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Prof. Me.

Lucas Guimarães Pieri

* Mestre em Bioética – Pontifícia Universidade Católica do Estado do Paraná – PUCPR


* Especialista em Direito Tributário – Instituto Brasileiro de Estudos Tributários - IBET
* Especialista em Direito Civil e Empresarial – Faculdade Damásio
* Advogado OAB/PR 73.084
* Professor nas disciplinas de Direito Tributário, Direito Empresarial e Instituições de
Direito na Universidade Estadual do Norte do Paraná - UENP.

E-mail: lucas.pieri@uenp.edu.br
Instagram: lucas_gpieri
(43) 9.9987-9480
Reorganização Societária
Transformação, Incorporação, Fusão e Cisão

Prof. Me. Lucas Guimarães Pieri – UENP


Contexto Geral

A legislação brasileira permite que o É possível migrar entre os status de


empresário e a sociedade empresária, no empresário individual e de sociedade
decorrer de sua vida, possam fazer empresária por um processo de
alterações tanto na sua estrutura de quadro transformação, isso sem a necessidade de dar
social quanto no modelo adotado. Também é baixa no CNPJ do empresário ou da sociedade
possível que essas pessoas jurídicas possam para criar um novo. Caso não existisse, na lei,
se desmembrar ou se juntar, tudo isso para essa possibilidade de migração, a única
evitar uma movimentação empresarial que possibilidade seria extinguir o modelo inicial
gere uma dissolução e uma liquidação da para assumir o modelo novo, o que
sociedade, por exemplo. dependeria de um processo de liquidação.
Contexto Geral

Também é possível que uma empresa queira Vale lembrar que essas alterações têm
se juntar com outra para formar, no fim, implicações no Direito Empresarial, no
uma só empresa. A legislação também Direito Tributário e no Direito Econômico.
permite esse tipo de situação sem a Isso porque, a depender do tipo de
necessidade de que nenhuma delas precise movimentação, haverá um reenquadramento
liquidar o seu patrimônio ou deixar de existir. tributário da empresa. No âmbito do Direito
Econômico, existe a possibilidade de que
esses movimentos caracterizem
concentração de mercado e, por conta
disso, esse movimento precisará de
autorização prévia dos órgãos competentes.
01 Transformação

A Sociedade passa de um tipo para outro


A transformação, segundo o art. 220, da Lei
n. 6.404/1676, é a operação pela qual a
sociedade passa, independentemente de
dissolução ou liquidação, de um tipo para
outro. O ato de transformação obedecerá aos
preceitos reguladores da constituição e
inscrição próprios do tipo societário que
pretende adotar.

Vale lembrar que existem seis tipos empresariais, que são: o


empresário individual, a sociedade em nome coletivo, a sociedade em
comandita simples, a sociedade em comandita por ações, a sociedade
limitada e a sociedade anônima.
A transformação é sair de um tipo
para outro, sem a necessidade de
dissolver ou liquidar a sociedade.
Cuida-se de um procedimento formal que exige a
aprovação unânime dos acionistas,
salvo se o estatuto autorizar expressamente a
operação independentemente de aprovação. Há que
se respeitar, contudo, o direito de retirada do sócio
que discordar.
Transformação Societária

● Ou seja, para que ocorra essa reorganização societária, é preciso que exista decisão
unanime dos sócios, exceto nas situações em que o estatuto social já autoriza eventual
transformação a qualquer momento. Neste caso, caberá o direito de recesso ou retirada
ao sócio dissidente. Já se não houver a previsão em estatuto, a discordância de um dos
sócios já impede a transformação.
Transformação Societária

Código Civil Lei n. 6.404/1676 (SA)


• Art. 1.113. O ato de transformação independe de dissolução ou
liquidação da sociedade, e obedecerá aos preceitos reguladores da Art. 220. A transformação é a operação pela qual a sociedade
constituição e inscrição próprios do tipo em que vai converter-se.
• Art. 1.114. A transformação depende do consentimento de todos os passa, independentemente de dissolução e liquidação, de um
sócios, salvo se prevista no ato constitutivo, caso em que o dissidente tipo para outro.
poderá retirar-se da sociedade, aplicando- -se, no silêncio do estatuto
ou do contrato social, o disposto no art. 1.031.
• Art. 1.115. A transformação não modificará nem prejudicará, em Parágrafo único. A transformação obedecerá aos preceitos que
qualquer caso, os direitos dos credores. regulam a constituição e o registro do tipo a ser adotado pela
• Parágrafo único. A falência da sociedade transformada somente
produzirá efeitos em relação aos sócios que, no tipo anterior, a eles sociedade.
estariam sujeitos, se o pedirem os titulares de créditos anteriores à
transformação, e somente a estes beneficiará.
Exemplo
Uma determinada sociedade em
nome coletivo (em que todos os No entanto, a sociedade tem dívidas
sócios respondem ilimitadamente) que somam R$ 500 mil e que foram
adquiridas antes dessa
transforma-se em uma sociedade transformação. Na época e até os
limitada. tempos atuais, o patrimônio dessa
sociedade é de R$ 100 mil.
O capital social era de R$ 300 mil, sendo R$
100 mil de cada um dos três sócios que fazem
parte dessa sociedade.
Exemplo: Transformação Societária

