL sobre que impostos teria de pagar a recibos verdes, uma vez que auferirá mais de 12.500€/ano
(24.000€).

Na Lei do Orçamento do Estado para 2022, constava o seguinte: «tendo em conta a problemática das alterações climáticas, o
Governo poderá criar uma Taxa Ambiental a incidir sobre a compra de automóveis que emitam mais de 140g de Co2 por Km, a ser paga
pelo comprador e cujo valor não poderá ser superior a 2% do custo de aquisição». Posteriormente, o Governo aprova a referida
Taxa com uma alíquota de 3% e remete para Portaria a definição do método de medição do Co2.

Por Decreto-Lei simples, aprovado hoje, o Governo decide reduzir a “taxa normal” do IVA de 23% para 21%, com
efeitos a 1 de janeiro de 2021, bem como aumentar, mas desta feita para o futuro, a alíquota do último escalão do IRS
para 70%.

II.

O restaurante, “XPTO, Lda.” encontra-se numa situação financeira periclitante, em resultado da Pandemia Covid-19.
Para poder pagar os salários aos seus trabalhadores, Carla, a gerente do restaurante, decidiu não entregar os valores de
IRS retidos nos salários dos mesmos, referentes aos últimos 6 meses e cujo valor já ascende a 10.000 €.

A “XPTO, Lda.” detém a 100% uma cadeia de restaurantes nas Bahamas, que nunca lhe distribuíram quaisquer lucros.
Acresce que a “XPTO, Lda.” incorreu em diversas despesas não documentadas e em gastos com veículos 100%
elétricos, num Ano Fiscal em que apresentou prejuízo.

A Assembleia da República decide criar um Imposto Geral sobre o Património, dando cumprimento ao n.º 3 do Artigo
104.º da CRP, que pressuporá a tributação da detenção de ações pelo valor da sua cotação a 31 de dezembro,
independentemente da sua alienação.

A Assembleia da República decide, igualmente, eliminar as deduções à coleta em sede de IRS, com o intuito de
simplificar o Sistema Fiscal.

Cotação: I: 10 valores / II: 10 valores

Grelha de Correção
I

IRS – A é sujeito passivo de IRS e será tributado pelo seu rendimento mundial, cf. os Artigos 13.º, n.º 1 e 15.º, n.º 1
do CIRS; A aufere também um rendimento da Categoria B, cf. o Artigo 3.º, n.º 1, alínea b) do CIRS, com o CAE 7012
(“médicos cirurgiões”), sendo o rendimento líquido da Categoria determinado nos termos do Artigo 31.º, n.º 1, alínea
b) do CIRS e não havendo opção pelo regime com base na contabilidade, cf. o Artigo 28.º, n.º 1. alínea b) e n.º 2 do
CIRS; o rendimento em apreço é sujeito a englobamento, cf. o Artigo 22.º, n.º 1 e n.º 3 a contrario do CIRS, pelo que
será tributado às taxas gerais do Artigo 68.º do CIRS; o mesmo pode ser sujeito a retenção na fonte ex vi Artigo 101.º,
n.º 1, alínea b) do CIRS; A poderá deduzir à coleta os gastos despendidos com rendas e na qualidade de inquilino, cf.
o Artigo 78.º-E, n.º 1, alínea a) do CIRS.

IVA – A é sujeito passivo de IVA, cf. os Artigos 1.º, n.º 1, alínea a) e 2.º, n.º 1, alínea a) do CIVA, todavia estará isento
de o cobrar nas suas prestações de serviços como médico, ex vi Artigo 9.º, n.º 1 do CIVA.

Qualificação do Tributo – Temos um tributo ad valorem, sem consignação de receita e logo um Imposto; in casu é um
Imposto sobre o consumo, cf. o Artigo 104.º, n.º 4 da CRP, real, proporcional, indireto e muito provavelmente (porque
sobre o consumo) de obrigação única.

Princípio da Legalidade – Aplicar os requisitos da LAL ao caso prático sub judice, cf. o Artigo 165.º, n.º 2 da CRP,
com menção do triplo sentido do Professor António Vitorino, cf., e.g., o Acórdão n.º 358/92 do TC; temos uma
situação de inconstitucionalidade orgânica quando o Governo cria o tributo com uma alíquota de 3%; não há qualquer
problema com a remissão para Portaria (diploma infra legislativo) de questões meramente técnicas; o Governo por
Decreto-Lei simples não pode alterar as alíquotas do IVA e do IRS, uma outra inconstitucionalidade orgânica, cf. o
Artigo 165, n.º 1, alínea i) e, em particular, o 103.º, n.º 2, primeira parte da CRP.

Aplicação da Lei no Tempo – No que respeita ao IVA e pese embora a inconstitucionalidade orgânica supra, não há
nenhuma violação do princípio da proteção da confiança pois a norma é desoneradora; Já em relação ao IRS, não há
também qualquer problema de aplicação da lei no tempo porque a alteração é para o futuro, pese embora, igualmente,
a situação de inconstitucionalidade orgânica identificada; sobre o princípio da proteção da confiança, cf. o Artigo 2.º
da CRP (“Estado de Direito”) e, e.g., o Acórdão n.º 128/2009 do TC.

Confisco – Uma alíquota de 70% sobre um rendimento poderá suscitar a ocorrência de uma situação de confisco, cf.
o Acórdão do TEHD Gálls vs Hungria e a eventual violação do Artigo 62.º da CRP.

II

IRC – A XPTO, Lda. é sujeito passivo de IRC, cf. os Artigos 2.º, n.º 1, alínea a) e 3.º, n.º 1, alínea a) do CIRC, a
conjugar com o Artigo 17.º, n.º 1 do CIRC que concretiza o rendimento real plasmado do Artigo 104.º, n.º 1 da CRP;
a detenção da cadeia de restaurantes nas Bahamas, um paraíso fiscal ex vi Artigo 63.º-D, n.º 1 da LGT e Portaria n.º
150/2004, suscita a aplicação das regras CFC, cf. Artigo 66.º do CIRC, que consagra um CEAA, ou seja, os seus lucros
podem ser imputados ao sujeito passivo de IRC em Portugal; os gastos com veículos 100% elétricos são a priori
dedutíveis, cf. o Artigo 23.º, n.º 2, alínea d) do CIRS, mas não estão sujeitos a tributação autónoma, cf. o Artigo 88.º,
n.º 3 do CIRC; já as despesas não documentadas não são dedutíveis e estão sujeitas a tributação autónoma à alíquota
de 50%, podendo esta chegar aos 60% se as despesas não documentadas tiverem tido lugar num Ano Fiscal em que a
empresa apresentou prejuízo, cf. os Artigos 23.º-A, n.º 1, alínea b) e 88.º, nºs 1 e 14 do CIRC.

Substituição e Responsabilidade Tributária – Temos como sujeito ativo da relação jurídico-tributária in casu o
Estado ou Fisco, cf. o Artigo 18.º, n.º 1 da LGT, como sujeitos passivos a XPTO, Lda., enquanto substituto, os seus
trabalhadores enquanto substituídos e C eventualmente como responsável tributária, cf. o Artigo 18.º, n.º 3 da LGT;
tendo tido lugar a retenção dos valores em IRS, mas não a sua entrega, temos que os trabalhadores ficam desonerados
do cumprimento de qualquer obrigação tributária sendo a XPTO, Lda. o devedor principal da dívida, cf. o Artigo 28.º,
n.º 1 da LGT; sendo o património da empresa insuficiente ou inexistente para o cumprimento da dívida tributária,
poder-se-ia demandar C subsidiariamente, por via da reversão do processo de execução fiscal, sem prejuízo do benefício
da excussão prévia, cf. o Artigo 23.º, n.ºs 1 e 2 da LGT; não havendo culpa societária dever-se-ia então analisar da culpa
funcional de C, a conjugar com o Artigo 64.º do CSC, todavia e tendo sido cometido um crime de “Abuso de
Confiança”, cf. o Artigo 105.º do RGIT, C não conseguirá ilidir a sua culpa, pendendo sobre ela o ónus da prova, cf. o
Artigo 24.º, n.º1, alínea b) da LGT; ponderar o dever constitucional de pagar impostos, cf. os Artigo 103.º, n.º 1 e 2
CRP, em face do dever constitucional da retribuição do trabalho, cf. o Artigo 59.º, n.º 1, alínea a) da CRP.

Criação de um Imposto Geral sobre o Património – Ponderar sobre a avaliação arbitrária dos ativos, cf. o Acórdão
do TC Alemão BVerfGE 93.

Eliminação das Deduções à Coleta em sede de IRS – Ponderar sobre a violação do Artigo 104.º, n.º 1 da CRP.
Direito Fiscal – 4.º Ano – Turma A
Exame Escrito de Coincidências Época de Recurso – Ano Letivo de 2020/2021
Regência: Professora Doutora Ana Paula Dourado
Colaboradores: Mestres Nuno de Oliveira Garcia, Sónia Martins Reis, Sérgio Varela Alves e Daniela Pessoa Tavares

15 de abril de 2021 – Duração 90 minutos

Leia com atenção e comente de forma fundamentada e sucinta, invocando as Leis, Jurisprudência e
Doutrina que tenha por convenientes
I

Para fazer face à grave situação financeira atual, o Governo aprovou, em 15 de janeiro de 2021, por Decreto-Lei simples,
um pacote de medidas fiscais, sendo de destacar o aumento da alíquota de IRC para 25%, para os anos de 2020, 2021 e
seguintes, aplicável aos sujeitos passivos cujos lucros auferidos nesses anos não tenham sido afetados pela situação
epidemiológica provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2. Nesse mesmo Diploma, é também definido que, por Portaria do
Ministro das Finanças, serão posteriormente criados e densificados os critérios de determinação dos sujeitos passivos “cujos
lucros não tenham sido afetados situação epidemiológica provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2”.

II

“A” é advogada especialista em direito fiscal e auferiu, em 2020, rendimentos no montante de 35 mil euros a título de
honorários. Nesse mesmo ano recebeu rendimentos decorrentes da alienação de ações que detinha numa pequena sociedade
portuguesa não cotada. Além disso, recebeu ainda rendimentos resultantes do arrendamento de um imóvel localizado na
Serra da Estrela de que é proprietária, para o qual comprou, também nesse ano, dois novos eletrodomésticos e ainda três
quadros de decoração.

“B”, cônjuge de “A”, é Professor Universitário e auferiu, em 2020, um rendimento anual no valor de 40 mil euros. Para
melhor estruturar os seus investimentos, “B” solicitou ao departamento de contabilidade da Universidade em que leciona
que não efetuasse a retenção na fonte mensal sobre o seu salário, o que se verificou. Em acréscimo, “B” recebeu também,
nesse ano, juros avultados de um depósito a prazo pagos por instituição de crédito localizada no Panamá.

III

A empresa “ERC S.A.”, com sede em Lisboa, que se dedica à atividade de revestimento de pavimentos e de paredes,
celebrou vários contratos de prestação de serviços, alguns com empresas espanholas suas participadas, e outros com uma
empresa localizada nas Ilhas Cayman, tendo pago, pelos serviços que lhe foram prestados, um total de 350 milhões de euros.

Adicionalmente, e não obstante a empresa “ERC S.A.” ter tido prejuízos fiscais no exercício anterior (2020), os
administradores dessa empresa decidiram aprovar a realização de arranjos no exterior do edifício da sede da empresa “ERC
S.A.”, incluindo a colocação de pavimentos de alta qualidade e de valores muito consideráveis. A Autoridade Tributária e
Aduaneira que se encontra atualmente a fazer uma inspeção à empresa “ERC S.A.” verificou o seguinte:

1. Que o preço fixado pelos serviços prestados pelas empresas com sede em Espanha e nas Ilhas Cayman
apresentavam desconformidades;
2. Que os gastos incorridos com os arranjos no exterior eram manifestamente elevados;
3. Que estavam registadas na contabilidade da empresa várias multas e encargos não documentados;
4. Que a empresa incorreu em despesas com viagens e espetáculos oferecidos a clientes.

Quid iuris?

Grupo I – 6 valores; Grupo II – 8 valores; Grupo III – 6 valores


Grelha de Correção

i. Alteração da alíquota de IRC pelo Governo através de Decreto-Lei simples: violação dos artigos 165, n.º 1, alínea i), e
165, n.º 2, 1ª parte, da CRP – inconstitucionalidade orgânica.
ii. Aumento da taxa de IRC para o ano de 2020: caracterização do IRC enquanto imposto periódico, de formação sucessiva.
Situação de retroatividade autêntica / forte de uma norma oneradora, proibida nos temos do artigo 103.º/3 da CRP.
iii. Aumento da taxa de IRC para o ano de 2021: situação de retroatividade inautêntica / retrospetividade, admissível à luz
do artigo 103.º/3 da CRP. Referência à posição do TC - Acórdão n.º 128/2009 do TC e análise da conformidade com o
princípio da proteção da confiança (na vertente segurança jurídica), à luz do artigo 2.º da CRP. Discussão sobre relevância
do interesse público.
iv. Remissão para Portaria: Inadmissibilidade de remissão para Portaria a criação e densificação dos critérios de determinação
dos sujeitos passivos “cujos lucros não tenham sido afetados situação epidemiológica provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2”, porquanto
respeita às regras de incidência do imposto, o que contende com o artigo 165.º, n.º1, alínea i), e 103.º/2, 1.ª parte, ambos da
CRP.

II

i. Incidência pessoal de IRS: Caracterização de “A” e “B” enquanto sujeitos passivos de IRS, residentes em território
português e aí auferindo rendimentos (artigos 13.º, n.º 1 e 16.º, n.º 1, alínea a), do CIRS), tributados pelo seu rendimento
mundial “worlwide income” (artigo 15.º, n.º 1, do CIRS), integrando o mesmo agregado familiar “A” e “B” (artigo 13.º, n.º 4,
alínea a), do CIRS. Opção pela tributação conjunta (artigo 13.º, n.ºs 2 e 3, do CIRS), aplicando-se nesse caso o quociente
familiar (artigo 69.º, n.ºs 1 e 3, do CIRS).
ii. Incidência real de IRS: rendimentos auferidos pelo sujeito passivo “A”:
 Honorários: Rendimentos da categoria B (artigo 3.º, n.º 1, alínea b) e artigo 151.º do CIRS); Portaria 1011/2001.
Determinação dos rendimentos com base no regime simplificado (artigo 28, n.º 1, alínea a), e n.º2, e artigo 31.º, ambos do
CIRS), podendo optar pelo regime da contabilidade organizada, aplicando-se as alíquotas constantes da tabela geral do
artigo 68.º do CIRS.
 Alienação de ações: Rendimentos da categoria G (artigo 9.º, n.º1, alínea a), e n.º 4, alínea a), e artigo 10.º, n.º1, alínea b),
todos do CIRS), tributados nos termos do artigo 43.º do CIRS, sendo considerado apenas 50 % valor do saldo, por se
tratar de pequena empresa não cotada em mercado regulamentado. Aplicação da taxa especial de 28% (artigo 72.º, n.º1,
alínea c), do CIRS). Opção pelo englobamento (artigos n.ºs 72.º, n.º 13 e 22.º, n.º 3, alínea b), do CIRS).
 Rendas: Rendimento da Categoria F (artigo 8.º, n.º1, do CIRS), tributados nos termos do artigo 41.º do CIRS, aplicando-
se a taxa especial de 28% (artigo 72.º, n.º1, alínea e), do CIRS, sendo de referir o disposto no n.º2 mesmo artigo). Opção
pelo englobamento (artigos n.ºs 72.º, n.º 13 e 22.º, n.º 3, alínea b), do CIRS). Referência à possibilidade de dedução ao
rendimento bruto dos gastos documentalmente comprovados efetivamente suportados e pagos pelo sujeito passivo para
obter ou garantir aquele rendimento, excluindo, contudo, os gastos com a compra de eletrodomésticos e de artigos de
quadros para decoração (artigo 41.º, n.º1, CIRS).
iii. Incidência real de IRS: rendimentos auferidos pelo sujeito passivo “B”:
 Salário: Rendimento da Categoria A (artigo 2.º, n.º 1, alínea a), e n.º 2, do CIRS), determinado nos termos do artigo 25.º e
ss. do CIRS, sujeito a englobamento obrigatório (artigo 22.º, n.º 1 e n.º 3, alínea b) a contrario do CIRS), aplicando-se as
alíquotas constantes da tabela geral do artigo 68.º do CIRS. Rendimento sujeito a retenção na fonte por conta do imposto
devido ao final (artigos n.ºs 98.º, n,º1, 99.º, n.º 1, alínea a) do CIRS).
 Juros: Rendimentos da categoria E (artigo 5.º, n.º 2, alínea b) do CIRS), tributados nos termos do artigo 43.º, n.º1, do
CIRS, à taxa especial de 35% (artigo 72.º, n.º 17, alínea a), do CIRS). Referência ao Panamá enquanto território com um
regime fiscal claramente mais favorável, constando da Portaria n.º 150/2004, de 13 de fevereiro, ex vi artigo 63.º-D, n.º 1,
da LGT.
iv. Responsabilidade tributária: Referência à Universidade enquanto entidade obrigada à retenção na fonte, porquanto
substituto tributário e, por essa via, sujeito passivo (artigos 18.º, n.º 3, e 20.º, ambos da LGT). Identificação de uma situação
de responsabilidade tributária, sendo a mesma originária do substituído e subsidiária do substituto (artigos 22.º, 23.º e 28.º,
n.º 2, todos da LGT).

III

i. “ERC S.A” enquadramento enquanto sujeito passivo de IRC (artigos 1.º e 2.º, n.º 1, alínea a), ambos do CIRC), tributada
pelo seu lucro (artigo 3.º, n.º 1, alínea a), do CIRC), determinado de acordo com o artigo 17.º, n.º 1, do CIRC, que concretiza
o princípio da tributação do rendimento real, consagrado no artigo 104.º, n.º 2, da CRP. Aplicação da alíquota de 21% (artigo
87.º, n.º 1 do CIRC).
ii. Preços de transferência: Referência à regra específica antiabuso em matéria de preços de transferência do artigo 63.º do
CIRC. Identificação da existência de relações especiais quer no caso das empresas participadas localizadas em Espanha (artigo
63.º, n.º4, alínea a), do CIRC), quer no caso da empresa localizada nas Ilhas Cayman (artigo 63.º, n.º4, alínea h), do CIRC).
Referência às Ilhas Cayman enquanto território com um regime fiscal claramente mais favorável, constando da Portaria n.º
150/2004, de 13 de fevereiro, ex vi artigo 63.º-D, n.º 1, da LGT). Ajustamento do lucro tributável (artigo 63.º, n.º9, do CIRC).
iii. Discussão sobre a dedutibilidade do gasto incorrido com os arranjos no exterior na sede da empresa ERC S.A. à luz do
business purpose test (artigo 23.º, n.º1, do CIRC).
iv. Não dedutibilidade do gasto referente ao apagamento dos serviços prestados pela sociedade com sede nas Ilhas Cayman
(artigo 23 A, n.º 1, alínea r), do CIRC.
v. Quanto às despesas não documentadas e multas: não dedutibilidade das despesas não documentadas e das multas (artigo
23.º A, n.º 1, alíneas b) e e), do CIRC). Sujeição da tributação autónoma das despesas não documentadas, à alíquota de 50%,
(artigo 88.º, n.º 1, do CIRC), podendo em ano de prejuízos ser agravada em 10 pontos percentuais (artigo 88.º, n.º 14, do
CIRC).
vi. Quanto às despesas com viagens e espetáculos oferecidos a clientes da empresa: despesas de representação sujeitas a
tributação autónoma, à alíquota de 10% (artigo 88.º, n.º 7, do CIRC), podendo em ano de prejuízos ser agravada em 10
pontos percentuais (artigo 88.º, n.º 14, do CIRC).

Grupo I – 6 valores; Grupo II – 8 valores; Grupo III – 6 valores


Direito Fiscal – 4.º Ano – Turma A
Exame Escrito da Época de Recurso – Ano Letivo de 2020/2021
Regência: Professora Doutora Ana Paula Dourado
Colaboradores: Mestres Nuno de Oliveira Garcia, Sónia Martins Reis, Sérgio Varela Alves e Daniela Pessoa
Tavares
09 de Abril de 2021 – Duração 90 minutos

Leia com atenção e comente de forma fundamentada e sucinta, invocando as Normas, Jurisprudência e
Doutrina que tenha por convenientes.

O António residiu nos últimos 10 anos em França e passou a residir em Portugal em Janeiro de 2021. Ele prevê
auferir em 2021 exatamente os mesmos rendimentos que auferiu em 2020, sendo que pretende saber a diferença
de tributação que terá em Portugal no ano de 2020 e 2021 em sede de IRS, bem como se haverá algum regime de
tributação mais favorável que se lhe possa aplicar. O salário de 40.000,00 €/ano que recebia em França do exer-
cício de uma atividade de elevado valor acrescentado passou em Janeiro a ser recebido em Portugal, mas continuará
a receber os juros que já recebia de duas contas de depósito a prazo no Crédit Agricole em França e na Caixa Ge-
ral de Depósitos em Portugal, bem como as rendas de um imóvel que sempre teve arrendado em Lisboa.

II

A “XPTO, Lda.” é uma Fábrica que se encontra em dificuldades financeiras fruto da pandemia Covid-19. Assim
sendo, teve prejuízo e não lucro no exercício de 2020 e é necessário saber como será tributada em sede de IRC
em relação a algumas despesas efetuadas e, nomeadamente, em relação às despesas não documentadas que efetuou.
A “XPTO, Lda.” também não entregou as quotizações para a Segurança Social nem o IRS retidos do salário dos
seus trabalhadores, nos últimos quatro meses e num valor total inferior a 7.500,00 €.

Por Decreto-Lei simples o Governo pretende em 2021 aumentar todas as alíquotas de IRS do artigo 68.º do CIRS,
a produzir efeitos a partir do dia de hoje e, ainda, criar um novo escalão de IRS com uma alíquota de 60% para os
rendimentos coletáveis superiores a 100.000,00 €.

O Bento esteve desempregado 2020 e sem auferir quaisquer rendimentos, mas adquiriu um imóvel por 500.000,00
€ sito no Porto e transferiu para Portugal 100.000,00 € que tinha numa conta de depósito num Banco das Bahamas.

Grupo I – 10 valores Grupo II – 10 valores


Grelha de Correção

(pontos essenciais a serem abordados)

António é sujeito passivo de IRS quer em 2020 como em 2021, pois em 2020 auferia rendimentos em território
português e em 2021 reside em Portugal, cf. o artigo 13.º, n.º 1 do CIRS. Em 2020 o mesmo será tributado em
Portugal pelo seu rendimento fonte, cf. o artigo 15.º, n.º 2 do CIRS, já em 2021 pelo seu rendimento mundial, cf.
o artigo 15.º, n.º 1 do CIRS. A sua residência é determinada em ambos os anos nos termos do artigo 16.º do CIRS.

(2 valores)

O salário é um rendimento da Categoria A, cf. o artigo 2.º, n.º 1, alínea a) e n.º 2 do CIRS. Em 2020 e porque obti-
do no estrangeiro o mesmo não será tributado em Portugal, já em 2021 será sujeito a englobamento, cf. o artigo
22.º, n.º 1 e n.º 3, alínea b) a contrario do CIRS, bem como às alíquotas que resultarem da aplicação da tabela do
artigo 68.º do CIRS, encontrando-se sujeito a retenção na fonte por conta do imposto devido ao final, cf. o artigo
99.º, n.º 1, alínea a) e 99.º-F, n.º 1 do CIRS.

(2 valores)

Os juros são um rendimento da Categoria E, cf. o artigo 5.º, n.º 1 e n.º 2, alínea b) do CIRS. Em 2020 apenas
serão tributados em Portugal os que auferiu da Caixa Geral de Depósitos e a uma alíquota de 28%, cf. o artigo
71.º, n.º 1, alínea a) do CIRS, acrescendo a estes e tão-só em 2021 os que aufira do Crédit Agricole, também a uma
alíquota de 28%, mas desta feita ex vi artigo 72.º, n.º 1, alínea d) do CIRS. Apenas em 2021 poderá optar pelo en-
globamento de ambos, cf. os artigos 71.º, n.º 8 e 72.º, n.º 13 do CIRS. Somente os rendimentos do artigo 71.º es-
tão sujeitos a retenção na fonte a título definitivo, já os do artigo 72.º do CIRS não estão sujeitos a qualquer reten-
ção na fonte.

