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03/11/23, 01:21 TC > Jurisprudência > Acordãos > Acórdão 348/1997 .

[ TC > Jurisprudência > Acordãos > Acórdão 348/1997 ]

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ACÓRDÃO Nº 348/97

Processo nº 63/96
1ª Secção
Rel. Cons. Monteiro Diniz

Acordam no Tribunal Constitucional:

I - A questão

1 - No Tribunal Judicial da Comarca de Santa Maria da Feira,


acção declarativa com processo sumário contra o Estado, pedindo se declar
ter existido qualquer mútuo entre a A. e os accionistas da empresa; (b) inexi

facto tributável, nomeadamente a existência de mútuo ou abertura de crédito


os accionistas da empresa que legitime ao Estado a liquidação do imposto de

relativamente aos exercícios de 1985 e 1986; e, caso assim não seja enten

declare que o mútuo que pudesse ter existido entre a A. e os accionistas


mútuo gratuito, não auferindo a A., nem tendo auferido, nem tendo a possibi

a auferir pelos factos descritos, quaisquer rendimentos ou juros nos exercíci

1986; (d) que se declare que não existem factos legitimadores da liquidação
do imposto de capitais, por inexistência de facto tributável.

Para tanto, alegou ter sido notificada para proceder ao pagamen

de 1.391.952$00, relativa a imposto de capitais e juros compensatórios, co

aos anos de 1985 e 1986, devidos pela existência de movimentos nas con
accionistas, movimentos estes que, por presunção, foram considerados pelos

mútuo ou abertura de crédito a seu favor.

Contudo, não existiu uma tal situação, limitando-se os accionist

os créditos que tinham depositado em contas que possuíam e possuem na S


nunca tendo esta liquidado juros ou outra remuneração aos sócios ou estes à A

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Por sentença de 14 de Maio de 1993, foi a acção julgada im


absolvido o Estado.

Para tanto, aduziu-se a fundamentação seguinte:

"Fixando o quadro legal em que se move a presente ac


demonstrado ficou que existiram movimentos das contas
accionistas da A. nos anos de 1985 e 1986, considerando-se p
tais movimentos mútuos, para efeitos do artigo 14º do C. Imp
de Capitais.
Tendo em atenção a redacção vigente do parágrafo 2
referido artigo a existência de mútuos entre a sociedade e
accionistas, nos termos referidos, não é ilidível, para efeitos
tributação, ao contrário, por exemplo da existência de mútuo
abertura de crédito da sociedade em relação a terceiros ou v
versa.

Trata-se de uma presunção juris et de jure que não adm


prova em contrário (artigo 305º do C. Civil).
Sendo essa presunção inelidivel, ao contrário do qu
passava na versão anterior (na qual concerteza se baseou a A
propor a acção) outra não pode ser a decisão do qu
improcedência de todo o pedido".

*///*

2 - Não conformada com o assim decidido, levou a A. recurso ao

Relação do Porto, havendo nas alegações além do mais, suscitado a

inconstitucionalidade da norma contida no § 2º do artigo 14º do Código de


Capitais, na redacção dada pelo Decreto-Lei nº 197/82, de 21 de Maio, q

inelidibilidade da presunção legal nos mútuos ou aberturas de créditos da

comerciais aos sócios".

Por acórdão de 14 de Novembro de 1995, foi concedido parcia


ao recurso, revogando-se a sentença impugnada na parte relativa à

constitucionalidade, já que se desaplicou, com fundamento em inconstituc

norma do artigo 14º do Código de Imposto de Capitais na versão saída do D


197/82.

