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Direito Empresarial e

Societário
Sociedade em Nome Coletivo
• De acordo com a doutrina empresarial, a sociedade em nome coletivo tem
a sua origem nas sociedades familiares da Idade Média, sendo
considerado o mais antigo tipo societário Medieval.
• A principal característica da sociedade em nome coletivo é o fato de todos
os sócios — que necessariamente deverão ser pessoas físicas —
responderem solidária (entre si) e ilimitadamente pelas obrigações sociais
(art. 1.039 do CC).
• Registro que o Código Civil permite que, entre os sócios, haja limitação de
responsabilidade. Contudo, perante terceiros, a responsabilidade de todos
será sempre ilimitada. Ou seja, a limitação de responsabilidade será
somente interna — com efeito somente entre os sócios.
• Por tal razão, esse tipo está caindo em desuso, uma vez que a sociedade
limitada segrega o risco empresarial de forma muito mais eficiente
• Por se enquadrar na categoria de sociedade de pessoas (caráter
personalíssimo) e a responsabilidade dos sócios ser ilimitada, podemos
extrair as seguintes consequências:
• Administração: competirá exclusivamente aos sócios (art. 1.042, primeira
parte do CC);
• Nome empresarial: sempre adotará a firma social, sendo o seu uso, nos
limites do contrato, privativo dos que tenham os necessários poderes (arts.
1.041 e 1.042, ambos parte final);
• Entrada de novos sócios: dependerá do consentimento dos demais sócios;
• Norma subsidiária: as normas da sociedade simples (art. 1.040).
Sociedade em Comandita Simples
• A sociedade em comandita simples é aquela constituída por sócios que possuem
responsabilidade subsidiária, ilimitada e solidária, e sócios que limitam a sua
responsabilidade à importância com que entram para o capital
• A sociedade em comandita simples caracteriza-se por ter duas categorias de
sócios que formalmente compõem o quadro societário:
• Comanditados: pessoas físicas, responsáveis solidária e ilimitadamente pelas
obrigações sociais, cabendo a eles a gestão da sociedade (art. 1.045 do CC);
• Comanditários (para lembrar: são somente destinatários dos lucros, não
participam da gestão): podem ser pessoas físicas ou jurídicas e se obrigarão
somente pelo valor de sua quota (art. 1.045 do CC). Além disso, podem participar
das deliberações da sociedade e de lhe fiscalizar as operações, mas não poderão
nem participar da gestão nem ter o seu nome na firma, sob pena de ficarem
sujeitos às responsabilidades de sócio comanditado. (art. 1.047 do CC). Não serão
obrigados à reposição de lucros recebidos de boa-fé e de acordo com o balanço
(art. 1.049).
• De forma expressa, o contrato social deve discriminar os comanditados e os
comanditários (art. 1.045, parágrafo único).
• Essas são as principais características da sociedade em comandita simples:
• Administração: competirá exclusivamente aos sócios comanditados (art. 1.045 do CC);
• Nome empresarial: sempre adotará a firma social, sendo o seu uso, privativo dos sócios
comanditados, a quem cabem a administração (arts. 1.041 e 1.042, ambos parte final);
• Entrada de novos sócios: dependerá do consentimento dos demais sócios, por se tratar
• de uma sociedade de pessoas;
• Norma subsidiária: aplicam-se à sociedade em comandita simples as normas da
sociedade em nome coletivo, no que forem compatíveis, sendo que aos sócios
comanditados cabem os mesmos direitos e obrigações dos sócios da sociedade em nome
coletivo (art. 1.046).
Sociedade em Comandita por Ações
• A sociedade em comandita por ações, espécie do gênero “sociedade por ações” (a outra espécie
é a sociedade anônima), também será regida pela LSA, sem prejuízo das modificações constantes
no Capítulo VI (Da Sociedade em Comandita por Ações) do Código Civil.
• Devemos verificar que tal tipo societário é híbrido, apresentando características da sociedade
anônima e da sociedade em comandita simples.