(2 valores)

As rendas são um rendimento da Categoria F, cf. o artigo 8.º, n.º 1 do CIRS. Quer em 2020 como em 2021 as
mesmas estarão sujeitas a uma alíquota de no mínimo 28% e dependendo da duração do contrato de arrenda-
mento, cf. o artigo 72.º, n.º 1, alínea e) e n.º 2 e ss. do CIRS, mas tão-só em 2021 poderá ser feita a respetiva op-
ção pelo seu englobamento, cf. o artigo 71.º, n.º 8 do CIRS.

(2 valores)

Em 2021 poderá António ter lugar ao crédito de imposto do artigo 81.º, n.º 1 do CIRS, sendo que o regime de tri-
butação mais favorável referido é o do “residente não-habitual”, cf. o artigo 16.º, n.º 8 e ss. do CIRS, caso em que
se aplicará uma alíquota de 20% ao salário e nos termos do artigo 72.º, n.º 10 do CIRS, com lugar à retenção na
fonte do artigo 99.º, n.º 8 do CIRS, bem como à isenção de tributação em Portugal de determinados rendimentos
auferidos no estrangeiro, cf. o artigo 81.º, n.ºs 4 e 5 do CIRS.

(2 valores)
II

A “XPTO, Lda.” é sujeito passivo de IRC, cf. o artigo 2.º, n.º 1, alínea a) do CIRC, sendo tributada em sede de
IRC pelo seu lucro, cf. o artigo 3.º, n.º 1, alínea a) do CIRC, nos termos do artigo 17.º, n.º 1 do CIRC, que concre-
tiza o princípio da Tributação do Rendimento Real consagrado no artigo 104.º, n.º 2 da CRP.

(1 valor)

As despesas não documentadas não são dedutíveis, cf. o artigo 23.º-A, n.º 1, alínea b) do CIRC, estão sujeitas a
uma alíquota de tributação autónoma de 50%, cf. o artigo 88.º, n.º 1 do CIRC, não sendo o quantum específico de
tributação autónoma dedutível, cf. o artigo 23.º-A, n.º 1, alínea a) do CIRC, podendo em ano de prejuízos ser
agravada a referida alíquota em 10 pontos percentuais, cf. o artigo 88.º, n.º 14 do CIRC.

(2 valores)

Como houve retenção, mas não entrega dos valores retidos, aplicar-se-á o artigo 28.º, n.º 1 da LGT, ficando os
trabalhadores (substituídos) desonerados de qualquer responsabilidade no pagamento dos tributos, sendo respon-
sável tributária a “XPTO, Lda.” (substituto). Sobre os sujeitos da relação jurídico-tributária vide o artigo 18.º da
LGT, sobre a reversão do processo de execução fiscal o artigo 23.º, n.ºs 1 e 2 da LGT e, ainda, sobre a respon-
sabilidade dos membros dos órgãos sociais o artigo 24.º da LGT. No caso nunca será possível ilidir a culpa funcio-
nal porque teremos verificada a prática do crime de “Abuso de confiança contra a Segurança Social”, cf. o artigo
107.º do RGIT e mesmo não se verificando o de “Abuso de Confiança” simples do artigo 105.º, n.º 1 do RGIT.

(2 valores)

O Governo não pode alterar as alíquotas (taxas) de um Imposto por Decreto-Lei simples, tendo-se uma inscons-
titucionalidade orgânica e formal, cf. os artigos 165.º, n.º 1, alínea i) e 103.º, n.º 2, 1.ª parte da CRP. Sendo o IRS
um Imposto periódico ou de formação sucessiva, cujo facto tributário se constituiu a 01 de Janeiro de 2021, mas
que tão-só se extinguirá a 31 de dezembro de 2021, só não será admissível o aumento das alíquotas do artigo 68.º
do CIRS se houver uma violação do princípio da Proteção da Confiança, cf., e.g., o Acórdão n.º 128/2009 do TC,
bem como o Princípio do Estado de Direito plasmado no artigo 2.º da CRP versus a proibição da retroatividade
consagrada no artigo 103.º, n.º 3 da CRP. A alíquota de 60% a incidir sobre a matéria coletável poderá consubstan-
ciar uma eventual situação de confisco, que configurará uma violação do artigo 62.º da CRP, cf. o Acórdão do
TEDH Gálls vs Hungria.

(3 valores)

No caso do Bento temos duas manifestações de fortuna, cf. o artigo 87.º, n.º 1, alínea d) e n.º 2 da LGT, a conjugar
com a tabela constante do n.º 4, do artigo 89.º-A da LGT, não auferindo ele quaisquer rendimentos e sendo as
Bahamas um Paraíso Fiscal, cf. a Portaria n.º 150/2004, atualizada à data. Não havendo lugar a prova em contrário
da parte do sujeito passivo teremos então rendimentos da Categoria G em sede de IRS, cf. os artigos 89.º-A, n.º 4
da LGT e 9.º, n.º 1, alínea d) do CIRS, in casu tributados a uma taxa de 60%, ex vi artigo 72.º, n.º 16 do CIRS.

(2 valores)
Direito Fiscal – 4.º Ano – Turma A
Exame Escrito de Coincidências da Época Normal – 2020/2021
Regência: Professora Doutora Ana Paula Dourado
Colaboradores: Mestres Nuno de Oliveira Garcia, Sónia Martins Reis, Sérgio Varela Alves e
Daniela Pessoa Tavares
26 de janeiro de 2021 – Duração 90 minutos

Leia com atenção e comente de forma fundamentada e sucinta, invocando as Leis,


Jurisprudência e Doutrina que tenha por convenientes
I

O Conselho de Administração da XPTO, S.A., composto pelo António, a Beatriz e o Carlos,


decidiu contrair um empréstimo com juros elevadíssimos para financiamento da ABC, LDA.,
uma empresa detida a 100% pela XPTO, S.A., e com o intuito de salvar ambas as empresas,
bem como pela não entrega do IRS retido sobre o salário dos seus trabalhadores. Esta mesma
decisão contou com o voto contra de Beatriz, voto esse que ficou exarado por escrito em ata
de reunião do respetivo órgão social, com o fundamento (1.º) da não dedutibilidade dos juros
do empréstimo e (2.º) para que Beatriz se eximisse de quaisquer responsabilidades tributárias
em relação à não entrega do IRS. Acontece, todavia, que volvidos 6 meses o valor de IRS re-
tido e não entregue já perfaz 20.000,00 € e Beatriz foi demandada pela AT para o pagamento
integral da dívida tributária. A XPTO, S.A., detém também a 100% a empresa “DEF, Ltd.”,
cuja atividade consiste na exploração de Hotéis nas Bahamas, sendo que também lhe contrata
a prestação efetiva de serviços regulares de consultadoria a preços normais de mercado.

II

A Ana e o Bento, unidos de facto há vários anos, terminaram no ano civil transato as suas
Licenciaturas. Ana, encontra-se agora como estagiária a “recibos verdes” num escritório de
Advocacia em Lisboa onde aufere 1.000,00 €/mês e, Bento, tem um contrato de trabalho
como médico estagiário num Hospital privado em Sintra de 1.200,00 €/mês. Ambos recebem
rendas de um imóvel situado em Benfica, onde realizaram extensas obras antes de o arrendar,
por contrato de arrendamento de 5 anos e optaram pela entrega conjunta da sua declaração
de IRS. Em Julho de 2021, o Governo decide igualmente aumentar o valor das quotizações
para a Segurança Social, por Decreto-lei simples e com efeitos a 1 Janeiro de 2021, tendo-se
como racional o aumento dos gastos com prestações sociais e fruto da Pandemia Covid-19.

Grupo I – 10 valores Grupo II – 10 valores


Grelha de Correção Grelha de Correção

(pontos essenciais a serem abordados)

As sociedades comerciais XPTO, S.A., e ABC, LDA., são sujeitos passivos de IRC, cf. o arti-
go 2.º, n.º 1, alínea a) do CIRC, incidindo o tributo sobre o seu lucro, cf. o artigo 3.º, n.º 1,
alínea a) do CIRC, determinado de acordo com o artigo 17.º, n.º 1 do CIRC, que concretiza
o princípio da tributação do «rendimento real» consagrado no artigo 104.º, n.º 2 da CRP.
Esse mesmo lucro é depois cometido a uma alíquota de 21%, cf. o artigo 87.º, n.º 1 do CIRC.

(2 valores)

No que respeita à dedutibilidade dos juros, temos que os mesmos não serão dedutíveis pela
XPTO, S.A. É verdade, que o artigo 23.º, n.º 2, alínea c) do CIRC prevê a priori a sua dedutibi-
lidade, contudo, “os custos previstos naquele art.23.º têm de respeitar à própria sociedade”
e não outra e mesmo que participada, cf., e.g., o Acórdão do STA n.º de processo 0246/02,
de 10.07.2002, denotando-se apenas a ressalva das SGPS’s, em que a concessão de
empréstimos às sociedades participadas se integra na sua atividade, cf. o artigo 5.º, n.º 1,
alínea c) e n.º 2 do Decreto-lei n.º 495/88, de 30 de dezembro, que «define o regime jurídico
das» SGPS’s.

(2 valores)

No que respeita à retenção e não entrega do IRS temos como sujeito ativo o Estado, cf. o
artigo 18.º, n.º 1 da LGT e, como sujeitos passivos, os trabalhadores enquanto substituídos,
a empresa enquanto substituto e, eventualmente, estes e os administradores como responsá-
veis tributários, cf. o artigo 18.º, n.º 3 da LGT. Acontece, que como houve retenção e não
entrega temos que os trabalhadores ficam desonerados «de qualquer responsabilidade no seu
pagamento», respondendo como devedor principal o substituto, apenas se podendo deman-
dar os devedores subsidiários por via da «reversão do processo de execução fiscal», se o patri-
mónio da empresa for insuficiente ou inexistente para o cumprimento da obrigação tributária
e com lugar ao «benefício da excussão» prévia, cf. os artigos 23.º, n.ºs 1 e 2 e 28.º, n.º 1 da
LGT. Todavia, e em relação aos administradores, ter-se-á de analisar da sua culpa funcional,
sendo-lhes exigida uma diligência máxima no exercício das funções e uma vez que gerem
património alheio, devendo igualmente ser criteriosos e ordenados, cf. o artigo 64.º, n.º 1,
alínea a) do CSC. Assim, não se terá por diligente quem contraia um empréstimo “com juros
elevadíssimos […] para salvar ambas as empresas”, denotando-se, daqui, uma conduta teme-
rária ou demasiado arriscada, não sendo também impossível ilidir a culpa funcional aquando
da prática de um crime, e.g., e no caso, se transitada em julgado a sentença de condenação
dos administradores por «Abuso de Confiança», cf. o artigo 105.º, n.º 1 e n.º 4, alínea a) do
RGIT. Acresce, que o ónus da prova da culpa funcional recai sobre os administradores e nos
termos do artigo 24.º, n.º 1, alínea b) da LGT, bem podendo Beatriz carrear a ata como prova
de que não é culpada e eximir-se desde modo da responsabilidade tributária, sendo António
e Carlos devedores solidários entre si.

(2 valores)

Em relação à “DEF, Ltd.”, cuja atividade consiste na exploração de Hotéis nas Bahamas”,
temos um território com um regime fiscal claramente mais favorável (vulgo, um paraíso fis-
cal), constando o mesmo da Portaria n.º 150/2004, de 13 de Fevereiro, ex vi artigo 63.º-D,
n.º 1 da LGT. Assim, o lucro da “Ldt.” será imputado à XPTO, LDA., por força do estipula-
do no artigo 66.º, n.º 1 e n.º 6, alínea a) do CIRC que sagra esta cláusula específica anti-abuso.

(2 valores)

Por último, a XPTO, LDA., também contrata a prestação de serviços de consultoria à “DEF,
Ltd.”, razão pelo qual se poderia equacionar da aplicação da cláusula específica anti-abuso do
artigo 23.º-A, n.º 1, alínea r) do CIRC, que resultaria não só na não dedutibilidade do gasto,
mas também, na sua sujeição a tributação autónoma à alíquota de 35%, cf. o artigo 88.º, n.º
8 e n.º 1 do CIRC, todavia, e uma vez que temos “a prestação efetiva de serviços regulares
de consultadoria a preços normais de mercado”, a operação não tem um «caráter anormal ou
um montante exagerado», razão pela qual o gasto será dedutível e não sujeito à referida alí-
quota de tributação autónoma, cf. o artigo 23.º, n.º 2, alínea a) do CIRC.

(2 valores)

II

A Ana e o Bento são sujeitos passivos de IRS, pois não só residem em território português
como aqui obtêm rendimentos, cf. os artigos 13.º, n.º 1 e 16.º, n.º 1, alínea a) do CIRS (pois
trabalhando ambos em Portugal, também aqui terão residência), sendo então tributados pelo
seu rendimento mundial (“worlwide income”), cf. o artigo 15.º, n.º 1 do CIRS. Uma vez que vi-
vem em união de facto podem efetivamente optar pela “entrega conjunta da sua declaração
de IRS”, cf. o artigo 13.º, n.ºs 2 e 3 do CIRS, caso em que se aplicará o «quociente familiar»
do artigo 69.º, n.ºs 1 e 3 do CIRS, fazendo ambos parte do mesmo agregado familiar, cf. o
artigo 13.º, n.º 4, alínea a) do CIRS.

(2 valores)

A Ana enquanto advogada a “recibos verdes” aufere um rendimento da Categoria B, cf. o


artigo 3.º, n.º 1, alínea b), bem como o CAE 6010 «da tabela de atividades do artigo 151.º»,
todos do CIRS. O rendimento líquido da Categoria será determinado nos termos do artigo
28.º e ss. do CIRS, com base no «regime simplificado» em que se aplicará um coeficiente de
despesa de 0,75, cf. o artigo 28.º, n.º 1, alínea a) e 31.º, n.º 1, alínea b) do CIRS, ou por opção,
«com base na contabilidade» e uma vez que não auferiu «no período de tributação imediata-
mente anterior um montante anual ilíquido de rendimentos desta categoria» de 200.000,00 €,
caso em que se aplicariam as regras do CIRC e por remissão do artigo 32.º do CIRS, cf. o
artigo 28.º, n.º 1, alínea b) e n.º 2 do CIRS. O rendimento em causa encontra-se sujeito a
englobamento, cf. o artigo 22.º, n.º 1 do CIRS, bem como cometido á alíquota que resultar
da aplicação da tabela do artigo 68.º do CIRS, estando também sujeito a retenção na fonte,
ex vi artigo 101.º, n.º 1, alínea b) e ss. do CIRS.

(2 valores)

Já Bento tem um “contrato de trabalho” pelo que aufere um rendimento da Categoria A, cf.
o artigo 2.º, n.º 1, alínea a) do CIRS, cujo rendimento líquido da Categoria será determinado
nos termos do artigo 25.º e ss. do CIRS, rendimento esse que se encontra sujeito a engloba-
mento, cf. o artigo 22.º, n.º 1 do CIRS, bem como cometido á alíquota que resultar da aplica-
ção da tabela do artigo 68.º do CIRS, estando igualmente sujeito a retenção na fonte, mas
desta feita ex vi artigo 99.º, n.º 1, alínea a) e ss. do CIRS.

(2 valores)

No que respeita às rendas que ambos recebem “de um imóvel situado em Benfica”, as mes-
mas perfazem um rendimento da Categoria F, cf. o artigo 8.º, n.º 1 do CIRS, cujo rendimento
líquido da Categoria é determinado nos termos do artigo 41.º do CIRS, tendo-se que no caso
as “extensas obras” serão a priori dedutíveis e se cumprindo com o preceituado no artigo 41.º,
n.º 7 do CIRS, estando cometido a uma alíquota de 23%, cf. o artigo 72.º, n.º 1, alínea e) e
n.º 3 e em virtude do “arrendamento de 5 anos”, apenas sendo englobado por opção do res-
petivo titular, cf. os artigos 72.º, n.º 13 e 22.º , n.º 3, alínea a) do CIRS.

(2 valores)
Findamos com o “Decreto-lei simples” aprovado pelo Governo, “com efeitos a 1 Janeiro de
2021” e que padece de inconstitucionalidade orgânica e formal. No que concerne à inconsti-
tucionalidade orgânica, temos que se tratando o tributo de uma contribuição financeira uni-
lateral e precisamente porque não bilateral, quer Ana Paula Dourado como José Casalta Na-
bais o cometem a reserva de lei, havendo uma violação do artigo 165.º, n.º 1, alínea i) e n.º 2
da CRP, não se tendo qualquer LAL. Já em relação à material, e tratando-se as “quotizações
para a Segurança Social” de um facto tributário de obrigação única, não pode a LN aplicar-
se para o passado e abarcar factos tributários que já tenham tido lugar, tendo-se uma situação
de retroatividade forte, proibida expressamente no artigo 103.º, n.º 3 da CRP e de acordo
com a interpretação que do mesmo é feita pela TC, cf., e.g., o Acórdão n.º 575/14, de 3 de
Setembro.

(2 valores)
DIREITO FISCAL – 4.º ANO – TURMA A
Exame Escrito da Época Especial – Ano Letivo de 2020/2021
Regência: Professora Doutora Ana Paula Dourado
Colaboradores: Mestres Nuno de Oliveira Garcia, Sónia Martins Reis, Sérgio Varela Alves e Daniela Pessoa Tavares
8 de Setembro de 2021 – Duração 90 minutos

Leia com atenção e comente de forma fundamentada e sucinta, invocando as Normas, Jurisprudência e
Doutrina que tenha por convenientes.

I
Francisco e Clara, casados há 6 anos, decidiram mudar-se em 2018 para o Sul de Itália. Filipa, irmã de Francisco,
que sempre viveu em Arganil, decidiu juntar-se à viagem, trocando o rio Alva pelo mar mediterrâneo. Apesar da
mudança para o Sul de Itália:

a) Francisco manteve o seu cargo de administrador na empresa TURISMO-INTERIOR S.A., com sede em
Arganil, tendo auferido, em 2020, rendimentos no valor de 40.000 € a título de remuneração pelo exercício de
funções no órgão estatutário daquela empresa;
b) Francisco manteve-se proprietário de uma casa em Piódão, tendo procedido à alienação da mesma em dezembro
de 2020, por um montante de 250.000 €;
c) A empresa TURISMO-INTERIOR S.A. deixou de efetuar retenção na fonte sobre os rendimentos pagos a
Francisco desde 1 de janeiro de 2020.

II

Filipa regressou a Portugal dois anos depois, em maio de 2020, tendo aí permanecido o resto do ano. Nesse ano,
Filipa auferiu 7.000€ resultantes da venda das ações que detinha, desde 2010, na empresa MAISLUCRO S.A.,
sociedade portuguesa não cotada, com sede em Setúbal.

No mesmo ano, em dezembro de 2020, a legislação fiscal foi alterada, passando a prever que as mais-valias mobiliárias,
independentemente do momento da aquisição das ações e do período de detenção, passariam a ser tributadas em sede
de IRS, com efeitos a 1 de janeiro de 20201.

III

Em 2021, a sociedade MAISLUCRO S.A., que apurou prejuízos fiscais nos anos anteriores, foi objeto de uma
inspeção fiscal, tendo-se verificado que aquela sociedade:

a) Celebrou vários contratos de prestação de serviços com empresas localizadas nos Emirados Árabes Unidos,
pretendendo deduzir como gasto o avultado montante de 400.000 € pago como contraprestação pelos
serviços que lhe foram prestados;
b) Tinha registadas diversas despesas não documentadas e também multas;
c) Pagou bónus aos administradores em valor superior a 30.000 € pelo seu desempenho excecional.

Quid iuris?

Grupo I – 7,5 valores; Grupo II – 7,5 valores e Grupo III - 5 valores.

1 Deverá ficcionar-se, para efeitos do presente enunciado, que, até à alteração legislativa ocorrida em dezembro 2020 indicada no enunciado - não se
encontrava prevista, na legislação portuguesa, a tributação em sede de IRS das mais valias-mobiliárias decorrentes da alienação de ações detidas pelo
seu titular durante mais de 12 meses.
Grelha de correção

Grupo I – 7,5 valores; Grupo II – 7,5 valores e Grupo III - 5 valores.

