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Se o pai, em vida, quer dar alguma coisa à sua filha quando do seu casamento, que lhe
dê conforme o que foi escrito, mas não mais.
Se um homem ou uma mulher morrerem, deixando filhos, netos· ou bisnetos, que estes
herdem os bens.
Se aquele que comprou um escravo no mercado não resolveu a compra nos sessenta dias
(seguintes), e se (o escravo) cawou algum prejuízo antes ou (o cawa) posteriormente, a acção
em tribunal será dirigida contra o detentor (do escravo).

Trad. segundo a ed. M. Guarducci, lmcriptiones creticae ... ,


t. rv:.
Roma, 1950, n. 72, p. 128 e ss.

E. - O DIREITO ROMANO
A evolução ascendente do direito romano é mais tardia que a do direito egípcio e a do
direito grego; Roma estava ainda no estádio ciânico na ·época em que, no Egipto e na
Grécia, o direito já tinha atingido uma forma individualista (séculos VI e V a.C.); não
atingirá esta senão no decurso dos séculos II e 1 antes da nossa era 122 l.
A história do direito romano é uma história de 22 séculos, do século VII a.C. até ao
século VI d.C., no tempo de Justiniano, depois prolongada até ao século XV no império
bizantino. No Ocidente, a ciência jurídica romana conheceu um renascimento a partir do
'século XII; a sua influência permanece considerável sobre todos os sistemas romanistas de
direito, mesmo nos nossos dias.
Foi sobretudo o direito privado romano que atingiu um nível muito elevado e que
exerceu uma influência duradoura sobre o direito da Europa medieval e moderna. Pouco
será referido no breve reswno que se segue, ficando a terceira parte deste livro consagrada à
história dum certo número de instituições de direito privado; quase cada capítulo começa
por uma breve exposição da evolução da instituição na história do direito romano. Nas
páginas que se seguem, outros dois aspectos do direito romano serão esboçados: o direito
público, através duma análise das formas sucessivas de governo, e as fontes do direito.

1. Introdução histórica
Roma, cuja fundação teria tido lugar, segundo a lenda, em 75 3 a. C., não era senão
um pequeno centro rural no século VIII a.C.. Dez séculos mais tarde, nos séculos II e III da
nossa era, Roma é o centro dum vasto império que se estende da Inglaterra, da Gália e da
Ibéria à África e ao Próximo Oriente até aos confins do império persa.

(22) Bibliografia enorme; basca remeter para crês excelentes obni.s recences e para as ttferências publicadas na nossa
Introdução bibliográfica: R. VILLERS, RfJ111l e/ /e d•nit pt'ivé, Paris 1977, col. L'E110/11tion dt l'h11manilé;]. GAUDEMET, /n1titu1ion1 dt
/'Antiquiti, op. cit., Paris 1967, • ú droit /willi r&main, Paris 1974, col. U 2; P. STEIN, •Roman Law: Sources•; TH. LJEBMAN-
·FRANCFORT, •Droic romain: droic public•;). H. MICHEL. ·Droir romain: droic privé•;]. A. C. THOMAS •Roman I.aw:
Criminal Law•, inJ. GILJSSEN (ed.), lntrod. Bib/iog•., A/9, A/10, A/li• A/12, Bnixdas 1965-1972; A. D'ORS, Derecho .amano,
Pamplona 1973; SEBASTIÃO CRUZ, Di,..ita.omano, /. FonteJ, Coimbra 1984.
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Este império romano deslocou-se no Ocidente no século V, mas sobreviveu na parte


oriental da bacia mediterrânica, à volta de Constantinopla; o Império Romano do Oriente
·tornou-se no Império Bizantino e subsistiu como tal até ao século XV.
Esta longa história é igualmente dividida em três períodos, correspondendo a três
regimes politicamente diferentes: a realeza (até 509 a.C.), a república (509-27) e o
império; o período imperial é também dividido em Alto Império (até à época de
Diocleciano, em 284) e Baixo Império (até à época de Justiniano, morto em 566), ao qual
sucedeu o Império Bizantino.
Esta periodificação, baseada na forma de governo, não corresponde à periodificação
habitual da evolução do direito. Distingue-se em rela ão a este:
c--~ã-époc;-;,;1;g-;,-~~;I;;;-~;-éc~i~ II a.C., período do «direito romano
muito amigo»' direito de tipo arcaico, primitivo, direito< duma sociedade rural baseada
sobre a solida.riedade clânica; . . . ... _ ... .... __ --~-- ___ --·-·- ;:-;\
uma época clássica (de cerca de 150 a.C. a 284 d.~)·_\ª do «direito romano
clássico», ireitOd~a -soêTe7iade-é;QluTcj;~--T~1dT;l<lüãilst-ã-, · aíreito fixado por juristas
numa ciência jurídica coerente e racional;
E~-~P?!~-~?-_~d,i~7mp'lrl~/ direito nascido da tripla crise do século III, política,
económica e religiosa, ·afreítõ-aominado pelo absolutismo imperial, pela actividade
legislativa dos imperadores, pelo Cristianismo.

a) A Realeza

Na época das origens de Roma, nos séculos VIII e VII, populi usando uma língua
comum, o latim, tinham-se instalado a Este e ao Sul do Tibre. Populações de pastores, de
meios muito limitados, ocupando-se pouco da agricultura, viviam em vici (aldeias), muitas
vezes nas alturas, lugares de refúgio (oppida), dispondo dum território circundante (jlagus).
Estas aldeias são ocupadas por grandes famílias patriarcais agrupadas em gentes. Algumas
vezes, alguns bandos de pastores-predadores tomavam um chefe comum, um rex, que se
tivesse imposto antes de tudo pela sua habilidade ou a sua força.
Tal era o caso das populações vivendo nas colinas arborizadas que formavam o local
da futura Roma. Os chefes de família, os patres, reúnem-se aí e formam o que mais tarde se
chama o Senac!o- Ürexé;-p-;;~~.-~~~p~~ ~j~~;~~~r~~gei;Õq~é"lhes é imposto; a realeza não é
herédicá~i-~ ..Ó ~andidato proposto pelo Senado exercendo o interregnum, depois da consulta
dos deuses pela tomada de auspícios, não acede ao poder supremo senão com o concurso de
forças religiosas, políticas e populares. O rei dirige (regere) os seus súbditos; é antes de tudo
um chefe, dispondo do poder de comando; tem também funções religiosas, mas a realeza
romana é laica; não diz o direito (ius dicere), mas dá, talvez sob uma inspiração divina,
<<soluções de direito~;-(i~s.~re): · · .
- ·cérca de 5 7 5 a. C., os Etruscos ocupam Roma por quase um século; os reis romanos
são então de origem etrusca. A Etrúria foi, nesta época, a potência política e económica
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mais importante da Itália, situada entre o Tibre e o Arno. Mas o seu sistema polhico e
jurídico permanece muito mal conhecido; exerceu todavia uma influência inegável sobre as
instituições romanas nascentes.

