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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

MB
Nº 70062090691 (N° CNJ: 0401632-98.2014.8.21.7000)
2014/CÍVEL

APELAÇÃO. DIREITO TRIBUTÁRIO. EMBARGOS À


EXECUÇÃO FISCAL. IPTU. CRÉDITOS
TRIBUTÁRIOS RELATIVOS A EXERCÍCIOS
POSTERIORES À REESTRUTURAÇÃO DA CEEE.
ILEGITIMIDADE PASSIVA DA CEEE.
Versando a execução fiscal sobre débito de IPTU e
TSU oriundo de imóveis cujo domínio,
substancialmente, foi transferido mediante cisão, nos
termos do art. 229, Lei nº 6.404/76, por meio da qual a
adquirente assumiu as obrigações daí decorrentes,
inafastável a ilegitimidade passiva da executada.
Precedentes do TJRGS.
NEGADO SEGUIMENTO AO RECURSO,
MONOCRATICAMENTE.

APELAÇÃO CÍVEL VIGÉSIMA SEGUNDA CÂMARA


CÍVEL

Nº 70062090691 (N° CNJ: 0401632- COMARCA DE NOVO HAMBURGO


98.2014.8.21.7000)

MUNICIPIO DE NOVO HAMBURGO APELANTE

COMPANHIA ESTADUAL DE APELADO


DISTRIBUICAO DE ENERGIA
ELETRICA CEEE D

DECISÃO MONOCRÁTICA
Vistos.
Trata-se de recurso de apelação interposto pelo MUNICIPIO
DE NOVO HAMBURGO, nos autos da ação de embargos a execução,
ofertados pela COMPANHIA ESTADUAL DE DISTRIBUICAO DE ENERGIA
ELETRICA CEEE D, contra a sentença que, acolhendo a preliminar de
ilegitimidade passiva, julgou extinta a execução fiscal, com fulcro no art. 267,
VI, do CPC, condenando-lhe no pagamento dos honorários advocatícios
fixados em R$ 1.000,00.

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Nas suas razões, sustentou, basicamente, a legitimidade da


apelada para figurar no pólo passivo do executivo fiscal, aduzindo que as
convenções particulares não podem ser opostas contra o fisco, nos termos
do art. 123, do CTN. Trouxe precedentes. Pediu provimento.
Foram apresentadas contrarrazões.
Remetidos os autos a esta Corte, vieram conclusos, após
distribuição por sorteio.
É o breve relatório; passo a decidir monocraticamente, nos
termos do art. 557, caput, do CPC, observado o entendimento
jurisprudencial desta Corte sobre o assunto posto em julgamento.
E, desde já, registro que nego seguimento ao recuso.
O artigo 1º, inciso III, da Lei Estadual nº 10.900/96 dá conta de
que a concessionária foi submetida a processo de privatização do qual
resultou sua cisão em três companhias distintas, passando à iniciativa
privada a Companhia Norte-Nordeste (atual RGE – Rio Grande Energia S/A)
e a Companhia Centro-Oeste (atual AES SUL – Distribuidora Gaúcha de
Energia S/A).
Art. 1º - Fica o Poder Executivo autorizado a
reestruturar societária e patrimonialmente a
Companhia Estadual de Energia Elétrica - CEEE e a
Companhia Riograndense de Mineração - CRM,
através de cisão, fusão, transformação, incorporação,
extinção, redução ou aumento de capital, ou da
combinação destes instrumentos, podendo criar
sociedades coligadas, controladas ou subsidiárias,
assim discriminadas:
(...)
III - 3 (três) sociedades anônimas de distribuição de
energia elétrica, a Companhia Sul-Sudeste de
Distribuição de Energia Elétrica, a Companhia Centro-
Oeste de Distribuição de Energia Elétrica e a
Companhia Norte-Nordeste de Distribuição de Energia
Elétrica, conforme plano descritivo constante no Anexo
III.

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Publicado no DOE em 18.09.1997, o Edital de Privatização