• Assim, embora seu capital social seja dividido em ações, haverá também duas categorias de
acionistas:
• • Diretor(es): necessariamente será(ão) acionista(s), cabendo a ele(s) a gestão da sociedade,
hipótese em que responderá(ão) subsidiária e ilimitadamente pelas obrigações da sociedade. É
(são) nomeado(s) no ato constitutivo da sociedade e somente podem ser substituídos por
deliberações de acionistas que detenham no mínimo 2/3 do capital social (art. 1.091 do CC).
Deve(m) anuir para alterações importantes do estatuto social, a saber, mudança do objeto social,
prorrogação do prazo de duração, aumento ou diminuição do capital social e criação de
debêntures e partes beneficiárias (art. 1.092);
• • Acionistas: respondem somente pelo preço de emissão das ações que subscrever.
Sociedade Cooperativa
• A sociedade cooperativa é disciplinada não só no Capítulo VII (Da
Sociedade Cooperativa) do Código Civil, mas também por lei especial, a
saber, a Lei 5.764, de 1971 (que define a Política Nacional de
Cooperativismo e institui o regime jurídico das sociedades cooperativas,
entre outras providências).
• Assim, consoante dispõe o art. 1.093 do CC, aplica-se o disposto no
Capítulo VII em relação à sociedade cooperativa, ressalvada a lei especial.
• Conforme já destacamos em outras oportunidades a sociedade cooperativa
— independentemente do objeto — será sempre sociedade simples (ou
seja, não empresária), nos termos do art. 982, parágrafo único. Nesse
sentido, a sociedade cooperativa não pode se submeter à recuperação
judicial ou extrajudicial, bem como à falência por serem institutos
reservados ao empresário (em sentido amplo), consoante dispõe o art. 1º
da Lei 11.101, de 2005.
• Muito cuidado, apesar de as sociedades cooperativas
necessariamente serem sociedades simples, o seu registro será feito
na Junta Comercial, após serem constituídas por assembleia geral ou
instrumento público (art. 14), consoante disciplina o art. 18, § 6º da
Lei 5.764, de 1971:
• Art. 18. (...)
• § 6º Arquivados os documentos na Junta Comercial e feita a
respectiva publicação, a cooperativa adquire personalidade jurídica,
tornando-se apta a funcionar.
• As principais características da sociedade cooperativa encontram-se
elencadas no art. 1.094 do CC.
• Entre essas características, destacamos alguns pontos bem peculiares em relação aos
demais tipos societários, como a variabilidade do capital social (inclusive pode até não
ter) e direito a somente um voto por sócio, independentemente da sua participação no
capital social.
• Outro ponto importante diz respeito à responsabilidade do sócio: poderá ser limitada ou
ilimitada, a depender da previsão constante em seu estatuto, nos termos do art. 1.095
do CC.
• Da mesma forma, a contribuição do sócio pode ser exclusivamente em prestação de
serviços, não havendo óbice nesse sentido. Confira a respeito o Enunciado 206 da III
Jornada de Direito Civil do CJF:
• JURISPRUDÊNCIA
• Enunciado 206: A contribuição do sócio exclusivamente em prestação de serviços é permitida nas
sociedades cooperativas (art. 1.094, I) e nas sociedades simples propriamente ditas (art. 983, 2ª
parte).
• Por fim, “no que a lei for omissa, aplicam-se as disposições referentes à sociedade
simples, resguardadas as características estabelecidas no art. 1.094” (art. 1.096 do CC).
• O que significa, a aplicação do princípio da porta-aberta às sociedades
cooperativas?
• De acordo com o STJ, o princípio da porta-aberta é consectário do
princípio da livre adesão voluntária (art. 4º, I da Lei 5.764, de 1971:
“adesão voluntária, com número ilimitado de associados, salvo
impossibilidade técnica de prestação de serviços”), significando que
não pode haver o estabelecimento de restrições arbitrárias e
discriminatórias à livre entrada de novo membro na sociedade
cooperativa.
