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I - INTRODUÇÃO
Outrossim, conforme reza o art. 1.158 do CC, a sociedade limitada poderá adotar
firma ou denominação social, integradas pela palavra final “limitada” ou sua abreviatura,
sendo que a omissão de tal palavra determina a responsabilidade ilimitada dos
administradores que assim empregarem o nome empresarial. Com efeito, transcreve-se a
redação do referido dispositivo:
“Art. 1.053. A sociedade limitada rege-se, nas omissões deste Capítulo, pelas
normas da sociedade simples.
Não obstante, saliente-se que, mesmo quando o contrato social adotar a regência
supletiva das normas da sociedade anônima, a doutrina entende que nem toda matéria
poderá ser disciplinada pela LSA, em razão de ser distinta a natureza do ato constitutivo de
tais modelos societários - enquanto a sociedade limitada é contratual, a sociedade anônima
é institucional.
“Destaco, nesse contexto, dois temas em que a limitada não se regula pela
Lei das Sociedades Anônimas: a constituição e a dissolução total. Cabe
relembrar que a classificação das sociedades por ações no tocante a esse
tema é diversa da das limitadas: institucionais aquelas, contratuais estas.
Desse modo, são antagônicas as regras sobre constituição previstas na
lei do anonimato e a classificação das limitadas. O segundo aspecto a
considerar diz respeito ao regime dissolutório, que deve ser o
correspondente ao da constituição. Se são contratuais os vínculos
constituintes da sociedade, o seu desfazimento por completo pode
guiar-se por normas e princípios inspirados no direito contratual; se
institucionais, não. Em suma, quando se trata de discutir a constituição da
sociedade limitada ou a sua extinção, não se justifica invocar a Lei das
Sociedades Anônimas, em nenhuma hipótese (nem mesmo se prevista no
contrato social como supletiva do capítulo do Código Civil referente às
limitadas). Contratual, a limitada obedece, nesses temas, unicamente ao
disposto nos arts. 1.033, 1.044 e 1.087 do CC.” (grifei).
Nessa toada, verifica-se que pelo fato de não contrariar a sua natureza contratual,
há institutos das sociedades anônimas que poderiam ser adotados, como exemplo, o
acordo de cotistas (com inspiração no acordo de acionistas), em que os sócios da
sociedade limitada podem ajustar a compra e venda de suas quotas ou mesmo o exercício
do direito de voto nas deliberações sociais.
Lado outro, não seria possível a emissão de debêntures (valor mobiliário que
permite a captação de recursos com o público externo) ou abertura de capital (venda de
ação no mercado para o público em geral), uma vez que tais instrumentos não são
compatíveis com a natureza contratual da sociedade limitada, que não é vocacionada para
se autofinanciar externamente.
O sócio que não integralizar as suas quotas nos termos pactuados no contrato social
é chamado de sócio remisso, podendo ser executado pelo valor faltante (art. 1.004 do CC)
ou retirado da sociedade (art. 1.058 do CC).
Nesse último caso, optando-se pela exclusão do sócio remisso, essa se operará de
pleno direito (ou seja, não há necessidade de previsão no contrato social ou ação judicial),
sendo que os demais sócios terão três alternativas (art. 1.058 do CC):
“Art. 1.029. Além dos casos previstos na lei ou no contrato, qualquer sócio
pode retirar-se da sociedade; se de prazo indeterminado, mediante
notificação aos demais sócios, com antecedência mínima de sessenta dias;
se de prazo determinado, provando judicialmente justa causa.
V - DO CONTRATO SOCIAL
Assim, não fará sentido constar no contrato social da sociedade limitada o disposto
no art. 997, V, do CC - “as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em
serviços” -, pelo simples fato de tal modalidade de contribuição ser vedada, mesmo em
relação à sociedade limitada em que sejam aplicadas subsidiariamente as regras da
sociedade simples.
“Enunciado 222. Art. 1.053: Não se aplica o art. 997, V, à sociedade limitada
na hipótese de regência supletiva pelas regras das sociedades simples.”
Saliente-se que o contrato social deverá ser escrito, uma vez que necessariamente
deve ser levado a registro (na Junta Comercial, caso sociedade empresária; ou no Registro
Civil das Pessoas Jurídicas, caso sociedade simples) para que a sociedade adquira
personalidade jurídica própria e consequentemente seus sócios tenham a responsabilidade
limitada ao valor das suas quotas.
Obviamente, não estará escrito expressamente no contrato social que ela é “de
pessoas” ou “de capitais”, mas iremos depreender tal natureza com base nas cláusulas
contratuais que evidenciam maior (ou menor) importância da pessoa do sócio para a
constituição e desenvolvimento das atividades sociais.
Como exemplo, podemos citar que cláusulas conferindo maior liberdade para os
sócios cederem as suas quotas; possibilitando a administração da sociedade limitada por
terceiro (não sócio); e restringindo a possibilidade de dissolução da sociedade no caso de
falecimento de um dos sócios indicarão que a sociedade é “de capitais”.
Assim, tal natureza deverá ser verificada por meio da análise da sociedade em
concreto.
Tal regra se aplica não somente quando ocorre a constituição da sociedade, mas
também em eventual aumento do capital social, consoante interpretação materializada no
Enunciado 224 da III Jornada de Direito Civil do CJF:
Entre tais bens, registro que o capital social poderá ser integralizado com quotas ou
ações de outras sociedades, por terem essas valor econômico. Nesse sentido, transcrevo o
Enunciado 18 da I Jornada de Direito Civil do CJF:
• cessão para terceiro (não sócio): poderá ceder se não houver a oposição de
titulares de mais de 1/4 do capital social.
Saliente-se que o Código Civil confere uma proteção especial ao sócio minoritário.
Isso porque é assegurado aos sócios que representarem pelo menos um quinto do capital
social o direito de eleger, separadamente, um dos membros do conselho fiscal e o
respectivo suplente (art. 1.066, § 2º, do CC).
No entanto, são impedidos de exercer a função de conselheiros (art. 1.066, § 1º, do
CC):
• pessoas condenadas por crimes que as tornem inidôneas para fiscalizar, cujo rol se
encontra no §1º do art. 1.011;
De forma exemplificativa, tendo em vista que outras matérias podem ser indicadas
no contrato social ou na lei, o art. 1.071 do CC estabelece que as seguintes deliberações
devem ser submetidas aos sócios:
• pelo conselho fiscal: se a diretoria retardar por mais de trinta dias a sua
convocação anual, ou sempre que ocorram motivos graves e urgentes.
Pelo menos uma vez por ano, nos quatro meses seguintes ao término do exercício
social, deverá ser realizada assembleia de sócios (sendo obrigatório somente em
sociedades com mais de 10 sócios), com o objetivo de (art. 1.078 do CC):
• Extingue-se em dois anos o direito de anular a referida aprovação (art. 1.078, § 3º,
do CC).