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ATIVIDADE INDIVIDUAL

Matriz de atividade individual

Disciplina: Direito Societário- Sociedade Anônima- Módulo: MBA_DSSAMBAEAD-


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Turma: MBA Executivo em Direito: Gestão


Aluno: Gabriela de Oliveira Galvão
e Business Law

Tarefa: Atividade Individual

Parecer
EMENTA: análise de um caso concreto, no intuito de desenvolver um parecer que apresente pontos divergentes
e convergentes pertinentes à seguinte problemática:
Uma companhia de capital aberto, que funcionou regularmente por determinado lapso temporal, até se encontrar em
uma situação econômica, financeira e patrimonial desgastada, requer a sua recuperação judicial.
Após ver o encerramento formal da recuperação judicial com o reequilíbrio da atividade empresarial, o Conselho de
Administração propôs uma cisão total da empresa, o que foi aprovado em assembleia geral extraordinária.
O protocolo e a justificação previam uma conversão total do patrimônio em três pessoas jurídicas novas, criadas para
receber o patrimônio da companhia cindida a ser extinta. Nesse contexto, um dos acionistas se apresenta na
condição de ter amortizado o investimento feito no passado, detendo no seu poder ações de fruição.
Considerando que a cisão acarretará redução patrimonial e que os acionistas serão reembolsados parcialmente,
como se deve proceder em relação ao titular da ação de fruição?

PARECER:
Inicialmente, conceitua o art. 1º da Lei nº. 6.404 /76 que “A companhia ou sociedade anônima terá o capital dividido
em ações, e a responsabilidade dos sócios ou acionistas será limitada ao preço de emissão das ações subscritas ou
adquiridas.”
A sociedade anônima opera sob denominação designativa do objeto social, integrada pelas expressões “sociedade
anônima/”AS ou “companhia”/Cia. Lado outro, acerca da companhia de capital aberto, nos termos do art. 22 da Lei
nº 6.385/76 “Considera-se aberta a companhia cujos valores mobiliários estejam admitidos à negociação na bolsa ou
no mercado de balcão.”
Destarte, o capital social da sociedade anônima é dividido em ações (arts. 5º e 11 da Lei nº 6.404 /76). A doutrina
ensina que "as ações classificam-se da seguinte forma: i) quanto ao direito que conferem; ii) quanto à forma, ou
seja, quanto ao ato jurídico que opera a transferência de sua titularidade" (RESTIFFE, Paulo Sérgio. Manual do Novo
Direito Comercial. SP: Dialética, 2006. p.163) (Apelação Cível: AC 0300283-67.2017.8.24.0144. Gilberto Gomes de
Oliveira. Jusbrasil. Disponível em: < https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/tj-sc/748006677 >. Acesso em: 02
de novembro de 2022).
Quanto ao direito que conferem, segundo a Lei nº 6.404/76, as ações podem ser classificadas em: “Art. 15. As
ações, conforme a natureza dos direitos ou vantagens que confiram a seus titulares, são ordinárias, preferenciais, ou
de fruição.”
A lei atribui às ações preferenciais vantagens patrimoniais não deferidas as ordinárias, de forma que as vantagens e
privilégios concedidos às ações preferenciais com dividendo mínimo serão pecuniariamente superiores ou iguais às
das ações ordinárias, porém, nunca inferiores. Além disso, possuem prioridade no recebimento de dividendos. Lado
outro, as ações ordinárias tem por principal característica o direito a voto nas assembleias de acionistas.
Já as ações de fruição, objeto da análise do presente parecer, tratam-se de ações atribuídas aos acionistas após a
amortização integral. É o que estabelece o art. 44, §5º da Lei nº 6.404 /76 ao prever que “ §5º As ações
integralmente amortizadas poderão ser substituídas por ações de fruição, com as restrições fixadas pelo estatuto ou
pela assembléia-geral que deliberar a amortização; em qualquer caso, ocorrendo liquidação da companhia, as ações
amortizadas só concorrerão ao acervo líquido depois de assegurado às ações não a amortizadas valor igual ao da
amortização, corrigido monetariamente.”
Vale lembrar que a amortização consiste no pagamento antecipado dos valores das ações ao acionista, antes da
liquidação da companhia, sem redução do capital social. O acionista, portanto, recebe antecipadamente o valor que
só receberia na hipótese de liquidação da companhia.
Entretanto, ocorrendo liquidação da companhia, as ações amortizadas só concorrerão ao acervo liquidado depois de
assegurado às demais ações, não amortizadas, valor igual ao pago no ato da amortização, com as devidas correções
monetárias.
Ou seja, como o acionista titular ação de fruição recebe antecipadamente os valores do título, na hipótese de
liquidação da companhia ele só poderá ser pago depois que os outros acionistas receberem, ao menos, o mesmo
valor anteriormente empregado na amortização das suas ações. Em outros termos, por ocasião da liquidação da
companhia o titular da ação de fruição só irá receber qualquer quantia depois que os outros acionistas tenham
recebido no mínimo o valor que lhe foi pago no momento da amortização.
Por conseguinte, considerando que o caso retratado trata-se de hipótese de cisão empresarial, cabe trazer alguns
conceitos importantes para sua solução. Ao tratar dos direitos dos credores na hipótese de cisão empresarial, o art.
233 da Lei nº 6.404⁄1976 dispõe:

