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UNIVERSIDADE DO MINDELO.
Por fonte de direito entende-se as “causas de ordem social determinantes da
necessidade da norma (fontes materiais, fontes criadoras, fontes reais ou
profundas), ou de modos de processos de formulação, exteriorização ou
afirmação das normas na vida social (fontes formais).
Membros admitidos: são membros admitidos todos aqueles que entrem na b) Decisões, são actos que impõem obrigatoriamente um comportamento
organização através de um processo de admissão estabelecido no próprio aos membros da organização internacional. Com excepção da união
acto constitutivo. Normalmente, os candidatos têm de preencher todos os europeia, onde a decisão assume um carácter individual, é obrigatória
requisitos de admissão exigidos pelo acto constitutivo da organização. para o seu destinatário, que tanto pode ser um estado membro, como
Assim por exemplo: Na ONU os requisitos e o processo de admissão vêm uma pessoa singular ou colectiva.
regulados no artigo 4º, e é efectuado por decisão da Assembleia Geral
mediante recomendação do conselho de segurança; Na EU a admissão é c) Recomendações, são actos através dos quais a organização internacional
também precedida de um pedido formulado pelo Estado que pretende nela formula, solenemente, aos seus membros, a terceiros Estados ou outras
participar – um acto unilateral – cabendo ao Conselho pronunciar-se por organizações, ou um órgão seu, um convite para adoptar certo
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comportamento. As recomendações não são obrigatórias, podendo ou 1. Geral – quando tem por objecto a solução pacífica de todos os conflitos
não ser adoptadas pelos Estados ou Organizações a que se destinam. internacionais, isto é, quando se ocupam de todas as questões vitais para
Apesar de a recomendação não ter, regra geral, força vinculativa, em a sociedade internacional;
certas circunstâncias ela não deixa de ser obrigatória. 2. Especiais – são aqueles que têm uma actividade especializada, isto é, a
cooperação em assuntos especiais. Estas organizações internacionais
Saída voluntária de membros de uma organização internacional - O podem ser de natureza económica, social e humanitária, técnica,
abandono voluntário de uma organização internacional por qualquer dos científica e cultural, e por fim militar.
seus membros é um acto unilateral praticado voluntariamente pelo
Quanto à estrutura jurídica:
membro que, por qualquer razão válida, entende deixar de participar na
organização internacional. Contudo, para se saber se é ou não legítimo a 1. Inter-governamental;
qualquer membro de uma organização internacional sair desta, importa em 2. Não governamental;
primeira linha ver se o tratado constitutivo admite ou não tal prática: 3. Supra-nacional – ex: União Europeia;
Saída prevista e admitida no Tratado: se a saída voluntária for admitida no Quanto ao âmbito territorial de acção:
tratado Constitutivo, então basta respeitar as condições nele estabelecida 1. Organizações de vocação universal, quando estão abertas a todos os
para que um membro possa, sem quaisquer problemas, deixar a organização Estados. Caso da ONU;
internacional. 2. Organizações regionais, quando só são admitidos no seu seio sujeitos
ligados por laços de natureza geográfica, religiosa, ideológica, política…
Saída não prevista no tratado: o problema mais delicado surge quando o
tratado nada diz sobre a saída dos membros. Deve-se, em primeiro lugar, Competências das organizações internacionais –
analisar o pacto constitutivo para se ver se implicitamente as partes Conceito de competência - é o complexo de poderes funcionais conferidos
admitem ou não como legitima o abandono voluntário por um membro da por lei aos órgãos de uma pessoa colectiva com vista ao exercício das
organização internacional. Nada resultando daqueles trabalhos, dever-se-á atribuições desta.
recorrer às regras gerais do direito dos Tratados, consagrada nos artigos 54º
e 56º da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados de 1969. 1. Competência exclusiva estes poderes podem ser atribuídos a um só
órgão e, neste caso, só ele os pode exercer.
2. Competência conjunta- estes poderes podem ser atribuídos a dois ou
mais órgãos conjuntamente
Classificação das Organizações Internacionais A teoria da competência implícita: Se o princípio da especialidade tem
Quanto ao objecto ou finalidade: como resultado prático a limitação das competências das organizações
internacionais, o que implica uma interpretação restritiva das normas
relativas à competência, a doutrina da competência implícita tem como
efeito o alargamento das competências e uma interpretação extensiva
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daquelas normas. Esta doutrina da competência implícita foi definida pelo As competências das organizações internacionais são limitadas. Estes
TIJ no caso “Reparação de prejuízos sofridos ao serviço das nações unidas”. limites decorrem não só do princípio da especialidade, como ainda, do
domínio reservado dos Estados. O domínio reservado dos Estados, a
Teoria das competências das organizações internacionais : organização internacional está proibida de intervir em questões em que a
O princípio da especialidade – nas organizações internacionais as competência dos Estados não esteja abrangida pelo direito internacional.
competências são definidas pelo Tratado Constitutivo, que atribui a cada um Conteúdo das competências:
dos órgãos um conjunto, mais ou menos amplos, de poderes funcionais para
prosseguirem as atribuições da organização internacional. Tais competências a) Competências normativas, com base nas quais as organizações
têm na sua base o princípio da especialidade, segundo o qual os poderes internacionais produzem normas, querem internas, quer externas.
atribuídos aos órgãos apenas podem ser exercidos para a prossecução das I. Internamente, esta função normativa visa, essencialmente, a
atribuições da organização internacional, precisamente porque tais poderes produção de normas internas de carácter gerais ou individuais
só se justificam pelos objectivos que a organização internacional tem de necessárias ao funcionamento da própria organização internacional.
prosseguir. Significa tudo isto que a competência de cada organização II. Externamente, as organizações internacionais produzem normas de
carácter convencional, celebrando tratados com outras
internacional é limitada necessariamente pelos fins para que foi criada e que
organizações ou com Estados terceiros.
só devem ser reconhecidas à organização internacional as competências
indispensáveis e necessárias ao exercício das suas funções. b) Competência operacional, - traduz-se nos poderes conferidos à
organização internacional para a prática directa e imediata de operações
O carácter funcional das competências das organizações internacionais –
materiais necessárias à execução das normas ou decisões por ela
as organizações internacionais são sujeitos derivados do direito internacional produzidas. Como por exemplos: a criação de missões técnicas, o envio
cuja criação tem como objectivo a realização de certos e determinados de legações diplomáticas, etc.
interesses ou fins, pelo que não dispõe de poderes soberanos e ilimitados.
Por essa razão, os seus órgãos só dispõem dos poderes indispensáveis à c) Competências de controlo, as organizações internacionais - têm
prossecução das atribuições da organização internacional. Pode, portanto, poderes para controlar os actos praticados pelos seus órgãos ou agentes.
dizer-se que é a partir dos fins para que foi criada a organização Assim sendo, normalmente esta competência é atribuída aos :
internacional que se determina as funções de cada um e do conjunto dos
seus órgãos e, em conformidade com estas, os poderes necessários que I. órgão supremo das organizações internacionais, como acontece na
devem ser atribuídos a cada órgão para a realização das suas funções e, UA com a conferência dos chefes de estado (artigo 9º da carta).
consequentemente, para a prossecução dos fins da organização internacional.
II. órgãos intergovernamentais -naquelas organizações internacionais em
que não existe um órgão supremo, o controlo tanto pode ser feito através
de– caso FMI.