No tocante à matéria de constitucionalidade, discorreu-se assim:

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"Contudo, e a pretexto de medida mais dura par


combate à fraude e evasão fiscal, o legislador retirou à socied
a possibilidade de poder ilidir a onerosidade dos mútuos ou
abertura de créditos a favor dos sócios, com a redacção dada
parágrafo 2º do citado art. 14º do CIC pelo DL nº 197/82, de
de Maio.
Em nosso modesto entender, e após ter entrado em v
tal redacção, não tinham qualquer possibilidade de deixarem
ser considerados como fonte de rendimentos da sociedade, p
efeito de tributação de imposto de capitais, quaisquer mútuos
abertura de créditos a favor dos sócios, independentemente de
advirem ou não rendimentos para a sociedade com tais operaç
Em nosso modesto entender, esta situação é inaceit
face à Constituição da República Portuguesa, pois tal equiv
em termos práticos, quando o empréstimo é gratuito, à liquida
de imposto de capitais, sem haver rendimento, e que constit
base tributária para a liquidação do imposto.
Desde logo porque, nos termos do art. 1º do CIC
imposto de capitais incide sobre os rendimentos de aplicação
capitais (...), e porque a inilidibilidade da presunção cria u
desigualdade injustificada face a todos os outros mutuantes
que pressupõe o pagamento de imposto de capitais mesmo
não haja rendimento, sendo assim violadora do art. 13º
Constituição.
A redacção anterior do parágrafo 2º do art. 14º era já
si criadora de desigualdade, mas não ia tão longe, na medida
que permitia sempre a possibilidade de ilidir a presunção
onerosidade dos mútuos da sociedade aos sócios. Nessa med
estava sempre na disponibilidade dos interessados a possibilid
de recurso aos Tribunais com vista a afastar a presunção
rendimentos, de que gozava a Administração Fiscal, o que
dava a garantia de não ser inconstitucional na medida em qu
previa um meio idóneo e independente para arbitrar qualq
conflito.
Proibir o recurso ao Tribunal para ilidir essa presunç
um acto antidemocrático, atentatório dos direitos, liberdade
garantias dos cidadãos, pelo que recusamos a aplicação
disposto no parágrafo 2º do art. 14º do CIC, na redacção que
foi conferida pelo DL nº 197/82, de 21 de Maio, julga
inconstitucional o segmento de norma do art. 14º, nº 2, do C
na parte em que não permite a ilisão de onerosidade dos mút
entre a sociedade e os sócios.
O Código de Imposto de Capitais encontra-se revogad
hoje a tributação por presunção desapareceu do ordename
jurídico-fiscal nacional, o que não deixa de ser um sinal de qu
quer transparência na liquidação de impostos e de que deve ha
mútuo respeito e confiança na relação Estado/Contribui
apanágio da Democracia, e que mais reforça o no
entendimento sobre esta matéria."

*///*

3 - Em obediência ao disposto nos artigos 280º, nºs 1, alín

Constituição e 70º, nº 1, alínea a) e 72º nº 3 da Lei do Tribunal Constitucio

Ministério Público os autos em recurso obrigatório a este Tribunal.

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Nas alegações depois oferecidas o senhor Procurador-Geral Adjun

o seguinte quadro conclusivo:

"1º - A norma do artigo 14º, nº 2, do Código de Imp


de Capitais, com a redacção dada pelo Decreto-Lei nº 197/82
21 de Maio, na parte em que não permite a ilisão da presunção
onerosidade dos mútuos efectuados pelas sociedades a favor
respectivos sócios, viola o princípio da igualdade consagrado
artigo 13º da Constituição.

2º - Deve, assim, negar-se provimento ao recu


confirmando-se o acórdão recorrido, na parte impugnada."

Por seu turno, a recorrida, comungando do mesmo entendimen

alegações assim concluídas:

"1 - O art. 14º, nº 2, do C.I.C., com a redacção que lhe


dada pelo D.L. 197/82, de 21/5, ao não permitir a ilisão
presunção de onerosidade dos mútuos feitos pelas sociedades
seus sócios, viola o princípio constitucional da igualdade
cidadãos perante a Lei (artº 13 da C.R.P.);
2 - A exigência de acção judicial para ilidir a presun
legal pelo CIC na redacção anterior ao DL 197/82, de 2
garante e acautela a evasão fiscal, por ser um ónus com encar
e despesas para o contribuinte, não havendo fim legítimo pa
descriminação de tratamento dos contribuintes que é
inilibilidade de tal presunção."

Seguiram-se os vistos de lei, mostrando-se agora os autos

apreciar e decidir.

