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MIGALHAS DE PESO
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05/05/2021 A responsabilidade remanescente do sócio retirante - Migalhas
Portanto, verifica-se da leitura dos referidos dispositivos, bem como do art. 1.052, que a
obrigação inicial dos sócios na Limitada é contribuir com capital próprio para a
realização das respectivas cotas-partes na sociedade, bem como garantir de forma
solidária a integralização das cotas dos demais sócios.
Na análise do art. 1.052 percebe-se que o sócio ali tem, em verdade, duas
ordens de obrigação, quais sejam, (i) a de realizar o valor da respectiva quota e
(ii) a de garantir a integralização das quotas dos demais sócios. Ou seja, o sócio
é responsável pelo pagamento da contribuição que se obrigou a prestar para a
formação do patrimônio da sociedade, retratada em valor pela sua quota de
participação no capital social. No entanto, todos os sócios são garantidores do
ingresso efetivo dos recursos que em conjunto prometeram para atingir o valor
do capital social, em razão do que todos respondem solidariamente pela
integralização desse capital. Se algum deles não pagar sua parte, os outros têm
in solidum a obrigação de honrá-la.
Assim, tendo sido completamente integralizado o capital social por cada um dos sócios
da Limitada, estes não podem mais ser demandados por qualquer outra obrigação,
quer para com a sociedade, quer para com terceiros, visto não ser o sócio responsável
pelas dívidas sociais. Entretanto, essa característica da Limitada vem sendo mitigada
por decisões judiciais que consideram quase irrelevante essa completa separação de
personalidades.
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05/05/2021 A responsabilidade remanescente do sócio retirante - Migalhas
Na mesma linha, deve-se destacar também que, havendo cessão de cotas de Limitada
já existente, o cessionário torna-se solidariamente responsável como cedente pelas
obrigações assumidas por este ou ainda pendentes, dentre as relações internas da
sociedade, nos termos do art. 1.057, parágrafo único, combinado com art. 1.003, todos
do CC de 2002.
Conforme disposto no artigo 1.032 do CC, a retirada, exclusão ou morte do sócio não
exime a si e nem aos seus herdeiros da responsabilidade pelas obrigações sociais
anteriores pelo prazo de 02 (dois) anos após a sua retirada formal da sociedade.
Ainda que as normas em comento visem tutelar o direito de terceiros, não se pode
desconsiderar que no caso concreto deve-se salvaguardar o direito dos sócios
retirantes de não responder eternamente pela pessoa jurídica da qual fez parte,
mormente quando não evidenciada qualquer ingerência sua capaz de causar os
descumprimentos trabalhistas, cíveis e tributários.
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05/05/2021 A responsabilidade remanescente do sócio retirante - Migalhas
Como bem apontado por Modesto Carvalhosa, Rubens Requião, Alfredo de Assis
Gonçalves Neto e Priscila M. P. Corrêa da Fonseca, estando um sócio de Sociedade
Limitada em dia com suas obrigações sociais e não tendo operado ilegalmente seu
administrador; suas obrigações para com a sociedade e terceiros deveria cessar
imediatamente, após o registro de sua desvinculação, quer por retirada, exclusão ou
comunicação de afastamento.
Desta forma, tem-se que, qualquer que seja a forma de desvinculação de um sócio da
Limitada da qual participa - com exceção de seu falecimento - o legislador fixou-lhe o
prazo de dois anos após a formalização de seu desligamento para que continue
respondendo pelos atos da sociedade no período em que compunha o quadro social,
como determinam os seguintes artigos:
Art. 1.085. Ressalvado o disposto no art. 1.030, quando a maioria dos sócios,
representativa de mais da metade do capital social, entender que um ou mais
sócios estão pondo em risco a continuidade da empresa, em virtude de atos de
inegável gravidade, poderá excluí-los da sociedade, mediante alteração do
contrato social, desde que prevista neste a exclusão por justa causa.
Dos referidos dispositivos se extrai que, além do prazo de dois anos de manutenção de
responsabilidade, comum a todas as formas de desvinculação, esse prazo somente
passa a vigorar efetivamente e gerar efeitos dentro e fora da sociedade a partir do
registro ou averbação, nos órgãos de registro estatais, da alteração contratual onde
consta a deliberação de dissolução parcial.
[.]
Este entendimento é de grande importância, pois mesmo que o sócio retirante não
tenha de fato qualquer atuação dentro da empresa, mesmo que por muitos e muitos
anos, o prazo efetivamente só terá início com a respectiva averbação de sua saída,
portanto para evitar ser surpreendido por uma execução judicial ou mesmo participação
em demanda de qualquer natureza, é imprescindível ao sócio retirante formalizar o ato
de saída.