● Nesse caso, antes da transformação, os credores poderiam cobrar a diferença de R$ 400


mil de qualquer um dos sócios caso não fosse feito o pagamento. Já após essa
transformação, em tese, os credores poderiam atingir apenas os R$ 300 mil que fazem
parte do capital social dessa sociedade. Todavia, o art. 1.015 do Código Civil impede
que situações como essa ocorram, pois aponta que os sócios continuam a responder
ilimitadamente perante esses credores anteriores, que não podem ficar no prejuízo.
No caso de falência, os credores anteriores poderão receber da sociedade e de cada um
dos sócios ilimitadamente, já os posteriores a essa transformação só poderão receber da
sociedade e dos sócios no limite do capital social.
02 Incorporação

Uma ou mais sociedades são absorvidas por outra


Incorporação

A incorporação é a operação pela qual uma Ou seja, na incorporação, uma sociedade


ou mais sociedades são absorvidas por absorve outras que já existem e, no final, fica
outra, que lhes sucede em todos os direitos maior. As que foram incorporadas deixam de
e obrigações. Ocorrerá, portanto, a extinção existir e a incorporadora continua existindo.
de uma sociedade (incorporada), absorvida Nesse caso, para a incorporadora, tem-se uma
por outra sociedade (incorporadora), da qual mera aquisição de ativo. Já para as
farão parte os acionistas da primeira, incorporadas, tem-se a extinção.
permanecendo, inalterados, os direitos e
obrigações. A incorporação deve ser averbada
no registro próprio.
O direito de recesso/retirada só cabe
para os sócios das incorporadas.

Acerca das obrigações anteriores, tem-se o que a


doutrina chama de separação das
massas. Assim, é feita uma separação do patrimônio
e das dívidas de cada uma das sociedades envolvidas,
sendo que cada uma arcará com seus respectivos
valores, sem prejudicar a nenhum dos credores.
Incorporação

Código Civil
• Art. 1.116. Na incorporação, uma ou várias sociedades são absorvidas por outra, que lhes sucede em todos os direitos e obrigações,
devendo todas aprová-la, na forma estabelecida para os respectivos tipos

• Art. 1.117. A deliberação dos sócios da sociedade incorporada deverá aprovar as bases da operação e o projeto de reforma do ato
constitutivo.
§ 1º A sociedade que houver de ser incorporada tomará conhecimento desse ato, e, se o aprovar, autorizará os administradores a praticar o
necessário à incorporação, inclusive a subscrição em bens pelo valor da diferença que se verificar entre o ativo e o passivo.
§ 2º A deliberação dos sócios da sociedade incorporadora compreenderá a nomeação dos peritos para a avaliação do patrimônio líquido da
sociedade, que tenha de ser incorporada.

• Art. 1.118. Aprovados os atos da incorporação, a incorporadora declarará extinta a incorporada, e promoverá a respectiva averbação no
registro próprio.
Exemplo
No Brasil, dois casos mais
A incorporação da Sadia foi um dos
recentes ficaram populares. A motivos que resultou na criação da
incorporação da Sadia pela holding Brasil Foods (BRF). Note-se
aqui a diferença, a empresa Sadia
BRF, em 2012. deixa de existir propriamente e passa
a ser incorporada, porém a MARCA
A rede de bancos Nossa Caixa, incorporados SADIA CONTINUA A SER UTILIZADA
pelo Banco do Brasil. NO MERCADO
03 Fusão

Se unem duas ou mais sociedades para formar sociedade nova


Fusão

A fusão é a operação pela qual se unem Ou seja, na fusão, as sociedades que se unem
duas ou mais sociedades para formar são extintas e é criada uma nova sociedade.
sociedade nova, que lhes sucederá em todos Por conta disso, há direito de recesso ou
os direitos e obrigações. A característica da retirada para todos os dissidentes. No caso dos
fusão é o surgimento de uma sociedade nova, credores anteriores, será feito o mesmo
traço que a difere da incorporação, na qual procedimento da incorporação.
não há o
surgimento de uma sociedade nova.
Fusão