b) A República

A passagem dum regime político ao outro, da realeza à república, fez-se lemamente


e muito progressivamente, por vezes com recuos. Se se aceita geralmente a data de 509
a. C., à qual remonta a lista dos cônsules (mas da qual os nomes iniciais são muitas vezes
lendários), é porque por esta época o domínio etrusco se enfraquece e o poder do rei
diminui. Situa-se agora a queda da monarquia por volta de 470 a.C.
O novo regime político com dois cônsules à sua frente não se instalou senão no
começo do século IV, à volta de 367 a.C. (leis de Licínio).
Este novo regime é caracterizado pela pluralidade das assembleias e magistraturas,
anuais e colegiais. O magistrado romano é um órgão da cidade, um titular do poder
<poteJtas); difere assim do magistrado ateniense, que não é afinal senão um agente da
assembleia ! 23>. Os magistrados são em princípio designados por um ano; são geralmente
em número de dois, por vezes numerosos. Entre eles, os cônsules, titulares do imperium,
dispõem do comando militar e do governo da cidade; presidem às assembleias, podem
propor leis, tiveram talvez no início um poder de jurisdição. Os pretores são sobretudo,
mas não exclusivamente, magistrados judiciais; organizam os processos, designam os
juízes. Houve outros magistrados, cais como os edis curuis, os tribunos, os questores, os
censores; ao todo, no século III a.C., 28 magistrados, ajudados por alguns auxiliares.
As assembleias eram múltiplas, contrariamente a Atenas onde não havia senão uma, a
ecdeJia: curiata comitia, centuriata comitia, tributa comitia, concilia plebis e além disso o Senado.
Os curiata comitia, datando da época da realeza, quase não mais exerceram papel político.
Os centuriata comitia, de base censitária, foram a assembleia popular mais importante
durante uma grande parte da República; votavam por centúria; mas em 193 centúrias, a
classe mais rica tinha 80. Parava-se o voto logo que se tinha atingido a maioria; eram pois
assembleias aristocráticas e tradicionalistas; não eram democráticas senão na aparência. As
suas principais prerrogativas foram a escolha dos cônsules e dos prerores e o voto das leis;
mas os candidatos às magistraturas eram propostos (creatio) pelos seus predecessores, não
deixando aos comitia senão a possibilidade de confirmarem ou recusarem a proposta;
aconteceu o mesmo em matéria legislativa. Os tributa comitia eram assembleias por tribo,
estando todos os cidadãos recenseados numa tribo local; houve finalmente, a partir de 241
a. C., 3 5, das quais 4 urbanas e 31 rústicas. Estas assembleias intervinham na eleição dos

<23) AcruaJmente, em numerosos países, o ~ermo «magistrado» designa unicamente membros da Jel judiciária que são
chamados a julgar ou a_ requerer a aplicação da lei. Na baixa idade média e nos rempos modernos, o rermo era muiras vezes urili>ado
para designar os administradores da cidade, por exemplo os escabinos.
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magistrados inferiores e também, sobretudo durante os últimos séculos da República, no


voto das leis.
Os· conâlia plebis, assembleias próprias da plebe, sem participação de patrícios,
elegiam os tribunos da plebe e votavam os plebiscitos, leis reservadas à plebe; mas a partir
de 287 a. C., os plebiscitos são assimilados às leges e aplicavam-se também aos patrícios.
O Senado, composto na época da realeza e no começo da república apenas pelos palres,
os chefes de família, via os seus membros designados pelos cônsules, primeiro, pelos
censores posteriormente; estes recrutavam-nos entre os antigos magistrados. O seu número
passou de 300 a 600 na época de Sila (século I a.C.). As suas atribuições eram numerosas.
A auaoritas patrum, monopólio dos senadores patrícios, era a ratificação de toda a decisão
duma assembleia, designadamente o voto duma lei ou a eleição dum magiscrado; a parrir
de 3 39 a. C., a ratificação transforma-se em autorização prévia, ·cuja autoridade
permanecerá considerável, mesmo se não vincular a assembleia. o senado podia assim
formular os prmcípios duma nova lei, adoptada depois de discussão sob a forma dum
senácus-consulto, convidando, a seguir os magistrados a sancioná-la. O senado intervinha
também na autorização das despesas públicas, no recrutamento das tropas, nas relações
externas, no controlo dos magistrados.
Senatus populusq11e Romanus (S P Q R), o senado e a comunidade dos cidadãos
romanos, esta expressão adquire um sentido jurídico e político. A res publica, a coisa
pública, não é nem a república, nem o Estado no sentido moderno; designa a organização
política e jurídica do populus, na qual o cidadão subordina o seu próprio interesse (m
privata) ao da comunidade.
Só os cives, os cidadãos romanos, gozavam do direito dos Romanos, do ius civile. Os
estrangeiros, os peregrini, não estão submetidos senão ao ius gentium, o direito comum a
todos os homens (jus commune omnium hontinum), conforme à razão natural (ratio natura/is):
Mas sob a República, os Romanos tinham conquistado vastos territórios, primeiro na
lcália, depois na Gália, em Espanha, em África, na Grécia. A cidadania romana foi
concedida não só a pessoas, individualmente, mas também a grupos; no fim da República,
no século I a.C., a cidadania foi concedida aos Italianos, até aos Alpes.

c) O Alto Império
A passagem da República ao Império fez.:.se progressivamente. O progresso
económico, as dificuldades sociais, as vastas conquistas provocaram durante o século I a.C.
uma crise política que tentativas de reformas tentaram remediar. Os Gracos, Sila,
Pompeu, César falharam; -Octávio conseguiu centralizar todos os poderes nas suas mãos,
deixando subsistir as instituições da República; recebeu do Senado o título de Augusto, o
imperium proconsular, o poder tribunício vitalício (27-23 a.C.); foi proclamado imperator,
isto é, general vitorioso; não está vinculado pela lei (/egibus solutio).
A partir daí, o regime político tornou-se o do Império, no qual todos os poderes
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estão concentrados nas mãos do imperador. Este governa e administra o vasto território
com a ajuda de funcionários, por si nomeados e demitidos. As assembleias e magistraturas
caem em decadência; apenas o Senado subsiste, mas a sua composição' depende do
Imperador e as suas p{errogativas são reduzidas; intervém por vezes na confirmação da
escolha dum sucessor, já operada pelo imperador ou pelo exércico, ou mesmo para eleger
um novo (Galha, 68; Nerva, 96); intervém também em matéria legislativa (infra).
O século II a.C. foi o grande século do regime imperial com imperadores cais como
Trajano, Adriano, Marco Aurélio·; fõi também o grande período do direito romano clássico (infra).
Os vastos territórios conquistados pelas armas, da Inglaterra ao Próximo Oriente,
foram progressivamente· romanizados. Mas conservam os seus costumes locais, nuns lados
mais, noutros menos.
O édito de Caracala, de 212, concedeu a cidadania romana a todos os cidadãos que
se encontravam nos limites do Império (texto infra, p. 94) mas o princípio geral é
acompanhado, no documento conservado, duma restrição - os dedicícios - quase
ilegível, cujo alcance é ainda objecco de vivas discussões entre hiscoriadores.

d) O Baixo Império
A crise do século Ili, tanto política e económica, como religiosa, provocou trans-
formações profundas na estrutura política do Império. Depois da anarquia militar,
Diocleciano (284-305) e, sobretudo, Constantino (306-337) reorganizam o Império e a
sua administração.
O imperador já não é umprinceps, o primeiro dos cidadãos, mas um senhor, o dominus
do Império; ao principado sucede-se o dominado. O seu poder é absoluto; é divinizado;
encarna a res publica,· dispõe de todos os poderes, sem outro controlo senão o dos seus
conselheiros; legisla só.
Constantino reconheceu oficialmente a religião cristã, nomeadamente pelo édito de
Milão (313). A Igreja organiza-se a partir daí no quadro político e administrativo do
Império Romano (cf. infra, direito canónico, p. 133 ss. ).
Constantino fundou também uma nova capital, Constantinopla, sobre o lugar da
antiga Bizâncio. O Império Romano divide-se a partir daí em dois impérios, o do
Ocidente, que se afundará no século V, e o do Oriente que sobreviveu até ao século XV.
Justiniano (527-565) foi o último imperador do Baixo Império; foi o primeiro dos
imperadores bizantinos.