*///*

II - A fundamentação

1 - O Código do Imposto de Capitais, aprovado pelo artigo 1º do


nº 44561, de 10 de Setembro de 1962, para começar a vigorar no dia 1 d

1963, dispunha no artigo 4º que " a obrigação do imposto tanto pode

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atribuição efectiva dos rendimentos como da presunção da sua existência n

presente diploma, ou ainda da simples possibilidade legal de os exigir".

E, no artigo 14º, regendo sobre a determinação da matéria c

Secção A, estabelecia-se a presunção de que os mútuos e as aberturas de cré

juros e à taxa anual de 6 por cento, se outra mais elevada não const

constitutivo ou não houver sido declarada, entendendo-se que o juro começa


nos mútuos, desde a data do contrato, e, nas aberturas de crédito, desde da sua

Esta disposição baseava-se no princípio posto em destaque n

daquele diploma, segundo o qual "a consagração efectiva do princípio da trib

aproximada do rendimento real exigia, naturalmente, que se atribuísse a mai

à declaração do contribuinte, quer suprimindo uma presunção que actualm


quer admitindo a ilisão de outras que prudentemente se entendem conservar

no pressuposto de que, na acção judicial, se esgotassem as diligência

efectividade de não recebimento de quaisquer juros" segundo a livre e segu

do juiz.

Com efeito, no § 2º admitia-se a ilisão das presunções estabeleci

do artigo através de decisão judicial intentada pelo contribuinte contra o Est

se declare ter ficado provado que não foram recebidos juros antecipadament

ou são devidos, ou, sendo-o, têm taxa diferente.

No entanto, o Decreto-Lei nº 197/82, de 21 de Maio, editado

autorização legislativa contida na Lei nº 40/81, de 31 de Dezembro, "com

maior justiça tributária" (cfr. a respectiva exposição preambular), veio introd

alterações no Código do Imposto de Capitais, modificando, designadamente

da presunção de um juro mínimo nos mútuos e aberturas de crédito


sociedades aos seus sócios".

Em conformidade com este desígnio, mantendo-se o corpo do

formulação que lhe havia sido dada pelo Decreto-Lei nº 139/81, de 30 de M

anual dos juros passou a ser de 15% - concedeu-se ao § 2º a seguinte redacção

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"Exceptuados os mútuos e as aberturas de cré


efectuados pelas sociedades comerciais ou civis sob a fo
comercial a favor dos respectivos sócios, em que se consid
sempre como mínimo tributável a importância que resultar
aplicação da taxa prevista no corpo deste artigo, as presunçõe
estabelecidas só podem ser ilididas por decisão judicial profe
em acção intentada pelo contribuinte contra o Estado, em qu
declare ter ficado provado que não foram recebidos ju
antecipadamente, nem eram ou são devidos ou, sendo-o têm t
diferente, ou por declaração passada pelo Banco de Portugal
que se confirme a taxa de juro efectivamente praticada ou a
inexistência."

Deste modo, e ao contrário do que sucedia na versão o


estabelecida uma dualidade de regimes quer, quanto à natureza da pres
quanto à possibilidade da sua ilisão.

No tocante aos mútuos e às aberturas de crédito efectuadas pela


comerciais ou civis sob a forma comercial a favor dos respectivos sócios a p

vencimento de juros de 15% passou a ter a natureza de juris et de jure,


inviável a sua ilisão, mesmo através da via judicial.

Contrariamente, nos mútuos e aberturas de créditos dos sócios


das sociedades a terceiros, ou ocorridos entre pessoas singulares, a presunçã

como tantum juris, pois se admite a ilisão da presunção de vencimento de jur


sentença judicial em acção a propor contra o Estado, ou através da declaraç

de Portugal em que se confirme a taxa de juro efectivamente praticad


inexistência.

No entendimento da decisão impugnada, sufragada nas a


Ministério Público e da recorrida, a norma do artigo 14º, § 2º, na redacçã

Decreto-Lei nº 197/82, na parte em que não permite a ilisão da presunção de


dos mútuos feitos pelas sociedades a favor dos respectivos sócios, viola o
igualdade consagrado no artigo 13º da Constituição.