Limites da competência das organizações internacionais
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III. órgãos jurisdicionais, aos quais poderão recorrer em caso de soberana ordem pode manter relações diplomáticas com os estados,
interpretação divergente das normas de competência. enviando e reconhecendo embaixadores, bem como celebrar tratados que lhe
permitem desenvolver a sua actividade assistencial e religiosa no território
d) Competência para a composição de litígios – com base na qual todas dos estados. A Itália reconhece o Grão-mestre como um chefe de estado e
as organizações internacionais têm poderes para solucionar os litígios concede imunidade diplomática à sede da ordem. São estas prerrogativas que
entre os estados membros ou entre estes e a organização internacional. levam certos autores a atribuir à ordem a qualidade de sujeito do direito
Internacional, enquanto outros não lhe reconhecem a subjectividade jurídica,
Esta competência tanto pode ser exercida pela:
por considerarem que as mencionadas prerrogativas não derivam do direito
1. Via jurisdicional – caso TIJ, TJCE – quer pela internacional, mas sim da comitas gentiun.
2. Via política, como acontece na UA e na OEA.
2) O binómio santa sé / cidade do Vaticano
Outros sujeitos especiais do direito internacional
Em torno da Santa sé e da Cidade de Vaticano surgiu aquela que é,
1) A soberana ordem de malta certamente, uma das maiores e mais bem sucedidas ficções do direito
A subjectividade jurídica da Soberana ordem de Malta é bastante discutida internacional contemporâneo. O problema prende-se com a resposta que
na doutrina. Na verdade, a ordem era originariamente uma organização de tem sido dada à natureza jurídica desse tão controvertido binómio. O
problema tem um relevo especial a propósito da celebração de concordatas
carácter religioso e militar conhecida por Ordem de São João de Jerusalém,
entre os estados e a santa sé, especialmente quando as mesmas pretendem
que foi criada inicialmente, no século XI, em Jerusalém, para fins assegurar um estatuto jurídico internacional privilegiado para a igreja
hospitalares, assumindo mais tarde funções militares. Posteriormente, em católica no seio desses estados, violando princípios constitucionais e
1310, a Ordem ocupa a ilha de Rodes onde instala a sua sede, até 1529, jurídico-internacionais de garantias de uma igual liberdade religiosa a todos
tendo o Papa Nicolau V, por bula de 1446, reconhecido o seu Grão-mestre os cidadãos e confissões religiosas. Essas passam pela afirmação da
como príncipe soberano dessa Ilha. A partir de 1530 a Ordem passa a ter a natureza estadual da cidade de Vaticano, concebendo a santa sé como
entidade soberana sobre a cidade de Vaticano. Com base nos argumentos do
sua sede na Ilha de Malta, onde fica até 1798, ano em que essa ilha foi
reconhecimento de outros estados, de estabelecimento de relações
ocupada por Napoleão, tendo a Ordem dela sido expulsa. Perdeu assim a diplomáticas com outros estados, da pertença a organizações internacionais
ordem o “seu território”. Hoje a ordem tem a sua sede em Roma e dedica-se do reconhecimento como estado não membro observador permanente da
a actividades religiosa de beneficência. A soberana ordem de malta não tem, ONU e do exercício de prerrogativas de soberania interna e externa
portanto, território. Contudo, ela tem um ordenamento jurídico próprio, (emissão de moeda e de passaportes). Diferentemente, e esta é a posição
constituído por uma carta Constitucional e um código, para além das leis que prevalece na maioria dos manuais do direito internacional, as teses não
editadas pelo sumo pontífice, e um governo próprio dirigido pelo Grão- Estadualistas sublinham que se está perante uma entidade sui generis, ou,
materialmente, perante uma organização. Isto, porque não se verifica a
mestre, que é assistido por um conselho soberano. Se é certo que a Soberana
presença dos elementos clássicos de um estado. Não existe um povo ou uma
Ordem, enquanto ordem religiosa, depende da santa sé e encontra-se nacionalidade Vaticana, verificando-se que a cidadania Vaticano tem um
submetida às leis canónicas, não é menos certo que a igreja lhe reconhece carácter funcional e temporário. Ora, não existe estado sem povo, devendo
certas prerrogativas próprias dos sujeitos do direito internacional. Assim, a entender-se que se trata aqui de um elemento essencial constitutivo. Alem
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disso, o território do Vaticano, é territorialmente insignificante profissionais, técnico, cientifico, académico, desportivo, etc. Assim sucede,
apresentando-se encravado na cidade de Roma, sendo maioritariamente nomeadamente, com a Internacional Air Transportation Association
constituído por jardins e pavimento. As teses dominantes neste domínio (IATA), que tem carácter Professional, ou com as organizações desportivas,
inclinam-se para a natureza meramente declarativa (ou não constitutiva) do
devendo destacar-se o Comité Olímpico internacional, a FIFA, UEFA, a
reconhecimento, sendo que, para alguns, não se satisfazem no Vaticano,
além do mais, as modernas exigências de reconhecimento, no tocante à FIA, a FOCA, etc. Embora com contornos ainda não totalmente definidos.
democracia e ao respeito pelos direitos fundamentais. As teses não Esse seu relevo tem sido reconhecido pelas mais altas instâncias
Estadualistas assinalam a dependência relativamente ao estado italiano para internacionais, incluindo o CS da ONU.
a prestação dos serviços mais básicos (água, electricidade, gás, telefone).
Mas, mais importante que tudo, é a natureza especificamente religiosa da b) Capacidade jurídica internacional das organizações não governamentais
missão essencial da santa sé, sem a qual ela perde a sua razão de ser. A – o estatuto jurídico internacional das organizações não governamentais
santa sé existe unicamente para promover uma confissão e uma doutrina
afirma-se pela sua actividade na organização de conferências internacionais,
religiosa e não os interesses dos cidadãos do Vaticano. Ela actua como uma
confissão religiosa e não como um estado. na sua essência, a santa sé é uma pela promoção de iniciativas normativas de alcance geral, através da
entidade religiosa ao serviço de uma missão religiosa, sem a qual ela deixa apresentação de propostas de convenção e da participação na sua
de ter sentido útil. negociação. A sua influência nos procedimentos normativos internacionais
efectiva-se também pela sua integração nas delegações governamentais a
conferências internacionais, bem como através da sua acreditação. Deste
Organizações Não Governamentais
modo, alguma doutrina chama a atenção para o facto de que o papel das
a) Caracterização, escopo e natureza jurídica – apesar de terem a sua origem organizações não governamentais deve ser considerado quando se trata de
de direito interno, elas caracterizam-se pelo alcance internacional da sua indagar da existência e do conteúdo do direito consuetudinário
actividade e pela ausência de escopo lucrativo. Essas características surgem internacional.
dotadas de um estatuto internacional parcial, que pode passar, entre outras
coisas, pela obtenção da qualidade de observador numa organização c) Tipos de organizações não governamentais
internacional pelo exercício de direitos de participação e de poderes a) Cruz vermelha – a cruz vermelha internacional é fruto das iniciativas laicas
normativos internacionalmente reconhecidos. A expressão organização de prestação de serviços de natureza assistencial, que começam a surgir a
surge associada a organizações de natureza confessional, humanitária, partir do século XIX, momento em que tais actividades deixam de ter uma
sindical, que se destacam pelo seu activismo em favor dos direitos natureza exclusiva religiosa. Inicialmente, a socorrer os feridos de guerra e,
humanos, dos direitos de mulheres e crianças, de trabalhadores e posteriormente, a diversas outras tarefas, a maioria das quais relacionadas
consumidores, da paz, do desarmamento, do desenvolvimento económico e com a protecção e o auxilio a vitimas da guerra. Tinha uma estrutura
social sustentado, da protecção do ambiente, etc. Nestes domínios elas constituída por sociedades nacionais e por um comité internacional. Têm
constituem importantes instrumentos de participação organizada dos também o seu estatuto próprio, que estão subordinados ao estatuto da cruz
indivíduos no debate e resolução dos problemas internacionais. No entanto, vermelha internacional. No que se refere à personalidade jurídica da cruz
as mesmas podem desenvolver actividades importantes nos domínios vermelha, a questão é debatida pela doutrina. De facto, enquanto certos
autores, tendo em conta que a cruz vermelha pode participar – e tem
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participado – em tratados internacionais, através do seu comité, autoridades estabelecidas que, na verdade, não se pode dizer que estas
reconhecem-lhe personalidade jurídica internacional, considerando-o, mantêm a legitimidade da representação do estado, pois é esta legitimidade
portanto, um sujeito do direito internacional. Na verdade, a cruz vermelha que os rebeldes põem em causa com a insurreição, pelo que o governo deixa
de representar toda a nação. De qualquer forma o prolongamento da
mantém relações com os estados e as organizações internacionais, que lhes
insurreição e a sua transformação numa situação de beligerância acaba
solicitem diversos serviços de natureza internacional e, para o efeito, com sempre por levar os terceiros estados a terem de adoptar uma posição face
ela celebram convenções, o que por si só pode não ser suficiente para lhe às partes em conflito. Ora, havendo reconhecimento – é sempre de natureza
atribuir subjectividade internacional. Diversas normas do direito das gentes constitutiva – que tanto pode ser por parte do governo e do estado atacados
atribuem direitos e impõe obrigações a esta organização, e, ainda, que ela como de terceiros estados, os revoltosos passam a ser considerados, sob o
participa directamente na formação dessas normas, quando celebra, em ponto de vista internacional, como uma comunidade organizada de
nome próprio, tratados ou convenções internacionais. beligerantes, com um estatuto próprio, destinatária de certas normas de
direito internacional.
b) Insurrectos – no que se referes aos insurrectos, não é correcto atribuir-
lhes o estatuto de sujeitos de direito internacional, visto que trata-se de
Desse reconhecimento resulta fundamentalmente as seguintes efeitos:
uma situação efémera tendente a transformar-se em situações de
- Aplicação aos partidos em luta do direito internacional da guerra; isenção
beligerância, caso consigam o controlo de parte do território e da
do estado de responsabilidade pelos danos causados pelos revoltosos;
população, ou a desaparecer, quando são vencidos, deixando o território
neutralidade, perante a luta, dos estados que reconhecem a beligerância. –
do estado para se refugiarem noutro estado.