I
i. Incidência pessoal de IRS: caracterização de Francisco enquanto sujeito passivo de IRS, não residente em
território português e aí auferindo rendimentos (artigos 13.º, n.º 1 e 16.º do CIRS), tributado apenas pelos
rendimentos obtidos em Portugal (artigos 15.º, n.º 2, e 18.º do CIRS). (1 valor)
ii. Incidência real de IRS:
a. Rendimentos auferidos a título de remuneração pelo exercício de funções em órgãos estatutários:
rendimentos da categoria A (trabalho dependente), nos termos do disposto no artigo 2.º, n.º 3, alínea a), do
CIRS, pagos por sociedade comercial com sede em Portugal a um sujeito passivo de IRS não residente em
território português e, portanto, aí sujeitos a tributação (artigo 15.º, n.º 2 e artigo 18.º, n.º 1, alínea b), ambos
do CIRS). Rendimentos determinados nos termos do artigo 25.º e ss. do CIRS, sujeitos a retenção na fonte
com a natureza definitiva e liberatória, nos termos do disposto nos artigos 2.º, n. º3, alínea a) e 71º, n.º 4,
alínea a), ambos do CIRS, à alíquota de 25% (não sendo aplicáveis as alíquotas constantes da tabela geral
do artigo 68.º do CIRS, nem sendo possível o englobamento (artigos 22.º, n.º 3 e 71.º, n.º 8 do CIRS)); (2
valores)
b. Mais-valia imobiliária: ponderar eventual rendimento da categoria G – mais-valia imobiliária (artigos 9.º,
n.º 1, alínea a) e 10.º, n.º 1, alínea a) do CIRS), obtido em Portugal e aí sujeito a tributação (artigo 15.º, n.º
2 e artigo 18.º, n.º 1, alínea h), ambos do CIRS), não sendo aplicável o regime do reinvestimento previsto
no artigo 10.º, n.º 5 do CIRS. Rendimento determinado nos termos do artigo 43.º do CIRC e sujeito à taxa
especial de 28% prevista no artigo 72.º, n.º 1, alínea a), do CIRS (não sendo aplicáveis as alíquotas constantes
da tabela geral do artigo 68.º do CIRS, nem sendo possível o englobamento (artigos 22.º, n.º 3 e 72.º, n.º 13
do CIRS). (2 valores)
iii. Responsabilidade tributária em caso de substituição: identificação da sociedade TURISMO-INTERIOR S.A.
enquanto substituto tributário e, por essa via, sujeito passivo de IRS (artigos 18.º, n.º 3, e 20.º, ambos da LGT). A
responsabilidade originária pelas importâncias não retidas é do substituto tributário (TURISMO-INTERIOR S.A.)
e a responsabilidade tributária subsidiária é do substituído (artigos 23.º e 28º, n. º3 da LGT). Discutir possível
responsabilidade subsidiária dos administradores (artigos 23.º e 24.º da LGT). (2,5 valores)

II
i. Incidência pessoal de IRS: caracterização de Filipa enquanto sujeito passivo de IRS, residente em território
português no ano de 2020 (artigos 13.º, n.º 1 e 16.º, n.º 1, alínea a), do CIRS), sujeita a tributação em Portugal pelo
seu rendimento mundial “worlwide income” (artigo 15.º, n.º 1, do CIRS). (1 valor)
ii. Incidência real de IRS: ponderar eventual rendimento da categoria G – mais-valia mobiliária (artigos 9.º, n.º 1,
alínea a) e 10.º, n.º 1, alínea b) do CIRS), tributado nos termos do artigo 43.º do CIRS, sendo considerado apenas
50 % valor do saldo, por se tratar de pequena empresa não cotada em mercado regulamentado (artigo 43.º, n.º 3, do
CIRS). Aplicação da taxa especial de 28% (artigo 72.º, n.º1, alínea c), do CIRS). Opção pelo englobamento (artigos
n.ºs 72.º, n.º 13 e 22.º, n.º 3, alínea b), do CIRS); (2 valores)
iii. Retroatividade fiscal: discussão sobre a proibição da retroatividade fiscal da lei que passou a determinar que as
mais-valias mobiliárias, independentemente do momento da aquisição das ações e do período de detenção,
passariam a ser tributadas em sede de IRS, com efeitos a 1 de janeiro de 2020. Para o efeito: (a) caracterização do
facto tributário (facto tributário complexo de formação sucessiva ao longo de um ano vs. facto tributário de
obrigação única, que nasce e se esgota no momento da alienação e realização da mais-valia) e (b) identificação das
consequências em sede de aplicação no tempo da lei fiscal (retroatividade inautêntica / retrospetividade, admissível
à luz do artigo 103.º, n.º 3, da CRP, com inerente análise da conformidade com o princípio da proteção da confiança
(na vertente segurança jurídica), à luz do artigo 2.º da CRP (sendo de referir evolução da jurisprudência a este respeito
- e.g, Acórdãos n.ºs 18/2011; 310/2012 e 617/2012 , todos do TC) vs. retroatividade autêntica / forte de uma norma
oneradora, proibida nos temos do artigo 103.º, n.º 3, da CRP. Referência à posição da jurisprudência sobre a
aplicação da lei no tempo no caso de mais-valias obtidas com a alienação onerosa de participações sociais (e.g.,
Acórdão do STA n.º 5/2017), assim como a posição da Regência. (4,5 valores)

III

i. Incidência pessoal e real de IRC: enquadramento da sociedade MAISLUCRO S.A. enquanto sujeito passivo de
IRC (artigos 1.º e 2.º, n.º 1, alínea a), ambos do CIRC), tributada pelo seu lucro (artigo 3.º, n.º 1, alínea a), do CIRC),
determinado de acordo com o artigo 17.º, n.º 1, do CIRC, que concretiza o princípio da tributação do rendimento
real, consagrado no artigo 104.º, n.º 2, da CRP. Aplicação da alíquota de 21% (artigo 87.º, n.º 1 do CIRC). (1 valor)
ii. Determinação da matéria coletável de IRC:
a. Pagamento pelos serviços prestados: não dedutibilidade do gasto referente ao pagamento pelos serviços
prestados pela sociedade com sede Emirados Árabes Unidos, país com um regime fiscal claramente mais
favorável (artigo 63.º-D da LGT e Portaria n.º 150/2004, atualizada à data (artigo 23.º-A, n.º 1, alínea
r), do CIRC); (1 valor)
b. Despesas não documentadas e das multas: não dedutibilidade das despesas não documentadas e das
multas (artigo 23.º A, n.º 1, alíneas b) e e), do CIRC). Sujeição da tributação autónoma das despesas não
documentadas, à alíquota de 50%, (artigo 88.º, n.º 1, do CIRC), agravada em 10 pontos percentuais em ano
de prejuízos fiscais (artigo 88.º, n.º 14, do CIRC), não sendo o quantum de tributação autónoma dedutível,
cf. o artigo 23.º-A, n.º 1, alínea a) do CIRC; (2 valores)
c. Bónus aos administradores: Sujeição a tributação autónoma do pagamento de bónus aos administradores
em valor superior a 30.000 €, à alíquota de 35%, nos termos do artigo 88.º, n.º 13, b), do CIRC, agravada
em 10 pontos percentuais em ano de prejuízos fiscais (artigo 88.º, n.º 14, do CIRC), não sendo o quantum
de tributação autónoma dedutível, cf. o artigo 23.º-A, n.º 1, alínea a) do CIRC. (1 valor).
Direito Fiscal – 4.º Ano – Turma A
Exame Escrito – Recurso – 2019/2020
Regência: Professora Doutora Ana Paula Dourado
Colaboradores: Professora Doutora Paula Rosado Pereira, Mestre Nuno de Oliveira Garcia, Mestre
Sónia Martins Reis e Dr. Sérgio Varela Alves

14 de fevereiro de 2020 – Duração 90 minutos

Leia com atenção e comente de forma fundamentada e sucinta, invocando os preceitos legais e a
jurisprudência relevante
I

António, aluno finalista na FDUL, trabalha numa loja para poder pagar os seus estudos. O mesmo
aufere um salário de 700 €, a que acrescem 10 € diários de subsídio de alimentação atribuído em vale (um
valor que excede em muito o limite legal), bem como diversas “gorjetas” dos clientes da sua entidade pa-
tronal. Uma vez que decidiu viver em Lisboa, vendeu também por 2.000 € uma Scooter que comprara por
1.000 €, que a somar a outros 1.000 € que recebeu de um prémio literário, lhe permitirá frequentar o Mes-
trado em Direito na FDUL.

Entretanto, recebeu dinheiro de uma herança e adquiriu um imóvel por 300.000 euros.

A empresa ABC, Lda., vendeu parte do seu stock pelo dobro do preço de mercado à XYZ, Lda.,
detida por si a 100% e com o intuito de reduzir prejuízos. Tudo isto, num ano em que teve diversas des-
pesas não documentadas, gastos com ajudas de custo e despesas de representação. Acresce, que teve de
pagar diversas coimas por excesso de velocidade, relacionadas com veículos de que é proprietária.

II

A Câmara Municipal de Lisboa decidiu criar uma “Contribuição de Melhoria”, a ser paga pelos
proprietários de imóveis lisboetas e calculada em função do seu valor patrimonial, dando como justificação
para o tributo, a melhoria das infraestruturas da cidade que valorizou os respetivos imóveis. Todavia, criou
uma isenção para os proprietários com mais de 65 anos e pensões de valor inferior ao salário mínimo.

Por Decreto-Lei simples e a 14.02.2020, o Governo decide aumentar todas as alíquotas do artigo
68.º do CIRS em 5%, bem como reduzir em 3% a alíquota de 21% do artigo 87.º do CIRC, uma alteração
a produzir efeitos a 01.01.2020. E, aproveitando o momento, alterou também o regime da responsabilidade
tributária dos membros de corpos sociais e responsáveis técnicos, consagrado no artigo 24.º da LGT.

Grupo I – 10 valores Grupo II – 10 valores


Grelha de Correção

(pontos essenciais a serem abordados)

António
Determinação da incidência pessoal:
● Artigo 13.º, n.º 1 do CIRS: Reside em território português (“Lisboa”) e aqui obtém rendimentos.
● Artigo 16.º, n.º 1, alínea a) do CIRS: Sendo residente quem nele permanece mais de 183 dias.
● Artigo 15.º, n.º 1 do CIRS: Caso em que se é tributado pelo rendimento mundial (worldwide income).
Determinação do rendimento líquido por Categoria:
● Categoria A: Salário (artigo 2.º, n.º 1, alínea a) e n.º 2 do CIRS); Subsídio de Refeição (artigo 2.º, n.º 3,
alínea b), n.º 2 do CIRS); Gratificações (artigo 2.º, n.º 3, alínea g) e 72.º, n.º 7 do CIRS). Retenção na fonte
do salário e do excesso do subsídio, mas já não das gratificações, cf. o artigo 99.º, n.º 1, alínea a) do CIRS,
englobamento ou não e nos termos do artigo 22.º, n.º 1 e n.º 3, alínea b) do CIRS, bem como a sujeição
ou não às taxas gerais do artigo 68.º do CIRS.
● “Scooter”: As mais-valias resultantes da alienação de coisas móveis não são tributadas em IRS, cf. a contr-
ario o artigo 10.º do CIRS.
● “Prémio Literário”: Excluído de tributação nos termos do artigo 12.º, n.º 2 do CIRS.
● “Aquisição do imóvel por 300.000 euros”: Manifestação de fortuna (artigo 87.º, n.º 1, alínea d) e 89.º-A,
n.º 4 da LGT), elidível pelo recebimento do “dinheiro de uma herança”.
ABC, Lda.
Determinação da incidência:
● Artigo 2.º, n.º 1, alínea a) do CIRC: Sociedade Comercial (“Lda.”).
● Artigo 3.º, n.º 1, alínea a) e 17.º, n.º 1 do CIRC, bem como 104.º, n.º 2 da CRP: É tributada pelo lucro
tributável ou rendimento real.
Preços de transferência:
● Artigo 63.º, n.º 4, alínea a) e n.ºs 1, 2 e 3, alínea a), bem como o n.º 9 do CIRC: Correção do lucro tribu-
tável pela AT, pelo montante que teria sido obtido se as operações se tivessem efetuado numa situação
normal de mercado e por entidades independentes.
Dedutibilidade dos gastos:
● Despesas não documentadas: Não dedutíveis (artigo 23.º-A, n.º 1, alínea b) do CIRC) e sujeitas a tributa-
ção autónoma (artigo 88.º, n.º 1 do CIRC).
● Ajudas de custo: São a priori dedutíveis (artigo 23.º, n.º 2, alínea d) do CIRC), mas sujeitas a tributação
autónoma (artigo 88.º, n.º 9 do CIRC) cujo quantum não é dedutível (artigo 23.º-A, n.º 1, alínea a) do CIRC).
● Despesas de representação: São a priori dedutíveis (artigo 23.º, n.º 1 do CIRC), mas sujeitas a tributação
autónoma (artigo 88.º, n.º 7 do CIRC) cujo quantum não é dedutível (artigo 23.º-A, n.º 1, alínea a) do CIRC).
● Coimas “por excesso de velocidade”: não dedutíveis (artigo 23.º-A, n.º 1, alínea e) do CIRC).
I

“Contribuição de Melhoria”
● Tributo ad valorem (“em função do seu valor patrimonial”), discussão sobre imposto versus contribuição
unilateral e o prescrito no artigo 4.º, n.º 3 da LGT.
Princípio da Legalidade
● Sendo o tributo supra ad valorem, quer a Professora Ana Paula Dourado como o Professor Casalta Nabais
defendem, a sua sujeição à reserva de lei, ex vi artigo 165.º, n.º 1, alínea i) e 103.º, n.º 2 da CRP.
● A criação de Benefícios Fiscais está cometida à reserva de lei, cf. o artigo 103.º, n.º 2, 2.ª parte da CRP.
● O Governo ao alterar as taxas dos artigos 68.º do CIRS e 87.º do CIRC, contende com o quantum (“taxa”)
do artigo 103.º, n.º 2, 1.ª parte da CRP, e ao alterar o regime da responsabilidade tributária do artigo 24.º
da LGT, contende com o an (“incidência”) do artigo 103.º, n.º 2, 1.ª parte da CRP.
● Dissenso doutrinário sobre a sujeição ou não à reserva de lei de normas fiscais desoneradoras, cf. os
Professores Casalta Nabais e Vieira de Andrade versus Professora Ana Paula Dourado.
Aplicação da Lei no Tempo
● Temos dois factos tributários de obrigação periódica que ainda não se extinguiram, logo, duas situações
de retrospetividade que somente serão admissíveis se não violarem o princípio da proteção da confiança.
Análise da violação desse mesmo princípio, ex vi artigo 2.º da CRP e dos critérios do Ac. do TC n.º 128/09,
bem como da admissibilidade da aplicação retroativa das normas fiscais desoneradoras.
Direito Fiscal – 4.º Ano – Turma A
Exame Escrito – 2019/2020
Regência: Professora Doutora Ana Paula Dourado
Colaboradores: Professora Doutora Paula Rosado Pereira, Mestre Nuno de Oliveira Garcia, Mestre Sónia
Martins Reis e Dr. Sérgio Varela Alves
16 de janeiro de 2020 – Duração 90 minutos

Leia com atenção e comente de forma fundamentada e sucinta, invocando os preceitos legais e a
jurisprudência relevante
I

Anabela e Bernardo, casados e residentes em Lisboa, têm um filho Carlos de 22 anos, que vive com eles e
é aluno finalista na FDUL. Todos auferem diversos rendimentos em Portugal e no estrangeiro, sendo que Carlos
recebe um pequeno salário por trabalhar em part-time em Lisboa, de 300 euros por mês.

Anabela, é advogada na “XPTO & Associados”, onde aufere 40.000 euros por ano. Acontece, que as des-
pesas de todo o escritório têm que ser pagas por si, razão pela qual está a pensar em optar pela determinação do
rendimento com base na contabilidade. Só de renda do escritório paga 10.000 euros por ano (25% do rendimento
auferido), a que acrescem outras despesas, razão pela qual se pergunta sobre se a opção é a mais acertada.

Bernardo, é gerente na “Esquemas, Lda.”, onde aufere 25.000 euros por ano. Sucede, que a Lda. contraiu
um empréstimo bancário que foi integralmente gasto numa outra empresa do grupo, procedeu ao pagamento de
serviços de consultoria de uma entidade sediada nas Bahamas, bem como adquiriu uma viatura ligeira de passagei-
ros híbrida plug-in, pelo valor de 30.000 euros e com a qual a Lda. tem diversos encargos. Bernardo, pensa que
todos os gastos são dedutíveis, mas gostaria de ter uma segunda opinião sobre o assunto.

Carlos, também acha ser injusto ter de pagar 28% sobre uns juros que recebe de um depósito a prazo na
Suíça, de uma conta que lá lhe abriram quando ele era mais novo, pois com o seu pequeno salário gostaria de saber
se há alguma maneira de poder pagar menos de IRS sobre os mesmos.

II

A Câmara Municipal do Porto, decidiu criar uma “Taxa de Poluição Automóvel”, a ser cobrada pela entra-
da de veículos automóveis no centro da cidade, como um modo de combater as alterações climáticas e a poluição.
Todavia, o valor da mesma varia consoante o nível de poluição dos veículos em CO2 g/Km, algo que os munícipes
das cidades vizinhas contestam, assim como não perscrutam qualquer contraprestação que lhes seja prestada.

Por Decreto-Lei simples, o Governo decide também aumentar os prazos de prescrição e caducidade que
constam da LGT, com aplicação imediata a todos os processos e procedimentos tributários em curso. As Assem-
bleias Legislativas Regionais dos Açores e da Madeira, decidem extinguir nos respetivos arquipélagos, diversos im-
postos estaduais aprovados pela Assembleia da República, porque desadequados às especificidades das regiões.

Grupo I – 12 valores Grupo II – 8 valores


Grelha de Correção

(pontos essenciais a serem abordados)

A, B e C, residindo em PT e aqui obtendo rendimentos, são tributados em PT pelo seu rendimento mundial
(worldwide income), incluindo os rendimentos obtidos no estrangeiro, cf. os artigos 13.º, n.º 1 e 15.º, n.º 1 do CIRS.
Quanto ao agregado familiar, temos que A e B fazem parte do mesmo, cf. o artigo 13.º, n.º 4, alínea a) do CIRS,
mas não C, não se considerando C dependente nos termos do artigo 13.º, n.º 5, alínea b) do CIRS, pois aufere por
ano uma rendimento superior ao salário mínimo nacional. A e B podem optar pela tributação conjunta dos seus
rendimentos, nos termos dos artigos 13.º, n.ºs 2 e 3 e 69.º, n.ºs 1 e 3 do CIRS, tendo-se a tributação individual co-
mo a regra e a conjunta como opcional.

A aufere um rendimento da Categoria B, ex vi artigos 1.º e 3.º, n.º 1, alínea b) do CIRS, cujo rendimento líquido é
determinado nos termos do artigo 28.º e ss. do CIRS, constando a sua atividade profissional da tabela de ativi-
dades do artigo 151.º do CIRS com o CAE 6010. No que respeita à determinação do rendimento líquido da Ca-
tegoria B, A pode efetivamente optar por ter contabilidade organizada, sendo a mesma obrigatória tão-só para os
casos do artigo 28.º, n.º 2 do CIRS, constando a respetiva opção do seu n.º 3. Com base no regime simplificado,
cf. os artigos 28.º, n.º 1, alínea a) e 31.º, n.º 1, alínea b) do CIRS, temos uma presunção de despesa de 25% (na
prática, apenas 15% sem o comprovativo das despesas e encargos efetivamente suportados, em concordância com
o artigo 31.º, n.ºs 13 e ss. do CIRS). Com base na contabilidade, ter-se-á que aferir se os gastos são ou não dedu-
tíveis nos termos do CIRC, na decorrência dos artigos 28.º, n.º 1, alínea a) e 32.º do CIRS, sendo o gasto com ren-
das a priori dedutível ex vi artigo 23.º, n.º 2, alínea d) do CIRC. Assim, e como para além do gasto das rendas A
tem outras despesas, tem-se por mais acertada a opção da determinação do rendimento com base na contabilidade.

B aufere um rendimento da Categoria A, na decorrência do artigo 1.º e 2.º, n.º 3, alínea a) do CIRS, cujo rendimento
líquido é determinado nos termos do artigo 25.º e ss. do CIRS. Já a Lda., é sujeito passivo de IRC, ex vi artigo 2.º,
n.º 1, alínea a) do CIRC, sendo tributada pelo seu lucro conforme o artigo 3.º, n.º 1, alínea a) do CIRC, correspon-
dendo o lucro tributável do artigo 17.º, n.º 1 do CIRC à tributação do rendimento real, consagrada no artigo 104.º,
n.º 2 da CRP. Apenas serão dedutíveis os gastos indispensáveis para a empresa (business purpose), cf. a interpretação
que é feita do artigo 23.º, n.º 1 do CIRC por Ana Paula Dourado ou pelo STA no Acórdão do processo n.º 779/12,
de 24 de setembro de 2014, sendo que a indispensabilidade dos gastos deve ser aferida através da relação desses
com a atividade da empresa, entendida em sentido amplo e não apenas de atividade produtiva, excluindo-se outras
sociedades do grupo, e.g., igual para o STA no Acórdão do processo n.º 0171/11, de 30 de maio de 2012.

Deste modo, os juros do empréstimo que a priori são dedutíveis nos termos do artigo 23.º, n.º 2, alínea c) do CIRC,
não o serão por via do artigo 23.º, n.º 1 do CIRC. Em relação às Bahamas, temos um paraíso fiscal que consta da
Portaria n.º 150/2004, de 13 de fevereiro de 2004, a que se refere o n.º 1 do artigo 63.º-D da LGT, pelo que será
de aplicar a cláusula específica anti-abuso do artigo 23.º-A, n.º 1, alínea r) do CIRC, sendo que o gasto não será
dedutível, se o sujeito passivo não provar que a operação foi efetivamente realizada, sem carácter anormal ou com
montante exagerado, pelo que sendo esse o caso, acrescerá a taxa de tributação autónoma de 35% do artigo 88.º,
n.º 8 do CIRC. Por último, os encargos com a viatura são tributados autonomamente à alíquota de 10%, ex vi arti-
go 88.º, n.º 3, alínea b) e n.º 17, sendo a despesa a priori dedutível, cf. o artigo 23.º, n.º 2, alínea d), mas nunca o
quantum de tributação autónoma, conforme o artigo 23.º-A, n.º 1, alínea a) do CIRC.

C aufere um rendimento da Categoria A, na decorrência do artigo 1.º e 2.º, n.º 1, alínea a) do CIRS, cujo rendimento
líquido é determinado nos termos do artigo 25.º e ss. do CIRS, bem como um rendimento da Categoria E, cf. os
artigos 1.º, e 5.º, n.º 2, alínea b) do CIRS, ao qual se aplica efetivamente uma alíquota de 28%, ex vi artigo 72.º, n.º
1, alínea d) do CIRS, pois provindo os juros da Suíça, não estão sujeitos à retenção na fonte a título definitivo do
artigo 71.º do CIRS. Sendo residente pode optar pelo englobamento dos juros, cf. o artigo 72.º, n.º 12 do CIRS,
pelo que em concordância com a tabela do artigo 68.º do CIRS e não sendo o seu valor muito elevado, os mesmos
poderão ser tributados a uma alíquota inferior a 28%.

Englobados os rendimentos da Categoria A e B, cf. o artigo 22.º, n.º 1 do CIRS, e da Categoria E, cf. o artigo 22.º,
n.º 3, alínea b), aplicar-se-á a alíquota correspondente do artigo 68.º do CIRS, podendo A e B optar pela tributação
conjunta e como já se referiu supra, havendo ainda lugar às deduções à coleta do artigo 78.º e ss. do CIRS. No
que concerne às retenções na fonte dos rendimentos da Categoria A, temos o artigo 99.º e ss. do CIRS, do da Ca-
tegoria B o artigo 101.º, n.º 1, alínea b) do CIRS, não havendo lugar à retenção na fonte dos rendimentos do artigo
72.º do CIRS e nomeadamente dos juros in casu da Categoria E.

II

A criação de taxas não se encontra cometida a reserva de lei, sendo as mesmas estruturalmente bilaterais ou sina-
lagmáticas, tendo-se o seu quantum determinado pelo princípio da cobertura do custo, e.g., para Ana Paula Dourado,
ou não podendo tão-só haver uma manifesta desproporcionalidade para o TC, cf. o Acórdão n.º 640/95, de 15 de
novembro de 1995. No caso das autarquias locais, é de referir o seu Regime Geral das Taxas que consta da Lei n.º
53-E/2006, de 29 de dezembro de 2006, sendo o seu poder tributário derivado e não originário, conforme ao arti-
go 238.º, n.º 4 da CRP. As taxas, encontram-se também consagradas no artigo 3.º, n.º 2 da LGT, tendo-se como
seu pressuposto a prestação de um serviço público, a utilização de um bem do domínio público ou a remoção de
um obstáculo jurídico, ex vi artigo 4.º, n.º 2 da LGT, devendo a contraprestação ser igualmente presente e indivi-
dualizável. No caso sub judice, não temos um qualquer tributo ad valorem, porque o seu valor tão-só varia consoante
o nível de poluição dos veículos e como a distinção entre as classes de veículos nas portagens, não se tendo, por-
tanto, nem um imposto nem uma contribuição financeira unilateral. Também, não teremos uma contribuição
financeira bilateral, porque não há qualquer consignação da receita. Como contraprestação no caso em apreço, te-
mos o bem público “estradas” ou similar, porque não há uma qualquer licença e remoção de um obstáculo jurídico,
bem podendo o tributo seguir uma finalidade extrafiscal, leia-se, outra que não a de arrecadação de receitas.

Os prazos de prescrição e caducidade, estão cometidos ao princípio da legalidade tributária, como resulta do artigo
8.º, n.º 2, alínea a) da LGT, pese embora esta não ter valor reforçado, mas como já resultaria in fine do artigo 103.º,
n.º 2, 3.ª parte da CRP. Assim, temos uma inconstitucionalidade orgânica, por violação deste mesmo preceito
constitucional. Também, mas desta feita de acordo com o artigo 12.º, n.º 3 da LGT, temos que as normas sobre
procedimento e processo são de aplicação imediata, contudo, sem prejuízo das garantias, direitos e interesses legí-
timos anteriormente constituídos dos contribuintes, maxime se já decorreu o prazo de prescrição e caducidade, ou
se determinada decisão transitou em julgado, ou seja, a LN poderá ter aplicação imediata, mas com as ressalvas
indicadas. Quanto às Regiões autónomas estas já têm um poder tributário originário, porque resulta diretamente
da Constituição e do seu artigo 227.º, n.º 1, alínea i) da CRP. Todavia, e quer se tenha uma posição mais centralista
ou regionalista, não podem as Assembleias Legislativas Regionais extinguir tributos criados pela Assembleia da
República, um órgão de Soberania ex vi artigo 110.º, n.º 1 da CRP, o que não exclui o seu poder de adaptação des-
ses mesmos tributos às especificidades das regiões, cf. o artigo 227.º, n.º 1, alínea i) da CRP, o que resulta inclusiva-
mente da sua Lei das Finanças Regionais, a Lei n.º 2/2013, de 02 de setembro de 2013, e nomeadamente do artigo
56.º da mesma.
Direito Fiscal – 4.º Ano – Turma A
Exame Escrito (Coincidências) – 2019/2020
Regência: Professora Doutora Ana Paula Dourado
Colaboradores: Professora Doutora Paula Rosado Pereira, Mestre Nuno de Oliveira Garcia, Mestre Sónia
Martins Reis e Dr. Sérgio Varela Alves
24 de janeiro de 2020 – Duração 90 minutos

Leia com atenção e comente de forma fundamentada e sucinta, invocando os preceitos legais e a
jurisprudência relevante
I

António, é administrador na “XYZ, S.A.”, onde aufere um ordenado de 5.000 euros por mês. Acresce,
que foi firmado um acordo escrito entre António e a empresa, de que este teria direito a uma viatura automóvel
para uso pessoal, que lhe seria disponibilizada a título de renumeração acessória. Igualmente, que atingidos deter-
minados objetivos, ele se habilitaria a ganhar uma viagem de férias para duas pessoas pagas pela empresa. Ocorre,
que António tem dúvidas sobre se terá que pagar IRS sobre ambos os gastos e se a empresa os poderá deduzir.