Será efectivamente assim?

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2 - A Constituição, no artigo 107º, relativo aos impostos, dispõe

"a tributação das empresas incidirá fundamentalmente sobre o seu rendimento

Adoptou-se assim, entre as soluções típicas possíveis, a tributaçã

reais, isto é, em princípio, dos lucros efectivamente verificados em cada ano,


exigindo tal opção um sistema fiável de conhecimento dos resultados das

porque isso não se mostra possível em muitos sectores, se admita que aque
possa incidir pelo menos sobre os lucros presumivelmente realizados.

No entendimento de Teixeira Ribeiro, Lições de Finanças Púb


Coimbra, 1995, pp. 294 e ss., podendo ser vária a matéria colectável, há-de r

sempre ou a património ou a rendimento, uma vez que que só com um ou c


impostos podem ser pagos [e daí a distinção que este Autor faz apenas en
sobre o património e impostos sobre o rendimento ao contrário de outra

distingue impostos sobre a riqueza (património) impostos sobre o rendiment


sobre o consumo ou despesa].

E o Mestre de Coimbra, depois de caracterizar conceitualmente


rendimento real e do rendimento normal, inquire sobre se deve tributar-se o p

segundo.

Responde assim:

"À primeira vista, parece ociosa a pergunta. Na verdad


do rendimento real, e não do rendimento normal, que depend
capacidade tributária.
Por vezes, todavia, não há mais remédio do que tribut
rendimento normal: é quando se torna impossível conhecer c
suficiente aproximação o rendimento real. Sucede
frequentemente na agricultura, onde a maioria das exploraç
não fazem contas, e sucede igualmente no sector da pequ
indústria e do pequeno comércio onde as oficinas e as lojas
fazem contas também. Faltando as contas das receitas e
despesas, como há-de determinar-se o respectivo rendime
real?

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Mas o facto é haver quem entenda que, mesmo qua


seja determinável o rendimento real, é preferível tributa
rendimento normal (rendimento médio de uma série de anos)"

Por seu turno, pronunciando-se sobre a forma de determinaçã


colectável relativamente aos impostos directos, Sousa Franco, Finanças Públi

Financeiro, Coimbra, 1990, pp. 581 e 582, escreveu assim:

"No sistema da matéria colectável real, que


Administração quer o contribuinte pretendem apurar o efec
valor da riqueza que servirá de base ao imposto, determinan
por exemplo, objectivamente quais foram os lucros efectivos
uma determinada empresa num certo ano.

Quanto à matéria colectável presumida, a posição


Administração e do contribuinte é diferente: entende-se que n
possível, por ser fácil a fraude ou o arbítrio, qualquer tentativ
fixação real e directa da matéria colectável.

Escolhem-se então indicadores, com base nos quais se determ


o valor que vai ser tributado. Por exemplo, e ainda para retom
caso da empresa, admite-se que existe uma correlação entr
número de empregados, o volume de vendas ou o capital soci
o lucro que a empresa deve ter obtido: e são os prime
indicadores que servem de base à fixação do imposto
presunção da Administração, aplicando critérios legais.

Na matéria colectável normal, parte-se do princípio


que nem sequer é possível o conheci­mento da matéria tribut
real, pois não existem indicadores suficientemente esclareced
para poder fazer-se qualquer presunção. Trata-se então de trib
a empresa pelo lucro que uma empresa com aqu
características teria obtido em condições norm
independentemente de isso se ter verificado ou não:
indicadores escolhidos decorre uma relação vinculada
automática com o encargo fiscal. Se o capital social da emp
for x, o imposto será y: há então uma presunção l
insusceptível de prova em contrário."

