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Faculdade de Direito Milton Campos

Estágio Supervisionado Trabalhista


Professora Fernanda Nigri Faria

Você foi procurado pelo empregador, que pediu que recorresse, entregando-lhe substabelecimento.

Aos onze de outubro de 2019, às 17:00 horas, na sala de audiências da 50ª Vara do Trabalho de Belo
Horizonte/MG, presente o Dr. Data Venia, Juiz do Trabalho, foi realizada a audiência de leitura e
publicação de sentença nos autos da ação trabalhista postulada por Berico Almeida em face de Tectron
Tecnologia e Informação S.A.
Aberta a audiência foram, de ordem do MM. Juiz do Trabalho, apregoadas as partes.
Ausentes.
A seguir, passou o Juiz a proferir a seguinte decisão:
Vistos etc...
Berico Almeida, qualificado no preâmbulo da inicial, ajuíza em 22/6/2019, ação trabalhista em face de
Tectron Tecnologia e Informação S.A. alegando ter sido contratado pelo réu em 14.12.2013, para
exercer as atribuições de agente de TI, presencialmente. Em dezembro de 2017, firmou termo para
passar a exercer as atividades fora do estabelecimento da ré, o que teria configurado alteração contratual
lesiva, pois, dentre outros motivos, preferia trabalhar lado a lado com os colegas de trabalho e acabava
trabalhando até mais do que antes. Sustenta, ainda, que antes da alteração, teria direito a 2 horas extras
por semana e que a partir de dezembro de 2017, deixou de ter cartão de ponto, mas continuou fazendo,
horas extras, em média, 4 horas extras por semana. Pede seja reconhecida a nulidade da alteração lesiva
e que o contrato seja considerado como presencial ao longo de todo o pacto e para todos os fins,
inclusive para pagamento das horas extras com os reflexos em 13º, férias com um terço e FGTS. Pede,
ainda, seja declarada a natureza salarial e determinado o pagamento dos mesmos reflexos indicados
quanto às horas extras da parcela que passou a receber mediante depósito em conta, junto com o salário,
todo mês, no importe de R$200,00. Nos contracheques, a mencionada quantia vinha indicada sob a
rubrica "internet/telefone".. Pede justiça gratuita. Atribuiu à causa o valor de R$60.000,00. Com a inicial
vieram os documentos de fls. xx, a procuração e a declaração de pobreza.
Citada em 16/09/2019, a ré compareceu à audiência UNA, realizada em 19/09/2019, acompanhada de
advogado, que requereu a redesignação da audiência (não conseguiu apresentar todos os documentos
pelo exíguo prazo para apresentar a defesa), o que foi indeferido, sob protesto. Na defesa, sustentava a
regularidade da alteração contratual; a ausência do direito a horas extras e a regularidade dos
pagamentos que passaram a ser feitos a partir de dezembro de 2017. Com a defesa, apresentava os
cartões de ponto até novembro de 2017 e cópia do termo de adesão ao plano de demissão voluntária,
com quitação ampla, geral e irrestrita quanto ao contrato de trabalho.
Após manifestação do Autor, foram ouvidas as partes e duas testemunhas levadas por cada uma das
partes.
Todos os ouvidos, inclusive o autor, confirmaram que assinaram o plano de demissão voluntária um mês
antes do ajuizamento desta ação.
Encerrada a instrução, produziram, as partes, suas razões finais orais.
No dia seguinte ao da realização da audiência UNA, a ré apresentou o contrato de trabalho do autor e
outros documentos relativos às condições de trabalho alteradas a partir de dezembro de 2017, inclusive
acordo entre as partes para a mudança do regime de trabalho presencial para o de teletrabalho. Os
documentos foram excluídos do sistema, sob protestos da ré.
Frustrada a segunda tentativa de conciliação.
Para julgamento foi designado o dia 11/10/2019, às 17h. É o relatório.
I. DO INDEFERIMENTO DA DEFESA E DOCUMENTOS. DA CONFISSÃO
Sem lugar o protesto registrado pelo indeferimento do requerimento de redesignação da audiência. O
momento para a apresentação da defesa com documentos é a audiência. Se a ré pretendia apresentar
documentos, deveria incluí-los no sistema com a defesa até o dia 19/09/2019, sob pena de preclusão.
Ademais, tendo sido citada a ré no dia 16/09/19, teve tempo razoável para se preparar. Assim, sem lugar
a alegação da ré de que precisaria de mais um dia para incluir os documentos referentes ao contrato de
trabalho do autor que estariam na matriz em São Paulo.
Além disso, não se tratando de documentos novos, não se admite a juntada posterior à apresentação da
defesa. Mantenho as decisões.