Benedita, que vive em união de facto com António, tem dez imóveis arrendados na região de Lisboa. Nun-
ca habitou em nenhum deles, que comprou para arrendar, sendo que nos últimos 24 meses procedeu a extensas
obras de manutenção em cinco e mobilou-os a todos. Todavia, Benedita não sabe se sem exercer uma atividade
empresarial e/ou profissional, ainda assim poderá deduzir estes gastos e o IMT que venha a pagar no futuro.

O negócio da “XYZ, S.A.” já viu melhores dias, sendo que nos últimos quatro meses não foram entregues
à Segurança Social as respetivas quotizações retidas aos seus trabalhadores. António justifica a situação, com o
facto de que se assim não fosse nem o salário dos trabalhadores teria conseguido pagar, mas não está sequer preo-
cupado, porque foi substituído na administração por Carlos e a dívida já não é um problema seu.

II

A Assembleia da República equaciona alterar o regime de tributação das mais-valias previsto no CIRS, mas
a produzir efeitos a 01.01.2020. Contudo, Diogo, aluno finalista da FDUL, tem que só será justa a dita produção
de efeitos para o passado, tão-só se a referida alteração desonerar os respetivos sujeitos passivos.

O Governo, por Decreto-Lei autorizado, decide criar um novo imposto sobre o consumo de comidas e
bebidas açucaradas. Sucede, que nesse mesmo Decreto-Lei é remetido para Portaria, a criação da listagem das refe-
ridas comidas e bebidas, bem como os critérios de análise de concentração de açúcar nas mesmas.

Devido aos recorrentes abusos que têm sido identificados pela Autoridade Tributária, no âmbito do CIRS,
a Assembleia da República também está a pensar substituir a tabela do artigo 68.º, por uma outra com apenas dois
escalões, eliminando concomitantemente a possibilidade de englobamento prevista nos artigos 71.º, n.º 8 e 72.º,
n.º 12, pois deste modo simplificar-se-ia e muito o procedimento de liquidação do IRS.

Grupo I – 10 valores Grupo II – 10 valores


Grelha de Correção

(pontos essenciais a serem abordados)

A e B são sujeitos passivos de IRS se residirem em território português ou aqui obtiverem rendimentos, cf. o artigo
13.º, n.º 1 do CIRS, sendo que se aqui residirem serão tributados pelo seu rendimento mundial (worldwide income),
nos termos do artigo 15.º, n.º 1 do CIRS, sendo a residência determinada pelo artigo 16.º, constando a regra geral
dos 183 dias do seu n.º 1, alínea a) do CIRS. A e B fazem também parte do mesmo agregado familiar, ex vi artigo
13.º, n.º 4, alínea a) do CIRS, tendo-se a sua tributação individual como a regra, em concordância com o artigo
13.º, n.º 2 do CIRS, podendo optar pela sua tributação conjunta, cf. o artigo 13.º, n.º 3 do CIRS, caso em que se
aplicarão as regras do artigo 69.º do CIRS.

O ordenado auferido por A é um rendimento da Categoria A, cf. o artigo 2.º, n.º 3, alínea a) do CIRS, cujo rendi-
mento líquido da categoria é determinado nos termos do artigo 25.º e ss. do CIRS, não se lhe aplicando in casu as
alíquotas dos artigos 71.º e 72 do CIRS, encontrando-se sujeitos a englobamento, cf. o artigo 22.º, n.º 1 do CIRS,
sendo-lhe aplicada a tabela do artigo 68.º do CIRS, com lugar às eventuais deduções à coleta que possam ter lugar,
cf. o artigo 78.º e ss. do CIRS. As retenções na fonte desta Categoria constam do artigo 99.º e ss. do CIRS. O gas-
to com a viagem e a viatura automóvel, havendo um acordo escrito em relação a esta, são ambos rendimentos da
Categoria A, ex vi artigo 2.º, n.º 3, alínea b), n.ºs 6 e 9 respetivamente, sendo apenas de relevar a não retenção na
fonte de rendimentos pagos em espécie, cf. o artigo 99.º, n.º 1, alínea a) do CIRS, se for este o caso e cujo montante
é determinado nos termos do artigo 24.º do CIRS. Assim, A terá que pagar efetivamente IRS sobre os montantes
de rendimento relativos à viatura automóvel e à viagem de férias.

A “XYZ, S.A.” é sujeito passivo de IRC tratando-se de uma sociedade comercial, nos termos do artigo 2.º, n.º 1,
alínea a) do CIRC, que incide sobre o seu lucro, cf. o artigo 3.º, n.º 1, alínea a) do CIRC, nomeadamente o seu lu-
cro real, sendo que o artigo 17.º, n.º 1 do CIRC, concretiza o preceito constitucional do artigo 104.º, n.º 2 da CRP.
Uma vez que a viatura automóvel e a viagem se constituem como remunerações de A, temos ambos os gastos co-
mo a priori dedutíveis pela empresa, cf. o artigo 23.º, n.º 2, alínea d) do CIRC, encontrando-se os gastos com a via-
tura excluídos expressamente de tributação autónoma, no artigo 88.º, n.º 6, alínea b) do CIRC. Deste modo, a em-
presa poderá efetivamente deduzir os gastos relativos à viatura automóvel e à viagem de férias.

Quanto às rendas temos um rendimento da Categoria F, cf. o artigo 8.º, n.º 1 do CIRS, cujo rendimento líquido
da Categoria é determinado nos termos do artigo 41.º do CIRS. Portanto, serão dedutíveis in casu os gastos com o
IMI (≠ IMT) e a manutenção dos imóveis, nos termos do artigo 41.º, n.ºs 5 e 7 do CIRS, respetivamente, mas já
não os gastos com o mobiliário e IMT, cf. o artigo 41.º, n.º 1 do CIRS, não sendo necessário abrir atividade da
Categoria B, salvo se com o intuito de também se deduzir as despesas com o mobiliário e IMT, cf. o artigo 3.º, n.º
2, alínea a) do CIRS, caso em que se teria de optar pela determinação do rendimento líquido da Categoria B com
base na contabilidade, ex vi artigo 28.º, n.º 1 alínea b) e artigo 32.º do CIRS. Aos rendimentos da Categoria F
aplica-se a alíquota de 28% do artigo 72.º, n.º 1, alínea e) do CIRS, podendo o titular residente em território
português optar pelo seu englobamento em concordância com o artigo 72.º, n.º 12 do CIRS, havendo tão-só lugar
a retenção na fonte se a entidade devedora tiver contabilidade organizada, à alíquota de 25% e em conformidade
com o artigo 101.º, n.º 1, alínea e) do CIRS.

Por último, e quanto à retenção e não entrega das quotizações, temos que fica desonerado o substituído, apenas
respondendo pela respetiva dívida tributária o substituto, cf. o artigo 28.º, n.º 1 da LGT. Como sujeito ativo da
relação jurídico-tributária temos a segurança-social, cf. o artigo 18.º, n.º 1 da LGT, como sujeitos passivos a “XYZ,
S.A.” como substituto, os trabalhadores da mesma como substituídos e os administradores como eventuais res-
ponsáveis tributários, cf. o artigo 18.º, n.º 3 da LGT. Apenas se poderá responsabilizar os administradores, se o
património da empresa for insuficiente ou inexistente para o cumprimento das dívidas tributárias, por via da
reversão do processo de execução fiscal e sem prejuízo do benefício da excussão prévia, cf. os artigos 23.º, n.º 1 e
2 da LGT, sendo a responsabilidade subsidiária, nos termos do artigo 22.º, n.º 4 da LGT. Igualmente, ter-se-á que
aferir previamente da culpa da empresa, se a mesma se encontra de tal modo desorganizada que não se sabia que
tinha de cumprir com a obrigação fiscal, o que não se verifica in casu, e só então da culpa funcional dos adminis-
tradores. Estes têm de ser diligentes, criteriosos e ordenados, cf. o artigo 64.º, n.º 1, alínea a) do CSC, apenas sendo
ilidível a sua culpa funcional em casos excecionais, em que não se incluí para Ana Paula Dourado, o do pagamento
do salário dos trabalhadores, prevalecendo o dever fundamental de pagar impostos sobre o direito fundamental à
retribuição, ex vi artigos 103.º, n.º 1 e 104.º versus 59.º, n.º 1, alínea a) da CRP, até porque poder-se-á equacionar a
prática do crime previsto no artigo 107.º do RGIT, sendo que a eventual condenação no mesmo implicará provada
da culpa funcional. No que concerne a Carlos, este deveria estar preocupado, pois recairá sobre si o ónus da prova
de que não foi por culpa sua que se incumpriu com a divida tributária, se o prazo legal de pagamento ou entrega
tenha terminado no período de exercício do seu cargo, cf. o artigo 24.º, n.º 1, alínea b) da LGT, recaindo o ónus
sobre a AT se apenas se tiver constituído o facto tributário no seu período de exercício, nos termos e para os
efeitos do artigo 24.º, n.º 1, alínea b) da LGT.

II

Quanto à tributação das mais-valias em sede do CIRS, temos que o STA considera o facto tributário de obrigação
única, cf. o seu Acórdão n.º 5/2017, e que Ana Paula Dourado o considera de obrigação periódica, cf. entre outros
o saldo anual do artigo 43.º, n.º 1 do CIRS, pelo que seguindo a tese do STA será inadmissível a aplicação para o
passado da LN oneradora, porque teremos uma situação de retroatividade forte, proibida pelo TC no artigo 103.º,
n.º 3 da CRP e de acordo com a interpretação que do preceito é feita pelo mesmo, no seu Acórdão n.º 129/09,
que entende aí prevista uma regra e não um princípio. De contrário, teremos uma situação de retrospetividade que
apenas será inconstitucional, se violar o princípio da proteção da confiança decorrente do da segurança jurídica,
que decorre por sua vez do princípio do Estado de Direito consagrado no artigo 2.º da CRP, por via da análise
dos critérios do Acórdão n.º 128/09 do TC. Ou seja, D terá razão seguindo a tese do STA e se a norma for
oneradora, sendo certo que as leis desoneradoras poder-se-ão sempre aplicar para o passado, porque nunca se en-
contrará violado o princípio da proteção da confiança que justifica a eventual proibição da retroatividade.

O Governo poderá por DLA criar um novo imposto, devendo a LAL respeitar o preceituado no artigo 165.º, n.º
2 da CRP, o DLA a própria LAL, devendo aquele invocar a LAL ao abrigo da qual é aprovado, cf. o artigo 198.º,
n.º 3 da CRP. O sentido do artigo 165.º, n.º 2, retira-se da tripla vertente de António Vitorino, consagrada como
tripla função pelo TC no Acórdão n.º 358/92. Quanto à remissão para Portaria, temos que a mesma poderá haver
para a densificação de conceitos bagos e indeterminados, bem como para a definição de critérios meramente téc-
nicos. Ou seja, será admissível a remissão para os critérios de análise de concentração do açúcar, mas já não a lista
das referidas comidas e bebidas, pois o objeto do tributo estará a ser consagrado num diploma infra legislativo, o
que implica uma violação do “an” (que em sentido amplo abarca o sujeito, objeto e todos os elementos que contri-
buem para a quantificação do impostos), leia-se, da incidência do artigo 103.º, n.º 2, primeira parte da CRP, tendo-
se uma situação de inconstitucionalidade orgânica.

Por último, temos que a CRP obriga no seu artigo 104.º, n.º 1, que o IRS seja um imposto único e progressivo.
Quanto à progressividade, temos que a tabela do artigo 68.º do CIRS a consagra, sendo que alíquota aumenta à
medida que aumenta a matéria coletável, não se garantindo a progressividade com a existência de apenas dois esca-
lões porque ter-se-á situações demasiado díspares a serem tratadas de uma mesma maneira. Verdade seja dita, que
se poderá aumentar ou reduzir o número de escalões, mas dois serão claramente insuficientes para efeitos de cum-
primento com o preceituado na CRP, pois aliás, é precisamente a opção pelo englobamento do artigo 71.º, n.º 8 e
72.º, n.º 12 do CIRS, que salva a compatibilidade de ambos com a CRP. Questão diferente é a da unicidade, se-
gunda a qual todos os rendimentos deveriam ser englobados e ter um tratamento igual, algo que também é susci-
tado tout court pelas alíquotas proporcionais dos artigos 71.º e 72.º do CIRS. Efetivamente aquilo que temos é um
sistema dual de inspiração nórdica, sendo o IRS um imposto cedular, tendo os rendimentos passivos um tratamen-
to tendencialmente mais favorável que os ativos. É de relevar a livre circulação de capitais na UE, consagrada no
artigo 63.º, n.º 2 do TFUE, inclusivamente com estados terceiros, bem como a problemática da criação de um im-
posto geral sobre o património, cf. o Acórdão BVerFGE 93, que torna de factum ou eventualmente impraticável
na prática o princípio da unicidade.
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Exame de Direito Fiscal – 4.º Ano
7 de Setembro de 2018
1:30 h de duração
Regência: Prof. Doutora Ana Paula Dourado

I.
Joana é arquitecta e auferiu em 2018 rendimentos de € 50.000,00 derivados de
projectos de arquitectura em que prestou assistência. Recebeu ainda € 3.000,00
de juros de um depósito a prazo que tinha num banco na Suazilândia. O seu
marido, Miguel, é administrativo numa empresa de telecomunicações e
recebeu um rendimento anual de € 20.000,00, sendo que a empresa lhe
disponibilizava uma viatura. Contudo, a empresa onde Miguel trabalha está
com consideráveis dificuldades financeiras, tendo os respectivos
administradores decidido que os montantes de IRS retidos mensalmente
aquando do pagamento dos salários aos trabalhadores devem ser utilizados
para pagar aos fornecedores e não devem ser entregues à Autoridade
Tributária.
Ainda no ano de 2018, Miguel alienou uma casa de férias em Moledo do
Minho que tinha adquirido em 2015 e recebeu dividendos de uma participação
social que tem numa sociedade portuguesa.

II.
Imagine que o Governo decide aprovar, por Decreto-Lei Simples, em Maio de
2018, um conjunto de medidas, de entre as quais se prevê o aumento das taxas
de IRC de 23% para 25% para o ano de 2018 e de 21% para 23% para o ano
de 2017.
Quid iuris?

1
III.
Imagine que a sociedade One to One, Lda, que se dedica à actividade de
produção de móveis em madeira, foi fiscalizada pela Autoridade Tributária,
que verificou o seguinte:

i) ofertas de viagens aos empregados e às suas famílias;

ii) aquisição de peças de madeira à sociedade ABC, Lda, que é detida em 70%
pela sociedade One to One, Lda, pelo quadruplo do seu preço de mercado.

Quid iuris?

Cotação: I – 8 valores; II – 8 valores; III – 4 valores

GRELHA DE CORRECÇÃO
Grupo I
a) Joana: Rendimentos da categoria B derivados de projectos de
arquitectura (artigo 3.º e artigo 151.º do Código do IRS e referência
a regras de retenção na fonte). Rendimento da categoria E (juros
de depósito e referência a regime de tributação agravada por se
tratar de um rendimento derivado de um depósito a prazo num
Banco na Suazilândia).

a) Miguel: Rendimentos da categoria A (artigo 2.º do Código do IRS).


Existe retenção por conta do imposto final a pagar » sujeição a
englobamento (artigo 22.º do Código do IRS). Determinar se a
viatura disponibilizada pela entidade patronal podia ser

2
qualificada, e em que situações, como um rendimento da categoria
A. Determinação da responsabilidade da empresa e dos
administradores na não entrega dos montantes retidos a título de
IRS. Rendimento da categoria G derivado da alienação da casa de
férias em Moledo e determinação do regime de tributação
aplicável. Quanto aos dividendos, trata-se de um rendimento da
categoria E (artigo 5.º, n.º 2, alínea h) do Código do IRS) »
retenção na fonte a título definitivo (artigo 71.º, n.º 1, alínea a) do
Código do IRS) com possibilidade de opção pelo englobamento
(artigo 71.º, n.º 6 do Código do IRS).

Grupo II
Aprovação por Decreto-Lei simples: reflexão sobre o princípio da
legalidade nas suas vertentes formal e material – art.s 165 nº 1 e nº 2 e
103 nº 2 CRP; art. 8 LGT; reserva de lei; necessidade de Lei de
Autorização legislativa da AR. Aumento da taxa de IRC de 23% para
25% em 2018: referência a retroactividade fraca e aumento da taxa de
IRC de 21% para 23%: referência a retroactividade forte. Proibição da
retroactividade da lei fiscal – artigo 103.º, n.º 3 da CRP; articulação com
o princípio da protecção da confiança e a questão da tutela das
expectativas do contribuinte; Referência a jurisprudência.

Grupo III

i) Questão da dedutibilidade ou não dedutibilidade do gasto para


efeitos fiscais – artigo 23.º, n.º 1 do Código do IRC; Possibilidade
de aplicação de tributação autónoma. Determinação das viagens

3
como rendimento da categoria A dos empregados da sociedade
One to One, Lda (artigo 2.º, n.º 11 do Código do IRS).

ii) Referência ao regime de Preços de transferência – artigo 63.º do


Código do IRC; requisitos de aplicação do regime; métodos e
possibilidade de ajustamento do lucro.

4
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Exame de Direito Fiscal – 4.º Ano - NOITE
7 de setembro de 2018
1:30 h de duração
Regência: Prof. Doutora Ana Paula Dourado

I.
Diana é funcionária da Câmara Municipal de Lisboa, e auferiu em 2018 rendimentos
de € 25 000,00. Recebeu ainda € 5 000,00 de dividendos de uma empresa de
software que constituiu com o seu filho Manuel, especialista em informática. Por
recomendação de um amigo, a sociedade foi constituída na República Vanuatu. O
marido de Diana, Gabriel, é consultou de várias empresas de telecomunicações e
recebeu um rendimento anual de € 50 000,00, ao qual soma uma avença com a
referida empresa da sua mulher e do seu filho Manuel, da qual todavia não é sócio, e
cujo valor é calculado de acordo com uma percentagem da faturação do ano
anterior. Ainda no ano de 2018, Diana alienou uma casa de férias na Praia Verde e
pretende reinvestir noutra, também de férias, mas desta feita em Troia. Após vários
anos a falar nisso, Diana e Gabriel querem finalmente apresentar a declaração Mod.
3 de IRS de forma separada.
Diana >> 25 000€ Cat. A (artigo 2.º CIRS) + RF obrigatória (artigo 99.º
CIRS), 5 000€ Cat. E + Cat. G (artigos 9.º e 10.º a CIRS), impossibilidade de
reinvestimento (artigo 10.º/5)
Gabriel >> 50 000€ Cat. B (artigo 5.º h CIRS) + RF (artigo 101º CIRS) +
Preços de transferência (artigo 63.º CIRC), eventual aplicação do artigo 66.º
CIRC

II.
Imagine que o Governo decide aprovar, em setembro de 2018 e por Decreto-Lei
Simples, uma taxa de proteção civil, aplicada ao alojamento local e atividade
hoteleira com fundamento na necessidade de reforçar o orçamento do sistema
nacional de saúde e da Polícia de Segurança Pública, em virtude do aumento de
turistas às principais cidades do país. A referida taxa é de 2%, a sua aplicação
começará em janeiro de 2019, e incidirá sobre o aumento da receita (volume de
negócios) registado no alojamento local e nos hotéis em relação a 2018.
Distinção taxa vs. imposto.
Tributo ad valorem cuja base de incidência é o volume de negócios,
aproximando de um tributo sobre o rendimento, o que afasta da figura da
taxa por inexistir bilateralidade. Princípio da Legalidade (artigo 103.º 2 da
CRP)
Problematizar sobre eventual aplicação retroativa do tributo.

Cotação: I – 12 valores; II – 7 valores; 1 valor para ponderação global.


Boa sorte!
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Exame Escrito da Época Especial / 4.º ano / Turma A / Ano Letivo de 2021/2022
Regência: Professora Doutora Ana Paula Dourado
Colaboradores: Mestres Nuno de Oliveira Garcia, Sónia Martins Reis, Sérgio Varela Alves, Daniela Pessoa Tavares
e Daniel Bobos-Radu
8 de setembro de 2022 / Duração: 90

Leia com atenção o enunciado e comente de forma fundamentada e sucinta, invocando as normas,
jurisprudência e doutrina que tenha por convenientes

Grupo I
Ana, casada com Bruno, vive em Lisboa e exerce funções no Departamento Jurídico do PTBank, uma instituição de
crédito com sede em Portugal.
Ana auferiu um salário anual no montante total de 25 mil euros, assim como um prémio pelo seu desempenho profissional,
o qual ascendeu 5 mil euros. Em acréscimo, recebeu juros no montante de 2 mil euros provenientes de uma conta a prazo
de que é titular nesse mesmo banco, e ainda 7 mil euros do resgate de unidades de participação num fundo de investimento
imobiliário português denominado FII321.
Bruno, médico, vivia e trabalhava em Barcelona desde 2020. Contudo, por ocasião do nascimento do seu segundo filho
com Ana, regressou a Portugal no final de maio de 2021. Com referência a 2021, Bruno auferiu uma remuneração de 45
mil euros decorrente do contrato de trabalho que tinha celebrado com o Hospital de Barcelona, além disso, alienou todas
as ações de que era titular por um valor inferior ao de aquisição. Este mês (setembro de 2022), Bruno recebeu uma
liquidação adicional de IRS, contudo entende não dever qualquer imposto em Portugal em relação a 2021.

Grupo II
Em 1 de setembro de 2022, o governo aprovou, por Decreto-Lei simples, as seguintes medidas:
(i) Um conjunto de deduções à coleta, em sede de IRS, relativas a encargos relacionados com a eficiência térmica
e hídrica e a produção de energias renováveis afetos à utilização pessoal; e
(ii) O agravamento imediato da alíquota de IRC, para 25%, para as empresas do setor bancário e energético.
Na sequência da alteração das políticas internas, o PTBank deixou de efetuar a retenção na fonte aquando do pagamento
de salários e juros.

Grupo III
A empresa XPT S.A., com sede em Moscavide, e com prejuízos fiscais nos últimos 3 anos, dedica-se ao fabrico e
comercialização de peças para automóveis. Em 2017 empresa XPT S.A. pagou 350 milhões de euros a uma empresa
localizada na Jamaica, em resultado dos serviços que lhe foram prestados no âmbito de um contrato de prestação de
serviços.
A Autoridade Tributária e Aduaneira, que se encontra atualmente a fazer uma inspeção à empresa XPT S.A., efetuou uma
liquidação adicional de IRC, referente ao ano de 2017, entendendo que o preço fixado e pago pelos serviços prestados
pela empresa com sede na Jamaica não correspondia ao preço praticado em operações comparáveis e que os gastos
associados à prestação de serviços não eram dedutíveis para efeitos fiscais. A empresa XPT S.A. discorda, pois entende
que os encargos correspondem a operações efetivamente realizadas, defendendo ainda que, em qualquer caso, o direito à
liquidação se encontra caducado.

Quid iuris?
Grupo I – 7,5 valores; Grupo II – 7,5 valores e Grupo III - 5 valores.
Grelha de correção
Grupo I – 7,5 valores; Grupo II – 7,5 valores e Grupo III - 5 valores.