2. O antigo direito romano

Na origem, nos séculos VIII e VII a.C., Roma é dominada pela organização
clânica das grandes famílias, as gente.r, bastante semelhantes às yÉvr; (clãs) gregas.
A aucoridade do chefe de família é quase ilimitada; uma solidariedade acciva e passiva
liga entre si todos os membros da gens; a terra, embora objecto de apropriação, é inalienável.
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Desde o começo da República (século V antes da nossa era), a evolução


precipitou-se pelo papel crescente dos plebeus, provavelmente estrangeiros, comerciantes
e agricultores, vivendo à margem da organização das gentes. Os conflitos sociais que
opuseram as xentes e a plebe conduziram a uma certa igualdade política, religiosa e
social. Os plebeus obtiveram pouco a pouco a faculdade de utilizar o mesmo direito
privado que os patrícios; ao mesmo tempo, esse direito privado tendia a romper com a
solidariedade clânica.

a) O costume

O antigo direito romano, como todo o direiro arcaico, é essencialmente


consuetudinário: mos maiorum, comuetudo. Trata-se antes de mais dos costumes de cada
clã, mesmo de cada família; os mores gentis dizem respeito sobretudo ao casamento e ao
nome. Mais carde, durante a República, houve também os costumes da cidade, aos
quais os costumes das gentes estavam subordinados.
Direito e religião ainda não estão diferenciados; em todo o caso não há diferença
entre o direito sagrado e o direito secular. Eram apenas os sacerdotes - os pontífices
- que conheciam as formas rituais e as interpretavam. Guardaram este segredo até
300-250 a.C.
Conhece-se muito mal este antigo direiro consuetudinário; não houve nenhuma
redução a escrito. Mas podem encontrar-se traços nas leges regiae (leis reais), na Lei das
XII Tábuas, nos éditos dos magistrados, nos escritos dos jurisconsultos.

b) A legislação

Parece não ter havido actividade legislativa na época da realeza, nem no começo
da República. A escrita era pouco conhecida. As leis reais (leges regiae) que a tradição
atribui a reis tais como Rómulo e Numa, o «rei legislador», são mais decisões de
carácter religioso tomadas pelo rei na qualidade de chefe religioso.
Além do ritual dos sacrifícios, conteriam regras de direito privado e de direito
penal, mas de incidência religiosa. Não são leis, mas sobretudo costumes, talvez
redigidos somente numa época tardia (século I a.C.) mas atribuídas aos reis lendários.
Sob a República, a lei começa a entrar em concorrência com o costume como
fonte de direito. O termo /ex é empregado num sentido bastante próximo da noção
acrual de lei <24>.
A /ex - pelo menos as leges publicae - é um acco emana'3o das autoridades
públicas e formulando regras obrigatórias; definem-na como uma ordem geral do

C24) J. BLEICKEN, ReJ publm1. Gese/z und Recht in tkr rhiniuhen Republik, Berlim 197~; A. MAGDELAIN, La loi à Rom•.
Hiuoir< d'un concep1, Paris 1979.
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povo ou da plebe, feita a pedido do magistrado: /ex est generale iussum populi aut plebis,
rogante magistratu.
Apenas os magistrados superiores - côns_ules, pretores, tribunos, ditadores -
tinham a iniciativa delas; propunham um texto (rogatio) que era afixado (.promulgatio)
durante um certo tempo. O voto cinha lugar num d~s comícios: comícios curiais,
bastante excepcionalmente, no início; comícios centuriais sobretudo nos séculos V e IV
a. C.; comícios das tribos desde a /ex Hortensia (287 a.C.). O magistrado que tinha
proposto a lei, defendia o seu projecto por vezes emendado, perante a assembleia; esta
não podia senão aceitá-la ou rejeitá-la. Se a aceitasse, o magistrado que presidia à
assembleia, promulgava-a (renuntiatio); mas podia também suspender o voto, sobretudo
por motivos religiosos, e assim impedir a aprovação (obnuntiatio).
O papel dos magistrados é pois capital; ·o dos comícios indispensável, mas
acessório. Era necessário, além disso, o acordo dos senadores patrícios, a auctoritas
patrum, primeiro sob a forma de ratificação depois do voto; depois de 339 a.C., sob a
forma de autorização anterior ao voto.
Os plebiscitos são actos legislativos obrigando os plebeus e aprovados pela sua
assembleia, o concilium plebis; a partir da /ex Hortensia (287 a.C.), talvez antes, os
plebiscitos são assimilados às leges e obrigam todos os cidadãos.
A República legislou pouco; teria havido cerca de 800 leges rogatae, sobretudo em
matéria política, económica e social; não teria havido senão 26 no domínio do direito
privado, esta continuando sobretudo regido pelo costume, o mos maiorum. Entre as leis
de direito privado, citemos a lex Cinnia (204 a.C.) sobre as doações, a /ex Furia (cerca
de 200 a.C.) em matéria de testamento, a /ex Atilia (186 a.C.) em matéria de tutela, a
/ex Aqui/a (cf. III. 5 .B), a lexjulia de adulteriis.

e) A Lei das XII Táhuas

Entre as leis da época republicana a que é conhecida corri o nome de «Lei das
XII Tábuas» merece uma atenção particular. Foi um dos fundamentos do i~s civile;
embora ultrapassada por outras fontes do direito, foi considerada em vigor até à época
de Justiniano.
Segundo a tradição lendária, teria sido redigida a pedido dos plebeus que,
ignorando os costumes em vigor na cidade e as suas interpretações pelos pontífices, se
queixavam do arbítrio dos magistrados patrícios. A redacção teria sido confiada a dez
comissários, os decemviri, em 451-449 a.C.; o texto original, gravado em doze tábuas, teria
sido afixado no forum, mas destruído quando do saque de Roma pelos Gauleses em 390.
A própria exi~tência das XII Tábuas foi posta em dúvida por algiins h.istoriadores do
direito. O texto perdeu-se; mas pôde ser parcialmente reconstituído por citações de
Cícero e Aufo Gélio e por comentários, escritos designadamente por Labeo e .por Gaio,
recolhidos no Digesto. Esses fra'gmentos parecem pertencer a diversas épocas entre 450
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e 300 a. C.. A lei das XII Tábuas não é um código, no sentido moderno do termo; não
é talvez um conjunto de leis, antes uma redução a escrito de costumes, sob a forma de
fórmulas lapidares. A sua redacção tendeu a resolver um certo número de conflitos
entre plebeus e patrícios; mas a sua interpretação permaneceu secreta, porque confiada
aos pontífices.
No conjunto, a Lei das XII Tábuas revela um estádio da evolução do direito
público e privado comparável ao que .é conhecido em Atenas pelas leis de D~ácon e de
Sólon. A solidariedade familiar é abolida, mas a autoridade quase ilimitada do chefe de
família é mantida; a igualdade jurídica é reconhecida teoricamente; são proibidas as
guerras privadas e instituído um processo penal; a terra, mesmo a das gentes, tornou-se
alienável; é reconhecido o direito de testar.