"Art. 233. Na cisão com extinção da companhia cindida, as sociedades que absorverem parcelas do seu
patrimônio responderão solidariamente pelas obrigações da companhia extinta. A companhia cindida que
subsistir e as que absorverem parcelas do seu patrimônio responderão solidariamente pelas obrigações da
primeira anteriores à cisão.”

A esse respeito, Fábio Ulhoa Coelho leciona:

" (...) Na cisão, a sucessão deve ser negociada entre as sociedades participantes da operação. Desse modo,
cada sociedade responde, após a operação, pelas obrigações que lhe forem transferidas. Omissos os
documentos da cisão total relativamente a certa obrigação da cindida, cada uma das sociedades receptoras
responde na proporção do patrimônio recebido ( LSA. art. 229, § 1º). Essas são, contudo, regras para a
disciplina de eventual regresso. O credor da sociedade parcialmente cindida continua podendo demandá-la,
a despeito da distribuição de passivo negociada na cisão. De fato, para proteger os interesses dos credores
cíveis da cindida, estabelece a lei a solidariedade entre as sociedades participantes da operação. No caso de
cisão total, as sociedades para as quais os bens da cindida foram vertidos são solidárias, pelas obrigações da
pessoa jurídica extinta (LSA, art. 233, caput). Na parcial, a sociedade cindida e aquela para a qual verteu
bens respondem solidariamente pelas obrigações da primeira anteriores à cisão. A estipulação, nos
instrumentos de cisão, de que a sociedade para a qual houve versão patrimonial não responde senão pelas
obrigações expressamente transferidas não é eficaz contra o credor da cindida que, nos 90 dias seguintes à
publicação dos atos de cisão opuser-se à ressalva da solidariedade (LSA, art. 233, caput e parágrafo único)."
(Curso de direito comercial, v. 2: direito de empresa - 16. ed., São Paulo: Saraiva, 2012, pág. 520)

Com efeito, o patrimônio social constitui, via de regra, a garantia dos credores da pessoa jurídica. Com a cisão,
ocorre transferência da totalidade ou de uma parcela do patrimônio da sociedade cindida para outras sociedades,
fato que reduz a garantia dos credores da sociedade original.
A matéria relativa à cisão de empresas vem regulamentada pela Lei 6.404/76, Lei das Sociedades Anônimas, a qual
estabelece em seu art. 229 que a sociedade que absorver o patrimônio da cindida, a esta sucede em direitos e
obrigações. Confira-se, a propósito, a redação do referido dispositivo legal:

Art. 229. A cisão é a operação pela qual a companhia transfere parcelas do seu patrimônio para uma ou
mais sociedades, constituídas para esse fim ou já existentes, extinguindo-se a companhia cindida, se houver
versão de todo o seu patrimônio, ou dividindo-se o seu capital, se parcial a versão.
§ 1º Sem prejuízo do disposto no artigo 233, a sociedade que absorver parcela do patrimônio da companhia
cindida sucede a esta nos direitos e obrigações relacionados no ato da cisão; no caso de cisão com extinção,
as sociedades que absorverem parcelas do patrimônio da companhia cindida sucederão a esta, na
proporção dos patrimônios líquidos transferidos, nos direitos e obrigações não relacionados.

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§ 2º Na cisão com versão de parcela do patrimônio em sociedade nova, a operação será deliberada pela
assembléia-geral da companhia à vista de justificação que incluirá as informações de que tratam os números
do artigo 224; a assembléia, se a aprovar, nomeará os peritos que avaliarão a parcela do patrimônio a ser
transferida, e funcionará como assembléia de constituição da nova companhia.
§ 3º A cisão com versão de parcela de patrimônio em sociedade já existente obedecerá às disposições sobre
incorporação (artigo 227).
§ 4º Efetivada a cisão com extinção da companhia cindida, caberá aos administradores das sociedades que
tiverem absorvido parcelas do seu patrimônio promover o arquivamento e publicação dos atos da operação;
na cisão com versão parcial do patrimônio, esse dever caberá aos administradores da companhia cindida e
da que absorver parcela do seu patrimônio.
§ 5º As ações integralizadas com parcelas de patrimônio da companhia cindida serão atribuídas a seus
titulares, em substituição às extintas, na proporção das que possuíam; a atribuição em proporção diferente
requer aprovação de todos os titulares, inclusive das ações sem direito a voto. (Redação dada pela Lei nº
9.457, de 1997, sem grifos no original)