II. DA ALTERAÇÃO CONTRATUAL LESIVA


O autor sustenta que teria havido alteração contratual lesiva, pois a partir de dezembro de 2017, deixou
de trabalhar no estabelecimento da ré em Belo Horizonte para passar a trabalhar fora das dependências
do empregador.
De fato, uma alteração como a ocorrida, não poderia se dar apenas por ajuste escrito entre as partes
como informaram nos depoimentos. Não tendo havido ajuste mediante negociação coletiva, sem a
devida contrapartida, reputo que a alteração contratual foi lesiva e determino que as pretensões devem
ser analisadas como se o regime de trabalho fosse presencial, tal como ajustado quando da contratação.

III. DAS HORAS EXTRAS


De acordo com a legislação trabalhista, tendo o empregador mais de 10 empregados, é obrigado a
controlar o horário de trabalho dos empregados.
No caso, restou incontroverso que ao longo do contrato, a ré tinha mais de 10 empregados, tendo
também confessado que a partir de dezembro de 2017, deixou de registrar os horários de trabalho do
autor. A ré não se desincumbiu do ônus da prova, pois não provou que não houve a extrapolação.
no período compreendido entre a admissão e novembro de 2017, apesar de os cartões de ponto no
processo indicarem o horário de trabalho de 8 às 18 horas, com duas horas de intervalo de segunda a
sexta-feira, a prova oral foi dividida, sendo que uma testemunha confirmou a versão da inicial e a outra a
da defesa.
Quanto ao período posterior, a ré sequer apresentou os controles de jornada em afronta à regra celetista e
consolidada na jurisprudência.
Diante disso e da confissão ficta decorrente da revelia, condena-se a ré a pagar ao autor as horas extras e
reflexos tal como pleiteados na inicial.

IV. DO PAGAMENTO AS DESPESAS PARA O TRABALHO


A partir de dezembro de 2017, o autor passou a receber juntamente com o salário, mais R$200,00, sob a
nomenclatura "internet/telefone".
Em que pese a despesa de casa ter aumentado com a alteração do regime de trabalho em dezembro de
2017, pois teve que contratar um pacote de telefonia e de internet mais eficiente e mais caro do que o
que tinha antes, certo é que nunca teve que fazer prestação de contas disso.
De fato, o autor admitiu no depoimento pessoal que constava tal pagamento no aditivo contratual
firmado em dezembro de 2017, no entanto, aplica-se à hipótese o princípio da primazia da realidade
sobre a forma.
Assim, por tais aspectos, declaro a natureza salarial da parcela e determino o pagamento dos reflexos
respectivos em 13º, férias e FGTS.

Apresentada a declaração de pobreza pelo autor, defere-se a justiça gratuita.


Com estes fundamentos, julgo procedentes os pedidos formulados por Berico Almeida em face de
Tectron Tecnologia e Informação S.A., conforme fundamentos especificados supra, que fazem parte
integrante deste dispositivo.
Sobre as parcelas salariais deverá a ré proceder aos recolhimentos previdenciários e fiscais, autorizada a
dedução da quota devida pelo empregado.
Custas, pela ré, no importe de R$400,00, calculadas sobre o valor da condenação de R$20.000,00.
Dispensadas as intimações. A seguir, encerrou-se a audiência.
AO JUÍZO DA 50ª VARA DO TRABALHO DE BELO HORIZONTE - MG

Processo nº …

Tectron Tecnologia e Informação S.A, já qualificado nos autos da Ação Trabalhista em


epígrafe que lhe move BERICO ALMEIDA, vem perante Vossa Excelência, por meio de seu
advogado infra assinado, inconformado com a sentença de fls., interpor tempestivamente, no
prazo de 8 dias úteis, sendo o termo final o dia 21/10/2019, com fulcro no art. 895, I da CLT, o
presente RECURSO ORDINÁRIO.