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1 .1 Do direito de retirada
Em se tratando de desvinculação de cotista através da modalidade preconizada no art.
1.029 do CC/02, o marco inicial para a contagem do prazo de dois anos de
corresponsabilização pelas obrigações sociais ocorre de duas maneiras distintas, tendo
o legislador previsto distinção para os casos de retirada de sociedades por prazo
determinado e por prazo indeterminado.
Quando o sócio decide retirar-se de uma sociedade por prazo determinado, deve
necessariamente, antes deste marco, buscar a via judicial para provar a justa causa
impeditiva da manutenção do vínculo societário.
Como solução para esta situação, interessante posicionamento adotado por Alfredo de
Assis Gonçalves Neto:
Essa sentença é de natureza constitutiva e, por tanto, para que seus efeitos se
produzam desde logo, isto é, a partir do exercício do direito, é necessário que o
retirante busque uma antecipação de tutela para se afastar de imediato da
sociedade, atendidos os pressupostos processuais para tanto. A conveniência
desta medida está em que a demora na solução do processo pode alterar
profundamente a situação econômico-financeira da sociedade e, mais que isso,
manter o retirante vinculado ao cumprimento das obrigações sociais, pois
responsável subsidiário ele o é, até dois anos após a averbação da retirada junta
a inscrição da sociedade no registro próprio (CC, art. 1.032).
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05/05/2021 A responsabilidade remanescente do sócio retirante - Migalhas
As obrigações do sócio retirante para com os outros sócios e com a própria sociedade
terminam após transcorrido o prazo de 60 dias, estipulados no caput do art. 1.029 do
CC/02, enquanto somente há completa desvinculação para com terceiros após
devidamente averbado o pedido de retirada e transcorrido o prazo de dois anos
estabelecido no art. 1.032.
Neste sentido:
[.] tornando-se esse direito efetivo, porém, somente após o decurso de 60 dias
da data dessa comunicação.
O Art 10-A da CLT veio para reforçar o entendimento do CC, com o objetivo de limitar a
responsabilidade do sócio retirante por débitos trabalhistas originários no período em
que era sócio, de forma subsidiária, delimitando-se a ações propostas até dois anos
após a averbação da alteração contratual, desde que observada a ordem da execução.
Com isso, resta claro que o sócio retirante poderá responder pelas responsabilidades
trabalhistas da antiga empresa, desde que a ação trabalhista tenha sido proposta
dentro do período de dois anos após a sua saída.
Todavia, se restar provado, por exemplo, que um sócio formalmente deixou a sociedade
mas continua comparecendo na empresa e exercendo seu poder diretivo, ou intervém
nas atividades da empresa através de pessoas a ele ligadas, de modo a aclarar que o
ocorrido foi apenas uma mudança documental, estará configurada a fraude e, com ela,
atraída a responsabilidade solidária em relação aos sócios atuais.
O § único do artigo 1.003 do nosso CC descreve que: Até dois anos depois de averbada
a modificação do contrato, responde o cedente solidariamente com o cessionário,
perante a sociedade e terceiros, pelas obrigações que tinha como sócio.
Temos ainda o art. 1032 do mesmo diploma legal: A retirada, exclusão ou morte do
sócio, não o exime, ou a seus herdeiros, da responsabilidade pelas obrigações sociais
anteriores, até dois anos após averbada a resolução da sociedade.
Os débitos que a sociedade tinha quando o ex-sócio alienou suas quotas sociais
continuam a ser de responsabilidade dele, caso a sociedade e o adquirente não tenham
bens suficientes.
Somente quando o adquirente não tiver mais bens que suporte os valores da ação de
execução ou se esses nunca existiram, é que o alienante/ex-sócio poderá ter seus bens
penhorados e lavados a hasta pública.
Insta destacar que em determinadas situações, tais medidas em face do sócio retirante
serve para coibir fraudes ou quando se está diante da incapacidade econômica do
sucessor.
Conclusão:
Considerando o exposto, concluímos que: 1) Para saber se o ex-sócio responde ou não
por dívida da sociedade após a sua saída, faz-se necessária a análise do caso concreto;
2) Como forma de se prevenir de cobranças de débitos da sociedade, cabe ao ex-sócio
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BRASIL. Código Civil de 2002. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código
Civil. Acesso em: 14 abril.2018.
GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Direito de empresa: comentários aos artigos 966 a
1.195 do Código Civil. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. p. 244.
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ISSN 1983-392X
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