Nos termos do art. 229, § 1º, da LSA, verifica-se que haverá indiscutível sucessão de direitos e obrigações
relacionados no protocolo de cisão. Com efeito, da cisão decorrerá o aumento de capital da empresa destinatária,
que absorverá a parcela do patrimônio líquido cindido a título de integralização das ações subscritas em benefício dos
sócios da empresa cindida. Assim, há um completo entreleçamento do quadro societário das empresas em
negociação.
Ademais, nos termos do art. 229, § 5º, da Lei das Sociedades Anônimas - LSA (Lei n. 6.404, de 15-12-1976), "as
ações integralizadas com parcelas de patrimônio da companhia cindida serão atribuídas a seus titulares, em
substituição às extintas, na proporção das que possuíam”.
Retomando o caso em análise, veja que se trata de acionista detentor de ações de fruição, já tendo amortizado
integralmente o investimento no passado, ao passo que este tem apenas direitos de gozo ou fruição contra a
companhia que passará por uma cisão total. É certo que com a cisão, os acionistas da companhia cindida passam a
integrar o quadro social das três pessoas jurídicas novas, criadas para receber o patrimônio da companhia cindida a
ser extinta, por terem absorvido parcelas do patrimônio. Lado outro, conforme preceitua o art. 233 da LSA, as
sociedades que absorveram parcelas do patrimônio da companhia cindida responderão solidariamente pelas
obrigações da companhia extinta.
Partindo das premissas estabelecidas pelos referidos dispositivos legais, os acionistas da sociedade cindida, ao ensejo
da cisão, deveriam receber idêntico número de ações da empresa cindida. As ações integralizadas com parcelas de
patrimônio da companhia cindida deverão ser atribuídas aos seus titulares, em substituição às ações emitidas pela
companhia extinta respeitadas as proporções que cada investidor possuir, evitando diluição da participação
societária, enriquecimento sem causa ou empobrecimento injustificado.
Nada obstante, no caso em análise, há uma particularidade, pois a cisão acarretará redução patrimonial e os
acionistas serão reembolsados parcialmente. Nesse contexto, os acionistas da empresa cindida, com exceção do
acionista titular de ações de fruição, receberão um reembolso parcial das ações, parcela do capital social amortizado,
sendo que o restante do capital social a que tinham direito, estes receberão por meio de participação societária nas
empresas que tiverem absorvido a parcela resultante da fragmentação patrimonial da companhia cindida, não sendo
verificado nenhum prejuízo a estes.
No entanto, o acionista titular de ações de fruição nada receberá, não havendo que se falar em reembolso parcial,
posto que já recebeu de forma antecipada o pagamento integral do valor de suas ações, sendo-lhe assegurado
apenas a participação social nas novas companhias.
Assim, é possível concluir que o acionista titular da ação de fruição, nenhum direito terá a título de reembolso parcial
ou amortização, eis que já teve seu investimento amortizado e recebeu de forma antecipada o valor patrimonial de
suas ações, ademais, em qualquer caso, ocorrendo liquidação da companhia, suas ações amortizadas só concorrerão
ao acervo líquido depois de assegurado às ações não amortizadas valor igual ao da amortização, corrigido
monetariamente.
Apesar disso, cabe salientar que será garantido aos acionistas direitos essenciais inderrogáveis, previstos no art. 109
da Lei n.º. 6.404/76, dentre os quais, a participação nos lucros, preferência para subscrição de ações, dentre outros.
Portanto, o que acontecerá no caso em tela é a transferência do patrimônio da empresa cindida e seus titulares
acionistas para as novas sociedades que receberam o patrimônio da companhia cindida a ser extinta, posto que
receberão as ações que lhe couberem e assim as ações integralizadas com parcelas de patrimônio da companhia
cindida serão atribuídas a seus titulares, não havendo nenhum prejuízo. Lado outro, será permitido ao acionista
titular de ações de fruição, que terá preservado os direitos relativos à sua quota de capital, agora substituído com
participação no capital social das novas sociedades que absorveram a parcela do patrimonial da empresa cindida,
participar dos dividendos das empresas ou no caso de liquidação futura da companhia para que possa participar do
acervo líquido, de forma distinta, conforme dispõe o parágrafo quinto do aludido artigo 44 da LSA.

BIBLIOGRAFIA

BRASIL. Lei n. 6.404 de 15 de Dezembro de 1976. Disponível


em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6404consol.htm. Acesso em 31 de outubro de 2022.

COELHO, FÁBIO ULHOA. Curso de Direito Comercial, v.2: direito de empresa - 23. ed., São Paulo: Saraiva,
2021.

ARRUDA, PABLO GONÇALVES e, MENDOÇA, SAULO BICHARA. Direito Societário, Sociedade Anônima. FGV IDE.
Disponível em:< https://ls.cursos.fgv.br/d2l/lor/viewer/viewFile.d2lfile/423418/619434/assets/
direito_societario_sociedade_anonima.pdf>. Acesso em 01 de novembro de 2022.

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