Grupo I
Quanto a Ana:
i. Incidência pessoal de IRS: caracterização de Ana enquanto sujeito passivo de IRS, residente em território
português (artigos 13.º, n.º 1 e 16.º, n.º 1, alínea a), do CIRS), sujeita a tributação em Portugal pelo seu
rendimento mundial “worlwide income” (artigo 15.º, n.º 1, do CIRS). (1 valor)
ii. Incidência real de IRS:
a. Salário: rendimento da Categoria A (artigo 2.º, n.º 1, alínea a), e n.º 2, do CIRS), determinado nos termos
do artigo 25.º e ss. do CIRS, sujeito a englobamento obrigatório (artigo 22.º, n.º 1 e n.º 3, alínea b) a
contrario do CIRS), aplicando-se as alíquotas constantes da tabela geral do artigo 68.º do CIRS.
Rendimento sujeito a retenção na fonte por conta do imposto devido ao final (artigos n.ºs 98.º, n. º 1 e
99.º, n.º 1, alínea a) do CIRS).
b. Prémio: rendimento da Categoria A (artigo 2.º, n.º 2, do CIRS), idem.
c. Juros: rendimentos da categoria E (artigo 5.º, n.º 2, alínea b) do CIRS), determinado nos termos do artigo
40.º e ss. do CIRS e sujeitos a tributação à taxa liberatória de 28% (artigo 71º, n.º 1, alínea a), do CIRS),
podendo ser englobados por opção do titular (artigos 22.º, n.º 3 e 71.º, n.ºs 8 e 9 do CIRS).
d. Resgate de unidades de participação: potencial rendimento da categoria G – mais-valia imobiliária
(artigos 9.º, n.º 1, alínea a) e 10.º, n.º 1, alínea b), subalínea 5) do CIRS). Rendimento tributado nos termos
do artigo 43.º, n.º 1, alínea b) do CIRS, à taxa especial de 28% prevista no artigo 72.º, n.º 1, alínea c) do
CIRS, podendo ser englobado por opção do titular (artigos 22.º, n.º 3 e 72.º, n.ºs 13 CIRS).
Quanto a Bruno:
i. Incidência pessoal de IRS: caracterização de Bruno enquanto sujeito passivo de IRS, residente em território
português (artigos 13.º, n.º 1 e 16.º, n.º 1, alínea a), do CIRS), discussão sobre a permanência em território
português (“corpus”) por um período superior a 183 dias. Bruno encontra-se sujeito a tributação em Portugal
pelo seu rendimento mundial “worlwide income” (artigo 15.º, n.º 1, do CIRS).
ii. Incidência real de IRS: salário - rendimento da Categoria A (artigo 2.º, n.º 1, alínea a), e n.º 2, do CIRS),
determinado nos termos do artigo 25.º e ss. do CIRS, sujeito a englobamento obrigatório (artigo 22.º, n.º 1 e
n.º 3, alínea b) a contrario do CIRS), aplicando-se as alíquotas constantes da tabela geral do artigo 68.º do CIRS.
Rendimento sujeito a retenção na fonte por conta do imposto devido ao final (artigos n.ºs 98.º, n.º 1, 99.º, n.º
1, alínea a) do CIRS).
iii. Venda das ações por um valor de realização inferior ao de aquisição: constitui uma menos valia, pelo que
não há rendimento a tributar (artigos 9.º, n.º 1, alínea a), 10.º, n.º 1, alínea b) e 43.º, n.º 1, todos do CIRS).

Grupo II
i. Principio da legalidade: a criação de normas sobre deduções à coleta do IRS e alteração da alíquota de IRC
pelo Governo através de Decreto-Lei simples constitui violação dos artigos 165, n.º 1, alínea i), e 165, n.º 2, 1ª
parte, da CRP – inconstitucionalidade orgânica.
ii. Lei fiscal no tempo: o aumento da taxa de IRC para o ano de 2022 constitui uma situação de retroatividade
inautêntica / retrospetividade, admissível à luz do artigo 103.º, n.º 3 da CRP. Referência à posição do TC,
nomeadamente no Acórdão n.º 128/2009, e análise da conformidade com o princípio da proteção da confiança
(na vertente segurança jurídica), à luz do artigo 2.º da CRP. Discussão sobre relevância do interesse público.
iii. Substituição e responsabilidade tributária: Referência ao PTBank enquanto entidade obrigada à retenção
na fonte, porquanto substituto tributário e, por essa via, sujeito passivo (artigos 18.º, n.º 3, e 20.º, ambos da
LGT).
a. Não retenção na fonte sobre os salários: identificação de uma situação de responsabilidade tributária,
sendo a mesma originária do(s) substituído(s) e subsidiária do substituto - PTBank (artigos 22.º, 23.º e 28.º,
n.º 2, todos da LGT). Indicar possível responsabilidade subsidiária dos administradores (artigos 23.º e 24.º
da LGT).
b. Não retenção na fonte sobre os juros: identificação de uma situação de responsabilidade tributária, sendo
a mesma responsabilidade originária do substituto - PTBank - e subsidiária do(s) substituído(s) (28.º, n.º 3
da LGT). Indicar possível responsabilidade subsidiária dos administradores (artigos 23.º e 24.º da LGT).

Grupo III
i. Enquadramento da empresa XPT S.A. enquanto sujeito passivo de IRC (artigos 1.º e 2.º, n.º 1, alínea
a), ambos do CIRC), tributada pelo seu lucro (artigo 3.º, n.º 1, alínea a), do CIRC), determinado de acordo
com o artigo 17.º, n.º 1, do CIRC, que concretiza o princípio da tributação do rendimento real, consagrado
no artigo 104.º, n.º 2, da CRP. Aplicação da alíquota de 21% (artigo 87.º, n.º 1 do CIRC).
ii. Prejuízos fiscais nos últimos três anos sem justificação plausível: aplicação de métodos indiretos para
apuramento da matéria tributável (artigo 57.º do CIRC e 87.º e ss. da LGT).
iii. Preços de transferência: Referência à regra específica antiabuso em matéria de preços de transferência do
artigo 63.º do CIRC. Identificação da existência de relações especiais com a empresa localizada na Jamaica
(artigo 63.º, n.º 4, alínea h), do CIRC). Referência à Jamaica enquanto território com um regime fiscal
claramente mais favorável, constando da Portaria n.º 150/2004, de 13 de fevereiro, ex vi artigo 63.º-D, n.º
1, da LGT). Ajustamento do lucro tributável (artigo 63.º, n.º 9 do CIRC).
iv. Não dedutibilidade do gasto referente ao apagamento dos serviços prestados pela sociedade com sede
na Jamaica (artigo 23 A, n.º 1, alínea r), do CIRC), exceto se a empresa XPT S.A. provar que tais encargos
correspondem a operações efetivamente realizadas e que não têm um caráter anormal ou um montante
exagerado (presunção ilidível).
v. Caducidade do direito à liquidação: o direito à liquidação dos tributos caduca no prazo de 4 anos (regra
geral), contudo, respeitando a factos tributários conexos com um país sujeito a um regime fiscal claramente
mais favorável, aquele prazo é de 12 anos (artigo 45.º, n.º 1 e n.º 7, alínea a) da LGT).
Grelha de Correção

Direito Fiscal – 4.º Ano – Turma A

Exame Escrito 2017/2018

16 de fevereiro de 2018 – Duração de 90 minutos

1. António é sujeito passivo de IRS porque reside em Portugal (“Trás-os-Montes”) e aqui obtêm rendimentos, cfr.
o artigo 13.º, n.º 1 e 16.º do CIRS, fazendo parte do mesmo agregado familiar que Maria (“esposa”) e Bento
(“filho”), cfr. o artigo 13.º, n.º 4, alínea a) e n.º 5, alínea b) do CIRS:

 Os “30.000 €” constituem um rendimento da Categoria A, cfr. o artigo 1.º e 2.º, n.º 3, alínea a) do CIRS,
determinado nos termos do artigo 25.º e ss., não abrangido pelos artigos 71.º, 72.º e 73.º, podendo haver
lugar às deduções à coleta do artigo 78.º e ss., sendo-lhe aplicada a taxa do artigo 68.º, todos do CIRS;
 O acordo relativo à utilização pessoal de uma viatura automóvel por António cujos “encargos seriam
suportados pela empresa”, é também um rendimento da Categoria A, cfr. o artigo 1.º e 2.º, n.º 3, alínea b),
n.º 9 do CIRS, o que exclui o gasto de tributação autónoma em sede de IRS e IRC, cfr. o artigo 73.º, n.º 3
do CIRS e o artigo 88.º, n.º 6, alínea b) do CIRC, sendo determinado nos termos do parágrafo anterior;
 O subsídio de residência constitui também um rendimento da Categoria A de António, mesmo que pago
à sua esposa, cfr. os artigos 1.º e 2.º, n.º 3, alínea b), n.º 4 e n.º 11 do CIRS, sendo igualmente determinado
nos termos dos dois parágrafos anteriores.
 As despesas de formação e educação constituem uma situação de dedução à coleta, cfr, o artigo 78.º-D do
CIRS.

2. Em relação às situações verificadas pela inspeção da AT:

 As ajudas de custo encontram-se abrangidas pelo artigo 23.º-A, n.º 1, alínea h) do CIRC, que determina a
sua não dedutibilidade quando não faturadas a clientes, com a correlativa aplicação da taxa autónoma de
5% do artigo 88.º, n.º 9 do CIRC;
 As despesas com multas também não são dedutíveis, cfr. o artigo 23.º-A, n.º 1, alínea e) do CIRC;
 As despesas não documentadas igualmente, cfr. o artigo 23.º n.ºs 3 e 4, o 23.º-A, n.º 1, alínea b), sendo
tributadas à taxa autónoma de 50% do artigo 88.º, n.º 1, todos do CIRC.

3. O Mónaco consta da Portaria n.º 150/2004 ex vi artigo 63.º-D, n.º 1 da LGT, pelo que a transferência da
sua conta depósito constitui uma manifestação de fortuna, o que suscita a aplicação do ponto 6 da Tabela do
artigo 89.º-A, n.º 4 da LGT.
II

1. Temos a criação de um benefício fiscal (“isenção”) e a alteração de um imposto por Decreto-lei o que constitui
uma violação da reserva de lei, cfr. o artigo 103.º, n.º 2, segunda parte da CRP (para o benefício fiscal) e o artigo
165.º, n.º 1, alínea i) e o 103.º, n.º 2, primeira parte da CRP (para o imposto). A criação do benefício fiscal constitui
um desagravamento fiscal e ao contrário da criação do adicional ao IMI, sobre aquele cfr. o artigo 2.º do EBF e
14.º da LGT, devendo haver um outro princípio ou interesse que se lhe sobreponha no caso concreto e a sopesar
com recurso ao princípio da proporcionalidade em sentido lato, com respeito pelo do bem-estar social e do ganho
ou mérito.

2. Para efeitos de aplicação da lei fiscal no tempo o IVA é um imposto de obrigação única e o IMI de obrigação
periódica (sucessiva), havendo uma situação de retroatividade autêntica no que respeita ao primeiro e de retros-
petividade em relação ao segundo, carecendo-se respetivamente da análise da violação do artigo 103.º, n.º 3 da
CRP e sendo admissível a aplicação retroativa de normas desoneradoras, bem como da sua conformidade com o
princípio da segurança jurídica, cfr. o artigo 2.º da CRP e a jurisprudência do TC sobre a temática (i.e. cfr. os
critérios do Ac. n.º 128/2009).

3. A remissão para Portaria da definição de critérios meramente técnicos não contende com a reserva de lei, cfr.
o manual de “Direito Fiscal” da Professora Doutora Ana Paula Dourado. Explicar o porquê.

4. Referir a competência derivada (≠ originária) dos Municípios em matéria fiscal, cfr. o artigo 238.º, n.º 4 da CRP,
explicando em que consiste a mesma e o eventual poder de conformação referido, bem como o porquê da falta
de fundamento do protesto dos Presidentes de Câmara.

Cotação: I - 10 valores; II - 10 Valores.

(em anexo cfr. o enunciado do exame)


Direito Fiscal – 4.º Ano – Turma A
Exame Escrito de Recurso 2017/2018
Regência: Professora Doutora Ana Paula Dourado
Colaboradores: Mestre Nuno de Oliveira Garcia, Mestre Sónia Reis, Mestre Paulo Marques e Dr. Sérgio Varela
Alves
16 de fevereiro de 2018 – Duração 90 minutos

Leia com atenção e comente de forma fundamentada e sucinta, invocando os preceitos legais e a
jurisprudência relevante
I

António, residente em Trás-os-Montes e administrador da “Chouriços & Chouriças, Lda.”, recebe a esse
título a quantia de 30.000 €/ano. O mesmo acordou com a empresa, a utilização pessoal de uma viatura automóvel
cujos encargos seriam suportados por esta, bem como um subsídio de residência no valor de 500 € que seria pago
diretamente à sua esposa Maria, tendo como encargos de educação as propinas do seu filho Bento de 20 anos.

Uma inspeção da AT à “Chouriços & Chouriças, Lda.”, deparou-se com as seguintes situações: (1) a dedu-
ção de 10.000 € com gastos em ajudas de custo não imputadas a clientes; (2) a dedução de 10.000 € com gastos
decorrentes de multas por excesso de velocidade; 3) diversas despesas com almoços, cujo documento justificativo
consistia num pedaço de toalha de papel rasgado com a conta e o carimbo de vários restaurantes.

Por último, António transferiu para uma conta depósito em Portugal, 50.000 € de uma outra de que era
titular no Banco “Paraíso” com sede no Mónaco.

Quid juris?

II

Os Ministros do Governo, bastante satisfeitos com a performance da economia portuguesa, decidem


aprovar em Conselho de Ministros: (1) uma isenção de IVA para todas as “lojas com história” das capitais de
distrito do país; (2) e um adicional ao IMI sobre imóveis devolutos, cuja alíquota variará entre os 0,5 % e 1 % do
valor patrimonial dos mesmos, cujo valor exato será determinado pelas Assembleias Municipais.

O Decreto-lei entrou em vigor a 01.06.2017 a produzir efeitos a 01.01.217.

O mesmo Conselho de Ministros remeteu para Portaria, a definição dos critérios que permitem classificar
um imóvel como devoluto, com base em critérios científicos da área da Engelharia Civil.

Diversos Presidentes da Câmara vêm ainda criticar a medida legislativa, argumentando que a margem de
conformação do regime que é dada aos Municípios conflitua com as suas competências tributárias.

Quid iuris?

Cotação: I - 10 valores; II - 10 Valores.


Grelha de Correção

Direito Fiscal – 4.º Ano – Turma Dia

Exame Escrito de Coincidência de Recurso 2017/2018

20 de fevereiro de 2018 – Duração de 90 minutos

1. Arnaldo aufere um rendimento da Categoria A (cfr., i.e., “ordenado” e “patrão”), cfr. o artigo 1.º e 2.º,
n.º 1, alínea a) do CIRS, sendo sujeito passivo de IRS porque reside em Portugal e aqui obtém rendimentos,
cfr. o artigo 13.º, n.º 1 e 16.º do CIRS. O mesmo, pode ser pago em espécie, cfr. o artigo 1.º, n.º 2 do
CIRS, sendo o seu quantum aferido por equivalência pecuniária nos termos do artigo 24.º, n.º 1 do CIRS:

 Determinação do rendimento nos termos do artigo 25.º e ss, não abrangido pelos artigos 71.º, 72.º
e 73.º, podendo haver lugar às deduções à coleta dos artigos 78.º e ss., sendo-lhe aplicada a taxa
do artigo 68.º, todos do CIRS;
 A viagem à Madeira constitui ainda rendimento da Categoria A, tratando-se de uma renumeração
acessória, cfr. o artigo 2.º, n.º 3, alínea b), n.º 6 do CIRS;
 Os juros constituem um rendimento da Categoria E, cfr. o artigo 5.º, n.º 1 e n.º 2, alínea b) do
CIRS, sendo o mesmo determinado nos termos do artigo 40.º e ss., sujeito à taxa liberatória do
artigo 72.º, n.º 1, alínea d) do CIRS (porque o Banco tem sede em Madrid), podendo ser englobado
por opção do titular e nos termos do artigo 72.º, n.º 8 do CIRS;
 A alienação do automóvel não é tributada em sede de IRS, i.e., porque apenas há lugar a mais-valias
aquando da alienação onerosa de direitos reais sobre bens imóveis, de partes sociais e/ou de outros
valores mobiliários, cfr. artigo 10.º n.º 1 do CIRS;
 A aquisição do Barco por 25.000 € suscita a aplicação da tabela do artigo 89.º-A, n.º 4 da LGT,
sendo esse mesmo valor o rendimento-padrão no ano de registo, havendo uma manifestação de
fortuna, quando o rendimento líquido declarado mostre uma desproporção superior a 30%, para
menos, do rendimento padrão.

2. Temos uma situação de substituição e responsabilidade tributária, cfr. os artigos 18.º, 20.º, 22.º, 23.º e
34.º da LGT, onde não houve a retenção de qualquer valor, havendo responsabilidade originária dos
substituídos (trabalhadores) e subsidiária do substituto (a empresa), cfr. o artigo 28.º, n.º 2 da LGT. Não
será também ilidível a culpa da gestora, porque incumprido o dever de diligência que sobre si impende
(“arriscada estratégia de marketing”), cfr. o artigo 64.º do CSC e o modo de efetivação da culpa funcional,
e tão-só se o património da empresa for insuficiente ou inexistente para o pagamento do tributo.
II

1. Temos a alteração de dois impostos por Decreto-lei, o que constitui uma violação da reserva de lei, cfr.
o artigo 165.º, n.º 1, alínea i) e o 103.º, n.º 2, primeira parte da CRP. Temos, também, uma norma
desoneradora no que diz respeito ao IVA (que diminui de 23% para 20 %), já não em relação à criação de
um novo escalão de IRS com uma alíquota de 60%:

 Pese embora a norma desoneradora no caso do IVA, temos uma violação da reserva de lei, cfr. a
posição de ANA PAULA DOURADO e o próprio texto do artigo 103.º, n.º 2. primeira parte da
CRP (≠ da posição sufragada por CASALTA NABAIS e VIEIRA DE ANDRADE);
 A alíquota de 60% poderá configurar uma situação de confisco, que contende com o direito à livre
iniciativa económica privada e com o direito de propriedade, cfr. os artigos 61.º e 62 da CRP, bem
como o Acórdão do TEDH Gáll vs Hungria.

2. Para efeitos de aplicação da lei fiscal no tempo o IRS é um imposto de obrigação periódica (sucessiva)
e o IVA de obrigação única, havendo uma situação de retrospetividade no que respeita ao primeiro e de
retroatividade autêntica em relação ao segundo, devendo haver respetivamente uma análise da sua
conformidade com o princípio da segurança jurídica, cfr. o artigo 2.º da CRP e a jurisprudência do TC
sobre a temática (i.e. cfr. os critérios do Ac. n.º 128/2009), bem como da violação do artigo 103.º, n.º 3 da
CRP, sendo admissível a aplicação retroativa de normas desoneradoras.

3. A empresa "XPTO, Lda." é sujeito passivo de IRC, cfr. os artigos 1.º, 2.º e 3.º do CIRC:

 O gasto com a prestação de serviços da sociedade domiciliada no Liechtenstein, suscita a aplicação


da cláusula especial antiabuso do artigo 23.º-A, n.º 1, alínea r) do CIRC, constando o Liechtenstein
da Portaria n.º 150/2004 ex vi artigo 63.º-D, n.º 1 da LGT, não sendo o mesmo dedutível e salvo
se a operação foi efetivamente realizada, sem carácter anormal ou montante exagerado. O não
afastamento da aplicação da cláusula importa a sua conjugação com o artigo 88.º, n.º 8 do CIRC.
 Os gastos com o jantar de Natal serão dedutíveis se indispensáveis para a atividade da empresa,
cfr. a interpretação que é feita do artigo 23.º, n.º 1 do CIRC (i.e., no Ac. de 10 de julho de 2002 do
STA, processo n.º 0246/02). Logo, no caso, será admissível a sua dedutibilidade havendo um nexo
de causalidade entre os gastos e a atividade não produtiva da mesma.

Cotação: I - 10 valores; II – 10 valores.

(em anexo cfr. o enunciado do exame)


Direito Fiscal – 4.º Ano – Turma Dia
Exame Escrito de Coincidência de Recurso 2017/2018
Regência: Professora Doutora Ana Paula Dourado
Colaboradores: Mestre Nuno de Oliveira Garcia, Mestre Sónia Reis, Mestre Paulo Marques e Dr. Sérgio
Varela Alves
20 de fevereiro de 2018 – Duração 90 minutos
Leia com atenção e comente de forma fundamentada e sucinta, invocando os preceitos legais e a
jurisprudência relevante

Arnaldo, trabalhador há diversos anos na Adega Alentejana "Pingas, Lda.", recebe um ordenado
de 800 €/mês a que acresce o pagamento de outros 200 € em garrafas de vinho. Na comemoração dos 20
anos da empresa, o seu patrão Bernardo premeia-o como “Empregado do Ano” e uma viagem à Madeira
no valor de 2.000 €.

Arnaldo, (1) recebe também juros de um depósito a prazo no Banco "Finanzas" com sede em
Madrid, (2) vende um automóvel por 2.000 € e (3) adquire um barco para ir à pesca por 25.000 €.

Já Bernardo, nada satisfeito com a situação financeira da Adega Alentejana "Pingas, Lda.", decide
investir as últimas poupanças da empresa numa arriscada estratégia de marketing, mas acontece que a
mesma não resulta e este acaba por não reter sequer qualquer valor do salário dos seus trabalhadores.

Quid juris?

II

Os Ministros do Governo, com o objetivo de melhorar a saúde e a justiça social no país, decidem
aprovar em Conselho de Ministros: (1) uma descida da taxa de IVA de 23% para 20%, como um estimulo
ao consumo na economia portuguesa, (2) bem como a criação de um novo escalão no IRS, com uma
alíquota de 60% a incidir sobre os rendimentos coletáveis superiores a 100.000 €/ano.

O Decreto-lei entra em vigor a 01.06.2018 a produzir efeitos a 01.01.218.

A empresa "XPTO, Lda.", (1) paga 20.000 € por uma prestação de serviços da sociedade "New
Solutions” com sede no Liechtenstein e, (2) gasta os seus habituais 10.000 € num jantar de Natal, para o
qual convida todos os seus clientes, fornecedores e colaboradores.

Quid juris?

Cotação: I - 10 valores; II - 10 Valores.


Grelha de Correção

Direito Fiscal – 4.º Ano – Turma Dia

Exame Escrito 2017/2018

22 de janeiro de 2018 – Duração de 90 minutos

1. António, Maria e Carlos são sujeitos passivos de IRS, porque residem todos em Portugal (Coimbra e Lisboa) e
aqui obtêm rendimentos, cfr. o artigo 13.º, n.º 1 e 16.º do CIRS. António e Maria fazem parte do mesmo agregado
familiar, cfr. o artigo 13.º, n.º 4, alínea a) e 14.º do CIRS, mas já não Carlos por via do artigo 13.º, n.º 5, alínea b)
do CIRS:
 A reforma de António constitui um rendimento da Categoria H, cfr. o artigo 1.º e 11.º, n.º 1, alínea a) do
CIRS, determinado nos termos do artigo 53.º e ss. do CIRS, não abrangido pelos artigos 71.º, 72.º e 73.º
do CIRS, podendo haver lugar às deduções à coleta dos artigos 78.º e ss. do CIRS, sendo-lhe aplicada a
taxa do artigo 68.º do CIRS;
 O salário de Maria constitui um rendimento da Categoria A, cfr. o artigo 1.º e 2.º, n.º 1, alínea a) do CIRS,
determinado nos termos do artigo 25.º e ss. do CIRS, não abrangido pelos artigos 71.º, 72.º e 73.º do CIRS,
podendo haver lugar às deduções à coleta dos artigos 78.º e ss. do CIRS, sendo-lhe aplicada a taxa do
artigo 68.º do CIRS;
 Carlos aufere um rendimento da Categoria B ("profissional liberal"), cfr. o artigo 1.º e 3.º, n.º 1, alínea b)
do CIRS, com o CAE 2019 ("Cantores"), cfr. o Anexo I - Tabela de atividades do artigo 151.º do CIRS,
determinado com base na aplicação das regras do regime simplificado, cfr. o artigo 28.º, n.º 1, alínea a) e
n.º 2, bem como o 31.º do CIRS, e o mesmo também não se encontra abrangido pelos artigos 71.º, 72.º e
73.º do CIRS, podendo haver lugar às deduções à coleta dos artigos 78.º e ss. do CIRS, sendo-lhe aplicada
a taxa do artigo 68.º do CIRS;
 A alienação do imóvel constitui um rendimento da Categoria G, cfr. o artigo 1.º e 9.º, n.º 1, alínea a) e 10.º,
n.º 1, alínea a) e n.º 4, determinado nos termos do artigo 42.º e ss. do CIRS, não abrangido pelos artigos
71.º, 72.º e 73.º do CIRS, podendo haver lugar às deduções à coleta dos artigos 78.º e ss. do CIRS, sendo-
lhe aplicada a taxa do artigo 68.º do CIRS.