No entendimento deste Autor a tributação real, sobretudo p


justiça e eficiência económica, é preferível - representa um sistema mai
permite a personalização do imposto e uma mais correcta distribuição da c

sendo certo que tal forma de tributação tem recebido entre nós uma c
efectiva limitada, desde logo porque pressupõe a existência de um

desenvolvida: um elevado grau de precisão e desenvolvimento d


administrativa, uma estrutura económica com empresas de razoável dimens
de processos de contabilidade normalizados e rigorosos, com sujeitos

racionais e uma economia altamente monetarizada e baseada na troca (cfr. ob

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Também Manuel Pires, "A Constituição de 1976 e a Fiscalida

sobre a Constituição, 2º vol., Lisboa, 1978, pp. 417 e ss., a propósito da me


ponderou o seguinte:

"Sobre a tributação das empresas, adoptou o legisla


constitucional a tributação do rendimento real, emb
cuidadosamente tenha inserto o advérbio 'fundamentalment
não poderia deixar de ser de outro modo. Num país em que ex
um número imenso de empresários que não dispõe
contabilidade ou se dela dispõe ela não oferece as condições
confiança para o apuramento do verdadeiro rendimento,
utópico considerar a tributação sempre segundo o rendime
real. Numa grande parte dos casos, esse apuramento terá de
feito 'à forfait' ou presumidamente, embora tal implique
elemento não homogéneo para efeito do imposto pessoal (so
de rendimentos reais com rendimentos não reais), no caso
empresários individuais ou mesmo de certo tipo de sociedades
relação às quais se possa decidir uma não tributação autóno
(os lucros seriam repartidos finalmente entre os sócios de aco
com determinados critérios)".

Aliás, este Tribunal, apreciando a legitimidade constitucional

artigo 4º, nº 3, do Regulamento do Imposto Complementar de Rendimento


aprovado pela Lei nº 21/78/M, de 9 de Setembro, segundo a qual os cont

tributados com base no lucro presumido, tirou o Acórdão nº 26/92, Diário d


II Série, de 11 de Junho de 1992, não julgando tal norma inconstitucional p
não violar o direito fundamental de "não pagar impostos que não tenham sido

termos da Constituição" de acordo com o nº 3 do artigo 106º.

Poderá assim afirmar-se que da Constituição e nomeadamente


107º, nº 2 - que rege directamente, aliás, para um tipo de imposto que não é o
causa nos presentes autos - não pode retirar-se a conclusão de ser vedada

tributação de rendimentos presumidos, ou a utilização de "presunções" na d


da base tributável.

Cabe porém indagar se o legislador não se encontra constitu


limitado na utilização desta via, sendo-lhe proibida a utilização de presunções

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3 - O dever de os cidadãos pagarem impostos constitui uma obrig


com assento constitucional. Como tal, está sujeito a algumas regras equiva

direitos fundamentais, designadamente os princípios da generalidade e da i


seja, de que devem estar sujeitos ao seu pagamento os cidadãos em geral (a

1), e devem estar sujeitos a ele em idêntica medida, sem qualquer discrimina
(artigo 13º, nº 2), isto constituído o princípio da igualdade tributária. Este
relevante não apenas para o caso da imposição fiscal mas também para

isenções e regalias fiscais, que não podem deixar de o respeitar sob pena
constitucionalmente ilícito (cfr. Gomes Canotilho e Vital Moreira, Con

República Portuguesa Anotada, 3ª ed., Coimbra, 1993, p. 459).

No âmbito dos impostos fiscais que aqui interessa considerar (a

são inteiramente idênticas no plano da extrafiscalidade), a sua repartição


obedecer ao princípio da igualdade tributária, fiscal ou contributiva que se c

generalidade e na uniformidade dos impostos, sendo que, como ensina Teix


(cfr. ob. cit., p. 261), "generalidade quer dizer que todos os cidadãos estão
pagamento de impostos, não havendo entre eles, portanto qualquer distinção

ordem ou de casta, isto é, de índole meramente política; por seu turno, unifor
dizer que a repartição dos impostos pelos cidadãos obedece ao mesmo crit

para todos".