definiu responsabilidades, incumbindo à CEEE apenas o passivo trabalhista
verificado nas ações propostas até 11 de agosto de 1997.
A cisão ocorreu nos moldes previstos pelo art. 229, Lei nº
6.404/76, operacionalizando-se a transferência patrimonial por meio da
“Assembleia Geral Extraordinária” Ata nº 142 (fls. 97 e seguintes).
Art. 229. A cisão é a operação pela qual a companhia
transfere parcelas do seu patrimônio para uma ou
mais sociedades, constituídas para esse fim ou já
existentes, extinguindo-se a companhia cindida, se
houver versão de todo o seu patrimônio, ou dividindo-
se o seu capital, se parcial a versão.
§ 1º Sem prejuízo do disposto no artigo 233, a
sociedade que absorver parcela do patrimônio da
companhia cindida sucede a esta nos direitos e
obrigações relacionados no ato da cisão; no caso de
cisão com extinção, as sociedades que absorverem
parcelas do patrimônio da companhia cindida
sucederão a esta, na proporção dos patrimônios
líquidos transferidos, nos direitos e obrigações não
relacionados.
§ 2º Na cisão com versão de parcela do patrimônio em
sociedade nova, a operação será deliberada pela
assembléia-geral da companhia à vista de justificação
que incluirá as informações de que tratam os números
do artigo 224; a assembléia, se a aprovar, nomeará os
peritos que avaliarão a parcela do patrimônio a ser
transferida, e funcionará como assembléia de
constituição da nova companhia.
§ 3º A cisão com versão de parcela de patrimônio em
sociedade já existente obedecerá às disposições
sobre incorporação (artigo 227).
§ 4º Efetivada a cisão com extinção da companhia
cindida, caberá aos administradores das sociedades
que tiverem absorvido parcelas do seu patrimônio
promover o arquivamento e publicação dos atos da
operação; na cisão com versão parcial do patrimônio,
esse dever caberá aos administradores da companhia
cindida e da que absorver parcela do seu patrimônio.
§ 5º As ações integralizadas com parcelas de
patrimônio da companhia cindida serão atribuídas a

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seus titulares, em substituição às extintas, na


proporção das que possuíam; a atribuição em
proporção diferente requer aprovação de todos os
titulares, inclusive das ações sem direito a voto.
(Redação dada pela Lei nº 9.457, de 1997)

No presente caso, os imóveis que originaram o débito objeto


da execução fiscal tiveram seu domínio transferido à Companhia Centro-
Oeste (atual AES SUL – Distribuidora Gaúcha de Energia S/A), mediante a
citada Ata de Assembleia Extraordinária nº 142.
E, ainda, que inalterada a titularidade da CEEE nas matrículas
dos imóveis em questão (prova essa que não veio aos autos, pois não foi
juntada matrícula atualizada do imóvel), não há como ignorar, em face da
cisão operada, competir aos administradores da nova companhia, no caso, a
AES SUL, a promover o arquivamento e a publicação dos atos decorrentes
da operação, ex vi no já referido art. 229, §4º, Lei nº 6.404/76.
Assim, comprovada a transferência dos imóveis da Linha de
Transmissão da qual faz parte o imóvel elencado na inicial, deve ser
reconhecida a ilegitimidade passiva da apelada para a execução.
Colaciono julgados do Tribunal de Justiça Gaúcho quanto à
questão:
APELAÇÃO CIVIL. TRIBUTÁRIO. IPTU. EXECUÇÃO
FISCAL. EMBARGOS. IMÓVEL QUE, NA CISÃO
PARCIAL DA CEEE-D, FOI TRANSFERIDO À
CINDIDORA. FATO NOTÓRIO ESPECIALMENTE NO
ÂMBITO DO MUNICÍPIO. ILEGITIMIDADE PASSIVA
DA CINDIDA. PRECEDENTES. APELAÇÃO
PROVIDA. (Apelação Cível Nº 70055455398, Primeira
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Irineu Mariani, Julgado em 24/09/2014)

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO TRIBUTÁRIO.


IMPOSTOS. IPTU. EMBARGOS À EXECUÇÃO
FISCAL. - Não é nula a Certidão de Dívida Ativa que
preenche todos os requisitos legais, possibilitando a
exata compreensão dos tributos e valores lançados. -
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Com o processo de privatização da CEEE-D, os


imóveis foram transferidos às empresas subsidiárias
criadas, as quais assumiram as responsabilidades daí
decorrentes. - Encontrando-se o imóvel sub judice em
área de abrangência a AES-Sul, é de ser reconhecida
a ilegitimidade passiva da CEEE-D pelo débito de
IPTU incidente sobre o referido bem. APELAÇÃO
PROVIDA. (Apelação Cível Nº 70059235937, Primeira
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Newton Luís Medeiros Fabrício, Julgado em
03/09/2014)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO FISCAL.