- Quanto aos rebeldes, do reconhecimento deles resulta essencialmente que
Os Beligerantes e os insurrectos os seus actos não podem ser considerados como actos de pilhagem ou de
pirataria.
Beligerantes: a sublevação de certos grupos sociais organizados contra o - Os terceiros estados, para evitar o reconhecimento prematuro de uma
governo de um estado pode levar a que os rebeldes acabem por controlar, de situação de beligerância, devem esperar que se reúnem todos os requisitos
forma organizada, uma parte do território e da população do estado; necessários para se qualificar a situação como uma real situação de
beligerância, ou seja, que os revoltosos se encontrem dotados de uma
Insurrectos: ou que se limitem a controlar pequenas áreas territoriais, organização, que controlem uma parte do território e da população do
barcos de guerra ou civis. estado e que se afirmem pela luta como um movimento contra o governo
estabelecido.
Beligerância – uma situação de beligerância pode ter na sua origem uma
rebelião ou insurreição. Daí que a doutrina discuta a questão de saber qual o Relativamente à personalidade jurídica dos beligerantes e dos rebeldes,
estatuto internacional que dever ser atribuído aos rebeldes antes de serem estes enquanto destinatários de direito e de obrigações directamente
reconhecidos como verdadeiros beligerantes. Para certos autores, defensores emanados da ordem jurídica internacional são sujeitos do direito
da teoria da legalidade da ajuda às autoridades estabelecidas, os terceiros internacional. É claro que, os beligerantes são sujeitos transitórios ou
estados têm o dever de auxiliar estas autoridades. Para outros, os terceiros provisórios na medida em que a situação de facto em que se funda a sua
estados devem manter-se neutrais, posto que o auxílio a qualquer das partes subjectividade está naturalmente vocacionada a desaparecer, pois ou
traduzir-se-á necessariamente em ingerência nos assuntos internos. vencem a guerra e constituem-se em governo do estado ou perdem-na e
Entendem estes autores, defensores da teoria da ilegalidade do auxílio às
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desaparecem enquanto movimento real contra o governo. Em qualquer dos deveres aos indivíduos. De facto, encontramos quer no direito internacional
casos o reconhecimento cessa ou caduca necessariamente. costumeiro, quer no direito internacional convencional. No que se refere à
defesa dos direitos, a atribuição ao individuo de meios para, por si só e sem
qualquer mediação estatal, assegurar a protecção jurídico-internacional dos
O Indivíduo
seus direitos, ainda não se encontra suficientemente garantida, precisamente
Introdução porque a pratica internacional dominante é a de atribuir ao estado a tutela
dos direitos conferidos aos indivíduos. Com efeito, a estes ainda não é
A atribuição ao indivíduo da qualidade de sujeito do direito internacional permitido, na generalidade dos casos, o recurso directo às instâncias
tem gerado uma acesa polémica doutrinal. Para aqueles autores que internacionais. Sob o ponto de vista dos deveres, o indivíduo surge aqui
entendem que a sociedade internacional é uma sociedade de estados regida directamente como um sujeito passivo das normas internacionais e, nessa
por normas do direito internacional que regulam directamente as relações medida, como destinatário directo das sanções internacionais. Sob esse
interestaduais, o indivíduo não é destinatário directo dessas normas. Para ponto de vista, portanto, o indivíduo aparece como responsável directo da
outro sector da doutrina que entende que a sociedade internacional é uma violação de deveres internacionais e, nessa medida, pode ser directamente
sociedade de indivíduos, estes são destinatários directos das normas do punido pelos actos ilícitos por ele praticados, podendo dizer-se que é sujeito
direito das gentes, pelo que são verdadeiros sujeitos do direito internacional. imediato e directo do direito internacional sancionador.
Face a essas posições radicais, a doutrina mais recente tem procurado
encontrar uma posição de equilíbrio capaz de reflectir a verdadeira situação O duplo estatuto do individuo no plano internacional
do indivíduo no quadro da teoria dos sujeitos do direito internacional, em
À defesa dos seus direitos, o individuo é um sujeito menor, isto é, um
que o principio segundo o qual os estados são sujeitos de direitos e de
sujeito a quem não se reconhece, na maior parte dos casos, capacidade de
obrigações internacionais comporta importantes excepções, por diversas agir em defesa dos seus direitos. Aos deveres, já goza de um estatuto de
normas desse direito regerem directamente a conduta do indivíduo. plena capacidade nos termos do qual pode ser directamente
responsabilizado pelos seus actos ilícitos. Estes mecanismos não estão ainda
Desta forma, os indivíduos são verdadeiros destinatários dessas mesmas generalizados, mas apesar disso, a sua institucionalização progressiva, em
normas. Deste modo, a doutrina mais recente só por excepção aceita o especial no sério das organizações internacionais, constitui um importante
individuo como sujeito do direito internacional. passo na defesa dos direitos do homem.
b) O reconhecimento tardio é aquele que, contra todas as evidencias O problema das relações entre o direito internacional e o direito interno
relativamente à existência de uma dada situação só é dado muito depois coloca-se inevitavelmente à doutrina e à jurisprudência, tanto no plano
de se verificar tal situação.
nacional como no internacional. A doutrina tende a tematizar questão em
c) O reconhecimento condicional é o praticado sob condição, ou seja, termos teoréticos, interrogando-se sobre se o direito internacional e o direito
trata-se de um reconhecimento subordinado à realização de um interno são uma só realidade ou grandezas autónomas.
acontecimento futuro e consequentemente incerto.
Doutrina tradicional – a doutrina quando não se limita ao expor e a
Efeitos do reconhecimento: sistematizar os dados normativos e fácticos pertinentes, pretende clarificar
- Relativamente aos Estados, resumidamente, poderemos dizer que o que se suscitam no direito internacional e avançar com respostas. Só nessa
reconhecimento produz efeitos sobre a capacidade de agir dos estados, medida é que a referência às discussões doutrinária será relevante. No
efeito que é meramente declarativo. entendimento tradicional tem vindo a qualificar este problema como uma
- No que se refere às organizações internacionais, ao beligerante e aos questão da hierarquia entre as fontes de direito. O debate tem-se
insurretos tais efeitos são constitutivos da personalidade e da capacidade desenvolvido ao longo de duas linhas doutrinárias básicas, reconduzida às
jurídico-internacional desses sujeitos. expressões dualismo e monismo.
- Quanto às nações, os efeitos são meramente declarativos da
Monismo – as posições monistas procuram uma espécie de teoria total do
personalidade.
direito, um ponto arquimediano ou princípio fundamental que possibilite a
unificação do direito interno e do direito internacional num único sistema
Revogabilidade e caducidade do reconhecimento:
jurídico. O Monismo, a partir de um princípio de natureza substantiva,
como a ideia de direito, uma noção de solidariedade social ou valor da
- Revogabilidade são a destruição ou a cessação dos efeitos dele através de
dignidade da pessoa humana, como tendo por base um ponto de apoio de
um outro acto jurídico unilateral praticado pela mesma entidade autor do
natureza formal, como o princípio pacta sunt servanda. A primeira
acto de reconhecimento.
orientação tem um sólido pedigree na doutrina do direito internacional. De
A Caducidade consistiria na cessação dos efeitos do acto de
acordo com esta concepção os mesmos princípios de direito natural
reconhecimento por ter decorrido o tempo previsto para a sua duração ou
permeiam, tanto no direito internacional como no direito interno. Já a
por terem desaparecido os pressupostos que o justificaram. Assim sendo a
segunda orientação formalista, preconizada na primeira metade do Século
caducidade só é possível naqueles casos de reconhecimento provisório ou
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XX pelo judeu austríaco Hans kelsen, parece assentar num propósito de caracteriza-se por ter a sua origem na vontade de um estado enquanto que o
combinar elementos básicos da posição jusnaturalista e contratualista. Do direito internacional constitui uma emanação da vontade de vários estados,
modo geral o monismo postula a existência de um único sistema jurídico assim, na perspectiva de cada estado existiriam, dois ordenamentos
dentro do qual, não podem existir normas incompatíveis. As jurídicos distintos, interno e internacional, sendo possível discernir
incompatibilidades seriam resolvidas dentro do sistema com o recurso à situações em que uma norma é válida num deles e inválida no outro.