Código Civil
• Art. 1.119. A fusão determina a extinção das sociedades que se unem, para formar sociedade nova, que a elas sucederá nos direitos e
obrigações.
• Art. 1.120. A fusão será decidida, na forma estabelecida para os respectivos tipos, pelas sociedades que pretendam unir-se.
§ 1º Em reunião ou assembleia dos sócios de cada sociedade, deliberada a fusão e aprovado
o projeto do ato constitutivo da nova sociedade, bem como o plano de distribuição do capital social, serão nomeados os peritos para a
avaliação do patrimônio da sociedade.
§ 2º Apresentados os laudos, os administradores convocarão reunião ou assembleia dos sócios para tomar conhecimento deles, decidindo
sobre a constituição definitiva da nova sociedade.
§ 3º É vedado aos sócios votar o laudo de avaliação do patrimônio da sociedade de que façam parte.

• Art. 1.121. Constituída a nova sociedade, aos administradores incumbe fazer inscrever, no registro próprio da sede, os atos relativos à
fusão.
Fusão

Lei das Sociedades Anônimas


• Art. 225. As operações de incorporação, fusão e cisão serão submetidas à deliberação da assembléia-geral das
companhias interessadas mediante justificação, na qual serão expostos:
• I - os motivos ou fins da operação, e o interesse da companhia na sua realização;
• II - as ações que os acionistas preferenciais receberão e as razões para a modificação dos seus direitos, se prevista;
• III - a composição, após a operação, segundo espécies e classes das ações, do capital das companhias que deverão
emitir ações em substituição às que se deverão extinguir;
• IV - o valor de reembolso das ações a que terão direito os acionistas dissidentes.
• Formação do Capital Transformação, Incorporação, Fusão e Cisão (Redação dada pela Lei nº 11.638,de 2007)
Exemplo
Tipos de Fusão

Horizontal Vertical Conglomeração


As empresas fundidas são São de negócios diferentes, As atividades das
do mesmo setor mas que se complementam empresas são totalmente
distintas
Extensão de Extensão de
Mercado Produto
Produzem o mesmo As empresas têm produtos
produto, mas operam em relacionados e operam no
mercados diferentes mesmo mercado
Fusão

Exemplo de Fusão Horizontal: Exemplo de Fusão Vertical:

Um exemplo de fusão horizontal foi o acordo Um bom exemplo de fusão vertical seria um fabricante de
autopeças optar por fundir-se com uma empresa que
firmado entre Sadia e Perdigão para formar a fornece as matérias-primas necessárias para fabricar essas
Brasil Foods (BRF) em 2009. Ambas as peças. A fusão ou aquisição vertical pode ser também
companhias atuavam no setor de alimentos estendida além dos fornecedores para incluir clientes. Por
frigoríficos, de modo que sua fusão constituiu exemplo, nas indústrias de entretenimento e fast food é
prática comum de fabricantes de fast food e bebidas se
uma fusão horizontal. integrarem a estabelecimentos como cinemas e
restaurantes de fast food, de modo que apenas sua marca
específica de comida ou bebida seja oferecida para venda
nesses estabelecimentos. Um exemplo real é do Santander
Brasil que formou uma joint venture com a Hyundai para a
criação do Banco Hyundai Capital Brasil e uma corretora
de seguros
Fusão

Exemplo de por Conglomerado: Um conglomerado puro consiste em


companhias que são totalmente distintas e que
Um exemplo de conglomerado ocorreu com a operam em mercados sem qualquer
aquisição da American Broadcasting Company (ABC) interseção.
pela Walt Disney Company, em 1996. Enquanto que a
Walt Disney é uma empresa de entretenimento, a ABC
Um conglomerado misto consiste em
é uma empresa de transmissão televisiva, de modo que
companhias que estão querendo expandir suas
essa aquisição foi considerada um conglomerado.
linhas de produção em um mesmo mercado.
Mais recentemente É o caso da fusão entre
Louis Vuitton com Moet e Chandon. Os
objetivos da fusão por conglomerado são
diversificação do risco e aproveitar
oportunidades de investimentos.
Fusão

Exemplo de Fusão Market-extension: Exemplo de Fusão Product-Extension

Ocorre quando duas companhias que vendem


Ocorre quando duas companhias que vendem
diferentes produtos no mesmo mercado se fundem, ou
o mesmo produto em diferentes mercados se uma adquire a outra.
fundem, ou uma adquire a outra. O objetivo
principal da fusão de extensão de mercado é
garantir que as empresas da fusão possam ter
acesso a um mercado maior e que assegure
uma base de clientes maior. Um bom exemplo
é a fusão entre LAN Chile e TAN que, ao se
unirem, criaram a LATAM, permitindo crescer
nos mercados do norte e Europa.
04 Aquisição