3. O direito clássico
Considera-se como época clássica do direito romano a que se estende do século II
a. c. até~õSéculOlTí·d:·c~~·lSurãnte-êstê""peiJôdõ'tüdo-·õ' müridõ 'iriedíierrâiíeo é
prÕgiessiv~.:i;~~t~ -s~bmetid~ a Ro~a. Ao mesmo tempo, Roma abre-se às influências
externas, sobretudo às dos direitos grego e egípcio.
Sob o Alto Império, o direito privado romano aparece como um sistema
individualista, enquanto que do ponto de vista político, a liberdade dos cidadãos ia
diminuindo sem cessar. Há assim um divórcio crescente entre o direito privado e o
direito público. À submissão absoluta ao imperador opõe-se a grande liberdade dos
cidadãos (cives) de disporem dos seus bens a título privado. Os juristas romanos
constroem então, no domínio do direito das coisas e das obrigações, um sistema jurídico
completo e coerente.
Enquanto que os outros direitos da antiguidade não deixaram senão poucos
traços escritos e escapam por consequência, em grande parte, ao nosso conhecimento,
os textos do direito romano da época clássica são muito numerosos. Os Romanos
foram, parece, os primeiros a sentir a necessidade de reduzir a escrito as regras jurídicas;
além disso, foram os primeiros a consagrar obras importantes ao escudo do direito.
As fontes do direito romano clássico continuam a ser a lei e o costume. A lei
porém desempenha um papel cada vez mais importante, tendendo a suplantar o
costume. Contudo, fontes de direito especificamente romanas dominaram esta época: os
éditos dos magistrados e a jurisprudentia, fixada nos escritos dos jurisconsultis.

a) O costume
O costume permanece uma fonte do direito do ius civile, mesmo na época clássica
do direito romano, embora alguns juristas, por exemplo Gaio e Papiniano, não o
considerem como tal, mas como um facto. Foi suplantado não só pela legislação -
apesar de tudo pouco abundante - e sobretudo pelas duas fontes tipicamente romanas,
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o édito do pretor e os escritos dos jurisconsultos. Estes últimos são de tal modo
abundantes que restam poucos domínios do direito privado onde ainda deva haver
recurso ao costume.
Mas no vasto império permanecem numerosas regiões onde o ius ávile quase não
penetrou. Na Gália, por exemplo, como também em Inglaterra, na Ibéria, em África,
nas regiões do Danúbio, parece que algumas cidades, apenas, conheceram e aplicaram o
direito dos cives romanos, mesmo depois de 212, quando o édito de Caracala tinha
teoricamente concedido a cidadania a todos os habitantes do império. Nas partes rurais,
os usos locais, os consuetudines loci ou regionis, permaneciam em vigor. São mal
conhecidos; absolutamente desconhecidos mesmo para algumas regiões. São-lhes feitas
raras alusões em alguns escritos romanos. Diocleciano teria querido suprimir comple-
tamente os costumes locais para operar a unificação jurídica do império; mas mesmo
em alguns dos seus escrito!> ainda se encontram traços deles.

b) A legislação
A legislação desempenha um papel crescente como fonte do direito. Ela é cons·
tituída sucessivarnem:~ pelas leges, pelos senarus-consultos e, sobretudo, pelas consti-
tuições imperiais.
As leges que emanam dos magistrados e das assembleias populares permanecem a
única forma de legislação no fim da república e no início do império. Do tempo de
Augusto, por exemplo, datam ainda várias leges julia e (de adulteriis et de fundo dota/e, de
judiciis, de maritandis ordinibus, de tutoribus, etc.) --:- muiro importantes. Mas com o
declínio dos comícios desapareceram também as leges de que não se encontra qualquer
vestígio após o século I depois de Cristo.
A actividade legislativa manifesta-se então sob a forma de senatus-consultos,
porque no decurso do primeiro e do segundo séculos do Império, o poder legislativo
passou para o Senado. Já sob a República, o Senado intervinha no processo legislativo
das assembleias através da auctoritas patrum.
No fim da República e início do Principado, o papel do Senado no domínio
legislativo continuou ainda indirecto; ele limitava-se a interpretar o direito em vigor ou
a convidar os magistrados, sobretudo os pretores, a usar do seu ius edicendi para
introduzir regras novas.
Sob Adriano (117-138), a acrividade legislativa do Senado é oficialmente
reconhecida. Mas, ao mesmo tempo, o Senado fica à mercê do imperador. Ele não tinha,
de resto, a iniciativa; só o imperador, ou um magistrado dele dependente, podia propor
um projecto através de uma oratio principis; o Senado apenas podia ratificá-lo.
A partir do fim do século, o Senado foi de resro eliminado; a sua função legislativa
foi portanto de curta duração <25l,

C2H A expressão senárus<onsulto setá retomada em França na época do consulado e do império napoleónico.
89

Conhecem-se poucos senatus-consultos; entre os mais importantes citemos os


senatus-consulros Velleiano (pouco depois de 46 da nossa era), proibindo às mulheres
qualquer intercessio pro alio (cf. infra p. III. l.F); Macedoniano (cerca de 75)'proibindo o
empréstimo de dinheiro a um filho de família abastada; Tertuliano (133) em matéria de
sucessão, atribuindo à mãe um direito sobre os bens de seus filhos; Orficiano (178)
também em matéria sucessória (cf. ínfra p. IIl.3.A).
O Imperador tornou-se progressivamente o único órgão legislativo. Embora
Augusto e os seus primeiros sucessores tenham recusado oficialmente o poder legislativo
que lhes era oferecido, eles tinham no entanto exercido este poder de facto; a partir do
ano 13 depois de Cristo, o Senado reconheceu a força obrigatória dos éditos deliberados
em conselho imperial.
A legislação imperial, cujo verdadeiro fundamento era finalmente a auctoritaJ
principis, tornou-se cada vez mais abundante a partir do século II. Ulpiano, pouco
depois, dirá que a constituição imperial tem a mesma autoridade que a lei (no sentido
da /ex da época republicana): quod principi placuit, legis habet vigorem (D. 1, 4, 1, pr.),
adágio que será muitas vezes retomado pelos príncipes legisladores do fim da Idade
Média e dos tempos modernos (in/ra, p. II. l.C).
Nem todas as constituições imperiais tinham a mesma autoridade; distinguiam-se
quatro categorias:
- os éditos (edicta), disposições de ordem geral, aplicáveis a todo o império
(salvo algumas excepções);
- os decretos (decreta), julgamentos feitos pelo Imperador ou pelo seu conselho
nos assuntos judiciários; constituíam precedentes aos quais os juízes inferiores deviam
obediência em razão da autoridade de que emanavam;
- os rescritos (rescripta), respostas dadas pelo Imperador ou pelo seu conselho a
um funcionário, um magistrado ou mesmo um particular que tinha pedido uma
consulta sobre um ponto de direito; em razão da autoridade do imperador, eles terão
valor de regras de direito aplicáveis a casos análogos; suplantaram progressivamente os
rescritos dos jurisconsultos;
- as instruções (mandata) dirigidas pelo Imperador aos governadores de província,
sobretudo em matérias administrativas e fiscais.
A terminologia romana será muitas vezes utilizada, por vezes com sentidos
diferentes, na actividade legislativa dos tempos modernos.

c) Os édito1 dc1 magistrado1


Os magistrados encarregados da jurisdição - pretores, edis curuis, governadores
de pr:ovín.cias - tinhWi-se ·habituado, quando da sua entrada em funções, a procl~ar
:1. forma pela quaÍ_ cont~varn exercer essas funções, nomeadamente em que casos eles
)tganizariam wn processo, atribuin_do uma acção ao queixoso. Primitivamente orais
90