meta-regras identificadoras das normas superiores do sistema jurídico. Para Alguma doutrina dualista sustenta a superioridade do direito internacional
uma variante da doutrina monista, a superioridade cabe, em uma análise do relativamente as normas estaduais ao menos diante dos tribunais
direito interno, considerando-se que o estado se encontra na origem de todo internacionais tende-se caminhado, a partir daí, para a defesa da
o direito, pelo que o direito internacional é um direito criado pelos estados e superioridade do direito internacional relativamente às normas de todos os
dependente, em última análise deles. Está-se aqui perante uma linha de outros sujeitos de direito internacional.
pensamento tipicamente Estadualistas, voluntarista e positivista, que vê o
direito internacional como simples direito estadual externo. Para outra O Estado
posição doutrinal o monismo assenta na superioridade do direito POVO - Em muitos casos são utilizadas as designações povo e nação como
internacional, a partir de premissas fundamentais de conteúdo politico- sinónimos. Os vínculos étnicos, linguísticos, históricos e culturais
moral. A verdadeira soberania em última analise no direito internacional, apresentam-se hoje substancialmente relativizados, sobressaindo o chamado
que serve de base para a construção do estado, da soberania estadual e do conceito político-constitucional de povo. Um povo no sentido étnico,
direito interno e a quem cabe delimitar o domínio da validade das ordens cultural e linguístico pode estar dividido por diferentes estados (povo
jurídicas nacionais. germânico na Áustria, Alemanha e suíça alemã, e o povo árabe nos Estados
Dualismo – as teses dualistas sugerem a existência de uma distinção árabes), ao passo que um estado pode conter diferentes povos, na mesma
estrutural e o direito interno e o direito internacional. As suas premissas acepção (reino unido, Espanha, índia, Afeganistão). Do mesmo modo, pode
fundamentais adequam-se ao modelo de vest falia dos estados soberanos, haver povos sem estado (curdos, palestinianos), bem como estados que
cada um com a sua própria ordem de valores, embora revistam uma incluam indivíduos das mais variadas etnias, acomodadas no seio de uma
natureza positiva e Estadualistas. O direito internacional perspectivada cultura aberta mais ou menos comum (estados unidos, Brasil). Do ponto de
como uma grandeza distinta do direito interno, sendo a ênfase colocado no vista do direito internacional, a categoria povo assume o maior relevo, na
consentimento efectivo daqueles como fonte de direito internacional. O medida em que refere aos titulares e destinatários do exercício da soberania.
dualismo intensificou-se com o positivismo estadista, para quem o centro de
gravidade do direito internacional é o estado e a sua vontade, o que resulta Nacionalidade dos indivíduos – a nacionalidade dos indivíduos é
na dificuldade de justificar normas existentes sem o consentimento dos normalmente obtida pela via da aquisição originária, a qual se processa com
estados e para além dele. Para C.H. Triepel, o direito interno e o direito base numa combinação, que varia do Estado para Estado, dos critérios do jus
internacional resultam da existência de dois planos separados, sendo um o soli e jus sanguinis. Para além disso, generalidade dos estados prevê a
das relações internas (cidadãos e estado) e outro o das relações possibilidade de aquisição derivada da nacionalidade através de outros
internacionais (estados). Na doutrina germânica, o direito interno
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mecanismos, como a naturalização, a opção de vontade, a recuperação, a 2. O arrendamento (verifica-se idêntica transferência da supremacia
adopção e o matrimónio. territorial, mas agora mediante o pagamento de uma renda);
TERRITÓRIO - é o marco físico em que opera o ordenamento jurídico de 3. O protetorado, exprime uma relação entre dois Estados, o protector e o
um Estado, constituindo o objecto da plenitude e da exclusividade da protegido;
soberania.
1. O princípio da efectividade, segundo o qual é do exercício efectivo dos 4. O condomínio, em que dois ou mais estados exercem sobre um dado
poderes e/ou das funções estatais num dado território que nasce a território;
soberania territorial.
2. O princípio da relatividade da efectividade, em que a intensidade e as 5. A ocupação militar, consiste na presença de forças estrangeiras sobre a
características do exercício das competências estais num dado território totalidade ou parte do território de um outro estado.
devem ser apreciadas de acordo com as circunstâncias histórica,
DOMINIO FLUVIAL - o domínio fluvial é constituídos por todos os
sociológicas e políticas concretas, ou, de cada caso concreto.
cursos de água ou pela parte dos menos que correm no território de um
3. O princípio uti possidetis, em que os estados devem respeitar e manter
estado e pela parte dos cursos de água que o separam de outro ou outros
as fronteiras coloniais herdadas no momento da independência, de
estados e sobre a qual exercem soberania. Se os rios nascem e desaguam no
respeitar os títulos da época colonial, desempenhando aqui a
território nacional, chamam-se nacionais. Normalmente não causam
efectividade um papel subsidiário.
problemas de carácter internacional, pois constituem domínio público de
cada estado.
Modos de aquisição do território:
a) A aquisição originária – da soberania territorial verifica-se quando o Quanto à navegação, pesca e aproveitamento industrial e agrícola, a sua
território sobre o qual de estabelece a soberania territorial não se regulamentação é da exclusiva competência do respectivo estado. De facto,
encontra, no momento da imposição dessa soberania submetido à a própria natureza de tais cursos de água levanta problemas que não surgem
soberania territorial de nenhum outro estado. nos rios nacionais. Uma fábrica instalada junto à nascente ou à foz daqueles
b) A aquisição derivada – é modo de aquisição que resulta do exercício de rios pode ser o suficiente para liquidar a possibilidade de pesca por qualquer
competências sobre territórios que já se encontram submetidos à dos estados ribeirinhos; uma barragem que desvie um curso de água pode
soberania do outro estado no momento em que se inicia aquele exercício ser fatal para a agricultura do estado que dela se não pode aproveitar; a
de competências. impossibilidade de os barcos do país da nascente descerem até ao mar pode
Este modo de aquisição pode assumir as seguintes formas: causar despesas e complicações apreciáveis.
1. A cessão que pode ser administração (que dá-se a transferência Uma central nuclear pode poluir e aumentar sensivelmente a temperatura
temporária dos poderes de um estado sobre o território para outro dum curso de água, tornando impossível o seu aproveitamento e liquidando
estado). a existência a certas espécies piscícolas. E os exemplos podiam repetir-se.
Cada estado só pode navegar na parte sobre a qual exerce soberania, salvo
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acordo estabelecendo a liberdade de navegação. Mas mesmo quando esta específico, não falta quem recorra ao direito de vizinhança e às suas
existe, vigora normalmente o princípio da permissão da cabotagem só a implicações. Com base numa interpretação lata deste princípio, entende-se
barcos nacionais e o da restrição à entrada de navios de guerra estrangeiros. que os efeitos prejudiciais da acção (poluição) tolerada num estado se
A liberdade de navegação nos rios internacionais não constitui, pois, uma podem sentir no território de outro estado sem que, para o efeito, tenha de
regra de direito consuetudinário aplicável a tais rios. existir contiguamente geográfica.
A pesca só é permitida a cada estado na parte do rio que se encontra sob o Águas interiores - são águas situadas entre a linha normal da maré-baixa e
seu domínio. Não pode prejudicar igual direito dos outros estados o território terrestre, ou seja, as águas dos portos, dos golfos, das baías e dos
ribeirinhos; todo o aproveitamento que um estado faça das águas dum rio estuários e bem assim as dos mares internos, dos estreitos, e dos canais. As
internacional deve ser previamente comunicado aos estados interessados. águas interiores constituem território estadual, sendo, pois, completa a
Em caso algum se devem fazer obras que prejudiquem a navegabilidade. O soberania que sobre elas exerce, nem sequer se encontra aqui o limite à
problema mais grave da actualidade referente ao aproveitamento dos rios soberania sobre o mar territorial – o direito de passagem inocente ou
internacionais é o levantado pela poluição das águas devida ao inofensiva. A regra da competência do estado ribeirinho sofre algumas
desenvolvimento da indústria química, petrolífera, do papel e, mais excepções. Antes de mais, não se aplica aos navios de guerra. Como estes
recentemente, pela produção de matérias ou resíduos radioactivos. gozam de imunidade de jurisdição, não podem as autoridades locais: Entrar
em tais navios ou praticar a bordo qualquer acto sem autorização do
A este propósito acaba por vir à baila as teses geralmente postas em campo respectivo capitão ou qualquer autoridade competente do estado do
quando se discute a questão do aproveitamento das águas fluviais pavilhão; Julgar ou punir membros da tripulação por actos praticados a
internacionais. Uns sustentam a ultrapassada tese da soberania nacional bordo; Julgar ou punir membros da tripulação por actos praticados em terra,
absoluta: qualquer estado pode dispor como bem entender das suas águas, desde que, ao praticá-los, se encontrem de uniforme e em serviço oficial.
sem se pronunciar com as repercussões que a sua atitude possa vir a ter nos Dada, a sua qualidade de instrumentos de guerra, só podem entrar nas águas
estados vizinhos. interiores mediante permissão das autoridades do estado ribeirinho.