2. A “Tasca Fadista, Lda.” é sujeito passivo de IRC, cfr. os artigos 1.º, 2.º e 3.º do CIRC, sendo que terá como
gastos as despesas que tenham sido indispensáveis para a atividade da mesma, cfr. a interpretação que é feita do
artigo 23.º, n.º 1 do CIRC (i.e., no Ac. de 10 de julho de 2002 do STA, processo n.º 0246/02):

 Nos termos da interpretação do art.23.º, n.º 1 do CIRC, a despesa com juros não será dedutível, pois os
mesmos advêm de um empréstimo cujo valor foi gasto com a sua afiliada, a “Taberna Fadista, Lda.”;
 O gasto com coimas também não será dedutível, cfr. o artigo 23.º-A, n.º 1, alínea e) do CIRC;

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 Aruba consta da Portaria n.º 150/2004 ex vi artigo 63.º-D, n.º 1 da LGT, pelo que a transferência da sua
conta depósito constitui uma manifestação de fortuna, o que suscita a aplicação do ponto 6 da Tabela do
artigo 89.º-A, n.º 4 da LGT.

II

1. A LAL tem que cumprir com o preceituado no artigo 165.º, n.º 2 da CRP, devendo definir o objeto (“criação
de uma taxa sobre o consumo de bens de luxo”), o sentido (referir o triplo sentido do Professor António Vitorino
consagrado, i.e., no Ac. do TC n.º 358/92), a extensão (“a incidir sobre o preço das vendas e cuja alíquota não
poderá exceder os 5%”) e duração da autorização (“OE de 2018”, a conjugar com o artigo 165.º, n.º 5 da CRP).

2. O Governo legisla com base na LAL, cfr. o artigo 198.º, n.º 1, alínea b) e n.º 3 da CRP, não sendo admissível a
remissão para Portaria da definição do que sejam bens de luxo, porque in casu tal constitui a remissão do objeto
do imposto (≠ da densificação de um conceito vago e indeterminado), o que contende com o artigo 165.º, n.º 1,
alínea i) e 103.º, n.º 2, 1.ª parte da CRP.

3. Para efeitos de aplicação da lei fiscal no tempo, o facto tributário do caso (“consumo”), constitui-se e extingue-
se com um único ato ou negócio jurídico, pelo que estamos perante a criação de um imposto de obrigação única
(i.e., à semelhança do IVA). Temos, portanto, uma situação de retroatividade autêntica de uma norma oneradora,
proibida no artigo 103.º, n.º 3 da CRP.

4. Temos uma situação de substituição e responsabilidade tributária, cfr. os artigos 18.º, 20.º, 22.º, 23.º e 34.º da
LGT, com uma retenção a título definitivo que importará a desoneração de qualquer responsabilidade tributária
do substituído, cfr. o artigo 28.º, n.º 1 da LGT. Referir a problemática da prevalência do dever de pagar impostos,
cfr. o artigo 103.º e 104.º da CRP, sobre o direito ao salário, cfr. o artigo 59.º, n.º 1, alínea a) da CRP.

Cotação: I - 9 valores; II - 9 Valores; Ponderação Global - 2 valores.

(em anexo cfr. o enunciado do exame)


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Direito Fiscal – 4.º Ano – Turma A
Exame Escrito de Coincidência 2017/2018
Regência: Professora Doutora Ana Paula Dourado
Colaboradores: Mestre Nuno de Oliveira Garcia, Mestre Sónia Reis, Mestre Paulo Marques e Dr. Sérgio Varela
Alves
22 de janeiro de 2018 – Duração 90 minutos

Leia com atenção e comente de forma fundamentada e sucinta, invocando os preceitos legais e a
jurisprudência relevante
I

António e Maria vivem em união de facto em Coimbra e têm o seu filho Carlos com 22 anos a estudar na
FDUL em Lisboa. A vida não vai fácil com os 800 € de reforma do António e os 700 € de salário da Maria, uma
vez que pagam a casa de Carlos e as suas propinas, pois os 400 € que este ganha como profissional liberal a cantar
o Fado nos restaurantes de Alfama e Mouraria mal lhe dão para comer.

No ano transato e para conseguirem equilibrar as contas da família, António vendeu a casa de Férias de
que era proprietário em Trás-os-Montes.

Uma inspeção da AT à “Tasca Fadista, Lda.”, revelou: (1) que esta havia contraído um empréstimo cujo
valor fora inteiramente gasto com a sua afiliada a “Taberna Fadista, Lda.”, do qual deduzia os respetivos juros; (2)
a dedução como gasto de 10.000 € em coimas por incumprimento de diversos regulamentos sobre o exercício da
sua atividade; (3) uma transferência para a mesma de 50.000 € de uma conta depósito sua em Aruba.

Quid juris?

II

Os Deputados à Assembleia da República decidem conceder uma autorização legislativa ao Governo, onde
se lê, que: «a presente autorização é concedida para o OE de 2018, visando a criação de uma taxa sobre o consumo
de bens de luxo, a incidir sobre o preço das vendas e cuja alíquota não poderá exceder os 5%».

O Governo no uso da autorização: (1) cria um imposto que incide sobre o consumo de bens de luxo com
uma alíquota de 4%; (2) remete para Portaria a definição do que sejam bens de luxo.

O Decreto-Lei autorizado é publicado a 01.06.2018 a produzir efeito a 01.05.2018.

Ana, gerente da “Tasca Fadista, Lda.”, decide reter o valor do tributo, mas devido a problemas financeiros
que se arrastavam na empresa há meses, não entrega os valores retidos para poder pagar salários.

Quid iuris?

Cotação: I - 9 valores; II - 9 Valores; Ponderação Global - 2 valores.

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Grelha de Correção

Direito Fiscal – 4.º Ano – Turma Noite

Exame Escrito 2017/2018

19 de janeiro de 2018 – Duração de 90 minutos

1. Antónia aufere um rendimento da Categoria A (“contrato de trabalho”), cfr. o artigo 1.º e 2.º, n.º 1, alínea a) do
CIRS, sendo sujeito passivo de IRS porque reside em Portugal e aqui obtém rendimentos, cfr. o artigo 13.º, n.º 1
e 16.º do CIRS:

 Determinação do rendimento nos termos do artigo 25.º e ss, não abrangido pelos artigos 71.º, 72.º e 73.º,
podendo haver lugar às deduções à coleta dos artigos 78.º e ss., sendo-lhe aplicada a taxa geral do artigo
68.º, todos do CIRS;
 O subsídio de alimentação só constituirá rendimento da Categoria A na parte em que exceda os limites
legais estabelecidos, cfr. o artigo 2.º, n.º 3, alínea b), n.º 1 e artigo 2.º, n.º 14 do CIRS;
 O “abono para falhas de caixa” só constituirá rendimento da Categoria A na parte em que exceda 5% da
remuneração mensal fixa, cfr. o artigo 2.º, n.º 3, alínea c) do CIRS, o que acontece no caso sub judice;
 As gorjetas constituem sempre rendimento da Categoria A, cfr. o artigo 2.º, n.º 3, alínea g) do CIRS, sujeito
à taxa especial de 10% do artigo 72.º, n.º 3 do CIRS.

2. A “Yara Portugal - Confeções, Lda.” é sujeito passivo de IRC, cfr. os artigos 1.º, 2.º e 3.º do CIRC e terá como
gasto as despesas de representação, cfr. o artigo 88.º, n.º 7 do CIRC, desde que o mesmo tenha sido indispensável
para a atividade da mesma, cfr. a interpretação que é feita do artigo 23.º, n.º 1 do CIRC (i.e., no Ac. de 10 de julho
de 2002 do STA, processo n.º 0246/02):

 As despesas de representação são tributadas à taxa autónoma de 10% do artigo 88.º, n.º 7 do CIRC, não
sendo o quantum de tributação autónoma dedutível como gasto, cfr. o artigo 23.º-A, n.º 1, alínea a) do
CIRC. Ainda e havendo um prejuízo fiscal, poder-se-á suscitar o agravamento da taxa de tributação
autónoma em 10% nos termos do artigo 88.º, n.º 14 do CIRC.

3. Os juros constituem um rendimento da Categoria E, cfr. o artigo 5.º, n.º 1 e n.º 2, alínea c) do CIRS, sendo o
mesmo determinado nos termos do artigo 40.º e ss., sujeito à taxa liberatória do artigo 71.º, n.º 1, alínea a) do
CIRS, podendo ser englobado por opção do titular, cfr. o artigo 71.º, n.º 6 do CIRS.

II

1. Temos a criação de um benefício fiscal e a alteração de um imposto por Decreto-lei o que constitui uma violação
da reserva de lei, cfr. o artigo 103.º, n.º 2, segunda parte da CRP (para o benefício fiscal) e o artigo 165.º, n.º 1,
alínea i) e o 103.º, n.º 2, primeira parte da CRP (para o imposto) A criação do benefício fiscal constitui um
desagravamento fiscal e ao contrário da criação do adicional ao IRC, sobre aquele cfr. o artigo 2.º do EBF e 14.º

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da LGT, devendo haver um outro princípio ou interesse que se lhe sobreponha no caso concreto e a sopesar com
recurso ao princípio da proporcionalidade em sentido lato, com respeito pelo do bem-estar social e do ganho ou
mérito.

2. Para efeitos de aplicação da lei fiscal no tempo o IVA é um imposto de obrigação única e o IRC de obrigação
periódica (sucessiva), havendo uma situação retroatividade autêntica no que respeita ao primeiro e de retros-
petividade em relação ao segundo, carecendo-se respetivamente da análise da violação do artigo 103.º, n.º 3 da
CRP e sendo admissível a aplicação retroativa de normas desoneradoras, bem como da sua conformidade com o
princípio da segurança jurídica, cfr. o artigo 2.º da CRP e a jurisprudência do TC sobre a temática (i.e. cfr. os
critérios do Ac. n.º 128/2009).

2. O gasto com as compras à sociedade domiciliada nas Seychelles, leva à aplicação da cláusula especial antiabuso
do artigo 23.º-A, n.º 1, alínea r) do CIRC, constando as Seychelles da Portaria n.º 150/2004 ex vi artigo 63.º-D, n.º
1 da LGT, não sendo o mesmo dedutível e salvo se a operação foi efetivamente realizada, sem carácter anormal
ou montante exagerado, sendo que o não afastamento da aplicação da cláusula importará a sua conjugação com o
artigo 88.º, n.º 8 do CIRC, bem como o eventual agravamento da taxa nos termos do n.º 14, todos do CIRC.

 Tendo a operação ocorrido “ao dobro do preço de mercado”, poder-se-ia também suscitar a aplicação do
regime dos preços de transferência do artigo 63.º do CIRC, havendo uma relação especial nos termos do
seu n.º 4, alínea h), pois a operação não ocorreu como se praticada entre entidades independentes em
operações comparáveis, cfr. o n.º 1, devendo o sujeito passivo adotar para a determinação dos termos e
condições que seriam normalmente acordados, i.e., o método do preço comparável de mercado, cfr. os
n.ºs 2 e 3, alínea a);
 No caso o artigo 23.º-A, n.º 1, alínea r) prevalece sobre o artigo 63.º do CIRC, não sendo a crível correção
do preço que diminuiria o quantum de gasto não dedutível.

4. A apresentação há mais de 5 anos de prejuízos fiscais, pode efetivamente levar à determinação do rendimento
da sociedade por métodos indiretos, cfr. o artigo 87.º, n.º 1, alínea e) e 90.º da LGT.

Cotação: I - 9 valores; II - 9 Valores; Ponderação Global - 2 valores.

(em anexo cfr. o enunciado do exame)


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Direito Fiscal – 4.º Ano – Turma Noite
Exame Escrito 2017/2018
Regência: Professora Doutora Ana Paula Dourado
Colaboradores: Mestre Paulo Marques e Dr. Sérgio Varela Alves
19 de janeiro de 2018 – Duração 90 minutos

Leia com atenção e comente de forma fundamentada e sucinta, invocando os preceitos legais e a
jurisprudência relevante
I

Antónia, aluna do Turno da Noite na FDUL e residente em Lisboa, precisa de trabalhar e estudar ao
mesmo tempo para poder pagar os seus estudos. A mesma, tem um contrato de trabalho com a "Yara Portugal -
Confeções, Lda.", uma loja de roupa sita no shopping "Columbus" onde aufere o valor base de 700 €/mês.

A sua entidade patronal, paga-lhe, também, (1) o subsídio de alimentação e (2) um "abono para falhas de
caixa", correspondendo este a 10% da sua renumeração mensal, recebendo, ainda, (3) mas desta feita e dos cli-
entes da Loja, diversas gorjetas pela sua simpatia e profissionalismo exemplares.

A gestora da Loja, Bernardete, sabendo que Antónia é aluna de Direito, vêm-lhe perguntar apoquentada
se não haverá problemas em deduzir faturas em nome da Loja, de receções feitas a clientes e fornecedores com
gambas, champanhe e queijinhos secos, bem como grandes jantaradas nos melhores restaurantes da Cidade e até
porque prevê que a Loja não dará lucro.

Antónia, também adquiriu em tempos, uns Certificados de Aforro que lhe vão rendendo uns juros.

Quid juris?

II

O Ministro das Finanças, felicíssimo com o desempenho da economia portuguesa, decide aprovar legis-
lação em Conselho de Ministros: (1) onde isenta do pagamento de IVA todas a IPSS (Instituições Particulares de
Solidariedade Social), independentemente da despesa associada ao imposto e prestando estas um serviço de
enorme valia para a comunidade; (2) cria um adicional ao IRC de 5%, sobre todas as empresas que aufiram mais
de 1 milhão de euros de Lucro, pois as mesmas contribuem com pouca receita para o Orçamento do Estado.

O Decreto-lei entrou em vigor a 01.06.2017 a produzir efeitos a 01.01.217.

A empresa "Abuso, Lda.", (1) efetuou diversas compras ao dobro do preço de mercado à "Elisão", uma
sociedade com domicilio nas Seychelles, (2) apresentando há mais de 5 anos consecutivos prejuízos fiscais, que
levaram à determinação dos seus rendimentos por métodos indiretos.

Quid iuris?

Cotação: I - 9 valores; II - 9 Valores; Ponderação Global - 2 valores.

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Grelha de Correção

Direito Fiscal – 4.º Ano – Turma Noite

Exame Escrito de Recurso 2017/2018

19 de fevereiro de 2018 – Duração de 90 minutos

1. A LAL tem que cumprir com o preceituado no artigo 165.º, n.º 2 da CRP, devendo definir o objeto (“concede-
se a presente autorização para a criação de um tributo”), o sentido (referir o triplo sentido do Professor António
Vitorino consagrado, i.e., no Ac. do TC n.º 358/92), a extensão (“que incidirá sobre quaisquer produtos com
gorduras saturadas e um teor de açúcar superior a 10g por 100g de produto, com uma alíquota não superior a
1%”) e duração da autorização (“OE de 2018”, a conjugar com o artigo 165.º, n.º 5 da CRP).

2. O Governo legisla com base na LAL, cfr. o artigo 198.º, n.º 1, alínea b) e n.º 3 da CRP, não havendo qualquer
problema com a tributação de “quaisquer produtos que contenham gorduras saturadas”, ou quando remete para
Portaria a definição de critérios meramente técnicos e estabelece uma taxa alíquota inferior a 1%. Já há uma
violação da reserva de lei (por violação da autorização) quando tão-só tributa produtos “com mais de 10g de
açúcar”, o que contende com o artigo 165.º, n.º 1, alínea i) e n.º 2, bem como o 103.º, n.º 2, 1.ª parte da CRP.

3. Para efeitos de aplicação da lei fiscal no tempo, o facto tributário do caso (“consumo”), constitui-se e extingue-
se com um único ato ou negócio jurídico, pelo que estamos perante a criação de um imposto de obrigação única
(i.e., à semelhança do IVA). Temos, portanto, uma situação de retroatividade autêntica de uma norma oneradora,
proibida pelo artigo 103.º, n.º 3 da CRP.

4. Temos uma situação de substituição e responsabilidade tributária, cfr. os artigos 18.º, 20.º, 22.º, 23.º e 34.º da
LGT, contudo sem uma verdadeira retenção na fonte (cf. in fine o artigo 34.º da LGT, pois temos a liquidação do
imposto aquando da prestação de um serviço, i.e., à semelhança da Contribuição Audiovisual paga com a fatura
da Eletricidade). A retenção e não entrega dos 8.000€ constitui crime, cfr. o artigo 105.º do RGIT.

II

1. António aufere um rendimento da Categoria B, cfr. o artigo 1.º e 3.º, n.º 1, alínea b) do CIRS, com o CAE 6010
("Advogados"), cfr. o Anexo I - Tabela de atividades do artigo 151.º do CIRS, sendo sujeito passivo de IRS porque
reside em Portugal e aqui obtém rendimentos, cfr. o artigo 13.º, n.º 1 e 16.º do CIRS:

 O mesmo ao auferir € 300.000 brutos/ano, não se encontra abrangido pelo regime simplificado, sendo o
respetivo rendimento determinado nos termos do CIRC, cfr. o artigo 28.º, n.º 1, alínea b) e n.º 2, bem
como o artigo 32.º do CIRS, remetendo o último para o CIRC;
 Atento ao exposto no § anterior, os custos associados à construção e manutenção da creche, serão gastos
dedutíveis se indispensáveis para a atividade do escritório, cfr. a interpretação que é feita do artigo 23.º,
n.º 1 do CIRC (i.e., no Ac. de 10 de julho de 2002 do STA, processo n.º 0246/02). Logo, no caso, será
admissível a sua dedutibilidade havendo um nexo de causalidade entre os gastos e a atividade não produtiva
do mesmo;
 Em relação à renda temos um rendimento da Categoria F, cfr. o artigo 1.º e 8.º n.ºs 1 e 2 do CIRS, havendo
no caso lugar à dedução específica do artigo 41.º, n.º 7 do CIRS (“que nunca habitou e onde fez extensas
obras antes de o arrendar”), sendo aplicada a taxa especial de 28% do artigo 72.º, n.º 1, alínea e) do CIRS,
podendo este ser englobado por opção do titular, cfr. o artigo 72.º, n.º 8 do CIRS;
 No que concerne aos juros temos um rendimento da Categoria E, cfr. o artigo 1.º e 5.º, n.ºs 1 e 2, alínea
b) do CIRS, determinado nos termos dos artigos 40.º e ss. do CIRS, sendo-lhes aplicada a taxa especial de
35% do artigo 72.º, n.º 12, alínea a) do CIRS, uma vez que as Bahamas constam da Portaria n.º 150/2004
ex vi artigo 63.º-D, n.º 1 da LGT;
 Poderá haver lugar às deduções à coleta dos artigos 78.º e ss. do CIRS, depois do englobamento do artigo
22.º do CIRS e sendo aplicada ao final a taxa respetiva do artigo 68.º do CIRS;

2. A aquisição do automóvel por 100.000 € suscita a aplicação da tabela do artigo 89.º-A, n.º 4 da LGT.
Contudo, no caso prático não há qualquer manifestação de fortuna, pois os € 300.000 brutos/ano que António
aufere, não representam uma desproporção superior a 30%, para menos, do rendimento padrão que no caso
seria de 50.000 € no ano de matrícula.

Cotação: I - 10 valores; II – 10 valores.

(em anexo cfr. o enunciado do exame)


Direito Fiscal – 4.º Ano – Turma Noite
Exame Escrito de Recurso 2017/2018
Regência: Professora Doutora Ana Paula Dourado
Colaboradores: Mestre Paulo Marques e Dr. Sérgio Varela Alves
19 de fevereiro de 2018 – Duração 90 minutos

Leia com atenção e comente de forma fundamentada e sucinta, invocando os preceitos legais e a
jurisprudência relevante

Atentos ao aumento dos diagnósticos de diabetes e obesidade no país, os Deputados à Assembleia da


República decidem conceder uma autorização legislativa ao Governo, onde se lê: «concede-se a presente auto-
rização para a criação de um tributo, que incidirá sobre quaisquer produtos com gorduras saturadas e um teor de
açúcar superior a 10g por 100g de produto, com uma alíquota não superior a 1% e para o OE de 2018».

O Governo no uso da autorização legislativa: (1) cria uma taxa que incide sobre o consumo de quaisquer
produtos que contenham gorduras saturadas e até 10g de açúcar com uma alíquota de 0,5%; (2) remete para
Portaria a definição dos critérios de distinção entre gorduras saturadas e insaturadas.

O Decreto-Lei é aprovado no dia 01.12.2017 (com o OE de 2018) a produzir efeitos a 01.10.2017.

António, gestor do Restaurante “Gorduroso, Lda.”, menciona na respetiva ementa o acréscimo da taxa ao
custo das refeições e efetivamente cobra-a aos seus clientes, mas acaba por reter 8.000 € relativos à mesma que
não entrega ao Fisco.

Quid juris?

II

António, advogado há vários anos e com escritório na baixa de Lisboa, ganha € 300.000 brutos/ano fruto
do exercício dessa atividade. O mesmo, sensibilizado pelo calvário dos seus colaboradores com filhos pelo facto
de quando têm que trabalhar até mais tarde não terem onde os deixar, decide construir uma creche para os mesmos
no edifício do escritório, procedendo à dedução dos custos associados à sua construção e manutenção.

Para além da profissão de advogado: (1) ele é o senhorio de Bento, de quem cobra uma renda mensal de
1.000 € pelo arrendamento de um T3 nas Avenidas Novas em Lisboa, que nunca habitou e onde fez extensas
obras antes de o arrendar; (2) recebe juros de um depósito a prazo que tem no “Banco Paraíso” domiciliado nas
Bahamas.

António, adquiriu também, um automóvel topo de gama “Cavalinho Preto” por 100.000 €.

Quid juris?

Cotação: I - 10 valores; II - 10 Valores.


Grelha de Correção

Direito Fiscal – 4.º Ano – Turma Noite

Exame Escrito 2017/2018

25 de janeiro de 2018 – Duração de 90 minutos

1. António e Maria são sujeitos passivos de IRS, porque residem em Portugal (“Setúbal”) e aqui obtêm
rendimentos, cfr. o artigo 13.º, n.º 1 e 16.º do CIRS, fazendo parte do mesmo agregado familiar (“esposo”), cfr. o
artigo 13.º, n.º 4, alínea a) do CIRS:

 Os “50.000 €” constituem rendimento da Categoria A, cfr. o artigo 1.º e 2.º, n.º 3, alínea a) do CIRS,
determinado nos termos do artigo 25.º e ss., não abrangido pelos artigos 71.º, 72.º e 73.º, podendo haver
lugar às deduções à coleta do artigo 78.º e ss., sendo-lhe aplicada a taxa do artigo 68.º, todos do CIRS;
 O acordo escrito relativo ao uso do automóvel no dia-a-dia de António é também rendimento da Categoria
A, cfr. o artigo 1.º e 2.º, n.º 3, alínea b), n.º 9 do CIRS, o que exclui o gasto de tributação autónoma em
sede de IRS e IRC, cfr. o artigo 73.º, n.º 3 do CIRS e o artigo 88.º, n.º 6, alínea b) do CIRC, sendo deter-
minado nos termos do parágrafo anterior;
 O subsídio de residência constitui ainda rendimento da Categoria A de António, mesmo que pago à sua
esposa, cfr. os artigos 1.º e 2.º, n.º 3, alínea b), n.º 4 e n.º 11 do CIRS, sendo igualmente determinado nos
termos dos dois parágrafos anteriores.