(e-dicere, edictum), estas proclamações tornaram-se escritas; elas repetiram-se de uma


magistratura à outra e tornaram-se, assim, regras permanentes do direito, que os
juízes faziam respeitar.
Os éditos dos pretores foram uma das fontes mais originais do direito durante o
último século da época r~publicana; uma fonte especificamence romana, de .resto,
porque não a encontramos em qualquer dos outros sistemas jurídicos. O pretor,
prometendo uma acção, criava um direito de que os cidadãos se podiam prevalecer;
enquanto que nos direitos modernos o direito é geralmente criado por uma lei, em Roma
é o pretor que reconhece um direito atribuindo uma acção, isco é, um meio processual.
Assim apareceu um ius praetorium, um direito pretoriano distinto do ius civile,
constituído pelos costumes e pelas leges. Direito de origem jurisprudencial - é neste
sentido que se emprega ainda hoje a expressão de direito pretoriano - ele preencheu as
lacunas do ius civile e sobrecudo criou regras novas de direito, permitindo adaptar o
direito à evolução considerável que a sociedade romana tinha sofrido nos séculos III e II
antes de Cristo. O direito pretoriano não está reservado apenas aos cives Romanos, mas
abrangia os peregrini.
A partir do século II antes de Cristo, os pretores criaram o hábito de repetir os
textos dos seus predecessores sem acrescentar quaisquer disposições novas; os éditos
estabilizaram-se assim; fala-se mesmo - erradamente - de uma «codificaçao» dos
éditos na época de Adriano; foi talvez por ordem deste imperador que um jurista,
Salvius Julianus, teria redigido, cerca de 125-138 depois de Cristo, aquilo a que se
chamou o Édito perpétuo. O texto perdeu-se, mas o sábio alemão Lenel, reconstituiu-o
no século XIX, com a ajuda de fragmentos conservados no Digesto.

d) A jurisprudência, os escritos dos jurisconsultos


A jurisprudência, no sentido romano, era o conhecimento das regras jurídicas e a
sua actuação pelo uso prático. É antes aquilo que nas línguas novilatinas se designa por
doutrina; porque a jurisprudência designa nestas línguas o conjunto das decisões
judiciais; o termo inglês jurisprudence tem um sentido mais próximo de; sentido romano.
A jurisprudência era a obra dos jurisconsultos que desempenharam um papel
capital na fixação das regras jurídicas. Na verdade, os jurisconsultos eram homens
muito experientes na prática do direito, quer enquanto davam consultas jurídicas
(respons~), quer enquanto redigiam actos e orientavam as partes nos processos, embora
aí não interviessem. A autoridade das suas consultas decorria do seu valor pessoal e do
seu prestígio social. A pa,rtir de Augusto, o imperador teria concedido a certos
jurisconsultos o benefício (beneficium) do ius respondendi ex auctoritate principis, o direito
de resposta sob a autoridade do príncipe; as responsa dos juristas investidos 'desta nova
autoridade continuaram no encanto puramente privadas, sem valor oficial; não foi senão
a partir de Adriano que os juízes foram obrigados pela responsa, mas somente em caso
de unanimidade dos juristas autorizados.
91

Apesar do seu carácter privado, os escritos dos jurisconsultos constiruíram uma


verdadeira fonte do direito na época clássica, não somente pelos seus comentários de
rextos legislativos e de édito do pretor, mas sobr.etudo pela sua maneira de resolver as
lacunas do direito. Pela abundância de matérias tratadas, e pela construção lógica das
suas obras, os jurisconsultos elaboraram uma verdadeira ciência do direito.
Esta aparece nos séculos II e I antes de Cristo, mas o seu apogeu situa-se nos
séculos II e III da nossa era; são conhecidos uns sessenta jurisconsultos desta época, dos
quais cerca de metade reria obtido o ius respondendi do imperador; as suas obras
chegaram até nós apenas pelos fragmentos recolhidos no Digesro de Justiniano. Apenas
as lnstitutiones de Gaio, cerca de 160, foram encontradas (só em 1816) quase
inteiramente; é uma obra de carácter didácrico, que expõe de maneira simples o
conjunto do direito privado romano.
Entre as outr~s obras de jurisconsultos, citemos as Quaestiones e as Responsa de
Papiniano (morto em 212 depois de Cristo), as Sententia1: de Paulo, as Regulae de
Ulpiano, as obras de Modestino.

4. O direito do Baixo Império

O direito romano do Baixo Império desenvolve-se dos séculos IV ao VI da nossa


era, de Constantino a Justiniano. Período de decadência política e intelectual, de
regressão económica. O cristianismo, sob a influência de ideias morais e religiosas
vindas do Oriente, transformará numerosos princípios do direito privado. Instituições
novas, que anunciam o feudalismo começam a aparecer. O centro vital do Império
Romano passa de Roma para Constantinopla; depois da queda de Roma, em 476,
apenas subsiste o Império do Oriente.
Ao direito romano clássico, que sobrevive nas obras dos jurisconsultos e nas
recolhas de constituições imperiais e que aparece como um direito erudito, opõe-se
um direito vivo, o «direito vulgar», nascido de costumes novos e por vezes fixado
pelos legisladores.
A legislação, obra dos Imperadores, fica a ser a principal fonte de direito.
Assiste-se, nesta época., aos primeiros esforços de codificação. As mais importantes
recolhas de leis são obras privadas, provavelmente redigidas em Beirute: o Codex
Gregorianus, composto cerca de 291, contém as consticuições de 196 a 291; o Codex
Hermogenianus foi elaborado pouco depois, em 295.
A primeira recolha oficial é o Código Teodosiano. Foi redigido no Oriente, por
ordem do Imperador Teodósio II. Destinado a conter o texto integral de todas as
constituições imperiais, a obra finalmente publicada foi muito mais modesta: compreende
sopretudo as constituições promulgadas desde Constantino (3 12). Este código foi
publicado em 438, mais ou menos simultaneamente por Teodósio em Constantinopla e
92

pelo imperador do Ocidente, Valeminiano III 126>. As constituições promulgadas depois


de 438 são chamadas «Novelas pós-teodosianas».
A influência do Código Teodosiano foi mais duradoira no Ocidente que no
Oriente. No Ocidente, o Código sobreviveu à derrocada do Império Romano e
continuou em vigor até à redacção das Leges romanae no século VI (cf. p. 160); e foi, de
resto, retornado em parte na Lex romana Visigothorum e exerceu assim uma influência
indirecta sobretudo na pen~nsula ibérica, durante séculos.
Em contrapartida, no Império Romano do Oriente, Justiniano fez empreender
por urna comissão de dez membros (nomeadamente, Triboniano e Teófilo), uma vasta
compilação de todas as fontes antigas de direito romano, harmonizando-as com o
direito do seu tempo. O conjunto das recolhas publicadas por Justiniano, ao qual mais
tarde se deu o título de Corpus juris civilis, compreende quatro partes <21 >.
a) o Código (Cotkx Justiniani), recolha de leis imperiais, que visava substituir
o Código Teodosiano; ao primeiro código de Justiniano, publicado em 529 (texto
perdido), sucedeu um segundo código, em 534;
b) o Digesto (Digesta ou Pandectas), vasta compilação de extracros de mais de
1500 livros escritos por jurisconsulros da época clássica. Ao todo, forma um texro de
mais de 150 000 linhas. O Digesto continuou a ser a principal fonte para o estudo
aprofundado do direito romano. Um terço do Digesto é tirado das obras de Ulpiano, um
sexto das de Paulo. Já em 426, uma «lei das citações» tinha dado força de lei aos escritos
de cinco jurisconsultos da época clássica: Gaio, Papiniano, Paulo, Ulpiano e Modestino;
c) as Instituições (lnstitutiones justiniani) formam um manual elementar
destinado ao ensino do direito. Obra muito mais clara e sistemática que o Digesto, foi
redigida por dois. professores, . Doroceu e Teófilo, sob a direcção de Triboniano.
Justiniano aprovou o texto e deu-lhe força de lei, em 533;
d) as Novelas (novellae ou leis novtti): Justiniano coptinua a promulgar numerosas
constituições - mais qe 150 - , depois da publicação do seu Codex. Se não existem
recolhas oficiais, possuem-se em contrapartida três colecções reunidas por particulares:
o Epítome do professor Juliano, o Authenticum e urna recolha do tempo de Tibério II.