Outros defendem a pouco menos irrealista doutrina da integridade Zona contígua – no século XVIII, a Inglaterra reconheceu aos seus navios
territorial absoluta: nenhum estado pode fazer uso das águas que passam no o direito de fiscalizarem os navios estrangeiros que vogassem no alto-mar, a
seu território se os outros actos podem prejudicar outros estados. Não é fácil fim de procederem ao controlo aduaneiro do chá e da aguardente. Outros
encontrar um meio-termo. estados costeiros foram reivindicados jurisdição sobre uma faixa marítima
Como deverá ou poderá reagir um estado inferior, se o estado mais adjacente ao mar territorial, a qual veio a ser baptizado de zona contígua. Os
próximo da nascente polui do rio que os atravessa a ambos? direitos reivindicados não se traduziriam numa soberania completa: os
interesses em causa ficariam satisfeitos com o reconhecimento de direitos
Parece que a solução mais fácil é proibir toda a poluição fluvial. Assim limitados. A questão estava na matéria sobre que deveriam incidir.
acontece, por exemplo, quanto ao rio Danúbio no qual é proibido despejar
produtos petrolíferos ou respectivos resíduos. Na falta de um princípio
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Conceito da zona contígua: trata-se de um alargamento da jurisdição origem consuetudinária e que não deixou de ser codificada, em 1958, em
estadual para fora do mar territorial com objectivo apenas de satisfazer genebra, isto é, o direito de passagem inofensiva. Há grande controvérsia
interesses de segurança e de preservação e exploração dos princípios. quanto ao problema de saber quais os navios que devem gozar do direito de
passagem inofensiva. Alguns autores entendem que só não gozam de tal
A convenção consagrou-se, portanto, uma zona contígua apenas em matéria prerrogativa os navios de pesca; outros julgam ser mais coerente que nem
aduaneira, fiscal, sanitária e de emigração, a qual, para todos os outros aos navios de pesca nem aos navios de guerra sejam atribuído o direito da
efeitos, conserva o carácter de parte do alto mar, ou seja, o princípio da passagem inofensiva. Importa ter presente o modo como são determinados
navegação no alto mar é a da liberdade navegação. O alto mar é os limites do mar territorial.
considerado o património da humanidade e ninguém detêm de soberania no Nos termos da CDM – artigo 3º e seguintes -, os estados têm o direito de
alto mar. Portanto todos têm liberdade de navegar no alto mar. fixar a largura do seu mar territorial até um limite que não ultrapasse 12
A zona contígua está prevista na secção IV, artigo 33º e seguintes da CDM. milhas marítimos. Segundo o artigo 18º da CDM, entende-se por passagem
Neste artigo dispõe que a zona contígua não pode estender-se além de 24 o facto de se navegar no mar territorial, quer para o atravessar sem entrar
milhas marítimas, contadas a partir das linhas de base que servem para nas águas interiores, quer para entrar nas mesmas águas, quer ainda para
medir a largura do mar territorial. Diferentemente do que sucede fazer ao largo, vido delas.
relativamente ao mar territorial, a zona contígua deve ser expressamente A Passagem deverá ser contínua e rápida, embora compreenda o parar e o
reclamada. Portanto a zona contígua deve ser contada a partir das linhas de fundear, na medida em que os mesmos constituem incidentes comuns da
base que servem para medir a largura do mar territorial. Logo a zona navegação ou sejam impostos por motivos de força maior, por dificuldade
contígua são as 12 milhas da zona contígua mais as 12 milhas para além da grave ou pela intenção de prestar auxilio a pessoas, navios ou aeronaves em
zona territorial, esse 24 milha denomina de zona contígua. No direito perigo ou em dificuldade grave. A convenção parece ter optado por permitir
internacional, qualquer reivindicação de mar territorial para além das doze a todos os navios a passagem inofensiva, sejam eles públicos ou privados.
milhas é ilegítima. Também vigora o direito de perseguição na zona Assim, a secção III da convenção intitula-se “direito de passagem
contígua – artigo 111º da CDM. inofensiva” e a subsecção A, que trata de atribuição deste direito, encontra-
se sob a epígrafe “regras aplicáveis a todos os navios”, expressão em que
O mar territorial – o mar territorial é a faixa marítima adjacente às costas cabem necessariamente os navios de guerra e os navios mercantes – artigo
da superfície terrestre do estado, que vai desde a linha normal da maré- 17º da CDM.
baixa até a uma distância sobre a qual não há unanimidade de pontos de A passagem é inofensiva desde que não seja prejudicial à paz, à boa ordem
vista. Antes de mais, deve dizer-se que a delimitação do mar territorial é ou à segurança do estado costeiro, o que, de acordo com o artigo 19º/2 da
feita unilateralmente pelos estados. Actualmente o critério geralmente CDM, não se verifica num conjunto tipificado de situações. Jurisdição penal
válido é o das doze milhas marítimas a parir do ponto mais baixo da baixar- a bordo de navio estrangeiro – artigo 27º da CDM; jurisdição civil em
mar, devidamente reconhecido pelo estado costeiro. A soberania do estado relação a navios estrangeiros – artigo 28º.
costeiro sobre esta parte do seu território é quase completa. Aquele goza de
direitos exclusivos de pesca, de polícia, de regulamentação da navegação, Segundo o professor Jonatas Machado, defende que todos navios gozam o
da regulamentação alfandegária e sanitária, etc. Sofre uma limitação de direito de passagem inofensivo, sem excepção, inclusivos os navios de
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pesca e de guerra – argumentos: A secção III da convenção intitula-se territorial o critério do alcance de um tiro de canhão, enquanto marca visível
“direito de passagem inofensiva” e a subsecção A, que trata de atribuição do exercício da soberania. A precariedade deste critério é visível se pensar
deste direito, encontra-se sob a epígrafe “regras aplicáveis a todos os nos estados que antigamente não dispunham de canhões e nos estados que
navios”, expressão em que cabem necessariamente os navios de guerra e os hoje possuem mísseis internacionais.
navios mercantes; A passagem dos navios de pesca só deixa de ser Daí que se tenha abandonado este critério e adoptado um outro, das três
inofensiva se não forem observadas as leis e regulamentos que o estado milhas. Actualmente o critério geralmente válido é o das doze milhas
ribeirinho tenha editado para proibir a pesca no mar territorial; Os marítimas a parir do ponto mais baixo da baixar-mar, devidamente
submarinos são obrigados a navegar à superfície e a arvorar o respectivo reconhecido pelo estado costeiro. Também a convenção consagra aos
pavilhão. Esta obrigação só se compreende pelo facto de os submarinos estados o direito de perseguição dentro mar territorial. Portanto os estados
serem barcos de guerra submersíveis. têm o direito de perseguir os navios estrangeiros que estejam no seu mar
Daqui se pode inferir que qualquer barco goza do direito de passagem territorial e que estejam a infringir quaisquer leis deste estado – artigo 111º
inofensiva no mar territorial de outro estado. Quando as costas de dois da CDM. Quando cessa a perseguição – artigo 111º/3; quem tem pode fazer
estados são opostas ou limítrofes, o mar territorial de cada estado não a perseguição – artigo 111º/4;
ultrapassa a linha mediana da superfície marítima em causa, a não ser que
vigoram outros critérios: títulos históricos ou outras circunstâncias especiais A plataforma continental – a plataforma continental está prevista no artigo
– artigo 15º da CDM. Todo o estado ribeirinho pode suspender 76º e seguintes da CDM. A plataforma continental inclui o leito do mar e o
temporariamente a passagem inofensiva de navios estrangeiros, em certas subsolo marítimo. O valor económico de aproveitamento de recursos
zonas do seu mar territorial, desde que tal suspensão se torne necessária naturais, especialmente minerais levou a que os estados reivindicassem a
para protecção da sua segurança devidamente anunciada. soberania sobre essa parte do território. O marco decisivo para a formação
Quanto à largura do mar territorial, cada estado pretende obter a extensão de dum costume internacional geral que reconhece os direitos dos estados
mar territorial que mais benefício lhe trouxer. Portanto, se é um pequeno ribeirinhos sobre a plataforma continental foi a proclamação do presidente
estado, teme as frotas pesqueiras dos estados economicamente norte-americano em 1945 que considerava pertença dos EUA e debaixo da
desenvolvidos, munidas de radar, de navios-frigorificos e de navios- sua jurisdição e fiscalização os recursos naturais correspondente ao alto mar
fábricas, o que lhes permite pescar com eficiência, durante largas épocas, a adjacente às coisas dos Estados Unidos.