Requer a juntada do substabelecimento para constituir novo advogado, em nome do qual


deverão ser feitas as futuras intimações, sob pena de nulidade.

A Recorrente requer a juntada da guia de preparo recursal e respectivo comprovante de


pagamento (valor R$ …), assim como comprova a realização do depósito recursal (valor R$
…). Documentos anexos.

Requer, assim, seja o recurso admitido, aberta vista ao Recorrido para se manifestar no prazo
legal e, na sequência, remetidos os autos ao Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região,
para que seja conhecido e provido o recurso, a fim de cassar ou, eventualmente, reformar a
sentença conforme razões inclusas.

Nestes termos, pede deferimento.

Local … Data …

Advogado … OAB …

Endereços do advogado para intimações: …


AO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 3ª REGIÃO

RAZÕES DO RECURSO ORDINÁRIO

Pela parte recorrente, Tectron Tecnologia e Informação S.A.

Egrégia turma,

1. PRELIMINAR DE NULIDAIDE POR CERCEAMENTO DE DEFESA PELA


INOBSERVÂNCIA DO QUINQUÍDIO

Diferentemente do sustentado pelo juiz, a Recorrente não teve tempo hábil para preparar sua
defesa. Esta foi citada para compor a relação processual em 16/09/2019, enquanto a
audiência Una estava designada para 19/09/2019.

Em clara inobservância ao quinquídio disposto no art. 841 da CLT, a Recorrente requereu a


redesignação da audiência, vez que não teve tempo hábil para juntar todos os documentos
para sua defesa, mas o pedido foi indeferido, sob protestos. Tamanho o prejuízo que o
Recorrente tentou juntar aos autos no dia seguinte a audiência o contrato de trabalho da
Recorrida e outros documentos relativos às condições de trabalho alteradas a partir de
dezembro de 2017, mas o pedido foi indeferido pelo Magistrado, sob protestos.

Ante a inobservância de expressa regra de procedimento, que acarretou prejuízo à defesa do


Recorrente, pede a declaração de nulidade da audiência, posto que deve ser novamente
realizada, e cassação da sentença proferida por vício de procedimento.

2. FALTA DE INTERESSE DE AÇÃO DO RECORRIDO: ADESÃO A PLANO DE DEMISSÃO


VOLUNTÁRIA

O Recorrido declarou em seu depoimento pessoal ter aderido a plano de demissão voluntária
(“PDV”), dando quitação ampla, geral e irrestrita quanto ao contrato de trabalho. Em que pese
a confissão, o juiz de origem não apreciou tal fato na sentença e ainda julgou procedente a
ação.

Reverbera o art. 477-B da CLT que a adesão em PDV enseja na quitação plena e irrevogável
dada pelo empregado dos direitos decorrentes da relação empregatícia. De tal forma, o
Recorrido carece de interesse processual para reclamar qualquer verba relacionada ao
contrato de trabalho, pressuposto necessário para postular em juízo (art. 330, III do CPC).

Evidenciado o erro de julgamento do magistrado, deve a sentença ser reformada para


extinguir o feito sem resolução de mérito com base no art. 485, VI do CPC.
4. PREJUDICIAL: PRESCRIÇÃO QUINQUENAL

São fatos incontroversos (art. 374, III, CPC) que o Recorrido fora admitido em 14.12.2013 e
que a ação foi ajuizada em 22/06/2019. A sentença por sua vez deferiu os pedidos da inicial,
sabendo que o Recorrido reclamou verbas relativas a todo o contrato de trabalho.