Dissolução, Liquidação e Extinção das
Sociedades
• Antes de mais nada, devemos entender que a palavra ‘dissolução’ tem duplo
significado, a saber:
• Dissolução em sentido amplo: estaremos nos referindo ao processo de
dissolução, que pode ser judicial ou extrajudicial, comportando as seguintes
etapas: dissolução em sentido estrito (ato que dá início a tal processo), liquidação
(realização do ativo e solução do passivo, com a partilha do valor remanescente
entre os sócios) e extinção da sociedade (encerramento da existência da
sociedade, com o fim da personalidade jurídica e sua extinção).
• Dissolução em sentido estrito (também chamada de ‘dissolução ato’): ato que dá
início ao processo de dissolução (dissolução em sentido estrito) com a
configuração de uma das causas previstas em lei ou no contrato social.
• Registro que, no que diz respeito à dissolução das sociedades contratuais, serão
aplicadas em geral as normas da sociedade simples. No que diz respeito às
sociedades institucionais, a LSA estabelece procedimentos próprios, que serão
estudados em aula específica.
1ª Etapa: Ato de Dissolução (Dissolução Estrito Senso ou
“Dissolução Ato”)
• Conforme já dissemos, o ato de dissolução dará início ao processo que tem
por objetivo final o encerramento das atividades e extinção da sociedade.
• Embora haja classificações diferentes na doutrina, de forma geral podemos
vislumbrar três categorias de “dissolução ato”:
• Dissolução de pleno direito: para esse ato não há necessidade de
intervenção judicial para operar os seus efeitos;
• Dissolução judicial: o Poder Judiciário que irá decretar a dissolução em
processo judicial próprio, que seguirá o rito comum;
• Dissolução consensual (dissolução amigável): irá decorrer do acordo de
todos os sócios, com o distrato do contrato de sociedade.
• Os arts. 1.033 a 1.035 e o art. 1.044 do Código Civil estabelecem as
principais hipóteses de dissolução:
2ª Etapa: Liquidação
• Após o ato de dissolução, será dado início à liquidação, com a nomeação de
liquidante, que poderá ser tanto pessoa natural, quanto pessoa jurídica (neste
caso deverá ser indicado o nome do profissional responsável pela condução dos
trabalhos).
• Confira a respeito o Enunciado 87 da III Jornada de Direito Comercial:
• Enunciado 87. O cargo de liquidante pode ser ocupado tanto por pessoa natural, quanto por
pessoa jurídica, sendo obrigatória, neste último caso, a indicação do nome do profissional
responsável pela condução dos trabalhos, que deverá atender aos requisitos e impedimentos
previstos em lei, e sobre o qual recairão os deveres e as responsabilidades legais.
• Independentemente da modalidade do ato de dissolução (de pleno direito,
judicial ou consensual), a liquidação poderá ser judicial (arts. 1.111 e 1.112) ou
extrajudicial (consensual – arts. 1.102 a 1.110 do CC). Em tal etapa será realizado
o ativo, pago o passivo e eventual saldo remanescente será partilhado entre os
sócios
3ª Etapa: Extinção
• Nos termos do art. 1.108, “pago o passivo e partilhado o remanescente,
convocará o liquidante assembleia dos sócios para a prestação final de contas.”
• Caso sejam aprovadas as contas, “encerra-se a liquidação, e a sociedade se
extingue, ao ser averbada no registro próprio a ata da assembleia.” (art. 1.109).
Tal averbação será feita no Registro Público de Pessoas Jurídicas, se sociedade
simples, ou na Junta Comercial, caso se trate de sociedade empresária.
• Quanto aos credores que não tenham os seus créditos satisfeitos após a
liquidação, só terão “direito a exigir dos sócios, individualmente, o pagamento do
seu crédito, até o limite da soma por eles recebida em partilha, e a propor contra
o liquidante ação de perdas e danos.”
• Ou seja, se havia crédito legítimo ainda não satisfeito e, portanto, foi
indevidamente partilhado com os sócios saldo remanescente, poderá o credor
exigir individualmente dos sócios (no limite do que foi recebido indevidamente) e
propor ação de perdas e danos contra o liquidante.