distâncias consideráveis dos seus portos. Alem disso, o pequeno estado Os restantes Estados seguiram o exemplo, declarando-se com direitos
teme a acção psicológica que, em caso de conflito interno, pode exercer a exclusivos à apropriação dos recursos mortos do leito e do subsolo do mar e
presença da esquadra duma grande potência a pouca milhas da costa. dos organismos vivos sedentários ou que só se podem locomover em
Por sua vez, as grandes potencias procuram a maior liberdade possível para constante contacto com o solo. Em 1958, concluiu-se em Genebra, uma
os movimentos da sua marinha de guerra e todos os estados com grande convenção sobre a plataforma em que encontra definida nesta mesma
tráfego aéreo temem o alargamento do mar territorial, dado o direito convenção – artigo 76º e seguintes da CDM.
internacional não permitir a passagem inofensiva aos aviões que sobrevoam Nesta área o estado costeiro pode, portanto, explorar e proceder à extracção
o espaço aéreo supra jacente ao mar territorial, a não se mediante acordo dos recursos minerais e outros recursos não vivos do leito do mar e do
dos estados interessados. Tradicionalmente, adoptou-se como limite do mar subsolo, bem como dos organismos vivos pertencentes às espécies
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sedentárias. Para tanto, pode construir e manter ou fazer funcionar sobre a Os mares internos – também os mares internos fazem parte do domínio
plataforma continental todas as instalações ou dispositivos necessários, marítimo dos estados. São vastas porções de água salgada cercadas de terra,
podendo estabelecer, em redor, zonas de segurança de 500 metros, que que podem ter ou não comunicação com o mar livre, assim se subdividindo
todos os navios estrangeiros devem respeitar. Tais instalações e dispositivos em mares abertos e mares fechados (estes designados frequentemente por
não têm o estatuto de ilhas, apesar de estarem submetidos à jurisdição do mares encravados. É o que se verifica relativamente ao Mar Aral, que,
estado ribeirinho e não têm, portanto, mar territorial próprio, não influindo a encravado no território da URSS, pertence unicamente a este Estado, que
sua presença na delimitação do mar territorial do estado costeiro. sobre ele pode exercer os mesmos direitos que exerce em relação a qualquer
As águas supra jacentes á plataforma continental conservam o carácter de outra parte do território nacional. Tratando-se de uma bar aberto, pertencerá
alto mar, havendo, pois, liberdade de navegação e de sobrevoo; na a um só estado, se tanto esse mar como o canal que o liga ao mar livre se
superfície da plataforma continental, todos os estados podem proceder a situarem dentro do território daquele estado. se o mar aberto se situa no
colocação de oleodutos e de cabos submarinos. território de um estado e o canal no território de outro, ou se tanto o mar
Quando a plataforma continental é adjacente ao território de dois estados como o canal pertencem a mais que um estado, o mar é livre.
cujas costas são opostas, o limite de cada plataforma será determinado por
acordo ou, na falta dele, pela linha mediana em relação à linha de base do Os estreitos e canais – tanto os estreitos como os canais são vias de
mar territorial. Os direitos do estado costeiro sobre a plataforma continental comunicação entre dois mares. Enquanto os primeiros são obra da natureza,
abrangem a exploração e extracção de recursos naturais – minerais ou os canais são o resultado de transformações operadas pela iniciativa
organismos vivos sedentários – e a autorização de perfurações humana, quer dizer, dão artificiais. Se um estreito está sujeito à soberania de
independentemente do fim, constituindo direitos soberanos, exclusivos e um único estado e faz a ligação com um mar fechado. Se um estreito pode
inerentes ao estado costeiro – artigo 77º da CDM. ser utilizado pela navegação internacional e estabelece a comunicação entre
Os mesmos não dependem de ocupação efectiva ou fictícia, nem afectam o duas zonas de alto mar ou entre um mar livre e um mar territorial de um
estatuto jurídico-internacional das águas supra jacentes ou do espaço aéreo estado estrangeiro, estamos perante um estreito internacional, no qual todos
sobre essas águas. A liberdade de navegação e sobrevoo não podem ser os navios gozam do direito de passagem inofensiva. É o que se verifica com
postas em causa – artigo 78º da CDM. Do mesmo modo, a exploração o estreito de Gibratar.
razoável e ambientalmente adequada da plataforma continental não pode
O alto mar – o alto-mar é formado por todas as partes do mar que não
pôr em causa o direito dos estados de colocar cabos e ductos submarinos –
pertençam ao mar territorial ou às águas interiores dum estado. é aberto a
artigo 79º da CDM.
todas as nações, e sem que nenhum estado possa legitimamente pretender
A plataforma continental de estados costeiros adjacentes ou situados frente
submeter qualquer parte dele à sua soberania. Quer-se com isto significar
a frente deve ser equitativamente definida por acordo, de conformidade com
que impera, neste domínio, o principio da liberdade do alto-mar, com os
as fontes de direito internacional referidas no artigo 38º do estatuto do TIJ,
seus corolários de liberdade de navegação, liberdade de pesca, liberdade de
ou, na falta de acordo, através dos mecanismos de solução de controvérsias
colocação de oleodutos e cabos submarinos e liberdade de sobrevoo.
previstos na parte XV da convenção – artigo 83º da CDM.
Zona económica exclusiva (ZEE) – nos termos da CDM – artigo 55º - a
ZEE é uma zona situada além do mar territorial e a este adjacente, tem uma
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largura de 200 milhas, sujeita ao regime jurídico específico por ela princípios de justiça e humanidade, quanto aos fins e quanto aos meios,
determinado. Nela, o estado costeiro tem direitos de soberania para fins de remota à antiguidade pré-cristã.
exploração e aproveitamento, conservação e gestão dos recursos naturais,
vivos ou não vivos, das águas sobrejacentes ao leito do mar e o seu subsolo. A defesa da utilização incondicional da força armada sempre coexistiu com a
Alem disso, o estado costeiro dispõe, nomeadamente, de jurisdição no que tentativa de proceder à sua limitação. Na idade média, Tomás de Aquino
se refere à colocação e utilização de ilhas artificiais, instalações e estruturas, sustentou que, para ser justa, a guerra devia ser combatida sob a autoridade
à investigação científica marinha, à protecção e preservação do meu do soberano, tendo como fim resolver um mal muito grave e sempre sob
marinho. uma recta intenção. Por seu lado, Hugo Grócio parte da premissa de que o
direito deve vincular a comunidade internacional, tanto na guerra como na
No exercício dos seus direitos e deveres na ZEE, o estado costeiro deve ter paz, não podendo existir zonas livres de direito nas relações entre os estados.
na devida conta os direitos e deveres dos outros estados nos termos do Esta noção esteve na base do desenvolvimento do chamado direito da guerra,
tratado em presença. Os direitos de jurisdição na ZEE são limitados e integrando o direito a declarar a guerra e o direito na guerra, de acordo com
específicos, a exercer nos precisos termos da CDM – artigo 56º. O regime o princípio fundamental de que a guerra só é legítima quando é justa.
jurídico da ZEE pretende ponderar os interesses de outros estados,
estabelecendo um sistema complexo de direitos e deveres. Ainda assim, o problema de saber quando é que uma guerra pode ser
considerada justa e quem tem competência para o decidir revelou-se
Na ZEE todos os estados, quer costeiros quer sem litoral, gozam das impossível de determinar em termos incontroversos. Se a escola peninsular
liberdade de navegação e sobrevoo e de colocação de cabos e ductos tendia a favorecer as competências do Papa e dos monarcas católicos neste
submarinos, bem como de outros usos do mar internacional lícitos, domínio, já Hugo Grácio utilizava critérios universais de direito natural. Para
relacionados com as referidas liberdades, tais como ligados à operação de ele, a guerra só seria admissível se, quando e na medida necessária para
navios, aeronaves, cabos e ductos submarinos – artigo 58º da CDM. O defesa da nação e para garantir a efectividade do direito, devendo ser levada
artigo 57º da CDM fala do da largura da ZEE. Artigo 59º da CDM; artigo a cabo com não menos escrúpulos do que os devidos num processo judicial.