Aquisição de empresas é a compra do controle acionário de uma empresa por outra


Aquisição
A aquisição de empresas é a compra do Na maioria das vezes, aquisições ocorrem
controle acionário de uma empresa por outra, como parte da estratégia de crescimento de
sendo que, no caso de aquisição global do uma empresa quando ela percebe que é mais
patrimônio da empresa adquirida, a benéfico assumir as operações de uma
compradora assume o controle total e a organização existente do que expandir por
empresa adquirida deixa de existir. No conta própria. Isso ocorre porque muitas
processo de aquisição, portanto, uma empresa grandes empresas têm dificuldade em
compra outra e a sucede nos direitos e continuar crescendo sem perder a eficiência.
obrigações
No processo de aquisição, a empresa que adquire
outra é mais poderosa em termos de tamanho,
estrutura e operações. As aquisições podem ser
amigáveis ou hostis:

• Aquisições amigáveis: os executivos da empresa alvo apoiam a


adquirente no processo de due diligence e enxergam a operação
como algo benéfico.

• Aquisições hostis: a compra no mercado aberto da maioria do


capital de uma empresa alvo ocorre contra a vontade do
Conselho de Administração da empresa que será adquirida.
Aquisição
A adquirente compra a maioria das ações, ou A adquirente compra os ativos líquidos da
seja, a maioria do capital de controle da sociedade, em vez de suas ações. O capital
empresa alvo. Este tipo de transação inclui recebido pela adquirida é pago aos seus
todo o passivo assumido pela adquirida no acionistas através de um dividendo
passado e todos os riscos que esta enfrenta no extraordinário ou por liquidação.
seu ambiente comercial.
Exemplo
Aquisição

Você com certeza vai lembrar de grandes aquisições como a da Livraria


Cultura que comprou Fnac no Brasil para ganhar mercado de livros
digitais. Como exemplo de aquisição de concorrentes é a Netshoes que
negocia a compra da sua concorrente Dafiti e a Heineken que anunciou
a aquisição da Brasil Kirin, dona da Schin e Devassa. Um exemplo de
aquisição de mercados diferentes é a Amazon que comprou a rede de
supermercados Whole Foods Market.
Diferenças entre Fusões e Aquisições

Fusão é uma estratégia corporativa na qual duas ou A fusão ocorre voluntariamente pelas
mais empresas se juntam para formar uma nova empresas, enquanto que a aquisição é um
01 03
empresa. Em outras palavras: duas ou mais processo que pode ocorrer de forma voluntária
empresas deixam de existir legalmente e formam
uma nova empresa, com nova identidade.
ou involuntária.

Em termos legais, uma fusão exige que duas ou mais


Aquisição é quando uma empresa compra o
empresas se consolidem em uma nova entidade com
controle acionário de outra. Ao contrário da
04
uma nova estrutura de propriedade e gerenciamento
02 fusão, uma nova empresa não nasce de uma
aquisição, ao invés disso, há o
(com membros de cada empresa). Já uma aquisição
ocorre quando uma empresa assume todas as
desaparecimento legal da empresa comprada.
decisões de gerenciamento operacional de outra.
Em outras palavras: é a compra de uma
empresa por outra, na qual somente uma
manterá sua identidade.
05 Cisão
Cisão é a operação pela qual a companhia (ou empresário) transfere parcelas do seu
patrimônio para uma ou mais sociedades
Cisão

Cisão é a operação pela qual a companhia (ou empresário) transfere


parcelas do seu patrimônio para uma ou mais sociedades, constituídas
para esse fim ou já existentes, extinguindo- se a companhia cindida, se
houver versão de todo seu patrimônio, ou dividindo-se o seu capital, se
parcial a cisão. Será total se a transferência for de todos os bens, caso
em que a sociedade cindida se extingue. Será parcial se a transferência
for de apenas alguns bens da sociedade cindida. Pode ser total ou
parcial; pura ou por absorção.
Exemplo
Exemplos de Cisão

● CISÃO TOTAL:
• A empresa A é dividida, gerando as empresas B e C, que são novas empresas, que levam
para si o patrimônio da empresa anterior (cisão total pura);
• O patrimônio da empresa A é dividido em B e C, contudo, esse patrimônio destacado será
somado a uma empresa D e uma empresa E, que já existiam (cisão seguida de fusão ou
incorporação) (cisão total por absorção).

● CISÃO PARCIAL:
• Uma empresa A tem parte de seu patrimônio retirado para formar a empresa B (cisão
parcial pura). Também é possível que essa empresa B se junte ao patrimônio de uma
empresa C, já existente (cisão parcial por absorção).
Cisão

• O direito de retirada é garantido a todos os sócios.