5. O direito bizantino c2s>

No Império bizantino - que subsistiu até ao século XV - o Corpus juris civilis


continuou a ser a base do direito. Ele tornou-se objecco de várias revisões, tendendo em

<26> Th. MOMMSEN e P. M. MAYER, Code< Thtodmianw ... 2. • ed., 1954; G. G. ARCHI, TeodOJio li t lt11ut1 rodifict1zione.
Nápoles 1976.
<27J A edição usual continua a ser a~ Th. MOMMSEN (lmtitutioneJ ec Dig<Jtt1), P. KRÜGER (Codtx), R. SCHÓLL e N.
KROLL (Novellt1e), 19.ª edição, Berolini 1954.
C2BJ J. DE MALAFOSSE, •Byzance•, in). GIUSSEN (ed.), lntrod. hiblioKr., B/4, Bruxelas 1965. O mamw por excelência
continua a ser: C. E. ZACHARIAE VON UNGENTHAI., G<JcbUbte da GritJChiJch-Riimüchm RBChu, 3. ª <d., 1982; reimpr. anasrárirn por M.
93

geral a simplificá-lo e a reduzir a sua massa; por exemplo, a Écloga (ixÀoyY; ~wv vó1.1wv)
promulgada em 740 sob o imperador Leão, o Isauriano. No fim do século IX, sob
Leão, o Filósofo, procedeu-se a urna reforma d,o Corpus sob o noine de. Ba1ílico1 (-;~
~ctcnÀtxá); o conteúdo das quatro recolhas de Jusriniano é aí classificado de urna forma
sistemática e, ao mesmo tempo, adaptado à evolução do direito bizantino. Os BasílicoJ
suplantaram o Corpus no império bizantino, pelo menos a partir do século XII.
Resumos (a Synopsis, o Tipoukeitos) e manuais (ex.: o Hexobibi/01 de Harminopoulos),
redigidos durante os últimos séculos do império. bizantino, mostram o que subsistiu
então do direito romano e que sobreviveu mesmo durante séculos na Grécia sob a
dominação turca.
O direito bizamino exerceu também uma influência romanizante sobre as mais
antigas redacções de direito russo (nomeadamente a· Rou.rkaia Pravda, cf. infra p. 1. 1.1),
do direito búlgaro (a Eklogve slave, Zakon soudnyi djud'm = Lei para julgar as pessoas),
do direito romeno (nomeadamente a Lei de Julgamento ou Lei de Justiniano) <29>

NOTA DO TRADUTOR

A história do direiro romano na península tem sido abordada quer por historiadores espanhóis, quer por porrugu~. Quanto
aos primeiros v .. por último e com indicações bibliográficas, JUAN ANTONIO ALEJANDRE GARCIA, Dere<ho />rimitivo t
romanización jurídica, Sevilla 1979; FRANCISCO TOMAS Y V ALI ENTE, Manual tk hiJ1oria tkl dwtcho tJpanol, Madrid 1981 (3. • ed. ),
71-96. Quanto aos segundos, NUNOESPINOSAGOMESDASILVA, HiJ1óriadodirti1opor111guiJ, LISBOA 1985, 31-36.
As fontes jurídicas específicas da península (leges de colónias e municípios) estão publicadas nas Fonl<J i11rú romani anlti1111inúani
(FIRA), Firen>e 1941 1. uges (2. • ed., a cargo de Riccobono). Também tiveram uma edição portuguesa em Coltc(iio tk ltx/01 tk direito
penimu/ar. /. Leii rnmana1. Coimbra 1912. As ltRtJ mtlalli 1•ipaJctnltJ têm rido várias edi~ões, traduzidas e cornenradas, a última das
quais é a de C. DOMERGUE, em •La mine antique d'Aljustrel (Portugal) et les tables dr bronze de Vipasca•, Conimbriga 22 (1983)
5-193. O Cotkx thl!OIÍ6Jianum foi editado por MOMMSEN e MEYER, Theodo1iani libri XVI, fllm <orulitNlionihu1 Jirmondianil et leg<J
n1wellae ad Thtodolianum pertinenltJ, 2 vols., Berolini 1905 (reimpr. 1954). Do Corpu1 iuril âvilil existe uma edição crítica, a cargo de
MOMMSEN, KllUEGER, SCHOEll E KROll (revisão de W. KUNKEL), 3 vols., Berolíni 1965. Existe uma tradução espanhola
recente, diri,e:ida por A. d'ORS !Pamplona 1965 ss.). Muitos exce"os das fontes jurídicas (e lireririas) romanas, com a re•~criva
tradução, foram incluídos na An1oloxia de fuen/tJ tkl antixuo tkr.<ho ( = Manual tk hiltoria dei tkr.<ho, II vol. ), de AI.FONSO GARCIA
GALLO, Madrid 1967.

DOCUMENTOS

• 1. LEI DAS XII TÁBUAS (cerca de 450 antes de Cristo).


Tabula IV.
1. (Cícero, De leg., 3, 8, 19) Cito necatus tanquam ex XII tabulis insignis ad
deformitatem puer.
2. Si pater filium ter venum duuit filius a patre liber esto.

SAN NICOLO, Aalen 1955; exposição sistemática cm francês: N. ). PANTAZOPOlJI.05, •Aspect gfuéral de J'emlution hísroriqur du
droit grec•, Rev. inlern. dr. anliquiú, t. 5, 1950, p. 245-280.
<29> Loi dM juxement. Version sla"" er mumaine étabiles par M. ANDRÉEV e G. CROUT, Buareste 1971; N. BLAGOEV,
Ekloga, Sófia 1932; V. GANEV, Zakon sondtryi Lfadm, Sófia 1959. .
94

3. (Cícero, Phil., 2, 28, 69) Illam suam suas res sibi habere jussic, ex XII cabulis clavis
ademit, exigit.
4. (Aulo Gélio, 3, 16, 12) Comperi feminam, .. in undecimo mense post marici morcem
peperisse, factumque esse negotium, quasi marito mortuo postea concepisset, quoniam decemviri
in decem mensibus gigni hominem, non in undecimo scripsissent.

Tradução

l. Que seja morta, segundo a Lei das XII Tábuas, a criança monstruosa.
2. Se o pai vendeu poi: três vezes o seu fiho, que o .filho seja libertado de seu pai.
3. Segundo a Lei das XII Tábuas (em caso de divórcio) que ele ordene a sua mulher que
leve os seus trastes, e que ela entregue as chaves.
4. Recolhi a informação seguinte: uma mulher ... deu à luz uma criança no décimo
primeiro mês depois da morte do seu marido, e organizou-se um processo como se a concepção
tivesse tido lugar depois da morte de seu marido, porque os decênviros tinham escrito que o parto
deve ter lugar no prazo de dez meses e não no décimo primeiro.