70º da CDM; artigo 71º da CDM; artigo 79º da CDM; artigo 73º da CDM;
artigo 74º da CDM; No século XVII, Vattel sustenta que o soberano pode recorrer à guerra
defensiva e ofensiva para combater e punir a injustiça e obter a realização de
O USO DA FORÇA NO DIREITO INTERNACIONAL justiça, em virtude de não existirem mecanismos alternativos para este
efeito. No auge do positivismo estatista, a guerra era legitimada, em termos
Nota histórica - Tradicionalmente o recurso á força era visto como um mero darwinianos, como um instrumento natural e biologicamente justo para o
facto, no direito internacional. Entendia-se que o uso da força no direito triunfo das raças mais favorecidas na luta pela vida. Com a criação da ONU
internacional constituía uma prerrogativa natural da soberania dos estados, e a aprovação da DUDH, foi-se tornando claro que a melhor solução
pelo que, na prática, a mesma operava em benefício exclusivo dos consistia em te matizar o recurso à força a partir dos direitos humanos.
poderosos, verificando-se uma total ausência de garantias para os mais
fracos. A noção de que os conflitos armados se devem subordinar a
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O uso da força e a carta da ONU – um sistema de segurança colectiva: o um estado e, em termos mais gerais, contra os fins da carta. A existência, ou
monopólio da coação legítima da ONU - As Nações Unidas encontram-se não, de uma declaração formal de guerra é irrelevante, tanto mais quanto se
edificadas sobre os princípios da proibição de recurso à força por parte dos verifica que, na prática, a mesma é cada vez menos utilizada.
Estados e da Obrigação de resolução pacífica dos conflitos. A efectivação
do princípio da proibição de recurso à força no direito internacional O capítulo VII da carta da ONU - O sistema da manutenção de paz e da
encontra-se fortemente dependente da generalização e credibilização dos estabilidade internacional das Nações Unidas assenta na responsabilidade
meios de resolução pacífica de conflitos. Se o recurso aos meios de primordial do conselho de segurança. É a este órgão que compete a
resolução pacífica de conflitos falhar, as partes dever remeter qualquer determinação da existência de uma ameaça à paz ou de uma rotura da paz e
disputa que constitua uma ameaça à paz e à seguranças internacionais ao a recomendação ou decisão do recurso à força, nos termos dos artigos 41º e
conselho de segurança. 42º da carta, operando com autonomia relativamente à Assembleia-Geral da
ONU. Só as suas decisões revestem carácter obrigatório para os estados.
Nalguns casos o recurso à força, sendo sempre dramático e indesejável, é Normalmente entende-se que a proibição do recurso à força vale no
infelizmente inevitável e mesmo necessário e justificado. Existem contexto das relações entre estados, com exclusão de conflitos de direito
princípios e regras de direito internacional que devem ser observados em interno. No entanto, casos que conflitos internos podem assumir um relevo
caso de conflito armado. O sistema da ONU tem como premissa jurídico internacional.
fundamental a detenção por esta de monopólio da coação legítima no plano Não existe um sistema de controlo jurisdicional das decisões da conselho de
internacional. Talvez seja este aspecto o que mais se aproxima de uma segurança. A regra geral é a da proibição do recurso à força, uma norma
transferência de soberania dos estados para a ONU. Todavia, isso não é imperativa de direito internacional. No entanto, existe a possibilidade de o
correcto, nem na teoria nem na prática. O recurso à força para cometer uma Conselho de segurança recomendar ou decidir o recurso à força. A
agressão contra um estado é hoje considerado um crime internacional. operacionalização do capitulo VII encontra-se formalmente assente na
Conduz hoje à responsabilidade criminal individual internacional por celebração de acordos especiais, oportunamente negociados, mediante os
genocídio, agressão, crimes de guerra e crimes contra a humanidade. Não quais os estados comprometem a proporcionar ao conselho de segurança
obstante, a comunidade internacional ainda não conseguiu chegar a uma forças armadas, assistência e facilidade necessários à manutenção da paz.
definição consensual de agressão e de rotura da paz internacional.
Legítima defesa - O direito da legítima defesa constitui uma excepção ao
A própria definição de guerra é controvertida da doutrina. Alguns utilizam o princípio da proibição do recurso à força. Desde há muito que se entende,
termo em sentido restrito, reservando-o, dentro da categoria genérica dos no direito internacional, que os estados têm o direito e o dever de auto-
conflitos armados, àqueles que se travam entre estados, precedidos de uma preservação e de defesa dos seus membros.
declaração formal de guerra. Outros preferem uma acepção mais ampla,
compreendendo todas as hostilidades armadas entre estados e mesmo entre A legítima defesa tem algumas características:
grupos dentro de um estado que não tenham um carácter esporádico ou
- é o que sucede com a provisoriedade da defesa, até que o conselho de
isolado. A carta da ONU aponta inequivocamente para a proibição de
segurança tome as medidas necessárias, e com a sua subsidiariedade, já que
recurso à força militar contra a integridade territorial e a independência de
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a defesa só é legítima se não existir uma alternativa viável sob a égide da dirigentes e dirigidos, detentores e destinatários do poder. O poder acabar
ONU. sempre por se materializar em instituições através das quais se organiza, e
exprime-se, assim, oficialmente uma desigualdade.
- Igualmente importante é o dever de notificação das medidas tomadas ao
conselho de segurança da ONU. Para além disso, a legitima defesa está No direito internacional o poder político é um elemento do estado, que só
sujeita ao princípio da proporcionalidade em sentido amplo, desde sempre tem relevância jurídico-internacional enquanto organização institucional,
associado à ideia de guerra justa. Valem aqui as exigências do princípio da que efectivamente exerce o domínio sobre a população e o território, e
proporcionalidade em sentido amplo, de legitimidade do meio, em face das defende os interesses do estado no exterior. O poder só interessa portanto ao
normas imperativas de direito internacional, de adequação do meio ao fim, direito internacional como um conjunto de órgãos, instituições e
de necessidade do meio em ralação ao fim. autoridades que exprimem a soberania politico-juridica do estado e
garantem o cumprimento das obrigações internacionais.
Legitima defesa preventiva ou antecipatória
Segundo o Jonatas Machado, o conceito moderno de soberania é
A questão, respeitante à legítima defesa preventiva, ou antecipatória, alguns geralmente caracterizado pelas notas típicas de estadualidade, publicidade,
entendem que existem situações em que a necessidade, por parte de um
estado que se sente ameaçado, de levar a cabo um ataque preventivo, com independência, autodeterminação, auto normação, centralização, hierarquia,
base na ideia de que a melhor defesa é o ataque, constitui uma justificação jurisdição, indulto e autoridade coerciva, monetária, tributária, penal e
aceitável para o recurso à força. militar. No presente momento do conceito, ainda de contornos imprecisos, é
A maioria dos autores, porém, chama a atenção para o que há de arbitrário e referido com expressões como pós-soberania, soberania limitada, soberania
manipulável numa tal concepção, susceptível de abrir as portas a uma partilhada, soberania globalizada, soberania imperial, ou simplesmente
abusiva invocação da existência de uma ameaça. Isto, para além dos riscos soberania avançada. Deste conceito, ao mesmo tempo que explicita algumas
militares inerentes às acções preventivas, que a doutrina descreveu como
das suas notas tradicionais, pretende da conta de alguns desses factores de
uma forma de suicídio por meio da morte. Para este entendimento, a ameaça
deve ser eminente, Seia e intensa, não se confundindo, por exemplo, com a transição. Diferentemente, afasta-se hoje o entendimento de que os estados
mera pose de armas convencionais, químicas, bacteriológicas ou nucleares são pessoas morais e realça-se o facto de que os mesmos são apenas
por parte do estado alegadamente ameaçador, nem com a simples realização recursos institucionais ao serviço dos cidadãos. É nestas premissas que
de exercícios militares pelo mesmo. Daí que resulta a luta contra o radica a noção de soberania como responsabilidade. Potencialmente
terrorismo tenha obrigado á consideração da admissibilidade de um novo ilimitada no plano interno, a soberania estadual encontra-se, na realidade,
tipo de legítima defesa preventiva, em situações em que se trata de subordinada ao direito internacional e aos valores transnacionais de respeito
neutralizar ameaças extraordinárias, geradoras de uma situação global de
pela dignidade da pessoa humana e pelos seus direitos básicos. Entende-se
perigo, desde que causada por actores não estaduais, revestindo contornos
ocultos, difusos e indeterminados. que hoje que o estado não pode dispor livremente dos seus próprios
cidadãos. À soberania estadual anda associada a responsabilidade de
A SOBERANIA OU PODER POLÍTICO proteger os direitos fundamentais dos cidadãos e de promover o seu bem-
estar económico e social, proporcionando um quadro institucional e
Conceito – segundo o Vlademir Brito, o poder político é um fenómeno normativo de auto governo democrático e subordinação ao direito. A
relacional entre grupos antagónicos ou, pelo menos, contraditórios,
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soberania como responsabilidade aponta para a consideração do estado de especialmente as do ius cogens que impõe certos deveres que o estado
direito democrático, é de promover, não a soberania do estado mas sim a terá que cumprir;
soberania dos cidadãos.