• No caso de existirem dívidas anteriores, a responsabilidade será


solidária entre a nova e a antiga sociedade.
Cisão
As regras sobre a cisão estão previstas na Lei n. 6.404/1976:
Art. 229. A cisão é a operação pela qual a companhia transfere parcelas do seu patrimônio para uma ou mais sociedades, constituídas para esse
fim ou já existentes, extinguindo- -se a companhia cindida, se houver versão de todo o seu patrimônio, ou dividindo-se o seu capital, se parcial
a versão.
§ 1º Sem prejuízo do disposto no artigo 233, a sociedade que absorver parcela do patrimônio da companhia cindida sucede a esta nos direitos e
obrigações relacionados no ato da cisão; no caso de cisão com extinção, as sociedades que absorverem parcelas do patrimônio da companhia
cindida sucederão a esta, na proporção dos patrimônios líquidos transferidos, nos direitos e obrigações não relacionados.
§ 2º Na cisão com versão de parcela do patrimônio em sociedade nova, a operação será deliberada pela assembleia-geral da companhia à vista
de justificação (...); a assembleia, se a aprovar, nomeará os peritos que avaliarão a parcela do patrimônio a ser transferida, e funcionará como
assembleia de constituição da nova companhia.
§ 3º A cisão com versão de parcela de patrimônio em sociedade já existente obedecerá às disposições sobre incorporação.
§ 4º Efetivada a cisão com extinção da companhia cindida, caberá aos administradores das sociedades que tiverem absorvido parcelas do seu
patrimônio promover o arquivamento e publicação dos atos da operação; na cisão com versão parcial do patrimônio, esse dever caberá aos
administradores da companhia cindida e da que absorver parcela do seu patrimônio.
§ 5º As ações integralizadas com parcelas de patrimônio da companhia cindida serão atribuídas a seus titulares, em substituição às extintas, na
proporção das que possuíam; a atribuição em proporção diferente requer aprovação de todos os titulares, inclusive das ações sem direito a voto.
Cisão

Vale lembrar que na cisão total por absorção, utiliza-se as regras da


fusão para a absorção.

Já na cisão parcial por absorção, aplicam-se as regras da incorporação


para essa absorção.
ESQUEMA DE RESUMO
Resumo das possibilidades de reorganização societária estudadas

Transformação A→B
Incorporação A+b=A
Fusão A+B=C
Aquisição A+b=A&B

Cisão A = b e c ou A = A – a → A e “a” ou a + B
Direito de Recesso e
06 Retirada
O Sócio não está obrigado a permanecer associado contrariamente à sua vontade
Princípio da Liberdade de Associação

O Princípio da Liberdade de associação Previsto no inciso XVII, do artigo 5º da constituição federal de 1988,
trata-se de um princípio que garante o Direito de entrar ou não em grupos societários simples ou empresários.
Também garante o direito de se retirar de uma sociedade se assim desejar. Apesar disso, no caso da
dissociação de uma sociedade, é necessário observar as condições estabelecidas pelo Direito Societário.
Direito de Retirada ou Recesso

O direito de retirada é a possibilidade de um sócio, sócio dissidente, sair da sociedade empresária que participa,
requerendo os haveres que lhe forem de direito, conforme artigo 1031 do Código Civil, sendo
consequentemente excluído do quadro social.
Nas Sociedades Limitadas

A leitura fria do artigo 1.077 do Código Civil não deixa dúvidas que o
direito de retirada do sócio de sociedade limitada está expressamente
previsto, abarcando apenas as hipóteses de modificação do contrato,
fusão da sociedade, incorporação de outra, ou dela por outra.
Nas Sociedades Limitadas

Art. 1.077. Quando houver modificação do contrato, fusão da sociedade, incorporação de


outra, ou dela por outra, terá o sócio que dissentiu o direito de retirar-se da sociedade, nos
trinta dias subseqüentes à reunião, aplicando-se, no silêncio do contrato social antes
vigente, o disposto no art. 1.031.
Nas Sociedades Limitadas

Além de prever expressamente que o sócio da sociedade limitada só pode exercer o


direito de retirada nas hipóteses do artigo 1.077, que aliás, como vimos, podem ser
inúmeras se considerarmos que "modificação do contrato" admite uma infinidade de
situações nos termos do artigo 997 do Código Civil, o legislador também abriu a
possibilidade da saída imotivada do sócio da sociedade limitada pela cessão das suas
quotas, o que se deu através do disposto no artigo 1.057, que contempla, caso não exista
previsão diversa no contrato social, a possibilidade de os sócios se retirarem da sociedade
através da livre cessão de suas quotas, total ou parcialmente, a outro sócio ou a terceiro, se
não houver oposição de titulares de mais de um quarto do capital social.
Nas Sociedades Limitadas