2. A “Auto Portugal, SA.” é sujeito passivo de IRC, cfr. os artigos 1.º, 2.º e 3.º do CIRC e terá como gastos as
despesas supra, desde que os mesmos tenham sido indispensáveis para a sua atividade, cfr. a interpretação que é
feita do artigo 23.º, n.º 1 do CIRC (i.e., no Ac. de 10 de julho de 2002 do STA, processo n.º 0246/02), sendo de
aplicar no caso o artigo 23.º, n.º 2, alínea d) do CIRC às renumerações:

 Em relação às “despesas confidenciais” referir a eventual distinção das mesmas das não documentadas,
sendo a distinção irrelevante em termos de tratamento fiscal, não havendo lugar à dedução do gasto e
estando o mesmo sujeito a tributação autónoma, cfr. os artigos 23.º-A, n.º 1, alínea b) e 88.º, n.º 1 do
CIRC;
 A aquisição dos produtos ao “dobro do preço do mercado” suscita a aplicação do regime dos preços de
transferência do artigo 63.º do CIRC, uma cláusula especifica antiabuso e havendo in casu uma relação es-
pecial nos termos do artigo 63.º, n.º 4, alínea a) do CIRC;
 O gasto com a prestação de serviços da sociedade domiciliada em Gibraltar, leva à aplicação da cláusula
especial antiabuso do artigo 23.º-A, n.º 1, alínea r) do CIRC, constando Gibraltar da Portaria n.º 150/2004
ex vi artigo 63.º-D, n.º 1 da LGT, não sendo o mesmo dedutível e salvo se a operação foi efetivamente
realizada, sem carácter anormal ou montante exagerado. O não afastamento da aplicação da cláusula

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importa a sua conjugação com o artigo 88.º, n.º 8, bem como o eventual agravamento da taxa nos termos
do n.º 14, todos do CIRC.

3. Os juros constituem um rendimento da Categoria E, cfr. o artigo 5.º, n.º 1 e n.º 2, alínea c) do CIRS, sendo o
mesmo determinado nos termos do artigo 40.º e ss., sujeito à taxa liberatória do artigo 72.º, n.º 1, alínea d) do
CIRS, podendo ser englobado por opção do titular, cfr. o artigo 72.º, n.º 8 do CIRS.

4. Temos uma situação de substituição e responsabilidade tributária, cfr. os artigos 18.º, 20.º, 22.º, 23.º e 34.º da
LGT, com uma retenção por conta que importará a desoneração de qualquer responsabilidade tributária do
substituído, cfr. o artigo 28.º, n.º 1 da LGT, não sendo eventualmente ilidível a culpa da gestora porque praticado
um crime, cfr. o artigo 24.º da LGT e 105.º do RGIT, no caso do património da Sociedade ser insuficiente ou
inexistente para o pagamento do tributo.

II

1. A LAL tem que cumprir com o preceituado no artigo 165.º, n.º 2 da CRP, devendo definir o objeto (“a criação
de um adicional ao IMI sobre imóveis devolutos”), o sentido (referir o triplo sentido do Professor António
Vitorino consagrado, i.e., no Ac. do TC n.º 358/92), a extensão (“cuja alíquota variará entre os 0,5 % e 2 % do
valor patrimonial dos mesmos […]”) e duração da autorização (“até ao dia 31.06.2018”):

 O Governo legisla com base na LAL, cfr. o artigo 198.º, n.º 1, alínea b) e n.º 3 da CRP, não sendo
admissível a remissão para Portaria dos critérios que determinariam a classificação de um imóvel como
devoluto, porque in casu tal constitui uma remissão do objeto do imposto (≠ da densificação de um
conceito vago e indeterminado), o que contende com a reserva de lei e o princípio da tipicidade dos artigos
165.º, n.º 1, alínea i) e 103.º, n.º 2, 1.ª parte da CRP;
 Referir a competência derivada (≠ originária) dos Municípios em matéria fiscal, cfr. o artigo 238.º, n.º 4 da
CRP.

2. Para efeitos de aplicação da lei fiscal no tempo o IMI é um imposto de obrigação periódica (sucessiva), havendo
uma situação de retrospetividade, carecendo-se da análise da sua aplicação em conformidade com o princípio da
segurança jurídica (de onde decorre o da proteção da confiança), cfr. o artigo 2.º da CRP e a jurisprudência do TC
sobre a temática (i.e. cfr. os critérios do Ac. n.º 128/2009).

Cotação: I - 9 valores; II - 9 Valores; Ponderação Global - 2 valores.

(em anexo cfr. o enunciado do exame)


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Direito Fiscal – 4.º Ano – Turma Noite
Exame Escrito de Coincidência 2017/2018
Regência: Professora Doutora Ana Paula Dourado
Colaboradores: Mestre Paulo Marques e Dr. Sérgio Varela Alves
25 de janeiro de 2018 – Duração 90 minutos
Leia com atenção e comente de forma fundamentada e sucinta, invocando os preceitos legais e a
jurisprudência relevante
I

António, esposo de Maria, residente em Setúbal e administrador da “Auto Portugal, SA.”, auferiu a esse
título e durante o ano de 2017 a quantia de 50.000€, tendo por acordo escrito utilizado no seu dia-a-dia, uma
viatura automóvel ligeira da empresa cujas despesas foram suportadas integralmente por esta. A sua esposa Maria
também recebe da “Auto Portugal, SA.”, um subsídio mensal de residência de 1.000 €.

Uma inspeção da AT à “Auto Portugal, SA.”, revelou que esta contabilizara como gastos: (1) 10.000 € em
despesas confidenciais; (2) a aquisição ao dobro do preço do mercado de diversos produtos à “Auto Setúbal Lda.”,
da qual detém 50% do capital social; 3) bem como 20.000 € em marketing com a sociedade "Paradise" domiciliada
em Gibraltar e num período em que apresentou prejuízos fiscais

Por último, (1) António recebeu juros de um depósito a prazo do Banco "Credit Française", com sede em
França, (2) e encontra-se bastante reticente por ter decidido não entregar ao Fisco, uns 20.000 € de IRS que retive-
ra dos salários dos trabalhadores da empresa.

Quid juris?

II

Os Deputados à Assembleia da República decidem conceder uma autorização legislativa ao Governo, onde
se lê, que: «a presente autorização é concedida até ao dia 31.06.2018, para a criação de um adicional ao IMI sobre
imóveis devolutos, cuja alíquota variará entre os 0,5 % e 2 % do valor patrimonial dos mesmos, com o propósito
de financiar os diversos “Serviços Municipais de Proteção Civil” espalhados pelo país. Deverão ser as Assembleias
Municipais a determinar o valor exato da alíquota a aplicar por Município».

No uso da autorização legislativa: (1) o Governo cria efetivamente o adicional nos moldes apresentados,
mas remete para Portaria a definição dos critérios que determinariam a classificação de um imóvel como devoluto;
(2) os Municípios criticam a medida legislativa, argumentando que a pouca margem de decisão que lhes é dada
conflitua com as suas competências tributárias.

O Decreto-Lei autorizado é publicado a 01.06.2018 a produzir efeitos a 01.01.2018.

Quid juris?

Cotação: I - 9 valores; II - 9 Valores; Ponderação Global - 2 valores.

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DIREITO FISCAL – 4.º ANO DIA
Prova Escrita – Época Especial
Regência: Professora Doutora Ana Paula Dourado
Colaboradores: Professora Doutora Paula Rosado Pereira, Mestres Nuno de Oliveira
Garcia, Sónia Martins Reis, Sérgio Varela Alves e Paulo Marques
8 de setembro / Duração: 120 minutos

Grelha de Correção

Nota: Apenas se destacam infra os tópicos de correção mais relevantes.

Grupo I

Manuel é sujeito passivo de IRS, residindo em território português e aqui obtendo rendimen-
tos, cf. os artigos 13.º, n.º 1 e 16.º, n.º 1, alínea a) do CIRS, pelo que será tributado em Portu-
gal pelo seu rendimento mundial (“worldwide income”), cf. o artigo 15.º, n.º 1 do CIRS.

(1 valor)

Uma vez que se refere que ele “é funcionário de uma empresa”, Manuel aufere um rendimen-
to da Categoria A, cf. o artigo 2.º, n.º 1, alínea a) do CIRS, sendo que o rendimento líquido
desta Categoria é determinado nos termos do artigo 25.º e ss. do CIRS e aplica-se-lhe as alí-
quotas resultantes do artigo 68.º do CIRS.

(1 valor)

No que respeita à viatura que lhe foi atribuída pela empresa, e uma vez que nada se refere
sobre a existência do acordo do artigo 2.º, n.º 3, alínea b), n.º 9 do CIRS, temos que a mesma
não será considerada como um rendimento da Categoria A de Manuel.

(0,5 valores)

Já no que concerne ao “subsídio de almoço”, e uma vez que nada nós é dito sobre valor
específico do mesmo, temos que apenas será considerado como um rendimento da Catego-
ria A, «na parte em que exceder o limite legal estabelecido ou em que o exceda em 60 % sem-
pre que o respetivo subsídio seja atribuído através de vales de refeição», cf. o artigo 2.º, n.º
3, alínea b), n.º 2 do CIRS.

(0,5 valores)

Por último, temos que «as importâncias despendidas pela entidade patronal com viagens e
estadas, de turismo e similares, não conexas com as funções exercidas pelo trabalhador ao
serviço da mesma entidade» são consideradas como um rendimento da Categoria A», ex vi
artigo 2.º, n.º 3, alínea b), n.º 6 do CIRS, onde se inclui a “viagem à Euro Disney”, sendo de
denotar, o artigo 2.º, n.º 11 do CIRS, onde se prescreve que «consideram-se rendimentos do
trabalho do sujeito passivo os benefícios ou regalias atribuídos pela respetiva entidade patro-
nal a qualquer outra pessoa do seu agregado familiar ou que a ele esteja ligado por vínculo
de parentesco ou afinidade até ao 3.º grau da linha colateral».

(0,5 valores)

Quanto à empresa em si, temos que a mesma é sujeito passivo de IRC, cf. o artigo 2.º, n.º 1,
alínea a) do CIRC, incidindo o referido tributo sobre o seu «lucro», cf. o artigo 3.º, n.º 1, alí-
nea a) do CIRC, determinado nos termos do artigo 17.º, n.º 1 do CIRC, que concretiza o
princípio da tributação do «rendimento real». cf. o artigo 104.º, n.º 2 da CRP.

(1 valor)

No que respeita à aquisição das viaturas “ligeiras” de passageiros e de mercadorias, não nos
é dito o valor específico de aquisição das mesmas, mas o gasto está sujeito a tributação autó-
noma e, nomeadamente, a alguma(as) das alíquotas previstas nas alíneas do artigo 88.º, n.º 3
do CIRC, sem prejuízo do prescrito no artigo 23.º-A, n.º 1, alínea h) do CIRC.

(0,5 valores)

Já no que concerne às multas por “excesso de velocidade”, temos que se trata de um gasto
da empresa que não é dedutível, nos termos do artigo 23.º-A, n.º 1, alínea e) do CIRC.

(0,5 valores)

Quanto à retenção das “contribuições para a Segurança Social”, temos uma retenção na fonte
a título definitivo, já a retenção “em sede de [IRS]”, é uma retenção por conta do imposto
devido ao final. Deste modo, e uma vez que ambas as retenções foram efetivamente efe-
tuadas, «a entidade obrigada à retenção é responsável pelas importâncias retidas e não entre-
gues nos cofres do Estado, ficando o substituído desonerado de qualquer responsabilidade
no seu pagamento», cf. o artigo 28.º, n.º 1 da LGT, sendo, in casu, a empresa o substituto e
os seus trabalhadores os substituídos na relação jurídico-tributária, cf. o artigo 18.º, n.º 3 da
LGT.

(2 valores)

A “mulher de Manuel, Teresa”, aufere um rendimento da Categoria B enquanto advogada,


cf. o artigo 3.º, n.º 1, alínea b) do CIRS, com o CAE 6010 «Advogados», cf. a «Tabela de ati-
vidades do artigo 151.º do CIRS», cujo rendimento líquido da Categoria é determinado nos
termos do artigo 28.º e ss. do CIRS, sendo que atentos ao valor em causa, a priori com base
no «regime simplificado», cf. o artigo 28.º, n.º 1, alínea a) e n.º 2, bem como o artigo 31.º, n.º
1, alínea b) e n.º 13 do CIRS.

(1 valor)

Já os juros do “depósito a prazo” são um rendimento da Categoria E, cf. o artigo 5.º, n.º 2,
alínea b) do CIRS, sendo tributados a uma alíquota especial de 35%, cf. o artigo 72.º, n.º 17,
alínea a) do CIRS e uma vez que as Ilhas Caimão são tidas como um paraíso fiscal, cf. a Por-
taria n.º 150/2004, de 13 de fevereiro.

(0,5 valores)

A venda da “casa de férias” perfaz um rendimento da Categoria G, ex vi artigo 9.º, n.º 1, alí-
nea a) e 10.º, n.º 1, alínea a) do CIRS, cujo rendimento líquido da Categoria é determinado
nos termos do artigo 42.º e ss. do CIRS, sendo-lhe aplicado as alíquotas que resultarem da
aplicação do artigo 68.º do CIRS.

(0,5 valores)

Por sua vez as “rendas” perfazem um rendimento da Categoria F, cf. o artigo 8.º, n.º 1 do
CIRS, cujo rendimento líquido da Categoria é determinado nos termos do artigo 41.º do
CIRS, sendo-lhe aplicada a alíquota especial de 28 %, cf. o artigo 72.º, n.º 1, alínea e) do
CIRS, bem podendo a mesma ser reduzida nos casos do artigo 72.º, n.ºs 2 a 5 do CIRS.

(0,5 valores)

Por último, temos de aferir do agregado familiar de “Manuel e Teresa”. Temos que ambos
fazem parte do mesmo agregado familiar tratando-se de «cônjuges», cf. o artigo 13.º, n.º 4,
alínea a) do CIRS, podendo optar pela «tributação conjunta» dos seus rendimentos, cf. o arti-
go 13.º, n.ºs 2 e 3 e 69.º do CIRS, fazendo também parte do agregado familiar os seus filhos
que “estudam num colégio privado” e a título de dependentes, cf. o artigo 13.º, n.º 5, alínea
b) do CIRS, tendo-se que o “pai de Teresa” apenas fará parte do agregado familiar, na situa-
ção do artigo 13.º, n.º 5, alínea c) do CIRS.

(2 valores)

Grupo II

Para efeitos de aplicação da lei no tempo, temos que o IRS é um facto tributário de obrigação
periódica ou sucessiva, pois constitui-se no primeiro dia do Ano Fiscal (no dia 01 de janeiro)
e apenas se extingue no último dia desse mesmo Ano (a 31 de dezembro), já temos o IVA e
os factos tributários sujeitos a tributação autónoma como factos tributários de obrigação úni-
ca, que se constituem e extinguem com um único facto, acto ou negócio jurídico.

(1 valor)

Uma vez que no caso sub judice a Lei Nova (“LN”) data de setembro de 2020, temos que a
mesma se aplica a um facto tributário que ainda não se extinguiu, no caso do IRS, pelo que
temos uma situação de retrospetividade, que apenas não será admissível se da mesma decor-
rer uma violação do Princípio da Segurança Jurídica, decorrente daqueloutro do Estado de
Direito, cf. o artigo 2.º da CRP, bem como, e.g., os critérios do Acórdão n.º 128/2009 do TC,
de 24 de abril.

(2 valores)

Já no respeita ao IVA e à produção de efeitos a “1 de outubro de 2020” não há qualquer pro-


blema, pois que a LN apenas se aplica para o futuro, cf. o artigo 12.º, n.º 1 da LGT. O que
já não ocorre com a sua produção de efeitos a “1 de janeiro de 2020”, pois neste caso a LN
aplica-se a um facto tributário que já se extinguiu, havendo uma situação de retroatividade
forte, proibida pelo artigo 103.º, n.º 3 da CPR, cf., e.g., o Acórdão n.º 129/09 do TC, de 12
de março, um raciocínio igualmente aplicável ao aumento das taxas de tributação autónoma,
cf., e.g., o Acórdão n.º 617/2012 do TC, de 19 de dezembro.

(2 valores)

Acontece, que independentemente da questão de aplicação da lei no tempo, sempre teríamos


uma violação do princípio da legalidade, pois temos o Governo por Decreto-Lei simples
(leia-se, sem uma Lei de Autorização Legislativa e como se prescreve no artigo 165.º, n.º 2 e
ss. da CRP), a alterar as alíquotas (leia-se, a «taxa») de diversos impostos, havendo uma viola-
ção do artigo 165.º, n.º 1, alínea i) e 103.º, n.º 2, 1.ª parte da CRP.

(1 valor)

Por último, temos que duas autarquias locais aprovam “uma taxa de proteção civil”, sendo
que as autarquias locais têm uma competência tributária derivada, cf. o artigo 238.º, n.º 4 da
CRP, podendo a criação da taxa in casu, resultar do artigo 14.º, alínea e) do Regime Financeiro
das Autarquias Locais e não se tendo grande informação sobre a criação do tributo. Todavia,
deixamos a nota, de que diversas “Taxas Municipais de Proteção Civil” foram consideradas
inconstitucionais, porque materialmente se tinham como impostos, violando o princípio da
legalidade, cf. o artigo 165.º, n.º 1, alínea i) da CRP e, e.g., o Acórdão n.º 848/2007 do TC, de
13 de dezembro.

(1 valor)

A isenção de uma taxa proprio sensu não perfaz um Benefício Fiscal, mas de um imposto, sim.
Temos a definição do que seja um Benefício Fiscal no artigo 2.º, n.º 1 do EBF, concretizan-
do-se os mesmos, e.g., em isenções, cf. o artigo 2.º, n.º 2 do EBF. Os mesmos implicam sem-
pre uma violação do Princípio da Igualdade, cf. o artigo 13.º da CRP, pelo que terá de haver
um outro valor, interesse ou direito que justifique essa mesma violação, tendo-se de sopesar
a mesma por recurso ao Princípio da Proporcionalidade lato sensu (leia-se, por recurso a uma
análise da sua adequação, necessidade e proporcionalidade stricto sensu), cf. o artigo 18.º, n.º 3
da CRP, sendo que ao final, sempre se terá de aferir também pelo cumprimento do Princípio
do Ganho e do Princípio do Mérito.

(1 valor)

Cotação: I – 12 valores / II – 8 valores

(cf. o enunciado em Anexo)


DIREITO FISCAL – 4.º ANO DIA
Prova Escrita – Época Especial
Regência: Professora Doutora Ana Paula Dourado
Colaboradores: Professores Doutores Paula Rosado Pereira, Mestres Nuno de Oliveira
Garcia, Sónia Martins Reis, Sérgio Varela e Paulo Marques
8 de Setembro / Duração: 120 minutos

Leia com atenção as situações fatuais e os regimes jurídicos criados, e comente as hipóteses
sobre todos os aspectos relevantes, fundamentando de forma sucinta e invocando os
preceitos legais aplicáveis:

Manuel é funcionário de uma empresa de lacticínios em Setúbal. Como tinha que se deslocar
várias vezes em trabalho, a empresa atribuiu-lhe uma viatura, bem como um subsídio de
almoço. Atendendo aos bons resultados apresentados por Manuel no ano passado, a empresa
decidiu premiá-lo com uma viagem à Euro Disney que era extensível à sua família.

A empresa resolveu também adquirir viaturas ligeiras de passageiros que atribuiu para uso
pessoal a alguns trabalhadores e viaturas ligeiras de mercadorias para o transporte de leite.
Nessas viagens de transporte de leite, a empresa foi várias vezes multada por excesso de
velocidade.

Considerando que os valores das multas eram elevados, a empresa resolveu que os montantes
retidos em sede de Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares e de contribuições
para a Segurança Social seriam utilizados para pagar as referidas multas.

A mulher de Manuel, Teresa, advogada auferiu € 90.000,00 de rendimentos anuais, tendo


também recebido juros de um depósito a prazo que tem num banco nas Ilhas Caimão.
Ademais, Teresa recebeu ainda rendas de uma casa que tem em Lisboa e vendeu a casa de
férias do casal em Moledo para comprar outra casa de férias.

Manuel e Teresa têm dois filhos que estudam num colégio privado em Lisboa, sendo que o
pai de Teresa também vive com Teresa, Manuel e os netos.

II

Na sequência da grave pandemia que se abateu no País, o Governo decidiu aprovar por
Decreto-Lei simples o seguinte conjunto de medidas: (i) aumento dos escalões de IRS para
todos os contribuintes independentemente dos seus rendimentos com efeitos a 1 de Janeiro
de 2020; (ii) diminuição da taxa geral de IVA com efeitos a 1 de Outubro de 2020; (iii)
aumento da taxa reduzida de IVA com efeitos a 1 de Janeiro de 2020; (iv) aumento das taxas
de tributação autónoma.
A autarquia de Lisboa e do Porto aprovaram ainda uma taxa de protecção civil, da qual
apenas estão isentos os idosos.

Quid iuris?

Cotação: I – 12 valores / II – 8 valores


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

Exame de Direito Fiscal – 4.º Ano – Dia

8 de janeiro de 2016

1:30h com 30m de tolerância

Regência: Prof. Doutora Ana Paula Dourado

I.

Alberto é condutor de automóveis de corrida, tendo contrato com uma importante


empresa espanhola. Passa em Espanha todos os fins de semana e ainda os
meses de julho e agosto a treinar. Berta, sua mulher, dedica-se à compra e venda
de imóveis, prestando ainda serviços de consultadoria imobiliária a uma cadeia de
hotéis angolana. Todo o rendimento pago a Alberto é depositado numa conta na
Costa Rica sem que o mesmo lhe seja distribuído, uma vez que os rendimentos de
Berta são suficientes para viverem com desafogo em Portugal. Alberto prometeu a
Berta que irá parar de conduzir automóveis de corrida em 2020, e que ambos irão
passar a viver ‘até aos fins das suas vidas’ na Costa Rica à custa dos rendimentos
por si aí acumulados.

Quid Iuris?

II.

Imagine que o Governo decide aprovar, por Decreto-Lei Simples, a criação de uma
nova contribuição sobre o setor bancário para evitar falências de instituições
financeiras nacionais. A contribuição terá taxas progressivas que aumentam
consoante o número de depositantes das instituições, encontrando-se isenta a
Caixa Geral dos Depósitos.

Quid Iuris?

III.

O Senhor Paquistan – homem muito abastado, residente no Paquistão e fervoroso


adepto de futebol português – investiu em 2015 na aquisição de ações da SAD do
Sporting Clube de Braga. Imagine que no final de 2015, aquando do pagamento
dos respetivos dividendos, o funcionário do banco que precede à transferência dos
dividendos paga-os em bruto sem qualquer retenção.

a) Haveria lugar a retenção na fonte nesta situação? Qual a base legal?


b) Haverá algum tipo de responsabilidade tributária nesta situação?

Cotação: I – 9 valores; II – 5 valores ; III – 5 valores (1 valor de apreciação


global)
GRELHA DE CORREÇÃO

I.

 Discutir o conceito de residência fiscal relativamente a Alberto.