c) a plenitude de competências significa que, no interior do seu território,
Atributos fundamentais – a soberania consiste na ausência de qualquer a competência do estado é ilimitada, no sentido de que este pode
dependência orgânica relativamente a qualquer outra entidade dentro do livremente determinar a extensão da sua competência material. Disto
decorre que a competência estatal é plena e tem como única limitação as
respectivo marco territorial. A soberania traduz-se na capacidade de
obrigações por ele assumidas internacionalmente, cuja violação pode
estabelecer relações com outros estados em condições de igualdade e fazer com que ele incorra em responsabilidade internacional.
simetria de reconhecimento. A estas duas dimensões acrescenta-se a O princípio da igualdade: os estados são, sob ponto de vista do direito
capacidade de estruturar normativamente a vida dentro das suas fronteiras, internacional, juridicamente iguais, o que significa que todos os estados,
sem interferência de terceiros estados. independentemente da extensão do seu território, do número de habitantes,
do seu poder económico, politico ou militar, têm os mesmos direitos e
Características da soberania –
obrigações;
a) exclusividade de competências que significa que no interior do seu
território, o estado, e só ele, pode exercer os poderes ou as competências Os direitos fundamentais do estado: tradicionalmente existem os
decorrentes da soberania, quer sobre o território, quer sobre as pessoas seguintes direitos fundamentais dos estados:
que nele habitam. A exclusividade da competência significa, portanto,
que o estado monopoliza, no interior do seu território o exercício do o direito à independência, o direito à autoconservação, o direito à
poder legislativo, administrativo, o poder jurisdicional e o poder igualdade, o direito á honra, o direito aos signos e símbolos nacionais e o
coercivo e essa exclusividade só é absoluta no que se refere ao exercício direito ao comércio.
do poder coercivo. Nesta perspectiva, a exclusividade de competências é
relativa naqueles domínios em que o estado pode partilhar as suas Entende que só são direitos fundamentais dos estados os seguintes: o
competências com a comunidade internacional, permitindo que esta a direito á independência, o direito á supremacia territorial e o direito à honra.
traves de normas jurídico-internacionais, exerça certas competências no A estes direitos correspondem os deveres de não ingerência nos assuntos
interior do território estatal; internos dos estados, de respeito pela integridade territorial e pela honra dos
estados.
b) autonomia das competências significa que o estado, no interior do seu
território, pode e deve agir com independência, isto é, sem estar O direito à independência consiste no direito que os estados têm de, no
dependente de ordens ou instruções de outros estados. De acordo com
interior do seu território, e com respeito pelo direito internacional, decidir
este princípio cada estado pode e deve decidir com plena liberdade
sobre a sua organização político-constitucional não estando obrigado a com plena autonomia a sua politica interna e externa e de ver respeitadas as
ter de se sujeitar a comandos, directos ou indirectos, de outros estados. suas decisões. Como corolário desse direito há o direito à imunidade dos
Aqui, também, não pode atribuir um sentido absoluto à autonomia, visto estados, precisamente por que o respeito pela independência implica que
que se a regra é, com efeito, a da discricionariedade de competência, nenhum estado deva ser submetido à jurisdição ou ao ordenamento jurídico
não é menos certo que em determinadas matérias pode a competência de outro. A este direito corresponde o dever de não ingerência nos assuntos
estatal estar limitada e condicionada por normas jurídico-internacional,
NILZA FONSECA PINTO 4º ANO DE DIREITO SEGUNDO SEMESTRE. DIP. DOCENTE, Dr. HERMES. ANO LETIVO 2020/2021. UNIVERSIDADE DO MINDELO.
internos, que se traduz no respeito recíproco pela independência política e Existem poderes do estado sobre o território em que é exercido as
organização jurídico-constitucional interna de cada estado; características da exclusividade, da autonomia e da plenitude de
competências, que já forem aferidas. Também há poderes exercidas fora
O direito à supremacia territorial é a faculdade que o estado tem de do território com base na soberania territorial que refere aos navios ou
decidir autorizar ou não, mo interior do seu território, a prática, por outros aeronaves militares, aos navios públicos ou aeronaves civis e aos navios e
estados, de actos de carácter oficial. A este direito corresponde o dever de aeronaves privados.
não ingerência na supremacia territorial dos estados, que aqui deve ser
entendido como um dever imposto a cada estado de não praticar actos que Competência do estado sobre pessoas: nacionais e estrangeiros – o estado
denunciem o exercício de poderes públicos no território do outro, sem o pode, assim, exercer um conjunto, mais ou menos amplo, de competências
consentimento deste; não só sobre os seus nacionais, quer estes habitam o território estatal, quer
se encontrem no estrangeiro, como, ainda, sobre os estrangeiros que
O direito à honra é o direito que cada estado tem de fazer respeitar a sua residem nos seu território ou aí se encontrem.
honra, isto é, o seu bom nome, a sua dignidade e a consideração de que
goza na sociedade internacional. Nenhum estado está obrigado a tolerar as A questão da nacionalidade é essencial para a demarcação da competência
ofensas à sua honra, que podem consistir na prática de actos que atentem pessoal dos estados, dado que esta é exercida de forma diferente conforme
contra os seus símbolos nacionais ou contra os seus órgãos de soberania. A se trate ou não de seus nacionais; o ponto que interessa agora averiguar é o
este direito corresponde o dever de os estados garantirem o respeito pela de saber, sob o ponto de vista do direito internacional, quem pode atribuir a
honra dos outros estados. Esta garantia consiste na adopção de medidas de nacionalidade. Parece estar fora de dúvidas que o direito internacional
natureza penal e administrativa que permitem ao estado punir as pessoas – confia à ordem jurídica interna de cada estado a regulamentação da
nacionais ou estrangeiras – que, no seu território, ofendam a honra de atribuição, da conservação e da perda da nacionalidade, embora não deixe
terceiros estados. de apor certas limitações ao direito interno. Os critérios de conexão
reconhecidos como geralmente válidos pela ordem jurídica internacional,
Os poderes do estado sobre o território e as pessoas – o estado pode entre os quais são o do ius sanguinis e o do ius solis, comumente aceitem
exercer os seus poderes quer sobre o seu território, quer sobre as pessoas – como critérios tipo.
nacionais e estrangeiras – que nele vivem. Esses tais poderes reconhecem a
todos os estado de legislar para todo o território, de exercer a competência De acordo com o ius sanguinis, a atribuição da nacionalidade é feita com
jurisdicional e de monopolizar o poder coactivo. É claro que todos estes base em laços de sangue, enquanto é o local de nascimento que está na base
poderes são limitados, em maior ou menor grau, pelo direito internacional. do ius solis; em matéria da regulamentação da nacionalidade o direito
Das competências territoriais do estado existem competências internacional impõe aos estados limites que estes devem respeitar, embora a
discricionárias e competências vinculadas. As competências discricionárias doutrina não só admita unanimemente que com fundamento no direito
visam proteger a soberania estatal e estão ligadas à ideia do domínio internacional geral o único limite inequivocamente aceitável é o de que os
reservado dos estados, isto é, àquele conjunto de actividade jurídicas que o estados devem abster-se de determinar quem são os nacionais de outros
estado pode exercer sem qualquer submissão ao direito internacional, por estados e é o de que a determinação da nacionalidade deve assentar numa
serem essenciais à sua própria vida. relação efectiva e estrita entre a pessoa e o estado, qualquer que seja o
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critério utilizado para o efeito – ius sanguinis ou ius solis – ou qualquer
outro.