Em que pese se entenda que a legislação específica da sociedade limitada já seria


suficiente para dirimir as demandas do direito de retirada do sócio, inclusive impedindo a
fruição do mesmo em alguns casos, é fato que a doutrina e a jurisprudência adotam
entendimento diverso, no sentido de que o princípio constitucional da livre associação é
aplicável no direito societário se sobrepõe ao disposto no artigo 1.077 do Código Civil,
permitindo a aplicação irrestrita do artigo 1.029 do mesmo diploma legal
Nas Sociedades Limitadas

Art. 1.029. Além dos casos previstos na lei ou no contrato, qualquer sócio pode retirar-se
da sociedade; se de prazo indeterminado, mediante notificação aos demais sócios, com
antecedência mínima de sessenta dias; se de prazo determinado, provando judicialmente
justa causa.
Nas Sociedades Limitadas

O direito de recesso se perfaz com a retirada do sócio da sociedade, mediante o


pagamento, por esta, do valor de seus haveres sociais. Liquidar-se-á, na linguagem do
Código Civil, a quota do sócio, com a resolução da sociedade em relação a ele
Nas Sociedades Limitadas

Na sociedade limitada por prazo determinado, quando, em regra, o contrato celebrado por
prazo determinado não pode ser extinto antes do transcurso deste, salvo por justo motivo,
pois as partes se comprometeram a permanecer vinculadas durante todo o tempo
estipulado e este vínculo deve prevalecer sobre a liberdade do sócio anuente
Nas Sociedades Limitadas

No que concerne às sociedades constituídas por tempo indeterminado, considerando não


haver, por óbvio, prazo para a sua dissolução e diante dos princípios da liberdade de
contratar, da não perpetuidade das relações contratuais e da livre associação, essa no
sentido de não ser obrigado a permanecer associado, entende a doutrina que não se pode
submeter os sócios a um vínculo eterno e, estes, por sua vez, terão a prerrogativa de
extingui-lo a qualquer tempo, sem necessidade de fundamentação.
Nas Sociedades Limitadas
A jurisprudência aplica de forma pacífica o mesmo entendimento no sentido de que cabe ao sócio desassociar-se quando
assim desejar, sendo um direito potestativo seu em sociedades limitadas por prazo indeterminado:

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE DISSOLUÇÃO PARCIAL DE SOCIEDADE LIMITADA DE PRAZO


INDETERMINADO. NOTIFICAÇÃO PRÉVIA. APURAÇÃO DE HAVERES. DATA-BASE. PRAZO DE 60 DIAS.1.
Ação distribuída em 18/12/09. Recursos especiais interpostos em 4/9/17 e 18/9/17. Autos conclusos à Relatora em
17/4/18.2. O propósito recursal é definir a data-base para apuração dos haveres devidos ao sócio em caso de dissolução
parcial de sociedade limitada de prazo indeterminado.3. O direito de recesso, tratando-se de sociedade limitada
constituída por prazo indeterminado, pode ser exercido mediante envio de notificação prévia, respeitado o prazo mínimo
de sessenta dias. Inteligência do artigo 1.029 do CC.4. O contrato societário fica resolvido, em relação ao sócio
retirante, após o transcurso de tal lapso temporal, devendo a data-base para apuração dos haveres levar em conta seu
termo final.RECURSO ESPECIAL NÃO PROVIDO. (REsp 1.735.360/MG, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,
TERCEIRA TURMA, julgado em 12/3/19, DJe 15/3/19)
Nas Sociedades Limitadas
A jurisprudência aplica de forma pacífica o mesmo entendimento no sentido de que cabe ao sócio desassociar-se quando
assim desejar, sendo um direito potestativo seu em sociedades limitadas por prazo indeterminado:

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE DISSOLUÇÃO PARCIAL DE SOCIEDADE LIMITADA DE PRAZO


INDETERMINADO. NOTIFICAÇÃO PRÉVIA. APURAÇÃO DE HAVERES. DATA-BASE. PRAZO DE 60 DIAS.1.
Ação distribuída em 18/12/09. Recursos especiais interpostos em 4/9/17 e 18/9/17. Autos conclusos à Relatora em
17/4/18.2. O propósito recursal é definir a data-base para apuração dos haveres devidos ao sócio em caso de dissolução
parcial de sociedade limitada de prazo indeterminado.3. O direito de recesso, tratando-se de sociedade limitada
constituída por prazo indeterminado, pode ser exercido mediante envio de notificação prévia, respeitado o prazo mínimo
de sessenta dias. Inteligência do artigo 1.029 do CC.4. O contrato societário fica resolvido, em relação ao sócio
retirante, após o transcurso de tal lapso temporal, devendo a data-base para apuração dos haveres levar em conta seu
termo final.RECURSO ESPECIAL NÃO PROVIDO. (REsp 1.735.360/MG, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,
TERCEIRA TURMA, julgado em 12/3/19, DJe 15/3/19)
Nas Sociedades Anônimas
HIPÓTESES DE CABIMENTO DO DIREITO DE RETIRADA NA COMPANHIA
(ARTIGO 137 DA LEI DAS S/A)