P. GIRARD, Textes de droit romain, Paris 1937 ,p. 13-14.

• 2. CONSTITIJIÇÃODECARACALA(212d.C.)

- concessão da cidadania a todos os habitantes do império


O Imperador César Marco Aurélio Severo Antonino Augusto diz: é necessário antes de tudo
referis à divindade as causas e mocivos (dos nossos feitos): também eu teria que dar graças aos deuses
imortais porque com a presente vitória me honraram e me salvarão. Assim, pois, creio de este modo
poder satisfazer com magnificiência e piedade à sua grandeza ao associar ao culto dos deuses quantos
milhares de homens se juncam aos nossos. Outorgo, (pois), a todos quancos se achem no orbe a
cidadanis romana, sem que ninguém fique sem cidadania, excepto os dedicícios ...

Fonte: ALFONSO GARCIA-GALLO, Antologia de fuentei


dei antigo dmcho, Madrid, 1967, 161.

• 3. LEX MET ALLI VIPASCENSIS (época de Adriano)

- o regime de concessão mineira em Aljustrel


VIP. l, 5. Tonstrini. Condutor fruit debelo ita, ne alius in 11/ico meta/li Vipascensis inue
( territoris eius tonstrinum quaestus causa f aciat. Qui ita tonstrinum fecierit, in sinlgulos ferramentorum usw
X .. ) conductori soâo actorir1e eius d( are) d( ebeto) et ea ferramenta comiHa conductori sunto. ( Excipiatur servi)
qui dominos aut comeruos suos curauerint. Circitorib111, quos quos conductor lnon múerit, tondendi eius ne es
/to ...
V JP. 1, 8. Ludi magistri. Ludi magistros a pro( curatore) metallorum immunes es (se placet).
VlP. II, 1. ( ... ) Aug praesem numerato. Qui ita non fecerit et convictus erit prius coxisse
95

1mam quam pretium sicut supra scriptum sofrisse, pars ocwpatoris comissa esto et p11te11m 11nivers11m
proc( urator J metallorum i·endito. /J qui probaverit ante colon11m 1·enam coxisst' quam pmium partis dimidiae
ad fiHum pertientis n11mt:ra11e partem quartam accipi10. .
VIP. li, 2. Pulei argentarii ex forma t'Xerceri debent quae hac lege continetur; quorum pretia
Jt:omdum liberalitalem il.UraliJJimi lmp. Hadriani Aug. observabalur ita ui ad eum pertineat proprietas
pari iJ quae ad jiscum pertinebit qui primus pretium puteo fecerit el sestertia nummum júco intulerit.
VIP. li, 5. Puteum a fisco vendit11m continuis sex mmsibus intmnissum a/li occupandi iuJ
( e1 )to ita 111 cum venae ex eo proferentur ex more pars dimidia fisco salva sit.

Tradução

VIP. 1, 5. O rendeiro (das minas) gozará do direito de ninguém poder exercer o ofício
de barbeiro, por dinheiro, na aldeia ou no território mineiro de Vipasca. Quem assim exercer o
ofício de barbeiro deverá pagar ao rendeiro, ou ao seu sócio ou ao seu agente ... dinheiros por cada vez
que tiver utilizado os seus instrumenros, e estes instrumentos serão confiscados em benefício do
rendeiro. Exceptuam-se os escravos que tenham prestado os seus serviços aos -seus amos ou
companheiros. Os barbeiros ambulantes que não tenham sido encarregados disso pelo
rendeiro não terão o direito de fazer barbas... ·
VIP. 1, 8. Os mestres-escolas. Fica estabelecido que os mestres-escolas são isentos
de encargos por parce do procurador.
VIP. II, 1. ( ... )Augusto, pagará à vista. Se não o fizer e se ele estiver convencido de ter
fundido mineral antes de ter pago o preço como está descrito acima, a pai.te do ocupante será
confiscada e o procurador das minas venderá o poço inteiro. O que provar que o colono fundiu metal
antes de cer pago o preço da metade (do poço) que pertence ao fisco receberá o quarto (desta soma).
VIP. II, 2. Os poços argentíferos devem ser trabalhos do modo estabelecido nesta lei; o seu
preço será conforme à liberdade do sacratíssimo Imperador Adriano Augusto, de tal modo que a
propriedade da parte que pertende ao fisco pertença ao que primeiro tiver oferecido o preço dos
poços e tiver entregue ao fisco quatro mil sestércios.
VIP. II, 5. Se um poço vendido pelo fisco permanecer inactivo durante seis meses
consecutivos, um terceiro terá direito de o ocupar, em condições cais que, logo que o mineral for
extraído do poço, merade esteja garantida ao fisco conforme o uso.

Fome: CL. DOMERGUE, «la mine antique d'Aljl,lstrel.


(Portugal) ec les rables de bronze de Vipasca», Conimbriga
22 ( 1983), 5-193.

• 4. GAIO, ln1titutioneJ (cerca de 160 d.C.)


COMMENTARJUS PRIMUS.

1. DE JURE CIVIU ET NATURAU. 1.1 Omnes populi qui legibus et moribus


reguntur, partim suo proprio, parcim communi omnium hominum jure urunrur; nam quod
quisque populus ipse sibi jus constituir, id ipsius proprium esr vocacurque jus civile, qliasi jus
96

proprium civitatis; quod vero naturalis ratio inter omnes homines constituir, id apud omnes
populus peraeque custoditur vocaturque jus gentium, quasi quo jure omnes gentes utuncur.
Populus itaque Romanus partim suo proprio, partim communi omnium hominum jure utirur.

Tradução

1. ACERCA DO DIREITO CIVIL E NATIJRAL. 1. 1. Todos os povos que se regem


por leis e costumes, utilizam em parte um direito que lhes é próprio, em parte um que é comum a
todos os homens; na verdade, aquele direito que o próprio povo institui para si mesmo é-lhe próprio
e chama-se direito civil (direito dos cidadãos), como direito próprio da cidade; no encanto, aquele
que é instituído entre todos os homens pela razão natural, esse é observado em geral entre todos os
povos e chama-se direito das gentes, como direito de rodas as nações. E assim o povo romano usa um
direito que em parte lhe é próprio e em parte comum a todos os homens.

• 5. CÓDIGO TEODOSIANO (438 d.C.), 1, 4, 3(«1ei das citações»)- a hierarquização


dos juristas romanos clássicos.

Tradução

(1) Confirmamos-todos os escritos de Papiniano, Paulo, Gaio, Ulpiano e Modestino, de


tal modo que a Gaio se dê a mesma aucoridade que a Paulo, Ulpiano e aos demais e se citem os textos
de toda a sua obra. (2) Também decretamos que seja válido o saber daqueles cujos tratados e
sentenças se misturaram com as obras dos antes citados, tal como Cévola, Sabino, Juliano, Marcelo
e todos os que eles citam, desde que, sendo por sua antiguidade duvidoso o códice dos seus livros,
este seja confirmado pelo cotejo. (3) Mas onde se exprimam_ várias opiniões, prevaleça a do maior
número de autores; e se o número for igual, prefira a autoridade daquela parte que tenha por si
Papiniano, homem de excelente engenho, que, embora prevaleça sobre uma opinião, cede
perante duas(. .. )

Fonte: ALFONSO GARCIA-GALLO, Antologia ... ,


cir., 164; ed. completa Th. MOMMSEN, TheodoJiani libri
XVI ... , Berolini 1905 (reimp. 1954).