Sociedades Coligadas
• O Código Civil dedica capítulo específico (Capítulo VIII: Das
Sociedades Coligadas) às denominadas sociedades coligadas (em
sentido amplo), que se configuram nas hipóteses de sociedades que,
em suas relações de capital, são controladas, filiadas (ou coligadas —
em sentido estrito), ou de simples participação (art. 1.097 do CC).
• Registro, por oportuno, que a LSA também disciplina a matéria no
Capítulo XX (Sociedades Coligadas, Controladoras e Controladas).
Assim, caso haja a participação de alguma sociedade anônima na
coligação, deverá ser aplicada a LSA, por serem mais específicas. Caso
não tenha, aplicam-se as regras gerais do Código Civil.
Sociedade Dependente de Autorização
• Em que pese os princípios constitucionais da livre iniciativa e da livre concorrência, a própria
Constituição da República de 1988, no parágrafo único do art. 170, permite que a lei condicione o
exercício de determinadas atividades à prévia autorização de órgãos públicos:
• Art. 170. (...)
• Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente
de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei.
• Muito importante: o Código Civil estabelece que “a competência para a autorização será sempre
do Poder Executivo federal” (parágrafo único do art. 1.123 do CC).
• Atendidos os requisitos previstos na legislação e uma vez obtida a autorização, se a sociedade não
entrar em funcionamento nos doze meses seguintes à respectiva publicação (a lei ou ato do
poder público poderá estabelecer outro prazo), a autorização caducará (art. 1.124 do CC), ou seja,
ficará sem efeito.
• De qualquer forma, é faculdade do Poder Público cassar, a qualquer tempo, “a autorização
concedida à sociedade nacional ou estrangeira que infringir disposição de ordem pública ou
praticar atos contrários aos fins declarados no seu estatuto.” (art. 1.125 do CC).
Sociedade Nacional e Estrangeira
• Nos termos do art. 1.126 do CC, será nacional “a sociedade
organizada de conformidade com a lei brasileira e que tenha no País a
sede de sua administração.”
• Nesse sentido, pouco importa para tal caracterização a nacionalidade
dos sócios, o local de residência deles e a origem do capital social,
uma vez que o critério definidor é a sede da sociedade ser no Brasil,
bem como o fato de a sociedade ter sido organizada consoante a lei
brasileira.
• A contrário senso, será estrangeira a sociedade que não tenha sede
no Brasil e tenha sido organizada em conformidade com as leis de
outro país, não alterando tal natureza o fato de ter sócio brasileiro.
• No que diz respeito à sociedade estrangeira, alguns pontos importantes
devem ser destacados:
• independentemente do objeto, necessariamente a sociedade estrangeira
necessita de autorização do Poder Executivo federal para funcionar no país,
“ainda que por estabelecimentos subordinados, podendo, todavia,
ressalvados os casos expressos em lei, ser acionista de sociedade anônima
brasileira” (art. 1.134);
• é facultado ao Poder Executivo, para conceder a autorização, estabelecer
condições convenientes à defesa dos interesses nacionais (art. 1.135);
• uma vez autorizada a funcionar no Brasil, a sociedade estrangeira ficará
sujeita às leis e aos tribunais brasileiros, quanto aos atos ou operações
praticados no Brasil (art. 1.137);
• a sociedade estrangeira funcionará no território nacional com o nome que tiver
em seu país de origem, podendo acrescentar as palavras “do Brasil” ou “para o
Brasil” (art. 1.137, parágrafo único);
• a sociedade estrangeira é obrigada a ter, permanentemente, representante no
Brasil, com poderes para resolver quaisquer questões e receber citação judicial
pela sociedade (art. 1.138);
• qualquer modificação no contrato ou no estatuto dependerá da aprovação do
Poder Executivo, para produzir efeitos no território nacional (art. 1.139);
• Mediante autorização do Poder Executivo, a sociedade estrangeira admitida a
funcionar no País pode nacionalizar-se, transferindo sua sede para o Brasil (art.
1.141).
• Registro que a mudança de nacionalidade de sociedade brasileira somente se
efetivará se houver decisão unânime dos sócios ou acionistas (art. 1.127).

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