• Aprovação da criação de ações preferenciais ou aumento de classe de ações preferenciais existentes, sem guardar proporção com as
demais classes de ações preferenciais, salvo se já previstos ou autorizados pelo estatuto;
• Aprovação da alteração nas preferências, vantagens e condições de resgate ou amortização de uma ou mais classes de ações preferenciais,
ou criação de nova classe mais favorecida;
• Determinação da redução de dividendo obrigatório;
• Aprovação da fusão da companhia, ou sua incorporação em outra;
• Aprovação da participação em grupo de sociedades;
• Aprovação da mudança do objeto da companhia;
• Aprovação da cisão da companhia;
• Dissolução da companhia ou cessação do estado de liquidez;
• Transformação da sociedade;
• Redução do capital social;
• Constituição de sociedade de economia mista;
• Compra de subsidiária integral;
Nas Sociedades Anônimas
HIPÓTESES DE CABIMENTO DO DIREITO DE RETIRADA NA COMPANHIA
(ARTIGO 137 DA LEI DAS S/A)

• Compra de companhia aberta;


• Incorporação de companhia controladora;
• Participação de companhia em grupo de sociedades;
• Fixação de dividendo em condições que não satisfaçam aos requisitos do § 1º, do art. 202;
• Transformação em sociedade por quotas.
Nas Sociedades Anônimas
Disposições Comuns ao Código Civil

No Código Civil:
Art. 1.122. Até noventa dias após publicados os atos relativos à incorporação, fusão ou
cisão, o credor anterior, por ela prejudicado, poderá promover judicialmente a anulação deles.
§ 1º A consignação em pagamento prejudicará a anulação pleiteada.
§ 2º Sendo ilíquida a dívida, a sociedade poderá garantir-lhe a execução, suspendendo-
-se o processo de anulação.
§ 3º Ocorrendo, no prazo deste artigo, a falência da sociedade incorporadora, da sociedade
nova ou da cindida, qualquer credor anterior terá direito a pedir a separação dos patrimônios,
para o fim de serem os créditos pagos pelos bens das respectivas massas.
Nas Sociedades Anônimas
O TAG ALONG como direito potestativo

No contexto de proteção da minoria em relação aos acionistas detentores do bloco de


controle, nas companhias de capital aberto, quando houver a possibilidade de aquisição do
poder de controle, necessariamente, a oferta de aquisição deverá ser disciplinada em procedimento
administrativo (Instrução CVM, 361/2002), quando o comprador se obrigará também
a adquirir as ações dos minoritários por valor não inferior a 80% (oitenta por cento) do preço
pago pelas ações componentes do bloco de controle, nos termos do art. 254-A, da LSA. Tal
operação casada é conhecida pela expressão tag along, em uma tradução aproximada, “etiquetar
conjuntamente”, precificar o valor das ações, de modo a prevenir futura iliquidez das
ações dos minoritários.
Voltando...Sociedades Limitadas

O direito de retirada permite ao sócio sair da sociedade de forma unilateral e voluntária, levando,
consigo, o patrimônio social correspondente à sua participação no capital social. É certo que somente
haverá pagamento de haveres caso a sociedade empresária possua patrimônio líquido positivo.
Interpretações Divergentes
1ª 2ª 3ª

Assegura que o sócio pode Leva em consideração a regência Restringe o direito de retirada aos
exercer o direito de retirada na supletiva da sociedade. Caso a casos de modificação do contrato
sociedade limitada: (i) se sociedade seja regida supletivamente social, fusão, incorporação, cisão
contratada por prazo pela Lei das Sociedades Anônimas, ou transformação da sociedade
indeterminado, a qualquer tempo, admite-se o direito de retirada por ato (CC, arts. 1.077 e 1.114), não
mediante notificação dos demais unilateral apenas nos casos de importando a regência supletiva
sócios; e (ii) se contratada por modificação do contrato social, fusão, da sociedade
prazo determinado, provando incorporação, cisão ou transformação
judicialmente justa causa”. da sociedade, nos termos dos arts.
1.077 e 1.114 do Código Civil
Primeira Interpretação