• 6. DIGESTA DEJUSTINIANO
LIBER PRJMUS. I: DE IUSTITIA ET JURE.
1. ULPIANUS, lib. l lnstitutionum.

luri operam daturi prius nosse oportet unck nomen iuris descendat. Est autem a iu1titia
appelatum: nam ( ut eleganter Ce/sus ckfinit) ius est ars boni et aequi. § 1. Cujus merito quis nos sacerdotes
appellet. Justitiam namque co//imus, et boni et aequi notitiam profitemur; aequum ab iniquo 1eparante.r,
/icitum ah illicit11m discernentes ... § 2. Hujus sutdii duae su11t positiones: pub/icum jus e1t quod ad
1

statum rei romane spectat; privatum, quod a singu/ori utílitatem; sunt enim quaedam pub/ice utilia, quaedam
97

privatim. Publicum jus in sacris, in sacerdotibus, in magistratibus consisti/. Privatum jus tripertitum est:
collectum etenim est ex naturalibus praeceptibus, aut gentium, aut civilibus. §. 3. Jus natura/e est quod
natura omnia anima/ia domit. Nam jus istud non humani generis proprium est, sed omnium animalium, quae
in terra, quae in mari nascuntur, avium quoque commune est. Hinc tkscendit maris atque foeminaeconjunctio,
quam nos matrimonium appellamus," hinc liberorum procreatio, hinc educatio: videmus etenim caeterorum
quaeque anima/ia, feras etiam, istius juris peritia censeri. § 4. jus gentium est. quod gentes humanae
utuntur. Quod a naturali recedere, facile intellif{ere !icei: quia il/ud omnibus anima/ibus, hoc solis hominibus
inter se commune sit.

Tradução

Os que se vão dedicar ao estudo do direito devem começar por saber donde vem a palavra
'ius'. Na verdade, provém de 'iustitia': pois (retomando uma elegante definição de Celso) o direito é
a arte do bom e do equitativo. § 1. Pelo que há quem nos chame sacerdotes. Na verdade,
culcivamos a justiça e, utilizando o conhecimento do bom e do equitativo, separamos o justo do
injusto, distinguimos o lícito do ilícito ... § 2. Há duas panes neste estudo: o direito público,
que diz respeito ao estado das coisas de Roma; e o privado, relativo à utilidade dos particulares, pois
certas utilidades são públicas e outras privadas. O direito público consiste (nas normas relativas) às
coisas sagradas, aos sacerdotes e aos magistrados. O direito privado é tripartido: é, de facto, coligido
de preceitos ou naturais, ou dás gentes, ou civis. § 3. O direito natural é aquele que a natureza
ensinou a todos os animais. Na verdade, este direico não é próprio do género humano, mas comum a
todos os animais que nascem na terra e no mar, e também às aves. Daqui provém a união entre o
macho e a fêmea a que nós chamamos matrimónio, daqui decorre a procriação dos filhos e a sua
educação. Na verdade, vemos que os restantes animais, mesmo as feras, parece terem uma noção
deste direito. Aquilo que distingue o direito natural do das gente~ é fácil de entender, pois que ele é
comum a todos os animais e este apenas aos homens.

PAPINIANUS LJBRO SECUNDO DEFINITIONUM


Jus autem civile est, quod ex legibus, plebis scitis, senatus consultis, tkcretiJ principum, auaoritate
prudentium venit. lus praetorium est quodpraetores introduxerunt adiuvandi vel supplendi vel corrigendi iuris
civi/is gratia propter utilitatem publicam. Quod et honorarium dicitur ad honorem praetorum sic nominatum.

Tradução

Assim, o direiro civil é o que deriva das leis, dos plebiscitos, dos senátus-consultos e da
autoridade dos jurisprudentes. O direito precório é o que os pretores introduziram para interpretar,
integrar ou corrigir o direito civil em razão da ucilidade pública. O qual também se designa por
honorário, em honra dos precoces.

ULPIANUS, LIBRO PRIMO REGULARUM


lustitia est constans et perpetua volumas ius 5uum cuique tribuendi. Juris praecepta Jlmt haec: honeste
vrvere, alterum non laetkre, suum cuique tribuere. luris prudentia est divinarum atque humanarum rerum
notitia, iusti atque iniusti scientia.
98

Tradução

A justiça é a vontade constante e perpétua de atribuir a cada um o seu. Os preceitos do direito


são os seguintes: viver honestamente, não prejudicar outrem, atribuir a cada um o seu.
A jurisprudência é a ciência do justo e do injusto, baseada num conhecimento das coisas divinas
e humanas.

Líber I. II: De legÍbf!1, senat11sq11e cons11/tis, et longa com11et11dine (Acerca das leis, dos
senácus-consult0s e do costume duradouro).

PAPINIANUS, LIBER PRIMUS DEFINJTIONUM


Lex est commune praeceptum, virorum flrudentium cons11/t11m: delictorum, quae spo111e
vel ignorantía, coercitio: communis reip11hlicae spo111io.

Tradução

A lei é um preceito geral, baseado no concelho dos homens sabedores: coerção dos delitos,
cometidos intencionalmente ou por ignorância, compromisso comum da república.

IULIANUS, LIB. 59 DIGESTOR UM


Neq11e leges, neq11e senatus consulta ita scrihi possrmt, 111 omnes casus, qui quandoque inciderínt,
comprehendantur: sed sufficit ea quae plerumque accidant contineri.

Tradução

Nem as leis nem os senácus-consulros podem ser elaborados de tal forma que prevejam todos
os casos que possam eventualmente acontecer; mas basta que prevejam os que acontecem o mais das vezes.

PAULUS, LIB. 54 AD EDICTUM


Quod vero contra rationem j11ris receptum est, non est producendum ad conseq11entias.

Tradução

No entanto, aquilo que foi recebido em sencido contrário à razão (sencido gera!) do direito
não é de estender às consequências.

PAULUS, LIB. SINGULARE DE JURE SINGULAR/


l us singulare est q11od contra tenorem rationis propter aliquam 11tilitatem auctoritate
con1tituentium introd11a11m est.

Tradução

O direito singular é o que foi introduzido pela autoridade do legislador, tendo em vista
algum efeito útil, contra o teor da razão (sentido geral do direito).
99

ULPIANUS, LIB. 13 AD LEGEM}ULIAM ET PAPIAM


Princeps legibus solutus est ...

Tradução

O imperador está liberto do constrangimento das leis ...

ULPIANUS, LIB. 1 DE OFFICIO PROCONSULlS


Diurutna cons11etudo pro iure et iege i11 his, quae non ex scripto descendunt, observari solet.

Tradução

O costume diutumo cosruma ser observado em tudo aquilo que não está previsto no direito escrito.

Liber /. IV: De constitutionibus principum (Acerca das constituições imperiais).

ULPIANUS, LIB. 1 INSTITUTIONU M

Quod principis ptacuit, legis habet vigorem: utpote, cum lege regia, quae de imperio ejus lata est,
popu/us ei et in eum omne suum imperium et potestatem conferat.

Tradução

O que é da vontade do príncipe cem a força de lei: na medida em que, com a kx regia promulgada
acerca do seu poder imperial, o povo lhe conferiu todo o seu imperium e potestas.

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