Os arts. 7º, XXIX, CR/88 e 11 da CLT fixam a prescrição quinquenal para a pretensão quanto
a créditos resultantes das relações de trabalho, sendo certo que esta matéria pode ser
alegada em qualquer tempo nas instâncias ordinárias, conforme súmula nº 153 do TST.

Desta forma, a sentença deve ser reformada para extinguir o feito com resolução do mérito
em relação as parcelas já exigíveis anteriores ao período de 22/06/2014, por estarem
prescritas.

3. MÉRITO
Se, eventualmente, ultrapassadas as preliminares e em observância à prejudicial de mérito,
passa-se às razões de mérito do Recurso.

A) REGULARIDADE DA ALTERAÇÃO DO TELETRABALHO

O juiz de origem entendeu que a alteração contratual foi lesiva, que esta não poderia se dar
por ajuste escrito entre as partes e por não ter havido ajuste mediante negociação coletiva.

Não obstante, o §1º do art. 75-C da CLT admite a alteração por ajuste escrito entre as partes,
desde que pactuado por aditivo. O autor declara ter assinado o aditivo contratual prevendo a
alteração do regime de trabalho, fato que também foi confirmado pelos depoimentos colhidos.
Verifica-se, portanto, a regularidade da alteração contratual celebrada, sendo descabida a
alegação de que a alteração foi lesiva.

Assim, pede a reforma da sentença para declarar a regularidade da alteração e julgar


improcedente o pedido do Recorrido.

B) DESCABIMENTO DAS HORAS EXTRAS

A sentença deferiu os pedidos de horas extras do autor, sendo de 2 horas no período


compreendido entre a admissão até a alteração do regime para teletrabalho em dez/2017 e de
4 horas extras da alteração até o fim do contrato. Na fundamentação o magistrado entendeu
pela confissão ficta do Recorrente.

Quanto ao primeiro período, verifica-se que o Recorrente apresentou junto da defesa os


cartões de ponto que demonstram a regularidade do cumprimento da jornada, cumprindo com
seu múnus disposto no art. 74, §2º da CLT. Desta forma, seguindo a regra do art. 818 da CLT,
caberia ao Recorrido fazer prova da extrapolação, mas não o fez. Tal fato atesta o equívoco
da fundamentação do juiz de origem, razão pela qual pede a reforma da sentença para julgar
improcedente o direito as horas extras.

Quanto ao segundo período, é cediço que os teletrabalhadores não se sujeitam ao controle de


jornada, conforme previsão expressa do art. 62, III da CLT. Sendo assim, é incabível a
presunção de que o Recorrente deveria apresentar o cartão de ponto. Desta forma, pede a
reforma da sentença, devendo o pedido ser julgado improcedente.

C) DESPESAS PARA TRABALHO

O juiz de origem reconheceu a natureza salarial da quantia paga ao Recorrido para o


exercício do trabalho remoto. Apesar disso, reconhece a anotação das parcelas como
“telefone/internet” e que tal pagamento no aditivo contratual firmado em dez/2017, também
admitido pelo Recorrido.

Ocorre que, bem na verdade, tais parcelas serviam “PARA O TRABALHO” do Recorrido e não
uma contraprestação PELO trabalho. Nesse sentido, o art. 75-D esclarece que cabe ao
empregador fornecer as condições de infraestrutura para o exercício do trabalho remoto, bem
como ao reembolso de despesas. Por fim, esclarece o parágrafo único do mesmo artigo, que
as verbas pagas pelo empregador ou utilidades fornecidas possuem natureza indenizatória.

Ademais, Como o valor pago (R$200,00) sequer supera a 50% do salário mínimo legal,
presume-se a natureza indenizatória dos pagamentos.

De tal forma, é manifestamente improcedente o direito do Recorrido, razão pela qual pede a
reforma da Sentença.

4) CONCLUSÃO

Pelo exposto, requer seja conhecido e provido este Recurso Ordinário para cassar ou
eventualmente reformar a sentença, julgando-se improcedentes os pedidos, invertendo-se os
ônus sucumbenciais e para julgar procedente os pedidos da Inicial.

Local e data…

Advogado … e OAB…
Assinatura …

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