• Para esse entendimento, aplica-se à sociedade limitada o art. 1.029 do


Código Civil, que ao regular a sociedade simples, prescreve que: “(...)
qualquer sócio pode retirar-se da sociedade; se de prazo indeterminado,
mediante notificação aos demais sócios, com antecedência mínima de
sessenta dias; se de prazo determinado, provando judicialmente justa causa”
• Assegura o direito fundamental de não permanecer associado (CF, art. 5º,
XX)
Jurisprudência

• PERDA DA AFFECTIO SOCIETATIS, ENSEJANDO A RETIRADA DO SÓCIO, NA FORMA


DO ART. 1.029 DO CÓDIGO CIVIL. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO CONTIDO NO ART. 5º,
INCISO XX DA C.F. LEGÍTIMO EXERCÍCIO DO DIREITO DE RECESSO, O QUAL NÃO
PODERÁ SER RESTRINGIDO ÀS HIPÓTESES DO ART. 1.077 DO CÓDIGO CIVIL
[...]"(TJRJ, Apelação 03105315020128190001, 22ª Câmara Cível, Relator: Des. Rogério de
Oliveira Souza, Julgamento: 16.12.2014). Do mesmo modo, o Superior Tribunal de Justiça, no
julgamento do REsp n.º 1.602.240/MG, decidiu que “excluídas as sociedades de capitais que
seguem reguladas pela Lei n. 6.404/1976, o art. 1.029 do CC/2002 assegurou, de forma expressa,
a possibilidade de retirada voluntária de sócios dos demais tipos societários (...)”
• REsp n.º 1.602.240/MG, decidiu que “excluídas as sociedades de capitais que seguem reguladas
pela Lei n. 6.404/1976, o art. 1.029 do CC/2002 assegurou, de forma expressa, a possibilidade de
retirada voluntária de sócios dos demais tipos societários (...
Segunda Interpretação

• A segunda corrente leva em consideração a regência supletiva da sociedade [6]. Caso a sociedade
seja regida supletivamente pela Lei das Sociedades Anônimas, admite-se o direito de retirada por
ato unilateral apenas nos casos de modificação do contrato social, fusão, incorporação, cisão ou
transformação da sociedade, nos termos dos arts. 1.077 e 1.114 do Código Civil
• Não adotada a regência supletiva regendo-se a sociedade limitada subsidiariamente pelas normas
da sociedade simples, tem-se duas situações: (i) no caso de sociedade contratada por prazo
indeterminado, o sócio poderá retirar-se a qualquer tempo mediante notificação dos demais sócio
(CC, art. 1.029); e (ii) no caso de sociedade contratada por prazo determinado, o sócio somente
poderá retirar-se nas hipóteses de modificação do contrato social, fusão, incorporação, cisão ou
transformação da sociedade (CC, arts. 1.077 e 1.114).
Jurisprudência

• "[...] 1) Ao eleger a regência supletiva pelas normas da sociedade anônima (art. 1.053 do Código
Civil), o contrato social restringiu às hipóteses de direito de retirada àquelas previstas no art.
1.077 do Código Civil (modificação do contrato social, fusão ou incorporação), inserto no
capítulo que trata da sociedade limitada. 2) O motivo invocado pela apelante (quebra da affectio
societatis) não se enquadra em quaisquer das hipóteses de direito de retirada previstas no art.
1.077 do Código Civil, de modo que as únicas vias possíveis para obter o seu desligamento do
quadro societário seriam a alienação da participação societária ou a dissolução parcial, sendo esta
última a eleita pela apelante. [...]" (TJRJ, Apelação 0128904-16.2012.8.19.0001, Relator: Des.
Heleno Ribeiro Pereira Nunes, Julgamento: 07.10.2014).
Terceira Interpretação

• Por fim, a terceira interpretação restringe o direito de retirada aos casos de modificação do contrato social,
fusão, incorporação, cisão ou transformação da sociedade (CC, arts. 1.077 e 1.114), não importando a regência
supletiva da sociedade
• Segundo Tavares Borba, “[...] o disposto no art. 1.029 (direito de retirada – sociedade simples) não se aplica
subsidiariamente à sociedade limitada, a qual, nessa matéria, encontra-se regida por norma própria (art. 1.077)”
• o direito de retirada não se afigura amplo, como nas sociedades simples, ou restrito a determinadas hipóteses,
como nas sociedades por ação
Conclusão

Diante desse dissenso doutrinário e jurisprudencial, e tendo em vista a


necessidade de se garantir segurança jurídica ao sócio contratante de sociedade
limitada, convém a inclusão, no próprio contrato social, de cláusula prevendo a
possibilidade do exercício do direito de retirada a qualquer tempo mediante
notificação escrita encaminhada aos demais sócios

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