Deste modo, a generalidade do dever de pagar impostos sig

carácter universal (não discriminatório), e a uniformidade (igualdade) sig


repartição dos impostos pelos cidadãos há-de obedecer a um critério idêntic

E tal critério, como acentua José Casalta Nabais, Contratos Fiscais (Reflexõ
sua admissibilidade), Coimbra, 1994, p. 265 e ss., "(...) é o da capacidade
(capacidade económica, capacidade para pagar, etc.), o que significa que os

com a mesma capacidade contributiva devem pagar o mesmo imposto


horizontal) e os contribuintes com diferente capacidade contributiva d

diferentes (qualitativa e/ou quantitativamente) impostos (igualdade vertical)"


que o âmbito subjectivo deste princípio vale tanto para os indivíduos (pes
como para as pessoas colectivas.

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O legislador, na selecção e articulação dos factos tributáveis dev

factos reveladores da capacidade contributiva "definindo como objec


colectável) de cada imposto um determinado pressuposto económic
manifestação dessa capacidade e esteja presente nas diversas hipótese

respectivo imposto".

A tributação conforme com o princípio da capacidade contributiv


existência e a manutenção de uma efectiva conexão entre a prestação tr
pressuposto económico seleccionado para objecto do imposto, exigindo-se, p

mínimo de coerência lógica das diversas hipóteses concretas de imposto pre


com o correspondente objecto do mesmo".

*///*

4 - Revertendo ao caso em apreço, deve recordar-se que a norm


artigo 12º, na redacção dada pelo Decreto-Lei nº 197/82 estabeleceu, sem p
de ilisão, a presunção de vencimento de juros de 15% nos mútuos e nas

créditos efectuados pelas sociedades a favor dos respectivos sócios, admitin


ilisão, nos mútuos e aberturas de créditos dos sócios à sociedade, das

terceiros, ou ocorridos entre pessoas singulares.

Segundo o entendimento de Vítor Faveiro, Noções Fundamenta

Fiscal Português, II vol., Coimbra, 1986, p. 259, "o pressuposto em que se


distorção do espírito do sistema - de que as sociedades não emprestam dinhe

- localiza-se precisamente ao invés da solução que veio a ser tomada: Na ve


interesses das sociedades são interesses dos sócios, natural e frequente é a
empréstimos gratuitos da sociedade aos sócios; o contrário sucede, natur

relações entre as sociedades e terceiros em que a concessão de empr


remunerados se apresenta, obviamente, como operação anómala".

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Mas, independentemente desta consideração e das virtualidade

contêm, o certo é que o estabelecimento pelo legislador fiscal de uma presu


de jure veda por completo aos contribuintes a possibilidade de contraria

presumido, sujeitando-os a uma tributação que pode fundar-se numa matér


fixada à revelia do princípio da igualdade tributária.

Com efeito, o estabelecimento de presunções com o objectiv

certeza e simplicidade às relações fiscais, de permitir uma pronta e regular p


impostos e de evitar a evasão e a fraude fiscal, como adverte Casalta Naba
279) "tem de compatibilizar-se com o princípio em análise, o que pass

ilegitimidade constitucional das presunções absolutas na medida em que


contribuinte de provar a inexistência da capacidade contributiva visada na re

quer pela exigência de idoneidade das presunções relativas para apr


pressuposto económico tido em conta".

O Tribunal Constitucional italiano, como refere aquele autor,

decisões (cfr. as sentenças nºs 103/1967, 109/1967, 167/1976 e 200/1976,


Mita, Fisco e Costituzione), estabeleceu que "as presunções devem a

elementos concretamente positivos que as justifiquem racionalmente e admi

contrário, de modo a que o imposto se ligue a um pressuposto económico ce


e não apenas provável".

E assim sendo, à luz destes princípios há-de concluir-se que


causa, na parte em que não permite a ilisão da presunção de onerosidade

efectuados pelas sociedades a favor dos respectivos sócios, viola o princípio

consagrado no artigo 13º da Constituição.

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III - A decisão

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Nestes termos, decide-se negar provimento ao recurso e confirm

questão de constitucionalidade respeita, o acórdão recorrido.

Lisboa, 29 de Abril de 1997

Antero Alves Monteiro Diniz

Maria da Assunção Esteves

Maria Fernanda Palma


Vítor Nunes de Almeida

Alberto Tavares da Costa

José Manuel Cardoso da Costa

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