IPTU E TAXA DE LIXO. EXCEÇÃO DE PRÉ-
EXECUTIVIDADE. ILEGITIMIDADE PASSIVA DA
CEEE-D RECONHECIDA. Tratando-se de débitos
fiscais referentes aos exercícios de 2008 e 2009,
posteriores, portanto, à cisão parcial ocorrida em
1999/2000, e não se tratando de débitos trabalhistas,
mas de crédito tributário, deve a recorrente ser
considerada ilegítima para o pleito, sendo imperiosa a
manutenção da AES SUL como responsável tributária
do bem objeto da execução fiscal movida pelo
Município. Precedentes deste TJRGS. Honorário
fixados. À UNANIMIDADE, DERAM PROVIMENTO
AO RECURSO. (Agravo de Instrumento Nº
70056822463, Segunda Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: João Barcelos de Souza
Junior, Julgado em 16/04/2014)

APELAÇÃO CÍVEL. EXECUÇÃO FISCAL. IPTU E


TCL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. CEEE-D.
ILEGITIMIDADE PASSIVA. FATO NOTÓRIO. ART.
334, I, CPC. Tratando-se de cobrança de tributo
referente a imóvel transferido por cisão parcial da
concessionária, nos termos do artigo 229, Lei
6.404/76, inafastável a ilegitimidade passiva da
executada. A cisão da CEEE com transferência
patrimonial às novas concessionárias é fato notório no
Estado e, portanto, independe de prova, afastando
dúvida a respeito da titularidade do imóvel do qual se
origina o tributo. Sucumbência invertida. APELAÇÃO
PROVIDA. (Apelação Cível Nº 70058344268,
Vigésima Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça
do RS, Relator: Marcelo Bandeira Pereira, Julgado em
11/06/2014)
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PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. IPTU.


EXECUÇÃO FISCAL. CISÃO. ART. 229, LEI Nº
6.404/76. IMÓVEIS TRANSFERIDOS.
ILEGITIMIDADE PASSIVA. FATO NOTÓRIO. ART.
334, I, CPC. Versando a execução fiscal sobre débito
de IPTU oriundo de imóveis cujo domínio,
substancialmente, foi transferido mediante cisão, nos
termos do art. 229, Lei nº 6.404/76, por meio da qual a
adquirente assumiu as obrigações daí decorrentes,
inafastável a ilegitimidade passiva da executada. A
cisão da CEEE e transferência patrimonial às novas
concessionárias corresponde a fato notório neste
Estado e, mais ainda, nos Municípios que elas
passaram a atuar (art. 334, I, CPC), o que elimina
dúvida quanto à exata titularidade dos imóveis, a
efeitos de tributação do IPTU. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. REDUÇÃO. DESCABIMENTO.
DIGNIDADE DO EXERCÍCIO DA ADVOCACIA.
Mesmo em se considerando a singeleza da causa e a
desnecessidade de realização de audiência, há de se
contemplar a dignidade do exercício da advocacia,
apresentando-se adequado o valor fixado pela
sentença a título de honorários advocatícios, o que
justifica a manutenção da verba, com base em o artigo
20, § 4.º, CPC. (Apelação Cível Nº 70046565578,
Vigésima Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça
do RS, Relator: Armínio José Abreu Lima da Rosa,
Julgado em 25/01/2012)

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO TRIBUTÁRIO.


EXECUÇÃO. EMBARGOS À EXECUÇÃO. IPTU.
TAXA DE COLETA DE LIXO. SERVIÇO DE
PREVENÇÃO DE INCÊNDIO. CRÉDITOS
TRIBUTÁRIOS RELATIVOS A EXERCÍCIOS
POSTERIORES À REESTRUTURAÇÃO DA CEEE,
COM A TRANSFERÊNCIA DOS IMÓVEIS EM
QUESTÃO PARA AES-SUL. ILEGITIMIDADE
PASSIVA DA CEEE. RECONHECIDA. Tratando-se de
execução de créditos tributários, proveniente de
IPTU,Taxa de Coleta de Lixo e Serviços de Prevenção
de Incêndio, relativos a exercícios posteriores à
reestruturação da CEEE, com a transferência dos
imóveis em questão para a AES SUL S/A, deve ser
reconhecida a ilegitimidade passiva da CEEE para
responder pela execução. Precedentes do TJRGS.

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2014/CÍVEL

Apelação com seguimento negado. (Apelação Cível Nº


70048972863, Vigésima Segunda Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Carlos Eduardo
Zietlow Duro, Julgado em 11/06/2012)

Pela inequívoca transferência substancial do domínio dos


imóveis sobre os quais recai o tributo, o reconhecimento da ilegitimidade da
apelada para figurar no pólo passivo da execução fiscal é medida que se
impõe, mormente porque os tributos foram lançados em data posterior ao
processo de cisão parcial da concessionária.
Ante o exposto, nego seguimento ao recurso, nos termos do
art. 557, caput, do CPC.
Intime-se.
Porto Alegre, 15 de outubro de 2014.

DES.ª MARILENE BONZANINI,


Relatora.

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