 Na hipótese de Alberto ser residente fiscal em Portugal, o rendimento pago
pela empresa espanhola deve ser declarado em Portugal aquando da
entrega da Declaração Modelo 3 de IRS no Anexo J. De referir também
artigos 15.º e 81.º do Código do IRS.
 Qualificar os rendimentos obtidos por Berta como rendimentos da categoria
B e determinar o respetivo regime de tributação.
 Caso o montante pago a título de serviços de consultoria seja pago em
Angola, o rendimento tem de ser declarado em Portugal aquando da
entrega da Declaração Modelo 3 de IRS no Anexo J. De referir também
artigos 15.º e 81.º do Código do IRS.
 Qualificar a Costa Rica como um território sujeito a um regime fiscal
claramente mais favorável (Portaria 150/2004) e discutir a aplicabilidade da
cláusula geral anti-abuso (artigo 38, n.º 2 da LGT).

II.

 Contribuição sobre Setor Bancário enquanto tributo.


 Relação de presuntiva sinalagmaticidade entre o pressuposto do tributo
(prevenção de falência de instituições financeiras) e a base de incidência
determinada a partir de do número de depositantes. Discutir. Relação
indiciadora da natureza bilateral do tributo.
 Natureza progressiva das taxas enquanto reveladora da valoração da
capacidade contributiva na formatação deste tributo - indício da presença
de imposto (pagamento em função da maior capacidade de contribuir e com
abstração do pressuposto).
 Isenção da Caixa geral de Depósitos enquanto derrogação injustificável do
princípio da equivalência, atenta a natureza estruturante deste na
formatação das taxas.
 Qualificação tendencial enquanto imposto – inconstitucionalidade
decorrente da aprovação por Decreto-lei simples (sem intervenção do órgão
representativo.
III.

 Paquistan enquanto sujeito não residente (conceito negativo - não


subsunção às hipóteses do artigo 16.º CIRS).
 Tributação dos sujeitos não residentes de acordo com o princípio da
territorialidade – “rendimentos obtidos em território português” (artigo
15.º/n.º 2 CIRS).
 Rendimento sujeito a imposto em Portugal, porque “obtido em território
português”, nos termos do artigo 18.º/n.º 1/alínea g) CIRS.
 Rendimento sujeito à taxa liberatória do artigo 71.º/n.º 1/alínea a). CIRS –
“rendimentos de capitais pagos através de…” – taxa de 28%.
 Obrigação de retenção na fonte pelas regras gerais do artigo 98.º CIRS.
 Não verificação, em face da factualidade apresentada no caso, de qualquer
das exceções à retenção na fonte previstas no artigo 101.º-C CIRS
 Entidade obrigada à retenção enquanto substituto tributário e, por essa via,
sujeito passivo (artigo 18.º/n.º 3 LGT).
 Retenção na fonte sobre não residentes sem estabelecimento estável em
Portugal possui natureza definitiva – substituição fiscal total.
 Responsabilidade primária do substituto e apenas subsidiária (nos termos
do artigo 23.º LGT) do substituído quanto aos montantes não retidos (artigo
28.º/n.º 3 LGT ex vi artigo 103.º/n.º 1 CIRS).
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Exame de Direito Fiscal – 4.º Ano Noite
6 de Janeiro de 2015 / Duração: 90 minutos

Regência: Professora Doutora Ana Paula Dourado

Colaboradores: Mestre Nuno de Oliveira Garcia

Leia com atenção as situações factuais e os regimes jurídicos criados, e comente as


hipóteses sobre todos os aspectos relevantes, fundamentando de forma sucinta e
invocando os preceitos legais aplicáveis:

O Governo aprovou no dia 1 de Janeiro de 2015 por Portaria que as empresas passam a
estar sujeitas a uma colecta mínima de dois mil euros a aplicar com efeitos ao ano de 2014.
Na sequência desta medida, a Autoridade Tributária veio emitir um ofício-circulado nos
termos do qual determinou que a colecta mínima deveria ser apenas aplicada a empresas
que tivessem um lucro tributável anual de € 100.000.

Simultaneamente, o Governo aprovou um Decreto-Lei simples nos termos do qual foi


estabelecida uma taxa adicional de 10% ao IRS apurado e liquidado em 2012, acompanhada
do aumento da taxa máxima de IRS para 75% aplicável aos rendimentos obtidos por
pessoas singulares no ano de 2013 e 2014 e determinou ainda que o IVA deixaria de se
aplicar tão só e apenas aos advogados.

II

A sociedade Ferreira&Gamboa que opera no sector da construção civil celebrou vários


contratos de prestação de serviços de consultoria com sociedades suas afiliadas no Brunei
pelo valor de 600 milhões de euros, tendo igualmente adquirido a estas afiliadas várias
máquinas por metade do seu preço de mercado. Esta sociedade registou na sua
contabilidade estes custos, não tendo porém qualquer suporte documental que justifique os
mesmos. Foram igualmente registados na contabilidade os custos com barcos de recreio
dos administradores da sociedade. A sociedade ofereceu ainda no decurso deste ano uma
imponente recepção aos seus clientes mais antigos e uma Festa de Ano Novo a todos os
seus colaboradores no Hotel Ritz em Lisboa.
III

Francisco, geólogo auferiu rendimentos de € 35.000 de rendimentos no ano de 2014. A


empresa que o contratou apesar de ter efectuado as correspondentes retenções na fonte
aquando do pagamento de salários, não entregou os montantes retidos ao Estado. A sua
mulher, Mariana, empregada num café sofreu cortes muito acentuados no seu ordenado,
tendo contudo obtido um rendimento considerável de gorjetas dadas pelos clientes do café.
Mariana vendeu ainda uma casa de férias que tinha em Vila Verde e comprou outra casa em
Figueiredo e recebeu ainda juros pagos por um Banco em Espanha. Mariana, que gosta
muito de escrever, concorreu a um concurso patrocinado pelo Círculo de Leitores, tendo-
lhe sido atribuído um prémio literário.

Quid iuris?

Cotação: Grupo I: 7 valores; Grupo II: 7 valores; Grupo III: 6 valores


GRELHA DE CORREÇÃO

I.

Princípio da legalidade formal e material (aprovação por Portaria) » Princípio da tributação


de acordo com o lucro real (artigo 104.º, n.º 2 da CRP) » possível aplicabilidade da
retroatividade autêntica » discussão do valor jurídico e da vinculatividade dos ofícios-
circulados » aprovação por Decreto-Lei simples – princípio da legalidade formal »
retroatividade autêntica relativamente aos rendimentos obtidos em sede de IRS e aumento
da taxa máxima de IRS .

II

Encargo não dedutível para efeitos fiscais (artigo 23.º A, n.º 1, alínea r) do Código do IRC),
exceto se o sujeito passivo provar que tais encargos correspondem a operações
efetivamente realizadas e não têm um caráter anormal ou um montante exagerado »
referência ao regime de preços de transferência e possibilidade de ajustamento do lucro »
Não dedutibilidade de encargos não documentados (artigo 23.º A, n.º 1, alínea b) do
Código do IRC) e aplicação de tributação autónoma ( artigo 88.º, n.º 1 e 2 do Código do
IRC) » não dedutibilidade do custo com barcos de recreios (artigo 23.º A, n.º 1, alínea k) do
Código do IRC) » tributação autónoma aplicável aos custos incorridos com a receção
oferecida aos clientes (artigo 88.º, n.º 7 do Código do IRC) » discussão da dedutibilidade
dos custos incorridos com Festa de Ano Novo oferecida aos colaboradores da empresa.

III

Rendimentos da categoria B (artigo 3.º, n.º 1, alínea b) do Código do IRS e artigo 151.º do
Código do IRS) » Responsabilidade tributária da empresa por não ter entregado os
montantes retidos à Autoridade Tributária (artigo 28.º, n.º 1 da LGT) » aplicação da taxa
especial do artigo 72.º, n.º 3 do Código do IRS às gorjetas atribuídas a Mariana »
Rendimentos da categoria G (mais-valia derivada da alienação do imóvel - artigo 10.º, n.º 1,
alínea a) do Código do IRS) » Rendimentos da categoria E ( juros recebidos do banco em
Espanha –artigo 72.º, n.º 5 e n.º 8 do Código do IRS); delimitação negativa de incidência
(artigo 12.º, n.º 2 do Código do IRS) relativamente à atribuição do prémio literário.
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Exame de Direito Fiscal – Exame de Época de Recurso
Regência: Professora Doutora Ana Paula Dourado
Grelha de Correcção

4.º ANO

17 de Fevereiro de 2015

I.

Imagine que o Governo decide aprovar, por Decreto-Lei Simples, em Junho de 2014, um
pacote de medidas, de entre as quais se prevê (i) o agravamento da tributação autónoma
das despesas de representação para 70%, com efeitos no lucro tributável de 2014; e (ii)
revogar imediatamente os benefícios fiscais criados em 2012 aplicáveis ao investimento em
zonas do interior do país e que tinham uma duração de sete anos.

Quid iuris?

Aprovação por Decreto-Lei simples: reflexão sobre o princípio da legalidade nas


suas vertentes formal e material – art.s 165 nº 1 l) e nº 2 e 103 nº 2 CRP; art. 8 LGT;
reserva de lei; necessidade de Lei de Autorização legislativa da AR, por estarem em
causa questões de (i) taxa de imposto e (ii) benefícios fiscais, respectivamente.
Proibição da retroactividade da lei fiscal – art. 103 nº 3 CRP. Quanto a i) tributação
autónoma – facto tributário de formação instantânea: retroactividade autêntica
quanto às despesas já incorridas nos meses anteriores de 2014; jurisprudência do
TC e do STA; ii) reflexão sobre as particularidades dos benefícios fiscais no que
toca à questão da retroactividade.

II.
Ana e Rodrigo, administradores da empresa Videira & Videira, que se dedica ao comércio
de perfumes, decidiram oferecer uma viagem promocional a Paris aos seus clientes no
âmbito da Feira Anual de Perfumaria que todos os anos tem lugar na capital Francesa,
apesar das dificuldades financeiras que a empresa atravessa. Para poderem efectuar esta
viagem, deram indicação ao departamento de contabilidade que retivesse os montantes
devidos mensalmente aos colaboradores da empresa, mas que os mesmos não fossem
entregues nos cofres do Estado. Acresce que a empresa foi objecto de uma inspecção fiscal
onde foram detectadas várias irregularidades, o que teve como consequência a emissão de
uma liquidação adicional de imposto pelas Autoridades Fiscais.

1.) A empresa agiu correctamente ao não entregar às Autoridades Fiscais os montantes


retidos aos salários dos seus colaboradores?
Não. A empresa deveria ter entregue os montantes retidos às Autoridades
Fiscais. Referência a responsabilidade originária da empresa (artigo 28.º, n.º 1
da LGT).

2.) Pronuncie-se acerca do tratamento fiscal aplicável à viagem promocional oferecida


aos clientes da empresa Videira&Videira.
Discussão da eventual dedutibilidade do custo incorrido com a viagem
promocional oferecida aos clientes da empresa » referência a sujeição a
tributação autónoma da despesa suportada com a viagem oferecida aos
clientes (artigo 88.º, n.º 7 do Código do IRC).

3.) A empresa Videira&Videira pretende saber quais os meios de defesa a que pode
recorrer para reagir perante a liquidação adicional de imposto, atendendo a que não
pretende proceder ao respectivo pagamento.
Referência e concretização dos meios de defesa ao dispor do contribuinte:
procedimento de reclamação graciosa e de impugnação judicial. Referência a
processo de execução fiscal em consequência da falta de pagamento de
imposto.

Duração: 60 minutos (com 30 minutos de tolerância)


Cotação: I – 8 valores; II – 3 x 4 valores (12 valores)
DIREITO FISCAL – 4.º ANO DIA

PROVA ESCRITA DE AVALIAÇÃO CONTÍNUA

Regência: Professora Doutora Ana Paula Dourado

Colaboradores: Professores Doutores Paula Rosado Pereira e Gustavo Lopes Courinha,


Mestres Nuno de Oliveira Garcia, Sónia Martins Reis e Paulo Marques

8 de Setembro / Duração: 120 minutos

Leia com atenção as situações factuais e os regimes jurídicos criados, e comente as


hipóteses sobre todos os aspectos relevantes, fundamentando de forma sucinta e
invocando os preceitos legais aplicáveis:

João Maria trabalhava numa empresa de consultoria informática. Para além do seu salário
recebia ainda um subsídio de residência, bem como ajudas de custo e vinte mil euros anuais
para utilizar o seu automóvel nas deslocações que fazia pelo país ao serviço da empresa de
consultoria informática. Contudo, o mercado informático entrou em crise e João Maria
acabou por ser despedido, tendo recebido uma indemnização.
A empresa também deixou de entregar junto das Autoridades Fiscais os montantes de
imposto que reteve dos salários dos seus trabalhadores.
A mulher de João Maria, Sofia é arquitecta de interiores e aufere um rendimento anual de
50 mil euros, sendo que este ano procedeu à venda de uma casa que tinha adquirido em
1986 e na sequência dessa venda comprou uma casa de férias em Moledo do Minho. Sofia
recebeu ainda juros de um depósito a prazo que tem num banco português e vendeu umas
acções que detinha numa micro-empresa portuguesa.
João Maria e Sofia têm três filhos que estudam no Colégio Moderno, sendo que o pai de
Sofia vive também com a filha e o genro.
II

O Governo decidiu no ano de 2017 alterar a taxa de IRC no corrente ano de 21% para
30%, sendo que para o ano de 2016 a taxa de IRC foi alterada de 21% para 23%. O
Governo decidiu ainda por Decreto-Lei Simples aprovar a eliminação com efeitos ao dia 1
de Janeiro de 2016, dos benefícios fiscais relativos à contratação de jovens desempregados.

A empresa Ribeiro&Ribeiro não ficou nada satisfeita com estas medidas, atendendo a que
no ano de 2016 auferiu rendimentos bastante elevados derivados de vários acordos de
prestação de serviços que celebrou com sociedades suas participadas e até ofereceu uma
viagem fantástica aos seus clientes, às mulheres dos administradores e aos seus
colaboradores às Ilhas Maurícias. A sociedade registou o custo suportado com esta viagem
na sua contabilidade, não dispondo contudo de qualquer suporte documental.

Por sua vez, os administradores da sociedade têm sido frequentemente multados por
excesso de velocidade, bem como têm usufruido em alto mar dos barcos de recreios que a
sociedade adquiriu no último ano.

Cotação: I – 10 valores; II – 10 valores

Quid iuris?
GRELHA DE CORRECÇÃO

 Qualificar os rendimentos obtidos por João Maria como rendimentos da Categoria


A e determinar o respetivo regime de tributação, nomeadamente o salário, subsídio
de residência, ajudas de custos, utilização de automóvel e indemnização;
 Qualificar regime de responsabilidade tributária da empresa enquanto substituto
tributário na falta de entrega dos montantes retidos junto das Autoridades Fiscais;
 Qualificar rendimento obtido por Sofia enquanto arquiteta como rendimento da
categoria B e definir o respetivo regime de tributação;
 Qualificar rendimento derivado da alienação do imóvel e referir regime transitório
do IRS aplicável às mais-valias derivadas da alienação de bens imóveis;
 Qualificar juros como rendimentos da categoria E e determinar respetivo regime de
tributação;
 Qualificar rendimento derivado da alienação das ações como rendimento da
categoria G e respetivo regime de tributação;
 Referir regras aplicáveis em sede de dedução com a educação dos filhos e referir
regime aplicável ao pai de Sofia.

II

 Determinar regime aplicável à alteração da taxa de IRC no corrente ano e no ano de


2016. Desenvolver regime de retroatividade fiscal;
 Determinar competência do Governo para aprovar por Decreto-Lei simples a
eliminação de benefícios fiscais e discutir o respetivo regime em sede de
retroatividade fiscal;
 Referir regime de tributação autónoma aplicável à viagem oferecida e às despesas
não documentadas;
 Referir regime de não dedutibilidade de custos fiscais incorridos com o pagamento
de multas, bem como relativos aos barcos de recreio.
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Exame de Direito Fiscal – 4.º Ano
11 de setembro de 2015
1:30 h de duração
Regência: Prof. Doutora Ana Paula Dourado

I.
Alberto é informático pintor e auferiu em 2014 rendimentos de € 20.000,00
decorrentes da assistência que prestou. Recebeu ainda € 5.000,00 de uma
formação que ministrou em Itália. A sua mulher, Berta, é médica num
Hospital em Lisboa, e recebeu um rendimento anual de € 40.000. Berta
recebeu também dividendos relativamente a uma participação social que tem
numa sociedade portuguesa.

1.1. Identifique e qualifique os rendimentos obtidos por Alberto e por Berta


e pronuncie-se sobre o seu tratamento fiscal (não esquecendo a questão das
retenções na fonte).
a) Alberto: Rendimentos da categoria A (artigo 2.º do Código do IRS
e referência a regras de retenções na fonte). Existe retenção por
conta do imposto final a pagar » sujeição a englobamento (artigo
22.º do Código do IRS). Quanto à formação que ministrou em
Itália aplica-se o artigo 15º, n.º 1 do CIRS, mas com prevalência do
disposto na CDT com Itália. Aplicação do artigo 81.º do Código do
IRS: eliminação da dupla tributação internacional. Questão da
retenção na fonte: sem retenção em Portugal, no rendimento
oriundo de Itália.

b) Berta: Rendimentos da Categoria B (artigo 3.º e artigo 151.º ambos


do Código do IRS e referência a regras de retenção na fonte)»

1
sujeição a englobamento (artigo 22.º do Código do IRS). Quanto
aos dividendos, trata-se de um rendimento da categoria E (artigo
5.º, n.º 2, alínea h) do Código do IRS) » retenção na fonte a título
definitivo (artigo 71.º, n.º 1, alínea a) do Código do IRS) com
possibilidade de opção pelo englobamento (artigo 71.º, n.º 6 do
Código do IRS).

1.2. O Hospital está inclinado a não efetuar a retenção na fonte a Berta


aquando do pagamento do respectivo salário. Estará a agir correctamente?
Poderá incorrer nalgum tipo de responsabilidade?
Não está a agir correctamente. O hospital deveria proceder a retenção
na fonte e proceder à entrega do respetivo imposto às Autoridades
Fiscais. Responsabilidade do hospital: artigo 28.º, n.º 2 da LGT –
responsabilidade subsidiária do substituto (hospital) + juros
compensatórios. Responsabilidade originária do substituído (Berta).

II.
Imagine que o Governo decide aprovar, por Decreto-Lei Simples, em Julho
de 2015, um conjunto de medidas, de entre as quais se prevê (i) a revogação
de benefícios fiscais respeitantes à aquisição de imóveis para habitação própria
e permanente, com efeitos a 1 de Janeiro de 2015.
Quid iuris?

Aprovação por Decreto-Lei simples: reflexão sobre o princípio da


legalidade nas suas vertentes formal e material – art.s 165 nº 1 l) e nº 2 e
103 nº 2 CRP; art. 8 LGT; reserva de lei; necessidade de Lei de
Autorização legislativa da AR por estarem em causa questões de
benefícios fiscais.

2
Proibição da retroatividade da lei fiscal – artigo 103.º, n.º 3 da CRP;
articulação com o princípio da proteção da confiança e a questão da
tutela das expetativas do contribuinte; Referência a jurisprudência e
reflexão sobre as particularidades dos benefícios fiscais no que toca à
questão da retroatividade.

III.
Imagine que a sociedade DEF, Lda, que se dedica à atividade de construção,
foi fiscalizada pela Autoridade Tributária, que verificou o seguinte:

i) compra de carros e ofertas de ida a jogos de futebol aos empregados;


Questão da dedutibilidade ou não dedutibilidade do gasto para efeitos
fiscais – artigo 23.º, n.º 1 do Código do IRC; Possibilidade de aplicação
de tributação autónoma à taxa de 10% no caso dos jogos de futebol
(artigo 88.º, n.º 7 do Código do IRC).

ii) aquisição de pedras decorativas à sociedade VHS, Lda, que é detida em


60% pela sociedade DEF, Lda, pelo triplo do seu preço de mercado.
Referência ao regime de Preços de transferência – artigo 63.º do Código
do IRC; requisitos de aplicação do regime; métodos e possibilidade de
ajustamento do lucro.

Quid iuris?

Cotação: I – 8 valores; II – 8 valores ; III – 4 valores

3
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Exame de Direito Fiscal – 4.º Ano
11 de setembro de 2015
1:30 h de duração
Regência: Prof. Doutora Ana Paula Dourado

I.
Alberto é informático e auferiu em 2014 rendimentos de € 20.000,00
decorrentes da assistência que prestou. Recebeu ainda € 5.000,00 de uma
formação que ministrou em Itália. A sua mulher, Berta, é médica num
Hospital em Lisboa, e recebeu um rendimento anual de € 40.000. Berta
recebeu também dividendos relativamente a uma participação social que tem
numa sociedade portuguesa.

1.1. Identifique e qualifique os rendimentos obtidos por Alberto e por Berta


e pronuncie-se sobre o seu tratamento fiscal (não esquecendo a questão
das retenções na fonte).

a) Alberto: Rendimentos da categoria A (artigo 2.º do Código do IRS e


referência a regras de retenções na fonte). Existe retenção por conta
do imposto final a pagar» sujeição a englobamento (artigo 22.º do
Código do IRS). Quanto à formação que ministrou em Itália aplica-
se o artigo 15º, n.º 1 do Código do IRS, mas com prevalência do
disposto na CDT com Itália. Aplicação do artigo 81.º: eliminação da
dupla tributação internacional. Questão da retenção na fonte: sem
retenção em Portugal, no rendimento oriundo de Itália.

b) Berta: Rendimentos da Categoria B (artigo 3.º e artigo 151.º ambos


do Código do IRS e referência a regras de retenção na fonte)»

4
sujeição a englobamento (artigo 22.º do Código do IRS). Quanto
aos dividendos, trata-se de um rendimento da categoria E (artigo
5.º, n.º 2, alínea h) do Código do IRS)» retenção na fonte a título
definitivo (artigo 71.º, n.º 1, alínea a) do Código do IRS) com
possibilidade de opção pelo englobamento (artigo 71.º, n.º 6 do
Código do IRS).

1.2. O Hospital está inclinado a não entregar ao Estado a retenção na fonte


efetuada a Berta aquando do pagamento do respectivo salário. Estará a agir
correctamente? Poderá incorrer nalgum tipo de responsabilidade?
Não está a agir correctamente. O hospital deveria entregar os
montantes retidos às Autoridades Fiscais. Referência a
responsabilidade originária do hospital (artigo 28.º, n.º 1 da LGT).

II.
Imagine que o Governo decide aprovar, por Decreto-Lei Simples, em Julho
de 2015, um conjunto de medidas, de entre as quais se prevê (i) a diminuição
do prazo de reclamação de atos da Autoridade Tributária e (ii) a extinção de
deduções à coleta no IRS, com efeitos a 1 de Janeiro de 2015.
Quid iuris?

Aprovação por Decreto-Lei simples: reflexão sobre o princípio da


legalidade nas suas vertentes formal e material – art.s 165 nº 1 l) e nº 2 e
103 nº 2 CRP; art. 8 LGT; reserva de lei; necessidade de Lei de
Autorização legislativa da AR.

Proibição da retroactividade da lei fiscal – art. 103 nº 3 CRP. Reflexão


sobre retroatividade inautêntica e referência a jurisprudência.
5
III.
Imagine que a sociedade TEX, SA, que se dedica à atividade de construção e
passa por dificuldades económicas, foi fiscalizada pela Inspeção Tributária,
que verificou o seguinte:
(i) o pagamento de ajudas de custo não faturadas a clientes; e,
Encargo não dedutível para efeitos fiscais (artigo 23.º, n.º 1, alínea h) do
Código do IRC) » aplicação de tributação autónoma à taxa de 5%
(artigo 88.º, n.º 9 do Código do IRC).

(ii) sub-contratação de serviços de eletrónica à empresa FEX, SA, sua


acionista que detém 70% do capital da TEX, SA e cujas receitas previstas para
este exercício fiscal superam todas as expetativas, por metade do preço de
mercado.
Referência ao regime de Preços de transferência – artigo 63.º do Código
do IRC; requisitos de aplicação do regime; métodos e possibilidade de
ajustamento do lucro.

Quid iuris?

Cotação: I – 8 valores; II – 8 valores ; III – 4 val

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